Harry Potter E O PRISIONEIRO DE AZKABAN Joanne K. Rowling Tradu��o: Lia WYLER T�tulo original: HARRY POTTER and the Prisoner of Azkaban Para J�li Prewett e Ame Kiely as av�s do Swing. SUM�RIO Cap�tulo Um � O Correio-Coruja Cap�tulo Dois � O Grande Erro de Tia Guida Cap�tulo Tr�s � O N�itibus Andante Cap�tulo Quatro � O Caldeir�o Furado Cap�tulo Cinco � O Dementador Cap�tulo Seis � Garras e Folhas de Ch� Cap�tulo Sete � O Bicho-Pap�o no Arm�rio Cap�tulo Oito � A Fuga da Mulher Gorda Cap�tulo Nove � A Amarga Derrota Cap�tulo Dez � O Mapa do Maroto Cap�tulo Onze � A Firebolt Cap�tulo Doze � O Patrono Cap�tulo Treze � Grifin�ria Versus Corvinal Cap�tulo Catorze � O Ressentimento de Snape Cap�tulo Quinze � A Final do Campeonato de Quadribol Cap�tulo Dezesseis � A Predi��o da Prof�. Trelawney Cap�tulo Dezessete � Gato, Rato e C�o Cap�tulo Dezoito � Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas Cap�tulo Dezenove � O Servo de Lord Voldemort Cap�tulo Vinte � O Beijo do Dementador Cap�tulo Vinte e Um � O Segredo de Hermione Cap�tulo Vinte e Dois � Novo Correio-Coruja CAP�TULO UM O Correio-Coruja Harry Potter era um menino bastante fora do comum em muitas coisas. Para come�ar, ele detestava as f�rias de ver�o mais do que qualquer outra �poca do ano. Depois, ele realmente queria fazer seus deveres de casa, mas era obrigado a faz�-los escondido, na calada da noite. E, al�m de tudo, tamb�m era bruxo. Era quase meia-noite e Harry estava deitado de bru�os na cama, as cobertas puxadas por cima da cabe�a como uma barraca, uma lanterna em uma das m�os e um grande livro encadernado em couro (Hist�ria da Magia de Batilda Bagshot), aberto e apoiado no travesseiro. Harry correu a ponta da caneta de pena de �guia pela p�gina, franzindo a testa, � procura de alguma coisa que o ajudasse a escrever sua reda��o, "A queima de bruxas no s�culo XIV foi totalmente despropositada � discuta". A caneta pousou no alto de um par�grafo que pareceu a Harry promissor. Ele empurrou os �culos redondos para a ponta do nariz, aproximou a lanterna do livro e leu: Os que n�o s�o bruxos (mais comumente conhecidos pelo nome de (trouxas) tinham muito medo da magia na �poca Medieval, mas n�o tinham muita capacidade para reconhec�-la. Nas raras ocasi�es em que apanhavam um bruxo ou uma bruxa de verdade, a senten�a de queim�-los na fogueira n�o produzia o menor efeito. O bruxo, ou bruxa, executava um Feiti�o para Congelar Chamas e depois fingia gritar de dor, enquanto sentia uma cocegazinha suave e prazerosa. De fato, Wendelin a Esquisita gostava tanto de ser queimada na fogueira que se deixou apanhar nada menos que quarenta e sete vezes, sob v�rios disfarces. Harry prendeu a caneta entre os dentes e passou a m�o embaixo do travesseiro � procura do tinteiro e de um rolo de pergaminho. Devagar e com muito cuidado, retirou a tampa do tinteiro, molhou a pena e come�ou a escrever, parando de vez em quando para escutar, porque se algum dos Dursley, a caminho do banheiro, ouvisse sua pena arranhando o pergaminho, ele provavelmente ia acabar trancafiado no arm�rio embaixo da escada pelo resto do ver�o. A fam�lia Dursley, que morava na Rua dos Alfeneiros, 4, era o motivo pelo qual Harry jamais aproveitava as f�rias de ver�o. Tio V�lter, tia Pet�nia e o filho deles, Duda, eram os �nicos parentes vivos de Harry. Eram trouxas e tinham uma atitude muito medieval com rela��o � magia. Os pais de Harry, j� falecidos, que tinham sido bruxos, nunca eram mencionados sob o teto dos Dursley. Durante anos, tia Pet�nia e tio V�lter tinham alimentado esperan�as de que, se oprimissem Harry o m�ximo poss�vel, seriam capazes de acabar com a magia que houvesse nele. Para sua f�ria, tinham fracassado. Agora, viviam aterrorizados que algu�m pudesse descobrir que Harry passara a maior parte dos �ltimos dois anos na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. O m�ximo que podiam fazer, por�m, era trancar os livros de feiti�os, a varinha, o caldeir�o e a vassoura de Harry no in�cio das f�rias de ver�o e proibir que o menino falasse com os vizinhos. A separa��o dos seus livros de feiti�os tinha sido um verdadeiro problema para Harry, porque os professores em Hogwarts tinham passado muitos deveres para as f�rias. Uma reda��o, particularmente espinhosa, sobre po��es redutoras fora pedida pelo professor de quem Harry menos gostava, o Prof�. Snape, que ficaria encantado de ter uma desculpa para castig�-lo com um m�s de deten��o. Por isso Harry tinha aproveitado uma oportunidade que surgira na primeira semana de f�rias. Quando tio V�lter, tia Pet�nia e Duda foram ao jardim admirar o novo carro da companhia a servi�o do tio V�lter (em altas vozes para que toda a rua o visse), Harry desceu silenciosamente as escadas, arrombou a fechadura do arm�rio sob a escada, apanhou alguns livros e os escondeu em seu quarto. Desde que n�o deixasse manchas de tinta nos len��is os Dursley n�o precisariam saber que ele estava estudando magia � noite. Harry tomava muito cuidado para evitar problemas com seus tios no momento, pois eles j� estavam bastante mal-humorados com o sobrinho, s� porque o menino recebera um telefonema de de um coleguinha bruxo uma semana depois de entrar em f�rias. Rony Weasley, que era um dos melhores amigos de Harry em Hogwarts, descendia de uma fam�lia em que todos eram bruxos. Isto significava que ele sabia um mont�o de coisas que Harry desconhecia, mas Rony jamais usara um telefone antes. E, por azar, fora o tio V�lter que atendera a liga��o. � V�lter Dursley. Harry que, por acaso, se achava na sala �quela hora, gelou ao ouvir a voz do amigo responder. � AL�! AL�! EST� ME OUVINDO? QUERIA... FALAR COM... O... HARRY... POTTER! Rony gritou com tanta for�a que tio V�lter deu um salto e afastou o fone a mais de um palmo da orelha com uma express�o em que se misturavam a f�ria e o susto. � QUEM � QUE EST� FALANDO? � berrou ele em dire��o ao bocal. � QUEM � VOC�? � RONY... WEASLEY! � berrou Rony em resposta, como se ele e tio V�lter estivessem falando de extremidades opostas de um campo de futebol. � SOU... UM AMIGO... DE... HARRY... DA ESCOLA... Os olhinhos de tio V�lter se viraram para Harry, que estava pregado no ch�o. � N�O TEM NENHUM HARRY POTTER AQUI! � vociferou ele, agora segurando o fone com o bra�o esticado, como se receasse que o aparelho pudesse explodir. � N�O SEI DE QUE ESCOLA VOC� EST� FALANDO! NUNCA MAIS TORNE A LIGAR PARA C�! FIQUE LONGE DA MINHA FAM�LIA! E atirou o fone no gancho como se estivesse se livrando de uma aranha venenosa. A briga que se seguiu foi uma das piores da vida de Harry. � COMO � QUE VOC� SE ATREVE A DAR ESTE N�MERO PARA GENTE COMO... GENTE COMO VOC�! � berrara tio V�lter, salpicando Harry de cuspe. Rony obviamente percebera que metera Harry em uma encrenca, porque n�o telefonou mais. A outra grande amiga de Harry em Hogwarts, Hermione Granger, tampouco o procurara. O menino suspeitava que Rony tinha avisado � amiga para n�o telefonar, o que era uma pena, porque Hermione, a bruxa mais inteligente da turma deles, tinha pais trouxas, sabia usar o telefone perfeitamente bem e provavelmente teria o bom senso de n�o dizer que freq�entava Hogwarts. Com isso, Harry n�o ouvira uma �nica palavra de nenhum dos seus amigos de bruxaria durante cinco longas semanas, e este ver�o estava saindo quase t�o ruim quanto o anterior. Havia apenas uma coisinha que melhorara � depois de jurar que n�o iria usar sua coruja para remeter cartas aos amigos, Harry tivera permiss�o de soltar Edwiges, � noite. Tio V�lter concordara com isso diante da barulheira que o bicho aprontava quando ficava preso na gaiola o tempo todo. Harry terminou de escrever sobre Wendelin a Esquisita e parou mais uma vez para escutar. O sil�ncio da casa �s escuras s� era interrompido pelos roncos sonoros e distantes do seu enorme primo, Duda. Deve ser muito tarde, pensou Harry. Seus olhos comichavam de cansa�o. Talvez terminasse a reda��o na noite seguinte... Ele rep�s a tampa do tinteiro; puxou uma fronha velha debaixo da cama; guardou dentro a lanterna, a Hist�ria da magia, a reda��o, a caneta e a tinta; Levantou-se da cama e escondeu tudo sob uma t�bua solta do soalho debaixo da cama. Em seguida, p�s-se em p�, esticou�-se e verificou a hora no despertador luminoso sobre a mesa-de-cabeceira. Era uma hora da manh�. Harry sentiu uma contra��o engra�ada na barriga. Fizera treze anos de idade havia uma hora e n�o tinha se dado conta disso. Mas outra coisa fora do comum em Harry � que ele n�o ligava nem um pouco para os seus anivers�rios. Nunca recebera um cart�o de anivers�rio na vida. Os Dursley n�o tinham dado a m�nima aten��o aos dois �ltimos e ele n�o tinha raz�o alguma para supor que fossem se lembrar deste agora. Harry atravessou o quarto escuro, passou pela espa�osa gaiola vazia de Edwiges e foi abrir a janela. Debru�ou-se no peitoril, achando gostoso o ar fresco da noite que batia em seu rosto depois de ter passado tanto tempo debaixo das cobertas. Fazia duas noites que Edwiges andava fora. Mas Harry n�o estava preocupado � a coruja j� ficara fora tanto tempo assim antes. Mas o garoto desejou que ela voltasse logo �, era a �nica criatura na casa que n�o se esquivava quando o via. Harry, embora continuasse pequeno e magricela para sua idade, crescera alguns cent�metros desde o ano anterior. Seus cabelos muito pretos, por�m, continuavam como sempre tinham sido � teimosamente despenteados, por mais que ele fizesse. Os olhos por tr�s das lentes eram verde vivo, e na testa havia, claramente vis�vel atrav�s dos cabelos, uma cicatriz fina, em forma de raio. De todas as coisas fora do comum em Harry, essa cicatriz era a mais extraordin�ria de todas. N�o era, como tinham fingido os Dursley durante dez anos, uma lembran�a do acidente de carro que matara seus pais, porque L�lian e Tiago Potter n�o tinham morrido em um acidente de carro. Tinham sido assassinados, assassinados pelo bruxo das trevas mais temido do mundo nos �ltimos cem anos, Lord Voldemort. Harry escapara desse mesmo atentado com uma simples cicatriz na testa, no lugar em que o feiti�o do bruxo, em vez de mat�-lo, tinha se voltado contra o pr�prio feiticeiro. Quase morto, Voldemort fugira... Mas Harry voltara a defrontar com ele outra vez em Hogwarts. Ao se recordar do �ltimo encontro, ali parado � janela escura, Harry teve de admitir que era uma sorte ter chegado ao seu d�cimo terceiro anivers�rio vivo. Examinou o c�u estrelado � procura de um sinal de Edwiges, voando ao seu encontro talvez com um rato morto pendurado no bico, contando receber elogios. Mas ao olhar distraidamente por cima dos telhados, Harry demorou alguns segundos para perceber o que estava vendo. Recortado contra a lua dourada, e sempre crescendo, vinha um bicho estranhamente torto voando em sua dire��o. Harry ficou muito quieto esperando o bicho descer. Por uma fra��o de segundo ele hesitou, a m�o no trinco da janela, pensando se devia fech�-la. Mas, nessa hora o bicho esquisito sobrevoou um lampi�o da Rua dos Alfeneiros e Harry identificando o que era, saltou para o lado. Pela janela entraram tr�s corujas, duas delas segurando uma terceira que parecia desmaiada. Pousaram com um ru�do fofo na cama do menino e a coruja do meio, que era grande e cinzenta, tombou para o lado, im�vel. Trazia um grande pacote amarrado �s pernas. Harry reconheceu a coruja desmaiada na mesma hora � seu nome era Errol e pertencia � fam�lia Weasley. O menino correu para a cama, desamarrou os barbantes que envolviam as pernas de Errol, soltou o pacote e, em seguida, levou a coruja para a gaiola de Edwiges. Errol abriu um olho lacrimejante, deu um pio fraquinho de agradecimento e desatou a beber �gua em grandes sorvos. Harry se virou para as corujas restantes. Uma delas, a f�mea grande, branca como a neve, era a sua Edwiges. Ela tamb�m trazia um pacote e parecia muito satisfeita consigo mesma. Deu uma bicadinha carinhosa em Harry quando ele soltou sua carga, depois saiu voando pelo quarto para se juntar a Errol. Harry n�o reconheceu a terceira coruja, um belo esp�cime pardo, mas soube imediatamente de onde viera, porque al�m de trazer o terceiro pacote, ela trazia uma carta com o escudo de Hogwarts. Quando Harry acabou de alivi�-la de sua carga, ela sacudiu as penas, cheia de si, abriu as asas e saiu voando pelo c�u noturno. O menino sentou-se na cama e apanhou o pacote de Errol, rasgou o papel pardo e encontrou um presente embrulhado em ouro, primeiro cart�o de anivers�rio de sua vida. Com os dedos tr�mulos, ele abriu o envelope. Ca�ram dois pap�is � uma carta e um recorte de jornal. O recorte fora visivelmente tirado do jornal dos bruxos, o Profeta Di�rio, porque as pessoas nas fotos em preto e branco estavam se mexendo. Harry apanhou o recorte, alisou-o e leu. FUNCION�RIO DO MINIST�RIO DA MAGIA GANHA GRANDE PR�MIO Arthur Weasley chefe da Se��o de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas no Minist�rio da Magia, ganhou o Grande Pr�mio Anual da Loteria do Profeta Di�rio. A Sra. Weasley, encantada, declarou ao Profeta Di�rio: "Vamos gastar o ouro em uma viagem de f�rias ao Egito, onde nosso filho mais velho, Gui, trabalha para o Banco Gringotes como desfazedor de feiti�os.� A fam�lia Weasley vai passar um m�s no Egito, de onde voltar� no in�cio do ano letivo em Hogwarts, escola que cinco dos seus filhos ainda freq�entam. Harry examinou a foto em movimento, e um sorriso espalhou-se em seu rosto ao ver os nove Weasley acenando freneticamente para ele, diante de uma enorme pir�mide. A Sra. Weasley, pequena e gorducha, o Sr. Weasley, alto e um pouco careca, os seis filhos e filha, todos (embora a foto em preto e branco n�o mostrasse com flamejantes cabelos vermelhos). Bem no meio da foto se achava Rony, alto e desengon�ado com o seu rato de estima��o, Perebas, no ombro e o bra�o passado pelas costas da irm�, Gina. Harry n�o conseguia pensar em ningu�m que merecesse mais ganhar um monte de ouro do que os Weasley, que eram gente muito fina e extremamente pobre. Ele apanhou a carta de Rony e a desdobrou. Caro Harry, Feliz anivers�rio! Olhe, estou muito arrependido daquele telefonema. Espero que os trouxas n�o tenham engrossado com voc�. Perguntei ao papai e ele acha que eu n�o devia ter gritado. O Egito � incr�vel. Gui nos levou para ver os t�mulos e voc� n�o ia acreditar nos feiti�os que os velhos bruxos eg�pcios lan�avam neles. Mam�e n�o quis deixar a Gina ver o �ltimo. S� continha esqueletos mutantes de trouxas que violaram o t�mulo e acabaram com duas cabe�as e outras esquisitices. Nem consegui acreditar quando o papai ganhou a Loteria do Profeta Di�rio. Setecentos gale�es! A maior parte foi gasta nesta viagem, mas eles v�o me comprar uma varinha nova para o pr�ximo ano letivo. Harry lembrava-se bem demais do dia em que a velha varinha de Rony se partira. Acontecera quando o carro em que os dois voaram para Hogwarts batera de encontro a uma �rvore nos jardins da escola. Estaremos de volta uma semana antes do ano letivo come�ar e vamos a Londres comprar minha varinha e os livros da escola. Alguma chance de nos encontrarmos l�? N�o deixe os trouxas arrasarem voc�! Fa�a uma for�a para ir a Londres, Rony. P.S. Percy agora � monitor-chefe. Recebeu a carta de nomea��o na semana passada. Harry tornou a admirar a foto. Percy, que estava no s�timo e �ltimo ano em Hogwarts, parecia muito cheio de si. Prendera o distintivo de monitor chefe no fez que usava num �ngulo elegante sobre os cabelos bem penteados, seus �culos de aros de tartaruga faiscavam ao sol do Egito. Harry voltou ent�o sua aten��o para o presente e o desembrulhou. Dentro havia um objeto que parecia um pequenino pi�o de vidro. Debaixo, mais um bilhete de Rony. Harry � Isto � um "bisbilhosc�pio" de bolso. Dizem que quando tem alguma coisa suspeita por perto, ele acende e gira. Gui falou que � porcaria que vendem a bruxos turistas e que n�o � confi�vel porque ontem, durante o jantar, ficou acendendo o tempo todo. Mas ele n�o percebeu que Fred e Jorge tinham posto besouros na sopa dele. Tchau, Rony. Harry p�s o bisbilhosc�pio em cima da mesa-de-cabeceira, onde o pi�o ficou parado, equilibrado sobre a ponta, refletindo os ponteiros luminosos do despertador. O menino admirou-o feliz por alguns segundos, ent�o apanhou o pacote que Edwiges lhe trouxera. Dentro deste tamb�m havia um presente embrulhado, um cart�o e uma carta, desta vez de Hermione. Caro Harry, Rony me escreveu contando o telefonema que deu para o seu tio V�lter. Espero que voc� esteja bem. Estou de f�rias na Fran�a neste momento e n�o sabia como ia mandar o meu presente para voc� � e se eles abrissem o pacote na alf�ndega?�, mas ent�o a Edwiges apareceu! Acho que ela queria garantir que voc� recebesse alguma coisa no seu anivers�rio, para variar comprei o seu presente pelo reembolso coruja; vi um an�ncio no Profeta Di�rio (mandei entregar o jornal no meu endere�o de f�rias; � t�o bom continuar em dia com o que est� acontecendo no mundo dos bruxos). Voc� viu a foto de Rony com a fam�lia que saiu no jornal na semana passada? Aposto que ele est� aprendendo um monte de coisas. Estou com inveja � os bruxos do Egito antigo s�o fascinantes. Aqui tamb�m tem hist�rias de bruxaria locais interessantes. Reescrevi todo o meu trabalho de Hist�ria da Magia para incluir algumas coisas que descobri. Espero que n�o fique grande demais � s�o dois rolos de pergaminho a mais do que o Prof�. Binns pediu. Rony diz que vai a Londres na �ltima semana de f�rias. Voc� tamb�m vai poder ir? Ser� que sua tia e seu tio v�o deixar? Espero realmente que possa. Se n�o, a gente se v� no Expresso de Hogwarts no dia 1� de setembro! Afetuosamente, Hermione. P.S. Rony contou que Percy virou monitor-chefe. Aposto como ele est� realmente satisfeito. Quem n�o parece ter gostado � o Rony. Harry deu risadas enquanto punha a carta de Hermione de lado e apanhava o presente. Era muito pesado. Conhecendo a amiga, ele teve certeza de que seria um livr�o cheio de feiti�os complicados, mas n�o era. Seu cora��o deu um enorme salto quando ele rasgou o papel de embrulho e viu um belo estojo de couro preto, com dizeres em letras prateadas: Estojo para manuten��o de vassouras. � Uau, Hermione! � exclamou Harry baixinho, abrindo o estojo para ver dentro. Havia um frasco grande de l�quido para polir cabos, uma tesoura prateada e reluzente para aparar cerdas, uma pequena b�ssola para prender na vassoura em viagens longas e um manual �Fa�a a manuten��o da sua vassoura�. � exce��o dos amigos, o que Harry mais sentia falta de Hogwarts era o Quadribol, o esporte mais popular do mundo m�gico � extremamente arriscado, muito excitante, que se jogava montado em uma vassoura. Harry, por acaso, era um �timo jogador de Quadribol: fora o menino mais novo do s�culo a ser escolhido para um time da casa em Hogwarts. Uma das coisas que Harry mais prezava na vida era sua vassoura de corrida, uma Nimbus 2000. Harry p�s o estojo de couro de lado e apanhou o �ltimo embrulho. Reconheceu os garranchos no papel pardo do embrulho na mesma hora: eram de Hagrid, o guarda-ca�a de Hogwarts. Ele rasgou o papel de embrulho externo e viu um pedacinho de alguma coisa em couro verde, mas antes que conseguisse desfaz�-lo direito, o embrulho estremeceu de um modo estranho e o que havia dentro se fechou com um estalo � como se a coisa tivesse mand�bulas. Harry congelou. Sabia que Hagrid jamais lhe mandaria uma coisa perigosa de prop�sito, mas, por outro lado, seu amigo n�o tinha a vis�o de uma pessoa normal sobre o que era perigoso. Todos sabiam que Hagrid j� fizera amizade com aranhas gigantescas, mas nocivas, com c�es de tr�s cabe�as dados por gente que ele encontrara em bares, e contrabandeara ovos de drag�o, um bicho ilegal, para dentro da cabana em que morava. Harry cutucou o embrulho, nervoso. A coisa tornou a se fechar com ru�do, O garoto apanhou o abajur na mesa-de-cabeceira, agarrou-o com firmeza com uma das m�os e ergueu-o acima da pr�pria cabe�a, pronto para desferir uma pancada. Ent�o agarrou o resto do papel de embrulho com a outra m�o e puxou. E a coisa caiu � um livro. Harry s� teve tempo de reparar na bela capa, adornada com um t�tulo dourado, �O Livro Monstruoso dos Monstros�, antes do livro virar de lombada e come�ar a correr pela cama como um caranguejo esquisito. � Ah, ah � gemeu Harry. O livro caiu da cama com um barulho met�lico e arrastou-se r�pido pelo quarto. O menino o seguiu furtivamente. O livro foi se esconder no espa�o escuro embaixo da escrivaninha. Rezando para os Dursley n�o terem acordado, Harry ficou de quatro e tentou apanh�-lo. � Ai! O livro se fechou sobre sua m�o e se afastou do menino se sacudindo e andando adernado sobre as capas. Harry saiu correndo, ainda agachado, e se atirou para frente conseguindo achatar o livro. Tio V�lter soltou um grunhido sonolento e alto no quarto ao lado. Edwiges e Errol observaram com interesse quando Harry abra�ou com for�a o livro que se debatia, correu at� a c�moda e pegou um cinto, com que o amarrou firmemente. O livro monstruoso estremeceu de raiva, mas n�o conseguiu mais se agitar e morder, ent�o Harry atirou-o na cama e apanhou o cart�o de Hagrid. Caro Harry, Feliz anivers�rio. Achei que isto pudesse lhe ser �til no ano que vem. N�o vou dizer mais nada aqui. Conto quando a gente se encontrar. Espero que os trouxas estejam tratando voc� bem. Tudo de bom, Hagrid. Pareceu a Harry um mau agouro que Hagrid pudesse achar que um livro que morde tivesse utilidade futura, mas p�s o cart�o do amigo ao lado do de Rony e Hermione, sorrindo mais satisfeito do que nunca. Agora s� sobrava a carta de Hogwarts. Reparando que era bem mais grossa do que de costume, Harry abriu o envelope, puxou a primeira p�gina do pergaminho de dentro e leu: Prezado Sr. Potter, Queira registrar que o novo ano letivo come�ar� em 1� de setembro. O Expresso de Hogwarts partir� da esta��o de King's Cross, plataforma 9 e �, �s onze horas. Os alunos de terceiro ano t�m permiss�o para visitar a aldeia de Hogsmeade em determinados fins de semana. Assim, queira entregar a autoriza��o anexa ao seu pai ou guardi�o para que a assine. Estamos anexando, nesta oportunidade, a lista de livros para o pr�ximo ano. Atenciosamente, Prof�. McGonagall Vice-Diretora. Harry tirou do envelope o formul�rio de autoriza��o para ir a Hogsmeade e leu-o, mas j� n�o sorria. Seria maravilhoso visitar Hogsmeade nos fins de semana; ele sabia que era um povoado s� de bruxos, em que nunca estivera. Mas como � que ia convencer o tio V�lter ou a tia Pet�nia a assinar o formul�rio? Ele olhou para o despertador. Eram agora duas horas da manh�. Decidindo que se preocuparia com o formul�rio de Hogsmeade quando acordasse, Harry voltou para a cama e se esticou para riscar mais um dia no calend�rio que fizera para contar o tempo que faltava para regressar a Hogwarts. Tirou ent�o os �culos e se deitou, de olhos abertos, de frente para os tr�s cart�es de anivers�rio. Mesmo sendo muito fora do comum, naquele momento Harry Potter se sentiu como todo mundo: feliz, pela primeira vez na vida, porque era o dia do seu anivers�rio. CAP�TULO DOIS O grande erro de tia Guida Harry desceu para o caf� na manh� seguinte e j� encontrou os tr�s Dursley sentados � mesa. Estavam assistindo a uma televis�o novinha em folha, um presente de boas-vindas para as f�rias de ver�o em casa de Duda, que andara se queixando, em v�rias vozes, sobre a grande dist�ncia entre a geladeira e a televis�o da sala. Duda passara a maior parte do ver�o na cozinha, seus mi�dos olhinhos de porco fixos na telinha e sua papada em cinco camadas balan�ando enquanto ele comia sem parar. Harry sentou-se entre Duda e tio V�lter, um homem grande e socado, com pesco�o de menos e bigodes de mais. Longe de desejarem a Harry um feliz anivers�rio, os Dursley n�o deram qualquer sinal de que tinham reparado em sua entrada na cozinha, mas o menino estava mais do que acostumado com isso para se importar. Serviu-se de uma fatia de torrada e em seguida olhou para o rep�rter na televis�o, que j� ia adiantado na transmiss�o de uma not�cia sobre um fugitivo da pris�o. �Alertamos os nossos telespectadores de que Black est� armado e � extremamente perigoso. Se algu�m o avistar dever� ligar para o n�mero do plant�o de emerg�ncia imediatamente.� � Nem precisa dizer quem ele � � riu-se tio V�lter, espiando o prisioneiro por cima do jornal. � Olhem s� o estado dele, a imundice do desleixado! Olhem o cabelo dele! E lan�ou um olhar de esguelha, maldoso, para Harry, cujos cabelos despenteados sempre tinham sido uma fonte de grande aborrecimento para o tio. Comparado ao homem da televis�o, por�m, cujo rosto ossudo era emoldurado por um emaranhado que lhe chegava aos cotovelos, Harry se sentiu, na verdade, muito bem penteado. O rep�rter reaparecera. "O Minist�rio da Agricultura e da Pesca ir� anunciar hoje...� � Espere a�! � berrou tio V�lter, olhando furioso para o rep�rter, � Voc� n�o disse de onde esse man�aco fugiu! De que adiantou o alerta? O louco pode estar passando na minha rua neste exato momento! Tia Pet�nia, que era ossuda e tinha cara de cavalo, virou-se depressa e espiou com aten��o pela janela da cozinha. Harry sabia que a tia simplesmente adoraria poder ligar para o telefone do plant�o de emerg�ncia. Era a mulher mais bisbilhoteira do mundo e passava a maior parte da vida espionando os vizinhos sem gra�a, que nunca faziam nada errado. � Quando � que eles v�o aprender � exclamou tio V�lter, batendo na mesa com o punho grande e arroxeado � que a forca � a �nica solu��o para gente assim? � � verdade � concordou tia Pet�nia, que ainda procurava ver alguma coisa por entre a trepadeira do vizinho. Tio V�lter terminou de beber a x�cara de ch�, deu uma olhada no rel�gio de pulso e acrescentou: � � melhor eu ir andando, Pet�nia. O trem de Guida chega �s dez. Harry, cujos pensamentos andavam no andar de cima com o Estojo para Manuten��o de Vassouras, foi trazido de volta � terra com um tranco desagrad�vel. � Tia Guida? � o garoto deixou escapar. � �... Ela n�o est� vindo para c�, est�? Tia Guida era irm� de tio V�lter. Embora n�o fosse um parente consang��neo de Harry (cuja m�e fora irm� de tia Pet�nia), a vida inteira ele tinha sido obrigado a cham�-la de "tia". Tia Guida morava no campo, em uma casa com um grande jardim, onde ela criava buldogues. Raramente se hospedava na Rua dos Alfeneiros, porque n�o conseguia suportar a id�ia de se separar dos seus preciosos cachorros, mas cada uma de suas visitas permanecia horrivelmente n�tida na cabe�a de Harry. Na festa do quinto anivers�rio de Duda, tia Guida tinha dado umas bengaladas nas canelas de Harry para impedi-lo de vencer o primo em uma brincadeira. Alguns anos mais tarde, ela aparecera no Natal trazendo um rob� computadorizado para Duda e uma caixa de biscoitos de cachorro para Harry. Na �ltima visita, um ano antes do garoto entrar para Hogwarts, ele pisara sem querer o rabo do cachorro favorito da tia. Estripador perseguira Harry at� o jardim e o acuara em cima de uma �rvore, mas tia Guida se recusara a recolher o cachorro at� depois da meia-noite. A lembran�a desse incidente ainda produzia l�grimas de riso nos olhos de Duda. � Guida vai passar uma semana aqui � rosnou tio V�lter � e enquanto estamos nesse assunto � ele apontou um dedo gordo e amea�ador para Harry � precisamos acertar algumas coisas antes de eu sair para apanh�-la. Duda fez ar de riso e desviou o olhar da televis�o. Assistir a Harry ser maltratado pelo pai era sua divers�o favorita. � Em primeiro lugar � rosnou tio V�lter �, voc� vai falar com bons modos quando se dirigir a Guida. � Tudo bem � disse Harry com amargura �, se ela fizer o mesmo quando se dirigir a mim. � Em segundo lugar � continuou o tio, fingindo n�o ter ouvido a resposta de Harry �, como Guida n�o sabe nada da sua anormalidade, n�o quero nenhuma... Nenhuma gracinha enquanto ela estiver aqui. Voc� vai se comportar, est� me entendendo? � Eu me comporto se ela se comportar � retrucou Harry entre dentes. � E em terceiro lugar � disse tio V�lter, seus olhinhos maldosos agora simples fendas na enorme cara p�rpura � dissemos a Guida que voc� freq�enta o Centro St. Brutus para Meninos Irrecuper�veis. � Qu�?� berrou Harry. � E voc� vai sustentar essa hist�ria, moleque, ou vai se dar mal � cuspiu tio V�lter. Harry ficou sentado ali, o rosto branco e furioso, encarando o tio V�lter, sem conseguir acreditar no que ouvia. Tia Guida vinha fazer uma visita de uma semana � era o pior presente de anivers�rio que os Dursley j� tinham lhe dado, incluindo nessa conta o par de meias velhas do tio. � Bom, Pet�nia � disse tio V�lter, levantando-se com esfor�o �, vou indo para a esta��o, ent�o. Quer me acompanhar para dar um passeio, Dudoca? � N�o � respondeu o menino, cuja aten��o se voltara para a televis�o agora que o pai acabara de amea�ar Harry. � O Dudinha tem que ficar elegante para receber a titia � disse tia Pet�nia, alisando os cabelos louros e espessos do filho. � Mam�e comprou para ele uma linda gravata-borboleta. Tio V�lter deu uma palmadinha no ombr�o de porco de Duda. � Vejo voc�s daqui a pouco, ent�o � disse ele, e saiu da cozinha. Harry que estivera sentado numa esp�cie de transe de horror, teve uma id�ia repentina. Abandonando a torrada, ele se levantou depressa e acompanhou o tio at� a sa�da. Tio V�lter estava vestindo o palet� que usava no carro. � Eu n�o vou levar voc� � rosnou ele ao se virar e ver Harry observando-o. � Como se eu quisesse ir � disse Harry friamente. � Quero lhe perguntar uma coisa. O tio mirou-o desconfiado. � Os alunos do terceiro ano em Hog... Na minha escola �s vezes t�m permiss�o para visitar o povoado pr�ximo � disse Harry. � E da�? � retrucou o tio, tirando as chaves do carro de um gancho pr�ximo � porta. � Preciso que o senhor assine o formul�rio de autoriza��o � disse Harry depressa. � E por que eu iria fazer isso? � falou o tio com desd�m. � Bom � respondeu Harry, escolhendo cuidadosamente as palavras � vai ser duro fingir para tia Guida que eu freq�ento o Saint n�o sei das quantas... E Harry ficou satisfeito de ouvir uma inconfund�vel nota de p�nico em sua voz. � Centro St. Brutus para Meninos Irrecuper�veis! � berrou. � Exatamente � disse Harry, encarando com toda a calma o rosto p�rpura do tio. � � muita coisa para eu me lembrar. Tenho que parecer convincente, n�o � mesmo? E se eu, sem querer, deixar escapar alguma coisa? � Vou fazer picadinho de voc�, n�o � mesmo? � rugiu o tio, avan�ando para o sobrinho com o punho levantado. Mas Harry ag�entou firme. � Fazer picadinho de mim n�o vai ajudar tia Guida a esquecer o que eu poderia contar a ela � disse em tom de amea�a. Tio V�lter parou, o punho ainda levantado, a cara de uma feia cor marrom-arroxeada. � Mas se o senhor assinar o meu formul�rio de autoriza��o � apressou- se Harry a acrescentar �, juro que vou me lembrar da escola que o senhor diz que freq�ento, e vou me comportar como um trou... Como se fosse normal e todo o resto. Harry percebeu que o tio estava considerando a proposta, mesmo que seus dentes estivessem arreganhados e uma veia latejasse em sua t�mpora. � Certo � disse por fim, bruscamente. � Vou vigiar o seu comportamento muito de perto durante a visita de Guida. Se, quando terminar, voc� tiver andado na linha e sustentado a hist�ria, eu assino a droga do formul�rio. E, dando meia-volta, abriu a porta e bateu-a com tanta for�a que uma das vidra�as no alto se soltou. Harry n�o voltou � cozinha. Subiu as escadas e foi para o quarto. Se ia se comportar como um trouxa de verdade, era melhor come�ar j�. Devagar e com tristeza, reuniu seus presentes e cart�es de anivers�rio e escondeu-os debaixo da t�bua solta do soalho com os deveres de casa. Depois, foi at� a gaiola de Edwiges. Errol parecia ter-se recuperado; ele e Edwiges estavam dormindo, com a cabe�a enfiada embaixo da asa. Harry suspirou e cutucou as corujas; para acord�-las. � Edwiges � disse deprimido �, voc� vai ter que dar o fora por uma semana. V� com Errol. Rony cuidar� de voc�. Vou escrever um bilhete para ele explicando. E n�o me olhe assim � os grandes olhos �mbar de Edwiges se encheram de censura �, n�o � minha culpa. � o �nico jeito que tenho de conseguir uma autoriza��o para visitar Hogsmeade com Rony e Hermione. Dez minutos depois, Errol e Edwiges (que levava um bilhete para Rony amarrado na perna) sa�ram voando pela janela e desapareceram de vista. Harry, agora se sentindo completamente infeliz, guardou a gaiola vazia dentro do arm�rio. Mas n�o teve muito tempo para se entristecer. N�o demorou quase nada e tia Pet�nia j� estava gritando l� embaixo para Harry descer e se preparar para dar as boas-vindas � h�spede. � Fa�a alguma coisa com o seu cabelo! � disse tia Pet�nia bruscamente quando o sobrinho chegou embaixo. Harry n�o via sentido em tentar fazer seu cabelo ficar penteado. Tia Guida adorava critic�-lo, por isso, quanto mais desarrumado, mais satisfeita ela iria ficar. Demasiado cedo, ouviu-se um ru�do de pneu triturando areia quando o carro de tio V�lter entrou de marcha a r� pelo caminho da garagem, depois, batidas de portas e passos no jardim. � Atenda a porta! � sibilou tia Pet�nia para Harry. Com uma sensa��o de grande tristeza e depress�o na boca do est�mago, Harry abriu a porta. Na soleira encontrava-se tia Guida. Era muito parecida com o tio V�lter; corpulenta, alta, socada, a cara p�rpura, tinha at� bigode, embora n�o t�o peludo quanto o do irm�o. Em uma das m�os ela trazia uma enorme mala, e, aninhado sob a outra, um buldogue velho e mal-humorado. � Onde est� o meu Dudoca? � bradou tia Guida. � Onde est� o meu sobrinho fofo? Duda veio gingando em dire��o ao hall, os cabelos louros emplastrados na cabe�a gorda, uma gravata-borboleta quase invis�vel sob a papada qu�ntupla. Tia Guida largou a mala na barriga de Harry, deixando-o sem ar, agarrou Duda num abra�o apertado com o bra�o livre e plantou-lhe uma beijoca na bochecha. Harry sabia perfeitamente bem que Duda s� ag�entava os abra�os da tia porque era bem pago para isso, e n�o deu outra, quando os dois se separaram, Duda levava uma nota novinha de vinte libras apertada na m�o gorda. � Pet�nia! � exclamou tia Guida, passando por Harry como se ele fosse um cabide de chap�us. As duas se beijaram, ou melhor, tia Guida deu uma queixada na bochecha ossuda de tia Pet�nia. Tio V�lter entrou nesse momento, sorrindo jovialmente e fechou a porta. � Ch�, Guida? � ofereceu. � E o que � que o Estripador vai tomar? � Estripador pode beber um pouco de ch� no meu pires � respondeu tia Guida enquanto seguiam todos para a cozinha, deixando Harry sozinho no hall com a mala. Mas o menino n�o ia se queixar; qualquer desculpa para ficar longe da tia era bem-vinda, por isso come�ou a carregar a pesada mala para o quarto de h�spedes, demorando o m�ximo que p�de. No momento em que voltou � cozinha, tia Guida j� fora servida de ch� e bolo de frutas e Estripador lambia alguma coisa, fazendo muito barulho, a um canto. Harry viu tia Pet�nia fazer uma ligeira careta ao ver gotas de ch� e baba pontilharem o seu ch�o limpo. Ela detestava animais. � Quem ficou cuidando dos outros cachorros, Guida? � perguntou tio V�lter. � Ah, deixei o coronel Fubster tratando deles � ribombou em resposta Guida. � Ele entrou para a reforma agora e � bom ter alguma coisa para fazer. Mas n�o pude deixar o coitado do Estripador, t�o velho. Ele fica doente de tristeza quando viajo. Estripador recome�ou a rosnar quando Harry se sentou. Isto atraiu a aten��o de tia Guida para Harry, pela primeira vez. � Ent�o! � vociferou ela. � Ainda est� por aqui? � Estou � respondeu o menino. � N�o diga "estou" nesse tom ingrato � rosnou tia Guida. � � uma grande bondade V�lter e Pet�nia acolherem voc�. Eu n�o teria feito o mesmo. Eu o teria mandado direto para um orfanato se algu�m largasse voc� na minha porta. Harry estava doido para responder que preferia viver em um orfanato do que com os Dursley, mas a lembran�a do formul�rio de Hogsmeade fez com que se calasse. Ele se esfor�ou para dar um sorriso constrangido. � N�o me venha com sorrisinhos! � trovejou tia Guida. � Estou vendo que n�o melhorou nada desde a �ltima vez que o vi. Tive esperan�as que a escola lhe desse educa��o � for�a, se fosse preciso. � Ela tomou um grande gole de ch�, limpou o bigode e continuou: � Aonde mesmo que voc� o est� mandando V�lter? � St. Brutus � respondeu o tio prontamente. � � uma institui��o de primeira classe para casos irrecuper�veis. � Entendo. Eles usam a vara em St. Brutus? � vociferou ela do lado oposto da mesa. Tio V�lter fez um breve aceno de cabe�a por tr�s de tia Guida. � Usam � respondeu Harry. Depois, sentindo que devia fazer a coisa bem-feita, acrescentou: � o tempo todo. � �timo � aprovou tia Guida. � Eu n�o aceito essa conversa fiada de n�o bater em gente que merece. Uma boa surra de vara resolve noventa e nove casos em cem. Voc� j� apanhou muitas vezes? � Ah, j� � respondeu Harry �, um monte de vezes. Tia Guida apertou os olhos. � N�o gosto do seu tom, moleque. Se voc� consegue falar das surras que leva com esse tom displicente, obviamente n�o est�o lhe batendo com a for�a que deviam. Pet�nia, se eu fosse voc� escreveria � escola. Deixaria claro que os tios aprovavam o uso de for�a extrema no caso desse moleque. Talvez tio V�lter estivesse preocupado que Harry pudesse esquecer o acordo que tinham feito; o caso � que ele mudou o assunto bruscamente. � Ouviu o notici�rio hoje de manh�, Guida? E aquele prisioneiro que fugiu, hein? Enquanto tia Guida come�ava a se fazer em casa, Harry se surpreendeu pensando quase com saudade na vida na Rua dos Alfeneiros, n�. 4 sem ela. Tio V�lter e tia Pet�nia em geral encorajavam Harry a ficar fora do caminho deles, o que o menino fazia com a maior satisfa��o. Tia Guida, por outro lado, queria Harry debaixo dos seus olhos o tempo todo, para poder fazer, com aquele vozeir�o, sugest�es para melhor�-lo. Adorava comparar Harry a Duda, e tinha o maior prazer de comprar presentes caros para Duda enquanto olhava feio para Harry, como se o desafiasse a perguntar por que n�o recebera um presente tamb�m. Al�m disso, ela n�o parava de soltar piadas de mau gosto sobre as raz�es de Harry ser uma pessoa t�o deficiente. � Voc� n�o deve se culpar pelo que os meninos s�o hoje, V�lter � comentou ela durante o almo�o do terceiro dia. � Se existe alguma coisa podre por dentro, n�o h� nada que ningu�m possa fazer. Harry tentou se concentrar na comida, mas suas m�os tremiam e seu rosto come�ou a arder de raiva. Lembre-se do formul�rio, disse a si mesmo. �Pense em Hogsmeade. N�o diga nada. N�o se levante...� Tia Guida esticou a m�o para a ta�a de vinho. � Isso � uma das regras b�sicas da cria��o, disse ela. � A gente v� isso o tempo todo com os cachorros. Se tem alguma coisa errada com uma cadela, vai ter alguma coisa errada com o filhote... Naquele momento, a ta�a de vinho que tia Guida segurava explodiu em sua m�o. Cacos de vidro voaram para todo lado e ela gaguejou e piscou, a cara�a vermelha pingando. � Guida! � guinchou tia Pet�nia. � Guida, voc� est� bem? � N�o se preocupe � resmungou tia Guida, enxugando o rosto com o guardanapo. � Devo ter segurado a ta�a com muita for�a. Fiz a mesma coisa na casa do coronel Fubster no outro dia. N�o precisa se preocupar, Pet�nia, tenho a m�o pesada... Mas tia Pet�nia e tio V�lter olharam desconfiados para Harry. Por isso o menino resolveu que era melhor n�o comer a sobremesa e se retirar da mesa o mais depressa que pudesse. No corredor, apoiou-sena parede e respirou profundamente. Fazia muito tempo desde a �ltima vez que se descontrolara e fizera uma coisa explodir. N�o podia deixar que isso acontecesse de novo, O formul�rio de Hogsmeade n�o era a �nica coisa em jogo � se ele continuasse a agir assim, ia se encrencar com o Minist�rio da Magia. Harry ainda era um bruxo menor de idade, portanto, pela lei dos bruxos, ele era proibido de fazer m�gica fora da escola. A ficha dele n�o era muito limpa. Ainda no ver�o anterior recebera uma carta oficial em que o avisavam muito claramente que se o Minist�rio tomasse conhecimento de qualquer magia ocorrida na Rua dos Alfeneiros, ele seria expulso de Hogwarts. Harry ouviu os Dursley se levantarem da mesa e correu escada acima para sair do caminho. Harry conseguiu sobreviver os tr�s dias seguintes for�ando-se a pensar no manual de Fa�a a Manuten��o da sua Vassoura sempre que tia Guida implicava com ele. A coisa funcionou muito bem, embora seu olhar parecesse vidrado, porque tia Guida come�ou a ventilar a opini�o de que ele era mentalmente deficiente. Finalmente, um finalmente muito demorado, chegou a �ltima noite da estada de tia Guida. Tia Pet�nia preparou um jantar caprichado e tio V�lter abriu v�rias garrafas de vinho. Eles conseguiram terminar a sopa e o salm�o sem mencionar nem uma vez os defeitos de Harry; quando comiam a torta merengue de lim�o, tio V�lter deu um cansa�o em todo mundo com uma longa conversa sobre Crunnings, sua empresa de brocas; depois tia Pet�nia preparou o caf� e o marido apanhou uma garrafa de conhaque. � Posso lhe oferecer essa tenta��o, Guida? Tia Guida j� bebera muito vinho. Sua cara enorme estava muito vermelha. � S� um pouquinho, ent�o � disse ela rindo. � Um pouquinho mais... Mais... A�, perfeito. Duda estava comendo o quarto peda�o de torta. Tia Pet�nia bebericava caf� com o dedo mindinho esticado. Harry realmente queria desaparecer e ir para o quarto, mas deparou com os olhinhos zangados do tio V�lter e viu que teria de ag�entar at� o fim. � Aah � exclamou tia Guida, estalando os l�bios e pousando o c�lice de conhaque. � Um senhor jantar, Pet�nia. Normalmente s� como uma coisinha r�pida � noite, com uma d�zia de cachorros para cuidar.. � Ela soltou um gostoso arroto e deu umas palmadinhas na grande barriga coberta de tweed. � Me desculpem. Mas gosto de ver um menino de tamanho saud�vel � continuou ela, dando uma piscadela para Duda. � Voc� vai ter tamanho de homem, Dudoca, como seu pai. Sim, senhor, acho que vou querer mais um pouquinho de conhaque, V�lter... Agora esse outro ai... Ela virou a cabe�a para indicar Harry que sentiu um aperto no est�mago. O manual pensou depressa. � Esse a� tem um jeito ruim e mirrado. A gente v� isso nos cachorros. Pedi ao coronel Fubster para afogar um no ano passado. Era um ratinho. Fraco. Subnutrido. Harry tentou se lembrar da p�gina doze do seu livro Feiti�o para Reverter Feiti�os Persistentes. � A coisa toda est� ligada ao sangue, como eu ia dizendo ainda outro dia. O sangue ruim acaba aflorando. Mas, n�o estou dizendo nada contra a sua fam�lia, Pet�nia � ela deu umas pancadinhas na m�o ossuda da cunhada com sua m�o que mais parecia uma p� �, mas sua irm� n�o era flor que se cheirasse. Isso acontece nas melhores fam�lias. Depois, fugiu com aquele imprest�vel e a� est� o resultado bem diante dos olhos da gente. Harry olhava fixamente para o pr�prio prato, sentindo uma zoeira engra�ada nos ouvidos. �Segure sua vassoura pela cauda com firmeza�, pensou. Mas n�o conseguiu se lembrar do que vinha depois. A voz de tia Guida parecia perfur�-lo como se fosse uma das brocas do tio V�lter. � Esse Potter � continuou tia Guida bem alto, agarrando a garrafa e derramando mais conhaque no copo e na toalha da mesa �, voc� nunca me contou o que ele fazia. Tio V�lter e tia Pet�nia tinham uma express�o extremamente tensa. Duda chegara a levantar os olhos da torta para olhar os pais, boquiaberto. � Ele... N�o trabalhava � disse tio V�lter, sem chegar a olhar de todo para Harry. � Desempregado. � Era o que eu esperava � disse tia Guida, bebendo um enorme gole de conhaque e limpando o queixo na manga. � Um parasita pregui�oso, imprest�vel, sem eira nem beira que... � N�o era n�o � exclamou Harry inesperadamente. Todos � mesa ficaram muito quietos. Harry tremia da cabe�a aos p�s. Nunca sentira tanta raiva na vida. � MAIS CONHAQUE! � bradou tio V�lter, que empalidecera sensivelmente. Ele esvaziou a garrafa no c�lice de tia Guida. � Voc�, moleque � rosnou para Harry. � V� se deitar, ande... � N�o, V�lter � solu�ou tia Guida, erguendo a m�o, os olhinhos injetados e fixos em Harry. � Continue, moleque, continue. Tem orgulho dos seus pais, �? Eles saem por a� e se matam num acidente de carro (imagino que b�bados)... � Eles n�o morreram num acidente de carro! � protestou Harry, que percebeu que se levantara. � Morreram num acidente de carro, sim, seu mentiroso infeliz, e jogaram voc� nos ombros de parentes decentes e trabalhadores! � gritou tia Guida, inchando de f�ria. � Voc� � um ingrato, insolente e... Mas repentinamente ela se calou. Por um instante pareceu que tinham-lhe faltado palavras. Parecia estar inchando, engasgada de tanta raiva... Mas n�o parou de inchar. Sua cara enorme e vermelha come�ou a crescer, os olhos mi�dos saltaram das �rbitas, e a boca se esticou tanto que a impedia de falar � no segundo seguinte v�rios bot�es simplesmente saltaram do seu palet� de tweed e ricochetearam nas paredes �, ela inflou como um bal�o monstruoso, a barriga transbordou o c�s da saia, os dedos engrossaram como salames... � GUIDA! � berraram tio V�lter e tia Pet�nia juntos quando o corpo dela come�ou a se erguer da cadeira em dire��o ao teto. Estava completamente redonda agora, como uma enorme b�ia com olhinhos porcinos, e as m�os e os p�s se projetaram estranhamente do corpo que flutuava no ar, dando estalinhos apopl�ticos. Estripador entrou derrapando na sala, latindo enlouquecido. � N�������O! Tio V�lter agarrou Guida por um p� e tentou pux�-la para baixo, mas quase foi erguido do ch�o tamb�m. Um segundo depois, Estripador avan�ou, e de um salto abocanhou a perna do tio V�lter. Harry se precipitou, para fora da sala de jantar antes que algu�m pudesse impedi-lo, e correu para o arm�rio sob a escada. A porta do arm�rio se abriu magicamente quando ele se aproximou. Em segundos, o garoto tinha arrastado o seu mal�o para a porta da rua. Subiu aos saltos a escada e se atirou embaixo da cama, levantando a t�bua solta do soalho, agarrou a fronha cheia de livros e presentes de anivers�rio. Arrastou-se para fora, passou a m�o na gaiola vazia de Edwiges, correu de volta ao lugar em que deixara o mal�o, na hora em que tio V�lter irrompia da sala de jantar, com a perna da cal�a em tiras ensang�entadas. � VOLTE AQUI! � urrou. � VOLTE AQUI E FA�A-A VOLTAR AO NORMAL! Mas uma raiva que n�o media conseq��ncias se apoderara de Harry. Ele deu um chute no mal�o para abri-lo, puxou a varinha e apontou-a para o tio V�lter. � Ela mereceu � disse ofegante. � Ela mereceu o que aconteceu. E o senhor fique longe de mim. Depois, tateou �s costas � procura do trinco da porta. � Vou-me embora. Para mim j� chega. E no momento seguinte Harry estava na rua escura e silenciosa, puxando o mal�o pesado, a gaiola de Edwiges debaixo do bra�o. CAP�TULO TR�S O N�itibus Andante Harry j� estava bem distante quando se largou em cima de um muro baixo na Rua Magn�lia, uma rua curva de pr�dios geminados, ofegante com o esfor�o de arrastar o mal�o. Sentou-se muito quieto, ainda espumando de raiva, escutando o galope desenfreado do seu cora��o. Mas depois de uns dez minutos sozinho na rua escura, uma nova emo��o se apoderou dele: o p�nico. De qualquer maneira que considerasse o caso, ele nunca se vira em situa��o pior. Estava perdido, sozinho, no escuro mundo dos trouxas, absolutamente sem ter aonde ir. E o pior era que acabara de executar um feiti�o s�rio, o que significava que quase certamente seria expulso de Hogwarts. Violara t�o flagrantemente o decreto que limitava o uso da magia por menores, que se surpreendeu que os representantes do Minist�rio da Magia n�o tivessem ca�do em cima dele ali mesmo. Harry estremeceu e olhou para os dois lados da Rua Magn�lia. O que ia lhe acontecer? Seria preso ou simplesmente banido do mundo dos bruxos? Ele pensou em Rony e em Hermione, e seu cora��o ficou ainda mais apertado. Harry tinha certeza de que, fosse criminoso ou n�o, Rony e Hermione iriam querer ajud�-lo agora, mas os dois estavam no exterior e, com Edwiges ausente, ele n�o tinha meios de entrar em contato com os amigos. E tampouco tinha dinheiro dos trouxas. Havia um ourinho na carteira que guardara no fundo do mal�o, mas o resto da fortuna que seus pais tinham lhe deixado estava depositado em um cofre do banco dos bruxos em Londres, o Gringotes. Ele jamais conseguiria arrastar o mal�o at� Londres. A n�o ser que... Ele olhou para a varinha que ainda mantinha segura na m�o. Se j� fora expulso (seu cora��o agora batia dolorosamente depressa), um pouco mais de magia n�o iria fazer mal algum. Tinha a Capa da Invisibilidade que herdara do pai � e se encantasse o mal�o para torn�-lo leve como uma pena, o amarrasse � vassoura e voasse at� Londres? Ent�o poderia retirar o resto do seu dinheiro do cofre e... Come�ar uma vida de proscrito. Era uma perspectiva terr�vel, mas n�o podia ficar sentado naquele muro para sempre, ou ia acabar tendo que explicar � pol�cia dos trouxas o que estava fazendo ali, na calada da noite, com um mal�o cheio de livros de bruxaria e uma vassoura. Harry tornou a abrir o mal�o e empurrou as coisas para um lado � procura da Capa da Invisibilidade � mas antes de apanh�-la, endireitou o corpo de repente e olhou mais uma vez a toda a volta. Um formigamento estranho na nuca o fizera sentir que estava sendo observado, mas a rua parecia deserta e n�o havia luz nos grandes pr�dios quadrados. Ele tornou a se curvar para o mal�o, mas quase imediatamente se endireitou, a m�o apertando a varinha. N�o ouvira, sentira uma coisa: algu�m ou alguma coisa estava parado no estreito v�o entre a garagem e a grade atr�s dele. Harry apertou os olhos para enxergar melhor a passagem escura. Se ao menos aquilo se mexesse, ent�o ele saberia se era apenas um gato sem dono ou... Outra coisa qualquer. � Lumus � murmurou Harry, e apareceu uma luz na ponta de sua varinha, que quase o cegou. Ele levantou a varinha acima da cabe�a e as paredes incrustadas de seixos do n�. 2, de repente, faiscaram; a porta da garagem reluziu e entre as duas Harry viu, com muita clareza, os contornos maci�os de alguma coisa muito grande com olhos enormes e brilhantes. Harry recuou. Suas pernas bateram no mal�o e ele trope�ou. A varinha voou de sua m�o quando ele abriu os bra�os para amortecer a queda, e aterrissou com toda a for�a na sarjeta. Ouviu-se um estampido ensurdecedor e Harry ergueu as m�os para proteger os olhos da luz repentina e ofuscante... Com um grito, ele rolou para cima da cal�ada bem em tempo. Um segundo depois, dois far�is altos e dois gigantescos pneus pararam cantando exatamente no lugar em que Harry estivera ca�do. As duas coisas pertenciam, Harry viu quando ergueu a cabe�a, a um �nibus de tr�s andares, roxo berrante, que se materializara do nada. Letras douradas no p�ra-brisa informavam: O N�itibus Andante. Por uma fra��o de segundo, Harry ficou imaginando se o tombo o teria deixado abobado. Ent�o, um condutor de uniforme roxo saltou do �nibus para anunciar em altas vozes aos ventos da noite: � Bem-vindo ao �nibus N�itibus Andante, o transporte de emerg�ncia para bruxos e bruxas perdidos. Basta esticar a m�o da varinha, subir a bordo e podemos lev�-lo aonde quiser. Meu nome � Stanislau Shunpike, Lalau, e serei seu condutor por esta noi... Lalau parou abruptamente. Acabara de avistar Harry que continuava sentado no ch�o. O menino recuperou a varinha e ficou de p� como p�de. Aproximando-se, viu que Lalau era apenas alguns anos mais velho que ele, tinha dezoito ou dezenove anos no m�ximo, grandes orelhas de abano e uma grande quantidade de espinhas. � Que � que voc� estava fazendo aqui? � perguntou Lalau, pondo de lado sua pose profissional. � Ca� � respondeu Harry � E por que foi que voc� caiu? � ca�oou Lalau. � N�o ca� de prop�sito � respondeu Harry, incomodado. Uma perna de seu jeans se rasgara e a m�o que ele estendera para aliviar a queda estava sangrando. De repente ele se lembrou por que ca�ra e se virou depressa para o lado para ver a passagem entre a garagem e a cerca. Os far�is do N�itibus agora a inundavam de luz e ela estava vazia. � Que � que voc� est� olhando? � perguntou Lalau. � Havia uma coisa grande e escura � respondeu Harry, apontando hesitante para a abertura. � Parecia um cachorro... Mas enorme... Harry olhou para Lalau, cuja boca estava entreaberta. Com um certo constrangimento, Harry viu o seu olhar se deter na cicatriz de sua testa. � Que � que � isso na sua testa? � perguntou Lalau de repente. � Nada � apressou-se a dizer Harry, achatando os cabelos em cima da cicatriz. Se os funcion�rios do Minist�rio da Magia estivessem � sua procura, ele n�o ia facilitar a vida deles. � Qual � o seu nome? � insistiu Lalau. � Neville Longbottom � respondeu Harry com o primeiro nome que lhe veio � cabe�a. � Ent�o... Este �nibus � emendou ele depressa na esperan�a de desviar a aten��o do rapaz �, voc� disse que vai a qualquer lugar? � Isso a� � respondeu Lalau orgulhoso �, qualquer lugar que voc� queira desde que seja em terra. � imprest�vel debaixo da �gua. Aqui � disse ele outra vez desconfiado �, voc� fez sinal para a gente parar, n�o fez? Esticou a m�o da varinha, n�o esticou? � Claro � confirmou Harry depressa. � Escuta aqui, quanto custaria me levar at� Londres? � Onze sicles, mas por catorze voc� ganha chocolate quente e por quinze um saco de �gua quente e uma escova de dentes da cor que voc� quiser. Harry remexeu outra vez no mal�o, tirou a bolsa de dinheiro, e empurrou um ourinho na m�o de Lalau. Ele e o rapaz ent�o ergueram o mal�o, com a gaiola de Edwiges equilibrada na tampa, e subiram no �nibus. N�o havia lugares para a pessoa sentar; em vez disso havia meia d�zia de estrados de lat�o ao longo das janelas protegidas por cortinas. Ao lado de cada cama, ardiam velas em suportes, que iluminavam as paredes revestidas de pain�is de madeira. Na traseira do �nibus, uma bruxa mi�da usando touca de dormir murmurou: � Agora n�o, obrigada, estou fazendo uma conserva de lesmas. � E voltou a adormecer. � Voc� fica com essa a� � cochichou Lalau, empurrando o mal�o de Harry para baixo da cama logo atr�s do motorista, que se achava sentado em uma cadeira de bra�os diante do volante. � Este � o nosso motorista, Ernesto Prang. Este aqui � o Neville Longbottom, Ernesto. Ernesto Prang, um bruxo idoso que usava �culos de grossas lentes, cumprimentou com um aceno de cabe�a o novo passageiro, que tornou a achatar nervosamente a franja contra a testa e se sentou na cama. � Pode mandar ver, Ernesto � disse Lalau, sentando-se na cadeira ao lado do motorista. Ouviu-se mais um estampido assustador e, no instante seguinte, Harry se sentiu achatado contra a cama, atirado para tr�s pela velocidade do N�itibus. Endireitando-se, o menino espiou pela janela escura e viu que agora deslizavam suavemente por uma rua completamente diferente. Lalau observava o rosto surpreso de Harry achando muita gra�a. � Era aqui que a gente estava antes de voc� fazer sinal para o �nibus parar � disse ele. � Onde � que n�s estamos, Ernesto? Em algum lugar do Pa�s de Gales? � Hum-hum � respondeu o motorista � Como � que os trouxas n�o ouvem o �nibus? � perguntou Harry. � Os trouxas! � exclamou Lalau com desd�m. � E eles l� escutam direito? E tamb�m n�o enxergam direito. Nunca reparam em nada, n�o � mesmo? � � melhor ir acordar Madame Marsh, Lalau � disse Ernesto. � Vamos entrar em Abergavenny dentro de um minuto. Lalau passou pela cama de Harry e desapareceu por uma estreita escada de madeira. Harry continuou a espiar pela janela, sentindo-se mais nervoso a cada hora. Ernesto n�o parecia ter dominado o uso do volante, O N�itibus a toda hora subia na cal�ada, mas n�o batia em nada; os fios dos lampi�es, as caixas de correio e as latas de lixo saltavam fora do caminho quando o �nibus se aproximava e tornavam � posi��o anterior depois de ele passar Lalau voltou do primeiro andar, seguido de uma bruxa meio esverdeada e embrulhada em uma capa de viagem. � Chegamos, Madame Marsh � exclamou Lalau alegremente, enquanto Ernesto metia o p� no freio e as camas deslizavam bem uns trinta cent�metros para a dianteira do �nibus. Madame Marsh cobriu a boca com um len�o e desceu as escadas, titubeante. Lalau atirou a mala para ela e bateu as portas do �nibus; ouviu-se novo estampido, e o ve�culo saiu roncando por uma estradinha do interior, fazendo as �rvores saltarem de banda. Harry n�o teria conseguido dormir mesmo se estivesse viajando em um �nibus que n�o produzisse tantos estampidos e saltasse um quil�metro e meio de cada vez, seu est�mago deu muitas voltas quando ele tornou a refletir no que iria lhe acontecer, e se os Dursley j� teriam conseguido tirar tia Guida do teto. Lalau abrira um exemplar do Profeta Di�rio e agora o lia mordendo a l�ngua. Um homem de rosto encovado, e cabelos longos e embara�ados piscou devagarinho para Harry em uma grande foto na primeira p�gina. Pareceu-lhe estranhamente familiar. � Esse homem! � exclamou Harry, esquecendo-se por um momento dos pr�prios problemas. � Ele apareceu no notici�rio dos trouxas! Lalau virou para a primeira p�gina e deu uma risadinha. � Sirius Black � disse, confirmando com a cabe�a. � Claro que apareceu no notici�rio dos trouxas, Neville, por onde voc� tem andado? � E deu uma risadinha de superioridade ao ver o olhar vidrado no rosto de Harry; rasgou a primeira p�gina e entregou-a ao garoto. � Voc� devia ler mais jornal. Harry ergueu a p�gina diante da luz e leu: BLACK AINDA FORAGIDO Sirius Black, provavelmente o condenado de pior fama j� preso na fortaleza de Azkaban, continua a escapar da pol�cia, confirmou hoje o Minist�rio da Magia. � Estamos fazendo todo o poss�vel para recapturar Black � disse o Ministro da Magia, Corn�lio Fudge. Ouvido esta manh�. � E pedimos � comunidade m�gica que se mantenha calma. Fudge tem sido criticado por alguns membros da Federa��o Internacional de Bruxos por ter comunicado a crise ao Primeiro-Ministro dos Trouxas. � Bem, na realidade, eu tinha que fazer isso ou voc�s n�o sabem? � comentou Fudge irritado. � Black � doido. � um perigo para qualquer pessoa que o aborre�a, seja bruxo ou trouxa. � O Primeiro-Ministro me garantiu que n�o revelar� a verdadeira identidade de Black. E vamos admitir quem iria acreditar se ele revelasse?� Enquanto os trouxas foram informados apenas de que Black est� armado (com uma esp�cie de varinha de metal que os bruxos usam para se matar uns aos outros), a comunidade m�gica vive no temor de um massacre como o que ocorreu h� doze anos, quando Black matou treze pessoas com um �nico feiti�o. Harry olhou bem dentro dos olhos sombrios de Sirius Black, a �nica parte do rosto encovado que parecia ter vida. O menino jamais encontrara um vampiro, mas vira fotos nas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, e Black, com a pele branca como cera, se parecia muito com um. � Carinha sinistro, n�o � mesmo? � comentou Lalau, que estivera observando Harry enquanto lia. � Ele matou treze pessoas? � admirou-se Harry, devolvendo a p�gina a Lalau. � Com um feiti�o? � � isso a�, bem na frente de testemunhas e tudo. Em plena luz do dia. Armou uma confus�o do caramba n�o foi, Ernesto? � Hum-hum � confirmou Ernesto sombriamente. Lalau girou a cadeira de bra�os, cruzou as m�os �s costas, a fim de olhar melhor para Harry. � Black foi um grande partid�rio de Voc�-Sabe-Quem � disse ele. � De quem, do Voldemort? � disse Harry sem pensar. At� as espinhas de Lalau ficaram brancas; Ernesto deu tal golpe de dire��o que uma casa de fazenda inteira teve que saltar para o lado para fugir do �nibus. � Voc� ficou maluco? � gritou Lalau. � Pra que foi que voc� foi dizer o nome dele? � Desculpe � apressou-se a dizer Harry. � Desculpe, eu... me esqueci... � Se esqueceu! � exclamou Lalau com a voz fraca. � Caramba, meu cora��o at� desembestou... � Ent�o... ent�o Black era partid�rio de Voc�-Sabe-Quem? � repetiu Harry como se pedisse desculpas. � E � � confirmou Lalau, ainda esfregando o peito. � �, � isso a�. Dizem que era muito chegado ao Voc�-Sabe-Quem... Em todo o caso, quando o pequeno Harry Potter levou a melhor sobre Voc�-Sabe-Quem... Harry, nervoso, achatou a franja na testa outra vez. � ... Todos os partid�rios de Voc�-Sabe-Quem foram ca�ados, n�o foi assim, Ernesto? A maioria deles sacou que estava tudo acabado, Voc�-Sabe-Quem tinha desaparecido e o pessoal ficou na moita. Mas o Sirius Black, n�o. Ouvi dizer que ele achou que ia ser o vice quando Voc�-Sabe-Quem assumisse o poder. Em todo o caso, eles cercaram Black no meio de uma rua cheia de trouxas e o cara puxou a varinha e explodiu metade da rua, atingiu um bruxo e mais uma d�zia de trouxas que estavam no caminho. Uma coisa horrorosa! E sabe o que foi que o Black fez depois? � Lalau continuou num sussurro teatral. � Qu�? � perguntou Harry. � Deu uma gargalhada. Ficou ali parado dando gargalhadas. E quando chegaram os refor�os do Minist�rio da Magia, ele acompanhou os caras sem a menor rea��o, rindo de se acabar. Porque ele � maluco, n�o �, Ernesto? Ele n�o � maluco? � Se ele ainda n�o era quando foi para Azkaban, agora � � comentou Ernesto com sua voz arrastada. � Eu preferia estourar os miolos a pisar naquele lugar. Mas acho que � bem feito... Depois do que ele aprontou... � Tiveram uma trabalheira para abafar o caso, n�o foi, Ernesto? � disse Lalau. � Ele mandou a rua antiga para o espa�o e matou todos aqueles trouxas. Que foi mesmo que falaram que tinha acontecido, Ernesto? � Explos�o de g�s � resmungou Ernesto. � E agora ele anda solto por a� � continuou Lalau, examinando mais uma vez a cara encovada de Black na foto do jornal. � Ningu�m nunca fugiu de Azkaban antes, n�o � mesmo, Ernesto? N�o sei como foi que ele fez isso. � de apavorar, hein? E olha s�, n�o acho que ele tivesse muita chance contra aqueles guardas de Azkaban, hein, Ernesto? � Ernesto sentiu um arrepio repentino. � Vamos mudar de assunto, Lalau. Esses guardas de Azkaban me d�o at� dor de barriga. Lalau largou o jornal com relut�ncia e Harry se encostou na janela do N�itibus, sentindo-se pior que nunca. N�o podia deixar de imaginar o que Lalau iria contar aos passageiros nas pr�ximas noites... "Voc� soube o que aconteceu com aquele Harry Potter? Mandou a tia pelos ares! Ele viajou aqui no N�itibus com a gente, n�o foi mesmo, Ernesto? Estava tentando se mandar...� Ele. Harry Potter, tinha infringido as leis dos bruxos igualzinho ao Sirius Black. Fazer tia Guida virar bal�o seria suficiente para ir parar em Azkaban? Harry n�o sabia nada sobre a pris�o dos bruxos, embora todo mundo que ele j� ouvira falar daquele lugar o fizesse no mesmo tom de medo. Hagrid, o guarda-ca�a de Hogwarts, passara dois meses l� ainda no ano passado. Harry jamais esqueceria a express�o de terror no rosto do amigo quando lhe disseram aonde ia, e Hagrid era uma das pessoas mais corajosas que Harry conhecia. O N�itibus corria pela escurid�o, espalhando para todo o lado moitas de plantas, latas de lixo, cabines telef�nicas e �rvores, e Harry continuava deitado, inquieto e infeliz, em sua cama de penas. Passado algum tempo, Lalau se lembrou de que Harry pagara pelo chocolate quente, mas derramou-o no travesseiro do garoto quando o �nibus passou bruscamente de Anglesca para Aberdeen. Um a um, bruxos e bruxas de roupa de dormir e chinelos desceram dos andares superiores e desembarcaram do �nibus. Todos pareciam satisfeitos de descer. Finalmente, Harry foi o �nico passageiro que restou. � Muito bem, ent�o, Neville � disse Lalau, batendo palmas �, que lugar de Londres voc� vai ficar? � No Beco Diagonal � respondeu Harry. � � pra j�. Segura firme a�... BANGUE. E na mesma hora o N�itibus estava correndo pela Rua Charing Cross como uma trovoada. Harry se sentou e ficou observando os edif�cios e bancos se espremerem para sair do caminho do ve�culo. O c�u estava um pouquinho mais claro. Ele tentaria passar despercebido por umas duas horas, iria ao Gringotes no instante em que o banco abrisse, depois iria embora � para onde, ele n�o sabia muito bem. Ernesto fincou o p� no freio e o N�itibus parou derrapando diante de um bar pequeno e de apar�ncia malcuidada, o Caldeir�o Furado, nos fundos do qual havia a porta m�gica para o Beco Diagonal. � Obrigado � disse Harry a Ernesto. Ele desceu os degraus com um pulo e ajudou Lalau a descer o mal�o e a gaiola de Edwiges para a cal�ada. � Bem � disse Harry. � Ent�o, tchau! Mas Lalau n�o estava prestando aten��o. Ainda parado � porta do �nibus, arregalava os olhos para a entrada sombria do Caldeir�o Furado. � Ah, a� est� voc�, Harry � exclamou uma voz. Antes que Harry pudesse se virar, sentiu uma m�o segur�-lo pelo ombro. Ao mesmo tempo, Lalau gritou: � Caramba! Ernesto corre aqui! Corre aqui! Harry ergueu a cabe�a para o dono da m�o em seu ombro e teve a sensa��o de que um balde de gelo estava virando dentro do seu est�mago � desembarcara diante de Corn�lio Fudge, o Ministro da Magia em pessoa. Lalau saltou para a cal�ada, ao lado deles. � Que nome foi que o senhor chamou Neville, ministro? � perguntou ele excitado. Fudge, um homenzinho gorducho, vestindo uma longa capa de risca de giz, parecia enregelado e exausto. � Neville? � repetiu ele, franzindo a testa. � Este � Harry Potter. � Eu sabia! � gritou Lalau radiante. � Ernesto! Ernesto! � o Harry Potter! Estou olhando para a cicatriz dele! � Bem � disse Fudge, irritado �, muito bem, fico satisfeito que o N�itibus tenha apanhado o Harry, mas ele e eu precisamos entrar no Caldeir�o Furado agora... Fudge aumentou a press�o no ombro de Harry, e o menino sentiu que estava sendo conduzido para o interior do bar. Um vulto curvo segurando uma lanterna apareceu � porta atr�s do balc�o. Era Tom, o dono encarquilhado e sem dentes do bar-hospedaria. � O senhor o encontrou, ministro! � exclamou Tom. � Quer alguma coisa para beber? Cerveja? Conhaque? � Talvez um bule de ch� � disse Fudge, que continuava segurando Harry. Ouviram-se passos que arranhavam o ch�o e gente ofegante atr�s deles, e Lalau e Ernesto apareceram, carregando o mal�o de Harry e a gaiola de Edwiges, olhando para os lados, excitados. � Por que � que voc� n�o nos disse quem era, hein, Neville? � disse Lalau sorrindo, radiante, para Harry, enquanto o cara de coruja do Ernesto espiava muito interessado por cima do ombro do ajudante. � E uma sala reservada, por favor, Tom � pediu Fudge enfaticamente. � Tchau � disse Harry, infeliz, a Lalau e Ernesto, enquanto Tom encaminhava Fudge, com um gesto, para um corredor que se abria atr�s do bar. � Tchau, Neville! � disse Lalau se retirando. Fudge conduziu Harry por um corredor estreito, acompanhando a lanterna de Tom, at� uma saleta. Tom estalou os dedos, um fogo se materializou na lareira, e, fazendo uma rever�ncia, ele se retirou do aposento. � Sente-se, Harry � come�ou Fudge, indicando a poltrona junto � lareira. Harry obedeceu, sentindo arrepios percorrerem seus bra�os apesar da lareira acesa. Fudge despiu a capa de risca de giz, atirou-a a um lado, depois suspendeu as cal�as do seu terno verde-garrafa e se sentou em frente a Harry. � Eu sou Corn�lio Fudge, Harry. Ministro da Magia. Harry j� sabia disso, � claro; vira Fudge antes, mas como estava usando a Capa da Invisibilidade do pai na ocasi�o, Fudge n�o devia saber disso. Tom, o dono do bar-hospedaria reapareceu, com um avental por cima do camis�o de dormir, trazendo uma bandeja com ch� e p�ezinhos de minuto. Pousou a bandeja entre Fudge e Harry e saiu, fechando a porta ao passar. � Muito bem, Harry � disse Fudge, servindo o ch� �, n�o me importo de confessar que voc� nos deixou preocupad�ssimos. Fugir da casa dos seus tios desse jeito! Eu j� tinha at� come�ado a pensar... Mas voc� est� s�o e salvo, e isto � o que importa. Fudge passou manteiga em um p�ozinho e empurrou o prato para Harry. � Coma, Harry, sua cara � de quem n�o est� se ag�entando em p�. Agora... Voc� vai ficar satisfeito em saber que cuidamos do infeliz acidente com a Srta. Guida Dursley. Dois funcion�rios do Departamento de Revers�o de Feiti�os Acidentais foram mandados � Rua dos Alfeneiros h� algumas horas. A Srta. Dursley foi esvaziada e sua mem�ria alterada. Ela n�o lembra mais nada do acidente. E isto � tudo, n�o houve danos. Fudge sorriu para Harry por cima da borda da x�cara de ch�, como faria um tio examinando um sobrinho querido. Harry, que n�o conseguia acreditar no que estava ouvindo, abriu a boca para falar, n�o conseguiu pensar em nada para dizer, e tornou a fech�-la. � Ah, voc� est� preocupado com a rea��o dos seus tios? Bom, n�o vou negar que eles est�o muit�ssimo aborrecidos, Harry, mas se dispuseram a receb�-lo de volta no pr�ximo ver�o, desde que voc� passe em Hogwarts as f�rias do Natal e da P�scoa. A l�ngua de Harry se soltou. � Eu sempre passo em Hogwarts as f�rias do Natal e da P�scoa, e n�o quero nunca mais voltar � Rua dos Alfeneiros. � Vamos, vamos, tenho certeza de que voc� vai pensar diferente depois que se acalmar � disse Fudge em tom preocupado. � Afinal, eles s�o sua fam�lia, e tenho certeza de que... Bem l� no fundo, voc�s se querem bem. N�o ocorreu a Harry corrigir Fudge. Continuava esperando ouvir o que ia lhe acontecer em seguida. � Ent�o agora s� falta � disse Fudge, passando manteiga em um segundo p�ozinho � decidir onde � que voc� vai passar as duas �ltimas semanas de f�rias. Sugiro que alugue um quarto aqui no Caldeir�o Furado e... � Espera a� � falou Harry sem pensar. � E o meu castigo? Fudge piscou os olhos. � Castigo? � Eu desobedeci � lei! � disse Harry. � O decreto que pro�be o uso da magia aos menores! � Ah, meu caro menino, n�s n�o vamos castig�-lo por uma coisinha � toa como essa! � exclamou Fudge, agitando o p�ozinho com impaci�ncia. � Foi um acidente! N�s n�o mandamos ningu�m para Azkaban por fazer a tia virar um bal�o! Mas isto n�o batia com os contatos que Harry tivera anteriormente com o Minist�rio da Magia. � No ano passado, recebi uma notifica��o oficial s� porque um elfo dom�stico largou um pudim no ch�o da casa do meu tio! � disse ele a Fudge, franzindo a testa. � O Minist�rio da Magia disse que eu seria expulso de Hogwarts se acontecesse mais um caso de magia por l�! A n�o ser que os olhos de Harry o enganassem, Fudge de repente parecia pouco � vontade. � As circunst�ncias mudam, Harry... Temos que levar em considera��o... No clima atual... Com certeza voc� n�o quer ser expulso? � Claro que n�o � disse Harry. � Bom, ent�o, por que toda essa agita��o? � riu-se Fudge. � Agora coma mais um p�ozinho, enquanto vou ver se tem um quarto para voc�. Fudge saiu da saleta e Harry ficou observando-o se retirar. Havia alguma coisa muito estranha acontecendo ali. Por que Fudge viera esper�-lo no Caldeir�o Furado, se n�o ia castig�-lo pelo que fizera? E agora, pensando bem, com certeza n�o era normal um Ministro da Magia se envolver pessoalmente com casos de magia praticada por menores! Fudge voltou acompanhado de Tom, o dono do bar-hospedaria. � O quarto onze est� livre, Harry � anunciou Fudge. � Acho que voc� vai ficar muito bem instalado nele. Mas tem uma coisa, e estou certo de que vai compreender... N�o quero voc� passeando pela Londres dos trouxas, certo? Fique no Beco Diagonal. E tem que voltar todos os dias antes do escurecer. Tenho certeza de que vai compreender. Tom vai ficar de olho em voc� por mim. � Tudo bem � disse Harry lentamente �, mas por qu�...? � N�o queremos perd�-lo outra vez, n�o � mesmo? � disse Fudge com uma risada calorosa. � N�o, n�o... � melhor sabermos onde � que voc� anda... Quero dizer... Fudge pigarreou alto e apanhou a capa de risca de giz. � Bom, vou andando, muito que fazer, sabe... � J� teve alguma sorte com o Black? � perguntou Harry. Os dedos de Fudge escorregaram no fecho de prata da capa. � Que foi que disse? Ah, voc� ouviu falar... Bem, n�o, ainda n�o, mas � s� uma quest�o de tempo. Os guardas de Azkaban at� hoje n�o falharam... E nunca os vi t�o furiosos. Fudge estremeceu ligeiramente. � Ent�o, vou dizendo at� logo. Ele estendeu a m�o, e Harry, ao apert�-la, teve uma id�ia repentina. � Ah... Ministro? Posso perguntar uma coisa? � Com toda certeza � disse Fudge com um sorriso. � Bom, em Hogwarts os alunos do terceiro ano podem visitar Hogsmeade, mas os meus tios n�o assinaram o formul�rio de autoriza��o. O senhor acha que poderia? Fudge pareceu constrangido. � Ah � respondeu. � N�o, n�o, sinto muito, Harry, mas n�o sou seu pai nem seu guardi�o... � Mas o senhor � o Ministro da Magia � disse Harry, ansioso. � Se o senhor me desse autoriza��o... � N�o, sinto muito, Harry, mas regras s�o regras � disse Fudge sem entusiasmo. � Talvez voc� possa visitar Hogsmeade no ano que vem. De fato, acho melhor voc� nem ir... �... Bem, vou andando. Aproveite a sua estada aqui, Harry. E com um �ltimo sorriso e um aperto de m�o; Fudge deixou a saleta. Tom, ent�o, adiantou-se sorridente para Harry. � Se o senhor quiser me acompanhar, Sr. Potter. J� levei suas coisas para cima... Harry o seguiu por uma bela escada de madeira at� uma porta com uma placa de lat�o de n�mero onze, que Tom destrancou e abriu para ele. Dentro havia uma cama muito confort�vel, uma mob�lia de carvalho muito lustroso, uma lareira em que o fogo crepirava alegremente e, encarrapitada no alto do arm�rio... � Edwiges! � exclamou Harry. A coruja muito branca deu estalinhos com o bico e voou para o bra�o de Harry. � Coruja muito inteligente a sua � disse Tom rindo. � Chegou uns cinco minutos depois do senhor. Se precisar de alguma coisa, Sr. Potter, por favor, � s� pedir. Ele fez outra rever�ncia e saiu. Harry ficou sentado na cama durante muito tempo, acariciando, distra�do, as penas de Edwiges. O c�u visto pela janela foi mudando rapidamente de um azul escuro e aveludado para um cinzento met�lico e frio, depois, lentamente, para um rosa salpicado de ouro. Harry mal conseguia acreditar que abandonara a Rua dos Alfeneiros havia apenas algumas horas, que n�o fora expulso e que, agora, tinha diante de si duas semanas inteiras sem os Dursley. � Foi uma noite muito estranha, Edwiges � bocejou ele. E sem nem ao menos tirar os �culos, ele se largou em cima do travesseiro e adormeceu. CAP�TULO QUATRO O Caldeir�o Furado Harry levou v�rios dias para se acostumar �quela estranha liberdade nova. Nunca antes ele pudera se levantar quando quisesse nem comer o que lhe desse vontade. Podia at� ir aonde desejasse, desde que n�o sa�sse do Beco Diagonal, e como essa longa rua de pedras era repleta das lojas de magia mais fascinantes do mundo, Harry n�o sentia desejo algum de romper a palavra dada a Fudge e voltar ao mundo dos trouxas. Todas as manh�s ele tomava o caf� no Caldeir�o Furado, onde gostava de observar os outros h�spedes: bruxas do interior, franzinas e engra�adas, que vinham passar o dia fazendo compras; bruxos de aspecto vener�vel discutindo o �ltimo artigo do Transfigura��o Hoje; bruxos de ar amalucado; an�es de voz roufenha; e, uma vez, algu�m, que tinha a apar�ncia suspeita de uma bruxa malvada, pedira um prato de f�gado cru, o rosto semi-escondido por uma carapu�a de l�. Depois do caf� Harry sa�a para o p�tio dos fundos, puxava a varinha, batia no terceiro tijolo a contar da esquerda, acima do lat�o de lixo, e se afastava enquanto se abria na parede o arco para o Beco Diagonal. O garoto passou os dias longos e ensolarados explorando as lojas e comendo � sombra dos guarda-s�is de cores vivas � porta dos caf�s, em que os seus companheiros de refei��o mostravam uns aos outros as compras que tinham feito ("� um lunasc�pio, meu amigo � � o fim dessa hist�ria de mexer com tabelas lunares, me entende?") ou ent�o discutiam o caso de Sirius Black ("pessoalmente, n�o vou deixar nenhum dos meus filhos sair sozinho at� que ele esteja outra vez em Azkaban"). Harry n�o precisava mais fazer os deveres de casa debaixo das cobertas, � luz de uma lanterna; agora podia se sentar � luz do sol, na cal�ada da Sorveteria Florean Fortescue, terminar suas reda��es e at� contar com a ajuda ocasional do pr�prio Florean, que, al�m de conhecer a fundo as queimas de bruxas em fogueiras, ainda oferecia a Harry, a cada meia hora, sundaes de gra�a. Depois de ter reabastecido a carteira com gale�es de ouro, sicles de prata e nuques de bronze retirados do seu cofre no Gringotes, Harry precisava se controlar muito para n�o gastar tudo de uma vez. Precisava se lembrar o tempo todo de que ainda lhe faltavam cinco anos de escola e que se sentiria mal em pedir dinheiro aos Dursley para comprar livros de bruxaria, e se segurou para n�o comprar um belo conjunto de bexigas de ouro maci�o (um jogo de bruxos parecido com o de bolas de gude, em que as bolas espirram um l�quido fedorento na cara do outro jogador quando ele perde um ponto). Harry se sentiu tentad�ssimo, tamb�m, por um modelo perfeito de uma gal�xia em movimento, dentro de um grande globo de vidro, e que teria significado que ele jamais precisaria assistir a uma aula de astronomia na vida. Mas a coisa que mais testou a for�a de vontade de Harry apareceu em sua loja preferida, a Artigos de Qualidade para Quadribol, uma semana depois do menino ter chegado ao Caldeir�o Furado. Curioso para saber a raz�o do ajuntamento diante da loja, Harry foi entrando com jeitinho e se espremendo entre as bruxas e bruxos at� conseguir ver um tablado recentemente erguido, em que haviam montado a vassoura mais deslumbrante que ele j� vira na vida. � Acabou de ser lan�ada... Um prot�tipo � comentava um bruxo de queixo quadrado para o companheiro. � � a vassoura mais r�pida do mundo, n�o �, papai? � perguntou a vozinha aguda de um menino mais novo do que Harry, que se pendurava no bra�o do pai. � O time internacional da Irlanda acabou de mandar um pedido para sete desses vassour�es! � informou o propriet�rio da loja aos presentes. � E o time � o favorito para a Copa Mundial! Uma bruxa corpulenta, na frente de Harry, se mexeu e o menino p�de ler o cartaz ao lado da vassoura: FIREBOLT Fabricada com tecnologia de ponta, a Firebolt possui um cabo de freixo, superfino e aerodin�mico, acabamento com resist�ncia de diamante e n�mero de registro entalhado na madeira. As cerdas da cauda, em lascas de b�tula selecionadas � m�o, foram afiladas at� atingirem a perfei��o aerodin�mica, dotando a Firebolt de equil�brio insuper�vel e precis�o absoluta. A Firebolt atinge 240km/Hora em dez segundos e possui um freio encantado de irrefre�vel a��o. Cota��o a pedido. Cota��o a pedido... Harry nem queria pensar quanto ouro a Firebolt custaria. Jamais desejara tanto alguma coisa em toda a sua vida � mas jamais perdera uma partida de Quadribol com a sua Nimbus 2000, e qual era a vantagem de esvaziar seu cofre no Gringotes para comprar uma Firebolt, quando j� possu�a uma excelente vassoura? Harry n�o pediu a cota��o, mas voltou, quase todos os dias depois disso, s� para admirar a Firebolt. Havia, no entanto, coisas que Harry precisava comprar. Ele foi � Botica para reabastecer seu estoque de ingredientes para po��es e, como agora suas vestes escolares estavam v�rios cent�metros mais curtas nos bra�os e nas pernas, ele visitou a Madame Malkin � Roupas para Todas as Ocasi�es e comprou novos uniformes. E, o mais importante, tinha que comprar os novos livros para o ano letivo, que incluiriam duas novas mat�rias: Trato das Criaturas M�gicas e Adivinha��o. Harry teve uma surpresa quando parou para olhar a vitrine da livraria. Em vez da decora��o habitual com livros de feiti�aria gravados a ouro, do tamanho de lajotas, havia uma grande gaiola de ferro com uns cem exemplares de O Livro Monstruoso dos Monstros. P�ginas arrancadas voavam para todo o lado, enquanto os livros se agrediam e se atracavam em furiosas lutas livres e mordidas agressivas. Harry puxou a lista de livros do bolso e consultou-a pela primeira vez. O Livro Monstruoso dos Monstros estava arrolado como o livro-texto para a mat�ria Trato das Criaturas M�gicas. Agora ele compreendia por que Hagrid dissera que o livro futuramente seria �til. Sentiu al�vio; andara imaginando se o amigo ia querer ajuda para cuidar de um novo bicho de estima��o apavorante. Quando Harry entrou na Floreios e Borr�es, o gerente veio correndo ao seu encontro. � Hogwarts? � perguntou o homem sem rodeios. � Veio comprar os seus livros? � Vim. Preciso... � Saia do caminho � disse o gerente empurrando Harry para o lado com impaci�ncia. Em seguida, puxou um par de luvas muito grossas, apanhou um bengal�o nodoso e rumou para a porta da gaiola em que estavam os exemplares de O Livro Monstruoso dos Monstros. � Espere a� � disse Harry depressa �, j� tenho um desses. � J�? � Uma express�o de imenso al�vio espalhou-se pelo rosto do gerente. � Gra�as a Deus. J� fui mordido cinco vezes esta manh�... Um barulho alto de papel rasgado cortou o ar; dois livros monstruosos tinham agarrado um terceiro e come�avam a destru�-lo. � Parem com isso! Parem com isso! � exclamou o gerente, enfiando a bengala pelas grades e separando os livros � for�a. � Nunca mais vou ter essas coisas em estoque, nunca mais! Tem sido uma loucura! Pensei que j� t�nhamos visto o pior quando compramos duzentos exemplares de O livro Invis�vel da Invisibilidade, custaram uma fortuna e nunca achamos os livros... Bem... Tem mais alguma coisa em que possa lhe servir? � Tem � disse Harry, consultando a lista de livros �, preciso de Esclarecendo o Futuro, de Cassandra Vablatsky. � Ah, vai come�ar a estudar Adivinha��o? � perguntou o gerente descal�ando as luvas e conduzindo Harry ao fundo da loja, onde havia um canto reservado para esse assunto. Em uma mesinha estavam empilhados livros como Prevendo o imprevis�vel; Proteja-se Contra Choques e Bolas rachadas; Quando a Sorte se Transforma em Azar. � Aqui est� � disse o gerente, que subira em um escadote para apanhar um livro grosso, encadernado de preto. � Esclarecendo o Futuro. Um bom guia para todos os m�todos b�sicos de adivinha��o do futuro, quiromancia, bolas de cristal, tripas de aves... Mas Harry n�o estava escutando. Seu olhar havia pousado em outro livro, que fazia parte de um arranjo em outra mesinha: Press�gios de morte: O que fazer quando se sabe que vai acontecer o pior. � Ah, eu n�o leria isso se fosse voc� � disse o gerente de passagem, procurando ver o que Harry estava olhando. � Voc� vai come�ar a ver press�gios de morte por todo lado. S� isso j� � suficiente para matar a pessoa de medo. Mas Harry continuou a encarar a capa do livro; tinha um c�o preto do tamanho de um urso, com olhos brilhantes, que lhe parecia estranhamente familiar... O gerente p�s nas m�os de Harry o livro Esclarecendo o Futuro. � Mais alguma coisa? � perguntou. � Sim � respondeu Harry, desviando o olhar dos olhos do c�o e consultando, meio atordoado, a lista. � Ah... Preciso de Transfigura��o para o Curso M�dio e de O Livro Padr�o de Feiti�os, 3� s�rie. Harry saiu da Floreios e Borr�es dez minutos depois, com os livros debaixo do bra�o, e tomou o rumo do Caldeir�o Furado sem reparar aonde ia, esbarrando em v�rias pessoas. Subiu as escadas fazendo barulho, entrou em seu quarto e despejou os livros em cima da cama. Algu�m estivera ali limpando o quarto; as janelas abertas deixavam entrar o sol. Harry ouviu os �nibus passarem l� embaixo, na rua dos trouxas que ele n�o via, e o som dos transeuntes invis�veis no Beco Diagonal. Viu de relance o seu reflexo no espelho acima da pia. � N�o pode ter sido um press�gio de morte � disse � sua imagem em tom de desafio. � Eu estava entrando em p�nico quando vi aquela coisa na Rua Magn�lia... Provavelmente era apenas um c�o sem dono... Ele ergueu a m�o automaticamente e tentou achatar os cabelos. � Voc� est� empenhado em uma batalha perdida, meu querido � disse sua imagem com a voz rouca. � medida que os dias se passavam, Harry come�ou a procurar por todo lugar aonde ia um sinal de Rony ou de Hermione. Muitos alunos de Hogwarts vinham ao Beco Diagonal agora, com a proximidade do ano letivo. Harry encontrou Simas Finnigan e Dino Thomas, companheiros da Grifin�ria, na Artigos de Qualidade para Quadribol, onde eles tamb�m haviam parado para namorar a Firebolt; encontrou tamb�m o verdadeiro Neville Longbottom, um menino de rosto redondo e muito desmemoriado, � porta da Floreios e Borr�es. Harry n�o parou para conversar; Neville parecia ter extraviado a lista de livros e estava levando um car�o da av�, uma senhora de apar�ncia colossal. Harry desejou que a senhora jamais descobrisse que ele fingira ser Neville quando estava fugindo do Minist�rio da Magia. Harry acordou no �ltimo dia de f�rias, com o pensamento de que finalmente iria se encontrar com Rony e Hermione no dia seguinte, no Expresso de Hogwarts. Levantou-se, se vestiu e saiu para dar uma �ltima espiada na Firebolt, e estava pensando onde iria almo�ar, quando algu�m gritou seu nome e ele se virou. � Harry! HARRY! E ali estavam eles, os dois, sentados na cal�ada da Sorveteria Florean Fortescue. Rony parecendo incrivelmente sardento, Hermione muito bronzeada, os dois acenando para ele freneticamente. � Finalmente! � exclamou Rony, rindo-se enquanto o amigo se sentava. � Fomos ao Caldeir�o Furado, mas disseram que voc� tinha sa�do, fomos � Floreios e Borr�es, � Madame Malkin e... � Comprei todo o meu material escolar na semana passada � explicou Harry. � E como � que voc�s sabiam que eu estava hospedado no Caldeir�o Furado? � Papai � disse Rony com simplicidade. O Sr Weasley, que trabalhava no Minist�rio da Magia, � claro que soubera da hist�ria toda que acontecera com a tia Guida. � � verdade que voc� transformou a sua tia em um bal�o? � perguntou Hermione num tom muito s�rio. � Eu n�o tive inten��o � respondeu Harry, enquanto Rony rolava de rir.� Simplesmente... Perdi o controle. � N�o tem a menor gra�a, Rony. � disse Hermione rispidamente. � Francamente, fico admirada que Harry n�o tenha sido expulso. � Eu tamb�m � admitiu Harry. � E nem expulso, pensei que ia ser preso. � E olhou para Rony. � Seu pai n�o sabe por que Fudge n�o me castigou, sabe? � Provavelmente porque era voc�, n�o �? � Rony sacudiu os ombros ainda rindo. � O famoso Harry Potter e tudo o mais. Eu nem gostaria de ver o que o Minist�rio faria comigo se eu transformasse minha tia em bal�o. Mas n�o se esque�a, eles teriam que me desenterrar primeiro, porque mam�e j� teria me matado antes. Em todo o caso, pode perguntar ao papai hoje � noite. Estamos hospedados no Caldeir�o Furado, tamb�m! Assim voc� pode ir para a esta��o de King"s Cross conosco amanh�! Hermione tamb�m est� l�! A garota confirmou com a cabe�a, radiante. -Mam�e e papai me deixaram l� hoje de manh� com todas as minhas coisas de Hogwarts. � Fant�stico! � exclamou Harry feliz. � Ent�o voc� j� comprou os livros e todo o resto? � Olhe s� para isso � disse Rony, tirando uma caixa comprida e fina de uma sacola e abrindo-a. � Uma varinha nova em folha. Trinta e cinco cent�metros e meio, salgueiro, contendo um fio de cauda de unic�rnio. E compramos todos os nossos livros... � Ele apontou para uma grande saca embaixo da cadeira. � E aqueles livros monstruosos, hein? O balconista quase chorou quando dissemos que quer�amos dois. � E isso tudo o que �, Mione? � perguntou Harry, apontando n�o para uma, mas para tr�s sacas estufadas na cadeira junto � amiga. � Bem, � que vou fazer mais mat�rias novas do que voc�s, n�o �? Comprei os livros de Aritmancia, de Trato das Criaturas M�gicas, de Adivinha��o, de Estudo das Runas Antigas, de Estudo dos Trouxas... � Para que � que voc� vai fazer Estudo dos Trouxas? � perguntou Rony, revirando os olhos para Harry. � Voc� nasceu trouxa! Sua m�e e seu pai s�o trouxas! Voc� j� sabe tudo sobre trouxas! � Mas vai ser fascinante estudar os trouxas do ponto de vista dos bruxos � disse Hermione muito s�ria. � Voc� est� planejando comer ou dormir este ano, Mione? � perguntou Harry, enquanto Rony dava risadinhas abafadas. A garota n�o ligou para os dois. � Ainda tenho dez gale�es � disse ela examinando a bolsa. � � meu anivers�rio em setembro, e mam�e e papai me deram um dinheiro para eu comprar um presente de anivers�rio antecipado. � Que tal um bom livro? � perguntou Rony inocentemente. � N�o, acho que n�o � disse Hermione controlando-se. � O que eu quero mesmo � uma coruja. Quero dizer, Harry tem a Edwiges e voc� tem o Errol... � N�o tenho, n�o � respondeu Rony. � Errol � uma coruja de fam�lia. Meu mesmo s� tenho o Perebas. � E tirou o rato de estima��o do bolso. � Quero mandar examinar ele � acrescentou, pousando Perebas na mesa a que estavam sentados. � Acho que o Egito n�o fez bem a ele. Perebas estava mais magro do que de costume, e seus bigodes pareciam decididamente ca�dos. � Tem uma loja para criaturas m�gicas ali. � disse Harry, que agora conhecia o Beco Diagonal como a palma da m�o. � Voc� podia ver se eles t�m algum produto para o Perebas, e Mione podia comprar a coruja. Assim dizendo, eles pagaram os sorvetes e atravessaram a rua para ir a Animais M�gicos. N�o havia muito espa�o dentro da loja. Cada cent�metro das paredes estava escondido por gaiolas. Era malcheirosa e barulhenta porque os ocupantes das gaiolas guinchavam, gritavam, palravam, sibilavam. A bruxa ao balc�o estava ocupada ensinando a um bruxo como cuidar de um trit�o com dois rabos, por isso Harry, Rony e Hermione aguardaram, examinando as gaiolas. Havia dois enormes sapos roxos que engoliam, com um ru�do aquoso, um banquete de moscas-varejeiras mortas. Uma tartaruga gigante, o casco incrustado de pedras preciosas, cintilava junto � janela. Lesmas venenosas, cor de laranja, subiam lentamente pela parede do seu aqu�rio, e um coelho branco e gordo n�o parava de se transformar em cartola de cetim e novamente em coelho, com um grande estalo. Havia ainda gatos de todas as cores, uma gaiola barulhenta de corvos, uma cesta de engra�adas bolas de p�lo creme que zuniam alto, e, em cima do balc�o, um galoi�o de ratos negros e luzidios que brincavam de dar saltos se apoiando nos longos rabos lisos. O bruxo do trit�o de dois rabos saiu e Rony se aproximou do balc�o. � � o meu rato � disse � bruxa. � Ele tem andado meio indisposto desde que voltamos do Egito. � P�e ele aqui no balc�o � pediu a bruxa, tirando do bolso um par de pesados �culos de arma��o preta. Rony catou Perebas do bolso interno e depositou-o ao lado da gaiola dos seus companheiros de esp�cie, que pararam os saltitos e correram para as grades para ver melhor. Como todo o resto que Rony possu�a, Perebas, o rato, era de segunda m�o (pertencera ao irm�o de Rony, Percy) e era um pouco maltratado. Ao lado dos reluzentes ratos na gaiola, ele parecia particularmente lastim�vel. � Hum � fez a bruxa, levantando Perebas. � Que idade tem esse rato? � N�o sei � respondeu Rony. � Ele � bem velho. Foi do meu irm�o. � Que poderes ele tem? � perguntou a bruxa, examinando Perebas atentamente. � Ah... � A verdade � que Perebas jamais revelara o menor vest�gio de poderes interessantes, o olhar da bruxa se deslocou da orelha esquerda e esfiapada de Perebas para a pata dianteira, que tinha um dedinho a menos, e deu um muxoxo alto. � Este aqui j� sofreu muito na vida � disse ela. � J� estava assim quando Percy me deu � respondeu Rony se defendendo. � N�o se pode esperar que um rato comum ou rato de jardim como esse viva mais do que uns tr�s anos � disse a bruxa. � Agora se o senhor estiver procurando alguma coisa mais resistente, talvez goste de um desses... Ela indicou os ratos negros, que imediatamente recome�aram a saltar. Rony resmungou: � Exibidos. � Bem, se o senhor n�o quiser outro, pode experimentar um t�nico para ratos � disse a bruxa, levando a m�o embaixo do balc�o e apanhando um frasquinho vermelho. � Est� bem. Quanto... Rony se encolheu quando uma coisa enorme e laranja saiu voando do teto da gaiola mais alta e aterrissou na cabe�a dele, e em seguida avan�ou e bufou com viol�ncia para Perebas. � N�O BICHENTO, N�O! � gritou a bruxa, mas Perebas escapuliu entre as suas m�os como uma barra de sab�o molhado, aterrissou de pernas abertas no ch�o e disparou para a porta. � Perebas! � berrou Rony, correndo atr�s do rato; Harry seguiu-o. Os dois levaram quase dez minutos para recuperar Perebas, que se refugiara embaixo de um lat�o de lixo � porta da Artigos de Qualidade para Quadribol. Rony tornou a enfiar o rato tr�mulo no bolso e se endireitou, massageando os cabelos. � Que foi aquilo? � Ou um gato muito grande ou um tigre muito pequeno � disse Harry. � Aonde foi a Mione? � Provavelmente comprando a coruja. Eles refizeram o caminho pela rua apinhada de gente at� a Animais M�gicos. Quando iam chegando, viram Hermione sair, mas ela n�o trazia coruja alguma. Seus bra�os envolviam com firmeza um enorme gato laranja. � Voc� comprou aquele monstro? � perguntou Rony, boquiaberto. � Ele � lindo, n�o �? � disse Hermione radiante. Era uma quest�o de opini�o, pensou Harry. A pelagem do gato era espessa e fofa, mas ele decididamente tinha pernas arqueadas e uma cara de poucos amigos, estranhamente amassada, como se tivesse batido de frente numa parede de tijolos. Agora que Perebas n�o estava � vista, por�m, o gato ronronava satisfeito nos bra�os de Hermione. � Mione, essa coisa quase me escalpelou! � reclamou Rony. � Foi sem querer, n�o foi, Bichento? � perguntou Hermione. � E o que vai ser do Perebas? � disse o menino apontando para o calombo no bolso do peito. � Ele precisa de descanso e sossego! Como � que vai ter isso com esse bicho por perto? � Isto me lembra que voc� esqueceu o seu t�nico para ratos � disse Hermione, batendo o frasco vermelho na m�o de Rony. � E pare de se preocupar, Bichento vai dormir no meu dormit�rio e Perebas no seu, qual � o problema? Coitado do Bichento, a bruxa disse que ele est� na loja h� s�culos; ningu�m quis o gato. � Por que ser�? � perguntou Rony com sarcasmo, a caminho do Caldeir�o Furado. Encontraram o Sr. Weasley sentado no bar, lendo o Profeta Di�rio. � Harry! � exclamou ele, erguendo a cabe�a e sorrindo. � Como vai? � Bem, obrigado � respondeu o garoto enquanto ele, Rony e Hermione se reuniam ao Sr. Weasley com todas as compras que tinham feito. O Sr. Weasley p�s o jornal de lado e Harry viu a foto de Sirius Black, agora muito sua conhecida, encarando-o. � Ent�o eles ainda n�o pegaram o homem? � perguntou. � N�o � respondeu o Sr. Weasley, parecendo muito s�rio. � O Minist�rio nos tirou do nosso trabalho normal para tentar encontr�-lo, mas at� agora n�o tivemos sorte. � N�s receber�amos uma recompensa se o apanh�ssemos? � perguntou Rony. � Seria bom ganhar mais um dinheirinho... � N�o seja rid�culo, Rony � disse o Sr. Weasley, que a um olhar mais atento parecia muito tenso. � Black n�o vai ser apanhado por um bruxo de treze anos. Os guardas de Azkaban � que v�o lev�-lo de volta, escreva o que digo. Naquele momento a Sra. Weasley entrou no bar, carregada de sacas e acompanhada pelos g�meos, Fred e Jorge, que iam come�ar o quinto ano em Hogwarts; Percy, o rec�m eleito monitor-chefe; e Gina, a ca�ula e �nica menina da fam�lia. Gina, que sempre teve um xod� por Harry, pareceu ainda mais constrangida do que de costume, talvez porque o menino lhe salvara a vida no ano anterior, em Hogwarts. Ela ficou muito corada e murmurou um "ol�", sem olhar para Harry. Percy, por�m, estendeu a m�o solenemente como se ele e o colega jamais tivessem se encontrado e disse: � Harry. Que prazer em v�-lo. � Ol�, Percy � respondeu Harry, tentando conter o riso. � Voc� est� bem, espero? � continuou Percy pomposo, durante o aperto de m�os. Parecia at� que estava sendo apresentado ao prefeito. � Muito bem, obrigado... � Harry! � exclamou Fred, empurrando Percy com os cotovelos e fazendo uma grande rever�ncia. � � simplesmente espl�ndido encontr�-lo, meu caro... � Maravilhoso � disse Jorge, empurrando Fred para o lado e, por sua vez, apertando a m�o de Harry. � Absolutamente maravilhoso. � Agora chega � interrompeu-os a Sra. Weasley. � M�e! � exclamou Fred como se tivesse acabado de avist�-la, apertando-lhe a m�o tamb�m: � � realmente formid�vel encontr�-la... � Eu j� disse que chega � disse a Sra. Weasley, descansando as compras em uma cadeira vazia. � Ol�, Harry, querido. Suponho que tenha sabido das nossas eletrizantes novidades? � Ela apontou para o distintivo de prata novinho em folha no peito de Percy. � � o segundo monitor-chefe na fam�lia! -exclamou, inchada de orgulho. � E o �ltimo � resmungou Fred para si mesmo. � N�o duvido nada � disse a Sra. Weasley, franzindo a testa de repente. � Estou reparando que at� hoje voc�s dois n�o foram promovidos a monitores. � E para que � que n�s queremos ser monitores? � perguntou Jorge, parecendo se indignar at� com a pr�pria id�ia. � Isso tiraria toda a gra�a da vida. Gina abafou o riso. � Voc�s deviam dar um exemplo melhor para sua irm�! � ralhou a Sra. Weasley. � Gina tem outros irm�os para lhe dar exemplo, m�e � disse Percy com altivez. � Vou mudar de roupa para o jantar... Ele desapareceu e Jorge deixou escapar um suspiro. � Bem que a gente tentou trancar ele numa pir�mide � disse a Harry. � Mas a mam�e flagrou a gente no ato. O jantar �quela noite foi muito agrad�vel. Tom, o dono do bar-hospedaria, juntou tr�s mesas na sala, e os sete Weasley, Harry e Hermione tra�aram cinco pratos maravilhosos. � Como vamos para a esta��o de King"s Cross amanh�, papai? � perguntou Fred quando enfiavam a colher em um suntuoso pudim de chocolate. � O Minist�rio vai mandar dois carros � disse o Sr. Weasley. Todos ergueram os olhos para ele. � Por qu�? � perguntou Percy, curioso. � Por sua causa, Percy � disse Jorge, s�rio. � E v�o botar bandeirinhas em cima dos cap�s, com as letras TC... � ... Significando Tremendo Chef�o � completou Fred. Todos, � exce��o de Percy e da Sra. Weasley, deram risadinhas baixando o rosto para os pudins. � Por que � que o Minist�rio vai mandar carros, pai? � Percy repetiu a pergunta, num tom muito digno. � Bem, como n�o temos mais nenhum � disse o Sr. Weasley �, e como trabalho l�, eles v�o me fazer esse favor... Sua voz era displicente, mas Harry n�o p�de deixar de notar que as orelhas do Sr. Weasley tinham ficado vermelhas, iguais �s de Rony quando o pressionavam. � E ainda bem � disse a Sra. Weasley, animada. � Voc�s fazem id�ia de quanta bagagem t�m juntos? Que bela figura voc�s fariam no metr� dos trouxas... Todo mundo j� est� de mala pronta ou n�o? � Rony ainda n�o guardou todas as coisas novas no mal�o � disse Percy, com voz de sofredor. � Largou tudo em cima da minha cama. � � melhor voc� subir e guardar tudo direito, Rony porque n�o vamos ter tempo amanh� cedo � disse a Sra. Weasley alto, para o filho sentado mais longe. Rony amarrou a cara para Percy. Depois do jantar todos se sentiram satisfeitos e cheios de sono. Um a um foram subindo para os quartos para verificar as coisas para o dia seguinte. Rony e Percy estavam hospedados no quarto ao lado de Harry. Ele acabara de fechar e trancar seu mal�o quando ouviu vozes zangadas atrav�s da parede, e foi ver o que estava acontecendo. A porta do quarto doze estava entreaberta e Percy gritava: � Estava aqui, em cima da mesa-de-cabeceira, eu o tirei para polir... � Eu n�o peguei, est� bem? � berrava Rony em resposta. � Que est� acontecendo? � perguntou Harry. � Meu distintivo de monitor-chefe sumiu � respondeu Percy virando-se irritado para Harry. � E o t�nico para ratos de Perebas tamb�m � falou Rony, jogando as coisas para fora do mal�o para procur�-lo. � Acho que deixei o frasco no bar... � Voc� n�o vai a lugar nenhum at� achar o meu distintivo � berrou Percy. � Eu vou buscar o rem�dio do Perebas. J� fiz a mala � disse Harry a Rony, e desceu. Harry estava no corredor a meio caminho do bar, agora mal iluminado, quando ouviu outras duas vozes zangadas que vinham da sala. Um segundo depois, ele as reconheceu como sendo as do Sr. e da Sra. Weasley. Hesitou, sem querer que eles soubessem que os ouvira discutindo, mas a men��o do seu nome o fez parar, e, num segundo momento, se aproximar da porta da sala. � ... N�o faz sentido n�o contar a ele � o Sr. Weasley dizia, veemente. � O garoto tem o direito de saber. Tentei dizer isso a Fudge, mas ele insiste em tratar Harry como crian�a. O menino j� tem treze anos e... � Arthur, a verdade iria aterrorizar Harry! � disse a Sra. Weasley com a voz esgani�ada. � Voc� quer mesmo mandar Harry de volta � escola com essa amea�a pairando sobre a cabe�a dele? Pelo amor de Deus, ele est� feliz sem saber de nada! � N�o quero faz�-lo infeliz, quero deix�-lo de sobreaviso! � retrucou o Sr. Weasley. � Voc� sabe como s�o o Harry e o Rony andando por a� sozinhos, j� foram parar na Floresta Proibida duas vezes! Mas Harry n�o pode fazer isto este ano! Quando penso o que poderia ter acontecido a ele na noite em que fugiu de casa! Se o N�itibus n�o o tivesse apanhado, aposto que ele estaria morto antes do Minist�rio encontr�-lo. � Mas ele n�o est� morto, est� s�o e salvo, ent�o qual � o sentido... � Molly, dizem que Sirius Black � doido, e talvez seja, mas ele foi suficientemente esperto para fugir de Azkaban, e isto � uma coisa que todos sup�em que seja imposs�vel. J� faz tr�s semanas e nem sinal dele, e n�o dou a m�nima para o que Fudge vive declarando ao Profeta Di�rio, estamos t�o pr�ximos de apanhar Black quanto estamos de inventar uma varinha que funcione sozinha. A �nica coisa de que temos certeza � que Black est� atr�s de... � Mas Harry est� perfeitamente seguro em Hogwarts. � Ach�vamos que Azkaban era perfeitamente segura. Se Black foi capaz de sair de Azkaban, ent�o � capaz de entrar em Hogwarts. � Mas ningu�m tem realmente certeza de que Black esteja atr�s de Harry... Ouviu-se um baque seco na mesa e Harry n�o teve d�vida de que o Sr. Weasley tinha dado um soco na mesa. � Molly, quantas vezes preciso lhe dizer a mesma coisa? A imprensa n�o noticiou porque Fudge n�o queria que houvesse esc�ndalo, mas Fudge foi at� Azkaban na noite em que Black fugiu. Os guardas lhe disseram que Black andava falando durante o sono havia algum tempo. Sempre as mesmas palavras: "Ele est� em Hogwarts... Ele est� em Hogwarts." Black � desequilibrado, Molly, e quer ver Harry morto. Se voc� quer saber, ele acha que se matar Harry vai trazer Voc�-Sabe-Quem de volta ao poder. Black perdeu tudo naquela noite em que Harry deteve Voc�-Sabe-Quem, e passou doze anos sozinho em Azkaban pensando nisso.. Fez-se sil�ncio. Harry chegou mais perto da porta, desesperado para ouvir mais. � Bem, Arthur, voc� deve fazer o que acha que � certo. Mas est� se esquecendo de Alvo Dumbledore. Acho que nada poder� fazer mal a Harry em Hogwarts enquanto Dumbledore for o diretor. Suponho que ele esteja sabendo de tudo isso. � Claro que sabe. Tivemos que lhe perguntar se se importava que os guardas de Azkaban tomassem posi��o junto �s entradas da escola. Ele n�o ficou muito satisfeito, mas concordou. � N�o ficou satisfeito? Por que n�o ficaria satisfeito, se os guardas est�o l� para agarrar o Black? � Dumbledore n�o gosta dos guardas de Azkaban � disse o Sr. Weasley deprimido. � Nem eu, se voc� quer saber... Mas estar lidando com um bruxo como Black, por vezes a gente tem que se aliar com gente que se prefere evitar. Se eles salvarem Harry... Ent�o nunca mais direi uma palavra contra eles � disse o Sr. Weasley cansado. � J� est� tarde, Molly, � melhor subirmos... Harry ouviu as cadeiras serem mexidas. O mais silenciosamente que p�de, correu pelo corredor at� o bar e desapareceu de vista. A porta da sala se abriu, e alguns segundos depois o ru�do de passos lhe informou que o Sr. e a Sra. Weasley estavam subindo as escadas. O frasco de t�nico para ratos estava debaixo da mesa � qual o grupo se sentara mais cedo. Harry esperou at� a porta do quarto do Sr. e da Sra. Weasley se fechar, depois tornou a subir levando o vidro. Encontrou Fred e Jorge agachados nas sombras do patamar, rindo a mais n�o poder de ouvir Percy desmontar o quarto que ocupava com Rony, � procura do distintivo. � Est� conosco � sussurrou Fred a Harry � Andamos dando uma melhorada nele. No distintivo agora se lia Tremendo Chef�o. Harry for�ou uma risada, foi entregar a Rony o frasco de t�nico para ratos, depois se trancou em seu quarto e foi se deitar. Ent�o Sirius Black estava atr�s dele. Isto explicava tudo. Fudge ter sido indulgente porque ficara aliviad�ssimo de encontr�-lo vivo. Fizera Harry prometer n�o sair do Beco Diagonal onde havia um grande n�mero de bruxos para vigi�-lo. E ia mandar dois carros do Minist�rio para lev�-los � esta��o no dia seguinte, de modo que os Weasley pudessem cuidar de Harry at� ele embarcar no trem. Harry ficou deitado ouvindo a gritaria abafada no quarto vizinho e imaginando por que n�o se sentia mais apavorado. Sirius Black matara treze pessoas com uma maldi��o; O Sr. e a Sra. Weasley obviamente pensavam que Harry entraria em p�nico se soubesse da verdade. Mas, por acaso, Harry concordava inteiramente com o Sr, Weasley que o lugar mais seguro da terra era aquele em que Alvo Dumbledore acontecesse de estar. As pessoas n�o diziam sempre que Dumbledore era a �nica pessoa de quem Lord Voldemort j� tivera medo? Com certeza Black, sendo o bra�o direito de Voldemort, n�o teria tamb�m igual medo do diretor? E agora havia os guardas de Azkaban de quem todos n�o paravam de falar. Eles pareciam deixar as pessoas paralisadas de pavor e, se estavam de prontid�o a toda volta da escola, as chances de Black entrar l� pareciam muito remotas. N�o, considerando tudo, a coisa que mais incomodava Harry era o fato de que suas chances de visitar Hogsmeade agora eram zero. Ningu�m iria querer que Harry deixasse a seguran�a do castelo at� Black ser apanhado; ali�s, Harry suspeitava que todos os seus movimentos seriam atentamente vigiados at� que o perigo passasse. Olhou zangado para o teto escuro. Ser� que achavam que ele n�o sabia se cuidar? J� escapara de Lord Voldermort tr�s vezes; n�o era um completo in�til... Sem que ele quisesse, a imagem do animal nas sombras da Rua Magn�lia perpassou sua mente. Que � que se faz quando se sabe que o pior est� por vir... � Eu n�o vou ser morto � disse Harry em voz alta. � � assim que se fala, querido � disse seu espelho, cheio de sono. CAP�TULO CINCO O Dementador No dia seguinte, Tom acordou Harry, com o seu habitual sorriso banguela e uma x�cara de ch�. O garoto se vestiu, e tentava convencer uma mal disposta Edwiges a entrar na gaiola quando Rony irrompeu no quarto, vestindo um su�ter pela cabe�a e parecendo irritado. � Quanto mais cedo embarcarmos no trem melhor � disse. � Pelo menos posso fugir do Percy em Hogwarts. Agora ele est� me acusando de pingar ch� na foto da Penelope Clearwater. Sabe � disse Rony com uma careta �, aquela namoradinha dele. Ela escondeu a cara na moldura porque ficou com o nariz todo borrado... � Tenho uma coisa para lhe dizer � come�ou Harry, mas foram interrompidos por Fred e Jorge, que meteram a cara no quarto para cumprimentar Rony por ter enfurecido Percy novamente. Eles desceram para tomar caf�, e encontraram o Sr. Weasley lendo a primeira p�gina do Profeta Di�rio com a testa franzida e a Sra. Weasley descrevendo para Hermione e Gina a po��o de amor que preparara quando era mo�a. As tr�s n�o paravam de rir. � Que � que voc� ia me dizer? � perguntou Rony a Harry quando se sentaram. � Depois � murmurou Harry na hora em que Percy irrompeu pela sala. Harry n�o teve mais oportunidade de falar com Rony nem com Hermione no caos da partida ficaram demasiado ocupados, descendo as malas pela estreita escada do Caldeir�o Furado e empilhando-as perto da porta, com Edwiges e Hermes, a coruja de Percy, encarapitadas no alto das gaiolas. Uma cestinha de vime fora deixada ao lado da pilha de malas, de onde alguma coisa bufava ruidosamente. � Tudo bem, Bichento � tranq�ilizou-o Hermione pelas frestas do vime. � Vou soltar voc� no trem. � N�o vai, n�o � retorquiu Rony. � O que vai ser do coitado do Perebas, hein? O menino apontou para o pr�prio peito, onde um grande calombo indicava que Perebas estava enroscado no bolso interno da veste. O Sr. Weasley, que estivera � porta aguardando os carros do Minist�rio, meteu a cabe�a na entrada do Caldeir�o. � Eles chegaram � anunciou. � Harry, vamos. O Sr. Weasley cruzou atr�s de Harry o trechinho de cal�ada entre a hospedaria e o primeiro dos dois carros verde-escuros e antiquados, cada um dirigido por um bruxo de apar�ncia furtiva, vestido de veludo verde-vivo. � Para dentro, Harry � disse o Sr. Weasley, verificando um lado e outro da rua movimentada. Harry entrou no banco traseiro do carro e se reuniram a ele Hermione, Rony e, para desgosto de Rony, Percy. A viagem at� King"s Cross foi muito tranq�ila se comparada � de Harry no N�itibus Andante. Os carros do Minist�rio da Magia pareciam quase comuns, embora Harry reparasse que eram capazes de deslizar por espa�os apertados que o novo carro da companhia do tio V�lter certamente n�o teria podido. O grupo chegou � esta��o de King"s Cross com vinte minutos de anteced�ncia; os motoristas do Minist�rio apanharam carrinhos, descarregaram a bagagem, cumprimentaram o Sr. Weasley, levando a m�o ao chap�u, e partiram, conseguindo, sabe-se l� como, tomar a dianteira de uma fila de carros parados no sinal luminoso. O Sr. Weasley manteve-se colado no cotovelo de Harry todo o percurso at� a esta��o. � Certo ent�o � disse ele olhando para todos os lados. � Vamos fazer isso aos pares, porque somos muitos. Eu passo primeiro com Harry. O Sr. Weasley dirigiu-se � barreira entre as plataformas nove e dez, empurrando o carrinho de malas e aparentemente muito interessado no Interurbano que acabara de parar na plataforma nove. Com um olhar expressivo para Harry, ele se encostou displicentemente na barreira. O garoto imitou-o. Num segundo, os dois atravessaram de lado a s�lida parede de metal e sa�ram na plataforma 9 e �, quando ergueram a cabe�a, viram o Expresso de Hogwarts, um trem vermelho a vapor, que soltava baforadas de fuma�a na plataforma apinhada de bruxas e bruxos que foram levar os filhos ao embarque. Percy e Gina apareceram de repente atr�s de Harry. Ofegavam e pelo jeito tinham corrido para atravessar a barreira. � Ah, olha l� a Penelope! � falou Percy, alisando os cabelos e corando de novo. O olhar de Gina surpreendeu o de Harry, e os dois se viraram para esconder o riso, enquanto Percy ia ao encontro da menina de cabelos longos e cacheados, com o peito estufado para que ela n�o deixasse de reparar no seu distintivo reluzente. Depois que os outros Weasley e Hermione se reuniram a eles, Harry e o Sr. Weasley sa�ram andando at� os �ltimos carros do trem, passando por cabines cheias, at� uma que lhes pareceu bem vazia. Embarcaram as malas na cabine, guardaram Edwiges e Bichento no bagageiro, depois tornaram a sair para que todos pudessem se despedir do Sr. e da Sra. Weasley. A Sra. Weasley beijou os filhos, depois Hermione e, por fim, Harry. O menino ficou encabulado, mas gostou bastante quando ela lhe deu mais um abra�o. � Voc� vai se cuidar, n�o vai, Harry? � recomendou a senhora, se endireitando, com um brilho estranho nos olhos. Depois, abriu uma enorme bolsa e disse: � Fiz sandu�ches para todos... Tome aqui, Rony... N�o, n�o s�o de carne enlatada... Fred? Onde se meteu o Fred? Tome aqui, querido... � Harry � disse o Sr. Weasley discretamente �, venha at� aqui um instante. Indicou com a cabe�a uma coluna, e Harry acompanhou-o at� detr�s dela, deixando os outros amontoados em volta da Sra. Weasley. � H� uma coisa que preciso dizer antes de voc� embarcar... � come�ou o Sr. Weasley com a voz tensa. � Tudo bem, Sr. Weasley. Eu j� sei. � Voc� sabe? Como poderia saber? � Eu... Ah... Ouvi o senhor e a Sra. Weasley conversando ontem � noite. N�o pude deixar de ouvir � Harry acrescentou rapidamente. � Me desculpe... � N�o era assim que eu queria que voc� tivesse sabido � disse o Sr. Weasley, parecendo aflito. � N�o... Sinceramente, tudo bem. Assim o senhor n�o faltou com a palavra que deu ao Fudge e eu sei o que est� acontecendo. � Harry, voc� deve estar apavorado... � N�o estou � disse Harry honestamente. � Verdade � acrescentou, porque o Sr. Weasley fazia cara de descren�a. � N�o estou tentando bancar o her�i, mas, s�rio, o Sirius Black n�o pode ser pior do que o Voldemort, pode? O Sr. Weasley se perturbou ao som daquele nome, mas conseguiu disfar�ar. � Harry, eu sabia que voc� tinha mais fibra do que Fudge parece imaginar, e � �bvio que fico feliz em constatar que voc� n�o se sente apavorado, mas... � Arthur! � chamou a Sra. Weasley, que agora tocava os garotos para embarcar no trem. � Arthur, que � que voc� est� fazendo? O trem j� vai sair! � Ele j� est� indo, Molly! � respondeu o Sr. Weasley, mas voltou sua aten��o para Harry e continuou a falar em tom mais baixo e mais apressado. � Ou�a, eu quero que voc� me d� sua palavra... � ... De que serei um bom menino e n�o sairei do castelo? � disse Harry com tristeza. � N�o � bem isso � disse o Sr. Weasley, que parecia mais s�rio do que Harry jamais o vira. � Harry, jure que voc� n�o vai sair procurando o Black. Harry arregalou os olhos. � Qu�? Ouviu-se um apito forte. Guardas caminhavam ao lado do trem, batendo as portas para fech�-las. � Prometa, Harry � disse o Sr. Weasley, falando ainda mais depressa �, que aconte�a o que acontecer... � Por que eu iria sair procurando algu�m que eu sei que quer me matar? � perguntou Harry sem entender. � Prometa que ou�a o que ouvir... � Arthur, vamos r�pido! � chamou a Sra. Weasley. O vapor saia da chamin� da locomotiva em gordas nuvens; o trem come�ara a se mexer. Harry correu para a porta da cabine e Rony abriu-a e se afastou para o amigo embarcar. Os dois se debru�aram na janela e acenaram para o Sr. e a Sra. Weasley at� o trem fazer uma curva e o casal desaparecer de vista. � Preciso falar com voc�s em particular � murmurou Harry para Rony e Hermione quando o trem ganhou velocidade. � Vai saindo, Gina � disse Rony. � Ah, quanta gentileza � respondeu a garota aborrecida, mas se afastando sem pressa. Harry, Rony e Hermione sa�ram pelo corredor � procura de uma cabine vazia, mas todas estavam cheias exceto uma bem no finalzinho do trem. Esta tinha apenas um ocupante, um homem que estava ferrado no sono ao lado da janela. Os garotos pararam � porta. O Expresso de Hogwarts era em geral reservado aos estudantes e, at� ent�o, eles nunca tinham visto um adulto a bordo, exceto a bruxa que passava com a carrocinha de comida. O estranho usava um conjunto de vestes de bruxo extremamente surradas e cerzidas em v�rios lugares. Parecia doente e cansado. Embora fosse jovem, seus cabelos castanho-claros estavam salpicados de fios brancos. � Quem voc�s acham que ele �? � sibilou Rony quando se sentaram e fecharam a porta, ocupando os assentos mais afastados da janela. � O Prof�. R. J. Lupin � cochichou Hermione na mesma hora. � Como � que voc� sabe? � Est� na maleta � respondeu a menina, apontando para o bagageiro acima da cabe�a do homem, onde havia uma maleta gasta e amarrada com v�rios fios de barbante caprichosamente tran�ados. O nome Prof�. R. J. Lupin estava estampado a um canto em letras descascadas. � Que ser� que ele ensina? � perguntou Rony, amarrando a cara para o perfil p�lido do homem. � � �bvio � sussurrou Hermione. � S� existe uma vaga, n�o �? Defesa contra as Artes das Trevas. Harry, Rony e Hermione j� tinham tido dois professores nessa mat�ria, e ambos s� duraram um ano letivo. Corriam boatos de que o cargo estava enfeiti�ado. � Bem, espero que ele esteja � altura � disse Rony em tom de d�vida. � D� a impress�o de que um bom feiti�o acabaria com ele de vez, n�o acham? Em todo o caso... � Rony virou-se para Harry. � Que � que voc� ia nos dizer? Harry contou toda a conversa entre o Sr. e a Sra. Weasley e o alerta que aquele senhor acabara de lhe dar. Quando terminou, Rony olhava abobado e Hermione cobrira a boca com as m�os. Finalmente a menina baixou as m�os e disse: � Sirius Black fugiu para vir atr�s de voc�? Ah, Harry... Voc� vai ter que tomar muito, mas muito cuidado. N�o vai sair por a� procurando encrenca, Harry... � Eu n�o saio por a� procurando encrenca � respondeu Harry, irritado. � Em geral as encrencas � que v�m ao meu encontro. � Harry teria que ser um bocado obtuso para sair procurando um biruta que quer mat�-lo, n�o acha?� falou Rony com a voz tremula. Eles estavam reagindo �s noticias pior do que Harry esperara. Tanto Rony quanto Hermione pareciam ter muito mais medo de Black do que ele pr�prio. � Ningu�m sabe como foi que o homem fugiu de Azkaban � disse Rony embara�ado. � Ningu�m jamais tinha feito isso antes. E ainda por cima, ele era um prisioneiro de seguran�a m�xima. � Mas v�o peg�-lo, n�o v�o? � perguntou Hermione muito s�ria. � Quero dizer, todos os trouxas est�o procurando Black tamb�m... � Que barulho foi esse? � perguntou Rony de repente. Uma esp�cie de apitinho fraco vinha de algum lugar. Os garotos procuraram por toda a cabine. � Est� vindo do seu mal�o, Harry � disse Rony se levantando e esticando os bra�os para o bagageiro. Pouco depois retirava o bisbilhosc�pio de bolso, que fora guardado entre as vestes de Harry. O objeto girava muito r�pido na palma da m�o de Rony e emitia um brilho intenso. � Isso � um bisbilhosc�pio? � perguntou Hermione, interessada, levantando-se para ver melhor. � �... E veja bem, � dos baratinhos � disse Rony. � Endoidou quando o amarrei na perna de Errol para mandar para Harry. � Voc� estava fazendo alguma coisa suspeita na hora? � perguntou Hermione astutamente. � N�o! Bem... Eu n�o devia estar usando o Errol. Voc� sabe, ele n�o pode realmente fazer viagens longas... Mas como � que eu ia mandar o presente do Harry? � Ponha-o de volta no mal�o � aconselhou Harry enquanto o bisbilhosc�pio continuava a apitar baixinho �, sen�o vamos acordar o homem. O menino indicou o Prof�. Lupin com a cabe�a. Rony enfiou o bisbilhosc�pio dentro de um par de meias velhas do tio V�lter particularmente horrendas, o que abafou o som, depois fechou a tampa do mal�o. � Poder�amos mandar verificar esse bisbilhoscopio em Hogsmeade � disse Rony, sentando-se outra vez. � Vendem essas coisas na Dervixes e Bangues, instrumentos m�gicos e artigos sortidos. Foi o que Fred e Jorge me contaram. � Voc� conhece muita coisa de Hogsmeade? � perguntou Hermione interessada. � Li que � o �nico povoado inteiramente bruxo da Gr�-Bretanha... � �, acho que � � disse Rony meio sem pensar �, mas n�o � por isso que quero ir l�. S� quero conhecer a Dedosdemel! � E o que � a Dedosdemel? � perguntou Hermione. � � uma loja de doces � disse Rony, com uma express�o sonhadora assomando em seu rosto �, que tem de tudo.. Diabinhos de Pimenta... Que fazem a boca fumegar... E enormes Chocobolas recheadas de musse de morango e creme cozido, e Canetas de a��car realmente �timas, que a gente pode chupar em classe e fazer de conta que est� pensando no que se vai escrever... � Mas Hogsmeade � um lugar muito interessante, n�o �? � insistiu Hermione, pressurosa. O livro S�tios Hist�ricos da Bruxaria diz que a estalagem foi o quartel-general da Revolta dos Duendes de 1612, e diz que a Casa dos Gritos � o pr�dio mais mal-assombrado da Gr�-Bretanha... � E bolas maci�as de sorvete de frutas que fazem a gente levitar uns cent�metros acima do ch�o enquanto est� comendo � continuou Rony, que decididamente n�o estava ouvindo uma palavra do que Hermione dizia. A garota virou-se para Harry. � N�o vai ser �timo sair um pouco da escola e explorar Hogsmeade? � Imagino que sim � respondeu Harry deprimido. � Voc� vai ter que me contar quando descobrir. � Como assim? � perguntou Rony. � N�o posso ir. Os Dursley n�o assinaram o meu formul�rio de autoriza��o e o Fudge tamb�m n�o quis assinar. Rony fez uma cara de horror. � Voc� n�o tem autoriza��o para ir? Mas... Nem pensar... McGonagall ou algu�m vai ter que lhe dar essa autoriza��o... Harry deu uma risada for�ada. A Prof�. McGonagall, diretora da Grifin�ria, era muito rigorosa. � ... Ou podemos apelar para o Fred e o Jorge, eles conhecem todas as passagens secretas para sair do castelo... � Rony! � ralhou Hermione com severidade. � Acho que o Harry n�o devia sair escondido da escola com o Black solto por a�... � �, imagino que � o que McGonagall vai dizer quando eu pedir autoriza��o � disse Harry amargurado. � Mas se n�s estivermos com ele � disse Rony, animado, a Hermione � Black n�o ousaria... � Ah, Rony, n�o diz besteira � retrucou Hermione. � Black j� matou um monte de gente bem no meio de uma rua movimentada. Voc� acha mesmo que ele vai se preocupar se vai ou n�o atacar Harry s� porque n�s estamos presentes? Hermione mexia com as al�as da cesta de Bichento enquanto falava. � N�o solta essa coisa! � exclamou Rony, mas tarde demais; Bichento saltou com leveza da cesta, espregui�ou-se, bocejou e pulou nos joelhos de Rony; O calombo no peito do menino estremeceu e ele empurrou Bichento com raiva. � D� o fora daqui! � Rony, n�o! � disse Hermione, zangada. O menino ia responder quando o Prof�. Lupin se mexeu. Eles o miraram com apreens�o, mas ele simplesmente virou a cabe�a para o outro lado, a boca ligeiramente entreaberta, e continuou a dormir. O Expresso de Hogwarts rodava numa velocidade constante para o norte e o cen�rio � janela ia se tornando cada vez mais bravio e escuro enquanto as nuvens, no alto, se avolumavam. Estudantes passavam pela porta da cabine correndo para cima e para baixo. Bichento agora se acomodara num assento vazio, a cara amassada virada para Rony, os olhos amarelos cravados no bolso do peito dele. � uma hora, a bruxa gorducha com o carrinho de comida chegou � porta da cabine. � Voc�s acham que a gente devia acordar o professor? � perguntou Rony sem gra�a, indicando Lupin com a cabe�a. � Ele est� com cara de quem podia comer alguma coisa. Hermione se aproximou cautelosamente do homem. � Hum... Professor? Com licen�a, professor? O homem n�o se mexeu. � N�o se preocupe, querida � disse a bruxa entregando a Harry uma montanha de bolos de caldeir�o. � Se ele tiver fome quando acordar, vou estar l� na frente com o maquinista. � Suponho que ele esteja dormindo � disse Rony baixinho quando a bruxa fechou a porta da cabine. � Quero dizer: ele n�o morreu, n�o �? � N�o, est� respirando � sussurrou Hermione, pegando o bolo de caldeir�o que Harry lhe passava. Talvez o Prof�. Lupin n�o fosse uma �tima companhia, mas sua presen�a na cabine dos garotos tinha suas vantagens. No meio da tarde, bem na hora em que a chuva come�ou a cair, emba�ando os contornos das colinas ondulantes por que passavam, os meninos ouviram novamente passos no corredor, e surgiram � porta as tr�s pessoas que eles menos gostavam no mundo: Draco Malfoy, ladeado pelos seus asseclas, Vicente Crabbe e Greg�rio Goyle. Draco Malfoy e Harry eram inimigos desde que se encontraram na primeira viagem de trem para Hogwarts. Malfoy, que tinha uma cara desdenhosa, p�lida e pontuda, era aluno da Sonserina; jogava como apanhador no time de sua casa, a mesma posi��o de Harry no time da Grifin�ria. Crabbe e Goyle pareciam existir para fazer o que Draco mandava. Eram grandes e musculosos; Crabbe, mais alto, tinha um pesco�o muito grosso e um corte de cabelos de cuia; os cabelos de Goyle eram curtos e espetados, e seus bra�os compridos como os de um gorila. � Ora! vejam s� quem est� aqui � disse Draco naquela sua voz arrastada, abrindo a porta da cabina , Potinha e Fuinha. Crabbe e Goyle riram feito trasgos. � Ouvi dizer que seu pai finalmente p�s as m�os no ouro neste ver�o � disse Malfoy. � Sua m�e n�o morreu do choque? Rony se levantou t�o depressa que derrubou a cesta de Bichento no ch�o. O Prof�. Lupin soltou um pequeno ronco. � Quem � esse ai? � perguntou Draco, dando automaticamente um passo atr�s, ao ver Lupin. � Professor novo � disse Harry que se levantou tamb�m, caso precisasse segurar Rony. � Que � que voc� ia dizendo mesmo, Draco? Os olhos muito claros do menino se estreitaram; ele n�o era bobo de puxar uma briga bem debaixo do nariz de um professor. � Vamos � murmurou Draco, contrariado, para Crabbe e Coyle, e os tr�s sumiram. Harry e Rony tornaram a se sentar, Rony massageando os n�s dos dedos. � N�o vou aturar nenhum desaforo de Draco este ano � disse cheio de raiva. � Estou falando s�rio. Se ele disser mais uma piadinha sobre a minha fam�lia, vou agarrar a cabe�a dele e... Rony fez um gesto violento no ar. � Rony � sibilou Hermione, apontando para o Prof�. Lupin �, cuidado... Mas o Prof�. Lupin continuava ferrado no sono. A chuva engrossava � medida que o trem avan�ava mais para o norte; as janelas agora iam se tornando um cinza s�lido e tremeluzente, que gradualmente escureceu at� as lanternas se acenderem nos corredores e por cima dos bagageiros. O trem sacolejava, a chuva fustigava, o vento rugia, mas, ainda assim, o Prof�. Lupin continuava adormecido. � Devemos estar quase chegando � disse Rony, curvando-se para frente para olhar, al�m do professor, a janela agora completamente escura. Nem bem essas palavras tinham sa�do de sua boca e o trem come�ou a reduzir a velocidade. � Legal � exclamou Rony, levantando-se e passando com todo o cuidado pelo Prof�. Lupin para tentar ver l� fora. � Estou morrendo de fome. Quero chegar logo para o banquete... � N�s ainda n�o chegamos � disse Hermione, consultando o rel�gio. � Ent�o por que estamos parando? O trem foi rodando cada vez mais lentamente. Quando o ronco dos pist�es parou, o barulho do vento e da chuva de encontro �s janelas pareceu mais forte que nunca. Harry, que estava mais pr�ximo da porta, levantou-se para espiar o corredor. Por todo o carro, cabe�as, curiosas, surgiram � porta das cabines. O trem parou completamente com um tranco, e baques e pancadas distantes sinalizaram que as malas tinham despencado dos bagageiros. Em seguida, sem aviso, todas as luzes se apagaram e eles mergulharam em total escurid�o. � Que � que est� acontecendo? � ouviu-se a voz de Rony �s costas de Harry. � Ai! � exclamou Hermione. � Rony, isto � o meu p�! Harry voltou ao seu lugar, �s apalpadelas. � Voc�s acham que o trem engui�ou? � N�o sei... Ouviu-se um barulho de pano esfregando vidro e Harry viu os contornos difusos de Rony desemba�ando um peda�o da vidra�a da janela para espiar. � Tem uma coisa se mexendo l� fora � disse ele. � Acho que est� embarcando gente no trem... A porta da cabine se abriu repentinamente e algu�m caiu por cima das pernas de Harry, machucando-o. � Desculpe... Voc� sabe o que est� acontecendo?... Ai... Desculpe... � Ai, Neville � disse Harry tateando no escuro e levantando o colega pela capa. � Harry? � voc�? Que � que est� acontecendo? � N�o tenho id�ia... Senta... Ouviu-se um sibilo forte e um ganido de dor; Neville tentara se sentar em cima do Bichento. � Vou perguntar ao maquinista o que est� acontecendo � ouviu-se a voz de Hermione. Harry sentiu a amiga passar por ele, ouviu a porta deslizar, e em seguida um baque e dois berros de dor. � Quem �? � Quem �? � Gina? � Mione? � Que � que voc� est� fazendo? � Estava procurando o Rony! � Entra aqui e senta... � Aqui n�o! � disse Harry depressa. � Eu estou aqui! � Ai! � disse Neville. � Sil�ncio! � ordenou uma voz rouca, de repente. O Prof�. Lupin parecia ter finalmente acordado. Harry ouviu movimentos no canto em que ele estava. Ningu�m disse nada. Seguiu-se um estalinho e uma luz tr�mula inundou a cabine. Pelo que viam, o professor estava empunhando um feixe de chamas. Elas iluminavam um rosto cansado e cinzento, mas seus olhos tinham uma express�o alerta e cautelosa. � Fiquem onde est�o � disse com a mesma voz rouca, e come�ou a se levantar lentamente segurando as chamas � sua frente. Mas a porta se abriu antes que Lupin pudesse alcan��-la. Parado � porta, iluminado pelas chamas tr�mulas na m�o do professor, havia um vulto de capa que alcan�ava o teto. Seu rosto estava completamente oculto por um capuz. Harry baixou os olhos depressa, e o que ele viu provocou uma contra��o em seu est�mago. Havia uma m�o saindo da capa e ela brilhava, um brilho cinzento, de apar�ncia viscosa e coberta de feridas, como uma coisa morta que se decompusera na �gua... Mas foi vis�vel apenas por uma fra��o de segundo. Como se a criatura sob a capa percebesse o olhar de Harry, a m�o foi repentinamente ocultada nas dobras da capa preta. E ent�o a coisa encapuzada, fosse o que fosse, inspirou longa e lentamente, uma inspira��o ruidosa, como se estivesse tentando inspirar mais do que o ar � sua volta. Um frio intenso atingiu todos os presentes. Harry sentiu a pr�pria respira��o entalar no peito. O frio penetrou mais fundo em sua pele. Chegou ao fundo do peito, ao seu pr�prio cora��o... Os olhos de Harry giraram nas �rbitas. Ele n�o conseguiu ver mais nada. Estava se afogando no frio. Sentia um farfalhar nos ouvidos que lembrava �gua correndo. Estava sendo puxado para o fundo, o farfalhar aumentou para um ronco que aumentava... Ent�o, vindos de muito longe, ouviu gritos, terr�veis, apavorados, suplicantes. Ele queria ajudar quem gritava, tentou mexer os bra�os, mas n�o conseguiu... Um nevoeiro claro e denso rodopiava � volta dele, dentro dele... � Harry! Harry! Voc� est� bem? Algu�m batia no seu rosto. -Q... Qu�? Harry abriu os olhos; havia lanternas no alto e o ch�o sacudia. � O Expresso de Hogwarts recome�ara a andar e as luzes tinham voltado. Aparentemente ele escorregara do assento para o ch�o. Rony e Hermione estavam ajoelhados ao seu lado, e acima dos seus amigos ele viu que Neville e o professor o observavam. Harry se sentiu muito doente; quando ergueu a m�o para ajeitar os �culos no nariz, sentiu um suor frio no rosto. Rony e Hermione puxaram-no para cima do assento. � Voc� est� bem? � perguntou Rony, nervoso. � Estou � disse Harry, olhando depressa para a porta. A criatura encapuzada desaparecera. � Que aconteceu? Onde est� aquela... Aquela coisa? Quem gritou? � Ningu�m gritou � disse Rony, ainda mais nervoso. Harry olhou para todos os lados da cabine iluminada. Gina e Neville retribu�ram seu olhar, ambos muito p�lidos. � Mas eu ouvi gritos... Um forte estalo assustou os meninos. O Prof�. Lupin partia em peda�os uma enorme barra de chocolate. � Tome � disse a Harry, oferecendo-lhe um peda�o particularmente avantajado. � Coma. Vai fazer voc� se sentir melhor. Harry apanhou o chocolate, mas n�o o comeu. � Que era aquela coisa? � perguntou a Lupin. � Um dementador � respondeu Lupin, que agora distribu�a o chocolate para todos. � Um dos dementadores de Azkaban. Todos o olharam espantados. O professor amassou a embalagem vazia de chocolate e meteu-a no bolso. � Coma � insistiu. � Vai lhe fazer bem. Preciso falar com o maquinista, me d�em licen�a... Ele passou por Harry e desapareceu no corredor. � Voc� tem certeza de que est� bem? � perguntou Hermione, observando-o com ansiedade. � N�o entendo... Que foi que aconteceu? � perguntou Harry, enxugando mais suor do rosto. � Bem... Aquela coisa... O dementador... Ficou parado ali olhando, quero dizer, acho que foi, n�o pude ver o rosto dele... E voc�... � Pensei que voc� estava tendo um acesso ou coisa parecida � disse Rony, que conservava no rosto uma express�o de pavor � Voc� ficou todo duro, escorregou do assento e come�ou a se contorcer... � E o Prof�. Lupin saltou por cima de voc�, foi ao encontro do dementador, puxou a varinha � contou Hermione � e disse: "Nenhum de n�s est� escondendo Sirius Black dentro da capa. V�." � Mas o dementador n�o se mexeu, ent�o Lupin murmurou alguma coisa e da varinha saiu um raio prateado contra a coisa, e ela deu as costas e se afastou como se deslizasse... � Foi horr�vel � disse Neville numa voz mais alta do que de costume. � Voc�s sentiram como ficou frio quando ele entrou? � Eu me senti esquisito � disse Rony, sacudindo os ombros, desconfort�vel. � Como se eu nunca mais fosse sentir alegria na vida... Gina, que se encolhera a um canto parecendo quase t�o mal quanto Harry, deu um solucinho; Hermione aproximou-se e passou um bra�o pelas costas da menina para consol�-la. � Mas nenhum de voc�s caiu do assento? � perguntou Harry sem gra�a. � N�o � disse Rony, olhando para Harry, ansioso, outra vez. � Mas Gina tremia feito louca... Harry n�o entendeu. Sentia-se fraco e cheio de arrepios, como se estivesse se recuperando de uma gripe muito forte; come�ava tamb�m a sentir um in�cio de vergonha. Por que desmaiara daquele jeito, quando mais ningu�m desmaiara? O Prof�. Lupin voltou. Parou ao entrar, olhando para todos e disse, com um leve sorriso: � Eu n�o envenenei o chocolate, sabem... Harry deu uma dentada e, para sua grande surpresa, sentiu de repente um calor se espalhar at� as pontas dos dedos dos p�s e das m�os. � Vamos chegar a Hogwarts dentro de dez minutos � disse o Prof�. Lupin. � Voc� est� bem, Harry? O menino n�o perguntou como � que o professor sabia seu nome. � Muito bem � murmurou ele, constrangido. Ningu�m falou muito durante o resto da viagem. Por fim, o trem parou na esta��o de Hogsmeade e houve uma grande correria para desembarcar; corujas piavam, gatos miavam e o sapo de estima��o de Neville coaxou alto debaixo do chap�u do seu dono. Estava frio demais na min�scula plataforma; a chuva descia em cortinas geladas. � Alunos do primeiro ano por aqui! � chamou uma voz conhecida. Harry, Rony e Hermione se viraram e depararam com o vulto gigantesco de Hagrid, no outro extremo da plataforma, fazendo sinal para os novos alunos, aterrorizados, se aproximarem para a tradicional travessia do lago. � Tudo bem, voc�s tr�s? � gritou Hagrid sobre as cabe�as dos alunos aglomerados. Eles acenaram para o guarda-ca�a, mas n�o tiveram chance de lhe falar porque a massa de alunos em volta deles os empurrava na dire��o oposta. Harry, Rony e Hermione acompanharam o resto da escola pela plataforma e desceram para uma trilha enlameada, cheia de altos e baixos, onde no m�nimo uns cem coches os aguardavam, cada qual, Harry s� podia supor, puxado por um cavalo invis�vel, porque os garotos embarcaram em um, fecharam a porta e o ve�culo saiu andando, aos trancos e balan�os, formando um cortejo. O coche cheirava levemente a mofo e palha. Harry se sentia melhor desde o chocolate, mas continuava fraco. Rony e Hermione n�o paravam de lhe lan�ar olhares de esguelha, como se temessem que ele pudesse desmaiar outra vez. Quando o coche foi se aproximando de um magn�fico port�o de ferro forjado, ladeado por colunas de pedra com javalis alados no alto, Harry viu mais dois dementadores encapuzados montando guarda dos lados do port�o. Uma onda de n�usea e frio tornou a invadi-lo; ele se recostou no banco encalombado e fechou os olhos at� atravessarem a entrada. O coche ganhou velocidade no caminho longo e inclinado at� o castelo; Hermione se debru�ou pela janelinha, espiando as muitas torrinhas e torres que se aproximavam. Por fim, o coche parou balan�ando, e Hermione e Rony desembarcaram. Quando Harry ia descendo, uma voz arrastada e satisfeita chegou aos seus ouvidos. � Voc� desmaiou, Potter? Longbottom est� falando a verdade? Desmaiou mesmo, �? Draco passou por Hermione acotovelando-a, para impedir Harry de subir as escadas de pedra do castelo, o rosto jubilante e os olhos claros brilhando de mal�cia. � Se manda, Malfoy � disse Rony, cujos maxilares estavam cerrados. � Voc� tamb�m desmaiou, Weasley? � perguntou Draco em voz alta. � O velho dementador apavorante tamb�m o assustou, Weasley? � Algum problema? � perguntou uma voz suave, O Prof�. Lupin acabara de desembarcar do coche seguinte. Malfoy lan�ou ao Prof�. Lupin um olhar insolente, que registrou os remendos em suas vestes e a mala surrada. Com uma sugest�o de sarcasmo na voz, ele respondeu: � Ah, n�o... Hum... Professor � depois fez cara de riso para Crabbe e Goyle, e subiu com os dois as escadas do castelo. Hermione bateu nas costas de Rony para apress�-lo, e os tr�s se reuniram aos muitos alunos que enchiam as escadas, cruzavam a soleira das enormes portas de carvalho e penetravam no sagu�o cavernoso iluminado com tochas ardentes, onde havia uma magn�fica escadaria de m�rmore para os andares superiores. A porta que levava ao Sal�o Principal, � direita, estava aberta; Harry seguiu o grande n�mero de alunos que se deslocava naquela dire��o, mas apenas vislumbrara o teto encantado, que �quela noite se mostrava escuro e anuviado, quando uma voz o chamou: � Potter! Granger! Quero falar com os dois! Os garotos se viraram surpresos. A Prof�. McGonagall, que ensinava Transforma��o e dirigia a Casa da Grifin�ria, os chamava por cima das cabe�as dos demais. Era uma bruxa de aspecto severo, que usava os cabelos presos em um coque apertado; seus olhos penetrantes eram emoldurados por �culos quadrados. Harry abriu caminho at� ela com esfor�o e um mau pressentimento: a Prof�. McGonagall tinha o cond�o de faz�-lo sentir que fizera alguma coisa errada. � N�o precisa ficar t�o preocupado, s� quero dar uma palavrinha com voc�s na minha sala � disse ela. � Pode continuar o seu caminho, Weasley. Rony ficou olhando a professora se afastar, com Harry e Hermione, da aglomera��o de alunos que falavam sem parar; os tr�s atravessaram o sagu�o, subiram a escadaria de m�rmore e seguiram por um corredor. J� na sala, um pequeno aposento com uma grande e acolhedora lareira, a professora fez sinal a Harry e Hermione para que se sentassem. Ela pr�pria se sentou � escrivaninha e disse sem rodeios: � O Prof�. Lupin mandou � frente uma coruja para avisar que voc� tinha passado mal no trem, Potter. Antes que o garoto pudesse responder, ouviu-se uma leve batida na porta e Madame Pomfrey, a enfermeira, entrou com seu ar eficiente. Harry sentiu o rosto corar. J� era bastante ruim que tivesse desmaiado, ou o que fosse, sem todo mundo ficar fazendo aquele alvoro�o. � Eu estou bem � disse. � N�o preciso de nada... � Ah, ent�o foi voc�? � exclamou Madame Pomfrey, ignorando o coment�rio de Harry e se curvando para examin�-lo mais de perto. � Suponho que tenha feito outra vez alguma coisa perigosa. � Foi um dementador, Papoula. � informou McGonagall. As duas, trocaram olhares misteriosos e Madame Pomfrey deu um muxoxo de desaprova��o. � Postar dementadores em volta da escola � murmurou, afastando os cabelos de Harry e sentindo a temperatura na testa dele. � O menino n�o vai ser o �ltimo a desmaiar. �, est� �mido de suor. Eles s�o terr�veis e o efeito que produzem nas pessoas que j� s�o delicadas... � Eu n�o sou delicado! � exclamou Harry aborrecido. � Claro que n�o � � disse Madame Pomfrey distra�da, agora tomando o seu pulso. � Do que � que ele precisa? � perguntou a Prof�. McGonagall, decidida. � Repouso? Quem sabe n�o fosse bom passar a noite na ala hospitalar? � Eu estou �timo! � disse Harry, levantando-se de um salto. A id�ia do que Draco iria dizer se ele tivesse que ir para a ala hospitalar foi uma tortura. � Bem, ele devia, no m�nimo, tomar um chocolate � disse Madame Pomfrey, que agora tentava examinar os olhos de Harry. � J� comi chocolate � disse ele. � O Prof�. Lupin me deu. Deu a todos n�s. � Deu, foi? � exclamou a bruxa-enfermeira em tom de aprova��o. � Ent�o finalmente conseguimos um professor de Defesa contra as Artes das Trevas que sabe o que faz! � Voc� tem certeza de que est� se sentindo bem, Potter? � perguntou a Prof�. McGonagall bruscamente. � Estou � respondeu Harry. � Muito bem. Por favor esperem a� fora enquanto dou uma palavrinha com a Srta. Granger sobre sua programa��o para o ano letivo, depois podemos descer juntos para a festa. Harry saiu para o corredor com Madame Pomfrey, que seguiu para a ala hospitalar, resmungando sozinha. Ele s� precisou esperar uns minutinhos; Hermione apareceu com um ar muito feliz, acompanhada pela professora, e todos desceram a escadaria de m�rmore para o Sal�o Principal. Havia um mar de chap�us c�nicos e pretos; cada uma das compridas mesas das casas estava lotada de estudantes, os rostos iluminados por milhares de velas que flutuavam no ar, acima das mesas. O Prof�. Flitwick, que era um bruxo franzino de cabeleira branca, carregava um chap�u antigo e um banquinho de tr�s pernas para fora da sala. � Ah � comentou Hermione em voz baixa �, perdemos a cerim�nia da sele��o! Os novos alunos de Hogwarts eram distribu�dos pelas quatro casas do col�gio, pondo na cabe�a o Chap�u Seletor, que anunciava a casa (Grifin�ria, Corvinal, Lufa-Lufa ou Sonserina) que melhor convinha ao rec�m-chegado. A Prof�. McGonagall dirigiu-se ao seu lugar, que estava vazio � mesa dos professores e funcion�rios e Harry e Hermione seguiram na dire��o oposta, o mais silenciosamente poss�vel para se sentarem � mesa da Grifin�ria. As pessoas viraram a cabe�a para olh�-los passar pelo fundo do sal�o, e alguns apontaram para Harry. Ser� que a hist�ria do seu desmaio ao topar com o dementador se espalhara com tanta rapidez? Ele e Hermione se sentaram um de cada lado de Rony, que guardara seus lugares. � Que hist�ria foi essa? � murmurou Rony para Harry. O amigo come�ou a lhe explicar aos cochichos, mas naquele momento, o diretor se ergueu para falar e ele se calou. O Prof�. Dumbledore, embora muito velho, sempre dava uma impress�o de grande energia. Tinha alguns palmos de cabelos e barbas prateados, �culos de meia-lua e um nariz muito torto. Em geral era descrito como o maior bruxo da era atual, mas n�o era esta a raz�o por que Harry o respeitava. N�o era poss�vel deixar de confiar em Alvo Dumbledore, e quando Harry o contemplou sorrindo radiante para os alunos � sua volta, sentiu-se calmo, pela primeira vez, desde que o dementador entrara na cabine do trem. � Sejam bem-vindos! � come�ou Dumbledore, a luz das velas tremeluzindo em suas barbas. � Sejam bem-vindos para mais um ano em Hogwarts! Tenho algumas coisas a dizer a todos, e uma delas � muito s�ria. Acho que � melhor tir�-la do caminho antes que voc�s fiquem tontos com esse excelente banquete... O diretor pigarreou e prosseguiu: � Como voc�s todos perceberam, depois da busca que houve no Expresso de Hogwarts, a nossa escola passou a hospedar alguns dementadores de Azkaban, que vieram cumprir ordens do Minist�rio da Magia. Ele fez uma pausa e Harry se lembrou do que o Sr. Weasley comentara sobre a insatisfa��o de Dumbledore quanto ao fato de os dementadores estarem montando guarda na escola. � Eles est�o postados em cada entrada da propriedade e, enquanto estiverem conosco, � preciso deixar muito claro que ningu�m deve sair da escola sem permiss�o. Os dementadores n�o se deixam enganar por truques nem disfarces, nem mesmo por capas de invisibilidade � acrescentou ele brandamente, e Harry e Rony se entreolharam. � N�o faz parte da natureza deles entender s�plicas nem desculpas. Portanto, aviso a todos e a cada um em particular, para n�o darem a esses guardas raz�o para lhes fazerem mal. Apelo aos monitores, e ao nosso monitor e monitora chefes, para que se certifiquem de que nenhum aluno entre em conflito com os dementadores. Percy, que estava sentado a algumas cadeiras de dist�ncia de Harry, estufou o peito outra vez e olhou � volta cheio de import�ncia. Dumbledore fez nova pausa; percorreu o sal�o com um olhar muito s�rio mas ningu�m se mexeu nem emitiu som algum. � Agora, falando de coisas mais agrad�veis � continuou ele �, tenho o prazer de dar as boas-vindas a dois novos professores este ano. Primeiro, o Prof�. Lupin, que teve a bondade de aceitar ocupar a vaga de professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Ouviram-se algumas palmas dispersas e pouco entusi�sticas. Somente os que tinham estado na cabine de trem com o novo professor bateram palmas animados, Harry entre eles. Lupin parecia particularmente mal vestido ao lado dos outros professores que trajavam suas melhores vestes. � Olha a cara do Snape! � sibilou Rony ao ouvido de Harry. O olhar do Prof�. Snape, mestre de Po��es, passou pelos professores que ocupavam a mesa e se deteve em Lupin. Era fato sabido que Snape queria o cargo de professor de Defesa contra as Artes das Trevas, mas at� Harry, que o detestava, se surpreendeu com a express�o que deformou o seu rosto macilento. Era mais do que raiva: era desprezo. Harry conhecia aquela express�o bem demais; era a que Snape usava sempre que o avistava. � Quanto ao nosso segundo contratado � continuou Dumbledore quando cessavam as palmas mornas para o Prof�. Lupin. � Bem, lamento informar que o Prof�. Ketrleburn, que ensinava Trato das Criaturas M�gicas, aposentou-se no fim do ano passado para poder aproveitar melhor os membros que ainda lhe restam. Contudo, tenho o prazer de informar que o seu cargo ser� preenchido por ningu�m menos que R�beo Hagrid, que concordou em acrescentar essa responsabilidade docente �s suas tarefas de guarda-ca�a. Harry, Rony e Hermione se entreolharam, estupefatos. Em seguida acompanharam os aplausos, que foram tumultuosos principalmente � mesa da Grifin�ria. Harry se esticou para frente para ver Hagrid, que tinha o rosto vermelho-rubi, os olhos postos nas m�os enormes, e o sorriso largo escondido no emaranhado de sua barba escura. � N�s dev�amos ter adivinhado! � berrou Rony, dando socos na mesa. � Quem mais teria nos mandado comprar um livro que morde? Os tr�s garotos foram os �ltimos a parar de aplaudir e quando o Prof�. Dumbledore recome�ou a falar, eles viram que Hagrid estava enxugando os olhos na toalha da mesa. � Bem, acho que, de importante, � s� o que tenho a dizer. Vamos � festa! As travessas e ta�as de ouro diante das pessoas se encheram inesperadamente de comida e bebida. Harry, de repente faminto, se serviu de tudo que conseguiu alcan�ar e come�ou a comer. Foi um banquete delicioso; o sal�o ecoava as conversas, os risos e o tilintar de talheres. Harry, Rony e Hermione, por�m, estavam ansiosos para a festa terminar para poderem conversar com Hagrid. Sabiam o quanto significava para ele ser nomeado professor. O guarda-ca�a n�o era um bruxo diplomado; fora expulso de Hogwarts no terceiro ano por um crime que n�o cometera. Harry, Rony e Hermione � que tinham limpado o seu nome no ano anterior. Finalmente, quando os �ltimos peda�os deliciosos de torta de ab�bora tinham desaparecido das travessas de ouro, Dumbledore anunciou que era hora de todos se recolherem e os meninos tiveram a oportunidade que aguardavam. � Hagrid! � exclamou Hermione quando se aproximaram da mesa dos professores. � Gra�as a voc�s � disse Hagrid, enxugando o rosto brilhante de l�grimas no guardanapo e erguendo os olhos para os garotos. � Nem consigo acreditar... Grande homem, o Dumbledore... Veio direto � minha cabana quando o Prof�. Kettleburn disse que para ele j� chegava... � o que eu sempre quis... . Dominado pela emo��o, ele escondeu o rosto no guardanapo e a Prof�. McGonagall tocou os meninos para fora. Harry, Rony e Hermione se reuniram aos outros colegas da Grifin�ria que ocupavam toda a escadaria de m�rmore e agora, muito cansados, caminharam por mais corredores e mais escadas at� a entrada secreta para a torre da Grifin�ria. Uma grande pintura a �leo de uma mulher gorda vestida de rosa perguntou-lhes: � A senha? � J� estou indo, j� estou indo! � gritou Percy l� do fim do ajuntamento. � A nova senha? Fortuna Major! � Ah, n�o! � exclamou Neville Longbottom com tristeza. Ele sempre tinha dificuldade para se lembrar das senhas. Depois de atravessar o buraco do retrato e a sala comunal, as garotas e garotos tomaram escadas separadas. Harry subiu a escada circular sem pensar em nada exceto na sua felicidade por estar de volta. Quando chegaram ao dormit�rio redondo com as camas de colunas que j� conheciam, Harry, olhando a toda volta, se sentiu finalmente em casa. CAP�TULO SEIS Garras e Folhas de Ch� Quando Harry, Rony e Hermione entraram no Sal�o Principal para tomar caf�, na manh� seguinte, a primeira coisa que viram foi Draco Malfoy, que parecia estar entretendo um grande grupo de alunos da Sonserina com uma hist�ria muito engra�ada. Quando os tr�s passaram, Malfoy fez uma imita��o rid�cula de um desmaio que provocou grandes gargalhadas. � N�o ligue para ele � disse Hermione, que vinha logo atr�s de Harry. � N�o d� bola para ele, n�o vale a pena... � Ei, Potter! � chamou esgani�ada Pansy Parkinson, uma garota da Sonserina com cara de buldogue. � Potter! Os dementadores est�o chegando. Potter! Uuuuuuuuuuuu! Harry se largou numa cadeira � mesa da Grifin�ria, ao lado de Jorge Weasley. � Novos hor�rios de aulas para os alunos do terceiro ano � disse Jorge, distribuindo-os. � Que � que h� com voc�, Harry? � Malfoy � informou Rony, sentando-se do outro lado de Jorge e olhando feio para a mesa da Sonserina. Jorge ergueu os olhos na hora em que Malfoy fingia desmaiar de terror outra vez. � Aquele debil�ide! � disse calmamente. � Ele n�o estava t�o exibido ontem � noite quando os dementadores revistaram o nosso lado do trem. Entrou correndo na nossa cabine, n�o foi, Fred? � Quase fez xixi nas cal�as � disse Fred, lan�ando a Draco um olhar de desprezo. � Nem eu fiquei muito feliz � comentou Jorge. � Eles s�o um horror, aqueles dementadores... � Meio que congelam a gente por dentro, n�o acha? � disse Fred. � Mas voc� n�o desmaiou, desmaiou? � perguntou Harry em voz baixa. � Esquece isso, Harry � disse Jorge para anim�-lo. � Papai teve que ir a Azkaban uma vez, lembra, Fred? E comentou que foi o pior lugar em que esteve na vida, voltou de l� fraco e abalado... Eles sugam a felicidade do lugar, esses dementadores. A maioria dos prisioneiros acaba endoidando. � Em todo caso, vamos ver se Draco vai continuar t�o felizinho depois do primeiro jogo de Quadribol � disse Fred. � Grifin�ria contra Sonserina, primeiro jogo da temporada, est� lembrado? A �nica vez em que Harry e Draco tinham se enfrentado em uma partida de Quadribol, Draco decididamente tinha levado a pior. Sentindo-se um pouquinho mais animado, Harry se serviu de salsichas e tomates fritos. Hermione examinava seu novo hor�rio. � Ah, que �timo, estamos come�ando mat�rias novas hoje � comentou satisfeita. � Hermione � disse Rony, franzindo a testa ao olhar por cima do ombro da amiga � bagun�aram o seu hor�rio. Veja s�: dez aulas por dia. N�o existe tempo para tudo isso. � Eu me arranjo. J� combinei tudo com a Prof�. Minerva. � Mas olha aqui � continuou Rony, rindo-se �, est� vendo hoje de manh�? Nove horas, Adivinha��o. E embaixo, nove horas, Estudo dos Trouxas. E � o menino se curvou para olhar o hor�rio, mas de perto, incr�dulo � olha, embaixo tem Aritmancia, nove horas. Quero dizer, eu sei que voc� � boa, Mione, mas ningu�m � t�o bom assim. Como � que voc� vai poder assistir a tr�s aulas ao mesmo tempo? � N�o seja bobo � disse Hermione com rispidez. � � claro que n�o vou assistir a tr�s aulas ao mesmo tempo. � Bom, ent�o... � Passe a gel�ia � pediu Hermione. � Mas... � Ah, Rony, � da sua conta se o meu hor�rio ficou um pouco cheio demais? � perguntou a menina em tom zangado. � J� disse que combinei tudo com a Prof�. Minerva. Nesse instante Hagrid entrou no Sal�o Principal. Estava usando o casaco de pele de toupeira e distraidamente balan�ava um gamb� na m�o enorme. � Tudo bem? � perguntou ele, ansioso, parando a caminho da mesa dos professores. � Voc�s v�o assistir � primeira aula da minha vida! Logo depois do almo�o! Estou acordado desde as cinco horas aprontando tudo... Espero que d� certo... Eu, professor... Sinceramente... E dando um grande sorriso para os garotos foi para sua mesa, ainda balan�ando o gamb�. � O que ser� que ele andou aprontando? � comentou Rony, com uma nota de ansiedade na voz. O sal�o come�ou a se esvaziar � medida que as pessoas sa�am para a primeira aula. Rony verificou seu hor�rio. � � melhor irmos andando, olha, Adivinha��o � no alto da Torre Norte. Vamos levar uns dez minutos para chegar l�... Os garotos terminaram o caf�, apressados, se despediram de Fred e Jorge, e foram saindo para o sagu�o. Ao passarem pela mesa da Sonserina, Draco tornou a fazer a imita��o do desmaio. As gargalhadas acompanharam Harry at� a entrada do sagu�o. A viagem pelo castelo at� a Torre Norte era longa. Dois anos em Hogwarts n�o tinham ensinado aos meninos tudo sobre o lugar, e nunca tinham ido � Torre Norte antes. � Tem... Que... Ter... Um... Atalho � ofegava Rony ao subirem a s�tima longa escada e chegarem a um patamar desconhecido, onde n�o havia nada exceto um grande quadro de um campo relvado pendurado na parede de pedra. � Acho que � por aqui � disse Hermione, espiando o corredor vazio � direita. � N�o pode ser � discordou Rony. � A� � sul, olha, d� para, ver um pedacinho do lago pela janela... Harry parou para examinar o quadro. Um gordo p�nei cinza malhado pisou lentamente na relva e come�ou a pastar sem muito entusiasmo. Harry estava acostumado aos personagens dos quadros de Hogwarts andarem e at� sa�rem pela moldura para visitar uns aos outros, mas sempre gostava de apreciar esse movimento. No instante seguinte, um cavaleiro baixo e atarracado, vestindo armadura, entrou retinindo pelo quadro � procura do seu p�nei. Pelas manchas de grama nas joelheiras met�licas, ele acabara de cair do cavalo. � Ah-ah! � berrou, vendo Harry, Rony e Hermione. � Quem s�o esses vil�es que invadem as minhas terras! Porventura vieram zombar da minha queda? Desembainhem as espadas, seus velhacos, seus c�es! Os meninos observaram, espantados, o cavaleiro nanico puxar a espada da bainha e come�ar a brandi-la com viol�ncia, saltando para aqui e para ali enraivecido. Mas a espada era demasiado comprida para ele; um golpe particularmente exagerado desequilibrou-o e ele caiu de cara na grama. � O senhor est� bem? � perguntou Harry, aproximando-se do quadro. � Afaste-se, fanfarr�o desprez�vel! Para tr�s, patife! O cavaleiro retomou a espada e usou-a para se reerguer, mas a l�mina penetrou fundo na terra e, embora ele a puxasse com toda a for�a, n�o conseguiu retir�-la. Finalmente, teve que se largar outra vez no ch�o e levantar a viseira para enxugar o rosto coberto de suor. � Escuta aqui � disse Harry, se aproveitando da exaust�o do cavaleiro �, estamos procurando a Torre Norte. O senhor conhece o caminho, n�o? � Uma expedi��o! � A raiva do cavaleiro pareceu sumir instantaneamente. Levantou-se retinindo a armadura e gritou: � Sigam-me, caros amigos, alcan�aremos o nosso objetivo ou pereceremos corajosamente na peleja! Ele deu mais um pux�o in�til na espada, tentou, mas n�o conseguiu montar o gordo p�nei e gritou: � A p�, ent�o, dignos senhores e gentil senhora! Avante! Avante! E saiu correndo, a armadura fazendo grande estr�pito, passou pelo lado esquerdo da moldura e desapareceu de vista. Os garotos se precipitaram atr�s dele pelo corredor, seguindo o barulho da armadura. De vez em quando o avistavam passando para o quadro seguinte. � Sejam fortes, o pior ainda est� por vir! � berrou o cavaleiro e os tr�s o viram reaparecer diante de um grupo assustado de mulheres vestindo an�guas de crinolina, cujo quadro fora pendurado na parede de uma estreita escada circular. Ofegando ruidosamente, Harry, Rony e Hermione subiram os estreitos degraus em caracol, sentindo-se cada vez mais tontos, at� que finalmente ouviram o murm�rio de vozes no alto e perceberam que tinham chegado � sala de aula. � Adeus! � gritou o cavaleiro, enfiando de repente a cabe�a no quadro de uns monges de aspecto sinistro. � Adeus, meus camaradas de armas! Se um dia precisarem de um cora��o nobre e fibra de a�o, chamem Sir Cadogan! � Ah, sim, chamaremos � murmurou Rony quando o cavaleiro foi sumindo de vista �, mas se um dia precisarmos de um maluco. Os garotos subiram os �ltimos degraus e chegaram a um min�sculo patamar, onde a maioria dos colegas j� estava reunida. N�o havia portas no patamar, mas Rony cutucou Harry indicando-lhe o teto, onde havia um al�ap�o circular com uma placa de lat�o. � Sibila Trelawney, Professora de Adivinha��o � leu Harry. � E como � que esperam que a gente chegue l� em cima? Como se respondesse � sua pergunta, o al�ap�o se abriu inesperadamente e uma escada prateada desceu aos seus p�s. Todos se calaram. � Primeiro voc� � disse Rony sorrindo, e Harry subiu a escada. Chegou � sala de aula mais esquisita que j� vira. Na realidade, sequer parecia uma sala de aula, e, sim, um cruzamento de s�t�o com sal�o de ch� antigo. Havia, no m�nimo, vinte mesinhas circulares juntas ali, rodeadas por cadeiras forradas de chintz e pequenos pufes estufados. O ambiente era iluminado por uma fraca luz avermelhada; as cortinas das janelas estavam fechadas e os v�rios abajures, cobertos com xales vermelho-escuros. O calor sufocava e a lareira acesa sob um console cheio de objetos desprendia um perfume denso, enjoativo e doce ao aquecer uma grande chaleira de cobre. As prateleiras em torno das paredes circulares estavam cheias de penas empoeiradas, tocos de velas, baralhos de cartas em tiras, incont�veis bolas de cristal e uma imensa cole��o de x�caras de ch�. � Rony espiou por cima do ombro de Harry enquanto os colegas se reuniam � volta deles, todos falando aos cochichos. � E onde est� a professora? � perguntou Rony. Uma voz saiu subitamente das sombras, uma voz suave, meio et�rea. � Sejam bem-vindos. Que bom ver voc�s no mundo f�sico, finalmente. A impress�o imediata de Harry foi a de estar vendo um enorme inseto cintilante. A Prof�. Sibila Trelawney saiu das sombras e, � luz da lareira, os garotos viram que era muito magra; uns �culos imensos aumentavam seus olhos v�rias vezes, e ela vestia um xale di�fano, salpicado de lantejoulas. Em volta do pesco�o fino, usava in�meras correntes e colares de contas, e seus bra�os e m�os estavam cobertos de pulseiras e an�is. � Sentem-se, crian�as, sentem-se � disse, e todos subiram desajeitados nas cadeiras ou se afundaram nos pufes. Harry, Rony e Hermione se sentaram a uma mesa redonda. � Bem-vindos � aula de Adivinha��o � disse a professora, que se acomodara em uma berg�re diante da lareira. � Sou a Prof�. Sibila Trelawney. Talvez voc�s nunca tenham me visto antes, acho que me misturar com freq��ncia � roda-viva da escola principal anuvia minha vis�o interior. Ningu�m fez nenhum coment�rio a t�o extraordin�ria declara��o. A professora rearrumou delicadamente o xale e continuou: � Ent�o voc�s optaram por estudar Adivinha��o, a mais dif�cil das artes m�gicas. Devo alert�-los logo de in�cio que se n�o possu�rem clarivid�ncia, terei muito pouco a ensinar a voc�s. Os livros s� podem lev�-los at� certo ponto neste campo... Ao ouvirem isso, Harry e Rony olharam, sorrindo, para Hermione, que pareceu assustada com a not�cia de que os livros n�o ajudariam nessa mat�ria. � Muitos bruxos e bruxas, embora talentosos para ru�dos, cheiros e desaparecimentos instant�neos, permanecem, ainda assim, incapazes de penetrar nos mist�rios do futuro. A Prof�. Sibila continuou a falar, seus enormes olhos brilhantes iam de um rosto nervoso a outro. � � um dom concedido a poucos. Voc�, menino � disse ela de repente a Neville, que quase caiu do pufe. � Sua av� vai bem? � Acho que vai � respondeu Neville tr�mulo. � Eu n�o teria tanta certeza se fosse voc�, querido � disse a professora, enquanto a luz das chamas fazia faiscarem seus longos brincos de esmeraldas. Neville engoliu em seco. Sibila continuou tranquilamente. � Vamos cobrir os m�todos b�sicos de adivinha��o este ano. O primeiro trimestre letivo ser� dedicado � leitura das folhas de ch�. No pr�ximo, abordaremos a quiromancia. A prop�sito, minha querida � disparou ela de repente para Parvati Patil �, tenha cuidado com um homem de cabelos ruivos. Parvati lan�ou um olhar assustado a Rony, que se sentara logo atr�s dela, e puxou a cadeira devagarinho para longe dele. � No segundo trimestre � continuou a professora � vamos estudar a bola de cristal, isto �, se conseguirmos terminar os press�gios do fogo. Infelizmente, as aulas ser�o perturbadas em fevereiro por uma forte epidemia de gripe. Eu pr�pria vou perder a voz. E, na altura da P�scoa, algu�m aqui vai deixar o nosso conv�vio para sempre. Seguiu-se um sil�ncio muito tenso a essa predi��o, mas a Prof�. Sibila pareceu n�o tomar conhecimento. � Ser�, querida � dirigiu-se ela a Lil� Brown, que estava mais pr�xima e se encolheu na cadeira �, que voc� poderia me passar o bule de prata maior? Lil�, com um ar de al�vio, se levantou, apanhou um enorme bule na prateleira e pousou-o na mesa diante da mestra. � Obrigada, querida. A prop�sito, essa coisa que voc� receia vai acontecer na sexta-feira, dezesseis de outubro. Lil� estremeceu. � Agora quero que voc�s formem pares. Apanhem uma x�cara de ch� na prateleira e tragam-na aqui para eu encher. Depois se sentem e bebam, bebam at� restar somente a borra. Sacudam a x�cara tr�s vezes com a m�o esquerda, depois virem-na, de borda para baixo, no pires, esperem at� cair a �ltima gota de ch� e entreguem-na ao seu par para ele a ler. Voc�s v�o interpretar os desenhos formados, comparando-os com os das p�ginas cinco e seis de Esclarecendo o futuro. Vou andar pela sala para ajudar e ensinar a cada par. Ah, e querido � ela segurou o bra�o de Neville quando ele fez men��o de se levantar �, depois que voc� quebrar a primeira x�cara, por favor, escolha uma com desenhos azuis, gosto muito das de desenhos rosa. N�o deu outra, Neville mal chegara � prateleira de x�caras quando se ouviu um tilintar de porcelana que se quebrava. A professora deslizou at� ele levando uma p� e uma escova e disse: � Uma das azuis, ent�o, querido, se n�o se importa... Obrigada... Depois que Harry e Rony levaram as x�caras para encher, voltaram � mesa e tentaram beber rapidamente o ch� pelando. Sacudiram a borra conforme a professora mandara, depois viraram as x�caras e as trocaram entre si. � Certo � disse Rony depois de abrirem os livros nas p�ginas cinco e seis. � Que � que voc� v� na minha? � Um monte de borra marrom � disse Harry. A fuma�a intensamente perfumada da sala o estava deixando sonolento e burro. � Abram suas mentes, meus queridos, e deixem os olhos verem al�m do que � mundano! � gritou a Prof�. Sibila na penumbra. Harry tentou se controlar. � Certo, voc� tem uma esp�cie de cruz torta... � Ele consultou o livro Esclarecendo o Futuro. � Isto significa que voc� vai ter sofrimentos e prova��es... Sinto muito... Mas tem uma coisa que podia ser o sol... Espere ai... Que significa "grande felicidade"... Ent�o voc� vai sofrer, mas vai ser muito feliz... � Voc� precisa mandar examinar a sua vis�o interior � disse Rony, e os dois precisaram sufocar o riso quando a professora olhou na dire��o deles. � Minha vez... � Rony examinou a x�cara de Harry, a testa franzida com o esfor�o. � Tem uma pelota que lembra um pouco um chap�u-coco. Vai ver voc� vai trabalhar no Minist�rio da Magia... Rony girou a x�cara para cima. � Mas desse outro lado as folhas parecem mais uma bolota de carvalho... Que ser� isso? � O garoto consultou seu exemplar de Esclarecendo o Futuro. � Uma sorte inesperada, ganhos de ouro. Que �timo, voc� pode me emprestar algum... E tem outra coisa aqui � ele tornou a girar a x�cara � que parece um animal... �, se isso fosse a cabe�a... Podia parecer um hipop�tamo... N�o, um carneiro... A Prof�. Sibila se virou quando Harry deixou escapar um ronco de riso. � Deixe-me ver isso, querido � disse ela em tom de censura a Rony, aproximando-se num �mpeto e tirando a x�cara de Harry da m�o do colega. Todos se calaram para observar. A professora examinou a x�cara, e girou-a no sentido anti-hor�rio. � O falc�o... Meu querido, voc� tem um inimigo mortal. � Mas todos sabem disso � comentou Hermione num cochicho aud�vel. A professora encarou-a. � Verdade, todos sabem � repetiu a garota. � Todos sabem da inimizade entre Harry e Voc�-Sabe-Quem. Harry e Rony a olharam com uma mescla de surpresa e admira��o. Nunca tinham ouvido Hermione falar com uma professora daquele jeito. Sibila preferiu n�o responder. Tornou a abaixar seus enormes olhos para a x�cara de Harry e continuou a gir�-la. � O bast�o... Um ataque. Ai, ai, ai, n�o � uma x�cara feliz... � Achei que isso era um chap�u-coco � disse Rony sem gra�a. � O cr�nio... Perigo em seu caminho, querido... Todos observavam, hipnotizados, a professora, que deu um �ltimo giro na x�cara, ofegou e soltou um berro. Ouviu-se uma nova onda de porcelanas que se partiam tilintando; Neville destru�ra sua segunda x�cara. A professora afundou em uma cadeira vazia, a m�o faiscante de an�is ao peito e os olhos fechados. � Meu pobre garoto... Meu pobre garoto querido... N�o... � mais caridoso n�o dizer... N�o... N�o me pergunte... � Que foi professora? � perguntou Dino Thomas na mesma hora. Todos tinham se levantado e aos poucos se amontoaram em torno da mesa de Harry e Rony, aproximando-se da cadeira de Sibila para dar uma boa olhada na x�cara de Harry. � Meu querido � os olhos da professora se abriram teatralmente �, voc� tem o Sinistro. � O qu�? � perguntou Harry. Ele percebeu que n�o era o �nico que n�o entendera; Dino Thomas sacudiu os ombros para ele e Lil� Brown fez cara de intrigada, mas quase todos os outros levaram a m�o � boca horrorizados. � O Sinistro, meu querido, o Sinistro! � exclamou a professora, que parecia chocada com o fato de Harry n�o ter entendido. � O c�o gigantesco e espectral que assombra os cemit�rios! Meu querido menino, � um mau agouro, o pior de todos, agouro de morte! Harry sentiu o est�mago afundar. O c�o na capa do livro Press�gios de Morte na Floreios e Borr�es � o c�o nas sombras da rua Magn�lia... Lil� Brown levou as m�os � boca tamb�m. Todos tinham os olhos fixos em Harry, todos exceto Hermione, que se levantara e procurava chegar �s costas da cadeira da professora. � Eu n�o acho que isso pare�a um Sinistro � disse com firmeza. A Prof�. Sibila mirou a menina atentamente e com crescente desagrado. � Desculpe-me dizer isso, minha querida, mas n�o percebo muita aura ao seu redor. Pouqu�ssima receptividade �s resson�ncias do futuro. Simas Finnegan inclinou a cabe�a de um lado para o outro. � Parece um Sinistro se a gente fizer assim � disse com os olhos quase fechados �, mas parece muito mais um burro quando a gente olha de outro �ngulo � disse ele, inclinando-se para a esquerda. � Quando v�o terminar de resolver se eu vou morrer ou n�o? � perguntou Harry, surpreendendo at� a si mesmo. Agora parecia que ningu�m queria olhar para ele. � Acho que vamos encerrar a aula por hoje � disse a professora no tom mais et�reo poss�vel. � E... Por favor, guardem suas coisas... Em sil�ncio a classe devolveu as x�caras � professora, guardou os livros e fechou as mochilas. At� mesmo Rony evitava o olhar de Harry. � At� que tornemos a nos encontrar � disse Sibila com uma voz fraca � que a sorte lhes seja favor�vel. Ah, e querido � disse apontando para Neville �, voc� vai se atrasar da pr�xima vez, portanto trate de trabalhar muito para recuperar o tempo perdido. Harry, Rony e Hermione desceram a escada da Prof�. Sibila e a escada em caracol em sil�ncio, e seguiram para a aula de Transforma��o, da Prof�. Minerva. Levaram tanto tempo para encontrar a sala de aula que, por mais cedo que tivessem sa�do da aula de Adivinha��o, acabaram chegando em cima da hora. Harry escolheu um lugar no fundo da sala, sentindo-se como se estivesse sentado sob um holofote; o resto da classe n�o parou de lhe lan�ar olhares furtivos, como se ele estivesse prestes a cair morto a qualquer momento. Ele mal conseguiu ouvir o que a professora dizia sobre Animagos (bruxos que podiam se transformar � vontade em animais), e sequer estava olhando quando ela pr�pria se transformou, diante dos olhos deles, em um gato malhado com marcas de �culos em torno dos olhos. � Francamente, o que foi que aconteceu com os senhores hoje? � perguntou a Prof�. Minerva, voltando a ser ela mesma, com um estalinho, e encarando a classe toda. � N�o que fa�a diferen�a, mas � a primeira vez que a minha transforma��o n�o arranca aplausos de uma turma. Todas as cabe�as tornaram a se virar para Harry, mas ningu�m falou. Ent�o Hermione ergueu a m�o. � Com licen�a, professora, acabamos de ter a nossa primeira aula de Adivinha��o, estivemos lendo folhas de ch� e... � Ah, naturalmente � comentou Minerva, fechando a cara de repente. � N�o precisa me dizer mais nada, Srta. Granger. Me diga qual dos senhores vai morrer este ano? Todos olharam para ela. � Eu � disse, por fim, Harry. � Entendo � disse a Prof�. Minerva, fixando em Harry seus olhos de contas. � Ent�o, Potter, � melhor saber que Sibila Trelawney tem predito a morte de um aluno por ano desde que chegou a esta escola. Nenhum deles morreu ainda. Ver agouros de morte � a maneira com que ela gosta de dar boas-vindas a uma nova classe. N�o fosse o fato de que nunca falo mal dos meus colegas... A professora se calou, mas todos viram que suas narinas tinham embranquecido de c�lera. Ela continuou, mais calma: � A Adivinha��o � um dos ramos mais imprecisos da magia. N�o vou ocultar dos senhores que tenho muito pouca paci�ncia com esse assunto. Os verdadeiros videntes s�o muito raros e a Prof�. Trelawney... Ela parou uma segunda vez, e em seguida disse, num tom despido de emo��o: � Para mim o senhor parece estar gozando de excelente sa�de, Potter, por isso me desculpe, mas n�o vou dispens�-lo do dever de casa, hoje. Mas fique descansado, se o senhor morrer, n�o precisa entreg�-lo. Hermione riu com gosto. Harry se sentiu um pouco melhor. Era mais dif�cil sentir medo de folhas de ch� longe daquela sala fracamente iluminada por luzes vermelhas, que recendia ao perfume atordoante da Prof�. Sibila. Ainda assim, nem todos ficaram convencidos. Rony continuava com a express�o preocupada e Lil� cochichou: � E a x�cara de Neville? Quando a aula de Transforma��o terminou, eles se reuniram ao resto dos alunos que atroavam a escola em dire��o ao Sal�o Principal para almo�ar. � Anime-se, Rony � falou Hermione, empurrando uma travessa de ensopado para o amigo. � Voc� ouviu o que a Prof�. Minerva disse. Rony se serviu do ensopado e apanhou o garfo, mas n�o come�ou a comer. � Harry � perguntou ele, em tom baixo, com ar s�rio �, voc� n�o viu um canzarr�o preto em algum lugar, viu? � Vi, sim. Na noite em que sa� da casa dos Dursley. � Rony deixou o garfo cair com estr�pito. � Provavelmente um c�o sem dono � comentou Hermione calmamente. O garoto olhou para Hermione como se ela tivesse enlouquecido. � Mione, se Harry viu um Sinistro, isso �... � ruim. Meu tio Ab�lio viu um e... E morreu vinte e quatro horas depois! � Coincid�ncia � replicou Hermione dignamente, servindo-se de suco de ab�bora. � Voc� n�o sabe o que est� falando! � disse Rony, come�ando a se zangar. � Os Sinistros deixam a maioria dos bruxos mortos de medo! � Ent�o � isso � retrucou a garota em tom superior. � Eles v�em o Sinistro e morrem de medo. O Sinistro n�o � um agouro, � a causa da morte! E Harry continua conosco porque n�o � burro de ver um Sinistro e pensar: �Certo, muito bem, ent�o � melhor eu bater as botas"! Rony fez protestos para Hermione, que abriu a mochila, tirou o novo livro de Aritmancia e apoiou-o na jarra de suco. � Acho que Adivinha��o � uma coisa meio confusa � disse, procurando a p�gina que queria. � � muita adivinha��o, se querem saber a minha opini�o. � N�o houve nada confuso com o Sinistro naquela x�cara! � retrucou Rony acaloradamente. � Voc� n�o me pareceu t�o confiante quando disse ao Harry que era um carneiro � respondeu a menina sem se alterar. � A Prof�. Sibila disse que voc� n�o tinha a aura necess�ria! Voc� n�o gosta � de ser ruim em uma mat�ria para variar! Ele acabara de tocar num ponto sens�vel. Hermione bateu com o livro de Aritmancia na mesa com tanta for�a que voaram pedacinhos de carne e cenoura para todo lado. � Se ser boa em Adivinha��o � ter que fingir que estou vendo agouros de morte em borras de folhas de ch�, n�o tenho certeza se quero continuar a estudar essa mat�ria por muito mais tempo! Aquela aula foi uma idiotice completa se comparada � minha aula de Aritmancia! � E, agarrando a mochila, a menina se retirou. Rony franziu a testa acompanhando com os olhos a amiga se afastando. � Do que � que ela estava falando? � perguntou a Harry. � Ela ainda n�o assistiu a nenhuma aula de Aritmancia. Harry ficou contente de sair do castelo depois do almo�o. A chuva do dia anterior parara; o c�u estava claro, cinza-p�lido e a grama parecia el�stica e �mida sob os p�s quando os garotos rumaram para a primeir�ssima aula de Trato das Criaturas M�gicas. Rony e Hermione n�o estavam se falando. Harry caminhava ao lado dos dois em sil�ncio enquanto desciam os gramados em dire��o � cabana de Hagrid, na orla da Floresta Proibida. Somente quando identificaram tr�s costas muito conhecidas � frente � que se deram conta de que iriam compartilhar as aulas com os alunos da Sonserina. Draco, falava animadamente com Crabbe e Goyle, que riam com gosto. Harry tinha quase certeza de qual era o assunto da conversa. Hagrid j� estava � espera dos alunos � porta da cabana. Vestia o casaco de pele de toupeira, com Canino, o c�o de ca�ar javalis, nos calcanhares, e parecia impaciente para come�ar. � Vamos, andem depressa! � falou quando os alunos se aproximaram. � Tenho uma coisa �tima para voc�s hoje! Vai ser uma grande aula! Est�o todos aqui? Certo, ent�o me acompanhem! Por um momento de apreens�o, Harry pensou que Hagrid os levaria para a Floresta Proibida; o menino j� tivera suficientes experi�ncias desagrad�veis ali para a vida inteira. No entanto, o guarda-ca�a contornou a orla das �rvores e cinco minutos depois eles estavam diante de uma esp�cie de picadeiro. N�o havia nada ali. � Todos se agrupem em volta dessa cerca! � mandou ele. � Isso... Procurem garantir uma boa visibilidade... Agora, a primeira coisa que v�o precisar fazer � abrir os livros... � Como? � perguntou a voz fria e arrastada de Draco Malfoy. � Que foi? � perguntou Hagrid. � Como � que vamos abrir os livros? � repetiu o menino. Ele retirou da mochila seu exemplar de O Livro Monstruoso dos Monstros, amarrado com um peda�o de corda. Outros alunos fizeram o mesmo, alguns, como Harry, tinham fechado o livro com um cinto; outros os tinham enfiado em sacos justos ou fechado os livros com grampos. � Ser�... Ser� que ningu�m conseguiu abrir o livro? � perguntou Hagrid, com ar de desapontamento. Todos os alunos sacudiram negativamente as cabe�as. � Voc�s t�m que fazer carinho neles � falou o novo professor � como se isso fosse a coisa mais �bvia do mundo. � Olhem aqui... Ele apanhou o livro de Hermione e rasgou a fita adesiva que o prendia. O livro tentou morder, mas Hagrid passou seu gigantesco dedo indicador pela lombada, o livro estremeceu, se abriu e permaneceu quieto em sua m�o. � Ah, mas que bobeira a nossa! � ca�oou Draco. � Dev�amos ter feito carinho no livro! Como foi que n�o adivinhamos! � Eu... Eu achei que eles eram engra�ados � disse Hagrid, inseguro, para Hermione. � Ah, engra�ad�ssimos! � comentou Draco. � Uma id�ia realmente espirituosa, nos dar livros que tentam arrancar nossa m�o. � Cala a boca, Malfoy � advertiu-o Harry baixinho. Hagrid parecia arrasado, e o garoto queria que aquela primeira aula do seu amigo fosse um sucesso. � Certo, ent�o � continuou Hagrid, que pelo jeito perdera o fio do pensamento � ... Ent�o voc�s j� t�m os livros e... E... Agora faltam as criaturas m�gicas. �. Ent�o vou busc�-las. Esperem um pouco... Ele se afastou na dire��o da floresta e desapareceu de vista. � Nossa, essa escola est� indo para o brejo! � falou Draco em voz alta. � Esse pateta dando aulas, meu pai vai ter um acesso quando eu contar... � Cala a boca, Malfoy � repetiu Harry. � Cuidado, Potter, tem um dementador atr�s de voc�... � Aaaaaaah! � guinchou Lil� Brown, apontando para o lado oposto do picadeiro. Trotavam em dire��o aos garotos mais ou menos uma dezena dos bichos mais bizarros que Harry j� vira na vida. Tinham os corpos, as pernas traseiras e as caudas de cavalo, mas as pernas dianteiras, as asas e a cabe�a de uma coisa que lembrava �guias gigantescas, com bicos cru�is cinza-met�lico e enormes olhos laranja-vivo. As garras das pernas dianteiras tinham uns quinze cent�metros de comprimento e um aspecto letal. Cada um dos bichos trazia uma grossa coleira de couro ao pesco�o engatada em uma longa corrente, cujas pontas estavam presas nas imensas m�os de Hagrid, que entrou correndo no picadeiro atr�s dos bichos. � Upa! Upa! A�! � bradou ele, sacudindo as correntes e incitando os bichos na dire��o da cerca onde se agrupavam os alunos. Todos recuaram, instintivamente, quando Hagrid chegou bem perto e amarrou os bichos na cerca. � Hipogrifos! � bradou Hagrid alegremente, acenando para eles. � Lindos, n�o acham? Harry conseguiu entender mais ou menos o que Hagrid quis dizer. Depois que se supera o primeiro choque de ver uma coisa que � metade cavalo, metade ave, a pessoa come�ava a apreciar a pelagem luzidia dos hipogrifos, que mudava suavemente de pena para p�lo, cada animal de uma cor diferente: cinza-chuva, bronze, rosado, castanho brilhante e nanquim. � Ent�o � disse Hagrid, esfregando as m�os e sorrindo para todos �, se voc�s quiserem chegar mais perto... Ningu�m pareceu querer. Harry, Rony e Hermione, por�m, se aproximaram cautelosamente da cerca. � Agora, a primeira coisa que voc�s precisam saber sobre os hipogrifos � que s�o orgulhosos � explicou Hagrid. � Se ofendem com facilidade, os hipogrifos. Nunca insultem um bicho desses, porque pode ser a �ltima coisa que v�o fazer na vida. Malfoy, Grabbe e Goyle n�o estavam prestando aten��o; falavam aos cochichos e Harry teve o mau pressentimento de que estavam combinando a melhor maneira de estragar a aula. � Voc�s sempre esperam o hipogrifo fazer o primeiro movimento � continuou Hagrid. � � uma quest�o de cortesia, entendem? Voc�s v�o at� eles, fazem uma rever�ncia e a� esperam. Se o bicho retribuir o cumprimento, voc�s podem tocar nele. Se n�o retribuir, ent�o saiam de perto bem depressinha, porque essas garras machucam feio. Certo, quem quer ser o primeiro? Em resposta, a maioria dos alunos recuou mais um pouco. At� Harry, Rony e Hermione se sentiram apreensivos. Os hipogrifos balan�avam as cabe�as de aspecto feroz e flexionavam as fortes asas; n�o pareciam gostar de estar presos daquele jeito. � Ningu�m? � disse Hagrid, com um olhar suplicante. � Eu vou � disse Harry. Ouviu-se gente ofegar atr�s dele e Lil� e Parvati murmuraram a mesma coisa: � Aaah, n�o, Harry, lembra das folhas de ch�! Harry n�o deu ouvido �s meninas. Trepou pela cerca do picadeiro. � � assim que se faz, Harry! � gritou Hagrid. � Certo, ent�o... Vamos ver como voc� se entende com o Bicu�o. E, dizendo isso, soltou uma das correntes, separou o hipogrifo cinzento dos restantes e retirou a coleira de couro. A turma do outro lado da cerca parecia estar prendendo a respira��o. Os olhos de Draco se estreitaram maliciosamente. � Calma, agora, Harry � disse Hagrid em voz baixa. � Voc� fez contato com os olhos, agora tente n�o piscar... Os hipogrifos n�o confiam na pessoa que pisca demais... Os olhos de Harry imediatamente come�aram a se encher de �gua, mas ele n�o os fechou. Bicu�o virava a cabe�orra alerta e fixava um cruel olho laranja em Harry. � Isso mesmo � disse Hagrid. � Isso mesmo, Harry... Agora fa�a a rever�ncia... Harry n�o se sentia nada animado a expor a nuca a Bicu�o, mas fez o que era mandado. Curvou-se brevemente e ergueu os olhos. O hipogrifo continuava a fix�-lo com altivez. Nem se mexeu. � Ah � exclamou Hagrid, parecendo preocupado. � Certo... Recue, agora, Harry, devagarinho... Mas nesse instante, para enorme surpresa de Harry, o hipogrifo inesperadamente dobrou os escamosos joelhos dianteiros e afundou o corpo em uma inconfund�vel rever�ncia. � Muito bem, Harry! � aplaudiu Hagrid, extasiado. � Certo... Pode toc�-lo! Acaricie o bico dele, vamos! Com a impress�o de que recuar teria sido uma recompensa melhor, Harry avan�ou devagarinho para o hipogrifo e estendeu a m�o. Acariciou seu bico v�rias vezes e o bicho fechou os olhos demoradamente, como se estivesse gostando. A turma prorrompeu em aplausos, a exce��o de Malfoy, Crabbe e Goyle, que pareciam profundamente desapontados. � Certo ent�o, Harry � falou Hagrid. � Acho que ele at� deixaria voc� montar nele! Isto era mais do que o toma l� d� c� proposto por Harry... Ele estava acostumado a montar vassouras; mas n�o tinha muita certeza se um hipogrifo seria a mesma coisa. � Isso, suba ali, logo atr�s da articula��o das asas � mandou Hagrid. � E cuidado para n�o arrancar nenhuma pena, ele n�o vai gostar nem um pouco... Harry pisou no alto da asa de Bicu�o e se i�ou para cima das costas do bicho, o bicho se ergueu. Harry n�o tinha muita certeza de onde deveria se agarrar; � sua frente tudo era coberto de penas. � Pode ir, ent�o! � bradou Hagrid, dando uma palmada nos quartos do hipogrifo. Sem aviso, as asas de quase quatro metros se abriram a cada lado de Harry; ele s� teve tempo de se agarrar ao pesco�o do hipogrifo e j� estava voando para o alto. N�o foi nada semelhante a uma vassoura e Harry soube na hora qual dos dois preferia; as asas do hipogrifo adejavam desconfortavelmente dos lados, batendo por baixo de suas pernas e dando-lhe a sensa��o de que estava prestes a ser jogado no ar; as penas acetinadas escorregavam dos seus dedos e o garoto n�o se atrevia a se agarrar com mais for�a; em vez do v�o suave da Nimbus 2000, ele agora balan�ava para frente e para tr�s quando os quartos do hipogrifo subiam e desciam acompanhando o movimento das asas. Bicu�o deu uma volta por cima do picadeiro e em seguida embicou para o ch�o; essa foi a parte que Harry teve receio; ele jogou o corpo para tr�s, � medida que o pesco�o liso do bicho abaixava, achando que ia escorregar por cima do bico, ent�o, sentiu um baque quando os quatro membros desparelhados do bicho tocaram o ch�o. Por milagre, conseguiu se segurar e tornar a se endireitar. � Bom trabalho, Harry! � berrou Hagrid enquanto todos, exceto Malfoy, Crabbe e Goyle, aplaudiam. � Muito bem, quem mais quer experimentar? Encorajados pelo sucesso, os outros alunos subiram, cautelosos, pela cerca do picadeiro. Hagrid soltou os hipogrifos, um a um, e logo os garotos, nervosos, come�aram a fazer rever�ncias por todo o picadeiro. Neville fugiu v�rias vezes do dele, pois o bicho n�o estava com jeito de querer dobrar os joelhos. Rony e Hermione praticaram no hipogrifo castanho, enquanto Harry observava. Malfoy, Crabbe e Goyle ficaram com Bicu�o. Ele acabara de retribuir a rever�ncia de Malfoy, que agora lhe acariciava o bico, com um ar desdenhoso. � Isso � moleza � disse Draco com a voz arrastada, suficientemente alta para Harry ouvir. � S� podia ser, se o Potter conseguiu fazer.. Aposto que voc� n�o tem nada de perigoso, tem? � disse ao hipogrifo. � Tem, seu brutamontes feioso? Aconteceu num breve movimento das garras de a�o; Draco soltou um berro agudo e no momento seguinte, Hagrid estava pelejando para enfiar a coleira em Bicu�o, enquanto o bicho fazia for�a para avan�ar no garoto, que ca�ra dobrado na relva, o sangue aflorando em suas vestes. � Estou morrendo! � gritou Malfoy enquanto a turma entrava em p�nico. -Estou morrendo, olhem s� para mim! Ele me matou! � Voc� n�o est� morrendo! � disse Hagrid, que ficara muito p�lido. � Algu�m me ajude... Preciso tirar ele daqui... Hermione correu para abrir o port�o enquanto Hagrid erguia Malfoy nos bra�os, sem esfor�o. Quando os dois passaram, Harry observou que havia um corte grande e fundo no bra�o de Draco; o sangue pingava no gramado e o guarda-ca�a, com o garoto ao colo, subiu correndo a encosta em dire��o ao castelo. Muito abalados, os alunos da aula de Trato das Criaturas M�gicas os seguiram caminhando normalmente. Os alunos da Sonserina gritavam contra Hagrid. � Deviam despedir ele, imediatamente! � disse Violeta Parkinon, que estava �s l�grimas. � Foi culpa do Draco! � replicou Dino Thomas com rispidez. Crabbe e Goyle flexionavam os bra�os, amea�adores. Os garotos subiram os degraus de pedra para o sagu�o deserto. � Vou ver se ele est� bem! � disse Pansy, e os outros ficaram observando-a subir de corrida a escadaria de m�rmore. Os alunos da Sonserina, ainda murmurando contra Hagrid, rumaram para sua sala comunal, em uma masmorra; Harry, Rony e Hermione subiram as escadas para a Torre da Grifin�ria. � Voc�s acham que ele vai ficar bem? � perguntou Hermione, nervosa. � Claro que vai. Madame Pomfrey cura cortes em um segundo � disse Harry, que j� tivera ferimentos muito mais s�rios curados magicamente pela enfermeira. � Foi realmente ruim acontecer isso na primeira aula de Hagrid, voc�s n�o acham? � comentou Rony, parecendo preocupado. � Sempre se pode contar com o Draco para estragar as coisas para o Hagrid... Os tr�s foram os primeiros a chegar ao Sal�o Principal para jantar, na esperan�a de verem Hagrid, mas o amigo n�o estava l�. � N�o iriam despedir ele, voc�s acham que sim? � perguntou Hermione aflita, sem tocar no pudim de carne e rins. � � melhor n�o � replicou Rony, que tamb�m n�o estava comendo. Harry ficou observando a mesa da Sonserina. Um grande grupo, que inclu�a Crabbe e Goyle, estava reunido, absorto em conversas. Harry teve certeza de que estavam inventando a pr�pria vers�o para o ferimento de Draco. � Bem, n�o se pode dizer que n�o foi um primeiro dia de aula interessante � comentou Rony, deprimido. Os tr�s subiram para o sal�o comunal da Grifin�ria depois do jantar e tentaram fazer o dever de casa que a Prof�. Minerva passara, mas ficaram o tempo todo interrompendo-o para espiar pela janela. � Tem luz na janela de Hagrid � disse Harry de repente. Rony consultou o rel�gio. � Se a gente andar depressa, pode descer para ver ele. Ainda � cedo... � N�o sei � disse Hermione, lentamente, e Harry viu que a amiga o olhava. � Eu tenho permiss�o para andar pela propriedade � disse o garoto incisivamente. � Sirius Black ainda n�o passou pelos dementadores ou passou? Ent�o eles guardaram o material de estudo e se dirigiram ao buraco do retrato, felizes por n�o encontrar ningu�m no caminho at� a porta principal, porque n�o tinham tanta certeza assim de que podiam sair. O gramado ainda estava �mido e parecia quase negro � luz das estrelas. Quando chegaram � cabana de Hagrid, bateram e uma voz resmungou rouca: � Pode entrar. Hagrid estava sentado em mangas de camisa � mesa de madeira escovada; o cachorro, Canino, tinha a cabe�a no colo dele. Ao primeiro olhar, os garotos perceberam que o amigo andara bebendo muito; havia uma caneca de alpaca quase do tamanho de um balde diante dele e parecia ter dificuldade para focaliz�-los. � Imagino que seja um recorde � disse com a voz pastosa, quando os reconheceu. Calculo que nunca tiveram um professor que s� durasse um dia. � Voc� n�o foi despedido, Hagrid! � ofegou Hermione. � Ainda n�o � respondeu ele, infeliz, tomando um grande gole do que havia na caneca. � Mas � s� uma quest�o de tempo, n�o depois que Malfoy... � Como � que ele est�? � perguntou Rony enquanto se sentavam. � N�o foi grave, foi? � Madame Pomfrey fez o melhor que p�de � disse Hagrid num tom inexpressivo �, mas ele diz que continua doendo muito... Todo enfaixado... Gemendo... � Ele est� fingindo � disse Harry na mesma hora. � Madame Pomfrey sabe curar qualquer coisa. Ela fez crescer metade dos meus ossos no ano passado. Pode contar que Draco vai se aproveitar o m�ximo que puder do acidente. � Os conselheiros da escola foram informados, � claro � disse Hagrid, infeliz. � Acham que comecei muito grande. Devia ter deixado os hipogrifos para mais tarde... Que estudasse vermes ou outra coisa pequena... S� quis fazer uma primeira aula boa... Ent�o a culpa � minha... � � tudo culpa do Malfoy, Hagrid! � disse Hermione, s�ria. � Somos testemunhas � acrescentou Harry. � Voc� avisou que os hipogrifos atacam quando s�o insultados. O problema � do Malfoy se ele n�o estava prestando aten��o. Vamos contar ao Dumbledore o que realmente aconteceu. � Vamos, sim, n�o se preocupe, Hagrid, vamos confirmar sua hist�ria � disse Rony. L�grimas saltaram dos cantos enrugados dos olhos de Hagrid, negros como besouros. Ele puxou Harry e Rony e lhes deu um abra�o de quebrar as costelas. � Acho que voc� j� bebeu o suficiente, Hagrid � falou Hermione com firmeza. E apanhou a caneca na mesa e saiu da cabana para esvazi�-la. � Ah, talvez ela tenha raz�o � reconheceu Hagrid, soltando Harry e Rony, que recuaram cambaleando e massageando as costelas. O guarda-ca�a levantou-se com esfor�o da cadeira e seguiu Hermione at� o lado de fora, com o andar vacilante. Os garotos ouviram barulho de �gua caindo. � Que foi que ele fez? � perguntou Harry, nervoso, quando Hermione voltou trazendo a caneca vazia. � Meteu a cabe�a no barril de �gua � respondeu Hermione, guardando a caneca. Hagrid voltou, os cabelos e barbas longas empapados, enxugando a �gua dos olhos. � Assim est� melhor � falou, sacudindo a cabe�a como um cachorro e molhando os garotos. � Escutem, foi muita bondade voc�s terem vindo me ver, eu realmente... Hagrid parou de repente, encarando Harry como se tivesse acabado de perceber que ele estava ali. � QUE � QUE VOC� ACHA QUE EST� FAZENDO, HEIN? � bradou, t�o inesperadamente que os garotos deram um pulo de mais de um palmo. � VOC� N�O PODE SAIR ANDANDO POR A� DEPOIS DO ANOITECER, HARRY! E VOC�S DOIS! DEIXARAM-NO SAIR! Hagrid foi at� Harry agarrou-o pelo bra�o e puxou-o para a porta. � Vamos! � disse aborrecido. � Vou levar voc�s de volta � escola, e n�o quero pegar ningu�m saindo para me ver depois do anoitecer. Eu n�o valho o risco! CAP�TULO SETE O Bicho-pap�o no Arm�rio Draco n�o reapareceu nas aulas at� o fim da manh� de quinta-feira, quando os alunos da Sonserina e da Grifin�ria j� estavam na metade da aula dupla de Po��es. Ele entrou cheio de arrog�ncia na masmorra, o bra�o direito enfaixado e pendurado em uma tip�ia, agindo, na opini�o de Harry, como se fosse o sobrevivente her�ico de uma terr�vel batalha. � Como vai o bra�o, Draco? � perguntou Pansy Parkinson, com um sorrisinho insincero. � Est� doendo muito? � Est� � respondeu o garoto, fazendo uma careta corajosa. Mas Harry o viu piscar para Crabbe e Goyle, quando Violeta desviou o olhar. � V� com calma, v� com calma � disse o Prof�. Snape gratuitamente. Harry e Rony fizeram caretas um para o outro; Snape n�o teria dito "v� com calma" se eles tivessem entrado atrasados, teria lhes dado uma deten��o. Mas Draco sempre conseguira escapar com qualquer coisa nas aulas de Po��es; Snape era o diretor da Sonserina e em geral favorecia os pr�prios alunos em preju�zo dos demais. A classe estava preparando uma po��o nova naquele dia, uma Solu��o Redutora. Draco armou seu caldeir�o bem ao lado do de Harry e Rony, de modo que os tr�s ficaram preparando os ingredientes na mesma mesa. � Professor � chamou Draco �, vou precisar de ajuda para cortar as ra�zes de margarida, porque o meu bra�o... � Weasley, corte as ra�zes para Malfoy � disse Snape sem erguer a cabe�a. Rony ficou vermelho como um tomate. � O seu bra�o n�o tem nenhum problema � sibilou o garoto para Draco. Draco deu um sorriso satisfeito. � Weasley, voc� ouviu o que o professor disse; corte as ra�zes. Rony apanhou a faca, puxou as ra�zes de Draco para perto e come�ou a cort�-las de qualquer jeito, de modo que os peda�os ficaram de tamanhos diferentes. � Professor � falou Draco com a voz arrastada �, Weasley est� mutilando as minhas ra�zes. Snape aproximou-se da mesa, olhou para as ra�zes por cima do nariz curvo e em seguida deu a Rony um sorriso desagrad�vel, por baixo da cabeleira longa e oleosa. � Troque de ra�zes com Malfoy, Weasley. � Mas, professor...! Rony passara os �ltimos quinze minutos picando cuidadosamente suas ra�zes em pedacinhos exatamente iguais. � Agora � mandou Snape com o seu tom de voz mais perigoso. Rony empurrou as ra�zes caprichosamente cortadas para o lado de Draco na mesa, e, em seguida, apanhou novamente a faca. � E, professor, vou precisar descascar este pinh�o � disse Draco, a voz expressando riso e mal�cia. � Potter, pode descascar o pinh�o de Malfoy � disse Snape, lan�ando a Harry o olhar de desprezo que sempre reservava s� para o garoto. Harry apanhou o pinh�o enquanto Rony come�ava a tentar consertar o estrago que fizera �s ra�zes que ia ter que usar. Harry descascou o pinh�o o mais depressa que p�de e atirou-o para o lado de Draco, sem falar. O outro riu com mais satisfa��o que nunca. � Tem visto o seu amigo Hagrid, ultimamente? � perguntou Draco aos dois, baixinho. � N�o � da sua conta � retrucou Rony aos arrancos, sem erguer a cabe�a. � Acho que ele n�o vai continuar professor por muito tempo � disse Draco num tom de fingida tristeza. � Meu pai n�o ficou nada satisfeito com o meu ferimento... � Continue falando, Draco, e vou lhe fazer um ferimento de verdade � rosnou Rony. � ... Ele apresentou queixa aos conselheiros da escola. E ao Minist�rio da Magia. Meu pai tem muita influ�ncia, sabe. E um ferimento permanente como este � ele fingiu um longo suspiro �, quem sabe se o meu bra�o vai voltar um dia a ser o mesmo? � Ent�o � por isso que voc� est� fazendo toda essa encena��o � comentou Harry, decapitando sem querer uma lagarta morta, porque sua m�o tremia de raiva. � Para tentar fazer Hagrid ser despedido. � Bom � respondeu Draco, baixando a voz para um sussurro �, em parte, Potter. Mas tem outros benef�cios, tamb�m. Weasley, fatie minhas lagartas para mim. A alguns caldeir�es de dist�ncia, Neville se achava em apuros. Ele se descontrolava regularmente nas aulas de Po��es; era a sua pior mat�ria, e seu grande medo do Prof�. Snape tornava as coisas dez vezes pior. Sua po��o, que devia ter ficado verde �cido e berrante, tinha acabado... � Laranja, Longbottom � exclamou Snape, apanhando um pouco de po��o com a concha e deixando-a cair de volta no caldeir�o, de modo que todos pudessem ver. � Laranja. Me diga, menino, ser� que alguma coisa penetra nessa sua cabe�a dura? Voc� n�o me ouviu dizer, muito claramente, que s� precisava p�r um ba�o de rato? Ser� que eu n�o disse, sem nenhum rodeio, que um nadinha de sumo de sanguessuga era suficiente? Que � que eu tenho de fazer para voc� entender, Longbottom? Neville estava vermelho e tr�mulo. Parecia prestes a chorar. � Por favor, professor � disse Hermione �, eu poderia ajudar Neville a consertar... � Eu n�o me lembro de ter lhe pedido para se exibir, Srta. Granger � respondeu Snape friamente e Hermione ficou t�o vermelha quanto Neville. � Longbottom, no final da aula vamos dar algumas gotas desta po��o ao seu sapo e ver o que acontece. Quem sabe isto o estimule a preparar a po��o corretamente. O professor se afastou, deixando Neville sem f�lego de tanto medo. � Me ajude! � gemeu o menino para Hermione. � Ei, Harry � disse Simas Finnigan, curvando-se para pedir emprestada a balan�a de lat�o de Harry �, voc� j� soube? No Profeta Di�rio desta manh�, eles acham que avistaram Sirius Black. � Onde? � perguntaram Harry e Rony depressa. Do lado oposto da mesa, Draco ergueu os olhos, escutando a conversa atentamente. � N�o muito longe daqui � respondeu o colega, que parecia excitado. � Foi visto por uma trouxa. Claro que ela n�o entendeu muito bem. Os trouxas acham que ele � apenas um criminoso comum, n�o �? Ent�o ela telefonou para o n�mero do plant�o de emerg�ncia. Mas at� o Minist�rio da Magia chegar l�, o Black j� tinha sumido. � N�o muito longe daqui... � repetiu Rony, lan�ando a Harry um olhar sugestivo. Ele se virou e notou que Draco os observava, atento. � Que foi, Draco? Precisa que eu descasque mais alguma coisa? Mas os olhos do garoto brilhavam de maldade, e estavam fixos em Harry. Ele se debru�ou na mesa. � Est� pensando em apanhar o Black sozinho, Potter? � Acertou! � respondeu Harry displicentemente. Os l�bios finos de Draco se curvaram num sorriso mau. � � claro, se fosse eu � disse em voz baixa �, eu j� teria feito alguma coisa h� mais tempo. Eu n�o ficaria na escola como um bom menino, eu estaria l� fora procurando o homem. � De que � que voc� est� falando, Draco? � perguntou Rony com aspereza. � N�o sabe, Potter? � sussurrou MaIfoy, os olhos claros quase fechados. � N�o sei o qu�? Malfoy soltou uma risada baixa e desdenhosa. � Vai ver voc� prefere n�o arriscar o pesco�o. Quer deixar os dementadores resolverem o caso, n�o �? Mas se fosse eu, eu ia querer me vingar. Ia atr�s dele pessoalmente. � Do que � que voc� est� falando?� perguntou Harry com raiva, mas naquele momento Snape falou: � Os senhores j� devem ter terminado de misturar os ingredientes. Essa po��o precisa cozinhar antes de ser bebida; portanto guardem o seu material enquanto ela ferve e, ent�o, vamos testar a do Longbottom... Crabbe e Goyle riram-se abertamente, vendo Neville suar, enquanto mexia febrilmente sua po��o. Hermione murmurava instru��es para o garoto pelo canto da boca, para que Snape n�o visse. Harry e Rony guardaram os ingredientes que n�o tinham usado e foram lavar as m�os e conchas na pia de pedra a um canto da sala. � Que foi que o Draco quis dizer? � sussurrou Harry para Rony, enquanto molhava as m�os no jorro gelado que saia da boca da g�rgula. � Por que eu iria querer me vingar de Black? Ele n�o me fez nada... Ainda. � Ele est� inventando � disse Rony com viol�ncia. � Est� tentando instigar voc� a fazer uma idiotice... O fim da aula � vista, Snape encaminhou-se para Neville, que estava encolhido ao lado do seu caldeir�o. � Venham todos para c� � disse o professor, seus olhos negros cintilando � e observem o que acontece ao sapo de Longbottom. Se ele conseguiu produzir uma Po��o Redutora, o sapo vai virar um girino. Se, o que eu n�o duvido, ele n�o preparou a po��o direito, o sapo provavelmente vai ser envenenado. Os alunos da Grifin�ria observaram temerosos. Os da Sonserina se mostraram excitados. Snape apanhou Trevo, o sapo, com a m�o esquerda e mergulhou, com a direita, uma colherinha na po��o de Neville, que agora estava verde. Depois, deixou cair umas gotinhas na garganta de Trevo. Houve um momento de sil�ncio, em que Trevo engoliu a po��o; seguiu-se um estalinho e Trevo, o girino, p�s-se a se contorcer na palma da m�o de Snape. Os alunos da Grifin�ria desataram a aplaudir. Snape, com a express�o mal-humorada, tirou um vidrinho do bolso das vestes, pingou algumas gotas em Trevo e ele reapareceu repentinamente adulto. � Cinco pontos a menos para a Grifin�ria � anunciou ele, varrendo, assim, os sorrisos de todos os rostos. � Eu disse para n�o ajud�-lo, Srta. Granger. A turma est� dispensada. Harry, Rony e Hermione subiram a escadaria do sagu�o de entrada. Harry ainda estava pensando no que Malfoy falara, enquanto Rony espumava de raiva de Snape. � Cinco pontos a menos para a Grifin�ria porque a po��o estava certa! Por que voc� n�o mentiu, Mione? Devia ter dito que Neville fez tudo sozinho! Hermione n�o respondeu. Rony olhou para os lados. � Aonde � que ela foi? Harry se virou tamb�m. Os dois estavam no alto da escadaria agora, vendo o resto da turma passar por eles a caminho do Sal�o Principal para almo�ar. � Ela estava logo atr�s da gente � comentou Rony, franzindo as sobrancelhas. Malfoy passou pelos dois, caminhando entre Crabbe e Goyle. Fez uma careta de riso para Harry e desapareceu. � L� est� ela � disse Harry. Hermione vinha ligeiramente ofegante, correndo escada acima; com uma das m�os, ela agarrava a mochila e com a outra parecia estar escondendo alguma coisa dentro das vestes. � Como foi que voc� fez isso? � perguntou Rony. � O qu�? � perguntou, por sua vez, Hermione, se juntando aos amigos. � Em um minuto voc� est� bem atr�s da gente e no minuto seguinte est� de volta ao p� da escada. � Qu�? � Hermione pareceu ligeiramente confusa. � Ah... Eu tive que voltar para ver uma coisa. Ah, n�o... Uma costura se rompera na mochila da garota. Harry n�o se surpreendeu; era vis�vel que a mochila fora atochada com pelo menos doze livr�es pesados. � Por que est� carregando tudo isso na mochila? � perguntou Rony. � Voc� sabe quantas mat�rias estou estudando � respondeu ela sem f�lego. � Ser� que podia segurar esses para mim? � Mas... � Rony foi virando os livros que a amiga lhe passara para olhar as capas � voc� n�o tem nenhuma dessas mat�rias hoje. S� tem Defesa contra as Artes das Trevas, � tarde. � � verdade � respondeu Hermione vagamente, mas guardou todos os livros na mochila assim mesmo. � Espero que tenha alguma coisa boa para o almo�o, estou morta de fome � acrescentou, e se afastou em dire��o ao Sal�o Principal. � Voc� tamb�m tem a impress�o de que Mione n�o est� contando alguma coisa � gente? � perguntou Rony a Harry. O Prof�. Lupin n�o estava em sala quando eles chegaram para a primeira aula de Defesa contra as Artes das Trevas. Os alunos se sentaram, tiraram das mochilas os livros, penas e pergaminho e estavam conversando quando o professor finalmente apareceu. Lupin sorriu vagamente e colocou a velha maleta surrada na escrivaninha. Estava mal vestido como sempre, mas parecia mais saud�vel do que no dia do trem, como se tivesse comido umas refei��es refor�adas. � Boa tarde � cumprimentou ele. � Por favor, guardem todos os livros de volta nas mochilas. Hoje teremos uma aula pr�tica. Os senhores s� v�o precisar das varinhas. Alguns alunos se entreolharam, curiosos, enquanto guardavam os livros. Nunca tinham tido uma aula pr�tica de Defesa contra as Artes das Trevas antes, a n�o ser que considerassem aquela aula inesquec�vel no ano anterior, em que o professor tinha trazido uma gaiola de diabretes e os soltara na sala. � Certo, ent�o � disse o Prof�. Lupin, quando todos estavam prontos. � Queiram me seguir. Intrigados, mas interessados, os alunos se levantaram e o seguiram para fora da sala. Ele levou os alunos por um corredor deserto e virou um canto, onde a primeira coisa que viram foi o Pirra�a, o poltergeist, flutuando no ar de cabe�a para baixo, e entupindo com chicles o buraco da fechadura mais pr�xima. Pirra�a n�o ergueu os olhos at� o professor chegar a mais ou menos meio metro; ent�o, agitou os dedos dos p�s e come�ou a cantar. � Louco, lobo, Lupin � entoou ele. � Louco, lobo, Lupin... Grosseiro e intrat�vel como era quase sempre, Pirra�a em geral demonstrava algum respeito pelos professores. Todo mundo olhou na mesma hora para Lupin para ver qual seria sua rea��o �quilo; para surpresa de todos, o professor continuou a sorrir. � Eu tiraria o chicle do buraco da fechadura se fosse voc�, Pirra�a � disse ele gentilmente. � O Sr. Filch n�o vai poder apanhar as vassouras dele. Filch era o zelador de Hogwarts, mal-humorado, um bruxo frustrado que travava uma guerra constante contra os estudantes e, na verdade, contra Pirra�a tamb�m. Mas o poltergeist n�o deu a m�nima aten��o �s palavras do professor a n�o ser para respond�-las com um ru�do ofensivo e alto feito com a boca. O professor deu um breve suspiro e tirou a varinha. � Este � um feiti�ozinho �til � disse � turma por cima do ombro. � Por favor observem com aten��o. Ele ergueu a varinha at� a altura do ombro e disse: � Uediu�si!� e apontou para Pirra�a. Com a for�a de uma bala, a pelota de chicle disparou do buraco da fechadura e foi bater certeira na narina esquerda de Pirra�a; o poltergeist virou de cabe�a para cima e fugiu a grande velocidade, xingando. � Maneiro, professor � exclamou Dino Thomas admirado. � Obrigado, Dino � disse o professor tornando a guardar a varinha. � Vamos prosseguir? Eles recome�aram a caminhada, a turma olhando o enxovalhado professor com crescente respeito. Lupin os conduziu por um segundo corredor e parou bem � porta da sala de professores. � Entrem, por favor � disse ele, abrindo a porta e se afastando para os alunos passarem. A sala dos professores. Uma sala comprida, revestida com pain�is de madeira e mobiliada com cadeiras velhas e desaparelhadas, estava vazia, exceto por um ocupante. O Prof�. Snape estava sentado em uma poltrona baixa e ergueu os olhos para os alunos que entravam. Seus olhos brilhavam e ele tinha um arzinho de desd�m em volta da boca. Quando o Prof�. Lupin entrou e fez men��o de fechar a porta, Snape falou: � Pode deix�-la aberta, Lupin. Eu prefiro n�o estar presente. E, dizendo isso, se levantou e passou pela turma, suas vestes negras se enfurnando �s suas costas. � porta, o professor girou nos calcanhares e disse ao colega: � Provavelmente ningu�m o alertou, Lupin, mas essa turma tem Neville Longbottom. Eu o aconselharia a n�o confiar a esse menino nada que apresente dificuldade. A n�o ser que a Srta, Granger se incumba de cochichar instru��es ao ouvido dele. Neville ficou escarlate. Harry olhou aborrecido para Snape; j� era bastante ruim que ele implicasse com Neville nas pr�prias aulas, e muito pior fazer isso na frente de outros professores. O Prof�. Lupin ergueu as sobrancelhas. � Pois eu pretendia chamar Neville para me ajudar na primeira etapa da opera��o, e tenho certeza de que ele vai fazer isso admiravelmente. A cara de Neville ficou, se isso fosse poss�vel, ainda mais vermelha. Snape revirou os l�bios num trejeito de desd�m, mas se retirou, batendo de leve a porta. � Agora, ent�o � disse o Prof�. Lupin, chamando, com um gesto, a turma para o fundo da sala, onde n�o havia nada exceto um velho arm�rio em que os professores guardavam mudas limpas de vestes. Quando o professor se postou a um lado, o arm�rio subitamente se sacudiu, batendo na parede. � N�o se preocupem � disse ele calmamente porque alguns alunos tinham pulado para tr�s, assustados. � H� um bicho-pap�o ai dentro. A maioria dos garotos achou que isso era uma coisa com o que se preocupar. Neville lan�ou ao professor um olhar de absoluto terror e Simas Finnigan mirou o puxador, que agora sacudia barulhentamente, com apreens�o. � Bichos-pap�es gostam de lugares escuros e fechados � informou o mestre. � Guarda-roupas, o v�o embaixo das camas, os arm�rios sob as pias... Eu j� encontrei um alojado dentro de um rel�gio de parede antigo. Este a� se mudou para c� ontem � tarde e perguntei ao diretor se os professores poderiam deix�-lo para eu dar uma aula pr�tica aos meus alunos do terceiro ano. Ent�o, a primeira pergunta que devemos nos fazer �, o que � um bicho-pap�o? Hermione levantou a m�o. � � um transformista � respondeu ela. � � capaz de assumir a forma do que achar que pode nos assustar mais. � Eu mesmo n�o poderia ter dado uma defini��o melhor � disse o Prof�. Lupin, e o rosto de Hermione se iluminou de orgulho. � Ent�o o bicho-pap�o que est� sentado no escuro a� dentro ainda n�o assumiu forma alguma. Ele ainda n�o sabe o que pode assustar a pessoa que est� do lado de fora. Ningu�m sabe qual � a apar�ncia de um bicho-pap�o quando est� sozinho, mas quando eu o deixar sair, ele imediatamente se transformar� naquilo que cada um de n�s mais teme. Isto significa � continuou o Prof�. Lupin, preferindo n�o dar aten��o � breve exclama��o de terror de Neville � que temos uma enorme vantagem sobre o bicho-pap�o para come�ar. Voc� j� sabe qual �, Harry? Tentar responder uma pergunta com Hermione do lado, com as plantas dos p�s subindo e descendo impacientes e a m�o no ar, era muito irritante, mas Harry resolveu tentar assim mesmo. � Hum... Porque somos muitos, ele n�o vai saber que forma tomar. � Precisamente � concordou o professor e Hermione baixou a m�o, parecendo um pouquinho desapontada. � � sempre melhor estarmos acompanhados quando enfrentamos um bicho-pap�o. Assim, ele se confunde. No que dever� se transformar, num corpo sem cabe�a ou numa lesma carn�vora? Uma vez vi um bicho-pap�o cometer exatamente este erro, tentou assustar duas pessoas e se transformou em meia lesma. O que, nem de longe, pode assustar algu�m. O feiti�o que repele um bicho-pap�o � simples, mas exige concentra��o. Vejam, a coisa que realmente acaba com um bicho-pap�o � o riso. Ent�o o que precisam fazer � for��-lo a assumir uma forma que voc�s achem engra�ada. Vamos praticar o feiti�o sem as varinhas primeiro. Repitam comigo, por favor.. Riddikulus! � Riddikulus � repetiu a turma. � �timo � aprovou o Prof�. Lupin. � Muito bem. Mas receio que esta seja a parte mais f�cil. Sabem, a palavra sozinha n�o basta. E � aqui que voc� vai entrar Neville. O guarda-roupa recome�ou a tremer, embora n�o tanto quanto Neville, que se dirigiu para o m�vel como se estivesse indo para a forca. � Certo, Neville � disse o professor � Vamos come�ar pelo come�o: Qual, voc� diria, que � a coisa que pode assust�-lo mais neste mundo? Os l�bios de Neville se mexeram, mas n�o emitiram som algum. � N�o ouvi o que voc� disse, Neville, me desculpe � disse o Prof�. Lupin animado. Neville olhou para os lados meio desesperado, como que suplicando a algu�m que o ajudasse, depois disse, num sussurro quase inaud�vel: � O Prof�. Snape. Quase todo mundo riu. At� Neville sorriu como se pedisse desculpas. Lupin, por�m, ficou pensativo. � Prof�. Snape... Hummm... Neville, eu creio que voc� mora com a sua av�? � Sim... Moro � disse Neville, nervoso. � Mas tamb�m n�o quero que o bicho-pap�o se transforme na minha av�. � N�o, n�o, voc� n�o entendeu � disse o professor, agora rindo. � Ser� que voc� podia nos descrever que tipo de roupas a sua av� normalmente usa? Neville fez cara de espanto, mas disse: � Bem... Sempre o mesmo chap�u. Um bem alto com um urubu empalhado na ponta. E um vestido comprido... Verde, normalmente... E �s vezes uma raposa. � E uma bolsa? � Vermelha e bem grande. � Certo ent�o � disse o professor � Voc� � capaz de imaginar essas roupas com clareza, Neville? Voc� consegue v�-las mentalmente? � Consigo � respondeu Neville, hesitante, obviamente imaginando o que viria a seguir. � Quando o bicho-pap�o irromper daquele guarda-roupa, Neville, e vir voc�, ele vai assumir a forma do Prof�. Snape. E voc� vai erguer a varinha... Assim... E gritar "Riddikulus"... E se concentrar com todas as suas for�as nas roupas de sua av�. Se tudo correr bem, o Prof�. Bicho-pap�o-Snape ser� for�ado a vestir aquele chap�u com o urubu, aquele vestido verde e carregar aquela enorme bolsa vermelha. Houve uma explos�o de risos. O guarda-roupa sacudiu com maior viol�ncia. � Se Neville acertar, o bicho-pap�o provavelmente vai voltar a aten��o para cada um de n�s individualmente. Eu gostaria que todos gastassem algum tempo, agora, para pensar na coisa de que t�m mais medo e imaginar como poderia faz�-la parecer c�mica... A sala ficou silenciosa. Harry pensou... �O que o apavorava mais no mundo?� Seu primeiro pensamento foi Lord Voldemort � um Voldemort que tivesse recuperado totalmente as for�as. Mas antes que conseguisse planejar um poss�vel contra-ataque ao bicho-pap�o-Voldemort, uma imagem horr�vel foi aflorando � superf�cie de sua mente... Uma m�o luzidia e podre, que escorregava para dentro de uma capa preta... Uma respira��o longa e rascante que saia de uma boca invis�vel... Depois um frio t�o penetrante que dava a impress�o de que ele estava se afogando... Harry estremeceu e olhou para os lados, na esperan�a de que ningu�m tivesse reparado nele. Muitos alunos tinham os olhos bem fechados. Rony murmurava para si mesmo "Arranque as pernas dela". Harry teve certeza de que sabia a que o amigo se referia. O maior medo de Rony eram as aranhas. � Todos prontos? � perguntou o Prof�. Lupin. Harry sentiu uma onda de medo. Ele n�o estava pronto. Como era poss�vel fazer um dementador se tornar menos aterrorizante? Mas n�o quis pedir mais tempo; todos estavam acenando a cabe�a afirmativamente enrolando as mangas. � Neville, n�s vamos recuar � disse o professor. � Assim voc� fica com o campo livre, est� bem? Vou chamar o pr�ximo a vir para frente... Todos para tr�s, agora, de modo que Neville tenha espa�o para agitar a varinha... Todos recuaram, encostaram-se nas paredes, deixando Neville sozinho ao lado do guarda-roupa. Ele parecia p�lido e assustado, mas enrolara as mangas das vestes e segurava a varinha em posi��o. � Quando eu contar tr�s, Neville � avisou Lupin, que apontava a pr�pria varinha para o puxador do arm�rio. � Um... Dois... Tr�s... Agora! Um jorro de fa�scas saltou da ponta da varinha do professor e bateu no puxador. O guarda-roupa se abriu com viol�ncia. Com o nariz curvo e amea�ador, o Prof�. Snape saiu, os olhos faiscando para Neville. Neville recuou, de varinha no ar, balbuciando silenciosamente. Snape avan�ou para ele, apanhando alguma coisa dentro das vestes. � R... R.. Riddikulus! � esgani�ou-se Neville. Ouviu-se um ru�do que lembrava o estalido de um chicote. Snape trope�ou; usava um vestido longo, enfeitado de rendas e um imenso chap�u de bruxo com um urubu carcomido de tra�as no alto, e sacudia uma enorme bolsa vermelho-vivo. Houve uma explos�o de risos; o bicho-pap�o parou, confuso, e o Prof�. Lupin gritou: � Parvati! Avante! Parvati adiantou-se, com ar decidido. Snape avan�ou para ela. Ouviu-se outro estalo e onde o bicho-pap�o estivera havia agora uma m�mia com as bandagens sujas de sangue; seu rosto tampado estava virado para Parvati e a m�mia come�ou a andar para a garota muito lentamente, arrastando os p�s, erguendo os bra�os duros... � Riddikulus!� exclamou Parvati. Uma bandagem se soltou aos p�s da m�mia; ela se enredou, caiu de cara no ch�o e sua cabe�a rolou para longe do corpo. � Simas � bradou o professor. Simas passou disparado por Parvati. Craque! Onde estivera a m�mia surgiu uma mulher de cabelos negros que iam at� o ch�o e um rosto esverdeado e esquel�tico � um esp�rito agourento. Ela escancarou a boca e um som espectral encheu a sala, um grito longo e choroso que fez os cabelos de Harry ficarem em p�. � Riddikulus! � bradou Simas. O esp�rito agourento emitiu um som rascante, apertou a garganta com as m�os; sua voz sumiu. Craque! O esp�rito agourento se transformou em um rato, que saiu correndo atr�s do pr�prio rabo, em c�rculos, depois... Craque! Transformou-se em uma cascavel, que saiu deslizando e se contorcendo at� que craque! Se transformou em um olho �nico e sangrento. � Confundimos o bicho! � gritou Lupin. � J� estamos quase no fim! Dino! Dino adiantou-se correndo. Craque! O olho se transformou em uma m�o decepada, que deu uma cambalhota e saiu andando de lado como um caranguejo. � Riddikulus! � berrou Dino. Ouviu-se um estalo e a m�o ficou presa em uma ratoeira. � Excelente! Rony, voc� � o pr�ximo! Rony correu para frente aos pulos. Craque! Muitos alunos gritaram. Uma aranha gigantesca e peluda, com quase dois metros de altura, avan�ou para Rony, batendo as pin�as amea�adoramente. Por um instante, Harry achou que Rony congelara. Mas... � Riddikulus! � berrou Rony, e as pernas da aranha desapareceram; ela ficou rolando pelo ch�o; Lil� Brown deu um grito agudo e se afastou correndo do caminho da aranha at� que ela parou aos p�s de Harry. O garoto ergueu a varinha, preparou-se, mas... � Tome! � gritou o Prof�. Lupin de repente, correndo para frente. Craque! A aranha sem pernas sumira. Por um segundo todos olharam assustados para os lados para ver o que aparecera. Ent�o viram um globo branco-prateado pendurado no ar diante de Lupin, e ele disse "Riddikulus" quase descansadamente. Craque! � Para frente, Neville, e acabe com ela! � mandou o professor quando o bicho-pap�o aterrissou no ch�o sob a forma de uma barata. Craque! E Snape reapareceu. Desta vez, Neville avan�ou parecendo decidido. � Riddikulus! � gritou, e, por uma fra��o de segundo, seus colegas tiveram uma vis�o de Snape com seu vestido de rendas antes de Neville soltar uma grande gargalhada e o bicho-pap�o explodir em milhares de fiapinhos min�sculos de fuma�a, e desaparecer. � Excelente! � exclamou o Prof�. Lupin enquanto a classe aplaudia com entusiasmo. � Excelente, Neville. Muito bem, pessoal... Deixe-me ver... Cinco pontos para a Grifin�ria para cada pessoa que enfrentou o bicho-pap�o � dez para Neville porque ele o enfrentou duas vezes e cinco para Harry e para Hermione. � Mas eu n�o fiz nada � protestou Harry. � Voc� e Hermione responderam �s minhas perguntas corretamente no in�cio da aula, Harry � respondeu Lupin gentilmente. � Muito bem, pessoal, foi uma aula excelente. Dever de casa: por favor, leiam o cap�tulo sobre os bichos-pap�es e fa�am um resumo para me entregar... Na segunda-feira. E por hoje � s�. Falando agitados, os alunos deixaram a sala dos professores. Harry, por�m, n�o estava se sentindo muito animado. O Prof�. Lupin intencionalmente o impedira de enfrentar o bicho-pap�o. Por qu�? Teria sido porque vira Harry desmaiar no trem e achava que ele n�o seria capaz? Teria pensado que ele ia desmaiar de novo? Mas ningu�m mais pareceu ter estranhado nada. � Voc� me viu enfrentar aquele esp�rito agourento? � perguntava Simas aos gritos. � E a m�o! � disse Dino, agitando a pr�pria m�o no ar. � E o Snape naquele chap�u! � E a minha m�mia? � Por que ser� que o Prof�. Lupin tem medo de bolas de cristal? � indagou Lil�, pensativa. � Essa foi a melhor aula de Defesa contra as Artes das Trevas que j� tivemos, voc�s n�o acham? � disse Rony excitado quando refaziam o caminho at� a sala de aula para apanhar as mochilas. � Ele parece um bom professor � comentou Hermione em tom de aprova��o. � Mas eu gostaria de ter podido enfrentar o bicho-pap�o... � O que ele teria sido para voc�? � perguntou Rony dando risadinhas. � Um dever de casa que s� mereceu nota nove em dez? CAP�TULO OITO A Fuga da Mulher Gorda N�o demorou nada e a Defesa contra as Artes das Trevas se tornou a mat�ria favorita da maioria dos estudantes. Somente Draco Malfoy e sua patota de alunos da Sonserina tinham alguma coisa de ruim a dizer do Prof�. Lupin. � Olha s� as vestes dele � Malfoy dizia num sussurro bem aud�vel quando o professor passava. � Ele se veste como um velho elfo dom�stico. Mas ningu�m mais se importava se as vestes de Lupin eram remendadas e esfiapadas. Suas aulas seguintes tinham sido t�o interessantes quanto a primeira. Depois dos bichos-pap�es, eles estudaram os "barretes vermelhos", criaturinhas malvadas que lembravam duendes e rondavam os lugares onde houvera derramamento de sangue, masmorras de castelos e valas dos campos de batalha desertos � espera de abater a porrete os que se perdiam. Dos barretes vermelhos eles passaram aos kappas, seres rastejantes das �guas, que lembravam macacos com escamas, palm�pedes cujas m�os comichavam para estrangular os banhistas desavisados que penetravam seus dom�nios. Harry s� desejava que fosse t�o feliz com outras mat�rias. A pior delas era Po��es. Snape andava com uma disposi��o bem vingativa ultimamente, e ningu�m tinha d�vidas do que motivara isso. A hist�ria do bicho-pap�o que assumira a forma dele, e a maneira com que Neville o vestira com as roupas da av�, correra a escola como fogo espont�neo. Snape n�o parecia ter achado gra�a. Seus olhos faiscavam amea�adoramente � simples men��o do nome de Lupin e ele andava implicando com Neville mais do que nunca. Harry tamb�m estava come�ando a temer as horas que passava na sala sufocante da Prof�. Sibila, decifrando formas e s�mbolos enviesados, tentando fingir que n�o via os olhos da professora se encherem de l�grimas todas as vezes que olhava para ele. N�o conseguia gostar de Sibila, embora ela fosse tratada, por muitos alunos da turma, com um respeito que beirava a rever�ncia. Parvati Patil e Lil� Brown passaram a rondar a torre da professora na hora do almo�o, e sempre voltavam com irritantes ares de superioridade, como se soubessem de coisas que os outros desconheciam. Tinham come�ado tamb�m a usar um tom de voz abafado sempre que falavam com Harry, como se estivessem em seu vel�rio. Ningu�m gostava realmente de Trato das Criaturas M�gicas que, depois da primeira aula repleta de a��o, tornara-se extremamente mon�tona. Hagrid parecia ter perdido a confian�a em si mesmo. Os alunos agora passavam aula ap�s aula aprendendo a cuidar de vermes, que eram uma das esp�cies de bichos mais chatas que existem no mundo, e n�o era por acaso. � Por que algu�m se daria o trabalho de cuidar deles? � exclamou Rony, depois de mais de uma hora enfiando alface fresca picada pela goela escorregadia dos vermes. No in�cio de outubro, por�m, Harry teve algo com que se ocupar, algo t�o prazeroso que mais do que compensou as aulas chatas. A temporada de Quadribol se aproximava e Ol�vio Wood, capit�o do time da Grifin�ria, convocou uma reuni�o para uma noite de quinta-feira com a finalidade de discutirem as t�ticas que adotariam na nova temporada. Havia sete jogadores num time de Quadribol: tr�s artilheiros, cuja fun��o � marcar gol fazendo a goles (uma bola vermelha do tamanho de uma bola de futebol) passar por um aro no alto de uma baliza de quinze metros de altura fincada em cada extremidade do campo; dois batedores, armados com pesados bast�es para repelir os bala�os (duas bolas pretas maci�as que voavam para todos os lados tentando atacar os jogadores); um goleiro, que defendia as balizas e um apanhador, que tinha a fun��o mais dif�cil de todas, a de capturar o pomo de ouro, uma bolinha alada do tamanho de uma noz, cuja captura encerrava o jogo, e garantia para o time do apanhador cento e cinq�enta pontos a mais. Ol�vio era um rapaz forte de dezessete anos, agora no s�timo e �ltimo ano de Hogwarts. Tinha uma esp�cie de desespero silencioso na voz quando se dirigiu aos seis companheiros de equipe nos gelados vesti�rios, localizados nas pontas do campo de Quadribol, agora quase escuro. � Esta � a nossa �ltima chance, minha �ltima chance, de ganhar a Ta�a de Quadribol � disse andando para l� e para c� diante dos colegas. � Vou-me embora no fim deste ano. Nunca mais terei outra oportunidade. Grifin�ria n�o ganha a ta�a h� sete anos. Tudo bem, tivemos o maior azar do mundo, acidentes, depois o cancelamento do torneio no ano passado... � Ol�vio engoliu em seco como se aquela lembran�a ainda lhe desse um n� na garganta. � Mas tamb�m sabemos que temos o time... Melhor... Mais irado... Da escola � disse ele, dando um soco na palma da m�o, o velho brilho obsessivo nos olhos. -Temos tr�s artilheiros da melhor qualidade. Ol�vio apontou pata Alicia Spinnet, Angelina Johnson e Karie Bell. � Temos dois batedores imbat�veis. � Pode parar, Ol�vio, voc� est� encabulando a gente � disseram Fred e Jorge juntos, fingindo corar. � E temos um apanhador que at� hoje nunca deixou de nos levar � vit�ria nas partidas que jogamos � falou Ol�vio em tom retumbante, encarando Harry com uma esp�cie de orgulho ardoroso. � E temos a mim � acrescentou, pensando melhor. � N�s tamb�m achamos voc� muito bom Ol�vio. � disse Jorge. � Um goleiro do caramba! � disse Fred. � A quest�o � � continuou Ol�vio retomando a caminhada � que a Ta�a de Quadribol devia ter tido o nome do nosso time gravado, nesses dois �ltimos anos. Desde que Harry se juntou a n�s, achei que a ta�a j� estava no papo. Mas n�o ganhamos, e este ano � a �ltima chance que teremos de finalmente ver o nosso nome na ta�a... Ol�vio falou t�o desolado que at� Fred e Jorge o olharam com simpatia. � Ol�vio, este ano � o nosso ano � animou-o Fred. � Vamos conseguir, Ol�vio! � disse Angelina. � Sem a menor d�vida � confirmou Harry. Cheio de determina��o, o time come�ou os treinos, tr�s noites por semana. O tempo estava ficando mais frio e mais �mido, as noites mais escuras, mas n�o havia lama nem vento nem chuva que pudesse empanar a vis�o maravilhosa de Harry de finalmente ganhar a enorme Ta�a de Quadribol de prata. Harry voltou � sala comunal da Grifin�ria certa noite depois do treino, enregelado, os m�sculos endurecidos, mas satisfeito com o aproveitamento do treino, e encontrou a sala mergulhada num vozerio excitado. � Que foi que aconteceu?� perguntou ele a Rony e Hermione, que estavam sentados em duas das melhores poltronas ao lado da lareira terminando uns mapas estelares para a aula de Astronomia. � Primeiro fim de semana em Hogsmeade � respondeu Rony, apontando para uma nota que aparecera no escalavrado quadro de avisos. � Fim de outubro. Dia das Bruxas. � �timo � comentou Fred que seguira Harry na passagem pelo buraco do quadro. � Preciso visitar a Zonko"s. Meus chumbinhos fedorentos est�o quase no fim. Harry se atirou em uma cadeira ao lado de Rony, sua anima��o esfriando. Hermione pareceu ler seus pensamentos. � Harry tenho certeza de que voc� vai poder ir na pr�xima visita � disse a garota. � V�o acabar pegando o Black logo. Ele j� foi avistado uma vez. � Black n�o � louco de tentar alguma coisa em Hogsmeade � argumentou Rony. � Pergunte a McGonagall se voc� pode ir Harry, a pr�xima vez talvez demore um temp�o para acontecer... � Rony! � exclamou a garota. � Harry tem que ficar na escola... � Ele n�o pode ser o �nico aluno de terceiro ano que vai ficar � disse Rony. � Pergunta a McGonagall, anda, Harry... � �, acho que vou perguntar � disse Harry se decidindo. Hermione abriu a boca para protestar, mas naquele instante Bichento pulou com leveza em seu colo. Trazia uma enorme aranha morta pendurada na boca. � Ele tem que comer isso na frente da gente? � perguntou Rony aborrecido. � Bichento inteligente, voc� apanhou a aranha sozinho? � perguntou Hermione. Bichento mastigou a aranha vagarosamente, os olhos amarelos fixos insolentemente em Rony. � V� se ao menos segura ele a� � disse Rony irritado, voltando a aten��o para o seu mapa estelar. � Perebas est� dormindo na minha mochila. Harry bocejou. Queria realmente ir se deitar, mas ainda tinha o mapa para terminar. Puxou a mochila para perto, tirou um pergaminho, tinta e caneta e come�ou a trabalhar. � Pode copiar o meu, se quiser � ofereceu Rony, escrevendo o nome da �ltima estrela com um floreio e empurrando o mapa para Harry. Hermione, que desaprovava colas, contraiu os l�bios, mas n�o disse nada. Bichento continuava a mirar Rony sem piscar, agitando a ponta do rabo peludo. Ent�o, sem aviso, atacou. � AI! � berrou Rony, agarrando a mochila na hora em que Bichento enterrava nela as garras das quatro patas e come�ava a sacudi-la furiosamente. � D� O FORA DAI SEU BICHO BURRO! Rony tentou arrancar a mochila das garras de Bichento, mas o gato n�o a largava, bufando e unhando. � Rony, n�o machuca ele! � gritou Hermione; toda a sala observava; Rony girou a mochila, Bichento continuou agarrado, e Perebas saiu voando pela abertura... � SEGURE ESSE GATO! � berrou Rony quando Bichento se desvencilhou dos restos da mochila e saltou para a mesa perseguindo o aterrorizado Perebas. Jorge Weasley deu um salto na dire��o de Bichento mas errou; Perebas disparou entre vinte pares de pernas e sumiu embaixo de uma velha c�moda. Bichento parou derrapando, se abaixou o mais que p�de nas pernas arqueadas e come�ou a fazer furiosas investidas com a pata dianteira no v�o da c�moda. Rony e Hermione correram para acudir; Hermione agarrou Bichento pelo meio e carregou-o para longe; Rony se atirou no ch�o de barriga para baixo e, com grande dificuldade, puxou Perebas para fora pelo rabo. � Olha s� para ele! � gritou o garoto furioso para Hermione, balan�ando Perebas diante da amiga. � Est� pele e osso! Segura esse gato longe dele! � Bichento n�o entende que isso � errado! � defendeu-o Hermione, a voz tr�mula. � Todos os gatos ca�am ratos, Rony! � Tem uma coisa esquisita nesse animal! � acusou Rony, que estava tentando persuadir um Perebas, que se contorcia freneticamente, a voltar para dentro do seu bolso. � Ele me ouviu dizer que Perebas estava na mochila! � Ah, deixa de bobagem � retrucou a garota. � Bichento sabe farejar, Rony, de que outro modo voc� acha... � Esse gato est� perseguindo o Perebas! � disse Rony, fingindo n�o ver os colegas em volta, que come�avam a dar risadinhas abafadas. � E Perebas estava aqui primeiro, e est� doente! Rony atravessou a sala decidido e desapareceu na subida da escada para os dormit�rios dos garotos. Rony continuou de mal com Hermione no dia seguinte. Quase n�o falou com a garota durante a aula de Herbologia, embora ele, Harry e Hermione estivessem trabalhando juntos na mesma tarefa. � Como � que vai o Perebas? � perguntou Hermione timidamente enquanto colhiam gordas vagens rosadas das plantas e esvaziavam seus feij�es luzidios em um balde de madeira. � Est� escondido no fundo da minha cama tremendo � respondeu Rony com raiva, errando o balde e espalhando feij�es pelo ch�o da estufa. � Cuidado, Weasley, cuidado! � exclamou a Prof�. Sprout quando os feij�es desabrocharam diante dos olhos de todos. A aula seguinte era Transforma��o. Harry, que resolvera perguntar � Prof�. McGonagall depois da aula se podia ir a Hogsmeade com os colegas, entrou na fila do lado de fora da sala tentando decidir como � que iria defender o seu caso. Foi distra�do, por�m, por uma confus�o no in�cio da fila. Pelo jeito, Lil� Brown estava chorando. Parvati abra�ava-a, e explicava algo a Simas e Dino, que pareciam muito s�rios. � Que foi que aconteceu, Lil�? � perguntou Hermione, ansiosa, quando ela, Harry e Rony se reuniram ao grupo. � Ela recebeu uma carta de casa hoje de manh� � sussurrou Parvati. � Foi o coelho dela, B�nqui. Foi morto por uma raposa. � Ah � disse Hermione sinto muito, Lil�. � Eu devia ter imaginado! � exclamou Lil�, tragicamente. � Voc� sabe que dia � hoje? � Hum... � Dezesseis de outubro! "Essa coisa que voc� receia, vai acontecer na sexta-feira, 16 de outubro!" Lembram? Ela estava certa, ela estava certa! A turma inteira agora rodeava Lil�. Simas sacudia a cabe�a, s�rio. Mione hesitou; em seguida perguntou: � Voc� receava que B�nqui fosse morto por uma raposa? � Bem, n�o necessariamente por uma raposa � respondeu Lil�, erguendo os olhos, dos quais as l�grimas escorriam sem parar �, mas obviamente eu receava que ele morresse, n�o �? � Ah � exclamou Hermione. Ela fez outra pausa. E depois... � B�nqui era um coelho velho? � N... N�o! � solu�ou Lil�. -A... Ainda era um bebezinho! Parvati apertou o abra�o que dava em Lil�. � Mas, ent�o, por que voc� tinha receio que ele morresse? � perguntou Hermione. Parvati fez uma cara feia para a colega. � Bem, vamos encarar isso logicamente � falou Hermione, virando-se para o restante do grupo. � Quero dizer, B�nqui nem ao menos morreu hoje, n�o �? Lil� foi que recebeu a not�cia hoje... � Lil� abriu um berreiro � e ela n�o podia estar receando isso, porque a not�cia foi um choque para ela... � N�o ligue para Hermione, Lil� � disse Rony em voz alta �, ela n�o acha que os bichos de estima��o dos outros t�m muita import�ncia. A Prof�. Minerva abriu a porta da sala de aula naquele momento, o que talvez tenha sido uma sorte; Hermione e Rony estavam se fuzilando com os olhos e quando entraram na sala se sentaram um de cada lado de Harry, e passaram a aula inteira sem se falar. Harry ainda n�o decidira o que ia dizer � professora quando a sineta tocou anunciando o fim da aula, mas foi ela quem levantou o assunto de Hogsmeade primeiro. � Um momento, por favor! � pediu quando a turma se preparava para sair. � Como voc�s todos fazem parte da minha Casa, dever�o entregar os formul�rios de autoriza��o para ir � Hogsmeade a mim, antes do Dia das Bruxas. Sem formul�rio n�o h� visita, por isso n�o se esque�am. Neville levantou a m�o. � Por favor, professora, eu... Eu acho que perdi... � Sua av� mandou o seu diretamente a mim, Longbottom � disse Minerva. � Parece que ela achou mais seguro. Bem, � s� isso, podem ir. � Pergunta a ela agora � sibilou Rony a Harry. � Ah, mas... � come�ou Hermione. � Manda ver � disse Rony insistindo. Harry esperou o resto da turma desaparecer e se dirigiu, nervoso, � escrivaninha da professora. � Que foi, Potter? Harry inspirou profundamente. � Professora, minha tia e meu tio... Hum... Se esqueceram de assinar a minha autoriza��o. A Prof�. Minerva olhou-o por cima dos �culos quadrados e n�o disse nada. � Ent�o... Hum... A senhora acha que haveria algum problema... Quero dizer, que estaria Ok se eu... Se eu fosse a Hogsmeade? Minerva baixou os olhos e come�ou a mexer nos pap�is em cima da escrivaninha. � Receio que n�o, Potter. Voc� ouviu o que eu disse. N�o tem formul�rio, n�o tem visita ao povoado. Essa � a regra. � Mas, professora, minha tia e meu tio... A senhora sabe, eles s�o trouxas, n�o entendem realmente para que servem... Os formul�rios de Hogwarts e outras coisas daqui � explicou Harry, enquanto Rony o animava a prosseguir com vigorosos acenos de cabe�a. � Se a senhora disser que eu posso ir... � Mas eu n�o vou dizer � falou a professora se levantando e arrumando os pap�is na gaveta. � O formul�rio diz claramente que o pai ou guardi�o precisa dar permiss�o. � Minerva se virou para olh�-lo, com uma estranha express�o no rosto. Seria pena? � Sinto muito, Potter, mas esta � a minha palavra final. � melhor voc� se apressar ou vai se atrasar para a pr�xima aula. N�o restava nada a fazer. Rony xingou a Prof�. Minerva de uma por��o de nomes, o que deixou Hermione muito aborrecida; a garota assumiu um ar de "foi-melhor-assim� que fez Rony ficar com mais raiva e Harry teve que suportar os colegas na aula discutindo, alegres e em altas vozes, o que iam fazer primeiro, quando chegassem a Hogsmeade. � Sempre tem a festa � disse Rony, num esfor�o para animar Harry. � Sabe, a festa do Dia das Bruxas, � noite. � Sei � respondeu Harry, deprimido �, que �timo. A festa do Dia das Bruxas era sempre boa, mas teria um sabor muito melhor se fosse depois de uma visita a Hogsmeade com os colegas. Nada que ningu�m disse fez Harry se sentir melhor com rela��o � id�ia de ser deixado para tr�s. Dino Thomas, que era jeitoso com uma caneta, se oferecera para falsificar a assinatura do tio V�lter no formul�rio, mas como Harry j� dissera � Prof�. Minerva que os tios n�o haviam assinado, n�o adiantava nada. Rony, meio desanimado, sugeriu a Capa da Invisibilidade, mas Hermione eliminou essa possibilidade, lembrando a Rony que Dumbledore avisara que os dementadores podiam ver atrav�s da capa. Possivelmente foi Percy quem disse as palavras que menos consolaram. � O pessoal faz um estardalha�o sobre Hogsmeade, mas eu garanto, Harry, o povoado n�o � t�o fant�stico quanto dizem � falou ele, s�rio. � Tudo bem, a loja de doces � bastante boa e a Zonko"s � Logros e Brincadeiras � francamente perigosa e, ah, sim, a Casa dos Gritos sempre vale a pena visitar, mas, verdade, Harry, tirando isso, voc� n�o vai perder nada. Na manh� do Dia das Bruxas, Harry acordou com os colegas e desceu para tomar caf�, sentindo-se totalmente arrasado, embora se esfor�asse ao m�ximo para agir normalmente. � Vamos lhe trazer um monte de doces da Dedosdemel � prometeu Hermione, sentindo uma pena desesperada do amigo. � �, montes � concordou Rony. Ele e Hermione tinham finalmente esquecido a briga por causa do Bichento diante do descontentamento de Harry. � N�o se preocupem comigo � disse Harry no que ele imaginava ser uma voz displicente. � Vejo voc�s na festa. Divirtam-se. Ele acompanhou os amigos at� o sagu�o da escola, onde Filch, o zelador, estava postado � porta de entrada, verificando se os nomes constavam de uma longa lista, examinando cada rosto cheio de desconfian�a, e certificando-se de que ningu�m que n�o devia ir estivesse saindo escondido da escola. � Vai ficar na escola, Potter? � gritou Malfoy, que estava na fila com Crabbe e Goyle. � Medinho de passar pelos dementadores? Harry n�o lhe deu aten��o e se dirigiu, solit�rio, para a escadaria de m�rmore, seguiu pelos corredores desertos e voltou � Torre da Grifin�ria. � Senha? � perguntou a Mulher Gorda, acordando assustada de um cochilo. � Fortuna Major � disse Harry ap�tico. O retrato se afastou e ele passou pelo buraco que levava � sala comunal que estava repleto de alunos do primeiro e segundo ano que tagarelavam e de alguns alunos mais velhos, que obviamente j� tinham visitado Hogsmeade tantas vezes que a novidade se desgastara. � Harry! Harry! Oi, Harry! Era Colin Creevey, um colega do segundo ano que tinha uma profunda admira��o por Harry e nunca perdia uma oportunidade de falar com o seu �dolo. � Voc� n�o vai a Hogsmeade, Harry? Por que n�o? Ei, � Colin olhou com ansiedade para os amigos � pode vir se sentar conosco, se quiser, Harry! � Hum... N�o, obrigado, Colin � disse Harry que n�o estava a fim de ter um band�o de gente olhando, curiosa, para a cicatriz em sua testa. � Tenho... Tenho que ir � biblioteca, preciso fazer um trabalho. Depois disso, ele n�o teve escolha sen�o dar meia-volta e se dirigir ao buraco do retrato para sair. � Para o que foi ent�o que me acordou? � comentou rabugenta, a Mulher Gorda quando ele, depois de passar, foi se afastando. Harry caminhou, desalentado, em dire��o � biblioteca, mas no meio do caminho mudou de id�ia; n�o estava com vontade de trabalhar. Deu meia-volta e deparou com Filch, que obviamente acabara de despachar o �ltimo visitante para Hogsmeade. � Que � que voc� est� fazendo? � rosnou Filch, desconfiado. � Nada � respondeu Harry com sinceridade. � Nada! � bufou Filch, a queixada tremendo desagradavelmente. � Que coisa improv�vel! Andando, sorrateiro, sozinho, por que � que voc� n�o est� em Hogsmeade comprando chumbinho fedorento, p� de arroto e minhocas de apito como os seus outros amiguinhos intrag�veis? Harry sacudiu os ombros. � Muito bem, volte para sua sala comunal que � o seu lugar! � mandou Filch, com rispidez e ficou parado olhando at� Harry desaparecer de vista. Mas o garoto n�o voltou � sala comunal; ele subiu uma escada, pensando vagamente em visitar o corujal para ver Edwiges, e estava andando por outro corredor quando uma voz que vinha de uma das salas o chamou: � Harry? O garoto se virou pata ver quem o chamara e deparou com o Prof�. Lupin, que espiava para os lados � porta de sua sala. � Que � que voc� est� fazendo? � perguntou Lupin, embora num tom de voz diferente do de Filch. � Onde est�o Rony e Hermione? � Hogsmeade � respondeu Harry num tom que ele pretendia que fosse descontra�do. � Ah � comentou Lupin. Ele observou o garoto por um momento. � Por que voc� n�o entra? Estive aguardando a entrega de um grindylow para a nossa pr�xima aula. � De um o qu�? � perguntou Harry. Ele entrou na sala de Lupin com o professor. A um canto havia uma enorme caixa de �gua. Um bicho de cor verde-bile e chifrinhos pontiagudos comprimia a cara contra o vidro, fazendo caretas e agitando os dedos longos e afilados. � Dem�nio aqu�tico � explicou Lupin, examinando o grindylow pensativamente. � N�o deve nos dar muito trabalho, n�o depois dos kappas. O truque � deixar as m�os deles sem a��o. Reparou nos dedos anormalmente compridos? Fortes mas muito quebradi�os. O grindylow arreganhou os dentes verdes e em seguida se enterrou num emaranhado de ervas a um canto. � Aceita uma x�cara de ch�? � ofereceu Lupin, procurando a chaleira. � Eu estava mesmo pensando em preparar uma. � Tudo bem � aceitou Harry sem jeito. Lupin deu alguns golpes de varinha na chaleira e na mesma hora saiu do bico uma baforada de vapor quente. � Sente-se � convidou Lupin, tirando a tampa de uma lata empoeirada. � Receio que s� tenha ch� em saquinhos... Mas eu diria que voc� j� bebeu ch� em folhas que chegue. Harry olhou para ele. Os olhos do professor cintilavam. � Como foi que o senhor soube disso? � perguntou Harry. � A Prof�. McGonagall me contou � respondeu Lupin, passando a Harry uma caneca lascada cheia de ch�. � Voc� n�o est� preocupado, est�? � N�o. Por um instante Harry pensou em contar a Lupin a hist�ria do c�o que ele vira na Rua Magn�lia, mas decidiu n�o faz�-lo. N�o queria que Lupin pensasse que era covarde, principalmente porque o professor j� parecia pensar que ele n�o era capaz de enfrentar um bicho-pap�o. Alguma coisa dos pensamentos de Harry devia ter transparecido em seu rosto, porque Lupin perguntou: � Tem alguma coisa preocupando-o, Harry? � N�o � mentiu o garoto. Depois bebeu um pouco de ch� observando o grindylow que o amea�ava com o punho. � Tem � disse ele de repente, pousando a x�cara de ch� na mesa do professor � O senhor se lembra daquele dia em que lutamos contra o bicho-pap�o? � Claro. � Por que o senhor n�o me deixou enfrentar o bicho? � perguntou Harry abruptamente. Lupin ergueu as sobrancelhas. � Eu teria pensado que isto era �bvio, Harry � disse ele parecendo surpreso. Harry, que esperara que o professor negasse ter feito uma coisa dessas, ficou perplexo. � Por qu�? � tornou ele a perguntar. � Bem � falou Lupin, franzindo de leve a testa �, presumi que se o bicho-pap�o o enfrentasse, ele assumiria a forma de Lord Voldemort. Harry arregalou os olhos. N�o somente esta era a �ltima resposta que poderia esperar, como tamb�m Lupin dissera o nome de Voldemort. A �nica pessoa que Harry j� ouvira dizer esse nome em voz alta (al�m dele pr�prio) fora o Prof�. Dumbledore. � Pelo visto eu me enganei � desculpou-se o professor, ainda franzindo a testa. � Mas eu n�o achei uma boa id�ia Lord Voldemort se materializar na sala dos professores. Imaginei que os alunos entrariam em p�nico. � Logo no come�o, eu realmente pensei em Voldemort � disse Harry honestamente. � Mas depois, eu... Eu me lembrei daqueles dementadores. � Entendo � falou o professor, pensativo. � Bem, bem... Estou impressionado. � Ele sorriu brevemente ao ver a express�o de surpresa no rosto do garoto. � Isto sugere que o que voc� mais teme � o medo. Muito sensato, Harry. Harry n�o soube o que dizer ao professor, por isso bebeu mais ch�. � Ent�o voc� andou pensando que eu n�o acreditava que voc� tivesse capacidade para enfrentar o bicho-pap�o? � perguntou Lupin astutamente. � Bem... �. � Harry de repente estava se sentindo muito mais feliz. � Prof�. Lupin, o senhor sabe que os dementadores... O garoto foi interrompido por uma batida na porta. � Entre � convidou o professor. A porta se abriu e Snape entrou. Trazia um c�lice ligeiramente fumegante e parou, apertando os olhos negros, ao ver Harry. � Ah, Severo � exclamou Lupin sorridente. � Muito obrigado. Podia deixar a� na mesa para mim? Snape pousou o c�lice fumegante, os olhos indo de Harry para Lupin. � Eu estava mostrando a Harry o meu grindylow � disse Lupin em tom agrad�vel, indicando o tanque de �gua. � Fascinante � comentou Snape sem sequer olhar para o tanque. � Voc� devia beber isso logo, Lupin. � �, �, vou beber. � Fiz um caldeir�o cheio � continuou Snape. � Se precisar de mais... � Provavelmente eu deveria tomar mais um pouco amanh�. Muito obrigado, Severo. � De nada � disse o colega, mas havia uma express�o em seus olhos que n�o agradou a Harry. O professor se retirou de costas para a porta, sem sorrir, vigilante. Harry olhou, curioso, para o c�lice. Lupin sorriu. � O Prof�. Snape teve a bondade de preparar esta po��o para mim � explicou ele. � Nunca fui um bom preparador de po��es e esta aqui � particularmente complexa. � Ele apanhou o c�lice e cheirou-o. � � pena que o a��car estrague o efeito da po��o � acrescentou, tomando um golinho e estremecendo. � Por qu�...? � come�ou Harry. Lupin olhou para ele e respondeu � pergunta incompleta. � Tenho me sentido meio indisposto. Esta po��o � a �nica coisa que me ajuda. Tenho a sorte de estar trabalhando ao lado do Prof�. Snape; n�o h� muitos bruxos que saibam prepar�-la. O professor tomou mais um golinho e Harry teve um desejo incontrol�vel de derrubar o c�lice de suas m�os. � O Prof�. Snape � muito interessado nas Artes das Trevas � disse o garoto sem pensar. � � mesmo? � admirou-se Lupin, parecendo apenas levemente interessado, enquanto tomava mais um gole. � Tem gente que sup�e que ele faria qualquer coisa para ocupar o cargo de professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Lupin esvaziou o c�lice e fez uma careta. � Horr�vel � disse. � Bem, Harry � melhor eu voltar ao trabalho. Vejo voc� mais tarde na festa. � Certo � concordou Harry, deixando na mesa sua x�cara vazia. O c�lice vazio continuava a fumegar. � Segura a� � exclamou Rony. � Compramos o m�ximo que pod�amos carregar. Uma chuva de doces intensamente coloridos caiu no colo de Harry. Anoitecia e Rony e Hermione tinham acabado de chegar � sala comunal, as faces rosadas do vento frio e a express�o de que tinham se divertido como nunca. � Obrigado � disse Harry, pegando um pacote de min�sculos Diabinhos de Pimenta. � Como � que � Hogsmeade? Aonde � que voc�s foram? Pelo que diziam... A todos os lugares. Dervixes e Bangues, a loja de equipamento de bruxaria, Zonko"s � Logros e Brincadeiras, no Tr�s Vassouras para tomar canecas espumantes de cerveja quente amanteigada, e outros tantos lugares. � O Correio, Harry! Umas duzentas corujas, todas pousadas em prateleiras, todas com c�digo de cores dependendo da urg�ncia com que voc� quer que a carta chegue! � A Dedosdemel tem um novo tipo de bombom estavam distribuindo amostras gr�tis, olha a� um pedacinho, olha... � Achamos que vimos um ogro, juro, tem gente de todo o tipo no Tr�s Vassouras... � Gostaria que a gente pudesse ter trazido cerveja amanteigada para voc�, esquenta para valer... � Que foi que voc� ficou fazendo? � perguntou Hermione, com ar preocupado. � Terminou algum dever? � N�o � respondeu Harry. � Lupin preparou uma x�cara de ch� para mim na sala dele. Ent�o Snape entrou... E Harry contou aos amigos tudo sobre o c�lice. Rony ficou boquiaberto. � E Lupin bebeu? Ele � maluco? Hermione consultou o rel�gio de pulso. � � melhor descermos, sabe, a festa vai come�ar dentro de cinco minutos... � Os tr�s atravessaram depressa o buraco do retrato e se misturaram � aglomera��o de alunos, ainda discutindo Snape. � Mas se ele... Sabe... � Hermione baixou a voz, olhando, nervosa, para os lados � se ele estivesse tentando... Envenenar Lupin... N�o teria feito isso na frente de Harry. � � talvez � disse Harry quando chegavam ao sagu�o de entrada e o atravessavam para entrar no Sal�o Principal. Este fora decorado com centenas de ab�boras iluminadas por dentro com velas, uma nuvem de morcegos, muitas serpentinas laranja-vivo que esvoa�avam lentamente pelo teto tempestuoso como parecendo luzidias cobras de �gua. A comida estava deliciosa; at� Hermione e Rony, que j� vinham empanturrados de doces da Dedosdemel, arranjaram lugar para repetir. Harry olhava constantemente para a mesa dos professores. O Prof�. Lupin parecia alegre e o mais saud�vel poss�vel; conversava animadamente com o mi�do Flitwick, professor de Feiti�os. O olhar de Harry percorreu a mesa at� o lugar que Snape ocupava. Seria sua imagina��o ou os olhos de Snape cintilavam na dire��o de Lupin com mais freq��ncia do que seria natural? A festa terminou com um espet�culo apresentado pelos fantasmas de Hogwarts. Eles saltavam de repente das paredes e dos tampos das mesas e voavam em forma��o; Nick Quase Sem Cabe�a, o fantasma da Grifin�ria, fez grande sucesso com uma encena��o de sua pr�pria decapita��o incompleta. Foi uma noite t�o agrad�vel que o bom humor de Harry sequer foi afetado quando Malfoy gritou no meio dos colegas, quando deixavam o sal�o: � Os dementadores mandaram lembran�as, Potter! Harry, Rony e Hermione acompanharam os colegas da Grifin�ria pelo caminho habitual para a sua Torre, mas quando chegaram ao corredor que terminava no retrato da Mulher Gorda, encontraram-no engarrafado pelos alunos. � Por que ningu�m est� entrando? � perguntou Rony, curioso. Harry espiou por cima das cabe�as � sua frente. Aparentemente o retrato estava fechado. � Me deixem passar � ouviu-se a voz de Percy, que passou cheio de import�ncia e efici�ncia pelo ajuntamento. � Qual � o motivo da reten��o aqui? N�o � poss�vel que todos tenham esquecido a senha, com licen�a, sou o monitor-chefe... E ent�o foi baixando um sil�ncio sobre os alunos a come�ar pelos que estavam na frente, dando a impress�o de que uma friagem se espalhava pelo corredor. Eles ouviram Percy dizer, numa voz repentinamente alta e esgani�ada: � Algu�m vai chamar o Prof�. Dumbledore. Depressa. As cabe�as dos alunos se viraram; os que estavam atr�s se esticaram nas pontas dos p�s. � Que � que est� acontecendo? � perguntou Gina, que acabara de chegar. Instantes depois, o Prof�. Dumbledore chegou deslizando, imponente, em dire��o ao retrato; os alunos da Grif�n�ria se comprimiram para deix�-lo passar, e Harry, Rony e Hermione se aproximaram para ver qual era o problema. � Essa, n�o... � a garota agarrou o bra�o de Harry. A Mulher Gorda desaparecera do retrato, que fora cortado com tanta viol�ncia que as tiras de tela se amontoavam no ch�o; grandes peda�os do retrato haviam sido completamente arrancados. Dumbledore deu uma olhada r�pida no retrato destru�do, virou-se, o olhar sombrio e viu os professores McGonagoall, Lupin e Snape que vinham apressados ao seu encontro. � Precisamos encontr�-la � disse Dumbledore. � Prof�. McGonagall, por favor localize o Sr. Filch imediatamente e diga-lhe que procure a Mulher Gorda em todos os quadros do castelo. � Vai precisar de sorte! � disse uma voz gargalhante. Era Pirra�a, o poltergeist, sobrevoando professores e alunos, encantado, como sempre, � vista de desastres e preocupa��es. � Que � que voc� quer dizer com isso, Pirra�a? � perguntou Dumbledore calmamente e o sorriso do poltergeist empalideceu um pouco. Ele n�o se atrevia a atormentar o diretor. Em vez disso, adotou uma voz untuosa que n�o era nada melhor do que a sua gargalhada escandalosa. � Vergonha, Sr. Diretor. N�o quer ser vista. Est� horrorosa. Eu a vi correndo por uma paisagem no quarto andar, Sr. Diretor, se escondendo entre as �rvores. Chorando de cortar o cora��o � informou ele, satisfeito. � Coitada � acrescentou em tom pouco convincente. � Ela disse quem foi que fez isso? � perguntou Dumbledore em voz baixa. � Ah, disse, Sr. Diretor � respondeu Pirra�a com ar de quem carrega uma grande bomba nos bra�os. � Ele ficou furioso porque ela n�o quis deix�-lo entrar, entende. � Pirra�a deu uma cambalhota no ar e sorriu para Dumbledore entre as pr�prias pernas. � Tem um g�nio danado, esse tal de Sirius Black. CAP�TULO NOVE A Amarga Derrota O Prof�. Dumbledore mandou todos os alunos da Grifin�ria voltarem ao Sal�o Principal, onde foram se reunir a eles, dez minutos depois, os alunos da Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina, todos parecendo extremamente atordoados. � Os professores e eu precisamos fazer uma busca meticulosa no castelo � disse o diretor aos alunos quando os professores McGonagall e Flitwick fecharam as portas do sal�o que davam para o sagu�o. � Receio que, para sua pr�pria seguran�a, voc�s ter�o que passar a noite aqui. Quero que os monitores montem guarda nas sa�das para o sagu�o e vou encarregar o monitor e a monitora chefes de cuidarem disso. Eles devem me informar imediatamente qualquer perturba��o que haja � acrescentou Dumbledore dirigindo-se a Percy, que assumiu um ar de enorme orgulho e import�ncia. � Mande um dos fantasmas me avisar. O Prof�. Dumbledore parou, quando ia deixando o sal�o, e disse: � Ah, sim, voc�s v�o precisar... Com um gesto displicente da varinha, as longas mesas se deslocaram para junto das paredes e, com um outro toque, o ch�o ficou coberto por centenas de fofos sacos de dormir de cor roxa. � Durmam bem � disse o Prof�. Dumbledore, fechando a porta ao passar. O sal�o imediatamente come�ou a zumbir com as vozes excitadas dos alunos; os da Grifin�ria contavam ao resto da escola o que acabara de acontecer. � Todos dentro dos sacos de dormir! � gritou Percy. � Andem logo e chega de conversa! As luzes v�o ser apagadas dentro de dez minutos! � Vamos, gente disse Rony a Harry e Hermione; e eles apanharam tr�s sacos de dormir e os arrastaram para um canto. � Voc�s acham que Black ainda est� no castelo? � cochichou Hermione, ansiosa. � � �bvio que Dumbledore acha que ele ainda pode estar � respondeu Rony. � � uma sorte ele ter escolhido esta noite, sabem � comentou Hermione quando entravam, completamente vestidos, nos sacos de dormir e apoiavam o corpo nos cotovelos para conversar. � A �nica noite em que n�o est�vamos na Torre... � Calculo que ele tenha perdido a no��o do tempo, j� que est� fugindo � disse Rony. � N�o percebeu que era Dia das Bruxas. Do contr�rio teria invadido o sal�o. Hermione estremeceu. A toda volta, os colegas se faziam a mesma pergunta: Como foi que ele entrou? � Vai ver ele sabe "aparatar" � sugeriu uma aluna da Corvinal, pr�xima. � Aparece de repente, sabe, sem ningu�m ver de onde. � Provavelmente se disfar�ou disse um quintanista da Lufa-Lufa. � Vai ver ele voou � sugeriu Dino Thomas. � Francamente, ser� que eu fui a �nica pessoa que se deu ao trabalho de ler Hogwarts, uma Hist�ria? � perguntou Hermione, zangada, a Rony e Harry. � Provavelmente � disse Rony. � Por qu�? � Porque o castelo n�o est� protegido s� por paredes, sabem. Recebeu todo o tipo de feiti�o, para impedir as pessoas de entrarem escondidas. Ningu�m pode simplesmente aparatar aqui. E eu gostaria de ver qual � o disfarce que � capaz de enganar os dementadores. Eles est�o guardando todas as entradas da propriedade. Teriam visto se Black entrasse voando. E Filch conhece todas as passagens secretas e os funcion�rios ter�o coberto todas... � As luzes v�o ser apagadas agora! � anunciou Percy. � Quero todo mundo dentro dos sacos de dormir, de boca calada! Todas as velas se apagaram ao mesmo tempo. A �nica luz agora vinha dos fantasmas prateados, que flutuavam no ar em s�rias conversas com os monitores, e do teto encantado, que reproduzia o c�u estrelado l� fora. Com isso e mais os sussurros que continuavam a encher o sal�o, Harry se sentia como se estivesse dormindo ao ar livre, tocado por um vento suave. De hora em hora, um professor aparecia no sal�o para verificar se estava tudo calmo. Por volta das tr�s horas da manh�, quando muitos alunos tinham finalmente adormecido, o Prof�. Dumbledore entrou no sal�o. Harry observou-o procurar por Percy, que estivera fazendo a ronda entre os sacos de dormir, ralhando com as pessoas que continuavam a conversar. O monitor-chefe estava a uma pequena dist�ncia de Harry, Rony e Hermione, que depressa fingiram estar dormindo ao ouvirem os passos de Dumbledore se aproximarem. � Algum sinal dele, professor? � perguntou Percy num cochicho. � N�o. Est� tudo bem aqui? � Tudo sob controle, diretor. � �timo. N�o tem sentido transferir os alunos agora. Arranjei um guardi�o tempor�rio para o buraco do retrato na Grifin�ria. Voc� poder� lev�-los de volta amanh�. � E a Mulher Gorda, diretor? � Escondida em um mapa de Argyllshire no segundo andar. Aparentemente se recusou a deixar Black entrar sem a senha, ent�o o bandido a atacou. Ela ainda est� muito perturbada, mas assim que se acalmar, vou mandar Filch restaur�-la. Harry ouviu a porta do sal�o se abrir mais uma vez, rangendo, e novos passos. � Diretor? � Era Snape. Harry ficou muito quieto, prestando a maior aten��o. � Todo o terceiro andar foi revistado. Ele n�o est� l�. E Filch verificou as masmorras; n�o h� ningu�m, tampouco. � E a torre da Astronomia? A sala da Prof�. Trelawney? O corujal? � Tudo revistado... � Muito bem, Severo. Eu n�o esperava realmente que Black se demorasse. � O senhor tem alguma teoria sobre o modo com que ele entrou, professor? � perguntou Snape. Harry levantou a cabe�a um pouquinho para destampar a outra orelha. � Muitas, Severo, cada uma mais improv�vel do que a outra. Harry abriu os olhos minimamente e espiou para o lado onde os tr�s se encontravam; Dumbledore estava de costas para ele, mas dava para ver o rosto de Percy inteiramente absorto e o perfil de Snape, que parecia zangado. � O senhor se lembra da conversa que tivemos, diretor, antes... Ah... Do come�o do ano letivo? � perguntou Snape, que mal abria os l�bios para falar, como se quisesse impedir Percy de ouvir. � Lembro, Severo � disse Dumbledore, e sua voz tinha um tom de aviso. � Parece... Quase imposs�vel... Que Black possa ter entrado na escola sem ajuda de algu�m aqui dentro. Expressei minhas preocupa��es quando o senhor nomeou... � N�o acredito que uma �nica pessoa no castelo tenha ajudado Black a entrar � disse Dumbledore, e seu tom deixou t�o claro que o assunto estava encerrado que Snape se calou. � Preciso descer para falar com os dementadores -disse Dumbledore. � Prometi que avisaria quando a nossa busca estivesse terminada. � Eles n�o quiseram ajudar, diretor? � perguntou Percy. � Ah, claro � disse Dumbledore com frieza. � Mas receio que nenhum dementador ir� cruzar a soleira deste castelo enquanto eu for diretor. Percy pareceu ligeiramente desconcertado. Dumbledore saiu do sal�o r�pida e silenciosamente. Snape continuou parado um instante observando o diretor com uma express�o de profundo rancor no rosto; em seguida tamb�m saiu. Harry olhou de esguelha para Rony e Hermione. Os dois tamb�m tinham os olhos abertos nos quais se refletia o teto estrelado. � De que � que eles estavam falando? � perguntou Rony, apenas com o movimento dos l�bios. Nos dias que se seguiram n�o se falou de mais nada na escola sen�o de Sirius Black. As teorias sobre o modo com que Black entrara no castelo se tornaram mais e mais delirantes; Ana Abbort, da Lufa-Lufa, passou a maior parte da aula conjunta de Herbologia, contando para quem quisesse ouvir que Black era capaz de se transformar em um arbusto florido. A tela rasgada da Mulher Gorda fora retirada da parede e substitu�da pela pintura de Sir Cadogan e seu gordo p�nei cinzento. Ningu�m ficou muito feliz com a troca. O cavaleiro passava metade do tempo desafiando os garotos a duelar e no tempo restante inventava senhas ridiculamente complicadas, que ele trocava no m�nimo duas vezes por dia. � Ele � completamente doido � protestou Simas Finnigan, aborrecido, com Percy. � Ser� que n�o podiam nos dar outro? � Nenhum dos outros quadros quis o lugar � disse Percy. � Se assustaram com o que aconteceu com a Mulher Gorda. Sir Cadogan foi o �nico que teve coragem suficiente para se voluntariar. O cavaleiro, por�m, era a menor das preocupa��es de Harry. Ele agora estava sendo vigiado de perto. Os professores procuravam desculpas para acompanh�-lo quando ele andava pelos corredores, e Percy Weasley (agindo, suspeitava Harry, por ordem da m�e) seguia-o a toda parte como um c�o de guarda extremamente pomposo. Para completar, a Prof�. Minerva chamou Harry � sua sala, com uma express�o t�o sombria no rosto que o garoto achou que algu�m devia ter morrido. � N�o adianta lhe esconder isso por mais tempo, Potter � come�ou ela em tom muito s�rio. � Sei que vai ser um choque para voc�, mas Sirius Black... � Eu sei, est� querendo me pegar � disse Harry cansado. � ouvi O pai de Rony contar � Sra. Weasley. O Sr. Weasley trabalha para o Minist�rio da Magia. A professora pareceu muito espantada. Encarou Harry por um instante e em seguida falou. � Entendo! Bem, neste caso, Potter, voc� vai compreender por que n�o acho uma boa id�ia voc� treinar Quadribol � noite. L� fora no campo s� com os outros jogadores, � muito exposto, Potter... � O nosso primeiro jogo � agora no s�bado! � exclamou Harry, indignado. � Preciso treinar, professora! Minerva mirou-o com muita aten��o. Harry conhecia o grande interesse da professora pelas perspectivas da equipe da Grifin�ria; afinal fora ela que o recomendara como apanhador, para in�cio de conversa. Por isso aguardou, prendendo a respira��o. � Hum... � a Prof�. Minerva se levantou e contemplou pela janela o campo de Quadribol, quase invis�vel na chuva. � Bem, Deus sabe que eu gostaria de nos ver ganhando finalmente a Ta�a... Mas mesmo assim, Potter... Eu ficaria mais satisfeita se um professor estivesse presente. Vou pedir � Madame Hooch para supervisionar os seus treinos. O tempo foi piorando dia a dia, � medida que a primeira partida de Quadribol se aproximava. Sem desanimar, a equipe da Grifin�ria treinava com mais vigor que nunca sob o olhar vigilante de Madame Hooch. Ent�o, no �ltimo treino antes do jogo de s�bado, Ol�vio Wood deu ao time uma not�cia indesej�vel. � N�o vamos jogar com Sonserina! � disse aos companheiros, parecendo muito zangado. � Flint acabou de me procurar. Vamos jogar contra Lufa-Lufa. � Por qu�? � perguntou o restante do time em coro. � A desculpa de Flint � que o bra�o do apanhador do time ainda est� machucado � respondeu Ol�vio, rilhando furiosamente os dentes. � Mas � �bvio por que est�o fazendo isto. N�o querem jogar com tempo ruim. Acham que vai reduzir as chances deles... Tinha ventado forte e chovido pesado o dia inteiro e mesmo enquanto Ol�vio falava ouvia-se o ronco distante do trov�o. � N�o h� nada errado com o bra�o do Malfoy! � disse Harry, furioso. � � tudo fingimento. � Eu sei disso, mas n�o podemos provar � argumentou Ol�vio amargurado. � E temos treinado todos esses lances na suposi��o de que �amos jogar com Sonserina, e, em vez disso, ser� com Lufa-Lufa que tem um estilo muito diferente. Agora eles est�o com um capit�o novo que tamb�m � o apanhador, Cedrico Diggory... Angelina, Alicia e Katie tiveram um repentino acesso de risadinhas. � Qu�? � exclamou Ol�vio, fechando a cara para esse comportamento alegre. � � aquele alto e bonito, n�o �? � perguntou Angelina. � Forte e calad�o � concluiu Katie, e as tr�s recome�aram a rir. � Ele s� � calad�o porque � burro demais para juntar duas palavras � comentou Fred, impaciente. � N�o sei por que voc� est� preocupado, Ol�vio, Lufa-Lufa � brincadeira de crian�a. Da �ltima vez que jogamos com eles, Harry capturou o pomo em cinco minutos, n�o se lembram? � Est�vamos jogando em condi��es completamente diferentes � gritou Ol�vio, os olhos saltando ligeiramente das �rbitas. � Diggory armou uma lateral muito forte! E � um excelente apanhador! Eu estava com medo que voc�s fizessem essa leitura falsa! N�o podemos relaxar! Temos que manter o nosso foco! Sonserina est� tentando nos prejudicar! Precisamos ganhar! � Ol�vio, v� se se acalma! � disse Fred, ligeiramente assustado. � Estamos levando Lufa-Lufa muito a s�rio. S�rio. Um dia antes da partida, o vento come�ou a uivar e a chuva a cair com mais for�a que nunca. Estava t�o escuro nos corredores e salas de aula que foi preciso acender mais archotes e lanternas. Os jogadores do time da Sonserina estavam de fato com um ar muito presun�oso e Malfoy mais que todos. � Ah, se ao menos meu bra�o estivesse um pouquinho melhor! � suspirava ele enquanto a tempestade l� fora a�oitava as janelas. Harry n�o tinha lugar na cabe�a para se preocupar com coisa alguma exceto o jogo do dia seguinte. Ol�vio Wood n�o parava de correr para ele nos intervalos das aulas para lhe passar novas dicas. A terceira vez que isto aconteceu, Ol�vio falou tanto tempo que Harry, de repente, percebeu que se atrasara dez minutos para a aula de Defesa contra as Artes das Trevas e saiu correndo com Ol�vio gritando atr�s dele. � Diggory muda de dire��o muito r�pido, Harry, quem sabe voc� tenta cerc�-lo... Harry parou derrapando diante da classe de Defesa contra as Artes das Trevas, abriu a porta e entrou correndo. � Me desculpe o atraso, Prof�. Lupin, eu... Mas n�o foi Lupin quem levantou a cabe�a para olh�-lo da escrivaninha do professor; foi Snape. � A aula come�ou h� dez minutos, Potter, por isso acho que vou tirar dez pontos da Grifin�ria. Sente-se. Mas Harry n�o se mexeu. � Onde est� o Prof�. Lupin? � perguntou. � Ele disse que hoje est� se sentindo mal demais para dar aula � respondeu Snape com um sorriso enviesado. � Acho que o mandei sentar-se? Mas Harry continuou onde estava. � Que � que ele est� sentindo? Os olhos negros de Snape reluziram. � Nada que ameace a vida dele � disse, com cara de quem gostaria que assim fosse. � Cinco pontos a menos para Grifin�ria, e se eu tiver que pedir para voc� se sentar novamente, ser�o cinq�enta. Harry dirigiu-se lentamente ao seu lugar e se sentou. Snape olhou para a turma. � Como eu ia dizendo antes de ser interrompido por Potter, o Prof�. Lupin n�o registrou os t�picos que j� abordou at� hoje... � Professor, por favor, j� estudamos os bichos-pap�es, os barretes vermelhos, os kappas e os grindylows � informou Hermione depressa �, e �amos come�ar... � Fique calada � disse Snape friamente. � N�o lhe pedi informa��o, estava apenas comentando a falta de organiza��o do Prof�. Lupin. � Ele � o melhor professor de Defesa contra as Artes das Trevas que j� tivemos � falou Dino Thomas corajosamente, e ouviu-se um murm�rio de aprova��o do resto da turma. Snape pareceu mais amea�ador que nunca. � Voc�s se satisfazem com muito pouco. Lupin n�o est� puxando nada por voc�s. Eu esperaria que alunos de primeiro ano j� pudessem cuidar de barretes vermelhos e grindylows. Hoje vamos discutir... Harry observou-o folhear o livro-texto at� o �ltimo cap�tulo, que ele certamente sabia que a turma n�o poderia ter estudado. � ... Lobisomens � disse Snape. � Mas, professor � protestou Hermione, aparentemente incapaz de se conter �, n�o podemos estudar Lobisomens ainda, vamos come�ar os hinkypunks... � Srta. Granger � disse Snape com uma voz letalmente calma �, eu tinha a impress�o de que era eu que estava dando a aula e n�o a senhorita. E estou mandando todos abrirem a p�gina 394 do livro. � Ele correu os olhos pela turma outra vez. � Todos Agora! Com muitos olhares rancorosos de esguelha e gente resmungando, a turma abriu os livros. � Qual de voc�s sabe me dizer como � que se distingue um Lobisomen de um lobo verdadeiro? � perguntou Snape. Todos ficaram calados e im�veis; todos exceto Hermione, cuja m�o, como acontecia tantas vezes, se erguera imediatamente no ar. � Algu�m sabe? � insistiu Snape, fingindo n�o ver a m�o da garota. Seu sorriso enviesado reaparecera. � Voc�s est�o me dizendo que o Prof�. Lupin sequer ensinou a voc�s a diferen�a b�sica entre... � N�s j� lhe informamos � interrompeu-o Parvati de repente �, ainda n�o chegamos aos Lobisomens, ainda estamos... � Sil�ncio! � mandou Snape com rispidez. � Ora, ora, ora, nunca pensei que um dia encontraria uma turma de terceiro ano que n�o soubesse reconhecer um Lobisomen quando o visse. Vou fazer quest�o de informar ao Prof�. Dumbledore como voc�s est�o atrasados... � Professor, por favor � tornou a pedir Hermione, cuja m�o continuava erguida �, o Lobisomen se diferencia do lobo verdadeiro por pequenos detalhes. O focinho do Lobisomen... � Esta � a segunda vez que a senhorita fala sem ser convidada � disse Snape friamente. � Menos cinco pontos para Grifin�ria por ser uma intrag�vel sabe-tudo. Hermnione ficou vermelh�ssima, baixou a m�o e ficou olhando para o ch�o com os olhos cheios de l�grimas. Um sinal do quanto � turma detestava Snape era que todos olharam feio para ele, porque todos os alunos j� tinham chamado Hermione de sabe-tudo pelo menos uma vez, e Rony, que xingava Hermione de sabe-tudo pelo menos duas vezes por semana, falou em voz alta: � O senhor nos fez uma pergunta e Hermione sabe a resposta! Por que perguntou se n�o queria que ningu�m respondesse? A turma percebeu instantaneamente que o colega fora longe demais. Snape caminhou at� Rony lentamente, e a sala prendeu a respira��o. � Deten��o, Weasley � disse Snape suavemente, o rosto muito pr�ximo ao do garoto. � e se algum dia eu o ouvir criticar o meu modo de ensinar outra vez, o senhor vai realmente se arrepender. Ningu�m mais deu um pio durante o resto da aula. Ficaram sentados copiando dados sobre os Lobisomens do livro-texto, enquanto Snape rondava as filas de carteiras, examinando o trabalho que os alunos tinham feito com o Prof�. Lupin. � Uma explica��o muito insuficiente... Isto est� errado, o kappa � encontrado mais comumente na Mong�lia... O Prof�. Lupin deu nota oito em dez? Eu teria dado tr�s.. Quando a sineta finalmente tocou, Snape reteve a turma. � Cada aluno vai escrever uma reda��o para me entregar, sobre as maneiras de reconhecer e matar Lobisomens. Quero dois rolos de pergaminho sobre o assunto e quero para segunda-feira de manh�. Est� na hora de algu�m dar um jeito nesta turma. Weasley, voc� fica, precisamos combinar a sua deten��o. Harry e Hermione sa�ram da sala com o resto da turma, que esperou at� estar bastante longe para n�o ser ouvida e prorrompeu em furiosos discursos contra Snape. � Snape nunca foi assim com nenhum dos outros professores de Defesa contra as Artes das Trevas, mesmo que quisesse o cargo deles � comentou Harry com Hermione. � Por que est� perseguindo o Lupin? Voc� acha que tudo isso � por causa dos bichos-pap�es? � N�o sei � disse Hermione pensativa. Mas vou realmente torcer para o Prof�. Lupin melhorar logo... Rony alcan�ou-os cinco minutos depois, com uma raiva descomunal. � Voc�s sabem o que aquele... � (e xingou Snape de uma coisa que fez Hermione exclamar "Rony!") � vai me obrigar a fazer? Tenho que lavar as comadres da ala hospitalar Sem usar magia! � O garoto respirava fundo, os punhos cerrados. � Por que o Black n�o podia ter se escondido na sala de Snape, hein? Podia ter acabado com ele para n�s! Harry acordou extremamente cedo na manh� seguinte; t�o cedo que ainda estava escuro. Por um momento pensou que tinha sido acordado pelos rugidos do vento. Ent�o, sentiu uma brisa gelada na nuca e sentou-se na cama de um salto � Pirra�a, o poltergeist, andara flutuando ao lado dele, soprando com for�a em seu ouvido. � Para que voc� fez isso? � perguntou Harry, furioso. Pirra�a encheu as bochechas de ar, soprou com for�a e disparou de costas para fora do dormit�rio, dando gargalhadas. Harry tateou procurando o despertador e olhou para o mostrador. Eram quatro e meia. Amaldi�oando Pirra�a, ele se virou e tentou voltar a dormir, mas era muito dif�cil, agora que estava acordado, n�o dar aten��o � trovoada que roncava no c�u, ao vento que fustigava com viol�ncia as paredes do castelo e �s �rvores que rangiam ao longe, na Floresta Proibida. Dentro de algumas horas ele estaria l� fora no campo de Quadribol, enfrentando a tempestade. Por fim, ele perdeu as esperan�as de voltar a dormir, se levantou e se vestiu, apanhou a Nimbus 2000 e saiu silenciosamente do dormit�rio. Quando abriu a porta, alguma coisa passou ro�ando por sua perna. Ele se abaixou bem a tempo de agarrar Bichento pela ponta do grosso rabo e arrast�-lo para fora. � Sabe, acho que Rony tem raz�o sobre voc� � disse Harry, desconfiado, a Bichento. � H� uma quantidade de ratos no castelo � v� ca��-los. V� indo � acrescentou o garoto, empurrando Bichento com o p� para faz�-lo descer a escada. � Deixa o Perebas em paz. O ru�do da tempestade era ainda mais alto na sala comunal. Harry sabia que n�o adiantava imaginar que a partida seria cancelada; as disputas de Quadribol n�o eram desmarcadas por ninharias como trovoadas. Ainda assim, ele estava come�ando a se sentir apreensivo. Ol�vio lhe apontara Cedrico Diggory no corredor; o garoto era aluno do quinto ano e muito maior do que Harry. Os apanhadores geralmente eram leves e velozes, mas o peso de Diggory seria uma vantagem com um tempo desses porque seria menor a probabilidade do apanhador ser tirado de curso. Harry matou as horas at� amanhecer diante da lareira, levantando-se de vez em quando para impedir Bichento de tornar a subir, escondido, a escada para o dormit�rio dos garotos. Finalmente, ele calculou que j� devia ser hora do caf� da manh�, ent�o se dirigiu sozinho ao buraco do retrato. � Pare e lute, seu c�o sarnento! � berrou Sir Cadogan. � Ah, cala essa boca � bocejou Harry Ele se reanimou um pouco com uma grande tigela de mingau de aveia, e, no momento em que come�ou a comer torradas, o restante da equipe aparecera no Sal�o. � Vai ser uma partida dura � comentou Ol�vio, que n�o queria comer nada. � Pare de se preocupar, Ol�vio � disse Alicia para tranq�iliz�-lo �, n�o vamos derreter com uma chuvinha � toa. Era muit�ssimo mais do que uma chuvinha. Mas tal era a popularidade do Quadribol que a escola inteira apareceu para assistir � partida, como sempre. Os jogadores, no entanto, desceram os jardins em dire��o ao campo, as cabe�as curvadas contra a ferocidade do vento, os guarda-chuvas arrancados de suas m�os. Pouco antes de entrar no vesti�rio, Harry viu Malfoy, Grabbe e Goyle, rindo e apontando para ele protegidos por um enorme guarda-chuva, a caminho do est�dio. O time vestiu o uniforme escarlate e aguardou o discurso de Ol�vio que antecedia as partidas, mas n�o houve discurso. O capit�o tentou falar v�rias vezes, fez um ru�do esquisito de quem engole, depois sacudiu a cabe�a, desalentado, e fez sinal para os companheiros o seguirem. O vento estava t�o forte que eles entraram em campo cambaleando para os lados. Se os espectadores estavam aplaudindo, os aplausos eram abafados por novos roncos de trov�o. A chuva batia nos �culos de Harry. Como � que ele ia enxergar o pomo desse jeito? Os jogadores da Lufa-Lufa se aproximavam pelo lado oposto do campo, usando vestes amarelo-can�rio. Os capit�es foram ao encontro um do outro e se apertaram as m�os; Diggory sorriu para Wood, mas este agora n�o conseguia abrir a boca, parecia estar sofrendo de t�tano, e fez um mero aceno com a cabe�a. Harry viu a boca de Madame Hooch formar as palavras "Montem em suas vassouras". Ele puxou o p� direito pingando lama e passou-o por cima de sua Nimbus 2000. Madame Hooch levou o apito � boca e soprou, um som agudo e distante � e a partida come�ou. Harry subiu depressa, mas o vento puxava sua Nimbus ligeiramente para o lado. Ele a segurou o mais firme que p�de e deu uma guinada, apertando os olhos contra a chuva. Cinco minutos depois, estava molhado at� os ossos e enregelado, mal conseguia ver os companheiros de equipe e muito menos o min�sculo pomo. Voou para frente e para tr�s cruzando o campo e deixando pelo caminho vultos difusos vermelhos e amarelos, sem ter a menor id�ia do que estava acontecendo no resto da partida. N�o conseguia ouvir os coment�rios por causa do vento. Os espectadores se ocultavam sob um mar de capas e guarda-chuvas arrebentados. Duas vezes Harry esteve muito perto de ser derrubado por um bala�o; seus �culos estavam t�o emba�ados pela chuva que ele n�o os vira se aproximar. Harry perdeu a no��o do tempo. Tinha cada vez maior dificuldade de se manter aprumado na vassoura. O c�u escurecia, como se a noite tivesse decidido chegar mais cedo. Duas vezes Harry quase colidiu com outro jogador, sem saber se era um companheiro de equipe ou um oponente; todos agora estavam t�o encharcados, e a chuva t�o grossa que ele mal conseguia distinguir algu�m... Com o primeiro rel�mpago ouviu-se o som do apito de Madame Hooch; Harry conseguiu mal e mal discernir, atrav�s da chuva, os contornos de Ol�vio, que fazia sinal para ele pousar. O time inteiro enfiou os p�s na lama. � Eu pedi tempo! � berrou Ol�vio para seu time. � Venham at� aqui embaixo... Os jogadores se agruparam na borda do campo debaixo de um grande guarda-chuva; Harry tirou os �culos e enxugou-os, apressado, nas vestes. � Qual � o placar? � Estamos cinq�enta pontos na frente � informou Ol�vio �, mas a n�o ser que capturemos logo o pomo, vamos jogar noite adentro. � N�o tenho a menor chance com isso aqui � disse Harry exasperado, agitando os �culos. Naquele exato instante, Hermione apareceu do lado dele; segurava a capa por cima da cabe�a e inexplicavelmente tinha um largo sorriso no rosto. � Tenho uma id�ia, Harry! Me d� seus �culos, depressa! O garoto entregou os �culos e, enquanto o time observava espantado, Hermione deu uma pancadinha neles com a varinha e disse: � Impervius! � Pronto! � disse, devolvendo os �culos a Harry. � Isto vai repelir a �gua! Wood fez cara de quem seria capaz de beij�-la. � Genial! � gritou rouco para a garota que desapareceu no meio dos espectadores. � Muito bem, time, agora vamos arrebentar! O feiti�o de Hermione resolvera o problema. Harry ainda estava insens�vel de tanto frio, ainda mais molhado do que jamais estivera na vida, mas conseguia ver. Cheio de renovada determina��o, ele impeliu a vassoura pelo ar turbulento, espiando para todos os lados � procura do pomo, evitando um bala�o, mergulhando por baixo de D�ggory, que voava na dire��o oposta... Ouviu-se novamente o trov�o, acompanhando um raio bifurcado. A partida estava ficando mais perigosa a cada minuto. Harry precisava chegar ao pomo depressa... Ele se virou, tencionando rumar para o centro do campo, mas naquele momento, outro rel�mpago iluminou as arquibancadas e Harry viu algo que o distraiu completamente... A silhueta de um enorme c�o negro e peludo, claramente recortada contra o c�u, im�vel na �ltima fila de cadeiras vazias. As m�os dormentes de Harry escorregaram do cabo da vassoura e sua Nimbus afundou alguns palmos. Sacudindo a franja encharcada para longe da testa, ele tornou a apertar os olhos para ver as arquibancadas. O c�o desaparecera. � Harry! � ele ouviu a voz angustiada de Wood vinda das balizas da Grifin�ria: � Harry, atr�s de voc�! Harry olhou a toda volta desesperado. Cedrico Diggory subia em grande velocidade e havia entre os dois um gr�ozinho dourado brilhando no ar varrido de chuva... Com um tremor de p�nico, Harry se achatou contra o cabo da vassoura e disparou em dire��o ao pomo. � Anda! � rosnou ele para a Nimbus, a chuva fustigando seu rosto. � Mais depressa! Mas alguma coisa estranha estava acontecendo. Um sil�ncio inexplic�vel foi caindo sobre o est�dio. O vento, embora continuasse forte, se esqueceu momentaneamente de rugir. Era como se algu�m tivesse desligado o som, como se Harry, de repente, tivesse ficado surdo. � Que � que estava acontecendo? Ent�o uma onda de frio terrivelmente familiar o assaltou, penetrou seu corpo, no mesmo instante em que ele tomava consci�ncia de algo que andava l� embaixo no campo... Antes que tivesse tempo para pensar, Harry desviou os olhos do pomo e olhou para baixo. No m�nimo cem dementadores apontavam os rostos encapuzados para ele. Era como se houvesse �gua gelada subindo at� o seu peito, cortando os lados do seu corpo. E ent�o ele ouviu outra vez... Algu�m gritava, gritava dentro de sua cabe�a... Uma mulher... � "O Harry n�o, o Harry n�o, por favor o Harry n�o!� � �Afaste-se, sua tola... Afaste-se, agora...� � "O Harry n�o, por favor, n�o, me leve, me mate no lugar dele...� Uma n�voa anestesiante rodopiava enchendo o c�rebro de Harry... Que � que ele estava fazendo? Por que � que estava voando? Precisava ajud�-la... Ela ia morrer... Ia ser assassinada... Ele foi caindo, caindo sem parar pela n�voa gelada. � "Harry n�o! Por favor.. Tenha piedade... tenha piedade...� Uma voz aguda gargalhava, a mulher gritava, e Harry perdeu a consci�ncia. � Que sorte que o ch�o estava t�o mole. � Achei que ele estava mortinho. � Mas ele nem quebrou os �culos. Harry ouvia as vozes murmurarem, mas n�o faziam sentido algum. N�o tinha a menor id�ia de onde estava ou como chegara ali, ou o que andara fazendo antes de chegar. S� sabia que cada cent�metro do seu corpo estava doendo como se ele tivesse levado uma surra. � Foi a coisa mais apavorante que j� vi na vida. Mais apavorante... A coisa mais apavorante... Vultos negros encapuzados... Frio... Gritos... Harry abriu os olhos de repente. Estava deitado na ala hospitalar. O time de Quadribol da Grifin�ria, sujo de lama da cabe�a aos p�s, rodeava sua cama. Rony e Hermione tamb�m estavam ali, parecendo que tinham acabado de sair de uma piscina. � Harry! � exclamou Fred, cujo rosto estava extremamente p�lido sob a lama. � Como � que voc� est� se sentindo? Era como se a mem�ria de Harry estivesse avan�ando em alta velocidade. O rel�mpago, o Sinistro, o pomo e os dementadores... � Que aconteceu? � perguntou, sentando-se na cama t�o de repente que todos reprimiram um grito de surpresa. � Voc� caiu da vassoura � contou Fred. � Deve ter ca�do... De uns quinze metros! � Pensamos que voc� tivesse morrido � disse Alicia tr�mula. Hermione fez um barulhinho esgani�ado. Tinha os olhos muito vermelhos. � Mas o jogo � perguntou Harry. � Que aconteceu? Vamos jogar outra vez? Ningu�m disse nada. A terr�vel verdade penetrou em Harry como uma pedrada. � N�s n�o... Perdemos? � Diggory apanhou o pomo � informou Jorge. � Logo depois de voc� cair. Ele n�o percebeu o que tinha acontecido. Quando olhou para tr�s e viu voc� no ch�o, tentou paralisar o jogo. Queria um novo jogo. Mas tiveram uma vit�ria justa... At� Ol�vio admite isso. � Onde est� Ol�vio? � perguntou Harry, percebendo subitamente a aus�ncia do capit�o do time. � Ainda est� no banho � respondeu Fred. � Achamos que ele est� tentando se afogar. Harry abaixou a cabe�a at� os joelhos, agarrando os cabelos com as m�os. Fred segurou-o pelos ombros e o sacudiu com for�a. � Anda, Harry, voc� nunca perdeu o pomo antes. � Tinha que haver uma primeira vez � disse Jorge. � Mas a coisa n�o terminou aqui � disse Fred. � Perdemos por uma diferen�a de cem pontos, certo? Ent�o se Lufa-Lufa perder para Corvinal e vencermos Corvinal e Sonserina... � Lufa-Lufa ter� que perder, no m�nimo, por duzentos pontos � disse Jorge. � Mas se eles vencerem Corvinal... � Nem pensar, Corvinal � bom demais. Mas se Sonserina perder para Lufa-Lufa... � Tudo depende do n�mero de pontos, uma margem de cem pontos a mais ou a menos... Harry ficou deitado ali, sem dizer uma palavra. Tinham perdido... Pela primeira vez na vida, ele perdera uma partida de Quadribol. Passados mais ou menos uns dez minutos, Madame Pomfrey veio dizer aos garotos que deixassem Harry em paz. � A gente volta para ver voc� mais tarde � disse Fred. � N�o fique se martirizando, Harry, voc� ainda � o melhor apanhador que j� tivemos. O time saiu, largando lama pelo caminho. Madame Pomfrey fechou a porta depois que eles passaram, uma express�o de censura no rosto. Rony e Hermione se aproximaram mais da cama de Harry. � Dumbledore ficou realmente furioso � contou Hermione com a voz tr�mula. � Nunca vi o diretor assim antes. Ele correu para o campo quando voc� come�ou a cair, agitou a varinha e voc� meio que desacelerou antes de bater no ch�o. Depois, virou a varinha para os dementadores. Disparou uma coisa prateada contra eles. Os caras abandonaram o est�dio na mesma hora... Ele ficou furioso que os dementadores tivessem entrado nos terrenos da escola. Ouvimos ele... � A� ele usou a magia para botar voc� numa padiola � disse Rony. � E saiu a p� at� a escola, com voc� flutuando do lado, na padiola. Todo mundo pensou que voc� estava... A voz dele foi morrendo, mas Harry nem notou. Estava pensando no que os dementadores tinham feito a ele... Na voz que gritava. Ergueu os olhos e deparou com Rony e Hermione observando-o com tanta afli��o que na mesma hora ele procurou uma coisa banal para dizer. � Algu�m apanhou a minha Nimbus? Rony e Hermione se entreolharam depressa. � Hum... � Que foi? � perguntou Harry, olhando de um para o outro. � Bem... Quando voc� caiu a vassoura foi levada pelo vento � disse Hermione, hesitante. � E? � E bateu... Bateu... Ah, Harry... Bateu no Salgueiro Lutador. As entranhas de Harry reviraram. O Salgueiro Lutador era uma �rvore violenta que se erguia sozinha no meio da propriedade. � E? � insistiu ele, temendo a resposta. � Bem, voc� conhece o Salgueiro Lutador � disse Rony. � Ele.. Ele n�o gosta que batam nele. � O Prof�. Flitwick trouxe a vassoura de volta pouco antes de voc� recuperar os sentidos � disse Hermione com uma voz m�nima. Devagarinho, ela foi se abaixando para apanhar uma saca aos seus p�s, despejou-a, e ca�ram na cama uns pedacinhos de madeira e gravetos, tudo que restava da fiel vassoura de Harry, enfim derrotada. CAP�TULO DEZ O Mapa do Maroto Madame Pomfrey insistiu em manter Harry na ala hospitalar pelo resto do fim de semana. Ele n�o discutiu nem se queixou, mas n�o deixou jogarem no lixo os estilha�os de sua Nimbus 2000. Sabia que era uma atitude burra, sabia que a vassoura n�o tinha conserto, mas o sentimento era mais forte que ele; era como se tivesse perdido um dos seus melhores amigos. Uma prociss�o de amigos veio visit�-lo, todos decididos a anim�-lo. Hagrid lhe mandou um buqu� de flores com lagartinhas, que pareciam repolhos amarelos, e Gina Weasley, corando furiosamente, apareceu com um cart�o de votos de sa�de, feito por ela mesma, que cantava com voz esgani�ada a n�o ser que Harry o guardasse fechado embaixo da fruteira. O time da Grifin�ria tornou a visitar o companheiro no domingo de manh�, desta vez em companhia de Ol�vio, que declarou a Harry (numa voz de al�m-t�mulo) que n�o o responsabilizava pela derrota. Rony e Hermione s� deixavam a cabeceira de Harry � noite. Mas nada que ningu�m dissesse ou fizesse conseguia faz�-lo se sentir melhor, porque eles s� conheciam metade das suas preocupa��es. Ele n�o contara a ningu�m que vira o Sinistro, nem a Rony nem a Hermione, porque sabia que o amigo entraria em p�nico e a amiga ca�oaria dele. O fato era, no entanto, que o Sinistro agora j� aparecera duas vezes e ambas as apari��es tinham sido seguidas por acidentes quase fatais; da primeira vez Harry quase fora atropelado pelo N�itibus Andante; da segunda, levara uma queda da vassoura de quase quinze metros de altura. Ser� que o Sinistro ia atorment�-lo at� a morte? Ser� que ele, Harry, ia passar o resto da vida olhando por cima do ombro � procura da fera? Al�m disso havia os dementadores. Harry sentia mal-estar e humilha��o toda vez que pensava neles. Todos diziam que os guardas eram medonhos, mas ningu�m desmaiava sempre que se aproximava deles. Ningu�m mais ouvia mentalmente os ecos da morte dos pais. Isto porque agora Harry sabia a quem pertencia a tal voz. Ouvira o que ela dizia, ouvira-a continuamente nas longas noites passadas na ala hospitalar quando ficava acordado, contemplando as listras que o luar formava no teto. Quando os dementadores se aproximavam, ele ouvia os �ltimos instantes de vida de sua m�e, sua tentativa de proteger o filho da sanha de Lord Voldemort e a gargalhada do bruxo antes de mat�-la... Harry dava breves cochilos, mergulhando em sonhos cheios de m�os podres e pegajosas e s�plicas fossilizadas, acordando de repente para voltar a pensar na voz da m�e. Foi um al�vio voltar � zoeira e � atividade da escola principal na segunda-feira, e ser for�ado a pensar em outras coisas, ainda que tivesse de aturar a implic�ncia de Draco Malfoy. O garoto n�o cabia em si de alegria com a derrota da Grifin�ria. Retirara finalmente as bandagens e comemorava a circunst�ncia de poder usar os dois bra�os novamente, fazendo espirituosas imita��es de Harry caindo da vassoura. Malfoy passou a maior parte da aula seguinte de Po��es, a que assistiram juntos na masmorra, fazendo imita��es dos dementadores; Rony finalmente se descontrolou e atirou um enorme e gosmento cora��o de crocodilo em Malfoy, que o atingiu no rosto, o que fez Snape descontar cinq�enta pontos da Grifin�ria. � Se Snape vier dar aula de Defesa contra as Artes das Trevas de novo, vou me mandar � anunciou Rony quando seguiam para a classe de Lupin depois do almo�o. � V� quem est� l�, Mione. A garota espiou pela porta da sala. � Tudo bem! O Prof�. Lupin voltara ao trabalho. Sem d�vida tinha a apar�ncia de quem estivera doente. Suas vestes velhas estavam mais frouxas e havia olheiras escuras sob seus olhos; ainda assim, ele sorriu para os garotos que ocupavam seus lugares na classe e, em seguida, desataram a se queixar do comportamento de Snape na aus�ncia de Lupin. � N�o � justo, ele estava s� substituindo o senhor, por que passou dever de casa? � N�o sabemos nada de Lobisomens... � Dois rolos de pergaminho! � Voc�s disseram ao Prof�. Snape que ainda n�o estudamos Lobisomens? � perguntou Lupin, franzindo ligeiramente a testa. A balb�rdia tornou a encher a sala. � Dissemos, mas ele respondeu que est�vamos muito atrasados... � Ele n�o quis ouvir.. � Dois rolos de pergaminho! O Prof�. Lupin sorriu ao ver a express�o indignada nos rostos dos alunos. � N�o se preocupem. Vou falar com o Prof�. Snape. N�o precisam fazer a reda��o. � Ah, n�o! � exclamou Hermione, muito desapontada. � J� terminei a minha. Tiveram uma aula muito gostosa. O Prof�. Lupin trouxera uma caixa de vidro contendo um hinkypunk, uma criaturinha de uma perna s�, que parecia feita de fiapos de fuma�a, a apar�ncia fr�gil e inofensiva. � O hinkypunk atrai os viajantes para os brejos � informou o professor enquanto os garotos faziam anota��es. � Voc�s repararam na lanterna que ele traz pendurada na m�o? Ele salta para frente... A pessoa acompanha a luz... Ent�o... A criatura fez um horr�vel barulho de suc��o contra o vidro da caixa. Quando a sineta tocou, todos guardaram o material e se dirigiram para a porta, Harry entre eles, mas... � Espere um instante, Harry � chamou Lupin. � Gostaria de dar uma palavrinha com voc�. Harry deu meia-volta e observou o professor cobrir a caixa do hinkypunk com um pano. � Soube do que houve no jogo � disse Lupin, virando-se para sua escrivaninha e come�ando a guardar os livros na maleta � e sinto muito pelo acidente com a sua vassoura. H� alguma possibilidade de consert�-la? � N�o � respondeu Harry. � A �rvore arrebentou-a em mil pedacinhos. Lupin suspirou. � Plantaram o Salgueiro Lutador no ano em que cheguei em Hogwarts. Os alunos costumavam brincar de tentar se aproximar do tronco e tocar a �rvore com a m�o. No fim, um garoto chamado Davi Gudgeon quase perdeu um olho e fomos proibidos de chegar perto do salgueiro. Uma vassoura n�o teria a menor chance. � O senhor soube dos dementadores tamb�m? � perguntou Harry com dificuldade. Lupin lan�ou um olhar r�pido a Harry. � Soube. Acho que nenhum de n�s tinha visto o Prof�. Dumbledore t�o aborrecido. H� algum tempo, eles est�o ficando inquietos... Furiosos com a recusa do diretor de deixar que entrem na propriedade... Suponho que tenham sido eles a raz�o da sua queda. � Foram. � Harry hesitou e, ent�o, a pergunta que queria fazer escapou de sua boca antes que pudesse cont�-la. � Por qu�? Por que eles me afetam desse jeito? Ser� que sou apenas.... � N�o tem nada a ver com fraqueza � respondeu o professor depressa, como se tivesse lido o pensamento de Harry. � Os dementadores afetam voc� pior do que os outros porque existem horrores no seu passado que n�o existem no dos outros. Um raio de sol de inverno entrou na sala, iluminando os cabelos grisalhos de Lupin e os tra�os do seu rosto jovem. � Os dementadores est�o entre as criaturas mais malignas que vagam pela Terra. Infestam os lugares mais escuros e imundos, se comprazem com a decomposi��o e o desespero, esgotam a paz, a esperan�a e a felicidade do ar � sua volta. At� os trouxas sentem a presen�a deles, embora n�o possam v�-los. Chegue muito perto de um dementador e todo bom sentimento, toda lembran�a feliz ser�o sugados de voc�. Se puder, o dementador se alimentar� de voc� o tempo suficiente para transform�-lo em um semelhante... Desalmado e mau. N�o deixar� nada em voc� exceto as piores experi�ncias de sua vida. E o pior que aconteceu com voc�, Harry, � suficiente para fazer qualquer um cair da vassoura. Voc� n�o tem do que se envergonhar. � Quando eles chegam perto de mim... � Harry fixou o olhar na mesa de Lupin, sentindo um n� na garganta �, ou�o Voldemort assassinando minha m�e. Lupin fez um movimento repentino com o bra�o como se fosse segurar o ombro de Harry, mas pensou melhor. Houve um momento de sil�ncio, depois... � Por que � que eles tinham que ir ao jogo? � exclamou o garoto amargurado. � Est�o ficando famintos � disse Lupin tranquilamente, fechando a maleta com um estalo. � Dumbledore n�o permite que eles entrem na escola, ent�o o suprimento de gente com que contavam secou... Acho que eles n�o conseguiram resistir � multid�o em torno do campo de Quadribol. Toda a excita��o... As emo��es exacerbadas... � a id�ia que fazem de um banquete. � Azkaban deve ser horr�vel � murmurou Harry. Lupin concordou, s�rio. � A fortaleza foi constru�da em uma ilhota, bem longe da costa, mas n�o precisam de paredes nem de �gua para manter os prisioneiros confinados, n�o quando eles j� est�o presos dentro da pr�pria cabe�a, incapazes de um �nico pensamento agrad�vel. A maioria enlouquece em poucas semanas. � Mas Sirius Black escapou � comentou Harry lentamente. � Fugiu... A maleta de Lupin escorregou da escrivaninha; ele teve que se abaixar depressa para apanh�-la no ar. � � � disse se endireitando. � Black deve ter encontrado uma maneira de combat�-los. Eu n�o teria acreditado que isto fosse poss�vel... Dizem que os dementadores esgotam os poderes de um bruxo que conviver um tempo demasiado longo com eles... � O senhor fez aquele dementador no trem recuar � disse Harry de repente. � H�... Certas defesas que se pode usar � disse Lupin. � Mas no trem havia apenas um dementador. Quanto maior o n�mero, mais dif�cil � resistir a eles. � Que defesas? � perguntou Harry em seguida. � O senhor pode me ensinar? � N�o tenho a pretens�o de ser um especialista no combate a dementadores, Harry... Muito ao contr�rio... � Mas se os dementadores forem a outro jogo de Quadribol, preciso saber lutar contra eles... Lupin avaliou o rosto decidido de Harry, hesitou, depois disse: � Bem... Est� bem. Vou tentar ajudar. Mas receio que voc� ter� de esperar at� o pr�ximo trimestre. Tenho muito que fazer antes das f�rias. Escolhi uma hora muito inconveniente para adoecer. Com a promessa de receber aulas antidementadores de Lupin, o pensamento de que talvez n�o precisasse mais ouvir a morte da m�e, e o fato de que Corvinal esmagara Lufa-Lufa na partida de Quadribol no final de novembro, o �nimo de Harry deu uma guinada definitiva para cima. Afinal, Grifin�ria n�o fora eliminada da competi��o, embora o time n�o pudesse se dar ao luxo de perder mais uma partida. Ol�vio tornou a ficar possu�do por uma energia obsessiva, e treinou com o time com mais empenho que nunca, na chuvinha g�lida e nevoenta que persistiu at� dezembro. Harry n�o viu nem sinal de dementador nos terrenos da escola. A f�ria de Dumbledore parecia ter funcionado para mant�-los em seus postos nas entradas. Duas semanas antes do fim do trimestre, o c�u clareou de repente at� atingir um branco leitoso e ofuscante, e os terrenos enlameados da escola amanheceram, certo dia, cobertos de cintilante geada. No interior do castelo, havia um rebuli�o de Natal no ar. Flitwick, o professor de Feiti�os, j� enfeitara sua sala de aula com luzes pisca-piscas que, quando foram ver, eram fadinhas voadoras de verdade. Os alunos estavam satisfeitos discutindo planos para as f�rias de Natal. Tanto Rony quanto Hermione haviam decidido permanecer em Hogwarts e, embora Rony dissesse que era porque n�o ia conseguir aturar Percy duas semanas, e Hermione insistisse que precisava consultar a biblioteca, Harry n�o se deixou enganar; sabia que era para lhe fazerem companhia e se sentiu muito grato. Para alegria de todos, exceto Harry, houve mais uma visita a Hogsmeade no �ltimo fim de semana do trimestre. � Podemos fazer todas as nossas compras de Natal l�! � exclamou Hermione. � Mam�e e papai iriam adorar receber fios dentais de menta da Dedosdemel! Resignado com a id�ia de que seria o �nico aluno do terceiro ano a n�o ir, Harry pediu emprestado a Ol�vio o livro Qual Vassoura, e resolveu passar o dia lendo sobre as diferentes marcas. Ele andara montando uma vassoura da escola nos treinos do time, uma velh�ssima Shooting Star, que era demasiado lenta e inst�vel; decididamente precisava de uma vassoura nova. Na manh� de s�bado em que os colegas iriam a Hogsmeade, Harry se despediu de Rony e Hermione, embrulhados em capas e cachec�is, tornou a subir a escadaria de m�rmore, sozinho, e tomou o caminho da Torre da Grifin�ria. A neve come�ara a cair do lado de fora das janelas e o castelo estava muito parado e silencioso. � Psiu... Harry! Ele se virou, a meio caminho do corredor do terceiro andar, e viu Fred e Jorge espiando-o atr�s da est�tua de uma bruxa corcunda, de um olho s�. � Que � que voc�s est�o fazendo? � perguntou Harry, curioso. � Voc�s n�o v�o a Hogsmeade? � Antes de ir viemos fazer uma festinha para animar voc� � disse Fred, com uma piscadela misteriosa. � Venha at� aqui... O garoto indicou com a cabe�a uma sala de aula vazia, � esquerda da est�tua de um olho s�. Harry acompanhou os g�meos. Jorge fechou a porta sem fazer barulho e se virou, sorrindo, para Harry. � Presente de Natal antecipado para voc�, Harry � anunciou. Fred tirou alguma coisa de dentro da capa com um gesto largo e colocou-a em cima de uma carteira. Era um peda�o de pergaminho, grande, quadrado e muito gasto, sem nada escrito na superf�cie. Harry, desconfiando que fosse uma daquelas brincadeiras de Fred e Jorge, ficou parado olhando para o presente. � E o que � que � isso? � perguntou. � Isso, Harry, � o segredo do nosso sucesso � disse Jorge, dando uma palmadinha carinhosa no pergaminho. � D�i na gente dar esse presente para voc� � disse Fred �, mas decidimos, na noite passada, que voc� precisa muito mais dele do que n�s. E, de qualquer maneira, j� o conhecemos de cor. � uma heran�a que vamos lhe deixar. Para falar a verdade, n�o precisamos mais dele. � E para que eu preciso de um peda�o de pergaminho velho? � perguntou Harry. � Um peda�o de pergaminho velho! � exclamou Fred, fechando os olhos com uma careta, como se Harry o tivesse ofendido mortalmente. � Explique a ele Jorge. � Bem... Quando est�vamos no primeiro ano, Harry... Jovens, descuidados e inocentes... Harry abafou uma risada. Duvidava se algum dia os g�meos teriam sido inocentes. � Bem, mais inocentes do que somos hoje... Nos metemos numa certa confus�o com Filch. � Soltamos uma bomba de bosta no corredor e por alguma raz�o ele ficou aborrecido... � Ent�o Filch nos arrastou at� a sala dele e come�ou a nos amea�ar com os castigos de costume... � ... Deten��o... � ... Nos arrancar as tripas... � ... E n�o pudemos deixar de reparar numa gaveta do arquivo dele em que estava escrito Confiscado e Muito Perigoso. � N�o precisam continuar... � exclamou Harry, come�ando a sorrir. � Bem, que � que voc� teria feito? � perguntou Fred. � Jorge soltou mais uma bomba de bosta para distrair Filch, eu abri depressa a gaveta e tirei... Isto. � N�o foi t�o desonesto quanto parece, sabe � comentou Jorge. � Calculamos que Filch nunca tivesse descoberto como usar o pergaminho. � Mas, provavelmente suspeitou o que era ou n�o o teria confiscado. � E voc�s sabem como usar? � Ah, sabemos � disse Fred, rindo. � Esta j�ia nos ensinou mais do que todos os professores da escola. � Voc�s est�o me gozando � disse Harry, olhando para o peda�o velho e rasgado de pergaminho. � Ah, �? � disse Jorge. Ele apanhou a varinha, tocou o pergaminho de leve e disse: � �Juro solenemente que n�o pretendo fazer nada de bom�. Na mesma hora, linhas de tinta muito finas come�aram a se espalhar como uma teia de aranha a partir do ponto em que a varinha de Jorge tocara. Elas convergiram, se cruzaram, se abriram como um leque para os quatro cantos do pergaminho; em seguida, no alto, come�aram a aflorar palavras, palavras grandes, floreadas, verdes, que diziam: Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinha e Pontas, fornecedores de recursos para bruxos malfeitores, t�m a honra de apresentar �O MAPA DO MAROTO�. Era um mapa que mostrava cada detalhe dos terrenos do castelo de Hogwarts. O mais not�vel, contudo, eram os pontinhos m�nimos de tinta que se moviam em torno do mapa, cada um com um r�tulo em letra min�scula. Pasmo, Harry se curvou para examinar melhor. Um pontinho, no canto superior esquerdo, mostrava que o Prof�. Dumbledore estava andando para l� e para c� em seu escrit�rio; a gata do zelador, Madame Nor-r-ra, rondava o segundo andar; e Pirra�a, o poltergeist, naquele momento saltitava pela sala de trof�us. E quando os olhos de Harry percorreram os corredores que t�o bem conhecia, ele notou mais uma coisa. O mapa mostrava um conjunto de passagens em que ele nunca entrara. E muitas pareciam levar... � ... Diretamente a Hogsmeade � disse Fred, acompanhando uma delas com o dedo. � S�o sete ao todo. At� agora Filch conhece essas quatro � ele as apontou �, mas temos certeza de que somente n�s conhecemos estas outras. N�o se preocupe com a passagem por tr�s do espelho no quarto andar. N�s a usamos at� o inverno passado, mas j� desabou, est� completamente bloqueada. E achamos que ningu�m jamais usou esta porque o Salgueiro Lutador foi plantado bem em cima da entrada. Mas, esta outra aqui leva diretamente ao por�o da Dedosdemel. N�s j� a usamos um monte de vezes. E como voc� talvez tenha notado, a entrada � bem ali do lado de fora da sala, na corcunda daquela velhota de um olho s�. � Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas � suspirou Jorge, dando um tapinha no cabe�alho do mapa. � Devemos tanto a eles. � Almas nobres, que trabalharam incansavelmente para ajudar novas gera��es de transgressores � disse Fred solenemente. � Certo � acrescentou Jorge depressa. � N�o se esque�a de limpar o mapa depois de us�-lo... � ... Sen�o qualquer um pode ler � recomendou Fred. � � s� bater com a varinha mais uma vez e dizer "Malfeito feito!", e o pergaminho torna a ficar branco. � Portanto, jovem Harry � disse Fred, numa incr�vel imita��o de Percy �, trate de se comportar. � Vejo voc� na Dedosdemel � despediu-se Jorge, piscando. Os g�meos deixaram a sala, sorrindo satisfeitos consigo mesmos. Harry ficou ali, contemplando o mapa milagroso. Acompanhou o pontinho de tinta Madame Nor-r-ra virar � esquerda e parar para cheirar alguma coisa no ch�o. Se Filch realmente n�o conhecia... Ele n�o teria que passar pelos dementadores... Mas mesmo enquanto continuava ali, transbordante de excita��o, uma coisa que ouvira, certa vez, o Sr. Weasley dizer aflorou em sua lembran�a. �Nunca confie em nada que � capaz de pensar, se voc� n�o pode ver onde fica o seu c�rebro�. O mapa era um daqueles objetos m�gicos perigosos sobre os quais o Sr. Weasley o prevenira... Recursos para bruxos malfeitores... Mas ent�o, raciocinou Harry, ele s� queria usar o mapa para ir a Hogsmeade, n�o era que quisesse roubar alguma coisa ou atacar algu�m... E Fred e Jorge j� o usavam havia anos, sem que nada de terr�vel tivesse acontecido... Harry acompanhou com o dedo a passagem secreta at� a Dedosdemel. Depois, subitamente, como se obedecesse a uma ordem, enrolou o mapa, guardou-o nas vestes e correu para a porta da sala de aula. Abriu-a uns dedinhos. N�o havia ningu�m do lado de fora. Com muito cuidado, esgueirou-se da sala at� as costas da est�tua da bruxa de um olho s�. Que era mesmo que devia fazer? Puxou outra vez o mapa e viu, para seu espanto, que um novo boneco de tinta aparecera no pergaminho, rotulado Harry Potter. Estava parado exatamente no mesmo lugar que o verdadeiro Harry, mais ou menos na metade do corredor do terceiro andar. Harry observou-o atentamente. Seu pequeno eu de tinta parecia estar tocando a bruxa com uma varinha m�nima. O garoto na mesma hora puxou a varinha real e deu um toque na est�tua. Nada aconteceu. Ele tornou a consultar o mapa. Um bal�o com um texto aparecera ao lado do seu boneco. Dentro do bal�o havia a palavra "Dissendium�. � Dissendium! � sussurrou Harry dando uma nova batida na bruxa de pedra. Na mesma hora, a corcunda da est�tua se abriu o suficiente para admitir uma pessoa bem magra. Harry deu uma espiada r�pida nos dois lados do corredor, guardou outra vez o mapa, se i�ou de cabe�a para dentro do buraco e deu um impulso para frente. Ele deslizou um bom peda�o, descendo o que parecia um escorrega de pedra e aterrissou na terra �mida e fria. Levantou-se, ent�o, olhando a toda volta. Estava escuro como breu. Harry ergueu a varinha e murmurou: � Lumus! � E p�de ver que se encontrava em uma passagem muito estreita, baixa e terrosa. Ergueu, ent�o, o mapa, tocou-o com a ponta da varinha e disse baixinho: � Malfeito feito! � O mapa ficou imediatamente branco. Ele o dobrou cuidadosamente, enfiou-o dentro das vestes, depois, o cora��o batendo r�pido, ao mesmo tempo excitado e apreensivo, Harry come�ou a andar. A passagem virava e tornava a virar, mais parecendo uma toca de coelho gigante do que qualquer outra coisa. Harry caminhou depressa por ela, trope�ando aqui e ali no ch�o acidentado, segurando a varinha com firmeza � sua frente. Levou uma eternidade, mas o garoto tinha o pensamento fixo na capacidade da Dedosdemel repor suas for�as. Depois do que lhe pareceu uma hora, a passagem come�ou a subir. Ofegante, Harry apertou o passo, o rosto quente, os p�s muito gelados. Dez minutos mais tarde, chegou ao p� de uns degraus de pedra muito gastos, que subiam a perder de vista. Tomando cuidado para n�o fazer barulho, Harry come�ou a subir. Cem degraus, duzentos degraus, perdeu a conta, olhando para os p�s... Ent�o, sem aviso, sua cabe�a bateu em alguma coisa dura. Parecia um al�ap�o. Harry ficou parado ali, massageando o cocuruto da cabe�a, apurando os ouvidos. N�o conseguia ouvir nenhum som em cima. Muito devagarinho, empurrou o al�ap�o e espiou pela borda. Deparou com um por�o, cheio de caixotes e caixas. Harry subiu pelo al�ap�o e tornou a fech�-lo. Ele se fundiu t�o perfeitamente com o soalho empoeirado que era imposs�vel saber que estava ali. O garoto avan�ou lentamente at� a escada de madeira que levava ao andar superior. Agora decididamente conseguia ouvir vozes, para n�o falar no tilintar de uma sineta e no abre e fecha de uma porta. Pensando no que deveria fazer, Harry, de repente, ouviu uma porta se abrir muito pr�ximo; algu�m ia descer a escada. � E traga mais uma caixa de lesmas gelatinosas, querido, eles praticamente levaram tudo... � disse uma voz feminina. Dois p�s desceram a escada. Harry pulou para tr�s de um enorme caixote e esperou os passos se distanciarem. Ouviu o homem deslocando caixas na parede oposta. Talvez n�o tivesse outra oportunidade... R�pida e silenciosamente, o garoto saiu abaixado do esconderijo e subiu as escadas; ao olhar para tr�s, viu um enorme traseiro e uma careca reluzente enfiada em uma caixa. Harry alcan�ou a porta no patamar da escada, escapuliu por ela e se encontrou atr�s do balc�o da Dedosdemel, abaixou-se, saiu quietinho de lado e por fim se levantou. A Dedosdemel estava t�o cheia de alunos de Hogwarts que ningu�m olhou duas vezes para Harry. O garoto foi passando entre eles, olhando para os lados e reprimiu uma risada s� de imaginar a express�o que apareceria na cara de porco do Duda se pudesse ver onde ele estava agora. Havia prateleiras e mais prateleiras de doces com a apar�ncia mais apetitosa que se pode imaginar. Tabletes de nug�, quadrados cor-de-rosa de sorvete de coco, caramelos cor de mel; centenas de tipos de bombons em fileiras arrumadinhas; havia uma barrica enorme de feij�ezinhos de todos os sabores, Del�cias gasosas � as tais bolas de sorvete de fruta que faziam levitar que Rony mencionara �, em outra parede havia os doces de "efeitos especiais": os melhores chicles de baba e bola (que enchiam a loja de bolas azulonas e se recusavam a estourar durante dias), o estranho e quebradi�o fio dental de menta, min�sculos Diabinhos negros de pimenta ("sopre fogo em seus amigos!"), Ratinhos de sorvete ("ou�a seus dentes baterem e rangerem!"), Sapos de creme de menta ("fa�a sua barriga saltar para valer!"), fr�geis penas de algod�o-doce e bombons explosivos. Harry se espremeu entre os alunos do sexto ano que enchiam a loja e viu um letreiro pendurado no canto mais distante do sal�o (SABORES INCOMUNS). Rony e Hermione estavam bem embaixo, examinando uma bandeja de pirulitos com gosto de sangue. Harry, sorrateiramente, foi parar atr�s dos dois. � Eca, n�o, Harry n�o vai querer esses, s�o para vampiro, imagino � ia dizendo Hermione. � E esses aqui? � perguntou Rony, enfiando um vidro de cachos de barata embaixo do nariz de Hermione. � Decididamente n�o � disse Harry. Rony quase deixou cair o vidro. � Harry! � berrou Hermione. � Que � que voc� est� fazendo aqui? Como... Foi que voc�...? � Uau! � exclamou Rony, parecendo muito impressionado �, voc� aprendeu a aparatar! � Claro que n�o aprendi. � Harry baixou a voz de modo que nenhum dos alunos de sexto ano pudesse ouvir e contou aos amigos sobre o Mapa do Maroto. � Como � que Fred e Jorge nunca me deram esse mapa? � perguntou Rony indignado. � Eu sou irm�o deles! � Mas Harry n�o vai ficar com o mapa! � afirmou Hermione como se a id�ia fosse rid�cula. � Vai entreg�-lo � Prof�. Minerva, n�o � Harry? � N�o, n�o vou n�o! � disse Harry. � Voc� � maluca? � exclamou Rony, arregalando os olhos para a garota. � Entregar uma coisa boa dessas? � Se eu entregar, vou ter que contar onde foi que o arranjei. Filch ia saber que Fred e Jorge surrupiaram dele! � Mas e o Sirius Black? � sibilou Hermione. � Ele poderia estar usando uma das passagens do mapa para entrar no castelo! Os professores t�m que saber disso! � Ele n�o pode estar entrando por uma passagem � retrucou Harry depressa. � Tem sete t�neis secretos no mapa, certo? Fred e Jorge calculam que Filch conhe�a uns quatro. E os outros tr�s... Um desabou, de modo que ningu�m pode passar. Outro tem o Salgueiro Lutador plantado na entrada, portanto, n�o se pode sair. E este que eu usei para chegar aqui... Bem... � realmente dif�cil ver a entrada dele no por�o. Ent�o, a n�o ser que Black soubesse que havia uma passagem... Harry hesitou. E se Black soubesse que havia uma passagem ali? Rony, por�m, pigarreou querendo sinalizar alguma coisa e apontou para um aviso colado dentro da loja de doces. POR ORDEM DO MINIST�RIO DA MAGIA Lembramos aos nossos clientes que at� nova ordem, os dementadores ir�o patrulhar as ruas de Hogsmeade todas as noites ap�s o p�r-do-sol. A medida visa garantir a seguran�a dos habitantes de Hogsmeade e ser� revogada quando Sirius Black for recapturado, portanto, � aconselh�vel que os clientes encerrem suas compras bem antes de anoitecer. Feliz Natal. � Est�o vendo s�? � falou Rony em voz baixa. � Eu gostaria de ver Black tentar entrar na Dedosdemel com dementadores pululando por todo o povoado. Em todo o caso, Hermione, os donos da Dedosdemel ouviriam se algu�m arrombasse a loja, n�o? Eles moram no primeiro andar! � T�, mas... Mas... � A garota parecia estar fazendo for�a para encontrar outro argumento. � Olha, ainda assim Harry n�o devia ter vindo a Hogsmeade. Ele n�o tem autoriza��o! Se algu�m descobrir, ele vai ficar enrascado at� as orelhas! E ainda n�o anoiteceu... E se Sirius Black aparecer hoje? Agora? � Ia ter muito trabalho para encontrar Harry no meio disso a� � disse Rony indicando com a cabe�a as janelas de caixilhos, pelas quais se via a nevasca rodopiando l� fora. � Vamos, Mione, � Natal. Harry merece uma folga. Hermione mordeu o l�bio, parecendo extremamente preocupada. � Voc� vai me denunciar? � perguntou Harry � amiga, sorrindo. � AI... Claro que n�o... Mas sinceramente, Harry... � Viu as del�cias gasosas, Harry? � perguntou Rony, puxando Harry e levando-o at� a barrica em que se encontravam. � E as lesmas gelatinosas? E os picol�s �cidos? Fred me deu um desses quando eu tinha sete anos, fez um furo que atravessou a minha l�ngua. Me lembro da mam�e pegando a vassoura e baixando o pau nele. � Rony ficou mirando, pensativo, a caixa de picol�s �cidos. � Voc� acha que Fred comeria um cacho de baratas se eu dissesse a ele que era amendoim? Depois que Rony e Hermione pagaram por todos os doces que compraram, os tr�s sa�ram da Dedosdemel para enfrentar a nevasca l� fora. Hogsmeade parecia um cart�o de Natal; as casas e lojas de telhado de colmo estavam cobertas por uma camada de neve fresca; havia coroas de azevinho nas portas e fieiras de luzes encantadas penduradas nas �rvores. Harry estremeceu; ao contr�rio dos amigos, ele n�o estava usando casaco. Os tr�s sa�ram caminhando pela rua, a cabe�a abaixada contra o vento, Rony e Hermione gritando por dentro dos cachec�is. � Ali � o Correio... � A Zonko"s fica mais adiante. � Pod�amos ir at� a Casa dos Gritos... � Vamos fazer o seguinte � sugeriu Rony com os dentes batendo �, vamos tomar uma cerveja amanteigada no Tr�s Vassouras? Harry estava mais do que a fim; havia um vento cortante e suas m�os estavam congelando. Ent�o, eles atravessaram a rua e minutos depois entravam na min�scula estalagem. A sala estava che�ssima, barulhenta, quente e enfuma�ada. Uma mulher tipo viol�o, com um rosto bonito, estava servindo um grupo de bruxos desordeiros no bar. � Aquela � a Madame Rosmerta � disse Rony. � Vou pegar as bebidas, est� bem? � acrescentou, corando ligeiramente. Harry e Hermione foram at� o fundo do sal�o, onde havia uma mesinha desocupada entre uma janela e uma bela �rvore de Natal pr�xima � lareira. Rony voltou em cinco minutos, trazendo tr�s canecas espumantes de cerveja amanteigada. � Feliz Natal! � desejou ele alegremente, erguendo a caneca. Harry bebeu com gosto. Era a coisa mais deliciosa que j� provara e parecia aquecer cada pedacinho dele, de dentro para fora. Uma brisa repentina despenteou seus cabelos. A porta do Tr�s Vassouras tornou a se abrir. Harry olhou por cima da borda da caneca e se engasgou. Os professores McGonagall e Flitwick tinham acabado de entrar no bar em meio a uma rajada de flocos de neve, seguidos de perto por Hagrid, que vinha absorto em uma conversa com um homem corpulento de chap�u-coco verde-lim�o e uma capa de risca de giz � Corn�lio Fudge, Ministro da Magia. Numa fra��o de segundo, Rony e Hermione, ao mesmo tempo, tinham posto as m�os na cabe�a de Harry e feito o amigo escorregar do banquinho para baixo da mesa. Pingando cerveja amanteigada e se encolhendo para sumir de vista, Harry, agarrado � caneca, espiou os p�s dos professores e de Fudge caminharem at� o bar, pararem e, em seguida, darem meia-volta e se dirigirem para onde ele estava. Em algum lugar acima de sua cabe�a, Hermione sussurrou: � Mobiliarbus! A �rvore de Natal ao lado da mesa se ergueu alguns cent�metros do ch�o, flutuou de lado e desceu com um baque suave bem diante da mesa dos garotos, escondendo-os dos professores. Espiando por entre os ramos mais baixos e densos, Harry viu quatro conjuntos de p�s de cadeira se afastarem da mesa bem ao lado, depois ouviu os resmungos e suspiros dos professores e do ministro ao se sentarem. Em seguida, ele viu mais um par de p�s, usando saltos altos, turquesa, cintilantes, e ouviu uma voz de mulher. � Uma �gua de Gilly pequena... � � minha � disse a voz da Prof�. Minerva. � A jarra de quent�o... � Obrigado � disse Hagrid. � Soda com xarope de cereja, gelo e guarda-sol... � Hummm! � exclamou o Prof�. Flitwick estalando os l�bios. � Para o senhor � o rum de groselha, ministro. � Obrigado, Rosmerta, querida � disse a voz de Fudge. � � um prazer rev�-la, devo dizer. N�o quer nos acompanhar? Venha se sentar conosco... � Bem, muito obrigada, ministro. Harry acompanhou os saltos cintilantes se afastarem e retornarem. Seu cora��o batia incomodamente na garganta. Por que n�o lhe ocorrera que este era o �ltimo fim de semana do trimestre tamb�m para os professores? E quanto tempo eles ficariam sentados ali? Ele precisava de tempo para voltar discretamente � Dedosdemel, se quisesse estar na escola ainda aquela noite... A perna de Hermione deu uma tremida nervosa perto dele. � Ent�o, o que � que o traz a esse fim de mundo, ministro? � perguntou a voz de Madame Rosmerta. Harry viu a parte de baixo do corpo de Fudge se virar na cadeira, como se verificasse se havia algu�m escutando. Depois respondeu em voz baixa: � Quem mais se n�o Sirius Black? Imagino que voc� deve ter sabido o que houve em Hogwarts no Dia das Bruxas? � Para falar a verdade, ouvi um boato � admitiu Madame Rosmerta. � Voc� contou ao bar inteiro, Hagrid? � perguntou a Prof�. Minerva, exasperada. � O senhor acha que Black continua por aqui, ministro? � perguntou Madame Rosmerta. � Tenho certeza � respondeu Fudge laconicamente. � O senhor sabe que os dementadores j� revistaram o meu bar duas vezes? � falou Madame Rosmerta, com uma ligeira irrita��o na voz. � Espantaram todos os meus fregueses... Isto � muito ruim para o com�rcio, ministro. � Rosmerta, querida, gosto tanto deles quanto voc� � disse Fudge, constrangido. � � uma precau��o necess�ria... Infelizmente, mas veja s�... Acabei de encontrar alguns. Est�o furiosos com Dumbledore porque ele n�o os deixa entrar nos terrenos da escola. � � claro que n�o � disse a Prof�. Minerva, rispidamente. � Como � que vamos ensinar com aqueles horrores por todo o lado? � Apoiado, apoiado! � exclamou o Prof�. Flitwick com voz esgani�ada, os p�s balan�ando a um palmo do ch�o. � Mesmo assim � disse Fudge em tom de d�vida �, eles est�o aqui para proteger voc�s todos de coisa muito pior... N�s todos sabemos o que Black � capaz de fazer.. � Sabem, eu ainda acho dif�cil acreditar � disse Madame Rosmerta pensativamente. � De todas as pessoas que passaram para o lado das trevas, Sirius Black � o �ltimo em que eu pensaria... Quero dizer, eu me lembro dele quando era garoto em Hogwarts. Se algu�m tivesse me dito, ent�o, no que ele iria se transformar, eu teria respondido que a pessoa tinha bebido quent�o demais. � Voc� n�o conhece nem metade do que ele fez Rosmerta � disse Fudge com impaci�ncia. � A maioria nem sabe o pior. � Pior? � exclamou Madame Rosmerta, a voz animada de curiosidade. � O senhor quer dizer pior do que matar todos aqueles coitados? � Isso mesmo. � N�o posso acreditar. Que poderia ser pior? � Voc� diz que se lembra dele em Hogwarts, Rosmerta � murmurou a Prof�. Minerva. � Voc� se lembra quem era o melhor amigo dele? � Claro � disse Madame Rosmerta, com uma risadinha. � Nunca se via um sem o outro, n�o � mesmo? O n�mero de vezes que os dois estiveram aqui, ah, me faziam rir o tempo todo. Uma dupla incr�vel, Sirius Black e Tiago Potter! Harry deixou cair a caneca com estr�pito. Rony deu-lhe um pontap�. � Exatamente � disse a Prof�. Minerva. � Black e Potter l�deres de uma turminha. Os dois muito inteligentes, � claro, na verdade excepcionalmente inteligentes, mas acho que nunca tivemos uma dupla de criadores de confus�es igual... � N�o sei � disse Hagrid, dando uma risadinha. � Fred e Jorge Weasley seriam p�reo duro para os dois. � Poder-se-ia at� pensar que Black e Potter eram irm�os! O Prof�. Flitwick entrou na conversa. � Insepar�veis! � Claro que eram � comentou Fudge. � Potter confiava mais em Black do que em qualquer outro amigo. Nada mudou quando os dois terminaram a escola. Black foi o padrinho quando Tiago se casou com L�lian. Depois, eles o escolheram para padrinho de Harry. O garoto nem tem id�ia disso, � claro. Voc�s podem imaginar como isto o atormentaria. � Por que Black acabou se aliando a Voc�-Sabe-Quem? � cochichou Madame Rosmerta. � Foi muito pior do que isso, minha querida... � Fudge baixou a voz e continuou numa esp�cie de sussurro grave. � Muita gente desconhece que os Potter sabiam que Voc�-Sabe-Quem queria peg�-los. Dumbledore, que naturalmente trabalhava sem descanso contra Voc�-Sabe-Quem, tinha um bom n�mero de espi�es �teis. Um deles avisou-o e ele, na mesma hora, alertou Tiago e L�lian, Dumbledore aconselhou os dois a se esconderem. Bem, � claro que n�o era f�cil algu�m se esconder de Voc�-Sabe-Quem. Dumbledore sugeriu aos dois que teriam maiores chances de escapar se apelassem para o Feiti�o Fidelius. � Como � que � isso? � perguntou Madame Rosmerta, ofegando de interesse, O Prof�. Flitwick pigarreou. � Um feiti�o extremamente complexo � explicou com a sua vozinha fina �, que implica esconder o segredo, por meio da magia, em uma �nica pessoa viva. A informa��o � guardada no �ntimo da pessoa escolhida, ou fiel do segredo, e torna-se imposs�vel encontr�-la, a n�o ser, � claro, que o fiel do segredo resolva contar a algu�m. Enquanto ele se mantiver calado, Voc�-Sabe-Quem poderia revistar o povoado em que L�lian e Tiago viviam durante anos sem jamais encontr�-los, mesmo que ficasse com o nariz grudado na janela da sala deles! � Ent�o Black era o fiel do segredo dos Potter? � sussurrou Madame Rosmerta. � Naturalmente � respondeu a Prof�. Minerva. � Tiago Potter contou a Dumbledore que Black preferiria morrer a contar onde eles estavam, que Black estava pensando em se esconder tamb�m... Mesmo assim, Dumbledore continuou preocupado. Eu me lembro que ele pr�prio se ofereceu para ser o fiel do segredo dos Potter. � Ele suspeitava de Black? � exclamou Madame Rosmerta. � Ele tinha certeza de que algu�m intimo dos Potter tinha mantido Voc�-Sabe-Quem informado dos movimentos do casal � respondeu a Prof�. Minerva sombriamente. � De fato, ele vinha suspeitando havia algum tempo de que algu�m do nosso lado virara traidor e estava passando muita informa��o para Voc�-Sabe-Quem. � Mas Tiago Potter insistiu em usar Black? � Insistiu � disse Fudge com a voz carregada. � E ent�o, pouco mais de uma semana depois de terem realizado o Feiti�o Fidelius... � Black traiu os Potter? � murmurou Madame Rosmerta. � Traiu. Black estava cansado do papel de agente duplo, estava pronto a declarar abertamente o seu apoio a Voc�-Sabe-Quem, e parece que planejou fazer isso assim que os Potter morressem. Mas, como todos sabem, Voc�-Sabe-Quem encontrou sua perdi��o no pequeno Harry Potter. Despojado de poderes, extremamente enfraquecido, ele fugiu. E isto deixou Black numa posi��o realmente muito dif�cil. Seu mestre ca�ra no exato momento em que ele, Black, mostrara quem de fato era, um traidor. N�o teve outra escolha sen�o fugir... � Vira-casaca imundo e podre! � exclamou Hagrid t�o alto que metade do bar se calou. � Psiu! � fez a Prof�. Minerva. � Eu o encontrei! � rosnou Hagrid, � Devo ter sido a �ltima pessoa que viu Black antes de ele matar toda aquela gente! Fui eu que salvei Harry da casa de L�lian e Tiago depois que o casal morreu! Tirei o garoto das ru�nas, coitadinho, com um grande corte na testa, e os pais mortos... E Sirius Black aparece naquela moto voadora que ele costumava usar. Nunca me ocorreu o que ele estava fazendo ali. Eu n�o sabia que ele era o fiel do segredo de L�lian e Tiago. Pensei que tivesse acabado de saber da not�cia do ataque de Voc�-Sabe-Quem e vindo ver o que era poss�vel fazer. Estava tremendo, branco. E voc�s sabem o que eu fiz? EU CONSOLEI O TRAIDOR ASSASSINO! � bradou Hagrid. � Hagrid, por favor! � pediu a Prof�. Minerva. � Fale baixo! � Como � que eu ia saber que ele n�o estava abalado com a morte de L�lian e Tiago? Que estava preocupado era com Voc�-Sabe-Quem! Ent�o ele disse: � "Me d� o Harry, Hagrid. Sou o padrinho dele, vou cuidar dele�... Ah! Mas eu tinha recebido ordens de Dumbledore, e disse n�o, Dumbledore tinha me mandado levar Harry para a casa dos tios. Black discordou, mas no fim cedeu. Me disse, ent�o, que eu podia pegar a moto dele para levar Harry. "N�o vou precisar mais dela", falou. Eu devia ter percebido, naquela hora, que alguma coisa n�o estava cheirando bem. Black adorava a moto. Por que estava dando ela para mim? Por que n�o ia precisar mais da moto? A quest�o � que a moto era muito f�cil de localizar. Dumbledore sabia que ele tinha sido o fiel do segredo dos Potter. Black sabia que ia ter que se mandar �quela noite, sabia que era uma quest�o de horas at� o Minist�rio sair � procura dele. Mas e se eu tivesse entregado Harry a Black, hein? Aposto como ele teria jogado o garoto no mar no meio do caminho. O filho dos melhores amigos dele! Mas quando um bruxo se alia ao lado das trevas, n�o tem mais nada nem ningu�m que tenha import�ncia para ele... � hist�ria de Hagrid seguiu-se um longo sil�ncio. Ent�o, Madame Rosmerta falou com uma certa satisfa��o. � Mas ele n�o conseguiu desaparecer, n�o foi? O Minist�rio da Magia o agarrou no dia seguinte! � Ah, se ao menos isso fosse verdade � lamentou Fudge com amargura. � N�o fomos n�s que o encontramos. Foi o pequeno Pedro Pettigrew, outro amigo dos Potter. Com certeza, enlouquecido de pesar e sabendo que Black fora o fiel do segredo dos Potter, Pedro foi pessoalmente atr�s dele. � Pettigrew... Aquele gordinho que sempre andava atr�s dos dois em Hogwarts? � perguntou Madame Rosmerta. � Ele venerava Black e Potter como se fossem her�is � disse a Prof�. Minerva. � N�o estava bem � altura deles em termos de talento. Muitas vezes fui severa demais com ele. Podem imaginar agora como me... Como me arrependo disso... � Sua voz parecia a de algu�m que apanhara de repente um resfriado. � Vamos, Minerva � consolou-a Fudge, com bondade. � Pettigrew teve uma morte de her�i. Testemunhas oculares, trouxas, � claro, depois limpamos a mem�ria deles, nos contaram como Pettigrew encurralou Black. Dizem que ele solu�ava: "L�lian e Tiago, Sirius! Como � que voc� p�de?" Ent�o fez men��o de apanhar a varinha. Bem, naturalmente, Black foi mais r�pido. Fez Pettigrew em pedacinhos... A Prof�. Minerva assoou o nariz e disse com a voz embargada: � Menino burro... Menino tolo... Nunca teve jeito para duelar... Deveria ter deixado isso para o minist�rio... � E vou dizer uma coisa, se eu tivesse chegado ao Black antes de Pettigrew, n�o teria apelado para varinhas, eu teria despeda�ado ele aos bocadinhos � rosnou Hagrid. � Voc� n�o sabe o que est� dizendo, Hagrid � disse Fudge com severidade. � Ningu�m, a n�o ser bruxos de elite do Esquadr�o de Execu��o das Leis da Magia, teria tido uma chance contra Black depois que ele foi encurralado. Na �poca, eu era ministro j�nior no Departamento de Cat�strofes M�gicas, e fui um dos primeiros a chegar � cena depois que Black liquidou aquelas pessoas, nunca vou me esquecer. Ainda sonho com o que vi, �s vezes. Uma cratera no meio da rua, t�o funda que rachou a tubula��o de esgoto embaixo. Cad�veres por toda a parte. Trouxas berrando. E Black parado ali, dando gargalhadas, diante do que restava de Pettigrew... Um monte de vestes ensang�entadas e uns poucos, uns poucos fragmentos... A voz de Fudge parou abruptamente. Ouviu-se o barulho de cinco narizes sendo assoados. � Bem, a� tem voc�, Rosmerta � disse Fudge com a voz carregada. � Black foi levado por vinte policiais do Esquadr�o de Execu��o das Leis da Magia e Pettigrew recebeu a Ordem de Merlim, Primeira Classe, o que acho que foi algum consolo para a coitada da m�e dele. Black tem estado preso em Azkaban desde ent�o. Madame Rosmerta deu um longo suspiro. � � verdade que ele � doido, ministro? � Eu gostaria de poder dizer que � � disse Fudge lentamente. � Acredito que � certo que a derrota do mestre o desequilibrou por algum tempo. O assassinato de Pettigrew e de todos aqueles trouxas foi trabalho de um homem desesperado e acuado, cruel... Sem sentido. Mas eu encontrei Black na �ltima inspe��o que fiz � Azkaban. Voc�s sabem que a maioria dos prisioneiros l� ficam sentados no escuro resmungando; n�o dizem coisa com coisa... Mas fiquei chocado com a apar�ncia normal de Black. Conversou comigo muito racionalmente. Me deixou nervoso. Deu a impress�o de estar meramente entediado, perguntou se eu j� tinha acabado de ler o meu jornal, com toda a tranq�ilidade, disse que sentia falta das palavras cruzadas. Fiquei realmente espantado de ver o pouco efeito que os dementadores estavam causando nele, e, vejam, ele era um dos prisioneiros mais fortemente guardados do lugar. Dementadores � porta da cela dia e noite. � Mas para que o senhor acha que ele fugiu? � perguntou Madame Rosmerta. � Por Deus, ministro, ele n�o est� tentando se juntar a Voc�-Sabe-Quem, est�? � Eu diria que esse � o plano dele, hum, a longo prazo � disse Fudge evasivamente. � Mas temos esperan�a de pegar Black bem antes disso. Devo dizer que Voc�-Sabe-Quem sozinho e sem amigos � uma coisa... Mas se tiver de volta o seu servi�al mais dedicado, estreme�o s� em pensar na rapidez com que se reergueria... Ouviu-se um leve tilintar de copo em madeira. Algu�m pousara o copo. � Sabe, Corn�lio, se voc� vai jantar com o diretor, � melhor voltarmos para o castelo � sugeriu a Prof�. Minerva. Um por um, os pares de p�s � frente de Harry retomaram o peso dos seus donos; barras de capas rodopiaram no ar e os saltos cintilantes de Madame Rosmerta desapareceram atr�s do balc�o do bar. A porta do Tr�s Vassouras tornou a se abrir, deixando entrar mais uma rajada de flocos de neve e os professores desapareceram. � Harry? Os rostos de Rony e Hermione surgiram embaixo da mesa. Os dois o encararam, sem encontrar palavras para falar. CAP�TULO ONZE A Firebolt Harry n�o tinha uma id�ia muito clara de como conseguira voltar ao por�o da Dedosdemel, atravessar o t�nel e sair mais uma vez no castelo. S� sabia que a viagem de volta parecia n�o ter demorado nada, e que ele mal se apercebera do que estava fazendo, porque sua cabe�a continuava a latejar com a conversa que acabara de ouvir. Por que ningu�m lhe contara? Dumbledore, Hagrid, o Sr. Weasley, Corn�lio Fudge... Por que ningu�m jamais mencionara o fato de que seus pais tinham morrido porque o melhor amigo deles os tra�ra? Rony e Hermione observavam Harry, muito nervosos, durante o jantar, sem sequer se atrever a conversar com ele sobre o que tinham ouvido, porque Percy estava sentado perto deles. Quando subiram para a concorrida sala comunal, foi para descobrir que Fred e Jorge tinham soltado meia d�zia de bombas de bosta num arroubo de anima��o de fim de trimestre. Harry, que n�o queria que os g�meos lhe perguntassem se tinha chegado ou n�o a Hogsmeade, subiu sorrateira e silenciosamente para o dormit�rio vazio e foi direto ao seu arm�rio de cabeceira. Empurrou os livros para um lado e n�o demorou nada a encontrar o que estava procurando � o �lbum de fotografias encadernado em couro que Hagrid lhe dera havia dois anos, repleto de fotos m�gicas de seus pais. O garoto se sentou na cama, fechou o cortinado e come�ou a virar as p�ginas, procurando, at� que... Parou numa foto do dia do casamento dos pais. L� estava seu pai acenando para ele, sorridente, os rebeldes cabelos negros que Harry herdara apontando para todas as dire��es. L� estava sua m�e, radiante de felicidade, de bra�o dado com o seu pai. E l�... Aquele devia ser ele. O padrinho... Harry jamais lhe dera aten��o antes. Se n�o tivesse sabido que era a mesma pessoa, jamais teria pensado que era Black naquela velha foto. Seu rosto n�o era encovado e macilento, mas bonito e risonho. J� estaria trabalhando para Voldemort quando a foto fora tirada? J� estaria planejando as mortes das duas pessoas ao seu lado? Saberia que ia enfrentar doze anos em Azkaban, doze anos que o tornariam irreconhec�vel? Mas os dementadores n�o o afetam, pensou Harry examinando atentamente aquele rosto bonito e risonho. Ele n�o tem que ouvir minha m�e gritando quando eles chegam muito perto... Harry fechou com viol�ncia o �lbum e, abaixando-se, guardou-o de novo no arm�rio, tirou as vestes e os �culos e foi dormir, cuidando para que o cortinado o escondesse de todos. A porta do dormit�rio se abriu. � Harry? � chamou a voz de Rony, hesitante. Mas Harry continuou quieto, fingindo que estava dormindo. Ouviu o amigo se retirar e virou de barriga para cima, os olhos muito abertos. Um �dio que ele jamais conhecera come�ou a crescer dentro dele como veneno. Viu Black rindo-se dele no escuro, como se algu�m tivesse colado a foto do �lbum em seus olhos. Assistiu, como se estivesse vendo um filme, a Sirius Black explodir Pedro Pettigrew, (que lembrava Neville Longbottom), em mil peda�os. Ouviu (embora n�o tivesse a menor id�ia do som que teria a voz de Black) um murm�rio baixo e excitado. "Aconteceu, meu Senhor... os Potter me escolheram para fiel do seu segredo�. E ent�o ouviu outra voz, rindo-se histericamente, a mesma risada que Harry ouvia mentalmente sempre que os dementadores se aproximavam... � Harry, voc�... Voc� est� com uma cara horr�vel. O garoto s� adormecera quando o dia ia raiando. Ao acordar, encontrou o dormit�rio vazio, deserto, se vestiu e desceu para a sala comunal, tamb�m vazia exceto pela presen�a de Rony, que comia sapos de creme de menta e massageava a barriga, e Hermione que espalhara os deveres de casa em cima de tr�s mesas. � Onde foi todo mundo? � perguntou Harry. � Embora! Hoje � o primeiro dia das f�rias, est� lembrado? � respondeu Rony, observando o amigo atentamente. � � quase hora do almo�o; eu ia subir para acord�-lo daqui a pouquinho. Harry afundou em uma poltrona junto � lareira. A neve continuava a cair l� fora. Bichento estava esparramado diante da lareira como um grande tapete amarelo-avermelhado. � Realmente voc� n�o est� com uma cara muito boa, sabe � disse Hermione, examinando ansiosa o rosto do garoto. � Estou �timo � retrucou ele. � Harry, escuta aqui � disse Hermione trocando um olhar com Rony �, voc� deve estar realmente perturbado com o que ouviu ontem. Mas o importante � n�o fazer nenhuma bobagem. � Como o qu�? � Como tentar ir atr�s de Black � disse Rony depressa. Harry percebeu que os dois tinham ensaiado aquela conversa enquanto ele estivera dormindo. N�o respondeu nada. � Voc� n�o vai, n�o � mesmo, Harry? � insistiu Hermione. � Porque n�o vale a pena morrer por causa do Black � disse Rony. Harry olhou para os amigos. Eles pareciam n�o ter entendido o problema. � Voc�s sabem o que eu vejo e ou�o cada vez que um dementador se aproxima de mim? � Rony e Hermione sacudiram a cabe�a, apreensivos. � Ou�o minha m�e gritar e suplicar a Voldemort. E se algu�m ouve a m�e gritar daquele jeito, pouco antes de morrer, n�o d� para esquecer depressa. E se descobre que algu�m que ela acreditava ser amigo foi o traidor que p�s Voldemort na pista dela... � Mas n�o tem nada que voc� possa fazer! � disse Hermione impressionada. � Os dementadores v�o capturar Black e ele vai voltar a Azkaban e... E � muito bem feito para ele! � Voc� ouviu o que Fudge disse. Black n�o � afetado por Azkaban como as pessoas normais. N�o � um castigo para ele como � para os outros. � Ent�o o que � que voc� est� dizendo? � perguntou Rony muito tenso. � Voc� quer... Matar Black ou coisa parecida? � N�o seja bobo � disse Hermione, cuja voz transparecia p�nico. � Harry n�o quer matar ningu�m, n�o � mesmo? Mais uma vez Harry n�o respondeu. Ele n�o sabia o que queria fazer. S� sabia que a id�ia de n�o fazer nada, enquanto Black continuava em liberdade, era quase insuport�vel. � Malfoy sabe � disse ele de repente. � Voc�s lembram do que ele me disse na aula de Po��es? "Se fosse eu, ia atr�s dele sozinho... Ia querer vingan�a.� � Voc� vai seguir o conselho de Malfoy em vez do nosso? � perguntou Rony, enfurecido. � Escuta aqui... Voc� sabe o que a m�e do Pettigrew recebeu depois que Black acabou com o filho dela? Papai me contou... A Ordem de Merlim, Primeira Classe, e o dedo de Pettigrew em uma caixa. Foi o maior peda�o dele que conseguiram encontrar. Black � um louco, Harry, e � perigoso... � O pai de Malfoy deve ter contado a ele � disse Harry, n�o dando aten��o a Rony. � Fazia parte do c�rculo �ntimo de Voldemort... � Faz favor de dizer Voc�-Sabe-Quem? � exclamou Rony com raiva. � ... Ent�o obviamente, os Malfoy sabiam que Black estava trabalhando para Voldemort... � ... e Malfoy adoraria ver voc� desintegrado em um milh�o de peda�os, como Pettigrew! Caia na real, Harry. A esperan�a de Malfoy � que voc� seja morto antes de ele precisar jogar Quadribol contra voc�. � Harry, por favor � pediu Hermione, os olhos agora brilhantes de l�grimas �, por favor, tenha ju�zo. Black fez uma coisa horr�vel demais, mas n�o corra riscos, � isso que Black quer... Ah, Harry, voc� vai fazer o jogo do Black se for atr�s dele. Seus pais n�o iam querer que voc� se machucasse, iam? Jamais iam querer que voc� sa�sse procurando o Black! � Eu nunca vou saber o que eles iam querer, porque, gra�as ao Black, nunca conversei com eles � disse Harry com rispidez. Houve um sil�ncio em que Bichento se espregui�ou com desenvoltura, flexionando as garras. O bolso de Rony estremeceu. � Escuta � disse o garoto, obviamente procurando mudar de assunto �, estamos de f�rias! J� � quase Natal! Vamos... Vamos descer para ver o Hagrid. N�o o visitamos h� uma eternidade! � N�o! � disse Hermione depressa. � Harry n�o pode sair do castelo, Rony... � �, vamos � disse Harry se endireitando na poltrona �, assim posso perguntar a ele por que nunca mencionou o Black quando me contou a hist�ria dos meus pais! Continuar a discuss�o sobre Sirius Black n�o era obviamente o que Rony tinha em mente. � Ou poder�amos jogar uma partida de xadrez � disse ele depressa � ou de bexigas. Percy deixou um jogo... � N�o, vamos visitar Hagrid � disse Harry com firmeza. Ent�o os tr�s apanharam as capas nos dormit�rios e sa�ram pelo buraco do retrato (Levantem-se para lutar, seus vira-latas covardes!), desceram pelo castelo vazio e cruzaram as portas de carvalho. Os garotos caminharam sem pressa pelos jardins, deixando uma vala rasa na neve faiscante e solta, as meias e as bainhas das capas foram se molhando e congelando. A Floresta Proibida parecia que fora encantada, cada �rvore se cobrira de salpicos prateados e a cabana de Hagrid lembrava um bolo com glac�. Rony bateu, mas n�o teve resposta. � Ser� que ele saiu? � perguntou Hermione, que tremia embaixo da capa. Rony encostou o ouvido na porta. � Tem um barulho esquisito � disse. � Escuta s�, ser� o Canino? Harry e Hermione encostaram os ouvidos na porta tamb�m. De dentro da cabana vinham uns gemidos baixos e solu�antes. � Ser� que n�o � melhor a gente ir chamar algu�m? � perguntou Rony, nervoso. � Hagrid! � chamou Harry, dando socos na porta. � Hagrid, voc� est� a�? Ouviu-se um som de passos pesados, depois a porta se abriu com um rangido. Hagrid estava ali parado, com os olhos vermelhos e inchados, as l�grimas caindo pelo seu colete de couro. � Voc�s souberam? � berrou ele, e se atirou no pesco�o de Harry. Tendo Hagrid no m�nimo duas vezes o tamanho de um homem normal, isso n�o foi brincadeira. O garoto, quase desabando sob o peso do gigante, foi salvo por Rony e Hermione, que seguraram um em cada bra�o de Hagrid, e o puxaram para dentro da cabana. O guarda-ca�a deixou-se conduzir at� uma cadeira e se largou em cima da mesa, solu�ando descontrolado, o rosto brilhante de l�grimas que escorriam por sua barba embara�ada. � Hagrid, o que foi? � perguntou Hermione perplexa. Harry reparou em uma carta de apar�ncia oficial aberta em cima da mesa. � Que � isso, Hagrid? Os solu�os de Hagrid redobraram, mas ele empurrou a carta para o garoto, que a apanhou e leu em voz alta: Prezado Sr. Hagrid. Dando prosseguimento ao nosso inqu�rito sobre o ataque do hipogrifo a um aluno seu, aceitamos as pondera��es do Prof�. Dumbledore de que o senhor n�o � respons�vel pelo lament�vel incidente. � Bem, ent�o est� tudo certo, Hagrid! � exclamou Rony, dando uma palmadinha no ombro do amigo. Mas Hagrid continuou a solu�ar, e fez sinal com uma de suas gigantescas m�os, convidando Harry a continuar a leitura da carta. No entanto, devemos registrar a nossa preocupa��o quanto ao hipogrifo em pauta. Decidimos acolher a reclama��o oficial do Sr. L�cio Malfoy, e o caso ser� encaminhado � Comiss�o para Elimina��o de Criaturas Perigosas. A audi�ncia ter� lugar em 20 de abril, e solicitamos que o senhor se apresente com o seu hipogrifo nos escrit�rios da Comiss�o, em Londres, nessa data. Entrementes, o animal dever� ser mantido preso e isolado. Atenciosamente... Seguia-se uma lista com os nomes dos conselheiros da escola. � Ah! � exclamou Rony. � Mas voc� disse que o Bicu�o n�o � um hipogrifo bravo, Hagrid. Aposto como ele vai se safar... � Voc� n�o conhece as g�rgulas da Comiss�o para Elimina��o de Criaturas Perigosas! � respondeu Hagrid com a voz engasgada, enxugando os olhos na manga. � Eles t�m m� vontade com as criaturas interessantes! Um som repentino vindo de um canto da cabana fez Harry, Rony e Hermione se virarem depressa. Bicu�o, o hipogrifo, estava deitado a um canto, mastigando alguma coisa que fazia escorrer sangue por todo o soalho. � Eu n�o podia deixar ele amarrado l� fora na neve! � explicou Hagrid, sufocado. � Sozinho! No Natal. Harry, Rony e Hermione se entreolharam. Nunca tinham concordado com Hagrid sobre o que o guarda-ca�a chamava de "criaturas interessantes� e outras pessoas chamavam de "monstros aterrorizantes". Por outro lado, n�o parecia haver nenhuma maldade especifica em Bicu�o. De fato, pelos padr�es normais de Hagrid, o bicho era sem d�vida engra�adinho. � Voc� ter� que preparar uma boa defesa, Hagrid � falou Hermione, sentando-se e pondo a m�o no bra�o maci�o do amigo. � Tenho certeza de que voc� pode provar que Bicu�o � seguro. � N�o vai fazer nenhuma diferen�a! � solu�ou Hagrid. � Aqueles dem�nios da Elimina��o, eles s�o controlados por L�cio Malfoy! T�m medo dele! E se eu perder o caso, Bicu�o... Hagrid passou o dedo rapidamente pela garganta, depois deixou escapar um lamento, e caiu para frente, deitando a cabe�a nos bra�os. � E Dumbledore, Hagrid? � perguntou Harry. � Ele j� fez mais do que o suficiente por mim � gemeu Hagrid. � J� tem muito com que se ocupar s� para segurar os dementadores fora do castelo e o Sirius Black rondando... Rony e Hermione olharam depressa para Harry como se esperassem que o garoto fosse come�ar a criticar Hagrid por n�o ter contado a verdade sobre Black. Mas Harry n�o teve coragem de perguntar nada, n�o naquele momento em que estava vendo o amigo t�o infeliz e amedrontado. � Escuta aqui, Hagrid � disse Harry �, voc� n�o pode desistir. Hermione tem raz�o, voc� s� precisa � de uma boa defesa. Pode nos chamar como testemunhas... � Tenho certeza de que j� li um caso de algu�m que provocou um hipogrifo � disse Hermione, pensativa � e o bicho foi inocentado. Vou procurar para voc� Hagrid, e verificar exatamente o que aconteceu. Hagrid chorou ainda mais alto. Harry e Hermione olharam para Rony, pedindo ajuda. � Hum... E se eu fizesse uma x�cara de ch� para n�s? � ofereceu-se o garoto. Harry olhou para ele, espantado. � � o que a minha m�e faz sempre que algu�m est� chateado � murmurou Rony, encolhendo os ombros. Finalmente, depois de muitas reafirma��es de ajuda, e uma caneca de ch� fumegante diante dele, Hagrid assoou o nariz com um len�o do tamanho de uma toalha de mesa e disse: � Voc�s t�m raz�o. N�o posso me entregar assim. Tenho que me controlar... Canino, o c�o de ca�ar javalis, saiu timidamente debaixo da mesa e descansou a cabe�a no joelho do dono. � N�o tenho andado muito bem ultimamente � disse Hagrid, acariciando Canino com uma das m�os e enxugando o rosto com a outra. � Preocupado com o Bicu�o e com a turma que n�o est� gostando das minhas aulas... � N�s gostamos! � mentiu Hermione na mesma hora. � �, elas s�o �timas! � acrescentou Rony, cruzando os dedos embaixo da mesa. � �... Como � que v�o os vermes? � Mortos � disse Hagrid sombriamente. � Alface demais. � Ah, n�o! � exclamou Rony, com um trejeito de riso na boca. � E esses dementadores fazendo eu me sentir p�ssimo e tudo o mais � disse Hagrid com um s�bito estremecimento. � Tenho que passar por eles todas as vezes que quero beber alguma coisa no Tr�s Vassouras. � como se eu estivesse de volta a Azkaban... Ele se calou e tomou um pouco de ch�. Harry, Rony e Hermione o observaram prendendo a respira��o. Nunca tinham ouvido Hagrid falar de sua breve estada em Azkaban. Depois de uma pausa, Hermione perguntou timidamente: � L� � muito ruim, Hagrid? � Voc�s n�o fazem id�ia � disse ele com a voz contida. � Nunca estive em nenhum lugar assim. Pensei que ia endoidar. Ficava lembrando de coisas horr�veis... O dia em que fui expulso de Hogwarts... O dia em que meu pai morreu... O dia em que tive de mandar Norberto embora... Seus olhos se encheram de l�grimas. Norberto era o beb� drag�o que Hagrid ganhara certa vez em um jogo de cartas. � A pessoa n�o consegue mais se lembrar de quem � depois de algum tempo. E come�a a achar que n�o vale a pena viver. Eu tinha esperan�a de morrer durante o sono... Quando me soltaram, foi como se eu estivesse renascendo, tudo voltou como uma avalanche, foi a melhor sensa��o do mundo. E vejam bem, os dementadores n�o gostaram nada de me deixar sair. � Mas voc� era inocente! � exclamou Hermione. Hagrid riu pelo nariz. � Voc� acha que eles se importam com isso? Que nada. Desde que tenham umas centenas de seres humanos trancafiados com eles, para poder sugar toda a felicidade deles, n�o est�o nem a� se algu�m � ou n�o � culpado. Hagrid ficou calado por um instante, olhando para o ch�. Depois disse em voz baixa: � Pensei em deixar Bicu�o ir embora... Tentar faz�-lo fugir.. Mas como � que a gente explica para um hipogrifo que ele tem que se esconder? E... E tenho medo de desrespeitar a lei... � Ele ergueu os olhos para os garotos, as l�grimas outra vez escorrendo pelo rosto. � N�o quero nunca mais na vida voltar para Azkaban. A ida � cabana de Hagrid, embora n�o tivesse sido divertida, em todo o caso, produzira o efeito que Rony e Hermione esperavam. Ainda que Harry n�o tivesse de modo algum esquecido Black, n�o iria poder ficar pensando o tempo todo em vingan�a se quisesse ajudar Hagrid a vencer a causa contra a Comiss�o para Elimina��o de Criaturas Perigosas. Ele, Rony e Hermione foram, no dia seguinte, � biblioteca, e voltaram ao vazio sal�o comunal, carregados de livros que poderiam ajudar a preparar a defesa para o Bicu�o. Os tr�s se sentaram diante do fogo forte que havia na lareira e folhearam lentamente as p�ginas de livros empoeirados sobre casos famosos de feras que sa�ram para roubar ou atacar gente, falando-se, ocasionalmente, quando deparavam com alguma coisa que servisse. � Aqui tem uma coisa... Houve um caso em 1722... Mas o hipogrifo foi condenado, eca, olhem s� o que fizeram com ele, que coisa horr�vel... � Esse aqui pode ajudar, olhem... Um Manticora atacou algu�m ferozmente em 1296, e deixaram o bicho livre... Ah... N�o, foi s� porque todos estavam com medo de se aproximar dele... Nesse meio tempo, tinham sido armadas no resto do castelo as magn�ficas decora��es de Natal, apesar de poucos alunos terem permanecido na escola para apreci�-las. Grossas serpentinas de folhas e frutos de azevinho foram penduradas pelos corredores, luzes misteriosas brilhavam dentro de cada armadura, e o Sal�o Principal tinha as doze �rvores de Natal de sempre, fulgurantes de estrelas douradas. Um cheiro forte e gostoso de comida invadia os corredores e, na altura da noite de Natal, estava t�o forte que at� Perebas, no bolso de Rony, botou o nariz de fora para cheirar, esperan�oso, o ar. Na manh� de Natal, Harry foi acordado com Rony atirando um travesseiro nele. � Os Presentes! Harry apanhou os �culos e colocou-os no rosto, tentando enxergar, na penumbra, os p�s da cama, onde aparecera um montinho de pacotes. Rony j� estava rasgando o papel que embrulhava os dele. � Mais uma su�ter de mam�e... Outra vez marrom-avermelhada... Veja se voc� tamb�m ganhou uma. Harry ganhara. A Sra. Weasley lhe mandara uma su�ter vermelha com o le�o da Grifin�ria no peito, uma d�zia de tortas de frutas secas e nozes, um bolo de Natal e uma caixa com crocantes de nozes. Quando empurrou tudo isso para um lado, ele viu um pacote fino e longo por baixo. � Que � isso? � perguntou Rony, espiando, enquanto segurava nas m�os um par de meias marrom-avermelhadas que acabara de abrir. � N�o sei... Harry rasgou o pacote e prendeu a respira��o ao ver a magn�fica e reluzente vassoura que rolara sobre sua cama. Rony largou as meias e pulou da cama dele para olhar mais de perto. � Eu n�o acredito � disse com a voz rouca. Era uma Firebolt, id�ntica � vassoura de sonho que Harry tinha ido ver todas as manh�s no Beco Diagonal. O cabo brilhou quando ele a ergueu. Sentiu a vassoura vibrar e a soltou; ela ficou flutuando no ar, sem apoio, na altura exata para ele mont�-la. Os olhos de Harry correram da placa de ouro com o n�mero do registro para a superf�cie do cabo, dali para as lascas de b�tula perfeitamente lisas e aerodin�micas que formavam a cauda. � Quem lhe mandou essa vassoura? � perguntou Rony em voz baixa. � Procure a� o cart�o � disse Harry. Rony rasgou o resto do papel de embrulho da Firebolt. � Nada! Caramba, quem gastaria tanto dinheiro com voc�? � Bem � disse Harry atordoado �, aposto que n�o foram os Dursley. � Aposto que foi Dumbledore � disse Rony, agora rodeando a Firebolt, apreciando cada cent�metro de sua gl�ria. � Ele lhe mandou a Capa da Invisibilidade anonimamente... � Mas era do meu pai � respondeu Harry. � Dumbledore s� estava passando a capa para mim. Ele n�o gastaria centenas de gale�es comigo. N�o pode sair dando coisas assim para alunos... � Por isso mesmo � que n�o ia dizer que foi ele! � concluiu Rony. � Para um debil�ide feito o Malfoy n�o dizer que � favoritismo. � Ei, Harry... � Rony deu uma grande gargalhada. � Malfoy! Espera at� ele ver voc� montado nisso! Vai ficar doente de inveja! � uma vassoura de padr�o internacional, ah, isso �! � N�o consigo acreditar � murmurou Harry, alisando a Firebolt, enquanto Rony afundava na cama dele, rindo de se acabar s� de pensar no Malfoy. � Quem...? � Eu sei � disse Rony se controlando. � Eu sei quem poderia ter sido... O Lupin. � Qu�? � disse Harry, agora come�ando a rir tamb�m. � Lupin? Olha, se ele tivesse tanto ouro assim, poderia comprar umas vestes novas. � �, mas ele gosta de voc�. E estava ausente quando a sua Nimbus se arrebentou, e talvez tenha ouvido falar do acidente e resolvido visitar o Beco Diagonal e comprar a vassoura para voc�... � Que � que voc� quer dizer com estava ausente? � perguntou Harry. � Ele estava doente quando eu joguei aquela partida. � Bem, ele n�o estava na ala hospitalar � disse Rony. � Eu estava l� limpando comadres, cumprindo aquela deten��o que o Snape me deu, se lembra? Harry franziu a testa para Rony. � N�o posso imaginar Lupin comprando um presente desses. � Do que � que voc�s est�o rindo? Hermione acabara de entrar, vestindo um robe e segurando Bichento, que estava com a cara de extremo mau humor e um fio de lantejoulas em volta do pesco�o. � N�o entra aqui com ele! � disse Rony, apanhando Perebas depressa das profundezas de sua cama e guardando-o no bolso do pijama. Mas Hermione n�o ouviu. Largou Bichento na cama vazia de S�mas e grudou os olhos, boquiaberta, na Firebolt. � Ah, Harry! Quem lhe mandou isso? � N�o tenho a menor id�ia. N�o tinha cart�o nem nada. Para sua surpresa, Hermione n�o pareceu nem excitada nem intrigada com a informa��o. Pelo contr�rio, ficou desapontada e mordeu o l�bio. � Que � que voc� tem? � perguntou Rony. � N�o sei � respondeu Hermione lentamente �, mas � meio esquisito, n�o �? Quero dizer, essa � uma vassoura muito boa, n�o �? Rony suspirou, exasperado. � � a melhor vassoura que existe no mundo, Hermione. � Ent�o deve ter sido realmente cara... � Provavelmente custou mais do que todas as vassouras da Sonserina, juntas � disse Rony alegremente. � Bem... Quem iria mandar a Harry uma coisa t�o cara e nem ao menos dizer que mandou? � perguntou Hermione. � Quem quer saber disso? � retrucou Rony, impaciente. � Escuta aqui, Harry, posso dar uma voltinha? Posso? � Acho que ningu�m devia montar essa vassoura por enquanto! � disse Hermione com a voz esgani�ada. Harry e Rony encararam a garota. � Que � que voc� acha que Harry vai fazer com ela... Varrer o ch�o? Mas antes que Hermione pudesse responder, Bichento saltou da cama de Simas direto para o peito de Rony. � TIRE-O-DAQUI! � berrou Rony, ao mesmo tempo em que as garras de Bichento rasgaram seu pijama e Perebas tentou uma fuga desesperada por cima do seu ombro. Rony agarrou Perebas pelo rabo e mirou em Bichento um pontap� mal calculado que acabou acertando o mal�o aos p�s da cama de Harry, derrubou-o, e fez Rony pular pelo quarto uivando de dor. O p�lo de Bichento de repente ficou em p�. Um assobio alto e fino come�ou a invadir o quarto. O bisbilhosc�pio de bolso saltara de dentro das meias velhas do tio V�lter e sa�ra rodopiando e cintilando pelo ch�o. � Eu tinha me esquecido dele! � exclamou Harry, que se abaixou e recolheu o bisbilhosc�pio. � Nunca uso estas meias se posso evitar... O pequeno pi�o girava e assobiava na palma da m�o do garoto. Bichento sibilava e bufava para ele. � � melhor voc� levar esse gato daqui, Hermione � disse Rony furioso, sentando-se na cama de Harry e massageando o ded�o do p�. � Ser� que d� para voc� guardar essa coisa? � acrescentou ele para Harry quando Hermione ia se retirando do quarto. Os olhos amarelos de Bichento continuavam fixos nele, cheios de mal�cia. Harry tornou a enfiar o bisbilhosc�pio nas meias e atirou-o de volta ao mal�o. Tudo que se ouvia agora eram os gemidos de dor e raiva que Rony abafava. Perebas estava aninhado nas m�os do dono. J� fazia tempo que Harry o vira fora do bolso do amigo e teve a desagrad�vel surpresa de observar que Perebas, antigamente t�o gordo, estava agora mag�rrimo; e tamb�m tinha perdido p�los em alguns pontos do corpo. � Ele n�o est� com uma apar�ncia muito boa, n�o �? � comentou Harry. � � estresse! � respondeu Rony. � Ele at� estaria bem se aquela bola idiota de p�los o deixasse em paz. Mas Harry, se lembrando que a mulher na loja de Animais M�gicos dissera que os ratos s� viviam tr�s anos, n�o p�de deixar de sentir que, a n�o ser que Perebas tivesse poderes jamais revelados, ele estava chegando ao fim da vida. E, apesar das queixas freq�entes do amigo de que o rato estava chato e in�til, ele tinha certeza de que Rony ficaria muito infeliz se o bicho morresse. O esp�rito de Natal estava decididamente em baixa no sal�o comunal da Grifin�ria �quela manh�. Hermione prendera Bichento no dormit�rio das meninas, mas estava furiosa com Rony por ter tentado chut�-lo; Rony continuava fumegando de raiva com a nova tentativa que o gato fizera de comer seu rato. Harry desistiu de tentar fazer os dois se falarem e se ocupou em examinar a Firebolt, que trouxera com ele para a sala. Por alguma raz�o isto pareceu aborrecer Hermione tamb�m; Ela n�o fez coment�rio algum, mas n�o parava de lan�ar olhares carrancudos � vassoura, como se esta tamb�m tivesse criticado Bichento. � hora do almo�o eles desceram para o Sal�o Principal e descobriram que as mesas das casas tinham sido encostadas nas paredes outra vez e que uma �nica mesa fora posta para doze pessoas no meio do sal�o. Os professores Dumbledore, Minerva MeGonagall, Snape, Sprout e Flitwick estavam sentados � mesa, bem como Filch, o zelador, que tirara o avental marrom de uso di�rio e estava enfatiotado com uma casaca muito velha de aspecto mofado. Havia apenas mais tr�s alunos, dois novatos extremamente nervosos e um garoto mal-humorado da Sonserina. � Feliz Natal! � desejou Dumbledore quando Harry, Rony e Hermione se aproximaram da mesa. � Como �ramos t�o poucos, me pareceu uma tolice usar as mesas das casas... Sentem-se, sentem-se! Harry, Rony e Hermione se sentaram lado a lado na ponta da mesa. � Balas de estalo! � disse Dumbledore entusiasmado, oferecendo a ponta de um tubo prateado a Snape, que o pegou com relut�ncia e puxou. Com um estampido, a bala se rompeu e surgiu um grande chap�u c�nico de bruxo encimado por um urubu empalhado. Harry, lembrando-se do bicho-pap�o, procurou os olhos de Rony e os dois sorriram; a boca de Snape se comprimiu e ele empurrou o chap�u para Dumbledore, que o trocou pelo pr�prio chap�u de bruxo na mesma hora. � Podem avan�ar! � convidou ele aos presentes, sorrindo para todos. Quando Harry estava se servindo de batatas assadas, as portas do sal�o se abriram. Era a Prof�. Sibila Trelawney, deslizando em dire��o � mesa como se andasse sobre rodas. Tinha posto um vestido verde de paet�s em homenagem � ocasi�o, o que a fazia parecer mais que nunca uma lib�lula enorme e cintilante. � Sibila, mas que surpresa agrad�vel! � saudou-a Dumbledore, levantando-se. � Estive consultando a minha bola de cristal, diretor � disse a professora com a voz mais et�rea e distante do mundo �, e para meu espanto, me vi abandonando o meu almo�o solit�rio para vir me reunir a voc�s. Quem sou eu para recusar uma inspira��o do destino? Na mesma hora me apressei a deixar minha torre e pe�o que me perdoem o atraso... � � claro � disse Dumbledore com os olhos cintilantes. Deixe-me apanhar uma cadeira para voc�... E, dizendo isso, usou a varinha para trazer, pelo ar, uma cadeira que girou alguns segundos e pousou com um baque entre os professores Snape e Minerva. A Prof�. Sibila, por�m, n�o se sentou; seus enormes olhos come�aram a passear pela mesa e ela subitamente deixou escapar um gritinho. � N�o me atrevo, diretor! Se eu me sentar, seremos treze! Nada poderia ser mais azarado! N�o vamos esquecer que quando treze comem juntos, o primeiro a se levantar ser� o primeiro a morrer! � Vamos correr o risco, Sibila � disse a Prof�. Minerva, impaciente. � Por favor, sente, o peru est� esfriando. Sibila hesitou, depois se acomodou na cadeira vazia, os olhos fechados e a boca contra�da, como se estivesse � espera de um raio atingir a mesa. Minerva enfiou uma grande colher na terrina mais pr�xima. � Tripas, Sibila? A professora fingiu n�o ouvir. Reabriu os olhos, correu-os ao redor da mesa, mais uma vez, e perguntou: � Mas onde est� o nosso caro Prof�. Lupin? � Receio que o coitado esteja doente outra vez � disse Dumbledore, fazendo um gesto para que todos come�assem a se servir. � Pouca sorte que isso fosse acontecer no dia de Natal. � Mas com certeza voc� j� sabia disso, n�o, Sibila? � disse a Prof�. Minerva com as sobrancelhas erguidas. Sibila lan�ou a Minerva um olhar gelado. � Claro que sabia, Minerva � disse com a voz controlada. � Mas a pessoa n�o deve fazer alarde de tudo que sabe. Muitas vezes finjo que n�o possuo Vis�o Interior para n�o deixar os outros nervosos. � Isto explica muita coisa � disse a outra com azedume. A voz da Prof�. Sibila subitamente se tornou bem menos et�rea. � Se voc� quer saber, Minerva, vi que o coitado do Prof�. Lupin n�o vai estar conosco por muito tempo. E ele pr�prio parece saber que seu tempo � curto. Decididamente fugiu quando eu me ofereci para consultar a bola de cristal para ele... � Imagine s� � comentou Minerva secamente. � Tenho minhas d�vidas � disse Dumbledore, com a voz alegre, mas ligeiramente mais alta, o que p�s um ponto final na conversa das duas � de que o Prof�. Lupin corra algum perigo iminente. Severo, voc� preparou a po��o para ele outra vez? � Preparei, diretor � respondeu Snape. � �timo. Ent�o logo ele dever� estar de p�... Derek, voc� j� se serviu dessas salsichas apimentadas? Est�o excelentes. O garoto do primeiro ano ficou vermelh�ssimo quando Dumbledore se dirigiu a ele, e apanhou a travessa de salsichas com as m�os tr�mulas. A Prof�. Sibila se comportou quase normalmente at� o finzinho do almo�o de Natal, duas horas depois. Empapu�ados com a comida e ainda usando os chap�us da festa, Harry e Rony se levantaram primeiro da mesa e ela deu um grito agudo. � Meus queridos! Qual dos dois se levantou da cadeira primeiro? Qual? � N�o sei � respondeu Rony olhando preocupado para Harry. � Duvido que v� fazer muita diferen�a � disse a Prof�. Minerva com frieza �, a n�o ser que o tarado da machadinha esteja esperando a� fora para matar o primeiro que sair para o sagu�o. At� Rony riu. Sibila pareceu muit�ssimo ofendida. � Vem com a gente? � perguntou Harry a Hermione. � N�o � respondeu a garota. � Quero falar uma coisa com a Prof�. McGonagall. � Provavelmente vai tentar ver se pode assistir a mais aulas � bocejou Rony quando se encaminhavam para o sagu�o de entrada, onde n�o encontraram nenhum louco da machadinha. Quando chegaram ao buraco do retrato, encontraram Sir Cadogan desfrutando um almo�o de Natal com dois frades, v�rios ex-diretores de Hogwarts e seu gordo p�nei. O cavaleiro levantou a viseira e brindou aos dois garotos com uma jarra de quent�o. � Feliz... Hic... Natal! Senha! � C�o desprez�vel � disse Rony. � E o mesmo para o senhor, meu senhor! � berrou Sir Cadogan quando o quadro se afastou para admitir os garotos. Harry foi diretamente ao dormit�rio, apanhou a Firebolt e o Estojo para Manuten��o de Vassouras que Hermione lhe dera de presente de anivers�rio, levou-os para baixo e tentou encontrar o que fazer com a vassoura; mas n�o havia lascas levantadas para aparar e o cabo ainda estava t�o reluzente que n�o tinha sentido lhe dar polimento. Ele e Rony ficaram ali admirando a vassoura de todos os �ngulos at� que o buraco do retrato se abriu e Hermione entrou, acompanhada da Prof�. Minerva. Embora Minerva McGonagall fosse diretora da Grifin�ria, Harry s� a vira antes na sala comunal uma vez, e para dar um aviso muito s�rio. Ele e Rony a olharam, os dois segurando a Firebolt. Hermione contornou o lugar em que eles estavam, se sentou, apanhou o livro mais pr�ximo e escondeu o rosto nele. � Ent�o � isso? � perguntou a professora com o seu olhar penetrante, aproximando-se da lareira para examinar a Firebolt. � A Srta. Granger acabou de me informar que algu�m lhe mandou uma vassoura, Potter. Harry e Rony se viraram para olhar Hermione. Surpreenderam sua testa corando por cima do livro, que ela segurava de cabe�a para baixo. � Posso? � perguntou McGonagall, mas n�o esperou resposta para tirar a vassoura das m�os dos garotos. Examinou-a atentamente, do cabo �s lascas. � Hum. E n�o havia nenhum bilhete, nenhum cart�o, Potter? Nenhuma mensagem de nenhum tipo? � N�o � disse Harry sem compreender. � Entendo... Bem, receio que tenha de levar a vassoura, Potter. � Q... Qu�? � exclamou Harry, ficando em p�. � Por qu�? � Teremos que verificar se n�o est� enfeiti�ada. Naturalmente eu n�o sou especialista nesse assunto, mas imagino que Madame Hooch e o Prof�. Flitwick possam desmont�-la... � Desmont�-la? � repetiu Rony, como se a professora fosse maluca. � N�o deve levar mais do que umas semanas. Voc� a receber� de volta se tivermos certeza de que est� limpa. � A vassoura n�o tem nada errado! � exclamou Harry, a voz ligeiramente tr�mula. � Francamente, professora.. � Voc� n�o pode saber, Potter � disse a professora com bondade �, pelo menos at� ter voado nela, e receio que isto esteja fora de quest�o at� nos certificarmos de que ningu�m a alterou. Eu o manterei informado. A Prof�. McGonagall deu meia-volta levando a Firebolt, e atravessou o buraco do retrato, que se fechou em seguida. Harry ficou observando a professora partir, a latinha de cera de polimento ainda na m�o. Rony, por�m, se voltou contra Hermione. � Para que voc� foi correndo contar � Prof�. Minerva? Hermione largou o livro de lado. Seu rosto continuava vermelho, mas ela se levantou e enfrentou Rony, desafiando-o. � Porque achei, e a Prof�. McGonagall concorda comigo, que provavelmente a vassoura foi mandada a Harry por Sirius Black! CAP�TULO DOZE O Patrono Harry sabia que Hermione tivera boa inten��o, mas isso n�o o impedia de estar aborrecido com a amiga. Ele fora dono da melhor vassoura do mundo por breves horas e agora, por interfer�ncia dela, n�o sabia se iria rever a vassoura. Harry tinha certeza de que, no momento, n�o havia problema algum com a Firebolt, mas em que estado ela ficaria depois de ser submetida a todo tipo de teste antifeiti�o? Rony tamb�m estava furioso com Hermione. Na sua opini�o, desmontar uma Firebolt nova em folha era nada menos que um ato criminoso. Hermione, que continuava convicta de que agira visando o bem do amigo, come�ou a evitar a sala comunal. Os dois garotos supunham que ela se refugiara na biblioteca e n�o tentaram persuadi-la a voltar. Em tudo por tudo, eles ficaram felizes quando o restante da escola voltou, pouco depois do Ano-Novo, e a Torre da Grifin�ria novamente se encheu de gente e ru�dos. Ol�vio procurou Harry na v�spera do novo trimestre come�ar. � Teve um bom Natal? � perguntou ele e, em seguida, sem esperar resposta, se sentou, baixou a voz e disse: � Andei pensando durante o Natal, Harry. Depois da �ltima partida, entende. Se os dementadores forem ao pr�ximo... Quero dizer... N�o podemos nos dar ao luxo de voc�... Bem... Ol�vio parou, parecendo constrangido. � J� estou cuidando disso � falou Harry depressa. � O Prof�. Lupin prometeu que me ensinaria a afastar os dementadores. Devemos come�ar esta semana. Ele falou que teria tempo depois do Natal. � Ah � respondeu Ol�vio, o rosto se desanuviando. � Bem, nesse caso... Eu n�o queria realmente perder voc� como apanhador, Harry j� encomendou uma vassoura nova? � N�o. � Qu�! � melhor voc� se mexer, sabe, n�o vai poder montar aquela Shooting Star contra o time da Corvinal! � Ele ganhou uma Firebolt de Natal � disse Rony. � Uma Firebolt? N�o! S�rio? Uma Firebolt de verdade? � N�o precisa se excitar, Ol�vio � disse Harry deprimido. � N�o est� mais comigo. Foi confiscada. � E explicou tudo sobre a Firebolt e como estava sendo verificada para saber se fora enfeiti�ada. � Enfeiti�ada? Como poderia ter sido enfeiti�ada? � Sirius Black � disse Harry, cansado. � Dizem que ele est� querendo me pegar. Ent�o McGonagall calculou que poderia ter me mandado a vassoura. Descartando a informa��o de que um assassino famoso estava atr�s do seu apanhador, Ol�vio disse: � Mas Black n�o poderia ter comprado uma Firebolt! Ele est� fugindo! O pa�s inteiro est� � procura dele! Como � que iria simplesmente entrar na Artigos de Qualidade para Quadribol e comprar uma vassoura? � Eu sei, mas ainda assim McGonagall quer desmont�-la... Ol�vio empalideceu. � Vou falar com ela, Harry � prometeu. � Vou cham�-la � raz�o... Uma Firebolt... Uma aut�ntica Firebolt, no nosso time... Ela quer que Grifin�ria ganhe tanto quanto n�s... Vou faz�-la ver o absurdo. Uma Firebolt... As aulas recome�aram no dia seguinte. A �ltima coisa que algu�m ia querer fazer era passar duas horas l� fora em uma fria manh� de janeiro, mas Hagrid providenciara uma fogueira cheia de salamandras para alegria dos alunos, que passaram uma aula incomumente boa juntando madeira e folhas secas para manter o fogo alto enquanto os bichinhos, que adoram chamas, subiam e desciam pelas toras embranquecidas de calor. A primeira aula de Adivinha��o do novo trimestre foi bem menos divertida; a Prof�. Sibila estava agora come�ando a ensinar quiromancia � turma e n�o perdeu tempo para informar Harry de que ele possu�a a menor linha da vida que ela j� vira. Mas era � aula de Defesa contra as Artes das Trevas que ele estava ansioso para chegar; depois da conversa com Ol�vio, queria come�ar as aulas antidementadores o mais cedo poss�vel. � Ah, � verdade � disse Lupin quando Harry o lembrou da promessa no final da aula. � Vejamos... Que tal �s oito horas da noite na quinta? A sala de aula de Hist�ria da Magia deve ser suficientemente grande... Tenho que pensar muito como vamos fazer. N�o podemos trazer um dementador real ao castelo para praticar... � Ele continua com cara de doente, n�o acha? � perguntou Rony quando caminhavam pelo corredor para ir jantar. � Que � que voc� acha que ele tem? Ouviram um alto muxoxo de impaci�ncia atr�s deles. Era Hermione que estivera sentada ao p� de uma armadura, rearrumando a mochila, t�o cheia de livros que n�o fechava. � E por que � que voc� esta fazendo muxoxo para a gente? � perguntou Rony, irritado. � Por nada � respondeu Hermione em tom de superioridade, passando a mochila pelo ombro. � Nada, n�o � disse Rony. � Eu estava imaginando qual seria o problema de Lupin, e voc�... � Bem, ser� que n�o est� �bvio? � disse a garota com um olhar de superioridade de dar nos nervos. � Se voc� n�o quer dizer, n�o diga � retrucou Rony com rispidez. � �timo � disse Hermione, arrogante, e foi-se embora. � Ela n�o sabe � disse Rony, olhando, rancoroso, para a garota que se afastava. � S� est� tentando fazer a gente voltar a falar com ela. Oito horas da noite de quinta-feira, Harry saiu da Torre da Grifin�ria para a sala de Hist�ria da Magia. Quando chegou, a sala estava escura e vazia, mas ele acendeu as luzes com a varinha e j� estava esperando havia uns cinco minutos quando o Prof�. Lupin apareceu, trazendo uma grande caixa, que depositou em cima da escrivaninha do Prof�. Binns. � Que � isso? � perguntou Harry. � Outro bicho-pap�o � respondeu Lupin tirando a capa. � andei passando um pente fino no castelo desde ter�a-feira e por sorte encontrei este aqui escondido no arquivo do Sr. Filch. � o mais pr�ximo que chegaremos de um dementador de verdade, O bicho-pap�o se transformar� em um dementador quando o vir, ent�o poderemos praticar. Posso guard�-lo na minha sala quando n�o estiver em uso; tem um arm�rio embaixo da minha escrivaninha de que ele vai gostar. � Tudo bem � disse Harry procurando falar como se n�o estivesse nada apreensivo, mas apenas feliz por Lupin ter encontrado um substituto t�o bom para um dementador real. � Ent�o... � O Prof�. Lupin apanhou a varinha e fez sinal para Harry imit�-lo. � O feiti�o que vou tentar lhe ensinar faz parte da magia muito avan�ada, Harry, muito acima do N�vel Normal de Bruxaria. � chamado o Feiti�o do Patrono. � O que � que ele faz? � perguntou Harry nervoso. � Bem, quando funciona corretamente, ele conjura um Patrono, que � uma esp�cie de antidementador, um guardi�o que age como um escudo entre voc� e o dementador. Harry teve uma s�bita vis�o de si mesmo agachado atr�s de um vulto do tamanho de Hagrid segurando um enorme bast�o. O Prof�. Lupin continuou: � O Patrono � um tipo de energia positiva, uma proje��o da pr�pria coisa de que o dementador se alimenta: esperan�a, felicidade, desejo de sobreviv�ncia, mas ele n�o consegue sentir desesperan�a, como um ser humano real, por isso o dementador n�o pode afet�-lo. Mas preciso preveni-lo, Harry, de que o feiti�o talvez seja demasiado avan�ado para voc�. Muitos bruxos habilitados t�m dificuldade de execut�-lo. � Que aspecto tem um Patrono? � perguntou Harry, curioso. � Cada um � �nico para o bruxo que o conjura. � E como se conjura? � Com uma f�rmula m�gica, que s� far� efeito se voc� estiver concentrado, com todas as suas for�as, em uma �nica lembran�a muito feliz. Harry procurou em sua mente uma lembran�a feliz. Com certeza, nada que tivesse lhe acontecido na casa dos Dursley iria servir. Por fim, decidiu-se pelo momento em que voou numa vassoura pela primeira vez. � Certo � disse, procurando lembrar o mais exatamente poss�vel da maravilhosa sensa��o de voar. � A f�rmula � a seguinte � Lupin pigarreou para limpar a garganta. � Expecto Patronum! � Expecto Patronum! � repetiu Harry em voz baixa �, Expecto... � Est� se concentrando com todas as for�as em sua lembran�a feliz? � Ah... Estou � respondeu Harry, for�ando depressa seu pensamento a retornar �quele primeiro v�o de vassoura. � Expecto patrono. N�o, patronum... Desculpe... Expecto Patronum! Expecto Patronum!... � Alguma coisa se projetou subitamente da ponta de sua varinha; parecia um fiapo de g�s prateado. � O senhor viu isso? � perguntou Harry, excitado. � Aconteceu uma coisa! � Muito bem � aprovou Lupin sorrindo. � Certo, ent�o, est� pronto para experimentar com um dementador? � Estou � disse o garoto, segurando sua varinha com firmeza e indo para o meio da sala de aula deserta. Tentou manter o pensamento no v�o, mas alguma coisa n�o parava de interferir... A qualquer segundo agora, poderia tornar a ouvir sua m�e... Mas ele n�o devia pensar nisso ou tornaria a ouvi-la, e ele n�o queria... Ou ser� que queria? Lupin segurou a tampa da caixa e levantou-a. Um dementador se ergueu lentamente da caixa, o rosto encapuzado virado para Harry, uma m�o luzidia, coberta de cascas de feridas, segurando a capa. As luzes em volta da sala de aula piscaram e se apagaram. O dementador saiu da caixa e come�ou a se deslocar silenciosamente em dire��o a Harry, respirando profundamente, uma respira��o vibrante. Uma onda de frio intensa o engolfou... � Expecto patronum! � berrou Harry. � Expecto Patronum! Mas a sala e o dementador foram se dissolvendo... Harry se viu caindo outra vez por um denso nevoeiro branco, e a voz de sua m�e mais alta que nunca, ecoava em sua cabe�a... �Harry n�o! Harry n�o! Por favor... farei qualquer coisa...� "Afaste-se. Afaste-se, menina...� � Harry! Harry de repente recuperou os sentidos. Estava deitado de costas no ch�o. As luzes da sala tinham reacendido. Ele n�o precisou perguntar o que acontecera. � Desculpe � murmurou, se sentando e sentindo o suor frio escorrer por dentro dos �culos. � Voc� est� bem? � perguntou Lupin. � Estou... � Harry usou uma carteira para se levantar, apoiando-se nela. � Tome aqui � Lupin lhe deu um sapo de chocolate. � Coma isso antes de tentarmos outra vez. Eu n�o esperava que voc� conseguisse da primeira vez; de fato, ficaria assombrado se tivesse conseguido. � Est� piorando � murmurou Harry, mordendo a cabe�a do sapo. � Eu a ouvi mais alto dessa vez... E ele... Voldemort. Lupin parecia mais p�lido do que de costume. � Harry, se voc� n�o quiser continuar, vou compreender muito bem... � Eu quero! � exclamou Harry com vigor, enfiando o resto do sapo de chocolate na boca. � Tenho que continuar! O que vai acontecer se os dementadores aparecerem na partida contra Corvinal? N�o posso me dar ao luxo de cair outra vez. Se perdermos a partida, perderemos a Ta�a de Quadribol! � Muito bem, ent�o... � disse Lupin. � Talvez queira escolher outra lembran�a, uma lembran�a feliz, quero dizer, para se concentrar... Essa primeira parece que n�o foi bastante forte... Harry fez um esfor�o mental e concluiu que sua emo��o quando Grifin�ria ganhara o Campeonato das Casas, no ano anterior, fora decididamente uma lembran�a muito feliz. Segurou a varinha com for�a, outra vez, e tomou posi��o no meio da sala. � Pronto? � perguntou Lupin segurando a tampa da caixa. � Pronto � disse Harry, tentando por tudo encher a cabe�a de pensamentos felizes sobre a vit�ria de Grifin�ria, em lugar dos pensamentos sombrios sobre o que ia acontecer quando a caixa se abrisse. � J�! � disse Lupin destampando a caixa. A sala ficou gelada e escura mais uma vez. O dementador avan�ou deslizando, inspirando com for�a; a m�o podre estendida para Harry... � Expecto Patronum! � berrou Harry. � Expecto Patronum! Expecto Pat... Um nevoeiro branco obscureceu seus sentidos... Vultos grandes e difusos moveram-se � sua volta... Ent�o ele ouviu uma nova voz, uma voz de homem, gritando em p�nico... "L�lian, leve Harry e v�! � ele! V�! Corra! Eu o atraso...� Os ru�dos de algu�m saindo aos trope�os de uma sala... Uma porta se escancarando... Uma gargalhada aguda... � Harry! Harry. Acorde... Lupin dava tapinhas em seu rosto. Desta vez levou um minuto at� Harry entender por que estava deitado no ch�o empoeirado de uma sala de aula. � Ouvi meu pai � murmurou Harry � � a primeira vez que o ou�o, ele tentou enfrentar Voldemort sozinho, para dar � minha m�e tempo de fugir... O garoto de repente percebeu que havia em seu rosto l�grimas misturadas ao suor. Abaixou a cabe�a o mais que p�de e enxugou as l�grimas nas vestes, fingindo estar amarrando um sapato, para Lupin n�o ver. � Voc� ouviu Tiago? � disse Lupin numa voz estranha. � Ouvi... � O rosto seco, Harry ergueu a cabe�a. � Por qu�... O senhor conheceu meu pai? � Eu... Para falar a verdade, conheci. Fomos amigos em Hogwarts. Escute, Harry... Talvez dev�ssemos parar por hoje. Este feiti�o � absurdamente avan�ado... Eu n�o devia ter sugerido que voc� se submetesse a essa... � N�o! � disse Harry e tornou a se levantar. � Vou tentar mais uma vez! N�o estou pensando em lembran�as muito felizes, � s� isso... Espere a�... O garoto puxou pela mem�ria. Uma lembran�a realmente, mas realmente feliz... Uma que ele pudesse transformar em um Patrono v�lido e forte... O momento em que ele descobrira que era bruxo e ia deixar a casa dos Dursley para freq�entar Hogwarts! Se isso n�o fosse uma lembran�a feliz, ele n�o sabia qual seria... Concentrando-se com todas as for�as no que sentira quando compreendeu que ia deixar a Rua dos Alfeneiros, Harry se levantou e ficou de frente para a caixa mais uma vez. � Pronto? � perguntou Lupin, que parecia fazer isso contrariando o seu bom senso. � Concentrou-se com firmeza? Muito bem... J�! Ele tirou a tampa da caixa pela terceira vez, e o dementador se levantou; a sala esfriou e escureceu. � EXPECTO PATRONUM! � berrou Harry. � EXPECTO PATRONUM! EXPECTO PATRONUM! A gritaria dentro da cabe�a de Harry recome�ara � exceto que desta vez, parecia vir de um r�dio mal sintonizado � fraca e forte e fraca outra vez... ele continuava a ver o dementador � que parara � ent�o, um enorme vulto prateado irrompeu da ponta de sua varinha e ficou pairando entre ele e o dementador, e, embora suas pernas tivessem perdido as for�as, Harry continuava de p�, por quanto tempo ele n�o tinha muita certeza... � Riddikulus. � bradou Lupin saltando � frente. Ouviu-se um estalo muito alto e o di�fano Patrono desapareceu juntamente com o dementador; o garoto afundou em uma cadeira, sentindo a exaust�o de quem correra mais de um quil�metro, e as pernas tr�mulas. Pelo canto do olho, viu o Prof�. Lupin enfiar, � for�a, o bicho-pap�o na caixa, com a varinha; ele se transformou mais uma vez em uma bola prateada. � Excelente! � exclamou Lupin, aproximando-se do garoto. � Excelente Harry! Decididamente foi um come�o! � Podemos tentar mais uma vez? S� mais umazinha? � Agora, n�o � disse Lupin com firmeza. � Voc� j� fez o bastante por uma noite. Tome... E deu a Harry uma enorme barra do melhor chocolate da Dedosdemel. � Coma bastante ou Madame Pomfrey vai querer me matar. � mesma hora na semana que vem? � Ok � concordou Harry. Ele deu uma dentada no chocolate enquanto observava Lupin apagar as luzes que tinham reacendido com o desaparecimento do dementador. Acabava de lhe ocorrer um pensamento. � Prof�. Lupin, se o senhor conheceu meu pai, ent�o deve ter conhecido Sirius Black, tamb�m. Lupin se virou na mesma hora. � Que foi que lhe deu essa id�ia? � perguntou ele com rispidez. � Nada... Quero dizer, eu soube que eles tamb�m eram amigos em Hogwarts... O rosto de Lupin se descontraiu. � �, eu o conheci � disse brevemente. � Ou pensei que o conhecia. � melhor voc� ir andando, Harry, est� ficando tarde. O garoto saiu da sala, andou um pouco pelo corredor, dobrou um canto, depois se desviou para tr�s de uma armadura e se sentou em sua base para terminar o chocolate, desejando que n�o tivesse mencionado Black, pois Lupin obviamente n�o gostava de tocar nesse assunto. Ent�o os pensamentos de Harry foram vagando aos poucos para sua m�e e seu pai. Ele se sentiu esgotado e estranhamente vazio, ainda que estivesse empanturrado de chocolate. Por mais horr�vel que fosse ouvir os �ltimos momentos de seus pais repassarem por sua cabe�a, eles tinham sido os �nicos em que Harry ouvira as vozes dos dois desde que era pequeno. Mas ele n�o seria capaz de produzir um Patrono adequado se ficasse desejando ouvir os pais novamente... � Eles est�o mortos � disse a si mesmo com severidade. � Est�o mortos e ficar ouvindo seus ecos n�o vai traz�-los de volta. � melhor voc� se controlar se quiser aquela Ta�a de Quadribol. Ele se levantou, atochou o �ltimo peda�o de chocolate na boca e rumou para a Torre da Grifin�ria. Corvinal jogou contra Sonserina uma semana depois do inicio do semestre. Sonserina ganhou, mas foi uma vit�ria apertada. Segundo Ol�vio, isto era uma boa not�cia para Grifin�ria, que tiraria o segundo lugar se tamb�m batesse Corvinal. Portanto, o capit�o aumentou o n�mero de treinos para cinco por semana. Isto significou que com as aulas antidementadores de Lupin, que em si eram mais exaustivas que os treinos de Quadribol, s� sobrara a Harry uma noite por semana para fazer todos os deveres de casa. Ainda assim, ele n�o estava aparentando tanto desgaste quanto Hermione, cuja imensa carga de trabalho parecia estar finalmente cansando-a. Todas as noites, sem falta, Hermione era vista a um canto da sala comunal, v�rias mesas cheias de livros, tabelas de Aritmancia, dicion�rios de runas, diagramas de trouxas levantando grandes objetos e ainda fich�rios e mais fich�rios de extensas anota��es; ela pouco falava com os colegas e respondia mal quando era interrompida. � Como � que ela est� fazendo isso? � murmurou Rony para Harry certa noite, quando este se sentara para preparar uma reda��o dif�cil sobre venenos indetect�veis pedida por Snape. Harry ergueu a cabe�a. Mal conseguiu divisar Hermione por tr�s da pilha inst�vel de livros. � Isso o qu�? � Assistindo a todas as aulas! � disse Rony. � Ouvi Mione conversando com a Prof�. Vector, aquela bruxa da Aritmancia, hoje de manh�. Estavam discutindo a aula de ontem, mas Mione n�o podia ter estado l�, porque estava conosco na de Trato das Criaturas M�gicas! E Ernesto McMillan me disse que ela nunca faltou a nenhuma aula de Estudos dos Trouxas, mas metade das aulas s�o no mesmo hor�rio de Adivinha��o, e ela tamb�m nunca faltou a nenhuma l�! Harry n�o tinha tempo, naquele momento, para desvendar o mist�rio dos hor�rios imposs�veis de Hermione; ele realmente precisava terminar o trabalho para Snape. Dois segundos depois, no entanto, foi novamente interrompido, desta vez por Ol�vio. � M�s not�cias Harry. Acabei de ir falar com a Prof�. McGonagall sobre a Firebolt. Ela... Hum... Foi um pouco grossa comigo. Me disse que as minhas prioridades estavam trocadas. Parece que entendeu que eu estava mais preocupado em ganhar a Ta�a do que com as suas chances de sobreviv�ncia. S� porque eu disse que n�o me importava se a vassoura o derrubasse, desde que voc� apanhasse o pomo primeiro. � Ol�vio sacudiu a cabe�a, incr�dulo. � Francamente, o jeito como ela gritou comigo dava at� para pensar que eu tinha dito alguma coisa horr�vel.. Ent�o perguntei quanto tempo mais ela ia ficar com a vassoura... � Ol�vio amarrou a cara e imitou a voz severa da professora: �O tempo que for preciso, Wood"... Acho que est� na hora de voc� encomendar uma vassoura nova, Harry. Tem um formul�rio de pedido no final do Qual... Vassoura... voc� podia comprar uma Nimbus 2001, como a do Malfoy. � N�o vou comprar nada que Malfoy ache bom � disse Harry em tom definitivo. Janeiro transitou para fevereiro imperceptivelmente, sem altera��o no frio extremo que fazia. A partida contra Corv�nal estava cada dia mais pr�xima, mas Harry ainda n�o encomendara a vassoura nova. Ele agora pedia � Prof�. McGonagall not�cias da Firebolt depois da aula de Transforma��o. Rony parava, cheio de esperan�a, ao lado dele, Hermione passava depressa com o rosto virado. � N�o, Potter, ainda n�o posso devolv�-la � disse a professora na d�cima segunda vez que isto aconteceu, antes mesmo que ele abrisse a boca para perguntar. � J� a verificamos com rela��o � maioria dos feiti�os comuns, mas o Prof�. Flitw�ck acredita que a vassoura possa estar carregando um Feiti�o de Velocidade. Eu o informarei quando tivermos terminado a verifica��o. Agora, por favor, pare de me pressionar. Para piorar as coisas, as aulas antidementadores n�o estavam correndo t�o bem quanto Harry esperara. Em v�rias sess�es ele fora capaz de produzir um vulto indistinto e prateado, todas as vezes que o dementador se aproximara dele, mas era um Patrono demasiado fraco para afugentar o dementador. A �nica coisa que fazia era pairar no ar, como uma nuvem semitransparente, e esgotar a energia de Harry enquanto o garoto lutava para mant�-lo presente. Harry sentiu raiva de si mesmo, e culpa pelo desejo secreto de ouvir mais uma vez as vozes dos pais. � Voc� est� esperando demais de si mesmo � disse o Prof�. Lupin com severidade, na quarta semana de treino. � Para um bruxo de treze anos, at� mesmo um Patrono pouco n�tido � um grande feito. Voc� n�o est� desmaiando mais, n�o �? � Eu pensei que um Patrono... Transformasse os dementadores em alguma coisa � disse Harry desanimado. � Fizesse-os desaparecer... � O verdadeiro Patrono de fato faz isso. Mas voc� j� conseguiu muito em pouqu�ssimo tempo. Se os dementadores aparecerem na sua pr�xima partida de Quadribol, voc� poder� mant�-los � dist�ncia em tempo suficiente para voltar ao ch�o. � O senhor disse que � mais dif�cil quando h� um monte deles. � Tenho total confian�a em voc� � respondeu Lupin sorrindo. � Tome... Voc� mereceu uma bebida, uma coisa do Tr�s Vassouras. Voc� n�o deve ter provado antes... O professor tirou duas garrafinhas da maleta. � Cerveja amanteigada! � exclamou Harry sem pensar. � Ah, eu gosto disso! Lupin ergueu uma sobrancelha. � Ah... Rony e Hermione trouxeram para mim de Hogsmeade � mentiu Harry depressa. � Entendo � disse Lupin, embora continuasse a parecer ligeiramente desconfiado. � Bem... Vamos brindar � vit�ria de Grifin�ria sobre Corvinal! N�o que, como professor, eu deva tomar partido... � acrescentou ele depressa. Os dois beberam a cerveja amanteigada em sil�ncio, at� que Harry disse uma coisa que o estava deixando intrigado havia algum tempo. � Que � que tem por baixo do capuz do dementador? O professor baixou a garrafinha pensativo. � Hummm... Bem, as �nicas pessoas que realmente sabem n�o est�o em condi��es de nos responder. Veja, o dementador tira o capuz somente para usar sua �ltima arma, a pior. � Que � qual? � O Beijo do Dementador � disse Lupin com um sorriso enviesado. � � o que d�o naqueles que eles querem destruir completamente. Suponho que devam ter algum tipo de boca sob o capuz, porque ferram as mand�bulas na boca da v�tima... E sugam sua alma. Harry, sem querer, cuspiu um pouco de cerveja amanteigada. � Qu�... Eles matam...? � Ah, n�o � disse Lupin. � Fazem muito pior. A pessoa pode viver sem alma, sabe, desde que o c�rebro e o cora��o continuem trabalhando. Mas perde a consci�ncia do eu, a mem�ria... Tudo. N�o tem chance alguma de se recuperar. Apenas... Existe. Como uma concha vazia. E a alma fica para sempre... Perdida. Lupin bebeu mais um pouco da cerveja, depois continuou: � � o destino que espera Sirius Black. Li no Profeta Di�rio hoje de manh�, o ministro deu aos dementadores permiss�o para fazerem isso se o encontrarem. Harry ficou confuso por um instante com a id�ia de algu�m ter a alma sugada pela boca. Mas depois pensou em Black. � Ele merece � disse de repente. � Voc� acha? � perguntou Lupin sem pensar muito. � Voc� acha mesmo que algu�m merece isso? � Acho � disse Harry resistindo. � Por... Causa de umas coisas... Ele gostaria de ter contado a Lupin a conversa que ouvira no Tr�s Vassouras a respeito de Black ter tra�do seus pais, mas isto teria implicado em revelar que fora a Hogsmeade sem autoriza��o, e ele sabia que o professor n�o ia gostar nem um pouco disso. Ent�o, terminou a cerveja amanteigada, agradeceu a Lupin e deixou a sala de Hist�ria da Magia. Harry gostaria de n�o ter perguntado o que havia por baixo do capuz de um dementador, a resposta fora horr�vel, e ele ficou t�o perdido em considera��es sobre o que seria ter a alma sugada que deu um encontr�o na Prof�. Minerva no meio da escada. � Preste aten��o por onde anda, Potter! � Desculpe, professora... � Estive agorinha mesmo procurando voc� na sala comunal da Grifin�ria. Bem, tome aqui, fizemos tudo que pudemos imaginar, e parece que n�o h� nada errado com a vassoura. Voc� tem um �timo amigo em algum lugar, Potter... O queixo de Harry caiu. A professora estava lhe devolvendo a Firebolt, cujo aspecto continuava magn�fico como sempre fora. � Posso ficar com ela? � perguntou Harry com a voz fraca. � S�rio? � S�rio � disse a professora sorrindo. � Acho que voc� vai precisar pegar o jeito dela antes da partida de s�bado, n�o? E Potter... Fa�a for�a para ganhar, sim? Ou vamos ficar fora do campeonato pelo oitavo ano seguido, como o Prof�. Snape teve a bondade de me lembrar ainda ontem � noite... Sem fala, Harry carregou a Firebolt escada acima para a Torre da Grifin�ria. Quando dobrou um canto, viu Rony, que corria ao seu encontro, rindo de orelha a orelha. � Ela devolveu? Que maravilha! Escuta, posso dar aquela voltinha? Amanh�? � Claro... Qualquer coisa... � disse Harry seu cora��o mais leve do que estivera naquele �ltimo m�s. � Quer saber de uma coisa... Dev�amos fazer as pazes com a Mione... Ela s� estava querendo ajudar... � Tudo bem � concordou Rony. � Ela est� na sala comunal agora, estudando, para variar... Quando entraram no corredor para a Torre da Grifin�ria, viram Neville Longbottom insistindo com Sir Cadogan, que aparentemente se recusava a deix�-lo entrar. � Eu anotei! � dizia Neville com voz de choro. � Mas devo ter deixado cair em algum lugar! � Vou mesmo acreditar! � bradou Sir Cadogan. Depois, avistando Harry e Rony. � Boa noite, meus valentes soldados! Venham meter este louco a ferros. Ele est� tentando entrar � for�a nas c�maras interiores! � Ah, cala a boca � exclamou Rony quando ele e Harry emparelharam com Neville. � Perdi a senha! � contou o garoto, infeliz. � Fiz Sir Cadogan me dizer quais eram as senhas que ia usar esta semana, porque ele n�o p�ra de mudar e agora n�o sei o que fiz com elas! � Odsb�diquins � disse Harry a Sir Cadogan, que ficou desapontad�ssimo e, com relut�ncia, girou o quadro para a frente para deix�-los entrar na sala comunal. Houve um s�bito murm�rio de excita��o em que todas as cabe�as se viraram e, no momento seguinte Harry foi cercado pelos colegas que exclamavam, assombrados com a Firebolt. � Onde foi que voc� arranjou essa vassoura, Harry? � Deixa eu dar uma voltinha? � Voc� j� andou nela, Harry? � Corvinal n�o vai ter a menor chance, o pessoal l� usa Cleansweep Sevens! � Me deixa s� segur�-la um pouquinho, Harry? Passados uns dez minutos mais ou menos, durante os quais a Firebolt passou de m�o em m�o, e foi admirada de todos os �ngulos, a garotada se dispersou e Harry e Rony puderam ver Hermione direito, a �nica pessoa que n�o tinha corrido ao encontro dos garotos, curvada sobre seu trabalho, evitando encontrar o olhar deles. Harry e Rony se aproximaram da mesa e finalmente Hermione ergueu a cabe�a. � Me devolveram a vassoura � disse Harry, sorrindo para a amiga e erguendo a Firebolt no ar. � Est� vendo, Mione? N�o havia nada errado com ela � disse Rony. � Bem... Mas podia ter havido! Quero dizer, pelo menos agora voc� sabe que ela � segura! � �, suponho que sim � disse Harry. � � melhor eu ir guard�-la l� em cima... � Eu levo! � disse Rony ansioso. � Tenho que dar o t�nico a Perebas. Rony apanhou a vassoura e, segurando-a como se fosse de vidro, levou-a escada acima para o dormit�rio dos meninos. � Posso me sentar, ent�o? � perguntou Harry a Hermione. � Suponho que sim � disse a garota, tirando uma grande pilha de pergaminhos de uma cadeira. Harry deu uma olhada na mesa atravancada, no longo trabalho de Aritmancia em que a tinta ainda estava molhada, no trabalho ainda mais longo de Estudos dos Trouxas ("Explique por que os trouxas precisam de eletricidade") e na tradu��o de runas em que Hermione trabalhava agora. � Como � que voc� est� conseguindo dar conta de tudo isso? � perguntou o garoto. � Ah, bem... Voc� sabe, trabalhando � be�a. � De perto, Harry viu que ela parecia quase t�o cansada quanto Lupin. � Por que voc� n�o tranca algumas mat�rias? � perguntou o garoto, observando-a erguer os livros para procurar o dicion�rio de runas. � Eu n�o poderia fazer isso! � respondeu Hermione, escandalizada. � Aritmancia parece horr�vel � comentou Harry, apanhando uma complicada tabela num�rica. � Ah, n�o, � maravilhosa! � respondeu Hermione s�ria. � � a minha mat�ria favorita! �... Mas exatamente o que era maravilhoso na Aritmancia, Harry jamais chegou a saber. Naquele exato momento, um grito estrangulado ecoou pela escada do dormit�rio dos meninos. Todos na sala se calaram e olharam petrificados para a subida. Ent�o ouviram os passos apressados de Rony, cada vez mais fortes... E em seguida ele apareceu, arrastando um len�ol. � OLHA! � berrou ele, se dirigindo � mesa de Hermione. � OLHA! � berrou de novo, sacudindo o len�ol na cara da garota. � Rony, que...? � PEREBAS! OLHE! PEREBAS! Hermione procurava afastar o corpo, com uma express�o de total perplexidade. Harry olhou para o len�ol que Rony segurava. Havia alguma coisa vermelha nele. Alguma coisa que se parecia horrivelmente com... � SANGUE! � bradou Rony no sil�ncio de atordoamento que invadiu a sala. � ELE DESAPARECEU! E SABE O QUE TINHA NO CH�O? � N... N�o � respondeu Hermione com a voz tr�mula. Rony atirou uma coisa em cima da tradu��o de runas de Hermione. Ela e Harry se curvaram para ver. Em cima das estranhas formas pontiagudas havia v�rios p�los de felino, compridos e amarelo-avermelhados. CAP�TULO TREZE Grifin�ria versus Corvinal Parecia o fim da amizade entre Rony e Hermione. Estavam t�o zangados um com o outro que Harry n�o conseguia ver como poderiam, um dia, fazer as pazes. Rony estava enfurecido porque Hermione nunca levara a s�rio as tentativas de Bichento para devorar Perebas, n�o se dera o trabalho de vigi�-lo de perto e continuava fingindo que o gato era inocente, sugerindo que Rony procurasse Perebas embaixo das camas dos garotos. Por sua vez, Hermione insistia ferozmente que Rony n�o tinha provas de que Bichento devorara Perebas, que os p�los talvez estivessem no dormit�rio desde o Natal, e que o garoto alimentara preconceitos contra o gato desde que Bichento aterrissara na cabe�a dele na Animais M�gicos. Pessoalmente, Harry tinha certeza de que Bichento comera Perebas, e quando tentou mostrar a Hermione que todas as evid�ncias apontavam nessa dire��o, a garota zangara-se com ele tamb�m. � Tudo bem, fique do lado do Rony, eu sabia que voc� ia fazer isso! � disse ela com voz aguda. � Primeiro a Firebolt, agora Perebas, tudo � minha culpa, n�o �? Ent�o me deixe em paz, Harry tenho muito trabalho a fazer. Rony estava realmente sofrendo muito com a perda do rato. � Vamos, Rony, voc� vivia dizendo que Perebas era chato � disse Fred para consol�-lo. � E seu rato estava doente havia s�culos, estava definhando. Provavelmente foi melhor para ele morrer depressa, de uma engolida, provavelmente nem sofreu. � Fred! � exclamou Gina, indignada. � Ele s� fazia comer e dormir, Rony, voc� mesmo dizia � argumentou Jorge. � Ele mordeu Goyle para nos defender uma vez! � disse Rony, infeliz. � Lembra, Harry? � �, � verdade � confirmou o amigo. � Foi o ponto alto da vida dele � disse Fred, incapaz de manter a cara s�ria. � Que a cicatriz no dedo de Goyle seja uma homenagem eterna a mem�ria de Perebas. Ah, sai dessa, Rony, vai at� Hogsmeade e compra um rato novo. Que adianta ficar se lamentando? Numa �ltima tentativa de animar Rony, Harry o convenceu a ir ao �ltimo treino do time da Grifin�ria, antes da partida com Corvinal, para poder dar uma volta na Firebolt quando terminassem. Isto pareceu, por um momento, desviar os pensamentos de Rony em Perebas ("Grande! Posso tentar fazer uns gols montado na vassoura?"), e os dois sa�ram para o campo de Quadribol juntos. Madame Hooch, que continuava a supervisionar os treinos da Grifin�ria para vigiar Harry, ficou t�o impressionada com a Firebolt quanto todo mundo que a vira. A professora pegou a vassoura antes da decolagem e exp�s aos jogadores sua opini�o profissional. � Olhem s� o equil�brio deste modelo! Se a s�rie Nimbus tem algum defeito, � uma ligeira queda para a cauda, observa-se que depois de alguns anos isto se transforma num arrasto. Atualizaram o cabo tamb�m, mais fino do que as Cleansweeps, lembra as antigas Silver Arrows, uma pena que tenham parado de fabric�-las. Foi nelas que aprendi a voar, e tamb�m eram excelentes vassouras... E a professora continuou nessa disposi��o por algum tempo at� que Ol�vio a interrompeu: � Hum... Madame Hooch? Ser� que a senhora podia devolver a vassoura a Harry? Temos que treinar... � Ah, certo... Tome aqui, Potter � disse ela. � Vou me sentar ali adiante com Weasley... Ela e Rony deixaram o campo e foram se sentar na arquibancada, e o time da Grifin�ria se agrupou em torno de Ol�vio para ouvir as �ltimas instru��es para o jogo do dia seguinte. � Harry, acabei de descobrir quem vai jogar como apanhador na Corvinal. � a Cho Chang: uma garota do quarto ano e muito boa... Para ser sincero eu tinha esperan�as de que ela n�o tivesse voltado � forma, ela teve alguns problemas com contus�es... � Ol�vio fez cara feia para assinalar seu desagrado pela plena recupera��o de Cho Chang, depois continuou: � Por outro lado ela monta uma Comet 260, que vai parecer uma piada ao lado da Firebolt. � Ol�vio lan�ou um olhar de fervorosa admira��o � vassoura de Harry, depois disse: � Muito bem, pessoal, vamos... Ent�o, finalmente, Harry montou na Firebolt, e deu impulso para levantar v�o. Foi melhor do que ele jamais sonhara. A Firebolt virava ao menor toque; parecia obedecer a seus pensamentos em vez de suas m�os; ela atravessou o campo a tal velocidade que o est�dio se transformou em um borr�o verde e cinza; Harry mudou de dire��o t�o instantaneamente que Alicia Spinnet soltou um grito, e no instante seguinte ele entrou em um mergulho absolutamente controlado, raspando o gramado com as pontas dos p�s antes de tornar a subir nove, doze, quinze metros no ar. � Harry, vou soltar o pomo! � gritou Ol�vio. O garoto virou a vassoura e apostou corrida com um bala�o em dire��o �s balizas; venceu-o com facilidade, viu o pomo disparar das costas de Ol�vio e em dez segundos j� o tinha seguro na m�o. O time aplaudiu enlouquecido. Harry tornou a soltar o pomo, deu-lhe um minuto de dianteira e disparou atr�s dele, desviando-se dos outros jogadores; depois, localizou-o pr�ximo ao joelho de Katie Beli, fez uma volta em torno da garota e apanhou o pomo mais uma vez. Foi o melhor treino que ele j� fizera; os jogadores, inspirados pela presen�a da Firebolt na equipe, realizavam movimentos impec�veis, e, no momento em que voltaram ao ch�o, Ol�vio n�o teve uma �nica cr�tica a fazer, o que, como Jorge Weasley enfatizou, era a primeir�ssima vez que acontecia. � N�o vejo o que � que vai nos deter amanh�! � disse Ol�vio. � A n�o ser que... Harry, voc� resolveu o seu problema com o dementador, n�o resolveu? � Resolvi � disse Harry pensando no seu d�bil Patrono e desejando que ele fosse mais forte. � Os dementadores n�o v�o aparecer outra vez, Ol�vio. Dumbledore explodiria � disse Fred, confiante. � Bem, esperemos que n�o � disse Ol�vio. � Em todo o caso... Bom trabalho, pessoal. Vamos voltar para a Torre... Dormir cedo... � Eu vou ficar mais um pouco; Rony quer dar uma volta na Firebolt � avisou Harry a Ol�vio, e, enquanto os outros jogadores se dirigiam aos vesti�rios, Harry foi ao encontro de Rony, que saltou a barreira que separava o campo das arquibancadas com o mesmo fim. Madame Hooch adormecera onde estava. � Manda ver � disse Harry, entregando ao amigo a Firebolt. Rony, uma express�o de �xtase no rosto, montou na vassoura e disparou pela crescente escurid�o, enquanto Harry andava em volta do campo, observando-o. J� anoitecera quando Madame Hooch acordou assustada, ralhou com os garotos por n�o a terem acordado e insistiu que voltassem ao castelo. Harry p�s a Firebolt no ombro, e ele e Rony sa�ram do est�dio sombrio, discutindo o desempenho suav�ssimo da vassoura, sua fenomenal acelera��o e suas curvas precisas. Estavam na metade do trajeto para o castelo quando Harry, olhando para a esquerda, viu uma coisa que fez seu cora��o dar uma cambalhota no peito � um par de olhos que luziam na escurid�o. Harry paralisou, o cora��o martelando as costelas. � Que foi? � perguntou Rony. Harry apontou. Rony puxou a varinha e murmurou: � Lumus! Um raio de luz se projetou pelo gramado, bateu no p� de uma �rvore e iluminou seus ramos; l�, agachado entre as folhas que brotavam, estava Bichento. � D� o fora daqui! � bradou Rony curvando-se para apanhar uma pedra ca�da no ch�o, mas antes que pudesse fazer mais alguma coisa, Bichento havia desaparecido com um �nico movimento do longo rabo amarelo-avermelhado. � Est� vendo? � exclamou Rony, furioso, largando a pedra no ch�o. � Ela continua deixando o gato andar por onde quer, provavelmente comendo uns dois passarinhos como guarni��o para acompanhar o Perebas... Harry n�o comentou nada. Inspirou profundamente sentindo o al�vio invadi-lo; por um momento tivera certeza de que aqueles olhos pertenciam ao Sinistro. Os dois garotos retomaram, mais uma vez, a caminhada para o castelo. Um pouco envergonhado pelo momento de p�nico, Harry n�o comentou nada com Rony, nem olhou mais para a esquerda nem para a direita at� chegarem ao bem iluminado sagu�o de entrada. Harry desceu para tomar caf� na manh� seguinte com os outros garotos do dormit�rio, todos os quais pareciam achar que a Firebolt merecia uma esp�cie de guarda de honra. Quando Harry entrou no Sal�o Principal, as cabe�as se voltaram para a vassoura, e houve muitos coment�rios excitados. Harry viu, com enorme satisfa��o, que todo o time da Sonserina fazia cara de assombro. � Voc� viu a cara dele? � perguntou Rony com vontade de rir, virando-se para olhar Malfoy. � Ele nem consegue acreditar! Genial! Ol�vio, tamb�m, usufru�a da gl�ria que a Firebolt refletia. � Ponha ela aqui, Harry � sugeriu o capit�o, ajeitando a vassoura no meio da mesa e girando-a cuidadosamente de modo a deixar a marca vis�vel. Os alunos das mesas da Corvinal e da Lufa-Lufa n�o demoraram a ir olh�-la de perto. Cedrico Diggory se aproximou para cumprimentar Harry por ter adquirido uma substituta t�o espl�ndida para sua Nimbus e a namorada de Percy, Penelope Clearwater, da Corvinal, chegou a perguntar se podia segurar a Firebolt. � Ora, ora, Penelope, nada de sabotagem! � disse Percy cordialmente, enquanto ela mirava a Firebolt. � Penelope e eu fizemos uma aposta � contou ele ao time. � Dez gale�es no vencedor da partida! A garota tornou a pousar a vassoura, agradeceu a Harry e voltou � sua mesa. � Harry, n�o deixe de ganhar � recomendou Percy num sussurro urgente. � Eu n�o tenho dez gale�es. Estou indo, Penny! � E correu para comer uma torrada com a garota. � Tem certeza que voc� sabe montar nessa vassoura, Potter? � disse uma voz arrastada e fria. Draco Malfoy chegara para dar uma espiada, seguido de perto por Crabbe e Goyle. � Acho que sim � disse Harry, descontra�do. � Tem muitas caracter�sticas especiais, n�o �? � disse Malfoy, os olhos brilhando de mal�cia. � Pena que n�o venha com um p�ra-quedas, para o caso de voc� chegar muito perto de um dementador. Crabbe e Goyle deram risadinhas. � Pena que voc� n�o possa acrescentar bra�os na sua, Draco � retrucou Harry. � Assim ela poderia apanhar o pomo para voc�. Os jogadores da Grif�n�ria deram grandes gargalhadas. Os olhos claros de Draco se estreitaram e ele se afastou. Os dois garotos observaram Draco se reunir aos demais jogadores da Sonserina, que juntaram as cabe�as, sem d�vida para perguntar a ele se a vassoura de Harry era realmente uma Firebolt. As quinze para as onze, o time da Grifin�ria saiu em dire��o ao vesti�rio. O tempo n�o poderia estar mais diferente do que o do dia da partida com Lufa-Lufa. Fazia um dia claro e frio com uma lev�ssima brisa; desta vez n�o haveria problemas de visibilidade e Harry, embora nervoso, estava come�ando a sentir a excita��o que somente uma partida de Quadribol era capaz de produzir. Eles ouviram o resto da escola entrando, mais al�m, no est�dio. Harry despiu as vestes negras da escola, tirou a varinha do bolso e enfiou-a na camiseta que ia usar por baixo do uniforme de Quadribol. S� esperava que n�o fosse preciso us�-la. De repente lhe ocorreu uma d�vida: Se o Prof�. Lupin estaria no meio da multid�o, assistindo � partida. � Voc�s sabem o que temos de fazer � disse Ol�vio quando o time se preparava para deixar o vesti�rio. � Se perdermos esta partida, estaremos fora do campeonato. Voc�s s� t�m que voar como fizeram no treino de ontem, e vamos nos dar bem! Os jogadores sa�ram do vesti�rio para o campo debaixo de tumultuosos aplausos. O time da Corvinal, vestido de azul, j� estava parado no meio do campo. A apanhadora, Cho Chang, era a �nica menina da equipe. Era mais baixa do que Harry quase uma cabe�a, e, por mais nervoso que estivesse, ele n�o p�de deixar de reparar que era uma garota muito bonita. Cho sorriu para ele quando os times ficaram frente a frente, atr�s dos capit�es, e o garoto sentiu uma ligeira pulsa��o na regi�o do baixo ventre que ele achou que n�o tinha rela��o alguma com o seu nervosismo. � Wood, Davies, apertem-se as m�os � disse Madame Hooch, eficiente, e Ol�vio apertou a m�o do capit�o de Corvinal. � Montem nas vassouras... Quando eu apitar... Tr�s, dois, um... Harry deu o impulso para subir, e a Firebolt voou mais alto e mais veloz do que qualquer outra vassoura; ele sobrevoou o est�dio e come�ou a espiar para todos os lados � procura do pomo, prestando aten��o aos coment�rios que estavam sendo irradiados pelo amigo dos g�meos Weasley, Lino Jordan. � Foi dado in�cio � partida, e a grande novidade � a Firebolt que Harry Potter est� montando pelo time da Grifin�ria. Segundo a Qual Vassoura, a Firebolt ser� a montaria escolhida pelos times nacionais para o Campeonato Mundial deste ano... � Jordan, voc� se importa de nos dizer o que est� acontecendo no campo? � interrompeu-o a voz da Prof�. McGonagall. � Certo, professora, eu s� estava situando os ouvintes... A Firebolt, ali�s, tem um freio autom�tico e... � Jordan! � Ok, Ok, Grifin�ria tem a posse da goles, Katie Bell da Grifin�ria est� voando em dire��o � baliza... Harry passou veloz por Katie, � procura de um reflexo dourado, e reparou que Cho Chang o seguia muito de perto. N�o havia d�vida de que a garota era um excelente piloto � n�o parava de cortar sua frente, for�ando-o a mudar de dire��o. � Mostre a ela sua acelera��o, Harry! � berrou Fred ao passar disparado em persegui��o de um bala�o que seguia na dire��o de Alicia. Harry impulsionou a Firebolt quando contornaram as balizas da Corvinal, e Cho ficou para tr�s. No momento exato em que Katie conseguia marcar o primeiro gol da partida e o lado do campo da Grifin�ria enlouquecia de entusiasmo, Harry viu... O pomo estava perto do ch�o, esvoa�ando pr�ximo � barreira. Harry mergulhou; Cho percebeu o seu movimento e disparou atr�s dele. O garoto foi aumentando a velocidade, tomado de excita��o; os mergulhos eram sua especialidade, estava a tr�s metros... Ent�o um bala�o, arremessado por um dos batedores de Corvinal, saiu a roda, Harry nem viu de onde; ele mudou de rumo, evitando o petardo por um dedo, e, naqueles segundos cruciais, o pomo sumiu. Houve um grande "ooooooh" de desapontamento da torcida de Grifin�ria, mas muitos aplausos de Corvinal para o seu batedor. Jorge Weasley deu vaz�o ao que sentia lan�ando um segundo bala�o diretamente contra o autor do arremesso, que, por sua vez, foi for�ado a dar uma cambalhota em pleno ar para evitar a colis�o. � Grifin�ria lidera por oitenta pontos a zero, e olhe s� o desempenho daquela Firebolt! Potter agora est� realmente mostrando o que ela � capaz de fazer, vejam como muda de dire��o � a Comet de Chang simplesmente n�o � p�reo para ela, o balanceamento preciso da Firebolt � vis�vel nesses longos... � JORDAN! VOC� EST� GANHANDO PARA ANUNCIAR A FIREBOLT? VOLTE A IRRADIAR O JOGO! Corvinal come�ou a jogar na retranca; j� tinha marcado tr�s gols, o que deixava Grifin�ria apenas cinq�enta pontos � frente e se Cho apanhasse o pomo antes deles, Corvinal ganharia a partida. Harry reduziu a altitude, evitando por um triz um artilheiro de Corvinal, e esquadrinhou nervosamente o campo, um lampejo de ouro, um adejar de asinhas, o pomo estava circulando a baliza de Grifin�ria... Harry acelerou, os olhos fixos no pontinho dourado � frente, mas nesse instante, Cho apareceu de repente, bloqueando sua vis�o... � HARRY, ISSO N�O � HORA PARA CAVALHEIRISMOS! � berrou Ol�vio quando o garoto deu uma guinada para evitar a colis�o. � SE FOR PRECISO, DERRUBE-A DA VASSOURA! Harry se virou e avistou Cho; a garota estava sorrindo. O pomo sumira outra vez. Ele apontou a vassoura para o alto e logo chegou a sessenta metros sobre o campo. Pelo canto do olho, ele viu Cho seguindo-o... Ela resolvera marc�-lo em vez de procurar o pomo sozinha. Muito bem, ent�o... Se queria segui-lo, teria que arcar com as conseq��ncias... Harry mergulhou outra vez, e Cho, pensando que ele avistara o pomo, tentou acompanh�-lo; ele desfez o mergulho abruptamente; Cho continuou a descida veloz; ele subiu mais uma vez, como uma bala, e ent�o viu-o, pela terceira vez, o pomo cintilava muito acima do campo, do lado da Corvinal. Harry acelerou; a muitos metros abaixo Cho fez o mesmo. Ele foi reduzindo a dist�ncia, se aproximando mais do pomo a cada segundo... Ent�o... � Oh! � gritou Cho, apontando. Distra�do, Harry olhou para baixo. Tr�s dementadores, tr�s dementadores altos, negros, l� embaixo, olhavam para ele. Harry nem parou para pensar. Enfiou a m�o pelo decote de suas vestes, sacou a varinha e berrou: � Expecto patronum! Uma coisa branco-prateada, uma coisa enorme, irrompeu de sua varinha. Ele percebeu que apontara diretamente para os dementadores, mas n�o parou para ver o efeito; sua mente continuava milagrosamente clara, ele olhou para a frente estava quase l�. Estendeu a m�o que ainda segurava a varinha e conseguiu fechar os dedos sobre o pequeno pomo que se debatia. Soou o apito de Madame Hooch. Harry se virou no ar e viu seis borr�es vermelhos voando em sua dire��o; no momento seguinte, o time o abra�ava com tanta for�a que ele quase foi arrancado da vassoura. Ouvia-se l� embaixo os brados da torcida da Grifin�ria em meio aos espectadores. � A�, garoto! � Ol�vio n�o parava de berrar. Alicia, Angelina e Katie, todas, tinham beijado Harry; Fred o abra�ara com tanta for�a que ele achou que sua cabe�a ia saltar do corpo. Em completa desordem, o time conseguiu voltar ao campo. Harry desmontou a vassoura, levantou a cabe�a e viu um bando de torcedores da Grifin�ria saltar para dentro do campo, Rony � frente. Antes que desse por si, fora engolfado pela turma que gritava aplaudindo-o. � Sim! � gritava Rony, puxando com for�a o bra�o de Harry e erguendo-o no ar. � Sim! Sim! � Grande partida, Harry! � disse Percy, feliz. � Dez gale�es para mim! Preciso procurar Penelope, com licen�a... � Parab�ns, Harry! � bradou Simas Finnigan. � Brilhante! � berrou Hagrid por cima das cabe�as dos alunos da Grifin�ria que acorriam. � Foi um Patrono impressionante � disse uma voz no ouvido de Harry. Harry se virou e viu o Prof�. Lupin, que parecia ao mesmo tempo abalado e satisfeito. � Os dementadores n�o me afetaram nada! � exclamou Harry excitado, � Eu n�o senti nada! � Foi porque eles... Hum... N�o eram dementadores � explicou o professor. � Venha ver... Ele desvencilhou Harry da aglomera��o at� poderem ver a lateral do campo. � Voc� deu um grande susto no Sr. Malfoy � disse Lupin. Harry arregalou os olhos. Amontoados no ch�o estavam Malfoy, Crabbe, Goyle e Marcos Flint, o capit�o do time da Sonser�na, lutando para se despir das vestes negras e longas com capuzes. Pelo jeito Malfoy estivera em p� nos ombros de Goyle. Parada ao lado deles, com uma express�o de f�ria no rosto, estava a Prof�. Minerva. � Um truque indigno! � bradava ela. � Uma tentativa baixa e covarde de sabotar o apanhador de Grifin�ria! Deten��o para todos e menos cinq�enta pontos para Sonserina! Vou falar com o Prof�. Dumbledore, n�o se iludam! Ah, a� vem ele agora! Se alguma coisa podia selar a vit�ria de Grifin�ria, era isso. Ron, que pelejara para chegar at� Harry, se dobrava de tanto rir, ao contemplar Malfoy tentando sair da veste, a cabe�a de Goyle ainda presa l� dentro. � Vamos, Harry! Disse Jorge procurando se aproximar. � Festa! Sala Comunal da Grifin�ria, agora! � Certo � respondeu Harry, sentindo-se mais feliz do que se lembrava de ter se sentido havia muito tempo. Ele e o restante do time abriram caminho, ainda de vestes vermelhas, para fora do est�dio e de volta ao castelo. A sensa��o era de que j� tinham ganhado a Ta�a de Quadribol; a festa durou o dia inteiro e se prolongou at� tarde da noite. Fred e Jorge Weasley desapareceram algumas horas e voltaram com bra�adas de garrafinhas de cerveja amanteigada, ab�bora espumante e v�rios sacos de doces da Dedosdemel. � Como foi que voc� fez isso?! � gritou Angelina Johnson quando Jorge come�ou a atirar sapos de menta nos colegas. � Com uma ajudinha de Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas � murmurou Fred ao ouvido de Harry. Somente uma pessoa n�o participava da comemora��o. Hermione, por incr�vel que pare�a, estava sentada a um canto, tentando ler um enorme livro intitulado Vida Dom�stica e H�bitos Sociais dos Trouxas Brit�nicos. Harry se afastou da mesa em que Fred e Jorge come�avam a fazer malabarismos com as garrafinhas de cerveja amanteigada e foi at� a amiga. � Voc� ao menos foi ao jogo? � perguntou ele. � Claro que fui � respondeu Hermione numa voz estranhamente aguda, sem levantar a cabe�a. � E estou muito contente que a gente tenha ganhado, e acho que voc� jogou realmente bem, mas tenho que ler isso aqui at� segunda-feira. � Vamos, Mione, venha comer alguma coisa � convidou Harry, enquanto olhava para Rony e se perguntava se ele teria suficiente bom humor para guardar a machadinha de guerra. � N�o posso, Harry. Ainda tenho quatrocentas e vinte e duas p�ginas para ler � respondeu a garota, agora num tom ligeiramente hist�rico. � De qualquer modo... � a garota olhou para Rony, tamb�m �, ele n�o quer a minha companhia. Quanto a isso, n�o havia o que discutir, porque Rony escolheu aquele momento para dizer em voz alta: � Se Perebas n�o tivesse sido devorado, ele poderia ter comido uma mosca de chocolate. Ele gostava tanto... Hermione caiu no choro. Antes que Harry pudesse dizer alguma coisa, ela meteu o enorme livro embaixo do bra�o e, ainda solu�ando, correu para a escada do dormit�rio das meninas e desapareceu de vista. � Ser� que voc� n�o podia dar a ela um tempo? � perguntou Harry a Rony em voz baixa. � N�o � respondeu o garoto com firmeza. � Se ela ao menos mostrasse que lamenta, mas jamais vai admitir que errou, a Hermione. Continua a agir como se Perebas tivesse tirado f�rias ou qualquer coisa do g�nero. A festa da Grifin�ria s� terminou quando a Prof�. Minerva apareceu vestida com o seu robe de tecido escoc�s e os cabelos presos numa rede, � uma hora da manh�, para insistir que todos fossem se deitar. Harry e Rony subiram as escadas para o dormit�rio, ainda discutindo a partida. Por fim, exausto, Harry se enfiou na cama, ajeitou o cortinado de sua cama para esconder um raio de luar, se deitou de costas e sentiu que adormecia quase instantaneamente... Teve um sonho muito estranho. Estava andando por uma floresta, a Firebolt ao ombro, seguindo uma coisa branco-prateada. Ela avan�ava entre as �rvores e Harry s� conseguia avist�-la entre a folhagem. Ansioso para alcan��-la, apressou o passo, mas ao fazer isso, a coisa que ele perseguia acelerou tamb�m. Harry come�ou a correr e, � frente dele, ouviu cascos que ganhavam velocidade. Agora ele estava correndo desabalado e, � frente, ouvia a coisa galopar. Ent�o ele fez uma curva para dentro de uma clareira e... � AAAAAAAAAAAIIIIIIIIIII! NAAAAAAAA�O! Harry acordou subitamente como se algu�m o tivesse esbofeteado. Desorientado na escurid�o total agarrou as cortinas ouvia movimentos a sua volta e a voz de Simas Finnigan do outro lado do quarto: � Que � que est� acontecendo? Harry achou ter ouvido a porta do dormit�rio bater. Finalmente, encontrando a abertura das cortinas, puxou-as para um lado com viol�ncia e, na mesma hora, Dino Thomas acendeu o abajur. Rony estava sentado na cama, as cortinas rasgadas dos dois lados, uma express�o de absoluto terror no rosto. � Black! Sirius Black! Com uma faca! � Que! � Aqui! Agorinha mesmo! Cortou as cortinas! Me acordou! � Voc� tem certeza de que n�o sonhou, Rony? � perguntou Dino. � Olha s� as cortinas! Estou dizendo, ele esteve aqui! Todos os garotos saltaram das camas; Harry alcan�ou a porta do dormit�rio primeiro que os outros e desceu correndo as escadas. Portas se abriram �s suas costas e vozes cheias de sono chamaram. � Quem gritou? � Que � que voc�s est�o fazendo? A sala comunal estava iluminada com o brilho das chamas que se extinguiam na lareira, ainda atulhada com os restos da festa. Estava deserta. � Voc� tem certeza de que n�o estava dormindo, Rony? � Estou dizendo que vi Black! � Que barulheira � essa? � A Prof�. McGonagall nos mandou para a cama! Algumas garotas tinham descido, vestindo os robes e bocejando. Os garotos tamb�m foram reaparecendo. � Que �timo, vamos continuar? � perguntou Fred Weasley animado. � Todos de volta para cima! � falou Percy, que entrou correndo na sala comunal prendendo o distintivo de monitor-chefe no pijama enquanto falava. � Percy... Sirius Black! � disse Rony com a voz fraca. � No nosso dormit�rio! Com uma faca! Me acordou! A sala comunal mergulhou em sil�ncio. � Que bobagem! � exclamou Percy parecendo espantado. � Voc� comeu demais, Rony... Teve um pesadelo... � Estou lhe dizendo... � Agora, francamente, j� � demais! A Prof�. Minerva estava de volta. Ela bateu o retrato ao entrar na sala comunal e olhou furiosa para todos. � Estou encantada que Grifin�ria tenha ganho a partida, mas isto est� ficando rid�culo! Percy, eu esperava mais de voc�! � Com certeza eu n�o autorizei isso, professora! � defendeu-se Percy, se empertigando, indignado. � Estava justamente dizendo a todos para voltarem para a cama! Meu irm�o Rony teve um pesadelo... � N�O FOI UM PESADELO! � berrou Rony. � PROFESSORA, EU ACORDEI E SIRIUS BLACK ESTAVA PARADO AO MEU LADO SEGURANDO UMA FACA! A professora encarou-o. � N�o seja rid�culo, Weasley, como seria poss�vel ele passar pelo buraco do retrato? � Pergunte a ele! � respondeu Rony apontando um dedo tr�mulo para o avesso do retrato de Sir Cadogan. � Pergunte se ele viu... Com um olhar penetrante e desconfiado para Rony, a professora empurrou o retrato e saiu. Todos na sala procuraram escutar prendendo a respira��o. � Sir Cadogan, o senhor acabou de deixar um homem entrar na Torre da Grifin�ria? � Certamente, minha boa senhora! � exclamou o cavaleiro. Fez-se um sil�ncio de espanto, tanto dentro quanto fora da sala comunal. � O senhor... O senhor deixou? Mas... E a senha? � Ele sabia! � respondeu Sir Cadogan com orgulho. � Tinha as senhas da semana inteira, minha senhora! Leu-as em um pedacinho de papel! A professora tornou a passar pelo buraco do retrato e encarou os alunos atordoados. Estava branca como giz. � Quem foi � perguntou ela com a voz tr�mula �, quem foi a criatura abissalmente tola que anotou as senhas desta semana e as largou por a�? Fez-se um sil�ncio absoluto, quebrado por gritinhos quase inaud�veis de terror. Neville Longbottom, tremendo da cabe�a �s pontas dos chinelos fofos, ergueu a m�o no ar. CAP�TULO CATORZE O ressentimento de Snape Ningu�m na Torre da Grifin�ria dormiu �quela noite. Todos sabiam que o castelo estava sendo revistado novamente e os alunos da casa permaneceram acordados na sala comunal, esperando para saber se Black fora apanhado. A Prof�. Minerva voltou ao amanhecer para informar que, mais uma vez, ele escapara. Durante todo o dia, onde quer que fossem, os garotos percebiam sinais de uma seguran�a mais rigorosa; o Prof�. Flitwick podia ser visto, �s portas de entrada do castelo, ensinando-os a reconhecer uma grande foto de Sirius Black; Filch, de repente, andava para cima e para baixo nos corredores, pregando t�buas em tudo, desde min�sculas fendas nas paredes at� tocas de camundongos. Sir Cadogan fora demitido. Repuseram seu retrato no solit�rio patamar do s�timo andar e a Mulher Gorda voltou ao seu lugar. Fora competentemente restaurada, mas continuava nervos�ssima e s� concordara em voltar ao trabalho com a condi��o de receber mais prote��o. Um bando de trasgos carrancudos tinha sido contratado para guard�-la. Eles percorriam o corredor em um grupo amea�ador, falando em rosnados e comparando o tamanho dos seus bast�es. Harry n�o p�de deixar de reparar que a est�tua da bruxa de um olho s�, no terceiro andar, continuava sem guarda nem bloqueio. Parecia que Fred e Jorge tinham raz�o em pensar que eles e agora Harry Potter, Rony e Hermione eram os �nicos que conheciam a passagem secreta a que a bruxa dava acesso. � Voc� acha que devemos contar a algu�m? � perguntou Harry a Rony. � A gente sabe que Black n�o est� entrando pela Dedosdemel � disse Rony descartando a id�ia. � Saber�amos se a loja tivesse sido arrombada. Harry ficou contente que Rony pensasse como ele. Se a bruxa de um olho s� tamb�m fosse fechada com t�buas, ele n�o poderia voltar a Hogsmeade. Rony se transformara numa celebridade instant�nea. Pela primeira vez na vida, as pessoas prestavam mais aten��o a ele do que a Harry e era evidente que ele estava gostando bastante da experi�ncia. Embora ainda estivesse muito abalado com os acontecimentos da noite anterior, ficava feliz de contar a quantos perguntassem o que acontecera, com riqueza de detalhes. � ... Eu estava dormindo e ouvi barulho de pano cortado e achei que estava sonhando, sabe? Mas a� senti uma correnteza de ar... Acordei e vi que o cortinado de um lado da minha cama tinha sido arrancado... Me virei... E vi Black parado ali... Como um esqueleto, os cabelos imundos... Segurando um fac�o comprido, devia ter uns trinta cent�metros... E ele olhou para mim e eu olhei para ele, ent�o eu soltei um berro e ele se mandou. � Mas por qu�? � Rony acrescentou para Harry quando o grupo de garotas do segundo ano, que estivera escutando sua hist�ria enregelante, se afastou. � Por que foi que ele correu? Harry andara se perguntando a mesma coisa. Por que Black, ao verificar que escolhera a cama errada, n�o silenciara Rony e procurara Harry? Ele j� provara doze anos antes que n�o se importava de matar gente inocente, e desta vez s� precisava enfrentar cinco garotos desarmados, quatro dos quais adormecidos. � Ele devia saber que ia ter problemas para sair do castelo depois que voc� gritasse e acordasse todo mundo � disse Harry, pensativo. � Teria que matar a casa toda para passar pelo buraco do retrato... E teria dado de cara com os professores... Neville caiu em total desgra�a. A Prof�. � McGonagall estava t�o furiosa com ele que o banira de todas as futuras visitas a Hogsmeade, lhe dera uma deten��o e proibira todos de lhe informarem a senha para a torre. O coitado era obrigado a esperar do lado de fora da sala comunal, todas as noites, at� algu�m deix�-lo entrar, enquanto os trasgos da seguran�a ca�oavam dele. Nenhum desses castigos, por�m, chegou nem pr�ximo do que sua av� lhe reservara. Dois dias depois da invas�o de Black, ela mandou a Neville a pior coisa que um aluno de Hogwarts podia receber na hora do caf� da manh� um berrador. As corujas da escola entraram voando pelo Sal�o Principal trazendo o correio, como de costume, e Neville se engasgou quando a enorme coruja pousou diante dele com um envelope vermelho preso no bico. Harry e Rony, que estavam sentados em frente, reconheceram imediatamente que a carta era um berrador. Rony recebera um da Sra. Weasley no ano anterior. � Apanha ela logo, Neville � aconselhou Rony. Neville n�o precisou que lhe dissessem duas vezes. Agarrou o envelope e, segurando-o � frente como se fosse uma bomba, saiu correndo do Sal�o em meio �s explos�es de riso da mesa da Sonserina. Todos ouviram o berrador disparar no sagu�o de entrada. A voz da av� de Neville, com o volume normal magicamente ampliado cem vezes, bradava que ele envergonhara a fam�lia inteira. Harry estava t�o ocupado sentindo pena de Neville que nem reparou imediatamente que havia uma carta para ele tamb�m. Edwiges atraiu sua aten��o beliscando-o com for�a no pulso. � Ai! Ah... Obrigado, Edwiges. Harry rasgou o envelope enquanto a coruja se servia dos flocos de milho de Neville. O bilhete dentro do envelope dizia o seguinte: Caros Harry e Rony Querem vir tomar ch� comigo hoje � tarde por volta das seis? Irei buscar voc�s no castelo. ESPEREM POR MIM NO SAGU�O DE ENTRADA; VOC�S N�O PODEM SAIR SOZINHOS. Abra�os, Hagrid. � Ele provavelmente quer saber as novidades sobre Black � disse Rony. Assim, �s seis horas daquela tarde, Harry e Rony sa�ram da Torre da Grifin�ria, passaram pelos trasgos de seguran�a e rumaram para o sagu�o de entrada. Hagrid j� estava � espera. � Est� bem, Hagrid! � exclamou Rony. � Imagino que voc� queira saber o que aconteceu no s�bado � noite, � isso? � J� soube de tudo � disse Hagrid, abrindo a porta de entrada e levando-os para fora. � Ah � exclamou Rony, parecendo ligeiramente desconcertado. A primeira coisa que viram ao entrar na cabana de Hagrid foi Bicu�o estirado em cima da colcha de retalhos de Hagrid, as enormes asas fechadas junto ao corpo, apreciando um prat�o de doninhas mortas. Ao desviar o olhar dessa vis�o repugnante, Harry viu um gigantesco traje peludo e uma medonha gravata amarela e laranja pendurados no alto da porta do arm�rio. � Para que � isso, Hagrid? � perguntou Harry. � O caso de Bicu�o contra a Comiss�o para Elimina��o de Criaturas Perigosas. Nesta sexta-feira. Ele e eu vamos a Londres juntos. Reservei duas camas no N�itibus... Harry sentiu uma pontada inc�moda de remorso. Esquecera-se completamente que o julgamento de Bicu�o estava t�o pr�ximo e, a julgar pela express�o constrangida no rosto de Rony, ele tamb�m. Os dois tinham se esquecido igualmente da promessa de ajudar Hagrid a preparar a defesa de Bicu�o; a chegada da Firebolt tinha varrido a promessa do pensamento dos garotos. Hagrid serviu ch� e ofereceu um prato de p�ezinhos aos garotos, que tiveram o bom senso de n�o aceitar; tinham muita experi�ncia com a culin�ria do guarda-ca�a. � Tenho uma coisa para conversar com voc�s dois � disse Hagrid sentando-se entre os garotos, com o ar anormalmente s�rio. � O qu�? -perguntou Harry. � Mione � respondeu Hagrid. � Que � que tem a Mione? � perguntou Rony. � Ela est� num estado de cortar o cora��o, � isso que tem. Veio me visitar muitas vezes desde o Natal. Se sente solit�ria. Primeiro voc�s n�o estavam falando com ela por causa da Firebolt, agora voc�s n�o est�o falando por causa do gato... � ... Que comeu Perebas! � interp�s Rony, zangado. � Porque o gato dela fez o que todos os gatos fazem � insistiu Hagrid. � Ela j� chorou muito, sabem. Est� passando por um mau momento. Abocanhou mais do que pode mastigar, se querem saber, todo o trabalho que est� tentando fazer. E ainda arranjou tempo para me ajudar no caso do Bicu�o, vejam bem... Encontrou um material realmente bom para mim... Acho que ele ter� uma boa chance agora... � Hagrid, n�s dev�amos ter ajudado tamb�m, desculpe... � come�ou Harry, sem jeito. � N�o estou cobrando nada � disse Hagrid, dispensando as desculpas. � Deus sabe que voc� teve muito com que se ocupar. Vi voc� praticando Quadribol todas as horas do dia e da noite, mas tenho que dizer uma coisa, pensei que voc�s davam mais valor � amiga do que a vassouras e ratos. � s� isso. Harry e Rony trocaram olhares constrangidos. � Bem nervosa ela ficou, quando Black quase esfaqueou voc�, Rony. Ela tem o cora��o no lugar, a Mione, e voc�s se recusando a falar com ela... � Se ela ao menos se livrasse daquele gato, eu voltaria a falar com ela! � disse Rony, zangado. � Mas ela continua do lado do Bichento. � um man�aco e ela n�o quer ouvir nem uma palavra contra ele! � Ah, bem, as pessoas podem ser obtusas quando se trata de bichos de estima��o � disse Hagrid sabiamente. �s costas dele, Bicu�o cuspiu uns ossos de doninha em cima do travesseiro. Os tr�s passaram o resto da visita discutindo a nova chance de Grifin�ria concorrer � Ta�a de Quadribol. �s nove horas, Hagrid acompanhou-os de volta ao castelo. Um grande grupo de alunos se achava aglomerado em torno do quadro de avisos quando eles chegaram � sala comunal. � Hogsmeade no pr�ximo fim de semana! � disse Rony, se esticando por cima da cabe�a dos colegas para ler o aviso. � Que � que voc� acha? � acrescentou em voz baixa quando os dois foram se sentar. � Bem, Filch n�o mexeu na passagem para a Dedosdemel... � ponderou Harry, ainda mais baixo. � Harry! � disse algu�m bem no seu ouvido direito. Harry se assustou e, ao se virar, viu Hermione, que estava sentada � mesa logo atr�s deles e abrira uma brecha na parede de livros que a escondia. � Harry se voc� for a Hogsmea outra vez... Vou contar � Prof�. McGonagall sobre aquele mapa! � amea�ou ela. � Voc� est� ouvindo algu�m falar, Harry? � rosnou Rony, sem olhar para Hermione. � Rony, como � que pode deixar ele o acompanhar? Depois do que o Sirius Black fez a voc�, quero dizer, vou contar... � Ent�o agora voc� est� tentando provocar a expuls�o do Harry! � disse Rony, furioso. � N�o acha suficiente o mal que voc� j� fez este ano? Hermione abriu a boca para responder, mas com um assobio suave, Bichento saltou para o seu colo. A garota lan�ou um olhar assustado � cara que Rony fazia, recolheu Bichento e saiu correndo para o dormit�rio das meninas. � Ent�o, e a�? � perguntou Rony a Harry como se n�o tivesse havido interrup��o. � Vamos, da �ltima vez que fomos voc� n�o viu nada. Voc� ainda nem entrou na Zonko�s! Harry espiou para os lados para verificar se Hermione n�o estava por perto ouvindo. � Tudo bem. Mas desta vez vou levar a minha Capa da Invisibilidade. Na manh� de s�bado, Harry guardou a Capa da Invisibilidade na mochila, meteu o Mapa do Maroto no bolso e foi tomar caf� com todo mundo. � mesa, Hermione n�o parava de lhe lan�ar olhares desconfiados, mas ele evitou encarar a amiga e teve o cuidado de deixar que ela o visse subindo a escadaria de m�rmore no sagu�o de entrada, quando os outros alunos se dirigiam �s portas de entrada. � Tchau! � gritou Harry para Rony. � A gente se v� quando voc� voltar. Rony sorriu e piscou um olho. Harry correu ao terceiro andar, tirando o Mapa do Maroto do bolso enquanto subia. Agachado atr�s da bruxa de um olho s�, ele o abriu. Um pontinho vinha se movendo em sua dire��o. Harry apertou os olhos para enxergar melhor. A pequena legenda ao lado informava que era Neville Longbottom. Harry puxou depressa a varinha, murmurou �Dissemdum!� e enfiou a mochila na est�tua, mas antes que pudesse entrar Neville apareceu no canto do corredor. � Harry! Eu me esqueci que voc� tamb�m n�o ia a Hogsmeade! � Oi, Neville � disse Harry, afastando-se rapidamente da est�tua e empurrando o mapa para dentro do bolso. � Que � que voc� vai fazer? � Nada � disse Neville encolhendo os ombros. � Que tal uma partida de Snap Explosivo? � Hum... Agora n�o... Eu estava indo � biblioteca fazer aquela reda��o sobre os vampiros que Lupin pediu... � Eu vou com voc�! � disse Neville, animado. � Eu tamb�m n�o fiz! � Hum... Espera a�, ah, me esqueci, j� terminei ontem � noite! � Que �timo, ent�o voc� pode me ajudar! � disse Neville, o rosto redondo demonstrando ansiedade. � N�o consigo entender aquela hist�ria do alho, eles t�m que comer ou... Com uma pequena exclama��o, ele se calou, espiando por cima do ombro de Harry. Era Snape. Neville deu um passo r�pido para tr�s de Harry. � E o que � que voc�s est�o fazendo aqui? � perguntou Snape. Que parou e olhou de um garoto para o outro. � Que lugar estranho para se encontrarem... Para imensa inquieta��o de Harry, os olhos negros de Snape correram para as portas ao lado de cada um deles e em seguida para a bruxa de um olho s�. � N�s n�o... Marcamos encontro aqui. S� nos encontramos, por acaso. � Verdade? Voc� tem o h�bito de aparecer em lugares inesperados, Potter, e raramente sem uma boa raz�o... Sugiro que os dois voltem � Torre da Grifin�ria que � o seu lugar. Harry e Neville sa�ram sem dizer mais nada. Quando viraram um canto, Harry olhou para tr�s. Snape estava passando a m�o na bruxa de um olho s�, examinando-a atentamente. Harry conseguiu se livrar de Neville no retrato da Mulher Gorda, dizendo-lhe a senha, e, depois, fingindo que deixara a reda��o na biblioteca, deu meia-volta. Uma vez longe das vistas dos trasgos de seguran�a, ele tornou a tirar o mapa do bolso e segur�-lo bem junto ao nariz. O corredor do terceiro andar parecia estar deserto. Harry examinou o mapa cuidadosamente e viu, com uma sensa��o de al�vio, que o pontinho Severo Snape voltara � sua sala. Correu, ent�o, at� a bruxa de um olho s�, abriu a corcunda, desceu o corpo por ela e se largou para ir ao encontro de sua mochila no fim do escorrega. Apagou, ent�o, o Mapa do Maroto e saiu correndo. Harry, inteiramente escondido sob a Capa da Invisibilidade, saiu a luz do sol � porta da Dedosdemel e cutucou Rony nas costas. � Sou eu � murmurou. � Que foi que o atrasou? � sibilou Rony. � Snape estava rondando o corredor... Os garotos sa�ram andando pela rua principal. � Onde � que voc� est�? � Rony perguntava toda hora pelo canto da boca. � Ainda est� a�? Que coisa mais estranha... Eles foram ao correio; Rony fingiu estar verificando o pre�o de uma coruja para Gui no Egito para que Harry pudesse dar uma boa olhada em tudo. As corujas estavam pousadas e piavam baixinho para ele, no m�nimo umas trezentas; desde as cinzentas de grande porte at� as muito pequenas ("Somente para entregas locais"), que eram t�o m�nimas que caberiam na palma da m�o do garoto. Depois, visitaram a Zonko's, que estava t�o apinhada de estudantes que Harry precisou tomar um cuidado enorme para n�o pisar em ningu�m e, com isso, desencadear o p�nico. Havia logros e brincadeiras para satisfazer at� os sonhos mais absurdos de Fred e Jorge; Harry cochichou ordens para Rony e lhe passou um pouco de ouro por baixo da capa. Os dois deixaram a Zonko's com as bolsas de dinheiro bastante mais leves do que quando entraram, mas os bolsos iam estufados de bombas de bosta, solu�os doces, sab�o de ovas de sapo e, para cada um, uma x�cara que mordia o nariz. Fazia um tempo firme, de brisa suave, e nenhum dos garotos tinha vontade de ficar dentro de casa, por isso eles passaram direto pelo Tr�s Vassouras e subiram uma ladeira para visitar a Casa dos Gritos, o lugar mais mal-assombrado da Gr�-Bretanha. Ficava um pouco mais alta do que o resto do povoado, e mesmo durante o dia provocava certos arrepios, com suas janelas fechadas com t�buas e um jardim �mido e malcuidado. � At� os fantasmas de Hogwarts evitam a casa � disse Rony quando se debru�avam na cerca para apreci�-la. � Perguntei a Nick Quase sem Cabe�a... Ele diz que soube que mora ai uma turma da pesada. Ningu�m consegue entrar. Fred e Jorge tentaram, � claro, mas todas as entradas est�o tampadas... Harry, cheio de calor por causa da subida estava pensando em tirar a capa por uns minutinhos quando ouviu vozes que se aproximavam. Havia gente subindo em dire��o � casa pelo outro lado da eleva��o; momentos depois, Malfoy apareceu, seguido de perto por Crabbe e Goyle. Malfoy vinha falando. � ... Devo receber uma coruja do meu pai a qualquer hora. Ele teve que ir � audi�ncia para depor sobre o meu bra�o... Que ficou inutilizado durante tr�s meses... Crabbe e Goyle riram. � Eu bem que gostaria de ouvir aquele paspalh�o grisalho se defender... "Ele n�o tem uma natureza m�, honestamente aquele hipogrifo pode se considerar morto... Malfoy de repente avistou Rony. Seu rosto p�lido se abriu num sorriso maldoso. � Que � que voc� anda fazendo, Weasley? Malfoy ergueu os olhos para a casa em ru�nas, �s costas de Rony. � Acho que voc� gostaria de morar aqui, n�o, Weasiey? Sonhando com um quarto s� para voc�? Ouvi falar que a sua fam�lia toda dorme em um quarto s�, � verdade? Harry segurou as vestes de Rony pelas costas para impedi-lo de pular em cima de Malfoy. � Deixe-o comigo � sibilou ao ouvido de Rony. A oportunidade era perfeita demais para ser desperdi�ada. Harry caminhou silenciosamente at� as costas de Malfoy, Crabbe e Goyle, se abaixou e apanhou no caminho uma m�o bem cheia de lama. � Est�vamos mesmo discutindo sobre seu amigo Hagrid � disse Malfoy a Rony. � Tentando imaginar o que ele est� dizendo � Comiss�o para Elimina��o de Criaturas Perigosas. Voc� acha que ele vai chorar quando cortarem... SPLASH! A cabe�a de Malfoy foi empurrada para frente quando a lama o atingiu; e, de repente, de seus cabelos louro-prateados come�aram a escorrer lama. � Quem...? Rony teve que se segurar na cerca para n�o cair de tanto rir. Malfoy, Crabbe e Goyle se viraram no mesmo lugar, olhando para todos os lados, agitados, enquanto Malfoy tentava limpar os cabelos. � Que foi isso? Quem fez isso? � � muito mal-assombrado isso aqui, n�o �, n�o? � falou Rony, com ar de quem est� comentando o tempo. Crabbe e Goyle ficaram assustados. Seus m�sculos avantajados eram in�teis contra fantasmas. Malfoy examinava, furioso, a paisagem deserta. Harry se esgueirou pelo caminho at� uma po�a particularmente cheia de lama esverdeada e malcheirosa. SPLASH! Desta vez os atingidos foram Crabbe e Goyle. Goyle deu pulos fren�ticos, tentando tirar a lama dos olhos mi�dos e inexpressivos. � Veio dali! � disse Malfoy, limpando o rosto e detendo o olhar em um ponto a uns dois metros � esquerda de Harry. Crabbe avan�ou inseguro, os bra�os compridos estendidos � frente, como um morto vivo. Harry rodeou Crabbe, apanhou um peda�o de pau e arremessou-o contra as costas dele. E se dobrou com risadas silenciosas quando o garoto fez uma pirueta no ar, tentando ver quem o atacara. Como Rony foi a �nica pessoa que ele viu, foi para ele que Crabbe avan�ou, mas Harry esticou a perna. O garoto trope�ou e seu enorme p� chato se prendeu na barra da capa de Harry. Este sentiu um grande pux�o e a capa escorregou do seu rosto. Por uma fra��o de segundo, Malfoy arregalou os olhos e o fitou. � HARRRRRY! � berrou ele, apontando para a cabe�a de Harry. Ent�o, deu as costas e fugiu a toda, morro abaixo, com Crabbe e Goyle nos seus calcanhares. Harry puxou a capa para cima, mas o estrago j� estava feito. � Harry! � chamou Rony, avan�ando aos trope�os at� o ponto em que o amigo desaparecera. � � melhor voc� correr! Se Malfoy contar a algu�m, � melhor voc� j� ter voltado ao castelo, depressa... � Vejo voc� mais tarde � disse Harry e, sem mais uma palavra, desceu correndo pelo caminho, em dire��o a Hogsmeade. Ser� que Malfoy acreditaria no que vira? Ser� que algu�m acreditaria em Malfoy? Ningu�m sabia da exist�ncia da Capa da Invisibilidade, ningu�m exceto Dumbledore. O est�mago de Harry deu cambalhotas, o diretor saberia exatamente o que acontecera, se Malfoy dissesse alguma coisa... O garoto voltou � Dedosdemel, � escada que levava ao por�o, atravessou a dist�ncia que o separava do al�ap�o e entrou, ent�o tirou a capa, meteu-a debaixo do bra�o e correu, desabalado, pela passagem... Malfoy chegaria primeiro... Quanto tempo levaria para encontrar um professor? Ofegante, uma dor forte do lado, Harry n�o diminuiu a velocidade at� alcan�ar o escorrega de pedra. Teria que deixar a capa ali, seria muito bandeiroso se Malfoy tivesse avisado um professor. Escondeu-a num canto escuro e come�ou a subir, o mais depressa que p�de, suas m�os suadas escorregando na borda do escorrega. Quando chegou � corcunda da bruxa tocou-lhe com a varinha, enfiou a cabe�a para fora e deu um impulso para sair. A corcunda se fechou e na hora que ele saltou de tr�s da est�tua ouviu passos que se aproximavam apressados. Era Snape. Rapidamente o professor alcan�ou Harry, as vestes pretas farfalhando, e parou diante dele. � Ent�o � falou. O professor tinha uma express�o de triunfo reprimido no rosto. Harry tentou parecer inocente, embora muito consciente do seu rosto suado e das m�os enlameadas, que ele escondeu depressa nos bolsos. � Venha comigo, Potter � disse Snape. Harry o acompanhou at� o andar de baixo, tentando limpar as m�os no avesso das vestes, sem que Snape notasse. Dali desceram masmorras e � sala de Snape. O garoto s� estivera ali antes uma vez e fora tamb�m por um problema muito s�rio. Desde ent�o Snape adquirira mais umas coisas horr�veis e viscosas conservadas em frascos, todos arrumados nas prateleiras atr�s de sua escrivaninha, refletindo as chamas da lareira e contribuindo ainda mais para tornar a atmosfera amea�adora. � Sente-se � mandou Snape. Harry se sentou. O professor, no entanto, continuou em p�. � O Sr. Malfoy acabou de vir me contar uma hist�ria estranha, Potter. Harry ficou calado. � Ele me contou que estava na Casa dos Gritos quando deparou com Weasley, aparentemente sozinho. Ainda assim, Harry n�o falou nada. � O Sr. Malfoy diz que estava parado, falando com Weasley, quando um pelota�o de lama o atingiu na nuca. Como � que voc� acha que isso aconteceu? Harry tentou parecer levemente surpreso. � N�o sei, professor. Os olhos de Snape perfuravam os de Harry. Era exatamente a mesma sensa��o de tentar dominar um hipogrifo com o olhar. O garoto fez for�a para n�o piscar. � O Sr. Malfoy ent�o viu uma extraordin�ria apari��o. Voc� pode imaginar o que teria sido, Potter? � N�o � respondeu Harry, agora tentando parecer inocentemente curioso. � Foi a sua cabe�a, Potter. Flutuando no ar. Fez-se um longo sil�ncio. � Talvez seja bom ele ir procurar Madame Pomfrey � sugeriu Harry. � Se anda vendo coisas como... � Que � que a sua cabe�a estaria fazendo em Hogsmeade, Potter? � perguntou Snape suavemente. � A sua cabe�a n�o tem permiss�o de ir a Hogsmeade. Nenhuma parte do seu corpo tem permiss�o de ir a Hogsmeade. � Eu sei, professor � respondeu Harry, tentando manter o rosto despojado de culpa ou medo. � Parece que Malfoy est� sofrendo alucina... � Malfoy n�o est� sofrendo alucina��es � rosnou Snape, se curvando com as m�os apoiadas nos bra�os da cadeira de Harry, de modo que os rostos dos dois ficaram afastados apenas trinta cent�metros. Se a sua cabe�a estava em Hogsmeade, ent�o o resto do seu corpo tamb�m estava. � Estive na Torre da Grifin�ria. Como o senhor me mandou... � Algu�m pode confirmar isso? Harry n�o respondeu. A boca de Snape se torceu num feio sorriso. � Ent�o � disse ele se endireitando. � Todo mundo, do Ministro da Magia para baixo, est� tentando manter o famoso Harry Potter a salvo de Sirius Black. Mas o famoso Harry Potter faz as suas pr�prias leis. Que as pessoas comuns se preocupem com a sua seguran�a! O famoso Harry Potter vai aonde quer, sem medir as conseq��ncias. Harry ficou calado. Snape estava tentando provoc�-lo a dizer a verdade. Pois ele n�o ia dizer. Snape n�o tinha provas, ainda. � � extraordin�rio como voc� se parece com o seu pai, Potter � disse Snape de repente, os olhos brilhando. Ele tamb�m era muit�ssimo arrogante. Um pequeno talento no campo de Quadribol o fazia pensar que estava acima dos demais. Exibia-se pela escola com seus amigos e admiradores... A semelhan�a entre voc�s dois � fant�stica. � Meu pai n�o se exibia � disse Harry, antes que pudesse se refrear. � E eu tamb�m n�o. � Seu pai tamb�m n�o ligava para as regras � continuou Snape, aproveitando a vantagem obtida, seu rosto magro cheio de mal�cia. � Regras foram feitas para meros mortais, n�o para vencedores da Ta�a de Quadribol. Era t�o cheio de si... � CALE A BOCA! Harry, de repente, se levantou. Uma raiva como ele n�o sentia desde a �ltima noite na Rua dos Alfeneiros atravessou seu corpo. Ele n�o se importou que o rosto de Snape tivesse enrijecido, que os olhos negros lampejassem perigosamente. � Que foi que voc� disse a mim, Potter? � Disse para parar de falar do meu pai! � berrou Harry. � Conhe�o a verdade, est� bem? Ele salvou sua vida. Dumbledore me contou! O senhor nem estaria aqui se n�o fosse o meu pai! A pele macilenta de Snape ficou da cor de leite azedo. � E o diretor lhe contou as circunst�ncias em que seu pai salvou a minha vida? � sussurrou. � Ou ser� que considerou os detalhes demasiado indigestos para os ouvidos delicados do precioso Potter? Harry mordeu o l�bio. N�o sabia o que acontecera e n�o queria admiti-lo, mas Snape parecia ter adivinhado a verdade. � Eu detestaria que voc� sa�sse por a� com uma id�ia falsa sobre seu pai, Potter � disse ele, com um sorriso horr�vel deformando-lhe o rosto. � Ser� que voc� andou imaginando um glorioso ato de hero�smo? Ent�o me d� licen�a para corrigi-lo: o seu santo paizinho e seus amigos me pregaram uma pe�a muito divertida que teria provocado a minha morte se o seu pai n�o tivesse se acovardado no �ltimo instante. N�o houve coragem alguma no que ele fez. Estava salvando a pr�pria pele junto com a minha. Se a pe�a tivesse chegado ao fim, ele teria sido expulso de Hogwarts. Os dentes irregulares e amarelados de Snape estavam arreganhados. � Vire seus bolsos pelo avesso, Potter! � disse ele, de s�bito, e com rispidez. Harry n�o se mexeu. Sentia o sangue latejar nos ouvidos. � Vire seus bolsos pelo avesso ou vamos ver o diretor agora! Pelo avesso, Potter! Gelado de medo, Harry tirou do bolso a saca com artigos da Zonko's e o Mapa do Maroto. Snape apanhou a saca da Zonko's. � Foi Rony que me deu � informou Harry, rezando para ter uma chance de avisar Rony antes que Snape o visse. � Ele... Trouxe para mim de Hogsmeade da �ltima vez... � Verdade? E voc� anda carregando isso desde ent�o? Que comovente... E o que � isto? Snape apanhara o mapa. Harry tentou com todas as for�as manter o rosto impass�vel. � Um peda�o de pergaminho � disse, sacudindo os ombros. Snape revirou-o, mantendo os olhos fixos em Harry. � Com certeza voc� n�o precisa de um peda�o de pergaminho t�o velho? � comentou. � Por que n�o... Jog�-lo fora? Ele estendeu a m�o para a lareira. � N�o! � exclamou Harry depressa. � Ent�o � disse Snape com as narinas tr�mulas. � Ser� que � mais um precioso presente do Sr. Weasley? � Ou ser� que � outra coisa? Uma carta, talvez, escrita com tinta invis�vel? Ou instru��es para ir a Hogsmeade sem passar pelos dementadores? Harry piscou. Os olhos de Snape brilharam. � Vejamos, vejamos... � murmurou ele, puxando a varinha e alisando o mapa em cima da escrivaninha. � Revele o seu segredo! � disse, tocando o pergaminho com a varinha. Nada aconteceu. Harry fechou as m�os para impedi-las de tremer. � Mostre-se! � disse Snape, dando uma batida forte no mapa. O mapa continuou em branco. Harry inspirou profundamente para se acalmar. � Severo Snape, professor desta escola, ordena que voc� revele a informa��o que est� ocultando! � disse ele, batendo no mapa com a varinha. Como se uma m�o invis�vel estivesse escrevendo, come�aram a surgir palavras na superf�cie lisa do mapa. �O Sr. Aluado apresenta seus cumprimentos ao Prof�. Snape e pede que ele n�o meta seu nariz anormalmente grande no que n�o � de sua conta�. Snape congelou. Harry arregalou os olhos, para a mensagem, aparvalhado. Mas o mapa n�o parou a�. Outras frases apareceram embaixo da primeira. �O Sr. Pontas concorda com o Sr. Aluado e gostaria de acrescentar que o Prof�. Snape � um safado mal acabado�. Teria sido muito engra�ado se a situa��o n�o fosse t�o grave. E havia mais... �O Sr. Almofadinhas gostaria de deixar registrado o seu espanto de que um idiota desse calibre tenha chegado a professor�. Harry fechou os olhos horrorizado. Quando os reabriu, o mapa tinha dito a �ltima palavra. �O Sr. Rabicho deseja ao Prof�. Snape um bom dia e aconselha a esse seboso que lave os cabelos�. Harry esperou a pancada atingi-lo. � Ent�o � disse Snape suavemente. � Veremos... O professor foi at� a lareira, agarrou um punhado de p� brilhante e atirou-o nas chamas. � Lupin! � gritou Snape para o fogo. � Quero dar uma palavrinha com voc�! Absolutamente perplexo, Harry olhou para o fogo. Surgiu uma sombra enorme que rodopiava muito depressa. Segundos depois, o Prof�. Lupin sa�a da lareira, sacudindo as cinzas das roupas enxovalhadas. � Voc� me chamou, Severo? � perguntou Lupin suavemente. � Claro que chamei � retrucou Snape, o rosto contorcido de f�ria ao voltar para sua escrivaninha. � Acabei de pedir a Potter para esvaziar os bolsos. Ele trazia isto com ele. Snape apontou para o pergaminho, em que as palavras dos Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas ainda brilhavam. Uma express�o estranha e reservada apareceu no rosto de Lupin. � E da�? Lupin continuou a olhar fixamente para o mapa. Harry teve a impress�o de que ele estava avaliando a situa��o muito rapidamente. � E ent�o? � insistiu Snape. � Este pergaminho obviamente est� repleto de magia negra. Pelo visto isto � a sua especialidade, Lupin. Onde voc� acha que Potter arranjou uma coisa dessas? Lupin ergueu a cabe�a e, com um lev�ssimo relanceio na dire��o de Harry, alertou-o para n�o interromp�-lo. � Repleto de magia negra? � repetiu ele. � � isso mesmo que voc� acha, Severo? A mim parece apenas um mero peda�o de pergaminho que insulta quem o l�. Infantil, mas com certeza nada perigoso. Imagino que Harry o tenha comprado numa loja de logros e brincadeiras... � Verdade? � O queixo de Snape tinha endurecido de raiva. � Voc� acha que uma loja de logros e brincadeiras podia ter vendido a ele uma coisa dessas? Voc� n�o acha que � mais prov�vel que ele o tenha obtido diretamente dos fabricantes? Harry n�o entendeu o que Snape dizia. E, aparentemente, Lupin tamb�m n�o. � Voc� quer dizer, do Sr. Rabicho ou um dos outros? Harry, voc� conhece algum desses homens? � N�o � respondeu Harry depressa. � Est� vendo, Severo? � disse Lupin voltando-se para Snape. � A mim parece um produto da Zonko's... Bem na hora, Rony irrompeu pela sala. Estava completamente sem f�lego e parou diante da escrivaninha de Snape, a m�o apertando o peito, tentando falar. � Eu... Dei... Isso... A... Harry � disse sufocado. � Comprei... Na Zonko's... H�... S�culos... � Bem! � disse Lupin batendo palmas e olhando � sua volta animado. � Isso parece esclarecer tudo! Severo, vou devolver isto, posso? � Ele dobrou o mapa e o guardou nas vestes. � Harry e Rony, venham comigo, preciso dar uma palavra sobre a reda��o dos vampiros, voc� nos d� licen�a, Severo... Harry n�o se atreveu a olhar para Snape ao deixarem a sala do professor. Ele, Rony e Lupin voltaram ao sagu�o de entrada antes de se falarem. Ent�o Harry se dirigiu a Lupin. � Professor, eu... � N�o quero ouvir explica��es � disse Lupin aborrecido. Espiou o sagu�o vazio e baixou a voz. � Por acaso eu sei que este mapa foi confiscado pelo Sr. Filch h� muitos anos. �, eu sei que � um mapa � disse ele aos surpresos garotos. � N�o quero saber como voc� o obteve. Estou abismado, no entanto, que n�o o tenha entregado a algu�m respons�vel. Especialmente depois do que aconteceu na �ltima vez em que um aluno deixou uma informa��o sobre o castelo largada por a�. E n�o posso deixar voc� ficar com o mapa, Harry. O garoto esperara isso e estava demasiado ansioso por informa��es para protestar. � Por que Snape achou que eu tinha obtido o mapa dos fabricantes? � Por que... � Lupin hesitou �, porque a inten��o desses fabricantes de mapas era atra�-lo para fora da escola. Teriam achado isso muit�ssimo divertido. � O senhor os conhece? � perguntou Harry impressionado. � J� nos encontramos � disse o professor com rispidez. Olhava para Harry mais s�rio do que jamais olhara. � N�o espere que lhe d� cobertura outra vez, Harry. N�o posso fazer voc� levar Sirius Black a s�rio. Mas eu teria pensado que o que voc� ouve quando os dementadores se aproximam teria produzido algum efeito em voc�. Os seus pais deram a vida para mant�-lo vivo, Harry. � uma retribui��o indigente, trocar o sacrif�cio deles por uma saca de truques m�gicos. O professor se afastou, deixando Harry se sentindo muito pior do que em qualquer momento que passara na sala de Snape. Lentamente, ele e Rony subiram a escadaria de m�rmore. Quando Harry passou pela bruxa de um olho s�, lembrou-se da Capa da Invisibilidade que continuava l� embaixo, mas ele n�o se atreveu a ir busc�-la. � A culpa � minha � disse Rony sem rodeios. � Eu o convenci a ir. Lupin tem raz�o, foi uma estupidez e n�o dev�amos ter feito Isso... Ele parou de falar; tinham chegado ao corredor onde os trasgos de seguran�a estavam patrulhando e Hermione vinha ao encontro dos dois. Uma olhada no rosto dela convenceu Harry de que ela ouvira falar do que acontecera. Sentiu um peso no cora��o. Ser� que ela contara � Prof�. McGonagall? � Veio tripudiar? � perguntou Rony ferozmente quando a garota parou diante deles. � Ou acabou de nos denunciar? � N�o � respondeu Hermione. Ela segurava uma carta nas m�os e seus l�bios tremiam. � S� achei que voc�s deviam saber... Hagrid perdeu o caso. Bicu�o vai ser executado. CAP�TULO QUINZE A Final do Campeonato de Quadribol � Ele... Ele me mandou isto � disse Hermione entregando a carta. Harry apanhou-a. O pergaminho estava �mido, e enormes gotas de l�grimas tinham borrado t�o completamente a tinta em alguns pontos que era dif�cil ler a carta. Cara Mione, Perdemos. Tive permiss�o de trazer Bicu�o de volta a Hogwarts. A data de execu��o vai ser marcada. Bicucinho gostou de Londres. N�o vou esquecer toda a ajuda que voc� nos deu. Hagrid. � Eles n�o podem fazer isso � disse Harry. � N�o podem. Bicu�o n�o � perigoso. � O pai de Malfoy deve ter intimidado a Comiss�o, para ela fazer isso � disse Hermione, enxugando as l�grimas. � Voc�s sabem como ele �. Os outros s�o um bando de velhos caducos e bobos e ficaram com medo. Mas vai haver recurso, sempre h�. S� que n�o consigo ver nenhuma esperan�a... Nada vai mudar at� l�. � Vai, sim � disse Rony com ferocidade. � Voc� n�o vai ter que fazer o trabalho todo sozinha desta vez, Mione. Eu vou ajudar. � Ah, Rony! Hermione atirou os bra�os ao pesco�o de Rony e desabou completamente. Rony, com cara de terror, acariciou muito sem jeito o topo da cabe�a da garota. Finalmente, ela se afastou. � Rony, eu realmente sinto muito, muito mesmo, pelo Perebas... � solu�ou ela. � Ah... Bem... Ele estava velho � disse Rony, parecendo muit�ssimo aliviado por Hermione o ter soltado. � E estava ficando meio in�til. Nunca se sabe, talvez mam�e e papai me comprem uma coruja agora. As medidas de seguran�a impostas aos alunos desde a segunda invas�o de Black impediram que Harry, Rony e Hermione fossem visitar Hagrid � noite. A �nica oportunidade que tinham de falar com ele era durante a aula de Trato das Criaturas M�gicas. Ele parecia ter ficado aparvalhado com o veredicto da Comiss�o. � � tudo minha culpa. Me atrapalhei para falar. Eles estavam sentados l�, vestidos de preto, e eu n�o parava de deixar cair as minhas anota��es e esquecer as datas que voc� viu p�ra mim, Mione. Depois L�cio Malfoy ficou em p� e falou, e a Comiss�o fez exatamente o que ele mandou... � Ainda tem recurso! � disse Rony ferozmente. � N�o desista ainda, estamos trabalhando nisso! Os quatro regressavam ao castelo com o restante da classe. � frente, viam MaIfoy, que caminhava com Crabbe e Goyle e n�o parava de olhar para tr�s, rindo com ar de deboche. � N�o adianta, Rony � disse Hagrid, muito triste, quando chegavam � entrada do castelo. � Aquela comiss�o faz o que L�cio Malfoy manda. Eu s� vou tomar provid�ncias para que os �ltimos dias do Bicucinho sejam os mais felizes que teve na vida. Devo isso a ele... Hagrid deu meia-volta e saiu correndo em dire��o � sua cabana, o rosto escondido no len�o. � Olhem s� ele chorando feito um bebez�o! Malfoy, Crabbe e Goyle tinham parado �s portas do castelo, escutando. � Voc�s j� viram uma coisa mais pat�tica? � perguntou Malfoy. � E dizem que ele � nosso professor! Harry e Rony se voltaram com viol�ncia para Malfoy, mas Hermione chegou primeiro. -P�! Ela deu um tapa na cara de Malfoy com toda a for�a que conseguiu reunir. Malfoy cambaleou. Harry, Rony, Crabbe e Goyle ficaram parados, estupefatos, enquanto Hermione tornava a levantar a m�o. � N�o se atreva a chamar Hagrid de pat�tico, seu sujo... Seu perverso... � Mione! � exclamou Rony com a voz fraca, e tentou segurar a m�o da garota ao v�-la tomar novo impulso. � Sai, Rony! Hermione puxou a varinha. Malfoy recuou. Crabbe e Goyle olharam para ele pedindo instru��es, inteiramente abobados. � Vamos � murmurou Malfoy e, num instante, os tr�s tinham desaparecido no corredor que levava �s masmorras. � Mione!� tornou a exclamar Rony, parecendo ao mesmo tempo espantado e impressionado. � Harry, acho bom voc� dar uma surra nele na final de Quadribol! � disse a garota com a voz esgani�ada. � Acho bom dar, porque n�o vou suportar ver Sonserina vencer! � Est� na hora da aula de Feiti�os � disse Rony, ainda olhando para Hermione. � � melhor a gente ir andando. E os tr�s subiram correndo a escadaria de m�rmore para chegar � classe do Prof�. Flitwick. � Voc�s est�o atrasados, garotos! � disse o professor, em tom de censura, quando Harry abriu a porta da sala. � Vamos, depressa, tirem as varinhas, hoje estamos fazendo experi�ncias com os feiti�os para animar, j� dividimos os pares... Harry e Rony correram para as carteiras ao fundo e abriram as mochilas. Rony olhou para tr�s. � Aonde � que foi a Mione? Harry tamb�m a procurou. Hermione n�o entrara na sala, no entanto, Harry sabia que a garota estivera bem ao seu lado quando ele abrira a porta. � Que coisa esquisita � comentou Harry, encarando Rony. � Vai ver... Vai ver ela foi ao banheiro ou outra coisa qualquer. Mas a garota n�o apareceu durante toda a aula. � Ela bem que precisava de um feiti�o para animar, tamb�m � comentou Rony quando os alunos sa�ram para almo�ar, todos muito sorridentes, os feiti�os para animar tinham deixado em todos uma sensa��o de grande contentamento. Hermione n�o apareceu no almo�o tampouco. Na altura em que terminaram a torta de ma��, os efeitos dos feiti�os estavam se dissipando, e Harry e Rony come�aram a se preocupar um pouco. � Voc� acha que Draco fez alguma coisa a ela? � perguntou Rony, ansioso, quando seguiam apressados para a Torre da Grifin�ria. Passaram pelos trasgos de seguran�a, deram a senha � Mulher Gorda ("Flibbertigibbet") e treparam pelo buraco do retrato para chegar � sala comunal. Hermione estava sentada � mesa, profundamente adormecida, a cabe�a pousada sobre um livro aberto de Aritmancia. Os garotos se sentaram, um de cada lado. Harry cutucou-a de leve para acord�-la. � �!... Qu�? � exclamou Hermione, acordando e olhando assustada para os lados. � J� est� na hora de ir? � �!... Qual � a aula que temos agora? � Adivinha��o, mas s� daqui a vinte minutos � respondeu Harry � Mione, por que voc� n�o foi � aula de Feiti�os? � Qu�? Ah n�o! � guinchou Hermione. � Me esqueci de ir � aula de Feiti�os! � Mas como � que voc� p�de esquecer? � perguntou Harry. � Voc� estava conosco at� chegarmos � porta da sala de aula! � Eu n�o acredito! � lamentou-se Hermione. � O Prof�. Flitwick ficou aborrecido? Ah, foi o Malfoy, eu estava pensando nele e me atrapalhei! � Sabe de uma coisa, Mione? � disse Rony, olhando para o livr�o de Aritmancia que a garota estivera usando como travesseiro. � Acho que voc� est� sofrendo um colapso mental. Est� tentando fazer coisas demais. � N�o estou, n�o! � retrucou ela, afastando os cabelos dos olhos e procurando a mochila, com um ar de desamparo. � Foi s� um engano! � melhor eu procurar o Prof�. Flitwick e pedir desculpas... Vejo voc�s na aula de Adivinha��o! Hermione se reuniu aos dois garotos ao p� da escada para a sala da Prof�. Sibila, vinte minutos mais tarde, com um ar extremamente encabulado. � N�o posso acreditar que perdi os feiti�os para animar! E aposto como v�o cair nos exames; o Prof�. Flitwick insinuou que poderiam cair! Juntos, eles subiram a escada para a sala escura e abafada da torre. Brilhando em cada mesinha havia uma bola de cristal cheia de uma n�voa branco-p�rola. Harry, Rony e Hermione se sentaram juntos � mesma mesa bamba. � Pensei que n�o �amos come�ar bolas de cristal antes do pr�ximo trimestre � resmungou Rony, lan�ando � sala um olhar preocupado, � procura da professora, caso ela estivesse espreitando por ali. � N�o reclame, isso significa que terminamos quiromancia � murmurou Harry em resposta. � Eu j� estava ficando cheio de ver Trelawney fazer careta de afli��o todas as vezes que examinava as minhas m�os. � Bom dia para todos! � saudou a voz et�rea e familiar, e a professora saiu das sombras em sua costumeira e dram�tica apari��o. Parvati e LiI� estremeceram de excita��o, os rostos iluminados pelo brilho leitoso das bolas de cristal. � Resolvi come�ar a bola de cristal mais cedo do que tinha planejado � disse a professora, sentada de costas para a lareira, olhando para a turma. � As Parcas me informaram que o exame de voc�s em junho tratar� do orbe, e estou ansiosa para oferecer-lhes muita pr�tica. Hermione deu uma risadinha. � Bem, francamente... "as Parcas a informaram"... Quem � que prepara o exame? Ela mesma! Que profecia assombrosa! � continuou a garota sem se preocupar em manter a voz baixa. Harry e Rony sufocaram risadinhas. Era dif�cil dizer se a professora os ouvira, pois seu rosto estava oculto pelas sombras. Ela, no entanto, continuou como se n�o tivesse ouvido. � A vid�ncia com a bola de cristal � uma arte particularmente requintada disse em tom sonhador. � Por isso n�o espero que voc�s vejam alguma coisa ao procurarem examinar pela primeira vez as profundezas infinitas do orbe. Vamos come�ar praticando o relaxamento da mente consciente e da vis�o exterior � Rony come�ou a soltar risadinhas irrefre�veis e precisou meter o punho na boca para abafar o som � para voc�s poderem limpar a vis�o interior e a supraconsci�ncia. Talvez, se tivermos sorte, alguns de voc�s consigam ver alguma coisa antes do fim da aula. E ent�o come�aram a praticar. Harry, pelo menos, sentiu-se extremamente bobo de mirar a bola de cristal, tentando manter a mente vazia, enquanto pensamentos do tipo "que coisa mais idiota� n�o paravam de lhe ocorrer. Rony n�o ajudava nada com seus acessos de riso silencioso nem Hermione com seus muxoxos. � Viram alguma coisa? � perguntou Harry aos dois, depois de manter os olhos fixos na bola uns quinze minutos. � J�, tem uma queimadura no tampo dessa mesa � disse Rony apontando. � Algu�m derrubou uma vela. � Isto � uma baita perda de tempo � sibilou Hermione. � Eu podia estar praticando alguma coisa �til. Podia estar recuperando a mat�ria de feiti�os para animar... A Prof�. Sibila passou farfalhando. � Algu�m gostaria que eu ajudasse a interpretar os portentos obscuros que aparecem em seu orbe? � murmurou sobrepondo a voz ao tilintar dos seus badulaques. � Eu n�o preciso de ajuda � sussurrou Rony. � � �bvio o que isto significa. Vai haver um nevoeiro daqueles hoje � noite. Harry e Hermione explodiram em risadas. � Ora, francamente! � exclamou a Prof�. Trelawney quando todas as cabe�as dos alunos se viraram em sua dire��o. Parvati e Lil� fizeram caras escandalizadas. � Voc�s est�o perturbando as vibra��es da vidente! A professora se aproximou da mesa dos garotos e espiou as bolas de cristal dos tr�s. Harry sentiu um grande des�nimo. Tinha certeza de que sabia o que viria a seguir... � Vejo algo aqui! � sussurrou a professora, aproximando o rosto da bola, de modo que esta se refletiu duas vezes em seus enormes �culos. � Alguma coisa que se move... Mas o que � isso? Harry estava preparado para apostar tudo que tinha, inclusive a Firebolt, que, seja o que fosse, n�o seria uma boa not�cia. E n�o deu outra... � Meu querido... � sussurrou a professora, erguendo os olhos para ele. � Est� aqui, mais claro que antes... Meu querido, aproximando-se de voc�, cada vez mais perto... O Sin... � Ah, pelo amor de Deus � exclamou Hermione em voz alta. � N�o � aquele rid�culo Sinistro outra vez! A Prof�. Sibila ergueu os enormes olhos para a garota. Parvati cochichou alguma coisa com Lil�, e as duas olharam feio para Hermione tamb�m. A professora se ergueu, fitando Hermione com inconfund�vel raiva. � Sinto dizer que do instante em que voc� entrou nesta sala, minha querida, ficou evidente que n�o tinha o talento que a nobre arte da Adivinha��o exige. Na verdade, eu n�o me lembro de jamais ter encontrado uma aluna cuja mente fosse t�o irreparavelmente terrena. Seguiu-se um momento de sil�ncio. Ent�o... � �timo! � exclamou Hermione, de repente, levantando-se e enfiando o exemplar de Esclarecendo o Futuro na mochila. � �timo! � repetiu, atirando a mochila sobre o ombro e quase derrubando Rony da cadeira. � Eu desisto! Vou-me embora. E para assombro da turma, Hermione se dirigiu ao al�ap�o, abriu-o com um pontap� e desceu a escada, desaparecendo de vista. Levou alguns minutos para todos se aquietarem outra vez. A professora parecia ter se esquecido completamente do Sinistro. Deu as costas, bruscamente, � mesa de Harry e Rony, respirando forte e ajeitando o di�fano xale mais perto do corpo. � Oooooh! � exclamou Lil� de repente, assustando todo mundo. � Ooooooh, Prof�. Sibila, acabei de me lembrar! A senhora viu a Hermione nos deixando, n�o foi? N�o foi, professora? Na altura da P�scoa, algu�m aqui vai deixar o nosso conv�vio para sempre! A senhora disse isso h� um temp�o, professora! Sibila sorriu suavemente. � � verdade, minha querida, eu sabia que a Srta. Granger iria nos deixar. Esperemos, no entanto, que tenhamos nos enganado com os sinais... A vis�o interior pode ser um fardo, sabem... Lil� e Parvati pareceram profundamente interessadas e trocaram de lugar para que a professora pudesse parar � mesa delas. � Um dia Hermione vai capotar, hein? � murmurou Rony para Harry, fazendo cara de espanto. � �... Harry examinou mais uma vez a bola de cristal, mas n�o viu nada al�m de uma n�voa espiralada. Ser� que a professora vira, de fato, o Sinistro novamente? Ser� que ele, Harry, veria? A �ltima coisa de que precisava era outro acidente quase fatal, com a final de Quadribol cada dia mais pr�xima. As f�rias da P�scoa n�o foram exatamente relaxantes. Os alunos do terceiro ano nunca tinham recebido tantos deveres para casa. Neville Longbottom parecia �s v�speras de um colapso nervoso, e n�o era o �nico. � Chamam a isso de f�rias! � bradou Simas Finnigan certa tarde na sala comunal. � Ainda faltam s�culos para os exames, qual � a deles! Mas ningu�m tinha tanto a fazer quanto Hermione. Mesmo sem Adivinha��o, ela estava estudando mais mat�rias do que todos os outros. Em geral era a �ltima a deixar a sala comunal � noite, a primeira a chegar na biblioteca na manh� seguinte; tinha olheiras iguais as de Lupin e parecia estar constantemente prestes a cair no choro. Rony assumira a responsabilidade pelo recurso de Bicu�o. Quando n�o estava cuidando dos pr�prios deveres, estava examinando volumes gross�ssimos com t�tulos do tipo O Manual da Psicologia do Hipogrifo e Ave ou Vil�o? Um Estudo Sobre a Brutalidade do Hipogrifo. Ficou t�o absorto que at� se esqueceu de ser antip�tico com o Bichento. Entrementes, Harry teve que encaixar os deveres entre os treinos di�rios de Quadribol, para n�o falar das intermin�veis discuss�es de t�ticas com Ol�vio. A partida Grifin�ria x Sonserina fora marcada para o primeiro s�bado depois das f�rias da P�scoa. Sonserina liderava o campeonato por exatos duzentos pontos. Isto significava (conforme Ol�vio n�o parava de lembrar ao seu time) que eles precisavam vencer a partida por um n�mero de pontos superior a duzentos para ganhar a Ta�a. Significava, ainda, que a responsabilidade de vencer cabia em grande parte a Harry, porque capturar o pomo valia cento e cinq�enta pontos. � Por isso voc� deve capturar o pomo somente quando obtivermos uma vantagem de mais de cinq�enta pontos � dizia Ol�vio a Harry constantemente. � S� se tivermos mais de cinq�enta pontos Harry, sen�o ganhamos a partida mas perdemos a ta�a. Voc� entendeu bem? Voc� s� pode apanhar o pomo se tivermos... � J� SEI, OL�VIO! � berrou Harry. Toda a Grifin�ria estava obcecada com a pr�xima partida. A casa n�o ganhava a Ta�a de Quadribol desde que o lend�rio Carlinhos Weasley (o segundo irm�o mais velho de Rony) jogara como apanhador. Mas Harry duvidava se algu�m no mundo, mesmo Ol�vio, queria essa vit�ria tanto quanto ele. A inimizade entre Harry e Malfoy atingira o auge. Malfoy ainda sofria com o incidente da pelota de lama em Hogsmeade e ficara ainda mais furioso que Harry tivesse conseguido escapar do castigo. Harry, por sua vez, n�o se esquecia da tentativa de Malfoy de sabot�-lo durante o jogo contra Corvinal, mas foi o caso de Bicu�o que o deixou ainda mais decidido a vencer Malfoy diante da escola inteira. Nunca, na lembran�a de ningu�m, uma partida se aproximara com uma atmosfera t�o carregada. Quando as f�rias terminaram, a tens�o entre os dois times e suas casas estava a ponto de explodir. Pequenas brigas irrompiam nos corredores, que culminaram em um incidente perverso, no qual um quartanista da Grifin�ria e um sextanista da Sonserina acabaram na ala hospitalar, com alhos por�s brotando dos ouvidos. Harry, pessoalmente, estava passando um mau peda�o. N�o podia ir e vir sem que os alunos da Sonserina esticassem as pernas tentando faz�-lo trope�ar; Crabbe e Goyle n�o paravam de aparecer onde quer que ele estivesse e se afastar desapontados quando o viam cercado de colegas. Ol�vio dera instru��es para que Harry estivesse sempre acompanhado em todo lugar, para a eventualidade de algum aluno da Sonserina querer inutiliz�-lo para o jogo. Toda a Grifin�ria assumiu o desafio com entusiasmo, tornando imposs�vel Harry chegar �s aulas na hora certa, porque andava rodeado por uma aglomera��o de colegas barulhentos. Mas o garoto se preocupava mais com a seguran�a da Firebolt do que com a pr�pria. Quando n�o estava voando, ele trancava a vassoura no mal�o e muitas vezes dava uma corrida � Torre da Grifin�ria, nos intervalos das aulas, para verificar se ela continuava l�. Todas as atividades normais na sala comunal foram abandonadas na v�spera do jogo. At� Hermione pusera os livros de lado. � N�o consigo estudar, n�o consigo me concentrar � comentou ela, nervosa. Havia uma grande algazarra. Fred e Jorge Weasley enfrentavam a press�o agindo com mais barulho e exuber�ncia que nunca. Ol�vio estava a um canto debru�ado sobre a maquete de um campo de Quadribol, empurrando bonequinhos com a varinha e resmungando. Angelina, Alicia e Katie riam das piadas de Fred e Jorge. Harry se sentara com Rony e Hermione afastado do centro das atividades, procurando n�o pensar no dia seguinte, porque toda vez que o fazia, tinha a terr�vel sensa��o de que alguma coisa enorme estava tentando voltar do seu est�mago. � Voc� vai se sair bem � disse Hermione a ele, embora parecesse decididamente aterrorizada. � Voc� tem uma Firebolt! � animou-o Rony. � �... � respondeu Harry, o est�mago se revirando. Foi um al�vio quando Wood se levantou e gritou: � Time! Cama! Harry dormiu mal. Primeiro, sonhou que perdera a hora e que Hood gritava "Onde � que voc� se meteu? Tivemos que chamar Neville para substitu�-lo!". Depois sonhou que Malfoy e o resto do time da Sonserina chegavam para a partida montados em drag�es. Harry voava a uma velocidade vertiginosa, tentando evitar o jorro de chamas que sa�a da boca da montaria de Malfoy, quando percebeu que esquecera sua vassoura. Come�ou, ent�o, a cair pelo ar e acordou assustado. Levou alguns segundos para se lembrar que a partida ainda n�o se realizara, que estava seguro em sua cama, e que, decididamente, o time da Sonserina n�o teria permiss�o para jogar montado em drag�es. Sentiu uma sede enorme. O mais silenciosamente que p�de, levantou-se da cama de colunas e foi se servir de �gua de uma jarra de prata sob a janela. N�o havia movimento nem som nos jardins. Nenhum sopro de vento perturbava as copas das �rvores na Floresta Proibida; o Salgueiro Lutador estava im�vel e transpirava inoc�ncia. Parecia que as condi��es para a partida seriam perfeitas. Harry pousou o copo e j� ia voltar para a cama quando alguma coisa prendeu sua aten��o. Havia um animal rondando o gramado prateado. Harry correu � sua mesa-de-cabeceira, apanhou os �culos, colocou-os, e voltou depressa � janela. N�o podia ser o Sinistro � n�o agora � n�o na v�spera da partida... Ele tornou a espiar os jardins e, depois de uma busca ansiosa, localizou-o. O animal ia contornando a orla da floresta agora... N�o era o Sinistro... Era um gato... Harry agarrou o peitoril da janela aliviado ao reconhecer aquele rabo de escovinha. Era s� o Bichento... Mas seria s� o Bichento? Harry apurou a vista, esborrachando o nariz contra a vidra�a. Bichento parecia ter parado. O menino teve certeza de que estava vendo outra coisa andando sob a sombra das �rvores, tamb�m. Naquele momento, ele apareceu, um c�o gigantesco, peludo e negro, que se movia sorrateiramente pelos gramados. Bichento caminhava ao seu lado. Harry arregalou os olhos. Que significaria isso? Se Bichento tamb�m via o c�o, como � que ele podia ser um agouro da morte de Harry? � Rony! � sibilou Harry. � Rony acorda! � Hum? � Preciso que voc� me diga se v� uma coisa! � T� tudo escuro, Harry � murmurou o amigo com a voz empastada. � Do que � que voc� est� falando? � Ali embaixo... Harry espiou depressa pela janela. Bichento e o c�o haviam desaparecido. Ele subiu, ent�o, no peitoril para ver l� embaixo, nas sombras do castelo, mas os bichos n�o estavam mais l�. Aonde teriam ido? Um forte ronco lhe informou que Rony tornara a cair no sono. Harry e o resto do time da Grifin�ria entraram no Sal�o Principal, no dia seguinte, sob uma tempestade de aplausos. O garoto n�o p�de deixar de dar um grande sorriso quando viu que as mesas da Corvinal e Lufa-Lufa os aplaudiam tamb�m. A mesa da Sonserina vaiou alto quando eles passaram. Harry reparou que Malfoy parecia mais p�lido do que de costume. Ol�vio passou o caf� da manh� inteiro insistindo para que o time comesse, sem, contudo, se servir de nada. Depois apressou-os a se dirigirem ao campo antes que os outros tivessem terminado, para terem uma id�ia das condi��es de jogo. Quando sa�ram do Sal�o Principal, receberam novos aplausos. � Boa sorte, Harry! � gritou Cho. Harry sentiu o rosto corar. � Ok... N�o tem vento... O sol est� meio forte, o que pode prejudicar a vis�o, tomem cuidado... O ch�o est� bem firme, bom, isso vai nos dar um bom impulso inicial... Ol�vio andou pelo campo examinando tudo, com o time atr�s. Finalmente, eles viram as portas do castelo se abrirem ao longe e o restante da escola se espalhar pelos gramados. � Vesti�rio � disse Ol�vio tenso. Ningu�m falou enquanto se despiam e vestiam os uniformes vermelhos. Harry ficou imaginando se todos estariam se sentindo como ele: como se tivesse comido alguma coisa que se mexia demais dentro da barriga. N�o parecia ter transcorrido mais que um segundo quando ele ouviu Ol�vio dizer: � Ok, pessoal, vamos... O time entrou em campo sob uma onda gigantesca de aplausos, Tr�s quartos da torcida usavam rosetas vermelhas, agitavam bandeiras vermelhas com o le�o da Grifin�ria ou faixas com palavras de ordem: "PRA FRENTE GRIFIN�RIA!" e "A COPAS DOS LE�ES!�. Atr�s das balizas da Sonserina, por�m, duzentos torcedores se cobriam de verde; a serpente prateada da casa brilhava em suas bandeiras e o Prof�. Snape estava sentado na primeira fila, vestindo verde como os demais, exibindo um sorriso muito sinistro. � E a� vem o time da Grifin�ria! � bradou Lino Jordan, que, como sempre, fazia a irradia��o. � Potter, Bell, Johnson, Spinnet, Weasley, Weasley e Wood. Considerado por todos o melhor time que Hogwarts j� viu em muitos anos... Os coment�rios de Lino foram abafados por uma onda de vaias da torcida da Sonserina. � E a� vem o time da Sonserina, liderado pelo capit�o Flint. Ele fez algumas altera��es no esquema t�tico e parece ter preferido o peso � qualidade... Mais vaias da torcida da Sonserina. Harry, por�m, achou que Lino tinha raz�o. Malfoy era, sem discuss�o, o menor jogador do time; todos os outros eram enormes. � Capit�es, apertem-se as m�os! � disse Madame Hooch. Flint e Wood se aproximaram e apertaram as m�os com for�a; davam a impress�o de que estavam querendo quebrar os dedos um do outro. � Montem nas vassouras! � disse Madame Hooch. � Tr�s... Dois... Um... O som do seu apito se perdeu no estrondo das torcidas na hora em que as catorze vassouras levantaram v�o. Harry sentiu os cabelos voarem para longe da testa; seu nervosismo o abandonou na excita��o do v�o; olhou para os lados e viu Malfoy na sua esteira e aumentou a velocidade para ir � procura do pomo. � E Grifin�ria com a posse da bola, Alicia Spinnet da Grifin�ria com a goles, voando direto para as balizas da Sonserina, em boa forma, Alicia! Arre, n�o, a goles foi interceptada por Warrington. Warrington da Sonserina partindo em velocidade pelo campo. PAM! � Uma boa rebatida de um bala�o por Jorge Weasley, Warrington deixa cair a goles, que � apanhada por... Johnson, Grifin�ria com a posse da bola outra vez, a� Angelina, bom desvio de Montague. Se abaixa Angelina, a� vem um bala�o! ELA MARCA! DEZ A ZERO PARA GRIFIN�RIA! Angelina deu um soco no ar ao sobrevoar o extremo do campo; o mar vermelho nas arquibancadas berrou de felicidade... OUCH! Angelina quase foi derrubada da vassoura por Marcos Flint ao colidir em cheio com ela. � Desculpe! � disse Flint enquanto os torcedores l� embaixo vaiavam. � Desculpe eu n�o vi a jogadora! N�o demorou muito, Fred Weasley atirou o bast�o contra a cabe�a de Flint, cujo nariz bateu com for�a no cabo da vassoura e come�ou a sangrar. � Chega! � gritou Madame Hooch, mergulhando entre os dois. � P�nalti contra Grifin�ria pelo ataque gratuito ao artilheiro do seu advers�rio! P�nalti contra Sonserina por preju�zo intencional ao artilheiro do seu advers�rio! � Ah nem vem! � berrou Fred, mas Madame Hooch apitou e Alicia se adiantou para cobrar o p�nalti. � A�, Alicia! � gritou Lino no sil�ncio que se abatera sobre as arquibancadas. � SIM, SENHORES! ELA FUROU O GOLEIRO! VINTE A ZERO PARA GRIFIN�RIA!� Harry deu uma guinada na Firebolt para ver Flint, ainda sangrando � be�a, voar para cobrar o p�nalti contra Sonserina. Ol�vio sobrevoava as balizas de Grifin�ria, os maxilares contra�dos. � � claro que Wood � um espl�ndido goleiro! � comentou Lino Jordan para os ouvintes enquanto Flint aguardava o apito de Madame Hooch. Espl�ndido! Dif�cil de vazar � muito dif�cil mesmo � SIM SENHORES! EU N�O ACREDITO! ELE AGARROU A BOLA!� Aliviado, Harry se afastou velozmente, espiando para todos os lados � procura do pomo, mas sem perder nenhuma palavra dos coment�rios de Lino. Era fundamental para ele manter Malfoy afastado do pomo at� Grifin�ria atingir cinq�enta pontos de vantagem. � Grifin�ria com a posse, n�o, Sonserina com a posse, n�o! Grifin�ria retoma a posse e � Katie Bell, Katie Bell de Grifin�ria com a goles, a jogadora corta o campo � FOI INTENCIONAL! Montague, um artilheiro de Sonserina, cortou a frente de Katie e em vez de agarrar a goles, agarrou a cabe�a da jogadora. Katie deu uma cambalhota no ar, conseguiu continuar montada, mas deixou cair a goles. O apito de Madame Hooch soou mais uma vez ao sobrevoar Montague e come�ar a gritar com ele. Um minuto depois, Katie tinha marcado mais um p�nalti contra a defesa da Sonserina. � TRINTA A ZERO! TOMA, SEU SUJO, SEU COVARDE... � Jordan, se voc� n�o consegue irradiar imparcialmente... � Estou irradiando o que acontece, professora! Harry sentiu um grande tremor de excita��o. Acabara de ver o pomo, refulgia ao p� de uma das balizas da Grifin�ria, mas ele n�o devia apanh�-lo por ora e se Malfoy o visse... Fingindo uma express�o de s�bita concentra��o, Harry deu meia-volta na Firebolt e correu em dire��o ao campo da Sonserina, a manobra funcionou. Malfoy saiu a toda velocidade atr�s dele, pensando evidentemente que Harry vira o pomo l�... CHISPA. Um dos bala�os passou voando pela orelha direita de Harry, arremessado pelo gigantesco batedor da Sonserina, Derrick. Ent�o, novamente... CHISPA. O segundo bala�o ro�ou pelo cotovelo de Harry. O outro batedor, Bole, vinha se aproximando. Harry teve um vislumbre fugaz de Bole e Derrick voando em sua dire��o, com os bast�es erguidos... Virou a Firebolt para o alto no �ltimo segundo e os dois batedores colidiram com um baque de provocar n�useas. � H�! H�! H�! � bradou Lino Jordan quando os batedores da Sonserina se separaram, levando as m�os � cabe�a. � Mau jeito, rapazes! V�o ter que acordar mais cedo para vencer uma Firebolt! E Grifin�ria fica com a posse da bola mais uma vez, quando Johnson toma a goles, Flint emparelhado com ela, mete o dedo no olho dele, Angelina! � foi s� uma brincadeira, professora, s� uma brincadeira ah n�o � Flint toma a bola, Flint voa para as balizas de Grifin�ria, agora � com voc� Wood, agarra... Mas Flint marcou; houve uma erup��o de vivas do lado de Sonserina e Lino xingou tanto que a Prof�. Minerva McGonagall tentou arrancar o megafone m�gico das m�os dele. � Desculpe professora, desculpe! N�o vai acontecer de novo! � Ent�o, Grifin�ria est� � frente, trinta a dez, e Grifin�ria tem a posse... O jogo estava deteriorando no mais sujo de que Harry j� participara. Enraivecidos porque Grifin�ria tomara a dianteira desde o inicio, os advers�rios estavam rapidamente recorrendo a todos os meios para roubar a goles. Bole atingiu Alicia com o bast�o e tentou alegar que pensara que era um bala�o. Jorge Weasley foi � forra dando uma cotovelada na cara de Bole. Madame Hooch puniu os dois times e Wood fez mais uma defesa espetacular, elevando o placar para quarenta a dez para Grifin�ria. O pomo tornara a desaparecer. Malfoy continuou a acompanhar Harry de perto quando o garoto sobrevoou o campo, procurando, agora, o pomo,�quando Grifin�ria estiver cinq�enta pontos � frente...� Katie marcou. Cinq�enta a dez. Fred e Jorge Weasley mergulharam cercando a garota, os bast�es erguidos, caso os jogadores da Sonserina pensassem em se vingar. Bole e Derrick aproveitaram a aus�ncia de Fred e Jorge para arremessar os dois bala�os em Wood; eles o atingiram no est�mago, um ap�s o outro, e o goleiro virou de cabe�a para baixo no ar, agarrando-se � vassoura, completamente sem ar. Madame Hooch ficou fora de si. � N�o se ataca o goleiro a n�o ser que a goles esteja na �rea. � gritou ela para Bole e Derrick. � P�nalti a favor da Grifin�ria! � Angelina marcou. Sessenta a dez. Instantes depois Fred Weasley arremessou um bala�o contra Warrington, derrubando a goles de suas m�os; Alicia apanhou a bola e enterrou-a no gol da Sonserina. � Setenta a dez. A torcida da Grifin�ria l� embaixo estava rouca de tanto gritar, a casa passara sessenta pontos � frente e se Harry apanhasse o pomo naquele momento, a Ta�a seria dela. O garoto chegava quase a sentir as centenas de olhos acompanhando-o enquanto sobrevoava o campo, muito acima das equipes, com Malfoy correndo atr�s dele. Ent�o Harry o viu. O pomo estava brilhando seis metros acima dele. O garoto imprimiu maior velocidade � vassoura; o vento rugiu em seus ouvidos; ele estendeu a m�o, mas, de repente, a Firebolt come�ou a desacelerar... Horrorizado, ele olhou para os lados. Malfoy se atirara para frente, agarrara a cauda da Firebolt e procurava atras�-la. � Seu... Harry se enfureceu o suficiente para bater em Malfoy, mas n�o conseguiu alcan��-lo. Malfoy ofegava com o esfor�o de segurar a Firebolt, por�m seus olhos brilhavam de mal�cia. Conseguira o seu intento, o pomo tornara a desaparecer. � P�nalti! P�nalti a favor da Grifin�ria! Nunca vi uma t�tica igual! � Madame Hooch guinchava, enquanto velozmente se dirigia at� o ponto em que Malfoy deslizava de volta � sua Nimbus 2001. � SEU SAFADO NOJENTO! � urrava Lino Jordan no megafone, saltando fora do alcance da Prof�. McGonagall. � SEU SAFADO NOJENTO, FILHO... A professora nem se deu o trabalho de ralhar com Lino. Na verdade ela sacudia o dedo na dire��o de Malfoy, seu chap�u ca�ra da cabe�a, e ela tamb�m berrava furiosamente. Alicia cobrou o p�nalti para Grifin�ria, mas estava t�o zangada que errou por mais de meio metro, O time da Grifin�ria come�ou a perder a concentra��o e os jogadores da Sonserina, encantados com a falta de Malfoy em cima de Harry, se sentiam estimulados a tentar v�os mais altos. � Sonserina com a posse, Sonserina corre para o gol... Montague marca. � gemeu Lino. � Setenta a vinte para Grifin�ria... Harry agora estava marcando Malfoy t�o de perto que os joelhos dos dois se batiam o tempo todo. Harry n�o ia deixar Malfoy sequer se aproximar do pomo... � Sai da frente, Potter! � gritou Malfoy, frustrado, ao tentar se virar e deparar com Harry no bloqueio. � Angelina Johnson pega a goles para Grifin�ria, a� Angelina, VAI, VAI! Harry olhou para os lados. Todos os jogadores da Sonserina, a exce��o de Malfoy, estavam correndo pelo campo em dire��o a Angelina, inclusive o goleiro do time, todos iam bloque�-la... Harry deu meia-volta na Firebolt, curvou-se at� deitar o corpo sobre seu cabo, e impeliu-a para frente. Como uma bala, ele se precipitou em alta velocidade contra os jogadores da Sonserina. � AAAAAAAAIIIIIIIII! Os jogadores se dispersaram quando viram a Firebolt vindo; o caminho de Angelina ficou desimpedido. � ELA MARCOU! ELA MARCOU! Grifin�ria lidera por oitenta a vinte! Harry, que quase mergulhara de cabe�a nas arquibancadas, parou derrapando no ar, inverteu a dire��o da vassoura e voltou a toda para o meio do campo. E ent�o ele viu uma coisa que fez o seu cora��o parar. Malfoy estava mergulhando, uma express�o de triunfo no rosto, l� a menos de um metro acima do gramado, l� embaixo, havia um min�sculo reflexo dourado. Harry apontou a Firebolt para baixo, mas Malfoy estava quil�metros � sua frente. � Vai! Vai! Vai! � Harry dizia � vassoura. A dist�ncia que o separava de Malfoy foi diminuindo. Harry deitou-se no cabo da vassoura quando viu Bole arremessar um bala�o contra ele, j� encostara nos calcanhares de Malfoy, emparelhou... Harry se atirou � frente, tirou as m�os da vassoura. Afastou o bra�o de Malfoy do caminho com um empurr�o e... � PEGOU! Tirou, ent�o, a vassoura do mergulho, a m�o no ar, e o est�dio explodiu. Harry sobrevoou as arquibancadas, um zumbido estranho nos ouvidos. A bolinha de ouro estava bem segura em sua m�o, batendo inutilmente as asinhas contra seus dedos. No momento seguinte, Wood veio voando ao seu encontro, quase cego pelas l�grimas; agarrou Harry pelo pesco�o e solu�ou sem se conter no ombro do garoto. Harry sentiu dois grandes trancos quando Fred e Jorge colidiram com eles; depois as vozes de Alicia e Katie: � Ganhamos a Ta�a! Ganhamos a Ta�a! Embotados num abra�o de muitos bra�os, o time da Grifin�ria foi descendo, berrando roucamente, de volta ao ch�o. Onda sobre onda de torcedores vermelhos saltou as barreiras do campo. Choveram m�os nas costas dos jogadores. Harry teve uma impress�o confusa de ru�do e corpos que o empurravam. Ent�o ele e o resto do time foram erguidos nos ombros dos torcedores. Empurrado para a luz, ele viu Hagrid, emplastrado de rosas vermelhas... � Voc� os derrotou, Harry, voc� os derrotou! Espere at� eu contar a Bicu�o! L� estava Percy, pulando que nem maluco, toda a dignidade esquecida. A Prof�. Minerva solu�ava mais at� que Wood, enxugando os olhos com uma enorme bandeira da Grifin�ria; e l�, lutando para chegar a Harry, vinham Rony e Hermione. Faltaram palavras aos amigos. Simplesmente sorriram radiantes ao ver Harry ser carregado para a arquibancada onde Dumbledore aguardava de p� com a enorme Ta�a de Quadribol. Se ao menos tivesse havido um dementador por ali... Quando um Wood, solu�ante, passou a Ta�a a Harry e este a ergueu no ar, o garoto sentiu que seria capaz de produzir o melhor Patrono do mundo. CAP�TULO DEZESSEIS A predi��o da professora Trelawney A euforia que Harry sentiu por ter finalmente ganhado a Ta�a de Quadribol durou pelo menos uma semana. At� o tempo parecia estar comemorando; � medida que junho se aproximava, os dias foram desanuviando e se tornando quentes, e s� o que as pessoas tinham vontade de fazer era passear pela propriedade e se largar no gramado com v�rios litros de suco de ab�bora gelado do lado, e talvez jogar uma partida descontra�da de bexigas ou apreciar a lula gigantesca nadar, sonhadora, pela superf�cie do lago. Mas isso n�o era poss�vel. Os exames estavam �s portas e em lugar de se demorarem pelos jardins, os alunos tinham de permanecer no castelo, e tentar obrigar o c�rebro a se concentrar em meio aos sopros mornos de ver�o que entravam pelas janelas. At� mesmo Fred e Jorge Weasley tinham sido vistos estudando; estavam em v�speras de fazer o exame de N.O.M.�s. (N�veis Ordin�rios em Magia) Percy, por sua vez, estava se preparando para os exames de N.I.E.M.�s (N�veis Incrivelmente Exaustivos em Magia), o diploma mais avan�ado que Hogwarts oferecia. Como Percy tinha esperan�a de ingressar no Minist�rio da Magia, precisava de notas muito altas. Por isso, a cada dia ficava mais nervoso, e passava castigos severos para qualquer aluno que perturbasse a tranq�ilidade da sala comunal � noite. De fato, a �nica pessoa que parecia mais ansiosa do que Percy era Hermione. Harry e Rony tinham desistido de perguntar � amiga como fazia para freq�entar v�rias aulas ao mesmo tempo, mas n�o conseguiram se conter, quando viram o hor�rio dos exames que a amiga preparara para si. Na primeira coluna lia-se: Segunda-Feira: 9h � Aritmancia 9h � Transforma��o Almo�o 1:30h � Feiti�os 1:30h � Runas antigas � Mione? � perguntou Rony com muita cautela, porque ultimamente ela era bem capaz de explodir se a interrompiam. � Hum... Voc� tem certeza de que copiou esses hor�rios direito? � Qu�? � retrucou Hermione com aspereza, apanhando o hor�rio de exames para conferi-lo. � Claro que copiei. � Ser� que adianta perguntar como voc� vai prestar dois exames na mesma hora? � perguntou Harry. � N�o � respondeu Hermione, impaciente. � Algum de voc�s viu o meu livro Numerologia e Gram�tica? � Ah, eu vi, apanhei emprestado para ler na cama antes de dormir � disse Rony, mas bem baixinho. Hermione come�ou a remexer no monte de rolos de pergaminho que tinha sobre a mesa, � procura do livro. Nesse instante, ouviram um farfalhar � janela e Edwiges entrou com um bilhete bem seguro no bico. � � do Hagrid � disse Harry, abrindo o bilhete. � � o recurso de Bicu�o, est� marcado para o dia seis. � � o dia em que terminamos os exames � disse Hermione, ainda procurando o livro de Aritmancia por toda a parte. � E eles v�m aqui para o julgamento � disse Harry, continuando a ler o bilhete. � Algu�m do Minist�rio da Magia e... E o carrasco. Hermione ergueu a cabe�a, assustada. � V�o trazer o carrasco para o julgamento do recurso! Mas assim parece que j� decidiram! � �, parece � disse Harry lentamente. � N�o podem fazer isso! � bradou Rony. � Gastei s�culos lendo para Hagrid o material que havia; n�o podem simplesmente desprezar tudo! Mas Harry teve a terr�vel sensa��o de que a Comiss�o para Elimina��o de Criaturas Perigosas j� tivera a opini�o formada pelo Sr. L�cio Malfoy. Draco, que andava visivelmente moderado desde a vit�ria da Grifin�ria na final de Quadribol, nos �ltimos dias parecia ter recuperado um pouco da sua antiga arrog�ncia. Pelos coment�rios desdenhosos que Harry ouvia, Malfoy tinha certeza de que Bicu�o ia ser eliminado e parecia satisfeit�ssimo consigo mesmo por ter provocado tal efeito. Nessas ocasi�es, Harry fazia um esfor�o enorme para n�o imitar Hermione e meter a m�o na cara de Malfoy. E o pior de tudo era que os garotos n�o tinham tempo nem oportunidade de ir ver Hagrid, porque as novas e rigorosas medidas de seguran�a continuavam em vigor, e Harry n�o recuperara a Capa da Invisibilidade que deixara na entrada da bruxa de um olho s�. A semana dos exames come�ou e um sil�ncio anormal se abateu sobre o castelo. Os alunos do terceiro ano sa�ram do exame de Transforma��o na hora do almo�o, na segunda-feira, cansados e p�lidos, comparando respostas e lamentando a dificuldade das tarefas propostas, que inclu�ra transformar um bule de ch� em um c�gado. Hermione irritou os colegas ao comentar que seu c�gado parecia mais uma tartaruga, o que era uma preocupa��o m�nima diante das preocupa��es dos demais. � O meu tinha um bico no lugar do rabo, que pesadelo... � Era para os c�gados soltarem vapor? � No final, o meu continuava com uma pintura de salgueiro estampada no casco, voc�s acham que vou perder pontos por isso? Depois de um almo�o apressado, os garotos voltaram direto para cima para fazer o exame de feiti�os. Hermione estava certa; o Prof�. Flitwick realmente pediu feiti�os para animar. Harry exagerou um pouco nos dele, por puro nervosismo, e Rony, que era seu par acabou com acessos de riso hist�rico e precisou ser levado para uma sala sossegada, onde ficou uma hora, at� ter condi��es de fazer o exame. Depois do jantar os alunos voltaram �s salas comunais, n�o para relaxar, mas para come�ar a estudar Trato das Criaturas M�gicas, Po��es e Astronomia. Hagrid aplicou o exame de Trato das Criaturas M�gicas na manh� seguinte com um ar deveras preocupado; seu cora��o parecia estar longe dali. Providenciara uma grande barrica com vermes frescos para a turma e avisou que para passar no exame, os vermes de cada aluno deveriam continuar vivos ao fim de uma hora. Uma vez que os vermes se criavam melhor quando deixados em paz, foi o exame mais f�cil que qualquer aluno teve de prestar, o que tamb�m deu a Harry, Hermione e Rony bastante tempo para conversarem com Hagrid. � Bicucinho est� ficando um pouco deprimido � contou o amigo, curvando-se sob o pretexto de verificar se o verme de Harry ainda estava vivo. � Est� preso em casa h� tempo demais. Ainda assim... Depois de amanh� a gente vai saber se v�o julgar a favor ou contra... Os tr�s garotos tiveram exame de Po��es naquela tarde, que foi um desastre inomin�vel. Por mais que se esfor�asse, Harry n�o conseguia engrossar a sua infus�o para confundir, e Snape, observando-o com um ar de satisfa��o vingativa, lan�ou em suas anota��es uma coisa que lembrava muito um zero, antes de se afastar. Depois veio o exame de Astronomia � meia-noite, na torre mais alta do castelo; Hist�ria da Magia na quarta-feira de manh�, em que Harry escreveu tudo que Florean Fortescue lhe contara sobre a ca�a �s bruxas na Idade M�dia, enquanto desejava ter ali na sala sufocante um daqueles sundaes de choconozes. Na quarta-feira � tarde foi a vez de Herbologia, nas estufas, sob um sol de cozinhar os miolos; depois voltaram mais uma vez � sala comunal, com as nucas queimadas, imaginando que no dia seguinte, �quela hora, os exames finalmente teriam terminado. O antepen�ltimo exame, na quinta-feira pela manh�, foi Defesa contra as Artes das Trevas. O Prof�. Lupin preparara o exame mais incomum que eles j� tinham feito; uma esp�cie de corrida de obst�culos ao ar livre, debaixo de sol, em que tinham que atravessar um lago fundo o suficiente para se remar, onde havia um grindylow, em seguida, uma s�rie de crateras cheias de barretes vermelhos, depois um trecho de p�ntano, desconsiderando as informa��es enganosas dadas por um hinkypunk , e, por fim, subir em um velho tronco e enfrentar um novo bicho-pap�o. � Excelente, Harry � murmurou Lupin quando Harry desceu do tronco, sorrindo. � Nota m�xima. Animado com o seu sucesso, Harry ficou por ali para ver os exames de Rony e Hermione. Rony foi bem at� chegar a vez do hinkypunk, que conseguiu confundi-lo e faz�-lo afundar at� a cintura em um atoleiro. Hermione fez tudo perfeitamente at� chegar ao tronco em que havia o bicho-pap�o. Depois de passar um minuto ali, a garota saiu correndo aos berros. � Hermione � exclamou Lupin, assustado. � Que foi que aconteceu? -A P... P.. Prof�. McGonagall! � ofegou Hermione apontando para o tronco. � Ela disse que eu levei bomba em tudo! Demorou um tempinho para Hermione se acalmar. Quando ela finalmente se recuperou do susto, os tr�s amigos voltaram ao castelo. Rony ainda sentia uma ligeira vontade de rir do bicho-pap�o de Hermione, mas a briga foi adiada quando viram o que os aguardava no alto das escadas. Corn�lio Fudge, um pouco suado sob a capa de risca de giz, se achava parado ali contemplando os terrenos da escola. Assustou-se ao ver Harry. � Ol�, Harry! � exclamou. � Acabou de fazer um exame, suponho? Chegando ao fim? � Sim, senhor � disse Harry. Hermione e Rony, que nunca haviam falado com o Ministro da Magia, pararam sem jeito um pouco afastados. � Belo dia � comentou Fudge, lan�ando um olhar ao lago. � Que pena... Que pena... O ministro soltou um profundo suspiro e olhou para Harry. � Estou aqui em uma miss�o desagrad�vel, Harry. A Comiss�o para Elimina��o de Criaturas Perigosas exigiu uma testemunha para a execu��o do hipogrifo louco. Como eu precisava visitar Hogwarts para verificar o andamento do caso Black, me pediram para cumprir esta tarefa. � Isso quer dizer que j� houve o julgamento do recurso? � interrompeu Rony, adiantando-se. � N�o, n�o, foi marcado para hoje � tarde � respondeu Fudge, olhando, curioso, para Rony. � Ent�o, talvez o senhor n�o precise testemunhar nenhuma execu��o! � disse Rony corajosamente. � O hipogrifo talvez se salve! Antes que Fudge pudesse responder, dois bruxos sa�ram pelas portas do castelo �s costas do ministro. Um era t�o velho que parecia estar murchando diante dos olhos deles; o outro era alto e forte, com um bigode negro e fino. Harry concluiu que deviam ser os representantes da Comiss�o para Elimina��o de Criaturas Perigosas, porque o velho bruxo apertou os olhos na dire��o da cabana de Hagrid e disse com voz fraca: � Ai, ai, estou ficando velho demais para isso... Duas horas, n�o �, Fudge? O homem de bigode mexia em alguma coisa no cinto; Harry olhou e viu que ele passava um dedo largo pela l�mina de um machado reluzente. Rony abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Hermione cutucou-o com for�a nas costelas e indicou com a cabe�a o sagu�o de entrada. � Por que � que voc� n�o me deixou falar? � perguntou Rony, aborrecido, quando entraram no sagu�o para ir almo�ar. � Voc� viu? J� prepararam at� o machado! Isso n�o � justi�a! � Rony, o seu pai trabalha para o Minist�rio, voc� n�o pode sair dizendo essas coisas para o chefe dele! � respondeu Hermione, mas ela tamb�m parecia muito contrariada. � Desde que o Hagrid mantenha a cabe�a no lugar e defenda o caso direito, eles n�o ter�o possibilidade de executar o Bicu�o... Mas Harry sabia que Hermione n�o acreditava realmente no que estava dizendo. � volta deles, as pessoas falavam excitadamente enquanto almo�avam, antegozando o fim dos exames �quela tarde, mas Harry, Rony e Hermione, absortos em suas preocupa��es com Hagrid e Bicu�o, n�o participavam das conversas. O �ltimo exame de Harry e Rony era Adivinha��o; o de Hermione, Estudos dos Trouxas. Eles subiram a escadaria de m�rmore, juntos; Hermione os deixou no primeiro andar e Harry e Rony prosseguiram at� o s�timo, onde muitos colegas j� se encontravam sentados na escada circular que levava � sala da Prof�. Trelawney, tentando enfiar na cabe�a mais alguma mat�ria de �ltima hora. � Ela vai receber os alunos, um a um � informou Neville quando os dois foram se sentar perto dele. O garoto tinha o seu exemplar de Esclarecendo o Futuro aberto no colo nas p�ginas dedicadas � bola de cristal. � Algum de voc�s j� viu alguma coisa numa bola de cristal? � perguntou ele, infeliz. � N�o � respondeu Rony num tom distra�do. Ele consultava a toda hora o rel�gio de pulso; Harry sabia que o amigo estava fazendo a contagem regressiva para o in�cio do julgamento do recurso de Bicu�o. A fila de pessoas fora da sala foi encurtando aos poucos. � medida que cada aluno descia a escada prateada, o resto da classe sussurrava: "Que foi que ela perguntou? Voc� se deu bem?� Mas todos se recusavam a responder. � Ela disse que foi avisada pela bola de cristal que se eu contar a voc�s, vou ter um acidente horr�vel! � falou Neville, esgani�ado, ao descer a escada em dire��o a Harry e Rony, que agora tinham chegado ao patamar. � Isto � muito conveniente � riu-se Rony. � Sabe, estou come�ando a achar que Hermione tinha raz�o sobre a professora � comentou ele indicando com o polegar o al�ap�o no alto �, ela � uma trapaceira, e das boas. � � � disse Harry, consultando o pr�prio rel�gio. Eram agora duas horas. � Eu gostaria que ela andasse logo... Parvati desceu a escada com o rosto radiante de orgulho. � Ela disse que eu tenho o talento de uma verdadeira vidente � informou a Harry e Rony. � Vi um monte de coisas... Bem, boa sorte! A garota desceu depressa a escada circular ao encontro de Lil�. � Ronald Weasley � chamou l� do alto a voz et�rea que j� conheciam. Rony fez uma careta para o amigo e subiu a escada de prata, desaparecendo. Harry agora era o �nico que faltava ser examinado. Ele se acomodou no ch�o, apoiando as costas contra a parede, e ficou ouvindo uma mosca zumbir na janela ensolarada, seus pensamentos atravessando a propriedade at� Hagrid. Finalmente, uns vinte minutos depois, os enormes p�s de Rony reapareceram na escada. � Como foi? � perguntou Harry se pondo de p�. � Bobagem. N�o vi nada, ent�o inventei alguma coisa. Acho que a professora n�o se convenceu, embora... � Encontro voc� na sala comunal � murmurou Harry quando a voz da professora chamou "Harry Potter!� Na sala da torre fazia mais calor que nunca; as cortinas estavam fechadas, a lareira acesa e o costumeiro perfume adocicado fez Harry tossir, enquanto se desvencilhava das mesas e cadeiras amontoadas para chegar onde a professora Sibila o esperava, sentada diante de uma grande bola de cristal. � Bom dia, meu querido � disse ela brandamente. � Quer ter a bondade de examinar o orbe... Pode levar o tempo que precisar... Depois me diga o que est� vendo... Harry se curvou para a bola de cristal e olhou, olhou o mais atentamente que p�de, desejando que ela lhe mostrasse algo mais do que a n�voa branca em espiral, mas nada aconteceu. � Ent�o! � estimulou a professora com delicadeza. � Que � que voc� est� vendo? O calor era insuport�vel e as narinas do garoto ardiam com a fuma�a perfumada que vinha da lareira ao lado dos dois. Ele pensou no que Rony acabara de lhe dizer e resolveu fingir. � Hum... Uma forma escura... Hum... � Com que se parece? � sussurrou a professora. � Pense bem... Harry vasculhou sua mente � procura de uma id�ia e deparou com Bicu�o. � Um hipogrifo � disse com firmeza. � Realmente! � sussurrou Sibila, tomando notas, com entusiasmo, no pergaminho sobre seus joelhos. � Menino, talvez voc� esteja vendo o desenlace do problema do coitado do Hagrid com o Minist�rio da Magia! Olhe com mais aten��o... O hipogrifo parece... Ter cabe�a? � Sim, senhora � respondeu Harry com firmeza. � Voc� tem certeza? � insistiu a professora. � Voc� tem bastante certeza, querido? Voc� n�o est� vendo o animal se virando no ch�o, talvez, e um vulto brandindo um machado contra ele? � N�o! � disse Harry, come�ando a se sentir meio enjoado. � N�o tem sangue? N�o tem Hagrid chorando? � N�o! � respondeu Harry de novo, querendo mais do que nunca escapar da sala e do calor. � Ele est� bem... Est� voando... A Prof�. Sibila suspirou. � Bem, querido, vamos parar por aqui... Um resultado decepcionante... Mas tenho a certeza de que voc� fez o melhor que p�de. Aliviado, Harry se levantou, apanhou a mochila e se virou para ir embora, mas, ent�o, ouviu uma voz alta e rouca �s suas costas. � �Vai acontecer hoje � noite.� Harry se virou depressa. A professora ficara dura na cadeira; seus olhos estavam desfocados e sua boca afrouxara. � D... Desculpe! � disse Harry. Mas Sibila n�o pareceu ouvi-lo. Seus olhos come�aram a girar. Harry se sentiu invadido pelo p�nico. Ela parecia que ia ter uma esp�cie de acesso. O garoto hesitou, pensando em correr at� a ala hospitalar e ent�o a professora tornou a falar, com a mesma voz rouca, muito diferente da sua voz habitual: � "O Lord das Trevas est� sozinho e sem amigos, abandonado pelos seus seguidores. Seu servo esteve acorrentado nos �ltimos doze anos. Hoje � noite, antes da meia-noite... O servo vai se libertar e se juntar ao seu mestre. O Lord das Trevas vai ressurgir. Com a ajuda do seu servo, maior e mais terr�vel que nunca. Hoje � noite... O servo... Vai se juntar.. Ao seu mestre...� A cabe�a da professora se pendurou sobre o peito. Ela fez um ru�do gutural. Harry continuou ali, os olhos grudados nela. Ent�o, de repente, a Prof�. Sibila aprumou a cabe�a. � Desculpe, querido � disse com voz sonhadora �, o calor do dia, entende... Cochilei por um momento... Harry continuou parado, os olhos grudados nela. � Algum problema, meu querido? � A senhora... A senhora acabou de me dizer que o... Lord das Trevas vai ressurgir... E que seu servo est� indo se juntar a ele... Prof�. Sibila pareceu completamente surpresa. � O Lord das Trevas? Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado? Meu querido, isso n�o � coisa com que se brinque... Ressurgir, realmente... � Mas a senhora acabou de dizer isso! A senhora disse que o Lord das Trevas... � Acho que voc� deve ter cochilado tamb�m, querido! � disse a Prof�. Sibila. � Eu certamente n�o me atreveria a predizer uma coisa t�o incr�vel como essa! Harry desceu a escada de corda, depois a circular, pensativo... Ser� que acabara de ouvir a Prof�. Sibila fazer uma predi��o de verdade? Ou ser� que isto era a id�ia da professora de um fecho impressionante para os exames? Cinco minutos depois ele estava passando apressado pelos trasgos de seguran�a, � entrada da Torre da Grifin�ria, as palavras da Prof�. Trelawney ainda ecoando em sua cabe�a. As pessoas cruzavam por ele, rindo e brincando, a caminho dos jardins e da liberdade h� muito esperada; quando ele alcan�ou o buraco do retrato e entrou na sala comunal, o lugar estava quase deserto. A um canto, ele viu Rony e Hermione, sentados. � A Prof�. Sibila � come�ou Harry ofegante � acabou de me dizer... Mas parou abruptamente ao ver os rostos dos amigos. � Bicu�o perdeu � disse Rony com a voz fraca. � Hagrid acabou de nos mandar isso. O bilhete de Hagrid, desta vez, estava seco, sem l�grimas derramadas, contudo sua m�o parecia ter tremido tanto ao escrever que o texto era quase ileg�vel. �Perdemos o julgamento do recurso. V�o executar Bicu�o ao p�r-do-sol. Voc�s n�o podem fazer nada. N�o des�am. N�o quero que voc�s vejam. Hagrid�. � Temos que ir � disse Harry na mesma hora. � Ele n�o pode ficar l� sozinho, esperando o carrasco! � Mas � ao p�r-do-sol � disse Rony, que estava espiando pela janela com o olhar meio vidrado. � Nunca nos deixariam... Principalmente a voc�, Harry.. Harry apoiou a cabe�a nas m�os, pensando. � Se ao menos tiv�ssemos a Capa da Invisibilidade... � Onde � que ela est�? � perguntou Hermione. Harry lhe contou que a deixara na passagem da bruxa de um olho s�. � Se Snape me vir por ali outra vez, vou entrar numa fria � terminou ele. � � verdade � concordou Hermione, se levantando. � Se ele vir voc�... Como � mesmo que se abre a corcunda da bruxa? � A gente d� uma pancada e diz: "Dissendium" � disse Harry. � Mas... Hermione n�o esperou o resto da frase; atravessou a sala, empurrou o retrato da Mulher Gorda e desapareceu de vista. � Ah, n�o acredito que ela tenha ido buscar! � exclamou Rony, acompanhando-a com o olhar. Dito e feito. Hermione voltou quinze minutos depois com a capa prateada dobrada com cuidado sob suas vestes. � Mione, n�o sei o que deu em voc� ultimamente! � exclamou Rony, espantado. � Primeiro voc� mete a m�o em Draco Malfoy, depois abandona o curso da Prof�. Sibila... A garota fez cara de quem recebera um elogio. Os tr�s desceram para jantar com todos os alunos, mas n�o voltaram � Torre da Grifin�ria ao terminar. Harry levava a capa escondida na frente das vestes e tinha que manter os bra�os cruzados para esconder o volume. Entraram sorrateiramente numa sala vazia no sagu�o de entrada e ficaram escutando, at� ter certeza de que o lugar ficara deserto. Ouviram as �ltimas duas pessoas atravessarem o sagu�o correndo e uma porta bater. Hermione meteu a cabe�a fora da porta. � Tudo bem � sussurrou �, n�o tem ningu�m... Vamos vestir a capa... Caminhando muito juntos para que ningu�m os visse, eles atravessaram o sagu�o na ponta dos p�s, cobertos pela capa, e desceram os degraus de pedra que levavam aos jardins. O sol j� ia se pondo atr�s da Floresta Proibida, dourando os ramos mais altos das �rvores. Chegaram � cabana de Hagrid e bateram. O amigo levou um minuto para atender e, quando o fez, ficou procurando o visitante por todos os lados, p�lido e tr�mulo. � Somos n�s � sibilou Harry. � Estamos usando a Capa da Invisibilidade. Deixe a gente entrar para poder tirar a capa. � Voc�s n�o deviam ter vindo! � sussurrou Hagrid, mas se afastou para os garotos poderem entrar. Depois fechou a porta depressa e Harry arrancou a capa. Hagrid n�o estava chorando, nem se atirou ao pesco�o deles. Parecia um homem que n�o sabia onde estava nem o que fazer. Seu desamparo era pior do que as l�grimas. � Querem um ch�? � perguntou aos garotos. Suas m�os enormes tremiam quando apanhou a chaleira. � Onde � que est� o Bicu�o, Hagrid? � perguntou Hermione, hesitante. � Eu... Eu levei ele para fora � respondeu Hagrid, derramando leite pela mesa toda ao tentar encher a jarra. � Est� amarrado no canteiro de ab�boras. Achei que ele devia ver as �rvores e... E respirar ar fresco... Antes... A m�o de Hagrid tremeu com tanta viol�ncia que a jarra de leite escapuliu e se espatifou no ch�o. � Eu fa�o isso, Hagrid � ofereceu-se Hermione depressa, correndo para limpar a sujeira. � Tem outra no arm�rio de lou�as � falou Hagrid, sentando-se e limpando a testa na manga. Harry olhou para Rony, que retribuiu seu olhar com des�nimo. � Tem alguma coisa que se possa fazer, Hagrid? � perguntou Harry inflamado, sentando-se ao lado do amigo. � Dumbledore... � Ele tentou. Mas n�o tem poder para revogar uma decis�o da Comiss�o. Ele disse aos juizes que Bicu�o era normal, mas a Comiss�o est� com medo... Voc�s sabem como � o L�cio Malfoy... Imagino que deve ter amea�ado todos eles... E o carrasco, Macnair, � um velho conhecido dos Malfoy... Mas vai ser r�pido e limpo... E eu vou estar do lado do Bicu�o... Hagrid engoliu em seco. Seus olhos percorriam a cabana como se procurassem um fio de esperan�a ou de consolo. � Dumbledore vai descer quando... Quando estiver na hora. Me escreveu hoje de manh�. Disse que quer ficar... Ficar comigo. Grande homem, o Dumbledore... Hermione, que andara vasculhando o guarda-lou�a de Hagrid � procura de outra leiteira, deixou escapar um pequeno solu�o, rapidamente sufocado. Ela se endireitou com a nova leiteira nas m�os, lutando para conter as l�grimas. � N�s vamos ficar com voc� tamb�m, Hagrid � come�ou ela, mas o amigo sacudiu a cabe�a cabeluda. � Voc�s t�m que voltar para o castelo. J� disse que n�o quero que assistam. Ali�s, voc�s nem deviam estar aqui... Se Fudge e Dumbledore pegarem voc� fora do castelo sem permiss�o, Harry, voc� vai se meter numa grande confus�o. L�grimas silenciosas escorriam pelo rosto de Hermione, mas ela as escondeu de Hagrid, ocupando-se em fazer o ch�. Ent�o, quando apanhou a garrafa de leite para encher a leiteira, ela soltou um grito. � Rony!... Eu n�o acredito... � o Perebas! O queixo de Rony caiu. � Do que � que voc� est� falando? Hermione levou a leiteira at� a mesa e virou-a de boca para baixo. Com um guincho fren�tico, e muita correria para voltar para dentro da jarra, Perebas, o rato, deslizou para cima da mesa. � Perebas! � exclamou Rony sem entender. � Perebas, que � que voc� est� fazendo aqui? Ele agarrou o rato que se debatia e segurou-o pr�ximo � luz. Perebas estava com uma apar�ncia horr�vel. Mais magro que nunca, perdera grandes tufos de p�los que deixaram pelado seu corpo, o rato se contorcia nas m�os de Rony como se estivesse desesperado para se soltar. � Tudo bem, Perebas! � tranq�ilizou-o Rony. � N�o tem gatos! N�o tem nada aqui para te machucar! Hagrid se levantou de repente, os olhos fixos na janela. Seu rosto, normalmente corado, estava da cor de pergaminho. � A� vem eles... Harry, Rony e Hermione se viraram depressa. Um grupo de homens descia os distantes degraus, � entrada do castelo. � frente vinha Alvo Dumbledore, a barba prateada refulgindo ao sol poente. Ao seu lado, caminhava, a passo r�pido, Corn�lio Fudge. Atr�s dos dois vinha o membro da Comiss�o velho e fraco, e o carrasco, Macnair. � Voc�s t�m que ir embora � disse Hagrid. Cada cent�metro de seu corpo tremia. � Eles n�o podem encontrar voc�s aqui... V�o... Rony enfiou Perebas no bolso, e Hermione apanhou a capa. � Eu vou abrir a porta dos fundos para voc�s � disse Hagrid. Os garotos o acompanharam at� a porta que abria para a horta. Harry se sentiu estranhamente irreal e mais ainda quando viu Bicu�o a poucos passos de dist�ncia, amarrado a uma �rvore atr�s do canteiro de ab�boras. O hipogrifo parecia saber que alguma coisa estava acontecendo. Virou a cabe�a de um lado para o outro e pateou o ch�o nervosamente. � Tudo bem, Bicucinho � disse Hagrid com brandura. � Tudo bem... � E se virando para Harry, Rony e Hermione. � V�o. Andem logo. Mas os garotos n�o se mexeram. � Hagrid, n�o podemos... � Vamos contar a eles o que realmente aconteceu... � N�o podem matar Bicu�o... � V�o! � disse Hagrid ferozmente. � J� est� bastante ruim sem voc�s se meterem em confus�o! Os garotos n�o tiveram escolha. Quando Hermione jogou a capa sobre Harry e Rony, eles ouviram as vozes na entrada da cabana. Hagrid ficou olhando para o lugar de onde os garotos tinham acabado de sumir. � V�o depressa � disse, rouco. � N�o fiquem ouvindo... E Hagrid tornou a entrar na cabana no momento em que algu�m batia � porta. Lentamente, numa esp�cie de transe de horror, Harry, Rony e Hermione contornaram a cabana de Hagrid sem fazer barulho. Quando chegaram do outro lado, a porta de entrada se fechou com uma batida seca. � Por favor, vamos nos apressar � sussurrou Hermione. � N�o posso suportar, n�o posso suportar... Os tr�s come�aram a subir a encosta gramada em dire��o ao castelo. O sol ia se pondo depressa agora; o c�u se tornara cinzento, sem nuvens, e tinto de p�rpura, mais para oeste havia uma claridade vermelho-rubi. Rony parou muito quieto. � Ah, por favor, Rony � come�ou Hermione. � � o Perebas.. Ele n�o quer... Parar.. Rony se curvou, tentando segurar Perebas no bolso, mas o rato estava ficando furioso; guinchava feito louco, virava e se debatia, tentando ferrar os dentes nas m�os de Rony. � Perebas, sou eu, seu idiota, o Rony. Os garotos ouviram a porta fechar �s suas costas e o som de vozes masculinas. � Ah, Rony, por favor, vamos andando, eles v�o executar o Bicu�o! � murmurou Hermione. � Ok... Perebas fique quieto... Eles avan�aram; Harry, como Hermione, estava tentando n�o escutar o ru�do surdo das vozes �s costas deles, Rony parou mais uma vez. � N�o consigo segurar ele! Perebas, cala a boca, todo mundo vai nos ouvir... O rato guinchava alucinado, mas n�o alto o suficiente para abafar os ru�dos que vinham do jardim de Hagrid. Ouviu-se um rumor indistinto de vozes masculinas, um sil�ncio e ent�o, sem aviso, o som inconfund�vel de um machado cortando o ar e se abatendo sobre o alvo. Hermione vacilou. � Executaram Bicu�o! � murmurou ela para Harry. � Eu n... N�o acredito... Eles executaram Bicu�o! CAP�TULO DEZESSETE Gato, Rato e C�o A cabe�a de Harry se esvaziou com o choque. Os tr�s garotos ficaram paralisados de horror sob a Capa da Invisibilidade. Os �ltimos raios do sol poente lan�avam uma claridade sangrenta sobre os imensos campos sombrios da escola. Ent�o, atr�s deles, os garotos ouviram um uivo selvagem. � Hagrid � murmurou Harry. E, sem pensar no que estava fazendo, fez men��o de dar meia-volta, mas Rony e Hermione o seguraram pelos bra�os. � N�o podemos � disse Rony, que estava branco como uma folha de papel. � Hagrid vai ficar numa situa��o muito pior se souberem que fomos � casa dele... A respira��o de Hermione estava rasa e desigual. � Como... Puderam... Fazer... Isso? � engasgou-se a garota. � Como puderam? � Vamos � disse Rony, cujos dentes davam a impress�o de estar batendo. Os tr�s voltaram ao castelo, andando devagar, para se manter escondidos sob a capa. A claridade ia desaparecendo depressa agora. Quando chegaram � �rea ajardinada, a escurid�o desceu, como por encanto, a toda volta. � Perebas, fica quieto � sibilou Rony, apertando a m�o contra o peito. O rato se debatia, enlouquecido. Rony parou de repente, tentando empurr�-lo para o fundo do bolso. � Que � que h� com voc�, seu rato burro? Fica parado a�... AI! Ele me mordeu! � Rony, fica quieto! � cochichou Hermione com urg�ncia. � Fudge vai nos alcan�ar em um minuto... � Ele n�o quer.. Ficar... Parado... Perebas estava visivelmente aterrorizado. Contorcia-se com todas as suas for�as, tentando se desvencilhar da m�o de Rony. � Que � que h� com ele? Mas Harry acabara de ver, esquivando-se em dire��o ao grupo, o corpo colado no ch�o, grandes olhos amarelos que brilhavam lugubremente no escuro, Bichento. Se podia v�-los ou se estava seguindo os guinchos de Perebas, Harry n�o saberia dizer. � Bichento! � gemeu Hermione. � N�o! Vai embora, Bichento! Vai embora! Mas o gato se aproximava sempre mais... � Perebas... N�O! Tarde demais, o rato escorregou por entre os dedos apertados de Rony, bateu no ch�o e fugiu precipitadamente. De um salto, Bichento saiu em seu encal�o, e antes que Harry ou Hermione pudessem det�-lo, Rony arrancara a Capa da Invisibilidade e se arremessava pela escurid�o. � Rony � gemeu Hermione. Ela e Harry se entreolharam e correram atr�s do amigo; era imposs�vel correr com desenvoltura com a capa por cima; arrancaram-na e ela ficou voando para tr�s como uma bandeira, quando os dois sa�ram desabalados atr�s de Rony; ouviram os passos dele � frente e seus gritos para Bichento. � Fique longe dele... Fique longe... Perebas, volta aqui... Ouviu-se um baque sonoro. � Te peguei! D� o fora, seu gato fedorento... Harry e Hermione quase ca�ram em cima de Rony; pararam derrapando diante dele. O amigo estava esparramado no ch�o, mas Perebas j� estava de volta ao bolso; Rony apertava com as duas m�os um calombo trepidante. � Rony... Vamos... Volta para baixo da capa... � ofegou Hermione. � Dumbledore... O ministro... Eles v�o voltar para o castelo j�, j�... Mas antes que pudessem se cobrir outra vez, antes que pudessem sequer recuperar o f�lego, eles ouviram o ru�do macio de patas gigantescas. Algo estava saltando da escurid�o em sua dire��o, um enorme c�o negro de olhos claros. Harry tentou pegar a varinha, mas tarde demais, o c�o investira dando um enorme salto, e suas patas dianteiras atingiram o garoto no peito; Harry caiu para tr�s num redemoinho de p�los; sentiu o h�lito quente do animal, viu seu dente de mais de dois cent�metros... Mas a for�a do salto impelira o c�o longe demais; ultrapassara Harry. Aturdido, com a sensa��o de que suas costelas tinham quebrado, o garoto tentou se levantar; ouviu o c�o rosnar e derrapar se posicionando para um novo ataque. Rony estava de p�. Quando o c�o saltou contra os dois, ele empurrou Harry para o lado; e, em vez de Harry, as mand�bulas do bicho abocanharam o bra�o estendido de Rony. Harry se atirou para cima dele, agarrou uma m�o cheia de p�los do c�o, mas o bruto foi arrastando Rony para longe com a facilidade com que arrastaria uma boneca de trapos... Ent�o, ele n�o viu de onde, uma coisa atingiu seu rosto com tanta for�a que ele foi novamente derrubado no ch�o. Harry ouviu Hermione gritar de dor e cair tamb�m. O menino tateou � procura de sua varinha, piscando para limpar o sangue dos olhos... � Lumus!� sussurrou. A luz produzida pela varinha mostrou-lhe um grosso tronco de �rvore; tinham corrido atr�s de Perebas at� a sombra do Salgueiro Lutador, cujos ramos estalavam como se estivessem sendo a�oitados por um forte vento, avan�avam e recuavam para impedir os garotos de se aproximarem. E ali, na base do tronco, o c�o arrastava Rony para dentro de um grande buraco entre as ra�zes � o garoto lutava furiosamente, mas sua cabe�a e seu tronco foram desaparecendo de vista... � Rony! � gritou Harry, tentando segui-lo, mas um pesado galho chicoteou amea�adoramente o ar e ele foi for�ado a recuar. Agora estava vis�vel apenas uma das pernas de Rony, que ele enganchara em torno de uma raiz na tentativa de impedir o c�o de arrast�-lo mais para o fundo da terra, mas um estampido terr�vel cortou o ar feito um tiro; a perna de Rony se partiu e um instante depois, seu p� desaparecera de vista. � Harry... Temos que procurar ajuda... � gritou Hermione; ela tamb�m sangrava; o salgueiro a cortara na altura dos ombros. � N�o! Aquela coisa � bastante grande para comer Rony; n�o temos tempo... � Harry nunca vamos conseguir entrar sem ajuda... Mais um galho desceu como um chicote em sua dire��o, os raminhos curvados como articula��es de dedos. � Se aquele c�o p�de entrar, n�s tamb�m podemos, ofegou Harry, correndo para um lado e para outro, tentando encontrar uma brecha entre os galhos que varriam com viol�ncia o ar, mas n�o podia se aproximar nem mais um cent�metro das ra�zes da �rvore sem ficar ao alcance dos golpes que ela desferia. � Ah, socorro, socorro � murmurava freneticamente Hermione, dan�ando no mesmo lugar �, por favor... Bichento disparou adiante dos garotos. Deslizou por entre os galhos agressores como uma cobra e colocou as patas dianteiras sobre um n� que havia no tronco. Abruptamente, como se a �rvore tivesse se transformado em pedra, ela parou de se movimentar. Sequer uma folha virava ou sacudia. � Bichento! � sussurrou Hermione insegura. Ela agora apertava o bra�o de Harry com tanta for�a que provocava dor. � Como � que ele sabia...? � Ele � amigo daquele c�o � respondeu Harry, sombriamente. � J� os vi juntos. Vamos... E mantenha a varinha na m�o... Os dois venceram a dist�ncia at� o tronco em segundos, mas antes que pudessem alcan�ar o buraco nas ra�zes, Bichento deslizara para dentro com um aceno do seu rabo de escovinha. Harry entrou em seguida; avan�ou arrastando-se, a cabe�a � frente, e escorregou por uma descida de terra at� o leito de um t�nel muito baixo. Bichento ia mais adiante, os olhos faiscando � luz da varinha de Harry. Segundos depois, Hermione escorregou para junto do garoto. � Onde � que foi o Rony? � sussurrou ela com terror na voz. � Por ali � respondeu Harry, caminhando, curvado, atr�s de Bichento. � Onde � que vai dar esse t�nel? � perguntou Hermione, ofegante. � Eu n�o sei... Est� marcado no Mapa do Maroto, mas Fred e Jorge disseram que ningu�m nunca tinha entrado. Ele continua para fora do mapa, mas parecia que ia em dire��o a Hogsmeade... Os garotos caminharam o mais r�pido que puderam, quase dobrados em dois; � frente, o rabo de Bichento entrava e sa�a do seu campo de vis�o. E a passagem n�o tinha fim; dava a impress�o de ser no m�nimo t�o longa quanto a que levava � Dedosdemel. Harry s� conseguia pensar em Rony e no que aquele canzarr�o podia estar fazendo com o seu amigo... Ele respirava em arquejos curtos e dolorosos, correndo agachado... E ent�o o t�nel come�ou a subir; momentos depois se virou e Bichento tinha desaparecido. Em vez do gato, Harry viu um espa�o mal iluminado por meio de uma pequena abertura. Ele e Hermione pararam, procurando recuperar o f�lego, depois avan�aram cautelosamente. Os dois ergueram as varinhas para ver o que havia al�m. Era um quarto, muito desarrumado e poeirento. O papel descascava das paredes; havia manchas por todo o ch�o; cada m�vel estava quebrado como se algu�m o tivesse atacado. As janelas estavam vedadas com t�buas. Harry olhou para Hermione, que parecia muito amedrontada, mas concordou com um aceno de cabe�a. Harry saiu pelo buraco, olhando para todos os lados. O quarto estava deserto, mas havia uma porta aberta � direita, que levava a um corredor sombrio. Hermione, de repente, tornou a agarrar o bra�o de Harry. Seus olhos arregalados percorreram as janelas vedadas. � Harry � cochichou ela �, acho que estamos na Casa dos Gritos. Harry olhou a toda volta. Seus olhos se detiveram em uma cadeira de madeira, pr�xima. Havia grande peda�os partidos; uma das pernas fora inteiramente arrancada. � Fantasmas n�o fazem isso � comentou ele calmamente. Naquele momento, os dois ouviram um rangido no alto. Alguma coisa se mexera no andar de cima. Os dois olharam para o teto. Hermione apertava o bra�o de Harry com tanta for�a que ele estava perdendo a sensibilidade nos dedos. O garoto ergueu as sobrancelhas para ela; Hermione concordou outra vez e soltou-o. O mais silenciosamente que puderam, os dois sa�ram para o corredor e subiram uma escada desmantelada. Tudo estava coberto por uma espessa camada de poeira, exceto o ch�o, onde uma larga faixa brilhante fora aparentemente limpa por uma coisa arrastada para o primeiro andar. Eles chegaram ao patamar escuro. � Nox � sussurraram ao mesmo tempo, e as luzes nas pontas de suas varinhas se apagaram. Havia apenas uma porta aberta. Ao se esgueirarem nessa dire��o, ouviram um movimento atr�s da porta; um gemido baixo e em seguida um ronronar alto e grave. Eles trocaram um �ltimo olhar e um �ltimo aceno de cabe�a. A varinha empunhada com firmeza � frente, Harry escancarou a porta com um chute. Numa imponente cama de colunas, com cortinas empoeiradas, encontrava-se Bichento, que ronronou alto ao v�-los. No ch�o ao lado do gato, agarrando a perna estendida num �ngulo estranho, encontrava-se Rony. Harry e Hermione correram para o amigo. � Rony... Voc� est� bem? � Onde est� o c�o? � N�o � um c�o � gemeu Rony. Seus dentes rilhavam de dor. � Harry � uma armadilha... � Que... � Ele � o c�o... Ele � um Animago... Rony olhava fixamente por cima do ombro de Harry. Este se virou depressa. Com um estalo, o homem nas sombras fechou a porta do quarto. Uma massa de cabelos imundos e embara�ados ca�am at� seus cotovelos. Se seus olhos n�o estivessem brilhando em �rbitas fundas e escuras, ele poderia ser tomado por um cad�ver. A pele macilenta estava t�o esticada sobre os ossos do rosto, que ele lembrava uma caveira. Os dentes amarelos estavam arreganhados num sorriso. Era Sirius Black. � Expelliarmus! � disse com voz rouca, apontando a varinha de Rony para os garotos. As varinhas de Harry e Hermione sa�ram voando de suas m�os e Black as recolheu. Ent�o se aproximou. Seus olhos estavam fixos em Harry. � Achei que voc� viria ajudar seu amigo. � A voz dava a impress�o de que havia muito tempo ele perdera o h�bito de us�-la. � Seu pai teria feito o mesmo por mim. Foi muita coragem n�o correr � procura de um professor. Fico agradecido... Vai tornar as coisas muito mais f�ceis... A refer�ncia sarc�stica ao seu pai ecoou nos ouvidos de Harry como se Black a tivesse gritado. Um �dio escaldante explodiu em seu peito, n�o deixando lugar para o medo. Pela primeira vez na vida ele desejou ter a varinha nas m�os, n�o para se defender, mas para atacar... Para matar. Sem saber o que estava fazendo, come�ou a avan�ar, mas percebeu um movimento repentino de cada lado do seu corpo e dois pares de m�os o puxaram e o mantiveram parado. � N�o, Harry! � exclamou Hermione num sussurro petrificado; Rony, por�m, se dirigiu a Black. � Se voc� quiser matar Harry, ter� que nos matar tamb�m! � disse impetuosamente, embora o esfor�o de ficar de p� tivesse acentuado sua palidez e ele oscilasse um pouco ao falar. Alguma coisa brilhou nos olhos sombrios de Black. � Deite-se � disse brandamente a Rony. � Voc� vai piorar a fratura nessa perna. � Voc� me ouviu? � disse Rony com a voz fraca, embora se apoiasse dolorosamente em Harry para se manter de p�. � Voc� vai ter que matar os tr�s! � S� vai haver uma morte aqui hoje � noite � disse Black, e seu sorriso se alargou. � Por qu�? � perguntou Harry com veem�ncia, tentando se desvencilhar de Rony e Hermione. � Voc� n�o se importou com isso da �ltima vez, n�o foi mesmo? N�o se importou de matar aqueles trouxas todos para atingir Pettigrew... Que foi que houve, amoleceu em Azkaban? � Harry! � choramingou Hermione. � Fica quieto! � ELE MATOU MINHA M�E E MEU PAI! � bradou Harry, com grande esfor�o, se desvencilhou de Hermione e Rony que o retinham pelos bra�os, e avan�ou... Harry esquecera a magia, esquecera que era baixo e magricela e tinha treze anos, enquanto Black era um homem alto e adulto, ele s� sabia que queria ferir Black da maneira mais horr�vel que pudesse e n�o se importava se fosse ferido tamb�m... Talvez fosse o choque de ver Harry fazer uma coisa t�o idiota, mas Black n�o ergueu as varinhas em tempo. Uma das m�os de Harry segurou seu pulso magro, for�ando as pontas das varinhas para baixo; o punho de sua outra m�o atingiu o lado da cabe�a de Black e os dois ca�ram de costas contra a parede... Hermione gritava; Rony berrava; houve um rel�mpago ofuscante quando as varinhas na m�o de Black emitiram um jorro de fagulhas no ar que, por cent�metros, n�o atingiu o rosto de Harry. O garoto sentiu o bra�o magro sob seus dedos se torcer furiosamente, mas continuou a segur�-lo, a outra m�o socando cada parte do corpo de Black que conseguia alcan�ar. Mas a m�o livre de Black encontrou a garganta de Harry... � N�o � sibilou ele. � Esperei tempo demais... Seus dedos intensificaram o aperto, Harry ficou sem ar, seus �culos entortaram no rosto. Ent�o ele viu o p� de Hermione, vindo n�o sabia de onde, erguer-se no ar. Black largou Harry com um gemido de dor; Rony se atirara sobre a m�o com que Black segurava as varinhas e Harry ouviu uma batida leve... Ele lutou para se livrar dos corpos embolados e viu sua varinha rolando pelo ch�o; atirou-se para ela mas... � Arre! Bichento entrara na briga; o par dianteiro de garras se enterrou fundo no bra�o de Harry; o garoto se soltou, mas agora o gato corria para sua varinha... � N�O VAI N�O! � berrou Harry, e mirou um pontap� no gato que o fez saltar para o lado, bufando; o garoto agarrou a varinha, virou-se e... � Saiam da frente! � gritou para Rony e Hermione. N�o foi preciso falar duas vezes. Hermione, ofegante, a boca sangrando, atirou-se para o lado, ao mesmo tempo em que recuperava as varinhas dela e de Rony. O garoto arrastou-se at� a cama de colunas e largou-se sobre ela, arquejante, o rosto p�lido agora se tingindo de verde, as m�os segurando a perna quebrada. Black estava esparramado junto � parede. Seu peito magro subia e descia rapidamente enquanto observava Harry se aproximar devagar, a varinha apontada para o seu cora��o. � Vai me matar, Harry? � murmurou ele. O garoto parou bem em cima de Black, a varinha ainda apontada para o seu cora��o, encarando-o do alto. Um incha�o p�lido surgia em torno do olho esquerdo do homem e seu nariz sangrava. � Voc� matou meus pais � acusou-o Harry, com a voz ligeiramente tr�mula, mas a m�o segurando a varinha com firmeza. Black encarou-o com aqueles olhos fundos. � N�o nego que matei � disse muito calmo. � Mas se voc� soubesse da hist�ria completa... � A hist�ria completa? � repetiu Harry, os ouvidos latejando furiosamente. � Voc� vendeu meus pais a Voldemort. � s� isso que preciso saber. � Voc� tem que me ouvir � disse Black, e havia agora uma urg�ncia em sua voz. � Voc� vai se arrepender se n�o me ouvir.... Voc� n�o compreende... � Compreendo muito melhor do que voc� pensa � disse Harry, e sua voz tremeu mais que nunca. � Voc� nunca a ouviu, n�o �? Minha m�e... Tentando impedir Voldemort de me matar... E foi voc� que fez aquilo... Voc� � que fez... Antes que qualquer dos dois pudesse dizer outra palavra, uma coisa alaranjada passou correndo por Harry; Bichento saltou para o peito de Black e se sentou ali, bem em cima do cora��o. O homem pestanejou e olhou para o gato. � Saia da� � murmurou o homem, tentando empurrar Bichento para longe. Mas o gato enterrou as garras nas vestes de Black e n�o se mexeu. Ent�o virou a cara amassada e feia para Harry e encarou-o com aqueles grandes olhos amarelos... � sua direita, Hermione soltou um solu�o seco. Harry encarou Black e Bichento, apertando com mais for�a a varinha na m�o. E da� se tivesse que matar o gato tamb�m? O bicho estava mancomunado com Black... Se estava disposto a morrer para proteger o homem, n�o era de sua conta... Se o homem queria salv�-lo, isso s� provava que se importava mais com Bichento do que com os pais de Harry... O garoto ergueu a varinha. Agora era o momento de agir. Agora era o momento de vingar seu pai e sua m�e. Ia matar Black. Tinha que matar Black. Era a sua chance... Os segundos se alongaram. E Harry continuou paralisado ali, com a varinha em posi��o, Black olhando para ele, com Bichento sobre o peito. Ouvia-se a penosa respira��o de Rony pr�ximo � cama; Hermione guardava sil�ncio. Ent�o ouviu-se um novo ru�do... Passos abafados ecoaram pelo ch�o, algu�m estava andando no andar de baixo. � ESTAMOS AQUI EM CIMA! � gritou Hermione de repente. � ESTAMOS AQUI EM CIMA... SIRIUS BLACK... DEPRESSA! Black fez um movimento assustado que quase desalojou � Bichento; Harry apertou convulsivamente a varinha. �Aja agora disse uma voz em sua cabe�a�. Mas os passos reboavam escada acima e Harry ainda n�o agira. A porta do quarto se escancarou com um jorro de fa�scas vermelhas e Harry se virou na hora em que o Prof�. Lupin irrompeu no quarto, seu rosto exangue, a varinha erguida e pronta. Seus olhos piscaram ao ver Rony, deitado no ch�o, Hermione encolhida perto da porta, Harry parado ali com a varinha apontada para Black, e o pr�prio Black, ca�do e sangrando aos p�s do garoto. � Expelliarmus!� gritou Lupin. A varinha de Harry voou mais uma vez de sua m�o; as duas que Hermione segurava tamb�m. Lupin apanhou-as agilmente e avan�ou pelo quarto, olhando para Black, que ainda tinha Bichento deitado numa atitude de prote��o sobre seu peito. Harry ficou parado ali, sentindo-se subitamente vazio. N�o agira. Faltara-lhe a coragem. Black ia ser entregue aos dementadores. Ent�o Lupin perguntou com a voz muito tensa. � Onde � que ele est�, Sirius? Harry olhou depressa para Lupin. N�o entendeu o que o professor queria dizer. De quem estava falando? Virou-se para olhar Black outra vez. O rosto do homem estava impass�vel. Por alguns segundos Black nem se mexeu. Depois, muito lentamente, ergueu a m�o vazia e apontou para Rony. Aturdido, Harry se virou para Rony, que por sua vez parecia confuso. � Mas, ent�o... � murmurou Lupin, encarando Black com tal intensidade que parecia estar tentando ler sua mente � por que ele n�o se revelou antes? A n�o ser que... � os olhos de Lupin se arregalaram, como se estivesse vendo alguma coisa al�m de Black, alguma coisa que mais ningu�m podia ver � a n�o ser que ele fosse o... A n�o ser que voc� tivesse trocado... Sem me dizer? Muito lentamente, com o olhar fundo cravado no rosto de Lupin, Black confirmou com um aceno de cabe�a. � Professor � interrompeu Harry, em voz alta �, que � que est� acontecendo...? Mas nunca chegou a terminar a pergunta, porque o que viu fez sua voz morrer na garganta. Lupin estava baixando a varinha, os olhos fixos em Black. O professor foi at� Black, apanhou a varinha dele, levantou-o de modo que Bichento caiu no ch�o e abra�ou Black como a um irm�o. Harry sentiu como se o fundo do seu est�mago tivesse despencado. � EU N�O ACREDITO! � berrou Hermione. Lupin soltou Black e se virou para a garota. Ela se erguera do ch�o e estava apontando para Lupin, de olhos arregalados. � O senhor... O senhor... � Hermione... � ... O senhor e ele! � Hermione se acalme... � Eu n�o contei a ningu�m! � esgani�ou-se a garota. � Tenho encoberto o senhor... � Hermione, me escute, por favor! � gritou Lupin. � Posso explicar... Harry sentia o corpo tremer, n�o com medo, mas com uma nova onda de f�ria. � Eu confiei no senhor � gritou ele para Lupin, sua voz se descontrolando �, e o tempo todo o senhor era amigo dele! � Voc� est� enganado � disse Lupin. � Eu n�o era amigo de Sirius, mas agora sou... Deixe-me explicar.. � N�O! � berrou Hermione. � Harry n�o confie nele, ele tem ajudado Black a entrar no castelo, ele quer ver voc� morto tamb�m... Ele � um Lobisomen! Houve um sil�ncio aud�vel. Os olhos de todos agora estavam postos em Lupin, que parecia extraordinariamente calmo, embora muito p�lido. � O que disse n�o est� � altura do seu padr�o de acertos, Hermione. Receio que tenha acertado apenas uma afirma��o em tr�s. Eu n�o tenho ajudado Sirius a entrar no castelo e certamente n�o quero ver Harry morto... � Um estranho tremor atravessou seu rosto. � Mas n�o vou negar que seja um Lobisomen. Rony fez um corajoso esfor�o para se levantar outra vez, mas caiu com um gemido de dor. Lupin adiantou-se para ele, parecendo preocupado, mas Rony exclamou: � Fique longe de mim, Lobisomen! Lupin se imobilizou. Depois, com �bvio esfor�o, virou-se para Hermione e perguntou: � H� quanto tempo voc� sabe? � H� s�culos! � sussurrou Hermione. � Desde a reda��o do Prof�. Snape... � Ele ficar� encantado � disse Lupin tranq�ilo. � Passou aquela reda��o na esperan�a de que algu�m percebesse o que significavam os meus sintomas. Voc� verificou a tabela lunar e percebeu que eu sempre ficava doente na lua cheia? Ou voc� percebeu que o bicho-pap�o se transformava em lua quando me via? � Os dois � respondeu Hermione em voz baixa. Lupin for�ou uma risada. � Voc� � a bruxa de treze anos mais inteligente que j� conheci, Hermione. � N�o sou, n�o � sussurrou Hermione. � Se eu fosse um pouco mais inteligente, teria contado a todo mundo quem o senhor �! � Mas todos j� sabem. Pelo menos os professores sabem. � Dumbledore contratou o senhor mesmo sabendo que o senhor � um Lobisomen? � exclamou Rony. � Ele � louco? � Alguns professores acharam que sim � respondeu Lupin. � Ele teve que trabalhar muito para convencer certos professores de que eu sou digno de confian�a... � E ELE ESTAVA ENGANADO! � berrou Harry. � O SENHOR ESTEVE AJUDANDO ELE O TEMPO TODO! � O garoto apontou para Black, que, de repente atravessou o quarto em dire��o � cama de colunas e afundou nela, o rosto escondido em uma das m�os tr�mulas. Bichento saltou para junto dele e subiu no seu colo, ronronando. Rony se afastou devagarinho dos dois, arrastando a perna. � Eu n�o estive ajudando Sirius � respondeu Lupin. � Se voc� me der uma chance, eu explico. � Olhe... O professor separou as varinhas de Harry, Rony e Hermione e devolveu-as aos donos. Harry apanhou a dele, espantado. � Pronto � disse Lupin, enfiando a pr�pria varinha no cinto. � Voc�s est�o armados e n�s, n�o. Agora v�o me ouvir? Harry n�o sabia o que pensar. Seria um truque? � Se o senhor n�o esteve ajudando � disse, lan�ando um olhar furioso a Black �, como � que soube que ele estava aqui? � O mapa. O Mapa do Maroto. Eu estava na minha sala examinando-o... � O senhor sabe trabalhar com o mapa? � indagou Harry desconfiado. � Claro que sei � disse Lupin fazendo um gesto impaciente com a m�o. � Ajudei a prepar�-lo. Eu sou Aluado, esse era o apelido que meus amigos me davam na escola. � O senhor preparou...? � O importante � que eu estava examinando o mapa atentamente hoje � noite, porque imaginei que voc�, Rony e Hermione poderiam tentar sair, escondidos, do castelo para visitar Hagrid antes da execu��o do hipogrifo. E estava certo, n�o � mesmo? Lupin come�ara a andar para cima e para baixo do quarto, com os olhos fixos nos garotos. Pequenas nuvens de p� se levantavam aos seus p�s. � Voc� poderia estar usando a velha capa do seu pai, Harry... � Como � que o senhor sabia da capa? � O n�mero de vezes que vi Tiago desaparecer debaixo da capa... � disse, fazendo outro gesto de impaci�ncia com a m�o. � A quest�o � que, mesmo quando a pessoa est� usando a Capa da Invisibilidade, ela continua a aparecer no Mapa do Maroto. Observei voc�s atravessarem os jardins e entrar na cabana de Hagrid. Vinte minutos depois, voc�s sa�ram e voltaram em dire��o ao castelo. Mas, ent�o, iam acompanhados por mais algu�m. � Qu�? � exclamou Harry. � N�o, n�o �amos! � Eu n�o podia acreditar no que estava vendo � continuou o professor, prosseguindo a caminhada e fingindo n�o ter ouvido a interrup��o de Harry. -Achei que o mapa n�o estava registrando direito. Como � que ele podia estar com voc�s? � N�o tinha ningu�m com a gente! � Ent�o vi outro pontinho, andando depressa em sua dire��o, rotulado Sirius Black... Vi-o colidir com voc�; observei quando arrastou dois de voc�s para dentro do Salgueiro Lutador... � Um de n�s! � corrigiu-o Rony, zangado. � N�o, Rony. Dois de voc�s. Ele parou de andar, os olhos em Rony. � Voc� acha que eu poderia dar uma olhada no rato? � perguntou com a voz equilibrada. � Qu�? � exclamou Rony. � Que � que o Perebas tem a ver com isso? � Tudo. Posso v�-lo, por favor? Rony hesitou, depois enfiou a m�o nas vestes. Perebas apareceu, debatendo-se desesperadamente; o garoto teve que segur�-lo pelo longo rabo pelado para impedi-lo de fugir. Bichento ficou em p� na perna de Black e sibilou baixinho. Lupin se aproximou de Rony. Parecia estar prendendo a respira��o enquanto examinava Perebas atentamente. � Qu�? � repetiu Rony, segurando Perebas mais perto com um ar apavorado. � Que � que meu rato tem a ver com qualquer coisa? � Isto n�o � um rato � disse Sirius Black, de repente, com a voz rouca. � Que � que voc� est� dizendo... � claro que � um rato... � N�o, n�o � � confirmou Lupin calmamente. � � um bruxo. � Um Animago � disse Black � que atende pelo nome de Pedro Pettigrew. CAP�TULO DEZOITO Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas Levou alguns segundos para os garotos absorverem o absurdo desta afirma��o. Ent�o Rony disse em voz alta o que Harry estava pensando. � Voc�s dois s�o malucos. � Rid�culo! � exclamou Hermione baixinho. � Pedro Pettigrew est� morto! � afirmou Harry. � Ele o matou h� doze anos! � O garoto apontou para Black, cujo rosto tremeu convulsivamente. � Tive inten��o � vociferou o acusado, os dentes amarelos � mostra �, mas o Pedrinho levou a melhor... Mas desta vez n�o! E Bichento foi atirado ao ch�o quando Black avan�ou para Perebas; Rony berrou de dor ao receber o peso de Black sobre sua perna quebrada. � Sirius, N�O! � berrou Lupin atirando-se � frente e afastando Black para longe de Rony. � ESPERE! Voc� n�o pode fazer isso assim... Eles precisam entender... Temos que explicar... � Podemos explicar depois! � rosnou Black, tentando tirar Lupin do caminho. Ainda mantinha uma das m�os no ar, com a qual tentava alcan�ar Perebas, que, por sua vez, guinchava feito um porquinho, arranhando o rosto e o pesco�o de Rony, tentando escapar. � Eles t�m... O... Direito... De... Saber... De... Tudo! � ofegou Lupin, ainda tentando conter Black. � Ele foi bicho de estima��o de Rony! E tem partes dessa hist�ria que nem eu compreendo muito bem! E Harry... Voc� deve a verdade a ele, Sirius! Black parou de resistir, embora seus olhos fundos continuassem fixos em Perebas, firmemente seguro sob as m�os mordidas, arranhadas e sangrentas de Rony. � Est� bem, ent�o � concordou Black, sem desgrudar os olhos do rato. � Conte a eles o que quiser. Mas fa�a isso depressa, Remo, quero cometer o crime pelo qual fui preso... � Voc�s s�o pirados, os dois � disse Rony tr�mulo, procurando com os olhos o apoio de Harry e Hermione. � Para mim chega. Estou fora. O garoto tentou se levantar com a perna boa, mas Lupin tornou a erguer a varinha, apontando-a para Perebas. � Voc� vai me ouvir at� o fim, Rony � disse calmamente. � S� quero que mantenha Pedro bem seguro enquanto me ouve. � ELE N�O � PEDRO, ELE � PEREBAS! � berrou Rony, tentando empurrar o rato para dentro do bolso das vestes, mas Perebas resistia com todas as for�as; Rony oscilou e se desequilibrou, mas Harry o amparou e empurrou de volta � cama. Ent�o, sem dar aten��o a Black, Harry se dirigiu a Lupin. � Houve testemunhas que viram Pettigrew morrer � disse. � Uma rua cheia... � Eles n�o viram o que pensaram que viram! � disse Black ferozmente, ainda vigiando Perebas se debater nas m�os de Rony. � Todos pensaram que Sirius tinha matado Pedro � confirmou Lupin acenando a cabe�a. � Eu mesmo acreditei nisso, at� ver o mapa hoje � noite. Porque o Mapa do Maroto nunca mente... Pedro est� vivo. Na m�o de Rony, Harry. Harry baixou os olhos para Rony, e quando seus olhares se encontraram, os dois concordaram silenciosamente: Black e Lupin estavam delirando. A hist�ria deles n�o fazia o menor sentido. Como Perebas poderia ser Pedro Pettigrew? Azkaban, afinal, devia ter endoidado Black, mas por que Lupin estava fazendo o jogo dele? Ent�o Hermione falou, numa voz tr�mula que se pretendia calma, como se tentasse fazer o professor falar sensatamente. � Mas Prof�. Lupin... Perebas n�o pode ser Pettigrew... N�o pode ser verdade, o senhor sabe que n�o pode... � Por que n�o pode? � perguntou Lupin calmamente, como se estivessem na sala de aula e Hermione apenas levantasse um problema relativo a uma experi�ncia com grindylows. � Porque... Porque as pessoas saberiam se Pedro Pettigrew tivesse sido um Animago. Estudamos Animagos com a Prof�. McGonagall. E procurei maiores informa��es quando fiz o meu dever de casa, o Minist�rio da Magia controla os bruxos e bruxas que s�o capazes de se transformar em animais; h� um registro que mostra em que animal se transformam, o que fazem, quais os seus sinais de identifica��o e outros dados... E fui procurar o nome da Prof�. McGonagall no registro e vi que s� houve sete Animagos neste s�culo e o nome de Pettigrew n�o constava da lista... Harry mal tivera tempo de se admirar intimamente com o esfor�o que Hermione investia nos deveres de casa, quando Lupin come�ou a rir. � Certo, outra vez Hermione! � exclamou. � Mas o Minist�rio nunca soube que havia tr�s Animagos n�o registrados � solta em Hogwarts. � Se voc� vai contar a hist�ria aos garotos, se apresse, Remo � rosnou Black, que continuava vigiando cada movimento desesperado de Perebas. � Esperei doze anos, n�o vou esperar muito mais. � Est� bem... Mas voc� precisa me ajudar, Sirius � disse Lupin �, s� conhe�o o inicio... Lupin parou. Tinham ouvido um rangido alto �s costas dele. A porta do quarto se abriu sozinha. Os cincos olharam. Ent�o Lupin foi at� a porta e espiou para o patamar. � N�o h� ningu�m a� fora... � Esse lugar � mal-assombrado! � comentou Rony. � N�o �, n�o � disse Lupin, ainda observando intrigado a porta. � A Casa dos Gritos nunca foi mal-assombrada... Os gritos e uivos que os moradores do povoado costumavam ouvir eram meus. Ele afastou os cabelos grisalhos da testa, pensou um instante, e disse: � Foi onde tudo come�ou, com a minha transforma��o em Lobisomen. Nada poderia ter acontecido se eu n�o tivesse sido mordido... E n�o tivesse sido t�o imprudente... Ele parecia s�brio e cansado. Rony ia interromp�-lo, mas Hermione fez "psiu!". Ela observava Lupin com muita aten��o. � Eu ainda era garotinho quando levei a mordida. Meus pais tentaram tudo, mas naquela �poca n�o havia cura. A po��o que o Prof�. Snape tem preparado para mim � uma descoberta muito recente. Me deixa seguro, entende. Desde que eu a tome uma semana antes da lua cheia, posso conservar as faculdades mentais quando me transformo... E posso me enroscar na minha sala, um lobo inofensivo, � espera da mudan�a de lua. � Por�m, antes da Po��o de Mata-c�o ser descoberta, eu me Transformava em um perfeito monstro uma vez por m�s. Parecia imposs�vel que eu pudesse freq�entar Hogwarts. Outros pais n�o iriam querer expor os filhos a mim. Mas, ent�o, Dumbledore se tornou diretor e ele se condoeu. Disse que se tom�ssemos certas precau��es, n�o havia raz�o para eu n�o freq�entar a escola � Lupin suspirou e olhou diretamente para Harry. � Eu lhe disse, h� alguns meses, que o Salgueiro Lutador foi plantado no ano em que entrei para Hogwarts. A verdade � que ele foi plantado porque eu entrei para Hogwarts. Esta casa � Lupin correu os olhos cheios de tristeza pelo quarto � e o t�nel que vem at� aqui foram constru�dos para meu uso. Uma vez por m�s eu era trazido do castelo para c�, para me transformar. A �rvore foi colocada na boca do t�nel para impedir que algu�m se encontrasse comigo durante o meu per�odo perigoso. Harry n�o conseguia imaginar onde a hist�ria iria chegar, mas, mesmo assim, ouvia arrebatado. O �nico som, al�m da voz de Lupin, eram os guinchos assustados de Perebas. � As minhas transforma��es naquele tempo eram... Eram terr�veis. � muito doloroso algu�m virar Lobisomen. Eu era separado das pessoas para morder � vontade, ent�o eu me arranhava e me mordia. Os moradores do povoado ouviam o barulho e os gritos e achavam que estavam ouvindo almas do outro mundo particularmente violentas. Dumbledore estimulava os boatos... Ainda hoje, que a casa tem estado silenciosa h� anos, os moradores de Hogsmeade n�o t�m coragem de se aproximar... � Mas tirando as minhas transforma��es, eu nunca tinha sido t�o feliz na vida. Pela primeira vez, eu tinha amigos, tr�s grandes amigos. Sirius Black... Pedro Pettigrew... E, naturalmente, seu pai, Harry, Tiago Potter. Agora, meus tr�s amigos n�o puderam deixar de notar que eu desaparecia uma vez por m�s. Eu inventava todo o tipo de hist�rias. Dizia que minha m�e estava doente, que tinha ido em casa v�-la... Ficava aterrorizado em pensar que eles me abandonariam se descobrissem o que eu era. Mas � claro que eles, como voc�, Hermione, descobriram a verdade... � E n�o me abandonaram. Em vez disso, fizeram uma coisa por mim que n�o s� tornou as minhas transforma��es suport�veis, como me proporcionou os melhores momentos da minha vida. Eles se transformaram em Animagos.� � Meu pai tamb�m? � perguntou Harry, espantado. � Certamente. Eles gastaram quase tr�s anos para descobrir como fazer isso. Seu pai e Sirius eram os alunos mais inteligentes da escola, o que foi uma sorte, porque se transformar em Animago � uma coisa que pode sair barbaramente errada, � uma das raz�es por que o minist�rio acompanha de perto os que tentam. Pedro precisou de toda a ajuda que p�de obter de Tiago e Sirius. Finalmente no nosso quinto ano, eles conseguiram. Podiam se transformar em um animal diferente quando queriam. � Mas como foi que isso ajudou o senhor? � perguntou Hermione, intrigada. � Eles n�o podiam me fazer companhia como seres humanos, ent�o me faziam companhia como animais. Um Lobisomen s� apresenta perigo para gente. Eles sa�am escondidos do castelo todos os meses, encobertos pela Capa da Invisibilidade de Tiago. E se transformavam... Pedro, por ser o menor, podia passar por baixo dos ramos agressivos do Salgueiro e empurrar o bot�o para imobiliz�-lo. Os outros dois, ent�o, podiam escorregar pelo t�nel e se reunir a mim. Sob a influ�ncia deles, eu me tornei menos perigoso. Meu corpo ainda era o de um lobo, mas minha mente se tornava menos lupina quando est�vamos juntos. � Anda logo, Remo � rosnou Black, que continuava a observar Perebas com uma esp�cie de voracidade no rosto. � Estou chegando l�, Sirius, estou chegando l�... Bom, abriram-se possibilidades extremamente excitantes para n�s do momento em que conseguimos nos transformar. N�o demorou muito e come�amos a deixar a Casa dos Gritos e perambular pelos terrenos da escola e pelo povoado � noite. Sirius e Tiago se transformavam em animais t�o grandes que conseguiam controlar o Lobisomen. Duvido que qualquer aluno de Hogwarts jamais tenha descoberto mais a respeito dos terrenos da escola e do povoado de Hogsmeade do que n�s... E foi assim que acabamos preparando o Mapa do Maroto, e assinando-o com os nossos apelidos Sirius � Almofadinhas, Pedro � Rabicho, e Tiago era Pontas. � Que tipo de animal...? � Harry come�ou a perguntar, mas Hermione o interrompeu. � Mas a coisa continuava a ser realmente perigosa! Andar no escuro em companhia de um Lobisomen! E se o senhor tivesse fugido deles e mordido algu�m? � � um pensamento que ainda me atormenta � respondeu Lupin deprimido. � E muitas vezes escap�vamos por um triz. N�s nos riamos disso depois. �ramos jovens, irrespons�veis, empolgados com a nossa intelig�ncia. Por vezes eu sentia remorsos por trair a confian�a de Dumbledore, � �bvio... ele me aceitara em Hogwarts, coisa que nenhum outro diretor teria feito, e sequer desconfiava que eu estivesse desobedecendo �s regras que ele estabelecera para a seguran�a dos outros e a minha pr�pria. Ele nunca soube que eu tinha induzido tr�s colegas a se transformarem ilegalmente em Animagos. Mas eu sempre conseguia esquecer meus remorsos todas as vezes que nos sent�vamos para planejar a aventura do m�s seguinte. E n�o mudei...� O rosto de Lupin endurecera, e havia desgosto em sua voz. � Durante todo este ano, lutei comigo mesmo, me perguntando se devia contar a Dumbledore que Sirius era um Animago. Mas n�o contei. Por qu�? Porque fui covarde demais. Porque isto teria significado admitir que eu tra�ra sua confian�a enquanto estivera na escola, admitir que influenciara outros... E a confian�a de Dumbledore significava tudo para mim. Ele me admitira em Hogwarts quando garoto, e me dera um emprego quando eu fora desprezado toda a minha vida adulta, incapaz de encontrar um trabalho remunerado porque sou o que sou. Ent�o me convenci de que Sirius estava penetrando na escola por meio das artes das trevas que aprendera com Voldemort, que o fato de ser um Animago n�o entrava em quest�o... Ent�o, de certa forma, Snape tinha raz�o quanto � minha pessoa. � Snape? � exclamou Black com a voz rouca, desviando os olhos de Perebas pela primeira vez nos �ltimos minutos para olhar Lupin. � Que � que Snape tem a ver com isso? � Ele est� aqui, Sirius � respondeu Lupin s�rio. � � professor em Hogwarts tamb�m. � E ergueu os olhos para Harry, Rony e Hermione. � O Prof�. Snape freq�entou a escola conosco. Ele se op�s fortemente � minha nomea��o para o cargo de professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Passou o ano inteiro dizendo a Dumbledore que eu n�o sou digno de confian�a. Ele tem suas razoes... Entendem, o Sirius aqui pregou uma pe�a nele que quase o matou, uma pe�a de que participei... Black emitiu uma exclama��o de desd�m. � Foi bem feito para ele � zombou. � Espionando, tentando descobrir o que and�vamos aprontando... Na esperan�a de que f�ssemos expulsos.. � Severo tinha muito interesse em saber aonde eu ia todo m�s � disse Lupin a Harry, Rony e Hermione. � Est�vamos no mesmo ano, entendem, e n�o... Hum... N�o nos gost�vamos muito. Ele n�o gostava nada de Tiago. Ci�mes, acho eu, do talento de Tiago no campo de Quadribol... Em todo o caso, Snape tinha me visto atravessar os jardins com Madame Pomfrey certa noite quando ela me levava em dire��o ao Salgueiro Lutador para eu me transformar. Sirius achou que seria... Hum... Divertido, contar a Snape que ele s� precisava apertar o n� no tronco da �rvore com uma vara longa para conseguir entrar atr�s de mim. Bem, � claro, que Snape foi experimentar, e se tivesse chegado at� a casa teria encontrado um Lobisomen adulto � mas seu pai, que soube o que Sirius tinha feito, foi procurar Snape e puxou-o para fora, arriscando a pr�pria vida... Snape, por�m, me viu, no fim do t�nel. Dumbledore o proibiu de contar a quem quer que fosse, mas desde ent�o ele ficou sabendo o que eu era... � Ent�o � por isso que Snape n�o gosta do senhor � disse Harry lentamente �, porque achou que o senhor estava participando da brincadeira? � Isso mesmo � zombou uma voz fria vinda da parede atr�s de Lupin. Severo Snape removia a Capa da Invisibilidade e segurava a varinha apontada diretamente para Lupin. CAP�TULO DEZENOVE O Servo de Lord Voldemort Hermione gritou. Black se levantou de um salto. Harry teve a sensa��o de que levara um tremendo choque el�trico. � Encontrei isso ao p� do Salgueiro Lutador � disse Snape, atirando a capa para o lado, mas tendo o cuidado de manter a varinha apontada diretamente para o peito de Lupin. � Muito �til, Potter, obrigado... Snape estava ligeiramente sem f�lego, mas o rosto expressava contido triunfo. � Voc�s talvez estejam se perguntando como foi que eu soube que estavam aqui? � disse com os olhos brilhantes. Acabei de passar por sua sala, Lupin. Voc� esqueceu de tomar sua po��o hoje � noite, ent�o resolvi lhe levar um c�lice. E foi uma sorte... Sorte para mim, quero dizer. Encontrei em cima de sua mesa um certo mapa. Bastou uma olhada para me dizer tudo que eu precisava saber. Vi voc� correr por essa passagem e desaparecer de vista. � Severo... � come�ou Lupin, mas Snape atropelou-o. � Eu disse ao diretor v�rias vezes que voc� estava ajudando o seu velho amigo Black a entrar no castelo, Lupin, e aqui tenho a prova. Nem mesmo eu poderia sonhar que voc� teria o topete de usar este lugar antigo como esconderijo... � Severo, voc� est� cometendo um engano � disse Lupin com urg�ncia na voz. � Voc� n�o sabe de tudo, posso explicar, Sirius n�o est� aqui para matar Harry... � Mais dois para Azkaban esta noite � disse Snape, os olhos brilhando de fanatismo. � Vou ficar curioso para saber como que Dumbledore vai encarar isso... Ele estava convencido de que voc� era inofensivo, sabe, Lupin... Um Lobisomen manso.. � Seu tolo � disse Lupin com brandura. � Ser� que um ressentimento de crian�a � suficiente para mandar um homem inocente de volta a Azkaban? BANGUE! Cordas finas que lembravam cobras jorraram da ponta da varinha de Snape e se enrolaram em torno da boca de Lupin, dos seus punhos e tornozelos; Ele perdeu o equil�brio e caiu no ch�o, incapaz de se mexer. Com um rugido de c�lera, Black avan�ou para Snape, mas este apontou a varinha entre os olhos de Black. � � s� me dar um motivo � sussurrou o professor. � � s� me dar um motivo, e juro que fa�o. Black se imobilizou. Teria sido imposs�vel dizer qual dos dois rostos revelava mais �dio. Harry continuou ali, paralisado, sem saber o que fazer ou em quem acreditar. Olhou para Rony e Hermione. Seu amigo parecia t�o confuso quanto ele e ainda tentava segurar um Perebas rebelde. Hermione, por�m, adiantou-se, hesitante, para Snape e disse, respirando com dificuldade: � Professor... N�o faria mal ouvirmos o que eles t�m a dizer, f... Faria? � Senhorita Granger, a senhorita j� vai enfrentar uma suspens�o � bufou Snape. � A senhorita, Potter e Weasley est�o fora dos limites da escola em companhia de um criminoso sentenciado e de um Lobisomen, Pelo menos uma vez na sua vida, cale a boca. � Mas se... Se houve um engano... � FIQUE QUIETA, SUA BURRINHA! � berrou Snape, parecendo de repente muito perturbado. � N�O FALE DO QUE N�O ENTENDE! � Sa�ram algumas fagulhas da ponta de sua varinha, que continuava apontada para o rosto de Black. Hermione se calou. � A vingan�a � muito doce � sussurrou Snape para Black. � Como desejei ter o privil�gio de apanh�-lo... � Voc� � que vai fazer papel de tolo outra vez, Severo � rosnou Black. � Se esse garoto levar o rato dele at� o castelo � e indicou Rony com a cabe�a... � Eu vou sem criar caso... � At� o castelo? � retrucou Snape, com voz insinuante. � Acho que n�o precisamos ir t�o longe. Basta eu chamar os dementadores quando sairmos do salgueiro. Eles v�o ficar muito satisfeitos em v�-lo, Black.. Satisfeitos o suficiente para lhe dar um beijinho, eu me arriscaria a dizer... A pouca cor que havia no rosto de Black desapareceu. � Voc�... Voc� tem que ouvir o que tenho a dizer � disse ele, rouco. � O rato... Olhe aquele rato... Mas havia um brilho alucinado nos olhos de Snape que Harry nunca vira antes. O professor parecia incapaz de ouvir. � Vamos, todos. � Snape estalou os dedos e as pontas das cordas que amarravam Lupin voaram para suas m�os. � Eu puxo o Lobisomen. Talvez os dementadores tenham um beijo para ele tamb�m... Antes que se desse conta do que estava fazendo, Harry atravessou o quarto em tr�s passadas e bloqueou a porta. � Saia da frente, Potter, voc� j� est� suficientemente encrencado � rosnou Snape. � Se eu n�o estivesse aqui para salvar sua pele... � O Prof�. Lupin poderia ter me matado cem vezes este ano � disse Harry. � Estive sozinho com ele montes de vezes, tomando aulas de defesa contra dementadores. Se ele estava ajudando Black, por que n�o me liquidou logo? � N�o me pe�a para imaginar como funciona a cabe�a de um Lobisomen � sibilou Snape. � Saia da frente, Potter. � O SENHOR � PAT�TICO! � berrou Harry. � S� PORQUE ELES FIZERAM O SENHOR DE BOBO NA ESCOLA, O SENHOR N�O QUER NEM ESCUTAR... � SIL�NCIO! N�O ADMITO QUE FALEM ASSIM COMIGO! � gritou Snape, parecendo mais louco que nunca. � Tal pai, tal filho, Potter! Acabei de salvar seu pesco�o; voc� devia me agradecer de joelhos! Teria sido bem feito se Black o tivesse matado! Voc� teria morrido como seu pai, arrogante demais para acreditar que poderia ter se enganado com um amigo... Agora saia da frente, ou eu vou fazer voc� sair. SAIA DA FRENTE, POTTER! Harry se decidiu em uma fra��o de segundo. Antes que Snape pudesse sequer dar um passo em sua dire��o, o garoto ergueu a varinha. � Expelliarmus � berrou, s� que sua voz n�o foi a �nica a gritar. Houve uma explos�o que fez a porta sacudir nas dobradi�as; Snape foi levantado e atirado contra a parede, depois escorregou por ela at� o ch�o, um filete de sangue escorrendo por baixo dos cabelos. Fora nocauteado. Harry olhou para os lados. Rony e Hermione tamb�m tinham tentado desarmar Snape exatamente no mesmo instante. A varinha do professor voou no ar descrevendo um arco e caiu em cima da cama, ao lado de Bichento. � Voc� n�o devia ter feito isso � censurou Black olhando para Harry. � Devia t�-lo deixado comigo... Harry evitou o olhar de Black. N�o tinha certeza, mesmo agora, de que agira certo. � Atacamos um professor... Atacamos um professor... � choramingou Hermione, olhando assustada para o inconsciente Snape. Ah, vamos nos meter numa confus�o t�o grande... Lupin lutava para se livrar das cordas. Black se abaixou depressa e o desamarrou. O professor se ergueu, esfregando os bra�os onde as cordas o tinham machucado. � Obrigado, Harry � agradeceu. � N�o estou dizendo com isso que j� acredito no senhor � disse o garoto. � Ent�o est� na hora de lhe apresentarmos alguma prova. Voc�, garoto... Me d� o Pedro, por favor. Agora. Rony apertou Perebas mais junto ao peito. � Nem vem � disse o garoto com a voz fraca. � O senhor est� tentando dizer que Black fugiu de Azkahan s� para p�r as m�os em Perebas? Quero dizer... � e olhou para Harry e Hermione � procura de apoio �, tudo bem, vamos dizer que Pettigrew pudesse se transformar em rato, h� milh�es de ratos, como � que Black vai saber qual � o que est� procurando se estava trancafiado em Azkaban? � Sabe, Sirius, a pergunta � justa � disse Lupin, virando-se para Black com a testa ligeiramente franzida. � Como foi que voc� descobriu onde estava o rato? Black enfiou uma das m�os, que lembravam garras, dentro das vestes e tirou um peda�o de papel amassado, que ele alisou e mostrou aos outros. Era a foto de Rony com a fam�lia, que aparecera no Profeta Di�rio no �ltimo ver�o, e ali, no ombro de Rony, estava Perebas. � Onde foi que voc� arranjou isso? � perguntou Lupin a Black, perplexo. � Fudge � disse Black. � Quando ele foi inspecionar Azkaban no ano passado, me cedeu o jornal que levava. E l� estava Pedro, na primeira p�gina... no ombro desse garoto... Reconheci-o na mesma hora... Quantas vezes o vi se transformar? � a legenda dizia que o menino ia voltar para Hogwarts... Onde Harry estava... � Meu Deus � exclamou Lupin baixinho, olhando de Perebas para a foto no jornal e de volta ao rato. � A pata dianteira... � Que � que tem a pata? � disse Rony em tom de desafio. � Tem um dedinho faltando � afirmou Black. � Claro � murmurou Lupin. � T�o simples... T�o genial.. Ele mesmo o cortou? � Pouco antes de se transformar � confirmou Black. � Quando eu o encurralei, ele gritou para a rua inteira que eu havia tra�do L�lian e Tiago. Ent�o, antes que eu pudesse lhe lan�ar um feiti�o, ele explodiu a rua com a varinha escondida �s costas, matou todo mundo em um raio de seis metros, e fugiu para dentro do bueiro com os outros ratos... � Voc� j� ouviu falar, n�o Rony? � perguntou Lupin. � O maior peda�o do corpo de Pedro que acharam foi o dedo. � Olha aqui, Perebas com certeza brigou com outro rato ou coisa parecida! Ele est� na minha fam�lia h� s�culos, certo... � Doze anos, para sermos exatos � disse Lupin. � Voc� nunca estranhou que ele tenha vivido tantos anos? � N�s... N�s cuidamos bem dele! � Mas ele n�o est� com um aspecto muito saud�vel no momento, n�o �? � comentou Lupin. � Imagino que esteja perdendo peso desde que ouviu falar que Sirius fugiu... � Ele tem andado apavorado com aquele gato maluco! � justificou Rony, indicando com a cabe�a Bichento, que continuava a ronronar na cama. Mas isso n�o era verdade, ocorreu a Harry de repente... Perebas j� estava com cara de doente antes de conhecer Bichento... Desde que Rony voltara do Egito... Desde que Black escapara... � O gato n�o � maluco � disse Black, rouco. Ele estendeu a m�o ossuda e acariciou a cabe�a peluda de Bichento. � � o gato mais inteligente que j� encontrei. Reconheceu na mesma hora o que Pedro era. E quando me encontrou, percebeu que eu n�o era cachorro. Levou um tempinho para confiar em mim. No fim eu consegui comunicar a ele o que estava procurando e ele tem me ajudado... � Como assim? � murmurou Hermione. � Ele tentou trazer Pedro a mim, mas n�o p�de... Ent�o roubou para mim as senhas de acesso � Torre da Grifin�ria... Pelo que entendi, ele as tirou da mesa-de-cabeceira de um garoto... O c�rebro de Harry parecia estar fraquejando sob o peso do que ouvia. Era absurdo... Contudo... � Mas Pedro soube o que estava acontecendo e se mandou... � falou Black. � Este gato... Bichento, foi o nome que lhe deu?... Me disse que Pedro tinha sujado os len��is de sangue... Suponho que tenha se mordido... Ora, fingir-se de morto j� tinha dado certo uma vez... Essas palavras sacudiram o torpor mental de Harry. � E sabe por que � que ele se fingiu de morto? � perguntou o garoto impetuosamente. � Porque sabia que voc� ia matar ele como tinha matado os meus pais! � N�o � disse Lupin. � Harry... � E agora voc� veio acabar com ele! � � verdade, vim � disse Black, lan�ando um olhar maligno a Perebas. � Ent�o eu devia ter deixado Snape levar voc�! � gritou Harry. � Harry � disse Lupin depressa �, voc� n�o est� vendo? Todo este tempo pensamos que Sirius tinha tra�do seus pais e que Pedro o perseguira... Mas foi o contr�rio, voc� n�o est� vendo? Pedro traiu sua m�e e seu pai... Sirius perseguiu Pedro... � N�O � VERDADE! � berrou Harry. � ELE ERA O FIEL DO SEGREDO DELES! ELE DISSE ISSO ANTES DO SENHOR APARECER. ELE CONFESSOU QUE MATOU MEUS PAIS! O garoto apontava para Black, que sacudia a cabe�a devagarinho; de repente seus olhos fundos ficaram excessivamente brilhantes. � Harry... Foi o mesmo que ter matado � disse, rouco. � Convenci L�lian e Tiago a entregarem o segredo a Pedro no �ltimo instante, convenci-os a usar Pedro como fiel do segredo, em vez de mim... A culpa � minha, eu sei... Na noite em que eles morreram, eu tinha combinado de procurar Pedro para verificar se ele continuava bem, mas quando cheguei ao esconderijo ele n�o estava. Mas n�o havia sinais de luta. Achei estranho. Fiquei apavorado. Corri na mesma hora direto para a casa dos seus pais. E quando vi a casa destru�da e os corpos deles... Percebi o que Pedro devia ter feito. O que eu tinha feito. A voz dele se partiu. Ele virou as costas. � Basta � disse Lupin, e havia um tom inflex�vel em sua voz que Harry nunca ouvira antes. � Tem uma maneira de provar o que realmente aconteceu. Rony, me d� esse rato. � Que � que o senhor vai fazer com ele se eu der? � perguntou Rony, tenso. � Obrig�-lo a se revelar � disse Lupin. � Se ele for realmente um rato, n�o se machucar�. Rony hesitou. Ent�o, finalmente estendeu a m�o e entregou Perebas a Lupin. O rato come�ou a guinchar sem parar, se contorcendo, os olhinhos negros saltando das �rbitas. � Est� pronto, Sirius? � perguntou Lupin. Black j� apanhara a varinha de Snape na cama. Aproximou-se de Lupin e do rato que se debatia e seus olhos �midos pareceram, de repente, arder em seu rosto. � Juntos? � perguntou em voz baixa. � Acho melhor � confirmou Lupin, segurando Perebas apertado em uma das m�os e a varinha na outra. � Quando eu contar tr�s. UM... DOIS... TR�S! Lampejos branco-azulados irromperam das duas varinhas; por um instante, Perebas parou no ar, o corpinho cinzento revirando-se alucinadamente, Rony berrou, o rato caiu e bateu no ch�o. Seguiu-se novo lampejo ofuscante e ent�o... Foi como assistir a um filme de uma �rvore em crescimento. Surgiu uma cabe�a no ch�o; brotaram membros; um momento depois havia um homem onde antes estivera Perebas, apertando e torcendo as m�os. Bichento bufava e rosnava na cama; os pelos das costas eri�ados. Era um homem muito baixo, quase do tamanho de Harry e Hermione. Seus cabelos finos e descoloridos estavam malcuidados e o cocuruto da cabe�a era careca. Tinha o aspecto fl�cido de um homem gorducho que perdera muito peso em pouco tempo. A pele estava enrugada, quase como a pelagem do Perebas, e havia um ar ratinheiro em volta do seu nariz fino e dos olhos muito mi�dos e lacrimosos. Ele olhou para os presentes, um a um, respirando raso e depressa. Harry viu seus olhos correrem para a porta e voltarem. � Ora, ora, ol�, Pedro � saudou-o Lupin educadamente, como se fosse freq�ente ratos virarem velhos colegas de escola � sua volta. � H� quanto tempo! � S... Sirius R... Remo. � At� a voz de Pettigrew lembrava um guincho. Novamente seus olhos correram para a porta. � Meus amigos... Meus velhos amigos... A varinha de Black se ergueu, mas Lupin agarrou-o pelo pulso, lan�ando-lhe um olhar de censura, depois tornou a se virar para Pettigrew, com a voz leve e displicente. � Est�vamos tendo uma conversinha, Pedro, sobre os acontecimentos da noite em que L�lian e Tiago morreram. Voc� talvez tenha perdido os detalhes enquanto guinchava na cama... � Remo � ofegou Pettigrew, e Harry observou que se formavam gotas de suor em seu rosto l�vido �, voc� n�o acredita nele, acredita...? Ele tentou me matar, Remo... � Foi o que ouvimos dizer � respondeu Lupin, mais friamente. � Eu gostaria de esclarecer algumas coisas com voc�, Pedro, se voc� quiser ter... � Ele veio tentar me matar outra vez! � guinchou Pettigrew de repente, apontando para Black, e Harry percebeu que o homem usara o dedo m�dio, porque lhe faltava o indicador. � Ele matou L�lian e Tiago e agora vai me matar tamb�m... Voc� tem que me ajudar, Remo... O rosto de Black parecia mais caveiroso que nunca ao fixar os olhos fundos em Pettigrew. � Ningu�m vai tentar mat�-lo at� resolvermos umas coisas � disse Lupin. � Resolvermos umas coisas? � guinchou Pettigrew, mais uma vez olhando desesperado para os lados, registrando as janelas pregadas e, mais uma vez, a �nica porta. � Eu sabia que ele viria atr�s de mim! Sabia que ele voltaria para me pegar! Estou esperando isso h� doze anos! � Voc� sabia que Sirius ia fugir de Azkaban? � perguntou Lupin, com a testa franzida. � Sabendo que ningu�m jamais fez isso antes? � Ele tem poderes das trevas com os quais a gente s� consegue sonhar! � gritou Pettigrew com voz aguda. � De que outro jeito fugiria de l�? Suponho que Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado tenha lhe ensinado alguns truques! Black come�ou a rir, uma risada horr�vel, sem alegria, que encheu o quarto todo. � Voldemort me ensinou alguns truques? Pettigrew se encolheu como se Black tivesse brandido um chicote contra ele. � Que foi, se apavorou de ouvir o nome do seu velho mestre? � perguntou Black. � N�o o culpo, Pedro. O pessoal dele n�o anda muito satisfeito com voc�, n�o � mesmo? � N�o sei o que voc� quer dizer com isso, Sirius... � murmurou Pettigrew, respirando mais rapidamente que nunca. Todo o seu rosto brilhava de suor agora. � Voc� n�o andou se escondendo de mim esses doze anos. Andou se escondendo dos seguidores de Voldemort. Eu soube de umas coisas em Azkaban, Pedro... Todos pensam que voc� est� morto ou j� o teriam chamado a prestar contas... Ouvi-os gritar todo o tipo de coisa durante o sono. Parece que acham que o traidor os traiu tamb�m. Voldemort foi � casa dos Potter confiando em uma informa��o sua... E Voldemort perdeu o poder l�. E nem todos os seguidores dele foram parar em Azkaban, n�o � mesmo? Ainda h� muitos por a�, esperando a hora, fingindo que reconheceram seus erros... Se chegarem, a saber, que voc� continua vivo, Pedro... � N�o sei... Do que est� falando... � respondeu Pettigrew, mais esgani�ado que nunca. Ele enxugou o rosto na manga e ergueu os olhos para Lupin. � Voc� n�o acredita nessa... Nessa loucura, Remo... � Devo admitir, Pedro, que acho dif�cil compreender por que um homem inocente iria querer passar doze anos sob a forma de um rato. � Inocente, mas apavorado! � guinchou Pettigrew. � Se os seguidores de Voldemort estivessem atr�s de mim, seria porque mandei um dos seus melhores homens para Azkaban, o espi�o, Sirius Black! O rosto de Black se contorceu. � Como � que voc� se atreve? � rosnou ele, parecendo de repente o cachorro do tamanho de um urso que ele fora h� pouco. � Eu, espi�o do Voldemort? Quando foi que andei espreitando gente mais forte e mais poderosa do que eu? Agora voc�, Pedro, jamais vou entender por que n�o reparei desde o come�o que voc� era o espi�o; voc� sempre gostou de amigos grandalh�es que o protegessem, n�o � mesmo? Voc� costumava nos acompanhar... A mim e ao Remo... E ao Tiago... Pettigrew tornou a enxugar o rosto; estava quase ofegando, sem ar. � Eu, espi�o... Voc� deve ter perdido o ju�zo... Nunca... N�o sei como pode dizer uma... � L�lian e Tiago s� fizeram de voc� o fiel do segredo porque eu sugeri � sibilou Black, t�o venenosamente que Pettigrew deu um passo atr�s. � Achei que era o plano perfeito... Um blefe... Voldemort com certeza viria atr�s de mim, jamais sonharia que os dois usariam um sujeito fraco e sem talento como voc�... Deve ter sido a hora mais sublime de sua vida infeliz quando voc� contou a Voldemort que podia lhe entregar os Potter. Pettigrew resmungava, perturbado; Harry entreouvia palavras como "extravagante" e "dem�ncia", mas n�o conseguia deixar de prestar mais aten��o � palidez do rosto de Pettigrew e ao jeito com que seus olhos continuavam a correr para as janelas e a porta. � Prof�. Lupin � disse Hermione timidamente. � Posso... Posso dizer uma coisa? � Claro, Hermione � disse Lupin cortesmente. � Bem... Perebas... Quero dizer, esse... Esse homem... Ele dormiu no quarto de Harry durante tr�s anos. Se est� trabalhando para Voc�-Sabe-Quem, como � que ele nunca tentou fazer mal a Harry antes? � Ta�! � exclamou Pettigrew com voz esgani�ada, apontando para Hermione a m�o mutilada. � Muito obrigado! Est� vendo, Remo? Nunca toquei em um fio de cabelo de Harry! Por que iria fazer isso? � Vou lhe dizer o porqu� � falou Black. � Porque voc� nunca fez nada, nem a ningu�m nem para ningu�m, sem saber o que poderia ganhar com isso. Voldemort est� foragido h� doze anos, dizem que est� semimorto. Voc� n�o ia matar bem debaixo do nariz de Alvo Dumbledore, por causa de um bruxo moribundo que perdeu todo o poder, ia? N�o, voc� ia querer ter certeza de que ele era o valent�o do col�gio antes de voltar para o lado dele, n�o ia? Por que outra raz�o voc� procurou uma fam�lia de bruxos para o acolher? Para ficar de ouvido atento �s novidades, n�o � mesmo, Pedro? Caso o seu velho protetor recuperasse a antiga for�a e fosse seguro se juntar a ele... Pettigrew abriu a boca e tornou a fech�-la v�rias vezes. Parecia ter perdido a capacidade de falar. � Hum... Sr. Black... Sirius? � disse Hermione. Black se assustou ao ouvir algu�m trat�-lo assim, com tanta polidez, e encarou Hermione como se nunca tivesse visto nada parecido. � Se o senhor n�o se importar que eu pergunte, como... Como foi que o senhor fugiu de Azkaban, se n�o usou artes das trevas? � Muito obrigado � exclamou Pettigrew, acenando freneticamente com a cabe�a na dire��o da garota. � Exatamente! Precisamente o que eu... Mas Lupin o fez calar com um olhar. Black franziu ligeiramente a testa para Hermione, mas n�o porque estivesse aborrecido com ela. Parecia estar considerando a pergunta. � N�o sei como foi que fugi � disse lentamente. � Acho que a �nica raz�o por que nunca perdi o ju�zo � porque sabia que era inocente. Isto n�o era um pensamento feliz, ent�o os dementadores n�o podiam sug�-lo de mim... Mas serviu para me manter l�cido e consciente de quem eu era... Me ajudou a conservar meus poderes quando tudo se tornava... Excessivo... Eu conseguia me transformar na cela... Virar cachorro. Os dementadores n�o conseguem enxergar, sabe... � Ele engoliu em seco. � Aproximam-se das pessoas se alimentando de suas emo��es... Eles percebiam que os meus sentimentos eram menos... Menos humanos, menos complexos quando eu era cachorro... Mas achavam, � claro, que eu estava perdendo o ju�zo como todos os prisioneiros de l�, por isso n�o se incomodavam. Mas eu fiquei fraco, muito fraco, e n�o tinha esperan�a de afast�-los sem uma varinha... Mas, ent�o, vi Pedro naquela foto... E compreendi que ele estava em Hogwarts com Harry... Perfeitamente colocado para agir, se lhe chegasse a menor not�cia de que o partido das trevas estava reunindo for�as novamente... Pettigrew sacudia a cabe�a, murmurando em sil�ncio, mas todo o tempo seus olhos se fixavam em Black como se estivesse hipnotizado. � ... Pronto para atacar no momento em que se certificasse de que contava com aliados... E para entregar o �ltimo Potter. Se lhes entregasse Harry, quem se atreveria a dizer que tra�ra Lord Voldemort? Pedro seria recebido de volta com todas as honras... Ent�o, entendem, eu tinha que fazer alguma coisa. Era o �nico que sabia que ele continuava vivo... Harry se lembrou do que o Sr. Weasley contara � mulher: "Os guardas dizem que ele anda falando durante o sono... sempre as mesmas palavras... Ele est� em Hogwarts�. � Era como se algu�m tivesse acendido uma fogueira na minha cabe�a, e os dementadores n�o pudessem destru�-la... N�o era um pensamento feliz... Era uma obsess�o... Mas isso me deu for�as, clareou minha mente. Ent�o, uma noite quando abriram a porta para me trazer comida, eu passei por eles em forma de cachorro... Para eles � t�o dif�cil perceberem emo��es animais que ficaram confusos... Eu estava magro, muito magro... O bastante para passar entre as grades... Ainda como cachorro nadei at� a costa... Viajei para o norte e entrei escondido nos terrenos de Hogwarts, como cachorro. Desde ent�o vivi na floresta, exceto nas horas em que sa�a para assistir ao Quadribol, � claro. Voc� voa bem como o seu pai, Harry... Black se virou para o garoto, que n�o evitou seu olhar. � Acredite-me � disse, rouco. � Acredite-me, Harry. Nunca tra� Tiago e L�lian. Teria preferido morrer a tra�-los. E, finalmente, Harry acreditou. A garganta apertada demais para falar, fez um aceno afirmativo com a cabe�a. � N�o! Pettigrew ca�ra de joelhos como se o aceno de Harry fosse a sua senten�a de morte. Arrastou-se de joelhos, humilhou-se, as m�os juntas diante do peito como se rezasse. � Sirius... Sou eu... Pedro... Seu amigo... Voc� n�o... Black deu um chute no ar e Pettigrew se encolheu. � J� tem sujeira suficiente nas minhas vestes sem voc� tocar nelas � exclamou Black. � Remo! � esgani�ou-se Pettigrew, virando-se para Lupin, implorando com as m�os e os joelhos no ch�o. � Voc� n�o acredita nisso... Sirius n�o teria lhe contado se eles tivessem mudado os planos? � N�o, se pensasse que eu era o espi�o, Pedro. Presumo que foi por isso que voc� n�o me contou, Sirius? � perguntou ele, pouco interessado, por cima da cabe�a de Pettigrew. � Me perdoe, Remo � disse Black. � Tudo bem, Almofadinhas, meu velho amigo � respondeu Lupin, que agora enrolava as mangas das vestes. � E voc� me perdoa por acreditar que voc� fosse o espi�o? � Claro. � E a sombra de um sorriso perpassou o rosto ossudo de Black. Ele, tamb�m, come�ou a enrolar as mangas. � Vamos mat�-lo juntos? � Acho que sim � concordou Lupin sombriamente. � Voc�s n�o me matariam... N�o v�o me matar... � exclamou Pettigrew. � E correu para Rony. � Rony... Eu n�o fui um bom amigo... Um bom bichinho? Voc� n�o vai deix�-los me matarem, Rony, vai... Voc� est� do meu lado, n�o est�? Mas Rony olhava Pettigrew com absoluto nojo. � Eu deixei voc� dormir na minha cama! � exclamou ele. � Bom garoto... Bom dono... � Pettigrew se arrastou at� Rony � voc� n�o vai deix�-los fazerem isso... Eu fui o seu rato... Fui um bom bicho de estima��o... � Se voc� foi um rato melhor do que foi um homem, n�o � coisa para se gabar, Pedro � disse Black com aspereza. Rony, empalidecendo ainda mais de dor, puxou a perna quebrada para longe do alcance de Pettigrew. Ainda de joelhos, este se virou e cambaleou para frente, agarrando a bainha das vestes de Hermione. � Garota meiga... Garota inteligente... Voc�... Voc� n�o vai deixar que eles... Me ajude. Hermione puxou as vestes para longe das m�os de Pettigrew e recuou contra a parede, horrorizada. Pettigrew continuou ajoelhado, tremendo descontroladamente, e foi virando lentamente a cabe�a para Harry. � Harry... Harry... Voc� � igualzinho ao seu pai... Igualzinho... � COMO � QUE VOC� SE ATREVE A FALAR COM HARRY? � rugiu Black. � COMO TEM CORAGEM DE OLHAR PARA ELE? COMO TEM CORAGEM DE FALAR DE TIAGO NA FRENTE DELE? � Harry � sussurrou Pettigrew, arrastando-se em dire��o ao garoto, com as m�os estendidas. � Harry, Tiago n�o iria querer que eles me matassem... Tiago teria compreendido, Harry... Teria tido piedade... Black e Lupin avan�aram ao mesmo tempo, agarraram Pettigrew pelos ombros e o atiraram de costas no ch�o, O homem ficou ali, contorcendo-se de terror, olhando fixamente para os dois. � Voc� vendeu L�lian e Tiago a Voldemort � disse Black, que tamb�m tremia. � Voc� nega isso? Pettigrew prorrompeu em l�grimas. A cena era terr�vel, ele parecia um bebez�o careca, encolhendo-se. � Sirius, Sirius, o que � que eu podia ter feito? O Lord das Trevas... Voc� n�o faz id�ia... Ele tem armas que voc� n�o imagina... Tive medo, Sirius, eu nunca fui corajoso como voc�, Remo e Tiago. Eu nunca desejei que isso acontecesse... Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado me for�ou... � N�O MINTA! � berrou Black. � VOC� ANDOU PASSANDO INFORMA��ES PARA ELE DURANTE UM ANO ANTES DE LILIAN E TIAGO MORREREM! VOC� ERA ESPIAO DELE! -Ele estava assumindo o poder em toda parte! � exclamou Pettigrew. � Que � que eu tinha a ganhar recusando o que me pedia? � Que � que voc� tinha a ganhar lutando contra o bruxo mais maligno que j� existiu? � perguntou Black, com uma terr�vel express�o de f�ria no rosto. � Apenas vidas inocentes, Pedro! � Voc� n�o entende! � choramingou Pettigrew. � Ele teria me matado, Sirius! � ENT�O VOC� DEVIA TER MORRIDO! � rugiu Black. � MORRER EM VEZ DE TRAIR SEUS AMIGOS! COMO TER�AMOS FEITO POR VOC�! Black e Lupin estavam ombro a ombro, as varinhas erguidas. � Voc� devia ter percebido � disse Lupin com a voz controlada �, que se Voldemort n�o o matasse, n�s o matar�amos. Adeus, Pedro. Hermione cobriu o rosto com as m�os e se virou para a parede. � N�O! � berrou Harry. E se adiantou, colocando-se entre Pettigrew e as varinhas. � Voc�s n�o podem mat�-lo � disse afobado. � N�o podem. Black e Lupin fizeram cara de espanto. � Harry esse verme � a raz�o por que voc� n�o tem pais � rosnou Black. � Esse covard�o teria olhado voc� morrer, sem levantar um dedo. Voc� ouviu o que ele disse. Dava mais valor � pele nojenta do que a toda sua fam�lia. � Eu sei � ofegou Harry. � Vamos levar Pedro at� o castelo. Vamos entregar ele aos dementadores. Ele pode ir para Azkaban... Mas n�o o matem. � Harry! � exclamou Pettigrew, e atirou os bra�os em torno dos joelhos de Harry. � Voc�... Obrigado... � mais do que eu mere�o... Obrigado... � Tire as m�os de cima de mim � vociferou Harry empurrando as m�os de Pettigrew, enojado. � N�o estou fazendo isso por voc�. Estou fazendo isso porque acho que meu pai n�o ia querer que os melhores amigos dele virassem assassinos... Por sua causa. Ningu�m se mexeu nem fez qualquer ru�do exceto Pettigrew, cuja respira��o sa�a em arquejos, e ele levava as m�os ao peito. Black e Lupin se entreolharam. Ent�o, com um �nico movimento, baixaram as varinhas. � Voc� � a �nica pessoa que tem o direito de decidir, Harry � disse Black. � Mas pense... Pense no que ele fez... � Ele pode ir para Azkaban � repetiu Harry. � Se algu�m merece aquele lugar � ele... Pettigrew continuava a arquejar �s costas do garoto. � Muito bem � disse Lupin. � Saia da frente, ent�o. Harry hesitou. � Vou amarr�-lo � disse Lupin. � S� isso, juro. Harry saiu do caminho. Cordas finas sa�ram da varinha de Lupin, desta vez, e no momento seguinte Pettigrew estava se revirando no ch�o, amarrado e amorda�ado. � Mas se voc� se transformar, Pedro � rosnou Black, a varinha tamb�m apontada para Pettigrew �, n�s o mataremos. Concorda, Harry? Harry olhou a figura lastim�vel no ch�o e concordou com a cabe�a de modo que Pettigrew pudesse v�-lo. � Certo � disse Lupin, subitamente eficiente. � Rony, n�o sei consertar ossos t�o bem quanto Madame Pomfrey, por isso acho melhor s� imobilizar sua perna ate o entregarmos na ala hospitalar. Ele foi at� Rony, se abaixou, tocou a perna dele com a varinha e murmurou: � F�rula! � Ataduras se enrolaram � perna de Rony e a prenderam firmemente a uma tala. Depois, o professor ajudou o garoto a se levantar; Rony, desajeitado, apoiou no ch�o o peso da perna e n�o fez careta. � Est� melhor. Obrigado. � E o Prof�. Snape? � perguntou Hermione com a voz fraquinha, contemplando o professor encostado � parede. � Ele n�o tem nenhum problema s�rio � disse Lupin se curvando para Snape e tomando seu pulso. � Voc�s s� se entusiasmaram um pouquinho demais. Continua desacordado. Hum... Talvez seja melhor n�o o reanimarmos at� estar a salvo no castelo. Podemos lev�-lo assim... Lupin murmurou: � Mobilicorpus!� Como se fios invis�veis tivessem sido amarrados aos pulsos, pesco�o e joelhos de Snape, ele foi posto de p�, a cabe�a pendendo molemente, como a de um t�tere grotesco. Ele flutuava a alguns cent�metros do ch�o, os p�s frouxos sacudindo. Lupin apanhou a Capa da Invisibilidade e guardou-a em seguran�a no bolso. � E dois de n�s devemos nos acorrentar a essa coisa � disse Black, cutucando Pettigrew com o p�. � S� para garantir. � Eu fa�o isso � disse Lupin. � E eu � disse Rony decidido, mancando at� o prisioneiro. Black conjurou pesadas algemas do nada; e logo Pettigrew estava novamente de p�, o bra�o esquerdo preso ao direito de Lupin, o direito preso ao esquerdo de Rony. O garoto estava muito s�rio. Parecia ter tomado a verdadeira identidade de Perebas como uma ofensa pessoal. Bichento saltou com leveza da cama e abriu caminho para fora do quarto, o rabo de escovinha elegantemente erguido no ar. CAP�TULO VINTE O Beijo do Dementador Harry nunca fizera parte de um grupo t�o esquisito. Bichento descia as escadas � frente; Lupin, Pettigrew e Rony vinham a seguir, parecendo competidores de uma corrida de seis pernas. Depois vinha o Prof�. Snape, flutuando feito um fantasma, os p�s batendo em cada degrau que descia, seguro por sua pr�pria varinha, que Sirius apontava para ele. Harry e Hermione fechavam o cortejo. Voltar ao t�nel foi dif�cil. Lupin, Pettigrew e Rony tiveram que se virar de lado para consegui-lo; Lupin continuava a cobrir Pettigrew com a varinha. Harry os via avan�ar lentamente pelo t�nel em fila indiana. Bichento sempre � frente. Harry logo atr�s de Black, que continuava a fazer Snape flutuar � frente com a cabe�a mole batendo sem parar no teto baixo. O menino tinha a impress�o de que Black n�o estava fazendo nada para evitar as batidas. � Voc� sabe o que isso significa? � perguntou Black abruptamente a Harry enquanto faziam seu lento progresso pelo t�nel. � Entregar Pettigrew? � Voc� fica livre... � respondeu Harry. � �. Mas eu tamb�m sou, n�o sei se algu�m lhe disse, eu sou seu padrinho. � Eu soube � disse Harry. � Bem... Os seus pais me nomearam seu tutor � disse Black formalmente. � Se alguma coisa acontecesse a eles... Harry esperou. Ser� que Black queria dizer o que ele achava que queria? � Naturalmente, eu vou compreender se voc� quiser ficar com seus tios � disse Black. � Mas... Bem... Pense nisso. Depois que o meu nome estiver limpo... Se voc� quiser uma... Uma casa diferente... Uma esp�cie de explos�o ocorreu no fundo do est�mago de Harry. � Qu�, morar com voc�? � perguntou, batendo a cabe�a, sem querer, numa pedra saliente do teto. � Deixar a casa dos Dursley? � Claro, achei que voc� n�o ia querer � disse Black apressadamente. � Eu compreendo, s� pensei que... � Voc� ficou maluco? � disse Harry com a voz quase t�o rouca quanto � de Black. � Claro que quero deixar a casa dos Dursley! Voc� tem casa? Quando � que eu posso me mudar? Black virou-se completamente para olhar o garoto; a cabe�a de Snape raspou o teto, mas Black n�o parecia se importar. � Voc� quer? � perguntou ele. � S�rio? � S�rio! � respondeu Harry. O rosto ossudo de Black se abriu no primeiro sorriso verdadeiro que Harry j� o tinha visto dar. A diferen�a que fazia era espantosa, como se uma pessoa dez anos mais nova se projetasse atrav�s da m�scara de fome; por um instante ele se tornou reconhec�vel como o homem que estava rindo no casamento dos pais de Harry. Os dois n�o se falaram mais at� chegar ao fim do t�nel. Bichento saiu correndo � frente; evidentemente apertara o n� do tronco com a pata, porque Lupin, Pettigrew e Rony subiram penosamente, mas n�o houve ru�dos de galhos ferozes. Black fez Snape passar pelo buraco, depois se afastou para Harry e Hermione passarem. Finalmente todos conseguiram sair. Os jardins estavam muito escuros agora; as �nicas luzes vinham das janelas distantes do castelo. Sem dizer uma palavra, eles come�aram a andar. Pettigrew continuava a arquejar e, ocasionalmente, a choramingar. A cabe�a de Harry zumbia. Ele ia deixar os Dursley. Ia morar com Sirius Black, o melhor amigo dos seus pais... Sentia-se atordoado... Que iria acontecer quando dissesse aos Dursley que ia morar com o preso que tinham visto na televis�o! � Um movimento errado, Pedro � amea�ou Lupin que ia � frente. Sua varinha continuava apontada de vi�s para o peito de Pettigrew. Em sil�ncio eles avan�aram pelos jardins, as luzes do castelo crescendo com a aproxima��o. Snape continuava a flutuar de maneira fantasmag�rica � frente de Black, o queixo batendo no peito. Ent�o... Uma nuvem se mexeu. Inesperadamente surgiram sombras escuras no ch�o. O grupo foi banhado pelo luar. Snape se chocou com Lupin, Pettigrew e Rony, que pararam abruptamente. Black congelou. Ele esticou um bra�o para fazer Harry e Hermione pararem. O garoto viu a silhueta de Lupin. O professor enrijecera. Ent�o as pernas de Harry come�aram a tremer. � Ah, n�o! � exclamou Hermione. � Ele n�o tomou a po��o hoje � noite. Ele est� perigoso! � Corram � sussurrou Black. � Corram. Agora. Mas Harry n�o podia correr. Rony estava acorrentado a Pettigrew e Lupin. Ele deu um salto para frente, mas Black o abra�ou pelo peito e o atirou para tr�s. � Deixe-o comigo... CORRA! Ouviu-se um rosnado medonho. A cabe�a de Lupin come�ou a se alongar. O seu corpo tamb�m. Os ombros se encurvaram. Pelos brotavam visivelmente de seu rosto e suas m�os, que se fechavam transformando-se em patas com garras. Os p�los de Bichento ficaram outra vez em p� e ele estava recuando... Quando o Lobisomen se empinou, batendo as longas mand�bulas, Sirius desapareceu do lado de Harry. Transformara-se. O enorme c�o semelhante a um urso saltou para frente. Quando o Lobisomen se livrou da algema que o prendia, o c�o agarrou-o pelo pesco�o e puxou-o para tr�s, afastando-o de Rony e Pettigrew. Atracaram-se, mand�bula contra mand�bula, as garras se golpeando... Harry parou petrificado com a vis�o, demasiado absorto com a batalha para prestar aten��o em outra coisa. Foi o grito de Hermione que o alertou... Pettigrew tinha mergulhado para apanhar a varinha ca�da de Lupin. Rony, mal equilibrado na perna enfaixada, caiu. Houve um estampido, um clar�o... e Rony ficou estirado, im�vel, no ch�o. Outro estampido... Bichento voou pelo ar e tornou a cair na terra fofa. � Expelliarmus! � berrou Harry apontando a pr�pria varinha para Pettigrew; a varinha de Lupin voou muito alto e desapareceu de vista. � Fique onde est�! � gritou Harry, correndo em frente. Tarde demais. Pettigrew se transformara. Harry viu seu rabo pelado passar pela algema no bra�o estendido de Rony e o ouviu correr pelo gramado. Um uivo e um rosnado prolongado e surdo ecoaram; Harry se virou e viu o Lobisomen fugindo; galopando para a floresta... � Sirius, ele fugiu, Pettigrew se transformou � berrou Harry. Black sangrava; havia cortes profundos em seu focinho e nas costas, mas ao ouvir as palavras de Harry ele tornou a se levantar depressa e, num instante, o ru�do de suas patas foi morrendo at� cessar ao longe. Harry e Hermione correram para Rony. � Que foi que Pettigrew fez com ele? � sussurrou Hermione. Os olhos de Rony estavam apenas semicerrados, a boca frouxa e aberta; sem d�vida, estava vivo, eles o ouviam respirar, mas n�o parecia reconhecer os amigos. � N�o sei. Harry olhou desesperado para os lados. Black e Lupin, os dois tinham ido embora... N�o havia mais nenhum adulto em sua companhia exceto Snape, que ainda flutuava, inconsciente, no ar. � � melhor levarmos os dois para o castelo e contarmos a algu�m � disse Harry, afastando os cabelos dos olhos, tentando pensar direito. � Vamos... Mas ent�o, para al�m do seu campo de vis�o, eles ouviram latidos, um ganido; um cachorro em sofrimento... � Sirius � murmurou Harry, olhando para o escuro. Ele teve um momento de indecis�o, mas n�o havia nada que pudessem fazer por Rony naquele momento, e pelo que ouviam, Black estava em apuros... Harry saiu correndo, Hermione em seu encal�o. Os latidos pareciam vir da �rea pr�xima ao lago. Eles sa�ram desabalados naquela dire��o, e Harry, correndo sem parar, sentiu o frio sem perceber o que devia significar... Os latidos pararam abruptamente. Quando os garotos chegaram ao lago viram o porqu� Sirius se transformara outra vez em homem. Estava ca�do de quatro, com as m�os na cabe�a. � N���o � gemia �, N���o... Por favor.. Ent�o Harry os viu. Dementadores, no m�nimo uns cem deles, deslizando em torno do lago num grupo escuro que vinha em sua dire��o. O menino se virou, o frio de gelo seu conhecido, penetrando suas entranhas, a n�voa come�ando a obscurecer sua vis�o; eles n�o estavam somente surgindo da escurid�o por todo o lado; estavam cercando-os... � Hermione, pense em alguma coisa feliz! � berrou Harry, erguendo a varinha, piscando furiosamente para tentar clarear sua vis�o, sacudindo a cabe�a para livr�-la da leve gritaria que come�ara dentro dela... �Eu vou morar com o meu padrinho. Vou deixar os Dursley�. Ele se for�ou a pensar em Black, e somente em Black, e come�ou a cantar: � Expecto Patronum! Expecteto Patronum! Black estremeceu, rolou de barriga para cima e ficou im�vel no ch�o, p�lido como a morte. �Ele vai ficar bem. Eu vou morar com ele�. � Expecto Patronum! Hermione, me ajude! Expecto Patronum... � Expecto... � murmurou Hermione � Expecto... Expecto... Mas ela n�o conseguia. Os dementadores estavam mais pr�ximos, agora a menos de tr�s metros deles. Formavam uma muralha s�lida em torno de Harry e Hermione, cada vez mais pr�ximos... � EXPECTO PATRONUM! � berrou Harry, tentando abafar a gritaria em seus ouvidos. � EXPECTO PATRONUM! Um fiapinho prateado saiu de sua varinha e pairou como uma n�voa diante dele. No mesmo instante, Harry sentiu Hermione desmaiar ao seu lado. Estava s�... Completamente s�... � Expecto... Expecto Patronum... Harry sentiu os joelhos baterem na grama fria. O nevoeiro nublou seus olhos. Com um enorme esfor�o, ele lutou para se lembrar... Sirius era inocente... Inocente... �Ele vai ficar bem... Eu vou morar com ele...� � Expecto Patronum! � exclamou. � luz fraca do seu Patrono disforme, ele viu um dementador parar, muito perto dele. N�o conseguiu atravessar a nuvem de n�voa prateada que Harry conjurara. A m�o morta e viscosa deslizou para fora da capa. Ela fez um gesto como se quisesse varrer o Patrono para o lado. � N�o... N�o... � ofegou Harry. � Ele � inocente... Expecto... Expecto Patronum... Ele sentia que os dementadores o observavam, ouvia a respira��o deles vibrar como um vento maligno ao seu redor, O dementador mais pr�ximo parecia estar avaliando-o. Ent�o ergueu as duas m�os podres... E baixou o capuz para tr�s. Onde devia haver olhos, havia apenas uma pele sarnenta e cinza, esticada por cima das �rbitas vazias. Mas havia uma boca... Um buraco escancarado e disforme, que sugava o ar com o ru�do de uma matraca que anuncia a morte. Um terror paralisante invadiu Harry de modo que ele n�o conseguia se mexer nem falar. Seu Patrono piscou e desapareceu. O nevoeiro branco o cegava. Ele tinha que lutar... � Expecto Patronum... Ele n�o conseguia ver... Ao longe ouvia os gritos j� familiares... � Expecto Patronum... Ele tateou pela n�voa � procura de Sirius, e encontrou seu bra�o... Os dementadores n�o iam lev�-lo... Mas um par de m�os pegajosas e fortes, de repente, se fechou em torno do pesco�o de Harry. For�avam-no a erguer o rosto... Ele sentiu seu h�lito... Ia se livrar dele primeiro... Harry sentiu seu h�lito podre... Sua m�e gritava em seus ouvidos... Ia ser a �ltima coisa que ele ouviria... E ent�o, atrav�s do nevoeiro que o afogava, ele achou que estava vendo uma luz prateada que se tornava cada vez mais forte... Ele sentiu que estava emborcando na grama... O rosto no ch�o, demasiado fraco para se mexer, nauseado e tr�mulo, Harry abriu os olhos. O dementador devia t�-lo soltado. A luz ofuscante iluminava o gramado a seu redor... Os gritos tinham cessado, o frio estava diminuindo... Alguma coisa estava obrigando os dementadores a recuar... Girava em torno dele, de Black e Hermione... Os dementadores estavam se afastando... O ar reaquecia... Com cada grama de for�a que ele conseguiu reunir, Harry ergueu a cabe�a uns poucos cent�metros e viu um animal envolto em luz, distanciando-se a galope atrav�s do lago. Os olhos emba�ados de suor, Harry tentou distinguir o que era... Era fulgurante como um unic�rnio. Lutando para se manter consciente, viu-o diminuir o galope ao chegar � margem oposta do lago. Por um momento, Harry viu, � sua claridade, algu�m que lhe dava as boas-vindas... Erguendo a m�o para lhe dar uma palmadinha... Algu�m que lhe pareceu estranhamente familiar... Mas n�o podia ser.. Harry n�o entendeu. N�o conseguiu mais pensar. Sentiu que suas �ltimas for�as o abandonavam e sua cabe�a bateu no ch�o quando ele desmaiou. CAP�TULO VINTE E UM O Segredo de Hermione � Uma hist�ria chocante... Chocante... Milagre que ningu�m tenha morrido... Nunca ouvi nada igual... Pelo trov�o, foi uma sorte voc� estar l�, Snape... � Muito obrigado, ministro. � Ordem de Merlim, Segunda Classe, eu diria. Primeira Classe, se eu puder convenc�-los. � Muito obrigado mesmo, ministro. � Que corte feio voc� tem a�... Obra do Black, suponho? � Na realidade, foram Potter, Weasley e Granger, ministro... Black havia enfeiti�ado os garotos, vi imediatamente. Um feiti�o Confundus, a julgar pelo comportamento deles. Pareciam acreditar que havia possibilidade de o homem ser inocente. N�o foram respons�veis por seus atos. Por outro lado, a interfer�ncia deles talvez tivesse permitido a Black fugir... Os garotos obviamente pensaram que iam captur�-lo sozinhos. T�m-se livrado de muitas situa��es de perigo at� agora... Receio que isso os tenha feito se acharem superiores... E, naturalmente, Potter sempre recebeu uma extraordin�ria indulg�ncia do diretor.. � Ah, bom, Snape... Harry Potter, sabe... Todos somos um pouco cegos quando se trata dele. � Contudo... Ser� que � bom para ele receber tanto tratamento especial? Por mim, procuro trat�-lo como qualquer outro aluno. E qualquer outro aluno seria suspenso, no m�nimo, por colocar seus amigos em situa��o t�o perigosa. Considere, ministro: contrariando todas as regras da escola... Depois de todas as precau��es que tomamos para sua prote��o... Fora dos limites da escola, � noite, em companhia de um Lobisomem e de um assassino... E tenho raz�es para acreditar que ele andou visitando Hogsmeade ilegalmente, tamb�m... � Bem, bem... Veremos, Snape, veremos... O garoto sem d�vida foi tolo... Harry estava deitado com os olhos bem fechados. Sentia-se muito tonto. As palavras que ouvia pareciam viajar muito lentamente dos ouvidos para o c�rebro, por isso estava dif�cil compreender. Suas pernas e bra�os pareciam feitos de chumbo; as p�lpebras demasiado pesadas para abri-las... Ele queria ficar deitado ali, naquela cama confort�vel, para sempre... � O que mais me surpreende � o comportamento dos dementadores... Voc� realmente n�o tem id�ia do que os fez se retirar, Snape? � N�o, ministro... Quando recuperei os sentidos eles estavam voltando aos seus postos na entrada... � Extraordin�rio. E, no entanto, Black, Harry e a garota... � Todos inconscientes quando cheguei. Amarrei e amordacei Black, naturalmente, conjurei macas e os trouxe diretamente para o castelo. Houve uma pausa. O c�rebro de Harry parecia estar trabalhando um pouco mais r�pido e, quando isso aconteceu, surgiu uma sensa��o desagrad�vel na boca do seu est�mago... O garoto abriu os olhos. Tudo estava levemente emba�ado. Algu�m tirara seus �culos. Ele estava deitado na escura ala hospitalar. Em um extremo da enfermaria, avistou Madame Pomfrey de costas para ele, curvada sobre um leito. Harry apertou os olhos. Os cabelos ruivos de Rony estavam vis�veis por baixo do bra�o de Madame Pomfrey. Harry virou a cabe�a no travesseiro. Na cama � sua direita estava Hermione. O luar banhava a cama. Os olhos dela tamb�m estavam abertos. Parecia petrificada e, quando viu que Harry estava acordado, levou o dedo aos l�bios e apontou para a porta da enfermaria. Estava entreaberta, e entravam por ela as vozes de Corn�lio Fudge e Snape, vindas do corredor. Madame Pomfrey agora vinha andando com passos en�rgicos pela enfermaria escura at� a cama de Harry. O garoto se virou para olh�-la. A enfermeira trazia a maior barra de chocolate que ele j� vira na vida. Parecia um pedregulho. � Ah, voc� acordou! � disse ela com anima��o. Pousou o chocolate na mesa-de-cabeceira de Harry e come�ou a parti-lo em peda�os com um martelinho. � Como est� o Rony? � perguntaram Harry e Hermione, juntos. � Vai sobreviver � respondeu Madame Pomfrey de cara feia. � Quanto a voc�s dois... V�o continuar aqui at� eu me convencer que... Potter o que � que voc� acha que est� fazendo? O garoto estava se sentando, colocando os �culos e apanhando a varinha. � Preciso ver o diretor � disse. � Potter � disse Madame Pomfrey, acalmando-o �, est� tudo bem. Apanharam Black. Ele est� trancado l� em cima. Os dementadores v�o-lhe dar o beijo a qualquer momento... -O QUE? Harry saltou da cama; Hermione fizera o mesmo. Mas o seu grito fora ouvido no corredor l� fora; no segundo seguinte, Corn�lio Fudge e Snape entraram na enfermaria. � Harry, Harry que foi que houve? � perguntou Fudge, parecendo agitado. � Voc� devia estar na cama, ele j� comeu o chocolate? � perguntou, ansioso, o ministro a Madame Pomfrey. � Ministro ou�a! � pediu Harry. � Sirius Black � inocente! Pedro Pettigrew fingiu a pr�pria morte! N�s o vimos hoje � noite. O senhor n�o pode deixar os dementadores fazerem aquilo com Sirius, ele... Mas Fudge estava sacudindo a cabe�a com um sorrizinho no rosto. � Harry, Harry voc� est� muito confuso, passou por uma prova��o terr�vel, deite-se, agora, temos tudo sob controle... � O SENHOR N�O TEM, N�O! � berrou Harry. � O SENHOR PEGOU O HOMEM ERRADO! � Ministro, por favor, ou�a � disse Hermione; ela correra para o lado de Harry e olhava, suplicante, o rosto de Fudge. � Eu tamb�m o vi. Era o rato de Rony, ele � um Animago. O Pettigrew, quero dizer e... � O senhor est� vendo, ministro � disse Snape. � Confusos, os dois... Black fez um bom servi�o... � N�O ESTAMOS CONFUSOS! � berrou Harry. � Ministro! Professor! � disse Madame Pomfrey aborrecida. � Devo insistir que os senhores saiam. Potter � meu paciente e n�o deve ser angustiado! � N�o estou angustiado, estou tentando contar o que aconteceu! � disse Harry furioso. � Se eles ao menos me escutassem... Mas Madame Pomfrey, de repente, meteu um peda�o de chocolate na boca de Harry; ele se engasgou, e a enfermeira aproveitou a oportunidade para for��-lo a voltar para a cama. � Agora, por favor, ministro, essas crian�as precisam de cuidados m�dicos. Por favor, saiam... A porta tornou a se abrir. Era Dumbledore. Harry engoliu o bocado de chocolate com grande dificuldade e se levantou outra vez. � Prof�. Dumbledore, Sirius Black... � Pelo amor de Deus! � exclamou Madame Pomfrey, hist�rica. Isto � ou n�o � uma ala hospitalar? Diretor, eu devo insistir... � Eu pe�o desculpas, Papoula, mas preciso dar uma palavra com o Sr. Potter e a Srta. Granger � disse Dumbledore calmamente. � Acabei de falar com Sirius Black... � Suponho que ele tenha lhe narrado o mesmo conto de fadas que implantou na mente de Potter? � bufou Snape. � A hist�ria de um rato e de Pettigrew ter sobrevivido... � Esta, de fato, � a hist�ria de Black � disse Dumbledore, examinando Snape atentamente atrav�s dos seus �culos de meia-lua. � E o meu testemunho n�o vale nada? � rosnou Snape. � Pedro Pettigrew n�o estava na Casa dos Gritos, nem vi qualquer sinal dele nos terrenos da escola. � Isto foi porque o senhor foi nocauteado, professor! � disse Hermione com convic��o. � O senhor n�o chegou em tempo de ouvir... � Srta. Granger, CALE A BOCA! � Ora, Snape � disse Fudge, espantado �, a mocinha est� perturbada, precisamos dar o devido desconto... � Eu gostaria de falar com Harry e Hermione a s�s � disse Dumbledore bruscamente. � Corn�lio, Severo, Papoula � por favor, nos deixem. � Diretor! � repetiu Madame Pomfrey com veem�ncia. � Eles precisam de tratamento, eles precisam de descanso... � Isto n�o pode esperar � disse Dumbledore. � Devo insistir. Madame Pomfrey mordeu os l�bios e saiu em dire��o � sua sala, na extremidade da enfermaria, batendo a porta ao passar. Fudge consultou o grande rel�gio de ouro que trazia pendurado no colete. � A esta hora os dementadores j� devem ter chegado � disse. � Vou ao encontro deles. Dumbledore, vejo voc� l� em cima. O ministro se dirigiu � porta e a segurou aberta para Snape passar, mas o professor n�o se mexeu. � O senhor certamente n�o acredita em uma palavra da hist�ria de Black? � sussurrou Snape, os olhos fixos no rosto de Dumbledore. � Eu gostaria de falar com Harry e Hermione a s�s � repetiu Dumbledore. Snape deu um passo em dire��o ao diretor. � Sirius Black demonstrou que era capaz de matar com a idade de dezesseis anos. O senhor se esqueceu disto, diretor? O senhor se esqueceu que no passado ele tentou me matar? � Minha mem�ria continua boa como sempre, Severo � disse Dumbledore, em voz baixa. Snape girou nos calcanhares e saiu decidido pela porta que Fudge ainda segurava aberta. A porta se fechou � passagem dos dois e o diretor se virou para Harry e Hermione. Os dois desataram a falar ao mesmo tempo. � Professor, Black est� dizendo a verdade, n�s vimos Pettigrew... � Ele fugiu quando o Prof�. Lupin virou Lobisomen... � Ele � um rato... � A pata dianteira de Pettigrew, quero dizer, o dedo, ele cortou fora... � Pettigrew atacou Rony, n�o foi Sirius... Mas Dumbledore ergueu a m�o para interromper o dil�vio de explica��es. � � a vez de voc�s ouvirem, e pe�o que n�o me interrompam, porque o tempo � muito curto � disse Dumbledore em voz baixa. � N�o existe a m�nima evid�ncia para sustentar a hist�ria de Black, exceto a palavra de voc�s... E a palavra de dois bruxos de treze anos n�o ir� convencer ningu�m. Uma rua cheia de testemunhas jurou que viu Sirius matar Pettigrew. Eu mesmo prestei depoimento ao minist�rio que Sirius era o fiel do segredo dos Potter. � O Prof�. Lupin pode lhe contar... � falou Harry, incapaz de se refrear. � O Prof�. Lupin no momento est� embrenhado na floresta, incapaz de contar o que quer que seja a algu�m. Quando voltar � forma humana, ser� tarde demais, Sirius estar� mais do que morto. E eu poderia acrescentar que a maioria do nosso povo desconfia tanto de Lobisomens que o apoio dele contar� muito pouco... E o fato de que ele e Sirius s�o velhos amigos... � Mas... � Ou�a, Harry. � tarde demais, voc� entende? Voc� precisa admitir que a vers�o do Prof�. Snape sobre os acontecimentos � muito mais convincente do que a sua. � Ele odeia Sirius � disse Hermione, desesperada. � Tudo por causa de uma pe�a idiota que Sirius pregou nele... � Sirius n�o agiu como um homem inocente. O ataque � Mulher Gorda... A entrada na Torre da Grifin�ria com uma faca... Sem Pettigrew, vivo ou morto, n�o temos chance de derrubar a senten�a de Sirius. � Mas o senhor acredita em n�s. � Acredito � respondeu Dumbledore em voz baixa. � Mas n�o tenho o poder de fazer os outros verem a verdade, nem de passar por cima do Ministro da Magia... Harry encarou seu rosto s�rio e sentiu como se o ch�o estivesse se abrindo debaixo dos seus p�s. Acostumara-se � id�ia de que Dumbledore podia resolver qualquer coisa. Esperara que o diretor tirasse alguma solu��o surpreendente do nada. Mas n�o... A �ltima esperan�a dos garotos desaparecera. � Precisamos � disse Dumbledore lentamente, e seus claros olhos azuis correram de Harry para Hermione � � de mais tempo. � Mas... � come�ou Hermione. Ent�o seus olhos se arregalaram. � AH! � Agora, prestem aten��o � continuou o diretor, falando muito baixo e muito claramente. � Sirius est� preso na sala do Prof�. Flitwick no s�timo andar. A d�cima terceira janela a contar da direita da Torre Oeste. Se tudo der certo, voc�s poder�o salvar mais de uma vida inocente hoje � noite. Mas lembrem-se de uma coisa, os dois: voc�s n�o podem ser vistos. Srta. Granger, a senhorita conhece as leis, sabe o que est� em jogo... Voc�s... N�o... Podem... Ser... Vistos. Harry n�o tinha a menor id�ia do que estava acontecendo. Dumbledore deu as costas aos garotos e virou-se para olh�-los ao chegar � porta. � Vou tranc�-los. Faltam... � ele consultou o rel�gio � cinco minutos para a meia-noite. Srta. Granger, tr�s voltas devem bastar. Boa sorte. � Boa sorte? � repetiu Harry quando a porta se fechou atr�s de Dumbledore. � Tr�s voltas? Do que � que ele est� falando? Que � que ele espera que a gente fa�a? Mas Hermione estava mexendo no decote das vestes, puxando de dentro dele uma corrente de ouro muito longa e fina. � Harry, vem aqui � disse ela com urg�ncia. � Depressa! Harry foi at� a garota, completamente confuso. Ela estendia a corrente. E o garoto viu que havia pendurada nela uma min�scula ampulheta. � Tome... � Hermione atirara a corrente em torno do pesco�o dele tamb�m. � Pronto? � disse Hermione ofegante. � Que � que estamos fazendo? � perguntou Harry completamente perdido. Hermione girou a ampulheta tr�s vezes. A enfermaria escura desapareceu. Harry teve a sensa��o de que estava voando muito r�pido, para tr�s. Um borr�o de cores e formas passou veloz por ele, seus ouvidos latejaram, ele tentou gritar, mas n�o conseguiu ouvir a pr�pria voz... E ent�o sentiu que havia um ch�o firme sob seus p�s, e todas as coisas tornaram a entrar em foco... Ele se achava parado ao lado de Hermione no sagu�o deserto do castelo e um feixe de raios dourados de sol que entrava pelas portas de carvalho abertas incidia sobre o piso de pedra. Harry olhou agitado para os lados � procura de Hermione, a corrente da ampulheta machucando seu pesco�o. � Hermione, que...? � Aqui! � a garota agarrou o bra�o de Harry e arrastou-o pelo sagu�o at� a porta do arm�rio de vassouras; abriu o arm�rio, empurrou o garoto para o meio dos baldes e esfreg�es, e fechou a porta depois de entrar. � Qu�... Como... Hermione, que foi que aconteceu? � Voltamos no tempo � sussurrou ela, tirando a corrente do pesco�o de Harry no escuro. � Tr�s horas... Harry procurou a pr�pria perna e se deu um belisc�o com muita for�a. Doeu para valer, o que pelo visto eliminava a possibilidade de estar tendo um sonho muito esquisito. � Mas... � Psiu! Ou�a! Tem algu�m vindo! Acho... Acho que deve ser a gente! Hermione tinha o ouvido encostado na porta do arm�rio. � Passos pelo sagu�o... �, acho que somos n�s indo para a casa de Hagrid! � Voc� est� me dizendo � cochichou Harry � que estamos aqui dentro do arm�rio e estamos l� fora tamb�m? � � � confirmou Hermione, o ouvido ainda colado � porta. � Tenho certeza de que somos n�s. Pelo eco n�o devem ser mais de tr�s pessoas... E estamos andando devagar por causa da Capa da Invisibilidade... Ela parou de falar, mas continuou a prestar aten��o. � Descemos os degraus da entrada... Hermione se sentou em um balde virado de boca para baixo, parecendo aflit�ssima, mas Harry queria respostas para algumas perguntas. � Onde foi que voc� arranjou essa coisa feito uma ampulheta? � Chama-se Vira-Tempo � sussurrou Hermione �, ganhei da Prof�. McConagall no primeiro dia depois das f�rias. Estou usando desde o in�cio do ano para assistir a todas as minhas aulas. A professora me fez jurar que n�o contaria a ningu�m. Ela teve que escrever um monte de cartas ao Minist�rio da Magia para eu poder usar isso. Teve que dizer que eu era uma aluna modelo, e que nunca, nunca mesmo usaria o Vira-Tempo para nada a n�o ser para estudar... Eu o tenho usado para voltar no tempo e poder reviver as horas e � assim que assisto a mais de uma aula ao mesmo tempo, entende? Mas... Harry eu n�o estou entendendo o que � que Dumbledore quer que a gente fa�a. Por que ele mandou a gente voltar tr�s horas no tempo? Como � que isso vai ajudar o Sirius? Harry encarou de frente o rosto escuro da garota. � Deve ter alguma coisa que aconteceu por volta de agora que ele quer que a gente mude � disse Harry lentamente. � Que foi que aconteceu? Est�vamos indo � casa de Hagrid tr�s horas atr�s... � Agora estamos atrasados tr�s horas e estamos indo � casa de Hagrid � disse Hermione. � Acabamos de ouvir a gente sair... Harry franziu a testa; tinha a sensa��o de que estava franzindo o c�rebro todo para se concentrar. � Dumbledore acabou de dizer.. Acabou de dizer que a gente poderia salvar mais de uma vida inocente... � Ent�o fez-se a luz no c�rebro de Harry. � Hermione, n�s vamos salvar Bicu�o! � Mas... Como � que isso vai ajudar Sirius? � Dumbledore disse... Acabou de nos dizer onde fica a janela... A janela da sala de Flitwick! Onde prenderam Sirius! Temos que voar no Bicu�o at� a janela e salvar Sirius! Ele pode fugir no hipogrifo... Eles podem fugir juntos! Pelo que Harry p�de enxergar no rosto de Hermione, ela estava aterrorizada. � Se conseguirmos fazer isso sem ningu�m nos ver, vai ser um milagre! � Bom, vamos ter que tentar, n�o �? � disse Harry. Ele se levantou e encostou o ouvido � porta. � Parece que n�o tem ningu�m a� fora... Vamos, anda... Harry abriu a porta do arm�rio. O sagu�o estava deserto. O mais silenciosa e rapidamente poss�vel eles sa�ram correndo do arm�rio e desceram os degraus de pedra. As sombras j� estavam se alongando, os topos das �rvores na Floresta Proibida mais uma vez iam se tingindo de ouro. � Se algu�m estiver olhando pela janela... � falou Hermione com a voz esgani�ada, virando-se para espiar o castelo. � Vamos correr o mais depressa poss�vel � disse Harry decidido. � Direto para a floresta, est� bem? Teremos que nos esconder atr�s de uma �rvore ou de outra coisa para poder vigiar... � Est� bem, mas vamos dar a volta pelas estufas! � sugeriu Hermione sem f�lego. � Temos que evitar que nos vejam da porta de entrada de Hagrid! J� devemos estar quase na casa dele agora! Ainda tentando entender o que a amiga queria dizer, Harry saiu disparado com Hermione logo atr�s. Os dois transpuseram as hortas em dire��o �s estufas, pararam por um instante ocultos por elas, depois recome�aram a correr, a toda velocidade, contornando o Salgueiro Lutador, e, ainda desabalados, em dire��o � floresta para se esconderem. Seguro sob a sombra das �rvores, Harry se virou; segundos depois, Hermione, o alcan�ou, ofegante. � Certo � disse ela sem ar. � Precisamos chegar sem ser vistos � casa de Hagrid. Procure ficar escondido, Harry... Os dois caminharam em sil�ncio entre as �rvores, acompanhando a orla da floresta. Ent�o, quando avistaram a frente da cabana, ouviram uma batida na porta. Eles se ocultaram depressa atr�s de um grosso carvalho e espiaram pelos lados. Hagrid, tr�mulo e p�lido, aparecera � porta procurando ver quem batera. E Harry ouviu a pr�pria voz. � Somos n�s. Estamos usando a Capa da Invisibilidade. Deixe a gente entrar para poder tirar a capa. � Voc�s n�o deviam ter vindo! � sussurrou Hagrid, mas se afastou para os garotos poderem entrar. � Esta foi � coisa mais estranha que j� fizemos � disse Harry com veem�ncia. � Vamos continuar � cochichou Hermione. � Precisamos chegar mais perto de Bicu�o! Eles avan�aram cautelosamente entre as �rvores at� verem o hipogrifo nervoso, amarrado � cerca em volta do canteiro de ab�boras de Hagrid. � Agora? � sussurrou Harry. � N�o! � exclamou Hermione. � Se o roubarmos agora, o pessoal da Comiss�o vai pensar que Hagrid soltou o bicho! Temos que esperar at� verem que Bicu�o est� amarrado do lado de fora! � Isso vai nos dar uns sessenta segundos � disse Harry. A coisa estava come�ando a parecer imposs�vel. Naquele instante, os garotos ouviram lou�a se partindo na cabana de Hagrid. � � o Hagrid quebrando a leiteira � cochichou a garota. � Vou encontrar Perebas agora mesmo... N�o deu outra, alguns minutos depois, eles ouviram Hermione dar um grito agudo de surpresa. � Mione � disse Harry de repente �, e se n�s... N�s entrarmos l� e agarrarmos Pettigrew... � N�o! � exclamou Hermione num sussurro aterrorizado. � Voc� n�o compreende? Estamos violando uma das leis mais importantes da magia! Ningu�m pode mudar o tempo! Voc� ouviu o que Dumbledore falou, se formos vistos... � Mas s� ser�amos vistos por n�s mesmos e por Hagrid! � Harry, que � que voc� faria se visse voc� mesmo entrando pela casa de Hagrid? � perguntou Hermione. � Eu acharia... Acharia que tinha ficado maluco � respondeu Harry � ou acharia que estava usando magia negra... � Exatamente! Voc� n�o entenderia, voc� poderia at� se atacar! Voc� n�o entende? A Prof�. McGonagall me contou as coisas horr�veis que aconteceram quando bruxos mexeram com o tempo... Montes deles acabaram matando os �eus� passados ou futuros por engano! � Ok! � concordou Harry. � Foi s� uma id�ia. Pensei... Mas Hermione cutucou-o e apontou para o castelo. Harry espiou pelo lado para ter uma vis�o mais clara das portas de entrada. Dumbledore, Fudge, o velhote da Comiss�o e Macnair, o carrasco, vinham descendo os degraus. � J� estamos de sa�da! � sussurrou Hermione. E assim foi, momentos depois a porta dos fundos da cabana se abriu e Harry viu a si mesmo, Rony e Hermione sa�rem com Hagrid. Foi, sem d�vida, a sensa��o mais esquisita de sua vida, parado ali atr�s da �rvore, observando a si mesmo no canteiro de ab�boras. � Tudo bem, Bicucinho, tudo bem... � disse Hagrid ao bicho. Ent�o se virou para os tr�s garotos. � V�o. Andem logo. � Hagrid, n�o podemos... � Vamos contar a eles o que realmente aconteceu... � N�o podem matar Bicu�o... � V�o! J� est� bastante ruim sem voc�s se meterem em confus�o! Harry observou Hermione jogar a Capa da Invisibilidade sobre ele e Rony no canteiro de ab�boras. � V�o depressa. N�o fiquem ouvindo... Ouviu-se uma batida na porta de entrada da cabana. A comiss�o de execu��o chegara. Hagrid se virou para entrar em casa, deixando a porta dos fundos entreaberta. Harry observou a grama se achatar em certos pontos a toda volta da cabana de Hagrid e ouviu tr�s pares de p�s recuarem. Ele, Rony e Hermione tinham ido embora... Mas o Harry e a Hermione escondidos no meio das �rvores escutavam, pela porta dos fundos, o que estava acontecendo no interior da cabana. � Onde est� o animal? � disse a voz fria de Macnair. � L�... L� fora � respondeu Hagrid, rouco. Harry escondeu a cabe�a quando o rosto de Macnair apareceu � janela da cabana, para espiar Bicu�o. Ent�o os garotos ouviram a voz de Fudge. � N�s... Hum... Temos que ler para voc� a notifica��o oficial da execu��o, Hagrid. Vou ser r�pido. Depois, voc� e Macnair precis�o assin�-la. Macnair, voc� precisa escutar tamb�m, � a praxe... O rosto do carrasco desapareceu da janela. Era agora ou nunca. � Espera aqui � cochichou Harry para Hermione. � Eu fa�o. Quando a voz de Fudge recome�ou, Harry saiu correndo do seu esconderijo atr�s da �rvore, saltou a cerca para o canteiro de ab�boras e se aproximou de Bicu�o. � Por decis�o da Comiss�o para Elimina��o de Criaturas Perigosas o hipogrifo Bicu�o, doravante chamado condenado, ser� executado no dia seis de junho ao p�r-do-sol... Com cuidado para n�o piscar, Harry encarou os ferozes olhos cor de laranja de Bicu�o mais uma vez e fez uma rever�ncia, O hipogrifo dobrou os joelhos escamosos e em seguida tornou a se levantar. Harry come�ou a desamarrar a corda que prendia o hipogrifo � cerca. � ... Por decapita��o, a ser executada pelo carrasco nomeado pela Comiss�o, Walden Macnair... � Vamos Bicu�o � murmurou Harry �, vamos, n�s vamos te ajudar. Quietinho... Quietinho... � ... Conforme testemunham abaixo. Hagrid, voc� assina aqui... Harry jogou todo o seu peso contra a corda, mas Bicu�o cravara as patas dianteiras na terra. � Bem, vamos acabar com isso � disse a voz aguda do velhote da Comiss�o dentro da cabana. � Hagrid, talvez seja melhor voc� ficar aqui dentro... � N�o, eu... Eu quero ficar com ele... N�o quero que ele fique sozinho... Soaram passos dentro da cabana. � Bicu�o, anda!� sibilou Harry. Harry puxou com mais for�a a corda presa ao pesco�o dele. O hipogrifo come�ou a andar, farfalhando as asas com irrita��o. Ele e Harry ainda estavam a tr�s metros da floresta, bem � vista da porta dos fundos da cabana. � Um momento, por favor, Macnair � ouviram a voz de Dumbledore. � Voc� precisa assinar tamb�m. � Os passos pararam. Harry puxou a corda com for�a. Bicu�o deu um estalo com o bico e andou um pouco mais r�pido. O rosto p�lido de Hermione aparecia pelo lado do tronco da �rvore. � Harry, depressa! � murmurou ela. O garoto ainda ouvia a voz de Dumbledore dentro da cabana. Deu outro pux�o na corda. Bicu�o come�ou a trotar de m� vontade. Alcan�aram as �rvores... � Depressa! Depressa! � gemia Hermione, que saiu de tr�s da arvore, agarrou tamb�m a corda e acrescentou seu peso para fazer Bicu�o andar mais depressa. Harry espiou por cima do ombro; agora tinham desaparecido de vista; mas tamb�m n�o podiam ver a horta de Hagrid. � Pare! � disse ele a Hermione. � Poderiam nos ouvir.. A porta dos fundos da cabana se abriu com viol�ncia. Harry, Hermione e Bicu�o ficaram muito quietos; at� o hipogrifo parecia estar prestando aten��o. � Sil�ncio... ent�o... � Onde est� ele? � perguntou a voz fraquinha do velhote da Comiss�o. � Onde est� o bicho? � Estava amarrado aqui! � disse o carrasco, furioso. � Eu o vi! Bem aqui! � Que extraordin�rio! � exclamou Alvo Dumbledore. Havia um tom de riso em sua voz. � Bicu�o! � exclamou Hagrid, rouco. Ouviu-se o ru�do de uma l�mina cortando o ar e a pancada de um machado. O carrasco, enraivecido, aparentemente brandira o machado contra a cerca. Ent�o, ouviu-se um berreiro e desta vez eles distinguiram as palavras de Hagrid entre os solu�os. � Foi-se! Foi-se! Aben�oado seja ele, foi embora! Deve ter se soltado! Bicucinho, que garoto inteligente! Bicu�o come�ou a puxar a corda com for�a, tentando voltar para Hagrid. Harry e Hermione seguraram a corda com firmeza e enterraram os saltos no ch�o da floresta para reter o bicho. � Algu�m o desamarrou! � rosnou o carrasco. � Dev�amos revistar a propriedade, a floresta... � Macnair, se Bicu�o foi realmente roubado, voc� acha que o ladr�o o levou a p�? � perguntou Dumbledore, ainda em tom divertido. � Procurem nos c�us, se quiserem... Hagrid, uma x�cara de ch� me cairia bem. Ou um bom c�lice de conhaque. � C... Claro, professor � disse Hagrid, que parecia fraco de tanta felicidade. � Entre, entre... Harry e Hermione apuraram os ouvidos. Ouviram passos, o carrasco xingando baixinho, o clique da porta e, ent�o, mais uma vez o sil�ncio. � E agora? � sussurrou Harry, olhando para os lados. � Vamos ter que nos esconder aqui � disse Hermione, que parecia muito abalada. � Precisamos esperar at� eles voltarem para o castelo. Depois esperamos at� poder voar com Bicu�o em seguran�a at� a janela de Sirius. Ele vai demorar l� mais duas horas... Ah, isso vai ser dif�cil.. A garota espiou, nervosa, por cima do ombro as profundezas da floresta. O sol ia se pondo. � Vamos ter que mudar de lugar � disse Harry se concentrando. � Temos que poder ver o Salgueiro Lutador ou n�o vamos saber o que est� acontecendo. � Ok � concordou Hermione, segurando a corda de Bicu�o com mais firmeza. � Mas temos que ficar onde ningu�m possa nos ver Harry, lembre-se... Os dois sa�ram pela orla da floresta, � noite escurecendo tudo � volta, at� poderem se esconder atr�s de um grupo de �rvores, entre as quais eles podiam avistar o salgueiro. � Olha l� o Rony! � exclamou Harry de repente. Um vulto escuro ia correndo pelos jardins e seu grito ecoava pelo ar parado da noite. � Fique longe dele... Fique longe... Perebas, volta aqui... Ent�o os garotos viram mais dois vultos se materializarem do nada. Harry observou ele pr�prio e Hermione correrem atr�s de Rony. Depois viram Rony mergulhar. � Te peguei! D� o fora, seu gato fedorento... � Olha l� o Sirius! � exclamou Harry. A forma enorme de um c�o saltou das ra�zes do salgueiro. Eles o viram derrubar Harry, depois agarrar Rony... � Parece ainda pior visto daqui, n�o �? � comentou Harry, observando o c�o puxar Rony para baixo das ra�zes. � Ai... Olha, acabei de levar uma baita lambada da �rvore... E voc� tamb�m... Que coisa esquisita... O Salgueiro Lutador rangia e dava golpes com os ramos mais baixos; os garotos se viam correndo para c� e para l�, tentando chegar at� o tronco. E ent�o a �rvore se imobilizou. � Isso foi o Bichento apertando o n� � disse Hermione. � E l� vamos n�s... � murmurou Harry � Entramos. No momento em que eles desapareceram, a �rvore recome�ou a se agitar. Segundos depois, os garotos ouviram passos muito pr�ximos. Dumbledore, Macnair, Fudge e o velhote da Comiss�o estavam regressando ao castelo. � Logo depois de termos descido pela passagem! � exclamou Hermione. � Se ao menos Dumbledore tivesse ido conosco... � Macnair e Fudge teriam ido tamb�m � disse Harry amargurado. � Aposto o que voc� quiser como Fudge teria mandado Macnair matar Sirius na hora... Os garotos observaram os quatro homens subirem os degraus do castelo e desaparecer de vista. Durante alguns minutos os jardins ficaram desertos. Ent�o... � A� vem Lupin! � disse Harry ao ver outro vulto descer correndo os degraus de pedra e se dirigir ao salgueiro. Harry olhou para o c�u. As nuvens estavam obscurecendo completamente a luz. Os dois acompanharam Lupin apanhar um galho seco do ch�o e empurrar com ele o n� do tronco. A �rvore parou de lutar, e o professor, tamb�m, desapareceu no buraco entre as ra�zes. � Se ao menos ele tivesse apanhado a capa � lamentou Harry. � Est� ca�da bem ali... E, virando-se para Hermione. � Se eu desse uma corrida agora e apanhasse a capa, Snape nunca poderia se apoderar dela e... � Harry n�o podemos ser vistos! � Como � que voc� ag�enta isso? � perguntou ele a Hermione impetuosamente. � Ficar parada aqui olhando a coisa acontecer? � Ele hesitou. � Vou apanhar a capa! � Harry n�o! Hermione agarrou Harry pelas costas das vestes bem na hora. Naquele instante, ouviu-se uma cantoria. Era Hagrid, ligeiramente tr�pego, a caminho do castelo, cantando a plenos pulm�es. Um garraf�o balan�ava em suas m�os. � Viu? � sussurrou Hermione. � Viu o que teria acontecido? Temos que ficar escondidos! N�o, Bicu�o! O hipogrifo fazia tentativas fren�ticas para chegar at� Hagrid; Harry agarrou a corda tamb�m, fazendo for�a para manter o animal parado. Os garotos observaram Hagrid caminhar, b�bado, at� o castelo. Bicu�o parou de brigar para ir embora. Deixou a cabe�a pender tristemente. N�o havia se passado nem dois minutos e as portas do castelo tornaram a se escancarar, era Snape que sa�a decidido, e rumava para o salgueiro. Os punhos de Harry se fecharam quando eles viram Snape parar derrapando pr�ximo � �rvore, olhando para os lados. Depois, apanhou a capa e levantou-a. � Tira suas m�os imundas da� � rosnou Harry para si mesmo. � Psiu! Snape apanhou o galho seco que Lupin usara para imobilizar a �rvore, cutucou o n� e desapareceu de vista ao se cobrir com a capa. � Ent�o � isso � disse Hermione baixinho. � Estamos todos l� embaixo... E agora temos que esperar at� voltarmos da passagem... A garota pegou a ponta da corda de Bicu�o e amarrou-a bem segura na �rvore mais pr�xima, ent�o, sentou-se no ch�o seco, os bra�os em torno dos joelhos. � Harry, tem uma coisa que eu n�o entendo... Por que os dementadores n�o pegaram Sirius? Eu me lembro deles chegando, a� acho que desmaiei... Havia tantos... Harry se sentou tamb�m. E explicou o que vira; que na hora em que o dementador mais pr�ximo chegou a boca junto � de Harry, uma coisa grande e prateada viera galopando do lago e for�ara os dementadores a se retirarem. A boca de Hermione estava ligeiramente aberta quando Harry terminou. � Mas o que era a coisa? � S� tem uma coisa que podia ter sido, para fazer os dementadores irem embora � disse Harry. � Um Patrono de verdade. Bem poderoso. � Mas quem o conjurou? Harry n�o respondeu nada. Estava relembrando a pessoa que vira na outra margem do lago. Sabia quem ele pensara que era... Mas como seria poss�vel? � Voc� n�o viu com quem se parecia? � perguntou Hermione ansiosa. � Foi um dos professores? � N�o � disse Harry. � N�o era um professor. � Mas deve ter sido um bruxo realmente poderoso, para fazer todos aqueles dementadores irem embora... Se o Patrono era t�o brilhante, a luz n�o iluminava ele? Voc� n�o p�de ver...? � Claro que vi � disse Harry lentamente. � Mas talvez... Eu tenha imaginado que vi... Eu n�o estava pensando direito... Desmaiei logo em seguida... � Quem foi que voc� pensou que viu? � Acho... � Harry engoliu em seco, sabendo como era estranho o que ia dizer. � Acho que foi o meu pai. Harry olhou para Hermione e viu que a boca da menina se abrira de vez. Ela o olhava com uma mistura de susto e piedade. � Harry, seu pai est�... Bem... Morto � disse ela baixinho. � Eu sei � respondeu Harry depressa. � Voc� acha que viu o fantasma dele? � N�o sei... N�o... Parecia s�lido... � Mas ent�o... � Vai ver eu andei vendo coisas � disse Harry. � Mas... Pelo que pude ver... Parecia ele... Tenho fotos dele... Hermione continuava a mir�-lo como se estivesse preocupada com a sanidade do amigo. � Sei que parece doideira � falou Harry, sem anima��o. E se virou para olhar Bicu�o, que enterrava o bico no ch�o, aparentemente � procura de vermes. Mas na realidade o garoto n�o estava olhando para Bicu�o. Estava pensando no pai e nos tr�s amigos mais antigos do pai... Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas... Ser� que os quatro tinham estado em Hogwarts esta noite? Rabicho reaparecera quando todos pensavam que estivesse morto... Seria t�o imposs�vel que o mesmo acontecesse com o seu pai? Ser� que andara vendo coisas no lago? O vulto estava demasiado longe para v�-lo com clareza... Contudo, Harry tivera uma certeza moment�nea antes de perder a consci�ncia... A folhagem no alto rumorejava baixinho � brisa. A lua aparecia e desaparecia por tr�s das nuvens que deslizavam pelo c�u. Hermione, sentada com o rosto virado para o salgueiro, aguardava. Ent�o, finalmente, passada uma hora... � A� v�m eles! � sussurrou Hermione. Ela e Harry se levantaram. Bicu�o ergueu a cabe�a. Ent�o os garotos viram Lupin, Rony e Pettigrew saindo desajeitados do buraco nas ra�zes. Depois veio Hermione... O inconsciente Snape, flutuando estranhamente. Em seguida subiram Harry e Black. Todos sa�ram caminhando em dire��o ao castelo. O cora��o de Harry come�ou a bater muito depressa. Ele olhou para o c�u. A qualquer momento agora, aquela nuvem ia se afastar e mostrar a lua... � Harry � murmurou Hermione como se soubesse exatamente o que ele estava pensando �, temos que ficar parados. N�o podemos ser vistos. N�o tem nada que a gente possa fazer... � Ent�o vamos deixar Pettigrew escapar outra vez... � protestou Harry baixinho. � Como � que voc� espera encontrar um rato no escuro? � retrucou Hermione irritada. � N�o tem nada que a gente possa fazer! Voltamos para ajudar Sirius; n�o � para fazer mais nada! � Est� bem! A lua deslizou para fora da cobertura de nuvens. Os dois viram os pequenos vultos que atravessavam os jardins pararem. Ent�o perceberam um movimento... � L� vai Lupin � cochichou Hermione. � Ele est� se transformando... � Hermione! � disse Harry de repente. � Temos que mudar de lugar! � J� disse que n�o podemos... � N�o podemos interferir! Mas Lupin vai correr para dentro da floresta, bem por onde estamos! Hermione prendeu a respira��o. � Depressa! � gemeu ela, correndo para soltar Bicu�o. � Depressa! Aonde � que n�s vamos? Onde � que vamos nos esconder? Os dementadores v�o chegar a qualquer momento... � Vamos voltar para a cabana de Hagrid! � disse Harry. � Est� vazia agora... Vamos! Os garotos correram a toda velocidade, Bicu�o atr�s deles. Ouviam o Lobisomen uivando em sua cola... Avistaram a cabana; Harry derrapou diante da porta, escancarou-a, e Hermione e Bicu�o passaram como rel�mpagos por ele; o garoto se atirou para dentro e trancou a porta. Canino, o c�o de casar javalis, latiu com for�a. � Psiu, Canino, somos n�s! � disse Hermione, correndo a co�ar atr�s das orelhas do c�o para sosseg�-lo. � Essa foi por pouco! � disse ela a Harry. � Acho melhor sair, sabe � disse Harry lentamente. � N�o consigo ver o que est� acontecendo... N�o vamos saber quando for a hora... Hermione ergueu a cabe�a. Tinha uma express�o desconfiada. � N�o vou tentar interferir � disse Harry depressa. � Mas se n�o virmos o que est� acontecendo, como � que vamos saber quando temos que salvar Sirius? � Bem... Ok, ent�o... Fico esperando aqui com o Bicu�o... Mas Harry, tenha cuidado, tem um Lobisomen solto l� fora... E os dementadores... Harry saiu e contornou a cabana. Ouvia latidos ao longe. Isto significava que os dementadores estavam fechando o cerco sobre Sirius... Ele e Hermione iriam correr para Sirius a qualquer instante... Harry espiou para as bandas do lago, seu cora��o produzindo uma esp�cie de batuque no seu peito... Quem quer que tivesse mandado o Patrono iria aparecer a qualquer momento... Por uma fra��o de segundo ele parou, indeciso, diante da porta da cabana. �Voc� n�o pode ser visto�. Mas ele n�o queria ser visto. Queria ver... Tinha que saber... E l� estavam os dementadores. Emergiam da noite, vindos de todas as dire��es, deslizando pela orla do lago... Estavam se distanciando do ponto em que Harry se encontrava, em dire��o � margem oposta... Ele n�o teria que se aproximar deles... Harry come�ou a correr. N�o tinha outro pensamento na cabe�a sen�o o pai... Se fosse ele... Se fosse realmente ele... Harry precisava saber, precisava descobrir... O lago estava cada vez mais pr�ximo, mas n�o havia sinal de ningu�m. Na margem oposta, Harry vislumbrou min�sculos pontos prateados, suas pr�prias tentativas de produzir um Patrono... Havia uma moita bem na beirinha da �gua. Harry se atirou atr�s dela, e espiou desesperado entre as folhas. Na margem oposta, os reflexos prateados de repente se extinguiram. Uma mescla de terror e excita��o percorreu seu corpo, a qualquer momento agora... � Vamos! � murmurou, olhando com aten��o para os lados. � Onde � que voc� est�! Papai, anda... Mas n�o veio ningu�m. Harry ergueu a cabe�a para olhar o c�rculo de dementadores do outro lado do lago. Um deles estava despindo o capuz. Estava na hora do salvador aparecer, mas ningu�m ia aparecer para ajudar desta vez... E ent�o a explica��o lhe ocorreu, ele compreendeu. N�o vira o pai vira a si mesmo... Harry se precipitou para fora da moita e puxou a varinha. � EXPECTO PATRONUM! � berrou. E da ponta de sua varinha irrompeu, n�o uma nuvem disforme, mas um animal prateado, deslumbrante, ofuscante. Ele apertou os olhos tentando ver o que era. Parecia um cavalo. Galopava silenciosamente se afastando dele, atravessando a superf�cie escura do lago. Ele viu o animal abaixar a cabe�a e investir contra o enxame de dementadores... Agora, a galope, ele cercava os vultos escuros no ch�o, e os dementadores recuavam, se dispersavam, batiam em retirada na noite... Desapareciam. O Patrono deu meia-volta. Veio em dire��o a Harry atravessando a superf�cie parada das �guas. N�o era um cavalo. N�o era um unic�rnio, tampouco. Era um cervo. Reluzia intensamente ao luar... Estava retornando a ele... Parou na margem. Seus cascos n�o deixaram pegadas no ch�o macio quando ele encarou Harry com os grandes olhos prateados. Lentamente, ele curvou a cabe�a cheia de galhos. E Harry percebeu... � Pontas � sussurrou. Mas quando os dedos tr�mulos de Harry se estenderam para o bicho, ele desapareceu. Harry continuou parado ali, a m�o estendida. Ent�o com um grande salto no cora��o, ele ouviu o ru�do de cascos �s suas costas � virou-se e viu Hermione correndo para ele, arrastando Bicu�o. � Que foi que voc� fez? � perguntou ela com raiva. � Voc� disse que ia ficar vigiando! � Acabei de salvar as nossas vidas... � disse Harry. � Vem aqui para tr�s, atr�s dessa moita, eu explico. Hermione ouviu o relato do que acabava de acontecer, outra vez boquiaberta. � Algu�m viu voc�? � Est� vendo, voc� n�o ouviu nada! Eu me vi e achei que era o meu pai! Tudo bem! � Harry, nem posso acreditar... Voc� conjurou um Patrono que espantou todos aqueles dementadores! Isto � magia muito adiantada, mas muito mesmo... � Eu sabia que podia fazer isso desta vez � disse Harry �, porque j� tinha feito antes... Faz sentido? � N�o sei... Harry, olha o Snape! Juntos eles olharam para a outra margem. Snape recuperara os sentidos. Estava conjurando macas e erguendo as formas inertes de Harry, Hermione e Black para cima delas. Uma quarta maca, sem d�vida carregando Rony, j� estava flutuando ao seu lado. Ent�o, com a varinha segura � frente, ele os transportou para o castelo. � Certo, est� quase na hora � disse Hermione olhando, tensa, para o rel�gio. � Temos uns quarenta e cinco minutos at� Dumbledore fechar a porta da ala hospitalar. Temos que salvar Sirius e voltar � enfermaria antes que algu�m perceba que estamos ausentes... Os dois esperaram, observando o reflexo das nuvens que se moviam sobre o lago, enquanto a moita ao lado sussurrava � brisa. Bicu�o, entediado, estava novamente bicando a terra � procura de vermes. � Voc� acha que ele j� est� l� em cima? � perguntou Harry, consultando o rel�gio. Em seguida olhou para o castelo e come�ou a contar as janelas � direita da Torre Oeste. � Olha! � sussurrou Hermione. � Quem � aquele? Algu�m est� saindo do castelo! Harry olhou para o escuro. O homem estava correndo pelos jardins, em dire��o a uma das entradas. Uma coisa reluzente faiscava em seu cinto. � Macnair! � exclamou Harry. � O carrasco! Ele foi chamar os dementadores! � agora, Mione... Hermione p�s as m�os nas costas de Bicu�o e Harry a ajudou a montar. Ent�o ele apoiou o p� em um dos galhos mais baixos da moita e montou � frente da garota. Depois puxou a corda de Bicu�o por cima do pesco�o e amarrou-a como se fossem r�deas. � Pronta? � cochichou para Hermione. � � melhor voc� se segurar em mim... E bateu os calcanhares nos lados de Bicu�o. O bicho saiu voando pela noite. Harry comprimiu os flancos de Bicu�o com os joelhos, sentindo as grandes asas erguerem-se com for�a por baixo deles. Hermione segurava Harry muito apertado, pela cintura; ele a ouvia reclamar baixinho. � Ah, n�o... N�o estou gostando disso... Ah, n�o estou gostando nem um pouco disso... Harry incitou Bicu�o para faz�-lo avan�ar. Eles come�aram a voar silenciosamente em dire��o aos andares superiores do castelo. Harry puxou com for�a o lado esquerdo da corda e Bicu�o virou para aquele lado. O garoto tentava contar as janelas que passavam velozes... � ��o! � comandou puxando a corda para si com toda a for�a que p�de. O hipogrifo reduziu a velocidade e eles pararam, salvo se considerarmos o fato de que continuavam a subir e descer quase um metro de cada vez, quando o bicho batia as asas para se manter no ar. � Ele est� ali! � disse Harry apontando para Sirius quando emparelharam com uma janela. O garoto estendeu a m�o e, quando as asas de Bicu�o baixaram, conseguiu dar umas pancadinhas na vidra�a. Black olhou. Harry viu o queixo dele cair de espanto. O homem saltou da cadeira, correu � janela e tentou abri-la, mas estava trancada. � Se afaste! � pediu Hermione tirando a varinha, ainda agarrando as vestes de Harry com a m�o esquerda. � Alorromora! A janela se escancarou. � Como... Como...? � exclamou Black com a voz fraca, olhando para o hipogrifo. � Sobe, n�o temos muito tempo � disse Harry, segurando Bicu�o com firmeza pelos lados do pesco�o escorregadio para mant�-lo parado. � Voc� tem que sair daqui, os dementadores est�o chegando, Macnair foi buscar eles. Black colocou as m�os dos lados da janela e ergueu a cabe�a e os ombros para fora. Foi uma sorte estar t�o magro. Em segundos, ele conseguiu passar uma perna por cima do lombo de Bicu�o e montar o bicho atr�s de Hermione. � Ok, Bicu�o, para cima! � disse Harry sacudindo a corda. � Para a torre, anda! O hipogrifo bateu uma vez as asas possantes e eles recome�ar�o a voar para o alto, at� o topo da Torre Oeste. Bicu�o pousou com um ru�do de cascos nas ameias do castelo e os garotos escorregaram para o ch�o. � Sirius, � melhor voc� ir depressa � ofegou Harry. � Eles v�o chegar na sala de Flitwick a qualquer momento, e v�o descobrir que voc� fugiu. Bicu�o pateou o ch�o, sacudindo a cabe�a pontuda. � Que aconteceu com o outro garoto? Rony! � perguntou Sirius rouco. � Ele vai ficar bom. Ainda est� desacordado, mas Madame Pomfrey diz que vai dar um jeito nele. Depressa, vai... Mas Black continuava a olhar para Harry. � Como � que vou poder lhe agradecer... � VAI! � gritaram ao mesmo tempo Harry e Hermione. Black fez Bicu�o virar para o c�u aberto. � N�s vamos nos ver outra vez � disse ele. � Voc� � bem filho do seu pai, Harry... E, ent�o, apertou os flancos de Bicu�o com os calcanhares. Harry e Hermione deram um salto para tr�s quando as enormes asas se ergueram mais uma vez... O hipogrifo saiu voando pelos ares... Ele e seu cavaleiro foram ficando cada vez menores enquanto Harry os observava... Ent�o uma nuvem encobriu a lua... E eles desapareceram. CAP�TULO VINTE E DOIS Novo Correio-Coruja � Harry! � Hermione estava puxando a manga do garoto, com os olhos no seu pr�prio rel�gio. � Temos exatamente dez minutos para voltar � ala hospitalar sem que ningu�m nos veja, antes que Dumbledore tranque a porta... � Ok � disse Harry, parando de contemplar o c�u �, vamos... � Os dois sa�ram pela porta �s costas deles e desceram uma escada de pedra circular muito estreita. Quando chegaram embaixo ouviram vozes. Colaram o corpo contra a parede e escutaram. Pareciam as vozes de Fudge e Snape. Os dois caminhavam depressa pelo corredor no qual terminava a escada. � ... S� espero que Dumbledore n�o crie dificuldades � dizia Snape. � O beijo ser� executado imediatamente? � Assim que Macnair voltar com os dementadores. Todo esse caso Black tem sido muit�ssimo constrangedor. Nem posso lhe dizer como estou ansioso para informar ao Profeta Di�rio que finalmente o capturamos... Acho prov�vel que queiram entrevist�-lo, Snape... E quando Harry tiver voltado ao normal, espero que se disponha a contar ao Profeta exatamente como foi que voc� o salvou... Harry cerrou os dentes. Viu de relance o sorriso presun�oso de Snape, quando o professor e Fudge passaram pelo lugar em que ele e Hermione estavam escondidos. O eco dos passos dos homens foi se distanciando. Os dois garotos esperaram alguns minutos para ter certeza de que tinham realmente ido embora, ent�o come�aram a correr na dire��o oposta. Desceram uma escada, depois outra, correram por um corredor, ent�o ouviram uma risada escandalosa � frente. � Pirra�a! � murmurou Harry, agarrando o pulso de Hermione. � Aqui! Eles se precipitaram para dentro de uma sala de aula � esquerda, na hora �H�. Ao que parecia, Pirra�a vinha saltitando pelo corredor apregoando bom humor, rindo de se acabar. � Ah, ele � horr�vel! � sussurrou Hermione, o ouvido encostado � porta. � Aposto como est� nessa excita��o toda porque os dementadores v�o liquidar Sirius... � Ela tornou a consultar o rel�gio. � Tr�s minutos, Harry! Os garotos aguardaram a voz satisfeita de Pirra�a sumir ao longe, ent�o abandonaram a sala e desataram a correr. � Hermione, que � que vai acontecer, se n�o conseguirmos voltar antes de Dumbledore trancar a porta? � ofegou Harry. � Nem quero pensar! � gemeu Hermione, verificando novamente o rel�gio. � Um minuto! Os dois tinham chegado ao fim do corredor em que ficava a entrada para a ala hospitalar. � Ok... Estou ouvindo Dumbledore � disse Hermione tensa. � Vamos Harry! Sa�ram sorrateiramente pelo corredor A porta da enfermaria se abriu. Apareceram as costas de Dumbledore. � Vou tranc�-los � os garotos o ouviram dizer. � Faltam cinco minutos para a meia-noite. Srta. Granger, tr�s voltas devem bastar. Boa sorte. Dumbledore recuou para fora da enfermaria, fechou a porta e puxou a varinha para tranc�-la magicamente. Em p�nico, Harry e Hermione correram ao seu encontro. Dumbledore ergueu os olhos e apareceu um largo sorriso sob seus compridos bigodes prateados. � Ent�o? � perguntou ele baixinho. � Conseguimos! � disse Harry ofegante. � Sirius j� foi, montado em Bicu�o... Dumbledore sorriu radiante para os garotos. � Muito bem! Acho que... � Ele escutou atentamente para verificar se havia algum ru�do no interior da ala hospitalar. � �, acho que voc�s tamb�m j� foram: entrem, vou tranc�-los... Harry e Hermione entraram na enfermaria. Estava vazia exceto por Rony, que continuava deitado im�vel na cama ao fundo. Ao ouvirem o clique da fechadura, Harry e Hermione voltaram �s suas camas, e a garota guardou o Vira-Tempo, dentro das vestes. Um instante depois, Madame Pomfrey saiu de sua sala. � Foi o diretor que eu ouvi saindo? Ser� que j� posso cuidar dos meus pacientes? A enfermeira estava muito mal-humorada. Harry e Hermione acharam melhor aceitar o chocolate que ela trazia sem resist�ncia. Madame Pomfrey ficou vigiando para ter certeza de que eles o comessem. Mas Harry mal conseguia engolir. Ele e Hermione estavam esperando, escutavam, os nervos vibrando desafinados... Ent�o, quando aceitaram o quarto peda�o de chocolate de Madame Pomfrey, eles ouviram ao longe o ronco de f�ria que ecoava em algum ponto do andar acima... � Que foi isso? � perguntou Madame Pomfrey assustada. Agora ouviam vozes raivosas, que iam se avolumando sem parar. A enfermeira tinha os olhos na porta. � Francamente, v�o acordar todo mundo! Que � que eles acham que est�o fazendo? Harry tentava ouvir o que as vozes diziam. Elas foram se aproximando... � Ele deve ter desaparatado, Severo. Dev�amos ter deixado algu�m na sala vigiando. Quando isto vazar... � ELE N�O DESAPARATOU! � vociferou Snape, agora muito pr�ximo. � N�O SE PODE APARATAR NEM DESAPARATAR DENTRO DESTE CASTELO! ISTO... TEM... DEDO... DO... POTTER! � Severo... Seja razo�vel... Harry est� trancado... PAM. A porta da ala hospitalar se escancarou. Fudge, Snape e Dumbledore entraram na enfermaria. Somente o diretor parecia calmo. De fato, parecia que estava se divertindo. Fudge tinha uma express�o zangada. Mas Snape estava fora de si. � DESEMBUCHE, POTTER! � berrou ele. � QUE FOI QUE VOC� FEZ? � Professor Snape! � protestou esgani�ada Madame Pomfrey. � Controle-se! � Olhe aqui, Snape, seja razo�vel � ponderou Fudge. � A porta esteve trancada, acabamos de constatar.. � ELES AJUDARAM BLACK A ESCAPAR EU SEI! � berrou Snape, apontando para Harry e Hermione. Seu rosto estava contorcido; voava cuspe de sua boca. � Acalme-se, homem! � ordenou Fudge. � Voc� est� falando disparates! � O SENHOR N�O CONHECE POTTER! � berrou Snape em falsete. � FOI ELE, EU SEI QUE FOI ELE QUE FEZ ISSO... � Chega, Severo � disse Dumbledore em voz baixa. � Pense no que est� dizendo. A porta esteve trancada desde que deixei a enfermaria dez minutos atr�s. Madame Pomfrey, esses garotos sa�ram da cama? � Claro que n�o! � respondeu Madame Pomfrey com efici�ncia. � Eu os teria ouvido! � A� est�, Severo � disse Dumbledore calmamente. � A n�o ser que voc� esteja sugerindo que Harry e Hermione sejam capazes de estar em dois lugares ao mesmo tempo, receio que n�o haja sentido em continuar a perturb�-los. Snape ficou parado ali, procurando, olhando de Fudge, que parecia extremamente chocado com o procedimento do professor, para Dumbledore cujos olhos cintilavam por tr�s dos �culos. Snape deu meia-volta, as vestes rodopiando para tr�s, e saiu enfurecido da enfermaria. � O homem parece que � bem desequilibrado � disse Fudge, acompanhando-o com o olhar. � Eu me precaveria se fosse voc�, Dumbledore. � Ah, ele n�o � desequilibrado � disse Dumbledore em voz baixa. � Apenas sofreu um grave desapontamento. � Ele n�o � o �nico! � bufou Fudge. � O Profeta Di�rio vai ter um grande dia! Tivemos Black encurralado e ele nos escapa entre os dedos outra vez! S� falta agora a hist�ria da fuga do hipogrifo vazar, para eu virar motivo de pilh�rias! Bom... � melhor eu ir notificar o Minist�rio... � E os dementadores? � disse Dumbledore. � Ser�o retirados da escola, eu espero. � Ah, claro, eles ter�o que se retirar � disse Fudge, passando os dedos, distraidamente, pelos cabelos. � Nunca sonhei que tentariam executar o beijo em um garoto inocente... Completamente descontrolado... N�o, mandarei despach�-los de volta a Azkaban ainda hoje � noite... Talvez dev�ssemos estudar a coloca��o de drag�es � entrada da escola... � Hagrid iria gostar � disse Dumbledore, sorrindo para Harry e Hermione. Quando o diretor e Fudge iam saindo do quarto, Madame Pomfrey correu at� a porta e tornou a tranc�-la. E resmungando, aborrecida, voltou � sua salinha. Ouviu-se um gemido baixo na outra ponta da enfermaria. Rony acordara. Eles o viram sentar-se, esfregar a cabe�a e olhar para todos os lados. � Que... Que aconteceu? � gemeu ele. � Harry? Por que estamos aqui? Onde � que foi o Sirius? Onde � que foi o Lupin? Que est� acontecendo? Harry e Hermione se entreolharam. � Voc� explica � pediu Harry, servindo-se de mais um peda�o de chocolate. Quando Harry, Rony e Hermione deixaram a ala hospitalar ao meio-dia do dia seguinte, foi para encontrar um castelo quase deserto. O calor sufocante e o fim dos exames sinalizavam que todos estavam aproveitando ao m�ximo mais uma visita a Hogsmeade. Nem Rony nem Hermione, por�m, tiveram vontade de ir, assim, os dois e Harry perambularam pelos jardins, ainda discutindo os acontecimentos extraordin�rios da noite anterior e se perguntando onde estariam Sirius e Bicu�o naquela hora. Sentados perto do lago, observando a lula gigante agitar pregui�osamente seus tent�culos � superf�cie das �guas, Harry perdeu o fio da conversa contemplando a margem oposta do lago. O cervo galopara em sua dire��o ali, ainda na noite anterior... Uma sombra caiu sobre eles e, ao olharem, depararam com um Hagrid de olhos muito vermelhos, enxugando o rosto �mido de suor com um len�o do tamanho de uma toalha de mesa, e sorrindo para os tr�s. � Sei que n�o devia me sentir feliz depois do que aconteceu ontem � noite � disse ele. � Quero dizer, a nova fuga de Black e tudo o mais, mas sabem de uma coisa? � O qu�? � perguntaram os garotos em coro, fingindo curiosidade. � Bicu�o! Ele fugiu! Est� livre! Passei a noite toda festejando! � Que fant�stico! � exclamou Hermione lan�ando a Rony um olhar de censura porque ele parecia prestes a cair na risada. � �... N�o devo ter amarrado ele direito � concluiu Hagrid, apreciando os jardins. � Estive preocupado hoje de manh�, vejam bem... Achei que ele podia ter topado com o Prof�. Lupin por a�, mas o professor disse que n�o comeu nada ontem � noite... � Qu�? � perguntou Harry depressa. � Caramba, voc�s n�o souberam? � disse Hagrid, o sorriso se desfazendo. Em seguida, baixou a voz, ainda que n�o houvesse ningu�m � vista. � Hum... Snape anunciou para os alunos da Sonserina hoje de manh�... Achei que, a essa altura, todo mundo j� soubesse... O Prof�. Lupin � Lobisomen, entendem. E esteve solto na propriedade ontem � noite. Ele est� fazendo as malas agora, � claro. � Ele est� fazendo as malas? � repetiu Harry alarmado. � Por qu�? � Vai embora, n�o �? � disse Hagrid, parecendo surpreso que Harry tivesse feito uma pergunta daquela. � Pediu demiss�o logo de manh�. Diz que n�o pode arriscar que isto aconte�a de novo. Harry levantou-se depressa. � Vou ver o professor � avisou a Rony e Hermione. � Mas se ele se demitiu... � ... Parece que n�o h� nada que a gente possa fazer... � N�o faz diferen�a. Continuo querendo ver o professor. Encontro voc�s aqui depois. A porta da sala de Lupin estava aberta. O professor j� guardara a maior parte dos seus pertences. O tanque vazio do grindylow estava ao lado de sua mala surrada, aberta e quase cheia. Lupin curvava-se sobre alguma coisa em sua escrivaninha e ergueu a cabe�a quando Harry bateu na porta. � Vi-o chegando � disse Lupin com um sorriso. E apontou para o pergaminho que estivera examinando. Era o Mapa do Maroto. � Acabei de encontrar Hagrid � disse Harry. � E soube dele que o senhor pediu demiss�o. N�o � verdade, �? � Receio que seja. � Lupin come�ou a abrir as gavetas da escrivaninha e a esvazi�-las. � Por qu�? � perguntou Harry. � O Minist�rio da Magia n�o est� achando que o senhor ajudou Sirius, est�? Lupin foi at� a porta e fechou-a. � N�o. O Prof�. Dumbledore conseguiu convencer Fudge que eu estava tentando salvar as vidas de voc�s. � Ele suspirou. � Isso foi a gota d"�gua para Severo. Acho que a perda da Ordem de Merlim o deixou muito abalado. Ent�o ele... Hum... Acidentalmente deixou escapar hoje, no caf� da manh�, que eu era Lobisomen. � O senhor n�o est� indo embora s� por causa disso! � espantou-se Harry. Lupin sorriu enviesado. � Amanh� a essa hora, v�o come�ar a chegar as corujas dos pais... Eles n�o v�o querer um Lobisomen ensinando a seus filhos, Harry. E depois de ontem � noite, eu entendo. Eu poderia ter mordido um de voc�s... Isto n�o pode voltar a acontecer nunca mais. � O senhor � o melhor professor de Defesa contra as Artes das Trevas que j� tivemos! � disse Harry. � N�o v� embora! Lupin sacudiu a cabe�a e ficou calado. Continuou a esvaziar as gavetas. Ent�o, enquanto Harry tentava pensar em um bom argumento para convenc�-lo a ficar, Lupin falou: � Pelo que o diretor me contou hoje de manh�, voc�s salvaram muitas vidas ontem � noite, Harry. Se eu tenho orgulho de alguma coisa que fiz este ano, foi o muito que voc� aprendeu comigo... Me conte sobre o seu Patrono. � Como � que o senhor soube? � perguntou Harry espantado. � Que mais poderia ter afugentado os dementadores? Harry contou a Lupin o que acontecera. Quando terminou, o professor voltara a sorrir. � �, seu pai se transformava sempre em cervo. Voc� acertou... � por isso que o cham�vamos de Pontas. Lupin jogou seus �ltimos livros em uma caixa, fechou as gavetas da escrivaninha e virou-se para fitar Harry. � Tome, trouxe isto da Casa dos Gritos ontem � noite � disse, devolvendo a Harry a Capa da Invisibilidade. � E... � ele hesitou e em seguida devolveu o Mapa do Maroto tamb�m. � N�o sou mais seu professor, por isso n�o me sinto culpado por lhe devolver isso tamb�m. N�o serve para mim, e me arrisco a dizer que voc�, Rony e Hermione v�o encontrar utilidade para o mapa. Harry recebeu o mapa e sorriu. � O senhor me disse que Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas tinham querido me atrair para fora da escola... O senhor disse que eles teriam achado gra�a. � E ter�amos � respondeu Lupin, abaixando-se para fechar a mala. � N�o tenho d�vida em afirmar que Tiago teria ficado muit�ssimo desapontado se o filho dele jamais descobrisse as passagens secretas para fora do castelo. Ouviu-se uma batida na porta. Harry guardou apressadamente o Mapa do Maroto e a Capa da Invisibilidade no bolso. Era o Prof�. Dumbledore. Ele n�o pareceu surpreso de encontrar Harry ali. � O seu coche j� est� no port�o, Remo � anunciou ele. � Obrigado, diretor. Lupin apanhou sua velha mala e o tanque vazio do grindylow. � Bom... Adeus, Harry � disse sorrindo. � Foi realmente um prazer ser seu professor. Tenho certeza de que voltaremos a nos encontrar. Diretor, n�o precisa me acompanhar at� o port�o, posso me arranjar... Harry teve a impress�o de que Lupin queria sair o mais r�pido poss�vel. � Adeus, ent�o, Remo � disse Dumbledore s�rio. Lupin empurrou ligeiramente o tanque do grindylow para poder apertar a m�o de Dumbledore. Ent�o, com um �ltimo aceno para Harry e um breve sorriso, Lupin saiu da sala. Harry se sentou na cadeira desocupada, olhando tristemente para o ch�o. Ouviu a porta se fechar e ergueu a cabe�a. Dumbledore continuava na sala. � Por que t�o infeliz, Harry? � perguntou em voz baixa. � Voc� deveria estar se sentindo muito orgulhoso depois do que fez � noite passada. � N�o fez nenhuma diferen�a � disse Harry com amargura. � Pettigrew conseguiu fugir. � N�o fez nenhuma diferen�a? � repetiu Dumbledore baixinho. � Fez toda a diferen�a do mundo, Harry voc� ajudou a desvendar a verdade. Salvou um homem inocente de um destino terr�vel. Terr�vel. A palavra despertou uma lembran�a na cabe�a de Harry. Maior e mais terr�vel que nunca... A predi��o da Prof�. Trelawney! � Prof�. Dumbledore, ontem, quando eu estava fazendo o exame de Adivinha��o, a Prof�. Trelawney ficou muito... Muito estranha. � Verdade? � disse o diretor. � Hum... Mais estranha do que de costume, voc� quer dizer? � �... A voz dela engrossou e os olhos giraram e ela falou... que o servo de Voldemort ia se juntar a ele antes da meia-noite... Disse que o servo ia ajud�-lo a voltar ao poder. � Harry ergueu os olhos para Dumbledore. � E ent�o ela meio que voltou ao normal, mas n�o conseguiu se lembrar de nada que tinha falado. Era... Ela estava fazendo uma predi��o de verdade? Dumbledore pareceu levemente impressionado. � Sabe, Harry, acho que talvez estivesse � disse pensativo. � Quem teria imaginado? Isso eleva para duas o total de predi��es verdadeiras que ela j� fez. Eu devia dar � professora um aumento de sal�rio... � Mas... � Harry olhou, perplexo, para o diretor. Como � que Dumbledore podia ouvir uma not�cia dessas com tanta calma? � Mas... Eu impedi Sirius e o Prof�. Lupin de matarem Pettigrew! Assim vai ser minha culpa se Voldemort voltar! � N�o vai, n�o � disse Dumbledore em voz baixa. � A sua experi�ncia com o Vira-Tempo n�o lhe ensinou nada, Harry? As conseq��ncias de nossos atos s�o sempre t�o complexas, t�o diversas, que predizer o futuro � uma tarefa realmente dif�cil... A Prof�. Trelawney, aben�oada seja, � a prova viva disso... Voc� teve um gesto muito nobre salvando a vida de Pettigrew... � Mas se ele ajudar Voldemort a voltar ao poder... � Pettigrew lhe deve a vida. Voc� mandou a Voldemort um emiss�rio que est� em d�vida com voc�... Quando um bruxo salva a vida de outro, forma-se um certo v�nculo entre os dois... E estarei muito enganado se Voldemort aceitar um servo em d�vida com Harry Potter. � Eu n�o quero ter nenhum v�nculo com Pettigrew! � exclamou Harry. � Ele traiu os meus pais! � Assim � a magia no que ela tem de mais profundo e impenetr�vel, Harry. Mas confie em mim... Quem sabe um dia voc� se alegrar� por ter salvado a vida de Pettigrew. Harry n�o conseguiu imaginar quando seria isso. Dumbledore parecia ter adivinhado o que o garoto estava pensando. � Conheci seu pai muito bem, tanto em Hogwarts quanto depois, Harry � disse o diretor com carinho. � Tiago teria salvado Pettigrew tamb�m, tenho certeza. Harry olhou para o diretor. Dumbledore n�o riria, podia lhe contar... � Ontem � noite, eu pensei que tinha sido o meu pai que tinha conjurado o meu Patrono. Quero dizer, pensei que estava vendo ele quando me vi atravessando o lago... � Um engano normal � disse Dumbledore gentilmente. � Imagino que j� esteja cansado de ouvir dizer, mas voc� � extraordinariamente parecido com Tiago. Exceto nos olhos... Voc� tem os olhos de sua m�e. Harry sacudiu a cabe�a. � Foi burrice minha pensar que era ele � murmurou o garoto. � Quero dizer, eu sei que ele est� morto. � Voc� acha que os mortos que amamos realmente nos deixam? Voc� acha que n�o nos lembramos deles ainda mais claramente em momentos de grandes dificuldades? O seu pai vive em voc�, Harry, e se revela mais claramente quando voc� precisa dele. De que outra forma voc� poderia produzir aquele Patrono? Pontas reapareceu ontem � noite. Levou um momento para Harry compreender o que Dumbledore acabara de dizer. � Ontem � noite Sirius me contou como eles se tornaram Animagos � disse o diretor sorrindo. � Uma realiza��o fant�stica, e n�o � menos fant�stico que tenham ocultado isso de mim. Ent�o me lembrei da forma muito incomum que o seu Patrono assumiu, quando investiu contra o Sr. Malfoy na partida de Quadribol contra Corvinal. Sabe, Harry, de certa forma voc� realmente viu o seu pai ontem � noite... Voc� o encontrou dentro de si mesmo. E Dumbledore saiu da sala deixando Harry com seus pensamentos muito confusos. Ningu�m em Hogwarts sabia a verdade do que acontecera na noite em que Sirius, Bicu�o e Pettigrew desapareceram, exceto Harry, Rony, Hermione e o Prof�. Dumbledore. � medida que o trimestre foi chegando ao fim, Harry ouviu muitas teorias diferentes sobre o que realmente acontecera, mas nenhuma delas sequer se aproximava da verdadeira. Malfoy estava enfurecido com a fuga de Bicu�o. Acreditava que Hagrid encontrara um jeito de contrabandear o hipogrifo para um lugar seguro, e parecia indignado que ele e o pai tivessem sido enganados por um guarda-ca�a. Entrementes, Percy Weasley tinha muito a dizer sobre a fuga de Sirius. � Se eu conseguir entrar para o minist�rio, apresentarei v�rias propostas sobre a execu��o das leis da magia! � disse ele � �nica pessoa que queria escut�-lo, sua namoradinha Penelope. Embora o tempo estivesse perfeito, embora a atmosfera estivesse t�o animada, embora ele soubesse que tinham realizado quase o imposs�vel ao ajudar Sirius a continuar livre, Harry jamais chegara t�o desanimado a um final de ano letivo. Com certeza n�o era o �nico aluno que lamentava a partida do Prof�. Lupin. A turma inteira de Defesa contra as Artes das Trevas amargara a demiss�o do professor. � Quem ser� que v�o nos dar o ano que vem? � perguntou Simas Finnigan deprimido. � Quem sabe um vampiro � sugeriu Dino Thomas esperan�oso. N�o era apenas a partida do Prof�. Lupin que estava pesando na cabe�a de Harry. Ele n�o podia deixar de pensar, e muito, na predi��o da Prof�. Sibila Trelawney. Ficava imaginando onde estaria Pettigrew, se j� teria procurado guarida com Voldemort. Mas o que mais deprimia o �nimo de Harry era a perspectiva de regressar � casa dos Dursley. Durante talvez meia hora, uma gloriosa meia hora, acreditara que iria passar a morar com Sirius... O melhor amigo dos seus pais... Seria a segunda melhor coisa do mundo depois de ter o seu pai de volta. E ainda que n�o ter not�cias de Sirius Black fosse decididamente uma boa not�cia, pois significava que ele conseguira se esconder com sucesso, Harry n�o podia deixar de se entristecer quando pensava no lar que poderia ter tido e na circunst�ncia de isso ter se tornado imposs�vel. Os resultados dos exames foram divulgados no �ltimo dia do ano letivo. Harry, Rony e Hermione tinham passado em todas as mat�rias. Harry se admirou de ter se dado bem em Po��es. Suspeitava, muito perspicazmente, que Dumbledore talvez tivesse interferido para impedir Snape de reprov�-lo de prop�sito. O comportamento de Snape com rela��o a Harry na �ltima semana tinha sido alarmante. O garoto n�o teria achado poss�vel que a avers�o do professor por ele pudesse aumentar, mas sem d�vida isto acontecera. Um m�sculo tremia incomodamente no canto da boca fina de Snape toda vez que ele olhava para Harry, e o bruxo flexionava os dedos todo o tempo, como se eles comichassem para apertar o pesco�o de Harry. Percy conseguira excelentes notas nos exames de N.I.E.M.�s (n�veis incrivelmente exaustivos em magia); Fred e Jorge passaram raspando nos exames para obter seus N.O.M.s (n�veis ordin�rios em magia). Entrementes, a casa de Grifin�ria, em grande parte gra�as ao seu espetacular desempenho na conquista da Ta�a de Quadribol, ganhara o Campeonato das Casas, pelo terceiro ano consecutivo. Isto significou que a festa de encerramento do ano letivo se realizou em meio a decora��es vermelhas e douradas, e que, na comemora��o geral, a mesa da Grifin�ria foi a mais barulhenta do Sal�o. At� Harry enquanto comia, bebia, conversava e ria com todos, conseguira esquecer a viagem de regresso � casa dos Dursley no dia seguinte. Quando o Expresso de Hogwarts deixou a esta��o na manh� seguinte, Hermione comunicou a Harry e a Rony uma not�cia surpreendente. � Fui ver a Prof�. McGonagall hoje de manh�, pouco antes do caf�. Resolvi abandonar Estudos dos Trouxas. � Mas voc� passou na prova com trezentos e vinte por cento! � exclamou Rony. � Eu sei � suspirou Hermione �, mas n�o vou poder viver outro ano igual a este. Aquele Vira-Tempo estava me levando � loucura. Eu o devolvi. Sem Estudos dos Trouxas e Adivinha��o, vou poder ter um hor�rio normal outra vez. � Ainda n�o consigo acreditar que voc� n�o tenha nos contado. Pens�vamos que �ramos seus amigos. � Prometi que n�o contaria a ningu�m � disse Hermione com severidade. Ela se virou para olhar para Harry, que observava Hogwarts desaparecer de vista por tr�s de um morro. Dois meses inteiros at� poder rev�-la... � Ah, se anima, Harry! � disse Hermione triste. � Eu estou bem � se apressou o garoto a dizer. � Estou s� pensando nas f�rias. � �, eu tamb�m tenho pensado nelas � disse Rony. � Harry voc� tem que vir ficar conosco. Vou combinar com mam�e e papai, depois te ligo. Agora j� sei usar um feletone... � Um telefone, Rony � corrigiu-o Hermione. � Sinceramente, voc� � quem devia fazer Estudos dos Trouxas no ano que vem... Rony fingiu que n�o tinha ouvido o coment�rio. � Vai haver a Copa Mundial de Quadribol agora no ver�o! Que � que voc� acha, Harry? Vem ficar com a gente e a� podemos assistir aos jogos! Papai geralmente arranja entradas no minist�rio. Esta proposta teve o efeito de animar Harry bastante. � �.. Aposto que os Dursley iriam gostar que eu fosse, principalmente depois do que fiz com a tia Guida... Sentindo-se bem mais alegre, Harry jogou v�rias partidas de Snap Explosivo com Rony e Hermione e, quando a bruxa com a carrocinha de lanches chegou, ele comprou uma enorme refei��o, mas nada que tivesse chocolate. Mas a tarde j� ia avan�ada quando aconteceu a coisa que o deixou realmente feliz... � Harry � chamou-o Hermione de repente, espiando por cima do seu ombro. � Que � essa coisa do lado de fora da sua janela? Harry se virou para olhar. Havia uma coisa muito pequena e cinzenta que aparecia e desaparecia de vista do lado de fora da janela. Ele se levantou para ver melhor e concluiu que era uma coruja min�scula, carregando uma carta demasiado grande para o seu tamanho. A coruja era t�o pequena, na realidade, que n�o parava de dar cambalhotas no ar, impelida para c� e para l� pelo deslocamento de ar do trem. Harry baixou depressa a janela, esticou o bra�o e recolheu-a. Ao tato, ela lembrava um pomo de ouro muito fofo. O garoto recolheu a coruja cuidadosamente pra dentro. A ave deixou cair a carta no banco e come�ou a voar pela cabine dos garotos, aparentemente muito satisfeita consigo mesma por ter se desincumbido de sua tarefa. Edwiges deu um estalo com o bico numa esp�cie de digna censura. Bichento se aprumou no assento, acompanhando a coruja com os seus enormes olhos amarelos. Rony, reparando nisso, segurou a coruja para proteg�-la do perigo iminente. Harry apanhou a carta. Vinha endere�ada a ele. O garoto abriu a carta e gritou: � � do Sirius! � Qu�? � exclamaram Rony e Hermione excitados. � Leia em voz alta! Caro Harry, Espero que esta o encontre antes de voc� chegar � casa dos seus tios. N�o sei se eles est�o acostumados com correios-coruja. Bicu�o e eu estamos escondidos. N�o vou lhe dizer onde, caso esta coruja caia em m�os indesej�veis. Tenho minhas d�vidas se ela � confi�vel, mas foi a melhor que consegui encontrar e me pareceu ansiosa para se encarregar da entrega. Acredito que os dementadores ainda estejam me procurando, mas eles n�o t�m a menor esperan�a de me encontrar aqui. Estou planejando deixar os trouxas me verem em breve, muito longe de Hogwarts, de modo que a seguran�a sobre o castelo seja relaxada. H� uma coisa que n�o cheguei a lhe dizer durante o nosso breve encontro. Fui eu que lhe mandei a Firebolt... � Ah! � exclamou Hermione triunfante. � Est�o vendo! Eu disse a voc�s que tinha sido ele! �, mas ele n�o tinha enfeiti�ado a vassoura, tinha? � retrucou Rony. � Ai! � A corujinha, agora piando feliz em sua m�o, bicava-lhe um dedo, no que parecia ser uma demonstra��o de carinho. ...Bichento levou a ordem de compra � Ag�ncia-Coruja para mim. Usei o seu nome, mas mandei sacarem o ouro do meu cofre em Gringotes. Por favor, considere a vassoura o equivalente a treze anos de presentes do seu padrinho. Gostaria tamb�m de me desculpar pelo susto que lhe dei �quela noite, no ano passado, quando voc� abandonou a casa do seu tio. Minha esperan�a era apenas dar uma olhada em voc� antes de iniciar viagem para o norte, mas acho que a minha apari��o o assustou. Estou anexando outro presente para voc�, e acho que ele tornar� o seu pr�ximo ano em Hogwarts mais prazeroso. Se algum dia precisar de mim, mande me dizer. Sua coruja me encontrar�. Escreverei novamente em breve. Sirius. Harry espiou ansioso dentro do envelope. Havia outro peda�o de pergaminho. Examinou-o depressa e se sentiu inesperadamente aquecido e satisfeito como se tivesse bebido uma garrafa de cerveja amanteigada quente, de um gole s�. �Pela presente, eu, Sirius Black, padrinho de Harry Potter, dou-lhe permiss�o para visitar Hogsmeade nos fins de semana�. � Dumbledore vai aceitar esta autoriza��o! � exclamou Harry alegremente. O garoto tornou a olhar para a carta de Sirius. Espera a�, tem um P.S. �Achei que o seu amigo Rony talvez quisesse ficar com a coruja, pois � minha culpa que ele n�o tenha mais um rato�. Os olhos de Rony se arregalaram. A corujinha continuava a piar agitada. � Ficar com a coruja? � perguntou o garoto hesitante. Ele mirou a ave um momento; depois, para grande surpresa de Harry e Hermione, ofereceu-a para Bichento cheirar. � Qual � a sua avalia��o? � perguntou Rony ao gato. � Isto � decididamente uma coruja? Bichento ronronou. � Para mim � o suficiente � disse Rony feliz. � � minha. Harry leu e releu a carta de Sirius at� a esta��o de King's Cross. E continuava a apert�-la na m�o quando ele, Rony e Hermione passaram a barreira da plataforma 9 e �. Harry localizou o tio V�lter imediatamente. Estava parado a uma boa dist�ncia do Sr. e da Sra. Weasley, espiando-os desconfiado, e, quando a Sra. Weasley abra�ou Harry, as piores suspeitas do tio a respeito do casal pareceram se confirmar. � Eu ligo para falar da Copa Mundial! � gritou Rony para Harry quando o amigo acenou um adeus para ele e Hermione, e saiu empurrando o carrinho com sua mala e a gaiola de Edwiges em dire��o ao tio, que o cumprimentou da maneira habitual. � Que � isso? � rosnou, olhando para o envelope que Harry ainda segurava na m�o. � Se � outro formul�rio para eu assinar, pode tirar o cavalinho... � N�o �, n�o � respondeu Harry alegremente. � � uma carta do meu padrinho. � Padrinho? � engasgou o tio V�lter. � Voc� n�o tem padrinho! � Tenho, sim � respondeu Harry animado. � Era o melhor amigo da minha m�e e do meu pai. E � um assassino condenado, mas fugiu da pris�o dos bruxos e est� foragido. Mas ele gosta de manter contato comigo... Saber das minhas not�cias... Verificar se estou feliz... E, abrindo um largo sorriso ao ver a cara de horror do tio V�lter, Harry rumou para a sa�da da esta��o, Edwiges chocalhando � frente, para o que prometia ser um ver�o muito melhor do que o anterior. FIM.