Harry Potter e o Enigma do Pr�ncipe � J.K. Rowling CAP�TULO UM O OUTRO MINISTRO ERA QUASE MEIA-NOITE e o Primeiro-Ministro estava sentado sozinho em seu gabinete, lendo um longo memorando que resvalava pelo seu c�rebro sem deixar o menor registro. Aguardava um telefonema do presidente de um pa�s long�nquo e, entre a preocupa��o se o infeliz iria telefonar e a tentativa de reprimir lembran�as do que fora uma semana dif�cil, longa e cansativa, n�o sobrava muito espa�o em sua mente. Quanto mais tentava focalizar as palavras na p�gina diante dele, tanto mais claramente via o rosto triunfante de um dos seus advers�rios pol�ticos. O homem aparecera no telejornal daquele dia n�o somente para enumerar os terr�veis acontecimentos da semana anterior (como se algu�m precisasse de lembretes) como tamb�m para explicar que a culpa de cada um deles e de todos, sem exce��o, cabia ao governo. O pulso do Primeiro-Ministro acelerou s� de pensar nessas acusa��es, porque n�o eram justas nem verdadeiras. Como � que o seu governo poderia ter impedido aquela ponte de ruir? Era um absurdo insinuarem que n�o estava gastando o suficiente na conserva��o de pontes. Essa tinha menos de dez anos, e os maiores especialistas n�o sabiam explicar por que rachara exatamente ao meio, projetando dezenas de carros nas profundezas do rio. E como ousavam sugerir que aqueles dois homic�dios b�rbaros divulgados com estardalha�o eram conseq��ncia da falta de policiamento? Ou que o governo deveria ter previsto o furac�o inesperado que ocorrera no oeste do pa�s e causara tantos preju�zos a pessoas e propriedades? E seria culpa sua que um dos ministros de segundo escal�o, Herberto Chorley, tivesse escolhido logo esta semana para agir t�o bizarramente que agora iria passar um bom tempo em casa? "Uma sensa��o de perigo se apoderou do pa�s", conclu�ra seu advers�rio, ocultando a custo um largo sorriso. E, infelizmente, era a pura verdade. O pr�prio Ministro sentia isso; o povo realmente parecia mais infeliz do que de costume. At� o tempo estava l�gubre; toda essa n�voa g�lida em pleno ver�o... n�o era certo, n�o era normal... Ele virou a segunda p�gina do memorando, verificou o quanto ainda faltava e achou que seria in�til se esfor�ar. Espregui�ando-se, contemplou pesaroso o seu gabinete. Era uma bela sala, com uma elegante lareira de m�rmore defronte �s janelas de guilhotina, muito bem fechadas para evitar o frio at�pico da esta��o. Com um leve arrepio, o Primeiro-Ministro se levantou, foi at� a janela e contemplou a n�voa fina que colava nos vidros. Foi ent�o, quando estava de costas para a sala, que ouviu um leve pigarro. Ele congelou, encarando o pr�prio rosto apavorado refletido na vidra�a escura. Conhecia aquele pigarro. J� o ouvira antes. Virou-se, muito lentamente, e confrontou a sala vazia. � Al��! � disse, tentando aparentar mais coragem do que sentia. Por um breve momento permitiu-se a esperan�a imposs�vel de que ningu�m lhe respondesse. Mas ouviu imediatamente uma voz seca e decidida que parecia estar lendo um texto pronto. Vinha � e o Primeiro-Ministro soube assim que ouviu o primeiro pigarro � do homenzinho bufon�deo de longa peruca prateada, retratado em um pequeno quadro a �leo encardido do outro lado da sala. � Para o Primeiro-Ministro dos trouxas. E urgente que nos encontremos. Favor responder imediatamente. Atenciosamente, Fudge. � O homem no quadro lan�ou um olhar de indaga��o ao Primeiro-Ministro. � Ehh � come�ou o Primeiro-Ministro �, ou�a... n�o � um bom momento... estou esperando um telefonema, sabe... do presidente do... � Isto pode ser remarcado � respondeu logo o quadro. O Primeiro-Ministro desanimou. Era o que receava. � Mas eu realmente tinha esperan�as de falar... � Faremos com que o presidente esque�a o telefonema. Ele n�o ligar� hoje, ligar� amanh� � noite � disse o homenzinho. � Tenha a bondade de responder imediatamente ao Sr. Fudge. � Eu... ah... est� bem � disse o Primeiro-Ministro vencido. � Receberei Fudge. Voltou, ent�o, depressa � sua escrivaninha, endireitando a gravata. Mal se sentara e se recompusera para aparentar uma express�o descontra�da e impass�vel, ou assim esperava, um clar�o de chamas muito verdes apareceu na abertura sob o console da lareira de m�rmore. Ele observou, tentando n�o demonstrar surpresa nem preocupa��o, um homem corpulento emergir das chamas, rodopiando r�pido como um pi�o. Segundos depois, ele engatinhava da lareira para um bonito tapete antigo, sacudindo as cinzas das mangas de sua longa capa listrada, segurando um chap�u-coco verde-lim�o. � Ah... Primeiro-Ministro � disse Corn�lio Fudge, adiantando-se em largos passos, com a m�o estendida. � Que bom rev�-lo! O Primeiro-Ministro n�o poderia retribuir o cumprimento com sinceridade, ent�o nada respondeu. N�o sentia o mais remoto prazer de ver Fudge, cujas raras apari��es, al�m de serem em si decididamente alarmantes, em geral significavam que ele estava prestes a ouvir not�cias muito ruins. Al�m do mais, Fudge parecia inegavelmente aflito. Estava mais magro, mais calvo, mais grisalho, e seu rosto parecia amarrotado. O Primeiro-Ministro j� vira pol�ticos com essa apar�ncia antes, e nunca tinha sido um bom aug�rio. � Em que posso servi-lo? � perguntou, apertando brevemente a m�o de Fudge e indicando a cadeira mais dura diante da escrivaninha. � � dif�cil saber por onde come�ar � murmurou Fudge, puxando a cadeira, sentando-se e apoiando o chap�u sobre os joelhos. � Que semana, que semana... � Tamb�m teve uma semana ruim? � perguntou o Primeiro-ministro secamente, esperando, assim, deixar impl�cito que j� tinha um prato cheio nas m�os sem precisar de mais colheradas de Fudge. � E claro que tive � respondeu o bruxo, esfregando os olhos num gesto cansado e olhando mal-humorado para o Primeiro-Ministro. � Tive a mesma semana que o senhor, Primeiro- Ministro. A ponte de Brockdale... os assassinatos de Bon�s e Vance... sem falar nas confus�es no oeste... � O senhor... ehh... sua... o senhor est� querendo me dizer que gente do seu mundo esteve... esteve envolvida... nesses acontecimentos, � isso? Fudge fixou no Primeiro-Ministro um olhar severo. � Claro que esteve. Certamente o senhor percebeu o que est� acontecendo, n�o? � Eu... � hesitou o Primeiro-Ministro. Era exatamente esse tipo de atitude que o fazia detestar as visitas de Fudge. Afinal de contas, era o Primeiro-Ministro e n�o gostava que ningu�m o fizesse sentir-se como um escolar ignorante. Mas sempre fora assim desde o primeiro encontro com Fudge, em sua primeir�ssima noite como Primeiro-Ministro. Lembrava como se fosse ontem, e sabia que isto o atormentaria at� morrer. Encontrava-se sozinho neste mesmo gabinete, saboreando o seu triunfo depois de tantos anos de sonho e arma��es, quando ouvira um pigarro �s suas costas, exatamente como hoje � noite, e, ao se virar, dera de cara com aquele feio quadrinho que se dirigia a ele, anunciando que o ministro da Magia estava a caminho para vir se apresentar. Naturalmente, pensara que a longa campanha e a tens�o da elei��o o tivessem enlouquecido. Ficara absolutamente aterrorizado ao ver um quadro falando com ele, embora isso n�o fosse nada comparado ao que sentira quando um homem que anunciou ser bruxo projetou-se da lareira e lhe apertou a m�o. Permaneceu mudo enquanto Fudge cortesmente explicava que ainda havia bruxos e bruxas vivendo em segredo no mundo inteiro, e reafirmava que ele n�o precisava se preocupar, pois o ministro da Magia responsabilizava-se por toda a comunidade bruxa e impedia que a popula��o n�o-bruxa soubesse de sua exist�ncia. Era, dissera Fudge, uma tarefa dif�cil que abrangia tudo, desde leis sobre o uso respons�vel de vassouras � manuten��o da popula��o de drag�es sob controle (o Primeiro-Ministro se lembrava de ter procurado se agarrar na escrivaninha ao ouvir isso). Fudge, ent�o, paternalmente, dera uns tapinhas no ombro do at�nito Primeiro-Ministro. � N�o se preocupe � dissera �, provavelmente o senhor n�o tornar� a me ver. S� o incomodarei se houver alguma coisa realmente grave ocorrendo do nosso lado, alguma coisa que possa afetar os trouxas... a popula��o n�o-bruxa, melhor dizendo. N�o ocorrendo nada, � viver e deixar viver. E devo dizer, o senhor est� aceitando a not�cia bem melhor do que o seu antecessor. Aquele tentou me atirar pela janela, achou que eu era uma pe�a pregada pela oposi��o. Ao ouvir isso, o Primeiro-Ministro recuperou finalmente a voz. � Ent�o, o senhor n�o � uma pe�a? Fora a sua �ltima e desesperada esperan�a. � N�o � respondeu Fudge gentilmente. � Receio que n�o. Olhe. E transformou a x�cara de ch� do Primeiro-Ministro em um gerbo. � Mas � ofegou o Primeiro-Ministro, ao ver a x�cara come�ar a roer o canto do seu pr�ximo discurso �, mas por que... por que ningu�m me disse nada...? � O ministro da Magia s� aparece para o Primeiro-Ministro dos trouxas em exerc�cio � respondeu Fudge, repondo a varinha no bolso interno do palet�. � Achamos que � melhor assim, para resguardar o sigilo. � Mas, ent�o � baliu o Primeiro-Ministro �, por que o Primeiro-Ministro anterior n�o me avisou? Ao ouvir isso, Fudge deu uma gargalhada. � Meu caro Primeiro-Ministro, ser� que o senhor algum dia contar� a algu�m? Ainda rindo, Fudge lan�ara um p� na lareira, entrara nas chamas verde-esmeralda e desaparecera com um barulhinho surdo. O Primeiro-Ministro ficara ali parado, im�vel, e percebeu que jamais enquanto vivesse se atreveria a mencionar tal encontro a algu�m, porque, afinal, quem iria acreditar? Ele levara algum tempo para se recuperar do choque. A princ�pio, tentara se convencer de que Fudge fora de fato uma alucina��o provocada pelas noites em claro durante a exaustiva campanha eleitoral. Na in�til tentativa de ser livrar de todos os vest�gios desse desagrad�vel encontro, ele dera o gerbo a uma sobrinha, que adorou o presente, e instruiu o seu secret�rio particular para retirar o quadro do feio homenzinho que anunciara a chegada de Fudge. Para sua grande afli��o, no entanto, o quadro se mostrou imposs�vel de remover. Depois que v�rios marceneiros, uns dois construtores, um historiador de arte e o ministro da Fazenda tentaram inutilmente arranc�-lo da parede, o Primeiro-Ministro desistira e simplesmente se conformara em torcer para que o quadro permanecesse im�vel e silencioso pelo resto do seu mandato. Ocasionalmente, ele poderia jurar que vislumbrava pelo canto do olho o ocupante do quadro bocejar ou, ent�o, co�ar o nariz; e, uma ou duas vezes, sa�ra da moldura sem nada deixar al�m de um peda�o de tela encardida. No entanto, ele havia se condicionado a n�o olhar muito para o quadro e sempre repetir para si mesmo, com firmeza, que os seus olhos o iludiam quando via uma coisa dessas. Ent�o, havia tr�s anos, em uma noite muito semelhante a de hoje, o Primeiro-Ministro estava sozinho em seu gabinete quando o quadro mais uma vez anunciara a chegada iminente de Fudge, que irrompera da lareira com as roupas encharcadas e tomado de intenso p�nico. Antes que o Primeiro-Ministro pudesse perguntar por que estava pingando �gua em cima do tapete, Fudge come�ara um discurso sobre uma pris�o de que o Primeiro-Ministro jamais ouvira falar, um tal "S�rio" Black, alguma coisa cuja pron�ncia lembrava Hog-warts e um menino chamado Harry Potter, coisas que para ele n�o faziam o menor sentido. � ... Acabei de chegar de Azkaban � ofegara Fudge, deixando cair da aba do chap�u-coco para o bolso uma quantidade de �gua. � Meio do mar do Norte, sabe, um v�o horr�vel... os dementadores est�o furiosos � e estremeceu �, nunca tiveram uma fuga antes. Seja como for, eu precisava vir procur�-lo, Primeiro-Ministro. Black � um conhecido assassino de trouxas e pode estar planejando se reunir a Voc�-Sabe-Quem... mas, naturalmente, o senhor nem sabe quem � Voc�-Sabe-Quem! � Por um momento Fudge olhou desamparado para o Primeiro-Ministro, depois acrescentou: � Bem, sente-se, sente-se, � melhor eu lhe explicar... tome um u�sque... O Primeiro-Ministro n�o gostou nem um pouco que o mandassem sentar em seu pr�prio gabinete, e menos ainda que lhe oferecessem o seu pr�prio u�sque, mesmo assim sentou-se. Fudge puxara a varinha, conjurara dois enormes copos cheios de um l�quido �mbar, empurrara um deles na m�o do Primeiro-Ministro e puxara uma cadeira. Fudge falara mais de uma hora. Num determinado momento, recusara-se a pronunciar um certo nome em voz alta e, em vez disso, escrevera-o em um peda�o de pergaminho, que enfiara na m�o livre do Primeiro-Ministro. Quando finalmente Fudge fez men��o de se retirar, o Primeiro-Ministro tamb�m se levantou. � Ent�o o senhor acha que... � e apertara os olhos para ler o nome que segurava na m�o esquerda � o tal Lord Vol... � Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado! � rosnou Fudge. � Desculpe... Ent�o o senhor acha que Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado continua vivo? � Bem, Dumbledore diz que sim � respondeu ele, abotoando o colarinho de sua capa listrada �, mas nunca o encontramos. Se quer saber, ele n�o � perigoso a n�o ser que consiga apoio, por isso � que devemos nos preocupar com Black. Ent�o, o senhor divulgar� aquele aviso? Excelente. Bem, espero que n�o tornemos a nos ver, Primeiro-Ministro! Boa-noite. Mas eles tornaram a se ver. Menos de um ano depois, um Fudge atormentado se materializara na sala do gabinete ministerial para informar ao Primeiro-Ministro que tinha havido um probleminha na Copa do Mundo de Catrebol (ou pelo menos fora isso que entendera), em que v�rios trouxas tinham sido "envolvidos", mas que o Primeiro-Ministro n�o se preocupasse, o fato de que Voc�-Sabe-Quem fora mais uma vez avistado nada significava. Fudge estava seguro de que era um incidente isolado, e a Se��o de Liga��o com os Trouxas j� estava fazendo as altera��es de mem�ria necess�rias naquele mesmo instante. � Ah, e ia quase me esquecendo � acrescentou Fudge. � Estamos importando tr�s drag�es estrangeiros e uma esfinge para o Torneio Tribruxo, uma opera��o rotineira, mas o Departamento para Regulamenta��o e Controle das Criaturas M�gicas diz que, segundo as normas, temos de inform�-los quando trazemos animais perigosos do exterior. � Eu... que... drag�es? � gaguejou o Primeiro-Ministro. � �, tr�s � disse Fudge. � E uma esfinge. Bem, um bom-dia para o senhor. O Primeiro-Ministro tivera a in�til esperan�a de que os drag�es e a esfinge fossem o pior, mas n�o. Menos de dois anos depois, Fudge irrompera pela lareira, dessa vez, com a not�cia de que houvera uma fuga em massa de Azkaban. � Uma fuga em massa? � repetira o Primeiro-Ministro roucamente. � N�o precisa se preocupar, n�o precisa se preocupar! � bradara Fudge, j� com um p� nas chamas. � Vamos recaptur�-los sem perda de tempo... s� achei que o senhor devia saber! E, antes que o Primeiro-Ministro tivesse tempo de gritar: "Espere um instante!", Fudge se fora em uma chuva de fagulhas verdes. Seja o que for que a imprensa e a oposi��o pudessem dizer, o Primeiro-Ministro n�o era tolo. N�o escapara � sua aten��o que, apesar das palavras tranq�ilizadoras de Fudge no primeiro encontro, ultimamente andavam se vendo bastante, e a cada visita Fudge parecia mais atrapalhado. Por menos que gostasse de pensar no ministro da Magia (ou como sempre o chamava mentalmente, o Outro ministro), o Primeiro-Ministro n�o podia deixar de temer que a pr�xima vez que ele aparecesse as not�cias seriam bem mais preocupantes. A vis�o de Fudge emergindo novamente da lareira, desalinhado, apreensivo e muito surpreso que o Primeiro- Ministro n�o soubesse exatamente por que viera, era o pior acontecimento de uma semana extremamente frustrante. � Como iria saber o que est� acontecendo na comunidade... eh... bruxa? � retorquiu o Primeiro-Ministro. � Tenho um pa�s para governar e preocupa��es suficientes neste momento sem... � Temos as mesmas preocupa��es � interrompeu-o Fudge. � A ponte de Brockdale n�o ruiu por desgaste natural. Aquilo n�o foi realmente um furac�o. Os homic�dios n�o foram obra de trouxas. E a fam�lia de Herberto Chorley estaria mais segura sem ele. Neste momento, estamos providenciando sua remo��o para o Hospital St. Mungus para Doen�as e Acidentes M�gicos. Ser� removido hoje � noite. � Que � que o senhor... receio... qu�? � engrolou o Primeiro-Ministro. Fudge inspirou profundamente e disse: � Primeiro-Ministro, sinto muito ter de lhe informar que ele voltou. Aquele-Que-N�o- Deve-Ser-Nomeado voltou. � Voltou? Quando o senhor diz "voltou"... significa que est� vivo? Quero dizer... O Primeiro-Ministro vasculhou a mem�ria procurando detalhes da terr�vel conversa que tinham tido tr�s anos antes, quando Fudge lhe falara do bruxo a quem todos mais temiam, o bruxo que cometera centenas de crimes pavorosos antes de desaparecer misteriosamente h� quinze anos. � Exatamente, vivo. Isto �... n�o sei... ser� que est� vivo um homem que n�o pode ser morto? N�o compreendo muito bem, e Dumbledore n�o quer me explicar direito... mas, enfim, sem d�vida ele tem um corpo e est� andando e falando e matando, ent�o suponho, para os efeitos desta conversa, que, sim, est� vivo. O Primeiro-Ministro n�o sabia o que dizer, mas o h�bito arraigado de querer parecer bem informado qualquer que fosse o assunto que algu�m abordasse o fez rebuscar na mem�ria detalhes das conversas que tinham tido anteriormente. � O S�rio Black est� com... eh... Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-No-meado? � Black? Black? � repetiu Fudge, desatento, girando velozmente o chap�u-coco nos dedos. � O senhor quer dizer o Sirius Black? Pelas barbas de Merlim, n�o. Black morreu. Afinal, est�vamos... eh... enganados a respeito de Black. Era inocente. E tampouco estava mancomunado com Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado. Quero dizer � acrescentou, em sua defesa, girando o chap�u ainda mais r�pido �, todas as pistas apontavam para ele, t�nhamos mais de cinq�enta testemunhas oculares, mas, de qualquer forma, como disse, ele morreu. Ali�s, foi assassinado. Dentro do Minist�rio da Magia. Mandei instaurar um inqu�rito... Para sua grande surpresa, ao ouvir isto, o Primeiro-Ministro sentiu moment�nea compaix�o por Fudge. Mas o sentimento foi logo ofuscado por um lampejo de presun��o ao lembrar que, por maior que fosse sua incapacidade de se materializar em lareiras, nunca tinha havido nenhum homic�dio em nenhum dos departamentos do governo sob sua responsabilidade... pelo menos at� agora... Enquanto o Primeiro-Ministro disfar�adamente batia tr�s vezes na madeira de sua escrivaninha, Fudge continuou: � Mas Black agora � passado. A quest�o � que estamos em guerra, Primeiro-Ministro, e � preciso tomar algumas medidas. � Em guerra? � repetiu o Primeiro-Ministro, nervoso. � Sem d�vida, o senhor est� exagerando um pouco, n�o? � Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado agora recebeu refor�os dos seus seguidores que fugiram de Azkaban em janeiro � informou Fudge, falando cada vez mais r�pido e girando o chap�u com tal f�ria que em seu lugar s� se via um borr�o verde-lim�o. � Desde que sa�ram da clandestinidade, eles est�o provocando o caos. A ponte de Brockdale: foi ele, Primeiro-Ministro, amea�ou fazer um massacre de trouxas se eu n�o lhe entregasse o meu cargo e... � C�us, ent�o a morte daquelas pessoas � culpa sua, e sou eu que estou tendo de responder por treli�as enferrujadas e juntas de expans�o corro�das, e sabe-se l� o que mais! � exclamou o Primeiro-Ministro, furioso. � Minha culpa! � exclamou Fudge corando. � O senhor est� me dizendo que teria cedido a uma chantagem dessas? � Talvez n�o � respondeu o Primeiro-Ministro, levantando-se e caminhando pela sala �, mas eu teria envidado todos os esfor�os para prender o chantagista antes que ele cometesse uma atrocidade igual! � O senhor realmente acha que eu n�o me esforcei? � perguntou Fudge encolerizado. � Todos os aurores do Minist�rio estavam, e est�o, tentando encontrar Voc�-Sabe-Quem e capturar seus seguidores, mas acontece que estamos falando de um dos bruxos mais poderosos de todos os tempos, um bruxo que nos escapa h� quase trinta anos! � Ent�o suponho que o senhor v� me dizer que ele tamb�m provocou o furac�o no oeste do pa�s? � perguntou o Primeiro-Ministro, sentindo sua irrita��o crescer a cada passo que dava. Enfurecia-o descobrir a raz�o de todos esses terr�veis acidentes e n�o poder revelar nada publicamente; isto era quase pior do que levar a culpa de tudo. � Aquilo n�o foi um furac�o � confirmou Fudge, infeliz. � Fa�a-me o favor! � vociferou o Primeiro-Ministro, agora decididamente pisando forte pela sala. � Arvores arrancadas, telhados destru�dos, postes vergados, ferimentos pavorosos... � Foram os Comensais da Morte � disse Fudge. � Os seguidores d'Aquele-Que-N�o- Deve-Ser-Nomeado. E suspeitamos da participa��o dos gigantes. O Primeiro-Ministro estacou como se tivesse batido em um muro invis�vel. � Participa��o do qu�? Fudge fez uma careta. � Ele usou os gigantes da �ltima vez, queria causar uma grande impress�o. A Se��o de Contrainforma��o tem trabalhado vinte e quatro horas por dia, equipes de obliviadores est�o em campo tentando alterar a mem�ria de todos os trouxas que viram o que realmente aconteceu, a maior parte do Departamento para Regulamenta��o e Controle das Criaturas M�gicas est� percorrendo Somerset, mas n�o conseguimos encontrar gigantes, tem sido um fracasso. � N�o me diga! � exclamou o Primeiro-Ministro furioso. � N�o negarei que o moral est� muito baixo no Minist�rio. Com tudo isso acontecendo, e ainda por cima perdemos Am�lia Bon�s. � Perderam quem? � Am�lia Bon�s. A chefe do Departamento de Execu��o das Leis da Magia. Achamos que Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado pode ter sido o assassino, porque era uma bruxa muito talentosa e... e tudo indica que resistiu o m�ximo. Fudge pigarreou e, aparentemente com esfor�o, parou de girar o chap�u-coco. � Mas este homic�dio saiu nos jornais � disse o Primeiro-Ministro, momentaneamente distra�do de sua raiva. � Nossos jornais. Am�lia Bon�s... disseram apenas que era uma mulher de meia-idade que morava sozinha. Foi um... um homic�dio b�rbaro, n�o? Muito divulgado. A pol�cia est� tonta, sabe. Fudge suspirou. � Claro que est�. Ela foi encontrada morta em um aposento trancado por dentro, n�o foi? Mas n�s sabemos exatamente quem foi, n�o que isso adiante muito para sua captura. E teve tamb�m o da Emelina Vance, talvez o senhor n�o tenha ouvido falar deste... � Ouvi, sim! � respondeu o Primeiro-Ministro. � Ali�s, aconteceu aqui perto. Os jornais deitaram e rolaram: Nem no quintal do primeiro-ministro vigoram a lei e a ordem... � E, como se tudo isso n�o bastasse � continuou Fudge, mal ouvindo o que dizia o Primeiro-Ministro �, os dementadores est�o por toda parte, atacando as pessoas a torto e a direito... Em um passado mais feliz, a frase teria sido inintelig�vel ao Primeiro-Ministro, mas, agora, estava mais bem informado. � Pensei que os dementadores guardassem prisioneiros em Azkaban � arriscou cauteloso. � Guardavam � confirmou Fudge, cansado. � N�o mais. Desertaram e se juntaram a Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado. N�o vou fingir que n�o foi um s�rio rev�s. � Mas � contrap�s o Primeiro-Ministro, com uma crescente sensa��o de horror � o senhor n�o me contou que eles s�o criaturas que roubam a esperan�a e a felicidade das pessoas? � Certo. E est�o se reproduzindo. E isto que est� provocando a n�voa. O Primeiro-Ministro, sentindo os joelhos amolecerem, largou-se na cadeira mais pr�xima. A id�ia de criaturas invis�veis voando pelas cidades e os campos, espalhando o desespero e a desola��o entre seus eleitores, fez com que se sentisse muito fraco. � Escute aqui, Fudge: voc� tem de tomar uma provid�ncia! � sua responsabilidade como ministro da Magia! � Meu caro Primeiro-Ministro, o senhor n�o pode realmente pensar que ainda sou ministro da Magia depois de tudo que aconteceu! Fui exonerado h� tr�s dias. Toda a comunidade bruxa vinha exigindo a minha ren�ncia nas �ltimas duas semanas. Nunca a vi t�o unida durante todo o meu mandato! � disse Fudge, fazendo uma corajosa tentativa de sorrir. O Primeiro-Ministro ficou mudo por uns instantes. Apesar de sua revolta pela posi��o em que fora colocado, ainda simpatizava com o homem envelhecido que estava � sua frente. � Lamento muito � disse por fim. � Tem alguma coisa que eu possa fazer? � � muita gentileza sua, Primeiro-Ministro, mas n�o h�. Fui mandado aqui hoje � noite para coloc�-lo a par dos acontecimentos recentes e lhe apresentar o meu sucessor. Pensei at� que j� estivesse aqui, mas naturalmente anda muito ocupado no momento com tantos problemas. Fudge se virou para o retrato do homenzinho feio, com sua longa peruca de cachos prateados, e naquele momento cutucando o ouvido com a ponta de uma pena. Ao encontrar o olhar de Fudge, o quadro falou: � Ele n�o tardar� a chegar, est� s� terminando uma carta para Dumbledore. � Desejo-lhe boa sorte � disse Fudge, pela primeira vez em tom amargurado. � Tenho escrito a Dumbledore duas vezes por dia nos �ltimos quinze dias, mas ele n�o quer se mexer. Se ao menos quisesse persuadir o garoto, eu talvez ainda fosse... bem, talvez Scrimgeour tenha mais sucesso. � Fudge deixou-se cair em um sil�ncio visivelmente ofendido, que foi quebrado quase em seguida pela voz seca e formal do retrato. � Ao Primeiro-Ministro dos trouxas. Solicito uma entrevista. Urgente. Favor responder imediatamente. Rufo Scrimgeour, ministro da Magia. � Sim, sim, �timo � respondeu o Primeiro-Ministro, desatento, e, mal piscou, as chamas na lareira tornaram a se esverdear e cresceram, revelando um segundo bruxo aos rodopios e projetando-o instantes depois no tapete antigo. Fudge se ergueu e, ap�s breve hesita��o, o Primeiro-Ministro acompanhou-o, observando o rec�m-chegado se endireitar, sacudir a poeira de suas longas vestes negras e olhar ao redor. O primeiro pensamento do Primeiro-Ministro, uma tolice, foi que Rufo Scrimgeour parecia um le�o velho. Havia fios grisalhos em sua juba alourada e nas sobrancelhas espessas; tinha olhos amarelados e argutos por tr�s de �culos de arame e uma certa gra�a em sua magreza, embora mancasse um pouco ao andar. Transmitiu uma imediata impress�o de sagacidade e firmeza; o Primeiro-Ministro julgou compreender por que a comunidade bruxa preferia a lideran�a de Scrimgeour nestes tempos perigosos. � Como est�? � cumprimentou o Primeiro-Ministro, educadamente, estendendo a m�o. Scrimgeour apertou-a brevemente, os olhos esquadrinhando o aposento, e em seguida puxou a varinha de dentro das vestes. � Fudge contou-lhe tudo? � perguntou, indo at� a porta e tocando-a com a varinha. O Primeiro-Ministro ouviu a fechadura trancar. � Eh... sim � respondeu o Primeiro-Ministro. � Mas, se o senhor n�o se importar, eu preferia que a porta continuasse destrancada. � E eu preferia n�o ser interrompido � retorquiu secamente Scrimgeour � nem observado � acrescentou, apontando a varinha para as janelas e fechando as cortinas. � Muito bem. Sou um homem ocupado, ent�o vamos direto ao nosso assunto. Em primeiro lugar, precisamos discutir a sua seguran�a. O Primeiro-Ministro empertigou-se todo e respondeu: � Estou perfeitamente satisfeito com a seguran�a que tenho, muito obr... � Mas n�s n�o estamos � interrompeu-o Scrimgeour. � Ser� uma p�ssima perspectiva para os trouxas se o seu Primeiro-Ministro for dominado por uma Maldi��o Imperius. O novo secret�rio em sua ante-sala... � N�o vou despedir Kingsley Shacklebolt, se � o que est� sugerindo! � disse o Primeiro- Ministro indignado. � Ele � muit�ssimo eficiente, trabalha duas vezes mais que os outros... � Porque � um bruxo � disse Scrimgeour, sem sequer sorrir. � Um auror de grande experi�ncia que destacamos para proteg�-lo. � Espere a�! � exclamou o Primeiro-Ministro. � O senhor n�o pode simplesmente colocar gente sua no meu gabinete. Eu decido quem trabalha para mim... � Pensei que o senhor estivesse satisfeito com Shacklebolt � contrap�s Scrimgeour friamente. � Estou... quero dizer, estava... � Ent�o, n�o h� problema, h�? � Eu... bem, enquanto o trabalho de Shacklebolt continuar... eh... excelente � disse o Primeiro-Ministro sem argumento, mas o bruxo mal pareceu ouvi-lo. � Agora, quanto a Herberto Chorley, seu ministro de segundo escal�o. Esse que tem divertido o p�blico imitando um pato. � Que tem ele? � perguntou o Primeiro-Ministro. � � claro que est� reagindo a uma Maldi��o Imperius mal executada � afirmou Scrimgeour. � Baralhou o seu c�rebro, mas ele ainda oferece perigo. � Ele s� faz grasnar! � disse o Primeiro-Ministro, sem convic��o. � Com certeza uns dias de descanso... talvez menos bebida... � Uma equipe do Hospital St. Mungus para Doen�as e Acidentes M�gicos est� examinando-o neste exato momento. E ele j� tentou estrangular tr�s bruxos. Acho melhor retir�lo da sociedade dos trouxas por uns tempos. � Eu... bem... ele vai ficar bom, n�o vai? � perguntou o Primeiro-Ministro ansioso. Scrimgeour simplesmente encolheu os ombros, j� recuando em dire��o � lareira. � Bem, era realmente o que eu tinha a dizer. Manterei o senhor informado dos desdobramentos, Primeiro-Ministro... ou, caso eu esteja demasiado ocupado para vir, mandarei o Fudge. Ele concordou em continuar trabalhando como meu assessor. Fudge tentou sorrir, mas n�o conseguiu; sua express�o era a de algu�m com dor de dente. Scrimgeour come�ou a procurar no bolso o misterioso p� que esverdeava as chamas. O Primeiro- Ministro observou desalentado os dois bruxos por um momento, ent�o as palavras que lutara para reprimir a noite toda finalmente sa�ram de sua boca. � Mas pelo amor de Deus... voc�s s�o bruxos! Podem fazer bruxarias! Com certeza s�o capazes de resolver... bem... qualquer coisa! Scrimgeour girou nos calcanhares lentamente e trocou um olhar incr�dulo com Fudge, que desta vez conseguiu sorrir ao dizer com bondade: � O problema � que o outro lado tamb�m sabe fazer bruxarias, Primeiro-Ministro. E, dizendo isso, os dois entraram, um ap�s outro, nas chamas muito verdes e desapareceram. CAP�TULO DOIS A RUA DA FIA��O A MUITOS QUIL�METROS DE DIST�NCIA, a n�voa gelada que comprimia as vidra�as do Primeiro-Ministro flutuava sobre um rio sujo que serpeava entre barrancos cobertos de mato e lixo. Uma enorme chamin�, rel�quia de uma f�brica fechada, erguia-se sombria e agourenta. O sil�ncio total era quebrado apenas pelo rumorejo da �gua escura, e n�o havia vest�gio de vida exceto por uma raposa esquel�tica que descera at� o barranco na esperan�a de farejar um saco de peixe com fritas descartado no capim alto. Ent�o, com um leve estalo, uma figura magra e encapuzada se materializou na margem do rio. A raposa congelou, fixando os olhos assustados no estranho fen�meno. A figura pareceu se orientar por alguns instantes, ent�o saiu andando com passos leves e ligeiros, sua longa capa farfalhando no capim. Com um segundo estalo mais forte, outra figura encapuzada materializou-se. � Espere! O grito rouco alarmou a raposa, agora quase achatada no mato. Saltou do seu esconderijo e subiu o barranco. Houve um lampejo verde, um ganido, e o animal caiu ao ch�o, morto. A segunda figura virou o corpo do animal com a ponta do p�. � � s� uma raposa � disse sumariamente uma voz feminina por baixo do capuz. � Pensei que fosse um auror... Ci�a, espere! Mas a outra, que parar� para olhar para tr�s ao perceber o lampejo, j� estava subindo pelo barranco em que a raposa acabara de tombar. � Ci�a... Narcisa... escute... A segunda mulher alcan�ou a primeira e agarrou-a pelo bra�o, mas esta se desvencilhou. � Volte, Bela! � Voc� precisa me escutar! � J� escutei. J� me decidi. Me deixe em paz! A mulher chamada Narcisa chegou ao alto do barranco, onde um gradil velho separava o rio de uma rua estreita cal�ada com pedras. A outra, Bela, continuou seguindo-a. Lado a lado, elas pararam, examinando na escurid�o as fileiras de casas de tijolos aparentes, em ru�nas, as janelas opacas e sem luz. � Ele mora aqui? � perguntou Bela com desprezo na voz. � Aqui? Neste monturo dos trouxas? Devemos ser os primeiros da nossa ra�a a pisar... Mas Narcisa n�o estava escutando; passara por uma abertura no gradil enferrujado e j� atravessava a rua, apressada. � Ci�a, espere! Bela acompanhou-a, sua capa enfunando �s costas, e viu Narcisa embarafustar por um beco em meio ao casario e sair em outra rua quase id�ntica. Alguns dos lampi�es estavam quebrados, e as duas mulheres percorriam alternadamente trechos de luz e sombra profunda. Bela alcan�ou Narcisa quando virava mais uma esquina, conseguindo desta vez segur�-la e vira-la de modo a ficarem frente a frente. � Ci�a, voc� n�o deve fazer isso, n�o pode confiar nele... � O Lorde das Trevas confia nele, n�o �? � O Lorde das Trevas est�... acho... enganado � ofegou Bela, e seus olhos brilharam momentaneamente sob o capuz quando correu um olhar a toda volta para verificar se estavam de fato sozinhas. � Seja como for, recebemos ordens para n�o discutir o plano com ningu�m. Isto � uma trai��o � diretriz... � Me largue, Bela! � bradou Narcisa, puxando uma varinha de dentro da capa e apontando-a amea�adoramente para o rosto da outra. Bela apenas sorriu. � Ci�a, sua pr�pria irm�? Voc� n�o faria... � N�o h� mais nada que eu n�o fa�a! � sussurrou Narcisa, com uma nota de histeria na voz, e, quando baixou a varinha como se fosse uma faca, houve mais um lampejo. Bela soltou o bra�o da irm� como se houvesse recebido uma queimadura. � Narcisa! Narcisa, contudo, prosseguira seu caminho, apressada. Esfregando a m�o, a irm� perseguiua, mantendo dist�ncia enquanto se aprofundavam no labirinto deserto de casas de tijolos aparentes. Por fim, Narcisa precipitou-se pela rua da Fia��o, sobre a qual pairava a alta chamin� fabril como um gigantesco dedo em riste. Seus passos ecoaram nas pedras do cal�amento ao passar por janelas partidas e fechadas com t�buas, at� chegar � �ltima casa, onde uma luz fraca se filtrava pelas cortinas de um aposento t�rreo. Ela batera na porta antes que Bela, xingando baixinho, a alcan�asse. Juntas, esperaram ligeiramente ofegantes, respirando o mau cheiro do rio sujo que a brisa noturna trazia �s suas narinas. Passados alguns segundos, ouviram um movimento do lado de dentro da porta que se entreabriu. Viram um homem mirrado espiando-as, um homem com longos cabelos pretos repartidos ao meio que formavam cortinas emoldurando-lhe o rosto emaciado e os olhos pretos. Narcisa baixou o capuz. Era t�o p�lida que parecia refulgir na escurid�o; a cabeleira loura descia pelas costas, dando-lhe a apar�ncia de uma mulher afogada. � Narcisa! � exclamou o homem, abrindo um pouco mais a porta, de modo que a luz incidisse sobre ela e a irm�. � Que surpresa agrad�vel! � Severo � ela sussurrou tensa. � Posso falar com voc�? � urgente. � Mas � claro. Ele recuou para deix�-la entrar. A irm�, ainda encapuzada, acompanhou-a mesmo sem convite. � Snape � cumprimentou secamente ao passar. � Belatriz � respondeu ele, os l�bios finos encrespando-se em um sorriso ligeiramente zombeteiro, ao fechar a porta, depois que as mulheres passaram. Tinham entrado diretamente em uma pequena sala de visitas, que dava a impress�o de uma cela acolchoada e escura. As paredes eram inteiramente cobertas de livros, a maioria encadernada em couro preto ou castanho; um sof� pu�do, uma poltrona velha e uma mesa bamba estavam agrupados no c�rculo de luz projetado por um candeeiro preso no teto. O lugar tinha um ar de abandono, como se n�o fosse normalmente habitado. Snape indicou o sof� a Narcisa. Ela despiu a capa, atirou-a para um lado e se sentou, olhando para as m�os brancas e tr�mulas que cruzara ao colo. Belatriz baixou o capuz mais lentamente. T�o morena quanto a irm� era clara, as p�lpebras pesadas e o maxilar pronunciado, ela n�o desviou os olhos de Snape quando foi se postar atr�s de Narcisa. � Ent�o, em que posso lhe ser �til? � perguntou Snape, acomodando-se na poltrona defronte �s duas irm�s. � N�s... n�s estamos sozinhos? � perguntou Narcisa em voz baixa. � Claro que sim. Bem, Rabicho est� aqui, mas n�o estamos contando os vermes, n�o � mesmo? Ele apontou a varinha para a parede revestida de livros �s suas costas e, com um estampido, uma porta oculta se escancarou, revelando uma escada estreita onde estava parado um homem pequeno. � Como voc� j� percebeu claramente, Rabicho, temos visitas � disse Snape sem pressa. O homem desceu encurvado os �ltimos degraus e entrou na sala. Tinha olhos mi�dos e lacrimosos, um nariz arrebitado e um sorrisinho inc�modo. Sua m�o esquerda acariciava a direita, que parecia estar cal�ada com uma reluzente luva prateada. � Narcisa! � cumprimentou com uma vozinha aguda. � E Belatriz! Que prazer... � Rabicho vai nos servir uma bebida, se aceitarem � disse Snape. � Depois voltar� para o quarto. Rabicho fez uma careta, como se Snape tivesse atirado alguma coisa nele. � N�o sou seu empregado! � guinchou, evitando olhar para o outro. � S�rio? Tive a impress�o de que o Lorde das Trevas colocou-o aqui para me ajudar. � Ajudar, sim, mas n�o preparar bebidas nem limpar sua casa! � Eu n�o fazia id�ia, Rabicho, que voc� sonhasse com tarefas mais arriscadas � respondeu Snape melosamente. � Podemos providenciar isso sem demora: falarei com o Lorde das Trevas... � Posso falar com ele eu mesmo, se quiser! � Claro que pode � debochou Snape. � Mas enquanto n�o faz isso, traga as bebidas. Bastar� um pouco de vinho dos elfos. Rabicho hesitou um momento, como se fosse protestar, mas, ent�o, virou-se e entrou por outra porta oculta. Ouviram-se algumas batidas e o tilintar de copos. Segundos depois ele retornava, trazendo em uma bandeja uma garrafa empoeirada e tr�s copos. Depositou-os na mesa bamba e se retirou depressa, batendo a porta recoberta de livros ao passar. Snape serviu o vinho vermelho-sangue nos tr�s copos e entregou dois �s irm�s. Narcisa murmurou um agradecimento e Belatriz nada disse, mas continuou a encarar Snape malhumorada. Isto n�o pareceu perturb�-lo; muito ao contr�rio, dava a impress�o de diverti-lo. � Ao Lorde das Trevas � brindou ele, erguendo o copo e esvaziando-o de um gole. As irm�s o imitaram. Snape tornou a encher os copos. Quando Narcisa recebeu o dela, falou ansiosa: � Severo, me desculpe vir aqui dessa maneira, mas precisava ver voc�. Acho que � o �nico que pode me ajudar... Snape ergueu a m�o para interromp�-la, ent�o tornou a apontar a varinha para a porta oculta que abria para a escada. Ouviu-se um estampido forte e um guincho, seguido do ru�do dos passos apressados de Rabicho subindo a escada. � Pe�o desculpas � disse Snape. � Ultimamente ele deu para ficar escutando �s portas. N�o sei o que pretende... mas o que era que voc� ia dizendo, Narcisa? � Severo, sei que n�o devia estar aqui, recebi ordens para n�o comentar nada com ningu�m, mas... � Ent�o deveria segurar sua l�ngua! � vociferou Belatriz. � Principalmente diante de quem estamos! � De quem estamos? � repetiu Snape em tom de zombaria. � E que devo entender por essa ressalva, Belatriz? � Que eu n�o confio em voc�, Snape, e voc� sabe muito bem disso! Narcisa deixou escapar um som que poderia ser um solu�o seco e cobriu o rosto com as m�os. Snape descansou seu copo na mesa e tornou a se acomodar, as m�os nos bra�os da poltrona, sorrindo para o rosto zangado de Belatriz. � Narcisa, acho que dev�amos escutar o que Belatriz est� doida para dizer; assim pouparemos mon�tonas interrup��es. Bem, continue, Belatriz � incentivou Snape. � Por que n�o confia em mim? � Por centenas de raz�es! � respondeu a mulher em voz alta, saindo de tr�s do sof� e batendo o copo na mesa. � Por onde devo come�ar? Onde � que voc� estava quando o Lorde das Trevas caiu? Por que n�o fez o menor esfor�o para encontr�-lo quando desapareceu? Que esteve fazendo todos esses anos em que viveu no bolso de Dumbledore? Por que impediu o Lorde das Trevas de obter a Pedra Filosofal? Por que n�o voltou imediatamente quando ele ressuscitou? Onde estava h� umas semanas, quando travamos uma batalha para recuperar a profecia para o Lorde das Trevas? E, Snape, por que Harry Potter continua vivo, quando voc� o tem nas m�os h� cinco anos? A mulher fez uma pausa, o rosto muito vermelho, o peito arfando em movimentos r�pidos. Atr�s dela, Narcisa sentava-se im�vel, o rosto ainda escondido nas m�os. Snape sorriu. � Antes de lhe responder... ah, sim, vou lhe responder, Belatriz! E voc� pode repetir minhas palavras para os outros que cochicham �s minhas costas e levam ao Lorde das Trevas hist�rias mentirosas sobre a minha trai��o! Mas, antes de responder, me permita uma pergunta. Voc� realmente acredita que o Lorde das Trevas j� n�o me fez cada uma dessas perguntas? E realmente acredita que, se eu n�o as tivesse respondido satisfatoriamente, estaria aqui falando com voc�? A mulher hesitou. � Eu sei que ele acredita em voc�, mas... � Voc� acha que ele est� enganado? Ou que consegui ceg�-lo de alguma maneira? Que iludi o Lorde das Trevas, o maior bruxo do mundo, o Legilimens mais talentoso que o mundo j� viu? Belatriz n�o respondeu, mas pareceu, pela primeira vez, um pouco desconcertada. Snape n�o insistiu. Tornou a apanhar sua bebida, tomou um golinho e continuou: � Voc� me pergunta onde eu estava quando o Lorde das Trevas caiu. Eu estava onde ele tinha me mandado ficar, na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, porque queria que eu espionasse Alvo Dumbledore. Sabe, eu suponho que tenha sido por ordem do Lorde das Trevas que eu assumi esse posto, n�o? Belatriz fez um aceno quase impercept�vel com a cabe�a e abriu a boca para falar, mas Snape antecipou-se. � Voc� pergunta por que n�o tentei encontr�-lo quando ele desapareceu. Pela mesma raz�o que Avery, Yaxley, os Carrow, Greyback, L�cio � ele indicou Narcisa com um curto aceno de cabe�a � e muitos outros n�o tentaram encontr�-lo. Acreditamos que tivesse sido liquidado. N�o me orgulho disso, errei, mas veja como s�o as coisas... se ele n�o tivesse perdoado aos que perderam a f� nele, teriam lhe restado muito poucos seguidores. � Ele teria a mim! � exclamou Belatriz apaixonadamente. � Eu, que passei tantos anos em Azkaban por causa dele! � De fato, � admir�vel � disse Snape entediado. � Naturalmente voc� n�o teve muita utilidade para ele na pris�o, mas foi sem d�vida um belo gesto... � Gesto! � guinchou ela, que parecia enlouquecida de f�ria. � Enquanto eu suportava os dementadores, voc� continuava em Hogwarts confortavelmente, brincando de bichinho de estima��o de Dumbledore. � N�o foi bem assim � retorquiu Snape calmamente. � Ele n�o quis me dar o cargo de professor de Defesa contra as Artes das Trevas, sabe. Deve ter pensado que isso pudesse provocar em mim uma, ah, reca�da... me seduzisse a retomar minhas cren�as anteriores. � Foi esse o seu sacrif�cio pelo Lorde das Trevas, ser privado de ensinar a sua disciplina favorita? � zombou Belatriz. � E por que voc� permaneceu em Hogwarts todo esse tempo? Continuou espionando Dumbledore para um senhor que voc� acreditava morto? � � pouco prov�vel, mas o Lorde das Trevas se mostrou satisfeito que eu nunca tenha desertado o meu posto: acumulei dezesseis anos de informa��o sobre Dumbledore para lhe passar quando voltou, um presente de boas-vindas bem mais �til do que as infind�veis lembran�as sobre Azkaban e tudo que tinha de desagrad�vel... � Mas voc� ficou... � Sim, Belatriz, fiquei � confirmou Snape, pela primeira vez traindo um qu� de impaci�ncia. � Recebi uma tarefa confort�vel que achei prefer�vel a uma temporada em Azkaban. Estavam capturando os Comensais da Morte, sabe. A prote��o de Dumbledore me manteve fora da pris�o, foi muito conveniente e me aproveitei disso. Repito: o Lorde das Trevas n�o reclama de eu ter ficado, portanto n�o vejo por que voc� h� de se queixar. "E acho que voc� tamb�m queria saber", continuou ele, alteando a voz porque Belatriz fazia men��o de interromp�-lo, "por que me interpus ao Lorde das Trevas e � Pedra Filosofal. � f�cil responder. Ele n�o sabia se podia confiar em mim. Achou, como voc�, que de fiel Comensal da Morte eu me transformara em espi�o de Dumbledore. Ele estava em condi��o deplor�vel, muito fraco, compartilhava o corpo de um bruxo med�ocre. N�o ousou se mostrar a um antigo aliado, temendo que esse aliado pudesse entreg�-lo a Dumbledore ou ao Minist�rio. Lamento profundamente que n�o confiasse em mim. Ele teria recuperado o poder tr�s anos antes. Do jeito que foi, vi apenas o ambicioso e indigno Quirrell tentando roubar a Pedra e, admito, fiz tudo que pude para impedir." Belatriz entortou a boca como se tivesse tomado um rem�dio de gosto ruim. � Mas voc� n�o foi ao encontro dele quando ele voltou, n�o se reuniu a ele imediatamente quando sentiu a Marca Negra arder... � Verdade. Fui duas horas depois. E por ordem de Dumbledore. � Por ordem de Dum...? � come�ou ela em tom indignado. � Pense! � disse Snape, impacientando-se de novo. � Pense! Esperando duas horas, apenas duas horas, garanti minha perman�ncia em Hogwarts como espi�o! Deixando Dumbledore pensar que eu s� estava retornando para o lado do Lorde das Trevas por ordem dele, pude passar informa��es sobre Dumbledore e a Ordem da F�nix desde ent�o! Reflita Belatriz: a Marca Negra foi se acentuando durante meses, eu sabia que a volta do Lorde era iminente, todos os Comensais da Morte sabiam disso! Tive muito tempo para pensar no que queria fazer, planejar o meu lance seguinte, me safar como fez Karkaroff, n�o? "Posso lhe garantir que o desagrado inicial do Lorde das Trevas com o meu atraso desapareceu completamente, quando lhe expliquei que eu ainda era fiel, e Dumbledore continuou achando que eu era o seu homem de confian�a. O Lorde das Trevas de fato pensou que eu o tivesse abandonado para sempre, mas viu que estava errado." � Mas no que � que voc� tem sido �til? � desdenhou Belatriz. � Que informa��es �teis voc� tem nos passado? � Minhas informa��es t�m sido transmitidas diretamente ao Lorde das Trevas. Se ele prefere n�o dividi-las com voc�... � Ele divide tudo comigo! � disse Belatriz, inflamando-se. � Diz que sou a mais leal, mais fiel... � Diz? � perguntou Snape, a voz subindo levemente para insinuar sua descren�a. � E ainda divide, depois do fiasco no Minist�rio da Magia? � Aquilo n�o foi minha culpa! � protestou Belatriz corando. � No passado, o Lorde das Trevas me confiou seu mais precioso... se L�cio n�o tivesse... � N�o se atreva... n�o se atreva a culpar meu marido! � disse Narcisa em tom baixo e letal, erguendo os olhos para a irm�. � N�o vale a pena atribuir culpas � disse Snape com suavidade. � O que foi feito est� feito. � Mas n�o por voc�! � bradou Belatriz furiosa. � N�o, voc� esteve mais uma vez ausente enquanto n�s corr�amos riscos, n�o � mesmo, Snape? � Recebi ordens para permanecer na retaguarda. Quem sabe voc� discorda do Lorde das Trevas, quem sabe voc� acha que Dumbledore n�o teria reparado se eu fosse me reunir aos Comensais da Morte para combater a Ordem da F�nix? E... me desculpe... mas voc� fala de riscos... voc� esteve enfrentando seis adolescentes, n�o? �Aos quais foi se juntar, logo em seguida, e n�o finja que n�o sabe, metade da Ordem! � rosnou Belatriz. � E, por falar nisso, voc� continua a insistir que n�o pode revelar onde � o quartel-general da Ordem, n�o � mesmo? � N�o sou o fiel do segredo, n�o posso dizer o nome do lugar. Acho que voc� sabe como funcionam os feiti�os, n�o? O Lorde das Trevas est� satisfeito com as informa��es que lhe passei sobre a Ordem. Permitiram, como voc� talvez tenha imaginado, a captura recente de Emelina Vance, e, sem sombra de d�vida, a elimina��o de Sirius Black, embora eu d� a voc� todo o cr�dito pela execu��o dele. Snape inclinou a cabe�a e fez um brinde � Belatriz. A express�o da mulher n�o se abrandou. � Voc� est� evitando a minha �ltima pergunta, Snape. Harry Potter. Voc� poderia ter matado o garoto em qualquer momento nos �ltimos cinco anos. Mas n�o matou. Por qu�? � Voc� j� discutiu este assunto com o Lorde das Trevas? � Ele... ultimamente... estou perguntando a voc�, Snape. � Se eu tivesse matado Harry Potter, o Lorde das Trevas n�o poderia ter usado o sangue dele para se regenerar e se tornar invenc�vel... � Voc� est� afirmando que previu o uso que ele faria do garoto? � ca�oou Belatriz. � N�o estou afirmando; eu n�o tinha a menor id�ia dos planos dele; j� confessei que julgava o Lorde das Trevas morto. Estou meramente tentando explicar por que o Lorde das Trevas n�o lamentou que Potter tenha sobrevivido, pelo menos at� um ano atr�s... � Mas por que voc� o deixou vivo? � Voc� ainda n�o me entendeu? Foi a prote��o de Dumbledore que me manteve fora de Azkaban. Voc� discorda que se eu tivesse matado seu aluno favorito ele teria se voltado contra mim? Mas havia outras raz�es. Devo lembrar-lhe que quando Potter chegou a Hogwarts ainda circulavam muitas hist�rias a respeito dele, boatos de que era um grande bruxo das trevas, e por isso tinha sobrevivido ao ataque do Lorde das Trevas. De fato, muitos dos antigos seguidores do Lorde das Trevas pensavam que talvez fosse uma bandeira em torno da qual poder�amos nos reagrupar. Admito que fiquei curioso e nada inclinado a mat�-lo quando desembarcou no castelo. "� claro que rapidamente percebi que ele n�o possu�a nenhum talento extraordin�rio. Conseguiu sair de muitos apertos gra�as a uma simples combina��o de pura sorte e a ajuda de amigos mais talentosos. Ele � med�ocre ao extremo, e detest�vel e presun�oso como foi o pai. Fiz tudo para que fosse expulso de Hogwarts, onde acredito n�o ser o seu lugar, mas mat�-lo ou permitir que o matassem na minha frente? Eu teria sido idiota de me arriscar com o Dumbledore por perto." � E dizendo isso voc� quer nos fazer acreditar que Dumbledore nunca suspeitou de voc�? N�o faz a menor id�ia de sua verdadeira lealdade; continua a confiar irrestritamente em voc�? � Representei bem o meu papel � afirmou Snape. � E voc� est� se esquecendo da maior fraqueza de Dumbledore: acreditar no melhor das pessoas. Contei-lhe uma hist�ria de profundo remorso quando entrei para o seu quadro docente, rec�m-sa�do dos meus dias de Comensal da Morte, e ele me recebeu de bra�os abertos... embora, como disse, sem deixar que eu me aproximasse das artes das trevas at� onde p�de impedir. Dumbledore foi um grande bruxo, ah, sim, foi (porque Belatriz deixara escapar um ru�do sarc�stico), e o pr�prio Lorde das Trevas reconhece isso. Mas fico feliz de poder afirmar que est� envelhecendo. O duelo com o Lorde das Trevas no m�s passado abalou-o. Deve ter sofrido um grave ferimento porque suas rea��es est�o mais lentas do que no passado. Mas, durante todos esses anos, ele nunca deixou de confiar em Severo Snape e nisto reside o meu grande valor para o Lorde das Trevas. Belatriz continuava insatisfeita, embora insegura quanto � melhor maneira de continuar atacando Snape. Aproveitando-se do seu sil�ncio, o bruxo se dirigiu � irm�. � Agora... voc� veio me pedir ajuda, Narcisa? A bruxa ergueu os olhos para ele, seu rosto eloq�ente de desespero. � Vim, Severo. Acho... acho que voc� � o �nico que pode me ajudar. N�o tenho mais ningu�m a quem recorrer. L�cio est� preso e... Ela fechou os olhos e duas grandes l�grimas escorreram por baixo de suas p�lpebras. � O Lorde das Trevas me proibiu de falar nisso � continuou, com os olhos ainda fechados. � N�o quer que ningu�m saiba do plano. �... muito secreto. Mas... � Se ele proibiu, voc� n�o deve falar � disse Snape imediatamente. � A palavra do Lorde das Trevas � lei. Narcisa ofegou como se tivesse recebido um esguicho de �gua fria. Belatriz pareceu satisfeita pela primeira vez desde que entrara na casa. � Ouviu? � disse triunfante � irm�. � At� Snape diz isso: voc� recebeu ordem de n�o falar, ent�o fique calada! Snape, por�m, tinha se levantado e ido at� a pequena janela. Espiou a rua deserta entre as cortinas e tornou a fech�-las com um pux�o. Virou-se, ent�o, para encarar Narcisa muito s�rio. � Por acaso, eu conhe�o o plano � disse em voz baixa. � Sou um dos poucos a quem o Lorde das Trevas o contou. Mas, se eu n�o estivesse a par do segredo, Narcisa, voc� teria cometido uma grande trai��o. � Achei que voc� devia conhecer! � exclamou Narcisa, respirando mais aliviada. � Ele confia tanto em voc�, Severo... � Voc� conhece o plano? � admirou-se Belatriz, sua moment�nea express�o de prazer substitu�da pela mais pura indigna��o. � Voc� conhece? � Com certeza � afirmou Snape. � Mas qual � a ajuda de que voc� precisa, Narcisa? Se est� imaginando que posso persuadir o Lorde das Trevas a mudar de id�ia, receio que n�o haja a menor esperan�a. � Severo � sussurrou ela, as l�grimas deslizando pelo rosto p�lido. � Meu filho... meu �nico filho... � Draco devia se orgulhar � disse Belatriz com indiferen�a. � O Lorde das Trevas est� lhe concedendo uma grande honra. E direi uma coisa em favor do seu filho: ele n�o est� fugindo ao dever, parece contente com a oportunidade de ser posto � prova, excitado com a perspectiva... Narcisa come�ou a chorar com vontade, sem tirar os olhos suplicantes de Snape. � E porque ele tem apenas dezesseis anos e n�o faz id�ia do que o espera! Por que, Severo? Por que o meu filho? � perigoso demais! � vingan�a pelo erro de L�cio, eu sei que �! Snape n�o respondeu. Desviou o olhar das l�grimas da mulher como se fossem indecentes, mas n�o p�de fingir que n�o a ouvia. � Foi por isso que ele escolheu o Draco, n�o foi? � insistiu. � Para punir L�cio? � Se Draco for bem-sucedido � respondeu Snape, ainda sem olhar para Narcisa �, ser� mais prestigiado que todos os outros. � Mas ele n�o ser� bem-sucedido! � solu�ou Narcisa. � Como pode ser quando o pr�prio Lorde das Trevas...? Belatriz soltou uma exclama��o; Narcisa pareceu perder a coragem. � S� quis dizer... que ningu�m teve �xito at� agora... Severo... por favor... voc� �, e sempre foi, o professor favorito de Draco... voc� � um velho amigo de L�cio... eu lhe suplico... voc� � o favorito do Lorde, o conselheiro em quem ele mais confia... quer falar com ele, persuadi-lo...? � O Lorde das Trevas n�o se deixa persuadir, e n�o sou bastante tolo para tentar � disse Snape sem emo��o. � N�o posso fingir que ele n�o esteja aborrecido com L�cio. Seu marido controlava a opera��o. Ele se deixou capturar juntamente com os demais e, ainda por cima, n�o conseguiu recuperar a profecia. Com certeza o Lorde das Trevas est� irritado, Narcisa, muito irritado mesmo. � Ent�o tenho raz�o, ele escolheu Draco para se vingar! � disse Narcisa com a voz sufocada. � N�o quer que ele seja bem-sucedido, quer que ele morra tentando. N�o ouvindo resposta de Snape, Narcisa pareceu perder o pouco controle que lhe restava. Levantando-se, cambaleou at� Snape e agarrou-o pelas vestes. Com o rosto muito pr�ximo ao dele, as l�grimas caindo no peito do bruxo, ela exclamou: � Voc� poderia fazer isso. Voc� em vez de Draco, Severo. Voc� teria sucesso, e ele o recompensaria mais do que a qualquer um... Snape segurou-a pelos pulsos e afastou as m�os que agarravam suas vestes. Baixando os olhos para o rosto manchado de l�grimas, disse lentamente: � Acho que a inten��o dele � me mandar tentar depois. Mas decidiu que Draco deve tentar primeiro. Sabe, no improv�vel acaso de Draco se sair bem, eu poderei permanecer em Hogwarts por mais algum tempo, desempenhando o meu proveitoso papel de espi�o. � Em outras palavras, n�o faz diferen�a para ele se Draco morrer! � O Lorde das Trevas est� muito irritado � repetiu Snape em voz baixa. � N�o conseguiu ouvir a profecia. Voc� sabe t�o bem quanto eu que ele n�o perdoa facilmente. Ela desmoronou aos p�s dele, solu�ando e gemendo. � Meu �nico filho... meu �nico filho... � Voc� devia se orgulhar! � exclamou Bela triz sem se apiedar. � Se eu tivesse filhos, eu os daria para servir o Lorde das Trevas! Narcisa soltou um grito de desespero e agarrou os pr�prios cabelos com for�a. Snape se curvou, segurou a mulher pelos bra�os, levantou-a e sentou-a no sof�. Serviu mais um pouco de vinho e empurrou o copo na m�o dela. � Narcisa, chega. Beba isso. E me escute. Ela se acalmou um pouco; deixando cair vinho nas vestes, tomou um golinho, tr�mula. � Talvez seja poss�vel... ajudar o Draco. Ela se empertigou, o rosto branco como uma folha de papel, os olhos arregalados. � Severo... ah, Severo... voc� o ajudaria? Voc� o protegeria, cuidaria para que n�o sofresse nenhum mal? � Posso tentar. Ela largou o copo, que deslizou pelo tampo da mesa, ao mesmo tempo que, escorregando do sof� e se ajoelhando aos p�s de Snape, segurou suas m�os e levou-as aos l�bios. � Se voc� estiver l� para proteg�-lo... Severo, voc� jura? Voc� far� o Voto Perp�tuo? � O Voto Perp�tuo? � O rosto de Snape se tornou impass�vel, impenetr�vel. Belatriz, por�m, soltou uma gargalhada vitoriosa. � Voc� ouviu bem, Narcisa? Ah, ele tentar�, com certeza... as palavras vazias de sempre de quem tira o corpo fora... ah, e por ordem do Lorde das Trevas, � claro! Snape n�o olhou para Belatriz. Seus olhos negros estavam fixos nos olhos azuis marejados de l�grimas de Narcisa, que ainda lhe apertava as m�os. � Certamente, Narcisa, farei o Voto Perp�tuo � disse baixinho. � Talvez, sua irm� aceite ser a nossa Avalista. O queixo de Belatriz caiu. Snape se ajoelhou � frente de Narcisa. Diante do olhar assombrado de Belatriz, eles uniram as m�os direitas. � Voc� vai precisar de sua varinha, Belatriz � disse Snape friamente. A bruxa, ainda espantada, puxou a varinha. � E vai precisar chegar um pouco mais perto � acrescentou ele. Belatriz se aproximou dos dois, e colocou a ponta da varinha sobre as m�os unidas. Narcisa falou: � Voc�, Severo, cuidar� do meu filho Draco quando ele estiver tentando realizar o desejo do Lorde das Trevas? � Cuidarei. Uma fina l�ngua de fogo-vivo saiu da varinha e envolveu as m�os como um arame em brasa. � E far� todo o poss�vel para proteg�-lo do mal? � Farei. Uma segunda l�ngua de fogo saiu da varinha e se entrela�ou com a primeira, formando uma fina corrente luminosa. � E se necess�rio for... se parecer que Draco falhar� � sussurrou Narcisa (a m�o de Snape estremeceu, mas ele n�o a soltou) �, voc� terminar� a tarefa que o Lorde das Trevas incumbiu Draco de realizar? Houve um momento de sil�ncio. Com a varinha sobre as m�os unidas dos dois, Belatriz observava de olhos arregalados. � Terminarei � jurou Snape. O rosto estarrecido de Belatriz se avermelhou, refletindo o clar�o da terceira l�ngua de fogo que saiu da varinha, enrolou-se nas outras e se fechou em torno das m�os, grossa como uma corda, como uma serpente de fogo. CAP�TULO TR�S QUERER � PODER HARRY POTTER RONCAVA SONORAMENTE. Estivera sentado em uma poltrona � janela do seu quarto durante quase quatro horas, contemplando a rua que escurecia, e acabara adormecendo com um lado do rosto encostado na vidra�a fria, os �culos tortos e a boca aberta. O bafo que ele exalava refulgia � claridade alaranjada do lampi�o da rua, e a luz artificial absorvia todo o colorido do seu rosto, fazendo-o parecer fantasmag�rico sob seus cabelos pretos e rebeldes. O quarto estava juncado com seus pertences e uma boa quantidade de lixo. Penas de coruja, miolos de ma��s e pap�is de bala amontoavam-se pelo soalho, v�rios livros de feiti�os estavam embolados com. as vestes sobre sua cama, e havia uma confus�o de jornais no c�rculo iluminado sobre sua escrivaninha. A manchete de um deles indagava: HARRY POTTER: SER� ELE O ELEITO? Continua a boataria sobre acontecimentos recentes e misteriosos no Minist�rio da Magia, durante os quais Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado foi mais uma vez avistado. "N�o podemos comentar, n�o me pergunte nada", disse um agitado obliviador que se recusou a informar o seu nome quando sa�a ontem � noite do Minist�rio. Ainda assim, fontes ministeriais confirmam que o foco do dist�rbio foi a famosa Sala da Profecia. Embora os porta-vozes oficiais continuem a se recusar sequer a confirmar a exist�ncia de tal sala, um n�mero cada vez maior de pessoas na comunidade bruxa acredita que os Comensais da Morte, ora cumprindo pena em Azkaban por invas�o e tentativa de roubo, tentaram se apoderar da profecia, cujo teor � desconhecido. Especula-se abertamente, no entanto, que deve dizer respeito a Harry Potter, a �nica pessoa que sabidamente sobreviveu a Maldi��o da Morte, e dizem ter estado no Minist�rio na noite em quest�o. H� quem se aventure a chamar Potter de "o Eleito", acreditando que a profecia o nomeie como o �nico que poder� nos livrar de Aquele-Que-N�o- Deve-Ser-Nomeado. N�o se conhece o atual paradeiro da profecia, se � que de fato existe, embora (cont. p. 2, coluna 5) Havia um segundo jornal ao lado do primeiro. A manchete era: SCRIMGEOUR SUBSTITUI FUDGE A maior parte da primeira p�gina estava tomada por uma grande foto em preto e branco de um homem com uma juba leonina e um rosto maltratado. A foto era comovente � ele estava acenando para o teto. Rufo Scrimgeour, ex-chefe da Se��o de Aurores, no Departamento de Execu��o das Leis da Magia, substitui Corn�lio Fudge no Minist�rio da Magia. A nomea��o foi recebida com entusiasmo pela maioria na comunidade bruxa, embora corram boatos de um s�rio desentendimento entre o novo ministro e Alvo Dumbledore � reconduzido ao cargo de bruxopresidente da Suprema Corte dos Bruxos � ocorrido algumas horas depois de Scrimgeour ter assumido o Minist�rio. Os representantes de Scrimgeour admitem que o ministro se encontrou com Dumbledore logo depois de sua posse no mais alto cargo da comunidade, mas recusaram-se a comentar a pauta da reuni�o. Sabe-se que Alvo Dumbledore (cont. p. 3, coluna 2) Mais � esquerda deste jornal, havia outro, dobrado de modo a deixar vis�vel o t�tulo da not�cia: MINISTRO GARANTE A SEGURAN�A DOS ESTUDANTES. O rec�m-nomeado ministro da Magia, Rufo Scrimgeour, falou hoje sobre as rigorosas medidas tomadas pelo seu Minist�rio para garantir a seguran�a dos estudantes que retornam agora, no outono, � Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. "Por raz�es �bvias, o Minist�rio n�o poder� entrar em detalhes sobre seu rigoroso projeto de seguran�a", disse o ministro, embora um funcion�rio bem informado confirme que as medidas incluem feiti�os e encantamentos defensivos, um complexo conjunto de contrafeiti�os e uma pequena for�a-tarefa de aurores, dedicados unicamente � prote��o da Escola de Hogwarts. A maioria dos cidad�os parece tranq�ilizada pela firme atitude do ministro com rela��o � seguran�a estudantil. Comentou a Sra. Augusta Longbottom: "Meu neto Neville, por sinal um grande amigo de Harry Potter, que lutou ao lado dele em junho no Minist�rio contra os Comensais da Morte e..." Mas o resto desta hist�ria ficou sombreada por uma enorme gaiola deixada em cima do jornal, dentro da qual havia uma magn�fica coruja de penas muito brancas. Seus olhos cor de �mbar examinavam o quarto autoritariamente, a cabe�a virando de vez em quando para olhar o dono que roncava. Uma ou duas vezes, ela abriu e fechou o bico com estalos, impaciente, mas Harry estava dormindo profundamente demais para ouvi-la. Havia, ainda, um mal�o bem no meio do quarto, com a tampa aberta, parecendo aguardar alguma coisa. Estava quase vazio, exceto por umas cuecas velhas, balas, tinteiros vazios e penas quebradas que forravam o seu fundo. No ch�o, � pequena dist�ncia, via-se ca�do um folheto roxo com um bras�o em que se lia: Por ordem do Minist�rio da Magia PARA PROTEGER SUA CASA E SUA FAM�LIA DAS FOR�AS DAS TREVAS Atualmente a comunidade bruxa est� sendo amea�ada por uma organiza��o que se autodenomina Comensais da Morte. Observando simples diretrizes de seguran�a, voc� poder� proteger a si mesmo, a sua fam�lia e a sua casa de qualquer ataque. 1. Recomendamos que voc� n�o saia de casa sozinho. 2. Tome especial cuidado durante a noite. Sempre que poss�vel, programe suas viagens para come�arem e terminarem antes do anoitecer. 3. Repasse as medidas de seguran�a que cercam a sua casa, cuidando para que todos os membros de sua fam�lia conhe�am os procedimentos de emerg�ncia, tais como os feiti�os Escudo e da Desilus�o e, em caso de familiares de menor idade, a Aparata��o Acompanhada. 4. Combine senhas com seus familiares e amigos �ntimos para detectar Comensais da Morte que se fa�am passar por outras pessoas ap�s a ingest�o da Po��o Polissuco (veja p. 2). 5. Se voc� sentir que um familiar, colega, amigo ou vizinho est� agindo de modo estranho, entre imediatamente em contato com o Esquadr�o de Execu��o das Leis da Magia. Ele ou ela talvez esteja dominado/a pela Maldi��o Imperius (veja p. 4). 6. Se a Marca Negra aparecer pairando sobre qualquer pr�dio, N�O ENTRE. Contate imediatamente a Se��o dos Aurores. 7. A vis�o de objetos n�o identificados sugere que os Comensais da Morte talvez estejam usando Inferi (veja p. 10). Se avistar ou encontrar algum, reporte ao Minist�rio IMEDIATAMENTE. Harry resmungou enquanto dormia, e seu rosto escorregou uns cent�metros pela vidra�a, deixando os �culos ainda mais tortos, mas nem assim ele acordou. Um despertador, consertado por ele mesmo, h� tempos, tiquetaqueava sonoramente no parapeito da janela, indicando que faltava um minuto para as onze horas. Ao lado do despertador, segura na m�o frouxa de Harry, havia uma folha de pergaminho escrita com uma caligrafia fina e inclinada. Harry lera esta carta tantas vezes desde que chegara havia tr�s dias que, embora fosse um pergaminho bem enrolado, ficara completamente esticado. Caro Harry, Se for conveniente para voc�, farei uma visita � rua dos Alfeneiros, n�mero 4, na pr�xima sexta-feira, as onze horas da noite, para acompanh�-lo � Toca, onde voc� est� convidado a passar o resto de suas f�rias escolares. Se concordar, eu gostaria tamb�m de poder contar com sua ajuda em um assunto que espero tratar a caminho d'A Toca. Explicarei melhor quando nos virmos. Por favor, mande sua resposta pela mesma coruja. Espero v�-lo na sexta-feira. Muito atenciosamente, Alvo Dumbledore Embora j� a soubesse de cor, Harry n�o parava de relancear a carta desde as sete horas daquela noite, quando se instalara junto � janela do quarto, porque esta lhe oferecia uma vis�o razo�vel dos dois lados da rua dos Alfeneiros. Ele sabia que n�o adiantava ficar relendo as palavras de Dumbledore; mandara o seu "sim" pela coruja, conforme pedido, e agora s� lhe restava esperar: ou ele viria ou n�o. Mas Harry ainda n�o aprontara as malas. Parecia-lhe bom demais para ser verdade que fossem tir�-lo da casa dos Dursley ap�s quinze dias em companhia da fam�lia. N�o conseguia se livrar da sensa��o de que alguma coisa ia desandar � a resposta � carta de Dumbledore poderia ter se extraviado; o bruxo poderia ser impedido de vir busc�-lo; a carta poderia n�o ser de Dumbledore e n�o passar de um truque, uma piada ou uma arapuca. Harry n�o teve coragem de aprontar as malas e depois ficar na m�o e precisar desfazer tudo. A �nica concess�o que fizera � possibilidade de viajar fora fechar Edwiges na gaiola. O ponteiro menor do rel�gio chegou ao n�mero doze e, neste exato momento, o lampi�o da rua apagou. Harry acordou como se a repentina escurid�o fosse um despertador. Endireitou, apressado, os �culos e, descolando a bochecha da vidra�a para, em seu lugar, encostar o nariz, apertou os olhos para enxergar a cal�ada. Um vulto alto com uma longa capa esvoa�ante estava entrando pelo jardim. Harry levantou-se de um pulo como se tivesse levado um choque el�trico, derrubou a cadeira e come�ou a pegar todas as coisas ao seu alcance e jog�-las no mal�o. Na hora em que arremessava as vestes, dois livros de feiti�os e uma embalagem de salgadinhos para o outro lado do quarto, a campainha tocou. L� embaixo, na sala de estar, seu tio V�lter exclamou com impaci�ncia: � Quem ser� que est� tocando a uma hora dessas? Harry congelou, com um telesc�pio de lat�o em uma das m�os e um par de t�nis na outra. Esquecera-se completamente de avisar os Dursley de que Dumbledore talvez viesse. Sentindo ao mesmo tempo p�nico e vontade de rir, saltou por cima do mal�o e escancarou a porta do quarto, em tempo de ouvir uma voz grave cumprimentar: � Boa-noite. O senhor deve ser o Sr. Dursley. Ser� que Harry n�o o preveniu que eu viria busc�-lo? Harry desceu a escada de dois em dois degraus e parou abruptamente a alguns passos do hall, pois a longa experi�ncia o ensinara a ficar longe do alcance do tio sempre que poss�vel. Parado � porta, estava um homem alto e magro, com barbas e cabelos prateados at� a cintura. Usava oclinhos de meia-lua encarrapitados no nariz torto, uma longa capa de viagem e um chap�u c�nico. Vestido com um roup�o cor de vinho, V�lter Dursley, cujo bigode era preto mas t�o farto quanto o de Dumbledore, encarava o visitante como se n�o pudesse acreditar nos seus olhinhos mi�dos. � A julgar pelo seu ar aturdido e descrente, Harry n�o o avisou da minha vinda � disse Dumbledore em tom am�vel. � Mas vamos presumir que o senhor tenha me convidado, cordialmente, a entrar. N�o � sensato demorar demais � soleira das portas nestes tempos perturbados. O bruxo cruzou o portal com eleg�ncia e fechou a porta ao passar. � Faz muito tempo desde a minha �ltima visita � falou Dumbledore, olhando por cima dos �culos para o tio V�lter. � Devo dizer que os seus agapantos est�o bem floridos. V�lter continuou calado. Harry n�o duvidou que o tio logo recuperasse a fala � a veia que latejava em sua t�mpora estava quase explodindo. Mas alguma coisa em Dumbledore parecia terlhe roubado temporariamente o f�lego. Talvez fosse a sua ineg�vel apar�ncia bruxa ou o fato de que mesmo o tio V�lter podia perceber que ali estava um homem muito dif�cil de intimidar. � Ah, boa-noite, Harry � cumprimentou Dumbledore, erguendo a cabe�a para olh�-lo atrav�s dos �culos com ar de satisfa��o. ��timo, �timo. Tais palavras pareceram despertar o tio V�lter. Em sua opini�o, era �bvio que qualquer homem que pudesse olhar para Harry e dizer "�timo" era algu�m com quem ele jamais concordaria. � N�o quero ser grosseiro... � come�ou ele, em um tom que amea�ava se tornar grosseiro a cada s�laba. � ... contudo, a grosseria acidental ocorre com alarmante freq��ncia � Dumbledore terminou a frase s�rio. � � melhor n�o dizer nada, meu caro. Ah, e esta deve ser Pet�nia. A porta da cozinha se abrira, revelando a tia de Harry, de luvas de borracha e um robe por cima da camisola, visivelmente interrompendo sua costumeira limpeza das superf�cies da cozinha antes de ir se deitar. Seu rosto cavalar expressava apenas choque. � Alvo Dumbledore � informou o bruxo, j� que o tio V�lter n�o o apresentara. � Temos nos correspondido, � claro. � Harry achou que era um modo esquisito do diretor lembrar � tia Pet�nia que certa vez lhe enviara uma carta explosiva, mas ela n�o protestou. � E esse deve ser o seu filho Duda, n�o? Naquele instante, Duda espiara � porta da sala de estar. Sua cabe�a grande e loura, emergindo da gola listrada do pijama, parecia estranhamente separada do corpo, a boca aberta de espanto e medo. Dumbledore esperou um momento, aparentemente para ver se os Dursley iam dizer alguma coisa, mas, como o sil�ncio se prolongasse, ele sorriu. � Posso presumir que os senhores tenham me convidado a sentar em sua sala de estar? Duda afastou-se depressa do caminho quando Dumbledore passou. Harry, ainda segurando o telesc�pio e os t�nis, saltou os �ltimos degraus e acompanhou Dumbledore, que se acomodou na poltrona mais pr�xima da lareira e se deteve a reconhecer o ambiente com uma express�o de educado interesse. Parecia extraordinariamente deslocado. � N�o vamos embora, professor? � perguntou Harry ansioso. � Certamente, mas primeiro h� umas quest�es que precisamos discutir. E preferia n�o fazer isto ao ar livre. Por isso, vamos abusar da hospitalidade do seus tios por mais uns minutinhos. � E como v�o! V�lter Dursley entrara na sala, Pet�nia ao seu lado e Duda, mal-humorado, atr�s deles. � � � disse Dumbledore com simplicidade. � Abusaremos. E sacou a varinha com tanta rapidez que Harry mal chegou a v�-la; a um gesto displicente, o sof� arremessou-se para a frente, atingiu os joelhos dos Dursley e os fez perder o equil�brio e desmontar nele. A um segundo gesto com a varinha, o sof� voltou rapidamente � posi��o inicial. � E � melhor fazermos isso com conforto � disse o bruxo cordialmente. Quando Dumbledore guardou a varinha no bolso, Harry notou que sua m�o estava escura e enrugada; a pele parecia ter sido destru�da por uma queimadura. � Professor... que aconteceu com sua...? � Mais tarde, Harry. Sente-se, por favor. O garoto ocupou a poltrona que sobrara, fazendo quest�o de n�o olhar para os Dursley, todos mudos de espanto. � Presumi que fossem me oferecer uma bebida � disse Dumbledore ao tio V�lter �, mas, pelo visto, tanto otimismo seria tolice. Um terceiro gesto com a varinha fez aparecer no ar uma garrafa empoeirada e cinco copos. A garrafa se inclinou e serviu uma generosa dose de um l�quido cor de mel em cada copo, que, ent�o, flutuou at� cada uma das pessoas na sala. � � o melhor hidromel envelhecido em barris de carvalho por Madame Rosmerta � explicou Dumbledore, fazendo um brinde a Harry, que apanhou o copo e bebeu. Nunca provara nada parecido antes, mas gostou imensamente. Os Dursley, depois de trocarem olhares r�pidos e apavorados, tentaram fingir que n�o viam seus copos, o que era dif�cil porque eles davam pancadinhas em suas cabe�as. Harry n�o conseguiu afastar a suspeita de que Dumbledore estava se divertindo. � Bom, Harry � disse o bruxo dirigindo-se a ele �, surgiu uma dificuldade que espero que voc� possa resolver para n�s. Por n�s, eu me refiro � Ordem da F�nix. Antes de mais nada, por�m, preciso lhe dizer que encontraram o testamento de Sirius h� uma semana, e ele deixou todos os seus bens para voc�. No sof�, tio V�lter se virar�, mas Harry n�o olhou para ele nem conseguiu pensar em nada para dizer, exceto: � Certo. � No geral, � um testamento bem simples. Voc� acrescenta uma boa quantidade de ouro � sua conta no Gringotes e herda todos os bens pessoais de Sirius. A parte ligeiramente problem�tica do documento... � O padrinho dele morreu? � perguntou tio V�lter, em voz alta, l� do sof�. Dumbledore e Harry se viraram para olh�-lo. O copo de hidromel agora batia insistentemente em sua cabe�a; ele tentava afast�-lo. � Morreu? O padrinho dele? � Morreu � confirmou Dumbledore, sem perguntar a Harry por que n�o contara aos tios. � Nosso problema � continuou falando com Harry, como se n�o tivesse havido interrup��o � � que Sirius tamb�m deixou para voc� a casa n�mero doze do largo Grimmauld. � Deixou uma casa para ele? � perguntou tio V�lter, ganancioso, apertando os olhos mi�dos, mas ningu�m lhe respondeu. � Podem continuar a usar a casa como quartel-general � disse Harry. � N�o me importo. Podem ficar com ela. N�o a quero. � Se dependesse dele, n�o queria nunca mais pisar na casa do largo Grimmauld. Achava que a lembran�a de Sirius, vagando solit�rio pelos aposentos escuros e mofados, prisioneiro de um lugar que tinha tentado desesperadamente abandonar, o atormentaria para sempre. � � um gesto generoso. Mas desocupamos o im�vel temporariamente. � Por qu�? � Bem � respondeu Dumbledore, n�o dando aten��o aos resmungos do tio V�lter, que agora levava na cabe�a batidas dolorosas do insistente copo de hidromel �, segundo a tradi��o da fam�lia Black, a casa passa ao descendente masculino mais pr�ximo, em linha direta que tenha o nome Black. Sirius foi o �ltimo da linhagem, porque seu irm�o mais novo, Regulo, faleceu antes, e nenhum dos dois teve filhos. Embora o testamento deixe perfeitamente claro que Sirius desejava que a casa fosse sua, � poss�vel que tenham lan�ado nela algum encantamento ou feiti�o para garantir que n�o perten�a a algu�m de sangue impuro. A imagem n�tida do quadro da m�e de Sirius berrando e cuspindo, no corredor da casa n�mero doze no largo Grimmauld, passou pela cabe�a de Harry. � Aposto que lan�aram. � Sem d�vida � disse Dumbledore. � E, se tal encantamento existir, � muito prov�vel que a propriedade da casa passe ao parente vivo mais velho de Sirius, ou seja, sua prima Belatriz Lestrange. Sem perceber o que fazia, Harry levantou-se de um pulo; o telesc�pio e os t�nis em seu colo rolaram pelo ch�o. Belatriz Lestrange, a assassina de Sirius, herdar a casa dele? � N�o � protestou ele. � Bem, � �bvio que tamb�m preferimos que ela n�o herde � respondeu Dumbledore calmamente. � A situa��o � bem complicada. Por exemplo, n�o sabemos se os encantamentos que n�s mesmos lan�amos sobre a casa, para impossibilitar sua localiza��o, persistir�o, agora que deixou de pertencer a Sirius. Belatriz pode aparecer � porta a qualquer momento. � claro que fomos obrigados a nos mudar at� termos esclarecido a nossa posi��o. � Mas como � que vamos descobrir se tenho direito a casa? � Felizmente h� um teste bem simples. � Dumbledore depositou o copo em cima de uma mesinha ao lado de sua poltrona, mas, antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, o tio V�lter berrou: � Quer tirar essas porcarias de cima da gente? Harry se virou; os tr�s Dursley estavam encolhidos com os bra�os para o alto enquanto os copos batiam em suas cabe�as, fazendo voar hidromel para todo lado. � Ah, sinto muito � disse Dumbledore, atencioso, e tornou a erguer sua varinha. Os tr�s copos desapareceram. � Mas, sabem, teria sido mais educado aceitarem a bebida. Pelo jeito, tio V�lter estava explodindo de vontade de dar v�rias respostas malcriadas, mas apenas voltou a se afundar nas almofadas com tia Pet�nia e Duda, sem dizer nada, nem tirar seus olhinhos de porco da varinha de Dumbledore. � Entende � continuou Dumbledore, voltando sua aten��o para Harry, como se o tio V�lter n�o tivesse se manifestado �, se voc� tiver de fato herdado a casa, tamb�m ter� herdado... Ele acenou com a varinha pela quinta vez. Ouviu-se um forte estalo e apareceu, agachado no tapete peludo dos Dursley, um elfo dom�stico, com um nariz focinhudo, grandes orelhas de morcego e enormes olhos avermelhados, vestido de trapos encardidos. Tia Pet�nia soltou um urro de arrepiar os cabelos: n�o havia lembran�a de nada imundo assim ter algum dia entrado em sua casa; Duda tirou do ch�o os enormes p�s rosados e descal�os e levantou-os quase acima da cabe�a, como se imaginasse que a criatura pudesse subir pelas cal�as do seu pijama, e tio V�lter berrou: � Que diabo � isso? � ... o Monstro � apresentou Dumbledore. � Monstro n�o quer, Monstro n�o quer. Monstro n�o quer � grasnou o elfo dom�stico, berrando quase t�o alto quanto o tio V�lter, batendo no ch�o os p�s nodosos e puxando as orelhas. � Monstro � da senhorita Belatriz, ah, sim, Monstro � dos Black. Monstro quer sua nova dona, Monstro n�o quer o pirralho Potter, Monstro n�o quer, n�o quer, n�o quer... � Como voc� est� vendo, Harry � disse Dumbledore alteando a voz acima dos grasnidos ininterruptos do Monstro de "n�o quer, n�o quer, n�o quer" �, Monstro est� demonstrando uma certa relut�ncia em passar �s suas m�os. � Eu n�o me importo � repetiu Harry, olhando enojado para o elfo, que se contorcia e batia os p�s. � Eu n�o o quero. � N�o quer, n�o quer, n�o quer... � Voc� prefere que passe �s m�os de Belatriz Lestrange? Mesmo lembrando que ele morou todo o �ltimo ano no quartel-general da Ordem da F�nix? � N�o quer, n�o quer, n�o quer... Harry encarou Dumbledore. Sabia que n�o poderia deixar o Monstro ir morar com Belatriz Lestrange, mas a id�ia de ser dono dele, de assumir responsabilidade pela criatura que tra�ra Sirius, era repugnante. � D�-lhe uma ordem � disse Dumbledore. � Se ele for seu, ter� de obedecer. Se n�o, teremos de pensar em outros meios de mant�-lo longe de sua leg�tima dona. � N�o quer, n�o quer, n�o quer, N�O QUER! Monstro agora urrava. Harry n�o conseguiu pensar no que dizer, exceto: � Monstro, cala a boca! Por um instante pareceu que o Monstro fosse engasgar. Levou as m�os � garganta, a boca ainda mexendo furiosamente, os olhos saltando das �rbitas. Passados alguns segundos de engolidas em seco, ele se atirou de cara no tapete (tia Pet�nia gemeu) e bateu no ch�o com as m�os e os p�s, entregando-se a um violento, mas silencioso, acesso de raiva. � Bem, isto simplifica a quest�o � disse Dumbledore animado. � Parece que Sirius sabia o que estava fazendo. Voc� � o leg�timo propriet�rio da casa n�mero doze no largo Grimmauld e de Monstro. � Ser� que tenho de... de ficar com ele? � perguntou Harry, horrorizado, enquanto Monstro continuava a se debater a seus p�s. � N�o, se n�o quiser � disse Dumbledore. � Se aceita uma sugest�o, voc� poderia mand�-lo trabalhar na cozinha de Hogwarts. Desta maneira, os outros elfos dom�sticos poderiam vigi�-lo. � � � exclamou Harry aliviado �, � o que vou fazer. �a... Monstro... quero que v� para as cozinhas de Hogwarts trabalhar com os outros elfos. Monstro, que agora estava com as costas achatadas contra o ch�o, e os p�s e as pernas no ar, lan�ou a Harry, de baixo para cima, um olhar do mais profundo desprezo e, com outro forte estalo, desapareceu. � Bom � disse Dumbledore. � Temos tamb�m o problema do hipogrifo. Hagrid tem cuidado dele desde que Sirius morreu, mas o Bicu�o agora � seu, por isso, se preferir tomar outras provid�ncias... � N�o � respondeu Harry imediatamente �, ele pode continuar com Hagrid. Bicu�o gostaria mais assim. � Hagrid vai adorar � disse Dumbledore sorrindo. � Ficou contente de rever Bicu�o. Por falar nisso, para garantir a seguran�a dele, decidimos, por ora, rebatiz�-lo de Asafugaz, embora eu duvide que o Minist�rio possa concluir que � o mesmo hipogrifo condenado � morte. Agora, Harry, suas malas est�o prontas? ����... � Duvidou que eu apareceria? � insinuou Dumbledore astutamente. � Num minuto... eh... eu termino � apressou-se Harry a dizer, catando o telesc�pio e os t�nis que tinham ca�do. Ele gastou pouco mais de dez minutos para encontrar tudo de que precisava; por fim, conseguiu tirar a Capa da Invisibilidade de baixo da cama, vedou o frasco de Tinta Muda-Cor e for�ou a tampa do mal�o a fechar sobre seu caldeir�o. Depois, arrastando o mal�o com uma das m�os e segurando a gaiola de Edwiges com a outra, desceu. Harry ficou desapontado ao descobrir que Dumbledore n�o o esperava no hall, o que significava que teria de voltar � sala de estar. Ningu�m conversava. Dumbledore cantarolava de boca fechada, aparentemente muito � vontade, mas a atmosfera estava densa e gelada, e Harry n�o se atreveu a olhar para os Dursley quando anunciou: � Professor... estou pronto. � Bom � disse Dumbledore. � Uma �ltima coisa, ent�o. � E se virou para falar com os Dursley. � Como os senhores sem d�vida sabem, dentro de um ano Harry atinge a maioridade... � N�o � interrompeu-o a tia Pet�nia, falando pela primeira vez desde a chegada de Dumbledore. � Perd�o? � disse o bruxo, educadamente. � N�o. Ele � um m�s mais novo que o Duda, e meu filho s� vai fazer dezoito anos daqui a dois anos. � Ah � exclamou Dumbledore cordialmente �, mas, no mundo dos bruxos, atingimos a maioridade aos dezessete. Tio V�lter resmungou "que absurdo", mas Dumbledore n�o lhe deu aten��o. � Ent�o, como os senhores sabem, o bruxo chamado Lord Voldemort voltou ao pa�s. Atualmente a nossa comunidade est� em guerra declarada. Harry, a quem Lord Voldemort j� tentou matar em v�rias ocasi�es, est� passando por um perigo muito maior do que no dia em que o deixei � sua porta, h� quinze anos, com uma carta explicando que seus pais tinham sido assassinados e manifestando a esperan�a de que os senhores cuidassem dele como se fosse um filho. Dumbledore fez uma pausa, e, embora sua voz continuasse leve e calma, e n�o deixasse transparecer sua raiva, Harry sentiu que emanava uma certa frieza. Notou tamb�m que os Dursley se aconchegaram uns aos outros quase imperceptivelmente. � Os senhores n�o fizeram o que pedi. Nunca trataram Harry como um filho. Nas suas m�os, ele s� conheceu o descaso e muitas vezes a crueldade. O m�ximo que se pode dizer a seu favor � que ele escapou do enorme dano que os senhores causaram a esse pobre menino sentado entre os dois. Tio V�lter e tia Pet�nia se viraram instintivamente, como se esperassem ver mais algu�m al�m de Duda espremido entre eles. � N�s... tratamos mal o Dudoca? Que conversa...? � come�ou tio V�lter furioso, mas Dumbledore ergueu um dedo mandando~o silenciar, e o sil�ncio sobreveio como se o bruxo o tivesse emudecido. � A m�gica que invoquei h� quinze anos significa que Harry contar� com uma forte prote��o enquanto puder considerar esta casa dele. Por mais infeliz que tenha sido aqui, por mais mal recebido, por mais destratado, os senhores lhe concederam pelo menos abrigo, ainda que de m� vontade. A m�gica cessar� no momento em que Harry fizer dezessete anos; em outras palavras, no momento em que se tornar homem. Ent�o s� pe�o uma coisa: que os senhores deixem Harry voltar mais uma vez a esta casa, antes do seu anivers�rio de dezessete anos, o que garantir� que a prote��o se manter� em vigor at� aquela data. Nenhum dos Dursley disse coisa alguma. Duda tinha a testa ligeiramente enrugada, como se ainda tentasse entender quando fora maltratado. Tio V�lter parecia ter alguma coisa entalada na garganta. Tia Pet�nia, no entanto, parecia estranhamente corada. � Bem, Harry... est� na hora de irmos andando � disse, por fim, Dumbledore, levantandose e acertando a longa capa preta. � At� a pr�xima � disse aos Dursley, que, pelo jeito, pareciam desejar que a pr�xima n�o chegasse nunca. E, cumprimentando-os com um aceno do chap�u, saiu teatralmente da sala. � Tchau � despediu-se Harry, apressado, e acompanhou Dumbledore, que parou junto ao mal�o com a gaiola em cima. � N�o queremos nos sobrecarregar com isso agora � disse, puxando mais uma vez a varinha. � Vou despachar esta bagagem para A Toca. Mas gostaria que voc� levasse sua Capa da Invisibilidade... caso precise. A muito custo, Harry tirou a capa do mal�o, tentando esconder do diretor a bagun�a que havia l� dentro. Depois que a enfiou de qualquer jeito em um bolso interno do blus�o, Dumbledore acenou com a varinha, e o mal�o, a gaiola e Edwiges desapareceram. Fez um novo aceno, e a porta da casa se abriu para a escurid�o fresca e enevoada. � E agora, Harry, vamos sair para a noite em busca dessa sedutora vol�vel, a aventura. CAP�TULO QUATRO HOR�CIO SLUGHORN AINDA QUE, NOS �LTIMOS DIAS, tivesse passado todos os momentos de vig�lia desejando desesperadamente que Dumbledore viesse busc�-lo, Harry se sentiu pouco � vontade quando partiram juntos da rua dos Alfeneiros. Nunca tivera uma conversa para valer com o diretor, fora de Hogwarts; l� havia sempre uma escrivaninha entre os dois. Al�m disso, a lembran�a do seu �ltimo encontro n�o parava de lhe ocorrer, e aumentava o seu constrangimento; gritara muito naquela ocasi�o, isto sem falar em seus esfor�os para destruir v�rios objetos de estima��o de Dumbledore. O diretor, por�m, parecia completamente descontra�do. � Mantenha sua varinha � m�o, Harry � disse, animado. � Mas pensei que n�o tinha licen�a para usar a magia fora da escola, professor. � Se houver um ataque, eu lhe darei permiss�o para usar qualquer contrafeiti�o ou contramaldi��o que lhe ocorra. Mas acho que hoje � noite n�o vai precisar se preocupar com ataques. � Por que n�o, professor? � Porque voc� est� comigo � respondeu Dumbledore com simplicidade. � Aqui j� est� bom, Harry. O bruxo parou bruscamente ao fim da rua dos Alfeneiros. � Naturalmente, voc� ainda n�o passou no teste de Aparata��o, n�o �? � N�o. Pensei que precisava ter dezessete anos. � Precisa. Ent�o, segure com for�a no meu bra�o. No esquerdo, se n�o se importar... voc� deve ter reparado que o bra�o com que seguro a varinha est� um pouco sens�vel no momento. Harry agarrou o bra�o oferecido por Dumbledore. � Bem, ent�o vamos. Harry sentiu o bra�o do bruxo torcer e fugir-lhe, e redobrou o seu aperto; no momento seguinte tudo escureceu; teve a impress�o de estar sendo fortemente puxado em todas as dire��es; n�o conseguia respirar, tiras de ferro envolviam seu peito, comprimindo-o; suas �rbitas estavam sendo empurradas para o fundo da cabe�a; seus t�mpanos entravam cr�nio adentro; ent�o... Ele aspirou grandes golfadas do ar frio da noite e abriu os olhos lacrimejantes. Teve a sensa��o de que o enfiavam por uma mangueira de borracha apertada. Passaram-se alguns segundos at� ele entender que a rua dos Alfeneiros desaparecera. Viu que ele e Dumbledore estavam, agora, parados na pra�a deserta de algum povoado, no centro da qual havia um memorial de guerra e alguns bancos. O entendimento finalmente alcan�ou os seus sentidos, e Harry percebeu que acabara de aparatar pela primeira vez na vida. � Voc� est� bem? � perguntou Dumbledore, olhando-o, sol�cito. � Leva algum tempo para acostumar com a sensa��o. � Estou �timo � respondeu Harry, esfregando as orelhas, que pareciam ter deixado a rua dos Alfeneiros com uma certa relut�ncia. � Mas acho que prefiro as vassouras. Dumbledore sorriu, aconchegou melhor a capa em torno do pesco�o e disse: � Vamos por aqui. E, andando rapidamente, passou por uma estalagem vazia e algumas casas. Segundo o rel�gio de uma igreja vizinha, era quase meia-noite. � Agora me diga, Harry, a sua cicatriz... tem do�do? Harry levou a m�o � testa inconscientemente e esfregou a marca em forma de raio. � N�o, e tenho me perguntado o porqu�. Pensei que iria arder o tempo todo, agora que Voldemort est� recuperando o poder. Ele olhou para Dumbledore e notou que tinha uma express�o satisfeita. � J� eu pensei o contr�rio � disse Dumbledore. � Lord Voldemort finalmente percebeu como � perigoso o acesso que voc� tem tido aos pensamentos e emo��es dele. Imagino que agora esteja usando a Oclum�ncia contra voc�. � Por mim, tudo bem � comentou Harry, que n�o sentia falta dos sonhos perturbadores nem dos vislumbres intuitivos da mente de Voldemort. Eles viraram uma esquina, passaram por uma cabine telef�nica e uma parada de �nibus. Harry tornou a olhar Dumbledore pelo canto dos olhos. � Professor? � Harry? � ��... onde � que n�s estamos exatamente? � No encantador povoado de Budleigh Babberton. � E que estamos fazendo aqui? � Ah sim, claro. N�o lhe contei. J� perdi a conta do n�mero de vezes que repeti isso nos �ltimos anos, mas estamos novamente desfalcados de um funcion�rio nos nossos quadros. Estamos aqui para convencer um velho colega meu a suspender a aposentadoria e voltar a Hogwarts. � E como vou ajudar o senhor? � Ah, acho que encontraremos uma maneira � respondeu o diretor vagamente. � � esquerda aqui, Harry. Eles tomaram uma rua �ngreme e estreita ladeada de casas. Todas as janelas estavam escuras. A friagem estranha que pairara sobre a rua dos Alfeneiros nessas duas semanas persistia ali. Lembrando-se dos dementadores, Harry deu uma espiada por cima do ombro e segurou a varinha em seu bolso com firmeza. � Professor, por que n�o aparatamos diretamente na casa do seu ex-colega? � Porque seria t�o grosseiro quanto derrubar a porta da casa a pontap�s. A cortesia exige que demos aos colegas bruxos a oportunidade de nos negar entrada. Em todo caso, a maioria das casas bruxas s�o magicamente protegidas de pessoas indesej�veis que aparatem. Em Hogwarts, por exemplo... � ... n�o se pode aparatar nos pr�dios nem nos terrenos � completou Harry depressa. � Foi a Hermione Granger quem me disse. � E est� certa. Viramos � esquerda outra vez. �s suas costas, o rel�gio da igreja bateu meia-noite. Harry se perguntou se Dumbledore n�o considerava falta de educa��o visitar um colega t�o tarde, mas, agora que a conversa come�ara a fluir, ele tinha perguntas mais urgentes a fazer. � Professor, li no Profeta Di�rio que Fudge foi demitido... � � verdade � confirmou Dumbledore, agora virando para uma ladeira secund�ria. � Foi substitu�do, e tenho certeza que voc� tamb�m leu isso, por Rufo Scrimgeour, que costumava chefiar a Se��o de Aurores. � Ele �... o senhor acha que ele � bom? � perguntou Harry. � Uma pergunta interessante. Sem d�vida, ele � competente. Mais decidido e en�rgico do que Corn�lio. � Sei, mas eu quis dizer... � Entendi o que voc� quis dizer. Rufo � um homem de a��o e, tendo combatido bruxos das trevas a maior parte da sua vida profissional, n�o subestima Lord Voldemort. Harry esperou, mas Dumbledore n�o mencionou o desentendimento que o Profeta Di�rio noticiara, e, como n�o teve coragem de insistir, mudou de assunto. � E... senhor... e Madame Bon�s? � � � disse Dumbledore baixinho. � Uma perda funesta. Era uma grande bruxa. � logo aqui, acho... a�! Apontara com a m�o machucada. � Professor, que aconteceu com a sua... ? � N�o tenho tempo para explicar agora. � uma hist�ria eletrizante, e quero cont�-la como merece ser contada. Ele sorriu para Harry, que compreendeu que aquilo n�o era uma negativa e que tinha permiss�o para continuar com as perguntas. � Senhor... recebi um folheto do ministro da Magia por correio-coruja, sobre as medidas de seguran�a que devemos tomar para nos proteger dos Comensais da Morte... � Eu tamb�m recebi � continuou Dumbledore, ainda sorrindo. �Voc� achou o folheto �til? � N�o muito. � N�o, eu achei que n�o. Voc� n�o me perguntou, por exemplo, qual � o sabor de gel�ia que prefiro, para verificar se sou realmente o professor Dumbledore, e n�o um impostor. � N�o perguntei... � come�ou Harry, um pouco inseguro quanto a estar ou n�o sendo repreendido. � Para sua refer�ncia futura, � amora... embora, � claro, se eu fosse um Comensal da Morte, teria tido o cuidado de pesquisar minhas gel�ias preferidas antes de me fazer passar por mim mesmo. � �a... certo. Bem, o folheto dizia alguma coisa sobre Inferi. Que vem a ser isso? N�o ficou muito claro. � S�o defuntos � respondeu Dumbledore calmamente. � Defuntos enfeiti�ados para cumprir ordens de um bruxo das trevas. Mas n�o vemos Inferi h� muito tempo, pelo menos desde a �ltima vez que Voldemort teve o poder... ele matou gente suficiente para formar um ex�rcito deles, � claro. � aqui, Harry, bem aqui... Aproximavam-se de uma casinha de pedra, bem cuidada, no meio do jardim. Harry estava ocupado demais, digerindo a pavorosa id�ia de mortos-vivos, para dar aten��o a qualquer outra coisa, mas, quando alcan�aram o port�o da casa, Dumbledore estacou e Harry colidiu com ele. � Que l�stima! Que l�stima! O garoto acompanhou o olhar do diretor pela entrada bem conservada e sentiu um aperto no cora��o. A porta da casa fora arrancada das dobradi�as. Dumbledore olhou para cima e para baixo da rua. Parecia deserta. � Pegue a varinha e me siga, Harry � disse em voz baixa. Abriu o port�o e entrou pelo jardim, r�pida e silenciosamente, o garoto em seus calcanhares, ent�o empurrou a porta da casa bem devagar, com a varinha erguida e pronta. � Lumus. A ponta da varinha do diretor acendeu, iluminando um corredor estreito. A esquerda, havia outra porta aberta. Empunhando a varinha acesa, Dumbledore entrou na sala de estar com Harry logo atr�s. Depararam com uma cena de total devasta��o. Um rel�gio de carrilh�o jazia aos seus p�s, o mostrador estilha�ado, o p�ndulo, mais adiante, como uma espada abandonada. O piano estava virado de lado, as teclas espalhadas pelo ch�o. Os destro�os de um lustre ca�do brilhavam � pequena dist�ncia. Almofadas murchas, as penas do enchimento saindo pelos rasgos laterais; cacos de vidro e lou�a cobriam tudo como se fossem p�. Dumbledore ergueu a varinha mais alto, para a luz clarear as paredes, cujo papel tinha manchas vermelho-escuras e gelatinosas. O ru�do da inspira��o de Harry fez Dumbledore virar a cabe�a. � Nada bonito, n�o � � disse oprimido. � Alguma coisa terr�vel aconteceu aqui. O diretor avan�ou cuidadosamente at� o meio da sala, examinando os destro�os pelo ch�o. Harry acompanhou-o, olhando para os lados, meio apavorado com o que poderia ver escondido sob o piano ou o sof� virados e destru�dos, mas n�o viu sinal de cad�ver. � Talvez tenha havido uma luta... e o levaram embora, professor? � sugeriu Harry, tentando n�o imaginar a gravidade dos ferimentos de um homem que pudesse deixar aquelas manchas espalhadas at� a metade das paredes. � Acho que n�o � respondeu Dumbledore em voz baixa, espiando atr�s de uma poltrona excessivamente estofada e tombada de lado. � O senhor quer dizer que ele... � Ainda est� por aqui? Isto mesmo. E, inesperadamente, Dumbledore se curvou, e enfiou a ponta da varinha no assento da poltrona, que gritou: �Ai! � Boa-noite, Hor�cio � cumprimentou Dumbledore, tornando a se erguer. O queixo de Harry caiu. Onde, uma fra��o de segundo antes, havia uma poltrona, agora viase encolhido um velho imensamente gordo e careca que massageava o baixo-ventre e apertava os olhos para enxergar Dumbledore com um olhar lacrimejante e ofendido. � N�o precisava enfiar a varinha com tanta for�a � reclamou mal-humorado, pondo-se de p�. � Doeu. A luz da varinha cintilou em sua careca, seus olhos protuberantes, sua bigodeira prateada que lembrava a de um le�o-marinho e os bot�es muito polidos do roup�o cor de vinho que usava sobre o pijama de seda lil�s. Sua cabe�a mal alcan�ava o queixo de Dumbledore. � Que foi que me denunciou? � resmungou, erguendo-se com dificuldade e ainda esfregando o baixo-ventre. Parecia excepcionalmente descarado para um homem que acabara de ser descoberto fingindo-se de poltrona. � Meu caro Hor�cio � respondeu Dumbledore, parecendo divertir-se �, se realmente os Comensais da Morte lhe tivessem feito uma visita, a Marca Negra teria sido deixada sobre sua casa. O bruxo deu um tapinha na enorme testa. � A Marca Negra � murmurou. � Eu sabia que havia uma coisa... ah, bem. Seja como for, eu n�o teria tido tempo. Tinha acabado de dar os �ltimos retoques no estofamento quando voc� entrou na sala. E deu um profundo suspiro que fez as pontas dos seus bigodes esvoa�arem. � Quer minha ajuda para arrumar a sala? � perguntou Dumbledore educadamente. � Por favor � disse o outro. Eles se postaram de costas um para o outro, o bruxo alto e magro e o baixo e gordo, e acenaram com as varinhas, num gesto amplo e id�ntico. Os m�veis voltaram instantaneamente aos seus lugares; os enfeites se recompuseram no ar; as penas flutuaram para dentro das almofadas; os livros rasgados se emendaram e tomaram seus .lugares nas prateleiras; os candeeiros a �leo voaram para as mesinhas e reacenderam; uma vasta cole��o de molduras de prata quebradas deslocara-se, refulgindo pela sala, e pousara, intacta e polida, com seus respectivos retratos, sobre uma escrivaninha; rasgos, rachaduras e buracos se consertaram por toda parte e as paredes se limparam. � A prop�sito, que tipo de sangue era aquele? � perguntou Dumbledore em voz alta, para abafar o carrilh�o do rel�gio rec�m-consertado. � Nas paredes? Drag�o � gritou o bruxo chamado Hor�cio enquanto o lustre tornava a se prender ao teto, com ensurdecedores ru�dos met�licos. O piano tocou uma nota final, e tudo silenciou. � �, de drag�o � repetiu o bruxo, dando seguimento � conversa. � Meu �ltimo vidro, e os pre�os andam na estratosfera. Mas quem sabe ainda consiga us�-lo? Ele se dirigiu aborrecido ao m�vel em que estava uma garrafinha de cristal e ergueu-a � luz, examinando o l�quido espesso que continha. � Hum. Um pouco de borra. Rep�s a garrafa sobre o m�vel e suspirou. Foi ent�o que seu olhar recaiu sobre Harry. � Oho � exclamou, os grandes olhos redondos fixando a testa de Harry e a cicatriz em forma de raio. � Oho! � Este � disse Dumbledore, adiantando-se para fazer as apresenta��es � � Harry Potter. Harry, este � um velho amigo e colega, Hor�cio Slughorn. O bruxo virou-se para Dumbledore, com uma express�o astuta no olhar. � Ent�o foi assim que voc� pensou que ia me convencer? Pois bem, a resposta � n�o, Alvo. Ele passou por Harry, com o rosto resolutamente virado e o ar de um homem que tenta resistir � tenta��o. � Suponho que pelo menos possamos tomar uma bebida? � perguntou Dumbledore. � Para lembrar os velhos tempos? Slughorn hesitou. � Tudo bem, ent�o, um drinque � concedeu de m� vontade. Dumbledore sorriu para Harry e conduziu-o a uma poltrona parecida com a que Slughorn t�o recentemente encarnara, que ficava ao lado da lareira rec�m-acesa e da luz forte de um candeeiro a �leo. Harry sentou com a n�tida impress�o de que o diretor, por alguma raz�o, queria que ele ficasse bem vis�vel. E acertou. Quando Slughorn, que estivera ocupado com garrafas e copos, se virou de frente para a sala, seus olhos bateram imediatamente em Harry. � Hum � resmungou, desviando os olhos como se tivesse medo de feri-los. � Tome... � Entregou a bebida a Dumbledore, que sentara sem convite, empurrou a bandeja para o garoto e, em seguida, afundou nas almofadas do sof� restaurado, em um sil�ncio contrariado. Suas pernas eram t�o curtas que n�o tocavam o ch�o. � Bem, e como tem andado, Hor�cio? � perguntou Dumbledore. � N�o muito bem � respondeu Slughorn imediatamente. �Fraqueza no peito. Asma. E reumatismo tamb�m. N�o consigo me mexer como antigamente. Bem, � o normal. Velhice. Cansa�o. � Contudo, voc� deve ter se mexido bem r�pido para improvisar aquela recep��o para n�s. N�o deve ter tido mais de tr�s minutos de aviso, n�o �? Slughorn respondeu, entre irritado e orgulhoso: � Dois. N�o ouvi o meu Feiti�o contra Intrusos disparar, estava tomando banho. Ainda assim � acrescentou circunspecto, parecendo se controlar �, o fato � que estou velho, Alvo. Um velho cansado que conquistou o direito a uma vida tranq�ila e a alguns confortos materiais. E esses n�o faltavam, pensou Harry, percorrendo a sala com o olhar. Era abafada e excessivamente atravancada. Ningu�m, por�m, poderia dizer que fosse desconfort�vel; havia poltronas macias e descansos para os p�s, bebidas e livros, caixas de bombons e almofadas fofas. Se Harry n�o soubesse quem morava ali, teria pensado que era uma velhota rica e exigente. � Voc� ainda n�o tem a minha idade, Hor�cio � replicou Dumbledore. � Bem, ent�o voc� tamb�m deveria pensar em se aposentar � disse Slughorn sem rodeios. Seus olhos verde-claros tinham registrado a m�o machucada de Dumbledore. � Estou vendo que as rea��es j� n�o s�o o que eram. � Voc� tem toda a raz�o � respondeu o diretor tranq�ilamente, jogando a manga para tr�s e revelando as pontas dos dedos queimados e enegrecidos; a vis�o fez os p�los da nuca de Harry se eri�arem desagradavelmente. � Sem d�vida, estou mais lento. Mas por outro lado... Ele sacudiu os ombros e espalmou as m�os, como se dissesse que a idade trazia compensa��es, e Harry notou um anel, na m�o machucada, que nunca vira Dumbledore usar: era grande e inc�modo, aparentemente de ouro, engastado com uma pesada pedra negra que parecia rachada ao meio. O olhar de Slughorn se demorou um momento na pedra tamb�m, e Harry percebeu uma pequena ruga marcar momentaneamente a larga testa. � Ent�o, todas essas precau��es contra intrusos, Hor�cio... s�o para segurar os Comensais da Morte ou a mim? � perguntou Dumbledore. � Que � que os Comensais da Morte iriam querer com um velhote incompetente e alquebrado como eu? � Imagino que iriam querer que voc� empregasse o seu consider�vel talento para coagir, torturar e matar. Voc� est� realmente me dizendo que eles ainda n�o vieram recrut�-lo? Por um momento Slughorn encarou Dumbledore com hostilidade, ent�o murmurou: � N�o lhes dei chance. N�o parei de viajar nesse �ltimo ano. Nunca me demoro mais de uma semana no mesmo lugar. Mudo de uma casa de trouxa para outra, os donos desta casa est�o de f�rias nas ilhas Can�rias. Tem sido muito agrad�vel, terei pena de partir. � bem f�cil uma vez que se aprende, um simples Feiti�o Paralisante nesses absurdos alarmes que usam em vez de bisbilhosc�pios garante que os vizinhos n�o vejam ningu�m entrar carregando um piano. � Engenhoso. Mas est� me parecendo muito cansativo para um velhote incompetente e alquebrado que procura uma vida calma. Agora, se voc� retornasse a Hogwarts... � Se voc� vai me dizer que eu teria mais paz naquela escola pestilenta, pode poupar o seu f�lego, Alvo! Eu posso estar me escondendo, mas chegaram aos meus ouvidos uns boatos engra�ados desde que a Dolores Umbridge saiu! Se � assim que voc� agora est� tratando os professores... � A professora Umbridge se meteu em confus�es com o nosso rebanho de centauros � disse Dumbledore. � Acho que voc�, Hor�cio, teria tido o bom senso de n�o entrar na Floresta e chamar uma horda de centauros de "mesti�os nojentos". � Ent�o foi isso que ela fez? Que mulher idiota! Jamais gostei dela. Harry riu baixinho, e os dois bruxos se viraram para ele. � Desculpem � apressou-se o garoto a dizer. � � que... eu tamb�m n�o gostava dela. Dumbledore levantou-se de repente. � Voc� j� est� indo? � perguntou Slughorn depressa, esperan�oso. � N�o, ser� que eu poderia usar o seu banheiro? � Ah � respondeu Slughorn, visivelmente desapontado. � Segunda porta � esquerda, seguindo pelo corredor. Dumbledore atravessou a sala. Depois que fechou a porta ao passar, fez-se sil�ncio. Logo em seguida, Slughorn se levantou, mas pareceu n�o saber muito bem o que fazer. Lan�ou um olhar furtivo a Harry, foi at� a lareira e virou-se de costas para aquecer seu grande traseiro. � N�o pense que n�o sei por que ele o trouxe at� aqui � disse bruscamente. Harry apenas olhou para Slughorn. Os olhos lacrimosos do bruxo deslizaram pela cicatriz do garoto, desta vez examinando-lhe todo o rosto. � Voc� se parece muito com o seu pai. � � o que dizem. � Exceto nos olhos. Voc� tem... � Os olhos de minha m�e, eu sei. � Harry j� ouvira esse coment�rio tantas vezes que o achava aborrecido. � Hum-hum. Bem. Um professor n�o devia ter alunos favoritos, mas ela era um dos meus. Sua m�e � acrescentou Slughorn em resposta ao olhar de indaga��o de Harry. � L�lian Evans. Uma das mais inteligentes a quem lecionei. Viva, sabe. Uma menina encantadora. Eu costumava dizer a ela que deveria ter ido para a minha Casa. E, sabe, costumava me dar respostas petulantes. � Qual era a sua Casa? � Eu era diretor da Sonserina. Ah, vamos � apressou-se a dizer, vendo a express�o no rosto de Harry, apontando o dedo em riste para o garoto �, n�o deixe que isto o influencie contra mim! Voc� deve ser da Grifin�ria como ela, n�o? �, em geral, est� no sangue. Mas nem sempre. J� ouviu falar de Sirius Black? Deve ter ouvido... tem sido not�cia de jornal nos �ltimos dois anos... morreu faz umas semanas... Foi como se uma garra invis�vel tivesse torcido e apertado os intestinos de Harry. � Bem, em todo caso, foi um grande companheiro do seu pai na escola. Toda a fam�lia Black pertenceu � minha casa, mas Sirius acabou na Grifin�ria! Uma vergonha... era um garoto talentoso. Fiquei com o irm�o dele, Regulo, quando apareceu, mas eu teria preferido a fam�lia toda. Ele falava como se fosse um colecionador entusiasmado que tivesse perdido um lance em um leil�o. Olhava para a parede oposta, parecendo absorto em lembran�as, girando o corpo lentamente, sem sair do lugar, para permitir um aquecimento uniforme do traseiro. � Sua m�e, naturalmente, nasceu trouxa. N�o consegui acreditar quando soube. Eu achava que devia ser puro-sangue, era t�o inteligente! � Uma das minhas melhores amigas � trouxa � comentou Harry �, e � a melhor aluna da nossa s�rie. � Engra�ado como isso �s vezes acontece, n�o �? � N�o acho � retrucou Harry friamente. Slughorn olhou para ele surpreso. � Voc� n�o deve pensar que sou preconceituoso! N�o, n�o e n�o! N�o acabei de dizer que sua m�e foi uma das minhas alunas favoritas? E tive tamb�m Dirk Cresswell, uma s�rie acima, agora chefe da Se��o de Liga��o com os Duendes, naturalmente, outro trouxa, um estudante muito bom que ainda hoje me passa excelentes informa��es sobre o que acontece internamente no Gringotes! O bruxo mexeu-se um pouco para cima e para baixo, sorrindo satisfeito consigo mesmo, e apontou para as muitas fotografias em molduras reluzentes sobre o aparador, cada qual com pequeninos ocupantes agitados. � S�o todas de ex-alunos, todas com dedicat�rias. Voc� pode ver Barnab�s Cuffe, editor do Profeta Di�rio, sempre interessado em conhecer a minha leitura das not�cias do dia. E Ambr�sio Flume, da Dedosdemel, um cest�o todo anivers�rio, e tudo porque o apresentei a C�cero Harkiss, que lhe deu o primeiro emprego! E mais atr�s... pode v�-la, se esticar o pesco�o... Gwenog Jones, que � a capita do Harpias de Holyhead... as pessoas sempre se surpreendem quando me ouvem chamando os jogadores do Harpias pelo primeiro nome, e ganho entradas gr�tis sempre que quero! Este pensamento pareceu anim�-lo enormemente. � E todas essas pessoas sabem onde encontrar o senhor para lhe mandar presentes? � perguntou Harry, que n�o p�de deixar de se perguntar por que os Comensais da Morte ainda n�o tinham rastreado Slughorn se cestas de doces, bilhetes de quadribol e visitantes desejosos de ouvir seus conselhos e opini�es conseguiam encontr�-lo. O sorriso desapareceu do rosto de Slughorn com a mesma rapidez que o sangue das paredes da sala. � Claro que n�o � protestou, olhando para Harry. � H� um ano que n�o tenho contato com ningu�m. Harry teve a impress�o de que Slughorn se chocara com o que tinha acabado de dizer; por um momento pareceu bastante perturbado. Depois sacudiu os ombros. � Entretanto... o bruxo prudente procura n�o deixar a cabe�a de fora em tempos como esses. Dumbledore pode dizer o que quiser, mas aceitar um cargo em Hogwarts agora seria o mesmo que declarar publicamente a minha lealdade � Ordem da F�nix! E, embora eu acredite que eles sejam admir�veis e corajosos e tudo o mais, n�o me agrada muito o seu �ndice de mortalidade. � O senhor n�o precisa pertencer � Ordem para ensinar em Hogwarts � respondeu Harry, que n�o conseguiu esconder um tom de desd�m na voz; era dif�cil simpatizar com a vida cheia de confortos de Slughorn quando se lembrava de Sirius, escondido em uma gruta, se alimentando de ratos. � A maioria dos professores n�o pertence, e nenhum deles foi morto... bem, a n�o ser que o senhor esteja contando Quirrell, mas ele recebeu o que merecia, considerando que trabalhava para o Voldemort. Harry tinha certeza de que Slughorn era um daqueles bruxos que n�o suportavam ouvir o nome de Voldemort em alto e bom som, e n�o se desapontou: Slughorn estremeceu e soltou um grasnido de protesto, a que o garoto n�o deu aten��o. � Imagino que os funcion�rios estar�o mais seguros que a maioria das pessoas enquanto Dumbledore for diretor; acredita-se que ele seja o �nico de quem Voldemort tem medo, n�o �? � continuou Harry. Por uns momentos o olhar de Slughorn pareceu distante: provavelmente refletia sobre as palavras do garoto. � Bem, � verdade que Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado nunca procurou lutar com Dumbledore � murmurou contrafeito. � E imagino que algu�m possa argumentar que se n�o me uni aos Comensais da Morte, tampouco Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado pode me incluir entre seus amigos... caso em que eu talvez estivesse mais seguro perto de Alvo... n�o posso fingir que a morte de Am�lia Bon�s n�o tenha me abalado... se ela, com todos os seus contatos e prote��o no Minist�rio... Dumbledore voltou � sala, sobressaltando Slughorn, que parecia ter esquecido que o amigo estava na casa. � Ah, a� est�, Alvo. Ausentou-se por um bom tempo. Ruim do est�mago? � N�o, estava apenas lendo revistas trouxas. Adoro as receitas de tric�. Bem, Harry, j� abusamos demais da hospitalidade do Hor�cio; acho que est� na hora de partir. N�o demonstrando a menor relut�ncia em obedecer, Harry pulou da poltrona. Slughorn ficou surpreso. � Voc�s j� est�o indo? � Estamos. Acho que sei reconhecer uma causa perdida quando a vejo. � Perdida...? Slughorn pareceu nervoso. Girou os polegares gordos e agitou-se enquanto observava Dumbledore abotoar a capa de viagem e Harry fechar o blus�o. � Bem, lamento que n�o queira o emprego, Hor�cio � disse Dumbledore, erguendo a m�o perfeita em um gesto de adeus. �Hogwarts teria se alegrado com o seu retorno. Apesar das medidas mais rigorosas de seguran�a que tomamos, voc� ser� sempre bem-vindo se quiser nos visitar. � Ah... bem... muito gentil... como digo... � Adeus, ent�o. � Tchau � disse Harry. Estavam � porta da casa quando ouviram um grito �s suas costas. � Muito bem, muito bem, eu vou! Dumbledore virou-se e viu Slughorn ofegante � porta da sala de estar. � Vai interromper a aposentadoria? � Vou, vou � respondeu Slughorn impaciente. � Devo estar louco, mas vou. � Maravilhoso � disse um sorridente Dumbledore. � Ent�o, Hor�cio, veremos voc� no primeiro dia de setembro. � Com certeza ver�o � resmungou Slughorn. Quando os visitantes j� atravessavam o jardim, a voz de Slughorn acompanhou-os. � Vou querer um aumento no sal�rio, Dumbledore! O diretor riu baixinho. O port�o do jardim se fechou, e eles come�aram a descer a ladeira em meio ao torvelinho de n�voa escura. � Muito bom, Harry � elogiou Dumbledore. � Eu n�o fiz nada � respondeu Harry, surpreso. � Ah, fez, sim. Mostrou ao Hor�cio exatamente o que ele tem a ganhar se retornar a Hogwarts. Voc� gostou dele? � ��h... Harry n�o tinha certeza se tinha gostado ou n�o de Slughorn. Supunha que o bruxo fora agrad�vel a seu jeito, mas tamb�m lhe parecera vaidoso e, apesar dos seus protestos, demasiado surpreso que algu�m nascido trouxa pudesse dar um bom bruxo. � Hor�cio � disse Dumbledore, aliviando Harry da responsabilidade de opinar � gosta de conforto. E tamb�m gosta da companhia dos famosos, bem-sucedidos e poderosos. Gosta de sentir que influencia essas pessoas. Nunca quis ocupar o trono; preferiu ficar em segundo plano, onde tem mais espa�o para se espalhar, entende. Costumava escolher a dedo os seus favoritos em Hogwarts, �s vezes por suas ambi��es ou intelig�ncia, outras por seu encanto ou talento, e tinha uma habilidade incr�vel de eleger os que futuramente se tornariam excepcionais em seus campos. Hor�cio formou uma esp�cie de clube de favoritos em torno dele, fazendo apresenta��es, promovendo contatos �teis entre os membros e sempre colhendo algum tipo de benef�cio, fosse uma caixa de seu abacaxi cristalizado preferido ou uma oportunidade de recomendar o pr�ximo funcion�rio j�nior para a Se��o de Liga��o com os Duendes. Ocorreu a Harry a n�tida imagem de uma grande aranha inchada, tecendo a teia em torno dele, torcendo um fio aqui e outro ali para trazer mais perto suas moscas gordas e sumarentas. � Digo tudo isso � continuou Dumbledore � n�o para indispor voc� contra Hor�cio, ou como o chamaremos de hoje em diante, professor Slughorn, mas para alert�-lo. Ele certamente tentar� alici�-lo, Harry. Voc� seria o diamante da cole��o dele: O-Menino-Que-Sobreviveu... ou como o chamam ultimamente, o Eleito. Ao ouvir isso, Harry sentiu um arrepio que n�o tinha rela��o com a n�voa que os cercava. Lembrou-se das palavras que ouvira havia algumas semanas, palavras que para ele tinham um significado terr�vel e particular. Nenhum dos dois pode viver enquanto o outro sobreviver... Dumbledore parar� em frente � igreja pela qual tinham passado mais cedo. � Aqui est� bom, Harry. Se voc� puder segurar o meu bra�o. Experiente, desta vez, Harry n�o se esquivou da Aparata��o, embora continuasse a ach�-la desagrad�vel. Quando a press�o cessou, e ele sentiu que conseguia respirar de novo, estava parado em uma estrada rural ao lado de Dumbledore, diante da silhueta torta do segundo pr�dio de que mais gostava no mundo: A Toca. Apesar do medo que acabara de experimentar, n�o podia deixar de se animar � vista da casa. Rony estava ali dentro... e tamb�m a Sra. Weasley que cozinhava melhor do que qualquer outra pessoa que ele conhecia... � Se n�o se importar, Harry � disse Dumbledore, ao cruzarem o port�o �, gostaria de dar umas palavrinhas com voc� antes de nos despedirmos. Em particular. Talvez ali? O diretor apontou para uma casinha de pedra desmantelada onde os Weasley guardavam as vassouras. Um pouco intrigado, Harry acompanhou o bruxo e entraram por uma porta rangedora em um espa�o menor do que um guarda-roupa normal. Dumbledore acendeu a ponta da varinha, fazendo-a brilhar como um archote, e sorriu para Harry. � Espero que me perdoe por dizer isto, Harry, mas estou contente e at� orgulhoso com o seu comportamento depois de tudo que aconteceu no Minist�rio. Permita-me dizer que Sirius teria sentido admira��o por voc�. Harry engoliu em seco; sua voz parecia t�-lo abandonado. Achava que n�o suportaria discutir Sirius. J� fora bastante doloroso ouvir o tio V�lter se admirar, "O padrinho dele morreu?", e mais doloroso ainda ouvir o nome de Sirius dito displicentemente por Slughorn. � Foi cruel � disse Dumbledore baixinho � que voc� e Sirius tivessem convivido t�o pouco tempo. Um fim brutal para o que poderia ter sido uma amizade feliz e duradoura. Harry concordou com a cabe�a, seus olhos resolutamente fixos na aranha que agora subia pelo chap�u do diretor. Sentia que Dumbledore compreendia, e mesmo suspeitava que, at� a chegada de sua carta, ele tivesse passado quase todo o tempo deitado na cama, em casa dos Dursley, se recusando a comer, com os olhos fixos na janela enevoada, tomado pelo vazio g�lido que passara a associar com os dementadores. � � duro � disse Harry finalmente, em voz baixa � saber que ele n�o escrever� mais para mim. Seus olhos arderam de repente, e ele piscou. Sentiu-se idiota admitindo isso, mas o fato de ter algu�m fora de Hogwarts que se importava com o que lhe acontecia, quase como um parente, tinha sido uma das melhores coisas de ter aquele padrinho... e agora a chegada do correio-coruja nunca mais o confortaria... � Sirius representou muita coisa que voc� n�o tinha conhecido antes � disse Dumbledore com suavidade. � Naturalmente, a perda � devastadora. � Mas enquanto estava na casa dos Dursley � interrompeu Harry, sua voz tornando-se mais firme � percebi que n�o posso me isolar de tudo, sen�o vou ficar maluco. Sirius n�o teria gostado disso, n�o �? De qualquer jeito, a vida � curta demais... v� a Madame Bon�s, v� a Emelina Vance... eu poderia ser o pr�ximo, n�o �? Mas, se eu for �disse com ferocidade, agora encarando os olhos azuis de Dumbledore, brilhando � luz da varinha �, vou fazer quest�o de levar comigo o maior n�mero de Comensais da Morte que puder, e Voldemort tamb�m, se tiver for�as. � Voc� falou como filho de L�lian e Tiago e um leg�timo afilhado de Sirius! � disse Dumbledore dando uma palmadinha de aprova��o em suas costas. � Tiro o chap�u para voc�, ou tiraria se n�o fosse o receio de provocar uma chuva de aranhas em sua cabe�a. E agora, Harry, falando de outro assunto muito pr�ximo... imagino que voc� tenha recebido O Profeta Di�rio nessas duas �ltimas semanas? � Recebi. � Seu cora��o acelerou um pouquinho. � Ent�o deve ter visto que houve n�o s� vazamentos mas verdadeiras inunda��es sobre a sua aventura na Sala da Profecia? Harry confirmou. � E agora todo o mundo sabe que eu sou o... � N�o, n�o sabe � interrompeu Dumbledore. � S� h� duas pessoas no mundo inteiro que conhecem toda a profecia sobre voc� e Lord Voldemort, e as duas est�o aqui neste barraco de vassouras, malcheiroso e cheio de aranhas. � verdade, por�m, que muita gente adivinhou corretamente que Voldemort mandou os seus Comensais da Morte roubarem a profecia, e que ela se referia a voc�. "Agora, acho que estou certo em pensar que voc� n�o contou a nenhum conhecido seu o que dizia a profecia?" � Est� � respondeu Harry. � Uma decis�o sensata em termos gerais. Embora eu ache que pode abrand�-la em favor dos seus amigos, o sr. Ronald Weasley e a srta. Hermione Granger. Sim � continuou o diretor, ao ver Harry se espantar �, acho que eles devem saber. Seria um desservi�o aos seus amigos se n�o contasse a eles uma coisa t�o importante. � Eu n�o queria... � Preocupar ou assustar os dois? � disse Dumbledore, estudando Harry por cima dos oclinhos de meia-lua. � Ou talvez admitir que est� preocupado e assustado? Voc� precisa dos seus amigos, Harry. E, como disse com tanto acerto, Sirius n�o teria querido que voc� se isolasse. Harry n�o respondeu, mas Dumbledore n�o precisava, de fato, de uma resposta. Prosseguiu: � Sobre um assunto diferente, mas correlato, este ano quero que tenha aulas particulares comigo. � Particulares... com o senhor? � repetiu Harry, surpreso, quebrando o seu sil�ncio tenso. � �. Acho que est� na hora de participar mais da sua educa��o. � Que � que o senhor vai me ensinar? � Uma coisa aqui e outra ali � respondeu Dumbledore vagamente. Harry aguardou, esperan�oso, mas o diretor n�o explicou; ent�o aproveitou para perguntar uma coisa que o preocupava havia algum tempo. � Se vou ter aulas com o senhor, n�o terei de freq�entar aulas de Oclum�ncia com Snape, terei? � Professor Snape, Harry... e n�o, n�o ter�. � Que bom � exclamou Harry aliviado �, porque elas foram um... E parou, cuidando para n�o dizer o que realmente pensava. � Acho que a palavra "fiasco" caberia bem � sugeriu Dumbledore, assentindo com a cabe�a. Harry riu. � Bem, isto quer dizer que de agora em diante n�o verei o professor Snape muitas vezes, porque ele n�o vai me deixar continuar em Po��es a n�o ser que eu tire um "�timo" nos meus N.O.M.s, e sei que n�o tirei. � N�o conte com os ovos que as corujas ainda n�o botaram � disse Dumbledore sentencioso. � O que, se n�o me engano, deve acontecer ainda hoje. Agora, mais duas coisas antes de nos separarmos. "Primeiro, quero que, a partir deste momento, carregue sempre a Capa da Invisibilidade com voc�. At� mesmo em Hogwarts. S� para se precaver, est� me entendendo?" Harry confirmou com a cabe�a. � E, por �ltimo, enquanto estiver aqui, A Toca estar� recebendo a maior seguran�a que o Minist�rio da Magia pode oferecer. Isto causou uma certa inconveni�ncia a Arthur e Molly; toda a correspond�ncia deles, por exemplo, � verificada pelo Minist�rio antes de ser entregue. Eles n�o se incomodam, porque a �nica preocupa��o que t�m � a sua seguran�a. Mas seria uma p�ssima retribui��o se voc� arriscasse seu pesco�o enquanto estiver aqui. � Entendo � apressou-se Harry a dizer. � Muito bem, ent�o � disse Dumbledore, abrindo a porta do barraco de vassouras e saindo. � Vejo luz na cozinha. N�o vamos privar Molly, nem mais um instante, da oportunidade de lamentar como voc� est� magro. CAPITULO CINCO FLEUMA DEMAIS HARRY E DUMBLEDORE SE APROXIMARAM da porta dos fundos d'A Toca, cercada pela tralha habitual de botas velhas e caldeir�es enferrujados; Harry ouviu o cacarejo abafado de galinhas sonolentas vindo de um telheiro distante. Dumbledore bateu tr�s vezes, e Harry percebeu um movimento repentino por tr�s da janela da cozinha. � Quem �? � perguntou uma voz nervosa, que ele reconheceu ser a da Sra. Weasley. � Identifique-se! � Dumbledore trazendo Harry. A porta se abriu imediatamente. E apareceu a dona da casa, baixa e gorducha, usando um velho robe verde. � Harry, querido! Nossa, Alvo, voc� me assustou, n�o disse para n�o esperar voc�s antes de amanhecer? � Tivemos sorte � disse o diretor, fazendo Harry entrar. �Slugborn foi mais f�cil de persuadir do que imaginei. Um feito de Harry, � claro. Ah, ol�, Ninfadora! Harry se virou e viu que a Sra. Weasley n�o estava sozinha, apesar da hora tardia. Uma jovem bruxa de rosto p�lido, em forma de cora��o, e cabelos castanhos sem vida, estava sentada � mesa segurando uma caneca entre as m�os. � Ol�, professor. E a�, beleza, Harry? � Oi, Tonks. Harry achou que ela parecia muito cansada, e at� doente, e que havia algo for�ado em seu sorriso. Sem d�vida, sua apar�ncia estava mais desbotada do que de costume, sem os cabelos rosa-chiclete. � � melhor eu ir andando � disse depressa, levantando-se e cobrindo os ombros com a capa. � Obrigada pelo ch� e a simpatia, Molly. � Por favor, n�o v� embora por minha causa � disse Dumbledore gentilmente. � N�o posso ficar, tenho assuntos urgentes a tratar com Rufo Scrimgeour. � N�o, n�o, preciso ir mesmo � respondeu Tonks, sem retribuir o olhar de Dumbledore. � Noite... � Querida, por que n�o vem jantar no fim de semana, Remo e Olho-Tonto vir�o...? � S�rio, Molly, n�o... mas, obrigada assim mesmo... boa-noite para todos. Tonks passou ligeira por Dumbledore e Harry, e saiu para o quintal; a alguns passos da porta, rodopiou e desapareceu no ar. Harry reparou que a Sra. Weasley parecia preocupada. � Bem, verei voc� em Hogwarts, Harry � despediu-se Dumbledore. � Cuide-se bem. Molly, �s suas ordens. Ele fez uma rever�ncia � Sra. Weasley e saiu atr�s de Tonks, desaparecendo exatamente no mesmo lugar. A Sra. Weasley fechou a porta para o quintal vazio, segurou Harry pelos ombros e o conduziu at� a luz do candeeiro sobre a mesa para v�-lo melhor. � Voc� � igual ao Rony � suspirou ela olhando-o de cima a baixo. � Parece que algu�m lan�ou em voc�s um Feiti�o Esticador. Juro que Rony cresceu dez cent�metros desde a �ltima vez que comprei uniformes para ele. Est� com fome, Harry? � Estou � confirmou o garoto, percebendo de repente que estava faminto. � Sente-se, querido, vou preparar alguma coisa. Quando Harry sentou, um gato peludo e ru�o, de cara amassada, pulou para os seus joelhos e se acomodou ali, ronronando. � Ent�o a Hermione est� aqui? � perguntou Harry contente, fazendo c�cegas atr�s da orelha do Bichento. � Ah, est�, chegou anteontem � respondeu a Sra. Weasley, batendo com a varinha em um panel�o de ferro, que aterrissou no fog�o com um baque sonoro e come�ou imediatamente a borbulhar. � � claro que todos j� foram dormir, s� esper�vamos voc�s amanh�. Pronto... Ela deu outra batida na panela que se ergueu no ar, voou at� Harry e se inclinou; a Sra. Weasley encaixou sob a panela uma tigela bem em tempo de aparar o caldo grosso e fumegante da sopa de cebola. � P�o, querido? � Obrigado, Sra. Weasley. Ela acenou a varinha por cima do ombro: um p�o e uma faca voaram graciosamente at� a mesa. Quando o p�o se fatiou e a panela de sopa voltou ao fog�o, a bruxa sentou diante do garoto. � Ent�o foi voc� que convenceu Hor�cio Slughorn a aceitar o emprego? Harry confirmou com a cabe�a, a boca t�o cheia de sopa quente que n�o conseguia falar. � Ele foi nosso professor, meu e de Arthur. Esteve um temp�o em Hogwarts, come�ou mais ou menos na mesma �poca que Dumbledore, acho. Voc� gostou dele? Agora com a boca cheia de p�o, Harry encolheu os ombros e acenou a cabe�a com indiferen�a. � Sei o que quer dizer � tornou a Sra. Weasley, confirmando, s�ria. � � claro que ele sabe ser charmoso quando quer, mas Arthur jamais gostou muito dele. O Minist�rio est� cheio de antigos favoritos de Slughorn, sempre os ajudou a subir na vida, mas nunca teve muito tempo para Arthur, talvez n�o achasse que ele chegaria t�o longe. Bom, o que mostra que at� Slughorn se engana. N�o sei se Rony lhe contou em alguma carta, acabou de acontecer, mas Arthur foi promovido! N�o poderia ser mais evidente que a Sra. Weasley estava doida para contar a novidade. Harry engoliu uma grande bocada de sopa escaldante e teve a sensa��o de que sua garganta estava empolando. � Que m�ximo! � ofegou. � Voc� � muito gentil � disse sorrindo a sra. Weasley, possivelmente tomando as l�grimas nos olhos de Harry por emo��o com a not�cia. � Sim, Rufo Scrimgeour criou v�rias se��es novas para enfrentar a situa��o atual, e Arthur est� chefiando a Se��o para Detec��o e Confisco de Feiti�os Defensivos e Objetos de Prote��o Forjados. � um trabalho de grande peso, e ele agora tem dez subordinados! � Que � exatamente... ? � Bem, sabe, com todo esse p�nico gerado por Voc�-Sabe-Quem, est�o aparecendo objetos estranhos � venda, coisas que dizem proteger a pessoa contra Voc�-Sabe-Quem e os Comensais da Morte. Voc� pode imaginar que tipo de coisa: po��es protetoras, que na realidade s�o molho com um pouco de pus de bubot�beras, ou instru��es para feiti�os defensivos que fazem as orelhas ca�rem... bem, os respons�veis principais s�o gente como Mundungo Fletcher, que nunca trabalhou honestamente um s� dia na vida, e que se aproveita do pavor das pessoas; mas de vez em quando aparece alguma coisa realmente perigosa. Ainda outro dia, Arthur confiscou uma caixa de bisbilhosc�pios enfeiti�ados, muito provavelmente plantados por um Comensal da Morte. Ent�o, como voc� v�, � um trabalho muito importante, e vivo dizendo a ele que � uma bobagem sentir falta das velas para motores e torradeiras e toda aquela quinquilharia dos trouxas com que se ocupava. � A Sra. Weasley encerrou seu discurso com um olhar severo, como se Harry � quem tivesse sugerido que era natural sentir falta de velas. � O Sr. Weasley ainda est� no trabalho? � indagou Harry. � Est�. Ali�s est� um pouquinho atrasado... me disse que estaria em casa por volta da meianoite... Molly se virou para olhar um grande rel�gio mal equilibrado em cima de uma pilha de len��is no cesto de roupas deixado na ponta da mesa. Harry reconheceu-o imediatamente: tinha nove ponteiros, cada um deles com o nome de um membro da fam�lia, e costumava ficar pendurado em uma parede na sala de estar dos Weasley. Sua posi��o atual, por�m, indicava que a Sra. Weasley passara a carreg�-lo com ela por toda a casa. No momento, os nove ponteiros apontavam para perigo mortal. � Ele tem estado assim � explicou a sra. Weasley em um tom descontra�do, muito pouco convincente � desde que Voc�-Sabe-Quem saiu da clandestinidade. Suponho que todo o mundo esteja correndo perigo mortal... acho que n�o pode ser s� a nossa fam�lia... mas n�o conhe�o ningu�m que tenha um rel�gio igual, por isso n�o posso verificar. Ah! Com uma exclama��o repentina, ela apontou para o mostrador do rel�gio. O ponteiro do Sr. Weasley se movera para "em tr�nsito". � Ele est� a caminho! E, confirmando, um instante depois ouviu-se uma batida na porta dos fundos. A Sra. Weasley levantou-se depressa e correu a atend�-la. Com uma das m�os na ma�aneta e o rosto encostado na madeira, perguntou baixinho: � Arthur, � voc�? � Sou � tornou a voz cansada do Sr. Weasley. � Mas eu diria isto, querida, mesmo que fosse um Comensal da Morte. Fa�a a pergunta correta! � Ah, francamente... � Molly! � Est� bem, est� bem... qual � a maior ambi��o de sua vida? � Descobrir como os avi�es se sustentam no ar. A Sra. Weasley assentiu e girou a ma�aneta, mas pelo visto o sr. Weasley estava segurandoa com firmeza pelo outro lado, porque a porta continuou fechada. � Molly! Sou em quem pergunta primeiro! � Arthur, realmente, que tolice... � Como � que voc� gosta que eu a chame quando estamos sozinhos? Mesmo � luz fraca do candeeiro, deu para Harry ver que a Sra. Weasley ficara muito vermelha; ele pr�prio sentiu um calor em torno das orelhas e do pesco�o, e engoliu a sopa depressa, batendo com a colher na tigela o mais alto que p�de. � Moliu�li � sussurrou a mortificada Sra. Weasley pela fresta da porta. � Correto � disse o Sr. Weasley. � Agora pode me deixar entrar. A Sra. Weasley abriu a porta revelando o marido, um bruxo magro, os cabelos ruivos j� rareando, �culos de aros de tartaruga e uma longa capa de viagem empoeirada. � Continuo sem entender por que temos de fazer isso todas as vezes que voc� chega em. casa � protestou a Sra. Weasley, com o rosto ainda corado, ajudando o marido a tirar a capa. � Quero dizer, um Comensal da Morte poderia ter obrigado voc� a dar a resposta antes de se disfar�ar! � Eu sei, querida, mas s�o as regras do Minist�rio, e tenho de dar o exemplo. Estou sentindo um cheiro bom: sopa de cebola? O Sr. Weasley virou-se esperan�oso na dire��o da mesa. � Harry! S� esper�vamos voc� amanh�! Os dois se apertaram as m�os, e o Sr. Weasley se largou em uma cadeira ao lado de Harry enquanto sua mulher punha uma tigela de sopa para ele tamb�m. � Obrigado, Molly. Foi uma noite pesada. Um idiota come�ou a vender Medalhas- Metam�rficas. A pessoa pendura uma no pesco�o e pode mudar de apar�ncia � vontade. Cem mil disfarces por dez gale�es! � E o que realmente acontece quando se pendura a medalha? � A maioria das pessoas fica com uma feia cor alaranjada, mas em outras surgem verrugas em forma de tent�culos no corpo inteiro. Como se o St. Mungus j� n�o tivesse muito o que fazer. � Est� me parecendo o tipo de coisa que Fred e Jorge achariam engra�ado � comentou a Sra. Weasley hesitante. � Voc� tem certeza... � Claro que tenho! Os meninos n�o fariam uma coisa dessas justamente agora que as pessoas est�o desesperadas para se proteger! � Ent�o foi por isso que voc� se atrasou, Medalhas-Metam�rficas? � N�o, soubemos de um Feiti�o �s Avessas, em Elephant and Castle, mas, felizmente, quando chegamos l�, o Esquadr�o de Execu��o das Leis da Magia j� tinha resolvido o caso... Harry ergueu a m�o para abafar um bocejo. � Cama � disse uma Sra. Weasley sem se deixar enganar. � J� arrumei o quarto de Fred e Jorge para voc�, ser� todo seu. � Por que, aonde eles foram? � Ah, est�o no beco Diagonal, dormindo no apartamentinho em cima da loja de logros, porque est�o muito ocupados � disse a Sra. Weasley. � Confesso que a princ�pio n�o aprovei, mas realmente parecem ter jeito para o neg�cio! Vamos, querido, o seu mal�o j� est� l� em cima. � Noite, Sr. Weasley � disse Harry, recuando a cadeira. Bichento saltou com leveza de seu colo e desapareceu da cozinha. � B'noite, Harry. O garoto viu a Sra. Weasley olhar para o rel�gio no cesto de roupas quando sa�ram da cozinha. Todos os ponteiros estavam mais uma vez marcando perigo mortal. O quarto de Fred e Jorge era no segundo andar. A Sra. Weasley apontou a varinha para uma l�mpada na mesinha-de-cabeceira e imediatamente ela acendeu, inundando o quarto com uma agrad�vel claridade dourada. Embora houvesse um grande vaso de flores sobre uma escrivaninha diante de uma pequena janela, seu perfume n�o conseguia disfar�ar o cheiro que impregnava o quarto e que, para Harry, era de p�lvora. Uma grande parte do ch�o estava ocupada por v�rias caixas de papel�o lacradas, mas sem identifica��o, entre as quais se encontrava o mal�o de Harry. Aparentemente o quarto estava sendo usado como um dep�sito provis�rio. Edwiges piou alegremente em seu poleiro em cima de um grande guarda-roupa, e em seguida saiu voando pela janela; Harry sabia que a coruja estava esperando para v�-lo antes de sair � ca�a. Harry desejou boa noite � Sra. Weasley, vestiu o pijama e se meteu entre as cobertas de uma das camas. Havia um objeto duro na fronha. Ele apalpou-a por dentro e puxou um doce pegajoso, roxo e laranja, que reconheceu como Vomitilha. Sorrindo, virou-se para o outro lado e adormeceu instantaneamente. Segundos depois, ou assim pareceu a Harry, ele acordou com tiros que imaginou serem de canh�o, ao mesmo tempo que a porta se escancarava. Ao sentar-se na cama, ouviu algu�m abrindo as cortinas: era como se a claridade ofuscante do sol lhe golpeasse os olhos com for�a. Protegendo-os com uma das m�os, ele tateou inutilmente com a outra, � procura dos �culos. � Que � isso? � N�s n�o sab�amos que voc� j� estava aqui! � disse urna voz alta e excitada, e Harry sentiu um soco no cocuruto da cabe�a. � Rony, n�o bata nele! � ralhou uma voz de garota. Harry encontrou os �culos e colocou-os, embora o excesso de claridade n�o lhe permitisse enxergar quase nada. Um vulto longo agigantou-se � sua frente por um momento; ele piscou e Rony Weasley entrou em foco, sorrindo. � Tudo bem? � Nunca estive melhor � respondeu Harry, esfregando o cocuruto e se largando em cima dos travesseiros. � Voc�? � Nada mal � replicou o amigo, puxando uma caixa e sentando-se nela. � Quando foi que voc� chegou? Mam�e acabou de nos contar! � Mais ou menos � uma hora da manh�. � Foi tudo bem com os trouxas? Trataram voc� direito? � Do jeito de sempre � respondeu Harry, enquanto Hermione se empoleirava na beira da cama. � N�o falaram muito comigo, mas gosto mais assim. E voc� como vai, Mione? � Ah, estou �tima � respondeu a garota, que o examinava atentamente, como se ele estivesse doente. Harry achava que sabia o porqu� e, como n�o tinha o menor desejo de discutir a morte de Sirius ou qualquer outro assunto triste naquele momento, perguntou: � Que horas s�o? Perdi o caf� da manh�? � N�o se preocupe, mam�e est� trazendo uma bandeja para voc�; ela acha que est� desnutrido � tranq�ilizou-o Rony, revirando os olhos para o teto. � Ent�o, quais s�o as novidades? � Muito poucas, at� agora estive encalhado na casa dos meus tios, n�o �? � Fala s�rio, cara! � exclamou Rony. � Voc� esteve viajando com Dumbledore! � N�o foi t�o excitante assim. Ele s� queria que eu convencesse um antigo professor a interromper a aposentadoria. Um tal Hor�cio Slughorn. � Ah. � Rony pareceu desapontado. � Pensamos que... Hermione lan�ou-lhe um olhar de advert�ncia, e na mesma hora Rony mudou de assunto. � ... pensamos que poderia ser uma coisa dessas. � Pensaram? � Harry achou gra�a. � �... �, j� que a Umbridge foi embora, � �bvio que precisaremos de um novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas, n�o acha? Ent�o, hum, como � que ele �? � Lembra um pouco um le�o-marinho e foi diretor da Sonserina � informou Harry. � Alguma coisa errada, Hermione? A garota observava o amigo como se esperasse que ele manifestasse sintomas estranhos a qualquer instante. Mas se recomp�s depressa e deu um sorriso nada convincente. � N�o, claro que n�o! E a�, voc� acha que o Slughorn vai dar um bom professor? � N�o sei. N�o pode ser pior do que a Umbridge, pode? � Eu conhe�o algu�m, que � pior do que a Umbridge. � A irm� mais nova de Rony adentrou o quarto, irritada. � Oi, Harry. � Qual � o problema? � perguntou Rony. � Ela. � Gina se largou na cama de Harry. � Est� me deixando pirada. � Que foi que ela fez agora? � perguntou Hermione, solid�ria. � � o modo como fala comigo, como se eu tivesse tr�s anos de idade! � Eu sei � concordou Hermione baixando a voz. � Ela � t�o sebosa! Harry ficou espantado de ouvir Hermione se referir � Sra. Weasley daquele jeito, e n�o p�de culpar Rony por retrucar com raiva: � Ser� que voc�s duas n�o podem parar de implicar com ela por cinco minutos? � Ah, vai, defende � retrucou Gina. � A gente sabe que voc� n�o se cansa dela. Era um coment�rio estranho sobre a m�e de Rony; come�ando a achar que perdera alguma coisa, Harry perguntou: � De quem voc�s...? A pergunta foi respondida antes que ele a terminasse. A porta do quarto tornou a se escancarar, e o garoto instintivamente puxou as cobertas at� o queixo com tanta for�a que Hermione e Gina foram parar no ch�o. Havia uma jovem parada no portal, e sua beleza era t�o sufocante que o quarto pareceu ficar estranhamente abafado. Era alta e esguia, e tinha cabelos compridos e louros que davam a impress�o de refletir um leve fulgor prateado. Para completar a vis�o, a jovem trazia uma pesada bandeja com o caf� da manh� de Harry. � Arry � disse com uma voz gutural. � Faz tante tempe! � Quando cruzou o portal e foi em dire��o a Harry, a Sra. Weasley surgiu logo atr�s, parecendo muito aborrecida. � N�o precisava trazer a bandeja. Eu mesma j� vinha trazer! � Nam foi trrabalhe nenhum � disse Fleur Delacour, apoiando a bandeja nos joelhos de Harry e curvando-se num movimento �gil para lhe dar um beijo em cada bochecha: ele sentiu uma queima��o onde a mo�a encostara os l�bios. � Estave doide parra verr ele. Lembrra minhe irman, Gabrielle? N�o parra de falarr em Arry Potter. Vai ficarr encantade de reverr voc�. � Ah... ela tamb�m est� aqui? � grasnou Harry. � Nam, nam, bobin � retrucou Fleur com um sorriso tilintante. � Querr dizerr ne prr�xime verr�o, quande n�s... mas voc� ainde nam sabe? Seus grandes olhos se arregalaram e, com ar de censura, fixaram a Sra. Weasley, que disse: � Ainda n�o tivemos tempo de contar. Fleur voltou sua aten��o para Harry, sacudindo a cabeleira prateada contra o rosto da Sra. Weasley. � Gui e eu vamos nos casar! � Ah � exclamou Harry sem entender. N�o p�de deixar de notar que a Sra. Weasley, Hermione e Gina evitavam deliberadamente se olhar. � Uau. Ah... felicidades! Fleur deu outro mergulho para beij�-lo outra vez. � Gui st� muite ocupade ne momente, trrabalhande muite, eu s� trrabalho parrte de dia ne Grringotes parra melhorrar meu ingl�s, entam ele me trrouxe prra passarr uns dies e conhecerr a fam�lia dele dirreite. Fique tam feliz que voc� vinhe... nam tem muite que fazerr aqui se a gente nam goste de cozinha e galinhes! Beim: bom apetite, Arry! E, dizendo isso, ela se virou graciosamente, como se flutuasse, e saiu do quarto, fechando a porta sem fazer ru�do. A Sra. Weasley soltou uma exclama��o que soou como um tcha . � Mam�e detesta ela � comentou Gina baixinho. � Eu n�o detesto a mo�a! � protestou a Sra. Weasley num sussurro irritado. � Acho que se apressaram demais para noivar, s� isso. � Eles j� se conhecem h� um ano � justificou Rony, que parecia estranhamente tonto com os olhos pregados na porta fechada. � Ora, n�o � tanto tempo assim! Obviamente eu sei por que foi. Com toda essa incerteza por causa da volta de Voc�-Sabe-Quem, as pessoas acham que podem estar mortas amanh�, ent�o tomam decis�es precipitadas que normalmente demorariam a tomar. Foi o mesmo que aconteceu da �ltima vez que ele se tornou poderoso, gente fugindo para casar a torto e a direito... � Inclusive voc� e papai � concluiu Gina astutamente. � Verdade, mas seu pai e eu fomos feitos um para o outro, por que ir�amos esperar? � justificou-se a Sra. Weasley. � Enquanto no caso de Gui e Fleur... bem... que � que eles t�m realmente em comum? Ele � um rapaz trabalhador, uma pessoa que tem os p�s no ch�o, enquanto ela �... � Uma vaca � emendou Gina, confirmando o que dizia com a cabe�a. � Mas Gui n�o tem os p�s no ch�o. � um desfazedor de feiti�os, n�o �?, gosta de um pouco de aventura, um pouco de glamour... imagino que tenha sido por isso que se apaixonou pela Fleuma. � Pare de chamar a mo�a assim, Gina � falou com rispidez a Sra. Weasley, enquanto Harry e Hermione riam. � Bem, � melhor eu continuar... coma os ovos enquanto est�o quentes, Harry. Com um ar apreensivo, ela saiu do quarto. Rony continuava com cara de quem levara um soco; sacudia a cabe�a como um cachorro que quisesse sacudir a �gua dos ouvidos. � Voc� n�o se acostuma com ela nem morando na mesma casa? �perguntou Harry. � Bem, me acostumo � explicou Rony �, mas se ela aparece de repente, como agora h� pouco... � � pat�tico � explodiu Hermione, tomando dist�ncia de Rony e virando-se de frente para enfrent�-lo, de bra�os cruzados, ao deparar com a parede. � "Voc� n�o quer realmente que ela fique aqui para sempre, n�o �? � perguntou Gina ao irm�o, incr�dula. Ao notar que ele apenas encolhia os ombros, continuou: � A mam�e vai dar um basta nessa hist�ria, se puder, aposto o que voc� quiser. � E como ela vai conseguir isso? � perguntou Harry. � Ela n�o p�ra de convidar a Tonks para almo�ar. Acho que tem esperan�a de que Gui se apaixone por ela. Tor�o para que isso aconte�a, prefiro muito mais a Tonks em nossa fam�lia. � Estou mesmo vendo isso acontecer � comentou Rony com sarcasmo. � Escute aqui, nenhum cara com o ju�zo perfeito vai preferir a Tonks se a Fleur estiver por perto. Quero dizer, a Tonks � legal quando n�o faz bobagens com o cabelo e o nariz, mas... � Ela � muito mais bonita do que a Fleuma � teimou Gina. � E � mais inteligente, � uma auror! � falou Hermione l� do seu canto. � A Fleur n�o � burra, teve m�rito suficiente para participar do Torneio Tribruxo � disse Harry. � Ah, voc� tamb�m, Harry? � exclamou Hermione desapontada. � Suponho que voc� goste do jeito com que a Fleuma diz "Arry", � isso? � perguntou Gina com desprezo. � N�o � respondeu Harry, desejando n�o ter aberto a boca. � Eu s� estava dizendo que a Fleuma, quero dizer, a Fleur... � Pois eu prefiro ter a Tonks na nossa fam�lia. Pelo menos ela � divertida. � Ela n�o tem sido muito divertida ultimamente � retrucou Rony. � Todas as vezes que a vi, estava parecendo mais a Murta-Que-Geme. � Isto n�o � justo � protestou Hermione rispidamente. � Ela ainda n�o superou o que aconteceu... sabe... quero dizer, ele era primo dela! Harry sentiu um aperto no cora��o. Tinham chegado a Sirius. Ele apanhou um garfo e come�ou a encher a boca de ovos mexidos, esperando evitar convites para participar daquela conversa. � Tonks e Sirius mal se conheciam! � lembrou Rony. � Sirius esteve preso em Azkaban metade da vida dela e antes disso as fam�lias dos dois nem se encontravam... � A quest�o n�o � essa � disse Hermione. � Ela acha que foi a respons�vel pela morte de Sirius! � E como � que ela chegou a essa conclus�o? � perguntou Harry, mesmo sem querer. � Bem, ela estava enfrentando Belatriz Lestrange, concorda? A minha impress�o � que Tonks sente que, se a tivesse liquidado, Belatriz n�o poderia ter matado Sirius. � Que idiotice � comentou Rony. � � o sentimento de culpa de quem sobrevive. Sei que Lupin tentou argumentar, mas ela continua deprimida. Est� tendo at� problemas para se metamorfosear! � Para o qu�...? � N�o consegue mais mudar a apar�ncia como costumava fazer � explicou Hermione. � Acho que os poderes dela devem ter sido afetados pelo choque ou coisa do g�nero. � Eu n�o sabia que isso era poss�vel � admirou-se Harry. � Nem eu � falou Hermione �, mas suponho que se a pessoa ficar realmente deprimida... A porta tornou a abrir e a Sra. Weasley meteu a cabe�a no quarto. � Gina � sussurrou �, desce e vem me ajudar a preparar o almo�o. � Estou conversando com a galera! � reclamou Gina indignada. � Agora! � mandou a Sra. Weasley, e se retirou. � Ela s� quer a minha companhia para n�o ter de ficar sozinha com a Fleuma! � continuou Gina enfurecida. E agitou os longos cabelos ruivos para os lados, em uma boa imita��o de Fleur, andando pelo quarto com os bra�os erguidos como se fosse uma bailarina. � E galera, � melhor voc�s descerem logo tamb�m � disse ao sair. Harry aproveitou o sil�ncio moment�neo para comer mais. Hermione espiava dentro das caixas de Fred e Jorge, embora, de tempos em tempos, lan�asse um olhar de esguelha para Harry. Rony agora estava se servindo da torrada de Harry, ainda contemplando sonhadoramente a porta. � Que � isso? � perguntou por fim Hermione, erguendo um objeto que parecia um pequeno telesc�pio. � Sei l� � respondeu Rony. � Fred e Jorge deixaram isso a�, provavelmente ainda n�o est� pronto para ser vendido na loja, cuidado. � Sua m�e diz que a loja est� indo bem � comentou Harry. � Que Fred e Jorge realmente t�m jeito para o neg�cio. � Isto � dizer pouco � comentou Rony. � Eles est�o se enchendo de gale�es! Nem posso esperar para ver a loja. Ainda n�o fomos ao beco Diagonal, porque mam�e diz que papai tem de ir tamb�m por medida de seguran�a, e ele tem andado muito ocupado no trabalho. Parece que a loja vai bem demais. � E o Percy? � quis saber Harry. Ele tinha se afastado do resto da fam�lia. � J� voltou a falar com seu pai e sua m�e? � N�o. � Mas ele sabe que o seu pai tinha raz�o sobre o retorno de Voldemort... � Dumbledore diz que as pessoas acham mais f�cil perdoar os outros quando est�o errados do que quando est�o certos � lembrou Hermione. � Eu o ouvi dizendo isso � sua m�e, Rony. � Parece o tipo de frase "cabe�a" que Dumbledore diria � sentenciou ele. � Este ano ele vai me dar aulas particulares � informou Harry em tom descontra�do. Rony engasgou com a torrada e Hermione ofegou. � E voc� ficou na moita! � exclamou Rony. � S� me lembrei agora � respondeu Harry com sinceridade. � Ele me disse ontem � noite no barrac�o das vassouras. � Caramba... aulas particulares com Dumbledore! � Rony ficou impressionado. � Por que ser� que ele... Sua voz foi sumindo. Harry viu os dois amigos se entreolharem. O garoto descansou a faca e o garfo, o cora��o acelerado, considerando que estava apenas sentado numa cama. Dumbledore o aconselhara a contar... por que n�o agora? Ele fixou o olhar no garfo que refletia os raios de sol sobre o seu colo e disse: � N�o sei exatamente por que ele vai me dar aulas, mas acho que deve ser por causa da profecia. Nem Rony nem Hermione falaram. Harry teve a impress�o de que os dois tinham congelado. Ele continuou, ainda se dirigindo ao garfo: � Aquela que estavam tentando roubar do Minist�rio. � Mas ningu�m sabe o que dizia � argumentou Hermione. � Quebrou-se. � Embora o Profeta diga que... � come�ou Rony, mas Hermione pediu sil�ncio. � O Profeta acertou � confirmou Harry, fazendo um grande esfor�o para encarar os amigos; Hermione parecia assustada e Rony admirado. � O globo de vidro que quebrou n�o era o �nico registro da profecia. Eu a ouvi completa no gabinete de Dumbledore, foi para ele que fizeram a profecia, da� ele p�de me contar. Pelo que dizia � Harry tomou f�lego �, sou eu que tenho de liquidar o Voldemort... pelo menos ela dizia que nenhum dos dois poderia viver enquanto o outro sobrevivesse. Os tr�s se fitaram em sil�ncio por um momento. Ouviram, ent�o, um estampido forte e Hermione desapareceu em uma baforada de fuma�a negra. � Hermione! � gritaram Harry e Rony; a bandeja com o caf� da manh� escorregou e bateu no ch�o com estrondo. Hermione reapareceu, tossindo, envolta em fuma�a, ainda segurando o telesc�pio e exibindo um olho roxo berrante. � Eu apertei isso e... e recebi um soco! � arquejou a garota. E sem a menor d�vida, eles viam agora um punho min�sculo preso a uma comprida mola que sa�a da ponta do telesc�pio. � N�o se preocupe � tranq�ilizou-a Rony, tentando visivelmente n�o cair na gargalhada. � Mam�e dar� um jeito no seu olho, ela � �tima para curar pequenos machucados... � Ah, esque�am isso agora! � apressou-se Hermione a dizer. �Harry, ah, Harry... Ela tornou a sentar na beira da cama. � Ficamos imaginando, quando voltamos do Minist�rio... � �bvio que n�o quisemos lhe dizer nada, mas, pelo que L�cio Malfoy disse sobre a profecia, que era sobre voc� e o Voldemort, bem, achamos que devia ser uma coisa assim... ah, Harry... � Ela encarou-o e sussurrou: � Voc� est� apavorado? � N�o tanto quanto j� estive. Quando ouvi a profecia pela primeira vez, sim... mas agora tenho a sensa��o de que j� sabia que no fim eu teria de enfrentar Voldemort... � Quando ouvimos dizer que Dumbledore ia apanhar voc� pessoalmente, achamos que talvez fosse lhe dizer alguma coisa, ou mostrar alguma coisa com rela��o � profecia � disse Rony ansioso. � E t�nhamos uma certa raz�o, n�o �? Ele n�o iria lhe dar aulas se achasse que voc� j� era, n�o iria perder tempo: ent�o deve achar que voc� tem uma chance! � � verdade � disse Hermione. � Que ser� que ele vai lhe ensinar, Harry? Magia defensiva muito avan�ada, provavelmente... contramaldi��es poderosas... contrafeiti�os... Harry n�o estava realmente ouvindo. Sentia-se invadir por um calor que n�o vinha do sol; um bloqueio em seu peito parecia estar se dissolvendo. Sabia que Rony e Hermione estavam mais chocados do que demonstravam, mas o fato de continuarem a seu lado, consolando-o com palavras animadoras, sem fugir dele como se pudesse contagi�-los ou oferecer perigo, valia mais do que jamais poderia dizer a eles. � ... e encantamentos evasivos de maneira geral � concluiu Hermione. � Bem, pelo menos voc� j� sabe uma das mat�rias que vai estudar este ano, o que � mais do que o Rony e eu sabemos. Quando ser� que v�o chegar os resultados dos nossos N.O.M.s? � Devem estar chegando, j� faz um m�s � disse Rony. � Calma a� � atalhou Harry, lembrando-se de mais uma parte da conversa da noite anterior. � Acho que Dumbledore falou que os resultados iriam chegar hoje! � Hoje! � esgani�ou-se Hermione. � Hoje? Mas por que voc� n�o... ah, meu Deus... voc� devia ter dito... Ela se levantou depressa. � Vou ver se chegou alguma coruja... Mas quando Harry chegou ao t�rreo, dez minutos depois, todo vestido e carregando a bandeja vazia do caf�, encontrou Hermione sentada � mesa da cozinha muito agitada, enquanto a Sra. Weasley tentava dar um jeito em sua cara de urso panda de um olho s�. � N�o quer sair � dizia ansiosa a Sra. Weasley, ao lado de Hermione, com a varinha na m�o e um exemplar de O curandeiro aprendiz aberto no cap�tulo "Hematomas, cortes e escoria��es". � Isto sempre funcionou antes, n�o consigo entender. � Deve ser a id�ia de brincadeira engra�ada de Fred e Jorge, garantir que n�o saia � comentou Gina. � Mas tem de sair! � guinchou Hermione. � N�o posso andar por a� com uma cara dessa para sempre. � Voc� n�o vai, querida, vamos encontrar um ant�doto, n�o se preocupe � tranq�ilizou-a a Sra. Weasley. � Gui me contu que Frred e Jorrge son mui te engrra�ades! � disse Fleur, sorrindo calmamente. � S�o, sim, nem consigo respirar de tanto rir � retrucou Hermione. Ela se p�s de p� de repente e come�ou a dar voltas e mais voltas pela cozinha, girando os dedos. � Sra. Weasley, a senhora tem absoluta certeza de que n�o chegou nenhuma coruja hoje de manh�? � Claro, querida, eu teria visto � respondeu a bruxa pacientemente. � Mas mal acabou de dar nove horas, tem muito tempo ainda... � Eu sei que fiz besteira em Runas Antigas � murmurou Hermione febril. � Decididamente fiz no m�nimo um erro grave de tradu��o. E o exame pr�tico de Defesa contra as Artes das Trevas foi p�ssimo. No dia, achei que tinha me dado bem em Transfigura��o, mas pensando melhor... � Hermione, quer fazer o favor de calar a boca, voc� n�o � a �nica que est� nervosa! � falou Rony com rispidez. � E quando receber os seus onze "�timos" nos N.O.M.s... � N�o, n�o, n�o! � exclamou Hermione, agitando as m�os histericamente. � Sei que n�o passei em nada! � E o que acontece se a gente n�o passar? � perguntou Harry, sem se dirigir a ningu�m em particular, mas Hermione respondeu outra vez. � Discutimos as op��es com a diretora da Casa, perguntei � professora McGonagall no fim do trimestre passado. Harry sentiu o est�mago revirar. Gostaria de ter comido menos ao caf� da manh�. � An Beaubattons � disse Fleur com superioridade �, fazems tude diferrante. Ache qu erra melhorr. Prrest�vams exams dep�s de s�s ans de estude e non cinque come aqui, e dep�s... As palavras de Fleur foram abafadas por um grito. Hermione estava apontando para a janela da cozinha. Viam-se tr�s pontos negros no c�u, cada vez maiores. � Positivamente s�o corujas � falou Rony rouco, pulando da mesa para se juntar � amiga na janela. � E s�o tr�s � acrescentou Harry, correndo para o outro lado da amiga. � Uma para cada um de n�s � disse Hermione num sussurro aterrorizado. � Ah, n�o... ah, n�o... ah, n�o... Ela agarrou os cotovelos de Harry e Rony. As aves estavam voando diretamente para A Toca, tr�s belas corujas pardas, cada uma � tornou-se vis�vel quando sobrevoaram a entrada da casa � trazia um grande envelope quadrado. � Ah, n�o! � guinchou Hermione. A Sra. Weasley tomou a frente dos garotos e abriu a janela da cozinha. Uma, duas, tr�s corujas entraram voando e pousaram na mesa em fila. As tr�s estenderam a perna direita. Harry se adiantou. A carta endere�ada a ele estava presa � perna da coruja do meio. Ele desamarrou-a, atrapalhado. � sua esquerda, Rony tentava soltar as pr�prias notas; � direita, as m�os de Hermione tremiam tanto que ela fazia a coruja inteira tremer. Ningu�m na cozinha falou. Por fim, Harry conseguiu desprender o envelope. Abriu-o ligeiro e desdobrou o pergaminho que havia dentro. RESULTADOS NOS N�VEIS ORDIN�RIOS EM MAGIA Notas de aprova��o: Notas de reprova��o: �timo (O) P�ssimo (P) Excede Expectativas (E) Deplor�vel (D) Aceit�vel (A) Trasgo (T) RESULTADOS OBTIDOS POR HARRY POTTER Adivinha��o P Astronomia A Defesa contra as Artes das Trevas O Feiti�os E Herbologia E Hist�ria da Magia D Po��es E Transfigura��o E Trato das Criaturas M�gicas E Harry leu o pergaminho todo v�rias vezes, come�ando a respirar aliviado a cada leitura. Tudo bem: sempre soube que n�o iria passar em Adivinha��o, e n�o tivera chance de passar em Hist�ria da Magia, uma vez que desmaiara no meio do exame, mas passara em todo o resto! Correu o dedo pelas notas... fora bem em Transfigura��o e Herbologia, e at� excedera a expectativa em Po��es! E o melhor de tudo, recebera "�timo" em Defesa contra as Artes das Trevas! Olhou para os lados. Hermione estava de costas e cabe�a baixa, mas Rony parecia muito feliz. � S� n�o passei em Adivinha��o e Hist�ria da Magia, mas quem se importa � comentou alegremente com Harry. � Aqui... vamos trocar... Harry passou os olhos pelas notas de Rony: n�o havia nenhum "�timo"... � Eu sabia que voc� ia tirar a nota m�xima em Defesa contra as Artes das Trevas � disse ele, dando um soco no ombro de Harry. � Nos sa�mos bem, n�o? � Parab�ns! � exclamou a Sra. Weasley orgulhosa, arrepiando os cabelos de Rony. � Sete N.O.M.s, � mais do que Fred e Jorge tiraram juntos! � Hermione? � perguntou Gina hesitante, porque a amiga ainda n�o se virar�. � E voc�, como foi? � Eu... nada mal � respondeu Hermione muito baixinho. � Ah, corta essa � rebateu Rony se aproximando e puxando os resultados da m�o dela. � �: nove "�timo" e um "Excede Expectativas" em Defesa contra as Artes das Trevas. � E, encarando-a meio risonho, meio exasperado. � Voc� est� realmente desapontada, n�o �? Hermione sacudiu negativamente a cabe�a, mas Harry riu. � Bem, agora somos alunos do N.I.E.M.! � exclamou Rony sorridente. � Mam�e, ainda tem salsichas? Harry tornou a ler os seus resultados. Eram t�o bons quanto poderia ter esperado. S� sentia uma pontadinha de arrependimento... era o fim de sua ambi��o de ser auror. N�o obtivera a nota exigida em Po��es. Soubera o tempo todo que n�o conseguiria, mas sentiu o est�mago afundar ao olhar mais uma vez para o pequeno "E" preto. Era bem estranho, visto que tinha sido um Comensal da Morte disfar�ado quem dissera pela primeira vez que Harry daria um bom auror, que a id�ia o tivesse conquistado e ele n�o conseguisse realmente pensar em outra profiss�o futura. Al�m disso, tinha lhe parecido o destino certo para ele desde que ouvira a profecia h� um m�s... nenhum poder� viver enquanto o outro sobreviver... n�o estaria assim cumprindo a profecia e dando a si mesmo a melhor chance de sobreviver, se entrasse para o grupo de bruxos altamente treinados cuja fun��o era encontrar e matar Voldemort? CAP�TULO SEIS A FUGIDA DE DRACO HARRY PERMANECEU DENTRO DOS LIMITES do jardim d'A Toca nas semanas seguintes. Passava a maior parte dos dias jogando quadribol em duplas no pomar dos Weasley (ele e Hermione contra Rony e Gina; Hermione era p�ssima e Gina boa, portanto estavam razoavelmente equilibrados) e, as noites, repetindo tr�s vezes tudo que a Sra. Weasley punha � sua frente para comer. Teriam sido umas f�rias felizes e tranq�ilas se n�o fossem os casos de desaparecimentos, acidentes estranhos e at� mortes que agora eram noticiados quase diariamente no Profeta. Por vezes Gui e o Sr. Weasley traziam para casa not�cias que ainda n�o tinham chegado ao jornal. Para desgosto da Sra. Weasley, a festa do d�cimo sexto anivers�rio de Harry foi perturbada pelos espantosos relatos feitos por Remo Lupin, que parecia magro e deprimido, os cabelos castanhos fartamente embranquecidos, suas roupas mais rotas e remendadas que nunca. � Tinha havido mais dois ataques de dementadores � anunciou ele, quando a Sra. Weasley lhe ofereceu uma grossa fatia de bolo de anivers�rio. � E encontraram o corpo de Igor Karkaroff em um barraco no norte do pa�s. Sobre o local pairava a Marca Negra, ali�s, para ser franco, fico surpreso que ele tenha sobrevivido quase um ano depois de desertar os Comensais da Morte; lembro que o irm�o de Sirius, Regulo, durou poucos dias. � Foi � disse a Sra. Weasley �, mas quem sabe dev�amos mudar o rumo dessa... � Voc� soube o que aconteceu com o Florean Fortescue, Remo? �perguntou Gui, a quem Fleur n�o parava de servir vinho. � O cara que dirigia... � ... a sorveteria no beco Diagonal? � interrompeu Harry, sentindo um vazio desagrad�vel no fundo do est�mago. � Ele costumava me servir sorvetes de gra�a. Que aconteceu com ele? � Foi levado � for�a, pelo estado em que ficou a sorveteria. � Por qu�? � indagou Rony; a Sra. Weasley olhou irritada para Gui. � Quem vai saber? Deve ter aborrecido os caras. Era um bom sujeito, o Florean. � Por falar em beco Diagonal � lembrou o Sr. Weasley �, parece que o Olivaras tamb�m desapareceu. � O fabricante de varinhas? � exclamou Gina surpresa. � O pr�prio. A loja est� vazia. N�o h� sinais de luta. Ningu�m sabe se foi embora porque quis ou se foi seq�estrado. � Mas e as varinhas: onde � que as pessoas v�o conseguir varinhas? � Ter�o de se arranjar com os outros fabricantes � respondeu Lupin. � Mas o Olivaras era o melhor, e se o outro lado o tiver levado n�o ser� bom para n�s. No dia seguinte a essa sombria festa de anivers�rio, chegaram cartas de Hogwarts e as listas de material escolar. As de Harry inclu�am uma surpresa: fora nomeado capit�o de quadribol. � Isto equipara voc� aos monitores! � exclamou Hermione alegre. � Agora vai poder usar o nosso banheiro particular e todo o resto! � Uau, eu me lembro de quando Carlinhos usava um desses �disse Rony examinando, satisfeito, o crach�. � Harry, que legal, voc� vai ser o meu capit�o, se me deixar voltar ao time, imagino, ha ha... � Bem, acho que n�o podemos adiar mais a ida ao beco Diagonal, agora que receberam as cartas � suspirou a Sra. Weasley, passando os olhos pela lista de Rony. � Iremos no s�bado se o seu pai n�o precisar, outra vez, ir trabalhar. N�o quero ir sem ele. � Mam�e, a senhora acha sinceramente que Voc�-Sabe-Quem vai estar escondido atr�s de uma estante na Floreios e Borr�es? � falou Rony rindo. � Fortescue e Olivaras sa�ram de f�rias, n�o foi? � respondeu a Sra. Weasley se irritando mais uma vez. � Se voc� acha que a seguran�a � motivo para risadas, pode ficar em casa que eu mesma compro o seu material... � N�o, eu quero ir, quero ver a loja de Fred e Jorge! � Rony interrompeu-a rapidamente. � Ent�o guarde as suas opini�es para si mesmo, rapazinho, antes que eu decida que � imaturo demais para ir conosco! � retrucou a m�e com raiva, agarrando o rel�gio com os nove ponteiros, que continuavam a indicar perigo mortal, e equilibrando-o sobre a pilha de toalhas lavadas. � E isso se aplica � volta a Hogwarts tamb�m! Rony virou-se para Harry, incr�dulo, enquanto sua m�e erguia nos bra�os o cesto de roupas e o rel�gio mal equilibrado, e sa�a, brava, do aposento. � Caracas... n�o se pode mais nem brincar nesta casa... Mas, nos dias que se seguiram, Rony tomou cuidado para n�o falar levianamente de Voldemort. O s�bado amanheceu sem outros rompantes da Sra. Weasley, embora ela parecesse muito tensa ao caf� da manh�. Gui, que ia ficar em casa com Fleur (para grande alegria de Hermione e Gina), passou uma bolsa cheia de dinheiro para Harry. � E cad� o meu? � perguntou Rony, na mesma hora, de olhos arregalados. � J� est� com o Harry, idiota � replicou Gui. � Saquei do cofre para voc�, Harry, porque est� levando cinco horas para o p�blico acessar os dep�sitos em ouro, t�o rigorosas est�o as medidas de seguran�a. Dois dias atr�s, enfiaram, voc�s sabem onde, um honest�metro no Arkie Philpott... bem, confiem em mim, assim foi mais f�cil. � Obrigado, Gui � disse Harry, embolsando seu ouro. � Ele � sempre tam atenciose � ronronou Fleur com ar de adora��o, acariciando o nariz de Gui. Gina fingiu que vomitava na tigela de cereal por tr�s de Fleur. Harry se engasgou com seu cornflakes, e Rony deu-lhe tapas nas costas. Fazia um dia nublado e escuro. Um dos carros especiais do Minist�rio da Magia, em que Harry j� andara, estava aguardando � frente da casa quando eles sa�ram ainda vestindo as capas. � Que bom que papai pode requisitar carros outra vez � comentou Rony grato, espregui�ando-se com prazer enquanto o carro sa�a suavemente d'A Toca; Gui e Fleur acenavam da janela da cozinha. Rony, Harry, Hermione e Gina estavam confortavelmente acomodados no largo banco traseiro. � � melhor n�o se acostumarem, � s� por causa do Harry � lembrou o Sr. Weasley por cima do ombro do garoto. Ele e a mulher iam no banco dianteiro com o motorista do Minist�rio; o banco se desdobrara obsequiosamente em uma esp�cie de sof� de dois lugares. � Ele � considerado de m�xima seguran�a. E vamos receber refor�os no Caldeir�o Furado. Harry n�o fez coment�rio algum; n�o lhe agradava fazer compras cercado de um batalh�o de aurores. Guardara a Capa da Invisibilidade na mochila e achava que, se bastava para Dumbledore, deveria bastar para o Minist�rio, embora, pensando melhor, ele n�o tivesse muita certeza se o Minist�rio sabia da exist�ncia de sua capa. � Chegamos � anunciou o motorista, ap�s um tempo surpreendentemente r�pido, falando pela primeira vez ao reduzir a marcha em Charing Cross e parar � porta do Caldeir�o Furado. � Tenho ordens de esperar pelos senhores, t�m id�ia do quanto tempo v�o demorar? � Umas duas horas, espero � respondeu o Sr. Weasley. � Ah, que bom, ele est� aqui! Harry imitou o Sr. Weasley e espiou pela janela; seu cora��o deu um pulo. N�o havia aurores � porta da estalagem, e, no lugar deles, reconheceu a forma barbuda de R�beo Hagrid, o guarda-ca�a de Hogwarts, vestindo um longo casaco de pele de castor e sorrindo ao ver o rosto de Harry, indiferente aos olhares assustados dos trouxas que passavam. � Harry! � trovejou ele, arrebatando o garoto num abra�o de moer os ossos, no momento em que Harry desceu do carro. � Bicu�o, quero dizer, Asafugaz, voc� devia ver Harry, est� t�o feliz de voltar ao ar livre... � Que bom que est� feliz � respondeu Harry, rindo e massageando as costelas. � N�o sab�amos que "refor�os" queria dizer voc�! � Eu sei, como nos velhos tempos, n�? Sabe, o Minist�rio queria mandar um bando de aurores, mas Dumbledore disse que bastava eu � explicou Hagrid orgulhoso, estufando o peito e enfiando os polegares nos bolsos. � Ent�o, vamos andando... voc�s primeiro, Molly, Arthur... Pela primeira vez na lembran�a de Harry, o Caldeir�o Furado estava completamente vazio. Do pessoal antigo, s� restava Tom, o estalajadeiro, enrugado e sem dentes. Ergueu a cabe�a esperan�oso quando o grupo entrou, mas, antes que pudesse falar, Hagrid anunciou cheio de import�ncia: � S� estamos de passagem, Tom, voc� compreende. Assuntos de Hogwarts, sabe como �. Tom assentiu com tristeza e continuou a enxugar copos; Harry, Hermione, Hagrid e os Weasley atravessaram o bar e sa�ram para o pequeno p�tio frio nos fundos, onde ficavam as latas de lixo. Hagrid ergueu seu guarda-chuva cor-de-rosa e deu uma pancadinha em um certo tijolo no muro, que instantaneamente se abriu em arco, revelando uma tortuosa rua de pedras. Eles atravessaram e pararam olhando para todos os lados. O beco Diagonal mudara. Os arranjos coloridos e brilhantes nas vitrinas exibindo livros de feiti�os, ingredientes e caldeir�es para po��es estavam ocultos por grandes cartazes do Minist�rio da Magia. A maioria, sombria e roxa, era uma vers�o ampliada dos panfletos sobre seguran�a que tinham sido distribu�dos pelo Minist�rio durante o ver�o, mas outros continham fotos animadas em preto e branco dos Comensais da Morte que se sabiam estar foragidos. Belatriz Lestrange sorria desdenhosamente na fachada do botic�rio mais pr�ximo. Algumas vitrines estavam fechadas com t�buas, inclusive a da Sorveteria Florean Fortescue. Em contraposi��o, tinham surgido v�rias barracas de aspecto miser�vel ao longo da rua. A mais pr�xima, instalada � porta da Floreios e Borr�es sob um toldo de listras manchado, exibia um letreiro de papel�o: Amuletos: Contra Lobisomens, Dementadores e Inferi Um bruxo mi�do e mal-encarado sacudia bra�adas de correntes com s�mbolos prateados para os transeuntes. � Uma para sua garotinha, madame? � ofereceu � Sra. Weasley quando passaram, sorrindo lascivamente para Gina. � Para proteger esse lindo pescocinho? � Se eu estivesse de servi�o... � disse o Sr. Weasley, olhando com raiva o vendedor de amuletos. � Sei, mas n�o vai sair prendendo ningu�m agora, querido, estamos com pressa � replicou a Sra. Weasley, nervosa, consultando uma lista. � Acho que � melhor irmos � Madame Malkin primeiro, Hermione quer vestes de festa novas e os uniformes de Rony n�o est�o mais nem cobrindo os tornozelos dele, e voc� tamb�m deve estar precisando de novos, Harry, cresceu tanto... vamos, todos... � Molly, n�o faz sentido irmos todos � Madame Malkin � ponderou o Sr. Weasley. � Por que os tr�s n�o v�o com Hagrid, e n�s vamos comprar todos os livros escolares na Floreios e Borr�es? � N�o sei � respondeu a Sra. Weasley ansiosa, visivelmente dividida entre o desejo de terminar as compras r�pido e o de manter o grupo unido. � Hagrid, voc� acha...? � N�o se preocupe, eles v�o ficar bem comigo, Molly � disse Hagrid, tranq�ilizando-a e fazendo um aceno vago com a m�o enorme, do tamanho de uma tampa de lat�o. A Sra. Weasley n�o pareceu inteiramente convencida, mas permitiu a separa��o, apressando-se em dire��o � Floreios e Borr�es, com o marido e Gina, enquanto Harry, Rony, Hermione e Hagrid seguiam para a Madame Malkin. Harry reparou que muitas pessoas que passavam por eles tinham a mesma express�o mortificada da Sra. Weasley, e que ningu�m mais parava para conversar; os compradores se mantinham em grupos coesos, absortos em seus pr�prios afazeres. Aparentemente ningu�m estava fazendo compras sozinho. � Acho que vai ficar meio apertado l� dentro com todos n�s �falou Hagrid, parando � porta da Madame Malkin e se abaixando para espiar pela vitrine. � Vou ficar de guarda aqui fora, t�? Ent�o Harry, Rony e Hermione entraram juntos na lojinha. No primeiro momento parecia vazia, mas, assim que a porta se fechou atr�s deles, ouviram uma voz conhecida que vinha de tr�s de uma arara de vestes formais verdes e azuis com brilhos. � ... n�o sou crian�a, caso a senhora n�o tenha reparado, m�e. Sou perfeitamente capaz de fazer minhas compras sozinho. Ouviram, ent�o, um muxoxo e uma voz que Harry reconheceu ser da Madame Malkin falou: � Bem, querido, sua m�e tem raz�o, ningu�m deve ficar andando por a� sozinho, n�o � uma quest�o de ser ou n�o crian�a... � V� se olha onde est� enfiando esse alfinete! Um adolescente p�lido, de rosto pontudo e cabelos louro-brancos apareceu por tr�s da arara usando um belo conjunto de vestes verde-escuras, em que cintilavam alfinetes na barra da saia e das mangas. Ele caminhou at� o espelho e estudou o efeito; demorou um momento para notar Harry, Rony e Hermione refletidos por cima do seu ombro. Seus olhos cinza-claro se estreitaram. � Se voc� queria saber a raz�o do mau cheiro, m�e, uma Sangue-Ruim acabou de entrar � disse Draco Malfoy. � Acho que n�o h� necessidade de falar assim! � disse Madame Malkin, saindo ligeira de tr�s da arara, segurando uma fita m�trica e uma varinha. � E tamb�m n�o quero ningu�m empunhando varinhas na minha loja! � apressou-se a acrescentar, porque, ao olhar em dire��o da porta, viu Harry e Rony parados ali com as varinhas apontadas para Malfoy. Hermione, que estava um pouco atr�s, sussurrou: � N�o, n�o fa�am nada, sinceramente, n�o vale a pena... � �, como se voc�s se atrevessem a usar magia fora da escola �debochou Malfoy. � Quem lhe deu o olho roxo, Granger? Quero mandar flores para eles. � Agora basta! � disse Madame Malkin energicamente, olhando por cima do ombro era busca de apoio. � Madame, por favor... Narcisa Malfoy saiu de tr�s da arara de roupas. � Guardem isso � disse friamente para Harry e Rony. � Se voc�s atacarem o meu filho outra vez, vou garantir que seja a �ltima coisa que far�o na vida. � Verdade? � retrucou Harry dando um passo � frente e observando o rosto ligeiramente arrogante que, mesmo p�lido, ainda lembrava o da irm�. Ele estava da altura dela agora. � Vai mandar uns coleguinhas Comensais nos matar, vai? Madame Malkin soltou um guincho e levou as m�os ao cora��o. � Francamente, voc� n�o devia fazer acusa��es... dizer uma coisa perigosa dessas... Guardem as varinhas, por favor! Mas Harry n�o baixou a varinha. Narcisa Malfoy deu um sorriso antip�tico. � Estou vendo que o fato de ser o favorito de Dumbledore lhe deu uma falsa sensa��o de seguran�a, Harry. Mas Dumbledore n�o estar� sempre aqui para proteg�-lo. Harry correu os olhos por toda a loja com um ar zombeteiro. � Uau... quem diria... ele n�o est� aqui agora! Ent�o, por que n�o experimentar? Talvez lhe arranjem uma cela de casal em Azkaban para fazer companhia ao perdedor do seu marido! Malfoy fez um movimento agressivo em dire��o a Harry, mas trope�ou nas vestes muito longas. Rony soltou uma sonora gargalhada. � N�o se atreva a falar com a minha m�e assim, Potter! � vociferou Malfoy. � Tudo bem, Draco � disse Narcisa segurando o ombro do filho com os dedos finos e p�lidos. � Prevejo que Potter ir� se reunir ao querido Sirius antes de eu me reunir ao L�cio. Harry ergueu sua varinha mais alto. � Harry, n�o! � gemeu Hermione, agarrando o bra�o do amigo e tentando baix�-lo. � Pensa... voc� n�o deve... vai se meter em uma encrenca... Madame Malkin agitou-se um momento sem sair do lugar, ent�o resolveu agir como se nada estivesse acontecendo, na esperan�a de que de fato n�o acontecesse. Curvou-se para Malfoy, que ainda encarava Harry com ferocidade. � Acho que essa manga esquerda devia ser um pouquinho mais curta, querido, me deixe... � Ai! � berrou Malfoy, dando-lhe um tapa na m�o. � Olhe onde enfia os alfinetes, mulher! M�e... acho que n�o quero mais essas vestes... E, puxando as vestes pela cabe�a, atirou-as no ch�o aos p�s de Madame Malkin. � Voc� tem raz�o, Draco � disse Narcisa, lan�ando um olhar de desprezo a Hermione �, agora sei o tipo de ral� que compra aqui... ser� melhor comprarmos na Talhejusto e Janota. Dito isto, os dois sa�ram da loja, Malfoy fazendo quest�o de esbarrar com toda a for�a em Rony, a caminho da porta. � Francamente! � exclamou Madame Malkin, apanhando as roupas e passando a ponta da varinha por cima para remover o p�, como se fosse um aspirador. A bruxa se mostrou aturdida durante toda a prova das vestes de Rony e Harry, e tentou vender modelos masculinos para Hermione em lugar de femininos, e, quando finalmente acompanhou-os � porta da loja, exibia o ar de quem estava contente de v�-los pelas costas. � Compraram tudo? � perguntou Hagrid animado quando os garotos reapareceram ao seu lado. � Quase tudo � respondeu Harry. � Voc� viu os Malfoy? � Vi � confirmou Hagrid indiferente. � Mas eles n�o iam se atrever a provocar confus�es no meio do beco Diagonal, Harry, n�o se preocupe. Harry, Rony e Hermione se entreolharam, mas, antes que pudessem desiludir Hagrid de id�ia t�o reconfortante, o casal Weasley e Gina chegou, carregando pesados pacotes de livros. � Voc�s est�o bem? � indagou a Sra. Weasley. � Compraram as vestes? �timo, ent�o, podemos dar uma passada no botic�rio e no Emp�rio das Corujas, a caminho da loja do Fred e Jorge... fiquem juntos... Nem Harry nem Rony compraram ingredientes no botic�rio, porque n�o iam mais estudar Po��es, mas, no emp�rio, compraram grandes caixas de nozes para Edwiges e P�chi. Ent�o, com a Sra. Weasley consultando o rel�gio a cada minuto, desceram a rua � procura da Gemialidades Weasley, a loja de logros de Fred e Jorge. � N�o temos realmente muito tempo � alertou a Sra. Weasley. � Ent�o vamos dar uma olhada r�pida e voltar logo para o carro. Devemos estar bem perto, estamos no noventa e dois... noventa e quatro... � Eh! � exclamou Rony parando de chofre. Encaixada entre fachadas sem gra�a, cobertas de cartazes, as vitrines de Fred e Jorge chamavam a aten��o como uma queima de fogos. Transeuntes distra�dos olhavam por cima do ombro para as vitrines, e alguns muito espantados chegavam a parar, petrificados. A vitrine da esquerda ofuscava a vista tal a variedade de artigos que giravam, espocavam, piscavam, quicavam e gritavam; os olhos de Harry come�aram a lacrimejar s� de olhar. A vitrine da direita estava tomada por um gigantesco cartaz, roxo como os do Minist�rio, mas enfeitado com letras amarelas pulsantes. Para que se preocupar com Voc�-Sabe-Quem? DEVIA mais era se preocupar com O-APERTO-VOC�-SABE-ONDE a pris�o de ventre que acometeu a na��o! Harry caiu na gargalhada. Ouviu um gemido fraquinho ao seu lado e, ao se virar, deparou com a Sra. Weasley olhando estarrecida para o cartaz. Seus l�bios se moviam, silenciosamente, enunciando as palavras "O-Aperto-Voc�-Sabe-Onde". � V�o matar esses dois! � murmurou ela. � N�o, n�o v�o! � contestou Rony, que, como Harry, estava �s gargalhadas! � � genial! E ele e Harry entraram na loja. Estava apinhada de fregueses: Harry n�o conseguia chegar �s prateleiras. Ficou examinando tudo, olhando as caixas empilhadas at� o teto: ali estavam o kit Mata-Aula que os g�meos tinham aperfei�oado no ano em que abandonaram Hogwarts, sem concluir o curso; Harry reparou que o Nug� Sangra-Nariz era o que sa�a mais, e restava apenas uma caixa arrebentada na prateleira. Havia lat�es cheios de varinhas de brinquedo. As mais baratas faziam aparecer galinhas de borracha ou cal�as compridas quando agitadas; as mais caras batiam no pesco�o ou na cabe�a do usu�rio desavisado; caixas de penas de escrever, nas op��es Caneta-Tinteiro, Auto-Revisora e Resposta-Esperta. Abriu-se um espa�o na multid�o e Harry p�de chegar ao balc�o, onde um bando de crian�as de dez anos observavam felizes um homenzinho de madeira subir lentamente os degraus de um pat�bulo com duas forcas de verdade em cima de um caixote, onde se lia: Forca Recicl�vel � Soletre certo ou se enforque! "Feiti�os Patenteados para Devanear..." Hermione conseguira se apertar at� um grande mostru�rio junto ao balc�o, e estava lendo a informa��o no verso de uma caixa com a foto muito colorida de um belo rapaz e uma mo�a desmaiando no tombadilho de um navio pirata. "Um simples encantamento e voc� mergulhar� em um devaneio de trinta minutos excepcionalmente realista. F�cil de usar em uma aula normal e virtualmente impercept�vel (efeitos colaterais: olhar vago e ligeira baba). Venda proibida a menores de dezesseis anos." � Sabe � comentou Hermione, erguendo os olhos para Harry �, esta m�gica � realmente extraordin�ria! � S� por causa disso, Hermione � disse uma voz atr�s deles �, voc� pode levar uma de gra�a. Um Fred sorridente estava diante deles, usando um conjunto de vestes magenta que contrastavam magnificamente com seus cabelos muito ruivos. � Como vai, Harry? � Eles se apertaram as m�os. � E que aconteceu com o seu olho, Hermione? � Foi o seu telesc�pio esmurrador � respondeu a garota pesarosa. � Ah, caramba, esqueci os telesc�pios � disse Fred. � Tome... E entregou a Hermione uma bisnaga que puxou do bolso; quando ela tirou a tampa, desajeitada, apareceu uma pasta amarela. � � s� passar que o roxo desaparecer� em uma hora � disse Fred. � Temos de achar um removedor decente para hematomas, estamos testando a maioria dos produtos em n�s mesmos. Hermione pareceu apreensiva. � � seguro? � Claro que � � respondeu Fred tranq�ilizando-a. � Vamos, Harry, quero lhe mostrar a loja. Harry deixou Hermione passando a pasta no olho roxo e acompanhou Fred em dire��o aos fundos do sal�o, onde viu um mostru�rio com cartas e truques com cordas. � Truques de magia dos trouxas � explicou contente, apontando os artigos. � Para exc�ntricos feito papai, sabe, que adoram coisas dos trouxas. N�o s�o campe�es de vendas, mas t�m sa�da constante, s�o grandes novidades... Ah, a� vem o Jorge... O g�meo de Fred apertou a m�o de Harry com energia. � Fazendo o tour pela loja? Venha at� os fundos, Harry, � onde est� o nosso lucro, voc� a�, se meter alguma coisa no bolso, vai pagar mais do que dez gale�es! � ele advertiu um garotinho que largou depressa um tubinho rotulado: Marcas Negras Comest�veis: Deixam qualquer um doente! Jorge afastou uma cortina ao lado das m�gicas dos trouxas e Harry viu uma sala mais escura e mais vazia. As embalagens dos produtos nas prateleiras eram mais discretas. � Acabamos de desenvolver esta linha mais s�ria � disse Fred. � Foi engra�ado como aconteceu... � Voc� n�o acreditaria quantas pessoas, at� mesmo funcion�rios do Minist�rio n�o conseguem fazer um Feiti�o-Escudo decente �explicou Jorge. � � claro que n�o tiveram voc� como professor, Harry. � S�rio... bem, achamos que os chap�us-escudo eram uma piada. Sabe, voc� p�e o chap�u e desafia o colega a lan�ar um feiti�o e fica olhando a cara dele quando o feiti�o simplesmente n�o funciona. Mas o Minist�rio comprou quinhentos para todo o pessoal de apoio! E continuamos recebendo pedidos enormes! � Ent�o ampliamos a linha para incluir capas-escudo, luvas-escudo... � ... quer dizer, n�o serviriam para proteger o cara das Maldi��es Imperdo�veis, mas para feiti�os e encantamentos de leves a moderados... � E pensamos em cobrir toda a �rea de Defesa contra as Artes das Trevas, porque � uma mina de ouro � continuou Jorge entusiasmado. � Este aqui � legal. Veja, P� Escurecedor Instant�neo, estamos importando do Peru. Maneiro para quem quer desaparecer r�pido. � E os Detonadores-Chamariz est�o praticamente fugindo das nossas prateleiras, olhe. � Fred apontou para uma quantidade de objetos pretos esquisitos, dotados de apito que de fato tentavam sumir de vista. � A pessoa deixa cair um, sem ningu�m ver, e ele sai correndo e apitando at� sumir, e com isso desvia as aten��es se precisar. � Maneiro � comentou Harry impressionado. � Leve alguns � ofereceu Jorge, apanhando uns dois e atirando-os para Harry. Uma jovem bruxa de cabelos louros e curtos enfiou a cabe�a por um lado da cortina; Harry notou que ela tamb�m usava o uniforme magenta da loja. � Tem um fregu�s l� fora querendo um caldeir�o de mentira, senhores Weasley � avisou a mo�a. Harry achou muito estranho ouvir algu�m chamar Fred e Jorge de senhores Weasley, mas eles aceitavam o tratamento com naturalidade. � Certo, Vera, j� estou indo � disse Jorge prontamente. � Harry, apanhe o que quiser, est� bem? Oferta da casa. � N�o posso fazer isso! � protestou Harry, que j� puxara a bolsa para pagar pelos Detonadores-Chamariz. � Aqui voc� n�o paga � disse Fred com firmeza, dispensando o ouro de Harry. � Mas... � Voc� nos doou o capital inicial, n�o esquecemos � lembrou Jorge, s�rio. � Leve o que quiser e basta dizer �s pessoas onde encontrou, caso perguntem. Jorge passou r�pido pela cortina e foi ajudar a atender a freguesia, e Fred voltou com Harry para o sal�o principal, onde encontraram Hermione e Gina ainda examinando a caixa dos Feiti�os para Devanear. � Voc�s ainda n�o descobriram os nossos produtos Bruxa Maravilha? � perguntou Fred. � Sigam-me, senhoras... Pr�ximo � vitrine, havia um arranjo de produtos rosa berrante em torno do qual jovens excitadas davam risadinhas entusi�sticas. Hermione e Gina se detiveram mais atr�s, cautelosas. � A� est�o � anunciou Fred orgulhoso. � Melhor linha de po��es de amor que voc�s podem encontrar no mundo. Gina ergueu a sobrancelha descrente. � E funcionam? � Claro que funcionam, por um per�odo de at� vinte e quatro horas de cada vez, dependendo do peso corporal do rapaz em quest�o... � ... e a atra��o exercida pela mo�a � completou Jorge, reaparecendo de repente ao lado deles. � Mas n�o vamos vend�-las � nossa irm� � acrescentou, ficando inesperadamente s�rio. � N�o quando j� existem cinco rapazes no circuito. � Se foi o Rony que lhe informou isso � uma baita mentira �retrucou Gina calmamente, curvando-se para tirar um potinho rosa da prateleira. � E isso o que �? � O Infal�vel Removedor de Espinhas em Dez Segundos � disse Fred. � Excelente para tudo, de fur�nculos a cravos, mas n�o mude de assunto. No momento voc� est� ou n�o est� saindo com um rapaz chamado Dino Thomas? � Estou. E da �ltima vez que o vi, ele era um rapaz e n�o cinco. E aquilo ali? Gina apontou para umas bolas redondas e felpudas em tons de rosa e roxo que giravam no fundo de uma gaiola emitindo guinchos agudos. � Mini-Pufes � informou Jorge. � Pufosos miniatura, n�o conseguimos reproduzi-los com a velocidade necess�ria. E o Miguel Corner? � Acabei com ele, era mau perdedor � respondeu Gina, enfiando um dedo pela grade da gaiola e observando os Mini-Pufes se aglomerarem em volta. � S�o muito fofinhos! � �, d�o vontade de apertar � admitiu Fred. � Mas voc� est� trocando de namorado meio r�pido, n�o? Gina virou-se para encarar o irm�o, com as m�os nos quadris. Em seu rosto, havia uma express�o, "Sra. Weasley", que surpreendeu Harry. Fred n�o se intimidou. � N�o � da sua conta. E ficarei muito agradecida a voc� � acrescentou com raiva para Rony, que acabara de aparecer ao lado de Jorge, carregado de mercadorias �, se parar de contar a esses dois mentiras a meu respeito! � S�o tr�s gale�es, nove sicles e um nuque � somou Fred, examinando as muitas caixas que Rony trazia nos bra�os. � Pode se co�ar. � Sou seu irm�o! � E o que voc� est� levando � nosso. Tr�s gale�es, nove sicles, n�o precisa pagar o nuque. � Mas eu n�o tenho tr�s gale�es e nove sicles! � Ent�o � melhor devolver tudo, e para as prateleiras certas. Rony deixou cair v�rias caixas e fez um gesto obsceno para Fred; por azar, foi visto pela Sra. Weasley, que escolhera aquele momento para reaparecer. � Se eu vir voc� fazendo isso outra vez, colo os seus dedos com um feiti�o � avisou ela com rispidez. � Mam�e, posso comprar um Mini-Pufe? � perguntou Gina sem perder tempo. � Um o qu�? � perguntou a m�e desconfiada. � Olha, s�o t�o bonitinhos... A Sra. Weasley deu um passo para examinar os Mini-Pufes, e Harry, Rony e Hermione momentaneamente puderam ver a rua atrav�s da vitrine. Draco Malfoy ia subindo a rua depressa e sozinho. Ao passar pela Gemialidades Weasley, olhou por cima do ombro. Segundos depois, saiu do campo de vis�o dos tr�s. � E cad� a m�e dele? � indagou Harry, enrugando a testa. � Pelo jeito, Malfoy a despistou � respondeu Rony. � Mas por qu�? � admirou-se Hermione. Harry n�o respondeu; ficou muito pensativo. Voluntariamente, Narcisa Malfoy n�o deixaria seu precioso filho fora de suas vistas; ele devia ter se empenhado para fugir de suas garras. Harry, conhecendo e desprezando Malfoy, tinha certeza de que havia segundas inten��es naquilo. Ele olhou ao redor. A Sra. Weasley e Gina estavam curvadas para os Mini-Pufes. O Sr. Weasley examinava encantado um baralho trouxa com as cartas marcadas. Fred e Jorge estavam atendendo a fregueses. Do outro lado da vitrine, Hagrid estava parado de costas para a loja, vigiando os dois lados da rua. � Entrem depressa aqui embaixo � disse Harry tirando a Capa da Invisibilidade da mochila. � Ah... n�o sei, Harry. � Hermione olhou insegura para a Sra. Weasley. � Anda logo! � insistiu Rony. Ela hesitou mais um segundo, e entrou embaixo da capa com Harry e Rony. Ningu�m reparou no desaparecimento deles; estavam muito interessados nos produtos de Fred e Jorge. Harry, Rony e Hermione se apertaram entre os fregueses para sair da loja o mais ligeiro poss�vel, mas, quando finalmente alcan�aram a rua, Malfoy tamb�m conseguira desaparecer. � Ele estava indo naquela dire��o � murmurou Harry baixinho, para evitar que Hagrid, que cantarolava, os ouvisse. � Vamos. Os tr�s sa�ram apressados, olhando para a direita e a esquerda, passaram por vitrines e portas, e por fim Hermione apontou em frente. � N�o � ele ali? � cochichou ela. � Virando � esquerda? � Grande surpresa � respondeu Rony tamb�m cochichando. Porque Malfoy olhara para os lados e entrara na travessa do Tranco. � Depressa sen�o o perdemos � disse Harry, acelerando o passo. � V�o ver os nossos p�s � comentou Hermione ansiosa, sentindo a capa esvoa�ar e bater nos tornozelos deles; hoje em dia era muito mais dif�cil esconder os tr�s. � N�o faz mal � impacientou-se Harry �, se apressem! Mas a travessa do Tranco, a rua lateral dedicada �s Artes das Trevas, parecia completamente vazia. Eles espiaram pelas vitrines ao passar, mas n�o havia fregueses nas lojas. Harry supunha que nesses tempos perigosos e suspeitos seria bandeiroso comprar artigos das trevas ou, pelo menos, ser visto comprando algum. Hermione beliscou o bra�o do amigo com for�a. � Ai! � Shh! Olha ele ali! � sussurrou a garota no ouvido de Harry. Tinham chegado � �nica loja da travessa do Tranco que Harry j� visitara: a Borgin e Burkes, que homenageava um ladr�o e um envenenador famosos, e era especializada em uma grande variedade de objetos sinistros. Ali, no meio de caixotes cheios de cr�nios e garrafas velhas, encontrava-se Draco Malfoy, de costas para eles, mal discern�vel al�m do mesm�ssimo arm�rio grande e escuro em que Harry se escondera para evitar os Malfoy, pai e filho. A julgar pelo movimento das m�os, Malfoy falava animadamente. O dono da loja, o Sr. Borgin, um homem untuoso e encurvado, estava diante dele. O bruxo tinha uma curiosa express�o em que se misturavam o rancor e o medo. � Se ao menos a gente pudesse ouvir o que est�o dizendo! � lamentou Hermione. � Podemos! � exclamou Rony excitado. � Calma a�... p�... Ele deixou cair umas caixas, que ainda estava carregando, enquanto remexia na maior delas. � Orelhas Extens�veis, veja! � Fant�stico! � admirou-se Hermione, enquanto Rony desenrolava os compridos fios cor de carne e come�ava a apont�-los em dire��o � parte inferior da porta. � Ah, espero que a porta n�o esteja Imperturb�vel... � N�o est�! � respondeu Rony com alegria. � Escute! Eles juntaram as cabe�as para escutar atentamente as pontas dos fios, pelos quais ouviam a voz de Malfoy em alto e bom som, como se tivessem ligado um r�dio. � ... o senhor sabe como consertar? � � poss�vel � respondeu Borgin, indicando, pelo seu tom, que n�o queria se comprometer. � Mas primeiro preciso v�-la. Por que n�o traz aqui � loja? � N�o posso � argumentou Malfoy. � Tem de ficar onde est�. S� preciso que me diga como consertar. Harry viu Borgin umedecer nervosamente os l�bios. � Bem, sem ver, devo dizer que � uma tarefa muito dif�cil, talvez imposs�vel. N�o posso garantir nada. � N�o? � retrucou o rapaz, e, s� pelo seu tom, Harry percebeu que sorria com desd�m. � Talvez isto lhe d� mais seguran�a. Malfoy aproximou-se de Borgin e desapareceu atr�s do arm�rio. Harry, Rony e Hermione chegaram para o lado tentando mant�-lo em seu campo visual, mas s� conseguiram ver Borgin, que parecia muito amedrontado. � Comente isto com algu�m � disse Malfoy � e sofrer� o castigo merecido. O senhor conhece Fenrir Greyback? � um amigo de fam�lia, e vir� visit�-lo de vez em quando para verificar se o senhor est� dedicando total aten��o ao problema. � N�o h� necessidade de... � Eu � que decido isso � respondeu Malfoy. � Bem, � melhor eu ir andando. E n�o se esque�a de guardar isso em lugar seguro. Vou precisar dela. � Talvez queira lev�-la agora? � N�o, claro que n�o, seu homenzinho burro, como � que eu ficaria carregando isso pela rua? Mas n�o a venda. � Claro que n�o... senhor. Borgin fez uma rever�ncia t�o profunda quanto Harry o vira fazer para L�cio Malfoy. � E nem uma palavra para ningu�m, Borgin, nem mesmo minha m�e, entendeu? � Naturalmente, naturalmente � murmurou Borgin, curvando-se mais uma vez. No momento seguinte, a sineta da porta tilintou sonoramente, indicando a sa�da de Malfoy da loja, demonstrando grande satisfa��o consigo mesmo. Passou t�o perto de Harry, Rony e Herrnione que eles sentiram a capa esvoa�ar em torno dos seus joelhos. Dentro da loja, Borgin permaneceu paralisado; seu sorriso untuoso desaparecera; parecia preocupado. � Do que � que eles estavam falando? � sussurrou Rony, recolhendo as Orelhas Extens�veis. � N�o sei � respondeu Harry pensativo. � Ele quer que consertem alguma coisa... e quer que reservem outra a� dentro... voc� viu o que foi que ele apontou quando disse "isso"? � N�o, ele estava escondido por aquele arm�rio... � Voc�s dois fiquem aqui � cochichou Hermione. � Que � que voc� vai...? Mas a garota j� tinha sa�do de baixo da capa. Verificou o penteado na imagem refletida na vitrine e entrou decidida na loja, fazendo a sineta tocar. Ligeiro, Rony fez as Orelhas Extens�veis passarem novamente por baixo da porta e deu um fio a Harry. � Ol�, que manh� horr�vel, n�o �? � disse Hermione, animada, a Borgin, mas o homem, sem responder, lan�ou-lhe um olhar desconfiado. Cantarolando alegre, a garota saiu caminhando entre a confus�o de objetos � mostra. � Esse colar est� � venda? � perguntou, parando ao lado de um balc�o-vitrine. � Se a senhorita tiver mil e quinhentos gale�es � respondeu o bruxo com frieza. � Ah... eh... n�o, n�o tenho tanto � disse a garota prosseguindo. � E... esse lindo... hum... cr�nio? � Dezesseis gale�es. � Ent�o est� � venda? N�o est� reservado para ningu�m? Borgin examinou-a apertando os olhos. Harry teve a desagrad�vel impress�o de que o bruxo percebeu exatamente aonde Hermione queria chegar. Pelo jeito, a garota tamb�m percebeu que tinha sido descoberta, porque de repente abandonou a cautela. � O caso � o seguinte... eh... o rapaz que esteve agora h� pouco aqui, Draco Malfoy, bem, ele � meu amigo, e quero lhe comprar um presente de anivers�rio, mas, se ele j� deixou alguma coisa reservada, obviamente n�o quero lhe dar a mesma coisa, ent�o, �h... � Fora � disse o bruxo com rispidez. � V� embora! Hermione n�o esperou ser convidada pela segunda vez, correu para a porta com o bruxo em seus calcanhares. Quando a sineta tornou a soar e a garota saiu, ele bateu a porta e pendurou um aviso de "Fechada". � Ah, bem � consolou-a Rony atirando a capa sobre a amiga. �Valeu a tentativa, mas voc� foi um pouco �bvia... � Bem, da pr�xima vez voc� pode me mostrar como se faz, Mestre dos Mist�rios! � retorquiu ela. Os dois brigaram durante todo o percurso at� a Gemialidades Weasley, onde foram for�ados a se calar para passar despercebidos por Hagrid e uma Sra. Weasley muito ansiosa, que claramente notara a aus�ncia deles. Uma vez na loja, Harry despiu a Capa da Invisibilidade, escondeu-a na mochila e se reuniu aos dois quando insistiram, em resposta �s acusa��es da Sra. Weasley, que tinham estado o tempo todo na sala dos fundos, e que ela � que n�o tinha olhado direito. CAP�TULO SETE O CLUBE DO SLUGUE HARRY PASSOU GRANDE PARTE DA �LTIMA semana de f�rias refletindo sobre o significado do comportamento de Malfoy na travessa do Tranco. O que mais o intrigava era o ar de satisfa��o que ele exibia ao sair da loja. Nada que o fizesse parecer t�o feliz podia ser boa not�cia. Para seu aborrecimento, por�m, nem Rony nem Hermione pareciam sentir a mesma curiosidade pelas atividades de Malfoy; ou, pelo menos, pareciam achar chato discutir o assunto ao fim de alguns dias. � Eu j� concordei que foi suspeito, Harry � impacientou-se Hermione. Ela estava sentada no parapeito da janela do quarto de Fred e Jorge, com os p�s apoiados em uma das caixas de papel�o, e foi contrariada que ergueu os olhos do seu novo livro Tradu��o avan�ada das runas. � E n�o acabamos concordando, tamb�m, que poderia haver muitas explica��es? � Talvez ele tenha quebrado a M�o da Gl�ria dele � disse Rony distraidamente, consertando as cerdas tortas da cauda de sua vassoura. � Lembra aquele bra�o murcho que Malfoy tinha? � Mas e quando ele disse "E n�o se esque�a de guardar isso em lugar seguro"? � perguntou Harry pela en�sima vez. � Tive a impress�o de que Borgin tinha o par do objeto quebrado e Malfoy queria os dois. � � o que voc� acha? � quis saber Rony, agora tentando raspar uma sujeira do punho da vassoura. � � � confirmou Harry. Mas n�o recebendo resposta nem de Rony nem de Hermione, acrescentou: � O pai de Malfoy est� em Azkaban. Voc�s n�o acham que ele gostaria de se vingar? Rony ergueu a cabe�a, piscando. � Malfoy, se vingar? Que � que ele pode fazer? � Esse � o problema, eu n�o sei! � respondeu Harry frustrado. � Mas ele est� armando alguma, e acho que dev�amos levar isso a s�rio. O pai dele � um Comensal da Morte e... Harry parou de falar, seu olhar se fixou na janela atr�s de Hermione, sua boca abriu. Acabara de lhe ocorrer uma id�ia espantosa. � Harry? � chamou Hermione ansiosa. � Que aconteceu? � Sua cicatriz est� doendo outra vez? � perguntou Rony nervoso. � Ele � um Comensal da Morte � disse Harry lentamente. �Substituiu o pai como Comensal da Morte! Fez-se um sil�ncio, e ent�o Rony explodiu em uma gargalhada. � Malfoy? Ele tem dezesseis anos, Harry! Voc� acha que Voc�-Sabe-Quem deixaria Malfoy se alistar? � Acho muito improv�vel, Harry � comentou Hermione em um tom meio repressor. � Que � que faz voc� pensar...? � Na loja da Madame Malkin. Ela nem chegou a tocar nele, Malfoy gritou e puxou o bra�o quando ela quis enrolar a manga da roupa dele. Era o bra�o esquerdo. Tatuaram a fogo a Marca Negra. Rony e Hermione se entreolharam. � Bem... � disse Rony, ainda sem convic��o. � Acho que ele s� queria sair da loja, Harry � argumentou Hermione. � Ele mostrou a Borgin uma coisa que n�o pudemos ver � contrap�s Harry com teimosia. � Uma coisa que deixou Borgin apavorado. Foi a Marca, sei que foi... ele mostrou ao bruxo com quem ele estava falando, e voc�s viram que Borgin o levou muito a s�rio! Rony e Hermione tornaram a se entreolhar. � N�o tenho certeza, Harry... � E, continuo achando que Voc�-Sabe-Quem n�o deixaria Malfoy se alistar... Contrariado, mas absolutamente convencido de que tinha raz�o, Harry passou a m�o em uma pilha de uniformes de quadribol sujos e saiu do quarto. Fazia dias que a Sra. Weasley estava pedindo que n�o deixassem a roupa suja e a arruma��o das malas para o �ltimo instante. No patamar da escada, Harry colidiu com Gina, que subia para o pr�prio quarto levando uma pilha de roupa lavada. � Eu n�o entraria na cozinha neste momento � alertou-o a garota. � Tem muita Fleuma no peda�o... � Vou tomar cuidado para n�o escorregar � brincou Harry. Realmente, quando entrou na cozinha, Harry viu Fleur sentada � mesa, falando animada sobre seus planos para o casamento com Gui, enquanto a Sra. Weasley vigiava de cara feia uma pilha de brotos que se descascavam. � ... Gui e eu prraticamente decidimes que querremos s� duas damas de honra, Gina e Gabrrielle vam ficarr uma grra�as juntes. Stou pensande em vestirr as duas de ourro clarre... naturralmente rrose ficarrie horr�vell com os cabeles da Gina. � Ah, Harry! � exclamou em voz alta a Sra. Weasley, interrompendo o mon�logo de Fleur. � Que bom, eu queria lhe explicar as medidas de seguran�a para a viagem a Hogwarts amanh�. Teremos carros do Minist�rio e aurores aguardando na esta��o... � Tonks vai estar l�? � perguntou Harry, entregando-lhe as roupas de quadribol. � N�o, acho que n�o, ela foi designada para outro posto, pelo que me disse o Arthur. � Ela se entrregou � depresson, aquele Tonks � admirou-se Fleur, examinando sua imagem estonteante nas costas de uma colher. � Um grrande erre, se querrem saber... � Queremos, muito obrigada � disse a Sra. Weasley acidamente, atalhando Fleur outra vez. � � melhor voc� se apressar Harry, quero os mal�es prontos hoje � noite, se poss�vel, para n�o termos a correria de �ltima hora de sempre. E, de fato, a partida na manh� seguinte transcorreu mais tranq�ila do que o normal. Quando os carros do Minist�rio pararam suavemente � frente d'A Toca, encontraram tudo � espera: os mal�es, o gato de Hermione, Bichento � bem acomodado em seu cesto de viagem �, Edwiges, a coruja de Rony, Pichitinho e Arnaldo, o recente Mini-Pufe roxo de Gina, nas gaiolas. � Au revoir, Arry � disse Fleur com sua voz gutural, dando-lhe um beijo de despedida. Rony adiantou-se r�pido, esperan�oso, mas Gina esticou a perna e o irm�o caiu esparramado no ch�o aos p�s de Fleur. Furioso, com a cara vermelha e suja de terra, ele entrou ligeiro no carro, sem se despedir. N�o encontraram o bem-humorado Hagrid aguardando na esta��o de King's Cross. Dois aurores barbudos, muito s�rios e vestindo ternos de trouxas, se aproximaram no instante em que os carros pararam e flanquearam o grupo, sem dizer uma palavra, para conduzi-lo � esta��o. � Andem, andem, atravessem a barreira � apressou-os a Sra. Weasley, que parecia um pouco nervosa com aquela efici�ncia formal. � � melhor Harry ir primeiro, com... E lan�ou um olhar de indaga��o a um dos aurores, que fez um breve aceno de cabe�a, agarrou Harry pelo bra�o e tentou gui�-lo em dire��o � barreira entre as plataformas nove e dez. � Sei andar, obrigado � falou Harry irritado, desvencilhando o bra�o do aperto do auror. Empurrou, ent�o, o carrinho de bagagem diretamente para a barreira, ignorando seu companheiro silencioso, e viu-se, um segundo depois, na plataforma nove e meia, onde j� se encontrava o Expresso vermelho de Hogwarts, lan�ando fuma�a sobre a multid�o. Segundos depois, Hermione e os Weasley se reuniram a ele. Sem consultar o auror carrancudo, Harry fez sinal a Rony e Hermione para acompanh�-lo, � procura de um compartimento vazio. � N�o podemos, Harry � disse Hermione, desculpando-se. � Rony e eu temos de ir ao carro dos monitores primeiro e depois patrulhar os corredores por um tempo. � Ah, �, me esqueci. � � melhor voc�s irem direto para o trem, s� faltam alguns minutos � avisou a Sra. Weasley, consultando o rel�gio. � Bem, um bom trimestre, Rony... � Sr. Weasley, posso dar uma palavrinha com o senhor? � perguntou Harry, tomando uma repentina decis�o. � Claro � respondeu o bruxo, ligeiramente surpreso, mas acompanhou Harry at� um ponto da plataforma em que n�o podiam ser ouvidos. Harry refletira longamente e chegara � conclus�o de que, se ia contar a algu�m, o Sr. Weasley seria a pessoa certa; primeiro porque ele trabalhava no Minist�rio e, portanto, estava em melhor posi��o de aprofundar as investiga��es; e, segundo, porque achava que o risco do Sr. Weasley ter uma explos�o de raiva era pequeno. Quando se afastaram, ele viu a Sra. Weasley e o auror s�rio lan�arem aos dois olhares desconfiados. � Quando est�vamos no beco Diagonal... � come�ou Harry, mas o Sr. Weasley antecipouse a ele com uma careta. � Ser� que estou prestes a descobrir aonde voc�, Rony e Hermione foram enquanto pens�vamos que estivessem na sala dos fundos da loja de Fred e Jorge? � Como foi que o senhor...? � Por favor, Harry. Voc� est� falando com o homem que criou Fred e Jorge. � �h... sim, tudo bem, n�o est�vamos na sala dos fundos. � Muito bem, ent�o, vamos ouvir o pior. � Bem, seguimos o Draco Malfoy. Usamos a minha Capa da Invisibilidade. � Voc�s tiveram alguma raz�o para fazer isso ou foi s� um capricho? � Achei que o Malfoy estava armando alguma coisa � respondeu Harry, fingindo n�o ver a cara do Sr. Weasley em que se misturavam a irrita��o e o divertimento. � Ele tinha despistado a m�e, e eu queria saber por qu�. � E naturalmente ficou sabendo � disse o bruxo resignado. �Ent�o? Descobriu por qu�? � Ele foi a Borgin & Burkes e come�ou a intimidar o cara l�, o Borgin, para ajud�-lo a consertar alguma coisa. E disse que queria que reservasse uma coisa para ele. Falou de um jeito que pareceu que era o mesmo tipo de coisa que precisava de conserto. Como se formassem um par. E... Harry tomou f�lego. � E tem mais uma coisa. Vimos o Malfoy subir nas paredes quando a Madame Malkin tentou tocar seu bra�o esquerdo. Acho que ele foi tatuado com a Marca Negra. Acho que substituiu o pai como Comensal da Morte. O Sr. Weasley pareceu confuso. Passado um momento, disse: � Harry, duvido que Voc�-Sabe-Quem permitisse que um garoto de dezesseis anos... � Ser� que algu�m sabe realmente o que Voc�-Sabe-Quem faria ou n�o faria? � perguntou Harry zangado. � Sr. Weasley, me desculpe, mas ser� que n�o vale a pena investigar? Se Malfoy quer mandar consertar alguma coisa e precisa amea�ar Borgin para conseguir, provavelmente � alguma coisa das trevas ou perigoso, n�o �? � Para ser sincero, eu duvido, Harry � respondeu o Sr. Weasley lentamente. � Sabe, quando L�cio Malfoy foi preso, revistamos a casa dele. Removemos tudo que pudesse ser perigoso. � Acho que deixaram escapar alguma coisa na revista � teimou Harry. � Bem, talvez � disse o Sr. Weasley, mas Harry percebeu que o bruxo estava apenas tentando n�o contrari�-lo. Um apito soou �s suas costas; quase todos j� tinham embarcado e as portas do trem estavam fechando. � � melhor se apressar � disse o Sr. Weasley, quando a Sra. Weasley gritou: � Harry, se apresse! Ele correu para o trem, e o casal Weasley ajudou-o a embarcar o mal�o. � Lembre-se querido, vem passar o Natal conosco, j� combinamos com o Dumbledore, ent�o logo o veremos � disse a Sra. Weasley pela janela, enquanto Harry batia a porta e o trem come�ava a se mover. � N�o se esque�a de se cuidar e... O trem ganhou velocidade. � ... comporte-se e... Ela agora corria para acompanhar o trem. � ... n�o se exponha! Harry acenou at� o trem fazer a primeira curva, e o Sr. Weasley e a Sra. Weasley desaparecerem de vista. Ent�o, se virou para localizar os amigos. Supunha que Rony e Hermione estivessem enclausurados no carro dos monitores, mas Gina estava mais adiante no corredor, conversando com alguns amigos. Encaminhou-se para ela, arrastando o mal�o. As pessoas o encararam abertamente quando ele se aproximou. Chegavam a colar os rostos nas janelas dos compartimentos para espiar melhor. Imaginara que haveria um crescimento no n�mero de bocas abertas e olhares de curiosidade que teria de suportar neste trimestre depois da boataria sobre "o Eleito", publicada no Profeta Di�rio, mas n�o gostava da sensa��o de estar parado sob holofotes. Bateu de leve no ombro de Gina. � Quer procurar outro compartimento? � N�o posso, Harry, prometi me encontrar com o Dino � respondeu a garota animada. � Vejo voc� depois. � Certo. � Harry sentiu uma estranha fisgada de contrariedade quando ela se afastou, os longos cabelos ruivos dan�ando nas suas costas. Ele se acostumara de tal maneira � sua presen�a no ver�o que quase se esquecera de que Gina n�o andava com ele, Rony e Hermione quando estavam na escola. Piscou e olhou ao seu redor: estava cercado de garotas hipnotizadas. � Oi, Harry! � disse uma voz conhecida atr�s dele. � Neville! � exclamou Harry aliviado, virando-se para olhar o garoto de rosto redondo que tentava se aproximar. � Ol�, Harry � cumprimentou uma garota de cabelos longos e olhos sonhadores, que vinha logo atr�s de Neville. � Luna, oi, como vai? � �tima, obrigada. � Apertava uma revista contra o peito; letras garrafais anunciavam que dentro dela havia um par de Espectrocs. � O Pasquim continua firme e forte? � perguntou Harry, que sentia um certo carinho pela revista, � qual dera uma entrevista exclusiva no ano anterior. � Ah, sim, a circula��o aumentou muito � respondeu Luna, feliz. � Vamos procurar um lugar para sentar? � convidou Harry, e os tr�s atravessaram o trem em meio � curiosidade silenciosa de hordas de alunos. Por fim, encontraram um compartimento vazio em que, agradecido, Harry entrou rapidamente. � Est�o olhando at� para n�s � comentou Neville, incluindo Luna em seu gesto. � S� porque estamos com voc�! � Est�o olhando para voc� porque tamb�m esteve no Minist�rio � lembrou Harry, enquanto erguia o mal�o para guard�-lo no bagageiro. � A nossa pequena aventura por l� esteve nas p�ginas do Profeta Di�rio, voc� deve ter visto. � Vi, achei que vov� ficaria danada com aquela publicidade toda � contou Neville �, mas ela ficou realmente satisfeita. Diz que demorei, mas que, enfim, estou come�ando a honrar o meu pai. E at� me comprou uma varinha nova, veja! E tirou a varinha para mostr�-la a Harry. � Cerejeira e p�lo de unic�rnio � anunciou orgulhoso. � Achamos que foi uma das �ltimas que Olivaras vendeu, ele desapareceu no dia seguinte... ei, volta aqui, Trevo! Neville mergulhou embaixo do banco para recuperar o sapo que fazia mais uma tentativa de ganhar a liberdade. � Vamos continuar com as reuni�es da AD este ano, Harry? � perguntou Luna, destacando um par de �culos psicod�licos das p�ginas do Pasquim. � N�o faz muito sentido agora que nos livramos da Umbridge, n�o �? � indagou Harry, sentando-se. Neville bateu com a cabe�a ao sair de baixo do banco. Parecia muito desapontado. � Eu gostava da AD! Aprendi um mont�o de coisas com voc�! � Eu gostei das reuni�es tamb�m � concordou Luna, serenamente. � Era como se eu tivesse amigos. Foi um daqueles coment�rios inconvenientes que Luna fazia com freq��ncia e que produziam em Harry uma sensa��o de pena e constrangimento, ao mesmo tempo. Antes que pudesse responder, por�m, houve uma agita��o � porta do compartimento; um grupo de garotas do quarto ano estava cochichando e rindo bobamente junto � janela. � Voc� pergunta! � Eu n�o, voc�! � Eu pergunto! Uma delas, ent�o, com ar decidido, queixo saliente, grandes olhos e cabelos negros, abriu a porta e entrou. � Oi, Harry, eu sou Romilda, Romilda Vane � apresentou-se em voz alta e confiante. � Por que n�o vem se reunir a n�s em nosso compartimento? N�o precisa se sentar com eles � acrescentou com um sussurro teatral, apontando para o traseiro que Neville deixara de fora ao tatear embaixo do banco, � procura do Trevo, e para Luna, agora usando seus Espectrocs promocionais, que lhe davam a apar�ncia de uma coruja demente e multicolorida. � Eles s�o meus amigos � respondeu Harry com frieza. � Ah � exclamou a garota, fazendo ar de grande surpresa. � Ah. O.k. E retirou-se, fechando a porta ao sair. � As pessoas esperam que voc� tenha amigos mais legais que n�s � comentou Luna, demonstrando mais uma vez o seu talento para a rude franqueza. � Voc�s s�o legais � disse Harry resumindo. � Nenhuma delas esteve no Minist�rio. N�o combateram comigo. � Que coisa gostosa de se ouvir � comentou uma sorridente Luna, que ajeitou os Espectrocs na ponte do nariz e se acomodou para ler O Pasquim. � Mas n�o enfrentamos ele � disse Neville, levantando-se com os cabelos cheios de cot�o e poeira e um Trevo com ar resignado na m�o. � Voc� sim. Devia ouvir minha av� falando de voc�. "Aquele Harry tem mais coragem do que todo o Minist�rio da Magia junto!" Ela daria tudo para ter voc� como neto... Harry riu, sem gra�a, e mudou de assunto assim que p�de, comentando os resultados dos N.O.M.s. Enquanto Neville recitava suas notas e se perguntava em voz alta se poderia fazer o curso avan�ado de Transfigura��o tendo tirado apenas um "Aceit�vel", Harry o observava sem realmente escutar. A inf�ncia de Neville fora arruinada por Voldemort tal como a de Harry, mas o amigo n�o fazia a menor id�ia de como chegara perto de ter o destino dele. A profecia poderia ter se referido a qualquer um dos dois, contudo, por raz�es pr�prias e insond�veis, Voldemort preferira acreditar que se referia a Harry. Se Voldemort tivesse escolhido Neville, ele � quem estaria sentado diante de Harry com a cicatriz em forma de raio e o peso da profecia... ou ser� que n�o? Ser� que a m�e de Neville teria morrido para salv�-lo, como L�lian morrera por Harry? Com certeza que sim... mas e se n�o tivesse conseguido se interpor entre Voldemort e o filho? Ent�o, ser� que n�o haveria "Eleito" algum? S� um banco vazio onde Neville se sentava agora e um Harry sem cicatriz que teria recebido um beijo de despedida de sua m�e e n�o da de Rony? � Voc� est� bem, Harry? Est� com uma cara estranha � comentou Neville. Harry se assustou. � Desculpe... eu... � Foi atacado por um zonz�bulo? � perguntou Luna gentilmente, observando Harry atrav�s de seus enormes Espectrocs multicoloridos. � Eu... fui o qu�? � Um zonz�bulo... s�o invis�veis, entram pelos ouvidos e baralham o c�rebro da gente � explicou ela. � Pensei ter pressentido um voando por aqui. Ela agitou as m�os no ar, como se espantasse enormes mariposas invis�veis. Harry e Neville se entreolharam e come�aram depressa a discutir quadribol. Das janelas do trem, entrevia-se o tempo enevoado aqui e claro mais adiante, como estiver a o ver�o inteiro; eles passavam por trechos de n�voa enregelante seguidos por outros em que o sol brilhava fracamente. Foi em um desses em que aparecia o sol, quase a pino, que Rony e Hermione finalmente entraram no compartimento. � Gostaria que o carrinho do lanche viesse logo, estou faminto �anunciou Rony ansioso, largando-se no banco ao lado de Harry esfregando a barriga. � Oi, Neville, oi, Luna. Querem saber da novidade? � acrescentou ele, virando-se para Harry. � Malfoy n�o est� cumprindo as tarefas de monitor. Est� sentado no compartimento dele com colegas da Sonserina, vimos quando passamos. Harry sentou-se direito, interessado. N�o era do feitio de Malfoy perder uma oportunidade de exercer o seu poder de monitor, fun��o de que usara e abusara durante todo o ano anterior. � Que foi que ele fez quando viu voc�s? � O de sempre � respondeu Rony com indiferen�a, ilustrando com um gesto obsceno. � Mas n�o � do feitio dele, n�o �? Bem, isto aqui � � e repetiu o gesto �, mas por que n�o est� nos corredores intimidando os alunos do primeiro ano? � Sei l� � retrucou Harry, mas sua cabe�a estava a mil por hora. Ser� que isto n�o indicaria que Malfoy tinha coisas mais importantes em que pensar do que implicar com alunos mais novos? � Vai ver ele preferia a Brigada Inquisitorial � sugeriu Hermione. � Vai ver que, depois da brigada, n�o tem mais gra�a ser monitor. � Acho que n�o � falou Harry �, acho que ele... Mas, antes que pudesse expor sua teoria, a porta do compartimento tornou a se abrir e entrou uma garota do terceiro ano. � Mandaram entregar isto a Neville Longbottom e Harry P-Potter � gaguejou ela corando, quando seus olhos encontraram os de Harry. Estendeu a m�o em que segurava dois rolos de pergaminho presos por uma fita violeta. Perplexos, Harry e Neville apanharam cada um o seu e a garota saiu aos trope�os do compartimento. � Que � isso? � perguntou Rony, enquanto Harry desenrolava o pergaminho. � Um convite. Harry, Eu teria grande prazer se voc� me fizesse companhia ao almo�o no compartimento C. Sinceramente, professor H.E.E Slughorn � Quem � o professor Slughorn? � perguntou Neville, olhando o convite com ar de espanto. � Novo professor � respondeu Harry. � Bem, acho que teremos de ir, n�o �? � Mas por que ele me convidou? � indagou Neville nervoso, como se esperasse uma deten��o. � N�o fa�o a menor id�ia. � O que n�o era bem verdade, embora n�o tivesse provas de que o seu palpite estivesse certo. � Escute aqui �acrescentou, tomado por repentina intui��o �, vamos usar a Capa da Invisibilidade, e a caminho a gente talvez possa dar uma boa olhada no Malfoy, ver o que ele anda tramando. A id�ia, por�m, n�o foi adiante: era imposs�vel atravessar os corredores, cheios de gente � espera do carrinho do lanche, usando a Capa da Invisibilidade. Frustrado, Harry guardou-a na mochila, refletindo que teria sido uma boa id�ia us�-la ao menos para evitar os olhares curiosos, que pareciam ter se multiplicado desde a �ltima vez que percorrera o trem. De vez em quando, estudantes se atiravam no corredor para dar uma boa olhada nele. A exce��o foi Cho Chang, que se enfurnou depressa no compartimento ao ver Harry se aproximando. Quando passou pela janela, ele a viu muito entretida conversando com a amiga Marieta, que, embora usasse uma grossa camada de maquiagem, n�o conseguia disfar�ar completamente a estranha forma��o de espinhas no rosto. Com um leve sorriso, Harry seguiu em frente. Quando chegaram ao compartimento C, viram que n�o eram os �nicos convidados de Slughorn, embora, a julgar pela recep��o entusi�stica do professor, Harry fosse o mais esperado. � Harry, meu rapaz! � exclamou Slughorn, erguendo-se r�pido e de tal jeito que sua enorme barriga coberta de veludo pareceu ocupar o espa�o que restava no compartimento. Sua careca lisa e a bigodeira prateada refulgiam t�o intensamente � luz do sol quanto os bot�es dourados do seu colete. � Que bom v�-lo, que bom v�-lo! E o senhor deve ser o Sr. Longbottom! Neville assentiu, com ar amedrontado. A um gesto de Slughorn, eles se sentaram um defronte ao outro nos dois �nicos lugares vazios, e mais pr�ximos da porta. Harry correu o olhar pelos convidados. Reconheceu um aluno da Sonserina da mesma s�rie que ele, um negro alto com os malares salientes e olhos muito puxados; havia ainda dois rapazes da s�tima s�rie que Harry n�o conhecia e, espremida a um canto junto a Slughorn, Gina, parecendo n�o saber muito bem como chegara ali. � Bem, voc�s conhecem todo o mundo? � perguntou Slughorn aos rec�m-chegados. � Bl�sio Zabini, da mesma s�rie que voc�, � claro... Zabini n�o fez sinal algum de reconhecimento nem de cumprimento, no que foi imitado por Harry e Neville: por princ�pio, alunos da Grifin�ria e da Sonserina se detestavam. � Este � C�rmaco McLaggen, talvez j� tenham se visto? N�o? McLaggen, um jovem corpulento de cabelos crespos e armados, ergueu a m�o, e Harry e Neville retribu�ram com um aceno de cabe�a. � ... e este � Marcos Belby, n�o sei se... Belby, que era magro e nervoso, sorriu tenso. � ... e esta encantadora jovem me diz que j� os conhece! � terminou Slughorn. Gina fez uma careta para Harry e Neville por tr�s do professor. � Bem, isto � muito agrad�vel � comentou Slughorn acolhedoramente. � Uma oportunidade de conhec�-los um pouco melhor. Aqui, apanhem um guardanapo. Trouxe o meu pr�prio almo�o; o carrinho, segundo me lembro, tem muita Varinha de Alca�uz, e o aparelho digestivo de um pobre velho n�o d� mais conta dessas coisas... fais�o, Belby? Belby se sobressaltou e aceitou algo que parecia a metade de um fais�o. � Eu estava contando ao jovem Marcos aqui que tive o prazer de ser professor do seu tio D�mocles � disse Slughorn a Harry e Neville, passando agora uma cesta de p�es. � Um bruxo excepcional que mereceu de fato a Ordem de Merlim. Voc� v� o seu tio com freq��ncia, Marcos? Infelizmente, Belby acabara de encher a boca de fais�o; na pressa de responder a Slughorn, engoliu r�pido demais, arroxeou e come�ou a sufocar. � Anapneo � ordenou Slughorn calmamente, apontando a varinha para o rapaz, cujas vias respirat�rias desobstru�ram na mesma hora. � N�o... n�o muita, n�o � arquejou Belby, as l�grimas escorrendo. � Bem, naturalmente, imagino que esteja ocupado � replicou Slughorn, lan�ando um olhar indagador a Belby. � Duvido que tenha inventado a Po��o de Ac�nito sem consider�vel esfor�o! � Suponho que sim... � concordou Belby, que pareceu receoso de comer outra garfada de fais�o at� ter certeza de que o professor terminara a conversa. � �h... ele e o meu pai n�o se d�o muito bem, entende, ent�o realmente n�o sei muita coisa sobre... Sua voz foi sumindo quando Slughorn lhe deu um sorriso frio e se virou para McLaggen. � Agora, voc�, C�rmaco � disse o professor �, por acaso sei que sempre v� o seu tio Tib�rio, porque ele tem uma espl�ndida foto de voc�s dois ca�ando rabicurtos em Norfolk, presumo. � Ah, sim, foi divertida, aquela ca�ada � comentou McLaggen. � Fomos com Berto Higgs e Rufo Scrimgeour, antes que se tornasse ministro, obviamente... � Ah, voc� tamb�m conhece Berto e Rufo? � disse o sorridente Slughorn, agora oferecendo aos convidados uma pequena travessa de tortinhas; mas pulando Belby. � Agora me diga... Era o que Harry suspeitava. Todos ali pareciam ter sido convidados porque estavam ligados a algu�m famoso ou influente � todos exceto Gina. Zabini, interrogado depois de McLaggen, era filho de uma bruxa famosa por sua beleza (pelo que Harry p�de entender, ela casara sete vezes e cada marido morrera misteriosamente, deixando-lhe montanhas de ouro). A seguir foi a vez de Neville: foram dez minutos muito desconfort�veis, porque os pais de Neville, aurores muito conhecidos, tinham sido torturados at� enlouquecer por Belatriz Lestrange e seus companheiros Comensais da Morte. Quando terminou a entrevista de Neville, Harry teve a impress�o de que Slughorn ainda n�o formara uma opini�o sobre ele, e isso dependia de Neville possuir algum dos talentos dos pais. � E agora � disse Slughorn, virando o corpo no banco com a pose de um apresentador de TV anunciando sua principal atra��o. � Harry Potter! Por onde come�ar? Sinto que mal cheguei a conhec�-lo quando nos encontramos no ver�o! Ele contemplou Harry Potter por um momento, como se ele fosse um peda�o particularmente grande e suculento de fais�o, ent�o disse: � "O Eleito", � como est�o chamando-o agora! Harry ficou calado. Belby, McLaggen e Zabini, todos o encaravam. � Naturalmente � continuou Slughorn, observando Harry com aten��o �, correm boatos h� muitos anos... lembro-me quando, bem, depois daquela noite terr�vel, L�lian, Tiago, mas voc� sobreviveu e diziam que devia ter poderes extraordin�rios... Zabini deu uma tossidinha, nitidamente indicando sua debochada incredulidade. Uma voz zangada interveio inesperadamente �s costas de Slughorn. � �, Zabini, porque voc� tem tanto talento... para fazer pose... � Minha nossa! � brincou Slughorn rindo, e virou a cabe�a para Gina, que encarava Zabini do outro lado da enorme pan�a do bruxo. � � melhor ter cuidado, Bl�sio! Vi esta mocinha executar uma maravilhosa azara��o para rebater bicho-pap�o quando estava passando pelo compartimento dela! Eu n�o a irritaria! Zabini simplesmente fez um ar de desprezo. � Seja como for � continuou Slughorn, dirigindo-se novamente a Harry �, os boatos que correram neste ver�o! Naturalmente, n�o se sabe em que acreditar, o Profeta Di�rio j� publicou muitas inverdades, cometeu enganos, mas parece n�o haver muita d�vida, dado o n�mero de testemunhas, que houve no Minist�rio um grande tumulto, e que voc� esteve no meio dele! Harry, que n�o viu como sair desse aperto sem pregar uma deslavada mentira, concordou com um aceno de cabe�a, mas continuou calado. Slughorn sorriu para ele. � T�o modesto, t�o modesto, n�o admira que Dumbledore goste tanto... voc� esteve l�, ent�o? Mas as outras hist�rias... t�o sensacionais, � claro, a pessoa n�o sabe bem em que acreditar... a famosa profecia, por exemplo... � N�o ouvimos nenhuma profecia. � Neville ficou rosado como um ger�nio ao dizer isso. � Verdade � confirmou Gina, lealmente. � Neville e eu tamb�m estivemos l�, e essa baboseira de "o Eleito" � inven��o do Profeta como sempre. � Voc�s dois tamb�m estiveram l�? � perguntou Slughorn muito interessado, seu olhar indo de Gina para Neville. Os dois, no entanto, ficaram calados frente ao seu sorriso encorajador. � �... � bem verdade que o Profeta muitas vezes exagera, sem d�vida � continuou Slughorn, um pouco desapontado. � Eu me lembro de Gwenog Jones, quero dizer, claro, a capita do Harpias de Holyhead... E o professor se perdeu em uma longa reminisc�ncia, mas Harry teve a n�tida impress�o de que Slughorn ainda n�o dera por encerrada a conversa com ele e que n�o se deixara convencer por Neville e Gina. A tarde foi passando com um desfile de hist�rias sobre bruxos ilustres dos quais Slughorn fora professor, todos encantados em participar do "Clube do Slugue", em Hogwarts. Harry mal conseguia esperar para ir embora, mas n�o via como fazer isso educadamente. Por fim, o trem passou de mais um longo trecho de n�voa para um rubro p�r-de-sol, e Slughorn se virou para os lados piscando na penumbra. � Santo Deus, j� est� escurecendo! N�o notei que j� tinham acendido as luzes! � melhor voc�s irem trocar de roupa, todos voc�s. McLaggen, passe na minha sala para eu lhe emprestar o livro sobre os rabicurtos. Harry, Bl�sio, a qualquer hora que estiverem nas redondezas. O mesmo vale para a senhorita. � Ele piscou para Gina. � Muito bem, v�o andando, v�o andando! Quando passou por Harry para alcan�ar o corredor sombrio, Zabini lan�ou-lhe um olhar feio que Harry retribuiu com interesse. Ele, Gina e Neville acompanharam o rapaz ao longo do trem. � Que bom que terminou � murmurou Neville. � Cara estranho, n�o �? � �, um pouco � respondeu Harry com os olhos em Zabini. � Como foi que voc� acabou convidada, Gina? � Ele me viu azarando Zacarias Smith, lembra aquele idiota da Lufa-Lufa que estava na AD? Ele n�o parava de me perguntar o que aconteceu no Minist�rio, e no fim me aborreceu tanto que o azarei; quando Slughorn entrou, pensei que ia ganhar uma deten��o, mas ele achou que tinha sido uma �tima azara��o e me convidou para almo�ar. Pira��o, n�? � E uma raz�o melhor para se convidar algu�m do que ter m�e famosa � respondeu Harry, lan�ando um olhar mal-humorado para a nuca de Zabini � ou ter um tio que... Ele interrompeu o que ia dizendo. Acabara de lhe ocorrer uma id�ia, imprudente mas potencialmente maravilhosa... em um minuto, Zabini ia tornar a entrar no compartimento do sexto ano da Sonserina, onde Malfoy estaria sentado, achando que ningu�m mais o ouvia exceto os colegas da Casa... se Harry pudesse entrar sem ser visto, atr�s de Zabini, que poderia ver ou ouvir? � verdade que faltava pouco para terminar a viagem � a esta��o de Hogsmeade devia estar a menos de meia hora, a julgar pela rusticidade do cen�rio que passava pelas janelas �, mas ningu�m mais parecia disposto a levar a s�rio suas suspeitas. Portanto, cabia a ele comprov�-las. � Vejo voc�s depois � murmurou, puxando a Capa da Invisibilidade e atirando-a sobre o corpo. � Mas que � que voc�...? � perguntou Neville. � Depois! � sussurrou Harry, disparando atr�s de Zabini o mais silenciosamente que p�de, embora o barulho do trem tornasse tal cautela quase sem sentido. Os corredores estavam praticamente vazios agora. A maioria dos estudantes voltara aos seus carros para vestir os uniformes escolares e juntar seus pertences. Embora estivesse o mais pr�ximo que podia de Zabini, sem toc�-lo, Harry n�o foi �gil o suficiente para entrar no compartimento quando o rapaz abriu a porta. Zabini j� ia fechando-a quando ele esticou depressa o p� para trav�-la. � Que aconteceu com essa coisa? � exclamou Zabini, zangado, batendo a porta v�rias vezes no obst�culo. Harry agarrou a porta e abriu-a com for�a; Zabini, que ainda segurava a ma�aneta, caiu de lado no colo de Greg�rio Goyle e, na confus�o que se seguiu, Harry invadiu o compartimento, pulou para o lugar de Zabini, naquele momento vazio, e dali se guindou para o bagageiro. Foi uma sorte que Goyle e Zabini estivessem rosnando um para o outro, atraindo os olhares dos presentes, porque Harry tinha certeza de que deixara os p�s e os tornozelos de fora quando a capa esvoa�ou; de fato, por um terr�vel instante, ele pensou ter visto o olhar de Malfoy acompanhar seu t�nis quando subiu e desapareceu de vista; mas Goyle bateu a porta e empurrou Zabini. Este caiu no lugar que era seu, irritado, Vicente Crabbe voltou a ler sua revistinha e Malfoy, rindo, tornou a esticar-se em dois bancos e a descansar a cabe�a no colo de Pansy Parkinson. Harry se encolheu, desconfort�vel, sob a capa, preocupado em cobrir cada cent�metro do seu corpo, e ficou observando Pansy alisar para longe da testa os cabelos louros e sedosos de Draco, sorrindo satisfeita como se qualquer um no mundo adorasse estar em seu lugar. Os lampi�es pendurados no teto do trem lan�avam uma luz forte sobre a cena: Harry podia ler cada palavra da revistinha de Crabbe diretamente abaixo dele. � Ent�o, Zabini � perguntou Malfoy �, que � que o Slughorn queria? � Puxar o saco de gente bem relacionada � respondeu o rapaz ainda olhando feio para Goyle. � N�o que tivesse encontrado muita gente. A informa��o aparentemente n�o agradou a Malfoy. � Quem mais ele convidou? � McLaggen, da Grifin�ria. � Ah, sei, ele tem um tio importante no Minist�rio � disse Malfoy. � ... outro chamado Belby, da Corvinal... � N�o, esse � um retardado! � exclamou Pansy. � ... e Longbottom, Potter e aquela garota Weasley � concluiu Zabini. Malfoy sentou-se de repente, empurrando a m�o de Pansy para o lado. � Ele convidou Longbottom? � Suponho que sim, porque o Longbottom estava l� � respondeu Zabini, indiferente. � Que � que o Longbottom tem que possa interessar o Slughorn? Zabini sacudiu os ombros. � Potter, o precioso Potter, obviamente ele queria dar uma olhada no "Eleito" � desdenhou Malfoy. � Mas e a garota Weasley? Que � que ela tem de especial? � Tem muito rapaz que gosta dela � comentou Pansy, observando Malfoy de esguelha para ver sua rea��o. �, At� voc� acha que ela � atraente, n�o �, Bl�sio, e todos sabemos como voc� � dif�cil de agradar! � Eu n�o tocaria numa traidora do sangue nojenta como ela, por mais atraente que fosse � retrucou Zabini com frieza, o que satisfez Pansy. Malfoy tornou a se deitar no colo dela e deixoua retomar as car�cias em seus cabelos. � Bem, lamento o mau gosto de Slughorn. Quem sabe ele est� ficando senil. Que pena, meu pai sempre disse que no seu tempo ele era um bom bruxo. Meu pai era uma esp�cie de favorito dele. Slughorn provavelmente n�o soube que eu estava no trem, ou... � Eu n�o esperaria um convite � disse Zabini. � Ele me pediu not�cias do pai de Nott quando embarquei. Pelo visto, os dois eram bons amigos, mas quando soube que o velho Nott foi apanhado pelo Minist�rio n�o ficou nada feliz, e n�o convidou Nott, n�o �? Acho que Slughorn n�o est� interessado em Comensais da Morte. Malfoy pareceu se zangar, mas for�ou uma risada particularmente amarela. � Bem, quem se importa com os seus interesses? Quem � ele na ordem das coisas? Apenas um professor idiota. � Malfoy deu um bocejo exagerado. � Quero dizer, talvez eu nem esteja em Hogwarts no ano que vem, que diferen�a me faz se um velho gordo e decadente gosta ou n�o de mim? � Como assim, voc� talvez n�o esteja em Hogwarts no ano que vem? � perguntou Pansy indignada, parando de ajeitar os cabelos de Malfoy na mesma hora. � Ora, nunca se sabe � respondeu ele com um ar de riso. � Eu talvez venha... �h... a me dedicar a coisas maiores e melhores. Encolhido no bagageiro embaixo da capa, o cora��o de Harry disparou. Que � que Rony e Hermione diriam disso? Crabbe e Goyle olhavam boquiabertos para Malfoy; pelo jeito n�o tinham conhecimento de nenhum plano de dedica��o a coisas maiores e melhores. At� Zabini deixou uma express�o de curiosidade anuviar suas fei��es arrogantes. Pansy voltou a alisar os cabelos de Malfoy, pasma. � Voc� est� se referindo a... ele? Malfoy sacudiu os ombros. � Mam�e quer que eu complete a minha educa��o, mas, pessoalmente, acho que nos dias de hoje isso n�o seja t�o importante. Quero dizer, pensem um instante... quando o Lorde das Trevas tomar o poder, ser� que vai se importar com quantos N.O.M.s e quantos N.I.E.M.s a pessoa obteve? Claro que n�o... tudo vai girar em torno dos servi�os que prestou, a dedica��o que demonstrou a ele. � E voc� acha que ser� realmente capaz de fazer alguma coisa por ele? � perguntou Zabini, sarc�stico. � Com dezesseis anos e sem ter completado sua qualifica��o? � Foi o que acabei de dizer, n�o foi? Quem sabe ele n�o se importa se tenho qualifica��es. Talvez eu n�o precise ter qualifica��es para o trabalho que ele quer que eu fa�a � replicou Malfoy em voz baixa. Crabbe e Goyle estavam sentados de bocas escancaradas como g�rgulas. Pansy olhava Malfoy como se nunca tivesse visto nada t�o digno de assombro. � J� estou vendo Hogwarts � disse Malfoy, deliciando-se abertamente com o efeito que causara, apontando para a janela escura. � � melhor trocarmos de roupa. Harry estava t�o ocupado em observar Malfoy que n�o reparou que Goyle se esticara para alcan�ar seu mal�o; ao pux�-lo, o objeto bateu com for�a na cabe�a de Harry. Ele deixou escapar um gemido de dor e Malfoy olhou para o bagageiro, enrugando a testa. Harry n�o tinha medo dele, mas n�o gostava muito da id�ia de ser descoberto escondido sob a Capa da Invisibilidade, por um grupo de colegas hostis da Sonserina. Com os olhos ainda lacrimejando e a cabe�a doendo, ele empunhou a varinha, tomando cuidado para n�o desarrumar a capa, e aguardou, prendendo a respira��o. Para seu al�vio, Malfoy pareceu concluir que imaginara o ru�do; trocou de roupa como os colegas, trancou o mal�o e, quando o trem reduziu a velocidade para um sacolejo lento, ele prendeu a capa nova e grossa ao pesco�o. Harry viu os corredores se encherem mais uma vez e teve esperan�a de que Hermione e Rony levassem seus pertences para a plataforma; estaria preso ali at� o compartimento esvaziar. Por fim, com um solavanco final, o trem parou. Goyle abriu a porta com viol�ncia e saiu empurrando um grupo de alunos do segundo ano; Crabbe e Zabini o acompanharam. � Voc� pode ir andando � disse Malfoy a Pansy, que o aguardava com a m�o estendida como se esperasse que ele a segurasse. � Quero verificar uma coisa. Pansy saiu. Agora Harry e Malfoy estavam sozinhos no compartimento. As pessoas passavam, desembarcavam na plataforma escura. Malfoy foi at� a porta e desceu a cortina, para que as pessoas no corredor n�o pudessem espiar para dentro. Ent�o curvou-se para o seu mal�o e abriu-o. Harry espiou pela borda do bagageiro com o cora��o batendo mais r�pido. Que � que Malfoy queria esconder de Pansy? Estaria prestes a ver o misterioso objeto partido que era t�o importante consertar? � Petrificus Totulus! De repente Malfoy apontou a varinha para Harry, que ficou instantaneamente paralisado. Em c�mera lenta, ele rolou do bagageiro e caiu, com um baque extremamente doloroso, de fazer o ch�o estremecer, aos p�s de Malfoy, a Capa da Invisibilidade presa por baixo dele, todo o seu corpo exposto, as pernas ainda absurdamente dobradas nos joelhos e cheias de c�ibras. N�o conseguia mover um m�sculo; s� conseguia olhar para Malfoy, que exibia um grande sorriso. � Foi o que pensei � disse euf�rico. � Ouvi o mal�o de Goyle bater em voc�. E pensei ter visto uma coisa branca riscar o ar quando Zabini voltou... � Seu olhar se demorou nos t�nis de Harry. �Suponho que tenha sido voc� quem travou a porta quando Zabini entrou, n�o? Ele estudou Harry por alguns instantes. � Voc� n�o ouviu nada que me preocupe, Potter. Mas aproveitando que est� aqui... E pisou com for�a o rosto de Harry, que sentiu o nariz quebrar e o sangue espirrar para todos os lados. � Isto foi pelo meu pai. Agora, vamos ver... Malfoy puxou a Capa da Invisibilidade de baixo do corpo im�vel de Harry e atirou-a por cima dele. � Calculo que s� v�o encontrar voc� quando o trem tiver chegado a Londres � comentou baixinho. � At� mais, Potter... ou n�o. E, fazendo quest�o de pisar nos dedos de Harry, Malfoy deixou o compartimento. CAPITULO OITO O TRIUNFO DE SNAPE ELE N�O CONSEGUIA MOVER UM M�SCULO. Ficou ali no ch�o, coberto pela Capa da Invisibilidade, sentindo o sangue, quente e l�quido, escorrer do nariz para o rosto, ouvindo as vozes e os passos no corredor. Seu primeiro pensamento foi que algu�m, com certeza, verificaria os compartimentos antes do trem tornar a partir. Mas logo lembrou desanimado que, mesmo que algu�m desse uma espiada no compartimento, ele n�o seria visto nem ouvido. O m�ximo que poderia esperar era que algu�m entrasse e pisasse nele. Harry nunca detestara tanto Malfoy quanto naquele momento, deitado ali como uma rid�cula tartaruga de pernas para o ar, o sangue nauseante pingando em sua boca aberta. Em que situa��o est�pida ele se metera... e agora ouvia os �ltimos passos se distanciarem; todos estavam se arrastando pela plataforma escura; ouvia os mal�es raspando o ch�o e o vozerio das conversas. Rony e Hermione pensariam que desembarcara do trem sem esperar por eles. Uma vez que chegassem a Hogwarts e ocupassem seus lugares no Sal�o Principal, olhassem algumas vezes para um lado e outro da mesa da Grifin�ria e finalmente percebessem que Harry n�o estava ali, ele, sem d�vida, estaria a meio caminho de Londres. Harry tentou fazer algum ru�do, mesmo que fosse um grunhido, mas era imposs�vel. Ent�o lembrou que alguns bruxos, como Dumbledore, conseguiam realizar feiti�os sem falar, e tentou convocar a varinha, que lhe ca�ra da m�o, dizendo mentalmente: Accio varinha!, v�rias vezes, mas nada aconteceu. Imaginou ouvir a agita��o das �rvores que rodeavam o lago, e o pio distante de uma coruja, mas nem sinal de que estivessem fazendo uma busca, e nem mesmo (e se desprezou por sentir tal esperan�a) vozes muito assustadas, indagando aonde fora Harry Potter. Invadiu-o um sentimento de desesperan�a ao fantasiar o comboio de carruagens puxadas por testr�lios subindo lenta e pesadamente em dire��o � escola, e os gritos e risadas abafadas que sa�am daquela em que ia Malfoy, narrando para os colegas da Sonserina o seu ataque a Harry. O trem deu um solavanco, fazendo Harry rolar para um lado. Agora, em vez do teto, via a parte de baixo dos bancos, cheia de poeira. O ch�o come�ou a vibrar e a m�quina, com um ronco, entrou em funcionamento. O Expresso estava partindo, e ningu�m sabia que ele continuava a bordo... Sentiu, ent�o, que lhe arrancavam a capa e ouviu uma voz exclamar: � E a�, Harry, beleza? Uma luz vermelha brilhou um instante e seu corpo descongelou; conseguiu sentar-se em uma posi��o mais digna, limpar depressa o sangue no rosto pisado com as costas da m�o e erguer a cabe�a para ver Tonks, segurando a Capa da Invisibilidade que acabara de puxar. � � melhor sairmos r�pido daqui � disse, ao ver a fuma�a escurecer as janelas e o trem come�ar a abandonar a esta��o. � Anda, vamos pular. Harry seguiu-a correndo para fora do compartimento. Tonks abriu a porta do trem e saltou para a plataforma, que parecia estar deslizando embaixo deles � medida que o trem ganhava impulso. Harry imitou-a, cambaleou ligeiramente ao aterrissar e recuperou-se em tempo de ver a reluzente maria-fuma�a acelerar, fazer a curva e desaparecer de vista. O ar frio da noite aliviou o latejamento no nariz. Tonks parara observando-o; ele se sentia furioso e constrangido por ter sido encontrado em posi��o t�o rid�cula. Em sil�ncio, ela lhe devolveu a Capa da Invisibilidade. � Quem fez isso? � Draco Malfoy � respondeu Harry amargurado. � Obrigado por... bem... � Tudo bem � disse Tonks, s�ria. Pelo que conseguia enxergar no escuro, a bruxa continuava com os cabelos sem vida e a fisionomia infeliz da �ltima vez em que tinham se encontrado n'A Toca. � Posso endireitar o seu nariz, se voc� ficar parado. Harry n�o gostou muito da id�ia; pretendia fazer uma visita a Madame Pomfrey, a enfermeira-chefe, em quem tinha mais confian�a em termos de feiti�os curativos, mas pareceulhe grosseiro dizer isso, ent�o ficou im�vel e fechou os olhos. � Episkey � ordenou Tonks. O nariz de Harry ficou muito quente e, em seguida, muito frio. Ele ergueu a m�o e apalpouo desajeitado. Parecia inteiro. � Muito obrigado! � � melhor usar a Capa da Invisibilidade para podermos andar at� a escola � disse Tonks ainda s�ria. Quando Harry se cobriu com a capa, ela agitou a varinha fazendo surgir um enorme quadr�pede, que voou c�lere pela escurid�o. � Aquilo era um Patrono? � perguntou Harry, que j� vira Dumbledore enviar mensagens assim. � Era, mandei avisar no castelo que voc� est� comigo, para n�o se preocuparem. Anda, � melhor n�o perdermos tempo. Eles sa�ram em dire��o � estrada que levava � escola. � Como foi que voc� me encontrou? � Notei que voc� n�o tinha desembarcado do trem e sabia que levava a Capa da Invisibilidade. Achei que podia estar se escondendo por alguma raz�o. Quando vi a cortina baixada naquele compartimento, resolvi investigar. � Mas que voc� est� fazendo aqui? � perguntou Harry. � Estou baseada em Hogsmeade, para refor�ar a prote��o � escola. � � s� voc� que est� l� ou...? � N�o, Proudfoot, Savage e Dawlish tamb�m. � Dawlish, aquele auror que Dumbledore atacou no ano passado? � Esse mesmo. Eles caminharam pesadamente pela estrada deserta, seguindo os sulcos frescos deixados pelas carruagens. De baixo da capa, Harry olhava de esguelha para Tonks. No ano anterior, ela demonstrava muita curiosidade (a ponto de ser, �s vezes, inconveniente), ria sem esfor�o e fazia brincadeiras. Agora, parecia mais velha e muito mais s�ria e decidida. Ser� que tudo isso era conseq��ncia do que acontecera no Minist�rio? Refletiu, constrangido, que Hermione iria sugerir que dissesse uma palavrinha de consolo sobre Sirius, que n�o fora sua culpa, mas Harry n�o conseguiu fazer isso. Em hip�tese alguma responsabilizava a auror pela morte do seu padrinho; n�o tinha sido culpa de Tonks nem de qualquer outro (e muito menos dele), mas, podendo evitar, n�o gostava de falar de Sirius. E assim continuaram a avan�ar pela noite fria em sil�ncio, a longa capa de Tonks farfalhando no ch�o, a cada passo. Como sempre fizera esse percurso de carruagem, Harry nunca avaliara como Hogwarts era longe da esta��o de Hogsmeade. Com grande al�vio, avistou finalmente os dois altos pilares que ladeavam os port�es da escola, encimados por javalis alados. Sentia frio, sentia fome, e bem gostaria de abandonar essa nova Tonks tristonha. Mas, quando esticou a m�o para abrir os port�es, viu que estavam fechados com uma corrente. � Alohomora! � ordenou confiante, apontando a varinha para o cadeado, mas nada aconteceu. � N�o faz efeito nesses port�es � disse Tonks. � Dumbledore enfeiti�ou-os pessoalmente. Harry olhou para os lados. � Eu poderia pular o muro � sugeriu. � N�o, n�o poderia � respondeu a bruxa, categoricamente. � Feiti�os antiintrusos em todos os muros. A seguran�a est� cem vezes mais rigorosa este ver�o. � Bem, ent�o � concluiu Harry, come�ando a se sentir incomodado com a m� vontade de Tonks �, suponho que eu v� ter de dormir aqui fora e esperar amanhecer. � Est� vindo algu�m buscar voc�. Olhe. Um lampi�o balan�ava � entrada do distante castelo. Harry ficou t�o feliz ao v�-lo que sentiu que seria capaz at� de suportar os coment�rios asm�ticos de Filch sobre o seu atraso e as reclama��es sobre a sua falta de pontualidade, que melhoraria bastante com o uso de an�is de ferro para apertar os seus polegares. Somente quando a luz amarela estava a tr�s metros deles, e Harry despira a Capa da Invisibilidade para ser visto, foi que reconheceu, com uma onda de pura avers�o, o nariz curvo e comprido e os cabelos pretos e oleosos de Severo Snape. � Ora, ora, ora � debochou o professor, e, puxando a varinha, deu um toque no cadeado, fazendo as correntes soltarem e os port�es abrirem, rangendo. � Que prazer voc� ter aparecido, Potter, embora seja evidente que, em sua opini�o, o uso do uniforme da escola desmerece a sua apar�ncia. � N�o pude me trocar, n�o tinha o meu... � come�ou Harry, mas Snape interrompeu-o. � N�o precisa esperar, Ninfadora, Potter est� bem... ah... seguro em minhas m�os. � Enviei minha mensagem a Hagrid � replicou Tonks, enrugando a testa. � Hagrid se atrasou para o banquete inaugural, como o Potter aqui, ent�o eu a recebi. E a prop�sito � disse Snape, afastando-se para deixar Harry passar �, achei interessante conhecer o seu novo Patrono. Ele bateu os port�es com estr�pito na cara de Tonks e deu um novo toque de varinha nas correntes, que deslizaram, retinindo, � posi��o inicial. � Acho que voc� estava mais bem servida com o antigo � comentou Snape, com inconfund�vel mal�cia na voz. � O novo parece fraco. Quando Snape se virou com o lampi�o, Harry viu, por um breve instante, uma express�o de choque e raiva no rosto de Tonks. Depois, a escurid�o tornou a envolv�-la. � Boa-noite � gritou Harry, por cima do ombro, quando come�ou a andar com Snape em dire��o � escola. � Obrigado por... tudo. � A gente se v�, Harry. Snape ficou calado por um momento. Harry sentiu que seu corpo estava gerando ondas de �dio t�o poderosas que parecia inacredit�vel que o professor n�o as sentisse queimando-o. Sentira avers�o a Snape desde a primeira vez em que se encontraram, mas o professor inviabilizara para sempre a possibilidade de ser perdoado por sua atitude com rela��o a Sirius. Apesar da conversa com Dumbledore, Harry tivera tempo de refletir durante o ver�o, e conclu�ra que os coment�rios ferinos de Snape, de que Sirius ficava escondido e seguro enquanto os outros membros da Ordem da F�nix lutavam contra Voldemort, provavelmente tinham contribu�do de modo decisivo para o padrinho correr para o Minist�rio na noite em que morrera. Harry se aferrava a essa id�ia, porque lhe permitia culpar Snape, o que lhe dava satisfa��o e tamb�m a consci�ncia de que se havia algu�m que n�o lamentava a morte de Sirius era o homem que agora caminhava a seu lado na escurid�o. � Cinq�enta pontos a menos para a Grifin�ria pelo atraso � disse o professor. � E, vejamos, mais vinte por sua roupa de trouxa. Sabe, creio que nunca houve uma Casa com pontos negativos no in�cio do trimestre, e ainda nem chegamos � sobremesa. Voc� talvez tenha estabelecido um recorde, Potter. A f�ria e o �dio dentro de Harry chamejavam intensamente, mas ele preferia ter continuado hirto at� Londres a contar ao professor por que se atrasara. � Imagino que quisesse causar sensa��o, certo? � continuou Snape. � E, n�o dispondo de um carro voador, decidiu que adentrar o Sal�o Principal no meio do banquete teria um impacto dram�tico. Ainda assim, Harry permanecia em sil�ncio, embora achasse que seu peito ia explodir. Sabia que Snape fora busc�-lo para isso, para ter uns poucos minutos em que alfinetar e atormentar Harry sem ningu�m ouvir. Por fim, chegaram � entrada do castelo e, quando as grandes portas de carvalho se abriram para o amplo sagu�o lajeado, foram saudados pela zoada de conversas e risos, e tinidos de pratos e copos que ecoavam atrav�s das portas abertas do Sal�o Principal. Harry se perguntou se poderia usar a Capa da Invisibilidade e, assim, chegar � comprida mesa da Grifin�ria (que, para seu azar, era a mais distante do sagu�o) sem ser notado. Como se tivesse lido os pensamentos de Harry, Snape o advertiu: � Nada de capa. Pode entrar � vista de todos que, tenho certeza, era o que voc� queria. Harry virou-se e, sem hesitar, cruzou o portal do sal�o: qualquer coisa para se ver livre de Snape. O Sal�o Principal, com as quatro longas mesas das Casas e a dos professores ao fundo, estava decorado, como sempre, com velas no ar que faziam os pratos refletir e faiscar. Harry, por�m, enxergou apenas um borr�o tremeluzente. Caminhava t�o depressa que passou pela mesa da Lufa-Lufa antes que as pessoas tivessem tempo de olh�-lo, e, quando por fim elas se levantaram para satisfazer sua curiosidade, Harry j� localizara Rony e Hermione, e, seguindo em sua dire��o, passou r�pido pelos bancos e se apertou entre os dois. � Onde � que voc�... caramba, que foi que fez no rosto? � indagou Rony, arregalando os olhos, como todos que estavam por perto. � Por que, tem alguma coisa errada? � admirou-se Harry, apanhando uma colher e espiando sua imagem distorcida. � Voc� est� coberto de sangue! � disse Hermione. � Vem c�... Ela ergueu a varinha e ordenou: � Tergeo! � E a varinha aspirou todo o sangue seco. � Obrigado � agradeceu ele, apalpando o rosto agora limpo. � Como � que est� o meu nariz? � Normal � respondeu Hermione ansiosa. � Por que n�o estaria? Que aconteceu, Harry, ficamos apavorados! � Conto depois � respondeu Harry, lac�nico. Sabia que Gina, Neville, Dino e Simas estavam prestando aten��o; at� Nick Quase Sem Cabe�a, o fantasma da Grifin�ria, se aproximara flutuando ao longo dos bancos para escutar. � Mas... � protestou Hermione. � Agora, n�o, Hermione � replicou, em um tom sombrio cheio de subentendidos. Desejava muito que todos imaginassem que participara de algum feito her�ico, de prefer�ncia envolvendo Comensais da Morte e um dementador. Naturalmente Malfoy espalharia a hist�ria aos quatro ventos, mas havia sempre uma chance de que n�o chegasse aos ouvidos de muitos colegas da Grifin�ria. Ele se esticou por cima de Rony para apanhar umas coxas de galinha e um punhado de batatas fritas, mas, antes que pudesse corne-las, elas desapareceram e foram substitu�das pelas sobremesas. � Pelo menos voc� perdeu a sele��o � comentou Hermione, enquanto Rony mergulhava para se servir de uma torta de chocolate. � O Chap�u disse alguma coisa interessante? � perguntou Harry, servindo-se de um peda�o de torta de caramelo. � Nada que ainda n�o tenha dito... aconselhou a nos unirmos frente aos nossos inimigos, voc� sabe. � Dumbledore mencionou Voldemort? � Ainda n�o, mas ele sempre guarda o discurso s�rio para depois do banquete, n�o �? N�o deve demorar muito agora. � Snape disse que Hagrid se atrasou para o banquete... � Voc� viu Snape? Como assim? � perguntou Rony entre garfadas fren�ticas de torta. � Topei com ele � respondeu Harry evasivamente. � Hagrid s� se atrasou uns minutinhos � comentou Hermione. � Olhe, ele est� acenando para voc�. Harry olhou para a mesa dos professores e sorriu para Hagrid que de fato acenava. O amigo jamais conseguira se comportar com a mesma dignidade da professora McGonagall, diretora da Casa da Grifin�ria, cuja cabe�a batia mais ou menos entre o cotovelo e o ombro de Hagrid � estavam sentados lado a lado �, e que manifestava desaprova��o a esse cumprimento entusi�stico. Harry se surpreendeu ao ver a professora de Adivinha��o, Trelawney, sentada do outro lado de Hagrid; ela raramente sa�a de sua torre, e Harry nunca a vira em um banquete inaugural. Tinha a apar�ncia esquisita de sempre, faiscando com seus colares e longos xales, os olhos ampliados pelos enormes �culos. Harry, que sempre a considerara uma charlat�, ficara chocado ao descobrir, no fim do trimestre anterior, que ela fora a autora da profecia que fizera Lord Voldemort matar os seus pais e atac�-lo. Saber disso deixou-o ainda menos desejoso de ficar em sua companhia, mas, por sorte, este ano ele n�o estudaria Adivinha��o. Os enormes olhos da professora, que lembravam far�is, viraram em sua dire��o; ele desviou os seus depressa para a mesa da Sonserina. Draco Malfoy estava encenando como partir um nariz provocando risos e aplausos estridentes. Harry baixou os olhos para a torta, sentindo outra vez suas entranhas escaldarem. O que n�o daria para enfrentar Malfoy de homem para homem... � Ent�o, que � que o professor Slughorn queria? � perguntou Hermione. � Saber o que realmente aconteceu no Minist�rio. � Ele e o mundo inteiro � fungou Hermione. � O pessoal n�o parou de interrogar a gente no trem, n�o foi, Rony? � Foi. Todos queriam saber se voc� � realmente o Eleito... � Tem havido muita discuss�o sobre o assunto at� entre os fantasmas � interrompeu-os Nick Quase Sem Cabe�a, inclinando para Harry a cabe�a mal presa, fazendo-a balan�ar perigosamente, sobre a gola de tufos engomados. � Sou considerado uma esp�cie de autoridade em Potter; todos sabem que somos amigos. Mas afirmei � comunidade dos esp�ritos que n�o o incomodaria com perguntas. "Harry Potter sabe que pode confiar inteiramente em mim", falei. "Prefiro morrer a trair sua confian�a." � O que n�o me parece grande coisa, porque voc� j� morreu � observou Rony. � Mais uma vez, voc� demonstra ter a agudeza de um machado cego � retrucou Nick Quase Sem Cabe�a em tom ofendido e, deixando o ch�o, retornou voando � extremidade oposta da mesa da Grifin�ria, no momento exato em que Dumbledore se levantava � mesa dos professores. As conversas e risos que ecoavam pelo sal�o cessaram quase imediatamente. � Uma grande noite para todos! � come�ou ele sorridente, abrindo os bra�os como se quisesse abarcar o sal�o. � Que aconteceu � m�o dele? � ofegou Hermione. Ela n�o foi a �nica a notar. A m�o direita de Dumbledore continuava escura e sem vida como na noite em que ele fora apanhar Harry na casa dos Dursley. Os sussurros percorreram a sala; Dumbledore, interpretando-os corretamente, apenas sorriu e ocultou a les�o, sacudindo a manga roxa e dourada. � N�o h� motivo para preocupa��o � disse em tom suave. � Agora... as boas-vindas aos alunos novos; bom retorno aos alunos antigos! Mais um ano de muita educa��o m�gica aguarda a todos... � A m�o dele j� estava assim quando o vi no ver�o � cochichou Harry para Hermione. � Mas pensei que por esta altura ele j� a tivesse curado... ele ou Madame Pomfrey. � Parece morta � comentou Hermione, com uma express�o de repugn�ncia no rosto. � Mas h� les�es que n�o t�m cura... feiti�os antigos... e h� venenos sem ant�dotos... � ... e o Sr. Filch, nosso zelador, me pediu para avisar que est�o banidos todos os artigos de logros e brincadeiras comprados na loja chamada Gemialidades Weasley. "Os que quiserem jogar nas equipes de quadribol das Casas devem se inscrever com os diretores das Casas, como sempre. Estamos tamb�m procurando novos locutores de quadribol, que s�o convidados a fazer a mesma coisa." "Este ano temos o prazer de dar as boas-vindas a um novo membro do corpo docente. O professor Slughorn", o bruxo ficou em p�, a careca brilhando � luz das velas, a grande pan�a sob o colete sombreando a mesa, "� um antigo colega meu que aceitou retomar o cargo de mestre das Po��es." � Po��es? � Po��es? A palavra ressoou por todo o sal�o enquanto as pessoas se perguntavam se teriam ouvido direito. � Po��es? � repetiram juntos Rony e Hermione, virando-se para Harry. � Mas voc� disse... � Por sua vez, o professor Snape � continuou Dumbledore, alteando a voz para abafar os murm�rios � assumir� o cargo de professor de Defesa contra as Artes das Trevas. � N�o! � exclamou Harry t�o alto que muitas cabe�as se viraram em sua dire��o. Ele n�o se importou; olhava fixamente para a mesa dos professores, indignado. Como � que Snape podia ser nomeado professor de Defesa contra as Artes das Trevas depois de tanto tempo? Ser� que todos n�o sabiam que Dumbledore n�o confiava nele para assumir essa fun��o? � Mas, Harry, voc� disse que Slughorn ia ensinar Defesa contra as Artes das Trevas! � questionou Hermione. � Pensei que fosse! � respondeu Harry, vasculhando o c�rebro para lembrar quando Dumbledore dissera isso, mas, agora que voltava a pensar no assunto, n�o conseguia recordar que Dumbledore tivesse mencionado o que Slughorn iria ensinar. Snape, que estava sentado � direita de Dumbledore, n�o se ergueu ao ouvir seu nome, apenas elevou a m�o displicentemente para agradecer os aplausos da mesa da Sonserina; Harry, contudo, teve certeza de identificar uma express�o de triunfo nas fei��es que tanto detestava. � Bem, tem uma coisa boa � disse com selvageria. � Snape ir� embora at� o fim do ano. � Como assim? � perguntou Rony. � O cargo � azarado. Ningu�m ag�entou mais de um ano... Quirrell at� morreu. Pessoalmente, vou torcer para que haja outra morte... � Harry! � exclamou Hermione, demonstrando surpresa e desaprova��o. � Mas talvez ele simplesmente volte a ensinar Po��es no fim do ano � argumentou Rony. � O tal Slughorn pode n�o querer ficar muito tempo. O Moody n�o quis. Dumbledore pigarreou. Harry, Rony e Hermione n�o eram os �nicos que conversavam; o sal�o todo explodira em murm�rios � not�cia de que Snape, enfim, realizara o seu mais acalentado desejo. Dumbledore, parecendo indiferente � natureza sensacional da not�cia que acabara de dar, nada falou sobre outras designa��es e esperou alguns segundos at� obter absoluto sil�ncio antes de prosseguir. � Nem todos os presentes neste sal�o sabem que Lord Voldemort e seus seguidores est�o mais uma vez em liberdade e cada vez mais fortes. O sil�ncio pareceu se expandir e retrair enquanto Dumbledore discursava. Harry olhou para Malfoy. Mas o rapaz, em vez de olhar para o diretor, fazia o seu garfo pairar no ar com a varinha, como se achasse as palavras de Dumbledore indignas de aten��o. � N�o posso enfatizar suficientemente o perigo da presente situa��o, e o cuidado que cada um de n�s, em Hogwarts, precisa tomar para garantir que continuemos seguros. As fortifica��es m�gicas do castelo foram refor�adas durante o ver�o, estamos protegidos de maneiras novas e mais poderosas, mas ainda assim precisamos nos defender escrupulosamente dos descuidos de estudantes e funcion�rios. Pe�o, portanto, que respeitem as restri��es de seguran�a que os professores possam impor a voc�s, por mais inc�modas que lhes pare�am, particularmente a norma de n�o sair da cama depois do toque de recolher. Imploro que, ao notarem alguma coisa estranha ou suspeita dentro ou fora do castelo, comuniquem imediatamente a um funcion�rio. Confio que agir�o sempre com o maior respeito pela seguran�a dos outros e pela sua pr�pria. Os olhos azuis de Dumbledore percorreram os rostos dos estudantes e, por fim, ele tornou a sorrir. � Mas no momento suas camas est�o � sua espera, quentes e confort�veis como poderiam desejar, e sei que a sua maior prioridade � descansar para as aulas de amanh�. Vamos, portanto, dizer boa-noite. Pip pip! Com o atrito ensurdecedor habitual, os bancos foram afastados e centenas de estudantes come�aram a sair do Sal�o Principal em dire��o aos dormit�rios. Harry, que n�o estava com a menor pressa de acompanhar a multid�o curiosa nem de se aproximar de Malfoy para lhe dar a chance de repetir a hist�ria da pisada no nariz, retardou sua sa�da, fingindo amarrar o cord�o do t�nis, deixando a maioria dos colegas da Grifin�ria seguirem � frente. Hermione sa�ra correndo um pouco antes para, cumprindo a tarefa de monitora, arrebanhar os alunos do primeiro ano, mas Rony ficou com Harry. � Que aconteceu realmente com o seu nariz? � perguntou, quando chegaram ao final do ajuntamento que procurava sair do sal�o, e ningu�m mais podia ouvi-los. Harry contou-lhe. Rony n�o riu, demonstrando a for�a de sua amizade. � Vi Malfoy imitando alguma coisa com rela��o a nariz � comentou sombriamente. � �, bem, deixa isso para l� � disse Harry amargurado. � Escuta s� o que ele estava dizendo antes de me descobrir l�... Harry calculara que Rony ficasse chocado com as bravatas de Malfoy. Mas, com o que Harry considerava uma demonstra��o de puro cabe�adurismo, o amigo n�o se deixou impressionar. � Ora, Harry, ele estava s� se exibindo para a Parkinson... que tipo de miss�o Voc�-Sabe- Quem daria a ele? � Como � que voc� sabe que Voldemort n�o precisa de uma pessoa em Hogwarts? N�o seria a primeira... � Eu gostaria que voc� parasse de falar esse nome, Harry � repreendeu-o uma voz �s suas costas. Ele espiou por cima do ombro e viu Hagrid balan�ando a cabe�a. � � o nome que Dumbledore usa � insistiu Harry. � �, mas isso � o Dumbledore! � disse Hagrid com ar misterioso. � Ent�o, por que foi que se atrasou, Harry? Fiquei preocupado. � Tive um imprevisto no trem. E por que voc� se atrasou? � Estive com o Grope � respondeu Hagrid satisfeito. � N�o vi o tempo passar. Ele agora tem uma casa nas montanhas, foi Dumbledore que arranjou, uma bela caverna. Ele est� muito mais feliz do que na Floresta. Estivemos batendo um bom papo. � S�rio? � exclamou Harry, tomando o cuidado de n�o olhar para Rony; a �ltima vez que encontrara o meio-irm�o de Hagrid, um gigante selvagem com talento para arrancar �rvores pela raiz, seu vocabul�rio tinha apenas cinco palavras, duas das quais ele n�o conseguia pronunciar direito. � Ah, ele melhorou muito � explicou Hagrid orgulhoso. � Voc� ficaria espantado. Estou pensando em treinar Grope para ser meu assistente. Rony abafou uma gargalhada pelo nariz, fazendo parecer que era um violento espirro. Os tr�s estavam agora diante das portas do castelo. � Ent�o, vejo voc� amanh�, a primeira aula logo depois do almo�o. � Se chegar mais cedo, vai poder dar um al� ao Bic... quero dizer ao Asafugaz! E, erguendo o bra�o em alegre despedida, o gigante saiu em dire��o � escurid�o. Harry e Rony se entreolharam. Harry sabia que o amigo estava sentindo o mesmo des�nimo que ele. � Voc� n�o se matriculou em Trato das Criaturas M�gicas, n�o �? Rony sacudiu a cabe�a. � Nem voc�, n�? Harry sacudiu a cabe�a, tamb�m. � E a Hermione � disse Rony �, n�o, n�? Harry tornou a sacudir a cabe�a. Nem queria pensar no que diria Hagrid quando percebesse que seus tr�s alunos favoritos tinham desistido da sua mat�ria. CAP�TULO NOVE O PR�NCIPE MESTI�O NO DIA SEGUINTE, HARRY E RONY se encontraram com Hermione no sal�o comunal, antes do caf� da manh�. Na esperan�a de obter algum apoio para sua teoria, Harry n�o perdeu tempo e contou � amiga o que ouvira Malfoy dizer no Expresso de Hogwarts. � Mas � �bvio que ele estava se exibindo para a Parkinson, n�o �? � aparteou Rony, r�pido, antes que Hermione pudesse responder. � Bem � hesitou ela �, n�o sei... � bem coisa do Malfoy querer parecer mais importante do que �... mas assim � exagero... � Exatamente � disse Harry, mas n�o p�de argumentar porque havia muita gente querendo ouvir a conversa, sem falar naqueles que o encaravam e cochichavam cobrindo a boca com a m�o. � E falta de educa��o apontar � Rony ralhou com um aluno do primeiro ano particularmente pequeno quando entraram na fila para passar pelo buraco do retrato. O garoto, que, disfar�adamente, estivera murmurando alguma coisa para o amigo, ficou escarlate e, assustado, caiu pelo buraco no corredor. Rony deu uma risadinha. � Adoro estar no sexto ano. E o melhor � que vamos ter tempo livre este ano. Per�odos inteiros para sentar e relaxar. � Vamos precisar desse tempo para estudar, Rony! � lembrou Hermione, quando caminhavam pelo corredor. � �, mas n�o hoje � respondeu Rony. � Hoje vai ser moleza pura. � Espere a�! � exclamou Hermione, esticando o bra�o e fazendo parar um aluno do quarto ano, que tentava passar por ela segurando com firmeza um disco verde-lim�o. � Os Frisbeesdentados s�o proibidos, me d� isso aqui � pediu com severidade. O garoto, amarrando a cara, entregou o disco que rosnava, passou por baixo do bra�o de Hermione e saiu no encal�o dos amigos. Rony esperou que ele desaparecesse e roubou o Frisbee da m�o de Hermione. � �timo, sempre quis ter um. O protesto de Hermione foi abafado por uma risadinha alta. Pelo visto, Lil� Brown achara o coment�rio de Rony engra�ad�ssimo. E passou por ele ainda rindo, olhando-o por cima do ombro. Rony pareceu muito satisfeito. O teto do Sal�o Principal estava serenamente azul, raiado de leves farrapos de nuvens, como nos quadrados de c�u que se viam pelas janelas de caixilhos. Enquanto comiam mingau de aveia e ovos com bacon, Harry e Rony contaram a Hermione a conversa constrangedora que tinham tido com Hagrid, na v�spera. � Mas ele n�o pode realmente pensar que continuar�amos a cursar Trato das Criaturas M�gicas! � comentou ela perturbada. � Quero dizer, quando foi que algum de n�s manifestou... sabe... algum entusiasmo? � � isso a�, n�? � disse Rony, engolindo um ovo frito inteiro. �N�s faz�amos o maior esfor�o nas aulas porque gostamos do Hagrid. Mas ele achou que gost�vamos daquela mat�ria idiota. Ser� que algu�m vai continuar at� o N.I.E.M.? Nem Harry nem Hermione responderam; n�o carecia. Sabiam perfeitamente que ningu�m de sua turma iria querer continuar em Trato das Criaturas M�gicas. Evitaram olhar para Hagrid e retribu�ram seu aceno cordial sem anima��o quando o amigo deixou a mesa dos professores dez minutos depois. Terminada a refei��o, eles continuaram sentados aguardando a professora McGonagall descer da mesa dos professores. Este ano a distribui��o dos hor�rios estava mais complicada do que o normal, porque ela precisava primeiro confirmar que cada aluno tivesse obtido as notas m�nimas nos N.O.M.s para continuar as mat�rias escolhidas nos N.I.E.M.s. Hermione foi prontamente liberada para continuar Feiti�os, Defesa contra as Artes das Trevas, Transfigura��o, Herbologia, Aritmancia, Runas Antigas e Po��es e, sem demora, partiu correndo para assistir ao primeiro per�odo de Runas Antigas. Os hor�rios de Neville exigiram mais tempo para destrinchar; seu rosto redondo expressava ansiedade enquanto a professora examinava o seu pedido e consultava os resultados dos N.O.M.s. � Herbologia pode � disse ela. � A professora Sprout ficar� encantada de ver voc� retomar a mat�ria com um "�timo" no N.O.M. E qualificou-se para Defesa contra as Artes das Trevas com um "Excede Expectativas". O problema est� em Transfigura��o. Sinto muito, Longbottom, mas um "Aceit�vel" n�o � suficiente para continuar no n�vel de N.I.E.M. Acho que voc� n�o conseguiria dar conta dos deveres do curso. Neville baixou a cabe�a. A professora fitou-o atrav�s dos �culos quadrados. � Mas por que quer continuar em Transfigura��o? Voc� nunca me deu a impress�o de gostar tanto assim da mat�ria. Neville fez uma cara infeliz e murmurou alguma coisa como "minha av� quer". � Hum � bufou a professora. � J� est� mais do que na hora de sua av� aprender a ter orgulho do neto que tem, em vez do neto que gostaria de ter, particularmente depois do que aconteceu no Minist�rio. Neville corou fortemente e piscou atordoado; a professora McGonagall nunca lhe fizera um elogio antes. � Lamento, Longbottom, n�o posso aceit�-lo na minha classe de N.I.E.M. Mas vejo que voc� recebeu um "Excede Expectativas "em Feiti�os; por que n�o tenta um N.I.E.M. em Feiti�os? � Minha av� acha que Feiti�os � uma op��o muito f�cil � murmurou Neville. � Matricule-se em Feiti�os � disse a professora �, e vou mandar uma palavrinha a Augusta lembrando que s� porque ela n�o passou no N.O.M. de Feiti�os... n�o significa que a mat�ria seja in�til. � Com um leve sorriso ao ver a express�o de incr�dula satisfa��o no rosto de Neville, McGonagall bateu com a ponta da varinha em um formul�rio em branco e entregou-o ao garoto, j� impresso, com os detalhes de suas novas mat�rias. Em seguida, ela se voltou para Parvati Patil, cuja primeira pergunta foi se Firenze, aquele centauro bonit�o, continuaria a ensinar Adivinha��o. � Ele e a professora Trelawney v�o dividir as turmas este ano � respondeu a professora McGonagall, com um qu� de desaprova��o na voz; todos sabiam que ela desprezava a mat�ria. � O sexto ano ficar� por conta da professora Trelawney. Parvati saiu para a aula de Adivinha��o cinco minutos depois, parecendo um pouco desconcertada. � Ent�o, Potter, Potter... � disse a professora, consultando suas anota��es ao se dirigir a Harry. � Feiti�os. Defesa contra as Artes das Trevas, Herbologia, Transfigura��o... tudo bem. E devo dizer que fiquei satisfeita com a sua nota na minha mat�ria, Potter, muito satisfeita. Mas por que n�o pediu para continuar em Po��es? Pensei que sua ambi��o fosse se tornar auror. � Era, mas a senhora me disse que eu precisava de um "�timo" no meu N.O.M. � E realmente precisava quando o professor Snape ensinava a mat�ria. O professor Slughorn, por�m, fica perfeitamente feliz em aceitar no N.I.E.M alunos que tenham obtido "Excede Expectativas" no N.O.M. Voc� quer continuar em Po��es? � Quero � respondeu Harry �, mas n�o comprei os livros nem os ingredientes, nem nada... � Tenho certeza de que o professor Slughorn poder� lhe emprestar o material. Muito bem, Potter, aqui est�o os seus hor�rios. Ah, sim, vinte aspirantes j� se inscreveram para a equipe de quadribol da Grifin�ria. Passarei a lista a voc� por esses dias, e poder� marcar os testes quando quiser. Alguns minutos mais tarde, Rony foi liberado para cursar as mesmas mat�rias que Harry, e os dois deixaram a mesa juntos. � Veja � exclamou Rony muito feliz, conferindo o seu hor�rio �, temos um per�odo livre agora... e outro depois do recreio... e depois do almo�o... excelente! Os dois voltaram � sala comunal, que estava vazia exceto por meia d�zia de alunos do s�timo ano, inclusive C�tia Bell, a �nica jogadora que restava da equipe original de quadribol da Grifin�ria, para a qual Harry entrara no primeiro ano. � Achei que voc� ganharia isso, parab�ns � disse a garota, apontando para a ins�gnia de capit�o no peito de Harry. � Me avise quando come�arem os testes! � N�o seja retardada � respondeu Harry �, voc� n�o precisa de testes, h� cinco anos que vejo voc� jogar... � Voc� n�o pode come�ar assim � alertou a garota. � Pelo que sei, tem gente melhor que eu fora do time. Boas equipes j� acabaram mal porque os capit�es simplesmente continuaram a jogar com caras conhecidos, ou deixaram os amigos entrarem... Rony pareceu meio constrangido, e come�ou a jogar com o Frisbee que Hermione confiscara do aluno do quarto ano. O brinquedo voou pela sala comunal, rosnando e tentando morder a tape�aria. Bichento acompanhou-o com seus olhos amarelos e bufou quando o Frisbee se aproximou demais. Uma hora depois eles deixaram, relutantes, a sala ensolarada para assistir � aula de Defesa contra as Artes das Trevas, quatro andares abaixo. Hermione j� estava na fila, carregando uma bra�ada de pesados livros, e com um ar de quem fora usado. � A professora de Runas nos passou tantos deveres! � exclamou ansiosa, quando Harry e Rony se reuniram a ela. � Um trabalho de quase quatro metros, duas tradu��es, e preciso ler tudo isto para quarta-feira. � Que pena � bocejou Rony. � Espere para ver � disse ela com raiva. � Aposto como o Snape tamb�m vai passar um mont�o. � Quando ia dizendo isso, a porta da sala abriu e o professor saiu para o corredor, o rosto macilento emoldurado pelas eternas cortinas de cabelos pretos oleosos. A fila silenciou imediatamente. � Para dentro � disse ele. Harry olhou a toda volta quando entraram. Snape j� impusera sua personalidade � sala; estava mais sombria do que antes, pois ele fechara as cortinas e a iluminara com velas. Novos quadros adornavam as paredes, v�rios deles mostravam pessoas sofrendo com pavorosos ferimentos ou partes do corpo estranhamente torcidas. Ningu�m falou enquanto os alunos se acomodavam, admirando os sinistros quadros escuros. � N�o pedi a voc�s para apanharem seus livros � come�ou Snape, fechando a porta e virando-se para encarar a turma de sua escrivaninha. Hermione devolveu depressa � mochila o seu exemplar de Frente ao irreconhec�vel e guardou-a embaixo da cadeira. � Quero conversar com os senhores e exijo sua total e absoluta aten��o. Seus olhos negros percorreram os rostos voltados para ele, demorando-se uma fra��o de segundo a mais no rosto de Harry. � Creio que j� tiveram cinco professores nesta mat�ria. Voc� cr�... como se n�o tivesse acompanhado todos virem e irem, Snape, na esperan�a de ser o pr�ximo, pensou Harry com desprezo. � Naturalmente, cada um teve o seu m�todo e suas prioridades. Diante dessa confus�o, � uma surpresa que tantos tenham obtido nota para passar nesta mat�ria. E surpresa maior ser� se todos conseguirem dar conta dos deveres do N.I.E.M, que ser�o bem mais complexos. Snape come�ou a andar em volta da sala, falando agora mais baixo; os alunos esticaram o pesco�o para conseguir v�-lo. � As Artes das Trevas s�o muito variadas, inconstantes e eternas. Combat�-las � como combater um monstro de muitas cabe�as, no qual, cada vez que cortamos uma cabe�a, surge outra ainda mais feroz e inteligente do que a anterior. Voc�s est�o combatendo algo que � inst�vel, mut�vel e indestrut�vel. Harry encarou Snape. Sem d�vida, uma coisa era respeitar as Artes das Trevas como um inimigo perigoso, outra era se referir a elas como Snape estava fazendo, acariciando-as amorosamente com a voz. � Suas defesas � disse Snape alteando a voz �, portanto, t�m de ser flex�veis e inventivas como as Artes que voc�s querem neutralizar. Esses quadros � ele apontou alguns � medida que passava � s�o uma boa representa��o do que acontece com quem, por exemplo, sofre a Maldi��o Cruciatus � (ele fez um gesto indicando uma bruxa que visivelmente urrava de dor) �, sente o Beijo do Dementador � (um bruxo de olhos vidrados encolhido contra uma parede) � ou provoca a agress�o de um Inferius (uma massa sangrenta no ch�o). � Ent�o j� foi avistado algum Inferius? � perguntou Parvati Patil com voz aguda. � Ent�o � oficial, ele est� usando Inferi? � O Lorde das Trevas usou Inferi no passado � respondeu Snape �, o que significa que seria sensato presumir que pode tornar a us�-los. Agora... Ele recome�ou a andar pelo outro lado da sala em dire��o � pr�pria escrivaninha, suas vestes escuras enfunando a cada passo e, mais uma vez, a classe acompanhou-o com os olhos. � ... creio que os senhores s�o absolutamente novatos no uso de feiti�os mudos. Qual � a vantagem de um feiti�o mudo? A m�o de Hermione se ergueu no ar. Snape aguardou calmamente olhando os outros alunos, certificando-se de que n�o tinha outra escolha, antes de dizer secamente: � Muito bem... srta. Granger? � O advers�rio n�o pode prever que tipo de feiti�o a pessoa vai realizar � respondeu Hermione �, o que lhe d� uma fra��o de segundo de vantagem. � Uma resposta decorada quase palavra por palavra do Livro padr�o de feiti�os, 6a s�rie � comentou Snape com menosprezo (no canto Malfoy riu) �, mas correta em sua ess�ncia. Sim, aqueles que se aperfei�oam e aprendem a usar a magia sem proferir os encantamentos, passam a contar com o elemento surpresa em sua arte. Nem todos os bruxos conseguem fazer isso, � claro; � uma quest�o de concentra��o e poder mental que alguns � seu olhar recaiu demoradamente em Harry � n�o possuem. Harry sabia que o professor estava pensando nas desastrosas aulas de Oclum�ncia do ano anterior. Recusou-se a baixar os olhos e encarou Snape at� este desviar o olhar. � Os senhores agora v�o se dividir em pares. Um parceiro tentar� enfeiti�ar o outro sem falar. O outro vai tentar repelir o feiti�o em igual sil�ncio. Comecem. Embora Snape n�o soubesse, no ano anterior, Harry ensinara pelo menos � metade dos alunos (os que tinham participado da AD) como executar um Feiti�o-Escudo. Nenhum deles, por�m, jamais realizara o feiti�o sem falar. Seguiu-se uma boa dose de enrola��o; muitos alunos simplesmente murmuravam o encantamento em vez de diz�-lo em voz alta. Como era de esperar, aos dez minutos de aula, Hermione conseguiu repelir o Feiti�o das Pernas Bambas, murmurado por Neville, sem enunciar uma �nica palavra, um feito que certamente teria rendido vinte pontos � Grifin�ria na aula de qualquer professor justo, pensou Harry com amargura, mas Snape ignorouo. Passeava imponente enquanto os alunos praticavam, parecendo mais do que nunca um morcego exageradamente grande, detendo-se a observar Harry e Rony se esfalfarem para cumprir a tarefa. Rony, que devia enfeiti�ar Harry, tinha o rosto p�rpura, os l�bios fortemente comprimidos para n�o cair na tenta��o de murmurar o encantamento. Harry mantinha a varinha erguida, aguardando, aflito, para repelir um feiti�o que provavelmente jamais viria. � Pat�tico, Weasley � comentou Snape depois de algum tempo. � Deixe-me mostrar a voc�... Snape virou a varinha para Harry t�o ligeiro que este reagiu instintivamente; esqueceu a recomenda��o de n�o pronunciar o feiti�o e gritou: "Protego!" Seu Feiti�o-Escudo foi t�o forte que o professor se desequilibrou e bateu em uma carteira. A classe inteira tinha virado a cabe�a e agora observava Snape se levantar de cara amarrada. � Voc� est� lembrado que eu disse para praticar feiti�os n�o-verbais, Potter? � Sim � respondeu Harry, inflexivelmente. � Sim, senhor. � N�o � preciso me chamar de "senhor", professor. As palavras escaparam de sua boca antes que soubesse o que estava dizendo. V�rios alunos ofegaram, inclusive Hermione. �s costas de Snape, no entanto, Rony, Dino e Simas riram aprovadoramente. � Deten��o, s�bado � noite, meu escrit�rio � disse Snape. � N�o admito atrevimento de ningu�m, Potter... nem mesmo do Eleito. � Foi genial, Harry! � disse Rony �s gargalhadas, quando j� estavam bem longe, a caminho do recreio, pouco depois. � Voc� realmente n�o devia ter dito aquilo � comentou Hermione, franzindo a testa para Harry. � Por que disse? � Ele tentou me lan�ar um feiti�o, caso voc� n�o tenha reparado! � irritou-se Harry. � Me enchi disso nas aulas de Oclum�ncia! Por que ele n�o usa um porquinho-da-�ndia para variar? Afinal, que � que o Dumbledore est� querendo para deixar o Snape ensinar Defesa contra as Artes das Trevas? Voc� ouviu bem o que ele disse? Ele adora essas artes! Todo aquele papo de inst�vel, indestrut�vel... � Bem � contestou Hermione �, achei que lembrava um pouco voc� falando. � Eu? � �, quando estava nos contando como era enfrentar Voldemort. Voc� disse que n�o era uma quest�o de decorar um monte de feiti�os, disse que era apenas voc� e seu c�rebro e sua coragem... bem, n�o era isso que Snape estava dizendo? Que a arte se resumia em ter bravura e agilidade mental? Harry se sentiu t�o desarmado ante a amiga que achava que suas palavras mereciam ser memorizadas como as do Livro padr�o de feiti�os que n�o discutiu. � Harry! Ei, Harry! Harry olhou para os lados; Juc� Sloper, um dos batedores da equipe de quadribol da Grifin�ria no ano anterior, vinha correndo em sua dire��o com um pergaminho na m�o. � Para voc� � ofegou Sloper. � Escute, soube que � o novo capit�o. Quando vai fazer os testes? � Ainda n�o tenho certeza � respondeu Harry, pensando que Sloper teria muita sorte se voltasse � equipe. � Aviso voc�. � Ah, certo. Eu tinha esperan�a de que fosse neste fim de semana... Mas Harry n�o estava escutando; acabara de reconhecer a caligrafia fina e inclinada no pergaminho. Deixou Sloper no meio da frase e se afastou depressa com Rony e Hermione, desenrolando o pergaminho enquanto andava. Caro Harry, Gostaria de come�ar as nossas aulas particulares no s�bado. Por favor, venha ao meu escrit�rio �s oito horas da noite. Espero que esteja apreciando o seu primeiro dia de escola. .Atenciosamente. Alvo Dumbledore P.S. Gosto de Acidinhas. � Ele gosta de Acidinhas? � estranhou Rony, que leu o bilhete por cima do ombro do amigo, perplexo. � � a senha para passar pela g�rgula na porta da sala dele � respondeu Harry em voz baixa. � Ah! Snape n�o vai gostar... N�o vou poder cumprir a deten��o! Ele, Rony e Hermione passaram todo o recreio especulando o que Dumbledore iria ensinar. Rony achou mais prov�vel que fossem feiti�os e azara��es desconhecidos dos Comensais da Morte. Hermione argumentou que isso era ilegal, e achou mais prov�vel que Dumbledore quisesse ensinar a Harry magia defensiva avan�ada. Terminado o recreio, ela seguiu para a aula de Aritmancia enquanto Harry e Rony voltavam � sala comunal, onde, de m� vontade, come�aram a fazer os deveres passados por Snape. Eram t�o complexos que ainda n�o tinham terminado quando Hermione foi encontr�-los para o per�odo livre depois do almo�o (embora ela tivesse ajudado a acelerar bastante o processo). Mal conclu�ram os deveres, tocou a sineta para a aula dupla de Po��es e eles fizeram o j� conhecido trajeto para a sala na masmorra que, durante tanto tempo, pertencera a Snape. Quando chegaram ao corredor, viram que apenas uns doze alunos haviam continuado no n�vel de N.I.E.M. Crabbe e Goyle evidentemente n�o tinham obtido a nota exigida no N.O.M., mas quatro alunos da Sonserina tinham passado, inclusive Malfoy. Aguardavam tamb�m quatro alunos da Corvinal e um da Lufa-Lufa, Ernesto Macmillan, de quem Harry gostava, apesar do seu jeito pomposo. � Harry � saudou Ernesto, auspiciosamente, estendendo a m�o quando ele se aproximou �, n�o tive chance de falar com voc� hoje de manh� na Defesa contra as Artes das Trevas. Achei uma boa aula, mas Feiti�os-Escudo �, obviamente, uma velharia para veteranos da AD como n�s... e voc�s como v�o, Rony... Hermione? Mal os dois responderam "�timo", a porta da masmorra se abriu e a pan�a de Slughorn o precedeu no corredor. Quando entraram na sala, seus enormes bigodes de le�o-marinho se curvaram nos cantos da boca sorridente e ele cumprimentou Harry e Zabini com particular entusiasmo. A masmorra estava, como nunca antes, impregnada de vapores e odores estranhos. Harry, Rony e Hermione aspiraram, interessados, ao passar por grandes caldeir�es borbulhantes. Os quatro alunos da Sonserina ocuparam juntos uma das mesas, o mesmo tendo feito os da Corvinal. Sobraram, assim, Harry, Rony e Hermione para dividir a terceira mesa com Ernesto. Escolheram a mais pr�xima a um caldeir�o dourado que exalava um dos aromas mais fascinantes que Harry j� sentira na vida: lembrava ao mesmo tempo torta de caramelo, resina de madeira em cabo de vassoura e algo floral que ele pensava ter sentido na Toca. Viu que respirava muito lenta e profundamente e que a fuma�a da po��o o satisfazia como uma bebida. Ele foi arrebatado por um grande contentamento; sorriu para Rony � sua frente, e o amigo retribuiu indolentemente o seu sorriso. � Ora muito bem, ora muito bem, ora muito bem � come�ou Slughorn, cuja silhueta maci�a parecia tremeluzir em meio aos variados vapores. � Apanhem as balan�as e os kits de po��es e n�o esque�am o manual de Estudos avan�ados no preparo de po��es... � Senhor � disse Harry, erguendo a m�o. � Harry, meu rapaz? � N�o tenho livro, nem balan�a nem nada... o Rony tamb�m n�o... n�o sab�amos que poder�amos fazer o N.I.E.M., o senhor entende... � Ah, sim, de fato a professora McGonagall me falou... n�o se preocupe, meu caro rapaz, n�o se preocupe. Use os ingredientes do arm�rio hoje, e estou certo de que podemos lhe emprestar uma balan�a, e temos um estoque de livros usados, eles servir�o at� que voc� possa escrever para a Floreios e Borr�es... Slughorn foi at� um arm�rio de canto e instantes depois virou-se com dois exemplares muito gastos de Estudos avan�ados no preparo de po��es, de Libatius Borage, e entregou a Harry e Rony, juntamente com duas balan�as oxidadas. � Ora, muito bem � disse voltando para a frente da turma e enchendo o peito, j� bastante volumoso, o que por um triz n�o fez os bot�es do seu colete saltarem. � Preparei algumas po��es para voc�s verem, apenas pelo interesse que encerram, entendem? S�o o tipo de coisa que dever�o ser capazes de fazer ao fim dos N.I.E.M.s. J� devem ter ouvido falar de algumas, ainda que n�o saibam prepar�-las. Algu�m pode me dizer qual � esta aqui? O professor indicou o caldeir�o mais pr�ximo � mesa da Sonserina. Harry levantou ligeiramente da cadeira e viu algo que lhe pareceu �gua pura em ebuli��o. A m�o bem treinada de Hermione subiu antes de qualquer outra; Slughorn apontou para ela. � � Veritaserum, uma po��o sem cor nem odor que for�a quem a bebe a dizer a verdade � respondeu Hermione. � Muito bem, muito bem! � elogiou o professor, feliz. � Agora � continuou, apontando para o caldeir�o mais pr�ximo da mesa da Corvinal �, essa outra � bem conhecida... e tamb�m apareceu em alguns folhetos do Minist�rio ultimamente... quem sabe...? A m�o de Hermione foi novamente a mais r�pida. � � a Po��o Polissuco, senhor. Harry tamb�m reconheceu a subst�ncia com aspecto de lama que fervia lentamente no segundo caldeir�o, mas n�o se aborreceu que Hermione recebesse o cr�dito por responder � pergunta; afinal, fora ela quem conseguira preparar a po��o, quando estavam no segundo ano. � Excelente, excelente! Agora, esta outra aqui... sim, minha cara? � interrompeu-se Slughorn, parecendo ligeiramente tonto ao ver a m�o de Hermione perfurar mais uma vez o ar. � � Amortentia! � De fato. Parece quase tolice perguntar � comentou o professor muito impressionado �, mas presumo que voc� saiba que efeito produz, n�o? � � a po��o de amor mais poderosa do mundo! � disse a garota. � Certo! E voc� a reconheceu, presumo, pelo brilho perolado? � E o vapor subindo em espirais caracter�sticas � respondeu Hermione animada �, e dizem que tem um cheiro diferente para cada um de n�s, de acordo com o que nos atrai, e eu estou sentindo cheiro de grama rec�m-cortada e pergaminho e... Mas ela corou ligeiramente e n�o completou a frase. � Posso saber o seu nome, minha cara? � perguntou Slughorn, n�o dando aten��o ao constrangimento de Hermione. � Hermione Granger, senhor. � Granger? Granger? Ser� que voc� � parenta de Hector Dagworth-Granger, que fundou a Mui Extraordin�ria Sociedade dos Preparadores de Po��es? � N�o. Creio que n�o, senhor. Nasci trouxa, sabe. Harry viu Malfoy se inclinar para perto de Nott e cochichar alguma coisa, os dois riram, mas Slughorn n�o se mostrou desapontado, pelo contr�rio, abriu um largo sorriso e olhou de Hermione para Harry, sentado ao seu lado. � Oho! "Uma das minhas melhores amigas � trouxa e � a melhor da nossa s�rie!" Presumo que seja esta a amiga de quem me falou, Harry! � �, sim, senhor. � Ora muito bem, vinte pontos muito merecidos para a Grifin�ria, srta. Granger � exclamou Slughorn cordialmente. Malfoy tinha no rosto a mesma express�o do dia em que Hermione lhe dera um soco na cara. A garota virou-se para Harry radiante e sussurrou: � Voc� realmente disse a ele que sou a melhor da s�rie? Ah, Harry! � Ora, grande coisa! � cochichou Rony que, por alguma raz�o, parecia aborrecido. � Voc� � a melhor da s�rie: eu teria dito isso se ele tivesse me perguntado! Hermione sorriu, mas pediu sil�ncio com um gesto para poderem ouvir o que Slughorn estava dizendo. Rony pareceu um pouco desapontado. � A Amortentia na realidade n�o gera o amor, � claro. � imposs�vel produzir ou imitar o amor. N�o, a po��o apenas causa uma forte paixonite ou obsess�o. Provavelmente � a po��o mais poderosa e perigosa nesta sala. Ah, sim � confirmou solenemente com a cabe�a para Malfoy e Nott, que riam descrentes. � Quando voc�s tiverem visto tanto da vida quanto eu, n�o subestimar�o o poder do amor obsessivo... "E agora, est� na hora de come�armos a trabalhar." � Professor, o senhor n�o nos disse o que tem neste aqui � lembrou Ernesto Macmillan, apontando para um pequeno caldeir�o preto em cima da mesa de Slughorn. A po��o espirrava vivamente para todo o lado; era cor de ouro derretido, e dela saltavam enormes gotas como peixinhos � superf�cie, embora nem uma s� part�cula extravasasse. � Oho � exclamou novamente o professor. Harry tinha certeza de que o professor n�o esquecera a po��o, mas esperou que lhe perguntassem para produzir um efeito teatral. � Sim. Aquela. Bem, aquela ali, senhoras e senhores, � uma po��ozinha curiosa chamada Felix Felicis. Suponho � e ele se voltou sorridente para Hermione, que deixara escapar uma exclama��o aud�vel � que a senhorita saiba o que faz a Felix Felicis, srta. Granger? � � sorte l�quida � respondeu Hermione excitada. � Faz a pessoa ter sorte! A classe inteira pareceu sentar mais aprumada. Agora Harry s� conseguia ver os cabelos louros e sedosos de Malfoy, porque finalmente ele estava prestando total aten��o ao professor. � Correto, mais dez pontos para a Grifin�ria. � uma po��ozinha engra�ada a Felix Felicis � explicou Slughorn. � Dific�lima de fazer e catastr�fica se errarmos. Contudo, se a prepararmos corretamente, como no caso, voc�s ir�o descobrir que os seus esfor�os ser�o recompensados... pelo menos at� passar o efeito. � Por que as pessoas n�o a bebem o tempo todo, senhor? � perguntou Ter�ncio Boot, pressuroso. � Porque ingerida em excesso causa tonteiras, irresponsabilidade e perigoso excesso de confian�a. Tudo que � bom demais, sabe... extremamente t�xica em quantidade. Mas tomada com parcim�nia e muito ocasionalmente... � O senhor j� a experimentou? � perguntou Miguel Corner muito interessado. � Duas vezes na vida. Uma aos vinte e quatro anos e outra aos cinq�enta e sete. Duas colheres de sopa ao caf� da manh�. Dois dias perfeitos. Ele deixou o olhar se perder na dist�ncia sonhadoramente. Se estava representando ou n�o, pensou Harry, o efeito era bom. � E a po��o � disse Slughorn aparentemente voltando � terra � � o que vou oferecer de pr�mio nesta aula. Houve um grande sil�ncio em que cada borbulha e gargarejo das po��es na sala pareceram se multiplicar dez vezes. � Um frasquinho de Felix Felicis � explicou Slughorn, tirando do bolso um min�sculo vidro com rolha e mostrando-o a todos. � Suficiente para doze horas de sorte. Do amanhecer ao anoitecer, voc�s ter�o sorte em tudo que tentarem. "Agora, preciso avisar que a Felix Felicis � uma subst�ncia proibida nas competi��es oficiais, eventos esportivos, por exemplo, exames e elei��es. Por isso quem a ganhar deve us�-la somente em um dia comum... e observar como esse dia comum se torna um dia extraordin�rio! "Ent�o", disse o professor repentinamente en�rgico, "como ir�o ganhar esse pr�mio fabuloso? Bem, abrindo a p�gina dez de Estudos avan�ados no preparo de po��es. Ainda nos resta pouco mais de uma hora, que deve ser suficiente para voc�s fazerem uma tentativa v�lida de preparar a Po��o do Morto-Vivo. Sei que � mais complexa do que qualquer outra que tenham tentado antes e n�o espero que ningu�m fa�a uma po��o perfeita. Mas aquele que a fizer melhor ganhar� a pequena Felix aqui. Podem come�ar!" Houve muito barulho quando os alunos arrastaram objetos e puxaram seus caldeir�es para perto, e batidas estridentes � medida que acrescentavam pesos aos pratos das balan�as, mas ningu�m falou. A concentra��o na sala era quase tang�vel. Harry viu Malfoy folheando febrilmente seu exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es. N�o podia ficar mais evidente que ele realmente desejava ganhar aquele dia de sorte. Harry debru�ou-se ligeiro para o exemplar esfrangalhado do livro que Slughorn lhe emprestara. Para seu aborrecimento, viu que o antigo dono escrevera em todas as p�ginas, de tal modo que as margens estavam t�o pretas quanto as partes impressas. Ele se curvou mais para decifrar os ingredientes (at� mesmo ali o antigo dono fizera anota��es e riscara palavras) e correu em seguida ao arm�rio para procurar o que precisava. Ao voltar depressa ao seu caldeir�o, viu que Malfoy estava picando ra�zes de valeriana o mais r�pido que podia. Todos olhavam para os lados a ver o que o resto da turma fazia; essa era ao mesmo tempo a vantagem e a desvantagem na aula de Po��es: a dificuldade de trabalhar sozinho. Em dez minutos, a sala toda se encheu de fuma�a azulada. Hermione, naturalmente, parecia ter ido mais longe. Sua po��o apresentava-se lisa e cor de groselha como o livro dizia ser o ideal ao chegar � metade do processo. Ao terminar de picar as ra�zes, Harry debru�ou-se outra vez sobre o livro. Era realmente muito irritante tentar decifrar todos os rabiscos bobos do antigo dono, que, por alguma raz�o, implicara com a instru��o para cortar a Vagem Sopor�fera e anotara uma alternativa: Amassai com o lado plano da adaga de prata faz escorrer mais seiva do que cortar. � Professor, acho que o senhor conheceu o meu av�, Abraxas Malfoy. Harry levantou a cabe�a; Slughorn ia passando pela mesa da Sonserina. � Conheci � confirmou o professor, sem olhar para Malfoy. � Lamentei quando soube do seu falecimento, embora n�o tenha sido inesperado; Var�ola de Drag�o na idade dele... Quando Slughorn se afastou, Harry voltou a aten��o para o seu caldeir�o, rindo. Compreendeu que Malfoy esperara ser tratado como ele ou Zabini; talvez at� receber um tratamento privilegiado do tipo que Snape normalmente lhe dispensara. Pelo visto, Malfoy teria de depender apenas do seu talento para ganhar o frasco de Felix Felicis. A Vagem Sopor�fera mostrava-se dif�cil de cortar. Harry virou-se para Hermione. � Pode me emprestar a sua faca de prata? Ela concordou impaciente, sem tirar os olhos de sua po��o, que continuava muito p�rpura, embora o livro dissesse que j� deveria estar lil�s-clara. Harry amassou sua vagem com o lado plano da adaga. Para sua surpresa, a planta imediatamente exsudou tanta seiva que ele se admirou que uma vagem seca pudesse conter tanta umidade. Ele a raspou depressa para dentro do caldeir�o e constatou, espantado, que a po��o imediatamente adquiriu o exato tom lil�s descrito no livro. O seu aborrecimento com o antigo dono desapareceu na hora, Harry agora fazia for�a para ler a linha seguinte das instru��es. Segundo o livro, ele precisava mexer o caldeir�o no sentido anti-hor�rio at� que a po��o ficasse clara como �gua. Mas, segundo a anota��o do antigo dono, ele deveria dar uma mexida no sentido hor�rio para cada sete no sentido anti-hor�rio. Ser� que o dono anterior estaria mais uma vez certo? Harry mexeu a po��o no sentido anti-hor�rio, prendeu a respira��o e deu a mexida no sentido hor�rio. O efeito foi imediato. A por��o tornou-se rosa muito claro. � Como � que voc� est� conseguindo isso? � quis saber Hermione, o rosto muito corado e os cabelos cada vez mais volumosos com o vapor que subia do caldeir�o; sua po��o continuava decididamente p�rpura. � D� uma mexida no sentido hor�rio... � N�o, n�o, o livro diz anti-hor�rio! � retorquiu ela. Harry encolheu os ombros e continuou o que estava fazendo. Sete mexidas no sentido antihor�rio, uma no sentido hor�rio, pausa... sete mexidas no sentido anti-hor�rio, uma no sentido hor�rio... Do lado oposto da mesa, Rony xingava baixinho sem parar; a po��o dele parecia alca�uz l�quido. Harry olhou para os lados. Aparentemente, nenhuma outra po��o ficara clara como a dele. Sentiu-se euf�rico, coisa que jamais lhe acontecera naquela masmorra. � E acabou-se... o tempo! � anunciou Slughorn. � Por favor, parem de mexer! O professor caminhou lentamente entre as mesas, examinando o conte�do dos caldeir�es. N�o fez coment�rios, mas ocasionalmente mexia ou cheirava uma das po��es. Por fim, chegou � mesa onde estavam Harry, Rony, Hermione e Ernesto. Sorriu ao ver a subst�ncia densa e escura no caldeir�o de Rony. Passou rapidamente pela prepara��o de Ernesto. Deu um aceno de aprova��o � de Hermione. Ent�o viu a de Harry, e uma express�o de prazer e incredulidade espalhou-se pelo seu rosto. � Sem d�vida, o vencedor! � exclamou para a masmorra. � Excelente, Harry! Deus do c�u, � ineg�vel que voc� herdou o talento de sua m�e que tinha uma m�o �tima para Po��es, a L�lian. Tome aqui, ent�o, tome aqui: um frasco de Felix Felicis, conforme prometi, e use-o bem! Harry guardou o frasquinho de l�quido dourado no bolso interno das vestes, sentindo uma estranha mescla de prazer ao ver os olhares furiosos dos alunos da Sonserina e remorso frente � express�o de desapontamento de Hermione. Rony estava simplesmente estarrecido. � Como foi que voc� fez aquilo? � sussurrou para o amigo, ao deixarem a masmorra. � Tive sorte, presumo � respondeu Harry preocupado que Malfoy os ouvisse. Uma vez, por�m, refestelados � mesa da Grifm�ria para jantar, ele se sentiu seguro para contar aos amigos. O rosto de Hermione foi endurecendo a cada palavra que ele dizia. � Suponho que voc� esteja achando que colei? � concluiu ele, incomodado com sua express�o. � Bem, n�o foi exatamente trabalho seu, n�o �? � disse tensa. � Ele apenas seguiu instru��es diferentes das nossas � defendeu-o Rony. � Poderia ter sido uma cat�strofe, n�o �? Mas ele arriscou e se deu bem. � Ele suspirou. � Slughorn bem podia ter dado aquele livro para mim, mas n�o, me deu um em que ningu�m escreveu nada. Vomitou, pela apar�ncia da p�gina cinq�enta e dois, mas... � Calma a� � disse uma voz ao ouvido esquerdo de Harry, que sentiu a repentina presen�a do aroma floral que reconhecera na masmorra de Slughorn. Ele se virou e viu Gina ao lado deles. � Ser� que ouvi direito? Voc� andou seguindo ordens que algu�m escreveu em um livro, Harry? Ela estava assustada e zangada. Harry entendeu imediatamente o que passava pela cabe�a da amiga. � N�o foi nada importante � tranq�ilizou-a, baixando a voz. � Sabe, n�o foi como no caso do di�rio de Riddle. Era s� um livro-texto velho em que algu�m fez anota��es. � Mas voc� seguiu o que estava escrito? � S� experimentei umas dicas escritas � margem, verdade, Gina, n�o tem nada suspeito... � Gina tem raz�o � disse Hermione, empertigando-se instantaneamente. � Temos de verificar se n�o h� nada esquisito com o livro. Quero dizer, todas aquelas instru��es engra�adas, quem sabe? � Ei! � exclamou Harry indignado, ao ver Hermione tirar o exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es da mochila dele e erguer a varinha. � Specialis revelio! � ordenou ela, dando uma pancadinha r�pida na capa do livro. Nada aconteceu. O livro continuou im�vel, apenas velho, sujo e cheio de orelhas. � Terminou? � perguntou Harry irritado. � Ou quer esperar para ver se o livro d� umas cambalhotas? � Parece normal � concluiu Hermione, ainda mirando o livro desconfiada. � Quero dizer, parece que � realmente... um simples livro. � Que bom. Ent�o posso guard�-lo � concluiu Harry, apanhando na mesa o livro, que escorregou de sua m�o e caiu aberto no ch�o. Ningu�m mais estava olhando. Harry se abaixou para recolher o livro e, ao fazer isto, viu uma coisa escrita ao p� da quarta capa, na mesma caligrafia pequena e apertada que as instru��es que tinham obtido para ele o frasco de Felix Felicis, agora guardado no mal�o em seu quarto, muito bem escondido dentro de um par de meias. Este livro pertence ao Pr�ncipe Mesti�o. CAPITULO DEZ A CASA DE GAUNT NAS DEMAIS AULAS DE PO��ES da semana, Harry continuou a seguir as instru��es do Pr�ncipe Mesti�o sempre que divergiam das de Libatius Borage, e, em conseq��ncia, por volta da quarta aula, Slughorn estava delirante com a capacidade de Harry, e comentava que raramente ensinara a algu�m t�o talentoso. Nem Rony nem Hermione ficaram muito satisfeitos com isso. Embora Harry oferecesse compartilhar o livro com ambos, Rony teve mais dificuldade em decifrar a caligrafia do que ele, e n�o poderia ficar pedindo ao amigo que lesse o texto em voz alta sem levantar suspeitas. Nesse meio tempo, Hermione enfrentava resolutamente o que ela chamava de instru��es "oficiais", mas tornava-se cada vez mais mal-humorada, pois obtinha resultados mais med�ocres do que os do Pr�ncipe. Harry se perguntava sem grande interesse quem teria sido o tal Pr�ncipe Mesti�o. Embora a quantidade de deveres de casa que tinham recebido o impedisse de ler todo o exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es, ele o folheara o suficiente para ver que n�o havia praticamente p�gina alguma em que o Pr�ncipe n�o tivesse feito anota��es, que nem sempre se referiam ao preparo de po��es. Aqui e ali havia instru��es para feiti�os que pareciam inventados por ele mesmo. � Ou ela mesma � rebateu Hermione irritada, escutando Harry mostrar alguns para Rony na sala comunal, s�bado � noite. � Pode ter sido uma garota, acho que a letra parece mais feminina do que masculina. � Chamava-se o Pr�ncipe Mesti�o � disse Harry. � Quantas meninas s�o pr�ncipes? Hermione n�o soube responder. Apenas amarrou a cara e puxou o trabalho que estava fazendo sobre "Os princ�pios da rematerializa��o", para longe de Rony, que tentava l�-lo de cabe�a para baixo. Harry consultou seu rel�gio e guardou depressa na mochila o velho exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es. � S�o cinco para as oito, � melhor eu ir andando ou vou chegar atrasado no Dumbledore. � Ooooh! � exclamou Hermione, erguendo imediatamente a cabe�a. � Boa sorte! Vamos esperar acordados, queremos saber o que ele vai lhe ensinar! � Espero que tudo corra bem � disse Rony, e os dois ficaram observando Harry passar pelo buraco do retrato. Harry atravessou os corredores desertos, embora tenha precisado se esconder ligeiro atr�s de uma est�tua quando a professora Trelawney surgiu, de repente, numa curva do corredor, murmurando e misturando as cartas de um baralho ensebado que lia enquanto andava. � Dois de espadas: conflito � murmurou ao passar pelo lugar em que Harry se escondera agachado. � Sete de espadas: mau aug�rio. Dez de espadas: viol�ncia. Valete de espadas: um rapaz moreno, possivelmente perturbado, que n�o gosta da consulente. Ela parou de repente, do lado oposto da est�tua de Harry. � Bem, n�o pode estar certo � disse contrariada, e Harry ouviu-a embaralhar energicamente ao recome�ar a caminhada, deixando atr�s de si apenas um aroma de xerez barato para uso culin�rio. Harry esperou at� se certificar de que ela se fora, ent�o recome�ou a correr at� chegar ao ponto do corredor do s�timo andar em que havia apenas uma g�rgula na parede. � Acidinhas � disse Harry. A g�rgula saltou para o lado; a parede oculta se abriu, e surgiu uma escada circular de pedra, na qual Harry p�s os p�s para ser levado at� a porta com a aldrava de lat�o que dava acesso ao escrit�rio de Dumbledore. Harry bateu. � Entre � ouviu-se a voz do diretor. � Boa-noite, senhor � cumprimentou Harry, entrando no escrit�rio. � Ah, boa-noite, Harry. Sente-se � disse Dumbledore, sorrindo. � Espero que sua primeira semana na escola tenha sido prazerosa. � Foi, obrigado, senhor. � Deve ter andado muito ocupado, j� recebeu uma deten��o! � �a... � come�ou Harry sem jeito, mas Dumbledore n�o parecia muito severo. � Combinei com o professor Snape que voc� cumprir� sua deten��o no pr�ximo s�bado. � Certo � respondeu Harry, que tinha assuntos mais urgentes em sua cabe�a do que a deten��o de Snape, e agora procurava disfar�adamente alguma indica��o do que Dumbledore pretendia fazer com ele naquela noite. O escrit�rio circular tinha a apar�ncia de sempre: os delicados instrumentos de prata sobre mesinhas de pernas finas soltavam fuma�a e zumbiam; os antigos diretores e diretoras cochilavam em seus quadros; e a magn�fica f�nix do diretor, Fawkes, no poleiro atr�s da porta, observava Harry com vivo interesse. Pelo visto, Dumbledore nem sequer abrira um espa�o para duelar. � Ent�o, Harry � disse o diretor em tom objetivo. � Voc� certamente tem se perguntado o que planejei para as suas... por falta de uma palavra melhor... aulas. � Tenho, senhor. � Bem, agora que voc� sabe o que induziu Lord Voldemort a tentar mat�-lo h� quinze anos, conclu� que j� � tempo de lhe passar certas informa��es. Houve uma pausa. � O senhor disse, no fim do �ltimo trimestre, que ia me contar tudo � lembrou Harry. Era dif�cil eliminar um qu� de acusa��o em sua voz. � Senhor � acrescentou. � E de fato contei � concordou Dumbledore placidamente. � Contei-lhe tudo que sei. Daqui para frente, estaremos deixando o terreno firme dos fatos para viajar juntos pelos turvos alagados da mem�ria e nos embrenhar pelo matagal das suposi��es mais absurdas. Deste ponto em diante, Harry, posso estar lamentavelmente t�o enganado como Humphrey Belcher, que acreditou que havia aceita��o para caldeir�es de queijo. � Mas o senhor acha que est� certo? � Naturalmente que sim, mas como j� provei a voc� tamb�m, erro como qualquer outro homem. De fato, sendo, perdoe-me, bem mais inteligente do que a maioria, os meus erros tendem a ser proporcionalmente maiores. � Senhor � perguntou Harry hesitante �, o que vai me contar tem a ver com a profecia? Vai me ajudar a... sobreviver? � Muita rela��o com a profecia � respondeu Dumbledore, displicentemente, como se Harry tivesse lhe perguntado que tempo faria no dia seguinte �, e tenho esperan�as de que o ajude a sobreviver. O diretor ergueu-se, contornou a escrivaninha e passou por Harry; este se virou pressuroso e viu Dumbledore curvar-se para o arm�rio ao lado da porta. Quando o diretor se endireitou, segurava uma conhecida bacia de pedra, com estranhas marcas na borda. O bruxo colocou a Penseira na escrivaninha, diante de Harry. � Voc� parece preocupado. Realmente Harry observava a bacia com apreens�o. Suas experi�ncias anteriores com o estranho objeto que guardava e revelava pensamentos e lembran�as, embora extremamente instrutivas, tinham sido bastante desconfort�veis. A �ltima vez em que ele agitara o seu conte�do, vira muito mais do que teria desejado. Mas Dumbledore estava sorrindo. � Desta vez, voc� vai entrar na Penseira comigo... e, o que � ainda mais incomum, tem permiss�o para isso. � Aonde vamos, senhor? � Fazer uma viagem pelos caminhos da mem�ria de Beto Ogden � respondeu Dumbledore, tirando do bolso um frasco de cristal contendo uma subst�ncia branco-prata que rodopiava. � Quem foi Beto Ogden? � Foi funcion�rio do Departamento de Execu��o das Leis da Magia. Morreu h� algum tempo, mas n�o antes que eu o tivesse localizado e convencido a me confidenciar essas lembran�as. Vamos acompanh�-lo em uma visita que fez no desempenho de suas fun��es. Se puder se levantar, Harry... Mas Dumbledore estava tendo dificuldade para destampar o frasco de cristal: sua m�o machucada parecia r�gida e dolorida. � Me d�... me d� licen�a, senhor? � N�o se incomode, Harry. Dumbledore apontou a varinha para o frasco e a rolha saltou fora. � Senhor... como foi que machucou a m�o? � Harry perguntou mais uma vez, olhando os dedos escurecidos com uma sensa��o de horror e d�. � Agora n�o � hora de contar essa hist�ria, Harry. Ainda n�o. Temos um encontro com Beto Ogden. Dumbledore despejou na Penseira o conte�do do frasco, que girou e refulgiu, nem l�quido nem gasoso. � Primeiro voc� � disse ele, indicando a bacia. Harry se inclinou, inspirou profundamente e mergulhou de cara na subst�ncia prateada. Sentiu seus p�s deixarem o piso do escrit�rio; foi caindo, caindo, por um torvelinho escuro, e ent�o, inesperadamente, se viu piscando sob um sol ofuscante. Antes que seus olhos se acostumassem, Dumbledore aterrissou ao seu lado. Estavam de p� em uma estradinha rural ladeada por cercas vivas emaranhadas, sob um c�u de ver�o vivo e azul como mios�tis. A uns tr�s metros deles, achava-se um homem baixo e gorducho que usava �culos com lentes t�o grossas que reduziam seus olhos a sinaizinhos de nascen�a. Estava lendo um letreiro de madeira que se projetava da cerca selv�tica do lado esquerdo da estrada. Harry sabia que aquele devia ser o Ogden; era a �nica pessoa � vista, e usava a estranha variedade de roupas que muitas vezes os bruxos inexperientes escolhem para se disfar�ar de trouxas; no caso, casaca e polainas por cima de uma roupa de banho listrada e inteiri�a. Antes, por�m, que Harry tivesse tempo para outra coisa que n�o registrar sua bizarra apar�ncia, Ogden saiu andando com rapidez pela estrada. Dumbledore e Harry seguiram-no. Ao passarem pelo letreiro de madeira, Harry olhou para as duas setas. Na que apontava para o lado de onde tinham vindo leu: Great Hangleton, 8 km. Na que apontava para Ogden leu: Little Hangleton, 1,6 km. Caminharam uma pequena dist�ncia sem nada ver exceto as cercas, a vastid�o do c�u azul e a figura de casaca � frente; ent�o, a estrada fez uma curva para a esquerda e despencou, �ngreme, descendo a encosta do morro, permitindo que, inesperadamente, descortinassem o panorama de um vale inteiro. Harry viu uma aldeia, sem d�vida Little Hangleton, aninhada entre dois morros escarpados, a igreja e o cemit�rio bem aparentes. Do outro lado do vale, engastada na falda do morro oposto, havia uma bela casa senhorial rodeada por um vasto e veludoso gramado. Ogden diminuiu a marcha diante do acentuado declive da ladeira. Dumbledore aumentou seus passos e Harry tentou acompanh�-lo. Imaginou que Little Hangleton fosse o destino final e se perguntou, como fizera na noite em que localizaram Slughorn, por que tinham de come�ar de t�o longe. Logo, por�m, descobriu que se enganara em pensar que se dirigiam � aldeia. A estrada fazia uma curva para a direita e, quando a contornaram, viram a ponta da aba da casaca de Ogden desaparecendo por uma abertura na cerca. Dumbledore e Harry continuaram a segui-lo por uma trilha estreita, ladeada de cercas vivas ainda mais altas e mais desordenadas do que as que tinham deixado para tr�s. O caminho era torto, rochoso e esburacado, descia o morro como o anterior e parecia conduzir a um arvoredo, sombrio um pouco mais abaixo. De fato, o caminho logo desembocou no arvoredo, e Dumbledore e Harry pararam atr�s de Ogden, que se detivera para puxar a varinha. Apesar do c�u desanuviado, as velhas �rvores projetavam sombras profundas, escuras e frescas, e Harry levou alguns segundos para enxergar a casa semi-oculta entre seus troncos. Pareceu-lhe um lugar estranho para se construir uma casa, ou ent�o uma decis�o curiosa a de deixar as �rvores crescerem pr�ximas, bloqueando toda a luz e a vis�o do vale. Ele se perguntou se seria habitada; as paredes estavam cobertas de musgo e havia ca�do tantas telhas que em alguns pontos as traves estavam vis�veis. Cresciam urtigas a toda volta e suas hastes alcan�avam as janelas pequenas e grossas de sujeira. Quando acabara de concluir que era imposs�vel que fosse habitada, uma das janelas se abriu com estr�pito e deixou sair um fio de vapor ou de fuma�a, como se algu�m estivesse cozinhando. Ogden se adiantou em sil�ncio e, pareceu a Harry, com cautela. Quando as sombras escuras das �rvores o encobriram, ele tornou a parar com os olhos fixos na porta de entrada, � qual tinham pregado uma cobra morta. Ouviu-se, ent�o, um farfalhar e um estalo, e um homem andrajoso despencou da �rvore mais pr�xima, caindo de p� diante de Ogden; este pulou para tr�s t�o r�pido que pisou nas abas da casaca e se desequilibrou. � Voc� n�o � bem-vindo. O homem � frente deles tinha cabelos espessos t�o entremeados de sujeira que n�o dava para distinguir a cor. Faltavam-lhe v�rios dentes na boca; e os olhos, pequenos e escuros, olhavam em dire��es opostas. Sua apar�ncia poderia ter sido c�mica, mas n�o era; produzia um efeito assustador, e Harry n�o podia censurar Ogden por recuar mais alguns passos antes de falar. � �h... bom-dia. Sou do Minist�rio da Magia... � Voc� n�o � bem-vindo. � �h... desculpe... n�o estou entendendo � respondeu Ogden nervoso. Harry achou que Ogden estava sendo extremamente obtuso; em sua opini�o, o estranho fora muito claro, principalmente porque brandia uma varinha em uma das m�os e uma faca de l�mina curta, ensang�entada, na outra. � Voc� com certeza est� entendendo, n�o, Harry? � indagou Dumbledore em voz baixa. � Claro que estou � respondeu ele um pouco confuso. � Por que Ogden n�o...? Mas quando tornou a olhar a cobra na porta, repentinamente compreendeu. � Ele est� falando a linguagem das cobras? � Muito bom � assentiu Dumbledore, sorrindo. O homem andrajoso agora avan�ava para Ogden, a faca em uma das m�os e a varinha na outra. � Escute aqui � come�ou Ogden, mas tarde demais: ouviu-se um estampido e ele foi parar no ch�o, apertando o nariz, que espirrava entre os seus dedos uma gosma amarelada e feia. � Morfino! � gritou uma voz. Um homem mais velho saiu depressa da casa batendo a porta ao passar e fazendo a cobra balan�ar pateticamente. Este homem era mais baixo do que o primeiro e tinha estranhas propor��es; os ombros eram muito largos e os bra�os compridos demais, o que, juntamente com os olhos vivos e castanhos, os cabelos espessos e curtos e o rosto enrugado, dava-lhe a apar�ncia de um macaco idoso e forte. Parou ao lado do homem com a faca, que agora soltava gargalhadas ao ver Ogden no ch�o. � Minist�rio �? � perguntou o homem mais velho, olhando Ogden com arrog�ncia. � Correto! � confirmou ele com raiva, limpando o rosto. � E o senhor, presumo, � o Sr. Gaunt? � Isso. Ele acertou seu rosto, foi? � Foi! � retorquiu Ogden. � O senhor n�o deveria ter anunciado sua presen�a? � perguntou Gaunt agressivamente. � Isto � uma propriedade privada. Ningu�m pode ir entrando e esperar que o meu filho n�o se defenda. � Defenda de qu�, homem? � contestou Ogden, se levantando. � Bisbilhoteiros. Invasores. Trouxas e ral�. Ogden apontou a varinha para o pr�prio nariz, de onde continuava a escorrer uma abundante secre��o semelhante a pus, e estancou o corrimento. O Sr. Gaunt disse a Morfmo, pelo canto da boca. � Entre. N�o discuta. Desta vez, alertado, Harry reconheceu a l�ngua que o homem falava; ao mesmo tempo que entendia o que era dito, distinguia o estranho sibilado que era s� o que Ogden podia ouvir. Morfmo deu a impress�o de que ia discordar, mas, quando o pai amea�ou-o com um olhar, ele mudou de id�ia; saiu em dire��o � casa com uma estranha ginga e bateu a porta, fazendo a cobra balan�ar tristemente. � Foi o seu filho que vim ver, Sr. Gaunt � explicou Ogden, enxugando o resto de pus da frente da casaca. � Aquele era o Morfino, n�o? � Ah, era o Morfino � confirmou o velho, indiferente. � O senhor tem sangue puro? � perguntou repentinamente agressivo. � Isto n�o vem ao caso � respondeu Ogden com frieza, e Harry sentiu o seu respeito pelo bruxo crescer. Aparentemente isto fazia diferen�a para Gaunt. Ele estudou o rosto de Ogden e resmungou em um tom decididamente ofensivo. � Pensando bem, j� vi narizes iguais ao seu na aldeia. � N�o duvido nada, se o senhor costuma soltar seu filho contra eles. Que tal continuarmos essa discuss�o dentro de casa? � Dentro? � �, Sr. Ogden. J� disse que estou aqui por causa de Morfino. Enviamos uma coruja... � N�o estou interessado em corujas. N�o abro cartas. � Ent�o o senhor n�o tem raz�o para reclamar que as visitas apare�am sem avisar � retrucou Ogden, mordaz. � Estou aqui porque ocorreu uma s�ria viola��o das leis bruxas nas primeiras horas desta manh�... � Est� bem, est� bem, est� bem! � berrou Gaunt. � Entre na maldita casa, ent�o, mas n�o vai lhe adiantar muito! A casa parecia conter tr�s c�modos min�sculos. Havia duas portas no c�modo principal, que servia de sala e cozinha. Morfino estava sentado em uma poltrona imunda ao lado do fog�o enfuma�ado, enrolando uma cobra entre os dedos grossos enquanto cantava baixinho em sua linguagem. Silva, silva, serpinha, Serpeia pelo soalho Seja sempre boazinha ou Morfino crava voc�. Ouviu-se um arrastar de p�s no canto ao lado da janela aberta, e Harry notou que havia mais algu�m na sala, uma garota cujo vestido cinzento e rasgado era exatamente da cor da parede de pedra encardida �s suas costas. Estava em p� ao lado de uma panela que fumegava em um fog�o negro, e mexia na prateleira com panelas e ca�arolas de aspecto miser�vel mais acima. Seus cabelos eram escorridos e sem vida e o rosto comum, p�lido e feioso. Seus olhos, como os do irm�o, eram divergentes. Parecia um pouco mais limpa do que os dois homens, mas Harry avaliou que nunca vira ningu�m t�o arrasado. � Minha filha M�rope � Gaunt apresentou-a de m� vontade, quando Ogden lan�ou � garota um olhar indagador. � Bom-dia � cumprimentou-a Ogden. Ela n�o respondeu; lan�ando um olhar assustado ao pai, deu as costas � sala e continuou a trocar as panelas de lugar na prateleira. � Bem, Sr. Gaunt, para ir direto ao assunto, temos raz�es para acreditar que seu filho Morfino executou um feiti�o diante de um trouxa no final da noite de ontem. Ouviu-se um estrondo met�lico. M�rope deixara cair uma panela. � Apanhe isso! � berrou Gaunt para a filha. � Isso, fuce o ch�o como uma trouxa porca, para que serve a sua varinha, seu saco de estrume? � Sr. Gaunt, por favor! � pediu Ogden em tom chocado, enquanto M�rope, que j� apanhara a panela, com o rosto malhado de rubor, tornou a solt�-la e puxou a varinha do bolso; apontou-a para o objeto e murmurou um feiti�o apressado e inaud�vel que fez a panela voar para longe dela, bater na parede oposta e rachar ao meio. Morfino soltou sua gargalhada demente. Gaunt gritou: � Conserte isso, sua imprest�vel, conserte isso! M�rope saiu trope�ando pela sala, mas, antes que tivesse tempo de erguer a varinha, Ogden empunhou a dele e ordenou com firmeza: � Reparo. � E a panela se consertou instantaneamente. Por um momento, pareceu que Gaunt ia gritar com Ogden, mas deve ter pensado melhor; em vez disso, ca�oou da filha: � Que sorte o homem bonzinho do Minist�rio est� aqui, n�o �? Quem sabe ele tira voc� das minhas m�os, quem sabe ele n�o se incomoda com Abortos nojentos... Sem olhar para ningu�m ou agradecer a Ogden, M�rope apanhou a panela e devolveu-a, com as m�os tr�mulas, � prateleira. Postou-se, ent�o, muito quieta, as costas apoiadas na parede entre a janela muito suja e o fog�o, como se o seu �nico desejo fosse afundar na pedra e sumir. � Sr. Gaunt � recome�ou Ogden �, como eu ia dizendo, a raz�o da minha visita... � Ouvi da primeira vez! � retrucou Gaunt. � E da�? Morfino deu a um trouxa o que estava merecendo; o que � que o senhor vai fazer? � Morfino violou a lei bruxa � disse Ogden com severidade. � Morfino violou a lei bruxa. � Gaunt imitou a voz de Ogden, num tom pomposo e cantado. Morfmo gargalhou outra vez. � Deu uma li��o a um trouxa nojento, isso agora � ilegal, �? � �. Receio que seja. Ogden tirou do bolso interno um pequeno rolo de pergaminho e abriu-o. � E isso a�, � o qu�, a senten�a dele? � perguntou Gaunt, alteando a voz inflamado. � � uma intima��o para comparecer a uma audi�ncia no Minist�rio... � Intima��o! Intima��o? Quem o senhor pensa que � para intimar meu filho a comparecer a algum lugar? � Sou o chefe do Esquadr�o de Execu��o das Leis da Magia. � E o senhor acha que somos ral�, � isso? � gritou Gaunt, e avan�ou para Ogden, com o dedo de unha suja e amarela apontando para o seu peito. � Ral� que se apresenta correndo quando o Minist�rio manda? Sabe com quem est� falando, seu Sangue-Ruim nojento? � Eu tinha a impress�o de que estava falando com o Sr. Gaunt � respondeu ele cauteloso, mas irredut�vel. � Exatamente! � urrou Gaunt. Por um instante, Harry pensou que ele fazia um gesto obsceno, mas percebeu que apenas mostrava o feio anel de pedra negra que usava no dedo m�dio, e que agitava na cara de Ogden. � Est� vendo isso aqui? Est� vendo isso aqui? Sabe de onde veio? Est� h� s�culos na nossa fam�lia, t�o antiga ela �, e de sangue sempre puro! Sabe quanto j� me ofereceram por isso, com o bras�o dos Peverell gravado na pedra? � N�o fa�o a menor id�ia � replicou Ogden, piscando para o anel a cent�metros do seu nariz �, e n�o � pertinente, Sr. Gaunt. O seu filho cometeu... Com um uivo de f�ria, Gaunt correu para a filha. Por uma fra��o de segundo, Harry pensou que ia esgan�-la, quando o viu agarr�-la pelo pesco�o; mas ele apenas arrastou-a at� Ogden pela corrente de ouro que usava. � Est� vendo isso aqui? � berrou, sacudindo o pesado medalh�o para Ogden, enquanto M�rope engasgava e procurava respirar. � Eu estou vendo, eu estou vendo! � apressou-se ele a dizer. � Vem de Slytherin! � gritou Gaunt. � De Salazar Slytherin! Somos os seus �ltimos descendentes vivos. Que me diz disso, eh? � Sr. Gaunt, sua filha! � avisou Ogden assustado, mas o bruxo j� largara M�rope; ela se afastou cambaleando de volta ao seu canto, massageando o pesco�o e engolindo em seco para respirar. � � o que eu queria dizer! � exclamou Gaunt triunfante, como se tivesse acabado de provar de modo irrefut�vel urna complicada quest�o. � N�o venha falar conosco como se n�o cheg�ssemos aos seus p�s! Gera��es de sangue puro, todos bruxos, o que, tenho certeza, � mais do que o senhor pode dizer! E cuspiu no ch�o aos p�s de Ogden. Morfino soltou mais gargalhadas. M�rope, encolhida ao lado da janela, a cabe�a oculta pelos cabelos escorridos, permaneceu calada. � Sr. Gaunt � insistiu Ogden �, receio que nem os seus antepassados nem os meus tenham a menor rela��o com o nosso caso. Estou aqui por causa do Morfino, Morfino e o trouxa que ele abordou ontem � noite. A informa��o que temos � que Morfino lan�ou um feiti�o ou uma azara��o no tal trouxa, causando-lhe uma urtic�ria extremamente dolorosa. Morfino riu. � Quieto menino � rosnou Gaunt em linguagem de cobra, e Morfino tornou a se calar. � E se lan�ou, qual � o problema? � retorquiu Gaunt em tom de desafio. � Espero que o senhor tenha limpado a pele do trouxa e, de quebra, a mem�ria dele... � O problema � bem outro, n�o �, Sr. Gaunt? Foi um ataque gratuito a um indefeso... � Ah, achei que o senhor tinha cara de amigo dos trouxas assim que o vi � desdenhou Gaunt, tornando a cuspir no ch�o. � Esta discuss�o n�o est� nos levando a nada � disse Ogden com firmeza. � Pela atitude do seu filho, est� muito claro que n�o sente remorso algum pelo que fez. � E olhando para o rolo de pergaminho. � Morfmo dever� comparecer a uma audi�ncia no dia 14 de setembro, para responder �s acusa��es de usar magia diante de um trouxa e causar ao dito trou... Ogden calou-se. Entravam pela janela ru�dos de metal, cascos de cavalos e risos humanos. Aparentemente, a estrada tortuosa para a aldeia passava muito pr�xima do arvoredo onde se situava a casa. Gaunt congelou, escutando de olhos arregalados. Morfmo sibilou e virou o rosto para o lado dos ru�dos, a express�o voraz. M�rope ergueu a cabe�a. Seu rosto, Harry viu, estava absolutamente branco. � Meu Deus, que monstruosidade! � ouviu-se uma voz de garota, claramente aud�vel pela janela aberta como se estivesse na sala. �Ser� que seu pai n�o podia mandar remover esse casebre, Tom? � N�o � nosso � respondeu uma voz jovem. � Tudo do outro lado do vale nos pertence, mas essa casa pertence a um velho pobret�o chamado Gaunt e aos filhos dele. O rapaz � bem maluco, voc� devia ouvir as hist�rias que contam na aldeia... A mo�a riu. Os sons de metal e cascos aumentaram. Morfmo fez men��o de levantar da poltrona. � Fique sentado � disse o pai em tom de aviso, em linguagem de cobra. � Tom � falou a mo�a, agora t�o pr�ximo que deviam estar ao lado da casa �, ser� que me enganei ou algu�m pregou uma cobra naquela porta? � Santo Deus, voc� tem raz�o! � disse a voz masculina. � Deve ter sido o filho, eu n�o disse que ele n�o era bom da cabe�a? N�o olhe, Cec�lia, querida. Os sons de metal e cascos foram se distanciando. � Querida � murmurou Morfino naquela linguagem, olhando para a irm�. � Chamou a mo�a de querida. Ent�o n�o ia mesmo querer voc�. M�rope estava t�o p�lida que Harry teve certeza de que ela ia desmaiar. � Que foi, Morfmo? � perguntou Gaunt rispidamente, na mesma linguagem, seus olhos indo do filho para a filha. � Que foi que voc� disse, Morfino? � Ela gosta de olhar o trouxa, � Com uma express�o cruel, Morfino encarou a irm�, que agora parecia aterrorizada. � Sempre no jardim quando ele passa, espiando pela cerca, n�o �? E a noite passada... M�rope sacudiu a cabe�a freneticamente, implorando, mas Morfino continuou sem se condoer: � ... Pendurada na janela esperando ele voltar para casa, n�o �? � Pendurada na janela para olhar um trouxa? � disse Gaunt em voz baixa. Os tr�s Gaunt pareciam ter se esquecido de Ogden, que assistia ao mesmo tempo pasmo e irritado a essa nova erup��o de silvos e estrid�ncias. � � verdade? � perguntou Gaunt implac�vel, dando uns passos em dire��o � filha apavorada. � Minha filha, uma pura descendente de Salazar Slytherin, suspirando por um trouxa nojento de veias imundas? M�rope sacudiu a cabe�a com veem�ncia, comprimindo-se contra a parede, aparentemente incapaz de falar. � Mas eu peguei ele, pai! � disse Morfino �s gargalhadas. � Peguei quando passou por aqui e ele n�o ficou nada bonito coberto de urtic�ria, ficou, M�rope? � Sua bruxinha abortada nojenta, sua traidorazinha do sangue! � urrou Gaunt, descontrolado, apertando o pesco�o da filha. Harry e Ogden berraram "N�o!" ao mesmo tempo; Ogden ergueu a varinha e ordenou: � Relaxo! � Gaunt foi lan�ado para longe da filha; trope�ou em uma cadeira e estatelou-se de costas. Com um rugido de f�ria, Morfino saltou da poltrona e avan�ou para Ogden, brandindo a faca ensang�entada e disparando, indiscriminadamente, azara��es com a varinha. Ogden fugiu desabalado. Dumbledore fez sinal que deviam segui-lo, e Harry obedeceu, os gritos de M�rope ecoando em seus ouvidos. Ogden disparou pela trilha e irrompeu pela estrada principal, os bra�os protegendo a cabe�a, e colidindo com o lustroso cavalo de um rapaz muito bonito, de cabelos castanhos. Ele e a linda mo�a que cavalgava ao seu lado ca�ram na risada ao verem Ogden bater na ilharga do cavalo, quicar e retomar a corrida errante pela estrada, a casaca voando, coberto de p� da cabe�a aos p�s. � Acho que j� basta, Harry � disse Dumbledore, batendo em seu bra�o. No momento seguinte, os dois estavam voando imponder�veis pela escurid�o; por fim, aterrissaram de p� no escrit�rio de Dumbledore, agora iluminado pelo crep�sculo. � Que aconteceu com a garota na casa? � foi a primeira pergunta de Harry quando Dumbledore acendia mais l�mpadas com um toque de varinha. � M�rope, ou o nome que fosse. � Ah, ela sobreviveu � respondeu o diretor, se acomodando � escrivaninha e fazendo sinal para que Harry se sentasse tamb�m. � Ogden aparatou at� o Minist�rio e voltou, quinze minutos depois, com refor�os. Morfino e o pai tentaram lutar, mas os dois foram subjugados, levados da casa e, mais tarde, condenados pela Suprema Corte dos Bruxos. Morfino, j� fichado por ataques a trouxas, foi condenado a tr�s anos em Azkaban. Servolo, que ferira v�rios funcion�rios do Minist�rio al�m de Ogden, recebeu uma pena de seis meses de pris�o. � Servolo? � repetiu Harry em tom de indaga��o. � Exato � respondeu Dumbledore, aprovando-o com um sorriso. � Fico satisfeito que esteja acompanhando. � O velho era...? � O av� de Voldemort. Servolo, seu filho Morfino e sua filha M�rope foram os �ltimos Gaunt, uma fam�lia bruxa muito antiga conhecida por sua �ndole inst�vel e violenta que se transmitiu atrav�s de gera��es devido ao h�bito de casarem entre primos. A falta de ju�zo associada � mania de grandeza redundou na dissipa��o do ouro da fam�lia muitas gera��es antes de Servolo nascer. Ele viveu, como voc� bem viu, em condi��es s�rdidas e miser�veis, dono de um p�ssimo g�nio e uma arrog�ncia e um orgulho desmedidos, al�m de alguns objetos de fam�lia que ele valorizava tanto quanto o filho e muito mais do que a filha. � Ent�o M�rope � perguntou Harry, curvando-se para a frente e encarando Dumbledore �, ent�o M�rope era... senhor, quer dizer que M�rope era... a m�e de Voldemort? � Exato. E por acaso vimos de relance o pai de Voldemort. Voc� registrou? � O trouxa que Morfino atacou? O homem a cavalo? � Muito bem � elogiou Dumbledore com um largo sorriso. � Aquele era Tom Riddle, pai, o trouxa bonit�o que passava cavalgando pela casa dos Gaunt e por quem M�rope nutria uma paix�o ardente e secreta. � E eles acabaram se casando? � perguntou Harry, incr�dulo e incapaz de imaginar duas pessoas com menos probabilidade de se apaixonarem. � Acho que voc� est� esquecendo � acrescentou Dumbledore � que M�rope era bruxa. Acredito que os seus poderes m�gicos n�o se manifestassem favoravelmente enquanto esteve aterrorizada pelo pai. Mas uma vez que Servolo e Morfino foram trancafiados em Azkaban, uma vez que ela se viu livre e sozinha pela primeira vez na vida, estou certo que p�de dar r�deas � sua capacidade e planejar sua fuga da vida desesperada que levara durante dezoito anos. "Voc� n�o consegue pensar em nada que M�rope pudesse ter feito para obrigar Tom Riddle a esquecer a companheira trouxa e se apaixonar por ela?" � A Maldi��o Imperius? � arriscou Harry. � Ou uma po��o de amor? � Muito bom. Pessoalmente, me inclino mais para a po��o de amor. Estou certo de que teria parecido a M�rope mais rom�ntico e n�o teria sido muito dif�cil, em um dia de calor, quando Riddle estivesse cavalgando sozinho, persuadi-lo a beber uma �gua. Em todo caso, alguns meses depois da cena que acabamos de presenciar, a aldeia de Little Hangleton deliciou-se com um espantoso esc�ndalo. Voc� pode imaginar o falat�rio que houve quando o filho do senhor das terras locais fugiu com M�rope, a filha do vagabundo. "Mas o choque dos alde�es n�o se comparou ao de Servolo. Ele voltou de Azkaban, imaginando que encontraria a filha aguardando obediente o seu retorno, com uma refei��o quente � mesa. Em vez disso, encontrou bem uns tr�s cent�metros de poeira e um bilhete de adeus, em que ela explicava o que fizera. "Pelo que pude descobrir, daquele dia em diante ele nunca mais mencionou o nome da filha ou a sua exist�ncia. O choque de sua deser��o talvez tenha contribu�do para sua morte prematura � ou talvez ele simplesmente nunca tivesse aprendido a preparar a pr�pria comida. Azkaban o enfraquecera muito, e Servolo n�o viveu o bastante para ver o regresso de Morfino a casa." � E M�rope? Ela... ela morreu, n�o foi? Voldemort n�o foi criado em um orfanato? � E verdade. Aqui, temos de usar um pouco a imagina��o, embora n�o ache que seja dif�cil deduzir o que aconteceu. Alguns meses depois de fugir para casar, Tom Riddle reapareceu na casa senhorial de Little Hangleton sem a mulher. Correu pela vizinhan�a o boato de que alegava ter sido "ludibriado" e "abusado em sua boa-f�". O que quis dizer, sem d�vida, � que estivera enfeiti�ado e finalmente se libertara, embora eu presuma que n�o se atrevesse a usar os termos exatos com medo de que o julgassem louco. Quando souberam da sua hist�ria, os alde�es imaginaram que M�rope tivesse mentido a Tom Riddle, fingindo que ia ter um filho dele, raz�o pela qual o rapaz se casara. � Mas ela teve realmente um filho dele. � Teve, mas somente um ano depois de casarem. Tom Riddle deixou-a quando ainda estava gr�vida. � Qual foi o problema? � perguntou Harry. � Por que passou o efeito da po��o de amor? � Mais uma vez, estou imaginando � explicou Dumbledore �, mas acredito que M�rope, que estava profundamente apaixonada pelo marido, n�o suportou a id�ia de continuar a escraviz�-lo por artes m�gicas. Acredito que tenha decidido parar de lhe dar a po��o. Talvez estivesse convencida de que, �quela altura, a paix�o j� fosse m�tua. Talvez pensasse que ele n�o a deixaria por causa do beb�. Se assim foi, enganou-se em ambos os casos. Ele a abandonou, nunca mais a viu e nunca se preocupou em descobrir o que acontecera ao filho. O c�u l� fora estava nanquim, e as luzes no escrit�rio de Dumbledore pareciam brilhar mais fortemente do que antes. � Acho que j� � o suficiente, por hoje, Harry � disse Dumbledore instantes depois. � Sim, senhor. Harry se p�s de p�, mas n�o se retirou. � Senhor... � importante conhecer tudo isso sobre o passado de Voldemort? � Muito importante, acho. � E... tem alguma coisa a ver com a profecia? � Tem tudo a ver com a profecia. � Certo � aceitou Harry um pouco confuso, mas ainda assim mais tranq�ilo. Virou-se para sair, ent�o lhe ocorreu mais uma pergunta, e ele deu meia-volta. � Senhor, tenho permiss�o para contar a Rony e Hermione tudo que o senhor me contou? Dumbledore estudou-o por um momento e em seguida respondeu: � Tem, acho que o Sr. Weasley e a srta. Granger se provaram dignos de confian�a. Mas, Harry, vou pedir que recomende a eles para n�o repetirem nada disso para mais ningu�m. N�o seria uma boa id�ia se vazasse o quanto sei ou suspeito dos segredos de Lord Voldemort. � N�o, senhor, vou garantir que apenas Rony e Hermione saibam. Boa-noite. Ele deu as costas e estava quase na porta quando o viu. Em cima de uma das mesinhas de pernas finas que suportavam tantos objetos de prata de apar�ncia fr�gil havia um feio anel de ouro com uma enorme pedra negra e rachada. � Senhor � comentou Harry fixando o objeto. � Aquele anel... � Sim? � O senhor estava usando-o na noite em que visitamos o professor Slughorn. � De fato estava � concordou o bruxo. � Mas n�o �... senhor, n�o � o mesmo anel que Servolo Gaunt mostrou a Ogden? Dumbledore assentiu. � O mesm�ssimo. � Ent�o como �...? O senhor sempre o teve? � N�o, eu o adquiri muito recentemente. Ali�s, poucos dias antes de ir busc�-lo na casa de seus tios. � Teria sido mais ou menos na �poca em que o senhor feriu sua m�o, senhor? � Mais ou menos naquela �poca, sim, Harry. Harry hesitou. Dumbledore estava sorrindo. � Senhor, como foi exatamente... ? � � muito tarde, Harry. Voc� ouvir� a hist�ria outro dia. Boa-noite. � Boa-noite, senhor. CAPITULO ONZE A AJUDINHA DE HERMIONE TAL COMO HERMIONE PREVIRA, OS per�odos livres do sexto ano n�o eram as horas de aben�oada descontra��o imaginadas por Rony, mas aquelas em que se tentava dar conta da vasta quantidade de deveres que eram passados. N�o somente eles estavam estudando como se tivessem exames diariamente, mas as aulas em si estavam exigindo mais do que nunca. Harry mal entendia metade do que a professora McGonagall dizia ultimamente; at� Hermione precisava lhe pedir para repetir as instru��es uma ou duas vezes. Por incr�vel que pudesse parecer, e para a raiva crescente de Hermione, de repente Po��es se tornara a mat�ria em que Harry se sa�a melhor, gra�as ao Pr�ncipe Mesti�o. Agora esperavam que os alunos realizassem feiti�os n�o-verbais, n�o apenas em Defesa contra as Artes das Trevas, mas em Feiti�os e Transfigura��o tamb�m. Era freq�ente Harry olhar para os colegas na sala comunal, ou � hora das refei��es, e constatar que o esfor�o os deixava p�rpura, como se tivessem exagerado em O-aperto-voc�-sabe-onde, embora ele soubesse que, na realidade, estavam tentando realizar feiti�os sem pronunciar os encantamentos em voz alta. Era um al�vio ir para as estufas; em Herbologia estavam lidando com plantas mais perigosas que nunca, mas pelo menos tinham permiss�o de xingar em voz alta se um dos Tent�culos Venenosos os agarrasse inesperadamente pelas costas. Um dos resultados da enorme carga de trabalho e das horas fren�ticas em que praticavam feiti�os n�o-verbais foi que Harry, Rony e Hermione n�o tinham arranjado tempo para visitar Hagrid at� aquele momento. Ele parara de fazer refei��es � mesa dos professores, um mau sinal, e, nas poucas ocasi�es em que tinham se encontrado nos corredores ou nos jardins, misteriosamente ele n�o os vira nem ouvira seus cumprimentos. � Precisamos ir nos explicar � disse Hermione, olhando para a enorme cadeira vazia de Hagrid, � mesa dos professores, ao caf� da manha do s�bado seguinte. � Hoje de manh� temos os testes de quadribol! � lembrou Rony. � E dev�amos estar praticando o Feiti�o �guamenti para o Flitwick! Mas, afinal, explicar o qu�? Como � que vamos dizer a ele que detest�vamos aquela mat�ria idiota? � N�o detest�vamos! � protestou Hermione. � Fale por voc�, eu ainda n�o me esqueci dos explosivins � replicou Rony de mau humor. � E vou dizer uma coisa, escapamos por pouco. Voc� n�o ouviu Hagrid falando daquele irm�o retardado dele: se tiv�ssemos ficado, �amos acabar ensinando o Grope a amarrar os cord�es dos sapatos. � Odeio essa hist�ria de n�o falar com o Hagrid � exclamou Hermione aborrecida. � Iremos at� l� depois dos testes de quadribol � Harry tranq�ilizou-a. Ele tamb�m sentia falta de Hagrid, embora, como Rony, achasse que estavam melhor sem o Grope em suas vidas. � Mas, pelo n�mero de pessoas que se inscreveram, os testes podem levar a manh� toda. � Sentiase ligeiramente nervoso com a id�ia de enfrentar sua primeira tarefa como capit�o. � N�o sei por que de repente a equipe ficou t�o popular. � Ah, fala s�rio, Harry � impacientou-se Hermione. � N�o foi o Quadribol que ficou popular, foi voc�! Voc� nunca foi t�o interessante e, para ser sincera, nunca foi t�o desej�vel. Rony engasgou com um peda�o grande demais de peixe salgado. Hermione lan�ou-lhe um olhar de desprezo e retomou a conversa com Harry. � Agora todo o mundo sabe que voc� esteve dizendo a verdade, n�o �? O mundo bruxo teve de admitir que voc� estava certo sobre o retorno de Voldemort e que realmente o enfrentou duas vezes nos �ltimos dois anos, e sobreviveu �s duas. E agora est�o chamando voc� de "o Eleito": bem, fala s�rio, voc� n�o entende por que as pessoas est�o fascinadas por voc�? De repente Harry come�ou a achar o Sal�o Principal muito quente, embora o teto ainda se apresentasse frio e chuvoso. � E sofreu toda aquela persegui��o do Minist�rio que tentou passar a imagem de que voc� era inst�vel e mentiroso. Ainda d� para ver as marcas das deten��es em que aquela mulher maligna fez voc� escrever com o pr�prio sangue, mas voc� sustentou sua hist�ria... � Ainda d� para ver as marcas deixadas pelos miolos que me agarraram no Minist�rio, olhe � disse Rony, sacudindo as mangas para cima. � E n�o foi nada mal voc� ter crescido uns trinta cent�metros no ver�o � concluiu Hermione, sem dar aten��o a Rony. � Eu sou alto � insistiu Rony ilogicamente. O correio-coruja chegou, as aves mergulharam pelas janelas salpicadas de chuva, espalhando pingos de �gua em todo o mundo. A maioria dos alunos estava recebendo mais correspond�ncia que o normal; pais ansiosos queriam saber not�cias dos filhos e, por sua vez, tranq�iliz�-los de que tudo corria bem em casa. Harry n�o recebera nada desde o in�cio do trimestre; seu �nico correspondente habitual agora estava morto e, embora ele tivesse alimentado esperan�as de que Lupin fosse lhe escrever ocasionalmente, at� ali tinha se desapontado. Ficou, portanto, muito surpreso, ao ver a alv�ssima Edwiges circular entre as corujas castanhas e cinzentas. A ave pousou diante dele trazendo um embrulho grande e quadrado. Um instante depois, um embrulho id�ntico foi deixado � frente de Rony, esmagando sob o seu peso sua coruja min�scula e exausta, Pichitinho. � Ah! � exclamou Harry abrindo o embrulho e encontrando um exemplar novo de Estudos avan�ados no preparo de po��es enviado pela Floreios e Borr�es. � Que bom � disse Hermione, satisfeita. � Agora voc� pode devolver aquele exemplar rabiscado. � Ficou maluca? N�o vou devolver nada! Olhe, estive pensando... Harry tirou o exemplar velho de dentro da mochila e deu um toque de varinha na capa, murmurando: "Diffindo!" A capa se soltou. Ele fez o mesmo com o exemplar novo (Hermione ficou escandalizada). Trocou ent�o as capas, deu um toque de varinha em cada uma e disse: "Reparo!" Ali estava o exemplar do Pr�ncipe, disfar�ado de livro novo, e o exemplar novo da Floreios e Borr�es, parecendo de segunda m�o. � Vou devolver o novo a Slughorn. Ele n�o pode se queixar, custou nove gale�es. Hermione comprimiu os l�bios, expressando sua raiva e desaprova��o, mas foi distra�da por uma terceira coruja que pousou � sua frente trazendo o exemplar do Profeta Di�rio. Abriu-o depressa e correu os olhos pela primeira p�gina. � Morreu algu�m conhecido? � perguntou Rony num tom deliberadamente displicente; fazia a mesma pergunta toda vez que a amiga abria o jornal. � N�o, mas houve novos ataques de dementadores. E uma pris�o. � Excelente, de quem? � perguntou Harry, pensando em Belatriz Lestrange. � Stanislau Shunpike � informou Hermione. � Qu�? � exclamou Harry pasmo. � "Stanislau Shunpike, condutor do popular transporte bruxo N�itibus, foi preso sob suspeita de atividades ligadas aos Comensais da Morte. O Sr. Shunpike, 21 anos, foi detido ontem � noite ap�s uma blitz na casa dos Clapham..." � O Lalau, Comensal da Morte? � admirou-se Harry lembrando o rapaz espinhento que conhecera tr�s anos antes. � Nem pensar! � Ele podia estar dominado por uma Maldi��o Imperius � argumentou Rony. � Nunca se sabe. � Parece que n�o � replicou Hermione, que continuava lendo. � Diz aqui que ele foi preso depois que o ouviram conversar sobre os planos secretos dos Comensais da Morte em um bar. � Ela ergueu a cabe�a com uma express�o perturbada no rosto. � Se estivesse mesmo dominado por uma Maldi��o Imperius, ele jamais ficaria por a� fofocando sobre os planos deles, n�o �? � Pelo jeito, ele estava tentando fingir que sabia mais do que realmente sabia � falou Rony. � N�o foi ele que disse que ia ser ministro da Magia quando estava paquerando aquelas veelas? � �, foi � respondeu Harry. � N�o sei que brincadeira � essa de levarem o Lalau a s�rio. � Provavelmente o Minist�rio quer mostrar servi�o � comentou Hermione franzindo a testa. � As pessoas est�o aterrorizadas: voc� soube que os pais das g�meas Patil querem que elas voltem para casa? E j� tiraram Helo�sa Midgeon da escola. O pai a levou ontem � noite. � Qu�! � exclamou Rony arregalando os olhos para Hermione. � Mas Hogwarts � mais segura do que a casa dos alunos, tem de ser! Temos aurores e todos aqueles feiti�os de prote��o a mais, e temos Dumbledore! � Acho que n�o temos Dumbledore o tempo todo � replicou Hermione muito baixinho, olhando para a mesa dos professores por cima do Profeta. � Voc� ainda n�o reparou? Na semana passada a cadeira dele esteve vazia tantas vezes quanto a de Hagrid. Harry e Rony olharam para a mesa dos professores. A cadeira do diretor estava de fato desocupada. Agora que parava para pensar, Harry n�o via Dumbledore desde a aula particular da semana anterior. � Acho que ele saiu para resolver algum assunto na Ordem � arriscou Hermione em voz baixa. � Quero dizer... as coisas parecem bem s�rias, n�o �? Harry e Rony n�o responderam, mas Harry sabia que estavam pensando a mesma coisa. Acontecera um incidente horr�vel na v�spera: tinham chamado Ana Abbott na aula de Herbologia para lhe informar que a m�e fora encontrada morta. Desde ent�o, n�o tinham mais visto a colega. Quando deixaram a mesa da Grifin�ria, cinco minutos depois, para ir ao campo de quadribol, passaram por Lil� Brown e Parvati Patil. Harry, lembrando o coment�rio de Hermione de que os pais das g�meas Patil queriam tir�-las de Hogwarts, n�o se surpreendeu ao ver as duas grandes amigas cochichando, aflitas. O que o surpreendeu foi ver Parvati de repente cutucar Lil�, quando Rony emparelhou com elas, e Lil� se virar e dar um enorme sorriso para o garoto. Rony piscou e, hesitante, retribuiu o sorriso. Instantaneamente, mudou o seu modo de andar, empertigando-se como um pav�o. Harry resistiu � tenta��o de rir, lembrando que o amigo tamb�m se controlara quando Malfoy lhe quebrara o nariz; Hermione, no entanto, assumiu um ar frio e distante durante a descida para o est�dio sob a chuva fria e nevoenta, e saiu para procurar um lugar nas arquibancadas, sem desejar boa sorte a Rony. Conforme Harry previra, os testes ocuparam a maior parte da manh�. Metade dos alunos da Grifin�ria parecia ter comparecido, desde os do primeiro ano, que seguravam nervosos uma sele��o de horr�veis vassouras velhas de escola, at� os do s�timo, que, por serem muito mais altos que os demais, aparentavam um ar tranq�ilo e superior. Este �ltimo grupo inclu�a um rapaz robusto de cabelos duros que Harry imediatamente reconheceu do Expresso de Hogwarts. � A gente se encontrou no trem, no compartimento do velho Slugue � disse ele, confiante, destacando-se da multid�o para apertar a m�o de Harry. � C�rmaco McLaggen, goleiro. � Voc� n�o fez teste o ano passado, fez? � perguntou Harry, notando a corpul�ncia de McLaggen e considerando que ele prov�vel mente bloquearia os tr�s aros de gol sem sequer se mexer. � Eu estava na ala hospitalar quando fizeram os testes � disse McLaggen, expressando seguran�a. � Comi meio quilo de ovos de fada mordente para ganhar uma aposta. � Certo � disse Harry. � Bem... se puder esperar l�... Ele apontou para a lateral do campo, perto do lugar em que Hermione estava sentada. Pensou ter visto uma ligeira contrariedade perpassar a fisionomia de McLaggen, e ficou imaginando se o colega esperava um tratamento preferencial pelo fato de serem ambos favoritos do "velho Sluguinho". Harry resolveu come�ar por um teste b�sico, pedindo aos candidatos para se dividirem em grupos de dez e voarem uma vez em volta do campo. Foi uma boa decis�o: os dez primeiros eram calouros e n�o poderia ter ficado mais claro que n�o estavam habituados a voar. Apenas um dos garotos conseguiu se manter no ar por mais de alguns segundos, e foi tal a sua surpresa que ele em seguida bateu em uma das balizas. O segundo grupo era formado por dez das garotas mais bobas que Harry j� encontrara na vida e que, quando ele apitou, simplesmente ficaram rindo demais e se agarrando umas nas outras. Entre elas, Romilda Vane. Quando mandou-as sair do campo, obedeceram muito contentes e foram sentar nas arquibancadas, de onde ficaram perturbando todo o mundo. O terceiro grupo engavetou na metade da volta em torno do campo. A maior parte do quarto grupo n�o tinha trazido vassouras. O quinto grupo era formado por alunos da Lufa-Lufa. � Se tiver mais algu�m aqui que n�o seja da Grifin�ria � berrou Harry, que estava come�ando a se sentir seriamente aborrecido �, por favor, se retire agora! Fez-se sil�ncio e logo dois aluninhos da Corvinal sa�ram correndo do campo, abafando risadinhas. Depois de duas horas, muitas reclama��es e v�rios acessos de raiva, um deles envolvendo uma Comet 260 acidentada e v�rios dentes partidos, Harry descobrira tr�s artilheiros: C�tia Bell, que voltava ao time ap�s um excelente teste, uma novata, Demelza Robins, particularmente �gil em se desviar de bala�os, e Gina Weasley, que voara melhor que todos os candidatos e, de quebra, marcara dezessete gols. Harry, embora satisfeito com suas escolhas, ficara rouco de tanto gritar com os muitos descontentes, e agora estava enfrentando batalha semelhante com os batedores recusados. � Esta � a minha decis�o final, e se n�o desimpedirem o campo para os goleiros, vou azarar todos voc�s � urrou ele. Nenhum dos batedores selecionados possu�a a antiga genialidade de Fred e Jorge, mas Harry ficou razoavelmente satisfeito: Jaquito Peakes, um terceiranista baixo, mas de peito largo que conseguira fazer um galo do tamanho de um ovo na nuca de Harry batendo um bala�o com ferocidade, e Cadu Coote, que parecia franzino mas tinha boa pontaria. Eles agora tinham ido se reunir aos outros nas arquibancadas para acompanhar a sele��o do �ltimo membro da equipe. De prop�sito, Harry deixara o teste dos goleiros para o fim, na esperan�a de ter um est�dio menos cheio e menos press�o sobre os envolvidos. Infelizmente, por�m, todos os candidatos recusados e um bom n�mero de pessoas que aparecera para assistir aos testes depois de um demorado caf� da manh� tinham engrossado a multid�o, agora maior que nunca. Quando um goleiro voava at� as balizas, a multid�o incentivava ou vaiava com igual disposi��o. Harry olhou para Rony, que n�o conseguia controlar seu nervosismo: tivera esperan�a de que a vit�ria na partida decisiva do semestre anterior o curasse, mas agora via que n�o: um delicado tom de verde coloria o rosto do amigo. Nenhum dos primeiros cinco candidatos pegou mais de dois gols cada. Para grande desapontamento de Harry, C�rmaco McLaggen defendeu quatro dos cinco lan�amentos. No �ltimo, no entanto, voou exatamente na dire��o oposta; a multid�o riu e vaiou, e o rapaz voltou para o ch�o rangendo os dentes. Rony parecia prestes a desmaiar, quando montou a sua Cleansweep Onze. � Boa sorte! � gritou uma voz das arquibancadas. Harry se virou esperando ver Hermione, mas era Lil� Brown. Ele teria gostado muito de tapar o rosto com as m�os, como fez a garota pouco depois, mas achou que, como capit�o, devia demonstrar um pouco mais de coragem, e preparou-se para assistir ao teste de Rony. N�o precisava ter se preocupado: o amigo defendeu uma, duas, tr�s, quatro, cinco penalidades seguidas. Feliz e se contendo a custo para n�o fazer coro aos gritos da multid�o, Harry se voltou para McLaggen para lhe comunicar que, infelizmente, Rony o vencera, mas deparou com a cara vermelha do rapaz a cent�metros da sua. Recuou r�pido. � A irm� dele n�o se empenhou de verdade � disse McLaggen em tom de amea�a. Havia uma veia latejando em sua t�mpora como a que Harry muitas vezes admirara no tio V�lter. � Ela facilitou para o irm�o. � Besteira � replicou Harry friamente. � Esse foi o que ele quase perdeu. McLaggen chegou mais perto de Harry, que desta vez enfrentou-o. � Me d� outra chance. � N�o, voc� teve a sua chance. Defendeu quatro. Rony defendeu cinco. Rony � o goleiro, ele conquistou o lugar honestamente. Saia da minha frente. Harry pensou por um momento que o rapaz fosse lhe dar um soco, mas ele se contentou em fazer uma careta e se afastou, enfurecido, aparentemente vociferando amea�as para o ar. Quando Harry se virou, encontrou a nova equipe sorrindo para ele. � Parab�ns � disse rouco. � Voc�s voaram realmente bem... � Voc� foi genial, Rony! Desta vez era realmente Hermione que vinha correndo das arquibancadas; Harry viu Lil� sair do campo com Parvati, com uma express�o mal-humorada no rosto. Rony parecia extremamente prosa e at� mais alto do que o normal ao se virar sorrindo para a equipe e para Hermione. Depois de marcar o primeiro treino para a quinta-feira seguinte, Harry, Rony e Hermione se despediram do resto da equipe e se dirigiram � casa de Hagrid. Um sol aguado tentava romper as nuvens, agora que finalmente parar� de chuviscar. Harry sentia muita fome; esperava que houvesse alguma coisa para comer na casa de Hagrid. � Pensei que ia perder o quarto p�nalti � comentou Rony contente. � Foi um arremesso esperto da Demelza, voc� viu, com um ligeiro efeito... � Foi, foi, voc� foi magn�fico � disse Hermione, parecendo achar gra�a. � Fui melhor que o McLaggen � disse ele em tom muito satisfeito. � Voc�s viram ele saindo na dire��o oposta no quinto? Parecia que tinha sido confundido... Para surpresa de Harry, Hermione ficou muito vermelha ao ouvir isso. Rony n�o notou; estava ocupado demais descrevendo carinhosamente cada uma das penalidades em detalhe. O enorme hipogrifo cinzento, Bicu�o, estava amarrado � frente da cabana de Hagrid. Bateu o afiad�ssimo bico quando os garotos se aproximaram virando a cabe�orra para eles. � Nossa! � exclamou Hermione nervosa. � Ele ainda d� medo, n�o acham? � Fala s�rio, voc� j� montou nele! � disse Rony. Harry se adiantou e fez uma profunda rever�ncia para o hipogrifo, mantendo o contato visual com o animal, sem piscar. Segundos depois, Bicu�o se curvou tamb�m. � Como vai indo? � perguntou Harry em voz baixa, aproximando-se para acariciar as penas de sua cabe�a. � Sente falta dele? Mas voc� est� bem aqui com o Hagrid, n�o � verdade? � Oi! � gritou uma voz. Hagrid sa�ra de um canto da cabana usando um grande avental florido e trazendo um saco de batatas na m�o. Seu enorme c�o, Canino, que o acompanhava de perto, deu um tremendo latido e avan�ou para os garotos. � Para tr�s! Ele vai comer seus dedos... ah, s�o voc�s. Canino cumprimentava Hermione e Rony aos pulos, tentando lamber suas orelhas. Hagrid parou, olhou-os por uma fra��o de segundo, e depois virou as costas e entrou na cabana batendo a porta. � Ah, n�o! � exclamou Hermione, apreensiva. � N�o se preocupem � disse Harry mal-humorado, indo at� a porta e batendo com for�a. � Hagrid! Abre, queremos falar com voc�! N�o houve resposta dentro da casa. � Se voc� n�o abrir a porta, vamos arromb�-la! � amea�ou Harry puxando a varinha. � Harry! � exclamou Hermione chocada. � N�o � poss�vel... � �, sim! � retrucou Harry. � Cheguem para tr�s... Mas, antes que pudesse continuar a falar, a porta se escancarou e Hagrid surgiu com um ar agressivo e, apesar do avental florido, decididamente assustador. � Sou um professor! � urrou para Harry. � Um professor, Potter! Como se atreve a amea�ar arrombar minha porta! � Pe�o desculpas, senhor � disse Harry, sublinhando a �ltima palavra enquanto guardava a varinha no bolso interno das vestes. Hagrid pareceu confuso. � Desde quando voc� me chama de "senhor"? � Desde quando voc� me chama de "Potter"? � Ah, muito esperto � rosnou Hagrid. � Muito engra�ado. Ganhou, n�o �? Muito bem, ent�o entrem, seus ingratinhos... Resmungando sombriamente, ele recuou para deix�-los passar. Hermione entrou depressa atr�s de Harry, muito assustada. � Ent�o � disse Hagrid rabugento, enquanto Harry, Rony e Hermione se sentavam � sua enorme mesa de madeira. Canino descansou imediatamente a cabe�a no joelho de Harry, babando-lhe as vestes. � Que foi? Sentiram pena de mim? Conclu�ram que eu estava solit�rio ou outra coisa qualquer? � N�o � retorquiu Harry. � Quer�amos ver voc�. � Sentimos saudades de voc� � disse Hermione, tr�mula. � Sentiram saudades, foi? � perguntou Hagrid, bufando. � T�. T� bem. Ele andou pisando forte pela casa, preparando o ch� em sua enorme chaleira de cobre, entre resmungos. Por fim, bateu na mesa, diante dos garotos, tr�s canecas, verdadeiros baldes, cheias de ch� escuro, e um prato de bolinhos duros com frutas secas. A fome de Harry era suficiente at� para encarar a comida de Hagrid, e ele se serviu logo. � Hagrid � arriscou Hermione timidamente, quando ele veio se sentar � mesa e come�ou a descascar batatas com uma viol�ncia tal que sugeria que cada uma lhe fizera uma grande afronta �, n�s quer�amos continuar a estudar Trato das Criaturas M�gicas, sabe. Hagrid deu outro enorme bufo pelo nariz. Harry pensou ter visto algumas melecas irem parar nas batatas e intimamente agradeceu que n�o fosse ficar para jantar. � Quer�amos, sim! � insistiu Hermione. � Mas n�o conseguimos encaixar sua mat�ria nos nossos hor�rios! � �, sei � tornou a concordar Hagrid. Houve um estranho ru�do de suc��o e todos se viraram para olhar: Hermione deixou escapar um gritinho, e Rony saltou da cadeira, deu a volta � mesa e foi examinar uma barrica a um canto, em que tinham acabado de reparar. Estava cheia de bichos que se contorciam e lembravam larvas de trinta cent�metros de comprimento, brancas e viscosas. � Que � isso, Hagrid? � perguntou Harry, tentando parecer interessado em vez de enojado, mas largando o seu bolinho. � Vermes gigantes � respondeu ele. � E quando eles crescem viram...? � indagou Rony, apreensivo. � N�o viram nada, comprei esses para alimentar Aragogue. E, inesperadamente, ele caiu no choro. � Hagrid! � exclamou Hermione, levantando-se e contornando a mesa para evitar a barrica e abra�ar o amigo pelos ombros tr�mulos. � Que aconteceu? � Ele... � Hagrid engoliu em seco, seus olhos de besouro vertendo l�grimas ao mesmo tempo que enxugava o rosto com o avental. � ... Aragogue... acho que est� morrendo... ficou doente no ver�o e n�o melhorou... N�o sei o que vou fazer se ele... se ele... estamos juntos h� tanto tempo... Hermione deu palmadinhas carinhosas no ombro de Hagrid, parecendo completamente perdida, sem saber o que dizer. Harry sabia como ela estava se sentindo. J� tinha visto Hagrid presentear um drag�o-beb� feroz com um ursinho de pel�cia, j� o tinha visto ninar enormes escorpi�es com sugadores e ferr�es, tentar argumentar com o brutamontes est�pido que era seu irm�o, mas esta agora talvez fosse a sua fantasia com monstros mais incompreens�vel: Aragogue, a gigantesca aranha falante que morava no �mago da Floresta Proibida e da qual ele e Rony tinham escapado por um triz fazia quatro anos. � Tem alguma... tem alguma coisa que a gente possa fazer? � perguntou Hermione, desconsiderando os fren�ticos acenos de cabe�a e caretas de Rony. � Acho que n�o, Hermione � respondeu Hagrid com a voz sufocada, tentando conter o dil�vio de l�grimas. � Sabe, o resto da tribo... da fam�lia de Aragogue... est� ficando meio esquisita, agora que ele est� doente... meio intrat�vel... � Sei, acho que conhecemos um pouco esse lado deles � insinuou Rony. � ... acho que n�o seria seguro para ningu�m, a n�o ser eu, se aproximar da col�nia neste momento � concluiu Hagrid, assoando o nariz com for�a no avental e levantando a cabe�a. � Mas obrigado pelo oferecimento, Hermione... significa muito... Depois disso a atmosfera ficou bem mais leve, porque ainda que Harry e Rony n�o tivessem manifestado a menor disposi��o de levar os gigantescos vermes para a aranha assassina e gargantu�lica, Hagrid pareceu acreditar que teriam gostado de faz�-lo, e voltou ao seu natural. � �h, eu sempre soube que voc�s teriam dificuldade em me encaixar nos seus hor�rios � disse rouco, servindo-os de mais um pouco de ch�. � Mesmo que requisitassem Vira-tempos... � O que n�o poder�amos ter feito � explicou Hermione. � Destru�mos o estoque inteiro de Vira-tempos do Minist�rio quando estivemos l� no ver�o. Deu no Profeta Di�rio. � Ah, ent�o. N�o tinha jeito de encaixar... Desculpe eu ter sido... entendem... andei muito preocupado com Aragogue... e me passou pela cabe�a que se o professor fosse a Grubbly-Plank... Ao que os tr�s afirmaram categ�rica e mentirosamente que a professora Grubbly-Plank, que substitu�ra Hagrid algumas vezes, era uma p�ssima professora; em conseq��ncia, quando se despediram, ao anoitecer, Hagrid parecia muito contente. � Estou morto de fome � disse Harry depois que a porta se fechou e eles sa�ram apressados pelos jardins escuros e desertos; ele largara o bolinho duro quando ouviu um ru�do agourento de rachadura em um dente molar. � E tenho aquela deten��o com o Snape hoje � noite. N�o vai sobrar muito tempo para jantar. Quando chegaram ao castelo viram C�rmaco McLaggen entrando no Sal�o Principal. O garoto fez duas tentativas de passar pelas portas; na primeira, ricocheteou no portal. Rony meramente riu, pretensioso, e entrou no sal�o atr�s do colega, mas Harry pegou Hermione pelo bra�o e a fez parar. � Que foi? � exclamou ela em tom defensivo. � Se algu�m me perguntasse � disse ele em voz baixa �, eu diria que pelo visto McLaggen foi confundido. E ele estava bem diante do lugar em que voc� se sentou. Hermione corou. � Ah, tudo bem, fiz isso, sim � sussurrou ela. � Mas voc� devia ter ouvido o que ele estava falando de Rony e Gina! De qualquer modo, ele � genioso, voc� viu a rea��o dele quando n�o entrou para a equipe: voc� n�o ia querer um jogador assim. � N�o. N�o, suponho que n�o. Mas n�o foi uma desonestidade, Hermione? Quero dizer, voc� � monitora, n�o �? � Ah, calado! � protestou ela, fazendo-o rir. � Que � que voc�s dois est�o fazendo? � quis saber Rony, reaparecendo � porta do Sal�o Principal, desconfiado. � Nada � responderam os dois juntos apressando-se a seguir Rony. O cheiro do rosbife fez o est�mago de Harry doer de fome, mas n�o tinham chegado a dar tr�s passos em dire��o � mesa da Grifin�ria quando o professor Slughorn apareceu, bloqueando o seu caminho. � Harry, Harry, exatamente a pessoa que eu queria ver � cumprimentou o professor cordialmente com o seu vozeir�o, enrolando as pontas dos bigodes de le�o-marinho e empinando a enorme barriga. � Eu estava na esperan�a de encontr�-lo antes do jantar! Que � que voc� me diz de fazer uma pequena ceia nos meus aposentos? Vamos dar uma festinha com meia d�zia de astros e estrelas em ascens�o. Estar�o l� o McLaggen, o Zabini e a encantadora Melinda Bobbin, n�o sei se voc� a conhece. A fam�lia � propriet�ria de uma grande cadeia de farm�cias; e, naturalmente, gostaria muito que a srta. Granger me desse o prazer de comparecer tamb�m. Slughorn fez uma breve rever�ncia para Hermione ao concluir. Era como se Rony n�o estivesse presente; o professor nem olhou para ele. � N�o posso ir � apressou-se a dizer Harry. � Tenho de cumprir uma deten��o com o professor Snape. � Ai, ai, ai! � exclamou Slughorn com uma c�mica express�o de desapontamento. � Que pena, eu estava contando com voc�! Bom, ent�o vou dar uma palavrinha com o Snape explicando a situa��o, tenho certeza de que conseguirei convenc�-lo a adiar a deten��o. �, vejo voc�s dois mais tarde! E saiu r�pido do sal�o. � Ele n�o tem a menor chance de convencer Snape � comentou Harry, assim que o professor se afastou o suficiente para n�o ouvir. �Essa deten��o j� foi adiada uma vez; Snape fez um favor a Dumbledore, mas n�o far� a mais ningu�m. � Ah, eu gostaria que voc� fosse. N�o quero ir sozinha! � disse Hermione ansiosa. Harry sabia que ela estava pensando em McLaggen. � Duvido que voc� fique sozinha. Gina provavelmente ser� convidada � retorquiu Rony, que n�o aceitou de boa vontade o fato de ter sido ignorado por Slughorn. Depois do jantar, os tr�s voltaram � Torre da Grifin�ria. A sala comunal estava apinhada, porque a maioria dos alunos j� terminara o jantar, mas os garotos conseguiram arranjar uma mesa desocupada e se sentaram; Rony, que ficara mal-humorado desde o encontro com Slughorn, cruzou os bra�os e ficou olhando para o teto de testa franzida. Hermione apanhou um exemplar do Profeta Vespertino que algu�m largara em uma cadeira. � Alguma not�cia nova? � perguntou Harry. � Nova mesmo, n�o... � Hermione abriu o jornal e passou os olhos pelas p�ginas internas. � Ah, olhe, o seu pai est� aqui, Rony, mas n�o � nada de ruim! � acrescentou depressa, porque o garoto olhara assustado. � S� diz que ele foi visitar a casa dos Malfoy. "A segunda busca na resid�ncia dos Comensais da Morte aparentemente n�o produziu resultados. Arthur Weasley, da Se��o para Detec��o e Confisco de Feiti�os Defensivos e Objetos de Prote��o Forjados diz que sua equipe agiu em fun��o de uma informa��o confidencial." � Foi minha! � disse Harry. � Contei a ele na esta��o de King's Cross sobre o Malfoy e aquela coisa que ele estava tentando fazer o Borgin consertar! Bom, se n�o est� na casa deles, ent�o o Malfoy deve ter trazido o tal objeto para Hogwarts... � Mas como poderia ter feito isso, Harry? � perguntou Hermione, baixando o jornal, surpresa. � Todos fomos revistados quando chegamos, n�o �? � Voc� foi? � admirou-se Harry. � Eu n�o! � Claro que voc� n�o foi, esqueci que chegou mais tarde... bem, Filch fez uma varredura em todos n�s com sensores de segredos quando pisamos no Sagu�o de Entrada. Qualquer objeto das Trevas teria sido encontrado, sei que ele confiscou uma cabe�a mumificada do Crabbe. Ent�o, Malfoy n�o pode ter trazido nada perigoso! Momentaneamente desarmado, Harry ficou apreciando Gina brincar com Arnaldo, o Mini- Pufe, at� poder contornar aquela obje��o. � Ent�o algu�m mandou o objeto por correio-coruja. A m�e ou outra pessoa qualquer. � Todas as corujas est�o sendo verificadas tamb�m � replicou Hermione. � Foi o que Filch nos disse quando estava enfiando aqueles sensores em todo lugar ao seu alcance. Realmente atordoado, Harry n�o encontrou o que dizer. Parecia n�o haver meios de Malfoy ter trazido um objeto perigoso ou das Trevas para a escola. Ele olhou esperan�oso para Rony, que estava sentado de bra�os cruzados, olhando para Lil� Brown. � Voc� consegue pensar em algum meio de Malfoy...? � Ah, esquece, Harry � disse Rony. � Escute aqui, n�o � minha culpa que Slughorn s� tenha convidado n�s dois para essa festinha idiota, nem quer�amos ir, sabe! � exclamou Harry se irritando. � Bom, como n�o sou convidado para festa nenhuma � retrucou Rony se levantando �, acho que vou dormir. E saiu mal-humorado em dire��o � porta do dormit�rio dos garotos, deixando Harry e Hermione de olhos arregalados. � Harry? � chamou a nova artilheira Demelza Robins, aparecendo de repente ao seu lado. � Tenho um recado para voc�. � Do professor Slughorn? � perguntou Harry, esticando-se esperan�oso. � N�o. Do professor Snape. � Harry desapontou-se. � Ele manda dizer para voc� ir ao escrit�rio dele �s oito e meia para cumprir sua deten��o... ah... n�o interessa quantos convites para festas voc� tenha recebido. E ele quer que voc� saiba que vai separar vermes bons dos podres para serem usados na aula de Po��es, e... e diz tamb�m que n�o precisa levar luvas de prote��o. � Certo � disse Harry chateado. � Muito obrigado, Demelza. CAP�TULO DOZE PRATAS E OPALAS ONDE ESTAVA DUMBLEDORE e o que andava fazendo? Nas semanas seguintes, Harry avistou o diretor apenas duas vezes. Agora era raro ele comparecer �s refei��es, e Harry acreditou que Hermione tivera raz�o ao afirmar que Dumbledore se ausentava da escola por v�rios dias de cada vez. Ser� que ele se esquecera das aulas que Harry esperava que desse? Dumbledore dissera que as aulas teriam uma liga��o com a profecia; Harry se sentira mais confiante, reconfortado, mas agora se sentia posto de lado. Em meados de outubro, aconteceu o primeiro passeio do trimestre a Hogsmeade. Harry se perguntara se ainda seriam permitidos, dadas as medidas cada vez mais rigorosas em torno da escola, e ficou contente em saber que continuariam; era sempre bom sair dos terrenos do castelo por algumas horas. Harry acordou cedo no dia do passeio, que amanhecera tempestuoso, e matou o tempo at� a hora do caf� da manh� lendo o seu exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es. N�o tinha o h�bito de ficar na cama lendo livros escolares; tal comportamento, dizia Rony com toda a raz�o, seria indecoroso em qualquer pessoa exceto Hermione, que era mesmo esquisita. Harry, por�m, tinha a sensa��o de que o exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es do Pr�ncipe Mesti�o n�o era bem um livro escolar. Quanto mais o lia, mais se conscientizava da quantidade de informa��es que havia ali; n�o somente dicas providenciais e atalhos para o preparo de po��es que lhe conquistavam uma reputa��o t�o brilhante com Slughorn, como tamb�m pequenos feiti�os e azara��es anotadas � margem que Harry tinha certeza, a julgar pelos cortes e revis�es, o pr�prio Pr�ncipe inventara. Harry j� tentara realizar alguns desses feiti�os inventados. Havia um que fazia as unhas do p� crescerem com assustadora rapidez (experimentara esse em Crabbe, quando ele passara no corredor, com resultados divertidos); outro que colava a l�ngua no c�u da boca (usara duas vezes, sob aplausos gerais, no incauto Filch); e, talvez, o mais �til deles, o Abaffiato, um feiti�o que invadia os ouvidos de quem estivesse pr�ximo com um zumbido indefin�vel, permitindo que se pudesse conversar longamente em aula sem ser ouvido. A �nica pessoa que n�o achava gra�a em nada disso era Hermione, que fazia uma cara de r�gida desaprova��o durante as demonstra��es e se recusava sequer a falar quando Harry usava o Abaffiato em algu�m por perto. Harry sentou-se na cama e virou o livro de lado para poder examinar mais atentamente as anota��es referentes a um feiti�o que parecia ter dado trabalho ao Pr�ncipe. Havia muitos cortes e altera��es, mas, finalmente, espremido em um canto da p�gina, ele encontrou o rabisco: Levicorpus (n-vbl) Enquanto o vento e o granizo martelavam incessantemente as janelas e Neville dormia dando fortes roncos, Harry fitava as letras entre par�nteses. N-vbl... isso tinha de significar n�overbal. Harry duvidava um pouco que pudesse execut�-lo; ainda encontrava dificuldade com feiti�os n�o-verbais, coisa que Snape se apressava em comentar a cada aula de DCAT. Em compensa��o, o Pr�ncipe tinha se mostrado um professor mais eficiente do que Snape fora at� aquele momento. Apontando a varinha a esmo, Harry fez um curto gesto para o alto e disse mentalmente: Levicorpus! � Aaaaaaaarre! Houve um lampejo e o quarto se encheu de vozes: todos acordaram com o berro de Rony. Em p�nico, Harry varejou longe o Estudos avan�ados no preparo de po��es; seu amigo estava pendurado no ar de cabe�a para baixo, como se tivesse sido guindado pelo tornozelo por um gancho invis�vel. � Desculpe! � gritou Harry, enquanto Dino e Simas davam grandes gargalhadas, e Neville se levantava do ch�o pois ca�ra da cama. �Calma a�... vou fazer voc� descer... Ele catou o livro de po��es e folheou-o, em p�nico, tentando encontrar a p�gina certa; por fim, localizou-a e decifrou a palavra apertadinha sob o feiti�o: rezando para que fosse o contrafeiti�o, mentalizou: Liberacorpus!, com toda a concentra��o. Houve um segundo lampejo e Rony despencou no colch�o. � Desculpe � repetiu Harry tolamente, enquanto Dino e Simas continuavam a dar gargalhadas. � Amanh� � disse Rony com a voz abafada �, eu prefiro que voc� use o despertador. Quando eles finalmente terminaram de se vestir, protegendo-se com v�rios dos su�teres tricotados pela Sra. Weasley e levando capas, cachec�is e luvas, o susto de Rony se abrandara e ele conclu�ra que o novo feiti�o do amigo era engra�ad�ssimo; t�o engra�ado, de fato, que ele n�o perdeu tempo em brindar Hermione com o epis�dio � mesa do caf� da manh�. � ... a� houve um segundo lampejo e eu aterrissei de novo na cama! � contou ele rindo, enquanto se servia de salsichas. Hermione n�o dera um �nico sorriso durante a narrativa, e agora assumia uma express�o de g�lida censura a Harry. � Por acaso, esse foi mais um feiti�o daquele seu livro de po��es? � perguntou. Harry fechou a cara para a amiga. � Voc� sempre tira a pior conclus�o, n�o �? � Foi? � Bem... foi, mas e da�? � Ent�o voc� simplesmente resolveu experimentar um encantamento desconhecido, escrito a m�o, e ver o que acontecia? � Que diferen�a faz se est� escrito a m�o? � retrucou Harry, preferindo n�o responder � pergunta. � Porque provavelmente n�o � aprovado pelo Minist�rio da Magia � tornou Hermione. � E mais � continuou, enquanto Harry e Rony olhavam para o teto �, estou come�ando a achar que esse tal Pr�ncipe era meio suspeito. Os dois garotos abafaram aos gritos os protestos de Hermione. � Foi s� uma brincadeira! � disse Rony, virando um vidro de ketchup nas salsichas. � S� uma brincadeira, Hermione, nada mais! � Pendurar gente de cabe�a para baixo pelo tornozelo? � replicou Hermione. � Quem � que gasta tempo e energia para inventar feiti�os como esse? � Fred e Jorge � respondeu Rony, encolhendo os ombros �, � bem a cara deles. E, �h... � Meu pai � disse Harry, que acabara de se lembrar. � Qu�? � exclamaram Rony e Hermione juntos. � Meu pai usou esse feiti�o. Eu... Lupin me contou. A segunda parte n�o era verdade; de fato, Harry vira o pai usar o feiti�o contra Snape, mas jamais contara aos amigos sua r�pida excurs�o pela Penseira. Agora, no entanto, ocorria-lhe uma possibilidade fant�stica. Seria poss�vel que o Pr�ncipe Mesti�o fosse...? � Talvez o seu pai tenha usado, Harry � contrap�s Hermione �, mas n�o foi o �nico. J� vimos muita gente usar esse feiti�o, caso voc� tenha esquecido. Pendurar gente no ar. Fazer gente flutuar, adormecida, indefesa. Harry arregalou os olhos para ela. Com uma sensa��o de des�nimo, ele, tamb�m, se lembrou do comportamento dos Comensais da Morte na Copa Mundial de Quadribol. Rony veio em seu aux�lio. � L� foi diferente � disse com firmeza. � Estavam abusando. Harry e o pai dele s� estavam brincando. Voc� n�o gosta do Pr�ncipe, Hermione � acrescentou Rony, apontando uma salsicha para a amiga, s�rio �, porque ele � melhor do que voc� em Po��es. � N�o tem nada a ver! � retrucou Hermione corando. � S� acho que � muito irrespons�vel ficar realizando feiti�os sem nem saber para que servem, e pare de falar em "o Pr�ncipe" como se fosse um t�tulo, aposto que � s� um apelido idiota e acho que, pelo jeito, ele nem era uma pessoa muito legal! � N�o sei como voc� chegou a essa conclus�o � contestou Harry inflamado. � Se ele tivesse sido um futuro Comensal da Morte, n�o estaria se gabando de ser mesti�o e sim de ser puro, n�o �? Ao dizer isso, Harry se lembrou de que seu pai tinha sangue puro, mas afastou o pensamento da mente; mais tarde se preocuparia com isso... � N�o � poss�vel que todos os Comensais da Morte tenham sangue puro, n�o existem mais tantos bruxos de sangue puro � insistiu Hermione. � Imagino que a maioria seja mesti�a e finja ser pura. S� odeiam os que nasceram trouxas, e ficariam muito felizes em deixar voc� e Rony se alistarem. � Nunca me deixariam ser um Comensal da Morte! � respondeu Rony indignado, brandindo um garfo para Hermione e arremessando no ar um peda�o de salsicha que foi bater na cabe�a de Ernesto Macmillan. � Toda a minha fam�lia � traidora do sangue! Para os Comensais da Morte, isto � t�o ruim quanto ter nascido trouxa! � E eles adorariam que eu me alistasse � comentou Harry, sarc�stico. � Ser�amos grandes companheiros se eles n�o insistissem em me liquidar. O coment�rio fez Rony rir; at� Hermione sorriu de m� vontade, mas foram interrompidos pela chegada de Gina. � Ei, Harry, me mandaram lhe entregar isso. � Era um rolo de pergaminho com o seu nome escrito em uma caligrafia conhecida, fina e inclinada. � Obrigado, Gina... � a pr�xima aula de Dumbledore! � disse Harry a Rony e Hermione, abrindo o pergaminho e lendo-o em sil�ncio. � Segunda � noite! � Sentiu-se de repente leve e feliz. � Quer se encontrar com a gente em Hogsmeade, Gina? � Estou indo com o Dino, talvez a gente se veja l� � respondeu Gina, acenando para os tr�s ao se afastar. Filch estava parado �s portas de carvalho, como sempre, verificando os nomes dos alunos que tinham permiss�o de ir a Hogsmeade. O processo demorou ainda mais do que o normal porque o zelador estava verificando todo o mundo tr�s vezes com o seu sensor de segredos. � Que diferen�a faz se estamos contrabandeando objetos das Trevas para FORA da escola? � quis saber Rony olhando apreensivo para o sensor de segredos. � Deviam era verificar o que trazemos para DENTRO, n�o? O atrevimento lhe custou umas cutucadas a mais do sensor, e ele ainda fazia caretas de dor quando sa�ram para enfrentar o vento e o granizo. A caminhada at� Hogsmeade n�o foi agrad�vel. Harry cobriu o maxilar com o cachecol; as partes expostas do corpo logo ficaram ardidas e dormentes. A estrada para a aldeia estava repleta de estudantes curvados contra o vento cortante. Mais de uma vez, Harry se perguntou se n�o teriam se divertido mais na sala comunal aquecida; e quando, por fim, chegaram a Hogsmeade e encontraram a Zonko's � Logros e Brincadeiras fechada com t�buas, ele achou que era uma confirma��o de que o passeio n�o seria divertido. Rony apontou com a m�o protegida por urna grossa luva para a Dedosdemel, que felizmente estava aberta, e Harry e Hermione entraram em sua esteira na loja apinhada de gente. � Gra�as a Deus � estremeceu Rony, quando foram envolvidos pelo ar quente recendendo a caramelos. � Vamos passar a tarde inteira aqui. � Harry, meu rapaz! � trovejou uma voz �s suas costas. � Ah, n�o � murmurou Harry. Os tr�s se viraram e deram com o professor Slughorn, com um enorme gorro de peles e um sobretudo com uma gola igual; o professor ocupava, no m�nimo, um quarto da loja e segurava uma sacola de abacaxi cristalizado. � Harry, voc� j� faltou a tr�s dos meus pequenos jantares! � disse Slughorn, dando-lhe um cutuc�o cordial no peito, com o dedo. � N�o vai adiantar, meu rapaz, estou decidido a faz�lo comparecer. A srta. Granger adora os jantares, n�o � verdade? � � � concordou Hermione indefesa �, s�o realmente... � Ent�o por que voc� n�o vem tamb�m, Harry? � quis saber Slughorn. � Bem, tenho tido treino de quadribol, professor � respondeu Harry, que, na verdade, andava marcando treinos todas as vezes que Slughorn lhe enviava o pequeno convite com a fita roxa. Com essa estrat�gia, Rony n�o se sentia exclu�do e, em geral, eles davam boas risadas com Gina, imaginando Hermione trancada com McLaggen e Zabini. E ficou observando-os cruzar a entrada do Tr�s Vassouras. No instante em que entrou, Harry explodiu: � Ele estava afanando as coisas de Sirius! � Eu sei, Harry, mas, por favor, n�o grite, as pessoas est�o olhando � sussurrou Hermione. � Vai sentar, eu apanho uma bebida para voc�. Harry ainda espumava quando Hermione voltou � mesa alguns minutos depois, trazendo tr�s garrafas de cerveja amanteigada. � Ser� que a Ordem n�o pode controlar o Mundungo? � Harry perguntou aos outros dois, num sussurro enfurecido. � N�o podem ao menos impedi-lo de roubar tudo que n�o est� pregado quando ele est� na sede? � Psiu! � exclamou Hermione desesperada, virando-se para os lados a ver se ningu�m os escutava; havia uns bruxos sentados perto que observavam Harry com grande interesse, e Zabini estava encostado em uma coluna, � toa, � pequena dist�ncia. � Harry, eu tamb�m me zangaria, sei que s�o as suas coisas que ele est� roubando... Harry engasgou com a cerveja; momentaneamente esquecera que era o dono da casa doze do largo Grimmauld. � �, s�o as minhas coisas! N�o admira que ele n�o tenha gostado de me ver! Bem, vou contar ao Dumbledore o que est� acontecendo, ele � o �nico que mete medo em Mundungo. � Boa id�ia � sussurrou Hermione, visivelmente satisfeita que Harry estivesse se acalmando. � Rony, que � que voc� est� olhando tanto? � Nada � respondeu Rony, desviando depressa o olhar do balc�o do bar, mas Harry sabia que ele estava tentando atrair a aten��o de Madame Rosmerta, a sedutora e curvil�nea dona do Tr�s Vassouras, por quem tinha uma queda, havia muito tempo. � Presumo que "nada" esteja l� nos fundos apanhando mais u�sque de fogo � ironizou Hermione. Rony fingiu n�o ouvir a alfinetada, e continuou a beber sua cerveja em um sil�ncio que ele evidentemente considerou digno. Harry ficou se lembrando de Sirius e de como o padrinho detestava aquelas ta�as de prata. Hermione tamborilava na mesa, seus olhos correndo de Rony para o bar. No instante em que Harry tomou os �ltimos goles de sua cerveja, a amiga disse: � Ent�o, vamos encerrar o dia e voltar para a escola? Os outros dois concordaram; n�o tinha sido um passeio divertido, e quanto mais se demoravam, pior ficava o tempo. Mais uma vez eles se enrolaram bem nas capas, ajeitaram os cachec�is, cal�aram as luvas; sa�ram do bar em seguida a C�tia Bell e uma amiga, e tornaram a subir a rua principal. Os pensamentos de Harry se desviaram para Gina enquanto avan�avam pela estrada de Hogwarts em meio � lama congelada. Com certeza n�o tinham encontrado a garota, concluiu Harry, porque ela e Dino deviam estar aconchegados no sal�o de ch� de Madame Puddifoot, aquele ref�gio de casais felizes. De cara amarrada, ele baixou a cabe�a para enfrentar o torvelinho de granizo e continuou andando. Levou algum tempo para perceber que as vozes de C�tia Bell e sua amiga, que o vento trazia at� ele, tinham se tornado mais altas e esga-ni�adas. Harry apertou os olhos para ver melhor seus vultos indistintos. As duas discutiam a respeito de alguma coisa que C�tia segurava na m�o. � N�o � da sua conta, Liane! � Harry ouviu C�tia dizer. Eles contornaram a curva da estrada, o granizo ca�a denso e r�pido, emba�ando os �culos de Harry. No instante em que ele ergueu a m�o enluvada para limp�-los, Liane tentou agarrar o pacote que C�tia levava; esta resistiu, e o pacote caiu no ch�o. Na mesma hora, a garota se ergueu no ar, n�o como Rony fizera, suspenso comicamente pelo tornozelo, mas graciosamente, com os bra�os estendidos como se fosse voar. Contudo, havia alguma coisa errada, alguma coisa esquisita... o vento forte fazia seus cabelos chicotearem, mas seus olhos estavam fechados e o rosto, vidrado. Harry, Rony, Hermione e Liane pararam instantaneamente para observar. Ent�o, a quase dois metros do ch�o, C�tia soltou um grito pavoroso. Seus olhos estavam arregalados, e o que quer que estivesse vendo ou sentindo causou-lhe visivelmente uma terr�vel ang�stia. Ela gritava sem parar; Liane come�ou a gritar tamb�m e agarrou C�tia pelos tornozelos, tentando pux�-la para o ch�o. Harry, Rony e Hermione correram para ajudar, mas, na hora em que a agarraram pelas pernas, a garota desabou em cima deles; Harry e Rony conseguiram apar�la, mas ela se contorcia de tal modo que mal conseguiam cont�-la. Por isso, deitaram-na no ch�o onde ela ficou se debatendo e gritando, aparentemente incapaz de reconhec�-los. Harry olhou para os lados; a paisagem parecia deserta. � Fiquem a�! � gritou para que o ouvissem naquela ventania. �Vou buscar ajuda! Ele come�ou a correr em dire��o � escola; nunca vira ningu�m agir como C�tia, e n�o conseguia imaginar o que podia ter desencadeado aquilo; arremessou-se por uma curva da estrada e colidiu com um obst�culo que parecia um enorme urso apoiado nas pernas traseiras. � Hagrid! � ofegou, desvencilhando-se da cerca viva em que ca�ra. � Harry! � exclamou Hagrid, cujas sobrancelhas e barba estavam duras de granizo; trajava seu espesso casac�o de pele de castor. � Acabei de visitar o Grope, est� progredindo tanto que voc� n�o... � Hagrid, tem uma garota passando mal l� atr�s, ou enfeiti�ada ou sei l�... � Qu�? � perguntou Hagrid, curvando-se para ouvir o que Harry estava dizendo naquela ventania enfurecida. � Algu�m foi enfeiti�ado! � berrou Harry. � Enfeiti�ado? Quem foi enfeiti�ado... n�o foi o Rony? A Hermione? � N�o, n�o foram eles, a C�tia Bell... por aqui... Juntos, eles voltaram correndo pela estrada. Sem demora, encontraram o grupinho de pessoas em volta da garota, que continuava a se contorcer e a gritar no ch�o; Rony, Hermione e Liane tentavam acalm�-la. � Para tr�s! � gritou Hagrid. � Me deixem ver a garota! � Aconteceu alguma coisa com ela! � solu�ou Liane. � N�o sei o qu�. Hagrid olhou para C�tia por um segundo, ent�o, sem dizer uma palavra, abaixou-se, apanhou-a nos bra�os e correu em dire��o ao castelo. Segundos depois, os gritos lancinantes de C�tia morriam ao longe e eles ouviam apenas o rugido do vento. Hermione correu para a amiga de C�tia em prantos e abra�ou a garota pelos ombros. � Voc� � a Liane, n�o �? A garota confirmou. � Aconteceu de repente ou...? � Foi quando aquele embrulho rasgou � solu�ou Liane, apontando para o embrulho de papel pardo agora empapado no ch�o, que se abrira revelando um brilho esverdeado. Rony se abaixou com a m�o estendida, mas Harry agarrou-o pelo bra�o e puxou-o para tr�s. � N�o mexe nisso! Ele se agachou. Pelo rasg�o, via-se um requintado colar de opalas. � J� vi esse colar antes � disse Harry, olhando-o com aten��o. � Esteve exposto na Borgin & Burkes h� s�culos. Estava escrito na etiqueta que era amaldi�oado. C�tia deve ter tocado nele. � Ele olhou para Liane, que come�ara a tremer descontroladamente. � Como foi que C�tia arranjou isso? � Bem, era por isso que est�vamos discutindo � explicou Liane. � Ela voltou'do banheiro do Tr�s Vassouras trazendo o colar, disse que era uma surpresa para algu�m em Hogwarts que precisava entregar. Estava muito esquisita quando falou isso... ah, n�o, ah, n�o, aposto como foi amaldi�oada com a Imperius e eu nem percebi! Liane foi sacudida por novos solu�os. Hermione deu palmadinhas gentis em seu ombro. � Ela n�o contou quem tinha lhe dado o embrulho, Liane? � N�o... n�o quis me contar... e eu disse que estava sendo burra, que n�o levasse aquilo para a escola, mas ela n�o quis me escutar... ent�o tentei tirar o embrulho da m�o dela... e... e... � Liane soltou um grito de desespero. � � melhor irmos para a escola � disse Hermione, ainda abra�ando Liane �, poderemos saber como ela est�. Vamos... Harry hesitou um instante, ent�o, puxando o cachecol que protegia seu rosto e ignorando a exclama��o de Rony, cobriu cuidadosamente o colar e apanhou-o. � Precisaremos mostrar isso a Madame Pomfrey. Enquanto seguiam Hermione e Liane pela estrada, Harry pensava freneticamente. Tinham acabado de penetrar os terrenos da escola quando ele falou, incapaz de calar os seus pensamentos por mais tempo. � Malfoy conhece esse colar. Estava em um estojo na Borgin & Burkes h� quatro anos, vi Malfoy dando uma boa olhada no colar enquanto eu estava escondido dele e do pai. Era isso que ele estava comprando naquele dia em que o seguimos! Ele se lembrou do colar e voltou para busc�-lo. � N�... n�o sei, Harry � disse Rony hesitante. � Um monte de gente vai � Borgin & Burkes... e aquela garota n�o disse que C�tia pegou o colar no banheiro? � Ela disse que a C�tia voltou do banheiro trazendo o colar, o que n�o significa necessariamente que tenha apanhado o embrulho l�... � McGonagall! � alertou-os Rony. Harry levantou a cabe�a. De fato, a professora vinha ao seu encontro descendo, ligeira, os degraus de pedra da entrada em um redemoinho de granizo. � Hagrid diz que voc�s quatro viram o que aconteceu com a C�tia Bell... j� para a minha sala, por favor! Que � isso que voc� est� levando, Potter? � � a coisa que ela segurou. � Santo Deus! � exclamou a professora, parecendo alarmada ao tomar o colar de Harry. � N�o, n�o, Filch, eles est�o comigo! � acrescentou rapidamente ao ver o zelador atravessar pressuroso o sagu�o de entrada empunhando o seu sensor de segredos. � Leve este colar ao professor Snape agora, mas tenha cuidado para n�o toc�-lo, deixe-o embrulhado no cachecol! Harry e os outros acompanharam a professora � sua sala no primeiro andar. As janelas respingadas de cristais de gelo sacudiam ruidosamente em suas molduras e a sala estava g�lida, apesar do fogo que crepitava na lareira. McGonagall fechou a porta e contornou a escrivaninha para ficar de frente para Harry, Rony, Hermione e a solu�ante Liane. � Ent�o? � disse com rispidez. � Que aconteceu? Vacilante, fazendo muitas pausas nas quais tentava controlar o choro, Liane contou � professora que C�tia tinha ido ao banheiro no Tr�s Vassouras e voltara trazendo um embrulho sem identifica��o, que a amiga parecera meio esquisita e que tinham discutido sobre a sensatez de aceitar entregar objetos desconhecidos, que a discuss�o culminara em uma luta em que o embrulho se rasgou. Nessa altura, Liane estava t�o emocionada que n�o foi poss�vel arrancar mais nenhuma palavra dela. � Muito bem � disse a professora McGonagall, quase bondosamente �, suba � ala hospitalar, por favor, Liane, e pe�a a Madame Pomfrey para lhe dar alguma coisa para o choque. Quando a garota se retirou, a professora McGonagall voltou sua aten��o para Harry, Rony e Hermione. � Que aconteceu quando C�tia tocou o colar? � Ela subiu no ar � respondeu Harry, antes que os outros dois pudessem falar. � E ent�o come�ou a berrar e perdeu os sentidos. Professora, posso ver o professor Dumbledore, por favor? � O diretor estar� ausente at� segunda-feira, Potter � informou ela, parecendo surpresa. � Fora? � repetiu ele com raiva. � E, Potter, fora! � enfatizou a professora com sarcasmo. � Mas qualquer coisa que voc� tenha a dizer sobre este horr�vel incidente certamente poder� ser dito a mim! Por uma fra��o de segundo, Harry hesitou. A professora McGonagall n�o inspirava confidencias; embora Dumbledore fosse, sob muitos aspectos, assustador, parecia menos inclinado a desprezar uma teoria, por mais mirabolante que fosse. Mas era uma quest�o de vida ou morte, e n�o era hora de se preocupar que rissem dele. � Acho que Draco Malfoy deu aquele colar � C�tia, professora. A um lado dele, Rony cocou o nariz visivelmente constrangido; do outro, Hermione arrastou os p�s como se quisesse dar dist�ncia entre ela e Harry. � � uma acusa��o muito s�ria, Potter � disse a professora McGonagall, depois de uma pausa escandalizada. � Voc� tem alguma prova? � N�o, mas... � e ele contou que seguira Malfoy � Borgin & Burkes e escutara a conversa entre o garoto e Borgin. Quando terminou de falar, a professora McGonagall parecia estar ligeiramente confusa. � Malfoy levou alguma coisa para consertar na Borgin & Burkes? � N�o, professora, ele queria que Borgin o ensinasse a consertar alguma coisa que n�o tinha levado com ele. Mas isso n�o � importante, o fato � que ele comprou alguma coisa naquela hora, e acho que foi o colar... � Voc� viu Malfoy sair da loja com um embrulho igual? � N�o, professora, ele mandou Borgin guardar a compra na loja. � Mas Harry � interrompeu-o Hermione. � Borgin perguntou se queria levar com ele e Malfoy disse "n�o"... � Porque n�o queria tocar no colar, � �bvio! � contrap�s Harry, aborrecido. � O que Malfoy realmente disse foi: "Como � que eu ficaria carregando isso pela rua?" � contou Hermione. � Bem, ele iria parecer meio retardado levando um colar � interp�s Rony. � Ah, Rony � disse Hermione com desespero �, o colar estaria embrulhado para ele n�o precisar tocar e seria f�cil esconder embaixo da capa, e ningu�m veria nada! Acho que o que ele deixou reservado na Borgin & Burkes era barulhento ou volumoso; alguma coisa que Malfoy sabia que chamaria aten��o se sa�sse carregando pela rua, e, seja como for � continuou Hermione alteando a voz para impedir que Harry a interrompesse �, eu perguntei ao Borgin sobre o colar, n�o se lembra? Quando entrei para tentar descobrir o que Malfoy tinha pedido para reservar, eu o vi. E Borgin s� me disse quanto custava, n�o falou que j� estava vendido nem nada... � Ora, voc� foi muito �bvia, ele percebeu qual era a sua jogada em cinco segundos, claro que n�o ia lhe dizer, mas Malfoy poderia ter mandado buscar uma vez que... � J� chega � disse a professora McGonagall, quando Hermione abriu a boca para retorquir, furiosa. � Potter, eu agrade�o ter me contado isso, mas n�o podemos acusar Malfoy simplesmente porque ele visitou a loja onde o colar poderia ser comprado. Isto provavelmente se aplicaria a centenas de pessoas... � ... foi o que eu falei � murmurou Rony. � ... e, seja como for, este ano implantamos medidas de seguran�a rigorosas na escola, n�o creio que o colar pudesse ter entrado sem o nosso conhecimento... � ... mas... � ... e al�m disso � disse a professora McGonagall com um ar inabal�vel �, o Sr. Malfoy n�o esteve em Hogsmeade hoje. Harry olhou-a boquiaberto e menos seguro. � Como � que a senhora sabe, professora? � Porque ele estava cumprindo uma deten��o comigo. � a segunda vez seguida que n�o termina os deveres de casa. Portanto, obrigada por ter me contado suas suspeitas, Potter � concluiu passando decidida pelos tr�s �, mas preciso ir � ala hospitalar me informar sobre C�tia Bell. Bom-dia para todos. Ela segurou aberta a porta da sala. Os garotos n�o tiveram escolha sen�o sair calados. Harry ficou zangado com os outros dois por se aliarem a McGonagall; no entanto, sentiu-se compelido a entrar na conversa quando come�aram a discutir o que acontecera. � Ent�o, a quem voc�s acham que a C�tia tinha de entregar o colar? � perguntou Rony, enquanto subiam as escadas para a sala comunal. � S� Deus sabe � exclamou Hermione. � Mas quem quer que tenha sido escapou por pouco. Ningu�m poderia ter aberto aquele embrulho sem tocar nele. � A um monte de gente � disse Harry. � Dumbledore: os Comensais da Morte teriam adorado se livrar dele, deve ser um dos seus alvos preferidos. Ou Slughorn: Dumbledore acha que Voldemort realmente o queria, e os Comensais n�o devem ter ficado satisfeitos quando ele se aliou a Dumbledore. Ou... � Ou voc� � lembrou Hermione, perturbando-se. � N�o podia ter sido ou, na estrada, a C�tia simplesmente se viraria e o entregaria a mim, n�o �? Eu estava atr�s dela o tempo todo desde que sa�mos do Tr�s Vassouras. Faria muito mais sentido entregar o embrulho fora da escola, j� que o Filch est� revistando todo o mundo que entra e sai. Por que ser� que o Malfoy a mandou levar o embrulho para o castelo? � Harry, Malfoy n�o esteve em Hogsmeade! � lembrou Hermione, dessa vez batendo o p� de frustra��o. � Ent�o deve ter usado um c�mplice, Crabbe ou Goyle... ou, pensando bem, at� outro Comensal da Morte, deve ter um mont�o de companheiros melhores que Crabbe e Goyle agora que se alistou... Rony e Hermione trocaram olhares que diziam claramente "n�o adianta discutir com ele". � Sopa da coroa��o � disse Hermione com firmeza ao chegarem � Mulher Gorda. O retrato girou, admitindo-os � sala comunal. Estava repleta e cheirava a roupas �midas; muitas pessoas pareciam ter regressado a Hogwarts cedo por causa do mau tempo. Mas n�o havia burburinho de medo nem de especula��o: obviamente, a not�cia do que acontecera a C�tia ainda n�o tinha se espalhado. � Mas, quando a gente p�ra e pensa, rufo foi um ataque muito inteligente � comentou Rony, arrancando com displic�ncia um calouro de uma das confort�veis poltronas junto � lareira, para poder se sentar. � O feiti�o nem chegou ao castelo. N�o � o que a gente poderia chamar de infal�vel. � Tem raz�o � concordou Hermione, empurrando Rony para fora da poltrona e tornando a oferec�-la ao calouro. � N�o foi muito bem pensado. � E desde quando Malfoy � um dos grandes pensadores do mundo? � perguntou Harry. Nem Rony nem Hermione lhe responderam. CAPITULO TREZE RIDDLE, O ENIGMA C�TIA FOI REMOVIDA NO DIA SEGUINTE para o Hospital St. Mungus para Doen�as e Acidentes M�gicos, altura em que j� havia se espalhado por toda a escola a not�cia do feiti�o que a atingira, embora os detalhes fossem confusos e ningu�m, exceto Harry, Rony, Hermione e Liane, parecesse saber que C�tia n�o fora o alvo visado. � Ah, e naturalmente Malfoy sabe � disse Harry a Rony e Hermione, que continuaram sua nova pol�tica de fingir surdez sempre que o amigo mencionava a sua teoria de que Malfoy era um Comensal da Morte. Harry se perguntava se Dumbledore voltaria, de onde quer que estivesse, em tempo para a aula de segunda-feira � noite, mas, n�o tendo recebido not�cia em contr�rio, apresentou-se � porta do escrit�rio �s oito horas, bateu e Dumbledore mandou-o entrar. Ali estava o diretor com um ar anormalmente cansado; sua m�o estava mais escura e queimada que nunca, mas ele sorriu quando convidou Harry a sentar. A Penseira encontrava-se, mais uma vez, em cima da mesa, projetando reflexos prateados no teto. � Voc� andou muito ocupado enquanto estive fora � disse Dumbledore. � Creio que presenciou o acidente com a C�tia. � Presenciei, senhor. Como vai ela? � Ainda bem mal, embora tenha tido sorte. Parece que ro�ou no colar apenas uma parte �nfima da pele: havia um buraco em sua luva. Se tivesse usado ou se tivesse segurado o colar com a m�o desprotegida, teria morrido, talvez instantaneamente. Por sorte, o professor Snape p�de tomar provid�ncias para impedir que o feiti�o se espalhasse... � Por que ele? � perguntou Harry imediatamente. � Por que n�o Madame Pomfrey? � Impertinente � disse uma voz branda que vinha de um dos retratos na parede; Fineus Nigellus Black, bisav� de Sirius, ergueu a cabe�a dos bra�os onde parecia estar dormindo. � No meu tempo, eu n�o teria permitido a um aluno questionar o funcionamento de Hogwarts. � Muito obrigado, Fineus � replicou Dumbledore acalmando-o. � O professor Snape conhece muito mais sobre as Artes das Trevas do que Madame Pomfrey, Harry. Em todo caso, a equipe do hospital St. Mungus est� me enviando um boletim de hora em hora, e tenho esperan�a de que, com o tempo, C�tia ir� se recuperar plenamente. � Onde � que o senhor esteve esse fim de semana, senhor? � perguntou Harry, desprezando uma forte sensa��o de que estava abusando e que, pelo visto, era partilhada por Fineus Nigellus, que assobiou baixinho. � Eu preferia n�o revelar neste momento � respondeu Dumbledore. � Mas lhe contarei no devido tempo. � Contar�? � admirou-se Harry. � Espero que sim � disse o diretor, tirando de dentro das vestes um novo frasco de lembran�as prateadas e desarrolhando-o com um toque de varinha. � Senhor � come�ou Harry hesitante �, encontrei Mundungo em Hogsmeade. � Ah, sim, j� estou ciente de que Mundungo andou tratando sua heran�a com dedos leves e pouco respeito � disse Dumbledore enrugando ligeiramente a testa. � Ele se escondeu depois que voc� o abordou � porta do Tr�s Vassouras; creio que est� cora medo de me enfrentar. Mas fique tranq�ilo que ele n�o vai mais tirar o que pertenceu a Sirius. � Aquele mesti�o velho e sarnento anda roubando objetos da fam�lia Black? � perguntou Fineus indignado; e saiu silenciosamente da moldura, sem d�vida para visitar o seu quadro no n�mero doze do largo Grimmauld. � Professor � recome�ou Harry depois de uma breve pausa �, a professora McGonagall lhe contou o que falei depois que a C�tia foi enfeiti�ada? Sobre Draco Malfoy? � Ela me contou suas suspeitas. � E o senhor... � Tomarei as medidas adequadas para investigar qualquer um que possa ter participado do acidente com C�tia. Mas o que me interessa agora, Harry, � a nossa aula. Harry n�o gostou muito da resposta: se as aulas eram t�o importantes, ent�o por que tinha havido um intervalo t�o grande entre a primeira e a segunda? Contudo, n�o falou mais em Draco Malfoy, e ficou observando Dumbledore despejar lembran�as frescas na Penseira e come�ar a girar a bacia de pedra nas m�os longas. � Voc� certamente se lembra de que deixamos a hist�ria dos primeiros tempos de Lord Voldemort no ponto em que o trouxa bonit�o, Tom Riddle, abandonou a esposa bruxa, M�rope, e retornou � casa da fam�lia em Little Hangleton. M�rope foi abandonada sozinha em Londres, esperando o filho que um dia se tornaria Lord Voldemort. � Como sabe que ela estava em Londres, senhor? � Pelo testemunho de um tal Carataco Burke que, por uma estranha coincid�ncia, ajudou a fundar a mesm�ssima loja de onde veio o colar de que acabamos de falar. Dumbledore girou o conte�do da Penseira como Harry j� o vira fazer antes, como um garimpeiro peneirando � procura de ouro. Do redemoinho prateado, emergiu um velhinho que girou lentamente na Penseira, prateado como um fantasma, por�m muito mais s�lido, com uma cabeleira que encobria totalmente os seus olhos. � Sim, adquirimos o medalh�o em circunst�ncias curiosas. Foi trazido por uma jovem bruxa pouco antes do Natal, ah, h� muitos anos. Ela disse que precisava urgentemente de ouro, o que era vis�vel. Bonita e coberta de trapos, em adiantado... estado de gravidez, entende. Disse ainda que o medalh�o tinha pertencido � fam�lia Slytherin. Bem, sempre ouvimos este tipo de hist�ria. "Ah, isto pertenceu a Merlim, era o seu bule de ch� favorito", e quando eu ia examinar, tinha realmente o sinete dele, mas alguns feiti�os simples bastavam para me revelar a verdade. � claro que aquela circunst�ncia tornava o medalh�o quase inestim�vel. A mo�a n�o parecia ter id�ia do seu valor. Ficou feliz em receber dez gale�es pelo objeto. A melhor pechincha que j� fizemos! Dumbledore deu � Penseira uma sacudida mais vigorosa e Carataco Burke foi reabsorvido pela massa espiralante de mem�rias de onde sa�ra. � Ele deu � bruxa apenas dez gale�es? � comentou Harry indignado. � Carataco Burke n�o ficou famoso por sua generosidade. Sabemos, ent�o, que, pr�ximo ao fim da gravidez, M�rope estava sozinha em Londres precisando desesperadamente de ouro, desesperada o bastante para vender seu �nico bem com valor, o medalh�o que era uma preciosa heran�a da fam�lia. � Mas ela podia usar a magia! � exclamou Harry impaciente. � Podia arranjar comida e tudo de que precisasse usando a magia, n�o podia? � Ah, talvez pudesse. Mas acredito, e novamente estou imaginando, embora seja quase uma certeza, que, quando foi abandonada pelo marido, M�rope parou de recorrer � magia. Acho que n�o quis mais ser bruxa. Claro que tamb�m � poss�vel que o seu amor n�o correspondido e o conseq�ente desespero tenham minado seus poderes, isto pode acontecer. De qualquer modo, e voc� est� prestes a ver, M�rope se recusou a empunhar a varinha at� mesmo para salvar a pr�pria vida. � N�o quis viver nem para o filho? Dumbledore ergueu as sobrancelhas. � Ser� poss�vel que voc� estej/sentindo pena de Lord Voldemort? � N�o � apressou-se Harry a negar �, mas ela teve escolha, n�o �, n�o foi como a minha m�e... � Sua m�e tamb�m teve escolha � disse Dumbledore, gentilmente. � M�rope Riddle preferiu morrer apesar do filho que precisava dela, mas n�o a julgue com tanta severidade, Harry. Ela estava enfraquecida pelo longo sofrimento e nunca teve a coragem de sua m�e. E, agora, se voc� ficar de p�... � Aonde vamos? � perguntou Harry, quando Dumbledore se juntou a ele � frente da escrivaninha. � Desta vez, vamos entrar na minha mem�ria. Penso que lhe parecer� ao mesmo tempo rica em detalhes e satisfatoriamente exata. Primeiro voc�... Harry se inclinou para a Penseira; seu rosto cortou a fresca superf�cie das lembran�as e ele se viu mais uma vez caindo pela escurid�o... segundos depois, seus p�s bateram no ch�o firme, ele abriu os olhos e viu que estavam parados em uma antiga e movimentada rua de Londres. � Aquele sou eu � disse Dumbledore, animado, apontando para um vulto que atravessava a rua � frente de uma carro�a de leite puxada por um cavalo. A barba e os cabelos longos do jovem Alvo Dumbledore eram acaju. Ao chegar do lado oposto da rua, seguiu pela cal�ada, atraindo muitos olhares curiosos por causa do vistoso terno de veludo cor de ameixa que estava usando. � Belo terno, senhor � comentou Harry sem conseguir se conter, mas Dumbledore simplesmente riu e os dois foram acompanhando o seu eu mais jovem, a curta dist�ncia, at� um p�tio vazio defronte a um pr�dio quadrado e sinistro cercado por altas grades. Ele subiu uma pequena escada que levava � porta de entrada e bateu uma vez. Passado um momento, a porta foi aberta por uma mo�a desleixada, de avental. � Boa-tarde. Tenho hora marcada com uma Sra. Cole, que acredito ser a governanta daqui. � Ah � exclamou a mo�a de ar espantado, registrando a exc�ntrica apar�ncia de Dumbledore. � Hum... um momentinho... SRA. COLE! � berrou por cima do ombro. Harry ouviu uma voz distante gritando alguma coisa em resposta. A mo�a tornou a falar com Dumbledore. � Entre, ela est� vindo. Dumbledore entrou por um corredor azulejado de preto e branco; o lugar era pobre, mas imaculadamente limpo. Harry e o velho Dumbledore o seguiram. Antes que a porta se fechasse, �s suas costas, uma mulher muito magra e aflita veio caminhando depressa em sua dire��o. Tinha um rosto bem delineado, que parecia mais ansioso do que mau, e, enquanto ia ao encontro de Dumbledore, falava por cima do ombro com outra ajudante de avental. � ... e leve o iodo para Marta l� em cima, Carlinhos Stubbs andou descascando as perebas outra vez e Erico Whalley est� se esvaindo nos len��is, e ainda por cima com catapora � comentou, sem se dirigir a ningu�m em particular, e ent�o o seu olhar recaiu em Dumbledore e ela parou instantaneamente, admirada, como se uma girafa tivesse acabado de cruzar a entrada da casa. � Boa-tarde � disse Dumbledore, estendendo a m�o. A Sra. Cole simplesmente boquiabriu-se. � Meu nome � Alvo Dumbledore. Enviei uma carta pedindo para marcar uma hora, e a senhora gentilmente me convidou para vir aqui hoje. A senhora piscou os olhos. Com jeito de quem procurava decidir se Dumbledore n�o seria uma alucina��o, ela disse com voz fraquinha: � Ah, sim. Bem... bem, ent�o, � melhor vir � minha sala. �. Ela conduziu Dumbledore a uma salinha que aparentemente se dividia em sala e escrit�rio. Era t�o pobre quanto o hall, e a mob�lia era velha e desparelhada. A senhora convidou, ent�o, Dumbledore a sentar em uma cadeira bamba e se acomodou � escrivaninha atravancada, observando-o nervosamente. � Estou aqui, conforme disse em minha carta, para discutir sobre o menino Tom Riddle e as provid�ncias para o seu futuro � come�ou Dumbledore. � O senhor � da fam�lia? � perguntou a Sra. Cole. � N�o, sou professor. Vim oferecer a Tom uma vaga em minha escola. � E que escola � essa? � Chama-se Hogwarts. � E por que se interessou por Tom? � Acreditamos que tenha qualidades que procuramos. � O senhor quer dizer que ele ganhou uma bolsa? Como pode ter ganhado? Nunca pedimos uma bolsa para ele. � Bem, o nome dele est� inscrito em nossa escola desde que nasceu. � Quem o inscreveu? Os pais? N�o havia d�vidas de que a Sra. Cole era uma mulher inconvenientemente astuta. E, pelo visto, Dumbledore teve a mesma opini�o, porque Harry o viu tirar discretamente a varinha do bolso do terno de veludo, ao mesmo tempo que apanhava uma folha de papel em branco da escrivaninha da Sra. Cole. � Veja � disse Dumbledore fazendo um aceno com a varinha e passando o papel � senhora. � Acho que isto esclarecer� tudo. Os olhos da Sra. Cole sa�ram de foco e tornaram a entrar enquanto examinava, atenta, a folha de papel por um momento. � Parece perfeitamente em ordem � disse calma, devolvendo o papel. Ent�o seu olhar recaiu sobre uma garrafa de gim e dois copos, que com certeza n�o estavam ali alguns segundos antes. � Ah... o senhor aceita um c�lice de gim? � perguntou a mulher em tom elegante. � Muito obrigado � aceitou Dumbledore sorridente. Logo se tornou claro que a Sra. Cole n�o era nenhuma principiante quando se tratava de beber gim. Servindo para ambos uma generosa dose, ela bebeu o seu c�lice de um gole. Estalando os l�bios sem constrangimento, sorriu para Dumbledore pela primeira vez, e ele n�o hesitou em aproveitar a vantagem. � Eu estava imaginando se a senhora n�o poderia me contar alguma coisa da hist�ria de Tom Riddle? Creio que ele nasceu aqui no orfanato, n�o? � Certo � confirmou a Sra. Cole, servindo-se de mais gim. � Lembro muito claramente, porque estava come�ando a trabalhar aqui. Era v�spera de Ano-Novo, fazia muito frio, nevava, sabe. Uma noite tempestuosa. E essa mo�a, que n�o era muito mais velha do que eu, chegou com dificuldade � nossa porta. Bem, ela n�o foi a primeira. N�s a acolhemos e ela teve o beb� em menos de uma hora. E na hora seguinte morreu. A Sra. Cole acenou a cabe�a solenemente e tomou mais um gole de gim. � Ela disse alguma coisa antes de morrer? � perguntou Dumbledore. � Alguma coisa sobre o pai do garoto, por exemplo? � Por acaso, disse � confirmou a Sra. Cole, que parecia estar se divertindo, com o gim na m�o e uma plat�ia ansiosa para ouvir sua hist�ria. "Lembro que ela me disse: 'Espero que ele pare�a com o pai', e n�o vou mentir, a mo�a tinha raz�o em desejar isso, porque ela n�o era nenhuma beleza... e ent�o me falou que o beb� deveria receber o nome de Tom em homenagem ao pai e Servolo em homenagem ao pai dela... �, eu sei, � um nome engra�ado, n�o �? Ficamos imaginando que tivesse vindo de um circo... e ela disse que o sobrenome do garoto era Riddle. E sem dizer mais nada, morreu pouco depois. "Bem, demos ao beb� o nome que a m�e tinha pedido, parecia t�o importante para a coitada, mas nunca nenhum Tom nem Servolo nem Riddle veio procurar a crian�a, nem fam�lia nenhuma apareceu, ent�o ele ficou no orfanato e est� aqui desde aquela �poca." A Sra. Cole serviu-se, quase sem se dar conta, de mais uma saud�vel dose de gim. Duas manchas rosadas apareceram nas ma��s do seu rosto. E ent�o ela continuou: � � um garoto engra�ado. � Sei � disse Dumbledore. � Achei que fosse. � Foi um beb� engra�ado tamb�m. Quase nunca chorava, sabe. Depois, quando foi crescendo ficou... esquisito. � Esquisito, como? � perguntou Dumbledore gentilmente. � Bem, ele... Mas a Sra. Cole se calou, e n�o havia nada confuso ou vago no olhar inquisitivo que lan�ou a Dumbledore por cima do c�lice de gim. � O senhor diz que ele tem vaga garantida em sua escola? � Certamente. � E nada que eu disser pode mudar isso? � Nada. � O senhor o levar� seja qual for a informa��o que lhe d�? � Seja qual for a informa��o � respondeu Dumbledore solenemente. A mulher encarou-o apertando os olhos como se decidisse se podia ou n�o confiar nele. Aparentemente, achou que podia, porque disse apressada: � Ele mete medo �s outras crian�as. � A senhora quer dizer que ele as intimida? � Acho que deve intimidar � respondeu a Sra. Cole, franzindo ligeiramente a testa �, mas � muito dif�cil peg�-lo em flagrante. Tem havido incidentes... bem desagrad�veis... Dumbledore n�o a pressionou, embora Harry percebesse que estava interessado. A mulher tomou mais um gole de gim e suas bochechas rosadas ficaram ainda mais rosadas. � O coelho de Carlinhos Stubbs... bem, Tom disse que n�o fez nada e n�o vejo como poderia ter feito, mas o bicho n�o se enforcou nas traves do teto sozinho, n�o �? � Eu diria que n�o � concordou Dumbledore em voz baixa. � Mas o diabo � saber como foi que ele subiu l� no alto para fazer isso. O que sei � que Tom e Carlinhos tinham discutido no dia anterior. � E ent�o, a Sra. Cole tomou mais um gole, que desta vez escorreu um pouco pelo seu queixo. � No passeio do ver�o... sa�mos com eles, sabe, uma vez por ano, vamos ao campo ou � praia... bem, Amada Benson e D�nis Bishop nunca tiveram muita certeza, e s� o que conseguimos extrair deles foi que tinham ido a uma caverna com Tom Riddle. Ele jurou que s� foram explorar o lugar, mas alguma coisa aconteceu l� dentro, tenho certeza. E, bem, t�m acontecido muitas coisas, coisas engra�adas... Ela tornou a encarar Dumbledore, e, embora seu rosto estivesse corado, o olhar era firme. � Acho que muito pouca gente vai lamentar ver este garoto pelas costas. � Estou certo de que a senhora compreende que n�o vamos mant�-lo na escola o ano inteiro, n�o? � lembrou Dumbledore. � Ele ter� de voltar para aqui, no m�nimo, a cada ver�o. � Ah, bem, isso � menos ruim do que levar uma pancada no nariz com um ferro enferrujado � respondeu a mulher com um leve solu�o. Ela se levantou e Harry ficou impressionado de ver que estava bem firme, embora dois ter�os do gim tivessem desaparecido. � Presumo que o senhor gostaria de ver o garoto, n�o? � Muito � disse Dumbledore se erguendo. A Sra. Cole saiu com o diretor da sala, subiu uma escada de pedra, dando ordens e chamando a aten��o dos seus auxiliares e das crian�as que passavam. Todos os �rf�os, Harry notou, usavam o mesmo tipo de bata acinzentada. Pareciam razoavelmente bem cuidados, mas n�o havia como negar que era um lugar sinistro para educar uma crian�a. � � aqui � anunciou a Sra. Cole, ao virarem no segundo patamar e pararem � primeira porta de um comprido corredor. Ela bateu duas vezes e entrou. � Tom? Tem uma visita para voc�. Este � o Sr. Dumberton... desculpe, Dunderbore. Ele veio lhe dizer... bem, vou deixar que ele mesmo diga. Harry e os dois Dumbledore entraram no quarto, e a Sra. Cole fechou a porta. Era um pequeno c�modo vazio exceto por um guarda-roupa velho e uma cama de ferro. Um garoto estava sentado em cima dos cobertores cinzentos, as pernas esticadas � frente, segurando um livro. N�o havia tra�os dos Gaunt no rosto de Tom Riddle. M�rope realizara o seu �ltimo desejo: ele era uma miniatura do pai bonit�o, alto para os seus onze anos, p�lido e de cabelos escuros. Seus olhos se estreitaram ligeiramente ao registrar a exc�ntrica apar�ncia de Dumbledore. Houve um momento de sil�ncio. � Como vai, Tom? � perguntou Dumbledore adiantando-se e estendendo a m�o. O garoto hesitou, aceitou a m�o e se cumprimentaram. Dumbledore puxou uma cadeira de madeira para junto de Riddle, fazendo-os parecer um paciente e a sua visita em um hospital. � Sou o professor Dumbledore. � Professor? � repetiu Riddle. Mostrou-se preocupado. � E como um "doutor"? Por que est� aqui? Ela trouxe o senhor para me examinar? O garoto apontava para a porta pela qual a Sra. Cole acabara de sair. � N�o, n�o � respondeu Dumbledore sorrindo. � N�o acredito no senhor. Ela quer que me examine, n�o �? Fale a verdade! O garoto disse as tr�s �ltimas palavras com uma for�a t�o altissonante que era quase assustadora. Era uma ordem, e, pelo jeito, ele j� a dera muitas vezes antes. Seus olhos tinham se esbugalhado e fixavam, s�rios, Dumbledore, cuja �nica rea��o foi continuar sorrindo agradavelmente. Decorridos alguns segundos, Riddle parou de encarar o professor, embora parecesse ainda mais desconfiado. � Quem � o senhor? � Eu j� lhe disse. Meu nome � Dumbledore, e trabalho em uma escola chamada Hogwarts. Vim lhe oferecer uma vaga em minha escola, sua nova escola, se quiser ir. A rea��o de Riddle ao ouvir isso foi surpreendente. Ele pulou da cama e se afastou de Dumbledore, furioso. � O senhor n�o me engana! O hosp�cio, � de l� que o senhor �, n�o �? "Professor", claro, pois eu n�o vou, entende? Aquela gata velha � que deveria estar no hosp�cio. Nunca fiz nada a Amadinha nem ao D�nis Bishop, e o senhor pode perguntar, eles dir�o ao senhor! � Eu n�o sou do hosp�cio � replicou Dumbledore pacientemente. � Sou professor e, se voc� sentar e se acalmar, posso lhe falar sobre Hogwarts. � claro que se voc� preferir n�o ir, ningu�m ir� for��-lo... � Gostaria de ver algu�m tentar � desdenhou Riddle. � Hogwarts � continuou Dumbledore, como se n�o tivesse ouvido as �ltimas palavras do garoto � � uma escola para pessoas com talentos especiais... � Eu n�o sou louco! � Sei que n�o �. Hogwarts n�o � uma escola para loucos. E uma escola de magia. Fez-se sil�ncio. Riddle congelara, seu rosto vazio de express�o, mas o olhar correndo de um olho de Dumbledore para o outro, como se tentasse apanhar um deles mentindo. � Magia? � repetiu num sussurro. � Exato. � �... � magia, o que eu sei fazer? � Que � que voc� sabe fazer? � Muita coisa � sussurrou. Um rubor de excita��o subiu do seu pesco�o para as faces encovadas; parecia febril. � Sei fazer as coisas se mexerem sem tocar nelas. Sei fazer os bichos me obedecerem sem treinamento. Sei fazer coisas ruins acontecerem a quem me aborrece. Sei fazer as pessoas sentirem dor, se quiser. Suas pernas tremiam. Ele se adiantou cambaleando e tornou a se sentar na cama, olhando para as m�os, a cabe�a baixa como se rezasse. � Eu sabia que era diferente � murmurou para os seus dedos tr�mulos. � Sabia que era especial. Sempre soube que havia alguma coisa. � Bem, voc� estava certo � disse Dumbledore, que j� n�o sorria, mas observava Riddle com aten��o. � Voc� � um bruxo. Riddle ergueu a cabe�a. Seu rosto se transfigurou: havia nele uma felicidade irreprim�vel, mas por alguma raz�o isso n�o o tornava mais bonito; pelo contr�rio, suas fei��es finas pareciam mais brutas, sua express�o quase bestial. � O senhor tamb�m � bruxo? � Sou. � Prove � replicou Riddle imediatamente, no mesmo tom de comando que usara quando dissera "fale a verdade". Dumbledore ergueu as sobrancelhas. � Se, como imagino, voc� estiver aceitando a vaga em Hogwarts... � Claro que estou! � Ent�o, vai se dirigir a mim, chamando-me de "professor" ou de "senhor". As fei��es de Riddle endureceram por um instante fugaz antes que ele respondesse, em um tom irreconhecivelmente educado: � Desculpe, senhor. Eu quis dizer: por favor, professor, pode me mostrar...? Harry estava certo de que Dumbledore ia recusar, que ia responder a Riddle que haveria muito tempo para demonstra��es pr�ticas em Hogwarts, que naquele momento estavam em um pr�dio cheio de trouxas e, portanto, precisavam tomar cuidado. Para sua grande surpresa, por�m, Dumbledore tirou a varinha do bolso interno do palet�, apontou-a para o guarda-roupa velho a um canto e fez um aceno displicente. O guarda-roupa pegou fogo. O garoto pulou da cama. Harry n�o podia censur�-lo por urrar de choque e f�ria; todos os seus bens deviam estar ali dentro; mas, quando Riddle avan�ou para Dumbledore, as chamas desapareceram, deixando o guarda-roupa intacto. Riddle olhou do m�vel para Dumbledore, ent�o, com uma express�o cobi�osa, apontou para a varinha. � Onde posso arranjar uma dessas? � Tudo a seu tempo � respondeu Dumbledore. � Acho que tem alguma coisa querendo sair do seu guarda-roupa. De fato, ouvia-se alguma coisa chocalhando baixinho. Pela primeira vez, Riddle pareceu amedrontado. � Abra a porta � ordenou Dumbledore. Riddle hesitou, mas atravessou o quarto e escancarou a porta do arm�rio. Na prateleira mais alta, acima de um trilho com umas poucas roupas, uma caixinha sacudia e chocalhava como se contivesse ratinhos fren�ticos. � Tire-a da� � disse Dumbledore. Riddle apanhou a caixa trepidante. Pareceu nervoso. � Tem alguma coisa nessa caixa que voc� n�o deveria ter? � perguntou Dumbledore. Riddle lan�ou a Dumbledore um olhar demorado, penetrante e astuto. � Suponho que sim, senhor � disse finalmente com uma voz inexpressiva. � Abra-a. Riddle tirou a tampa e virou o conte�do em cima da cama, sem olhar. Harry, que esperara alguma coisa mais excitante, viu uma confus�o de pequenos objetos comuns: um ioi�, um dedal de prata e uma gaita-de-boca oxidada. Uma vez fora da caixa, eles pararam de tremer e mexer sobre os cobertores finos. � Voc� os devolver� aos donos com suas desculpas � disse Dumbledore calmamente, tornando a guardar a varinha no palet�. � Saberei se fez isso. � E alertou: � Em Hogwarts, n�o toleramos roubos. Riddle n�o pareceu sequer remotamente envergonhado; continuou a encarar Dumbledore com um olhar frio e avaliador. Por fim, disse com uma voz mon�tona: � Sim, senhor. � Em Hogwarts � continuou Dumbledore �, ensinamos n�o apenas a usar a magia, mas a control�-la. Voc� tem usado os seus poderes, decerto sem saber, de um modo que n�o � ensinado nem tolerado em nossa escola. Voc� n�o � o primeiro nem ser� o �ltimo a deixar que a sua magia fuja ao seu controle. Mas � preciso que saiba que Hogwarts pode expulsar alunos e o Minist�rio da Magia, porque existe um Minist�rio, castiga os que desrespeitam as leis, ainda mais severamente. Todos os novos bruxos t�m de aceitar que, ao entrar em nosso mundo, se submetem �s nossas leis. � Sim, senhor � repetiu o garoto. Era imposs�vel saber o que ele estava pensando; manteve o rosto impass�vel ao tornar a guardar os objetos roubados na caixa de papel�o. Quando terminou, virou-se para Dumbledore e disse com atrevimento: � N�o tenho dinheiro. � Isto � facilmente remedi�vel � disse Dumbledore, tirando uma bolsa de couro do bolso. � H� um fundo em Hogwarts para os que precisam de ajuda para comprar livros e vestes. Voc� talvez tenha de comprar alguns livros de feiti�os e outras coisas de segunda m�o, mas... � Onde se compram livros de feiti�os? � interrompeu-o Riddle, que tinha apanhado a pesada bolsa de dinheiro sem agradecer, e agora examinava um maci�o gale�o de ouro. � No beco Diagonal. Trouxe a sua lista de livros e materiais escolares. Posso ajud�-lo a encontrar tudo... � O senhor vai me acompanhar? � perguntou Riddle erguendo a cabe�a. � Certamente, se voc�... � N�o preciso do senhor � retrucou Riddle. � Estou acostumado a fazer tudo sozinho. Ando por toda a Londres desacompanhado. Como se chega a esse beco Diagonal... senhor? � acrescentou ele, ao surpreender o olhar de Dumbledore. Harry achou que Dumbledore fosse insistir em acompanhar Riddle, mas surpreendeu-se outra vez. Dumbledore lhe entregou o envelope contendo a lista de materiais e, depois de orientar o garoto exatamente como ir do orfanato ao Caldeir�o Furado, acrescentou: � Voc� o ver�, embora � sua volta os trouxas, as pessoas que n�o s�o bruxas, n�o o vejam. Pergunte por Tom, o dono do bar, � f�cil lembrar, porque tem o mesmo nome que voc�... Riddle fez um movimento de irrita��o, como se tentasse espantar uma mosca insistente. � Voc� n�o gosta do nome "Tom" ? � Tem muita gente com esse nome � murmurou. Ent�o, como se n�o conseguisse se conter, como se a pergunta escapasse de sua boca involuntariamente: � Meu pai era bruxo? Ele tamb�m se chamava Tom Riddle, me disseram. � Receio n�o saber dizer � respondeu Dumbledore em tom gentil. � Minha m�e n�o deve ter sido bruxa ou n�o teria morrido � disse o garoto mais para si mesmo do que para Dumbledore. � Deve ter sido ele. Muito bem, depois de comprar o que preciso, quando vou para essa tal Hogwarts? � Todos os detalhes est�o na segunda folha de pergaminho no seu envelope � informou Dumbledore. � Voc� embarcar� na esta��o de King's Cross no primeiro dia de setembro. H� tamb�m um bilhete de trem a� dentro. Riddle assentiu. Dumbledore se levantou e estendeu mais uma vez a m�o. Segurando-a, Riddle disse: � Posso falar com as cobras. Descobri isso quando fui ao campo, nos passeios, elas me acham, sussurram para mim. Isto � normal nos bruxos? Harry entendeu que ele evitara mencionar o mais estranho dos seus poderes at� aquele momento, com a inten��o de impressionar. � N�o � normal � respondeu Dumbledore, ap�s breve hesita��o �, mas h� ocorr�ncias. Seu tom era displicente, mas os olhos estudaram curiosos o rosto de Riddle. Homem e garoto se encararam por um momento. Ent�o, o aperto de m�o se desfez. Dumbledore estava � porta. � At� mais, Tom. Verei voc� em Hogwarts. � Acho que j� basta � anunciou o Dumbledore de cabelos brancos ao lado de Harry e, segundos depois, estavam voando mais uma vez, imponder�veis, pela escurid�o, antes de aterrissarem com firmeza no escrit�rio atual, � Sente-se � disse Dumbledore, descendo ao lado de Harry. O garoto obedeceu, sua mente ainda ocupada com o que acabara de presenciar. � Ele acreditou muito mais depressa que eu, quero dizer, quando o senhor o informou de que era um bruxo � disse Harry. � N�o acreditei era Hagrid, a princ�pio, quando ele me contou. � �, Riddle estava absolutamente pronto para acreditar que era, para usar as palavras dele, "especial". � O senhor sabia... na �poca? � perguntou Harry. � Se eu sabia que acabara de conhecer o bruxo das Trevas mais perigoso de todos os tempos? N�o, eu n�o fazia id�ia de que ele iria crescer e se tornar o que �. Mas fiquei certamente intrigado com ele. Voltei a Hogwarts com a inten��o de vigi�-lo, coisa que, de qualquer modo, era minha obriga��o, uma vez que ele n�o tinha fam�lia nem amigos, mas que, j� ent�o, eu sentia que devia fazer n�o somente por ele, mas pelos outros. "Seus poderes, como voc� mesmo ouviu, eram surpreendentemente bem desenvolvidos para um bruxo t�o jovem e, o que � mais curioso e amea�ador, ele j� havia descoberto que conseguia control�-los at� certo ponto, e come�ou a us�-los de forma consciente. E como voc� viu, n�o eram as experi�ncias aleat�rias t�picas de um bruxo jovem. Ele j� estava usando a magia contra outras pessoas, para amedrontar, castigar e dominar. Os epis�dios do coelho enforcado e do garoto e da garota atra�dos para uma caverna foram muito sugestivos... Sei fazer as pessoas sentirem dor, se quiser..." � E ele era ofidioglota � interp�s Harry. � � verdade, um talento raro e supostamente ligado �s Artes das Trevas, embora, como j� sabemos, tamb�m haja ofidioglotas entre os bruxos grandes e bons. De fato, sua capacidade para falar com as cobras me deixou t�o preocupado quanto os seus instintos �bvios para a crueldade, o sigilo e a domina��o. "O tempo est� nos enganando outra vez � comentou Dumbledore, indicando o c�u escuro fora das janelas. � Mas, antes de nos despedirmos, quero chamar sua aten��o para certos detalhes da cena que acabamos de presenciar, porque t�m muita pertin�ncia para os assuntos que iremos discutir nas pr�ximas reuni�es. "Primeiro, espero que tenha reparado na rea��o de Riddle quando mencionei que outra pessoa tinha o mesmo nome que ele, 'Tom'." Harry confirmou. � Ali ele mostrou seu desprezo por qualquer coisa que o ligasse a outra pessoa, qualquer coisa que o tornasse comum. J� ent�o ele queria ser diferente, isolado, famoso. Ele abandonou o nome pr�prio, conforme voc� sabe, poucos anos depois daquela conversa, e criou a m�scara de "Lord Voldemort" por tr�s da qual se esconde h� tanto tempo. "Confio que voc� tamb�m tenha notado que Tom Riddle j� era muito auto-suficiente, cheio de segredos e aparentemente sem amigos. N�o quis ajuda nem companhia para ir ao beco Diagonal. Preferiu agir sozinho. O Voldemort adulto � igual. Voc� ouvir� muitos Comensais da Morte dizerem que gozam de sua confian�a, que somente eles s�o �ntimos e at� que o compreendem. Est�o iludidos. Lord Voldemort nunca teve amigos e creio que jamais quis ter um. "E, por �ltimo, e espero que n�o esteja sonolento demais para prestar aten��o ao que vou dizer, Harry: o jovem Tom Riddle gostava de colecionar trof�us. Voc� viu a caixa de objetos roubados que tinha escondido no quarto. Foram tirados das v�timas de sua intimida��o, suvenires de momentos de magia particularmente desagrad�veis. N�o se esque�a dessa mania de apropria��o, porque, mais tarde, ela ser� particularmente importante. "E, agora, est� realmente na hora de ir dormir." Harry se levantou. Ao atravessar o aposento, o seu olhar recaiu sobre a mesinha sobre a qual estivera o anel de Servolo Gaunt na aula anterior, mas o anel n�o estava mais ali. � Sim, Harry? � indagou Dumbledore, ao ver Harry parar de repente. � O anel desapareceu � disse ele olhando � sua volta. � Mas achei que talvez tivesse a gaita-de-boca ou outro objeto. Dumbledore abriu um largo sorriso para ele, mirando-o por cima dos oclinhos de meia-lua. � Muito sagaz, Harry, mas a gaita-de-boca era apenas uma gaita-de-boca. E, com essa nota enigm�tica, ele acenou para Harry, que entendeu que o diretor o dispensara. CAP�TULO CATORZE FELIX FELICIS HERBOLOGIA FOI A PRIMEIRA aula de Harry na manh� seguinte. No caf� da manh� n�o pudera comentar com Rony e Hermione a aula com Dumbledore, com medo de ser ouvido, mas foi contando enquanto caminhavam pela horta em dire��o �s estufas. A ventania violenta do fim de semana finalmente cessara; a estranha n�voa tinha voltado, e gastaram mais tempo do que o habitual para encontrar a estufa certa. � Uau, que pensamento apavorante, esse garoto Voc�-Sabe-Quem � disse Rony baixinho, quando tomaram seus lugares ao redor de um dos tocos nodosos de Arapucosos, que faziam parte do programa do trimestre, e come�aram a cal�ar as luvas de prote��o. � Mas continuo a n�o entender por que Dumbledore est� lhe mostrando tudo isso. Quero dizer, � muito interessante e tudo o mais, mas para que serve? � N�o sei � respondeu Harry, encaixando um protetor de gengivas. � Mas ele diz que � important�ssimo e vai me ajudar a sobreviver. � Acho fascinante � opinou Hermione s�ria. � Faz todo sentido conhecer o que for sobre o Voldemort. De que outro modo voc� vai descobrir os pontos fracos dele? � Ent�o, como foi a �ltima festinha de Slughorn? � perguntou Harry com voz pastosa por causa do protetor de gengivas. � Ah, foi at� divertida � respondeu Hermione, colocando os �culos protetores. � Quero dizer, ele fala um pouco sobre os ex-alunos famosos, e simplesmente baba em cima do McLaggen porque ele � bem relacionado, mas nos serviu uma comida realmente gostosa e nos apresentou a Guga Jones. � Guga Jones? � admirou-se Rony, arregalando os olhos por baixo dos �culos protetores. � A Guga Jones, capita das Harpias de Holyhead? � A pr�pria � confirmou Hermione. � Pessoalmente, achei que ela � um pouco metida, mas... � Chega de conversa a�! � disse a professora Sprout, em tom en�rgico, aproximando-se com ar severo. � Voc�s est�o se atrasando, todos j� come�aram e Neville j� colheu a primeira vagem! Eles se viraram para olhar; de fato, l� estava Neville com os l�bios ensang�entados e v�rios arranh�es feios na bochecha, mas apertando um objeto verde, do tamanho aproximado de uma toranja, que pulsava hostilmente. � Certo, professora, j� estamos come�ando! � disse Rony, acrescentando baixinho, quando ela se afastou: � Dev�amos ter usado o Abaffiato, Harry. � N�o, n�o dev�amos! � discordou Hermione na mesma hora, parecendo, como sempre, aborrecid�ssima s� de pensar no Pr�ncipe Mesti�o e nos seus feiti�os. � Ora, vamos... � melhor nos apressarmos... Ela lan�ou aos outros dois um olhar preocupado: os tr�s tomaram f�lego e atacaram o toco nodoso. A planta imediatamente ganhou vida; galhos longos, urticantes e espinhosos sa�ram do toco e chicotearam o ar. Um deles se enganchou nos cabelos de Hermione, e Rony o repeliu com uma tesoura de poda; Harry conseguiu conter uns dois galhos e prend�-los com um n�; abriu-se um buraco no meio desses tent�culos; Hermione enfiou o bra�o corajosamente no buraco, que fechou como uma armadilha em torno do seu cotovelo; Harry e Rony puxaram e torceram os galhos, obrigando o buraco a reabrir, e Hermione desvencilhou o bra�o, trazendo entre os dedos uma vagem igualzinha � de Neville. Na mesma hora, os galhos urticantes tornaram a se recolher e o toco nodoso se imobilizou, parecendo um inocente peda�o de madeira seca. � Sabe, acho que n�o vou querer essa planta no jardim quando tiver a minha casa � comentou Rony, empurrando os �culos para a testa e enxugando o suor do rosto. � Me passa uma tigela � pediu Hermione, segurando a vagem pulsante com o bra�o estendido; foi o que Harry fez e ela largou a vagem dentro da vasilha com cara de nojo. � N�o seja supersens�vel, esprema a vagem, � melhor quando est� fresca! � falou a professora Sprout. � Como eu ia dizendo � Hermione retomou a conversa interrompida como se n�o tivessem sido atacados pelo toco de madeira �, Slughorn vai dar uma festa de Natal, Harry, e dessa voc� n�o vai ter jeito de escapar, porque ele me pediu para verificar as suas noites livres, e vai marcar a festa numa noite em que voc� possa ir. Harry gemeu. Nesse meio tempo, Rony, que estava em p� tentando abrir a vagem na tigela, segurando-a com as duas m�os e apertando-a com toda a for�a, disse aborrecido: � E essa � mais uma festa para os favoritos de Slughorn? � � s� para o Clube do Slugue � respondeu Hermione. A vagem voou para longe dos dedos de Rony, atingiu o vidro da estufa, ricocheteou e foi bater na nuca da professora, derrubando seu velho chap�u remendado. Harry foi recuperar a vagem; quando voltou, Hermione estava dizendo: � Olhe aqui, n�o fui eu que inventei o nome "Clube do Slugue"... � Clube do Slugue � repetiu Rony com um desprezo digno de Malfoy. � � pat�tico. Ora, eu espero que voc� se divirta na festa. Por que n�o experimenta namorar o McLaggen, a� o Slughorn pode proclamar voc�s dois Rei e Rainha do Clu... � Ele nos deu permiss�o para levar convidados � disse Hermione, que, por alguma raz�o, ficara escarlate escaldante �, e eu ia convidar voc�, mas, se acha que � bobeira, ent�o nem vou me incomodar! Harry de repente desejou que a vagem tivesse voado mais longe, para n�o precisar ficar sentado ali com aqueles dois. Sem que percebessem, ele agarrou a tigela com a vagem e tentou abri-la da maneira mais barulhenta e en�rgica que p�de pensar: infelizmente, continuou ouvindo cada palavra que eles diziam. � Voc� ia me convidar? � perguntou Rony, em um tom completamente diferente. � Ia � respondeu Hermione zangada. � Mas � �bvio que se voc� prefere que eu namore o McLaggen... Houve uma pausa em que Harry continuou a bater na vagem resistente com uma colher de jardineiro. � N�o, n�o prefiro � retrucou Rony, em voz muito baixa. Harry errou o alvo e bateu na tigela, quebrando-a. � Reparo � disse depressa, empurrando os cacos com a varinha, e a tigela se recomp�s. O barulho, por�m, pareceu ter despertado Rony e Hermione para a presen�a de Harry. A garota parecia embara�ada, e come�ou a consultar o seu exemplar de �rvores do mundo que se alimentam de carne, para descobrir o modo correto de espremer as vagens de Arapucosos. Rony, por sua vez, parecia envergonhado, mas, ao mesmo tempo, muito satisfeito consigo mesmo. � Me d� isso, Harry � disse Hermione apressada �, diz aqui que precisamos fur�-las com uma coisa afiada... Harry passou-lhe a vagem e a tigela, ele e Rony tornaram a baixar os �culos sobre os olhos e mergulharam mais uma vez no toco. N�o � que estivesse realmente surpreso, pensou Harry, enquanto lutava com um galho espinhoso decidido a esgan�-lo; tinha uma intui��o de que aquilo poderia acontecer mais cedo ou mais tarde. Mas n�o sabia como se sentia a esse respeito... ele e Cho agora estavam constrangidos demais para se olhar, quanto mais para se falar; e se Rony e Hermione come�assem a sair juntos e depois acabassem o namoro? Ser� que a amizade deles sobreviveria? Harry se lembrou das poucas semanas em que tinham deixado de se falar no terceiro ano; n�o gostara de ficar tentando reaproximar os dois. Mas e se n�o acabassem o namoro? E se acabassem como o Gui e a Fleur, e ficar em companhia deles se tornasse extremamente constrangedor, e, desse modo, Harry fosse exclu�do para sempre? � Peguei! � berrou Rony, puxando uma segunda vagem do toco na hora em que Hermione conseguia partir a primeira, fazendo a tigela se encher de tub�rculos que se torciam como vermes verde-claros. O restante da aula passou sem que se mencionasse a festa de Slughorn. Embora nos dias seguintes Harry observasse seus dois amigos com mais aten��o, Rony e Hermione n�o pareciam diferentes, exceto que se tratavam com mais gentileza do que o normal. Harry presumiu que teria de esperar para ver o que aconteceria sob a influ�ncia da cerveja amanteigada na penumbra da sala de Slughorn, na noite da festa. At� l�, por�m, ele tinha preocupa��es mais urgentes. C�tia Bell continuava no Hospital St. Mungus sem perspectiva de alta, o que significava que a promissora equipe da Grifin�ria que Harry andara treinando com tanto carinho desde setembro perdera um artilheiro. Ele adiava a substitui��o da garota na esperan�a de que ela voltasse, mas a partida de abertura contra a Sonserina se aproximava, e ele finalmente teve de admitir que a garota n�o voltaria em tempo de jogar. Harry achava que n�o ag�entaria outro teste geral. Com uma sensa��o de des�nimo que n�o combinava com o quadribol, ele encurralou Dino Thomas depois de uma aula de Transfigura��o. A maior parte da turma j� havia sa�do, embora v�rios passarinhos amarelos pipilantes ainda voassem pela sala, todos cria��es de Hermione; ningu�m mais conseguira conjurar coisa alguma al�m de uma pena. � Voc� est� interessado em jogar como artilheiro? � Qu�...? Claro que estou! � exclamou Dino agitado. Por cima do ombro do garoto, Harry viu Simas Finnigan enfiar violentamente os livros na mochila, de mau humor. Uma das raz�es por que Harry teria preferido n�o convidar Dino para jogar � que sabia que Simas n�o ia gostar. Por outro lado, precisava fazer o que era melhor para a equipe, e Dino tinha voado melhor que Simas nos testes. � Bem, ent�o voc� est� na equipe � disse Harry. � Temos um treino hoje � noite, �s sete horas. � Certo. Valeu, Harry! Caramba, nem posso esperar para contar a Gina. Ele saiu correndo da sala, deixando Harry e Simas sozinhos, um momento de mal-estar que n�o ficou melhor quando um dos passarinhos de Hermione sobrevoou os dois e deixou cair uma titica na cabe�a de Simas. Simas n�o foi o �nico descontente por Harry ter escolhido dois colegas da pr�pria s�rie para a equipe. J� tendo suportado falat�rios muito piores em sua carreira escolar, Harry n�o se sentiu particularmente incomodado, mas, ainda assim, crescia a press�o para ganharem a partida contra a Sonserina dali a alguns dias. Se a Grifm�ria ganhasse, Harry sabia que a casa inteira esqueceria as cr�ticas e juraria que sempre acreditara que tinham uma grande equipe. Se perdesse... bem, Harry concluiu ironicamente, ele j� tinha suportado falat�rios piores... Harry n�o teve raz�o para se arrepender de sua escolha quando viu Dino voando naquela noite; ele se entrosou bem com Gina e Demelza. Os batedores, Peakes e Coote, melhoravam a cada treino. O �nico problema era Rony. Harry sempre soubera que o amigo era um jogador irregular, que sofria dos nervos e de falta de confian�a e, infelizmente, a perspectiva iminente do jogo que abria a temporada parecia acentuar todas as velhas inseguran�as. Depois de deixar entrar meia d�zia de gols, a maioria deles marcados por Gina, sua t�cnica foi piorando, e por fim ele meteu um soco na boca de Demelza Robins quando ela se aproximou. � Foi um acidente, lamento, Demelza, eu realmente lamento! � Rony gritou para a garota que ziguezagueava de volta ao ch�o, pingando sangue pelo caminho. � Foi s� que eu... � Entrou em p�nico � disse Gina com raiva, aterrissando ao lado de Demelza e examinando seus l�bios carnudos. � Seu retardado, olhe s� o que voc� fez! � Posso dar um jeito nisso. � Harry pousou ao lado das duas garotas, e apontando a varinha para a boca de Demelza, disse: � Episkey. E, Gina, n�o xingue o Rony de retardado, voc� n�o � o capit�o da equipe... � Bem, pelo visto voc� estava ocupado demais para xing�-lo de retardado, ent�o achei que algu�m devia... Harry fez for�a para n�o rir. � Voando, todo o mundo, vamos... De um modo geral, foi um dos piores treinos que fizeram naquele trimestre, embora Harry n�o achasse que a franqueza fosse a melhor pol�tica quando estavam t�o pr�ximos da partida. � Bom treino, pessoal, vamos arrasar a Sonserina � disse para incentiv�-los, e os artilheiros e batedores sa�ram do vesti�rio parecendo razoavelmente felizes consigo mesmos. � Joguei como uma saca de bosta de drag�o � exclamou Rony com a voz sumida quando Gina saiu e a porta se fechou. � N�o, n�o jogou � retrucou Harry com firmeza. � Voc� � o melhor goleiro que testei, Rony. Seu �nico problema s�o os nervos. Harry sustentou um fluxo incans�vel de encorajamento a caminho do castelo e, quando finalmente chegaram ao segundo andar, Rony estava parecendo um pouco mais animado. Mas quando Harry afastou a tape�aria para tomar o atalho habitual para a Torre da Grifin�ria, depararam com Dino e Gina, enla�ados em um apertado abra�o, se beijando vorazmente como se estivessem colados. Foi como se uma coisa grande e escamosa tivesse despertado no est�mago de Harry, e enterrado as garras em suas entranhas: um aflu-xo de sangue quente pareceu inundar seu c�rebro, extinguindo todo o pensamento e substituindo-o pelo impulso selvagem de azarar Dino, transformando-o em gel�ia. Lutando contra esta s�bita loucura, ele ouviu a voz de Rony muito longe. � Oi! Dino e Gina se separaram e viraram para olhar. � Que foi? � perguntou Gina. � N�o quero encontrar a minha irm� se agarrando em p�blico! � Est�vamos em um corredor deserto at� voc� se intrometer! �retrucou Gina. Dino pareceu constrangido. Lan�ou um sorriso evasivo a Harry, que n�o o retribuiu, porque o monstro rec�m-nascido dentro dele urrava, pedindo imediatamente a exclus�o de Dino da equipe. � Ah... vamos, Gina � convidou Dino �, vamos voltar para a sala comunal... � Vai indo! � respondeu Gina. � Quero dar uma palavrinha com o meu querido irm�o! Dino foi embora, parecendo n�o lamentar sua sa�da de cena. � Certo � disse Gina, jogando os longos cabelos ruivos para tr�s e encarando Rony, aborrecida �, vamos entender de uma vez por todas. N�o � da sua conta com quem eu saio e o que fa�o, Rony... � �, sim! � retrucou Rony no mesmo tom zangado. � Voc� acha que eu quero que as pessoas digam que minha irm� � uma... � Uma o qu�? � gritou a garota, puxando a varinha. � Uma o qu�, exatamente? � Ele n�o quis dizer nada, Gina � interp�s Harry automaticamente, embora o monstro estivesse rugindo sua aprova��o �s palavras de Rony. � Ah, quis, sim! � explodiu ela com Harry. � S� porque ele ainda n�o se agarrou com ningu�m na vida, s� porque o melhor beijo que ele j� ganhou foi da tia Muriel... � Cala essa boca! � berrou Rony, o rosto passando de rosado direto para o castanhoavermelhado. � N�o calo, n�o! � gritou Gina, fora de si. � Vejo voc� com a Fleuma, esperando que ela lhe d� um beijo na bochecha toda vez que a v�, � pat�tico! Se voc� sa�sse por a� dando uns amassos, n�o iria se importar tanto que os outros fizessem isso! Rony tamb�m puxara a varinha; Harry se meteu rapidamente entre os dois. � Voc� n�o sabe o que est� dizendo! � rugiu Rony, tentando acertar em Gina pelos lados de Harry, que agora se interpunha aos dois de bra�os abertos. � S� porque n�o fa�o isso em p�blico...! Gina gargalhou debochadamente, tentando tirar Harry do caminho. � Andou beijando o Pichitinho, foi? Ou tem uma foto da tia Muriel guardada embaixo do travesseiro? � Sua... Um lampejo laranja voou por baixo do bra�o esquerdo de Harry e por cent�metros n�o atingiu Gina; Harry empurrou Rony contra a parede. � N�o seja burro... � Harry deu uns amassos na Cho Chang! � berrou Gina, que parecia � beira das l�grimas agora. � E, Hermione, no V�tor Krum; s� voc� se comporta como se isso fosse feio, Rony, porque voc� tem a experi�ncia de um garotinho de doze anos! E, dizendo isso, retirou-se enfurecida. Harry soltou depressa Rony, que tinha no rosto uma express�o homicida. Os dois ficaram parados ali, arquejando, at� que Madame Nora, a gata de Filch, entrou no corredor, rompendo a tens�o. � Vamos � disse Harry, ao ouvirem os passos arrastados de Filch. Eles subiram, apressados, as escadas e seguiram pelo corredor do s�timo andar. � Oi, sai da frente! � falou Rony com rispidez para uma garotinha que se assustou e deixou cair no ch�o um vidro de ovas de sapo. Harry mal escutou o barulho do vidro partindo; sentia-se desorientado, tonto; ser atingido por um raio deveria ser parecido. S� porque ela � irm� do Rony, pensou. Voc� n�o gostou de ver Gina beijando o Dino porque ela � irm� do Rony... Involuntariamente, por�m, sua mente foi invadida pela imagem daquele mesmo corredor deserto, e ele beijando Gina em vez de... o monstro em seu peito ronronou... ent�o viu Rony rasgando a tape�aria e puxando a varinha contra ele, gritando coisas como "traiu a confian�a"... "acreditei que era meu amigo"... � Voc� acha que Hermione deu uns amassos no Krum? � perguntou Rony, subitamente, ao se aproximarem da Mulher Gorda. Harry teve um sobressalto de remorso e arrancou sua imagina��o do corredor onde Rony n�o entrara, onde ele e Gina estavam sozinhos... � Qu�... � exclamou confuso. � Ah... �h... A resposta franca seria "acho", mas n�o quis d�-la. Rony, contudo, pareceu ter entendido o pior, pela express�o no rosto de Harry. � Sopa da coroa��o � disse mal-humorado � Mulher Gorda, e eles passaram pelo retrato e entraram na sala comunal. Nenhum dos dois tornou a mencionar Gina nem Hermione; de fato, quase n�o se falaram aquela noite e foram dormir em sil�ncio, cada um absorto nos pr�prios pensamentos. Harry ficou acordado durante muito tempo, contemplando o dossel da cama e tentando se convencer de que seus sentimentos por Gina eram inteiramente fraternais. Tinham vivido, n�o tinham, como irm�o e irm� o ver�o todo, jogando quadribol, implicando com Rony e rindo de Gui e Fleuma. Conhecia Gina havia anos... era natural que quisesse proteg�-la... natural que prestasse aten��o nela... quisesse despeda�ar Dino por t�-la beijado... n�o... teria de controlar particularmente este sentimento fraternal... Rony soltou um ronco gutural. Ela � irm� de Rony, disse a si mesmo com firmeza. Irm� de Rony. � fruto proibido... Ele n�o arriscaria sua amizade com Rony por nada. Deu uns socos no travesseiro para deix�-lo mais confort�vel e esperou o sono chegar, fazendo o poss�vel para n�o deixar seus pensamentos vagarem nem pr�ximo de Gina. Harry acordou na manh� seguinte se sentindo meio tonto e confuso em conseq��ncia de uma s�rie de sonhos em que Rony o perseguira com um bast�o de quadribol. Mas, por volta do meio-dia, ele teria trocado de boa vontade o Rony do sonho pelo amigo, que n�o somente estava dando um gelo em Gina e Dino, como ainda estava tratando Hermione, magoada e perplexa, com uma indiferen�a mortal e desdenhosa. E mais, Rony parecia ter se tornado, da noite para o dia, sens�vel e pronto para agredir como um explosivim. Harry passou o dia tentando manter a paz entre Rony e Hermione sem sucesso: por fim, a garota foi dormir amuada, e Rony se retirou para o dormit�rio dos garotos depois de xingar enraivecido uns calouros apavorados, s� porque olharam para ele. Para des�nimo de Harry, a nova agressividade de Rony n�o abrandou nos dias seguintes. E, pior, coincidiu com uma queda no seu desempenho como goleiro, o que o deixou ainda mais agressivo, fazendo com que, no �ltimo treino de quadribol antes do jogo de s�bado, ele n�o conseguisse defender um �nico dos gols que os artilheiros lan�aram contra ele, e berrasse tanto com todos que reduziu Demelza Robins �s l�grimas. � Cala a boca e deixa a garota em paz! � gritou Peakes, que tinha dois ter�os da altura de Rony, embora fosse incontest�vel que segurava um pesado bast�o. � CHEGA! � berrou Harry, que vira o olhar feio de Gina para Rony e, lembrando-se de sua reputa��o de talentosa azaradora de bichos-pap�es, voou at� l� para intervir, antes que as coisas fugissem ao seu controle. � Peakes, vai encaixotar os bala�os. Demelza, n�o fique nervosa, voc� jogou realmente bem hoje. Rony... � Ele esperou os demais jogadores se afastarem o suficiente antes de continuar: �voc� � o meu melhor amigo, mas continue a tratar os outros assim e vou expuls�-lo da equipe. Harry realmente pensou, por um instante, que Rony fosse bater nele, mas aconteceu coisa muito pior: Rony pareceu murchar em cima da vassoura; toda a agressividade abandonou-o, e ele disse: � Estou fora. Sou pat�tico. � Voc� n�o � pat�tico nem vai desistir de nada! � contestou Harry ferozmente, agarrando Rony pela frente das vestes. � Voc� � capaz de defender qualquer coisa quando est� em forma, voc� tem � um problema mental! � Voc� est� me chamando de maluco? � �, talvez esteja! Eles se enfrentaram por um momento, ent�o Rony balan�ou a cabe�a, deprimido. � Sei que voc� n�o tem tempo para arranjar outro goleiro, por isso vou jogar amanh�, mas se perdermos, e vamos perder, vou me retirar da equipe. Nada que Harry dissesse faria a menor diferen�a. Ele tentou refor�ar a confian�a do amigo durante todo o jantar, mas Rony estava ocupado demais fazendo desfeitas a Hermione para notar. A noite, na sala comunal, Harry insistiu, mas sua afirma��o de que a equipe inteira ficaria arrasada se Rony sa�sse foi prejudicada pelo fato de que os demais jogadores ficaram agrupados a um canto distante, visivelmente cochichando sobre Rony e lhe lan�ando olhares irritados. Finalmente, Harry tentou se enfurecer mais uma vez na esperan�a de instigar Rony a adotar uma atitude de desafio que redundasse na defesa de gols, mas sua estrat�gia pareceu n�o dar melhor resultado do que a de encorajamento; Rony foi se deitar mais abatido e desesperan�ado que nunca. Deitado no escuro, Harry ficou acordado um longo tempo. N�o queria perder a partida que se avizinhava; n�o somente era a sua primeira como capit�o, como tamb�m ele estava decidido a vencer Draco Malfoy no quadribol, ainda que n�o conseguisse comprovar suas desconfian�as a respeito do colega. Contudo, se Rony jogasse como nos �ltimos treinos, as chances de vencerem seriam m�nimas. Se ao menos ele pudesse fazer alguma coisa para Rony se reanimar... para faz�-lo jogar em sua melhor forma... alguma coisa que garantisse a Rony um dia realmente bom... E a resposta ocorreu a Harry em um s�bito e glorioso acesso de inspira��o. Na manh� seguinte, o caf� da manh� foi aquela excita��o de sempre; os alunos da Sonserina assoviavam e vaiavam alto cada jogador da Grifin�ria que entrava no Sal�o Principal. Harry olhou para o teto e viu um c�u claro e azulado: um bom sinal. A mesa da Grifin�ria, uma mancha compacta vermelha e ouro, aplaudiu quando Harry e Rony se aproximaram. Harry sorriu e acenou; Rony fez uma esp�cie de careta e agradeceu com a cabe�a. � Anime-se, Rony! � gritou Lil�. � Sei que voc� vai ser genial! Rony fingiu n�o ouvir. � Ch�? � ofereceu-lhe Harry. � Caf�? Suco de ab�bora? � Qualquer coisa � respondeu Rony, infeliz, mordendo a torrada de mau humor. Alguns minutos depois, Hermione, que, de t�o cansada com a antipatia de Rony nos �ltimos dias, nem descera para tomar caf� com eles, parou a caminho da mesa. � Como � que voc�s dois est�o se sentindo? � perguntou, hesitante, com os olhos na nuca de Rony. � �timos � respondeu Harry, que estava se concentrando em passar para Rony um copo de suco de ab�bora. � Pronto, Rony. Beba. Rony tinha acabado de levar o copo � boca quando Hermione falou com rispidez. � N�o beba isso, Rony! Os dois olharam para ela. � Por que n�o? � perguntou Rony. Hermione agora encarava Harry como se n�o conseguisse acreditar no que via. � Voc� acabou de p�r alguma coisa nesse suco. � Que foi que voc� disse? � Voc� me ouviu. Eu vi. Voc� acabou de virar alguma coisa no copo de Rony. O frasco ainda est� em suas m�os! � N�o sei do que voc� est� falando � disse Harry, guardando depressa o frasquinho no bolso. � Rony, estou avisando-o, n�o beba isso! � repetiu Hermione, alarmada, mas Rony apanhou o copo, virou-o de um gole e disse: � Pare de ficar mandando em mim, Hermione. A garota se escandalizou. Abaixando-se de modo que somente Harry a ouvisse, sibilou: � Voc� poderia ser expulso por isso, eu nunca pensei que fosse capaz, Harry! � Veja s� quem est� falando � sussurrou ele em resposta. � Tem confundido algu�m recentemente? Hermione afastou-se bruscamente para a outra ponta da mesa. Harry observou-a ir sem lamentar. Hermione jamais entendera realmente que quadribol era um assunto s�rio. Virou-se, ent�o, para Rony, que estalava os l�bios. � Quase na hora � comentou, descontra�do. Na descida para o est�dio, a grama congelada rangia sob seus p�s. � Que sorte o tempo estar bom, eh? � falou Harry. � � � concordou Rony, que parecia p�lido e nauseado. Gina e Demelza j� tinham vestido os uniformes de quadribol e aguardavam no vesti�rio. � As condi��es parecem ideais � comentou Gina, ignorando o irm�o. � E sabem da �ltima? Aquele artilheiro da Sonserina, Vaisey, levou um bala�o na cabe�a ontem durante o treino, e est� machucado demais para jogar! E melhor ainda: Malfoy tamb�m n�o vai jogar, est� doente! � Qu�! � exclamou Harry, virando-se para olhar para Gina. � Est� doente? Que � que ele tem? � N�o tenho a menor id�ia, mas � �timo para n�s � respondeu ela animada. � V�o jogar com o Harper; ele est� no mesmo ano que eu, e � um idiota. Harry retribuiu com um sorriso distante, mas, ao vestir o uniforme vermelho, seus pensamentos estavam longe do quadribol. Uma vez Malfoy alegara que n�o podia jogar por causa de um ferimento, mas naquela ocasi�o conseguira que a partida fosse remarcada para uma data mais conveniente � equipe da Sonserina. Por que agora estava deixando um substituto jogar? Estaria mesmo doente ou era fingimento? � Suspeito, n�o �? � comentou em voz baixa para Rony. � Malfoy n�o jogar? � Chamo isso de sorte � respondeu Rony, parecendo ligeiramente mais animado. � E Vaisey est� fora tamb�m, � o melhor artilheiro da equipe, eu n�o queria... ei! � exclamou de repente, parando de cal�ar as luvas de goleiro e olhando espantado para Harry. � Que foi? � Eu... voc�... � Rony baixou a voz; ele parecia sentir ao mesmo tempo medo e excita��o. � Minha bebida... meu suco de ab�bora... voc� n�o... Harry ergueu as sobrancelhas, mas disse apenas: � Vamos come�ar em cinco minutos, � melhor cal�ar suas botas. Eles entraram em campo sob gritos e vaias. Uma parte do est�dio era totalmente vermelho e ouro; a outra, um mar verde e prata. Muitos alunos da Corvinal e da Lufa-Lufa tamb�m tinham tomado partido; entre berros e palmas, Harry podia distinguir o rugido do famoso chap�u-le�o de Luna Lovegood. Ele se dirigiu a Madame Hooch, a arbitra, que estava em posi��o para soltar as bolas do caixote. � Capit�es, apertem as m�os � disse ela, e Harry sentiu a m�o esmagada pelo novo capit�o da Sonserina, Urquhart. � Montem suas vassouras. Quando eu apitar... tr�s... dois... um... Soou o apito, Harry e os outros deram impulso do ch�o congelado, e partiram. Harry sobrevoou o per�metro do campo procurando o pomo, de olho em Harper, que ziguezagueava muito abaixo dele. E ent�o ouviu uma voz de locutor que destoava da que estavam habituados. � Ora, come�ou a partida e acho que todos estamos surpresos com a equipe que Potter reuniu este ano. Muitos acharam que, pelo desempenho desigual do goleiro Rony Weasley no ano passado, ele n�o retornaria � equipe, mas � claro que uma forte amizade pessoal com o capit�o ajuda... Essas palavras foram recebidas com vaias e aplausos do lado do est�dio ocupado pela Sonserina. Harry se esticou na vassoura para ver o p�dio de transmiss�o. Um rapaz alto, magricela e louro, de nariz arrebitado, estava em p� ali, falando para o megafone m�gico que no passado fora de Lino Jordan; Harry reconheceu Zacarias Smith, um jogador da Lufa-Lufa por quem sentia grande antipatia. � Ah, e a� vem a Sonserina em sua primeira tentativa de marcar um gol, � Urquhart que mergulha em dire��o ao campo e... O est�mago de Harry embrulhou. � ... Weasley defende bem, todo o mundo tem o seu dia de sorte, suponho... � Isso mesmo, Smith, hoje � o dia dele � resmungou Harry com um sorriso, mergulhando entre os artilheiros com os olhos atentos � procura de um sinal do ilus�rio pomo. Decorrida meia hora de jogo, a Grifm�ria estava ganhando por sessenta pontos a zero, Rony tendo feito defesas verdadeiramente espetaculares, algumas com as pontas das luvas, e Gina tendo marcado quatro dos seis gols da equipe. Isto realmente fez Zacarias parar de perguntar em voz alta se os dois Weasley estavam ali porque Harry gostava deles, e passar a implicar com Peakes e Coote. � � �bvio que Coote n�o tem realmente o f�sico de um batedor �comentou Zacarias com arrog�ncia �, em geral eles t�m mais for�a muscular... � Manda um bala�o nele! � gritou Harry quando Coote passou disparado, mas o garoto, dando um largo sorriso, preferiu mirar o bala�o seguinte em Harper, que ia cruzando com o capit�o. Harry ficou satisfeito ao ouvir o baque surdo indicando que o bala�o atingira o alvo. Parecia que a Grifm�ria n�o podia errar. Repetidamente a equipe goleava, e repetidamente, no extremo oposto do campo, Rony defendia com vis�vel facilidade. Estava at� sorrindo agora, e quando a multid�o saudou uma defesa particularmente boa com um coro crescente daquele velho refr�o Weasley � o nosso rei, ele fingiu reg�-los do alto. � Ele est� se achando muito especial hoje, n�o �? � disse uma voz debochada a Harry, que quase foi derrubado da vassoura quando Harper se chocou violenta e intencionalmente com ele. � O seu amigo traidor do sangue... Madame Hooch estava de costas, e, embora a torcida da Grifin�ria nas arquibancadas gritasse enraivecida, quando ela finalmente se virou, Harper j� tinha se afastado velozmente. Com o ombro doendo, Harry saiu no encal�o dele, decidido a revidar... � E acho que Harper da Sonserina avistou o pomo! � anunciou Zacarias Smith pelo megafone. � Sim, senhores, ele decididamente viu alguma coisa que Potter n�o viu! Smith era realmente um idiota, pensou Harry, ser� que n�o tinha reparado que os dois tinham colidido? Mas, no momento seguinte, sentiu seu est�mago desabar das nuvens � Smith estava certo e ele errado; Harper n�o disparara para o alto � toa; vira o que Harry n�o vira: o pomo estava voando em alta velocidade acima deles, brilhando intensamente contra o claro c�u azul. Harry acelerou; o vento assobiava em seus ouvidos abafando o som do coment�rio de Smith e o da multid�o, mas Harper continuava � frente, e a Grifin�ria tinha apenas cem pontos de vantagem; se Harper chegasse ao pomo primeiro, Grifin�ria perderia... e agora Harper estava bem perto, com a m�o estendida... � Oi, Harper! � berrou Harry desesperado. � Quanto Malfoy lhe pagou para jogar no lugar dele? N�o sabia o que o fizera dizer isso, mas Harper deu uma parada; se atrapalhou com o pomo, deixou-o escorregar entre os dedos e, na velocidade em que estava, ultrapassou-o: Harry abriu o bra�o em dire��o � bolinha esvoa�ante e agarrou-a. � PEGUEI! � berrou Harry. Fazendo a volta, mergulhou em dire��o ao solo, erguendo o pomo no alto. Quando a multid�o percebeu o que acontecera, subiu um grito das arquibancadas que quase abafou o som do apito sinalizando o fim da partida. � Gina, aonde voc� est� indo? � berrou Harry, que se viu preso, ainda no ar, por um abra�o coletivo dos jogadores da equipe, mas Gina passou veloz por eles, indo colidir, com um baita estrondo, contra o p�dio do locutor. Entre gritos e risos da multid�o, a equipe da Grifin�ria aterrissou ao lado dos destro�os de madeira sob os quais Zacarias se mexia debilmente; Harry ouviu Gina dizer descaradamente � furiosa professora McGonagall: � Me esqueci de frear, professora, desculpe. Rindo, Harry se desvencilhou da equipe e abra�ou Gina, mas muito r�pido soltou-a. N�o olhou mais para ela, em vez disso deu tapinhas nas costas de um Rony aos gritos; esquecendo as desaven�as, a equipe da Grifin�ria deixou o campo de bra�os dados, dando socos no ar e acenando para a torcida. A atmosfera no vesti�rio era de intensa alegria. � Comemora��o na sala comunal, o Simas falou! � berrou Dino exuberante. � Vamos, Gina, Demelza! Rony e Harry foram os �ltimos no vesti�rio. Quando estavam prestes a sair, Hermione entrou. Torcia o len�o da Grifin�ria nas m�os e parecia transtornada, mas decidida. � Quero dar uma palavrinha com voc�, Harry. � Ela tomou f�lego. � Voc� n�o devia ter feito isso. Voc� ouviu o que Slughorn disse, � ilegal. � Que � que voc� vai fazer, nos denunciar? � quis saber Rony. � Do que � que voc�s est�o falando? � indagou Harry, virando-se de costas para pendurar as vestes para que os dois n�o o vissem rindo. � Voc� sabe perfeitamente do que estamos falando! � esgani�ou-se Hermione. � Voc� incrementou o suco de Rony no caf� da manh� com a po��o da felicidade! Felix Felicis! � N�o, n�o fiz isso � respondeu Harry, desvirando-se para encarar os dois. � Fez, sim, Harry, e foi por isso que tudo deu certo, jogadores da Sonserina faltaram e Rony defendeu todas as bolas! � N�o pus nada no suco! � retrucou Harry, agora rindo abertamente. Ele meteu a m�o no bolso do palet� e tirou o frasquinho que Hermione vira em sua m�o naquela manh�. Estava cheio de uma po��o dourada, e a rolha continuava lacrada com cera. � Eu queria que Rony pensasse que eu tinha posto, por isso fingi quando percebi que voc� estava olhando. � E, dirigindo-se a Rony: � Voc� defendeu tudo porque se sentiu sortudo. Voc� fez tudo sozinho. � Harry tornou a guardar a po��o no bolso. � N�o havia realmente nada no meu suco de ab�bora? � perguntou ele, pasmo. � Mas o tempo est� bom,., e Vaisey n�o p�de jogar... Sinceramente voc� n�o me deu a po��o da sorte? Harry sacudiu a cabe�a. Rony olhou-o boquiaberto por um momento, ent�o ele se voltou contra Hermione, imitando sua voz. � Voc� p�s Felix Felicis no suco do Rony hoje de manh�, foi por isso que ele defendeu tudo! Est� vendo! Consigo pegar bolas sem ajuda, Hermione! � Eu nunca disse que voc� n�o conseguia... Rony, voc� tamb�m achou que tinha bebido! Mas Rony j� tinha passado por ela decidido e sa�a pela porta com a vassoura no ombro. � Ah � exclamou Harry no repentino sil�ncio; n�o imaginara que o seu plano sa�sse �s avessas �, vamos... vamos andando para a festa, ent�o? � Vai voc�! � disse Hermione, tentando conter as l�grimas. � Estou farta do Rony, no momento, n�o sei o que ele pensa que eu fiz... E ela tamb�m saiu bruscamente do vesti�rio. Harry foi subindo lentamente em dire��o ao castelo em meio � multid�o, muita gente lhe deu os parab�ns, mas ele teve uma grande sensa��o de desapontamento; tivera a certeza de que, se Rony ganhasse a partida, ele e Hermione voltariam imediatamente a ser amigos. N�o via como poderia explicar a Hermione que a ofensa feita a Rony tinha sido beijar o V�tor Krum, considerando que isto acontecera havia tanto tempo. Harry n�o viu Hermione na comemora��o da Grifin�ria, que estava no auge quando ele chegou. Novos gritos e palmas saudaram sua chegada, e logo ele foi cercado por uma multid�o que o cumprimentava. Na tentativa de se desvencilhar dos irm�os Creevey, que queriam uma an�lise da partida, lance a lance, e o numeroso grupo de garotas que o rodeava, pestanejando e rindo at� dos seus coment�rios menos engra�ados, transcorreu algum tempo antes que ele pudesse procurar Rony. Por fim, Harry se livrou de Romilda Vane, que insinuava abertamente que gostaria de ir com ele � festa de Natal de Slughorn. Quando ia se esquivando em dire��o � mesa de bebidas, deparou com Gina, com Amoldo, o Mini-Pufe encaixado no ombro, e Bichento, raiando esperan�oso aos seus calcanhares. � Procurando Rony? � perguntou ela, rindo bobamente. � Est� ali adiante, o hip�crita nojento. Harry olhou para o lado que ela apontava. L�, � vista de toda a sala, estava Rony enroscado de tal forma em Lil� Brown que era dif�cil dizer que m�os eram de quem. � Parece que est� devorando a cara dela, n�o �? � disse Gina sem emo��o. � Mas presumo que precise aprimorar a t�cnica. Boa partida, Harry. Ela lhe deu uma palmadinha no bra�o; Harry sentiu um abalo no est�mago, mas em seguida ela se afastou para se servir de mais cerveja amanteigada. Bichento saiu atr�s, seus olhos amarelos fixos em Amoldo. Harry deu as costas para Rony, que aparentemente n�o ia voltar � superf�cie t�o cedo, bem em tempo de ver o buraco do retrato se fechando. Desanimado, ele julgou ter visto uma juba de cabelos castanhos desaparecendo por ali. Correu, ent�o, desviando-se mais uma vez de Romilda Vane, e empurrou o retrato da Mulher Gorda. O corredor parecia deserto. � Hermione? Harry a encontrou na primeira sala de aula destrancada que experimentou abrir. Estava sentada em cima da escrivaninha do professor, sozinha, exceto por um pequeno c�rculo de passarinhos amarelos que piavam em torno de sua cabe�a e que visivelmente ela acabara de conjurar. Harry n�o p�de deixar de sentir admira��o por sua capacidade de realizar feiti�os numa hora daquela. � Oh, ol�, Harry � disse ela com a voz dura. � Eu estava praticando. � Estou vendo... s�o... �h... realmente bons... � disse Harry. N�o tinha id�ia do que dizer � amiga. Perguntava-se se haveria uma chance de Hermione n�o ter visto Rony, de ter simplesmente sa�do da sala porque a comemora��o estava muito barulhenta, quando ela comentou, em um tom anormalmente estridente: � Rony parece estar se divertindo na comemora��o. �Ah... est�? � N�o finja que n�o viu. Ele n�o estava bem se escondendo, estava... A porta �s costas dos dois se escancarou. Para horror de Harry, Rony entrou, rindo e puxando Lil� pela m�o. � Ah � exclamou ele, parando imediatamente ao ver Harry e Hermione. � Opa! � disse Lil�, recuando com um acesso de risinhos. A porta tornou a se fechar. Houve um sil�ncio horr�vel, que se avolumou como um vagalh�o. Hermione encarou Rony, que se recusou a retribuir o olhar, mas disse com uma estranha mistura de bravata e constrangimento: � Oi, Harry! Estava me perguntando aonde voc� teria ido! Hermione desceu da escrivaninha. O bando de passarinhos dourados continuou a pipilar rodeando sua cabe�a, fazendo-a parecer uma estranha maquete do sistema solar com penas. � Voc� n�o devia deixar a Lil� esperando l� fora � disse baixinho. � Ela vai se perguntar aonde voc� ter� ido. Ela foi andando muito devagar e ereta em dire��o � porta. Harry olhou para Rony, que parecia aliviado por n�o ter acontecido nada pior. � Oppugno! � veio um grito da porta. Harry se virou e viu Hermione apontando a varinha para Rony, uma express�o alucinada no rosto: o pequeno bando de passarinhos voou como uma saraivada de grossas balas douradas contra Rony, que ganiu e cobriu o rosto com as m�os, mas os p�ssaros atacaram, bicando e arranhando cada peda�o do corpo dele que puderam alcan�ar. � Melivradisso! � berrou ele, mas, com um �ltimo olhar de f�ria vingativa, Hermione escancarou a porta e desapareceu. Harry pensou ter ouvido um solu�o antes de a porta bater. CAPITULO QUINZE O VOTO PERP�TUO MAIS UMA VEZ, AS ESPIRAIS DE NEVE batiam nas janelas geladas; o Natal estava se aproximando. Hagrid, sozinho, j� tinha feito a entrega das habituais doze �rvores de Natal para o Sal�o Principal; guirlandas de azevinho e franjas met�licas enfeitavam os bala�stres das escadas; velas perp�tuas brilhavam por dentro dos elmos das armaduras e a intervalos grandes ramos de visgo pendiam do teto, nos corredores. Grupos de garotas convergiam para baixo dos ramos de visgo quando Harry passava, o que causava engarrafamento nas passagens; mas, por sorte, seus freq�entes passeios noturnos tinham lhe dado um conhecimento excepcional dos atalhos secretos do castelo, e faziam com que pudesse, sem muita dificuldade, navegar entre as aulas por rotas em que n�o havia visgos. Rony, que em tempos passados poderia ter achado a necessidade desses desvios uma raz�o para ci�mes em vez de hilaridade, simplesmente rolava de rir com tudo isso. Harry, embora preferisse esse novo amigo risonho e brincalh�o ao Rony cismado e agressivo que vinha aturando nas �ltimas semanas, pagava um alto pre�o por tal melhora. Primeiro, Harry tinha de tolerar a presen�a ass�dua de Lil� Brown, que parecia achar cada momento em que n�o estivesse beijando Rony um momento perdido; e segundo, Harry se encontrava mais uma vez na posi��o de melhor amigo de duas pessoas com pouca probabilidade de voltarem a se falar. Rony, cujos bra�os e m�os ainda exibiam os arranh�es e cortes do ataque dos passarinhos de Hermione, adotava um tom defensivo e rancoroso. � Ela n�o pode reclamar � disse a Harry. � Andou aos beijos com o Krum. Agora achou algu�m que quer andar aos beijos comigo. Bem, estamos em um pa�s livre. N�o estou fazendo nada de mais. Harry n�o respondeu, fingiu estar concentrado no livro que deveriam ler para a aula de Feiti�os na manh� seguinte (Quintess�ncia: uma busca). Decidido como estava a continuar amigo de ambos, Rony e Hermione, ele passava grande parte do tempo muito calado. � Nunca prometi nada a Hermione � resmungou Rony. � Quero dizer, tudo bem, eu ia � festa de Natal do Slughorn com ela, mas ela nunca disse... era s� como amigo... n�o tenho compromisso... Harry virou uma p�gina do Quintess�ncia, consciente de que o amigo o observava. A voz de Rony foi se tornando quase inaud�vel, abafada pelos fortes estalos do fogo na lareira, embora Harry pensasse ter ouvido as palavras "Krum" e "n�o pode reclamar" mais de uma vez. O hor�rio de Hermione era t�o apertado que Harry s� conseguia falar direito com a amiga � noite, quando Rony ficava t�o grudado em Lil� que nem notava o que Harry estava fazendo. Hermione se recusava a sentar na sala comunal enquanto Rony ali estivesse, ent�o Harry, em geral, ia ao seu encontro na biblioteca, o que significava que conversavam aos sussurros. � Ele tem toda liberdade de beijar quem quiser � disse Hermione enquanto a bibliotec�ria, Madame Pince, rondava pelas estantes �s suas costas. � N�o estou nem a�. Ergueu a pena e p�s um pingo no "i" com tanta ferocidade que perfurou o pergaminho. Harry ficou calado, e refletiu que logo sua voz desapareceria por falta de uso. Curvou-se um pouco mais para o Estudos avan�ados no preparo de po��es e continuou a tomar notas sobre os Elixires Perenes, parando de vez em quando para decifrar os adendos t�o �teis do Pr�ncipe ao texto de Libatius Borage. � E por falar nisso � lembrou Hermione passado algum tempo �, voc� precisa se cuidar. � Pela �ltima vez � respondeu Harry, num sussurro ligeiramente rouco depois de quarenta e cinco minutos de sil�ncio �, n�o vou devolver este livro, aprendi mais com o Pr�ncipe Mesti�o do que Snape e Slughorn me ensinaram em... � N�o estou falando desse idiota que se intitula Pr�ncipe � replicou Hermione, lan�ando um olhar irritado ao livro como se ele lhe tivesse feito uma grosseria. � Estou falando de hoje mais cedo. Entrei no banheiro pouco antes de vir para c� e tinha umas doze garotas l�, inclusive aquela Romilda Vane, discutindo meios de dar a voc� uma po��o de amor. Todas t�m esperan�a de fazer voc� lev�-las � festa do Slughorn, e todas parecem ter comprado as po��es de amor de Fred e Jorge, que, lamento dizer, provavelmente funcionam... � Por que voc� n�o as confiscou? � quis saber Harry. Parecia extraordin�rio que a mania de Hermione de defender o regulamento pudesse t�-la abandonado nesse momento cr�tico. � Elas n�o tinham levado as po��es para o banheiro � respondeu com desd�m. � Estavam apenas discutindo t�ticas. E, como duvido que mesmo o Pr�ncipe Mesti�o � ela lan�ou outro olhar irritado ao livro � pudesse inventar um ant�doto que neutralizasse doze po��es diferentes, se eu fosse voc� convidaria algu�m para acompanh�-lo: isto faria as outras pararem de pensar que t�m chance. � amanh� � noite, e as garotas est�o ficando desesperadas. � N�o tem ningu�m que eu queira convidar � murmurou Harry, que ainda tentava n�o pensar em Gina mais do que era inevit�vel, ainda que a garota n�o parasse de aparecer em seus sonhos em tais situa��es que ele agradecia aos c�us que Rony n�o fosse apto em Legilim�ncia. � Bem, tenha cuidado com o que beber, porque, pelo jeito, a Romilda Vane n�o estava brincando � disse Hermione s�ria. Ela puxou para cima da mesa um longo pergaminho em que estava fazendo o trabalho de Aritmancia, e continuou a arranh�-lo com a pena. Harry a observava com o pensamento muito distante. � Calma a� um instante � disse ele lentamente. � Pensei que Filch tivesse proibido artigos comprados na Gemialidades Weasley. � E algum dia algu�m ligou para o que Filch pro�be? � perguntou Hermione, ainda concentrada no seu trabalho. � Mas pensei que todas as corujas estivessem sendo revistadas. Como � que essas garotas conseguem trazer po��es de amor para a escola? � Fred e Jorge despacham as po��es camufladas de perfume ou xarope para tosse. Faz parte do seu Servi�o de Encomenda-Coruja. � Voc� est� por dentro, hein? Hermione lhe lan�ou o mesmo olhar irritado que acabara de dar ao livro de Estudos avan�ados no preparo de po��es. � Estava tudo impresso no verso das garrafas que eles mostraram a Gina e a mim no ver�o � informou ela com frieza. � N�o ando por a� pondo po��es nas bebidas das pessoas... nem fingindo que ponho, o que � igualmente s�rio... � �, bem, deixa isso para l� � disse Harry depressa. � A quest�o � que est�o enganando o Filch. Essas garotas est�o trazendo artigos para a escola camuflados de outra coisa! Ent�o por que Malfoy n�o poderia ter trazido o colar...? � Ah, Harry... outra vez...? � Responde por que n�o, vai? � Olha � suspirou Hermione �, sensores de segredos detectam feiti�os, maldi��es e azara��es lan�ados para ocultar, n�o �? S�o usados para descobrir magia das Trevas e objetos das Trevas. Teriam apanhado em segundos uma maldi��o poderosa como a daquele colar. Mas n�o registrariam uma coisa que foi posta em um frasco diferente... e, de qualquer modo, as po��es de amor n�o s�o das Trevas nem perigosas... � Para voc� � f�cil falar � murmurou Harry, pensando em Romilda Vane. � ... ent�o Filch � quem teria de perceber se era ou n�o era um xarope para tosse, e ele n�o � um bruxo muito competente, duvido que saiba diferenciar uma po��o de... Hermione parou de repente; Harry pressentiu tamb�m. Algu�m se aproximara entre as estantes escuras. Eles aguardaram e, um momento depois, o rosto rapineiro de Madame Pince surgiu no fim da estante, as faces encovadas, a pele de pergaminho e o longo nariz curvo iluminados desfavoravelmente pelo lampi�o que ela segurava. � A biblioteca acabou de fechar � anunciou ela. � Cuide de devolver o que apanhou emprestado � prateleira corret... que � que voc� andou fazendo com esse livro, seu garoto depravado? � N�o � da biblioteca, � meu! � apressou-se a explicar Harry, arrebatando o Estudos avan�ados no preparo de po��es quando ela estendeu para o livro a m�o que lembrava uma garra. � Espoliado! � sibilou Madame Pince. � Profanado! Conspurcado! � � s� um livro em que algu�m escreveu! � disse Harry, arrancando-o das m�os dela. A bruxa parecia que ia ter uma apoplexia; Hermione, que recolhera apressadamente suas coisas, agarrou Harry pelo bra�o e arrastou-o � for�a para longe dali. � Ela expulsa voc� da biblioteca, se n�o se cuidar. Por que foi trazer esse livro idiota? � N�o � minha culpa que ela seja doida de pedra, Hermione. Ou ser� que ela ouviu voc� falando mal do Filch? Sempre achei que houvesse alguma coisa entre os dois... � Oh, ah, ah... Aproveitando que podiam falar normalmente outra vez, eles voltaram � sala comunal pelos corredores desertos e iluminados por lampi�es, discutindo se Filch e Madame Pince estariam secretamente apaixonados. � Bolas Festivas � Harry disse � Mulher Gorda a nova senha natalina. � Igualmente � respondeu a Mulher Gorda com uma risadinha marota e girando para admitir os dois. � Oi, Harry! � exclamou Romilda Vane, no instante em que ele entrou pelo buraco do retrato. � Quer tomar uma �gua de gilly? Hermione lan�ou ao amigo um olhar "Que-foi-que-eu-disse?", por cima do ombro. � N�o, obrigado � respondeu Harry ligeiro. � N�o gosto muito. � Bem, ent�o aceite uns bombons � disse a garota, empurrando em suas m�os caldeir�es de chocolate recheados com u�sque de fogo. � Minha av� mandou para mim, mas n�o gosto. � Ah, t�, muito obrigado � agradeceu Harry, que n�o conseguia pensar em nada mais para dizer. � Ah... vou um instante ali com... Deixando a frase morrer, ele correu atr�s de Hermione. � Eu falei � resumiu ela. � Quanto mais cedo convidar algu�m, mais cedo elas v�o deixar voc� em paz e ent�o vai poder... Mas seu rosto repentinamente vidrou; acabara de ver Rony e Lil�, entrela�ados na mesma poltrona. � Bem, boa-noite, Harry � disse, embora fossem apenas sete horas da noite, e seguiu para o dormit�rio das garotas sem dizer mais nada. Harry foi se deitar, consolando-se com o pensamento de que faltava ag�entar apenas um dia de aulas e a festa de Slughorn, depois do que ele e Rony poderiam viajar para A Toca. Parecia agora imposs�vel que Rony e Hermione fizessem as pazes antes do in�cio das f�rias, mas, quem sabe, o intervalo desse para eles se acalmarem, refletirem sobre sua maneira de agir... Mas sua esperan�a n�o era grande, e se tornou ainda menor depois de aturar uma aula de Transfigura��o com os dois, no dia seguinte. A turma tinha acabado de entrar no t�pico extremamente dif�cil da transfigura��o humana; trabalhando diante de espelhos, deviam mudar a cor das pr�prias sobrancelhas. Hermione riu sem piedade dos insucessos iniciais de Rony, durante os quais ele conseguiu se presentear com um espetacular bigode em forma de guid�o; Rony retaliou, fazendo uma imita��o cruel, mas exata, de Hermione levantando e sentando sem parar cada vez que a professora McGonagall fazia uma pergunta, coisa que Lil� e Parvati acharam engra�ad�ssima e que, mais uma vez, levou Hermione quase �s l�grimas. Ela saiu correndo da sala quando ouviram a sineta, largando metade do material; Harry decidiu que, naquele momento, Hermione precisava mais dele do que Rony. Ent�o, recolheu as coisas da amiga e seguiu-a. Alcan�ou-a finalmente quando ela sa�a do banheiro das garotas um andar abaixo. Vinha em companhia de Luna Lovegood, que lhe dava palmadinhas distra�das nas costas. � Ah, ol�, Harry � disse Luna. � Voc� est� sabendo que uma de suas sobrancelhas est� amarelona? � Oi, Luna. Hermione, voc� deixou seu material... E estendeu-lhe os livros. � Ah, sim � falou Hermione com a voz embargada, apanhando as coisas e dando as costas depressa para esconder que estava secando os olhos com o estojo de l�pis. � Obrigada, Harry. Bem, � melhor eu ir andando... E se afastou ligeiro, sem dar a Harry tempo para dizer umas palavrinhas de consolo, embora ele tivesse que admitir que n�o conseguia pensar em nenhuma. � Ela est� meio chateada � disse Luna. � A princ�pio, pensei que fosse a Murta-Que- Geme no banheiro, mas era a Hermione. Ela falou alguma coisa sobre aquele Rony Weasley... � �, eles brigaram. � Ele �s vezes diz coisas muitos engra�adas, n�o acha? � comentou Luna, quando sa�ram juntos pelo corredor. � Mas sabe ser grosseiro. Reparei isso no ano passado. � Suponho que sim � disse Harry. Luna estava manifestando o seu talento para dizer verdades inc�modas; Harry jamais conhecera algu�m como ela. � Ent�o, teve um bom trimestre? � Ah, foi bom. Um pouco solit�rio sem a AD. Gina tem sido legal. Outro dia ela fez dois garotos pararem de me chamar de Di-lua na aula de Transfigura��o... � Voc� gostaria de ir comigo � festa de Slughorn hoje � noite? As palavras escaparam da boca de Harry antes que pudesse cont�-las; ouviu-as como se um desconhecido as falasse. Luna virou aqueles seus olhos saltados para ele, surpresa. � A festa de Slughorn? Com voc�? � �. Ele pediu para levarmos convidados, ent�o achei que voc� talvez... quero dizer... � Ele queria deixar suas inten��es perfeitamente claras. � Quero dizer, como amigos, sabe. Mas se voc� n�o quiser... Ele j� estava desejando que ela n�o quisesse. � Ah, n�o, adoraria ir com voc� como amiga! � respondeu Luna, sorrindo como ele jamais a vira fazer. � Ningu�m nunca me convidou para uma festa antes, como amiga! Foi por isso que voc� tingiu a sobrancelha, para a festa? Devo tingir a minha tamb�m? � N�o � replicou Harry com firmeza �, foi um engano, vou pedir a Hermione para consertar para mim. Ent�o, encontro voc� no sagu�o de entrada �s oito horas. � AH-AH! � berrou uma voz do alto, e eles se sobressaltaram; sem perceber, tinham passado bem embaixo de Pirra�a, que estava pendurado de cabe�a para baixo em um lustre e sorria maliciosamente para os dois. � Pirado convidou Luna para ir a festa! Pirado ama Di-lua! Pirado aaaaama Di-luuuuuua! E afastou-se, veloz, gargalhando e gritando: "Pirado ama Di-lua!" � � legal ter privacidade � comentou Harry. E, de fato, em pouco tempo a escola inteira parecia saber que Harry Potter ia levar Luna Lovegood � festa de Slughorn. � Voc� podia ter levado qualquer garota! � disse Rony, incr�dulo, ao jantar. � Qualquer garota! E voc� escolheu a Di-lua Lovegood? � N�o chame a Luna assim, Rony � falou Gina asperamente, parando atr�s de Harry quando ia se reunir aos seus amigos. � Fico realmente feliz que voc� esteja levando a Luna, Harry, ela est� t�o animada! E continuou andando ao longo da mesa, para se sentar com o Dino. Harry tentou se alegrar que Gina tivesse gostado do seu convite � Luna, mas n�o conseguiu. A uma boa dist�ncia, Hermione estava sozinha � mesa, brincando com o picadinho no prato. Harry percebeu que Rony lhe dava olhadelas furtivas. � Voc� podia pedir desculpas � sugeriu ele bruscamente. � Qu�, para ser atacado por outro bando de can�rios? � murmurou Rony. � Para que voc� foi imitar Hermione? � Ela riu do meu bigode! � Eu tamb�m ri, foi a coisa mais burra que eu j� vi. Mas Rony n�o pareceu ter ouvido; Lil� acabara de chegar com Parvati. Apertando-se entre Harry e Rony, Lil� atirou os bra�os no pesco�o de Rony. � Oi, Harry � cumprimentou Parvati, que, como ele, parecia meio constrangida e chateada com o comportamento dos dois amigos. � Oi � respondeu Harry. � Como vai? Vai ficar em Hogwarts, ent�o? Soube que seus pais queriam que voc� sa�sse da escola. � Por ora, consegui convenc�-los a desistir � respondeu Parvati. � Aquela coisa com a C�tia deixou os dois apavorados, mas como n�o aconteceu mais nada... ah, oi, Hermione! Parvati sem d�vida sorria. Harry achou que estava sentindo remorsos por ter rido de Hermione na aula de Transfigura��o. Virou-se e viu que sua amiga retribu�a o sorriso, se � que isso era poss�vel, ainda mais animadamente. As garotas �s vezes eram muito estranhas. � Oi, Parvati! � respondeu Hermione, ignorando totalmente Rony e Lil�. � Voc� vai � festa do Slughorn hoje � noite? � Nenhum convite � resumiu Parvati tristemente. � Mas adoraria ir, parece que vai ser realmente boa... voc� vai, n�o �? � Vou, marquei com C�rmaco �s oito, e n�s... Houve um ru�do semelhante ao de algu�m puxando um desentupidor de uma pia entupida, e Rony voltou � tona. Hermione agiu como se n�o tivesse visto nem ouvido nada. � ... vamos � festa juntos. � C�rmaco? � repetiu Parvati. � Voc� quer dizer o C�rmaco McLaggen? � O pr�prio � disse Hermione com meiguice. � Aquele que quase � ela deu grande �nfase � palavra � foi goleiro da Grifin�ria. � Ent�o voc�s est�o namorando? � perguntou Parvati, de olhos arregalados. � Ah... estamos... voc� n�o sabia? � falou Hermione, com uma risadinha que n�o parecia sua. � N�o! � exclamou Parvati, manifestando curiosidade pela fofoca. � Uau, voc� gosta mesmo de jogadores de quadribol, n�o �? Primeiro o Krum, agora o McLaggen... � Eu gosto de jogadores de quadribol muito bons � corrigiu-a Hermione, ainda sorrindo. � Bem, a gente se v�... tenho de me arrumar para a festa... Ela saiu. Na mesma hora, Lil� e Parvati juntaram as cabe�as para discutir o novo acontecimento, repassando tudo que j� tinham ouvido falar de McLaggen e tudo que tinham imaginado sobre Hermione. Rony pareceu estranhamente inexpressivo, e nada disse. Harry viu-se refletindo em sil�ncio sobre as profundezas a que descem as garotas para se vingar. Quando ele chegou ao sagu�o de entrada �s oito horas, encontrou um n�mero anormal de garotas por ali, todas olhando-o com vis�vel ressentimento quando se aproximou de Luna. Ela estava usando vestes prateadas com estrelas que atra�ram risinhos das outras, mas, afora isto, estava bem bonita. De qualquer forma, Harry ficou contente que ela n�o estivesse usando os brincos de nabos, o colar de rolhas de cerveja amanteigada e os espectrocs. � Oi � cumprimentou ele. � Vamos andando, ent�o? � Ah, vamos � respondeu ela feliz. � Onde � a festa? � Na sala de Slughorn � disse ele, conduzindo-a para longe dos olhares e cochichos pela escadaria de m�rmore. � Voc� ouviu falar que deve ir um vampiro? � Rufo Scrimgeour? � ... qu�? � exclamou Harry desconcertado. � Voc� quer dizer o ministro da Magia? � �, ele � um vampiro � disse Luna banalmente. � Papai escreveu um artigo bem longo sobre isso quando Rufo Scrimgeour assumiu o cargo de Corn�lio Fudge, mas foi obrigado por algu�m do Minist�rio a n�o publicar. Obviamente eles n�o gostariam que a verdade fosse revelada! Harry, que achava muito improv�vel que Rufo Scrimgeour fosse um vampiro, mas estava acostumado ao h�bito de Luna de repetir as bizarras opini�es do pai como se fossem fatos, n�o respondeu; j� estavam se aproximando da sala de Slughorn e os sons de risos, m�sica e conversas em voz alta aumentavam a cada passo. Fosse porque tivesse sido constru�da assim, fosse porque ele tivesse usado a magia para deix�-la assim, a sala de Slughorn era muito maior do que o escrit�rio normal de um professor. O teto e as paredes tinham sido forrados com panos esmeralda, carmim e dourado, para dar a impress�o de que se encontravam no interior de uma vasta tenda. A sala estava cheia e abafada, imersa na luz vermelha que o ornamentado lampi�o dourado projetava do centro do teto, onde esvoa�avam fadinhas de verdade, cada qual um pontinho brilhante de luz. Uma cantoria, aparentemente acompanhada por bandolins, subia de um canto distante; uma n�voa de fuma�a de cachimbo pairava sobre v�rios bruxos idosos absortos em conversa, e numerosos elfos dom�sticos se deslocavam entre uma floresta de joelhos, sombreados pelas pesadas travessas de prata com comida que seguravam, parecendo mesinhas m�veis. � Harry, meu rapaz! � trovejou Slughorn, quase na mesma hora em que Harry e Luna espremiam-se pela porta para entrar. � Entre, entre, h� tanta gente que eu gostaria que voc� conhecesse! Slughorn usava um chap�u de veludo com borlas combinando com o smoking. Apertando o bra�o de Harry com tanta for�a que parecia querer desaparatar com ele, Slughorn o conduziu, decidido para a festa; Harry agarrou a m�o de Luna e arrastou-a com ele. � Harry, gostaria que voc� conhecesse Eldred Worple, um ex-aluno meu, autor de Irm�os de sangue: minha vida entre os vampiros... e, � claro, seu amigo Sanguini. Worple, que era um homem pequeno, de �culos, agarrou a m�o de Harry e sacudiu-a com entusiasmo; o vampiro Sanguini, alto e emaciado, com escuras olheiras sob os olhos, fez apenas um aceno com a cabe�a. Parecia entediado. Havia um bando de garotas por perto, demonstrando curiosidade e excita��o. � Harry Potter, estou simplesmente encantado! � exclamou Worple, fitando miopemente o rosto de Harry. � Ainda outro dia comentei com o professor Slughorn: "Onde est� a biografia de Harry Potter pela qual todos estamos esperando?" � �h � atrapalhou-se Harry �, o senhor est�? � Modesto como Hor�cio o descreveu! � comentou Worple. � Mas falando seriamente... � e sua atitude mudou, de repente, tornando-se objetiva �, eu teria prazer de escrev�-la... as pessoas est�o ansiosas por conhecer voc� melhor, meu caro rapaz, ansiosas! Se voc� se dispusesse a me conceder algumas entrevistas, digamos, quatro ou cinco sess�es, ora, poder�amos concluir o livro em poucos meses. E isso com muito pouco esfor�o de sua parte, posso lhe assegurar; pergunte a Sanguini aqui se n�o �... Sanguini, fique aqui! � acrescentou Worple, com s�bita severidade, porque o vampiro estava se esgueirando em dire��o ao grupo de garotas pr�ximo, com uma certa voracidade no olhar. � Tome aqui uma empadinha � disse Worple, apanhando uma da travessa de um elfo que passava e metendo-a na m�o de Sanguini antes de voltar sua aten��o a Harry. � Meu caro rapaz, o ouro que poderia ganhar, voc� nem faz id�ia... � Decididamente n�o estou interessado � respondeu Harry com firmeza �, e acabei de ver uma amiga minha, lamento. Ele puxou Luna pela multid�o; acabara realmente de ver uma longa juba de cabelos castanhos desaparecer, entre dois componentes do grupo As Esquisitonas, ou assim lhe pareceu. � Hermione! Hermione! � Harry! A� est� voc�, que bom! Oi, Luna! � Que aconteceu com voc�? � perguntou Harry, porque Hermione parecia visivelmente desarrumada, como se tivesse acabado de lutar para se livrar de uma moita de visgo-do-diabo. � Ah, acabei de fugir... quero dizer, acabei de deixar o C�rmaco. Debaixo do visgo � acrescentou, � guisa de explica��o, porque Harry continuava a fit�-la com um ar de curiosidade. � Bem feito por ter vindo com ele � disse ele severamente. � Achei que era quem mais aborreceria o Rony � disse Hermione, sem emo��o. � Fiquei um instante em d�vida se convidaria o Zacarias Smith, mas achei que, de modo geral... � Voc� pensou em vir com o Smith? � exclamou Harry revoltado. � Pensei, e estou come�ando a desejar que tivesse vindo; McLaggen faz Grope parecer um cavalheiro. Vamos por aqui, poderemos ver quando ele vier, � t�o alto... Os tr�s se dirigiram ao lado oposto da sala, apanhando ta�as de hidromel no caminho, mas perceberam, tarde demais, que a professora Trelawney estava parada ali sozinha. � Ol� � Luna cumprimentou-a gentilmente. � Boa-noite, minha querida � disse a professora, focalizando a garota com alguma dificuldade. Novamente Harry sentiu cheiro de xerez culin�rio. � N�o tenho visto voc� nas minhas aulas ultimamente... � N�o, fiquei com Firenze este ano � disse Luna. � Ah, � claro � replicou a professora, com raiva, dando uma risadinha b�bada. � Ou Dobbin, como prefiro imagin�-lo. Seria de pensar, n�o � mesmo, que, agora que voltei para a escola, o professor Dumbledore se livrasse do cavalo. Mas n�o... dividimos as turmas... � um insulto, francamente, um insulto. Voc� sabe que... A professora Trelawney parecia tonta demais para reconhecer Harry. Aproveitando as furiosas cr�ticas a Firenze, ele chegou mais perto de Hermione e disse: � Vamos nos entender. Voc� est� pretendendo dizer ao Rony que interferiu nos testes para goleiro? Hermione ergueu as sobrancelhas. � Voc� realmente acha que eu me rebaixaria a tanto? Harry lan�ou-lhe um olhar astuto. � Hermione, se voc� tem coragem de convidar McLaggen... � H� uma diferen�a � respondeu ela com dignidade. � N�o tenho a menor inten��o de contar a Rony o que poderia ou n�o ter acontecido nos testes. � �timo � replicou Harry com fervor. � Porque ele ficaria arrasado de novo, e perder�amos o pr�ximo jogo... � Quadribol! � exclamou Hermione zangada. � � s� nisso que voc�s garotos pensam? C�rmaco n�o fez uma �nica pergunta sobre mim, n�o, me brindou com Cem Grandes Defesas Feitas por C�rmaco McLaggen sem intervalos... ah, n�o, l� vem ele! Ela se mexeu com tanta rapidez que parecia ter desaparatado; num momento estava ali e no momento seguinte se espremera entre duas bruxas �s gargalhadas e sumira. � Viram Hermione? � perguntou McLaggen um minuto depois, for�ando caminho por um grupo compacto. � N�o, lamento � disse Harry, e virou-se depressa para participar da conversa de Luna, esquecendo-se, por uma fra��o de segundo, de com quem ela estava conversando. � Harry Potter! � exclamou a professora em tons graves e vibrantes, reparando nele pela primeira vez. � Oh, ol� � respondeu ele sem entusiasmo. � Meu querido rapaz! � disse Trelawney, com um sussurro muito aud�vel. � Os boatos! As hist�rias! O Eleito! � claro que sei disso h� muito tempo... os aug�rios nunca foram favor�veis, Harry... mas por que voc� n�o voltou �s aulas de Adivinha��o? Para voc�, mais do que para os demais, a mat�ria � da m�xima import�ncia! � Ah, Sibila, todos achamos que a nossa mat�ria � da m�xima import�ncia! � disse uma voz alta, e Slughorn apareceu ao lado da professora Trelawney, o rosto muito vermelho, o chap�u de veludo um pouco enviesado na cabe�a, um copo de hidromel em uma das m�os e uma enorme torta de frutas secas e especiarias na outra. � Mas acho que jamais conheci algu�m com tanto talento para Po��es! �comentou o professor, lan�ando a Harry um olhar carinhoso, embora com os olhos injetados. � Instintivo, sabe, como a m�e! Poucas vezes na vida tive alunos com tal habilidade, posso lhe afirmar, Sibila... ora, nem Severo... E, para horror de Harry, Slughorn fez um gesto amplo com o bra�o e pareceu materializar Snape, que veio em sua dire��o. � Pare de se esquivar e venha se reunir a n�s, Severo! � disse, alegre, Slughorn entre solu�os. � Eu estava justamente falando sobre a excepcional prepara��o de Po��es de Harry! Parte do cr�dito � seu, naturalmente, j� que foi seu professor durante cinco anos! Preso pelo bra�o de Slughorn em seus ombros, Snape olhou do alto do seu nariz curvo para Harry, apertando seus olhos negros. � Engra�ado, jamais tive a impress�o de ter conseguido ensinar alguma coisa a Potter. � Ent�o � uma habilidade natural! � gritou Slughorn. � Voc� devia ter visto o que ele me entregou na primeira aula, a Po��o do Morto-Vivo, nunca um estudante se saiu melhor na primeira tentativa, acho que nem mesmo voc�, Severo... � S�rio? � admirou-se Snape em voz baixa, seus olhos perfurando Harry, que sentiu uma certa inquieta��o. A �ltima coisa que queria no mundo era Snape investigando a fonte de sua rec�m-descoberta genialidade em Po��es. � Que outras mat�rias voc� est� estudando mesmo, Harry? � perguntou Slughorn. � Defesa contra as Artes das Trevas, Feiti�os, Transfigura��o, Herbologia... � Em suma, todas as exigidas para ser auror � concluiu Snape, com leve desd�m. � �, bem, � o que eu gostaria de ser � respondeu Harry em tom de desafio. � E dar� um grande auror! � trovejou Slughorn. � Acho que voc� n�o deveria ser auror, Harry � interp�s Luna, inesperadamente. Todos olharam para ela. � Os aurores fazem parte da Conspira��o Dentepodre. Pensei que todo o mundo soubesse. Est�o trabalhando por dentro para derrubar o Minist�rio da Magia, usando uma combina��o de Artes das Trevas e gomose. Harry inalou metade do seu hidromel pelo nariz quando come�ou a rir. Sem d�vida, valera a pena trazer Luna s� por aquilo. Tirando o rosto da ta�a, tossindo e molhado, mas ainda rindo, ele viu algo que era certo elevar sua anima��o �s nuvens: Argo Filch vinha em dire��o ao grupo arrastando Draco Malfoy pela orelha. � Professor Slughorn � chiou o zelador, as bochechas tremendo e nos olhos saltados o brilho man�aco ao descobrir malfeitos. � Encontrei este rapaz se esgueirando por um corredor l� de cima. Ele diz que foi convidado para a sua festa e se atrasou na sa�da. O senhor lhe mandou convite? Malfoy se desvencilhou do aperto de Filch, furioso. � Est� bem, n�o fui convidado � respondeu com raiva. � Eu estava tentando penetrar na festa, satisfeito? � N�o, n�o estou! � retrucou Filch, uma afirma��o em total desacordo com a alegria em seu rosto. � Voc� est� encrencado, ora se est�! O diretor n�o avisou que n�o queria ningu�m nos corredores � noite, a n�o ser que a pessoa tivesse permiss�o, n�o avisou, eh? � Tudo bem, Argo, tudo bem � disse Slughorn, com um aceno de m�o. � Hoje � Natal, e n�o � crime ter vontade de ir a uma festa. S� desta vez, vamos esquecer o castigo; voc� pode ficar, Draco. A express�o de indigna��o e desapontamento de Filch era perfeitamente previs�vel, mas por que, perguntou-se Harry, observando o colega, Malfoy pareceu igualmente infeliz? E por que Snape estava olhando para Malfoy como se sentisse ao mesmo tempo raiva... e seria poss�vel?... um pouco de receio? Mas, antes que Harry registrasse o que vira, Filch deu as costas e se afastou, arrastando os p�s, resmungando baixinho; Malfoy conseguiu produzir um sorriso e agradeceu a Slughorn por sua generosidade, a express�o de Snape suavemente retomou sua impenetrabilidade. � De nada, de nada � disse Slughorn, dispensando os agradecimentos de Malfoy. � Afinal, eu conheci o seu av�... � Ele sempre o elogiou muito, senhor � apressou-se em dizer Malfoy. � Dizia que o senhor era o melhor preparador de po��es que ele tinha conhecido... Harry encarou Malfoy. N�o era o puxa-saquismo que o intrigava; vira-o fazer isso com Snape durante anos. Era o fato de que Malfoy parecia doente. Era a primeira vez em muito tempo que via o colega bem de perto; e notava que apresentava olheiras escuras sob os olhos e um n�tido tom acinzentado na pele. � Gostaria de dar uma palavra com voc�, Draco � disse Snape subitamente. � Ora, vamos Severo � falou Slughorn, com mais solu�os. � � Natal, n�o seja t�o duro... � Sou o diretor da Casa dele e cabe a mim decidir se devo ou n�o ser duro � retrucou rispidamente. � Venha comigo, Draco. Os dois se retiraram, Snape � frente, Malfoy parecia ressentido. Harry hesitou um momento, ent�o disse: � Volto em um instante, Luna... �... banheiro. � Tudo bem � respondeu Luna, animada, e Harry, ao sair ligeiro entre os convidados, pensou t�-la ouvido retomar a Conspira��o Dentepodre com a professora Trelawney, que parecia sinceramente interessada. Foi f�cil, uma vez fora da festa, tirar do bolso a Capa da Invisibilidade e se cobrir, porque o corredor estava deserto. O mais dif�cil foi encontrar Snape e Malfoy. Harry saiu correndo, o ru�do de seus passos mascarado pela m�sica e as conversas altas que vinham da sala de Slughorn. Talvez Snape o tivesse levado � sua sala nas masmorras... ou talvez o acompanhasse de volta � sala comunal da Sonserina... Harry encostou o ouvido a cada porta do corredor pela qual passou apressado at� que, muito surpreso e excitado, curvou-se para o buraco da fechadura da �ltima sala e ouviu vozes. � ... n�o pode se dar ao luxo de errar, Draco, porque se voc� for expulso... � N�o tive nada a ver com isso, est� bem? � Espero que esteja dizendo a verdade, porque foi malfeito e tolo. J� suspeitam que voc� tenha um dedo no incidente. � Quem suspeita de mim? � perguntou Malfoy com raiva. � Pela �ltima vez, n�o fui eu, entende? Aquela garota, Bell, deve ter um inimigo que ningu�m conhece... n�o me olhe assim! Sei o que voc� est� fazendo. N�o sou burro, mas n�o vai funcionar... posso impedi-lo! Houve uma pausa, e ent�o Snape disse baixinho: � Ah... tia Belatriz tem lhe ensinado Oclum�ncia, entendo. Que pensamentos voc� est� tentando esconder do seu senhor, Draco? � N�o estou tentando esconder nada dele, s� n�o quero que voc� penetre a minha mente! Harry comprimiu mais o ouvido no buraco da fechadura... que acontecera para Malfoy falar desse jeito com Snape, o professor que ele sempre demonstrara respeitar e at� gostar? � Ent�o � por isso que voc� tem me evitado este trimestre? Tem medo da minha interfer�ncia? Voc� percebe que se outro aluno n�o fosse � minha sala quando eu mandasse, e mais de uma vez, Draco... � Ent�o me d� uma deten��o! D� queixa de mim ao Dumbledore! � ca�oou Malfoy. Houve outra pausa. Ent�o Snape falou: � Voc� sabe perfeitamente que n�o quero fazer nenhuma das duas coisas. � Ent�o � melhor parar de me mandar ir � sua sala! � Escute aqui � disse Snape, a voz t�o baixa que Harry teve de comprimir o ouvido com for�a contra o buraco para ouvir. � Estou tentando ajud�-lo. Jurei a sua m�e que o protegeria. Fiz um Voto Perp�tuo, Draco... � Pois parece que vai ter de quebr�-lo, porque n�o preciso da sua prote��o! A tarefa � minha, eu a recebi dele e estou cumprindo-a. Tenho um plano que vai dar resultado, s� est� levando um pouco mais de tempo do que pensei! � Qual � o seu plano? � N�o � da sua conta! � Se me contar o que est� tentando fazer, posso ajud�-lo... � Tenho toda a ajuda de que preciso, obrigado, n�o estou sozinho! � Mas certamente estava hoje � noite, no que foi extremamente tolo, andar pelos corredores sem vigias nem cobertura. S�o erros elementares... � Eu teria Crabbe e Goyle comigo, se voc� n�o tivesse detido os dois! � Fale baixo! � disse Snape com viol�ncia, porque Malfoy alteara a voz agitado. � Se os seus amigos Crabbe e Goyle pretendem passar no N.O.M. de Defesa contra as Artes das Trevas desta vez, ter�o de se esfor�ar mais do que est�o fazendo no momen... � Que diferen�a faz isso? � interrompeu-o Malfoy. � Defesa contra as Artes das Trevas � uma piada, n�o �, uma encena��o? Como se algum de n�s precisasse se proteger contra as Artes das Trevas... � � uma encena��o decisiva para o sucesso, Draco! � lembrou Snape. � Onde � que voc� pensa que eu estaria todos esses anos se eu n�o soubesse como representar? Agora me escute! Voc� est� sendo imprudente, andando pela escola � noite e sendo apanhado, e se est� confiando na ajuda de Crabbe e Goyle... � Eles n�o s�o os �nicos. Tenho mais gente do meu lado, gente melhor! � Ent�o por que n�o confiar em mim, posso... � Sei o que est� pretendendo! Voc� quer roubar a minha gl�ria! Houve mais uma pausa, ent�o Snape disse com frieza: � Voc� est� falando como uma crian�a. Compreendo que a captura e a pris�o do seu pai o tenham deixado perturbado, mas... Harry teve menos de um segundo de aviso; ouviu os passos de Malfoy do outro lado da porta e se atirou para fora do caminho na hora em que a porta se escancarava; Malfoy afastou-se em passos largos pelo corredor, passou pela porta aberta da sala de Slughorn, contornou um canto distante e desapareceu de vista. Mal ousando respirar, Harry continuou agachado vendo Snape sair lentamente da sala de aula. Com uma express�o insond�vel, ele voltou � festa. Harry permaneceu ali, oculto pela capa com os pensamentos em disparada. CAP�TULO DEZESSEIS UM NATAL MUITO GELADO � ENT�O SNAPE ESTAVA SE OFERECENDO para ajudar Malfoy? Sem a menor d�vida ele estava se oferecendo para ajudar Malfoy? � Se voc� perguntar isso mais uma vez, vou enfiar este talo de couve... � S� estou confirmando! � exclamou Rony. Os dois estavam sozinhos junto � pia da cozinha d'A Toca, limpando um monte de couves-de-bruxelas para a Sra. Weasley. A neve passava voando pela janela � sua frente. � Exatamente, Snape estava se oferecendo para ajudar ele! Disse que tinha prometido � m�e de Malfoy proteger ele, que tinha feito um Juramento Perp�tuo ou coisa parecida... � Um Voto Perp�tuo? � admirou-se Rony. � Nah, n�o pode ser... voc� tem certeza? � Claro que tenho. Que quer dizer isso? � Bem, a gente n�o pode quebrar um Voto Perp�tuo... � At� a� eu conclu� sozinho, por estranho que pare�a. E o que acontece se a gente quebra? � Morre � disse Rony com simplicidade. � Fred e Jorge tentaram me convencer a fazer um quando eu tinha cinco anos. E quase que fiz, eu estava segurando as m�os de Fred e tudo, quando papai nos encontrou. Ele pirou � contou Rony, recordando a cena com um brilho no olhar. � Foi a �nica vez que vi papai t�o furioso como a mam�e. Fred diz que depois disso a n�dega esquerda dele nunca mais foi a mesma. � �, bem, deixando de lado a n�dega esquerda de Fred... � Perd�o? � Ouviu-se a voz de Fred, e os g�meos entraram na cozinha. � Aaah, Jorge, olha s� isso. Eles est�o usando facas e tudo. Deus os aben�oe. � Vou fazer dezessete anos dentro de dois meses e uns dias � retrucou Rony malhumorado �, ent�o vou poder usar magia para fazer isto. � Mas, nesse meio-tempo � comentou Jorge, sentando-se � mesa da cozinha e descansando os p�s em cima do m�vel �, podemos apreciar a sua demonstra��o do uso correto de uma... epa! � A culpa foi sua! � exclamou Rony zangado, chupando o corte no polegar. � Espere at� eu fazer dezessete anos... � Tenho certeza de que vai nos deixar deslumbrados com suas insuspeitadas habilidades em magia � concluiu Fred bocejando. � E, por falar em insuspeitadas habilidades em magia, Ronald �aproveitou Jorge �, que hist�ria � essa, que estamos sabendo pela Gina, entre voc� e uma jovem chamada... a n�o ser que a informa��o esteja errada, Lil� Brown? Rony corou um pouco, mas n�o pareceu aborrecido quando voltou a dar aten��o �s couves. � Cuide da sua vida. � Que resposta malcriada � disse Fred. � N�o sei aonde vai busc�-las. N�o, o que eu queria saber era... como foi que aconteceu? � Que � que voc� quer dizer com isso? � Ela teve um acidente ou coisa parecida? �Qu�? � Bem, como foi que ela sofreu um dano cerebral t�o extenso? Cuidado com isso! A Sra. Weasley entrou na cozinha em tempo de ver Rony atirando a faca de descascar legumes em Fred, que a transformou em um avi�ozinho de papel, com um piparote displicente de varinha. � Rony! � exclamou a bruxa furiosa. � Nunca mais me deixe ver voc� atirando facas! � N�o vou deixar � disse Rony � voc� ver � acrescentou baixinho, voltando ao monte de couves-de-bruxelas. � Fred, Jorge, lamento, queridos, mas Remo vai chegar hoje � noite e Gui vai ter de se apertar no quarto de voc�s! � N�o esquenta � respondeu Jorge. � E, como Carlinhos n�o vem, isto deixa Harry e Rony no s�t�o, e se Fleur dividir o quarto com Gina... � ... isso � que � um Feliz Natal! � murmurou Fred. � ... e todos ficar�o confort�veis. Bem, pelo menos ter�o uma cama � acrescentou a Sra. Weasley, um pouco cansada e ansiosa. � Ent�o Percy n�o vai mesmo mostrar a carranca dele por aqui? � perguntou Fred. A Sra. Weasley virou de costas antes de responder. � N�o, ele est� ocupado, imagino, no Minist�rio. � Ah, ele � o maior babaca do mundo � comentou Fred, quando a m�e se retirou da cozinha. � Um dos dois maiores. Bem, vamos indo ent�o, Jorge. � Que � que voc�s v�o fazer? � perguntou Rony. � Ser� que n�o podiam ajudar a gente a limpar essas couves? � s� usarem a varinha e ficaremos livres, tamb�m! � N�o, acho que n�o podemos fazer isso � respondeu Fred s�rio. � � bom para a forma��o do car�ter, aprender a limpar couves-de-bruxelas sem recorrer � magia, faz voc� entender como � dif�cil para os trouxas e bruxos abortados... � ... e se quiser que as pessoas o ajudem, Rony � acrescentou Jorge, atirando no irm�o um avi�ozinho de papel �, n�o deve ficar arremessando facas nelas. � s� uma dica. N�s vamos � aldeia, tem uma garota bonita trabalhando na papelaria que acha que os meus truques com cartas s�o maravilhosos... at� parecem magia de verdade... � Debil�ides � xingou Rony, sombriamente, observando Fred e Jorge atravessarem o quintal coberto de neve. � Gastariam s� dez segundos, e ent�o poder�amos sair tamb�m. � N�o eu � disse Harry. � Prometi a Dumbledore que n�o sairia enquanto estivesse aqui. � Ah, �. � Rony limpou mais algumas couves, ent�o perguntou: � Voc� vai contar ao Dumbledore o que ouviu Snape e Malfoy conversando? � Vou. Vou contar a todo o mundo que puder acabar com isso, e Dumbledore � o primeiro da lista. Talvez eu d� mais uma palavrinha com o seu pai tamb�m. � Pena que voc� n�o tenha ouvido o que Malfoy est� realmente fazendo. � N�o foi poss�vel, n�o �? Esse � o problema, ele estava se recusando a contar ao Snape. Por um momento fez-se sil�ncio, em seguida Rony comentou: � � claro que voc� sabe o que todos v�o dizer, n�o? Papai, Dumbledore e todo o resto. V�o dizer que Snape n�o est� realmente tentando ajudar Malfoy, estava s� tentando descobrir o que Malfoy vai fazer. � Eles n�o ouviram o que ele disse � disse Harry, sem emo��o. � Ningu�m representa t�o bem, nem mesmo o Snape. � E... s� estou lembrando � disse Rony. Harry virou-se para encarar o amigo, franzindo a testa. � Mas voc� acha que eu tenho raz�o? � Claro que acho! � apressou-se Rony a confirmar. � Estou falando s�rio! Mas eles est�o convencidos de que Snape faz parte da Ordem, n�o � mesmo? Harry n�o respondeu. J� lhe ocorrera que aquela seria a obje��o mais prov�vel ao novo ind�cio; podia at� ouvir Hermione dizendo: "� �bvio, Harry, que ele estava fingindo ajudar para poder fazer Malfoy contar o que est� fazendo..." Isto era pura imagina��o, porque ele n�o tinha tido oportunidade de contar a Hermione o que ouvira. A amiga tinha sumido da festa de Slughorn antes que ele voltasse, ou assim lhe informara um irado McLaggen, e j� tinha ido dormir quando ele retornou � sala comunal. Quando ele e Rony viajaram para A Toca, cedo no dia seguinte, Harry mal tivera tempo para lhe desejar um Feliz Natal e dizer que tinha not�cias muito importantes para contar quando voltassem das f�rias. N�o estava muito seguro, por�m, se Hermione o ouvira; Rony e Lil� estavam fazendo uma despedida totalmente n�o-verbal �s suas costas naquele momento. Contudo, nem Hermione poderia negar: decididamente Malfoy estava fazendo alguma coisa, e Snape sabia disso, portanto Harry se sentia plenamente justificado em dizer "Eu bem que falei", como j� fizera v�rias vezes para Rony. At� a noite de Natal, Harry n�o teve oportunidade de conversar com o Sr. Weasley, que estava trabalhando at� mais tarde no Minist�rio. Os Weasley e seus convidados estavam sentados na sala de estar; Gina a decorara com tanto exagero que tinham a impress�o de estar no meio de uma explos�o de papel em cadeia. Fred, Jorge, Harry e Rony eram os �nicos que sabiam que o anjo no alto da �rvore era, na realidade, um gnomo de jardim que mordera o calcanhar de Fred quando ele arrancava cenouras para a ceia de Natal. Estupidificado, pintado de ouro, apertado em um minitutu, com asinhas coladas �s costas, ele olhava de cara amarrada para todos, o anjo mais feio que Harry j� vira, com uma cabe�orra pelada como uma batata e p�s bem cabeludos. Todos deviam estar ouvindo o programa de Natal apresentado pela cantora favorita da Sra. Weasley, Celestina Warbeck, cuja voz sa�a tremida de um grande r�dio com a caixa de madeira. Fleur, que aparentemente achava Celestina muito chata, falava t�o alto a um canto que a Sra. Weasley, aborrecida, a toda hora apontava a varinha para o bot�o do volume, fazendo com que Celestina berrasse cada vez mais. Aproveitando um n�mero particularmente animado, "Um caldeir�o cheio de amor quente e forte", Fred e Jorge come�aram um joguinho de Snap Explosivo com Gina. Rony n�o parava de lan�ar olhares sorrateiros a Gui e Fleur, como se esperasse aprender umas dicas. Enquanto isso, Remo Lupin, mais magro e mais roto que nunca, estava sentado � lareira, contemplando suas profundezas como se n�o ouvisse a voz de Celestina. "Ah, vem mexer o meu caldeir�o, E se mexer como deve ser Fa�o proc� um amor quente e forte Para sua noite aquecer." � Dan�amos ao som dessa m�sica quando t�nhamos dezoito anos! � exclamou a Sra. Weasley, enxugando os olhos no seu tric�. � Voc� lembra, Arthur? � Hum? � respondeu o Sr. Weasley, que estivera cochilando enquanto descascava uma tangerina. � Ah, sim... uma can��o maravilhosa... Com esfor�o, ele se sentou mais aprumado e olhou para Harry, que estava ao seu lado. � Desculpe isso a� � disse ele, indicando com a cabe�a o r�dio no qual Celestina desatava a entoar o refr�o. � J� vai terminar. � N�o se preocupe � respondeu Harry sorrindo. � O senhor tem tido muito trabalho no Minist�rio? � Muito. Eu n�o me incomodaria se estiv�ssemos obtendo algum resultado, mas, nas tr�s pris�es que fizemos nos �ltimos dois meses, duvido que algum dos suspeitos fosse um aut�ntico Comensal da Morte... mas n�o repita isso, Harry � acrescentou ele depressa, parecendo subitamente bem mais acordado. � Mas j� soltaram o Lalau Shunpike, n�o? � perguntou Harry. � Receio que n�o. Sei que Dumbledore tentou apelar diretamente para Scrimgeour no caso do Lalau... quero dizer, qualquer um que de fato tenha entrevistado o garoto concorda que ele � t�o Comensal da Morte quanto esta tangerina... mas os figur�es querem passar a imagem de que estamos fazendo progressos, e "tr�s pris�es" parecem melhor do que "tr�s pris�es equivocadas seguidas de solturas"... mas, repito, tudo isso � ultra-secreto... � N�o direi nada. � Harry hesitou um momento, imaginando a melhor maneira de abordar o que queria dizer; enquanto organizava seus pensamentos, Celestina Warbeck come�ou uma balada intitulada "Seu feiti�o arrancou meu cora��o". � Sr. Weasley, o senhor se lembra do que lhe contei na esta��o quando est�vamos indo para a escola? � Eu verifiquei, Harry � respondeu ele na mesma hora. � Revistei a casa dos Malfoy. N�o encontrei nada, nem quebrado nem inteiro, que n�o devesse estar l�. � �, eu sei, li no Profeta que o senhor tinha revistado... mas isto � diferente... bem, uma coisa mais... E ele contou ao Sr. Weasley a conversa que escutara entre Malfoy e Snape. Enquanto falava, viu a cabe�a de Lupin virar um pouco para o seu lado, absorvendo cada palavra. Quando Harry terminou, fez-se sil�ncio, exceto pela cantoria de Celestina. "Ah, onde foi parar o meu pobre cora��o? Abandonou-me por um feiti�o..." � J� lhe ocorreu, Harry � perguntou o Sr. Weasley �, que Snape estivesse simplesmente fingindo... � Fingindo oferecer ajuda, para poder descobrir o que Malfoy est� fazendo? � completou Harry depressa. � E, achei que o senhor iria dizer isso. Mas como vamos saber? � N�o temos de saber � disse Lupin inesperadamente. Tinha dado as costas � lareira e encarava Harry do outro lado do Sr. Weasley. � Dumbledore � quem tem. Ele confia em Severo, e isto deve ser suficiente para todos n�s. � Mas digamos... digamos que Dumbledore esteja enganado a respeito do Snape... � Muita gente tem dito isso muitas vezes. A quest�o se resume em confiar ou n�o confiar no julgamento de Dumbledore. Eu confio; portanto, eu confio em Severo. � Mas Dumbledore pode errar � argumentou Harry. � Ele mesmo diz isso. E voc�... Ele olhou Lupin diretamente nos olhos. � ... sinceramente, voc� gosta do Snape? � N�o gosto nem desgosto do Severo � respondeu Lupin. � N�o, Harry, estou falando a verdade � acrescentou, ao ver a express�o descrente de Harry. � Talvez nunca sejamos amigos do peito; depois de tudo que aconteceu entre Tiago, Sirius e Severo, restou muita amargura. Mas n�o esque�o que, durante o ano que ensinei em Hogwarts, Severo preparou a Po��o de Ac�nito para mim todos os meses, e com perfei��o, para eu n�o precisar sofrer como normalmente sofro na lua cheia. � Mas deixou escapar "sem querer" que voc� era um lobisomem, e voc� teve de ir embora! � lembrou Harry com raiva. Lupin sacudiu os ombros. � A not�cia teria vazado de qualquer maneira. N�s dois sabemos que ele queria o meu lugar, mas ele poderia ter me causado mais mal se tivesse adulterado a po��o. Ele me manteve saud�vel. Devo ser grato. � Talvez ele n�o se atrevesse a adulterar a po��o com Dumbledore de olho nele! � Voc� est� decidido a odi�-lo, Harry � disse Lupin com um leve sorriso. � E eu compreendo; tendo Tiago por pai e Sirius por padrinho, voc� herdou um velho preconceito. N�o se detenha, conte a Dumbledore o que contou ao Arthur e a mim, mas n�o espere que ele concorde com seu ponto de vista; nem mesmo que se surpreenda com o que ouvir. Talvez Severo tenha at� recebido ordem de Dumbledore para interrogar Draco. "... e voc� agora o despeda�ou. Agrade�o que devolva o meu cora��o!" Celestina terminou a can��o com uma nota muito longa e aguda, e ouviram-se estrondosos aplausos no r�dio aos quais a Sra. Weasley fez um coro entusiamado. � Terrmin�? � perguntou Fleur em voz alta. � Grra�as a D�s qu' cois horrro... � Vamos tomar mais uma para encerrar? � ofereceu o Sr. Weasley tamb�m em voz alta, levantando-se, ligeiro. � Quem aceita uma gemada? � Que � que voc� tem feito ultimamente? � Harry perguntou a Lupin, enquanto o Sr. Weasley se encarregava de apanhar a gemada, e os demais convidados recome�avam a conversar. � Ah, ando na clandestinidade. Quase literalmente. Por isso n�o tenho podido escrever; mandar cartas seria o mesmo que me denunciar. � Como assim? � Tenho vivido entre companheiros, meus iguais � respondeu Lupin. � Lobisomens � acrescentou ao ver o olhar de incompreens�o de Harry. � Quase todos est�o do lado de Voldemort. Dumbledore queria um espi�o e eu estava ali... pronto. Sua voz pareceu um pouco amargurada, e talvez ele percebesse, porque sorriu mais calorosamente ao continuar: � N�o estou me queixando, � um trabalho necess�rio, e quem melhor do que eu para execut�-lo? Mas tem sido dif�cil ganhar a confian�a deles. Trago comigo sinais inconfund�veis de que tentei viver entre os bruxos, entende, enquanto eles evitaram a sociedade normal e vivem na marginalidade, roubando e por vezes matando, para comer. � E por que eles gostam de Voldemort? � Acham que, sob o dom�nio dele, ter�o uma vida melhor � respondeu Lupin. � � dif�cil argumentar com o Greyback l� fora... � Quem � Greyback? � Voc� nunca ouviu falar? � as m�os de Lupin se fecharam convulsivamente no colo. � Fenrir Lobo Greyback talvez seja o lobisomem mais selvagem que existe hoje. Encara como miss�o de sua vida morder e contaminar o maior n�mero poss�vel de pessoas; quer criar um n�mero suficiente de lobisomens para superar os bruxos. Voldemort lhe prometeu v�timas como pagamento pelos seus servi�os. Greyback se especializa em crian�as... morda-as enquanto pequenas, diz, e as crie longe dos pais, fa�a com que odeiem os bruxos normais. Voldemort tem amea�ado lan��-lo contra os filhos das pessoas; � uma amea�a que normalmente produz bons resultados. Lupin fez uma pausa, e ent�o continuou: � Foi Greyback quem me mordeu. � Qu�? � exclamou Harry, perplexo. � Voc� quer dizer, quando voc� era crian�a? � �. Meu pai o ofendeu. Durante muito tempo eu n�o soube a identidade do lobisomem que tinha me atacado; cheguei a sentir pena dele, achando que n�o pudera se controlar, j� sabendo, ent�o, o que a pessoa sentia quando se transformava. Mas Greyback n�o � assim. Na lua cheia, ele se coloca a curta dist�ncia da v�tima para garantir que esteja bem pr�ximo para atacar. Planeja cada detalhe. E � esse homem que Voldemort est� usando para liderar os lobisomens. N�o posso fingir que a argumenta��o que adoto esteja dando resultado contra a insist�ncia de Greyback de que os lobisomens merecem sangue, que devem se vingar de quem � normal. � Mas voc� � normal! � exclamou Harry com veem�ncia. � S� tem um... um problema... Lupin caiu na gargalhada. � �s vezes voc� me lembra muito o Tiago. Quando havia pessoas por perto, ele dizia que eu tinha um "probleminha peludo". Muita gente pensava que eu tinha um coelhinho malcomportado. Lupin aceitou um copo de gemada do Sr. Weasley, agradecendo, e pareceu um pouco mais alegre. Harry sentiu uma onda de excita-��o: a men��o do pai lembrou-lhe que havia uma coisa que estava querendo perguntar a Lupin. � Voc� j� ouviu falar de algu�m que se intitula Pr�ncipe Mesti�o? � Pr�ncipe qu�? � Mesti�o � disse Harry, observando-o com aten��o, � procura de sinais de reconhecimento. � N�o h� pr�ncipes bruxos � respondeu Lupin, agora sorrindo. � Esse � o t�tulo que voc� est� pensando em adotar? Eu teria achado que "o Eleito" j� era o suficiente. � N�o, n�o tem nada a ver comigo! � exclamou ele indignado. � O Pr�ncipe Mesti�o � algu�m que freq�entou Hogwarts, tenho o livro de Po��es que ele usou. Tem anota��es sobre feiti�os no livro todo, feiti�os que ele inventou. Um deles foi o Levicorpus... � Ah, esse a� esteve em grande moda em Hogwarts, no meu tempo � disse Lupin, lembrando-se. � Durante alguns meses, no meu quinto ano, a pessoa n�o podia andar sem ser pendurada no ar pelo tornozelo. � Meu pai o usou. Vi na Penseira quando o usou contra Snape. Harry tentou parecer displicente, como se aquele fosse um coment�rio sem real import�ncia, mas n�o teve certeza de que obtiver a o efeito pretendido; o sorriso de Lupin foi compreensivo demais. � Usou, mas ele n�o foi o �nico. Como disse, foi muito popular... voc� sabe como esses feiti�os v�m e v�o... � Mas parece que foi inventado enquanto voc� esteve na escola � insistiu Harry. � N�o necessariamente. Azara��es entram e saem de moda como tudo o mais. � Ele encarou Harry e disse em voz baixa: � Tiago tinha sangue puro, Harry, e juro a voc�, ele nunca nos pediu para cham�-lo de "Pr�ncipe". Harry, abandonando os rodeios, perguntou: � E n�o foi Sirius? Nem voc�? � Decididamente n�o. � Ah. � Harry contemplou as chamas da lareira. � Pensei... bem, ele me ajudou muito nas aulas de Po��es, o Pr�ncipe. � Que idade tem o livro, Harry? � N�o sei, nunca olhei. � Bem, talvez lhe d� uma pista da �poca em que o Pr�ncipe esteve em Hogwarts. Pouco depois, Fleur resolveu imitar Celestina cantando "Um caldeir�o cheio de amor quente e forte", que todos entenderam, ao ver a express�o da Sra. Weasley como uma deixa para se retirarem. Harry e Rony subiram at� o quarto de Rony no s�t�o, onde tinha sido posta uma cama de armar para Harry. Rony adormeceu quase imediatamente, mas Harry, antes de se deitar, foi procurar no mal�o, de onde tirou o exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es. Na cama, folheou as p�ginas com aten��o, at� encontrar, no in�cio do livro, a data em que fora publicado. Tinha quase cinq�enta anos. Nem seu pai nem seus amigos tinham freq�entado Hogwarts h� cinq�enta anos. Desapontado, Harry atirou o livro de volta ao mal�o, apagou o lampi�o e se virou para o lado oposto da cama, pensando em lobisomens e Snape, em Lalau Shunpike e no Pr�ncipe Mesti�o, mergulhando, por fim, em um sono inquieto, cheio de sombras furtivas e gritos de crian�as mordidas... � Ela tem de estar brincando... Harry acordou assustado e deparou com uma meia estufada nos p�s de sua cama. P�s os �culos e olhou ao seu redor; a janela min�scula estava quase totalmente escurecida pela neve e diante dela estava Rony, sentado muito reto na cama, examinando um objeto que parecia um cord�o de ouro. � Que � isso? � perguntou Harry. � � da Lil� � respondeu ele, parecendo revoltado. � Ela n�o pode pensar seriamente que eu usaria... Harry se aproximou para olhar e soltou uma grande gargalhada. Pendurada no cord�o, em grandes letras de ouro, havia a frase "Meu Namorado". � Legal � comentou ele. � Estiloso. Decididamente, voc� tem de usar isso na frente de Fred e Jorge. � Se voc� contar a eles � amea�ou Rony, fazendo o colar desaparecer embaixo do travesseiro �, eu... eu... eu vou... � Gaguejar para mim? � respondeu Harry, rindo. � Ah, vai, voc� acha que eu faria isso? � Mas como � que ela p�de pensar que eu ia gostar de uma coisa dessas? � perguntou Rony, parecendo muito chocado. � Bem, procure se lembrar. Alguma vez voc� deixou escapar que gostaria de aparecer em p�blico com as palavras "Meu Namorado" penduradas no pesco�o? � Bem... na realidade n�o conversamos muito � disse Rony. � Ficamos mais... � Dando uns amassos � completou Harry. � Bem, �. � Ele hesitou um momento, ent�o perguntou: � A Hermione est� realmente namorando o McLaggen? � N�o sei. Eles estiveram na festa de Slughorn juntos, mas acho que n�o foi muito legal. Rony pareceu um pouco mais animado ao enfiar a m�o no fundo da meia. Os presentes de Harry inclu�am uma su�ter com um grande pomo de ouro no peito, tricotado a m�o pela Sra. Weasley, uma grande caixa com produtos da Gemialidades Weasley, dada pelos g�meos, e um embrulho ligeiramente �mido, cheirando a mofo, com uma etiqueta em que se lia: "Ao Senhor, do Monstro." Harry arregalou os olhos. � Voc� acha que � seguro abrir? � perguntou. � N�o pode ser nada perigoso, toda a nossa correspond�ncia continua a ser verificada pelo Minist�rio � respondeu Rony, embora olhasse o embrulho com desconfian�a. � N�o pensei em dar nada ao Monstro! Normalmente as pessoas d�o presentes de Natal aos elfos dom�sticos? � tornou Harry, cutucando o embrulho com cautela. � Hermione daria. Mas vamos esperar para ver o que �, antes de voc� come�ar a sentir remorsos. Um instante depois, Harry dava um berro e pulava da cama; o pacote continha numerosas larvas de varejeira. � Legal � exclamou Rony �s gargalhadas. � Quanta considera��o! � Prefiro as larvas a esse colar � disse Harry, fazendo Rony parar de rir na mesma hora. Todos estavam usando su�teres novos quando se sentaram para o almo�o de Natal, todos exceto Fleur (em quem, pelo visto, a Sra. Weasley n�o quisera desperdi�ar um) e a pr�pria Sra. Weasley, com um chap�u de bruxa novo, azul-noite, que brilhava com min�sculos diamantes estrelados, e um espetacular colar de ouro. � Foram presentes de Fred e Jorge! N�o s�o lindos? � Bem, descobrimos que gostamos cada vez mais de voc�, mam�e, agora que temos de lavar as nossas meias � disse Jorge, com um leve aceno de m�o. � Pastinaca, Remo? � Harry, tem uma larva no seu cabelo � disse Gina alegre, debru�ando-se sobre a mesa para retir�-la; Harry sentiu subirem pelo seu pesco�o arrepios que n�o tinham rela��o alguma com a larva. � Qu' horrrivell � exclamou Fleur, afetando um arrepio. � �, n�o �, Fleur? � concordou Rony. � Molho, Fleur? Em sua �nsia de ajudar, ele lan�ou o molho pelos ares; Gui fez um gesto com a varinha, e o molho pairou no ar e voltou obedientemente � molheira. � Voc� � ton desastrrade quanto a Tonks � disse Fleur a Rony, quando terminou de beijar Gui para lhe agradecer. � Ela st� semprre derrrubande... � Convidei a querida Tonks para vir hoje aqui � anunciou a Sra. Weasley, pondo na mesa as cenouras, com desnecess�ria viol�ncia, e encarando Fleur. � Mas ela n�o aceitou. Voc� tem falado com ela ultimamente, Remo? � N�o, n�o tenho tido muito contato com ningu�m � disse Lupin. � Mas Tonks tem fam�lia para visitar, n�o? � Hummm. Talvez. Na realidade, tive a impress�o de que estava planejando passar o Natal sozinha. Molly lan�ou a Lupin um olhar irritado, como se fosse culpa dele que sua futura nora fosse Fleur em vez de Tonks. Ocorreu a Harry, ao olhar Fleur � que agora oferecia a Gui pedacinhos de peru com o pr�prio garfo �, que a Sra. Weasley estava travando uma batalha h� muito tempo perdida. Lembrou-se, no entanto, de uma pergunta que queria fazer sobre Tonks, e quem melhor para responder a ela do que Lupin, o homem que conhecia tudo sobre Patronos? � O Patrono de Tonks mudou de forma � disse Harry a ele. � Pelo menos foi o que disse Snape. Eu n�o sabia que isto podia acontecer. Por que raz�o um Patrono mudaria? Lupin demorou algum tempo mastigando o peru, e engoliu-o antes de responder lentamente. � �s vezes... um grande choque... uma perturba��o emocional... � Parecia grande e era quadr�pede � comentou Harry, tendo uma s�bita id�ia e baixando a voz. � Ei... n�o poderia ser...? � Arthur! � chamou a Sra. Weasley de repente. Levantara-se da cadeira; sua m�o apertava o peito e tinha os olhos fixos na janela da cozinha. � Arthur... � o Percy! � Qu�? O Sr. Weasley se virou. Todos olharam depressa para a janela; Gina ficou em p� para ver melhor. De fato, era Percy Weasley, avan�ando pelo quintal coberto de neve, seus �culos de aros de tartaruga refletindo o sol. N�o vinha, por�m, sozinho. � Arthur, ele est�... est� com o ministro! De fato, o homem que Harry vira no Profeta Di�rio acompanhava os passos de Percy, mancando levemente, a cabeleira grisalha e a capa negra salpicadas de neve. Antes que qualquer um pudesse dizer alguma coisa, antes que o Sr. e a Sra. Weasley pudessem trocar mais que um olhar surpreso, a porta dos fundos se abriu e ali estava Percy. Fez-se um momento de doloroso sil�ncio. Em seguida, Percy disse formalmente: � Feliz Natal, mam�e. � Ah, Percy! � exclamou a Sra. Weasley atirando-se em seus bra�os. Rufo Scrimgeour parou � porta, apoiando-se na bengala e sorrindo, enquanto observava a comovente cena. � Perdoem-me a intromiss�o � disse, quando a Sra. Weasley virou-se para ele, sorrindo e enxugando as l�grimas. � Percy e eu est�vamos nas vizinhan�as, a trabalho, e ele n�o p�de resistir � tenta��o de passar para ver todos voc�s. Mas Percy n�o deu sinal algum de querer cumprimentar ningu�m mais da fam�lia. Ficou parado, r�gido, sem jeito, olhando por cima das cabe�as de todos. O Sr. Weasley, Fred e Jorge o observavam, impass�veis. � Por favor, entre, ministro, sente! � alvoro�ou-se a Sra. Weasley, endireitando o chap�u. � Voma um pouco de teru ou um pouco de tudim..., quero dizer... � N�o, n�o, minha cara Molly � respondeu Scrimgeour. Harry imaginou que ele tivesse perguntado o nome dela a Percy antes de entrarem na casa. � N�o quero incomodar, n�o estaria aqui se Percy n�o tivesse querido tanto ver voc�s... � Ah, Percy! � exclamou a Sra. Weasley chorosa, aproximando-se para beij�-lo. � ... � s� uma passadinha de cinco minutos, vou dar uma volta pelo quintal enquanto voc�s p�em a conversa em dia. N�o, n�o, torno a afirmar que n�o quero ser inconveniente! Bem, algu�m gostaria de me mostrar o seu encantador jardim... ah, aquele jovem j� terminou, por que ele n�o me acompanha no passeio? A atmosfera em volta da mesa mudou perceptivelmente. Todos olharam de Scrimgeour para Harry. Ningu�m parecia achar convincente o ministro fingir que n�o sabia o nome de Harry, nem natural que o escolhesse para acompanh�-lo pelo jardim quando Gina, Fleur e Jorge tamb�m tinham os pratos vazios. � Ah, eu vou � disse Harry no sil�ncio que se seguiu. Ele n�o se deixara enganar; apesar de toda aquela conversa de Scrimgeour de que estavam nas proximidades, que Percy queria visitar a fam�lia, esta devia ser a verdadeira raz�o por que tinham vindo, para o ministro poder falar a s�s com Harry. � Tudo bem � disse Harry baixinho ao passar por Lupin, que fizera men��o de se levantar da cadeira. � Tudo bem � acrescentou, quando o Sr. Weasley abriu a boca para falar. � Excelente! � disse Scrimgeour, afastando-se para deixar Harry passar primeiro pela porta. � S� vamos dar uma volta pelo jardim, e ent�o Percy e eu vamos embora. Podem continuar! Harry atravessou o quintal em dire��o ao jardim descuidado e coberto de neve, com Scrimgeour mancando ao seu lado. O garoto sabia que ele tinha sido chefe da Se��o de Aurores; parecia dur�o e marcado pelas lutas, muito diferente do corpulento Fudge com o seu chap�ucoco. � Encantador � comentou Scrimgeour, parando junto � cerca do jardim e contemplando o gramado coberto de neve e as plantas indistingu�veis. � Encantador. Harry ficou calado. Sabia que o ministro o observava. � H� muito tempo que queria conhec�-lo � disse Scrimgeour ap�s alguns instantes. � Voc� sabia? � N�o � respondeu Harry com sinceridade. � Ah, sim, h� muito tempo. Mas Dumbledore o protege muito. O que � natural, depois de tudo por que voc� passou... principalmente o que aconteceu no Minist�rio... Ele esperou que Harry dissesse alguma coisa, mas o garoto n�o correspondeu, ent�o continuou. � Estou esperando uma oportunidade para conversar com voc� desde que assumi, mas Dumbledore tem, e, como digo, � compreens�vel, me impedido. Ainda assim, Harry nada disse, aguardou. � Os boatos que t�m corrido! Bem, � claro que sabemos que as hist�rias acabam distorcidas... todos os rumores de uma profecia... de voc� ser "o Eleito"... Estavam chegando mais perto agora, pensou Harry, da raz�o que levara Scrimgeour at� ali. � ... presumo que Dumbledore tenha discutido essas quest�es com voc�, n�o? Harry debateu mentalmente se devia ou n�o mentir. Olhou para as pegadinhas dos gnomos em volta dos canteiros, e para um trecho pisoteado que assinalava o lugar onde Fred apanhara o gnomo que agora enfeitava o alto da �rvore de Natal, vestido com um tutu. Por fim, decidiu-se pela verdade... ou por parte dela. � �, temos discutido. � T�m, t�m... � animou-se Scrimgeour. Harry via pelo canto do olho que o ministro o observava de olhos semicerrados, ent�o fingiu estar muito interessado em um gnomo que acabara de p�r a cabe�a para fora de um rododendro congelado. � E que � que Dumbledore tem lhe dito, Harry? � Desculpe, mas isto � s� entre n�s. Ele procurou manter a voz a mais agrad�vel poss�vel, e o tom de Scrimgeour tamb�m foi leve e simp�tico quando disse: � Ah, claro, s�o confidencias, eu n�o iria querer que voc� as revelasse... n�o, n�o... e, de qualquer forma, faz diferen�a se voc� � ou n�o "o Eleito"? Harry precisou remoer a pergunta alguns segundos antes de responder. � N�o sei o que o senhor quer realmente dizer, ministro. � Bem, naturalmente, para voc�, fez uma enorme diferen�a � disse Scrimgeour dando uma risada. � Mas para a comunidade bruxa como um todo... � uma quest�o de percep��o, n�o �? � aquilo em que as pessoas acreditam que � importante. Harry n�o disse nada. Pensou ter percebido difusamente aonde iriam chegar, mas n�o ia ajudar Scrimgeour a chegar l�. O gnomo sob o rododendro agora escavava � procura de minhocas nas ra�zes da planta, e Harry manteve os olhos fixos nele. � As pessoas acreditam que voc� � "o Eleito", entende? Acham que voc� � um her�i, o que � claro, voc� �, Harry, eleito ou n�o! Quantas vezes voc� enfrentou Aquele-Que-N�o-Deve-Ser- Nomeado at� agora? Bem, seja como for � ele prosseguiu sem esperar resposta �, a quest�o � que voc� � um s�mbolo de esperan�a para muitos, Harry. A id�ia de que tem algu�m de sentinela que talvez possa, ou at� talvez esteja destinado a destruir Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado... bem � natural que isto revigore as pessoas. E n�o posso deixar de sentir que, quando perceber isto, voc� talvez considere, bem, quase como um dever, apoiar o Minist�rio e dar alento a todos. O gnomo tinha acabado de pegar uma minhoca. Agora puxava-a com muita for�a, tentando extra�-la da terra gelada. Harry guardou sil�ncio por tanto tempo que Scrimgeour comentou, desviando o olhar dele para o gnomo: � S�o umas criaturinhas engra�adas, n�o? Mas que me diz, Harry? � N�o compreendo exatamente o que o senhor quer � respondeu ele vagaroso. � Apoiar o Minist�rio... que quer dizer com isso? � Ah, bem, nada muito oneroso, posso lhe assegurar. Se voc� fosse visto entrando e saindo do Minist�rio de vez em quando, por exemplo, daria a impress�o correta. E, naturalmente, enquanto estivesse l�, voc� teria ampla oportunidade de conversar com Gawain Robards, meu sucessor na chefia da Se��o de Aurores. Dolores Umbridge me disse que voc� alimenta a ambi��o de se tornar auror. Bem, isso poderia ser facilmente arranjado... Harry sentiu a raiva borbulhar no fundo do est�mago: ent�o Dolores Umbridge continuava no Minist�rio? � Ent�o, basicamente � falou Harry, como se quisesse apenas esclarecer alguns pontos � , o senhor gostaria de dar a impress�o de que estou trabalhando para o Minist�rio? � Daria mais �nimo a todos pensar que voc� participa mais, Harry � disse Scrimgeour, parecendo aliviado que o garoto tivesse entendido t�o r�pido. � "O Eleito" sabe... � uma quest�o de dar esperan�a �s pessoas, a sensa��o de que h� coisas emocionantes acontecendo... � Mas se eu ficar entrando e saindo do Minist�rio � perguntou Harry, ainda se esfor�ando para manter um tom amig�vel �, n�o ir� parecer que eu aprovo o que o Minist�rio est� fazendo? � Bem � respondeu Scrimgeour, franzindo ligeiramente a testa �, bem, sim, em parte � por isso que gostar�amos... � N�o, acho que n�o vai dar certo � disse Harry gentilmente. �Veja o senhor, n�o gosto de algumas coisas que o Minist�rio est� fazendo. Prender o Lalau Shunpike, por exemplo. Scrimgeour calou-se por um momento, mas sua express�o endureceu instantaneamente. � Eu n�o esperaria que voc� compreendesse � disse ele, mas n�o foi t�o bem-sucedido quanto Harry em ocultar sua raiva. � Vivemos tempos perigosos, e � preciso tomar certas medidas. Voc� tem dezesseis anos... � Dumbledore tem muito mais de dezesseis anos e tamb�m acha que Lalau n�o devia estar em Azkaban. O senhor est� transformando Lalau em bode expiat�rio do mesmo modo que quer me transformar em mascote. Eles se encararam demorada e inflexivelmente. Por fim, Scrimgeour falou, sem fingir cordialidade: � Entendo. Voc� prefere, como o seu her�i Dumbledore, se desassociar do Minist�rio? � N�o quero ser usado. � Alguns diriam que � seu dever se deixar usar pelo Minist�rio! � �, e outros diriam que � seu dever verificar se as pessoas s�o realmente Comensais da Morte antes de met�-las na pris�o � respondeu Harry se encolerizando. � O senhor est� fazendo o mesmo que Bart� Crouch fez. Os senhores nunca entendem muito bem, n�o �? Ou temos Fudge, fingindo que tudo est� �timo enquanto as pessoas s�o assassinadas debaixo do nariz dele, ou temos o senhor, metendo as pessoas erradas na pris�o e querendo fingir que "o Eleito" est� trabalhando para o Minist�rio! � Ent�o voc� n�o � "o Eleito"? � indagou Scrimgeour. � Pensei ter ouvido o senhor dizer que n�o faria diferen�a � respondeu Harry com uma risada amargurada. � Pelo menos, n�o para o senhor. � Eu n�o devia ter dito isso � interp�s ligeiro Scrimgeour. � Foi falta de tato... � N�o, foi sincero. Uma das poucas coisas sinceras que o senhor me disse. O senhor n�o se importa que eu viva ou morra, mas faz quest�o que eu o ajude a convencer a todos que est� ganhando a guerra contra Voldemort. N�o esqueci, ministro... Harry ergueu a m�o direita. Ali, nas costas de sua m�o fria, destacavam-se, l�vidas, as cicatrizes que Dolores Umbridge o obrigara a gravar na pr�pria carne: N�o devo contar mentiras. � N�o me lembro do senhor ter corrido em minha defesa quando eu estava tentando dizer a todos que Voldemort tinha retornado. O Minist�rio n�o esteve t�o interessado em ser meu amigo no ano que passou. Os dois ficaram parados em um sil�ncio gelado como o ch�o sob seus p�s. O gnomo finalmente conseguira retirar a minhoca e agora a chupava feliz, encostado nos galhos mais baixos do rododendro. � Que anda fazendo o Dumbledore? � perguntou Scrimgeour bruscamente. � Aonde vai quando se ausenta de Hogwarts? � N�o fa�o a menor id�ia � respondeu Harry. � E n�o me diria se fizesse, n�o �? � N�o, n�o diria. � Bem, ent�o, terei de ver se descubro por outros meios. � Pode tentar � disse Harry com indiferen�a. � Mas o senhor parece mais inteligente do que Fudge, por isso seria de imaginar que tivesse aprendido com os erros dele. Fudge tentou interferir em Hogwarts. O senhor deve ter reparado que ele n�o � mais ministro, mas Dumbledore continua a ser diretor. Eu deixaria Dumbledore em paz, se fosse o senhor. Houve uma longa pausa. � Bem, � evidente que ele fez um excelente trabalho com voc� � disse Scrimgeour, com o olhar frio e duro por tr�s dos �culos de aros de arame. � Voc� � por inteiro um homem de Dumbledore, n�o, Potter? � Sou. Que bom que deixamos isto claro. E dando as costas ao ministro da Magia, Harry saiu em dire��o � casa. CAP�TULO DEZESSETE UMA LEMBRAN�A RELUTANTE NO FINAL DA TARDE, POUCOS DIAS DEPOIS do Ano-Novo, Harry, Rony e Gina se enfileiraram ao lado do fog�o da cozinha para regressar a Hogwarts. O Minist�rio providenciara essa conex�o com a Rede de Flu para os estudantes poderem se transportar � escola com rapidez e seguran�a. Apenas a Sra. Weasley estava presente para se despedir, porque o marido, Fred, Jorge, Gui e Fleur estavam no trabalho. A Sra. Weasley debulhou-se em l�grimas no momento da separa��o. Nos �ltimos tempos, era preciso muito pouco para faz�-la chegar �s l�grimas; andava chorando a toda hora desde que Percy se retirara bruscamente de casa no dia de Natal, com os �culos sujos de pur� de pastinaca (pelo que Fred, Jorge e Gina se diziam respons�veis). � N�o chore, mam�e � consolava-a Gina, dando palmadinhas nas costas da m�e chorosa ao seu ombro. � T� tudo bem. � �, n�o se preocupe conosco � disse Rony, deixando a m�e plantar-lhe um beijo muito molhado na bochecha � nem com o Percy. Ele � t�o babaca que n�o se perde grande coisa, n�o �? A Sra. Weasley solu�ou ainda mais forte ao abra�ar Harry. � Prometa que vai se cuidar... n�o se meta em confus�es... � Eu sempre me cuido, Sra. Weasley. Gosto de levar uma vida tranq�ila, a senhora me conhece. Ela deu uma risada lacrimosa e se afastou. � Comportem-se, ent�o, todos voc�s... Harry entrou nas chamas verde-esmeralda e gritou: � Hogwarts! � Ele teve uma �ltima e fugaz vis�o da cozinha da Sra. Weasley e do seu rosto molhado de l�grimas antes de ser envolvido pelas chamas; rodopiando velozmente, captou vislumbres difusos de outros aposentos de bruxos, que sumiam de vista antes que ele pudesse v�los direito; por fim desacelerou e parou alinhado com a lareira da sala da professora McGonagall. Ela mal ergueu os olhos do seu trabalho quando ele saiu engatinhando da lareira. � Noite, Potter. Procure n�o deixar muita cinza no tapete. � Sim, professora. Harry ajeitou os �culos e achatou os cabelos na hora em que Rony surgiu, rodopiando. Quando Gina chegou, os tr�s sa�ram da sala de McGonagall e tomaram a dire��o da Torre da Grifin�ria. No caminho, Harry espiou pelas janelas do corredor; o sol j� estava se pondo nos terrenos da escola cobertos por um tapete de neve mais alto do que o d'A Toca. Ao longe, viu Hagrid alimentando Bicu�o na frente da cabana. � Bolas festivas � disse Rony, confiante, quando chegaram ao quadro da Mulher Gorda, que estava bem mais p�lida do que o normal e fez uma careta � voz alta do garoto. � N�o � respondeu ela. � Como assim "n�o"? � H� uma nova senha. E, por favor, n�o grite. � Mas estivemos fora, como � que...? � Harry! Gina! Hermione corria em sua dire��o, de rosto muito corado, trajando capa, chap�u e luvas. � Cheguei h� umas duas horas, dei um pulinho l� embaixo para visitar Hagrid e Bicu�o, quero dizer, Asafugaz � disse sem f�lego. � Tiveram um bom Natal? � Tivemos � respondeu Rony na mesma hora �, bem movimentado, Rufo Scrimgeour... � Tenho uma coisa para voc�, Harry � falou Hermione sem olhar para Rony, nem dar sinal de que o ouvira. � Ah, calma a�, a senha. Abstin�ncia. � Exatamente � confirmou a Mulher Gorda com voz fraca, e girou abrindo o buraco do retrato. � Que � que ela tem? � perguntou Harry. � Aparentemente exagerou no Natal � informou Hermione, olhando para o teto e abrindo caminho para a sala comunal repleta de alunos. � Ela e a amiga Violeta acabaram com aquele vinho no quadro dos monges b�bados junto ao corredor de Feiti�os. Ent�o... Ela remexeu no bolso um instante e tirou um rolo de pergaminho com a caligrafia de Dumbledore. � Legal � exclamou Harry, desenrolando-o imediatamente e descobrindo que sua pr�xima aula com Dumbledore estava marcada para a noite seguinte. � Tenho um monte de coisas para contar a ele... e a voc�. Vamos sentar... Mas naquele momento ouviram um guincho de "Uon-Uon!", e Lil� Brown apareceu correndo, ningu�m sabe de onde, e atirou-se nos bra�os de Rony. Muitas pessoas ao redor abafaram risinhos. Hermione soltou uma risada tilintante e disse: � Tem uma mesa ali adiante... voc� vem, Gina? � N�o, obrigada, prometi me encontrar com o Dino � respondeu a garota, embora Harry n�o pudesse deixar de notar que n�o parecia muito entusiasmada. Deixando Rony e Lil� atracados em uma esp�cie de luta livre vertical, Harry conduziu Hermione para a mesa vazia. � Ent�o, como foi o Natal? � Ah, bom � ela sacudiu os ombros. � Nada especial. E como foi na casa do Uon-Uon? � Conto num minuto � disse Harry. � Olhe, Hermione, ser� que voc� n�o pode... � N�o, n�o posso � respondeu ela taxativamente. � Por isso nem me pe�a. � Pensei que talvez, sabe, durante as f�rias de Natal... � Foi a Mulher Gorda que bebeu um barril de vinho de quinhentos anos, Harry, e n�o eu. Ent�o, que not�cias importantes eram essas que voc� queria me contar? No momento ela parecia agressiva demais para discuss�es, ent�o Harry deixou de lado o assunto Rony e relatou o que escutara Malfoy e Snape dizerem. Quando ele terminou, Hermione refletiu por um instante e disse: � Voc� n�o acha...? � ... que ele estava fingindo oferecer ajuda para poder induzir Malfoy a lhe contar o que estava fazendo? � Bem, � isso. � O pai de Rony e Lupin acham que sim � concedeu Harry de m� vontade. � Mas isto s� prova que Malfoy est� tramando alguma coisa, isto voc� n�o pode negar. � N�o, n�o posso � respondeu ela lentamente. � E ele est� agindo por ordens de Voldemort, exatamente como falei! � Hum... algum dos dois chegou a mencionar o nome de Voldemort? Harry franziu a testa, tentando lembrar. � N�o tenho certeza... Snape disse "o seu senhor", quem mais poderia ser? � N�o sei � respondeu Hermione mordendo o l�bio. � Talvez o pai dele? Ela fixou o olhar do lado oposto da sala, aparentemente perdida em pensamentos, sem sequer reparar que Lil� fazia c�cegas em Rony. � Como vai o Lupin? � Nenhuma maravilha � respondeu Harry contando-lhe a miss�o de Lupin entre os lobisomens e as dificuldades que estava enfrentando. � Voc� j� ouviu falar de Lobo Greyback? � J�! � exclamou Hermione levando um susto. � E voc� tamb�m, Harry! � Quando, em Hist�ria da Magia? Voc� sabe muito bem que nunca prestei aten��o... � N�o, n�o, n�o foi em Hist�ria da Magia: Malfoy usou o Lobo para amea�ar Borgin! L� na travessa do Tranco, n�o se lembra? Ele disse que o Lobo Greyback era um velho amigo da fam�lia e que iria verificar o andamento do servi�o! Harry ficou boquiaberto. � Eu tinha me esquecido! Mas isto comprova que Malfoy � um Comensal da Morte, de que outro modo ele poderia estar em contato com Greyback, e lhe dizer o que fazer? � � muito suspeito � sussurrou Hermione. � A n�o ser que... � Ah, fala s�rio � exclamou Harry exasperado �, n�o d� para voc� justificar essa! � Bem... h� uma possibilidade de que tenha sido uma falsa amea�a. � Voc� � inacredit�vel, ah, � � disse Harry balan�ando a cabe�a. �Voc� vai ver quem tem raz�o... voc� vai engolir o que est� dizendo, Hermione, como fez o Minist�rio. Ah, sim, e tamb�m tive uma briga com Rufo Scrimgeour... E o resto da noite se passou amigavelmente, com os dois xingando o ministro da Magia, porque Hermione, tal como Rony, achou que, depois de tudo que o Minist�rio tinha feito Harry sofrer no ano anterior, era muita cara-de-pau agora lhe pedir ajuda. O novo trimestre come�ou na manh� seguinte com uma surpresa agrad�vel para o sexto ano: um grande aviso fora pregado durante a noite nos quadros da sala comunal. AULAS DE APARATA��O Se voc� tem dezessete anos, ou vai complet�-los at� 31 de agosto, inclusive, poder� se inscrever em um curso de Aparata��o de doze aulas semanais com um instrutor do Minist�rio da Magia. Se quiser participar, assine abaixo, por favor. Custo: 12 gale�es Harry e Rony se juntaram � multid�o que se acotovelava em volta do aviso, revezando-se para se inscrever no local indicado. Rony ia apanhando a caneta para assinar em seguida a Hermione quando Lil� se aproximou sorrateiramente pelas costas dele, cobriu seus olhos com as m�os e cantarolou "Adivinha quem �, Uon-Uon?". Harry virou-se e viu Hermione se afastar discretamente; foi em seu encal�o porque n�o tinha o menor desejo de ficar para tr�s com Rony e Lil�, mas, para sua surpresa, Rony os alcan�ou um pouco adiante do buraco do retrato, com as orelhas em fogo e uma express�o aborrecida no rosto. Sem dizer uma palavra, Hermione se apressou para caminhar com Neville. � Ent�o, Aparata��o � come�ou Rony, deixando perfeitamente claro pelo seu tom de voz que Harry n�o devia mencionar o que acabara de acontecer. � Deve ser maneiro, eh? � N�o sei, n�o � disse Harry. � Talvez seja melhor quando a gente aparata sozinho, eu n�o gostei muito quando Dumbledore me levou de carona. � Esqueci que voc� j� aparatou... � bom eu passar no teste da primeira vez � comentou Rony parecendo ansioso. � Fred e Jorge passaram. � Mas Carlinhos levou bomba, n�o foi? � �, mas Carlinhos � maior do que eu � Rony esticou os bra�os para os lados como se fosse um gorila �, e com isso Fred e Jorge n�o gozaram muito com a cara dele... pelo menos n�o pela frente... � Quando � que podemos fazer o teste real? � Assim que completarmos dezessete anos. Para mim, isto quer dizer em mar�o! � �, mas voc� n�o poderia aparatar aqui, n�o no castelo... � N�o � o que est� em jogo. Todo o mundo ia ficar sabendo que eu poderia aparatar se quisesse. Rony n�o foi o �nico a ficar excitado com a perspectiva de aparatar. Durante todo o dia falou-se muito sobre as futuras aulas; deu-se muita import�ncia � habilidade de desaparecer e reaparecer � vontade. � Vai ser maneiro quando a gente puder... � Simas estalou os dedos para indicar sumi�o. � Meu primo Fergus faz isso s� para implicar comigo, espere at� eu poder fazer o mesmo... ele nunca mais vai ter um momento de paz na vida... Perdido em vis�es dessa feliz perspectiva, ele agitou a varinha com excessivo entusiasmo, e em vez de produzir a fonte de �gua pura que era o objeto da aula de Feiti�os daquele dia, materializou um jato de mangueira que ricocheteou no teto e derrubou o professor Flitwick de cara no ch�o. � Harry j� aparatou � Rony contou ao espantado Simas, depois que o professor se enxugou com um aceno da varinha e mandou-o escrever uma frase v�rias vezes ("Sou um bruxo e n�o um babu�no empunhando uma varinha.").�Dum... ah... uma pessoa fez uma Aparata��oacompanhada com ele, sabe. � P�! � sussurrou Simas, e ele, Dino e Neville juntaram as cabe�as para escutar como era uma Aparata��o. Pelo resto do dia, Harry foi assediado com pedidos de outros sextanistas para descrever como algu�m se sentia quando aparatava. Todos manifestavam assombro em vez de desapontamento quando contava o desconforto que era, e, ele ainda respondia a perguntas detalhadas �s dez para as oito da noite, quando foi obrigado a inventar que precisava devolver um livro � biblioteca, para se livrar em tempo de ir � aula de Dumbledore. Os lampi�es no escrit�rio do diretor estavam acesos, os retratos dos diretores anteriores roncavam suavemente em suas molduras e a Penseira estava mais uma vez pronta sobre a escrivaninha. As m�os de Dumbledore estavam dos lados da Penseira, a direita escura e queimada como sempre. N�o parecia ter sarado, e Harry ficou imaginando, talvez pela cent�sima vez, o que teria causado aquele ferimento singular, mas n�o perguntou nada; Dumbledore dissera que lhe contaria no momento certo e, seja como for, havia outro assunto que ele queria discutir. Antes, por�m, que Harry pudesse mencionar qualquer coisa sobre Snape e Malfoy, Dumbledore falou: � Ouvi dizer que voc� se encontrou com o ministro da Magia no Natal. � Verdade � respondeu Harry. � Ele n�o ficou muito satisfeito comigo. � N�o � suspirou Dumbledore. � Ele tamb�m n�o est� muito satisfeito comigo. � preciso tentar n�o sucumbir sob o peso de nossas ang�stias, Harry, e continuar a lutar. O garoto sorriu. � Ele queria que eu dissesse � comunidade bruxa que o Minist�rio est� fazendo um trabalho maravilhoso. Dumbledore sorriu. � Originalmente, essa id�ia foi de Fudge, sabe. Nos �ltimos dias de Minist�rio, quando ele ainda tentava desesperadamente se manter no cargo, quis se encontrar com voc�, na esperan�a de receber seu apoio... � Depois de tudo que ele fez no ano passado? � exclamou Harry irritado. � Depois da Umbridge? � Eu disse ao Corn�lio que n�o havia a menor chance, mas a id�ia n�o morreu quando ele deixou o cargo. Horas depois de Scrimgeour ser nomeado, nos encontramos e ele exigiu que eu marcasse uma reuni�o com voc�... � Ent�o foi por isso que os senhores se desentenderam! � deixou escapar Harry. � Deu no Profeta Di�rio. � O Profeta Di�rio �s vezes acaba noticiando a verdade, ainda que por acaso. Certo, foi por isso que discutimos. Bem, parece que finalmente Rufo descobriu um jeito de encurralar voc�. � Ele me acusou de ser "por inteiro um homem de Dumbledore". � Que grosseria a dele. � Eu respondi a ele que era. Dumbledore abriu a boca para falar e tornou a fech�-la. �s costas de Harry, Fawkes, a f�nix, soltou um pio baixo, suave e melodioso. Para seu intenso constrangimento, Harry percebeu repentinamente que os olhos muito azuis de Dumbledore pareciam marejados, e depressa come�ou a encarar os pr�prios joelhos. Quando o diretor falou, por�m, sua voz estava bem firme. � Fico muito comovido, Harry. � Scrimgeour queria saber aonde o senhor vai quando n�o est� em Hogwarts � tornou Harry, ainda fixando os joelhos. � �, ele anda muito curioso a respeito disso � disse Dumbledore, agora com a voz animada, e Harry achou que j� era seguro erguer os olhos. � Chegou a tentar mandar me seguir. Na realidade, � engra�ado. P�s Dawlish no meu rastro. N�o foi nada gentil. J� fui obrigado a azarar Dawlish uma vez; tive de fazer isto outra vez, lamentando muito. � Ent�o eles continuam sem saber aonde o senhor vai? � perguntou Harry esperando obter mais informa��es sobre sua intrigante aus�ncia, mas os olhos de Dumbledore meramente sorriram por cima dos oclinhos de meia-lua. � Continuam, e ainda n�o chegou a hora de voc� saber. Agora sugiro que nos apressemos, a n�o ser que tenha mais alguma coisa...? � Na realidade tenho, sim, senhor. E sobre Malfoy e Snape. � Professor Snape, Harry. � Sim, senhor. Eu escutei os dois durante a festa do professor Slughorn... bem, para dizer a verdade, eu os segui... Dumbledore ouviu impass�vel a hist�ria de Harry. Quando o garoto terminou, ele permaneceu calado por alguns momentos, depois disse: � Obrigado por me contar, Harry, mas sugiro que voc� esque�a esse assunto. Acho que n�o tem grande import�ncia. � N�o tem grande import�ncia? � repetiu Harry incr�dulo. � Professor, o senhor entendeu...? � Claro, Harry, aben�oado como sou com uma extraordin�ria capacidade intelectual, entendi tudo que me contou � disse Dumbledore, com uma certa rispidez. � Acho mesmo que voc� talvez devesse considerar a possibilidade de eu ter entendido mais do que voc�. Mais uma vez fico satisfeito que tenha confiado em mim, mas asseguro que voc� n�o me disse nada que possa me inquietar. Harry ficou parado em furioso sil�ncio, olhando zangado para Dumbledore. Que estava acontecendo? Ser� que isto significava que, de fato, o diretor dera ordem a Snape para descobrir o que Malfoy estava fazendo, caso em que j� teria sabido de tudo que Harry acabava de lhe contar pela boca do pr�prio Snape? Ou ser� que estava realmente preocupado com o que ouvira e fingia n�o estar? � Ent�o, senhor � perguntou Harry num tom que desejava que fosse educado e calmo �, o senhor decididamente ainda confia...? � J� fui bastante tolerante em ter respondido a essa pergunta � replicou Dunibledore, mas sua voz j� n�o parecia muito tolerante. � Minha resposta n�o mudou. � Eu acharia que n�o � falou uma voz ir�nica; evidentemente era Fineus Nigellus que apenas fingia estar dormindo. Dunibledore n�o lhe deu aten��o. � E agora, Harry, devo insistir que nos apressemos. Tenho coisas mais importantes a discutir com voc� hoje � noite. Harry sentiu-se revoltado. Que aconteceria se ele n�o permitisse a mudan�a de assunto, se insistisse em sua suspeita contra Malfoy? Como se tivesse lido a mente de Harry, Dumbledore balan�ou a cabe�a. � Ah, Harry, com que freq��ncia isso ocorre at� entre os melhores amigos! Cada qual acredita que o que tem a dizer � muito mais importante do que qualquer coisa que o outro tenha a contribuir! � Eu n�o acho que seja pouco importante o que o senhor tem a dizer � disse Harry, formal. � Bem, voc� tem toda raz�o, porque n�o � � respondeu o diretor com energia. � Tenho mais duas lembran�as para lhe mostrar esta noite, ambas obtidas com enorme dificuldade, e creio que a segunda seja a mais importante que j� recolhi. Harry n�o fez coment�rios; ainda sentia raiva pela rea��o de Dumbledore �s suas confidencias, mas n�o via o que poderia ganhar se continuasse a discutir. � Ent�o � disse o diretor em tom ressonante �, na reuni�o desta noite daremos prosseguimento � hist�ria de Tom Riddle, que na �ltima aula deixamos no limiar de sua entrada em Hogwarts. Voc� lembrar� como ele ficou excitado ao ouvir que era bruxo, que recusou a minha companhia para ir ao beco Diagonal e que eu, por minha vez, o alertei contra a pr�tica de furtos quando chegasse � escola. "Bem, chegou o in�cio do ano escolar e com ele veio Tom Riddle, um garoto quieto, com vestes de segunda m�o, que se enfileirou com os outros calouros para a Sele��o. Quase no instante em que o Chap�u Seletor tocou sua cabe�a, ele foi colocado na Sonserina � continuou Dumbledore, indicando com a m�o escurecida a prateleira acima de sua cabe�a onde estava o Chap�u Seletor, antigo e im�vel. � N�o sei em que momento Riddle soube que o famoso fundador da Casa era capaz de falar com as cobras, talvez naquela mesma noite. Este conhecimento s� pode t�-lo alvoro�ado e incentivado o seu senso de import�ncia. "Contudo, se estava assustando ou impressionando os colegas da Sonserina com demonstra��es de ofidioglossia na sala comunal, os professores de nada souberam. Ele n�o manifestava nenhum sinal de arrog�ncia ou agressividade. Sendo um �rf�o talentoso e muito bonito, � claro que atraiu a aten��o e a solidariedade dos professores quase na hora em que chegou. Parecia educado, quieto e sedento de saber. Deixou praticamente todos bem impressionados." � O senhor n�o contou a eles como era o Tom quando o conheceu no orfanato? � perguntou Harry. � N�o, n�o contei. Embora ele n�o tivesse demonstrado o menor remorso, era poss�vel que estivesse arrependido pelo seu comportamento anterior e resolvido a virar a p�gina. Preferi lhe dar essa oportunidade. Dumbledore fez uma pausa e olhou curioso para Harry, que abrira a boca para falar. Ali estava novamente a sua tend�ncia a confiar nas pessoas, apesar dos ind�cios avassaladores de que n�o mereciam sua confian�a! Mas Harry ent�o se lembrou de uma coisa... � Mas o senhor n�o confiava nele realmente, n�o �? Ele me disse... o Riddle que saiu daquele di�rio disse: "Dumbledore nunca pareceu gostar tanto de mim quanto os outros professores." � Digamos que eu n�o pressupus que ele fosse confi�vel � respondeu Dumbledore. � Conforme j� mencionei, eu tinha decidido vigi�-lo de perto, e foi o que fiz. N�o posso fingir que, a princ�pio, tenha conseguido grande coisa com as minhas observa��es. Ele era muito reservado comigo; percebia, sem d�vida, que, na emo��o de descobrir sua verdadeira identidade falara demais. Cuidava-se para n�o tornar a revelar tanto, mas n�o podia retirar o que deixara escapar em sua empolga��o nem o que a Sra. Cole me confidenciara. Tinha, no entanto, o bom senso de jamais tentar me cativar como fazia com tantos colegas meus. "� medida que progredia na vida escolar, ele foi reunindo ao seu redor um grupo de 'amigos dedicados'; eu os chamo assim, na falta de um termo melhor, embora eu j� tenha mencionado que inegavelmente Riddle n�o sentia afeto por nenhum deles. O grupo exercia uma esp�cie de fascina��o sombria no castelo. Era urna cole��o variada; uma mistura de fracos em busca de prote��o, ambiciosos em busca de partilhar sua gl�ria, e violentos que gravitavam em torno de um l�der capaz de ensinar formas mais requintadas de crueldade. Em outras palavras, eles foram os precursores dos Comensais da Morte, e, na verdade, quando terminaram Hogwarts, alguns deles se tornaram os primeiros Comensais. "Controlados com rigor por Riddle, nunca foram apanhados agindo mal abertamente, embora os sete anos que passaram em Hogwarts tivessem sido marcados por numerosos incidentes desagrad�veis a que eles jamais foram comprovadamente ligados, entre os quais a abertura da C�mara Secreta � sem d�vida, o mais s�rio deles � que resultou na morte de uma garota. Hagrid, como voc� sabe, foi injustamente acusado desse crime. "N�o consegui encontrar muitas lembran�as de Riddle em Hogwarts � disse Dumbledore, pousando a m�o murcha na Penseira. � Poucos que o conheceram naquele tempo querem falar sobre ele; est�o aterrorizados demais. Descobri o que sei depois de sua sa�da de Hogwarts, depois de penosos esfor�os, depois de localizar os poucos que poderiam ser induzidos a falar, depois de pesquisar em registros antigos e interrogar testemunhas bruxas e trouxas. "Aqueles que consegui convencer a falar me contaram que Riddle tinha obsess�o por sua ascend�ncia. O que, naturalmente, � compreens�vel; tinha sido criado em um orfanato e naturalmente queria saber como fora parar l�. Parece que procurou em v�o algum vest�gio de Tom Riddle pai nos bras�es da sala de trof�us, nas listas de monitores nos antigos registros da escola, e at� mesmo em livros de hist�ria bruxa. Por fim, foi for�ado a aceitar que seu pai jamais pusera os p�s em Hogwarts. Creio ter sido ent�o que ele abandonou o seu nome para sempre, assumiu a identidade de Lord Voldemort e come�ou a investigar a fam�lia de sua desprezada m�e � a mulher que, voc� lembrar�, ele achava que n�o podia ser bruxa porque sucumbira � vergonhosa fraqueza humana da morte. "Sua �nica pista era o nome 'Servolo', que, segundo soubera pelos que dirigiam o orfanato, era o nome do pai de sua m�e. Finalmente, depois de penosas pesquisas em velhos livros de fam�lias bruxas, ele descobriu a exist�ncia do ramo sobrevivente da fam�lia Slytherin. No ver�o de seu d�cimo sexto anivers�rio, saiu do orfanato ao qual retornava todo ano e foi procurar seus parentes Gaunt. E agora, Harry, se voc� se levantar..." Dumbledore ergueu-se, e Harry viu que de novo segurava um frasquinho de cristal em que revolvia uma lembran�a perolada. � Tive muita sorte em recolher esta � disse, despejando a massa refulgente na Penseira. � Voc� entender� a raz�o quando a tiver vivenciado. Vamos? Harry se aproximou da bacia de pedra e se inclinou obedientemente at� seu rosto afundar na superf�cie da lembran�a; teve a conhecida sensa��o de cair no v�cuo, e em seguida aterrissou em um piso de pedra suja envolto em quase total escurid�o. Ele precisou de v�rios segundos para reconhecer o lugar, tempo que levou para Dumbledore aterrissar ao seu lado. A casa dos Gaunt agora estava indescritivelmente mais imunda do que qualquer lugar que Harry j� vira. O teto estava coalhado de teias de aranha, o ch�o coberto por uma camada de sujeira; havia comida mofada e podre sobre a mesa, em meio a v�rias panelas com crostas. A �nica luz vinha de uma vela derretida, colocada aos p�s de um homem com cabelos e barba t�o crescidos que Harry n�o conseguia distinguir nem olhos nem boca. Ele estava largado em uma poltrona junto � lareira, e o garoto se perguntou por um momento se estaria morto. Ouviu-se, ent�o, uma forte batida na porta e o homem despertou instantaneamente, empunhando uma varinha na m�o direita e uma faca curta na esquerda. A porta se entreabriu, rangendo. Na soleira, segurando um lampi�o antiquado, encontrava-se um garoto que Harry reconheceu na hora: alto, p�lido, os cabelos escuros, bonito � o Voldemort adolescente. Seu olhar percorreu lentamente o casebre e deparou com o homem na poltrona. Por alguns segundos eles se encararam, ent�o o homem se p�s de p� com dificuldade, as muitas garrafas a seus p�s tombaram e reuniram no ch�o. � VOC�! � berrou ele. � VOC�! E ele se arremessou ebriamente contra Riddle, a varinha e a faca erguidas. � Pare. Riddle falou em linguagem de cobra. O homem derrapou e bateu na mesa, lan�ando as panelas emboloradas no ch�o, onde ca�ram com estrepito. Ele encarou Riddle. Fez-se um longo sil�ncio enquanto se estudavam. O homem perguntou: � Voc� sabe falar? � Sei falar � respondeu Riddle. Ele entrou na sala permitindo que a porta se fechasse �s suas costas. Harry n�o p�de deixar de sentir uma admira��o mesclada de ressentimento pelo completo destemor de Voldemort. Seu rosto expressava apenas desagrado e, talvez, desapontamento. � Onde est� Servolo? � perguntou ele. � Morreu. Morreu h� anos, n�o foi? Riddle franziu a testa. � Quem � voc�, ent�o? � Sou Morfino, n�o sou? � O filho de Servolo? � Claro que sou, ent�o... Morfino afastou os cabelos do rosto sujo, para enxergar Riddle melhor, e Harry notou que ele usava o anel de pedra negra na m�o direita. � Pensei que voc� fosse aquele trouxa � sussurrou Morfino. � Voc� � a cara daquele trouxa. � Que trouxa? � perguntou Riddle com rispidez. � �quele trouxa que minha irm� gostava, aquele trouxa que mora na casa grande mais adiante na estrada � respondeu Morfino, e inesperadamente cuspiu no ch�o entre os dois. � Voc� � igualzinho a ele. Riddle. Mas ele est� mais velho agora, n�o �? Mais velho do que voc�, agora que estou pensando... Morfino pareceu ligeiramente atordoado e oscilou um pouco, ainda se apoiando na borda da mesa. � Ele voltou, sabe � acrescentou tolamente. Voldemort mirava Morfino como se avaliasse suas possibilidades. Aproximou-se um pouco mais e perguntou: � Riddle voltou? � Ai, deixou ela, e foi bem feito, casar com ral�! � explicou Morfino, e tornou a cuspir no ch�o. � E roubou a gente, veja bem, antes de fugir! Onde est� o medalh�o, eh, onde est� o medalh�o de Slytherin? Voldemort n�o respondeu. Morfino foi se enraivecendo outra vez; brandiu a faca e gritou: � Ela desonrou a gente, foi o que ela fez, a vadia! E quem � voc� para entrar aqui e ficar fazendo perguntas sobre isso? J� acabou, n�o �... acabou... Ele desviou o olhar, cambaleando um pouco, e Voldemort se adiantou. Ao fazer isso, sobreveio uma escurid�o anormal, que apagou a luz do lampi�o de Voldemort e a vela de Morfino, apagou tudo... Os dedos de Dumbledore apertaram o bra�o de Harry e eles tornaram a voar para o presente. A claridade suave e dourada do escrit�rio de Dumbledore pareceu ofuscar os olhos de Harry depois daquela escurid�o impenetr�vel. � � s� isso? � perguntou o garoto imediatamente. � Por que ficou escuro, que aconteceu? � Porque Morfino n�o conseguiu lembrar mais nada daquele ponto em diante � respondeu Dumbledore, fazendo um gesto para que Harry tornasse a sentar. � Quando ele acordou na manh� seguinte, estava deitado no ch�o, sozinho. O anel de Servolo desaparecera. "Nesse meio-tempo, na aldeia de Little Hangleton, uma empregada corria pela rua principal gritando que havia tr�s corpos ca�dos na sala de visitas da casa grande: Tom Riddle pai, e a m�e e o pai dele. "As autoridades trouxas ficaram perplexas. Pelo que sei, at� hoje n�o sabem como os Riddle morreram, porque a Maldi��o Avada Kedavra normalmente n�o produz dano vis�vel... a exce��o acha-se � minha frente � acrescentou Dumbledore, indicando a cicatriz de Harry. � Por outro lado, o Minist�rio percebeu na mesma hora que se tratava de um homic�dio bruxo. Percebeu tamb�m que um sentenciado que odiava trouxas morava no vale do lado oposto � casa dos Riddle, um bruxo que j� fora preso por atacar uma das pessoas assassinadas. "Ent�o o Minist�rio fez uma visita a Morfino. N�o precisaram interrog�-lo nem usar Veritaserum nem Legilim�ncia. Ele confessou o homic�dio imediatamente, fornecendo detalhes que somente o assassino poderia conhecer. Disse que sentia orgulho de ter matado os trouxas, havia anos que esperava essa oportunidade. Ele entregou a varinha, e logo se comprovou que fora usada para matar os Riddle. E Morfino se deixou levar para Azkaban sem resistir. A �nica coisa que o perturbava era que o anel de seu pai desaparecera. 'Ele vai me matar por ter perdido o anel', repetia, sem parar, aos seus captores. E, aparentemente, isso foi tudo que voltou a dizer. Ele viveu o resto da vida em Azkaban, lamentando a perda da �ltima pe�a herdada por Servolo, e foi enterrado ao lado da pris�o com outros pobres coitados que expiraram em seu interior." � Ent�o Voldemort roubou a varinha de Morfino e a usou? � perguntou Harry, sentandose ereto. � Exatamente � respondeu Dumbledore. � N�o temos lembran�as para confirmar isto, mas acho que podemos ter razo�vel certeza do que aconteceu. Voldemort estupeficou o tio, apanhou sua varinha e atravessou o vale em dire��o "� casa grande mais adiante na estrada". L�, ele matou o trouxa que abandonara sua m�e bruxa, e, por precau��o, os av�s trouxas, suprimindo, assim, os �ltimos membros da indigna fam�lia Riddle e vingando-se do pai que jamais o quisera. Voltou, ent�o, ao casebre dos Gaunt, realizou o complexo feiti�o de implantar uma falsa lembran�a na mente do tio, colocou a varinha de Morfino ao lado do seu dono inconsciente, guardou o anel antigo que ele usava e partiu. � E Morfino nunca percebeu que n�o tinha sido ele? � Nunca. Como digo, ele fez uma confiss�o vaidosa e completa. � Mas durante todo esse tempo guardou a lembran�a verdadeira! � Guardou, mas foi necess�ria uma boa dose de competente Legilim�ncia para faz�-la aflorar. E por que algu�m iria se deter mais tempo examinando a mente de Morfino se ele j� confessara o crime? Contudo, consegui permiss�o para visit�-lo em suas �ltimas semanas de vida, �poca em que eu estava tentando descobrir o m�ximo poss�vel sobre o passado de Voldemort. Extra� a lembran�a com dificuldade. Quando vi o que continha, tentei us�-la para obter a liberta��o de Morfino de Azkaban. Mas, antes que o Minist�rio tomasse uma decis�o, ele morreu. � Mas por que o Minist�rio n�o percebeu que Voldemort tinha feito tudo isso a Morfino? � perguntou Harry indignado. � Ele era menor de idade � �poca, n�o era? Pensei que fossem capazes de detectar o uso de magia por menores. � Voc� est� certo... eles podem detectar a magia, mas n�o o seu autor: voc� est� lembrado que o Minist�rio o culpou pelo Feiti�o de Levita��o que na verdade foi realizado por... � Dobby � resmungou Harry; a injusti�a ainda o exasperava. � Ent�o, se um menor de idade usa a magia em um bruxo adulto ou na casa de um bruxo, o Minist�rio n�o fica sabendo? � Certamente n�o saber� dizer quem realizou o feiti�o � respondeu Dumbledore com ar de riso ao ver a grande indigna��o no rosto de Harry. � O Minist�rio confia que os pais bruxos exijam dos filhos que moram sob seu teto o cumprimento das leis. � Ora que bobagem � retorquiu Harry. � Veja o que aconteceu neste caso, veja o que aconteceu a Morfino! � Concordo. Por pior que fosse Morfino, ele n�o merecia morrer como morreu, culpado por crimes que n�o tinha cometido. Mas est� ficando tarde, e quero que voc� veja mais uma lembran�a antes de nos separarmos... Dumbledore tirou de um bolso interno outro frasquinho de cristal, e Harry se calou mais uma vez, lembrando que o diretor lhe dissera que era a lembran�a mais importante que tinha recolhido. O garoto reparou que foi dif�cil esvaziar o conte�do do frasco na Penseira, como se estivesse levemente congelado; ser� que as lembran�as talhavam? � Esta vai ser r�pida � disse Dumbledore, quando finalmente esvaziou o frasco. � Estaremos de volta antes que voc� perceba. Mais uma vez, mergulhe na Penseira, ent�o... E Harry atravessou mais uma vez a superf�cie prateada, aterrissando desta vez diante de um homem que ele reconheceu imediatamente. Era um Hor�cio Slughorn mais jovem. Harry estava t�o habituado a v�-lo careca que achou a vis�o de Slughorn com uma basta e brilhante cabeleira cor de palha muito desconcertante; dava a impress�o de que mandara cobrir a cabe�a de sap�, embora no topo j� fosse vis�vel uma tonsura calva e reluzente. Os bigodes, menos compactos do que os atuais, eram louro-avermelhados. Ele n�o era t�o gordo quanto o Slughorn que Harry conhecia, embora os bot�es dourados do seu colete ricamente bordado j� estivessem sob tens�o. Com os pezinhos apoiados sobre um pufe de veludo, ele se encontrava sentado em uma confort�vel berg�re, tendo um c�lice de vinho em uma das m�os e a outra enfiada em uma caixa de abacaxi cristalizado. Harry olhou ao redor quando Dumbledore apareceu ao seu lado e percebeu que estavam no escrit�rio de Slughorn. Havia meia d�zia de garotos sentados ao redor do professor, todos em cadeiras mais duras e baixas do que a dele, e todos aparentando uns dezesseis anos. Harry reconheceu Riddle imediatamente. Tinha o rosto mais bonito, e parecia o mais descontra�do dos garotos. Sua m�o direita estava pousada negligentemente sobre o bra�o da cadeira; com um sobressalto, Harry viu que ele estava usando o anel ouro e negro de Servolo; j� tinha matado o pai. � Senhor, � verdade que a professora Merrythought est� se aposentando? � perguntou Riddle. � Tom, Tom, se eu soubesse n�o poderia lhe dizer � respondeu Slughorn, sacudindo um dedo a�ucarado para Riddle, num gesto de censura, embora estragasse esse efeito com uma ligeira piscadela. � Confesso que gostaria de saber onde voc� obt�m suas informa��es, rapaz; sabe mais do que metade dos professores. Riddle sorriu; os outros garotos riram e lhe lan�aram olhares de admira��o. � Com a sua fant�stica habilidade para saber o que n�o deve e a sua cuidadosa bajula��o das pessoas certas... ali�s, obrigado pelo abacaxi, voc� acertou, � o meu preferido... Enquanto v�rios garotos abafavam risinhos, aconteceu algo muito estranho. A sala foi repentinamente tomada por uma densa n�voa branca, impedindo Harry de ver outra coisa al�m do rosto de Dumbledore, que estava parado ao seu lado. Ent�o, a voz de Slughorn ecoou atrav�s da n�voa, anormalmente alta: � ... voc� vai acabar mal, rapaz, escute bem o que estou dizendo. A n�voa desapareceu t�o repentinamente quanto surgira, embora ningu�m fizesse qualquer alus�o nem parecesse ter visto nada diferente acontecer. Intrigado, Harry correu os olhos pela sala no mesmo instante em que um pequeno rel�gio de ouro em cima da escrivaninha de Slughorn batia onze horas. � Santo Deus, j� � t�o tarde assim? � exclamou o professor. � � melhor irem andando, rapazes, ou vamos todos nos meter em confus�o. Lestrange, quero o seu trabalho at� amanh� ou receber� uma deten��o. O mesmo se aplica a voc�, Avery. Slughorn levantou-se da poltrona com esfor�o e levou seu c�lice vazio at� a escrivaninha enquanto os garotos sa�am. Riddle, no entanto, ficou para tr�s. Harry percebeu que o garoto se demorava de prop�sito, querendo ser o �ltimo na sala com o professor. � Ande logo, Tom � disse Slughorn se virando e ainda encontrando-o ali. � Voc� n�o quer ser apanhado fora da cama depois da hora, ainda mais sendo monitor... � Senhor, eu queria lhe perguntar uma coisa. � Pois pergunte, meu rapaz, pergunte... � Senhor, estive me perguntando o que o senhor sabe sobre... sobre Horcruxes? E o mesmo fen�meno tornou a acontecer: o denso nevoeiro invadiu a sala de modo que Harry n�o p�de mais ver Slughorn nem Riddle; apenas Dumbledore sorrindo serenamente ao seu lado. Ent�o a voz do professor ecoou exatamente como acontecera antes. � N�o sei nada sobre Horcruxes e n�o lhe diria se soubesse! Agora saia daqui imediatamente e n�o me deixe apanh�-lo mencionando isso outra vez! � Bem, � s� � anunciou Dumbledore placidamente ao lado de Harry. � Hora de partir. E os p�s de Harry sa�ram do ch�o e bateram, segundos depois, no tapete defronte � escrivaninha de Dumbledore. � A lembran�a � s� isso? � perguntou Harry sem entender. Dumbledore dissera que essa lembran�a era a mais importante de todas, mas ele n�o conseguia ver o que tinha de t�o significativo. Sem d�vida, o nevoeiro e o fato de que ningu�m parecia t�-lo percebido eram esquisitos, mas afora isso nada mais acontecera al�m de Riddle ter feito uma pergunta e n�o ter recebido resposta. � Voc� talvez tenha notado � disse Dumbledore tornando a se sentar � escrivaninha � que essa lembran�a foi alterada. � Alterada? � repetiu Harry, sentando-se tamb�m. � Certamente. O professor Slughorn modificou as pr�prias recorda��es. � Mas por que faria isso? � Porque, em minha opini�o, tem vergonha do que lembra. E tentou retrabalhar a lembran�a para aparecer sob uma luz mais favor�vel, apagando as partes que n�o quer que eu veja. Fez isto, como voc� deve ter reparado, de modo muito tosco, o que foi muito bom, porque mostra que a lembran�a verdadeira persiste sob as altera��es. "Ent�o, pela primeira vez, vou lhe passar um dever de casa, Harry. Voc� dever� persuadir o professor Slughorn a revelar a lembran�a verdadeira, que sem d�vida ser� a nossa informa��o mais crucial." Harry arregalou os olhos para o diretor. � Mas, com certeza, senhor � respondeu no tom de voz mais respeitoso poss�vel �, o senhor n�o precisa de mim... o senhor pode usar Legilim�ncia... ou Veritaserum... � O professor Slughorn � um bruxo extremamente competente que estar� prevenido contra ambos os recursos. Ele � muito mais competente em Oclum�ncia do que o pobre Morfino Gaunt, e eu n�o me espantaria se estivesse carregando um ant�doto contra o soro da verdade desde que o obriguei a me contar este arremedo de recorda��o. "N�o, acho que seria tolice tentar extrair a verdade do professor Slughorn � for�a, faria mais mal do que bem; n�o quero que ele abandone Hogwarts. Contudo, ele tem fraquezas como todos n�s, e acredito que voc� seja o �nico que talvez possa penetrar suas defesas. � muito importante obtermos a lembran�a verdadeira, Harry... e sua real import�ncia n�s s� saberemos quando virmos o que de fato aconteceu. Ent�o, boa sorte... e boa-noite." Um pouco surpreso ante a dispensa abrupta, Harry se p�s de p� ligeiro. � Boa-noite, senhor. Ao fechar a porta atr�s de si, ouviu distintamente o coment�rio de Fineus Nigellus: � N�o vejo por que o garoto seria capaz de fazer isso melhor que voc�, Dumbledore. � Eu n�o esperaria que visse, Fineus � replicou Dumbledore, e Fawkes soltou outro pio baixo e melodioso. CAP�TULO DEZOITO SURPRESAS DE ANIVERS�RIO NO DIA SEGUINTE, HARRY CONFIDENCIOU A Rony e Hermione o dever que Dumbledore lhe passara, a cada um, separadamente, porque Hermione ainda se recusava a permanecer na presen�a de Rony mais tempo do que o necess�rio para lhe lan�ar um olhar de desprezo. Rony achou que era pouco prov�vel que Harry tivesse alguma dificuldade com Slughorn. � Ele adora voc� � disse durante o caf� da manh�, gesticulando com o garfo cheio de ovo frito. � N�o vai lhe recusar nada, n�o �? N�o ao seu pequeno Pr�ncipe das Po��es. � s� ficar depois da aula hoje � tarde e perguntar a ele. Hermione, no entanto, foi menos otimista. � Ele deve estar decidido a esconder o que realmente aconteceu, se Dumbledore n�o conseguiu extrair nada dele � disse a amiga em voz baixa, quando estavam no p�tio deserto e coberto de neve na hora do recreio. � Horcruxes... Horcruxes... nunca ouvi falar nisso... � N�o? Harry ficou desapontado; esperara que Hermione pudesse lhe dar uma pista do que seriam Horcruxes. � Deve ser magia das Trevas realmente avan�ada ou, ent�o, por que Voldemort iria querer saber? Acho que vai ser dif�cil obter a informa��o, Harry, voc� vai precisar de muita cautela quando abordar Slughorn, pense em uma estrat�gia... � Rony acha que eu devia ficar na sala depois da aula de Po��es hoje � tarde... � Ah, bem, se Uon-Uon acha isso, ent�o � melhor voc� fazer � retrucou ela, irritando-se. � Afinal, quando foi que a opini�o de Uon-Uon esteve errada? � Hermione, ser� que voc� n�o pode... � N�o! � exclamou ela com raiva e saiu bruscamente, deixando Harry sozinho com os p�s enfiados na neve at� os tornozelos. As aulas de Po��es eram bem constrangedoras ultimamente, uma vez que Harry, Rony e Hermione tinham de dividir a mesma mesa. Naquele dia, Hermione mudou a posi��o do caldeir�o de modo a ficar perto de Ernesto, e ignorou os dois amigos. � Que foi que voc� fez? � murmurou Rony para Harry, olhando para o perfil arrogante de Hermione. Mas, antes que Harry pudesse responder, Slughorn pediu sil�ncio � frente da turma. � Acomodem-se, acomodem-se, por favor! E depressa, temos muito o que fazer hoje � tarde! A Terceira Lei de Golpalott... quem sabe me dizer...? A srta. Granger sabe, � claro! Hermione recitou-a em grande velocidade: � A-Terceira-Lei-de-Golpalott-diz-que-o-ant�doto-para-uma-mistura-venenosa-ser�-maiordo- que-a-soma-dos-ant�dotos-para-cada-um-de-seus-elementos. � Exatamente! � exclamou sorridente o professor. � Dez pontos para a Grifin�ria. Agora, se considerarmos a Terceira Lei de Golpalott verdadeira... Harry teria de aceitar a palavra de Slughorn de que a Terceira Lei de Golpalott era verdadeira porque n�o entendera nada. Ningu�m, exceto Hermione, parecia estar acompanhando o que Slughorn disse a seguir. � ... o que significa, naturalmente, que, supondo que tenhamos identificado corretamente os ingredientes da po��o, com o Revelencanto de Scarpin, o nosso objetivo prim�rio n�o � a simples sele��o de ant�dotos para os ingredientes por si e de si, mas encontrar o componente adicional que, por um processo quase alqu�mico, transformar� esses elementos d�spares... Rony estava sentado ao lado de Harry com a boca entreaberta, babando distra�do sobre o seu exemplar novo de Estudos avan�ados no preparo de po��es. Ele vivia esquecendo que n�o podia mais depender de Hermione para ajud�-lo a sair das dificuldades quando n�o conseguia entender o que estava acontecendo. � ... e portanto � terminou Slughorn �, quero que cada um de voc�s venha apanhar um dos frascos sobre a minha escrivaninha. E dever�o criar um ant�doto para o veneno que o frasco cont�m antes do fim da aula. Boa sorte, e n�o se esque�am das luvas protetoras! Hermione deixara o seu banco e estava a meio caminho da escrivaninha de Slughorn, antes que o restante da turma tivesse entendido que era hora de se mexer; e quando, finalmente, Harry, Rony e Ernesto voltaram � mesa, a garota j� tinha despejado o conte�do do frasco e estava acendendo um fogo sob o caldeir�o. � � uma pena que o Pr�ncipe n�o v� lhe adiantar muito, Harry � disse ela animada ao se levantar. � Desta vez � preciso compreender os princ�pios envolvidos. N�o existem atalhos nem colas! Aborrecido, Harry desarrolhou o veneno rosa berrante que apanhara na escrivaninha de Slughorn, despejou-o no caldeir�o e acendeu um fogo embaixo. N�o tinha a menor id�ia do que deveria fazer a seguir. Olhou para Rony, que agora estava parado ali com cara de bobo, depois de copiar tudo que Harry fizera. � Voc� tem certeza de que o Pr�ncipe n�o d� nenhuma dica? � murmurou Rony para Harry. Harry apanhou seu confi�vel exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es e abriuo no cap�tulo sobre ant�dotos. Ali estava a Terceira Lei de Golpalott, palavra por palavra, tal como Hermione a recitara, mas nem uma anota��o esclarecedora na caligrafia do Pr�ncipe explicando o seu significado. Pelo visto, o Pr�ncipe, tal como Hermione, n�o tivera dificuldade em compreend�-la. � Nada � respondeu Harry com tristeza. Hermione agora acenava a varinha com entusiasmo sobre o caldeir�o. Infelizmente, os dois n�o poderiam copiar o feiti�o que ela estava executando porque agora se tornara t�o boa em feiti�os n�o-verbais que n�o precisava pronunciar as palavras em voz alta. Ernesto Macmillan, por�m, estava murmurando "Specialis revelio!" sobre o caldeir�o, e o som parecia impressionante, por isso Harry e Rony se apressaram a imit�-lo. Harry levou apenas cinco minutos para perceber que sua reputa��o de melhor preparador de po��es da turma estava desmoronando � sua volta. Slughorn dera uma espiada esperan�osa dentro do seu caldeir�o, em sua primeira ronda pela masmorra, preparado para soltar exclama��es de prazer como geralmente fazia, mas, em vez disso, erguera a cabe�a depressa, tossindo, porque o cheiro de ovos estragados o sufocara. A express�o de Hermione n�o poderia ser mais presun�osa; ela detestava ficar em segundo lugar nas aulas de Po��es. Agora, ela decantava os ingredientes do seu veneno, misteriosamente separados, em dez diferentes frasquinhos de cristal. Mais para evitar contemplar vis�o t�o irritante do que por outro motivo, Harry se debru�ou sobre o livro do Pr�ncipe Mesti�o e virou algumas p�ginas com desnecess�ria viol�ncia. E ei-la, escrita em diagonal sobre uma longa lista de ant�dotos. Meta-lhes um bezoar goela abaixo. Harry fixou as palavras por um momento. Havia muito tempo, n�o ouvira falar em bezoares? Snape n�o os mencionara na primeira aula de Po��es? "Uma pedra tirada do est�mago do bode, que o proteger� da maioria dos venenos?" N�o era uma resposta ao problema de Golpalott, e, se Snape ainda fosse seu professor, Harry n�o teria se atrevido a fazer isso, mas o momento exigia medidas desesperadas. Ele correu ao arm�rio de classe e procurou ali, afastando chifres de unic�rnio e entrela�ados de ervas secas at� encontrar, bem no fundo, uma caixinha de papel�o em que havia escrita a palavra "Bezoares". Abriu a caixa na hora em que Slughorn avisou: "Faltam dois minutos, turma!" Dentro dela havia meia d�zia de objetos castanhos e enrugados, parecendo mais rins secos do que pedras de verdade. Harry apanhou um deles, rep�s a caixa no arm�rio e voltou correndo ao seu caldeir�o. � Tempo... ENCERRADO! � anunciou Slughorn cordialmente. � Vamos ver como voc�s se sa�ram! Bl�sio... que � que voc� tem a�? Lentamente, Slughorn foi se deslocando pela sala, examinando os v�rios ant�dotos. Ningu�m terminara o dever, embora Hermione estivesse tentando for�ar mais alguns ingredientes para dentro do seu frasco antes de Slughorn passar. Rony desistira completamente, e apenas tentava evitar inalar os vapores f�tidos que emanavam do seu caldeir�o. Harry ficou parado aguardando, o bezoar apertado na m�o ligeiramente suada. Slughorn foi � sua mesa por �ltimo. Ele cheirou a po��o de Ernesto e passou � de Rony com uma careta. N�o se demorou sobre o caldeir�o de Rony, antes recuou depressa, com uma ligeira �nsia de v�mito. � E voc�, Harry. Que tem para me mostrar? O garoto estendeu a palma da m�o com o bezoar. Slughorn contemplou-o por longos dez segundos. Harry se perguntou, por um momento, se iria levar um berro do professor. Ent�o, ele atirou a cabe�a para tr�s �s gargalhadas. � Voc� � atrevido, rapaz! � trovejou ele, apanhando o bezoar e erguendo-o no ar para que toda a turma o visse. � Ah, voc� � como sua m�e... bem, n�o posso dizer que est� errado... um bezoar certamente agiria como ant�doto para todas essas po��es! Hermione, que tinha o rosto suado e fuligem no nariz, ficou l�vida. Seu ant�doto, ainda pela metade, que compreendia cinq�enta e dois ingredientes inclusive uma mecha dos pr�prios cabelos, borbulhava devagarinho �s costas de Slughorn, que n�o via mais ningu�m sen�o Harry. � E voc� pensou no bezoar sozinho, foi, Harry? � perguntou a amiga entre dentes. � Esse � o esp�rito individual imprescind�vel a um verdadeiro preparador de po��es! � exclamou Slughorn alegre, antes que Harry pudesse responder. � Igualzinho � m�e, L�lian tinha a mesma compreens�o intuitiva do preparo de po��es, sem d�vida ele herdou da m�e... certo, Harry, certo, se voc� tivesse um bezoar � m�o, � claro que resolveria... mas, como bezoares n�o servem para tudo e s�o bem raros, ainda vale a pena saber preparar ant�dotos... A �nica pessoa na sala que parecia mais irritada do que Hermione era Malfoy, que, para satisfa��o de Harry, derramara na roupa algo que lembrava v�mito de gato. Antes, por�m, que qualquer dos dois pudesse expressar sua f�ria por Harry ter sido o melhor da turma sem se esfor�ar, a sineta tocou. � Hora de guardar tudo! � disse Slughorn. � E mais dez pontos para Grifin�ria pela ousadia! Ainda rindo, ele voltou gingando � sua escrivaninha � frente da masmorra. Harry se demorou, levando um tempo excessivo para arrumar a mochila. Nem Rony nem Hermione lhe desejaram boa sorte ao sair; os dois pareciam muito aborrecidos. Por fim, restaram apenas Harry e Slughorn na sala. � Depressa, Harry, ou vai se atrasar para a pr�xima aula � disse Slughorn afavelmente, fechando com um estalo as presilhas de ouro de sua maleta de pele de drag�o. � Senhor � disse Harry, lembrando-se irresistivelmente de Voldemort �, eu queria lhe perguntar uma coisa. � Pergunte, ent�o, meu caro rapaz, pergunte... � Senhor, ser� que o senhor saberia alguma coisa sobre... sobre Horcruxes? Slughorn congelou. Seu rosto redondo pareceu afundar. Ele umedeceu os l�bios com a l�ngua e respondeu roucamente: � Que foi que voc� disse? � Perguntei se o senhor saberia alguma coisa sobre Horcruxes, senhor. O senhor entende... � Dumbledore mandou voc� fazer isso � sussurrou Slughorn. Sua voz mudara completamente. J� n�o era af�vel, mas chocada, aterrorizada. Ele apalpou o bolso do peito e puxou um len�o, enxugando a testa suada. � Dumbledore lhe mostrou aquela... aquela lembran�a � afirmou Slughorn. � Ent�o, mostrou? � Mostrou � respondeu Harry, decidindo imediatamente que era melhor n�o mentir. � �, � claro � comentou Slughorn em voz baixa, ainda enxugando o rosto p�lido. � E claro... bem, se voc� viu aquela lembran�a, Harry, ent�o sabe que eu n�o sei nada... nada... e repetiu a palavra enfatizando-a � ... sobre Horcruxes. E, apanhando a maleta, rep�s o len�o no bolso e saiu em dire��o � porta da masmorra. � Senhor � disse Harry, desesperado �, eu s� achei que o senhor talvez pudesse acrescentar alguma coisa � lembran�a... � Achou? Pois enganou-se, n�o �? ENGANOU-SE! Ele berrou a �ltima palavra e, antes que Harry pudesse dizer mais alguma coisa, saiu batendo a porta da masmorra. Nem Rony nem Hermione foram compreensivos quando Harry lhes contou a catastr�fica entrevista. Hermione ainda estava espumando com o modo com que Harry sa�ra vitorioso sem ter feito realmente o trabalho. Rony estava chateado porque Harry n�o lhe oferecera um bezoar. � Pareceria idiota se n�s dois tiv�ssemos feito a mesma coisa! � respondeu Harry irritado. � Olhe, eu tinha de tentar amaciar o professor para poder lhe perguntar sobre Voldemort, n�o �? Ah, se controla! � acrescentou exasperado quando viu Rony estremecer ao som daquele nome. Enfurecido com o seu fracasso e as atitudes de Rony e Hermione, nos dias que se seguiram Harry ficou remoendo o que fazer a respeito de Slughorn. Decidiu que por ora deixaria o professor pensar que ele esquecera as Horcruxes; com certeza seria melhor deixar Slughorn se acalmar e pensar que estava seguro antes de voltar � carga. Ao ver que Harry n�o tornava a interrog�-lo, o professor de Po��es reverteu ao tratamento afetuoso que lhe dispensava, e pareceu ter afastado o assunto de sua mente. O garoto esperou um convite para uma de suas festinhas noturnas, decidido desta vez a aceit�-lo, mesmo que tivesse de remarcar um treino de quadribol. Infelizmente, n�o veio convite algum. Harry verificou com Hermione e Gina: nenhuma das duas recebera convite e, pelo que sabiam, ningu�m mais o recebera tampouco. Harry n�o p�de deixar de se perguntar se isto significaria que Slughorn n�o era t�o esquecido quanto parecia ou simplesmente decidira n�o dar a Harry novas oportunidades para fazer perguntas. Nesse meio-tempo, a biblioteca de Hogwarts, pela primeira vez na mem�ria, deixara Hermione na m�o. A garota ficou t�o chocada, que at� esqueceu que estava aborrecida com Harry por causa do bezoar. � N�o encontrei uma �nica explica��o sobre o efeito das Horcruxes! � disse ela. � Nem umazinha! Consultei toda a Se��o Reservada e at� os livros mais horripilantes, que ensinam a preparar as po��es mais sinistras... nada! A �nica coisa que encontrei foi isto aqui, na introdu��o de Magia mui maligna... escute s�: "Sobre Horcruxes, a inven��o mais perversa da magia, n�o falaremos, nem daremos instru��es..." Ent�o, para que mencionaram? � indagou com impaci�ncia, fechando com for�a o velho livro que soltou um gemido fantasmag�rico. � Ah, cala essa boca � disse com rispidez, enfiando-o na mochila. A neve em torno da escola derreteu com a chegada de fevereiro e foi substitu�da por uma umidade fria e mon�tona. Nuvens cinza-arroxeadas pairavam � baixa altitude sobre o castelo, e uma chuva gelada cont�nua deixava os gramados escorregadios e lamacentos. O resultado disso foi que a primeira aula de Aparata��o do sexto ano, programada para a manh� de s�bado, para os alunos n�o faltarem �s aulas normais, foi realizada no Sal�o Principal e n�o ao ar livre. Quando Harry e Hermione chegaram ao Sal�o (Rony descera com Lil�), descobriram que as mesas tinham desaparecido. A chuva chicoteava as janelas altas e o teto encantado girava sombriamente no alto, quando eles se reuniram diante dos professores McGonagall, Snape, Flitwick e Sprout � diretores das quatro Casas �, e um bruxo mi�do que Harry acreditou ser o instrutor de Aparata��o do Minist�rio. O bruxo era estranhamente descorado, com pestanas transparentes, cabelos ralos e um ar incorp�reo, como se uma �nica lufada de vento pudesse lev�-lo. Harry ficou imaginando se as constantes Aparata��es e Desaparata��es teriam reduzido a sua solidez, ou se a sua fr�gil complei��o seria a ideal para algu�m que quisesse sumir. � Bom-dia � disse o bruxo do Minist�rio, quando todos os alunos haviam chegado e os diretores das Casas pediram sil�ncio. � Meu nome � Wilkie Twycross, e serei o seu instrutor ministerial de Aparata��o nas pr�ximas doze semanas. Espero poder prepar�-los para o teste de Aparata��o, neste prazo... � Malfoy, sossegue e preste aten��o! � vociferou a professora McGonagall. Todos se viraram. Malfoy ficara rosa-escuro; estava enfurecido quando se afastou de Crabbe, com quem, pelo jeito, estivera discutindo aos cochichos. Harry olhou de relance para Snape, que tamb�m parecia irritado, embora tivesse fortes suspeitas de que fosse menos pela grosseria de Malfoy do que pelo fato de McGonagall ter repreendido algu�m de sua Casa. � ... prazo em que muitos de voc�s talvez estejam prontos para fazer o teste � continuou Twycross, como se n�o tivesse havido interrup��o. � Como voc�s talvez saibam, normalmente � imposs�vel aparatar ou desaparatar em Hogwarts. O diretor suspendeu este encantamento, apenas no Sal�o Principal, por uma hora, para que voc�s possam praticar. Aproveito para enfatizar que n�o poder�o aparatar fora das paredes deste Sal�o, e que seria imprudente tentar. "Gostaria agora que cada um se posicionasse deixando um metro e meio de espa�o livre � frente." Houve um grande empurra-empurra durante o qual as pessoas se separaram, colidiram e mandaram os colegas dar dist�ncia. Os diretores das Casas andavam entre os alunos, enfileirandoos em posi��o e interrompendo discuss�es. � Harry, aonde voc� vai? � quis saber Hermione. Mas Harry n�o respondeu; atravessou r�pido a multid�o, passou pelo lugar em que o professor Flitwick se esgani�ava, fazendo tentativas de posicionar uns alunos da Corvinal que queriam ficar mais � frente, passou pela professora Sprout que aos gritos apressava os alunos da Lufa-Lufa a se enfileirarem, e por, fim, contornando Ernesto Macmillan, conseguiu se colocar atr�s de todo mundo, bem perto de Malfoy, que aproveitava a confus�o geral para continuar sua discuss�o com Crabbe, a metro e meio dele e parecendo revoltado. � N�o sei quanto tempo vai demorar, t� bem? � disparou Malfoy para ele, ignorando a presen�a de Harry postado �s suas costas. � Est� levando mais tempo do que pensei. Crabbe abriu a boca, mas Malfoy pareceu adivinhar o que ele ia dizer. � Escuta aqui, n�o � de sua conta o que estou fazendo, Crabbe, voc� e Goyle fa�am o que eu mando e fiquem de olhos abertos! � Eu digo aos meus amigos o que estou fazendo, se quero que eles fiquem vigiando para mim � comentou Harry, suficientemente alto para que Malfoy ouvisse. Malfoy girou nos calcanhares, a m�o voando para a varinha, mas naquele exato momento os quatro diretores das Casas gritaram: � Quietos! � E fez-se novamente sil�ncio. Malfoy virou-se lentamente para frente. � Obrigado � disse Twycross. � Agora ent�o... Ele acenou a varinha. Instantaneamente apareceram aros antiquados de madeira no ch�o em frente a cada estudante. � E importante lembrar dos tr�s Ds quando aparatamos! Destina��o, Determina��o e Delibera��o! "Primeiro: concentrem a mente na destina��o desejada", disse Twycross. "No caso, o interior do seu aro. Agora, fa�am o favor de se concentrar nesta destina��o." Os alunos olharam para os lados furtivamente, para verificar se todos estavam olhando para o pr�prio aro, ent�o obedeceram depressa. Harry fixou o espa�o circular no ch�o empoeirado circunscrito pelo aro e fez for�a para n�o pensar em mais nada. N�o foi poss�vel porque n�o conseguia parar de imaginar o que Malfoy estaria fazendo para precisar de vigias. � Segundo � disse Twycross �, focalizem a sua determina��o de ocupar o espa�o visualizado! Deixe este desejo fluir da mente para todas as part�culas do seu corpo! Harry olhou sorrateiramente ao redor. Um pouco � esquerda, Ernesto contemplava o aro com tanto empenho que seu rosto estava cor-de-rosa; parecia que estava tentando botar um ovo do tamanho de uma goles. Harry sufocou uma risada e voltou depressa o olhar para o pr�prio arco. � Tr�s � disse Twycross �, e somente quando eu der a ordem... girem o corpo, sentindoo penetrar o v�cuo, mexendo-se com delibera��o! Quando eu mandar... um... Harry tornou a olhar para os lados; muita gente estava decididamente assustada com a ordem de aparatar t�o depressa. � ... dois... Harry tentou fixar seu pensamento novamente no aro; j� esquecera o que significavam os tr�s Ds. � ... TR�S! Harry girou o corpo, desequilibrou-se e quase caiu. N�o foi o �nico. O sal�o inteiro de repente se encheu de pessoas que cambaleavam; Neville estatelou-se de costas; Ernesto, por outro lado, atravessara o aro com uma esp�cie de pirueta e pareceu momentaneamente impressionado at� ver Dino Thomas rindo dele �s gargalhadas. � N�o faz mal, n�o faz mal � disse secamente Twycross, que n�o parecia ter esperado nada melhor. � Acertem os seus aros, por favor, e voltem � posi��o inicial... A segunda tentativa n�o foi melhor do que a primeira. A terceira foi igualmente ruim. Somente na quarta aconteceu algo excitante. Ouviu-se um terr�vel guincho de dor e todos se viraram, aterrorizados; viram Susana Bon�s, da Lufa-Lufa, bamboleando no arco com a perna esquerda ainda parada, a um metro e meio de dist�ncia, onde come�ara. Os diretores das Casas correram para a garota; houve um forte estampido e uma baforada de fuma�a p�rpura que, ao se dissolver, revelou Susana solu�ante, reintegrada � sua perna, mas horrorizada. � Estrunchamento, ou separa��o casual de partes do corpo � explicou Twycross, sem demonstrar emo��o �, ocorre quando a mente n�o tem determina��o suficiente. � preciso concentrar continuamente em sua destina��o e se mexer sem pressa, mas com delibera��o... assim. Twycross deu um passo � frente, girou o corpo com eleg�ncia mantendo os bra�os estendidos e sumiu em um rodopio de vestes, reaparecendo no fundo do Sal�o. � Lembrem-se dos tr�s Ds � disse o instrutor � e tentem outra vez... um... dois... tr�s... Mas uma hora depois, o Estrunchamento de Susana ainda era a coisa mais interessante que tinha acontecido. Twycross n�o pareceu desanimar. Abotoando a capa ao pesco�o, disse com simplicidade: � At� o pr�ximo s�bado, e n�o se esque�am: destina��o, determina��o e delibera��o. E, dizendo isso, acenou a varinha fazendo os aros desaparecerem e saiu do Sal�o acompanhado pela professora McGonagall. Imediatamente as pessoas come�aram a conversar e a se deslocar em dire��o ao Sagu�o de Entrada. � Como foi com voc�? � perguntou Rony, correndo a se reunir a Harry. � Acho que senti alguma coisa da �ltima vez que tentei: uma esp�cie de formigamento nos p�s. � Acho que os seus t�nis est�o pequenos demais, Uon-Uon � disse uma voz �s suas costas, e Hermione passou, risonha. � N�o senti nada � comentou Harry, ignorando a interrup��o. � Mas n�o estou ligando para isso agora... � Voc� quer dizer que n�o est� ligando... que n�o quer aprender a aparatar? � perguntou Rony incr�dulo. � N�o estou realmente preocupado. Prefiro voar � disse Harry, espiando por cima do ombro para ver onde estava Malfoy, e apressando o passo quando alcan�aram o Sagu�o de Entrada. � Olha, quer fazer o favor de andar mais depressa, tem uma coisa que quero fazer... Perplexo, Rony acompanhou Harry de volta � Torre da Grifin�ria, correndo. Foram temporariamente detidos por Pirra�a, que emperrara a porta do quarto andar e se recusava a deixar as pessoas passarem a n�o ser que ateassem fogo �s pr�prias cal�as, mas Harry e Rony simplesmente deram meia-volta e tomaram um dos seus atalhos confi�veis. Em cinco minutos, estavam passando pelo buraco do retrato. � Ent�o, vai me dizer o que estamos fazendo? � perguntou Rony um pouco ofegante. � L� em cima � respondeu Harry, atravessando a sala comunal e entrando pela porta que levava ao dormit�rio dos garotos. O dormit�rio estava vazio, como Harry previra. Ele abriu o mal�o e come�ou a procurar alguma coisa, enquanto Rony observava impaciente. � Harry... � Malfoy est� usando Crabbe e Goyle como vigias. Ele esteve brigando com Crabbe agora h� pouco. Quero saber... ah-ah. Ele o encontrara, um quadrado de pergaminho dobrado e aparentemente limpo, que em seguida abriu e tocou com a ponta da varinha. � Juro solenemente que n�o pretendo fazer nada de bom... ou pelo menos � o que o Malfoy n�o pretende Na mesma hora, o Mapa do Maroto se tornou vis�vel na superf�cie do pergaminho. Ali estava uma planta detalhada de cada andar do castelo e, deslocando-se por ela, os min�sculos pontinhos negros com r�tulos que indicavam cada um dos ocupantes do castelo. � Me ajude a localizar Malfoy � pediu Harry em tom de urg�ncia. Ele esticou o mapa em cima da cama, e os dois se debru�aram para procurar. � Ali! � exclamou Rony depois de um minuto e pouco. � Ele est� na sala comunal da Sonserina, olhe... com Parkinson e Zabini e Crabbe e Goyle... Harry olhou desapontado, mas reanimou-se quase imediatamente. � Bem, vou ficar de olho nele daqui para frente � disse com firmeza. � E, na hora em que o vir rondando por algum lugar com Crabbe e Goyle vigiando do lado de fora, vou vestir minha Capa da Invisibilidade e sair para descobrir o que ele... Harry parou de falar quando Nev�lle entrou no dormit�rio, espalhando um cheiro forte de tecido queimado, e come�ou a procurar cal�as limpas no mal�o. Apesar de sua determina��o de apanhar Malfoy em flagrante, Harry n�o teve sorte nas duas semanas seguintes. E, embora consultasse o mapa sempre que podia, por vezes fazendo visitas desnecess�rias ao banheiro entre as aulas para dar uma olhada, nem uma vez viu Malfoy em qualquer lugar suspeito. E verdade que ele localizou Crabbe e Goyle andando sozinhos pelo castelo com maior freq��ncia do que a normal, por vezes parando em corredores desertos, mas, nessas ocasi�es, Malfoy nem sequer se encontrava por perto, e era at� imposs�vel localiz�-lo no mapa. O que era um grande mist�rio. Harry brincou com a possibilidade de Malfoy estar saindo dos limites da escola, mas n�o conseguia ver como poderia fazer isso, dado o alto n�vel das medidas de seguran�a em vigor no castelo. S� poderia supor que n�o estava identificando Malfoy entre as centenas de min�sculos pontos pretos que apareciam no mapa. Quanto ao fato de Malfoy, Crabbe e Goyle darem a impress�o de tomar caminhos diferentes quando costumavam ser insepar�veis, era comum isto acontecer quando as pessoas ficavam mais velhas: Rony e Hermione, refletiu Harry com tristeza, eram uma prova viva disso. O m�s de fevereiro foi se aproximando de mar�o sem altera��o no tempo, exceto que passou a ventar mais al�m de chover. Para indigna��o geral, foi afixado um aviso em todas as salas comunais: o passeio seguinte a Hogsmeade fora cancelado. Rony ficou furioso. � Era no dia do meu anivers�rio! � exclamou. � Eu estava aguardando, ansioso! � Mas n�o � uma surpresa t�o grande, n�o �? � comentou Harry. � N�o depois do que aconteceu com C�tia. A garota ainda n�o voltara do St. Mungus. Al�m disso, o Profeta Di�rio andara noticiando novos desaparecimentos, inclusive de parentes de alunos de Hogwarts. � Agora s� me resta aguardar aquela aula idiota de Aparata��o! � replicou Rony rabugento. � Grande presente de anivers�rio... Tr�s aulas depois, a Aparata��o continuava dif�cil como sempre, embora mais alguns alunos tivessem conseguido se Estrunchar. Havia muita frustra��o e uma certa m� vontade com rela��o a Twycross e seus tr�s Ds, que tinham inspirado numerosos apelidos, entre os quais os mais gentis eram Destrambelhado e Despirocado. � Feliz anivers�rio, Rony � desejou-lhe Harry, quando foram acordados no primeiro dia de mar�o com o barulho que fizeram Simas e Dino ao sair para o caf� da manh�. � Toma o seu presente. Ele atirou na cama de Rony um embrulho que foi se juntar a uma pequena pilha que devia ter sido entregue pelos elfos dom�sticos durante a noite, sup�s Harry. � Falou � disse Rony sonolento, e, enquanto ele rasgava o papel, Harry se levantou, abriu o mal�o e come�ou a procurar o Mapa do Maroto, que sempre escondia, depois de usar. Tirou metade do conte�do do mal�o antes de encontr�-lo, escondido sob as meias enroladas onde ainda guardava o frasco da po��o da felicidade, a Felix Felicis. � Certo � murmurou, e, levando-o para a cama, tocou-o com a varinha e sussurrou: � Juro solenemente que n�o pretendo fazer nada de bom... � t�o baixinho que Neville, que ia passando ao lado de sua cama, n�o ouviu. � Beleza, Harry! � exclamou Rony entusiasmado, agitando o novo par de luvas de goleiro que o amigo lhe dera. � N�o esquenta � disse Harry, distra�do, enquanto examinava atentamente o dormit�rio da Sonserina � procura de Malfoy. � Ei... acho que ele n�o est� na cama dele... Rony n�o respondeu, estava ocupado demais desembrulhando presentes, e soltando de vez em quando uma exclama��o de prazer. � Maior arrast�o este ano! � anunciou, erguendo um pesado rel�gio de ouro com s�mbolos estranhos em volta do mostrador e estrelinhas m�veis em vez de ponteiros. � Viu o que minha m�e e meu pai compraram para mim? Caramba, acho que vou me emancipar no ano que vem tamb�m... � Legal � resmungou Harry, olhando o rel�gio de relance e voltando a estudar o mapa com mais aten��o. Onde estava o Malfoy? Pelo jeito, n�o estava � mesa da Sonserina no Sal�o Principal, tomando o caf� da manh�... nem perto de Snape, sentado em seu escrit�rio... nem nos banheiros, nem na ala hospitalar. � Quer um? � perguntou Rony com a voz empastada, estendendo uma caixa de caldeir�es de chocolate. � N�o, obrigado � respondeu Harry erguendo os olhos. � Malfoy desapareceu outra vez! � N�o pode ser � disse Rony, enfiando um segundo caldeir�o na boca ao mesmo tempo que sa�a da cama para se vestir. � Anda, se voc� n�o se apressar ter� de aparatar com a barriga vazia... quem sabe � mais f�cil... Rony olhou pensativo para a caixa de caldeir�es de chocolate, depois sacudiu os ombros e se serviu de um terceiro bombom. Harry tocou o mapa com a varinha, e resmungou: "Malfeito feito", embora n�o o tivesse feito, e se vestiu pensativo. Tinha de haver uma explica��o para os sumi�os peri�dicos de Malfoy, mas ele simplesmente n�o conseguia saber qual era. A melhor maneira de descobrir seria segui-lo, mas, mesmo com a Capa da Invisibilidade, a id�ia n�o era pr�tica; ele tinha aulas, treino de quadribol, deveres de casa e Aparata��o; n�o poderia seguir Malfoy pela escola o dia inteiro sem que sua aus�ncia fosse notada. � Pronto? � perguntou a Rony. Harry estava a meio caminho da porta do dormit�rio quando percebeu que Rony n�o se mexera, estava apoiado no pilar da cama com os olhos fixos na janela lavada de chuva e um olhar estranhamente desfocado no rosto. � Rony! Caf� da manh�. � N�o estou com fome. Harry encarou-o. � Achei que voc� tinha acabado de dizer...? � Bem, tudo bem, eu des�o com voc� � suspirou Rony �, mas n�o quero comer. Harry examinou-o desconfiado. � Voc� acabou de comer metade de uma caixa de caldeir�es de chocolate, n�o foi? � N�o � isso � Rony tornou a suspirar. � Voc�... n�o entenderia. � Ent�o t�... � respondeu Harry, embora intrigado, virando-se para abrir a porta. � Harry! � Rony chamou de repente. � Qu�? � Harry, n�o consigo suportar! � N�o consegue suportar o qu�? � indagou Harry, agora decididamente come�ando a se assustar. Rony estava muito p�lido como se fosse enjoar. � N�o consigo parar de pensar nela! � respondeu ele rouco. Harry olhou-o boquiaberto. N�o esperava uma coisa dessas e n�o estava muito seguro de que queria ouvi-la. Eram amigos, mas se Rony come�asse a chamar Lil� de "L�-l�", ele teria de resistir com firmeza. � E em que isso impede voc� de tomar caf�? � perguntou Harry, tentando introduzir uma dose de bom senso na negocia��o. � Acho que ela n�o sabe que eu existo � respondeu o amigo com um gesto desesperado. � Decididamente, ela sabe que voc� existe � replicou Harry, espantado. � Ela n�o p�ra de agarrar voc�, n�o �? Rony abriu e fechou os olhos. � De quem � que voc� est� falando? � De quem � que voc� est� falando? � perguntou Harry, com a sensa��o crescente de que a conversa deixara de ser racional. � Romilda Vane � respondeu Rony baixinho, e todo o seu rosto pareceu iluminar ao dizer este nome, como se um pur�ssimo raio de sol o tivesse atingido. Os dois se encararam por quase um minuto e, por fim, Harry falou: � Isto � uma brincadeira, certo? Voc� est� brincando. � Acho... Harry, acho que estou apaixonado por ela � disse Rony com a voz estrangulada. � O.k. � concordou Harry, aproximando-se de Rony para examinar melhor os seus olhos vidrados e o rosto p�lido. � O.k... diz isso outra vez de cara s�ria. � Amo a Romilda � repetiu Rony de um f�lego. � Voc� notou os cabelos dela, s�o negros e brilhantes e macios... e os olhos? Aqueles olhos enormes, negros? E... � � muito engra�ado e tudo o mais � disse Harry impaciente �, mas chega de brincadeira, t�? Acabou. Ele se virou para sair do dormit�rio; dera dois passos em dire��o � porta quando um golpe demolidor atingiu-o na orelha direita. Cambaleando, ele se virou. Rony j� recuara o punho, seu rosto estava distorcido de raiva; ia dar outro murro. Harry reagiu instintivamente; a varinha saiu do bolso e o encantamento aflorou � sua mente sem que ele percebesse: Levicorpus! Rony urrou quando sentiu o seu calcanhar ser novamente puxado para o alto; ficou pendurado sem a��o, de cabe�a para baixo, as vestes caindo pelo avesso. � Por que isso? � berrou Harry. � Voc� a ofendeu, Harry! Voc� disse que era uma brincadeira! � gritou Rony, cujo rosto foi ficando gradualmente p�rpura � medida que o sangue descia para a cabe�a. � Isso � uma pira��o! Que � que deu em... E ent�o ele viu a caixa aberta na cama de Rony, e a verdade o atingiu com a for�a de um trasgo desembestado. � Onde voc� arranjou esses caldeir�es de chocolate? � Foram presente de anivers�rio! � gritou Rony, girando lentamente no ar tentando se desvencilhar. � Eu lhe ofereci um, n�o foi? � Voc� simplesmente os apanhou no ch�o, n�o foi? � Ca�ram da minha cama, t� bem? Me solte! � N�o ca�ram da sua cama, seu retardado, voc� n�o entende? Eles s�o meus, eu os atirei fora do mal�o quando estava procurando o mapa. S�o os caldeir�es de chocolate que a Romilda me deu antes do Natal, e est�o incrementados com uma po��o de amor! Mas apenas uma palavra de tudo que Harry dissera parecia ter penetrado a cabe�a de Rony. � Romilda? � repetiu ele. � Voc� disse Romilda? Harry... eu conhe�o ela? Voc� pode me apresentar? Harry ficou olhando para o amigo pendurado, cujo rosto agora transparecia esperan�a, e refreou um intenso desejo de rir. Uma parte dele, a parte mais pr�xima da orelha direita que latejava, era favor�vel � id�ia de deixar Rony descer e ficar assistindo �s suas loucuras at� os efeitos da po��o passarem... mas, por outro lado, eles eram amigos; Rony estava fora de si quando o atacara, e Harry achou que mereceria outro soco, se o deixasse declarar seu imorredouro amor a Romilda Vane. � E, vou lhe apresentar � disse Harry pensando r�pido. � Vou descer voc� agora, o.k.? Ele fez Rony despencar de volta ao ch�o (sua orelha do�a � beca), mas Rony simplesmente se levantou �gil e sorridente. � Ela deve estar no escrit�rio de Slughorn � informou Harry com seguran�a, saindo primeiro em dire��o � porta. � Por que ela deve estar l�? � perguntou Rony ansioso, correndo para alcan�ar o amigo. � Ah, ela tem aulas extras de Po��es com ele � respondeu Harry, fantasiando. � Quem sabe eu tamb�m posso ter aulas junto com ela? � sugeriu Rony ansioso. � �tima id�ia. Lil� estava esperando ao lado do buraco do retrato, uma complica��o que Harry n�o previra. � Voc� est� atrasado Uon-Uon! � disse, fazendo beicinho. � Comprei um presente de... � Me deixa em paz � disse Rony impaciente. � Harry vai me apresentar a Romilda Vane. E, sem dizer mais nada, saiu pelo buraco do retrato. Harry tentou fazer cara de quem pede desculpas, mas talvez tenha feito cara de riso porque Lil� parecia mais ofendida do que nunca quando a Mulher Gorda tornou a fechar a passagem. Harry ficou um pouco apreensivo que Slughorn pudesse estar tomando caf�, mas o professor atendeu a porta do escrit�rio � primeira batida, usando um roup�o de veludo verde e um gorro igual, com olhos de quem n�o dormira direito. � Harry � murmurou ele. � � muito cedo para fazer visitas... em geral durmo at� tarde no s�bado. � Professor, lamento realmente incomodar o senhor � disse Harry com a voz mais baixa poss�vel, enquanto Rony se erguia nas pontas dos p�s tentando espiar a sala que o professor bloqueava �, mas o meu amigo Rony engoliu uma po��o de amor por engano. Ser� que o senhor poderia preparar um ant�doto para ele? Eu o levaria a Madame Pomfrey, mas � proibido ter artigos da Gemialidades Weasley e, o senhor entende... perguntas embara�osas... � Eu teria pensado que voc� fosse capaz de preparar um rem�dio em um minuto, Harry, um ex�mio preparador de po��es como voc�, n�o? � questionou Slughorn. � �h � come�ou Harry, meio distra�do, porque Rony agora o acotovelava tentando for�ar entrada no aposento �, bem, eu nunca preparei um ant�doto para uma po��o de amor, senhor, e at� que eu acertasse, Rony poderia ter feito alguma coisa grave... Por sorte, Rony escolheu esse momento para gemer: � N�o estou vendo ela, Harry... o professor est� escondendo a Romilda? � A po��o estava dentro da validade? � perguntou Slughorn, examinando Rony com interesse profissional. � Ficam mais concentradas, sabe, quando guardadas por muito tempo. � Isto explicaria muita coisa � ofegou Harry, agora positivamente resistindo a Rony para n�o deix�-lo derrubar Slughorn. � � anivers�rio dele, professor � acrescentou o garoto em tom de s�plica. � Ah, est� bem, entrem, ent�o, entrem � concordou Slughorn. � Tenho o que preciso aqui na bolsa, n�o � um ant�doto trabalhoso... Rony embarafustou pela porta do escrit�rio superaquecido e supermobiliado de Slughorn, trope�ou em um tamborete com borlas para os p�s, recobrou o equil�brio agarrando Harry pelo pesco�o e murmurou: � Ela n�o viu isso, n�o �? � Ela ainda n�o chegou � disse Harry, observando Slughorn abrir o estojo de po��es e misturar umas pitadinhas disto e daquilo em um pequeno frasco de cristal. � Que bom! � exclamou Rony com fervor. � Como � que estou? � Bonit�o � respondeu Slughorn sem hesitar, entregando a Rony um copo de l�quido claro. � Agora beba, � um t�nico para os nervos, para mant�-lo calmo quando ela chegar, sabe. � Genial � Rony falou com ansiedade e engoliu ruidosamente o ant�doto. Harry e Slughorn o observaram. Por um momento, Rony sorriu para ambos. Depois, aos poucos, seu sorriso murchou e desapareceu, e foi substitu�do por uma express�o de total horror. � Ent�o, voltou ao normal? � perguntou Harry sorrindo. Slughorn deu uma risada discreta. � Obrigado, professor. � N�o foi nada, meu rapaz, n�o foi nada � disse Slughorn, enquanto Rony desmontava em uma cadeira pr�xima, parecendo arrasado. � Um t�nico, � do que ele precisa � continuou Slughorn, agora indo at� uma mesa repleta de bebidas. � Tenho cerveja amanteigada, tenho vinho, tenho uma �ltima garrafa de hidromel envelhecido em barril de carvalho... hum... ia presente�-la a Dumbledore no Natal... ah bem... � sacudiu os ombros � ele n�o pode sentir falta do que nunca recebeu! Por que n�o a abrimos agora para comemorar o anivers�rio do Sr. Weasley? Nada como uma boa bebida para curar as dores de um desapontamento amoroso... Ele riu de novo, e Harry o acompanhou. Esta era a primeira vez que ele se encontrava quase sozinho com Slughorn desde a desastrosa tentativa de extrair do professor a lembran�a verdadeira. Talvez, se ele pudesse manter Slughorn de bom humor... talvez se tomassem suficiente hidromel envelhecido em carvalho... � Pronto, aqui t�m � disse Slughorn, entregando a cada garoto uma ta�a de hidromel, antes de erguer a pr�pria. � Bem, um �timo anivers�rio para voc�, Ralph... � Rony... � sussurrou Harry. Mas Rony, que n�o pareceu estar ouvindo o brinde, j� virar� o hidromel de um gole. Transcorreu um segundo, pouco mais que uma pulsa��o, em que Harry notou que havia alguma coisa terrivelmente errada, e Slughorn, pelo visto, n�o percebeu. � ... e que esta data se repita por muitos... � Rony! Rony tinha deixado cair a ta�a; fez men��o de se levantar da cadeira e desmontou frouxamente, suas extremidades sacudindo descontroladas. Ele babava espuma e seus olhos saltavam das �rbitas. � Professor! � berrou Harry. � Fa�a alguma coisa! Slughorn, por�m, parecia paralisado pelo choque. Rony se contorceu e engasgou: sua pele come�ou a azular. � Que... mas... � gaguejou Slughorn. Harry saltou por cima de uma mesinha baixa em dire��o ao estojo de po��es aberto, tirou frascos e bolsinhas, enquanto o medonho ru�do da respira��o gorgolejante de Rony enchia a sala. Ent�o Harry a encontrou: a pedra com aspecto de rim murcho que entregara a Slughorn na aula de Po��es. Tornou a correr para junto de Rony, abriu sua boca e jogou dentro o bezoar. O amigo deu um estreme��o, um arquejo estertorante, e seu corpo ficou mole e im�vel. CAP�TULO DEZENOVE CAMPANA DE ELFOS � ENT�O, NO GERAL, N�O FOI um dos melhores anivers�rios do Rony, n�o �? � comentou Fred. Era noite; a ala hospitalar estava silenciosa, as cortinas fechadas, as luzes acesas. A cama de Rony era a �nica ocupada. Harry, Hermione e Gina estavam sentados � sua volta; tinham passado o dia inteiro esperando do lado de fora das portas duplas, tentando espiar l� para dentro, sempre que algu�m entrava ou sa�a. Madame Pomfrey s� os deixara entrar �s oito horas da noite. Fred e Jorge tinham chegado dez minutos depois. � N�o foi bem assim que imaginamos entregar nosso presente �disse Jorge, s�rio, deixando um grande embrulho na mesa-de-cabeceira de Rony e se sentando ao lado de Gina. � �, quando imaginamos a cena, ele estava consciente � confirmou Fred. � Est�vamos em Hogsmeade, esperando para fazer uma surpresa a ele � falou Jorge. � Voc�s estavam em Hogsmeade? � admirou-se Gina, erguendo a cabe�a. � Estivemos pensando em comprar a Zonkos � respondeu Fred triste. � Uma filial em Hogsmeade, sabe, mas n�o vai nos adiantar nada, se voc�s n�o tiverem mais permiss�o de sair nos fins de semana e comprar os nossos artigos... mas deixa isso para l�. Ele puxou uma cadeira ao lado de Harry e contemplou o rosto p�lido de Rony. � Como foi exatamente que isso aconteceu, Harry? O garoto tornou a contar a hist�ria que tinha a impress�o de j� ter repetido cem vezes a Dumbledore, a McGonagall, a Madame Pomfrey, a Hermione e a Gina. � ... ent�o enfiei o bezoar na boca de Rony e a respira��o dele melhorou um pouco, Slughorn correu para buscar ajuda, McGonagall e Madame Pomfrey apareceram e o trouxeram aqui para cima. Acham que vai se curar. Madame Pomfrey diz que ter� de ficar aqui mais ou menos uma semana... tomando Ess�ncia de Arruda. � Caramba, foi sorte voc� ter se lembrado do bezoar � disse Jorge em voz baixa. � Sorte que tivesse um na sala � respondeu Harry, que gelava s� de pensar no que teria acontecido se n�o tivesse conseguido obter a pedrinha. Hermione deu uma fungada quase inaud�vel. Tinha estado excepcionalmente quieta o dia todo. Tendo se precipitado, l�vida, ao encontro de Harry, � porta da ala hospitalar, e exigido saber o que acontecera, ela praticamente n�o participara da discuss�o obsessiva entre Harry e Gina sobre o modo como Rony fora envenenado; meramente se postara ao lado deles, com os dentes cerrados e uma express�o de medo at� que, finalmente, receberam autoriza��o para v�-lo. � Mam�e e papai sabem? � perguntou Fred a Gina. � Eles j� viram o Rony, chegaram h� uma hora; est�o no escrit�rio de Dumbledore, agora, mas v�o voltar logo... Houve uma pausa durante a qual todos ficaram observando Rony, adormecido, resmungar um pouco. � Ent�o o veneno estava na garrafa? � perguntou Jorge em voz baixa. � Estava � respondeu Harry imediatamente; n�o conseguia pensar em nada mais, e a oportunidade de retomar a discuss�o o deixava feliz. � Slughorn serviu o hidromel... � Ele poderia ter posto alguma coisa na ta�a de Rony sem voc� ver? � Provavelmente, mas por que Slughorn iria querer envenenar Rony? � N�o fa�o a menor id�ia � respondeu Fred, enrugando a testa. � Voc� acha que ele poderia ter trocado as ta�as por engano? Querendo envenenar voc�? � Por que Slughorn iria querer envenenar Harry? � indagou Gina. � N�o sei � replicou Fred �, mas deve haver muita gente que gostaria de envenenar Harry, n�o? "O Eleito" e tudo o mais? � Ent�o voc� acha que Slughorn � um Comensal da Morte? � perguntou Gina. � Tudo � poss�vel � respondeu Fred sombriamente. � Ele poderia estar dominado pela Maldi��o Imperius � sugeriu Jorge. � Ou poderia ser inocente � tornou Gina. � O veneno poderia estar na garrafa, caso em que provavelmente era destinado ao pr�prio Slughorn. � Quem iria querer matar Slughorn? � Dumbledore acha que Voldemort queria o apoio de Slughorn � disse Harry. � O professor esteve escondido durante um ano antes de vir para Hogwarts. E... � ele pensou na lembran�a que Dumbledore ainda n�o conseguira extrair dele � ... e talvez Voldemort queira tirar Slughorn do caminho, talvez ache que ele pode ser valioso para Dumbledore. � Mas voc� disse que Slughorn tinha pensado em dar a garrafa a Dumbledore no Natal � Gina lembrou a Harry. � Ent�o o envenenador poderia muito bem estar atr�s do Dumbledore. � Ent�o o envenenador n�o conhecia Slughorn muito bem � falou Hermione pela primeira vez em horas, com voz de quem pegara um forte resfriado. � Qualquer um que conhecesse Slughorn saberia que havia grande probabilidade do professor guardar uma coisa gostosa daquela para si mesmo. � Her-mi-o-ne � crocitou Rony inesperadamente. Todos se calaram, observando-o ansiosos, mas, depois de resmungar palavras incompreens�veis por um momento, ele simplesmente come�ou a roncar. As portas da enfermaria se escancararam, sobressaltando a todos: Hagrid entrou e se encaminhou para o grupo, sua cabeleira salpicada de chuva, o casaco de p�lo de urso ondulando aos seus passos, um arco na m�o, deixando no ch�o um rastro de pegadas lamacentas do tamanho de b�ias. � Passei o dia todo na Floresta! � ofegou. � Aragogue piorou, estive lendo para ele... s� me levantei para jantar agora h� pouco, e a professora Sprout me contou o que aconteceu ao Rony. Como � que ele est�? � Nada mal � respondeu Harry. � Dizem que vai ficar bom. � Somente seis visitas de cada vez! � avisou Madame Pomfrey, saindo depressa de sua sala. � Com o Hagrid s�o seis � salientou Jorge. � Ah... �... � concordou Madame Pomfrey, que, pelo jeito, contara Hagrid como v�rias pessoas, diante de sua corpul�ncia. Para disfar�ar seu embara�o, ela correu a limpar as pegadas com a varinha. � N�o acredito � disse Hagrid rouco, sacudindo a cabe�a peluda enquanto olhava para Rony. � Simplesmente n�o acredito... olha s� ele deitado a�... quem iria querer fazer mal a ele, eh? � � justamente o que estamos discutindo � disse Harry. � N�o sabemos. � Ser� que algu�m poderia estar com raiva da equipe de quadribol da Grifin�ria? � perguntou Hagrid ansioso. � Primeiro a C�tia, agora o Rony... � N�o consigo ver ningu�m tentando liquidar uma equipe de quadribol � comentou Jorge. � Wood teria acabado com os jogadores da Sonserina se n�o tivesse de pagar pelo crime � respondeu Fred, querendo ser justo. � Bem, acho que o motivo n�o � o quadribol, mas acho que h� uma liga��o entre os ataques � disse Hermione, baixinho. � Como � que voc� chegou a essa conclus�o? � perguntou Fred. � Bem, primeiro, os dois casos deviam ter sido fatais, mas n�o foram, embora tenha sido por pura sorte. Por outro lado, nem o veneno nem o colar parecem ter atingido a pessoa que deviam matar. � claro � acrescentou ela pensativa � que de certa forma isto torna o mandante dos atentados ainda mais perigoso, porque parece que n�o se importa com o n�mero de pessoas que liquida at� realmente chegar � sua v�tima. Antes que algu�m pudesse reagir a essa afirma��o agourenta, as portas tornaram a se abrir, e o casal Weasley entrou apressado na enfermaria. Em sua �ltima visita, tinham apenas se assegurado de que Rony se recuperaria totalmente: agora a Sra. Weasley agarrou Harry e lhe deu um abra�o apertado. � Dumbledore nos contou como voc� salvou Rony com o bezoar � solu�ou a bruxa. � Ah, Harry, que podemos dizer? Voc� salvou Gina... salvou Arthur... agora salvou Rony... � N�o precisa... eu n�o... � murmurou Harry sem jeito. � Parece que metade da nossa fam�lia lhe deve a vida, agora que paro para pensar � falou o Sr. Weasley com a voz embargada. � Bem, s� o que posso dizer � que foi um dia de sorte para os Weasley quando Rony resolveu sentar no seu compartimento no Expresso de Hogwarts, Harry. O garoto n�o soube o que responder e quase se alegrou quando Madame Pomfrey tornou a ralhar com eles porque s� podiam permanecer seis visitas em torno da cama de Rony; ele e Hermione se levantaram na mesma hora para sair e Hagrid decidiu acompanh�-los, deixando Rony com a fam�lia. � � terr�vel � resmungou Hagrid, quando os tr�s caminhavam pelo corredor em dire��o � escadaria de m�rmore. � Todas essas novidades na seguran�a e os garotos continuam a ser atingidos... Dumbledore est� morto de preocupa��o... ele n�o fala muito, mas d� para sentir... � Ele n�o tem nenhuma id�ia, Hagrid? � perguntou Hermione desesperada. � Acho que tem centenas de id�ias, um c�rebro como o dele � disse Hagrid lealmente. � Mas n�o sabe quem mandou aquele colar nem quem envenenou o vinho, ou eles j� teriam sido pegos, n�o acha? O que me preocupa � continuou ele baixando a voz e espiando por cima do ombro (Harry, por precau��o, verificou se Pirra�a estaria no teto) � � quanto tempo Hogwarts pode continuar aberta se os garotos n�o param de ser atacados. � a C�mara Secreta outra vez, n�o � mesmo? Vai haver p�nico, muitos pais v�o tirar os filhos da escola e, quando a gente der pela coisa, o conselho diretor... Hagrid se calou enquanto o fantasma de uma mulher de longos cabelos passava serenamente por eles, ent�o retomou o que dizia num sussurro rouco: � ... o conselho diretor vai come�ar a falar em nos fechar para sempre. � Com certeza que n�o � contestou Hermione, preocupada. � Temos que ver o ponto de vista deles � replicou Hagrid pesaroso. � Quero dizer, sempre foi meio arriscado mandar um garoto para Hogwarts, n�o acham? A gente espera que haja acidentes, n�o �, centenas de bruxos de menor idade trancados juntos, mas tentativa de homic�dio � outra coisa. N�o admira que Dumbledore esteja aborrecido com o Sn... Hagrid parou de repente, e uma express�o de culpa que os garotos conheciam t�o bem tornou-se vis�vel acima da emaranhada barba negra. � Qu�? � perguntou Harry depressa. � Dumbledore est� aborrecido com o Snape? � Eu nunca disse isso � protestou Hagrid, embora sua express�o de p�nico n�o pudesse ser maior confirma��o. � Olhem como � tarde, j� � quase meia-noite, preciso... � Hagrid, por que Dumbledore est� aborrecido com Snape? � perguntou Harry em voz alta. � Chiii! � disse Hagrid, parecendo ao mesmo tempo nervoso e zangado. � N�o grite essas coisas, Harry, voc� quer que eu perca o meu emprego? N�o que eu ache que voc� se importaria, n�o �, agora que desistiu de estudar Trato das... � N�o tente me fazer sentir culpado, n�o vai funcionar! � exclamou Harry energicamente. � Que foi que Snape fez? � N�o sei, Harry, eu n�o devia nem ter ouvido! Ah... bem, eu ia saindo da Floresta uma noite dessas e ouvi os dois conversando... bem, discutindo. N�o quis chamar aten��o para a minha pessoa, ent�o meio que me escondi e tentei n�o ouvir, mas foi uma... bem uma discuss�o inflamada, e foi dif�cil n�o ouvir. � E a�? � insistiu Harry, enquanto o amigo arrastava os enormes p�s pouco � vontade. � Bem... eu s� ouvi Snape dizer que o Dumbledore contava com muita coisa e talvez ele... Snape... n�o quisesse continuar a... � O qu�? � N�o sei, Harry, pareceu que o Snape estava se sentindo sobrecarregado, foi s�... em todo caso, Dumbledore disse, sem rodeios, que ele tinha concordado em fazer alguma coisa e que era assunto encerrado. Foi bastante firme com ele. E ent�o ele falou algo sobre Snape fazer investiga��es na Casa dele, na Sonserina. Bem, n�o vejo nada estranho nisso! � Hagrid apressou-se a acrescentar, enquanto Harry e Hermione trocavam olhares muito significativos. � Todos os diretores de Casas receberam ordem de investigar o caso do colar... � �, mas Dumbledore n�o andou brigando com os outros, n�o �? � replicou Harry. � Olhe � Hagrid torceu o arco nas m�os sem jeito; ouviu-se um forte estalo de madeira e o arco se partiu em dois �, eu sei o que voc� pensa do Snape, Harry, e n�o quero que entenda nessa hist�ria mais do que tem para entender. � Cuidado � avisou Hermione bruscamente. Eles se viraram em tempo de ver a sombra de Argo Filch se avultar na parede �s suas costas antes que o homem, corcunda, de queixo tr�mulo, aparecesse no canto do corredor. � Oho! � exclamou num chiado. � Fora da cama t�o tarde, isto vai significar deten��o! � N�o vai, n�o, Filch � disse Hagrid secamente. � Eles est�o comigo, n�o � mesmo? � E que diferen�a faz isso? � perguntou Filch desaforado. � Pombas, sou professor, n�o � mesmo, seu aborto fofoqueiro! � retrucou Hagrid, irritando-se. Ouviu-se um sibilo agressivo � medida que Filch inchava de f�ria; Madame Nora apareceu, sem ningu�m perceber, e se enroscou, sinuosa, nos tornozelos magros do dono. � V�o andando � disse Hagrid pelo canto da boca. Harry n�o precisou ouvir a segunda vez; ele e Hermione sa�ram ligeiros, ouvindo os ecos da alterca��o de Hagrid e Filch �s suas costas enquanto corriam. Passaram por Pirra�a antes de virarem para a Torre da Grifin�ria, mas o poltergeist voava feliz em dire��o � fonte da gritaria, rindo e cantarolando: Quando tem conflito e quando tem barulho, Chamem o Pirra�a, ele dobra a confus�o! A Mulher Gorda estava tirando um cochilo e n�o gostou de ser acordada, mas girou, resmungando, para permitir que os garotos entrassem na sala comunal, felizmente vazia e tranq�ila. Pelo visto, as pessoas ainda n�o sabiam o que acontecera a Rony; Harry sentiu um grande al�vio, j� fora suficientemente interrogado aquele dia. Hermione lhe deu boa-noite e foi para o dormit�rio das garotas. Harry, por�m, ficou na sala, e se sentou junto � lareira, contemplando as brasas que iam se apagando. Ent�o Dumbledore discutira com Snape. Apesar de tudo que dissera a Harry, apesar de insistir que confiava inteiramente em Snape, perdera a paci�ncia com ele... achava que Snape n�o se empenhara o suficiente para investigar os alunos da Sonserina... ou, talvez, investigar um �nico aluno: Malfoy? Ser� que Dumbledore n�o queria que Harry fizesse uma tolice, resolvesse agir por conta pr�pria, por isso fingira que n�o havia fundamento nas suspeitas do garoto? Era plaus�vel. Podia at� ser que Dumbledore quisesse evitar que Harry se desviasse de suas aulas ou de obter aquela lembran�a de Slughorn. Talvez Dumbledore n�o achasse direito confiar suas suspeitas sobre professores a adolescentes de dezesseis anos... � A� est� voc�, Potter! Harry saltou, assustado, empunhando a varinha. Estava certo de que n�o havia ningu�m na sala comunal; n�o estava preparado para ver um vulto colossal se erguer de repente de uma cadeira distante. Um olhar mais atento mostrou-lhe que era C�rmaco McLaggen. � Estive esperando voc� voltar � disse McLaggen, ignorando a varinha de Harry. � Devo ter adormecido. Olha, vi quando levaram Weasley para a ala hospitalar hoje cedo. E, pelo jeito, n�o estar� em condi��es de jogar a partida da semana que vem. Harry levou uns momentos para compreender o que McLaggen estava dizendo. � Ah... certo... quadribol � disse, guardando a varinha no c�s do jeans e passando a m�o, cansado, pelos cabelos. � �... talvez ele n�o possa jogar. � Bem, ent�o, eu serei o goleiro, n�o �? � �. �, presumo que sim... N�o conseguia pensar em nenhum argumento em contr�rio; afinal, McLaggen fora, sem d�vida, o segundo melhor nos testes. � Excelente � disse McLaggen satisfeito. � Ent�o, quando vai ser o treino? � Qu�? Ah... haver� um amanh� � noite. � �timo. Escute aqui, Potter, acho que dev�amos ter uma conversa antes. Tenho algumas id�ias sobre estrat�gia que podem lhe ser �teis. � Certo � concordou Harry sem entusiasmo. � Bem, voc� me fala amanh� ent�o. Estou muito cansado agora... a gente se v�... A not�cia de que Rony fora envenenado se espalhou rapidamente no dia seguinte, mas n�o causou a mesma sensa��o do ataque a C�tia. Aparentemente, as pessoas pensaram que poderia ter sido um acidente, e, considerando que ele estava na sala do professor de Po��es naquele momento e que recebera logo um ant�doto, n�o acontecera realmente mal algum. De fato, os alunos da Grifin�ria, de um modo geral, se mostravam bem mais interessados no jogo iminente contra a Lufa-Lufa, porque muitos queriam ver Zacarias Smith, que era o artilheiro da equipe, receber um bom castigo pelos seus coment�rios durante a partida de abertura da temporada contra a Sonserina. Harry, no entanto, nunca estivera menos interessado em quadribol; estava se tornando aceleradamente obcecado por Draco Malfoy. Ainda observando o Mapa do Maroto sempre que podia, ele por vezes sa�a do seu caminho para ir onde Malfoy estivesse, sem, contudo, encontr�-lo fazendo qualquer coisa fora do comum. E continuava a haver aqueles momentos inexplic�veis em que Malfoy simplesmente desaparecia do mapa. O garoto, por�m, n�o teve muito tempo para refletir sobre o problema era face dos treinos de quadribol, dos deveres e do fato de que ele estava sendo perseguido aonde quer que fosse por C�rmaco McLaggen e Lil� Brown. Ele n�o conseguia decidir qual era o mais importuno. McLaggen despejava um fluxo constante de insinua��es de que seria um goleiro titular melhor para a equipe do que Rony e que agora que Harry o veria jogar regularmente, com certeza, acabaria pensando o mesmo; C�rmaco tamb�m gostava de criticar os outros jogadores e de fornecer a Harry esquemas detalhados de treinamento, for�ando Harry, mais de uma vez, a lembrar-lhe quem era o capit�o. Enquanto isso, Lil� n�o parava de abord�-lo para falar sobre Rony, o que Harry achava mais estressante do que as prele��es de McLaggen sobre quadribol. A princ�pio, Lil� ficara muito aborrecida que ningu�m tivesse pensado em avis�-la de que Rony estava hospitalizado ("quero dizer, eu sou a namorada dele!"), mas, infelizmente, ela resolvera perdoar a Harry este lapso de mem�ria, e estava preferindo manter com ele conversas freq�entes e profundas sobre os sentimentos de Rony, uma experi�ncia extremamente desconfort�vel que o garoto teria dispensado com prazer. � Olha, por que voc� n�o conversa com Rony sobre tudo isso? � perguntou Harry, depois de um interrogat�rio particularmente longo de Lil�, que incluiu desde o que Rony dissera sobre suas novas vestes at� a opini�o de Harry se Rony estaria levando a "s�rio" o namoro dos dois. � Bem, eu faria isso, mas ele est� sempre dormindo quando vou � enfermaria! � respondeu Lil� impaciente. � � mesmo? � exclamou Harry, surpreso, pois encontrara Rony completamente acordado todas as vezes em que estivera na ala hospitalar, muito interessado em saber not�cias da discuss�o entre Dumbledore e Snape, e em xingar McLaggen sempre que podia. � Hermione Granger continua visitando Rony? � quis saber Lil� inesperadamente. � Acho que sim. Bem, eles s�o amigos, n�o �? � respondeu Harry constrangido. � Amigos, n�o me fa�a rir � comentou Lil� com desd�m. � Ela deixou de falar com Rony durante semanas quando ele come�ou a sair comigo! Mas imagino que queira reatar agora que ele se tornou t�o interessante... � Voc� chama interessante algu�m ser envenenado? De qualquer modo... me desculpe, tenho de ir andando... a� vem McLaggen para falar de quadribol � disse Harry, apressado, e se precipitou por uma porta lateral disfar�ada de parede s�lida e desceu por um atalho que o levaria � aula de Po��es onde, felizmente, nem Lil� nem McLaggen poderiam segui-lo. Na manh� do jogo de quadribol contra a Lufa-Lufa, Harry passou na ala hospitalar antes de seguir para o campo. Encontrou Rony muito agitado; Madame Pomfrey n�o queria deix�-lo ir assistir ao jogo, achando que poderia perturb�-lo demais. � Ent�o, como � que McLaggen est� se saindo? � perguntou nervoso a Harry, aparentemente esquecido de que j� fizera a mesma pergunta duas vezes. � J� lhe disse � respondeu Harry pacientemente �, ele poderia ser um goleiro de primeira linha e, ainda assim, eu n�o iria querer ele na equipe. Ele n�o p�ra de dizer a todo o mundo o que fazer, acha que poderia jogar em qualquer posi��o melhor do que a gente. Mal posso esperar para me livrar dele. E, por falar em se livrar de pessoas � acrescentou Harry, levantando-se e apanhando sua Firebolt �, quer parar de fingir que est� dormindo quando a Lil� vem visitar voc�? Ela � outra que est� me deixando maluco. � Ah � exclamou Rony, sem gra�a. � Tudo bem. � Se voc� n�o quer mais namorar, � s� dizer a ela. � �... bem... n�o � t�o f�cil, n�o �? � Rony fez uma pausa. � Hermione vai passar aqui antes do jogo? � acrescentou displicente. � N�o, ela j� foi para o campo com a Gina. � Ah � tornou Rony, parecendo deprimido. � Certo. Bem, boa sorte. Espero que voc� d� uma surra no McLag... quero dizer, no Smith. � Vou tentar � disse Harry, levando a vassoura ao ombro. � A gente se v� depois do jogo. Ele saiu apressado pelos corredores desertos; a escola inteira estava l� fora ou sentada no est�dio ou a caminho. Harry foi espiando pelas janelas ao passar, tentando avaliar quanto vento iam enfrentar, quando um barulho mais � frente chamou sua aten��o; ele viu Malfoy andando em sua dire��o em companhia de duas garotas, ambas com ar de contrariedade e raiva. Malfoy parou imediatamente ao ver Harry, ent�o soltou uma risada curta e seca e continuou a andar. � Aonde � que voc� vai? � quis saber Harry. � �, vou mesmo lhe dizer, Potter, porque � da sua conta � debochou Malfoy. � � melhor voc� correr, devem estar esperando o "Capit�o Eleito", o "Rapaz que fez Gol", ou sei l� qual � o nome que lhe d�o ultimamente. Uma das garotas riu, contrafeita. Harry encarou-a. Ela corou. Malfoy passou por Harry, e ela e a amiga o seguiram quase correndo, viraram num canto e desapareceram de vista. Harry ficou pregado ali, observando-os desaparecer. Isto era de enfurecer; estava em cima da hora para chegar ao est�dio em tempo e via Malfoy, rondando pelos corredores enquanto o restante da escola estava ausente: a melhor chance que Harry tivera at� o momento para descobrir o que Malfoy andava fazendo. Os segundos silenciosos passaram lentos e Harry continuou onde estava, paralisado, olhando para o lugar onde vira Malfoy desaparecer... � Aonde � que voc� andou? � indagou Gina, quando Harry entrou correndo no vesti�rio. A equipe inteira estava uniformizada e pronta; Coote e Peakes, os batedores, balan�avam os bast�es nervosamente contra as pernas. � Encontrei Malfoy � respondeu ele em voz baixa, enquanto enfiava as vestes vermelhas pela cabe�a. � E da�? � E da� eu queria saber por que ele estava no castelo com duas garotas enquanto todo o mundo est� aqui embaixo... � E isso faz diferen�a agora? � Bem, provavelmente n�o vou descobrir, n�o � mesmo? � respondeu ele, apanhando a Firebolt e endireitando os �culos. � Andem, vamos! E sem dizer mais nada, entrou em campo sob vaias e aplausos ensurdecedores. Ventava pouco; as nuvens estavam esgar�adas; a intervalos, deixavam passar lampejos ofuscantes de sol. � Condi��es enganosas! � disse McLaggen para estimular a equipe. � Coote, Peakes, voc�s ter�o de voar evitando o sol, para eles n�o verem voc�s se aproximando... � Eu sou o capit�o, McLaggen, pare de dar instru��es � exclamou Harry irritado. � Vai logo para junto das balizas! Quando McLaggen se afastou, Harry se dirigiu a Cootes e Peakes. � Procurem realmente voar evitando o sol � repetiu para os jogadores de m� vontade. Harry apertou a m�o do capit�o da Lufa-Lufa e, quando Madame Hooch apitou, deu impulso e levantou v�o, ganhando uma altitude maior do que o resto da equipe, para sobrevoar os limites do campo � procura do pomo. Se conseguisse agarr�-lo bem cedo, talvez pudesse voltar ao castelo, apanhar o Mapa do Maroto e descobrir o que Malfoy estava fazendo... "E l� vai Smith da Lufa-Lufa levando a goles", ecoou uma voz sonhadora pelos terrenos de Hogwarts. "Da �ltima vez, foi ele quem narrou o jogo, � claro, e Gina Weasley colidiu com o p�dio, provavelmente de prop�sito: ou assim me pareceu. Smith foi muito grosseiro nos coment�rios sobre a Grifin�ria, imagino que esteja arrependido agora que tem de enfrentar a equipe da Casa... ah, olhem, ele perdeu a posse da goles, Gina roubou-a dele, gosto dela, � muito boa..." Harry olhou admirado para o p�dio do locutor. Decerto, ningu�m com o ju�zo perfeito deixaria Luna Lovegood narrar o jogo! Mas, mesmo ali do alto, n�o havia como confundir aqueles longos cabelos louro-sujos nem aquele colar de rolhas de cerveja amanteigada... Ao lado de Luna, a professora McGonagall parecia meio constrangida, como se de fato estivesse refletindo sobre tal escolha. "... mas agora aquele grandalh�o da Lufa-Lufa tirou a goles de Gina, n�o estou conseguindo lembrar o nome dele, � alguma coisa parecida com Bibble... n�o, Buggins..." � � Cadwallader! � exclamou a professora McGonagall em voz alta ao lado de Luna. A multid�o riu. Harry correu os olhos ao redor, procurando o pomo; nem sinal. Instantes depois, Cadwallader marcou. McLaggen estivera aos berros, criticando Gina por perder a posse da goles, e, em conseq��ncia, n�o vira a grande bola vermelha passar voando por sua orelha direita. � McLaggen, quer prestar aten��o no que voc� devia estar fazendo e deixar os outros em paz?! � berrou Harry, dando meia-volta para ficar de frente para o seu goleiro. � Grande exemplo voc� est� dando! � gritou McLaggen em resposta, a cara vermelha de f�ria. "E Harry Potter agora est� discutindo com o seu goleiro", irradiou Luna calmamente, enquanto as torcidas da Lufa-Lufa e da Sonserina, entre os espectadores, aplaudiam e vaiavam. "Acho que isso n�o vai ajud�-lo a localizar o pomo, mas talvez seja um estratagema bem sacado..." Xingando enraivecido, Harry tornou a girar e recome�ou a contornar o campo, varrendo o c�u � procura de um sinal da bolinha de ouro alada. Gina e Demelza marcaram cada uma o seu gol, dando � torcida vermelho-e-ouro, l� embaixo, um motivo para se alegrar. Caldwallader tornou a golear, empatando o placar, mas Luna n�o pareceu notar; narrava como se n�o tivesse interessada em detalhes mundanos como o marcador, e todo o tempo tentava chamar a aten��o da multid�o para nuvens de formas curiosas e a possibilidade de Zacarias Smith, que at� o momento n�o conseguira manter a posse da goles por mais de um minuto, estar sofrendo de uma doen�a chamada "fiascurgia". "Setenta a quarenta para Lufa-Lufa!", anunciou a professora McGonagall ao megafone de Luna. "J�?", exclamou Luna distra�da. "Ah, vejam! O goleiro da Grifin�ria arrancou o bast�o de um dos batedores." Harry se virou no ar. De fato, McLaggen, por raz�es que s� ele sabia, tirara o bast�o de Peakes e parecia estar demonstrando como bater um bala�o em Cadwallader, que se aproximava. � Quer devolver o bast�o dele e voltar �s balizas?! � rugiu Harry voando em dire��o a McLaggen, exatamente na hora em que ele golpeava com ferocidade um bala�o e errava o alvo. Uma dor nauseante de cegar... um lampejo... gritos distantes... e a sensa��o de despencar por um longo t�nel... Quando recuperou os sentidos, Harry se viu deitado em uma cama extraordinariamente quente e confort�vel, olhando para um lampi�o, no alto, que projetava um c�rculo de luz dourada no teto escuro. Harry ergueu a cabe�a desajeitado. � sua esquerda, estava algu�m de sardas e cabelos ruivos que lhe pareceu familiar. � Que bom que veio me visitar � disse Rony rindo. Harry piscou os olhos e olhou ao redor. Claro: encontrava-se na ala hospitalar. O c�u l� fora estava azul-anil raiado de vermelho. O jogo devia ter acabado havia horas... tal como a esperan�a de encurralar Malfoy. Sua cabe�a parecia estranhamente pesada; ele ergueu a m�o e sentiu um turbante compacto de bandagens. � Que aconteceu? � Fratura no cr�nio � respondeu Madame Pomfrey, aproximando-se, en�rgica, e obrigando-o a deitar de novo nos travesseiros. � N�o precisa se preocupar, emendei tudo na hora, mas vou mant�-lo aqui at� amanh�. Voc� n�o deve fazer maiores esfor�os por algumas horas. � N�o quero ficar aqui at� amanh� � respondeu Harry, aborrecido, sentando-se e atirando as cobertas para longe. � Quero achar o McLaggen e matar ele. � Creio que isso se enquadre entre "maiores esfor�os" � disse Madame Pomfrey, empurrando-o, com firmeza, na cama e erguendo sua varinha amea�adoramente. � Voc� vai ficar aqui at� que eu lhe d� alta, Potter, ou chamarei o diretor. A bruxa voltou depressa para a sua sala, e Harry afundou nos travesseiros, espumando. � Voc� sabe de quanto perdemos? � perguntou a Rony entre os dentes. � Bem, sei � respondeu Rony em tom de quem pede desculpas. � O placar final foi trezentos e vinte a sessenta. � Genial � exclamou Harry com ferocidade. � Realmente genial! Quando eu pegar o McLaggen... � Voc� n�o quer pegar o McLaggen, ele � do tamanho de um trasgo � argumentou Rony. � Pessoalmente, sou mais a favor de azarar ele com aquele feiti�o do Pr�ncipe, na unha do p�. De qualquer modo, quem sabe o resto da equipe j� ter� cuidado dele quando voc� sair daqui, ningu�m ficou feliz... Havia uma nota de mal contida alegria na voz de Rony; Harry percebeu que ele estava simplesmente vibrando que McLaggen tivesse metido os p�s pelas m�os. Harry ficou ali, contemplando o retalho de luz no teto, sua cabe�a rec�m-emendada n�o estava exatamente do�da, mas parecia sens�vel sob aquelas bandagens. � Ouvi a narra��o da partida daqui � disse Rony, a voz tr�mula de riso. � Espero que seja sempre a Luna a comentar daqui para frente... Fiascurgia... Harry, no entanto, continuava zangado demais para achar muita gra�a na situa��o, e pouco depois Rony parou de rir. � Gina veio fazer uma visita quando voc� estava inconsciente � disse ele depois de uma longa pausa, e instantaneamente a imagina��o de Harry disparou, montando uma cena em que Gina, chorando sobre o seu corpo sem vida, confessava sentir uma forte atra��o por ele enquanto Rony os aben�oava... � Ela acha que voc� chegou em cima da hora para o jogo. Que aconteceu? Voc� saiu daqui bem cedo. � Ah... � come�ou Harry enquanto a cena implodia em sua mente. � E... bem, vi Malfoy se esgueirando pelo corredor com duas garotas que pareciam n�o estar querendo a companhia dele, e esta � a segunda vez que ele d� um jeito de n�o estar no est�dio com o resto da escola. E ele tamb�m faltou ao �ltimo jogo, lembra? � suspirou Harry. � Eu gostaria de ter seguido o Malfoy, j� que o jogo foi aquele fiasco... � N�o seja idiota � replicou Rony com rispidez. � Voc� n�o podia faltar a um jogo de quadribol s� para seguir Malfoy, voc� � o capit�o! � Quero saber o que ele anda fazendo. E n�o me diga que isso � coisa da minha imagina��o, n�o depois da conversa que escutei entre ele e o Snape... � Eu nunca disse que voc� estava imaginando coisas � protestou Rony, erguendo-se sobre um cotovelo e franzindo a testa para Harry �, mas n�o existe regra que diga que somente uma pessoa de cada vez pode tramar coisas neste lugar! Voc� est� ficando meio obcecado pelo Malfoy, Jerry. Quero dizer, pensar em faltar um jogo s� para seguir o cara... � Quero apanhar Malfoy com a m�o na massa! � respondeu Harry frustrado. � Quero dizer, aonde � que ele vai quando desaparece do mapa? � N�o sei... Hogsmeade? � sugeriu Rony, bocejando. � Nunca o vi andando por nenhuma passagem secreta no mapa. Ali�s, achei que todas elas estavam sendo vigiadas agora, n�o? � Bem, ent�o, n�o sei. Fez-se sil�ncio entre os dois. Harry ficou olhando para o c�rculo de luz no alto, refletindo... Se ao menos ele tivesse o poder de Rufo Scrimgeour, poderia mandar seguir Malfoy, mas infelizmente n�o tinha uma se��o de aurores sob seu comando... ele pensou por um breve instante em montar alguma coisa com a AD, mas, de novo, haveria o problema de darem por falta dos alunos nas aulas; afinal, a maioria deles tinha hor�rios apertados... Ouviu-se um ronco surdo vindo da cama de Rony. Passado um tempo, Madame Pomfrey saiu de sua sala, desta vez trajando um grosso roup�o. Era mais f�cil fingir que estava dormindo; Harry virou para o lado e ouviu as cortinas se fecharem quando a bruxa acenou com a varinha. As luzes diminu�ram e ela voltou � sua sala; ele ouviu o clique da porta ao fechar, e entendeu que ela se recolhera. Esta, refletiu Harry no escuro, era a terceira vez que o traziam para a ala hospitalar por conta de um acidente de quadribol. Da �ltima vez, ele ca�ra da vassoura por causa da presen�a dos dementadores em torno do campo, e, da vez anterior, perdera todos os ossos do bra�o pela incompet�ncia incur�vel do professor Lockhart... fora de longe o seu acidente mais doloroso... ele se lembrou da agonia de restaurar todos os ossos do bra�o em uma noite, um mal-estar que s� fez aumentar com a chegada de um visitante inesperado no meio da... Harry se sentou de repente, o cora��o batendo forte, o turbante de bandagens enviesado. Finalmente encontrara a solu��o: havia uma maneira de seguir Malfoy... como podia ter esquecido, por que n�o pensara nisso antes? Mas a quest�o era: como cham�-lo? Como se fazia isso? Em voz baixa, hesitante, Harry falou para a noite: � Monstro? Ouviu um forte estalo e o ru�do de guinchos e p�s arrastados encheram a enfermaria. Rony acordou com um ganido. � Que est�...? Harry apontou a varinha depressa para a porta da sala de Madame Pomfrey e murmurou Abaffiato!, para impedir que ela viesse correndo. Ent�o, ele se arrastou at� os p�s da cama para ver melhor o que estava acontecendo. Dois elfos dom�sticos estavam embolados no ch�o, no meio da enfermaria, um usava um pul�ver castanho-avermelhado que encolhera e v�rios gorros de l�; o outro, um trapo velho e imundo preso nos quadris como uma tanga. Ouviu-se, ent�o, mais um estalo e Pirra�a, o Poltergeist, apareceu sobrevoando os elfos engalfinhados. � Eu estava assistindo, Potty! � disse indignado a Harry, apontando para os lutadores, e em seguida soltou uma grande gargalhada. � Olhe essas criaturinhas brigando, mordidinha, murrinho... � Monstro n�o vai insultar Harry Potter na frente de Dobby, n�o vai, n�o, ou Dobby vai fechar a boca dele! � exclamou Dobby com a voz muito aguda. � Chutinho, arranh�ozinho! � exclamou Pirra�a, alegre, agora atirando peda�os de giz nos elfos para enraivec�-los. � Torcidinha, cutucadinha! � Monstro dir� o que quiser sobre o senhor dele, ah, dir�, e que senhor ele tem, um amigo nojento de Sangues-Ruins, ah, o que diria a pobre senhora do Monstro...? Exatamente o que a senhora de Monstro diria ningu�m chegou a saber, porque naquele instante Dobby meteu o punho nodoso na boca de Monstro, fazendo saltar metade dos seus dentes. Harry e Rony pularam de suas camas e separaram os elfos, embora eles continuassem tentando chutar e esmurrar um ao outro, incentivados por Pirra�a, que dan�ava em torno do lampi�o aos guinchos: � Enfia os dedos no nariz dele, tira sangue e arranca as orelhinhas dele... Harry apontou a varinha para Pirra�a e disse: � Traval�ngua! � Pirra�a levou as m�os � garganta, engoliu em seco e saiu voando da enfermaria, fazendo gestos obscenos, mas sem fala, porque sua l�ngua acabara de grudar no c�u da boca. � Legal esse! � aprovou Rony, erguendo Dobby no ar para impedir que suas pernas agitadas continuassem a atingir o Monstro. � Mais um dos feiti�os do Pr�ncipe, n�o �? � � � confirmou Harry, torcendo o bra�o fino de Monstro com uma chave de bra�o. � Certo: pro�bo voc� de lutar com o Dobby. Dobby, eu sei que n�o posso lhe dar ordens... � Dobby � um elfo dom�stico livre e pode obedecer a quem ele quiser, e Dobby far� tudo que Harry Potter quiser! � disse o elfo, as l�grimas agora escorrendo pelo seu rosto enrugado e pingando no su�ter. � O.k., ent�o � disse Harry, e ele e Rony soltaram os elfos, que ca�ram ao ch�o, mas n�o continuaram a lutar. � O Senhor me chamou? � crocitou Monstro, fazendo uma profunda rever�ncia a Harry ao mesmo tempo que seu olhar lhe desejava claramente uma morte dolorosa. � �, chamei � disse Harry, olhando de relance a porta de Madame Pomfrey para verificar se o Abafiato continuava fazendo efeito; n�o viu sinal de que ela tivesse ouvido a agita��o. � Tenho uma tarefa para voc�. � Monstro far� o que o seu senhor mandar � e fez uma curvatura t�o profunda que seus l�bios quase tocaram os dedos de seus p�s nodosos �, porque Monstro n�o tem op��o, mas Monstro sente vergonha de ter um senhor assim, ora se tem... � Dobby far� a tarefa, Harry Potter! � guinchou Dobby, seus olhos do tamanho de bolas de t�nis ainda marejados de l�grimas. � Dobby se sentiria honrado de ajudar Harry Potter! � Pensando bem, seria melhor que os dois fizessem � disse Harry. � O.k., ent�o... quero que sigam o Draco Malfoy. Sem dar aten��o � express�o de simult�nea surpresa e exaspera��o no rosto de Rony, ele continuou: � Quero saber aonde ele vai, com quem se encontra e o que faz. Quero que o sigam vinte e quatro horas por dia. � Sim, Harry Potter! � concordou Dobby imediatamente, seus olhos brilhando de excita��o. � E se Dobby errar, Dobby se atirar� da torre mais alta, Harry Potter! � N�o precisar� fazer nada disso � apressou-se Harry a dizer. � O senhor quer que eu siga o mais jovem dos Malfoy? � crocitou Monstro. � O senhor quer que eu espione o sobrinho-neto de sangue puro da minha antiga senhora? � Esse mesmo � disse Harry, prevendo um grande perigo, e decidido a impedi-lo imediatamente: � E voc� est� proibido de avisar a ele, Monstro, ou mostrar a ele o que est� fazendo, ou falar com ele, ou escrever mensagens para ele, ou... ou entrar em contato com ele de alguma forma. Entendeu? Harry pensou perceber que Monstro se esfor�ava para encontrar uma brecha nas instru��es que acabara de receber, e aguardou. Ap�s alguns momentos, e para grande satisfa��o de Harry, Monstro se curvou e disse com amargurado rancor: � O senhor pensa em tudo e Monstro tem de obedecer, mas Monstro preferia muito mais ser servo do rapaz Malfoy, ah, isto ele preferia... � Ent�o est� acertado. Quero receber relat�rios regularmente, mas verifiquem se estou sozinho quando vierem me procurar. Rony e Hermione s�o de confian�a. E n�o comentem com ningu�m o que est�o fazendo. Colem em Malfoy como se fossem adesivos para remover verrugas. CAP�TULO VINTE O PEDIDO DE LORD VOLDEMORT HARRY E RONY DEIXARAM A ALA HOSPITALAR bem cedo na manh� de segunda-feira, com a sa�de perfeita, gra�as aos cuidados de Madame Pomfrey, prontos para gozar os benef�cios de terem sido, respectivamente, fraturado e envenenado, e, o que era melhor, Hermione reatara a amizade com Rony. A garota chegou a acompanh�-los quando desceram para o caf� da manh�, trazendo a not�cia de que Gina tinha discutido com Dino. O animal adormecido no peito de Harry instantaneamente ergueu a cabe�a e farejou o ar, esperan�oso. � E qual foi o motivo da discuss�o? � perguntou ele, tentando parecer desinteressado, quando entraram por um corredor deserto do s�timo andar, exceto por uma garotinha que estava examinando uma tape�aria com trasgos usando tutus. Ela fez uma cara de terror ao ver os sextanistas se aproximarem, e deixou cair a pesada balan�a que estava carregando. � Tudo bem! � disse Hermione gentilmente, correndo para ajud�-la. � Veja... � E tocou a balan�a partida com a varinha dizendo Reparo! A garota n�o agradeceu, continuou pregada no ch�o enquanto eles passavam, acompanhando, com o olhar, o grupo desaparecer de vista; Rony virou a cabe�a para espi�-la. � Juro que cada dia elas est�o ficando menores � comentou. � Esque�a a garota � disse Harry, um pouco impaciente. � Por que foi que Gina e Dino brigaram, Hermione? � Ah, Dino estava rindo de McLaggen ter acertado aquele bala�o em voc� � respondeu Hermione. � Deve ter sido engra�ado � comentou Rony sensatamente. � N�o foi nada engra�ado! � replicou Hermione indignada. � Foi horr�vel, e se Coote e Peakes n�o tivessem agarrado Harry ele poderia ter se machucado seriamente! � �, bem, Gina e Dino n�o precisavam ter rompido o namoro por causa disso � tornou Harry, ainda tentando parecer displicente. � Ou eles continuam juntos? � Continuam... mas por que voc� est� t�o interessado? � perguntou Hermione, lan�ando a Harry um olhar penetrante. � N�o quero ver a equipe de quadribol bagun�ada outra vez! � apressou-se a justificar, mas Hermione continuou desconfiada, e ele sentiu um grande al�vio quando uma voz �s suas costas gritou "Harry!", dando-lhe uma desculpa para virar as costas para ela. � Ah, oi, Luna. � Fui procurar voc� na ala hospitalar � disse Luna vasculhando a mochila. � Mas disseram que voc� j� tinha sa�do... Ela empurrou nas m�os de Rony uma coisa que parecia uma cebola verde, um grande chap�u-de-cobra e uma bolada de outra coisa que lembrava argila absorvente para caixa de dejetos de gatos, e, por fim, tirou um pergaminho meio sujo que entregou a Harry. � ... mandaram lhe entregar isto. Era um rolinho de pergaminho no qual Harry reconheceu imediatamente outro convite para uma aula com Dumbledore. � Hoje � noite � informou ele a Rony e Hermione, quando abriu o pergaminho. � Legal a sua narra��o no �ltimo jogo! � disse Rony a Luna, quando ela pegou de volta a cebola verde, o chap�u-de-cobra e a argila. A garota deu um sorriso indefinido. � Voc� est� ca�oando de mim, n�o �? Todo o mundo disse que foi p�ssima. � N�o, estou falando s�rio! � replicou Rony com sinceridade. � N�o me lembro de ter gostado tanto de uma narra��o! A prop�sito, que � isso? � acrescentou, erguendo a tal cebola � altura dos olhos. � Ah, � raiz-de-cuia � disse ela, devolvendo a argila e o cogumelo � sua mochila. � Pode ficar com ela se quiser, tenho muito. � excelente para a gente se proteger das Dil�tex Vorazes. E ela se afastou, deixando Rony ainda segurando a raiz-de-cuia na m�o e rindo. � Sabe, ela acabou me conquistando, a Luna � comentou ele, quando recome�aram a andar para o Sal�o Principal. � Sei que � maluca, mas � no bom... Ele parou repentinamente de falar. Lil� Brown estava parada ao p� da escadaria de m�rmore com um ar tempestuoso. � Oi � cumprimentou Rony nervoso. � Vamos � murmurou Harry para Hermione, e eles deixaram os dois para tr�s depressa, mas n�o sem antes ter ouvido Lil� dizer: � Por que voc� n�o me avisou que estava saindo hoje? E por que ela estava com voc�? Rony parecia esquivo e aborrecido quando chegou para tomar caf� meia hora mais tarde e, embora sentasse com Lil�, Harry n�o os viu trocarem uma �nica palavra � mesa. Hermione agia como se estivesse indiferente � cena, mas uma ou duas vezes Harry percebeu um inexplic�vel ar de riso perpassar seu rosto. Durante todo aquele dia, ela pareceu particularmente bem-humorada e, � noite, na sala comunal, ela at� consentiu em dar uma lida (em outras palavras, terminar de escrever) no trabalho de Herbologia de Harry, coisa que se recusara terminantemente a fazer at� ent�o, porque sabia que Harry deixaria Rony copiar seu trabalho. � Valeu, Hermione � disse Harry, dando-lhe uma palmadinha apressada nas costas ao mesmo tempo em que consultava o rel�gio e constatava que j� eram quase oito horas. � Escute, tenho de correr ou vou chegar atrasado � aula do Dumbledore... Ela n�o respondeu, apenas cortou algumas frases menos adequadas com um ar cansado. Harry, rindo, passou r�pido pelo buraco do retrato e saiu em dire��o ao escrit�rio do diretor. A g�rgula saltou para o lado ao ouvir falar em bombas de caramelo, e Harry, subindo a escada de dois em dois degraus, bateu na porta na hora em que o rel�gio marcou oito horas. � Entre � falou Dumbledore, mas quando Harry estendeu a m�o para empurrar a porta ela foi escancarada pelo lado de dentro. A sua frente estava a professora Trelawney. � Ah-ah! � exclamou ela, apontando dramaticamente para Harry e piscando os olhos por tr�s das lentes que aumentavam seus olhos. � Ent�o esta � a raz�o por que fui expulsa sem a menor cerim�nia de seu escrit�rio, Dumbledore! � Minha cara Sibila � respondeu o diretor ligeiramente exasperado �, n�o � uma quest�o de expuls�-la sem a menor cerim�nia de lugar algum, Harry tem uma hora marcada comigo, e realmente acho que j� terminamos a nossa conversa... � Muito bem � retrucou a professora Trelawney profundamente magoada. � Se voc� n�o quer banir o pangar� usurpador, ent�o seja... talvez eu encontre uma escola onde os meus talentos sejam melhor apreciados... Ela passou por Harry e desapareceu pela escada em espiral; eles a ouviram trope�ar na descida, e Harry imaginou que tivesse trope�ado em um dos seus longos xales. � Por favor, feche a porta e sente, Harry � ordenou Dumbledore com a voz cansada. O garoto obedeceu, reparando, ao sentar na cadeira habitual � frente da escrivaninha, que a Penseira estava mais uma vez entre os dois, bem como dois frasquinhos de cristal em que giravam lembran�as. � Ent�o a professora Trelawney continua infeliz porque Firenze est� dando aulas? � perguntou Harry. � Continua � respondeu Dumbledore. � Adivinha��o est� me saindo uma disciplina bem mais complicada do que pude prever, uma vez que eu mesmo nunca a estudei. N�o posso pedir a Firenze para retornar � Floresta, onde agora ele � um proscrito, nem posso pedir a Sibila Trelawney para sair. Aqui entre n�s, ela n�o faz id�ia do perigo que correria fora do castelo. A professora n�o sabe, e acho que n�o seria prudente esclarecer, que foi ela quem fez a profecia sobre voc� e Voldemort, entende. Dumbledore deu um grande suspiro e disse: � Mas vamos esquecer os meus problemas com os professores. Temos assuntos bem mais importantes a discutir. Primeiro: voc� cumpriu a tarefa que lhe dei ao concluirmos a nossa aula anterior? � Ah � respondeu Harry, pego de surpresa. Com as aulas de Aparata��o e o quadribol e o envenenamento de Rony e a fratura da pr�pria cabe�a, al�m da determina��o em descobrir o que Draco Malfoy andava fazendo, ele quase se esquecera da lembran�a que Dumbledore tinha lhe pedido que extra�sse do professor Slughorn... � Bem, falei com o professor Slughorn sobre a lembran�a, no final da aula de Po��es, senhor, mas, �h, ele n�o quis me dar. Fez-se um breve sil�ncio. � Entendo � respondeu por fim Dumbledore, fitando-o por cima dos oclinhos de meia-lua e dando a Harry a habitual sensa��o de que estava sendo radiografado. � E voc� acha que dedicou todos os seus esfor�os � quest�o? Que exerceu toda a sua enorme inventividade? Que n�o deixou de explorar nenhuma possibilidade em sua busca para recuperar a lembran�a? � Bem. � Harry procurou ganhar tempo, sem saber o que responder. Sua �nica tentativa de obter a lembran�a pareceu-lhe, de repente, embara�osamente med�ocre. � Bem... no dia em que Rony tomou a po��o do amor por engano, eu o levei ao professor Slughorn. Pensei que talvez, se deixasse o professor de muito bom humor... � E isso deu resultado? � perguntou Dumbledore. � Bem, n�o, senhor, porque Rony foi envenenado... � ... o que naturalmente o fez esquecer completamente a tentativa de recuperar a lembran�a; eu n�o teria esperado outra atitude enquanto o seu melhor amigo corria perigo. Mas, uma vez que ficou claro que o Sr. Weasley ia se recuperar totalmente, eu teria esperado que voc� retomasse a tarefa que lhe dei. Pensei que tivesse deixado muito clara a import�ncia daquela lembran�a. De fato, fiz tudo que pude para convenc�-lo de que essa � a lembran�a mais crucial, e que sem ela estaremos perdendo o nosso tempo. Uma sensa��o quente e inc�moda de vergonha espalhou-se da cabe�a aos p�s de Harry. Dumbledore n�o erguera a voz, nem sequer falara aborrecido, mas Harry teria preferido que gritasse; este frio desapontamento era pior do que qualquer outra coisa. � Senhor � disse ele, meio desesperado �, n�o � que eu n�o tenha me importado nem nada, � s� que tive outras... outras coisas... � Outras coisas na cabe�a � Dumbledore concluiu a frase para ele. � Entendo. Os dois ficaram novamente em sil�ncio, o mais constrangedor de sua viv�ncia com o diretor; o sil�ncio parecia se prolongar indefinidamente, pontuado apenas pelos breves roncos que vinham do retrato de Armando Dippet, no alto da parede, �s costas de Dumbledore. Harry se sentiu estranhamente pequeno, como se tivesse encolhido um pouco desde que entrara na sala. Quando n�o conseguiu mais ag�entar, ele disse: � Professor Dumbledore, lamento sinceramente. Eu devia ter me esfor�ado mais... devia ter compreendido que o senhor n�o me pediria isso se n�o fosse realmente importante. � Obrigado por dizer isso, Harry � falou Dumbledore em voz baixa. � Posso, ent�o, esperar que de hoje em diante voc� dar� ao assunto maior prioridade? N�o far� muito sentido nos reunirmos depois desta noite a n�o ser que tenhamos aquela lembran�a. � Pode, sim, senhor, obterei a lembran�a � disse Harry honestamente. � Ent�o, por ora, n�o falaremos mais nisso � disse o diretor mais brandamente �, continuaremos a nossa hist�ria do ponto em que paramos. Voc� lembra onde foi? � Lembro, sim, senhor � respondeu Harry prontamente. � Voldemort matou o pai e os av�s e fez parecer que o culpado era o seu tio Morfino. Voltou, ent�o, a Hogwarts e perguntou... perguntou ao professor Slughorn a respeito das Horcruxes � murmurou envergonhado. � Muito bem. Agora, voc� lembra, espero que sim, de que falei logo no in�cio das nossas reuni�es que entrar�amos no terreno da adivinha��o e da especula��o, certo? � Sim, senhor. � At� aqui, espero que concorde, mostrei-lhe fontes razoavelmente seguras para as minhas dedu��es sobre os passos de Voldemort at� os dezessete anos. Harry concordou com a cabe�a. � Agora, no entanto, Harry, as coisas se tornam mais obscuras e estranhas. Se foi dif�cil encontrar ind�cios sobre o garoto Riddle, tem sido quase imposs�vel encontrar quem se disponha a se lembrar do homem Voldemort. De fato, duvido que haja um �nico ser vivente, al�m dele mesmo, que possa nos fornecer um relato completo de sua vida desde que deixou Hogwarts. Contudo, tenho duas �ltimas lembran�as que gostaria de partilhar com voc�. � Dumbledore indicou os dois frasquinhos de cristal que refulgiam ao lado da Penseira. � Depois, gostaria muito de saber se voc� acha prov�veis as conclus�es que extra� dessas lembran�as. A id�ia de que Dumbledore desse tanto valor � sua opini�o fez Harry se sentir mais profundamente envergonhado de n�o ter se desincumbido da tarefa de recuperar a lembran�a sobre a Horcrux, e ele se mexeu na cadeira, constrangido, quando o diretor ergueu o primeiro dos dois frascos para examin�-lo contra a luz. � Espero que voc� n�o esteja cansado de mergulhar nas lembran�as de outras pessoas, porque estas duas s�o curiosas. A primeira vem de uma elfo dom�stica muito velha, chamada H�quei. Antes de vermos o que ela presenciou, preciso resumir rapidamente como foi a sa�da de Lord Voldemort de Hogwarts. "Ele concluiu o s�timo ano da escola, como seria de esperar, tendo obtido nota m�xima em cada exame que prestou. Em sua volta, os colegas de turma estavam decidindo que empregos iriam procurar quando deixassem a escola. Quase todos esperavam feitos espetaculares de Tom Riddle, monitor, monitor-chefe, ganhador do Pr�mio Especial por Servi�os Prestados � Escola. Sei que v�rios professores, entre eles Slughorn, sugeriram que ele entrasse para o Minist�rio da Magia, se ofereceram para marcar entrevistas, apresentarem-lhe contatos �teis. Voldemort recusou todos os oferecimentos. Pouco depois, os professores souberam que ele estava trabalhando na Borgin & Burkes." � Na Borgin & Burkes? � repetiu Harry atordoado. � Na Borgin & Burkes � confirmou Dumbledore calmamente. � Acho que voc� entender� as atra��es que o lugar lhe oferecia quando entrarmos na lembran�a da H�quei. Esta, por�m, n�o foi a primeira op��o de emprego de Voldemort. Muito pouca gente soube, eu era um dos poucos em quem o diretor daquela �poca confiava, mas Voldemort procurou o professor Dippet e perguntou se poderia continuar em Hogwarts como professor. � Ele quis continuar aqui? Por qu�? � perguntou Harry, ainda mais espantado. � Creio que houvesse v�rias raz�es para isso, embora n�o tivesse confidenciado nenhuma delas ao professor Dippet. A primeira, e mais importante, creio que Voldemort era mais apegado � escola do que jamais foi a pessoa alguma. Hogwarts era o lugar em que fora mais feliz; o primeiro e �nico lugar em que tinha se sentido em casa. Harry se sentiu ligeiramente incomodado ao ouvir essas palavras, porque era exatamente o que ele sentia com rela��o a Hogwarts. � Segundo, o castelo � um reduto de magia antiga. Sem d�vida, Voldemort penetrara um n�mero muito maior de segredos do que a maioria dos estudantes que passaram por aqui, mas ele talvez tivesse percebido que ainda havia mist�rios a desvendar, fontes de magia a explorar. "E terceiro, como professor, ele teria tido grande poder e influ�ncia sobre os jovens bruxos e bruxas. Talvez tenha adquirido esta no��o com Slughorn, o professor com quem melhor se relacionava, que lhe mostrara o papel influente que um professor pode desempenhar. N�o imagino, nem por um instante, que Voldemort tencionas-se passar o resto da vida em Hogwarts, mas acho que viu na escola um valioso campo de recrutamento e um lugar onde poderia come�ar a reunir para si um ex�rcito." � Mas ele n�o conseguiu o emprego, senhor? � N�o, n�o conseguiu. O professor Dippet lhe disse que era demasiado jovem aos dezoito anos, mas convidou-o a tornar a se candidatar dali a alguns anos, se ainda quisesse ensinar. � Como � que ele se sentiu ao ouvir isso, senhor? � perguntou Harry hesitante. � Muito contrafeito. Eu tinha alertado Armando contra a contrata��o, n�o lhe dei as raz�es que dei a voc�, porque o professor Dippet gostava muito de Voldemort e estava convencido de sua sinceridade, mas eu n�o queria que Lord Voldemort voltasse a esta escola, principalmente em uma posi��o de poder. � Qual era o cargo que ele queria, senhor? Qual era a disciplina que ele queria ensinar? Por alguma raz�o, Harry sabia qual era a resposta mesmo antes que Dumbledore a desse. � Defesa contra as Artes das Trevas. Naquele tempo, era ensinada por uma professora antiga chamada Galat�ia Merrythought, que estava em Hogwarts havia quase cinq�enta anos. "Ent�o Voldemort foi para a Borgin & Burkes, e todos os professores que o admiravam comentaram o desperd�cio que era, um jovem bruxo brilhante como ele trabalhar em uma loja. Contudo, Voldemort n�o era um mero balconista. Educado, bonit�o e inteligente, logo passaram a encarreg�-lo de certas tarefas que s� existem em um lugar como a Borgin & Burkes, que se especializa, como voc� sabe, Harry, em objetos com propriedades poderosas e incomuns. Voldemort foi instru�do a persuadir as pessoas a cederem seus tesouros aos s�cios, para venda, e ele era, segundo todos dizem, muito talentoso nisso." � Aposto que era � comentou Harry, incapaz de se conter. � Bem, era mesmo � disse Dumbledore com um leve sorriso. � E agora chegou a hora de ouvir o que diz H�quei, a elfo dom�stica que trabalhou para uma bruxa muito velha e riqu�ssima chamada Hepzib� Smith. Dumbledore tocou em um dos frascos com a varinha, a rolha saltou e ele despejou a lembran�a espiralante na Penseira dizendo: � Primeiro voc�, Harry. O garoto se levantou e se curvou mais uma vez para o conte�do prateado e ondulante da bacia de pedra at� encostar o rosto nele. Despencou pelo v�cuo escuro e aterrissou em uma sala de estar diante de uma velha imensamente gorda, de peruca ruiva, com um caprichoso penteado e um conjunto de brilhantes vestes cor-de-rosa que ca�am � sua volta, dando-lhe a apar�ncia de um bolo com o glac� derretido. Mirava-se em um espelhinho cravejado de pedras e passava ruge nas faces, j� escarlates, com uma grande esponja de p�-de-arroz; enquanto isso, a elfo dom�stica menor e mais velha que Harry j� vira na vida cal�ava, nos p�s carnudos da bruxa, apertadas pantufas de cetim. � Depressa, H�quei! � falou Hepzib�, autorit�ria. � Ele disse que viria �s quatro horas, faltam s� uns minutinhos, e at� hoje ele nunca se atrasou! Ela guardou a esponja quando a elfo dom�stica se levantou. A cabe�a dela mal chegava ao assento da cadeira de Hepzib�, e sua pele papir�cea parecia pender dos ossos tal como o len�ol engomado de linho que ela usava, drapejado, como uma toga. � Que tal estou? � perguntou Hepzib�, virando a cabe�a para se admirar de v�rios �ngulos no espelho. � Linda, madame � respondeu H�quei esgani�ada. Harry s� p�de supor que constava do contrato de H�quei mentir descaradamente quando a dona lhe fizesse essa pergunta, porque, em sua opini�o, Hepzib� Smith estava longe de ser linda. Uma campainha tilintou, e a senhora e a elfo se sobressaltaram. � Depressinha, H�quei, ele chegou � exclamou Hepzib� e a elfo saiu correndo da sala, t�o atulhada de m�veis e objetos que era dif�cil imaginar como algu�m era capaz de navegar entre eles sem derrubar pelo menos uma d�zia de coisas: havia arm�rios cheios de pequenas caixas de xar�o, estantes repletas de livros gravados em ouro, prateleiras de esferas e globos celestes, e muitas plantas verdejantes em cachep�s de lat�o; de fato, a sala parecia uma cruza de antiqu�rio de magia e estufa de plantas. A elfo dom�stica voltou minutos depois, seguida por um rapaz alto em quem, sem a menor dificuldade, Harry reconheceu Voldemort. Vestia um terno preto muito simples; seus cabelos estavam um pouco mais compridos do que no tempo de escola e suas faces encovadas, mas tudo isso lhe assentava bem: parecia mais bonito que nunca. Atravessou a sala, desviando-se dos objetos com um ar de quem j� estivera ali muitas vezes, e segurando a m�o de Hepzib� fez uma profunda rever�ncia e tocou-a levemente com os l�bios. � Trouxe flores para a senhora � disse ele em voz baixa, materializando um buqu�. � Menino levado, voc� n�o precisava! � guinchou a velha Hepzib�, embora Harry reparasse que havia um vaso pronto na mesinha mais pr�xima. � Voc� realmente estraga esta velha, Tom... sente-se, sente-se... onde foi a H�quei... ah... A elfo voltou correndo � sala, trazendo uma bandeja de bolinhos, que depositou ao lado do cotovelo de sua senhora. � Sirva-se, Tom, sei como gosta dos meus bolos. Agora, como vai? Parece p�lido. Fazem voc� trabalhar demais naquela loja, j� disse isso mil vezes... Voldemort sorriu mecanicamente, e Hepzib� retribuiu com um sorrisinho afetado. � Bem, desta vez qual � a desculpa para sua visita? � perguntou ela pestanejando. � O Sr. Burke gostaria de fazer uma oferta melhor pela armadura fabricada pelos duendes � respondeu Voldemort. � Quinhentos gale�es, ele acha mais do que justo... � Ora, ora, vamos com calma ou pensarei que voc� s� veio aqui por causa das minhas bugigangas! � disse Hepzib�, fazendo beicinho. � Sou mandado aqui por causa delas � respondeu Voldemort em voz baixa. � Sou apenas um pobre balconista, madame, que precisa cumprir ordens. O Sr. Burke quer que eu indague... � Ah, fiau para o Sr. Burke! � exclamou Hepzib�, fazendo um gesto de descaso com sua m�ozinha. � Tenho uma coisa para lhe mostrar que jamais mostrei ao Sr. Burke! Voc� � capaz de guardar um segredo, Tom? Promete que n�o contar� ao Sr. Burke o que tenho? Ele n�o me daria mais descanso se soubesse que lhe mostrei, e n�o quero vender nem ao Burke nem a ningu�m! Mas voc�, Tom, voc� saber� apreciar a pe�a por sua hist�ria, n�o pelos gale�es que poder� obter com sua venda... � Teria prazer em ver qualquer coisa que a srta. Hepzib� me mostrasse � respondeu Tom sem ai tear a voz, e a bruxa deu mais uma risadinha juvenil. � Mandei H�quei buscar... H�quei, cad� voc�? Quero mostrar ao Sr. Riddle o nosso mais belo tesouro... na verdade, aproveite e traga os dois... � Aqui est�o, madame � guinchou a elfo, e Harry viu dois estojos de couro, sobrepostos, deslocando-se pela sala como se tivessem vontade pr�pria, embora ele soubesse que a min�scula elfo os carregava � cabe�a, contornando mesas, pufes e banquinhos. � Agora � exclamou Hepzib� alegremente, recebendo os estojos da elfo e apoiando-os no colo para abrir o de cima. � Acho que voc� vai gostar, Tom... ah, se a minha fam�lia soubesse o que estou lhe mostrando... mal podem esperar para p�r as m�os nisso! A bruxa abriu a tampa. Harry chegou um pouquinho � frente para poder ver melhor e deparou com um objeto que parecia uma tacinha de ouro com duas asas finamente lavradas. � Ser� que voc� sabe o que � isso, Tom? Pegue, d� uma boa olhada! � sussurrou Hepzib�; Voldemort esticou seus dedos compridos e retirou a ta�a, pela asa, do encaixe de seda franzida. Harry achou ter percebido um fulgor vermelho em seus olhos escuros. Sua express�o cobi�osa refletiu-se curiosamente no rosto de Hepzib�, exceto que os olhinhos da bruxa estavam fixos nas belas fei��es de Voldemort. � Uma ins�gnia � murmurou Voldemort, examinando a grava��o na ta�a. � Ent�o isto era... � De Helga Huffiepuff, como voc� sabe muito bem, seu danadinho! � exclamou Hepzib�, inclinando-se para a frente, produzindo fortes estalos em seu espartilho e dando um belisc�o na bochecha magra de Voldemort. � Eu n�o lhe disse que era uma descendente distante de Helga? A ta�a vem passando de uma gera��o a outra em nossa fam�lia h� anos. Linda, n�o �? E possui v�rios poderes tamb�m, segundo dizem, mas n�o experimentei todos, me contento em guard�-la bem segura aqui... Ela soltou a ta�a do longo indicador de Voldemort e devolveu-a gentilmente ao estojo, absorta demais em rep�-la na posi��o correta para notar a sombra que perpassou o rosto de Voldemort quando tirou a ta�a da m�o dele. � Agora � disse Hepzib� alegre �, onde foi a H�quei? Ah, sim, a� est� voc�... leve isto para guardar, H�quei... A elfo apanhou obedientemente o estojo, e Hepzib� voltou sua aten��o para a outra caixa bem mais fina em seu colo. � Acho que voc� vai gostar deste ainda mais, Tom � sussurrou ela. � Chegue mais perto, caro rapaz, para poder v�-lo... � claro que Burke sabe que tenho isto, comprei-o na m�o dele e acho que ele adoraria recompr�-lo quando eu me for... Ela empurrou o delicado fecho de filigrana e abriu a caixa. Ali, sobre o macio forro de veludo vermelho, havia um pesado medalh�o de ouro. Desta vez Voldemort estendeu a m�o sem esperar convite e ergueu a pe�a � luz para examin�-la. � � a marca de Slytherin � disse baixinho, quando a luz incidiu sobre um S floreado e serpentino. � Exatamente! � exclamou Hepzib�, revelando-se encantada com a vis�o de Voldemort a admirar, fascinado, o seu medalh�o. � Tive de pagar um bra�o e uma perna por ele, mas n�o podia deixar passar a ocasi�o, n�o de adquirir um verdadeiro tesouro como este, precisava t�-lo na minha cole��o. Pelo que soube, Burke o comprou de uma mulher esfarrapada que pelo jeito o roubara, mas n�o tinha a menor id�ia do seu real valor... Desta vez n�o havia engano: os olhos de Voldemort produziram um lampejo vermelho ao ouvir essas palavras, e Harry viu os n�s dos seus dedos, que seguravam a corrente do medalh�o, embranquecerem. � ... acho que Burke pagou � mulher uma ninharia, mas a� o tem... bonito, n�o �? E como o outro, atribuem a este todo o tipo de poder, embora eu apenas o guarde em seguran�a... Ela estendeu a m�o para retomar o medalh�o. Por um momento, Harry pensou que Voldemort n�o ia deixar, mas logo o medalh�o escorregava entre seus dedos e estava de volta ao acolchoado de veludo vermelho. � Eis a�, Tom, querido, e espero que voc� tenha gostado! A bruxa olhou-o diretamente no rosto e, pela primeira vez, Harry viu o sorriso tolo dela vacilar. � Voc� est� bem, querido? � Ah, sim � respondeu Voldemort, quieto. � Estou muito bem... � Pensei... deve ter sido uma ilus�o de �tica � disse Hepzib�, parecendo nervosa, e Harry imaginou que a bruxa, tamb�m, vira o moment�neo brilho vermelho nos olhos de Voldemort. � Tome aqui, H�quei, leve e tranque-os outra vez... os feiti�os de sempre... � Hora de partir, Harry � disse Dumbledore calmamente, e, quando a pequena elfo sa�a balan�ando o estojo na cabe�a, Dumbledore mais uma vez segurou o bra�o de Harry e juntos atravessaram o olvido de volta ao escrit�rio de Dumbledore. � Hepzib� Smith morreu dois dias depois dessa breve cena � comentou Dumbledore, retomando seu lugar e indicando que Harry fizesse o mesmo. � H�quei, a elfo dom�stica foi condenada pelo Minist�rio por ter envenenado o chocolate noturno de sua senhora, por engano. � Nem pensar! � exclamou Harry enraivecido. � Vejo que concordamos inteiramente. Com certeza h� muitas semelhan�as entre essa morte e a dos Riddle. Nos dois casos, outra pessoa levou a culpa, algu�m que tinha perfeita lembran�a de ter causado a morte... � H�quei confessou? � Ela se lembrou de ter posto alguma coisa no chocolate de sua senhora, e descobriram que n�o era a��car mas um veneno letal e pouco conhecido � explicou Dumbledore. � Conclu�ram que n�o houve inten��o, mas por ser velha e confusa... � Voldemort alterou a mem�ria dela, exatamente como fez com Morfino! � Foi o que conclu� tamb�m � disse Dumbledore. � E tal como no caso de Morfino, o Minist�rio estava predisposto a suspeitar de H�quei... � ... porque era uma elfo dom�stica � concluiu Harry. Poucas vezes sentira tanta simpatia pela sociedade que Hermione fundara, o F.A.L.E. � Precisamente � disse Dumbledore. � Ela era velha, admitiu ter misturado a bebida, e ningu�m no Minist�rio se deu ao trabalho de indagar mais nada. Como no caso do Morfino, quando finalmente localizei-a e consegui extrair esta lembran�a, estava praticamente � morte... mas a lembran�a, � claro, n�o prova nada exceto que Voldemort sabia da exist�ncia da ta�a e do medalh�o. "Quando finalmente H�quei foi condenada, a fam�lia de Hepzib� j� dera por falta de dois dos seus mais valiosos tesouros. Mas os herdeiros levaram algum tempo para se certificarem, porque a bruxa linha muitos esconderijos e sempre guardara com muito zelo sua cole��o. Antes, por�m, que estivessem absolutamente seguros de que a ta�a e o medalh�o haviam desaparecido, o balconista que trabalhara para a Borgin & Burkes, o jovem que visitara Hepzib� com tanta regularidade e a impressionara t�o bem, tinha se demitido e se eclipsado. Seus empregadores n�o faziam id�ia aonde fora; ficaram t�o surpresos quanto os demais, com o seu sumi�o. E, durante muito tempo, essa foi a �ltima vez que algu�m viu ou ouviu falar de Tom Riddle. "Agora � continuou Dumbledore �, se voc� n�o se opuser, Harry, quero fazer outro par�ntese para destacar certos pontos de nossa hist�ria. Voldemort tinha cometido mais um homic�dio; se era o primeiro desde que matara os Riddle, eu n�o sei, mas acho que sim. Desta vez, como voc� deve ter percebido, ele n�o matou para se vingar, mas para lucrar. Queria os dois fabulosos trof�us que aquela pobre mulher vaidosa lhe mostrou. Da mesma forma que, no passado, roubara as outras crian�as no orfanato, da mesma forma que roubara o anel de seu tio Morfino, ele agora fugia com a ta�a e o medalh�o de Hepzib�." � Mas � interp�s Harry, franzindo a testa � me parece loucura... arriscar tudo, jogar o emprego para o alto, s� para obter... � Loucura para voc�, talvez, mas n�o para Voldemort. Espero que, com o tempo, voc� compreenda exatamente o que esses objetos significavam para ele, Harry, mas admita que n�o � dif�cil imaginar que ele considerou que pelo menos o medalh�o era legitimamente dele. � O medalh�o talvez, mas por que levar a ta�a tamb�m? � Tinha pertencido a outro dos fundadores de Hogwarts. Acho que ele ainda sentia uma grande atra��o pela escola e que n�o poderia resistir a um objeto t�o impregnado com sua hist�ria. Penso que havia outras raz�es... e espero, com o tempo, poder comprov�-las a voc�. "E agora vamos � �ltima lembran�a que tenho para mostrar, pelo menos at� que voc� consiga obter para n�s a do professor Slughorn. Dez anos separam a lembran�a de H�quei desta outra, dez anos durante os quais podemos apenas imaginar o que Lord Voldemort esteve fazendo..." Harry se levantou mais uma vez enquanto Dumbledore esvaziava a �ltima lembran�a na Penseira. � De quem � a lembran�a? � perguntou ele. � Minha � disse Dumbledore. E Harry mergulhou depois de Dumbledore na inst�vel massa de prata para aterrissar, em seguida, no mesmo escrit�rio que acabara de deixar. L� estava Fawkes, dormindo feliz em seu poleiro, e l� estava Dumbledore, � sua escrivaninha, muito parecido com este ao lado de Harry embora tivesse as duas m�os sadias e o rosto talvez um pouco menos enrugado. A �nica diferen�a entre o escrit�rio atual e este outro era que estava nevando no da lembran�a; flocos azulados passavam flutuando pela janela escura e se acumulavam na aba externa da janela. O Dumbledore mais jovem parecia estar � espera de algu�m e, de fato, momentos depois de chegarem, ouviram uma batida na porta. � Entre � disse Dumbledore. Harry deixou escapar uma exclama��o imediatamente reprimida. Voldemort entrara na sala. Suas fei��es n�o eram as que Harry vira emergir do grande caldeir�o de pedra quase dois anos antes: n�o eram t�o of�dias, os olhos ainda n�o eram vermelhos, o rosto ainda n�o era uma m�scara, mas ele deixara de ser o bonito Tom Riddle. Era como se suas fei��es tivessem queimado e emba�ado; estavam macilentas e estranhamente distorcidas, e o branco dos olhos parecia estar permanentemente injetado, embora as pupilas ainda n�o fossem as fendas que Harry sabia que viriam a ser. Ele trajava uma longa capa preta, e seu rosto estava branco como a neve que brilhava em seus ombros. O Dumbledore � escrivaninha n�o demonstrou surpresa alguma. Evidentemente a visita fora marcada com anteced�ncia. � Boa-noite, Tom � disse o diretor com simplicidade. � N�o quer sentar? � Obrigado � agradeceu Voldemort, e se sentou na cadeira que Dumbledore indicara: pelo visto, a mesma que Harry acabara de deixar no presente. � Soube que se tornou diretor � sua voz estava um pouco mais aguda e mais fria do que antes �, uma escolha merecida. � Fico satisfeito que voc� aprove � disse Dumbledore sorridente. � Posso lhe oferecer uma bebida? � Seria bem-vinda. Vim de muito longe. Dumbledore se levantou e foi at� o arm�rio onde agora guardava a Penseira, e que, ent�o, estava cheio de garrafas. Tendo dado a Voldemort uma ta�a de vinho, e em seguida se servido, voltou ao seu lugar � escrivaninha. � Ent�o, Tom... a que devo o prazer? Voldemort n�o respondeu de imediato, apenas tomou um golinho do vinho. � N�o me chamam mais de Tom. Hoje em dia sou conhecido como... � Eu sei como voc� � conhecido � interrompeu-o Dumbledore com um sorriso agrad�vel. � Mas, para mim, receio que voc� sempre ser� o Tom Riddle. E uma das coisas irritantes nos antigos professores, eles nunca chegam a esquecer a juventude dos seus pupilos. Ele ergueu a ta�a como se brindasse a Voldemort, cujo rosto permaneceu inexpressivo. Harry, no entanto, sentiu a atmosfera no aposento mudar sutilmente: a recusa de Dumbledore em usar o nome escolhido por Voldemort era uma recusa a permitir que ditasse os termos do encontro, e Harry percebeu que Voldemort assim entendera. � Estou surpreso que tenha permanecido aqui tanto tempo � recome�ou Voldemort ap�s uma breve pausa. � Eu sempre me perguntei por que um bruxo como voc� jamais quis deixar a escola. � Bem � respondeu Dumbledore, ainda sorrindo �, para um bruxo como eu, n�o pode haver nada mais importante do que transmitir artes antigas, ajudar a afinar a mente dos jovens. Se me lembro corretamente, no passado voc� tamb�m se sentiu atra�do pelo ensino. � Ainda me sinto � disse Voldemort. � Simplesmente me perguntei por que voc�, a quem tantas vezes o Minist�rio tem pedido conselhos, e a quem j� foi oferecido duas vezes, acho, o posto de ministro... � Na realidade j� foram tr�s vezes. Mas o Minist�rio nunca me atraiu como carreira. Mais uma coisa que temos em comum, acho. Voldemort curvou a cabe�a sem sorrir e tomou mais um golinho do vinho. Dumbledore n�o quebrou o sil�ncio que se alongou entre .os dois, antes aguardou que Voldemort falasse primeiro com uma express�o de cordial expectativa. � Voltei � disse ele depois de algum tempo �, talvez mais tarde do que o professor Dippet esperava... mas voltei, mesmo assim, para tornar a solicitar o que ele certa vez me recusou dizendo que eu era jovem demais para ser. Vim procur�-lo para pedir que me permita retornar a este castelo como professor. Acho que voc� deve saber que vi e fiz muita coisa desde que sa�. Poderia mostrar e contar coisas aos seus estudantes que n�o poderiam aprender com nenhum outro bruxo. Dumbledore fitou V�ldemort por cima de sua ta�a por um tempo antes de falar. � Certamente sei que voc� viu e fez muita coisa desde que nos deixou � disse calmo. � Os rumores dos seus feitos alcan�aram sua antiga escola, Tom. E eu lamentaria ter de acreditar sequer em metade deles. A express�o de V�ldemort n�o se alterou ao responder: � A grandeza inspira a inveja, a inveja engendra o despeito, o despeito produz a mentira. Voc� deve saber disso, Dumbledore. � Voc� chama de "grandeza" o que tem feito? � perguntou o diretor gentilmente. � Sem d�vida. � Os olhos de V�ldemort pareciam rutilar. � Fiz experi�ncias; levei as possibilidades da magia a extremos a que jamais algu�m levou... � De alguns tipos de magia � corrigiu-o Dumbledore tranq�ilamente. � De alguns. De outros voc� continua... me desculpe dizer... lamentavelmente ignorante. Pela primeira vez V�ldemort sorriu. Foi um esgar tenso, maligno, mais amea�ador do que urna express�o de c�lera. � O velho argumento � disse brandamente. � Mas nada que vi no mundo respaldou as suas famosas declara��es de que o amor � mais poderoso do que o meu tipo de magia, Dumbledore. � Talvez voc� tenha procurado nos lugares errados � sugeriu o diretor. � Bem, ent�o que melhor lugar para come�ar novas pesquisas do que aqui, em Hogwarts? � contrap�s V�ldemort. � Voc� me deixar� voltar? Voc� me deixar� dividir meus conhecimentos com os seus estudantes? Coloco a minha pessoa e os meus talentos � sua disposi��o. Estou �s suas ordens. Dumbledore ergueu as sobrancelhas. � E o que acontecer� �queles que recebem as suas ordens? Que acontecer� �queles que se intitulam, ou assim corre o boato, Comensais da Morte? Harry percebeu que Voldemort n�o esperava que Dumbledore conhecesse esse nome; viu os olhos do bruxo tornarem a rutilar e suas narinas finas se alargarem. � Meus amigos � respondeu ele ap�s breve pausa � prosseguir�o sem mim, tenho certeza. � Fico contente em ouvir que os considera seus amigos. Tive a impress�o de que eram mais seus servos. � Est� enganado. � Ent�o se eu fosse ao Cabe�a de Javali hoje � noite, n�o encontraria um grupo deles, Nott, Rosier, Mulciber, Dolohov, aguardando a sua volta? Amigos verdadeiramente dedicados, que fazem com voc� uma viagem t�o longa em uma noite de nevasca, meramente para lhe desejar boa sorte em sua tentativa de obter um cargo de professor. N�o poderia haver d�vida de que o conhecimento detalhado de Dumbledore sobre o grupo com quem Voldemort estava viajando foi ainda mais mal recebido; ele, por�m, replicou quase imediatamente. � Voc� continua onisciente como sempre, Dumbledore. � Ah, n�o, apenas tenho boas rela��es com os donos de bares locais � respondeu ele descontra�do. � Agora, Tom... Dumbledore pousou o copo vazio e se empertigou na cadeira, unindo as pontas dos dedos em um gesto muito seu. � ... vamos falar francamente. Por que veio aqui hoje, cercado de capangas, para pedir um emprego que ambos sabemos que voc� n�o quer? Voldemort mostrou-se friamente surpreso. � Um emprego que n�o quero? Pelo contr�rio, Dumbledore, quero e muito. � Ah, voc� quer voltar a Hogwarts, mas quer tanto ensinar aqui quanto queria aos dezoito anos. Que � que voc� est� procurando, Tom? Por que n�o experimenta pedir abertamente uma vez na vida? Voldemort riu com desd�m. � Se voc� n�o quiser me dar um emprego... � Claro que n�o quero. E n�o acho nem por um minuto que voc� esperava outra resposta. Contudo, voc� veio e pediu, logo deve ter uma raz�o. Voldemort se levantou. Parecia menos que nunca o Tom Riddle, suas fei��es inchadas de f�ria. � Esta � a sua resposta definitiva? � � � disse o diretor levantando-se tamb�m. � Ent�o n�o temos mais nada a conversar. � N�o, nada. � E uma grande tristeza se espalhou pelo rosto de Dumbledore. � J� se foi o tempo em que eu podia assust�-lo com um guarda-roupa em chamas e for��-lo a compensar os seus crimes. Mas quem me dera poder, Tom... quem me dera poder. Por um segundo, Harry esteve a ponto de gritar um aviso in�til: tinha certeza de que a m�o de Voldemort tremera em dire��o ao bolso e � varinha; mas o momento passou, Voldemort deu as costas, a porta foi se fechando e ele partiu. Harry sentiu a m�o de Dumbledore fechar sobre o seu bra�o e momentos depois estavam parados quase no mesmo lugar, mas n�o havia neve se acumulando na aba da janela, e a m�o do diretor estava escura e sem vida. � Por qu�? � perguntou Harry em seguida, encarando Dumbledore no rosto. � Por que ele voltou? O senhor chegou a descobrir? � Tenho algumas id�ias, mas n�o mais que id�ias. � Que id�ias, senhor? � Contarei a voc� quando tiver recuperado aquela lembran�a do professor Slughorn. Quando voc� tiver aquela �ltima pe�a do quebra-cabe�a, tudo ficar� claro, assim espero... para n�s dois. Harry continuava a arder de curiosidade e, embora Dumbledore tivesse ido at� a porta e a mantivesse aberta para ele, o garoto n�o se mexeu logo. � Ele queria novamente o cargo de Defesa contra as Artes das Trevas, senhor? Ele n�o disse... � Ah, sem a menor d�vida ele queria o cargo de professor de Defesa contra as Artes das Trevas. O rescaldo do nosso breve encontro comprova isso. Observe que nunca conseguimos manter um professor de Defesa contra as Artes das Trevas por mais de um ano desde que recusei o cargo a Lord Voldemort. CAP�TULO VINTE E UM A SALA IMPENETR�VEL NA SEMANA SEGUINTE, Harry deu tratos � imagina��o buscando um meio de convencer Slughorn a entregar a lembran�a verdadeira, mas n�o lhe ocorreu nada parecido com uma tempestade cerebral, e ele foi compelido a fazer o que ultimamente fazia, e com crescente freq��ncia, quando se sentia perdido: examinava com aten��o o livro de Po��es, na esperan�a de que o Pr�ncipe tivesse feito �s margens alguma anota��o �til, como tantas vezes antes. � Voc� n�o vai achar nada a� � disse Hermione com firmeza, j� tarde, no domingo � noite. � N�o come�a, Hermione. Se n�o fosse o Pr�ncipe, Rony n�o estaria sentado aqui agora. � Estaria, se voc� tivesse prestado aten��o ao Snape no primeiro ano � retrucou Hermione conclusivamente. Harry ignorou-a. Acabara de encontrar um encantamento (Sec-tumsempra!) escrito � margem, acima da surpreendente frase "Para os inimigos", e ficou em c�cegas para experiment�lo, mas achou melhor n�o faz�-lo na frente de Hermione. Ent�o, dobrou discretamente o canto da p�gina. Os tr�s estavam sentados junto � lareira na sala comunal; al�m deles, as �nicas pessoas acordadas eram outros sextanistas. Mais cedo, ocorrera certo alvoro�o quando voltavam do jantar e encontraram um novo aviso no quadro, marcando a data para o teste de Aparata��o. Os que completassem dezessete anos at� a data do primeiro teste, inclusive, vinte e um de abril, poderiam se inscrever para aulas pr�ticas suplementares, que teriam lugar (sob rigorosa supervis�o) em Hogsmeade. Rony entrara em p�nico ao ler o aviso: ainda n�o conseguira aparatar, e temia que n�o estivesse pronto para o teste. Hermione, que at� ent�o j� conseguira aparatar duas vezes, sentia-se um pouco mais confiante, mas Harry, que s� completaria dezessete anos em quatro meses, n�o poderia fazer o teste, quer estivesse pronto ou n�o. � Mas pelo menos voc� consegue aparatar! � exclamou Rony tenso. � N�o ter� problema em julho! � S� consegui uma vez � lembrou Harry; ele finalmente desaparecera e reaparecera dentro do aro uma vez na aula anterior. Depois de ter gasto um bom tempo comentando suas preocupa��es em voz alta, Rony agora se empenhava em terminar um trabalho barbaramente dif�cil passado por Snape, que Harry e Hermione j� haviam conclu�do. Harry tinha plena certeza de que receberia uma nota baixa, porque discordara de Snape quanto � melhor maneira de enfrentar dementadores, mas nem ligava: no momento, a lembran�a de Slughorn era o mais importante. � Estou dizendo que esse Pr�ncipe idiota n�o vai ajudar voc� Harry! � falou Hermione em voz mais alta. � S� tem uma maneira de for�ar algu�m a fazer o que a gente quer, � a Maldi��o Imperius, que � ilegal... � �, eu sei, obrigado � disse Harry, sem tirar os olhos do livro. � � por isso que estou procurando alguma coisa diferente. Dumbledore diz que o Veritaserum n�o resolve, mas talvez haja outra coisa, uma po��o ou um feiti�o... � Voc� est� abordando o problema pelo �ngulo errado � explicou Hermione. � Dumbledore diz que somente voc� pode obter a lembran�a. Isto deve significar que voc� pode persuadir Slughorn enquanto as outras pessoas n�o. N�o � uma quest�o de dar a ele uma po��o, pois qualquer um poderia fazer isso... � Como � que se escreve "beligerante"? � perguntou Rony, sacudindo com for�a sua pena sem tirar os olhos do seu pergaminho. �N�o pode ser B-U-M. � N�o, n�o � � respondeu Hermione, puxando para perto o trabalho de Rony. � E "aug�rio" tamb�m n�o come�a com O-R-G. Que tipo de pena voc� est� usando? � Uma das Penas Auto-Revisoras de Fred e Jorge... mas acho que o feiti�o deve estar enfraquecendo... � Talvez � disse Hermione, apontando para o t�tulo do trabalho �, porque o trabalho era descrever como enfrentar�amos dementadores e n�o "cava-charcos", e tamb�m n�o me lembro de voc� ter mudado seu nome para "Roonil Wazlib". � Ah, n�o! � exclamou Rony, olhando horrorizado para o pergaminho. � N�o me diga que vou ter de escrever tudo de novo! � N�o esquenta, a gente pode dar um jeito � disse Hermione, trazendo o trabalho para mais perto e tirando a varinha. � Adoro voc�, Hermione � disse Rony, recostando-se na poltrona e esfregando os olhos, cansado. Hermione ficou ligeiramente rosada, mas respondeu apenas: � N�o deixe a Lil� ouvir voc� dizendo isso. � N�o deixarei � falou ele, cobrindo a boca com as m�os. � Ou talvez deixe... a� ela me d� o fora... � Por que voc� n�o d� o fora nela, se quer terminar? � indagou Harry. � Voc� nunca terminou com ningu�m, n�o �? � replicou Rony. �Voc� e Cho simplesmente... � Meio que nos afastamos, sei � concordou Harry. � Eu gostaria que isso acontecesse comigo e a Lil� � disse Rony sombriamente, enquanto observava Hermione tocar com a ponta da varinha cada uma das palavras erradas, fazendo com que se corrigissem. � Mas quanto mais insinuo que quero terminar, mais ela se agarra em mim. � como se eu estivesse namorando a lula-gigante. � Pronto � disse Hermione, uns vinte minutos depois, devolvendo o trabalho de Rony. � Valeu. Me empresta a sua pena para eu escrever a conclus�o? Harry, que at� ent�o n�o encontrara nada que lhe servisse nas anota��es do Pr�ncipe Mesti�o, correu os olhos pela sala; agora s� restavam os tr�s ali, Simas tinha acabado de subir, xingando Snape e o trabalho. Os �nicos ru�dos eram as chamas crepitando e Rony arranhando o �ltimo par�grafo sobre os dementadores, com a pena de Hermione. Harry tinha acabado de fechar o livro do Pr�ncipe Mesti�o com um bocejo quando... Craque. Hermione soltou um gritinho; Rony respingou tinta por todo o pergaminho e Harry exclamou: � Monstro! O elfo dom�stico fez uma profunda rever�ncia e falou, encarando os pr�prios p�s nodosos: � O senhor disse que queria relat�rios regulares sobre o que o garoto Malfoy est� fazendo, por isso Monstro veio apresentar... Craque. Dobby apareceu ao lado de Monstro, o abafador de ch� enviesado na cabe�a. � Dobby esteve ajudando tamb�m, Harry Potter! � guinchou, lan�ando a Monstro um olhar rancoroso. � E Monstro deve avisar a Dobby quando vem ver Harry Potter para podermos fazer os relat�rios juntos! � Que � isso? � perguntou Hermione ainda assustada com as repentinas apari��es. � Que est� acontecendo, Harry? Ele hesitou antes de responder, porque n�o contara � amiga que mandara Monstro e Dobby seguirem Malfoy; elfos dom�sticos eram sempre um assunto muito melindroso com Hermione. � Bem... eles est�o seguindo Malfoy para mim � respondeu ele. � Dia e noite � crocitou Monstro. � Dobby n�o dorme h� uma semana, Harry Potter! � informou Dobby com orgulho, balan�ando o corpo. Hermione mostrou-se indignada. � Voc� n�o tem dormido, Dobby? Mas, Harry, com certeza voc� n�o disse a ele para n�o... � N�o, � claro que n�o disse. Dobby, voc� pode dormir, certo? Mas algum de voc�s descobriu alguma coisa? � apressou-se a perguntar antes que Hermione pudesse intervir novamente. � O senhor Malfoy anda com uma nobreza que condiz com o seu sangue puro � crocitou imediatamente Monstro. � As fei��es dele lembram a ossatura delicada da minha senhora, e suas maneiras s�o as de... � Draco Malfoy � um garoto mau! � esgani�ou-se Dobby enraivecido. � Um garoto mau que... que... Ele estremeceu da borla do abafador de ch� �s pontas das meias e correu para a lareira, como se quisesse mergulhar nela; Harry, pego de surpresa, agarrou-o pela cintura e segurou-o firme. Durante alguns segundos Dobby se debateu e, em seguida, afrouxou o corpo. � Obrigado, Harry Potter � ofegou o elfo. � Dobby ainda acha dif�cil falar mal dos seus antigos senhores... Harry soltou-o; Dobby endireitou o abafador de ch� e desafiou Monstro: � Mas o Monstro devia saber que Draco Malfoy n�o � um bom senhor para um elfo dom�stico! � �, n�o precisamos ouvir voc� falar de sua paix�o pelo Malfoy � disse Harry a Monstro. � Vamos passar adiante e falar sobre o que ele anda realmente fazendo. Monstro tornou a se curvar, furioso e relatou: � O senhor Malfoy come no Sal�o Principal, dorme no dormit�rio nas masmorras, assiste �s aulas sobre v�rios... � Dobby, me informe voc� � ordenou Harry, interrompendo o Monstro. � Ele tem ido a algum lugar aonde n�o deveria ir? � Harry Potter, senhor � guinchou Dobby, seus enormes olhos redondos refletindo a luz das chamas �, o rapaz Malfoy n�o est� desrespeitando nenhuma regra que Dobby conhe�a, mas continua procurando evitar que o vejam. Tem feito visitas freq�entes ao s�timo andar com uma variedade de estudantes que ficam vigiando enquanto ele entra... � Na Sala Precisa! � exclamou Harry, dando uma forte pancada na testa com o Estudos avan�ados no preparo de po��es. Hermione e Rony olharam-no espantados. � � aonde ele tem ido! � l� que est� fazendo... seja l� o que for! E aposto que � por isso que vive desaparecendo do mapa: pensando bem, nunca vi a Sala Precisa l�! � Vai ver os Marotos nunca souberam que a sala existia � disse Rony. � Acho que deve fazer parte da magia da Sala � comentou Hermione. � Se voc� quer que n�o seja localiz�vel, ent�o n�o ser�. � Dobby, voc� conseguiu entrar para ver o que Malfoy est� fazendo? � perguntou Harry ansioso. � N�o, Harry Potter, isto � imposs�vel. � N�o, n�o � � respondeu Harry imediatamente. � Malfoy entrou na nossa sede no ano passado, ent�o posso entrar e espion�-lo tamb�m, sem problema. � Mas acho que voc� n�o vai poder, Harry � disse Hermione lentamente. � Malfoy sabia exatamente para que us�vamos a Sala, n�o �, porque a burra da Marieta deu com a l�ngua nos dentes. Ele precisou que a Sala se transformasse na sede da AD, e isto aconteceu. Mas voc� n�o sabe em que se transforma a Sala quando Malfoy entra l�, ent�o n�o vai poder pedir que a Sala se transforme. � Encontrarei um jeito de contornar isso � respondeu Harry, sem fazer caso. � Voc� foi genial, Dobby. � O Monstro tamb�m se saiu bem � aparteou Hermione gentilmente; mas longe de demonstrar gratid�o, Monstro desviou seus enormes olhos injetados e crocitou para o teto: � A Sangue-Ruim est� falando com o Monstro, o Monstro vai fingir que � surdo... � Cai fora � mandou Harry com rispidez, e Monstro fez uma �ltima rever�ncia profunda e desaparatou. � � melhor voc� ir dormir um pouco tamb�m, Dobby. � Obrigado, Harry Potter, senhor! � Dobby guinchou feliz e tamb�m sumiu. � Que acham disso? � perguntou Harry entusiasmado, virando-se para Rony e Hermione no instante em que se livraram dos elfos. �Sabemos aonde Malfoy est� indo! Agora n�s o encurralamos! � �, legal � respondeu Rony mal-humorado, tentando enxugar a papa de tinta em cima do que fora, at� alguns instantes, um dever de casa quase conclu�do. Hermione puxou o pergaminho e come�ou a aspirar a tinta com a varinha. � Mas que hist�ria � essa do Malfoy subir com uma "variedade de estudantes"? � perguntou Hermione. � Quantas pessoas est�o sabendo do que acontece? Ningu�m imaginaria que ele fosse confiar o que faz a tanta gente... � �, � esquisito � concordou Harry, franzindo a testa. � Ouvi Malfoy dizendo ao Crabbe que n�o era da conta dele o que estava fazendo... ent�o o que est� dizendo a todos esses... todos esses... A voz de Harry foi morrendo; ele olhava fixamente para as chamas. � Deus, que burrice a minha � comentou baixinho. � E �bvio, n�o �? Tinha um grande barril de po��o l� embaixo na masmorra... ele pode ter afanado um pouco durante a aula... � Afanado o qu�? � perguntou Rony. � Po��o Polissuco. Ele roubou um pouco da Po��o Polissuco que Slughorn nos mostrou na primeira aula... n�o tem uma variedade de estudantes montando guarda para Malfoy... � s� o Crabbe e o Goyle, como sempre... �, agora tudo se encaixa! � exclamou Harry se levantando de um salto e come�ando a caminhar de l� para c� diante da lareira. � Eles s�o suficientemente burros para fazer o que s�o mandados fazer, mesmo que Malfoy n�o conte a eles do que se trata... mas, como n�o quer que sejam vistos rondando a Sala Precisa, fez os dois tomarem a Po��o Polissuco para parecerem outras pessoas... aquelas duas garotas que vi com Malfoy quando ele faltou � partida de quadribol: ah! Crabbe e Goyle! � Voc� quer dizer � falou Hermione baixinho �, que aquela garotinha da balan�a que eu consertei...? � �, claro! � confirmou Harry em voz alta, olhando para a amiga. � �bvio! Malfoy devia estar dentro da Sala naquele momento, ent�o ela... que foi que eu disse?... ele deixou cair a balan�a avisando a Malfoy para n�o sair, porque tinha gente ali! E teve tamb�m a outra garota que largou no ch�o as ovas de sapo. Passamos por eles o tempo todo sem perceber! � Ele est� obrigando Crabbe e Goyle a se transformarem em garotas? � perguntou Rony �s gargalhadas. � Caramba... n�o admira que eles n�o andem nada felizes ultimamente... Fico surpreso que n�o mandem o Malfoy tomar... � Bem, eles n�o mandariam, n�o �, se Malfoy tiver mostrado a Marca Negra que tem � lembrou Harry. � A Marca Negra que n�o sabemos se existe � contrap�s Hermione, descrente, enrolando o trabalho de Rony antes que mais alguma coisa acontecesse, e devolvendo-o ao garoto. � Veremos � disse Harry confiante. � �, veremos � replicou Hermione levantando e se espregui�ando. � Mas, Harry, antes que voc� fique todo animado, continuo achando que n�o vai conseguir entrar na Sala Precisa se n�o souber primeiro o que tem l� dentro. E acho que voc� n�o devia esquecer �Hermione p�s a mochila no ombro e olhou muito s�ria para Harry � que voc� devia estar se concentrando em obter a lembran�a do Slughorn. Boa-noite. Harry observou Hermione se retirar, sentindo uma ligeira irrita��o. Quando a porta do dormit�rio das garotas se fechou, ele se virou para Rony. � Que � que voc� acha? � Que eu gostaria de desaparatar como um elfo dom�stico � respondeu, olhando para o lugar em que Dobby sumira. � Aquele teste de Aparata��o estaria no papo. Harry n�o dormiu bem aquela noite. Teve a sensa��o de ficar acordado horas, imaginando para que Malfoy estaria usando a Sala Precisa e o que ele, Harry, veria quando entrasse l� no dia seguinte, porque, a despeito do que Hermione dissera, era certo que, se Malfoy pudera ver a sede da AD, ele tamb�m poderia ver a sala de Malfoy... e seria o qu�? Um local de encontro? Um esconderijo? Um dep�sito? Uma oficina? A mente de Harry trabalhou febrilmente, e seus sonhos, quando ele finalmente adormeceu, foram interrompidos e perturbados por imagens de Malfoy, que se transformava em Slughorn, que se transformava em Snape... Harry estava num estado de grande ansiedade no caf� da manh� seguinte; tinha um per�odo livre antes de Defesa contra as Artes das Trevas e estava decidido a us�-lo para tentar entrar na Sala Precisa. Hermione mostrava ostensivo desinteresse por seus cochichos sobre os planos para arrombar a Sala Precisa, o que o irritou, porque Harry achava que ela poderia ajudar muito, se quisesse. � Olhe � disse ele baixinho, inclinando-se para frente e pondo a m�o no Profeta Di�rio que ela acabara de tirar de uma coruja-correio, procurando impedir que Hermione o abrisse e desaparecesse atr�s dele. � N�o esqueci o Slughorn, mas n�o fa�o id�ia de como vou obter aquela lembran�a e, at� que me ocorra uma tempestade cerebral, por que n�o posso descobrir o que Malfoy est� fazendo? � J� lhe disse, voc� precisa persuadir Slughorn. N�o � uma quest�o de induzir ou enfeiti�ar o professor, ou Dumbledore poderia ter feito isso em um segundo. Em vez de ficar rondando a Sala Precisa � ela puxou o Profeta que Harry segurava e abriu-o para olhar a primeira p�gina �, voc� deveria procurar o Slughorn e come�ar a apelar para os bons instintos dele. � Algu�m que conhecemos...? � perguntou Rony, enquanto Hermione passava os olhos pelas manchetes. � Sim! � exclamou Hermione fazendo Harry e Rony se engasgarem com a comida �, mas est� tudo bem, ele n�o morreu: � sobre o Mundungo, ele foi preso e mandado para Azkaban! Parece que andou fingindo ser morto-vivo em uma tentativa de arrombamento... e algu�m chamado Ot�vio Pepper desapareceu... ah, que coisa horr�vel, um garoto de nove anos foi preso por tentar matar os av�s, acham que ele estava dominado pela Maldi��o Imperius... Eles terminaram o caf� da manh� em sil�ncio. Hermione seguiu imediatamente para a aula de Runas Antigas, Rony, para a sala comunal, onde ainda precisava redigir a conclus�o do trabalho sobre dementadores para Snape, e, Harry, para o corredor do s�timo andar e o trecho de parede defronte � tape�aria de Barnab�s, o Amalucado ensinando bal� a trasgos. Harry cobriu-se com a Capa da Invisibilidade quando encontrou um corredor vazio, mas n�o precisava ter se preocupado. Quando chegou ao destino, n�o havia ningu�m. Ficou em d�vida se suas chances de entrar na Sala seriam melhores com Malfoy dentro ou fora dela, mas pelo menos sua primeira tentativa n�o ia ser atrapalhada pela presen�a de Crabbe ou de Goyle travestidos de garotas de onze anos. Ele fechou os olhos ao se aproximar do local onde se ocultava a porta da Sala Precisa. Sabia o que era necess�rio fazer; especializara-se nisso no ano anterior. Concentrando-se com todas as suas for�as, pensou: Preciso ver o que Malfoy est� fazendo a� dentro... Preciso ver o que Malfoy est� fazendo a� dentro... Preciso ver o que Malfoy est� fazendo a� dentro... Tr�s vezes ele passou pela porta, ent�o, com o cora��o batendo forte de tanta excita��o, ele abriu os olhos e olhou... mas continuou vendo uma comun�ssima parede lisa. Ele se aproximou e experimentou empurr�-la. � O.k. � disse Harry em voz alta. � O.k... pensei a coisa errada... Ele refletiu por um momento e, ent�o, recome�ou de olhos fechados, concentrando-se o m�ximo poss�vel. Preciso ver o lugar aonde Malfoy sempre vem secretamente... Depois de ir e vir tr�s vezes, ele abriu os olhos, ansioso. N�o havia porta alguma. � Ah, pode parar � disse ele � parede, irritado. � Dei uma ordem bem clara... �timo... Ele se concentrou durante v�rios minutos antes de sair andando mais uma vez. Preciso que voc� se transforme no lugar que se transforma para Draco Malfoy... Harry n�o abriu os olhos imediatamente ao terminar de ir e vir; apurou os ouvidos como se fosse poss�vel ouvir a porta se materializar com um estalo. Mas n�o ouviu nada, exceto os pios distantes dos passarinhos l� fora. Abriu os olhos. Continuava a n�o haver porta alguma. Harry xingou. Algu�m gritou. Ele se virou para olhar e viu um bando de calouros barulhentos voltando depressa para o corredor de onde vinham, aparentemente acreditando ter acabado de topar com um fantasma de boca muito suja. Harry tentou todas as varia��es do "preciso ver o que Draco Malfoy est� fazendo a� dentro" que lhe ocorreram em uma hora, ao fim da qual foi for�ado a concordar que Hermione talvez estivesse certa: a Sala simplesmente n�o queria se abrir para ele. Frustrado e aborrecido, foi para a aula de Defesa contra as Artes das Trevas, tirando a Capa da Invisibilidade e enfiando-a na mochila durante o trajeto. � Outra vez atrasado, Potter � disse Snape friamente, quando Harry entrou, apressado, na sala iluminada por velas. � Menos dez pontos para a Grifin�ria. Harry amarrou a cara para o professor ao se atirar no assento ao lado de Rony; metade da turma ainda estava em p�, apanhando livros e se organizando; seu atraso n�o podia ser muito maior do que o dos outros colegas. � Antes de come�armos, quero ver os seus trabalhos sobre dementadores � ordenou o professor, acenando displicentemente com a varinha e fazendo vinte e cinco pergaminhos levantarem v�o e aterrissar em uma pilha ordeira sobre sua escrivaninha. � E espero, em seu benef�cio, que estejam melhores do que o chorrilho que tive de ler sobre a resist�ncia � Maldi��o Imperius. Agora, queiram abrir seus livros na p�gina... que foi, Sr. Finnigan? � Senhor � disse Simas �, como � que se pode diferenciar um morto-vivo ou Inferius de um fantasma? Por que saiu no Profeta uma not�cia sobre um Inferius... � N�o, n�o saiu � respondeu Snape entediado. � Mas, senhor, ouvi coment�rios... � Se o senhor tivesse lido realmente a not�cia em quest�o, Sr. Finnigan, saberia que o assim chamado Inferius n�o passava de um ladr�ozinho infecto chamado Mundungo Fletcher. � Pensei que Snape e Mundungo estivessem do mesmo lado, n�o? � murmurou Harry para Rony e Hermione. � Ele n�o deveria estar aborrecido com a pris�o de Mundungo...? � Mas Potter parece ter muito a dizer sobre o assunto � falou Snape, apontando subitamente para o fundo da sala, seus olhos negros fixos em Harry. � Vamos perguntar a Potter como ele descreveria a diferen�a entre um morto-vivo e um fantasma. A turma inteira se virou para Harry, que tentou rapidamente lembrar o que Dumbledore lhe dissera na noite em que tinham ido visitar Slughorn. � Ah... bem... fantasmas s�o transparentes... � respondeu ele. � Oh, muito bem � interrompeu-o Snape, encrespando desdenhosamente os l�bios. � Sim, � f�cil verificar que n�o desperdi�amos quase seis anos de estudos de magia com voc�, Potter. Fantasmas s�o transparentes. Pansy Parkinson soltou uma risadinha aguda. V�rios outros alunos sorriam debochados. Harry inspirou fundo e continuou calmamente, embora fervesse por dentro: � Sim, fantasmas s�o transparentes, mas Inferi s�o corpos sem vida, certo? Ent�o seriam s�lidos... � Uma crian�a de cinco anos poderia ter nos dito isso � zombou Snape. � Um Inferius � um morto que foi reanimado por meio de um feiti�o das Trevas. N�o est� vivo, � meramente usado como uma marionete para cumprir as ordens do bruxo. Um fantasma, como espero que a esta altura todos saibam, � uma impress�o deixada por um morto na terra... e � claro, como diz Potter t�o sabiamente, � transparente. � Bem, o que Harry disse � muito �til para diferenciarmos os dois! � comentou Rony. � Quando nos defrontarmos com uma apari��o em um beco escuro, vamos olhar depressa para ver se � s�lido, n�o �, n�o vamos perguntar: "Com licen�a, o senhor � uma impress�o deixada por uma alma que partiu?" Uma onda de risos percorreu a sala, mas foi imediatamente paralisada pelo olhar que Snape lan�ou � turma. � Outros dez pontos a menos para a Grifin�ria � disse o professor. � Eu n�o esperaria nada mais sofisticado do senhor, Ronald Weasley, um rapaz t�o s�lido que � incapaz de aparatar dois cent�metros em uma sala. � N�o! � sussurrou Hermione, agarrando Harry pelo bra�o, quando ele abriu a boca, enfurecido. � N�o vale a pena, voc� vai acabar cumprindo mais uma deten��o, deixa para l�! � Agora abram os livros na p�gina duzentos e treze � disse o professor com um sorrisinho � e leiam os primeiros dois par�grafos sobre a Maldi��o Cruciatus... Rony ficou anormalmente quieto durante toda a aula. Quando por fim ouviram a sineta, Lil� alcan�ou Rony e Harry (Hermione sumira misteriosamente de vista � sua aproxima��o), e xingou Snape indignada por seu coment�rio maldoso sobre a Aparata��o de Rony, mas, pelo visto, conseguiu apenas irritar o garoto, que se livrou dela entrando pelo banheiro masculino com Harry. � Mas Snape tem raz�o, n�o �? � comentou Rony ap�s se mirar em um espelho rachado por uns dois minutos. � N�o sei se vale a pena fazer o teste. Simplesmente n�o consigo pegar o jeito da Aparata��o. � Seria bom voc� freq�entar as aulas suplementares em Hogsmeade e ver se faz algum progresso � sugeriu Harry sensatamente. � Pelo menos, ser� mais interessante do que tentar entrar em um arco rid�culo. E, se mesmo assim voc� n�o estiver... sabe... t�o bom quanto gostaria de estar, pode adiar o teste, fazer comigo no ver... Murta, isso � um banheiro de garotos! O fantasma de uma menina tinha se erguido de um boxe �s costas deles e agora flutuava no ar, encarando os dois atrav�s de seus �culos grossos, brancos e redondos. � Ah � exclamou ela mal-humorada. � S�o voc�s dois. � Quem � que voc� estava esperando? � perguntou Rony, olhando-a pelo espelho. � Ningu�m � respondeu Murta, cutucando pensativa uma espinha no queixo. � Ele disse que voltaria para me ver, mas voc� tamb�m disse que daria uma passadinha para me visitar... � ela lan�ou a Harry um olhar de censura � ... e n�o vejo voc� h� meses sem conta. J� aprendi a n�o esperar muita coisa dos garotos. � Pensei que voc� morava naquele banheiro das meninas � disse Harry, que havia anos tomara o cuidado de dar bastante dist�ncia daquele lugar. � Moro � respondeu Murta encolhendo os ombros, sentida �, mas isso n�o quer dizer que n�o possa visitar outros lugares. Eu vim uma vez e vi voc� tomando banho, se lembra? � Como se fosse hoje. � Mas pensei que ele gostava de mim � continuou a fantasma queixosa. � Quem sabe se voc�s dois sa�ssem, ele voltaria... temos muito em comum... com certeza ele sentiu isso... E ela olhou esperan�osa para a porta. � Quando diz que voc�s t�m muito em comum � perguntou Rony achando muita gra�a �, voc� quer dizer que ele tamb�m freq�enta o hosp�cio? � N�o � protestou Murta em tom de desafio, que ecoou sonoramente pelo velho banheiro azulejado. � Quero dizer que ele � sens�vel, as pessoas implicam com ele tamb�m, e ele se sente solit�rio e n�o tem com quem conversar, e ele n�o tem medo de mostrar seus sentimentos e chorar! � Esteve aqui um menino chorando? � perguntou Harry curioso. � Um garotinho? � N�o � da sua conta! � retrucou Murta, seus olhos mi�dos e lacrimosos fixos em Rony, que agora n�o escondia o riso. � Prometi que n�o contaria a ningu�m e vou levar o segredo dele para o... � ... n�o para o t�mulo, n�o �? � debochou ele, abafando uma risada. � Para a tubula��o talvez... Murta soltou um uivo de dor e tornou a mergulhar no vaso, fazendo a �gua transbordar no ch�o. Implicar com a fantasma pareceu ter dado a Rony um novo �nimo. � Voc� tem raz�o � disse ele jogando a mochila sobre o ombro �, vou me inscrever nas aulas pr�ticas de Hogsmeade e depois decidir se vou fazer o teste. Assim, no fim de semana seguinte, Rony se reuniu a Hermione e aos outros sextanistas que completariam dezessete anos em tempo de fazer o teste dali a quinze dias. Harry sentiu certa inveja de v�-los se aprontar para ir a Hogsmeade; sentia falta dos passeios at� a aldeia, e fazia um dia particularmente belo de primavera, um dos primeiros de c�u claro nos �ltimos tempos. Ele resolvera, no entanto, aproveitar o tempo para tentar mais um assalto � Sala Precisa. � Voc� faria melhor � retrucou Hermione quando o amigo confessou sua id�ia a ela e Rony no Sagu�o de Entrada � se fosse direto ao escrit�rio de Slughorn e tentasse obter a lembran�a. � Estou tentando! � defendeu-se Harry irritado, porque era a absoluta verdade. No fim de cada aula de Po��es daquela semana demorara-se na masmorra tentando encurralar Slughorn, mas o professor sempre sa�a t�o r�pido que Harry n�o conseguia alcan��-lo. Duas vezes Harry fora ao seu escrit�rio e batera na porta, mas n�o recebera resposta, embora na segunda vez ele tivesse certeza de que ouvira o som de um velho gramofone, em seguida abafado. � Ele n�o quer falar comigo, Hermione! J� percebeu que andei tentando ficar a s�s com ele e n�o vai deixar que isto aconte�a! � Bem, voc� vai ter de continuar insistindo, n�o � mesmo? A pequena fila de alunos aguardando passar por Filch, que fazia o seu costumeiro n�mero de cutucar todo o mundo com o Sensor de Segredos, avan�ou alguns passos, e Harry n�o respondeu para evitar que o zelador o ouvisse. Desejou boa sorte a Rony e Hermione, ent�o se virou para subir a escadaria de m�rmore, decidido, apesar dos conselhos de Hermione, a dedicar umas duas horas � Sala Precisa. Uma vez longe do Sagu�o de Entrada, Harry apanhou o Mapa do Maroto e a sua Capa da Invisibilidade na mochila. Ocultando-se, deu um toque de varinha no mapa e murmurou: "Juro solenemente que n�o pretendo fazer nada de bom", e examinou-o com aten��o. Por ser domingo de manh�, quase todos os alunos estavam em suas salas comunais, os da Grifin�ria em uma torre, os da Corvinal em outra, os da Sonserina nas masmorras e os da Lufa- Lufa no por�o pr�ximo �s cozinhas. Aqui e ali, uma pessoa andava pela biblioteca ou por um corredor... havia pouca gente nos jardins... e ali, sozinho no corredor do s�timo andar, estava Greg�rio Goyle. N�o havia sinal da Sala Precisa, mas Harry n�o estava preocupado com isto; se Goyle estava montando guarda, a sala estava aberta, quer o mapa registrasse o fato ou n�o. Ele, portanto, subiu correndo as escadas e s� diminuiu a marcha quando alcan�ou o canto do corredor, ponto em que come�ou a se esgueirar muito lentamente ao encontro da mesm�ssima garotinha com a pesada balan�a que Hermione t�o gentilmente ajudara quinze dias atr�s. Ele esperou chegar �s costas dela antes de se curvar e sussurrar: � Ol�... voc� � bem bonitinha, n�o �? Goyle soltou um grito agudo de terror, atirou a balan�a para o ar e saiu desembalado, desaparecendo de vista antes que o estrondo da balan�a ao bater no ch�o parasse de ecoar no corredor. �s gargalhadas, Harry se virou para estudar a parede lisa atr�s da qual Draco Malfoy certamente estaria agora paralisado, consciente de que havia algu�m indesej�vel l� fora, mas sem ousar aparecer. Isto deu a Harry uma agrad�vel sensa��o de poder, enquanto tentava lembrar quais as frases que ainda n�o experimentara. Contudo, sua esperan�a n�o durou muito. Meia hora depois, tendo experimentado outras tantas varia��es do seu pedido para ver o que Malfoy estava fazendo, a parede continuava s�lida. Harry se sentiu incrivelmente frustrado; Malfoy talvez estivesse a poucos passos, e ele continuava a n�o ter o menor ind�cio do que o garoto fazia l� dentro. Perdendo completamente a paci�ncia, Harry avan�ou para a parede e chutou-a. �Ai! Ele achou que talvez tivesse quebrado o dedo do p�; enquanto o segurava dando pulos com o outro p�, a Capa da Invisibilidade escorregou do seu corpo. � Harry? Ele se virou ainda num p� s� e desabou. E ali, para seu absoluto espanto, vinha Tonks caminhando em sua dire��o como se habitualmente freq�entasse aquele corredor. � Que � que voc� est� fazendo aqui? � perguntou ele, erguendo-se depressa; por que ser� que ela sempre o encontrava ca�do no ch�o? � Vim ver Dumbledore. Harry achou que ela estava com uma apar�ncia horr�vel; mais magra do que o normal, seus cabelos ba�os e lambidos. � O escrit�rio dele n�o � aqui � informou Harry �, � do outro lado do castelo, atr�s da g�rgula... � Eu sei � respondeu Tonks. � Ele n�o est� l�. Aparentemente viajou outra vez. � Viajou? � admirou-se Harry, tornando a apoiar o p� machucado cuidadosamente no ch�o. � Ei, por acaso voc� n�o sabe aonde ele vai? � N�o. � Que � que voc� queria com o Dumbledore? � Nada importante � respondeu Tonks, brincando, aparentemente sem perceber, com a manga das vestes. � Pensei que ele talvez soubesse o que est� acontecendo... ouvi boatos... teve gente machucada... � �, eu sei, saiu nos jornais. O garotinho que tentou matar os... � O Profeta muitas vezes d� not�cias com atraso � disse Tonks, que parecia n�o estar ouvindo Harry. � Voc� recebeu cartas de algu�m da Ordem recentemente? � Ningu�m da Ordem me escreve mais, desde que Sirius... Ele notou que os olhos de Tonks se encheram de l�grimas. � Desculpe � murmurou sem gra�a. � Quero dizer... eu tamb�m sinto falta dele... � Qu�? � exclamou Tonks sem entender, como se n�o o tivesse ouvido. � Bem... a gente se v� por a�, Harry... Ela deu as costas de repente, e saiu andando pelo corredor, deixando Harry sem resposta. Passado pouco mais de um minuto, ele tornou a se cobrir com a Capa da Invisibilidade e retomou seus esfor�os para entrar na Sala Precisa, mas perdera o interesse. Por fim, uma sensa��o de vazio no est�mago e a no��o de que Rony e Hermione logo voltariam para almo�ar levaram-no a abandonar a tentativa e deixar o corredor livre para Malfoy, que, na melhor das hip�teses, continuaria apavorado demais para sair durante algumas horas. Ele encontrou Rony e Hermione no Sal�o Principal, e eles j� estavam na metade de um almo�o antecipado. � Consegui... bem, mais ou menos! � Rony contou entusiasmado a Harry assim que o avistou. � Eu tinha de aparatar at� a porta do sal�o de ch� de Madame Puddifoot e errei por pouco, fui parar pr�ximo � Loja de Penas Escriba, mas pelo menos me desloquei! � Legal � exclamou Harry. � E voc�, como foi, Hermione? � Ah, ela foi perfeita, � �bvio � informou Rony antes que Hermione pudesse responder. � Delibera��o, Divina��o e Desespera��o, ou que nome tenham as cacas, perfeitas... depois a turma foi tomar um drinque r�pido no Tr�s Vassouras, e voc� devia ouvir o que o Twycross disse dela... vai ser uma surpresa se ele n�o fizer aquela pergunta logo, logo... � E voc�? � perguntou Hermione, ignorando Rony. � Ficou l� em cima na Sala Precisa esse temp�o? � Fiquei, e adivinhe quem eu encontrei l�? Tonks! � Tonks? � repetiram Rony e Hermione juntos, admirados. � �, ela disse que tinha vindo visitar Dumbledore... � Se voc� quer saber a minha opini�o � disse Rony quando Harry acabou de relatar a conversa que tivera com Tonks �, ela est� pirando. Perdeu a coragem depois do que aconteceu no Minist�rio. � � meio estranho � comentou Hermione, que por alguma raz�o pareceu muito preocupada. � Ela devia estar guardando a escola, por que � que abandonou de repente o posto para vir ver Dumbledore se ele nem est� aqui? � Pensei numa coisa � disse Harry hesitante. Era estranho estar dizendo isso; era muito mais a �rea de Hermione do que a dele. �Voc� acha que ela talvez fosse... sabe... apaixonada pelo Sirius? Hermione arregalou os olhos para ele. � De onde foi que voc� tirou essa id�ia? � N�o sei � respondeu Harry sacudindo os ombros �, mas ela estava quase chorando quando mencionei o nome dele... e o Patrono dela agora � um quadr�pede... fiquei pensando se n�o teria se transformado... sabe... nele. � � uma id�ia � disse Hermione lentamente. � Mas continuo sem saber por que ela adentraria o castelo de repente para ver Dumbledore, se este era realmente o motivo por que estava aqui... � O que nos traz de volta ao que eu disse, n�o �? � falou Rony, que agora enchia a boca de pur� de batatas. � Ela ficou esquisita. Se acovardou. Mulheres � sentenciou ele para Harry. � Elas se perturbam � toa. � Ainda assim � continuou Hermione despertando de suas divaga��es �, duvido que voc� encontre uma mulher que fique meia hora emburrada porque Madame Rosmerta n�o riu da piada que ela contou sobre a bruxa, o curandeiro e a Mimbulus mimbletonia. Rony amarrou a cara. CAP�TULO VINTE E DOIS DEPOIS DO ENTERRO RETALHOS DE C�U MUITO AZUL estavam come�ando a aparecer sobre as torres do castelo, mas estes ind�cios da aproxima��o do ver�o n�o melhoraram o humor de Harry. Ele se frustrara tanto nas tentativas de descobrir o que fazia Malfoy quanto em seus esfor�os para iniciar uma conversa com Slughorn que pudesse levar o professor a lhe entregar a lembran�a que aparentemente vinha reprimindo havia muitas d�cadas. � Pela �ltima vez, esquece o Malfoy � disse Hermione a Harry com firmeza. Os tr�s amigos estavam sentados a um canto ensolarado do p�tio depois do almo�o. Hermione e Rony seguravam vim panfleto do Minist�rio da Magia: Como evitar erros comuns em Aparata��o, porque iam fazer o teste naquela tarde, mas, em geral, os panfletos n�o tinham se mostrado eficazes para acalmar os nervos. Rony assustou-se e tentou se esconder atr�s de Hermione ao ver uma garota entrar no p�tio. � N�o � a Lil� � disse Hermione, impaciente. � Ah, bom � exclamou Rony relaxando. � Harry Potter? � perguntou a garota. � Me pediram para lhe entregar isso. � Obrigado... Harry sentiu-se apreensivo ao receber o rolinho de pergaminho. Quando a garota se distanciou, ele comentou: � Dumbledore disse que n�o ter�amos mais aulas at� eu conseguir a lembran�a! � Talvez ele queira saber como voc� est� indo? � arriscou Hermione, enquanto Harry desenrolava o pergaminho; mas, em vez da letra longa, fina e inclinada de Dumbledore, ele deparou com uma caligrafia irregular e espalhada, muito dif�cil de se ler devido � presen�a de grandes borr�es nos lugares em que a tinta escorrera. Caros Harry, Rony e Hermione, Aragogue morreu ontem � noite. Harry e Rony, voc�s o conheceram, e sabem como ele era especial. Hermione, eu sei que voc� teria gostado dele. Significaria muito para mim se voc�s dessem uma passada aqui mais tarde para o enterro. Pretendo fazer isso ao crep�sculo, que era a hora do dia que ele mais gostava. Sei que � proibido sa�rem t�o tarde, mas podem usar a Capa. Eu n�o pediria se pudesse enfrentar esse momento sozinho. Hagrid � D� uma olhada nisso � disse Harry, entregando o bilhete a Hermione. � Ah, pelo amor de Deus � exclamou ela, correndo os olhos pelo bilhete e passando-o a Rony, que o leu com uma express�o de crescente incredulidade. � Ele � maluco! � exclamou furioso. � Aquela coisa mandou a turma dele nos devorar! Disse para se servirem! E agora Hagrid espera que a gente v� l� embaixo chorar por aquele defunto peludo! � E n�o � s� isso � acrescentou Hermione. � Ele est� nos pedindo para sair do castelo � noite, sabendo que a seguran�a est� mil vezes mais rigorosa e que nos meter�amos era uma baita encrenca se f�ssemos apanhados. � J� descemos para ver Hagrid � noite antes � lembrou Harry. � Mas por um motivo desse? � replicou Hermione. �J� nos arriscamos muito para ajudar o Hagrid, afinal o Aragogue morreu. Se fosse uma quest�o de salvar a vida dele... � Eu teria ainda menos vontade de ir � interp�s Rony com firmeza. � Voc� n�o o conheceu, Hermione. Pode acreditar, morto ele deve estar bem melhor. Harry recolheu o bilhete e olhou para os borr�es de tinta. Sem d�vida, tinham ca�do l�grimas no pergaminho, grossas e sucessivas... � Harry, voc� n�o pode estar pensando em ir � falou Hermione. � N�o tem o menor sentido pegar uma deten��o por uma coisa dessas. Harry suspirou. � �, sei disso. Presumo que o Hagrid v� ter de enterrar Aragogue sem a nossa presen�a. � Vai � disse Hermione aliviada. � Olhem, a aula de Po��es vai estar quase vazia hoje � tarde, todos estaremos fazendo os testes... aproveite para amaciar o Slughorn um pouco! � Sorte na q�inquag�sima s�tima vez, � isso? � perguntou Harry amargurado. � Sorte � exclamou Rony de repente. � Harry, � isso a�: mude a sorte! � Como assim? � Use a sua po��o da sorte! � Rony, � isso... isso a�! � concordou Hermione, com voz de espanto. � Claro! Por que n�o pensei nisso antes? Harry encarou os dois. � Felix Felicis? N�o sei... estava meio que guardando... � Para qu�? � indagou Rony, incr�dulo. � Que pode ser mais importante do que essa lembran�a, Harry? � perguntou Hermione. O garoto n�o respondeu. A id�ia daquele frasquinho dourado tinha pairado na periferia de sua imagina��o por um bom tempo; planos vagos e n�o formulados que envolviam Gina romper o namoro com Dino, e Rony se alegrar de v�-la com um novo namorado, tinham fermentado nas profundezas do seu c�rebro, inconfessados exceto em sonhos ou durante a sonol�ncia que antecede o sono e o despertar... � Harry? Voc� ainda est� com a gente? � perguntou Hermione. � Qu�...? Claro � respondeu ele, voltando ao presente. � Bem... o.k. Se eu n�o conseguir fazer Slughorn falar hoje � tarde, vou tomar um pouco da Felix e tentar novamente � noite. � Est� decidido, ent�o � aprovou Hermione com energia, ficando em p� e executando uma graciosa pirueta. � Destina��o... determina��o... delibera��o � murmurou. � Ah, pode parar � pediu Rony a ela. � Eu j� estou at� nauseado... r�pido, me esconde! � N�o � a Lil�! � disse Hermione, impaciente, quando mais duas garotas chegaram ao p�tio e Rony mergulhou atr�s dela. � Legal � disse o garoto, espiando por cima do ombro de Hermione para verificar. � Caramba, elas n�o parecem nada felizes, n�o �? � S�o as irm�s Montgomery, e � claro que n�o est�o nada felizes, voc� n�o soube o que aconteceu com o irm�ozinho delas? � perguntou Hermione. � Para ser sincero, j� perdi a conta do que est� acontecendo com os parentes de todo o mundo � disse Rony. � Bem, o irm�o delas foi atacado por um lobisomem. Corre o boato de que a m�e se recusou a ajudar os Comensais da Morte. O garoto s� tinha cinco anos e morreu no St. Mungus, n�o conseguiram salv�-lo. � Morreu? � repetiu Harry, chocado. � Mas com certeza os lobisomens n�o matam, s� transformam a pessoa em um deles. � �s vezes matam � disse Rony, que parecia anormalmente s�rio agora. � Ouvi falar que isso acontece quando o lobisomem se empolga. � Qual era o nome do lobisomem? � perguntou Harry imediatamente. � Bem, dizem que foi o Lobo Greyback � disse Hermione. � Eu sabia: o man�aco que gosta de atacar crian�as, o Lupin me falou dele! � comentou Harry com indigna��o. Hermione olhou-o triste. � Harry, voc� precisa obter aquela lembran�a. Vai servir para paralisar o Voldemort, n�o �? Essas coisas horrendas que est�o acontecendo s�o culpa dele... A sineta tocou no castelo, e Hermione e Rony se ergueram de um salto com um ar apavorado. � Voc�s v�o se sair bem � disse Harry aos dois quando se dirigiam ao Sagu�o de Entrada para se reunir aos outros alunos que iam fazer o teste de Aparata��o. � Boa sorte. � E para voc� tamb�m! � disse Hermione com um olhar expressivo quando Harry tomou a dire��o das masmorras. S� havia tr�s alunos na sala de Po��es aquela tarde; Harry, Ernesto e Draco Malfoy. � Todos jovens demais para aparatar? � perguntou Slughorn cordialmente. � Ainda n�o fizeram dezessete anos? Eles sacudiram a cabe�a. � Ah, bem � disse Slughorn animado �, como somos t�o poucos, vamos nos divertir. Quero que voc�s preparem alguma coisa engra�ada! � Parece uma boa id�ia, senhor � bajulou Ernesto, esfregando as m�os. Malfoy, por sua vez, nem ao menos sorriu. � Que � que o senhor quer dizer com alguma coisa "engra�ada"? � perguntou com irrita��o. � Ah, me fa�am uma surpresa � respondeu Slughorn, despreocupado. Malfoy abriu seu exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es de mau humor. N�o podia ser mais evidente que, em sua opini�o, a aula seria um desperd�cio de tempo. Sem d�vida, pensou Harry, observando-o por cima do pr�prio livro, Malfoy estava cedendo de m� vontade o tempo que poderia gastar na Sala Precisa. Era sua imagina��o ou Malfoy, como Tonks, parecia mais magro? Com certeza, estava mais p�lido, sua pele conservava aquele tom acinzentado, provavelmente porque nos �ltimos tempos era raro ele ver a luz do dia. Mas n�o havia presun��o, nem excita��o, nem superioridade em seu rosto; tampouco a seguran�a que aparentara no Expresso de Hogwarts, quando se gabara abertamente da miss�o que tinha recebido de Voldemort... s� podia haver uma conclus�o, na opini�o de Harry: a miss�o, qualquer que fosse, n�o estava indo bem. Animado por este pensamento, correu os olhos pelo seu exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es e descobriu uma vers�o do Elixir para Induzir Euforia cheia de anota��es do Pr�ncipe, que parecia n�o somente corresponder �s instru��es de Slughorn, como tamb�m (e o cora��o de Harry deu um salto s� de pensar) deixaria o professor t�o bem-humorado que ele ficaria no ponto de entregar a lembran�a, se Harry o persuadisse a provar um pouquinho da po��o... � Ora, ent�o, esta po��o parece absolutamente maravilhosa �exclamou Slughorn batendo palmas, hora e meia depois, ao inspecionar o conte�do amarelo-sol do caldeir�o de Harry. � Euforia, presumo. E que cheiro � esse que estou sentindo? Hummm... voc� acrescentou um galhinho de menta, n�o foi? Heterodoxo, mas que sopro de inspira��o, Harry. Claro, poderia compensar os efeitos colaterais, as excessivas cantorias e coceiras no nariz... eu realmente n�o sei onde voc� arranja essas id�ias luminosas, meu rapaz... a n�o ser... Harry empurrou o livro do Pr�ncipe com o p�, mais para dentro da mochila. � ... que sejam os genes de sua m�e se revelando em voc�! � Ah... �, quem sabe � disse Harry aliviado. Ernesto estava com um ar muito rabugento; decidido a brilhar mais que Harry ao menos uma vez, apressadamente inventara uma po��o que talhara e formara uns grumos roxos no fundo do caldeir�o. Malfoy j� estava guardando seu material, de cara amarrada; Slughorn declarara a sua Solu��o dos Solu�os apenas "pass�vel". A sineta tocou, e Ernesto e Malfoy sa�ram logo. � Senhor � come�ou Harry, mas Slughorn imediatamente espiou por cima do ombro do garoto; ao ver a sala vazia, exceto por ele e Harry, apressou-se o m�ximo que p�de. � Professor... professor... o senhor n�o quer provar a minha po...? � chamou o garoto desesperado. Mas Slughorn se fora. Desapontado, Harry esvaziou o caldeir�o e guardou o material, em seguida saiu da masmorra e se dirigiu lentamente � sala comunal. Rony e Hermione retornaram no final da tarde. � Harry! � exclamou Hermione ao passar pelo buraco do retrato. � Harry, passei! � Parab�ns! � disse ele. � E Rony? � Ele... ele n�o passou por pouco � sussurrou Hermione ao ver Rony entrar na sala de ombros ca�dos e mal-humorado. � Foi realmente falta de sorte, uma coisinha � toa, o examinador notou que ele tinha deixado metade de uma sobrancelha para tr�s... como foi com o Slughorn? � Melou � respondeu Harry, quando Rony ia chegando. � Voc� deu azar, cara, mas da pr�xima vez vai passar... podemos fazer o teste juntos. � �, presumo que sim � respondeu o amigo, rabugento. � Mas por meia sobrancelha! Como se isso fizesse diferen�a! � Eu sei � consolou-o Hermione �, parece realmente rigoroso demais... Os tr�s passaram a maior parte do jantar xingando sem meias palavras o examinador de Aparata��o, e Rony parecia um tantinho mais animado quando voltaram � sala comunal, agora discutindo o problema, ainda sem solu��o, de Slughorn e sua lembran�a. � Ent�o, Harry, voc� vai ou n�o vai usar a Felix Felicis? � perguntou Rony. � �, presumo que � o jeito. Acho que n�o vou precisar tomar toda, n�o a dose para doze horas, n�o pode levar a noite inteira... Vou tomar s� um gole. Duas ou tr�s horas devem ser suficientes. � � uma sensa��o incr�vel quando a gente toma � comentou Rony lembrando-se. � Como se n�o fosse poss�vel fazer nada errado. � Do que � que voc� est� falando? � perguntou Hermione rindo. � Voc� nunca tomou! � �, mas pensei que tinha tomado, n�o �? � replicou Rony como se explicasse o �bvio. � D� no mesmo... Como tinham acabado de ver Slughorn entrar no Sal�o Principal e sabiam que o professor gostava de se demorar � mesa, eles fizeram uma horinha na sala comunal; o plano era Harry ir ao escrit�rio de Slughorn depois de lhe darem tempo de voltar para l�. Quando o sol poente atingiu as copas das �rvores da Floresta Proibida, os garotos resolveram que chegara o momento e, depois de verificar que Nevile, Dino e Simas estavam na sala comunal, subiram discretamente ao dormit�rio dos garotos. Harry tirou do fundo do mal�o as meias enroladas e apanhou o min�sculo frasco cintilante. � Bom, l� vai � exclamou Harry, erguendo o frasquinho e tomando uma dose cuidadosamente medida. � Qual � a sensa��o? � cochichou Hermione. Harry n�o respondeu logo. Ent�o, gradual mas inegavelmente, invadiu-o a sensa��o de euforia em que tudo � poss�vel; sentiu que poderia fazer qualquer coisa, qualquer coisa no mundo... e extrair a lembran�a de Slughorn pareceu de repente n�o apenas poss�vel, mas decididamente f�cil... Ele se levantou sorrindo, transbordando confian�a. � Excelente. Realmente excelente. Certo... vou at� a cabana do Hagrid. � Qu�? � exclamaram Rony e Hermione, perplexos. � N�o, Harry: voc� tem de ir ver o Slughorn, lembra? � disse Hermione. � N�o � respondeu ele seguro. � Vou � cabana do Hagrid, este pensamento produz em mim uma sensa��o boa. � Pensar em enterrar uma aranha gigante produz em voc� uma sensa��o boa? � perguntou Rony estarrecido. � Produz � respondeu Harry tirando a Capa da Invisibilidade da mochila. � Sinto que � o lugar onde devo estar hoje � noite, entendem o que quero dizer? � N�o � exclamaram os dois amigos ao mesmo tempo, parecendo agora positivamente alarmados. � Isto aqui � a Felix Felicis, presumo? � perguntou Hermione, ansiosa, segurando o frasco contra a luz. � Voc� n�o apanhou outro frasquinho cheio de... sei l�... � Ess�ncia de Insanidade? � sugeriu Rony quando Harry jogou a Capa nos ombros. Harry deu uma risada, e Rony e Hermione ficaram ainda mais alarmados. � Confiem em mim. Sei o que estou fazendo... ou pelo menos... � ele rumou para a porta, confiante � a Felix Felicis sabe. Ele puxou a Capa da Invisibilidade sobre a cabe�a e desceu as escadas, com Rony e Hermione acompanhando-o, apressados. Ao p� da escada, Harry se esgueirou pela porta aberta. � Que � que voc� estava fazendo l� em cima com ela? � guinchou Lil� Brown, sem ver Harry, encarando Rony e Hermione que emergiam juntos do dormit�rio dos garotos. Harry ouviu Rony gaguejar enquanto disparava pela sala, deixando os amigos para tr�s. Passar pelo buraco do retrato foi simples; ao se aproximar, Gina e Dino entravam e Harry p�de sair entre os dois. Ao fazer isso, ro�ou sem querer em Gina. � N�o me empurra, Dino, por favor � disse a garota em tom aborrecido. � Voc� sempre faz isso, posso perfeitamente entrar sozinha... O retrato girou, fechando a abertura � passagem de Harry, mas n�o antes que ele ouvisse a resposta enraivecida de Dino... com a sensa��o de euforia aumentando, Harry saiu pelo castelo. N�o precisou ter cautela porque n�o encontrou ningu�m no caminho, mas isto n�o o surpreendeu: esta noite, ele era o indiv�duo mais sortudo de Hogwarts. Por que sabia que ir � cabana de Hagrid era a coisa certa, Harry n�o fazia a menor id�ia. � como se a po��o estivesse iluminando uns poucos passos do seu caminho de cada vez: ele n�o conseguia ver seu destino final, n�o conseguia ver onde entrava Slughorn, mas sabia que estava agindo corretamente para obter a lembran�a. Quando chegou ao Sagu�o de Entrada, descobriu que Filch se esquecera de trancar a porta da entrada do castelo. Sorrindo, Harry escancarou-a e inspirou o cheiro de ar puro e grama por um momento, antes de descer as escadas e sair para a noite que ca�a. Foi quando chegou ao �ltimo degrau que lhe ocorreu que seria muito agrad�vel passar pela horta a caminho da cabana de Hagrid. N�o ficava exatamente no caminho, mas lhe pareceu claro que era um capricho a que devia obedecer, ent�o dirigiu imediatamente os seus passos para a horta, e ficou satisfeito, embora n�o de todo surpreso, ao topar com o professor Slughorn conversando com a professora Sprout. Harry se escondeu atr�s de uma mureta de pedra, sentindose em paz com o mundo e escutando a conversa dos dois. � ... agrade�o muito por me ceder seu tempo, Pomona � dizia Slughorn educadamente. � A maioria das autoridades concorda que elas s�o mais eficazes quando colhidas ao crep�sculo. � Ah, concordo inteiramente � respondeu a professora Sprout cordial. � Essas s�o suficientes? � S�o mais do que suficientes � respondeu Slughorn; Harry viu que o professor carregava uma bra�ada de plantas folhosas. � Dar� para distribuir algumas folhas a cada aluno do terceiro ano e ainda sobrar� para quem as cozinhar demais... bem, boa-noite para voc�, e, mais uma vez, muito obrigado! A professora Sprout saiu pela escurid�o que se adensava em dire��o �s suas estufas, e Slughorn foi andando para o lugar em que estava Harry, invis�vel. Tomado de um desejo imediato de se revelar, Harry despiu a Capa com um gesto dram�tico. � Boa-noite, professor. � Pelas barbas de Merlim, voc� me assustou � disse Slughorn, parando de s�bito, com ar cauteloso. � Como foi que saiu do castelo? � Filch deve ter esquecido de trancar as portas � respondeu Harry, animado, e ficou satisfeito de ver Slughorn amarrar a cara. � Vou dar parte desse homem, ele se preocupa mais com bobagens do que com a verdadeira seguran�a, se voc� quer saber... mas por que est� aqui fora, Harry? � Bem, senhor, � o Hagrid � respondeu Harry, sabendo que o certo naquele momento era dizer a verdade. � Ele est� muito chateado... mas o senhor n�o vai contar a ningu�m, n�o � professor? N�o quero criar problema para ele... Evidentemente Slughorn ficou curioso. � Bem, n�o posso lhe prometer isso � respondeu com impaci�ncia. � Mas sei que Dumbledore confia em Hagrid at� a medula dos ossos, por isso tenho certeza de que n�o pode estar fazendo nada muito ruim... � Bem, � uma aranha gigante que ele tinha h� anos... vivia na Floresta... falava e tudo... � Ouvi rumores de que havia acrom�ntulas na Floresta � comentou Slughorn baixinho, olhando para a massa de �rvores escuras. � � verdade, ent�o? �. Mas a tal, Aragogue, a primeira que Hagrid conseguiu, morreu ontem � noite. Ele est� arrasado. Quer companhia para fazer o enterro, e eu disse que iria. Comovente, comovente � disse Slughorn distra�do, seus grandes olhos de p�lpebras enrugadas fixos nas luzes distantes da cabana de Hagrid. � Mas o veneno da acrom�ntula � muito valioso... se o artr�pode acabou de morrer, talvez ainda n�o tenha secado... claro, eu n�o gostaria de fazer nada desrespeitoso se Hagrid est� perturbado... mas se houvesse algum meio de obter algum... quero dizer, � quase imposs�vel obter veneno de uma acrom�ntula viva... Slughorn parecia estar falando mais para si do que para Harry. � ... parece um terr�vel desperd�cio n�o recolh�-lo... pode chegar a alcan�ar cem gale�es por meio litro... para ser franco, o meu sal�rio n�o � alto... E Harry viu claramente o que precisava fazer. � Bem � disse ele, hesitando de modo convincente �, bem, se o senhor quiser ir, professor, Hagrid provavelmente ficaria muito satisfeito... fazer uma despedida melhor, entende... � Claro � exclamou Slughorn, seus olhos agora faiscando de entusiasmo. � Faremos o seguinte, Harry, encontro voc� l� embaixo com umas duas garrafas... beberemos... n�o � sa�de da pobre criatura... bem... mas, em todo caso, faremos uma despedida em grande estilo, depois do enterro. E vou trocar a minha gravata, esta � um pouco berrante para a ocasi�o... Ele voltou ligeiro para o castelo, e Harry correu para a cabana de Hagrid, satisfeit�ssimo. � Voc� veio � exclamou Hagrid rouco, quando abriu a porta e viu � sua frente Harry, emergindo da Capa da Invisibilidade. � �... mas Rony e Hermione n�o puderam vir � disse Harry. � Eles realmente lamentam. � N�o faz... n�o faz mal... ele teria ficado sensibilizado por voc� ter vindo, Harry... Hagrid deixou escapar um grande solu�o. Tinha feito uma bra�adeira preta, que parecia uma tira de pano mergulhada em graxa de sapato, e seus olhos estavam inchados e vermelhos. Harry consolou-o com palmadinhas no cotovelo, que era a altura m�xima do amigo que ele conseguia atingir sem esfor�o. � Onde vamos enterr�-lo? � perguntou. � Na Floresta? � Caramba, n�o � protestou Hagrid, enxugando os olhos que n�o paravam de lacrimejar com a fralda da camisa. � As outras aranhas n�o me deixar�o nem chegar perto das teias, agora que Aragogue partiu. Fiquei sabendo que s� as ordens dele evitavam que me comessem. D� para acreditar, Harry? A resposta sincera seria "sim"; Harry lembrou, sem dificuldade, a cena em que ele e Rony se viram cara a cara com a acrom�ntula: ficara bem evidente que Aragogue era a �nica coisa que as impedia de devorar Hagrid. � Nunca teve antes uma �rea da Floresta a que eu n�o pudesse ir � comentou Hagrid balan�ando a cabe�a. � N�o foi nada f�cil tirar o cad�ver de Aragogue de l�, acredite... elas costumam comer os mortos, entende... mas eu queria dar a ele um enterro decente... uma despedida digna... Ele desatou a solu�ar, e Harry recome�ou a afagar seu cotovelo, dizendo (porque a po��o parecia indicar que era o que devia ser feito) ao mesmo tempo: � O professor Slughorn me encontrou quando eu ia descendo, Hagrid. � Voc� n�o se encrencou, n�o? � perguntou Hagrid, alarmado. � N�o devia estar fora do castelo � noite, eu sei, a culpa � minha... � N�o, n�o, quando ele soube aonde eu ia, disse que tamb�m gostaria de vir prestar as �ltimas homenagens a Aragogue. Ele foi vestir uma roupa mais apropriada, acho... e disse que traria umas garrafas para podermos beber � mem�ria de Aragogue... � Verdade? � exclamou Hagrid, parecendo ao mesmo tempo espantado e comovido. � �... � muita bondade dele, � sim, e tamb�m n�o entregar voc�. Eu nunca tive realmente muito contato com Hor�cio Slughorn antes... mas ele vem se despedir do velho Aragogue, eh? Bem... ele teria gostado disso, o Aragogue... Harry pensou com seus bot�es que o que Aragogue teria gostado mais em Slughorn era a fartura de carne comest�vel que ele oferecia, mas limitou-se a ir at� a janela dos fundos da cabana de Hagrid, de onde teve a sinistra vis�o da enorme aranha que jazia de costas com as pernas encolhidas e entrela�adas. � Vamos enterrar Aragogue aqui, Hagrid, na sua horta? � Logo depois do canteiro de ab�boras, pensei � respondeu ele com a voz embargada. � J� cavei a... entende... sepultura. Para podermos dizer alguma coisa simp�tica sobre ele... lembran�as felizes, entende... Sua voz tremeu e falhou. Houve uma batida na porta e ele se virou para atender, assoando o nariz no grande len�o manchado. Slughorn apressou-se a entrar, trazendo v�rias garrafas nos bra�os e usando um s�brio len�o preto ao pesco�o. � Hagrid � disse ele com voz grave e profunda. � Lamento muito a sua perda. � � muita gentileza sua � respondeu Hagrid. � Muito obrigado. E muito obrigado por n�o dar uma deten��o a Harry... � Eu nem sonharia. Noite triste, noite triste... onde est� o coitado? � L� fora � informou Hagrid com a voz tr�mula. � Vamos... vamos come�ar, ent�o? Os tr�s sa�ram para o quintal. A lua brilhava palidamente entre as �rvores e sua claridade se misturava � luz que sa�a da janela de Hagrid para iluminar o cad�ver de Aragogue, � beira de uma enorme cova ladeada por um monte de terra rec�m-cavada, de tr�s metros. � Magn�fico � disse Slughorn, aproximando-se da cabe�a da aranha, onde oito olhos leitosos contemplavam inutilmente o c�u e duas enormes pin�as curvas brilhavam im�veis ao luar. Harry pensou ouvir o tinido de frascos quando Slughorn se curvou para as pin�as, aparentemente examinando a enorme cabe�a peluda. � N�o � todo o mundo que sabe apreciar como elas s�o bonitas � comentou Hagrid �s costas de Slughorn, as l�grimas escorrendo dos seus olhos enrugados. � Eu n�o sabia que voc� tinha interesse em criaturas como o Aragogue, Hor�cio. � Interesse? Meu caro Hagrid, tenho venera��o por elas � respondeu o professor, afastando-se do corpo. Harry viu o reflexo de um frasco desaparecer sob sua capa, embora Hagrid, secando os olhos mais uma vez, n�o notasse nada. � Agora... vamos prosseguir com o enterro? Hagrid acenou a cabe�a concordando, e se adiantou. Ergueu a gigantesca aranha nos bra�os e, com um enorme gemido, derrubou-a na cova escura. O corpo bateu no fundo, com um baque feio e triturante. Hagrid recome�ou a chorar. � Claro, � dif�cil para voc� que o conhecia melhor � disse Slughorn, que, como Harry, s� conseguia alcan�ar o cotovelo de Hagrid, mas deu-lhe umas palmadinhas assim mesmo. � Que tal eu dizer umas palavrinhas? Ele devia ter retirado muito veneno de boa qualidade de Aragogue, pensou Harry, porque tinha um ar satisfeito quando se aproximou da cova e disse, em voz lenta e comovente: � Adeus, Aragogue, rei dos aracn�deos, cuja longa e fiel amizade os que o conheceram jamais esquecer�o! Embora o seu corpo se desintegre, o seu esp�rito permanecer� nas teias tranq�ilas de sua Floresta natal. Que os seus descendentes multioculares prosperem e seus amigos humanos encontrem consolo pela perda que sofreram. � Foi... foi... lindo! � berrou Hagrid, desmontando em cima da estrumeira aos prantos. � Vamos, vamos � disse Slughorn, e acenou com a varinha, fazendo uma grande quantidade de terra se elevar e cair com um ru�do abafado sobre a aranha morta, formando um monte liso. � Vamos entrar e beber alguma coisa. Pegue do outro lado dele, Harry... isso... em p�, Hagrid... muito bem... Eles sentaram Hagrid em uma cadeira � mesa. Canino, que estivera escondido em seu cesto durante o enterro, agora veio pisando macio at� eles e descansou a pesada cabe�a no colo de Harry, como sempre fazia. Slughorn desarrolhou uma das garrafas de vinho que trouxera. � Testei todas � procura de veneno � garantiu ele a Harry, servindo a primeira garrafa quase toda em uma das canecas tamanho-balde de Hagrid e entregando-a a ele. � Mandei um elfo dom�stico provar cada garrafa depois do que aconteceu ao coitado do seu amigo Rupert. Harry imaginou a express�o de Hermione se algum dia ela viesse a saber deste abuso contra elfos dom�sticos, e decidiu que jamais o mencionaria � amiga. � Uma para Harry... � disse Slughorn, dividindo uma segunda garrafa em duas canecas � ... e uma para mim. Bem � ele ergueu a caneca �, ao Aragogue. � Aragogue � repetiram juntos, Harry e Hagrid. Slughorn e Hagrid tomaram um grande gole. Harry, por�m, com o seu pr�ximo passo iluminado pela Felix Felicis, percebeu que n�o devia beber, ent�o fingiu apenas tomar um gole e em seguida devolveu a caneca � mesa. � Eu o criei a partir de um ovo, sabem � disse Hagrid sombriamente. � Uma coisinha � toa quando saiu da casca. Mais ou menos do tamanho de um pequin�s. � Que encanto � comentou Slughorn. � Eu costumava guardar Aragogue em um arm�rio na escola at� que... bem... Passou uma sombra pelo rosto de Hagrid, e Harry entendeu o porqu�: Tom Riddle tinha tramado para Hagrid ser expulso da escola, culpado de ter aberto a C�mara Secreta. Slughorn, por�m, n�o parecia estar ouvindo; contemplava o teto, de onde pendiam v�rios tachos de lat�o, bem como uma sedosa mecha de p�los muito brancos. � Isso n�o pode ser p�lo de unic�rnio, Hagrid, pode? � Ah, � � respondeu ele com indiferen�a. � Arrancado da cauda deles, os p�los se agarram nos galhos e plantas da Floresta, entende... � Mas, meu caro, voc� sabe quanto vale isso? � Uso para prender bandagens e outras coisas, quando algum bicho se machuca � disse Hagrid sacudindo os ombros. � � �til � be�a... muito forte, mesmo. Slughorn tomou mais um grande gole da caneca, seus olhos agora percorrendo a cabana atentamente, � procura, Harry percebeu, de mais tesouros que ele pudesse converter em um copioso suprimento de hidromel envelhecido em carvalho, abacaxi cristalizado e palet�s de smoking de veludo. Ele tornou a encher a caneca de Hagrid e a sua pr�pria, e interrogou-o sobre as criaturas que viviam na Floresta atualmente, e como viviam, e se ele dava conta de cuidar de todas. Hagrid, tornando-se expansivo sob a influ�ncia da bebida e do interesse lisonjeiro de Slughorn, parou de enxugar os olhos e embarcou feliz em uma longa explica��o sobre a cria��o de tronquilhos. A essa altura, a Felix Felicis deu um toque em Harry, e ele reparou que o suprimento de bebida que Slughorn trouxera estava se esgotando com rapidez. Harry ainda n�o conseguira realizar o Feiti�o de Reposi��o sem pronunciar o encantamento em voz alta, mas a id�ia de que fosse incapaz de realiz�-lo esta noite era ris�vel: de fato, Harry riu interiormente quando, sem que Hagrid nem Slughorn (agora trocando casos sobre o com�rcio clandestino de ovos de drag�o) o vissem, apontou a varinha por baixo da mesa para as garrafas vazias e elas imediatamente tornaram a encher. Decorrida mais ou menos uma hora, os dois professores come�aram a fazer brindes extravagantes: a Hogwarts, a Dumbledore, ao vinho dos elfos e a... � Harry Potter! � berrou Hagrid, babando um pouco do vinho no queixo, ao esvaziar sua d�cima quarta caneca. � Com certeza � exclamou Slughorn com a voz meio pastosa �, Parry Otter, o Garoto Eleito Que... bem... alguma coisa assim � murmurou ele esvaziando sua caneca tamb�m. N�o demorou muito, Hagrid recome�ou a chorar e insistiu que Slughorn ficasse com a cauda do unic�rnio inteira, que o professor embolsou aos gritos de "� amizade! � generosidade! A dez gale�es o p�lo!". E durante algum tempo, Hagrid e Slughorn se sentaram lado a lado, abra�ados, cantando uma m�sica lenta e triste sobre um bruxo moribundo chamado Odo. � Arre, os bons morrem jovens � murmurou Hagrid, debru�ando-se sobre a mesa, um pouco vesgo, enquanto Slughorn continuava a gorjear o refr�o "Meu pai n�o tinha idade para morrer... nem a sua m�e nem o seu pai, Harry..." L�grimas enormes tornaram a vazar dos cantos dos olhos enrugados de Hagrid; ele agarrou o bra�o de Harry e sacudiu-o. � ... melhor bruxo e bruxa da idade deles que j� conheci... uma desgra�a... uma desgra�a... Slughorn cantava melancolicamente: "E Odo o her�i foi levado para casa Para o lugar que jovem conhecera E sepultado com o chap�u pelo avesso E a varinha partida ao meio, que tristeza." � ... uma desgra�a � resmungou Hagrid, e sua enorme cabe�a desgrenhada rolou para o lado sobre os bra�os cruzados, e ele adormeceu roncando profundamente, � Desculpe � disse Slughorn com um solu�o. � N�o consigo cantar afinado nem para salvar a vida. � Hagrid n�o estava falando do seu modo de cantar � explicou Harry em voz baixa. � Estava falando da morte dos meus pais. � Ah � exclamou Slughorn reprimindo um grande arroto. � Ah, nossa. Aquilo foi... foi de fato terr�vel. Terr�vel... terr�vel... Parecia n�o encontrar o que dizer e optou por tornar a encher as canecas. � Suponho que voc�... n�o se lembre, n�o �, Harry? � perguntou ele sem jeito. � N�o... bem eu s� tinha um ano quando eles morreram � respondeu Harry, seus olhos fixos na chama da vela que bruxuleava com os fortes roncos de Hagrid. � Mas descobri com bastante exatid�o o que aconteceu. Meu pai morreu primeiro. O senhor sabia? � N�o... n�o sabia � disse Slughorn com a voz abafada. � �... Voldemort matou-o e em seguida passou por cima do cad�ver dele em dire��o a minha m�e. Slughorn estremeceu violentamente, mas n�o parecia capaz de despregar o olhar horrorizado do rosto de Harry. � Disse a ela para sair do caminho � continuou Harry, sem piedade. � Voldemort me contou que minha m�e n�o precisava ter morrido. Ele s� queria a mim. Ela poderia ter fugido. � Nossa � murmurou Slughorn. � Ela podia ter... ela n�o precisava... que horror... � N�o � mesmo? � concordou Harry, num sussurro quase inaud�vel. � Mas ela n�o se mexeu. Papai j� estava morto, mas ela n�o queria que eu morresse tamb�m. Tentou suplicar ao Voldemort... mas ele apenas riu... � Basta! � exclamou Slughorn repentinamente, erguendo a m�o tr�mula. � Realmente, meu caro rapaz, basta... Sou um velho... n�o preciso ouvir... n�o quero ouvir... � Me esqueci � mentiu Harry, a Felix Felicis orientando-o. � O senhor gostava dela, n�o? � Gostava dela? � repetiu Slughorn, seus olhos tornando a se encher de l�grimas. � N�o consigo imaginar algu�m que a conhecesse e n�o gostasse dela... muito corajosa... muito engra�ada... foi pavoroso. � Mas o senhor n�o quer ajudar o filho dela � continuou Harry. � Ela deu a vida por mim, mas o senhor n�o quer me dar uma lembran�a. Os roncos trovejantes de Hagrid ecoavam pela cabana. Harry encarava sem vacilar os olhos lacrimosos de Slughorn. O professor de Po��es parecia incapaz de desviar o olhar. � N�o diga isso � sussurrou ele. � N�o � uma quest�o... se fosse para ajud�-lo, � claro... mas n�o vai adiantar nada... � Vai � disse Harry em voz alta e clara. � Dumbledore precisa de informa��es. Eu preciso de informa��es. Ele sabia que estava seguro: a Felix lhe dizia que o professor n�o lembraria nada pela manh�. Olhando direto nos olhos de Slughorn, Harry se inclinou ligeiramente para ele. � Eu sou o Eleito. Tenho de mat�-lo. Preciso daquela lembran�a. Slughorn ficou mais p�lido que nunca; o suor brilhava em sua testa lisa. � Voc� � o Eleito? � Claro que sou � respondeu Harry calmamente. � Mas ent�o... meu caro rapaz... voc� est� me pedindo muito... voc� est� me pedindo, de fato, que o ajude em sua tentativa de destruir... � O senhor n�o quer se livrar do bruxo que matou L�lian Evans? � Harry, Harry, claro que quero, mas... � O senhor tem medo que ele descubra que me ajudou? Slughorn n�o respondeu; estava aterrorizado. � Seja corajoso como a minha m�e, professor... Slughorn ergueu a m�o gorducha e levou os dedos tr�mulos � boca; por um instante pareceu um beb� que crescera demais. � N�o me orgulho � sussurrou ele entre os dedos. � Tenho vergonha do que... do que aquela lembran�a mostra... acho que eu talvez tenha causado um grande estrago naquele dia... � O senhor compensaria o que fez me entregando aquela lembran�a. Seria um ato de grande coragem e nobreza. Hagrid, adormecido, se mexeu e continuou a roncar. Slughorn e Harry olhavam-se fixamente por cima da vela gotejante. Fez-se um sil�ncio extremamente longo, mas a Felix Felicis disse a Harry que n�o o quebrasse, que aguardasse. Ent�o, muito lentamente, Slughorn levou a m�o ao bolso e puxou sua varinha. Enfiou a outra m�o por dentro da capa e tirou um frasquinho vazio. Ainda sustentando o olhar de Harry, Slughorn tocou a t�mpora com a ponta da varinha e retirou-a, fazendo com que o longo fio prateado de lembran�a sa�sse, tamb�m, preso na ponta da varinha. A lembran�a foi se esticando, se esticando, at� partir, e balan�ar luminosa e prateada da varinha. O professor colocou-a no frasco onde ela se enroscou, depois se expandiu espiralando como um g�s. Ele arrolhou o vidro com a m�o tr�mula e passou-o por cima da mesa para Harry. � Muito obrigado, professor. � Voc� � um bom rapaz � disse Slughorn, com as l�grimas escorrendo pelas bochechas gordas e entrando em seus bigodes de le�o-marinho. � E voc� tem os olhos dela... s� n�o pense muito mal de mim depois que vir... E ele tamb�m descansou a cabe�a sobre os bra�os, deu um profundo suspiro e adormeceu. CAP�TULO VINTE E TR�S HORCRUXES HARRY SENTIU O EFEITO DA FELIX FELICIS come�ar a passar enquanto se esgueirava sorrateiro de volta ao castelo. A porta da frente permanecia destrancada, mas, no terceiro andar, encontrou Pirra�a, e por pouco evitou ser detido mergulhando em um dos seus atalhos laterais. Quando finalmente chegou ao quadro da Mulher Gorda e despiu a Capa da Invisibilidade, n�o se surpreendeu com a sua grande m� vontade em atend�-lo. � Que horas voc� acha que s�o? � Eu realmente lamento... tive de sair para uma coisa importante... � Bem, a senha mudou � meia-noite, e voc� ter� de dormir no corredor, n�o � assim? � A senhora est� brincando � replicou Harry. � Por que mudaram a senha � meia-noite? � Porque mudaram � respondeu a Mulher Gorda. � Se n�o gostou, v� reclamar com o diretor, foi ele que refor�ou a seguran�a. � Fant�stico � retrucou Harry com amargura, examinando o ch�o duro � sua volta. � Realmente genial. �, eu iria realmente reclamar com Dumbledore se ele estivesse aqui, porque foi ele quem quis que eu... � Ele est� aqui � disse uma voz �s suas costas. � O professor Dumbledore retornou � escola h� uma hora... Nick Quase Sem Cabe�a flutuou em dire��o a Harry, sua cabe�a balan�ando como sempre em cima da gola de tufos engomados. � Soube pelo Bar�o Sangrento que o viu chegar � informou Nick. � Parecia muito animado, segundo o Bar�o, embora um pouco cansado, � claro. � E onde ele est�? � perguntou Harry, com o cora��o aos saltos. � Ah, gemendo e arrastando correntes na Torre de Astronomia, � um dos seus passatempos preferidos... � N�o, n�o o Bar�o Sangrento, Dumbledore! � Ah... no escrit�rio dele. Acredito, pelo que me disse o Bar�o, que tem de cuidar de uns assuntos antes de se recolher... � �, tem mesmo � disse Harry, a excita��o incendiando o seu peito ante a perspectiva de contar a Dumbledore que obtivera a lembran�a. Ele deu meia-volta e saiu correndo, sem dar aten��o � Mulher Gorda que o chamava. � Volte aqui! Est� bem, eu menti! Fiquei aborrecida porque voc� me acordou! A senha ainda � "solit�ria"! Harry, por�m, j� disparava pelo corredor, e, minutos depois, estava dizendo "bombas de caramelo" � g�rgula do diretor, que saltou para o lado e admitiu-o � escada em espiral. � Entre � mandou Dumbledore, quando Harry bateu. Pela voz, parecia exausto. Harry empurrou a porta. Ali estava o escrit�rio de Dumbledore com a apar�ncia de sempre, exceto pela vista do c�u escuro e estrelado atrav�s das janelas. � C�us, Harry � disse o diretor surpreso. � A que devo este prazer t�o tardio? � Senhor... consegui. Consegui a lembran�a de Slughorn. Harry tirou o frasquinho e mostrou-o a Dumbledore. Por um momento, o diretor pareceu aturdido. Ent�o, seu rosto se iluminou com um grande sorriso. � Harry, que not�cia espetacular! Muito bem mesmo! Eu sabia que voc� conseguiria! Aparentemente esquecido da hora tardia, rapidamente ele contornou a escrivaninha, apanhou o frasco com a lembran�a de Slughorn com a m�o boa e foi at� o arm�rio onde guardava a Penseira. � E agora � disse Dumbledore, colocando a bacia de pedra em cima da escrivaninha e despejando nela o conte�do do frasco �, agora finalmente veremos, Harry, vamos... Harry se curvou obedientemente para a Penseira e sentiu os p�s abandonarem o ch�o do escrit�rio... mais uma vez ele caiu pelo v�cuo escuro e aterrissou na antiga sala de Hor�cio Slughorn muitos anos atr�s. Ali estava o professor muito mais jovem, com seus cabelos cor de palha, espessos e brilhantes, e seus bigodes arruivados, sentado na confort�vel berg�re em sua sala, os p�s apoiados no pufe de veludo, uma das m�os segurando uma tacinha de vinho e a outra enfiada em uma caixa de abacaxi cristalizado. E ali estavam, ao redor de Slughorn, meia d�zia de adolescentes, Tom Riddle entre eles, com o anel ouro e preto de Servolo brilhando no dedo. Dumbledore aterrissou ao lado de Harry na hora em que Riddle perguntava: � Senhor, � verdade que a professora Merrythought est� se aposentando? � perguntou Riddle. � Tom, Tom, se eu soubesse n�o poderia lhe dizer � respondeu Slughorn, sacudindo um dedo a�ucarado para Riddle, num gesto de censura, embora estragasse esse efeito com uma ligeira piscadela. � Confesso que gostaria de saber onde voc� obt�m suas informa��es, rapaz; sabe mais do que metade dos professores. Riddle sorriu; os outros garotos riram e lhe lan�aram olhares de admira��o. � Com a sua fant�stica habilidade para saber o que n�o deve e a sua cuidadosa bajula��o das pessoas certas... ali�s, obrigado pelo abacaxi, voc� acertou, � o meu preferido... V�rios meninos tornaram a rir. � ... estou seguro que chegar� a Ministro da Magia em vinte anos. Quinze, se continuar a me mandar abacaxis. Tenho excelentes contatos no Minist�rio. Tom Riddle apenas sorriu enquanto os colegas davam gostosas risadas. Harry reparou que ele n�o era de modo algum o mais velho do grupo, mas todos os garotos pareciam consider�-lo seu l�der. � N�o sei se a pol�tica me conviria, senhor � respondeu ele quando cessaram as risadas. � Primeiro porque n�o perten�o �s fam�lias bem-nascidas. Uns dois garotos trocaram sorrisos debochados. Harry teve certeza de que se divertiam com uma piada secreta: sem d�vida ligada ao que sabiam, ou suspeitavam, a respeito do famoso antepassado do l�der da gangue. � Tolice � replicou Slughorn energicamente �, n�o poderia ser mais evidente que voc� descende de boa fam�lia bruxa, com as habilidades que tem. N�o, voc� ir� longe, Tom, at� hoje jamais me enganei a respeito de um aluno. O pequeno rel�gio de ouro sobre a escrivaninha de Slughorn bateu onze horas �s suas costas, e ele se virou. � C�us, j� � t�o tarde assim? � exclamou o professor. � � melhor irem andando, rapazes, ou todos ficaremos encrencados. Lestrange, quero o seu trabalho at� amanh� ou receber� uma deten��o. O mesmo se aplica a voc�, Avery. Um a um, os garotos sa�ram da sala. Slughorn levantou-se da poltrona com esfor�o e levou seu c�lice vazio at� a escrivaninha. Um movimento atr�s do professor o fez virar-se; Riddle continuava parado ali. � Ande logo, Tom, voc� n�o quer ser apanhado fora da cama depois da hora, ainda mais sendo monitor... � Senhor, eu queria lhe perguntar uma coisa. � Ent�o pergunte, meu rapaz, pergunte... � Senhor, estive imaginando o que o senhor saberia sobre... sobre Horcruxes. Slughorn encarou-o, acariciando distraidamente a haste da ta�a de vinho com os dedos grossos. � Um trabalho para a Defesa contra as Artes das Trevas, eh? Mas Harry percebeu que Slughorn sabia perfeitamente bem que n�o era trabalho escolar. � N�o exatamente, senhor. Encontrei o termo em um livro, e n�o entendi muito bem. � N�o... bem... voc� estaria num apuro para encontrar em Hogwarts um livro com detalhes sobre Horcruxes, Tom. � feiti�o das Trevas, realmente das Trevas. � Mas obviamente o senhor conhece bem todos eles, n�o? Quero dizer, um bruxo como o senhor... me desculpe, quero dizer, se o senhor n�o puder me falar, obviamente... achei que se algu�m pudesse, seria o senhor... ent�o pensei em perguntar... A coisa foi muito bem-feita, pensou Harry, a hesita��o, o tom descontra�do, a adula��o discreta, nada excessivo. Ele, Harry, tinha experi�ncia demais em tentativas para extrair informa��es de gente relutante, para n�o reconhecer um mestre em a��o. Percebia que Riddle queria a informa��o, e muito; talvez tivesse gasto semanas se preparando para aquele momento. � Bem � falou Slughorn sem olhar para Riddle, mas brincando com a fita da caixa de abacaxis cristalizados �, bem, � claro que n�o pode haver mal algum em lhe dar uma id�ia geral. S� para voc� entender o termo. Horcrux � a palavra usada para um objeto em que a pessoa ocultou parte da pr�pria alma. � Mas n�o entendo muito bem como se faz isso, senhor. A voz de Riddle estava cuidadosamente controlada, mas Harry sentiu sua excita��o. � Bem, a pessoa divide a alma, entende � explicou Slughorn �, e esconde uma metade dela em um objeto externo ao corpo. Ent�o, mesmo que seu corpo seja atacado ou destru�do, a pessoa n�o poder� morrer, porque parte de sua alma continuar� presa � terra, intacta. Mas, naturalmente, a exist�ncia sob tal forma... O rosto de Slughorn murchou, e Harry se viu relembrando palavras que ouvira havia quase dois anos. "Fui arrancado do meu corpo, me tornei menos que um esp�rito, menos que o fantasma mais insignificante... mas ainda assim, continuei vivo." � ... poucas pessoas iriam querer, Tom, muito poucas. A morte seria prefer�vel. Mas a sofreguid�o de Riddle naquele momento era vis�vel; sua express�o era �vida, ele j� n�o conseguia esconder seu desejo. � E como � que se divide a alma? � Bem � respondeu Slughorn, constrangido �, voc� precisa compreender que a alma deve permanecer intocada e una. A divis�o � um ato de viola��o, � contra a natureza. � Mas como � que se faz? � Por meio de uma a��o maligna: a suprema maldade. Matando algu�m. Matar rompe a alma. O bruxo que desejasse criar uma Horcrux usaria essa ruptura em seu proveito: encerraria a parte que se rompeu... � Encerraria? Mas como...? � H� um feiti�o, n�o me pergunte, eu n�o conhe�o! � respondeu Slughorn, sacudindo a cabe�a como um velho elefante importunado por mosquitos. � Tenho cara de quem j� experimentou isso... tenho cara de homicida? � N�o, senhor, naturalmente que n�o � apressou-se a dizer Riddle. � Desculpe... n�o pretendi ofender o senhor... � Tudo bem, tudo bem, n�o me ofendi � disse o professor bruscamente. � � natural sentir alguma curiosidade por essas coisas... bruxos de certo calibre sempre se sentiram atra�dos por este aspecto da magia... � Sim, senhor. Mas o que n�o entendo... s� por curiosidade... quero dizer ser� que uma Horcrux serve para alguma coisa? Pode-se dividir a alma apenas uma vez? N�o seria melhor, fortaleceria mais a pessoa, se ela dividisse a alma em v�rias partes? Quero dizer, por exemplo, sete n�o � o n�mero m�gico mais poderoso, ser� que sete...? � Pelas barbas de Merlim, Tom! � ganiu Slughorn. � Sete! J� n�o � bastante ruim pensar em matar uma pessoa? E em todo caso... bastante ruim romper a alma uma vez... mas romp�-la em sete partes... Slughorn parecia agora profundamente perturbado: fitava Riddle como se nunca o tivesse visto direito, e Harry percebia que estava come�ando a se arrepender de ter entrado naquela conversa. � � claro � murmurou �, isto � uma hip�tese, o que estamos discutindo, n�o � mesmo? Uma quest�o acad�mica... � � claro que sim, senhor � concordou Riddle imediatamente. � Ainda assim, Tom... n�o repita para ningu�m o que eu disse... ou seja, o que discutimos. As pessoas n�o gostariam de pensar que estivemos conversando sobre Horcruxes. � um assunto proibido em Hogwarts, sabe... Dumbledore � particularmente rigoroso nisso... � N�o direi uma palavra, senhor � prometeu Riddle se retirando, mas n�o antes de Harry ter visto de relance o seu rosto, em que se espalhava aquela mesma felicidade delirante do dia em que descobrira que era bruxo, o tipo de felicidade que n�o real�ava suas bonitas fei��es, mas, por alguma raz�o, as tornava menos humanas... � Obrigado, Harry � disse Dumbledore em voz baixa. � Vamos. Quando Harry voltou ao escrit�rio, Dumbledore j� estava sentado � escrivaninha. O garoto sentou-se, tamb�m, e esperou o diretor falar. � H� muito tempo estou esperando obter esta prova � disse ele por fim. � Confirma a teoria em que venho trabalhando, me diz que tenho raz�o, e tamb�m quanto ch�o ainda precisamos percorrer... Harry de repente reparou que cada um dos retratos dos antigos diretores e diretoras nas paredes estava acordado e atento � conversa. Um bruxo corpulento, de nariz vermelho, chegara a apanhar uma corneta ac�stica. � Bem, Harry � recome�ou o diretor. � Estou certo de que voc� compreendeu o significado do que acabou de ouvir. � mesma idade que voc�, com uma diferen�a de poucos meses a mais ou a menos, Tom Riddle estava fazendo tudo que podia para descobrir como se tornar imortal. � O senhor, ent�o, acha que ele conseguiu? Ele fez uma Horcrux? E foi por isso que n�o morreu, quando me atacou? Tinha uma Horcrux escondida em algum lugar? Um pedacinho de sua alma estava segura? � Um pedacinho... ou muitos. Voc� ouviu Voldemort: o que ele queria de Slughorn era uma opini�o sobre o que aconteceria ao bruxo que criasse mais de uma Horcrux, que aconteceria ao bruxo t�o decidido a evitar a morte que se dispusesse a matar muitas vezes, romper a alma seguidamente, para poder guard�-la era v�rias Horcruxes secretas e separadas. Nenhum livro teria lhe dado tal informa��o. At� onde sei, at� onde estou certo que Voldemort sabia, nenhum bruxo jamais rompera a alma em mais de dois peda�os. Dumbledore fez uma pausa moment�nea para coordenar os pensamentos, ent�o disse: � H� quatro anos, recebi o que considero uma prova decisiva de que Voldemort dividiu sua alma. � Onde? � perguntou Harry. � Como? � Recebi-a de voc�, Harry. O di�rio de Riddle, o que dava instru��es para reabrir a C�mara Secreta. � N�o compreendo, senhor. � Bem, embora eu n�o tivesse visto o Riddle que saiu do di�rio, o que voc� me descreveu foi um fen�meno que eu jamais presenciara. Uma simples lembran�a come�ar a agir e pensar por conta pr�pria? Uma simples lembran�a exaurir a vida da menina em cujas m�os fora parar? N�o, alguma coisa muito mais sinistra vivia naquele livro... um fragmento de alma, disso eu estava quase seguro. O di�rio era uma Horcrux. Mas isto levantava o mesmo n�mero de perguntas que respondia. O que mais me intrigava e assustava � que o di�rio tinha sido planejado n�o apenas como uma arma, mas como uma salvaguarda. � Continuo sem entender � disse Harry. � Bem, ele produzia o efeito que se espera de uma Horcrux; em outras palavras, o fragmento de alma oculto no di�rio foi resguardado e, sem d�vida, desempenhou o seu papel de impedir a morte do dono. Mas n�o podia restar d�vida de que Riddle realmente queria que algu�m lesse aquele di�rio, queria que aquela parte de sua alma habitasse ou possu�sse outra pessoa, de modo que o monstro de Slytherin pudesse mais uma vez ser solto. � Bem, ele n�o queria desperdi�ar todo o seu esfor�o. Queria que as pessoas soubessem que ele era herdeiro de Slytherin, coisa que ele n�o p�de assumir naquela �poca. � Correto � disse Dumbledore, assentindo com a cabe�a. � Mas voc� n�o percebe, Harry, que se ele pretendia que futuramente o di�rio passasse a um aluno de Hogwarts ou fosse plantado nele, estava sendo extraordinariamente insens�vel com rela��o ao precioso fragmento de sua alma ali escondido? Uma Horcrux, como explicou o professor Slughorn, serve para guardar uma parte do eu em lugar secreto e seguro, n�o para o bruxo atir�-la aos p�s de algu�m correndo o risco de v�-la destru�da, como de fato ocorreu: aquele determinado fragmento de alma n�o existe mais; voc� cuidou dele. "O pouco caso com que Voldemort tratou essa Horcrux me pareceu um p�ssimo agouro. Pareceu-me um ind�cio de que ele devia ter, ou planejava ter, mais Horcruxes, por isso a perda da primeira n�o causaria grande preju�zo. Eu n�o queria acreditar, mas nada mais parecia fazer sentido. "Ent�o voc� me contou, dois anos depois, que, na noite em que Voldemort retomou seu corpo, ele tinha feito uma afirma��o alarmante e muito esclarecedora aos Comensais da Morte: 'Eu que cheguei mais longe do que qualquer outro no caminho que leva � imortalidade.' Foram essas as palavras que voc� me relatou. 'Mais longe do que qualquer outro.' E pensei ter entendido o que isto queria dizer, embora os Comensais da Morte n�o tenham. Ele estava se referindo �s suas Horcruxes, no plural, Harry, o que acredito que nenhum outro bruxo jamais tenha possu�do. Contudo, se encaixava perfeitamente: com a passagem do tempo, Lord Voldemort parecia ter se tornado menos humano, e as transforma��es que ele sofrera s� me pareciam explic�veis se sua alma estivesse mutilada al�m da esfera do que chamar�amos de maldade normal..." � Ent�o ele se tornou imperec�vel matando outras pessoas? � perguntou Harry. � Por que ele n�o fez uma Pedra Filosofal, ou roubou uma, se estava t�o interessado na imortalidade? � Bem, sabemos que foi exatamente isto que ele tentou fazer, cinco anos atr�s � afirmou Dumbledore. � Mas h� v�rias raz�es pelas quais, em minha opini�o, a Pedra Filosofal seria menos desej�vel por Lord Voldemort do que Horcruxes. "Embora o Elixir da Vida de fato prolongue a vida, precisa ser tomado regularmente, para sempre, se quem o beber quiser conservar a imortalidade. Portanto, Voldemort ficaria inteiramente dependente do Elixir, mas, se ele se esgotasse ou fosse contaminado, ou se a Pedra fosse roubada, Voldemort morreria como qualquer outro homem. Lembre-se de que ele gosta de agir sozinho. Acredito que teria achado a id�ia de depender, ainda que fosse do Elixir, intoler�vel. Naturalmente estava disposto a beb�-lo, se isso o livrasse da semi-vida a que tinha sido condenado depois que atacou voc�, apenas para recuperar um corpo. A partir da�, estou convencido de que ele pretendia continuar a depender de suas Horcruxes: nada mais seria necess�rio, se ao menos pudesse recuperar a forma humana. J� era imortal, entende... ou quase t�o imortal quanto um homem pode ser. "Mas agora, Harry, munido desta informa��o, a lembran�a crucial que voc� conseguiu obter para n�s, estamos mais pr�ximos do segredo para liquidar Lord Voldemort do que algu�m j� esteve antes. Voc� ouviu o que ele disse, Harry: 'N�o seria melhor, fortaleceria mais a pessoa, se ela dividisse a alma em v�rias partes... sete n�o � o n�mero m�gico mais poderoso... Sete n�o � o n�mero m�gico mais poderoso?' Sim, acho que a id�ia de uma alma em sete partes agradaria muito a Lord Voldemort." � Ele fez sete Horcruxes? � questionou Harry, horrorizado, enquanto v�rios retratos nas paredes soltaram exclama��es semelhantes, de susto e indigna��o. � Mas elas poderiam estar em qualquer parte do mundo... escondidas... enterradas ou invis�veis... � Fico satisfeito que voc� avalie a amplitude do problema � disse Dumbledore calmamente. � Mas, primeiro, n�o, Harry, n�o s�o sete Horcruxes: s�o seis. A s�tima parte da alma, por mais desfigurada que esteja, habita o seu corpo regenerado. Foi a parte dele que viveu uma exist�ncia espectral por tantos anos durante o seu ex�lio; sem essa, ele n�o possui eu algum. Essa s�tima parte � a �ltima que quem quiser matar Lord Voldemort dever� atacar: a parte que vive em seu corpo. � Mas as seis Horcruxes, ent�o � perguntou Harry meio desesperado �, como � que vamos encontr�-las? � Est� esquecendo... voc� j� destruiu uma. E eu destru� outra. � Foi? � perguntou o garoto ansioso. � Sem d�vida � respondeu Dumbledore, erguendo a m�o escura, que parecia queimada. � O anel, Harry. O anel de Servolo. E tamb�m uma terr�vel maldi��o que havia nele. Se n�o fosse, me desculpe a aparente falta de mod�stia, a minha prodigiosa habilidade e a oportuna interven��o do professor Snape quando retornei a Hogwarts, desesperadamente ferido, eu n�o teria sobrevivido para contar a hist�ria. Contudo, a m�o murcha n�o me parece um pre�o exorbitante a pagar por um s�timo da alma de Voldemort. O anel deixou de ser uma Horcrux. � Mas como foi que o senhor descobriu? � Bem, como voc� sabe, faz muitos anos que me incumbi de descobrir o m�ximo poss�vel sobre o passado de Voldemort. Viajei extensamente, visitando os lugares que ele conheceu. Encontrei, por acaso, o anel escondido nas ru�nas da casa de Gaunt. Parece que, ao conseguir encerrar uma parte de sua alma no anel, ele n�o quis mais us�-lo. Escondeu-o, protegido por v�rios encantamentos poderosos, no casebre em que seus antepassados tinham vivido (Morfino j� fora levado para Azkaban, � claro), sem nunca suspeitar que eu pudesse um dia me dar ao trabalho de visitar a ru�na, ou estar atento a vest�gios de ocultamente m�gico. "No entanto, n�o devemos nos felicitar com excessivo entusiasmo. Voc� destruiu o di�rio e, eu, o anel, mas, se estivermos certos em nossa teoria de uma alma dividida em sete partes, restam quatro Horcruxes." � E elas poderiam ser qualquer coisa? Poderiam ser latas velhas ou, sei l�, frascos de po��es vazios...? � Voc� est� pensando em Chaves de Portal, Harry, que devem ser objetos comuns, que n�o chamem aten��o. Mas Lord Voldemort usaria latas ou velhos frascos de po��o para guardar sua preciosa alma? Voc� est� esquecendo o que lhe mostrei. Lord Voldemort gostava de colecionar trof�us, e preferia objetos com uma convincente hist�ria m�gica. Seu orgulho, sua cren�a na pr�pria superioridade, sua determina��o de abrir para si um lugar surpreendente na hist�ria da magia; tudo isto me sugere que Voldemort escolheria suas Horcruxes com algum cuidado, favorecendo objetos que merecessem tal honra. � O di�rio n�o era t�o especial assim. � O di�rio, como voc� mesmo disse, provava que ele era o herdeiro de Slytherin; tenho certeza de que Voldemort considerava isto de extraordin�ria import�ncia. � E as outras Horcruxes? O senhor acha que sabe o que s�o? � S� posso imaginar � respondeu Dumbledore. � Pelas raz�es que j� lhe dei, acredito que Lord Voldemort daria prefer�ncia a objetos que, em si, possu�ssem certo esplendor. Portanto, repassei a vida de Voldemort procurando provas do desaparecimento de certos artefatos � sua volta. � O medalh�o! � exclamou Harry em voz alta. � A ta�a de Hufflepuff! � Certo � disse Dumbledore sorrindo. � Eu estaria pronto a apostar, talvez n�o a minha outra m�o, mas uns dois dedos, que esses foram transformados nas Horcruxes tr�s e quatro. As duas restantes, presumindo mais uma vez que ele tenha criado seis totais, s�o mais problem�ticas, mas eu arriscaria o palpite de que, uma vez que obteve objetos de Hufflepuff e Slytherin, ele saiu em busca de outros que tivessem pertencido a Gryffindor ou Ravenclaw. Estou certo de que quatro objetos dos quatro fundadores teriam exercido uma forte atra��o na imagina��o de Voldemort. N�o sei dizer se ele conseguiu achar alguma coisa de Ravenclaw. Atrevo-me a afirmar, por�m, que a �nica rel�quia conhecida de Gryffindor continua a salvo. Dumbledore apontou os dedos escuros para a parede �s suas costas, onde uma espada incrustada de rubis descansava em uma caixa de vidro. � O senhor acha que essa � a verdadeira raz�o por que ele queria voltar a Hogwarts: para tentar encontrar alguma coisa de um dos outros fundadores? � Exatamente o que pensei. Mas, infelizmente, isso n�o nos leva muito longe, porque ele foi recusado, ou assim acredito, sem ter tido oportunidade de dar uma busca na escola. Sou for�ado a concluir que ele nunca satisfez a sua ambi��o de colecionar objetos dos quatro fundadores. Inegavelmente possu�a dois, talvez tenha encontrado um terceiro, isto � o melhor que podemos afirmar por ora. � Mesmo que ele tenha encontrado alguma coisa de Ravenclaw ou de Gryffindor, ainda falta a sexta Horcrux � disse Harry, contando nos dedos. � A n�o ser que tenha conseguido as duas? � Creio que n�o � replicou Dumbledore. � Acho que sei qual � a sexta Horcrux. Fico imaginando o que voc� dir� se eu confessar que h� algum tempo sinto curiosidade pelo comportamento da cobra Nagini. � A cobra? � espantou-se Harry. � Pode-se usar animais como Horcruxes? � Bem, n�o � aconselh�vel fazer isso, porque confiar uma parte da alma a algo que pode pensar e se locomover, obviamente, � muito arriscado. Contudo, se o meu c�lculo estiver correto, faltava a Voldemort pelo menos uma Horcrux para completar as seis que pretendia, quando entrou na casa de seus pais com a inten��o de matar voc�. "Ele parece ter reservado o processo de criar Horcruxes a mortes particularmente significantes. Voc� certamente estaria neste caso. Ele acreditava que matando-o eliminaria o perigo descrito na profecia. Acreditava que se tornaria invenc�vel. Tenho certeza de que pretendia fazer a �ltima Horcrux com a sua morte. "Sabemos que ele fracassou. Mas, depois de um intervalo de alguns anos, Voldemort usou Nagini para matar um velho trouxa e talvez lhe ocorresse transform�-la em sua �ltima Horcrux. A cobra enfatiza a liga��o com Slytherin, que, por sua vez, real�a a m�stica de Lord Voldemort. Acho que ele talvez goste tanto dela quanto � capaz de gostar de alguma coisa; sem d�vida gosta de mant�-la por perto, e parece exercer um controle incomum sobre ela, at� mesmo para um ofidioglota." � Ent�o � disse Harry �, o di�rio j� foi, o anel tamb�m. A ta�a, o medalh�o e a cobra continuam intactos, e o senhor acha que talvez haja uma Horcrux que, no passado, pertenceu a Ravenclaw ou Gryffindor? � Um resumo admiravelmente sucinto e exato � aprovou Dumbledore, inclinando a cabe�a. � Ent�o... o senhor ainda est� procurando as Horcruxes? � atr�s delas que o senhor tem ido quando se ausenta da escola? � Correto. Faz muito tempo que as procuro. Acho... talvez... eu esteja pr�ximo de encontrar mais uma. H� sinais promissores. � E se encontrar � perguntou Harry ligeiro �, posso ir com o senhor e ajud�-lo a se livrar dela? Dumbledore fitou Harry atentamente por um momento antes de responder: � Acho que sim. � Posso? � exclamou Harry muito surpreso. � Pode � confirmou o diretor, com um leve sorriso. � Acho que voc� conquistou esse direito. Harry criou �nimo novo. Era muito bom n�o ouvir palavras acautelat�rias e protetoras, para variar. Os diretores e diretoras nas paredes pareceram menos impressionados com a decis�o de Dumbledore; Harry viu alguns deles balan�arem negativamente a cabe�a e Fineus Nigellus rir pelo nariz. � Voldemort sabe quando uma Horcrux � destru�da, senhor? � capaz de sentir? � perguntou Harry, n�o dando aten��o aos quadros. � Uma pergunta muito interessante, Harry. Acredito que n�o. Acredito que Voldemort esteja t�o impregnado de maldade, e essas partes essenciais tenham sido destacadas dele h� tanto tempo, que ele n�o sinta como n�s. Talvez, quando estiver � beira da morte, ele tome consci�ncia de sua perda... mas ele n�o percebeu, por exemplo, que o di�rio tinha sido destru�do at� obrigar L�cio Malfoy a confessar a verdade. Quando Voldemort descobriu que o di�rio fora mutilado e perdera todos os poderes, me contaram que foi horr�vel presenciar a sua c�lera. � Mas pensei que ele queria que L�cio Malfoy trouxesse o di�rio para Hogwarts. � � verdade, ele quis quando estava certo de que poderia criar mais Horcruxes; mas, ainda assim, L�cio devia aguardar uma ordem dele que jamais chegou, porque Voldemort desapareceu pouco depois de lhe entregar o di�rio. Sem d�vida, ele achou que L�cio Malfoy n�o se atreveria a fazer nada com a Horcrux exceto guard�-la com cuidado, mas ele confiou demais no medo que L�cio teria de um senhor ausente havia anos e que L�cio pensava estar morto. Naturalmente, L�cio n�o sabia o que era aquele di�rio. Pelo que sei, Voldemort tinha lhe dito que o di�rio faria a C�mara Secreta reabrir, porque fora engenhosamente encantado. Se L�cio soubesse que tinha em m�os uma por��o da alma do seu senhor sem d�vida a teria tratado com maior respeito; ao inv�s, ele deu prosseguimento ao plano antigo para seus pr�prios fins: ao plantar o di�rio na filha de Arthur Weasley, ele esperava desacreditar Arthur, me ver demitido de Hogwarts e se livrar de um objeto muito incriminador de um �nico golpe. Ah, coitado do L�cio... com a f�ria de Voldemort por ele ter se desfeito da Horcrux para seu lucro pessoal e o fiasco do ano passado no Minist�rio, eu n�o me surpreenderia se, no momento, ele estivesse secretamente feliz de se ver seguro em Azkaban. Harry ficou pensativo por um momento, ent�o perguntou: � Ent�o, se todas as Horcruxes fossem destru�das, Voldemort poderia ser morto? � Acho que sim � respondeu Dumbledore. � Sem as Horcruxes, Voldemort ser� um homem mortal, com uma alma mutilada e diminu�da. Mas n�o se esque�a jamais que, embora a alma dele esteja irrecuperavelmente danificada, seu c�rebro e seus poderes m�gicos permanecem intactos. Ser�o necess�rios per�cia e poder incomuns para matar um bruxo como Voldemort, mesmo sem as Horcruxes. � Mas eu n�o tenho per�cia e poder incomuns � protestou Harry, sem conseguir se refrear. � Tem, sim � disse Dumbledore com firmeza. � Voc� tem um poder que Voldemort nunca teve. Voc� pode... � Eu sei! � interp�s Harry impaciente. � Sou capaz de amar! � E foi com extrema dificuldade que deixou de acrescentar: "Grande coisa!" � �, Harry, voc� � capaz de amar � replicou Dumbledore, que parecia saber perfeitamente o que Harry acabara de calar. � O que, considerando tudo que lhe aconteceu, � um sentimento poderoso e not�vel. Voc� ainda � jovem demais, Harry, para compreender a pessoa extraordin�ria que voc� �. � Ent�o, quando a profecia diz que terei "um poder que o Lorde das Trevas desconhece", quer dizer apenas... amor? � perguntou Harry, um pouco desapontado. � Isso mesmo... apenas amor. Mas, Harry, nunca esque�a que os dizeres da profecia s� t�m significa��o porque Voldemort fez com que tivessem. Eu lhe disse isto no final do ano passado. Voldemort destacou voc� como a pessoa que ofereceria maior perigo para ele; e, ao fazer isso, transformou-o na pessoa que ofereceria maior perigo para ele! � Mas isto acaba dando no... � N�o, n�o acaba! � disse Dumbledore, agora parecendo impaciente. E, apontando a m�o escura e murcha para Harry: � Voc� est� valorizando demais a profecia! � Mas � engrolou Harry �, mas o senhor falou que a profecia quer dizer... � Se Voldemort nunca tivesse sabido da profecia, ser� que ela teria se cumprido? Ser� que teria tido alguma significa��o? Claro que n�o! Voc� acha que todas as profecias na Sala da Profecia se cumpriram? � Mas � replicou Harry aturdido �, mas no ano passado o senhor falou que um de n�s teria de matar o outro... � Harry, Harry, s� porque Voldemort cometeu um grave erro e agiu segundo as palavras da professora Trelawney! Se ele nunca tivesse matado seu pai, ser� que teria despertado em voc� um furioso desejo de vingan�a? Claro que n�o! Se ele n�o tivesse for�ado sua m�e a morrer por voc�, ser� que teria lhe conferido uma prote��o m�gica que ele n�o poderia penetrar? Claro que n�o, Harry. Voc� n�o est� entendendo? O pr�prio Voldemort criou seu pior inimigo, como fazem os tiranos em todo o mundo! Voc� tem id�ia do medo que os tiranos sentem do povo que eles oprimem? Todos eles percebem que, um dia, entre suas muitas v�timas, com certeza haver� uma que se rebelar� e revidar�! Voldemort n�o � diferente! Ele sempre esteve atento ao aparecimento daquele que o desafiaria. Ele soube da profecia e entrou imediatamente em a��o, e, em conseq��ncia, n�o apenas escolheu o homem com maior probabilidade de liquid�-lo, mas lhe deu armas singularmente letais! � Mas... � � essencial que voc� compreenda o que ocorreu! � disse Dumbledore se erguendo e come�ando a andar pelo escrit�rio, suas vestes fulgurantes farfalhando a cada passo; Harry nunca o vira t�o agitado. � Ao tentar mat�-lo, Voldemort destacou a pessoa not�vel que est� sentada � minha frente e lhe deu os instrumentos para a tarefa! � culpa de Voldemort que voc� seja capaz de ler seus pensamentos, suas ambi��es, e at� mesmo que voc� entenda a linguagem das cobras em que ele transmite suas ordens; contudo, Harry, apesar da vis�o privilegiada que voc� tem do mundo dele (que, por sinal, � uma d�diva que qualquer Comensal da Morte mataria para ter), voc� nunca se deixou seduzir pelas Artes das Trevas, nunca, nem por um segundo, manifestou o menor desejo de se tornar um dos seguidores de Voldemort! � Claro que n�o! � confirmou Harry indignado. � Ele matou os meus pais! � Resumindo, voc� est� protegido por sua capacidade de amar! �disse Dumbledore em voz alta. � A �nica prote��o eficaz contra a fascina��o por um poder como o de Voldemort! Apesar de todas as tenta��es que voc� suportou, de todo o sofrimento, o seu cora��o permanece puro, t�o puro quanto era aos onze anos, quando voc� se mirou no espelho que refletia o maior desejo de seu cora��o, e ele lhe mostrou apenas o caminho para frustrar Lord Voldemort em vez de imortalidade ou riqueza. Harry, voc� faz id�ia de como s�o raros os bruxos que poderiam ter visto o que voc� viu naquele espelho? Voldemort deveria ter percebido, ent�o, com quem estava lidando, mas n�o percebeu! "Mas ele agora sabe. Voc� perpassou a mente de Lord Voldemort sem sofrer o menor dano, mas ele n�o pode possuir a sua sem sofrer uma agonia mortal, como descobriu no Minist�rio. Acho que ele n�o compreende por qu�, Harry, ele teve tanta pressa de mutilar a pr�pria alma, que nem sequer parou para compreender o poder incompar�vel de uma alma imaculada e inteira." � Mas, senhor � disse Harry, fazendo valentes esfor�os para n�o parecer que argumentava �, no final d� tudo no mesmo, n�o? Eu tenho de tentar mat�-lo ou... � Tem? � perguntou Dumbledore. � Claro que tem! Mas n�o por causa da profecia! Mas porque voc�, no �ntimo, jamais descansar� enquanto n�o tentar! N�s dois sabemos disso! Imagine, por favor, apenas por um momento que voc� nunca tivesse sabido daquela profecia! Quais seriam os seus sentimentos com rela��o a Voldemort agora? Pense! Harry ficou observando Dumbledore andar para l� e para c� � sua frente, e pensou. Pensou em sua m�e, em seu pai e em Sirius. Pensou em Cedrico Diggory. Pensou em todos os terr�veis feitos de Lord Voldemort que conhecia. Uma labareda pareceu saltar do seu peito e queimar sua garganta. � Eu iria querer que Voldemort fosse liquidado. E iria querer fazer isso pessoalmente. � Claro que sim! � exclamou Dumbledore. � A profecia n�o significa que voc� tem de fazer nada, entende! Mas a profecia levou Lord Voldemort a marc�-lo como seu igual... em outras palavras, voc� � livre para escolher o pr�prio caminho, livre para dar as costas � profecia! Voldemort, no entanto, continua a valorizar a profecia. E continuar� a persegui-lo... o que de, fato, transforma em certeza que... � Que um de n�s vai acabar matando o outro � completou Harry. � Eu sei. Mas ele finalmente entendeu o que Dumbledore estivera tentando lhe dizer. Era, pensou Harry, a diferen�a entre ser arrastado para a arena para enfrentar uma luta mortal e entrar na arena de cabe�a erguida. Algumas pessoas diriam, talvez, que a escolha era m�nima, mas Dumbledore sabia � e eu tamb�m, pensou Harry, com s�bito orgulho, bem como meus pais � que a� residia toda a diferen�a do mundo. CAP�TULO VINTE E QUATRO SECTUMSEMPRA EXAUSTO, MAS FELIZ, com o trabalho daquela noite, Harry contou tudo o que acontecera a Rony e Hermione durante a aula de Feiti�os na manh� seguinte (tendo primeiro lan�ado o feiti�o Abaffiato sobre os colegas que estavam mais pr�ximos). Os dois ficaram bem impressionados com o modo com que ele extra�ra a mem�ria de Slughorn, e decididamente assombrados com o seu relato sobre as Horcruxes de Voldemort e a promessa de Dumbledore de lev�-lo em sua companhia, se encontrasse outra. � Uau � exclamou Rony, quando o amigo finalmente terminou de contar tudo; Rony acenava com a varinha em dire��o ao teto, sem prestar a m�nima aten��o ao que estava fazendo. � Uau. Voc� vai realmente acompanhar Dumbledore... e tentar destruir... uau. � Rony, voc� est� fazendo nevar � avisou Hermione, pacientemente, agarrando o pulso do garoto e desviando sua varinha do teto, de onde, de fato, tinham come�ado a cair grandes flocos de neve. Harry notou que Lil� Brown, de uma das mesas vizinhas, observava Hermione com raiva e olhos muito vermelhos, e que Hermione largou imediatamente o bra�o de Rony. � Ah, � � exclamou Rony, olhando para seus ombros vagamente surpreso. � Desculpem... parece que agora todos estamos com uma caspa horr�vel... Ele espanou um pouco da falsa neve dos ombros de Hermione. Lil� caiu no choro. Rony pareceu sentir uma imensa culpa e deu as costas para a garota. � N�s terminamos � disse ele a Harry pelo canto da boca. � Na noite passada. Quando me viu saindo do dormit�rio com a Hermione. Obviamente, ela n�o p�de ver voc�, ent�o pensou que est�vamos sozinhos. � Ah � exclamou Harry. � Bem... voc� n�o est� ligando para isso, est�? � N�o � admitiu Rony. � Foi bem chato ouvir os gritos dela, mas pelo menos eu n�o precisei terminar. � Covarde � disse Hermione, embora parecesse achar gra�a. � Bem, foi uma noite ruim para os namoros em geral. Gina e Dino tamb�m terminaram, Harry. Harry achou que havia uma express�o de entendimento nos olhos de Hermione ao dizer aquilo, mas era imposs�vel que ela soubesse que suas entranhas repentinamente come�aram a dan�ar uma conga; mantendo os m�sculos do rosto im�veis e a voz o mais indiferente poss�vel, ele perguntou: � Por qu�? � Ah, por uma coisa realmente boba... Gina falou que ele estava sempre querendo ajudar na hora de passar pelo buraco do retrato, como se ela n�o soubesse subir sozinha... mas o namoro j� estava balan�ando h� um temp�o. Harry olhou para Dino do lado oposto da sala de aula. Certamente o garoto parecia muito infeliz. � Claro que isto deixa voc� num dilema, n�o �? � Como assim? � perguntou Harry imediatamente. � A equipe de quadribol. Se Gina e Dino n�o est�o se falando... � Ah... ah, � � concordou Harry. � Flitwick � alertou Rony. O min�sculo professor de Feiti�os vinha saltitando em dire��o a eles, e Hermione era a �nica que conseguira transformar vinagre em vinho; seu bal�o de ensaio estava cheio de um l�quido muito vermelho, enquanto os de Harry e Rony continuavam castanhoturvos. � Vamos, vamos, rapazes � censurou-os o professor Flitwick com sua voz fininha. � Menos conversa e um pouco mais de a��o... quero ver voc�s experimentarem. Juntos, eles ergueram as varinhas, concentrando-se ao m�ximo, e apontaram-nas para os bal�es. O vinagre de Harry virou gelo; o bal�o de Rony explodiu. � Ent�o... para casa... � disse o professor Flitwick, saindo de baixo da mesa e tirando estilha�os de vidro do chap�u � praticar. Os tr�s amigos tiveram um dos seus raros per�odos livres em comum depois de Feiti�os, e voltaram juntos para a sala comunal. Rony parecia estar positivamente descontra�do com o fim do seu relacionamento com Lil�, e Hermione tamb�m parecia animada, embora, quando lhe perguntassem por que estava sorrindo, ela respondesse simplesmente: "Est� fazendo um belo dia." Nenhum dos dois parecia notar que uma feroz batalha devastava o c�rebro de Harry. Ela � irm� do Rony. Mas ela deu o fora no Dino! Ela continua sendo irm� do Rony. Eu sou o melhor amigo dele! Isso s� vai piorar as coisas. E se eu falasse com ele primeiro... Ele bateria em voc�. E se eu n�o ligar? Ele � o seu melhor amigo! Harry nem reparou que estavam passando pelo buraco do retrato para entrar na ensolarada sala comunal, e apenas registrou vagamente a rodinha de alunos do s�timo ano at� que Hermione gritou: � C�tia! Voc� voltou! Voc� est� o.k.? Harry arregalou os olhos: era de fato C�tia Bell, parecendo completamente saud�vel e cercada por amigos radiantes. � Estou realmente boa! � disse ela feliz. � Eles me deram alta no St. Mungus na segunda-feira, passei uns dias em casa com meus pais e voltei para Hogwarts hoje de manh�. Liane acabou de me contar o que o McLaggen fez no �ltimo jogo, Harry... � �, bem, agora que voc� j� voltou e Rony est� em forma, teremos uma chance decente de dar uma surra na Corvinal, o que significa que ainda poder�amos estar na disputa pela Copa. Escuta, C�tia... Harry n�o p�de esperar para lhe fazer a pergunta; a curiosidade chegou a varrer temporariamente Gina do seu c�rebro. Ele baixou a voz quando os amigos de C�tia come�aram a juntar seus pertences; pelo jeito estavam atrasados para a aula de Transfigura��o. � ... aquele colar... voc� agora lembra quem lhe deu? � N�o � respondeu C�tia, sacudindo a cabe�a pesarosa. � Todo o mundo est� me perguntando, mas n�o fa�o a menor id�ia. A �ltima coisa de que me lembro � que entrei no banheiro feminino no Tr�s Vassouras. � Ent�o, definitivamente voc� entrou no banheiro? � indagou Hermione. � Bem, eu sei que abri a porta, ent�o imagino que quem me lan�ou a Maldi��o Imperius estava parado ali atr�s. Depois disso, minha mem�ria apagou tudo at� as duas �ltimas semanas no St. Mungus. Escutem, � melhor eu ir andando, a McGonagall � bem capaz de me passar uma frase de castigo, mesmo sendo o primeiro dia da minha volta... C�tia apanhou a mochila e seus livros e correu atr�s dos amigos, deixando Harry, Rony e Hermione se sentarem a uma das mesas junto � janela para pensar no que ela acabara de contar. � Ent�o deve ter sido uma garota ou uma mulher quem deu o colar a C�tia � arriscou Hermione �, para estar no banheiro feminino... � Ou algu�m com a apar�ncia de uma garota ou de uma mulher � interp�s Harry. � N�o esque�a que existe um caldeir�o de Polissuco em Hogwarts. Sabemos que roubaram um pouco... Mentalmente, Harry viu um desfile de Crabbes e Goyles passando, todos transformados em garotas. � Acho que vou tomar outra dose de Felix � anunciou Harry �, e fazer uma nova tentativa para entrar na Sala Precisa. � Isto seria um completo desperd�cio de po��o � disse Hermione taxativamente, descansando o exemplar do Silab�rio de Spellman que acabara de retirar da mochila. � A sorte s� pode levar uma pessoa at� certo ponto, Harry. A situa��o com Slughorn foi diferente; voc� sempre teve habilidade para convencer o professor, s� precisou dar um empurr�ozinho nas circunst�ncias. Mas n�o basta sorte para voc� passar por um poderoso encantamento. N�o gaste � toa o resto da sua po��o! Vai precisar de toda a sorte que puder arranjar, se Dumbledore levar mesmo voc� com ele... � Sua voz transformou-se num sussurro. � Ser� que n�o pod�amos preparar mais um pouco? � Rony perguntou a Harry ignorando Hermione. � Seria o m�ximo ter um estoque de po��o... d� uma olhada no livro... Harry apanhou seu exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es na mochila e procurou a Felix Felicis. � Caramba, � a maior complica��o � exclamou, correndo os olhos pela lista de ingredientes. � E leva seis meses... � preciso deixar cozinhar em fogo lento... � S� podia ser � comentou Rony. Harry ia guardando o livro de novo quando notou o canto de p�gina dobrado; abrindo-a, viu o feiti�o Sectumsempra, com a legenda "Para inimigos", que ele marcara algumas semanas antes. Ainda n�o descobrira para que servia, principalmente porque n�o queria test�-lo perto de Hermione, mas estava pensando em experimentar em McLaggen da pr�xima vez que encontrasse o garoto de costas, distra�do. A �nica pessoa que n�o ficou muito feliz ao ver C�tia Bell voltar � escola foi Dino Thomas, porque n�o precisaria mais substitu�-la como artilheiro. Ele suportou o golpe estoicamente quando Harry lhe deu a not�cia, limitando-se a resmungar e sacudir os ombros, mas Harry teve a n�tida impress�o, ao se afastar, de que Dino e Simas estavam reclamando, inconformados, �s suas costas. A quinzena seguinte registrou os melhores treinos de quadribol que Harry conhecera como capit�o. Sua equipe estava t�o satisfeita de se livrar de McLaggen, t�o contente de ter C�tia finalmente de volta, que todos estavam voando excepcionalmente bem. Gina n�o parecia nem um pouco chateada com o fim do namoro com Dino; pelo contr�rio, era a vida e a alma da equipe. Suas imita��es de Rony, subindo e descendo na frente das balizas quando a goles vinha em sua dire��o, ou de Harry, berrando ordens a McLaggen antes de ser nocauteado, divertiam constantemente os jogadores. Harry, rindo com os outros, ficava satisfeito de ter um motivo inocente para olhar Gina; ele recebera outros tantos bala�os durante os treinos porque n�o estava mantendo os olhos no pomo. A batalha continuava a devastar o seu c�rebro: Gina ou Rony? Por vezes, ele achava que o Rony p�s-Lil� talvez n�o se importasse tanto se ele convidasse Gina para sair, ent�o se lembrava da express�o do amigo quando vira a irm� beijando Dino, e tinha certeza de que Rony consideraria uma vil trai��o se ele sequer segurasse a m�o de Gina... Contudo, Harry n�o podia deixar de falar com Gina, rir com ela e voltar do treino, caminhando, com a garota; por mais que sua consci�ncia doesse, ele vivia imaginando a melhor maneira de encontr�-la a s�s: o ideal teria sido Slughorn dar uma de suas festinhas, onde Rony n�o estaria por perto. Infelizmente, o professor parecia ter desistido das reuni�es. Uma ou duas vezes, Harry considerou pedir a ajuda de Hermione, mas achou que n�o ag�entaria o ar de presun��o que veria no rosto da amiga; pensou j� t�-lo visto quando Hermione o surpreendia olhando para Gina ou rindo de suas brincadeiras. E, para complicar, havia a preocupa��o insistente de que, se n�o a convidasse, logo algu�m certamente o faria: pelo menos, ele e Rony estavam de acordo que Gina era popular demais para seu pr�prio bem. De um modo geral, a tenta��o de tomar outro gole de Felix Felicis tornava-se mais forte a cada dia que passava, porque, sem d�vida, este era um caso, segundo dissera Hermione, de "dar um empurr�ozinho nas circunst�ncias", n�o? Os dias mornos e agrad�veis foram desfilando mansamente pelo m�s de maio, e Rony parecia estar colado em seu ombro toda vez que ele via Gina. Harry viu-se desejando um feliz acaso que fizesse Rony perceber que nada lhe agradaria mais do que seu melhor amigo e sua irm� se apaixonarem e deixar os dois sozinhos por mais do que uns poucos segundos. Parecia, no entanto, n�o haver chance de nada disso acontecer nas v�speras da �ltima partida de quadribol da temporada; Rony queria discutir t�ticas com Harry o tempo todo, e praticamente n�o pensava em outra coisa. Neste particular, Rony n�o era original; o interesse pela partida Grifin�ria-Corvinal aumentava extraordinariamente em toda a escola, porque o confronto decidiria o campeonato, que continuava em aberto. Se a Grifin�ria vencesse a Corvinal por uma margem de trezentos pontos (uma tarefa dif�cil, embora Harry nunca tivesse visto sua equipe voar melhor), o campeonato seria deles. Se vencessem por menos de trezentos pontos, terminariam em segundo lugar, atr�s da Corvinal; se perdessem por uma diferen�a de at� cem pontos, chegariam em terceiro lugar, atr�s da Lufa-Lufa, e, se perdessem por mais de cem pontos, ficariam em quarto lugar e ningu�m, pensava Harry, nunca, jamais o deixaria esquecer que fora o capit�o que levara a Grifin�ria � lanterna do campeonato nos �ltimos dois s�culos. Os dias que precederam essa partida cr�tica apresentaram todos os problemas costumeiros: os jogadores das Casas rivais tentavam intimidar as equipes advers�rias nos corredores; cantavam refr�es grosseiros sobre os jogadores � sua passagem; os membros das equipes se exibiam pela escola, deliciando-se com as aten��es ou correndo ao banheiro nos intervalos das aulas para vomitar. Por alguma raz�o, na mente de Harry, o jogo se tornara indissoci�vel do sucesso ou fracasso de seus planos em rela��o a Gina. Ele n�o podia deixar de sentir que, se ganhassem por mais de trezentos pontos, as cenas de euforia e uma estrondosa comemora��o p�s-jogo seriam t�o eficazes quanto uma boa dose de Felix Felicis. Em meio a toda essa preocupa��o, Harry n�o se esquecera de sua outra ambi��o: descobrir o que Malfoy fazia na Sala Precisa. Ele ainda consultava o Mapa do Maroto e, como muitas vezes n�o conseguia localizar o garoto, deduzia que ele ainda passasse um bom tempo na Sala. E, embora estivesse perdendo a esperan�a de conseguir um dia entrar ali, sempre que estava nas vizinhan�as fazia nova tentativa; mas, por mais que refraseasse o seu pedido, a parede permanecia s�lida. Poucos dias antes da partida com a Corvinal, Harry viu-se descendo sozinho da sala comunal para jantar, Rony sa�ra correndo outra vez para vomitar no banheiro mais pr�ximo, e Hermione dera uma fugida para consultar a professora Vector a respeito de um poss�vel erro no �ltimo trabalho de Aritmancia. Mais por h�bito do que por outro motivo, Harry fez o desvio habitual pelo s�timo andar, verificando o Mapa do Maroto enquanto andava. Por um momento, n�o conseguiu localizar Malfoy em parte alguma, e presumiu que ele estivesse na Sala Precisa. Ent�o, viu o pontinho do garoto em um banheiro masculino no andar abaixo, acompanhado, n�o de Crabbe ou Goyle, mas da Murta-Que-Geme. Harry s� parou de olhar fixamente para esta improv�vel parceria quando colidiu em cheio com uma armadura. O estrondo o despertou do seu devaneio; fugindo da cena antes que Filch aparecesse, ele desceu correndo a escadaria de m�rmore e entrou pelo corredor abaixo. Do lado de fora do banheiro, colou o ouvido � porta. N�o conseguiu ouvir nada. Ent�o, empurrou-a silenciosamente. Draco Malfoy estava parado de costas, com as m�os apoiadas dos lados da pia e a cabe�a loura curvada. � N�o � murmurou a Murta-Que-Geme, de um dos boxes. � N�o... me conte qual � o problema... posso ajudar voc�... � Ningu�m pode me ajudar � respondeu Malfoy. Todo o seu corpo tremia. � N�o posso fazer isso... n�o posso... n�o vai dar certo... e se eu n�o fizer logo... ele diz que vai me matar... E Harry percebeu, com um choque t�o colossal que pareceu preg�-lo no ch�o, que o garoto estava chorando, realmente chorando, as l�grimas escorriam do seu rosto p�lido para a pia encardida. Malfoy ofegou e engoliu em seco e, ent�o, com um estreme��o, olhou para o espelho rachado e viu Harry encarando-o por cima do seu ombro. Malfoy girou nos calcanhares puxando a varinha. Instintivamente, Harry sacou a dele. O feiti�o de Malfoy passou a cent�metros dele e quebrou um lampi�o na parede ao seu lado; Harry se atirou para um lado, mentalizou Levicorpus! e acenou com a varinha, mas Malfoy bloqueou o feiti�o e ergueu a varinha para revidar... � N�o! N�o! Parem com isso! � guinchou a Murta-Que-Geme, sua voz ecoando nos azulejos do banheiro. � Parem! PAREM! Houve um forte estampido, e a lata de lixo atr�s de Harry explodiu; Harry experimentou um Feiti�o das Pernas Presas, que ricocheteou na parede do lado da orelha de Malfoy e partiu a cisterna embaixo da Murta, fazendo-a berrar; a �gua vazou para todo lado, e Harry escorregou na hora em que Malfoy, de rosto contorcido, exclamou: � Cruci ... � SECTUMSEMPRA! � urrou Harry do ch�o, agitando a varinha freneticamente. O sangue espirrou do rosto e do peito de Malfoy como se ele tivesse sido cortado por uma espada invis�vel. Ele recuou, vacilante, e caiu no ch�o inundado, espalhando �gua e deixando cair a varinha da m�o direita frouxa. � N�o... � exclamou Harry. Ele se levantou, escorregando e cambaleando, e se precipitou para Malfoy, cujo rosto agora brilhava escarlate, suas m�os p�lidas apalpavam o peito encharcado de sangue. � N�o... eu n�o... Harry n�o sabia o que estava dizendo; caiu de joelhos ao lado de Malfoy, que tremia, descontrolado, em uma po�a do pr�prio sangue. A Murta-Que-Geme soltou um urro ensurdecedor. � CRIME! CRIME! CRIME NO BANHEIRO! CRIME! A porta se escancarou e Harry ergueu a cabe�a, aterrorizado: Snape invadira o banheiro com o rosto l�vido. Empurrando Harry com viol�ncia, ajoelhou-se ao lado de Malfoy, tirou a varinha e passou-a por cima dos profundos cortes que o feiti�o de Harry produzira, murmurando um encantamento que parecia quase uma can��o. O fluxo de sangue pareceu diminuir; Snape limpou o co�gulo do rosto do garoto e repetiu o encantamento. Agora os cortes pareciam estar fechando. Harry continuava a olhar horrorizado o que fizera, sem se dar conta de que ele tamb�m estava empapado de �gua e sangue. A Murta-Que-Geme solu�ava e gemia. Depois de executar o contra-feiti�o pela terceira vez, Snape ajudou Malfoy a se levantar. � Voc� precisa da ala hospitalar. Talvez fiquem muitas cicatrizes, mas, se tomar ditamno imediatamente, talvez possamos evitar at� isso... venha... Ele amparou Malfoy pelo banheiro, virando-se � porta para dizer com a voz gelada de f�ria: � E voc�, Potter... voc� espere por mim aqui. Nem por um segundo ocorreu a Harry desobedecer. Ergueu-se lentamente, tr�mulo, e olhou para o ch�o molhado. Havia manchas de sangue boiando como flores carmim � superf�cie. Ele nem sequer conseguiu arranjar for�as para mandar a Murta-Que-Geme sossegar, pois ela continuava a chorar e solu�ar, com vis�vel e crescente prazer. Snape voltou dez minutos mais tarde. Entrou no banheiro e fechou a porta ao passar. � Saia � disse � Murta, e imediatamente ela mergulhou de volta em seu vaso, deixando um sil�ncio ressonante � sua sa�da. � N�o tive inten��o � disse Harry na mesma hora. Sua voz ecoou pelo espa�o frio e molhado. � Eu n�o sabia qual era o efeito daquele feiti�o. Mas Snape fingiu n�o ouvir. � Aparentemente eu o subestimei, Potter � disse suavemente. �Quem teria pensado que voc� conhecia magia das Trevas? Quem lhe ensinou aquele feiti�o? � Eu... li em algum lugar. � Onde? � Foi... num livro da biblioteca � inventou Harry. � N�o me lembro do t�tulo... � Mentiroso � retrucou o professor. A garganta de Harry secou. Ele sabia o que Snape ia fazer, e nunca fora capaz de impedir... O banheiro pareceu tremeluzir ao seu olhar; ele lutou para bloquear todos os pensamentos, por�m, por mais que tentasse, o exemplar do Estudos avan�ados no preparo de po��es que pertencia ao Pr�ncipe Mesti�o flutuava indistinto para o primeiro plano de sua mente... E ent�o ele voltara a encarar Snape, no meio do banheiro destru�do e encharcado. Fixou os olhos negros do professor, esperando, desesperado, que n�o tivesse visto o que ele, Harry, receava, mas... � V� apanhar sua mochila � disse o professor baixinho � e todos os seus livros escolares. Todos. Traga-os para mim aqui. Agora! N�o adiantava discutir. Harry virou-se prontamente e saiu do banheiro espalhando �gua. Uma vez no corredor, come�ou a correr para a Torre da Grifin�ria. A maioria das pessoas vinha em dire��o contr�ria; admiravam-se ao v�-lo encharcado de �gua e sangue, mas ele n�o respondeu a nenhuma das perguntas que lhe fizeram quando passou desembalado. Sentia-se aturdido; era como se um bicho muito estimado tivesse de repente se tornado feroz. Em que o Pr�ncipe estava pensando ao copiar um feiti�o daquele em seu livro? E que aconteceria quando Snape visse? Ser� que contaria a Slughorn � o est�mago de Harry embrulhou � como ele obtivera resultados t�o bons em Po��es o ano inteiro? Ser� que o professor confiscaria ou destruiria o livro que lhe ensinara tanta coisa... o livro que se tornara uma esp�cie de guia e amigo? Harry n�o podia deixar isso acontecer... simplesmente n�o podia... � Onde � que voc�...? Por que est� todo molhado...? Isso � sangue? Rony estava parado no alto da escada, espantado de ver o amigo. � Preciso do seu livro � ofegou Harry. � O seu livro de Po��es. Depressa... me d� aqui... � E o do Pr�ncipe Mesti�o? � Depois eu explico! Rony tirou o seu exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es da mochila e entregou-o ao amigo; Harry disparou de volta � sala comunal. Ali, pegou sua mochila, ignorando os olhares espantados dos colegas que j� haviam terminado de jantar, atirou-se pelo buraco do retrato e desembestou pelo corredor do s�timo andar. Parou, derrapando, ao lado da tape�aria dos trasgos dan�arinos, fechou os olhos e come�ou a caminhar. Preciso de um lugar para esconder o meu livro... preciso de um lugar para esconder o meu livro... preciso de um lugar para esconder o meu livro... Tr�s vezes ele foi e voltou diante da parede lisa. Quando abriu os olhos, ali estava finalmente: a porta para a Sala Precisa. Harry escancarou-a, atirou-se para dentro e bateu a porta. Ficou sem f�lego. Apesar da pressa, do p�nico e do medo do que o aguardava no retorno ao banheiro, n�o p�de deixar de se assombrar com o que via. Achava-se em uma sala do tamanho de uma grande catedral, cujas altas janelas lan�avam raios de luz sobre uma verdadeira cidade de elevadas muralhas constru�das com objetos, percebia Harry, escondidos por gera��es de habitantes de Hogwarts. Havia travessas e ruas margeadas por pilhas mal equilibradas de m�veis gastos e partidos, guardados, talvez, para esconder provas de magia malfeita, ou ent�o por elfos dom�sticos orgulhosos de seus castelos. Havia alguns milhares de livros, sem d�vida, proibidos ou rabiscados ou roubados. Havia catapultas aladas e Frisbees-dentados, alguns com suficiente energia para pairar indiferentes sobre montanhas de outros objetos proibidos; havia frascos lascados com po��es congeladas, chap�us, j�ias, capas; havia coisas que pareciam cascas de ovos de drag�o, garrafas arrolhadas cujos conte�dos ainda refulgiam malignamente, v�rias espadas enferrujadas e um machado sujo de sangue. Harry avan�ou ligeiro por uma das muitas travessas entre tantos tesouros escondidos. Virou � direita depois de um enorme trasgo empalhado, correu uma pequena dist�ncia, embicou para a esquerda junto ao Arm�rio Sumidouro quebrado, onde Montague se perdera no ano anterior, e finalmente parou em frente a um grande arm�rio que dava a impress�o de ter recebido �cido em sua superf�cie cheia de bolhas. Ele abriu uma das portas emperradas do arm�rio: j� fora usada como esconderijo para algum bicho engaiolado que morrera muito tempo atr�s; o esqueleto tinha cinco pernas. Ele enfiou o livro do Pr�ncipe Mesti�o atr�s da gaiola e bateu a porta. Parou um instante, com o cora��o barbaramente acelerado, e correu o olhar pela montoeira... ser� que conseguiria reencontrar este lugar no meio de todo esse lixo? Apanhando o busto lascado de um bruxo velho e feio de cima de um caixote pr�ximo, colocou-o no alto do arm�rio em que escondera o livro, encarrapitou uma velha peruca empoeirada e uma tiara oxidada na cabe�a da est�tua para poder distingui-la, ent�o voltou correndo pelas travessas de guardados o mais r�pido que p�de, refez o caminho at� a porta, saiu e, ao bat�-la, �s suas costas, viu-a transformar-se mais uma vez em pedra. Harry correu sem parar em dire��o ao banheiro do andar abaixo, enfiando o exemplar de Rony de Estudos avan�ados no preparo de po��es na mochila, enquanto corria. Um minuto depois, estava novamente diante de Snape, que estendeu a m�o em sil�ncio para receber a mochila de Harry. O garoto entregou-a, ofegando, sentindo uma dor ardida no peito, e aguardou. Snape tirou os livros de Harry, um a um, e examinou-os. Por fim, restou apenas o livro de po��es, que ele olhou muito atentamente antes de perguntar: � Este � o seu exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es, �, Potter? � � � respondeu Harry, ainda respirando com esfor�o. � Voc� tem certeza, n�o �, Potter? � Tenho � respondeu o garoto em tom mais atrevido. � Este � o exemplar de Estudos avan�ados no preparo de po��es que voc� comprou na Floreios e Borr�es? � � � respondeu ele com firmeza. � Ent�o, por que tem o nome "Roonil Wazlib" escrito na segunda capa? O cora��o de Harry parou um instante. � Esse � o meu apelido. � Seu apelido � repetiu Snape. � E... � assim que meus amigos me chamam. � Eu sei o que � um apelido. � Os olhos frios e escuros de Snape perfuravam mais uma vez os de Harry; o garoto tentou n�o encarar os do professor. Feche sua mente... feche sua mente... mas ele nunca aprendera a fazer isso direito... � Voc� sabe o que eu acho, Potter? � disse Snape, muito calmamente. � Acho que voc� � um mentiroso e um trapaceiro, e merece ficar detido comigo todos os s�bados at� o final do trimestre. Que � que voc� acha, Potter? � Eu... eu n�o concordo, senhor � disse Harry, ainda se recusando a encarar Snape nos olhos. � Bem, veremos o que sente depois de suas deten��es. Dez horas, s�bado de manh�, Potter. Meu escrit�rio. � Mas, senhor... � protestou Harry, erguendo os olhos desesperado. � Quadribol... o �ltimo jogo da... � Dez horas � sussurrou Snape, com um sorriso que revelou seus dentes amarelados. � Coitada da Grifin�ria... a lanterna deste ano, receio que seja... E saiu do banheiro sem dizer mais nada, deixando Harry diante do espelho partido, sentindo-se mais enjoado do que Rony jamais se sentira na vida, disto ele tinha plena certeza. � N�o vou dizer "Eu bem que disse" � lembrou Hermione, uma hora depois na sala comunal. � N�o encarna, Hermione � retrucou Rony com raiva. Harry n�o chegara a tempo para jantar; n�o sentia fome alguma. Acabara de contar a Rony, Hermione e Gina o que acontecera, n�o que isso fosse necess�rio. As not�cias tinham corrido muito r�pido: aparentemente a Murta-Que-Geme se encarregara de aparecer em cada banheiro do castelo para contar a hist�ria; Malfoy j� fora visitado na ala hospitalar por Pansy Parkinson, que n�o perdera tempo e sa�ra difamando Harry por toda a escola, e Snape informara aos professores exatamente o que acontecera: Harry j� fora chamado na sala comunal para enfrentar quinze minutos extremamente desagrad�veis na presen�a da professora McGonagall, que lhe dissera que tinha sorte em n�o ser expulso, e que ela apoiava integralmente a decis�o de det�-lo todos os s�bados at� o fim do trimestre. � Eu disse que tinha alguma coisa errada com aquele tal Pr�ncipe � comentou Hermione, evidentemente incapaz de se conter. � E tinha raz�o, n�o �? � N�o, acho que n�o � teimou Harry. Ele j� estava se sentindo p�ssimo sem os serm�es de Hermione, a cara dos jogadores da Grifin�ria quando ele contou que n�o poderia jogar no s�bado fora o pior castigo. Sentia o olhar de Gina agora, mas evitou-o; n�o queria ver nele desapontamento nem raiva. Acabara de lhe dizer que ia jogar de apanhadora no s�bado, e que Dino voltaria � equipe, no lugar dela, como artilheiro. Talvez, se a Grifin�ria vencesse, Gina e Dino fizessem as pazes durante a euforia p�sjogo... a id�ia atravessou a mente de Harry como uma faca gelada... � Harry � recome�ou Hermione �, como voc� ainda pode defender aquele livro quando o feiti�o... � Quer parar de falar naquele livro? � retrucou Harry. � O Pr�ncipe apenas copiou o feiti�o! N�o � o mesmo que aconselhar algu�m a usar! E, pelo que sabemos, ele podia at� estar anotando uma coisa que foi usada contra ele. � Eu n�o acredito � exclamou Hermione. � Voc� est� mesmo defendendo... � N�o estou defendendo o que fiz! � protestou Harry imediatamente. � Gostaria de n�o ter feito, e n�o s� porque recebi uma tonelada de deten��es. Voc� sabe que eu n�o teria usado um feiti�o daqueles, nem mesmo contra o Malfoy, mas voc� n�o pode culpar o Pr�ncipe, ele n�o escreveu "Experimente este, � realmente bom"... eram anota��es pessoais, n�o �? N�o era para mais ningu�m... � Voc� est� me dizendo � perguntou Hermione � que voc� vai voltar...? � Para apanhar o livro? Vou � disse Harry com energia. � Escuta aqui, sem o Pr�ncipe eu jamais teria ganhado a Felix Felicis. Jamais saberia como salvar Rony do envenenamento, jamais... � ... conquistaria a reputa��o de g�nio em Po��es que n�o merece � concluiu Hermione maldosamente. � D� um tempo, Hermione! � exclamou Gina, e Harry ficou t�o admirado, t�o agradecido, que ergueu a cabe�a. � Pelo jeito, Malfoy estava tentando usar uma Maldi��o Imperdo�vel, voc� devia ficar feliz que Harry tivesse um trunfo na manga! � Bem, � claro que estou contente que Harry n�o tenha sido amaldi�oado! � respondeu Hermione, visivelmente ofendida �, mas voc� n�o pode dizer que aquele Sectumsempra � um trunfo, Gina, olhe s� a confus�o em que meteu o Harry! E eu imaginaria, vendo as conseq��ncias para suas chances no jogo... � Ah, n�o come�a a agir como se entendesse de quadribol � respondeu Gina com aspereza �, voc� s� vai se complicar. Harry e Rony olharam espantados: Hermione e Gina, que sempre tinham se dado t�o bem, agora estavam sentadas de bra�os cruzados e cara amarrada, olhando em dire��es opostas. Rony lan�ou um olhar nervoso para Harry, ent�o apanhou um livro qualquer e se escondeu atr�s dele. Harry, embora soubesse que n�o merecia, sentiu, de repente, uma inacredit�vel anima��o, embora nenhum deles voltasse a falar o resto da noite. Sua anima��o durou pouco. Teve de aturar insultos dos alunos da Sonserina no dia seguinte, sem falar na raiva dos colegas da Grifin�ria, que se sentiam infelic�ssimos que o seu capit�o tivesse provocado a pr�pria suspens�o do jogo de final da temporada. Quando chegou a manh� de s�bado, apesar do que ele pudesse ter dito a Hermione, Harry teria trocado de boa vontade toda a Felix Felicis do mundo para estar a caminho do campo de quadribol com Rony, Gina e os outros. Foi quase insuport�vel dar as costas � massa de estudantes que sa�a para o sol, todos usando rosetas e chap�us e agitando estandartes e echarpes, e descer a escada de pedra para as masmorras e ir andando at� que os ru�dos distantes da multid�o se extinguissem, sabendo que n�o conseguiria ouvir nem uma palavra da narra��o, nem aplauso, nem protesto. � Ah, Potter � disse Snape, quando Harry bateu � porta e entrou no escrit�rio desagradavelmente familiar que o professor, apesar de dar aulas andares acima, ainda n�o desocupara; estava mal iluminado como sempre, e os mesmos objetos viscosos e mortos flutuavam em po��es coloridas nas paredes. E, mau sinal, havia muitas caixas cobertas de teias de aranha empilhadas sobre a mesa � que Harry deveria sentar; emanavam uma aura de trabalho mon�tono, �rduo e in�til. � O Sr. Filch esteve procurando algu�m para limpar esses arquivos antigos � disse Snape brandamente. � S�o os registros de outros transgressores de Hogwarts e os castigos que receberam. Onde a tinta desbotou, ou os cart�es foram danificados por ratos, gostar�amos que voc� copiasse os crimes e castigos de novo e, depois de verificar se est�o em ordem alfab�tica, tornasse a guard�-los nas caixas. N�o dever� usar magia. � Certo, professor � respondeu Harry, com o maior desprezo que conseguiu colocar nas tr�s �ltimas s�labas. � Achei que podia come�ar � disse Snape, com um sorriso malicioso nos l�bios � com as caixas que v�o de mil e doze a mil e cinq�enta e seis. Encontrar� a� alguns nomes conhecidos, o que deve emprestar interesse � sua tarefa. Veja aqui... O professor retirou um cart�o de uma das caixas no alto da pilha com um gesto teatral e leu: � "Tiago Potter e Sirius Black. Detidos pelo uso de azara��o ilegal em Bertram Aubrey. A cabe�a de Aubrey est� o dobro do tamanho normal. Deten��o dupla." � Snape deu um sorriso desdenhoso. � Deve ser um consolo pensar que, embora j� tenham partido, reste um registro dos seus grandes feitos... Harry sentiu a familiar sensa��o fervendo no fundo do est�mago. Mordendo a l�ngua para n�o retorquir, sentou-se � frente das caixas e puxou uma para perto. Era, como Harry previra, um trabalho mon�tono e in�til, pontuado (o que fora visivelmente planejado por Snape) por um constante solavanco no est�mago, ao ler os nomes do pai e de Sirius, em geral associados em v�rios delitos menores, por vezes acompanhados por Remo Lupin e Pedro Pettigrew. E, enquanto transcrevia as v�rias transgress�es e os castigos, ficou imaginando o que estaria acontecendo l� fora, onde a partida devia estar iniciando... Gina jogando na posi��o de apanhadora contra Cho... Harry olhou v�rias vezes para o grande rel�gio que tiquetaqueava na parede. Parecia trabalhar com a metade da velocidade de um rel�gio normal; ser� que Snape o teria enfeiti�ado para andar bem devagar? N�o podia estar ali apenas h� meia hora... uma hora... uma hora e meia... O est�mago de Harry come�ou a roncar quando o rel�gio marcou meio-dia e meia. Snape, que se mantinha calado desde que passara a tarefa para Harry, finalmente ergueu a cabe�a a uma hora e dez minutos. � Acho que j� basta � anunciou friamente. � Marque o ponto em que parou. Continuar� no pr�ximo s�bado, �s dez horas. � Sim, senhor. Harry enfiou aleatoriamente um cart�o dobrado na caixa e saiu depressa, porta afora, antes que Snape pudesse mudar de id�ia; subiu correndo a escada, apurando os ouvidos para algum ru�do do campo, mas estava tudo silencioso... ent�o o jogo acabara... Ele hesitou � porta do Sal�o Principal lotado, e subiu correndo a escadaria de m�rmore; quer a Grifin�ria tivesse ganhado ou perdido, a equipe costumava comemorar ou lamentar na sala comunal. � Quid agis? � experimentou Harry dizer � Mulher Gorda, imaginando o que encontraria l� dentro. Sua express�o estava indecifr�vel quando ela respondeu: � Voc� ver�. E o quadro girou. Um urro de comemora��o explodiu do buraco �s suas costas. Harry parou boquiaberto quando, ao avist�-lo, as pessoas come�aram a gritar; v�rias m�os puxaram-no para dentro. � Vencemos! � berrou Rony, pulando � sua frente, sacudindo a ta�a de prata. � Vencemos! Quatrocentos e cinq�enta a cento e quarenta! Vencemos! Harry olhou para os lados; l� estava Gina correndo ao seu encontro; tinha uma express�o dura e intensa no rosto ao atirar os bra�os ao seu pesco�o. E, sem pensar, sem planejar, sem se preocupar com o fato de que cinq�enta pessoas estavam olhando, Harry a beijou. Decorridos longos minutos, ou talvez tenha sido meia hora, ou possivelmente v�rios dias ensolarados, eles se separaram. A sala ficara muito silenciosa. V�rias pessoas assoviaram e houve uma erup��o de risadinhas nervosas. Harry olhou por cima da cabe�a de Gina e viu Dino Thomas segurando um copo esmagado na m�o, e Romilda Vane com cara de quem queria atirar alguma coisa neles. Hermione sorria exultante, mas o olhar de Harry procurou Rony. Encontrou-o finalmente, ainda segurando a ta�a com a express�o de quem levara uma bordoada na cabe�a. Por uma fra��o de segundo eles se olharam, ent�o Rony fez um discreto aceno com a cabe�a que Harry entendeu como "Bem, se n�o tem jeito". A criatura em seu peito rugiu triunfante, Harry sorriu para Gina e fez um gesto mudo indicando a sa�da do buraco do retrato. Um longo passeio pelos jardins parecia o mais indicado, durante o qual, se tivessem tempo, poderiam discutir o jogo. CAPITULO VINTE E CINCO A VIDENTE ENTREOUVIDA O FATO DE HARRY POTTER ESTAR SAINDO com Gina Weasley parecia interessar a muitas pessoas, a maioria garotas, Harry, por�m, sentiu-se, de uma forma nova e feliz, indiferente �s fofocas, nas semanas que se seguiram. Afinal de contas, era bem agrad�vel ser assunto de conversas por algo que o deixava mais contente do que lembrava haver sido em muito tempo, em vez de por sua participa��o em terr�veis cenas de magia das Trevas. � Eu achava que as pessoas teriam mais o que fofocar � comentou Gina, no ch�o da sala comunal, recostada nas pernas de Harry e lendo o Profeta Di�rio. � Tr�s ataques de dementadores em uma semana, e s� o que a Romilda Vane me pergunta � se � verdade que voc� tem um hipogrifo tatuado no peito. Rony e Hermione ca�ram na gargalhada. Harry fingiu n�o ouvir. � Que foi que voc� respondeu? � Que era um rabo-c�rneo h�ngaro � informou Gina, virando lentamente a p�gina do jornal. � Muito mais macho. � Obrigado � disse Harry rindo. � E o que foi que voc� disse a ela que o Rony tem? � Um Mini-Pufe, mas eu n�o disse onde. Rony ficou s�rio, enquanto Hermione rolava de rir. � Olha � amea�ou ele, apontando para Harry e Gina. � S� porque dei licen�a n�o quer dizer que n�o possa retirar... � "Licen�a" � ca�oou Gina. � Desde quando voc� d� licen�a para eu fazer alguma coisa? Ali�s, foi voc� mesmo que disse que preferia o Harry ao Miguel ou o Dino. � Preferia mesmo � concordou Rony de m� vontade. � E desde que voc�s n�o comecem a se agarrar em p�blico... � Seu hip�crita nojento! E voc� e a Lil� que ficavam se enroscando feito um par de enguias por toda a escola? � quis saber Gina. Mas a toler�ncia de Rony n�o seria posta � prova porque come�ou junho, e o tempo de Harry e Gina juntos foi se tornando mais limitado. Os N.O.M.s dela estavam pr�ximos e, com isto, ela era obrigada a rever a mat�ria noite adentro. Em uma dessas noites, em que Gina se recolhera � biblioteca e Harry se sentou junto � janela da sala comunal, supostamente para terminar o dever de Herbologia, mas na realidade revivendo uma hora muito feliz que passara com Gina � beira do lago na hora do almo�o, Hermione largou-se na cadeira entre ele e Rony com uma express�o desagradavelmente decidida no rosto. � Quero falar com voc�, Harry. � Sobre o qu�? � perguntou ele, desconfiado. Ainda na v�spera, Hermione o censurara por distrair Gina, quando ela devia estar estudando a s�rio para os exames. � O tal do Pr�ncipe Mesti�o. � Ah, outra vez, n�o � gemeu ele. � Quer esquecer isso? Harry n�o ousara voltar � Sala Precisa para recuperar o livro, e o seu desempenho em Po��es estava sofrendo proporcionalmente (embora Slughorn, que aprovava Gina, atribu�sse isso, brincando, ao fato de Harry estar apaixonado). Mas ele tinha certeza de que Snape ainda n�o perdera a esperan�a de p�r as m�os no livro do Pr�ncipe, por isso resolvera deix�-lo onde o guardara, enquanto o professor estivesse vigiando. � N�o vou esquecer � respondeu Hermione com firmeza � enquanto voc� n�o escutar tudo. Ent�o, estive investigando um pouco quem poderia ter o passatempo de inventar feiti�os das Trevas... � N�o era um passatempo para ele... � Ele, ele... quem disse que era ele? � J� discutimos isso � retrucou Harry irritado. � Pr�ncipe, Hermione, Pr�ncipe! � Certo! � disse Hermione, manchas vermelhas afogueando seu rosto enquanto tirava uma not�cia de jornal muita antiga do bolso e a batia na mesa diante de Harry. � Olhe isto aqui! Olhe a foto! Harry apanhou o peda�o de papel quebradi�o e estudou a foto animada, que o tempo amarelara; Rony se inclinou para ver tamb�m. A foto mostrava uma garota magricela de uns quinze anos. N�o era bonita; seu rosto expressava, ao mesmo tempo, raiva e mau humor, com sobrancelhas grossas e um rosto p�lido e comprido. Sob a foto, havia a legenda: Eileen Prince, Capit� do Time de Bexigas. � E da�? � perguntou Harry, passando os olhos pela pequena not�cia que a foto ilustrava; era uma hist�ria meio sem gra�a sobre competi��es interescolares. � O nome dela era Eileen Prince. Pr�ncipe, Harry. Os dois se entreolharam, e Harry entendeu o que Hermione estava tentando dizer. Ele caiu na gargalhada. � Nem pensar. � Qu�? � Voc� acha que ela era o Pr�ncipe...? Ah, qual �? � E por que n�o? Harry, n�o existem pr�ncipes de verdade no mundo bruxo. Ou � um apelido, um t�tulo que algu�m inventou, ou at� mesmo o sobrenome verdadeiro, n�o? N�o, escute! Vamos dizer que o pai dela fosse um bruxo com o sobrenome "Prince", e a m�e fosse uma trouxa, isso faria dela um "Pr�ncipe Mesti�o"! � Ah, muito engenhoso, Hermione... � Mas faria! Talvez ela sentisse orgulho de ser meio Pr�ncipe! � Escute aqui, Hermione, sei que n�o � uma garota. Simplesmente sei a diferen�a. � A verdade � que voc� acha que uma garota n�o seria inteligente o bastante � retrucou Hermione, zangada. � Como � que eu poderia conviver com voc� durante cinco anos e achar que garotas n�o s�o inteligentes? � perguntou Harry ofendido. � � o jeito de ele escrever. Sei que o Pr�ncipe era um cara, sei a diferen�a. Essa garota n�o tem nada a ver com a hist�ria. Mas, afinal, onde foi que voc� arranjou esta not�cia? � Na biblioteca � respondeu Hermione previsivelmente. � Tem uma cole��o completa de Profetas antigos. Bem, vou descobrir mais sobre a Eileen Prince, se puder. � Divirta-se � desejou Harry irritado. � Pode deixar � respondeu Hermione. � E o primeiro lugar onde vou procurar � atirou para Harry, ao chegar ao buraco do retrato � � nos registros dos pr�mios de Po��es! Harry acompanhou-a com um olhar feio por um momento, ent�o voltou � contempla��o do c�u que escurecia. � Hermione jamais conseguiu se conformar que voc� seja melhor do que ela em Po��es � disse Rony, retomando a leitura do seu exemplar de Mil ervas e fungos m�gicos. � Voc� n�o acha que eu sou maluco por querer o livro de volta, acha? � Claro que n�o � respondeu Rony lealmente. � Ele era um g�nio, o Pr�ncipe. Ali�s... sem aquela dica do bezoar... � ele riscou a garganta com o dedo significativamente �, eu n�o estaria aqui para discutir isso, n�o �? Quero dizer, n�o estou dizendo que aquele feiti�o que voc� usou contra o Malfoy foi legal... � Nem eu � Harry se apressou em concordar. � Mas ele se recuperou, n�o foi? Pronto para outra num instante. � � � concordou Harry. Era a pura verdade, embora sua consci�ncia continuasse a doer um pouquinho. � Gra�as ao Snape... � Voc� ainda tem uma deten��o com ele nesse s�bado? � continuou Rony. � Tenho, e no s�bado seguinte e no s�bado depois do s�bado seguinte � suspirou Harry. � E, agora, ele anda insinuando que, se eu n�o terminar todas as caixas at� o fim do trimestre, continuaremos no pr�ximo ano. Harry estava achando essas deten��es particularmente chatas porque consumiam o tempo j� limitado que ele poderia passar com Gina. Na verdade, ultimamente ele tinha se perguntado muitas vezes se Snape n�o saberia disso, porque estava liberando Harry cada vez mais tarde e fazia coment�rios mordazes de que Harry estava deixando de aproveitar o tempo claro e as v�rias oportunidades que oferecia. Harry foi despertado dessas amargas reflex�es pelo aparecimento de Jaquito Peakes, que lhe estendia um rolinho de pergaminho. � Obrigado, Jaquito... ei, � do Dumbledore! � exclamou Harry excitado, desenrolando e lendo o pergaminho. � Ele quer que eu v� ao escrit�rio dele o mais r�pido que puder! Os garotos se entreolharam. � Caramba � sussurrou Rony. � Voc� sup�e que... ser� que ele achou...? � � melhor ir ver, n�o �? � disse Harry, pondo-se de p� de um salto. Ele saiu correndo da sala comunal e continuou pelo corredor do s�timo andar o mais r�pido que p�de, sem encontrar ningu�m exceto Pirra�a, que passou voando na dire��o oposta, atirando pedacinhos de giz em Harry, de um jeito meio rotineiro, e soltando grandes gargalhadas ao se desviar das azara��es defensivas do garoto. Quando Pirra�a desapareceu, o sil�ncio voltou aos corredores; faltando apenas quinze minutos para o toque de recolher, a maioria das pessoas j� voltara para suas salas comunais. Ent�o Harry ouviu um grito e um baque. Ele parou abruptamente e apurou os ouvidos. � Como... �... que... voc�... se... atreve... aaaaarre! O estardalha�o vinha de um corredor vizinho; Harry acorreu, empunhando a varinha, virou um canto e viu a professora Trelawney esparramada no ch�o, a cabe�a coberta com seus muitos xales, v�rias garrafas de xerez ca�das a um lado, uma delas quebrada. � Professora... Harry adiantou-se depressa e ajudou a professora Trelawney a se p�r de p�. Alguns de seus colares cintilantes tinham embara�ado em seus �culos. Ela solu�ou alto, ajeitou os cabelos e se levantou apoiada no bra�o que Harry oferecia. � Que aconteceu, professora? � � mesmo de se perguntar! � respondeu ela esgani�ada. � Eu estava andando, refletindo sobre certos portentos das Trevas que por acaso vislumbrei... Mas Harry n�o estava prestando muita aten��o. Acabara de reparar onde estavam parados: ali, � direita, encontrava-se a tape�aria dos trasgos dan�arinos e, � esquerda, aquele trecho liso e impenetr�vel de parede que ocultava... � Professora, a senhora estava tentando entrar na Sala Precisa? � ... or�culos que me foram confiados... qu�? Ela pareceu repentinamente esquiva. � A Sala Precisa � repetiu Harry. � A senhora estava tentando entrar a�? � Eu... bem... n�o sabia que alunos tinham conhecimento... � Nem todos. Mas que aconteceu? A senhora gritou... como se tivesse se machucado... � Eu... bem � disse a professora, cobrindo-se defensivamente com os xales, e fixando em Harry os olhos imensamente aumentados pelas lentes. � Eu queria... ah... depositar... hum... certos pertences meus na Sala... � E murmurou alguma coisa sobre "acusa��es perversas". � Certo � concordou Harry, olhando para as garrafas de xerez dela. � Mas a senhora n�o conseguiu entrar para escond�-los? Harry achou isto muito estranho; afinal, a Sala abrira-se para ele, quando quisera esconder o livro do Pr�ncipe Mesti�o. � Ah, eu entrei sem problema � explicou a professora Trelawney, olhando aborrecida para a parede. � Mas j� havia algu�m l� dentro. � Algu�m l�...? Quem? � quis saber o garoto. � Quem estava l� dentro? � N�o fa�o id�ia � respondeu a professora, parecendo um pouco assustada com a urg�ncia na voz de Harry. � Entrei na Sala e ouvi uma voz, o que nunca me aconteceu em todos esses anos em que escondi... em que usei a Sala, quero dizer. � Uma voz? Dizendo o qu�? � N�o sei se estava dizendo alguma coisa. Estava dando... vivas. � Vivas? � Gritos de alegria. � Ela confirmou com a cabe�a. Harry olhou-a espantado. � Homem ou mulher? � Eu arriscaria dizer que era homem. � E parecia feliz? � Muito feliz � disse a professora fungando. � Como se estivesse comemorando? � Sem a menor d�vida. � E ent�o...? � Ent�o perguntei: "Quem est� a�?" � A senhora n�o poderia descobrir sem perguntar? � questionou-a Harry, ligeiramente frustrado. � O Olho Interior � replicou a professora com dignidade, ajeitando seus xales e os muitos fios de contas reluzentes � estava contemplando quest�es muito distantes da esfera mundana de vozes que gritam de alegria. � Certo � apressou-se Harry a dizer; j� ouvira falar demais no Olho Interior da professora Trelawney. � E a voz respondeu quem era? � N�o, n�o respondeu. Ficou tudo escuro como breu e, no momento seguinte, eu estava sendo arremessada de cabe�a para fora da Sala! � E a senhora n�o previu isso? � exclamou Harry, incapaz de se conter. � N�o, n�o previ, como disse, ficou tudo escuro como... � A professora parou e olhou-o desconfiada. � Acho melhor a senhora contar ao professor Dumbledore � sugeriu Harry. � Ele precisa saber que Malfoy est� comemorando... quero dizer, que algu�m arremessou a senhora para fora da Sala. Para sua surpresa, a professora Trelawney empertigou-se ao ouvir sua sugest�o, com ar de superioridade. � O diretor insinuou que preferia receber menos visitas minhas � disse ela friamente. � N�o sou pessoa de impor a minha presen�a �queles que n�o a apreciam. Se Dumbledore prefere ignorar os avisos dados pelas cartas... Sua m�o ossuda agarrou subitamente o pulso de Harry. � Repetidamente, seja qual for o modo com que eu as ponha... E, dramaticamente, Trelawney puxou uma carta de baixo dos xales. � ... A Torre atingida pelo raio � sussurrou ela. � Calamidade. Cat�strofe. Cada dia mais pr�xima... � Certo � concordou Harry outra vez. � Bem... continuo achando que a senhora deveria contar a Dumbledore sobre a voz e a Sala escurecer de repente e a senhora ser arremessada para fora... � Voc� acha? � A professora Trelawney pareceu considerar a quest�o por um momento, mas Harry percebeu que ela gostara da id�ia de tornar a contar sua pequena aventura. � Estou indo v�-lo agora � disse Harry. � Tenho uma reuni�o com ele. Poder�amos ir juntos. � Ah, bem, neste caso � replicou a professora Trelawney com um sorriso. Ela se abaixou, recolheu suas garrafas de xerez e atirou-as sem cerim�nia dentro de um grande vaso azul e branco em um nicho pr�ximo. � Sinto falta de voc� nas minhas aulas, Harry � disse ela comovida, quando come�aram a andar. � Voc� nunca foi grande coisa como vidente... mas era um Objeto de estudo maravilhoso... Harry n�o respondeu; detestara ser o Objeto de estudo dos cont�nuos vatic�nios catastr�ficos da professora Trelawney. � Receio � continuou ela � que aquele pangar�... desculpe, centauro... n�o saiba nada de cartomancia. Perguntei-lhe, de um vidente para outro, se tamb�m n�o tinha sentido as distantes vibra��es do advento da cat�strofe. Mas, pelo jeito, ele me acha quase c�mica. Isso mesmo, c�mica! Sua voz alteou-se histericamente, e Harry sentiu uma forte baforada de xerez, embora as garrafas tivessem sido deixadas para tr�s. � Talvez o cavalo tenha ouvido pessoas dizerem que n�o herdei o dom das minhas tatarav�s. H� anos os invejosos t�m espalhado esses boatos. Sabe qual a minha resposta para essa gente, Harry? Ser� que Dumbledore teria me deixado ensinar nesta grande escola, confiado em mim todos esses anos, se eu n�o tivesse comprovado o meu valor? Harry murmurou alguma coisa inaud�vel. � Lembro-me muito bem da minha primeira entrevista com Dumbledore � continuou a professora Trelawney, com a voz rouca. � Ele ficou profundamente impressionado, � claro, profundamente impressionado... eu estava hospedada no Cabe�a de Javali, que, ali�s, n�o recomendo... percevejos, meu caro rapaz... mas eu estava sem recursos. Dumbledore fez a gentileza de ir at� o meu quarto na estalagem. Interrogou-me... devo confessar que, a princ�pio, achei que parecia pouco favor�vel � Adivinha��o... e lembro que comecei a me sentir meio estranha, n�o tinha comido quase nada naquele dia... mas ent�o... E agora, pela primeira vez, Harry estava realmente prestando aten��o, porque sabia o que tinha acontecido: a professora Trelawney fizera uma profecia que alterara o curso de toda a sua vida, a profecia sobre ele e Voldemort. � ... ent�o fomos rudemente interrompidos por Severo Snape! � Qu�? � Sim, houve uma agita��o no corredor, a porta do quarto se escancarou, e l� estava aquele barman rude, parado com Snape, que tentava confundi-lo, dizendo que se enganara ao subir, embora eu ache que ele foi apanhado escutando a minha entrevista com Dumbledore; voc� entende, ele pr�prio estava procurando emprego � �poca, e com certeza esperava ouvir umas dicas! Bem, depois disso, entende, Dumbledore pareceu bem mais disposto a me contratar, e n�o pude deixar de pensar, Harry, que ele deve ter percebido o violento contraste entre o meu jeito modesto e o meu talento discreto comparados aos do rapaz cavador e intrometido, que se dispunha a escutar �s portas... Harry, querido? Trelawney olhou por cima do ombro, pois acabara de perceber que Harry n�o estava mais com ela; o garoto parara e agora havia tr�s metros de dist�ncia entre eles. � Harry? � repetiu a professora insegura. Talvez o rosto dele estivesse branco, para faz�-la parecer t�o preocupada e assustada. Harry estava paralisado, sentindo o impacto de ondas de choque, onda ap�s onda, que obliteravam tudo, exceto a informa��o que lhe haviam negado por tanto tempo... Snape � quem tinha ouvido a profecia. Snape � quem tinha levado a not�cia da profecia a Voldemort. Snape e Pedro Pettigrew, juntos, tinham feito Voldemort sair ca�ando L�lian, Tiago e seu filho... Nada mais importava a Harry no momento. � Harry? � chamou de novo a professora. � Harry... pensei que �amos ver o diretor juntos? � A senhora fica aqui � disse Harry, com os l�bios dormentes. � Mas, querido... eu ia contar a ele que fui atacada na Sala... � A senhora fica aqui! � repetiu Harry com raiva. Trelawney fez um ar assustado quando ele passou correndo por ela, entrou pelo corredor de Dumbledore, onde a g�rgula solit�ria montava guarda. Harry gritou a senha para a g�rgula e subiu correndo a escada m�vel em espiral, tr�s degraus de cada vez. Ele n�o bateu a porta de Dumbledore, esmurrou-a; e a voz calma respondeu "Entre", depois que Harry j� se precipitara para dentro da sala. Fawkes, a f�nix, girou a cabe�a, seus olhos vivos e negros refletindo o dourado do sol poente. Dumbledore estava parado � janela, contemplando os terrenos da escola, uma longa capa de viagem nos bra�os. � Bem, Harry, prometi que voc� poderia vir comigo. Por um momento, Harry n�o compreendeu; a conversa com Trelawney varrera tudo o mais de sua cabe�a, e seu c�rebro parecia estar funcionando muito vagarosamente. � Ir... com o senhor... ? � Somente se voc� quiser, � claro. � Se eu... E ent�o Harry se lembrou por que inicialmente estivera ansioso para vir ao escrit�rio de Dumbledore. � O senhor encontrou uma? Encontrou uma Horcrux? � Creio que sim. A f�ria e o ressentimento entraram em conflito com o choque e a excita��o: por um longo momento, Harry n�o conseguiu falar. � � natural ter medo � disse Dumbledore. � N�o estou apavorado! � retrucou Harry imediatamente, e era a absoluta verdade: medo n�o era uma emo��o que ele estivesse sentindo. � Qual � a Horcrux? Onde est�? � N�o tenho certeza qual �, embora pense que podemos excluir a cobra... acredito que esteja escondida em uma caverna na costa, a muitos quil�metros daqui, uma caverna que venho tentando localizar h� muito tempo: a caverna em que, no passado, Tom Riddle aterrorizou duas crian�as do orfanato no passeio anual que faziam, lembra-se? � Lembro. Como est� protegida? � N�o sei; tenho algumas suspeitas que talvez estejam completamente erradas. � Dumbledore hesitou, em seguida disse: � Harry, prometi que voc� poderia vir comigo, e mantenho a promessa, mas seria um grande erro se eu n�o o prevenisse de que ser� excepcionalmente perigoso. � Eu vou � disse Harry, quase antes de Dumbledore terminar de falar. Enfurecido com Snape, seu desejo de fazer alguma coisa extrema e insensata redobrara nos �ltimos minutos. Isto talvez tenha transparecido em seu rosto, porque Dumbledore se afastou da janela e olhou mais atentamente para Harry, uma leve ruga entre suas sobrancelhas prateadas. � Que aconteceu com voc�? � Nada � mentiu Harry prontamente. � Que foi que o perturbou? � N�o estou perturbado. � Harry, voc� nunca foi um bom Oclumente... A palavra foi a fa�sca que desencadeou a f�ria de Harry. � Snape! � disse ele muito alto, e Fawkes soltou um leve grasnido �s suas costas. � Snape foi o que me aconteceu! Ele contou a Voldemort sobre a profecia, foi ele, ele escutou � porta do quarto, Trelawney me contou! A express�o de Dumbledore n�o se alterou, mas Harry teve a impress�o de que seu rosto empalidecia � claridade avermelhada do sol poente. Por um longo momento, o diretor nada disse. � Quando foi que descobriu isso? � perguntou ele por fim. � Agora! � respondeu Harry, que, com enorme dificuldade, reprimia a vontade de gritar. Ent�o, de repente, n�o conseguiu mais se conter: � E O SENHOR DEIXOU ELE ENSINAR AQUI E ELE DISSE A VOLDEMORT PARA ATACAR OS MEUS PAIS! Ofegando como se lutasse, Harry se afastou de Dumbledore, que ainda n�o movera um �nico m�sculo, e come�ou a andar para cima e para baixo no escrit�rio, esfregando os n�s dos dedos nas m�os e exercendo todo o seu controle para n�o derrubar nada. Queria explodir com Dumbledore, mas tamb�m queria acompanh�-lo para tentar destruir a Horcrux; queria dizer ao diretor que ele era um velho tolo por confiar em Snape, mas estava aterrorizado que Dumbledore n�o o levasse se n�o dominasse sua raiva... � Harry � disse Dumbledore em voz baixa. � Por favor, me escute. Era t�o dif�cil parar de andar quanto se conter para n�o gritar. Harry hesitou, mordendo o l�bio, e encarou o rosto enrugado de Dumbledore. � O professor Snape cometeu um terr�vel... � N�o me diga que foi um engano, senhor, ele estava escutando � porta! � Por favor, me deixe terminar. � Dumbledore aguardou at� ver Harry assentir bruscamente com a cabe�a, ent�o prosseguiu: � O professor Snape cometeu um terr�vel engano. Ele ainda estava a servi�o de Voldemort na noite em que ouviu a primeira metade da profecia da professora Trelawney. Naturalmente, correu a contar o que ouvira, porque afetava profundamente o seu senhor. Mas ele n�o sabia, n�o tinha a menor possibilidade de saber, qual era o garoto que Voldemort iria perseguir daquele dia em diante ou que os pais que ele destruiria em sua busca homicida eram pessoas que ele pr�prio conhecia, que eram seu pai e sua m�e... Harry soltou uma gargalhada sombria. � Ele odiava meu pai como odiava Sirius! O senhor n�o reparou, professor, como as pessoas a quem Snape odeia t�m uma tend�ncia a aparecer mortas? � Voc� n�o faz id�ia do remorso que o professor Snape sentiu quando percebeu como Lord Voldemort interpretara a profecia, Harry. Acredito que tenha sido o maior arrependimento da vida dele, e o motivo por que voltou... � Mas ele � um Oclumente muito bom, n�o �, senhor? � contrap�s Harry, cuja voz tremia com o esfor�o de mant�-la firme. � E, Voldemort n�o est� convencido de que Snape est� do lado dele, ainda hoje? Professor... como o senhor pode ter certeza de que o Snape est� do nosso lado? Dumbledore ficou calado por um momento; parecia estar tentando tomar uma decis�o. Por fim, disse: � Tenho certeza. Confio plenamente em Severo Snape. Harry respirou fundo por alguns momentos, esfor�ando-se para se controlar. N�o adiantou. � Bem, eu n�o! � bradou ele como antes. � Ele est� tramando alguma coisa com Draco Malfoy neste instante, bem debaixo do seu nariz, e o senhor continua... � J� discutimos isso antes, Harry. � E seu tom retomou a severidade anterior. � Dei-lhe a minha opini�o. � O senhor vai sair da escola esta noite, e aposto como nem considerou que Snape e Malfoy podem decidir... � O qu�? � perguntou Dumbledore, com as sobrancelhas erguidas. � Que � que voc� suspeita que eles estejam fazendo, exatamente? � Eles est�o armando alguma coisa! � insistiu Harry, fechando os punhos ao dizer isso. � A professora Trelawney acabou de entrar na Sala Precisa, tentando esconder garrafas de xerez, e ouviu Malfoy dando vivas, comemorando! Ele est� tentando consertar alguma coisa perigosa l� dentro e, se o senhor quer saber, ele finalmente conseguiu, e o senhor daqui a pouco vai sair porta afora sem... � Basta. � Dumbledore falou calmo, mas Harry calou-se imediatamente; percebeu que enfim ultrapassara alguma linha invis�vel. � Voc� acha que deixei a escola desprotegida uma �nica vez nas minhas aus�ncias deste ano? N�o. Hoje � noite, quando eu viajar, mais uma vez teremos prote��o adicional instalada. Por favor, n�o insinue que eu n�o levo a s�rio a seguran�a dos meus estudantes, Harry. � Eu n�o... � murmurou Harry, um pouco envergonhado, mas Dumbledore interrompeuo. � N�o quero mais discutir este assunto. Harry engoliu o que ia dizer, receoso de que tivesse ido longe demais, de que tivesse estragado sua chance de acompanhar o diretor, mas este prosseguiu: � Voc� quer ir comigo hoje � noite? � Quero � respondeu Harry prontamente. � Muito bem, ent�o ou�a. Dumbledore aprumou-se. � Levo voc� com uma condi��o: que voc� obede�a a qualquer ordem que eu lhe d�, imediatamente e sem fazer perguntas. � Claro. � Entenda bem, Harry. Estou dizendo que dever� obedecer at� a ordens como "corra", "se esconda" ou "volte". Voc� me d� sua palavra? � Eu... � claro. � Se eu mandar que se esconda, voc� far� isso? � Farei. � Se eu o mandar fugir, voc� obedecer�? � Obedecerei. � Se eu lhe disser para me abandonar e se salvar, voc� far� o que mandei? � Eu... � Harry? Eles se encararam por um momento. � Farei, sim, senhor. � Muito bem. Ent�o, quero que voc� v� buscar a sua Capa da Invisibilidade e me encontre no Sagu�o de Entrada dentro de cinco minutos. Dumbledore voltou a contemplar a janela flamejante; o sol era um clar�o vermelho-rubi na linha do horizonte. Harry saiu depressa do escrit�rio e desceu a escada espiral. De repente, sua mente ficou estranhamente clara. Sabia o que fazer. Rony e Hermione estavam sentados juntos na sala comunal quando ele retornou. � Que � que o Dumbledore quer? � perguntou Hermione ao v�-lo. � Harry, voc� est� o.k.? � acrescentou ela, ansiosa. � Estou �timo � respondeu ele brevemente, passando apressado. Correu escada acima e entrou no dormit�rio; ali, escancarou o mal�o e tirou o Mapa do Maroto e um par de meias enroladas. Ent�o, tornou a se precipitar pela escada e voltar � sala comunal, derrapando diante de Rony e Hermione, que observavam perplexos. � N�o tenho muito tempo � ofegou Harry. � Dumbledore acha que estou s� apanhando a Capa da Invisibilidade, escutem... Em poucas palavras, contou-lhes aonde estava indo e por qu�. N�o parou nem diante das exclama��es de horror de Hermione nem das perguntas apressadas de Rony; eles poderiam deduzir os detalhes sozinhos depois. � ... est�o entendendo o que isto significa? � Harry terminou ligeiro. � Dumbledore n�o estar� aqui hoje � noite, portanto Malfoy estar� livre para tentar o que quer que esteja tramando. N�o, me escutem! � sibilou ele zangado, quando Rony e Hermione deram sinais de querer interromp�-lo. � Sei que era o Malfoy comemorando na Sala Precisa. Tomem... � Ele empurrou o Mapa do Maroto na m�o de Hermione. � Voc�s t�m de vigi�-lo e t�m de vigiar Snape tamb�m. Usem quem puderem reunir da AD. Hermione, aqueles gale�es de contato ainda est�o funcionando, certo? Dumbledore diz que instalou prote��o adicional na escola, mas, se Snape estiver envolvido, ele saber� qual foi a prote��o e como evit�-la... mas ele n�o estar� esperando que voc�s estejam de guarda, n�o �? � Harry � come�ou Hermione, seus olhos arregalados de medo. � N�o tenho tempo para discutir � cortou-a Harry. � Tome isto tamb�m... � Ele empurrou as meias nas m�os de Rony. � Obrigado � disse Rony. � Ah... para que preciso de meias? � Precisa do que est� embrulhado nelas, � a Felix Felicis. Dividam entre voc�s e a Gina tamb�m. Se despe�am dela por mim. � melhor eu ir, Dumbledore est� me esperando... � N�o! � exclamou Hermione, quando Rony desembrulhou o frasquinho de po��o dourada, parecendo assombrado. � N�o queremos a po��o, leve com voc�, quem sabe o que ir� enfrentar. � Estarei bem, estarei com o Dumbledore � respondeu Harry. � Quero ter certeza de que voc�s estejam o.k... n�o me olhe assim, Hermione, vejo voc�s mais tarde... E ele se foi, atravessou o buraco do retrato e rumou para o Sagu�o de Entrada. Dumbledore aguardava-o junto �s portas de carvalho. Virou-se quando Harry apareceu derrapando e pisou o degrau mais alto da escadaria, muito ofegante, sentindo uma pontada ardida do lado. � Gostaria que voc� usasse sua Capa da Invisibilidade, por favor � pediu o diretor, e esperou at� Harry se cobrir, antes de dizer: � Muito bem. Vamos? Dumbledore come�ou a descer imediatamente os degraus de pedra, sua capa de viagem quase im�vel no ar parado do ver�o. Harry corria a seu lado, sob a Capa da Invisibilidade, ainda ofegando e suando muito. � Mas que � que as pessoas v�o pensar quando o virem saindo, professor? � perguntou Harry, pensando em Malfoy e Snape. � Que vou a Hogsmeade beber alguma coisa � respondeu Dumbledore brincando. � �s vezes, dou prefer�ncia a Rosmerta, outras visito o Cabe�a de Javali... ou finjo visitar. E uma boa maneira de disfar�ar o verdadeiro destino. Eles foram descendo pela estrada da escola � claridade crepuscular. O ar estava impregnado de aromas de capim aquecido, �gua do lago e fuma�a de madeira da cabana de Hagrid. Era dif�cil acreditar que estavam caminhando para algo perigoso ou assustador. � Professor � disse Harry baixinho, quando avistaram os port�es no in�cio da estrada �, vamos aparatar? � Vamos. Voc� j� sabe aparatar, creio eu. � Sei, mas ainda n�o tenho licen�a. Harry achou melhor ser honesto; e se estragasse tudo desaparatando a quil�metros do lugar onde devia? � N�o faz mal � disse o diretor. � Posso ajud�-lo novamente. A sa�da dos port�es, eles viraram para a estrada deserta de Hogsmeade. A escurid�o foi descendo rapidamente durante a caminhada e, quando por fim alcan�aram a rua principal, j� era quase noite. As luzes brilhavam nas janelas sobre as lojas, e, assim que se aproximaram do Tr�s Vassouras, ouviram gritos estridentes. � ... e fique fora daqui! � gritava Madame Rosmerta, expulsando, � for�a, um bruxo malvestido. � Ah, ol�, Alvo... saindo tarde... � Boa-noite, Rosmerta, boa-noite... me desculpe, estou indo ao Cabe�a de Javali... n�o se ofenda, mas gostaria de um ambiente mais tranq�ilo hoje � noite... Um minuto mais tarde, eles viraram para uma rua lateral onde o letreiro do Cabe�a de Javali balan�ava, rangendo, suavemente, embora n�o houvesse brisa. Ao contr�rio do Tr�s Vassouras, o bar parecia estar completamente vazio. � N�o precisaremos entrar � murmurou Dumbledore, olhando para os lados. � Desde que as pessoas n�o nos vejam desaparecendo... agora, ap�ie a m�o no meu bra�o, Harry. N�o precisa apertar com muita for�a, vou apenas gui�-lo. Quando eu contar tr�s: um... dois... tr�s... Harry se virou. Na mesma hora teve aquela horr�vel sensa��o de que o empurravam � for�a para dentro de um grosso cano de borracha; n�o conseguia respirar, cada parte de seu corpo comprimia-se insuportavelmente, ent�o, quando pensou que ia sufocar, a cinta invis�vel pareceu se romper, e ele se viu parado em fria escurid�o, enchendo os pulm�es de ar fresco e salgado. CAPITULO VINTE E SEIS A CAVERNA HARRY SENTIU O CHEIRO DE SAL e o marulho das ondas; uma brisa leve e gelada despenteou seus cabelos quando ele se virou para contemplar o mar enluarado e o c�u de estrelas. Estava parado no alto de uma rocha escura, sob a qual a �gua espumava e se revolvia. Ele olhou por cima do ombro. �s suas costas, erguia-se um penhasco, escarpado, negro e indistinto. Algumas rochas, como aquela em que Harry e Dumbledore se achavam, pareciam ter se destacado da face do penhasco em algum momento do passado. Era uma paisagem desolada e agreste; a monotonia do mar e da rocha sem �rvore, capim ou areia a interromp�-la. � Que � que voc� acha? � perguntou Dumbledore. Era como se estivesse pedindo a opini�o de Harry sobre um bom lugar para um piquenique. � Eles traziam os garotos do orfanato para c�? � perguntou Harry, que n�o conseguia imaginar um local menos convidativo para um passeio. � N�o era bem para c�. H� uma aldeiazinha a meio caminho dos rochedos �s nossas costas. Acredito que traziam os �rf�os para tomar um pouco de ar e ver as ondas. N�o, acho que apenas Tom Riddle e suas jovens v�timas algum dia visitaram este lugar. Trouxas n�o poderiam chegar aqui, a n�o ser que fossem alpinistas excepcionais, e barcos n�o podem se aproximar das pedras; as �guas ao redor s�o muito perigosas. Imagino que Riddle tenha descido; a magia teria sido mais �til do que as cordas. E trouxe com ele duas crian�as pequenas, provavelmente pelo prazer de aterroriz�-las. Acho que s� a viagem em si teria bastado, n�o? Harry tornou a erguer os olhos para o penhasco e sentiu arrepios. � Mas o destino final de Tom, e o nosso, fica um pouco mais adiante. Vamos. Dumbledore fez sinal a Harry para se aproximar da borda da rocha em que v�rios nichos pontudos serviam para apoiar os p�s e davam acesso �s pedras arredondadas e semi-submersas na �gua junto ao pared�o rochoso. Era uma descida trai�oeira, e Dumbledore, ligeiramente estorvado pela m�o murcha, movia-se com lentid�o. As pedras mais abaixo escorregavam por causa da �gua do mar. Harry sentia os salpicos de �gua salgada baterem em seu rosto. � Lumus � disse Dumbledore, ao chegar � pedra mais pr�xima do pared�o. Centenas de pontinhos de luz dourada faiscaram na superf�cie escura do mar a menos de um metro abaixo do lugar em que estava agachado; a parede negra do rochedo iluminou-se tamb�m. � Est� vendo? � perguntou o diretor em voz baixa, erguendo um pouco mais a varinha. Harry viu uma fissura no penhasco onde a �gua escura remoinhava. � Voc� n�o se importa de se molhar um pouco? � N�o � respondeu Harry. � Ent�o, tire a sua Capa da Invisibilidade, n�o � necess�ria agora, e vamos dar um mergulho. E, com a s�bita agilidade de um homem mais jovem, Dumbledore escorregou pela pedra, caiu no mar e come�ou a nadar de peito, com movimentos perfeitos, em dire��o � fenda na face do penhasco, a varinha acesa presa entre os dentes. Harry tirou a capa, enfiou-a no bolso e acompanhou-o. A �gua estava gelada; as roupas pesadas de �gua enfunavam-se em torno dele e o puxavam para baixo. Sorvendo profundamente o ar que enchia suas narinas com um travo de sal e algas, Harry nadou em dire��o � luz bruxuleante que diminu�a � medida que adentrava a caverna. A fenda logo se alargou, formando um t�nel escuro que Harry sabia que se encheria de �gua na mar� alta. As paredes limosas tinham menos de um metro entre si e refulgiam como piche molhado � passagem da luz empunhada por Dumbledore. Um pouco mais para dentro, a passagem fazia uma curva para a esquerda, e Harry viu que se embrenhava profundamente na rocha. Continuou a nadar na esteira do diretor, as pontas de seus dedos dormentes ro�ando a rocha �mida e �spera. Ent�o ele o viu sair da �gua mais adiante, sua cabeleira prateada e as vestes escuras refulgindo. Quando Harry chegou ao mesmo ponto, deparou com degraus que conduziam a uma ampla caverna. Subiu a escada, a �gua escorrendo de suas vestes encharcadas, e emergiu, tremendo descontroladamente, no ar parado e enregelante. Dumbledore estava de p� no meio da caverna, a varinha no alto, e girava lentamente no mesmo lugar, examinando as paredes e o teto. � �, � este o lugar � confirmou Dumbledore. � Como o senhor pode saber? � perguntou Harry num sussurro. � Tem magia conhecida � respondeu Dumbledore com simplicidade. Harry n�o conseguia definir se os arrepios que sentia se deviam ao frio que penetrava seus ossos ou � mesma percep��o de encantamentos. Apenas observava enquanto Dumbledore continuava a girar, evidentemente concentrando-se em coisas que Harry n�o era capaz de ver. � Isto � apenas a antec�mara, o sagu�o de entrada � disse Dumbledore, passados alguns instantes. � Precisamos penetrar a c�mara interior... agora os obst�culos erguidos por Voldemort � que barrar�o o nosso caminho, e n�o os que a natureza criou... O diretor se aproximou da parede da caverna e acariciou-a com os dedos enegrecidos, murmurando palavras em uma l�ngua estranha que Harry n�o entendeu. Duas vezes Dumbledore andou ao redor da caverna, tocando a maior �rea da rocha �spera que p�de, parando ocasionalmente, correndo os dedos para frente e para tr�s em um determinado ponto, at� parar finalmente, a m�o espalmada contra a parede. � Aqui � disse ele. � Passaremos por aqui. A entrada est� oculta. Harry n�o perguntou a Dumbledore como sabia. Nunca vira um bruxo resolver as coisas assim, simplesmente com o olhar e o toque; mas o garoto j� descobrira, havia muito tempo, que estampidos e fuma�a eram, em geral, marcas de in�pcia e n�o de capacidade. Dumbledore se afastou e apontou a varinha para a parede rochosa da caverna. Por um instante, apareceu ali o contorno de um arco, fulgurante e branco como se houvesse uma forte luz por tr�s da fresta. � O senhor conseguiu! � exclamou Harry entre os dentes que castanholavam de frio, mas, antes mesmo que as palavras sa�ssem de sua boca, o contorno desapareceu, deixando a rocha mais nua e s�lida que antes. Dumbledore se virou. � Harry, desculpe, me esqueci. � E apontou imediatamente a varinha para o garoto, cujas roupas ficaram instantaneamente quentes e secas como se tivessem sido penduradas diante de um fogo escaldante. � Obrigado � agradeceu Harry, mas Dumbledore j� voltara sua aten��o para a parede maci�a da caverna. N�o tentou outros feiti�os, simplesmente ficou ali, parado, observando a parede com aten��o, como se nela estivesse escrito alguma coisa de extraordin�rio interesse. Harry ficou muito quieto; n�o queria perturbar a concentra��o de Dumbledore. Ent�o, passados dois minutos completos, o diretor disse baixinho: � Ah, certamente que n�o. T�o grosseiro! � O qu�, professor? � Est� me parecendo � disse Dumbledore, enfiando a m�o boa nas vestes e tirando uma faquinha de prata do tipo que Harry usava para cortar ingredientes para po��es � que precisamos pagar para passar. � Pagar? � exclamou Harry. � O senhor tem de dar alguma coisa � porta? � Tenho. Sangue, se n�o estiver muito enganado. � Sangue? � Eu disse que era grosseiro � comentou Dumbledore, em tom desdenhoso e at� desapontado, como se Voldemort se mostrasse aqu�m dos padr�es esperados. � A id�ia, como certamente voc� ter� captado, � que o inimigo deve se enfraquecer para entrar. Mais uma vez, Lord Voldemort n�o conseguiu compreender que h� coisas bem mais terr�veis do que a les�o f�sica. � Bem, mas se for poss�vel evitar... � replicou Harry, que j� sentira dor suficiente para n�o querer mais. � �s vezes, por�m, � inevit�vel � disse Dumbledore, jogando para cima a manga das vestes e expondo o antebra�o da m�o machucada. � Professor! � protestou Harry, adiantando-se depressa ao ver Dumbledore erguendo a faca. � Eu fa�o isso, sou... Ele n�o sabia o que dizer: mais jovem, mais apto? Dumbledore, por�m, apenas sorriu. Houve um lampejo prateado e um esguicho escarlate; a face da rocha pontilhou-se de gotas escuras e brilhantes. � Voc� � muito bom, Harry � disse o diretor, agora passando a ponta da varinha no corte profundo que fizera no pr�prio bra�o, fechando-o instantaneamente, da mesma maneira que Snape curara os ferimentos de Malfoy. � Mas o seu sangue vale mais do que o meu. Ah, parece que deu resultado, n�o? O contorno fulgurante de um arco reapareceu na parede e, desta vez, n�o se apagou: a rocha suja de sangue circunscrita pelo arco simplesmente sumiu, deixando uma abertura para uma aparente e absoluta escurid�o. � Depois de mim, acho � disse Dumbledore, e ele cruzou o arco com Harry em seus calcanhares, acendendo depressa a varinha ao entrar. Eles depararam com uma cena extraordin�ria: estavam � beira de um grande lago negro, t�o vasto que Harry n�o conseguia divisar suas margens distantes, em uma caverna t�o alta que seu teto n�o era vis�vel. Uma luz verde e indistinta brilhava ao longe, talvez no meio do lago; refletiase na �gua im�vel abaixo. O brilho verde e a luz das duas varinhas eram as �nicas coisas que rompiam o negrume veludoso, embora seus raios n�o tivessem um alcance t�o longo quanto Harry esperara. A escurid�o era de certo modo mais densa do que a escurid�o normal. � Vamos caminhar � disse Dumbledore em voz baixa. � Cuidado para n�o pisar na �gua. Fique junto de mim. Ele saiu margeando o lago, e Harry seguiu logo atr�s. Seus passos ecoavam como tapas na estreita orla de pedra que contornava o lago. Caminharam uma boa dist�ncia, mas a paisagem n�o variava: de um lado, a �spera parede da caverna; do outro, a vastid�o sem fim do negrume espelhado, no meio da qual havia aquele misterioso brilho verde. Harry achou o lugar e o sil�ncio opressivos, enervantes. � Professor? � perguntou ele por fim. � O senhor acha que a Horcrux est� aqui? � Ah, sim. Tenho certeza que est�. A quest�o �, como chegar a ela? � N�o pod�amos... n�o pod�amos simplesmente tentar um Feiti�o Convocat�rio? � perguntou Harry, convencido de que era uma sugest�o idiota, mas querendo, mais do que admitiria, sair o mais depressa poss�vel daquele lugar. � Certamente que poder�amos � respondeu Dumbledore, parando t�o de repente que Harry quase colidiu com ele. � Por que voc� n�o tenta? � Eu? Ah... O.k. Harry n�o esperara por isso, mas pigarreou e ordenou em voz alta, a varinha no ar: � Accio Horcrux! Com um ru�do de explos�o, algo muito grande e claro irrompeu da �gua escura a uns seis metros de dist�ncia; antes que Harry pudesse ver o que era, a coisa tornou a mergulhar na �gua com um estrondo que produziu ondas largas e profundas na superf�cie lisa do lago. Harry saltou para tr�s assustado e bateu na parede; seu cora��o ainda retumbava quando ele se virou para Dumbledore. � Que foi aquilo? � Alguma coisa, acho, que est� pronta a reagir se tentarmos nos apossar da Horcrux. Harry olhou novamente para o lago. Sua superf�cie retomara a apar�ncia v�trea, escura e brilhante: as ondas tinham desaparecido anormalmente r�pido; o cora��o de Harry, no entanto, continuou a bater com for�a. � O senhor achava que ia acontecer isso? � Achei que alguma coisa aconteceria se fiz�ssemos uma tentativa �bvia de nos apoderar da Horcrux. Foi uma boa id�ia, Harry; o modo mais simples de descobrirmos o que estamos enfrentando. � Mas n�o sabemos que coisa era aquela � replicou Harry, olhando para a �gua sinistramente lisa. � Que coisas s�o aquelas, voc� quer dizer � corrigiu-o Dumbledore. � Duvido muito que seja apenas uma. Vamos continuar a andar? � Professor? � Que foi, Harry? � O senhor acha que vamos precisar entrar no lago? � Entrar? S� se tivermos muito azar. � O senhor acha que a Horcrux est� no fundo? � Ah, n�o... Acho que est� no meio. E Dumbledore apontou para a luz verde e indistinta no centro do lago. � Ent�o teremos de atravessar o lago para chegar at� a Horcrux? � Acho que sim. Harry n�o disse nada. Seus pensamentos resumiam-se em monstros lacustres, serpentes gigantescas, dem�nios, cavalos-marinhos e fadas... � Ah-ah � exclamou Dumbledore, tornando a parar; desta vez, Harry realmente colidiu com ele; por um momento, o garoto oscilou na beira da �gua escura, e a m�o s� do diretor agarrou-o fortemente pelo bra�o e o puxou de volta. � Desculpe, Harry, eu devia ter avisado. Fique junto � parede, por favor; acho que encontrei o lugar. Harry n�o fazia id�ia do que Dumbledore queria dizer; at� onde podia perceber, este trecho de margem escura era exatamente igual a qualquer outro, mas o professor Dumbledore, pelo visto, detectara alguma coisa diferente. Desta vez, ele estava passando a m�o, n�o na parede rochosa, mas no ar, como se esperasse encontrar e agarrar alguma coisa invis�vel. � Oho � exclamou ele feliz, segundos depois. Sua m�o agarrara no ar alguma coisa que Harry n�o conseguia ver. Dumbledore se aproximou mais da �gua; o garoto observou, nervoso, as pontas dos sapatos de fivela do diretor chegarem at� o limite da borda rochosa do lago. Mantendo a m�o fechada no ar, Dumbledore ergueu a varinha com a outra e deu uma pancadinha no pr�prio punho. Imediatamente apareceu no ar uma corrente grossa de cobre esverdeado que se alongou do fundo do lago at� a m�o fechada de Dumbledore. Ele bateu na corrente, que come�ou a deslizar por dentro de sua m�o fechada como uma cobra e a se enroscar no ch�o com um ru�do met�lico que ecoou vibrantemente nas paredes rochosas, e foi puxando alguma coisa das profundezas do lago escuro. Harry ofegou quando a proa fantasmag�rica de um barquinho veio � tona, t�o verde e brilhante quanto a corrente, e flutuou quase sem marolas at� o ponto da margem em que Harry e Dumbledore estavam parados. � Como � que o senhor soube que o barco estava ali? � perguntou Harry espantado. � A magia sempre deixa vest�gios � respondeu o diretor, quando o barco bateu suavemente na margem �, vest�gios por vezes muito caracter�sticos. Fui professor de Tom Riddle. Conhe�o o estilo dele. � O barco �... � seguro? � Ah, acho que sim. Voldemort precisava criar um meio de atravessar o lago sem atrair a c�lera das criaturas que colocou nele, caso um dia quisesse visitar ou remover sua Horcrux. � Ent�o as coisas na �gua n�o nos far�o mal se atravessarmos no barco de Voldemort? � Acho que devemos nos conformar com a id�ia de que, em algum momento, elas perceber�o que n�o somos Lord Voldemort. At� aqui, por�m, temos nos sa�do bem. Elas nos deixaram erguer o barco. � Mas por que deixaram? � perguntou Harry, que n�o conseguia esquecer a vis�o de tent�culos emergindo da �gua escura quando se distanciaram da margem. � Voldemort devia estar razoavelmente confiante de que ningu�m, exceto um grande bruxo, seria capaz de encontrar o barco. Penso que estaria disposto a arriscar a improv�vel possibilidade de algu�m conseguir isto, porque sabia que deixara mais � frente outros obst�culos que somente ele poderia superar. Veremos se tinha raz�o. Harry examinou o barco. Era realmente muito pequeno. � N�o parece ter sido constru�do para duas pessoas. Ser� que nos ag�entar�? N�o ser� peso demais? Dumbledore riu. � Voldemort n�o deve ter se preocupado com o peso, mas com o poderio m�gico que cruzasse o seu lago. Eu pensaria que ele deve ter lan�ado um encantamento sobre o barco de tal ordem que apenas um bruxo por vez poder� us�-lo. � Mas ent�o...? � Acho que voc� n�o conta, Harry: � menor de idade e n�o-qualificado. Voldemort jamais esperaria que um adolescente de dezesseis anos chegasse aqui: acho improv�vel que os seus poderes sejam considerados, se comparados aos meus. Tais palavras n�o ajudaram a levantar o moral de Harry, e Dumbledore, talvez percebendo isso, acrescentou: � Um erro de Voldemort, Harry, um erro de Voldemort... a velhice � tola e esquecida quando subestima a juventude... desta vez, voc� embarca primeiro, e tenha cuidado para n�o tocar na �gua. Dumbledore se afastou para um lado e Harry subiu cautelosamente no barco. O professor subiu tamb�m, enrolando a corrente no fundo. Os dois ficaram espremidos; Harry n�o p�de se sentar confortavelmente, agachou-se, deixando os joelhos para fora do barco, que se p�s imediatamente em movimento. N�o se ouvia outro som exceto o sussurro da proa cortando a �gua; o barco se deslocava sem ajuda, como se uma corda invis�vel o puxasse em dire��o � luz no centro. Em pouco tempo, deixaram de avistar as paredes da caverna; eles poderiam estar no mar n�o fosse pela falta de ondas. Harry baixou os olhos e viu o reflexo dourado da luz de sua varinha faiscar e cintilar na �gua escura enquanto avan�avam. O barco esculpia fundas rugas na superf�cie vidrada, sulcos no espelho escuro... Ent�o Harry a viu, branca como m�rmore, boiando a cent�metros da superf�cie. � Professor! � exclamou, e sua voz assustada ecoou sonoramente pela �gua silenciosa, � Harry? � Acho que vi uma m�o na �gua, uma m�o humana! � Sei, tenho certeza de que viu � respondeu Dumbledore calmamente. Harry olhou espantado para a �gua � procura da m�o que desaparecera, uma sensa��o de n�usea subindo-lhe � garganta. � Ent�o aquela coisa que saltou da �gua... Harry obteve a resposta antes que Dumbledore pudesse falar; a luz da varinha deslizara por um novo trecho da �gua e, desta vez, lhe mostrou um defunto de cara para cima cent�metros abaixo da superf�cie; seus olhos abertos toldados como se tivessem teias de aranha, seus cabelos e suas vestes girando em torno dele como fuma�a. � Tem cad�veres a� dentro! � disse Harry, e sua voz saiu muito mais aguda e diferente do que o normal. � Tem � respondeu Dumbledore placidamente �, mas por ora n�o precisamos nos preocupar com eles. � Por ora? � respondeu Harry, despregando o olhar da �gua para fix�-lo em Dumbledore. � N�o enquanto estiverem apenas boiando tranq�ilamente abaixo de n�s. Nada temos a recear de um cad�ver, Harry, como nada temos a recear da escurid�o. Lord Voldemort, que naturalmente tem um receio �ntimo de ambos, discorda. Mas, de novo, ele revela sua pr�pria falta de sabedoria. � o desconhecido que receamos quando olhamos para a morte e a escurid�o, nada mais. Harry n�o respondeu; n�o queria discutir, mas achava pavorosa a id�ia de que havia cad�veres flutuando em volta e abaixo deles, e, al�m disso, n�o acreditava que n�o fossem perigosos. � Mas um deles saltou � disse ele tentando manter a voz est�vel e calma como a de Dumbledore. � Quando tentei convocar a Horcrux, um cad�ver pulou do lago. � Verdade... E estou seguro que, quando apanharmos a Horcrux, veremos que s�o menos pac�ficos. Mas, como muitas criaturas que habitam o frio e a escurid�o, eles temem a luz e o calor que evocaremos em nosso aux�lio, se houver necessidade. Fogo, Harry � Dumbledore acrescentou com um sorriso, em resposta � express�o atordoada de Harry. � Ah... certo � concordou ele r�pido. E virou a cabe�a para olhar a luz verde, destino inexor�vel do barco. Agora, Harry n�o podia fingir que n�o estava apavorado. O grande lago negro coalhado de cad�veres... parecia fazer horas que ele encontrara a professora Trelawney, que dera a Rony e Hermione a Felix Felicis... desejou de repente ter se despedido melhor deles... nem ao menos vira Gina... � Quase l� � anunciou Dumbledore animado. De fato, a luz verde parecia estar finalmente aumentando, e minutos depois o barco parou, batendo suavemente em alguma coisa que Harry a princ�pio n�o p�de ver, mas, quando ergueu a varinha iluminada, constatou que tinham chegado a uma ilhota de rocha lisa no centro do lago. � Cuidado para n�o tocar na �gua � tornou a recomendar Dumbledore quando Harry desembarcou. A ilha n�o era maior do que o escrit�rio de Dumbledore: uma extens�o de rocha plana e escura em que n�o havia nada exceto a fonte daquela luz verde, que parecia muito mais forte vista de perto. Harry semicerrou os olhos; a princ�pio pensou que fosse algum tipo de lampi�o, mas logo percebeu que a luz vinha de uma bacia de pedra muito parecida com a Penseira, apoiada sobre um pedestal. Dumbledore se aproximou da bacia, seguido por Harry. Lado a lado, eles a examinaram. A bacia estava cheia de um l�quido verde-esmeralda que emitia uma luz fosforescente. � Que � isso? � perguntou Harry em voz baixa. � N�o tenho bem certeza � respondeu Dumbledore. � Alguma coisa mais preocupante do que sangue e cad�veres. Dumbledore empurrou para cima a manga das vestes que lhe cobria a m�o escurecida e esticou as pontas dos dedos queimados para a superf�cie da po��o. � Senhor, n�o, n�o toque...! � N�o posso tocar � informou Dumbledore com um ar de riso. � Est� vendo? S� posso chegar at� aqui. Tente. De olhos arregalados, Harry levou a m�o � bacia e tentou tocar a po��o. Bateu em uma barreira invis�vel a uns tr�s cent�metros que o impedia de se aproximar mais. Por mais que empurrasse, aparentemente seus dedos n�o encontravam nada, exceto ar s�lido e inflex�vel. � Afaste-se, por favor, Harry � pediu Dumbledore. O professor ergueu a varinha e fez gestos complicados sobre a superf�cie da po��o, murmurando silenciosamente. Nada aconteceu, a n�o ser, talvez, o brilho da po��o se intensificar. Harry guardou sil�ncio enquanto Dumbledore trabalhava, mas, passado algum tempo, o diretor recolheu a varinha e Harry achou que era seguro falar. � O senhor acha que a Horcrux est� a� dentro? � Ah, sim. � Dumbledore examinou a bacia mais de perto. Harry viu seu rosto refletido, de cabe�a para baixo, na superf�cie lisa da po��o verde. � Mas como alcan��-la? A po��o n�o aceita ser penetrada � m�o, desaparecida ou dividida ou apanhada ou aspirada, nem pode ser transfigurada, encantada, tampouco alterada em sua natureza. Quase distra�do, Dumbledore tornou a erguer a varinha, girou-a no ar e recolheu uma ta�a de cristal que acabara de conjurar do nada. � S� posso concluir que essa po��o deve ser bebida. � Qu�? � exclamou Harry. � N�o! � Penso que sim: somente bebendo-a posso esvaziar a bacia e ver o que guarda no fundo. � Mas e se... e se a po��o matar o senhor? � Ah, duvido que produzisse tal efeito � disse Dumbledore tranq�ilo. � Lord Voldemort n�o iria querer matar a pessoa que alcan�asse sua ilha. Harry n�o conseguiu acreditar. Seria mais um exemplo da insana determina��o de Dumbledore de ver o bem em todas as pessoas? � Senhor � disse Harry, tentando manter a voz equilibrada �, senhor, � o Voldemort que estamos... � Desculpe, Harry; eu devia ter dito que ele n�o iria querer matar imediatamente a pessoa que alcan�asse sua ilha � corrigiu Dumbledore. � Iria querer mant�-la viva tempo suficiente para descobrir como conseguiu penetrar t�o fundo suas defesas e, o que � mais importante, por que queria tanto esvaziar a bacia. N�o esque�a que Lord Voldemort acredita que somente ele sabe sobre suas Horcruxes. Harry fez men��o de falar, mas desta vez Dumbledore ergueu a m�o pedindo sil�ncio, franzindo ligeiramente a testa para o l�quido esmeralda, evidentemente refletindo. � Sem d�vida � disse por fim �, esta po��o deve produzir um efeito tal que me impe�a de levar a Horcrux. Deve me paralisar, me fazer esquecer o que vim fazer, causar tanta dor que me distraia ou me incapacitar de alguma forma. Assim sendo, Harry, sua tarefa ser� garantir que eu n�o pare de beber, mesmo que tenha de virar a po��o na minha boca enquanto eu protesto. Compreendeu? Seus olhos se encontraram por cima da bacia; cada rosto p�lido iluminado por aquela estranha luz verde. Harry n�o respondeu. Teria sido por isso que fora convidado a vir, para for�ar Dumbledore a beber uma po��o que talvez lhe causasse dor insuport�vel? � Voc� lembra � disse Dumbledore � a condi��o que impus para traz�-lo? Harry hesitou, fixando seus olhos azuis que tinham esverdeado � luz refletida pela bacia. � Mas e se...? � Voc� jurou obedecer a qualquer ordem que eu lhe desse, n�o foi? � Jurei, mas... � Eu o preveni, n�o foi, que poderia haver perigo? � Foi � respondeu Harry �, mas... � Bem, ent�o � tornou Dumbledore mais uma vez, jogando para cima as mangas das vestes e erguendo a ta�a vazia �, j� recebeu as minhas ordens. � Por que n�o posso beber a po��o em seu lugar? � perguntou o garoto desesperado. � Porque sou muito mais velho, muito mais esperto e muito menos valioso. De uma vez por todas, Harry, voc� me d� sua palavra de que far� tudo que puder para n�o me deixar parar de beber? � Ser� que eu n�o poderia...? � D�? � Mas... � Sua palavra, Harry. � Eu... est� bem, mas... Antes que Harry pudesse continuar protestando, Dumbledore mergulhou a ta�a de cristal na po��o. Por uma fra��o de segundo, Harry teve esperan�a de que ele n�o conseguisse tocar na po��o com a ta�a, mas o cristal afundou na superf�cie que nada conseguira tocar; quando a ta�a se encheu at� em cima, Dumbledore levou-a � boca. � � sua sa�de, Harry. E esvaziou a ta�a. Harry observou-o, aterrorizado, suas m�os apertando a borda da bacia com tanta for�a que as pontas dos seus dedos ficaram dormentes. � Professor? � chamou ele, ansioso, quando Dumbledore baixou a ta�a vazia. � Como est� se sentindo? Dumbledore sacudiu a cabe�a, os olhos fechados. Harry se perguntou se estaria sentindo dores. Dumbledore tornou a mergulhar a ta�a na bacia �s cegas, encheu-a e bebeu-a. Em sil�ncio, Dumbledore bebeu tr�s ta�as da po��o. Ent�o, na metade da quarta ta�a, ele cambaleou e caiu contra a bacia. Seus olhos continuaram fechados e sua respira��o se tornou ofegante. � Professor Dumbledore? � chamou Harry com a voz tensa. � O senhor est� me ouvindo? Dumbledore n�o respondeu. Seu rosto se contra�a, como se ele dormisse profundamente, mas experimentasse um terr�vel pesadelo. A m�o com que segurava a ta�a foi afrouxando: a po��o ia derramar. Harry estendeu a m�o e agarrou a ta�a de cristal, mantendo-a em p�. � Professor, o senhor est� me ouvindo? � repetiu ele alto, sua voz ecoando pela caverna. Dumbledore ofegou, e em seguida falou com um timbre irreconhec�vel, porque Harry jamais ouvira Dumbledore amedrontado daquela forma. � N�o quero... n�o me force... Harry olhou para o rosto p�lido que ele conhecia t�o bem, para o nariz torto e os oclinhos de meia-lua, e n�o soube o que fazer. � ... n�o gosto... quero parar... � lamentou-se Dumbledore. � O senhor... o senhor n�o pode parar, professor. O senhor tem de continuar a beber, lembra? O senhor me disse que n�o podia parar de beber. Tome... Odiando-se, sentindo repulsa pelo que estava fazendo, Harry for�ou a ta�a a encostar � boca de Dumbledore e virou-a, fazendo com que o professor bebesse o que restava. � N�o... � gemeu ele, quando Harry mergulhou a ta�a mais uma vez na bacia e encheu-a. � N�o quero... n�o quero... me deixe... � Tudo bem, professor � disse Harry com a m�o tr�mula. � Tudo bem, estou aqui... � Fa�a isso parar, fa�a isso parar � gemeu Dumbledore. � Sim... sim, isto far� parar � mentiu Harry. E virou o conte�do da ta�a na boca aberta do professor. Dumbledore berrou; o ru�do ecoou ao redor da vasta c�mara e atravessou a �gua negra e parada. � N�o, n�o, n�o... n�o... n�o posso... n�o posso, n�o me force, n�o quero... � Est� tudo bem, professor, est� tudo bem! � disse Harry em voz alta, suas m�os tremendo tanto que teve dificuldade em encher a sexta ta�a de po��o; a bacia agora estava pela metade. � Nada est� acontecendo com o senhor, o senhor est� seguro, nada disso � real, juro que n�o � real... agora tome, tome... E, obedientemente, Dumbledore bebeu, como se Harry estivesse lhe oferecendo um ant�doto, mas, ao esvaziar a ta�a, ele caiu de joelhos, tremendo, descontrolado. � � tudo minha culpa, tudo minha culpa � solu�ou �, por favor, pare com isso, sei que errei, ah, por favor pare com isso e eu nunca, nunca mais... � Isto far� parar, professor � disse Harry, sua voz falhando ao virar a s�tima ta�a de po��o na boca de Dumbledore. O professor come�ou a se encolher como se torturadores invis�veis o cercassem; a m�o que ele sacudia quase derrubou a ta�a, novamente cheia, das m�os tr�mulas de Harry, gemendo. � N�o os machuquem, n�o os machuquem, por favor, por favor, a culpa � minha, machuquem a mim... � Aqui, beba isso, beba isso, o senhor vai ficar bom � disse Harry desesperado, e mais uma vez Dumbledore obedeceu, abrindo a boca, embora mantivesse os olhos fechados e tremesse violentamente da cabe�a aos p�s. Ent�o, ele caiu para frente, berrando, esmurrando o ch�o, enquanto Harry enchia a nona ta�a. � Por favor, por favor, por favor, n�o... isso n�o, isso n�o, farei qualquer coisa... � Beba, professor, beba... Dumbledore bebeu como uma crian�a morta de sede, mas, quando terminou, voltou a berrar como se suas entranhas estivessem em chamas. � N�o, por favor, chega... Harry encheu a d�cima ta�a de po��o e sentiu o cristal arranhar o fundo da bacia. � Falta pouco, professor, beba, beba... Ele amparou Dumbledore pelos ombros, e mais uma vez o professor esvaziou a ta�a; Harry tornou a se levantar, e, quando estava enchendo a ta�a, Dumbledore come�ou a gritar mais angustiado do que antes: � Quero morrer! Quero morrer! Pare com isso, pare com isso, quero morrer! � Beba, professor, beba... Dumbledore bebeu, e mal terminara berrou: � MATE-ME! � Esta... esta far� parar! � ofegou Harry. � Beba... j� vai passar... j� vai passar! Dumbledore engoliu o conte�do da ta�a at� a �ltima gota e ent�o, com um enorme arquejo, rolou de borco. � N�o! � gritou Harry, que se pusera de p� para encher mais uma vez a ta�a; em lugar disso, largou-a na bacia, atirou-se no ch�o ao lado de Dumbledore e virou-o de barriga para cima; os �culos do professor estavam tortos, sua boca aberta, seus olhos fechados. � N�o � disse Harry, sacudindo Dumbledore �, n�o, o senhor n�o est� morto, o senhor disse que n�o era veneno, acorde, acorde: Rennervate! � gritou o garoto, apontando a varinha para o peito de Dumbledore; houve um lampejo vermelho, mas nada aconteceu. � Rennervate... senhor... por favor... Os olhos de Dumbledore piscaram; o cora��o de Harry saltou no peito. � Senhor, o senhor est�...? � �gua � pediu Dumbledore rouco. � �gua � ofegou Harry � ... sim... Ele ficou em p� de um salto e agarrou a ta�a que largara na bacia; mal registrou o medalh�o de ouro com a corrente enroscada embaixo da ta�a. � Aguamenti! � ordenou Harry, espetando a ta�a com sua varinha. A ta�a se encheu de �gua cristalina; Harry caiu de joelhos ao lado de Dumbledore, ergueu sua cabe�a e levou a ta�a aos seus l�bios, mas estava vazia. Dumbledore gemeu e come�ou a ofegar. � Mas eu pus... espere... Aguamenti! � tornou Harry a ordenar, apontando a varinha para a ta�a. Mais uma vez, por um segundo, a �gua brilhou dentro dela, mas, quando a aproximou da boca de Dumbledore, a �gua novamente desapareceu. "Senhor, estou tentando, estou tentando! � exclamou Harry, desesperado, mas achou que o professor n�o podia ouvi-lo; ele rolara para um lado e inspirava profunda e ruidosamente parecendo agonizar. � Aguamenti... Aguamenti... AGUAMENTI!" A ta�a se enchia e tornava a esvaziar. A respira��o de Dumbledore foi enfraquecendo. Com o c�rebro girando de p�nico, Harry percebeu, instintivamente, a �nica maneira poss�vel de obter �gua, porque assim tinha planejado Voldemort... Ele se atirou para a margem rochosa e mergulhou a ta�a no lago, erguendo-a, totalmente cheia, com �gua gelada que n�o desapareceu. � Senhor... aqui! � gritou Harry e, precipitando-se para Dumbledore, virou a �gua, desajeitado, em seu rosto. Foi o melhor que p�de fazer, porque a sensa��o g�lida em seu bra�o livre n�o era o frio prolongado da �gua. Uma m�o branca e escorregadia agarrara seu pulso, e a criatura a quem pertencia puxava-o pela rocha lentamente de volta ao lago. A superf�cie n�o era mais um espelho; revolvia-se, e para todo lado que Harry olhava, cabe�as e m�os brancas emergiam da �gua escura, homens, mulheres e crian�as, com olhos encovados e cegos, moviam-se em dire��o � rocha: um ex�rcito de mortos ressurgindo do lago negro. � Petrificus Totalus! � berrou Harry, lutando para se agarrar � superf�cie lisa e molhada da ilha enquanto apontava a varinha para o Inferius que segurava seu bra�o: o morto-vivo soltouo e tornou a cair espalhando �gua. Harry se levantou; mas outros tantos Inferi j� estavam subindo na rocha, cravando suas m�os ossudas na superf�cie escorregadia, seus olhos cegos e esbranqui�ados fixos nele, seus trapos encharcados arrastando pelo ch�o, os rostos encovados rindo debochadamente. � Petrificus Totalus! � tornou a urrar Harry, recuando e varrendo o ar com a varinha; seis ou sete mortos tombaram, mas outros tantos vinham em sua dire��o. � Impedimento! Incarcerous! Alguns trope�aram, uns dois foram imobilizados com cordas, mas aqueles que galgavam a rocha atr�s deles simplesmente pulavam por cima ou pisavam nos corpos ca�dos. Ainda cortando o ar com a varinha, Harry berrou: � Sectumsempra! SECTUMSEMPRA! Embora aparecessem cortes nos trapos encharcados e em sua pele g�lida, eles n�o tinham sangue para derramar: continuavam a avan�ar, insens�veis, as m�os enrugadas estendidas para ele, e, ao recuar para mais longe, Harry sentiu que o abra�avam pelas costas, bra�os finos e descarnados, frios como a morte, e seus p�s perderam o ch�o quando o ergueram e levaram seguramente, para a �gua, e ele percebeu que n�o o soltariam, que ele se afogaria e se tornaria mais um guardi�o morto do fragmento da alma partida de Voldemort... Ent�o, o fogo irrompeu na escurid�o: carmim e ouro, um c�rculo de fogo que cercou a ilha e fez os Inferi que imobilizavam Harry trope�arem e vacilarem; eles n�o ousaram atravessar as chamas para chegar � �gua. Largaram Harry; ele bateu no ch�o, escorregou pela rocha e caiu, arranhando os bra�os, mas tornou a se p�r de p�, ergueu a varinha e olhou assustado para os lados. Dumbledore estava mais uma vez de p�, p�lido como qualquer dos Inferi em volta, por�m mais alto que todos, as chamas dan�ando em seus olhos; sua varinha estava erguida como uma tocha e da ponta sa�am chamas, como um imenso la�o, envolvendo todos em calor. Os mortos-vivos colidiram entre si, tentando, �s cegas, fugir do fogo que os encerrava... Dumbledore apanhou o medalh�o no fundo da bacia de pedra e guardou-o nas vestes. Em sil�ncio, fez sinal a Harry para juntar-se a ele. Distra�dos pelas chamas, os Inferi pareciam n�o registrar que suas v�timas estavam deixando a ilha; Dumbledore levava Harry para o barco, o anel de fogo deslocava-se com eles, cercava-os, os atordoados mortos-vivos acompanharam-nos at� a beira do lago onde mergulharam, agradecidos, em suas �guas escuras. Harry, completamente tr�mulo, achou por um momento que Dumbledore n�o fosse capaz de subir no barco; o professor cambaleou um pouco ao tentar; aparentemente, todos os seus esfor�os convergiam para manter o anel protetor de fogo � sua volta. Harry segurou-o e ajudou-o a sentar. Quando j� estavam espremidos e seguros a bordo, o barco come�ou a se deslocar pela �gua escura, afastando-se da rocha ainda envolta naquele anel de fogo; embaixo, os Inferi enxameavam, mas n�o se atreviam a emergir. � Senhor � ofegou Harry Potter �, senhor eu me esqueci... do fogo... eles avan�aram para mim e entrei em p�nico... � Muito compreens�vel � murmurou Dumbledore. O garoto alarmou-se ao ouvir a voz do professor t�o fraca. Eles tocaram na margem com uma batidinha, e Harry saltou, voltando-se ligeiro para ajudar Dumbledore. No momento em que chegou � margem, o bruxo baixou a m�o da varinha; o anel de fogo desapareceu, mas os mortos-vivos n�o tornaram a emergir da �gua. O barquinho afundou no lago mais uma vez; se entrechocando, a corrente met�lica tamb�m deslizou para dentro do lago. Dumbledore deu um grande suspiro e encostou-se � parede da caverna. � Estou fraco... � N�o se preocupe, senhor � disse Harry imediatamente, ansioso com a extrema palidez do professor e seu ar de exaust�o. � N�o se preocupe, levarei n�s dois de volta... se ap�ie em mim, senhor... E, puxando o bra�o bom de Dumbledore por cima dos ombros, Harry guiou o diretor pela margem do lago, carregando grande parte do seu peso. � A prote��o foi... afinal... bem engendrada � disse Dumbledore baixinho. � Uma pessoa sozinha n�o teria conseguido... voc� se portou bem, muito bem, Harry... � N�o fale agora � disse Harry, apreensivo com a voz pastosa e os passos arrastados de Dumbledore �, poupe suas energias, senhor... logo estaremos fora daqui... � O arco dever� ter se lacrado outra vez... minha faca... � N�o � preciso, eu me cortei na rocha � falou Harry com firmeza �, s� me diga onde... � Aqui... Harry esfregou o bra�o arranhado na pedra: uma vez recebido o tributo de sangue, o arco reabriu-se instantaneamente. Eles atravessaram a caverna externa, e Harry ajudou Dumbledore a entrar na �gua gelada do mar que enchia a fenda no penhasco. � Vai dar tudo certo, senhor � Harry repetia sem parar, mais preocupado com o sil�ncio de Dumbledore do que estivera com a fraqueza de sua voz. � Estamos quase chegando... Posso Aparatar com o senhor para voltarmos... n�o se preocupe... � N�o estou preocupado, Harry � disse Dumbledore, sua voz um pouco mais forte apesar da frieza da �gua. � Estou com voc�. CAPITULO VINTE E SETE A TORRE ATINGIDA PELO RAIO DE VOLTA � NOITE ESTRELADA, Harry carregou Dumbledore para cima do pedregulho mais pr�ximo e ajudou-o a ficar de p�. Encharcado e tr�mulo, ainda sustentando o peso de Dumbledore, Harry se concentrou como nunca fizera antes em sua destina��o: Hogsmeade. Fechando os olhos e apertando, com toda a for�a, o bra�o de Dumbledore, ele mergulhou naquela sensa��o de horr�vel compress�o. O garoto percebeu que dera certo antes de abrir os olhos: o cheiro de sal e brisa marinha haviam desaparecido. Ele e Dumbledore estavam tremendo e pingando �gua no meio da escura rua principal de Hogsmeade. Por um terr�vel momento, sua imagina��o lhe mostrou mais Inferi que surgiam dos lados das lojas e se arrastavam em sua dire��o, mas ele piscou e viu que nada se movia; tudo estava quieto, a escurid�o era total, exceto por uns poucos lampi�es e janelas iluminadas no primeiro andar. � Conseguimos, professor! � sussurrou Harry com dificuldade; ele percebeu, de repente, que sentia uma pontada ardida no peito. � Conseguimos! Encontramos a Horcrux! Dumbledore vacilou de encontro a Harry. Por um momento, o garoto pensou que sua Aparata��o amadora tivesse desequilibrado o professor; ent�o viu o rosto de Dumbledore, mais p�lido e �mido que nunca, � luz distante do lampi�o de rua. � Senhor, o senhor est� bem? � J� estive melhor � respondeu Dumbledore com a voz sumida, embora os cantos de sua boca tentassem sorrir. � Aquela po��o n�o era uma bebida saud�vel... E, para horror de Harry, o professor caiu ao ch�o. � Senhor... tudo o.k., senhor, o senhor vai ficar bom, n�o se preocupe... Ele olhou em volta, desesperado, procurando ajuda, mas n�o havia ningu�m � vista, e s� conseguia pensar que, de alguma maneira, tinha de levar Dumbledore, depressa, para a ala hospitalar. � Precisamos levar o senhor para a escola, senhor... Madame Pomfrey... � N�o � contestou Dumbledore. � �... do professor Snape que preciso... mas acho que n�o... posso ir muito longe no momento... � Certo... senhor, escute... vou bater em uma porta, encontrar um lugar em que possa ficar... e ent�o correr para buscar Madame... � Severo � repetiu Dumbledore claramente. � Preciso do Severo... � Muito bem, ent�o, Snape... mas vou ter de abandonar o senhor um momento para poder... Antes, por�m, que Harry pudesse fazer qualquer movimento, ele ouviu os passos de algu�m correndo. Seu cora��o pulou: algu�m vira, algu�m sabia que eles precisavam de ajuda; e, ao olhar � sua volta, viu Madame Rosmerta correndo pela rua escura em sua dire��o, usando sand�lias altas de pel�cia e um roup�o bordado com drag�es. � Vi voc�s aparatarem quando estava fechando as cortinas do quarto! Gra�as a Deus, gra�as a Deus, n�o podia imaginar o que... mas que aconteceu com o Alvo? Ela parou de repente, ofegando, e encarou Dumbledore de olhos arregalados. � Ele est� passando mal � disse Harry. � Madame Rosmerta, ser� que ele pode ficar no Tr�s Vassouras enquanto vou at� a escola buscar ajuda? � Voc� n�o pode ir l� sozinho! Voc� n�o percebe... voc� n�o viu? � Se a senhora me ajudar a carreg�-lo � falou Harry, sem ouvi-la �, acho que podemos lev�-lo para dentro... � Que aconteceu? � perguntou Dumbledore. � Rosmerta, que est� havendo? � A... a Marca Negra, Alvo. E ela apontou para o c�u, em dire��o a Hogwarts. Harry foi tomado de pavor ao ouvir essas palavras... ele se virou e olhou. L� estava no c�u sobre a escola: o cr�nio verde chamejante com uma l�ngua de cobra, a marca deixada pelos Comensais da Morte sempre que entravam em um pr�dio... sempre que matavam... � Quando foi que apareceu? � perguntou o diretor, e sua m�o se fechou dolorosamente no ombro de Harry na tentativa de se p�r de p�. � Deve ter sido h� poucos minutos, n�o estava l� quando pus o gato para fora, mas quando cheguei ao primeiro andar... � Precisamos voltar ao castelo imediatamente. Rosmerta. � E, embora oscilasse um pouco, Dumbledore parecia estar em pleno comando da situa��o. � Precisamos de transporte... vassouras... � Tenho umas duas atr�s do bar � respondeu a bruxa, parecendo muito assustada. � Quer que eu v� buscar...? � N�o, Harry pode fazer isso. Harry ergueu a varinha na mesma hora. � Acuo vassouras de Rosmerta. Um segundo depois, ele ouviu um forte estampido, e a porta do bar se escancarou; duas vassouras voaram para a rua, apostando corrida para chegar ao lado de Harry, onde pararam de chofre, estremecendo, � altura de sua cintura. � Rosmerta, por favor, mande uma mensagem ao Minist�rio � disse Dumbledore, montando a vassoura mais pr�xima. � Pode ser que ningu�m em Hogwarts tenha percebido que h� um problema... Harry, ponha a sua Capa da Invisibilidade. Harry tirou a capa do bolso e atirou-a sobre o corpo antes de montar sua vassoura; Madame Rosmerta j� estava voltando com passinhos vacilantes para o seu bar quando Harry e Dumbledore deram impulso no ch�o e levantaram v�o. Enquanto voavam, velozes, para o castelo, Harry olhava de esguelha para o professor, pronto a agarr�-lo se ca�sse, mas a vis�o da Marca Negra tivera efeito estimulante em Dumbledore: ele estava curvado sobre a vassoura, os olhos fixos na Marca, seus longos cabelos e barba prateados esvoa�ando �s suas costas, � brisa noturna. E Harry, tamb�m, olhava para a caveira � frente, e o medo crescia dentro dele como uma bolha venenosa, comprimindo seus pulm�es, varrendo qualquer outro desconforto de sua mente... Quanto tempo haviam passado fora? Ser� que a sorte de Rony, Hermione e Gina, a esta altura, j� teria acabado? Teria sido um deles a raz�o da Marca ter surgido na escola, ou Neville ou Luna, ou outro membro da AD? E, se fosse... ele � quem pedira a eles para patrulharem os corredores, quem pedira para deixarem a seguran�a de suas camas... seria novamente respons�vel pela morte de um amigo? Quando sobrevoaram a estrada escura e serpeante que tinham descido a p� mais cedo, Harry ouviu, acima do assobio do ar noturno, os murm�rios de Dumbledore em uma l�ngua desconhecida. Achou que entendia a raz�o daquilo, pois sentiu a vassoura vibrar um momento quando transpuseram os muros da propriedade: Dumbledore estava desfazendo os encantamentos que ele mesmo lan�ara em torno do castelo para que pudessem entrar. A Marca Negra brilhava imediatamente acima da Torre de Astronomia, a mais alta do castelo. Ser� que isto significava que a morte ocorrera ali? Dumbledore j� cruzara as ameias da torre, e estava desmontando; Harry pousou ao lado dele, segundos depois, e olhou para os lados. As ameias estavam desertas. A porta para a escada espiral que levava ao castelo estava fechada. N�o havia sinal de conflito, de combate mortal, de cad�ver. � Que significa isso? � perguntou Harry a Dumbledore, erguendo os olhos para a caveira verde com l�ngua de serpente, refulgindo malignamente no alto. � � a Marca verdadeira? Algu�m foi mesmo... professor? A fraca claridade verde da Marca, Harry viu Dumbledore apertar o peito com a m�o escura. � V� acordar Snape � disse ele com a voz fraca, mas clara. � Conte-lhe o que aconteceu e traga-o aqui. N�o fa�a mais nada, n�o fale com mais ningu�m e n�o tire a sua capa. Esperarei aqui. � Mas... � Voc� jurou me obedecer, Harry, v�! Harry correu para a porta que abria para a escada espiral, mas, assim que sua m�o tocou no anel de ferro da porta, ouviu gente correndo do outro lado. Ele olhou para Dumbledore, que lhe fez sinal para recuar. Harry se afastou, puxando ao mesmo tempo a varinha. A porta se escancarou e algu�m irrompeu por ela gritando: � Expelliarmus! O corpo de Harry se tornou instantaneamente r�gido e im�vel, e ele se sentiu tombar contra a parede da Torre, escorado como uma est�tua inst�vel, incapaz de se mexer ou falar. N�o conseguiu entender como acontecera, Expelliarmus n�o era um Feiti�o Paralisante... Ent�o, � luz da Marca, ele viu a varinha de Dumbledore tra�ar um arco por cima das ameias e compreendeu... Dumbledore o imobilizara silenciosamente, e o segundo que levara para lan�ar o feiti�o lhe custara a chance de se defender. Encostado nas ameias, com o rosto muito branco, Dumbledore, ainda assim, n�o mostrava sinal de p�nico ou afli��o. Simplesmente olhou para quem o desarmara e disse: � Boa-noite, Draco. Malfoy adiantou-se, olhando rapidamente ao redor para verificar se ele e o diretor estavam a s�s. Seus olhos bateram na segunda vassoura. � Quem mais est� aqui? � Uma pergunta que eu poderia fazer a voc�. Ou est� agindo sozinho? Harry viu os olhos claros de Malfoy se voltarem para Dumbledore, � claridade esverdeada da Marca Negra. � N�o � respondeu ele. � Tenho apoio. H� Comensais da Morte em sua escola esta noite. � Bom, bom � comentou Dumbledore, como se Malfoy estivesse lhe mostrando um trabalho escolar ambicioso. � De fato muito bom. Voc� encontrou um meio de traz�-los para dentro, foi? � Foi � replicou Malfoy ofegante. � Bem debaixo do seu nariz, e o senhor nem percebeu! � Engenhoso. Contudo... me perdoe... onde est�o eles? Voc� parece indefeso. � Eles encontraram uma parte de sua guarda. Est�o lutando l� embaixo. N�o v�o demorar... eu vim na frente. Tenho... tenho uma tarefa a fazer. � Bem, ent�o, n�o deve se deter, fa�a-a, meu caro rapaz � disse Dumbledore baixinho. Fez-se sil�ncio. Harry continuava preso em seu corpo invis�vel e paralisado, observando os dois, apurando os ouvidos para os ru�dos da luta distante que travavam os Comensais da Morte e, diante dele, Draco Malfoy s� fazia olhar para Alvo Dumbledore que, inacreditavelmente, sorria. � Draco, Draco, voc� n�o � um assassino. � Como � que o senhor sabe? � replicou Draco prontamente. Ele deve ter percebido como suas palavras soaram infantis; Harry viu-o corar � claridade verde da Marca. � O senhor n�o sabe do que sou capaz � disse o garoto, com mais firmeza �, o senhor n�o sabe o que eu fiz! � Ah, sei, sim � respondeu o diretor brandamente. � Voc� quase matou C�tia Bell e Rony Weasley. Voc� tem tentado, com crescente desespero, me matar o ano todo. Perdoe-me, Draco, mas suas tentativas t�m sido ineficazes... t�o ineficazes, para ser sincero, que me pergunto se, no fundo, voc� realmente queria... � Queria sim! � confirmou Malfoy com veem�ncia. � Estive trabalhando nisso o ano todo, e hoje � noite... De algum ponto nas profundezas do castelo, Harry ouviu um grito abafado. Malfoy se enrijeceu e espiou por cima do ombro. � Algu�m est� resistindo com valentia � comentou Dumbledore em tom de conversa. � Mas voc� ia dizendo... sim, que conseguiu introduzir Comensais da Morte em minha escola, o que, admito, pensei que fosse imposs�vel.., como fez isso? Mas Malfoy n�o respondeu: ainda tentava escutar o que estava acontecendo no andar de baixo, e parecia quase t�o paralisado quanto Harry. � Talvez voc� devesse continuar a tarefa sozinho � sugeriu Dumbledore. � E se o seu apoio tiver sido recha�ado pela minha guarda? Como voc� talvez tenha percebido, h� membros da Ordem da F�nix aqui hoje � noite, tamb�m. E, afinal, voc� n�o precisa realmente de ajuda... n�o tenho varinha no momento... n�o posso me defender. Malfoy apenas olhava o diretor. � Entendo � disse Dumbledore bondosamente, quando viu que Malfoy n�o se mexia nem falava. � Voc� tem medo de agir at� que eles cheguem. � N�o tenho medo! � vociferou Malfoy, embora n�o fizesse movimento para atacar Dumbledore. � O senhor � quem deveria estar com medo! � Mas por qu�? Acho que voc� n�o vai me matar, Draco. Matar n�o � t�o f�cil quanto cr�em os inocentes... portanto, enquanto esperamos por seus amigos, me conte... como foi que voc� os trouxe clandestinamente para dentro? Parece que levou muito tempo para descobrir um meio de fazer isso. Malfoy parecia estar reprimindo o impulso de gritar ou de vomitar. Engoliu em seco e inspirou profundamente v�rias vezes com o olhar fixo em Dumbledore, sua varinha apontando diretamente para o cora��o do diretor. Ent�o, como se n�o conseguisse se conter, ele respondeu: � Tive de consertar aquele Arm�rio Sumidouro que ningu�m usa h� anos. Aquele em que Montague sumiu no ano passado. � Aaaah. O suspiro de Dumbledore foi quase um lamento. Ele fechou os olhos por um instante. � Foi uma id�ia inteligente... h� um par, n�o �? � O outro est� na Borgin & Burkes � respondeu Malfoy �, e os dois formam uma passagem. Montague me contou que ficou preso no Arm�rio de Hogwarts, suspenso no limbo, mas �s vezes ele ouvia o que estava acontecendo na escola e, outras, o que estava acontecendo na loja, como se o Arm�rio se deslocasse entre os dois pontos, mas n�o conseguia que ningu�m o ouvisse... no fim, ele saiu aparatando, apesar de nunca ter passado no teste. Quase morreu na tentativa. Todo o mundo achou que era uma hist�ria realmente empolgante, mas eu fui o �nico que percebi o que significava, nem o Borgin sabia, fui o �nico que percebi que talvez houvesse um jeito de entrar em Hogwarts atrav�s dos Arm�rios, se eu consertasse o que estava quebrado. � Muito bom � murmurou Dumbledore. � Ent�o os Comensais da Morte puderam passar da Borgin & Burkes para a escola e ajud�-lo... um plano inteligente, um plano muito inteligente... e, como voc� diz... bem debaixo do meu nariz... � � � exclamou Malfoy que, bizarramente, parecia extrair coragem e consolo do elogio do diretor. � �, foi! � Houve vezes, no entanto � continuou Dumbledore �, em que voc� perdeu a certeza de que conseguiria consertar o Arm�rio, n�o �? E ent�o lan�ou m�o de recursos �bvios e mal avaliados como me mandar um colar maldito, que estava fadado a ir parar em m�os erradas... envenenar um hidromel que era pouqu�ssimo prov�vel eu beber... � �, mas, nem assim o senhor descobriu quem estava por tr�s disso, n�o �? � debochou Malfoy, enquanto Dumbledore escorregava um pouco pelas ameias, aparentemente perdendo as for�as nas pernas, e Harry lutava sem sucesso, mudamente, contra o feiti�o que o prendia. � Na verdade, descobri. Eu tinha certeza de que era voc�. � Por que n�o me deteve, ent�o? � quis saber Malfoy. � Tentei, Draco. O professor Snape tem vigiado voc� por ordens minhas... � Ele n�o estava obedecendo as suas ordens, ele prometeu a minha m�e... � Naturalmente isto � o que ele lhe diria, Draco, mas... � Ele � um agente duplo, seu velho idiota, ele n�o est� trabalhando para o senhor, o senhor � que pensa que est�! � Devemos concordar em discordar nesse ponto, Draco. Acontece que eu confio no professor Snape... � Bem, ent�o o senhor n�o est� mais entendendo nem controlando nada! � desdenhou mais uma vez Malfoy. � Ele tem me oferecido muita ajuda... querendo toda a gl�ria para ele... querendo um pouco de a��o... "Que � que voc� anda fazendo? Mandou aquele colar, que idiotice, poderia ter estragado tudo..." Mas n�o contei a ele o que estive fazendo na Sala Precisa, ele vai acordar amanha e tudo estar� acabado, e ele n�o ser� mais o favorito do Lorde das Trevas, ele n�o ser� nada comparado a mim, nada! � Muito gratificante � comentou Dumbledore brandamente. � Todos gostamos de receber aplausos pelos nossos esfor�os, � mais do que natural... mas voc� deve ter tido um c�mplice... algu�m em Hogsmeade que p�de passar para C�tia o... o... aaaah... Dumbledore fechou outra vez os olhos e cabeceou como se estivesse prestes a cochilar. � ... naturalmente... Rosmerta. H� quanto tempo ela est� dominada pela Maldi��o Imperius? � Enfim percebeu, n�o �? � ca�oou Malfoy. Ouviu-se um segundo grito vindo do andar de baixo, mais alto do que o anterior. Malfoy olhou mais uma vez, nervosamente, por cima do ombro e, em seguida, para Dumbledore, que continuou: � Ent�o a pobre Rosmerta foi for�ada a se esconder no pr�prio banheiro e passar o colar para a primeira estudante de Hogwarts que entrou l� desacompanhada? E o hidromel envenenado... bem, naturalmente Rosmerta p�de envenen�-lo para voc� antes de mandar a garrafa para Slughorn, acreditando que seria o meu presente de Natal... sim, muito esperto... muito esperto... o coitado do Sr. Filch n�o pensaria, � claro, em verificar uma garrafa do hidromel de Rosmerta... mas diga-me, como esteve se comunicando com a Rosmerta? Pensei que t�nhamos todos os meios de comunica��o de sa�da e entrada da escola monitorados. � Moedas encantadas � respondeu Malfoy, como se sentisse uma compuls�o de continuar falando, embora a m�o com que segurava a varinha tremesse muito. � Fiquei com uma e ela com a outra e, assim, pude lhe mandar mensagens... � N�o foi esse o m�todo secreto de comunica��o que o grupo que se intitulava Armada de Dumbledore usou no ano passado? � indagou Dumbledore. Sua voz era descontra�da e informal, mas Harry o viu escorregar mais uns dois cent�metros pela parede enquanto falava. � �, copiei a id�ia deles � disse Malfoy, com um sorriso enviesado. � Tirei tamb�m a id�ia de envenenar o hidromel da Sangue-Ruim da Granger, ouvi quando ela disse na biblioteca que o Filch n�o era capaz de reconhecer po��es... � Por favor, n�o use essa palavra ofensiva na minha presen�a � pediu Dumbledore. Malfoy deu uma gargalhada desagrad�vel. � O senhor ainda se incomoda que eu esteja dizendo "Sangue-Ruim" quando estou prestes a mat�-lo? � Incomodo-me. � Harry viu os p�s do diretor deslizarem ligeiramente pelo ch�o e ele tentar se manter de p�. � Quanto a estar prestes a me matar, Draco, voc� j� teve longos minutos. Estamos sozinhos. Estou mais indefeso do que voc� poderia ter sonhado em me encontrar e, ainda assim, voc� n�o me matou... Malfoy torceu a boca involuntariamente, como se tivesse provado alguma coisa muito amarga. � Agora, quanto a esta noite � continuou Dumbledore �, estou um pouco intrigado como tudo aconteceu... voc� sabia que eu tinha sa�do da escola? Mas, � claro � ele respondeu � pr�pria pergunta �, Rosmerta me viu saindo, avisou-o usando suas engenhosas moedas, com certeza... � Isto mesmo. Ela me disse que o senhor ia beber alguma coisa, que voltaria... � Bem, sem d�vida eu bebi alguma coisa... e de certa maneira... voltei... � murmurou Dumbledore. � Ent�o, voc� decidiu montar uma armadilha para mim? � Decidimos colocar a Marca Negra sobre a Torre e fazer o senhor voltar correndo para c�, para ver quem tinha sido morto. E deu certo! � Bem... sim e n�o... Mas eu devo entender, ent�o, que ningu�m foi morto? � Algu�m morreu � respondeu Malfoy, e sua voz pareceu subir uma oitava. � Um dos seus... n�o sei quem, estava escuro... passei por cima do corpo... eu devia estar esperando aqui em cima quando o senhor voltasse, s� que aquela sua F�nix se meteu no caminho... � Elas fazem isso � confirmou Dumbledore. Ouviu-se um estampido e gritos embaixo, mais altos que antes; parecia que as pessoas estavam lutando na escada de acesso ao lugar em que se encontravam Dumbledore, Malfoy e Harry, e o cora��o de Harry reboou inaudivelmente em seu peito invis�vel... algu�m fora morto... Malfoy passara por cima do corpo... mas quem seria? � De qualquer maneira, temos pouco tempo � disse Dumbledore. � Ent�o vamos discutir as suas op��es, Draco. � Minhas op��es! � exclamou Malfoy alto. � Estou aqui com uma varinha... prestes a matar o senhor... � Meu caro rapaz, vamos parar de fingir. Se voc� fosse me matar, teria feito isso quando me desarmou, n�o teria parado para conversarmos amenamente sobre meios e modos. � N�o tenho op��es! � respondeu Malfoy, e subitamente ficou t�o p�lido quanto Dumbledore. � Tenho de fazer isto. Ele me matar�! Ele matar� minha fam�lia toda! � Eu avalio a dificuldade de sua posi��o. Por que pensa que n�o o confrontei antes? Porque eu sabia que voc� seria morto se Lord Voldemort percebesse que eu suspeitava de voc�. Malfoy fez uma careta ao ouvir aquele nome. � N�o me atrevi a falar antes sobre a miss�o que lhe fora confiada, prevendo que ele talvez usasse a Legilim�ncia contra voc� � continuou Dumbledore. � Agora, finalmente, podemos falar �s claras... n�o houve mal algum, voc� n�o feriu ningu�m, embora tenha tido muita sorte que suas v�timas impremeditadas sobrevivessem... posso ajud�-lo, Draco. � N�o, n�o pode. � A m�o de Malfoy que empunhava a varinha tremia muito fortemente. � Ningu�m pode. Ele me mandou fazer isso ou me matar�. N�o tenho escolha. � Venha para o lado certo, Draco, e podemos escond�-lo mais completamente do que pode imaginar. E, mais, posso mandar membros da Ordem � sua m�e hoje � noite, e escond�-la tamb�m. Seu pai no momento est� seguro em Azkaban... quando chegar a hora posso proteg�-lo tamb�m... venha para o lado certo, Draco... voc� n�o � assassino... Malfoy arregalou os olhos para Dumbledore. � Mas cheguei at� aqui, n�o? � disse ele lentamente. � Acharam que eu morreria na tentativa, mas estou aqui... e o senhor est� em meu poder... sou eu que empunho a varinha... sua vida depende da minha piedade... � N�o, Draco � respondeu Dumbledore baixinho. � � a minha piedade, e n�o a sua, que importa agora... Malfoy n�o respondeu. Estava boquiaberto, a m�o da varinha continuava a tremer. Harry achou que a vira baixar um nada... Mas, de repente, passos atroaram escada acima e, um segundo depois, Malfoy foi empurrado para longe quando quatro pessoas de vestes negras irromperam pela porta em dire��o �s ameias. Ainda paralisado, assistindo sem piscar, Harry encarou com terror os quatro estranhos: pelo visto, os Comensais da Morte tinham vencido a luta l� embaixo. Um homem pesad�o, com um estranho sorriso enviesado e malicioso, deu uma risadinha asm�tica. � Dumbledore encurralado! � exclamou ele, virando-se para uma mulherzinha atarracada que parecia ser sua irm� e ria ansiosa. � Dumbledore sem varinha, Dumbledore sozinho! Parab�ns, Draco, parab�ns! � Boa-noite, Amico � cumprimentou Dumbledore calmamente, como se lhe desse as boas-vindas ao seu ch� festivo. � E trouxe Aleto tamb�m... que gentileza... A mulher deu uma risadinha zangada. � Ent�o acha que suas gracinhas v�o ajud�-lo no leito de morte? � zombou ela. � Gracinhas? N�o, n�o, s�o boas maneiras � respondeu Dumbledore. � Liquide logo � disse o estranho parado mais pr�ximo de Harry, um homem magro e comprido com espessos cabelos e costeletas grisalhos, cujas vestes negras de Comensal da Morte pareciam desconfortavelmente apertadas. Tinha uma voz que Harry jamais ouvira igual: um latido rouco. O garoto sentiu nele um forte cheiro de terra, suor e, sem d�vida, sangue. Suas m�os imundas tinham longas unhas amarelas. � E voc�, Lobo? � perguntou Dumbledore. � Acertou � respondeu o outro, rouco. � Feliz em me ver, Dumbledore? � N�o, n�o posso dizer que esteja... Fenrir Lobo Greyback riu, mostrando dentes pontiagudos. Um filete de sangue escorria pelo seu queixo, e ele lambeu os l�bios, lenta e obscenamente. � Voc� sabe como gosto de criancinhas, Dumbledore. � Devo entender que voc� agora anda atacando, mesmo fora da lua cheia? Que ins�lito... voc� criou um gosto por carne humana que n�o pode ser satisfeito uma vez por m�s? � Acertou � disse Greyback. � Choca voc� isto, n�o, Dumbledore? Assusta voc�? � Bem, n�o posso fingir que n�o me desgoste um pouco. E, sim, estou um pouco chocado que o Draco, aqui, convidasse logo voc� a vir a uma escola onde seus amigos vivem... � N�o convidei � sussurrou Malfoy. Ele n�o estava olhando para Greyback; parecia nem querer olhar para o lobisomem. � Eu n�o sabia que ele vinha... � Eu n�o iria querer perder uma viagem a Hogwarts, Dumbledore � respondeu roucamente o lobisomem. � N�o quando h� gargantas a estra�alhar... uma del�cia, uma del�cia... E Lobo ergueu uma de suas unhas amarelas e palitou os dentes da frente, olhando, malicioso, para Dumbledore. � Eu poderia estra�alhar voc� de sobremesa... � N�o � interrompeu-o o quarto Comensal da Morte rispidamente. Tinha uma cara sombria e bruta. � Temos as nossas ordens. Draco � quem tem de fazer isso. Agora, Draco, e r�pido. Malfoy demonstrava menos determina��o que nunca. Parecia aterrorizado ao encarar o rosto de Dumbledore, agora ainda mais p�lido e mais baixo do que o normal, porque deslizara bastante pela parede da ameia. � Ele n�o vai demorar muito neste mundo, se quer saber! � comentou o homem do sorriso enviesado, acompanhado pelas risadinhas asm�ticas da irm�. � Olhem s� para ele, que aconteceu com voc�, Dumby? � Ah, menor resist�ncia, reflexos mais lentos, Amico � respondeu Dumbledore. � Em suma, velhice... um dia, talvez, lhe aconte�a o mesmo... se voc� tiver sorte... � Que est� querendo dizer, que est� querendo dizer? � berrou o Comensal da Morte, repentinamente violento. � Sempre o mesmo, n�o �, Dumby, fala, fala e n�o faz nada. Nem sei por que o Lorde das Trevas est� se preocupando em matar voc�! Vamos, Draco, mate de uma vez! Mas naquele momento ouviram-se de novo ru�dos de luta l� embaixo, e uma voz gritou: "Eles bloquearam a escada... Reducto! REDUCTO!" O cora��o de Harry deu um salto: ent�o esses quatro n�o tinham eliminado toda a oposi��o, tinham apenas aberto caminho at� o alto da Torre entre os grupos que lutavam, e, pelos ru�dos, criado uma barreira �s suas costas... � Agora, Draco, r�pido! � falou encolerizado o homem de cara brutal. Mas a m�o de Malfoy tremia tanto, que ele mal conseguia fazer pontaria. � Eu farei isso � rosnou Greyback, andando em dire��o a Dumbledore com as m�os estendidas e os dentes � mostra. � Eu disse n�o! � berrou o homem de cara bruta; houve um lampejo, e o lobisomem foi afastado com viol�ncia; ele bateu nas ameias e cambaleou, enfurecido. O cora��o de Harry batia com tanta for�a que parecia imposs�vel que ningu�m o ouvisse parado ali, aprisionado pelo feiti�o de Dumbledore... se ao menos pudesse se mexer, poderia lan�ar um feiti�o por baixo da capa. � Draco, mate-o ou se afaste, para um de n�s... � guinchou a mulher, mas naquele exato momento a porta para as ameias se escancarou mais uma vez e surgiu Snape, de varinha na m�o, seus olhos negros apreendendo a cena, de Dumbledore apoiado na parede aos quatro Comensais da Morte, incluindo o lobisomem enfurecido e Malfoy. � Temos um problema, Snape � disse o corpulento Amico, cujos olhos e varinha estavam igualmente fixos em Dumbledore �, o menino n�o parece capaz... Mas outra voz chamara Snape pelo nome, baixinho. � Severo... O som assustou Harry mais que qualquer coisa naquela noite. Pela primeira vez, Dumbledore estava suplicando. Snape n�o respondeu, adiantou-se e tirou Malfoy do caminho com um empurr�o. Os tr�s Comensais da Morte recuaram calados. At� o lobisomem pareceu se encolher. Snape fitou Dumbledore por um momento, e havia repugn�ncia e �dio gravados nas linhas duras do seu rosto. � Severo... por favor... Snape ergueu a varinha e apontou diretamente para Dumbledore. � Avada Kedavra! Um jorro de luz verde disparou da ponta de sua varinha e atingiu Dumbledore no meio no peito. O grito de horror de Harry jamais saiu; silencioso e paralisado, ele foi obrigado a presenciar Dumbledore explodir no ar: por uma fra��o de segundo, ele pareceu pairar suspenso sob a caveira brilhante e, em seguida, foi caindo lentamente de costas, como uma grande boneca de trapos, por cima das ameias, e desapareceu de vista. CAP�TULO VINTE E OITO A FUGA DO PR�NCIPE HARRY TEVE A SENSA��O DE QUE ELE tamb�m estava sendo arremessado pelo espa�o; n�o tinha acontecido... n�o podia ter acontecido... � Fora daqui, r�pido � disse Snape. Ele agarrou Malfoy pelo cangote e for�ou-o a sair pela porta, � frente dos outros; Greyback e os irm�os atarracados os seguiram, os dois ofegando agitados. Quando eles desapareceram pela porta, Harry percebeu que recuperara os movimentos; o que o mantinha agora paralisado contra a parede n�o era magia, mas choque e horror. Arrancou a Capa da Invisibilidade na hora em que o Comensal da Morte de cara bruta, o �ltimo a deixar o alto da Torre, ia sumindo pela porta. � Petrificus Totalus! O Comensal da Morte se dobrou como se tivesse sido atingido por algo s�lido e caiu no ch�o, r�gido como uma est�tua de cera, mas mal acabara de bater no ch�o e Harry j� passava por cima dele e descia correndo a escada escura. O terror assaltava Harry... tinha de chegar a Dumbledore e tinha de pegar Snape... por alguma raz�o, as duas coisas estavam ligadas... poderia reverter o que acontecera se pudesse juntar os dois... Dumbledore n�o podia ter morrido... Ele saltou os dez �ltimos degraus da escada espiral e parou onde aterrissara, a varinha em punho: o corredor mal iluminado estava cheio de poeira; metade do teto parecia ter cedido e, � sua frente, travava-se uma batalha violenta. Enquanto ele tentava distinguir quem enfrentava quem, ouviu a voz que odiava gritar: "Acabou, hora de partir!", e viu Snape virar no fim do corredor; ele e Malfoy pareciam ter aberto caminho entre os combatentes e escapado ilesos. Quando Harry se atirou no encal�o deles, um dos bruxos se destacou do conflito e avan�ou para ele; era o lobisomem Greyback. Derrubou Harry antes que ele pudesse erguer a varinha: o garoto caiu de costas, sentindo os cabelos imundos no rosto, o fedor de suor, e o sangue na boca e no nariz, um bafo quente e voraz em seu pesco�o... � Petrificus Totalus! Harry sentiu Greyback desmontar em cima dele; com um esfor�o descomunal, ele empurrou o lobisomem no ch�o na hora em que um jorro de luz verde veio em sua dire��o; ele desviou-se e mergulhou no meio dos combatentes. Seus p�s bateram em alguma coisa mole e escorregadia no ch�o, e ele perdeu o equil�brio: havia dois corpos ca�dos ali, de cara para baixo, em uma po�a de sangue, mas n�o havia tempo para investigar. Harry viu uma cabeleira vermelha agitando-se como l�nguas de fogo � sua frente. Gina lutava contra o Comensal da Morte pesad�o, Amico, que lan�ava feiti�o sobre feiti�o contra a garota, que se desviava; o bruxo ria, sentindo prazer no esporte: � Crucia.. Crucio... voc� n�o pode dan�ar para sempre, lindinha... � Impedimento! � berrou Harry. Seu feiti�o atingiu Amico no peito. Ele soltou um guincho porcino de dor ao ser arrebatado e arremessado contra a parede oposta, de onde deslizou para o ch�o e desapareceu atr�s de Rony, da professora McGonagall e Lupin, cada qual enfrentando um Comensal da Morte; mais al�m, Harry viu Tonks dando combate a um enorme bruxo louro que lan�ava feiti�os em todas as dire��es, fazendo-os ricochetear nas paredes em volta, rachar pedra e estilha�ar a janela mais pr�xima... � Harry, de onde � que voc� veio? � gritou Gina, mas n�o havia tempo para responder. O garoto baixou a cabe�a e prosseguiu disparado pelo corredor, escapando por um triz de algo que explodiu acima de sua cabe�a, fazendo chover cacos de parede sobre todos. Snape n�o podia escapar, ele tinha de pegar Snape... � Isto � para voc�! � gritou a professora McGonagall, e Harry viu de relance a mulher Comensal da Morte, Aleto, fugindo pelo corredor com os bra�os sobre a cabe�a, o irm�o em seus calcanhares. Harry disparou atr�s dos dois, mas seu p� prendeu em alguma coisa e, no momento seguinte, ele estava ca�do sobre as pernas de algu�m. Olhando para os lados, identificou o rosto p�lido e redondo de Neville chapado no ch�o. � Neville, voc� est�...? � T� bem � murmurou ele, apertando a barriga. � Harry... Snape e Malfoy... passaram correndo... � Eu sei, estou sabendo! � respondeu Harry no ch�o, mirando um feiti�o no Comensal da Morte respons�vel por grande parte do caos. Atingido no rosto, o homem soltou um uivo de dor; virou-se, cambaleou e, ent�o, bateu em retirada atr�s de Amico e Aleto. Harry se ergueu do ch�o e tornou a desembestar pelo corredor, sem dar aten��o aos estampidos �s suas costas, aos chamados dos outros para que voltasse e ao grito mudo dos vultos ca�dos, cujo destino ele ainda desconhecia... Derrapou na curva, seus t�nis sujos de sangue escorregavam; Snape levava uma enorme dianteira � era poss�vel que j� tivesse entrado no Arm�rio na Sala Precisa, ou ser� que a Ordem tomara provid�ncias para fech�-lo e impedir que os Comensais da Morte se retirassem por ali? Harry n�o ouvia nada, exceto as batidas dos pr�prios p�s correndo, do pr�prio cora��o ribombando enquanto acelerava pelo corredor seguinte, deserto. Ent�o, ele viu marcas de sangue no ch�o indicando que pelo menos um dos Comensais da Morte fugitivos rumava para as portas de entrada � talvez a Sala Precisa estivesse, de fato, bloqueada... Harry entrou derrapando por outro corredor, e um feiti�o passou voando; ele mergulhou atr�s de uma armadura que explodiu; viu, ent�o, os irm�os Comensais que desciam correndo a escadaria de m�rmore e disparou feiti�os contra os dois, mas atingiu apenas v�rias bruxas de peruca, em um quadro do patamar, que fugiram aos guinchos para os quadros vizinhos; quando transpunha os destro�os da armadura, Harry ouviu mais gritos; outras pessoas no castelo pareciam ter acordado... Lan�ou-se por um atalho, na esperan�a de ultrapassar os irm�os e alcan�ar Snape e Malfoy, que, �quela altura, certamente j� teriam chegado aos jardins; lembrando-se de saltar o degrau que sumia na metade da escada secreta, ele irrompeu pela tape�aria que havia embaixo e saiu em um corredor onde estavam parados v�rios alunos da Lufa-Lufa de pijama, desnorteados. � Harry! Ouvimos um barulho, e algu�m mencionou a Marca Negra... � come�ou Ernesto Macmillan. � Sai do caminho! � berrou Harry, empurrando dois garotos e correndo em dire��o ao patamar e ao �ltimo lance da escadaria de m�rmore. As portas de carvalho na entrada tinham sido arrombadas; havia manchas de sangue no ch�o, e v�rios estudantes aterrorizados se encolhiam �s paredes, uns dois deles cobriam o rosto com os bra�os; a enorme ampulheta da Grifin�ria fora atingida por um feiti�o, e os rubis que continha ainda ca�am, produzindo um ru�do seco no piso lajeado... Harry voou pelo Sagu�o de Entrada e saiu para os jardins escuros: mal conseguia divisar tr�s vultos que corriam pelo gramado em dire��o aos port�es, onde poderiam Aparatar � pelo jeito, o enorme Comensal da Morte louro e, mais � frente, Snape e Malfoy... Harry sentiu o ar frio da noite dilacerar seus pulm�es quando disparou atr�s deles; ele viu um lampejo ao longe que momentaneamente recortou a silhueta dos fugitivos; apesar de n�o saber o que seria, continuou a correr, ainda n�o se aproximara o suficiente para fazer pontaria... Outro lampejo, gritos, jorros de luz em resposta, e Harry entendeu: Hagrid sa�ra de sua cabana e estava tentando deter os Comensais da Morte em fuga e, embora cada hausto parecesse rasgar seus pulm�es e a pontada em seu peito ardesse como uma labareda, Harry acelerou enquanto uma voz em sua cabe�a dizia: Hagrid n�o... Hagrid tamb�m n�o... Alguma coisa atingiu Harry, com for�a, nos rins, e ele caiu; seu rosto bateu no ch�o, o sangue espirrou das narinas: concluiu, mesmo enquanto se virava, com a varinha em punho, que os irm�os que ele ultrapassara ao pegar o atalho se aproximavam �s suas costas... � Impedimento! � berrou ele, tornando a se virar, agachando-se rente ao ch�o escuro e, milagrosamente, seu feiti�o atingiu um deles, que cambaleou e caiu, derrubando o outro; Harry ergueu-se de um salto e continuou a correr atr�s de Snape... E, � claridade da lua crescente que surgiu inesperadamente por tr�s das nuvens, ele viu a vasta silhueta de Hagrid; o Comensal da Morte louro alvejava-o com sucessivos feiti�os, mas a imensa for�a de Hagrid e a pele dura que herdara da m�e giganta pareciam proteg�-lo; Snape e Malfoy, no entanto, continuavam a correr; logo estariam fora dos port�es, e poderiam Aparatar... Harry passou, desembalado, por Hagrid e seu oponente, mirou nas costas de Snape e berrou: � Estupefa�a! Errou; o jorro de luz vermelha passou ao largo da cabe�a de Snape; o professor gritou: "Corra, Draco!", e virou-se; a uns dezoito metros de dist�ncia, ele e Harry se encararam antes de erguer simultaneamente as varinhas. -Cruc... Snape, por�m, aparou o feiti�o, derrubando Harry para tr�s antes que ele pudesse completar a maldi��o. O garoto rolou para um lado e tornou a se levantar na hora em que o enorme Comensal �s suas costas berrou: "Inc�ndio!"; Harry ouviu uma forte explos�o e uma luz laranja se derramou sobre todos: a casa de Hagrid estava pegando fogo. � Canino est� preso l� dentro, seu maligno...! � urrou Hagrid. � Cruc... � berrou Harry pela segunda vez, mirando no vulto iluminado � luz das chamas, mas Snape tornou a bloquear o feiti�o; Harry podia ver seu sorriso desdenhoso. � Suas Maldi��es Imperdo�veis n�o me atingem, Potter! � gritou ele, sobrepondo-se ao ru�do das chamas, aos gritos de Hagrid e aos ganidos alucinados de Canino. � Voc� n�o tem a coragem nem a habilidade... � Incarc... � urrou Harry, mas Snape desviou o feiti�o com um gesto quase indolente. � Revide � gritou Harry. � Revide, seu covarde... � Voc� me chamou de covarde, Potter? � gritou Snape. � Seu pai nunca me atacava, a n�o ser que fossem quatro contra um, que nome voc� daria a ele? � Stupe... � Bloqueado outra vez e outra e mais outra, at� voc� aprender a manter a boca e a mente fechadas, Potter! � debochou Snape, desviando mais uma vez o feiti�o. � Agora, venha! � gritou o professor para o Comensal da Morte �s costas de Harry. � Est� na hora de ir, antes que o Minist�rio apare�a. � Impedi... Antes, por�m, que Harry pudesse terminar o feiti�o, sentiu uma dor excruciante; tombou no gramado, algu�m estava gritando, ele certamente morreria de tormento, Snape ia tortur�-lo at� morrer ou enlouquecer... � N�o! � urrou Snape, e a dor parou t�o subitamente quanto come�ara; Harry ficou enroscado no gramado escuro, apertando a varinha ofegante; em algum lugar no alto, Snape gritava: � Voc� esqueceu as suas ordens? Potter pertence ao Lorde das Trevas... temos de deix�lo! V�! V�! E Harry sentiu o ch�o estremecer sob seu rosto quando os irm�os e o enorme Comensal em obedi�ncia correram para os port�es. O garoto soltou um grito inarticulado de raiva: naquele instante, n�o se importava se ia viver ou morrer; pondo-se em p� com esfor�o, ele cambaleou �s cegas em dire��o a Snape, o homem que agora ele odiava tanto quanto odiava o pr�prio Voldemort... � Sectum... Snape acenou com a varinha, e o feiti�o foi de novo repelido; mas Harry agora estava a poucos passos, e finalmente podia ver com clareza o rosto de Snape: ele j� n�o ria desdenhoso nem ca�oava; as labaredas mostravam um rosto enfurecido. Reunindo todo o seu poder de concentra��o, Harry pensou Levi... � N�o, Potter! � gritou Snape. Houve um forte estampido e Harry voou para tr�s, tornando a bater duramente no ch�o e, desta vez, a varinha escapou-lhe da m�o. Ele ouvia os gritos de Hagrid e os uivos de Canino, quando Snape se aproximou e contemplou-o ali ca�do, sem varinha, indefeso como Dumbledore estivera. O rosto p�lido do professor, iluminado pela cabana em chamas, estava impregnado de �dio, tal como estivera pouco antes de amaldi�oar Dumbledore. � Voc� se atreve a usar os meus feiti�os contra mim, Potter? Fui eu quem os inventei: eu, o Pr�ncipe Mesti�o! E voc� viraria as minhas inven��es contra mim, como o nojento do seu pai, n�o �? Eu acho que n�o... n�o! Harry mergulhara para recuperar a varinha; Snape lan�ou um feiti�o na varinha, que voou longe, no escuro, e desapareceu de vista. � Me mate, ent�o � ofegou Harry, que n�o sentia o menor medo, apenas raiva e desd�m. � Me mate como matou ele, seu covarde... � N�O... � gritou Snape, e seu rosto ficou inesperadamente desvairado, desumano, como se sentisse tanta dor quanto o c�o que gania e uivava preso na casa incendiada �s suas costas � ... ME CHAME DE COVARDE! E ele golpeou o ar: Harry sentiu uma esp�cie de chicotada em brasa atingi-lo no rosto e foi atirado de costas no ch�o. Manchas luminosas explodiram diante de seus olhos e, por um momento, todo o ar pareceu ter fugido do seu corpo, ent�o, ele ouviu um farfalhar de asas no ar e uma coisa enorme obscureceu as estrelas: Bicu�o mergulhara contra Snape, que cambaleou para tr�s ao ser atacado por garras afiad�ssimas. Enquanto Harry procurava sentar, a cabe�a atordoada pelo �ltimo impacto contra o ch�o, ele viu Snape a toda velocidade, o enorme animal perseguindo-o, aos gritos, como Harry jamais o vira gritar... O garoto levantou-se com dificuldade, procurando, �s tontas, a varinha, na esperan�a de prosseguir em sua ca�ada, mas, mesmo enquanto apalpava a grama, catando gravetos, percebeu que seria tarde demais; de fato, at� conseguir localizar a varinha e se virar, ele viu apenas o hipogrifo circulando sobre os port�es. Snape conseguira Aparatar fora dos limites da escola. � Hagrid � murmurou Harry, ainda atordoado, olhando para os lados. � HAGRID? Ele cambaleava em dire��o � casa em chamas quando um enorme vulto emergiu da cabana, carregando Canino �s costas. Com um grito de agradecimento, Harry caiu de joelhos; todos os seus membros tremiam, seu corpo do�a inteiro, e sua respira��o provocava pontadas dolorosas. � Voc� t� bem, Harry? Voc� t� bem? Fala comigo, Harry... O enorme rosto peludo de Hagrid pairava acima de Harry, escondendo as estrelas. O garoto sentia o cheiro de madeira e p�lo de cachorro queimados; ele esticou a m�o e tocou o corpo quente e vivo de Canino, agitando-se ao lado dele. � Estou bem � ofegou Harry. � E voc�? � Claro que estou... precisa mais do que isso para me liquidar. Hagrid enfiou as m�os por baixo dos bra�os de Harry e ergueu-o com tal for�a que os p�s do garoto abandonaram momentaneamente o ch�o, enquanto o gigante o punha de p�. Harry viu o sangue escorrendo pelo rosto do amigo, o corte profundo embaixo de um olho que inchava rapidamente. � Dev�amos apagar o inc�ndio em sua casa � disse Harry �, o feiti�o � Aguamenti... � Eu sabia que era alguma coisa assim � murmurou Hagrid, e erguendo um fumegante guarda-chuva rosa florido ordenou: � Aguamenti! Um jorro de �gua saiu da ponta do guarda-chuva. Harry ergueu o bra�o da varinha que parecia de chumbo e tamb�m murmurou: "Aguamenti"; juntos, ele e Hagrid despejaram �gua na casa at� que a �ltima chama se extinguisse. � N�o t� muito ruim � comentou Hagrid esperan�oso alguns minutos depois, olhando para o rescaldo fumegante. � Nada que Dumbledore n�o possa consertar... Harry sentiu uma dor lancinante no est�mago ao som desse nome. No sil�ncio e quietude, o horror despertou em seu �ntimo. � Hagrid... � Eu estava enfaixando as pernas de uns tronquilhos, quando ouvi os Comensais vindo � disse Hagrid triste, ainda contemplando a cabana destru�da. � Devem ter queimado os gravetos, os coitadinhos... � Hagrid... � Mas que aconteceu, Harry? Vi os Comensais da Morte descerem correndo do castelo, mas que diabos o Snape estava fazendo no meio deles? Aonde � que ele foi?... Estava perseguindo eles? � Ele... � Harry pigarreou; a garganta seca com o p�nico e a fuma�a. � Hagrid, ele matou... � Matou? � exclamou Hagrid em voz alta, encarando Harry. � Snape matou? De que voc� est� falando, Harry? � Dumbledore. Snape matou... Dumbledore. Hagrid ficou olhando para ele, o pouco do seu rosto � mostra manifestava total incompreens�o. � Dumbledore o qu�, Harry? � Est� morto. Snape o matou... � N�o diz isso � censurou-o Hagrid com rispidez. � Snape matar Dumbledore... n�o seja idiota, Harry. De onde tirou essa id�ia? � Vi acontecer. � N�o pode ter visto. � Vi, Hagrid. Hagrid sacudiu a cabe�a; em seu rosto havia uma express�o incr�dula mas simp�tica, e Harry percebeu que o amigo pensava que ele tivesse levado uma pancada na cabe�a, que estivesse atordoado, talvez com seq�elas de um feiti�o... � O que deve ter acontecido foi que Dumbledore deve ter mandado Snape acompanhar os Comensais da Morte � explicou Hagrid confiante. � Imagino que ele precise manter o disfarce. Olhe, vamos levar voc� de volta � escola. Venha, Harry... O garoto n�o tentou discutir nem explicar. Ainda tremia descontroladamente. Cedo Hagrid descobriria, cedo demais... Quando caminhavam para o castelo, Harry observou que agora havia luz em muitas janelas: podia imaginar nitidamente as cenas quando as pessoas fossem, de um aposento a outro, contar que os Comensais da Morte tinham entrado, que a Marca brilhava sobre Hogwarts, que algu�m devia ter sido morto... � frente, as portas de carvalho estavam abertas, inundando de luz a estrada e o gramado. Insegura e lentamente, pessoas vestidas com roup�es desciam os degraus da entrada, procurando, nervosas, sinal dos Comensais da Morte que tinham se embrenhado na noite. Os olhos de Harry, por�m, estavam fixos no gramado ao p� da torre mais alta. Imaginou ver ca�da ali uma massa escura, embora estivesse realmente muito longe para enxergar alguma coisa. Mesmo enquanto olhava em sil�ncio o lugar onde supunha que o corpo de Dumbledore estivesse, ele viu gente come�ando a se deslocar para l�. � Que � que todos est�o olhando? � perguntou Hagrid, quando os dois se aproximaram da fachada do castelo, Canino colado aos seus calcanhares. � Que � aquilo ca�do no gramado? � perguntou Hagrid bruscamente, rumando para a Torre de Astronomia, onde ia se formando um pequeno ajuntamento. � Est� vendo, Harry? Bem no p� da Torre? Embaixo do lugar onde a Marca... caramba... voc� acha que algu�m foi atirado...? Hagrid se calou, o pensamento parecia terr�vel demais para ser expresso em voz alta. Harry caminhava ao seu lado, sentindo o desconforto e as dores no rosto e nas pernas onde fora atingido por feiti�os, na �ltima meia hora, embora de um modo estranhamente neutro, como se outro algu�m pr�ximo a ele os sentisse. Real e inelut�vel era a sensa��o terr�vel que comprimia o seu peito... Ele e Hagrid atravessaram, como em sonho, a multid�o que murmurava at� bem � frente, onde estudantes e professores estarrecidos tinham deixado uma clareira. Harry ouviu o lamento de dor e surpresa de Hagrid, mas n�o parou; continuou a avan�ar at� chegar onde Dumbledore jazia, e se agachou ao seu lado. O garoto percebera que n�o havia esperan�a no instante em que o Feiti�o do Corpo Preso que Dumbledore lan�ara sobre ele cessara; percebera que aquilo s� poderia ter acontecido porque quem lan�ara o feiti�o estava morto; contudo, ainda n�o tinha se preparado para v�-lo ali, de bra�os e pernas abertos, quebrado: o maior bruxo que Harry conhecera ou jamais conheceria. Os olhos de Dumbledore estavam fechados; exceto pelo estranho �ngulo dos bra�os e pernas, ele poderia estar dormindo. Harry estendeu a m�o, acertou os oclinhos de meia-lua no nariz torto do diretor e limpou um filete de sangue de sua boca, com a manga das pr�prias vestes. Ent�o, contemplou o rosto velho e s�bio, e tentou absorver a enorme e incompreens�vel verdade: nunca mais Dumbledore falaria com ele, nunca mais poderia ajudar... A multid�o murmurava �s costas de Harry. Decorrido o que lhe pareceu um longo tempo, ele tomou consci�ncia de que estava ajoelhado em cima de algo duro, e olhou para baixo. O medalh�o que tinham conseguido roubar, havia tantas horas, ca�ra do bolso de Dumbledore e abrira-se, talvez em conseq��ncia da for�a com que batera no ch�o. E, embora Harry n�o pudesse sentir maior choque, horror ou tristeza do que j� sentia, ele percebeu, ao apanh�-lo, que alguma coisa estava errada... Revirou o medalh�o nas m�os. N�o era t�o grande quanto o que vira na Penseira, nem tinha marcas distintivas, nenhum sinal do S caprichoso que supostamente era a ins�gnia de Slytherin. Al�m disso, n�o havia nada dentro a n�o ser um peda�o de pergaminho dobrado e encaixado � for�a onde devia haver um retrato. Com um gesto autom�tico, sem realmente pensar no que fazia, Harry tirou o fragmento de pergaminho, abriu-o e leu-o � luz das muitas varinhas agora acesas atr�s: Ao Lorde das Trevas Sei que h� muito estarei morto quando ler isto, mas quero que saiba que fui eu quem descobriu o seu segredo. Roubei a Horcrux verdadeira e pretendo destru�-la assim que puder. Enfrento a morte na esperan�a de que, quando voc� encontrar um advers�rio � altura, ter� se tornado outra vez mortal. R.AB. Harry n�o sabia o que significava aquela mensagem nem se importava com isso. Uma �nica coisa importava: aquilo n�o era uma Horcrux. Dumbledore se enfraquecera bebendo a terr�vel po��o para nada. Harry amassou o pergaminho na m�o e as l�grimas queimaram seus olhos no momento em que, �s suas costas, Canino come�ava a uivar. CAPITULO VINTE E NOVE O LAMENTO DA FENIX � VEM C�, HARRY... � N�o. � Voc� n�o pode ficar a�, Harry... agora vem... � N�o. Ele n�o queria sair do lado de Dumbledore, n�o queria ir a lugar nenhum. A m�o de Hagrid em seu ombro tremia. Ent�o, outra voz disse: � Harry, vamos. Uma m�o menor e mais quente envolvera a dele e puxava-o para cima. Ele cedeu � press�o, sem realmente pensar. Somente quando estava atravessando, �s cegas, o aglomerado de pessoas percebeu, por um leve perfume floral no ar, que era Gina quem o levava de volta ao castelo. Vozes incompreens�veis o bombardearam, solu�os, gritos e lamentos perfuraram a noite, mas Harry e Gina seguiram andando, subiram os degraus de pedra para o sagu�o: rostos flutuavam na periferia da vis�o de Harry, pessoas o espiavam, sussurrando, se questionando, e os rubis da Grifin�ria cintilavam no ch�o como gotas de sangue quando se dirigiram � escadaria de m�rmore. � Vamos � ala hospitalar. � N�o estou ferido � respondeu Harry. � S�o ordens da McGonagall � argumentou Gina. � Todos est�o l�, Rony, Hermione, Lupin, todo o mundo... O medo tornou a se agitar no peito de Harry; esquecera-se dos vultos inertes que deixara para tr�s. � Gina, quem mais morreu? � N�o se preocupe, n�o foi nenhum dos nossos. � Mas a Marca Negra... Malfoy disse que passou por cima de um corpo... � Passou por cima de Gui, mas tudo bem, ele est� vivo. Havia, no entanto, alguma coisa na voz dela que Harry identificou como um mau agouro. � Voc� tem certeza? � Claro que tenho... ele est� meio... meio avariado, � s�. Greyback o atacou. Madame Pomfrey diz que ele n�o ser� mais o mesmo... � A voz de Gina tremeu um pouquinho. � N�o sabemos realmente quais ser�o as seq�elas... quero dizer, Greyback � um lobisomem, mas na hora estava sob forma humana. � Mas os outros... vi outros corpos no ch�o... � Neville est� na ala hospitalar, mas Madame Pomfrey acha que vai se recuperar totalmente, e o professor Flitwick foi nocauteado, mas est� bem, s� um pouco abalado. Ele insistiu em sair para cuidar do pessoal da Corvinal. E h� um Comensal morto, foi atingido por uma Maldi��o da Morte que o louro grandalh�o estava lan�ando para todo lado... Harry, se n�o tiv�ssemos a sua Felix Felicis, acho que ter�amos sido mortos, mas tudo parecia se desviar de n�s... Tinham chegado � ala hospitalar, quando empurraram as portas, Harry viu Neville deitado, aparentemente adormecido, em uma cama pr�xima. Rony, Hermione, Luna, Tonks e Lupin estavam agrupados em torno de outra cama, no extremo oposto da enfermaria. Ao ouvirem as portas se abrindo, todos se viraram. Hermione correu para Harry e abra�ou-o; Lupin se adiantou tamb�m, ansioso. � Voc� est� bem, Harry? � Estou �timo... e o Gui? Ningu�m respondeu. Harry olhou por cima do ombro de Hermione e viu um rosto irreconhec�vel no travesseiro de Gui, t�o cortado e despeda�ado que parecia grotesco. Madame Pomfrey aplicava em seus ferimentos um ung�ento verde de cheiro acre. Harry lembrou-se de Snape fechando com simples acenos de varinha os ferimentos produzidos pelo Sectumsempra em Malfoy. � A senhora n�o pode fechar os ferimentos com um feiti�o ou outra coisa qualquer? � perguntou Harry � enfermeira. � N�o tem feiti�o que d� resultado. J� experimentei tudo que sei, mas n�o h� cura para mordidas de lobisomem. � Mas ele n�o foi mordido na lua cheia � lembrou Rony, que fixava o rosto do irm�o, como se pudesse for�ar a cura s� de olhar. � Greyback n�o estava transformado, ent�o, com certeza, Gui n�o vai virar um... um verdadeiro...? O garoto olhou inseguro para Lupin. � N�o, n�o acho que Gui v� virar um lobisomem de verdade � concordou Lupin �, mas isto n�o significa que n�o haja alguma contamina��o. S�o ferimentos malditos. Provavelmente n�o cicatrizar�o totalmente... e Gui talvez adquira alguma caracter�stica lupina daqui para a frente. � Dumbledore talvez saiba alguma coisa que d� jeito � falou Rony. � Cad� ele? Gui lutou contra aqueles man�acos por ordem dele. Dumbledore tem obriga��es para com ele, n�o pode deixar meu irm�o assim... � Rony... Dumbledore est� morto � disse Gina. � N�o! � Lupin olhou desvairado de Gina para Harry, como se esperasse que o garoto a desmentisse, mas ao ver que Harry n�o o fez, Lupin desmontou em uma cadeira ao lado da cama de Gui, as m�os cobrindo o rosto. Harry nunca vira Lupin se descontrolar; teve a sensa��o de estar invadindo algo privado, indecente; ele virou a cabe�a e deparou com Rony, com quem trocou um olhar silencioso que confirmava o que Gina acabara de dizer. � Como foi que ele morreu? � sussurrou Tonks. � Como foi que aconteceu? � Snape o matou � respondeu Harry. � Eu estava l� e vi. Voltamos direto para a Torre de Astronomia porque vimos a Marca l�... Dumbledore estava mal, fraco, mas acho que percebeu que era uma armadilha quando ouviu passos r�pidos subindo a escada. Ele me imobilizou, n�o pude fazer nada, estava coberto pela Capa da Invisibilidade... ent�o, Malfoy entrou e desarmou Dumbledore... Hermione levou as m�os � boca, e Rony gemeu. A boca de Luna tremeu. � ... chegaram mais Comensais da Morte... depois Snape... e Snape o matou. A Avada Kedavra. � Harry n�o conseguiu prosseguir. Madame Pomfrey caiu no choro. Ningu�m lhe deu aten��o a n�o ser Gina, que sussurrou: � Psiu! Escute! Engolindo em seco, Madame Pomfrey apertou a boca com os dedos, olhos arregalados. Em algum lugar l� fora, na escurid�o, uma F�nix cantava de um jeito que Harry jamais ouvira: um lamento comovido de terr�vel beleza. E ele sentiu, como antes sentira ao ouvir o canto da f�nix, que a m�sica vinha de dentro e n�o de fora dele: era o seu pr�prio pesar que se transformava magicamente em canto, ecoava pelos jardins e entrava pelas janelas do castelo. Quanto tempo ficaram ali escutando, ele n�o sabia, nem por que o som do pr�prio luto parecia aliviar um pouco sua dor, mas pareceu ter decorrido um longo tempo at� a porta do hospital se abrir e a professora McGonagall entrar. Como os demais, ela apresentava marcas da batalha recente: tinha arranh�es no rosto e as vestes rasgadas. � Molly e Arthur est�o a caminho � anunciou ela, e o encanto da m�sica se quebrou: todos despertaram como se sa�ssem de um transe, tornaram a se virar para Gui, ou ent�o esfregaram os olhos, ou sacudiram a cabe�a. � Harry, que aconteceu? Segundo Hagrid, voc� estava com o professor Dumbledore quando ele... quando aconteceu. Ele diz que o professor Snape esteve envolvido em alguma... � Snape matou Dumbledore � respondeu Harry. Ela o encarou por um momento, ent�o seu corpo balan�ou de modo alarmante; Madame Pomfrey, que parecia ter se controlado, acorreu depressa, e, do nada, conjurou uma cadeira que empurrou para baixo de McGonagall. � Snape � repetiu McGonagall com um fio de voz, desabando na cadeira. � Todos nos pergunt�vamos... mas ele confiava... sempre... Snape... n�o consigo acreditar... � Snape era um Oclumente excepcionalmente talentoso � comentou Lupin, sua voz anormalmente �spera. � Sempre soubemos disso. � Mas Dumbledore jurou que ele estava do nosso lado! � sussurrou Tonks. � Sempre pensei que Dumbledore soubesse alguma coisa de Snape que ignor�vamos... � Ele sempre insinuou que tinha uma raz�o inabal�vel para confiar em Snape � murmurou a professora McGonagall, agora secando as l�grimas nos cantos dos olhos com um len�o debruado em tecido escoc�s. � Quero dizer... com o passado de Snape... � claro que as pessoas duvidavam... mas Dumbledore me confirmou, de modo expl�cito, que o arrependimento de Snape era absolutamente sincero... n�o queria ouvir uma palavra contra ele. � Eu adoraria saber o que Snape disse para convenc�-lo � comentou Tonks. � Eu sei � disse Harry, e todos se viraram, encarando-o. � Snape passou a Voldemort a informa��o que fez Voldemort ca�ar meus pais. Ent�o, Snape disse a Dumbledore que n�o tinha consci�ncia do que estava fazendo, que lamentava realmente o que tinha feito, lamentava que eles tivessem morrido. � E Dumbledore acreditou nisso? � perguntou Lupin incr�dulo. � Acreditou que Snape lamentava a morte de Tiago? Snape odiava Tiago... � E achava que minha m�e tamb�m n�o valia nada porque tinha nascido trouxa... "Sangue- Ruim", foi como a chamou... Ningu�m perguntou como Harry sabia disso. Todos pareciam estar absortos no horror da revela��o, tentando digerir a verdade monstruosa do que acontecera. � � tudo minha culpa � disse subitamente a professora McGonagall. Ela parecia desorientada, torcia o len�o molhado nas m�os. � Minha culpa. Mandei Filio chamar Snape esta noite, mandei busc�-lo para vir nos ajudar! Se eu n�o tivesse alertado Snape para o que estava acontecendo, talvez ele nunca tivesse se reunido aos Comensais da Morte. Acho que ele n�o sabia que estavam na escola at� Filio lhe contar, acho que Snape n�o sabia que eles vinham. � N�o � sua culpa, Minerva � disse Lupin com firmeza. � Todos quer�amos mais ajuda, ficamos contentes quando soubemos que Snape estava a caminho... � Ent�o, quando chegou ao lugar do confronto, ele se passou para o lado dos Comensais da Morte? � perguntou Harry, que queria saber cada detalhe da duplicidade e inf�mia de Snape, reunindo febrilmente mais raz�es para odi�-lo, para lhe jurar vingan�a.. � N�o sei exatamente como aconteceu � disse a professora McGonagall perturbada. � � tudo t�o confuso... Dumbledore tinha nos dito que ia se ausentar da escola por algumas horas e que dev�amos patrulhar os corredores s� por precau��o... Remo, Gui e Ninfadora viriam se reunir a n�s... ent�o patrulhamos. Tudo parecia tranq�ilo. Todas as passagens secretas para fora da escola estavam vigiadas. Sab�amos que ningu�m poderia entrar pelo ar. Havia poderosos encantamentos sobre cada entrada do castelo. Continuo sem saber como � poss�vel que os Comensais da Morte tenham entrado... � Eu sei � interp�s Harry, e explicou brevemente a exist�ncia do par de Arm�rios Sumidouros e a passagem m�gica que formavam. � Eles entraram pela Sala Precisa. Quase involuntariamente, ele olhou para Rony e Hermione, que pareciam arrasados. � Meti os p�s pelas m�os, Harry � disse Rony sombriamente. � Fizemos o que voc� pediu: consultamos o Mapa do Maroto e n�o vimos o Malfoy, e pensamos que devia estar na Sala Precisa, ent�o eu, Gina e Neville fomos montar guarda... mas Malfoy conseguiu passar por n�s. � Ele saiu da Sala mais ou menos uma hora depois que come�amos a vigiar � acrescentou Gina. � Estava sozinho, segurando aquele horr�vel bra�o seco... � A M�o da Gl�ria � explicou Rony. � S� o portador enxerga, lembram? � De qualquer forma � continuou Gina �, ele devia estar conferindo se a barra estava limpa para deixar os Comensais sa�rem, porque, no momento em que nos viu, ele lan�ou alguma coisa no ar e ficou tudo escuro como breu... � P� Escurecedor Instant�neo do Peru � esclareceu Rony, com amargura. � Do Fred e do Jorge. Vou ter uma conversinha com eles a respeito das pessoas que eles deixam comprar os produtos da loja. � Tentamos tudo: Lumus, Inc�ndio � explicou Gina. � Nada penetrou a escurid�o; s� nos restou sair tateando pelo corredor, enquanto ouv�amos gente passar correndo por n�s. E �bvio que Malfoy estava enxergando por causa da tal M�o da Gl�ria, e orientou os Comensais, mas n�o nos atrevemos a lan�ar feiti�os nem nada, com medo de atingirmos a n�s mesmos, e at� chegarmos a um corredor iluminado, eles j� tinham ido embora. � Sorte a de voc�s � disse Lupin rouco. � Rony, Gina e Neville toparam conosco quase em seguida e nos contaram o que tinha acontecido. Encontramos os Comensais da Morte minutos depois, a caminho da Torre de Astronomia. � �bvio que Malfoy n�o esperava que houvesse mais gente vigiando; pelo jeito, tinha esgotado o suprimento de P� Escurecedor. Lutamos, eles se dispersaram e n�s os perseguimos. Um deles, Gibbon, escapou e subiu a escada da Torre... � Para lan�ar a Marca? � perguntou Harry. � Deve ter feito isso, sim, eles devem ter combinado antes de deixarem a Sala Precisa � disse Lupin. � Mas acho que Gibbon n�o gostou da id�ia de esperar l� em cima por Dumbledore, sozinho, porque voltou correndo para se juntar aos que estavam lutando e foi atingido por uma Maldi��o da Morte, que por pouco n�o me atingiu tamb�m. � Ent�o, enquanto Rony estava vigiando a Sala Precisa com Gina e Neville � perguntou Harry, virando-se para Hermione �, voc� estava...? � Na porta do escrit�rio de Snape � sussurrou Hermione, com os olhos cintilantes de l�grimas �, com Luna. Ficamos l� um temp�o, e nada... n�o sab�amos o que estava acontecendo l� em cima, Rony tinha levado o Mapa do Maroto... j� era quase meia-noite quando o professor Flitwick desceu correndo para as masmorras. Gritava que havia Comensais da Morte no castelo, acho que nem registrou que Luna e eu est�vamos ali, adentrou o escrit�rio de Snape e n�s o ouvimos dizer ao professor que precisava acompanh�-lo para ir ajudar, ent�o ouvimos um baque forte e Snape saiu disparado da sala e nos viu e... e... � E a�? � instou Harry. � Fui t�o idiota, Harry! � lamentou Hermione num sussurro agudo. � Ele disse que o professor Flitwick tinha desmaiado e que dev�amos cuidar dele, enquanto ele... enquanto ele ia ajudar a combater os Comensais da Morte... A garota cobriu o rosto, envergonhada, e continuou a falar por tr�s dos dedos, o que abafou sua voz. � Entramos no escrit�rio para ver se pod�amos ajudar o professor Flitwick e o encontramos inconsciente no ch�o... e, ali, � t�o �bvio agora, Snape deve ter estupefeito Flitwick, mas n�o percebemos, Harry, n�o percebemos, deixamos o Snape escapar! � N�o � sua culpa � disse Lupin com firmeza. � Hermione, se voc� n�o tivesse obedecido e sa�do do caminho, Snape provavelmente teria matado voc� e Luna. � Ent�o ele subiu � continuou Harry, que visualizava Snape correndo pela escadaria de m�rmore acima, suas vestes negras esvoa�ando �s costas como sempre, puxando a varinha de baixo da capa enquanto subia � e encontrou o lugar onde todos lutavam... � Est�vamos num apuro, est�vamos perdendo � disse Tonks em voz baixa. � Gibbon estava fora de combate, mas os outros Comensais pareciam dispostos a lutar at� a morte. Neville tinha sido atingido, Gui, atacado ferozmente pelo Greyback... estava tudo escuro... voavam feiti�os para todo lado... o garoto Malfoy desaparecera, devia ter sa�do despercebido e subido para a Torre... ent�o outros Comensais correram para acompanh�-lo, mas um deles bloqueou a escada depois de passar com algum feiti�o... Neville avan�ou para a escada e foi atirado no ar... � Nenhum de n�s conseguiu passar � disse Rony �, e aquele Comensal grandalh�o continuava a disparar feiti�os para todo lado, que ricocheteavam nas paredes e por um triz n�o nos atingiam... � Ent�o, Snape estava ali � completou Tonks � e em seguida n�o estava... � Vi quando vinha correndo em nossa dire��o, mas logo depois o feiti�o daquele enorme Comensal passou por mim, sem me atingir, me abaixei e perdi no��o do que estava acontecendo � contou Gina. � Vi Snape atravessar correndo a barreira m�gica como se ela n�o existisse � disse Lupin. � Tentei segui-lo, mas fui jogado para tr�s exatamente como Neville... � Ele devia conhecer um feiti�o que desconhec�amos � sussurrou McGonagall. � Afinal de contas... ele era o professor de Defesa contra as Artes das Trevas... presumi que estivesse correndo no encal�o dos Comensais da Morte que tinham fugido para o alto da Torre. � E estava � falou Harry com selvageria �, mas para ajudar, n�o para deter os Comensais... e aposto como era preciso ter uma Marca Negra para atravessar aquela barreira... ent�o que aconteceu quando ele voltou? � Bem, o Comensal grandalh�o tinha acabado de disparar um feiti�o que fez metade do teto ceder, e tamb�m desfez o feiti�o que bloqueava a escada � relembrou Lupin. � Todos avan�amos, pelo menos os que ainda estavam de p�, ent�o Snape e o garoto sa�ram do meio da poeira, obviamente nenhum de n�s os atacou... � Simplesmente os deixamos passar � disse Tonks, quase inaudivelmente �, pensamos que estavam sendo perseguidos pelos Comensais, e, no momento seguinte, os outros Comensais e Greyback estavam voltando e recome�ando a lutar, pensei ter ouvido Snape dizer alguma coisa, mas n�o entendi... � Ele gritou "Acabou" � disse Harry. � Tinha feito o que pretendia. Todos se calaram. O lamento de Fawkes ainda ecoava pela propriedade �s escuras. E, enquanto a m�sica ressoava no ar, pensamentos involunt�rios, indesej�veis, invadiram, sorrateiros, a mente de Harry... ser� que j� tinham retirado o corpo de Dumbledore do p� da Torre? Que ser� que aconteceria ao corpo em seguida? Onde ser� que repousaria? Ele apertou as m�os nos bolsos com for�a. Sentiu a pequenez fria da falsa Horcrux contra as juntas de sua m�o direita. As portas da ala hospitalar se abriram de repente, sobressaltando a todos: o Sr. e a Sra. Weasley vinham entrando pela enfermaria, Fleur logo atr�s, seu belo rosto aterrorizado. � Molly... Arthur... � disse a professora McGonagall, levantando-se, depressa, para cumpriment�-los. � Lamento muito... � Gui � sussurrou a Sra. Weasley, passando direto pela professora ao avistar o rosto desfigurado do filho. � Ah, Gui! Lupin e Tonks tinham se levantado, ligeiros, e se afastaram para o casal poder se aproximar da cama. A Sra. Weasley curvou-se para o filho e levou os l�bios � testa dele. � Voc� disse que Greyback o atacou? � perguntou o Sr. Weasley, aflito, � professora McGonagall. � Mas n�o estava transformado? Ent�o, que significa isso? Que acontecer� ao Gui? � Ainda n�o sabemos � respondeu a professora, olhando desamparada para Lupin. � � prov�vel que haja certa contamina��o, Arthur � explicou , Lupin. � � um caso raro, provavelmente �nico... n�o sabemos qual ser� o comportamento dele quando acordar... A Sra. Weasley tirou o ung�ento de cheiro acre das m�os de Madame Pomfrey e come�ou a aplic�-lo nos ferimentos de Gui. � E Dumbledore... � disse o Sr. Weasley. � Minerva, � verdade... ele realmente...? Quando a professora McGonagall confirmou, Harry sentiu um movimento de Gina ao seu lado e se virou. Os olhos da garota ligeiramente apertados estavam fixos em Fleur, que olhava Gui com uma express�o atemorizada no rosto. � Dumbledore se foi � sussurrou o Sr. Weasley, mas sua mulher s� tinha olhos para o filho mais velho; ela come�ou a solu�ar, as l�grimas caindo no rosto mutilado de Gui. � � claro que a apar�ncia n�o conta... n�o � r... realmente importante... mas ele era um g... garotinho t�o bonito... e ia se... se casar! � E qu � qu a senhorr querr dizerr com isse? � perguntou Fleur, repentinamente, em alto e bom som. � Qu querr dizerr com "ei ia se casarr"? A Sra. Weasley ergueu o rosto manchado de l�grimas, parecendo espantada. � Bem... s� que... � A senhorra ache qu Gui vai desistirr de casarr comigue? � quis saber Fleur. � A senhorra ache qu porr cose desses morrdides, ei non vai me amarr? � N�o, n�o foi o que eu... � Porrqu ele vai! � afirmou Fleur, empertigando-se e jogando seus longos cabelos prateados para tr�s. � Serra prrecise mais qu um lobisome para fazerr Gui deixarrr de me amarr! � Bem, claro, tenho certeza � respondeu a Sra. Weasley �, mas pensei que talvez... visto que... que ele... � A senhorr penso qu eu non ia querrerr casarr com ei'? U err' esse a su esperrance? � desafiou Fleur, com as narinas tremendo. � Qu me imporrte a apar�nce dei? Ache qu sou bastante bonite porr n�s dois! Todes esses marrcas mostrram qu me marride � corrajose! E eu � qu vou fazerr isse! � acrescentou com ferocidade, empurrando a Sra. Weasley para o lado e arrebatando o ung�ento das m�os dela. A Sra. Weasley recuou para junto do marido e ficou observando Fleur tratar dos ferimentos de Gui, com uma express�o muito curiosa no rosto. Ningu�m disse nada. Harry nem sequer ousou se mexer. Como os demais, ficou aguardando a explos�o. � Nossa tia-av� Muriel � disse a Sra. Weasley ap�s um longo sil�ncio... � tem uma linda tiara, feita pelos duendes... e estou segura que posso convenc�-la a lhe emprestar para o casamento. Ela gosta muito do Gui, entende, e a tiara ficaria muito bonita em seus cabelos. � Muite obrrigade � respondeu Fleur formalmente. � Tan certez de qu ficarr� bonite! E ent�o � Harry n�o viu direito como aconteceu � as duas mulheres estavam chorando e se abra�ando. Completamente desnorteado, pensando que o mundo enlouquecera, o garoto se virou. Rony manifestava tanto aturdimento quanto o que Harry sentia, e Gina e Hermione trocavam olhares chocados. � Est� vendo! � exclamou uma voz cansada. Tonks olhava aborrecida para Lupin. � Ela ainda quer casar com Gui, mesmo que ele tenha sido mordido! Ela n�o se incomoda! � � diferente � respondeu Lupin, quase sem mover os l�bios, parecendo subitamente tenso. � Gui n�o ser� um lobisomem t�pico. Os casos s�o completamente diferentes... � Mas eu tamb�m n�o me incomodo, nem um pouco! � retrucou Tonks, agarrando Lupin pela frente das vestes e sacudindo-o. � J� lhe disse isso um milh�o de vezes... E o significado da altera��o no Patrono de Tonks e seus cabelos sem cor, e a raz�o por que viera correndo procurar Dumbledore quando ouvira falar que algu�m fora atacado por Greyback, tudo se tornou repentinamente claro para Harry; afinal n�o tinha sido por Sirius que Tonks se apaixonara... � E eu j� disse a voc� um milh�o de vezes � respondeu Lupin evitando os olhos dela, encarando o ch�o � que sou velho demais para voc�... pobre demais... perigoso demais... � E tenho lhe dito o tempo todo que a sua atitude � rid�cula, Remo � interp�s a Sra. Weasley por cima do ombro de Fleur, em quem dava palmadinhas carinhosas. � N�o estou sendo rid�culo � respondeu Lupin com firmeza. � Tonks merece algu�m jovem e saud�vel. � Mas ela quer voc� � interp�s o Sr. Weasley com um sorrisinho. � Afinal de contas, Remo, os homens jovens e saud�veis n�o permanecem sempre assim. � Ele fez um gesto triste para o filho, deitado entre eles. � Este n�o... n�o � o momento para discutir o assunto � replicou Lupin, evitando os olhares de todos e olhando, aflito, para os lados. � Dumbledore est� morto... � Dumbledore teria se sentido o mais feliz dos homens em pensar que havia um pouco mais de amor no mundo � disse secamente a professora McGonagall, no momento em que as portas da enfermaria tornaram a se abrir e Hagrid entrou. A pequena parte de seu rosto que n�o estava sombreada por cabelos ou barba estava molhada e inchada; o pranto o sacudia, na m�o trazia um enorme len�o manchado. � Fiz... fiz o que mandou, professora � disse com a voz sufocada. � Re... removi ele. A professora Sprout fez a garotada voltar para a cama. O professor Flitwick est� descansando, mas diz que logo estar� bem, e o professor Slughorn diz que o Minist�rio foi informado. � Obrigada, Hagrid. � A professora McGonagall se levantou imediatamente e voltou sua aten��o para o grupo em torno da cama de Gui. � Terei de ver o pessoal do Minist�rio quando chegar, Hagrid, por favor avise os diretores das Casas... Slughorn pode representar a Sonserina... de que quero v�-los sem demora no meu escrit�rio. Gostaria que voc� se reunisse a n�s, tamb�m. Ao ver Hagrid assentir, dar as costas e sair da enfermaria arrastando os p�s, ela olhou para Harry. � Antes de me reunir com o Minist�rio, eu gostaria de dar uma palavrinha r�pida com voc�, Harry. Se quiser me acompanhar... Harry se ergueu, murmurou um "vejo voc�s daqui a pouco" para Rony, Hermione e Gina, e saiu da enfermaria com a professora McGonagall. Os corredores estavam desertos, e o �nico som era o distante canto da F�nix. Passaram-se v�rios minutos at� Harry tomar consci�ncia de que n�o estavam seguindo para o escrit�rio da professora McGonagall, mas para o de Dumbledore, e mais alguns segundos at� ele se lembrar que, claro, ela era subdiretora... e, pelo visto, agora a diretora... portanto, a sala atr�s da g�rgula agora lhe pertencia... Em sil�ncio, eles subiram a escada m�vel em espiral e entraram no escrit�rio redondo. Ele n�o sabia o que esperar: que a sala tivesse cortinas pretas, talvez, ou mesmo que o corpo de Dumbledore estivesse ali. De fato, a sala estava quase exatamente igual ao que era, quando ele e Dumbledore a deixaram apenas horas antes: os instrumentos de prata zumbiam e soltavam fuma�a sobre as mesas de pernas finas, a espada de Gryffindor, em sua caixa de vidro, refulgia ao luar, o Chap�u Seletor estava na prateleira, atr�s da escrivaninha. Mas o poleiro de Fawkes estava vazio; a f�nix continuava a cantar o seu lamento nos jardins. E um novo retrato se reunira �s fileiras de diretores e diretoras de Hogwarts j� falecidos... Dumbledore dormia em uma moldura dourada sobre a escrivaninha, seus oclinhos de meia-lua encarapitados no nariz torto, parecendo em paz e despreocupado. Depois de olhar uma vez para o retrato, a professora McGonagall fez um gesto estranho, como se estivesse se revestindo de coragem, e, em seguida, contornou a escrivaninha para olhar de frente para Harry, seu rosto tenso e enrugado. � Harry � disse ela �, eu gostaria de saber o que voc� e o professor Dumbledore estiveram fazendo hoje � noite quando se ausentaram da escola. � N�o posso responder, professora. � Ele j� esperava a pergunta e tinha a resposta pronta. Fora ali, naquela mesma sala, que Dumbledore lhe recomendara que n�o confiasse o teor de suas aulas a ningu�m, exceto a Rony e Hermione. � Harry, talvez seja importante. � E � muito, mas ele n�o queria que eu contasse a ningu�m. A professora lan�ou-lhe um olhar penetrante. � Potter � (Harry registrou o uso do seu sobrenome) �, � luz da morte do professor Dumbledore, acho que voc� deve entender que a situa��o mudou um pouco... � Acho que n�o � respondeu Harry, encolhendo os ombros. � O professor Dumbledore nunca me disse que parasse de seguir suas ordens se ele morresse. � Mas... � Mas tem uma coisa que a senhora precisa saber antes que o Minist�rio chegue aqui. Madame Rosmerta est� dominada pela Maldi��o Imperius, esteve ajudando Malfoy e os Comensais da Morte, foi assim que o colar e o hidromel envenenado... � Rosmerta? � exclamou a professora McGonagall incr�dula, mas, antes que pudesse prosseguir, ouviram uma batida na porta e os professores Sprout, Flitwick e Slughorn entraram na sala, seguidos por Hagrid, que ainda chorava copiosamente, seu corpanzil sacudindo de pesar. � Snape! � exclamou Slughorn, que parecia abalad�ssimo, p�lido e suado. � Snape! Fui professor dele! Pensei que o conhecia! Antes, por�m, que algum deles pudesse reagir, uma voz en�rgica falou do alto da parede: um bruxo de rosto macilento e franja preta e curta acabara de regressar ao seu quadro vazio. � Minerva, o Ministro estar� aqui dentro de segundos, ele acabou de desaparatar do Minist�rio. � Obrigada, Everardo. � E a professora McGonagall se virou imediatamente para os professores. � Quero falar sobre o que acontecer� com Hogwarts antes que ele chegue � disse depressa. � Pessoalmente, n�o estou convencida de que a escola deva reabrir no pr�ximo ano. A morte do diretor pelas m�os de um de nossos colegas � uma m�cula terr�vel na hist�ria de Hogwarts. � abomin�vel. � Tenho certeza de que Dumbledore teria querido manter a escola aberta � disse a professora Sprout. � Acho que se um �nico aluno quiser freq�ent�-la, a escola dever� estar aberta para este aluno. � Mas ser� que teremos um �nico aluno depois disso? � perguntou Slughorn, agora secando a testa suada com um len�o de seda. � Os pais v�o querer manter os filhos em casa, e n�o posso culp�-los. Pessoalmente, acho que n�o corremos maior perigo em Hogwarts do que em qualquer outro lugar, mas n�o se pode esperar que as m�es pensem o mesmo. V�o querer manter suas fam�lias reunidas, o que � muito natural. � Concordo � disse a professora McGonagall. � De qualquer forma, n�o � verdade que Dumbledore nunca tenha considerado uma situa��o em que Hogwarts pudesse fechar. Quando a C�mara Secreta reabriu, ele cogitou fechar a escola: e devo dizer que o homic�dio do professor Dumbledore, para mim, � mais chocante do que a id�ia do monstro de Slytherin vivendo � solta nas entranhas do castelo... � Devemos ouvir o conselho diretor � prop�s o professor Flitwick, com a sua voz fininha; tinha um grande hematoma na testa, mas, sob outros aspectos, parecia n�o ter sido afetado pela queda no escrit�rio de Snape. � Precisamos seguir os procedimentos de praxe. N�o se deve tomar uma decis�o precipitada. � Hagrid, voc� ainda n�o disse nada � observou a professora McGonagall. � Qual � a sua opini�o, Hogwarts deve permanecer aberta? Hagrid, que, durante a conversa, estivera chorando silenciosamente no grande len�o manchado, agora ergueu os olhos inchados e vermelhos e respondeu, rouco: � N�o sei, professora... os diretores das Casas e a diretora da escola � que devem decidir... � O professor Dumbledore sempre prezou as suas opini�es � tornou a professora McGonagall gentilmente �, e eu tamb�m. � Bem, eu vou continuar aqui. � Grandes l�grimas ainda vazavam pelos cantos de seus olhos e escorriam para a barba emaranhada. � � a minha casa, tem sido minha casa desde os treze anos. E se tiver garotos querendo aprender comigo, eu vou ensinar. Mas... n�o sei... Hogwarts sem Dumbledore... Ele engoliu em seco e desapareceu mais uma vez por tr�s do len�o, e todos silenciaram. � Muito bem � disse a professora McGonagall, espiando os jardins pela janela para ver se o Ministro j� vinha chegando �, ent�o concordo com Filio que o certo ser� ouvir o conselho diretor, que tomar� a decis�o final. � Agora, quanto a mandar os estudantes para casa... h� raz�es em favor de antecipar em vez de adiar a partida. Poder�amos programar o Expresso de Hogwarts para amanh� se for necess�rio... � E os funerais de Dumbledore? � perguntou Harry, finalmente falando. � Bem... � disse a professora McGonagall, perdendo um pouco de sua vivacidade ao sentir a voz tremer � eu... eu sei que era desejo de Dumbledore ser enterrado aqui, em Hogwarts... � Ent�o, � o que acontecer�, n�o? � perguntou Harry impetuosamente. � Se o Minist�rio achar apropriado. Nenhum outro diretor jamais foi... � Nenhum outro diretor jamais contribuiu tanto para esta escola � resmungou Hagrid. � Hogwarts deveria ser a morada final de Dumbledore � disse o professor Flitwick. � Sem a menor d�vida � concordou a professora Sprout. � E, neste caso � argumentou Harry �, a senhora n�o deveria mandar os estudantes para casa at� terminarem os funerais. Eles v�o querer se... A �ltima palavra ficou presa em sua garganta, mas a professora Sprout completou a frase para ele. � Despedir. � Bem observado � esgani�ou-se o professor Flitwick. � Realmente bem observado! Nossos estudantes deveriam prestar homenagens, seria acertado. Podemos providenciar o transporte para casa depois. � Apoiado � bradou a professora Sprout. � Presumo... sim... � disse Slughorn, agitado, enquanto Hagrid concordava, deixando escapar um solu�o estrangulado. � Ele est� chegando � anunciou a professora McGonagall de repente, olhando para os jardins. � O Ministro... e, pelo visto, trouxe uma delega��o. � Posso ir, professora? � perguntou Harry na mesma hora. O garoto n�o tinha o m�nimo desejo de ver Scrimgeour, ou ser interrogado por ele, essa noite. � Pode, e v� depressa. Ela andou at� a porta e abriu-a para Harry. Ele desceu ligeiro a escada espiral e continuou pelo corredor deserto; deixara a Capa da Invisibilidade na Torre de Astronomia, mas n�o fazia diferen�a; n�o havia ningu�m nos corredores para v�-lo passar, nem mesmo Filch, Madame Nora ou Pirra�a. N�o encontrou vivalma at� virar para o corredor que levava � sala comunal da Grifin�ria. � � verdade? � sussurrou a Mulher Gorda quando ele se aproximou. � � realmente verdade? Dumbledore... morto? � �. Ela soltou um lamento e, sem esperar pela senha, girou para admiti-lo. Tal como Harry suspeitara, a sala comunal estava lotada. E silenciou quando ele passou pelo buraco do retrato. Ele notou Dino e Simas sentados em um grupo pr�ximo: isto significava que o dormit�rio devia estar vazio ou quase. Sem falar com ningu�m, nem olhar diretamente para colega algum, Harry passou direto pela sala e pela porta que levava aos dormit�rios dos garotos. Conforme desejara, Rony o aguardava sentado na cama, e ainda vestido. Harry se acomodou na pr�pria cama e, por um momento, eles apenas se encararam. � Est�o falando em fechar a escola � disse Harry. � Lupin falou que fariam isso � comentou Rony. Houve uma pausa. � Ent�o? � perguntou Rony muito baixinho, como se achasse que a mob�lia poderia estar ouvindo. � Voc�s encontraram uma? Conseguiram peg�-la? Uma... uma Horcrux? Harry sacudiu negativamente a cabe�a. Tudo que se passara naquele lago escuro parecia agora um pesadelo muito antigo; teria mesmo acontecido, e apenas h� algumas horas? � N�o conseguiram peg�-la? � Rony pareceu desconcertado. � N�o estava l�? � N�o � respondeu Harry. � Algu�m j� tinha levado e deixado uma imita��o no lugar. � J� tinha levado...? Em sil�ncio, Harry tirou o medalh�o falso do bolso, abriu-o e entregou-o a Rony. A hist�ria completa poderia esperar... n�o tinha import�ncia essa noite... nada tinha import�ncia exceto o fim, o fim de sua aventura sem sentido, o fim da vida de Dumbledore... � R.A.B. � sussurrou Rony �, mas quem �? � N�o sei � respondeu Harry, deitando-se na cama inteiramente vestido e olhando para o teto estupidamente. N�o sentia a menor curiosidade pelo tal R.A.B.; duvidava que voltasse a sentir curiosidade na vida. Deitado ali, ele percebeu subitamente que os jardins estavam silenciosos. Fawkes parar� de cantar. E ele soube, sem saber como sabia, que a f�nix partira, deixara Hogwarts para sempre, da mesma forma que Dumbledore deixara a escola, deixara o mundo... deixara Harry. CAP�TULO TRINTA O T�MULO BRANCO TODAS AS AULAS FORAM SUSPENSAS, todos os exames adiados. Alguns estudantes foram retirados �s pressas de Hogwarts, pelos pais, nos dois dias que se seguiram � as g�meas Patil partiram antes do caf� na manh� ap�s a morte de Dumbledore, e Zacarias Smith saiu do castelo acompanhado pelo arrogante pai. Por outro lado, Simas Finnigan recusou-se terminantemente a voltar para casa com a m�e; discutiram aos gritos no Sagu�o de Entrada, e s� resolveram a quest�o quando a m�e concordou que ele ficaria para os funerais. Ela teve dificuldade em encontrar acomoda��o em Hogsmeade, Simas contou a Harry e Rony, porque acorriam � aldeia bruxos e bruxas, preparando-se para prestar as �ltimas homenagens a Dumbledore. Houve alguma excita��o entre os alunos mais jovens que nunca tinham visto aquilo, a carruagem azul-clara do tamanho de uma casa, puxada por doze enormes palominos alados, que surgiu no c�u, no fim da tarde, antes dos funerais e aterrissou na orla da Floresta. Harry observou de uma janela uma mulher gigantesca e bela, de pele morena e cabelos negros, descer os degraus da carruagem e se atirar nos bra�os de Hagrid, que a aguardava. Entrementes, uma delega��o de funcion�rios do Minist�rio, inclusive o pr�prio ministro da Magia, foi acomodada no castelo. Harry evitava diligentemente o contato com qualquer de seus membros; tinha certeza de que mais cedo ou mais tarde tornariam a lhe pedir contas do �ltimo passeio de Dumbledore fora de Hogwarts. Harry, Rony, Hermione e Gina passavam todo o tempo juntos. O tempo bonito parecia zombar deles; Harry imaginava como teria sido se Dumbledore n�o tivesse morrido e eles contassem com todo aquele tempo juntos no finalzinho do ano, os exames de Gina j� conclu�dos, a press�o dos deveres escolares aliviada... e, hora a hora, ele adiava dizer o que sabia que devia dizer, fazer o que sabia que era certo fazer, porque era dif�cil abrir m�o de sua maior fonte de consolo. Eles visitavam a ala hospitalar duas vezes por dia: Neville recebera alta, mas Gui continuava sob os cuidados de Madame Pomfrey. As cicatrizes n�o indicavam melhora; na verdade, Gui agora apresentava uma n�tida semelhan�a com Olho-Tonto Moody, embora, felizmente, tivesse os olhos e as pernas inteiras e sua personalidade continuasse o que sempre fora. O que parecia ter mudado � que agora ele passara a gostar muito de bifes malpassados. � ... e � um sorrte que ei v� se casarr comigue � disse Fleur, feliz, afofando os travesseiros de Gui �, porrque as brritanique cozinhe dem�s a carrne, eu semprre disse isse... � Acho que simplesmente vou ter de aceitar que Gui v� mesmo casar com ela � suspirou Gina mais tarde naquela noite, quando ela, Harry, Rony e Hermione se sentaram ao lado da janela aberta da sala comunal da Grifin�ria contemplando os jardins ao crep�sculo. � Ela n�o � t�o ruim � comentou Harry. � Mas � feia � acrescentou depressa, quando Gina ergueu as sobrancelhas e deu uma risadinha relutante. � Bem, suponho que se mam�e pode suportar, eu tamb�m posso. � Morreu mais algu�m que conhecemos? � perguntou Rony a Hermione, que passava os olhos no Profeta Vespertino. Hermione fez uma careta ao ouvir a for�ada frieza na voz dele. � N�o � respondeu em tom de censura, dobrando o jornal. � Ainda est�o procurando Snape, mas nem sinal... � Claro que n�o � retrucou Harry, que se irritava toda vez que tocavam neste assunto. � N�o achar�o Snape enquanto n�o acharem Voldemort, e, considerando que nunca conseguiram fazer isso at� hoje... � Vou me deitar � bocejou Gina. � N�o tenho dormido bem desde... bem... estou bem precisada de um soninho. Ela beijou Harry (Rony desviou o olhar oportunamente), fez um aceno com a m�o para os outros dois e foi para o dormit�rio das garotas. Assim que a porta se fechou atr�s dela, Hermione se curvou para Harry com uma express�o bem hermionesca no rosto. � Harry, descobri uma coisa hoje de manh� na biblioteca... � R.A.B.? � perguntou Harry se aprumando na cadeira. Ele n�o se sentiu como tantas vezes antes, excitado, curioso, doido para chegar ao fundo do mist�rio; ele simplesmente sabia que a tarefa de descobrir a verdade sobre a Horcrux genu�na tinha de ser conclu�da antes que ele pudesse avan�ar pelo caminho escuro e tortuoso que se estendia � sua frente, o caminho que ele e Dumbledore tinham iniciado juntos, mas que, agora, ele sabia que teria de trilhar sozinho. Talvez ainda houvesse umas quatro Horcruxes em algum lugar l� fora, e cada uma precisaria ser encontrada e destru�da para que houvesse sequer possibilidade de Voldemort ser liquidado. Ele n�o parava de recitar seus nomes mentalmente, como se listando-os pudesse trazer as Horcruxes para o seu alcance: "o medalh�o... a ta�a... a cobra... alguma coisa de Gryffindor ou de Ravenclaw... o medalh�o... a ta�a... a cobra... alguma coisa de Gryffindor ou de Ravenclaw..." Este mantra parecia perpassar sua mente quando ele adormecia, e seus sonhos eram coalhados de ta�as, medalh�es e objetos misteriosos que ele n�o conseguia pegar, embora Dumbledore lhe oferecesse prestimosamente uma escada de corda que se transformava em cobras no instante em que come�ava a galg�-la... Ele mostrara a Hermione a nota no interior do medalh�o na manh� seguinte � morte de Dumbledore, e, embora a amiga n�o tivesse reconhecido imediatamente as iniciais como pertencentes a algum bruxo obscuro sobre quem lera, desde ent�o ela corria � biblioteca com maior freq��ncia do que seria estritamente necess�rio a algu�m que n�o tinha deveres de casa a preparar. � N�o, Harry, estou tentando � respondeu ela, triste �, mas ainda n�o encontrei nada... h� uns dois bruxos razoavelmente famosos com essas iniciais: Rosalinda Ant�gona Bungs... Roberto Axebanger Brookstanton, o "Machadada"... mas aparentemente n�o se enquadram. Pelo bilhete, a pessoa que roubou a Horcrux conhecia Voldemort, e n�o consigo encontrar o menor ind�cio de que Bungs ou Axebanger tenham tido qualquer rela��o com ele... n�o, na realidade, eu queria falar sobre.... bem, Snape. Ela parecia nervosa at� de mencionar aquele nome. � Que tem ele? � perguntou sombriamente, recostando-se na cadeira. � Bem, � que eu tinha certa raz�o naquela hist�ria do Pr�ncipe Mesti�o � come�ou ela hesitante. � Voc� tem de insistir nesse assunto, Hermione? Como � que voc� acha que eu me sinto com rela��o a isso agora? � N�o... n�o... Harry, n�o me referi a isso! � apressou-se ela a corrigir, olhando em volta para verificar se havia algu�m ouvindo. � � que eu tinha raz�o sobre a Eileen Prince ter sido dona do livro. Sabe... ela era a m�e do Snape! � Eu bem que achei que ela n�o era grande coisa � comentou Rony. Hermione n�o lhe deu aten��o. � Continuei a examinar o resto dos Profetas antigos e encontrei uma pequena nota anunciando o casamento de Eileen Prince com um tal Tobias Snape, e mais tarde, outra anunciando que tinha dado � luz um... � ... homicida � completou Harry com viol�ncia. � Bem... � � concordou Hermione. � Ent�o eu tinha certa raz�o. Snape devia sentir orgulho de ser "meio Pr�ncipe", entende? Tobias Snape era trouxa segundo a informa��o do Profeta. � �, isso se encaixa � admitiu Harry. � Ele daria destaque ao lado puro-sangue para poder fazer amizade com L�cio Malfoy e os outros... ele � como Voldemort: m�e de sangue puro, pai trouxa... vergonha dos pais, tentando ser temido pelo uso das Artes das Trevas, arranjou um novo nome imponente... Lord Voldemort, o Pr�ncipe Mesti�o, como � que Dumbledore n�o percebeu...? Harry se calou, olhando para fora. N�o conseguia deixar de pensar na confian�a indesculp�vel de Dumbledore em Snape... mas, como Hermione inadvertidamente acabara de lembr�-lo, ele, Harry, tamb�m fora enganado... apesar da crescente maldade dos feiti�os anotados, recusara-se a fazer mau ju�zo do garoto t�o inteligente que o ajudara tanto... Ajudara-o... era um pensamento quase insuport�vel agora... � Eu ainda n�o entendo por que ele n�o denunciou voc� por estar usando aquele livro � comentou Rony. � Ele devia saber de onde voc� estava tirando tudo aquilo. � Ele sabia � explicou Harry com amargura. � Soube quando usei o Sectumsempra. N�o precisou realmente de Legilim�ncia... talvez soubesse at� antes, ouvindo o Slughorn comentar como eu era brilhante em Po��es... ele n�o devia ter deixado seu antigo livro no fundo daquele arm�rio, n�o �? � Mas por que ele n�o denunciou voc�? � Acho que ele n�o queria ser associado �quele livro � respondeu Hermione. � Acho que Dumbledore n�o teria gostado muito se soubesse. E o pr�prio Snape fingiu que o livro n�o tinha pertencido a ele, Slughorn teria reconhecido a caligrafia na mesma hora. De qualquer forma, o livro foi deixado na antiga sala de aula de Snape, e aposto como Dumbledore sabia que a m�e dele se chamava "Prince". � Eu devia ter mostrado o livro a Dumbledore � concluiu Harry. � O tempo todo ele esteve me mostrando como Voldemort era maligno, mesmo quando freq�entava a escola, e eu tinha uma prova de que Snape tamb�m era... � "Maligno" � uma palavra forte � comentou Hermione baixinho. � Era voc� quem vivia me dizendo que o livro era perigoso! � O que estou tentando dizer, Harry, � que voc� est� se culpando demais. Eu achei que o Pr�ncipe tinha um senso de humor perverso, mas nunca imaginei que fosse um homicida potencial... � Nenhum de n�s poderia ter imaginado que o Snape... sabe � acrescentou Rony. Os tr�s silenciaram, cada qual absorto nos pr�prios pensamentos, mas Harry tinha certeza de que seus amigos, tal como ele pr�prio, estavam imaginando a manh� seguinte, quando Dumbledore seria enterrado. Harry nunca fora a um enterro; n�o tinha havido corpo para enterrar quando Sirius morreu. Ele n�o sabia o que esperar, e estava um pouco preocupado com o que poderia ver, com o que poderia sentir. Perguntou-se se a morte de Dumbledore seria mais real para ele quando terminassem os funerais. Embora houvesse momentos em que a brutal realidade do acontecido amea�asse esmag�-lo, havia lacunas de insensibilidade durante as quais ele ainda encontrava dificuldade em acreditar que Dumbledore realmente partira, apesar de n�o falarem em outra coisa no castelo. Reconhecia que n�o procurara desesperadamente uma brecha, um jeito de Dumbledore voltar, ao contr�rio do que fizera no caso de Sirius... ele apalpou no bolso a corrente fria da falsa Horcrux, que agora carregava para toda parte, n�o como um talism�, mas como um lembrete do que custara e do que ainda faltava fazer. No dia seguinte, Harry levantou cedo para fazer as malas; o Expresso de Hogwarts estaria partindo uma hora ap�s os funerais. Embaixo, no Sal�o Principal, encontrou o ambiente anormalmente quieto. Todos usavam vestes formais, e ningu�m parecia ter muita fome. A professora McGonagall deixara vazio o cadeir�o ao centro da mesa dos professores. A cadeira de Hagrid tamb�m estava desocupada: Harry achou que ele talvez n�o tivesse conseguido enfrentar o caf� da manh�; o lugar de Snape, no entanto, fora ocupado, sem a menor cerim�nia, por Rufo Scrimgeour. Harry evitou seus olhos amarelados esquadrinhando a sala; teve a inc�moda sensa��o de que Scrimgeour o procurava. Na comitiva do ministro, Harry identificou os cabelos ruivos e os �culos de aros de tartaruga de Percy Weasley. Rony n�o demonstrou ter percebido a presen�a do irm�o, exceto pela virul�ncia com que espetava o peixe defumado. A mesa da Sonserina, Crabbe e Goyle cochichavam. Corpulentos como eram, pareciam estranhamente solit�rios sem a companhia da figura alta e p�lida de Malfoy entre os dois, despachando ordens. Harry n�o pensara muito em Malfoy. Toda a sua animosidade convergia para Snape, mas n�o esquecera o medo na voz de Malfoy no alto da Torre, nem o fato de que ele baixara a varinha antes de chegarem os outros Comensais da Morte. Harry n�o acreditava que Malfoy teria matado Dumbledore. Continuava a desprezar o garoto por sua fascina��o pelas Artes das Trevas, mas uma min�scula gotinha de piedade j� se misturava ao seu desagrado. Perguntavase onde estaria Malfoy agora, e o que Voldemort estaria obrigando-o a fazer, sob amea�as de morte a ele e � fam�lia. Seus pensamentos foram interrompidos por uma cotovelada de Gina em suas costelas. A professora McGonagall ficara de p�, e os murm�rios tristes no Sal�o Principal tinham cessado prontamente. � Est� quase na hora � come�ou ela. � Por favor, acompanhem os diretores de suas Casas at� os jardins. Alunos da Grifin�ria, venham comigo. Eles deixaram seus bancos disciplinadamente, quase em sil�ncio. Harry viu Slughorn, de relance, � frente da fila da Sonserina, trajando magn�ficas vestes verde-esmeralda, bordadas com fios prateados. O garoto nunca vira a professora Sprout, diretora da Lufa-Lufa, com uma apar�ncia t�o limpa; n�o havia um �nico remendo em seu chap�u e, quando chegaram ao Sagu�o de Entrada, encontraram Madame Pince parada ao lado de Filch, ela usando um v�u negro e grosso at� os joelhos, e ele, uma gravata e um terno antiquado cheirando fortemente a naftalina. Todos seguiam, conforme Harry constatou ao descer os degraus de pedra da entrada, em dire��o ao lago. Ele sentiu o sol morno acariciar seu rosto, enquanto acompanhava em sil�ncio a professora McGonagall ao lugar em que tinham disposto centenas de cadeiras enfileiradas com uma passagem pelo centro; havia uma mesa de m�rmore � frente das cadeiras. Fazia um bel�ssimo dia de ver�o. Uma variedade extraordin�ria de pessoas j� se acomodara em metade das cadeiras; malvestidas e bem-vestidas, velhas e jovens. A maioria Harry nunca vira, mas reconheceu algumas, entre elas membros da Ordem da F�nix: Kingsley Shacklebolt, Olho-Tonto Moody, Tonks, seus cabelos milagrosamente tinham recuperado o tom rosa-berrante, Remo Lupin, com quem ela parecia estar de m�os dadas, o Sr. e a Sra. Weasley, Gui amparado por Fleur e seguido por Fred e Jorge, usando palet�s pretos de pele de drag�o. Estavam tamb�m presentes Madame Maxime, que, sozinha, ocupava duas cadeiras e meia, Tom, o taberneiro do Caldeir�o Furado, Arabela Figg, a bruxa abortada vizinha de Harry, a guitarrista cabeluda do grupo bruxo As Esquisitonas, Ernesto Prang, motorista do N�itibus, Madame Malkin, da loja de vestes no beco Diagonal, e outras pessoas que Harry s� conhecia de vista, como o barman do Cabe�a de Javali e a bruxa do carrinho de lanches do Expresso de Hogwarts. Os fantasmas do castelo tamb�m estavam l�, quase invis�veis ao sol forte mas discern�veis quando se moviam, tremeluzindo incorporeamente no ar luminoso. Harry, Rony Hermione e Gina tomaram os �ltimos assentos na fila ao lado do lago. As pessoas sussurravam entre si; o som lembrava o farfalhar da brisa na grama, mas o canto dos p�ssaros se sobrepunha a tudo. A multid�o continuava a crescer; sentindo um arroubo de afei��o pelos dois, Harry viu Luna ajudando Neville a se sentar. Tinham sido os �nicos de toda a Armada a responder � convoca��o de Hermione na noite em que Dumbledore morrera, e Harry sabia por qu�: eram os que sentiam maior falta do grupo... provavelmente, os �nicos que verificavam regularmente as moedas na esperan�a de que houvesse outra reuni�o... Corn�lio Fudge passou por eles em dire��o �s filas mais � frente, com uma express�o de infelicidade, girando o chap�u-coco como era seu h�bito; em seguida, Harry reconheceu Rita Skeeter, e enfureceu-o ver um bloco de notas naquelas m�os de garras vermelhas; e, com um surto de f�ria ainda mais forte, Dolores Umbridge, com uma express�o de tristeza pouco convincente em sua cara de sapo, um la�o de veludo negro no alto dos cachos azulados. Ao ver o centauro Firenze, que estava parado como uma sentinela � margem do lago, ela se sobressaltou e correu r�pido para uma cadeira bem distante. Os professores finalmente se sentaram. Harry viu Scrimgeour, com ar grave e digno, na primeira fila ao lado da professora McGonagall. O garoto questionava se Scrimgeour ou quaisquer daqueles figur�es lamentava realmente que Dumbledore tivesse morrido. Ouviu, ent�o, uma m�sica estranha e sobrenatural e esqueceu sua antipatia pelo Minist�rio, olhando para os lados � procura de sua origem. Ele n�o foi o �nico: muitas cabe�as se viraram, olhando um pouco assustadas. � L� dentro � sussurrou Gina no ouvido de Harry. Ent�o ele os viu nas �guas verdes banhadas de sol, a cent�metros da superf�cie, lembrando-o aflitivamente dos Inferi; um coro de sereianos cantava em uma l�ngua que ele n�o entendia, seus rostos p�lidos ondeando, seus cabelos arroxeados boiando � volta. A m�sica deixou arrepiados os cabelos na nuca de Harry, embora n�o fosse desagrad�vel. Falava muito claramente de perda e desespero. Ao olhar os rostos ferozes dos cantores, o garoto teve a sensa��o de que os sereianos, pelo menos, lamentavam a morte de Dumbledore. Ent�o Gina tornou a cutuc�-lo, e ele se virou para olhar. Hagrid vinha andando pela passagem entre as cadeiras. Chorava silenciosamente, seu rosto brilhava de l�grimas, e trazia nos bra�os, envolto em veludo roxo salpicado de estrelas douradas, o que Harry sabia ser o corpo de Dumbledore. Ao v�-lo, o garoto sentiu uma dor aguda na garganta: por um momento, a m�sica estranha e a consci�ncia de que o corpo do diretor estava t�o pr�ximo pareceram roubar todo o calor do dia. Rony estava branco e chocado. Ca�am l�grimas copiosas no colo de Gina e Hermione. Os garotos n�o conseguiam ver com clareza o que acontecia � frente. Hagrid parecia ter colocado o corpo cuidadosamente sobre a mesa. Agora retirava-se pela passagem, assoando o nariz ruidosamente e atraindo olhares escandalizados de algumas pessoas, inclusive, Dolores Umbridge... mas Harry sabia que Dumbledore n�o teria se importado. Ele tentou fazer um gesto simp�tico quando Hagrid passou, mas os olhos do amigo estavam t�o inchados que era de admirar que conseguisse sequer ver aonde ia. Harry olhou para a �ltima fila, � qual se encaminhava o amigo, e entendeu o que o orientava; ali, cal�a e palet�, cada pe�a do tamanho de uma tenda, encontrava-se o gigante Grope, sua enorme e feia cabe�a de pedregulho curvada, d�cil, quase humano. Hagrid sentou-se ao lado do meio-irm�o, que lhe deu fortes palmadas carinhosas na cabe�a, fazendo as pernas de sua cadeira enterrarem no ch�o. Harry sentiu um impulso moment�neo e maravilhoso de rir. Ent�o, a m�sica parou, e ele tornou a se virar para frente. Um homenzinho com os cabelos em tufos e simples vestes pretas se erguera e agora estava parado diante do corpo de Dumbledore. Harry n�o conseguia distinguir o que ele dizia. Chegavam-lhe palavras estranhas por cima das centenas de cabe�as. "Nobreza de esp�rito... contribui��o intelectual... grandeza de cora��o..." n�o significavam muita coisa. N�o tinham muito a ver com o Dumbledore que Harry conhecera. De repente, o garoto se lembrou da vers�o de Dumbledore de algumas palavras: "pateta", "esquisitice", "choramingas" e "belisc�o", e mais uma vez ele precisou reprimir o riso... que estava acontecendo com ele? Houve um ru�do de �gua revolvida � esquerda, e ele viu que os sereianos tinham vindo � tona para ouvir, tamb�m. Harry se lembrou de Dumbledore agachando � beira do lago dois anos antes, muito pr�ximo do lugar em que Harry estava sentado, conversando em ser�iaco com a l�der desse povo. Harry se perguntou onde Dumbledore teria aprendido aquela l�ngua. Havia tanta coisa que nunca perguntara, tanta coisa que deveria ter dito... E, ent�o, subitamente, a terr�vel verdade o devassou, mais completa e inegavelmente do que at� aquele momento. Dumbledore estava morto, partira... ele apertou o medalh�o com tanta for�a que doeu, mas n�o p�de impedir que l�grimas quentes saltassem dos seus olhos; desviou o olhar de Gina e dos outros e fixou-o ao longe, na dire��o da Floresta, enquanto o homenzinho de preto continuava a falar... percebeu um movimento entre as �rvores. Os centauros tinham vindo prestar suas homenagens tamb�m. N�o sa�ram a c�u aberto, mas Harry os viu parados, quietos, meio encobertos pelas sombras, observando os bruxos, os arcos pendurados do lado do corpo. E Harry lembrou-se do pesadelo que fora sua primeira ida � Floresta, a primeira vez que encontrara a coisa que ent�o era Voldemort, e como a enfrentara, e como, pouco tempo depois, ele e Dumbledore tinham discutido as raz�es de se travar uma batalha perdida. Era importante, dissera Dumbledore, lutar, e recome�ar a lutar, e continuar a lutar, porque somente assim o mal poderia ser acuado, embora jamais erradicado... E Harry, sentado ali sob o sol quente, percebeu com muita clareza como as pessoas que gostavam dele tinham se colocado � sua frente, um por um, sua m�e, seu pai, seu padrinho e, finalmente, Dumbledore, todos decididos a proteg�-lo; mas, agora, isso acabara. N�o podia mais deixar ningu�m ficar entre ele e Voldemort; tinha de abandonar definitivamente a ilus�o que j� devia ter perdido com um ano de idade: que a prote��o dos bra�os paternos significava que nada poderia atingi-lo. Neste pesadelo n�o haveria despertar, n�o haveria sussurro tranq�ilizante no escuro dizendo-lhe que, na realidade, estava seguro, que era tudo sua imagina��o; o �ltimo e maior de seus protetores morrera, e ele estava mais sozinho do que jamais estivera. O homenzinho de preto parara finalmente de falar e retomara seu lugar. Harry aguardou que mais algu�m se levantasse; esperava discursos, provavelmente do Ministro, mas ningu�m se mexeu. Ent�o v�rias pessoas gritaram. Vivas chamas irromperam em torno do corpo de Dumbledore e da mesa em que jazia: cada vez mais altas, ocultando seu corpo. Subiram espirais de fuma�a branca no ar, desenhando estranhas formas: Harry pensou, por um momento de sustar o cora��o, que estava vendo uma f�nix voar feliz para o infinito, mas, no segundo seguinte, o fogo desaparecera. Em seu lugar havia um t�mulo de m�rmore branco, encerrando o corpo de Dumbledore e a mesa em que repousara. Ouviram-se mais alguns gritos de espanto quando uma saraivada de flechas voou pelo ar, mas elas ca�ram muito aqu�m da multid�o. Era, Harry entendeu, a homenagem dos centauros: viu quando eles deram as costas e tornaram a desaparecer entre as �rvores sombrias. De modo semelhante, os sereianos imergiram lentamente nas �guas verdes e desapareceram de vista. Harry olhou para Gina, Rony e Hermione: o rosto do amigo estava franzido como se a claridade do sol o cegasse. O de Hermione estava vidrado de l�grimas, mas Gina j� n�o chorava. Sustentou o olhar de Harry com aquela mesma express�o decidida e intensa que ele vira quando a garota o abra�ara depois de conquistar a Copa de Quadribol em sua aus�ncia, e ele soube que naquele momento os dois se compreendiam perfeitamente, e quando lhe contasse o que ia fazer agora, ela n�o diria "Cuidado" nem "N�o fa�a isso", mas aceitaria sua decis�o porque n�o esperava dele outra atitude. Ent�o, ele se revestiu de coragem para dizer o que sabia que teria de dizer, desde que Dumbledore morrera. � Gina, escute... � come�ou em voz muito baixa, em meio ao burburinho de conversas que crescia � sua volta e �s pessoas que come�avam a se levantar. � N�o posso mais namorar voc�. Temos de parar de nos ver. N�o podemos ficar juntos. Ela disse, com um sorriso estranhamente enviesado: � � por algum motivo nobre e idiota, n�o �? � Essas �ltimas semanas com voc� t�m parecido... parecido fazer parte da vida de outra pessoa � explicou Harry. � Mas n�o posso... n�o podemos... Tem coisas que preciso fazer sozinho agora. Ela n�o chorou, olhou-o apenas. � Voldemort usa as pessoas chegadas aos seus inimigos. J� usou voc� de isca uma vez, e foi s� por ser irm� do meu melhor amigo. Pensa no enorme perigo que poder� correr se continuarmos a namorar. Ele saber�, ele descobrir�. Ele tentar� me atingir atrav�s de voc�. � E se eu n�o me importar? � perguntou Gina impetuosamente. � Eu me importo. Como � que voc� acha que eu me sentiria se hoje fosse o seu enterro... e a culpa fosse minha...? Ela desviou o olhar em dire��o ao lago. � Eu nunca desisti de voc�. N�o de verdade. Sempre tive esperan�a... Hermione me disse para tocar a minha vida, talvez sair com outra pessoa, me descontrair um pouco perto de voc�, porque eu nunca conseguia falar quando voc� estava na sala, lembra? E ela achou que talvez voc� prestasse um pouco mais de aten��o em mim se eu fosse mais... eu mesma. � Menina esperta, essa Hermione � comentou Harry tentando sorrir. � Eu s� queria ter convidado voc� para sair antes. Poder�amos ter tido s�culos... meses... anos talvez... � Mas voc� esteve muito ocupado salvando o mundo bruxo � replicou Gina, quase sorrindo. � Bem... n�o posso dizer que esteja surpresa. Eu sabia que isto aconteceria um dia. Eu sabia que voc� n�o seria feliz se n�o estivesse ca�ando o Voldemort. Vai ver � por isso que eu gosto tanto de voc�. Harry n�o ag�entou ouvir essas coisas, e achou que n�o manteria sua decis�o se continuasse sentado ao lado de Gina. Viu que Rony abra�ava Hermione e acariciava seus cabelos enquanto ela solu�ava em seu ombro, e que escorriam l�grimas da ponta do seu nariz comprido. Com um gesto angustiado, Harry ficou de p�, deu as costas a Gina e ao t�mulo de Dumbledore, e saiu andando pela margem do lago. Andar parecia bem mais suport�vel do que ficar sentado: da mesma forma que partir o mais cedo poss�vel para procurar as Horcruxes e liquidar Voldemort o faria sentir-se melhor do que esperar para fazer isso... � Harry! Ele se virou. Rufo Scrimgeour vinha mancando ligeiro em sua dire��o, margeando o lago, apoiando-se na bengala. � Eu estava na esperan�a de poder dar uma palavra... voc� se incomoda se eu caminhar um pouco com voc�? � N�o � respondeu Harry, com indiferen�a, retomando a caminhada. � Harry, foi uma horr�vel trag�dia � come�ou o bruxo em voz baixa. � Nem sei lhe dizer o horror que senti quando soube. Dumbledore era um bruxo extraordin�rio. T�nhamos as nossas desintelig�ncias, como voc� bem sabe, mas ningu�m melhor do que eu... � Que � que o senhor quer? � perguntou Harry sem emo��o. Scrimgeour pareceu contrariado, mas, como antes, alterou rapidamente sua express�o para mostrar pesarosa compreens�o. � Naturalmente, voc� est� arrasado. Sei que era muito ligado a Dumbledore. Imagino que voc� talvez tenha sido o aluno de quem ele mais gostou na vida. Os la�os entre os dois... � Que � que o senhor quer? � repetiu Harry, parando. Scrimgeour parou tamb�m, apoiouse na bengala e encarou Harry, sua express�o agora astuta. � Dizem que voc� estava com Dumbledore quando se ausentou da escola na noite de sua morte. � Quem diz? � Algu�m estupefez um Comensal da Morte no alto da Torre depois que Dumbledore morreu. Havia tamb�m duas vassouras l�. O Minist�rio sabe somar dois mais dois, Harry. � Que bom ouvir isso. Bem, aonde eu fui com Dumbledore e o que fizemos � unicamente da minha conta. Ele n�o queria que as pessoas soubessem. � Tal lealdade, naturalmente, � admir�vel � disse Scrimgeour, que parecia conter com dificuldade sua irrita��o �, mas Dumbledore se foi, Harry. Ele se foi. � Ele s� ter� ido desta escola quando ningu�m mais aqui for leal a ele � respondeu Harry, com um sorriso for�ado. � Meu caro rapaz... nem mesmo Dumbledore � capaz de ressurgir da... � N�o estou afirmando que ele seja. O senhor n�o entenderia. Mas n�o tenho nada a lhe dizer. Scrimgeour hesitou. Ent�o, num tom que evidentemente pretendia que fosse gentil, disse: � O Minist�rio pode lhe oferecer todo tipo de prote��o, sabe, Harry. Eu teria prazer em colocar uns dois aurores a seu servi�o... Harry riu. � Voldemort quer me matar pessoalmente, e os aurores n�o poder�o det�-lo. Ent�o muito obrigado pelo oferecimento, mas n�o vou aceitar. � Ent�o � disse Scrimgeour, seu tom frio �, o pedido que lhe fiz no Natal... � Que pedido? Ah, sim... aquele para eu anunciar ao mundo que o senhor est� fazendo um �timo trabalho em troca de... � Levantar o moral de todos! � concluiu Scrimgeour com rispidez. Harry estudou-o por um momento. � J� soltaram o Lalau Shunpike? O rosto de Scrimgeour tingiu-se de um p�rpura intenso que lembrou muito o do tio V�lter. � Vejo que voc� �... � Por inteiro um homem de Dumbledore � completou Harry. � Com certeza. Scrimgeour olhou-o aborrecido por mais um momento, deu-lhe as costas e se afastou, mancando, sem dizer mais nada. Harry viu Percy e o restante da delega��o � espera do Ministro lan�ando olhares nervosos na dire��o de Hagrid e Grope, que solu�avam ainda sentados. Rony e Hermione correram ao encontro de Harry e passaram por Scrimgeour, indo em dire��o oposta; o garoto se virou e continuou sua caminhada devagar, dando tempo para os amigos o alcan�arem, o que finalmente aconteceu embaixo de uma b�tula onde costumavam sentar em �pocas mais felizes. � Que � que Scrimgeour queria? � sussurrou Hermione. � O mesmo que queria no Natal � respondeu Harry, sacudindo os ombros. � Queria que eu desse informa��es confidenciais sobre Dumbledore e virasse o novo garoto propaganda do Minist�rio. Rony pareceu lutar intimamente por um momento, ent�o anunciou em voz alta para Hermione: � Olha, me deixa voltar para dar um murro no Percy. � N�o � disse ela com firmeza, segurando-o pelo bra�o. � Mas eu vou me sentir melhor! Harry riu. At� Hermione esbo�ou um sorriso, que desapareceu quando ela ergueu os olhos para o castelo. � N�o consigo suportar a id�ia de que talvez nunca voltemos �disse ela baixinho. � Como � que Hogwarts pode fechar? � Talvez n�o feche � falou Rony. � N�o corremos maior perigo aqui do que em casa, n�o �? Est� igual em toda parte. Eu diria at� que Hogwarts est� mais segura, h� mais bruxos para defender o lugar. Que � que voc� acha, Harry? � N�o vou voltar nem que reabra. Rony olhou-o boquiaberto, mas Hermione disse com tristeza: � Eu sabia que voc� ia dizer isso. Mas, ent�o, o que vai fazer? � Vou voltar mais uma vez � casa dos Dursley, porque era o que Dumbledore queria. Mas ser� uma visita breve, e ent�o partirei para sempre. � Mas aonde � que voc� vai, se n�o voltar para a escola? � Pensei talvez em voltar para Godric's Hollow � murmurou Harry. Vinha ruminando esta id�ia desde a noite em que Dumbledore morrera. � Para mim, tudo come�ou ali. Tenho a sensa��o de que preciso ir at� l�. E posso visitar os t�mulos dos meus pais, gostaria de fazer isso. � E depois? � perguntou Rony. � Depois tenho de rastrear as outras Horcruxes, n�o �? � respondeu Harry, os olhos no t�mulo branco de Dumbledore refletido nas �guas do lago. � � o que ele queria que eu fizesse, por isso � que me contou tudo que sabia sobre elas. Se Dumbledore estiver certo, e tenho certeza de que est�, ainda h� quatro Horcruxes por a�. Preciso encontrar todas e destru�-las, e depois correr atr�s da s�tima por��o da alma de Voldemort, a que ainda habita o corpo dele, e sou eu quem vai mat�lo. E se eu encontrar Severo Snape pelo caminho � acrescentou Harry �, tanto melhor para mim, tanto pior para ele. Fez-se um longo sil�ncio. A multid�o quase toda se dispersara, os poucos remanescentes guardavam uma imensa dist�ncia da figura de Grope consolando Hagrid, cujos uivos de dor ecoavam pelo lago. � Estaremos l�, Harry � disse Rony. � Qu�? � Na casa dos seus tios � respondeu Rony. � Ent�o acompanharemos voc�, aonde for. � N�o � disse Harry depressa; n�o contara com isso, tentara fazer os amigos entenderem que ia empreender essa perigos�ssima viagem sozinho. � Voc� j� nos disse uma vez � disse Hermione em voz baixa � que havia tempo para desistir, se a gente quisesse. Tivemos tempo, n�o � mesmo? � Estamos com voc� para o que der e vier � afirmou Rony. � Mas, cara, voc� vai ter de passar na casa dos meus pais antes de qualquer outra coisa, at� mesmo de Godrics Hollow. � Por qu�? � O casamento de Gui e Fleur, lembra? Harry olhou para ele, espantado; a id�ia de que algo normal como um casamento ainda pudesse existir parecia inacredit�vel e, contudo, maravilhosa. � Ah �, n�o devemos perder esta festa por nada � disse ele por fim. Sua m�o fechou automaticamente em torno da falsa Horcrux, mas, apesar de tudo, apesar do caminho escuro e tortuoso que ele via estender-se � sua frente, apesar do encontro final com Voldemort, que ele sabia que teria de ocorrer, fosse em um m�s, um ano ou dez, ele sentiu um novo �nimo ao pensar que restava um �ltimo e dourado dia de paz para aproveitar com Rony e Hermione. *** Sum�rio: O OUTRO MINISTRO A RUA DA FIA��O QUERER � PODER HOR�CIO SLUGHORN FLEUMA DEMAIS A FUGIDA DE DRACO O CLUBE DO SLUGUE O TRIUNFO DE SNAPE O PR�NCIPE MESTI�O A CASA DE GAUNT A AJUDINHA DE HERMIONE PRATAS E OPALAS RIDDLE, O ENIGMA FELIX FELICIS O VOTO PERP�TUO UM NATAL MUITO GELADO UMA LEMBRAN�A RELUTANTE SURPRESAS DE ANIVERS�RIO CAMPANA DE ELFOS O PEDIDO DE LORD VOLDEMORT A SALA IMPENETR�VEL DEPOIS DO ENTERRO HORCRUXES SECTUMSEMPRA A VIDENTE ENTREOUVIDA A CAVERNA A TORRE ATINGIDA PELO RAIO A FUGA DO PR�NCIPE O LAMENTO DA FENIX O T�MULO BRANCO