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harry potter e a camara secreta

harry potter e a camara secreta

 
HARRY POTTER
E A C�MARA SECRETA
Joanne K. Rowling





SUM�RIO

Cap�tulo Um � O Pior Anivers�rio
Cap�tulo Dois � O Aviso de Dobby
Cap�tulo Tr�s � A Toca
Cap�tulo Quatro � Na Floreios e Borr�es
Cap�tulo Cinco � O Salgueiro Lutador
Cap�tulo Seis � Gilderoy Lockhart
Cap�tulo Sete � Sangue Ruim e Vozes Invis�veis
Cap�tulo Oito � A Festa do Anivers�rio de Morte
Cap�tulo Nove � A Picha��o na Parede
Cap�tulo Dez � O Bala�o Errante
Cap�tulo Onze � O Clube dos Duelos
Cap�tulo Doze � A Po��o Polissuco
Cap�tulo Treze � O Di�rio Secret�ssimo
Cap�tulo Catorze � Corn�lio Fulge
Cap�tulo Quinze � Aragogue
Cap�tulo Dezesseis � A C�mara Secreta
Cap�tulo Dezessete � O Herdeiro de Slytherin
Cap�tulo Dezoito � A Recompensa de Dobby



CAP�TULO UM
O Pior Anivers�rio

N�o era a primeira vez que irrompia uma discuss�o � mesa do caf� da manh� na Rua dos Alfeneiros n�mero 4. O Sr. V�lter Dursley fora acordado nas primeiras horas da manh� por um pio alto que vinha do quarto do seu sobrinho Harry.
� � a terceira vez esta semana! � berrou ele � mesa. � Se voc� n�o consegue controlar essa coruja, teremos que mand�-la embora!
Harry tentou explicar, mais uma vez.
� Ela est� chateada. Est� acostumada a voar ao ar livre. Se eu ao menos pudesse solt�-la � noite...
� Eu tenho cara de idiota? � rosnou tio V�lter, um peda�o de ovo pendurado na bigodeira. � Eu sei o que vai acontecer se voc� soltar essa coruja.
Ele trocou olhares assustados com sua mulher, Pet�nia.
Harry tentou argumentar, mas suas palavras foram abafadas por um alto e prolongado arroto dado pelo filho de Dursley, Duda.
� Quero mais bacon.
� Tem mais na frigideira, fofinho � disse tia Pet�nia, voltando os olhos �midos para o filho maci�o. � Precisamos aliment�-lo bem enquanto temos oportunidade... N�o gosto do jeito daquela comida da escola...
� Bobagem, Pet�nia, nunca passei fome quando estive em Smeltings � disse tio V�lter animado. � Duda come bastante, n�o come filho?
Duda, que era t�o gordo que a bunda sobrava para os lados da cadeira da cozinha, sorriu e virou-se para Harry.
� Passe a frigideira.
� Voc� esqueceu a palavra m�gica � disse Harry irritado. 
O efeito desta simples frase no resto da fam�lia foi inacredit�vel.
Duda ofegou e caiu da cadeira com um baque que sacudiu a cozinha inteira; a Sra. Dursley soltou um gritinho e levou as m�os � boca; o Sr. Dursley levantou-se com um salto, as veias latejando nas t�mporas.
� Eu quis dizer "por favor"! � explicou Harry depressa.
� N�o quis dizer...
� QUE FOI QUE J� LHE DISSE � trovejou o tio, borrifando saliva pela mesa. � COM RELA��O A DIZER ESSA PALAVRA COM "M" NA NOSSA CASA?
� Mas eu...
� COMO SE ATREVE A AMEA�AR DUDA! � berrou tio V�lter, dando um soco na mesa.
� Eu s�...
� EU O AVISEI! N�O VOU TOLERAR A MEN��O DA SUA ANORMALIDADE DEBAIXO DO MEU TETO!
Harry olhava do rosto purp�reo do tio para o rosto p�lido da tia, que tentava p�r Duda de p�.
� Est� bem � disse Harry �, est� bem...
O tio V�lter se sentou, respirando como um rinoceronte sem f�lego e observando Harry com aten��o pelos cantos dos olhinhos penetrantes.
Desde que Harry voltara para passar as f�rias de ver�o em casa, tio V�lter o tratava como uma bomba que fosse explodir a qualquer momento, porque Harry Potter n�o era um menino normal. Ali�s, ele era t�o anormal quanto era poss�vel ser.
Harry Potter era um bruxo � um bruxo que acabara de terminar o primeiro ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. E se os Dursley se sentiam infelizes de t�-lo ali nas f�rias, isso n�o era nada comparado ao que Harry sentia.
Sentia tanta falta de Hogwarts que era como se tivesse uma dor de barriga permanente.
Sentia falta do castelo, com seus fantasmas e suas passagens secretas, das aulas (exceto talvez a de Snape, o professor de Po��es), do correio trazido pelas corujas, dos banquetes no Sal�o Principal, de dormir em uma cama de baldaquino no dormit�rio da torre, das visitas ao guarda-ca�as, Hagrid, em sua cabana na orla da Floresta Proibida nos terrenos da escola, e, principalmente, do Quadribol, o esporte mais popular no mundo dos bruxos (seis postes altos pata delimitar o gol, quatro bolas voadoras e catorze jogadores montados em vassouras).
Todos os livros de feiti�os, a varinha, as vestes, o caldeir�o e a vassoura Nimbus 2000, �ltimo tipo, pertencentes � Harry tinham sido trancados no arm�rio debaixo da escada pelo tio V�lter no instante em que o sobrinho pisara em casa. Que importava aos Dursley se Harry perdesse o lugar no time de Quadribol da Casa porque n�o praticara o ver�o inteiro? O que significava para os Dursley que Harry voltasse para a escola sem os deveres de casa feitos? Os Dursley eram o que bruxos chamavam de trouxas (sem um pingo de sangue m�gico nas veias) e na opini�o deles ter um bruxo na fam�lia era uma quest�o da mais profunda vergonha. Tio V�lter havia at� passado o cadeado na gaiola da coruja de Harry Edwiges, para impedi-la de levar mensagens para algu�m no mundo dos bruxos.
Harry n�o se parecia nada com o resto da fam�lia. Tio V�lter era corpulento e sem pesco�o, com uma enorme bigodeira preta; a tia Pet�nia tinha uma cara de cavalo e era ossuda; Duda era louro, rosado e lembrava um porquinho. J� o Harry era pequeno e magricela, com olhos verdes vivos e cabelos muito pretos que estavam sempre despenteados. Usava �culos redondos e, na testa, tinha uma cicatriz fina em forma de raio.
Era esta cicatriz que tornava Harry t�o diferente, mesmo para um bruxo. A cicatriz era o �nico vest�gio do seu passado muito misterioso, da raz�o por que fora deixado no batente dos Dursley, onze anos antes.
Com a idade de um ano, Harry por alguma raz�o sobrevivera aos feiti�os do maior bruxo das trevas de todos os tempos, Lord Voldemort, cujo nome a maioria dos bruxos e bruxas ainda tinha medo de pronunciar. Os pais de Harry morreram ao serem atacados por Voldemort, mas o garoto escapara com a cicatriz em forma de raio e por alguma raz�o � ningu�m entendia muito bem � os poderes de Voldemort tinham sido destru�dos na hora em que n�o conseguira mat�-lo.
Assim, Harry fora criado pela irm� e o cunhado de sua falecida m�e. Passara dez anos com os Dursley, sem nunca compreender por que fazia coisas estranhas acontecerem o tempo todo sem querer, acreditando na hist�ria dos Dursley de que sua cicatriz resultara do acidente de autom�vel que matara seus pais.
Ent�o, h� exatamente um ano, Hogwarts escrevera a Harry, e a hist�ria toda fora revelada. O garoto ocupara sua vaga na escola de bruxaria, onde ele e sua cicatriz eram famosos... Mas agora o ano letivo terminara, e ele voltara � casa dos Dursley para passar o ver�o, voltara a ser tratado como um cachorro que andara se esfregando em alguma coisa fedorenta.
Os Dursley nem sequer se lembraram que hoje, por acaso, era o d�cimo segundo anivers�rio de Harry. Naturalmente ele n�o alimentava grandes esperan�as; seus parentes jamais tinham lhe dado um presente de verdade, muito menos um bolo � mas esquec�-lo completamente...
Naquele momento, o tio V�lter pigarreou cheio de pose e disse:
� Hoje, como todos sabemos, � um dia muito importante.
Harry ergueu os olhos, mal se atrevendo a acreditar. 
� Hoje talvez venha a ser o dia em que vou fechar o maior neg�cio de minha carreira.
Harry tornou a se concentrar em sua torrada. Naturalmente, pensou com amargura, tio V�lter estava falando daquele jantar idiota. N�o falava de outra coisa havia duas semanas. Um construtor rico e sua mulher vinham jantar e tio V�lter tinha esperan�as de receber um grande pedido (a companhia de tio V�lter fabricava brocas).
� Acho que devemos repassar o programa mais uma vez � disse ele. � Precisamos todos estar em posi��o �s oito horas.
� Pet�nia, voc� vai estar...?
� Na sala de visitas � disse tia Pet�nia sem pestanejar � esperando para dar as boas vindas como manda a etiqueta.
� �timo, �timo. E o Duda?
� Vou esperar para abrir a porta. � Duda deu um sorriso desagrad�vel e hip�crita. � "Posso guardar os seus casacos, Sr. e Sra. Mason?�
� Eles v�o ador�-lo! � exclamou tia Pet�nia arrebatada.
� Excelente Duda � disse tio V�lter. Em seguida dirigiu-se zangado a Harry. � E voc�?
� Vou ficar no meu quarto, sem fazer barulho, fingindo que n�o estou em casa � disse Harry monotonamente.
� Exatamente � disse tio V�lter, sarc�stico. � Eu levo o casal para a sala de visitas, apresento voc�, Pet�nia, e sirvo os drinques. �s oito e quinze...
� Eu anuncio o jantar � disse tia Pet�nia.
� E Duda, voc� vai dizer...
� Posso acompanh�-la � sala de jantar, Sra. Mason? � disse Duda oferecendo o bra�o gordo a uma mulher invis�vel.
� Meu perfeito cavalheirinho! � fungou tia Pet�nia.
� E voc�? � perguntou tio V�lter malevolamente a Harry.
� Vou estar no meu quarto, sem fazer nenhum barulho, fingindo que n�o estou em casa � respondeu Harry sem emo��o.
� Precisamente. Agora vamos procurar fazer uns elogios realmente bons ao jantar. Pet�nia, alguma sugest�o?
� V�lter me contou que o senhor � um excelente jogador de golfe, Sr. Mason... Onde foi que a senhora comprou o seu vestido, me conte, por favor Sra.
Mason...
� Perfeito... Duda?
� Que tal... Tivemos que fazer uma reda��o na escola sobre o nosso her�i, Sr.
Mason, e eu escrevi sobre o senhor.
Essa foi demais tanto para Pet�nia quanto para Harry. Tia Pet�nia debulhou-se em l�grimas e abra�ou o filho, e Harry mergulhou embaixo da mesa para que n�o o vissem rindo.
� E voc�, seu moleque?
Harry fez for�a para manter a cara s�ria enquanto se endireitava.
� Vou estar no meu quarto, sem fazer nenhum barulho, fingindo que n�o estou em casa.
� E pode ter certeza que vai � disse tio V�lter com vigor.
� Os Mason n�o sabem que voc� existe e v�o continuar sem saber. Quando terminar o jantar, voc� leva a Sra. Mason de volta � sala de visitas para o cafezinho, Pet�nia, e eu vou puxar o assunto das brocas. Com alguma sorte, o contrato vai estar assinado e selado antes do notici�rio das dez. Amanh� a estas horas vamos estar procurando uma casa de f�rias em Majorca para comprar.
Harry n�o conseguiu se animar muito com a id�ia. N�o achava que os Dursley fossem gostar mais dele em Majorca do que gostavam na Rua dos Alfeneiros.
� Tudo certo, estou indo � cidade apanhar os smokings para mim e Duda. E voc� � rosnou ele para Harry �, trate de ficar fora do caminho de sua tia enquanto ela est� limpando a casa.
Harry saiu pela porta dos fundos. Fazia um dia claro e ensolarado. Ele atravessou o jardim, se largou em cima de um banco e cantou baixinho:
� Parab�ns para mim... Parab�ns para mim...
Nada de cart�es, nada de presentes e ia passar a noite fingindo que n�o existia. Ele contemplou infeliz, a sebe do jardim. Nunca se sentira t�o solit�rio.
Mais do que qualquer outra coisa em Hogwarts, mais at� que do jogo de Quadribol, Harry sentia falta dos seus melhores amigos, Rony Weasley e Hermione Granger. Mas parecia que os amigos n�o estavam sentindo falta dele. Nenhum dos dois lhe escrevera o ver�o inteiro, embora Rony tivesse dito que o convidaria para passar uns dias em sua casa.
In�meras vezes, Harry estivera a ponto de usar a magia para destrancar a gaiola de Edwiges e mand�-la a Rony e Mione com uma carta, mas n�o valia o risco.
Bruxos menores de idade n�o podiam usar a magia fora da escola. Harry n�o contara isso aos Dursley; sabia que era apenas o terror que sentiam de que ele os transformasse em besouros bosteiros que os impedira de tranc�-lo no arm�rio embaixo da escada com a varinha e a vassoura. Mas, nas primeiras semanas de sua volta, Harry se divertira em murmurar palavras sem sentido, baixinho e em observar Duda sair correndo da sala o mais depressa que suas pernas gordas podiam ag�ent�-lo. Mas o longo sil�ncio de Rony e Mione fizera com que Harry se sentisse t�o desligado do mundo da magia que at� atormentar Duda tinha perdido a gra�a � e agora os dois amigos tinham se esquecido do seu anivers�rio.
O que ele n�o daria agora para receber uma mensagem de Hogwarts? De algum bruxo ou bruxa? Conseguiria at� se alegrar com a vis�o do seu arquiinimigo, Draco Malfoy, s� para ter certeza de que tudo n�o passara de um sonho...
N�o que o ano todo em Hogwarts tivesse sido uma brincadeira. No finzinho do �ltimo trimestre, Harry se vira frente a frente com Lord Voldemort em pessoa. O bruxo poderia ser astuto, ainda estava decidido a retomar o poder. Harry escorregara por entre as garras de Voldemort uma segunda vez, mas fora por um triz, e mesmo agora, semanas depois, Harry continuava a acordar � noite, encharcado de suor frio, imaginando onde estaria Voldemort neste momento, lembrando-se do seu rosto l�vido, dos seus olhos arregalados e delirantes...
Harry endireitou-se de repente no banco do jardim. Estivera olhando distraidamente para a sebe � e a sebe estava olhando para ele.
Dois enormes olhos verdes tinham aparecido entre as folhas.
O garoto levantou-se de um salto no mesmo instante em que uma voz debochada atravessou o gramado.
� Eu sei que dia � hoje � cantarolou Duda, andando feito um pato em sua dire��o.
Os olhos enormes piscaram e desapareceram.
� Qu�? � disse Harry sem despregar os olhos do lugar onde os tinha visto.
� Eu sei que dia � hoje � repetiu Duda, aproximando-se.
� Muito bem � disse Harry. � At� que enfim voc� aprendeu os dias da semana.
� Hoje � o seu anivers�rio � ca�oou Duda. � Como � que voc� n�o recebeu nenhum cart�o? Ser� que voc� n�o tem amigos nem naquele lugar esquisito?
� E melhor n�o deixar sua m�e ouvir voc� falando da minha escola � disse Harry com toda a calma.
Duda puxou para cima as cal�as que estavam escorregando pelo seu traseiro gordo.
� Por que � que voc� estava olhando para a sebe? � perguntou, desconfiado.
� Estou tentando decidir qual seria o melhor feiti�o para tocar fogo nela � respondeu Harry.
Duda recuou aos trope�os na mesma hora, com uma express�o de p�nico no rosto.
� Voc� n�o p-pode, papai disse que voc� n�o pode fazer m�gicas, disse que expulsa voc� de casa, e voc� n�o tem para onde ir, voc� n�o tem nenhum amigo que possa ficar com voc�...
� Jigueri pokueri � disse Harry com ferocidade. � Ohocus pocus eskuigli wigli...
� M�����e! � berrou Duda, trope�ando nos pr�prios p�s enquanto disparava para dentro de casa. � M����e! Ele est� fazendo aquilo que voc� sabe!
Harry pagou muito caro por aquele momento de prazer. Como nem Duda nem a cerca tinham sido molestados, tia Pet�nia viu que ele n�o tinha feito m�gica alguma, mas ainda assim ele precisou se encolher quando a tia tentou acertar sua cabe�a com uma pesada frigideira cheia de sab�o. Em seguida ela lhe deu trabalho para fazer, com a promessa de que ele n�o iria comer nada at� terminar.
Enquanto Duda ficou por ali apreciando e se enchendo de sorvete, Harry lavou as janelas, lavou o carro, aparou o gramado, limpou os canteiros, podou e regou as roseiras e repintou o banco do jardim. O sol escaldava l� no alto, queimando sua nuca.
Harry sabia que n�o devia ter mordido a isca de Duda, mas o primo dissera exatamente aquilo que ele andara pensando com os seus bot�es... Talvez n�o tivesse amigos em Hogwarts...
Gostaria que eles pudessem ver o famoso Harry Potter agora, pensou com selvageria enquanto espalhava estrume nos canteiros, com as costas doendo e o suor escorrendo pelo rosto.
Eram sete e meia da noite quando finalmente, exausto, ele ouviu tia Pet�nia cham�-lo.
� Venha j� aqui! E ande em cima dos jornais!
Harry transferiu-se com prazer para a sombra da cozinha reluzente. Em cima da geladeira estava o pudim do jantar: uma montanha de creme batido e violetas cristalizadas. Um lombo de porco assado chiava no forno.
� Coma depressa! Os Mason n�o v�o demorar a chegar! � disse com rispidez tia Pet�nia, apontando para as duas fatias de p�o e um peda�o de queijo em cima da mesa da cozinha. Ela j� pusera o vestido de noite salm�o.
Harry lavou as m�os e engoliu seu jantar miser�vel. No instante em que terminou, a tia retirou seu prato.
� J� para cima! Depressa!
Ao passar pela porta da sala de visitas, Harry vislumbrou o tio e Duda de gravata borboleta e smoking. Mal acabara de chegar ao patamar do primeiro andar quando a campainha tocou, e a cara furiosa do tio V�lter apareceu ao p� da escada.
� Lembre-se, seu moleque, nem um pio...
Harry foi para o seu quarto na ponta dos p�s, se esgueirou para dentro, fechou a porta e se virou para cair na cama.
O problema foi que j� havia algu�m sentado nela.














CAP�TULO DOIS
O Aviso de Dobby

Harry conseguiu n�o gritar, mas foi por pouco. A criaturinha em sua cama tinha orelhas grandes como as de um morcego e olhos esbugalhados e verdes do tamanho de bolas de t�nis. Harry percebeu na mesma hora que era aquilo que o andara observando na sebe do jardim �quela manh�.
Enquanto se entreolhavam, Harry ouviu a voz de Duda no hall.
� Posso guardar os seus casacos, Sr. e Sra. Mason?
A criatura escorregou da cama e fez uma reverencia t�o exagerada que seu nariz, comprido e fino, encostou no tapete.
Harry reparou que ela vestia uma coisa parecida com uma fronha velha, com fendas para enfiar as pernas e os bra�os.
� Ah... Al� � cumprimentou Harry nervoso.
� Harry Potter! � exclamou a criatura com uma voz esgani�ada que Harry teve certeza de que seria ouvida no andar de baixo. � H� tanto tempo que Dobby quer conhec�-lo, meu senhor... � uma grande honra...
� Ob-obrigado � respondeu Harry, andando encostado � parede para se largar na cadeira da escrivaninha, perto de Edwiges, que dormia em sua gaiola espa�osa. Teve vontade de perguntar "Que coisa � voc�?", mas achou que poderia parecer muito mal-educado, e em vez disso perguntou: � Quem e voc�?
� Dobby, meu senhor. Apenas Dobby. Dobby o elfo dom�stico � disse a criatura.
� Ah... � mesmo? Ah... N�o quero ser grosseiro nem nada, mas... A hora n�o � muito pr�pria para ter um elfo dom�stico no meu quarto.
Ouviu-se a risada aguda e falsa de tia Pet�nia na sala. O elfo baixou a cabe�a.
� N�o que eu n�o esteja contente de conhec�-lo � acrescentou Harry depressa �, mas, ah, tem alguma raz�o especial para voc� estar aqui?
� Ah, claro, meu senhor � disse Dobby muito s�rio. � Dobby veio dizer ao senhor, meu senhor... � dif�cil, meu senhor.. Dobby fica se perguntando por onde come�ar...
� Sente-se � disse Harry gentilmente, apontando para a cama.
Para seu horror, o elfo caiu no choro � um choro muito alto.
� S-sen-te-se! � chorou. � Nunca... Nunca na vida...
Harry pensou ter ouvido as vozes no andar de baixo hesitarem.
� Me desculpe � sussurrou. � N�o quis ofend�-lo nem nada...
� Ofender Dobby! � engasgou-se o elfo. � Dobby nunca foi convidado a se sentar por um bruxo... Como um igual.
Harry, tentando ao mesmo tempo fazer o elfo se calar e dar a impress�o de consol�-lo, levou Dobby de volta � cama, onde o elfo se sentou entre solu�os, parecendo uma boneca enorme e muito feia. Por fim ele conseguiu se controlar e se sentou, os grandes olhos fixos em Harry com uma express�o de aquosa admira��o.
� Vai ver voc� nunca encontrou muitos bruxos decentes � disse Harry para anim�-lo.
Dobby sacudiu a cabe�a. Depois, sem aviso, saltou da cama e come�ou a bater a cabe�a, furiosamente na janela, gritando "Dobby mau! Dobby mau!�
� N�o... Que � que est� fazendo? � Harry sibilou, levantando-se depressa para puxar Dobby de volta para a cama. Edwiges acordara com um pio particularmente alto e batia as asas assustada contra as grades da gaiola.
� Dobby teve que se castigar, meu senhor � disse o elfo, que ficara ligeiramente vesgo. � Dobby quase falou mal da pr�pria fam�lia, meu senhor..
� Sua fam�lia?
� A fam�lia de bruxos a que Dobby serve, meu senhor... Dobby � um elfo dom�stico, obrigado a servir a uma casa e a uma fam�lia para sempre...
� E eles sabem que voc� est� aqui? � perguntou Harry curioso.
Dobby estremeceu.
� Ah, n�o senhor, n�o... Dobby ter� que se castigar com a maior severidade por ter vindo v�-lo, meu senhor. Dobby ter� que prender as orelhas na porta do forno por causa disto. Se eles vierem, a saber, meu senhor...
� Mas eles n�o v�o reparar se voc� prender as orelhas na porta do forno?
� Dobby duvida meu senhor. Dobby est� sempre tendo que se castigar por alguma coisa, meu senhor. Eles nem ligam para Dobby, meu senhor. �s vezes me lembram de cumprir uns castigos a mais...
� Por que voc� n�o vai embora? Foge?
� Um elfo dom�stico tem que ser libertado, meu senhor. E a fam�lia nunca vai libertar Dobby... Dobby vai servir � fam�lia at� morrer, meu senhor...
Harry ficou olhando.
� E eu achei que era ruim continuar aqui mais quatro semanas. Isto faz os Dursley parecerem quase humanos. E ningu�m pode ajud�-lo? Eu n�o posso?
Quase imediatamente Harry desejou n�o ter falado. Dobby desmanchou-se outra vez em guinchos de gratid�o.
� Por favor � Harry sussurrou nervoso �, por favor, fique quieto. Se os Dursley ouvirem alguma coisa, se souberem que voc� esta aqui...
� Harry Potter pergunta se pode ajudar Dobby... Dobby ouviu falar de sua grandeza, senhor, mas de sua bondade Dobby nunca soube...
Harry, que estava sentindo o rosto ficar decididamente quente, disse:
� Seja o que for que voc� ouviu sobre a minha grandeza � tudo bobagem. N�o sou sequer o primeiro da minha s�rie em Hogwarts; Hermione, sim, ela...
Mas se calou depressa, porque pensar em Mione do�a.
� Harry Potter � humilde e modesto � disse Dobby, reverente, as �rbitas dos olhos brilhando. � Harry Potter n�o fala de sua vit�ria sobre Ele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado...
� Voldemort?
Dobby cobriu as orelhas com as m�os e gemeu.
� N�o fale o nome dele, senhor! N�o fale o nome dele!
� Desculpe � disse Harry depressa. � Sei que muita gente n�o gosta de falar. Meu amigo Rony...
E calou-se outra vez. Pensar em Rony tamb�m do�a.
Dobby curvou-se em dire��o a Harry, seus olhos redondos parecendo fatais.
� Dobby ouviu falar � comentou com voz rouca � que Harry Potter encontrou o Lord das Trevas pela segunda vez, faz pouco tempo... Que Harry Potter escapou novamente.
Harry confirmou com a cabe�a e os olhos de Dobby, de repente, brilharam de l�grimas.
� Ah, meu senhor � exclamou, secando o rosto com a ponta da fronha suja que usava. � Harry Potter � valente e audacioso! J� enfrentou tantos perigos! Mas Dobby veio proteger Harry Potter, alert�-lo, mesmo que ele tenha que prender as orelhas na porta do forno depois... Harry Potter n�o deve voltar � Hogwarts.
Fez-se um sil�ncio interrompido apenas pelo tinido dos talheres l� embaixo e o reboar distante da voz do tio V�lter.
� Q-qu�? � gaguejou Harry. � Mas eu tenho que voltar, o trimestre come�a em primeiro de setembro.  � s� o que me anima a viver. Voc� n�o sabe o que passo aqui. O meu lugar n�o � aqui. O meu lugar � no seu mundo, em Hogwarts.
� N�o, n�o, n�o � guinchou Dobby, sacudindo a cabe�a com tanta for�a que as orelhas esvoa�aram. � Harry Potter deve ficar onde est� seguro. Ele � grande demais, bom demais, para perder. Se Harry Potter voltar a Hogwarts, vai encontrar um perigo mortal.
� Por qu�? � perguntou Harry surpreso.
� H� uma trama, Harry Potter. Uma trama para fazer coisas terr�veis acontecerem na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts este ano � sussurrou Dobby, tomado de repentina tremedeira. � Dobby sabe disso h� meses, meu senhor.  Harry Potter n�o deve se expor ao perigo. Ele � demasiado importante, meu senhor!
� Que coisas terr�veis? � perguntou Harry na mesma hora. � Quem est� planejando essas coisas?
Dobby fez um barulho engra�ado como se engasgasse e em seguida bateu com a cabe�a na parede num frenesi.
� Est� bem! � exclamou Harry, agarrando o bra�o do elfo para faz�-lo parar. � Voc� n�o pode me dizer eu compreendo. Mas por que � que voc� est� alertando a mim? � Um pensamento s�bito e desagrad�vel lhe ocorreu. � Espere a�, isso n�o tem nada a ver com Vol... Desculpe... Com o Voc�-Sabe-Quem, tem? Voc� s� precisa fazer com a cabe�a sim ou n�o � acrescentou ele depressa quando a cabe�a de Dobby voltou a se inclinar de modo preocupante para o lado da parede.
� N�o... N�o Ele-que-N�o-Deve-Ser-Nomeado, meu senhor.
Mas os olhos de Dobby se arregalaram e ele parecia estar tentando dar uma indica��o ao garoto. Mas Harry, no entanto, n�o entendeu nada.
Dobby sacudiu a cabe�a, os olhos mais arregalados que nunca.
� Ent�o n�o consigo pensar quem mais teria uma chance de fazer acontecer coisas terr�veis em Hogwarts � disse Harry. � Quero dizer, tem o Dumbledore, voc� sabe quem � Dumbledore, n�o sabe?
Dobby inclinou a cabe�a.
� Alvo Dumbledore � o maior diretor que Hogwarts j� teve. Dobby sabe disso, meu senhor Dobby ouviu dizer que os poderes de Dumbledore se rivalizam com os de Ele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado, no auge de sua for�a. Mas, meu senhor.. � a voz de Dobby se transformou em um sussurro urgente � h� poderes que Dumbledore n�o... Poderes que nenhum bruxo decente...
E antes que Harry pudesse impedi-lo, Dobby saltou da cama, agarrou o abajur da escrivaninha de Harry e come�ou a se golpear na cabe�a, com ganidos de furar os t�mpanos.
Fez-se um sil�ncio repentino no andar de baixo. Dois segundos depois, Harry, com o cora��o batendo loucamente, ouviu tio V�lter entrar no corredor falando:
� Duda deve ter deixado a televis�o ligada outra vez, o pestinha!
� Depressa! Dentro do arm�rio! � sibilou Harry, empurrando Dobby, fechando a porta e se atirando na cama bem na hora em que a ma�aneta girou.
� Que... Diabo... Voc�... Esta... Fazendo? � disse tio V�lter por entre os dentes cerrados, o rosto horrivelmente pr�ximo do de Harry. � Voc� acabou de estragar o fecho da minha piada sobre o golfista japon�s... Mais um ru�do e voc� vai desejar nunca ter nascido, moleque!
Ele saiu do quarto pisando forte.
Tr�mulo, Harry deixou Dobby sair do arm�rio.
� Est� vendo como � aqui? � perguntou. � Est� vendo por que preciso voltar para Hogwarts? � o �nico lugar onde tenho...  Acho que tenho amigos.
� Amigos que nem escrevem a Harry Potter? � perguntou Dobby manhoso.
� Acho que eles estiveram... Espere a� � disse Harry amarrando a cara. � Como � que voc� sabe que meus amigos n�o t�m escrito?
Dobby arrastou os p�s.
� Harry Potter n�o deve se zangar com Dobby. Dobby fez isso para ajudar!
� Voc� andou interceptando minhas cartas?
� Dobby est� com elas aqui, meu senhor � respondeu o elfo. Saindo de fininho do alcance de Harry, ele puxou um ma�o grosso de envelopes de dentro da roupa. Harry conseguiu distinguir a letra caprichosa de Mione, os garranchos de Rony e at� umas garatujas que pareciam ter vindo do guarda-ca�as de Hogwarts, Hagrid.
Dobby piscou ansioso para Harry.
� Harry Potter n�o deve se zangar... Dobby tinha esperan�as... Se Harry Potter achasse que os amigos tinham esquecido dele... Harry Potter talvez n�o quisesse voltar � escola, meu senhor...
Harry n�o estava ouvindo. Tentou agarrar as cartas, mas Dobby saltou para longe do seu alcance.
� Harry Potter as receber� meu senhor, se der a Dobby sua palavra de que n�o vai voltar a Hogwarts. Ah, meu senhor, este � um perigo que o senhor n�o deve enfrentar! Diga que n�o vai voltar meu senhor!
� N�o � respondeu Harry zangado. � Entregue-me as cartas dos meus amigos!
� Ent�o Harry Potter n�o deixa a Dobby outra escolha � disse o elfo triste.
Antes que Harry pudesse se mexer, Dobby se precipitou para a porta do quarto, abriu-a e correu escada abaixo.
A boca seca, o est�mago revirando, Harry saltou atr�s dele, tentando n�o fazer barulho. Pulou os �ltimos seis degraus, caindo como um gato no tapete da entrada, procurando Dobby por todo lado. Da sala de jantar ele ouviu tio V�lter dizer:
� Conte a Pet�nia aquela hist�ria engra�ada dos encanadores americanos, Sr. Mason. Ela anda doida para ouvir...
Harry correu pelo corredor em dire��o � cozinha e sentiu o cora��o parar. 
A obra-prima de tia Pet�nia, aquele pudim coberto de creme e violetas cristalizadas estava flutuando junto ao teto. Em cima de um guarda-lou�a no canto, encontrava-se agachado Dobby.
� N�o � disse Harry quase sem voz. � Por favor... Eles v�o me matar...
� Harry Potter deve prometer que n�o vai voltar � escola...
� Dobby... Por favor...
� Prometa meu senhor...
� N�o posso!
Dobby lan�ou-lhe um olhar tr�gico.
� Ent�o Dobby vai fazer isso, meu senhor, pelo bem de Harry Potter.
O pudim caiu no ch�o com um baque de fazer parar o cora��o. O creme sujou as janelas e as paredes quando o prato se espatifou. Com um estalido que parecia uma chicotada, Dobby desapareceu.
Ouviram-se gritos vindos da sala de jantar e tio V�lter irrompeu pela cozinha onde encontrou Harry, paralisado de choque, coberto com o pudim de tia Pet�nia da cabe�a aos p�s.
A princ�pio, pareceu que o tio V�lter ia conseguir explicar a coisa toda.
("� o nosso sobrinho... Muito perturbado... Ver estranhos o perturba, ent�o n�s o mantemos no primeiro andar") Ele tangeu os Mason, muito chocados, de volta � sala de jantar, prometeu a Harry que ia chicote�-lo e deix�-lo quase morto quando os Mason fossem embora, e lhe entregou um esfreg�o.
Tia Pet�nia desencavou um sorvete do congelador e Harry, ainda tremendo, come�ou a limpar a cozinha com o esfreg�o.
Tio V�lter talvez ainda tivesse conseguido fechar o neg�cio, se n�o fosse pela coruja.
Tia Pet�nia estava oferecendo uma caixa de bombons de hortel�, depois do jantar, quando uma enorme coruja mergulhou pela janela da sala de jantar, deixou cair uma carta na cabe�a da Sra. Mason e tornou a sair. A Sra. Mason berrou como uma alma penada e saiu porta afora gritando que havia doidos l� dentro. O Sr. Mason se demorou o suficiente para dizer aos Dursley que sua mulher tinha um medo mortal de p�ssaros de qualquer tipo e tamanho, e para perguntar se aquilo era a id�ia que faziam de uma brincadeira.
Harry ficou na cozinha, segurando o esfreg�o � procura de apoio, quando tio V�lter avan�ou para ele, um brilho demon�aco nos olhinhos mi�dos.
� Leia isto! � sibilou malignamente, sacudindo a carta que a coruja entregara. � Vamos... Leia isso!
Harry apanhou a carta. N�o continha votos de feliz aniversario.

�Prezado Senhor Potter, Fomos informados que um feiti�o de levita��o foi usado esta noite em seu local de resid�ncia �s 9:12h. Como o senhor sabe, bruxos de menor idade n�o tem permiss�o para fazer feiti�os fora da escola e, a continuar esta pr�tica, o senhor poder� ser expulso da referida escola (Decreto para restri��o racional da pr�tica de bruxaria por menores, 1875, par�grafo C).
Gostar�amos tamb�m de lembrar-lhe que qualquer atividade m�gica que possa chamar a aten��o da comunidade n�o m�gica (trouxa) � uma infra��o grave, conforme se��o 13 do Estatuto de Sigilo da Confedera��o Internacional de Bruxos.
Boas f�rias!
Mafalda Hopkirk 
Escrit�rio de Controle do Uso Indevido de M�gica 
Minist�rio da Magia�

Harry ergueu os olhos da carta e engoliu em seco.
� Voc� n�o nos disse que n�o tinha permiss�o de usar m�gica fora da escola � disse tio V�lter, um brilho demente dan�ando nos olhos. � Esqueceu-se de mencionar... Vai ver lhe escapou...
O tio veio avan�ando para Harry como um grande buldogue, os dentes arreganhados.
� Muito bem, tenho novidades para voc�, seu moleque... Vou prend�-lo... Voc� nunca mais vai voltar para aquela escola... Nunca... E se tentar se soltar por m�gica, eles � que v�o expuls�-lo!
E dando risadas como um man�aco, arrastou Harry para o quarto.
Tio V�lter n�o faltou com sua palavra. Na manha seguinte, ele pagou um homem para instalar grades na janela de Harry. Ele mesmo instalou a portinhola na porta do quarto, para que, tr�s vezes por dia, eles pudessem empurrar pequenas quantidades de comida para dentro. Soltavam Harry de manh� e de noite para usar o banheiro.
A exce��o disso, ele permanecia preso no quarto, dia e noite.
Tr�s dias depois, os Dursley continuavam a n�o dar sinais de compadecimento, e Harry n�o via nenhuma sa�da para sua situa��o. Deitava-se na cama observando o sol se p�r por tr�s das grades da janela e se perguntava, infeliz, o que ia lhe acontecer.
De que adiantava se libertar do quarto por meio de m�gica se Hogwarts o expulsaria por isso? Contudo, a vida na Rua dos Alfeneiros atingira seu ponto cr�tico.
Agora que os Dursley sabiam que n�o iam acordar transformados em morcegos comedores de frutas, Harry perdera sua �nica arma. Dobby talvez o tivesse salvo dos horr�veis acontecimentos em Hogwarts, mas do jeito que as coisas caminhavam, ele provavelmente ia morrer de fome.
A portinhola bateu e a m�o da tia Pet�nia surgiu empurrando uma tigela de sopa em lata para dentro do quarto. Harry, cujas entranhas do�am de tanta fome, saltou da cama e apanhou-a. A sopa estava gelada, mas ele bebeu metade de um gole s�. Depois, atravessou o quarto at� a gaiola de Edwiges e empurrou as verduras moles do fundo da tigela para a bandeja vazia da coruja. Ela sacudiu as penas e lhe lan�ou um olhar de profundo nojo.
� N�o adianta empinar o bico para a comida: isto � s� o que temos � disse Harry s�rio.
Ele rep�s a tigela vazia ao lado da portinhola e se deitou na cama, sentindo-se mais faminto do que estivera antes da sopa.
Supondo que continuasse vivo dali a quatro semanas, o que aconteceria se n�o se apresentasse em Hogwarts? Mandariam algu�m para saber por que ele n�o voltara? Conseguiriam obrigar os Dursley a solt�-lo?
O quarto foi escurecendo. Exausto, com a barriga roncando, a cabe�a girando com a mesma pergunta irrespond�vel, Harry mergulhou num sono agitado.
Sonhou que estava sendo exibido num zool�gico, com uma etiqueta presa � gaiola em que se lia: BRUXO MENOR DE IDADE. As pessoas o observavam por tr�s das grades, faminto e fraco, deitado numa cama de palha. Ele viu o rosto de Dobby na multid�o e gritou pedindo ajuda, mas Dobby respondeu: "Harry Potter est� seguro a�, meu senhor!" e desapareceu. Ent�o os Dursley apareceram e sacudiram as grades da gaiola, rindo-se dele.
� Parem � murmurou Harry enquanto o barulho das grades martelava em sua cabe�a dolorida. � Me deixem em paz... Parem com isso... Estou tentando dormir...
Ele abriu os olhos. O luar entrava pelas grades da janela. E algu�m o espiava pelas grades: algu�m de rosto sardento, cabelos vermelhos e nariz comprido.
Rony Weasley se achava do lado de fora da janela de Harry.









CAP�TULO TR�S
A Toca

� Rony! � murmurou Harry, deslizando furtivamente at� a janela e abrindo-a de modo que pudessem conversar atrav�s das grades. � Rony, como foi que voc�... Que �...?
O queixo de Harry caiu quando o impacto do que via o atingiu por inteiro. Rony estava debru�ado na janela traseira de um velho carro turquesa, estacionado no ar. Do banco dianteiro sorriam, para Harry, Fred e Jorge, os irm�os g�meos de Rony, mais velhos que ele.
� Tudo bem, Harry? � perguntou Jorge.
� Que � que est� acontecendo? � perguntou Rony. � Por que � que voc� n�o tem respondido �s minhas cartas? Convidei-o a nos visitar umas doze vezes e ent�o papai chegou em casa e disse que voc� tinha recebido uma advert�ncia oficial por usar m�gica na frente de trouxas...
� N�o fui eu... E como � que ele soube?
� Ele trabalha no Minist�rio. Voc� sabe que n�o temos permiss�o para usar m�gica fora da escola...
� Olha quem fala � respondeu Harry olhando para o carro que flutuava.
� Ah, isto n�o conta � respondeu Rony. � � s� emprestado. � do papai, n�o fomos n�s que o enfeiti�amos. Mas fazer m�gica na frente desses trouxas com quem voc� mora...
� Eu j� disse que n�o fiz... Mas vai levar muito tempo para contar agora. Olha, ser� que voc� pode avisar em Hogwarts?  Os Dursley me trancaram e n�o v�o me deixar voltar e, � claro, n�o posso sair usando m�gica, porque o Minist�rio vai achar que � a segunda m�gica que fa�o em tr�s dias, e a�...
� Pare de falar coisas sem sentido � disse Rony. � Viemos lev�-lo para casa conosco.
� Mas voc�s tamb�m n�o podem me tirar usando m�gica...
� N�o precisamos � disse Rony, indicando com a cabe�a o banco dianteiro do carro e sorrindo. � Voc� esqueceu quem foi que eu trouxe comigo.
� Amarre isso nas grades � mandou Fred, atirando a ponta de uma corda para Harry.
� Se os Dursley acordarem, estou morto � comentou Harry enquanto amarrava a corda bem firme em volta da grade e Fred acelerava o carro.
� N�o se preocupe � falou Fred �, e d� dist�ncia.
Harry recuou para as sombras pr�ximas, a Edwiges, que parecia ter percebido como aquilo era importante e ficou parada e silenciosa. O carro roncou cada vez mais alto e, de repente, com um ru�do de tritura��o, as grades foram totalmente arrancadas da janela, enquanto Fred continuava a subir no ar Harry correu � janela e viu as grades balan�ando a pouco mais de um metro do ch�o. Rony, ofegante, guindou-as para dentro do carro. Harry escutava ansioso, mas n�o vinha o menor ru�do do quarto dos Dursley.
Depois que as grades foram guardadas no banco traseiro do carro, ao lado de Rony, Fred deu marcha a r� at� chegar o mais pr�ximo poss�vel da janela de Harry.
� Entre � convidou Rony.
� Mas todo o meu material de Hogwarts... Minha varinha... Minha vassoura...
� Onde est�?
� Trancado no arm�rio embaixo da escada, e n�o posso sair deste quarto...
� N�o tem problema � disse Jorge do banco dianteiro do carro. � Saia da frente, Harry.
Fred e Jorge entraram no quarto de Harry pela janela, feito gatos. A pessoa tinha que tirar o chap�u para eles, pensava Harry, quando Jorge puxou um grampo do bolso e come�ou a arrombar a fechadura.
� Tem muito bruxo que acha que � uma perda de tempo conhecer macetes de trouxas como esse � disse Fred �, mas n�s achamos que vale a pena aprender essas habilidades, mesmo que sejam um pouco demoradas.
A porta fez um dique e se abriu.
� Ent�o, vamos apanhar o seu mal�o, e voc� pega o que precisar do seu quarto e passa para o Rony � murmurou Jorge.
� Cuidado com o �ltimo degrau, ele range � murmurou Harry para os g�meos que desapareceram no corredor escuro.
Harry correu pelo quarto reunindo seus pertences e passando-os a Rony pela janela. Ent�o, foi ajudar Fred e Jorge a carregar o mal�o para cima. Harry ouviu o tio V�lter tossir.
Finalmente, ofegantes, eles chegaram ao alto da escada e carregaram o mal�o pelo quarto de Harry at� a janela aberta.
Fred pulou a janela de volta ao carro para puxar o mal�o com Rony, enquanto Harry e Jorge o empurravam pelo lado de dentro.
Pouco a pouco, o mal�o deslizou pela janela. Tio V�lter tossiu outra vez.
� Mais um pouquinho � arfou Fred, que estava puxando o mal�o para dentro do carro. � Mais um bom empurr�o...
Harry e Jorge jogaram os ombros contra o mal�o e ele deslizou da janela para o assento traseiro do carro.
� Muito bem, vamos � cochichou Jorge.
Mas quando Harry subia no parapeito da janela ouviu um guincho alto atr�s dele, seguido imediatamente pela voz trovejante do tio V�lter.
� ESSA CORUJA DESGRA�ADA!
� Eu esqueci a Edwiges! Harry precipitou-se de volta ao quarto na hora em que a luz do corredor se acendeu � agarrou a gaiola, correu � janela e passou-a a Rony. E estava subindo de volta na c�moda quando o tio V�lter socou a porta destrancada e ela se escancarou.
Por uma fra��o de segundo, o tio V�lter parou emoldurado pelo portal, em seguida deixou escapar um urro como o de um touro enfurecido e atirou-se contra Harry prendendo-o pelo tornozelo.
Rony, Fred e Jorge agarraram os bra�os de Harry e o puxaram com toda a for�a que tinham.
� Pet�nia! � berrou tio V�lter. � Ele est� fugindo! ELE EST� FUGINDO!
Mas os Weasley deram um pux�o gigantesco e a perna de Harry se soltou da garra do tio V�lter � e Harry j� estava no carro e batia a porta.
� P� na t�bua, Fred! � gritou Rony, e o carro disparou de repente em dire��o � lua.
Harry n�o conseguia acreditar � estava livre. Baixou a janela, o ar da noite chicoteou seus cabelos, e ele virou a cabe�a para contemplar os telhados da Rua dos Alfeneiros que desapareciam ao longe. Tio V�lter, tia Pet�nia e Duda estavam todos debru�ados, estupefatos, na janela de Harry.
� Vejo voc�s no pr�ximo ver�o! � gritou Harry.
Os Weasley soltaram gargalhadas e Harry se acomodou no banco, sorrindo de orelha a orelha.
� Solte a Edwiges � pediu ele a Rony. � Ela pode voar atr�s do carro. H� s�culos que n�o tem uma chance de esticar as asas.
Jorge passou o grampo a Rony e, um momento depois, Edwiges voou feliz pela janela e ficou deslizando ao lado do carro como um fantasma.
� Ent�o, qual � a hist�ria, Harry? � perguntou Rony impaciente. � Que aconteceu?
Harry contou tudo sobre Dobby, o aviso que dera a Harry e o desastre com o pudim de violetas. Fez-se um sil�ncio longo e assombroso quando ele terminou.
� Muito esquisito � disse Fred finalmente.
� Decididamente suspeito � concordou Jorge. � E ele nem quis lhe dizer quem estaria tramando tudo isso?
� Acho que ele n�o podia � respondeu Harry. � Eu lhe contei, todas as vezes que ele estava quase deixando escapar alguma coisa, come�ava a bater a cabe�a na parede.
Harry viu Fred e Jorge se entreolharem.
� O qu�, voc�s acham que ele estava mentindo para mim? � perguntou Harry.
� Bom � respondeu Fred �, vamos colocar a coisa assim...
� Elfos dom�sticos t�m poderes m�gicos pr�prios, mas em geral n�o podem us�-los sem a permiss�o dos donos. Calculo que o velho Dobby foi mandado para impedir que voc� voltasse a Hogwarts. Deve ser a id�ia que algu�m faz de uma brincadeira. Voc� pode imaginar algu�m na escola que tenha raiva de voc�?
� Claro � disseram Harry e Rony, juntos, na mesma hora.
� Draco Malfoy � explicou Harry. � Ele me odeia.
� Draco Malfoy? � perguntou Jorge, virando-se. � O filho de L�cio Malfoy?
� Deve ser, n�o � um nome muito comum, �? � disse Harry.
� Por qu�?
� J� ouvi papai falar nele. Era um grande seguidor de Voc�-Sabe-Quem.
� E quando Voc�-Sabe-Quem desapareceu � acrescentou Fred, esticando-se para olhar para Harry �, L�cio Malfoy voltou dizendo que nunca tivera inten��o de fazer nada. Um monte de bosta... Papai acha que ele fazia parte do c�rculo intimo de Voc�-Sabe-Quem.
Harry j� ouvira esses coment�rios sobre a fam�lia Malfoy antes e n�o se surpreendeu nem um pouco. Draco Malfoy fazia Duda Dursley parecer um menino bom, atencioso e sens�vel.
� N�o sei se os Malfoy t�m um elfo dom�stico... � disse Harry.
� Bom, seja quem for, os donos dele devem ter uma fam�lia de bruxos antiga e rica � disse Fred.
� �, mam�e sempre desejou que a gente tivesse um elfo dom�stico para passar a roupa � comentou Jorge. � Mas s� o que temos � um vampiro velho e incompetente no s�t�o e gnomos por todo o jardim. Elfos dom�sticos combinam com grandes casas senhoriais, castelos e lugares do g�nero; voc� n�o toparia com um na nossa casa...
Harry estava calado. A julgar pelo fato de que Draco Malfoy em geral tinha do bom e do melhor, a fam�lia devia rolar em dinheiro de bruxo; ele podia at� imaginar Malfoy se pavoneando por uma grande casa senhorial. Mandar o criado da fam�lia impedir Harry de voltar a Hogwarts tamb�m parecia bem o tipo de coisa que Malfoy faria. Ele teria sido t�o burro a ponto de levar Dobby a s�rio?
� Em todo o caso, fico contente que a gente tenha vindo busc�-Lo. Eu estava ficando realmente preocupado quando voc�, n�o respondeu minhas cartas. Primeiro pensei que tinha sido culpa de Errol...
� Quem � Errol?
� Nossa coruja. Ele � velh�ssimo. N�o seria a primeira vez que desmaia ao fazer uma entrega. Ent�o tentei pedir o Hermes emprestado...
� Quem?
� A coruja que mam�e e papai compraram para Percy quando ele foi nomeado monitor � explicou Fred do banco da frente.
� Mas Percy n�o quis me emprestar. Disse que precisava dele.
� Percy anda se comportando de forma muito estranha este ver�o � disse Jorge franzindo a testa. � E tem despachado um bocado de cartas e passado um temp�o trancado no quarto... Quero dizer, tem limite o n�mero de vezes que a pessoa pode querer dar brilho num distintivo de monitor.. Voc� est� se afastando demais para oeste, Fred � acrescentou, apontando a b�ssola no painel do carro. Fred corrigiu o rumo girando o volante.
� E seu pai sabe que voc� est� dirigindo o carro? � perguntou Harry, j� adivinhando a resposta.
� Ah, n�o � disse Rony �, ele teve que trabalhar hoje � noite. Com sorte conseguiremos guardar o carro de volta na garagem antes que mam�e note que sa�mos com ele.
� Afinal, que � que seu pai faz no Minist�rio da Magia?
� Ele trabalha no departamento mais mon�tono de todos � disse Rony. � O do Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas.
� O qu�?
� Tratam do feiti�o lan�ado em objetos feitos pelos trouxas, sabe, no caso de acabarem indo parar numa loja ou numa casa de trouxas. Como no ano passado, uma velha bruxa morreu e o seu servi�o de ch� foi vendido a uma loja de antiguidades.
� Uma mulher trouxa comprou o servi�o, levou para casa e tentou servir ch� aos amigos. Foi um pesadelo, papai ficou trabalhando depois do expediente durante semanas.
� Que aconteceu?
� O bule de ch� endoidou e espirrou ch� fervendo para todo lado, e um homem foi parar no hospital com as pin�as de a��car presas no nariz. Papai quase ficou louco, s� existe ele e um velho bruxo chamado Perkins no escrit�rio, e os dois tiveram que usar feiti�os para apagar lembran�as e outros tipos de recursos para abafar o caso...
� �, papai � doido por tudo que os trouxas produzem; nosso barraco de ferramentas � cheio de coisas de trouxas. Ele desmonta um objeto, enfeiti�a e torna a mont�-lo. Se ele revistasse a nossa casa teria que se dar ordem de pris�o. Mam�e fica danada.
� Aquela � a estrada principal � disse Jorge, espiando para baixo pelo p�ra-brisa. � Estaremos l� em dez minutos... Antes assim, j� est� clareando...
Uma ligeira claridade rosada tornava-se vis�vel na linha do horizonte a leste.
Fred fez o carro baixar um pouco, e Harry viu uma colcha de retalhos feita de campos e arvoredos.
� Moramos um pouquinho fora da cidade � disse Jorge. � Ottery St. Catchpole...
O carro voador continuava a descer. A aur�ola escarlate do sol agora brilhava por entre as �rvores.
� Pousamos! � exclamou Fred quando, com um ligeiro solavanco, eles tocaram o ch�o.
Tinham pousado ao lado de garagem desmantelada num pequeno quintal, e Harry olhou pela primeira vez para a casa de Rony.  Parecia ter sido no passado um grande chiqueiro de pedra, que foram acrescentando c�modos aqui e ali at� ela atingir os andares e era t�o torta que parecia ser sustentada por m�gica (o que, Harry lembrou a si mesmo, era prov�vel).
Quatro ou cinco chamin�s estavam encarrapitadas no alto do teto vermelho. Em um letreiro torto enfiado no ch�o, pr�ximo � entrada, lia-se A TOCA. Em volta da porta de entrada encontrava-se uma variedade de botas de borracha e um caldeir�o muito enferrujado.
V�rias galinhas castanhas e gordas ciscavam pelo quintal.
� N�o � muita coisa � disse Rony.
� � maravilhosa � comentou Harry feliz, pensando na Rua dos Alfeneiros.
Eles desembarcaram do carro.
� Agora vamos subir muito quietinhos � recomendou Fred e esperar mam�e nos chamar para tomar o caf� da manh�.
Eles desembarcaram do carro. 
� Ent�o Rony, voc� desce correndo e diz: "Mam�e, olhe s� quem apareceu durante a noite!" e ela vai ficar contente de ver o Harry e ningu�m vai precisar saber que sa�mos voando no carro.
� Certo � concordou Rony. � Vamos Harry, eu durmo no... No alto...
O rosto de Rony ganhou um tom verde esquisito, seus olhos se fixaram na casa. Os outros tr�s se viraram.
A Sra. Weasley vinha atravessando o quintal, espantando galinhas, e para uma senhora baixa, gorducha, de rosto bondoso, era incr�vel como estava parecendo um tigre de dentes de sabre.
� Ah!� exclamou Fred.
� Essa n�o! � exclamou Jorge.
A Sra. Weasley parou diante deles, as m�os nos quadris, olhando de uma cara culpada para a outra. Vestia um avental florido com uma varinha saindo pela borda do bolso.
� Muito bem � disse ela.
� Bom-dia, mam�e � disse Jorge, no que ele audivelmente pensou que era uma voz lampeira e cativante.
� Voc�s fazem id�ia da preocupa��o que tive? � perguntou a Sra. Weasley num sussurro letal.
� Desculpe, mam�e, mas sabe, t�nhamos que...
Os tr�s filhos da Sra. Weasley eram mais altos do que ela, mas encolheram � medida que a raiva da m�e ia desabando sobre eles.
� As camas vazias! Nenhum bilhete! O carro desaparecido... Podia ter batido... Louca de preocupa��o... Voc�s se importaram?... Nunca em minha vida... Esperem at� seu pai voltar, nunca tivemos problemas assim com o Gui nem com o Carlinhos nem com o Percy...
� O Percy perfeito � resmungou Fred.
� VOC�S PODIAM SE MIRAR NO EXEMPLO DO PERCY! � berrou a Sra. Weasley, metendo o dedo no peito de Fred.
� Voc�s podiam ter morrido, podiam ter sido vistos, podiam ter feito seu pai perder o emprego...
Parecia que o serm�o estava durando horas. A Sra. Weasley ficou rouca de tanto gritar at� se virar para Harry, que recuou.
� Estou muito contente em v�-lo, Harry, querido � disse ela. � Entre, venha tomar caf�.
Deu meia-volta e entrou em casa, e Harry, depois de lan�ar um olhar nervoso a Rony, que acenou com a cabe�a animando-o, acompanhou-a.
A cozinha era pequena e um tanto apertada. Havia ao centro uma mesa de madeira muito escovada e cadeiras, e Harry se sentou na beirada de uma, espiando � sua volta. Nunca estivera numa casa de bruxos antes.
O rel�gio na parede em frente s� tinha um ponteiro e nenhum n�mero. Havia escritas em torno do mostrador coisas assim, Hora de fazer ch�, Hora de dar comida �s galinhas e Voc� est� atrasado. Havia livros arrumados em fileiras triplas sobre o console da lareira, livros com t�tulos do g�nero Enfeitice o seu pr�prio queijo, O Feiti�o no forno e Festas de um minuto � um Encantamento! E, a n�o ser que os ouvidos de Harry o enganassem, o velho r�dio ao lado da pia acabara de anunciar que o pr�ximo programa era "Hora de Encantos, com a popular cantora bruxa, Celestina Warbeck".
A Sra. Weasley batia pratos e panelas, preparando o caf� da manh� um pouco a esmo, lan�ando olhares feios aos filhos, enquanto atirava salsichas na frigideira.
De vez em quando resmungava coisas como "n�o sei o que estavam pensando" e "eu nunca teria acreditado".
� N�o estou culpando voc�; querido � ela tranq�ilizou Harry, servindo oito ou nove salsichas no prato dele. � Arthur e eu estivemos preocupados com voc�, tamb�m. Ainda na outra noite est�vamos falando que ir�amos busc�-lo pessoalmente se voc� n�o escrevesse a Rony at� sexta-feira. Mas francamente � (ela agora acrescentava tr�s ovos fritos �s salsichas) � atravessar metade do pa�s em um carro ilegal, voc�s podiam ter sido vistos...
Ela acenou a varinha displicentemente em dire��o dos pratos na pia, que come�aram a se lavar, entrechocando-se de leve ao fundo.
� Estava nublado, mam�e! � exclamou Fred.
� Voc� fique de boca fechada enquanto come! � ralhou a Sra. Weasley.
� Estavam matando ele de fome, mam�e! � disse Jorge.
� E voc�! � disse a Sra. Weasley, mas foi com uma express�o ligeiramente mais branda que ela come�ou a cortar e passar manteiga no p�o para Harry.
Naquele momento surgiu uma distra��o sob a forma de uma figura pequena, de cabelos vermelhos, que vestia uma longa camisola, e apareceu na cozinha, deu um gritinho e saiu correndo outra vez.
� Gina � disse Rony baixinho para Harry. � Minha irm�. Andou falando em voc� o ver�o inteiro.
� �, ela vai querer o seu aut�grafo, Harry � disse Fred com um sorriso, mas viu que a m�e o olhava e baixou o rosto para o prato, calando-se. Nada mais foi dito at� os quatro pratos ficarem limpos, o que levou um tempo surpreendentemente breve.
� Putz, estou cansado � bocejou Fred, pousando finalmente a faca e o garfo. � Acho que vou me deitar e...
� N�o vai, n�o � retrucou a Sra. Weasley. � A culpa foi sua se ficou a noite toda acordado. Voc� vai desgnomizar o jardim para mim; eles est�o ficando completamente rebeldes outra vez.
� Ah, mam�e...
� E voc�s dois � disse ela, olhando feio para Rony e Fred. � Voc� pode ir se deitar, querido � acrescentou dirigindo-se a Harry. � Voc� n�o pediu a eles para voarem naquele carro infernal.
Mas Harry, que se sentia completamente acordado, disse depressa:
� Vou ajudar o Rony. Nunca vi fazer uma desgnomiza��o...
� � muito gentil de sua parte, querido, mas � trabalho mon�tono � disse a Sra. Weasley. � Agora vamos ver o que Lockhart tem a dizer sobre o assunto.
Ela puxou um livro pesado de cima do console. Jorge gemeu.
� Mam�e, n�s sabemos como desgnomizar um jardim.
Harry espiou a capa do livro da Sra. Weasley. Escritas na capa em arabescos dourados havia as palavras Guia de pragas dom�sticas de Gilderoy Lockhart. Havia na capa uma grande foto de um bruxo bonit�o de cabelos louros ondulados e olhos azuis muito vivos. Como sempre no mundo dos bruxos, a foto se mexia; o bruxo, que Harry supunha que fosse o tal Gilderoy Lockhart, n�o parava de piscar, muito animado, para todos.
� Ah, ele � um assombro � disse a m�e. � Conhece bem as pragas dom�sticas.
� um livro maravilhoso...
� Mam�e tem um xod� por ele � disse Fred num sussurro muito aud�vel.
� N�o seja rid�culo Fred � retorquiu a Sra. Weasley, o rosto muito corado. � Est� bem, se voc�s acham que sabem mais do que Lockhart, podem ir fazer o trabalho, mas tenho pena de voc�s se tiver sobrado um �nico gnomo naquele jardim quando eu sair para inspecion�-lo.
Aos bocejos e resmungos, os Weasley sa�ram se arrastando, com Harry em sua cola. O jardim era grande e, aos olhos de Harry, exatamente como um jardim devia ser. Os Dursley n�o teriam gostado � havia muito mato e a grama precisava ser aparada �, mas havia �rvores nodosas a toda volta dos muros, plantas que Harry nunca vira saindo de cada canteiro e um grande tanque de �guas verdosas cheio de sapos.
� Os trouxas tamb�m t�m gnomos de jardim, sabe � Harry contou a Rony quando cruzavam o gramado.
� Sei, j� vi aquelas coisas que eles acham que s�o gnomos � disse Rony, com o corpo dobrado e a cabe�a enfiada num p� de pe�nias �, como papais no�is baixinhos e gordinhos segurando varas de pescar...
Ouviram um ru�do de algu�m se debatendo violentamente, o p� de pe�nia estremeceu e Rony se levantou.
� Isto � um gnomo � disse serio.
� Tire as m�os de cima de mim!Tire as m�os de cima de mim! Guinchou o gnomo.
Decerto n�o parecia nada com um Papai Noel. Era pequeno, a pele parecia um couro, a cabe�orra cheia de calombos e careca, igualzinha a uma batata. Rony segurou-o � dist�ncia enquanto o gnomo o chutava com os pezinhos calosos; o garoto o agarrou pelos tornozelos e o virou de cabe�a para baixo.
� Isto � o que a gente tem que fazer � explicou. E ergueu o gnomo acima da cabe�a ("Tire as m�os de mim!") e come�ou rod�-lo em grandes c�rculos como se fosse la�ar um boi. Ao ver a cara de espanto de Harry, Rony acrescentou: � Isto n�o machuca, voc� s� precisa deix�-los bem tontos para n�o poderem encontrar o caminho de volta para as tocas de gnomos.
Ele soltou os tornozelos do gnomo: que voou uns seis metros para o alto e caiu com um baque surdo no campo do outro lado da sebe.
� Lament�vel � exclamou Fred. � Aposto que posso atirar o meu bem al�m daquele toco de �rvore.
Harry aprendeu depressa a n�o sentir muita pena dos gnomos. Resolveu simplesmente deixar cair por cima da sebe o primeiro que pegou, mas o gnomo, pressentindo fraqueza, enterrou os dentes afiados como navalhas no seu dedo, e Harry teve muito trabalho para sacudi-lo longe, at� que...
� Uau, Harry, esse deve ter ca�do a uns quinze metros...
O ar n�o tardou a ficar coalhado de gnomos voadores.
� Est� vendo, eles n�o s�o muito inteligentes � disse Jorge, agarrando cinco ou seis gnomos de uma vez. � Na hora que descobrem que est� havendo uma desgnomiza��o, aparecem correndo para dar uma espiada. Era de se esperar que j� tivessem aprendido a ficar quietos.
Logo os gnomos atirados no campo come�aram a se afastar em uma linha descont�nua, os ombrinhos curvados.
� Eles v�o voltar � disse Rony enquanto observavam os gnomos desaparecerem na sebe do outro lado do campo. � Eles adotam isso aqui... Papai � muito mole com eles; acha que s�o engra�ados...
Naquele instante, a porta de entrada bateu.
� Ele voltou! � disse Jorge. � Papai est� em casa!
Os garotos atravessaram correndo o jardim e entraram em casa.
O Sr. Weasley estava largado numa cadeira da cozinha, sem �culos e de olhos fechados. Era um homem magro, come�ando a ficar careca, mas o pouco cabelo que tinha era ruivo como o dos filhos. Usava vestes verdes e longas, que estavam empoeiradas e amarrotadas da viagem.
� Que noite! � murmurou, tateando � procura do bule de ch� enquanto todos se sentaram � sua volta. � Nove batidas.
� Nove! E o velho Mundungus Fletcher ainda tentou me lan�ar um feiti�o quando eu estava de costas...
O Sr. Weasley tomou um longo gole de ch� e suspirou.
� Encontrou alguma coisa, papai? � perguntou Fred ansioso.
� S� encontrei umas chaves para portas que encolhem e uma chaleira que morde � bocejou o Sr. Weasley. � Houve as ocorr�ncias feias, mas n�o foram no meu departamento. Mortlake foi levado para interrogat�rio sobre umas doninhas muito esquisitas, mas isto foi com a Comiss�o de Feiti�os Experimentais, gra�as a Deus...
� Mas por que algu�m ia se dar o trabalho de fazer chaves que encolhem? � perguntou Jorge.
� S� para aborrecer os trouxas � suspirou o Sr. Weasley. � Vendem a eles uma chave que encolhe at� desaparecer, de modo que nunca conseguem encontr�-la quando precisam... � claro que � muito dif�cil processar algu�m porque nenhum trouxa vai admitir que a chave dele n�o p�ra de encolher, insistem que vivem a perd�-las.   Deus os aben�oe, eles v�o a extremos para fingir que magia n�o existe, mesmo que esteja no nariz deles... Mas as coisas que o nosso pessoal anda enfeiti�ando, voc�s n�o iriam acreditar...
� COMO CARROS, POR EXEMPLO?
A Sra. Weasley aparecera, empunhando um longo ati�ador como uma espada. Os olhos do Sr. Weasley se arregalaram.
Ele olhou com cara de culpa para a mulher.
� Carros, Molly, querida?
� � Arthur, carros � disse a Sra. Weasley, os olhos faiscando. � Imagine s� um bruxo comprar um carro velho e enferrujado e dizer � mulher que s� quer desmont�-lo para ver como funciona, quando na realidade o enfeiti�ou para faz�-lo voar.
O Sr. Weasley piscou os olhos.
� Bom, querida, acho que voc� vai descobrir que ele estava agindo dentro da lei quando fez isso, mesmo que... Ah... Tivesse agido melhor se, hum, se tivesse contado a verdade � mulher... H� um furo na lei, voc� vai descobrir... Desde que ele n�o tivesse inten��o de voar no carro, o fato de que o carro poder� voar n�o...
� Arthur Weasley, voc� providenciou para que houvesse um furo nessa lei quando a escreveu! � gritou a Sra. Weasley. � S� para voc� poder continuar a se distrair com aquela lixaria dos trouxas no seu barraco! E para sua informa��o, Harry chegou hoje de manh� naquele carro que voc� n�o tinha inten��o de fazer voar!
� Harry? � exclamou o Sr. Weasley sem entender � Que Harry?
Ele olhou � volta, viu Harry e deu um salto.
� Deus do c�u, � Harry Potter? Muito prazer em conhec�-lo. Rony tem falado tanto em...
� Os seus filhos foram naquele carro at� a casa de Harry e voltaram de l� ontem � noite!� gritou a Sra. Weasley. � Que � que voc� me diz disso, hein?
� Voc�s fizeram mesmo isso? � perguntou o Sr. Weasley, ansioso. � E o carro voou bem? Eu... Eu quero dizer � gaguejou, enquanto voavam fa�scas dos olhos da Sra. Weasley � que... Isso foi muito errado, meninos... Muito errado mesmo...
� Vamos deixar eles discutirem � Rony sussurrou para Harry quando a Sra. Weasley inchou como um sapo-boi. � Vamos, vou-lhe mostrar o meu quarto.
Os dois sa�ram discretamente da cozinha e seguiram por um corredor estreito at� uma escada irregular, que subia em ziguezague pela casa. No terceiro patamar, havia uma porta entreaberta. Harry vislumbrou dois grandes olhos castanhos e vivos que o espiavam antes da porta fechar com um clique.
� Gina � explicou Rony. � Voc� n�o sabe como � estranho ela estar t�o t�mida.
Normalmente ela nunca p�ra de falar...
Eles subiram mais dois lances e chegaram a uma porta com a tinta descascada e uma pequena placa onde se lia "Quarto do Ronald".
Harry entrou, a cabe�a quase tocando no teto inclinado, e piscou os olhos. Era como entrar num forno. Quase tudo no quarto de Rony era de um tom violentamente laranja: a colcha da cama, as paredes e at� o teto. Ent�o Harry percebeu que Rony tinha coberto praticamente cada cent�metro do papel de parede gasto com p�steres dos mesmos sete bruxos e bruxas, todos usando vestes laranja vivo, segurando vassouras e acenando com anima��o.
� O seu time de Quadribol? � perguntou Harry.
� O Chudley Cannons � disse Rony, apontando para a colcha laranja, que exibia um bras�o com dois enormes O pretos e uma bala de canh�o em movimento. � Nono lugar na divis�o.
Os livros escolares de feiti�aria que pertenciam a Rony estavam empilhados de qualquer jeito num canto, junto com um monte de hist�rias em quadrinhos que pareciam conter a mesma tira, As aventuras de Martin Miggs, o trouxa pirado. A varinha de cond�o de Rony estava em cima de um aqu�rio cheio de ovas de r�, no peitoril da janela, ao lado do seu rato cinzento e gordo, o Perebas, que tirava um cochilo numa nesga de sol.
Harry pulou por cima de um baralho de cartas auto embaralhantes que estava no ch�o e espiou pela janelinha. No campo, l� embaixo, ele viu uma turma de gnomos que voltavam sorrateiros, um a um, pela cerca dos Weasley. Depois virou-se para olhar Rony, que o observava quase nervoso, como se esperasse ouvir sua opini�o.
� � meio pequeno � disse Rony depressa. � Nada como aquele quarto que voc� tinha na casa dos trouxas. E estou bem debaixo do vampiro no s�t�o; sempre batendo nos canos e gemendo...
Mas Harry, com um grande sorriso, disse:
� Esta � a melhor casa que j� visitei.
As orelhas de Rony ficaram vermelhas.



CAP�TULO QUATRO
Na Floreios e Borr�es

 A vida na Toca era a mais diferente poss�vel da vida na Rua dos Alfeneiros. Os Dursley gostavam de tudo limpo e arrumado; a casa dos Weasley era cheia de coisas estranhas e inesperadas. Harry teve um choque na primeira vez que se mirou no espelho sobre o console da lareira da cozinha, pois o espelho gritou:
"Ponha a camisa para dentro, seu desleixado!" O vampiro no s�t�o uivava e derrubava canos, sempre que sentia que a casa estava ficando demasiado quieta, e as pequenas explos�es que vinham do quarto de Fred e Jorge eram consideradas perfeitamente normais.
Por�m, o que Harry achou mais fora do comum na vida em casa de Rony n�o foi o espelho falante nem o vampiro baterista: mas o fato de que todos pareciam gostar dele.
A Sra. Weasley se preocupava com o estado das meias dele e tentava for��-lo a repetir a comida tr�s vezes por refei��o. O Sr. Weasley gostava que Harry se sentasse ao lado dele, na mesa do jantar, para poder bombarde�-lo com perguntas sobre a vida com os trouxas, pedindo-lhe para explicar como funcionavam coisas como as tomadas e o correio postal.
� Fascinante! � exclamou, quando Harry lhe contou como se usava o telefone. � Engenhoso, verdade, quantas maneiras os trouxas encontraram de viver sem o aux�lio da magia.
Harry recebeu not�cias de Hogwarts, numa bela manh�, cerca de uma semana depois de chegar � Toca. Ele e Rony desceram para tomar caf� e encontraram o Sr. e a Sra. Weasley e Gina j� sentados � mesa da cozinha. No instante em que viu Harry, Gina sem querer derrubou a tigela de mingau no ch�o fazendo um estardalha�o. A garota parecia muito propensa a derrubar coisas sempre que Harry entrava. Ela mergulhou debaixo da mesa para apanhar a tigela e reapareceu com o rosto rubro como um sol poente.
Harry fingindo n�o notar, sentou-se e aceitou a torrada que a Sra. Weasley lhe oferecia.
� Cartas da escola � disse o Sr. Weasley, passando a Harry e Rony envelopes id�nticos de pergaminho amarelado, endere�ados com tinta verde. -Dumbledore j� sabe que voc� est� aqui, Harry, ele n�o perde um detalhe, aquele homem. Voc�s dois tamb�m receberam � acrescentou ele, quando Fred e Jorge entraram descontra�dos, ainda de pijamas.
Durante alguns minutos fez-se sil�ncio enquanto todos liam as cartas. A de Harry mandava-o tomar o Expresso de Hogwarts como sempre na esta��o de King�s Cross, no dia 1� de setembro. Trazia tamb�m uma lista dos novos livros que ia precisar para o pr�ximo ano letivo.

MATERIAL PARA OS ALUNOS DA SEGUNDA S�RIE:
?	O Livro Padr�o de feiti�os, 2� s�rie de Miranda Goshawk.
?	Como dominar um esp�rito agourento de Gilderoy Lockhart.
?	Como se divertir com vampiros de Gilderoy Lockhart.
?	F�rias com bruxas malvadas de Gilderoy Lockhart.
?	Viagens com trasgos de Gilderoy Lockhart.
?	Excurs�es com vampiros de Gilderoy Lockhart.
?	Passeios com lobisomens de Gilderoy Lockhart.
?	Um ano com o Ieti de Gilderoy Lockhart.

Fred, que terminara de ler a lista, deu uma espiada na de Harry.
� Mandaram voc� comprar todos os livros de Lockhart tamb�m! � admirou-se. � O novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas deve ser f� dele, aposto que � uma bruxa.
Ao dizer isto, o olhar de Fred cruzou com o de sua m�e e ele rapidamente voltou a aten��o para a sua gel�ia.
� Esse material n�o vai sair barato � comentou Jorge, lan�ando um olhar r�pido aos pais. � Os livros de Lockhart s�o bem carinhos...
� Daremos um jeito � disse a Sra. Weasley, embora tivesse a express�o preocupada. � Espero poder comprar a maioria do material de Gina de segunda m�o.
� Ah, voc� vai entrar para Hogwarts este ano? � perguntou Harry a Gina.
Ela confirmou com a cabe�a, corando at� a raiz dos cabelos flamejantes e enfiou o cotovelo na manteigueira. Felizmente ningu�m viu exceto Harry porque, naquele momento, o irm�o mais velho de Rony, Percy, entrou na cozinha. J� estava vestido, o distintivo de monitor em Hogwarts preso no su�ter sem mangas.
� Dia � disse Percy animado. � Lindo dia.
Sentou-se na �nica cadeira desocupada, mas quase imediatamente levantou-se de um salto, erguendo do assento um espanador de penas cinzentas que parecia estar na muda � pelo menos foi isso que Harry pensou que fosse, at� ver que a coisa respirava.
� Erroll � exclamou Rony, recolhendo a coruja inerte da m�o de Percy e extraindo uma carta que ela trazia presa sob a asa. � Finalmente chegou a resposta de Hermione. Escrevi a ela avisando que �amos tentar salvar voc� dos Dursley.
Ele levou Errol at� um poleiro na porta dos fundos e tentou faz�-lo encarrapitar-se, mas a coruja tornou a desmontar, por isso Rony a deitou na t�bua de escorrer, resmungando "Pat�tico". Em seguida ele abriu a carta de Mione e leu-a em voz alta.

�Queridos Rony e Harry, se estiver a�.
Espero que tudo tenha corrido bem, que Harry esteja bem e que voc� n�o tenha feito nada ilegal para tir�-lo de l�, Rony, porque isso criar� problemas para o Harry tamb�m. Tenho estado realmente preocupada e, se Harry estiver bem, por favor, mande me dizer logo, mas talvez seja melhor usar outra coruja, porque acho que mais uma entrega talvez mate essa.
Estou muito ocupada, estudando, � claro...�

� Como � que pode! � exclamou Rony horrorizado. � Estamos de f�rias!

�E vamos a Londres na pr�xima quarta-feira comprar os livros novos. Porque n�o nos encontramos no Beco Diagonal?
Mande not�cias do que est� acontecendo, assim que puder. Afetuosamente, Mione�.

� Bom, isso se encaixa perfeitamente. Podemos ir comprar todo o material de voc�s, tamb�m � disse a Sra. Weasley, come�ando a tirar a mesa. � Que � que voc�s est�o planejando fazer hoje?
Harry, Rony, Fred e Jorge estavam pensando em subir o morro at� um pequeno prado que pertencia aos Weasley. Era cercado de �rvores que bloqueavam a vis�o da cidadezinha embaixo, o que significava que podiam praticar Quadribol l�, desde que n�o voassem muito alto. N�o podiam usar bolas de Quadribol de verdade, pois seria dif�cil explicar se escapulissem e sobrevoassem a cidade; em vez disso, atiravam ma��s uns para os outros. Revezaram-se para montar a Nimbus 2000 de Harry, que era, sem nenhum favor, a melhor vassoura; a velha Shooting Star de Rony muitas vezes perdia na corrida para as borboletas que apareciam.
Cinco minutos depois os garotos estavam subindo o morro, as vassouras nos ombros.
Tinham perguntado a Percy se queria acompanh�-los, mas ele respondera que estava ocupado. Harry at� ali s� tinha visto Percy �s refei��es; ele passava o resto do tempo trancado no quarto.
� Gostaria de saber o que ele est� aprontando � disse Fred, franzindo a testa. � Est� t�o mudado. O resultado das provas dele chegou um dia antes de voc�; doze N.O.M.s e ele nem cantou vit�ria.
� N�veis Ordin�rios em Magia � explicou Jorge, vendo o olhar intrigado de Harry. � Gui recebeu doze tamb�m. Se n�o nos cuidarmos vamos ter outro monitor-chefe na fam�lia. Acho que n�o ir�amos suportar a vergonha.
Gui era o filho mais velho dos Weasley. Ele e o irm�o logo abaixo, Carlinhos, j� tinham terminado Hogwarts. Harry nunca vira nenhum dos dois, mas sabia que Carlinhos estava na Rom�nia estudando drag�es e Gui, no Egito, trabalhando no banco dos bruxos, o Gringotes.
� N�o sei como mam�e e papai v�o poder comprar todo o nosso material escolar este ano � disse Jorge depois de algum tempo. � Cinco conjuntos de livros do Lockhart! E Gina precisa de vestes, uma varinha e todo o resto...
Harry n�o disse nada. Sentiu-se um pouco constrangido. Guardado no cofre subterr�neo do Banco de Gringotes, em Londres, havia uma pequena fortuna que seus pais lhe haviam deixado. Naturalmente, era somente no mundo dos bruxos que ele tinha dinheiro; n�o se podia usar gale�es, sicles e nuques em lojas de trouxas. Ele nunca mencionara aos Dursley sua conta no Banco de Gringotes, pois achava que o horror que eles tinham � magia n�o se estenderia a um mont�o de ouro.
A Sra. Weasley acordou-os bem cedo na quarta-feira seguinte. Depois de comerem rapidamente uma d�zia de sandu�ches de bacon cada um, eles vestiram os casacos e a Sra. Weasley apanhou um vaso de flor no console da cozinha e espiou dentro dele.
� Estamos com o estoque baixo, Arthur � suspirou. � Teremos que comprar mais hoje...
� Ah, muito bem, h�spedes primeiro! Pode come�ar, Harry querido!
E ela lhe ofereceu o vaso de flor.
Harry olhou para os Weasley, que o observavam.
� Q-que � que eu tenho que fazer? � gaguejou.
� Ele nunca viajou com P� de Flu � disse Rony de repente. � Desculpe Harry, eu me esqueci.
� Nunca? � admirou-se o Sr. Weasley. � Mas como foi que voc� chegou ao Beco Diagonal para comprar seu material escolar no ano passado?
� Fui de metr�...
� Verdade? � exclamou o Sr. Weasley animado. � Havia escapadas rolantes? Como � que...
� Agora n�o, Arthur � disse a Sra. Weasley. � O P� de Flu � muito mais r�pido, querido, mas meu Deus, se voc� nunca o usou antes...
� Ele vai conseguir, mam�e � disse Fred. � Harry observe a gente primeiro.
Fred apanhou uma pitada de p� brilhante no vaso de flor, foi at� a lareira e atirou o p� no fogo.
Com um rugido, as chamas ficaram verde-esmeralda e mais altas do que Fred, que entrou nelas e gritou "Beco Diagonal!� e desapareceu.
� Voc� precisa falar bem claro, querido � disse a Sra. Weasley a Harry quando Jorge mergulhou a m�o no vaso. � E se certifique se est� saindo na grade certa...
� Na o qu� certa? � perguntou Harry nervoso enquanto as chamas rugiam e arrebatavam Jorge de vista.
� Bem, h� um n�mero enorme de lareiras de bruxos para voc� escolher, sabe, mas se voc� falar com clareza...
� Ele vai acertar, Molly, n�o se preocupe � disse o Sr. Weasley, servindo-se de P� de Flu, tamb�m.
� Mas, querido, se ele se perder, como � que ir�amos explicar � tia e ao tio dele?
� Eles n�o se importariam � tranq�ilizou-a Harry. � Duda ia achar que teria sido uma piada genial se eu me perdesse dentro de uma lareira, n�o se preocupe.
� Bem... Est� bem... Voc� vai depois de Arthur � disse a Sra. Weasley. -Agora, quando entrar no fogo, diga aonde vai...
� E mantenha os cotovelos colados ao corpo � aconselhou.
� E os olhos fechados � recomendou a Sra. Weasley. � A fuligem...
� N�o se mexa � disse Rony. � Ou pode acabar caindo na lareira errada... Mas cuidado para n�o entrar em p�nico e sair antes da hora. Espere at� ver Fred e Jorge. Harry, fazendo for�a para guardar tudo isso na cabe�a, apanhou uma pitada de P� de Flu e avan�ou at� a beira do fogo. Inspirou profundamente, lan�ou o p� nas chamas e entrou; o fogo lhe lembrou uma brisa morna; ele abriu a boca e imediatamente engoliu um monte de cinzas quentes.
� B-be-co Diagonal � tossiu.
A sensa��o de estar sendo sugado por um enorme ralo. Ele parecia estar girando muito r�pido.
O rugido em seus ouvidos era ensurdecedor.. E tentou manter os olhos abertos, mas o rodopio das chamas verdes lhe dera enj�o... Uma coisa dura bateu no seu cotovelo e ele o prendeu com firmeza junto ao corpo, sempre girando... Agora a sensa��o era de m�os geladas esbofeteando seu rosto... Apertando os olhos por tr�s dos �culos ele viu uma sucess�o de lareiras indistintas e relances de aposentos al�m...
Os sandu�ches de bacon reviravam em sua barriga... Ele tornou a fechar os olhos desejando que aquilo parasse e ent�o... Caiu de cara no ch�o, em cima de uma pedra fria e sentiu a ponta dos �culos se partir.
Tonto e machucado, coberto de fuligem, ele se levantou desajeitado, segurando os �culos partidos na frente dos olhos. Estava totalmente sozinho, mas onde estava ele n�o fazia id�ia.
S� sabia dizer que estava de p� numa lareira de pedra, em um lugar que parecia ser uma loja de bruxo grande e mal-iluminada � mas nada que havia ali tinha a menor probabilidade de aparecer numa lista de material escolar de Hogwarts.
Um mostru�rio pr�ximo continha uma m�o murcha em cima de uma almofada, um baralho manchado de sangue e um olho de vidro arregalado. M�scaras diab�licas o espiavam das paredes, uma variedade de ossos humanos jazia sobre o balc�o e instrumentos pontiagudos e enferrujados pendiam do teto, E o que era pior, a rua estreita e escura que Harry via pela vitrine empoeirada da loja decididamente n�o era Beco Diagonal.
Quanto mais cedo sa�sse dali melhor. Com o nariz ainda doendo por causa da batida na lareira, Harry se encaminhou depressa e silenciosamente para a porta, mas antes que cobrisse metade da dist�ncia, duas pessoas apareceram do outro lado da vitrine � e uma delas era a �ltima pessoa que Harry queria encontrar estando perdido, coberto de fuligem, com os �culos partidos: Draco Malfoy.
Harry olhou depressa a toda volta e viu um grande arm�rio preto � esquerda; correu para ele e se fechou dentro, deixando apenas uma frestinha na porta para espiar. Segundos depois, uma sineta tocou e Malfoy entrou na loja.
O homem que entrou atr�s dele s� podia ser o pai. Tinha a mesma cara fina e pontuda e olhos id�nticos, frios e cinzentos.
O Sr. Malfoy andou pela loja examinando descansadamente os objetos expostos e tocou uma campainha em cima do balc�o antes de se virar para o filho e dizer:
� N�o toque em nada, Draco.
Malfoy, que esticara a m�o para o olho de vidro, retrucou:
� Pensei que voc� ia me comprar um presente.
� Eu disse que ia lhe comprar uma vassoura de corrida � disse o pai tamborilando no balc�o.
� De que me serve uma vassoura se n�o fa�o parte do time da casa? � respondeu Malfoy, com a cara amarrada. � Harry Potter ganhou uma Nimbus 2000 no ano passado. Permiss�o especial de Dumbledore para ele poder jogar pela Grifin�ria. Ele nem � t�o bom assim, s� que � famoso... Famoso por ter uma cicatriz idiota na testa...
Malfoy se abaixou para examinar uma prateleira cheia de cr�nios.
� Todo mundo acha que ele � t�o sabido, o maravilhoso Potter com sua cicatriz e sua vassoura...
� Voc� j� me contou isso no m�nimo dez vezes � disse o Sr. Malfoy, com um olhar de censura para o filho. � E gostaria de lembrar-lhe que n�o �, prudente, demonstrar que n�o gosta de Harry Potter, n�o quando a maioria do nosso povo acha que ele � o her�i que fez o Lord das Trevas desaparecer... Ah, Sr. Borgin.
Um homem curvado aparecera atr�s do balc�o, alisando os cabelos untados de �leo para afast�-los do rosto.
� Sr. Malfoy, que prazer rev�-lo � disse o Sr. Borgin untuoso como os seus cabelos. � Encantado, e o jovem Malfoy, tamb�m, encantado. Em que posso servi-los? Preciso lhes mostrar, chegou hoje, e a um pre�o muito m�dico...
� N�o vou comprar nada hoje, Sr. Borgin, vou vender � disse o Sr. Malfoy.
� Vender? � O sorriso se emba�ou levemente no rosto do Borgin.
� O senhor ouviu falar, � claro, que o Minist�rio est� fazendo mais blitz  � disse o Sr. Malfoy, puxando um rolo de pergaminho do bolso interno do casaco e desenrolando-o para Sr. Borgin ler. � Tenho em casa uns, ah, objetos que podem me causar embara�os, se o Minist�rio aparecesse...
O Sr. Borgin encaixou um pincen� na ponta do nariz e percorreu a lista.
� O Minist�rio certamente n�o ousaria incomod�-lo, n�o �, meu senhor?
O Sr. Malfoy crispou os l�bios.
� At� agora n�o me visitaram. O nome Malfoy ainda imp�e um certo respeito, mas o Minist�rio est� ficando cada vez mais intrometido. H� boatos de uma nova lei de prote��o aos trouxas: com certeza aquele bobalh�o pulguento, apreciador de trouxas, Arthur Weasley est� por tr�s disso...
Harry sentiu uma onda escaldante de raiva.
� ... E como v�, alguns desses venenos poderiam fazer parecer...
� Compreendo, meu senhor, naturalmente � disse o Sr. Borgin. � Deixe-me ver...
� Pode me dar aquilo? � interrompeu Draco, apontando para a m�o murcha sobre a almofada.
� Ah, a M�o da Gl�ria! � disse o Sr. Borgin, abandonando a lista de Malfoy e correndo para perto de Draco. � Ponha-lhe uma vela e ela d� luz apenas a quem a segura! A melhor amiga dos ladr�es e saqueadores! O seu filho tem �timo gosto, meu senhor.
� Espero que o meu filho venha a ser mais do que um ladr�o ou um saqueador, Borgin � disse o Sr. Malfoy com frieza, ao que o Sr. Borgin respondeu depressa:
� Sem ofensa, meu senhor, n�o tive inten��o de ofender...
� Mas, se as notas dele n�o melhorarem � disse o Sr. Malfoy com maior frieza ainda �, pode ser que ele realmente s� tenha talento para isto.
� N�o � minha culpa � retrucou Draco. � Todos os professores t�m alunos preferidos, aquela Hermione Granger...
� Pensei que voc� sentiria vergonha se uma menina que nem pertence a fam�lia de bruxos passasse a sua frente em todos os exames � comentou com rispidez o Sr. Malfoy.
� Ha! � exclamou Harry baixinho, satisfeito de ver Draco com cara de quem est� ao mesmo tempo envergonhado e aborrecido.
� � a mesma coisa em toda parte � disse o Sr. Borgin, com sua voz untuosa. � Ter sangue de bruxo conta cada vez menos em toda parte...
� N�o para mim � respondeu o Sr. Malfoy, com as narinas tremendo.
� N�o, meu senhor, nem para mim � disse o Sr. Borgin, fazendo uma grande reverencia.
� Neste caso, talvez possamos voltar � minha lista � disse o Sr. Malfoy rispidamente. � Estou com um pouco de pressa, Borgin,  tenho neg�cios importantes a tratar hoje em outro lugar.
Os dois come�aram a barganhar. Harry observou nervoso que Draco se aproximava cada vez mais do lugar em que ele estava escondido, examinando os objetos � venda. Draco parou para examinar um grande rolo de corda de enforcar e para ler, rindo, o cart�o colocado em um magn�fico colar de opalas. 
Cuidado:
N�o toque. Amaldi�oado. 
� Tirou a vida de dezenove donos trouxas at� hoje.

Draco se virou e notou o arm�rio bem em frente.
Adiantou-se... Esticou a m�o para o puxador e...
� Fechado � disse o Sr. Malfoy ao balc�o. � Vamos, Draco! Harry enxugou a testa na manga ao ver Draco se afastar � Bom dia para o senhor, Sr. Borgin. Aguardo-o amanh� em casa para apanhar a mercadoria.
No instante em que a porta se fechou, o Sr. Borgin abandonou seus modos untuosos.
� Bom dia para o senhor, Senhor Malfoy, e, se as hist�rias que correm forem verdadeiras, o senhor n�o me vendeu metade do que tem escondido em sua casa... E, continuando a resmungar amea�ador, o Sr. Borgin desapareceu no quarto dos fundos.
Harry esperou um pouco, caso ele voltasse, e, em seguida, o mais silenciosamente que p�de, saiu do arm�rio, passou pelos mostru�rios de vidro e pela porta afora.
Harry olhou para os lados, segurando os �culos partidos. Sa�ra em uma ruela sombria que parecia totalmente ocupada por lojas que se dedicavam �s Artes das Trevas. A que ele acabara de deixar, a Borgin & Burkes, parecia ser a maior, mas em frente havia uma grande cole��o de cabe�as j�varas na vitrine, e duas portas abaixo, uma enorme gaiola pululava com gigantescas aranhas negras. Dois bruxos mal vestidos o observavam da sombra de um portal, cochichando entre si. Apreensivo, Harry saiu caminhando, tentando segurar os �culos no lugar e esperando, sem muita esperan�a, conseguir encontrar uma sa�da daquele lugar.
Uma velha placa de madeira, pendurada acima de uma loja que vendia velas envenenadas, informava que ele se encontrava na Travessa do Tranco. Isto n�o adiantou muito, pois Harry nunca ouvira falar naquele lugar. Imaginou que talvez n�o tivesse falado com bastante clareza ao entrar na lareira dos Weasley porque tinha a boca cheia de cinzas. Pensou no que fazer, tentando ficar calmo.
� N�o est� perdido, est� querido? � disse uma voz ao seu ouvido, assustando-o.
Uma bruxa idosa estava ao lado dele, segurando uma bandeja com objetos que se pareciam horrivelmente com unhas humanas. Ela riu dele mostrando dentes cobertos de limo. Harry recuou.
� Estou bem, obrigado � disse. � S� estou...
� HARRY! O que voc� est� fazendo aqui?
O cora��o de Harry deu um salto. O da bruxa tamb�m: as unhas cascatearam por cima dos seus p�s e ela come�ou a xingar ao mesmo tempo que a forma maci�a de Hagrid, o guarda-ca�as de Hogwatts veio se aproximando em grandes passadas, seus olhinhos de besouros negros faiscando por cima da barba arrepiada.
� Hagrid! � exclamou Harry revelando alivio na voz rouca. Eu me perdi... P� de Flu...
Hagrid agarrou Harry pela nuca e afastou-o da bruxa, derrubando a bandeja que ela levava, O guincho que ela soltou acompanhou-os durante todo o trajeto pelas ruelas tortuosas at� tornarem a ver a luz do sol. Harry divisou a distancia um edif�cio de m�rmore muito branco que j� conhecia: o Banco de Gringotes.  Hagrid o levara direto ao Beco Diagonal.
� Voc� est� horr�vel! � exclamou Hagrid, espanando a fuligem que cobria Harry com tanta for�a que quase o derrubou numa barrica de bosta de drag�o � porta da farm�cia. � Se esquivando pela Travessa do Tranco, n�o sei, n�o, um lugar suspeito, Harry, n�o quero que ningu�m o veja l�...
� Isso eu percebi � disse Harry, abaixando-se quando Hagrid fez men��o de espan�-lo outra vez. � Eu lhe falei, eu me perdi, que � que voc� estava fazendo l�?
� Eu estava procurando repelente para lesmas carn�voras; rosnou Hagrid. � Elas est�o acabando com os repolhos da escola. Voc� n�o est� sozinho?
� Estou na casa dos Weasley, mas nos separamos � explicou Harry. � Tenho que encontr�-los...
Os dois come�aram a descer a rua juntos.
� Por que � que voc� nunca respondeu �s cartas?� perguntou Hagrid a Harry enquanto caminhavam (o garoto tinha que dar tr�s passos para cada passada das enormes botas de Hagrid).
Harry explicou tudo sobre Dobby e os Dursley.
� Trouxas nojentos � rosnou Hagrid. � Se eu tivesse sabido...
� Harry! Harry! Aqui!
Harry ergueu os olhos e viu Hermione Granger parada no alto das escadas brancas de Gringotes. A garota desceu correndo ao encontro deles, os cabelos castanhos e fartos esvoa�ando para tr�s.
� Que aconteceu com os seus �culos? Al�, Hagrid... Ah, que maravilha rever voc�s...
� Vai entrar no Gringotes, Harry?
� Assim que eu encontrar os Weasley � respondeu Harry.
� Voc� n�o vai ter que esperar muito � disse Hagrid com sorriso.
Harry e Hermione se viraram: correndo pela Rua cheia de gente vinham Rony, Fred, Jorge, Percy e o Sr. Weasley.
� Harry � ofegou o Sr. Weasley. � Tivemos esperan�a de que voc� s� tivesse ultrapassado uma grade de lareira... � Ele enxugou a careca reluzente. � Molly est� alucinada... A� vem ela.
� Onde foi que voc� saiu? � perguntou Rony.
� Na Travessa do Tranco � informou Hagrid de cara feia.
� Que �timo!� exclamaram Fred e Jorge juntos.
� Nunca nos deixaram entrar l� � comentou Rony invejoso.
� Ainda bem � rosnou Hagrid.
A Sra. Weasley aproximava-se correndo, a bolsa balan�ando loucamente em uma das m�os, Gina agarrada � outra.
� Ah, Harry, ah, meu querido, voc� podia ter ido parar em qualquer lugar...
Tomando f�lego ela tirou uma grande escova de roupas da bolsa e come�ou a escovar a fuligem que Hagrid n�o conseguira espanar. O Sr. Weasley apanhou os �culos de Harry, deu-lhes uma batida com a varinha e os devolveu, como se fossem novos.
� Bom, tenho que ir andando � disse Hagrid, cuja m�o era apertada pela Sra. Weasley ("Travessa do Tranco! Se voc� n�o o tivesse encontrado, Hagrid!"). -Vejo voc�s em Hogwarts! � E o guarda-ca�as se afastou a passos largos, a cabe�a e os ombros mais altos do que os de todo mundo na rua cheia.
� Adivinhem quem eu encontrei na Borgin & Burkes? � perguntou Harry a Rony e a Hermione enquanto subiam as escadas do Gringotes. � Malfoy e o pai dele.
� L�cio Malfoy comprou alguma coisa? � perguntou o Sr. Weasley s�rio logo atr�s deles.
� N�o, ele estava vendendo.
� Ent�o est� preocupado � comentou o Sr. Weasley com cruel satisfa��o. � Ah, eu adoraria pegar L�cio Malfoy por alguma coisa...
� Tenha cuidado, Arthur � disse a Sra. Weasley com severidade quando eram cumprimentados pelo duende � porta do banco. � Aquela fam�lia significa confus�o.  N�o abocanhe mais do que voc� pode mastigar.
� Ent�o voc� n�o acha que sou advers�rio para o L�cio Malfoy? � respondeu o Sr. Weasley indignado, mas foi distra�do quase no mesmo instante pela vis�o dos pais de Hermione, que estavam parados nervosos no balc�o que ia de uma ponta a outra do sagu�o de m�rmore, esperando que Hermione os apresentasse.
� Mas voc�s s�o trouxas! � exclamou o Sr. Weasley encantado. � Precisamos tomar um drinque! Que � que t�m a�? Ah, est�o trocando dinheiro de trouxas.
� Molly, olhe! � Ele apontou excitado para as notas de dez libras na m�o do Sr. Granger.
� Te encontro l� no fundo � disse Rony a Hermione quando os Weasley e Harry foram conduzidos aos cofres subterr�neos por outro duende de Gringotes.
Chegava-se aos cofres a bordo de vagonetes pilotados por duendes, que os manobravam em alta velocidade por trilhos de bitola estreita atrav�s dos t�neis subterr�neos do banco.
Harry curtiu a viagem vertiginosa at� o cofre dos Weasley, mas se sentiu muito mal, muito pior do que se sentira na Travessa do Tranco, quando eles o abriram. Havia uma pequena pilha de sicles de prata l� dentro e apenas um gale�o de ouro. A Sra. Weasley tateou pelos cantos antes de varrer tudo para dentro da bolsa. Harry se sentiu ainda pior quando chegaram ao seu cofre. Tentou bloquear a vis�o do conte�do enquanto enfiava, apressadamente, m�os cheias de moedas em uma bolsa de couro.
De volta aos degraus de m�rmore, eles se separaram. Percy murmurou qualquer coisa sobre a necessidade de comprar uma pena nova. Fred e Jorge tinham visto um amigo de Hogwarts, Lino Jordan. A Sra. Weasley e Gina iam a uma loja de vestes de segunda m�o. O Sr. Weasley insistia em levar os Granger ao Caldeir�o Furado para tomar um drinque.
� Vamos nos encontrar na Floreios e Borr�es dentro de uma hora para comprar o material escolar � disse a  Sra. Weasley, se afastando com Gina. � E nem pensar em entrar na Travessa do Tranco! � gritou ela para os g�meos que seguiam na dire��o oposta.
Harry, Rony e Hermione caminharam pela Rua tortuosa, cal�ada de pedras. A bolsa de ouro, prata e bronze que retinia alegremente no bolso de Harry estava pedindo para ser gasta, de modo que ele comprou tr�s grandes sorvetes de morango e manteiga de amendoim, que os tr�s lamberam felizes enquanto subiam o beco, examinando as vitrines fascinantes das lojas. Rony admirou, cobi�oso, um conjunto completo de vestes da grife Chudley Cannon, na vitrine da Artigos de Qualidade para Quadribol, at� que Hermione puxou os dois para irem comprar tinta e pergaminho na loja ao lado. 
Na Gambol & Japes � Jogos de Magia, eles encontraram Fred, Jorge e Lino Jordan, que estavam fazendo um estoque de fogos de artif�cio. Dr. Filisbuteiro, que disparavam molhados e, n�o aqueciam, e num brech� cheio de varinhas quebradas, balan�as de lat�o empenadas e velhas capas manchadas de po��es, os garotos deram de cara com Percy, profundamente absorto na leitura de um livro muito chato intitulado Monitores-chefes que se tornaram poderosos.
� Um estudo dos monitores-chefes de Hogwarts e suas carreiras � leu Rony alto na quarta capa. � Parece fascinante...
� D�em o fora � disse Percy com rispidez.
� E claro que ele � muito ambicioso, o Percy j� planejou tudo... Quer ser Ministro da Magia... � comentou Rony para Harry e Hermione em voz baixa quando deixaram o irm�o sozinho.
Uma hora depois eles rumaram para a Floreios e Borr�es. N�o eram de maneira alguma os �nicos que se dirigiam � livraria. Ao se aproximarem, viram, para sua surpresa, uma quantidade de gente que se acotovelava � porta da loja, tentando entrar. A raz�o disso estava anunciada em uma grande faixa estendida nas janelas do primeiro andar.

GILDEROY LOCKHART
Autografa sua autobiografia
�O MEU EU M�GICO�
Hoje das 12:30h �s 16:30h

� Vamos poder conhec�-lo! � gritou Hermione esgani�ada. � Quero dizer, ele � o autor de quase toda a nossa lista de livros!
A aglomera��o parecia ser formada, em sua maioria, por bruxas mais ou menos da idade da Sra. Weasley. Um bruxo de ar atarantado estava postado � porta, dizendo:
� Calma, por favor, minhas senhoras... N�o empurrem, isso... Cuidado com os livros, agora...
Harry, Rony e Hermione espremeram-se para entrar na loja. Uma longa fila serpeava at� o fundo da loja, onde Gilderoy Lockhart autografava seus livros. Cada um dos meninos apanhou um exemplar de O Livro Padr�o dos Feiti�os, 2� s�rie, e se enfiaram sorrateiros no inicio da fila onde j� aguardavam os outros meninos com o Sr. e a  Sra. Weasley.
� Ah, chegaram, que bom! � disse a Sra. Weasley. Ela parecia ofegante e n�o parava de ajeitar os cabelos. � Vamos v�-lo em um minuto...
Aos poucos Gilderoy Lockhart se tornou vis�vel, sentado a uma mesa, cercado de grandes cartazes com o pr�prio rosto, todos piscando e exibindo dentes ofuscantes de t�o brancos.
O verdadeiro Lockhart estava usando vestes azul-mios�tis que combinavam � perfei��o com os seus olhos; seu chap�u c�nico de bruxo se encaixava em um �ngulo pimp�o sobre os cabelos ondulados.
Um homenzinho irritadi�o dan�ava � sua volta, tirando fotos com uma m�quina enorme que soltava baforadas de fuma�a p�rpura a cada flash enceguecedor.
� Saia do caminho, voc� ai � rosnou ele para Rony, recuando para se posicionar em um �ngulo melhor. � Trabalho para o Profeta Di�rio.
� Grande coisa � disse Rony, esfregando o p� que o fot�grafo pisara.
Gilderoy ouviu-o. Ergueu os olhos. Viu Rony � e em seguida viu Harry Potter.
Encarou-o. Ent�o se levantou de um salto e decididamente gritou:
� N�o pode ser, Harry Potter!
A multid�o se dividiu, murmurando agitada; Lockhart adiantou-se, agarrou o bra�o de Harry e puxou-o para frente. A multid�o prorrompeu em aplausos. A cara de Harry estava em fogo quando Lockhart apertou sua m�o para o fot�grafo, que batia fotos feito louco, dispersando fuma�a sobre os Weasley.
� D� um belo sorriso, Harry � disse Lockhart por entre os dentes faiscantes. � Juntos, voc� e eu valemos uma primeira p�gina.
Quando ele finalmente soltou a m�o de Harry, o garoto n�o conseguia sentir os dedos. E tentou se esgueirar para junto dos Weasley, mas Lockhart passou um bra�o pelos seus ombros e segurou-o com firmeza ao seu lado.
� Minhas senhoras e meus senhores � disse em voz alta, ao mesmo tempo que pedia sil�ncio com um gesto. � Que momento extraordin�rio este! O momento perfeito para anunciar uma novidade que estou guardando s� para mim h� algum tempo!
� Quando o jovem Harry entrou na Floreios e Borr�es hoje, s� queria apenas comprar a minha autobiografia, com a qual eu terei o prazer de presente�-lo agora. � A multid�o tornou a aplaudir. � Ele n�o fazia id�ia �, continuou Lockhart, dando uma sacudidela em Harry que fez os �culos do menino escorregarem para a ponta do nariz, � que em breve estaria recebendo muito, muito mais do que o meu livro O Meu Eu M�gico. Ele e seus colegas ir�o receber o meu eu m�gico em carne e osso.
� Sim, senhoras e senhores, tenho o grande prazer de anunciar que, em setembro pr�ximo, irei assumir a fun��o de professor de Defesa contra as Artes das Trevas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts!
A multid�o deu vivas e bateu palmas, e Harry se viu presenteado com as obras completas de Gilderoy Lockhart. Cambaleando sob o peso dos livros, ele conseguiu fugir das luzes da ribalta para a periferia do sal�o, onde Gina estava parada com o seu novo caldeir�o.
� Fique com eles � murmurou Harry para a menina, virando os livros no caldeir�o.
� Eu vou comprar os meus...
� Aposto que voc� adorou isso, n�o foi, Potter? � disse uma voz que Harry n�o teve problema em reconhecer. Ele endireitou o corpo e se viu cara a cara com Draco Malfoy, que exibia o sorriso de desd�m de sempre.
� O Famoso Harry Potter �, continuou Malfoy. � N�o consegue nem ir a uma livraria sem parar na primeira p�gina do jornal.
� Deixe ele em paz, ele nem queria isso � disse Gina. Era a primeira vez que falava na frente de Harry. E olhava feio para Malfoy.
� Potter, voc� arranjou uma namorada! � disse Malfoy arrastando as s�labas.
Gina ficou escarlate enquanto Rony e Hermione lutavam para chegar at� eles, sobra�ando pilhas de livros de Lockhart.
� Ah, � voc� � exclamou Rony, olhando para Malfoy como se ele fosse uma coisa desagrad�vel, grudada na sola do sapato. � Aposto como ficou surpreso de ver Harry aqui, hein?
� N�o t�o surpreso como estou de ver voc� numa loja, Weasley � retrucou Malfoy. � Imagino que seus pais v�o passar fome um m�s para pagar todas essas compras.
Rony ficou t�o vermelho quanto Gina. Largou os livros no caldeir�o, tamb�m, e partiu para cima de Malfoy, mas Harry e Hermione o agarraram pelo casaco.
� Rony! � chamou o Sr. Weasley, que procurava se aproximar com Fred e Jorge. � Que � que est� fazendo? Est� muito cheio aqui, vamos para fora.
� Ora, ora, ora, Arthur Weasley.
Era o Sr. Malfoy. Estava parado com a m�o no ombro de Draco, com um sorriso de desd�m igual ao do filho.
� L�cio � disse o Sr. Weasley, dando um frio aceno com a cabe�a.
� Muito trabalho no Minist�rio, ouvi dizer � falou o Sr. Malfoy. � Todas aquelas blitz... Espero que estejam lhe pagando hora extra!
Ele meteu a m�o no caldeir�o de Gina e tirou, do meio dos livros de capa lustrosa de Lockhart, um exemplar muito antigo e surrado de um Guia Sobre Transfigura��o Para Principiante.
� � �bvio que n�o � concluiu o Sr. Malfoy. � Ora veja, de que serve ser uma vergonha de bruxo se nem ao menos lhe pagam bem para isso?
O Sr. Weasley corou com mais intensidade do que Rony e Gina.
� N�s temos id�ias muito diferentes do que � ser uma vergonha de bruxo, Malfoy.
� Visivelmente � disse o Sr. Malfoy, seus olhos claros desviando-se para o Sr. e  Sra. Granger, que observavam apreensivos. � As pessoas com quem voc� anda, Weasley... E pensei que sua fam�lia j� tinha batido no fundo do po�o...
Ouviu-se uma pancada met�lica quando o caldeir�o de Gina saiu voando; o Sr. Weasley se atirara sobre o Sr. Malfoy, derrubando-o contra uma prateleira. D�zias de livros de soletra��o despencaram com estrondo em sua cabe�a; ouviu-se um grito "Pega ele, papai" � dado por Fred e Jorge; a Sra. Weasley gritava "N�o, Arthur, n�o"; a multid�o estourou, recuando e derrubando mais prateleiras.
� Senhores, por favor, por favor! � pedia o assistente, e, depois, mais alto que a algazarra reinante. � Vamos parar com isso, cavalheiros, vamos parar com isso...
Hagrid caminhava em dire��o aos dois atravessando um mar de livros. Num instante ele separou o Sr. Weasley e o Sr. Malfoy. O Sr. Weasley com o l�bio cortado e o Sr. Malfoy fora atingido no olho por uma Enciclop�dia dos sapos. Ele ainda segurava o livro velho de Gina sobre transfigura��o. Atirou-o nela, os olhos brilhando de mal�cia.
� Aqui, tome o seu livro, � o melhor que seu pai pode lhe dar...
E, desvencilhando-se da m�o de Hagrid, chamou Draco e sa�ram da loja.
� Voc� devia ter fingido que ele n�o existia, Arthur � disse Hagrid, quase erguendo o Sr. Weasley do ch�o enquanto este endireitava as vestes. � Podre at� a alma, a fam�lia toda, todo mundo sabe disso. N�o vale a pena dar ouvidos a nenhum Malfoy. Sangue ruim, � o que �. Vamos agora, vamos sair daqui.
O assistente parecia querer impedi-los de sair, mas mal chegava � cintura de Hagrid e pareceu pensar duas vezes. Eles subiram apressados a rua, os Granger tremendo de susto e a  Sra. Weasley fora de si de f�ria.
� Um belo exemplo para os seus filhos... Saindo no tapa em p�blico... Que � que o Gilderoy Lockhart deve ter pensado...
� Ele estava satisfeito � informou Fred. � Voc� n�o ouviu o que ele disse quando est�vamos saindo? Perguntou �quele cara do Profeta Di�rio se ele podia incluir a briga na not�cia, disse que tudo era publicidade.
Mas foi um grupo mais sereno que voltou � lareira do Caldeir�o Furado, de onde Harry, os Weasley e todas as compras iriam retornar � Toca, usando o P� de Flu. Eles se despediram dos Granger, que iriam atravessar o bar para chegar � rua dos trouxas, do outro lado; o Sr. Weasley come�ou a perguntar ao casal como funcionavam os pontos de �nibus, mas parou de repente ao ver o olhar da  Sra. Weasley.
Harry tirou os �culos e guardou-os bem seguros no bolso antes de se servir do P� de Flu. Decididamente n�o era o seu meio de transporte favorito.



CAP�TULO CINCO
O salgueiro lutador

O fim das f�rias de ver�o chegou muito depressa para o gosto de Harry. Ele estava ansioso para regressar a Hogwarts, mas aquele m�s na Toca fora o mais feliz de sua vida. Era dif�cil n�o ter inveja de Rony quando pensava nos Dursley e no tipo de boas-vindas que poderia esperar na pr�xima vez que aparecesse na Rua dos Alfeneiros.
Na �ltima noite de f�rias, a Sra. Weasley fez aparecer um jantar suntuoso que incluiu todos os pratos favoritos de Harry, terminando com um pudim caramelado de dar �gua na boca. Fred e Jorge encerraram a noite com uma queima de fogos Filibusteiro; encheram a cozinha de estrelas vermelhas e azuis que ricochetearam do teto para as paredes durante no m�nimo uma hora. Ent�o chegou a hora da �ltima caneca de chocolate quente e de ir para a cama.
Eles demoraram para viajar na manh� seguinte. Acordaram ao nascer do sol, mas por alguma raz�o pareciam ter um bocado de coisas para fazer. A Sra. Weasley corria de um lado para outro mal-humorada, procurando meias desaparelhadas e penas de escrever; as pessoas n�o paravam de dar encontroes nas escadas, meio vestidas, levando peda�os de torradas nas m�os; e o Sr. Weasley quase quebrou o pesco�o, ao trope�ar em uma galinha solta quando atravessava o quintal carregando o mal�o de Gina at� o carro.
Harry n�o conseguiu imaginar como � que oito pessoas seis mal�es, duas corujas e um rato iam caber em um pequeno Ford Anglia. � claro que ele n�o contara com os acess�rios especiais que o Sr. Weasley acrescentara.
� Nem uma palavra a Molly � cochichou ele a Harry quando abriu a mala do carro e lhe mostrou como a aumentara por artes m�gicas para que a bagagem coubesse sem problemas.
Quando finalmente todos tinham embarcado no carro, a Sra. Weasley olhou para o banco traseiro, onde Harry, Rony, Fred, Jorge e Percy estavam sentados confortavelmente lado a lado e disse:
� Os trouxas sabem mais do que n�s queremos reconhecer, n�o �? � Ela e Gina entraram no banco dianteiro que fora aumentado de tal maneira que parecia um banco de jardim p�blico. � Quero dizer, olhando de fora, a pessoa nunca imaginaria como o carro � espa�oso, n�o �?
O Sr. Weasley ligou o motor e saiu do quintal, enquanto Harry se virava para tr�s para dar uma �ltima olhada na casa. Mal teve tempo para pensar quando a veria outra vez e j� estavam de volta: Jorge esquecera a caixa de fogos Filibusteiro. Cinco minutos depois, tornaram a parar no quintal para Fred ir buscar depressa sua vassoura. Tinham quase chegado � rodovia quando Gina gritou que deixara o di�rio em casa. Na altura em que tornaram a embarcar no carro eles j� estavam muito atrasados e muito mal-humorados.
O Sr. Weasley olhou para o rel�gio e depois para a sua mulher.
� Molly, querida...
� N�o, Artur.
� Ningu�m veria. Esse bot�ozinho aqui � um multiplicador de invisibilidade que instalei, isso nos faria decolar e voar acima das nuvens. Estar�amos l� em dez minutos e ningu�m saberia...
� Eu disse n�o, Arthur, n�o em plena luz do dia.
Eles chegaram � esta��o de King�s Cross �s quinze para onze. O Sr. Weasley disparou at� o outro lado da Rua para buscar carrinhos para a bagagem e todos correram para a esta��o.
Harry tomara o Expresso de Hogwarts no ano anterior. A parte complicada era chegar � plataforma 9 e �, que n�o era vis�vel aos olhos dos trouxas. O que a pessoa tinha que fazer era atravessar uma barreira s�lida que separava as plataformas 9 e 10. N�o machucava, mas tinha que ser feito com cautela, de modo que os trouxas n�o vissem a pessoa desaparecer.
� Percy primeiro � disse a Sra. Weasley, consultando nervosa o rel�gio no alto, que indicava que tinham apenas cinco minutos para desaparecer pela barreira sem ser vistos.
Percy adiantou-se com passos firmes e desapareceu. O Sr. Weasley o seguiu; depois Fred e Jorge.
� Vou levar Gina e voc�s dois venham logo atr�s de n�s � disse a Sra. Weasley a Harry e Rony, agarrando a m�o de Guia e se afastando. Num piscar de olhos as duas tinham desaparecido.
-Vamos juntos, s� temos um minuto � disse Rony a Harry. 
Harry verificou se a gaiola de Edwiges estava bem encaixada em cima do mal�o e virou o carrinho de frente para a barreira. Sentia-se absolutamente confiante; isto n�o era nem de longe t�o desconfort�vel quanto usar o P� de Flu. Os dois se abaixaram sob a barra dos carrinhos e avan�aram decididos para a barreira, ganhando velocidade. Quando faltavam apenas poucos passos eles desataram a correr e... TAPUM.
Os dois carrinhos bateram na barreira e quicaram de volta; o mal�o de Rony caiu com estrondo, Harry foi derrubado, a gaiola de Edwiges saiu saltando pelo ch�o encerado e ela rolou para fora, gritando indignada; as pessoas � volta olharam e um guarda pr�ximo berrou:
� Que diabo voc�s acham que est�o fazendo?
� Perdi o controle do carrinho � ofegou Harry, apertando as costelas ao se levantar. Rony teve que recolher Edwiges, a coruja fazia tanto esc�ndalo que muitos dos circunstantes resmungaram contra a crueldade para com os animais.
� Por que n�o podemos atravessar? � sibilou Harry para Rony.
� N�o sei...
Rony olhou desorientado para os lados. Uns dez curiosos continuavam a observ�-los.
� Vamos perder o trem � cochichou Rony. � N�o entendo por que o port�o se fechou...
Harry olhou para o enorme rel�gio no alto com uma sensa��o ruim na boca do est�mago. Dez segundos... Nove segundos... Ele levou o carrinho � frente com cautela at� encost�-lo na barreira e empurrou-o com toda a for�a. O metal continuou s�lido. � Tr�s segundos... Dois segundos... Um segundo...
� J� foi � disse Rony, parecendo atordoado. � O trem foi embora. E se papai e mam�e n�o conseguirem voltar para n�s?  Voc� tem algum dinheiro de trouxas?
Harry deu uma risada cavernosa.
� Os Dursley n�o me d�o dinheiro h� uns seis anos.
Rony encostou o ouvido na barreira fria.
� N�o ou�o nada � informou tenso. � Que vamos fazer? N�o sei quanto tempo vai levar para mam�e e papai voltarem.
Eles olharam para os lados. As pessoas continuavam a vigi�-los, principalmente por causa dos gritos de Edwiges que n�o paravam.
� Acho que � melhor irmos esperar ao lado do carro � sugeriu Harry. � Estamos atraindo aten��o de mais...
� Harry! � exclamou Rony, com os olhos brilhando. � O carro!
� Que tem o carro?
� Podemos voar para Hogwarts no carro!
� Mas eu pensei...
� Estamos imobilizados, certo? E temos que voltar para a escola, n�o �? E at� os bruxos de menor idade podem usar a magia quando h� uma emerg�ncia grave, se��o dezenove ou coisa assim da Lei de Restri��o ao...
� Mas sua m�e e seu pai... � disse Harry, empurrando mais uma vez a barreira na esperan�a in�til de que ela cedesse. � Como � que v�o chegar em casa?
� Eles n�o precisam do carro! � disse Rony impaciente. � Eles sabem aparatar, sabe, desaparecer aqui e reaparecer em casa! Eles s� usam o P� de Flu e o carro porque somos todos menores e ainda n�o temos permiss�o para aparatar.
A sensa��o de p�nico de Harry de repente se transformou em excita��o.
� Voc� sabe voar?
� N�o tem problema � disse Rony, virando o carrinho de frente para a sa�da. � Anda, vamos. Se nos apressarmos poderemos seguir o Expresso de Hogwarts.
Passaram ent�o pela aglomera��o de trouxas curiosos, sa�ram da esta��o e voltaram � Rua secund�ria onde ficara estacionado o velho Ford Anglia.
Rony destrancou a enorme mala do carro com v�rios toques seguidos de varinha.
Tornaram a carregar a bagagem na mala, puseram Edwiges no banco traseiro e embarcaram.
� Veja se n�o tem ningu�m olhando � disse Rony, ligando a igni��o com outro toque de varinha. Harry meteu a cabe�a para fora da janela: o tr�fego roncava pela estrada principal adiante, mas a rua deles estava deserta.
� Tudo bem � falou.
Rony apertou um bot�ozinho prateado no painel. O carro em que estavam desapareceu � e eles tamb�m. Harry sentiu o banco vibrar embaixo dele, ouviu o ru�do do motor, sentiu as m�os em cima dos joelhos e os �culos em cima do nariz, mas do que conseguia ver, virara um par de olhos que flutuavam acima do ch�o, numa rua suja cheia de carros estacionados.
� Vamos � disse a voz de Rony vindo da direita.
E o ch�o e os edif�cios sujos de cada lado se distanciaram e foram desaparecendo de vista, � medida que o carro decolava; em segundos, Londres inteira estava l� embaixo, enfuma�ada e cintilante.
Ent�o ouviu-se um estampido e o carro, Harry e Rony reapareceram.
� Epa � exclamou Rony, batendo no bot�o da invisibilidade.
� Est� com defeito.
Os dois socaram o bot�o. O carro desapareceu. E tornou a reaparecer aos pouquinhos.
� Segure firme! � berrou Rony e pisou fundo no acelerador; eles dispararam em linha reta para dentro de nuvens baixas e repolhudas e tudo ficou cinzento e enevoado.
� E agora? � perguntou Harry, piscando diante da camada s�lida de nuvens que os comprimia de todos os lados.
� Temos que ver o trem para saber que dire��o vamos tomar � disse Rony.
� Mergulhe outra vez... Depressa.
Eles baixaram at� ficar sob as nuvens e se viraram no banco, tentando ver o solo.
� Estou vendo! � gritou Harry. � Bem na nossa frente, l�.
O Expresso de Hogwarts ia correndo embaixo deles como uma cobra vermelha.
� Rumo norte � disse Rony, verificando a b�ssola no painel. � Tudo bem, s� vamos precisar verificar de meia em meia hora mais ou menos, segure firme... � E eles dispararam para o alto, furando as nuvens. Um minuto depois, sa�ram numa camada banhada de sol.
Era um mundo diferente. Os pneus do carro ro�avam de leve o mar de nuvens fofas, o c�u um azul forte e infinito sob um sol claro de cegar � Agora s� temos que nos preocupar com os avi�es � disse Rony.
Eles se entreolharam e ca�ram na gargalhada; durante algum tempo n�o conseguiram parar.
Era como se tivessem mergulhado num sonho fabuloso. Isto, pensou Harry, era sem d�vida o �nico modo de viajar � deixando para tr�s os redemoinhos e as torrinhas de nuvens branqu�ssimas, em um carro inundado pela Luz quente e clara do sol, com um pacot�o de caramelos no porta-luvas, e a perspectiva de ver as caras invejosas de Fred e Jorge quando eles aterrissassem, suave e espetacularmente, no vasto gramado diante do castelo de Hogwarts.
Eles verificavam regularmente a posi��o do trem durante o v�o que os levava cada vez mais para o norte e, em cada mergulho abaixo das nuvens, descortinavam uma paisagem diferente. Londres n�o tardou a ficar muito para tr�s, substitu�da por campos verdes e geom�tricos que, por sua vez, cederam lugar a grandes extens�es de terra roxa, pantanosa, uma metr�pole que pululava de carros que lembravam formigas multicoloridas, cidadezinhas com igrejas de brinquedo.
V�rias horas tranq�ilas depois, no entanto, Harry teve que admitir que o divertimento estava come�ando a cansar. Os caramelos tinham deixado os dois cheios de sede e n�o havia nada para beber. Ele e Rony tinham despido os su�teres, mas a camiseta de Harry estava grudando no encosto do banco, e seus �culos n�o paravam de escorregar pela ponta do nariz suado. Ele deixara de reparar nas formas fant�sticas das nuvens e agora pensava com saudades no trem, quil�metros abaixo, onde podia comprar suco de ab�bora bem gelado em um carrinho empurrado por uma bruxa gorducha. Porque n�o tinham podido chegar � plataforma 9 e �?
� N�o pode faltar muito mais, n�o �? � perguntou Rony rouco, horas depois, quando o sol come�ou a afundar pelo ch�o de nuvens, fingindo-o de rosa forte.
� Pronto para verificar outra vez a posi��o do trem?
O trem continuava embaixo deles, contornando uma montanha de pico nevado.  Escurecera bastante sob a ab�bada de nuvens.  Rony pisou fundo no acelerador e fez o carro subir outra vez, mas ao fazer isto, o motor come�ou a soltar um silvo agudo.
Harry e Rony trocaram olhares apreensivos.
� Provavelmente ele est� cansado � disse Rony. � Nunca foi t�o longe antes...
E os dois fingiram n�o notar o ru�do que ficava cada vez mais forte, � medida que o c�u ia escurecendo cada vez mais. As estrelas espocavam na escurid�o.
Harry tornou a vestir o su�ter, tentando fingir que n�o via que os limpadores do p�ra-brisa agora se moviam devagar, como se protestassem.
� Falta pouco � disse Rony mais para o carro do que para Harry �, falta pouco agora � e deu umas palmadinhas nervosas no painel.
Quando voltaram a voar sob as nuvens um pouco mais tarde, tiveram que apurar a vista na escurid�o para encontrar um marco que conhecessem.
� Ali! gritou Harry, sobressaltando Rony e Edwiges. � Bem em frente!
Recortado no horizonte escuro, no alto do penhasco sobre o lago, estavam as torres e torrinhas do castelo de Hogwarts.
Mas o carro come�ara a tremer e a perder velocidade.
� Vamos � disse Rony em tom de quem quer adular, dando uma sacudidela no volante-, quase chegamos, vamos...
O motor gemia. Finos penachos de fuma�a sa�am por debaixo do cap�. Harry viu-se agarrando as bordas do banco com toda for�a ao voarem em dire��o ao lago.
O carro deu um estreme��o feio. Ao espiar pela janela, Harry viu a superf�cie lisa, escura e espelhada da �gua, um quil�metro e meio abaixo. Os n�s dos dedos de Rony estavam brancos de tanto apertar o volante. O carro estremeceu outra vez.
� Vamos � murmurou Rony.
Sobrevoaram o lago... O castelo estava bem � frente... Rony apertou o acelerador.  Ouviu-se uma batida met�lica e alta, um engasgo e o motor morreu de vez.
� Epa � exclamou Rony, em meio ao sil�ncio.
O nariz do carro afundou. Estavam caindo, ganhando velocidade, rumando direto para a parede maci�a do castelo.
� N�����ao! � berrou Rony, dando um golpe de dire��o; erraram o escuro muro de pedra por cent�metros, porque o carro descreveu um grande arco e voou sobre as estufas �s escuras, depois sobre a horta e depois sobre os gramados sombrios, perdendo altura todo o tempo.
Rony largou de vez o volante e puxou a varinha do bolso traseiro.
� PARE! PARE! � berrou, golpeando o painel e o p�ra-brisa, mas eles continuaram a mergulhar, o ch�o voando ao seu encontro...
� CUIDADO COM AQUELA �RVORE! � urrou Harry, atirando-se sobre o volante, mas tarde demais... CREQUE.
Com um estrondo de ensurdecer, de metal batendo em madeira, eles colidiram com um tronco avantajado e despencaram no ch�o com um baque forte. O vapor que sa�a por baixo do cap� amassado formava nuvens enormes. Edwiges guinchava de terror; um galo do tamanho de uma bola de golfe latejou na cabe�a de Harry onde ele batera no p�ra-brisa e, � sua direita, Rony deixou escapar um gemido baixo e desesperado.
� Voc� est� bem? � perguntou Harry com urg�ncia na voz.
� Minha varinha � respondeu Rony com a voz tr�mula. � Olhe a minha varinha.
Ela quase se partira em duas; a ponta balan�ava inerte, segura apenas por meia d�zia de farpas de madeira.
Harry abriu a boca para dizer que tinha certeza de que poderiam consert�-la na escola, mas nem chegou a falar. Naquele mesm�ssimo instante, alguma coisa bateu na lateral do carro com a for�a de um touro furioso, atirando Harry contra Rony, ao mesmo tempo que outra pancada igualmente pesada atingia o teto.
� Que est� acontecen... � exclamou Rony, arregalando os olhos para o p�ra-brisa, enquanto Harry virava a cabe�a em tempo dever um galho grosso como uma jib�ia que o amassava. A �rvore em que tinham batido atacava os dois. Curvara o tronco quase ao meio e seus ramos nodosos socavam cada cent�metro do carro que conseguiam alcan�ar.
� Caracas! �, exclamou Rony quando outro ramo retorcido fez uma grande mossa na porta do lado dele; o p�ra-brisa agora vibrava sob uma saraivada de golpes aplicados por galhinhos em forma de n�s, e um galho grosso como um ar�ete socava furiosamente o teto, que parecia estar afundando...
� Se manda! �, gritou Rony, atirando todo o peso contra a porta, mas no segundo seguinte ele era empurrado de volta contra o colo de Harry por um direto no queixo dado por outro galho.
� Estamos perdidos! �, gemeu ele quando o teto afundou, mas de repente o fundo do carro come�ou a vibrar � o motor pegara outra vez.
� D� marcha r� � berrou Harry, e o carro disparou para tr�s; a �rvore continuava a tentar atingi-los; ouviam as ra�zes rangerem como se se rasgassem, tentando golpe�-los enquanto se afastavam dela a toda.
� Essa � ofegou Rony � foi por pouco. Muito bem, carro.
O carro, por�m, chegara ao limite de suas for�as. Com dois fortes trancos, as portas se escancararam e Harry sentiu o banco deslizar para um lado. No momento seguinte ele se viu estatelado no ch�o �mido. Pancadas fortes lhe informaram que o carro estava ejetando a bagagem deles da mala; a gaiola de Edwiges voou pelos ares e se abriu; ela soltou um guincho raivoso e voou veloz para o castelo, sem nem ao menos olhar para tr�s. Ent�o, amassado, arranhado e fumegando o carro saiu roncando pela escurid�o, as lanternas traseiras brilhando com raiva.
� Volte aqui! � gritou Rony para o carro, brandindo a varinha partida. � Papai vai me matar!
Mas o carro desapareceu de vista com uma �ltima gargalhada do cano de descarga.
� D� para acreditar na nossa sorte? � disse Rony infeliz, abaixando-se para recolher Perebas. � De todas as �rvores em que pod�amos ter batido, t�nhamos que bater nessa que revida?
Ele espiou por cima do ombro a velha �rvore, que continuava a agitar os ramos amea�adoramente.
� Vamos � disse Harry cansado �, � melhor irmos logo para a escola...
N�o se pareceu nada com a chegada triunfal que eles tinham imaginado. Os m�sculos duros, enregelados e contundidos, os dois apanharam as al�as dos mal�es e come�aram a arrast�-los pela encosta gramada acima, em dire��o � imponente porta de entrada de carvalho.
� Acho que a festa j� come�ou � comentou Rony, largando a mala ao p� dos degraus da entrada e indo espiar silenciosamente por uma janela iluminada. � Ei, Harry vem ver, � a Sele��o!
Harry correu � janela e juntos, ele e Rony contemplaram o Sal�o Principal.
Uma quantidade de velas pairava no ar sobre as quatro mesas compridas e lotadas, fazendo os pratos e ta�as de ouro faiscarem. No alto, o teto encantado, que sempre refletia o c�u l� fora, pontilhado de estrelas.
Em meio � floresta de chap�us c�nicos de Hogwarts, Harry viu uma longa fila de principiantes de cara assustada entrar no Sal�o. Gina estava entre eles, facilmente identific�vel pelos cabelos da fam�lia Weasley, muito v�vidos. Entrementes a Prof�. McGonagall, uma bruxa de �culos que usava os cabelos presos em um coque, estava colocando o famoso Chap�u Seletor sobre um banquinho diante dos rec�m-chegados.
Todo ano, aquele chap�u antigo, remendado, esfiapado e sujo, selecionava os novos alunos para as quatro casas de Hogwarts (Grifin�ria, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina). Harry lembrava-se bem da noite em que o colocara na cabe�a, exatamente h� um ano, e esperara petrificado, a decis�o do chap�u que murmurava audivelmente em seu ouvido. Por alguns segundos terr�veis ele receara que o chap�u fosse coloc�-lo na Sonserina, a casa de onde sa�a um n�mero maior de bruxos e bruxas das trevas do que de qualquer outra � mas ele acabara indo para a Grifin�ria, junto com Rony, Hermione e o resto dos Weasley. No �ltimo trimestre letivo, Harry e Rony tinham ajudado a Grifin�ria a ganhar o Campeonato das Casas, vencendo Sonserina pela primeira vez em sete anos.
Um garoto muito pequeno, de cabelos castanho-acinzetados foi chamado para colocar o chap�u na cabe�a. O olhar de Harry passou por ele e foi pousar no lugar em que Dumbledore, o diretor, assistia � cerim�nia sentado � mesa dos funcion�rios, sua longa barba prateada e os �culos de meia-lua brilhando � luz das velas. V�rios lugares adiante, Harry viu Gilderoy Lockhart, com suas vestes azuis. E l� na ponta sentava-se Hagrid, enorme e peludo, bebendo grandes goles de sua ta�a.
� Espere a�... � cochichou Harry para Rony. � H� uma cadeira vaga na mesa dos funcion�rios... Onde est� o Snape?
Severo Snape era o professor de que Harry menos gostava. Por acaso Harry era o aluno de quem Snape menos gostava tamb�m. Cruel, ir�nico e detestado por todo mundo, exceto pelos alunos de sua pr�pria casa (Sonserina), Snape ensinava Po��es.
� Vai ver ele est� doente! � disse Rony esperan�oso.
� Vai ver ele foi embora � disse Harry �, porque n�o conseguiu o lugar de professor de Defesa contra as Artes das Trevas outra vez!
� Ou vai ver foi despedido! � disse Rony entusiasmado. � Quero dizer, todo mundo o detesta...
� Ou vai ver � disse uma voz muito seca atr�s deles � est� esperando para saber por que voc�s dois n�o chegaram no trem da escola.
Harry virou-se depressa. Ali, as vestes negras ondeando � brisa gelada, achava-se parado Severo Snape. Era um homem magro, com a pele macilenta, um nariz curvo e cabelos negros e oleosos at� os ombros e, naquele momento, sorria de um jeito que dizia a Harry e Rony que eles estavam numa baita encrenca.
� Me acompanhem � disse Snape.
Sem nem ousarem se entreolhar, Harry e Rony seguiram Snape pela escada e entraram no enorme sagu�o cheio de ecos, iluminado por tochas. Um cheiro delicioso de comida vinha do Sal�o Principal, mas Snape os levou para longe do calor e da luz e desceu uma estreita escada de pedra que levava �s masmorras.
� Para dentro! � disse ele, indicando a porta que abrira no corredor frio.
Eles entraram na sala de Snape, tr�mulos. As paredes sombrias estavam cobertas de prateleiras com grandes frascos, em que flutuava todo tipo de coisa nojenta de que, naquele momento, Harry nem queria saber o nome. A lareira estava apagada e vazia. Snape fechou a porta e virou-se para encar�-los.
� Ent�o � disse com suavidade � o trem n�o � bastante bom para o famoso Harry Potter e seu leal escudeiro Weasley. Queriam chegar acontecendo, n�o foi, rapazes?
� N�o, senhor, foi a barreira na esta��o de King s Cross, ela...
� Sil�ncio � disse Snape secamente. � Que foi que fizeram com o carro?
Rony engoliu em seco. N�o era a primeira vez que Snape dava a Harry a impress�o de ser capaz de ler pensamentos. Mas um momento depois, ele compreendeu, quando Snape desdobrou o Profeta Vespertino daquele dia.
� Voc�s foram vistos � sibilou o professor, mostrando a manchete: FORD ANGLIA VOADOR INTRIGA TROUXAS. E come�ou a ler em voz alta: 
 "Dois trouxas em Londres, convencidos de terem visto um velho carro sobrevoar a torre dos Correios... Ao meio-dia em Norfolk, a Sra. Hetty Bayliss, quando pendurava roupa para secar... O Sr. Angus Fleet, de Peebles, comunicou � policia..." 

� Um total de seis ou sete trouxas. Acredito que o seu pai trabalha no departamento que co�be o mal uso de artefatos dos trouxas? � perguntou ele, erguendo os olhos para Rony com um sorriso ainda mais desagrad�vel. � Tsk, tsk, tsk... O pr�prio filho dele...
Harry teve a sensa��o de que acabara de levar um direto no est�mago, aplicado por um dos ramos mais parrudos da �rvore maluca. Se algu�m descobrisse que o Sr. Weasley havia enfeiti�ado o carro... N�o tinha pensado nisso...
� Reparei na minha busca pelo parque que houve consider�vel dano a um salgueiro lutador muito valioso � continuou Snape.
� Aquela �rvore causou mais dano a n�s do que n�s a... � deixou escapar Rony. 
� Sil�ncio! � disse Snape outra vez. � Infelizmente voc�s n�o fazem parte da minha Casa, e a decis�o de expuls�-los n�o cabe a mim. Vou buscar as pessoas que t�m este prazeroso poder. Esperem aqui.
Harry e Rony se entreolharam p�lidos. Harry n�o sentia mais fome. Sentia-se extremamente enjoado. Tentou n�o olhar para uma coisa grande e pegajosa que estava suspensa em um liquido verde, em uma prateleira atr�s da escrivaninha de Snape.
Se Snape tivesse ido buscar a Prof�. McGonagall, diretora da Casa Grifin�ria, eles tampouco estariam em melhor situa��o.  Poderia ser mais justa do que Snape, mas era rigoros�ssima. Dez minutos depois, Snape voltou e n�o deu outra, era a Prof�. McGonagall que o acompanhava. Harry j� a vira v�rias vezes, mas ou se esquecera como a boca da professora ficava contra�da, ou nunca a vira zangada antes.
Ela ergueu a varinha no momento em que entrou. Os dois, Harry e Rony se encolheram, mas ela meramente a apontou para a lareira apagada, onde as chamas irromperam instantaneamente.
� Sentem-se � disse, e os dois recuaram e se sentaram em cadeiras junto � lareira. � Expliquem-se � disse, os �culos brilhando agourentos.
Rony saiu contando a hist�ria a come�ar pela barreira da esta��o que se recusara a deix�-los passar.
� ... Ent�o n�o tivemos outra escolha, professora, n�o pod�amos embarcar no trem.
� Por que n�o nos mandaram uma carta por coruja? Creio que voc� tem uma coruja? � disse a Prof�. McGonagall, olhando para Harry com frieza.
Harry ficou boquiaberto. Agora que ela dissera, parecia a coisa �bvia para ter sido feita.
� Eu... N�o pensei...
� Isto � tornou a professora � � �bvio.
Ouviu-se uma batida na porta da sala, e Snape, agora com a cara mais feliz que nunca, abriu-a. Parado � porta achava-se o diretor, o Prof�. Dumbledore.
O corpo de Harry inteiro ficou insens�vel. Dumbledore parecia anormalmente s�rio.  Olhou por cima daquele nariz curvo dele, e Harry, subitamente, viu-se desejando que ele e Rony ainda estivessem apanhando do salgueiro lutador.
Fez-se um longo sil�ncio. Ent�o Dumbledore disse:
� Por favor, expliquem por que fizeram isso.
Teria sido melhor se tivesse gritado. Harry detestou o desapontamento que havia na voz dele. Por alguma raz�o, n�o conseguiu encarar Dumbledore nos olhos e, em vez disso, falou para os pr�prios joelhos. Contou a Dumbledore tudo, exceto que o Sr. Weasley era o dono do carro enfeiti�ado, fazendo parecer que ele e Rony tinham encontrado o carro voador estacionado do lado de fora da esta��o, por acaso.
Ele sabia que Dumbledore perceberia a coisa na mesma hora, mas o diretor n�o fez perguntas sobre o carro. Quando Harry terminou, ele apenas continuou a observ�-los atrav�s dos �culos de meia-lua.
� Vamos buscar as nossas coisas � disse Rony com a desesperan�a na voz.
� De que � que est� falando, Weasley? � vociferou a Prof�. McGonagall.
� Bem, os senhores v�o nos expulsar, n�o �? � disse Rony.
Harry olhou rapidamente para Dumbledore.
� Hoje n�o, Sr. Weasley � disse Dumbledore. � Mas preciso incutir em voc�s a gravidade do que fizeram. Vou escrever �s duas fam�lias hoje � noite.  Devo tamb�m preveni-los de que se fizerem isto de novo, n�o terei escolha se n�o expulsar os dois.
Snape fez cara de quem acaba de ouvir que o Natal foi cancelado. Pigarreou e disse:
� Prof�. Dumbledore, esses garotos zombaram da lei que restringe o uso de magia por menores, causaram s�rios danos a uma �rvore antiga e valiosa... Com certeza atos desta natureza...
� A Proaf. McGonagall � quem decidira sobre o castigo dos meninos, Severo � disse Dumbledore calmamente. � Fazem parte da Casa dela e, portanto s�o responsabilidade dela. � E se virou para a professora: � Preciso voltar para a festa, Minerva, tenho que dar alguns avisos. Vamos Severo, tem uma torta de ab�bora deliciosa que quero provar.
Snape lan�ou um olhar de puro veneno a Harry e Rony ao se deixar levar embora da sala, deixando-os sozinhos com a Prof�. McGonagall, que ainda os observava como uma �guia atenta.
� � melhor ir � ala hospitalar, Weasley, voc� est� sangrando.
� N�o � nada demais � disse Rony, limpando depressa com a manga o corte sobre o olho. � Professora, eu queria ver a minha irm� ser selecionada...
� A cerim�nia da Sele��o j� terminou � respondeu ela. � Sua irm� tamb�m ficou na Grifin�ria.
� Ah, que bom.
� E por falar na Grifin�ria... � disse McGonagall muito r�spida, mas Harry a interrompeu.
� Professora, quando apanhamos o carro, o ano letivo n�o tinha come�ado, por isso... Por isso Grifin�ria n�o deve perder pontos, deve? � terminou ele, observando-a ansioso.
A Prof�. McGonagall lan�ou-lhe um olhar penetrante e ele teve certeza de que ela quase sorrira. Pelo menos ficara menos contra�da.
� N�o vou tirar pontos da Grifin�ria � e Harry sentiu o ch�o muito mais leve. � Mas os dois v�o receber uma deten��o.
Foi melhor do que Harry esperara. Quanto a Dumbledore escrever aos Dursley, isso n�o era nada. Harry sabia perfeitamente que eles s� iriam ficar desapontados que o salgueiro lutador n�o o tivesse achatado de vez.
A Prof�. McGonagall ergueu novamente a varinha e apontou-a para a escrivaninha de Snape. Um grande prato de sandu�ches, duas ta�as de prata e uma jarra de suco de ab�bora gelado apareceram com um estalo.
� Voc�s v�o comer aqui e depois v�o direto para o dormit�rio � disse ela. � Eu tamb�m preciso voltar � festa.
Quando a porta se fechou, Rony deixou escapar um assobio baixo e longo.
� Achei que est�vamos ferrados � disse ele, agarrando o sandu�che.
� Eu tamb�m � disse Harry, servindo-se.
� Mas d� para acreditar na nossa falta de sorte? � perguntou Rony com a voz pastosa porque tinha a boca cheia de galinha e presunto. � Fred e Jorge devem ter voado naquele carro umas cinco ou seis vezes e nunca nenhum trouxa viu os dois. � Ele engoliu e deu outra grande dentada. � Por que n�o conseguimos atravessar a barreira?
Harry sacudiu os ombros.
� Mas vamos ter que nos cuidar daqui para frente � disse, tomando um grande gole do suco de ab�bora, cheio de gratid�o. � Gostaria de termos podido ir � festa...
� Ela n�o queria que f�ssemos nos exibir � disse Rony ajuizadamente. � N�o quer que as pessoas pensem que somos sabidos, porque chegamos de carro voador.
Quando acabaram de comer tudo o que puderam (o prato sempre tornava a se encher sozinho) eles se levantaram e deixaram a sala, tomando o caminho familiar para a Torre da Grifin�ria. O castelo estava silencioso; parecia que a festa havia acabado. Os dois passaram pelos quadros que resmungavam e as armaduras que rangiam e subiram a estreita escada de pedra, at� chegarem, finalmente, � passagem onde se escondia a entrada secreta para a Grifin�ria, atr�s do retrato a �leo de uma mulher muito gorda, de vestido de seda rosa.
� Senha? � perguntou ela quando os dois se aproximaram.
� ���... � murmurou Harry.
Eles n�o sabiam a senha do novo ano, ainda n�o tinham encontrado o monitor da Grifin�ria, mas o socorro chegou quase imediatamente; ouviram um tropel de passos �s costas e quando se viraram deram com Hermione que corria ao encontro deles.
� A� est�o voc�s! Onde se meteram? Os boatos mais rid�culos... Algu�m disse que voc�s foram expulsos por terem batido com um carro voador.
� Bem, n�o fomos expulsos � garantiu-lhe Harry.
� Voc�s n�o v�o me dizer que realmente chegaram aqui voando? � disse Hermione, em tom quase t�o severo quanto o da Prof�. McGonagall.
� Pode poupar o serm�o � disse Rony impaciente � e nos dizer qual � a nova senha.
� � "ma�arico� � respondeu Hermione impaciente �, mas n�o � isto que est� em quest�o...
Suas palavras, por�m, foram interrompidas, pois o retrato da mulher gorda se abriu em meio a uma repentina tempestade de aplausos. Parecia que todos os alunos da Grifin�ria ainda estavam acordados, espremidos na sala comunal redonda, trepados nas mesas fora de esquadro e nas poltronas que afundavam, esperando os dois chegarem.
Bra�os passaram pela abertura do retrato para puxar Harry e Rony para dentro, deixando Hermione subir depois e sozinha.
� Genial! � berrou Lino Jordan. � Um achado! Que entrada! Aterrissar um carro voador no salgueiro lutador, v�o comentar isso durante anos!
"Parab�ns", disse um quintanista com que Harry nunca falara antes; algu�m dava palmadinhas em suas costas como se ele tivesse acabado de ganhar uma maratona; Fred e Jorge abriram caminho por entre os colegas aglomerados e perguntaram ao mesmo tempo:
� Por que n�o viemos no carro, hein? Rony estava com a cara vermelha e sorria constrangido, mas Harry acabava de ver uma pessoa que n�o parecia nada feliz.
Percy era vis�vel por cima das cabe�as de uns alunos de primeira s�rie animados, e parecia estar querendo se aproximar o suficiente para come�ar a ralhar com eles. Harry cutucou Rony nas costelas e fez sinal em dire��o a Percy. Rony entendeu na mesma hora.
� Temos que subir... Um pouco cansados � disse ele e os dois come�aram a abrir caminho em dire��o � porta do lado oposto da sala, que levava � escada circular e aos dormit�rios.
� Noite � Harry falou por cima do ombro para Hermione, que estava com uma cara t�o feia quanto Percy.
Os garotos conseguiram chegar ao outro lado da sala comunal, ainda recebendo palmadinhas nas costas, e alcan�aram a paz das escadas. Subiram a escada correndo, direto para cima e, finalmente, chegaram � porta do antigo dormit�rio, que agora tinha um letreiro que dizia ALUNOS DE SEGUNDA S�RIE. Entraram no quarto circular que j� conheciam, com camas de quatro colunas e cortinas de veludo vermelho, e suas janelas altas e estreitas. Seus mal�es tinham sido trazidos at� o quarto e colocados aos p�s das camas.
Rony sorriu com ar de culpa para Harry.
� Sei que n�o devia ter curtido isso nem nada, mas...
A porta do dormit�rio se escancarou e por ela entraram os outros segundanistas da Grifin�ria, Simas Finnigan, Dino Thomas e Neville Longbottom.
� Inacredit�vel!� exclamou Simas radiante.
� Legal � disse Dino.
� Um assombro! � acrescentou Neville at�nito.
Harry n�o conseguiu se controlar e sorriu tamb�m.





CAP�TULO SEIS
Gilderoy Lockhart

 No dia seguinte, por�m, Harry mal conseguiu sorrir. As coisas come�aram a rolar morro abaixo desde o caf� da manha no Sal�o Principal. As quatro mesas compridas, cada uma de uma casa, estavam cobertas de terrinas de mingau de aveia, travessas de peixe defumado, montanhas de torradas e pratos com ovos e bacon, sob o c�u encantado (hoje, toldado por nuvens cinzentas). Harry e Rony sentaram-se � mesa da Grifin�ria ao lado de Hermione, que tinha um exemplar de Viagens com Vampiros, aberto, e apoiado numa jarra de leite. Havia uma certa formalidade na maneira como ela deu "Bom dia", o que informou a Harry que ela continuava a desaprovar a maneira como os garotos tinham chegado. Neville Longbottom, por outro lado, cumprimentou-os animado. Neville era um menino de rosto redondo e dado a acidentes, com a pior mem�ria que Harry j� vira em algu�m.
� O correio deve chegar a qualquer momento, acho que vov� vai me mandar umas coisas que esqueci.
Harry mal tinha come�ado a comer o mingau quando, a confirmar o coment�rio, ouviu-se um rumorejo de asas, no alto, e uma centena de corujas entrou, descrevendo c�rculos pelo sal�o e deixando cair cartas e pacotes entre os alunos que tagarelavam. Um grande embrulho disforme bateu na cabe�a de Neville, um segundo depois, alguma coisa grande e cinzenta caiu na jarra de Hermione, salpicando todo mundo com leite e penas.
� Errol!� exclamou Rony, puxando pelos p�s a coruja molhada para fora da jarra. Errol caiu, desmaiada, em cima da mesa, as pernas para cima e um envelope vermelho e �mido no bico.
� Ah, n�o... �, exclamou Rony.
� Tudo bem, ele ainda est� vivo � disse Hermione, cutucando Errol devagarinho com a ponta do dedo.
� N�o � isso, � isto.
Rony estava apontando para o envelope vermelho. Parecia um envelope comum para Harry, mas Rony e Neville olharam para ele como se fosse explodir.
� Que foi? � perguntou Harry.
� Ela... Ela me mandou um "berrador" � disse Rony baixinho.
� � melhor abrir, Rony � sugeriu Neville com um sussurro t�mido. � Vai ser pior se voc� n�o abrir. Minha av� um dia me mandou um e eu n�o dei aten��o � ele engoliu em seco �, foi horr�vel.
Harry olhava dos rostos paralisados dos amigos para o envelope vermelho.
� Que � um berrador? � perguntou.
Mas toda a aten��o de Rony estava fixa na carta, que come�ara a fumegar nos cantos.
� Abra � insistiu Neville. � Termina em poucos minutos... 
Rony estendeu a m�o tr�mula, tirou o envelope do bico de Errol e abriu-o. Neville enfiou os dedos nos ouvidos. Uma fra��o de segundo depois, Harry descobriu o porqu�. Pensou por um instante que o envelope explodira; um estrondo encheu o enorme sal�o, sacudindo a poeira do teto.

�... ROUBAR O CARRO, EU N�O TERIA ME SURPREENDIDO SE O TIVESSEM EXPULSADO, ESPERE ATE EU P�R AS M�OS EM VOC�, SUPONHO QUE N�O PAROU PARA PENSAR NO QUE SEU PAI E EU PASSAMOS QUANDO VIMOS QUE O CARRO TINHA DESAPARECIDO...�

Os berros da Sra. Weasley, cem vezes mais altos do que de costume, fizeram os pratos e talheres se entrechocarem na mesa e produziram um eco ensurdecedor nas paredes de pedra. As pessoas por todo o sal�o se viravam para ver quem recebera o berrador, e Rony afundou tanto na cadeira que s� deixara a testa vermelha vis�vel.

�... A CARTA DE DUMBLEDORE � NOITE PASSADA, PENSEI QUE SEU PAI IA MORRER DE VERGONHA, N�O O EDUCAMOS PARA SE COMPORTAR ASSIM, VOC� E HARRY PODIAM TER MORRIDO...�

Harry estava imaginando quando � que seu nome iria aparecer. Fez muita for�a para fingir que n�o estava escutando a voz que fazia seus t�mpanos latejarem.

"... ABSOLUTAMENTE DESGOSTOSA, SEU PAI ESTA ENFRENTANDO UM INQU�RITO NO TRABALHO, E � TUDO CULPA SUA, E, SE VOC� SAIR UM DEDINHO DA LINHA, VAMOS TRAZ�-LO DIRETO PARA CASA.�

Seguiu-se um sil�ncio que chegou a ecoar. O envelope vermelho, que ca�ra das m�os de Rony, pegou fogo e encrespou-se em cinzas. Harry e Rony ficaram aturdidos, como se uma onda gigantesca tivesse acabado de passar por cima deles. Algumas pessoas riram e, aos poucos, a balb�rdia da conversa recome�ou.
Hermione fechou o Viagens com vampiros e olhou para o cocuruto da cabe�a de Rony.
� Bem, n�o sei o que � que voc� esperava, Rony, mas voc�...
� N�o me diga que mereci � retrucou Rony com rispidez.
Harry empurrou o prato de mingau. Suas entranhas queimavam de remorso. O Sr. Weasley estava enfrentando um inqu�rito no trabalho. Depois de tudo que o Sr. e a  Sra. Weasley tinham feito por ele durante o ver�o...
Mas n�o teve muito tempo para pensar nisso; a Prof�. McGonagall vinha passando pela mesa da Grifin�ria, distribuindo os hor�rios dos cursos. Harry recebeu o dele e viu que a primeira aula era uma aula dupla de Herbologia, com os alunos da Lufa- Lufa.
Harry, Rony e Hermione deixaram o castelo juntos, atravessaram a horta e rumaram para as estufas, onde as plantas m�gicas eram cultivadas. Pelo menos o berrador fizera uma coisa boa: Hermione parecia achar que tinham sido suficientemente castigados e voltara a ser absolutamente simp�tica.
Ao se aproximarem das estufas viram o resto da classe em p�, do lado de fora, esperando a Prof�. Sprout. Harry, Rony e Hermione tinham acabado de se reunir � turma quando a professora surgiu caminhando pelo gramado, acompanhada de Gilderoy Lockhart. Ela trazia os bra�os carregados de bandagens, e, com outro aperto de remorso, Harry viu o salgueiro lutador ao longe, com v�rios ramos em tip�ias.
A Prof�. Sprout era uma bruxinha atarracada que usava um chap�u remendado sobre os cabelos soltos; geralmente tinha uma grande quantidade de terra nas roupas, e suas unhas teriam feito tia Pet�nia desmaiar. Gilderoy Lockhart, ao contrario, estava imaculado em suas espetaculares vestes azul-turquesa, os cabelos dourados brilhando sob um chap�u tamb�m turquesa, com gal�o dourado e perfeitamente assentado na cabe�a.
� Ah, al� � cumprimentou ele, sorrindo para os alunos reunidos. � Acabei de mostrar � Prof�. Sprout a maneira certa de cuidar de um salgueiro lutador! Mas n�o quero que voc�s fiquem com a id�ia de que sou melhor do que ela em Herbologia! Por acaso encontrei v�rias dessas plantas ex�ticas nas minhas viagens...
� Estufa tr�s hoje, rapazes! � disse a Prof�. Sprout, que tinha um ar visivelmente contrariado, bem diferente de sua habitual express�o animada.
Houve um murm�rio de interesse. At� ent�o, s� tinham estudado na estufa n�mero um � a estufa tr�s guardava plantas muito mais interessantes e perigosas. A Prof�. Sprout tirou uma chave enorme do cinto e destrancou a porta. Harry sentiu um cheiro de terra molhada e fertilizante mesclados ao perfume pesado de umas flores enormes, do tamanho de sombrinhas que pendiam do teto. Ia entrar em seguida a Rony e Hermione na estufa quando Lockhart estendeu a m�o.
� Harry! Estou querendo dar uma palavra... A senhora n�o se importa se ele se atrasar uns minutinhos, n�o �, Prof�. Sprout?
A julgar pela cara de desagrado da professora, ela se importava sim, mas Lockhart disse:
� � isso ai � e fechou a porta da estufa na cara dela.
� Harry � disse Lockhart, os dent�es brancos faiscando ao sol quando ele balan�ou a cabe�a. � Harry, Harry, Harry.
Completamente estupefato, Harry ficou calado.
� Quando ouvi, bem, � claro que foi tudo minha culpa. Tive vontade de me chutar.
Harry n�o fazia id�ia do que � que o professor estava falando. Ia dizer isso quando Lockhart acrescentou:
� Nunca fiquei t�o chocado em minha vida. Chegar a Hogwarts num carro voador!  Bem, � claro, entendi na mesma hora por que voc� fez isso. Estava na cara. Harry, Harry, Harry.
Era incr�vel como � que ele conseguia mostrar cada um daqueles dentes brilhantes at� quando n�o estava falando.
� Teve uma provinha de publicidade, n�o foi? � disse Lockhart. � Ficou mordido. Esteve na primeira p�gina comigo e n�o p�de esperar para repetir o feito.
� Ah, n�o, Professor, sabe...
� Harry, Harry, Harry � disse Lockhart, segurando-o pelo ombro. � Eu compreendo.  � natural querer mais depois de provar uma vez, e eu me culpo por ter-lhe dado a oportunidade, porque a coisa n�o podia deixar de lhe subir � cabe�a, mas olhe aqui, rapaz, voc� n�o pode come�ar a voar em carros para tentar chamar aten��o para a sua pessoa. � bom se acalmar, est� bem? Tem muito tempo para isso quando for mais velho. E, �, sei o que est� pensando! "Tudo bem para ele, j� � um bruxo internacionalmente conhecido!" Mas quando eu tinha doze anos, era um Jo�o-ningu�m como voc� � agora. Diria at� que era mais Jo�o-ningu�m! Quero dizer, algumas pessoas j� ouviram falar de voc�, n�o � mesmo? Todo aquele epis�dio com Ele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado! � Ele olhou para a cicatriz em forma de raio na testa de Harry. � Eu sei, eu sei, n�o � t�o bom quanto ganhar o Pr�mio do Sorriso mais Atraente do Seman�rio dos Bruxos cinco vezes seguidas, como eu, mas � um come�o, Harry, � um come�o.
Ele deu uma piscadela cordial a Harry e foi-se embora a passos largos. Harry continuou aturdido por alguns segundos, depois, lembrando-se de que devia estar na estufa, abriu a porta e entrou sem chamar aten��o.
A Prof�. Sprout estava parada atr�s de uma mesa de cavalete no centro da estufa. Havia uns vinte pares de abafadores de ouvidos de cores diferentes arrumados sobre a mesa. Quando Harry tomou seu lugar entre Rony e Hermione, a professora disse:
� Vamos reenvasar mandr�goras hoje. Agora, quem � que sabe me dizer as propriedades da mandr�gora?
Ningu�m se surpreendeu quando a m�o de Hermione foi a primeira a se levantar.
� A mandr�gora � um t�nico reconstituinte muito forte � disse Hermione, parecendo, como sempre, que engolira o livro-texto. � � usada para trazer de volta as pessoas que foram transformadas ou foram enfeiti�adas no seu estado natural.
� Excelente. Dez pontos para a Grifin�ria � disse a Prof�. Sprout. � A mandr�gora � parte essencial da maioria dos ant�dotos. Mas, � tamb�m perigosa. Quem sabe me dizer o porqu�?
A m�o de Hermione errou por pouco os �culos de Harry quando ela a levantou mais uma vez.
� O grito da mandr�gora � fatal para quem o ouve � disse a garota prontamente.
� Exatamente. Mais dez pontos. Agora as mandr�goras que temos aqui ainda s�o muito novinhas.
Ela apontou para uma fileira de tabuleiros fundos ao falar, e todos se aproximaram para ver melhor. Umas cem moitinhas repolhudas, verde arroxeadas, cresciam em fileiras nos tabuleiros. N�o pareciam ter nada de mais para Harry, que n�o fazia a menor id�ia do que Hermione quisera dizer com o "grito" da mandr�gora.
� Agora apanhem um par de abafadores de ouvidos � mandou a professora.
Os alunos correram para a mesa para tentar apanhar um par que n�o fosse peludo nem cor-de-rosa.
� Quando eu mandar voc�s colocarem os abafadores, certifiquem-se de que suas orelhas ficaram completamente cobertas � disse ela. � Quando for seguro remover os abafadores eu erguerei o polegar para voc�s.  Certo... Coloquem os abafadores.
Harry ajustou os abafadores nos ouvidos. Eles vedaram completamente o som. A Prof�. Sprout colocou o seu par peludo e cor-de-rosa nas orelhas, enrolou as mangas das vestes, agarrou uma moitinha de mandr�gora com firmeza e puxou-a com for�a.
Harry deixou escapar uma exclama��o de surpresa que ningu�m ouviu.  Em vez de ra�zes, um bebezinho extremamente feio saiu da terra. As folhas cresciam diretamente de sua cabe�a. Ele tinha a pele verde-clara malhada e era vis�vel que berrava a plenos pulm�es.
A professora tirou um vaso de plantas grande de sob a bancada e mergulhou nele a mandr�gora, cobrindo-a com o composto escuro e �mido at� ficarem apenas as folhas vis�veis. Depois, limpou as m�os, fez sinal com o polegar para os alunos e retirou os abafadores dos ouvidos.
� As nossas mandr�goras s�o apenas miudinhas, por isso seus gritos ainda n�o d�o para matar � disse ela calmamente como se n�o tivesse feito nada mais excitante do que regar uma beg�nia. � Mas, elas deixar�o voc�s inconscientes por varias horas, e como tenho certeza de que nenhum de voc�s quer perder o primeiro dia na escola, certifiquem-se de que seus abafadores est�o no lugar antes de come�arem a trabalhar. Chamarei sua aten��o quando estiver na hora da sa�da.
� Quatro para cada tabuleiro, h� um bom estoque de vasos aqui, o composto est� nos sacos ali adiante, e tenham cuidado com aquela planta de tent�culos venenosos.  Est� criando dentes.
Ela deu uma palmada en�rgica em uma planta vermelha e espinhosa ao falar, fazendo-a recolher os longos tent�culos que avan�avam sorrateiramente pelo seu ombro.
Harry, Rony e Hermione dividiram o tabuleiro com um garoto de cabelos cacheados da Lufa-Lufa que Harry conhecia de vista, mas com quem nunca falara.
� Justino Finch-Fletchley � apresentou-se ele animado, apertando a m�o de Harry. � Eu sei quem voc� �, claro, o famoso Harry Potter.. E voc� � Hermione Granger, sempre a primeira em tudo � (Hermione deu um grande sorriso quando o garoto tamb�m apertou sua m�o) �, e Rony Weasley. O carro voador era seu, n�o era?
Rony n�o sorriu. O berrador obviamente continuava em seus pensamentos.
� Aquele Lockhart � o m�ximo, n�o acha? � disse Justino, feliz, quando come�aram a encher os vasos de planta com fertilizante de bosta de drag�o. � Um cara super corajoso. Voc� leu os livros dele? Eu teria morrido de medo se tivesse sido acuado em uma cabine telef�nica por um lobisomem, mas ele continuou na dele e, z�s, simplesmente fant�stico.  Eu estava inscrito em Eton, sabe. Nem sei dizer como estou contente de, em vez disso, ter vindo para c�. Claro, minha m�e ficou um pouco desapontada, mas desde que a fiz ler os livros de Lockhart acho que come�ou a perceber como ser� �til ter na fam�lia algu�m formado em magia...�
Depois disso n�o houve muito o que conversar. Tinham tornado a colocar os abafadores e precisavam se concentrar nas mandr�goras. A Prof�. Sprout fizera a tarefa parecer extremamente f�cil, mas n�o era. As mandr�goras n�o gostavam de sair da terra, mas tampouco pareciam querer voltar para ela. Contorciam-se, chutavam, sacudiam os pequenos punhos afiados e arreganhavam os dentes; Harry gastou dez minutos inteiros tentando espremer uma planta particularmente gorda dentro de um vaso.
L� pelo fim da aula, Harry, como todos os outros, estava suado, dolorido e coberto de terra. Eles voltaram ao castelo para se lavar rapidamente, e ent�o os alunos da Grifin�ria correram para a aula de Transforma�oes.
As aulas da Prof�. McGonagall eram sempre trabalhosas, mas a de hoje estava particularmente dif�cil. Tudo que Harry aprendera no ano anterior parecia ter-se esva�do de sua cabe�a durante o ver�o. Devia transformar um besouro em um bot�o, mas a �nica coisa que conseguiu foi for�ar o besouro a fazer muito exerc�cio, pois o inseto corria por toda a superf�cie da carteira para fugir de sua varinha.
Rony estava enfrentando um problema muito pior. Tinha remendado a varinha com um pouco de fita adesiva que pedira emprestada, mas a varinha parecia danificada para sempre. N�o parava de estalar e faiscar nas horas mais estranhas, e cada vez que Rony tentava transformar o besouro ela o envolvia em uma densa fuma�a cinzenta que cheirava a ovos podres.
Acidentalmente ele esmagou o seu besouro com o cotovelo e teve que pedir um novo. A Prof�. McGonagall n�o ficou nada satisfeita.
Foi um al�vio para Harry ouvir a sineta para o almo�o. Seu c�rebro parecia ter virado uma esponja espremida. Todos sa�ram da sala exceto ele e Rony, que, furioso, dava golpes de varinha na carteira.
� Coisa, burra, in�til.
� Escreva para casa pedindo uma nova � sugeriu Harry quando a varinha produziu uma saraivada de tiros feito um roj�o.
� Ah, sim, e recebo outro berrador em resposta � disse Rony enfiando na mochila a varinha, que agora sibilava. � "A culpa � sua se sua varinha partiu...�
Os tr�s amigos desceram para o refeit�rio, onde o humor de Rony n�o melhorou ao ver a cole��o de bot�es perfeitos que Hermione mostrava ter feito na aula de Transforma��es.
� Que vamos ter hoje � tarde? � perguntou Harry, mudando de assunto depressa.
� Defesa contra as Artes das Trevas � respondeu Hermione na mesma hora.
� Por que � perguntou Rony, apanhando o hor�rio dela � voc� sublinhou com cora��ezinhos as aulas de Lockhart?
Hermione puxou o hor�rio da m�o de Rony, corando loucamente.
Quando terminaram o almo�o os tr�s sa�ram para o p�tio nublado.
Hermione se sentou em um degrau de pedra e tornou a enfiar o nariz em Viagem com Vampiro.
Harry e Rony ficaram discutindo Quadribol durante v�rios minutos at� Harry perceber que estava sendo atentamente vigiado. Ao erguer os olhos, viu que o garoto miudinho de cabelos louro-cinza que ele vira experimentando o Chap�u Seletor na v�spera o encarava como que paralisado. Estava agarrado a um objeto que parecia uma m�quina fotogr�fica de trouxas e, no momento em que Harry olhou para ele, ficou escarlate.
� Tudo bem, Harry? Sou... Colin Creevey � disse o menino sem f�lego, adiantando-se hesitante. � Sou da Grifin�ria tamb�m. Voc� acha que tem algum problema se... Posso tirar uma foto? � disse, erguendo a m�quina, esperan�oso.
� Uma foto? � repetiu Harry sem entender.
� Para provar que conheci voc� � disse Colin Creevey ansioso, aproximando-se mais. � Sei tudo sobre voc�. Todo mundo me contou. Como foi que voc� sobreviveu quando Voc�-Sabe-Quem tentou mat�-lo e como foi que ele desapareceu e tudo o mais, e como voc� ainda conserva a cicatriz em forma de raio na testa � seus olhos esquadrinharam a raiz dos cabelos de Harry �, e um garoto no meu dormit�rio disse que se eu revelar o filme na po��o correta, as fotos v�o se mexer � Colin inspirou profundamente, estremecendo de excita��o, e disse:
� Isto aqui � fant�stico, n�o acha? Eu n�o sabia que as coisas estranhas que eu fazia eram magia at� receber uma carta de Hogwarts. Meu pai � leiteiro, ele tamb�m n�o conseguia acreditar. Ent�o estou tirando um mont�o de fotos para levar para ele. E seria bem bom se tivesse a sua � o garoto olhou para Harry como se implorasse.
� Quem sabe o seu amigo podia tirar, e eu podia ficar do seu lado? E depois voc� podia autografar a foto?
� Autografar a foto? Voc� est� distribuindo fotos autografadas, Potter?
A voz de Draco Malfoy, alta e desdenhosa, ecoou pelo p�tio. Ele parara logo atr�s de Colin, ladeado, como sempre que estava em Hogwarts, pelos capangas grandalh�es, Crabbe e Goyle.
� Todo mundo em fila! � gritou Malfoy para os outros alunos. � Harry Potter est� distribuindo fotos autografadas!
� N�o, n�o estou n�o � disse Harry com raiva, cerrando os punhos. � Cale a boca, Malfoy.
� Voc� est� � com inveja � ouviu-se a voz fina de Colin, cujo corpo inteiro era da grossura do pesco�o de Crabbe.
� Inveja? � disse Malfoy, que n�o precisava mais gritar: metade do p�tio estava escutando. � De qu�? N�o quero uma cicatriz nojenta na minha testa, muito obrigado. Por mim, n�o acho que ter a cabe�a aberta faz ningu�m especial.
Crabbe e Goyle davam risadinhas idiotas.
� V� comer lesmas, Malfoy � disse Rony furioso. Crabbe parou de rir e come�ou a esfregar os n�s dos dedos de maneira amea�adora.
� Cuidado, Weasley � ca�oou Malfoy. � Voc� n�o vai querer come�ar nenhuma confus�o ou sua mam�e vai aparecer aqui para tir�-lo da escola. � Ele imitou a voz aguda e penetrante: � "Se voc� sair um dedinho da linha...�
Um grupo de quintanistas da Sonserina que estava pr�ximo deu gargalhadas ao ouvir isso.
� Weasley gostaria de ganhar uma foto autografada, Potter. � riu-se Malfoy. � Valeria mais do que a casa inteira da fam�lia dele...
Rony brandiu a varinha emendada, mas Hermione fechou o Viagens com Vampiros com um estalo e cochichou:
� Cuidado!
� Que est� acontecendo, que est� acontecendo? � Gilderoy Lockhart vinha em passos largos em dire��o � aglomera��o, suas vestes turquesa rodopiando para tr�s.
� Quem � que est� distribuindo fotos autografadas?
Harry come�ou a falar, mas foi interrompido por Lockhart que passou um bra�o pelos seus ombros e trovejou jovial:
� N�o devia ter perguntado! Nos encontramos outra vez, Harry!
Preso contra o corpo de Lockhart e ardendo de humilha��o, Harry viu Malfoy sair de fininho, rindo-se, para junto dos outros colegas.
� Vamos ent�o, Sr. Creevey � disse Lockhart, sorrindo para o garoto. � Uma foto dupla, nada melhor, e n�s dois podemos autograf�-la para o senhor.
Colin ajeitou a m�quina e tirou a foto na hora em que a sineta tocava �s costas do grupo, sinalizando o in�cio das aulas da tarde.
� Est� na hora, vamos andando voc�s a� � gritou Lockhart para os alunos e voltou ao castelo com Harry, que teve vontade de conhecer um bom feiti�o para desaparecer, ainda preso ao professor.
� Uma palavra para o bom entendedor, Harry � disse Lockhart paternalmente quando entravam no castelo por uma porta lateral. � Dei cobertura a voc� l� com o jovem Creevey, se ele estivesse me fotografando, tamb�m, os seus colegas n�o iriam pensar que voc� est� se dando ares...
Surdo aos murm�rios hesitantes de Harry, Lockhart arrebatou-o por um corredor ladeado por estudantes de olhos arregalados e subiu uma escada.
� Devo dizer que distribuir fotos autografadas nessa altura de sua carreira n�o � sensato, parece meio presun�oso, Harry, para ser franco. Haver� um dia em que, como eu, voc� vai precisar ter uma pilha de fotos � m�o onde quer que v�, mas � ele deu uma risadinha � acho que voc� ainda n�o chegou l�.
Ao chegarem � sala de aula de Lockhart ele finalmente soltou Harry. O garoto endireitou as vestes e se dirigiu a uma carteira bem no fundo da sala, onde se ocupou em empilhar os sete livros de Lockhart diante dele, de modo que pudesse evitar olhar para o autor em carne e osso.
O resto da classe entrou fazendo barulho, e Rony e Hermione se sentaram um de cada lado de Harry.
� Voc� podia ter fritado um ovo na cara � comentou Rony.
� � melhor rezar para Creevey n�o conhecer a Gina, ou os dois v�o come�ar um f�-clube do Harry Potter.
� Cale a boca � disse Harry r�spido. � A �ltima coisa que precisava era que Lockhart ouvisse a frase "f�-clube do Harry Potter".
Quando a classe inteira se sentou, Lockhart pigarreou alto e fez-se sil�ncio. Ele esticou o bra�o, apanhou o exemplar de Viagens com Trasgos de Neville Longbottom e ergueu-o para mostrar a pr�pria foto na capa, piscando o olho.
� Eu � disse apontando a foto e piscando tamb�m. � Gilderoy Lockhart, Ordem de Merlin, Terceira Classe, Membro Honor�rio da Liga de Defesa contra as For�as do Mal e vencedor do Pr�mio Sorriso mais Atraente da revista Seman�rio dos Bruxos cinco vezes seguidas, mas n�o falo disso. N�o me livrei do esp�rito agourento de Bandon sorrindo para ela.
Ficou esperando que sorrissem; alguns poucos deram um sorrisinho amarelo.
� Vejo que todos compraram a cole��o completa dos meus livros, muito bem. Pensei em come�armos hoje com um pequeno teste. Nada para se preocuparem, s� quero verificar se voc�s leram os livros com aten��o, e o quanto assimilaram...
Depois de distribuir os testes ele voltou � frente da classe e falou:
� Voc�s t�m trinta minutos... Come�ar, agora!
Harry olhou para o teste e leu:

1. Qual � a cor favorita de Gilderoy Lockhart?
2. Qual � a ambi��o secreta de Lockhart?
3. Qual � na sua opini�o a maior realiza��o de Gilderoy                 Lockhart at� o momento?

E as perguntas continuavam, ocupando tr�s p�ginas, at� a �ltima:

54. Quando � o anivers�rio de Gilderoy Lockhart e qual seria o presente ideal  para ele?

Meia hora depois, Lockhart recolheu os testes e folheou-os diante da classe.
� Tsk, tsk, quase ningu�m se lembrou que a minha cor favorita � lil�s. Digo isto no Um ano com o Ieti. E alguns de voc�s precisam ler Passeios com Lobisomens com mais aten��o, afirmo claramente no cap�tulo doze que o presente de anivers�rio ideal para mim seria a harmonia entre os povos m�gicos e n�o-m�gicos, embora eu n�o recuse um garraf�o do Velho U�sque de Fogo Ogden!
E deu outra piscadela travessa para os alunos. Rony fitava Lockhart com uma express�o de incredulidade no rosto; Simas Finnigan e Dino Thomas, que estavam sentados � frente, sacudiam-se de riso silencioso. Hermione, por outro lado, escutava Lockhart embevecida e atenta e se assustou quando o ouviu mencionar seu nome.
� Mas a Srta. Hermione Granger sabia que a minha ambi��o secreta era livrar o mundo do mal e comercializar a minha pr�pria linha de po��es para os cabelos, boa menina! Na realidade � ele virou o teste � ela acertou tudo! Onde est� a Srta. Hermione Granger?
Hermione levantou a m�o tr�mula.
� Excelente! � disse o sorridente Lockhart. � Excelente mesmo! Dez pontos para a Grifin�ria! E agora, ao trabalho...
Virou-se para a mesa e depositou nela uma grande gaiola coberta.
� Agora, fiquem prevenidos! � meu dever ensin�-los a se defender contra a pior criatura que se conhece no mundo da magia! Voc�s podem estar diante dos seus maiores medos aqui nesta sala. Saibam que nenhum mal vai lhes acontecer enquanto eu estiver aqui. S� pe�o que fiquem calmos.
Sem querer, Harry se curvou para um lado da pilha de livros que erguera para dar uma olhada melhor na gaiola. Lockhart colocou a m�o na cobertura.
Dino e Simas pararam de rir agora. Neville se afundou em sua carteira na primeira fila.
� Pe�o que n�o gritem � recomendou Lockhart em voz baixa. � Pode provoc�-los.
E a classe inteira prendeu a respira��o. Lockhart puxou a cobertura com um gesto largo.
� Sim, senhores � disse teatralmente. � Diabretes da Cornualia rec�m capturados.
Simas Finnigan n�o conseguiu se controlar. Deixou escapar uma risada pelo nariz que nem mesmo Lockhart poderia confundir com um grito de terror.
� Que foi? � Ele sorriu para Simas.
� Bem, eles n�o s�o... N�o s�o muito... Perigosos, s�o? � engasgou-se Simas.
� N�o tenha tanta certeza assim! � disse Lockhart, sacudindo um dedo, aborrecido, para Simas. � Esses bandidinhos podem ser diabolicamente astutos! 
Os diabretes eram azul-el�trico e tinham uns vinte cent�metros de altura, os rostos finos e as vozes t�o agudas que pareciam um bando de periquitos fazendo algazarra. No instante em que a cobertura foi retirada, eles come�aram a falar e a voar de maneira r�pida e excitada, a sacudir as grades e a fazer caras esquisitas para as pessoas mais pr�ximas.
� Certo, ent�o � disse Lockhart em voz alta. � Vamos ver o que voc�s acham deles! � E abriu a gaiola.
Foi um pandem�nio. Os diabretes disparavam em todas as dire��es como foguetes.
Dois deles agarraram Neville pelas orelhas e o ergueram no ar, V�rios outros voaram direto pelas janelas fazendo cair uma chuva de estilha�os de vidro no canteiro. Os demais se puseram a destruir a sala de aula com mais efici�ncia do que um rinoceronte desembestado. Agarraram tinteiros e salpicaram a sala de tinta, picaram livros e pap�is, arrancaram quadros das paredes, viraram a cesta de lixo, pegaram as mochilas e livros e os atiraram contra as vidra�as quebradas; em poucos minutos, metade da classe estava abrigada embaixo das carteiras e, Neville, pendurado no teto pelo lustre de ferro.
� Vamos, vamos, re�nam eles, re�nam eles, s�o apenas diabretes � gritou Lockhart.
Ele enrolou as mangas, brandiu a varinha e berrou:
� Peskipiksi ksi pesternomi!
As palavras n�o produziam efeito algum; um dos diabretes se apoderou da varinha e atirou-a tamb�m pela janela.
Lockhart engoliu em seco e mergulhou embaixo da mesa, escapando por pouco de ser esmagado por Neville, que despencou um segundo depois quando o lustre cedeu.
A sineta tocou, e todos desembestaram para a sa�da. Na calma relativa que se seguiu, Lockhart levantou-se, viu Harry, Rony e Hermione, que estavam quase na porta, e disse:
� Bem, vou pedir a voc�s que enfiem rapidamente os restantes de volta na gaiola. � E, passando pelos tr�s, fechou a porta depressa.
� D� para acreditar? � rugiu Rony quando um dos diabretes restantes lhe deu uma dolorosa mordida na orelha.
� Ele s� quer nos dar uma experi�ncia direta � disse Hermione, imobilizando dois diabretes ao mesmo tempo com um inventivo Feiti�o Congelante e enfiando-os de volta na gaiola.
� Direta? � disse Harry, que estava tentando agarrar um diabrete que dan�ava fora do seu alcance dando-lhe l�ngua. � Mione, ele n�o tinha a menor id�ia do que estava fazendo...
� Bobagem. Voc� leu os livros dele, v� s� todas as coisas incr�veis que ele fez...
� Que ele diz que fez � murmurou Rony.



CAP�TULO SETE
Sangue Ruim

Harry dedicou muito tempo, nos dias seguintes, a desaparecer de vista sempre que Gilderoy Lockhart aparecia andando por um corredor. Mais dif�cil foi evitar Colin Creevey, que parecia ter decorado o seu hor�rio. Pelo visto nada dava maior alegria a Colin do que dizer: "Tudo bem, Harry?" seis ou sete vezes por dia e ouvir: "Oi, CoLin", em resposta, por maior irrita��o que Harry demonstrasse ao dizer isso.
Edwiges continuava aborrecida com Harry por causa da desastrada viagem de carro e a varinha de Rony continuava a, funcionar mal, superando os pr�prios limites na sexta-feira na aula de Feiti�os, ao se atirar da m�o de Rony e atingir o Prof�. Flitwick bem no meio dos olhos, produzindo um grande fur�nculo verde e Latejante no lugar em que bateu. Assim entre uma coisa e outra, Harry ficou muito contente ao ver chegar o fim de semana. Ele, Rony e Mione estavam planejando visitar Hagrid no s�bado de manh�. Harry, por�m, foi acordado muito antes da hora que pretendera pelas sacudidas de Ol�vio Wood, capit�o do time de Quadribol da Grifin�ria.
� Que foi? � perguntou Harry tonto de sono.
� Pr�tica de Quadribol! � disse Wood. � Vamos!
Harry espiou pela janela apertando os olhos. Havia uma n�voa rala cobrindo o c�u rosa e dourado. Agora que acordara, ele n�o conseguia entender como podia estar dormindo com a algazarra que os passarinhos faziam.
� Ol�vio � disse ele com a voz rouca. � O dia ainda est� amanhecendo.
� Exato � respondeu Wood. Ele era um sextanista alto e forte e, naquele instante, seus olhos brilhavam de fan�tico entusiasmo. � Faz parte do nosso novo programa de treinamento. Ande, pegue a vassoura e vamos � disse Wood animado. � Nenhum dos times come�ou a treinar ainda; vamos ser os primeiros a dar a partida este ano...
Aos bocejos e tremores, Harry saiu da cama e tentou encontrar as vestes de Quadribol.
� Muito bem � disse Wood. � Te encontro no campo daqui a quinze minutos.
Depois de procurar o uniforme vermelho do time e vestir uma capa para se aquecer, Harry rabiscou um bilhete para Rony explicando onde fora e desceu a escada em caracol at� a sala comunal, a Nimbus 2000 ao ombro. Acabara de chegar ao buraco do retrato quando ouviu um estardalha�o �s suas costas, e Colin Creevey apareceu correndo escada abaixo, a m�quina fotogr�fica balan�ando feito louca ao pesco�o e alguma coisa segura na m�o.
� Ouvi algu�m dizer o seu nome na escada, Harry! Olhe s� o que tenho aqui! Mandei revelar, queria lhe mostrar...
Harry examinou confuso a foto que Colin sacudia debaixo do seu nariz.
Numa foto preto-e-branco, um Lockhart em movimento puxava com for�a um bra�o que Harry reconhecia como seu. Ficou satisfeito ao ver que o seu eu fotogr�fico resistia bravamente e recusava a se deixar arrastar para dentro da foto. Enquanto Harry observava, Lockhart desistiu e se largou, ofegante, contra a margem branca da foto.
� Voc� autografa? � perguntou Colin, ansioso.
� N�o � disse Harry sem rodeios, olhando para os lados para verificar se a sala estava realmente deserta. � Desculpe, Colin, estou com pressa, pr�tica de Quadribol...
E atravessou o buraco do retrato.
� Uau! Espere por mim! Nunca � vi um jogo de Quadribol antes!
Colin subiu pelo buraco atr�s de Harry.
� Vai ser bem chato � disse Harry depressa, mas o garoto n�o lhe deu aten��o, seu rosto iluminava-se de excita��o.
� Voc� foi o jogador da casa mais novo em cem anos, n�o foi, Harry? N�o foi? � perguntou Collin, caminhando ao lado dele. � Voc� deve ser genial. Eu nunca voei. � f�cil? Esta vassoura � sua? � a melhor que existe?
Harry n�o sabia como se livrar do coleguinha. Era como ter uma sombra extremamente tagarela.
� Eu n�o entendo bem de Quadribol � disse Colin sem f�lego. � � verdade que tem quatro bolas? E duas ficam voando em volta dos jogadores tentando tir�-los de cima das vassouras?
� � � disse Harry a contragosto, conformado em explicar as regras complicadas do Quadribol. � Chamam-se bala�os. H� dois batedores em cada time armados de bast�es para rebater os bala�os para longe do seu time. Fred e Jorge Weasley batem pela Grifin�ria.
� E para que servem as outras bolas? � perguntou Colin, derrapando dois degraus porque olhava boquiaberto para Harry.
� Bem, a goles, a bola vermelha meio grande, � a que faz os gols. Tr�s apanhadores em cada time atiram a goles um para o outro e tentam met�-La entre as balizas na extremidade do campo, s�o tr�s postes compridos com aros na ponta.
� E a quarta bola...
� ... � o pomo de ouro � disse Harry �, e � muito pequena, muito veloz e dif�cil de agarrar. Mas � isso que o apanhador tem que fazer, porque um jogo de Quadribol n�o termina at� o pomo ser capturado. E o apanhador que agarra o pomo para o time ganha cento e cinq�enta pontos a mais.
� E voc� � o apanhador da Grifin�ria, n�o �? � perguntou Colin cheio de admira��o e respeito.
� Sou � respondeu Harry enquanto deixavam o castelo e come�avam a atravessar o gramado encharcado de orvalho. � E tem o goleiro tamb�m. Ele guarda as balizas. � isso, em resumo.
Mas Colin n�o parou de interrogar Harry o tempo todo, desde o gramado ondulante at� o campo de Quadribol, e Harry s� conseguiu se desvencilhar dele quando chegou aos vesti�rios; Colin ainda gritou com sua voz fina quando ele se afastava.
� Vou pegar um bom lugar, Harry! � e correu para as arquibancadas.
Os outros jogadores do time da Grifin�ria j� estavam no vesti�rio. Wood era o �nico que parecia realmente acordado. Fred e Jorge estavam sentados, os olhos inchados e os cabelos despenteados, ao lado de uma quartanista, Alicia Spinnet, que parecia estar cabeceando contra a parede em que se encostara. As outras artilheiras, suas companheiras, Katie Bell e Angelina Johnson, bocejavam lado a lado de frente para eles.
� At� que enfim, Harry, por que demorou? � perguntou Wood eficiente. � Agora, eu queria ter uma conversinha com voc�s antes de irmos para o campo, porque passei o ver�o imaginando um programa de treinamento completamente novo, que acho que vai fazer toda a diferen�a...
Wood ergueu um grande diagrama de um campo de Quadribol, em que estavam desenhadas muitas linhas, setas e cruzes em tinta de cores diversas. Depois, puxou a varinha, deu uma batidinha no desenho, e as flechas come�aram a se deslocar pelo diagrama como lagartas. Quando Wood deslanchou um discurso sobre as novas t�ticas, a cabe�a de Fred Weasley despencou no ombro de Alicia Spinnet e ele come�ou a roncar.
O primeiro quadro levou quase vinte minutos para ser explicado, mas havia outro por baixo daquele, e um terceiro por baixo do segundo. Harry mergulhou num estupor durante a fala��o intermin�vel de Wood.
� Ent�o � disse Wood, finalmente, arrancando Harry de uma irrealiz�vel fantasia sobre o que estaria comendo no caf� da manh�, naquele instante, no castelo. � Ficou claro? Alguma pergunta?
� Tenho uma pergunta, Olivio � disse Jorge, que acordara assustado. � Voc� n�o podia ter explicado tudo isso ontem quando a gente estava acordado?
Wood n�o gostou.
� Agora, ou�am aqui, voc�s todos � disse, amarrando a cara. � N�s dev�amos ter ganho a ta�a de Quadribol no ano passado.
Somos sem favor nenhum o melhor time da escola. Mas, infelizmente, devido a circunst�ncias fora do nosso controle...
Harry se mexeu cheio de culpa no banco. Estivera inconsciente na ala hospitalar no �ltimo jogo do ano anterior, o que significava que a Grifin�ria tivera um jogador a menos e sofrera sua pior derrota em trezentos anos.
Wood esperou um instante para recuperar o pr�prio controle. A �ltima derrota, visivelmente, continuava a tortur�-lo.
� Ent�o, este ano, vamos treinar mais do que jamais treinamos... Muito bem, vamos colocar as nossas teorias em pr�tica! � gritou Wood, agarrando a vassoura e saindo do vesti�rio. As pernas dormentes e, ainda bocejando, o time o acompanhou.
Tinham passado tanto tempo no vesti�rio que o sol j� estava todo de fora, embora ainda se vissem restos de n�voa sobre o gramado do est�dio. Quando Harry entrou em campo, viu Rony e Mione sentados nas arquibancadas.
� Voc�s ainda n�o acabaram? � gritou Rony surpreso.
� Nem come�amos � respondeu Harry, olhando com inveja a torrada com gel�ia que Rony e Mione tinham trazido do Sal�o. � Wood esteve ensinando novas jogadas ao time.
Ele montou na vassoura, meteu o p� no ch�o para dar impulso e saiu voando, O ar frio da manh� bateu em seu rosto, acordando-o com muito mais efici�ncia do que a longa conversa de Wood. Era uma sensa��o maravilhosa estar de volta a um campo de Quadribol. Harry sobrevoou o est�dio a toda velocidade, apostando corrida com Fred e Jorge.
� Que clique-clique esquisito � esse? � gritou Fred enquanto faziam uma volta r�pida.
Harry olhou para as arquibancadas. Colin estava sentado em um dos lugares mais altos, a m�quina fotogr�fica levantada, tirando fotos seguidas, o som estranhamente ampliado no est�dio deserto.
� Olhe para c�, Harry! Para c�! � gritava se esgani�ando.
� Quem � aquele? � perguntou Fred.
� N�o fa�o a menor id�ia � mentiu Harry dando uma bombeada na vassoura que o levou o mais longe poss�vel de Colin.
� Que � que est� acontecendo? � perguntou Wood, franzindo a testa, enquanto cortava o ar em dire��o a eles. � Por que aquele aluninho de primeiro ano est� tirando fotos? N�o gosto disto. Pode ser um espi�o da Sonserina, tentando descobrir o nosso novo programa de treinamento.
� Ele � da Grifin�ria � informou Harry depressa.
� E o pessoal da Sonserina n�o precisa de espi�o, Olivio � acrescentou Jorge.
� Por que voc� est� dizendo isso? � perguntou Wood irritado.
� Porque eles vieram pessoalmente � respondeu Jorge apontando.
V�rios alunos de vestes verdes estavam entrando em campo, de vassouras na m�o.
� Eu n�o acredito! � sibilou Wood indignado. � Reservei o campo para hoje!
� Vamos cuidar disso.
Wood mergulhou at� o ch�o, aterrissando em sua raiva, com muito mais for�a do que pretendia, e cambaleou um pouco ao desmontar. Harry, Fred e Jorge o acompanharam.
� Flint! � berrou Wood para o capit�o da Sonserina. � Est� na hora do nosso treino! Levantamos especialmente para isso!
� Pode ir dando o fora!
Marcos Flint era ainda mais corpulento do que Hood. Tinha uma express�o de trasgo astucioso quando respondeu:
� Tem bastante espa�o para todos n�s, Wood.
Angelina, Alicia e Katie tinham se aproximado tamb�m. N�o havia mulheres no time da Sonserina, para ficarem, ombro a ombro, com ar de desd�m, encarando os jogadores da Grifin�ria.
� Mas eu reservei o campo! � disse Wood, praticamente cuspindo de raiva. � Eu reservei!
� Ah, mas tenho um papel aqui assinado pelo Prof�. Snape.
"Eu, Prof�. Snape, dei ao time da Sonserina permiss�o para praticar hoje no campo de Quadribol, face � necessidade de treinarem o seu novo apanhador.�
� Voc�s t�m um novo apanhador? � perguntou Wood, distra�do. � Onde?
E por tr�s dos seis jogadores grandalh�es surgiu diante deles um s�timo, menor, com um sorriso que se irradiava por todo o rosto p�lido e fino. Era Draco Malfoy!
� Voc� n�o � o filho do L�cio Malfoy? � perguntou Fred, olhando Draco com ar de desagrado.
� Engra�ado voc� mencionar o pai do Draco � disse Flint enquanto o time inteiro da Sonserina sorria com mais prazer.
� Deixe eu mostrar a voc�s o presente generoso que ele deu ao time da Sonserina.
Os sete mostraram as vassouras. Sete cabos polidos, novos em folha, e sete conjuntos de letras douradas, formando as palavras Nimbus 2001, reluziam sob os narizes dos jogadores da Grifin�ria, ao sol do amanhecer.
� �ltimo modelo. Saiu no m�s passado � disse Flint displicente, tirando um gr�o de poeira da ponta de sua vassoura com um peteleco. � Acho que bate de longe a s�rie antiga das 2000. Quanto �s velhas Cleansweep � e sorriu de modo desagrad�vel para Fred e Jorge, que seguravam esse tipo de vassoura �, varram o placar com elas.
Nenhum dos jogadores da Grifm�ria conseguiu pensar em nada para dizer naquele instante. Draco exibia um sorriso t�o grande que seus olhos frios estavam reduzidos a fendas.
� Ah, olha ali � disse Flint. � Uma invas�o de campo.
Rony e Mione vinham atravessando o gramado para ver o que estava acontecendo.
� Que � que est� havendo? � perguntou Rony a Harry. � Por que voc�s n�o est�o jogando? E que � que ele est� fazendo aqui?
Olhava para Draco, reparando nas vestes de Quadribol com as cores da Sonserina que o garoto usava.
� Sou o novo apanhador da Sonserina, Weasley � disse Draco, presun�oso. � O pessoal aqui est� admirando as vassouras que meu pai comprou para o nosso time.
Rony olhou, boquiaberto, as sete magn�ficas vassouras diante dele.
� Boas, n�o s�o? � disse Draco com a voz macia. � Mas quem sabe o time da Grifin�ria pode levantar um ourinho e comprar vassouras novas, tamb�m. Voc� podia fazer uma rifa dessas Cleansweep 5; imagino que um museu talvez queira compr�-las.
O time da Sonserina dava gargalhadas.
� Pelo menos ningu�m do time da Grifin�ria teve de pagar para entrar � disse Mione com aspereza. � Entraram por puro talento.
O ar presun�oso de Draco pareceu oscilar.
� Ningu�m pediu sua opini�o, sua sujeitinha de sangue ruim. � xingou ele.
Harry percebeu na hora que Draco dissera uma coisa realmente ofensiva, porque houve um tumulto instant�neo em seguida �s suas palavras. Flint teve que mergulhar na frente de Draco para impedir que Fred e Jorge se atirassem contra ele. Alicia gritou com voz aguda:
� Como � que voc� se atreve! � e Rony mergulhou a m�o nas vestes, puxou a varinha e gritou:
� Voc� vai me pagar! � e apontou a varinha, furioso, para a cara e Draco, por baixo do bra�o de Flint.
Um estrondo muito forte ecoou pelo est�dio, e um jorro de luz verde saiu da ponta oposta da varinha de Rony, atingiu-o na barriga e o atirou de costas na grama.
� Rony! Rony! Voc� est� bem? � gritou Mione.
Rony abriu a boca para falar, mas n�o saiu nada. Em vez disso, ele soltou um poderoso arroto e v�rias lesmas ca�ram de sua boca para o colo.
O time da Sonserina ficou paralisado de tanto rir. Flint, dobrado pela cintura, tentava se apoiar na vassoura nova. Draco ca�ra de quatro, dando murros no ch�o. Os alunos da Grifin�ria agrupavam-se em torno de Rony, que n�o parava de arrotar lesmas enormes. Ningu�m parecia querer tocar nele.
� � melhor levarmos o Rony para a casa de Hagrid, � mais perto � disse Harry a Mione, que concordou cheia de coragem, e os dois levantaram o amigo pelos bra�os.
� Que aconteceu, Harry? Que aconteceu? Ele est� doente? Mas voc� pode cur�-lo, n�o pode? � Colin descera correndo das arquibancadas e agora dan�ava em volta dos meninos que sa�am de campo. Rony deu um enorme suspiro e mais lesmas rolaram pelo seu peito.
� "Aaah", exclamou Colin, fascinado, erguendo a m�quina fotogr�fica. "Pode manter ele parado, Harry?�
� Sai da frente, Colin! � disse Harry com raiva. Ele e Mione carregaram Rony para fora do est�dio e atravessaram os jardins em dire��o � orla da floresta.
� Estamos quase l�, Rony � disse Mione quando a cabana do guarda-ca�a tornou-se vis�vel. � Voc� vai ficar bom num instante, estamos quase chegando...
Estavam a uns cinco metros da casa de Hagrid quando a porta de entrada se abriu, mas n�o foi Hagrid que apareceu.
Gilderoy Lockhart, hoje com vestes lil�s clarinho, vinha saindo.
� Depressa, aqui atr�s � sibilou Harry, arrastando Rony para tr�s de uma moita pr�xima. Mione seguiu-o, um tanto relutante.
� � muito simples se voc� sabe o que est� fazendo! � Lockhart dizia em voz alta a Hagrid. � Se precisar de ajuda, voc� sabe onde estou! Vou-lhe dar uma c�pia do meu livro. Estou surpreso que ainda n�o o tenha comprado: vou autografar um exemplar hoje � noite e mandar para voc�. Bom, adeus. � E saiu em dire��o ao castelo.
Harry esperou at� Lockhart desaparecer de vista, ent�o puxou Rony da moita at� a porta de Hagrid. Bateram apressados.
Hagrid abriu na mesma hora, parecendo muito rabugento, mas seu rosto se iluminou quando viu quem era.
� Estive pensando quando � que voc�s viriam me ver, entrem, entrem, achei que podia ser o Prof�. Lockhart outra vez...
Harry e Mione ajudaram Rony a entrar na cabana sala-e-quarto, que tinha uma cama enorme em um canto, uma lareira com um fogo vivo no outro.
Hagrid n�o pareceu perturbado com o problema das lesmas de Rony, que Harry explicou em poucas palavras enquanto baixava o amigo em uma cadeira.
� Melhor para fora do que para dentro � disse Hagrid animado, baixando com ru�do uma grande bacia de cobre na frente do menino. � Ponha todas para fora, Rony.
� Acho que n�o h� nada a fazer exceto esperar que a coisa passe � disse Mione ansiosa, observando Rony se debru�ar na bacia. � � um feiti�o dif�cil de fazer em condi��es ideais, ainda mais com uma varinha quebrada...
Hagrid ocupou-se pela cabana preparando ch� para os meninos. Seu c�o de ca�ar javalis, Canino, fazia festas a Harry, sujando-o todo.
� Que � que Lockhart queria com voc�, Hagrid? � perguntou Harry, co�ando as orelhas de Canino.
� Estava me dando conselhos para manter um po�o livre de algas � rosnou Hagrid, tirando um galo meio depenado de cima da mesa bem esfregada e pousando nela o bule de ch�. � Como se eu n�o soubesse. E ainda fez farol sobre um esp�rito agourento que ele espantou. Se uma �nica palavra do que disse for verdade eu como a minha chaleira.
N�o era h�bito de Hagrid criticar professores de Hogwarts, e Harry olhou-o surpreso. Mione, por�m, disse num tom mais alto do que de costume:
� Acho que voc� est� sendo injusto. � �bvio que o Prof�. Dumbledore achou que ele era o melhor candidato para a vaga...
� Ele era o �nico candidato � disse Hagrid, oferecendo-lhes um prato de quadradinhos de chocolate, enquanto Rony tossia e vomitava na bacia. � E quero dizer o �nico mesmo. Est� ficando muito dif�cil encontrar algu�m para ensinar Artes das Trevas. As pessoas n�o andam muito animadas para assumir esta fun��o. Est�o come�ando a achar que esta enfeiti�ada. Ultimamente ningu�m demorou muito nela. Agora me contem � disse hagrid, indicando Rony com a cabe�a. � Quem � que ele estava tentando enfeiti�ar?
� Malfoy chamou Mione de alguma coisa, deve ter sido muito ruim porque ele ficou furioso.
� Foi ruim � disse Rony, rouco, erguendo-se, l�vido e suado, at� a superf�cie da mesa. � Malfoy chamou Mione de sangue ruim, Hagrid...
Rony tornou a sumir debaixo da mesa e um novo jorro de lesmas caiu. Hagrid pareceu indignado.
� Ele n�o fez isso!
� Fez sim � confirmou Mione. � Mas eu n�o sei o que significa. Percebi que era uma grosseria muito grande, � claro...
� � praticamente a coisa mais ofensiva que ele podia dizer � ofegou Rony, voltando. � Sangue ruim � o pior nome para algu�m que nasceu trouxa, sabe, que n�o tem pais bruxos. Existem uns bruxos, como os da fam�lia de Malfoy, que se acham melhores do que todo mundo porque t�m o que as pessoas chamam de sangue puro. � Ele deu um pequeno arroto, e uma �nica lesma caiu em sua m�o estendida. Ele a atirou � bacia e continuou: � Quero dizer, n�s sabemos que isso n�o faz a menor diferen�a. Olha s� o Neville Longbottom, ele tem sangue puro e sequer consegue p�r um caldeir�o em p� do lado certo.
� E ainda n�o inventaram um feiti�o que a nossa Mione n�o saiba fazer � disse Hagrid orgulhoso, fazendo Mione ficar p�rpura de t�o corada.
� �  uma coisa revoltante chamar algu�m de...� come�ou Rony, enxugando a testa suada com a m�o tr�mula � sangue sujo, sabe. Sangue comum. � rid�culo. A maioria dos bruxos hoje em dia � mesti�a. Se n�o tiv�ssemos casado com trouxas ter�amos desaparecido da terra.
Ele teve uma �nsia de v�mito e tornou a desaparecer de vista.
� Bem, n�o posso censur�-lo por querer enfeiti�ar Draco � disse Hagrid alto para encobrir o barulho das lesmas que ca�am na bacia. � Mas talvez tenha sido bom a sua varinha ter errado. Acho que L�cio Malfoy viria na mesma hora � escola se voc� tivesse enfeiti�ado o filho dele. Pelo menos voc� n�o se meteu em apuros.
Harry teria gostado de lembrar que o apuro n�o podia ser pior do que ter lesmas saindo da boca, mas n�o p�de; os quadradinhos de chocolate de Hagrid tinham grudado seus maxilares.
� Harry � disse Hagrid abruptamente como se tivesse lhe ocorrido um pensamento repentino. � Tenho uma reclama��o sobre voc�. Ouvi falar que andou distribuindo fotos autografadas. Como � que n�o ganhei nenhuma?
Furioso, Harry desgrudou os dentes.
� N�o andei distribuindo fotos autografadas � disse alterado. � Se Lockhart continua a espalhar este boato...
Mas, ent�o, ele viu que Hagrid estava rindo.
� S� estou brincando � disse, dando palmadinhas amig�veis nas costas de Harry, fazendo-o enfiar a cara na mesa. � Eu sabia que n�o tinha dado. Eu disse a Lockhart que voc� n�o precisava fazer isso. Voc� � mais famoso do que ele sem fazer a menor for�a.
� Aposto como ele n�o gostou disso � comentou Harry erguendo a cabe�a e esfregando o queixo.
� Acho que n�o � respondeu Hagrid, com os olhos cintilando. � E ent�o falei que nunca tinha lido um livro dele e ele resolveu ir embora. Quadradinhos de chocolate, Rony? � acrescentou, ao ver Rony reaparecer.
� N�o, obrigado � disse o menino, fraco. � � melhor n�o.
� Venham ver o que andei plantando � convidou Hagrid quando Harry e Mione terminaram de beber o ch�.
Na pequena horta nos fundos da casa havia uma d�zia das maiores ab�boras que Harry j� vira. Cada uma tinha o tamanho de um pedregulho.
� Est�o crescendo bem, n�o acha? � perguntou Hagrid alegre. � Para a Festa das Bruxas... At� l� j� devem estar bem grandes.
� Que � que voc� est� pondo na terra? � perguntou Harry.
Hagrid espiou por cima do ombro para ver se estavam sozinhos.
� Bom, tenho dado, sabe, uma ajudinha...
Harry reparou no guarda-chuva florido de Hagrid encostado na parede dos fundos da cabana. Harry sempre tivera raz�es para acreditar at� aquele momento que aquele guarda-chuva n�o era bem o que parecia; na verdade, tinha a forte impress�o de que a velha varinha escolar de Hagrid se escondia dentro dele. O guarda-ca�a fora expulso de Hogwarts no terceiro ano, mas Harry nunca descobrira a raz�o � era s� mencionar o assunto, e ele pigarreava alto e se tornava misteriosamente surdo at� que se mudasse de assunto.
� Um feiti�o de engorda? � perguntou Mione, num tom de quem se diverte e desaprova. � Bem, voc� fez um bom trabalho.
� Foi o que a sua irm�zinha disse � comentou Hagrid, fazendo sinal a Rony. -Encontrei-a ainda ontem � Hagrid olhou de esguelha para Harry, a barba mexendo.
� Ela me disse que estava s� dando uma olhada pelos jardins, mas eu calculo que estava na esperan�a de encontrar algu�m na minha casa. � E piscou para Harry. � Se algu�m me perguntasse, ela � uma que n�o recusaria uma foto...
� Ah, cala a boca � disse Harry. Rony deu uma risada abafada e o ch�o ficou cheio de lesmas.
� Cuidado! � rugiu Hagrid, puxando Rony para longe das suas preciosas ab�boras.
Era quase hora do almo�o e como Harry s� comera uns quadradinhos de chocolate desde o amanhecer, estava doido para voltar � escola e almo�ar. Eles se despediram de Hagrid e regressaram ao castelo. Rony tossia de vez em quando, mas s� vomitou duas lesminhas.
Mal tinham entrado no sagu�o quando ouviram uma voz.
� A� est�o voc�s, Potter, Weasley. � A Prof�. McGonagall veio em dire��o a eles, com a cara s�ria. � Voc�s dois v�o cumprir suas deten��es hoje � noite.
� O que n�s fizemos, professora? � perguntou Rony, contendo, nervoso, um arroto.
� Voc� vai polir as pratas na sala de trof�us com o Sr. Filch. E nada de magia, Weasley, no muque.
Rony engoliu em seco. Argo Filch, o zelador, era detestado por todos os alunos da escola.
� E voc�, Potter, vai ajudar o Prof�. Lockhart a responder as cartas dos f�s.
� Ah, n�o... Professora, n�o posso ir tamb�m para a sala de trof�us? � perguntou Harry desesperado.
� � claro que n�o � respondeu ela, erguendo as sobrancelhas. � O Prof�. Lockhart fez quest�o de que fosse voc�. Oito horas em ponto, os dois.
Harry e Rony entraram curvados no Sal�o Principal, no pior estado de �nimo poss�vel, Hermione atr�s deles, com aquela express�o Bom-voc�s-desobedeceram-o-regulamento.
Harry nem apreciou o empad�o tanto quanto pretendera. Os dois, ele e Rony, acharam que tinham se dado muito mal.
� Filch vai me prender l� a noite inteira � disse Rony, com a voz deprimida. � Nada de magia! Deve ter umas cem ta�as naquela sala. N�o entendo nada de limpeza de trouxas.
� Eu trocaria com voc� numa boa � disse Harry num tom calmo. � Treinei um bocado com os Dursley. Responder as cartas dos f�s de Lockhart... Ele vai ser um pesadelo...
� tarde de s�bado pareceu se evaporar no que pareceu um segundo, j� eram cinco para as oito, e Harry j� ia se arrastando pelo corredor do segundo andar em dire��o � sala de Lockhart. Cerrou os dentes e bateu na porta.
A porta se escancarou na mesma hora. Lockhart sorria para ele.
� Ah, aqui temos o bagunceiro! � exclamou. � Entre, Harry, Rebrilhando nas paredes, � luz das muitas velas, havia uma quantidade de fotografias emolduradas de Lockhart. Havia at� algumas autografadas. Outra grande pilha aguardava sobre a mesa.
� Voc� pode endere�ar os envelopes! � disse Lockhart a Harry como se isso fosse um pr�mio. � O primeiro vai para Gladys Gudgeon, que Deus a aben�oe, uma grande f� minha...
Os minutos se arrastaram. Harry deixou a voz de Lockhart passar por ele, respondendo ocasionalmente "Hum" e "Certo" e "Sim". Vez por outra, ele captava uma frase do tipo "A fama � um amigo infiel, Harry" ou "A celebridade � o que ela faz, lembre-se disto".
As velas foram se consumindo, fazendo a luz dan�ar sobre os muitos rostos de Lockhart que o observavam. Harry estendeu a m�o dolorida para o que lhe pareceu ser o mil�simo envelope, e escreveu o endere�o de Veronica Smethley. Deve estar quase na hora de sair pensou Harry infeliz, por favor, tomara que esteja quase na hora...
Ent�o ele ouviu uma coisa � uma coisa muito diferente do ru�do das velas que espirravam j� no finzinho e a tagarelice de Lockhart sobre os f�s.
Foi uma voz, uma voz de congelar o tutano dos ossos, uma voz venenosa e g�lida de tirar o f�lego.
� Venha... Venha para mim... Me deixe rasg�-lo... Me deixe romp�-lo... Me deixe mat�-lo...
Harry deu um enorme pulo e, com isso, fez aparecer um enorme borr�o na Rua de Veronica Smethley.
� Que! � exclamou em voz alta.
� Eu sei! � disse Lockhart. � Seis meses inteiros encabe�ando a lista dos livros mais vendidos! Bati todos os recordes!
� N�o � disse Harry assustado. � Essa voz!
� Perd�o? � disse Lockhart, parecendo intrigado. � Que voz?
� Aquela, a voz que disse, o senhor n�o ouviu?
Lockhart estava olhando para Harry muito surpreso.
� Do que � que voc� est� falando, Harry? Talvez voc� esteja ficando com sono? Nossa, olhe s� a hora! Estamos aqui h� � quase quatro horas! Eu nunca teria acreditado, o tempo voou, n�o acha?
Harry n�o respondeu. Apurava os ouvidos para captar novamente a voz, mas n�o havia som algum exceto Lockhart a lhe dizer que n�o devia esperar uma moleza como aquela todas as vezes que pegasse uma deten��o. Sentindo-se atordoado, Harry foi-se embora.
Era t�o tarde que a sala comunal da Grifin�ria estava quase vazia.
Harry subiu direto ao dormit�rio. Rony ainda n�o voltara. Harry vestiu o pijama, meteu-se na cama e esperou. Meia hora depois, Rony apareceu, aconchegando o bra�o direito e trazendo um forte cheiro de liquido de polimento para o quarto escuro.
� Os meus m�sculos est�o em c�ibra � gemeu, afundando-se na cama. � Catorze vezes ele me fez dar brilho naquela ta�a de Quadribol antes de ficar satisfeito.  E tive mais um acesso de lesmas em cima de um pr�mio especial por servi�os prestados � escola. Levou s�culos para retirar as lesmas... Como foi com o Lockhart?
Em voz baixa para n�o acordar Neville, Dino e Simas, Harry contou a Rony exatamente o que ouvira.
� E Lockhart disse que n�o estava ouvindo nada? � perguntou Rony. Harry podia at� v�-lo franzindo a testa ao luar. � Voc� acha que ele estava mentindo? Mas n�o entendo, mesmo algu�m invis�vel teria tido que abrir a porta.  
� Eu sei � disse Harry, recostando-se na cama de colunas e fixando o olhar no dossel. � Eu tamb�m n�o entendo.















CAP�TULO OITO
A Festa do Anivers�rio de Morte

Outubro chegou, espalhando, pelos jardins, uma friagem �mida que entrava pelo castelo.
Madame Pomfrey, a enfermeira, esteve multo ocupada com uma repentina onda de gripe entre professores, funcion�rios e alunos. Sua po��o reanimadora fazia efeito instant�neo, embora deixasse quem a bebia fumegando pelas orelhas durante muitas horas. Gina Weasley, que andava p�lida, foi intimada por Percy a tomar a po��o. A fuma�a saindo por baixo dos seus cabelos muito vivos dava a impress�o de que a cabe�a inteira estava em chamas.
Gotas de chuva do tamanho de balas de rev�lver fustigavam as janelas do castelo durante dias seguidos; as �guas do lago subiram, os canteiros de flores viraram um rio lamacento, e as ab�boras de Hagrid ficaram do tamanho de um barraco. O entusiasmo de Ol�vio Wood pelas sess�es de treinamento regulares, no entanto, n�o esfriou, raz�o por que Harry p�de ser encontrado, no fim de uma tarde de s�bado tempestuosa, nas v�speras do Dia das Bruxas, voltando � torre da Grifin�ria, encharcado at� os ossos e coberto de lama.
Mesmo tirando a chuva e o vento n�o fora um treino alegre. Fred e Jorge, que tinham andado espionando o time da Sonserina, tinham visto com os pr�prios olhos a velocidade das novas Nimbus 2001. Eles comentaram que o time da Sonserina parecia sete borr�ezinhos cortando o c�u com a velocidade de m�sseis.
Quando Harry vinha acabrunhado pelo corredor deserto encontrou algu�m que parecia t�o preocupado quanto ele. Nick Quase Sem Cabe�a, o fantasma da torre da Grifin�ria, olhava desanimado pela janela, murmurando para si mesmo "... N�o satisfaz os requisitos... Pouco mais de um cent�metro, se tanto...�
� Oi, Nick � cumprimentou Harry.
� Ol�, ol� � assustou-se ele olhando para os lados. Usava um elegante chap�u emplumado sobre a longa cabeleira crespa e uma t�nica com rufos, que escondia o fato do seu pesco�o estar quase completamente separado da cabe�a. Nick era transparente como fuma�a, e Harry via atrav�s dele o c�u escuro e a chuva torrencial l� fora.
� Voc� parece preocupado, jovem Potter �, disse Nick, dobrando, ao falar, uma carta transparente e guardando-a no interior do gib�o.
� Voc� tamb�m � disse Harry.
� Ah � Nick Quase Sem Cabe�a fez um aceno com a m�o elegante � uma quest�o de menor import�ncia... N�o � que eu queira realmente entrar... Achei que devia me candidatar, mas pelo visto "n�o satisfa�o as exig�ncias"...
Apesar do seu tom leve, tinha no rosto uma express�o de muita amargura.
� Mas a pessoa pensaria, n�o � � disse ele de repente, tirando mais uma vez a carta do bolso � que ter levado quarenta e cinco golpes de machado cego no pesco�o qualificaria algu�m a entrar para a Ca�a Sem Cabe�a?
� Ah, sim � respondeu Harry, que obviamente deveria concordar.
� Quero dizer, ningu�m gostaria mais do que eu que o corte tivesse sido r�pido e limpo, e que minha cabe�a tivesse realmente ca�do, quero dizer, teria me poupado muita dor e rid�culo. No entanto... � Nick Quase Sem Cabe�a abriu a carta com uma sacudidela e leu furioso: 

 �S� podemos aceitar ca�adores cujas cabe�as tenham se separado dos corpos. O senhor compreender� que, do contr�rio, seria imposs�vel os s�cios participarem das atividades de ca�a como: Balan�o de Cabe�a � Cavalo e P�lo de Cabe�a. � com o maior pesar, portanto, que devemos informar-lhe que o senhor n�o satisfaz as nossas exig�ncias.
Com os nossos cumprimentos, 
Sir Patr�cio Delanqy-Podmore.�

 Espumando de raiva, Nick Quase sem cabe�a guardou a carta.
� Pouco mais de um cent�metro, se tanto..." de pele..." e um tend�o seguram minha cabe�a, Harry! A maioria das pessoas acharia que fui decapitado, mas ah, n�o, n�o � o bastante para o Sr. Realmente Decapitado Podmore.
Nick Quase Sem Cabe�a respirou fundo v�rias vezes e ent�o disse, num tom muito mais calmo:
� Ent�o... O que � que o est� preocupando? Tem alguma coisa que eu possa fazer?
� N�o � disse Harry. � A n�o ser que saiba onde podemos arranjar sete Nimbus 2001 de gra�a para o nosso jogo contra Sonse...
O resto da frase de Harry foi abafado por um miado agudo de algu�m junto aos seus calcanhares. Ele olhou e deu com um par de olhos amarelos que mais pareciam globos de luz. Era Madame Nor-r-ra, a gata esquel�tica e cinzenta que o zelador, Argo Filch, usava como uma esp�cie de delegada na sua luta incans�vel contra os estudantes.
� � melhor voc� sair daqui, Harry � disse Nick depressa. � Filch n�o est� de bom humor, pegou a gripe, e uns alunos do terceiro ano sem querer grudaram miolos de sapo pelo teto da masmorra cinco. Ele esteve limpando a manh� inteira e se vir voc� pingando lama para todo lado...
� Certo � disse Harry se afastando do olhar acusador de Madame Nor-r-ra, mas n�o foi suficientemente r�pido. Atra�do ao local pela for�a misteriosa que parecia lig�-lo �quela gata nojenta, Argo Filch irrompeu de repente pela tape�aria � direita de Harry, chiando furioso � procura do infrator. Trazia um len�o de grossa l� escocesa amarrado � cabe�a e seu nariz estava estranhamente purp�reo.
� Sujeira! � gritou, os maxilares tremendo, os olhos assustadoramente saltados, apontando a po�a de lama que pingava das vestes de Quadribol de Harry. � Bagun�a e sujeira por toda parte! Para mim, chega, � o que lhe digo. Venha comigo, Potter!
Ent�o Harry acenou um triste adeus a Nick Quase Sem Cabe�a e acompanhou Filch ao andar de baixo, duplicando o n�mero de pegadas de lama no assoalho.
Harry nunca estivera no interior da sala de Filch antes; era um lugar que a maioria dos estudantes evitava, O local era encardido e escuro, sem janelas, iluminado por uma �nica l�mpada de �leo pendurada no teto baixo. Um leve cheiro de peixe frito impregnava a sala.
Arquivos de madeira estavam dispostos ao longo das paredes; pelas etiquetas, Harry p�de ver que continham detalhes sobre cada aluno que Filch j� castigara. Fred e Jorge Weasley tinham uma gaveta separada. Uma cole��o muit�ssimo polida de correntes e algemas estava pendurada na parede atr�s da mesa de Filch. Era do conhecimento geral que ele estava sempre pedindo a Dumbledore que o deixasse pendurar os alunos no teto pelos tornozelos.
Filch pegou uma pena no tinteiro em cima da mesa e come�ou a procurar um pergaminho.
� Bosta � resmungou furioso �, bosta frita de drag�o... Miolos de sapos... Tripas de ratos... Para mim j� chega... Vou fazer disto um exemplo... Onde est� o formul�rio... Aqui...
Ele retirou um grande rolo de pergaminho da gaveta da escrivaninha e abriu-o � sua frente, mergulhando a longa pena negra no tinteiro.
� Nome... Harry Potter. Crime...
� Foi s� um pouquinho de lama! � exclamou Harry.
� Foi s� um pouquinho de lama para voc�, moleque, mas para mim � mais uma hora de limpeza! � gritou Filch, uma gota nojenta estremecendo na ponta do nariz de bolota. � Crime... Sujar o castelo... Senten�a sugerida..
Filch, secando o nariz sempre a pingar, lan�ou um olhar desagrad�vel a Harry, que esperava prendendo a respira��o, a senten�a desabar sobre sua cabe�a.
Mas quando Filch baixou a pena, ouvi-se um forte estampido no teto da sala, que fez a l�mpada a �leo chocalhar.
� PIRRA�A! � rugiu Filch, atirando a pena no ch�o num assomo de raiva. � Desta vez eu te pego, eu te pego!
E sem nem olhar para Harry, Filch saiu correndo da sala, com Madame Nor-r-ra do lado.
Pirra�a era o poltergeist da escola, uma amea�a a�rea e sorridente que vivia a provocar desordem e afli��o. Harry n�o gostava muito do Pirra�a, mas n�o p�de deixar de se sentir grato pelo seu senso de oportunidade. Era de esperar, seja o que for que Pirra�a tivesse feito (e parecia que desta vez estragara alguma coisa muito importante), desviasse a aten��o de Filch de Harry.
Achando que devia provavelmente esperar Filch voltar, Harry afundou em uma cadeira comida por tra�as ao lado da escrivaninha. Sobre ela s� havia uma coisa al�m do formul�rio incompleto: um envelope roxo, grande e brilhante com letras prateadas na face. Com uma olhada r�pida � porta para ver se Filch j� estava voltando, Harry apanhou o envelope e leu:


FEITICEXPRESSO
 Um curso de magia por correspond�ncia para principiantes.

 Intrigado, Harry sacudiu o envelope aberto e puxou o ma�o de pergaminhos que havia dentro, com inscri��es prateadas dizendo:

Voc� se sente antiquado no mundo da magia moderna? V�-se inventando desculpas para n�o executar feiti�os simples?
Ouve ca�oadas por manejar t�o mal uma varinha de cond�o?
Feiticexpresso � um curso inteiramente novo, que garante resultados r�pidos e f�cil assimila��o.
Centenas de bruxos e bruxas j� se beneficiaram com o m�todo do Feiticexpresso!
Madame Z. Nettles of Topsham nos escreve:
"Eu n�o tinha mem�ria para guardar encantamentos e minhas po��es eram motivo de riso na fam�lia! Agora, depois do curso Feiticexpresso, sou o centro das aten��es nas festas, e meus amigos me pedem a receita da Minha Solu��o Cintilante!�
Bruxo D. J. Prod of Didsbury nos conta:
"Minha mulher costumava ca�oar dos meus feiti�os pouco eficientes, mas depois de um m�s no seu fabuloso Feiticexpresso consegui transform�-la num iaque! Muito obrigado, Feiticexpresso!

Fascinado, Harry correu os dedos pelo resto do conte�do do envelope. Para que na vida Filch queria um curso feiticexpresso? Ser� que isto queria dizer que ele n�o era um bruxo formado? Harry estava come�ando a ler a "Li��o Um: Como segurar sua varinha (Algumas dicas �teis)" quando o ru�do de passos arrastados pelo corredor lhe avisara que Filch estava voltando. Harry enfiou o pergaminho de volta no envelope e atirou-o sobre a mesa pouco antes da porta se abrir.
Filch exibia um ar triunfante.
� Aquele arm�rio que desaparece foi muit�ssimo valioso! � disse todo alegre � Madame Nor-r-ra. � Vamos acabar com o Pirra�a desta vez, minha doce...
Seus olhos pousaram em Harry e da� correram para o envelope do Feiticexpresso que, o garoto percebeu tarde demais, fora colocado meio metro mais longe do que estava antes.
A cara cerosa de Filch ficou vermelho-tijolo. Harry se preparou para uma mar� de f�ria. Filch capengou at� a escrivaninha, agarrou o envelope e jogou-o dentro de uma gaveta.
� Voc�... Voc� leu...?-gaguejou.
� N�o � mentiu Harry depressa.
Filch torcia as m�os nodosas.
� Se eu sonhar que voc� leu a minha, minha n�o, a correspond�ncia de um amigo, seja como for, mas...
Harry olhava fixo para ele, assustado; Filch nunca parecera mais furioso. Seus olhos saltavam, um tique nervoso estremecia sua bochecha mole, e o len�o escoc�s n�o melhorava sua apar�ncia.
� Muito bem, pode ir, e n�o diga uma palavra, n�o que... Mas, se voc� n�o leu, v� logo, tenho que fazer o relat�rio sobre o Pirra�a, va...
Espantado com a sua sorte, Harry saiu correndo da sala e tomou o corredor de volta para o sagu�o. Escapar da sala de Filch sem castigo provavelmente era uma esp�cie de recorde na escola.
� Harry! Harry! Funcionou?
Nick Quase Sem Cabe�a saiu deslizando de uma sala de aula. Atr�s dele, Harry p�de ver os destro�os de um grande arm�rio preto e dourado que parecia ter sido jogado de uma grande altura.
� Convenci Pirra�a a larg�-lo bem em cima da sala de Filch � disse Nick ansioso. � Achei que iria distra�-lo...
� Aquilo foi voc�? � perguntou Harry, grato. � Funcionou sim, eu n�o peguei nem uma deten��o. Obrigado, Nick!
Os dois sa�ram juntos pelo corredor. Nick Quase Sem Cabe�a, Harry reparou, ainda segurava a carta de recusa de Sir Patr�cio.
� Eu gostaria de poder fazer alguma coisa sobre a Ca�a Quase Sem Cabe�a � comentou Harry.
Nick Quase Sem Cabe�a parou de repente, e Harry passou por dentro dele. Gostaria de n�o ter feito isso; era como entrar embaixo de um chuveiro gelado.
� Mas tem uma coisa que voc� pode fazer por mim � disse Nick animado. � Harry, seria pedir muito, mas, n�o, voc� n�o iria...
� Aonde?
� Bem, este Dia das Bruxas ser� o meu q�ingent�simo anivers�rio de morte � disse Nick Quase Sem Cabe�a, empertigando-se com o ar solene.
� Ah � exclamou Harry, sem saber se devia fazer cara triste ou alegre com a not�cia. � Certo.
� Estou dando uma festa em uma das masmorras maiores. V�m amigos de todo o pa�s. Seria uma honra t�o grande se voc� pudesse comparecer! O Sr. Weasley e a Srta. Granger tamb�m seriam muito bem-vindos, � claro, mas voc� n�o vai preferir comparecer � festa da escola? � Ele observava Harry cheio de dedos.
� N�o � disse Harry depressa �, eu vou...
� Meu caro rapaz! Harry Potter no meu anivers�rio de morte! E... � hesitou, parecendo agitado � voc� acha que seria poss�vel mencionar a Sir Patr�cio que me acha muito assustador e impressionante?
� Claro... Claro.
O rosto de Nick Quase Sem Cabe�a se abriu num grande sorriso.
� Uma festa de anivers�rio de morte? � disse Hermione muito interessada quando Harry finalmente trocou de roupa e foi-se reunir a ela e a Rony na sala comunal.
� Aposto que n�o existe muita gente viva que possa dizer que foi a uma festa dessas, vai ser fascinante!
� Por que algu�m iria querer comemorar o dia em que morreu? � exclamou Rony, que estava quase terminando o dever de Po��es, mal-humorado. � Me parece uma coisa mortalmente deprimente...
A chuva continuava a a�oitar as janelas, que agora estavam pretas feito tinta, mas dentro da sala tudo parecia claro e alegre. As chamas da lareira iluminavam as in�meras poltronas fofas onde os alunos estavam sentados lendo, conversando, fazendo o dever de casa ou, no caso de Fred e Jorge Weasley, tentando descobrir o que aconteceria se a pessoa fizesse uma salamandra comer um fogo Filibusteiro. Fred "salvara" o lagarto de couro laranja, que vive no fogo, de uma aula de O Trato das Criaturas M�gicas, e ele agora fumegava suavemente em cima de uma mesa rodeada de meninos curiosos.
Harry ia come�ar a contar a Rony e Mione sobre Filch e o curso Feiticexpresso quando, de repente, a salamandra saiu rodopiando descontrolada pelo ar, soltando fagulhas e estampidos. A vis�o de Percy berrando de ficar rouco com Fred e Jorge, a exibi��o espetacular de estrelas cor de tangerina que jorravam da boca da salamandra e sua fuga para a lareira, acompanhada de explos�es, afugentaram Filch e o envelope do Feiticexpresso da cabe�a de Harry.
At� chegar o Dia das Bruxas, Harry j� se arrependera de sua promessa precipitada de ir � festa do anivers�rio de morte. O resto da escola estava animado com a proximidade da Festa das Bruxas; o Sal�o Principal fora decorado com os morcegos vivos de sempre, as enormes ab�boras de Hagrid tinham sido recortadas para fazer lanternas t�o grandes que cabiam tr�s homens dentro, e havia boatos de que Dumbledore contratara uma trupe de esqueletos dan�arinos para divertir o pessoal.
� Promessa � d�vida � Mione lembrou a Harry com ar de mandona. � Voc� disse que iria ao anivers�rio de morte.
Ent�o, �s sete horas, Harry, Rony e Mione passaram direto pela porta do Sal�o Principal apinhado de gente, que brilhava convidativo com pratos de ouro e velas, e tomaram o caminho das masmorras.
O corredor que levava � festa de Nick Quase Sem Cabe�a tinha sido iluminado, tamb�m, com velas em toda a sua extens�o, embora o efeito n�o fosse nada alegre: eram velas longas, finas e pretas, de luz azul, que projetavam uma claridade fantasmag�rica mesmo nos rostos de gente viva. A temperatura ca�a a cada passo que davam. Quando Harry estremeceu e puxou as vestes mais para junto do corpo, ouviu um som que lembrava mil unhas arranhando um imenso quadro-negro.
� Ser� que isso � m�sica? � cochichou Rony. Eles dobraram um canto e viram Nick Quase Sem Cabe�a parado em um portal adornado com reposteiros de veludo negro.
� Meus caros amigos � disse ele pesaroso. � Sejam bem-vindos, sejam bem-vindos... Fico t�o contente que tenham podido vir...
E tirou o chap�u emplumado fazendo uma rever�ncia e indicando a porta.
Era uma cena incr�vel. A masmorra continha centenas de pessoas esbranqui�adas e transl�cidas, a maioria deslizando por uma pista de dan�a, valsando ao som medonho de trinta serrotes musicais, tocados por uma orquestra reunida em cima de uma plataforma drapeada de negro. Um lustre no alto projetava uma luz azul meia-noite com outras mil velas negras. A respira��o dos garotos se condensava, formando uma n�voa � frente deles; parecia que estavam entrando em uma c�mara frigor�fica.
� Vamos dar uma circulada? � sugeriu Harry, querendo esquentar os p�s.
� Cuidado para n�o atravessar ningu�m � recomendou Rony, nervoso, e os tr�s sa�ram contornando a pista de dan�a. Passaram por um grupo de freiras soturnas, um homem vestido de trapos que usava correntes e o Frade Gordo, um alegre fantasma da Lufa-Lufa, que conversava com um cavalheiro que tinha uma flecha espetada na testa. Harry n�o se surpreendeu ao ver que os outros fantasmas davam dist�ncia ao Bar�o Sangrento, um fantasma da Sonserina, muito magro, de olhos arregalados e coberto de manchas de sangue prateado.
� Ah, n�o � exclamou Mione, parando de repente. � D�em meia-volta, d�em meia volta, n�o quero falar com a Murta Que Geme...
� Quem? � perguntou Harry ao retrocederem.
� Ela assombra um boxe no banheiro das meninas no primeiro andar � disse Mione.
� Ela assombra um boxe?
� �. O boxe esteve quebrado o ano inteiro porque ela n�o p�ra de ter acessos de raiva e inundar o banheiro. Eu nunca entrei l� sempre que pude evitar; � horr�vel tentar fazer xixi com ela gemendo do lado...
� Olhem, comida! � exclamou Rony.
Do lado oposto da masmorra havia uma longa mesa, tamb�m coberta de veludo negro.
Eles se aproximaram pressurosos, mas no instante seguinte pararam de chofre, horrorizados. O cheiro era bem desagrad�vel. Grandes peixes podres estavam dispostos em belas travessas de prata; bolos carbonizados estavam arrumados em salvas; havia uma grande terrina de picadinho de mi�dos de carneiro cheio de vermes, um peda�o de queijo coberto de uma camada de mofo esverdeado e, o orgulho do buf�, um enorme bolo cinzento em forma de sepultura, com os dizeres em glac� de asfalto: SIR NICOLAS DE MIMSY-PORPINGTON FALECIDO EM 31 DE OUTUBRO DE 1492.
Harry observou, espantado, um fantasma imponente se aproximar da mesa, abaixar-se e atravess�-la, a boca aberta de modo a engolir um salm�o fedorento.
� O senhor pode provar a comida quando a atravessa? � perguntou-lhe Harry.
� Quase � respondeu o fantasma triste e se afastou.
� Imagino que tenham deixado o peixe apodrecer para acentuar o gosto � disse Mione em tom de quem sabe das coisas, apertando o nariz e se debru�ando para examinar o picadinho p�trido.
� Podemos ir andando? Estou me sentindo enjoado � disse Rony.
Nem bem tinham se virado, por�m, quando um homenzinho saiu voando de repente de debaixo da mesa e parou no ar diante deles.
� Al�, Pirra�a � cumprimentou Harry cauteloso.
Ao contr�rio dos fantasmas � volta, Pirra�a, o poltergeist era o oposto de p�lido e transparente. Usava um chap�u de festa laranja-vivo, uma gravata-borboleta girat�ria e exibia um largo sorriso no rosto largo e maldoso.
� Aperitivos � disse simp�tico, oferecendo aos garotos uma tigela de amendoins cobertos de fungo.
� N�o, muito obrigada � disse Mione.
� Ouvi voc� falando da coitada da Murta � disse Pirra�a, os olhos dan�ando. � Que grosseria com a coitada. � Ele tomou f�lego e berrou: � OI! MURTA!
� Ah, n�o, Pirra�a, n�o conte a ela o que eu disse, ela vai ficar realmente chateada � cochichou Mione fren�tica. � N�o falei por mal, ela n�o me incomoda, ah, al�, Murta.
O fantasma atarracado de uma mo�a deslizou at� eles. Tinha a cara mais triste que Harry j� vira, meio oculta por cabelos escorridos e espessos, e �culos perolados.
� Que foi? � perguntou aborrecida.
� Como vai, Murta? � cumprimentou Mione fingindo anima��o. � Que bom ver voc� fora do banheiro.
Murta fungou.
� A Srta. Granger estava mesmo falando em voc�... � disse Pirra�a sonsamente ao ouvido da Murta.
� S� estava dizendo... Dizendo... Como voc� est� bonita esta noite � completou Mione, fechando a cara para Pirra�a.
Murta olhou para Mione desconfiada.
� Voc� est� ca�oando de mim � disse, l�grimas prateadas marejando rapidamente os seus olhos penetrantes.
� N�o, s�rio, eu n�o acabei de falar como a Murta est� bonita? � falou Mione, cutucando dolorosamente Harry e Rony nas costelas.
� Ah, claro...
-Falou...
� N�o mintam para mim � exclamou Murta, as l�grimas agora escorrendo livremente pelo rosto, enquanto Pirra�a, feliz, dava risadinhas por cima do ombro dela. � Voc�s acham que n�o sei como as pessoas me chamam pelas costas? Murta Gorda! Murta Feiosa! Murta infeliz, chorona, ap�tica!
� Voc� esqueceu do espinhenta � sibilou Pirra�a ao ouvido dela.
A Murta Que Geme prorrompeu em solu�os aflitos e fugiu da masmorra. Pirra�a disparou atr�s dela, jogando amendoins mofados e gritando:
� Espinhenta! Espinhenta!
� Ah, meu Deus! � lamentou-se Hermtone.
Nick Quase Sem Cabe�a agora deslizava por entre os convidados em dire��o aos garotos.
� Est�o se divertindo?
� Ah, claro � mentiram.
� Um n�mero de convidados bem grande � disse Nick Quase Sem Cabe�a, orgulhoso. � A rainha vi�va veio l� de Kent... Est� quase na hora do meu discurso, � melhor eu ir avisar a orquestra...
A orquestra, por�m, parou de tocar naquele exato instante. E, todas as pessoas na masmorra se calaram, olhando para os lados excitadas, ao ouvirem uma trompa de ca�a.
� Ah, l� vamos n�s � disse Nick Quase Sem Cabe�a amargurado.
Pelas paredes da masmorra irromperam doze cavalos fantasmas, cada um montado por um cavaleiro sem cabe�a. Os convidados aplaudiram calorosamente. Harry come�ou a aplaudir, tamb�m, mas parou depressa ao ver a cara de Nick.
Os cavalos galoparam at� o meio da pista de dan�a e pararam, levantando e baixando as patas dianteiras. A frente da cavalgada havia um fantasma corpulento que segurava a cabe�a sob o bra�o, posi��o de onde ele tocava a trompa. O fantasma apeou, levantou a cabe�a no ar de modo que pudesse ver as pessoas (todos riram) e se dirigiu a Nick Quase Sem Cabe�a, recolocando a cabe�a sobre o pesco�o.
� Nick! � rugiu. � Como vai? A cabe�a ainda pendurada?
Ele soltou uma gargalhada cordial e deu uma palmadinha no ombro de Nick Quase Sem Cabe�a.
� Seja bem-vindo, Patr�cio � disse Nick secamente.
� Gente viva! � exclamou Sir Patr�cio, vendo Harry, Rony e Mione, e dando um grande pulo fingindo espanto, de modo que sua cabe�a tornou a cair (os convidados gargalharam).
� Muito engra�ado � disse Nick Quase Sem Cabe�a com ferocidade.
� N�o liguem para o Nick! � gritou a cabe�a de Sir Patr�cio l� do ch�o. � Ainda est� aborrecido porque n�o o deixamos se associar � Ca�ada! Mas quero dizer... Olhem s� para ele...
� Acho � disse Harry depressa, a um olhar significativo de Nick �, Nick � muito... Assustador e...
� Ha! � gritou a cabe�a de Sir Patr�cio. � Aposto como ele lhe pediu para dizer isso!
� Se todos pudessem me dar aten��o, est� na hora do meu discurso! � avisou Nick Quase Sem Cabe�a em voz alta, caminhando com firmeza at� o p�dio e tomando posi��o sob a luz de um refletor azul-gelo.
� Meus saudosos cavalheiros, damas e senhores, tenho o grande pesar...
Mas ningu�m ouviu muito mais do que isso. Sir Patr�cio e os Ca�adores Sem Cabe�a come�aram uma partida de h�quei de cabe�a e as pessoas foram se virando para assistir. Nick Quase Sem Cabe�a tentou em v�o reconquistar sua plat�ia, mas desistiu quando a cabe�a de Sir Patr�cio passou navegando por ele em meio aos berros de vivas.
Harry, por esta altura, estava sentindo muito frio, para n�o falar na fome.
� N�o d� para ag�entar muito mais que isso � murmurou Rony, os dentes batendo, quando a orquestra tornou a entrar em a��o, e os fantasmas voltaram � pista de dan�a.
� Vamos � concordou Harry.
Os tr�s sa�ram em dire��o � porta, acenando com a cabe�a e sorrindo para todos que olhavam, e um minuto depois estavam andando depressa pelo corredor cheio de velas.
� Talvez o pudim ainda n�o tenha acabado � disse Rony esperan�oso, seguindo � frente em dire��o � escada do sagu�o de entrada.
E ent�o Harry ouviu: �Rasgar... romper... matar..�
Era a mesma voz, a mesma voz g�lida e assassina que ouvira na sala de Lockhart.
Ele parou quase trope�ando, apoiando-se na parede de pedra, escutando com toda a aten��o, olhando para os lados, apertando os olhos para ver nos dois sentidos do corredor mal iluminado.
� Harry, que � que voc�...?
� � aquela voz de novo, fiquem quietos um minuto... "Tanta fome... Tanto tempo...�
� Ou�am! � disse Harry com urg�ncia, e Rony e Mione pararam, observando-o. 
�Matar.. Hora de matar...�
A voz foi ficando mais fraca. Harry tinha certeza de que estava se afastando � se afastando para o alto. Uma mistura de medo e excita��o se apoderou dele ao fixar o olhar no teto escuro; como � que ela podia estar se afastando para o alto? Seria um fantasma, para quem tetos de pedra n�o faziam diferen�a?
� Por aqui � gritou ele e come�ou a subir correndo as escadas para o sagu�o. N�o adiantava querer ouvir nada ali, o vozerio na festa do Sal�o Principal ecoava pelo sagu�o. Harry subiu correndo a escadaria de m�rmore at� o primeiro andar, com Rony e Mione nos seus calcanhares.
� Harry, que � que estamos...
� PSIU!
Harry apurou os ouvidos. Longe, vinda do andar de cima, cada vez mais fraca, ele ouviu a voz: "... Sinto cheiro de sangue... SINTO CHEIRO DE SANGUE!" Sentiu um aperto no est�mago...
� Vai matar algu�m! � gritou ele, e sem dar aten��o aos rostos perplexos de Rony e Mione, subiu correndo o lance seguinte de escada, tr�s degraus de cada vez, tentando escutar apesar do barulho que seus passos faziam...
Harry precipitou-se pelo segundo andar, Rony e Mione ofegantes atr�s dele, e n�o parou at� entrar no �ltimo corredor deserto.
� Harry, do que � que voc� estava falando? � perguntou Rony, enxugando o suor do rosto. � Eu n�o ouvi nada...
Mas Mione soltou uma s�bita exclama��o, apontando para o corredor.
� Olhem!
Alguma coisa brilhava na parede em frente. Eles se aproximaram devagarinho, apertando os olhos para ver na penumbra. Algu�m tinha pintado palavras de uns trinta cent�metros na parede entre as duas janelas, que refulgiam � luz das chamas das tochas.

A C�MARA DOS SEGREDOS FOI ABERTA.
INIMIGOS DO HERDEIRO CUIDADO.

� Que coisa � aquela, pendurada ali embaixo? � perguntou Rony, com um ligeiro tremor na voz.
Ao se aproximarem, Harry quase escorregou � havia uma grande po�a de �gua no ch�o; Rony e Mione o seguraram, e continuaram a avan�ar devagar at� a mensagem, os olhos fixos na sombra escura embaixo. Os tr�s logo perceberam o que era e deram um salto para tr�s espalhando �gua.
Madame Nor-r-ra, a gata do zelador, estava pendurada pelo rabo em um suporte de tocha. Estava dura como um pau, os olhos arregalados e fixos.
Durante alguns segundos eles n�o se mexeram. Ent�o Rony falou:
� Vamos dar o fora daqui.
� Ser� que n�o dev�amos tentar ajudar... � come�ou a dizer Harry, sem jeito.
� Confie em mim � disse Rony. � N�o podemos ser encontrados aqui.
Mas era tarde demais. Um ronco, como o de um trov�o distante, informou-lhes que a festa terminara naquele instante. De cada ponta do corredor onde estavam, ouviram o barulho de centenas de p�s que subiam as escadas, e a conversa alta e alegre de gente bem alimentada; no instante seguinte os alunos entravam aos encontr�es pelos dois lados do corredor.
A conversa, o bul�cio, o barulho morreu de repente quando os garotos que vinham � frente viram o gato pendurado. Harry, Rony e Mione estavam sozinhos no meio do corredor e os estudantes que se empurravam para ver a cena macabra se calaram.
Ent�o algu�m gritou em meio ao sil�ncio.
� Inimigos do herdeiro, cuidado! Voc�s v�o ser os pr�ximos, sangues ruins!
Era Draco Malfoy. Ele abrira caminho at� a frente dos alunos, seus olhos frios muito intensos, seu rosto, em geral p�lido, corara, e ele ria diante do gato pendurado im�vel.
















CAP�TULO NOVE
A picha��o na parede

� Que est� acontecendo aqui? Que est� acontecendo?
Atra�do, sem d�vida, pelo grito de Draco, Argo Filch apareceu, abrindo caminho com os ombros por entre os alunos aglomerados. Ent�o ele viu Madame Nor-r-ra e recuou, levando as m�os ao rosto horrorizado.
� Minha gata? Minha gata! Que aconteceu a Madame Norr-ra? � gritou ele.
E seus olhos saltados pousaram em Harry.
� Voc�! � gritou. � Voc�! Voc� assassinou a minha gata? Voc� a matou! Vou mat�-lo! Vou...
� Argo! � Dumbledore chegara � cena, seguido de v�rios professores. Em segundos, passou por Harry, Rony e Hermione e soltou Madame Nor-r-ra do porta-archote.
� Venha comigo, Argo � disse a Filch. � Os senhores tamb�m, Sr. Potter, Sr. Weasley e Srta. Granger.
Lockhart deu um passo � frente pressuroso.
� A minha sala fica mais pr�xima, diretor, logo aqui em cima, por favor, fique � vontade...
� Muito obrigado, Gilderoy � disse Dumbledore.
Os presentes se afastaram para os lados em sil�ncio para deix�-los passar.
Lockhart, com o ar agitado e importante, acompanhou Dumbledore, apressado; o mesmo fizeram a Prof�. McGonagall e o Prof�. Snape.
Ao entrarem na sala escura de Lockhart, ouviram uma agita��o passar pelas paredes; Harry viu v�rios Lockharts nas molduras se esconderem, com os cabelos presos em rolinhos. O verdadeiro Lockhart acendeu as velas sobre a escrivaninha e se afastou um pouco. Dumbledore p�s Madame Nor-r-ra na superf�cie polida e come�ou a examin�-la. Harry, Rony e Hermione trocaram olhares tensos e se sentaram, observando, em cadeiras fora do c�rculo iluminado pelas velas.
A ponta do nariz comprido e curvo de Dumbledore estava a menos de tr�s cent�metros do p�lo de Madame Nor-r-ra. Ele a examinou atentamente atrav�s dos �culos de meia-lua, apalpou-a e cutucou-a com os dedos longos. A Prof�. McGonagall estava curvada quase t�o pr�xima, os olhos apertados. Snape esticava-se por tr�s deles, meio na sombra, com uma express�o estranh�ssima no rosto: era como se estivesse fazendo for�a para n�o sorrir. E Lockhart andava � volta do grupo, oferecendo sugest�es.
� Decididamente foi um feiti�o que a matou, provavelmente a Tortura Transmogrifiana. J� a usaram muitas vezes, que pena que eu n�o estava presente, conhe�o exatamente o contra feiti�o que a teria salvado...
Os coment�rios de Lockhart eram pontuados pelos solu�os secos e violentos de Filch. Ele se afundara em uma cadeira ao lado da escrivaninha, incapaz de olhar para Madame Nor-rra, o rosto coberto com as m�os. Por mais que detestasse Filch, Harry n�o p�de deixar de sentir uma certa pena dele, embora n�o tanta quanto a que sentia de si mesmo. Se Dumbledore acreditasse em Filch, o garoto com certeza seria expulso.
Dumbledore agora murmurava palavras estranhas para si mesmo, tocando Madame Nor-r-ra com a varinha, mas nada aconteceu: ela continuava parecendo que fora empalhada recentemente.
� Lembro-me de algo muito parecido que aconteceu em Ouagadogou � disse Lockhart �, uma s�rie de ataques, a hist�ria completa se encontra na minha autobiografia, naquela ocasi�o pude fornecer aos habitantes da cidade v�rios amuletos, que resolveram imediatamente o problema...
As fotografias de Lockhart na parede concordavam com a cabe�a quando ele falava. Uma delas se esquecera de tirar a rede dos cabelos.
Finalmente Dumbledore se ergueu.
� A gata n�o est� morta, Argo � disse ele baixinho.
Lockhart parou imediatamente de contar o n�mero de assassinatos que evitara.
� N�o est� morta? � engasgou-se Filch, olhando por entre os dedos para Madame Nor-r-ra. � Ent�o por que � que ela est� toda... Toda dura e gelada?
� Ela foi petrificada � disse Dumbledore ("Ah Eu bem que achei!", disse Lockhart.) � Mas de que forma, eu n�o sei dizer..
� Pergunte a ele! � gritou Filch, virando o rosto manchado e escorrido de l�grimas para Harry.
� Nenhum aluno de segundo ano poderia ter feito isto � disse Dumbledore com firmeza. � Seria preciso conhecer Magia Negra avan�ad�ssima...
� Foi ele, foi ele! � cuspiu Filch, o rosto balofo congestionado. � O senhor viu o que ele escreveu na parede! Ele encontrou... No meu escrit�rio... Ele sabe que eu sou um... Sou um...
� O rosto de Filch se contorceu de modo horrendo. � Ele sabe que sou um aborto! � terminou.
� Jamais encostei o dedo em Madame Nor-r-ra! � disse Harry em voz alta, sentindo-se incomodado por saber que todos o olhavam, inclusive todos os Lockhart nas paredes. � Nem mesmo sei o que � um aborto.
� Mentira! � rosnou Filch. � Ele viu a carta do Feiticexpresso!
� Se me permite falar, diretor � disse Snape de seu lugar nas sombras, e Harry sentiu seus maus pressentimentos aumentarem; tinha certeza de que nada que Snape tivesse a dizer iria benefici�-lo.
� Talvez Potter e seus amigos simplesmente estivessem no lugar errado na hora errada �, disse ele, um ligeiro trejeito de desd�m lhe encrespando a boca como se duvidasse do que dizia. � Mas temos um conjunto de circunst�ncias suspeitas neste caso.  Por que � que estavam no corredor do andar superior? Por que n�o estavam na Festa das Bruxas?�
Harry, Rony e Hermione, todos desataram a dar explica��es sobre a festa do anivers�rio de morte.
� ... Havia centenas de fantasmas na festa, que poder�o confirmar que est�vamos l�...
� Mas por que n�o foram depois para a Festa das Bruxas? � perguntou Snape, os olhos negros faiscando � luz das velas. � Por que subir �quele corredor?
Rony e Hermione olharam para Harry.
� Porque... Porque... � disse Harry, o cora��o disparado; alguma coisa lhe disse que seria muito dif�cil eles acreditarem se confessasse que fora levado por uma voz sem corpo que ningu�m, exceto ele, tinha podido ouvir � porque est�vamos cansados e quer�amos nos deitar.
� Sem jantar? � disse Snape, um sorriso vitorioso perpassou o seu rosto magro. � Eu n�o sabia que nas festas os fantasmas ofereciam comida pr�pria para consumo de gente viva.
� N�o est�vamos com fome � disse Rony em voz alta ao mesmo tempo que sua barriga dava um enorme ronco.
O sorriso maldoso de Snape se ampliou.
� Suspeito, diretor, que Potter n�o esteja dizendo toda a verdade. Talvez fosse uma boa id�ia priv�-lo de certos privil�gios at� que esteja disposto a nos contar tudo. Pessoalmente, acho que deveria ser suspenso do time de Quadribol da Grifin�ria at� que se disponha a ser honesto.
� Francamente, Severo � disse a Prof�. McGonagall com aspereza �, n�o vejo raz�o para impedir o menino de jogar Quadribol. Esta gata n�o foi enfeiti�ada com um golpe de vassoura. N�o h� qualquer evid�ncia de que Potter tenha feito algo errado.
Dumbledore lan�ou a Harry um olhar penetrante. Seus olhos azuis cintilantes faziam Harry sentir que estava sendo radiografado.
� Inocente at� que se prove o contr�rio, Severo � disse com firmeza.
Snape pareceu furioso. E Filch tamb�m.
� Minha gata foi petrificada! � gritou, os olhos esbugalhados. � Quero ver algu�m ser castigado!
� Vamos cur�-la, Argo � disse Dumbledore, paciente. � A Prof�. Sprout recentemente obteve umas mandr�goras. Assim que elas crescerem, vou mandar fazer uma po��o que ressuscitar� Madame Nor-r-ra.
� Eu fa�o � Lockhart entrou na conversa. � Devo ter feito isto centenas de vezes. Seria capaz de preparar um T�nico Restaurador de Mandr�gora at� dormindo...
� Desculpe-me � disse Snape num tom gelado. � Mas creio que sou o professor de Po��es aqui nesta escola.
Houve uma pausa muito inc�moda.
� Voc�s podem ir � disse Dumbledote a Harry, Rony e Hermione.
Os tr�s sa�ram o mais depressa que puderam sem chegar a correr. Quando estavam um andar acima da sala de Lockhart, entraram em uma sala de aula e fecharam a porta silenciosamente. Harry procurou enxergar o rosto dos amigos no escuro.
� Voc�s acham que eu devia ter falado a eles daquela voz que ouvi?
� N�o � respondeu Rony sem hesitar. � Ouvir vozes que ningu�m mais ouve n�o � bom sinal, mesmo no mundo da magia.
Alguma coisa na voz de Rony fez Harry perguntar:
� Voc� acredita em mim, n�o �?
� Claro que acredito � respondeu Rony depressa. � Mas... Voc� vai concordar que � estranho...
� Eu sei que � estranho � disse Harry. � A coisa toda � estranha. O que era aquela picha��o na parede? A C�mara Secreta foi aberta... Que ser� que significa isso?
� Sabe, me lembra alguma coisa � disse Rony lentamente. � Acho que algu�m certa vez me contou uma hist�ria de uma c�mara secreta em Hogwarts... Talvez tenha sido o Gui...
� E afinal o que � um aborto? � perguntou Harry.
Para sua surpresa, Rony sufocou uma risadinha.
� Bem... N�o � realmente engra�ado... Mas � o que Filch � � disse ele. � Um aborto � algu�m que nasceu em uma fam�lia de bruxos, mas n�o tem poderes m�gicos.  De certa forma � o oposto do bruxo que nasceu trouxa, mas os abortos s�o muito raros. Se Filch est� tentando aprender magia em um curso Feiticexpresso, imagino que ele seja um aborto. Isto explicaria muita coisa. Por exemplo, a raz�o por que ele odeia tanto os alunos. � Rony deu um sorriso de satisfa��o. � � um amargurado. � Um rel�gio bateu as horas em algum lugar.
� Meia-noite � disse Harry � � melhor irmos deitar antes que Snape apare�a e tente nos culpar de outra coisa qualquer.
Durante alguns dias, a escola praticamente n�o conseguiu falar de outra coisa a n�o ser do ataque � Madame Nor-r-ra. Filch o manteve vivo na lembran�a de todos, perambulando pelo lugar onde ela fora atacada, como se achasse que o atacante poderia voltar. Harry o vira esfregando a mensagem na parede com Removedor M�gico Multiuso Skower, mas sem resultado; as palavras continuavam a brilhar na pedra, mais fortes que nunca. Quando Filch n�o estava guardando a cena do crime, esquivava-se pelos corredores, os olhos vermelhos, investindo contra estudantes distra�dos e tentando impingir-lhes uma deten��o por coisas do tipo "respirar fazendo barulho" e "parecer feliz".
Gina Weasley parecia ter ficado muito perturbada com o destino de Madame Nor-r-ra. Segundo Rony, ela adorava gatos.
� Mas voc� nem chegou a conhecer Madame Nor-r-ra direito � disse Rony animando-a. � Francamente, estamos muito melhor sem ela. � Os l�bios de Gina tremeram. � Coisas assim n�o acontecem todo dia em Hogwarts � tranq�ilizou-a Rony. � V�o pegar o man�aco que fez isso e mand�-lo embora daqui na hora. S� espero que ele tenha tempo de petrificar o Filch antes de ser expulso. Brincadeirinha... � acrescentou Rony depressa, ao ver Gina empalidecer.
O ataque tamb�m afetara Mione. Tornou-se comum ela passar muito tempo lendo, mas agora n�o fazia quase mais nada. Nem Harry e Rony tampouco obtinham alguma resposta quando lhe perguntavam o que pretendia fazer, e somente na quarta-feira seguinte ficaram sabendo.
Harry se demorara na sala de Po��es, onde Snape o retivera depois da aula para raspar os vermes deixados em cima das carteiras. Depois de um almo�o apressado, ele foi ao encontro de Rony na biblioteca e viu Justino Finch-Fletchley, o garoto da Lufa-Lufa que tinham conhecido na aula de Herbologia, vindo em sua dire��o.
Harry acabara de abrir a boca para dizer "Ol�" quando Justino o viu, virou-se abruptamente e saiu correndo na dire��o oposta.
Harry encontrou Rony no fundo da biblioteca, medindo o dever de Hist�ria da Magia. O Prof�. Binns tinha pedido uma reda��o de um metro sobre o "Congresso Medieval de Bruxos Europeus".
� N�o acredito que ainda faltem vinte cent�metros... � disse Rony furioso, largando o pergaminho, que tornou a se enrolar. � E Mione escreveu um metro e vinte e oito e a letra dela � miudinha.
� Onde � que ela est� agora? � perguntou Harry, pegando a fita m�trica e desenrolando a pr�pria reda��o.
� Ali adiante � disse Rony indicando as estantes. � Procurando outro livro. Acho que est� tentando ler a biblioteca inteira antes do Natal.
Harry contou a Rony que Justino Finch-Fletchley fugira dele.
� N�o sei por que voc� se importa � disse Rony escrevendo sem parar, fazendo a caligrafia o maior poss�vel. � Toda aquela baboseira sobre a import�ncia de Lockhart...
Hermione saiu do meio das estantes. Tinha um ar irritado, mas parecia, finalmente, disposta a falar com eles.
� Todos os exemplares de Hogwarts: uma hist�ria foram retirados � anunciou ela, sentando-se com Harry e Rony. � E tem uma lista de espera de duas semanas. Eu gostaria de n�o ter deixado o meu exemplar em casa, mas n�o consegui enfi�-lo no mal�o com todos os livros de Lockhart.
� Para que voc� quer a hist�ria? � perguntou Harry.
� Pela mesma raz�o que todo mundo quer: para ler a lenda da C�mara Secreta.
� Que vem a ser isso? � perguntou Harry depressa.
� Esta � a quest�o. N�o consigo me lembrar � disse Mione, mordendo o l�bio. � E n�o consigo encontrar a hist�ria em lugar nenhum...
� Mione, me deixe ler a sua reda��o � pediu Rony desesperado, consultando o rel�gio de pulso.
� N�o, deixo n�o � disse a garota com severidade. � Voc� teve dez dias para termin�-la...
� Eu s� preciso de mais cinco cent�metros, deixe, vai...
A sineta tocou. Rony e Mione se dirigiram � aula de Hist�ria da Magia, discutindo.
A Hist�ria da Magia era a mat�ria mais sem gra�a do programa. O Prof�. Binns, encarregado de ensin�-la, era o �nico professor fantasma, e a coisa mais excitante que acontecia em suas aulas era ele entrar em classe atravessando o quadro-negro.
Velh�ssimo e enrugado, muita gente dizia que ainda n�o percebera que estava morto. Um belo dia ele simplesmente se levantara para dar aula e deixara o corpo sentado numa poltrona diante da lareira da sala de professores; sua rotina n�o se alterara nem um pingo desde ent�o.
Hoje estava chato como sempre. O Prof�. Binns abriu seus apontamentos e come�ou a ler num tom mon�tono como um aspirador de p� velho, at� que quase todos os alunos na sala ca�ram num estupor profundo, de que emergiam ocasionalmente o tempo suficiente de copiar um nome ou uma data e, em seguida, tornar a adormecer.
Estava falando havia meia hora quando aconteceu uma coisa que nunca acontecera antes.
Hermione levantou a m�o.
O Prof�. Binns ergueu os olhos no meio de um discurso mortalmente ma�ante sobre a Conven��o Internacional de Bruxos de 1289 e fez uma cara surpresa.
� Senhorita... Ah...?
� Granger, professor. Eu gostaria de saber se o senhor poderia nos contar alguma coisa sobre a C�mara Secreta � pediu Mione com voz clara.
Dino Thomas, que estivera sentado com a boca aberta, espiando para fora da janela, acordou de repente do seu transe; a cabe�a de Lil� Brown deitada sobre os bra�os se ergueu e o cotovelo de Neville Longbottom escorregou da carteira.
O Prof�. Binns pestanejou.
� Minha mat�ria � Hist�ria da Magia � disse ele naquela voz seca e asm�tica. � Lido com fatos, Srta. Granger, n�o com mitos nem com lendas. � Ele pigarreou fazendo um barulhinho como o de um giz que se parte e continuou. � Em setembro daquele ano, um subcomit� de bruxos sardos...
O professor gaguejou antes de parar. A m�o de Mione estava outra vez no ar.
� Srta. Granger?
� Por favor, professor, as lendas n�o se baseiam sempre em fatos?
O Prof�. Binns olhou-a com tal espanto, que Harry teve certeza de que nenhum aluno vivo ou morto, jamais o interrompera antes.
� Bem � disse o Prof�. Binns lentamente �, � um argumento v�lido, suponho. � Ele estudou Mione como se nunca antes tivesse olhado direito para um aluno. � Contudo, a lenda de que a senhorita fala � t�o sensacionalista e at� t�o absurda que...
A classe inteira ficou pendurada em cada palavra que o professor dizia. Ele correu um olhar m�ope por todos, rosto por rosto virado em sua dire��o. Harry percebeu que ele estava completamente desconcertado por aquela manifesta��o incomum de interesse.
� Ah, muito bem � disse vagarosamente. � Vejamos... A C�mara Secreta...
� Os senhores todos sabem, � claro, que Hogwarts foi fundada h� mais de mil anos... a data exata � incerta... pelos quatro maiores bruxos e bruxas da �poca. As quatro casas da escola foram batizadas em homenagem a eles: Godrico Gryffindor, Helga Hufflepuff, Rowena Ravenclaw e Salazar Slytherin. Eles constru�ram este castelo juntos, longe dos olhares curiosos dos trouxas, porque era uma �poca em que a magia era temida pelas pessoas comuns, e os bruxos e bruxas sofriam muitas persegui��es.
Ele fez uma pausa, percorreu a sala com os olhos lacrimejantes e continuou:
� Durante alguns anos, os fundadores trabalharam juntos, em harmonia, procurando jovens que revelassem sinais de talento em magia e trazendo-os para serem educados no castelo. Mas ent�o surgiram os desentendimentos. Ocorreu uma cis�o entre Slytherin e os outros. Slytherin queria ser mais seletivo com rela��o aos estudantes admitidos. Ele acreditava que o aprendizado de magia devia ser mantido no �mbito das fam�lias inteiramente m�gicas. Desagradava-lhe admitir alunos de pais trouxas, pois os achava pouco dignos de confian�a. Passado algum tempo houve uma s�ria discuss�o sobre o assunto entre Slytherin e Gryfflndor, e Slytherin abandonou a escola.
O Prof�. Binns parou de novo, contraindo os l�bios, parecendo uma velha tartaruga enrugada.
� � o que nos contam as fontes hist�ricas confi�veis. Mas estes fatos honestos foram obscurecidos pela lenda fantasiosa da C�mara Secreta. Segundo ela, Slytherin construiu uma c�mara secreta no castelo, da qual os outros nada sabiam. Slytherin teria selado a C�mara Secreta de modo que ningu�m pudesse abri-la at� que o seu leg�timo herdeiro chegasse a escola. Somente o herdeiro seria capaz de abrir a C�mara Secreta, libertar o horror que ela encerrava e us�-lo para expurgar a escola de todos que n�o fossem dignos de estudar magia.
Fez-se sil�ncio quando ele acabou de contar a hist�ria, mas n�o foi o de sempre, o sil�ncio modorrento que dominava as aulas do Prof�. Binns. Havia no ar um certo constrangimento enquanto todos continuavam a olh�-lo, esperando mais. O Prof�. Binns fez um ar ligeiramente aborrecido.
� A hist�ria inteira � um perfeito absurdo, � claro. Naturalmente, a escola foi revistada � procura de provas da exist�ncia dessa c�mara, muitas vezes, pelos bruxos e bruxas mais cultos. Ela n�o existe. Uma hist�ria contada para assustar os cr�dulos.
A m�o de Mione voltou a se erguer.
� Professor.. O que foi exatamente que o senhor quis dizer com "o horror que a c�mara encerra"?
� Acredita-se que haja algum tipo de monstro, que somente o herdeiro de Slytherin pode controlar � respondeu o Prof�. Binns com sua voz seca e esgani�ada.
Os alunos trocaram olhares nervosos.
� Afirmo que a coisa n�o existe � disse ele folheando suas anota��es. -N�o h� C�mara alguma e monstro algum.
� Mas, professor � perguntou Simas Finnigan �, se a C�mara s� pode ser aberta pelo verdadeiro herdeiro de Slytherin, ningu�m mais seria capaz de encontr�-la, n�o �?
� Bobagem, Flaherty � disse o Prof�. Binns, num tom irritado. � Se uma longa sucess�o de diretores e diretoras de Hogwarts n�o encontraram a coisa...
� Mas, professor � ouviu-se a voz fina de Parvati Pa�l �, a pessoa provavelmente ter� de usar Magia Negra para abri-la...
� S� porque um bruxo n�o usa Magia Negra n�o significa que n�o possa, senhorita Pennyfeather � retrucou oProf�. Binns. � Eu repito, se uma pessoa como Dumbledore...
� Mas talvez a pessoa tenha que ser parente de Slytherin, por isso Dumbledore n�o poderia... � come�ou Dino Thomas, mas para o professor aquilo j� era demais.
� Basta � disse com rispidez. � � um mito! N�o existe!  N�o h� a m�nima prova de que Slytherin tenha algum dia constru�do sequer um arm�rio secreto de vassouras! Arrependo-me de ter contado aos senhores uma hist�ria t�o tola. Vamos voltar, fa�am-me o favor, � hist�ria, aos fatos s�lidos, criveis e verific�veis!
E em cinco minutos a classe voltara a mergulhar em seu torpor habitual.
� Eu sempre soube que Salazar Slytherin era um velho maluco e tortuoso � contou Rony a Harry e Mione enquanto tentavam passar pelo corredor apinhado de alunos ao fim das aulas, para guardarem as mochilas antes do jantar � Mas n�o sabia que ele � quem tinha come�ado toda essa hist�ria de puro sangue. Eu n�o ficaria na casa dele nem que me pagassem. Francamente, se o Chap�u Seletor tivesse tentado me mandar para Sonserina, eu teria tomado o trem de volta para casa...
Mione concordou fervorosamente, mas Harry n�o disse nada. Sentira o est�mago afundar e o coment�rio lhe causara mal estar.
Harry nunca contara a Rony e Mione que o Chap�u Seletor considerara seriamente mand�-lo para Sonserina. Ainda lembrava, como se fosse ontem, a vozinha que lhe falara ao ouvido quando no ano anterior ele colocara o chap�u na cabe�a:
�Voc� poder� ser grande, sabe, est� tudo a� em sua cabe�a, e Sonserina o ajudaria a galgar o caminho para a grandeza, n�o h� d�vida...�
Mas Harry, que j� ouvira falar da reputa��o que tinha Sonserina de produzir bruxos das trevas, pensou desesperado:
"Sonserina, n�o!" e o chap�u lhe respondera: "Bom, se voc� tem certeza... ent�o � melhor Grifin�ria...
Enquanto se deslocavam pela multid�o, Colin Creevey passou.
� Oi, Harry!
� Ol�, Colin � respondeu Harry automaticamente.
� Harry, Harry, um garoto da minha classe anda dizendo que voc�...
Mas Colin era t�o pequeno que n�o conseguiu resistir � mar� de gente que o empurrava em dire��o ao Sal�o Principal; eles ouviram sua voz pequenininha:
� Vejo voc� depois, Harry! � e desapareceu.
� O que ser� que um garoto da classe dele anda dizendo de voc�? � perguntou Mione.
� Que sou o herdeiro de Slytherin, imagino � disse Harry, o est�mago afundando mais uns dois cent�metros e ele, de repente, lembrou-se de Justino Finch-Fletchey fugindo dele na hora do almo�o.
� O pessoal daqui acredita em qualquer coisa � disse Rony desgostoso.
A multid�o foi-se esgar�ando e eles puderam subir a escada seguinte sem dificuldade.
� Voc� naturalmente acha que existe uma C�mara Secreta? � perguntou Rony a Mione.
� N�o sei � respondeu ela franzindo a testa. � Dumbledore n�o conseguiu curar Madame Nor-r-ra, e isto me faz pensar que aquilo que a atacou talvez n�o fosse... Bem... Humano.
Ao falar, eles dobraram um canto e se viram no fim do mesm�ssimo corredor em que ocorrera o ataque. Pararam e olharam. A cena era exatamente a daquela noite, exceto que n�o havia nenhum gato duro pendurado no porta-archote, e havia uma cadeira encostada na parede em que se lia a mensagem "A C�mara Secreta foi Aberta".
� � onde Filch tem estado de guarda � murmurou Rony.
Eles se entreolharam. O corredor estava deserto.
� N�o faria mal algum dar uma espiada por a� � disse Harry, largando a mochila e ficando de quatro de modo a poder engatinhar � procura de pistas.
� Marcas de fogo! � disse. � Aqui... E aqui...
� Venham s� dar uma espiada nisso! � chamou Mione. � Que coisa engra�ada...
Harry se levantou e foi at� a janela junto � mensagem na parede. Mione estava apontando o caixilho superior da janela, onde havia umas vinte aranhas correndo e brigando para entrar em uma pequena fenda. Um fio longo e prateado estava pendurado como uma corda, como se todas o tivessem usado na pressa de sair.
� Voc�s j� viram aranhas se comportarem assim? � perguntou Mione pensativa.
� N�o � disse Harry �, e voc�, Rony? Rony?
Ele olhou por cima do ombro. Rony estava parado bem longe e parecia lutar contra o impulso de correr.
� Que aconteceu?� perguntou Harry.
� Eu... N�o... Gosto... De aranhas � disse Rony muito tenso.
� Eu nunca soube disso � comentou Mione, olhando para Rony surpresa. � Voc� usou aranhas na aula de Po��es um monte de vezes...
� N�o me importo quando est�o mortas � explicou Rony, que tomava o cuidado de olhar para todo lado menos para a janela. � N�o gosto do jeito como elas andam...
Hermione riu.
� N�o tem gra�a � disse Rony, furioso. � Se precisa mesmo saber, quando eu tinha tr�s anos, Fred transformou o meu... Meu ursinho numa enorme aranha nojenta porque eu quebrei a vassoura de brinquedo dele... Voc� tamb�m detestaria aranhas se estivesse segurando um urso e de repente ele ganhasse um monte de pernas e...
Ele estremeceu, sem terminar a frase. Mione continuava obviamente a fazer for�a para n�o rir. Harry, achando que era melhor mudarem de assunto, disse:
� Voc�s se lembram daquela �gua toda no ch�o? De onde ter� vindo? Algu�m a enxugou.
� Estava mais ou menos por aqui � disse Rony, recobrando-se para andar at� um pouco al�m da cadeira de Filch e apontar.
� Na altura desta porta.
Ele levou a m�o � ma�aneta de lat�o mas, de repente, puxou a m�o como se tivesse se queimado.
� Que foi? � perguntou Harry.
� N�o posso entrar a� � explicou impaciente. � � o banheiro das garotas.
� Ah, Rony, n�o vai ter ningu�m ai � disse Mione, ficando em p� e se aproximando. � � o lugar da Murta Que Geme.
Vamos, vamos dar uma olhada.
E desconsiderando o grande aviso de INTERDITADO, ela abriu a porta.
Era o banheiro mais escuro, mais deprimente em que Harry j� entrara. O piso estava molhado e refletia a luz fraca dos tocos de vela que brilhavam nos casti�ais: as portas de madeira dos boxes estavam descascadas e arranhadas e uma delas se soltara das dobradi�as.
Mione levou o dedo aos l�bios e se encaminhou para o �ltimo boxe. Ao chegar, disse:
� Ol�, Murta, como vai?
Harry e Rony foram olhar. A Murta Que Geme estava flutuando acima da caixa de descarga do vaso, cutucando uma manchinha no queixo.
� Isto aqui � um banheiro de garotas � disse ela, olhando desconfiada para Rony e Harry. � Eles n�o s�o garotas.
� N�o � concordou Mione. � Eu s� queria mostrar a eles como... Ah... � bonitinho aqui.
Ela fez um gesto vago indicando o velho espelho sujo e o piso molhado.
� Pergunte a ela se viu alguma coisa � pediu Harry disfar�ando.
� Que � que voc� est� cochichando? � perguntou Murta, encarando-o.
� Nada � disse Harry depressa. � Quer�amos perguntar...
� Eu gostaria que as pessoas parassem de falar �s minhas costas! � disse Murta numa voz engasgada de choro. � Eu tenho sentimentos, sabe, mesmo que morta...
� Murta, ningu�m quer aborrec�-la � disse Mione. � Harry s�...
� Ningu�m quer me aborrecer! Essa � boa! � uivou Murta.
� Minha vida foi uma infelicidade s� neste lugar, e agora as pessoas aparecem para estragar a minha morte!
� N�s quer�amos perguntar se voc� viu alguma coisa esquisita ultimamente � falou Mione depressa. � Porque uma gata foi atacada bem ali na porta de entrada, no Dia das Bruxas.
� Voc� viu algu�m por aqui naquela noite? � perguntou Harry.
� Eu n�o estava prestando aten��o � respondeu a Murta teatralmente. � Pirra�a me aborreceu tanto que entrei aqui e tentei me matar. Depois, � claro, lembrei-me que j� estou... Que estou...
� Morta � disse Rony querendo ajudar.
Murta soltou um solu�o tr�gico, subiu no ar, deu uma cambalhota e mergulhou de cabe�a no vaso, espalhando �gua neles e desaparecendo de vista, embora pela dire��o dos seus solu�os abafados, devesse ter ido pousar em algum ponto da curva em U.
Harry e Rony ficaram boquiabertos, mas Mione deu de ombros cansada e disse:
� Francamente, vindo da Murta isto foi quase animador... Vamos, vamos embora.
Harry mal fechara aporta, abafando os solu�os gargarejantes de Murta, quando uma voz alta fez os tr�s darem um salto.
� RONY!
Percy Weasley tinha estacado de repente no alto da escada, a ins�gnia de monitor reluzindo e uma express�o de absoluto choque no rosto.
� Isto � um banheiro de garotas! Que � que voc�...?
� S� estava dando uma olhada � Rony sacudiu os ombros.
� Pistas, sabe...
Percy inchou de um jeito que lembrou a Harry, com eloq��ncia, a Sra. Weasley.
� Suma... Daqui... � disse Percy, caminhando em dire��o a eles e come�ando a afugent�-los, agitando os bra�os. � Voc�s n�o se importam com o que isto parece? Voltarem aqui enquanto todos est�o jantando...
� Por que n�o dever�amos estar aqui? � retrucou Rony exaltado, parando de repente para encarar Percy. � Olhe aqui, nunca pusemos um dedo naquela gata!
� Foi o que eu disse a Gina � respondeu Percy com ferocidade �, mas ainda assim ela parece pensar que voc� vai ser expulso, nunca a vi t�o perturbada, chorando de se acabar, voc� poderia pensar nela, todos os alunos de primeiro ano est�o excitad�ssimos com essa hist�ria...
� Voc� nem se importa com a Gina � disse Rony, cujas orelhas agora estavam vermelhas. � Voc� s� est� preocupado que eu estrague suas chances de se tornar monitor-chefe...
� Cinco pontos a menos para a Grifin�ria! � disse Percy concisa e autoritariamente, levando a m�o � ins�gnia de monitor.
� E espero que isto seja uma li��o para voc�s! Nada de trabalho de detetive ou vou escrever para a mam�e!
E saiu a passos firmes, a nuca t�o vermelha quanto as orelhas de Rony.
�quela noite, Harry, Rony e Mione escolheram poltronas na sala comunal o mais afastado poss�vel de Percy. Rony continuava de muito mau humor e n�o parava de borrar com a pena o dever de Feiti�os. Quando ele esticou a m�o distraidamente para remover os borr�es, ela tocou fogo no pergaminho. Fumegando quase tanto quanto o seu dever, Rony fechou com estrondo o Livro Padr�o de Feiti�os, 2� s�rie. Para surpresa de Harry Mione fez o mesmo.
� Mas quem � que pode ser? � perguntou ela baixinho, como se estivesse continuando uma conversa j� iniciada. � Quem iria querer afugentar todos os abortos e trouxas de Hogwarts?
� Vamos pensar � disse Rony fingindo-se intrigado. � Quem � que conhecemos que acha que os que nascem trouxas s�o esc�ria?
Ele olhou para Mione. Mione retribuiu o olhar sem se convencer.
� Se voc� est� pensando no Draco...
� Claro que estou! � exclamou Rony. � Voc� ouviu quando ele disse: "Voc� ser� o pr�ximo, Sangue Ruim!", vem c�, a gente s� precisa olhar para aquela cara nojenta de rato para saber que � de...
� Draco, o herdeiro de Slytherin? � disse Mione c�tica.
� Olha s� a fam�lia dele � disse Harry, fechando os livros tamb�m. � Todos foram da Sonserina; ele est� sempre se gabando disso. Podiam muito bem ser descendentes de Slytherin. O pai dele decididamente � bem malvado.
� Eles poderiam ter guardado a chave para a C�mara Secreta durante s�culos! � disse Rony. � Passando-a de pai para filho...
� Bem � disse Mione, cautelosa �, suponhamos que seja poss�vel...
� Mas como vamos provar isso? � disse Harry deprimido.
� Talvez haja um jeito � disse Mione pausadamente, baixando a voz ainda mais e lan�ando um breve olhar a Percy do outro lado da sala. � Claro que seria dif�cil. E perigoso, muito perigoso. Estar�amos desrespeitando umas cinq�enta normas da escola, acho...
� Se, dentro de mais ou menos um m�s, voc� tiver vontade de explicar, voc� nos avisa, n�o �? � disse Rony, irritado.
� Muito bem � disse Mione friamente. � O que precisamos � entrar na sala comunal da Sonserina e fazer umas perguntas a Draco, sem ele perceber que somos nos.
� Mas isto � imposs�vel � exclamou Harry enquanto Rony dava risada.
� N�o, n�o � � disse Mione. � S� precisar�amos de um pouco de Po��o Polissuco.
� Que � isso? � indagaram Rony e Harry juntos.
� Snape mencionou essa po��o na aula h� umas semanas...
� Voc� acha que n�o temos nada melhor a fazer na aula de Po��es do que prestar aten��o a Snape? � resmungou Rony.
� Ela transforma voc� em outra pessoa. Pense s� nisso! Poder�amos nos transformar em alunos da Sonserina. Ningu�m saberia que somos n�s. Draco provavelmente nos contaria qualquer coisa. Provavelmente anda se gabando disso na sala comunal da Sonserina neste instante, se ao menos pud�ssemos ouvi-lo.
� Essa hist�ria de Polissuco me parece meio suspeita � disse Rony, franzindo a testa. � E se a gente acabasse parecendo tr�s alunos da Sonserina para sempre?
� Sai depois de algum tempo � disse Mione, fazendo um gesto de impaci�ncia. � Mas conseguir arranjar a receita vai ser muito dif�cil. Snape falou que estava em um livro chamado �Pociones Muy Potentes� e vai ver est� na Se��o Reservada da biblioteca.
S� havia um jeito de retirar um livro da Se��o Reservada: O aluno precisava de uma permiss�o escrita do professor.
� Vai ser dif�cil entender por que queremos o livro � disse Rony �, se n�o temos inten��o de preparar uma das po��es.
� Acho � disse Mione � que se fizermos parecer que s� estamos interessados na teoria, talvez haja uma chance...
� Ah, qual �, nenhum professor vai cair nessa � disse Rony. 
� Teria que ser muito tapado...











CAP�TULO DEZ
O Bala�o Errante

Desde o desastroso epis�dio com os diabretes, o Prof�. Lockhart n�o trouxera mais seres vivos para a aula. Em vez disso, lia trechos dos seus livros para os alunos, e, por vezes, dramatizava algumas passagens mais pitorescas. Em geral ele escolhia Harry para ajud�-lo nessas dramatiza��es; at� aquele momento o garoto fora obrigado a representar um campon�s simpl�rio da Transilv�nia, de quem Lockhart curara um feiti�o de gagueira, um i�ti com um resfriado na cabe�a e um vampiro que se tornara incapaz de comer outra coisa a n�o ser alface, depois que Lockhart dera um jeito nele.
Harry foi chamado � frente da classe na aula seguinte de Defesa contra as Artes das Trevas, desta vez para representar um lobisomem. Se n�o tivesse uma boa raz�o para deixar Lockhart de bom humor, ele teria se recusado.
� Um belo uivo, Harry, exato, e ent�o, queiram acreditar, eu saltei sobre ele, assim, joguei-o contra a porta, assim, consegui cont�-lo com uma das m�os, com a outra apontei a varinha para o pesco�o dele, e ent�o reuni toda a for�a que me restava e lancei o Feiti�o Homorfo, muit�ssimo complicado, e ele soltou um gemido de dar pena... Vamos, Harry mais alto, bom, o p�lo dele desapareceu, as presas encurtaram, e ele voltou a virar homem. Simples, mas eficiente, e mais uma aldeia que se lembrar� de mim para sempre como o her�i que os salvou do terror dos ataques de lobisomem.
A sineta tocou e Lockhart ficou em p�.
� Dever de casa... Compor um poema sobre a minha vit�ria sobre o lobisomem de Wagga Wagga! Exemplares autografados de O Meu Eu M�gico para o autor do melhor trabalho!
Os alunos come�aram a sair. Harry voltou ao fundo da sala, onde Rony e Mione esperavam.
� Prontos? � murmurou Harry.
� Espere at� todos sa�rem � pediu Mione nervosa. � Certo...
Ela se aproximou da mesa de Lockhart, um papelzinho seguro firmemente na m�o, Harry e Rony logo atr�s.
� Ah... Prof�. Lockhart? � gaguejou Mione. � Eu queria... Retirar este livro da biblioteca.  S� para ter uma id�ia geral do assunto. � Ela estendeu o papelzinho, a m�o ligeiramente tr�mula. � Mas o problema � que ele � guardado na Se��o Reservada da biblioteca, ent�o preciso que um professor autorize, tenho certeza de que o livro me ajudaria a entender o que o senhor diz em Como se Divertir com Vampiros sobre os venenos de a��o retardada...
� Ah, Como se divertir com vampiros!� exclamou Lockhart apanhando o papelzinho de Hermione e lhe dando um grande sorriso. � Possivelmente � o livro de que mais gosto. Voc� gostou?
� Gostei � disse Hermione depressa. � Muito esperto o modo com que o senhor apanhou aquele �ltimo, com o coador de ch�...
� Bem, tenho certeza de que ningu�m vai se importar que eu d� � melhor aluna do ano uma ajudinha extra � disse Lockhart calorosamente, e puxou uma enorme pena de pavio. � Bonita, n�o �? � disse ele, interpretando mal a express�o de indigna��o no rosto de Rony. � Em geral eu a uso para autografar livros.
Ele rabiscou uma enorme assinatura cheia de floreios no papel e devolveu-o a Hermione.
� Ent�o, Harry � disse Lockhart, enquanto Hermione dobrava o papel com dedos nervosos e o guardava na mochila. � Creio que amanh� � a primeira partida de Quadribol da temporada. Grifin�ria contra Sonserina, n�o �? Ouvi dizer que voc� � um jogador muito �til. Eu tamb�m fui apanhador. Convidaram-me para tentar a sele��o nacional, mas preferi dedicar minha vida � erradica��o das For�as das Trevas. Ainda assim, se algum dia voc� achar que precisa de um treino pessoal, n�o hesite em me pedir. Fico sempre feliz de passar minha experi�ncia a jogadores menos capazes...
Harry fez um barulhinho discreto na garganta e saiu correndo atr�s de Rony e Hermione.
� Eu n�o acredito � disse ele quando os tr�s examinaram a assinatura no papel. � Ele nem olhou o nome do livro que quer�amos.
� � porque ele � um panaca desmiolado � disse Rony. � Mas quem se importa, temos o que precis�vamos...
� Ele n�o � um panaca desmiolado � disse Hermione em voz alta quando se dirigiam quase correndo � biblioteca.
� S� porque ele disse que voc� � a melhor aluna do ano...
Eles baixaram a voz ao entrar na quietude abafada da biblioteca. Madame Pince, a bibliotec�ria, era uma mulher magra e irrit�vel que parecia um urubu subnutrido.
� Pociones Muy Potentes? � repetiu ela desconfiada, tentando tirar a autoriza��o da m�o de Hermione; mas a garota n�o deixou.
� Eu pensei que talvez pudesse guardar a autoriza��o � disse Hermione ofegante.
� Ah, qual �? � protestou Rony, arrancando a autoriza��o da m�o dela e entregando-a a Madame Pince. � N�s lhe arranjamos outro aut�grafo. Lockhart assina qualquer coisa que fique parada tempo suficiente.
Madame Pince ergueu o papel contra a luz, como se estivesse decidida a descobrir uma falsifica��o, mas a autoriza��o passou no teste. Ela desapareceu silenciosamente entre as estantes altas e voltou v�rios minutos depois trazendo um livro grande de apar�ncia mofada. Hermione guardou-o cuidadosamente na mochila e os tr�s foram embora, procurando n�o andar demasiado r�pido nem parecer muito culpados.
Cinco minutos depois, estavam barricados mais uma vez no banheiro interditado da Murta Que Geme. Hermione tinha vencido as obje��es de Rony lembrando que seria o �ltimo lugar em que algu�m sensato iria, e com isso garantiram alguma privacidade.
Murta Que Geme chorava alto no seu boxe, mas eles n�o lhe prestavam aten��o nem a fantasma aos garotos.
Hermione abriu o Pociones Muy Potentes com cuidado, e os tr�s se debru�aram sobre as p�ginas manchadas de umidade. Era claro, ao primeiro olhar, a raz�o por que o livro pertencia � Se��o Reservada. Algumas das po��es produziam efeitos medonhos demais s� de se imaginar, e havia algumas ilustra��es muito impressionantes, que inclu�am um homem que parecia ter virado do avesso e uma bruxa com v�rios pares de bra�o que sa�am da cabe�a.
� Aqui � exclamou, excitada, ao encontrar a p�gina intitulada �A Po��o Polissuco�. Estava decorada com desenhos de pessoas a meio caminho de se transformarem em outras. Harry sinceramente desejou que as express�es de dor intensa em seus rostos fossem imagina��o do artista.
� Esta � a po��o mais complicada que j� vi � disse Hermione quando examinavam a receita. � Hemer�bios, sanguessugas, descutainia e sanguin�ria � murmurou ela, correndo o dedo pela lista de ingredientes. � Bem, esses s�o bem f�ceis, est�o no arm�rio dos alunos, podemos tirar o que precisarmos... Ah, olhem s� isso, p� de chifre de bic�rnio, n�o sei onde vamos arranjar isso... Pele de araramb�ia picada, essa vai ser uma fria tamb�m... E, � claro, um pedacinho da pessoa em quem quisermos nos transformar.
� D� para repetir isso? � pediu Rony r�spido. � Que � que voc� quer dizer com um pedacinho da pessoa em quem quisermos nos transformar? N�o vou tomar nada que tenha unhas do p� de Crabbe dentro...
Hermione continuou como se n�o tivesse ouvido o amigo.
� Ainda n�o temos que nos preocupar com isso, porque os pedacinhos s� entram no fim...
Rony virou-se, sem fala, para Harry, que tinha outra preocupa��o.
� Voc� percebe quanta coisa vamos ter que roubar, Mione? Pele de araramb�ia picada, decididamente n�o est� no arm�rio dos alunos. Que vamos fazer, assaltar o estoque particular de Snape? N�o sei se � uma boa id�ia...
Hermione fechou o livro com for�a.
� Bem, se voc�s dois v�o amarelar, �timo. � Seu rosto se malhara de vermelho vivo e os olhos cintilavam mais do que o normal. � Eu n�o quero desrespeitar o regulamento, voc�s sabem muito bem. Acho que amea�ar gente que nasceu trouxa � muito mais s�rio do que preparar uma po��o dif�cil. Mas se voc�s n�o querem descobrir se � o Draco, eu vou direto � Madame Pince agora mesmo e devolvo o livro, e...
� Eu nunca pensei que veria o dia em que voc� nos convenceria a desrespeitar o regulamento � disse Rony � Muito bem, n�s topamos. Mas unhas dos p�s n�o, est� bem?
� E quanto tempo vai levar para preparar a po��o? � perguntou Harry, de cara feliz, quando Hermione reabriu o livro.
� Bom, uma vez que a descurainia tem que ser colhida na lua cheia e os hemer�bios precisam cozinhar durante vinte e um dias... Eu diria que vai levar mais ou menos um m�s para ficar pronta, se conseguirmos todos os ingredientes.
� Um m�s? � exclamou Rony. � At� l�, Draco poderia atacar metade dos nascidos trouxas na escola! � Mas os olhos de Hermione tornaram a se estreitar perigosamente e ela acrescentou depressa:
� Mas � o melhor plano que temos, portanto, vamos tocar para frente a todo vapor!
No entanto, quando Hermione foi verificar se a barra estava limpa para eles sa�rem do banheiro, Rony cochichou para Harry:
� Daria muito menos trabalho se voc� simplesmente derrubasse Draco da vassoura amanh�.
Harry acordou cedo no s�bado e continuou deitado por algum tempo, pensando na partida de Quadribol que se aproximava. Estava nervoso, principalmente quando pensava no que Wood diria se a Grifin�ria perdesse, mas tamb�m com a id�ia de enfrentar um time montado nas vassouras de corrida mais velozes que o ouro podia comprar.
Nunca tivera tanta vontade de vencer a Sonserina. Depois de passar meia hora deitado ali com as tripas dando n�s, ele se levantou, se vestiu e desceu logo para tomar caf� e j� encontrou o resto dos jogadores da Grifin�ria sentados juntos � mesa comprida e vazia, todos parecendo nervosos e falando muito pouco.
� medida que �s onze horas se aproximaram, a escola inteira come�ou a tomar o caminho do est�dio de Quadribol.
Fazia um dia mormacento com sinais de trovoada no ar. Rony e Hermione vieram correndo desejar a Harry boa sorte quando ele ia entrando no vesti�rio. O time vestiu os uniformes vermelhos da Grifin�ria e depois se sentou para ouvir a prele��o que Wood sempre fazia antes do jogo.
� Hoje, Sonserina tem vassouras melhores que n�s � come�ou ele. � N�o adianta negar. Mas n�s temos jogadores melhores nas nossas vassouras. Treinamos com maior garra do que eles, estivemos no ar fosse qual fosse o tempo... ("Quem duvida", murmurou Jorge Weasley. "N�o sei o que � estar seco desde agosto")... E vamos fazer com que eles se arrependam do dia em que deixaram aquele trapaceiro do Draco pagar para entrar no time.
O peito arfando de emo��o, Wood virou-se para Harry.
� Vai depender de voc�, Harry, mostrar a eles que um apanhador tem que ter mais do que um pai rico. Chegue ao pomo antes de Draco ou morra tentando, porque temos que vencer hoje, � muito simples.
� Por isso nada de pression�-lo, Harry � disse Fred piscando o olho.
Quando entraram no campo, foram saudados por um vozerio, muitos vivas, porque a Corvinal e a Lufa-Lufa estavam ansiosas para ver a Sonserina derrotada, mas os alunos da Sonserina nas arquibancadas vaiaram e assobiaram, tamb�m. Madame Hooch, a professora de Quadribol, mandou Flint e Wood se apertarem as m�os, o que eles fizeram, lan�ando um ao outro olhares amea�adores e pondo mais for�a no aperto que era necess�rio.
� Quando eu apitar � disse Madame hooch. -Tr�s... Dois... Um...
Com um rugido de incentivo das arquibancadas, os catorze jogadores subiram em dire��o ao c�u carregado. Harry foi mais alto do que qualquer outro, apertando os olhos � procura do pomo.
� Tudo bem a�, � Cicatriz? � berrou Draco, passando por baixo dele como se quisesse mostrar a velocidade de sua vassoura.
Harry n�o teve tempo de responder. Naquele mesmo instante, um pesado bala�o negro veio voando a toda em sua dire��o; ele o evitou por t�o pouco que sentiu o bala�o arrepiar seus cabelos ao passar.
� Esse foi por um triz, Harry! � disse Jorge, emparelhando com ele de bast�o na m�o, pronto para rebater o bala�o para os lados de um jogador da Sonserina. Harry viu Jorge dar uma forte bastonada na dire��o de Adriano Pucey, mas o bala�o mudou de rumo em pleno ar e tornou a voar direto para Harry.
O garoto mergulhou depressa para evit�-lo, e Jorge conseguiu atingir o bala�o com for�a na dire��o de Draco. Mais uma vez, o bala�o voltou como um bumerangue e disparou contra a cabe�a de Harry.
Harry imprimiu velocidade � vassoura e voou para o outro extremo do campo. Ouvia o assobio do bala�o vindo em seu encal�o. Que estava acontecendo? Os bala�os nunca se concentravam em um �nico jogador; sua fun��o era tentar desmontar o maior n�mero poss�vel de jogadores...
Fred Weasley aguardava o bala�o no outro extremo. Harry se abaixou quando Fred rebateu o bala�o com toda for�a, desviando-o de curso.
� Peguei voc�! � berrou Fred alegremente, mas estava enganado; como se estivesse magneticamente atra�do para Harry, o bala�o saiu atr�s dele outra vez, e o garoto foi for�ado a voar a toda velocidade.
Come�ara a chover; Harry sentiu grossos pingos de chuva ca�rem em seu rosto, molhando seus �culos. N�o tinha a menor id�ia do que estava acontecendo no jogo at� ouvir Lino Jordan, locutor da partida, dizer: "Sonserina na lideran�a, sessenta a zero...�
As vassouras superiores da Sonserina obviamente estavam dando conta do recado, enquanto o bala�o furioso estava fazendo o poss�vel para tirar Harry do ar.
Fred e Jorge agora voavam t�o junto dele, um de cada lado, que Harry n�o via nada exceto bra�os se agitando no ar e n�o tinha chance de procurar o pomo, muito menos de apanh�-lo.
� Algu�m... Alterou... Esse... Bala�o... � rosnou Fred, brandindo o bast�o com toda for�a quando o bala�o desfechou um novo ataque contra Harry.
� Precisamos de tempo � disse Jorge, tentando simultaneamente fazer sinal a Wood e impedir o bala�o de quebrar o nariz de Harry.
Wood obviamente entendera o sinal. O apito de Madame Hooch soou e Harry, Fred e Jorge mergulharam at� o ch�o, ainda tentando evitar o bala�o maluco.
� Que est� acontecendo? � perguntou Wood quando o time da Grifin�ria se reuniu � sua volta ao som das vaias da Sonserina.
� Estamos sendo arrasados. Fred, Jorge, onde � que voc�s estavam quando aquele bala�o impediu Angelina de fazer gol?
� Est�vamos seis metros acima dela, impedindo outro bala�o de matar Harry, Olivio � respondeu Jorge aborrecido. � Algu�m alterou aquele bala�o, ele n�o deixa o Harry em paz. E n�o tentou pegar mais ningu�m o tempo todo. O pessoal da Sonserina deve ter feito alguma coisa com ele.
� Mas os bala�os estiveram trancados na sala de Madame Hooch desde o nosso �ltimo treino, e n�o havia nada errado com eles... � disse Wood, ansioso.
Madame Hooch veio andando em dire��o ao grupo. Por cima do ombro Harry viu o time da Sonserina ca�oando e apontando para ele.
� Escutem � disse Harry ao v�-la chegar cada vez mais perto �, com voc�s dois voando em volta de mim o tempo todo o �nico jeito de apanhar aquele pomo � ele entrar voando na minha manga. Se juntem ao resto do time e deixem que eu cuido do bala�o errante.
� N�o seja burro � disse Fred. � Ele vai arrancar sua cabe�a.
Wood olhava de Harry para os Weasley.
� Olivio, isso � loucura � disse Alicia Spinnet zangada. � Voc� n�o pode deixar o Harry enfrentar aquela coisa sozinho.  Vamos pedir uma investiga��o...
� Se pararmos agora, perderemos a partida! � disse Harry. � E n�o vamos perder para a Sonserina s� por causa de um bala�o maluco! Anda, Olivio, diz para eles me deixarem em paz!
� Isto � tudo culpa sua � disse Jorge furioso com Wood. � "Apanhe o pomo ou morra tentando", que coisa idiota para dizer a ele...
Madame Hooch se reunira aos jogadores.
� Est�o prontos para recome�ar a partida? � perguntou a Wood.
Wood olhou para a express�o decidida no rosto de Harry.
� Muito bem. Fred, Jorge, voc�s ouviram o que Harry disse, deixem-no em paz e deixem que ele cuide do bala�o sozinho.
A chuva ca�a mais pesada agora. Ao apito de Madame Hooch, Harry deu um forte impulso para o alto e ouviu o assobio que indicava que o bala�o vinha atr�s dele. Ganhou cada vez mais altura; fez loops e subiu, espiralou, ziguezagueou e balan�ou.
Mesmo ligeiramente tonto, mantinha os olhos bem abertos, a chuva molhando seus �culos e entrando por suas narinas quando ele voava de barriga para cima, evitando outro mergulho furioso do bala�o. Ele ouvia as risadas do p�blico; sabia que devia estar parecendo muito idiota, mas o bala�o errante era pesado e n�o podia mudar de dire��o t�o r�pido quanto Harry; o garoto come�ou a voar pela orla do est�dio como se estivesse em uma montanha-russa, procurando ver as balizas da Grifin�ria atrav�s da cortina prateada de chuva. Adrian Pucey tentava ultrapassar Wood...
Um assobio no ouvido de Harry lhe disse que o bala�o deixara de acert�-lo por pouco outra vez; ele imediatamente deu meia-volta e disparou na dire��o oposta.
� Est� treinando para fazer bal�, Potter? � berrou Draco quando Harry foi obrigado a dar uma volta rid�cula em pleno ar para evitar o bala�o e fugir, o bala�o rastreando-o a pouco mais de um metro; e ent�o, virando-se para olhar Draco cheio de �dio ele viu... O pomo de ouro. Pairava poucos cent�metros acima da orelha esquerda de Draco, e o garoto, ocupado em rir-se de Harry, n�o o vira.
Por um momento de agonia, Harry imobilizou-se no ar, sem ousar voar na dire��o de Draco, com medo de que ele olhasse para cima e visse o pomo.
BAM.
Permanecera parado um segundo a mais. O bala�o finalmente atingi-o, bateu no seu cotovelo e Harry sentiu o bra�o rachar. Sem enxergar direito, atordoado pela terr�vel dor no bra�o, escorregou para um lado da vassoura encharcada, um joelho ainda enganchando-a por baixo, o bra�o direito pendurado in�til � o bala�o retornava a toda para um segundo ataque, desta vez mirando o seu rosto , Harry desviou-se, uma id�ia alojada com firmeza no c�rebro entorpecido: chegar at� Draco.
Atrav�s da n�voa de chuva e dor, ele mergulhou em dire��o � cara debochada abaixo dele e viu os olhos de Draco se arregalarem de medo. O garoto achou que Harry ia atac�-lo.
� Que di...� exclamou, inclinando-se para longe de Harry.
Harry tirou a m�o boa da vassoura e tentou agarrar o pomo �s cegas; sentiu os dedos se fecharem sobre a bola fria, mas agora s� estava preso � vassoura pelas pernas, e ouviu-se um urro das arquibancadas quando ele rumou direto para o ch�o, tentando por tudo n�o desmaiar.
Ele bateu no ch�o, levantando lama, e rolou para o lado para desmontar da vassoura.
Seu bra�o estava pendurado num �ngulo muito estranho; varado de dor, ele ouviu, como se fosse � grande dist�ncia, muitos assobios e gritos. Focalizou o pomo seguro na m�o boa.
� Aha � disse vagamente. � Ganhamos.
E desmaiou.
Voltou a si, a chuva batendo no rosto, ainda deitado no campo, com algu�m debru�ado sobre ele. Viu um brilho de dentes.
� Ah, o senhor, n�o � gemeu.
� Ele n�o sabe o que est� dizendo � falou Lockhart em voz alta para o ajuntamento de alunos da Grifin�ria que cercavam ansiosos os dois. � N�o se preocupe Harry. J� vou endireitar o seu bra�o.
� N�o! � exclamou Harry. -Vou ficar com ele assim, obrigado...
O garoto tentou se sentar, mas a dor foi terr�vel. Ele ouviu um clique conhecido ali por perto.
� N�o quero uma foto deste momento, Colin � disse em voz alta.
� Deite-se, Harry � mandou Lockhart acalmando-o. � � um feiti�o muito simples que j� usei muit�ssimas vezes...
� Por que n�o posso simplesmente ir para a ala hospitalar? � disse Harry com os dentes cerrados.
� Ele devia mesmo, professor � disse um enlameado Wood, que n�o p�de deixar de sorrir mesmo com o seu apanhador machucado. � Grande captura, Harry, realmente espetacular, a melhor que j� fez, eu diria...
Por entre a floresta de pernas � sua volta, Harry viu Fred e Jorge Weasley, lutando para enfiar o bala�o errante numa caixa. A bola continuava a resistir ferozmente.
� Afastem-se � pediu Lockhart, enrolando as mangas de suas vestes verde-jade.
� N�o... N�o fa�a isso... � disse Harry com a voz fraca, mas Lockhart agitava a varinha e um segundo depois apontou-a diretamente para o bra�o de Harry.
Uma sensa��o estranha e desagrad�vel surgiu no ombro de Harry e se espalhou at� a ponta dos dedos da m�o. Era como se o bra�o estivesse se esvaziando. Ele nem se atreveu a verificar o que estava acontecendo. Fechara os olhos, virara o rosto para longe do bra�o, mas os seus piores temores se confirmaram, as pessoas em volta exclamaram e Colin Creevey come�ou a fotografar furiosamente. Seu bra�o n�o do�a mais � e nem de longe se parecia com um bra�o.
� Ah � disse Lockhart. � �, �s vezes isso pode acontecer. Mas o importante � que os ossos n�o est�o mais fraturados. Isto � o que se precisa ter em mente. Ent�o, Harry, v�, d� uma chegada na ala hospitalar, ah, Sr. Weasley, Srta. Granger, podem acompanh�-lo? E Madame Pomfrey poder�... Hum... Dar um jeito nisso.
Quando Harry se levantou, sentiu-se estranhamente inclinado para um lado. Tomando f�lego, olhou para baixo, para o bra�o direito. O que ele viu quase o fez desmaiar de novo.  Pela manga das vestes sa�a uma coisa que lembrava uma grossa luva de borracha cor de pele. Ele tentou mexer os dedos. Nada aconteceu.  Lockhart n�o emendara os ossos de Harry Ele os removera.
Madame Pomfrey n�o ficou nada satisfeita.
� Voc� deveria ter vindo me procurar diretamente! � dizia furiosa, erguendo a lament�vel sobra do que fora, meia hora antes, um bra�o �til. � Posso emendar ossos num segundo, mas faz�-los crescer outra vez...
� A senhora vai conseguir, n�o �? � perguntou Harry desesperado.
� Claro que vou, mas vai ser doloroso � disse Madame Pomfrey sombriamente, atirando um pijama para Harry. � Voc� vai ter que passar a noite...
Hermione esperava do outro lado da cortina que fora fechada em torno da cama de Harry, enquanto Rony o ajudava a vestir o pijama. Levou algum tempo para enfiar na manga o bra�o mole e sem ossos.
� Como � que voc� consegue defender o Lockhart agora, Hermione, hein? � Rony perguntou atrav�s da cortina enquanto puxava os dedos inertes de Harry pelo punho da manga. � Se Harry quisesse ser desossado ele teria pedido.
� Qualquer um pode se enganar � respondeu Hermione. � E n�o est� doendo mais, est� Harry?
� N�o � disse Harry, entrando na cama. � Mas tamb�m n�o faz mais nada.
Quando ele se deitou, o bra�o balan�ou molemente.
Hermione e Madame Pomfrey deram a volta � cortina.
Madame Pomfrey vinha segurando um garraf�o de alguma coisa rotulada Esquelesce.
� Voc� vai enfrentar uma noite dif�cil � disse, servindo um copo grande de boca larga e fumegante e entregando-o a Harry.
� Fazer ossos crescerem de novo � uma coisa complicada. E tomar Esquelesce, tamb�m. 
O liquido queimou a boca e a garganta de Harry e desceu, fazendo-o tossir e cuspir. Ainda lamentando os esportes perigosos e os professores ineptos, Madame Pomfrey se retirou, deixando Rony e Hermione ajudarem Harry a engolir um pouco de �gua.
� Mas ganhamos � disse Rony, um grande sorriso se abrindo no rosto. � Foi uma captura e tanto a que voc� fez. A cara do Malfoy... Ele parecia que ia matar algu�m...
� Eu queria saber como foi que ele alterou aquele bala�o � disse Hermione sombriamente.
� Podemos acrescentar mais esta � lista de perguntas que vamos fazer a ele quando tomarmos a Po��o Polissuco � disse Harry deixando-se afundar nos travesseiros. � Espero que tenha um gosto melhor do que esta coisa...
� Com pedacinhos de alunos da Sonserina dentro? Voc� deve estar brincando � disse Rony.
A porta do hospital se escancarou naquele momento. Imundos e encharcados, os demais jogadores da Grifin�ria chegaram para ver Harry.
� Incr�vel aquele v�o, Harry � disse Jorge. � Acabei de ver Marcos Flint berrando com Draco. Estava falando alguma coisa sobre ter o pomo sobre a cabe�a e nem notar. Draco n�o parecia muito feliz.
Os jogadores tinham trazido bolos, doces e garrafas de suco de ab�bora que arrumaram em volta da cama de Harry e davam in�cio ao que prometia ser uma festan�a, quando Madame Pomfrey apareceu como um tuf�o, gritando:
� Esse menino precisa de descanso, precisa fazer crescer trinta e tr�s ossos! Fora!  FORA!
E Harry foi deixado sozinho, sem nada para distra�-lo da dor horr�vel no bra�o inerte.
Muitas horas depois, Harry acordou de repente numa escurid�o de breu e deu um ligeiro ganido de dor: o bra�o agora parecia cheio de grandes lascas. Por um segundo ele pensou que fora isso que o acordara. Ent�o, com um choque de terror, percebeu que algu�m estava passando uma esponja em sua testa.
� Fora daqui! � gritou ele alto e em seguida. � Dobby!
Os olhos arregalados, parecendo bolas de t�nis, do elfo dom�stico espiavam Harry na escurid�o. Uma l�grima solit�ria escorria pelo seu nariz longo e fino.
� Harry Potter voltou para a escola � murmurou ele infeliz. � Dobby avisou e tornou a avisar Harry Potter. Ah, meu senhor, por que n�o prestou aten��o em Dobby? Por que Harry Potter n�o voltou para casa quando perdeu o trem?
Harry se ergueu, apoiando-se nos travesseiros e empurrou para longe a esponja de Dobby.
� Que � que voc� est� fazendo aqui? � perguntou. � E como sabe que perdi o trem?
O l�bio de Dobby tremeu, e Harry foi assaltado por uma repentina suspeita.
� Foi voc�! � disse lentamente. � Voc� impediu a barreira de nos deixar passar!
� Com certeza, meu senhor � Dobby confirmou vigorosamente com a cabe�a, as orelhas abanando. � Dobby se escondeu e esperou Harry Potter e selou o port�o, e Dobby teve que passar as m�os a ferro depois � mostrou a Harry os dez dedos compridos enfaixados �, mas Dobby n�o se importou, meu senhor, porque pensou que Harry Potter estava seguro, e Dobby nunca sonhou que Harry Potter fosse chegar a escola por outro meio!
O elfo se balan�ava para frente e para tr�s, sacudindo a cabe�a feia.
� Dobby ficou t�o chocado quando soube que Harry Potter tinha voltado a Hogwarts que deixou o jantar do seu dono queimar! Dobby nunca foi t�o a�oitado, meu senhor...
Harry afundou de volta nos travesseiros.
� Voc� quase fez com que Rony e eu f�ssemos expulsos � disse furioso. � � melhor desaparecer antes que os meus ossos voltem, Dobby, ou eu ainda estrangulo voc�.
Dobby deu um leve sorriso.
� Dobby est� acostumado com amea�as de morte, meu senhor. Em casa, Dobby as recebe cinco vezes por dia.
O elfo assoou o nariz numa ponta da fronha imunda que usava, parecendo t�o pat�tico, que Harry sentiu a raiva se esvair contra a sua vontade.
� Por que voc� usa isso, Dobby? � perguntou curioso.
� Isso, meu senhor? � disse Dobby, puxando a fronha. � Isto � a marca de escravid�o do elfo dom�stico, meu senhor. Dobby s� pode ser libertado se seus donos o presentearem com roupas, meu senhorr. A fam�lia toma cuidado para n�o passar a Dobby nem mesmo uma meia, meu senhor, se n�o ele fica livre para deixar a casa para sempre.
Dobby enxugou os olhos saltados e disse de repente:
� Harry Potter precisa ir para casa! Dobby achou que o bala�o dele seria suficiente para fazer..
� O seu bala�o? � disse Harry, a raiva tornando a subir-lhe a cabe�a. � Que � que voc� quer dizer com o seu bala�o?  Voc� fez aquele bala�o tentar me matar?
� N�o matar, meu senhor, nunca mat�-lo! � disse Dobby, chocado. � Dobby quer salvar a vida de Harry Potter! Melhor mand�-lo para casa, seriamente machucado, do que ficar aqui, meu senhor! Dobby s� queria que Harry Potter se machucasse o bastante para ser mandado para casa!
� S� isso? � exclamou Harry furioso. � Suponho que voc� n�o vai me contar por que queria me mandar para casa aos peda�os?
� Ah, se ao menos Harry Potter soubesse! � gemeu Dobby, mais l�grimas escorrendo pela fronha esfarrapada. � Se ele soubesse o que significa para n�s, para os humildes, para os escravizados, para nos esc�ria do mundo m�gico! Dobby se lembra de como era quando Ele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado estava no auge dos seus poderes, meu senhor! N�s, elfos dom�sticos, �ramos tratados como vermes, meu senhor! � claro que Dobby ainda � tratado assim, meu senhor � admitiu, enxugando o rosto na fronha.
� Mas em geral, meu senhor, a vida melhorou para gente como eu desde que o senhor venceu Ele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado. Harry Potter sobreviveu, e o poder do Lord das Trevas foi subjugado, e raiou uma nova alvorada, meu senhor, e Harry Potter brilhou como um farol de esperan�a para todos n�s que ach�vamos que os dias de trevas nunca terminariam, meu senhor... E agora, em Hogwarts, coisas terr�veis v�o acontecer, talvez j� estejam acontecendo, e Dobby n�o pode deixar Harry Potter ficar aqui, agora que a hist�ria vai se repetir, agora que a C�mara Secreta foi reaberta...
Dobby congelou, tomado de horror, e agarrou a jarra de �gua de Harry sobre a mesa de cabeceira e quebrou-a na pr�pria cabe�a, desaparecendo de vista. Um segundo depois, tornou a subir na cama, vesgo, murmurando: 
-Dobby ruim, Dobby muito ruim 
� Ent�o h� uma C�mara Secreta! � sussurrou Harry. � E... Voc� est� me dizendo que ela j� foi aberta antes? Me conte, Dobby? Ele agarrou o elfo pelo pulso ossudo quando viu a m�o dele tornar a se aproximar devagarinho da jarra de �gua. � Mas eu n�o nasci trouxa, como posso estar amea�ado pela C�mara?
� Ah, meu senhor, n�o pergunte mais nada ao pobre Dobby. � gaguejou o elfo, os olhos enormes na escurid�o. � Feitos tenebrosos est�o sendo tramados em Hogwarts, mas Harry Potter n�o deve estar aqui quando acontecerem, v� para casa, Harry Potter, v� para casa. Harry Potter n�o deve se meter nisso, meu senhor, � perigoso demais...
� Quem �, Dobby? � perguntou Harry, mantendo o pulso de Dobby preso para impedi-lo de bater outra vez na cabe�a com o jarro de �gua. � Quem abriu a C�mara? Quem a abriu da outra vez?
� Dobby n�o pode, meu senhor, Dobby n�o pode, Dobby n�o deve falar! � guinchou o elfo. � V� para casa, Harry Potter, v� para casa!
� Eu n�o vou a lugar nenhum! � respondeu Harry com ferocidade. � Uma das minhas melhores amigas nasceu trouxa; ela ser� a primeira da lista se a C�mara realmente foi aberta...
� Harry Potter arrisca a pr�pria vida pelos amigos! � gemeu Dobby numa esp�cie de �xtase de infelicidade. � T�o nobre! T�o valente! Mas ele precisa se salvar, deve, Harry Potter, n�o deve...
Dobby de repente congelou, suas orelhas de morcego estremeceram. Harry ouviu, tamb�m. Havia ru�do de passos no corredor.
� Dobby tem que ir! � suspirou o elfo, aterrorizado. Houve um estalo alto, e o punho de Harry subitamente n�o estava segurando mais nada. Ele tornou a afundar na cama, os olhos fixos no portal escuro da ala hospitalar enquanto os passos se aproximavam.
No momento seguinte, Dumbledore entrou de costas no dormit�rio, usando uma longa camisola de l� e uma touca de dormir. Carregava uma extremidade de alguma coisa que parecia uma est�tua. A Prof�. McGonagall apareceu um segundo depois, carregando os p�s. Juntos, eles depositaram a carga sobre uma cama.
� Chame Madame Pomfrey � sussurrou Dumbledore, e a Prof�. McGonagall desapareceu rapidamente de vista, passando pelos p�s da cama de Harry. O garoto ficou deitado muito quieto, fingindo que dormia. Ouviu vozes urgentes e ent�o a Prof�. McGonagall reapareceu, seguida de perto por Madame Pomfrey, que vestia um casaquinho por cima da camisola. Ele ouviu algu�m inspirar com for�a.
� Que aconteceu? � cochichou Madame Pomfrey para Dumbledore, debru�ando-se sobre a est�tua na cama.
� Mais um ataque � respondeu Dumbledore. � Minerva encontrou-o na escada.
� Havia um cacho de uvas ao lado dele � disse a professora. � Achamos que ele estava tentando chegar aqui escondido para visitar Potter.  O est�mago de Harry deu um tremendo salto. Lenta e cuidadosamente, ele se ergueu alguns cent�metros para poder ver a est�tua na cama. Um raio de luar iluminava o rosto de express�o fixa.
Era Colin Creevey. Seus olhos estavam arregalados e, as m�os, erguidas diante dele, segurando a m�quina fotogr�fica.
� Petrificado? � sussurrou Madame Pomfrey.
� Est� � respondeu a Prof�. McGonagall. � Mas estreme�o de pensar... Se Alvo n�o estivesse descendo para tomar um chocolate quente... Quem sabe o que poderia...
Os tr�s contemplaram Colin. Ent�o Dumbledore se curvou e tirou a m�quina fotogr�fica das m�os r�gidas do menino.
� Voc� acha que ele conseguiu bater uma foto do atacante? � perguntou a professora, ansiosa.
Dumbledore n�o respondeu. Abriu a m�quina.
� Meu Deus! � exclamou Madame Pomfrey.
Um jato de vapor saiu sibilando da m�quina. Harry, a tr�s camas de dist�ncia, sentiu o cheiro acre do pl�stico queimado.
� Derretidas � disse Madame Pomfrey pensativa. � Todas derretidas...
� O que significa isto, Alvo? � perguntou pressurosa a Prof�. McGonagall.
� Significa que de fato a C�mara Secreta foi reaberta. 
Madame Pomfrey levou a m�o � boca.
McGonagall arregalou os olhos para Dumbledore.
� Mas, Alvo... Com certeza... Quem?
� A pergunta n�o � quem � disse Dumbledore, com os olhos postos em Colin. � A pergunta �, como...
E pelo que Harry p�de ver do rosto sombreado da Prof�. McGonagall, ela n�o entendia muito mais que ele.



CAP�TULO ONZE
O Clube dos Duelos

Harry acordou no domingo de manh� e deparou com o dormit�rio iluminado pela luz do sol de inverno e seu bra�o curado, embora ainda muito duro. Sentou-se depressa e olhou para a cama de Colin, mas tinham-na escondido com a cortina alta por tr�s da qual Harry trocara de roupa no dia anterior. Ao ver que o paciente acordara, Madame Pomfrey entrou apressada, trazendo uma bandeja com o caf� da manh� e ent�o come�ou a dobrar e a esticar o bra�o e os dedos dele.
� Tudo em ordem � disse enquanto ele comia mingau, desajeitado, com a m�o esquerda. � Quando terminar de comer pode ir.
Harry se vestiu o mais r�pido que p�de e correu a torre da Grifin�ria, doido para contar a Rony e Hermione o que acontecera com Colin e Dobby, mas n�o os encontrou l�. Saiu de novo a procur�-los, imaginando aonde poderiam ter precisado ir, e se sentindo um pouco magoado que os amigos n�o estivessem interessados se ele recuperara ou n�o os ossos.
Quando passou pela porta da biblioteca, Percy Weasley ia saindo, com a cara muito mais animada do que na �ltima vez que tinham se encontrado.
� Ah, al�, Harry. V�o excelente ontem, realmente excelente. Grifin�ria acabou de assumir a lideran�a na disputa da Ta�a das Casas, voc� marcou cinq�enta pontos!
� Voc� n�o viu o Rony ou a Mione, viu? � perguntou Harry.
� N�o � respondeu Percy, o sorriso desaparecendo do rosto.
� Espero que Rony n�o esteja metido em outro banheiro de meninas...
Harry for�ou uma risada, esperou Percy desaparecer de vista e em seguida rumou direto para o banheiro de Murta Que Geme. N�o conseguindo entender por que Rony e Hermione estariam l� de novo e, depois de se certificar que nem Filch nem outros monitores andavam por ali, abriu a porta e ouviu vozes que vinham de um boxe trancado.
� Sou eu � disse, fechando a porta. Ouviu um estr�pito, �gua se espalhando e uma exclama��o no interior de um boxe e vislumbrou os olhos de Mione espiando pelo buraco da fechadura.
� Harry Voc� nos deu um baita susto, entre, como est� o seu bra�o?
� �timo � respondeu Harry espremendo-se dentro do boxe. Havia um velho caldeir�o encarrapitado em cima do vaso e uma s�rie de estalos informaram a Harry que os amigos tinham acendido um fogo embaixo. Conjurar fogos port�teis, � prova de �gua, era uma especialidade de Hermione.
� Pretend�amos ir ao seu encontro, mas decidimos come�ar a Po��o Polissuco � explicou Rony enquanto Harry, com dificuldade, tornava a trancar o boxe.
� Decidimos que este era o lugar mais seguro para escond�-la.
Harry come�ou a contar aos dois o que acontecera com Colin, mas Hermione o interrompeu.
� J� sabemos, ouvimos a Prof�. McGonagall contar ao Prof�. Flitwick hoje de manh�.
Foi por isso que decidimos come�ar...
� Quanto mais cedo a gente obtiver uma confiss�o de Draco, melhor � rosnou Rony. � Sabem o que � que eu penso? Ele estava t�o furioso depois�do jogo de Quadribol, que descontou no Colin.
� Mas h� outra coisa � disse Harry, observando Hermione picar feixes de sanguin�rias e jog�-los na po��o. � Dobby veio me visitar no meio da noite.
Rony e Hermione ergueram a cabe�a, espantados. Harry contou tudo que Dobby dissera � ou deixara de contar a ele.
Os dois escutaram boquiabertos.
� A C�mara Secreta j� foi aberta antes? � exclamou Hermione.
� Isso esclarece tudo � disse Rony em tom triunfante. � L�cio Malfoy deve ter aberto a C�mara quando esteve aqui na escola e agora ensinou ao nosso querido Draco como fazer o mesmo. � �bvio. Mas eu bem gostaria que Dobby tivesse lhe dito que tipo de monstro tem l� dentro. Quero saber como � que ningu�m reparou nele rondando a escola.
� Talvez ele consiga ficar invis�vel � disse Hermione, empurrando as sanguessugas para o fundo do caldeir�o. � Ou talvez possa se disfar�ar, fingir que � uma armadura ou uma coisa qualquer, j� li a respeito de vampiros-camale�es...
� Voc� l� demais, Hermione � disse Rony, despejando os hemer�bios mortos por cima das sanguessugas.
Amassou o saco vazio e olhou para Harry.
� Ent�o o Dobby impediu a gente de pegar o trem e quebrou o seu bra�o... -Ele abanou a cabe�a. � Sabe de uma coisa, Harry? Se ele n�o parar de tentar salvar a sua vida vai acabar matando voc�.
A noticia de que Colin Creevey fora atacado e agora se achava deitado como morto na ala hospitalar espalhou-se pela escola inteira at� a manh� de domingo. A atmosfera carregou-se de boatos e suspeitas. Os alunos do primeiro ano agora andavam pelo castelo em grupos unidos, como se tivessem medo de ser atacados, caso se aventurassem a andar sozinhos.
Gina Weasley, que se sentava ao lado de Colin Creevey na aula de Feiti�os, parecia atormentada, mas Harry achou que era porque Fred e Jorge estavam tentando anim�-la do jeito errado. Revezavam-se para assalt�-la pelas costas, cheios de p�los e p�stulas. S� pararam quando Percy, apopl�tico, amea�ou escrever a Sra. Weasley e contar que Gina estava tendo pesadelos.
Nesse meio tempo, escondido dos professores, assolava a escola um pr�spero com�rcio de talism�s, amuletos e outras mandingas protetoras. Neville Longbottom j� comprara um cebol�o verde e malcheiroso, um cristal pontiagudo e p�rpura e um rabo podre de lagarto, quando os outros alunos da Grifin�ria lhe lembraram que ele n�o corria perigo; era puro sangue e, portanto, uma v�tima pouco prov�vel.
� Eles foram atr�s de Filch primeiro � disse Neville, seu rosto redondo cheio de medo. � E todo mundo sabe que sou quase uma aberra��o.
Na segunda semana de dezembro a Prof�. McGonagall veio, como sempre fazia, anotar os nomes dos alunos que continuariam na escola durante as festas de Natal. Harry, Rony e Hermione assinaram a lista; ouviram dizer que Draco ia ficar tamb�m, o que acharam muito suspeito. As festas seriam o momento perfeito para usar a Po��o Polissuco e tentar extrair do garoto uma confiss�o.
Infelizmente a po��o ainda estava na metade. Precisavam do chifre de bic�rnio e da pele de araramb�ia, e o �nico lugar onde poderiam obt�-los era no estoque particular de Snape. Pessoalmente Harry achava que era prefer�vel encarar o monstro lend�rio da Sonserina a deixar Snape apanh�-lo assaltando sua sala.
� O que precisamos � disse Hermione, eficiente, quando se aproximava a aula dupla de Po��es na quinta-feira � tarde � � de uma distra��o. Ent�o um de n�s pode entrar escondido na sala de Snape e tirar o que for preciso.
Harry e Rony olharam para ela, nervosos.
� Acho que � melhor eu fazer o roubo propriamente dito � continuou Hermione num tom trivial. � Voc�s dois v�o ser expulsos caso se metam em mais uma encrenca, mas eu tenho a ficha limpa. Ent�o s� o que t�m a fazer � causar bastante confus�o para distrair Snape por uns cinco minutos.
Harry deu um leve sorriso. Provocar confus�o na aula de Po��es de Snape era quase t�o seguro quando espetar o olho de um drag�o adormecido.
A aula de Po��es era dada em uma das masmorras maiores. A de quinta-feira � tarde transcorreu como sempre. Vinte caldeir�es fumegavam entre as carteiras de madeira, sobre as quais havia balan�as e frascos de ingredientes. Snape andava por entre os vapores, fazendo coment�rios mordazes sobre o trabalho dos alunos da Grifin�ria, enquanto os da Sonserina davam risadinhas de aprova��o. Draco Malfoy, que era o aluno favorito de Snape, n�o parava de mostrar olhos de peixe baiacu para Rony e Harry, que sabiam que se revidassem receberiam uma deten��o mais r�pido do que conseguiriam dizer "injusti�a".
A Solu��o para Fazer Inchar que Harry preparou ficou muito rala, mas ele tinha coisas mais importantes em que pensar. Estava � espera do sinal de Hermione, e mal ouviu quando Snape parou para ca�oar do ponto de sua po��o. Quando Snape deu as costas para implicar com Neville, Hermione olhou para Harry e fez um aceno com a cabe�a.
Harry se abaixou depressa por tr�s do pr�prio caldeir�o, tirou do bolso um dos fogos Filibusteiro de Fred e deu-lhe um leve toque com a varinha. O fogo come�ou a borbulhar e a queimar. Sabendo que s� dispunha de segundos, Harry se levantou, mirou e atirou o fogo no ar; ele caiu dentro do caldeir�o de Boyle.
A po��o de Goyle explodiu, chovendo sobre a classe inteira. Os alunos gritaram quando os borrifos da Solu��o para Fazer Inchar caiu neles. Draco ficou com a cara coberta de po��o e seu nariz come�ou a inchar como um bal�o; Goyle saiu esbarrando nas coisas, as m�os cobrindo os olhos, que tinham inchado at� atingir o tamanho de um prato.  Snape tentava restaurar a calma e descobrir o que estava acontecendo. Na confus�o, Harry viu Hermione entrar discretamente na sala do professor.
� Sil�ncio! SIL�NCIO! � rugiu Snape. � Os que receberam borrifos, venham aqui tomar uma Po��o para Fazer Desinchar, quando eu descobrir quem foi o autor disso...
Harry procurou n�o rir ao ver Draco correr para frente da sala, a cabe�a pendurada por causa do peso de um nariz do tamanho de um mel�o. Enquanto metade da classe se arrastava at� a mesa de Snape, alguns sobrecarregados com bra�os grossos como bast�es, outros com os l�bios t�o inchados que n�o conseguiam falar, Harry viu Hermione tornar a entrar, sorrateiramente, na masmorra, com a frente das vestes estufada.
Depois que todos tomaram uma dose do ant�doto e seus incha�os murcharam, Snape foi at� o caldeir�o de Goyle e pescou os restos retorcidos e negros do fogo de artif�cio. Fez-se um sil�ncio repentino.
� Se eu um dia descobrir quem jogou isso � sussurrou Snape � vou garantir que esse aluno seja expulso.
Harry tomou o cuidado de fazer cara de espanto. Snape olhava diretamente para ele, e a sineta que tocou dez minutos depois n�o poderia ter sido mais bem-vinda.
� Ele sabia que fui eu � disse Harry a Rony e a Hermione enquanto corriam para o banheiro da Murta Que Geme. � Eu senti.
Hermione jogou os novos ingredientes no caldeir�o e come�ou a mistur�-los febrilmente.
� Vai ficar pronto daqui a duas semanas � anunciou alegremente.
� Snape n�o pode provar que foi voc� � disse Rony tranq�ilizando Harry. � Que � que ele pode fazer?
� Conhecendo Snape, uma maldade � disse Harry, enquanto a po��o espumava e borbulhava.
Uma semana mais tarde, Harry, Rony e Hermione iam atravessando o sagu�o de entrada quando viram uma pequena aglomera��o em torno do quadro de avisos, os alunos liam um pergaminho que acabara de ser afixado. Simas Finnigan e Dino Thomas fizeram sinal para eles se aproximarem, com ar excitado.
� V�o reabrir o Clube dos Duelos! � disse Simas. � A primeira reuni�o � hoje � noite!  Eu n�o me importaria de tomar aulas de duelo; poderiam vir a calhar um dia desses...
� Qu�, voc� acha que o monstro da Sonserina sabe duelar? � perguntou Rony, mas tamb�m leu o aviso com interesse.
� Poderia vir a calhar � disse ele a Harry e Hermione quando entraram para jantar. � Vamos?
Harry e Hermione foram a favor do clube. Assim, �s oito horas daquela noite os tr�s voltaram correndo para o Sal�o Principal. As longas mesas de jantar tinham desaparecido e surgira um palco dourado encostado a uma parede, cuja ilumina��o era produzida por milhares de velas que flutuavam no alto. O teto voltara a ser um veludo negro, e a maior parte da escola parecia estar reunida sob ele, as varinhas na m�o e as caras animadas.
� Quem ser� que vai ser o professor? � disse Hermione enquanto se reuniam aos alunos que tagarelavam sem parar. � Algu�m me disse que Flitwick foi campe�o de duelos quando era mo�o, talvez seja ele.
� Desde que n�o seja... � Harry come�ou, mas terminou com um gemido:
Gilderoy Lockhart vinha entrando no palco, resplandecente em suas vestes ameixa-escuras, acompanhado por ningu�m mais do que Snape, em sua roupa preta habitual.  Lockhart acenou um bra�o pedindo sil�ncio e disse em voz alta:
� Aproximem-se, aproximem-se! Todos est�o me vendo? Todos est�o me ouvindo? Excelente! O Prof�. Dumbledore me deu permiss�o para come�ar um pequeno clube de duelos, para trein�-los, caso um dia precisem se defender, como eu pr�prio j� precisei fazer em in�meras ocasi�es, quem quiser conhecer os detalhes, leia os livros que publiquei.
� Deixem-me apresentar a voc�s o meu assistente, Prof�. Snape �, disse Lockhart, dando um largo sorriso. � Ele me conta que sabe alguma coisa de duelos e desportivamente concordou em me ajudar a fazer uma breve demonstra��o antes de come�armos. Agora, n�o quero que nenhum de voc�s se preocupe, continuar�o a ter o seu professor de Po��es mesmo depois de eu o derrotar, n�o precisam ter medo!�
� N�o seria bom se os dois acabassem um com o outro? � cochichou Rony ao ouvido de Harry.
O l�bio superior de Snape crispou-se. Harry ficou imaginando por que Lockhart continuava a sorrir; se Snape estivesse olhando para ele daquele jeito, Harry j� estaria correndo o mais depressa que pudesse na dire��o oposta.
Lockhart e Snape se viraram um para o outro e se cumprimentaram com uma rever�ncia; pelo menos, Lockhart cumprimentou com muitos meneios, enquanto Snape curvou a cabe�a, irritado. Em seguida, os dois ergueram as varinhas como se empunhassem espadas.
� Como voc�s v�em, estamos segurando nossas varinhas na posi��o de combate normalmente adotada � disse Lockhart aos alunos em sil�ncio � Quando contarmos tr�s, lan�aremos os primeiros feiti�os. Nenhum de n�s est� pretendendo matar, � claro.
� Eu n�o teria certeza disso � murmurou Harry, observando Snape arreganhar os dentes.
� Um... Dois... Tr�s...
Os dois ergueram as varinhas acima da cabe�a e as apontaram para o oponente; Snape exclamou:
� Expelliarmus! � Viram um lampejo vermelho ofuscante e Lockhart foi lan�ado para o alto: voou para os fundos do palco, colidiu com a parede, foi escorregando e acabou estatelado no ch�o.
Draco e outros alunos da Sonserina deram vivas. Hermione dan�ava nas pontas dos dedos para ver melhor.
� Voc�s acham que ele est� bem? � guinchou tampando a boca com a m�o.
� Quem se importa? � responderam Harry e Rony juntos.
Lockhart foi-se levantando tonto. Seu chap�u ca�ra e os cabelos ondulados estavam em p�.
� Muito bem! � disse, cambaleando de volta ao palco. � Isto foi um Feiti�o de Desarmamento, como viram, perdi minha varinha, ah, muito obrigado, Srta. Brown... Sim, foi uma excelente demonstra��o, Prof�. Snape, mas se n�o se importa que eu diga, ficou muito �bvio o que o senhor ia fazer, se eu tivesse querido det�-lo teria sido muito f�cil, mas achei mais instrutivo deix�-los ver...
Snape tinha uma express�o assassina no rosto. Lockhart possivelmente notou porque acrescentou:
� Chega de demonstra��es! Vou me reunir a voc�s agora e separ�-los aos pares.  Prof. Snape, se o senhor quiser me ajudar...
Os dois caminharam entre os alunos, formando os pares.
Lockhart juntou Neville com Justino Finch-Fletchley, mas Snape chegou at� Harry e Rony primeiro.
� Acho que est� na hora de separar a equipe dos sonhos � ca�oou. � Weasley voc� luta com Finnigan.  Potter...
Harry virou-se automaticamente para Hermione.
� Acho que n�o � disse Snape, sorrindo estranhamente. � Sr. Malfoy, venha c�.  Vamos ver o que o senhor faz com o famoso Potter. E a senhorita, pode fazer par com a Srta. Bulstrode.
Draco se aproximou com arrog�ncia, sorrindo. Atr�s dele caminhava uma garota da Sonserina, que lembrava a Harry uma foto que vira em F�rias com Bruxas Malvadas.  Era grande e atarracada, e seu queixo pesado se projetava para a frente, agressivamente.
Hermione lhe deu um breve sorriso que ela n�o retribuiu.
� De frente para os seus parceiros! � mandou Lockhart, de volta ao tablado. � E fa�am uma rever�ncia!
Harry e Draco mal inclinaram as cabe�as, e n�o tiraram os olhos um do outro.
� Preparar as varinhas! � gritou Lockhart. � Quando eu contar tr�s, lancem seus feiti�os para desarmar os oponentes, apenas para desarm�-los, n�o queremos acidentes, um... Dois... Tr�s...
Harry ergueu a varinha bem alto, mas Draco come�ara no "dois" e seu feiti�o atingiu Harry com tanta for�a que parecia que ele levara uma frigideirada na cabe�a. Ele cambaleou, mas tudo parecia estar em ordem, e, sem perder mais tempo, Harry apontou a varinha direto para Draco e gritou:
� Rictusempra!
Um jorro de luz prateada atingiu Draco no est�mago e ele se dobrou, com dificuldade de respirar.
� Eu disse desarmar apenas! � gritou Lockhart assustado por cima das cabe�as dos combatentes, quando Draco caiu de joelhos; Harry o golpeara com o Feiti�o das C�cegas, e ele mal conseguia se mexer de tanto rir. Harry recuou, com a vaga impress�o de que seria pouco esportivo enfeiti�ar Draco ainda no ch�o, mas isso foi um erro; tomando f�lego, Draco apontou a varinha para os joelhos de Harry, e disse engasgado:
� Tarantallegra! �, e no segundo seguinte as pernas de Harry come�aram a sacudir descontroladas numa esp�cie de marcha r�pida.
� Parem! Parem! � berrou Lockhart, mas Snape assumiu o controle.
� Finite Incantatem! � gritou ele; os p�s de Harry pararam de dan�ar. Draco parou de rir e eles puderam erguer a cabe�a.
Uma n�voa de fuma�a verde pairava sobre a cena. Neville e Justino estavam ca�dos no ch�o, ofegantes; Rony estava segurando um Simas branco feito papel, pedindo desculpas pelo que sua varinha quebrada pudesse ter feito; mas Hermione e Em�lia Bulstrode ainda lutavam; Emilia dera uma chave de cabe�a em Hermione, que choramingava de dor; as varinhas das duas jaziam esquecidas no ch�o.
Harry deu um salto � frente e fez Emilia soltar Hermione. Foi dif�cil: a garota era muito maior do que ele.
� Ai, ai-ai, ai-ai � exclamou Lockhart, passando por entre os duelistas, para ver o resultado das lutas. � Levante, Macmillan... Cuidado, Miss Fawcett...
Aperte com for�a, vai parar de sangrar em um segundo, Boot...
� Acho que � melhor ensinar aos senhores como se bloqueia feiti�os hostis �, disse Lockhart, parando no meio sal�o. Ele olhou para Snape, cujos olhos negros brilhavam, e desviou r�pido o seu olhar. � Vamos arranjar um par volunt�rio, Longbottom e Finch-Fletchley, que tal voc�s...
� Uma m� id�ia, Prof�. Lockhart � disse Snape, deslizando at� ele como um enorme morcego mal�volo. � Longbottom causa devasta��o at� com o feiti�o mais simples. Vamos ter que mandar o que sobrar de Finch-Fletchley para a ala hospitalar em uma caixa de f�sforos. � O rosto redondo e rosado de Neviile ficou ainda mais rosado. � Que tal Malfoy e Potter? � sugeriu Snape com um sorriso enviesado.
� �tima id�ia! � disse Lockhart, fazendo um gesto para Harry e Draco irem para o meio do sal�o, enquanto os demais alunos se afastavam para lhes dar espa�o.
� Agora, Harry � disse Lockhart. � Quando Draco apontar a varinha para voc�, voc� faz isto.
Ele ergueu a pr�pria varinha, tentou um complicado floreio e deixou-a cair. Snape abriu um sorriso quando Lockhart a apanhou depressa, dizendo:
� Epa, minha varinha est� um tanto excitada demais...
Snape aproximou-se de Draco, curvou-se e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. O garoto riu tamb�m. Harry ergueu os olhos, nervoso, para Lockhart e disse:
� Professor, podia me mostrar outra vez como se bloqueia?
� Apavorado? � murmurou Draco, falando baixo para Lockhart n�o poder ouvi-lo.
� Querias! � respondeu harry pelo canto da boca.
Lockhart deu uma palmada bem-humorada no ombro de Harry.
� Fa�a exatamente como fiz, Harry!
� O qu�, deixar cair a varinha?
Mas Lockhart n�o estava mais escutando.
� Tr�s... Dois... Um... Agora! � gritou ele.
Draco ergueu a varinha depressa e berrou:
� Serpensortia!
A ponta de sua varinha explodiu. Harry observou, perplexo, uma comprida cobra preta se materializar, cair pesadamente no ch�o entre os dois e se erguer, pronta para atacar. Os alunos gritaram recuando rapidamente, abrindo espa�o.
� N�o se mexa, Potter � disse Snape tranquilamente, sentindo vis�vel prazer de ver Harry parado im�vel, cara a cara com a cobra irritada. � Vou dar um fim nela...
� Permita-me! � gritou Lockhart. E brandiu a varinha para a cobra, ao que se ouviu um grande baque; a cobra, em lugar de desaparecer, voou tr�s metros no ar e tornou a cair no ch�o com um estrondo. Enraivecida, sibilando furiosamente, ela deslizou direto para Justino Finch-Fletchley e se levantou de novo, as presas expostas, armada para o bote.
Harry n�o teve certeza do que o fez agir assim. Nem ao menos teve consci�ncia de decidir fazer o que fez. A �nica coisa que soube foi que suas pernas o impeliram para frente como se ele estivesse sobre rodinhas e que gritou tolamente para a cobra "Deixe-o em paz!" E milagrosamente � inexplicavelmente � a cobra desabou no ch�o, d�cil como uma mangueira grossa e preta de jardim, seus olhos agora em Harry. Ele sentiu o medo dissolver-se. Sabia que a cobra n�o atacaria ningu�m agora, embora n�o pudesse explicar como o sabia.
Harry olhou para Justino, sorrindo, esperando o colega parecer aliviado, intrigado ou at� grato,� mas certamente n�o zangado nem apavorado.
� De que � que voc� acha que est� brincando? � gritou, e antes que Harry pudesse responder alguma coisa, Justino virou-lhe as costas e saiu do sal�o enfurecido.
Snape se adiantou, acenou a varinha e a cobra desapareceu com uma pequena baforada de fuma�a preta. Snape, tamb�m, olhou Harry de modo inesperado: era um olhar astuto e calculista e Harry n�o gostou. Teve tamb�m uma vaga consci�ncia dos cochichos sinistros que percorriam o sal�o. Ent�o sentiu algu�m pux�-lo pelas vestes.
� Vamos � disse a voz de Rony ao seu ouvido. � Mexa-se, vamos...
Rony guiou-o para fora do sal�o, Hermione corria para acompanh�-los. Quando atravessaram o portal, as pessoas de cada lado recuaram como se tivessem medo de apanhar uma doen�a. Harry n�o tinha a menor id�ia do que estava acontecendo, e nem Rony nem Hermione explicaram nada at� terem arrastado o amigo at� a sala comunal da Grifin�ria, naquele momento vazia. Ent�o Rony empurrou Harry para uma poltrona e disse:
� Voc� � um ofidioglota. Por que n�o nos contou?
� Eu sou o qu�? � perguntou Harry.
� Um ofidioglota! � disse Rony. � Voc� � capaz de falar com as cobras!
� Eu sei. Quero dizer, � a segunda vez que fa�o isso. Uma vez no zool�gico a�ulei, por acaso, uma jib�ia contra o meu primo Duda, uma longa hist�ria... Ela estava me contando que nunca tinha estado no Brasil e eu meio que a soltei sem querer, isso foi antes de saber que era bruxo. 
� Uma jib�ia contou a voc� que nunca tinha ido ao Brasil? � repetiu Rony baixinho.
� E da�? Aposto que um monte de gente aqui pode fazer isso.
� Ah, n�o. De jeito nenhum. Isto n�o � um dom muito comum.  Harry, isto n�o � legal.
� O que n�o � legal? � disse Harry come�ando a ficar com muita raiva. � Qual � o problema com todo mundo? Escuta aqui, se eu n�o tivesse dito �quela cobra para n�o atacar Justino...
� Ah, ent�o foi isso que voc� disse?
� Que quer dizer com isso? Voc�s estavam l�, voc�s me ouviram...
� Ouvi voc� falar esquisito � disse Rony. � L�ngua de cobra. Voc� podia ter dito qualquer coisa, n�o admira que o Justino tenha entrado em p�nico, parecia que voc� estava convencendo a cobra a fazer alguma coisa, deu arrepios, sabe...
Harry ficou de boca aberta.
� Eu falei uma l�ngua diferente? Mas, eu n�o percebi, como posso falar uma l�ngua sem saber que posso fal�-la?
Rony sacudiu a cabe�a. Tanto ele quanto Hermione faziam cara de enterro. Harry n�o conseguia entender o que havia de t�o horr�vel.
� Querem me dizer o que h� de errado em impedir uma enorme cobra de arrancar a cabe�a do Justino? Que diferen�a faz como foi que eu fiz isso, desde que o Justino n�o precise se associar ao clube dos Ca�adores Sem Cabe�a?
� Faz diferen�a, sim � disse Hermione, falando, afinal, num tom abafado �, porque a capacidade de falar com cobras foi o dom que tornou Salazar Slytherin famoso. � por isso que o s�mbolo da Sonserina � uma serpente.
O queixo de Harry caiu.
� Exatamente � confirmou Rony. � E agora a escola inteira vai pensar que voc� � o tetra-tetra-tetra-tetra-neto ou coisa parecida...
� Mas eu n�o sou � disse Harry, sentindo um p�nico que n�o conseguia explicar.
� Voc� vai achar dif�cil provar isso � falou Hermione. � Ele viveu h� mil anos; pelo que se sabe, voc� podia muito bem ser descendente dele.
Harry ficou horas acordado �quela noite. Por uma fresta no cortinado em volta da cama de colunas ele observou a neve come�ar a cair em floquinhos diante da janela da torre e ficou imaginando...
Imaginando...
Ser� que podia ser descendente de Salazar Slytherin? Afinal n�o sabia nada sobre a fam�lia do seu pai. Os Dursley sempre o proibiram de fazer perguntas sobre parentes bruxos. Silenciosamente, Harry tentou dizer alguma coisa na l�ngua das cobras. As palavras n�o sa�ram. Parecia que tinha de estar cara a cara com uma cobra para isso.
Mas eu estou na Grifin�ria, pensou Harry. O Chap�u Seletor n�o teria me posto aqui se eu tivesse sangue de Slytherin...
Ah, disse uma vozinha perversa em seu c�rebro, mas o Chap�u Seletor queria p�r voc� na Sonserina, n�o se lembra?
Harry se virou na cama. Encontraria Justino no dia seguinte na aula de Herbologia, e explicaria que detivera a cobra e n�o a instigara, o que (pensou com raiva, socando o travesseiro) qualquer idiota teria percebido.
Mas na manh� seguinte, a neve que come�ara a cair de noite se transformara numa nevasca t�o densa que a �ltima aula de Herbolog�a do per�odo letivo foi cancelada.
A Prof�. Sprout queria p�r meias e echarpes nas mandr�goras, uma opera��o melindrosa que ela n�o confiaria a mais ningu�m, agora que era t�o importante as mandr�goras crescerem depressa para ressuscitar Madame
Nor-r-ra e Colin Creevey.
Harry preocupava-se com isso sentado junto � lareira na sala comunal da Grifin�ria, enquanto Rony e Hermione aproveitavam o tempo para jogar uma partida de xadrez de bruxo.
� Pelo amor de Deus, Harry � disse Hermione exasperada, quando um bispo de Rony desmontou um cavalo dela e o arrastou para fora do tabuleiro. � V� procurar o Justino se isso � t�o importante para voc�.
Ent�o Harry se levantou e saiu pelo buraco do retrato, imaginando onde Justino poderia estar.
O castelo estava mais escuro do que normalmente era durante o dia, por causa da neve grossa e cinzenta que descia rodopiando pelo lado de fora das janelas. Transido de frio, Harry passou por salas onde havia aulas, captando vislumbres do que acontecia l� dentro. A Prof�. McGonagall gritava com algu�m que, pelo que parecia, tinha transformado o colega em um texugo. Harry passou adiante, resistindo ao impulso de espiar para dentro e, lembrando que Justino talvez estivesse usando o tempo livre para tirar o atraso em alguma mat�ria, decidiu verificar primeiro na biblioteca.
V�rios alunos da Lufa-Lufa que deviam estar na aula de Herbologia se achavam de fato sentados no fundo da biblioteca, mas n�o pareciam estar trabalhando.
Entre as longas fileiras de estantes, Harry podia ver que suas cabe�as estavam muito juntas e que aparentemente mantinham uma conversa absorvente. N�o conseguia ver se Justino estava no grupo. Foi andando em dire��o a eles e, quando come�ou a ouvir alguma coisa do que diziam, parou para escutar melhor, escondido na se��o da Invisibilidade.
� Ent�o, em todo o caso � falava um menino forte �, eu disse ao Justino para se esconder no nosso dormit�rio. Quero dizer, se Potter o escolheu para sua pr�xima v�tima, � melhor ele ficar pouco vis�vel por uns tempos.
� � claro que o Justino estava esperando uma coisa dessas acontecer desde que deixou escapar para o Potter que vinha de fam�lia trouxa. Justino chegou at� a contar que os pais tinham feito reserva para ele em Eton. Isto n�o � o tipo de coisa que se fale assim, com o herdeiro de Slytherin � solta, n�o � mesmo?
� Ent�o decididamente voc� acha que � o Potter, Ernie? � perguntou, ansiosa, uma menina loura de marias-chiquinhas.
� Ana � disse o garoto forte, solenemente �, ele � um ofidioglota. Todo mundo sabe que isso � a marca do bruxo das trevas. Voc� j� ouviu falar de um bruxo decente que soubesse falar com cobras? Chamavam o pr�prio Slytherin de l�ngua de serpente.
Seguiram-se muitos murm�rios depois disso e Ernie continuou:
� Lembram o que estava escrito na parede? Inimigos do herdeiro, cuidado. Potter teve um problema com o Filch. Logo em seguida a gata de Filch � atacada.
Aquele aluno do primeiro ano, o Creevey, estava aborrecendo Potter no jogo de Quadribol, tirando fotos dele estirado na lama. Logo em seguida, Creevey foi atacado.
� Mas ele sempre pareceu t�o gentil � disse Ana em d�vida �, e foi quem fez Voc�-Sabe-Quem desaparecer. Ele n�o pode ser t�o ruim assim, pode?
Ernie baixou a voz, misterioso, os alunos da Lufa-Lufa se curvaram mais para frente, e Harry se aproximou mais para poder captar as palavras de Ernie.
� Ningu�m sabe como foi que ele sobreviveu �quele ataque do Voc�-Sabe-Quem, quero dizer, ele era s� um beb� quando a coisa toda aconteceu. Devia ter explodido em pedacinhos. S� um mago das trevas realmente poderoso poderia ter sobrevivido a um ataque daqueles. � E baixando a voz at� quase um sussurro, continuou: � Vai ver � por isso que Voc�-Sabe-Quem queria mat�-lo para come�ar. N�o queria outro bruxo das trevas concorrendo com ele. Que outros poderes ser� que o Potter anda escondendo?
Harry n�o conseguiu ag�entar mais. Pigarreando alto, saiu de tr�s das estantes. Se n�o estivesse t�o zangado, teria achado engra�ada a cena que o aguardava: cada aluno da Lufa-Lufa parecia ter se petrificado s� dev�-lo, e a cor foi se esvaindo do rosto de Ernie.
� Ol� � disse Harry. � Estou procurando o Justino Finch-Fletchley.
Os receios dos garotos da Lufa-Lufa claramente se confirmaram. Todos olharam cheios de medo para Ernie.
� Que � que voc� quer com ele? � perguntou Ernie com a voz tr�mula.
� Eu queria dizer a ele o que realmente aconteceu com aquela cobra no Clube dos Duelos.
Ernie mordeu os l�bios brancos, tomou f�lego e disse:
� N�s est�vamos todos l�. Vimos o que aconteceu.
� Ent�o voc�s repararam que depois que falei com a cobra ela recuou? � perguntou Harry.
� S� o que eu vi � disse Ernie, insistente, embora tremesse enquanto falava � foi voc� falando em l�ngua de cobra e a�ulando o bicho para cima de Justino.
� Eu n�o a�ulei a cobra para cima dele! � protestou Harry a voz tr�mula de raiva. � A cobra nem encostou nele!
� Por pouco. E caso voc� esteja tendo novas id�ias � acrescentou depressa �, � melhor eu inform�-lo que pode investigar minha fam�lia por nove gera��es de bruxos, e que o meu sangue � t�o puro quanto o de qualquer outro, portanto...
� N�o ligo a m�nima para o tipo de sangue que voc� tem! � tornou Harry furioso. � Por que eu iria querer atacar pessoas que nasceram trouxas?
� Ouvi falar que voc� detesta os trouxas com quem mora � disse Ernie na mesma hora.
� � imposs�vel morar com os Dursley e n�o detest�-los. Eu gostaria de ver voc� no meu lugar.
E dando meia-volta, saiu furioso da biblioteca, ganhando um olhar de reprova��o de Madame Pince, que estava lustrando a capa dourada de um grande livro de feiti�os.
Harry saiu pelo corredor �s tontas, mal reparando aonde ia, tal era a sua f�ria. O resultado foi que bateu em alguma coisa muito grande e s�lida, que o derrubou no ch�o.
� Ah, ol�, Hagrid � disse erguendo a cabe�a.
O rosto de Hagrid estava inteiramente oculto pelo gorro de l� esbranqui�ado de neve, mas n�o podia ser mais ningu�m pois ele praticamente ocupava o corredor com aquele seu casac�o de pele de toupeira. Um galo morto pendia de suas enorme m�os enluvadas.
� Tudo bem, Harry? � perguntou ele, empurrando o gorro para tr�s para poder falar. � Voc� n�o est� em aula?
� Cancelada � disse Harry, levantando-se. � Que � que voc� est� fazendo aqui?
Hagrid ergueu o galo inerte.
� � o segundo que matam neste per�odo letivo � explicou. � Ou � raposa ou bicho-pap�o e preciso permiss�o do diretor para lan�ar um feiti�o em volta do galinheiro.
Por debaixo das sobrancelhas grossas e salpicadas de neve, ele examinou Harry com mais aten��o.
� Voc� tem certeza de que est� bem? Est� cheio de calor e zanga...
Harry n�o conseguiu se for�ar a repetir o que Ernie e o resto dos garotos da Lufa-Lufa tinham andado dizendo.
� N�o � nada. � melhor eu ir andando, Hagrid, a pr�xima aula � Transforma��es e tenho que apanhar meus livros.
Ele se afastou, a cabe�a inchada com o que Ernie dissera a seu respeito.
Harry subiu a escada batendo os p�s e entrou em outro corredor que estava particularmente escuro; os archotes tinham sido apagados por uma corrente de ar forte e gelada que entrava por uma vidra�a solta. Estava na metade do corredor quando caiu estendido em cima de uma coisa que havia no ch�o.
Virou-se para ver melhor em cima do que ca�ra e sentiu o est�mago derreter.
Justino Finch-Fletchley jazia no ch�o, duro e frio, uma express�o de choque fixa no rosto, os olhos, sem vis�o, voltados para o teto. E n�o era tudo. Ao lado dele outro vulto, a vis�o mais estranha que Harry j� encontrara.
Era Nick Quase Sem Cabe�a, que agora deixara de ser branco-p�rola e transparente e se tornara preto e fumegante, e que estava im�vel na horizontal, a mais de um metro e meio do ch�o. Sua cabe�a estava quase inteiramente solta, e seu rosto tinha uma express�o de choque id�ntica � de Justino.
Harry ficou em p�, a respira��o r�pida e superficial, o cora��o produzindo uma esp�cie de rufo de tambor em suas costelas. Fora de si, olhou para um lado do corredor deserto e para o outro e viu uma fila de aranhas que se afastava o mais depressa poss�vel dos corpos. Os �nicos sons que ouvia eram as vozes abafadas dos professores nas salas de aula de cada lado.
Poderia correr e ningu�m saberia que estivera ali. Mas n�o podia simplesmente deix�-los ca�dos... Tinha que procurar ajuda.
Algu�m acreditaria que ele n�o tivera nada a ver com aquilo?
Enquanto estava parado, cheio de p�nico, uma porta se abriu com uma batida. Pirra�a o poltergeist saiu em disparada.
� Ora, � o Potter Pirado! � zombou ele, entortando os �culos de Harry ao passar por ele. � Que � que o Potter est� aprontando? Por que � que o Potter est� rondando...
Pirra�a parou no meio de uma cambalhota no ar de cabe�a para baixo, deparou com Justino e Nick Quase Sem Cabe�a. Desvirou-se na mesma hora, encheu os pulm�es de ar e, antes que Harry pudesse impedi-lo, gritou:
� ATAQUE! ATAQUE! MAIS UM ATAQUE! NEM MORTAL NEM FANTASMA EST�O SEGUROS! SALVEM SUAS VIDAS! ATAA�AAQUE!
Bam � bam � bam � porta atr�s de porta se escancarou ao longo do corredor que foi invadido por um mund�o de gente. Durante v�rios minutos, a cena era de tal confus�o que Justino correu o risco de ser esmagado, e as pessoas n�o paravam de passar atrav�s de Nick Quase Sem Cabe�a. Harry se viu imprensado contra a parede enquanto os professores gritavam pedindo calma. A Prof�. McGonagall veio correndo, seguida por seus alunos em sua cola, um dos quais ainda tinha os cabelos listrados de preto e branco. Ela usou a varinha para produzir um alto estampido e restaurar o sil�ncio, e mandou todos de volta para as salas de aula. Nem bem o corredor se esvaziara um pouco quando Ernie, o garoto da Lufa-Lufa chegou, ofegante, � cena.
� Apanhado na cena do crime! � berrou Ernie, o rosto l�vido, apontando dramaticamente para Harry.
� Agora j� chega, Macmillan! � disse a professora r�spida. Pirra�a subia e descia no ar, e agora sorria malvadamente observando a cena; adorava o caos. Enquanto os professores se curvavam sobre Justino e Nick Quase Sem Cabe�a, examinando-os, Pirra�a come�ou a cantar:
� Ah, Potter, podre, veja o que voc� fez.  Matar alunos n�o � nada cort�s...
� J� chega, Pirra�a! � vociferou a Prof�. McGonagall e Pirra�a saiu voando de costas e estirando a l�ngua para Harry.
Justino foi levado para a ala hospitalar pelo Prof�. Flitwick e o Prof�. Sinistra, do departamento de astronomia, mas ningu�m sabia o que fazer com Nick Quase Sem Cabe�a. Por fim, a Prof�. McGonagall conjurou um grande leque de ar, e entregou-o a Ernie com instru��es para abanar Nick Quase Sem Cabe�a at� o andar de cima.
Ernie obedeceu e abanou Nick como se fosse um aerof�lio silencioso. Assim Harry e a professora ficaram a s�s.
� Por aqui, Potter � falou ela.
� Professora � disse Harry depressa �,  eu juro que n�o...
� Isto n�o est� mais em minhas m�os, Potter � interrompeu ela secamente.
Os dois caminharam em sil�ncio, viraram um canto e ela parou diante de uma g�rgula de pedra fe�ssima.
� Gota de lim�o! � disse. Era evidentemente uma senha, porque a g�rgula logo ganhou vida e afastou-se para o lado, ao mesmo tempo que a parede atr�s dela se abria em dois. Mesmo temendo o que o aguardava, Harry n�o p�de deixar de se admirar. Atr�s da parede havia uma escada em caracol que subia suavemente, como uma escada rolante. Nem bem ele e a Prof�. McGonagall pisaram nela, Harry ouviu a parede fazer um barulho seco e se fechar �s costas dos dois. Subiram em c�rculos, cada vez mais altos, at� que por fim, ligeiramente tonto, Harry viu uma porta de carvalho reluzindo � sua frente, com uma aldrava em forma de grifo.
Soube ent�o aonde tinha sido levado. Ali devia ser a resid�ncia de Dumbledore.














CAP�TULO DOZE
A Po��o Polissuco

No alto da escada eles desceram, a Prof�. McGonagall bateu a uma porta que se abriu silenciosamente, e eles entraram. A professora disse a Harry que esperasse e o deixou ali, sozinho.
Harry olhou � volta. Uma coisa era certa: de todas as salas de professores que visitara at� aquele dia, a de Dumbledore era de longe a mais interessante.
Se n�o estivesse apavorado com a imin�ncia de ser expulso da escola, ele teria ficado muito feliz com a oportunidade de examin�-la.
Era uma sala bonita e circular, cheia de ru�dos engra�ados. Havia v�rios instrumentos de prata curiosos sobre mesas de pernas finas, que giravam e soltavam pequenas baforadas de fuma�a. As paredes estavam cobertas de retratos de antigos diretores e diretoras, todos eles cochilavam tranq�ilamente em suas molduras. Havia tamb�m uma enorme escrivaninha de p�s de garra, e, pousado sobre uma prateleira atr�s dela, um chap�u de bruxo surrado e roto � o Chap�u Seletor.
Harry hesitou. Lan�ou um olhar desconfiado �s bruxas e bruxos que dormiam nas paredes. Certamente n�o faria mal se ele apanhasse o chap�u e o experimentasse outra vez? S� para ver.. S� para se certificar de que ele o pusera na casa certa...
Sem fazer barulho, deu a volta � escrivaninha, tirou o chap�u da prateleira e colocou-o devagarinho na cabe�a. Era largo demais e lhe cobriu os olhos, exatamente como acontecera da primeira vez em que o experimentara. Harry ficou olhando a escurid�o dentro do chap�u, � espera. Ent�o uma vozinha disse em seu ouvido "Caraminholas na cabe�a, Harry Potter?�
� Ah, � � murmurou Harry. � Ah, desculpe incomod�-lo, eu queria perguntar...
� Voc� anda se perguntando se o coloquei na casa certa � disse o chap�u inteligente. � Sei... Voc� foi particularmente dif�cil de classificar. Mas mantenho o que disse antes � o cora��o de Harry deu um salto �, voc� teria se dado bem na Sonserina...
O est�mago de Harry afundou. Agarrou a ponta do chap�u e o tirou. Ele pendeu inerte em sua m�o, encardido e desbotado. Harry o devolveu � prateleira, sentindo-se mal.
� Voc� est� enganado � disse em voz alta para o chap�u im�vel e silencioso que n�o se mexeu. Harry recuou, observando-o. Ent�o, um ru�do estranho e sufocado atr�s dele o fez virar.
Afinal n�o estava sozinho. Encarapitado em um poleiro dourado, atr�s da porta, achava-se um p�ssaro de apar�ncia decr�pita que lembrava um peru meio depenado.
Harry o encarou, e o p�ssaro sustentou funestamente o seu olhar, tornando a fazer o mesmo ru�do sufocado. Harry achou que ele parecia muito doente. Seus olhos estavam opacos e, mesmo enquanto Harry o observava, ca�ram mais algumas penas de sua cauda.
Harry estava pensando que s� o que lhe faltava era o p�ssaro de estima��o de Dumbledore morrer, enquanto estavam sozinhos ali na sala, quando o p�ssaro pegou fogo.
Harry gritou chocado e se afastou da mesa. Olhou ansioso em volta para ver se encontrava um copo de �gua em algum lugar, mas n�o viu nenhum; o p�ssaro, entrementes, transformara-se numa bola de fogo; o p�ssaro deu um grito alto e no segundo seguinte n�o restava nada dele, exceto um monte de cinzas fumegantes no ch�o.
A porta da sala se abriu. Dumbledore entrou com o ar muito grave.
� Professor � ofegou Harry. � Seu p�ssaro, eu n�o pude fazer nada, ele simplesmente pegou fogo...
Para surpresa de Harry, Dumbledore sorriu.
� J� n�o era sem tempo. Ele tem andado com uma apar�ncia medonha h� dias; e venho dizendo a ele para se apressar.
E deu uma risadinha ao ver a cara de espanto de Harry.
� Fawkes � uma f�nix, Harry.  As f�nix pegam fogo quando chega a hora de morrer e tornar a renascer das cinzas. Olhe ele...
Harry olhou em tempo de ver um p�ssaro min�sculo, amarrotado, rec�m-nascido botar a cabe�a para fora das cinzas. Era t�o feio quanto o anterior.
� � uma pena que voc� a tenha visto no dia em que queimou � disse Dumbledore, sentando-se na escrivaninha. � Na realidade ela � muito bonita quase o tempo todo, tem uma plumagem vermelha e dourada. Criaturas fascinantes, as f�nix.  S�o capazes de sustentar cargas pesad�ssimas, suas l�grimas t�m poderes curativos e s�o animais de estima��o muit�ssimo fi�is.
No choque de ver Fawkes pegando fogo, Harry se esquecera por que estava ali, mas tudo voltou � lembran�a quando Dumbledore se acomodou no cadeir�o � mesa e o encarou com aqueles seus olhos azul-claros e penetrantes.
Mas antes que Dumbledore pudesse dizer outra palavra, a porta da sala se escancarou com estrondo, e Hagrid entrou, um olhar selvagem nos olhos, o gorro encarrapitado no alto da cabe�a desgrenhada e o galo morto ainda balan�ando em uma das m�os.
� N�o foi Harry Prof�. Dumbledore! � disse Hagrid pressuroso. � Eu estava falando com ele segundos antes daquele garoto ser encontrado, ele nunca teria tido tempo, meu senhor..
Dumbledore tentou dizer alguma coisa, mas Hagrid continuou falando, sacudindo o galo, agitado, fazendo voar penas para todo o lado.
� ... N�o pode ter sido ele, eu juro at� na frente do Ministro da Magia se precisar..
� Hagrid, eu...
� ... O senhor pegou o garoto errado, meu senhor, eu sei que Harry jamais...
� Hagrid. � disse Dumbledore em voz alta. � Eu n�o acho que Harry tenha atacado essas pessoas.
� Ah � acalmou-se Hagrid, o galo pendurado im�vel a um lado. � Certo. Ent�o vou esperar l� fora, diretor.
E saiu num repel�o, parecendo constrangido.
� O senhor n�o acha que fui eu, professor? � repetiu Harry esperan�oso enquanto Dumbledore espanava as penas de galo de cima de sua escrivaninha.
� N�o, Harry, n�o acho. � seu rosto novamente grave. � Mas ainda assim quero falar com voc�.
Harry esperou nervoso enquanto Dumbledore o estudava, as pontas dos seus longos dedos juntas.
� Preciso lhe perguntar, Harry, se tem alguma coisa que voc� gostaria de me perguntar � disse gentilmente. � Qualquer coisa.
Harry n�o soube o que dizer. Pensou em Draco gritando:
"Voc�s v�o ser os primeiros, seus sangues-ruins!" e na Po��o de Polissuco que estava cozinhando no banheiro da Murta Que Geme. Depois pensou na voz sem corpo que ouvira duas vezes e se lembrou do que Rony comentara: "Ouvir vozes que ningu�m mais ouve n�o � bom sinal, nem mesmo no mundo dos bruxos." Pensou ainda no que todos andavam dizendo dele, e seu pavor crescente era que estivesse de alguma forma ligado a Salazar Slytherin...
� N�o � disse Harry. � N�o tem nada, n�o, professor..
O ataque duplo a Justino e a Nick Quase Sem Cabe�a transformou o que at� ali fora nervosismo em verdadeiro p�nico. Curiosamente, era o destino do fantasma que mais parecia preocupar as pessoas. O que poderia fazer aquilo a um fantasma? Elas perguntavam umas �s outras; que poder terr�vel poderia fazer mal a algu�m que j� estava morto? Houve quase uma corrida para reservar lugares no Expresso de Hogwarts que iria levar os alunos para casa no Natal.
� Nesse ritmo, seremos os �nicos a ficar para tr�s � disse Rony a Harry e Hermione. � N�s, Draco, Crabbe e Goyle. Que beleza de f�rias vamos ter!
Crabbe e Goyle, que sempre acompanhavam o que Draco fazia, tinham se inscrito para permanecer na escola durante as f�rias tamb�m. Mas Harry ficou contente de que a maioria das pessoas estivesse partindo. Estava cansado de ser evitado nos corredores, como se achassem que lhe fossem crescer presas e pudesse cuspir veneno a qualquer momento; cansado de ser comentado, de ser apontado, de levar vaias ao passar.  Fred e Jorge, por�m, achavam muita gra�a em tudo. Saiam do caminho para andar � frente de Harry nos corredores, gritando: "Abram caminho para o herdeiro de Slytherin, um bruxo realmente maligno vai passar...�
Percy desaprovava inteiramente esse comportamento.
� N�o � motivo para gra�as � disse friamente.
� Ah, sai do caminho, Percy. Harry est� com pressa.
� E, ele est� indo para a C�mara Secreta tomar uma x�cara de ch� com seu criado de caninos afiados � disse Jorge, dando uma risadinha debochada.
Gina tamb�m n�o achou gra�a nenhuma.
� Ah, n�o fa�am isso � choramingava todas as vezes que Fred perguntava a Harry em voz alta quem ele pretendia atacar a seguir, ou quando Jorge, ao encontrar Harry fingia afugent�-lo com um grande dente de alho.
Harry n�o se importava; sentia-se melhor que ao menos Fred e Jorge achassem a id�ia de ele ser herdeiro de Slytherin muito rid�cula. Mas as brincadeiras dos g�meos pareciam estar irritando Draco, que amarrava cada vez mais a cara sempre que os via aprontando.
� � porque est� morrendo de vontade de dizer que o herdeiro � ele � disse Rony com ar de quem sabe das coisas. � Voc�s sabem que Draco detesta quando algu�m o supera em alguma coisa, e voc� est� recebendo todo o cr�dito pelo trabalho sujo que ele fez.
� N�o ser� por muito tempo � anunciou Hermione com um tom de satisfa��o. � A Po��o Polissuco est� quase pronta.  Vamos extrair a verdade dele a qualquer momento.
Enfim o per�odo letivo terminou, e um sil�ncio profundo como a neve desceu sobre o castelo. Harry achou que o lugar ficara tranq�ilo, em vez de sombrio, e gostou do fato de que ele, Hermione e os Weasley tivessem a Torre da Grifin�ria s� para eles, assim podiam brincar de snap explosivo � vontade sem incomodar ningu�m e praticar duelos sozinhos. Fred, Jorge e Gina tinham preferido ficar na escola � visitar Gui no Egito com o Sr. e a  Sra. Weasley. Percy, que desaprovava o que chamava de comportamento infantil dos g�meos, n�o passava muito tempo na sala comunal da Grifin�ria. Tinha declarado pomposamente que ele s� ficara para o Natal porque era seu dever, como monitor, ajudar os professores em tempos t�o tempestuosos.
A manh� de Natal despontou fria e branca. Harry e Rony, os �nicos que tinham restado no dormit�rio, foram acordados muito cedo por Hermione, que entrou de repente, completamente vestida, trazendo presentes para os dois.
� Acordem � disse em voz alta, afastando as cortinas da janela.
� Mione, voc� n�o podia estar aqui... � disse Rony, protegendo os olhos da claridade.
� Feliz Natal para voc� tamb�m � disse a garota lhe atirando um presente. � Estou de p� h� quase uma hora, acrescentando hemer�bios � po��o. Est� pronta.
Harry se sentou, de repente muito acordado.
� Tem certeza?
� Positivo � disse Hermione, empurrando Perebas, o rato, para poder se sentar na beirada da cama de Rony. � Se vamos us�-la, eu diria que deve ser hoje � noite.
Naquele momento, Edwiges entrou voando no quarto, trazendo um pequeno pacote no bico.
� Ol� � disse Harry alegremente quando a coruja pousou na cama dele. � Voc� voltou a falar comigo?
Edwiges deu umas bicadinhas carinhosas na orelha dele, o que foi um presente muito melhor do que o que lhe trouxera, e que ele descobriu ser uma encomenda dos Dursley. Eles tinham enviado a Harry um palito e um bilhete pedindo a ele que verificasse se n�o poderia ficar em Hogwarts durante as f�rias de ver�o tamb�m.
Os outros presentes que ganhara de Natal foram bem melhores.
Hagrid lhe mandou uma grande lata de bolinhos de chocolate, que Harry decidiu deixar amolecer junto � lareira antes de comer; Rony lhe deu um livro chamado Voando com os Campe�es, um livro de fatos interessantes sobre o seu time, de Quadribol favorito, e Hermione lhe comprou uma caneta de luxo de pena de �guia. Harry abriu o �ltimo presente e encontrou um su�ter tricotado pela Sra. Weasley e um grande bolo de Natal. Leu o cart�o dela com uma nova onda de remorsos, pensando no carro do Sr. Weasley (que n�o era visto desde a colis�o com o Salgueiro Lutador), e a nova s�rie de indisciplinas que ele e Rony estavam planejando.
Ningu�m, nem mesmo algu�m morto de medo de tomar a Po��o Polissuco, dali a pouco, poderia deixar de se alegrar com o almo�o de Natal em Hogwarts.
O Sal�o Principal estava magn�fico. N�o s� tinha uma d�zia de �rvores de Natal cobertas de cristais de gelo e largas guirlandas de visco e azevinho que cruzavam o teto, como tamb�m ca�a uma neve encantada, morna e seca. Dumbledore puxou o coro de algumas de suas m�sicas de Natal preferidas.
Hagrid cantava cada vez mais alto a cada ta�a de gemada de vinho quente que consumia. Percy, que n�o reparou que Fred havia enfeiti�ado o seu distintivo de monitor � agora com os dizeres "Cabe�a de Alfinete" �, n�o parava de perguntar aos garotos por que ficavam dando risadinhas.
Harry nem ligou que Draco Malfoy, sentado � mesa da Sonserina, estivesse fazendo coment�rios altos e debochados sobre seu novo su�ter. Com um pouco de sorte, ele receberia o troco dentro de algumas horas.
Harry e Rony mal tinham acabado de comer o terceiro prato de pudim de Natal quando Hermione os levou para fora do Sal�o para finalizar os planos para aquela noite.
� Ainda precisamos de uns pedacinhos das pessoas em que queremos nos transformar � disse Hermione num tom trivial, como se estivesse mandando os garotos ao supermercado comprar detergente. � E � claro que ser� melhor se pudermos conseguir alguma coisa de Crabbe e Goyle; eles s�o os melhores amigos de Malfoy, que contar� aos dois qualquer coisa. E tamb�m temos que garantir que os verdadeiros Goyle e Crabbe n�o apare�am de repente enquanto interrogamos Draco.
� J� tenho tudo resolvido �, continuou ela calmamente, n�o dando aten��o �s caras espantadas de Harry e Rony. E mostrou dois peda�os de bolo de chocolate. � Recheei estes dois com uma simples Po��o do Sono. Voc�s s� precisam se certificar de que Crabbe e Goyle encontrem os bolos. Sabem como s�o esganados, com certeza v�o querer com�-los.  Depois que ca�rem no sono, arranquem uns fios de cabelo deles e escondam os dois num arm�rio de vassouras.
Harry e Rony se entreolharam, incr�dulos.
� Mione, acho que isso n�o...
� Poderia dar tudo errado...
Mas Hermione tinha um brilho de a�o nos olhos, muito semelhante ao que a Prof�. McGonagall �s vezes exibia.
� A po��o ser� in�til sem os fios de cabelo de Crabbe e Goyle � disse a garota com severidade. � Voc�s querem investigar Malfoy, n�o �?
� Ah, est� bem, est� bem � disse Harry. � Mas, e voc�? Vai arrancar o cabelo de quem?
� J� tenho o meu! � disse Hermione, animada, tirando um frasquinho do bolso e mostrando aos dois um �nico fio de cabelo dentro. � Lembram que a Emilia Bulstrode lutou comigo no Clube do Duelo? Ela deixou o fio de cabelo nas minhas vestes quando estava tentando me estrangular! E como foi passar o Natal em casa... Ent�o s� preciso dizer ao pessoal da Sonserina que resolvi voltar.
Quando Hermione saiu apressada para verificar outra vez a Po��o Polissuco, Rony se virou para Harry com uma express�o de fim de mundo no rosto.
� Voc� j� ouviu falar de um plano em que tantas coisas pudessem dar errado?
Mas para completa surpresa de Harry e Rony, a primeira etapa da opera��o transcorreu suavemente, conforme Hermione previra. Eles ficaram rondando o sagu�o deserto depois do ch� de Natal, esperando Crabbe e Goyle que tinham sido deixados sozinhos � mesa da Sonserina, devorando o quarto prato de p�o-de-l� com calda de vinho.
Harry equilibrara os bolos de chocolate na ponta do corrim�o. Quando viram Crabbe e Goyle saindo do Sal�o Principal, ele e Rony se esconderam depressa atr�s de uma armadura pr�xima � porta de entrada.
� Como se pode ser t�o tapado? � Rony cochichou em �xtase quando Crabbe apontou alegremente os bolos para Goyle e os pegou. Sorrindo, idiotamente, enfiaram os bolos inteiros nas bocas enormes. Por um momento, os dois mastigaram vorazes, com express�es de triunfo no rosto. Depois, sem a menor mudan�a de express�o, desmontaram de costas no ch�o.
De longe, a parte mais dif�cil foi escond�-los no arm�rio do outro lado do sagu�o.
Quando estavam guardados em seguran�a entre baldes e esfreg�es, Harry arrancou uns fios do cabelo curto e duro que cobria a testa de Goyle, e Rony arrancou v�rios fios do cabelo de Crabbe. Roubaram tamb�m os sapatos, porque os seus eram, em compara��o, demasiado pequenos. Depois, ainda aturdidos com o que tinham acabado de fazer, correram escada acima para o banheiro da Murta Que Geme.
Mal conseguiam enxergar devido � fuma�a que saia do boxe em que Hermione mexia o caldeir�o. Puxando as vestes para proteger o rosto, Harry e Rony bateram de leve na porta.
� Mione?
Ouviram um barulho de chave e Hermione apareceu, o rosto brilhando, cheia de ansiedade. Atr�s dela ouvia-se o glube-glube da po��o viscosa que borbulhava.
Havia tr�s c�lices preparados sobre a tampa do vaso sanit�rio.
� Voc�s conseguiram? � perguntou Hermione sem f�lego. Harry mostrou os fios de cabelo de Goyle.
� �timo. E eu tirei escondido estas vestes da lavanderia � disse Hermione, mostrando um pequeno saco. � Voc�s precisar�o de n�meros maiores porque v�o ser Crabbe e Goyle.
Os tr�s espiaram dentro do caldeir�o. De perto, a po��o parecia uma lama escura e espessa que borbulhava devagar.
� Tenho certeza de que fiz tudo direito � disse Hermione, nervosa, relendo a p�gina manchada de Pociones Muy Potentes. � Parece que o livro diz que deve... Depois que bebermos a po��o, teremos exatamente uma hora antes de voltarmos a ser n�s mesmos.
� E agora? � sussurrou Rony.
� Separamos a po��o nos tr�s c�lices e acrescentamos os cabelos.
Hermione serviu grandes conchas da po��o em cada c�lice.
Depois, com a m�o tr�mula, sacudiu o fio de cabelo de Emilia Bulstrode do frasco para dentro do primeiro c�lice.
A po��o assobiou alto como uma chaleira fervendo e espumou feito louca. Um segundo depois, mudou de cor para um amarelo doentio.
� Grrr, ess�ncia de Emilia Bulstrode � disse Rony, olhando-a com nojo. � Aposto que tem um gosto horr�vel.
� Ponha os fios na sua, ent�o � disse Hermione.
Harry deixou cair os fios de cabelo de Goyle no c�lice do meio, e Rony p�s os de Crabbe no �ltimo. Os dois c�lices assobiaram e espumaram: o de Goyle mudou para um c�qui cor de piolho, e o de Crabbe para um castanho encardido e escuro.
� Calma a� � disse Harry quando Rony e Hermione estenderam a m�o para os c�lices. � � melhor n�o bebermos tudo aqui.. Quando nos transformarmos em Crabbe e Goyle n�o vamos caber no boxe. E Emilia Bulstrode n�o � nenhuma fadinha.
� Bem pensado � disse Rony, destrancando a porta. � Ficaremos em boxes separados.
Tomando cuidado para n�o derramar nem uma gota de Po��o Polissuco, Harry entrou no boxe do meio.
� Pronto? � perguntou.
� Pronto � responderam as vozes de Rony e Mione.
� Um... Dois... tr�s...
Apertando o nariz, Harry bebeu a po��o em dois grandes goles. Tinha gosto de repolho passado do ponto de cozimento.
Imediatamente seu est�mago come�ou a revirar como se ele tivesse acabado de engolir duas cobras � dobrado ao meio, ele se perguntou se ia enjoar-, depois uma sensa��o de queima��o se espalhou rapidamente da barriga at� as pontinhas dos dedos dos p�s e das m�os � em seguida, ele caiu de quatro, sem ar e teve a sensa��o de que estava se derretendo, quando a pele de todo o seu corpo borbulhou como cera quente � e, antes que seus olhos e m�os come�assem a crescer, os dedos engrossaram, as unhas alargaram, os n�s dos dedos se estufaram como parafusos de cabe�a de lentilha � os ombros se esticaram dolorosamente e um formigamento na testa lhe informou que seus cabelos estavam crescendo em dire��o �s sobrancelhas � as vestes se rasgaram quando o peito se alargou como uma barrica rompendo os aros � os p�s se tornaram um suplicio dentro dos sapatos quatro n�meros menor...
T�o de repente quanto come�ara, tudo cessou. Harry estava deitado de borco no piso frio como pedra, ouvindo Murta gargarejar mal-humorada no boxe da ponta.
Com dificuldade, sacudiu fora os sapatos e ficou em p�. Ent�o era assim que a pessoa se sentia, na pele de Goyle. Com a m�o enorme tremendo, ele despiu as vestes antigas, que estavam agora no meio das canelas, vestiu as novas e amarrou os sapatos abotinados de Goyle. Ergueu a m�o para afastar os cabelos dos olhos e s� encontrou fios duros e curtos, que vinham at� o meio da testa. Ent�o percebeu que os �culos estavam anuviando sua vis�o porque Goyle obviamente n�o precisava deles, tirou-os e perguntou: 
� Voc�s dois est�o bem? � a voz baixa e irritante de Goyle saiu de sua boca.
� Estou � veio o rosnado profundo de Crabbe da sua direita. Harry destrancou a porta e foi at� o espelho rachado.
Goyle o encarou com aqueles olhos opacos e fundos. Harry co�ou a orelha. Goyle tamb�m.
A porta de Rony se abriu. Eles se entreolharam. Exceto que parecia p�lido e chocado, Rony era indistingu�vel de Crabbe, do corte de cabelo em cuia at� os bra�os compridos de gorila.
� Isso � incr�vel � disse Rony, aproximando-se do espelho e cutucando o nariz chato de Crabbe. � Incr�vel.
� � melhor irmos andando � disse Harry, afrouxando o rel�gio que ficara apertad�ssimo no pulso grosso de Goyle. � Ainda temos que descobrir onde fica a sala comunal da Sonserina. S� espero que a gente encontre algu�m para seguir...
Rony, que estivera observando Harry, disse:
� Voc� n�o sabe como � esquisito ver o Goyle pensando. � Bateu ent�o na porta de Hermione. � Vamos, precisamos ir...
Uma voz aguda respondeu.
� Eu... Eu acho que afinal n�o vou. V�o indo sem mim.
� Mione, n�s sabemos que a Emilia Bulstrode � feia, ningu�m vai saber que � voc�...
� N�o... Verdade... Acho que n�o vou. Voc�s andem de pressa, est�o perdendo tempo...
Harry olhou para Rony intrigado.
� Assim voc� est� mais parecido com o Goyle. � assim que ele fica toda vez que um professor faz uma pergunta.
� Mione, voc� est� bem? � perguntou Harry atrav�s da porta.
� Muito bem... Muito bem... V�o andando...
Harry consultou o rel�gio. Cinco dos preciosos sessenta minutos j� se tinham passado.
� Na volta nos encontramos aqui, est� bem? � falou ele.
Os dois garotos abriram a porta do banheiro com cautela, verificaram se a barra estava limpa e sa�ram.
� N�o balance os bra�os desse jeito � murmurou Harry para o amigo.
� Hein?
� Crabbe mant�m os bra�os meio duros...
� Que tal assim?
� �, assim est� melhor...
Os dois desceram a escada de m�rmore. S� precisavam agora que aparecesse um aluno da Sonserina para o seguirem at� o sal�o comunal da casa, mas n�o havia ningu�m por perto.
� Alguma id�ia? � murmurou Harry.
� Os alunos da Sonserina sempre v�m daquela dire��o para tomar caf� da manh� � disse Rony indicando com a cabe�a a entrada para as masmorras. Mal as palavras sa�ram de sua boca e uma menina de cabelos longos e crespos saiu pela entrada.
� Desculpe � disse Rony, correndo para ela. � Esquecemos qual � o caminho para o nosso sal�o comunal.
� Como? � perguntou a garota empertigada. � Nosso sal�o comunal? Eu sou da Corvinal.
E se afastou olhando desconfiada para os dois.
Harry e Rony desceram os degraus de pedra mergulhando na escurid�o, seus passos ecoando particularmente altos a medida que os enormes p�s de Crabbe e Goyle batiam no ch�o, sentindo que a coisa n�o ia ser t�o f�cil quanto tinham esperan�as que fosse.
Os corredores que lembravam labirintos estavam desertos. Eles foram se internando cada vez mais fundo por baixo da escola, verificando constantemente os rel�gios para ver quanto tempo ainda lhes sobrava. Passados quinze minutos, quando iam come�ando a se desesperar, ouviram um movimento repentino no alto.
� Arre! � gritou Rony excitado. � A� vem um deles agora!
O vulto vinha saindo de um aposento lateral. Ao se aproximarem, por�m, sentiram um aperto no cora��o. N�o era um aluno da Sonserina, era Percy.
� Que � que voc� est� fazendo aqui em baixo? � perguntou Rony surpreso.
Percy fez cara de afrontado.
� Isto � disse se empertigando � n�o � da sua conta. � o Crabbe, n�o �?
� Que, ah, sim � disse Rony.
� Muito bem, j� para os seus dormit�rios � disse Percy com severidade. � N�o � seguro ficar andando por corredores escuros hoje em dia.
� Mas como � que voc� est� andando? � lembrou Rony.
� Eu � disse Percy empertigando-se � sou monitor nada vai me atacar.
De repente ecoou uma voz atr�s de Harry e Rony. Draco Malfoy vinha em dire��o ao grupo e, pela primeira vez na vida, Harry teve prazer em v�-lo.
� A�, at� que enfim � disse ele com voz arrastada, olhando para os dois. -Estiveram se empapu�ando no Sal�o Principal esse tempo todo? Andei procurando voc�s; quero que vejam uma coisa realmente engra�ada.
Malfoy lan�ou um olhar mort�fero a Percy.
� E o que � que voc� est� fazendo aqui em baixo, Weasley? � perguntou com desd�m.
Percy parecia indignado.
� Voc�s precisam mostrar um pouco mais de respeito por um monitor da escola! � disse. � N�o gosto de sua atitude!
Malfoy riu debochado e fez sinal para Harry e Rony o seguirem.
Harry quase pediu desculpas a Percy, mas se conteve bem em tempo. Ele e Rony correram atr�s de Draco, que disse assim que viraram o corredor:
� Esse Peter Weasley...
� Percy � Rony corrigiu-o automaticamente.
� O que seja. Tenho visto ele rondando por aqui um bocado ultimamente. E aposto como sei o que est� aprontando. Acha que vai pegar o herdeiro de Slytherin sozinho.
Draco deu uma risada curta e debochada. Harry e Rony se entreolharam animados.
O garoto parou junto a um trecho da parede de pedra, liso e �mido.
� Como � mesmo a senha? � perguntou a Harry. � Ah... � hesitou Harry.
� Ah, j� sei... Puro-sangue! � disse Draco, sem parar para ouvir, e uma porta de pedra escondida na parede deslizou. Draco entrou e Harry e Rony o seguiram.
A sala comunal da Sonserina era um aposento comprido e subterr�neo com paredes de pedra r�stica, de cujo teto pendiam correntes com luzes redondas e esverdeadas.
Um fogo ardia na lareira encimada por um console de madeira esculpida e ao seu redor viam-se as silhuetas de v�rios alunos da Sonserina em cadeiras de espaldar alto.
� Esperem aqui � disse Draco a Harry e Rony, indicando duas cadeiras vazias mais afastadas da lareira. � Vou buscar, meu pai acabou de me mandar...
Imaginando o que Draco iria lhes mostrar, Harry e Rony se sentaram, fazendo o poss�vel para parecer � vontade.
Draco voltou um minuto depois trazendo um papel que parecia ser um recorte de jornal. Enfiou-o na cara de Rony.
� Isso vai fazer voc�s darem uma boa gargalhada.
Harry viu os olhos de Rony se arregalarem de choque. Ele leu o recorte depressa, deu uma risada for�ada e o entregou a Harry. A not�cia fora recortada do Profeta Di�rio e dizia:

INQU�RITO NO MINIST�RIO DA MAGIA
 Arthur Weasley, Chefe da Se��o de Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas foi multado hoje em cinq�enta gale�es, por enfeiti�ar um carro dos trouxas.
O Sr. L�cio Malfoy, membro da diretoria da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde o carro enfeiti�ado bateu no in�cio deste ano, pediu hoje a demiss�o do Sr. Weasley.
"Weasley desmoralizou o Minist�rio" � declarou o Sr. Malfoy ao nosso rep�rter. "Ficou claro que ele n�o est� qualificado para legislar, e o seu projeto de lei para proteger os trouxas deveria ser  imediatamente esquecido.�
O Sr. Weasley n�o foi encontrado para comentar essas declara��es, embora sua mulher tenha dito aos rep�rteres para se afastarem da casa e amea�ado mandar o vampiro da fam�lia atac�-los.

� E a�? � perguntou Draco impaciente quando Harry devolveu o recorte. � Voc�s n�o acham engra�ado?
� Ah, ah, ah, ah � riu Harry desanimado.
� Arthur Weasley gosta tanto de trouxas que devia partir a varinha e ir se juntar a eles � disse Draco desdenhoso. � Pela maneira como se comportam, nem d� para dizer que os Weasley s�o puros-sangues.
A cara de Rony � ou melhor, de Crabbe se contorceu de f�ria � Qual � o problema, Crabbe? � perguntou Draco com rispidez.
� Dor de est�mago � grunhiu Rony.
� Ent�o v� para a ala hospitalar e d� um chute naqueles sangues-ruins por mim � disse Draco sufocando o riso. � Sabe, estou admirado que o Profeta Di�rio ainda n�o tenha noticiado todos esses ataques � continuou, pensativo. � Suponho que Dumbledore esteja tentando abafar o caso. Ele vai ser despedido se isso n�o parar logo.  Meu pai diz que Dumbledore foi a pior coisa que j� aconteceu a Hogwarts.  Ele adora trouxas. Um diretor decente nunca deixaria esc�ria como o Creevey entrar.
Draco come�ou a tirar fotografias com uma m�quina imagin�ria e fez uma imita��o cruel, mas exata de Colin:
� Potter, posso bater uma foto sua, Potter! Pode me dar o seu aut�grafo? Posso lamber os seus sapatos, por favor, Potter?
Ele deixou cair as m�os e olhou para Harry e Rony.
� Que � que h� com voc�s dois?
Em atraso, Harry e Rony for�aram uma risada, mas Draco pareceu satisfeito; talvez Crabbe e Goyle sempre fossem lentos para entender as coisas.
� S�o Potter, o amigo dos sangues ruins � disse Draco lentamente. � Ele � outro que n�o tem esp�rito de bruxo, ou n�o andaria por a� com aquela Granger sangue-ruim metida a besta. E tem gente que acha que ele � o herdeiro de Slytherin!
Harry e Rony esperaram com a respira��o suspensa: Draco estava certamente a segundos de contar que era ele, mas ent�o...
� Eu bem gostaria de saber quem � � disse com petul�ncia. � At� poderia ajudar.
O queixo de Rony caiu de um jeito que Crabbe pareceu ainda mais tapado do que de costume. Felizmente, Draco n�o reparou e Harry, pensando r�pido, disse:
� Voc� deve ter uma id�ia de quem est� por tr�s disso tudo...
� Voc� sabe que n�o tenho, Goyle. Quantas vezes preciso lhe dizer isso? � retrucou Draco com maus modos. � E meu pai n�o quer me contar nada sobre a �ltima vez que a C�mara foi aberta, tampouco. E claro, foi h� cinq�enta anos, antes do tempo dele, mas ele sabe tudo que aconteceu e diz que o caso foi abafado e que vai levantar suspeitas se eu souber de muita coisa. Mas uma coisa eu sei, a �ltima vez que a C�mara Secreta foi aberta, um sangue-ruim morreu. Ent�o aposto que � uma quest�o de tempo at� um deles ser morto... Espero que seja a Granger � disse com prazer.
Rony crispava os punhos enormes de Crabbe. Harry, sentindo que o amigo poderia se denunciar se avan�asse em Draco, lan�ou a Rony um olhar de alerta e disse:
� Voc� sabe se a pessoa que abriu a C�mara na �ltima vez foi apanhada?
� Ah, � claro... Seja l� o que for foi expulso � disse Draco. � Com certeza ainda est� em Azkaban.
� Azkaban? � perguntou Harry intrigado.
� Azkaban, a pris�o de bruxos, Goyle � disse Draco, olhando para ele incr�dulo. � Sinceramente, se voc� fosse mais devagar, andaria para tr�s.
Mexeu-se inquieto na cadeira e continuou:
� Meu pai diz para eu ficar na minha e deixar o herdeiro de Slytherin fazer o trabalho. Diz que a escola precisa se livrar de toda a sujeira dos sangues-ruins, mas para eu n�o me meter. � claro que ele est� com as m�os cheias nesse momento. Sabem que o Minist�rio da Magia revistou a nossa propriedade na semana passada?
Harry tentou botar na cara de Goyle unia express�o de preocupa��o.
� �... � disse Draco. � Felizmente n�o encontraram muita coisa. Papai tem um material para Artes das Trevas muito valioso. Mas felizmente, temos a nossa c�mara secreta embaixo da sala de visitas...
� Ho! � exclamou Rony.
Draco olhou. O mesmo fez Harry. Rony corou. At� seus cabelos come�avam a ficar vermelhos. O nariz tamb�m estava crescendo � o tempo deles se esgotara e Rony come�ava a voltar ao normal e, pelo olhar de horror que de repente lan�ou a Harry, devia estar acontecendo o mesmo com o amigo.
Os dois se levantaram depressa.
� O rem�dio para o meu est�mago � rosnou Rony e, sem mais demora, atravessou correndo toda a extens�o do sal�o da Sonserina, atirou-se � parede de pedra e saiu pelo corredor na esperan�a de que Draco n�o tivesse notado nada. Harry sentiu os p�s derraparem nos enormes sapatos de Goyle e teve que levantar as vestes � medida que iam encolhendo; os dois se precipitaram pelas escadas que levavam ao sagu�o de entrada, onde se ouviam as batidas abafadas que vinham do arm�rio em que haviam trancado Crabbe e Goyle. Deixando os sapatos ao lado da porta eles subiram de meias e a toda velocidade a escada de m�rmore em dire��o ao banheiro da Murta Que Geme.
� Bom, n�o foi uma perda total de tempo � ofegou Rony, fechando a porta do banheiro ao passarem. � Sei que n�o descobrimos quem � o atacante, mas vou escrever a papai amanh� e dizer para ele revistar embaixo da sala de visitas de Malfoy.
Harry contemplou seu rosto no espelho rachado. Voltara ao normal. Colocou os �culos enquanto Rony socava a porta do boxe de Hermtone.
� Mione, saia da�, temos um monte de coisas para lhe contar...
� V�o embora! � disse Hermione esgani�ada.
Harry e Rony se entreolharam.
� Qual � o problema? � perguntou Rony. � Voc� j� deve ter voltado ao normal agora, n�s...
Mas a Murta Que Geme atravessou de repente a porta do boxe. Harry nunca a vira com a cara t�o feliz.
� Aaaaaah, esperem at� ver. Que horr�vel...
Eles ouviram o trinco se abrir e Hermione saiu, solu�ando, as vestes cobrindo a cabe�a.
� Que foi que houve? � perguntou Rony inseguro. � Voc� continua com o nariz da Emilia ou coisa assim?
Hermione deixou as vestes ca�rem e Rony recuou contra a pia.
O rosto da garota estava coberto de p�los negros. Os olhos tinham virado amarelos e orelhas compridas e pontudas espetavam para fora dos cabelos.
� Era um p�lo de gato! Emilia Bulstrode deve ter um gato! E a po��o n�o deve ser usada para transformar animais!
� Uau! � exclamou Rony.
� V�o ca�oar de voc� horrores � exclamou Murta, feliz.
� Tudo bem, Mione � disse Harry depressa. � Levamos voc� para a ala hospitalar.  Madame Pomfrey nunca faz muitas perguntas...
Levou muito tempo para persuadirem Hermione a deixar o banheiro. Murta Que Geme despediu-se dos garotos com uma risada gaiata.
� Espere at� todo mundo descobrir que voc� tem rabo!



CAP�TULO TREZE
O Di�rio Secret�ssimo

Hermione permaneceu na ala hospitalar v�rias semanas. Houve uma boataria sobre o seu sumi�o quando o resto da escola voltou das f�rias de Natal, porque naturalmente todos pensaram que ela fora atacada. Foram tantos os alunos que passaram pela ala hospitalar tentando dar uma olhada nela que Madame Pomfrey pegou outra vez as cortinas e pendurou-as em torno da cama da garota, para lhe poupar a vergonha de ser vista com a cara peluda.
Harry e Rony iam visit�-la toda tarde. Quando o novo per�odo letivo come�ou, eles lhe levavam os deveres de casa do dia.
� Se tivessem crescido bigodes de gato em mim, eu teria tirado umas f�rias dos deveres � disse Rony, certa noite, despejando uma pilha de livros na mesa-de-cabeceira de Mione.
� Pare de ser bobo, Rony, tenho que me manter em dia � disse Mione decidida, seu estado de �nimo melhorara muito desde que todos os p�los desapareceram do seu rosto, e os olhos estavam voltando lentamente � cor castanha. � Suponho que n�o encontraram nenhuma pista nova? � acrescentou aos sussurros, de modo que Madame Pomfrey n�o a escutasse.
� Nada � respondeu Harry, desanimado.
� Eu tinha tanta certeza de que era Draco � disse Rony, pela cent�sima vez.
� Que � isso? � perguntou Harry, apontando para alguma coisa dourada que aparecia por baixo do travesseiro de Mione.
� � s� um cart�o desejando que eu fique boa logo � disse Mione depressa, tentando escond�-lo, mas Rony foi mais r�pido. Puxou o cart�o, abriu-o e leu em voz alta:
A senhorita Granger desejo uma r�pida convalescen�a, seu professor preocupado Gilderoy Lockhart Ordem de Merlin, Terceira Classe, Membro Honor�rio da Liga de Defesa contra as For�as das Trevas, cinco vezes vencedor do Pr�mio do Sorriso Mais Simp�tico do Mundo do Seman�rio dos Bruxos.

Rony olhou para Mione, enojado.
� Voc� dorme com isso debaixo do travesseiro?
Mas Mione n�o precisou responder por que Madame Pomfrey apareceu para lhe dar a medica��o noturna.
� O Lockhart � o cara mais populista que voc� j� conheceu ou o qu�? � perguntou Rony a Harry ao sa�rem da enfermaria e come�arem a subir a escada que levava � Torre da Grifin�ria.  Snape passara tanto dever de casa, que Harry achou que provavelmente estaria na sexta s�rie quando terminasse tudo. Rony estava acabando de comentar que gostaria de ter perguntado a Mione quantos rabos de rato devia usar na Po��o de Arrepiar Cabelos quando um vozerio no andar de cima chegou aos ouvidos dos dois.
� � o Filch � murmurou Harry enquanto subiam depressa a escada e paravam, escondidos, apurando os ouvidos.
� Voc� acha que mais algu�m foi atacado? � perguntou Rony tenso.
Os dois ficaram quietos, as cabe�as inclinadas na dire��o da voz de Filch, que parecia um tanto hist�rica.
� ... Sempre mais trabalho para mim! Enxugando o ch�o a noite inteira, como se j� n�o tivesse o suficiente para fazer! N�o, isto � a �ltima gota, vou procurar o Dumbledore...
Os passos dele cessaram e os meninos ouviram uma porta bater � dist�ncia.
Os garotos esticaram as cabe�as para espiar mais al�m do canto. Filch, pelo que viam, estivera em seu posto de vigia habitual: estavam mais uma vez no local em que Madame Nor-r-ra fora atacada. Viram imediatamente a raz�o dos gritos de Filch.
Uma grande inunda��o se espalhava por metade do corredor e aparentemente a �gua ainda n�o parara de correr por baixo da porta do banheiro da Murta Que Geme. Quando Filch parou de gritar, eles puderam ouvir os lamentos da Murta ecoando pelas paredes do banheiro.
� Agora o que ser� que ela tem? � exclamou Rony.
� Vamos at� l� ver � disse Harry e, levantando as vestes bem acima dos tornozelos, os dois atravessaram aquela ag�eira at� a porta com o letreiro INTERDITADO, n�o lhe deram aten��o, como sempre, e entraram.
Murta Que Geme chorava, se � que isso era poss�vel, cada vez mais alto e com mais vontade do que nunca. Parecia ter-se escondido no seu boxe habitual. Estava escuro no banheiro porque as velas haviam se apagado com a grande inunda��o que deixara as paredes e o piso encharcados.
� Que foi Murta?� perguntou Harry.
� Quem �? � engrolou Murta, infeliz. � V�m jogar mais alguma coisa em mim?
Harry meteu os p�s na �gua at� o boxe dela.
� Por que eu iria jogar alguma coisa em voc�?
� � a mim que voc� pergunta! � gritou Murta, surgindo em meio a mais uma onda l�quida, que se espalhou pelo ch�o j� molhado. � Estou aqui cuidando da minha vida e algu�m acha que � engra�ado jogar um livro em mim...
� Mas n�o deve machucar se algu�m joga um livro em voc� � argumentou Harry. � Quero dizer, ele atravessa voc�, n�o � mesmo?
Disse a coisa errada. Murta se estufou e gritou com voz aguda:
� Vamos todos jogar livros na Murta, porque ela n�o � capaz de sentir! Dez pontos se voc� fizer o livro atravessar a barriga dela! Muito bem, ha, ha, ha! Que �timo jogo, eu n�o acho!
� Mas afinal quem jogou o livro em voc�? � perguntou Harry.
� Eu n�o sei... Eu estava sentada na curva do corredor, pensando na morte, e o livro atravessou a minha cabe�a � disse Murta olhando feio para os garotos. � Est� l�, foi levado pela �gua...
Harry e Rony espiaram embaixo da pia para onde Murta apontava. Havia um livro pequeno e fino ca�do ali. Tinha uma capa preta e gasta e estava molhado como tudo o mais naquele banheiro. Harry adiantou-se para apanh�-lo, mas Rony de repente esticou o bra�o para impedi-lo.
� Que foi?
� Voc� est� maluco � disse Rony. � Pode ser perigoso.
� Perigoso? � perguntou Harry rindo. � Deixe disso, de que jeito poderia ser perigoso?
� Voc� ficaria surpreso � disse Rony, olhando apreensivo para o livro. � Os livros que o Minist�rio da Magia tem confiscado, papai me contou, tinha um que queimava os olhos da pessoa. E todo mundo que leu Sonetos de um Bruxo passou a falar em rima para o resto da vida. E uma velha bruxa em Bath tinha um livro que a pessoa n�o conseguia parar de ler. Passava a andar com a cara no livro, tentando fazer tudo com uma m�o s�. E...
� Est� bem, j� entendi.
O livrinho continuava no ch�o, empapado e indefin�vel.
� Bem, n�o vamos descobrir se n�o dermos uma olhada � falou Harry. Abaixou-se para se desvencilhar de Rony e apanhou o livro do ch�o.
Harry viu num instante que era um di�rio, e o ano meio desbotado na capa lhe informou que tinha cinq�enta anos de idade.
Abriu-o ansioso. Na primeira pagina, mal e mal, conseguiu ler o nome "T. S. Riddle", em tinta borrada.
� Calma a� � disse Rony, que se aproximara cautelosamente e espiava por cima do ombro do amigo. � Conhe�o esse nome... T. S. Riddle recebeu um pr�mio por servi�os especiais prestados � escola h� cinq�enta anos.
� Como � que voc� sabe? � perguntou Harry admirado.
� Porque Filch me fez polir o escudo desse homem umas cinq�enta vezes durante a minha deten��o � disse Rony com raiva. � Daquela vez que arrotei lesmas para todo o lado. Se voc� tivesse tirado lesmas de um nome durante uma hora, voc� tamb�m se lembraria.
Harry separou as p�ginas molhadas. Estavam completamente em branco. N�o havia o menor vest�gio de escrita em nenhuma delas, nem mesmo Anivers�rio de tia Magda ou dentista as tr�s e meia.
� N�o entendo por que algu�m quis se descartar dele � comentou Rony, curioso.
Harry virou as costas do livro e viu impresso o nome de uma papelaria na Rua Vauxhall, em Londres.
� O dono deve ter nascido trouxa � disse Harry pensativo.
� Para ter comprado um di�rio na Rua Vauxhall...
� Bom, n�o vai servir para voc� � disse Rony. E baixando a voz: � Cinq�enta pontos se voc� conseguir fazer ele atravessar o nariz da Murta.
Harry, por�m, meteu o di�rio no bolso.
Hermione deixou a ala hospitalar, sem bigodes, sem rabo, sem p�los, no in�cio de fevereiro.
Na primeira noite de volta � Torre da Grifin�ria, Harry lhe mostrou o di�rio de T. S. Riddle e lhe contou como o tinham encontrado.
� Aaah, talvez tenha poderes secretos � disse a garota, entusiasmada, apanhando o di�rio e examinando-o com aten��o.
� Se tiver, deve estar escondendo esses poderes muito bem � disse Rony. � Vai ver � t�mido. N�o sei por que voc� n�o joga esse di�rio fora, Harry.
� Eu queria saber por que algu�m tentou jog�-lo fora. E tamb�m gostaria de saber por que foi que Riddle recebeu um pr�mio por servi�os especiais prestados a Hogwarts.
� Pode ter sido por qualquer coisa � disse Rony. � Talvez tenha ganho trinta corujas ou salvou um professor dos tent�culos de uma lula gigante. Talvez tenha assassinado a Murta; isso teria sido um favor para todo mundo...
Mas Harry podia dizer pela express�o parada no rosto de Mione que ela estava pensando o que ele estava pensando.
� Que foi? � perguntou Rony olhando de um para outro.
� Bom, a C�mara Secreta foi aberta h� cinq�enta anos, n�o foi? Foi o que Draco disse.
� E... � disse Rony lentamente.
� E este di�rio tem cinq�enta anos � disse Hermione, tamborilando os dedos nele, agitada.
� E da�?
� Ah, Rony, v� se acorda � retrucou a garota. � Sabemos que quem abriu a C�mara da �ltima vez foi expulso h� cinq�enta anos. Sabemos que T. S. Riddle recebeu um pr�mio por servi�os especiais prestados � escola h� cinq�enta anos. Muito bem, e se Riddle recebeu o pr�mio por ter pego o herdeiro de Slytherin?
O di�rio dele provavelmente nos contaria tudo, onde fica a C�mara, como abri-la, que tipo de criatura mora l�, e a pessoa que est� por tr�s desses ataques desta vez n�o gostaria de ver o di�rio rolando por a�, n�o �?
� � uma teoria brilhante, Mione � disse Rony �, s� tem um furinho pequenininho. N�o tem nada escrito no di�rio.
Mas Hermione estava tirando a varinha de dentro da mochila.
� Talvez a tinta seja invis�vel! � sussurrou.
A garota deu tr�s toques no di�rio e disse: Aparedum!
Nada aconteceu. Sem desanimar, Mione meteu outra vez a m�o na mochila e tirou uma coisa que parecia uma borracha vermelho-berrante.
� � um revelador que comprei no Beco Diagonal � explicou.
Ela esfregou a borracha com for�a em primeiro de janeiro.
Nada aconteceu.
� Estou dizendo que n�o tem nada a� para se achar � falou Rony. � Riddle simplesmente ganhou um di�rio de Natal e n�o se deu o trabalho de us�-lo.
Harry n�o conseguiu explicar, nem para si mesmo, por que simplesmente n�o jogou fora o di�rio de Riddle. O fato era que, mesmo sabendo que o di�rio estava em branco, n�o parava de peg�-lo distraidamente e de folhe�-lo, como se fosse uma hist�ria que ele quisesse terminar. E embora tivesse certeza de que nunca ouvira falar em T. S. Riddle antes, ainda assim o nome parecia significar alguma coisa para ele, quase como se Riddle fosse um amigo que tivera quando era muito pequeno, e meio que esquecera. Mas isto era absurdo. Nunca tivera amigos antes de Hogwarts. Duda cuidara disso.
Ainda assim, Harry estava decidido a descobrir mais sobre Riddle. Por isso, pr�ximo ao amanhecer, rumou para a sala de trof�us para examinar o pr�mio especial de Riddle, acompanhado por uma Mione interessada e um Rony completamente descrente, que disse aos dois que j� vira a sala de trof�us o suficiente para uma vida inteira.
O escudo dourado de Riddle estava guardado em um arm�rio de canto. N�o continha detalhes sobre as raz�es por que fora concedido ("Ainda bem, porque seria maior e eu ainda estaria polindo essa coisa", disse Rony.) Mas eles encontraram o nome de Riddle em uma velha medalha de M�rito em Magia e em uma lista de antigos monitores-chefes.
� Ele at� parece o Percy � disse Rony, torcendo o nariz enojado. � Monitor, monitor-chefe... Provavelmente o primeiro aluno em todas as classes...
� Voc� fala isso como se fosse uma coisa ruim � disse Hermione num tom ligeiramente magoado.
O sol agora voltara a brilhar palidamente sobre Hogwarts. No interior do castelo, as pessoas se sentiam mais esperan�osas. N�o houvera mais ataques desde os de Justino e Nick Sem Cabe�a, e Madame Pomfrey tinha o prazer de informar que as mandr�goras estavam ficando imprevis�veis e cheias de segredinhos, o que significava que iam deixando depressa a inf�ncia.
� Quando desaparecer a acne delas, estar�o prontas para serem reenvasadas � Harry ouviu-a dizer gentilmente ao Filch uma certa tarde. � E depois disso, iremos cort�-las e cozinh�-las. Num instante voc� ter� a sua Madame
Nor-r-ra de volta.
Talvez o herdeiro de Slytherin tenha perdido a coragem, pensou Harry. Devia estar-se tornando cada vez mais arriscado abrir a C�mara Secreta, com a escola t�o atenta e desconfiada. Talvez o monstro, fosse o que fosse, estivesse neste mesmo momento se aninhando para hibernar outros cinq�enta anos...
Ernie Mcmillan da Lufa-Lufa n�o concordava com essa vis�o otimista. Continuava convencido de que Harry era o culpado, que ele "se denunciara" no Clube dos Duelos. Pirra�a n�o estava ajudando nada; a toda hora aparecia nos corredores cheios de alunos, cantando: "Ah, Potter podre...", agora com um n�mero de dan�a para acompanhar.
Gilderoy Lockhart parecia pensar que, sozinho, fizera os ataques pararem. Harry ouviu-o dizer isso � Prof�. McGonagall quando os alunos da Grifin�ria faziam fila para ir � aula de Transforma��es.
� Acho que n�o vai haver mais problemas, Minerva � disse ele dando um tapinha no nariz e uma piscadela com ar de quem sabe das coisas. � Acho que a C�mara foi fechada para sempre desta vez. O culpado deve ter sentido que era apenas uma quest�o de tempo at� n�s o pegarmos. Achou mais sensato parar agora, antes que eu o liquidasse.  Sabe, o que a escola precisa agora � de uma inje��o no moral. Esquecer as lembran�as do per�odo passado! N�o vou dizer mais nada por ora, mas acho que sei exatamente o que...
E dando outra pancadinha no nariz se afastou decidido.
A id�ia que Lockhart fazia de uma inje��o no moral tornou-se clara no caf� da manh� de catorze de fevereiro. Harry n�o dormira o suficiente por causa de um treino de Quadribol at� tarde, na v�spera, e correu para o Sal�o Principal, um pouco atrasado. Pensou, por um momento, que tivesse entrado na porta errada.
As paredes estavam cobertas com grandes flores rosa-berrante. E pior ainda, de um teto azul-celeste ca�a confete em feitio de cora��o. Harry dirigiu-se � mesa da Grifin�ria, onde Rony estava sentado com cara de enj�o, e Hermione parecia n�o conseguir parar de rir.
� Que � que est� acontecendo? � perguntou Harry aos dois, sentando-se e limpando o confete do bacon.
Rony apontou para a mesa dos professores, aparentemente nauseado demais para falar.
Lockhart, usando vestes rosa-berrante, para combinar com a decora��o, gesticulava pedindo sil�ncio. Os professores, de cada lado dele, estavam impass�veis. De onde se sentara, Harry podia ver um m�sculo tremendo na bochecha da Prof�. McGonagall. Snape parecia que tinha acabado de tomar um grande copo de Esquelecresce.
� Feliz Dia dos Namorados! � exclamou Lockhart. � E ser� que posso agradecer �s quarenta e seis pessoas que me mandaram cart�es at� o momento? Claro, tomei a liberdade de fazer esta surpresinha para voc�s, e ela n�o acaba aqui!
Lockhart bateu palmas e, pela porta que abria para o sagu�o de entrada, entraram onze an�es de cara amarrada. Mas n�o eram uns an�es quaisquer. Lockhart mandara-os usar asas douradas e trazer harpas.
� Os meus cupidos, entregadores de cart�es! � sorriu Lockhart. � Eles v�o circular pela escola durante o dia de hoje entregando os cart�es dos namorados. E a brincadeira n�o termina a�! Tenho certeza de que os meus colegas v�o querer entrar no esp�rito festivo da data! Por que n�o pedir ao Prof�. Snape  para lhes ensinar a preparar uma Po��o de Amor! E por falar nisso, o Prof�. Flitwick conhece mais Feiti�os de Fascina��o do que qualquer outro mago que eu conhe�a, o santinho!
O Prof�. Flitwick escondeu o rosto nas m�os. Snape fez cara de que obrigaria a beber veneno o primeiro aluno que lhe pedisse uma Po��o de Amor.
� Por favor, Mione, me diga que voc� n�o foi uma das quarenta e seis � disse Rony ao deixarem o Sal�o Principal para assistir � primeira aula. A garota de repente ficou muito interessada em procurar na mochila o seu hor�rio e n�o respondeu.
O dia inteiro, os an�es n�o pararam de invadir as salas de aula e entregar cart�es, para irrita��o dos professores e, no fim daquela tarde, quando os alunos da Grifin�ria iam subindo para a aula de Feiti�os, um dos an�es alcan�ou Harry.
� Oi, voc�! "Arry� Potter! � gritou um an�o particularmente mal-encarado, que abria caminho �s cotoveladas para chegar at� Harry.
Cheio de calores s� de pensar em receber um cart�o do dia dos namorados na frente de uma fileira de alunos de primeiro ano, que por acaso inclu�a Gina Weasley.
Harry tentou escapar. O an�o, por�m, meteu-se por entre a garotada chutando as canelas de todos e o alcan�ou antes que o garoto pudesse se afastar dois passos.
� Tenho um cart�o musical para entregar a "Arry" Potter em pessoa � disse, empunhando a harpa de um jeito meio assustador.
� Aqui n�o � sibilou Harry, tentando escapar.
� Fique parado! � grunhiu o an�o, agarrando a mochila de Harry e puxando-o de volta.
� Me solta! � rosnou o garoto, puxando. Com um barulho de pano rasgado, a mochila se rompeu ao meio. Os livros, a varinha, o pergaminho e a pena se espalharam pelo ch�o, e o vidro de tinta se derramou por cima de tudo.
Harry virou-se para todos os lados, tentando reunir tudo antes que o an�o come�asse a cantar, causando um certo engarrafamento no corredor.
� Que � que est� acontecendo aqui? � ouviu-se a voz fria e arrastada de Draco Malfoy. Harry come�ou a enfiar tudo febrilmente na mochila rasgada, desesperado para sair dali antes que Draco pudesse ouvir o cart�o musical.
� Que confus�o � essa? � perguntou outra voz conhecida. Era Percy Weasley que se aproximava.
Perdendo a cabe�a, Harry tentou correr, mas o an�o o agarrou pelos joelhos e o derrubou com estrondo no ch�o.
� Muito bem � disse ele, sentando-se em cima dos calcanhares de Harry. -Vamos ao seu cart�o cantado:

�Teus olhos s�o verdes como sapinhos cozidos, teus cabelos, negros como um quadro de aula. Queria que tu fosses meu, garoto divino, Her�i que venceu o malvado Lord das Trevas.�

Harry teria dado todo o ouro de Gringotes para se evaporar na hora. Fazendo um grande esfor�o para rir com os colegas, ele se levantou, os p�s dormentes com o peso do an�o, enquanto Percy Weasley fazia o poss�vel para dispersar os alunos, alguns chorando de tanto rir.
� V�o andando, v�o andando, a sineta tocou h� cinco minutos, j� para a aula � disse o monitor, espantando os alunos mais novos. � E voc�, Malfoy...
Harry, erguendo a cabe�a, viu Draco se abaixar e apanhar alguma coisa. Mostrou-a, debochando, a Crabbe e Goyle, e Harry percebeu que ele se apossara do di�rio de Riddle.
� Devolva isso aqui � disse Harry controlado.
� Que ser� que Potter andou escrevendo nisso? � disse Draco, que obviamente n�o reparara na data impressa na capa e pensava que era o di�rio de Harry.
Fez-se sil�ncio entre os presentes. Gina olhava do di�rio para Harry, com cara de terror.
� Devolva, Malfoy � disse Percy com severidade.
� Depois que eu olhar � disse Draco, agitando o di�rio no ar para enraivecer Harry.
Percy falou:
� Como monitor... � mas Harry perdera a paci�ncia. Puxou a varinha e gritou:
� "Expelliarmus!" � e do mesmo jeito que Snape desarmara Lockhart, Draco viu o di�rio sair voando de sua m�o. Rony, com um grande sorriso, apanhou-o.
� Harry! � disse Percy em voz alta. � Nada de m�gica nos corredores. Vou ter que reportar isso, sabe!
Mas Harry n�o se importou, ganhara uma vez de Draco e isso valia cinco pontos da Grifin�ria em qualquer dia. Draco ficou furioso e, quando Gina passou por ele para entrar na sala de aula, gritou despeitado:
� Acho que Potter n�o gostou muito do seu cart�o!
Gina cobriu o rosto com as m�os e correu para dentro da sala. Rosnando, Rony puxou a varinha tamb�m, mas Harry agarrou-o para afast�-lo. O amigo n�o precisava passar a aula de Feiti�os inteira arrotando lesmas.
Somente quando chegaram � sala de aula do Prof�. Flitwick foi que Harry notou uma coisa muito estranha no di�rio de Riddle. Todos os seus livros estavam ensopados de tinta vermelha. O di�rio, por�m, continuava t�o limpo como antes do tinteiro quebrar em cima dele. Tentou dizer isto a Rony, que estava enfrentando novos problemas com a varinha; grandes bolhas saiam da ponta, e ele n�o estava muito interessado em nada mais.
Harry se recolheu ao dormit�rio antes dos colegas �quela noite. Em parte era porque achava que n�o ia conseguir ag�entar Fred e Jorge cantando "Teus olhos s�o verdes como sapinhos cozidos" mais uma vez, e em parte porque queria examinar o di�rio de Riddle e sabia que Rony achava que era uma perda de tempo.
Harry sentou-se na cama de colunas e folheou as p�ginas em branco, nenhuma das quais tinha sequer vest�gio de tinta vermelha. Ent�o tirou um tinteiro novo do arm�rio ao lado da cama, molhou a pena e deixou cair um pingo na primeira p�gina do di�rio.
A tinta brilhou intensamente no papel durante um segundo e, em seguida, como se estivesse sendo chupada pela p�gina, desapareceu. Excitado, Harry tornou a molhar a pena uma segunda vez e escreveu: "Meu nome � Harry Potter.�
As palavras brilharam momentaneamente na p�gina e tamb�m desapareceram sem deixar vest�gios. Ent�o, finalmente, aconteceu uma coisa.
Filtrando-se de volta � p�gina, com a pr�pria tinta de Harry, surgiram palavras que ele nunca escrevera.
"Ol�, Harry Potter! Meu nome � Tom Riddle. Como foi que voc� encontrou o meu di�rio?�
Essas palavras tamb�m se dissolveram, mas n�o antes de Harry recome�ar a escrever.
"Algu�m tentou se desfazer dele no vaso sanit�rio.�
Ele esperou, ansioso, pela resposta de Riddle.
"Que sorte que registrei minhas mem�rias em algo mais dur�vel que a tinta. Mas sempre soube que haveria gente que n�o ia querer que este di�rio fosse lido.�
"Que quer dizer com isso?", escreveu Harry. Borrando a p�gina de tanta excita��o.
"Quero dizer que este di�rio guarda mem�rias de coisas terr�veis. Coisas que foram abafadas. Coisas que aconteceram na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.�
"� onde eu estou agora", respondeu Harry depressa. "Estou em Hogwarts e coisas terr�veis est�o acontecendo. Sabe alguma coisa sobre a C�mara Secreta?�
Seu cora��o batia forte. A resposta de Riddle veio depressa, a caligrafia mais desleixada, como se estivesse correndo para contar tudo o que sabia.
"Claro que sei alguma coisa sobre a C�mara Secreta. No meu tempo, disseram � gente que era uma lenda, que n�o existia. Mas era uma mentira. No meu quinto ano, a C�mara foi aberta e o monstro atacou v�rios alunos e finalmente matou um. Peguei a pessoa que tinha aberto a C�mara e ela foi expulsa. Mas o diretor, Prof�. Dippet, constrangido porque uma coisa dessas acontecera em Hogwarts, proibiu-me de contar a verdade. A hist�ria que foi divulgada � que a menina morrera em um acidente imprevis�vel. Eles me deram um trof�u bonito, reluzente e gravado, pelo meu trabalho, e me avisaram para ficar de boca fechada. O monstro continuou vivo, e aquele que tinha o poder de libert�-lo n�o foi preso.�
Harry quase derrubou o tinteiro na pressa de responder.
"Est� acontecendo outra vez agora. Houve tr�s ataques, e ningu�m parece saber quem est� por tr�s deles. Quem foi da �ltima vez?�
"Posso lhe mostrar, se voc� quiser". Veio a resposta de Riddle. "Voc� n�o precisa acreditar no que digo. Posso lev�-lo � minha lembran�a da noite em que o peguei.�
Harry hesitou, a pena suspensa sobre o di�rio. Que � que Riddle queria dizer? Como � que ele podia ser levado para dentro da lembran�a de outra pessoa? Olhou nervoso, para a porta do dormit�rio que estava ficando escuro. Quando tornou a olhar para o di�rio, viu novas palavras se formando.
"Deixe eu lhe mostrar�
Harry parou por uma fra��o de segundo e em seguida escreveu duas letras:
"OK.�
As p�ginas do di�rio come�aram a virar como se tivessem sido apanhadas por um vendaval e pararam na metade do m�s de junho. Boquiaberto, Harry viu que o quadradinho correspondente ao dia treze de junho parecia ter-se transformado numa telinha de televis�o. Com as m�os ligeiramente tremulas, ele ergueu o livro para encostar o olho na janelinha e antes que entendesse o que estava acontecendo, viu-se inclinando para frente; a janela foi se alargando, ele sentiu o corpo abandonar a cama e mergulhar de cabe�a na abertura da p�gina, num rodamoinho de cores e sombras.
Depois, sentiu o p� bater em ch�o firme e ficou parado, tr�mulo, e as formas borradas � sua volta entraram de repente em foco.
Soube imediatamente onde se achava. Essa sala circular com os retratos que cochilavam era o escrit�rio de Dumbledore, mas n�o era Dumbledore quem se sentava � escrivaninha. Um bruxo mirrado e fr�gil, careca, exceto por alguns fiapos de cabelos brancos, lia uma carta � luz da vela. Harry nunca vira esse homem antes.
� Sinto muito � disse, tr�mulo �, n�o tive inten��o de entrar assim...
Mas o bruxo n�o ergueu a cabe�a. Continuou a ler, franzindo ligeiramente a testa.
Harry se aproximou mais da escrivaninha e gaguejou:
� Hum... Vou me retirar, posso?
O bruxo continuou a n�o lhe dar aten��o. Nem parecia t�-lo ouvido. Achando que o bruxo talvez fosse surdo, Harry falou mais alto.
� Sinto muito se o incomodei. Vou-me embora agora � falou quase gritando.
O bruxo dobrou a carta com um suspiro, levantou-se, passou por Harry sem olh�-lo e foi abrir as cortinas da janela.
O c�u l� fora estava cor de rubi; parecia ser o p�r-do-sol. O bruxo voltou � escrivaninha, sentou-se e ficou girando os polegares, de olho na porta.
Harry correu o olhar pela sala. N�o havia Fawkes, a f�nix � nem mecanismos barulhentos de prata. Era a Hogwarts que Riddle conhecera, o que significava que este bruxo desconhecido era o diretor em vez de Durnbledore, e que ele, Harry, era pouco mais do que um fantasma, completamente invis�vel �s pessoas de cinq�enta anos atr�s.
Algu�m bateu � porta da sala.
� Entre � disse o velho bruxo com a voz fraca.
Um menino de uns dezesseis anos entrou tirando o chap�u c�nico. Um distintivo de monitor brilhava em seu peito. Ele era mais alto do que Harry, mas seus cabelos tamb�m eram muito negros.
� Ah, Riddle � exclamou o diretor.
� O senhor queria me ver, Prof�. Dippet � disse o garoto, que parecia nervoso.
� Sente-se � convidou Dippet. � Acabei de ler a carta que voc� me mandou.
� Ah � disse Riddle, e se sentou apertando as m�os com for�a.
� Meu caro rapaz � disse Dippet bondosamente. � N�o posso deix�-lo permanecer na escola durante o ver�o. Com certeza voc� quer ir para a casa passar as f�rias?
� N�o � respondeu Riddle na mesma hora. � Preferia continuar em Hogwarts do que voltar para aquele... Aquele...
� Voc� mora num orfanato de trouxas nas f�rias, n�o �? � perguntou Dippet, curioso.
� Moro, sim, senhor � respondeu Riddle, corando ligeiramente.
� Voc� nasceu trouxa?
� Mesti�o. Pai trouxa e m�e bruxa.
� E seus pais...
� Minha m�e morreu logo depois que eu nasci. Me disseram no orfanato que ela s� viveu o tempo suficiente para me dar um nome... Tom, em homenagem ao meu pai, Servolo, ou meu avo.
Dippet deu um muxoxo de simpatia.
� O problema �, Tom � suspirou ele �, que talvez pud�ssemos tomar provid�ncias para acomod�-lo, mas nas atuais circunst�ncias.
� O senhor se refere aos ataques? � perguntou Riddle, e o cora��o de Harry deu um salto, ao que ele se aproximou mais, com medo de perder alguma palavra.
� Precisamente � disse o diretor. � Meu rapaz, voc� deve entender que seria muito insensato de minha parte permitir que voc� permane�a no castelo quando terminar o ano letivo. Principalmente � luz da recente trag�dia... A morte daquela pobre menininha... Voc� estar� muito mais seguro no seu orfanato. Ali�s, o Minist�rio da Magia est� neste momento falando em fechar a escola, N�o estamos nem perto de identificar a... Hum... Fonte de todos esses contratempos...
Os olhos de Riddle se arregalaram.
� Diretor, se a pessoa fosse apanhada, se tudo isso acabasse...
� Que quer dizer? � perguntou Dippet esgani�ando a voz e aprumando-se na cadeira. � Riddle, voc� est� me dizendo que sabe alguma coisa sobre esses ataques?
� N�o, senhor � respondeu Riddle depressa.
Mas Harry teve certeza de que era o mesmo tipo de "n�o� que ele pr�prio dissera a Dumbledore.
Dippet se recostou parecendo ligeiramente desapontado.
� Pode ir, Tom...
Riddle se levantou escorregando para fora da cadeira e saiu acabrunhado da sala.
Harry acompanhou-o.
Eles desceram pela escada em caracol e sa�ram ao lado da g�rgula no corredor que escurecia. Riddle parou, e Harry fez o mesmo, observando-o. Era vis�vel que Riddle estava pensando em coisas serias. Mordia o l�bio e franzia a testa.
Ent�o, como se tivesse repentinamente chegado a uma decis�o, afastou-se depressa, e Harry deslizou silenciosamente atr�s dele. N�o viram mais ningu�m at� chegarem ao sagu�o de entrada, onde um bruxo alto, com barba e longos cabelos acajus que cascateavam pelos seus ombros, chamou Riddle da escadaria de m�rmore.
� Que � que voc� est� fazendo, andando por ai t�o tarde, Tom?
Harry boquiabriu-se ao ver o bruxo. N�o era outro se n�o Dumbledore, cinq�enta anos mais novo.
� Tive que ir ver o diretor.
� Ent�o v� logo para a cama � disse Dumbledore, fixando em Riddle exatamente o tipo de olhar penetrante que Harry conhecia t�o bem. � � melhor n�o perambular pelos corredores hoje em dia. N�o desde que...
Ele soltou um pesado suspiro, desejou boa noite a Riddle e foi-se embora. Riddle observou-o desaparecer de vista e ent�o, andando depressa, rumou direto para a escada de pedra que levava �s masmorras, com Harry nos seus calcanhares.
Mas para desapontamento de Harry, Riddle n�o o levou nem a um corredor oculto nem a um t�nel secreto, mas a mesm�ssima masmorra em que Harry tinha aula de Po��es com Snape. Os archotes n�o tinham sido acesos e, quando Riddle empurrou a porta quase fechada, Harry s� conseguiu distinguir que ele parara im�vel � porta, vigiando o corredor.
Pareceu a Harry que ficaram ali no m�nimo uma hora. S� o que ele via era o vulto de Riddle � porta, espiando pela fresta, esperando como uma est�tua. E quando Harry esqueceu a ansiedade e a tens�o e come�ou a desejar voltar ao presente, ouviu alguma coisa do lado de fora da porta.
Algu�m estava andando sorrateiramente pelo corredor.
Ouviu esse algu�m passar pela masmorra em que ele e Riddle estavam escondidos. Riddle, silencioso como uma sombra, esgueirou-se pela porta e seguiu a pessoa, Harry acompanhou-o nas pontas dos p�s, esquecido de que ningu�m podia ouvi-lo.
Por uns cinco minutos, talvez, os dois seguiram as pegadas, at� que Riddle parou subitamente, a cabe�a inclinada, atento a novos ru�dos. Harry ouviu uma porta se abrir com um rangido, e algu�m falar num sussurro rouco.
� Vamos... Preciso sair daqui... Vamos logo... Para a caixa...
Havia alguma coisa familiar naquela voz...
De um salto Riddle contornou um canto. Harry foi atr�s. Via a silhueta escura de um garoto enorme, agachado diante de uma porta aberta, com uma grande caixa ao lado.
� Noite, Rubeo � disse Riddle rispidamente.
O garoto bateu a porta e se levantou.
� Que � que voc� est� fazendo aqui em baixo, Tom?
Riddle se aproximou.
� Acabou � disse. � Vou ter que entreg�-lo, R�beo. Est�o falando em fechar Hogwarts se os ataques n�o pararem.
� Que � que...
� Acho que voc� n�o teve inten��o de matar ningu�m. Mas monstros n�o s�o bichinhos de estima��o. Imagino que voc� o tenha soltado para fazer exerc�cio e...
� Ele nunca mataria ningu�m! � disse o garot�o, recuando contra a porta fechada.
Atr�s dele, Harry podia ouvir uns rumores e uns cliques esquisitos.
� Vamos, R�beo � falou Riddle, aproximando-se ainda mais.
� Os pais da garota morta estar�o aqui amanh�. O m�nimo que Hogwarts pode fazer � garantir que a coisa que matou a filha deles seja abatida...
� N�o foi ele! � rugiu o garoto, a voz ecoando no corredor escuro. � Ele n�o faria isso! Nunca!
� Afaste-se � disse Riddle, puxando a varinha.
Seu feiti�o iluminou repentinamente o corredor com uma luz flamejante. A porta atr�s do garot�o se escancarou com tal for�a que o empurrou contra a parede oposta. E pelo v�o saiu uma coisa que fez Harry soltar um grito comprido e penetrante que ningu�m ouviu...
Um corpanzil baixo e peludo e um emaranhado de pernas pretas; um brilho de muitos olhos e um par de pin�as afiad�ssimas � Riddle tornou a erguer a varinha, mas demorou demais. A coisa derrubou-o e fugiu, desembestou pelo corredor e desapareceu de vista. Riddle levantou-se correndo, procurando a coisa; ergueu a varinha, mas o garot�o pulou em cinta dele, tirou-lhe a varinha e o derrubou de novo no ch�o gritando:
� NAAAA���O!
A cena girou, a escurid�o foi total; Harry sentiu-se caindo e, com um baque, aterrissou de bra�os e pernas abertas em sua cama de colunas no dormit�rio da Grifin�ria, com o di�rio de Riddle aberto sobre a barriga.
Antes que tivesse tempo de recuperar o f�lego, a porta do dormit�rio se abriu e Rony entrou.
� Ah, � aqui que voc� est�! � disse.
Harry se sentou. Estava suado e tr�mulo.
� Que aconteceu? � perguntou Rony, olhando-o preocupado.
� Foi Hagrid, Rony. Hagrid abriu a porta da C�mara Secreta h� cinq�enta anos.

















CAP�TULO CATORZE
Corn�lio Fudge

Harry, Rony e Mione sempre souberam que Hagrid tinha uma lament�vel queda por criaturas grandes e monstruosas. Durante o primeiro ano em Hogwarts, ele tentara criar um drag�o em sua casinha de madeira, e levaria muito tempo para os garotos esquecerem o gigantesco cachorro de tr�s cabe�as a que ele dera o nome de "Fofo". E se, quando era crian�a, Hagrid tivesse ouvido falar que havia um monstro escondido em algum lugar do castelo, Harry tinha certeza de que ele teria feito o poss�vel para dar uma espiada. E provavelmente pensaria que era uma vergonha o monstro ficar preso tanto tempo e que merecia uma oportunidade de esticar as pernas; Harry bem podia imaginar o Hagrid de treze anos tentando p�r uma coleira e uma guia no bicho, mas tinha igualmente certeza de que Hagrid jamais quisera matar algu�m.
Chegou a desejar que n�o tivesse descoberto como trabalhar com o di�rio de Riddle.
Rony e Mione o fizeram repetir v�rias vezes o que vira, at� ele ficar cheio de contar e cheio das conversas compridas e tortuosas que se seguiam � sua historia.
� Riddle pode ter apanhado a pessoa errada � disse Mione. � Talvez fosse outro o monstro que estava atacando as pessoas..
� Quantos monstros voc�s acham que cabem aqui no castelo? � perguntou Rony abobado.
-Sempre soubemos que Hagrid foi expulso � disse Harry, infeliz. � E os ataques devem ter parado depois que o mandaram embora. Do contr�rio, Riddle n�o teria ganho um pr�mio.
Rony tentou um �ngulo diferente.
� Riddle se parece com o Percy, afinal quem pediu a ele para dedurar o Hagr�d?
� Mas o monstro tinha matado algu�m, Rony � lembrou Mione.
� E Riddle ia voltar para um orfanato de trouxas se fechassem Hogwarts � disse Harry. � N�o posso culp�-lo por querer ficar aqui...
� Voc� encontrou o Hagrid na Travessa do Tranco, n�o foi, Harry?
� Ele estava comprando um repelente para lesmas carn�voras � respondeu Harry depressa.
Os tr�s se calaram. Passado muito tempo Mione deu voz � pergunta mais cabeluda num tom hesitante.
� Voc�s acham que devemos perguntar ao Hagrid o que aconteceu?
� Ia ser uma visita animada � disse Rony. � Ol�, Hagrid. Conte para a gente, voc� andou soltando alguma coisa selvagem e peluda no castelo, ultimamente?
Por fim, eles resolveram n�o dizer nada a Hagrid a n�o ser que houvesse outro ataque e, como muitos e muitos dias se passaram sem sequer um sussurro da voz invis�vel, come�aram a alimentar esperan�as de que nunca precisariam perguntar a ele os motivos de sua expuls�o. Fazia agora quase quatro meses desde que Justino e Nick Quase Sem Cabe�a tinham sido petrificados, e quase todo mundo parecia pensar que o atacante, fosse quem fosse, tinha se retirado para sempre. Pirra�a finalmente se cansara do seu refr�o "Ah, Potter podre", Ernie Macmillan pediu certo dia a Harry, com muita educa��o, para lhe passar um balde de sapos saltitantes na aula de Herbologia, e em mar�o v�rias mandr�goras deram uma festa de arromba na estufa tr�s, o que deixou a Prof� Sprout muito feliz.
� Na hora em que come�arem a tentar se mudar para os vasos umas das outras ent�o saberemos que est�o completamente adultas � explicou ela a Harry.
� Ent�o poderemos ressuscitar aqueles pobrezinhos na ala hospitalar.
Os alunos do segundo ano receberam algo novo em que pensar durante os feriados de P�scoa. Chegara � hora de escolher as mat�rias para o terceiro ano, um assunto que pelo menos Mione levou muito a s�rio.
� Pode afetar todo o nosso futuro � disse a Harry e Rony enquanto examinavam as listas das novas mat�rias, marcando-as com tiques.
� Eu s� quero desistir de Po��es � falou Harry .
� N�o podemos � contrap�s Rony desanimado. � Continuamos com todas as mat�rias antigas ou eu teria descartado Defesa contra as Artes das trevas.
Mas essa � muito importante! � exclamou Mione chocada.
� N�o do jeito que o Lockhart ensina � disse Rony. � Eu n�o aprendi nada com ele a n�o ser que � perigoso deixar diabretes soltos.
Neville Longbottom recebera cartas de todos os bruxos e bruxas da fam�lia, cada um deles lhe dando um conselho diferente sobre o que escolher. Confuso e preocupado, ele se sentou para ler as listas de mat�rias, com a l�ngua de fora, perguntando �s pessoas se achavam que Aritmancia parecia mais dif�cil do que o estudo das Runas Antigas. Dino Thomas que, como Harry, crescera entre trouxas, por fim fechou os olhos e ia apontando a varinha para a lista e escolhendo as mat�rias em que ela tocava. Mione n�o pediu conselho de ningu�m, matriculou-se em todas.
Harry sorriu constrangido em pensar o que o tio V�lter e a tia Pet�nia diriam se ele tentasse discutir sua carreira de bruxo com os dois. N�o que ele n�o recebesse nenhuma orienta��o:
Percy Weasley estava ansioso para partilhar com ele a experi�ncia que tinha.
� Depende aonde voc� quer chegar Harry � disse. � Nunca � cedo demais para pensar no futuro, por isso eu recomendo Adivinha��o. As pessoas dizem que Estudo dos Trouxas � moleza, e pessoalmente acho que os bruxos deviam ter uma compreens�o total da comunidade n�o-m�gica, particularmente se est�o pensando em trabalhar em contato com eles, olhe s� o meu pai, tem que tratar de assuntos dos trouxas o tempo todo.  Meu irm�o Carlinhos sempre foi uma pessoa que gostou do ar livre, por isso se especializou na Cria��o de Criaturas M�gicas. Favore�a suas inclina��es, Harry.
Mas a �nica coisa em que Harry se achava muito bom era no Quadribol. Por fim ele acabou escolhendo as mesmas mat�rias novas que Rony, achando que se fosse mal, pelo menos teria um amigo para ajud�-lo.
O pr�ximo jogo da Grifin�ria seria contra a Lufa-Lufa. Wood insistia em fazer treinos todas as noites depois do jantar, de modo que Harry mal tinha tempo para mais nada, exceto o Quadribol e os deveres de casa. Entretanto, os treinos estavam mais amenos, ou pelo menos estavam mais secos e, na v�spera do jogo de s�bado, ele foi ao dormit�rio guardar a vassoura, sentindo que as chances da Grifin�ria para a ta�a de Quadribol nunca tinham sido maiores.
Mas sua anima��o n�o durou muito. No alto da escada para o dormit�rio, ele encontrou Neville Longbottom, que parecia transtornado.
� Harry, n�o sei quem fez aquilo, acabei de encontrar...
Olhando para Harry amedrontado, Neville abriu a porta.
O conte�do do mal�o de Harry estava espalhado por todos os lados. Sua capa estava rasgada no ch�o. As roupas de cama tinham sido arrancadas, e a gaveta puxada do arm�rio ao lado da cama, e seu conte�do espalhado em cima do colch�o.
Harry aproximou-se da cama, boquiaberto, pisando em cima de umas p�ginas soltas de Viagens com trasgos. Enquanto ele e Neville rearrumavam a cama, Rony, Dino e Simas entraram. Dino disse um palavr�o em voz alta.
� Que aconteceu, Harry?
� N�o fa�o id�ia � disse Harry. Mas Rony examinava as vestes de Harry. Todos os bolsos tinham sido revirados.
� Algu�m andou procurando alguma coisa � disse Rony. � Tem alguma coisa faltando?
Harry come�ou a apanhar as coisas e a atir�-las para dentro do mal�o. Somente quando ele atirou o �ltimo livro de Lockhart foi que se deu conta do que estava faltando.
� O di�rio de Riddle desapareceu � disse em voz baixa a Rony.
Harry indicou com a cabe�a a porta do dormit�rio, e Rony o seguiu para fora. Juntos desceram correndo at� a sala comunal da Grifin�ria, quase vazia �quela hora, e se reuniram a Mione, que estava sentada sozinha, lendo um livro chamado Runas Antigas sem Mist�rios.
Mione ficou perplexa com as not�cias.
� Mas... S� outro aluno da Grifin�ria poderia ter roubado, ningu�m mais sabe a senha...
� Exatamente � disse Harry.
Eles acordaram na manh� seguinte com um sol radioso e uma brisa leve e fresca.
� Condi��es perfeitas para o Quadriboll � exclamou Wood, entusiasmado, � mesa da Grifin�ria, enchendo os pratos dos jogadores com ovos mexidos. -Harry, mexa-se, voc� precisa de um caf� da manh� decente.
Harry estivera observando a mesa da Grifin�ria, cheia de alunos, imaginando se o novo dono do di�rio de Riddlle estaria ali, bem diante dos seus olhos.
Mione andou insistindo que ele comunicasse o roubo, mas Harry n�o gostou da id�ia. Teria que contar a um professor tudo que sabia sobre o di�rio, e quantas pessoas sabiam por que Hagrid fora expulso h� cinq�enta anos? N�o queria ser a pessoa a trazer tudo � tona de novo.
Quando saiu do Sal�o Principal com Rony e Mione para ir apanhar o equipamento de Quadribol, mais uma preocupa��o muito s�ria se somou � sua lista crescente.
Tinha acabado de p�r o p� na escadaria de m�rmore quando ouviu outra vez...
"Matar desta vez... deixe-me cortar.. Estra�alhar..�
Ele deu um grito alto e Rony e Mione saltaram para longe assustados.
� A voz! � disse Harry, espiando por cima do ombro. � Acabei de ouvi-la de novo, voc�s n�o ouviram?
Rony sacudiu a cabe�a, os olhos arregalados. Mione, por�m, deu uma palmada na testa.
� Harry, acho que acabei de entender uma coisa! Tenho de ir at� a biblioteca!
E, deixando os amigos, subiu as escadas correndo.
� Que � que ela entendeu? � perguntou Harry distra�do, ainda olhando � volta, tentando descobrir de onde vinha a voz.
� Muito mais do que eu � disse Rony, sacudindo a cabe�a.
� Mas por que ela tem de ir � biblioteca?
� Porque � isso que Mione faz � disse Rony sacudindo os ombros. � Quando tiver uma d�vida, v� � biblioteca.
Harry ficou parado, indeciso, tentando ouvir a voz novamente, mas os alunos agora vinham saindo do Sal�o Principal as suas costas, falando alto, dirigindo-se � porta da frente a caminho do campo de Quadribol.
� � melhor voc� ir andando � disse Rony. � S�o quase onze horas, o jogo...
Harry correu at� a Torre da Grifin�ria, apanhou sua Nimbus 2000 e se juntou � multid�o que atravessava os jardins, mas sua cabe�a continuava no castelo com a voz invis�vel e, enquanto vestia o uniforme vermelho no vesti�rio, seu �nico consolo era que todo mundo estava l� fora para assistir ao jogo.
Os times entraram em campo sob aplausos estrondosos. Olivio Wood decolou para um v�o de aquecimento em volta das balizas; Madame Hooch lan�ou as bolas. Os jogadores da Lufa-Lufa, que jogavam de amarelo-can�rio, estavam amontoados num bolinho, discutindo t�ticas de �ltima hora.
Harry ia montar a vassoura quando viu a Prof�. McGonagall vir decidida em sua dire��o, quase correndo, com um enorme megafone p�rpura na m�o.
O cora��o de Harry sofreu um baque violento.
� O jogo foi cancelado � a Prof�. McGonagall anunciou pelo megafone, dirigindo-se ao est�dio. Ouviram-se vaias e gritos.
Ol�vio Wood, arrasado, pousou e correu para a professora sem desmontar da vassoura.
� Mas, professora! � gritou. � Temos que jogar, a ta�a, Grifin�ria...
McGonagall n�o lhe deu aten��o e continuou a falar pelo megafone:
� Todos os alunos devem se dirigir �s salas comunais de suas casas, onde os diretores das casas dar�o maiores informa��es. O mais r�pido que puderem, por favor!
Ent�o, baixou o megafone e chamou Harry.
� Potter, acho que � melhor voc� vir comigo...
Imaginando como � que ela poderia suspeitar dele desta vez, Harry viu Rony se separar da multid�o que reclamava; correu para os dois que j� iam a caminho do castelo. Para surpresa de Harry, a professora n�o fez obje��o.
� �, talvez seja melhor voc� vir tamb�m, Weasley...
Alguns alunos que caminhavam perto deles reclamavam do cancelamento do jogo; outros pareciam preocupados. Harry e Rony acompanharam a Prof�. McGonagall de volta � escola e subiram a escadaria de m�rmore. Mas n�o foram levados � sala de ningu�m desta vez.
� Vai ser um pouco chocante para voc�s � disse a Prof�. McGonagall, num tom surpreendentemente gentil quando se aproximavam da enfermaria. � Houve mais um ataque... Mais um ataque duplo.
As entranhas de Harry deram uma terr�vel cambalhota. A professora abriu aporta e ele e Rony entraram.
Madame Pomfrey estava curvada sobre uma menina do quinto ano, de cabelos longos e crespos. Harry reconheceu a aluna da Corvinal a quem por acaso perguntaram onde ficava a sala da Sonserina. E na cama ao lado achava-se...
� Mione! � gemeu Rony.
Mione estava deitada absolutamente im�vel, os olhos abertos e vidrados.
� Elas foram encontradas perto da biblioteca � disse a Prof�. McGonagall. � Suponho que nenhum dos dois tenha uma explica��o para isto. Estava no ch�o ao lado delas...
Segurava um pequeno espelho circular.
Harry e Rony balan�aram a cabe�a, com os olhos fixos em Mione.
� Vou acompanh�-los de volta � Torre da Grifinoria � continuou a professora deprimida. � Tenho mesmo que falar com os alunos.
� Todos os alunos devem voltar � sala comunal de suas casas at� as seis horas da tarde.  Nenhum aluno deve sair dos dormit�rios depois dessa hora. Um professor os acompanhar� a cada aula. Nenhum aluno deve usar o banheiro a n�o ser escoltado por um professor. Todos os treinos e jogos de Quadribol est�o adiados. N�o haver� mais atividades noturnas.
Os alunos da Grifin�ria aglomerados na sala comunal ouviram a professora em sil�ncio. Ela enrolou o pergaminho que acabara de ler e disse com a voz um tanto embargada:
� N�o preciso acrescentar que raramente me senti t�o aflita. � prov�vel que fechem a escola a n�o ser que o autor desses ataques seja apanhado. Eu pediria a quem achar que talvez saiba alguma coisa que me procure.
Foi ela sair um tanto desajeitada pelo buraco do retrato e os alunos come�arem a falar imediatamente.
� S�o dois alunos da Grifin�ria atacados, sem contar o nosso fantasma, um aluno da Corvinal e um da Lufa-Lufa � disse o amigo dos g�meos Weasley, Lino Jordan, contando nos dedos. � Ser� que nenhum professor reparou que os alunos da Sonserina n�o foram tocados? N�o � �bvio que essa coisa toda est� vindo da Sonserina? O herdeiro de Slytherin, o monstro da Sonserina, por que � que eles n�o mandam embora todo o pessoal da Sonserina? � vociferou ele, em meio a acenos de concord�ncia e aplausos.
Percy Weasley estava sentado em uma poltrona atr�s de Lino, mas desta vez n�o parecia ansioso para dizer o que pensava. Parecia p�lido e atordoado.
� Percy ficou em estado de choque � disse Jorge a Harry, baixinho. � Aquela menina da Corvinal, Penelope Clearwater, � monitora. Acho que ele n�o pensou que o monstro se atrevesse a atacar um monitor.
Mas Harry s� estava ouvindo com metade da aten��o. N�o estava conseguindo se livrar da vis�o de Mione deitada na cama de hospital como se tivesse sido talhada em pedra. E se o culpado n�o fosse apanhado logo, o que o aguardava era uma vida com os Dursley. Tom Riddle entregara Hagrid porque teria que enfrentar um orfanato de trouxas se a escola fechasse.
Harry agora sabia exatamente o que ele sentira.
� Que � que vamos fazer? � perguntou Rony baixinho ao ouvido de Harry. � Voc� acha que eles suspeitam de Hagrid?
� Precisamos ir falar com ele � disse Harry decidindo-se. � N�o posso acreditar que desta vez ele seja o culpado, mas se soltou o monstro da �ltima vez saber� como entrar na C�mara Secreta, e isto � um come�o.
� Mas McGonagall disse para ficarmos em nossa torre a n�o ser na hora das aulas...
� Acho � disse Harry, mais baixinho ainda � que est� na hora de tirar outra vez da mala a velha capa do meu pai.
Harry herdara somente uma coisa do pai: uma longa capa de invisibilidade prateada. Era a �nica chance que tinham de sair escondidos da escola para visitar Hagrid, sem ningu�m ficar sabendo. Assim, foram se deitar na hora de costume, esperaram at� Neville, Dino e Simas pararem de discutir sobre a C�mara Secreta e irem finalmente dormir, ent�o se levantaram, vestiram-se outra vez e jogaram a capa por cima dos dois.
A viagem pelos corredores escuros e desertos do castelo n�o foi um prazer. Harry, que perambulara pelo castelo � noite v�rias vezes antes, nunca os vira t�o cheios depois do p�r-do-sol. Professores, monitores e fantasmas andavam pelos corredores aos pares, olhando tudo atentamente, � procura de alguma atividade incomum.
A capa da invisibilidade n�o os impedia de fazer barulho, e houve um momento particularmente tenso em que Rony deu uma topada a poucos metros do lugar onde Snape estava montando guarda. Felizmente, Snape espirrou quase ao mesmo tempo que Rony xingou. Foi com alivio que chegaram �s portas de entrada e as abriram devagarinho.
Fazia uma noite clara e estrelada. Eles correram em dire��o �s janelas iluminadas da casa de Hagrid e despiram a capa somente quando estavam � sua porta de entrada.
Segundos depois de terem batido, Hagrid escancarou a porta.
Eles deram de cara com um arco que o amigo apontava. Canino, o c�o de ca�ar javalis, o acompanhava dando fortes latidos.
� Ah � exclamou ele, baixando a arma e encarando os meninos. � Que � que voc�s est�o fazendo aqui?
� Para que � isso? � perguntou Harry, ao entrarem, apontando para o arco.
� Nada... Nada... � murmurou Hagrid. � Estava esperando... N�o faz mal... Sentem... Vou preparar um ch�...
Ele parecia n�o saber muito bem o que estava fazendo. Quase apagou a lareira ao derramar �gua da chaleira e em seguida amassou o bule com um movimento nervoso da m�o enorme.
� Voc� est� bem, Hagrid? � perguntou Harry. � Soube do que aconteceu com a Mione?
� Ah, soube, soube, sim � respondeu Hagrid, com a voz ligeiramente falha.
Ele n�o parava de olhar nervoso para as janelas. Serviu aos meninos dois canec�es de �gua fervendo (esquecera-se de p�r ch� na chaleira) e ia servindo uma fatia de bolo de frutas num prato quando ouviram uma forte batida na porta.
Hagrid deixou cair o bolo de frutas. Harry e Rony se entreolharam em p�nico, mas logo se cobriram com a capa e se retiraram para um canto. Hagrid se certificou de que os garotos estavam escondidos, apanhou o arco e escancarou mais uma vez a porta.
� Boa-noite, Hagrid.
Era Dumbledore. Ele entrou, parecendo mortalmente s�rio e vinha acompanhado por um homem de aspecto muito esquisito.
O estranho tinha os cabelos grisalhos despenteados, uma express�o ansiosa e usava uma estranha combina��o de roupas: terno de risca de giz, gravata vermelha, uma longa capa preta e botas roxas de bico fino. Sob o bra�o carregava um chap�u-coco cor de lim�o.
� � o chefe do papai! � cochichou Rony. � Corn�lio Fudge, Ministro da Magia!
Harry deu uma forte cotovelada em Rony para faz�-lo calar-se.
Hagrid empalidecera e suava. Deixou-se cair em uma cadeira e olhava de Dumbledore para Corn�lio Fudge.
� Problema s�rio, Hagrid � disse Fudge em tom seco. � Problema muito s�rio. Tive que vir. Quatro ataques em alunos nascidos trouxas. As coisas foram longe demais. O Minist�rio teve que agir.
� Eu nunca � disse Hagrid, olhando suplicante para Dumbledore. � O senhor sabe que eu nunca, Prof�. Dumbledore...
� Quero que fique entendido, Corn�lio, que Hagrid goza de minha inteira confian�a � disse Dumbledore fechando a cara para Fudge.
� Olhe, Alvo � respondeu Fudge, constrangido. � A ficha de Hagrid dep�e contra ele. O Minist�rio teve que fazer alguma coisa, o conselho diretor da escola entrou em contato...
� Contudo, Corn�lio, continuo a afirmar que levar Hagrid n�o vai resolver nada � disse Dumbledore. Seus olhos azuis tinham uma intensidade que Harry nunca vira antes.
� Procure entender o meu ponto de vista � disse Fudge, manuseando o chap�u coco. � Estou sofrendo muita press�o. Precisam ver que estou fazendo alguma coisa. Se descobrirmos que n�o foi Hagrid, ele voltar� e n�o se fala mais no assunto. Mas tenho que lev�-lo. Tenho. N�o estaria cumprindo o meu dever...
� Me levar? � perguntou Hagrid, come�ando a tremer. � Me levar aonde?
� S� por um tempo � disse Fudge sem encarar Hagrid nos olhos. � N�o � um castigo, Hagrid, � mais uma precau��o. Se outra pessoa for apanhada, voc� ser� solto com as nossas desculpas...
� N�o para Azkaban? � lamentou Hagrid, rouco.
Antes que Fudge pudesse responder, ouviram outra batida forte na porta.
Dumbledore atendeu-a. Foi a vez de Harry levar uma cotovelada nas costelas; deixara escapar uma exclama��o aud�vel.
O Sr. L�cio Malfoy entrou decidido na cabana de Hagrid, envolto em uma longa capa de viagem, com um sorriso frio e satisfeito. Canino come�ou a rosnar.
� J� est� aqui, fudge � disse em tom de aprova��o. � Muito bem...
� Que � que o senhor est� fazendo aqui? � perguntou Hagrid furioso. � Saia da minha casa!
� Meu caro, por favor acredite em mim, n�o me d� nenhum prazer estar no seu... Hum... Voc� chama isso de casa?� disse L�cio Malfoy, desdenhoso, correndo os olhos pela pequena cabana. � Simplesmente vim � escola e me disseram que o diretor se encontrava aqui.
� E o que era exatamente que voc� queria comigo, L�cio? � perguntou Dumbledore. Falou com cortesia, mas a intensidade ainda encandecia os seus olhos azuis.
� � Lament�vel, Dumbledore � disse Malfoy sem pressa, puxando um rolo de pergaminho �, mas os conselheiros acham que est� na hora de voc� se retirar. Tenho aqui uma Ordem de Suspens�o, com as doze assinaturas. Receio que o Conselho pense que voc� est� perdendo o jeito. Quantos ataques houve at� agora? Mais dois hoje � tarde, n�o foi? Nesse ritmo, n�o sobrar�o alunos nascidos trouxas em Hogwarts, e todos sabemos que perda horr�vel isto seria para a escola.
� Ah, olhe aqui, L�cio � disse Fudge, parecendo assustado �, Dumbledore suspenso, n�o, n�o, a �ltima coisa que queremos neste momento...
� A nomea��o, ou a suspens�o de um diretor � assunto do Conselho, Fudge � disse o Sr. Malfoy suavemente. � E como Dumbledore n�o conseguiu fazer parar os ataques...
� Olhe aqui, Malfoy, se Dumbledore n�o consegue faz�-los parar � disse Fudge, cujo l�bio superior estava �mido de suor �, eu pergunto, quem vai conseguir?
� Isto resta ver � disse o Sr. Malfoy com um sorriso desagrad�vel. � Mas como todo o Conselho votou...
Hagrid levantou-se de um salto, a cabe�a desgrenhada raspando o teto.
� E quantos voc� precisou amea�ar e chantagear para concordarem hein, Malfoy? � vociferou.
� Ai, ai, ai, sabe, esse seu mau g�nio ainda vai lhe causar problemas um dia desses, Hagrid � disse o Sr. Malfoy. � Eu aconselharia voc� a n�o gritar assim com os guardas de Azkaban, eles n�o v�o gostar nadinha.
� Voc� n�o pode afastar Dumbledore! � gritou Hagrid, fazendo Canino se agachar e choramingar no cesto de dormir.
� Afaste ele, e os alunos nascidos trouxas n�o ter�o a menor chance. Vai haver mortes em seguida.
� Acalme-se, Hagrid � ordenou Dumbledore. Virou-se ent�o para L�cio Malfoy. � Se o Conselho quer que eu me afaste, L�cio, naturalmente eu vou obedecer...
� Mas... � gaguejou Fudge.
� N�o!� disse Hagrid com raiva.
Dumbledore n�o tirara seus olhos azuis cintilantes dos olhos frios e cinzentos de L�cio Malfoy.
� Por�m � continuou ele, falando muito lenta e claramente de modo que ningu�m perdesse uma s� palavra �, voc� vai descobrir que s� terei realmente deixado a escola quando ningu�m mais aqui for leal a mim. Voc� tamb�m vai descobrir que Hogwarts sempre ajudar� aqueles que a ela recorrerem.
Por um segundo Harry teve quase certeza de que os olhos de Dumbledore piscaram em dire��o ao canto em que ele e Rony estavam escondidos.
� Admir�veis sentimentos � disse Malfoy fazendo uma rever�ncia. � Todos sentiremos falta do seu... Hum... Modo muito pessoal de dirigir as coisas, Alvo, e s� espero que o seu sucessor consiga impedir... Ah... Matan�as.
E dirigiu-se � porta da cabana, abriu-a, fez um gesto largo indicando a porta para Dumbledore.
Fudge, manuseando seu chap�u-coco, esperou Hagrid passar � sua frente, mas Hagrid continuou firme, inspirou profundamente e disse com clareza:
� Se algu�m quiser descobrir alguma coisa, � s� seguir as aranhas. Elas indicariam o caminho certo!  � s� o que digo.
Fudge olhou-o muito admirado.
� Tudo bem, estou indo � disse Hagrid, vestindo o casac�o de pele de toupeira. Mas quando ia saindo para acompanhar Fudge, ele parou outra vez e disse em voz alta: � Algu�m vai ter que dar comida a Canino enquanto eu estiver fora.
A porta se fechou com for�a e Rony tirou a capa da invisibilidade.
� Estamos enrascados agora � disse ele rouco. � Dumbledore foi-se embora. Seria melhor que fechassem a escola hoje � noite.  Com a sa�da dele haver� um ataque por dia.
Canino come�ou a uivar, arranhando a porta fechada.






CAP�TULO QUINZE
Aragogue

 O ver�o espalhou-se lentamente pelos jardins que cercavam o castelo; o c�u e o lago, os dois, ficaram azul-clarinhos, e flores do tamanho de repolhos se abriram repentinamente nas estufas. Mas sem a vis�o de Hagrid caminhando pelos jardins com Canino nos calcanhares, a paisagem vista das janelas do castelo n�o parecia normal para Harry; ali�s, era pouco melhor do que o interior do castelo, onde as coisas pareciam terrivelmente erradas.
Harry e Rony tentaram visitar Mione, mas as visitas � ala hospitalar agora n�o eram permitidas.
� N�o queremos mais nos arriscar � disse Madame Pomfrey, com severidade, por uma fresta na porta da enfermaria. � N�o, sinto muito, h� grande possibilidade de o atacante voltar para liquidar os pacientes...
Com a sa�da de Dumbledore, o medo se espalhou como nunca antes, de modo que o sol que aquecia as paredes do castelo por fora parecia se deter nas janelas de caixilhos. Quase n�o se via na escola um rosto que n�o parecesse preocupado e tenso, e qualquer risada que ecoasse pelos corredores soava aguda e artificial e era rapidamente abafada.
Harry repetia constantemente para si mesmo as ultimas palavras de Dumbledore "S� terei realmente deixado a escola quando ningu�m mais aqui for leal a mim... Hogwarts sempre ajudar� aqueles que a ela recorrerem�. Mas de que adiantavam essas palavras?
A quem exatamente pediriam ajuda quando todos estavam t�o confusos e apavorados quanto eles?
A dica de Hagrid sobre as aranhas era muito mais f�cil de entender � o problema era que n�o parecia ter restado uma �nica aranha no castelo para se seguir.
Harry procurava por todo lado aonde ia, com a ajuda (um tanto relutante) de Rony. Eles eram atrapalhados, � claro, pelo fato de n�o poderem andar sozinhos, tinham que se deslocar pelo castelo com um grupo de alunos da Grifin�ria. A maioria dos seus colegas parecia satisfeita em ser acompanhada de aula em aula por professores, mas Harry achava isso muito aborrecido.
Havia, por�m uma pessoa que parecia estar se divertindo muito com a atmosfera de terror e suspeita. Draco Malfoy andava se pavoneando pela escola como se tivesse acabado de ser nomeado monitor-chefe. Harry n�o entendeu por que andava t�o satisfeito at� a aula de Po��es, duas semanas depois de Dumbledore e Hagrid terem ido embora, quando, sentado atr�s de Malfoy, Harry ouviu-o se gabar para Crabbe e Goyle.
� Eu sempre achei que meu pai era a pessoa que iria se livrar de Dumbledore � disse sem se preocupar em manter a voz baixa. � Falei com voc�s que ele achava que Dumbledore era o pior diretor que a escola j� tinha tido. Talvez a gente tenha um diretor decente agora. Algu�m que n�o queira manter a C�mara Secreta fechada. McGonagall n�o vai durar muito tempo, ela s� est� substituindo...
Snape passou por Harry, sem fazer coment�rios sobre a cadeira e o caldeir�o vazios de Mione.
� Professor � perguntou Draco em voz alta. � Professor, por que � que o senhor n�o se candidata ao lugar de diretor?
� Vamos, Malfoy � respondeu Snape, embora n�o conseguisse refrear um sorrisinho. � O Prof�. Dumbledore foi apenas suspenso pelo Conselho. Quero crer que estar� de volta conosco logo, logo.
� � claro � disse Draco, rindo-se. � Acho que o senhor teria o voto do meu pai, professor, se quisesse se candidatar, vou dizer ao meu pai que o senhor � o melhor professor que temos, professor...
Snape sorriu enquanto andava pela masmorra, felizmente sem ter visto que Simas Finnigan fingia vomitar no caldeir�o.
� Fico surpreso que os sangues-ruins n�o tenham feito as malas � continuou Draco. � Aposto cinco gale�es que o pr�ximo vai morrer. Pena que n�o tenha sido a Granger...
A sineta tocou nesse instante, o que foi uma sorte; ao ouvir as �ltimas palavras de Draco, Rony tinha saltado do banquinho e, na agita��o para reunirem mochilas e livros, seus esfor�os para se atracar com Draco passaram despercebidos.
� Me deixe agarrar ele � rosnou Rony, enquanto Harry e Dino o seguravam pelos bra�os. � Nem estou ligando, n�o preciso da minha varinha, vou matar ele com as m�os...
� Vamos depressa, tenho de lev�-los � aula de Herbologia � disse rispidamente Snape � classe e logo sa�ram, com Harry, Rony e Dino fechando a fila, Rony ainda tentando se desvencilhar. Os amigos s� acharam que era seguro solt�-lo quando Snape j� levara a turma para fora do castelo e estavam atravessando a horta em dire��o �s estufas.
A aula de Herbologia foi muito tranq�ila; faltavam agora dois alunos na classe: Justino e Mione.
A Prof�. Sprout mandou todos podarem figueiras c�usticas da Abiss�nia. Harry foi despejar uma bra�ada de galhos mortos na composteira e deu de cara com Ernie Macmillan. Ernie tomou f�lego e disse, muito formal:
� Eu s� quero dizer, Harry, que lamento muito ter suspeitado de voc�. Sei que voc� nunca atacaria Mione Granger e pe�o desculpas por tudo que disse. Estamos todos no mesmo barco agora, e, bom...
Ele estendeu a m�o gorducha e Harry a apertou.
Ernie e sua amiga Ana vieram trabalhar na mesma figueira que Harry e Rony.
� Aquele tal de Draco Malfoy � disse Ernie quebrando galhinhos secos � parece muito satisfeito com tudo isso, n�o �? Sabe, eu acho que ele bem poderia ser o herdeiro de Slytherin.
� Voc� � t�o inteligente! � disse Rony, que pelo jeito n�o perdoara Ernie t�o depressa quanto Harry.
� Voc� acha que foi Malfoy, Harry? � perguntou Ernie.
� N�o � respondeu Harry com tanta firmeza que Ernie e Ana arregalaram os olhos.
Segundos depois. Harry viu uma coisa.
V�rias aranhas de bom tamanho estavam andando pelo ch�o do lado de fora da vidra�a, deslocando-se numa estranha linha reta como se tomassem o caminho mais curto para ir a um encontro combinado. Harry bateu na m�o de Rony com a tesoura de poda.
� Ai! Que � que voc�...
Harry apontou para as aranhas, seguindo o trajeto que faziam com os olhos apertados contra o sol.
� Ah, � � exclamou Rony, tentando parecer satisfeito, sem conseguir. � Mas n�o podemos segui-las agora...
Ernie e Ana ouviam curiosos.
Os olhos de Harry se apertaram e ele focalizou as aranhas.
Se elas prosseguissem naquele curso, n�o havia d�vida onde iriam parar.
� Parece que est�o indo para a Floresta Proibida...
E Rony pareceu ainda mais infeliz com essa id�ia.
Ao fim da aula a Prof�. Sprout acompanhou os alunos ate a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Harry e Rony deixaram-se ficar para tr�s para poder falar sem serem ouvidos.
� Teremos que usar a capa da invisibilidade outra vez � disse Harry a Rony. � Podemos levar Canino conosco. Ele est� acostumado a entrar na floresta com Hagrid, talvez possa ajudar.
� Certo � concordou Rony, que revirava a varinha nos dedos, nervoso. � Hum... N�o dizem que tem... N�o dizem que tem lobisomens na floresta? � acrescentou quando se sentavam nos lugares de sempre, no fundo da classe de Lockhart.
Preferindo n�o responder �quela pergunta, Harry disse:
� Mas l� tamb�m tem coisas boas. Os centauros s�o legais, e os unic�rnios...
Rony nunca estivera na Floresta Proibida antes. Harry entrara somente uma vez e alimentava esperan�as de n�o repetir a experi�ncia.
Lockhart entrou aos saltos na sala, e a classe ficou olhando para ele. Todos os outros professores na escola pareciam mais s�rios do que o normal, mas Lockhart estava, no m�nimo, animado e confiante.
� Vamos, garotos � exclamou, sorrindo para todos os lados. � Por que essas caras tristes?
Os garotos trocaram olhares exasperados, mas ningu�m respondeu.
� Voc�s n�o percebem � disse Lockhatt, falando lentamente, como se todos fossem um pouco retardados � que o perigo passou! O culpado foi levado embora..
� Quem disse? � perguntou Dino em voz alta.
� Meu caro rapaz, o Ministro da Magia n�o teria levado Hagrid se n�o estivesse cem por cento convencido de que era culpado � disse Lockhart, num tom de voz de algu�m que explica que um mais um s�o dois.
� Ah, teria levado, sim � disse Rony, ainda mais alto do que Dino.
� Me lisonjeia dizer que sei um tantinho mais sobre a pris�o de Hagrid do que o senhor,  Weasley � disse Lockhart num tom presun�oso.
Rony come�ou a dizer que achava que n�o, mas parou no meio da frase quando Harry o chutou com for�a por baixo da carteira.
� N�o est�vamos l�, lembra? � resmungou Harry. Mas a anima��o desagrad�vel de Lockhart, suas insinua��es de que sempre achara que Hagrid n�o prestava, sua confian�a de que a hist�ria toda agora chegara ao fim, irritou tanto Harry que ele teve ganas de atirar Como se Divertir com Vampiros bem no meio da cara boba do professor. Em vez disso contentou-se em rabiscar um bilhete para Rony:  Vamos hoje � noite.
Rony leu o bilhete, engoliu com for�a e olhou de esguelha para a carteira vazia em que Mione normalmente se sentava. A vis�o pareceu fortalecer sua decis�o, e ele concordou com um aceno de cabe�a.
A sala comunal da Grifin�ria andava sempre muito cheia ultimamente, porque a partir das seis horas os alunos da casa n�o podiam ir a lugar algum. E, tamb�m, tinham muito o que conversar, por isso a sala s� se esvaziava depois da meia-noite.
Harry foi buscar a capa da invisibilidade no mal�o logo depois do jantar e passou a noite sentado em cima dela, esperando a sala se esvaziar. Fred e Jorge desafiaram Harry e Rony para umas partidas de snap explosivo, e Gina se sentou para apreciar, muito quieta na cadeira que Hermione geralmente usava. Os dois amigos perdiam todas as partidas de prop�sito, tentando terminar o jogo depressa, mas mesmo assim, j� era mais de meia-noite quando Fred, Jorge e Gina finalmente foram se deitar.
Harry e Rony esperaram at� ouvir os ru�dos distantes das portas dos dormit�rios se fechando antes de apanhar a capa, atir�-la sobre seus corpos e sair pelo buraco do retrato.
Foi outra travessia dif�cil do castelo, evitando esbarrar nos professores. Finalmente chegaram ao sagu�o de entrada, puxaram o trinco das portas de carvalho, esgueiraram-se entre as duas folhas tentando impedir que elas rangessem e sa�ram para os jardins banhados de luar. 
� Claro � disse Rony abruptamente quando atravessavam o gramado �, podemos chegar na floresta e descobrir que n�o h� nada para seguir. Aquelas aranhas talvez nem estivessem indo para l�. Sei que parecia que se deslocavam naquela dire��o geral, mas...
A voz dele foi emudecendo cheia de esperan�a.
Os garotos chegavam � casa de Hagrid, que parecia triste e pobre com as janelas �s escuras. Quando Harry empurrou a porta, Canino ficou louco de alegria de v�-los. Preocupados que ele pudesse acordar todo mundo no castelo com seus latidos fortes e ressonantes, eles lhe deram quadradinhos de chocolate, que grudava os maxilares, de uma lata em cima do console da lareira.
Harry deixou a capa da invisibilidade em cima da mesa de Hagrid. N�o precisariam dela na floresta escura como breu.
� Vamos, Canino, vamos dar um passeio � disse Harry dando palmadinhas na perna, e Canino saiu de casa dando saltos de felicidade atr�s deles, correu para a orla da floresta e levantou a perna contra um enorme sicomoro.
Harry puxou a varinha, murmurou "Lumos!" e brilhou uma luzinha na ponta, suficiente para deix�-los ver o caminho � procura das aranhas.
� Bem pensado � disse Rony. � Eu acenderia a minha tamb�m, mas voc� sabe, provavelmente iria explodir ou fazer outra maluquice qualquer..
Harry bateu no ombro de Rony, apontando para o capim. Duas aranhas solit�rias corriam para longe da luz da varinha procurando a sombra das �rvores.
� Muito bem � suspirou Rony resignado com o pior. Estou pronto. Vamos.
Ent�o, com Canino correndo � volta, cheirando ra�zes e folhas de �rvores, eles se embrenharam na floresta. Orientados pela luz da varinha de Harry, seguiram o fluxo constante de aranhas que iam pelo caminho. Seguiram-no por uns vinte minutos, sem falar, procurando ouvir outros ru�dos que n�o fossem os dos gravetos estalando ou das folhas rumorejando. Ent�o, quando o arvoredo se tornou mais denso que nunca, de modo que j� n�o avistavam as estrelas no alto, e a varinha de Harry brilhava solit�ria num mar de trevas, eles viram as aranhas que os guiavam abandonarem o caminho.
Harry parou, tentando ver onde as aranhas estavam indo, mas tudo fora do seu pequeno c�rculo de luz estava escur�ssimo. Ele nunca se embrenhara t�o fundo na floresta. Lembrava-se vivamente de Hagrid aconselhando-o a n�o se afastar do caminho da floresta da �ltima vez que estivera ali. Mas o guarda-ca�a se achava a quil�metros de dist�ncia, provavelmente sentado em uma cela de Azkaban, e tamb�m lhe dissera para seguir as aranhas.
Alguma coisa �mida encostou na m�o de Harry, e ele deu um pulo para tr�s, esmagando o p� de Rony, mas era apenas o nariz de Canino.
� Que � que voc� acha? � perguntou Harry a Rony, cujos olhos ele mal conseguia vislumbrar, refletindo a luz de sua varinha.
� J� chegamos at� aqui � disse Rony.
Ent�o os dois acompanharam as sombras velozes das aranhas entrando pelo meio das �rvores. N�o podiam mais andar muito depressa; havia ra�zes e tocos de �rvores no caminho, pouco vis�veis na escurid�o quase total. Harry sentia o h�lito quente de Canino em sua m�o. Mais de uma vez tiveram que parar para que Harry pudesse se agachar procurando as aranhas.
Caminharam pelo que pareceu pelo menos meia hora, as vestes agarrando nos galhos baixos e espinheiros. Passado algum tempo, repararam que o ch�o parecia estar descendo, embora o arvoredo estivesse mais denso que nunca.
Ent�o Canino soltou de repente um latido que ecoou por todos os lados, fazendo Harry e Rony darem um pulo de fazer a alma se soltar do corpo.
� Que foi? � perguntou Rony alto, olhando a escurid�o � volta e segurando o cotovelo de Harry com for�a.
� Tem alguma coisa se mexendo ali adiante � sussurrou Harry. � Escute... Parece uma coisa grande...
Eles escutaram. A uma certa dist�ncia para a direita, a coisa grande estava partindo galhos � medida que abria caminho por entre as �rvores.
� Ah, n�o � exclamou Rony. � Ah, n�o, ah, n�o, ah...
� Cale a boca � mandou Harry muito nervoso. � A coisa vai ouvir voc�.
� Me ouvir? � exclamou Rony numa voz estranhamente aguda. � Ela j� ouviu o Canino!
A escurid�o parecia estar empurrando para dentro das �rbitas dos olhos deles enquanto aguardavam aterrorizados. Ouviram um ronco esquisito e em seguida o sil�ncio.
� Que acha que ela est� fazendo? � perguntou Harry.
� Provavelmente est� se preparando para atacar.
Os dois esperaram, tremendo, mal atrevendo a se mexer.
� Voc� acha que foi embora? � cochichou Harry.
� Sei l�...
Ent�o, para a direita, eles viram um clar�o repentino t�o intenso, na escurid�o, que os dois ergueram as m�os para proteger os olhos. Canino latiu e tentou correr, mas ficou preso num emaranhado de espinhos e latiu ainda mais alto.
� Harry! � gritou Rony, a voz esgani�ando de alivio. � Harry � o nosso carro!
� Ande!
Harry acompanhou o amigo como p�de em dire��o � luz, esbarrando e trope�ando nas coisas e um instante depois sa�ram numa clareira.
O carro do Sr. Weasley estava parado, vazio, no meio de um c�rculo de �rvores grossas sob uma ramagem densa, os far�is acesos. Quando Rony avan�ou boquiaberto, ele foi ao encontro do garoto, exatamente como um canzarr�o turquesa cumprimentando o dono.
� Estava aqui o tempo todo! � disse Rony encantado, andando � volta do carro. � Olhe s� para ele. A floresta fez ele virar selvagem...
As laterais do carro estavam arranhadas e sujas de lama. Pelo jeito ele passara a rodar na floresta sozinho. Canino pareceu n�o gostar nada do carro; ficou colado em Harry, que sentia o c�o tremer. A respira��o mais calma outra vez, Harry guardou a varinha nas vestes.
� E n�s achamos que ele ia nos atacar! � disse Rony, apoiando-se no carro e lhe dando palmadinhas. � Fiquei muito tempo imaginando onde teria sumido!
Harry apurou a vista � procura de sinais de aranhas no ch�o iluminado, mas todas fugiram da claridade dos far�is.
� Perdemos a pista. Vem, vamos tentar encontr�-las.
Rony ficou calado. Nem se mexeu. Tinha os olhos fixos em um ponto a uns tr�s metros acima do ch�o da floresta, logo atr�s de Harry. Seu rosto estava l�vido de terror.
Harry nem teve tempo de se virar. Ouviu um som estalado e alto e de repente sentiu uma coisa comprida e peluda agarr�-lo pela cintura e ergu�-lo do ch�o, deixando-o de cara para baixo. Debatendo-se cheio de terror, ele ouviu o mesmo som e viu as pernas de Rony abandonarem o ch�o, tamb�m, e Canino choramingar e uivar � no instante seguinte, ele estava sendo arrebatado para o meio das �rvores escuras.
A cabe�a pendurada, Harry viu que a coisa que o segurava andava sobre seis pernas imensamente compridas e peludas, as duas dianteiras agarravam-no com firmeza sob um par de pin�as pretas e reluzentes. Atr�s, ele ouvia outro bicho igual, sem d�vida carregando Rony. Estavam entrando no cora��o da floresta. Harry ouvia Canino lutando para se libertar de um terceiro monstro, ganindo alto, mas Harry n�o poderia ter berrado nem se tivesse querido; parecia ter deixado a voz no carro l� na clareira.
Ele nunca soube quanto tempo ficou nas garras do bicho; s� soube que de repente a escurid�o diminuiu o suficiente para deix�-lo ver que o ch�o coberto de folhas agora estava pululando de aranhas. Esticou o pesco�o para o lado e percebeu que tinham chegado � borda de uma vasta depress�o, uma depress�o que fora desmatada, de modo que as estrelas iluminaram claramente a pior cena que ele jamais vira.
Aranhas, aranhinhas como aquelas que cobriam as folhas embaixo. Aranhas do tamanho de cavalos, com oito olhos, oito pernas, pretas, peludas, gigantescas.
O maci�o esp�cime que carregava Harry desceu uma encosta �ngreme em dire��o a uma teia enevoada em forma de c�pula, bem no meio da depress�o, enquanto suas companheiras acorriam de todos os lados, batendo as pin�as excitadas � vista do carregamento.
Harry caiu no ch�o de quatro quando a aranha o soltou. Rony e Canino ca�ram com um baque surdo ao lado dele. Canino n�o uivava mais, encolhia-se em sil�ncio onde ca�ra. Rony era a imagem exata do que Harry sentia. Tinha a boca arreganhada numa esp�cie de grito silencioso, e seus olhos saltavam das �rbitas.
O garoto de repente percebeu que a aranha que o soltara estava falando alguma coisa.
Fora dif�cil entender, porque ela batia as pin�as a cada palavra.
� Aragogue! � a aranha chamou. � Aragogue!
E do meio da teia enevoada em forma de c�pula, emergiu lentamente uma aranha do tamanho de um filhote de elefante. Havia fios cinzentos na pelagem do seu corpo e nas pernas negras, e cada olho, em sua feia cabe�a provida de pin�as, era leitoso. A aranha era cega.
� Que �? � disse, batendo rapidamente as pin�as.
� Homens � bateu a aranha que apanhara Harry.
� � Hagrid? � perguntou a aranha aproximando-se, os oito olhos leitosos movendo-se vagamente.
� Estranhos � bateu a aranha que trouxera Rony.
� Mate-os � bateu Aragogue preocupada. � Eu estava dormindo...
� Somos amigos de Hagrid � gritou Harry. Seu cora��o parecia ter saltado do peito e ido bater na garganta.
Clique, clique, clique fizeram as pin�as das aranhas por toda a depress�o.
Aragogue parou.
� Hagrid nunca mandou homens � depress�o antes � disse lentamente.
� Hagrid est� enrascado � disse Harry respirando muito r�pido. � Foi por isso que viemos.
� Enrascado? � exclamou a aranha idosa, e Harry pensou ter sentido preocupa��o no clique das pin�as. � Mas por que o mandou?
Harry pensou em se levantar, mas decidiu o contr�rio; achou que as pernas n�o o ag�entariam. Ent�o falou do ch�o, o mais calmo que p�de.
� Na escola acham que Hagrid andou fazendo uma... Uma coisa com os alunos. Levaram ele para Azkaban.
Aragogue bateu as pin�as furiosamente, e a toda volta da depress�o o som foi repetido pela multid�o de aranhas; era como um aplauso, exceto que, em geral, aplausos n�o faziam Harry sentir n�useas de medo.
� Mas isso foi h� anos � disse Aragogue preocupada. � Anos e anos atr�s. Lembro-me muito bem. Foi por isso que o fizeram sair da escola. Acreditaram que eu era o monstro que morava na chamada C�mara Secreta. Acharam que Hagrid tinha aberto a C�mara e me libertado.
� E voc�... Voc� n�o veio da C�mara Secreta? � perguntou Harry, que sentia um suor frio na testa.
� Eu! � exclamou Aragogue, batendo as pin�as zangada. � Eu n�o nasci no castelo. Vim de uma terra distante. Um viajante me deu de presente a Hagrid quando eu ainda estava no ovo. Hagrid era s� um garoto, mas cuidou de mim, me escondeu num arm�rio do castelo, me alimentou com restos da mesa. Hagrid � um bom amigo e um bom homem. Quando fui descoberta e responsabilizada pela morte da garota, ele me protegeu. Tenho vivido aqui na floresta desde ent�o, onde Hagrid ainda me visita. Ele at� me arranjou uma esposa, Mosague, e voc� est� vendo como a nossa fam�lia cresceu, tudo gra�as a bondade de Hagrid...
Harry reuniu o que restava de sua coragem.
� Ent�o voc� nunca... Nunca atacou ningu�m?
� Nunca � falou rouca a aranha. � Teria sido o meu instinto, mas por respeito a Hagrid, eu nunca fiz mal a um ser humano. N�o conhe�o parte alguma do castelo a n�o ser o arm�rio em que cresci. A nossa esp�cie gosta do escuro e do sil�ncio...
� Mas ent�o... Voc� sabe o que matou aquela garota? � perguntou Harry. � Porque a coisa que matou est� de volta atacando pessoas outra vez...
Suas palavras foram abafadas por uma eclos�o de cliques e o ru�do de muitas pernas longas a se agitar com raiva; grandes sombras escuras moveram-se a toda volta.
� A coisa que mora no castelo � disse Aragogue � � um bicho que n�s aranhas tememos mais do que qualquer outro. Lembro-me muito bem como supliquei a Hagrid que me deixasse ir embora, quando senti a fera rondando pela escola.
� O que �? � perguntou Harry pressuroso.
Mais cliques altos, mais movimentos; as aranhas pareciam estar fechando o cerco.
� N�s n�o falamos nisso! � disse Aragogue com rispidez. � N�o mencionamos seu nome! Eu nunca disse nem a Hagrid o nome daquele tem�vel bicho, embora ele tenha me perguntado muitas vezes.
Harry n�o quis insistir no assunto, n�o com as aranhas se aproximando por todos os lados.
Aragogue parecia ter-se cansado de falar. Estava recuando lentamente para sua teia em forma de c�pula, mas as outras aranhas continuaram a se aproximar devagarinho de Harry e Rony.
� Bem, ent�o vamos embora � falou Harry, desesperado, a Aragogue, ouvindo as folhas farfalharem �s suas costas.
� Embora? � repetiu Aragogue lentamente. � Acho que n�o...
� Mas... Mas...
� Meus filhos e minhas filhas n�o fazem mal a Hagrid, porque eu assim ordeno.  Mas n�o posso negar a eles carne fresca, quando ela entra com tanta boa vontade em nosso ninho.  Adeus, amigo de Hagrid.
Harry virou-se depressa. A poucos passos, erguendo-se acima dele, havia uma parede maci�a de aranhas, dando cliques, os muitos olhos brilhando nas cabe�as feias.
Mesmo enquanto pegava a varinha, Harry percebeu que n�o ia adiantar. Havia aranhas demais, mas ao tentar se levantar, pronto para morrer lutando, ouviu uma nota alta e longa, e um clar�o de luz atravessou a depress�o.
O carro do Sr. Weasley roncou encosta abaixo, os far�is acesos, a buzina tocando, derrubando aranhas para os lados; v�rias foram atiradas de costas, as m�ltiplas pernas sacudindo no ar. O carro parou cantando os pneus diante dos garotos e as portas se abriram.
� Apanhe o Canino! � gritou Harry, mergulhando no banco da frente; Rony agarrou o c�o pela barriga e atirou-o, ganindo, no banco de tr�s, as portas se fecharam.
Rony nem tocou no acelerador, pois o carro n�o precisou disso; o motor roncou e eles partiram, atropelando mais aranhas. Subiram a encosta a toda velocidade, sa�ram da depress�o e logo estavam correndo pela floresta, os ramos fustigando as janelas do carro enquanto ele rodava com intelig�ncia pelos v�os mais largos, seguindo um caminho que obviamente conhecia.
Harry olhou de esguelha para Rony. A boca do amigo continuava aberta num grito silencioso, mas seus olhos n�o estavam mais arregalados.
� Voc� est� bem?
Rony olhava fixo para frente, incapaz de responder.
Eles rodaram pelo mato rasteiro, Canino uivando alto no banco de tr�s, e Harry viu o espelho lateral se partir ao tirarem um fino de um grande carvalho.
Depois de dez minutos de estr�pito e saculej�es, as �rvores foram se espa�ando e Harry p�de novamente ver peda�os do c�u.
O carro parou t�o de s�bito que eles quase sa�ram pelo p�ra-brisa. Tinham chegado � orla da floresta. Canino atirou-se contra a janela tal era a sua ansiedade para sair e quando Harry abriu a porta, ele disparou por entre as �rvores para a casa de Hagrid, o rabo entre as pernas. Harry desceu tamb�m e, passado pouco mais de um minuto, Rony pareceu recuperar a sensibilidade nas pernas e o seguiu, ainda de pesco�o duro e olhar fixo. Harry deu uma palmadinha de agradecimento no carro enquanto ele dava marcha a r� na floresta e desaparecia de vista.
Harry voltou � cabana de Hagrid para apanhar a capa da invisibilidade. Encontrou Canino tremendo debaixo de um cobertor no seu cesto. Quando Harry saiu de novo, encontrou Rony vomitando violentamente na horta de ab�boras.
� Siga as aranhas � disse Rony, fraco, limpando a boca na manga. � N�o vou perdoar o Hagrid nunca. Temos sorte de estar vivos.
� Aposto como ele pensou que Aragogue n�o faria mal a amigos dele.
� Este � exatamente o problema de Hagrid! � retrucou Rony, dando murros na parede da cabana. � Ele sempre acha que os monstros n�o s�o maus por natureza, e olhe onde � que ele foi parar! Numa cela em Azkaban! � Rony tremia sem parar agora. � Para que foi que ele nos mandou l�? Que foi que descobrimos? Eu gostaria de saber.
� Que Hagrid nunca abriu a C�mara Secreta � disse Harry, atirando a capa sobre Rony e cutucando-o no bra�o para faz�-lo andar. � Ele era inocente.
Rony bufou. Evidentemente, criar Aragogue em um arm�rio n�o correspondia � id�ia que ele fazia de ser inocente.
Quando o castelo surgiu mais pr�ximo, Harry ajeitou a capa para ter certeza de que os p�s dos dois estavam escondidos, depois entreabriu as portas de entrada, que sempre rangiam. Atravessaram cautelosamente o sagu�o de entrada e subiram a escada de m�rmore, prendendo a respira��o ao passar pelos corredores que as sentinelas vigilantes percorriam. Finalmente alcan�aram a seguran�a da sala comunal da Grifin�ria, onde o fogo da lareira se consumira at� virar uma cinza luminosa. Tiraram a capa e subiram a escada em caracol para o dormit�rio.
Rony caiu na cama sem se dar o trabalho de tirar a roupa.
Harry, por�m, n�o sentia sono. Sentou-se na borda de sua cama de colunas, pensando em tudo que Aragogue dissera.
A coisa que se escondia em algum lugar do castelo, pensou, parecia uma esp�cie de monstro Voldemort � nem mesmo outros monstros gostavam de nome�-lo. Mas ele e Rony n�o estavam nem perto de descobrir o que era, nem como petrificava suas v�timas. At� mesmo Hagrid jamais soubera o que havia na C�mara Secreta.
Harry puxou as pernas para cima da cama e se recostou nos travesseiros, espiando a lua brilhar para ele atrav�s da janela da torre.
N�o conseguia ver o que mais poderiam fazer. Tinha encontrado becos sem sa�da por todos os lados. Riddle apanhara a pessoa errada, o herdeiro de Slytherin escapara, e ningu�m saberia dizer se era a mesma pessoa ou outra diferente, que abrira a C�mara desta vez. N�o havia mais ningu�m a quem perguntar. Harry ficou deitado, ainda pensando no que Aragogue dissera.
O sono vinha chegando quando o que lhe pareceu a ultimissima esperan�a lhe veio � cabe�a e ele de repente se sentou na cama.
� Rony � sibilou no escuro � Rony...
O amigo acordou com um ganido como o de Canino, correu os olhos arregalados � volta e viu Harry.
� Rony, aquela garota que morreu.  Aragogue disse que ela foi encontrada no banheiro � falou Harry sem dar aten��o aos roncos fungados de Nevillle que vinham de um canto. � E se ela nunca saiu do banheiro? E se ela continua l�?
Rony esfregou os olhos, franzindo a cara para a lua. E ent�o ele tamb�m entendeu.
� Voc� n�o acha que... N�o a Murta Que Geme?











CAP�TULO DEZESSEIS
A C�mara Secreta

� Tantas vezes estivemos naquele banheiro, e ela ali a apenas tr�s boxes de dist�ncia � comentou Rony amargurado � mesa do caf�, na manha seguinte �, e poder�amos ter perguntado a ela, e agora...
Fora bastante dif�cil encontrar as aranhas. Fugir dos professores o tempo suficiente para entrar escondido em um banheiro de meninas, e ainda por cima o banheiro de meninas bem ao lado da cena do primeiro ataque, ia ser quase imposs�vel.
Mas aconteceu uma coisa logo na primeira aula, Transforma��es, que varreu a C�mara Secreta para longe dos pensamentos dos dois garotos pela primeira vez em semanas. Minutos depois de entrarem em sala, a Prof�. McGonagall avisou que os exames come�ariam no dia primeiro de junho, dali a uma semana.
� Exames? � gritou Simas Finnigan. � E vamos ter exames?
Ouviram um estrondo atr�s de Harry quando a varinha de Neville escapuliu e fez desaparecer um p� de sua carteira. A professora restaurou-a com um aceno da pr�pria varinha e se virou de cara amarrada para Simas.
� A raz�o de se manter a escola aberta neste momento � voc�s receberem educa��o � disse ela severamente. � Portanto, os exames v�o se realizar normalmente, e confio que voc�s estejam estudando a s�rio.
Estudando a s�rio! Jamais ocorrera a Harry que haveria exames com o castelo naquela situa��o. Houve muitos murm�rios de protesto na sala que fizeram a professora amarrar ainda mais a cara.
� As instru��es que recebi do Prof�. Dumbledore foram no sentido de manter a escola funcionando o mais normalmente poss�vel. E isto, n�o preciso dizer, significa descobrir o quanto os senhores aprenderam neste ano.
Harry olhou para os dois coelhos que devia transformar em chinelos. Que � que ele aprendera at� ali naquele ano? N�o conseguia lembrar nada que lhe pudesse ser �til em um exame.
Rony parecia que tinha acabado de ser informado de que seria obrigado a ir viver na Floresta Proibida.
� Voc� pode me imaginar fazendo exames com isso? � perguntou ele a Harry, mostrando a varinha, que come�ara a assobiar alto.
Tr�s dias antes do primeiro exame, a Prof�. McGonagall deu outro aviso no caf� da manh�.
� Tenho boas not�cias � disse, e os alunos no Sal�o, ao inv�s de se calarem, desataram a falar.
� Dumbledore vai voltar! � exclamaram de alegria v�rios alunos.
� Apanharam o herdeiro de Slytherin � gritou, esgani�ada, uma menina na mesa da Corvinal.
� Os jogos de Quadribol v�o recome�ar! � berrou Olivio excitado.
Quando o vozerio diminuiu, a professora disse:
� A Prof�. Sprout me informou que finalmente as mandr�goras est�o prontas para serem colhidas. Hoje � noite, poderemos ressuscitar os alunos que foram petrificados. N�o ser� preciso lembrar a todos que um deles talvez possa nos dizer quem ou o que os atacou. Tenho esperan�as que este ano tenebroso terminar� com a captura do culpado.
Houve uma explos�o de vivas. Harry olhou para a mesa da Sonserina e n�o ficou nem um pouco surpreso ao ver que Draco Malfoy n�o se alegrara. Rony, por�m, parecia mais feliz do que nos �ltimos dias.
� Ent�o, n�o vai fazer diferen�a nunca termos perguntado nada � Murta! � disse a Harry. � Mione provavelmente ter� todas as respostas quando a acordarem! E mais, vai endoidar quando descobrir que vamos ter exames dentro de tr�s dias. Ela n�o estudou.  Seria mais caridoso que a deixassem onde est� at� os exames terminarem.
Nesse instante Gina Weasley se aproximou e se sentou ao lado de Rony. Parecia tensa e nervosa e Harry reparou que torcia as m�os no colo.
� Que foi que aconteceu? � perguntou Rony, servindo-se de mais mingau.
Gina n�o disse nada, mas olhava de uma ponta a outra da mesa da Grifin�ria com uma express�o apavorada no rosto, que lembrou a Harry algu�m, embora ele n�o conseguisse atinar quem.
� Desembucha logo � disse Rony, observando-a. Harry de repente percebeu com quem Gina parecia. Estava se balan�ando para frente e para tr�s na cadeira, exatamente como Dobby fazia quando estava hesitando, pouco antes de revelar a informa��o proibida.
� Tenho que lhe contar uma coisa � murmurou Gina, tomando cuidado para n�o olhar para Harry.
� O qu�? � perguntou Harry.
Gina fez cara de quem n�o consegue encontrar as palavras certas.
� Que �?� perguntou Rony.
Gina abriu a boca, mas n�o saiu som algum. Harry se curvou para frente e falou baixinho, de modo que somente Gina e Rony pudessem ouvir.
� � uma coisa sobre a C�mara Secreta? Voc� viu alguma coisa? Algu�m se comportando estranhamente?
Gina tomou f�lego e, naquele exato momento, Percy Weasley apareceu, com a cara cansada e p�lida.
� Se voc� j� terminou de comer, fico com o seu lugar, Gina. Estou morto de fome.  Acabei de ser liberado do servi�o de vigil�ncia.
Gina deu um pulo como se sua cadeira estivesse eletrificada, lan�ou a Percy um olhar r�pido e amedrontado e saiu correndo, Percy se sentou e pegou uma caneca no meio da mesa.
� Percy! � disse Rony aborrecido. � Ela ia come�ar a nos contar uma coisa importante!
A meio caminho de beber um gole de ch�, Percy se engasgou.
� Que tipo de coisa? � perguntou tossindo.
� Acabei de perguntar se tinha visto alguma coisa estranha e ela come�ou a dizer...
� Ah, isso, n�o tem nada a ver com a C�mara Secreta � disse Percy na mesma hora.
� Como � que voc� sabe? � perguntou Rony erguendo as sobrancelhas.
� Bem, se voc� faz quest�o de saber, Gina, hum, esbarrou comigo no outro dia quando eu estava... Bem, n�o importa, a quest�o � que ela me viu fazendo uma coisa e eu, hum, pedi a ela para n�o contar a ningu�m. Devo dizer que achei que ela ia cumprir a promessa. N�o � nada, verdade, s� que eu preferia...
Harry nunca vira Percy t�o constrangido.
� Que � que voc� estava fazendo, Percy � perguntou Rony rindo. � Vamos, conte para a gente, n�o vamos rir.
Percy n�o retribuiu o sorriso.
� Me passa esses p�es, Harry, estou morto de fome.
Harry sabia que o mist�rio todo poderia ser resolvido no dia seguinte sem ajuda deles, mas n�o ia deixar passar uma oportunidade de falar com Murta se aparecesse uma � e para sua alegria apareceu, no meio da manh�, quando a turma estava sendo levada para a aula de Hist�ria da Magia por Gilderoy Lockhart.
Lockhart, que tantas vezes os tranq�ilizara dizendo que o perigo passara, para em seguida provar-se o contr�rio, agora estava inteiramente convencido de que nem valia a pena lev�-los em seguran�a pelos corredores. Seus cabelos n�o estavam t�o sedosos quanto de costume; parecia que estivera acordado a maior parte da noite, vigiando o quarto andar.
� Marquem minhas palavras � disse, contornando um canto com os alunos. � As primeiras palavras que aqueles coitados petrificados v�o dizer ser�o "Foi Hagrid�.  Francamente, estou pasmo que a Prof�. McGonagall continue achando que todas essas medidas de seguran�a s�o necess�rias.
� Concordo professor � disse Harry, fazendo Rony derrubar os livros de surpresa.
� Obrigado, Harry � disse Lockhart, gentilmente, enquanto esperavam uma longa fila de alunos da Lufa-Lufa passar. � Quero dizer, n�s, professores, j� temos muito o que fazer sem ter que acompanhar alunos �s aulas e ficar de guarda a noite inteira...
� Tem raz�o � disse Rony, percebendo a jogada. � Por que o senhor n�o nos deixa aqui, s� temos mais um corredor pela frente...
� Sabe, Weasley, acho que vou fazer isso. Preciso mesmo preparar a minha pr�xima aula...
E se afastou depressa.
� Preparar a aula � Rony ca�oou quando o professor se foi. � � mais prov�vel que v� � enrolar os cabelos.
Os dois amigos deixaram o resto dos colegas da Grifin�ria seguirem em frente, dispararam por uma passagem lateral e correram para o banheiro da Murta Que Geme. Mas quando estavam se parabenizando pela jogada genial...
� Potter! Weasley! Que � que os senhores est�o fazendo?
Era a Prof�. McGonagall, e sua boca parecia um fio de linha de t�o fina.
� �amos... �amos... � gaguejou Rony. � �amos... Ver..
� Mione � disse Harry. Rony e a professora olharam para ele. � N�o a vemos h� s�culos, professora �, continuou Harry depressa, pisando o p� de Rony, � e pensamos em entrar sem sermos vistos na ala hospitalar, sabe, e contar a ela que as mandr�goras j� est�o quase prontas e... Para n�o se preocupar... � A Prof�. McGonagall. continuou a olhar fixo para ele e por um instante Harry achou que ela ia explodir, mas quando falou, tinha a voz estranhamente rouca.
� Claro � disse, e Harry, espantado, viu uma l�grima brilhar nos seus olhos de contas. � Claro, compreendo que isto tenha sido mais duro para os amigos dos que foram... Compreendo bem. Est� bem, Potter, � claro que os senhores podem ir visitar a Srta. Granger. Vou informar ao Prof�. Binns onde foram. Diga a Madame Pomfrey que t�m a minha permiss�o.
Harry e Rony se afastaram, mal ousando acreditar que tinham evitado uma deten��o. Quando dobraram o canto do corredor, ouviram distintamente a professora assoar o nariz.
� Essa � disse Rony entusiasmado � foi a melhor hist�ria que voc� j� inventou.
N�o havia escolha agora sen�o ir � ala hospitalar e dizer � Madame Pomfrey que tinham permiss�o da Prof�. McGonagall para visitar Mione.
Madame Pomfrey os deixou entrar, com relut�ncia.
� N�o tem sentido conversar com uma pessoa petrificada � disse ela, e os garotos tiveram que admitir que estava certa, depois de se sentarem ao lado de Mione. Era evidente que Mione nem imaginava que tinha visitas, e que tanto fazia dizerem ao arm�rio de cabeceira para n�o se preocupar, tal era o bem que a conversa poderia produzir.
� Mas eu me pergunto se ela ter� visto o atacante � disse Rony, contemplando com tristeza o rosto r�gido de Mione. � Porque se ele chegou sem ser visto, ningu�m nunca vai saber...
Mas Harry n�o estava olhando para o rosto de Mione. Estava mais interessado na m�o direita da amiga. Estava fechada por cima das cobertas e ao chegar mais perto ele viu que havia um peda�o de papel amarrotado dentro dela.
Verificando antes se Madame Pomfrey andava por perto, ele apontou o papel para Rony.
� Tente tirar � cochichou Rony, mudando a posi��o da cadeira de modo a esconder Harry da vista de Madame Pomfrey.
N�o foi nada f�cil. A m�o de Mione segurava o papel com tanta for�a que Harry teve certeza de que ia rasg�-lo. Enquanto Rony vigiava, ele puxou e torceu e, finalmente, depois de alguns minutos tensos, o papel saiu.
Era uma p�gina rasgada de um livro muito velho da biblioteca. Harry alisou-a ansioso, e Rony se curvou mais para ler tamb�m.

Das muitas feras e monstros medonhos que vagam pela nossa terra n�o h� nenhum mais curioso ou mortal do que o basilisco, tamb�m conhecido como rei das serpentes.
Esta cobra, que pode alcan�ar um tamanho gigantesco e viver centenas de anos, nasce de um ovo de galinha, chocado por uma r�. Seus m�todos de matar s�o os mais espantosos, pois al�m das presas letais e venenosas, o basilisco tem um olhar mort�fero, e todos que s�o fixados pelos seus olhos sofrem morte instant�nea. As aranhas fogem do basilisco, pois � seu inimigo mortal e o basilisco foge apenas do canto do galo, que lhe � fatal.

E, no p� da p�gina, uma �nica palavra fora escrita numa caligrafia que Harry reconheceu ser de Mione. Canos.
Era como se algu�m tivesse acabado de acender uma luz em seu c�rebro.
� Rony � sussurrou. � � isso. Isso � a resposta. O monstro na C�mara � um basilisco, uma cobra gigantesca! E por isso que andei ouvindo a voz por todo lado, e ningu�m mais ouvia. � porque entendo a l�ngua das cobras...
Harry ergueu os olhos para as camas � sua volta.
� O basilisco mata as pessoas com o olhar. Mas ningu�m morreu, porque ningu�m o encarou.  Colin viu o bicho atrav�s da lente da m�quina fotogr�fica. O basilisco queimou o filme que havia dentro, mas Colin s� ficou petrificado. Justino... Justino deve ter visto o basilisco atrav�s do Nick Quase Sem Cabe�a! Nick recebeu todo o impacto, mas n�o podia morrer novamente... E Mione e aquela monitora da Corvinal foram encontradas com um espelho ao lado delas. Mione acabara de perceber que o monstro era um basilisco. Aposto o que voc� quiser que ela preveniu a primeira pessoa que encontrou para antes de virar um canto, primeiro olhar o outro lado com um espelho! E aquela garota tirou o espelho da mochila... E...
O queixo de Rony ca�ra.
� E Madame Nor-r-ra? � perguntou, ansioso.
Harry pensou bastante, imaginando a cena na noite da festa das bruxas.
� A �gua... � disse lentamente. � A inunda��o do banheiro da Murta Que Geme. Aposto como Madame Nor-r-ra s� viu o reflexo...
Harry examinou a p�gina que tinha na m�o, pressuroso.
Quanto mais lia, mais ela fazia sentido.
� �O canto do galo... Lhe � letal!"� leu ele em voz alta. � Os galos de Hagrid foram mortos! O herdeiro de Slytherin n�o queria nenhum perto do castelo quando a C�mara fosse aberta! As aranhas fogem do basilisco! Tudo se encaixa!
� Mas como � que o basilisco anda circulando pelo castelo? � perguntou Rony. � Uma cobra gigantesca... Algu�m a teria visto...
Harry, por�m, apontou para a palavra que Mione escrevera no p� da p�gina.
� Canos. Canos... Rony, ela est� usando os canos. Tenho ouvido aquela voz dentro das paredes...
Rony agarrou de repente o bra�o de Harry.
� A entrada para a C�mara Secreta! � disse com a voz rouca.
� E se for um banheiro? E se for o...
� Banheiro da Murta Que Geme � completou Harry.
Os dois ficaram sentados ali, a excita��o circulando com rapidez pelo corpo, mal conseguindo acreditar.
� Isto significa � disse Harry � que n�o devo ser o �nico a falar a l�ngua das cobras na escola. O herdeiro de Slytherin deve ser outro que fala tamb�m. � assim que ele controla o basilisco.
� Que vamos fazer? � perguntou Rony, cujos olhos faiscavam.
� Vamos direto � Prof�. McGonagall?
� Vamos � sala dos professores � disse Harry, ficando de p� de um salto. � Ela vai para l� dentro de dez minutos. J� est� quase na hora do intervalo.
Os garotos correram para baixo. N�o querendo ser encontrados perambulando por outro corredor, foram diretamente � sala dos professores, ainda deserta. Era um aposento amplo, as paredes forradas com pain�is de madeira, as cadeiras de madeira escura. Harry e Rony ficaram andando de um lado para o outro, excitados demais para se sentar.
Mas a sineta do intervalo jamais tocou.
� Em vez disso, ecoando pelos corredores, ouviram a voz da Prof�. McGonagall, magicamente amplificada.

"Todos os alunos voltem imediatamente aos dormit�rios de suas casas�.
�Todos os professores voltem � sala de professores. Imediatamente, por favor�.

Harry virou-se para encarar Rony.
� N�o outro ataque! N�o agora!
� Que vamos fazer? � disse Rony horrorizado. � Voltar ao dormit�rio?
� N�o � disse Harry, olhando � sua volta. Havia um tipo feio de guarda-roupa � sua esquerda, onde guardavam as capas dos professores. � Ali dentro. Vamos ouvir o que foi. Depois podemos contar o que descobrimos.
Os garotos se esconderam dentro do arm�rio, escutando o barulho de centenas de pessoas andando no andar de cima e a porta da sala de professores se abrir e bater. Do meio das dobras mofadas das capas, observaram os professores chegarem um a um. Alguns pareciam intrigados, outros completamente apavorados. Ent�o chegou a Prof�. McGonagall.
� Aconteceu � disse ela na sala silenciosa. � Uma aluna foi levada pelo monstro.  Para a C�mara.
O Prof�. Flitwick deixou escapar um grito fino. A Prof�. Sprout tampou a boca com as m�os. Snape agarrou com muita for�a o espaldar de uma cadeira e perguntou:
� Como voc� pode ter certeza?
� O herdeiro de Slytherin � disse a professora muito p�lida � deixou outra mensagem. Logo abaixo da primeira.

"O esqueleto dela jazer� na C�mara para sempre.�

O Prof�. Flitwick rompeu em l�grimas.
� Quem foi? � perguntou Madame Hooch, que afundara, com os joelhos bambos, numa cadeira. � Que aluna?
� Gina Weasley � respondeu McGonagall.
Harry sentiu Rony escorregar silenciosamente para o ch�o do arm�rio do lado dele.
� Teremos que mandar todos os alunos para casa amanh� � continuou ela. � Isto � o fim de Hogwarts. Dumbledore sempre disse...
A porta da sala de professores bateu outra vez. Por um momento delirante Harry teve certeza de que seria Dumbledore.
Mas era Lockhart e ele sorria.
� Lamento muito, cochilei, que foi que perdi?
Ele n�o pareceu notar que os outros professores o olhavam com uma express�o muito pr�xima ao �dio. Snape se adiantou.
� O homem de que precis�vamos! Em pessoa! Uma menina foi seq�estrada pelo monstro, Lockhart. Levada para a C�mara Secreta. Chegou finalmente a sua vez.
Lockhart ficou l�vido.
� Isto mesmo, Gilderoy � disse a Prof�. Sprout. � Voc� n�o estava dizendo ainda ontem � noite que sempre soube onde era � entrada da C�mara Secreta?
� Eu... Bem, eu... � gaguejou Lockhart.
� �, voc� n�o me disse que tinha certeza do que havia dentro dela? � falou o Prof�. Flitwick.
� D-disse? N�o me lembro...
� Pois eu me lembro de voc� dizendo que lamentava n�o ter tido uma chance de enfrentar o monstro antes de Hagrid ser preso � continuou Snape. � Voc� n�o disse que o caso todo foi mal conduzido e que deviam ter-lhe dado carta branca desde o come�o?
Lockhart contemplou os rostos duros dos colegas � sua volta.
� Eu... Eu realmente nunca... Voc�s devem ter entendido mal.
� Vamos deixar o problema em suas m�os, ent�o, Gilderoy � disse a Prof�. McGonagall. � Hoje � noite ser� uma ocasi�o excelente para resolv�-lo.  Vamos providenciar para que todos estejam fora do seu caminho. Voc� ter� oportunidade de cuidar do monstro sozinho. Enfim, ter� carta branca.
Lockhart olhou desesperado para os lados, mas ningu�m veio em seu socorro. Ele n�o parecia mais bonit�o, nem de longe. Seu l�bio tremia e na aus�ncia do sorriso costumeiro, cheio de dentes, seu queixo parecia pequeno e fraco.
� M-muito bem � disse. � Estarei em  minha sala me... Me preparando.
E saiu.
� Muito bem � disse a Prof�. McGonagall, cujas narinas tremeram �, com isso o tiramos do caminho. Os diretores das casas devem ir informar os alunos do que aconteceu. Digam que o Expresso de Hogwarts os levar� para casa logo de manh�.  Os demais, por favor, certifiquem-se de que nenhum aluno fique fora dos dormit�rios.
Os professores se levantaram e sa�ram, um por um.
Foi provavelmente o pior dia da vida de Harry. Ele, Rony, Fred e Jorge se sentaram juntos a um canto da sala comunal da Grifin�ria, incapazes de dizer qualquer coisa.
Percy n�o estava presente. Fora despachar uma coruja para o Sr. e a  Sra. Weasley, depois trancou-se no dormit�rio.
Nenhuma tarde jamais se arrastou tanto quanto essa, nem tampouco a Torre da Grifin�ria esteve t�o cheia e, no entanto, t�o silenciosa. Pr�ximo ao p�r-do-sol, Fred e Jorge foram se deitar, porque n�o conseguiam continuar sentados.
� Ela sabia alguma coisa, Harry � disse Rony, falando pela primeira vez desde que entraram no arm�rio da sala de professores. � � por isso que foi seq�estrada. N�o era uma bobagem sobre o Percy, nada disso. Descobriu alguma coisa sobre a C�mara Secreta. Deve ter sido por isso que foi... � Rony esfregou os olhos com for�a.  � Quero dizer, ela era puro-sangue. N�o pode haver nenhum outro motivo.
Harry podia ver o sol se pondo, vermelho-sangue, na linha do horizonte. Nunca se sentira pior na vida. Se ao menos houvesse alguma coisa que pudessem fazer. Qualquer coisa.
� Harry � disse Rony. � Voc� acha que pode haver alguma chance de ela n�o estar... Sabe...
Harry n�o soube o que dizer. N�o conseguia ver como Gina ainda pudesse estar viva.
� Sabe de uma coisa? � falou Rony. � Acho que dev�amos ir ver Lockhart. Contar a ele o que sabemos. Ele vai tentar entrar na C�mara. Podemos contar onde achamos que �, e avisar que tem um basilisco l� dentro.
Porque Harry n�o p�de pensar em mais nada para fazer e porque queria fazer alguma coisa, ele concordou. Os alunos da Grifin�ria na sala estavam t�o infelizes e sentiam tanta pena dos Weasley, que ningu�m tentou impedi-los quando se levantaram, atravessaram a sala e sa�ram pelo buraco do retrato.
Anoitecia quando desceram � sala de Lockhart. Parecia haver muita atividade l� dentro. Os garotos ouviram coisas sendo arrastadas, baques surdos e passos apressados.
Harry bateu e fez-se um repentino sil�ncio na sala. Ent�o abriu-se uma frestinha na porta e eles viram o olho de Lockhart espreitando.
� Ah... Sr. Potter.. Sr. Weasley... � disse, abrindo um pouco mais a porta. � Estou muito ocupado no momento, se puderem ser r�pidos...
� Professor, temos umas informa��es para o senhor � disse Harry. � Achamos que podem ajud�-lo.
� Hum... Bem... N�o e t�o... � A metade do rosto de Lockhart que podiam ver parecia muito constrangida. � Quero dizer... Bem... Muito bem...
Ele abriu a porta e os garotos entraram.
Sua sala tinha sido quase completamente desmontada. Havia dois mal�es abertos no ch�o. Vestes verde-jade, lil�s, azul-meia-noite, tinham sido apressadamente dobradas e guardadas em um deles; livros tinham sido enfiados de qualquer jeito no outro.
As fotografias que cobriam as paredes agora estavam comprimidas em caixas sobre a escrivaninha.
� O senhor vai a algum lugar? � perguntou Harry.
� Hum, bem, vou � disse Lockhart, arrancando um p�ster com a sua foto em tamanho natural das costas da porta, enquanto falava, e come�ando a enrol�-lo.  � Chamado urgente... Inevit�vel... Tenho que partir...
� E a minha irm�? � perguntou Rony de supet�o.
� Bem, sobre isso... Foi muito azar... � respondeu Lockhart, evitando encarar os garotos, enquanto puxava uma gaveta com for�a e come�ava a esvaziar o seu conte�do em uma mochila.
� Ningu�m lamenta mais do que eu...
� O senhor � o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas! � exclamou Harry.
� N�o pode ir embora agora! N�o com todas essas artes das trevas em a��o!
� Bem... Devo dizer... Quando aceitei o emprego... � resmungou Lockhart, agora amontoando meias por cima das vestes � nada na descri��o da fun��o... N�o era de esperar...
� O senhor quer dizer que est� fugindo? � disse Harry, incr�dulo. � Depois de tudo que fez nos seus livros...
� Os livros podem ser enganosos � disse Lockhart gentilmente.
� Mas foi o senhor quem os escreveu � gritou Harry.
� Meu caro rapaz � disse Lockhart se endireitando e amarrando a cara para Harry. � Use o bom senso. Meus livros n�o teriam vendido nem a metade se as pessoas n�o achassem que eu fiz todas aquelas coisas. Ningu�m quer ler hist�rias de um velho bruxo feio da Arm�nia, mesmo que tenha salvo uma cidade dos lobisomens.  Ele ficaria medonho na capa. Nem sabe se vestir. E a bruxa que afugentou o esp�rito agourento tinha l�bio leporino. Quero dizer, convenhamos...
� Ent�o o senhor s� est� recebendo cr�dito pelo que outros bruxos e bruxas fizeram? � perguntou Harry, incr�dulo.
� Harry, Harry � disse Lockhart, sacudindo a cabe�a com impaci�ncia �, a coisa n�o � t�o simples assim. H� muito trabalho envolvido. Eu tive que procurar essas pessoas. Perguntar exatamente como conseguiram fazer o que fizeram. Depois tive que lan�ar um Feiti�o da Mem�ria para elas esquecerem o que fizeram. Se h� uma coisa de que me orgulho � do meu Feiti�o da Mem�ria. N�o, foi muito trabalhoso, Harry. N�o � s� autografar livros e tirar fotos de publicidade, sabe. Se voc� quer ser famoso, tem que estar preparado para dar duro.
Ele fechou os mal�es com estrondo e trancou-os.
� Vejamos � disse. � Acho que � s�. E. S� falta uma coisa.
E tirou a varinha e se virou para os garotos.
� Lamento muito, rapazes, mas tenho que lan�ar um Feiti�o da Mem�ria em voc�s agora. N�o posso permitir que saiam espalhando os meus segredos por a�. Eu jamais venderia outro livro...
Harry apanhou a pr�pria varinha bem na hora. Lockhart mal erguera a sua, quando Harry berrou:
� Expelliarmus!
Lockhart foi atirado para tr�s, caiu por cima do mal�o; a varinha voou no ar; Rony agarrou-a e atirou-a pela janela.
� O senhor n�o devia ter deixado o Prof�. Snape nos ensinar isso � disse Harry furioso, chutando o mal�o de Lockhart para o lado. Lockhart ficou olhando para ele, parecendo fr�gil outra vez. Harry apontava a varinha em sua dire��o.
� Que � que voc� quer que eu fa�a? � perguntou Lockhart com a voz fraca. � Eu n�o sei onde fica a C�mara dos Segredos. N�o h� nada que eu possa fazer.
� O senhor est� com sorte � disse Harry for�ando Lockhart a se levantar com a varinha.
� Achamos que sabemos onde fica. E o que tem l� dentro. Vamos.
Sa�ram os tr�s da sala, desceram as escadas mais pr�ximas, e seguiram pelo corredor escuro em que as mensagens brilhavam na parede at� a porta do banheiro da Murta Que Geme.  Empurraram Lockhart na frente. Harry ficou satisfeito de verificar que o professor tremia.
Murta Que Geme estava sentada na caixa de �gua do �ltimo boxe.
� Ah, � voc� � disse quando viu Harry. � Que � que voc� quer agora?
� Perguntar como foi que voc� morreu.
A atitude de Murta mudou na hora. Parecia que nunca algu�m lhe fizera uma pergunta t�o elogiosa.
� Aaaah, foi pavoroso � disse com satisfa��o. � Aconteceu bem aqui. Morri aqui mesmo neste boxe. Me lembro t�o bem! Eu tinha me escondido porque Olivia Homby estava ca�oando de mim por causa dos meus �culos. Tranquei a porta e fiquei chorando e ent�o ouvi algu�m entrar. Disseram uma coisa engra�ada. Deve ter sido numa l�ngua diferente, acho. Em todo o caso, o que me incomodou foi que era a voz de um garoto. Ent�o destranquei a porta do boxe para mandar ele sair e ir usar o banheiro dos garotos e ent�o... � Murta inchou fazendo-se de importante, o rosto brilhante.
� Morri..
� Como? � perguntou Harry.
� N�o fa�o id�ia � disse Murta sussurrando. � S� me lembro de ter visto dois olhos grandes e amarelos. Meu corpo inteiro foi engolfado e ent�o me afastei flutuando... � Ela olhou para Harry sonhadora. � E ent�o voltei. Estava decidida a assombrar Olivia Homby, sabe. Ah, como ela lamentou ter-se rido dos meus �culos.
� Onde foi exatamente que voc� viu os olhos?
� Por ali � respondeu Murta apontando vagamente na dire��o da pia em frente ao boxe em que estava.
Harry e Rony correram para a pia. Lockhart ficou parado bem mais atr�s, uma express�o de puro terror no rosto.
Parecia uma pia comum. Eles examinaram cada cent�metro, por dentro e por fora, inclusive os canos embaixo. E ent�o Harry viu: gravada ao lado de uma das torneiras de cobre havia uma cobrinha m�nima.
� Essa torneira nunca funcionou � disse Murta, animada, quando ele tentou abri-la.
� Harry � disse Rony. � Diga alguma coisa. Alguma coisa em l�ngua de cobra.
� Mas... � Harry se esfor�ou. As �nicas vezes em que conseguira falar a l�ngua das cobras foi quando estava diante de uma cobra real. Ele fixou o olhar na grava��o min�scula, tentando imaginar que era real.
� "Abra" �, mandou.
Ele olhou para Rony, que sacudiu a cabe�a.
� Nossa l�ngua.
Harry tornou a olhar para a cobra, desejando acreditar que estivesse viva. Se ele mexia a cabe�a, a luz das velas fazia parecer que a cobra estava se mexendo.
� �Abra� � repetiu.
S� que as palavras n�o foram o que ele ouviu; um estranho assobio lhe escapara da boca e na mesma hora a torneira brilhou com uma luz branca e come�ou a girar. No segundo seguinte, a pia come�ou a se deslocar; a pia, na realidade, sumiu de vista, deixando um grande cano exposto, um cano largo o suficiente para um homem escorregar por dentro dele.
Harry ouviu Rony soltar uma exclama��o e levantou a cabe�a. Decidira o que ia fazer.
� Vou descer � anunciou.
Ele n�o podia deixar de descer, agora que tinham encontrado a entrada para a C�mara, n�o se houvesse a mais leve, m�nima, imagin�ria chance de Gina estar viva.
� Eu tamb�m � falou Rony.
Houve uma pausa.
� Bem, parece que voc�s n�o precisam de mim � disse Lockhart com uma sombra do seu antigo sorriso. -Eu vou...
E levou a m�o � ma�aneta da porta, mas Rony e Harry apontaram as varinhas para ele.
� Voc� pode descer primeiro � rosnou Rony.
De rosto l�vido e sem varinha, Lockhart se aproximou da abertura.
� Rapazes � disse com a voz fraca. � Rapazes, que bem isto vai trazer?
Harry cutucou-o nas costas com a varinha. Lockhart escorregou as pernas para dentro do cano.
� Eu n�o acho... � come�ou a dizer, mas Rony deu-lhe um empurr�o, e ele desapareceu de vista. Harry seguiu-o em sil�ncio. Baixou o corpo lentamente para dentro do cano e se soltou.
Foi como se ele se precipitasse por um escorrega escuro, viscoso e sem fim. Viu outros canos saindo para todas as dire��es, mas nenhum t�o largo quanto aquele, que virava e dobrava, sempre e ingrememente para baixo, e ele percebeu que estava descendo cada vez mais fundo sob a escola, para al�m das masmorras mais fundas. Atr�s ele ouvia Rony, batendo-se ligeiramente nas curvas.
E ent�o, quando come�ava a se preocupar com o que aconteceria quando chegasse ao ch�o, o cano nivelou e ele foi atirado pela extremidade com um baque aquoso, e aterrissou no ch�o �mido de um t�nel de pedra �s escuras, suficientemente amplo para a pessoa ficar de p�. Lockhart estava se levantando um pouco adiante, coberto de limo e branco como um fantasma. Harry afastou-se para um lado enquanto Rony tamb�m sa�a chispando do cano.
� Devemos estar quil�metros abaixo da escola � disse Harry sua voz ecoando no t�nel escuro.
� Provavelmente debaixo do lago � sugeriu Rony, apertando os olhos para enxergar as paredes escuras e limosas.
Os tr�s se viraram para encarar a escurid�o � frente.
� Lumus! � murmurou Harry para sua varinha que acendeu.
� Vamos � chamou Rony e Lockhart, e l� se foram os tr�s, seus passos chapinhando ruidosamente no ch�o molhado.
O t�nel era t�o escuro que eles s� conseguiam ver uma pequena dist�ncia � frente.  Suas sombras nas paredes molhadas pareciam monstruosas � luz da varinha.
� Lembrem-se � disse Harry baixinho enquanto avan�avam com cautela �, a qualquer sinal de movimento, fechem os olhos imediatamente...
Mas o t�nel estava silencioso como um t�mulo, e o primeiro som inesperado que ouviram foi o ru�do de alguma coisa sendo esmagada quando Rony pisou em alguma coisa que descobriram ser um cr�nio de rato. Harry baixou a varinha para olhar o ch�o e viu que se encontrava coalhado de ossos de pequenos animais. Tentando por tudo n�o imaginar que aspecto teria Gina se a encontrassem, Harry, � frente, virou uma curva escura do t�nel.
� Harry... Tem alguma coisa ali... � disse Rony rouco, agarrando o ombro do amigo.
Eles se imobilizaram, observando. Harry conseguia apenas ver o contorno de uma coisa enorme e curvil�nea, deitada atravessada no t�nel. A coisa n�o se mexia.
� Talvez esteja dormindo � sussurrou, olhando para os outros dois atr�s. Lockhart tampava os olhos com as m�os.
Harry tornou a se virar para olhar a coisa, o cora��o batendo t�o forte que chegava a doer.  Muito devagarinho, com os olhos o mais apertados poss�vel, mas ainda vendo, Harry avan�ou aos poucos com a varinha erguida.
A luz deslizou pela pele de uma cobra gigantesca, colorida e venenosa, que se encontrava enroscada e oca no ch�o do t�nel. O bicho que se desfizera dela devia ter no m�nimo uns seis metros de comprimento.
� Droga � xingou Rony em voz baixa.
Ouviram ent�o um movimento s�bito �s costas. Os joelhos de Lockhart tinham cedido.
� Levante-se � disse Rony com rispidez, apontando a varinha para Lockhart.
O professor se levantou � em seguida atirou-se contra Rony, derrubando-o no ch�o.
Harry deu um salto � frente, mas demasiado tarde � Lockhart j� se erguia, ofegante, a varinha de Rony na m�o e um sorriso radioso novamente no rosto.
� A aventura termina aqui, rapazes. Vou levar um peda�o dessa pele de volta � escola, dizer que cheguei tarde demais para salvar a garota e que voc�s dois enlouqueceram tragicamente ao verem o corpo dela mutilado, digam adeus �s suas mem�rias!
Ele ergueu a varinha de Rony, emendada com fita adesiva, acima da cabe�a e gritou:
� Obliviate!
A varinha explodiu com a for�a de uma pequena bomba. Harry ergueu os bra�os para o alto e fugiu, escorregando nas voltas da pele de cobra, escapando do alcance dos grandes peda�os do teto do t�nel que ca�am com estrondo no ch�o. No momento seguinte, ele estava sozinho, contemplando uma parede maci�a formada pelos destro�os.
� Rony! � gritou. � Voc� est� bem? Rony!
� Estou aqui! � respondeu a voz abafada de Rony atr�s do entulho. � Estou bem, mas esse bosta aqui n�o est�, a varinha acertou nele...
Ouviu-se uma pancada surda e um sonoro "ai!". Parecia que Rony tinha acabado de chutar Lockhatt nas canelas.
� E agora? � perguntou a voz de Rony, desesperada. � N�o podemos passar, vai levar s�culos...
Harry olhou para o teto do t�nel. Tinham aparecido nele enormes rachaduras. O garoto nunca tentara cortar, com aux�lio da magia, nada t�o grande como essas pedras, e agora n�o parecia uma boa hora para tentar � e se o t�nel inteiro desabasse?
Ouviu-se mais outra pancada e mais um "ai!" por tr�s das pedras. Estavam perdendo tempo. Gina j� fora trazida para a C�mara Secreta havia horas... Harry sabia que havia apenas uma coisa a fazer. 
� Espere ai � gritou para Rony. � Espere com Lockhart. Eu vou continuar... Se eu n�o voltar dentro de uma hora...
Houve uma pausa cheia de significa��o.
� Vou tentar afastar umas pedras � disse Rony, que parecia estar querendo manter a voz firme. � Para voc� poder... Poder passar na volta. E, Harry...
� Vejo voc� daqui a pouco � disse Harry, tentando injetar alguma seguran�a em sua voz tr�mula.
E retomou sozinho a caminhada para al�m da pele de cobra.
Logo o som distante de Rony batalhando para retirar as pedras silenciou. O t�nel dava voltas e mais voltas. Cada nervo do corpo de Harry formigava desagradavelmente.
Ele queria que o t�nel terminasse, mas temia o que encontraria no fim. E ent�o, ao dobrar mais uma curva, deparou com uma parede s�lida � sua frente em que havia duas cobras entrela�adas talhadas em pedra, os olhos engastados com duas enormes esmeraldas brilhantes.
Harry se aproximou, a garganta seca. N�o havia necessidade de fingir que essas cobras de pedra eram reais; seus olhos pareciam estranhamente vivos.
Ele adivinhou o que precisava fazer. Pigarreou e os olhos de esmeralda pareceram piscar.
� �Abram� � disse num sibilo grave e fraco.
As cobras se separaram e as paredes se afastaram, as duas metades deslizaram suavemente, desaparecendo de vista e Harry, tremendo dos p�s � cabe�a, entrou.



CAP�TULO DEZESSETE
O Herdeiro de Slytherin

Harry se viu parado no fim de uma c�mara muito comprida e mal iluminada. Altas colunas de pedra entrela�adas com cobras em relevo sustentavam um teto que se perdia na escurid�o, projetando longas sombras negras na luz estranha e esverdeada que iluminava o lugar.
O cora��o batendo muito depressa, Harry ficou escutando o sil�ncio hostil. Ser� que o basilisco estaria � espreita num canto sombrio, atr�s de uma coluna? E onde estaria Gina?
Ele puxou a varinha e avan�ou por entre as colunas serpentinas. Cada passo cauteloso ecoava alto nas paredes sombreadas. Manteve os olhos semicerrados, pronto para fech�-los depressa ao menor sinal de movimento. As �rbitas ocas das cobras de pedra pareciam segui-lo. Mais de uma vez, com um aperto no est�mago, ele pensou ter surpreendido uma delas se mexendo.
Ent�o, quando emparelhou com o �ltimo par de colunas, uma est�tua alta como a pr�pria C�mara apareceu contra a parede do fundo.
Harry teve que esticar o pesco�o para ver o rosto gigantesco l� no alto. Era antigo e simiesco, com uma barba longa e rala que ca�a quase at� a barra das vestes esvoa�antes de um bruxo de pedra, onde havia dois p�s cinzentos enormes apoiados no ch�o liso da C�mara. E entre os p�s, de bru�os, jazia um pequeno vulto de cabelos flamejantes vestido de negro.
� Gina! � murmurou Harry, correndo para ela e se ajoelhando. � Gina... N�o esteja morta... Por favor, n�o esteja morta... � Ele largou a varinha de lado, segurou Gina pelos ombros e virou-a. Seu rosto estava branco e frio como o m�rmore, mas tinha os olhos fechados, portanto n�o estava petrificada. Ent�o devia estar..
� Gina, por favor, acorde � murmurou Harry desesperado, sacudindo-a. A cabe�a de Gina balan�ou desamparada de um lado para o outro.
� Ela n�o vai acordar � disse uma voz indulgente.
Harry se sobressaltou e se virou ainda de joelhos.
Um garoto alto, de cabelos negros, o observava encostado � coluna mais pr�xima.  Tinha os contornos estranhamente borrados, como se Harry o estivesse vendo atrav�s de uma janela emba�ada. Mas n�o havia como se enganar...
� Tom � Tom Riddle?
Riddle confirmou com a cabe�a, sem tirar os olhos do rosto de Harry.
� Que � que voc� quer dizer com "ela n�o vai acordar"? � perguntou desesperado. � Ela n�o est�... N�o est�...?
� Ainda est� viva � disse Riddle. � Mas por um fio.
Harry arregalou os olhos para ele. Tom Riddle estivera em Hogwarts cinq�enta anos atr�s, contudo achava-se ali parado, envolto por uma luz estranha e enevoada, com os seus exatos dezesseis anos.
� Voc� � um fantasma? � perguntou Harry incerto.
� Uma lembran�a � disse Riddle com suavidade. � Conservada em um di�rio durante cinq�enta anos.  E apontou para o ch�o perto dos enormes p�s da est�tua.
Ca�do ali encontrava-se o pequeno livro preto que Harry encontrara no banheiro da Murta Que Geme. Por um segundo, ele se perguntou como aquilo chegara ali � mas havia assuntos mais urgentes a tratar.
� Voc� tem que me ajudar, Tom � disse Harry, levantando a cabe�a de Gina outra vez. � Temos que tir�-la daqui. Tem um basilisco... N�o sei onde est�, mas pode chegar a qualquer momento.. � Por favor, me ajude...
Riddle n�o se mexeu. Harry, suando, conseguiu levantar metade do corpo de Gina do ch�o e se curvou para apanhar de novo sua varinha.
Mas a varinha desaparecera.
� Voc� viu?
Ele ergueu a cabe�a. Riddle continuava a observ�-lo � girava a varinha de Harry entre os dedos compridos.
� Obrigado � disse Harry, estendendo a m�o para a varinha. Um sorriso encrespou os cantos da boca de Riddle. Continuava a encarar Harry, girando distraidamente a varinha.
� Escute aqui � disse Harry com urg�ncia, seus joelhos cedendo sob o peso morto de Gina. � Temos que ir embora! Se o basilisco chegar.
� Ele n�o vir� at� ser chamado � disse Riddle calmamente. Harry depositou Gina outra vez no ch�o, incapaz de continuar a sustent�-la.
� Que quer dizer?  Olhe me d� a minha varinha, posso precisar dela...
O sorriso de Riddle se alargou.
� Voc� n�o vai precisar dela.
Harry encarou-o.
� Que � que voc� quer dizer, n�o vou...?
� Esperei muito tempo por isto, Harry Potter. Por uma chance de v�-lo. De lhe falar.
� Olhe � disse Harry perdendo a paci�ncia. � Acho que voc� n�o est� entendendo.  Estamos na C�mara Secreta. Podemos conversar depois...
� Vamos conversar agora � disse Riddle, ainda sorrindo, e guardando a varinha no bolso.
Harry encarou-o. Havia alguma coisa muito estranha acontecendo ali...
� Como foi que Gina ficou assim? � perguntou com a voz lenta.
� Bom, essa � uma pergunta interessante � disse Riddle em tom agrad�vel. -� uma hist�ria bastante comprida. Suponho que a raz�o de Gina Weasley estar assim � porque abriu o cora��o e contou todos os seus segredos para um estranho invis�vel.
� Do que � que voc� est� falando?
� Do di�rio. Do meu di�rio. A pequena Gina anda escrevendo nele h� meses, me contou suas tristes preocupa��es e m�goas, como os irm�os implicavam com ela, como teve que vir para a escola com vestes e livros de segunda m�o, como... � os olhos de Riddle brilharam �, como achava que o bom, o famoso, o importante Harry Potter jamais iria gostar dela...
Todo o tempo que falava, os olhos de Riddle n�o desgrudavam do rosto de Harry. Havia neles uma express�o quase faminta.
� � muito chato ter que ouvir os probleminhas bobos de uma garota de onze anos. Mas fui paciente. Respondi. Fui simp�tico, gentil. Gina simplesmente me adorou. �Ningu�m nunca me compreendeu como voc�; Tom... � uma alegria ter este di�rio para fazer confid�ncias... � como ter um amigo port�til que se leva para todo lado no bolso...�
Riddle deu uma risada aguda e fria que n�o combinava com ele. Fez os cabelos na nuca de Harry se arrepiarem.
� Ainda que seja eu a dizer, Harry, sempre fui capaz de encantar as pessoas de quem precisei. Ent�o Gina me revelou sua alma, e por acaso essa alma era exatamente o que eu queria... Fui ficando cada vez mais forte com a dieta dos seus medos mais arraigados e segredos mais �ntimos. Fiquei poderoso, muito mais poderoso do que a pequena Srta. Weasley. Suficientemente poderoso para come�ar a aliment�-la com alguns dos meus segredos, e come�ar a instilar nela um pouco da minha alma...
� Do que � que voc� est� falando? � perguntou Harry, que sentia boca muito seca.
� Voc� ainda n�o adivinhou, Harry Potter? � disse Riddle baixinho. � Gina Weasley abriu a C�mara Secreta. Ela estrangulou os galos da escola e escreveu mensagens amea�adoras nas paredes. Ela a�ulou a serpente de Slytherin contra quatro sangues-ruins e a gata daquela aberra��o do Filch.
� N�o � sussurrou Harry.
� Sim � confirmou Riddle calmamente. � � claro que ela n�o sabia o que estava fazendo no inicio. Era muito divertido. Eu gostaria que voc� tivesse visto as anota��es que a garota fez no di�rio depois... Ficaram muito mais interessantes... "Querido Tom" � recitou ele, observando a express�o horrorizada de Harry � "Acho que estou perdendo a mem�ria. Tem penas de galos nas minhas vestes e n�o sei como foram parar l�. Querido Tom, n�o me lembro do que fiz na noite das Bruxas, mas um gato foi atacado e a frente da minha roupa est� suja de tinta. Querido Tom, Percy me diz o tempo todo que estou p�lida e que estou diferente do que era. Acho que ele suspeita de mim... Houve outro ataque hoje e n�o sei onde � que eu estava. Tom, que � que eu vou fazer? Acho que estou ficando maluca... Acho que sou a pessoa que est� atacando todo mundo, Tom!�
Os punhos de Harry se fecharam, as unhas se enterraram nas palmas das m�os.
� Levou muito tempo para a burrinha da Gina parar de confiar no di�rio � continuou Riddle. � Mas ela finalmente desconfiou e tentou jog�-lo fora. E foi a� que voc� entrou, Harry. Voc� o encontrou e eu n�o poderia ter me sentido mais satisfeito.  De todas as pessoas que podiam t�-lo apanhado, foi voc�, exatamente a pessoa que eu estava mais ansioso para conhecer...
� E para que voc� queria me conhecer? � perguntou Harry. A raiva corria pelas veias dele, e precisou de muito esfor�o para manter a voz firme.
� Bem, veja, Gina me contou tudo sobre voc�, Harry. Toda a sua hist�ria fascinante. � Os olhos de Riddle percorreram a cicatriz em forma de raio na testa de Harry e sua express�o se tornou mais voraz. � Senti que precisava descobrir mais a seu respeito, conversar com voc�, conhecer voc�, se pudesse. Ent�o, decidi lhe mostrar a minha famosa captura daquele bobalh�o do Hagrid para ganhar sua confian�a...
� Hagrid � meu amigo � disse Harry, a voz tr�mula. � E foi voc� que o incriminou, n�o foi? Pensei que voc� tivesse se enganado, mas...
Riddle deu aquela risada aguda outra vez.
� Foi a minha palavra contra a de Hagrid, Harry. Bem, voc� pode imaginar o que pareceu ao velho Armando Dippet. De um lado, Tom Riddle, pobre, mas brilhante, �rf�o, mas muito corajoso, monitor, aluno modelo... Do outro lado, o trapalh�o do Hagrid, que vivia se metendo em encrencas, tentava criar filhotes de lobisomens debaixo da cama, fugia para a Floresta Proibida para brigar com trasgos... Mas admito que at� eu mesmo fiquei surpreso que o plano tivesse funcionado t�o bem.  Achei que algu�m devia perceber que Hagrid n�o poderia ser o herdeiro de Slytherin. Eu gastara circo anos inteiros para descobrir tudo que podia sobre a C�mara Secreta e encontrar a entrada... Como se Hagrid tivesse cabe�a, ou poder para tanto!  S� o professor de Transforma��es, Dumbledore, pareceu pensar que Hagrid era inocente. E convenceu Dippet a conservar Hagrid aqui e trein�-lo para guarda-ca�a.  E, acho que ele talvez tivesse adivinhado... Dumbledore nunca pareceu gostar de mim tanto quanto os outros professores...
� Aposto que Dumbledore n�o se deixou enganar por voc� � disse Harry com os dentes cerrados.
� Bem, n�o h� d�vida de que ele ficou me vigiando de maneira inc�moda depois que Hagrid foi expulso � disse Riddle indiferente. � Percebi que n�o seria seguro tornar a abrir a C�mara enquanto ainda estivesse na escola. Mas n�o ia desperdi�ar os longos anos que passei procurando por ela. Resolvi deixar aqui um di�rio, preservando o meu eu de dezesseis anos em suas p�ginas, de modo que um dia, com sorte, eu pudesse conduzir algu�m pelas minhas pegadas e terminar a nobre tarefa de Salazar Slytherin.
� Bem, voc� n�o a terminou � disse Harry em tom de vit�ria. � Desta vez ningu�m morreu, nem mesmo a gata. Dentro de algumas horas a Po��o de Mandr�goras estar� pronta e todos que foram petrificados voltar�o � normalidade outra vez...
� Acho que ainda n�o lhe disse � falou Riddle em voz baixa � que matar sangues ruins n�o me interessa mais. H� muitos meses agora, meu novo alvo tem sido... Voc�.
Harry encarou-o.
� Imagine a raiva que tive quando na vez seguinte que algu�m abriu o meu di�rio, era a Gina que estava me escrevendo e n�o voc�. Ela o viu com o di�rio, sabe, e entrou em p�nico. E se voc� descobrisse como us�-lo, e eu repetisse todos os segredos dela para voc�? E se, o que seria pior, eu contasse a voc� quem tinha andado estrangulando os galos? Ent�o a boba da pirralha esperou o seu dormit�rio ficar deserto e roubou o di�rio. Mas eu sabia o que precisava fazer. Tinha ficado claro para mim que voc� estava na pista do herdeiro de Slytherin.  Por tudo que Gina tinha me contado, eu sabia que voc� n�o mediria esfor�os para solucionar o mist�rio, principalmente se um dos seus melhores amigos fosse atacado. E Gina tinha me contado que a escola inteira estava alvoro�ada porque voc� sabia falar a l�ngua das cobras...  Enfim, fiz Gina escrever o bilhete de adeus na parede e descer aqui para esperar. Ela resistiu, chorou e ficou muito chateada. Mas n�o resta nela muita vida... Ela transferiu muita for�a para o di�rio, para mim. O suficiente para eu poder finalmente deixar aquelas p�ginas... Estive esperando voc� aparecer desde que chegamos aqui. Sabia que voc� viria. Tenho muitas perguntas a lhe fazer, Harry Potter.
� Por exemplo? � disse Harry com rispidez, os punhos ainda fechados.
� Bem � disse Riddle, dando um sorriso agrad�vel, como foi que voc� um garoto magricela, sem nenhum talento m�gico excepcional, conseguiu derrotar o maior bruxo de todos os tempos? Como foi que voc� escapou apenas com uma cicatriz, enquanto os poderes do Lord Voldemort foram destru�dos?
Surgia agora em seus olhos vorazes um brilho estranho e avermelhado.
� Que lhe interessa como escapei? � perguntou Harry lentamente. � Voldemort foi depois do seu tempo...
� Voldemort � disse Riddle com indulg�ncia � � o meu passado, presente e futuro, Harry Potter...
E, tirando a varinha de Harry do bolso, ele escreveu no ar tr�s palavras cintilantes:

TOM SERVOLO RIDDLE

Em seguida, agitou a varinha uma vez e as letras do seu nome se rearrumaram:

EIS LORD VOLDEMORT

� Entendeu? Era um nome que eu j� estava usando em Hogwarts, s� para os meus amigos mais �ntimos, � claro. Voc� acha que eu ia usar o nome nojento do meu pai trouxa para sempre? Eu, em cujas veias corre o sangue do pr�prio Salazar Slytherin, pelo lado de minha m�e? Eu, conservar o nome de um trouxa sujo e comum, que me abandonou mesmo antes de eu nascer, s� porque descobriu que minha m�e era bruxa? N�o, Harry, criei para mim um nome novo, um nome que eu sabia que os bruxos de todo o mundo um dia teriam medo de pronunciar, quando eu me tornasse o maior bruxo do mundo.
O c�rebro de Harry parecia ter engui�ado. Chocado, ele fixava Riddle, o garoto �rf�o que crescera para assassinar seus pais e tantos outros... Finalmente for�ou-se a falar.
� N�o � � sua voz baixa cheia de �dio.
� N�o � o qu�? � perguntou Riddle com rispidez.
� N�o � o maior bruxo do mundo � disse Harry, respirando depressa. � Desculpe desapont�-lo, e tudo o mais, mas o maior bruxo do mundo � Alvo Dumbledore. Todos dizem isso. Mesmo quando voc� era poderoso, voc� n�o se atreveu a tentar dominar Hogwarts. Dumbledore viu atrav�s de voc� quando freq�entou a escola e ainda o amedronta hoje, onde quer que voc� se esconda...
O sorriso desaparecera da cara de Riddle, substitu�do por um olhar muito sinistro.
� Dumbledore foi afastado do castelo meramente pela minha lembran�a � sibilou.
� Ele n�o est� t�o afastado quanto voc� poderia pensar! � retorquiu Harry. Falava sem pensar, querendo apavorar Riddle, desejando mais, do que acreditando que o que dizia fosse verdade...
Riddle abriu a boca, mas congelou.
Ouviram uma m�sica vinda de algum lugar. Riddle se virou para percorrer com os olhos a c�mara vazia. A m�sica se tornava cada vez mais alta.
Era misteriosa, de dar arrepios, sobrenatural; fez os cabelos de Harry ficarem em p� e o seu cora��o parecer inchar at� dobrar de tamanho. Ent�o a m�sica atingiu tal volume que Harry a sentiu vibrar dentro do peito, e chamas irromperam no alto da coluna mais pr�xima.
Um p�ssaro vermelho do tamanho de um cisne apareceu, cantando aquela m�sica esquisita para a ab�bada do teto. Tinha uma cauda dourada e faiscante, comprida como a de um pavio e garras douradas e reluzentes que seguravam um embrulho esfarrapado.
Um segundo depois, o p�ssaro voava direto para Harry. Deixou cair a seus p�s o embrulho que carregava, depois pousou pesadamente em seu ombro. Quando fechou as asas enormes, Harry ergueu os olhos e viu que tinha um bico dourado, longo e afiado e olhos redondos e escuros.
O p�ssaro parou de cantar. Sentou-se im�vel e c�lido junto � bochecha de Harry, olhando com firmeza para Riddle.
� � uma f�nix... � disse Riddle, encarando-o de volta com um olhar astuto.
� Fawkes? � sussurrou Harry, e sentiu as garras douradas do p�ssaro apertarem gentilmente seu ombro.
� E isso � disse Riddle, agora examinando o embrulho esfarrapado que Fawkes deixara cair � seria o velho Chap�u Seletor...
E era. Remendado, esfiapado, sujo, o chap�u jazia im�vel aos p�s de Harry.
Riddle come�ou a rir outra vez. Riu tanto que a C�mara ecoou com o seu riso, como se dez Riddles estivessem rindo ao mesmo tempo...
� Isto � o que Dumbledore manda ao seu defensor! Um p�ssaro canoro e um velho chap�u! Voc� se sente cheio de coragem, Harry Potter? Sente-se seguro agora?
Harry n�o respondeu. Talvez n�o entendesse qual era a utilidade de Fawkes ou do Chap�u Seletor, mas j� n�o estava sozinho e esperou com crescente coragem Riddle parar de rir.
� Aos neg�cios, Harry � falou Riddle, ainda com um largo sorriso. � Duas vezes, no seu passado, ou no meu futuro, n�s nos encontramos. E duas vezes n�o consegui mat�-lo. Como foi que voc� sobreviveu? Conte-me tudo. Quanto mais tempo falar � acrescentou brandamente � mais tempo continuara vivo.
Harry come�ou a pensar depressa, avaliando suas chances. Riddle tinha a varinha. Ele, Harry, tinha Fawkes e o Chap�u Seletor, nenhum dos quais adiantaria muito em um duelo. A situa��o parecia ruim, n�o havia d�vida... Mas quanto mais tempo Riddle ficasse ali, mais depressa a vida de Gina se esgotava... Entrementes, Harry reparou de repente que os contornos de Riddle estavam ficando mais n�tidos, mais s�lidos... Se tinha que haver uma luta entre ele e Riddle, quanto mais cedo melhor.
� Ningu�m sabe por que voc� perdeu seus poderes ao me atacar � disse Harry abruptamente. � Nem mesmo eu sei. Mas sei por que voc� n�o p�de me matar. Foi porque minha m�e morreu para me salvar. Minha m�e trouxa e comum � acrescentou, sacudindo-se de raiva reprimida. � Ela impediu voc� de me matar. E eu vi o seu eu verdadeiro. Vi no ano passado. Voc� est� uma ru�na. Mal se mant�m vivo.  Foi isso que voc� ganhou com todo o seu poder. Voc� vive escondido. Voc� � feio, voc� � nojento...
O rosto de Riddle se contorceu. Ent�o ele deu um horr�vel sorriso amarelo.
� Ent�o, sua m�e morreu para salvar voc�. �, isso � um contra-feiti�o poderoso. Estou entendendo agora... Afinal de contas voc� n�o tem nada especial. H� uma estranha semelhan�a entre n�s. At� voc� deve ter notado. N�s dois somos mesti�os, �rf�os, criados por trouxas. Provavelmente, desde o grande Slytherin, somos os dois falantes da l�ngua das cobras a freq�entar Hogwarts. E at� nos parecemos fisicamente... Mas no final, foi um simples acaso que salvou voc� de mim. Era s� o que eu queria saber.
Harry esperou tenso que Riddle erguesse a varinha. Mas o sorriso enviesado de Riddle voltou a se alargar.
� Agora, Harry, vou lhe dar uma li��ozinha. Vamos medir os poderes do Lord Voldemort, herdeiro de Slytherin, com os do famoso Harry Potter, e as melhores armas que Dumbledore p�de lhe dar...
Ele lan�ou um olhar divertido a Fawkes e ao Chap�u Seletor, em seguida se afastou.  
Harry, o medo se espalhando pelas pernas dormentes, observou Riddle parar entre as altas colunas e olhar para o rosto de pedra de Slytherin, muito acima dele na obscuridade.
Riddle abriu bem a boca e sibilou � mas Harry entendeu o que ele estava dizendo...
� Fale comigo, Slytberin, o maior dos Quatro de Hogwarts.
Harry se virou para olhar a est�tua, Fawkes balan�ava em seu ombro.
O gigantesco rosto de pedra de Slytherin se mexeu. Aterrorizado, Harry viu sua boca abrir, cada vez mais, e formar um enorme buraco negro.
E alguma coisa estava se mexendo dentro da boca da est�tua. Alguma coisa come�ava a escorregar para fora de suas profundezas.
Harry recuou at� bater na escura parede da C�mara e, ao fechar os olhos com for�a, sentiu a asa de Fawkes ro�ar sua bochecha quando o p�ssaro levantou v�o. Harry queria gritar "N�o me deixe!", mas que chance tinha uma f�nix contra o rei das serpentes?
Algo descomunal bateu no piso de pedra da C�mara. Harry sentiu-o trepidar, ele sabia o que estava acontecendo, sentia, podia quase ver a cobra gigantesca se desenrolar para fora da boca de Slytherin. Ent�o ouviu a voz sibilante de Riddle:
� Mata ele.
O basilisco estava vindo em sua dire��o; ele ouviu aquele corpo gigantesco deslizar pesadamente pelo ch�o empoeirado.
Com os olhos ainda fechados, Harry come�ou a correr as cegas para os lados, as m�os estendidas � frente, tateando o caminho, Voldemort dava risadas...
Harry trope�ou. Caiu com for�a no ch�o e sentiu gosto de sangue � a cobra estava a uma pequena dist�ncia, ele a ouviu se aproximar...
Logo acima dele houve um som alto, explosivo e aquoso e ent�o alguma coisa pesada bateu em Harry com tanto �mpeto que o esmagou contra a parede. Esperando ter o corpo atravessado por presas ele ouviu mais sibilos raivosos, alguma coisa irrompendo por entre os pilares...
Ele n�o ag�entou � abriu os olhos o suficiente para espreitar o que estava acontecendo.
A enorme cobra, de um verde luzidio e venenoso, grossa como um tronco de carvalho, erguia-se no ar e sua enorme cabe�a chanfrada balan�ava b�beda entre as colunas. Tr�mulo e pronto a fechar os olhos se a cobra se virasse, Harry viu o que distra�ra a cobra.
Fawkes sobrevoava sua cabe�a e o basilisco tentava abocanh�-la, furioso, com as presas finas como sabres...
Fawkes mergulhou. Seu longo bico dourado desapareceu de vista e uma chuva repentina de sangue escuro salpicou o ch�o. O rabo da cobra chicoteou, errando Harry por pouco e, antes que o garoto pudesse fechar os olhos, ela se virou � o garoto olhou direto para a sua cara e viu que os olhos, os dois olhos bulbosos e amarelos, tinham sido furados pela f�nix; o sangue escorria no ch�o e a cobra espumava de dor.
� N�O! � Harry ouviu Riddle gritar. � DEIXE O P�SSARO! DEIXE O P�SSARO! O GAROTO EST� ATR�S DE VOC�! VOC� AINDA PODE FAREJ�-LO! MATE-O!
A cobra cega balan�ou, confusa, ainda letal. Fawkes descrevia c�rculos em volta de sua cabe�a, cantando aquela m�sica estranha, atacando aqui e ali o nariz escamoso da cobra, enquanto o sangue jorrava dos seus olhos destru�dos.
� Me ajudem, me ajudem � murmurou Harry �, algu�m, qualquer um...
O rabo da cobra voltou a chicotear o ch�o. Harry se abaixou. Uma coisa macia bateu em seu rosto.
O basilisco varrera o Chap�u Seletor para os bra�os de Harry.  O garoto agarrou-o. Era s� o que lhe restava, sua �nica chance.   Enfiou-o na cabe�a e se atirou ao comprido no ch�o quando o rabo do basilisco tornou a golpear passando por cima dele.
�Me ajudem, me ajudem� � pensou Harry, os olhos bem fechados sob o chap�u. � �Por favor me ajudem...�
Nenhuma voz lhe respondeu. Em lugar disso, o chap�u encolheu, como se uma m�o invis�vel o apertasse com for�a.
Uma coisa dura e pesada bateu na cabe�a de Harry com for�a, deixando-o quase desacordado. Com estrelas piscando diante dos seus olhos, ele agarrou a ponta do chap�u com firmeza para tir�-lo e sentiu uma coisa comprida e dura em seu interior.
Uma refulgente espada de prata aparecera dentro do chap�u, o punho cravejado de rubis rutilantes do tamanho de ovos.
� MATE O GAROTO! DEIXE O P�SSARO! O GAROTO EST� A TR�S DE VOC�!FAREJE, FAREJE!
Harry estava de p�, pronto. A cabe�a do basilisco foi baixando, o corpo se enroscando, batendo nas colunas ao se torcer para atac�-lo de frente. Harry viu o corpo imenso, as �rbitas ensang�entadas, a boca escancarada, grande suficiente para engoli-lo inteiro, cheia de dentes compridos como a sua espada, pontiagudos, faiscantes, venenosos...
A cobra atacou �s cegas... Harry evitou-a e bateu na parede da C�mara. Ela atacou de novo, e sua l�ngua bifurcada golpeou o lado de Harry. Ele ergueu a espada com as duas m�os...
O basilisco tornou a atacar, e desta vez na dire��o certa... Harry p�s todo o seu peso na espada e enfiou-o at� a bainha no c�u da boca da cobra...
Mas quando o sangue quente encharcou os bra�os de Harry, ele sentiu uma dor excruciante logo acima do cotovelo. Uma presa comprida e venenosa estava se enterrando cada vez mais fundo em seu bra�o e se partiu quando o basilisco tombou para o lado e caiu, estrebuchando no ch�o.
Harry escorregou pela parede. Agarrou a presa que espalhava veneno pelo seu corpo e arrancou-a do bra�o. Mas percebeu que era tarde demais. Uma dor terr�vel se irradiava do ferimento de modo lento e cont�nuo. Na hora em que deixou cair a presa e viu o pr�prio sangue empapar suas vestes, sua vis�o se emba�ou. A C�mara se dissolveu num rodamoinho de cores opacas.
Uma nesga de vermelho passou por ele, e Harry ouviu unhas baterem ao seu lado suavemente.
� Fawkes � disse com a voz engrolada. � Voc� foi fant�stico, Fawkes... � Ele sentiu o p�ssaro deitar a bela cabe�a no lugar em que a presa da serpente o furara.  Ouviu ecoarem passos e depois uma sombra escura passar � sua frente.
� Voc� est� morto, Harry Potter � disse a voz de Riddle do alto. � Morto. At� o p�ssaro de Dumbledore sabe disso. Voc� est� vendo o que ele est� fazendo, Potter? Est� chorando.
Harry piscou os olhos. A cabe�a de Fawkes entrava e sa�a de foco. L�grimas grossas e peroladas escorriam por suas penas de cetim.
� Vou me sentar aqui e apreciar voc� morrer, Harry Potter. Pode demorar � vontade.  N�o tenho pressa.
Harry se sentiu sonolento. Tudo � sua volta parecia estar girando.
� Assim termina o famoso Harry Potter � disse a voz distante de Riddle � Sozinho na C�mara Secreta, abandonado pelos amigos, finalmente derrotado pelo Lord das Trevas que ele t�o insensatamente desafiou. Voc� vai voltar para a sua querida m�e de sangue-ruim em breve, Harry... Ela comprou para voc� mais doze anos de vida... Mas Lord Voldemort acabou por venc�-lo, como voc� sabia que ele faria...
Se isto for morrer, pensou Harry, n�o � t�o mau assim.
At� mesmo a dor abandonou-o aos poucos...
Mas ser� que isto era morrer? Em vez de escurecer a C�mara parecia estar voltando a entrar em foco. Harry fez um pequeno movimento com a cabe�a e l� estava Fawkes, ainda descansando a cabe�a em seu bra�o. Uma pocinha de l�grimas peroladas brilhava em torno do ferimento � s� que n�o havia ferimento...
� Afaste-se dele, p�ssaro � disse a voz de Riddle inesperadamente. � Afaste-se dele, eu falei, afaste-se...
Harry levantou a cabe�a. Riddle estava apontando a varinha de Harry para Fawkes; ouviu-se um estampido como o de um rev�lver e Fawkes levantou v�o outra vez num redemoinho dourado e vermelho.
� L�grimas de f�nix... � disse Riddle baixinho, olhando o bra�o de Harry. � � claro... Poderes curativos... Me esqueci...
Ele olhou para o rosto de Harry.
� Mas n�o faz diferen�a. Na realidade, prefiro assim. S� voc� e eu, Harry Potter... Voc� e eu...
E ergueu a varinha...
Ent�o num farfalhar de penas, Fawkes sobrevoou os dois e uma coisa caiu no colo de Harry � o di�rio.
Por uma fra��o de segundo, Harry e Riddle, a varinha ainda erguida, olharam para o di�rio. Ent�o, sem pensar, sem raciocinar, como se tivesse pretendido fazer isso o tempo todo, Harry agarrou a presa do basilisco no ch�o ao lado dele e enterrou-a direto no centro do livro.
Ouviu-se um grito longo e cortante. Um rio de tinta jorrou do di�rio, escorreu pelas m�os de Harry, inundou o ch�o. Riddle estrebuchava e se contorcia, gritando e se debatendo e ent�o...
Desapareceu. A varinha de Harry caiu no ch�o com estr�pito e em seguida fez-se sil�ncio. Sil�ncio, exceto pelo pinga-pinga da tinta que ainda escorria do di�rio. O veneno do basilisco abrira a fogo um buraco no livro.
O corpo inteiro tremendo, Harry se levantou. Sua cabe�a rodava como se tivesse acabado de viajar quil�metros com o P� de Flu. Lentamente, recolheu a varinha e o Chap�u Seletor e, com um violento pux�o, retirou a espada faiscante do c�u da boca do basilisco.
Ent�o chegou aos seus ouvidos um gemido fraco l� do fundo da C�mara. Gina estava se mexendo. Enquanto Harry corria para a garota, ela se sentou. Seus olhos espantados ziguezaguearam do enorme vulto do basilisco morto para Harry, com as vestes encharcadas de sangue, e da� para o di�rio em sua m�o. Ela inspirou profundamente, estremecendo, e as l�grimas come�aram a rolar pelo seu rosto.
� Harry, ah, Harry, eu tentei lhe contar no caf�, mas n�o pude contar na frente do Percy... Fui eu, Harry... Mas... j-juro que n�o tive inten��o... Riddle me obrigou, ele me levou at� l�... E... Como foi que voc� matou aquele... Aquela coisa? Onde est� Riddle? A �ltima coisa que me lembro � dele saindo do di�rio.
� Tudo bem � disse Harry, levantando o di�rio e mostrando � Gina o furo feito pela presa �, o Riddle acabou. � Olhe! Ele e o basilisco. Anda Gina, vamos dar o fora daqui!
� Vou ser expulsa! � choramingou Gina enquanto Harry a ajudava, desajeitado, a ficar em p�. � Sonhei em vir para Hogwarts desde que G-Gui veio e ag-gora vou ter que sair e... q-que-que papai e mam�e v�o dizer?
Fawkes estava � espera deles, sobrevoando a entrada da C�mara. Harry instava Gina a avan�ar; os dois saltaram por cima das voltas inertes do basilisco morto, atravessando a penumbra cheia de ecos e voltaram ao t�nel. Harry ouviu as portas de pedra se fecharem �s suas costas com um silvo fraco.
Depois de caminharem alguns minutos pelo t�nel escuro, Harry ouviu o som distante de pedras que se deslocavam lentamente.
� Rony! � berrou, se apressando. � Gina est� bem! Est� comigo!
Ouviram Rony soltar um viva sufocado e, ao virarem a curva seguinte, divisaram a sua carinha ansiosa espiando por uma brecha de bom tamanho, que ele conseguira abrir entre as pedras desmoronadas.
� Gina!� Rony enfiou um bra�o pelo buraco para pux�-la primeiro. � Voc� est� viva! N�o acredito! Que aconteceu! Como... Que... De onde veio o p�ssaro?
Fawkes mergulhou no buraco atr�s de Gina.
� � do Dumbledore � respondeu Harry, espremendo-se para passar.
� Onde arranjou uma espada? � disse Rony, boquiabrindose ao ver a arma na m�o de Harry.
� Explico quando sairmos daqui � disse Harry com um olhar de esguelha para Gina, que agora chorava mais do que antes.
� Mas...
� Mais tarde � disse Harry concisamente. N�o achou uma boa id�ia naquele momento contar a Rony quem andara abrindo a C�mara, pelo menos n�o na frente de Gina. � Onde anda Lockhart?
� L� atr�s � disse Rony, ainda com uma express�o intrigada, mas indicando com a cabe�a o t�nel na dire��o do cano de entrada. � Est� bem ruinzinho. Venha ver.
Guiados por Fawkes, cujas penas vermelhas produziam uma luminosidade dourada no escuro, eles caminharam de volta � boca do cano.
Gilderoy Lockhart estava sentado, cantarolando tranq�ilamente para si mesmo.
� A mem�ria dele desapareceu � disse Rony. � O Feiti�o da Mem�ria saiu pela culatra. Atingiu ele em vez de n�s. Ele n�o tem a menor id�ia de quem �, onde est� ou de quem somos. Eu o mandei vir esperar aqui. � um perigo para ele mesmo.
Lockhart mirou os garotos, bem-humorado.
� Al� � disse ele. � Lugar esquisito, esse, n�o acham? Voc�s moram aqui?
� N�o � respondeu Rony, erguendo as sobrancelhas para Harry.
Harry se abaixou e espiou para dentro do cano longo e escuro.
� Voc� j� pensou como � que vamos subir por isso para voltar? � perguntou a Rony.
Rony sacudiu a cabe�a, mas Fawkes, a f�nix, passara por Harry e agora esvoa�ava � sua frente, seus olhos de contas brilhando no escuro. Ela acenava com as compridas penas douradas da cauda. Harry olhou-a hesitante.
� Parece que ela quer que voc� a agarre... � disse Rony, com um olhar perplexo. � Mas voc� � pesado demais para um p�ssaro arrast�-lo por ali...
� Fawkes n�o � um p�ssaro comum. � Harry se virou depressa para os outros. � Temos que nos segurar uns nos outros. Gina, agarre a m�o de Rony. Prof�. Lockhart...
� Ele est� se referindo ao senhor � disse Rony rispidamente. � a Lockhart.
� Segure a outra m�o de Gina...
Harry prendeu a espada e o Chap�u Seletor no cinto, Rony segurou as costas das vestes de Harry e este esticou a m�o e agarrou a cauda estranhamente quente de Fawkes.
Uma leveza extraordin�ria pareceu se espalhar por todo o seu corpo e, no segundo seguinte, o grupo voava pelo cano em meio a um farfalhar de asas. Harry ouviu Lockhart, pendurado atr�s dele, exclamar: "Espantoso! Espantoso! Isso parece m�gica!" O ar frio fustigava os cabelos de Harry e, antes que ele tivesse enjoado da viagem, ela terminou.  Os quatro bateram no ch�o molhado do banheiro da Murta Que Geme, e enquanto Lockhart endireitava o chap�u, a pia que escondera o cano voltou a se encaixar suavemente no lugar.
Murta arregalou os olhos para Harry.
� Voc� est� vivo! � exclamou desconcertada.
� N�o precisa parecer t�o desapontada � disse o garoto, s�rio, limpando os salpicos de sangue e o limo dos �culos.
� Ah, bem... Andei pensando... Se voc� tivesse morrido, seria bem-vindo a dividir o meu boxe � disse Murta, com o rosto tingindo-se de prateado.
� Arre! � exclamou Rony ao sa�rem do banheiro para o corredor escuro e deserto. � Harry! Acho que Murta est� gostando de voc�! Gina voc� ganhou uma concorrente!
Mas as l�grimas continuavam a escorrer silenciosamente pelo rosto de Gina.
� Onde agora? � perguntou Rony, lan�ando um olhar ansioso a Gina. Harry apontou.
Fawkes tomou a frente, refulgindo ouro pelo corredor. Eles o seguiram e momentos depois se encontravam � porta da sala da Prof�. McGonagall.  Harry bateu e empurrou a porta, abrindo-a.














CAP�TULO DEZOITO
A recompensa de Dobby

Quando Harry, Rony, Gina e Lockhart surgiram � porta, cobertos de sujeira e limo, e no caso de Harry sangue, houve um sil�ncio moment�neo. Em seguida ouviu-se um grito.
� Gina!
Era a Sra. Weasley, que estivera sentada chorando, diante da lareira. Ela se levantou num salto, seguida de perto pelo Sr. Weasley, e os dois se atiraram � filha.
Harry, no entanto, olhou mais al�m. O Prof�. Dumbledore estava parado junto ao console da lareira, sorrindo, ao lado da Prof�. McGonagall, que inspirou v�rias vezes, as m�os no peito. Fawkes passou voando pela orelha de Harry e pousou no ombro de Dumbledore, na mesma hora em que Harry e Rony se viram envolvidos pelo abra�o apertado da Sra. Weasley.
� Voc� salvou minha filha! Voc� a salvou! Como foi que voc� fez isso?
� Acho que todos n�s gostar�amos de saber � disse a Prof�. McGonagall com a voz fraca.
A Sra. Weasley soltou Harry que hesitou um instante, caminhou at� a escrivaninha e depositou em cima dela o Chap�u Seletor, a espada cravejada de rubis e o que sobrara do di�rio de Riddle.
Ent�o come�ou a contar tudo. Durante uns quinze minutos ele falou cercado de aten��o e sil�ncio: contou sobre a voz invis�vel que ouvira, como Hermione finalmente percebera que ele estava ouvindo um basilisco na tubula��o; como ele e Rony tinham seguido as aranhas at� a floresta, que Aragogue revelara onde a �ltima vitima do basilisco morrera; como tinham adivinhado que Murta Que Geme fora essa v�tima e que a entrada para a C�mara Secreta poderia estar no banheiro...
� Muito bem � encorajou-o a Prof�. McGonagall quando ele parou �, ent�o voc�s descobriram onde era a entrada, e eu acrescentaria: atropelando umas cem regras do nosso regulamento, mas, por Deus, Potter, como foi que voc�s conseguiram sair de l� com vida?
Harry, com a voz rouca de tanto falar, contou ent�o sobre a chegada providencial de Fawkes e do Chap�u Seletor com a espada dentro. Mas, nesse ponto, lhe faltaram palavras. At� ali, ele evitara mencionar o di�rio de Riddle � ou Gina. Ela estava de p�, com a cabe�a apoiada no ombro da Sra. Weasley, e as l�grimas ainda escorriam silenciosamente pelo seu rosto. E se eles a expulsassem? Pensou Harry em p�nico. O di�rio de Riddle n�o servia para mais nada... Como iriam provar que fora ele que a obrigara a fazer tudo?
Instintivamente, Harry olhou para Dumbledore, que lhe deu um breve sorriso, os seus �culos de meia-lua refletindo a luz do fogo.
� O que me interessa mais � disse ele com brandura � � como foi que Lord Voldemort conseguiu enfeiti�ar Gina, quando as minhas fontes me informaram que no momento ele est� escondido nas florestas da Alb�nia.
Um al�vio, um al�vio morno, envolvente, glorioso � invadiu Harry.
� Q-que foi que disse? � perguntou o Sr. Weasley com a voz aturdida. � Voc�-Sabe-Quem? En-enfeiti�ou Gina? Mas Gina n�o... Gina n�o esteve... Esteve?
� Com esse di�rio � respondeu Harry depressa, apanhando-o na mesa e mostrando-o a Dumbledore. � Riddle escreveu nele quando tinha dezesseis anos...
Dumbledore recebeu o di�rio de Harry e examinou-o com aten��o, por cima do nariz comprido e torto, as p�ginas queimadas e encharcadas.
� Genial � disse baixinho. � � claro, ele foi provavelmente o aluno mais brilhante que Hogwarts j� teve. � E se virou para os pais de Gina, que pareciam inteiramente perplexos.
� Muito pouca gente sabe que Lord Voldemort um dia se chamou Tom Riddle. Eu fui seu professor h� cinq�enta anos, em Hogwarts. Ele desapareceu depois que terminou a escola... Viajou por toda parte... Aprofundou-se nas Artes das Trevas, associou-se com os piores elementos do nosso povo, passou por tantas transforma��es m�gicas e perigosas que, quando reapareceu como Lord Voldemort, quase n�o dava para reconhec�-lo. Muito pouca gente ligou Lord Voldemort ao garoto inteligente e bonito que, no passado, fora monitor-chefe aqui.
� Mas, Gina � perguntou a Sra. Weasley. � Que � que a nossa Gina tem a ver com... Com... Ele?
� O d-di�rio dele! � solu�ou Gina. � And-dei escrevendo no di�rio, e ele andou me respondendo o ano todo...
� Gina! � exclamou o Sr. Weasley, espantado. � Ser� que n�o lhe ensinei nada? Que foi que sempre lhe disse? Nunca confie em nada que � capaz de pensar se voc� n�o pode ver onde fica o seu c�rebro. Por que n�o mostrou o di�rio a mim ou a sua m�e? Um objeto suspeito desses, estava obviamente carregado de Artes das Trevas...
� Eu n-n�o sabia � solu�ou Guia. � Encontrei o di�rio junto com os livros que mam�e comprou para mim. P-pensei que algu�m o deixara ali e se esquecera dele...
� A Srta. Weasley devia ir imediatamente para a ala hospitalar � Dumbledore interrompeu-a com firmeza. � Ela passou por uma terr�vel prova��o. N�o haver� castigo. Bruxos mais velhos e mais sensatos que ela j� foram enganados por Lord Voldemort. � Encaminhou-se, ent�o, para a porta e abriu-a. � Repouso e talvez uma boa x�cara de chocolate fumegante. Sempre acho que isto me reanima � acrescentou ele, piscando bondosamente para a garota. � Os senhores encontrar�o Madame Pomfrey ainda acordada. Est� administrando suco de mandr�goras, imagino que as v�timas do basilisco ir�o acordar a qualquer momento.
� Ent�o Mione est� bem! � exclamou Rony, animado.
� N�o houve dano permanente � disse Dumbledore.
A Sra. Weasley levou Gina embora e o Sr. Weasley a acompanhou, ainda parecendo profundamente abalado.
� Sabe, Minerva � disse o Prof�. Dumbledore pensativo �, acho que tudo isto merece uma boa festan�a. Ser� que eu poderia lhe pedir para avisar �s cozinhas?
� Certo � disse a professora, eficiente, encaminhando-se tamb�m para a porta. � Vou deixar voc� lidar com Potter e Weasley, concorda?
� Com certeza.
Ela saiu, e Harry e Rony olharam inseguros para Dumbledore. Que ser� que a professora quisera dizer com aquele lidar com eles. Certamente � certamente � eles n�o iriam ser castigados?
� Estou-me lembrando que disse a ambos que teria de expuls�-los se infringissem mais um artigo do regulamento da escola � come�ou Dumbledore.
Rony abriu a boca horrorizado.
� O que prova que at� o melhor de n�s �s vezes precisa engolir o que disse � continuou o diretor, sorrindo. � Os dois receber�o pr�mios especiais por servi�os prestados � escola e... Vejamos... �, acho que duzentos pontos para a Grifin�ria, por cabe�a.
Rony ficou t�o vermelho que parecia as flores de Lockhart para o Dia dos Namorados, e tornou a fechar a boca.
� Mas um de n�s parece que est� caladissimo sobre a parte que teve nesta aventura perigosa � acrescentou Dumbledore.
� Por que t�o modesto, Gilderoy?
Harry se assustou. Esquecera-se completamente de Lockhart. Virou-se e viu o professor parado a um canto da sala, um sorriso vago ainda no rosto. Quando Dumbledore lhe dirigiu a palavra, ele espiou por cima do ombro para ver com quem o diretor estava falando.
� Prof�. Dumbledore � disse Rony depressa �, houve um acidente l� na C�mara Secreta. O Prof�. Lockhart...
� Eu sou professor? � perguntou Lockhart, ligeiramente surpreso. � Nossa! Acho que fui in�til, n�o fui?
� Ele tentou lan�ar um Feiti�o da Mem�ria, e a varinha estava virada para ele � explicou Rony, calmamente, a Dumbledore.
� Ai, ai � exclamou Dumbledore, balan�ando a cabe�a, seus longos bigodes prateados tremendo. � impalado com a pr�pria espada, Gilderoy?
� Espada? � repetiu Lockhart confuso. � N�o tenho espada. Mas esse menino tem. � E apontou para Harry. � Ele pode lhe emprestar uma.
� Importa-se de levar o Prof�. Lockhart � enfermaria, tamb�m? � pediu Dumbledore a Rony. � Gostaria de dar mais uma palavrinha com o Harry.
Lockhart saiu. Rony lan�ou um olhar curioso a Dumbledore e Harry ao fechar a porta.
O diretor caminhou at� uma poltrona diante da lareira, do outro lado da sala.
� Sente-se, Harry � disse ele, e o garoto obedeceu, sentindo-se inexplicavelmente nervoso. � Antes de mais nada, Harry, eu quero lhe agradecer �, disse Dumbledore com os olhos novamente cintilantes. � Voc� deve ter mostrado verdadeira lealdade a mim l� na C�mara. Nenhuma outra coisa teria levado Fawkes a voc�. 
Ele alisou a f�nix, que voara para o seu joelho. Harry sorriu, sem jeito, diante do olhar do diretor que o observava.
� Com que ent�o voc� conheceu Tom Riddle .� disse Dumbledore, pensativo. � Imagino que ele estivesse interessad�ssimo em voc�...
De repente, uma coisa que estava preocupando Harry, escapou de sua boca.
� Prof�. Dumbledore... Riddle disse que eu sou igual a ele. "Uma estranha semelhan�a"  foi o que me disse...
� Foi mesmo? � disse olhando pensativo para o garoto por baixo das grossas sobrancelhas prateadas. � E o que � que voc� acha Harry?
� Acho que n�o sou igual a ele! � exclamou ele, mais alto do que pretendia. � Quero dizer, perten�o... Perten�o a Grifin�ria, sou...
Mas se calou, uma d�vida furtiva surgia em sua mente.
� Professor � recome�ou ap�s um momento. � O Chap�u Seletor me disse... Que eu teria sido bem-sucedido na Sonserina. Todo mundo achou que eu era o herdeiro de Slytherin por algum tempo... Porque falo a l�ngua das cobras...
� Voc� fala a l�ngua das cobras, Harry � disse Dumbledore, calmamente �, porque Lord Voldemort, que � o �ltimo descendente de Salazar Slytherin, sabe falar a l�ngua das cobras. A n�o ser que eu muito me engane, ele transferiu alguns dos seus poderes para voc� na noite em que lhe fez essa cicatriz. N�o era uma coisa que tivesse inten��o de fazer, com toda certeza...
� Voldemort deixou um pouco dele em mim? � disse Harry, estupefato.
� Parece que sim.
� Ent�o eu deveria estar na Sonserina � disse, olhando desesperado para Dumbledore. � O Chap�u Seletor viu poderes de Slytherin em mim, e...
� P�s voc� na Grifin�ria � completou Dumbledore, serenamente. � Ou�a, Harry. Por acaso voc� tem muitas das qualidades que Salazar Slytherin prezava nos alunos que selecionava. O seu dom raro de falar a l�ngua das cobras, criatividade, determina��o, um certo desprezo pelas regras � acrescentou, os bigodes tremendo outra vez. � Contudo, o Chap�u Seletor colocou voc� na Grifin�ria. E voc� sabe o porqu�. Pense.
� Ele s� me p�s na Grifin�ria � disse Harry com voz de derrota � porque pedi para n�o ir para a Sonserina...
� Exatamente � disse Dumbledore, abrindo um grande sorriso. � O que o faz muito diferente de Tom Riddle. S�o as nossas escolhas, Harry que revelam o que realmente somos, muito mais do que as nossas qualidades. � Harry ficou sentado na poltrona, atordoado. � Se quiser uma prova, Harry, de que pertence � Grifin�ria, sugiro que olhe para isto com maior aten��o.
Dumbledore esticou o bra�o para a escrivaninha da Prof�. McGonagall, apanhou a espada de prata suja de sangue e entregou-a a Harry. Embotado, Harry revirou-a, os rubis rutilaram � luz da lareira. E ent�o viu o nome gravado logo abaixo da bainha.  Godrico Gryffindor.
� Somente um verdadeiro membro da Grifin�ria poderia ter tirado isto do chap�u, Harry � concluiu Dumbledore com simplicidade.
Durante um minuto nenhum dos dois falou. Depois Dumbledore abriu uma gaveta da escrivaninha da Prof�. McGonagall e tirou uma pena e um tinteiro.
� O que voc� precisa, Harry, � de comida e de um bom sono. Sugiro que des�a para a festa enquanto escrevo a Azkaban, precisamos ter o nosso guarda-ca�a de volta. E preciso preparar o an�ncio para o Profeta Di�rio, tamb�m � acrescentou pensativo.
� Vamos ter que contratar um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas... Ai, ai, parece que gastamos esses professores muito depressa, n�o � mesmo?
Harry se levantou e saiu em dire��o � porta. Tinha acabado de levar a m�o � ma�aneta, quando a porta se abriu com tanta viol�ncia que bateu na parede e voltou.
L�cio Malfoy achava-se parado ali, com uma express�o furiosa no rosto. E encolhendo-se por tr�s de suas pernas, todo enfaixado, achava-se Doby.
� Boa-noite, L�cio � disse Dumbledore em tom agrad�vel.
O Sr. Malfoy quase derrubou Harry ao entrar na sala. Dobby disparou atr�s dele, agachando-se � barra de sua capa, um olhar de abjeto terror em seu rosto.
O elfo trazia nas m�os um trapo manchado com que tentava terminar de limpar os sapatos do Sr. Malfoy. Seu dono, aparentemente, sa�ra com muita pressa, porque n�o s� trazia os sapatos engraxados pela metade como tamb�m os seus cabelos, em geral assentados, estavam despenteados. Sem dar aten��o ao elfo que se sacudia aos seus tornozelos pedindo desculpas, ele fixou os olhos frios em Dumbledore.
� Ent�o! � disse. � Voc� est� de volta. Os conselheiros o suspenderam, mas mesmo assim voc� achou que devia voltar a Hogwarts.
� Bom, sabe, L�cio � respondeu Dumbledore sorrindo serenamente �, os outros onze conselheiros entraram em contato comigo hoje. Foi como se eu tivesse sido apanhado por uma tempestade de corujas, para lhe dizer a verdade. Eles tinham ouvido falar que a filha de Arthur Weasley fora morta e queriam que eu voltasse imediatamente.  Parece que acharam que afinal eu era o melhor homem para enfrentar a situa��o.  Contaram-me coisas muito estranhas... V�rios deles pareciam pensar que voc� amea�ara enfeiti�ar a fam�lia deles se n�o concordassem em me suspender.
O Sr. Malfoy ficou mais p�lido do que costumava ser, mas seus olhos ainda pareciam fendas de f�ria.
� Ent�o, voc� j� fez os ataques pararem? � zombou. � J� apanhou o culpado?
� Apanhamos � respondeu Dumbledore com um sorriso.
� E?� tornou o Sr. Malfoy, r�spido. � Quem �?
� A mesma pessoa da �ltima vez, L�cio. Mas agora, Lord Voldemort agiu por interm�dio de outra pessoa. Por interm�dio do seu di�rio.
Dumbledore segurou o livrinho com o enorme buraco no centro, observando, atentamente, o Sr. Malfoy. Harry, por�m, observava Dobby.
O elfo agia de maneira muito estranha. Seus olhos estavam fixos em Harry, cheios de significa��o, e ele apontava primeiro para o di�rio, depois para o Sr. Malfoy, e por fim dava murros na pr�pria cabe�a.
� Entendo... � disse o Sr. Malfoy lentamente para Dumbledore.
� Um plano engenhoso � disse Dumbledore com a voz inexpressiva, ainda encarando o Sr. Malfoy nos olhos. � Porque se Harry aqui � Malfoy lan�ou um olhar r�pido e incisivo ao garoto � e seu amigo Rony n�o tivessem descoberto este livro, ora, Gina Weasley teria levado toda a culpa. Ningu�m teria sido capaz de provar que ela n�o agira de livre e espont�nea vontade...
O Sr. Malfoy ficou calado. Seu rosto de repente se transformara numa m�scara.
� E imagine � continuou Dumbledore � o que teria acontecido ent�o... Os Weasley s�o uma de nossas fam�lias puro sangue mais importantes. Imagine o efeito que isto teria em Arthur Weasley e na sua lei de prote��o aos trouxas, se descobr�ssemos que sua pr�pria filha andava atacando e matando alunos nascidos trouxas... Foi uma sorte o di�rio ter sido descoberto e as mem�rias de Riddle apagadas. Caso contrario, quem sabe quais seriam as conseq��ncias...
O Sr. Malfoy fez um esfor�o para falar.
� Teve muita sorte � disse secamente.
Mas ainda �s suas costas, Dobby continuava a apontar, primeiro para o di�rio, depois para L�cio Malfoy e por fim dava murros na pr�pria cabe�a.
E Harry subitamente entendeu. Fez sinal a Dobby e este recuou para um canto, agora torcendo as orelhas para se castigar.
� O senhor n�o quer saber como foi que Gina chegou a esse di�rio, Sr. Malfoy? � perguntou Harry.
L�cio Malfoy voltou-se contra ele.
� Como vou saber como essa menininha burra chegou ao di�rio? � perguntou.
� Porque foi o senhor quem deu o di�rio a ela � disse Harry. � Na Floreios e Borr�es. O senhor apanhou o velho exemplar de Transfigura��o que ela levava e escorregou o di�rio para dentro dele, n�o foi?
Ele viu as m�os brancas do Sr. Malfoy se fecharem e se abrirem.
� Prove � sibilou.
� Ah, ningu�m vai poder fazer isso � disse Dumbledore, sorrindo para Harry. � N�o agora que Riddle desapareceu do livro. Por outro lado, eu aconselharia voc�, L�cio, a n�o sair distribuindo o material escolar que pertenceu a Lord Voldemort. Se mais algum objeto chegar a m�os inocentes, acho que Arthur Weasley � um que vai providenciar para que seja rastreado at� voc�...
L�cio Malfoy ficou parado por um instante, e Harry viu distintamente sua m�o direita fazer um gesto involunt�rio como se quisesse alcan�ar a varinha. Em vez disso, ele se virou para o elfo dom�stico.
� Vamos embora, Dobby!
Abriu a porta com viol�ncia e quando o elfo veio correndo para alcan��-lo, ele o chutou porta afora. Eles ouviram Dobby guinchar de dor por todo o corredor.
Harry ficou parado um instante, pensando com todas as suas for�as. Ent�o lhe ocorreu...
� Prof�. Dumbledore � disse apressado. � Por favor, posso devolver esse di�rio ao Sr. Malfoy?
� Claro, Harry � disse Dumbledore tranq�ilamente. � Mas se apresse. A festa, j� se esqueceu?
Harry agarrou o di�rio e saiu correndo da sala. Ouvia os guinchos de dor de Dobby se afastando para al�m da curva do corredor. Rapidamente, duvidando que seu plano pudesse dar certo, descal�ou um sapato, depois a meia pegajosa e imunda e meteu o di�rio dentro dela. Em seguida correu pelo corredor escuro.
Alcan�ou os dois no alto da escada.
� Sr. Malfoy � disse sem f�lego, derrapando ate parar � Tenho uma coisa para o senhor... E for�ou a meia fedorenta na m�o de Lucio Malfoy.
� Que di...?
O Sr. Malfoy arrancou a meia do di�rio, atirou-a para o lado, depois olhou, furioso, do livro estragado para Harry.
� Voc� vai ter o mesmo fim sangrento dos seus pais um dia desses, Harry Potter � disse baixinho. � Eles tamb�m eram tolos e metidos.
E virou-se para ir embora.
� Venha, Dobby. Eu disse, venha.
Mas Dobby n�o se mexeu. Segurava no alto a meia pegajosa e nojenta de Harry, admirando-a como se fosse um tesouro inestim�vel.
� O meu dono me deu uma meia � disse o elfo cheio de assombro. � O meu dono deu a Dobby.
� Que foi? � cuspiu o Sr. Malfoy. � Que foi que voc� disse?
� Ganhei uma meia � disse Dobby, incr�dulo. � Meu dono atirou a meia e Dobby a apanhou, e Dobby... Dobby est� livre.
L�cio Malfoy ficou im�vel, encarando o elfo. Ent�o, atirou-se contra Harry.
� Voc� me fez perder o criado, seu moleque!
Mas Dobby gritou:
� O senhor n�o far� mal a Harry Potter!
Ouviu-se um forte estampido, e o Sr. Malfoy foi lan�ado para tr�s. Rolou pelas escadas, tr�s degraus de cada vez, e aterrissou como se fosse um monte disforme no patamar de baixo. Ele se levantou, o rosto l�vido, e puxou a varinha, mas Dobby ergueu um dedo longo e amea�ador.
� O senhor ir� embora agora � disse com ferocidade, apontando para o Sr. Malfoy. � O senhor n�o tocar� em Harry Potter.  O senhor ir� embora agora.
L�cio Malfoy n�o teve escolha. Com um �ltimo olhar rancoroso aos dois, puxou a capa para junto do corpo num rodopio e desapareceu depressa de vista.
� Harry Potter libertou Dobby! � disse o elfo com voz aguda, erguendo a cabe�a para Harry, seus olhos redondos refletindo  o luar que entrava pela janela mais pr�xima. � Harry Potter deu liberdade a Dobby!
� Foi o m�nimo que pude fazer, Dobby � disse Harry sorridente. � S� me prometa que nunca mais vai tentar salvar minha vida.
A cara feia e escura do elfo se abriu de repente num sorriso largo e cheio de dentes.
� Eu s� tenho uma pergunta, Dobby � disse Harry enquanto o elfo puxava a meia com as m�os tr�mulas. � Voc� me disse que toda essa hist�ria n�o estava ligada a Ele-Que-N�oDeve-Ser-Nomeado, lembra-se? Bem...
� Foi uma pista, meu senhor � disse Dobby arregalando os olhos. � Estava lhe dando uma pista. O Lord das Trevas, antes de mudar de nome, podia ser nomeado livremente, entende?
� Certo � disse Harry sem muita convic��o. � Bom, � melhor irmos andando. Vai haver uma festa e minha amiga Mione j� deve estar acordada a essas horas...
Dobby atirou os bra�os em torno da cintura de Harry e apertou-o.
� Harry Potter � muito maior do que Dobby pensou! � solu�ou. � Adeus, Harry Potter!
E com um estampido final, desapareceu.
Harry estivera em muitas festas de Hogwarts, mas nenhuma igual a esta. Todos estavam de pijamas, e a comemora��o durou a noite inteira. Harry n�o sabia se a melhor parte fora Mione correndo para ele aos gritos de "Voc� solucionou o mist�rio! Voc� solucionou o mist�rio!" ou se fora Justino saindo �s pressas da mesa da Lufa-Lufa para apertar sua m�o com for�a e pedir desculpas infind�veis por ter suspeitado dele, ou se fora Hagrid aparecendo �s tr�s e meia, dando socos t�o fortes nos ombros de Harry e Rony que os garotos quase foram parar em cima dos pratos de gelatina caramelada, ou se foram os quatrocentos pontos que ele e Rony tinham ganho para a Grifin�ria, garantindo, assim, a posse da Copa da Casa pelo segundo ano consecutivo, ou se fora a Prof�. McGonagall se levantando para anunciar que todos os exames tinham sido cancelados como um presente da escola ("Ah, n�o!" exclamou Mione), ou se fora Dumbledore anunciando que, infelizmente, o Prof�. Lockhart n�o poderia voltar no pr�ximo ano, porque precisava se afastar para recuperar a mem�ria. Muitos professores participaram dos aplausos que saudaram esta �ltima noticia.
� Que pena! � disse Rony, servindo-se de uma rosquinha com gel�ia. � Eu estava come�ando a gostar dele.
O restante do trimestre final passou numa n�voa resplandecente de sol.
Hogwartss voltou ao normal com apenas algumas diferen�as � as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas foram canceladas ("mas tivemos bastante treinamento nisso", disse Rony a uma Mione irritada), e L�cio Malfoy foi dispensado do cargo de conselheiro. Draco parou de se exibir pela escola como se fosse dono do lugar. Pelo contr�rio, parecia cheio de rancor e m�goa. Por outro lado, Gina Weasley voltou a ser absolutamente feliz.
Demasiado cedo, chegou � hora de voltar para casa no Expresso de Hogwarts. Harry, Rony, Mione, Fred, Jorge e Gina conseguiram uma cabine s� para eles. Aproveitaram ao m�ximo as �ltimas horas em que tinham permiss�o para fazer m�gicas antes das f�rias.
Brincaram de snap explosivo, queimaram os �ltimos fogos Filibusteiro de Fred e Jorge e treinaram como desarmar uns aos outros com feiti�os. Harry estava ficando muito bom nisso.
Estavam quase chegando a King�s Cross quando Harry se lembrou de uma coisa.
� Gina... Que foi que voc� viu Percy fazendo, que ele n�o queria que contasse a todo mundo?
� Ah, aquilo � disse Gina entre risinhos. � Bom... Percy tem uma namorada.
Fred deixou cair uma pilha de livros na cabe�a de Jorge.
� � aquela monitora da Corvinal, Penelope Clearwatet.
Foi para ela que esteve escrevendo o ver�o todo. Eles t�m se encontrado escondido por toda a escola. Um dia eu peguei os dois se beijando numa sala vazia. Ele ficou t�o perturbado quando ela foi... Sabe, atacada. Voc�s n�o v�o ca�oar dele, v�o? � acrescentou ansiosa.
� Eu nem sonharia � respondeu Fred, que parecia um menino cujo anivers�rio tivesse chegado mais cedo.
� De jeito nenhum � disse Jorge, abafando o riso.
O Expresso de Hogwarts reduziu a velocidade e finalmente parou.
Harry tirou uma pena e um peda�o de pergaminho e se virou para Rony e Mione.
� Isto se chama um n�mero de telefone � disse a Rony, escrevendo duas vezes, rasgando o pergaminho em dois e entregando um peda�o a cada um. � No ver�o passado, contei ao seu pai como se usa um telefone, ele vai saber. Me liguem na casa dos Dursley, est� bem? N�o vou suportar outros dois meses tendo s� o Duda para conversar...
� Mas os seus tios v�o se sentir orgulhosos, n�o v�o? � perguntou Mione quando desembarcaram do trem e se juntaram � multid�o de alunos que se dirigia � barreira encantada. � Quando voc� contar o que fez este ano?
� Orgulhosos? � falou Harry. � Voc� enlouqueceu? Depois de todas aquelas vezes que eu podia ter morrido e n�o morri? Eles v�o ficar furiosos...
E juntos eles atravessaram a barreira para o mundo dos trouxas.


FIM