Harry Potter E O C�LICE DE FOGO Joanne K. Rowling Harry Potter and the Goblet of Fire SUM�RIO Cap�tulo Um � A Casa dos Riddle Cap�tulo Dois � A Cicatriz Cap�tulo Tr�s � O Convite Cap�tulo Quatro � De Volta � Toca Cap�tulo Cinco � As "Gemialidades" Weasley Cap�tulo Seis � A Chave do Portal Cap�tulo Sete � Bagman e Crouch Cap�tulo Oito � A Copa Mundial de Quadribol Cap�tulo Nove � A Marca Negra Cap�tulo Dez � Caos no Minist�rio Cap�tulo Onze � A Bordo do Expresso de Hogwarts Cap�tulo Doze � O Torneio TriBruxo Cap�tulo Treze � Olho-Tonto Moody Cap�tulo Catorze � As Maldi��es Imperdo�veis Cap�tulo Quinze � Beauxbatons e Durmstrang Cap�tulo Dezesseis � O C�lice de Fogo Cap�tulo Dezessete � Os Quatro Campe�es Cap�tulo Dezoito � A Pesagem das Varinhas Cap�tulo Dezenove � O Rabo-C�rneo H�ngaro Cap�tulo Vinte � A Primeira Tarefa Cap�tulo Vinte e Um � A Frente de Libera��o dos Elfos Dom�sticos Cap�tulo Vinte e Dois � A Tarefa inesperada Cap�tulo Vinte e Tr�s � O Baile de Inverno Cap�tulo Vinte e Quatro � O Furo Jornal�stico de Rita Skeeter Cap�tulo Vinte e Cinco � O Ovo e O Olho Cap�tulo Vinte e Seis � A Segunda Tarefa Cap�tulo Vinte e Sete � A Volta de Almofadinhas Cap�tulo Vinte e Oito � A Loucura do Sr. Crouch Cap�tulo Vinte e Nove � O Sonho Cap�tulo Trinta � A Penseira Cap�tulo Trinta e Um � A Terceira Tarefa Cap�tulo Trinta e Dois � Osso, Carne e Sangue Cap�tulo Trinta e Tr�s � Os Comensais da Morte Cap�tulo Trinta e Quatro � Priori Incantatem Cap�tulo Trinta e Cinco � Veritaserum Cap�tulo Trinta e Seis � Os Caminhos se Separam Cap�tulo Trinta e Sete � O Come�o � tempo de f�rias de ver�o e, certa noite, em seu quarto na Rua dos Alfeneiros n�mero 4, Harry Potter acordou com a cicatriz ardendo intensamente. Teve um sonho estranho, sobre o qual n�o conseguiu parar de pensar, intrigado, at� receber aquele convite dos Weasley para assistir, nada mais nada menos, � Copa Mundial de Quadribol. N�o foi f�cil convencer seu tio V�lter a deix�-lo passar o resto das f�rias na casa da fam�lia Weasley, mas, ultrapassada esta barreira, Harry come�a a vibrar com todas as emo��es que envolvem um jogo internacional de Quadribol. A magia acontece... E � real todo o deslumbramento de nosso bruxinho �rf�o diante das extraordin�rias equipes de atletas irlandeses e b�lgaros, que se confrontam numa emocionante partida. No entanto, uma coisa terr�vel acontece e lan�a uma sombra sobre tudo e, principalmente, sobre Harry Potter. O recome�o de mais um ano letivo vem amenizar os temores de Harry, que compartilha com os melhores amigos, Rony Weasley e Hermione Granger, todas as aventuras emocionantes que continuavam a acontecer na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Tamb�m neste quarto ano, acontecimentos inesperados � como, por exemplo, a presen�a de um novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas e um evento extraordin�rio promovido na escola � alvoro�am os �nimos dos estudantes. Outras escolas de magia se apresentam e alguns de seus alunos, ao lado de veteranos de Hogwarts, liderados pelo s�bio Professor Dumbledore, ter�o de demonstrar todas as habilidades m�gicas � e n�o-m�gicas � que v�m adquirindo ao longo de suas vidas. Estar�o eles preparados para tudo que lhes est� reservado? Seu desempenho ser� satisfat�rio para que nada de grave lhes aconte�a? Uma nova aventura de Harry Potter, criada pela genial J. K. Rowling. A brit�nica J. K. Rowling � autora da s�rie Harry Potter, que j� foi vendida em dezenas de pa�ses e traduzida para diversos idiomas. O primeiro livro da s�rie, Harry Potter e a pedra filosofal, recebeu um pr�mio inaudito do Scottish Arts Council, e a partir de ent�o se tornou um fen�meno internacional, acumulando cr�ticas entusiastas e pr�mios importantes, como o National Book Award, o Book Awareds Children's Book of the Year e o Snarties Prize. As f�rias de ver�o v�o se arrastando e Harry Potter mal pode esperar pelo in�cio do ano letivo. � o seu quarto ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, e h� feiti�os a serem aprendidos, po��es a serem preparadas e aulas de Adivinha��o, entre outras, a serem assistidas. Harry anseia por tudo isso. Por�m, muitos outros acontecimentos surpreendentes j� est�o em marcha... Voc�s nem podem imaginar!!! CAP�TULO UM A Casa dos Riddle Os habitantes de Little Hangleton continuavam a cham�-la de "Casa dos Riddle", ainda que j� fizesse muitos anos desde que a fam�lia Riddle morara ali. A casa ficava em um morro com vista para o povoado, algumas janelas pregadas, telhas faltando e a hera se espalhando livremente pela fachada. Outrora uma bela casa senhorial, e, sem favor algum, a constru��o maior e mais imponente de toda a redondeza, a Casa dos Riddle agora estava �mida, em ru�nas, e desocupada. As pessoas do local concordavam que a velha casa dava arrepios. Meio s�culo antes uma coisa estranha e terr�vel acontecera ali, uma coisa que os antigos habitantes do povoado ainda gostavam de discutir quando faltava assunto para fofocas. A hist�ria fora requentada tantas vezes e enfeitada em tantos pontos, que ningu�m mais sabia onde estava a verdade. Todas as vers�es, por�m, come�avam no mesmo ponto: cinq�enta anos antes, ao amanhecer de uma bela manh� de ver�o, quando a casa dos Riddle ainda era bem cuidada e imponente, uma empregada entrou na sala de estar e encontrou os tr�s Riddle mortos. A empregada saiu correndo morro abaixo, aos berros, at� o povoado, e acordou o maior numero poss�vel de pessoas. � Ca�dos na sala com os olhos abertos! Gelados! Ainda com a roupa do jantar! A pol�cia foi chamada e Little Hangleton inteiro fervilhou de espanto, curiosidade e mal disfar�ada excita��o. Ningu�m gastou f�lego em fingir tristeza com o que acontecera aos Riddle, porque eles eram muito impopulares. Os velhos Sr. e Sra. Riddle tinham sido ricos, esnobes e grosseiros, e seu filho adulto, Tom, era tudo isso em grau maior. A preocupa��o de todos que moravam em Little Hangleton era a identidade do assassino � pois n�o havia d�vida de que tr�s pessoas aparentemente saud�veis n�o poderiam ter morrido, na mesma noite, de causas naturais. O Enforcado, o bar local, faturou sem parar aquela noite; os habitantes do povoado apareceram em peso para discutir a matan�a. Foram recompensados por terem deixado o conforto de sua lareira, quando a cozinheira dos Riddle apareceu teatralmente e anunciou para o bar, repentinamente silencioso, que um homem chamado Franco Bryce acabara de ser preso. � Franco! � exclamaram v�rias pessoas. � Nunca! Franco Bryce era o jardineiro dos Riddle. Morava sozinho em uma casa malcuidada na propriedade dos patr�es. Voltara da guerra com uma perna dura e uma intensa avers�o por ajuntamentos e barulhos, e, desde ent�o, trabalhava para os Riddle. Houve um corre-corre geral para pagar bebidas para a cozinheira e ouvir maiores detalhes. � Sempre achei que ele era esquisito � disse a mulher aos ouvintes ansiosos, depois do quarto xerez. � Assim, antip�tico. Tenho certeza de que n�o ofereci a ele s� uma x�cara de ch�, ofereci bem umas cem. Nunca quis se misturar, nunca mesmo. � Ah � disse uma mulher sentada ao balc�o �, mas ele passou muito sofrimento na guerra, e gosta de uma vida tranq�ila. Isso n�o � raz�o... � Quem mais tinha a chave da porta dos fundos, ent�o? � vociferou a cozinheira. � Desde que me entendo por gente, sempre teve uma chave de reserva pendurada na casa do jardineiro! Ningu�m for�ou a porta ontem � noite! N�o tem janelas quebradas! Franco s� precisou entrar escondido na casa grande enquanto a gente dormia... As pessoas trocaram olhares tenebrosos. � Eu sempre achei que ele tinha um jeito ruim, e n�o me enganei � resmungou um homem junto ao balc�o. � Foi a guerra que deixou ele esquisito, se querem saber a minha opini�o � disse o dono do bar. � Eu disse que n�o queria desagradar a Franco, n�o disse, Dot? � falou uma mulher agitada a um canto. � G�nio terr�vel � concordou Dot acenando a cabe�a com vigor. � Me lembro quando ele era crian�a... Na manh� seguinte, quase ningu�m em Little Hangleton duvidava que Franco Bryce tivesse matado os Riddle. Mas na cidadezinha vizinha de Great Hangleton, na delegacia de pol�cia escura e feia, Franco teimava em repetir sem parar que era inocente e que a �nica pessoa que ele vira perto da casa, no dia da morte dos Riddle, fora um adolescente estranho, de cabelos negros e rosto p�lido. Ningu�m mais no povoado vira o tal garoto e a pol�cia n�o teve d�vidas de que Franco o inventara. Ent�o, quando as coisas estavam ficando muito feias para Franco, chegou o laudo sobre os cad�veres dos Riddle e tudo mudou. A pol�cia nunca vira um laudo mais esquisito. Uma equipe de legistas examinara os corpos e conclu�ra que nenhum dos Riddle fora baleado, envenenado, esfaqueado, estrangulado, sufocado ou, pelo que sabiam, sofrera qualquer viol�ncia. Com efeito, continuava o laudo, em tom de inconfund�vel perplexidade, os Riddle, tirando o fato de que estavam mortos, pareciam gozar de perfeita sa�de. Os legistas observaram (como se estivessem decididos a encontrar alguma coisa errada nos cad�veres) que cada membro da fam�lia tinha uma express�o de terror no rosto � mas, segundo afirmava a frustrada pol�cia, quem j� ouvira falar de algu�m morrer de pavor e como n�o havia a menor prova de que os Riddle tivessem sido assassinados, a pol�cia foi obrigada a soltar Franco. Os mortos foram enterrados no cemit�rio da igreja de Little Hangleton e, por algum tempo, suas sepulturas se tornaram alvo da curiosidade geral. Para surpresa de todos, e acompanhado por uma nuvem de desconfian�a, Franco Bryce voltou para sua casinha na propriedade dos Riddle. � Para mim, foi ele quem matou a fam�lia e n�o me interessa o que a pol�cia disse � comentou Dot no Enforcado. � E se ele tivesse um pingo de dec�ncia, iria embora daqui, sabendo que a gente sabe que foi ele. Mas Franco n�o foi embora. Ficou para cuidar do jardim para a fam�lia que veio morar logo depois na Casa dos Riddle, e para a pr�xima � porque nenhuma das duas se demorou muito. Em parte, talvez tenha sido por causa de Franco que cada propriet�rio dizia que o lugar dava uma sensa��o desagrad�vel e, por falta de moradores, acabou se desmantelando. O rica�o que era o atual dono da Casa dos Riddle nem morava l� nem dava um destino a casa, diziam no povoado que ele a mantinha por "causa dos impostos", embora ningu�m entendesse muito bem o que significava isso. E o rica�o continuou a pagar a Franco para cuidar da jardinagem. Ele agora se aproximava do seu septuag�simo s�timo anivers�rio, muito surdo, a perna mais dura que nunca, mas era visto trabalhando pelos jardins quando fazia bom tempo, embora o mato j� come�asse a levar a melhor. O mato n�o era, no entanto, o �nico problema que Franco precisava enfrentar. Os garotos do povoado tinham criado o h�bito de atirar pedras nas janelas da Casa dos Riddle. Passavam de bicicleta por cima da grama que Franco se empenhava tanto para manter aveludada. Umas duas vezes eles haviam arrombado a velha casa para ganhar apostas. Sabiam que o velho Franco era dedicado � propriedade e achavam gra�a v�-lo mancando pelo jardim, brandindo a bengala e ralhando, a voz roufenha, com os invasores. Franco, por sua vez, acreditava que os garotos o atormentavam porque, tal qual seus pais e av�s, achavam que ele era um assassino. Por isso, quando acordou certa noite de agosto e viu uma coisa muito estranha na casa, ele simplesmente sup�s que os garotos estivessem indo um pouco mais longe em suas tentativas de castig�-lo. Foi a perna dura que o acordou; do�a mais do que nunca agora na velhice. Franco se levantou e desceu as escadas at� a cozinha pensando em tornar a encher a bolsa de �gua quente para aliviar a rigidez do joelho. Parado a pia, enchendo a chaleira, ele olhou para a Casa dos Riddle e viu uma luz brilhando nas janelas do primeiro andar. Franco percebeu na mesma hora o que estava acontecendo. Os garotos tinham invadido novamente a casa e, a julgar pelo bruxuleio da luz, haviam acendido a lareira. Franco n�o possu�a telefone e, de qualquer modo, desconfiava demais da pol�cia, desde que esta o levara para interrogat�rio depois das mortes dos Riddle. Na mesma hora, ele pousou a chaleira, correu para cima o mais r�pido que a perna dura lhe permitiu, e logo voltou � cozinha, completamente vestido, e apanhou uma velha chave enferrujada no gancho junto � porta. Depois, pegou a bengala, que deixara apoiada na parede, e saiu pela noite. A porta de entrada da Casa dos Riddle n�o tinha sinais de arrombamento, e o mesmo acontecia com as janelas. Andando com dificuldade, Franco contornou a casa em dire��o aos fundos at� chegar a uma porta semi-escondida pela hera, apanhou a velha chave, enfiou-a na porta e abriu -a silenciosamente. Entrou em uma cozinha cavernosa. Havia muitos anos n�o entrava ali; ainda assim, mesmo no escuro, ele se lembrou de onde era a porta para o corredor e tateou at� encontr�-la, as narinas invadidas pelo cheiro de podrid�o, os ouvidos atentos a qualquer som de passos ou vozes no primeiro andar. Chegou ao corredor, que estava um pouquinho mais claro, gra�as �s grandes janelas de caixilhos que havia de cada lado da porta de entrada, e come�ou a subir as escadas, aben�oando a poeira grossa que cobria a pedra, porque abafava o som dos seus passos e de sua bengala. No patamar, Franco virou � direita e viu imediatamente onde se encontravam os intrusos: no finzinho do corredor havia uma porta entreaberta de onde sa�a uma luz vacilante, que projetava uma longa nesga dourada no ch�o escuro. Franco foi se aproximando mais, segurando a bengala com firmeza. A alguns passos da entrada, conseguiu entrever uma faixa estreita do quarto adiante. O fogo estava aceso na lareira. Isto o espantou. Parou e escutou com aten��o, porque uma voz masculina falava dentro do quarto; parecia t�mida e temerosa. � Sobrou um pouco na garrafa, milorde, se ainda tiver fome. � Mais tarde � respondeu uma segunda voz. Esta tamb�m pertencia a um homem, mas era estranhamente aguda e fria como uma rajada repentina de vento g�lido. Alguma coisa naquela voz fez os poucos cabelos na nuca de Franco ficarem em p�. � Me leve mais para perto do fogo, Rabicho. Franco virou a orelha direita para a porta, para ouvir melhor. Ouviu o tinido de uma garrafa que algu�m pousava sobre uma superf�cie dura, depois o ru�do prolongado e seco de uma cadeira pesada arrastando pelo ch�o. O jardineiro viu de relance um homenzinho, de costas para a porta, empurrando a cadeira conforme lhe pediram. Usava uma longa capa preta, e tinha uma grande pelada na parte de tr�s da cabe�a. Depois, ele desapareceu de vista. � Aonde foi Nagini? � perguntou a voz fria. � N... N�o sei, milorde � disse a primeira voz, nervosamente. � Saiu para explorar a casa, acho... � Voc� vai ordenh�-la antes de nos recolhermos, Rabicho � disse a segunda voz. � Vou precisar me alimentar durante a noite. A viagem me deu uma enorme canseira. A testa enrugada, Franco inclinou o ouvido para mais perto da porta, e escutou. Houve uma pausa e, em seguida, o homem chamado Rabicho tornou a falar. � Milorde, posso perguntar quanto tempo vamos ficar aqui? � Uma semana � disse a voz fria. � Talvez mais. O lugar � razoavelmente confort�vel, e ainda n�o podemos dar seguimento ao plano. Seria tolice agir antes do fim da Copa Mundial de Quadribol. Franco meteu um dedo nodoso no ouvido e girou-o. Com certeza, devido ao ac�mulo de cera, ele ouvira a palavra "Quadribol", uma palavra que n�o existia. � A... A Copa Mundial de Quadribol, milorde? � admirou-se Rabicho. (Franco enfiou o dedo com mais for�a no ouvido.) � Me perdoe, mas... N�o compreendo... Por que precisamos esperar o fim da Copa Mundial? � Porque, seu tolo, neste exato momento est�o chegando ao pa�s bruxos do mundo inteiro e todos os bisbilhoteiros do Minist�rio da Magia estar�o em campo, � procura de sinais de atividades incomuns, verificando identidades e tornando a verific�-las. Estar�o obcecados com a seguran�a, tentando impedir que os trouxas percebam alguma coisa. Por isso vamos aguardar. Franco parou de tentar desentupir o ouvido. Ouvira distintamente as palavras "Minist�rio da Magia", "bruxos" e trouxas. Era �bvio que cada uma dessas express�es significava alguma coisa secreta, e Franco s� conseguia pensar em dois tipos de gente que falava em c�digo � espi�es e bandidos. Franco apertou mais a bengala e apurou ainda mais os ouvidos. � Milorde continua decidido, ent�o? � perguntou Rabicho em voz baixa. � Claro que estou decidido, Rabicho. � Agora havia um tom de amea�a em sua voz fria. Seguiu-se uma pausa � e ent�o Rabicho falou, as palavras sa�ram de sua boca num atropelo, como se ele estivesse se obrigando a falar antes de perder a coragem. � Poderia ser feito sem o Harry Potter, milorde. Outra pausa, mais longa, e ent�o... � Sem o Harry Potter? � sussurrou a segunda voz. � Entendo... � Milorde, n�o estou dizendo isso porque me preocupo com o garoto! -explicou Rabicho, a voz subindo esgani�ada. � O garoto n�o significa nada para mim, nadinha! � s� porque se us�ssemos outro bruxo ou bruxa, qualquer um, a coisa poderia ser feita muito mais rapidamente! Se o senhor me permitisse deix�-lo por algum tempo... O senhor sabe que posso me disfar�ar com muita efici�ncia... Eu voltaria em apenas dois dias com a pessoa necess�ria... � Eu poderia usar outro bruxo � disse a primeira voz, baixinho � � verdade... � Milorde, faz sentido � disse Rabicho, parecendo muito mais aliviado � p�r as m�os em Harry Potter seria t�o dif�cil, ele est� t�o bem protegido... � E ent�o voc� se oferece para ir buscar um substituto? Estranho... Talvez a tarefa de cuidar de mim tenha se tornado cansativa para voc�, Rabicho? A sugest�o de abandonar o plano n�o seria apenas uma tentativa de me abandonar? � Milorde! N... N�o tenho nenhum desejo de deix�-lo, absolutamente nenhum... � N�o minta para mim! � sibilou a segunda voz. � Sempre percebo, Rabicho! Voc� est� arrependido de ter voltado para mim. Eu o horrorizo. Vejo voc� fazer careta quando olha para mim, sinto voc� estremecer quando me toca... � N�o! Minha devo��o a milorde... � Sua devo��o n�o passa de covardia. Voc� n�o estaria aqui se tivesse aonde ir. Como posso sobreviver sem voc�, quando preciso que algu�m me alimente a intervalos regulares? Quem vai ordenhar Nagini? � Mas o senhor parece t�o mais forte, milorde... � Mentiroso � sussurrou a segunda voz. � N�o estou mais forte e uns poucos dias sozinho seriam suficientes para me roubar a pouca sa�de que recuperei com os seus cuidados desajeitados. Sil�ncio! Rabicho, que estivera resmungando incoerentemente, calou-se na mesma hora. Durante alguns segundos, Franco n�o ouviu nada exceto o crepitar do fogo. Ent�o o segundo homem recome�ou a falar, num sussurro que era quase um silvo. � Tenho minhas raz�es para usar o garoto, como j� lhe expliquei, e n�o vou usar mais ningu�m. Esperei treze anos. Mais uns meses n�o me far�o diferen�a. Quanto � prote��o que rodeia o garoto, creio que o meu plano funcionar�. Preciso apenas um pouco de coragem de sua parte, Rabicho, e voc� encontrar� coragem, a menos que queira sentir o peso da c�lera de Lord Voldemort... � Milorde, tenho que falar! � disse Rabicho, agora com p�nico na voz. � Durante a nossa viagem repassei mentalmente o plano, milorde, o desaparecimento de Berta Jorkins n�o passar� despercebido por muito tempo, e se dermos seguimento a ele, se eu enfeiti�ar... � Se? � murmurou a primeira voz. � Se? Se voc� der seguimento ao plano, Rabicho, o Minist�rio jamais precisar� saber que mais algu�m desapareceu. Voc� far� isso em surdina, sem confus�o; eu bem gostaria de fazer isso pessoalmente, mas na minha condi��o atual... Vamos, Rabicho, mais um obst�culo vencido, e o caminho at� Harry Potter estar� livre. N�o estou pedindo que voc� aja sozinho. At� l�, o meu fiel servo ter� se reunido a n�s.. . � Eu sou um servo fiel � disse Rabicho, com um lev�ssimo tra�o de aborrecimento na voz. � Rabicho, preciso de algu�m com c�rebro, algu�m que nunca tenha vacilado em sua lealdade, e voc�, infelizmente, n�o satisfaz nenhum dos dois requisitos. � Eu o encontrei � disse Rabicho, e agora decididamente havia irrita��o em sua voz. � Fui eu que o encontrei. Fui eu que lhe trouxe Berta Jorkins. � � verdade � disse o segundo homem, parecendo achar gra�a. � Um lance de genialidade que eu nunca teria achado poss�vel em voc�, Rabicho, embora, a verdade seja dita, voc� n�o fizesse id�ia do quanto ela seria �til quando a pegou, n�o �? � Eu... Eu achei que ela poderia ser �til, milorde... � Mentiroso � disse novamente a primeira voz, a zombaria cruel mais acentuada do que nunca. � Mas n�o nego que a informa��o da mulher foi preciosa. Sem ela, eu nunca poderia ter tra�ado o nosso plano, e por isso voc� ter� a sua recompensa, Rabicho. Vou deix�-lo realizar uma tarefa essencial para mim, uma que muitos seguidores meus dariam a m�o direita para realizar... � V... Verdade, milorde! Qual...? � Rabicho parecia outra vez aterrorizado. � Ah, Rabicho, voc� n�o quer que eu estrague a surpresa! Sua parte vir� bem no finzinho... Mas, prometo que voc� ter� a honra de ser t�o �til quanto Berta Jorkins. � O senhor... O senhor... � a voz de Rabicho saiu repentinamente rouca, como se sua boca tivesse ficado muito seca. � O senhor... Vai... Me matar, tamb�m? � Rabicho, Rabicho � disse a voz fria suavemente �, por que eu iria mat�-lo? Matei Berta porque precisei. Ela n�o servia para mais nada depois do meu interrogat�rio, completamente in�til. Em todo o caso, haveria perguntas embara�osas se ela tivesse voltado ao Minist�rio com a not�cia de que encontrara voc� nas f�rias. Seria melhor que bruxos presumivelmente mortos n�o esbarrassem em bruxas do Minist�rio da Magia em hot�is � beira de estradas... Rabicho murmurou alguma coisa t�o baixinho que Franco n�o p�de ouvir, mas fez o segundo homem rir � uma risada sem alegria, fria como a sua fala. � Poder�amos ter alterado a mem�ria dela? Mas os Feiti�os da Mem�ria podem ser desfeitos por um bruxo poderoso, como eu provei ao interrog�-la. Teria sido um insulto � mem�ria da bruxa n�o usar as informa��es que ela me forneceu, Rabicho. Fora no corredor, Franco de repente percebeu que a m�o que segurava a bengala se tornara escorregadia de suor. O homem de voz fria tinha matado uma mulher. E falava disso sem um pingo de remorso � divertia-se. Ele era perigoso � um doido. E estava planejando outros assassinatos � esse garoto, Harry Potter, fosse ele quem fosse � corria perigo... O jardineiro sabia o que devia fazer. Agora, como nunca antes, estava na hora de ir a policia. Ele sairia silenciosamente da casa e iria direto � cabine telef�nica no povoado... Mas a voz fria recome�ara a falar e Franco continuou onde estava, paralisado, escutando tudo que podia. � Mais um feiti�o... Meu fiel servo em Hogwarts... E Harry Potter ser� praticamente meu, Rabicho. Est� decidido. N�o haver� mais discuss�es. Mas fique quieto. .. Acho que ouvi Nagini... E a voz do segundo homem mudou. Come�ou a emitir ru�dos que Franco jamais ouvira na vida, sibilava e bufava sem inspirar. Franco achou que ele devia estar tendo algum tipo de ataque ou acesso. E ent�o o jardineiro ouviu um movimento �s suas costas no corredor escuro. Virou-se para olhar e quedou paralisado de medo. Alguma coisa deslizava em sua dire��o pelo ch�o escuro do corredor, e quando se aproximou da nesga de luz, ele percebeu, com um choque de terror, que era uma cobra gigantesca, no m�nimo, com tr�s metros de comprimento. Apavorado, pregado no ch�o, ele viu aquele corpo ondulante abrir uma trilha larga e curva na poeira espessa do ch�o, sempre mais pr�ximo, o que faria? O �nico meio de fugir era entrar no quarto onde os dois homens estavam sentados planejando matar, mas se ele ficasse onde estava a cobra certamente o mataria... Mas antes que se decidisse, a cobra emparelhou com ele e ent�o, incrivelmente, milagrosamente, passou; orientava-se pelos silvos e bufos que a voz fria emitia do outro lado da porta e, em segundos, a ponta do rabo da cobra, malhada de losangos, desapareceu pela abertura. Havia suor na testa de Franco agora e a m�o na bengala tremia. No quarto, a voz fria continuava a silvar, e ocorreu a Franco uma id�ia estranha, uma id�ia imposs�vel... Esse homem podia falar com as cobras. Franco n�o entendia o que estava acontecendo. Queria mais do que tudo voltar para a cama com a sua bolsa de �gua quente. O problema � que suas pernas n�o pareciam querer se mexer. Enquanto estava parado ali, tr�mulo, tentando se controlar, a voz fria voltou de repente a falar em ingl�s. � Nagini trouxe not�cias interessantes, Rabicho. � Ver... Verdade, milorde? � respondeu Rabicho. � Verdade. Segundo Nagini, tem um velho trouxa parado do lado de fora do quarto, escutando cada palavra que dizemos. Franco n�o teve a menor chance de se esconder. Ouviu passos e em seguida a porta do quarto se escancarou. Um homem baixo de cabelos grisalhos e ralos, um nariz pequeno e pontudo, olhos lacrimosos, parou diante dele com uma mescla de medo e susto no rosto. � Convide-o a entrar, Rabicho. Onde est� a sua educa��o? A voz fria vinha de uma velha poltrona diante da lareira, mas Franco n�o conseguiu ver quem falava. A cobra, por sua vez, se enroscara no tapete podre diante da lareira, em uma medonha imita��o de bichinho de estima��o. Rabicho fez sinal para Franco entrar. Embora continuasse profundamente abalado, Franco segurou com firmeza a bengala e, coxeando, cruzou o portal. O fogo na lareira era a �nica fonte de luz no quarto; projetava sombras longas e aranhosas nas paredes. Franco fixou o olhar nas costas da poltrona; o homem sentado nela parecia ser ainda menor do que o seu criado, pois Franco n�o conseguia sequer ver a parte de tr�s de sua cabe�a. � Voc� ouviu tudo, trouxa? � perguntou a voz fria. � Do que foi que o senhor me chamou? � perguntou Franco, desafiando-o, porque agora que estava dentro do quarto, agora que chegara a hora de agir, ele se sentia mais corajoso, sempre fora assim na guerra. � Chamei-o de trouxa � disse a voz calmamente. � Isso quer dizer que voc� n�o � bruxo. � Eu n�o sei o que o senhor quer dizer por trouxa � respondeu Franco, com a voz mais firme. � S� sei � que esta noite ouvi o suficiente para despertar o interesse da pol�cia, ah, isto eu ouvi, O senhor j� matou uma vez e est� planejando matar mais! E vou-lhe dizer outra coisa � acrescentou, numa s�bita inspira��o �, minha mulher sabe que estou aqui e se eu n�o voltar... � Voc� n�o tem mulher � disse a voz fria, muito baixinho. � Ningu�m sabe que voc� est� aqui. Voc� n�o disse a ningu�m que vinha. N�o minta para Lord Voldemort, trouxa, porque ele sabe... Ele sempre sabe... � � mesmo? � retrucou Franco com aspereza. � Lord �? Ora, n�o tenho muito respeito pelos seus modos, milorde. Vire-se e me encare como homem, por que n�o faz isso? � Mas eu n�o sou homem, trouxa � retrucou a voz fria, quase inaud�vel devido ao crepitar das chamas. � Sou muito, muito mais do que um homem. Mas... Por que n�o? Vou encar�-lo... Rabicho, venha virar minha poltrona. O servo deu um gemido. � Voc� me ouviu, Rabicho. Lentamente, com o rosto contra�do, como se preferisse fazer qualquer coisa a ter que se aproximar do seu senhor e do tapete em que se deitara a cobra, o homenzinho se adiantou e come�ou a girar a cadeira. A cobra ergueu a feia cabe�a triangular e sibilou baixinho quando as pernas da poltrona se prenderam no tapete. E, ent�o, a poltrona ficou de frente para Franco e ele viu o que havia nela. Sua bengala caiu no ch�o com estr�pito. Ele abriu a boca e soltou um grito. Gritou t�o alto que nunca ouviu as palavras que a coisa na poltrona disse ao erguer a varinha. Houve um rel�mpago de luz verde, um ru�do farfalhante e Franco Bryce desabou. Morreu antes de bater no ch�o. A trezentos quil�metros dali, o garoto chamado Harry Potter acordou assustado. CAP�TULO DOIS A cicatriz Harry estava deitado de costas, respirando com esfor�o como se tivesse corrido. Acordara de um sonho vivido, apertando o rosto com as m�os. A antiga cicatriz em sua testa, que tinha a forma de um raio, ardia sob seus dedos como se algu�m tivesse comprimido sua pele com um arame em brasa. Ele se sentou, uma das m�os ainda na cicatriz, a outra estendida no escuro � procura dos �culos que deixara na mesa-de-cabeceira. Ele os colocou e o quarto entrou em foco, iluminado por uma luz fraca e enevoada vinda de um lampi�o de rua fora da janela. Harry tornou a passar os dedos pela cicatriz. Continuava dolorida. Ele acendeu o abajur ao seu lado, saiu da cama, atravessou o quarto, abriu o guarda-roupa e espiou no espelho que havia do lado interno da porta. Um menino magricela de catorze anos olhou para ele, os olhos muito verdes e intrigados sob os cabelos negros em desalinho. Examinou com mais aten��o a cicatriz em sua imagem. Parecia normal, mas continuava ardendo. Harry tentou se lembrar do que estivera sonhando antes de acordar. Parecera t�o real... Havia duas pessoas que ele conhecia e uma que n�o conhecia... Ele se concentrou, enrugando a testa, tentando se lembrar... Veio � sua mente a imagem pouco n�tida de um quarto escuro... Havia uma cobra em cima de um tapete diante da lareira... Um homenzinho chamado Pedro, de apelido Rabicho... E uma voz aguda e fria... A voz de Lord Voldemort. S� de pensar, Harry teve a sensa��o de que uma pedra de gelo estava descendo para o seu est�mago... Fechou os olhos com for�a e tentou se lembrar que apar�ncia tinha Voldemort, mas foi imposs�vel... Tudo que Harry sabia era que, no momento em que a poltrona girara, vira o que estava sentado nela, sentira um espasmo de horror que o acordara... Ou fora a dor na cicatriz? E quem era o velho? Porque sem d�vida havia um velho; Harry o vira cair no ch�o. Tudo estava ficando confuso; o garoto levou as m�os ao rosto tampando a vis�o do quarto em que estava, tentando reter a imagem daquele outro mal iluminado, mas era o mesmo que tentar segurar �gua com as m�os; os detalhes agora desapareciam com a mesma rapidez com que ele tentava ret�-los... Voldemort e Rabicho estiveram conversando sobre algu�m que haviam matado, embora Harry n�o conseguisse lembrar o nome... E estiveram planejando matar mais algu�m... Ele... Harry tirou as m�os do rosto, abriu os olhos e contemplou o quarto a toda a volta como se esperasse ver alguma coisa diferente ali. Como era de esperar, havia uma quantidade extraordin�ria de coisas diferentes em seu quarto. Havia um mal�o de madeira aberto ao p� da cama, deixando � mostra um caldeir�o, uma vassoura, vestes negras e v�rios livros de feiti�os. Rolos de pergaminho atulhavam a parte do tampo de sua escrivaninha que n�o estava levantada por causa de uma enorme gaiola vazia, em que sua coruja muito branca, Edwiges, normalmente se encarrapitava. No ch�o ao lado de sua cama havia um livro aberto; ele o estivera lendo antes de adormecer na v�spera. As ilustra��es do livro se mexiam. Homens com vestes laranja-vivo voavam em vassouras e entravam e sa�am do seu campo de vis�o, jogando uma bola vermelha. Harry foi at� o livro, apanhou-o e assistiu a um dos bruxos marcar um gol espetacular enfiando a bola por um aro a quinze metros de altura. Ent�o o garoto fechou o livro. Nem mesmo o Quadribol � na opini�o de Harry, o melhor esporte do mundo � conseguiria distra�-lo naquele momento. Ele rep�s o livro Voando com os Cannons sobre a mesa-de-cabeceira, dirigiu-se � janela e afastou as cortinas para olhar a rua l� embaixo. A Rua dos Alfeneiros tinha o aspecto exato que uma rua de sub�rbio respeit�vel deveria ter nas primeiras horas de um s�bado. Todas as cortinas estavam fechadas. At� onde Harry p�de ver no escuro, n�o havia um �nico ser vivo � vista, nem mesmo um gato. Contudo... Contudo... Harry voltou inquieto para a cama e se sentou, passando mais uma vez um dedo pela cicatriz. N�o era a dor que o incomodava; Harry n�o era estranho � dor e aos ferimentos. Uma vez perdera todos os ossos do bra�o direito e sentira a dor de recuper�-los em uma noite. O mesmo bra�o fora perfurado pela presa venenosa de uma cobra, pouco tempo depois. Ainda no ano anterior, ele despencara quinze metros da vassoura em que voava. Estava acostumado com acidentes e ferimentos incomuns; eram inevit�veis quando se freq�entava a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e se tinha um pendor para atrair confus�es. N�o, a coisa que estava incomodando Harry era que da �ltima vez que sua cicatriz doera, fora porque Voldemort tinha andado por perto... Mas o bruxo n�o poderia estar ali, naquela hora... A id�ia de Voldemort estar rondando a Rua dos Alfeneiros era absurda, imposs�vel... Harry parou para escutar com aten��o o sil�ncio � sua volta. Estaria esperando ouvir o rangido de um degrau, o farfalhar de uma capa? Ent�o teve um leve sobressalto, seu primo Duda acabara de soltar um tremendo ronco no quarto ao lado. Harry deu em si mesmo uma sacudidela imagin�ria; estava sendo burro; n�o havia mais ningu�m em casa exceto o tio V�lter, a tia Pet�nia e Duda, e era evidente que eles ainda dormiam, embalados por sonhos tranq�ilos e indolores. Era quando dormiam que Harry mais gostava dos Dursley; n�o porque n�o o ajudassem em nada quando estavam acordados. Tio V�lter, tia Pet�nia e Duda eram os �nicos parentes vivos de Harry. Eram trouxas (n�o eram bruxos) que odiavam e desprezavam qualquer forma de magia, o que significava que Harry era t�o bem-vindo em sua casa, quanto uma pelota de mofo. Eles explicaram as longas aus�ncias de Harry nos �ltimos tr�s anos dizendo a todos que o garoto estudava no Centro St. Brutus para Meninos Irrecuper�veis. Sabiam muito bem que, como bruxo menor de idade, Harry era proibido de usar a magia fora de Hogwarts, mas n�o perdiam a mania de culp�-lo por tudo que acontecia de errado na casa. Harry nunca pudera fazer confid�ncias a eles, nem contar nada de sua vida no mundo da magia. A simples id�ia de procur�-los quando acordassem para falar que sua cicatriz estava doendo e que estava preocupado com Voldemort era rid�cula. No entanto, era por causa de Voldemort que Harry viera morar com os Dursley, para in�cio de conversa. Se n�o fosse por aquele bruxo, Harry n�o teria na testa a cicatriz em forma de raio. Se n�o fosse por Voldemort, o garoto ainda teria pais... Harry tinha um ano de idade na noite em que Voldemort � h� um s�culo o bruxo das trevas mais poderoso do mundo, um bruxo que fora adquirindo poder continuamente durante onze anos � tinha chegado a sua casa e matado seus pais. Depois, Voldemort brandira sua varinha contra Harry; executara o feiti�o que havia liquidado muitos bruxos adultos durante sua ascens�o ao poder � e, inacreditavelmente, o feiti�o n�o produzira efeito. Em vez de matar o garotinho, o feiti�o se voltara contra o bruxo. Harry sobrevivera marcado apenas por um corte em forma de raio na testa, mas Voldemort fora reduzido a uma coisa quase sem vida. Despojado de seus poderes, a vida quase extinta, ele fugira; o terror em que a comunidade secreta de bruxos vivera tanto tempo se dissipou, os seguidores de Voldemort debandaram, e Harry Potter se tornou famoso. Harry tivera um choque de bom tamanho ao descobrir, no seu d�cimo primeiro anivers�rio, que era bruxo; fora ainda mais desconcertante descobrir que todos no mundo secreto da magia conheciam seu nome. Harry chegara a Hogwarts e deparara com cabe�as que se viravam e cochichos que o seguiam aonde fosse. Mas agora j� se acostumara com isso. No fim deste ver�o, ele iria come�ar o seu quarto ano em Hogwarts; e j� estava contando os dias para regressar ao castelo. Mas faltavam ainda quinze dias para as aulas recome�arem. Harry tornou a examinar o quarto, desanimado, e seus olhos pousaram nos cart�es de anivers�rio que seus dois melhores amigos tinham lhe mandado no fim de julho. Que ser� que diriam se lhes escrevesse para contar que a cicatriz estava doendo? Na mesma hora a voz de Hermione Granger penetrou sua cabe�a, aguda e cheia de p�nico. �Sua cicatriz est� doendo? Harry, isso � realmente s�rio... Escreve ao Professor Dumbledore! Vou verificar no meu livro Afli��es e Males Comuns na Magia... Quem sabe tem alguma coisa l� sobre cicatrizes produzidas por feiti�os...� E, este seria o conselho de Hermione: vai procurar o diretor de Hogwarts, e, enquanto isso, vai consultando um livro. Harry contemplou pela janela o c�u azul, quase negro. Duvidava muito que um livro pudesse ajud�-lo. Que ele soubesse, era a �nica pessoa que tinha sobrevivido a um feiti�o como o de Voldemort; portanto, era pouco prov�vel que encontrasse os seus sintomas descritos em Afli��es e Males Comuns na Magia. Quanto a informar ao diretor, Harry n�o fazia a menor id�ia de onde Dumbledore passava as f�rias de ver�o. S� por um momento divertiu-se em imaginar Dumbledore, com suas longas barbas prateadas, vestes compridas de bruxo e chap�u c�nico, estirado em uma praia qualquer, passando filtro solar no longo nariz torto. Mas onde quer que Dumbledore estivesse, Harry tinha certeza de que Edwiges seria capaz de encontr�-lo; a coruja de Harry, at� aquele dia, jamais deixara de entregar uma carta, mesmo sem endere�o. Mas o que iria escrever? �Prezado Professor Dumbledore. Desculpe-me o inc�modo, mas minha cicatriz doeu hoje de manh�. Atenciosamente, Harry Potter.� Mesmo em sua cabe�a as palavras pareciam idiotas. Ent�o ele tentou imaginar a rea��o do seu outro melhor amigo, Rony Weasley e, num instante, o rosto sardento, de nariz comprido, do amigo come�ou a flutuar diante de Harry com uma express�o de atordoamento. �Sua cicatriz doeu? Mas... Mas Voc�-Sabe-Quem n�o pode estar por perto agora, pode? Quero dizer... Voc� saberia, n�o saberia? Ele estaria tentando matar voc� outra vez, n�o �? Sei n�o, Harry, vai ver as cicatrizes produzidas por feiti�os sempre doem um pouquinho... Vou perguntar ao meu pai...� O Sr. Weasley era um bruxo diplomado que trabalhava na Se��o de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas, no Minist�rio da Magia, mas, pelo que Harry soubesse, n�o tinha qualquer forma��o espec�fica em feiti�os. Em todo o caso, n�o lhe agradava a id�ia de que a fam�lia Weasley inteira soubesse que estava assustado por causa de uma dorzinha. A Sra. Weasley se preocuparia mais do que Hermione, e Fred e Jorge, os g�meos de dezesseis anos, irm�os de Rony, poderiam pensar que Harry estava se acovardando. Os Weasley eram a fam�lia de que Harry mais gostava no mundo e ele tinha esperan�as que o convidassem para passar uns dias em casa deles uma hora dessas (Rony mencionara alguma coisa sobre uma Copa Mundial de Quadribol), e Harry n�o queria que sua visita fosse pontuada por perguntas ansiosas sobre sua cicatriz. O garoto massageou a cicatriz com os n�s dos dedos. O que ele realmente queria (e se sentiu quase envergonhado de admitir para si mesmo) era algu�m como um pai ou uma m�e para um bruxo adulto a quem pudesse pedir um conselho sem se sentir burro, algu�m que gostasse dele, que tivesse tido experi�ncia com artes das trevas... E ent�o lhe ocorreu a solu��o. Era t�o simples, t�o �bvia, que ele nem podia acreditar que tivesse levado tanto tempo para lembrar � Sirius. Harry saltou da cama, saiu correndo e se sentou � escrivaninha; puxou um pergaminho para perto, molhou a pena de �guia no tinteiro, escreveu �Caro Sirius�, e em seguida parou, pensando qual seria a melhor maneira de contar o seu problema, ainda admirado com o fato de n�o ter pensado nele logo de sa�da. Mas, por outro lado, talvez n�o merecesse tanta admira��o � afinal, ele s� descobrira que Sirius era seu padrinho fazia dois meses. Havia uma raz�o simples para a absoluta aus�ncia de Sirius da vida de Harry at� aquele momento � o bruxo estivera em Azkaban, a assustadora pris�o de bruxos, guardada por dementadores, criaturas malignas que n�o possu�am olhos, sugavam a alma das pessoas, e tinham ido a Hogwarts procurar Sirius quando ele fugira. Por�m, o bruxo era inocente � as mortes pelas quais fora condenado tinham sido cometidas por Rabicho, seguidor de Voldemort, que quase todos ainda pensavam estar morto. Harry, Rony e Hermione sabiam que n�o; tinham encontrado Rabicho cara a cara no ano anterior, embora apenas o Professor Dumbledore tivesse acreditado na hist�ria que eles contaram. Durante uma gloriosa hora, Harry acreditara que finalmente deixaria a casa dos Dursley, porque Sirius se oferecera para ficar com ele, depois que limpasse o pr�prio nome. Mas a oportunidade lhe fora roubada � Rabicho escapara antes que pudessem lev�-lo ao Minist�rio da Magia, e Sirius teve de fugir para salvar a vida. Harry o ajudara a escapar montado em um hipogrifo chamado Bicu�o, e desde ent�o Sirius estava foragido. A casa que Harry poderia ter tido, se Rabicho n�o tivesse desaparecido, o atormentara o ver�o inteiro. Fora duas vezes mais penoso voltar para os Dursley sabendo que quase se livrara deles para sempre. Ainda assim, Sirius vinha ajudando Harry, mesmo sem poder estar presente. Gra�as ao padrinho, Harry agora tinha todo o seu material escolar guardado no quarto. Os Dursley nunca haviam permitido isso; o desejo geral de tornar a vida de Harry a mais infeliz poss�vel, somado ao medo dos seus poderes, levara os tios, nos ver�es anteriores, a trancar o mal�o de escola do garoto no arm�rio sob a escada. Mas a atitude dos Dursley mudara desde que descobriram que Harry tinha um perigoso condenado como padrinho � Harry, convenientemente, se esquecera de acrescentar que Sirius era inocente. O garoto recebera duas cartas de Sirius desde que voltara � Rua dos Alfeneiros. Ambas tinham sido entregues n�o por corujas (como era costume entre os bruxos), mas por grandes e coloridos p�ssaros tropicais. Edwiges n�o aprovara aqueles intrusos espalhafatosos; relutara muito a permitir que eles usassem o seu bebedouro antes de irem embora. Harry, por outro lado, gostara muito das aves; fizeram-no lembrar palmeiras e praias de areia branca e ele desejara que, onde quer que o padrinho estivesse (Sirius nunca dizia, temendo que as cartas fossem interceptadas), que estivesse se divertindo. Por alguma raz�o, Harry achava dif�cil imaginar dementadores que sobrevivessem muito tempo sob o sol forte; talvez por isso � que Sirius tivesse rumado para o sul. As cartas dele, que agora estavam escondidas sob a util�ssima t�bua solta do soalho, embaixo da cama de Harry, tinham um tom animado e, nas duas, ele lembrava Harry que o chamasse se um dia precisasse. Bem, ele bem que precisava chamar o padrinho agora... Sua luz de cabeceira parecia estar enfraquecendo a medida que a luz fria e cinzenta que antecede o nascer do sol penetrava devagarzinho no quarto. Finalmente, quando o sol nasceu, quando as paredes do quarto ficaram douradas e quando ele ouviu sons de gente se mexendo no quarto de tio V�lter e tia Pet�nia, Harry tirou os peda�os amassados de pergaminho de cima da escrivaninha e releu a carta que escrevera. �Caro Sirius, Obrigado por sua �ltima carta, a ave era enorme, quase n�o p�de passar pela minha janela. As coisas continuam na mesma por aqui. A dieta de Duda n�o est� dando muito certo. Minha tia o pegou contrabandeando rosquinhas fritas e a�ucaradas para dentro do quarto, ontem. Meus tios disseram que v�o ter de cortar a mesada dele caso ele continue fazendo isso, ent�o Duda ficou com muita raiva e atirou pela janela o PlayStation. Isso � uma esp�cie de computador com muitos jogos. Foi realmente uma burrice porque agora ele n�o tem nem um Mega-Mutilation parte tr�s para distrair as id�ias. Eu vou bem, principalmente porque os Dursley est�o apavorados que voc� possa aparecer e transformar eles em morcegos se eu pedir. Mas aconteceu uma coisa estranha, hoje de madrugada. Minha cicatriz doeu outra vez. A �ltima vez que isto aconteceu foi porque Voldemort estava em Hogwarts. Mas acho que ele n�o pode estar por perto agora, pode? Voc� sabe se cicatrizes produzidas por um feiti�o podem doer at� anos depois? Vou mandar esta carta quando Edwiges voltar, no momento ela saiu para ca�ar. Diga ol� ao Bicu�o por mim. Harry�. Pensou Harry, parecia boa. N�o fazia sentido incluir o sonho, ele n�o queria que a carta deixasse transparecer que estava muito preocupado. O garoto enrolou o pergaminho e deixou-o em cima da escrivaninha, pronto para quando Edwiges voltasse. Depois se levantou, se espregui�ou e abriu mais uma vez o guarda-roupa. Sem olhar para a imagem refletida no espelho, come�ou a se vestir para ir tomar o caf� da manh�. CAP�TULO TR�S O Convite Quando Harry finalmente chegou � cozinha, os tr�s Dursley j� estavam sentados � mesa. Nenhum deles ergueu a cabe�a quando o garoto entrou ou se sentou. A cara�a vermelha de tio V�lter estava escondida atr�s do matutino Daily Mail, e tia Pet�nia partia um grapefruit em quatro, os l�bios contra�dos por cima dos dentes de cavalo. Duda parecia furioso e carrancudo, e, por alguma raz�o, dava a impress�o de estar ocupando mais espa�o do que de costume. E isso n�o era pouco, porque ele sempre ocupava sozinho um lado inteiro da mesa quadrada. Quando tia Pet�nia p�s um quarto de grapefruit no prato do filho com um tr�mulo "Tome, Dudinha querido", o garoto lan�ou-lhe um olhar raivoso. A vida de Duda tomara um rumo muito desagrad�vel desde que ele voltara para passar as f�rias de ver�o em casa trazendo o boletim de fim de ano. Tio V�lter e tia Pet�nia, como sempre, tinham conseguido arranjar desculpas para as notas baixas dele; tia Pet�nia sempre insistia que Duda era um menino muito talentoso, incompreendido pelos professores, enquanto tio V�lter sustentava que "ele n�o queria mesmo um filho c�-d�-efe e educadinho". Eles tamb�m passaram por cima das acusa��es de trucul�ncia e intimida��o de colegas que havia no boletim. "Ele � um garotinho turbulento, mas n�o faria mal a uma mosca!", comentou tia Pet�nia chorosa. Contudo, no finalzinho havia uma observa��o muito bem colocada da enfermeira da escola, que nem mesmo os pais conseguiram justificar. Por mais que tia Pet�nia choramingasse que Duda tinha ossos grandes e que seu excesso de peso era na realidade gordura infantil, que ele era um menino em crescimento e precisava de muita comida, o fato era que os fornecedores de uniformes da escola n�o estocavam cal�as suficientemente grandes para Duda. A enfermeira da escola vira o que os olhos de tia Pet�nia � t�o atentos quando se tratava de encontrar marcas de dedos em suas paredes brilhantes e observar as idas e vindas dos vizinhos � simplesmente se recusavam a enxergar: que, longe de precisar de alimenta��o suplementar, Duda atingira aproximadamente o tamanho e o peso de um filhote de orca. Ent�o � depois de muitos acessos de raiva, muitas discuss�es que sacudiram o soalho do quarto de Harry e muitas l�grimas de tia Pet�nia � o novo regime come�ara. A receita da dieta que a enfermeira da Smeltings enviara fora colada na geladeira, j� esvaziada de todas as coisas que Duda mais gostava � bebidas gasosas e bolos, barras de chocolate e hamb�rgueres � e cheia de frutas, legumes e coisas que tio V�lter chamava de "comida de coelho". Para fazer Duda se sentir melhor com a mudan�a, tia Pet�nia insistira que a fam�lia inteira seguisse a mesma dieta. Agora ela passava um quarto de grapefruit para Harry. O garoto reparou que o dele era bem menor que o de Duda. A tia parecia sentir que a melhor maneira de manter o moral de Duda era providenciar para que ele, no m�nimo, recebesse mais comida do que Harry. Mas tia Pet�nia n�o sabia o que estava escondido sob as t�buas soltas do soalho no andar de cima. N�o fazia a menor id�ia de que Harry n�o estava seguindo dieta alguma. No momento em que descobriu que esperavam que ele sobrevivesse durante o ver�o comendo palitos de cenoura crua, Harry despachara Edwiges � casa dos amigos com pedidos de ajuda, e eles tinham correspondido mais do que � altura. A coruja voltara da casa de Hermione com uma enorme caixa de lanchinhos sem a��car (os pais de Hermione eram dentistas). Hagrid, o guarda-ca�a de Hogwarts, comparecera com um saco de bolos que ele mesmo fabricara (Harry ainda n�o provara; tinha muita experi�ncia com a culin�ria de Hagrid). A Sra. Weasley, por�m, mandara a coruja da fam�lia, Errol, com um enorme bolo de frutas e tortinhas variadas. O coitado do Errol, que era velho e fraco, precisara de cinco dias inteiros para se recuperar da viagem. Ent�o, no anivers�rio de Harry (a que os Dursley sequer deram aten��o), ele recebera quatro espl�ndidos bolos de anivers�rio de Rony, Hermione, Hagrid e Sirius. Ainda lhe restavam dois, e sabendo que teria um caf� da manh� de verdade quando voltasse ao seu quarto, ele come�ou a comer o grapefruit sem reclamar. Tio V�lter p�s de lado o jornal com um profundo suspiro de desaprova��o e olhou para o seu quarto de grapefruit. � � s� isso? � perguntou em tom de reclama��o � tia Pet�nia. A mulher lhe lan�ou um olhar severo e indicou com a cabe�a o filho, que j� acabara de comer o seu quarto de fruta e estava cobi�ando o de Harry com um olhar azedo nos olhinhos de porco, Tio V�lter soltou um grande suspiro, que arrepiou sua espessa bigodeira, e apanhou a colher ao lado do prato. A campainha da porta tocou. Ele se levantou penosamente da cadeira e saiu em dire��o ao hall. R�pido como um raio, enquanto a m�e se ocupava com a chaleira, Duda furtou o resto de grapefruit do pai. Harry ouviu vozes � porta, algu�m rindo e a resposta seca do tio. Ent�o a porta se fechou e seguiu-se um ru�do de papel rasgado no hall. Tia Pet�nia colocou o bule de ch� sobre a mesa e olhou curiosa � volta para ver aonde fora o marido. N�o precisou esperar muito para descobrir; passado um minuto ele estava de volta. Com o rosto l�vido. � Voc� � vociferou ele para Harry. � Na sala de estar. Agora. Espantado, perguntando-se o que teria feito desta vez, Harry se levantou e acompanhou o tio para fora da cozinha e rumaram para o aposento vizinho. V�lter fechou a porta com for�a depois que ele e o sobrinho entraram. � Ent�o � disse o tio, indo at� a lareira e se virando para encarar Harry, como se estivesse prestes a lhe dar voz de pris�o. � Ent�o. Harry teria adorado responder "Qual �?", mas achou que a boa disposi��o do tio n�o deveria ser testada assim cedinho, principalmente se j� estava sob forte estresse por falta de comida. Ent�o decidiu fazer cara de quem est� educadamente intrigado. � Isto acabou de chegar � disse o tio. E brandiu na cara de Harry a folha de papel de carta roxo. � Uma carta. A seu respeito. A confus�o de Harry aumentou. Quem estaria escrevendo a tio V�lter a respeito dele? Quem � que ele conhecia que mandava cartas pelo correio? Tio V�lter olhou aborrecido para Harry, depois baixou os olhos para a carta e come�ou a ler em voz alta: �Prezados Sr. e Sra. Dursley, Nunca fomos apresentados, mas tenho certeza de que j� ouviram Harry falar muito do meu filho Rony. Como Harry deve ter-lhes contado, a final da Copa Mundial de Quadribol vai se realizar na pr�xima segunda-feira � noite, e meu marido, Arthur, conseguiu arranjar �timos lugares para o jogo por interm�dio de conhecidos do Departamento de Jogos e Esportes M�gicos. Espero que o senhor e sua mulher nos permitam levar Harry ao jogo, pois � realmente uma oportunidade �nica na vida. A Gr�-Bretanha n�o sedia a Copa h� trinta anos e as entradas s�o muito dif�ceis de se obter. Ficar�amos muito felizes se Harry pudesse passar o resto das f�rias de ver�o conosco, e de acompanh�-lo em seguran�a at� o embarque para a escola. Seria prefer�vel que ele nos mandasse a resposta, o mais depressa poss�vel, da maneira normal, porque o carteiro trouxa jamais entregou correspond�ncia em nossa casa e n�o tenho muita certeza de que saiba onde �. Esperando ver Harry em breve, subscrevo-me, Atenciosamente, Molly Weasley. PS. Espero ter colado selos suficientes na carta.� Tio V�lter terminou a leitura, tornou a meter a m�o no bolso superior do palet� e tirou mais alguma coisa. � Olhe s� isto � rosnou. E mostrou o envelope em que chegara a carta da Sra. Weasley, e Harry precisou fazer for�a para n�o rir. O envelope estava coberto de selos, exceto por um quadrado de uns tr�s cent�metros na face, em que a senhora havia espremido o endere�o dos Dursley numa letra miudinha. � Ent�o ela colou selos suficientes � disse Harry tentando fazer parecer que o engano da Sra. Weasley era muito comum. Os olhos do tio faiscaram. � O carteiro reparou � disse ele entre dentes. � Estava muito interessado em saber de onde veio a carta. Foi por isso que tocou a campainha. Parecia estar achando muito engra�ado. Harry ficou calado. Outras pessoas talvez n�o entendessem o porqu� da preocupa��o do tio com tantos selos, mas Harry vivera com os Dursley tempo bastante para saber que se incomodavam muito com qualquer coisa at� ligeiramente anormal. O pior receio dos dois era algu�m descobrir que estavam ligados (por mais remotamente que fosse) com gente como a Sra. Weasley. Tio V�lter continuou a olhar feio para Harry, que tentava sustentar uma express�o neutra. Se n�o fizesse nem dissesse nada idiota, talvez pudesse curtir uma oportunidade que s� ocorria uma vez na vida. Esperou o tio dizer alguma coisa, mas o homem simplesmente continuou a fit�-lo com raiva. Harry resolveu, ent�o, quebrar o sil�ncio. � Ent�o... Posso ir? � perguntou. Um ligeiro espasmo passou pela cara�a p�rpura do tio. Os bigodes se arrepiaram. Harry achou que sabia o que estava acontecendo por tr�s daquela bigodeira: uma batalha encarni�ada em que dois instintos muito fundamentais de tio V�lter se confrontavam. Permitir que Harry fosse seria fazer o garoto feliz, uma coisa que o tio lutava para evitar havia treze anos. Por outro lado, deixar que Harry sumisse para a casa dos Weasley o resto do ver�o seria livrar-se dele duas semanas mais cedo do que os Dursley poderiam ter sonhado, e tio V�lter detestava ter Harry em casa. Aparentemente, para ganhar tempo para pensar, ele baixou os olhos para a carta da Sra. Weasley. � Quem � essa mulher? � perguntou examinando a assinatura com desagrado. � O senhor j� a viu. � a m�e do meu amigo Rony, estava esperando ele descer do trem de Hog... Do trem da escola no fim do ano letivo. Quase dissera "Hogwarts", e isso certamente irritaria o tio. Ningu�m jamais mencionava o nome da escola de Harry em voz alta na casa dos Dursley. Tio V�lter amarrou a cara enorme como se tentasse se lembrar de uma coisa muito desagrad�vel. � Uma mulher feito uma rolha de po�o? � rosnou finalmente. � Uma penca de filhos de cabelos vermelhos? Harry franziu a testa. Achou que era demais o tio chamar algu�m de "rolha de po�o", uma vez que seu filho, Duda, finalmente atingira a forma que vinha amea�ando atingir desde os tr�s anos de idade, ter mais largura do que altura. Tio V�lter tornou a examinar a carta. � Quadribol � resmungou. � Quadribol, que droga � isso? Harry sentiu nova pontada de aborrecimento. � Um esporte � respondeu secamente. � Joga-se montado numa vass... � Est� bem, est� bem! � disse o tio em voz alta. Harry observou, com alguma satisfa��o, que ele parecia ligeiramente em p�nico. Pelo visto seus nervos n�o iriam suportar o som da palavra "vassouras" em sua sala de estar. Refugiou-se outra vez no exame da carta. Harry viu os l�bios do tio formarem as palavras "nos mandasse a resposta da maneira normal". Tornou a fechar a cara. � Que � que ela quer dizer da maneira normal? � bufou ele. � Normal para n�s � explicou Harry e, antes que o tio pudesse interromp�-lo, acrescentou: � o senhor sabe, por correio-coruja. Isso � que � o normal para os bruxos. Tio V�lter fez uma cara t�o indignada como se Harry tivesse dito um palavr�o. Tr�mulo de raiva, lan�ou um olhar nervoso para a janela, como se esperasse ver os vizinhos com os ouvidos colados na vidra�a. � Quantas vezes tenho que lhe dizer para n�o mencionar essa anormalidade sob o meu teto? � sibilou ele, o rosto agora um intenso tom ameixa. � Voc� fica parado a�, vestindo as roupas com que Pet�nia e eu cobrimos suas costas ingratas... � S� depois que Duda n�o quer mais elas � disse Harry com frieza, pois na realidade estava vestindo um su�ter t�o grande que ele precisava fazer cinco dobras nas mangas para poder usar as m�os, e que lhe ca�a abaixo dos joelhos da cal�a jeans muito larga. � N�o vou admitir que voc� fale comigo assim! � disse o tio tremendo de raiva. Mas Harry n�o precisava aturar isso. Ia longe o tempo em que era obrigado a aceitar todas as regras idiotas dos Dursley. N�o ia seguir a dieta de Duda, e n�o ia deixar o tio impedi-lo de assistir � Copa Mundial de Quadribol, n�o se dependesse dele. Harry inspirou profundamente para se acalmar e ent�o disse: � Muito bem, n�o posso assistir � Copa Mundial de Quadribol. Posso ir, agora? � que eu tenho uma carta para Sirius que quero terminar. O senhor sabe, o meu padrinho. Conseguira. Dissera as palavras m�gicas. Ficou ent�o observando o tom p�rpura no rosto do tio ir clareando desigualmente, fazendo-o parecer um sorvete de groselha mal misturado. � Voc� est� escrevendo para ele? � indagou tio V�lter numa voz falsamente calma, mas Harry vira as pupilas dos olhos dele se contra�rem com repentino medo. � Bem... � � disse Harry em tom casual. � J� faz um tempo que ele n�o tem not�cias minhas e, o senhor sabe, se n�o receber nada, pode pensar que aconteceu algum problema. Ele parou para gozar o efeito de suas palavras. Quase p�de at� ver as engrenagens girando por baixo dos cabelos do tio, escuros, grossos e caprichosamente repartidos. Se V�lter tentasse impedir Harry de escrever para Sirius, este pensaria que o garoto estava sendo maltratado. Se dissesse que o sobrinho n�o podia ir � Copa Mundial de Quadribol, o garoto iria escrever contando ao padrinho, que teria certeza de que Harry estava sendo maltratado. S� havia uma coisa para tio V�lter fazer. Harry via a conclus�o se formando no c�rebro do tio como se sua cara�a bigoduda fosse transparente. O garoto tentou n�o sorrir e manter o rosto o mais inexpressivo poss�vel. E ent�o... � Bem, est� bem, ent�o. Pode ir para a casa dessa rolha... Dessa idiota... Para essa tal de Copa Mundial. Escreva respondendo a esses... Esses Weasley para virem apanh�-lo, veja bem. N�o tenho tempo para acompanhar voc� por todo o pa�s. E pode passar o resto do ver�o l�. E pode dizer ao seu, seu padrinho... Diga a ele... Diga a ele que voc� vai. � O.K. ent�o � disse Harry animado. O garoto se virou e saiu pela porta da sala de estar, brigando com a vontade de saltar no ar e gritar. Ele ia... Ia para a casa dos Weasley, ia assistir � Copa Mundial de Quadribol! J� no corredor, ele quase colidiu com Duda, que estivera escondido atr�s da porta, na esperan�a de ouvir Harry levar um passa-fora. Ficou chocado ao ver o largo sorriso no rosto do primo. � Foi um excelente caf� da manh�, n�o foi? � exclamou Harry. � Estou de barriga cheia, voc� n�o? Rindo da cara de espanto de Duda, Harry subiu a escada, saltando tr�s degraus de cada vez, e correu para dentro de seu quarto. A primeira coisa que viu foi que Edwiges voltara. Estava na gaiola, espiando Harry com seus enormes olhos cor de �mbar, estalando o bico de um jeito que significava que estava aborrecida com alguma coisa. Exatamente o que a estava aborrecendo tornou-se vis�vel quase na mesma hora. � AI! � gemeu Harry. Algo que lembrava uma min�scula bola de t�nis, cinzenta e emplumada, acabara de bater do lado da cabe�a de Harry. Ele massageou a cabe�a furiosamente erguendo os olhos para ver o que o atingira, e viu uma corujinha m�nima, pequena o bastante para caber na palma de sua m�o, chiando excitada pelo quarto como se fosse um busca-p�. O garoto percebeu que a coruja deixara cair uma carta a seus p�s. Ele se abaixou, reconheceu a letra de Rony e abriu o envelope. Dentro havia um bilhete apressado. �Harry, PAPAI CONSEGUIU AS ENTRADAS � Irlanda contra a Bulg�ria. Na noite de segunda. Mam�e escreveu aos trouxas para convidar voc�. Talvez a carta j� tenha chegado, n�o sei quanto tempo demora o correio dos trouxas. Pensei em lhe mandar este bilhete pela P�chi. Harry olhou bem para a palavra "P�chi", depois para a min�scula coruja que voava velozmente em volta da luz no teto. Que nome mais esquisito para uma coruja. Talvez ele n�o tivesse entendido a letra de Rony. Voltou ao bilhete. Vamos buscar voc�, quer os trouxas gostem ou n�o, voc� n�o pode perder a Copa, s� que mam�e e papai acham que � melhor a gente primeiro fingir que est� pedindo permiss�o. Se eles disserem sim, mande logo P�chi com a sua resposta, e iremos buscar voc� �s cinco horas no domingo. Se eles disserem n�o, por favor, mande Pichi de volta depressa e iremos busc�-lo no domingo �s cinco horas, assim mesmo. Hermione est� chegando hoje � tarde. Percy come�ou a trabalhar no Departamento de Coopera��o Internacional em Magia. N�o fale em ir para o exterior enquanto estiver aqui a n�o ser que queira que ele lhe arranque as cal�as pela cabe�a. At� � mais. Rony.� � Calma a�! � disse Harry, quando a corujinha tirou um rasante da cabe�a dele, batendo as asas loucamente. Harry s� p�de supor que de orgulho por ter entregado a carta � pessoa certa. � Vem c�, preciso que voc� leve a minha resposta! A corujinha voou at� o topo da gaiola da coruja de Harry. Edwiges olhou-a friamente, como se a desafiasse a tentar se aproximar mais. Harry tomou a pena de �guia mais uma vez, apanhou um pergaminho limpo e escreveu: �Rony, est� tudo certo, os trouxas disseram que eu posso ir. Vejo voc�s amanh� �s cinco. Mal posso esperar. Harry�. Depois, dobrou o bilhete muitas vezes e, com imensa dificuldade, prendeu-o na perna da corujinha que pulava no mesmo lugar de tanta excita��o. No instante em que o bilhete ficou preso, a coruja partiu, disparou pela janela e se perdeu de vista. Harry se virou para Edwiges. � Est� com disposi��o para fazer uma longa viagem? � perguntou. A coruja piou com uma certa dignidade. � Pode levar isto ao Sirius para mim? � disse ele apanhando a � Espera a�... quero terminar. Ele tornou a desenrolar o pergaminho e apressadamente acrescentou um post scriptum. �Se quiser entrar em contato comigo, estarei na casa do meu amigo Rony Weasley at� o fim do ver�o. O pai dele arranjou entradas para a gente assistir � Copa Mundial de Quadribol!� Terminada a carta, ele a amarrou � perna de Edwiges; ela ficou anormalmente quieta, como se estivesse decidida a mostrar ao dono como � que uma verdadeira coruja-correio devia se comportar. � Vou estar na casa de Rony quando voc� voltar, est� bem? � Harry a informou. A coruja deu uma bicadinha carinhosa no dedo do garoto, depois, com um ru�do farfalhante, abriu as enormes asas e saiu voando pela janela aberta. Harry observou-a desaparecer ao longe, depois entrou de quatro embaixo da cama, soltou a t�bua do soalho e apanhou um peda��o de bolo de anivers�rio. Sentou-se no ch�o para com�-lo, saboreando a felicidade que o invadia. Ele comia bolo e Duda s� comia grapefruit, fazia um belo dia de ver�o, sua cicatriz estava perfeitamente normal, ele ia deixar a Rua dos Alfeneiros no dia seguinte e ia assistir � Copa Mundial de Quadribol. Naquele momento era dif�cil se preocupar com alguma coisa � at� mesmo com Lord Voldemort. CAP�TULO QUATRO De volta � Toca Por volta do meio-dia do dia seguinte, o mal�o de Harry estava pronto com o seu material escolar e seus pertences mais preciosos � a Capa da Invisibilidade que ele herdara do pai, a vassoura que ganhara de Sirius, o mapa encantado de Hogwarts, presente de Fred e Jorge Weasley no ano anterior. Ele retirara toda a comida do esconderijo sob a t�bua solta, verificara duas vezes cada cantinho de seu quarto para ver se esquecera livros de feiti�os ou penas, baixara da parede o calend�rio em que fizera a contagem regressiva para o dia primeiro de setembro, riscando cada dia que passava at� a volta a Hogwarts. A atmosfera no n� 4 da Rua dos Alfeneiros estava extremamente tensa. A chegada iminente � casa de um grupo variado de bruxos estava deixando os Dursley nervosos e irritadi�os. Tio V�lter parecera decididamente assustado quando Harry informou-o de que os Weasley chegariam �s cinco horas do dia seguinte. � Espero que voc� tenha avisado para se vestirem direito, a essas pessoas � rosnou o tio na mesma hora. � J� vi o tipo de coisa que gente da sua laia usa. � melhor terem a dec�ncia de vestir roupas normais, � s�. Harry sentiu uma ligeira apreens�o. Raramente vira o casal Weasley usar alguma coisa que os Dursley pudessem chamar de "normal". Os filhos at� usavam roupas de trouxas durante as f�rias, mas o Sr. e a Sra. Weasley, em geral, usavam vestes longas e surradas em v�rios graus. Harry n�o se incomodava com o que os vizinhos pudessem pensar, mas estava aflito com as grosserias que os Dursley pudessem fazer aos Weasley se eles realmente correspondessem � p�ssima id�ia que os tios faziam dos bruxos. Tio V�lter vestira o melhor terno. Para alguns isto poderia parecer um gesto de boas-vindas, mas Harry sabia que era porque o tio queria impressionar e intimidar. Duda, por outro lado, parecia encolhido. N�o era porque a dieta afinal estivesse produzindo efeito, mas por medo. O garoto sa�ra do �ltimo encontro com um bruxo adulto levando um rabo de porco, enroscado, que sa�a pelo fundilho das cal�as e tia Pet�nia e tio V�lter precisaram pagar um hospital particular em Londres para remover o tal rabo. Portanto, n�o surpreendia que Duda n�o parasse de passar a m�o, nervosamente, pelo bumbum, e andasse de lado quando ia de um c�modo a outro, para n�o oferecer o mesmo alvo ao inimigo. O almo�o foi uma refei��o quase silenciosa. Duda sequer protestou contra a comida (queijo branco e aipo ralado). Tia Pet�nia n�o comeu nadinha. Manteve os bra�os cruzados, os l�bios contra�dos e parecia estar mastigando a l�ngua, como se refreasse o discurso violento e injurioso que queria fazer para Harry. � Eles vir�o de carro, naturalmente? � vociferou tio V�lter por cima da mesa. � Hum � fez Harry. Ele n�o pensara nisso. Como � que os Weasley viriam apanh�-lo? N�o tinham mais carro; o velho Ford Anglia, que outrora possu�am, atualmente andava rodando pela Floresta Proibida de Hogwarts. Mas, no ano anterior, o Sr. Weasley tomara emprestado o carro do Minist�rio da Magia; ser� que faria o mesmo hoje? � Acho que sim � respondeu Harry. Tio V�lter bufou para dentro dos bigodes. Normalmente, ele teria perguntado qual era a marca do carro do Sr. Weasley; tinha uma tend�ncia a julgar outros homens pelo tamanho e o luxo de seus carros. Mas o garoto duvidava que o tio tivesse simpatizado com o Sr. Weasley mesmo que o bruxo dirigisse uma Ferrari. Harry passou a maior parte da tarde em seu quarto; n�o suportava ver tia Pet�nia espiar entre as cortinas a todo instante, como se tivesse havido um alerta de que existia um rinoceronte � solta. Finalmente, as quinze para as cinco, Harry voltou ao t�rreo e entrou na sala de estar. Tia Pet�nia ajeitava compulsivamente as almofadas. Tio V�lter fingia ler o jornal, mas seus olhinhos mi�dos n�o se mexiam, e Harry teve certeza de que na realidade ele mantinha os ouvidos muito atentos para a chegada de um carro. Duda se enterrou numa poltrona, sentado em cima das m�os muito gordas, e segurava com firmeza o bumbum. Harry n�o suportou a tens�o: saiu da sala e foi se sentar na escada do hall, os olhos no rel�gio de pulso e o cora��o batendo muito forte de tanta excita��o e nervosismo. �s cinco horas vieram e se foram. Tio V�lter, suando ligeiramente no terno, abriu a porta da frente, espiou para um lado e outro da rua, e recolheu depressa a cabe�a. � Eles est�o atrasados! � rosnou para Harry. � Eu sei � disse Harry. � Talvez... Hum... O tr�nsito esteja ruim, ou outro problema qualquer. Cinco e dez... Depois cinco e quinze... Harry estava come�ando a ficar ansioso tamb�m. �s cinco e meia, ele ouviu os tios conversarem em murm�rios tensos na sala de estar. � N�o tem a menor considera��o. � Poder�amos ter outro compromisso. � Talvez eles pensem que ser�o convidados para o jantar se chegarem tarde. � Certamente que n�o ser�o � respondeu tio V�lter, e Harry o ouviu se levantar e come�ar a andar pela sala. � V�o pegar o garoto e ir embora, n�o v�o se demorar. Isto �, se � que v�o aparecer. Provavelmente se enganaram no dia. Eu diria que gente da laia deles n�o liga muito para pontualidade. Ou isso ou est�o dirigindo uma lata velha que parou de... AAAAAAAARRRRRFEE! Harry deu um pulo. Do outro lado da porta da sala ele ouviu os tr�s Dursley correrem precipitadamente, cheios de p�nico. No momento seguinte, Duda entrou voando pelo hall, aterrorizado. � Que aconteceu? � perguntou Harry. � Que foi que houve? Mas Duda parecia incapaz de responder. As m�os ainda agarradas �s n�degas, saiu desengon�ado, e o mais depressa que p�de, em dire��o � cozinha. Harry correu para a sala de estar. Ouviam-se fortes batidas e arranh�es por tr�s das t�buas que vedavam a lareira dos Dursley, diante da qual estava ligada uma imita��o de fogo a carv�o. � Que � isso? � exclamou tia Pet�nia, que recuara de costas para a parede, arregalando os olhos para a lareira, aterrorizada. � Que � isso, V�lter? Mas eles n�o precisaram gastar nem um segundo pensando. Ouviram-se vozes no interior da lareira fechada. � Ai! Fred, n�o... Volte, volte, houve algum engano... Diga Jorge para n�o... AI! Jorge, n�o, n�o h� espa�o, volte depressa e diga ao Rony... � Talvez Harry possa ouvir a gente, papai... Talvez possa abrir para a gente passar... Ouviram-se murros contra as t�buas. � Harry? Harry, voc� est� ouvindo a gente? Os Dursley investiram contra Harry como um casal de carcajus furiosos. � Que � isso? � vociferou tio V�lter. � Que � que est� acontecendo? � Eles... Eles tentaram chegar aqui usando P� de Flu � disse Harry, reprimindo uma vontade louca de rir. � Eles podem viajar entre lareiras, s� que voc�s tamparam a entrada, esperem um pouco... Harry se aproximou da lareira e chamou. � Sr. Weasley? O senhor est� me ouvindo? As pancadas pararam. Algu�m do outro lado fez "psiu". � Sr. Weasley, � o Harry... A lareira est� bloqueada. O senhor n�o vai conseguir passar por a�. � Droga! � exclamou a voz do Sr. Weasley. � Para que foi que eles inventaram de bloquear a lareira? � Eles t�m um fogo el�trico � explicou Harry. � Verdade? � ouviu-se a voz excitada do Sr. Weasley. � Ecl�tico, voc� disse? Com uma tomada? Nossa, eu preciso ver isso... Vamos pensar... Ai, Rony! A voz de Rony agora se juntava a dos outros. � Que � que estamos fazendo aqui? Deu alguma coisa errada? � N�o, Rony � ouviu-se a voz de Fred, muito sarc�stica. � Era exatamente aqui que quer�amos chegar. � �, e estamos nos divertindo de mont�o � acrescentou Jorge, cuja voz parecia abafada, como se ele estivesse esmagado contra a parede. � Meninos, meninos... � disse o Sr. Weasley vagamente. � Estou tentando pensar no que fazer... �... � o jeito... Afaste-se, Harry. Harry recuou at� o sof�. Tio V�lter, por�m, avan�ou para a lareira. � Espere a�! � berrou para a pe�a. � Que � que voc� vai fazer exatamente...? BAM! O fogo el�trico foi arremessado pela sala, ao mesmo tempo que as t�buas saltavam da lareira, expulsando o Sr. Weasley, Fred, Jorge e Rony em meio a uma nuvem de cali�a e fragmentos de madeira. Tia Pet�nia berrou e caiu de costas por cima da mesinha de centro; tio V�lter agarrou-a antes que ela batesse no ch�o e encarou os Weasley, boquiaberto, incapaz de falar, todos de cabelos ruivos, inclusive Fred e Jorge, g�meos id�nticos at� a �ltima sarda. � Agora melhorou � ofegou o Sr. Weasley, espanando a poeira das longas vestes verdes e endireitando os �culos. � Ah... Voc�s devem ser a tia e o tio de Harry! Alto, magro e meio careca, o bruxo caminhou em dire��o ao tio V�lter, a m�o estendida, mas o homem recuou v�rios passos, arrastando tia Pet�nia. As palavras lhe fugiram totalmente. Seu melhor terno estava coberto de p� branco, que assentara em seus cabelos e bigodes e dava a impress�o de que ele acabara de envelhecer trinta anos. � Hum... Ah... Sinto muito � disse o Sr. Weasley, baixando a m�o e olhando por cima do ombro para a lareira destru�da. � Foi minha culpa, mas n�o me ocorreu que n�o poder�amos sair por aqui. Mandei ligar a sua lareira � rede do Flu, entende, s� por uma tarde, sabe, para podermos apanhar Harry. Rigorosamente falando, as lareiras dos trouxas n�o podem ser ligadas, mas tenho um contato �til na Comiss�o de Regulamenta��o do Flu e ele deu um jeitinho. Mas posso consertar tudo em um segundo, n�o se preocupe. Vou acender um fogo para mandar os garotos de volta, depois posso refazer sua lareira antes de desaparatar. Harry podia apostar que os Dursley n�o tinham entendido uma �nica palavra. Continuavam a boquiabrir-se para o Sr. Weasley, aparvalhados. Tia Pet�nia levantou-se com dificuldade e se escondeu atr�s do marido. � Ol�, Harry! � cumprimentou o Sr. Weasley animado. � A mala est� pronta? � Est� l� em cima � respondeu o garoto, retribuindo o sorriso. � Vamos buscar � disse Fred na mesma hora. Piscando para Harry, ele e Jorge sa�ram da sala. Sabiam onde era o quarto de Harry, porque tinham salvado o garoto uma vez no meio da noite. Harry suspeitou que Fred e Jorge estavam querendo dar uma espiada em Duda; tinham ouvido Harry falar muito do primo. � Bom � disse o Sr. Weasley, agitando levemente os bra�os, enquanto tentava encontrar palavras para quebrar o sil�ncio mais que desagrad�vel. � Uma bela... Hum... Bela casa voc�s t�m. Como a sala habitualmente impec�vel estava agora coberta de poeira e cali�a, o coment�rio n�o foi muito bem recebido pelos Dursley. O rosto do tio V�lter ficou, mais uma vez, p�rpura, e tia Pet�nia recome�ou a mastigar a l�ngua. Por�m eles pareciam demasiado apavorados para conseguir falar alguma coisa. O Sr. Weasley olhou para todos os lados. Adorava tudo que dizia respeito aos trouxas. Harry via que ele estava doido de vontade de examinar a televis�o e o videocassete. � Eles funcionam com eletricidade, n�o �? � disse mostrando-se bem informado. � Ah, �, estou vendo as tomadas. Eu coleciono tomadas � acrescentou para o tio V�lter. � E baterias. Tenho uma enorme cole��o de baterias. Minha mulher acha que eu sou maluco, mas o que fazer? Era vis�vel que tio V�lter tamb�m o achava maluco. Ele avan�ou um tantinho para a direita, escondendo tia Pet�nia, como se achasse que o bruxo poderia de repente avan�ar e atac�-los. Duda, de repente, reapareceu na sala. Harry ouviu o ru�do met�lico do mal�o descendo pelas escadas, e concluiu que o barulho havia afugentado Duda da cozinha. O garoto vinha costeando a parede, olhando para o Sr. Weasley com terror nos olhos e, depois, tentou se esconder atr�s da m�e e do pai. Infelizmente, o corpanzil do tio V�lter, embora suficiente para esconder a ossuda tia Pet�nia, n�o era bastante grande para esconder tamb�m o filho. � Ah, e esse � o seu primo, n�o �, Harry? � perguntou o Sr. Weasley fazendo outra corajosa tentativa de iniciar uma conversa. � � � confirmou Harry �, � o Duda. Ele e Rony se entreolharam e desviaram depressa os olhos para longe; a tenta��o de cair na gargalhada era forte demais. Duda ainda segurava o bumbum como se tivesse medo de que ele se soltasse. O Sr. Weasley, por�m, parecia sinceramente preocupado com o comportamento estranho do garoto. De fato, pelo tom de voz com que falou a seguir, Harry teve certeza de que o Sr. Weasley achava que Duda era t�o maluco quanto os Dursley achavam que ele era, s� que o Sr. Weasley sentia piedade em vez de medo. � Est� gostando das f�rias, Duda? � perguntou bondosamente. Duda choramingou. Harry viu as m�os do primo apertarem com mais for�a o bumbum maci�o. Fred e Jorge voltaram � sala trazendo o mal�o escolar de Harry. Eles olharam para os lados ao entrar e viram Duda. Seus rostos se abriram em sorrisos malvados id�nticos. � Ah, certo � disse o Sr. Weasley. � Melhor irmos andando, ent�o. Ele arrega�ou as mangas das vestes e puxou a varinha. Harry viu os Dursley recuarem contra a parede, como se fossem uma pessoa s�. � Inc�ndio!� disse o bruxo, apontando a varinha para o buraco na parede. As chamas irromperam na mesma hora na lareira, crepitando alegremente como se j� estivessem acesas h� horas. O Sr. Weasley tirou do bolso um saquinho fechado com cord�es, desamarrou-o, tirou uma pitada do p� e jogou-o nas chamas, que viraram verde-esmeralda e rugiram com mais for�a do que antes. � Pode ir, Fred � disse o Sr. Weasley. � Estou indo � respondeu Fred. � Ah, n�o... Espera a�... Um saquinho de balas caiu do bolso de Fred e o conte�do se espalhou em todas as dire��es � grandes caramelos em embalagens muito coloridas. Fred saiu catando os caramelos, guardando-os de volta no bolso, depois deu um adeusinho animado aos Dursley, adiantou-se e entrou direto nas chamas, dizendo "A Toca!". Tia Pet�nia soltou uma exclama��o tr�mula. Ouviu-se um barulho de deslocamento de ar e Fred desapareceu. � Agora voc�, Jorge � disse o Sr. Weasley. � Leve a mala. Harry ajudou Jorge a carregar a mala at� as chamas da lareira e virou-a de ponta para o g�meo poder segur�-la melhor. Depois com um segundo deslocamento de ar, Jorge gritara "A Toca!" e desapareceu tamb�m. � Rony, voc� � o pr�ximo � disse o Sr. Weasley. � At� outro dia � disse Rony animado para os Dursley. Deu um grande sorriso para Harry, entrou no fogo e gritou "A Toca!" e desapareceu. Agora s� faltavam Harry e o Sr. Weasley. � Bom... Tchau ent�o � disse Harry aos Dursley. Os tios n�o disseram uma palavra. Harry adiantou-se para o fogo, mas na hora em que pisou na lareira, o Sr. Weasley esticou a m�o e segurou-o. Encarou os Dursley surpreso. � Harry disse tchau para voc�s � falou ele. � Voc�s n�o ouviram? � N�o faz mal � murmurou Harry para o Sr. Weasley. � Francamente, eu n�o me importo. O Sr. Weasley n�o tirou a m�o do ombro de Harry. � Voc�s n�o v�o ver seu sobrinho at� o pr�ximo ver�o � disse ele a tio V�lter, ligeiramente indignado. � Com certeza, voc�s v�o se despedir? O rosto de tio V�lter se contraiu furiosamente. A id�ia de aprender a ter considera��o com um homem que acabara de explodir metade da sua sala de estar parecia lhe causar intenso sofrimento. Mas o Sr. Weasley ainda empunhava a varinha e o olhar do tio V�lter correu at� ela antes de dizer, muito ressentido: � Ent�o, tchau. � At� outro dia � disse Harry enfiando um p� nas chamas que, aos seus sentidos, pareceram um h�lito morno. Naquele momento, por�m, um horr�vel ru�do de algu�m se engasgando ocorreu �s costas dele e tia Pet�nia come�ou a gritar. Harry se virou. Duda n�o estava mais escondido atr�s dos pais. Estava ajoelhado ao lado da mesinha de centro, e tossia e cuspia uma coisa de uns trinta cent�metros, roxa e viscosa que sa�a de sua boca. Passado um segundo de aturdimento, Harry se deu conta de que aquela coisa de trinta cent�metros era a l�ngua de Duda � e que havia um papel de caramelo, vivamente colorido, ca�do no ch�o ao lado dele. Tia Pet�nia atirou-se ao ch�o ao lado do filho, agarrou a ponta da l�ngua inchada e tentou arranc�-la da boca do garoto; como era de se esperar, Duda berrou e cuspiu pior do que antes, tentando resistir � m�e. Tio V�lter urrava e agitava os bra�os, e o Sr. Weasley precisou gritar para ser ouvido. � N�o se preocupem, posso dar um jeito nisso! � gritou ele, avan�ando para Duda com a varinha estendida, mas tia Pet�nia berrou mais do que antes e se atirou em cima de Duda, protegendo-o do Sr. Weasley. � N�o, estou falando s�rio! � disse o Sr. Weasley, desesperado. � � um processo simples, foi o caramelo, meu filho... Gosta de pregar pe�as, mas � apenas um Feiti�o de Ingurgitamento, pelo menos, acho que �, por favor, posso consertar tudo... Mas longe de se tranq�ilizar, os Dursley foram tomados de um p�nico ainda maior; tia Pet�nia, solu�ando histericamente, puxava a l�ngua de Duda como se estivesse decidida a arranc�-la, o garoto parecia estar sufocando sob a press�o da l�ngua e da m�e somadas e tio V�lter, que se descontrolara completamente, agarrou uma estatueta de porcelana de cima do buf� e atirou-a contra o Sr. Weasley, que se abaixou, deixando o enfeite se espatifar na lareira escancarada. � Ora francamente! � exclamou o Sr. Weasley, zangado, brandindo a varinha. � Estou tentando ajudar! Urrando feito um hipop�tamo ferido, tio V�lter agarrou outro enfeite. � Harry, v�! V� logo! � gritou o Sr. Weasley, a varinha apontada para tio V�lter. � Eu resolvo isso! Harry n�o queria perder o espet�culo, mas o segundo enfeite atirado pelo tio errou por pouco a sua orelha esquerda e, pensando bem, ele achou prefer�vel deixar o Sr. Weasley resolver a situa��o. Entrou nas chamas, espiando por cima do ombro e disse "A Toca!"; seu �ltimo vislumbre da sala de estar foi o Sr. Weasley arrancando com a varinha um terceiro enfeite da m�o do tio, tia Pet�nia gritando agachada por cima de Duda e a l�ngua do primo pendurada para fora como uma grande e viscosa jib�ia. Mas no momento seguinte, Harry come�ou a rodopiar em grande velocidade e a sala de estar dos Dursley desapareceu de vista numa erup��o de chamas verde-esmeralda. CAP�TULO CINCO As "Gemialidades" Weasley Harry rodopiou cada vez mais veloz, apertando os cotovelos junto ao corpo, lareiras difusas passaram como rel�mpagos por ele, at� que come�ou a se sentir nauseado e fechou os olhos. Depois, ao sentir finalmente que estava desacelerando, esticou as m�os para frente e fez for�a para parar em tempo de evitar cair de cara na lareira da cozinha da casa dos Weasley. � Ele comeu? � perguntou Fred excitado, estendendo a m�o para ajudar Harry a se levantar. � Comeu � disse Harry se endireitando. � O que era? � Caramelo Incha-L�ngua � informou-lhe Fred, animado. � Foi Jorge e eu que inventamos, passamos o ver�o todo procurando algu�m para experimentar... A pequena cozinha explodiu de risadas; Harry olhou para os lados e viu que Rony e Jorge estavam sentados � mesa da cozinha com dois rapazes ruivos que ele nunca vira antes, embora soubesse na hora quem deviam ser: Gui e Carlinhos, os dois irm�os Weasley mais velhos. � Como vai, Harry? � disse o que estava mais pr�ximo, sorrindo para ele e estendendo a m�o enorme, que Harry apertou sentindo calos e bolhas sob os dedos. Tinha que ser Carlinhos, que trabalhava com drag�es na Rom�nia. O rapaz tinha o mesmo f�sico dos g�meos, mais baixo e mais forte do que Percy e Rony, que eram compridos e magros. Seu rosto era largo e bem-humorado, castigado pelo sol e t�o sardento que quase parecia bronzeado; os bra�os eram musculosos e em um deles havia uma grande e reluzente queimadura. Gui se levantou, sorrindo, e tamb�m apertou a m�o de Harry. O rapaz foi uma surpresa. Harry sabia que ele trabalhava para o banco dos bruxos, o Gringotes, e que fora monitor-chefe em Hogwarts, e sempre imaginara que Gui fosse uma vers�o mais velha de Percy; preocupado com as infra��es dos regulamentos e chegado a mandar em todo mundo. No entanto, Gui era � n�o havia outra palavra � descolado. Alto, os cabelos compridos presos em um rabo-de-cavalo. Usava um brinco de argola com um berloque pendurado que parecia um dente canino. Suas roupas n�o estariam deslocadas em um concerto de rock, exceto pelo detalhe de que as botas n�o eram feitas de couro de boi, mas de couro de drag�o. Antes que algu�m pudesse dizer alguma coisa, ouviu-se um leve estalo e o Sr. Weasley apareceu de repente junto ao ombro de Jorge. Parecia mais zangado do que Harry jamais o vira. � N�o teve gra�a alguma, Fred! � gritou ele. � Que diabo foi que voc� deu �quele garoto trouxa? � Eu n�o dei nada a ele � disse Fred, com outro sorriso malvado. � S� deixei cair um caramelo... Foi culpa dele se o apanhou e comeu, n�o o mandei fazer isso. � Voc� deixou cair de prop�sito! � berrou o Sr. Weasley. � Sabia que ele ia comer, sabia que ele estava fazendo regime... � De que tamanho ficou a l�ngua dele? � perguntou Jorge, ansioso. � J� estava com mais de um metro quando os pais me deixaram encolh�-la! Harry e os Weasley ca�ram na gargalhada outra vez. � N�o tem gra�a! � gritou o Sr. Weasley. � Esse tipo de comportamento desestabiliza seriamente as rela��es bruxos-trouxas! Passo metade da vida fazendo campanha contra os maus-tratos aos trouxas e os meus pr�prios filhos... � N�o demos o caramelo a ele porque � trouxa! � disse Fred. � N�o, demos porque ele � um filho-da-m�e implicante � disse Jorge. � N�o � verdade, Harry? � �, sim, Sr. Weasley � confirmou Harry com sinceridade. � Isto n�o vem ao caso! � vociferou o Sr. Weasley. � Espere at� eu contar � sua m�e... � Contar o qu�? � perguntou uma voz �s costas dele. A Sra. Weasley acabara de entrar na cozinha. Era uma mulher baixa e gorducha, de rosto bondoso, embora, no momento, seus olhos estivessem apertados numa express�o de desconfian�a. � Ah, ol�, Harry querido � disse ela, sorrindo, ao v�-lo. Ent�o seus olhos se voltaram para o marido. � Contar o qu�, Arthur? O Sr. Weasley hesitou. Harry percebeu que, por mais zangado que estivesse com Fred e Jorge, ele n�o pretendera realmente contar a Sra. Weasley o que tinha acontecido. Fez-se sil�ncio, enquanto o Sr. Weasley encarava a esposa, nervoso. Ent�o duas meninas apareceram � porta da cozinha atr�s da Sra. Weasley. Uma, de cabelos castanhos muito fofos e os dentes da frente um tanto grandes, era a amiga de Harry e Rony, Hermione Granger. A outra, pequena e ruiva, era a irm� mais nova de Rony, Gina. As duas sorriram para Harry, que retribuiu o sorriso, fazendo Gina ficar escarlate � tinha um xod� por Harry desde a primeira visita dele � Toca. � Contar o qu�, Arthur? � repetiu a Sra. Weasley, num tom de voz perigoso. � N�o � nada, Molly � resmungou o marido. � Fred e Jorge... Mas eu j� tive uma conversa com eles... � Que foi que eles fizeram desta vez? � perguntou a Sra. Weasley. � Se foi alguma coisa relacionada com as "Gemialidades" Weasley... � Por que voc� n�o mostra ao Harry aonde ele vai dormir, Rony? � sugeriu Hermione da porta. � Ele j� sabe aonde vai dormir � respondeu Rony. � No meu quarto, foi l� que dormiu da �ltima... � Ent�o todos podemos ir � disse Hermione, sublinhando as palavras. � Ah � fez Rony, entendendo. � Certo. � �, n�s tamb�m vamos � disse Jorge. � Voc�s ficam onde est�o!� vociferou a Sra. Weasley. Harry e Rony sa�ram de fininho da cozinha e seguiram com as meninas pelo corredor estreito, subiram a escada desconjuntada e sa�ram ziguezagueando pela casa at� os �ltimos andares. � Que s�o "Gemialidades" Weasley? � perguntou Harry quando subiam. Rony e Gina riram, embora Hermione continuasse seria. � Mam�e encontrou uma pilha de formul�rios de pedidos quando estava limpando o quarto de Fred e Jorge � disse Rony em voz baixa. � Listas enormes de pre�os de coisas que eles inventaram. Artigos para logros e brincadeiras, sabe. Varinhas de imita��o, doces-surpresa, um monte de coisas. � Genial. Eu n�o sabia que eles estavam inventando tanta coisa... � H� muito tempo que ouv�amos explos�es no quarto deles, mas nunca pensamos que estavam fabricando coisas � explicou Gina �, achamos que era s� vontade de fazer barulho. � S� que, a maior parte das coisas, bom, na realidade, tudo... Era meio perigoso � disse Rony � e, sabe, eles estavam planejando vender os artigos em Hogwarts para ganhar dinheiro, e mam�e ficou uma fera. Disse que eles estavam proibidos de fabricar aquelas coisas e queimou todos os formul�rios... J� estava furiosa mesmo porque eles n�o conseguiram tantos N.O.M�s quanto ela esperava. Os N.O.M�s eram N�veis Ordin�rios de Magia, os exames que os alunos de Hogwarts faziam aos quinze anos. � Depois houve uma briga danada � disse Gina �, porque mam�e queria que eles entrassem para o Minist�rio da Magia como papai, e os dois responderam que o que eles querem � abrir uma loja de logros e brincadeiras. Nessa hora, uma porta se abriu no segundo patamar e um rosto com �culos de aros de tartaruga e express�o mal-humorada espiou pra fora. � Oi, Percy � cumprimentou Harry. � Ah, ol�, Harry. Eu estava imaginando quem � que estava fazendo essa barulheira. Estou tentando trabalhar aqui dentro, sabe, tenho um relat�rio do escrit�rio para terminar, e � dif�cil me concentrar se as pessoas n�o param de subir e descer fazendo as escadas reboarem. � N�o estamos fazendo as escadas reboarem � retrucou Rony irritado. � Estamos andando. Desculpe se perturbamos o trabalho secreto do Minist�rio da Magia. � No que � que voc� est� trabalhando? � perguntou Harry. � Sei, sei, tudo bem � interrompeu-o Rony e recome�ou a subir as escadas. Percy bateu a porta do quarto. Quando Harry, Hermione e Gina iam come�ar a acompanhar Rony na subida de mais tr�s lances de escada, ouviram os ecos dos gritos na cozinha. Pelo jeito o Sr. Weasley contara a Sra. Weasley sobre os caramelos. O quarto em que Rony dormia, no �ltimo andar da casa, conservava a mesma apar�ncia da �ltima vez que Harry viera passar dias com o amigo; os mesmos p�steres do time favorito de Quadribol de Rony, os Chudley Cannons, em que os jogadores acenavam das paredes e do teto inclinado, o aqu�rio no peitoril da janela que anteriormente abrigara ovas de r� agora continha um enorme sapo. O velho rato de Rony, Perebas, n�o morava mais ali, em seu lugar havia a coruja min�scula que entregara a carta de Rony na Rua dos Alfeneiros. Saltitava numa gaiolinha, piando feito louca. � Cala a boca, P�chi � disse Rony, manobrando para passar entre duas das quatro camas que haviam sido espremidas no quarto. � Fred e Jorge est�o aqui conosco, porque Gui e Carlinhos ficaram com o quarto dos dois � disse Rony a Harry. � Percy conseguiu ficar com o quarto s� para ele porque tem que trabalhar. � Hum... Por que � que voc� chama essa coruja de P�chi? � perguntou Harry a Rony. � Porque Rony est� sendo idiota � disse Gina. � O nome todo � Pichitinho. � �, e isso n�o � um nome nem um pouco idiota � comentou Rony sarcasticamente. � Foi Gina que o batizou � explicou a Harry. � Ela acha que � um nome bonitinho. Tentei mudar, mas j� era tarde demais, ele n�o responde a nenhum outro. Ent�o ficou P�chi. Tenho que trancar ele aqui porque vive chateando o Errol e o Hermes. Pensando bem, chateia a mim tamb�m. Pichitinho voava alegremente pela gaiola, piando em tom agudo. Harry conhecia Rony muito bem para lev�-lo a s�rio. Tinha reclamado o tempo todo do seu velho rato Perebas, mas ficara aborrecid�ssimo quando pareceu que o gato de Hermione, Bichento, o comera. � Por onde anda o Bichento? � perguntou Harry a Hermione nessa hora. � No jardim, espero. Ele gosta de ca�ar gnomos, nunca tinha visto nenhum. � Ent�o o Percy est� gostando do trabalho? � perguntou Harry se sentando em uma das camas e se pondo a observar os Chudley Cannons entrando e saindo velozes dos p�steres no teto. � Gostando? � disse Rony misterioso. � Acho que nem voltaria para casa se papai n�o obrigasse. Est� obcecado. Nem puxe conversa sobre o chefe dele. O Sr. Crouch diz... Como eu ia dizendo ao Sr. Crouch... O Sr. Crouch � de opini�o... O Sr. Crouch esteve me dizendo... Qualquer dia desses v�o anunciar o noivado dos dois. � Como foi o seu ver�o, Harry, bom? � perguntou Hermione. � Recebeu os pacotes de comida que mandamos e tudo o mais? � Recebi, muito obrigado. Salvaram minha vida, aqueles bolos. � E voc� teve not�cias de...? � Rony come�ou, mas a um olhar de Hermione calou a boca. Harry sabia que Rony ia perguntar por Sirius. Rony e Hermione tinham participado t�o intensamente da fuga de Sirius do Minist�rio da Magia que estavam quase t�o preocupados com o padrinho de Harry quanto o garoto. Por�m, falar dele na frente de Gina n�o era uma boa id�ia. Ningu�m a n�o ser eles e o Professor Dumbledore sabiam como o padrinho de Harry havia fugido ou acreditavam em sua inoc�ncia. � Acho que eles pararam de discutir � disse Hermione, para disfar�ar o momento de constrangimento, porque Gina olhava com curiosidade de Rony para Harry. � Vamos descer e ajudar sua m�e com o jantar? � Tudo bem � disse Rony. Os quatro tornaram a descer e encontraram a Sra. Weasley sozinha na cozinha, parecendo extremamente mal-humorada. � Vamos comer no jardim � disse ela quando os garotos entraram. � N�o h� lugar para onze pessoas aqui dentro. Podem levar os pratos para fora, meninas? Gui e Carlinhos est�o armando as mesas. Facas e garfos, por favor, voc�s dois � disse ela a Rony e Harry, e apontou a varinha com um pouco mais de for�a do que pretendera para um monte de batatas na pia, que sa�ram da casca demasiado depressa e acabaram ricocheteando nas paredes e nos tetos. � Ah, pelo amor de Deus! �, exclamou ela, agora apontando a varinha para uma p�, que saltou de lado e come�ou a patinar pelo piso, recolhendo as batatas. � Aqueles dois! �, explodiu ela furiosa, agora tirando tachos e panelas de um arm�rio, e Harry entendeu que ela estava se referindo a Fred e Jorge. � N�o sei o que vai ser deles, realmente n�o sei. N�o t�m ambi��o, a n�o ser que se leve em conta toda confus�o que s�o capazes de aprontar... Ela bateu com uma grande ca�arola de cobre na mesa da cozinha e come�ou a agitar a m�o para os lados. Um molho cremoso foi escorrendo da ponta da varinha � medida que ela mexia. � N�o � que n�o tenham intelig�ncia � continuou ela irritada, levando a ca�arola para o fog�o e acendendo-o com um toque da varinha �, mas est�o desperdi�ando a que t�m e, a n�o ser que tomem jeito depressa, v�o se meter em apuros. J� recebi mais corujas de Hogwarts a respeito dos dois do que de todos os outros juntos. Se continuarem assim, v�o terminar tendo que comparecer a Se��o de Controle do Uso Indevido da Magia. A Sra. Weasley apontou a varinha para a gaveta de talheres, que se abriu com viol�ncia. Harry e Rony saltaram para o lado ao ver v�rias facas sa�rem voando, atravessarem a cozinha e come�arem a cortar as batatas que tinham acabado de ser devolvidas � pia pela p�. � N�o sei onde foi que erramos com os g�meos � disse a Sra. Weasley descansando a varinha e recome�ando a tirar mais ca�arolas do arm�rio. � Tem sido sempre assim h� anos, uma coisa atr�s da outra, e eles n�o d�o ouvidos... AH, OUTRA VEZ, N�O! Ela apanhara a varinha da mesa, e a coisa emitira um guincho alto e se transformara em um enorme camundongo de borracha. � Mais uma varinha falsa fabricada por eles! � gritou ela. � Quantas vezes j� disse aos dois para n�o deixarem essas coisas largadas por a�? Ela agarrou a pr�pria varinha, e quando se virou descobriu que o molho no fog�o estava soltando fuma�a. � Vamos � disse Rony depressa a Harry, enfiando a m�o na gaveta e tirando uma m�o cheia de talheres �, vamos ajudar o Gui e o Carlinhos. Eles deixaram a Sra. Weasley e sa�ram pela porta dos fundos em dire��o ao quintal. Tinham dado apenas alguns passos quando o gato de Hermione, de p�lo amarelo e pernas arqueadas, saiu saltando do jardim, o rabo de escova de limpar garrafas esticado no ar, ca�ando alguma coisa que parecia uma batata com pernas, suja de terra. Harry reconheceu-a instantaneamente, era um gnomo. Mal chegava aos vinte e cinco cent�metros de altura, os pezinhos cascudos batendo c�lere no ch�o ao atravessar o quintal e mergulhar de cabe�a em uma das botas espalhadas � porta da casa. Harry ouviu o gnomo se acabar de rir quando Bichento enfiou a pata na bota, tentando alcan��-lo. Entrementes, ouvia-se um estr�pito de coisas que batiam do outro lado da casa. A origem do barulho surgiu quando eles entraram no jardim e viram Gui e Carlinhos, de varinhas em punho, fazendo duas mesas velhas voarem alto pelo gramado e colidirem, cada qual tentando derrubar a outra no ch�o. Fred e Jorge aplaudiam; Gina ria e Hermione estava parada junto � sebe, pelo jeito dividida entre o riso e a afli��o. A mesa de Gui bateu na de Carlinhos com estrondo e perdeu uma das pernas. Eles ouviram um barulho no alto, todos ergueram os olhos e viram a cabe�a de Percy aparecer � janela do segundo andar. � D� para voc�s maneirarem? � berrou ele. � Desculpe, Percy � disse Gui rindo. � Como � que v�o os fundos dos caldeir�es? � Muito mal � disse Percy irritado e tornou a fechar a janela com uma pancada. Rindo, Gui e Carlinhos devolveram as mesas em seguran�a ao ch�o, juntaram-nas pelas extremidades e, ent�o, com um golpe de varinha, Gui colou de volta a perna da mesa e conjurou toalhas do nada. �s sete horas, as duas mesas rangiam sob o peso de travessas e mais travessas da excelente comida da Sra. Weasley, e os nove Weasley, Harry e Hermione se sentaram para jantar sob um c�u azul escuro e limpo. Para algu�m que andara sobrevivendo com refei��es de bolos cada vez mais secos o ver�o inteiro, aquilo era o para�so e, no primeiro momento, Harry escutou mais do que falou, se servindo de empad�o de galinha e presunto, batatas cozidas e salada. Na ponta da mesa, Percy contava ao pai todos os detalhes do seu relat�rio sobre os fundos dos caldeir�es. � Eu prometi ao Sr. Crouch que aprontaria o relat�rio at� ter�a-feira � dizia Percy pomposo. � � um pouco mais cedo do que ele pediu, mas gosto de estar um passo � frente. Acho que ele ficar� agradecido por eu ter terminado em menos tempo. Quero dizer, h� muito trabalho em nosso departamento neste momento, com todas as provid�ncias para a Copa Mundial. N�o estamos recebendo a colabora��o necess�ria do Departamento de Jogos e Esportes M�gicos. Ludo Bagman... � Eu gosto do Ludo � disse o Sr. Weasley em tom ameno. � Foi ele que nos arranjou aqueles excelentes lugares para a Copa. Fiz um favorzinho a ele: o irm�o, Otto, se meteu em uma pequena confus�o, um cortador de grama com poderes fora do comum, eu acertei o problema. � Ah, Bagman � uma pessoa agrad�vel, � claro � disse Percy fugindo � quest�o �, mas como conseguiu ser chefe do departamento... Quando o comparo ao Sr. Crouch! N�o posso imaginar o Sr. Crouch perdendo um funcion�rio do departamento sem tentar descartar Berta Jorkins que est� desaparecida h� mais de um m�s? Saiu de f�rias para a Alb�nia e nunca mais voltou? � Verdade, indaguei ao Ludo sobre isso � respondeu o Sr. Weasley enrugando a testa. � Ele me disse que Berta j� se perdeu uma por��o de vezes antes, embora eu deva dizer que se fosse algu�m no meu departamento eu ficaria preocupado... � Ah, a Berta n�o toma jeito, � verdade � falou Percy. � Ouvi dizer que ela � empurrada de departamento para departamento h� anos, d� mais trabalho do que trabalha... Mas, mesmo assim, Bagman devia estar tentando encontr�-la. O Sr. Crouch tem demonstrado interesse pessoal, sabe, ela chegou a trabalhar no nosso departamento e acho que o Sr. Crouch gostava bastante dela, mas Bagman fica rindo e dizendo que ela provavelmente leu mal o mapa e em vez da Austr�lia acabou na Alb�nia. Contudo � Percy deixou escapar um imponente suspiro, e tomou um bom gole do vinho de flor de sabugueiro �, j� temos muito com o que nos preocupar no Departamento de Coopera��o Internacional em Magia sem ficar tentando achar funcion�rios de outros departamentos. Como o senhor sabe, j� temos outro grande evento para organizar logo depois da Copa. Ele pigarreou cheio de import�ncia e olhou para a ponta da mesa em que Harry, Rony e Hermione estavam sentados. � O senhor sabe do que estou falando, papai. � E alteou ligeiramente a voz. � O evento secreto. Rony girou os olhos para o alto, e murmurou para Harry e Hermione: � Ele est� tentando fazer a gente perguntar que evento � esse desde que come�ou a trabalhar. Provavelmente uma exposi��o de caldeir�es com fundo grosso. No centro da mesa, a Sra. Weasley discutia com Gui por causa do brinco, que aparentemente era uma aquisi��o recente. �... Com um canino horroroso pendurado, francamente Gui, que � que eles dizem l� no banco? � Mam�e, ningu�m l� no banco liga a m�nima para a roupa que eu uso desde que eu traga muito ouro para eles � disse Gui pacientemente. � E seus cabelos est�o sem corte, querido � disse a Sra. Weasley passando os dedos, carinhosamente, pelos cabelos do filho. � Gostaria que voc� me deixasse aparar... � Eu gosto deles assim � disse Gina, que estava sentada ao lado de Gui. � Voc� � t�o antiquada, mam�e. Mesmo desse tamanho, eles n�o chegam nem perto do comprimento dos cabelos do Professor Dumbledore... Ao lado da Sra. Weasley, Fred, Jorge e Carlinhos discutiam animadamente a Copa Mundial. � Vai ser da Irlanda � disse Carlinhos com a voz enrolada por causa das batatas que lhe enchiam a boca. � Eles acabaram com o Peru nas semifinais. � Mas a Bulg�ria tem o V�tor Krum � comentou Fred. � O Krum � apenas um jogador decente, a Irlanda tem sete � cortou Carlinhos. � Mas eu gostaria que a Inglaterra tivesse passado para as finais. Foi um vexame, ah, foi. � Que aconteceu? � perguntou Harry pressuroso, lamentando mais do que nunca o seu alheamento do mundo m�gico quando ficava atolado na Rua dos Alfeneiros. Harry era apaixonado por Quadribol. Jogava como apanhador no time da Grifin�ria desde o primeiro ano em Hogwarts e era dono de uma Firebolt, uma das melhores vassouras de corrida do mundo. � Perdeu para a Transilv�nia, por trezentos e noventa a dez � disse Carlinhos sombriamente. � Um desempenho sinistro. E Gales perdeu para Uganda, e a Esc�cia foi massacrada por Luxemburgo. O Sr. Weasley conjurou velas para clarear o jardim antes de comerem a sobremesa (sorvete de morangos feito em casa), e na altura em que o jantar terminou, as mariposas voavam baixo sobre a mesa e o ar morno estava perfumado com o aroma de relva e madressilvas. Harry se sentia muit�ssimo bem alimentado e em paz com o mundo, e observava v�rios gnomos saltarem por dentro das roseiras, rindo como loucos, perseguidos de perto por Bichento. Rony correu os olhos, cauteloso, pela mesa, verificando se o resto da fam�lia estava entretida conversando, depois perguntou baixinho a Harry: � Ent�o... Tem tido not�cias de Sirius ultimamente? Hermione olhou para os lados, apurando os ouvidos. � Tenho � disse Harry baixinho �, duas vezes. Tenho a impress�o de que est� bem. Escrevi para ele anteontem. Talvez receba resposta enquanto estou aqui. De repente ele se lembrou do motivo por que escrevera a Sirius e, por um instante, esteve prestes a contar aos dois amigos que a cicatriz voltara a doer e que um sonho o acordara... Mas na realidade n�o queria preocup�-los naquele momento, n�o quando ele pr�prio estava se sentindo t�o feliz e tranq�ilo. � Gente, olhe as horas! � exclamou subitamente a Sra. Weasley, consultando o rel�gio de pulso. � Voc�s deviam estar na cama, todos voc�s, v�o ter que acordar quase de madrugada para ir � Copa. Harry, se voc� deixar a sua lista de material escolar, eu compro tudo para voc� amanh�, no Beco Diagonal. Vou comprar o dos meus meninos. Talvez n�o haja tempo depois da Copa Mundial, da �ltima vez o jogo durou cinco dias. � Uau... Espero que aconte�a o mesmo desta vez! � exclamou Harry entusiasmado. � Eu espero que n�o � disse Percy, virtuosamente. � Estreme�o s� de pensar no estado da minha caixa de entrada se eu me ausentar cinco dias do trabalho. � Um, algu�m poderia deixar bosta de drag�o nela outra vez, hein, Percy? � comentou Fred. � Aquilo foi uma amostra de fertilizante da Noruega! � protestou Percy, corando. � N�o foi nada conta mim. � Foi sim � cochichou Fred para Harry, quando eles se levantavam da mesa. � Fomos n�s que mandamos. CAP�TULO SEIS A Chave do Portal Harry teve a sensa��o de que acabara de se deitar para dormir no quarto de Rony quando foi acordado pela Sra. Weasley. � Hora de levantar, Harry, querido � sussurrou ela, se afastando para acordar Rony. Harry tateou a procura dos �culos, colocou-os e se sentou. Ainda estava escuro l� fora. Rony resmungou alguma coisa quando a m�e o acordou. Aos p�s do seu colch�o, Harry viu duas formas grandes e desgrenhadas emergindo de um emaranhado de cobertas. � J� est� na hora? � exclamou Fred tonto de sono. Os garotos se vestiram em sil�ncio, demasiados sonolentos para falar, depois, bocejando e se espregui�ando, os quatro desceram as escadas rumo � cozinha. A Sra. Weasley estava mexendo o conte�do de um grande tacho em cima do fog�o, enquanto o Sr. Weasley, sentado � mesa, verificava um ma�o de grandes bilhetes de entrada em pergaminho. Ergueu os olhos quando os garotos chegaram e abriu os bra�os para eles poderem ver melhor suas roupas. Vestia algo que parecia um su�ter de golfe e jeans muito velhas, ligeiramente grandes para ele, seguras por um grosso cinto de couro. � Que � que voc�s acham? � perguntou ansioso. � Temos que ir inc�gnitos: estou parecendo um trouxa, Harry? � Est� � aprovou Harry sorrindo � muito bom. � Onde est�o Gui, Carlinhos e Per-Per-Percy? � perguntou Jorge, incapaz de reprimir um enorme bocejo. � Ora, eles v�o aparatar, certo? � disse a Sra. Weasley, carregando um panel�o para cima da mesa e come�ando a servir o mingau de aveia nos pratos fundos. � Logo, eles podem dormir mais um pouco. Harry sabia que aparatar era muito dif�cil; significava desaparecer de um lugar e reaparecer quase instantaneamente em outro. � Ent�o eles ainda est�o na cama? � concluiu Fred mal-humorado, puxando um prato de mingau para perto. � Por que n�o podemos aparatar tamb�m? � Porque ainda s�o menores e ainda n�o prestaram o exame � respondeu a Sra. Weasley. � E onde foi que se meteram essas meninas? Ela saiu apressada da cozinha e todos a ouviram subir as escadas. � A pessoa tem que prestar um exame para poder aparatar? � perguntou Harry. � Ah, tem � respondeu o Sr. Weasley, guardando as entradas cuidadosamente no bolso traseiro da jeans. � O Departamento de Transportes M�gicos teve que multar umas pessoas, ainda outro dia, por aparatarem sem licen�a. N�o � f�cil aparatar e quando n�o se faz corretamente pode acarretar complica��es desagrad�veis. Esses dois que estou falando racharam ao meio. Todos ao redor da mesa fizeram uma careta, menos Harry. � Hum... Racharam? � admirou-se Harry. � Deixaram metade do corpo para tr�s � explicou o Sr. Weasley, agora acrescentando v�rias colheradas de caramelo ao mingau. � E, � claro, ficaram entalados. N�o conseguiram avan�ar nem retroceder. Tiveram que esperar pelo Esquadr�o de Revers�o de Feiti�os Acidentais para resolver o problema. E vou dizer mais, foi preciso preencher uma enorme papelada, por causa dos trouxas que encontraram as partes do corpo que eles deixaram para tr�s... Harry teve uma s�bita vis�o de um par de pernas e um olho abandonados na cal�ada da Rua dos Alfeneiros. � E eles ficaram O.K.? � perguntou o garoto, assustado. � Ah, claro � respondeu o Sr. Weasley factualmente. � Mas receberam uma multa pesada e acho que n�o v�o tentar fazer isso outra vez quando estiverem com pressa. N�o se brinca com aparata��o. H� muitos bruxos adultos que nem experimentam. Preferem vassouras, mais lentas, por�m mais seguras. � Mas Gui, Carlinhos e Percy, todos sabem aparatar? � Carlinhos teve que prestar exame duas vezes � disse Fred sorrindo. � Levou bomba na primeira vez, aparatou a oitenta quil�metros do ponto que queria, bem em cima de uma pobre velhinha que estava fazendo compras, lembram? � Foi, mas ele passou da segunda vez � disse a Sra. Weasley, voltando � cozinha em meio a gostosas risadas. � Percy s� passou h� duas semanas � disse Jorge. � Desde esse dia tem aparatado todas as manh�s aqui em baixo, para provar que sabe. Ouviram-se passos no corredor, e Hermione e Gina entraram na cozinha, as duas p�lidas e cheias de pregui�a. � Por que temos que levantar t�o cedo? � perguntou Gina, esfregando os olhos e se sentando a mesa. � Temos que andar um bom peda�o � respondeu o Sr. Weasley. � Andar? � espantou-se Harry. � O qu�, vamos a p� para a Copa Mundial? � N�o, n�o, a Copa vai ser a quil�metros daqui � disse o Sr. Weasley, sorrindo. � S� precisamos andar um pedacinho. � que � muito dif�cil um grande n�mero de bruxos se reunir sem chamar a aten��o dos trouxas. Temos que tomar muito cuidado com o modo de viajar at� em tempos normais e numa ocasi�o grandiosa como a Copa Mundial de Quadribol... � Jorge! � chamou a Sra. Weasley rispidamente e todos se assustaram. � Qu�? � perguntou Jorge, num tom de inoc�ncia que n�o enganou ningu�m. � Que � isso no seu bolso? � Nada! � N�o minta para mim! A Sra. Weasley apontou a varinha para o bolso de Jorge e disse: � Accio! V�rios objetos pequenos e vivamente coloridos dispararam para fora do bolso de Jorge; o garoto tentou segur�-los, mas n�o conseguiu, e eles foram parar direto na m�o estendida da Sra. Weasley. � Mandamos voc�s destru�rem isso! � disse ela furiosa mostrando indiscut�veis Caramelos Incha-L�ngua. � Mandamos voc�s se desfazerem de todos. Esvaziem os bolsos, vamos, os dois! Foi uma cena desagrad�vel; os g�meos evidentemente tinham tentado contrabandear o maior n�mero poss�vel de caramelos para fora da casa e somente usando um Feiti�o Convocat�rio a Sra. Weasley conseguiu encontrar todos. � Accio! Accio! Accio! � gritava ela e os caramelos voavam dos Lugares mais improv�veis, inclusive do forro da jaqueta de Jorge e das barras do jeans de Fred. � Gastamos seis meses para inventar esses caramelos � gritou Fred para a m�e, quando ela os jogou no lixo. � Que bela maneira de gastar seis meses! � guinchou a m�e. � N�o admira que n�o tivessem obtido mais N.O.M"s! No todo, o clima n�o estava muito simp�tico quando eles partiram. A Sra. Weasley continuava enfurecida quando beijou o rosto do marido, mas n�o tanto quanto os g�meos, que tinham posto as mochilas �s costas e sa�do sem dizer uma palavra � m�e. � Bom, divirtam-se � desejou a Sra. Weasley � e se comportem � gritou para os g�meos que se afastavam, mas eles n�o se viraram nem responderam. � Vou mandar Gui, Carlinhos e Percy por volta do meio-dia � avisou a Sra. Weasley ao marido quando ele, Harry, Rony, Hermione e Gina come�aram a atravessar o gramado escuro atr�s de Fred e Jorge. Fazia frio e a lua ainda estava no c�u. Apenas um esverdeado-claro no horizonte, � direita deles, denunciava que em breve amanheceria. Harry, que andara pensando nos milhares de bruxos que rumavam apressados para a Copa Mundial de Quadribol, acelerou o passo para caminhar com o Sr. Weasley. � Ent�o como � que todo o mundo chega l� sem os trouxas repararem? � perguntou ele. � Foi um enorme problema de organiza��o � suspirou o Sr. Weasley. � O caso � que v�m uns cem mil bruxos para a Copa Mundial e, � claro, n�o temos nenhum local m�gico grande bastante para acomodar todos. H� lugares em que os trouxas n�o conseguem penetrar, mas imagine tentar acomodar cem mil bruxos no Beco Diagonal ou na plataforma nove e meia. Ent�o tivemos que encontrar uma charneca deserta que servisse e instalar o m�ximo de precau��es antitrouxas poss�vel. O minist�rio inteiro vem trabalhando nisso h� meses. Primeiro, � claro, tivemos que escalonar as chegadas. Quem comprou entradas mais baratas teve que chegar duas semanas antes. Um n�mero limitado tem usado os transportes dos trouxas, mas n�o podemos ter gente demais entupindo os �nibus e trens deles, lembre que temos bruxos chegando de todo o mundo. Alguns aparatam, naturalmente, mas temos que escolher pontos seguros para eles aparecerem, bem longe dos trouxas. Acho que h� uma floresta pr�xima que eles est�o usando para aparatar. Para os que n�o querem aparatar, ou n�o podem, usamos os portais. S�o objetos para o transporte de bruxos de um lugar para outro em horas certas. Pode-se atender a grandes grupos de cada vez se for preciso. Foram instalados duzentos portais em pontos estrat�gicos da Gr�-Bretanha, e o mais pr�ximo da nossa casa � no alto do morro Stoarshead, por isso � que estamos indo para l�. O Sr. Weasley apontou para uma grande massa escura que se erguia � frente, para al�m do povoado de Ottery St. Catchpole. � Que tipo de objetos s�o esses portais? � perguntou Harry curioso. � Podem ser qualquer coisa � respondeu o Sr. Weasley. � Coisas discretas, obviamente, para os trouxas n�o as pegarem e sa�rem brincando com elas... Coisas que eles simplesmente considerem lixo... O grupo caminhava pela vereda escura e �mida que levava ao povoado, o sil�ncio quebrado apenas pelo eco de seus passos. O c�u foi clareando muito devagarinho quando eles atravessaram o povoado, o azul-tinta se dissolvendo em azul-escuro. As m�os e os p�s de Harry estavam congelados. O Sr. Weasley n�o parava de consultar o rel�gio. Eles j� estavam sem f�lego para conversar quando come�aram a subir o morro Stoatshead, trope�avam ocasionalmente em tocas de coelho escondidas, escorregavam em grossos tufos de grama escura. Cada vez que Harry inspirava sentia o peito arder e suas pernas j� come�avam a se recusar a andar quando finalmente seus p�s pisaram em terreno nivelado. � Ufa! � ofegou o Sr. Weasley, tirando os �culos e secando-os no su�ter. � Bom, fizemos um bom tempo, ainda temos dez minutos... Hermione foi � �ltima a aparecer na crista do morro, apertando uma c�ibra do lado do corpo. � Agora s� precisamos da Chave do Portal � disse o Sr. Weasley repondo os �culos e apurando a vista para esquadrinhar o terreno. � N�o deve ser grande... Vamos... Eles se espalharam para procur�-la. E estavam nisso havia poucos minutos, quando um grito cortou o ar parado. � Aqui, Arthur! Aqui, filho, achamos! Dois vultos altos surgiram recortados contra o c�u estrelado, do outro lado do cume do morro. � Amos! � exclamou o Sr. Weasley, encaminhando-se sorridente para o homem que gritara. Os garotos o acompanharam. O Sr. Weasley apertou as m�os de um bruxo de rosto corado, com uma barba castanha e curta, que segurava em uma das m�os uma bota velha de apar�ncia mofada. � Este � Amos Diggory, pessoal � apresentou-o o Sr. Weasley. � Trabalha no Departamento para Regulamenta��o e Controle das Criaturas M�gicas. E acho que voc�s conhecem o filho dele, Cedrico? Cedrico Diggory era um rapaz muito bonito de uns dezessete anos. Era capit�o e apanhador do time de Quadribol da Lufa-Lufa, em Hogwarts. � Oi � disse Cedrico olhando para os garotos. Todos retribu�ram o "Oi", exceto Fred e Jorge, que apenas acenaram com a cabe�a. Eles nunca haviam perdoado Cedrico por derrotar o time da Grifin�ria, no primeiro jogo de Quadribol do ano anterior. � Uma longa caminhada, Arthur? � perguntou o pai de Cedrico. � N�o foi t�o ruim assim � respondeu o Sr. Weasley. � Moramos logo ali do outro lado do povoado. E voc�? � Tivemos que nos levantar as duas, n�o foi, Ced? Confesso que vou ficar satisfeito quando ele passar no exame de aparata��o. Mas... N�o estou me queixando... A Copa Mundial de Quadribol, eu n�o a perderia nem por um saco de gale�es, e � mais ou menos quanto custam as entradas. Mas, pelo visto, parece que me saiu barato... � Amos Diggory mirou bem-humorado os tr�s garotos Weasley, Harry, Hermione e Gina. � S�o todos seus, Arthur? � Ah, n�o, s� os ruivos � esclareceu o Sr. Weasley apontando os filhos. � Esta � Hermione, amiga de Rony, e Harry, outro amigo... � Pelas barbas de Merlin! � exclamou Amos Diggory arregalando os olhos. � Harry? Harry Potter? � Hum... � � respondeu o garoto. Harry estava habituado �s pessoas o olharem curiosas quando o conheciam, habituado � corrida instant�nea do olhar delas a cicatriz em forma de raio em sua testa, mas isto sempre o constrangia. � Ced nos falou de voc�, naturalmente � disse Amos Diggory. � Nos contou tudo sobre a partida que jogaram com voc�s no ano passado... Eu disse a ele: Ced, isto vai ser uma hist�ria para contar aos seus netos, ah, vai... Voc� derrotou Harry Potter! Harry n�o conseguiu pensar em nenhuma resposta a esse coment�rio, por isso ficou calado. Fred e Jorge amarraram a cara outra vez. Cedrico pareceu ligeiramente encabulado. � Harry caiu da vassoura, papai � murmurou ele. � Contei a voc�... Foi um acidente... � �, mas voc� n�o caiu, n�o � mesmo? � rugiu Amos jovialmente, dando uma palmada nas costas do filho. � Sempre modesto, o nosso Ced, sempre cavalheiro... Mas venceu o melhor, tenho certeza de que Harry diria o mesmo, n�o �? Um cai da vassoura, um continua montado, n�o � preciso ser g�nio para saber quem voa melhor! � Deve estar quase na hora � disse o Sr. Weasley depressa, puxando o rel�gio do bolso mais uma vez. � Voc� sabe se temos que esperar mais algu�m? � N�o, os Lovegood j� est�o l� h� uma semana e os Fawcett n�o conseguiram entradas � disse o Sr. Diggory. � N�o tem mais gente nossa na �rea? � N�o que eu saiba. S� falta um minuto... � melhor nos prepararmos... Ele olhou para Harry e Hermione. � Voc�s s� precisam tocar na Chave do Portal, s� isso, basta um dedo... Com dificuldade, por causa das volumosas mochilas, os nove se agruparam em torno da velha bota que Amos Diggory segurava. Todos ficaram parados ali, num circulo fechado, sentindo a brisa g�lida que varria o cume do morro. Ningu�m falava. De repente ocorreu a Harry como pareceria estranho se um trouxa subisse at� ali naquele momento... Nove pessoas, dois adultos, segurando uma bota velha de pano, esperando... � Tr�s... � murmurou o Sr. Weasley, com o olho ainda no rel�gio � Dois... Um... Aconteceu instantaneamente. Harry teve a sensa��o de que um gancho dentro do seu umbigo fora irresistivelmente puxado para frente. Seus p�s deixaram o ch�o; ele sentiu Rony e Hermione de cada lado, os ombros se tocando; todos avan�avam vertiginosamente em meio ao uivo do vento e ao rodopio de cores; seu dedo indicador estava grudado na bota como se esta o atra�sse magneticamente para frente, e ent�o... Seus p�s bateram no ch�o; Rony deu um encontr�o nele e caiu; a Chave do Portal despencou no ch�o do lado da cabe�a dele com um baque forte. Harry ergueu os olhos. O Sr. Weasley, o Sr. Diggory e Cedrico continuavam parados, embora com a apar�ncia de terem sido varridos pelo vento; os demais estavam ca�dos no ch�o. � O sete e cinco chegando do morro Stoatshead � anunciou uma voz. CAP�TULO SETE Bagman e Crouch Harry se desvencilhou de Rony e se levantou. Tinham chegado, pelo que parecia, a um trecho deserto de uma charneca imersa em n�voa. Diante deles havia dois bruxos cansados, com cara de rabugentos, um dos quais segurava um grande rel�gio de ouro, e o outro, um grosso rolo de pergaminho e uma pena. Ambos estavam vestidos como trouxas, embora sem muita habilidade; o homem do rel�gio usava um terno de tweed com botas de borracha at� as coxas, o colega, um saiote escoc�s e um poncho. � Bom-dia, Bas�lio � cumprimentou o Sr. Weasley, apanhando a bota que os transportara e entregando-a ao bruxo de saiote, que a atirou em uma grande caixa de chaves de portal usadas, a um lado. Harry viu, entre elas, um jornal velho, latas de bebidas vazias e uma bola de futebol furada. � Ol�, Arthur � disse Bas�lio em tom entediado. � N�o est� de servi�o n�o, �? Tem gente que se d� bem... Estivemos aqui a noite toda... � melhor voc� desimpedir o caminho, temos um grupo grande chegando da Floresta Negra �s cinco e quinze. Espere um pouco, me deixe ver onde � que voc� vai ficar... Weasley... Weasley... � Ele consultou a lista no pergaminho. � A uns quatrocentos metros para aquele lado, primeiro acampamento que voc� encontrar. O gerente � o Sr. Roberts. Diggory... Segundo acampamento... Pergunte pelo Sr. Payne. � Obrigado, Bas�lio � disse o Sr. Weasley e fez sinal para todos o acompanharem. Eles sa�ram pela charneca deserta, incapazes de distinguir muita coisa atrav�s da n�voa, Passados uns vinte minutos, avistaram uma casinha de pedra ao lado de um port�o. Mais al�m, Harry p�de distinguir mal e mal as formas fantasmag�ricas de centenas de barracas, montadas na ondula��o suave de um grande campo, no rumo de uma floresta escura no horizonte. Eles se despediram dos Diggory e se aproximaram da casa. Havia um homem parado � porta, contemplando as barracas. Harry soube s� de olhar que aquele era o �nico trouxa leg�timo numa �rea de muitos hectares. Quando o trouxa ouviu os passos do grupo, virou a cabe�a para olh�-los. � Bom dia! � cumprimentou o Sr. Weasley animado. � Bom dia � disse o trouxa. � O senhor seria o Sr. Roberts? � �, seria � respondeu o Sr. Roberts. � E quem � o senhor? � Weasley, duas barracas reservadas h� uns dois dias? � Certo � confirmou o Sr. Roberts, consultando uma lista pregada � porta. � O lugar � l� perto da floresta. S� uma noite? � Isso � respondeu o Sr. Weasley. � O senhor vai pagar agora, ent�o? � perguntou o Sr. Roberts. � Ah... Certo... � claro. � O Sr. Weasley se afastou um pouco da casa e fez sinal a Harry para acompanh�-lo. � Me ajude, Harry � murmurou, puxando do bolso um rolinho de dinheiro de trouxa e come�ando a separar as notas. � Esta aqui � de... De... De dez? Ah �, vejo agora que tem um numero... Ent�o esta � de cinco? � De vinte � corrigiu-o Harry falando baixo, incomodamente consciente de que o Sr. Roberts estava tentando ouvir cada palavra que diziam. � Ah �, � mesmo... N�o sei, esses pedacinhos de papel... � � estrangeiro? � perguntou o Sr. Roberts, quando o Sr. Weasley voltou com o dinheiro certo. � Estrangeiro? � repetiu o bruxo, intrigado. � O senhor n�o � o primeiro que se atrapalha com o dinheiro � disse o gerente, observando o Sr. Weasley atentamente. � Tive dois querendo me pagar com grandes moedas de ouro do tamanho de calotas de autom�vel faz uns dez minutos. � S�rio? � disse o Sr. Weasley nervoso. O Sr. Roberts vasculhou uma lata � procura de troco. � Nunca esteve t�o cheio � disse ele de repente, voltando outra vez o olhar para o campo enevoado. � Centenas de reservas. As pessoas em geral aparecem sem aviso... � Verdade? � exclamou o Sr. Weasley, a m�o estendida � espera do troco, mas o Sr. Roberts n�o lhe deu nenhum. � � � disse pensativo. � Gente de toda parte. Montes de estrangeiros. E n�o s�o s� estrangeiros. Gente esquisita, sabe? Tem um sujeito andando por a� de saiote e poncho. � E n�o devia? � perguntou o Sr. Weasley ansioso. � Parece que � uma esp�cie de... Uma esp�cie de conven��o � comentou o Sr. Roberts. � Parece que todos se conhecem. Como numa grande festa. Naquele momento, um bruxo de bermud�o largo materializou-se do nada ao lado da porta da casa do Sr. Roberts. � Obliviate!� disse ele bruscamente, apontando a varinha para o Sr. Roberts. Instantaneamente os olhos do Sr. Roberts sa�ram de foco, suas sobrancelhas se desfranziram e um olhar de vaga despreocupa��o cobriu o seu rosto. Harry reconheceu os sintomas de algu�m que acabara de ter a mem�ria alterada. � Um mapa do acampamento para o senhor � disse o homem, placidamente, ao Sr. Weasley. � E o seu troco. � Muito obrigado. O bruxo de bermud�o acompanhou o grupo em dire��o ao port�o do acampamento. Parecia exausto; a barba por fazer azulava seu queixo e havia olheiras roxas sob seus olhos. Uma vez longe do raio de audi��o do gerente, ele murmurou para o Sr. Weasley. � Estou tendo um bocado de problemas com ele. Precisa de um Feiti�o de Mem�ria dez vezes por dia para ficar feliz. E Ludo Bagman n�o est� ajudando. Anda por a� falando em bala�os e goles a plenos pulm�es, sem a menor preocupa��o com a seguran�a. Pombas, vou gostar quando isso terminar. Vejo voc� mais tarde, Arthur. E desaparatou. � Pensei que o Sr. Bagman fosse chefe de Jogos e Esportes M�gicos � disse Gina parecendo surpresa. � Devia ter mais ju�zo e parar de falar de bala�os perto de trouxas, n�o devia? � Devia � concordou o Sr. Weasley, sorrindo e passando com os garotos pelo port�o do acampamento �, mas Ludo sempre foi um pouco... Bem... Displicente com a seguran�a. Mas n�o se poderia desejar um chefe mais entusiasta para o Departamento de Esportes. Ele jogou Quadribol pela Inglaterra, sabem. E foi o melhor batedor do Wimbourne Wasps que o time j� teve. O grupo avan�ou lentamente pelo campo entre longas fileiras de barracas. A maioria parecia quase normal, os donos tinham visivelmente tentado o poss�vel para faz�-las parecer equipamento de trouxas, embora tivessem cometido alguns deslizes ao acrescentarem chamin�s ou cord�es de sinetas ou cata-ventos. Por�m, aqui e ali, havia uma barraca t�o obviamente m�gica que Harry n�o se surpreendia que o Sr. Roberts estivesse desconfiado. L� para o meio do campo, havia uma extravagante produ��o de seda listrada como um pal�cio em miniatura, com v�rios pav�es vivos amarrados � entrada. Um pouco adiante, eles passaram por uma barraca que tinha tr�s andares e v�rias torrinhas e, mais al�m, havia uma outra com um jardim anexo, completo, com banho para passarinhos, rel�gio de sol e fonte. � Sempre os mesmos � comentou o Sr. Weasley sorrindo �, n�o conseguimos deixar de nos exibir quando nos reunimos. Ah, l� est�, olhem, aquela � a nossa. Tinham alcan�ado a orla da floresta no alto do campo, e ali havia uma �rea livre com um pequeno letreiro enfiado no ch�o em que se lia "Weezly". � N�o pod�amos ter ganhado um lugar melhor! � exclamou o Sr. Weasley feliz. � O campo preparado para as partidas � logo do outro lado da floresta, estamos o mais perto que poder�amos estar. � Ele descarregou a mochila dos ombros. � Certo � disse excitado �, rigorosamente falando, nada de m�gicas, n�o quando estamos no mundo dos trouxas em t�o grande n�mero. Vamos armar estas barracas � m�o! N�o deve ser muito dif�cil... Os trouxas fazem isso o tempo todo... Tome, Harry, por onde voc� acha que devo come�ar? Harry nunca acampara na vida, os Dursley nunca o haviam levado em f�rias, preferindo deix�-lo com a Sra. Figg, uma velha vizinha. No entanto, ele e Hermione descobriram como distribuir os paus e as estacas, e embora o Sr. Weasley atrapalhasse mais do que ajudasse, porque ficara excitad�ssimo quando precisaram usar o martelo, eles finalmente conseguiram erguer duas barracas modestas para duas pessoas cada. Todos se afastaram para admirar a habilidade manual deles. Ningu�m que visse aquelas barracas teria adivinhado que pertenciam a bruxos, pensou Harry, mas o problema era que quando Gui, Carlinhos e Percy chegassem, eles formariam um grupo de dez pessoas. Hermione parecia ter identificado esse problema tamb�m, lan�ou a Harry um olhar c�mico quando o Sr. Weasley ficou de quatro e entrou na primeira barraca. � Vamos ficar meio apertados � comentou ele �, mas acho que vai dar para nos espremermos. Venham dar uma olhada. Harry se abaixou, passou por baixo da aba de entrada e sentiu o queixo cair. Entrara em uma barraca que parecia um apartamento antigo de tr�s quartos, completo, com banheiro e cozinha. E o que era curioso, estava mobiliado no mesm�ssimo estilo que o da Sra. Figg; havia capas de croch� nas poltronas sem par e um forte cheiro de gatos. � Bom, n�o � para muito tempo � disse o Sr. Weasley, secando a careca com um len�o e espiando as quatro camas beliches que havia no quarto. � Pedi a barraca emprestada ao Perkins, l� do escrit�rio. Ele n�o acampa muito atualmente, coitado, est� com lumbago. O Sr. Weasley apanhou uma chaleira empoeirada e espiou dentro. � Vamos precisar de �gua... � Tem uma torneira assinalada no mapa que o trouxa nos deu � disse Rony, que seguira Harry para dentro da barraca e parecia completamente indiferente a essas extraordin�rias propor��es internas. � Fica do outro lado do campo. � Bom, ent�o por que voc�, Harry e Hermione n�o v�o apanhar um pouco de �gua... � o bruxo entregou aos garotos a chaleira e duas ca�arolas �... E n�s vamos apanhar lenha para fazer uma fogueira. � Mas temos um forno � lembrou Rony �, por que n�o podemos...? � Rony, seguran�a antitrouxa! � disse o Sr. Weasley, o rosto brilhando de expectativa. � Quando os trouxas de verdade acampam, eles cozinham em fogueiras ao ar livre, j� os vi fazendo isso! Depois de uma r�pida visita � barraca das garotas, que era ligeiramente menor do que a deles, embora sem o cheiro de gato, Harry, Rony e Hermione atravessaram o acampamento levando as vasilhas. Agora, com o sol de fora e a n�voa se dissipando, eles puderam ver a cidade de lona que se estendia para todas as dire��es. Caminharam lentamente entre as fileiras de barracas, espiando tudo com interesse. Harry estava come�ando a se indagar quantos bruxos e bruxas devia haver no mundo; ele nunca pensara realmente nos bruxos de outros pa�ses. Seus companheiros de acampamento iam acordando aos poucos. Os primeiros a dar sinal de vida foram �s fam�lias com crian�as pequenas, Harry nunca vira bruxos t�o pequenos antes. Um pirralhinho, que n�o tinha mais de dois anos, estava agachado do lado de fora de uma barraca em forma de pir�mide, empunhando uma varinha com a qual cutucava, feliz, um caramujo na grama, que ia ganhando lentamente o tamanho de um salame. Quando se emparelharam com ele, a m�e saiu correndo da barraca. � Quantas vezes tenho de dizer, Kevin? N�o pode... Mexer... Na... Varinha... do papai, putz! Ela pisou no enorme caramujo, estourando-o. A bronca acompanhou os garotos pelo ar parado, se misturando aos gritos do garotinho: � Voc� acabou caramujo! Voc� acabou caramujo! Um pouco mais adiante, eles viram duas bruxinhas, pouco mais velhas do que Kevin, cavalgando vassouras de brinquedo que se elevavam o suficiente para os dedos dos p�s das meninas rasparem a grama orvalhada. Um bruxo do Minist�rio j� as vira; quando passou correndo por Harry, Rony e Hermione, murmurava agitado: � Em plena luz do dia! Os pais devem estar cochilando, suponho... Aqui e ali bruxos e bruxas adultos sa�am das barracas e come�avam a preparar o caf� da manh�. Alguns, lan�ando olhares furtivos para os lados, conjuravam fogueiras com as varinhas, outros acendiam f�sforos com ar de d�vida, como se tivessem certeza de que aquilo n�o ia funcionar. Tr�s bruxos africanos conversavam sentados, trajando longas vestes brancas, enquanto assavam uma carne que parecia coelho sobre uma fogueira p�rpura berrante, um grupo de bruxas americanas de meia-idade fofocava alegremente sob a bandeira estrelada que elas haviam estendido entre as barracas, na qual se lia Instituto das Bruxas de Salem. Harry captava fragmentos de conversas em l�nguas estranhas que sa�am das barracas pelas quais passavam, e embora n�o conseguisse entender uma �nica palavra, o tom das vozes era de excita��o. � Hum... S�o os meus olhos ou tudo ficou verde? � perguntou Rony. N�o eram os olhos de Rony. Os garotos tinham entrado em uma �rea em que as barracas estavam cobertas por uma camada de trevos, dando a impress�o de que morros de formas estranhas haviam brotado da terra. Viam-se rostos sorridentes nas barracas com a aba da entrada erguida. Ent�o, �s costas, os garotos ouviram algu�m gritar seus nomes. � Harry! Rony! Hermione! Era Simas Finnigan, um colega quartanista da Grifin�ria. Estava sentado diante de uma barraca coberta de trevos, em companhia de uma mulher de cabelos louro-claros que s� podia ser sua m�e e com Dino Thomas, tamb�m da Grifin�ria. � Gostaram da decora��o? � perguntou Simas sorrindo, quando Harry, Rony e Hermione se aproximaram para cumpriment�-los. � O Minist�rio n�o est� nada feliz. � E por que n�o dever�amos mostrar nossas cores? � perguntou a Sra. Finnigan. � Voc�s deviam ver o que os b�lgaros penduraram nas barracas deles. � Voc�s v�o torcer pela Irlanda, naturalmente? � acrescentou ela fixando Harry, Rony e Hermione com insist�ncia. Depois de terem tranq�ilizado a senhora de que realmente iam torcer pela Irlanda, os garotos seguiram caminho, embora Rony tivesse comentado: � Como se a gente fosse dizer que n�o ia, com aquela turma em volta. � Que ser� que os b�lgaros penduraram nas barracas? � indagou Hermione. � Vamos dar uma olhada � disse Harry, apontando para uma grande �rea de barracas mais adiante, onde a bandeira da Bulg�ria, vermelha, verde e branca, tremulava a brisa. As barracas n�o estavam enfeitadas com plantas, mas cada uma exibia o mesmo p�ster, um p�ster com um rosto muito carrancudo com grossas sobrancelhas negras. A foto, � claro, se mexia, mas apenas para piscar os olhos e franzir a testa. � Krum � disse Rony em voz baixa. � Qu�? � perguntou Hermione. � Krum! � repetiu Rony. � V�tor Krum, o apanhador b�lgaro! � Ele parece bem rabugento � comentou Hermione, olhando para os muitos Krums que piscavam e franziam a testa para eles. � Bem rabugento? � Rony olhou para o c�u. � Quem se importa com a cara dele? Ele � incr�vel! E � bem mo�o, tamb�m. Tem uns dezoito anos, por a�. � um g�nio, espere at� ver hoje � noite. J� havia uma pequena fila � torneira no canto do acampamento. Harry e Rony entraram logo atr�s de dois homens que discutiam acaloradamente. Um deles era um bruxo muito velho que usava uma longa camisola florida. O outro era visivelmente um bruxo do Minist�rio, este segurava cal�as listradas e quase chorava de exaspera��o. � Vista as cal�as, Arquibaldo, seja bonzinho, voc� n�o pode andar por a� vestido assim, o trouxa no port�o j� est� ficando desconfiado... � Comprei isso numa loja de trouxas � defendeu-se o velho bruxo, teimando. � Os trouxas usam isso. � Mulheres trouxas usam isso, Arqui, n�o os homens, eles usam isto aqui � disse o bruxo do Minist�rio mostrando as cal�as listradas. � N�o vou vestir isso � retrucou o velho bruxo indignado. � Gosto de sentir uma brisa saud�vel nas minhas partes, obrigado. Hermione foi tomada por um tal acesso de riso, nessa hora, que precisou sair da fila e s� voltou depois que Arquibaldo tinha se abastecido de �gua e fora embora. Caminhando mais devagar agora, por causa do peso da �gua, os garotos tornaram a atravessar o acampamento. Aqui e ali, eles viam rostos mais familiares: outros alunos de Hogwarts com as fam�lias. Ol�vio Wood, o ex-capit�o de Quadribol do time de Harry, que terminara os estudos em Hogwarts, arrastou o garoto at� a barraca dos pais para apresent�-lo, e lhe contou cheio de excita��o que acabara de entrar para o time de reserva do Puddlemere United. Depois os garotos foram saudados por Ernesto Macmillan, um quartanista da Lufa-Lufa, e, mais adiante, viram Cho Chang, uma garota muito bonita que jogava como apanhadora no time da Corvinal. Ela acenou e sorriu para Harry, que derramou um bocado de �gua na roupa ao retribuir o aceno. Mais para impedir Rony de ca�oar do que por outro motivo, Harry apontou depressa para um enorme grupo de adolescentes que ele nunca vira antes. � De onde voc� acha que eles s�o? � perguntou Harry. � Eles n�o freq�entam Hogwarts, freq�entam? � Devem freq�entar alguma escola estrangeira � sugeriu Rony. � Sei que h� outras, mas nunca encontrei ningu�m que estudasse nelas. Gui teve uma correspondente em uma escola no Brasil... Isto foi h� anos... E ele quis ir para l� numa viagem de interc�mbio, mas mam�e e papai n�o tiveram dinheiro para bancar a viagem. A mo�a ficou toda ofendida quando ele disse que n�o ia e mandou para ele um chap�u enfeiti�ado. As orelhas dele murcharam. Harry riu, mas n�o manifestou a surpresa que era saber que havia outras escolas de magia. Sup�s, agora que via representantes de tantas nacionalidades no acampamento, que fora muito burro por jamais ter imaginado que Hogwarts n�o poderia ser a �nica. Ele olhou para Hermione, que n�o demonstrara a menor surpresa com a informa��o. Sem d�vida, ela devia ter visto refer�ncias a outras escolas de magia em algum livro. � Voc�s demoraram uma eternidade � comentou Jorge, quando eles finalmente chegaram �s barracas dos Weasley. � Encontramos alguns conhecidos � disse Rony, pousando as vasilhas de �gua. � Voc� ainda n�o acendeu a fogueira? � Papai est� se divertindo com os f�sforos � disse Fred. O Sr. Weasley n�o estava tendo o menor sucesso em acender a fogueira, mas n�o era por falta de tentativas. F�sforos partidos coalhavam o ch�o ao seu redor, mas ele parecia estar se divertindo como nunca. � Opa! � exclamou ele, ao conseguir acender um f�sforo, mas largou-o na mesma hora no ch�o, surpreso. � Chegue aqui, Sr. Weasley � disse Hermione bondosamente, tirando a caixa das m�os dele e come�ando a mostrar como fazer fogo direito. Finalmente, eles acenderam a fogueira, embora levasse no m�nimo mais uma hora at� ela esquentar o suficiente para cozinhar alguma coisa. Mas havia muito que ver enquanto esperavam. A barraca deles estava armada ao longo de uma esp�cie de rua de acesso ao campo de Quadribol, por onde funcion�rios do Minist�rio corriam para cima e para baixo, cumprimentando cordialmente o Sr.Weasley ao passar. O Sr. Weasley fazia coment�rios cont�nuos, principalmente para benef�cio de Harry e Hermione, seus pr�prios filhos j� conheciam bastante o Minist�rio para se interessar. � Aquele era Cutberto Mockridge, chefe da Se��o de Liga��o com os Duendes... L� vem Gilberto Wimple, ele trabalha na Comiss�o de Feiti�os Experimentais, j� usa aqueles chifres h� algum tempo... � Al� Arnaldinho... � Arnaldo Peasegood, ele � um obliviador, trabalha no Esquadr�o de Revers�o de Feiti�os Acidentais, sabe... E aqueles outros s�o Bode e Croaker... S�o dois inomin�veis... � S�o o qu�? � Do Departamento de Mist�rios, ultra-secretos, n�o tenho a menor id�ia do que fazem... Finalmente, a fogueira ficou pronta e eles j� haviam come�ado a preparar salsichas com ovos quando Gui, Carlinhos e Percy sa�ram caminhando da floresta para se reunirem � fam�lia. � Acabei de aparatar, papai � disse Percy em voz alta. � Ah, que excelente almo�o! J� haviam comido metade das salsichas com ovos quando o Sr. Weasley se levantou, acenando e sorrindo para um homem que vinha em sua dire��o. � Ah-ah! � exclamou ele. � O homem do momento! Ludo! Ludo Bagman era, sem favor algum, o homem mais chamativo que Harry j� vira na vida, at� mesmo incluindo nessa conta o velho Arquibaldo com sua camisola florida. Usava longas vestes de Quadribol com grandes listras horizontais amarelas e pretas. Uma enorme estampa de uma vespa tomava todo o seu peito. Tinha a apar�ncia de um homem corpulento que parara de se exercitar; suas vestes estavam muito esticadas por cima da enorme barriga, que certamente n�o existia na �poca em que ele jogava Quadribol pela Inglaterra. Seu nariz era achatado (provavelmente quebrado por algum bala�o errante, pensou Harry), mas os redondos olhos azuis, os cabelos louros curtos e a pele rosada o faziam parecer um menino de escola que crescera demais. � Ol�, � exclamou Bagman alegremente. Andava como se tivesse molas nas solas dos p�s, era vis�vel que estava num estado de extrema excita��o. � Arthur, meu velho � ofegou ele, ao chegar � fogueira � que dia, hein? Ser� que pod�amos ter desejado um tempo mais perfeito? Uma noite sem nuvens... E quase nenhum problema na programa��o... Quase nada para eu fazer! Por tr�s dele, um grupo de bruxos do Minist�rio, de cara exausta, passou apressado, apontando para a evid�ncia distante de algum tipo de fogueira m�gica que disparava fa�scas violetas a seis metros de altura. Percy adiantou-se rapidamente com a m�o estendida. Pelo jeito o fato de desaprovar o modo de Ludo Bagman dirigir o departamento, n�o o impedia de querer causar boa impress�o. � Ah... Sim � disse o Sr. Weasley, sorrindo �, este � o meu filho, Percy, come�ou a trabalhar no Minist�rio agora, e este � Fred, n�o, Jorge, desculpe, esse � o Fred... Gui, Carlinhos, Rony... Minha filha, Gina... E os amigos de Rony, Hermione Granger e Harry Potter. De maneira discret�ssima, Bagman olhou uma segunda vez ao ouvir o nome de Harry e seus olhos deram a conhecida espiada na cicatriz na testa do garoto. � Pessoal � continuou o Sr. Weasley �, este � Ludo Bagman, voc�s sabem quem ele �, e � gra�as a ele que temos entradas t�o boas... Bagman abriu um sorriso de lado a lado do rosto e fez um gesto com a m�o significando que n�o fora nada. � Quer arriscar uma apostinha no jogo, Arthur? � perguntou ele ansioso, sacudindo, ao que parecia, um bocado de ouro nos bolsos das vestes amarelas e pretas. � J� aceitei a aposta de Roddy Pontner de que a Bulg�ria vai marcar primeiro, ofereci a ele uma boa vantagem, levando em conta que os tr�s jogadores avan�ados da Irlanda s�o os mais fortes que j� vi em anos, e a pequena �gata Timms apostou meias quotas da fazenda de enguias de que a partida vai durar uma semana. � Ah... V� l�, ent�o � disse o Sr. Weasley. � Vejamos... Um gale�o na vit�ria da Irlanda? � Um gale�o? � Ludo Bagman pareceu ligeiramente desapontado, mas se recuperou: � Muito bem, muito bem... Mais alguma aposta? � Eles s�o um pouco jovens demais para andar jogando � disse o Sr. Weasley. � Molly n�o gostaria... � N�s apostamos trinta e sete gale�es, quinze sicles e tr�s nuques � disse Fred, ao mesmo tempo em que ele e Jorge juntavam rapidamente todo o dinheiro que tinham � que a Irlanda ganha, mas V�tor Krum captura o pomo. Ah, e damos uma varinha falsa de cortesia. � Voc�s n�o v�o querer mostrar ao Sr. Bagman esse lixo � sibilou Percy, mas o bruxo n�o pareceu achar que a varinha era lixo, muito ao contr�rio, seu rosto de colegial iluminou-se de excita��o ao receb�-la das m�os de Fred e, quando a varinha deu um cacarejo e se transformou em uma galinha de borracha, Bagman caiu na gargalhada. � Excelente! N�o vejo uma varinha t�o convincente h� anos! Eu pagaria cinco gale�es por uma dessas! Percy ficou paralisado, numa atitude de indignada desaprova��o. � Meninos � disse o Sr. Weasley entre dentes �, n�o quero voc�s jogando... Isto � tudo que economizaram... Sua m�e... � N�o seja estraga-prazeres, Arthur! � trovejou Ludo Bagman excitado, sacudindo as moedas nos bolsos. � Eles j� s�o bem grandinhos para saber o que querem! Voc�s acham que a Irlanda vai vencer, mas Krum vai capturar o pomo? Nem por milagre, moleques, nem por milagre... Vou dar uma excelente vantagem nessa... E acrescentar mais cinco gale�es por essa varinha marota, concordam... O Sr. Weasley ficou olhando sem a��o enquanto Ludo Bagman puxava um caderninho e uma pena e come�ava a anotar os nomes dos g�meos. � Tchau � disse Jorge, apanhando o peda�o de pergaminho que Bagman lhe estendia e guardando-o no peito das vestes. Bagman virou-se animad�ssimo para o Sr. Weasley. � Daria para me fazer um ch�, suponho? Estou de olho para ver se localizo Crouch. O meu contraparte b�lgaro est� criando dificuldades e n�o consigo entender uma palavra do que ele diz. Bart� poderia resolver o problema, fala umas cento e cinq�enta l�nguas. � O Sr. Crouch? � disse Percy, abandonando subitamente o seu ar de impass�vel desaprova��o e quase se contorcendo de �bvia excita��o. � Ele fala mais de duzentas! Ser�iaco, grugul�s, trasgueano... � Qualquer um sabe falar trasgueano � disse Fred fazendo pouco �, � s� a gente apontar e grunhir. Percy lan�ou a Fred um olhar fei�ssimo e ati�ou os gravetos da fogueira vigorosamente para fazer a chaleira ferver. � J� teve not�cias de Berta Jorkins, Ludo? � perguntou o Sr. Weasley quando Bagman se sentou na grama ao lado deles. � Nem um pio � disse Bagman � vontade. � Mas ela vai aparecer. Coitada da velha Berta... Tem a mem�ria de um caldeir�o furado e nenhum senso de dire��o. Perdida, se quiserem acreditar. Vai aparecer na se��o l� para outubro, pensando que ainda � julho. � Voc� n�o acha que j� estava na hora de mandar algu�m procur�-la? � sugeriu, hesitante, o Sr. Weasley, quando Percy estendeu a Bagman o ch� pedido. � � o que o Bart� Crouch n�o p�ra de dizer � respondeu Bagman, arregalando inocentemente seus olhos redondos �, mas o fato � que n�o podemos destacar ningu�m no momento. Ah... � falar no dem�nio! Bart�! Um bruxo acabara de aparatar junto � fogueira, e n�o poderia oferecer um contraste maior a Ludo Bagman, estirado na grama com as vestes velhas do Wasp. Bart� era um homem mais velho, formal, empertigado, vestido com um terno e uma gravata impec�veis. A risca nos seus cabelos grisalhos e curtos era quase absurdamente reta e o bigode fino de escovinha parecia ter sido aparado com uma r�gua. Seus sapatos eram exageradamente lustrosos. Harry percebeu na hora por que Percy o idolatrava. Percy acreditava piamente em obedecer �s regras sem fazer concess�es, e o Sr. Crouch obedecera � regra de se vestir como trouxa t�o rigorosamente que poderia ter passado por gerente de banco. Harry duvidava que seu tio V�lter pudesse ter descoberto quem ele realmente era. � Estrague um pouco a grama, Bart� � disse Ludo animadamente, batendo no ch�o. � N�o, muito obrigado � respondeu Crouch, e havia um vest�gio de impaci�ncia em sua voz. � Estive procurando-o por toda parte. Os b�lgaros insistem que coloquemos mais doze cadeiras no camarote de honra. � Ah, � isso que eles querem? � exclamou Bagman. � Achei que o sujeito estava pedindo uma pin�a emprestada. Sotaque forte o dele. � Mr. Crouch! � disse Percy sem f�lego, curvando-se numa esp�cie de meia rever�ncia que o fez parecer corcunda. � O senhor aceita uma x�cara de ch�? � Ah � exclamou o bruxo, olhando surpreso para Percy. � Claro... obrigado, Weatherby. Fred e Jorge se engasgaram dentro das x�caras de que bebiam. Percy, as orelhas muito rosadas, ocupou-se com a chaleira. � Ah, e tenho querido dar uma palavra com voc�, tamb�m, Arthur � disse o Sr. Crouch, seu olhar penetrante recaindo sobre o Sr. Weasley. � Ali Bashir est� em p� de guerra. Quer falar com voc� sobre o embargo dos tapetes voadores. O Sr. Weasley soltou um profundo suspiro. � Mandei-lhe uma coruja sobre isso ainda na semana passada. J� devo ter dito a Bashir umas cem vezes: tapetes s�o classificados como artefatos m�gicos pelo Registro de Objetos Enfeiti��veis Proscritos, mas, e ele quer me escutar? � Duvido � respondeu o Sr. Crouch, aceitando a x�cara de Percy. � Ele est� desesperado para exportar para c�. � Bom, eles nunca v�o substituir as vassouras na Gr�-Bretanha, v�o? � disse Bagman. � Ali acha que h� um nicho no mercado para um ve�culo familiar � explicou o Sr. Crouch. � Eu me lembro de que o meu av� tinha um Axminster que levava doze pessoas, mas isso foi antes dos tapetes serem banidos, naturalmente. Ele falou como se n�o quisesse deixar a menor d�vida de que todos os seus antepassados cumpriam rigorosamente a lei. � Ent�o, muito ocupado, Bart�? � perguntou Bagman despreocupadamente. � Bastante � respondeu o outro seco. � Organizar chaves de portal em cinco continentes n�o � uma tarefa qualquer, Ludo. � Imagino que os dois v�o ficar contentes quando o evento acabar � comentou o Sr. Weasley. Ludo Bagman pareceu chocado. � Contente! N�o me lembro de ter me divertido tanto... Ainda assim, n�o � que n�o haja mais trabalho pela frente, hein, Bart�? Hein? Muita coisa ainda para organizar, hein? O Sr. Crouch ergueu as sobrancelhas para Bagman. � Combinamos n�o anunciar nada at� todos os detalhes... � Ah, os detalhes! � exclamou Bagman, afastando a palavra como se fosse uma nuvem de mosquitos. � Eles j� assinaram, ent�o? Concordaram? Aposto o que voc� quiser como esses garotos v�o saber logo. Quero dizer, vai acontecer em Hogwarts... � Ludo, precisamos receber os b�lgaros, sabe � disse o Sr. Crouch bruscamente, cortando os coment�rios de Bagman. � Obrigado pelo ch�, Weatherby. Ele devolveu a Percy a x�cara de ch� intocada e esperou Ludo se levantar; Bagman se p�s em p� com dificuldade, virando o restinho de ch�, o ouro em seus bolsos tilintando alegremente. � Vejo voc�s todos mais tarde! � disse ele. � V�o ficar no camarote de honra comigo, vou comentar o jogo! � Ele acenou, Bart� Crouch fez um movimento r�pido com a cabe�a e os dois desaparataram. � Que � que vai acontecer em Hogwarts, papai? � perguntou Fred na mesma hora. � Do que � que eles estavam falando? � Voc� vai descobrir logo � disse o Sr. Weasley sorrindo. � � informa��o privilegiada, at� o Minist�rio achar conveniente comunic�-la � disse Percy empertigado. � O Sr. Crouch estava certo em n�o querer revelar nada. � Ah, cala a boca, Weatherby � disse Fred. A atmosfera de excita��o foi-se adensando como uma nuvem palp�vel sobre o acampamento, � medida que a tarde avan�ava. A hora do crep�sculo, o pr�prio ar parado de ver�o parecia estar vibrando de excita��o, e quando a noite se estendeu como um toldo sobre os milhares de bruxos que aguardavam, os �ltimos vest�gios de fingimento desapareceram: o Minist�rio pareceu se curvar ao inevit�vel e parou de combater os indisfar��veis sinais de magia que agora irrompiam por toda parte. Ambulantes aparatavam a cada metro, trazendo bandejas e empurrando carrinhos cheios de extraordin�rias mercadorias. Havia rosetas luminosas � verdes para a Irlanda, vermelhas para a Bulg�ria � que gritavam os nomes dos jogadores, chap�us verdes c�nicos enfeitados com trevos dan�antes, echarpes b�lgaras adornadas com le�es que rugiam de verdade, bandeiras dos dois pa�ses que tocavam os hinos nacionais quando eram agitadas, havia miniaturas de Firebolts, que realmente voavam, e figurinhas colecion�veis dos jogadores famosos, que andavam se exibindo nas palmas das m�os. � Guardei o meu dinheiro o ver�o todo para o dia de hoje � disse Rony a Harry, quando os tr�s sa�ram caminhando entre os vendedores comprando lembran�as. Embora Rony j� tivesse comprado um chap�u com trevos dan�antes e uma grande roseta verde, comprou tamb�m uma figurinha de V�tor Krum, o apanhador b�lgaro. O brinquedo andava para frente e para tr�s na m�o do garoto, amarrando a cara para a roseta verde acima. � Uau, olha s� para isso! � exclamou Harry, correndo at� um carrinho atulhado de coisas que pareciam bin�culos de lat�o, s� que eram cheios de bot�es estranhos. � Oni�culos � disse o vendedor pressuroso. � Voc� pode rever o lance... Passar ele em c�mara lenta... E ver uma retrospectiva lance a lance, se precisar. Pechincha: dez gale�es um. � Eu queria n�o ter comprado isso � disse Rony, indicando o chap�u com os trevos dan�antes e olhando, de olho comprido, para os oni�culos. � Tr�s � disse Harry com firmeza ao bruxo. � N�o... N�o precisa � disse Rony ficando vermelho. Sempre se melindrava com o fato de que Harry, que herdara uma pequena fortuna dos pais, tivesse muito mais dinheiro do que ele. � N�o vou te dar nada no Natal � disse Harry, empurrando os on��culos nas m�os do amigo e de Hermione. � Por uns dez anos, n�o se esque�a. � � justo � disse Rony rindo. � Aaah, obrigada, Harry � disse Hermione. � E eu compro os programas para n�s, olha... Com as bolsas de dinheiro bem mais leves, os tr�s voltaram �s barracas. Gui, Carlinhos e Gina tamb�m estavam usando rosetas verdes, e o Sr. Weasley carregava uma bandeira da Irlanda. Fred e Jorge n�o compraram suvenires porque tinham entregado todo o dinheiro a Bagman. Ent�o, eles ouviram um gongo, grave e ensurdecedor, bater em algum lugar al�m da floresta e, na mesma hora, lanternas verdes e vermelhas se acenderam entre as �rvores, iluminando o caminho at� o campo. � Est� na hora! � exclamou o Sr. Weasley, parecendo t�o excitado quanto os garotos. � Andem logo, vamos! CAP�TULO OITO A Copa Mundial de Quadribol Agarrados �s compras, o Sr. Weasley � frente, todos correram para a floresta seguindo o caminho iluminado pelas lanternas. Ouviam a algazarra de milhares de pessoas que se movimentavam � volta deles, gritos, gargalhadas e trechos de can��es. A atmosfera de excita��o febril era extremamente contagiosa; Harry n�o conseguia parar de sorrir. Caminharam pela floresta durante vinte minutos, conversando e brincando em voz alta at� que finalmente emergiram do outro lado e se viram � sombra de um gigantesco est�dio. Embora Harry s� pudesse ver partes das imensas paredes douradas que cercavam o campo, ele podia afirmar que caberiam dentro dele, com folga, umas dez catedrais. � Tem capacidade para cem mil pessoas � disse o Sr. Weasley, vendo o ar de assombro no rosto do garoto. � Uma for�a-tarefa do Minist�rio, com quinhentas pessoas, trabalhou o ano inteiro. H� Feiti�os Antitrouxas em cada cent�metro. Todas as vezes que, neste ano, os trouxas se aproximavam da �rea, eles de repente se lembravam de compromissos urgentes e precisavam sair correndo... Deus os aben�oe � acrescentou ele carinhosamente, se encaminhando para o port�o mais pr�ximo, que j� estava cercado por um enxame de bruxos e bruxas aos gritos. � Lugares de primeira! � exclamou a bruxa do Minist�rio ao port�o, quando verificou as entradas deles. � Camarote de honra! Suba direto, Arthur, o mais alto poss�vel. As escadas de acesso ao est�dio estavam forradas com carpetes p�rpura berrante. Eles subiram com o resto da multid�o, que aos poucos foi se dispersando pelas portas � direita e � esquerda que levavam �s arquibancadas. O grupo do Sr. Weasley continuou subindo e finalmente chegou ao alto da escada, onde havia um pequeno camarote, armado no ponto mais alto do est�dio e situado exatamente entre as duas balizas de ouro. Umas vinte cadeiras douradas e p�rpura tinham sido distribu�das em duas filas, e Harry, ao entrar na primeira com os Weasley, deparou com uma cena que ele jamais imaginara ver. Cem mil bruxos e bruxas iam ocupando os lugares que se erguiam em v�rios n�veis em torno do longo campo oval. Tudo estava banhado por uma misteriosa claridade dourada que parecia se irradiar do pr�prio est�dio. Ali do alto, o campo parecia feito de veludo. De cada lado havia tr�s aros de gol, a quinze metros de altura, do lado oposto ao que estavam, quase ao n�vel dos olhos de Harry, havia um gigantesco quadro-negro. Palavras douradas corriam pelo quadro sem parar como se uma gigantesca m�o invis�vel as escrevesse e em seguida as apagasse, observando melhor, Harry viu que o quadro projetava an�ncios no campo. �Bluebottle: uma vassoura para toda a fam�lia � segura, confi�vel, equipada com alarme antiroubo... Removedor M�gico Multi uso da Sra. Skower. Sem dor nem cor!... Trapo Belo Moda M�gica � Londres, Paris, Hogsmeade...� Harry desgrudou os olhos do quadro e espiou por cima do ombro para ver quem mais dividia o camarote com eles. Por ora estava vazio, exceto por uma criaturinha sentada na antepen�ltima cadeira na fila logo atr�s. A criatura, cujas pernas eram t�o curtas que ficavam esticadas para frente sem poder dobrar, usava uma toalha de ch� drapejada, presa como uma toga, e tinha o rosto escondido nas m�os. Contudo, aquelas compridas orelhas de morcego eram estranhamente familiares... � Dobby? � perguntou Harry incr�dulo. A criaturinha levantou a cabe�a e entreabriu os dedos, deixando aparecer enormes olhos castanhos e um nariz do tamanho exato de um tomate. N�o era Dobby, mas era, sem a menor d�vida, um elfo dom�stico, como fora o amigo de Harry, Dobby. O garoto o libertara dos antigos donos, a fam�lia Malfoy. � O senhor me chamou de Dobby? � guinchou o elfo cheio de curiosidade, por entre os dedos. Sua voz era ainda mais aguda que a de Dobby, um fiapinho tr�mulo de guincho, e Harry suspeitou, embora isso fosse muito dif�cil dizer no caso de elfos dom�sticos, que este talvez fosse do sexo feminino. Rony e Hermione se viraram nas cadeiras para olhar. Embora tivessem ouvido Harry falar muito de Dobby, nunca haviam chegado a conhec�-lo. At� o Sr. Weasley se virou para tr�s interessado. � Desculpe � disse Harry �, achei que voc� era algu�m que eu conhecia. � Mas eu tamb�m conhe�o Dobby, meu senhor! � guinchou o elfo. Escondia o rosto como se a luz o cegasse, embora o camarote de honra n�o fosse muito bem iluminado. � Meu nome � Winky, meu senhor, e o senhor... � seus grandes olhos castanho-escuros se arregalaram tanto que pareceram pratinhos de p�o ao pousarem na cicatriz de Harry � o senhor com certeza � Harry Potter! � �, sou. � Ora, Dobby fala do senhor o tempo todo, meu senhor � disse ela baixando um tantinho as m�os e parecendo assombrada. � Como vai ele? � perguntou Harry. � Est� gostando da liberdade? � Ah, meu senhor � disse Winky, sacudindo a cabe�a �, ah, meu senhor, sem querer lhe faltar ao respeito, meu senhor, mas n�o tenho muita certeza se o senhor fez um favor a Dobby, meu senhor, quando deu a liberdade a ele. � Por qu�? � perguntou Harry, espantado. � Que � que ele tem? � A liberdade est� subindo � cabe�a dele � disse Winky tristemente. � Id�ias acima da condi��o social dele, meu senhor. N�o consegue outro emprego, meu senhor. � Por que n�o? Winky baixou a voz uma oitava e sussurrou: � Ele est� exigindo pagamento pelo trabalho que faz, meu senhor. � Pagamento? � exclamou Harry sem entender. � Ora... por que ele n�o deveria receber pagamento? Winky pareceu horrorizada com a id�ia e fechou os dedos um tantinho, de modo que seu rosto tornou a ficar invis�vel. � Elfos dom�sticos n�o recebem pagamento, meu senhor! � disse ela num guincho abafado. � N�o, n�o, n�o. Eu digo ao Dobby, eu digo, procure uma boa fam�lia e tome ju�zo, Dobby. Ele anda fazendo todo tipo de feiti�o avan�ado, meu senhor, o que n�o fica bem para um elfo dom�stico. Voc� fica aprontando por a�, Dobby, eu digo, e daqui a pouco eu vou saber que voc� teve que comparecer no Departamento para Regulamenta��o e Controle das Criaturas M�gicas, como um duende desclassificado. � Bem, j� estava na hora de ele se divertir um pouco � falou Harry. � Elfos dom�sticos n�o nasceram para se divertir, Harry Potter � disse Winky com firmeza, por tr�s das m�os. � Elfos dom�sticos fazem o que s�o mandados fazer. Eu n�o estou gostando nem um pouco da altura, Harry Potter... � ela olhou para a borda do camarote e engoliu em seco � ... Mas meu dono me mandou para o camarote de honra e eu obede�o, meu senhor. � Por que � que ele mandou voc� aqui, se sabe que voc� n�o gosta de alturas? � perguntou Harry franzindo a testa. � Meu dono... Meu dono quer que eu guarde um lugar para ele, Harry Potter, ele est� muito ocupado � disse Winky, inclinando a cabe�a pata a cadeira vazia ao lado. � Winky est� querendo voltar para a barraca do dono, Harry Potter, mas Winky � bem mandada, Winky � um bom elfo dom�stico. Ela lan�ou outro olhar assustado � borda do camarote e tornou a esconder completamente os olhos. Harry se virou para os outros. � Ent�o isso � um elfo dom�stico? � murmurou Rony. � Esquisitos, n�o s�o? � Dobby era ainda mais esquisito � disse Harry, com veem�ncia. Rony tirou o oni�culo e come�ou a test�-lo, observando a multid�o embaixo, do lado oposto do est�dio. � Irado! � disse ele, girando o bot�o lateral para fazer a imagem voltar. �Consigo ver aquele velhote l� embaixo meter o dedo no nariz outra vez... Mais uma vez... E mais outra... Entrementes, Hermione estava lendo superficialmente o programa que tinha borda e capa de veludo. � Vai haver um desfile com as mascotes dos times antes da partida � leu ela em voz alta. � Ah, a isso sempre vale a pena assistir � disse o Sr. Weasley. � Os times nacionais trazem criaturas da terra natal, sabem, para fazer farol. O camarote foi-se enchendo gradualmente em volta deles durante a meia hora seguinte. O Sr. Weasley n�o parava de apertar a m�o de bruxos, obviamente muito importantes. Percy levantou-se de um salto tantas vezes que at� parecia que estava tentando sentar em cima de um porco-espinho. Quando Corn�lio Fudge, Ministro da Magia, chegou, Percy fez uma rever�ncia t�o exagerada que seus �culos ca�ram e se partiram. Muito encabulado, ele os consertou com a varinha e dali em diante permaneceu sentado, lan�ando olhares invejosos a Harry, a quem o ministro cumprimentara como um velho amigo. Os dois j� se conheciam e Fudge apertou a m�o de Harry paternalmente, perguntou como ele estava e apresentou-o aos bruxos de um lado e de outro. � Harry Potter, sabe � disse ele em voz alta ao ministro b�lgaro, que usava espl�ndidas vestes de veludo preto, enfeitadas com ouro, e aparentemente n�o entendia uma �nica palavra de ingl�s. � Harry Potter... Ah, vamos, o senhor sabe quem �... O menino que sobreviveu ao ataque de Voc�-Sabe-Quem... Tenho certeza de que o senhor sabe quem �... O bruxo b�lgaro, de repente, viu a cicatriz de Harry e come�ou a algaraviar em voz alta e excitada, apontando para a marca. � Sabia que �amos acabar chegando l� � disse Fudge, esgotado, a Harry. � N�o sou grande coisa para l�nguas, preciso de Bart� Crouch nesses encontros. Ah, vejo que o elfo dom�stico est� guardando o lugar dele... Bem pensado, esses b�lgaros danados t�m tentado arrancar da gente os melhores lugares... Ah, ai vem L�cio! Harry, Rony e Hermione se viraram depressa. Avan�ando vagarosamente pela segunda fila, em dire��o a tr�s lugares ainda vazios, bem atr�s do Sr. Weasley, vinham ningu�m menos que os antigos donos de Dobby � L�cio Malfoy, seu filho Draco e uma mulher que Harry sup�s que fosse a m�e do garoto. Harry Potter e Draco Malfoy eram inimigos desde a primeira viagem de trem para Hogwarts. Um garoto de rosto fino e cabelos muito louros, Draco se parecia muito com o pai. A m�e tamb�m era loura, alta e magra, e at� seria bonita se n�o carregasse no rosto uma express�o que sugeria que estava sentindo um mau cheiro bem debaixo do nariz. � Ah, Fudge � disse o Sr. Malfoy, estendendo a m�o para o Ministro da Magia, ao chegar mais pr�ximo. � Como vai? Acho que voc� n�o conhece minha mulher, Narcisa? Nem o nosso filho, Draco? � Como est�o, como est�o? � disse Fudge, sorrindo e se curvando para a Sra. Malfoy. � E me permitam apresentar a voc�s o Sr. Oblansk ("Obalonsk, senhor"), bem, o Ministro da Magia da Bulg�ria, e de qualquer modo ele n�o consegue entender nenhuma palavra do que estou dizendo, portanto n�o faz diferen�a. E vejamos quem mais, voc� conhece Arthur Weasley, imagino? Foi um momento tenso. O Sr. Weasley e o Sr. Malfoy se entreolharam e Harry se lembrou nitidamente da �ltima vez que haviam se encontrado; fora na livraria Floreios e Borr�es, e os dois tinham partido para uma briga. Os olhos do Sr. Malfoy, frios e cinzentos, examinaram o Sr. Weasley e depois a fila em que ele estava. � Meu Deus, Arthur � disse ele baixinho. � Que foi que voc� precisou vender para comprar lugares no camarote de honra? Com certeza sua casa n�o teria rendido tudo isso, n�o? Fudge que n�o estava prestando aten��o, comentou: � L�cio acabou de fazer uma generosa contribui��o para o Hospital St. Mungus para Doen�as e Acidentes M�gicos. Est� aqui como meu convidado. � Que... Que bom � disse o Sr. Weasley com um sorriso muito for�ado. Os olhos do Sr. Malfoy se voltaram para Hermione, que corou de leve, mas retribuiu o seu olhar com determina��o. Harry sabia exatamente o que estava fazendo os l�bios do Sr. Malfoy se crisparem. Os Malfoy se orgulhavam de ter o sangue puro, em outras palavras, consideravam qualquer pessoa que descendesse de trouxas, como Hermione, gente de segunda classe. No entanto, sob o olhar do Ministro da Magia, o Sr. Malfoy n�o se atrevia a dizer nada. Acenou a cabe�a com desd�m para o Sr. Weasley e continuou a avan�ar em dire��o aos lugares vazios. Draco lan�ou a Harry, Rony e Hermione um olhar de desprezo, depois se sentou entre a m�e e o pai. � Babacas nojentos � murmurou Rony, quando ele, Harry e Hermione tornaram a se virar para o campo. No momento, seguinte, Ludo Bagman adentrou o camarote de honra. � Todos prontos? � perguntou ele, o rosto redondo e excitado brilhando como um queijo holand�s. � Ministro, podemos come�ar? � Quando voc� quiser, Ludo � disse Fudge descontra�do. Ludo puxou a varinha, apontou-a para a pr�pria garganta, disse "Sonorus!� e ent�o, sobrepondo-se � zoeira que agora enchia o est�dio lotado falou; sua voz reboou, ecoando em cada canto das arquibancadas: � Senhoras e senhores... bem-vindos! Bem-vindos � final da quadricent�sima vig�sima segunda Copa Mundial de Quadribol! Os espectadores gritaram e bateram palmas. Milhares de bandeiras se agitaram, somando seus desafinados hinos nacionais � barulheira geral. O grande quadro-negro defronte apagou a mensagem (Feij�ezinhos de todos os sabores Beto Botts � um risco cada dentada!) e passou a informar: BULG�RIA: ZERO IRLANDA: ZERO � E agora, sem mais demora, vamos apresentar... Os mascotes do time b�lgaro! O lado direito das arquibancadas, que era uma massa compacta e vermelha, berrou manifestando sua aprova��o. � Que ser� que eles trouxeram? � comentou o Sr. Weasley curvando-se para frente na cadeira. � Ah-ha! � Ele de repente tirou os �culos e limpou-os depressa nas vestes. � Veela! � Que s�o Veela? Mas cem Veela deslizaram pelo campo e a pergunta de Harry ficou respondida. Veela eram mulheres... As mulheres mais belas que Harry j� vira... S� que n�o eram � n�o podiam ser humanas. Isto deixou Harry intrigado por alguns momentos, tentando adivinhar o que poderiam ser exatamente, que � que faria a pele dela refulgir como o luar ou os cabelos louro-prateados se abrirem em leque para tr�s sem haver vento... Mas ent�o a m�sica come�ou tocar e Harry parou de se preocupar se elas seriam ou n�o humanas. Na realidade, parou de se preocupar com tudo. As Veela come�aram a dan�ar e a cabe�a de Harry ficou completa e bem-aventuradamente vazia. Tudo que importava no mundo era continuar a assistir �s Veela, porque se elas parassem de dan�ar coisas terr�veis iriam acontecer... E enquanto as Veela dan�avam cada vez mais rapidamente, pensamentos incompletos e delirantes come�aram a se formar na mente atordoada de Harry. Ele queria fazer uma coisa bem impressionante naquele momento. Atirar-se do camarote para o est�dio lhe pareceu uma boa id�ia... Mas seria suficiente? � Harry, que � que voc� est� fazendo? � ele ouviu l� longe a voz de Hermione. A m�sica parou. Harry piscou os olhos. Ele estava em p�, tinha uma das pernas passada por cima da borda do camarote. Ao lado dele, Rony estava paralisado numa posi��o que dava a impress�o de que ia saltar de um trampolim. Gritos indignados come�aram a encher o est�dio. A multid�o n�o queria que as Veela se retirassem. Harry concordava, ele iria, claro, torcer pela Bulg�ria, e se perguntou meio vagamente porque estava usando um grande trevo verde preso ao peito. Entrementes, Rony, distraidamente, despetalava os trevos do chap�u. O Sr. Weasley, sorrindo, curvou-se para Rony e tirou o chap�u das m�os do filho. � Voc� vai querer isso depois � disse ele �, depois que a Irlanda disser a que veio. � Hum? � exclamou Rony fixando, boquiaberto, as Veela, que agora estavam enfileiradas a um lado do campo. Hermione deu um muxoxo alto. Esticou o bra�o e puxou Harry de volta � cadeira dele. � Francamente! � exclamou. � E agora � trovejou Ludo Bagman � por favor, levantem as varinhas bem alto... Para receber os mascotes do time nacional da Irlanda! No instante seguinte, algo que lembrava um imenso cometa verde e ouro entrou velozmente no est�dio. Deu uma volta completa, depois se subdividiu em dois cometas menores, que se projetavam em dire��o �s balizas. De repente, um arco-�ris atravessou o c�u do campo unindo as duas esferas luminosas. A multid�o fazia "aaaaah" e "ooooh", como se presenciasse um espet�culo de fogos de artif�cio. Depois o arco-�ris foi se dissolvendo e as esferas se aproximaram e se fundiram; tinham formado um grande trevo refulgente, que subiu em dire��o ao c�u e ficou pairando sobre as arquibancadas. Parecia estar deixando cair uma esp�cie de chuva dourada... � Excelente! � berrou Rony, quando o trevo sobrevoou o camarote, fazendo chover pesadas moedas de ouro, que ricocheteavam nas cabe�as e cadeiras. Apertando os olhos para ver melhor o trevo, Harry percebeu que na realidade ele era composto de milhares de homenzinhos barbudos de colete vermelho, cada qual carregando uma min�scula luz ouro-e-verde. � Leprechauns! � exclamou o Sr. Weasley, fazendo-se ouvir em meio ao tumultuoso aplauso dos espectadores, muitos dos quais continuavam a disputar o ouro e a procur�-lo por todo o lado em volta e embaixo das cadeiras. � Toma aqui, Harry � gritou Rony feliz, metendo um punhado de moedas de ouro na m�o do amigo. � Pelo oni�culo! Agora voc� vai ter que me comprar um presente de Natal, ha! O maior dos trevos se dissolveu e os Leprechauns, que s�o duendes irlandeses, foram descendo no lado do campo oposto ao das Veela, e se sentaram de pernas cruzadas para assistir � partida. � E agora, senhoras e senhores, vamos dar as boas-vindas... ao time nacional de Quadribol da Bulg�ria! Apresentando, por ordem de entrada... Dimitrov! Um vulto vermelho montado em uma vassoura, que voava t�o veloz que parecia um borr�o, disparou pelo campo, vindo de uma entrada l� embaixo, sob o aplauso fren�tico dos torcedores da Bulg�ria. � Ivanova! Um segundo jogador de vermelho passou zunindo. � Zografi Levski! Vulchanov! Volkov! Eeeeeeeee... Krum! � � ele, � ele! � berrou Rony, acompanhando Krum com o oni�culo; Harry focalizou rapidamente o dele. V�tor Krum era magro, moreno, de pele macilenta, com um narig�o adunco e sobrancelhas muito espessas e negras. Lembrava uma ave de rapina grande demais. Era dif�cil acreditar que tivesse apenas dezoito anos. � E agora vamos saudar... O time nacional de Quadribol da Irlanda! �, berrou Bagman. � Apresentando... Connolly! Ryan! Troy! Mullet! Moran! Quigley! Eeeeeee... Lynch. Sete borr�es entraram velozes no campo; Harry girou um pequeno bot�o lateral no oni�culo e reduziu a velocidade da imagem o suficiente para ler "Firebolt" em cada uma das vassouras, e ver os nomes, bordados em prata, nas costas dos jogadores. � E conosco, das terras distantes do Egito, o nosso juiz, o famoso bruxo presidente da Associa��o Internacional de Quadribol, Hassan Mostafa! Um bruxo mi�do e magro, completamente careca, mas com uma bigodeira que rivalizava a do tio V�lter, entrou em campo trajando vestes de ouro puro para combinar com o est�dio. Um apito de prata sa�a por baixo dos bigodes e ele sobra�ava de um lado uma grande caixa de madeira e, do outro, sua vassoura. Harry girou o bot�o de velocidade do seu oni�culo para a posi��o normal, e observou com aten��o Mostafa montar a vassoura e abrir a caixa com um pontap� � quatro bolas se projetaram no ar, a goles vermelha, os dois bala�os pretos e (Harry o viu por um brev�ssimo instante antes que ele desaparecesse de vista) o min�sculo pomo alado de ouro. Com um silvo forte e curto do apito, Mostafa saiu pelos ares acompanhando as bolas. � COOOOOOOOOoome�ou a partida! �, berrou Bagman. -� Mu�ler! Troy! Moran! Dimirrov! De volta a Mu�ler! Troy! Levski! Moran! Era Quadribol como Harry nunca vira ningu�m jogar antes. Ele apertava o oni�culo com tanta for�a contra os olhos que seus �culos estavam come�ando a cortar a ponta do nariz. A velocidade dos jogadores era incr�vel � os artilheiros jogavam a bola um para o outro t�o depressa que Bagman s� tinha tempo de identific�-los. Harry tornou a girar o bot�o do lado direito do oni�culo para reduzir a velocidade da imagem, apertou o bot�o "lance a lance" e na mesma hora estava assistindo ao jogo em c�mara lenta, enquanto letras p�rpuras passavam brilhando pelas lentes do instrumento, e o rugido da multid�o martelava seus t�mpanos! �Forma��o de ataque de Hawkshead� � leu ele enquanto assistia a tr�s artilheiros irlandeses voarem juntos, Troy no meio, um pouco � frente de Mullet e Moran, e investirem contra os b�lgaros. �Manobra de Ploy�, leu ele em seguida, quando Troy fingiu que ia subir com a goles, atraindo a artilheira b�lgara Ivanova, e deixou cair a bola para Moran. Um dos batedores b�lgaros, Volkov rebateu violentamente, com o seu pequeno bast�o, um bala�o que passava, derrubando-o no caminho de Moran, Moran se abaixou para evitar o bala�o e soltou a goles e Levski, que voava mais abaixo, apanhou-a... � GOL DE TROY! �, berrou Bagman, e o est�dio estremeceu com o rugido dos aplausos e vivas. � Dez a zero para a Irlanda. � Qu�? � berrou Harry nervoso, observando o campo com o oni�culo. � Mas Levski � que est� com a goles! � Harry, se voc� n�o observar em velocidade normal, vai perder todos os lances! � gritou Hermione, que dan�ava aos pulos, agitando os bra�os no ar, enquanto Troy dava uma volta no campo para comemorar o gol. Harry espiou depressa por cima do oni�culo e viu que os Leprechauns, que assistiam ao jogo na extremidade do campo, tinham novamente levantado v�o e formavam o grande trevo refulgente. Na outra extremidade, as Veela assistiram a essa exibi��o em sil�ncio. Furioso consigo mesmo, Harry girou o bot�o de volta � velocidade normal quando o jogo recome�ou. Harry entendia o suficiente de Quadribol para saber que os artilheiros irlandeses eram fant�sticos. Deslocavam-se em harmonia, parecendo ler o que ia nas mentes uns dos outros, pela maneira com que se posicionavam, e a roseta no peito de Harry n�o parava de guinchar o nome deles: "Troy � Mullet � Moran!" Em dez minutos a Irlanda marcou mais duas vezes, elevando sua vantagem para trinta a zero e provocando uma onda de gritos e aplausos dos torcedores de verde. A partida se tornou ainda mais r�pida, por�m mais brutal. Volkov e Vulchanov, os batedores b�lgaros, atiravam os bala�os com bastonadas fort�ssimas nos artilheiros irlandeses e estavam come�ando a impedi-los de executar alguns dos seus melhores movimentos, duas vezes eles foram obrigados a dispersar e ent�o, finalmente, Ivanova conseguiu passar por eles, driblar o goleiro Ryan, e marcar o primeiro gol da Bulg�ria. � Dedos nos ouvidos! � berrou o Sr. Weasley, quando as Veela come�aram a dan�ar comemorando o lance. Harry apertou os olhos tamb�m, queria manter a aten��o no jogo. Passados alguns segundos, arriscou uma espiada no campo. As Veela haviam parado de dan�ar e a Bulg�ria recuperara a posse da goles. � Dimitrov! Levski! Dimitrov! Ivanova... Ah, essa n�o! �, berrou Bagman. Cem mil bruxos e bruxas prenderam a respira��o quando os dois apanhadores, Krum e Lynch, mergulharam no meio dos artilheiros, t�o velozes que pareciam ter pulado sem p�ra-quedas de um avi�o. Harry acompanhou a descida deles com o oni�culo, apurando a vista para procurar o pomo... � Eles v�o colidir! � berrou Hermione ao lado de Harry. Hermione estava parcialmente certa � no �ltimo segundo, V�tor Krum se recuperou do mergulho e se afastou em c�rculos. Lynch, no entanto, bateu no ch�o com um baque surdo que p�de ser ouvido em todo o est�dio. Um enorme gemido subiu dos lugares ocupados pelos irlandeses. � Idiota! � lamentou o Sr. Weasley. � Era uma finta de Krum! � Tempo! �, berrou Bagman. � Os medibruxos v�o entrar em campo para examinar Aidan Lynch! � Ele est� bem, s� levou um encontr�o! � disse Carlinhos tranq�ilizando Gina, que estava pendurada por cima da lateral do camarote, horrorizada. � E isso era, naturalmente, o que Krum pretendera... Harry apertou depressa os bot�es de "repeti��o" e de "lance por lance" no oni�culo, girou o bot�o de velocidade e tornou a levar o oni�culo aos olhos. Ele assistiu a Krum e Lynch mergulharem outra vez em c�mara lenta. �Finta de Wronski� � uma manobra perigosa dos apanhadores, leu Harry na legenda p�rpura que passou pelas lentes. O garoto viu o rosto de Krum se contorcer, concentrando-se, quando o apanhador se recuperou do mergulho no �ltimo instante, ao mesmo tempo que Lynch se estatelava e compreendeu � Krum n�o vira pomo algum, estava s� obrigando Lynch a imit�-lo. O garoto jamais vira algu�m voar daquele jeito; Krum nem parecia estar usando uma vassoura, deslocava-se com tanta facilidade pelos ares que parecia solto, sem peso. Harry tornou a ajustar o oni�culo na posi��o normal e focalizou Krum. O jogador voava em c�rculos bem acima de Lynch, que agora estava sendo reanimado pelos medibruxos com x�caras de po��o. Harry focalizou o rosto de Krum ainda mais de perto e viu seus olhos negros correndo para c� e para l� por todo o campo, trinta metros abaixo. Usava o tempo em que Lynch era reanimado para procurar o pomo sem interfer�ncia. Lynch se levantou finalmente, sob ruidosos vivas dos torcedores de verde, montou a Firebolt e deu impulso para o alto. Sua reanima��o parecia ter dado � Irlanda novas esperan�as. Quando Mostafa tornou a soar o apito, os artilheiros entraram em a��o com uma destreza que n�o se comparava a nada que Harry tivesse visto at� ent�o. Decorridos quinze minutos de velocidade e f�ria, a Irlanda acumulara uma vantagem de mais dez gols. Agora liderava por cento e trinta pontos a dez e a partida estava come�ando a ficar mais desleal. Quando Mullet disparou em dire��o �s balizas mais uma vez, segurando firmemente a goles embaixo do bra�o, o goleiro b�lgaro, Zograf, correu ao encontro da jogadora. O que aconteceu foi t�o r�pido que Harry n�o percebeu, mas subiu um grito de raiva da torcida irlandesa, e o silvo longo e agudo do apito de Mostafa informou que algu�m cometera uma falta. � E Mostafa repreende o goleiro b�lgaro pelo jogo bruto, usou os cotovelos! �, informa Bagman aos espectadores que berram. � E... Confirmando, � p�nalti a favor da Irlanda. � Os Leprechauns, que haviam levantado v�o, furiosos, como um enxame de marimbondos reluzentes, quando Mullet fora atingida, agora corriam a se juntar formando as palavras "HA! HA! HA!". As Veela, do lado oposto do campo, levantaram-se de um salto, sacudiram os cabelos com raiva e recome�aram a dan�ar. E como se fossem um s�, os garotos Weasley e Harry enfiaram os dedos nos ouvidos, mas Hermione, que n�o se dera a esse trabalho, logo em seguida puxou Harry pelo bra�o. O garoto se virou para olh�-la, e ela puxou impacientemente os dedos que ele enfiara nos ouvidos. � Olha o juiz! � disse a garota, rindo. Harry olhou para o campo. Hassan Mostafa aterrissara bem diante das Veela dan�antes, e estava agindo de modo realmente estranho. Flexionava os m�sculos e alisava os bigodes, muito agitado. � Ora, isso n�o � admiss�vel! �, disse Ludo Bagman, embora seu tom de voz fosse o de quem estava achando muita gra�a. � Algu�m a� d� um tapa nesse juiz! Um medibruxo entrou correndo em campo, os dedos enfiados nos ouvidos, e deu um baita chute nas canelas de Mostafa. O juiz pareceu voltar a si, Harry que observava outra vez o jogo com o oni�culo, viu que Mostafa parecia extremamente constrangido e gritava com as Veela, que tinham parado de dan�ar e pareciam estar se rebelando. � E a n�o ser que eu muito me engane, Mostafa est� de fato tentando despachar as mascotes do time da Bulg�ria! �, comentou Bagman. � A� est� uma coisa que nunca vimos antes... Ah, isso � capaz de dar confus�o... E deu: os batedores b�lgaros, Volkov e Vulchanov, pousaram ao lado de Mostafa e come�aram a discutir furiosamente com o juiz, gesticulando em dire��o aos Leprechauns, que agora formavam alegremente as palavras "HI! HI HI!". Mostafa, por�m, n�o se deixou impressionar com a argumenta��o dos b�lgaros, espetou o dedo indicador no ar, dizendo claramente a eles que voltassem ao ar e quando os jogadores se recusaram, ele puxou dois silvos breves no apito. � Dois p�naltis a favor da Irlanda! �, gritou Bagman, ao que a torcida b�lgara ululou de raiva. � E � melhor Volkov e Vulchanov voltarem a montar as vassouras... � isso a�... E l� v�o eles... E Troy toma a goles... A partida agora atingira um n�vel de ferocidade que ultrapassava tudo que os garotos j� tinham visto. Os batedores dos dois lados jogavam sem piedade: principalmente Volkov e Vulchanov pareciam nem ligar se os seus bast�es estavam fazendo contato com bala�os ou com gente, quando os giravam violentamente no ar. Dimitrov disparou um bala�o em cima de Moran, que segurava a goles, e quase a derrubou da vassoura. � Falta!� urraram os torcedores irlandeses em un�ssono, todos de p� como uma enorme onda verde. � Falta! �, ecoou a voz de Ludo Bagman, magicamente ampliada. -Dimitrov esfola Moran, o jogador saiu com inten��o de dar um encontr�o e tem que ser outro p�nalti e a� vem o apito! Os Leprechauns subiram ao ar mais uma vez e agora formaram uma gigantesca m�o que fazia um gesto muito grosseiro para as Veela. Ao verem isso, elas se descontrolaram. Precipitaram-se pelo campo e come�aram a atirar algo com o aspecto de bolas de fogo contra os duendes irlandeses. Observando com o oni�culo, Harry viu que elas agora n�o estavam nem remotamente belas. Muito ao contr�rio, seus rostos come�aram a se alongar para formar cabe�as de aves com bicos afiados e cru�is e irromperam asas longas e escamosas dos seus ombros... � E a� est�, rapazes � berrou o Sr. Weasley se sobrepondo ao tumulto da multid�o embaixo � est� a� a raz�o por que voc�s n�o devem se deixar levar s� pelas apar�ncias! Bruxos do Minist�rio invadiam o campo para separar as Veela e os Leprechauns, mas sem muito sucesso, entrementes a batalha no campo n�o era nada comparada a que estava ocorrendo no ar. Harry se virava para c� e para l�, espiando pelo oni�culo, pois a goles trocava de m�os com a velocidade de uma bala... � Levski � Dimirrov � Moran � Troy � Mullet � Ivanova � Moran de novo � Moran � um GOL DE MORAN! Mas a gritaria da torcida irlandesa mal conseguia abafar os gritos agudos das Veela, os estampidos que agora vinham das varinhas dos funcion�rios do Minist�rio e os berros furiosos dos b�lgaros. A partida recome�ou imediatamente, agora Levski estava com a posse da goles, agora Dimitrov... O batedor irland�s Quigley levantou com viol�ncia o bast�o contra um bala�o que passava e arremessou-o com toda a for�a contra Krum, que n�o se abaixou com suficiente rapidez. O bala�o atingiu-o em cheio no rosto. Ouviu-se um lamento ensurdecedor da multid�o, o nariz de Krum parecia quebrado, sa�a sangue para todo lado, mas Hassan Mostafa n�o apitou. Distra�ra-se e Harry n�o podia culp�-lo, uma das Veela atirara uma m�o cheia de fogo e incendiara a cauda da vassoura do juiz. Harry queria que algu�m percebesse que Krum estava ferido, embora estivesse torcendo pela Irlanda, Krum era o jogador mais fascinante em campo. Rony obviamente sentia o mesmo. � Tempo! Ah, anda, ele n�o pode jogar assim, olha s� para ele... � Olha o Lynch! � berrou Harry. O apanhador irland�s repentinamente mergulhara e Harry teve certeza de que aquilo n�o era uma finta de Wronski, era para valer... � Ele viu o pomo! � berrou Harry. � Ele viu! Olha l� ele correndo! Metade da multid�o parecia ter compreendido o que estava acontecendo, a torcida irlandesa se levantou como uma grande onda verde, animando o apanhador... Mas Krum voava na esteira dele. Como conseguia enxergar aonde ia, Harry n�o fazia id�ia, gotas de sangue voavam pelo ar � sua passagem, mas ele emparelhava com Lynch agora e os dois disparavam em dire��o ao ch�o... � Eles v�o bater! � esgani�ou-se Hermione. � N�o v�o! � berrou Rony. � O Lynch vai! � gritou Harry. E tinha raz�o � pela segunda vez, Lynch bateu no ch�o com um tremendo impacto e foi imediatamente pisoteado por uma horda de Veela raivosas. � O pomo, onde � que est� o pomo? � berrou Carlinhos, mais adiante na fila. � Ele pegou, Krum pegou, terminou o jogo! � gritou Harry. Krum, as vestes vermelhas tintas com o sangue que escorrera do seu nariz, tornava a levantar v�o suavemente, o punho erguido l� no alto, um brilho de ouro na m�o. O placar piscou por cima da multid�o da: BULG�RIA: CENTO E SESSENTA IRLANDA: CENTO E SETENTA Mas os torcedores n�o pareciam ter percebido o que acontecera. Ent�o, lentamente, como se um grande jumbo come�asse a aquecer as turbinas, o rugido da torcida da Irlanda foi se avolumando e explodiu em urros de alegria. � VENCE A IRLANDA! �, gritou Bagman, que, como os irlandeses, parecia estar espantado com o inesperado desfecho da partida. � KRUM CAPTURA O POMO � MAS VENCE A IRLANDA. Deus do c�u, acho que nenhum de n�s esperava uma coisa dessas! � Para que foi que ele agarrou o pomo? � berrou Rony, ao mesmo tempo em que continuava a pular, aplaudindo com as m�os no alto. � Ele encerrou a partida quando a Irlanda estava cento e sessenta pontos � frente, o idiota! � Ele sabia que o time n�o ia conseguir se recuperar � respondeu Harry aos gritos, tentando se sobrepor � zoeira geral e aplaudindo com estr�pito � os artilheiros irlandeses eram bons demais... ele queria encerrar a partida nos termos dele, foi s�... � Ele foi valente, n�o foi? � comentou Hermione esticando-se � frente para ver Krum pousar e um enxame de medibruxos abrir caminho � for�a entre os Leprechauns e as Veela que brigavam para chegar ao apanhador. � Ele est� pavoroso... Harry tornou a levar o oni�culo aos olhos. Era dif�cil ver o que estava acontecendo l� embaixo, porque os Leprechauns sobrevoavam o campo, felizes e em grande velocidade, mas ele conseguiu divisar Krum, rodeado por medibruxos. Parecia mais carrancudo que nunca e se recusava a deixar que o limpassem. Seus colegas de time o rodeavam, sacudindo a cabe�a, arrasados; um pouco adiante, os jogadores irlandeses dan�avam felizes sob a chuva de ouro que seus mascotes faziam cair. Bandeiras se agitavam pelo est�dio, o hino nacional irland�s tocava alt�ssimo por todo lado; as Veela revertiam � beleza de sempre, mas pareciam desanimadas e infelizes. � Pom, prrigamos falentemente � disse uma voz triste atr�s de Harry. Ele se virou para olhar; era o Ministro da Magia b�lgaro. � O senhor fala a nossa l�ngua! � exclamou Fudge indignado. � E vem me obrigando a falar por m�mica o dia inteiro! � Pom, foi muito engrra�ado � disse o ministro b�lgaro, encolhendo os ombros. � E enquanto o time irland�s d� a volta ol�mpica, ladeado pelos mascotes, a Ta�a Mundial de Quadribol est� sendo levada para o camarote de honra! � berrou Bagman. A vis�o de Harry foi repentinamente ofuscada por uma luz branca, o camarote de honra foi magicamente iluminado para que todos os espectadores nas arquibancadas pudessem ver o seu interior. Apertando os olhos na dire��o da porta, ele viu dois bruxos ofegantes entrarem no camarote com uma imensa ta�a de ouro, que foi entregue a Corn�lio Fudge, ainda muito aborrecido por ter passado o dia falando com as m�os � toa. � Vamos aplaudir com vontade os galantes perdedores, Bulg�ria! � gritou Bagman. E pelas escadas entraram os sete jogadores derrotados. A multid�o aplaudiu manifestando o seu apre�o; Harry viu milhares e milhares de lentes de oni�culo faiscarem e lampejarem em sua dire��o. Um a um, os b�lgaros se acomodaram nas filas de cadeiras do camarote e Bagman chamou-os, nome por nome, para apertarem a m�o do seu ministro e depois a de Fudge. Krum, que foi o �ltimo da fila, estava com uma apar�ncia medonha. Seus olhos negros se destacavam espetacularmente no rosto ensang�entado. Continuava a segurar o pomo. Harry reparou que ele parecia muito menos coordenado em terra. Andava com os p�s meio para fora e seus ombros eram visivelmente ca�dos. Mas quando o nome de Krum foi anunciado, o est�dio inteiro lhe deu uma ova��o de rachar os t�mpanos. Depois foi a vez do time irland�s. Aldan Lynch veio amparado por Moran e Connolly; a segunda colis�o parecia t�-lo atordoado e seus olhos pareciam estranhamente fora de foco. Mas ele sorriu com alegria quando Troy e Quigley ergueram a Ta�a no ar e a multid�o embaixo fez ouvir sua aprova��o. As m�os de Harry estavam insens�veis de tanto aplaudir. Finalmente, quando o time irland�s deixou o camarote para dar mais uma volta ol�mpica montado nas vassouras (Aidan Lynch na garupa de Connolly, agarrado � sua cintura e ainda sorrindo abobalhado), Bagman apontou a varinha para a pr�pria garganta e murmurou Quietus. � Eles v�o comentar isso durante anos � disse ele rouco � uma reviravolta realmente inesperada, essa... pena que n�o pudesse ter durado mais... ah sim... Sim, devo a voc�s... Quanto? Pois Fred e Jorge tinham acabado de saltar por cima de suas cadeiras e estavam parados diante de Ludo Bagman com enormes sorrisos no rosto, as m�os estendidas. CAP�TULO NOVE A Marca Negra � N�o conte � sua m�e que andaram apostando � implorou o Sr. Weasley a Fred e Jorge, quando juntos desciam, lentamente, as escadas forradas com carpete p�rpura. � N�o se preocupe, papai � disse Fred feliz � temos grandes planos para esse dinheiro, n�o queremos que ele seja confiscado. Por um instante, pareceu que o Sr. Weasley ia perguntar que planos eram aqueles, mas em seguida, pensando melhor, decidiu que n�o queria saber. Logo eles foram engolfados pela multid�o que sa�a do est�dio e regressava aos acampamentos. O ar da noite trazia aos seus ouvidos cantorias desafinadas quando retomavam o caminho iluminado por lanternas, os Leprechauns continuavam a sobrevoar a �rea em alta velocidade, rindo, tagarelando, sacudindo as lanternas. Quando os garotos chegaram finalmente �s barracas, ningu�m estava com vontade de dormir e, dado o n�vel da barulheira, o Sr. Weasley concordou que podiam tomar, uma �ltima x�cara de chocolate, antes de se deitar. Logo estavam discutindo prazerosamente a partida, o Sr. Weasley se deixou envolver por Carlinhos em uma pol�mica sobre jogo bruto, e somente quando Gina caiu no sono em cima da mesinha e derramou chocolate quente pelo ch�o que o pai deu um basta nas retrospectivas verbais e insistiu que todos fossem se deitar. Hermione e Gina se transferiram para a barraca vizinha e Harry e os Weasley vestiram os pijamas e subiram nos beliches. Do outro lado do acampamento eles ainda ouviam muita cantoria e uma batida que ecoava estranhamente. � Ah, fico feliz de n�o estar de servi�o � murmurou o Sr. Weasley cheio de sono. � Eu n�o iria gostar nem um pouco de ter que dizer aos irlandeses que eles precisam parar de comemorar. Harry, que ocupava a cama superior do beliche de Rony, ficou olhando para o teto de lona da barraca, observando o brilho ocasional das lanternas dos Leprechauns que sobrevoavam o acampamento e visualizando alguns dos lances mais espetaculares de Krum. Estava doido para tornar a montar sua Firebolt e experimentar a Finta de Wronski... Por alguma raz�o Ol�vio Wood jamais conseguira transmitir como era aquele lance com os seus diagramas complicados... Harry se viu usando vestes com seu nome nas costas e imaginou a sensa��o de ouvir uma multid�o de cem mil pessoas berrando, enquanto a voz de Ludo Bagman ecoava pelo est�dio "Com voc�s... Potter!� Harry jamais chegou a saber se adormecera ou n�o � seus devaneios de voar como Krum talvez tivessem se transformado em sonhos de verdade �, s� sabia que, de repente ouviu o Sr. Weasley gritar. � Levantem! Rony, Harry, vamos logo, levantem, � urgente! Harry se sentou depressa e seu cocuruto bateu na lona do teto. � Que foi? � perguntou. Vagamente ele percebeu que alguma coisa n�o estava bem. O barulho no acampamento tinha mudado. A cantoria parara. Ele ouvia gritos e um tropel de gente correndo. Harry desceu do beliche e apanhou suas roupas, mas o Sr. Weasley, que vestira a jeans por cima do pijama, falou: � N�o temos tempo, Harry, apanhe uma jaqueta e saia, depressa! Harry obedeceu e saiu correndo da barraca, com Rony nos seus calcanhares. � luz das poucas fogueiras que ainda ardiam, viu gente correndo para a floresta, fugindo de alguma coisa que avan�ava pelo acampamento em sua dire��o, alguma coisa que emitia estranhos lampejos e ru�dos que lembravam tiros. Ca�oadas em voz alta, risadas e berros de b�bedos se aproximavam, depois uma forte explos�o de luz verde, que iluminou a cena. Um grupo compacto de bruxos, que se moviam ao mesmo tempo e apontavam as varinhas para o alto, vinha marchando pelo acampamento. Harry apertou os olhos para enxerg�-los... N�o pareciam ter rostos... Ent�o ele percebeu que tinham as cabe�as encapuzadas e os rostos mascarados. No alto, pairando sobre eles no ar, quatro figuras se debatiam, for�adas a assumir formas grotescas. Era como se os bruxos mascarados no ch�o fossem titereiros e as pessoas no alto, marionetes movidas por cord�es invis�veis que subiam das varinhas erguidas. Duas das figuras eram muito pequenas. Mais bruxos foram se reunindo ao grupo que marchava, riam e apontavam para os corpos no ar. Barracas se fechavam e desabavam � medida que a multid�o engrossava. Uma ou duas vezes Harry viu um bruxo explodir uma barraca com a varinha para desimpedir o caminho. Outras tantas pegaram fogo. A gritaria foi se avolumando. As pessoas no ar foram repentinamente iluminadas ao passarem sobre uma barraca em chamas, e Harry reconheceu uma delas � o Sr. Roberts, o gerente do acampamento. As outras tr�s, pelo jeito, deviam ser sua mulher e seus filhos. Um dos arruaceiros virou a Sra. Roberts de cabe�a para baixo com a varinha, a camisola dela caiu deixando � mostra suas enormes cal�as ela tentava se cobrir enquanto a multid�o embaixo dava guinchos e vaias de alegria. � Que coisa doentia � murmurou Rony, observando a menor das crian�as trouxas, que come�ara a rodopiar feito um pi�o, quase vinte metros acima do ch�o, a cabe�a sacudindo molemente de um lado para outro. � Que coisa realmente doentia... Hermione e Gina vieram correndo ao encontro dos garotos, vestindo casacos por cima das camisolas, seguidas de perto pelo Sr. Weasley. No mesmo momento, Gui, Carlinhos e Percy sa�ram da barraca dos garotos inteiramente vestidos, com as mangas enroladas e as varinhas em punho. � Vamos ajudar o pessoal do Minist�rio � gritou o Sr. Weasley para ser ouvido com aquele barulho, enrolando as pr�prias mangas. � Voc�s... V�o para a floresta e fiquem juntos. Irei apanh�-los quando resolvermos este problema aqui! Gui, Carlinhos e Percy j� estavam correndo em dire��o aos baderneiros que se aproximavam; o Sr. Weasley saiu depressa atr�s dos filhos. Bruxos do Minist�rio convergiam de todas as dire��es para o foco do problema. A multid�o sob a fam�lia Roberts se aproximava sempre mais. � Anda � disse Fred, agarrando a m�o de Gina e come�ando a pux�-la para a floresta. Harry, Rony, Hermione e Jorge os acompanharam. Todos olharam para tr�s ao alcan�arem as �rvores. Os manifestantes sob a fam�lia Roberts eram mais numerosos que nunca, os garotos viram os bruxos do Minist�rio tentando chegar aos bruxos encapuzados no centro, mas encontravam grande dificuldade. Aparentemente estavam com medo de executar algum feiti�o que pudesse fazer a fam�lia Roberts despencar. As lanternas coloridas que antes iluminavam o caminho para o est�dio tinham sido apagadas. Vultos escuros andavam perdidos entre as �rvores; crian�as choravam, ecoavam gritos ansiosos e vozes cheias de p�nico por todo o lado no ar frio da noite. Harry se sentiu empurrado para c� e para l� por pessoas cujos rostos ele n�o conseguia distinguir. Eles ouviram Rony dar um berro de dor. � Que aconteceu? � perguntou Hermione ansiosa, parando t�o abruptamente que Harry quase deu um encontr�o nela. � Rony, onde � que voc� est�? Ah, mas que burrice... Lumus! Ela iluminou a varinha e apontou o fino feixe de luz para o caminho. Rony estava esparramado no ch�o. � Tropecei numa raiz de �rvore � disse ele aborrecido, pondo-se de p�. � Ora, com p�s desse tamanho, � dif�cil n�o trope�ar � disse uma voz arrastada �s costas deles. Harry, Rony e Hermione se viraram rapidamente. Draco Malfoy estava parado sozinho perto deles, encostado a uma �rvore, numa atitude de total descontra��o. De bra�os cruzados, parecia ter estado a contemplar a cena no acampamento por uma abertura entre as �rvores. Rony disse a Malfoy que fosse fazer uma coisa que Harry sabia que o amigo jamais teria se atrevido a dizer na frente da Sra. Weasley. � Olha a boca suja, Weasley � disse Malfoy, seus olhos claros reluzindo. � N�o � melhor voc� se apressar? N�o quer que descubram sua amiga, n�o �? Ele indicou Hermione com a cabe�a e, neste instante, ouviu-se no acampamento uma explos�o como a de uma bomba, e um rel�mpago verde iluminou momentaneamente as �rvores � volta deles. � Que � que voc� quer dizer com isso? � perguntou Hermione em tom de desafio. � Granger, eles est�o ca�ando trouxas � disse Malfoy. � Voc� vai querer mostrar suas calcinhas no ar? Porque se quiser, fique por aqui mesmo... Eles est�o vindo nessa dire��o, e todos vamos dar boas gargalhadas. � Hermione � bruxa � rosnou Harry. � Fa�a como quiser Potter � disse Malfoy sorrindo maliciosamente. � Se voc� acha que eles n�o s�o capazes de identificar um �Sangue Ruim�, fique onde est�. � Voc� � que devia olhar sua boca suja! � gritou Rony. Todos os presentes sabiam que "Sangue Ruim" era uma palavra muito ofensiva a uma bruxa ou bruxo de pais trouxas. � Deixa para l�, Rony � disse Hermione depressa, agarrando o amigo pelo bra�o para cont�-lo, quando ele fez men��o de avan�ar em Malfoy. Ouviu-se um estampido do outro lado das �rvores mais alto do que qualquer dos anteriores. V�rias pessoas que estavam pr�ximas gritaram. Malfoy deu um risinho abafado. � Eles se assustam � toa, n�o �? � disse com a fala mole. � Imagino que papai disse a voc�s para se esconderem? Que � que ele est� fazendo, tentando salvar os trouxas? � Onde est�o os seus pais? � perguntou Harry, a raiva crescendo. � L� no acampamento usando m�scaras, � isso? Malfoy virou o rosto para Harry, ainda sorrindo. � Ora... Se eles estivessem, eu n�o iria dizer a voc�, n�o � mesmo, Potter? � Ah, anda gente � disse Hermione, com um olhar de repugn�ncia para Malfoy �, vamos procurar os outros. � Fique com essa cabe�orra lanzuda abaixada, Granger � ca�oou Malfoy. � Anda gente � repetiu Hermione, e puxou Harry e Rony de volta ao caminho. � Aposto qualquer coisa como o pai dele � um dos mascarados! � disse Rony indignado. � Bem, com um pouco de sorte, o Minist�rio vai agarr�-lo! � disse Hermione com veem�ncia. � Ah, n�o d� para acreditar, onde foi que os outros se meteram? Fred, Jorge e Gina n�o estavam em nenhum lugar � vista, embora o caminho estivesse apinhado de pessoas, todas espiando nervosamente a confus�o no acampamento, por cima dos ombros. Um grupo de adolescentes de pijamas discutia em altos brados um pouco adiante no caminho. Quando viram Harry, Rony e Hermione, uma garota de cabelos espessos e crespos se virou e disse depressa: � Ou est Madame Maxime? Nous l�avons perdue... � Hum... Qu�? � perguntou Rony. � Ah... � A menina que falara deu as costas para ele, e quando os garotos continuaram andando ouviram-na dizer claramente: � Hogwarts. � Beauxbatons � murmurou Hermione. � Como disse? � falou Harry. � Devem estudar na Beauxbatons � esclareceu Hermione. � Voc� sabe... Academia de Magia Beauxbatons... Li sobre ela em Uma Avalia��o da Educa��o em Magia na Europa. � Ah... Sei... Certo � disse Harry. � Fred e Jorge n�o podem ter ido t�o longe assim � comentou Rony puxando a varinha do bolso, acendendo-a como fizera Hermione e esquadrinhando o caminho. Harry enfiou as m�os nos bolsos da jaqueta � procura da pr�pria varinha, mas n�o estava l�. A �nica coisa que encontrou foi o seu oni�culo. � Ah, n�o, eu n�o acredito... Perdi a minha varinha! � Est� brincando! Rony e Hermione ergueram bem as varinhas para projetar seus finos raios de luz mais � frente no caminho; Harry olhou para todo lado, mas a varinha n�o estava vis�vel em lugar algum. � Talvez tenha ficado na barraca � disse Rony. � Talvez tenha ca�do do seu bolso quando voc� estava correndo? � sugeriu Hermione ansiosa. � � � falou Harry �, talvez... Em geral ele a carregava o tempo todo quando estava no mundo dos bruxos, e vendo-se sem a varinha no meio de uma confus�o daquelas sentiu-se extremamente vulner�vel. Um rumorejar fez os tr�s se sobressaltarem. Winky, a elfo dom�stica, estava tentando sair de uma moita de arbustos ali perto. Movia-se de um jeito esquisit�ssimo, com vis�vel dificuldade; era como se algu�m invis�vel estivesse tentando segur�-la. � Tem bruxos malvados aqui! � guinchou ela nervosa, ao se curvar para frente e se esfor�ar para correr. � Gente voando... L� no alto! Winky est� saindo do caminho! E desapareceu entre as �rvores do outro lado da via, ofegando e guinchando enquanto lutava com a for�a que a retinha. � Que � que h� com ela? � perguntou Rony, acompanhando-a com o olhar, curioso. � Por que ela n�o consegue correr direito? � Aposto como n�o pediu permiss�o para se esconder � disse Harry. Estava se lembrando de Dobby: todas as vezes que tentava fazer alguma coisa que os Malfoy n�o gostariam, era for�ado a bater em si mesmo. � Sabem, os elfos dom�sticos t�m uma vida dur�ssima! � disse Hermione indignada. � � escravid�o, isso � que �! Aquele Sr. Crouch fez Winky subir at� o topo do est�dio, e ela estava aterrorizada, e a enfeiti�ou dessa maneira para que nem possa correr quando eles come�am a pisotear barracas! Por que ningu�m faz nada para acabar com uma situa��o dessas? � U�, os elfos s�o felizes, n�o s�o? � admirou-se Rony. � Voc� ouviu a Winky durante a partida... "Elfos dom�sticos n�o devem se divertir...� � disso que ela gosta, que mandem nela... � � gente como voc�, Rony � come�ou Hermione com veem�ncia �, que sustenta sistemas podres e injustos, s� porque s�o pregui�osos demais para... Um novo estrondo ecoou na orla da floresta. � Vamos continuar andando, vamos? � disse Rony, e Harry o viu olhar irritado para Hermione. Talvez fosse verdade o que Malfoy dissera; talvez Hermione estivesse em maior perigo do que eles. Recome�aram a andar, Harry ainda revistando os bolsos, embora soubesse que a varinha n�o estava ali. Os garotos seguiram o caminho que se aprofundava na floresta, atentos para avistarem Fred, Jorge e Gina. Passaram por um grupo de duendes que davam gargalhadas � vista de um saco de ouro que, sem d�vida, deviam ter ganho apostando na partida, e que pareciam imperturb�veis diante da confus�o no acampamento. Mais adiante, depararam com um trecho iluminado por uma luz prateada e, quando espiaram entre as �rvores, viram tr�s Veela altas e belas paradas em uma clareira e cercadas por um bando de jovens bruxos barulhentos, todos falando em altos brados. � Ganho uns cem sacos de gale�es por ano � gritava um. � Mato drag�es para a Comiss�o para Elimina��o de Criaturas Perigosas. � Mata nada � berrou seu amigo �, voc� lava pratos no Caldeir�o Furado... Mas eu sou ca�ador de vampiros, j� matei uns noventa at� agora... Um terceiro bruxo, cujas espinhas eram vis�veis at� � luz fraca e prateada das Veela, entrou nesse instante na conversa: � Eu estou �s v�speras de me tornar o Ministro da Magia mais novo de todos os tempos. Harry deu risadinhas abafadas. Reconheceu o bruxo espinhento; o nome dele era Stanislau Shunpike, e era, na realidade, condutor do N�itibus Andante. Ele se virou para dizer isso a Rony, mas o rosto do amigo se afrouxara estranhamente e no segundo seguinte Rony estava gritando: � Eu j� disse a voc�s que inventei uma vassoura que pode chegar a J�piter? � Francamente! � tornou a exclamar Hermione, e ela e Harry agarraram Rony pelos bra�os com firmeza, viraram-no e sa�ram andando com ele. Quando a algazarra das Veela com seus admiradores se tornou completamente inaud�vel, os tr�s j� estavam no cora��o da floresta. Pareciam estar sozinhos agora, tudo estava muito mais quieto. Harry espiou para os lados. � Acho que podemos esperar aqui, sabe, d� para ouvir uma pessoa chegando a mais de um quil�metro. Nem bem ele dissera essas palavras, Ludo Bagman saiu de tr�s de uma �rvore um pouco adiante. Mesmo � luz fraca das duas varinhas, Harry viu que uma grande mudan�a se operara em Bagman. Ele j� n�o parecia displicente e rosado; n�o havia mais elasticidade em seu andar. Parecia muito p�lido e cansado. � Quem est� a�? � perguntou o bruxo, piscando os olhos, tentando distinguir os rostos dos garotos. � Que � que voc�s est�o fazendo aqui sozinhos? Eles se entreolharam surpresos. � Bem... Est� acontecendo um tumulto � disse Rony. Bagman arregalou os olhos para ele. � Qu�? � No acampamento... Umas pessoas agarraram uma fam�lia de trouxas... Bagman praguejou em voz alta. � Desgra�ados! � Ele pareceu ficar muito perturbado e, sem dizer mais nada, desaparatou com um pequeno estalo. � N�o anda muito bem informado o Sr. Bagman, n�o �? � comentou Hermione franzindo a testa. � Mas ele foi um grande batedor � disse Rony e, adiantando-se aos amigos, rumou para uma pequena clareira e se sentou em um trecho de grama seca ao p� de uma �rvore. � Os Wimbourne Wasps foram campe�es tr�s vezes seguidas quando ele fazia parte do time. Tirou, ent�o, a pequena est�tua de Krum do bolso, colocou-a no ch�o e ficou por instantes observando-a andar. Igualzinho ao Krum verdadeiro, o modelo andava com os p�s para fora e tinha os ombros ca�dos, bem menos impressionante andando feito pato do que montado na vassoura. Harry escutou com aten��o se vinha algum barulho do acampamento. Tudo parecia silencioso; talvez o tumulto tivesse acabado. � Espero que os outros estejam bem � disse Hermione depois de algum tempo. � Est�o � disse Rony; � Imagine se o seu pai apanhar o L�cio Malfoy � disse Harry sentando-se ao lado de Rony para observar a estatueta de Krum andando por cima das folhas secas. � Ele vive dizendo que gostaria de ter alguma coisa contra o Malfoy. � Isso ia apagar aquele risinho na cara do nosso amigo Draco, ah, ia � disse Rony. � Mas, e os coitados daqueles trouxas � lamentou Hermione nervosa. � E se n�o conseguirem trazer eles de volta ao ch�o? � V�o conseguir � Rony tranq�ilizou a amiga �, v�o arranjar um jeito. � Mas � uma loucura fazer uma coisa daquelas com o Minist�rio da Magia em peso aqui hoje! Quero dizer, como � que eles esperam se safar? Voc�s acham que eles andaram bebendo ou s�... Mas Hermione parou de falar abruptamente e espiou por cima do ombro. Harry e Rony tamb�m se viraram depressa. Parecia que algu�m estava cambaleando em dire��o � clareira em que se encontravam. Eles esperaram, prestando aten��o ao ru�do dos passos desiguais por tr�s das �rvores escuras. Mas os passos pararam repentinamente. � Al��? � chamou Harry. Sil�ncio. Harry se levantou e espiou atr�s da �rvore. Estava escuro para ver muito longe, mas ele sentia que havia algu�m logo al�m do seu campo de vis�o. � Quem est� a�? � perguntou. E ent�o, sem aviso, o sil�ncio foi rompido por uma voz diferente de todas que tinham ouvido antes; e ela n�o soltou um grito, mas algo que lembrava um feiti�o. � MORSMORDRE! E uma coisa enorme, verde e brilhante, irrompeu do lugar escuro que os olhos de Harry se esfor�aram para penetrar e voou para o topo das �rvores e para o c�u. � Quem...? � exclamou Rony, ficando em p� de um salto e arregalando os olhos para a coisa que aparecera. Por uma fra��o de segundo, Harry pensou que fosse outra forma��o de duendes irlandeses. Depois percebeu que era um cr�nio colossal, aparentemente composto por estrelas de esmeralda e uma cobra saindo da boca como uma l�ngua. Enquanto olhavam, o cr�nio foi subindo cada vez mais alto, envolto em uma n�voa de fuma�a esverdeada, recortando-se contra o c�u noturno como uma nova constela��o. De repente, toda a floresta ao redor deles explodiu em gritos. Harry n�o entendeu o motivo, mas o �nico poss�vel era a s�bita apari��o do cr�nio, que agora estava alto o suficiente para iluminar toda a floresta, como um letreiro macabro de n�on. Ele esquadrinhou a escurid�o � procura da pessoa que conjurara o cr�nio, mas n�o conseguiu ver ningu�m. � Quem est� a�? � chamou ele mais uma vez. � Harry, vamos, anda! � Hermione agarrou-o pelas costas da jaqueta e o puxou para tr�s. � Que foi? � perguntou Harry, espantado de ver a cara da amiga t�o branca e aterrorizada. � � a Marca Negra, Harry! � gemeu Hermione, puxando-o com toda a for�a que podia. � O sinal do Voc�-Sabe-Quem! � Do Voldemort...? � Harry, anda logo! Harry se virou � Rony estava recolhendo depressa a miniatura de Krum �, os tr�s come�aram a atravessar a clareira, mas antes que conseguissem dar mais de cem passos, uma s�rie de estalos anunciaram a chegada de vinte bruxos, sa�dos do nada, a toda volta. Harry se virou e numa fra��o de segundo registrou um fato: cada um dos bruxos puxara a varinha, e cada varinha estava apontada para ele, Rony e Hermione. Sem parar para pensar, berrou: � ABAIXA! � Ele agarrou os dois amigos e puxou-os para o ch�o. � ESTUPEFA�A! � berraram vinte vozes desencadeando uma s�rie de lampejos, e Harry sentiu seus cabelos ondularem como se um vento poderoso tivesse varrido a clareira. Ao erguer a cabe�a um cent�metro, ele viu jorros de luz flamejante sa�rem das varinhas dos bruxos e sobrevoarem seus corpos, entrecruzando-se, ricocheteando nos troncos das �rvores, saltando para a escurid�o... � Parem! � berrou uma voz que ele reconheceu. � PAREM! � o meu filho! Os cabelos de Harry pararam de voar para todos os lados. Ele levantou a cabe�a mais um pouquinho. O bruxo diante dele baixara a varinha. O garoto rolou o corpo e viu o Sr. Weasley vindo em dire��o ao ajuntamento, com uma express�o aterrorizada no rosto. � Rony, Harry... � sua voz tremia �... Hermione, voc�s est�o bem? � Saia do caminho, Arthur � disse uma voz fria e r�spida. Era o Sr. Crouch. Ele e os outros bruxos do Minist�rio fechavam o cerco em torno dos garotos. Harry levantou-se para encar�-los. O rosto do Sr. Crouch estava tenso de c�lera. � Qual de voc�s fez aquilo? � perguntou aborrecido, seus olhos penetrantes indo de um garoto para o outro. � Qual de voc�s conjurou a Marca Negra? � N�s n�o conjuramos aquilo! � respondeu Harry apontando o cr�nio. � N�s n�o conjuramos nada! � disse Rony, que esfregava o cotovelo e olhava cheio de indigna��o para o pai. � Por que voc�s nos atacaram? � N�o minta, senhor! � gritou o Sr. Crouch. Sua varinha continuava apontada diretamente para Rony, e seus olhos saltavam das �rbitas, parecia um tanto maluco. � Voc�s foram encontrados na cena do crime! � Bart� � murmurou uma bruxa trajando um longo penhoar de l� �, eles s�o meninos, Bart�, nunca teriam capacidade para... � De onde saiu a Marca? Respondam voc�s tr�s � mandou o Sr. Weasley depressa. � Dali � respondeu Hermione tr�mula, apontando para o ponto em que tinham ouvido a voz �, havia algu�m atr�s das �rvores... Gritou umas palavras, uma f�rmula m�gica... � Ah, havia gente parada ali, � mesmo? � disse o Sr. Crouch, virando seus olhos saltados para Hermione, a incredulidade estampada por todo o rosto. -Disseram uma f�rmula m�gica, n�o foi? A senhorita parece muIto bem informada sobre as palavras que conjuram a Marca, senhorita... Mas nenhum dos bruxos do Minist�rio, exceto o Sr. Crouch, achou nem remotamente prov�vel que Harry, Rony e Hermione tivessem conjurado o cr�nio, muito ao contr�rio, ao ouvirem as palavras de Hermione voltaram a erguer e apontar as varinhas na dire��o que ela indicara, procurando ver entre as �rvores escuras. � Tarde demais � disse a bruxa de penhoar de l�, sacudindo a cabe�a. � J� devem ter desaparatado. � Acho que n�o � disse um bruxo com uma barba curta e castanha. Era Amos Diggory, o pai de Cedrico. � Os nossos raios passaram direto por aquelas �rvores... H� uma boa chance de os termos atingido... � Amos, cuidado! � disseram alguns bruxos em tom de alerta, quando o Sr. Diggory aprumou os ombros, ergueu a varinha, atravessou a clareira e desapareceu na escurid�o. Hermione observou-o sumir, levando as m�os � boca. Alguns segundos depois, eles ouviram o Sr. Diggory gritar. � Acertamos, sim! Tem algu�m aqui! Inconsciente! �... Mas... Caramba... � Voc� pegou algu�m? � gritou o Sr. Crouch, parecendo muit�ssimo incr�dulo. � Quem? Quem �? Eles ouviram gravetos se partirem, folhas farfalharem e, por fim, passos quando o Sr. Diggory reapareceu por tr�s das �rvores. Trazia uma figura min�scula e inerte nos bra�os. Harry reconheceu a toalha de ch� na mesma hora. Era Winky. O Sr. Crouch n�o se mexeu nem falou enquanto o Sr. Diggory depositava o elfo do Sr. Crouch no ch�o aos seus p�s. Todos os bruxos do Minist�rio se viraram para o Sr. Crouch. Durante alguns segundos o bruxo permaneceu paralisado, os olhos ardendo no rosto branco, olhando para Winky. Ent�o, ela pareceu voltar � vida. � Isto... N�o pode... Ser � disse ele aos arrancos. � N�o... Contornou r�pido o Sr. Diggory e saiu em dire��o ao lugar em que o bruxo encontrara Winky. � N�o adianta, Sr. Crouch � gritou Diggory para ele. � N�o h� mais ningu�m a�. Mas o Sr. Crouch n�o parecia disposto a aceitar sua palavra. Eles o ouviram andar por todo o lado, as folhas rumorejarem ao serem afastadas para os lados, na busca. � Meio embara�oso � disse o Sr. Diggory sombriamente, contemplando o corpo inconsciente de Winky. � O elfo dom�stico de Bart� Crouch... Quero dizer... � Pode parar, Amos � disse o Sr. Weasley baixinho. � Voc� n�o acredita seriamente que foi o elfo? A Marca Negra � um sinal de bruxo. Exige uma varinha. � � � disse o Sr. Diggory �, e havia uma varinha. � Qu�? � exclamou o Sr. Weasley. � Olhe aqui. � O Sr. Diggory ergueu uma varinha e mostrou-a ao Sr. Weasley. � Estava na m�o dela. Ent�o, para come�ar, viola��o da Cl�usula 3 do C�digo para o Uso de Varinhas. Nenhuma criatura n�o-humana tem permiss�o para portar ou usar uma varinha. Nesse instante ouviu-se mais um estalo e Ludo Bagman aparatou bem ao lado do Sr. Weasley. Parecendo sem f�lego e desorientado, ele girou no mesmo lugar, com os olhos cravados no cr�nio verde esmeralda no c�u. � A Marca Negra! � ofegou ele, quase pisoteando Winky ao se virar, intrigado, para os colegas. � Quem fez isso? Voc�s apanharam quem fez? Bart�! Que � que est� acontecendo? O Sr. Crouch voltara de m�os vazias. Seu rosto continuava branco como o de um fantasma e torcia tanto os bigodes em escovinha quanto as m�os. � Onde � que voc� andou, Bart�? � perguntou Bagman. � Por que � que voc� n�o assistiu � partida? E o seu elfo ficou guardando uma cadeira para voc�... G�rgulas vorazes! � Bagman acabara de notar Winky ca�da aos seus p�s. � Que foi que aconteceu com ela? � Estive ocupado, Ludo � disse o Sr. Crouch, ainda falando aos arrancos como antes, e mal movendo os l�bios. � E o meu elfo foi estuporado. � Estuporado? Por gente nossa voc� quer dizer? Mas por qu�...? De repente o rosto redondo e reluzente de Bagman revelou ter compreendido, ele ergueu os olhos para o cr�nio, baixou-os para Winky e, em seguida, ergueu-os para o Sr. Crouch. � N�o! � exclamou ele. � Winky? Conjurou a Marca Negra? Ela n�o saberia fazer isso! Para come�ar precisaria de uma varinha! � E tinha uma � disse o Sr. Diggory. � Encontrei-a segurando uma, Ludo. Se o senhor n�o se op�e, Sr. Crouch, acho que dev�amos ouvir o que ela tem a dizer em sua defesa. Crouch n�o deu sinal de ter ouvido o Sr. Diggory, mas este pareceu tomar o sil�ncio do outro por concord�ncia. Ergueu a varinha e apontando-a para Winky disse: � Enervate! Winky mexeu-se fracamente. Seus grandes olhos castanhos se abriram e ela piscou v�rias vezes de um jeito meio abobado. Observada pelos bruxos em sil�ncio, ergueu o tronco aos poucos e se sentou. Avistou, ent�o, os p�s do Sr. Diggory e lentamente, tremulamente, ergueu os olhos para fixar seu rosto, mais lentamente ainda, olhou para o c�u. Harry viu o cr�nio flutuante refletir-se duas vezes em seus enormes olhos vidrados. Ela soltou uma exclama��o, olhou a clareira em volta, agitada, e irrompeu em solu�os aterrorizados. � Elfo! � disse o Sr. Diggory severamente. � Voc� sabe quem eu sou? Sou do Departamento para Regulamenta��o e Controle das Criaturas M�gicas! Winky come�ou a se balan�ar no ch�o para frente e para tr�s, a respira��o saindo em fortes arquejos. Harry teve que se lembrar de Dobby em seus momentos de aterrorizada desobedi�ncia. � Como voc� est� vendo, elfo, a Marca Negra foi conjurada aqui h� alguns instantes � disse o bruxo. � E voc� foi descoberta, pouco depois, logo embaixo dela! Sua explica��o, por favor! � Eu... Eu... Eu n�o estou fazendo isso, meu senhor! � Winky ofegou. � Eu n�o estou sabendo, meu senhor! � Voc� foi encontrada com uma varinha na m�o! � vociferou o Sr. Diggory, brandindo a varinha diante dela. E quando a varinha refletiu a luz verde, vinda do cr�nio no alto, que inundava a clareira, Harry a reconheceu. � Ei... � minha! � disse. Todos na clareira olharam para o garoto. � Perd�o? � disse o Sr. Diggory incr�dulo. � � a minha varinha! � repetiu Harry. � Deixei-a cair! � Deixou-a cair? � repetiu o bruxo incr�dulo. � Isto � uma confiss�o? Voc� se desfez dela depois de conjurar a Marca? � Amos, lembre-se de com quem est� falando! � disse o Sr. Weasley, muito zangado. � Acha prov�vel que Harry Potter conjure a Marca Negra? � Hum... Claro que n�o � murmurou o Sr. Diggory. � Desculpem... Me empolguei... � Em todo o caso, n�o a deixei cair l� � disse Harry, indicando com o polegar as �rvores. � Dei falta dela logo depois que entramos na floresta. � Ent�o � disse o Sr. Diggory, seu olhar endurecendo ao se virar novamente para Winky que se encolhia aos seus p�s. � Voc� encontrou a varinha, n�o foi, elfo? E voc� a apanhou e pensou em se divertir com ela, � isso? � Eu n�o estava fazendo m�gica com ela, meu senhor! � guinchou Winky, as l�grimas correndo pelos lados do nariz achatado e grande. � Eu estava... Eu estava... Eu estava s� apanhando ela, meu senhor! Eu n�o estava fazendo a Marca Negra, meu senhor, eu n�o sei fazer! � N�o foi ela! � afirmou Hermione. Ela parecia muito nervosa, dizendo o que pensava diante de todos aqueles bruxos do Minist�rio, mas, ainda assim, decidida. � Winky tem uma vozinha esgani�ada e a voz que ouvimos dizer a f�rmula era muito mais grave! � Ela olhou para os lados � procura de Harry e Rony, � procura de apoio. � N�o parecia nada com a voz da Winky, parecia? � N�o � confirmou Harry, sacudindo a cabe�a. � Decididamente n�o parecia voz de elfo. � �, era uma voz humana � disse Rony. � Bem, logo veremos � rosnou o Sr. Diggory, sem parecer se impressionar. �H� uma maneira simples de descobrir o �ltimo feiti�o que a varinha realizou, voc� sabia, elfo? Winky estremeceu e sacudiu a cabe�a freneticamente, as orelhas abanando, quando o Sr. Diggory ergueu a pr�pria varinha e encostou-a, ponta com ponta, na de Harry. � Prior Incantato!� rugiu o Sr. Diggory. Harry ouviu Hermione prender a respira��o horrorizada, quando um cr�nio com uma enorme l�ngua de cobra surgiu no ponto em que as duas varinhas se tocavam, mas era uma mera sombra do cr�nio verde no alto, parecia at� feito de uma espessa fuma�a cinzenta: O fantasma de um feiti�o. � Deletrius!� bradou o Sr. Diggory, e o cr�nio difuso desapareceu transformado em um fiapo de fuma�a. � Ent�o, disse o Sr. Diggory com um tom de furioso triunfo, fixando Winky, que continuava a tremer convulsivamente. � Eu n�o estava fazendo isso! � guinchou o elfo, seus olhos revirando aterrorizados. � Eu n�o estava, eu n�o estava, eu n�o sei fazer! � Voc� foi apanhada com a m�o na botija, elfo � rugiu o Sr. Diggory. � Apanhada com a m�o na varinha culpada! � Amos � disse o Sr. Weasley em voz alta �, pense um pouco... Pouqu�ssimos bruxos sabem fazer esse feiti�o... Onde ela o teria aprendido? � Talvez Amos esteja insinuando � disse o Sr. Crouch, a f�ria reprimida em cada s�laba � que eu rotineiramente ensino meus criados a conjurarem a Marca Negra? Seguiu-se um sil�ncio profundamente desagrad�vel. Amos Diggory pareceu horrorizado. � Sr. Crouch... De... De jeito nenhum... � Voc� agora j� chegou quase a denunciar as duas pessoas nesta clareira que menos provavelmente conjurariam aquela Marca! � vociferou o Sr. Crouch. � Harry Potter... E eu! Suponho que voc� conhe�a a hist�ria do garoto, Amos? � Claro, todos conhecem... � murmurou o Sr. Diggory, parecendo extremamente sem gra�a. � E espero que se lembre das muitas provas que tenho dado, durante a minha longa carreira, de que desprezo e detesto as Artes das Trevas e aqueles que a praticam � gritou o Sr. Crouch, os olhos saltando das �rbitas outra vez. � Sr. Crouch, eu... Eu nunca insinuei que o senhor tenha alguma coisa a ver com isso! � murmurou Amos Diggory, corando por baixo da barba castanha e curta. � Se voc� acusa o meu elfo, voc� acusa a mim, Diggory! Onde mais ela teria aprendido a conjurar a Marca? � Ela... Ela poderia ter aprendido em qualquer lugar... � Precisamente, Amos � disse o Sr. Weasley. � Ela poderia ter aprendido em qualquer lugar... � Winky? � disse ele bondosamente, virando-se para o elfo, que se encolheu como se este bruxo tamb�m estivesse gritando com ela. � Onde foi exatamente que voc� encontrou a varinha de Harry? Winky estava torcendo a barra da toalha de ch� com tanta viol�ncia que o pano se esfiapava entre seus dedos. � Eu... Eu estava encontrando... Encontrando ela l�, meu senhor... � murmurou ela � l�... No meio das �rvores... � Est� vendo, Amos? � disse o Sr. Weasley. � Quem quer que tenha conjurado a Marca poderia ter desaparatado logo em seguida, deixando a varinha de Harry para tr�s. Uma id�ia inteligente, n�o ter usado a pr�pria varinha, que poderia t�-lo denunciado. E Winky aqui teve a infelicidade de encontrar a varinha momentos depois e de apanh�-la. � Mas, ent�o, ela deve ter estado a poucos passos do verdadeiro respons�vel! � disse o Sr. Diggory com impaci�ncia. � Elfo? Voc� viu algu�m? Winky come�ou a tremer mais que nunca. Seus olhos imensos piscaram indo do Sr. Diggory para Ludo Bagman e dele para o Sr. Crouch. Ent�o ela engoliu em seco e disse: � Eu n�o estava vendo ningu�m... Ningu�m... � Amos � disse o Sr. Crouch secamente �, estou muito consciente de que normalmente voc� iria querer levar Winky para interrogat�rio no seu departamento. Mas vou-lhe pedir que me deixe cuidar dela. O Sr. Diggory fez cara de quem n�o achava a sugest�o muito boa, mas ficou claro para Harry que o Sr. Crouch era um funcion�rio t�o importante no Minist�rio que o outro n�o se atreveria a recusar o pedido. � Pode ficar tranq�ilo de que ela ser� castigada � acrescentou o Sr. Crouch friamente. � M... M... Meu senhor... � gaguejou Winky, olhando para o Sr. Crouch, seus olhos rasos de l�grimas. � M... M... Meu senhor, P... P... Por favor... O Sr. Crouch encarou o elfo, seu rosto ainda mais agressivo, cada ruga nele profundamente marcada. N�o havia piedade em seu olhar. � Esta noite Winky se portou de uma forma que eu n�o teria imaginado poss�vel � disse ele lentamente. � Eu a mandei permanecer na barraca. Mandei-a permanecer ali enquanto eu ia resolver o problema. E descubro que ela me desobedeceu. Isto significa roupas. � N�o! � berrou Winky, prostrando-se aos p�s do Sr. Crouch. � N�o, meu senhor! Roupas n�o, roupas n�o! Harry sabia que a �nica maneira de libertar um elfo dom�stico era presente�-lo com roupas decentes. Era penoso ver como Winky se agarrava � sua toalha de ch� enquanto solu�ava sobre os sapatos do Sr. Crouch. � Mas ela estava assustada! � explodiu Hermione aborrecida, encarando o Sr. Crouch. � O seu elfo tem pavor de alturas, e aqueles bruxos estavam fazendo as pessoas levitarem! O senhor n�o pode culp�-la por ter querido sair de perto! O Sr. Crouch deu um passo atr�s, desvencilhando-se do contato com o elfo, a quem ele examinava como se fosse algo imundo e podre que contaminava seus sapatos muito bem engraxados. � N�o preciso de um elfo dom�stico que me desobede�a � disse ele friamente, erguendo os olhos para Hermione. � N�o preciso de uma criada que esquece o que deve ao seu senhor e � reputa��o do seu senhor. Winky chorava tanto que seus solu�os ecoavam pela clareira. Seguiu-se um sil�ncio desagrad�vel, que foi interrompido pelo Sr. Weasley, ao dizer baixinho: � Bom, acho que vou levar o meu pessoal de volta � barraca, se ningu�m tiver obje��es a fazer. Amos, a varinha j� nos informou tudo que p�de, se Harry puder lev�-la, por favor... O Sr. Diggory entregou a varinha a Harry e ele a embolsou. � Vamos, voc�s tr�s � disse o Sr. Weasley em voz baixa. Mas Hermione n�o parecia querer arredar p�, seus olhos ainda miravam o elfo solu�ante. � Hermione! � chamou o Sr. Weasley com mais urg�ncia. Ela se virou e acompanhou Harry e Rony para fora da clareira, embrenhando-se entre as �rvores. � Que � que vai acontecer com Winky? � perguntou ela no instante em que deixaram a clareira. � N�o sei � respondeu o Sr. Weasley. � O jeito como a trataram! � disse Hermione, furiosa. � O Sr. Diggory chamando-a de "elfo" o tempo todo... E o Sr. Crouch! Ele sabe que n�o foi ela e ainda assim vai despedir Winky! N�o se importou que ela tivesse sentido medo nem que estivesse perturbada, era como se ela nem fosse humana! � E ela n�o � � disse Rony. Hermione se voltou contra ele. � Isso n�o significa que n�o tenha sentimentos, Rony, � repugnante o jeito... � Hermione, eu concordo com voc� � disse o Sr. Weasley depressa, fazendo sinal para a garota continuar andando �, mas agora n�o � hora de discutir os direitos dos elfos. Quero voltar � barraca o mais depressa que pudermos. Que aconteceu aos outros? � N�s os perdemos no escuro � disse Rony. � Papai, por que todo mundo estava t�o nervoso com aquele cr�nio? � Eu explico tudo quando estivermos na barraca � prometeu ele, tenso. Mas quando alcan�aram a orla da floresta, depararam com um obst�culo. Havia ali uma aglomera��o de bruxas e bruxos assustados, e, quando viram o Sr. Weasley caminhando em sua dire��o, muitos foram ao seu encontro. � Que � que est� acontecendo na floresta? � Quem conjurou aquilo? � Arthur, n�o �... Ele? � Claro que n�o � ele � disse o Sr. Weasley impaciente. � N�o sabemos quem foi, parece que desaparatou. Agora, me d�em licen�a, por favor, quero ir me deitar. Ele passou com Harry, Rony e Hermione pela aglomera��o e voltou ao acampamento. Tudo estava silencioso agora, n�o havia sinal de bruxos mascarados, embora v�rias barracas destru�das ainda fumegassem. Carlinhos meteu a cabe�a pela abertura da barraca dos garotos. � Papai, que � que est� acontecendo? � perguntou ele no escuro. � Fred, Jorge e Gina j� voltaram, mas os outros... � Est�o aqui comigo � respondeu o Sr. Weasley, se abaixando pra entrar na barraca. Harry, Rony e Hermione entraram atr�s dele. Gui estava sentado � pequena mesa da cozinha, apertando um bra�o com um len�ol, que sangrava profusamente. Carlinhos tinha um rasgo na camisa e Percy ostentava um nariz ensang�entado. Fred, Jorge e Gina pareciam ilesos, embora abalados. � Pegou ele, papai? � perguntou Gui bruscamente. � A pessoa que conjurou a Marca? � N�o. Encontramos o elfo de Bart� Crouch segurando a varinha de Harry, mas n�o ficamos sabendo quem realmente conjurou a Marca. � Qu�?� exclamaram Gui, Carlinhos e Percy, juntos. � A varinha de Harry? � disse Fred. � O elfo do Sr. Crouch? � disse Percy, parecendo estupefato. Com alguma ajuda de Harry, Rony e Hermione, o Sr. Weasley explicou o que acontecera na floresta. Quando terminaram a hist�ria, Percy encheu-se de indigna��o. � Ora, o Sr. Crouch tem toda raz�o em querer se livrar de um elfo desses! � exclamou ele. � Fugir desse jeito depois que ele o mandou expressamente fazer o contr�rio... Envergonhando o dono diante de todo o Minist�rio... Que iria parecer se ele tivesse que comparecer no Departamento para Regulamenta��o e Controle... � Ela n�o fez nada, s� estava no lugar errado na hora errada! � disse bruscamente Hermione a Percy, que ficou muito espantado. Hermione sempre se dera muito bem com ele, melhor at� que qualquer dos outros. � Hermione, um bruxo na posi��o do Sr. Crouch n�o pode se dar ao luxo de ter um elfo dom�stico que endoida com uma varinha na m�o! � disse Percy, pomposamente, recuperando-se do espanto. � Ela n�o ficou maluca! � gritou Hermione. � Ela s� apanhou a varinha no ch�o! � Olha aqui, ser� que algu�m pode explicar o que significava aquele cr�nio? � perguntou Rony impaciente. � N�o estava fazendo mal a ningu�m... Por que esse esc�ndalo todo? � Eu j� lhe disse, � o s�mbolo do Voc�-Sabe-Quem, Rony � disse Hermione, antes que mais algu�m pudesse responder. � Li sobre ele em Ascens�o e queda das artes das trevas. � E n�o � visto h� treze anos � acrescentou o Sr. Weasley em voz baixa. � E claro que as pessoas entraram em p�nico... Foi quase o mesmo que rever Voc�-Sabe-Quem. � N�o estou entendendo � disse Rony, franzindo a testa. � Quero dizer... � apenas uma forma no c�u... � Rony, Voc�-Sabe-Quem e seus seguidores projetavam a Marca Negra no c�u sempre que matavam algu�m � disse o Sr. Weasley. � O terror que isso inspirava... Voc� n�o faz id�ia, era muito crian�a. Mas imagine a pessoa chegar em casa e encontrar a Marca Negra pairando sobre ela, sabendo o que vai encontrar l� dentro... � O Sr. Weasley fez uma careta. � O que todos temem mais... Temem mais do que tudo... Houve um sil�ncio moment�neo. Ent�o Gui, levantando o len�ol do bra�o para verificar o corte, disse: � Bem, n�o fez nenhum bem � gente esta noite, quem quer que tenha conjurado aquilo. A Marca Negra afugentou os Comensais da Morte no momento em que a viram. Todos desaparataram antes que cheg�ssemos bastante pr�ximos para arrancar a m�scara deles. Ali�s, seguramos os Roberts antes que atingissem o ch�o. A mem�ria deles est� sendo alterada. � Comensais da Morte? � perguntou Harry. � Que s�o Comensais da Morte? � � o nome que os seguidores de Voc�-Sabe-Quem davam a si mesmos. Acho que vimos o que restou deles hoje � noite, pelo menos os que conseguiram ficar fora de Azkaban. � N�o podemos provar que eram eles, Gui � disse o Sr. Weasley. � Embora provavelmente tenham sido � acrescentou desanimado. � �, aposto que eram! � disse Rony repentinamente. � Papai, encontramos Draco Malfoy na floresta, e ele praticamente nos disse que o pai dele era um dos idiotas mascarados! E todos sabemos que os Malfoy eram �ntimos de Voc�-Sabe-Quem! � Mas o que � que os seguidores de Voldemort... � come�ou Harry. Todos se encolheram, como a maioria das pessoas no mundo dos bruxos, os Weasley sempre evitavam dizer o nome de Voldemort. � Desculpem � disse Harry depressa. � Mas o que � que os seguidores de Voc�-Sabe-Quem pretendiam fazendo aqueles trouxas levitar? Quero dizer, qual era o objetivo? � O objetivo? � disse o Sr. Weasley com uma risada desanimada. � Harry, essa � a id�ia que fazem de uma brincadeira. Metade das mortes de trouxas quando Voc�-Sabe-Quem estava no poder foi feita de brincadeira. Imagino que eles tenham tomado uns drinques esta noite e n�o puderam resistir ao impulso de nos lembrar que um grande n�mero deles continua em liberdade. Uma reuni�ozinha simp�tica � terminou ele desgostoso. � Mas se eles eram realmente os Comensais da Morte, por que desaparataram quando viram a Marca Negra? � perguntou Rony. � Deveriam ter ficado felizes de ver a Marca, n�o? � Usa os miolos, Rony � disse Gui. � Se eles eram realmente os Comensais da Morte, se viraram de todo o jeito para n�o serem mandados para Azkaban quando Voc�-Sabe-Quem perdeu o poder, e contaram um monte de mentiras de que ele os for�ara a matar e torturar gente. Aposto como sentiriam ainda mais medo do que n�s ao ver que ele estava voltando. Negaram que estivessem metidos com Voc�-Sabe-Quem quando ele perdeu o poder e voltaram as suas vidinhas de sempre... Acho que o Lord n�o ficaria muito satisfeito de ver essa gente, n�o � mesmo? � Ent�o... Quem conjurou a Marca Negra... � disse Hermione lentamente -estava fazendo, isso para manifestar apoio ou amedrontar os Comensais da Morte? � O seu palpite vale tanto quanto o meu, Hermione � disse o Sr. Weasley -Mas vou lhe dizer uma coisa... Somente os Comensais eram capazes de conjurar a Marca. Eu ficaria muito surpreso se a pessoa que a conjurou n�o tivesse sido um dia Comensal da Morte, mesmo que n�o o seja agora... Olhem, � muito tarde, e se sua m�e ouvir falar do que aconteceu vai morrer de preocupa��o. Vamos dormir mais um pouco e depois tentar pegar um portal bem cedo para sair daqui. Harry voltou ao seu beliche com a cabe�a zunindo. Sabia que devia estar se sentindo exausto, eram quase tr�s horas da manh�, mas estava completamente acordado � completamente acordado e preocupado. H� tr�s dias � parecia muito mais, mas s� tinham sido tr�s dias � acordara com a cicatriz ardendo. E esta noite, pela primeira vez em treze anos, a Marca de Lord Voldemort tinha aparecido no c�u. Que significavam essas coisas? Ele pensou na carta que escrevera a Sirius antes de deixar a Rua dos Alfeneiros. Ser� que o padrinho j� a recebera? Quando iria mandar resposta? Harry ficou contemplando a lona, mas n�o lhe ocorreu nenhum devaneio em que voasse para ajud�-lo a adormecer e somente muito tempo depois, quando os roncos de Carlinhos encheram a barraca, foi que o garoto finalmente adormeceu. CAP�TULO DEZ Caos no Minist�rio O Sr. Weasley acordou os garotos ap�s algumas horas de sono. Usou magia para fechar e dobrar as barracas, e o grupo deixou o acampamento o mais depressa que p�de, passando pelo Sr. Roberts � porta da casa. O homem tinha um estranho olhar vidrado e acenou se despedindo com um vago "Feliz Natal". � Ele vai ficar bom � disse o Sr. Weasley baixinho, quando come�aram a atravessar a charneca. � As vezes, quando a mem�ria de uma pessoa � alterada, ela fica um pouco desorientada durante algum tempo... E precisaram faz�-lo esquecer muita coisa. Eles ouviram vozes ansiosas quando se aproximaram do lugar onde estava a chave do portal e, ao chegarem, encontraram numerosos bruxos e bruxas reunidos em torno de Bas�lio, o guardador das chaves dos portais, todos exigindo, em altos brados, partir do acampamento o mais r�pido poss�vel. O Sr. Weasley teve uma discuss�o com Bas�lio, eles entraram na fila e conseguiram tomar um velho pneu de volta ao monte Stoatshead antes do sol realmente nascer. Voltaram caminhando por dentro de Ottery St. Catchpole, em dire��o � �Toca�, � claridade da alvorada, falando muito pouco porque estavam demasiado exaustos e ansiosos pelo caf� da manh� que iriam tomar. Ao virarem para a estrada de casa e avistarem �A Toca�, um grito ecoou pela estrada �mida. � Ah, gra�as a Deus, gra�as a Deus! A Sra. Weasley, que evidentemente estivera � espera diante da casa, veio correndo ao encontro deles, ainda usando chinelos, o rosto p�lido e tenso, um exemplar amassado do Profeta Di�rio amarrotado na m�o. � Arthur... Eu estava t�o preocupada... T�o preocupada... Ela se atirou ao pesco�o do marido e o Profeta Di�rio caiu de sua m�o frouxa no ch�o. Baixando os olhos, Harry leu a manchete: �CENAS DE TERROR NA COPA MUNDIAL DE QUADRIBOL�, completada com uma foto em preto e branco da Marca Negra cintilando sobre as copas das �rvores. � Voc�s est�o bem � murmurou a Sra. Weasley distra�da, largando o marido e olhando para os garotos com os olhos vermelhos �, voc�s est�o vivos... Ah, meninos... E para surpresa de todos, agarrou Fred e Jorge e puxou os dois para um abra�o t�o apertado que as cabe�as dos garotos se chocaram. � Ai! Mam�e, voc� est� estrangulando a gente... � Gritei com voc�s antes de irem embora! � disse a m�e, come�ando a solu�ar. � � s� nisso que estive pensando! E se Voc�-Sabe-Quem tivesse pegado voc�s, e a �ltima coisa que disse aos dois foi que n�o obtiveram suficientes N.O.M�s? Ah, Fred... Jorge... � Ora vamos, Molly, estamos todos perfeitamente bem � disse o Sr. Weasley acalmando-a, desvencilhando-a dos g�meos e levando-a em dire��o � casa. � Gui � murmurou ele em voz mais baixa �, apanhe esse jornal, quero ver o que diz... Quando j� estavam todos apertados na pequena cozinha e Hermione preparara uma x�cara de ch� forte para a Sra. Weasley, no qual o marido insistira em acrescentar uma dose de u�sque, Gui entregou o jornal ao pai. O Sr. Weasley examinou a primeira p�gina enquanto Percy espiava por cima do seu ombro. � Eu sabia � disse o Sr. Weasley deprimido. � Minist�rio erra... Respons�veis livres... Seguran�a ineficaz... Bruxos das trevas correm desenfreados... Desgra�a nacional... Quem escreveu isso? Ah... S� podia ser... Rira Skeeter. � Essa mulher vive implicando com o Minist�rio da Magia! � reclamou Percy, furioso. � Semana passada ela disse que est�vamos perdendo tempo discutindo a espessura dos caldeir�es, quando dev�amos estar acabando com os vampiros! Como se isso n�o estivesse expl�cito no par�grafo doze das Diretrizes para o Tratamento dos Semi-Humanos N�o-bruxos... � Faz um favor � gente, Percy � disse Gui bocejando �, cala a boca. � Falaram de mim � disse o Sr. Weasley, arregalando os olhos por tr�s dos �culos ao chegar ao fim do artigo no Profeta Di�rio. � Onde? � perguntou num atropelo a Sra. Weasley, engasgando-se com o ch� batizado com u�sque. � Se eu tivesse visto isso, saberia que voc� estava vivo! � N�o dizem o meu nome � explicou o Sr. Weasley. � Escute isso: Se os bruxos e as bruxas aterrorizados que prendiam a respira��o � espera de not�cias na orla da floresta queriam ouvir do Minist�rio da Magia uma palavra que os tranq�ilizasse foram lamentavelmente desapontados. Um funcion�rio do Minist�rio saiu da floresta uns minutos depois do aparecimento da Marca Negra, dizendo que n�o havia ningu�m ferido, mas recusando-se a dar maiores informa��es. Resta ver se tal declara��o ser� suficiente para abafar os boatos de que v�rios corpos foram retirados da floresta uma hora mais tarde. � Ah, francamente, disse o Sr. Weasley, exasperado, entregando o jornal a Percy. Ningu�m ficou ferido mesmo, que � que eu deveria dizer? Boatos de que v�rios corpos foram retirados da floresta... Ora, agora � que vai haver boatos depois de ela publicar isso. Ele soltou um profundo suspiro. � Molly, vou ter que ir ao escrit�rio, isso vai dar um certo trabalho para consertar. � Eu vou com voc�, pai � disse Percy cheio de import�ncia. � O Sr. Crouch vai precisar de toda a tripula��o a bordo. E aproveito para entregar a ele o meu relat�rio sobre os caldeir�es, pessoalmente. O rapaz saiu apressado da cozinha. A Sra. Weasley pareceu muito aborrecida. � Arthur, voc� est� de f�rias! Isso n�o tem nada a ver com o seu trabalho, com certeza eles podem resolver o caso sem voc�, n�o? � Tenho que ir, Molly � disse o Sr. Weasley. � Piorei as coisas com a minha declara��o. Vou trocar de roupa um instante e vou... � Sra. Weasley � disse Harry de repente, incapaz de se conter �, Edwiges n�o chegou com uma carta para mim? � Edwiges, querido? � disse a Sra. Weasley distra�da. � N�o... N�o, n�o chegou nenhum correio. Rony e Hermione olharam, curiosos, para Harry. Com um olhar expressivo para ambos ele disse: � Tudo bem se eu for deixar minhas coisas no seu quarto, Rony? � Claro... Acho que eu tamb�m vou � respondeu Rony na mesma hora. � Mione? � Vou � disse ela depressa, e os tr�s sa�ram decididos da cozinha e subiram as escadas. � Que � que est� acontecendo, Harry? � perguntou Rony, depois de fecharem a porta do s�t�o atr�s deles. � Tem uma coisa que n�o contei a voc�s � disse Harry. � No domingo de manh�, acordei com a minha cicatriz doendo outra vez. As rea��es de Rony e Hermione foram quase exatamente as que Harry imaginara em seu quarto na Rua dos Alfeneiros. Hermione prendeu a respira��o e come�ou a dar sugest�es na mesma hora, mencionando v�rios livros de refer�ncia e diversas pessoas desde Alvo Dumbledore a Madame Pomfrey, a enfermeira de Hogwarts. Rony simplesmente fez cara de espanto. � Mas ele n�o estava l�, estava? Voc�-Sabe-Quem? Quero dizer, da �ltima vez que sua cicatriz ficou doendo, ele esteve em Hogwarts, n�o foi? � Tenho certeza de que ele n�o estava na Rua dos Alfeneiros � falou Harry. �Mas sonhei com ele... Com ele e Pedro, sabe, Rabicho. N�o me lembro do sonho todo agora, mas eles estavam planejando... Matar algu�m. Hesitara por um momento quase dizendo "me matar", mas n�o teve coragem de fazer Hermione ficar mais horrorizada do que j� estava. � Foi s� um sonho � disse Rony tranq�ilizando o amigo. � S� um pesadelo. � �, mas ser� que foi mesmo? � disse Harry, virando-se para espiar, pela janela, o c�u que clareava. � � esquisito, n�o �... Minha cicatriz d�i e tr�s dias depois os Comensais da Morte se manifestam e o sinal de Voldemort volta a aparecer no c�u. � N�o... Diz... O nome... Dele! � sibilou Rony entre dentes. � E lembra o que foi que a Professora Trelawney disse? � continuou Harry, sem dar aten��o a Rony. � No fim do ano passado? A Professora Trelawney era a professora de Adivinha��o dos garotos em Hogwarts. A express�o aterrorizada de Hermione desapareceu substitu�da por uma risadinha de desd�m. � Ah, voc� n�o vai prestar aten��o ao que aquela velha charlat� diz, vai? � Voc� n�o estava l� � respondeu Harry. � Dessa vez foi diferente. Eu contei a voc�, ela entrou em transe, de verdade. E disse que o Lord das Trevas se reergueria... Maior e mais terr�vel que nunca... E que teria sucesso porque seu servo ia voltar para ele... E naquela noite Rabicho fugiu. Seguiu-se um sil�ncio, em que Rony ficou brincando distraidamente com um furo em sua colcha dos Chudley Cannons. � Por que voc� estava perguntando se Edwiges tinha chegado, Harry? � perguntou Hermione. � Voc� est� esperando uma carta? � Contei ao Sirius sobre a minha cicatriz � disse Harry, encolhendo os ombros. � Estou esperando a resposta. � Bem pensado! � exclamou Rony, desanuviando a express�o. � Aposto que Sirius sabe o que fazer! � Eu esperava que ele me respondesse logo � disse Harry. � Mas n�s n�o sabemos onde Sirius est�... Talvez esteja na �frica ou em outro continente, n�o �? � ponderou Hermione. � Edwiges n�o poderia fazer uma viagem dessas em poucos dias. � �, eu sei � disse Harry, mas teve uma sensa��o de peso no est�mago ao olhar o c�u sem nem sinal de Edwiges. � Vamos jogar uma partida de Quadribol no pomar, Harry � sugeriu Rony. � Vamos, uma melhor de tr�s, Gui, Carlinhos, Fred e Jorge jogar�o... Voc� pode experimentar a Finta de Wronski... � Rony � disse Hermione, num tom de quem diz eu n�o acho que voc� esteja sendo muito sens�vel �, Harry n�o quer jogar Quadribol agora... Est� preocupado e cansado... N�s todos precisamos dormir... � Ah, quero jogar Quadribol � disse Harry subitamente. � G�enta a�, vou pegar a minha Firebolt. Hermione saiu do quarto resmungando alguma coisa com o som de "Meninos" Nem o Sr. Weasley nem Percy pararam muito em casa na semana seguinte. Os dois sa�am toda manh� antes do resto da fam�lia se levantar e s� voltavam bem depois do jantar. � Tem sido um absoluto tumulto � contou Percy a todos, cheio de import�ncia, no domingo � noite, v�spera dos garotos regressarem a Hogwarts. � Estive apagando inc�ndios a semana inteira. As pessoas n�o param de mandar berradores e, � claro, se a gente n�o abre um berrador na mesma hora ele explode. Tem marcas de queimadura por toda a minha mesa e a minha melhor pena ficou reduzida a cinzas. � Por que � que est�o mandando berradores? � perguntou Gina, que se ocupava em remendar com fita adesiva o seu exemplar de Mil Ervas e Fungos M�gicos, sentada no tapete diante da lareira da sala de estar. � Para se queixarem da falta de seguran�a na Copa Mundial � disse Percy. -Querem compensa��o pelos preju�zos. Mundungo Fletcher entrou com um pedido de compensa��o pela perda de uma barraca de doze su�tes com banheira jacuzzi, mas eu saquei logo qual era a dele. Sei sem a menor d�vida que ele estava dormindo embaixo de uma capa estendida por cima de paus. A Sra. Weasley olhou para o rel�gio de carrilh�o a um canto da sala. Harry gostava desse rel�gio. Era completamente in�til se algu�m queria saber as horas, mas para outras coisas era muito informativo. Tinha nove ponteiros dourados e em cada um estava gravado o nome de um Weasley. N�o havia n�meros no mostrador, mas o local onde cada membro da fam�lia poderia estar. Havia "casa", "escola" e "trabalho", mas tamb�m "perdido", "hospital", "pris�o" e, na posi��o em que estaria o n�mero doze em um rel�gio normal, "perigo mortal". Oito dos ponteiros indicavam "casa", mas o do Sr. Weasley, que era o mais comprido, ainda apontava para "trabalho". A Sra. Weasley suspirou. � O seu pai n�o precisa ir ao escrit�rio num fim de semana desde o tempo de Voc�-Sabe-Quem � disse ela. � Est�o obrigando-o a trabalhar demais. O jantar dele vai estragar se demorar muito mais a chegar em casa. � Papai acha que precisa compensar o erro que fez no jogo, n�o �? � disse Percy. � Verdade seja dita, foi meio imprudente ele fazer uma declara��o � imprensa sem antes pedir autoriza��o ao chefe do departamento... � N�o se atreva a culpar o seu pai pelo que aquela infeliz da Skeeter escreveu! � disse a Sra. Weasley, irritando-se na hora. � Se papai n�o tivesse dito nada, a Rira teria escrito que era lament�vel que ningu�m do Minist�rio tivesse comentado nada � disse Gui, que estava jogando xadrez com Rony. � Rita Skeeter nunca pinta ningu�m de anjo. Est�o lembrados da vez que ela entrevistou todos os desfazedores de feiti�os do Gringotes e me chamou de frangote de cabelo comprido? � Bom, est� um pouco comprido, querido � disse a Sra. Weasley carinhosamente. � Se voc� me deixasse... � N�o, mam�e. A chuva a�oitava a janela da sala de estar. Hermione lia, absorta, O Livro Padr�o de Feiti�os, 4� s�rie, que a Sra. Weasley comprara para ela, Harry e Rony no Beco Diagonal. Carlinhos cerzia um gorro � prova de fogo. Harry dava polimento na Firebolt, com o Estojo para Manuten��o de Vassouras que Hermione lhe dera no d�cimo terceiro anivers�rio aberto aos seus p�s. Fred e Jorge estavam sentados no canto mais afastado, de penas na m�o, conversando aos cochichos, as cabe�as curvadas sobre um peda�o de pergaminho. � Que � que voc�s dois est�o aprontando? � perguntou a Sra. Weasley rispidamente, os olhos nos g�meos. � Dever de casa � disse Fred vagamente. � N�o seja rid�culo, voc�s ainda est�o de f�rias � disse a m�e. � Deixamos este para depois � disse Jorge. � Por acaso voc�s n�o est�o preparando um novo formul�rio, est�o? -perguntou a Sra. Weasley perspicaz. � Por acaso n�o estariam pensando em recome�ar as "Gemialidades" Weasley? � Ora, mam�e � disse Jorge erguendo os olhos para a m�e, uma express�o mortificada no rosto. � Se o Expresso de Hogwarts bater amanh� e Jorge e eu morrermos, como � que voc� iria se sentir sabendo que a �ltima coisa que ouvimos de voc� foi uma acusa��o sem fundamento? Todos riram, at� mesmo a Sra. Weasley. � Ah, seu pai est� chegando! � disse ela de repente, olhando mais uma vez para o rel�gio. O ponteiro do Sr. Weasley de repente girou de "trabalho" para "viagem"; um segundo depois parou estremecendo em casa junto aos demais, e todos o ouviram chamar da cozinha. � Estou indo, Arthur! � respondeu a mulher, saindo correndo da sala. Mais alguns minutos e o Sr. Weasley entrava na sala aquecida, trazendo o jantar numa bandeja. Parecia completamente exausto. � Bom, agora a coisa est� realmente pegando fogo � comentou ele com a Sra. Weasley, sentando-se numa poltrona junto � lareira e brincando desanimado com uma por��o murcha de couve-flor. � Rita Skeerer andou fu�ando a semana inteira, procurando mais bobagens ministeriais para denunciar. E agora descobriu que a coitada da velha Berta est� desaparecida, ent�o isso vai ser a manchete de amanh� no Profeta. Eu disse a Bagman que ele devia ter mandado algu�m procur�-la h� s�culos. � O Sr. Crouch vem dizendo isso h� semanas seguidas � disse Percy depressa. � Crouch tem muita sorte de Rita n�o ter descoberto nada sobre a Winky �retrucou o Sr. Weasley irritado. � Haveria uma semana de manchetes com a hist�ria do elfo dom�stico; dele ter sido apanhado segurando a varinha que conjurou a Marca Negra. � Acho que todos concordamos que o elfo, embora irrespons�vel, n�o conjurou a Marca? � disse Percy inflamado. � Se voc� quer saber, o Sr. Crouch tem muita sorte que ningu�m no Profeta Di�rio saiba como ele � ruim para os elfos! � disse Hermione zangada. � Agora, olha aqui, Hermione! � retrucou Percy. � Um funcion�rio de primeiro escal�o no Minist�rio como o Sr. Crouch merece obedi�ncia cega dos seus criados. � Dos seus escravos, voc� quer dizer! � falou Hermione com a voz muito aguda. � Porque ele n�o pagava sal�rio a Winky, n�o � mesmo? � Acho melhor voc�s todos subirem e verificarem se fizeram as malas direito! � disse a Sra. Weasley, interrompendo a discuss�o. � Andem logo, vamos, todos voc�s... Harry fechou o estojo de manuten��o, p�s a Firebolt ao ombro e subiu com Rony. A chuva parecia ainda mais forte no �ltimo andar da casa, e vinha acompanhada por assobios e gemidos do vento, para n�o falar nos uivos ocasionais do vampiro que vivia no s�t�o. Pichitinho come�ou a piar e a voar dentro da gaiola quando eles entraram. A vis�o dos mal�es quase prontos o deixara num frenesi de excita��o. � Arrolha ele com um pouco desses petiscos para Corujas � disse Rony atirando um pacote para Harry, � Quem sabe ele cala o bico. Harry enfiou alguns petiscos pelas grades da gaiola, depois voltou sua aten��o para o mal�o. A gaiola de Edwiges estava do lado, ainda vazia. � J� faz mais de uma semana � disse Harry, contemplando o poleiro deserto de Edwiges. � Rony, voc� acha que Sirius foi capturado? � N���o! Teria sa�do no Profeta Di�rio � protestou Rony. � O Minist�rio iria querer mostrar que capturou algu�m, n�o acha? � �, acho... � Olha, toma aqui o material que mam�e comprou para voc� no Beco Diagonal. E ela tirou um pouco de ouro do seu cofre para voc�... E lavou todas as suas meias. Rony carregou uma pilha de coisas para a cama de armar de Harry e largou uma bolsa de dinheiro e um monte de meias do lado. O garoto come�ou a desembrulhar as compras. Al�m do Livro padr�o de feiti�os, 4� s�rie, de Miranda Goshawk, ele tinha agora um punhado de penas novas, doze rolos de pergaminho e ingredientes para o seu estojo de po��es � os estoques de espinha de peixe-le�o e ess�ncia de beladona estavam quase no fim. Come�ou a empilhar a roupa �ntima dentro do caldeir�o quando Rony soltou uma exclama��o de desagrado �s costas dele. � Que vem a ser isso? Ele estava segurando uma coisa que pareceu a Harry uma longa veste de veludo marrom. Tinha um babado de renda de aspecto mofado no decote e punhos de renda iguais. Os garotos ouviram uma batida na porta e a Sra. Weasley entrou, trazendo uma bra�ada de vestes de Hogwarts rec�m lavadas. � Tomem aqui � disse ela, dividindo a bra�ada ao meio. � Agora vejam se guardam tudo na mala direito para n�o amarrotar. � Mam�e, voc� me deu a roupa nova da Gina � disse Rony devolvendo a veste marrom � m�e. � Claro que n�o, � para voc�. Vestes a rigor. � Qu�?� exclamou Rony, horrorizado. � Vestes a rigor! � repetiu a Sra. Weasley. � Est� na sua lista de material que este ano voc� dever� levar vestes a rigor... Vestes para ocasi�es formais. � A senhora tem que estar brincando � exclamou Rony incr�dulo. � Eu n�o vou usar isso, nem pensar. � Todo mundo usa, Rony! � disse a Sra. Weasley aborrecida. � E s�o todas assim! Seu pai tamb�m tem uma para festas elegantes! � Saio pelado, mas n�o visto uma coisa dessas � teimou Rony. � N�o seja bobo. Voc� precisa de vestes a rigor, est�o na sua lista! Comprei para o Harry tamb�m... Mostre a ele, Harry... Com uma certa apreens�o Harry abriu o �ltimo embrulho sobre a cama. Mas n�o eram t�o ruins quanto esperara, as vestes n�o tinham renda alguma, de fato, eram mais ou menos iguais �s vestes da escola, s� que eram verde-garrafa em vez de pretas. � Achei que elas real�ariam a cor dos seus olhos, querido � disse a Sra. Weasley afetuosamente. � Ora, as dele s�o legais! � disse Rony zangado, olhando para as vestes de Harry. � Por que eu n�o ganhei vestes como as dele? � Por que... Bom, precisei comprar as suas de segunda m�o, e n�o havia muita escolha! � disse a Sra. Weasley corando. Harry olhou para o outro lado. Teria dividido com os Weasley, de boa vontade, o dinheiro que havia em seu cofre no Gringotes, mas sabia que eles jamais aceitariam. � N�o vou usar isso nunca � insistiu Rony. � Nunquinha. � �timo � retorquiu a Sra. Weasley. � Ande nu. E Harry n�o se esque�a de tirar uma fotografia dele. Deus sabe que eu estou precisando de umas boas gargalhadas. Ela saiu do quarto batendo a porta. Os meninos ouviram um ru�do engra�ado de algu�m cuspindo �s costas deles. Era Pichitinho se engasgando com um petisco grande demais. � Por que � que tudo que eu tenho � porcaria? � enfureceu-se Rony, atravessando o quarto para descolar o bico da coruja. CAP�TULO ONZE A bordo do Expresso de Hogwarts Havia no ar uma inquestion�vel tristeza de fim de f�rias quando Harry acordou na manh� seguinte. A chuva forte continuava a fustigar a janela enquanto ele vestia um jeans e uma camiseta, trocaria pelas vestes de escola no Expresso de Hogwarts. Ele, Rony, Fred e Jorge tinham acabado de chegar ao patamar do primeiro andar, a caminho de tomar o caf� da manh�, quando a Sra. Weasley apareceu ao p� da escada, parecendo aflita. � Arthur! � gritou ela para cima. � Arthur! Mensagem urgente do Minist�rio! Harry se achatou contra a parede quando o Sr. Weasley passou correndo, com as vestes de tr�s para frente e desapareceu de vista. Quando Harry e os outros entraram na cozinha, viram a Sra. Weasley remexendo, ansiosamente, nas gavetas do guarda-lou�a. � Tenho uma pena em algum lugar aqui! � dizia ela, enquanto o Sr. Weasley se curvava para a lareira falando com... Harry fechou os olhos com for�a e reabriu-os para ter certeza de que estava vendo direito. A cabe�a de Amos Diggory estava parada no meio das chamas como um grande ovo barbudo. Ele falava muito depressa, completamente indiferente �s fagulhas que voavam ao seu redor e �s chamas que lambiam suas orelhas. �... Os vizinhos trouxas ouviram estampidos e gritos, ent�o foram e chamaram a... Como � mesmo o nome?... Pol�cia. Arthur, voc� tem que ir l�... � Tome! � disse a Sra. Weasley sem f�lego, empurrando um peda�o de pergaminho, um tinteiro e uma pena amassada nas m�os do marido. � ... Foi pura sorte eu ter sabido � continuou a cabe�a do Sr. Diggory -precisei vir ao escrit�rio mais cedo para despachar umas corujas, e encontrei o pessoal do Uso Indevido da Magia de sa�da... Se a Rita Skeeter souber dessa, Arthur... � Que � que Olho-Tonto diz que aconteceu? � perguntou o Sr. Weasley, ao mesmo tempo que desenroscava a tampa do tinteiro, molhava a pena e se preparava para escrever. Os olhos do Sr. Diggory reviraram nas �rbitas. � Disse que ouviu intrusos no jardim. Disse que se aproximavam sorrateiramente da casa, mas que foram atacados pelas latas de lixo. � Que foi que as latas de lixo fizeram? � perguntou o Sr. Weasley, escrevendo freneticamente. � Fizeram um estardalha�o e dispararam lixo para todo lado, pelo que sei � falou o Sr. Diggory. � Aparentemente uma delas ainda estava voando a esmo quando a pol�cia apareceu... O Sr. Weasley gemeu. � E o que aconteceu com os intrusos? � Arthur, voc� conhece Olho-Tonto � disse a cabe�a tornando a revirar os olhos. � Algu�m andando pelo jardim dele na calada da noite? Mais provavelmente era algum gato com neurose de guerra vagando por ali, coberto de cascas de batatas. Mas se o pessoal do Uso Indevido da Magia puser as m�os em Olho-Tonto, ele est� perdido, pense na ficha dele, temos que livr�-lo com uma acusa��o menos s�ria, alguma coisa no seu departamento, qual � a penalidade para explos�o de latas de lixo? � Talvez uma advert�ncia � respondeu o Sr. Weasley, ainda escrevendo muito depressa, a testa vincada. � Olho-Tonto n�o usou a varinha? N�o chegou a atacar ningu�m? � Aposto que ele pulou da cama e come�ou a enfeiti�ar tudo que conseguiu alcan�ar pela janela, mas daria muito trabalho provar isso, n�o houve nenhuma v�tima. � Tudo bem, estou de sa�da � disse o Sr. Weasley e, enfiando o pergaminho com as anota��es no bolso, saiu correndo da cozinha. A cabe�a do Sr. Diggory olhou para os lados e se fixou na Sra. Weasley. � Desculpe o mau jeito, Molly � disse, mais calmamente �, incomodar voc�s t�o cedo... Mas Arthur � a �nica pessoa que pode livrar Olho-Tonto, e Olho-Tonto ia come�ar um novo emprego hoje. Por que � que tinha que escolher logo ontem � noite... � Tudo bem, Amos. Tem certeza de que n�o quer comer uma torrada ou qualquer outra coisa antes de ir? � Ah, ent�o quero. A Sra. Weasley apanhou uma torrada amanteigada em uma pilha sobre a mesa da cozinha, prendeu-a nas tenazes da lareira e a levou � boca do Sr. Diggory. � Obrigado � disse ele com a voz abafada e, em seguida, com um estalido, desapareceu. Harry ouviu o Sr. Weasley gritar tchau apressado para Gui, Carlinhos, Percy e as garotas. Em cinco minutos, ele estava de volta � cozinha, as vestes agora do lado certo, passando um pente nos cabelos. � � melhor eu me apressar... Um bom ano letivo para voc�s, meninos � disse o Sr. Weasley para Harry, Rony e os g�meos, puxando uma capa por cima dos ombros e se preparando para desaparatar. � Molly, voc� acha que d� conta de levar os meninos at� King�s Cross? � Claro que sim. Se preocupe com Olho-Tonto que n�s cuidamos do resto. Quando o Sr. Weasley desapareceu, Gui e Carlinhos entraram na cozinha. � Algu�m falou em Olho-Tonto? � perguntou Gui. � Que � que ele andou fazendo agora? � Diz que algu�m tentou entrar na casa dele � noite passada � respondeu a Sra. Weasley. � Olho-Tonto Moody? � Indagou Jorge pensativo, passando gel�ia na torrada. � N�o � aquele biruta... � Seu pai tem uma excelente opini�o sobre Olho-Tonto Moody � disse a Sra. Weasley severamente. � �, tudo bem, papai coleciona tomadas, n�o � mesmo? � disse Fred baixinho quando a m�e saiu da cozinha. � Cada qual com o seu igual... � Moody j� foi um grande bruxo � disse Gui. � Ele � um velho amigo do Dumbledore, n�o �? � perguntou Carlinhos. � Mas o Dumbledore n�o � bem o que a gente chamaria de normal, n�o � � comentou Fred. � Quero dizer, eu sei que ele � um g�nio e tudo o mais... � Quem � Olho-Tonto? � perguntou Harry. � Est� aposentado, mas costumava trabalhar no Minist�rio � falou Carlinhos. � O vi uma vez quando papai me levou ao trabalho. Ele foi Auror... Um dos melhores... Um cara que captura bruxos das trevas � acrescentou, vendo o olhar at�nito de Harry. � Encheu metade das celas de Azkaban. Mas fez uma p� de inimigos... Principalmente as fam�lias das pessoas que ele prendeu... E ouvi falar que Moody est� ficando realmente paran�ico na velhice. N�o confia mais em ningu�m. V� bruxos das trevas por todo lado. Gui e Carlinhos resolveram acompanhar os garotos ao embarque na esta��o de King"s Cross, mas Percy se desculpou profusamente e disse que precisava de fato ir trabalhar. � N�o posso pedir mais licen�as no momento. O Sr. Crouch est� realmente come�ando a confiar em mim. � Ah �, sabe de uma coisa, Percy? � disse Jorge s�rio. � Acho que n�o demora muito, ele vai aprender o seu nome. A Sra. Weasley tinha se aventurado a telefonar para a ag�ncia de correio do povoado para pedir tr�s t�xis de trouxas para lev�-los a Londres. � Arthur tentou pedir emprestado uns carros do Minist�rio para n�s -sussurrou a Sra. Weasley a Harry, enquanto aguardavam parados no p�tio lavado de chuva os motoristas dos t�xis carregarem os pesados mal�es de Hogwarts nos carros. � Mas n�o havia nenhum dispon�vel... Ah, meu Deus, a cara deles n�o est� nada feliz, n�o �? Harry n�o quis comentar com a Sra. Weasley que motoristas de t�xi trouxas raramente transportavam corujas excitadas, e Pichitinho estava fazendo um estardalha�o tremendo. E tampouco ajudou o fato de alguns fogos Dr. Filibusteiro, que n�o aquecem e acendem molhados, terem explodido inesperadamente quando o mal�o de Fred se abriu, fazendo o motorista que o carregava berrar de susto e dor, pois Bichento enterrou as garras na perna do homem. A viagem foi desconfort�vel, porque eles viajaram espremidos no banco traseiro dos t�xis com os mal�es. Bichento levou algum tempo para se recuperar do susto com os fogos e, at� entrarem em Londres, Harry, Rony e Hermione acabaram seriamente arranhados. Sentiram um grande al�vio ao desembarcar na esta��o, embora a chuva ca�sse mais forte que nunca e eles tivessem se encharcado para atravessar a rua movimentada para entrar na esta��o com os mal�es. A essa altura, Harry j� estava se acostumando a embarcar na plataforma 9 e �. Era apenas uma quest�o de rumar diretamente para a barreira, aparentemente s�lida, que dividia as plataformas nove e dez. A �nica parte dif�cil era fazer isso discretamente de modo a n�o chamar a aten��o dos trouxas. Fizeram isso em grupos, hoje; Harry, Rony e Hermione (os mais vis�veis, pois iam levando Pichitinho e Bichento) foram os primeiros, eles se encostaram descontraidamente na barreira, conversando despreocupados e deslizaram de lado por ela... E, ao fazerem isso, a plataforma 9 e � se materializou diante deles. O Expresso de Hogwarts, uma reluzente locomotiva vermelha, j� estava aguardando, soltando nuvens repolhudas de fuma�a, atrav�s das quais os muitos alunos de Hogwarts e seus pais parados na plataforma pareciam fantasmas escuros. Pichitinho fez mais barulho que nunca em resposta ao pio das outras corujas escondidas na n�voa. Harry, Rony e Hermione sa�ram em busca de lugares e logo estavam guardando a bagagem em uma cabine mais ou menos na metade do trem. Depois, eles tornaram a saltar para se despedir da Sra. Weasley, de Gui e Carlinhos. � Talvez eu volte a ver voc�s mais cedo do que pensam � disse Carlinhos, rindo, ao dar um abra�o de despedida em Gina. � Por qu�? � perguntou Fred interessado. � Voc� ver� � respondeu Carlinhos. � S� n�o diga a Percy que eu falei isso... porque afinal � informa��o privilegiada, at� o Minist�rio resolver divulg�-la. � �, eu at� sinto vontade de estar estudando em Hogwarts este ano � disse Gui, as m�os enfiadas nos bolsos, contemplando com um ar quase saudoso o trem. � Por qu�?� perguntou Jorge impaciente. � Voc�s v�o ter um ano interessante � comentou Gui, com os olhos cintilando. � Talvez eu at� pe�a licen�a para ir dar uma espiada... � Uma espiada em qu�? � perguntou Rony. Mas nessa hora ouviram o apito e a Sra. Weasley conduziu-os impaciente �s portas do trem. � Obrigada por nos convidar, Sra. Weasley � disse Hermione, depois que embarcaram, fecharam a porta e se debru�aram na janela do corredor para falar com ela. � �, obrigado por tudo, Sra. Weasley � disse Harry. � Ah, o prazer foi meu, queridos � respondeu ela. � Eu os convidaria para o Natal, mas... Bem, imagino que voc�s v�o querer ficar em Hogwarts, por causa... De uma coisa ou outra. � Mam�e! � exclamou Rony irritado. � Que � que voc�s tr�s sabem que n�s n�o sabemos? � Voc�s v�o descobrir hoje � noite � disse a Sra. Weasley sorrindo. � Vai ser muito excitante, estou muito contente que tenham mudado as regras... � Que regras? � perguntaram Harry, Rony, Fred e Jorge juntos. � Tenho certeza de que o Professor Dumbledore vai contar a voc�s... Agora, comportem-se? Ouviu bem Fred? E voc� Jorge! Os pist�es assobiaram e o trem come�ou a andar. � Conta para a gente o que vai acontecer em Hogwarts! � berrou Fred pela janela, quando a Sra. Weasley, Gui e Carlinhos foram se distanciando rapidamente. � Que regras � que v�o mudar? Mas a Sra. Weasley apenas sorriu e acenou. Antes que o trem tivesse virado a primeira curva, ela, Gui e Carlinhos tinham desaparatado. Harry, Rony e Hermione voltaram � cabine. A chuva grossa que batia nas janelas tornava dif�cil ver o lado de fora. Rony abriu o mal�o, tirou as vestes a rigor marrons e atirou-as por cima da gaiola de Pichitinho para abafar os seus pios. � Bagman queria nos dizer o que ia acontecer em Hogwarts � disse ele mal-humorado, sentando-se ao lado de Harry. � Na Copa Mundial, lembra? Mas nem a minha pr�pria m�e quer contar. Que ser�... � Psiu! � sussurrou Hermione de repente, levando o indicador aos l�bios e apontando para a cabine ao lado. Harry e Rony prestaram aten��o e ouviram uma voz arrastada j� sua conhecida que entrava pela porta aberta. �... Papai, na realidade, pensou em me mandar para Durmstrang em lugar de Hogwarts, sabem. Ele conhece o diretor l�, entendem. Bom, voc�s sabem qual � a opini�o dele sobre Dumbledore... O cara gosta muito de sangues-ruins e Durmstrang n�o admite esse tipo de ral�. Mas mam�e n�o gostou da id�ia de eu ir para uma escola t�o longe. Durmstrang tem uma pol�tica muito mais certa que Hogwarts com rela��o �s Artes das Trevas. Os alunos de l� at� aprendem essa mat�ria, n�o � s� essas bobagens de defesa que a gente aprende... Hermione se levantou, foi p� ante p� at� a porta da cabine e fechou-a para abafar a voz de Malfoy. � Ent�o ele acha que Durmstrang teria sido melhor para ele, �? � disse ela zangada. � Eu gostaria que ele tivesse ido para l�, ai n�o ter�amos que atur�-lo. � Durmstrang � outra escola de bruxaria? � perguntou Harry. � � � respondeu Hermione fungando �, e tem uma p�ssima reputa��o. Segundo aquele livro uma Avalia��o da Educa��o em Magia na Europa, a escola enfatiza as Artes das Trevas. � Acho que j� ouvi falar nisso � disse Rony vagamente. � Onde fica? Em que pa�s? � Ora, ningu�m sabe, n�o � mesmo? � respondeu Hermione, erguendo as sobrancelhas. � Hum... Por que n�o? � quis saber Harry. � Tradicionalmente h� uma forte rivalidade entre as escolas de magia. Durmstrang e Beauxbatons gostam de esconder onde ficam para ningu�m poder roubar os segredos delas � disse Hermione simplesmente. � Corta essa! � exclamou Rony, come�ando a rir. � Durmstrang tem que ser mais ou menos do tamanho de Hogwarts, como � que algu�m vai esconder um castel�o encardido? � Mas Hogwarts � escondida � retrucou Hermione, surpresa �, todo mundo sabe disso... Bom pelo menos todo mundo que leu Hogwarts: uma hist�ria. � Ent�o � s� voc� � falou Rony. � Por isso pode continuar, como � que se esconde um lugar como Hogwarts? � Encantando ele � respondeu Hermione. � Se um trouxa olhar, s� o que vai ver � uma velha ru�na embolorada com um letreiro na entrada �PERIGO, N�O ENTRE, ARRISCADO�. � Ent�o Durmstrang tamb�m vai parecer uma ru�na a um estranho? � Talvez � disse Hermione, encolhendo os ombros �, ou talvez tenha feiti�os antitrouxas, como o est�dio da Copa Mundial. E para impedir bruxos estrangeiros de encontr�-lo, devem ter tornado ele imposs�vel de mapear... � Como �? � Bom, a gente pode enfeiti�ar um pr�dio para tornar imposs�vel a pessoa o localizar em um mapa, n�o pode? � Hum... Se voc� diz que pode � falou Harry. � Mas eu acho que Durmstrang deve ficar em algum lugar bem ao norte �disse Hermione pensativa. � Algum lugar muito frio, porque as capas de peles fazem parte dos uniformes de l�. � Ah, pensem s� nas possibilidades � disse Rony sonhando. � Teria sido muito mais f�cil empurrar Malfoy de uma geleira e fazer parecer acidente... Pena que a m�e goste dele... A chuva foi ficando mais pesada, � medida que o trem seguia mais para o norte. O c�u estava t�o escuro e as janelas t�o emba�adas que as lanternas foram acesas antes do meio-dia. O carrinho dos lanches surgiu sacudindo pelo corredor, e Harry comprou uma montanha de bolos de caldeir�o para os tr�s dividirem. Muitos amigos apareceram durante a tarde, inclusive Simas Finnigan, Dino Thomas e Neville Longbottom, um menino de rosto redondo e extremamente esquecido que fora criado pela bruxa formid�vel que era sua av�. Simas ainda usava a roseta da Irlanda. Parte da m�gica parecia estar se esgotando agora, ela ainda gritava esgani�ada "Troy! Muilet! Moran!", mas de um jeito muito fraco e cansado. Passada meia hora mais ou menos, Hermione, cansando-se da intermin�vel discuss�o sobre Quadribol, enterrou-se mais uma vez no Livro Padr�o de Feiti�os, 4� s�rie e come�ou a tentar aprender a fazer um Feiti�o Convocat�rio. Neville escutava, invejoso, a conversa dos colegas que reviviam a partida de Quadribol. � Vov� n�o quis ir � disse ele, infeliz. � N�o quis comprar as entradas. Mas parecia fant�stico. � Foi � disse Rony. � Olhe s� para isso, Neville... � Ele meteu a m�o no mal�o guardado no bagageiro e puxou a miniatura de V�tor Krum. � Uau!� exclamou Neville, invejoso, quando Rony equilibrou Krum na m�o gorducha. � E vimos ele de perto, tamb�m � continuou Rony. � Ficamos no camarote de honra... � Pela primeira e �ltima vez na vida, Weasley. Draco Malfoy aparecera � porta. Atr�s dele vinham Crabbe e Goyle, seus enormes sequazes agressivos, que pareciam ter crescido no m�nimo trinta cent�metros durante o ver�o. Evidentemente tinham ouvido a conversa pela porta da cabine, que Dino e Simas deixaram entreaberta. � N�o me lembro de ter convidado voc� para a nossa cabine, Malfoy � disse Harry friamente. � Weasley... Que � isso? � perguntou Malfoy, apontando para a gaiola de Pichitinho. Uma das mangas das vestes de Rony estava pendurada, e balan�ava com o movimento do trem, deixando o punho de renda mofada muito vis�vel. Rony fez men��o de esconder as vestes, mas Malfoy foi r�pido demais para ele; agarrou a manga e puxou. � Olhem s� para isso! � disse o garoto em �xtase, segurando as vestes de Rony e mostrando-as a Crabbe e Goyle. � Weasley, voc� n�o andou pensando em usar isso, andou? Quero dizer, isso esteve em moda a� por 1890... � Vai lamber sab�o, Malfoy! � xingou Rony, da mesma cor que as vestes ao pux�-las das m�os de Malfoy. O garoto uivava, rindo de desd�m, Crabbe e Goyle gargalhavam estupidamente. � Ent�o... Vai entrar, Weasley? Vai tentar trazer alguma gl�ria para o nome da sua fam�lia? E tem dinheiro tamb�m, sabe... Voc� vai poder comprar umas vestes decentes se ganhar... � Do que � que voc� est� falando? � retorquiu Rony. � Voc� vai entrar? � repetiu Malfoy. � Suponho que voc� v�, Potter? Voc� nunca perde uma chance de se exibir, n�o �? � Ou voc� explica a que est� se referindo ou vai embora, Malfoy � disse Hermione, impaciente, por cima da borda do Livro Padr�o de Feiti�os, 4� s�rie. Um sorriso satisfeito se espalhou pelo rosto p�lido de Malfoy. � N�o me diga que voc� n�o sabe? Voc� tem um pai e um irm�o no Minist�rio e nem ao menos sabe? Nossa, meu pai me contou h� s�culos... Soube pelo Corn�lio Fudge. Mas papai sempre convive com o primeiro escal�o do Minist�rio... Talvez seu pai seja insignificante demais para ter sabido, Weasley... �... Provavelmente n�o falam coisas importantes na frente dele... Rindo mais uma vez, Malfoy fez sinal para Crabbe e Goyle e os tr�s desapareceram. Rony se levantou e bateu a porta de correr da cabine com tanta for�a atr�s deles que o vidro se espatifou. � Rony! � exclamou Hermione em tom de censura, e puxando a varinha, murmurou a palavra Reparo! E os estilha�os do vidro tornaram a formar uma vidra�a inteira e a se reencaixar na porta. � Ora... Tirando onda que ele � bem informado e n�s n�o... � rosnou Rony. �Papai sempre convive com o primeiro escal�o do Minist�rio... Papai poderia ter recebido uma promo��o a qualquer tempo... Mas ele gosta do cargo que ocupa... � Claro que gosta � disse Hermione baixinho. � N�o deixe o Malfoy chatear voc�, Rony... � Ele! Me chatear! Como se pudesse! � retrucou Rony, apanhando um dos bolos de caldeir�o que sobravam e amassando-o todo. O mau humor de Rony continuou pelo resto da viagem. Ele n�o falou muito quando vestiram os uniformes da escola, e continuou de cara amarrada quando o Expresso de Hogwarts come�ou finalmente a reduzir a velocidade at� parar de todo na escurid�o de breu da esta��o de Hogsmeade. Quando as portas do trem se abriram, ouviu-se uma trovoada no alto. Hermione agasalhou Bichento na capa e Rony deixou as vestes a rigor por cima da gaiola de Pichitinho ao desembarcarem, as cabe�as abaixadas e os olhos apertados para impedir que o temporal os molhasse. A chuva ca�a em tal volume e rapidez que at� parecia que algu�m estava esvaziando baldes e mais baldes de �gua gelada na cabe�a dos garotos. � Oi, Hagrid! � berrou Harry, ao ver a silhueta gigantesca na extremidade da plataforma. � Tudo bem? � gritou Hagrid em resposta, acenando. � Vejo voc�s na festa, se n�o nos afogarmos no caminho! Os alunos de primeiro ano tradicionalmente chegavam ao castelo de barco, atravessando o lago com Hagrid. � Oooh, eu n�o gostaria de atravessar o lago com esse tempo � exclamou Hermione com veem�ncia, tremendo durante a caminhada lenta pela plataforma escura com os outros colegas. Cem carruagens sem cavalos os aguardavam � sa�da da esta��o. Harry, Rony, Hermione e Neville embarcaram agradecidos em uma delas, a porta se fechou com um estalo e momentos depois, com um grande �mpeto, a longa prociss�o de carruagens saiu roncando e espalhando �gua trilha acima em dire��o ao castelo de Hogwarts. CAP�TULO DOZE O Torneio Tribruxo Os garotos passaram pelos port�es, ladeados por est�tuas de javalis alados, e as carruagens subiram o imponente caminho oscilando perigosamente sob uma chuva que parecia estar virando tromba d'�gua. Curvando-se para a janela, Harry p�de ver Hogwarts se aproximando, suas numerosas janelas borradas e iluminadas por tr�s da cortina de chuva. Os rel�mpagos riscaram o c�u no momento em que a carruagem parou diante das enormes portas de entrada de carvalho, a que se chegava por um lance de degraus de pedra. As pessoas que tinham tomado as carruagens anteriores j� subiam correndo os degraus para entrar no castelo; Harry, Rony, Hermione e Neville saltaram da carruagem e correram escada acima, tamb�m, s� erguendo a cabe�a quando j� estavam seguros, no cavernoso sagu�o de entrada iluminado por archotes, com sua magn�fica escadaria de m�rmore. � Caracoles � exclamou Rony, sacudindo a cabe�a e espalhando �gua para todos os lados �, se isso continuar assim, o lago vai transbordar. Estou todo molhado! Um grande bal�o vermelho e cheio de �gua ca�ra do teto na cabe�a de Rony e estourara. Encharcado e resmungando, Rony cambaleou para o lado e esbarrou em Harry na hora em que uma segunda bomba de �gua caiu errando Hermione por um triz, ele estourou aos p�s de Harry, espirrando �gua gelada por cima dos t�nis e das meias do garoto. As pessoas em volta soltaram gritinhos e come�aram a se empurrar procurando sair da linha de tiro. Harry olhou para o alto e viu, flutuando seis metros acima, Pirra�a, o poltergeist, um homenzinho de chap�u em forma de sino e gravata borboleta cor de laranja, o rosto largo e malicioso contorcendo-se de concentra��o para tornar a fazer mira. � PIRRA�A! � berrou uma voz zangada. � Pirra�a, des�a j� aqui, AGORA! A Professora Minerva McGonagall, subdiretora da escola e diretora da Grifin�ria, saiu correndo do Sal�o Principal, a professora escorregou no ch�o molhado e agarrou Hermione pelo pesco�o para evitar cair. � Ai... Desculpe, Srta. Granger... � Tudo bem, professora! � ofegou Hermione, massageando a garganta. � Pirra�a, des�a aqui AGORA! � bradou ela, ajeitando o chap�u c�nico e olhando feio pelos �culos de aros quadrados. � N�o t� fazendo nada! � gargalhou Pirra�a, disparando uma bomba de �gua contra v�rias garotas do quinto ano, que gritaram e mergulharam no Sal�o Principal. � J� molharam as cal�as, foi? Que inconvenientes! Ihhhhhhhhhh! � E mirou mais uma bomba em um grupo de alunos do segundo ano que tinha acabado de chegar. � Vou chamar o diretor! � amea�ou a Professora Minerva. � Estou lhe avisando, Pirra�a... Pirra�a estirou a l�ngua, jogou a �ltima de suas bombas de �gua para o alto e disparou pela escada de m�rmore acima, gargalhando feito um louco. � Bom, vamos andando, ent�o! � disse a professora em tom eficiente para os alunos molhados. � Para o Sal�o Principal, vamos! Harry, Rony e Hermione escorregaram pelo sagu�o de entrada e pelas portas de folhas duplas � direita, Rony, furioso, resmungando entre dentes ao afastar os cabelos, que escorriam �gua, para longe do rosto. O Sal�o Principal tinha o aspecto espl�ndido de sempre, decorado para a festa de abertura do ano letivo. Pratos e ta�as de ouro refulgiam � luz de centenas e centenas de velas que flutuavam no ar sobre as mesas. As quatro mesas longas das Casas estavam cheias de alunos que falavam sem parar; no fundo do sal�o, os professores e outros funcion�rios sentavam-se a uma quinta mesa, de frente para os estudantes. Estava muito mais quente ali. Harry, Rony e Hermione passaram pela mesa dos alunos da Sonserina, Corvinal e Lufa-Lufa, e se sentaram com os colegas da Grifin�ria no extremo do sal�o, ao lado de Nick Quase Sem Cabe�a, o fantasma de sua Casa. Branco-p�rola e semitransparente, Nick estava vestido esta noite com o gib�o de sempre e uma gola de rufos particularmente grande, que servia o duplo prop�sito de parecer bem festiva e garantir que sua cabe�a n�o balan�asse demais no pesco�o parcialmente decepado. � Boa noite � disse ele aos garotos. � Para quem? � perguntou Harry, descal�ando os t�nis e despejando a �gua que se acumulara dentro. � Espero que andem depressa com a sele��o. Estou faminto. A sele��o dos novos alunos por Casas era realizada no in�cio de cada ano letivo, mas por uma infeliz combina��o de circunst�ncias, Harry n�o estivera presente a nenhuma desde a dele mesmo. Estava ansioso para assisti-la. Nesse instante, uma voz excitada e ofegante chamou-o mais adiante � mesa: � Oi, Harry! Era Colin Creevey, um aluno do terceiro ano para quem Harry era uma esp�cie de her�i. � Oi, Colin � cumprimentou Harry cauteloso. � Harry, adivinha s�! Adivinha s�, Harry! Meu irm�o est� come�ando! Meu irm�o D�nis! � Hum... Que bom! � disse Harry. � Ele est� realmente excitado! � continuou Colin, praticamente dando pulos na cadeira. � Espero que ele fique na Grifin�ria! Cruze os dedos, hein, Harry? � Hum... Claro � disse Harry. E tornou a se virar para Hermione, Rony e Nick Quase Sem Cabe�a. � Irm�os e irm�s geralmente v�o para a mesma Casa, n�o �? Estava pensando nos Weasley, todos os sete alunos da Grifin�ria. � Ah, n�o, n�o obrigatoriamente � disse Hermione. � A g�mea de Parvati Patil est� em Corvinal e elas s�o id�nticas, a gente podia at� pensar que fossem ficar juntas, n�o � mesmo? Harry olhou para a mesa dos professores. Parecia haver mais lugares vazios do que habitualmente. Hagrid, � claro, ainda estava lutando para atravessar o lago com os alunos do primeiro ano, a Professora McGonagall provavelmente estava supervisionando a secagem do piso do sagu�o de entrada, mas havia ainda outra cadeira desocupada e ele n�o conseguia atinar quem mais estava faltando. � Onde � que est� o novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas? � perguntou Hermione, que tamb�m estava olhando para os professores . Os garotos ainda n�o tinham tido nenhum professor de Defesa contra as Artes das Trevas que durasse mais de tr�s trimestres. O favorito de Harry fora, de longe. o Professor Lupin, que se demitira no ano anterior. Seu olhar percorreu a mesa dos professores. Decididamente n�o havia nenhuma cara nova. � Quem sabe n�o conseguiram ningu�m! � sugeriu Hermione, parecendo ansiosa. Harry examinou os ocupantes da mesa com mais aten��o. O min�sculo Professor Flitwick, professor de Feiti�os, estava sentado em uma alta pilha de almofadas ao lado da Professora Sprout, a mestra de Herbologia, usando um chap�u enviesado sobre os cabelos grisalhos e esvoa�antes. Conversava com a Professora Sinistra, do Departamento de Astronomia. Do outro lado de Sinistra estava o mestre de Po��es, de rosto macilento, nariz de gancho e cabelos oleosos, Snape a pessoa de quem Harry menos gostava em Hogwarts. A repulsa de Harry por Snape s� igualava o �dio que o professor sentia por ele, um �dio que tinha, se � que isso era poss�vel, se intensificado no ano anterior, quando o garoto ajudara Sirius a fugir bem debaixo do nariz exageradamente grande de Snape � ele e Sirius eram inimigos desde os tempos de escola. Do outro lado de Snape, havia um lugar vago, que Harry achou que devia ser o da Professora McGonagall. Ao lado, e bem no centro da mesa, sentava-se o Professor Dumbledore, o diretor, seus cabelos e barbas prateados e ondulantes brilhando � luz das velas, suas magn�ficas vestes verde-escuras bordadas com luas e estrelas. Dumbledore tinha as pontas dos dedos longos e finos e ele apoiava nelas o queixo, contemplando o teto atrav�s de oclinhos de meia-lua, como se estivesse perdido em pensamentos. Harry olhou para o teto tamb�m. Era encantado para parecer o c�u l� fora e nunca tivera um aspecto t�o tempestuoso. Nuvens roxas e negras giravam por ele e quando se ouvia uma nova trovoada, corria um rel�mpago pelo teto. � Ah, anda logo � gemeu Rony, ao lado de Harry. � Eu seria capaz de devorar um hipogrifo. As palavras mal tinham sa�do de sua boca e as portas do Sal�o Principal se abriram e fez-se sil�ncio. A Professora Minerva encabe�ava uma longa fila de alunos do primeiro ano at� o centro do sal�o. Se Harry, Rony e Hermione estavam molhados, seu estado nem se comparava ao desses garotos. Eles pareciam ter feito a travessia do lago a nado em lugar de faz�-la de barco. Todos estavam tomados por tremores, em que se misturavam o frio e o nervosismo, ao passarem pela mesa dos professores e pararem em fila diante do resto da escola � todos exceto o menorzinho, um menino com cabelos castanho-ba�os, que vinha embrulhado em um agasalho que Harry reconheceu ser o casaco de pele de toupeira de Hagrid. O casaco era t�o grande que o garoto parecia coberto por um toldo escuro e peludo. Seu rosto mi�do aparecia por cima da gola, quase dolorosamente excitado. Quando ele se alinhou com os colegas aterrorizados, viu que Colin Creevey o olhava, ergueu os polegares e falou: � Ca� no lago! � Parecia decididamente encantado com o ocorrido. A Professora Minerva agora colocava um banquinho de tr�s pernas diante dos novos alunos e, em cima, um chap�u de bruxo, extremamente velho, sujo e remendado. Os garotos arregalaram os olhos. E todo o resto da escola tamb�m. Por um instante, fez-se sil�ncio. Em seguida um rasgo junto � aba se escancarou como uma boca, e o chap�u come�ou a cantar: H� mil anos ou pouco mais, Eu era rec�m-feito, Viviam quatro bruxos de fama, Cujos nomes todos ainda conhecem: O valente Gryffindor das charnecas, O bonito Ravenclaw das ravinas, O meigo Hufflepuff das plan�cies, O astuto Slytherin dos brejais. Compartiam um desejo, um sonho, Uma esperan�a, um plano ousado De juntos, educar jovens bruxos. Assim come�ou a Escola de Hogwarts. Cada um desses quatro fundadores Formou sua pr�pria casa, pois cada um Valorizava v�rias virtudes Nos jovens que pretendiam formar. Para Gryffindor os valentes eram Prezados acima de todo o resto; Para Ravenclaw os mais inteligentes Seriam sempre os superiores; Para Hufflepuff os aplicados eram Os merecedores de admiss�o; E Slytherin, mais sedento de poder, Amava aqueles de grande ambi��o. Enquanto vivos eles separaram Do conjunto os seus favoritos Mas como selecionar os melhores, Quando um dia tivessem partido? Foi Gryffindor que encontrou a solu��o Tirando-me da pr�pria cabe�a Depois me dotaram de c�rebro Para que por eles eu pudesse escolher! Coloque-me entre suas orelhas, At� hoje ainda n�o me enganei. Darei uma olhada em sua cabe�a E direi qual a casa do seu cora��o! Os aplausos ecoaram pelo Sal�o Principal quando o Chap�u Seletor terminou. � N�o foi essa a m�sica que ele cantou quando fomos selecionados � disse Harry, fazendo coro aos aplausos gerais. � Cada ano ele canta uma diferente � disse Rony. � Deve ser uma vida bem chata, n�o �, a de um chap�u? Vai ver ele passa o ano compondo a nova can��o. A Professora Minerva agora desenrolava um grande pergaminho. � Quando eu chamar seu nome, ponha o Chap�u e se sente no banquinho -explicou ela aos alunos do primeiro ano. � Quando o chap�u anunciar sua casa, v� se sentar � mesa correspondente. � Ackerley, Stuart! Um menino se adiantou, tremendo visivelmente da cabe�a aos p�s, apanhou o Chap�u, colocou-o e se sentou no banquinho. � Corvinal!� anunciou o chap�u. Stuart Ackerley tirou o chap�u e correu para uma cadeira � mesa de Corvinal, na qual todos o aplaudiam. Harry viu, de relance, Cho, a apanhadora do time da Corvinal, aplaudindo Stuart Ackerley quando o garoto se sentou. Por um segundo fugaz, Harry teve um estranho desejo de se reunir � mesa da Corvinal tamb�m. � Baddock, Malcolm! � Sonserina A mesa do outro lado do sal�o prorrompeu em vivas. Harry viu Malfoy aplaudindo quando Baddock se juntou aos alunos de Sonserina. Harry se perguntou se Baddock saberia que a casa de Sonserina formara um n�mero maior de bruxos das trevas do que qualquer outra. Fred e Jorge vaiaram Malcolm Baddock quando ele se sentou. � Branstone, Eleanora! � Lufa-Lufa! � Cauldwell, Owen! � Lufa-Lufa! � Creevey, D�nis! O miudinho D�nis Creevey adiantou-se com passos incertos, trope�ando no casaco de Hagrid, que nesta hora entrou discretamente no sal�o por uma porta atr�s da mesa dos professores. Umas duas vezes mais alto do que um homem normal e pelo menos tr�s vezes mais largo, Hagrid, com seus cabelos e barbas negros, longos, desgrenhados e embara�ados, parecia um tanto assustador � uma impress�o enganosa, porque Harry, Rony e Hermione sabiam que o amigo possu�a uma natureza muito bondosa. Ele deu uma piscadela para os tr�s garotos, ao se sentar � ponta da mesa dos professores e viu Denis Creevey experimentar o Chap�u Seletor. O rasgo junto � aba se escancarou... � Grifin�ria!� gritou o chap�u. Hagrid aplaudiu com os demais alunos da Casa, quando Denis Creevey, abrindo um sorriso de lado a lado do rosto, tirou o chap�u, recolocou-o no banquinho e correu para se juntar ao irm�o. � Colin, eu ca� na �gua! � disse ele com a voz aguda, atirando-se no assento de uma cadeira vazia. � Foi genial! E uma coisa na �gua me agarrou e me empurrou de volta pro barco! � Legal! � disse Colin, no mesmo tom excitado. � Provavelmente foi a lula gigante, D�nis! � Uau! � exclamou D�nis, como se ningu�m, nem no sonho mais delirante, pudesse esperar coisa melhor do que ser atirado em um lago revolto e profundo e ser empurrado de volta por um gigantesco monstro marinho. � D�nis! D�nis! Est� vendo aquele garoto l�? Aquele de cabelos pretos e �culos? Est� vendo ele? Sabe quem �, D�nis? Harry olhou para o outro lado, fixando toda a aten��o no Chap�u Seletor, que agora selecionava Ema Dobbs. A sele��o prosseguiu, garotos e garotas expressando no rosto variados graus de medo se adiantavam, um a um, at� o banquinho de tr�s pernas, e a fila foi diminuindo � medida que a Professora Minerva ultrapassava a letra "L". � Ah, anda logo � gemeu Rony, massageando o est�mago. � Ora, Rony, a sele��o � muito mais importante do que a comida � disse Nick Quase Sem Cabe�a, na hora em que "Madley, Laura!" tornava-se aluna da Lufa-Lufa. � Claro que �, se a pessoa j� est� morta � retrucou Rony. � Espero que os selecionados para a Grifin�ria este ano estejam � altura do time � disse o fantasma, aplaudindo, quando "McDonald, Nat�lia!" reuniu-se � mesa deles. � N�o queremos interromper a nossa mar� de vit�rias, n�o � mesmo? Grifin�ria tinha ganhado o Campeonato Inter-casas nos tr�s �ltimos anos. � Pritchard, Gr�o! � Sonserina! � Quirke, Orla! � Corvinal! E, finalmente, com "Whirby, Kevin!" (Lufa-Lufa.") encerrou-se a sele��o. A Professora Minerva apanhou o chap�u e o banquinho e levou-os embora. � J� n�o era sem tempo � exclamou Rony, apanhando os talheres e olhando esperan�oso para seu prato de ouro. O Professor Dumbledore se levantara. Sorria para os estudantes, os bra�os abertos num gesto de boas-vindas. � S� tenho duas palavras para lhes dizer � come�ou ele, sua voz grave ecoando pelo sal�o. � Bom apetite! � Apoiado! Apoiado! � disseram Harry e Rony em voz alta, enquanto as travessas vazias se enchiam magicamente diante dos seus olhos. Nick Quase Sem Cabe�a ficou observando tristemente Harry, Rony e Hermione encherem os pratos. � Aaah, agora sim! � disse Rony, com a boca cheia de pur� de batatas. � Voc�s t�m sorte de que haja uma festa esta noite, sabem � disse Nick Quase Sem Cabe�a. � Hoje cedo tivemos problemas na cozinha. � Por qu�? O que aconteceu? � perguntou Harry com a boca cheia de carne. � Pirra�a, � claro � disse Nick sacudindo a cabe�a, que se desequilibrou perigosamente. O fantasma puxou mais para cima um rufo da gola. � A hist�ria de sempre, sabem. Ele queria vir � festa, bom, isto est� fora de quest�o, voc�s sabem como ele �, absolutamente selvagem, n�o pode ver um prato de comida sem querer atir�-lo longe. Reunimos um conselho de fantasmas, frei Gorducho foi a favor de dar uma chance a Pirra�a, mas muito prudentemente, na minha opini�o, o bar�o Sangrento fez p� firme. O bar�o Sangrento era o fantasma da Sonserina, um espectro extremamente magro e silencioso, coberto de manchas de sangue prateado. Era a �nica pessoa de Hogwarts que conseguia realmente controlar Pirra�a. � E, achamos que Pirra�a estava invocado com alguma coisa � disse Rony sombriamente. � Ent�o, que foi que ele aprontou na cozinha? � Ah, o de sempre � respondeu Nick Quase Sem Cabe�a, sacudindo os ombros �, causou preju�zos e confus�o. Tachos e panelas por toda parte. Sopa para todo lado. Deixou os elfos dom�sticos loucos de terror... Bl�m. Hermione derrubara sua ta�a de vinho. O suco de ab�bora escorreu pela mesa, manchando de laranja mais de um metro de linho branco, mas nem se importou. � Tem elfos dom�sticos aqui? � perguntou, encarando Nick Quase Sem Cabe�a com uma express�o de horror. � Aqui em Hogwarts? � Claro que sim � disse o fantasma, parecendo surpreso com a rea��o da garota. � O maior n�mero que existe em uma habita��o na Gr�-Bretanha, acho. Mais de cem. � Eu nunca vi nenhum! � exclamou Hermione. � Bom, eles raramente deixam a cozinha durante o dia, n�o �? Saem � noite para fazer limpeza... Abastecer as lareiras e coisas assim... Quero dizer, n�o � esperado que fiquem � vista. Essa � a marca de um bom elfo dom�stico, n�o �, que n�o se saiba que ele existe. Hermione ficou olhando o fantasma. � Mas eles recebem sal�rio? � perguntou ela. � T�m f�rias, n�o t�m? Licen�a m�dica, aposentadoria e todo o resto? Nick Quase Sem Cabe�a deu gargalhadas t�o gostosas que sua gola de tufos escorregou, e a cabe�a despencou para o lado e ficou balan�ando nos poucos cent�metros de pele e m�sculo fantasmais que ainda a ligavam ao pesco�o. � Licen�a para tratamento m�dico e aposentadoria? � repetiu ele, puxando a cabe�a de volta aos ombros e prendendo-a mais uma vez com a gola. � Elfos dom�sticos n�o querem licen�as nem aposentadorias. Hermione olhou para o prato de comida em que mal tocara, juntou os talheres e afastou-o. � Ora, vamos, Mione � disse Rony, cuspindo, sem querer, fragmentos de pudim de carne em Harry. � Opa... Desculpe, Harry... � E engoliu. � Voc� n�o vai arranjar licen�as para eles deixando de comer! � Trabalho escravo � disse a garota, respirando com for�a pelo nariz. � Foi isso que preparou este jantar. Trabalho escravo. E recusou-se a continuar comendo. A chuva ainda batucava com for�a nas janelas altas e escuras. Mais uma trovoada sacudiu as vidra�as e o c�u tempestuoso relampejou, iluminando os pratos de ouro quando os restos do primeiro prato desapareceram e foram substitu�dos instantaneamente por sobremesas. � Torta de caramelo, Mione! � exclamou Rony, abanando intencionalmente o cheiro da sobremesa para os lados da amiga. � Pudim de groselhas, olha! Bolo de chocolate recheado! Mas Hermione lhe lan�ou um olhar t�o parecido com o que a Professora Minerva costumava dar que o garoto desistiu. Quando as sobremesas tamb�m tinham sido destru�das, e as �ltimas migalhas desaparecidas dos pratos, deixando-os limpos e brilhantes, Alvo Dumbledore tornou a se levantar. O burburinho das conversas que enchiam o sal�o cessou quase imediatamente, de modo que somente se ouviam o uivo do vento e o batuque da chuva. � Ent�o! � exclamou Dumbledore, sorrindo para todos. � Agora que j� comemos e molhamos tamb�m a garganta ("Hum!", fez Hermione), preciso mais uma vez pedir sua aten��o, para alguns avisos. O Sr. Filch, o zelador, me pediu para avis�-los de que a lista dos objetos proibidos no interior do castelo este ano cresceu, passando a incluir Ioi�s berrantes, Frisbees dentados e Bumerangues de repeti��o. A lista inteira tem uns quatrocentos e trinta e sete itens, creio eu, e pode ser examinada na sala do Sr. Filch, se algu�m quiser l�-la. Os cantos da boca de Dumbledore tremeram ligeiramente. Ele continuou: � Como sempre, eu gostaria de lembrar a todos que a floresta que faz parte da nossa propriedade � proibida a todos os alunos, e o povoado de Hogsmeade, �queles que ainda n�o chegaram � terceira s�rie. � Tenho ainda o doloroso dever de informar que este ano n�o realizaremos a Copa de Quadribol entre as casas. � Qu�? � exclamou Harry. Ele olhou para Fred e Jorge, seus companheiros no time de Quadribol. Xingaram Dumbledore em sil�ncio, aparentemente espantados demais para falar. Dumbledore continuou: � Isto se deve a um evento que come�ar� em outubro e ir� prosseguir durante todo o ano letivo, mobilizando muita energia e muito tempo dos professores, mas eu tenho certeza de que voc�s ir�o apreci�-lo imensamente. Tenho o grande prazer de anunciar que este ano em Hogwarts... Mas neste momento, ouviu-se uma trovoada ensurdecedora e as portas do Sal�o Principal se escancararam. Apareceu um homem parado � porta, apoiado em um longo cajado e coberto por uma capa de viagem preta. Todas as cabe�as no Sal�o Principal se viraram para o estranho, repentinamente iluminado por um rel�mpago que cortou o teto. Ele baixou o capuz, sacudiu uma longa juba de cabelos grisalhos ainda escuros e come�ou a caminhar em dire��o � mesa dos professores. Um ru�do met�lico e abafado ecoava pelo sal�o a cada passo que ele dava. Quando alcan�ou a ponta da mesa, virou � direita e mancou pesadamente at� Dumbledore. Mais um rel�mpago cruzou o teto. Hermione prendeu a respira��o. O rel�mpago revelou nitidamente as fei��es do homem e seu rosto era diferente de qualquer outro que Harry j� vira. Parecia ter sido talhado em madeira exposta ao tempo, por algu�m que tinha uma vagu�ssima id�ia do aspecto que um rosto humano deveria ter, e n�o fora muito habilidoso com o form�o. Cada cent�metro da pele do estranho parecia ter cicatrizes. A boca lembrava um rasgo diagonal e faltava um bom peda�o do nariz. Mas eram os seus olhos que o tornavam assustador. Um deles era mi�do, escuro e penetrante. O outro era grande, redondo como uma moeda e azul el�trico vivo, O olho azul se movia continuamente sem piscar, e revirava para cima, para baixo, e de um lado para o outro, independentemente do olho normal, depois virava de tr�s para diante, apontando para o interior da cabe�a do homem, de modo que s� o que as pessoas viam era o branco da c�rnea. O estranho chegou-se a Dumbledore. Estendeu a m�o direita, que era t�o cheia de cicatrizes quanto o rosto, e o diretor a apertou, murmurando palavras que Harry n�o p�de ouvir. Parecia estar fazendo perguntas ao estranho, que abanava negativamente a cabe�a, sem sorrir, e respondia em voz baixa. Dumbledore assentiu com a cabe�a e indicou ao homem o lugar vazio � sua direita. O estranho se sentou, sacudiu a juba grisalha para afast�-la do rosto, puxou um prato de salsichas para si, levou-o ao que restara do nariz e cheirou-o. Tirou ent�o uma faquinha do bolso, espetou a salsicha e come�ou a comer. Seu olho normal fixava as salsichas, mas o olho azul continuava a dar voltas na �rbita registrando o sal�o e os estudantes. � Gostaria de apresentar o nosso novo professor de Defesa contra as Artes das Trevas � disse Dumbledore, animado, em meio ao sil�ncio. � Professor Moody. Era normal os novos membros do corpo docente serem recebidos com aplausos, mas nem os colegas nem os estudantes bateram palmas, exceto Dumbledore e Hagrid. Os dois juntaram as m�os e bateram palmas, mas o som ecoou tristemente no sil�ncio e eles bem depressa pararam. Todos pareciam demasiado hipnotizados pela apar�ncia grotesca de Moody para ter qualquer rea��o exceto encarar o homem. � Moody? � murmurou Harry para Rony. � Olho-Tonto Moody? O que o seu pai foi ajudar hoje de manh�? � Deve ser � disse Rony baixo, em tom de assombro. � Que aconteceu com ele? � cochichou Hermione. � Que aconteceu com a cara dele? � N�o sei � cochichou Rony em resposta, mirando Moody, fascinado. Moody parecia totalmente indiferente � recep��o quase fria que tivera. Ignorando a jarra de suco de ab�bora � sua frente, o homem tornou a enfiar a m�o no interior da capa, puxou um frasco de bolso e bebeu um longo gole. Quando levantou o bra�o para beber, sua capa se elevou alguns cent�metros do ch�o e Harry viu, por baixo da mesa, um bom peda�o de uma perna de pau, que terminava em um p� com garras. Dumbledore pigarreou outra vez. � Como eu ia dizendo � recome�ou ele, sorrindo para o mar de alunos � sua frente, todos ainda mirando Olho-Tonto Moody, paralisados �, teremos a honra de sediar um evento muito excitante nos pr�ximos meses, um evento que n�o � realizado h� um s�culo. Tenho o enorme prazer de informar que, este ano, realizaremos um Torneio Tribruxo em Hogwarts. � O senhor est� BRINCANDO! � exclamou em voz alta Fred Weasley. A tens�o que invadira o sal�o desde a chegada de Moody repentinamente se desfez. Quase todos riram e Dumbledore deu risadinhas de prazer. � N�o estou brincando, Sr. Weasley � disse ele �, embora, agora que o senhor menciona, ouvi uma excelente piada durante o ver�o sobre um trasgo, uma bruxa m� e um Leprechaun que entram num bar... A Professora Minerva pigarreou alto. � Hum... Mas talvez n�o seja hora... N�o... Onde � mesmo que eu estava? Ah, sim, no Torneio Tribruxo... Bom, alguns de voc�s talvez n�o saibam o que � esse torneio, de modo que espero que aqueles que j� sabem me perdoem por dar uma breve explica��o, e deixem sua aten��o vagar livremente. � O Torneio Tribruxo foi criado h� uns setecentos anos, como uma competi��o amistosa entre as tr�s maiores escolas europ�ias de bruxaria -Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang. Um campe�o foi eleito para representar cada escola e os tr�s campe�es competiram em tr�s tarefas m�gicas. As escolas se revezaram para sediar o torneio a cada cinco anos, e todos concordaram que era uma excelente maneira de estabelecer la�os entre os jovens bruxos e bruxas de diferentes nacionalidades, at� que a taxa de mortalidade se tornou t�o alta que o torneio foi interrompido. � Taxa de mortalidade? � sussurrou Hermione, parecendo assustada. Mas, aparentemente, sua ansiedade n�o foi compartilhada pela maioria dos alunos no sal�o, muitos murmuravam entre si, excitados, e o pr�prio Harry estava bem mais interessado em saber mais sobre o torneio do que em se preocupar com o que acontecera centenas de anos atr�s. � Durante s�culos houve v�rias tentativas de reiniciar o torneio � continuou Dumbledore �, nenhuma das quais foi bem-sucedida. No entanto, os nossos Departamentos de Coopera��o Internacional em Magia e de Jogos e Esportes M�gicos decidiram que j� era hora de fazer uma nova tentativa. Trabalhamos muito durante o ver�o para garantir que, desta vez, nenhum campe�o seja exposto a um perigo mortal. � Os diretores de Beauxbatons e Durmstrang chegar�o com a lista final dos competidores de suas escolas em outubro e a sele��o dos tr�s campe�es ser� realizada no Dia das Bruxas. Um juiz imparcial decidir� que alunos ter�o m�rito para disputar a Ta�a Tribruxo, a gl�ria de sua escola e o pr�mio individual de mil gale�es. � Estou nessa! � sibilou Fred Weasley para os colegas de mesa, o rosto iluminado de entusiasmo ante a perspectiva de tal gl�ria e riqueza. Aparentemente ele n�o era o �nico que estava se vendo como campe�o de Hogwarts. Em cada mesa Harry viu gente olhando arrebatada para Dumbledore ou ent�o cochichando ardentemente com os vizinhos. Mas, ent�o, Dumbledore recome�ou a falar, e o sal�o se aquietou. � Ansiosos como eu sei que estar�o para ganhar a Ta�a para Hogwarts � disse ele �, os diretores das escolas participantes, bem como o Minist�rio da Magia, concordaram em impor este ano uma restri��o � idade dos contendores. Somente os alunos que forem maiores, isto �, tiverem mais de dezessete anos, ter�o permiss�o de apresentar seus nomes � sele��o. Isto � Dumbledore elevou ligeiramente a voz, pois v�rias pessoas haviam protestado indignadas ao ouvir suas palavras, e os g�meos Weasley, de repente, pareciam furiosos � � uma medida que julgamos necess�ria, pois as tarefas do torneio continuar�o a ser dif�ceis e perigosas, por mais precau��es que tomemos, e � muito pouco prov�vel que os alunos abaixo da sexta e s�tima s�ries sejam capazes de dar conta delas. Cuidarei pessoalmente para que nenhum aluno menor de idade engane o nosso juiz imparcial e seja escolhido campe�o de Hogwarts. � Seus olhos azul-claros cintilaram ao perpassar os rostos rebelados de Fred e Jorge. � Portanto pe�o que n�o percam tempo apresentando suas candidaturas se ainda n�o tiverem completado dezessete anos. � As delega��es de Beauxbatons e de Durmstrang chegar�o em outubro e permanecer�o conosco a maior parte deste ano letivo. Sei que estender�o as suas boas maneiras aos nossos visitantes estrangeiros enquanto estiverem conosco, e que dar�o o seu generoso apoio ao campe�o de Hogwarts quando ele for escolhido. E agora j� est� ficando tarde e sei como � importante estarem acordados e descansados para come�ar as aulas amanh� de manh�. Hora de dormir! Vamos andando! Dumbledore tornou a se sentar e virou-se para falar com Olho-Tonto Moody. Ouviu-se um estardalha�o de cadeiras batendo e se arrastando quando os alunos se levantaram para sair como um enxame em dire��o �s portas de entrada do Sal�o Principal. � N�o podem fazer isso com a gente! � reclamou Jorge Weasley, que n�o se reunira aos colegas que se dirigiam �s portas, mas continuara parado olhando de cara emburrada para Dumbledore. � Vamos fazer dezessete anos em abril, por que n�o podemos tentar? � N�o v�o me impedir de me inscrever � disse Fred, teimoso, tamb�m amarrando a cara para a mesa principal. � Os campe�es v�o fazer todo o tipo de coisa que normalmente nunca podemos fazer. E mil gale�es de pr�mio! � � � disse Rony, um olhar distante no rosto. � �, mil gale�es... � Vamos � disse Hermione �, vamos ser os �nicos a ficar aqui se voc� n�o se mexer. Harry, Rony, Hermione, Fred e Jorge sa�ram para o sagu�o de entrada, os g�meos discutindo as maneiras pelas quais Dumbledore poderia impedir os menores de dezessete anos de se inscreverem no torneio. � Quem � esse juiz imparcial que vai decidir quem s�o os campe�es? � perguntou Harry. � Sei l� � disse Fred � mas � ele a quem temos de enganar. Acho que umas gotas de Po��o para Envelhecer talvez resolvam, Jorge... � Mas Dumbledore sabe que voc�s s�o menores � ponderou Rony. � �, mas n�o � ele que decide quem � o campe�o, �? � perguntou Fred, astutamente. � Estou achando que quando esse juiz souber quem quer entrar, ele vai escolher o melhor de cada escola, sem se importar com a idade do campe�o. Dumbledore est� tentando impedir a gente de se inscrever. � Mas teve pessoas que morreram! � disse Hermione com a voz preocupada, enquanto passavam por uma porta escondida atr�s de uma tape�aria para subir outra escada ainda mais estreita. � � � disse Fred levianamente �, mas isso foi h� muitos anos, n�o �? Em todo o caso onde � que est� a gra�a se n�o houver um pouco de risco? Ei, Rony, e se descobrirmos como contornar Dumbledore? J� imaginou a gente se inscrevendo? � Que � que voc� acha? � perguntou Rony a Harry. � Seria legal, n�o seria? Mas suponha que eles queiram algu�m mais velho?... N�o sei se j� aprendemos o suficiente... � Eu decididamente n�o aprendi � ouviu-se a voz tristonha de Neville �s costas de Fred e Jorge. � Mas imagino que a minha av� vai querer que eu experimente, ela est� sempre falando que eu devia lutar pela honra da fam�lia. Eu terei que... Opa... O p� de Neville afundara direto por um degrau no meio da escada. Havia muitos desses degraus bichados em Hogwarts, j� era uma segunda natureza na maioria dos alunos antigos saltar esse determinado degrau, mas a mem�ria de Neville era notoriamente fraca. Harry e Rony o agarraram pelas axilas e o puxaram para cima, enquanto uma armadura no alto das escadas rangia e retinia, rindo-se asmaticamente. � Quieta a� � disse Rony, baixando o visor da armadura com estr�pito, ao passarem. Os garotos se dirigiram � entrada da Torre da Grifin�ria, que ficava escondida atr�s de uma grande pintura a �leo de uma mulher gorda com um vestido de seda rosa. � Senha? � perguntou ela quando os garotos se aproximaram. � Asnice � disse Jorge �, um monitor me informou l� embaixo. O retrato girou para frente, expondo um buraco na parede, pelo qual todos passaram. Um fogo crepitante aquecia a sala comunal circular, mobiliada com fofas poltronas e mesas. Hermione lan�ou �s chamas dan�antes um olhar mal-humorado e Harry a ouviu dizer distintamente "trabalho escravo!", antes de dar boa-noite aos amigos e desaparecer pelo portal que dava acesso ao dormit�rio das meninas. Harry, Rony e Neville subiram a �ltima escada em espiral para chegar ao pr�prio dormit�rio, que ficava situado no alto da Torre. As camas de colunas com cortinados vermelho escuro estavam encostadas �s paredes, cada uma com o mal�o do dono aos p�s. Dino e Simas j� estavam se deitando, Simas pregara sua roseta da Irlanda na cabeceira da cama e Dino afixara um p�ster de V�tor Krum em cima da mesa-de-cabeceira. Seu velho p�ster do time de futebol de West Ham estava pendurado ao lado do novo. � Biruta � suspirou Rony, sacudindo a cabe�a para os jogadores de futebol completamente im�veis. Harry, Rony e Neville vestiram os pijamas e se enfiaram em suas camas. Algu�m � um elfo dom�stico, com certeza � colocara esquentadores entre os len��is. Era extremamente confort�vel, ficar ali deitado na cama escutando a tempestade rugir l� fora. � Eu tentaria, sabe � disse Rony, sonolento, no escuro � se Fred e Jorge descobrirem como... O torneio... Nunca se sabe, n�o �? � Imagino que n�o... � Harry se virou na cama, uma s�rie de imagens novas e fascinantes se formando em sua cabe�a... Ele enganara o juiz imparcial fazendo-o acreditar que tinha dezessete anos... Tornara-se campe�o de Hogwarts... Estava em p� nos jardins, os bra�os erguidos em triunfo diante de toda a escola, que o aplaudia e gritava... Ele acabara de ganhar o Torneio Tribruxo... O rosto de Cho se destacava claramente na multid�o difusa, o rosto radioso de admira��o... Harry sorriu para o travesseiro, excepcionalmente contente de que Rony n�o pudesse ver o que ele via. CAP�TULO TREZE Olho-Tonto Moody O temporal j� se esgotara quando o dia seguinte amanheceu, embora o teto no Sal�o Principal continuasse amea�ador; pesadas nuvens cinza-chumbo se espiralavam no alto quando Harry, Rony e Hermione examinaram seus novos hor�rios ao caf� da manh�. A poucas cadeiras de dist�ncia, Fred, Jorge e Lino Jordan discutiam m�todos m�gicos de se tornarem velhos e, com esse truque, participar do Torneio Tribruxo. � Hoje n�o � ruim... L� fora a manh� inteira � disse Rony, que corria o dedo pela coluna intitulada segunda-feira no seu hor�rio �, Herbologia com a Lufa-Lufa e Trato das Criaturas M�gicas... Droga, continuamos com a Sonserina... � Dois tempos de Adivinha��o hoje � tarde � gemeu Harry, baixando os olhos. Adivinha��o era a mat�ria de que ele menos gostava, depois de Po��es. A Professora Sibila Trelawney n�o parava de predizer a morte de Harry, coisa que ele achava muit�ssimo aborrecida. � Voc� devia ter desistido como eu fiz, n�o �? � disse Hermione decidida, passando manteiga na torrada. � Ent�o poderia fazer alguma coisa sensata como Aritmancia. � Voc� voltou a comer, pelo que estou vendo � comentou Rony, observando Hermione acrescentar generosas quantidades de gel�ia � torrada amanteigada. � J� resolvi que h� maneiras melhores de marcar posi��o no caso dos direitos dos elfos � disse Hermione com altivez. � E... E pelo visto est� com fome � disse Rony, sorrindo. Houve um repentino rumorejo acima deles e cem corujas entraram pelas janelas abertas, trazendo o correio da manh�. Instintivamente, Harry olhou para o alto, mas n�o viu nada branco na mancha compacta de castanhos e cinza. As corujas circularam sobre as mesas, procurando as pessoas a quem as cartas e pacotes eram endere�ados. Uma corujona �mbar desceu at� Neville Longbottom e depositou um embrulho em seu colo, o garoto quase sempre se esquecia de guardar na mala alguma coisa. Do outro lado do sal�o, a coruja de Draco Malfoy pousara no ombro dele trazendo sua habitual remessa de doces e bolos de casa. Tentando ignorar a profunda sensa��o de desapontamento no meio do est�mago, Harry voltou sua aten��o para o mingau de aveia. Ser� que alguma coisa tinha acontecido a Edwiges e que Sirius sequer recebera sua carta? Sua preocupa��o se prolongou por todo o caminho pela horta enlameada at� chegarem � estufa n�mero tr�s, mas ali ele se distraiu com a Professora Sprout que mostrava � turma as plantas mais feias que Harry j� vira. De fato, elas se pareciam mais com enormes lesmas gordas e pretas que brotavam verticalmente do solo do que com plantas. Cada uma delas se contorcia ligeiramente e tinha v�rios incha�os brilhantes no corpo que pareciam cheios de l�quido. � Bubot�beras � disse a Professora Sprout brevemente. � Precisam ser espremidas. Recolhe-se o pus... � O qu�? � exclamou Simas Finnigan, expressando sua repugn�ncia. � Pus, Finnigan � respondeu a professora �, e � extremamente precioso, por isso n�o o desperdice. Recolhe-se o pus, como eu ia dizendo, nessas garrafas. Usem as luvas de couro de drag�o, podem acontecer rea��es engra�adas na pele quando o pus das bubot�beras n�o est� dilu�do. Espremer as bubot�beras era nojento, mas dava um estranho prazer. � medida que estouravam cada tumor, sa�a dele uma grande quantidade de l�quido verde-amarelado, que cheirava fortemente a gasolina. Os alunos o recolheram em garrafas, conforme a professora orientara e, no fim da aula, haviam obtido v�rios litros. � Isto vai deixar Madame Pomfrey feliz � disse a Professora Sprout arrolhando a �ltima garrafa. � Um rem�dio excelente para as formas mais renitentes de acne. Pode fazer os alunos pararem de recorrer a medidas desesperadas para se livrarem das espinhas. � Como a coitada da Heloisa Midgen � disse Ana Abbott, aluna da Lufa-Lufa, em voz baixa. � Ela tentou acabar com as dela lan�ando um feiti�o. � Que menina tola! � disse a professora, balan�ando a cabe�a. � Mas, no fim, Madame Pomfrey fez o nariz dela voltar � forma anterior. Uma sineta ressonante sinalizou o fim da aula e a turma se separou; os da Lufa-Lufa subiram a escada de pedra rumo � aula de Transforma��o e os da Grifin�ria tomaram outro rumo, descendo o jardim em dire��o � pequena cabana de madeira de Hagrid, que ficava na orla da Floresta Proibida. Hagrid estava parado � frente da cabana, uma das m�os na coleira do seu enorme c�o de ca�ar javalis, Canino. Havia v�rios caixotes abertos no ch�o a seus p�s, e Canino choramingava e retesava a coleira, aparentemente tentando investigar o conte�do dos caixotes mais de perto. Quando os garotos se aproximaram, um estranho som de chocalho chegou aos seus ouvidos pontuado, aparentemente, por pequenas explos�es. � Bom Dia! � cumprimentou Hagrid, sorrindo para Harry, Rony e Hermione. �Melhor esperar pelos alunos da Sonserina, eles n�o v�o querer perder isso... Explosivins! � Como �? � perguntou Rony. Hagrid apontou para os caixotes. � Arrrrrre! � exclamou Lil� Brown num gritinho agudo, saltando para tr�s. "Arrrrrre" resumia o que eram os explos�v�ns, na opini�o de Harry. Pareciam lagostas sem casca, deformadas, terrivelmente p�lidas e de aspecto pegajoso, as pernas saindo dos lugares mais estranhos e sem cabe�a vis�vel. Havia uns cem deles em cada caixote, cada um com uns quinze cent�metros de comprimento, rastejando uns sobre os outros, batendo �s cegas contra as paredes das caixas. Desprendiam um cheiro forte de peixe podre. De vez em quando, soltavam fa�scas da cauda e, com um leve pum, se deslocavam alguns cent�metros � frente. � Acabaram de sair da casca � informou Hagrid orgulhoso �, por isso voc�s v�o poder criar os bichinhos pessoalmente! Achei que pod�amos fazer uma pesquisa sobre eles! � E por que n�s �amos querer criar esses bichos? � perguntou uma voz fria. Os alunos da Sonserina haviam chegado. Quem falava era Draco Malfoy. Crabbe e Goyle davam risadinhas de prazer ao ouvir suas palavras. Hagrid pareceu embatucar com a pergunta. � Quero dizer, o que � que eles fazem? � perguntou Malfoy. � Para que servem? Hagrid abriu a boca, aparentemente fazendo um esfor�o para responder, houve uma pausa de alguns segundos, depois ele disse com aspereza: � Isto � na pr�xima aula, Malfoy. Hoje voc� s� vai alimentar os bichos. Agora vamos ter que experimentar diferentes alimentos... Nunca os criei antes, n�o tenho certeza do que gostariam... Tenho ovos de formiga, f�gados de sapo e um peda�o de cobra, experimentem um pedacinho de cada. � Primeiro pus e agora isso � resmungou Simas. Nada, exceto a profunda afei��o que tinham por Hagrid, poderia ter feito Harry, Rony e Hermione apanhar m�os cheias de f�gados de sapo melados e baix�-las aos caixotes para tentar os explosivins. Harry n�o conseguiu refrear a suspeita de que aquilo tudo n�o tinha finalidade alguma, porque os bichos n�o pareciam ter bocas. � Ai!� gritou Dino Thomas, passados uns dez minutos. � Ele me pegou! Hagrid correu para o garoto, com uma express�o ansiosa no rosto. � A cauda dele explodiu! � disse Dino zangado, mostrando a Hagrid uma queimadura na m�o. � Ah, �, isso pode acontecer quando eles disparam � disse Hagrid, confirmando o que dizia com a cabe�a. � Arre! � exclamou Lil� Brown outra vez. � Arre, Hagrid, que � essa coisinha pontuda neles? � Ah, alguns t�m espinhos � disse Hagrid entusiasmado (Lil� retirou depressa a m�o da caixa). � Acho que s�o os machos... As f�meas t�m uma esp�cie de sugador na barriga... Acho que talvez seja para sugar sangue. � Bom, sem a menor d�vida eu entendo por que estamos tentando manter esses bichos vivos � disse Malfoy sarcasticamente. � Quem n�o iria querer animalzinhos de estima��o que podem queimar, picar e morder, tudo ao mesmo tempo? � S� porque eles n�o s�o muito bonitos, n�o significa que n�o sejam �teis �retorquiu Hermione. � Sangue de drag�o � uma coisa assombrosamente m�gica, mas voc� n�o iria querer um drag�o como bicho de estima��o, n�o � mesmo? Harry e Rony sorriram para Hagrid, que retribuiu com um sorriso furtivo por tr�s da barba espessa. Nada o teria agradado mais do que um filhote de drag�o, como Harry, Rony e Hermione sabiam mais do que bem � ele criara um, por um breve per�odo, durante o primeiro ano deles na escola, um agressivo drag�o noruegu�s que recebera o nome de Norberto. Hagrid simplesmente amava monstros � quanto mais letal, melhor. � Bom, pelo menos os explosivins s�o pequenos � disse Rony, quando voltavam uma hora depois ao castelo para almo�ar. � S�o agora � disse Hermione, com uma voz exasperada �, mas depois que o Hagrid descobrir o que eles comem, imagino que v�o atingir um metro e meio de comprimento. � Bom, isso n�o vai fazer diferen�a se descobrirem que eles curam enj�o ou outra coisa qualquer, n�o �? � disse Rony, sorrindo sonsamente para a amiga. � Voc� sabe perfeitamente bem que eu s� disse aquilo para calar a boca de Malfoy � retrucou Hermione. � Ali�s acho que ele tem raz�o. O melhor que pod�amos fazer era acabar com os bichos antes que eles comecem a nos atacar. Os garotos se sentaram � mesa da Grifin�ria e se serviram de costeletas de cordeiro com batatas. Hermione come�ou a comer t�o r�pido que Harry e Rony ficaram olhando para ela. � Hum, essa � a sua nova posi��o em favor dos direitos dos elfos? � perguntou Rony. � Em vez de n�o comer, comer depressa para vomitar? � N�o � respondeu Hermione com toda a dignidade que conseguiu reunir tendo a boca cheia de couves-de-bruxelas. � S� quero chegar � biblioteca. � Qu�?� exclamou Rony incr�dulo. � Mione, � o primeiro dia de aulas! Ainda nem passaram dever de casa pra gente! Hermione sacudiu os ombros e continuou a devorar a comida como se n�o comesse h� dias. Em seguida se levantou e disse: � Vejo voc�s no jantar! � e saiu apressadissima. Quando a sineta tocou para anunciar o inicio das aulas da tarde, Harry e Rony se dirigiram � Torre Norte, onde, no alto de uma estreita escada em caracol, uma escada de m�o prateada levava a um al�ap�o no teto e � sala em que morava a Professora Sibila Trelawney. O j� conhecido perfume doce que sa�a da lareira veio ao encontro das narinas dos garotos quando eles chegaram ao topo da escada. Como sempre, as cortinas estavam fechadas; e a sala circular, banhada por uma fraca luz avermelhada projetada por v�rias l�mpadas cobertas por len�os e xales. Harry e Rony caminharam entre as cadeiras e pufes forrados de chintz, j� ocupados, e se sentaram a mesma mesinha redonda. � Bom-dia! � disse a et�rea voz da professora �s costas de Harry, causando-lhe um sobressalto. Uma mulher magra com enormes �culos que faziam seus olhos parecerem demasiado grandes para o rosto, a professora mirava Harry com a express�o tr�gica que fazia sempre que o via. Os numerosos colares e pulseiras habituais faiscavam em seu corpo �s chamas da lareira. � Voc� est� preocupado, meu querido � disse ela tristemente a Harry. � Minha Vis�o Interior transp�e o seu rosto corajoso e chega dentro de sua alma perturbada. E lamento dizer que suas preocupa��es t�m fundamento. Vejo tempos dif�ceis em seu futuro, ai de voc�... Dific�limos... Receio que a coisa que voc� teme realmente venha a acontecer... E talvez mais cedo do que pensa... Sua voz foi baixando at� virar quase um sussurro. Rony revirou os olhos para Harry, que lhe retribuiu com um olhar impass�vel. A Professora Sibila deixou os garotos, com um movimento ondulante, e se sentou na grande bergere diante da lareira, de frente para a turma. Lil� Brown e Parvati Patil, que a admiravam profundamente, estavam sentadas em pufes muito pr�ximos � professora. � Meus queridos, est� na hora de estudarmos as estrelas � disse ela. � Os movimentos dos planetas e os misteriosos portentos que eles revelam somente �queles que compreendem os passos da coreografia celestial. O destino humano pode ser decifrado pelos raios planet�rios que se fundem... Mas os pensamentos de Harry tinham se afastado. As chamas perfumadas sempre o deixavam sonolento e embotado, e os discursos desconexos da professora sobre adivinha��o nunca conseguiam mant�-lo exatamente fascinado � embora n�o pudesse deixar de refletir sobre o que ela acabara de dizer: "Receio que a coisa que voc� teme realmente venha a acontecer...� Mas Hermione tinha raz�o, pensou Harry irritado, Sibila era realmente uma velha charlat�. Ele n�o estava com medo de absolutamente nada naquele momento... Bom, a n�o ser talvez o medo de que Sirius tivesse sido apanhado... Mas o que sabia a professora? Harry j� chegara � conclus�o, havia muito tempo, de que a adivinha��o dela n�o passava de palpites ocasionalmente certos e um jeito misterioso de apresent�-los. Exceto, naturalmente, aquela vez no fim do �ltimo trimestre, quando predissera o retorno de Voldemort ao poder... E o pr�prio Dumbledore era de opini�o que o transe de Sibila fora genu�no, quando Harry lhe contara... � Harry! � murmurou Rony. � Qu�? Harry olhou para os lados, a turma inteira o observava. Ele se sentou direito, estivera quase cochilando, perdido em meio ao calor e aos seus pensamentos. � Eu estava dizendo, meu querido, que voc� sem d�vida nasceu sob a influ�ncia nefasta de Saturno � disse a Professora Sibila, com um leve qu� de m�goa na voz pelo fato de que o garoto obviamente n�o estivera pendurado em suas palavras. � Nasci sob o qu�... Perd�o? � disse Harry. � Saturno, querido, o planeta Saturno! � disse a professora, parecendo irritada que ele n�o tivesse prestado aten��o � informa��o. � Eu estava dizendo que Saturno com certeza estava numa posi��o dominante no c�u na hora em que voc� nasceu... Seus cabelos escuros... Sua baixa estatura... Suas perdas tr�gicas na inf�ncia... Acho que estou certa ao afirmar, meu querido, que voc� nasceu em pleno inverno? � N�o � respondeu Harry. � Nasci no ver�o. Rony se apressou em transformar uma risada em um forte acesso de tosse. Meia hora depois, cada um dos alunos recebeu um mapa circular e tentou desenhar a posi��o dos planetas na hora do seu nascimento. Era um trabalho enjoado, que exigia muitas consultas a tabelas hor�rias e c�lculos de �ngulos. � Eu tenho dois Netunos aqui � disse Harry, depois de algum tempo, olhando insatisfeito o seu pergaminho �, isso n�o pode estar certo, pode? � Aaaaah � exclamou Rony, imitando o sussurro m�stico da professora -quando dois Netunos aparecem no c�u � um sinal seguro de que um an�o de �culos est� nascendo, Harry... Simas e Dino, que estavam sentados pr�ximos, riram alto, embora n�o t�o alto a ponto de abafar os gritinhos excitados de Lil� Brown: � Ah, Professora Sibila, olhe! Acho que tenho um planeta oculto! Aaaah, qual � esse, professora? � � Urano, minha querida � disse a professora examinando o mapa. � Posso dar uma olhada no seu Urano, tamb�m, Lil�? � perguntou Rony. Por infelicidade, a professora o ouviu e talvez tenha sido por isso que no fim da aula passou para a turma tanto dever de casa. � Quero uma an�lise detalhada do modo com que os movimentos dos planetas v�o afet�-los no pr�ximo m�s, tendo em vista o seu mapa pessoal � disse ela secamente, parecendo mais a Professora Minerva do que a fada et�rea de sempre. � Para entrega na pr�xima segunda-feira, e n�o aceito desculpas! � Diabo de morcega velha � exclamou Rony com amargura, quando eles se reuniram aos alunos que desciam as escadas para jantar no Sal�o Principal. � Isso vai nos tomar todo o fim de semana, ah vai... � Muito dever de casa? � indagou Hermione animada, alcan�ando-os. � A Professora Vector n�o passou nada para n�s. � Palmas para a Professora Vector � retrucou Rony mal-humorado. Os tr�s chegaram ao sagu�o de entrada, que estava lotado de gente fazendo fila para o jantar. Tinham acabado de entrar no fim da fila, quando uma voz alta soou �s costas deles. � Weasley! Ei, Weasley! Harry, Rony e Hermione se viraram. Malfoy, Crabbe e Goyle estavam parados ali, cada qual parecendo mais satisfeito. � Que �? � perguntou Rony rispidamente. � Seu pai est� no jornal, Weasley! � disse Malfoy brandindo um exemplar do Profeta Di�rio, e isso bem alto para que todas as pessoas aglomeradas no sagu�o pudessem ouvir. � Escuta s� isso! NOVOS ERROS NO MINIST�RIO DA MAGIA Pelo visto os problemas no Minist�rio da Magia ainda n�o chegaram ao fim, informa nossa correspondente especial Rita Skeeter. Recentemente censurado por sua incapacidade de controlar multid�es durante a Copa Mundial de Quadribol, e ainda devendo � opini�o p�blica uma explica��o para o desaparecimento de uma de suas bruxas, ontem o Minist�rio enfrentou novo constrangimento com as extravag�ncias de Arnold Weasley, da Se��o de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas. Malfoy ergueu os olhos. � Imagina, nem escreveram direito o nome dele, Weasley, � quase como se ele n�o existisse, n�o �? Todos no sagu�o agora prestavam aten��o. Malfoy esticou o jornal com um gesto largo e continuou a ler: Arnold Weasley acusado de possuir um carro voador h� dois anos, envolveu-se ontem numa briga com guardi�es trouxas da lei (policiais) por causa de latas de lixo extremamente agressivas. O Sr. Weasley parece ter ido socorrer "Olho-Tonto" Moody, um ex-auror idoso, que se aposentou do Minist�rio ao se tornar incapaz de distinguir um aperto de m�o de uma tentativa de homic�dio. Ao chegar � casa do ex-auror, fortemente guardada por um funcion�rio verificou, sem surpresa, que, mais uma vez, o Sr. Moody dera um alarme falso. Em conseq��ncia, o Sr. Weasley foi obrigado a alterar muitas mem�rias para poder escapar dos policiais, mas se recusou a responder �s perguntas do Profeta Di�rio sobre as raz�es que o levaram a envolver o Minist�rio nesse epis�dio pouco digno e potencialmente embara�oso. � E tem uma foto, Weasley! � acrescentou Malfoy, virando o jornal e mostrando-a. � Uma foto de seus pais � porta de casa, se � que se pode chamar isso de casa! Sua m�e bem que podia perder uns quilinhos, n�o acha? Rony tremia de f�ria. Todos o encaravam. � Se manda, Malfoy � disse Harry. � Vamos Rony... � Ah, voc� esteve visitando a fam�lia no ver�o, n�o foi, Potter? � ca�oou Malfoy. � Ent�o me conta, a m�e dele parece uma barrica ou � efeito da foto? � Voc� j� olhou bem para sua m�e, Malfoy? � respondeu Harry, ele e Hermione seguravam Rony pelas costas das vestes para impedi-lo de partir para cima do outro. � Aquela express�o na cara dela, de quem tem bosta debaixo do nariz? Ela sempre teve aquela cara ou foi s� porque voc� estava perto dela? O rosto p�lido de Malfoy corou levemente. � N�o se atreva a ofender minha m�e, Potter. � Ent�o v� se cala essa boca � disse Harry dando as costas ao colega. BANGUE! V�rias pessoas gritaram � Harry sentiu uma coisa branca e quente arranhar o lado do rosto � mergulhou a m�o nas vestes para apanhar a varinha, mas antes que chegasse sequer a toc�-la, ouviu um segundo estampido e um berro que ecoou pelo sagu�o de entrada. � AH, N�O VAI N�O, GAROTO! Harry se virou. O Professor Moody descia mancando a escadaria de m�rmore. Tinha a varinha na m�o e apontava diretamente para uma doninha muito alva, que tremia no piso de lajotas, exatamente no lugar em que Malfoy estivera. Fez-se um sil�ncio aterrorizado no sagu�o. Ningu�m exceto Moody mexia um s� m�sculo. Ele se virou para olhar Harry � pelo menos, o olho normal estava olhando para Harry; o outro estava apontando para dentro da cabe�a. � Ele o mordeu? � rosnou o professor. Sua voz era baixa e �spera. � N�o � respondeu Harry �, por pouco. � DEIXE-O! � berrou Moody. � Deixe... O qu�? � perguntou Harry espantado. � N�o voc�, ele! � vociferou Moody, apontando o polegar por cima do ombro para Crabbe, que acabara de congelar em meio a um gesto para recolher a doninha branca. Parecia que o olho girat�rio de Moody era m�gico e enxergava atrav�s da nuca do professor. Moody come�ou a mancar em dire��o a Crabbe, Goyle e a doninha, que soltou um guincho aterrorizado e fugiu em dire��o �s masmorras. � Acho que n�o! � rugiu Moody, tornando a apontar a varinha para a doninha, ela subiu uns tr�s metros no ar, caiu com um baque �mido no ch�o e quicou de novo para cima. � N�o gosto de gente que ataca um advers�rio pelas costas � rosnou Moody, enquanto a doninha quicava cada vez mais alto, guinchando de dor. � Um ato nojento, covarde, reles... A doninha voava pelo ar, as pernas e a cauda sacudiam descontroladas. � Nunca... Mais... Torne... A... Fazer... Isso � continuou o professor, destacando cada palavra para a doninha que batia no piso de pedra e tornava a subir. � Professor Moody! � chamou uma voz chocada. A Professora Minerva vinha descendo a escadaria com os bra�os carregados de livros. � Ol�, Professora McGonagall � cumprimentou Moody calmamente, fazendo a doninha quicar ainda mais alto. � Que... Que � que o senhor est� fazendo? � perguntou a professora seguindo com o olhar a subida da doninha no ar. � Ensinando � respondeu ele. � Ensinan... Moody, isso � um aluno? � gritou a professora, os livros despencando dos seus bra�os. � �. � N�o! � exclamou ela, descendo a escada correndo e puxando a pr�pria varinha, um momento depois, com um estampido, Draco Malfoy reapareceu, ca�do embolado no ch�o, os cabelos lisos e louros sobre o rosto agora muito vermelho. Ele se levantou, fazendo uma careta. � Moody, nunca usamos transforma��o em castigos! � disse a professora com a voz fraca. � Certamente o Professor Dumbledore deve ter lhe dito isso? � �, talvez ele tenha mencionado � respondeu Moody, co�ando o queixo displicentemente �, mas achei que um bom choque... � Damos deten��es, Moody! Ou falamos com o diretor da casa do faltoso! � Vou fazer isso, ent�o � disse Moody, encarando Malfoy com intenso desagrado. O garoto, cujos olhos claros ainda lacrimejavam de dor e humilha��o, ergueu o rosto maldosamente para Moody e murmurou alguma coisa em que se distinguiam as palavras "meu pai� � Ah, �? � disse Moody em voz baixa, aproximando-se alguns passos, a pancada surda de sua perna de pau ecoando pelo sagu�o. � Bom, conhe�o seu pai de outras eras, moleque... Diga a ele que Moody est� de olho no filho dele... Diga-lhe isso por mim... Agora imagino que o diretor de sua casa seja o Snape, n�o? � � � respondeu Malfoy cheio de rancor. � Outro velho amigo � rosnou Moody. � Estou querendo mesmo conversar com o velho Snape... Vamos, seu... � E segurando o garoto pelo antebra�o saiu com ele em dire��o �s masmorras. A Professora Minerva acompanhou-os com um olhar ansioso por alguns momentos, depois apontou a varinha para os livros fazendo-os subir no ar e voltar aos seus bra�os. � N�o falem comigo � disse Rony em voz baixa para Harry e Hermione, quando se sentaram � mesa da Grifin�ria alguns minutos mais tarde, cercados por alunos excitados por todos os lados que comentavam o que acabara de acontecer. � Por que n�o? � perguntou Hermione surpresa. � Porque quero gravar isso na mem�ria para sempre � disse Rony, com os olhos fechados e uma express�o de enlevo no rosto. � Draco Malfoy, a fant�stica doninha quicante... Harry e Hermione riram, e a garota come�ou a servir bife de ca�arola no prato dos dois. � Ele poderia ter realmente machucado Malfoy � comentou ela. � Foi bom a Professora Minerva ter feito ele parar... � Mione! � exclamou Rony furioso, os olhos se abrindo repentinamente. � Voc� est� estragando o melhor momento da minha vida! Hermione soltou uma exclama��o de impaci�ncia e come�ou a comer outra vez em alta velocidade. � N�o me diga que vai voltar � biblioteca hoje � noite? � perguntou Harry, observando-a. � Preciso � respondeu Mione indistintamente. � Muito que fazer. � Mas voc� nos disse que a Professora Vector... � N�o � dever de escola. � Em cinco minutos ela limpara o prato e fora embora. Nem bem a garota tinha sa�do e sua cadeira foi ocupada por Fred Weasley. � Moody! � disse ele. � Ele � legal? � Pra l� de legal � disse Jorge, sentando-se defronte a Fred. � Superlegal � disse o melhor amigo dos g�meos, Lino Jordan, escorregando para o lugar ao lado de Jorge. � Tivemos ele hoje � tarde � disse Lino a Harry e Rony. � Como foi a aula? � perguntou Harry ansioso. Fred, Jorge e Lino trocaram olhares cheios de significa��o. � Nunca tive uma aula igual � disse Fred. � Ele sabe das coisas, cara � disse Lino. � Do qu�? � perguntou Rony, curvando-se para frente. � Sabe o que � estar l� fora fazendo as coisas � disse Jorge cheio de import�ncia. � Que coisas? � perguntou Harry. � Combatendo as Artes das Trevas � disse Fred. � Ele j� viu de tudo � disse Jorge. � Fant�stico � exclamou Lino. Rony enfiara a cabe�a na mochila � procura do seu hor�rio. � N�o vamos ter aula com ele at� quinta-feira! � disse desapontado. CAP�TULO CATORZE As Maldi��es Imperdo�veis Os dois dias seguintes transcorreram sem grandes incidentes, a n�o ser que se levasse em conta o sexto caldeir�o derretido por Neville na aula de Po��es. O Professor Snape, que, durante as f�rias, parecia ter alcan�ado novos n�veis em sua gana de se vingar do garoto, deu-lhe uma deten��o, da qual Neville voltou com um colapso nervoso, pois teve que destripar uma barrica de iguanas. � Voc� sabe por que Snape est� nesse mau humor t�o grande, n�o sabe? -perguntou Rony a Harry, enquanto observavam Hermione ensinar a Neville um Feiti�o de Limpeza para remover as tripas de iguanas presas sob suas unhas. � Hum-hum � disse Harry. � Moody. Era do conhecimento de todos que Snape queria realmente o lugar de professor de Artes das Trevas, e acabara de perd�-lo pelo quarto ano seguido. Snape detestara todos os professores anteriores dessa mat�ria e demonstrara isso � mas parecia ter extrema cautela para esconder sua animosidade contra Olho-Tonto Moody. De fato, sempre que Harry via os dois professores juntos � na hora das refei��es ou quando passavam pelos corredores � tinha a n�tida impress�o de que Snape evitava os olhos de Moody, fosse o m�gico fosse o normal. � Acho que Snape tem medo dele, sabe � disse Harry pensativo. � Imagine se Moody transformasse Snape em iguana � disse Rony, seus olhos se toldando � e fizesse ele ficar saltando pela masmorra... Os alunos da quarta s�rie da Grifin�ria estavam t�o ansiosos para ter a primeira aula com Moody que, na quinta-feira, chegaram logo depois do almo�o e fizeram fila � porta da sala, antes mesmo da sineta tocar. A �nica pessoa ausente foi Hermione, que chegou no �ltimo instante para a aula. � Estava na... � ... Biblioteca � Harry terminou a frase da amiga. Anda logo sen�o n�o vamos arranjar lugares decentes. Eles correram para pegar tr�s cadeiras bem diante da escrivaninha do professor, apanharam seus exemplares de As For�as das Trevas: Um Guia Para Sua Prote��o, e esperaram anormalmente quietos. N�o tardaram a ouvir os passos sincopados de Moody que vinha pelo corredor e que, ao entrar na sala, parecia mais estranho e amedrontador que nunca. Seu p� de madeira em garra aparecia ligeiramente por baixo das vestes. � Podem guardar isso � rosnou ele, apoiando-se na escrivaninha para se sentar �, esses livros. N�o v�o precisar deles. Os alunos tornaram a guardar os livros nas mochilas, Rony tinha um ar excitado. Moody apanhou a folha de chamada, sacudiu sua longa juba de cabelos grisalhos para afast�-los do rosto contorcido e marcado, e come�ou a chamar os nomes, seu olho normal percorrendo a lista e o olho m�gico girando, fixando-se em cada aluno quando ele respondia. � Certo, ent�o � concluiu ele, quando a �ltima pessoa confirmara presen�a. � Tenho uma carta do Professor Lupin sobre esta turma. Parece que voc�s receberam um bom embasamento para enfrentar criaturas das trevas, estudaram bichos-pap�es, barretes vermelhos, hinkypunks, grindylows, kappas e lobisomens, correto? Houve um murm�rio geral de concord�ncia. � Mas est�o atrasados, muito atrasados, em maldi��es � disse Moody. -Ent�o, estou aqui para p�r voc�s em dia com o que os bruxos podem fazer uns aos outros. Tenho um ano para lhes ensinar a lidar com as for�as das... � Qu�, o senhor n�o vai ficar? � deixou escapar Rony. O olho m�gico de Moody girou para se fixar em Rony, o garoto ficou extremamente apreensivo, mas, passado um instante, o professor sorriu � a primeira vez que Harry o via fazer isso. O efeito foi entortar mais que nunca o seu rosto muito marcado, mas de qualquer forma foi um al�vio saber que ele era capaz de um gesto amig�vel como sorrir. Rony pareceu profundamente aliviado. � Voc� deve ser filho do Arthur Weasley? � disse Moody. � Seu pai me tirou de uma enrascada h� alguns dias... �, vou ficar apenas este ano. Um favor especial a Dumbledore... Um ano e depois volto ao sossego da minha aposentadoria. Ele deu uma risada �spera e ent�o juntou as palmas das m�os nodosas. � Ent�o... Vamos direto ao assunto. Maldi��es. Elas t�m variados graus de for�a e forma. Agora, segundo o Minist�rio da Magia, eu devo ensinar a voc�s as contra-maldi��es e parar por a�. N�o devo lhes mostrar que cara t�m as maldi��es ilegais at� voc�s chegarem ao sexto ano. At� l�, o Minist�rio acha que voc�s n�o t�m idade para lidar com elas. Mas o Professor Dumbledore tem uma opini�o mais favor�vel dos seus nervos e acha que voc�s podem aprend�-las, e eu digo que quanto mais cedo souberem o que v�o precisar enfrentar, melhor. Como v�o se defender de uma coisa que nunca viram? Um bruxo que pretenda lan�ar uma maldi��o ilegal sobre voc�s n�o vai avisar o que pretende. N�o vai lan��-la de forma suave e educada bem na sua cara. Voc�s precisam estar preparados. Precisam estar alertas e vigilantes. A senhorita deve guardar isso, Srta. Brown, enquanto eu estiver falando. Lil� levou um susto e corou. Estivera mostrando a Parvati o hor�scopo que aprontara por baixo da carteira. Aparentemente o olho m�gico de Moody podia ver atrav�s da madeira, t�o bem quanto pela nuca. � Ent�o... Algum de voc�s sabe que maldi��es s�o mais severamente punidas pelas leis da magia? V�rios bra�os se ergueram hesitantes, inclusive os de Rony e Hermione. Moody apontou para Rony, embora seu olho m�gico continuasse mirando Lil�. � Hum � disse Rony sem muita certeza �, meu pai me falou de uma... Chama Maldi��o Imperius ou coisa assim? � Ah, sim � disse Moody satisfeito. � Seu pai conheceria essa. Certa vez, deu ao Minist�rio muito trabalho, essa Maldi��o Imperius. Moody se apoiou pesadamente nos p�s desiguais, abriu a gaveta da escrivaninha e tirou um frasco de vidro. Tr�s enormes aranhas pretas corriam dentro dele. Harry sentiu Rony se encolher ligeiramente ao seu lado, Rony detestava aranhas. Moody meteu a m�o dentro do frasco, apanhou uma aranha e segurou-a na palma da m�o, de modo que todos pudessem v�-la. Apontou, ent�o, a varinha para o inseto e murmurou "Imp�rio!" A aranha saltou da m�o de Moody para um fio de seda e come�ou a se balan�ar para frente e para tr�s como se estivesse em um trap�zio. Esticou as pernas r�gidas e deu uma cambalhota, partindo o fio e aterrissando sobre a mesa, onde come�ou a plantar bananeiras em c�rculos. Moody agitou a varinha, e a aranha se ergueu em duas patas traseiras e saiu dan�ando um inconfund�vel sapateado. Todos riram, todos exceto Moody. � Acharam engra�ado, �? � rosnou ele. � Voc�s gostariam se eu fizesse isso com voc�s? As risadas pararam quase instantaneamente. � Controle total � disse o professor em voz baixa, quando a aranha se enrolou e come�ou a rodar sem parar. � Eu poderia faz�-la saltar pela janela, se afogar, se enfiar pela garganta de voc�s abaixo... Rony teve um tremor involunt�rio. � H� alguns anos, havia muitos bruxos e bruxas controlados pela Maldi��o Imperius � disse Moody, e Harry entendeu que ele estava se referindo ao tempo em que Voldemort fora todo-poderoso. � Foi uma trabalheira para o Minist�rio separar quem estava sendo for�ado a agir de quem estava agindo por vontade pr�pria. � A Maldi��o Imperius pode ser neutralizada, e vou lhes mostrar como, mas � preciso for�a de car�ter real e nem todos a possuem. Por isso � melhor evitar ser amaldi�oado com ela se puderem. �VIGIL�NCIA CONSTANTE!", vociferou ele, e todos os alunos se assustaram. Moody apanhou a aranha acrobata e atirou-a de volta ao frasco. � Mais algu�m conhece mais alguma? Outra maldi��o ilegal? A m�o de Hermione voltou a se erguer e, para surpresa de Harry, a de Neville tamb�m. A �nica aula em que Neville normalmente voluntariava informa��es era a de Herbologia, que era, sem favor algum, a mat�ria que ele sabia melhor. O garoto pareceu surpreso com a pr�pria ousadia. � Qual? � perguntou Moody, seu olho m�gico dando um giro completo para se fixar em Neville. � Tem uma, a Maldi��o Cruciatus � disse Neville, numa voz fraca, mas clara. Moody olhou Neville com muita aten��o, desta vez com os dois olhos. � O seu nome � Longbottom? � perguntou ele, o olho m�gico girando para verificar a folha de chamada. Neville confirmou, nervoso, com a cabe�a, mas o professor n�o fez outras perguntas. Tornando a voltar sua aten��o � classe, ele meteu a m�o no frasco mais uma vez, apanhou outra aranha e colocou-a no tampo da escrivaninha, onde o inseto permaneceu im�vel, aparentemente demasiado assustado para se mexer. � A Maldi��o Cruciatus � come�ou Moody. � Preciso de uma maior para lhes dar uma id�ia � disse ele, apontando a varinha para a aranha. � Engorgio! A aranha inchou. Estava agora maior do que uma tar�ntula. Abandonando todo o fingimento, Rony empurrou a cadeira para tr�s, o mais longe que p�de da escrivaninha de Moody. O professor tornou a erguer a varinha, apontou-a para a aranha e murmurou: � Crucio! Na mesma hora, as pernas da aranha se dobraram sob o corpo, ela virou de barriga para cima e come�ou a se contorcer horrivelmente, balan�ando de um lado para outro. N�o emitia som algum, mas Harry teve certeza de que, se tivesse voz, estaria berrando. Moody n�o afastou a varinha e a aranha come�ou a estremecer e a se debater violentamente... � Pare! � gritou Hermione com a voz aguda. Harry olhou para a amiga. Ela estava com os olhos postos n�o na aranha, mas em Neville, e Harry, ao seguir a dire��o do seu olhar, viu que as m�os do garoto se agarravam � carteira diante dele, os n�s dos dedos brancos, seus olhos arregalados e horrorizados. Moody ergueu a varinha. As pernas da aranha se descontra�ram, mas ela continuou a se contorcer. � Reducio � murmurou Moody, e a aranha encolheu e voltou ao tamanho normal. Ele a rep�s no frasco. � Dor � explicou Moody em voz baixa. � N�o se precisa de alicates nem de facas para torturar algu�m quando se � capaz de lan�ar a Maldi��o Cruciatus... Ela tamb�m j� foi muito popular. Certo... mais algu�m conhece alguma outra? Harry olhou para os lados. Pela express�o no rosto dos colegas, ele achou que estavam todos pensando no que aconteceria com a �ltima aranha. A m�o de Hermione tremia levemente quando, pela terceira vez, ela a ergueu no ar. � Sim! � disse Moody olhando-a. � Avada Kedavra � sussurrou a garota. V�rios colegas a olharam constrangidos, inclusive Rony. � Ah � exclamou Moody, outro sorrisinho torcendo sua boca enviesada. � Ah, a �ltima e a pior. Avada Kedavra... A maldi��o da morte. Ele enfiou a m�o no frasco e, quase como se soubesse o que a esperava, a terceira aranha correu freneticamente pelo fundo do objeto, tentando fugir aos dedos de Moody, mas ele a apanhou e a colocou sobre a escrivaninha. O inseto come�ou a correr, desvairado, pela superf�cie de madeira. Moody ergueu a varinha e Harry sentiu um repentino pressentimento. � Avada Kedavra!� berrou Moody. Houve um rel�mpago de ofuscante luz verde e um rumorejo, como se algo vasto e invis�vel voasse pelo ar, instantaneamente a aranha virou de dorso, sem uma �nica marca, mas inconfundivelmente morta. V�rias alunas abafaram gritinhos, Rony se atirara para tr�s, quase caindo da cadeira, quando a aranha escorregou em sua dire��o. Moody empurrou a aranha morta para fora da mesa. � Nada bonito � disse calmamente. � Nada agrad�vel. E n�o existe contra maldi��o. N�o h� como bloque�-la. Somente uma pessoa no mundo j� sobreviveu a ela e est� sentada bem aqui na minha frente. Harry sentiu seu rosto corar quando os (dois) olhos de Moody fitaram os dele. Sentiu que toda a turma tamb�m estava olhando para ele. Harry encarou o quadro-negro limpo como se estivesse fascinado por sua superf�cie, mas na realidade sem sequer v�-lo... Ent�o fora assim que seus pais tinham morrido... Exatamente como aquela aranha. Ser� que tinham morrido sem desfigura��o nem marcas, tamb�m? Ser� que tinham simplesmente visto um rel�mpago verde e ouvido o rumorejo da morte que se aproximou c�lere, antes que a vida fosse varrida de seus corpos? Harry imaginara a morte dos pais muitas vezes nesses tr�s anos, desde que descobrira que tinham sido assassinados, desde que descobrira o que acontecera naquela noite: como Rabicho informara o esconderijo de seus pais a Voldemort, que viera procur�-los em casa. Como o bruxo matara primeiro o pai de Harry. Como Tiago Potter tentara atras�-lo, enquanto gritava para a mulher apanhar Harry e correr... E Voldemort avan�ara para L�lian Potter, dissera-lhe para se afastar para ele poder matar Harry... Como sua m�e suplicara para que a matasse no lugar do filho, recusara-se a deixar de proteger o filho com o corpo... E ent�o Voldemort a assassinara tamb�m, antes de virar a varinha contra Harry... Harry conhecia esses detalhes porque ouvira a voz dos pais quando enfrentara os dementadores no ano anterior, pois esse era o terr�vel poder dessas criaturas: for�ar suas v�timas a reviverem as piores lembran�as de suas vidas e se afogarem, impotentes, no pr�prio desespero... Harry teve a impress�o de que Moody recome�ara a falar de muito longe. Com um enorme esfor�o, ele se obrigou a voltar ao presente e fixar a aten��o no que o professor dizia. � Avada Kedavra � uma maldi��o que exige magia poderosa para lan��-la, voc�s podem apanhar as varinhas agora, apont�-las para mim, dizer as palavras e duvido que consigam sequer que o meu nariz sangre. Mas isto n�o importa. N�o estou aqui para ensin�-los a lan��-la. � Ora, se n�o h� uma contra-maldi��o, por que estou lhes mostrando essa maldi��o? Porque voc�s precisam conhec�-la. Voc�s t�m que reconhecer o pior. Voc�s n�o querem se colocar em uma situa��o em que precisem enfrent�-la. �VIGIL�NCIA PERMANENTE!", berrou ele e a turma inteira tornou a se sobressaltar. � Agora... Essas tr�s maldi��es, Avada Kedavra, Imperius e Cruciatus, s�o conhecidas como as Maldi��es Imperdo�veis. O uso de qualquer uma delas em um semelhante humano � suficiente para ganharem uma pena de pris�o perp�tua em Azkaban. � isso que v�o ter que enfrentar. � isso que preciso lhes ensinar a combater. Voc�s precisam estar preparados. Voc�s precisam de armas. Mas, acima de tudo, precisam praticar uma vigil�ncia constante, permanente. Apanhem suas penas... Copiem o que vou ditar... Os alunos passaram o resto da aula tomando notas sobre cada uma das Maldi��es Imperdo�veis. Ningu�m falou at� a sineta tocar, mas quando Moody os dispensou e eles sa�ram da sala, explodiram em um falat�rio irrefre�vel. A maioria dos alunos discutia as maldi��es em tom de assombro: "Voc� viu ela se contorcendo?", e �quando ele matou a aranha, assim!� Comentavam a aula, pensou Harry, como se ela tivesse sido um espet�culo fant�stico, mas ele n�o a achara nada divertida, tampouco Hermione. � Anda logo � disse ela tensa para Harry e Rony. � N�o � a biblioteca outra vez, �? � perguntou Rony. � N�o � respondeu a garota, secamente, apontando para um corredor lateral. � Neville. Neville estava em p� sozinho, no meio do corredor, de olhos fixos na parede de pedra oposta, com a mesma express�o horrorizada e pasma que fizera quando Moody demonstrara a Maldi��o Cruciatus. � Neville? � chamou Hermione de mansinho. Neville virou a cabe�a. � Ah, al� � disse ele, a voz mais aguda do que habitualmente. � Aula interessante, n�o foi? Que ser� que tem para o jantar, estou... Estou morto de fome, voc�s n�o? � Neville, voc� est� bem? � perguntou Hermione. � Ah, claro, estou �timo � balbuciou o garoto, na voz anormalmente aguda. � Jantar muito interessante... Quero dizer, aula... Que ser� que tem para se comer. Rony lan�ou a Harry um olhar assustado. � Neville, que...? Mas eles ouviram �s costas um som seco e met�lico estranho e, ao se virarem, viram o Professor Moody vindo em sua dire��o. Os quatro ficaram em sil�ncio, observando-o apreensivos, mas quando ele falou, foi com um rosnado bem mais baixo e gentil do que tinham ouvido at� ent�o. � Est� tudo bem, filho � disse ele a Neville. � Por que n�o vem at� a minha sala? Vamos... Podemos tomar uma x�cara de ch�... Neville ficou ainda mais assustado ante a perspectiva de tomar ch� com Moody. Ele n�o se mexeu nem falou. Moody virou o olho m�gico para Harry. � Voc� est� bem, n�o est�, Potter? � Estou � disse Harry, quase em tom de desafio. O olho azul de Moody estremeceu de leve na �rbita ao examinar Harry. Ent�o falou: � Voc�s t�m que saber. Parece cruel, talvez, mas voc�s t�m que saber. N�o adianta fingir... Bom... Venha, Longbottom, tenho uns livros que podem lhe interessar. Neville olhou suplicante para Harry, Rony e Hermione, mas eles n�o disseram nada, de modo que o garoto n�o teve escolha sen�o se deixar conduzir, uma das m�os nodosas de Moody em seu ombro. � Que foi que houve? � perguntou Rony, observando Neville e Moody virarem para outro corredor. � N�o sei � disse Hermione, parecendo pensativa. � Mas foi uma aula e tanto, hein? � disse Rony a Harry, quando se dirigiam ao Sal�o Principal. � Fred e Jorge tinham raz�o, n�o �? Ele realmente conhece o assunto. Quando ele lan�ou a Avada Kedavra, o jeito com que aquela aranha simplesmente morreu, apagou na hora... Mas Rony se calou de s�bito ao ver a express�o no rosto de Harry, e n�o tornou a falar at� chegarem ao sal�o, quando comentou que era melhor eles come�arem a preparar as predi��es da Professora Trelawney �quela noite, porque iam demorar horas naquilo. Hermione n�o entrou na conversa de Harry e Rony durante o jantar, mas comeu furiosamente depressa e, em seguida, foi para a biblioteca. Harry e Rony voltaram � Torre da Grifin�ria, e Harry, que n�o pensara em outra coisa durante todo o jantar, agora levantou o assunto das Maldi��es Imperdo�veis. � Moody e Dumbledore n�o ficariam encrencados se o Minist�rio soubesse que vimos lan�ar as maldi��es? � perguntou Harry ao se aproximarem da Mulher Gorda. � Provavelmente � disse Rony. � Mas Dumbledore sempre fez as coisas do jeito dele, n�o �, e Moody, eu imagino, j� anda encrencado h� anos. Atacar primeiro e fazer perguntas depois, veja s� a hist�ria das latas de lixo. Biruta. A Mulher Gorda girou para frente, revelando a passagem e eles entraram na sala comunal da Grifin�ria, que estava cheia e barulhenta. � Vamos apanhar o nosso material de Adivinha��o, ent�o? � disse Harry. � Acho que sim � gemeu Rony. Os dois subiram ao dormit�rio para apanhar os livros e mapas e encontraram Neville sozinho, sentado na cama, lendo. Parecia bem mais calmo do que ao fim da aula de Moody, embora ainda n�o estivesse completamente normal. Seus olhos estavam muito vermelhos. � Voc� est� bem, Neville? � perguntou Harry. � Ah, estou. Estou �timo, obrigado. Lendo o livro que o Professor Moody me emprestou... Ele mostrou o livro: Plantas Mediterr�neas e Suas Propriedades M�gicas. � Parece que a Professora Sprout disse a ele que sou realmente bom em Herbologia � disse Neville. Havia um qu� de orgulho em sua voz que Harry raramente ouvira antes. � O professor achou que eu gostaria deste. Repetir para Neville o que a Professora Sprout dissera, pensou Harry, fora uma maneira muito delicada de animar o garoto, porque Neville raramente ouvia algu�m dizer que ele era bom em alguma coisa. Era o tipo de coisa que o Professor Lupin teria feito. Harry e Rony apanharam seus exemplares de Esclarecendo o Futuro e voltaram � sala comunal, procuraram uma mesa e come�aram a trabalhar nas predi��es para o m�s seguinte. Uma hora mais tarde, tinham feito pouco progresso, embora a mesa estivesse coalhada de peda�os de pergaminho cobertos com somas e s�mbolos e o c�rebro de Harry estivesse enevoado, como se impregnado pela fuma�a da lareira da Professora Trelawney. � N�o tenho a menor id�ia do significado disso � falou ele examinando a longa lista de c�lculos. � Sabe de uma coisa � disse Rony, cujos cabelos estavam de p� de tanto o garoto passar os dedos por eles, cheio de frustra��o. � Acho que voltamos � velha regra da Adivinha��o. � Qu�... Inventar? � � � disse Rony, varrendo da mesa o monte de anota��es e mergulhando a pena no tinteiro para come�ar a escrever. � Na pr�xima segunda-feira � disse ele enquanto escrevia � h� grande probabilidade de eu apanhar uma tosse, devido � infeliz conjun��o de Marte com J�piter. � Ele ergueu os olhos para Harry. � Voc� conhece ela, escreve uma por��o de desgra�as que ela engole tudo. � Certo � disse Harry, amassando seu primeiro rascunho e atirando-o por cima das cabe�as de um grupo de alunos do primeiro ano que conversavam. -Muito bem... Na segunda-feira vou correr o perigo de... Hum... Me queimar. � E vai mesmo � disse Rony sombriamente �, vamos ver os explosivins de novo. Na, ter�a -feita, vou... Hum... � Perder algo valioso � disse Harry, que folheava o Esclarecendo o Futuro � procura de id�ias. � Boa � disse Rony, copiando-a. � Por causa de... Hum.. Merc�rio. Por que voc� n�o leva uma punhalada pelas costas de algu�m que voc� pensou que fosse amigo? � Legal... � disse Harry, anotando a sugest�o � por que... V�nus est� na d�cima segunda casa. � E na quarta-feira, acho que vou levar a pior em uma briga. � Aah, eu ia ter uma briga. O.K., vou perder uma aposta. � �, voc� vai apostar que vou ganhar a minha briga... Os garotos continuaram a inventar predi��es (que foram se tornando mais tr�gicas) por mais uma hora, enquanto a sala comunal se esvaziava � medida que as pessoas iam se deitar. Bichento foi at� os dois, deu um salto leve para uma cadeira vazia e mirou Harry misteriosamente, de um modo semelhante ao de Hermione quando sabia que os garotos n�o estavam fazendo o dever de casa direito. Correndo o olhar pela sala, tentando pensar em alguma desgra�a que ainda n�o tivesse usado, Harry viu Fred e Jorge sentados junto � parede oposta, as cabe�as encostadas uma na outra, as penas na m�o, examinando um peda�o de pergaminho. Era muito estranho ver os dois escondidos em um canto, trabalhando em sil�ncio, em geral eles gostavam de ficar no meio da confus�o e de serem o centro das aten��es. Havia um certo sigilo no jeito como estudavam um �nico pergaminho, e Harry se lembrou dos dois sentados juntos, escrevendo alguma coisa, l� na Toca. Ele pensara na �poca que era outro formul�rio para as "Gemialidades" Weasley, mas desta vez parecia diferente, se n�o, eles com certeza teriam deixado Lino Jordan participar da travessura. Harry ficou imaginando se teria alguma coisa a ver com a inscri��o no Torneio Tribruxo. Enquanto Harry observava, Jorge sacudiu a cabe�a para Fred, rabiscou alguma coisa com a pena e disse, num tom muito baixo que, mesmo assim, ecoou pela sala quase deserta: � N�o... Assim parece que n�s o estamos acusando. Temos que ter cuidado... Ent�o Jorge deu uma olhada na sala e viu que Harry o observava. Harry sorriu e voltou depressa �s suas predi��es, n�o queria que Jorge pensasse que ele estava bisbilhotando. Logo depois, os g�meos enrolaram o pergaminho, deram boa-noite e foram se deitar. Fred e Jorge tinham sa�do havia uns dez minutos quando o buraco do retrato se abriu e Hermione entrou na sala comunal, trazendo um rolo de pergaminho em uma das m�os e uma caixa, cujo conte�do fazia barulho, na outra. Bichento arqueou as costas, ronronando. � Al� � disse ela �, acabei! � Eu tamb�m! � disse Rony em tom triunfante, largando a pena. Hermione se sentou, deixou as coisas que carregava em uma poltrona vazia e puxou as predi��es de Rony para ver. � N�o vai ter um m�s nada bom, hein? � disse ela ironicamente, quando Bichento veio se enroscar em seu colo. � Bom, pelo menos estou prevenido � bocejou Rony. � Voc� parece que vai se afogar duas vezes � disse a garota. � Ah, vou, �? � disse Rony baixando os olhos para suas predi��es. � � melhor eu trocar uma delas por um acidente com um hipogrifo desembestado. � Voc� n�o acha que est� um pouco �bvio que voc� inventou isso tudo? � perguntou Hermione. � Como � que voc� se atreve! � exclamou Rony, fingindo-se ofendido. � Estivemos trabalhando como elfos dom�sticos aqui! Hermione ergueu as sobrancelhas. � � s� uma express�o � acrescentou ele depressa. Harry pousou a pena, tendo acabado de predizer a pr�pria morte por decapita��o. � Que � que tem nessa caixa? � perguntou ele, apontando-a. � Engra�ado voc� perguntar � respondeu a garota com um olhar feio para Rony. Tirou ent�o a tampa e mostrou o conte�do aos garotos. Dentro havia uns cinq�enta distintivos, de cores diferentes, mas todos com os mesmos dizeres: F.A.L.E. � Fale? � estranhou Harry, apanhando um distintivo e examinando-o. � Que significa isso? � N�o � fale � protestou Hermione impaciente. � � F-A-L-E. Quer dizer, Fundo de Apoio � Libera��o dos Elfos. � Nunca ouvi falar nisso � disse Rony. � Ora, � claro que n�o ouviu � disse Hermione energicamente. � Acabei de fundar o movimento. � Ah, �? � disse Rony com um ar levemente surpreso. � E quantos membros j� tem? � Bom, se voc�s dois se alistarem... Tr�s. � E voc� acha que queremos andar por a� usando distintivos que dizem "fale", �? � falou Rony. � F-A-L-E! � corrigiu-o Hermione irritada. � Eu ia p�r "Fim ao Abuso Ultrajante dos Nossos Irm�os M�gicos" e "Campanha para Mudar sua Condi��o", mas n�o dava certo. Ent�o F.A.L.E. � o t�tulo do nosso manifesto. Ela brandiu um rolo de pergaminho para os garotos. � Andei pesquisando minuciosamente na biblioteca. A escravatura dos elfos j� existe h� s�culos. Custo a acreditar que ningu�m tenha feito nada contra ela at� agora. � Hermione, abra bem os ouvidos � disse Rony em voz alta. � Eles. Gostam disso. Gostam de ser escravizados! � A curto prazo os nossos objetivos � disse Hermione, falando ainda mais alto do que o amigo e agindo como se n�o tivesse ouvido uma �nica palavra � s�o obter para os elfos um sal�rio m�nimo justo e condi��es de trabalho decentes. A longo prazo, os nossos objetivos incluem mudar a lei que pro�be o uso da varinha e tentar admitir um elfo no Departamento para Regulamenta��o e Controle das Criaturas M�gicas, porque eles s�o vergonhosamente sub-representados. � E como � que vamos fazer tudo isso? � perguntou Harry. � Vamos come�ar recrutando novos membros � disse Hermione feliz. � Achei que dois sicles para entrar, o que paga o distintivo, e o produto da venda pode financiar a distribui��o de folhetos. Voc� � o tesoureiro, Rony, tenho l� em cima uma latinha para voc� fazer a coleta, e voc�, Harry, o secret�rio, por isso voc� talvez queira anotar tudo que estou dizendo agora, para registrar a nossa primeira reuni�o. Houve uma pausa em que Hermione sorriu radiante para os dois, e Harry se dilacerou entre a exaspera��o com a amiga e a vontade de rir da cara de Rony. O sil�ncio foi quebrado, n�o por Rony, que de qualquer maneira parecia estar temporariamente mudo de espanto, mas por umas batidinhas leves na janela. Harry correu os olhos pela sala agora vazia e viu, iluminada pelo luar, uma coruja branqu�ssima encarapitada no peitoril da janela. . � Edwiges! � gritou ele, precipitando-se pela sala para abrir a janela do lado oposto. Edwiges entrou, voou pela sala e pousou na mesa em cima das predi��es de Harry. � At� que enfim! � exclamou Harry, correndo atr�s da coruja. � Ela trouxe uma resposta! � exclamou Rony, excitado, apontando para um peda�o sujo de pergaminho preso � perna de Edwiges. Harry desamarrou-o depressa e se sentou para ler, depois do que Edwiges voou para o joelho do garoto, piando baixinho. � Que � que ele diz? � perguntou Hermione ofegante. A carta era muito curta e parecia ter sido escrita com muita pressa. Harry leu-a em voz alta. �Harry, Estou viajando para o norte imediatamente. A not�cia sobre a sua cicatriz � o �ltimo de uma s�rie de acontecimentos estranhos que t�m chegado aos meus ouvidos. Se ela tornar a doer, procure imediatamente Dumbledore, dizem que ele tirou Olho-Tonto da aposentadoria, o que significa que tem identificado os sinais, mesmo que os outros n�o os vejam. Logo entrarei em contato com voc�. D� minhas lembran�as a Rony e Hermione. Fique de olhos abertos, Harry. Sirius�. Harry olhou para Rony e Hermione, que retribu�ram o seu olhar. � Ele est� viajando para o norte? � sussurrou Hermione. � Est� voltando? � Dumbledore tem identificado que sinais? � perguntou Rony, parecendo perplexo. � Harry, que � que est� acontecendo? Pois Harry acabara de dar um soco na pr�pria testa, sacudindo Edwiges para fora do colo. � Eu n�o devia ter contado a ele! � disse Harry furioso. � Do que � que voc� est� falando? � perguntou Rony, surpreso. � Fiz ele pensar que precisa voltar! � disse Harry, agora batendo o punho na mesa de modo que a coruja foi parar no espaldar da cadeira de Rony, piando indignada. � Precisa voltar porque acha que estou correndo perigo! E n�o h� nada errado comigo! E n�o tenho nada para voc� � falou ele com rispidez para Edwiges, que batia o bico, esperan�osa, vai ter que ir para o corujal se quiser comida. Edwiges lan�ou ao dono um olhar extremamente ofendido saiu voando pela janela aberta, raspando a asa na cabe�a dele ao sair. � Harry � come�ou Hermione, numa voz tranq�ilizadora. � Vou me deitar � disse Harry impaciente. � Vejo voc�s de manh�. Em cima, no dormit�rio, ele vestiu o pijama e enfiou-se na cama de colunas, mas n�o se sentiu nem um pouco cansado. Se Sirius voltasse e fosse apanhado seria culpa dele, Harry. Por que n�o ficara calado? Uma dorzinha �-toa e ele fora tagarelar... Se tivesse tido o ju�zo de guardar a dor s� para si... Ele ouviu Rony entrar no dormit�rio pouco depois, mas n�o falou com o amigo. Durante um longo tempo, Harry ficou contemplando o dossel escuro de sua cama. O dormit�rio estava completamente silencioso e, se ele estivesse menos preocupado, teria reparado que a aus�ncia dos costumeiros roncos de Neville significava que ele n�o era o �nico que estava acordado. CAP�TULO QUINZE Beauxbatons e Durmstrang Logo cedo na manh� seguinte, Harry acordou com um plano inteiramente formado na cabe�a, como se o seu c�rebro adormecido tivesse trabalhado naquilo a noite toda. Ele se levantou e se vestiu � luz fraca do amanhecer, saiu do dormit�rio sem acordar Rony e desceu para o sal�o comunal, �quela hora deserto. Ali apanhou um peda�o de pergaminho na mesa em cima da qual ainda se achava o dever de Adivinha��o e escreveu a seguinte carta: �Caro Sirius, Acho que imaginei a dor na minha cicatriz, eu estava quase dormindo quando lhe escrevi a �ltima carta. Voc� n�o precisa voltar, vai tudo bem aqui. N�o se preocupe comigo, sinto a cabe�a completamente normal. Harry�. Depois, Harry passou pelo buraco do retrato, subiu as escadas do castelo silencioso (s� foi detido brevemente por Pirra�a, que tentou virar um enorme vaso em cima dele no meio do corredor do quarto andar) e finalmente chegou ao corujal, que ficava no alto da Torre Oeste. O corujal era uma sala circular revestida de pedra; um tanto fria e varrida por correntes de vento, porque nenhuma das janelas tinha vidro. O ch�o era coberto de palha, titica de coruja e esqueletos de ratos e arganazes que as corujas regurgitavam. Centenas e mais centenas de corujas de todas as esp�cies imagin�veis estavam aninhadas ali em poleiros que subiam at� o alto da torre, quase todas adormecidas, embora aqui e ali um redondo olho cor de �mbar olhasse feio para o garoto. Harry localizou Edwiges aninhada entre uma coruja-das-torres e uma coruja castanho-amarelada, e correu para ela, escorregando um pouco no ch�o coberto de excremento. Levou um certo tempo para convenc�-la a acordar e olhar para ele porque sua coruja n�o parava de mudar de lugar no poleiro, virando-lhe o rabo. Evidentemente continuava furiosa com a falta de gratid�o que ele demonstrara na noite anterior. Por fim, foi a insinua��o de Harry que ela poderia estar demasiado cansada e que talvez ele pedisse Pichitinho emprestado a Rony que a fez esticar a perna e permitir ao dono amarrar nela a carta. � Acha ele, est� bem? � pediu Harry, alisando o dorso de Edwiges enquanto a levava no bra�o at� uma das aberturas na parede. � Antes que os dementadores fa�am isso. Ela lhe deu uma mordidela no dedo, talvez com mais for�a do que normalmente teria feito, mas, mesmo assim, piou baixinho de uma maneira que o deixou tranq�ilo. Em seguida abriu as asas e levantou v�o para o c�u do amanhecer. Harry observou-a desaparecer de vista com a conhecida sensa��o de mal-estar no est�mago. Antes tivera tanta certeza de que a resposta de Sirius aliviaria suas preocupa��es em vez de aument�-las. � Isso foi uma mentira, Harry � falou Hermione com severidade ao caf� da manh�, quando o garoto contou a ela e a Rony o que fizera. � Voc� n�o imaginou que sua cicatriz estava doendo e sabe muito bem disso. � E da�? � retrucou Harry. � Ele n�o vai voltar para Azkaban por minha causa. � Esquece � disse Rony com aspereza a Hermione, quando ela abriu a boca para continuar a discuss�o e, uma vez na vida, a garota atendeu ao amigo e se calou. Harry fez o que p�de para n�o se preocupar com Sirius nas semanas seguintes. � verdade que n�o conseguia deixar de olhar para os lados, ansiosamente, toda manh� quando as corujas chegavam trazendo o correio e tarde da noite antes de dormir, tinha horr�veis vis�es em que Sirius era encurralado pelos dementadores em alguma rua escura de Londres. Mas entre um momento e outro, ele tentava n�o pensar no padrinho. Desejou que ainda tivesse o Quadribol para distra�-lo, nada dava t�o certo para uma cabe�a preocupada quanto um treino exaustivo. Por outro lado, as aulas estavam se tornando cada vez mais dif�ceis e exigindo que se esfor�asse mais do que nunca, principalmente a de Defesa contra as Artes das Trevas. Para surpresa dos alunos, o Professor Moody anunciara que ia lan�ar a Maldi��o Imperius sobre cada um deles, a fim de demonstrar o seu poder e verificar se conseguiam resistir aos seus efeitos. � Mas... Se o senhor disse que � ilegal, professor � perguntou Hermione incerta, quando Moody afastou as carteiras com um movimento amplo da varinha, deixando uma clareira no meio da sala. � O senhor disse... Que us�-la contra outro ser humano era... � Dumbledore quer que voc�s aprendam qual � o efeito que ela produz em uma pessoa � disse Moody, o olho m�gico girando para a garota e se fixando nela sem piscar, com uma express�o misteriosa. � Se a senhorita preferir aprender pelo m�todo dif�cil... Quando algu�m a lan�ar contra a senhorita para control�-la... Para mim est� bem. A senhorita est� dispensada da aula. Pode se retirar. Ele apontou um dedo nodoso para a porta. Hermione ficou muito vermelha e murmurou alguma coisa no sentido de que a pergunta n�o significava que ela quisesse sair. Harry e Rony sorriram um para o outro. Eles sabiam que Hermione preferia beber pus de bubot�beras do que perder uma li��o daquela import�ncia. O professor come�ou a chamar os alunos � frente e a lan�ar a maldi��o sobre eles, um de cada vez. Harry observou os colegas fazerem as coisas mais extraordin�rias sob a influ�ncia da Imperius. Dino Thomas deu tr�s voltas pela sala aos saltos, cantando o hino nacional. Lil� Brown imitou um esquilo. Neville executou uma s�rie de acrobacias surpreendentes, que ele certamente n�o teria conseguido em condi��es normais. Nenhum deles parecia ser capaz de resistir � maldi��o, e cada um s� voltava ao normal quando Moody a desfazia. � Potter � rosnou Moody �, voc� � o pr�ximo. O garoto se adiantou at� o meio da sala, no espa�o que Moody deixara livre. O professor ergueu a varinha, apontou-a para Harry e disse: � Imp�rio. Foi uma sensa��o maravilhosa. Harry sentiu que flutuava e todos os pensamentos e preocupa��es em sua mente desapareceram suavemente, deixando apenas uma felicidade vaga e inexplic�vel. Ele ficou ali extremamente relaxado, vagamente consciente de que todos o observavam. Ent�o, ouviu a voz de Olho-Tonto Moody ecoar em uma c�lula distante do seu c�rebro vazio: Salte para cima da carteira... Salte para cima da carteira... Harry dobrou os joelhos obedientemente, preparando-se para saltar. Salte para cima da carteira... Mas por qu�? Outra voz despertara no fundo de sua mente. Que coisa boba para algu�m fazer, francamente, disse a voz. Salte para cima da carteira... N�o, acho que n�o, obrigado, disse a segunda voz, com mais firmeza... N�o, n�o quero... Salte! AGORA! A pr�xima coisa que Harry sentiu foi uma imensa dor. Ele saltou e tentou n�o saltar ao mesmo tempo, o resultado foi se estatelar em cima de uma carteira, derrubando-a, e, pela dor que sentiu nas pernas, fraturar as duas r�tulas. � Agora est� melhor! � rosnou a voz de Moody e, de repente, Harry percebeu que a sensa��o de vazio e os ecos tinham desaparecido de sua mente. Lembrou-se com exatid�o do que estava acontecendo e a dor nos joelhos pareceu dobrar de intensidade. � Olhem s� isso, voc�s todos... Potter resistiu! Lutou contra a maldi��o e quase a venceu! Vamos experimentar de novo, Potter, e voc�s prestem aten��o, observem os olhos dele, � onde voc�s v�o ver, muito bem, Potter, muito bem mesmo! Eles v�o ter trabalho para controlar voc�! � Pelo jeito que ele fala � resmungou Harry, ao sair mancando da aula de Defesa contra as Artes das Trevas, uma hora depois (Moody insistira que Harry mostrasse do que era capaz, quatro vezes seguidas, at� o garoto conseguir resistir inteiramente � maldi��o) �, a gente poderia pensar que vai ser atacado a qualquer momento. � �, eu sei � respondeu Rony, que estava saltitando, um passo sim outro n�o. Tivera muito mais dificuldade com a maldi��o do que Harry, embora Moody lhe garantisse que os efeitos passariam at� a hora do almo�o. � Falando em paran�ia... � Rony espiou nervosamente por cima do ombro para verificar se estavam mesmo fora do campo de audi��o de Moody, e continuou: � N�o me admira que tenham ficado contentes em se livrar dele no Minist�rio. Voc� ouviu quando ele contou ao Simas o que fez com a bruxa que gritou "buu" atr�s dele, no dia primeiro de abril? E quando � que a gente vai ter como resistir � Maldi��o Imperius com todo o resto que tem para fazer? Todos os alunos do quarto ano haviam notado que decididamente houvera um aumento na quantidade de deveres exigida deles neste trimestre. A Professora Minerva explicou o porqu�, quando a turma gemeu particularmente alto � vista do dever de Transforma��o que ela passava. � Voc�s agora est�o entrando numa fase important�ssima da sua educa��o em magia! � disse ela, os olhos faiscando perigosamente por tr�s dos �culos quadrados. � O exame para obter os N�veis Ordin�rios de Magia est�o se aproximando... � Mas n�o vamos fazer exames de nivelamento at� a quinta s�rie! � exclamou Dino Thomas indignado. � Talvez n�o, Thomas, mas, me acredite, voc�s precisam de toda a prepara��o que puderem obter! A Srta. Granger foi a �nica aluna desta turma que conseguiu transformar um porco-espinho em uma almofadinha de alfinetes razo�vel. Eu talvez possa lhe lembrar, Thomas, que a sua almofadinha ainda se encolhe de medo quando algu�m se aproxima dela com um alfinete! Hermione, que tornara a corar, parecia estar fazendo um esfor�o para n�o parecer cheia de si demais. Harry e Rony acharam muita gra�a quando a Professora Trelawney lhes disse que tinham tirado a nota m�xima no dever da aula anterior de Adivinha��o. Ela leu longos trechos das predi��es que eles fizeram, comentando a impass�vel aceita��o dos horrores que os aguardavam, mas os garotos n�o acharam tanta gra�a quando ela pediu que fizessem outra proje��o para dali a dois meses: eles tinham quase esgotado as id�ias para cat�strofes. Entrementes, o Professor Binns, o fantasma que ensinava Hist�ria da Magia, mandou-os escrever ensaios semanais sobre a Revolta dos Duendes no s�culo XVIII. O Professor Snape estava obrigando-os a pesquisar ant�dotos. A turma levou o dever a s�rio, porque ele insinuou que talvez envenenasse um deles antes do Natal para ver se o ant�doto que encontrassem faria efeito. O Professor Flitwick lhes pedira que lessem mais tr�s livros, em prepara��o para a aula de Feiti�os Convocat�rios. E at� Hagrid aumentara a carga de trabalho de seus alunos. Os explosivins estavam crescendo em um ritmo excepcional, dado que ningu�m ainda descobrira o que comiam. Hagrid estava encantado e, como parte da "pesquisa", sugeriu que fossem � sua cabana em noites alternadas para observar os bichos e tomar notas sobre o seu extraordin�rio comportamento. � Eu n�o vou � disse Draco Malfoy com indiferen�a, quando o professor fez essa proposta com ar de Papai Noel tirando um brinquedo muito vistoso do saco. � J� vejo o bastante dessas nojeiras durante as aulas, obrigado. O sorriso desapareceu do rosto de Hagrid. � Voc� vai fazer o que mando � rosnou ele � ou vou seguir o exemplo do Professor Moody... Ouvi falar que voc� ficou muito bem de doninha, Malfoy. Os alunos da Grifin�ria deram grandes gargalhadas. Malfoy enrubesceu de raiva, mas pelo visto, a lembran�a do castigo de Moody ainda era suficientemente dolorosa para impedi-lo de responder. Harry, Rony e Hermione voltaram para o castelo no fim da aula, muito animados, ver Hagrid desmoralizar Malfoy era particularmente gostoso porque, no ano anterior, o garoto se esfor�ara o m�ximo para fazer com que Hagrid fosse despedido. Quando chegaram ao sagu�o de entrada, viram-se impedidos de prosseguir pela aglomera��o de alunos que havia ali, em torno de um grande aviso afixado ao p� da escadaria de m�rmore. Rony, o mais alto dos tr�s, ficou nas pontas dos p�s para ver por cima das cabe�as � sua frente e ler o aviso em voz alta para os outros dois. TORNEIO TRIBRUXO As delega��es de Beauxbatons e Durmstrang chegar�o �s seis horas, sexta-feira, 30 de outubro. As aulas terminar�o uma hora antes... � Genial! � exclamou Harry. � � Po��es a �ltima aula de sexta-feira! Snape n�o ter� tempo de envenenar todos n�s! Os alunos dever�o guardar as mochilas e livros em seus dormit�rios e se reunir na entrada do castelo para receber os nossos h�spedes antes da Festa de Boas-Vindas. � � daqui a uma semana! � exclamou Ernesto MacMillan da Lufa-Lufa, saindo da aglomera��o, os olhos brilhando. � Ser� que o Cedrico sabe? Acho que vou avisar a ele... � Cedrico? � repetiu Rony sem entender, enquanto Ernesto sa�a apressado. � Diggory � disse Harry. � Ele deve estar inscrito no torneio. � Aquele idiota, campe�o de Hogwarts? � disse Rony, quando abriam caminho pelo ajuntamento de alunos para chegar � escadaria. � Ele n�o � idiota, voc� simplesmente n�o gosta dele porque ele derrotou a Grifin�ria no Quadribol � disse Hermione. � Ouvi falar que � realmente um bom aluno, e � monitor! Ela falou isso como se encerrasse a quest�o. � Voc� s� gosta dele porque ele � bonito � respondeu Rony com desd�m. � Perd�o, eu n�o gosto de pessoas s� porque s�o bonitas! � retrucou Hermione indignada. Rony fingiu que pigarreava alto, um som que estranhamente lembrava "Lockhart!". A afixa��o do aviso no sagu�o de entrada teve um efeito sens�vel nos moradores do castelo. Durante a semana seguinte, parecia haver um assunto nas conversas, onde quer que Harry fosse: o Torneio Tribruxo. Os boatos voavam de um aluno para outro como um germe excepcionalmente contagioso: quem ia tentar ser o campe�o de Hogwarts, que � que o torneio exigia, e em que os alunos de Beauxbatons e Durmstrang se diferenciavam deles. Harry notou, tamb�m, que o castelo estava sofrendo uma faxina mais do que rigorosa. V�rios retratos encardidos tinham sido escovados para descontentamento dos retratados, que se sentavam encolhidos nas molduras, resmungando sombriamente e fazendo caretas ao apalpar os rostos vermelhos. As armaduras de repente brilhavam e mexiam sem ranger e Argo Filch, o zelador, estava agindo com tanta agressividade com os alunos que se esquecessem de limpar os sapatos que aterrorizou duas garotas do primeiro ano levando-as � histeria. Outros funcion�rios tamb�m pareciam estranhamente tensos. � Longbottom, tenha a bondade de n�o revelar que voc� n�o consegue sequer lan�ar um simples Feiti�o de Troca diante de algu�m de Durmstrang! � vociferou a Professora Minerva ao fim de uma aula particularmente dif�cil, em que Neville acidentalmente transplantara as pr�prias orelhas para um cacto. Quando eles desceram para o caf� na manh� do dia 30 de outubro, descobriram que o Sal�o Principal fora ornamentado durante a noite. Grandes bandeiras de seda pendiam das paredes, cada uma representando uma casa de Hogwarts. A vermelha com um le�o dourado da Grifin�ria, a azul com uma �guia de bronze da Corvinal, a amarela com um texugo negro da Lufa-Lufa e a verde com uma serpente de prata da Sonserina. Por tr�s da mesa dos professores, a maior bandeira de todas tinha o bras�o de Hogwarts: le�o, �guia, texugo e serpente unidos em torno de uma grande letra "H". Harry, Rony e Hermione viram Fred e Jorge � mesa da Grifin�ria. Mais uma vez, e muito anormalmente, os dois estavam sentados � parte dos demais e conversavam em voz baixa. Rony se encaminhou para os dois. � � chato, sim � dizia Jorge sombriamente a Fred. � Mas se ele n�o quer falar conosco pessoalmente, temos que lhe mandar uma carta. Ou enfi�-la na m�o dele, ele n�o pode ficar nos evitando para sempre. � Quem � que est� evitando voc�s? � perguntou Rony, sentando-se ao lado deles. � Gostaria que fosse voc� � disse Fred, mostrando-se irritado com a interrup��o. � Que � que � chato? � perguntou Rony a Jorge. � Ter um babaca metido feito voc� como irm�o � disse Jorge. � Voc�s j� tiveram alguma id�ia para o Torneio Tribruxo? � perguntou Harry. � Continuaram pensando como v�o tentar se inscrever? � Perguntei a McGonagall como � que os campe�es s�o escolhidos, mas ela n�o quis dizer � respondeu Jorge com amargura. � S� me disse para calar a boca e continuar transformando o meu guaxinim. � Fico imaginando quais v�o ser as tarefas � disse Rony pensativo. � Sabe, aposto que poder�amos dar conta, Harry e eu j� fizemos coisas perigosas antes... � N�o na frente de uma banca de juizes, isso voc�s n�o fizeram � disse Fred. � McGonagall disse que os campe�es recebem pontos pela perfei��o com que executam as tarefas. � Quem s�o os juizes? � perguntou Harry. � Bem, os diretores das escolas participantes sempre fazem parte da banca � disse Hermione e todos a olharam surpresos �, porque os tr�s ficaram feridos durante o torneio de 1792, quando um basilisco que os campe�es deviam capturar saiu destruindo tudo. Ela notou que todos a olhavam e disse, com o seu costumeiro ar de impaci�ncia quando via que ningu�m mais lera os mesmos livros que ela: � Est� tudo em Hogwarts: Uma Hist�ria. Embora, � claro, esse livro n�o seja cem por cento confi�vel. �Uma hist�ria Revista de Hogwarts� seria um t�tulo mais preciso. Ou, ent�o, �Uma Hist�ria Seletiva e Muito Parcial de Hogwarts�, que aborda brevemente os aspectos mais desfavor�veis da escola. � Do que � que voc� est� falando? � perguntou Rony, embora Harry soubesse o que vinha pela frente. � Elfos dom�sticos!� disse Hermione em voz alta, comprovando que Harry acertara. � Nem uma vez, em mais de mil p�ginas, Hogwarts: Uma Hist�ria menciona que somos todos coniventes na opress�o de centenas de escravos! Harry sacudiu a cabe�a e se concentrou nos ovos mexidos. A falta de entusiasmo dele e de Rony n�o conseguiu refrear a decis�o de Hermione de obter justi�a para os elfos dom�sticos. Era verdade que os dois tinham pago os dois sicles pelo distintivo do F.A.L.E., mas s� o tinham feito para faz�-la calar-se. Os sicles, no entanto, tinham sido gastos em v�o, se produziram algum efeito foi o de tornar Hermione ainda mais vociferante. A garota andava atormentando os dois desde ent�o, primeiro para usarem o distintivo, depois para persuadirem outros a fazer o mesmo, e ela tamb�m passara a caminhar pela sala comunal da Grifin�ria todas as noites, encostando os colegas na parede e sacudindo a latinha de coleta debaixo do nariz deles. � Voc�s t�m consci�ncia de que os seus len��is s�o trocados, as lareiras, acesas, as salas de aula limpas e a comida preparada por um grupo de criaturas m�gicas que n�o recebem sal�rio e s�o escravizadas? � ela n�o parava de lembrar a todos com veem�ncia. Alguns colegas, como Neville, tinham pago s� para Hermione parar de fazer cara feia para eles. Alguns pareceram ligeiramente interessados no que a garota tinha a dizer, mas relutavam em assumir um papel mais ativo no movimento. Muitos encaravam a coisa toda como piada. Rony agora contemplou o teto, que banhava a todos com um sol de outono e Fred fingiu-se extremamente interessado no bacon que havia em seu prato (os g�meos tinham se recusado a comprar um distintivo do F.A.L.E.). Jorge, no entanto, chegou para mais perto de Hermione. � Escuta aqui, Mione, voc� j� foi � cozinha? � N�o, claro que n�o � respondeu a garota secamente. � Nem posso imaginar que os alunos devam... � Bom, n�s j� fomos � disse Jorge, indicando Fred � v�rias vezes para afanar comida. E encontramos os elfos e eles est�o felizes. Acham que t�m o melhor emprego do mundo... � E porque eles n�o t�m instru��o e sofrem lavagem cerebral! � come�ou Hermione acaloradamente, mas suas palavras seguintes foram abafadas pelo ru�do de asas que vinha do alto anunciando a chegada das corujas com o correio. Harry ergueu os olhos e, na mesma hora, avistou Edwiges que voava em sua dire��o. Hermione parou de falar abruptamente; ela e Rony observaram a coruja, ansiosos, enquanto a ave batia as asas rapidamente para descer e pousar no ombro de Harry, depois fechou-as e estendeu a perna, cansada. Harry desamarrou a resposta de Sirius e ofereceu a Edwiges suas aparas de bacon, que ela comeu, grata. Ent�o, verificando que Fred e Jorge estavam absortos em novas discuss�es sobre o Torneio Tribruxo, Harry leu a carta de Sirius, aos cochichos, para Rony e Hermione. �N�o me convenceu, Harry. Estou de volta ao pa�s e bem escondido. Quero que me mantenha informado de tudo que estiver acontecendo em Hogwarts. N�o use Edwiges, troque de corujas e n�o se preocupe comigo, cuide-se. N�o se esque�a do que lhe disse sobre a cicatriz. Sirius�. � Por que � que voc� precisa trocar de corujas? � perguntou Rony em voz baixa. � Edwiges chamar� muita aten��o � respondeu Hermione na mesma hora. -Ela se destaca. Uma coruja muito branca que fica voltando para o lugar em que ele est� escondido... Quero dizer, ela n�o e um p�ssaro nativo, n�o � mesmo? Harry enrolou a carta e guardou-a dentro das vestes, se perguntando se estaria se sentindo mais ou menos preocupado do que antes. Supunha que o fato de Sirius ter conseguido voltar sem ser apanhado j� era muito. Tampouco podia negar que a id�ia de que seu padrinho estava muito mais pr�ximo era reconfortante, pelo menos n�o teria que esperar tanto por uma resposta todas as vezes que lhe escrevesse. � Obrigado, Edwiges � disse, acariciando-a. Ela piou sonolenta, meteu o bico rapidamente no c�lice de suco de laranja do garoto, depois tornou a levantar v�o, visivelmente desesperada para tirar um longo sono no corujal. Havia uma sensa��o de agrad�vel expectativa no ar aquele dia. Ningu�m prestou muita aten��o �s aulas, pois estavam bem mais interessados na chegada das comitivas de Beauxbatons e Durmstrang � noite, at� Po��es foi mais toler�vel do que de costume, porque durou meia hora a menos. Quando a sineta tocou mais cedo, Harry, Rony e Hermione subiram depressa para a Torre da Grifin�ria, largaram as mochilas e os livros, conforme as instru��es que tinham recebido, vestiram as capas e desceram correndo para o sagu�o de entrada. Os diretores das Casas estavam organizando os alunos em filas. � Weasley, endireite o chap�u � disse a Professora Minerva secamente a Rony. � Srta. Patil, tire essa coisa rid�cula dos cabelos. Parvati fez cara feia e retirou o enorme enfeite de borboleta da ponta da tran�a. � Sigam-me, por favor � mandou a professora �, alunos da primeira s�rie � frente... Sem empurrar... Eles desceram os degraus da entrada e se enfileiraram diante do castelo. Fazia um fim de tarde frio e l�mpido, o crep�sculo vinha chegando devagarinho e uma lua p�lida e transparente j� brilhava sobre a Floresta Proibida. Harry, postado entre Rony e Hermione na quarta fileira da frente para tr�s, viu Denis Creevey decididamente tr�mulo de expectativa entre os colegas da primeira s�rie. � Quase seis horas � comentou Rony, verificando o rel�gio e depois espiando o caminho que levava aos port�es da escola. � Como � que voc�s acham que eles v�m? De trem? � Duvido � respondeu Hermione. � Como ent�o? Vassouras? � arriscou Harry, erguendo os olhos para o c�u estrelado. � Acho que n�o... N�o vindo de t�o longe... � De chave de portal? � aventurou Rony. � Ou quem sabe aparatando, talvez tenham permiss�o de fazer isso antes dos dezessete anos no lugar de onde v�m? � N�o se pode aparatar nos terrenos de Hogwarts. Quantas vezes tenho que repetir isso a voc�s � falou Hermione com impaci�ncia. Os garotos examinavam excitados e atentos os jardins cada vez mais escuros, mas nada se movia, tudo estava quieto, silencioso, como sempre. Harry come�ava a sentir frio. Desejou que os visitantes chegassem logo... Talvez os estudantes estrangeiros estivessem preparando uma entrada teatral... Lembrou-se do que o Sr. Weasley dissera no acampamento antes da Copa Mundial de Quadribol: "Sempre os mesmos, n�o resistimos � tenta��o de fazer farol quando nos reunimos...� E ent�o Dumbledore falou em voz alta da �ltima fileira, onde aguardava com os outros professores: � Aha! A n�o ser que eu muito me engane, a delega��o de Beauxbatons est� chegando! � Onde? � perguntaram muitos alunos ansiosos, olhando em diferentes dire��es. � Ali! � gritou um aluno da sexta s�rie, apontando para o c�u sobre a Floresta. Alguma coisa grande, muito maior do que uma vassoura � ou, na verdade, cem vassouras �, voava em alta velocidade pelo c�u azul-escuro em dire��o ao castelo, e se tornava cada vez maior. � � um drag�o! � gritou esgani�ada uma aluna da primeira s�rie, perdendo completamente a cabe�a. � Deixa de ser burra... � uma casa voadora! � disse D�nis Creevey. O palpite de D�nis estava mais pr�ximo... Quando a sombra gigantesca e escura sobrevoou as copas das �rvores da Floresta Proibida, e as luzes que brilhavam nas janelas do castelo a iluminaram, eles viram uma enorme carruagem azul-clara do tamanho de um casar�o, que voava para eles, puxada por doze cavalos alados, todos baios, cada um parecendo um elefante de t�o grande. As tr�s primeiras fileiras de alunos recuaram quando a carruagem foi baixando para pousar a uma velocidade fant�stica � ent�o, com um baque estrondoso que fez Neville saltar para tr�s e pisar no p� de um aluno da quinta s�rie da Sonserina �, os cascos dos cavalos, maiores que pratos, bateram no ch�o. Um segundo mais tarde, a carruagem tamb�m pousou, balan�ando sobre as imensas rodas, enquanto os cavalos dourados agitavam as cabe�orras e reviravam os grandes olhos cor de fogo. Harry s� teve tempo de ver que a porta da carruagem tinha um bras�o (duas varinhas cruzadas, e de cada uma sa�am tr�s estrelas) antes que ela se abrisse. Um garoto de roupas azuis-claras saltou da carruagem, curvado para a frente, mexeu por um momento em alguma coisa que havia no ch�o da carruagem e abriu uma escadinha de ouro. Em seguida, recuou respeitosamente. Ent�o Harry viu um sapato preto e lustroso sair de dentro da carruagem � um sapato do tamanho de um tren� de crian�a � acompanhado, quase imediatamente, pela maior mulher que ele j� vira na vida. O tamanho da carruagem e dos cavalos ficou imediatamente explicado. Algumas pessoas exclamaram. Harry s� vira, at� ent�o, uma pessoa t�o grande quanto essa mulher: Hagrid; ele duvidou que houvesse dois cent�metros de diferen�a na altura dos dois. Mas, por alguma raz�o � talvez simplesmente porque estava habituado a Hagrid �, esta mulher (agora ao p� da escada, que olhava para as pessoas que a esperavam de olhos arregalados) parecia ainda mais anormalmente grande. Ao entrar no c�rculo de luz projetado pelo sagu�o de entrada, ela revelou um rosto bonito de pele morena, grandes olhos negros que pareciam l�quidos e um nariz um tanto bicudo. Seus cabelos estavam puxados para tr�s e presos em um coque na nuca. Vestia-se da cabe�a aos p�s de cetim negro, e brilhavam numerosas opalas em seu pesco�o e nos dedos grossos. Dumbledore come�ou a aplaudir; os estudantes, acompanhando a deixa, prorromperam em palmas, muitos deles nas pontas dos p�s, para poder ver melhor a mulher. O rosto dela se descontraiu em um gracioso sorriso e ela se dirigiu a Dumbledore, estendendo a m�o faiscante de an�is. O diretor, embora alto, mal precisou se curvar para beijar-lhe a m�o. � Minha cara Madame Maxime � disse. � Bem-vinda a Hogwarts. � Dumbly-dorr � disse Madame Maxime, com uma voz grave. � Esperro encontrr�-lo de boa sa�de. � Excelente, obrigado � respondeu Dumbledore. � Meus alunos � disse Madame Maxime, acenando descuidadamente uma de suas enormes m�os para tr�s. Harry, cuja aten��o estivera focalizada inteiramente em Madame Maxime, reparou, ent�o, que uns doze garotos e garotas � todos, pelo f�sico, no fim da adolesc�ncia � haviam descido da carruagem e agora estavam parados atr�s de Madame Maxime. Eles tremiam de frio, o que n�o surpreendia, pois suas vestes eram feitas de fin�ssima seda e nenhum deles usava capa. Alguns tinham enrolado echarpes e xales na cabe�a. Pelo que Harry p�de ver de seus rostos (estavam � enorme sombra de sua diretora), eles olhavam para o castelo, com uma express�o apreensiva. � Karrkarroff j� chegou? � perguntou Madame Maxime. � Deve chegar a qualquer momento � disse Dumbledore. � Gostaria de esperar aqui para receb�-lo ou prefere entrar para se aquecer um pouco? � Me aquecerr, acho. Mas os cavalos... � O nosso professor de Trato das Criaturas M�gicas ficar� encantado de cuidar deles � disse Dumbledore � assim que terminar de resolver um probleminha que ocorreu com alguns de seus outros... Protegidos. � Explosivins � murmurou Rony para Harry, rindo. � Meus corrc�is ecsigem... Hum... Um trratadorr forrte � disse Madame Maxime, com uma express�o de d�vida quanto � capacidade de um professor de Trato das Criaturas M�gicas em Hogwarts para dar conta da tarefa. � Eles son muito forrtes... � Posso lhe assegurar que Hagrid poder� cuidar da tarefa � disse o diretor, sorrindo. � �timo � disse Madame Maxime, fazendo uma ligeira rever�ncia �, por favorrr inforrrme a esse Agrid que os cavalos s� bebem u�sque de um malte. � Farei isso � respondeu Dumbledore, retribuindo a rever�ncia. � Venham � disse Madame Maxime imperiosamente aos seus alunos e o pessoal de Hogwarts se afastou para deix�-los subir os degraus de pedra. � De que tamanho voc� acha que os cavalos de Durmstrang v�o ser? �perguntou Simas Finnigan, esticando-se por tr�s de Lil� e Parvati para falar com Harry e Rony. � Bom, se eles forem maiores do que esses, nem Hagrid vai ser capaz de cuidar deles � comentou Harry. � Isto �, se ele j� n�o foi atacado pelos explosivins. Qual ser� o problema com eles? � Talvez tenham fugido � arriscou Rony esperan�oso. � Ah, n�o diz uma coisa dessas � falou Hermione, com um arrepio. � Imaginem aqueles bichos soltos pela propriedade... Eles continuaram parados, agora tremendo um pouco de frio, � espera da delega��o de Durmstrang. A maioria das pessoas contemplava o c�u, esperan�osa. Durante alguns minutos, o sil�ncio s� foi interrompido pelos caval�es de Madame Maxime que resfolegavam e pateavam. Mas ent�o... � Voc�s est�o ouvindo alguma coisa? � perguntou Rony de repente. Harry prestou aten��o, um barulho alto e estranho chegava at� eles atrav�s da escurid�o, um ronco abafado mesclado a um ru�do de suc��o, como se um imenso aspirador de p� estivesse se deslocando pelo leito de um rio... � O lago! � berrou Lino Jordan apontando. � Olhem para o lago! De sua posi��o, no alto dos gramados, de onde descortinavam a propriedade, eles tinham uma vis�o desimpedida da superf�cie escura e lisa da �gua � exceto que ela repentinamente deixara de ser lisa. Ocorria alguma perturba��o no fundo do lago, grandes bolhas se formavam no centro, e suas ondas agora quebravam nas margens de terra � e ent�o, bem no meio do lago, apareceu um rodamoinho, como se algu�m tivesse retirado uma tampa gigantesca do seu leito... Algo que parecia um pau comprido e preto come�ou a emergir lentamente do rodamoinho... E ent�o Harry avistou o velame... � � um mastro! � disse ele a Rony e Hermione. Lenta e imponentemente o navio saiu das �guas, refulgindo ao luar. Tinha uma estranha apar�ncia esquel�tica, como se tivesse ressuscitado de um naufr�gio, e as luzes fracas e enevoadas que brilhavam nas escotilhas lembravam olhos fantasmag�ricos. Finalmente, com uma grande movimenta��o de �gua, o navio emergiu inteiramente, balan�ando nas �guas turbulentas, e come�ou a deslizar para a margem. Alguns momentos depois, ouviram a �ncora ser atirada na �gua rasa e o baque surdo de um pranch�o ao ser baixado sobre a margem. Havia gente desembarcando, os garotos viram silhuetas passarem pelas luzes das escotilhas. Os rec�m-chegados pareciam ter f�sicos semelhantes aos de Crabbe e Goyle... Mas ent�o, quando subiram as encostas dos jardins e chegaram mais pr�ximos � luz que sa�a do sagu�o de entrada, Harry viu que aquela apar�ncia maci�a se devia �s capas de peles de fios longos e despenteados que estavam usando. Mas o homem que os conduzia ao castelo usava peles de um outro tipo; sedosas e prateadas como os seus cabelos. � Dumbledore! � cumprimentou ele cordialmente, ainda subindo a encosta. � Como vai, meu caro, como vai? � Otimamente, obrigado, Professor Karkaroff. O homem tinha uma voz ao mesmo tempo engra�ada e untuosa; quando ele entrou no c�rculo de luz das portas do castelo, os garotos viram que era alto e magro como Dumbledore, mas seus cabelos brancos eram curtos, e a barbicha (que terminava em um cachinho) n�o escondia inteiramente o seu queixo fraco. Quando alcan�ou Dumbledore, apertou-lhe a m�o com as suas duas. � Minha velha e querida Hogwarts! � exclamou, erguendo os olhos para o castelo e sorrindo, seus dentes eram um tanto amarelados, e Harry reparou que seu sorriso n�o abrangia os olhos, que permaneciam frios e astutos. � Como � bom estar aqui, como � bom... V�tor, venha, venha para o calor... Voc� n�o se importa, Dumbledore? V�tor est� com um ligeiro resfriado... Karkaroff fez sinal para um de seus estudantes avan�ar. Quando o rapaz passou, Harry viu de relance um nariz grande e curvo e sobrancelhas escuras e espessas. N�o precisava do soco que Rony lhe deu no bra�o, nem do cochicho na orelha para reconhecer aquele perfil. � Harry, � o Krum! CAP�TULO DEZESSEIS O C�lice de Fogo � Eu n�o acredito! � exclamou Rony, em tom de espanto, quando os alunos de Hogwarts se enfileiraram pelos degraus atr�s da delega��o de Durmstrang. � Krum, Harry! V�tor Krum! � Pelo amor de Deus, Rony, ele � apenas um jogador de Quadribol � disse Hermione. � Apenas um jogador de Quadribol? � exclamou Rony, olhando para a amiga como se n�o pudesse acreditar no que ouvia. � Mione, ele � um dos melhores apanhadores do mundo! Eu n�o fazia id�ia de que ele ainda estava na escola! Quando eles atravessaram o sagu�o com os demais alunos de Hogwarts, a caminho do Sal�o Principal, Harry viu Lino Jordan pulando nas pontas dos p�s para conseguir ver melhor a nuca de Krum. V�rias garotas do sexto ano apalpavam freneticamente os bolsos enquanto andavam: � Ah, n�o acredito, n�o trouxe uma �nica pena comigo... Voc� acha que ele assinaria o meu chap�u com batom? � Francamente! � exclamou Hermione com ar de superioridade, ao passarem pelas garotas, agora disputando o batom. � Vou pedir um aut�grafo a ele se puder � disse Rony �, voc� tem uma pena, Harry? � N�o, deixei todas l� em cima na mochila � respondeu Harry. Os garotos se dirigiram mesa da Grifin�ria e se sentaram. Rony tomou o cuidado de se sentar de frente para a porta, porque Krum e seus colegas de Durmstrang ainda estavam parados ali, aparentemente sem saber onde se sentar. Os alunos de Beauxbatons tinham escolhido lugares � mesa da Corvinal. Corriam os olhos pelo Sal�o Principal com uma express�o triste no rosto. Tr�s deles ainda seguravam as echarpes e xales que cobriam a cabe�a. � N�o est� fazendo tanto frio assim � comentou Hermione que os observava, irritada. � Por que n�o trouxeram as capas? � Aqui! Venham se sentar aqui! � sibilou Rony. � Aqui! Mione chega para l�, abre um espa�o... -Qu�? � Tarde demais � disse Rony com amargura. V�tor Krum e os colegas de Durmstrang tinham se acomodado � mesa da Sonserina. Harry viu que Malfoy, Crabbe e Goyle pareciam muito cheios de si com isso. Enquanto o garoto observava, Malfoy se curvou para falar com Krum. � �, vai fundo, puxa o saco dele, Malfoy � disse Rony com desd�m. � Mas, aposto como o Krum est� percebendo o jogo dele... Aposto como tem gente adulando ele o tempo todo... Onde � que voc� acha que eles v�o dormir? Poder�amos oferecer um lugar no nosso dormit�rio, Harry... Eu n�o me importaria de ceder a minha cama, e poderia dormir em uma cama de armar. Hermione deu uma risadinha desdenhosa. � Eles parecem bem mais felizes que o pessoal da Beauxbatons � disse Harry. Os alunos de Durmstrang estavam despindo os pesados casacos de peles e olhando para o teto escuro e estrelado com express�es de interesse; uns dois seguravam os pratos e ta�as de ouro e examinavam-nos, aparentemente impressionados. Na mesa dos funcion�rios, Filch, o zelador, acrescentava cadeiras. Estava usando a velha casaca mofada em homenagem � ocasi�o. Harry ficou surpreso de ver que ele acrescentara duas cadeiras de cada lado de Dumbledore. � Mas s� tem mais duas pessoas � disse Harry. � Por que Filch est� colocando mais quatro cadeiras? Quem mais vem? � �? � respondeu Rony vagamente. Ainda olhava com avidez para Krum. Depois que todos os estudantes tinham entrado no sal�o e sentado �s mesas das Casas, vieram os professores, que se dirigiram � mesa principal e se sentaram. Os �ltimos da fila foram o Professor Dumbledore, o Professor Karkaroff e Madame Maxime. Quando a diretora apareceu, os alunos de Beauxbatons se levantaram imediatamente. Alguns alunos de Hogwarts riram. A delega��o de Beauxbatons n�o pareceu se constranger nem um pouco e n�o tornou a se sentar at� que Madame Maxime estivesse acomodada do lado esquerdo de Dumbledore. Este, por�m, continuou em p� e o Sal�o Principal ficou silencioso. � Boa-noite, senhoras e senhores, fantasmas e, muito especialmente, h�spedes � disse Dumbledore sorrindo para os alunos estrangeiros. � Tenho o prazer de dar as boas-vindas a todos. Espero e confio que sua estada aqui seja confort�vel e prazerosa. Uma das garotas de Beauxbatons, ainda segurando o xale na cabe�a, deu uma inconfund�vel risadinha de zombaria. � Ningu�m est� obrigando voc� a ficar! � murmurou Hermione, com raiva. � O torneio ser� oficialmente aberto no fim do banquete � disse Dumbledore. � Agora convido todos a comer, beber e se fazer em casa! Ele se sentou, e Harry viu Karkaroff se curvar na mesma hora para frente e iniciar uma conversa com o diretor. As travessas diante deles se encheram de comida como de costume. Os elfos dom�sticos na cozinha pareciam ter se excedido, havia uma variedade de pratos � mesa que Harry jamais vira, inclusive alguns decididamente estrangeiros. � Que � isso? � disse Rony, apontando uma grande travessa com uma esp�cie de ensopado de frutos do mar ao lado de um grande pudim de carne e rins. � Boujilabaisse � disse Hermione. � Para voc� tamb�m! � respondeu Rony. � � francesa � explicou a garota. � Comi nas f�rias, no pen�ltimo ver�o, � muito gostosa. � Acredito � retrucou Rony, servindo-se de chouri�o de sangue. De alguma forma o Sal�o Principal parecia muito mais cheio do que de costume, ainda que s� houvesse umas vinte pessoas a mais ali, talvez porque os uniformes de cores diferentes se destacassem t�o claramente contra o preto das vestes de Hogwarts. Agora que tinham despido as peles, os alunos de Durmstrang deixavam ver que usavam vestes de um intenso vermelho-sangue. Vinte minutos depois do in�cio do banquete, Hagrid entrou discretamente pela porta atr�s da mesa dos funcion�rios. Deslizou para sua cadeira na ponta da mesa e acenou para Harry, Rony e Hermione com a m�o coberta de ataduras. � Os explosivins est�o passando bem, Hagrid? � perguntou Harry. � Otimamente � respondeu ele animado. � �, aposto que est�o � disse Rony em voz baixa. � Parece que finalmente encontraram a comida que gostam, n�o? Os dedos de Hagrid. Naquele instante, ouviram uma voz: � Com licen�a, voc�s von querrer a boujilabaisse? Era a garota de Beauxbatons que rira durante a fala de Dumbledore. Finalmente retirara o xale. Uma longa cascata de cabelos louro-prateados ca�a quase at� sua cintura. Tinha grandes olhos azul profundos e dentes muito brancos e iguais. Rony ficou p�rpura. Olhou para a garota, abriu a boca para responder, mas n�o saiu nada a n�o ser um fraco gargarejo. � Pode levar � respondeu Harry, empurrando a terrina para a garota. � Voc�s j� se serrvirram? � J� � disse Rony sem f�lego. � Estava excelente. A garota apanhou a terrina e levou-a cuidadosamente at� a mesa da Corvinal. Rony continuou com os olhos grudados nela como se nunca tivesse visto uma garota na vida. Harry come�ou a rir. O som das risadas pareceu sacudir Rony daquele transe. � � uma Veela! � exclamou com a voz rouca para Harry. � Claro que n�o! � retrucou Hermione mordazmente. � N�o vejo mais ningu�m olhando para ela de boca aberta como um idiota! Mas n�o era bem verdade. Quando a garota atravessou o sal�o, muitas cabe�as de garotos se viraram, e alguns pareciam ter ficado temporariamente sem fala, exatamente como Rony. � Estou dizendo, n�o � uma garota normal! � disse Rony, curvando-se para um lado para poder continuar a v�-la sem ningu�m na frente. � N�o fazem garotas assim em Hogwarts! � Fazem garotas legais em Hogwarts � respondeu Harry, sem pensar. Cho Chang, por acaso, estava sentada a poucos lugares da garota de cabelos prateados. � Quando voc�s dois repuserem os olhos dentro das �rbitas � disse Hermione com energia � poder�o ver quem acaba de chegar. Ela apontou para a mesa dos funcion�rios. As duas cadeiras que estavam vazias acabavam de ser ocupadas. Ludo Bagman sentou-se agora do outro lado do Professor Karkaroff enquanto o Sr. Crouch, chefe de Percy, ficou ao lado de Madame Maxime. � Que � que eles est�o fazendo aqui? � indagou Harry surpreso. � Eles organizaram o Torneio Tribruxo, n�o foi? � disse Hermione. � Imagino que quisessem vir assistir � abertura. Quando o segundo prato chegou, os garotos repararam que havia diversos pudins desconhecidos, tamb�m. Rony examinou um tipo esquisito de manjar branco mais atentamente, depois o deslocou com cuidado alguns cent�metros para a direita, de modo a deix�-lo bem vis�vel para os convidados � mesa da Corvinal. Mas a garota que lembrava uma Veela parecia ter comido o suficiente e n�o veio at� a mesa apanh�-lo. Depois que os pratos de ouro foram limpos, Dumbledore se levantou mais uma vez. Neste momento, uma agrad�vel tens�o pareceu invadir o sal�o. Harry sentiu um tremor de excita��o s� de imaginar o que viria a seguir. A algumas cadeiras de dist�ncia, Fred e Jorge se curvaram para frente, observando Dumbledore com grande concentra��o. � Chegou o momento � disse Dumbledore, sorrindo para o mar de rostos erguidos. � O Torneio Tribruxo vai come�ar. Eu gostaria de dizer algumas palavras de explica��o antes de mandar trazer o escr�nio... � O qu�? � murmurou Harry. Rony deu de ombros. � Apenas para esclarecer as regras que vigorar�o este ano. Mas, primeiramente, gostaria de apresentar �queles que ainda n�o os conhecem o Sr. Bartolomeu Crouch, Chefe do Departamento de Coopera��o Internacional em Magia � houve vagos e educados aplausos �, e o Sr. Ludo Bagman, Chefe do Departamento de Jogos e Esportes M�gicos. Houve uma rodada mais ruidosa de aplausos para Bagman do que para Crouch, talvez por sua fama de batedor ou simplesmente porque ele parecia muito mais simp�tico. Ele agradeceu com um aceno jovial. Bartolomeu Crouch n�o sorriu nem acenou quando seu nome foi anunciado. Ao lembrar-se dele vestido com um terno bem cortado na Copa Mundial de Quadribol, Harry achou que parecia estranho naquelas vestes de bruxo. Seu bigode � escovinha e a risca exata nos cabelos pareciam muito esquisitos ao lado dos longos cabelos e barbas de Dumbledore. � Nos �ltimos meses, o Sr. Bagman e o Sr. Crouch trabalharam incansavelmente na organiza��o do Torneio Tribruxo � continuou Dumbledore � e se juntar�o a mim, ao Professor Karkaroff e � Madame Maxime na banca que julgar� os esfor�os dos campe�es. A men��o da palavra "campe�es", a aten��o dos estudantes que ouviam pareceu se agu�ar. Talvez Dumbledore tivesse notado essa repentina imobilidade, porque ele sorriu e disse: � O escr�nio, ent�o, por favor, Sr. Filch. Filch, que andara rondando despercebido um extremo do sal�o, se aproximou ent�o de Dumbledore, trazendo uma arca de madeira, incrustada de pedras preciosas. Tinha uma apar�ncia extremamente antiga. Um murm�rio de interesse se elevou das mesas dos alunos. Denis Creevey chegou a subir na cadeira para ver direito, mas por ser t�o mi�do, sua cabe�a mal ultrapassou a dos outros. � As instru��es para as tarefas que os campe�es dever�o enfrentar este ano j� foram examinadas pelos Srs. Crouch e Bagman � disse Dumbledore, enquanto Filch depositava a arca cuidadosamente na mesa � frente do diretor �, e eles tomaram as provid�ncias necess�rias para cada desafio. Haver� tr�s tarefas, espa�adas durante o ano letivo, que servir�o para testar os campe�es de diferentes maneiras... Sua per�cia em magia, sua coragem, seus poderes de dedu��o e, naturalmente, sua capacidade de enfrentar o perigo. A esta �ltima palavra, o sal�o mergulhou num sil�ncio t�o absoluto que ningu�m parecia estar respirando. � Como todos sabem, tr�s campe�es competem no torneio � continuou Dumbledore calmamente �, um de cada escola. Eles receber�o notas por seu desempenho em cada uma das tarefas do torneio e aquele que tiver obtido o maior resultado no final da terceira tarefa ganhar� a Ta�a Tribruxo. Os campe�es ser�o escolhidos por um juiz imparcial... �O C�lice de Fogo�. Dumbledore puxou ent�o sua varinha e deu tr�s pancadas leves na tampa do escr�nio. A tampa se abriu lentamente com um rangido. O bruxo enfiou a m�o nele e tirou um grande c�lice de madeira toscamente talhado. Teria sido considerado totalmente comum se n�o estivesse cheio at� a borda com chamas branco-azuladas, que davam a impress�o de dan�ar. Dumbledore fechou o escr�nio e pousou cuidadosamente o c�lice sobre a tampa, onde seria vis�vel a todos no sal�o. � Quem quiser se candidatar a campe�o deve escrever seu nome e escola claramente em um peda�o de pergaminho e deposit�-lo no c�lice � disse Dumbledore. � Os candidatos ter�o vinte e quatro horas para apresentar seus nomes. Amanh� � noite, Festa do Dia das Bruxas, o c�lice devolver� o nome dos tr�s que ele julgou mais dignos de representar suas escolas. O c�lice ser� colocado no sagu�o de entrada hoje � noite, onde estar� perfeitamente acess�vel a todos que queiram competir. � Para garantir que nenhum aluno menor de idade ceda � tenta��o, -continuou Dumbledore, � tra�arei uma linha et�ria em volta do C�lice de Fogo depois que ele for colocado no sagu�o. Ningu�m com menos de dezessete anos conseguir� atravessar a linha. � E, finalmente, gostaria de incutir, nos que querem competir, que ningu�m deve se inscrever neste torneio levianamente. Uma vez escolhido pelo C�lice de Fogo, o campe�o ficar� obrigado a prosseguir at� o final do torneio. Colocar o nome no c�lice � um ato contratual m�gico. N�o pode haver mudan�a de id�ia, uma vez que a pessoa se torne campe�. Portanto, procurem se certificar de que est�o preparados de corpo e alma para competir, antes de depositar seu nome no c�lice. Agora, acho que j� est� na hora de irmos nos deitar. Boa-noite a todos. � Uma linha et�ria! � exclamou Fred Weasley, os olhos brilhando, enquanto atravessavam o sal�o rumo �s portas que se abriam para o sagu�o de entrada. � Bom, isso deve ser contorn�vel com uma Po��o para Envelhecer, n�o? E depois que o nome estiver no c�lice, a gente vai ficar rindo, ele n�o vai saber dizer se voc� tem ou n�o dezessete anos! � Mas eu acho que ningu�m abaixo de dezessete anos ter� a menor chance � disse Hermione � ainda n�o aprendemos o suficiente... � Fale por voc� � disse Jorge rispidamente. � Voc� vai tentar entrar, n�o vai, Harry? Harry pensou brevemente na insist�ncia de Dumbledore de que nenhum menor de dezessete anos submetesse o nome, mas ent�o a maravilhosa vis�o de si mesmo ganhando a Ta�a Tribruxo invadiu mais uma vez sua mente... Ele pensou no quanto Dumbledore ficaria zangado se algum menor de dezessete anos descobrisse uma maneira de atravessar a linha et�ria... � Onde est� ele? � perguntou Rony, que n�o estava ouvindo uma s� palavra dessa conversa, e examinava a aglomera��o de alunos para ver que fim levara Krum. � Dumbledore n�o disse onde o pessoal de Durmstrang vai dormir, disse? Mas sua pergunta foi respondida quase instantaneamente; os garotos estavam passando pela mesa da Sonserina naquele momento e Karkaroff se apressava em chegar aos seus alunos. � Voltamos ao navio, ent�o � foi ele dizendo. � V�tor, como � que voc� est� se sentindo? Comeu o suficiente? Devo mandar buscar um pouco de quent�o na cozinha? Harry viu Krum sacudir negativamente a cabe�a e tornar a vestir as peles. � Professor, eu gostaria de beber um pouco de vinho � disse outro garoto de Durmstrang esperan�oso. � Eu n�o ofereci a voc�, Poliakoff � retorquiu Karkaroff, seu caloroso ar paternal desaparecendo instantaneamente. � Vejo que derramou comida nas vestes outra vez, moleque porcalh�o... Karkaroff lhe deu as costas e conduziu os alunos para fora, chegando � porta no mesmo momento que Harry, Rony e Hermione. Harry parou para deix�-lo passar primeiro. � Obrigado � disse Karkaroff, olhando distra�do para o garoto. E ent�o o bruxo estacou. Tornou a virar a cabe�a para Harry e encarou-o como se n�o pudesse acreditar no que via. Atr�s do diretor, os alunos de Durmstrang pararam tamb�m. Os olhos de Karkaroff percorreram lentamente o rosto de Harry e se detiveram na cicatriz. Os alunos de Durmstrang miraram Harry cheios de curiosidade, tamb�m. Pelo canto do olho, o garoto viu que alguns faziam cara de terem finalmente entendido. O garoto que sujara as vestes de comida cutucou uma colega ao seu lado e apontou abertamente para a testa de Harry. � �, � o Harry Potter, sim � disse algu�m com um rosnado �s costas deles. O Professor Karkaroff virou-se completamente. Olho-Tonto Moody se achava parado ali, apoiado pesadamente na bengala, o olho m�gico encarando sem piscar o diretor de Durmstrang. A cor se esvaiu do rosto de Karkaroff enquanto Harry observava a cena. Uma express�o terr�vel, em que se misturavam a f�ria e o medo, perpassou o rosto do homem. � Voc�! � exclamou ele, encarando Moody como se duvidasse de que realmente o via. � Eu � disse Moody s�rio. � E a n�o ser que tenha alguma coisa a dizer a Potter, Karkatoff, voc� talvez queira continuar andando. Est� bloqueando a porta. Era verdade, metade dos estudantes no sal�o aguardava atr�s deles, espiando por cima dos ombros uns dos outros para ver o que o que estava causando o engarrafamento. Sem dizer mais uma palavra, o Professor Karkaroff arrebanhou seus alunos e saiu. Moody observou-o desaparecer de vista, seu olho m�gico fixando as costas do bruxo, uma express�o de intenso desagrado em seu rosto mutilado. Como o dia seguinte era s�bado, normalmente a maioria dos estudantes teria tomado o caf� da manh� mais tarde. Harry, Rony e Hermione, por�m, n�o foram os �nicos a se levantarem muito mais cedo do que costumavam nos fins de semana. Quando desceram para o sagu�o, viram umas vinte pessoas andando por ali, alguns comendo torrada, todos examinando o C�lice de Fogo. A pe�a fora colocada no centro do sagu�o sobre o banquinho que era usado para o Chap�u Seletor. Uma fina linha dourada fora tra�ada no ch�o, formando um c�rculo de uns tr�s metros de raio. � Algu�m j� depositou o nome? � perguntou Rony, ansioso, a uma aluna do terceiro ano. � Todo o pessoal da Durmstrang � respondeu ela. � Mas ainda n�o vi ningu�m de Hogwarts. � Aposto como tem gente que depositou ontem � noite depois que fomos todos dormir � disse Harry. � Eu teria feito isso se fosse eles... N�o iria querer ningu�m me olhando. E se o c�lice cuspisse o meu nome de volta na hora? Algu�m riu �s costas de Harry. Ao se virar, ele viu Fred, Jorge e Lino Jordan correndo escada abaixo, os tr�s parecendo excitad�ssimos. � Resolvido � disse Fred num cochicho vitorioso a Harry, Rony e Hermione. � Acabamos de tom�-la. � Qu�? � exclamou Rony. � A Po��o para Envelhecer, cabe�a-de-bagre � disse Fred. � Uma gota cada um � acrescentou Jorge, esfregando as m�os de alegria. � S� precisamos envelhecer alguns meses. � Vamos dividir os mil gale�es entre os tr�s se um de n�s vencer � disse Lino, com um largo sorriso. � N�o tenho muita certeza de que isso vai dar certo � disse Hermione em tom de aviso. � Tenho certeza de que Dumbledore ter� pensado nessa possibilidade. Fred, Jorge e Lino n�o lhe deram aten��o. � Pronto? � perguntou Fred aos outros dois, tremendo de excita��o. � Vamos ent�o, eu vou primeiro... Harry observou, fascinado, quando Fred tirou do bolso um peda�o de pergaminho com as palavras "Fred Weasley � Hogwarts". O garoto foi direto � linha e parou ali, balan�ando-se nas pontas dos p�s como um mergulhador se preparando para um salto de quinze metros. Depois, acompanhado pelo olhar de todos que estavam no sagu�o, ele respirou fundo e atravessou a linha. Por uma fra��o de segundo, Harry achou que a coisa dera certo � Jorge certamente pensara o mesmo, porque soltou um berro de triunfo e correu atr�s de Fred �, mas no momento seguinte, ouviram um chiado forte e os g�meos foram arremessados para fora do c�rculo dourado, como bolas de golfe. Eles aterrissaram dolorosamente, a dez metros de dist�ncia no frio ch�o de pedra e, para piorar a situa��o, ouviram um forte estalo e brotaram nos dois longas barbas brancas e id�nticas. O sagu�o de entrada ecoou de risadas. At� Fred e Jorge riram depois de se levantar e dar uma boa olhada nas barbas um do outro. � Eu avisei a voc�s � disse uma voz grave e risonha, ao que todos se viraram e deram com o Professor Dumbledore saindo do Sal�o Principal. Ele examinou Fred e Jorge, com os olhos cintilando. � Sugiro que os dois procurem Madame Pomfrey. Ela j� est� cuidando da Srta. Fawcett da Corvinal e do Sr. Summers da Lufa-Lufa, que tamb�m resolveram envelhecer um pouquinho. Embora eu deva dizer que as barbas deles n�o s�o t�o bonitas quanto as suas. Fred e Jorge seguiram para a ala hospitalar acompanhados por Lino, que rolava de rir, e Harry, Rony e Hermione, tamb�m �s gargalhadas, foram tomar o caf� da manh�. A decora��o no Sal�o Principal estava mudada essa manh�. Como era o Dia das Bruxas, uma nuvem de morcegos vivos esvoa�ava pelo teto encantado, enquanto centenas de ab�boras esculpidas riam-se em cada canto. Harry, � frente dos tr�s, foi at� Dino e Simas, que discutiam quais alunos de Hogwarts com dezessete anos ou mais estariam se inscrevendo. � Corre um boato que Warrington se levantou cedo e depositou o nome no c�lice � disse Dino a Harry. � Aquele grandalh�o da Sonserina que parece uma pregui�a. Harry, que jogara Quadribol contra Warrington, sacudiu a cabe�a, desgostoso. � N�o podemos ter um campe�o da Sonserina! � E todo o pessoal da Lufa-Lufa est� falando em Diggory � disse Simas com desprezo. � Eu n�o teria imaginado que ele fosse querer arriscar aquele belo f�sico. � Escutem! � disse Hermione de repente. As pessoas estavam aplaudindo no sagu�o de entrada. Todos se viraram nas cadeiras e viram Angelina Johnson entrando no sal�o, sorrindo meio encabulada. Uma garota alta, que jogava como artilheira no time de Quadribol da Grifin�ria, Angelina se aproximou dos colegas, sentou-se e disse: � Bom, est� feito! Depositei o meu nome! � Voc� est� brincando! � disse Rony, parecendo impressionado. � Ent�o voc� j� fez dezessete? � perguntou Harry. � Claro que sim. Voc� est� vendo alguma barba? � respondeu Rony. � Fiz anos na semana passada � disse Angelina. � Fico feliz que algu�m da Grifin�ria esteja concorrendo � comentou Hermione. � Espero sinceramente que voc� seja escolhida, Angelina! � Obrigada, Hermione � agradeceu Angelina, sorrindo para ela. � �, � melhor voc� do que o Z� Bonitinho Diggory � disse Simas, fazendo v�rios alunos da Lufa-Lufa que passavam pela mesa amarrarem a cara para ele. � Ent�o, que � que voc�s v�o fazer hoje? � perguntou Rony a Harry e Hermione, quando sa�am do sal�o depois do caf�. � Ainda n�o fomos visitar o Hagrid � lembrou Harry. � OK, desde que ele n�o nos pe�a para doar uns dedos aos explosivins. Uma express�o de grande excita��o surgiu de repente no rosto de Hermione. � Acabei de me tocar, ainda n�o pedi ao Hagrid para se alistar no F.A.L.E.! -disse ela animada. � Me esperem aqui enquanto dou uma corrida l� em cima para apanhar os distintivos. � Qual � a dela? � exclamou Rony, exasperado, quando Hermione saiu correndo escada acima. � Ei, Rony � disse Harry de repente. � � a sua amiga... Os alunos de Beauxbatons entravam no castelo, vindo dos jardins, entre eles a garota Veela. O pessoal aglomerado � volta do c�lice se afastou para deix�-los passar, observando-os ansiosos. Madame Maxime entrou atr�s dos alunos e organizou-os em fila. Um a um eles atravessaram a linha et�ria e depositaram seus peda�os de pergaminho nas chamas branco-azuladas. A cada nome inscrito o fogo se avermelhava e faiscava por um breve instante. � Que � que voc� acha que acontece com os que n�o s�o escolhidos? �murmurou Rony para Harry, quando a garota Veela deixou cair seu peda�o de pergaminho no C�lice de Fogo. � Voc� acha que voltam para a escola ou ficam por aqui para assistir ao torneio? � N�o sei � disse Harry. � Ficam por aqui, suponho... Madame Maxime vai ficar para julgar, n�o �? Depois que os alunos de Beauxbatons se inscreveram, Madame Maxime levou-os de volta aos jardins. � Onde � que eles est�o dormindo, ent�o? � perguntou Rony chegando at� as portas de entrada e acompanhando-os com o olhar. Um ru�do de chocalho �s costas dos dois anunciou a reapari��o de Hermione com a caixa de distintivos do F.A.L.E. � Ah, bom, vamos logo � disse Rony e desceu aos saltos os degraus de pedra, mantendo os olhos fixos na garota Veela, que a essa altura j� estava no meio do jardim com a diretora. Ao se aproximarem da cabana de Hagrid na orla da Floresta Proibida, o mist�rio do dormit�rio dos alunos de Beauxbatons se esclareceu. A enorme carruagem azul-clara em que haviam chegado fora estacionada a menos de duzentos metros da porta da cabana de Hagrid, e eles estavam embarcando nela. Os cavalos elef�nticos que puxavam a carruagem pastavam agora em um picadeiro improvisado montado a um lado. Harry bateu na porta de Hagrid e os latidos retumbantes de Canino responderam imediatamente. � At� que enfim! � saudou-os Hagrid, quando abriu a porta e viu quem batia. � Achei que voc�s tinham esquecido onde eu morava! � Estivemos realmente ocupados, Hag... � Hermione come�ou a dizer, mas parou de chofre, encarando Hagrid, aparentemente sem saber o que dizer. Hagrid estava usando seu melhor (e horroroso) terno de tecido marrom peludo, com uma gravata amarela e laranja. Mas isto n�o era o pior, ele evidentemente tentara domesticar os cabelos, usando uma grande quantidade de um produto que parecia graxa para eixo de rodas. Estavam agora alisados em dois molhos � talvez ele tivesse tentado fazer um rabo-de-cavalo como o de Gui, mas descobrira que tinha cabelo demais. O penteado realmente n�o combinava nadinha com Hagrid. Por um instante, Hermione mirou-o de olhos arregalados, depois, obviamente decidindo n�o fazer coment�rios disse: � Hum, onde est�o os explosivins? � L� fora no canteiro de ab�boras � respondeu Hagrid alegre. � Est�o ficando uns bich�es, quase um metro de comprimento agora. O �nico problema � que come�aram a se matar uns aos outros. � Ah, n�o, s�rio? � exclamou Hermione, lan�ando um olhar de censura a Rony, que olhava sem disfar�ar o penteado esquisito de Hagrid, e acabara de abrir a boca para dizer alguma coisa. � � � disse Hagrid com tristeza. � Mas tudo bem, eles agora est�o em caixas separadas. Ainda sobraram uns vinte. � Isso � que foi sorte! � disse Rony. Mas Hagrid n�o percebeu a ironia. A cabana de Hagrid tinha um �nico c�modo, e a um canto havia uma cama gigantesca coberta com uma colcha de retalhos. Uma mesa igualmente enorme com cadeiras ficava diante da lareira, sob uma quantidade de presuntos curados, e aves mortas que pendiam do teto. Os garotos se sentaram � mesa enquanto Hagrid preparava o ch� e logo se deixaram absorver por mais uma discuss�o sobre o Torneio Tribruxo. Hagrid parecia t�o excitado com o assunto quanto eles. � Aguardem � disse ele, sorrindo. � Aguardem s�. Voc�s v�o ver uma coisa que nunca viram antes. A primeira tarefa... Ah, mas eu n�o posso contar. � Vamos, Hagrid! � insistiram Harry, Rony e Hermione, mas ele apenas sacudiu a cabe�a, rindo. � N�o quero estragar a surpresa. Mas vai ser espetacular, isso eu posso dizer. Os campe�es v�o ter tarefas escolhidas sob medida. Nunca pensei que ia viver para ver organizarem novamente um Torneio Tribruxo! Os garotos acabaram almo�ando com Hagrid, embora n�o comessem muito � ele disse que preparara um picadinho de carne, mas quando Hermione encontrou uma garra no dela, os tr�s perderam um pouco o apetite. Mas se divertiram tentando fazer Hagrid contar as tarefas que haveria no torneio, especulando quais dos inscritos seriam provavelmente escolhidos para campe�es, e imaginando se Fred e Jorge j� teriam perdido as barbas. Uma chuva leve come�ara a cair l� pelo meio da tarde, foi muito gostoso sentarem ao p� da lareira e escutar as gotas de chuva tamborilando de leve na janela, vendo Hagrid cerzir suas meias enquanto discutia com Hermione sobre os elfos dom�sticos � porque ele se recusou terminantemente a entrar para o F.A.L.E. quando a garota lhe mostrou os distintivos. � Seria fazer a eles uma maldade, Hermione � disse s�rio enquanto trabalhava com uma enorme agulha de osso enfiada com uma linha de cerzir amarela. Faz parte da natureza deles cuidar dos seres humanos, � disso que eles gostam, entende? Voc� os faria infelizes se tirasse o trabalho deles e os insultaria se tentasse lhes pagar um sal�rio. � Mas Harry libertou o Dobby e ele foi � lua de tanta felicidade! � disse Hermione. � E ouvimos dizer que ele est� exigindo sal�rio agora! � Tudo bem, tem aberra��es em toda esp�cie da natureza. N�o estou dizendo que n�o haja elfo esquisito que aceite a liberdade, mas voc� jamais convenceria a maioria deles a concordar com isso, n�o, nada feito, Hermione. Hermione pareceu ficar realmente contrariada e guardou a caixa de distintivos no bolso da capa. L� pelas cinco horas come�ou a escurecer, e Rony, Harry e Hermione decidiram que j� era hora de voltar ao castelo para a festa do Dia das Bruxas � e, o que era mais importante, para o an�ncio de quem seriam os campe�es das escolas. � Vou com voc�s � disse Hagrid, deixando o cerzido de lado. � Me d�em um segundo. Ele se levantou, foi at� a c�moda ao lado da cama e come�ou a procurar alguma coisa nas gavetas. Os garotos n�o prestaram muita aten��o, at� que um fedor realmente horr�vel chegou �s suas narinas. Tossindo, Rony perguntou: � Hagrid, que � isso? � Eh? � exclamou Hagrid, virando-se com um enorme frasco na m�o. � Voc� n�o gostou? � Isso � lo��o de barba? � perguntou Hermione, com um tom de voz levemente chocado. � Hum... Eau-de-Cologne � murmurou Hagrid. Ele ficou vermelho. � Talvez seja um pouco demais � disse meio impaciente. � Vou tirar, esperem a�... Ele saiu desajeitado da cabana e os garotos o viram lavar-se vigorosamente no barril de �gua do lado da janela. � Eau-de-Cologne? � repetiu Hermione surpresa. � Hagrid? � E qual � a explica��o para os cabelos e o terno dele? � perguntou Harry em voz baixa. � Olhem l�! � exclamou Rony de repente, apontando para fora da janela. Hagrid acabara de se aprumar e se virara. Se ficara vermelho antes, n�o era nada compar�vel ao que estava acontecendo agora. Levantando-se muito cautelosamente, para que Hagrid n�o os visse, Harry, Rony e Hermione espiaram pela janela e viram que Madame Maxime e os alunos de Beauxbatons tinham acabado de sair da carruagem, obviamente para irem � festa tamb�m. Os garotos n�o conseguiam ouvir, mas Hagrid estava falando com a diretora com os olhos emba�ados e uma express�o de arrebatamento, que Harry s� notara nele uma �nica vez � quando admirava o filhote de drag�o Norberto. � Ele est� indo com ela para o castelo! � disse Hermione indignada. � Pensei que ele estava nos esperando! Sem lan�ar sequer um olhar � cabana, Hagrid foi subindo pelo gramado com Madame Maxime, e os alunos de Beauxbatons seguiam em sua cola, quase correndo para acompanhar os passos enormes dos dois. � Ele est� ca�do por ela! � comentou Rony incr�dulo. � Bom, se eles tiverem filhos, v�o marcar um recorde mundial, aposto como um beb� deles iria pesar uma tonelada. Os tr�s sa�ram da cabana sozinhos e fecharam a porta ao passar. Estava surpreendentemente escuro do lado de fora. Puxando as capas para mais junto do corpo, eles subiram pelos gramados da propriedade. � Ah, s�o eles. Olhem l�! � sussurrou Hermione. A delega��o de Durmstrang seguia do lago para o castelo. Vitor Krum caminhava ao lado de Karkaroff e os outros os acompanhavam em pequenos grupos. Rony observou Krum excitado, mas o jogador nem olhou para os lados ao alcan�ar as portas do castelo um pouco � frente de Hermione, Rony e Harry, andando sempre reto. Quando os tr�s amigos entraram, o sal�o iluminado por velas estava quase cheio. O C�lice de Fogo fora mudado de lugar; agora se encontrava diante da cadeira vazia de Dumbledore, � mesa dos professores. Fred e Jorge � novamente de cara lisa � pareciam ter aceitado o desapontamento muito bem. � Espero que seja Angelina � disse Fred, quando Harry, Rony e Hermione se sentaram. � Eu tamb�m! � disse Hermione sem f�lego. � Bom, vamos saber daqui a pouco! A festa das bruxas pareceu durar muito mais do que habitualmente. Talvez porque fosse o segundo banquete em dois dias, Harry n�o pareceu interessado na comida preparada com extravag�ncia tanto quanto das outras vezes. Como todas as pessoas no sal�o, a julgar pelas constantes espichadas de pesco�os, as express�es impacientes nos rostos, o desassossego de todos que se levantavam para ver se Dumbledore j� acabara de comer, Harry simplesmente queria que os pratos fossem retirados e os nomes dos campe�es anunciados. Depois de muito tempo, os pratos voltaram ao estado de limpeza inicial, houve um aumento acentuado no volume dos ru�dos no sal�o, que caiu quase instantaneamente quando Dumbledore se ergueu. A cada lado dele, o Professor Karkaroff e Madame M�xime pareciam t�o tensos e ansiosos quanto os demais. Ludo Bagman sorria e piscava para v�rios alunos. O Sr. Crouch, por�m, parecia bastante desinteressado, quase entediado. � Bom, o C�lice de Fogo est� quase pronto para decidir � disse Dumbledore. � Estimo que s� precise de mais um minuto. Agora, quando os nomes dos campe�es forem chamados, eu pediria que eles viessem at� este lado do sal�o, passassem diante da mesa dos professores e entrassem na c�mara ao lado � ele indicou a porta atr�s da mesa �, onde receber�o as primeiras instru��es. Ele puxou, ent�o, a varinha e fez um gesto amplo, na mesma hora todas as velas, exceto as que estavam dentro das ab�boras recortadas, se apagaram, mergulhando o sal�o na penumbra. O C�lice de Fogo agora brilhava com mais intensidade do que qualquer outra coisa ali, a brancura azulada das chamas que faiscavam vivamente quase fazia os olhos doerem. Todos observavam � espera... Alguns consultavam os rel�gios a todo momento... � A qualquer segundo agora � sussurrou Lino Jordan, a dois lugares de dist�ncia de Harry. As chamas dentro do C�lice de repente tornaram a se avermelhar. Come�aram a soltar fa�scas. No momento seguinte, uma l�ngua de fogo se ergueu no ar, e expeliu um peda�o de pergaminho chamuscado � o sal�o inteiro prendeu a respira��o. Dumbledore apanhou o pergaminho e segurou-o � dist�ncia do bra�o, de modo a poder l�-lo � luz das chamas, que voltaram a ficar branco-azuladas. � O campe�o de Durmstrang � leu ele em alto e bom som � ser� V�tor Krum. � Grande surpresa! � berrou Rony, ao mesmo tempo que uma tempestade de aplausos e vivas percorreu o sal�o. Harry viu V�tor Krum se levantar da mesa da Sonserina e se encaminhar com as costas curvas para Dumbledore, ele virou � direita, passou diante da mesa dos professores e desapareceu pela porta que levava � c�mara vizinha. � Bravo, V�tor! � disse Karkaroff com a voz t�o retumbante que todos puderam ouvi-lo apesar dos aplausos. � Eu sabia que voc� era capaz! Os aplausos e coment�rios morreram. Agora todas as aten��es tornaram a se concentrar no C�lice de Fogo, que, segundos depois, tornou a se avermelhar. Um segundo peda�o de pergaminho voou de dentro dele, lan�ado pelas chamas. � O campe�o de Beauxbatons � Fleur Delacour! � �, ela, Rony! � gritou Harry, quando a garota que parecia uma Veela levantou-se graciosamente, sacudiu a cascata de cabelos louro-prateados para tr�s e caminhou impetuosamente entre as mesas da Corvinal e da Lufa-Lufa. � Ah, olha l�, eles est�o desapontados � disse Hermione sobrepondo sua voz ao barulho e indicando com a cabe�a o resto da delega��o de Beauxbatons. "Desapontados" era dizer pouco, pensou Harry. Duas das garotas que n�o tinham sido escolhidas debulhavam-se em l�grimas e solu�avam, com as cabe�as deitadas nos bra�os. Quando Fleur Delacour tamb�m desapareceu na c�mara vizinha, todos tornaram a fazer sil�ncio, mas desta vez foi um sil�ncio t�o pesado de excita��o que quase dava para sentir seu gosto. O campe�o de Hogwarts � o pr�ximo... E o C�lice de Fogo ficou mais uma vez vermelho; jorraram fa�scas dele; a l�ngua de fogo ergueu-se muito alto no ar e de sua ponta Dumbledore tirou o terceiro peda�o de pergaminho. � O campe�o de Hogwarts � anunciou ele � � Cedrico Diggory! � N�o! � exclamou Rony em voz alta, mas ningu�m o ouviu exceto Harry; a zoeira na mesa vizinha era grande demais. Cada um dos alunos da Lufa-Lufa ficou de p�, gritando e sapateando, quando Cedrico passou por eles, um enorme sorriso no rosto, e se encaminhou para a c�mara atr�s da mesa dos professores. Na verdade, os aplausos para Cedrico foram t�o longos que passou algum tempo at� que Dumbledore pudesse se fazer ouvir novamente. � Excelente! � exclamou Dumbledore feliz, quando finalmente o tumulto serenou. � Muito bem, agora temos os nossos tr�s campe�es. Estou certo de que posso contar com todos, inclusive com os demais alunos de Beauxbatons e Durmstrang, para oferecer aos nossos campe�es todo o apoio que puderem, torcendo pelo seus campe�es, voc�s contribuir�o de maneira muito real... Mas Dumbledore parou inesperadamente de falar, e tornou-se �bvio para todos o que o distra�ra. O fogo no C�lice acabara de se avermelhar outra vez. Expeliu fa�scas. Uma longa chama elevou-se subitamente no ar e ergueu mais um peda�o de pergaminho. Com um gesto aparentemente autom�tico, Dumbledore estendeu a m�o e apanhou o pergaminho. Ergueu-o e seus olhos se arregalaram para o nome que viu escrito. Houve uma longa pausa, durante a qual o bruxo mirou o pergaminho em suas m�os e todos no sal�o fixaram o olhar em Dumbledore. Ele pigarreou e leu... � Harry Potter! CAP�TULO DEZESSETE Os Quatro Campe�es Harry ficou sentado ali, consciente de que cada cabe�a no Sal�o Principal se virara para ele. Sentia-se atordoado. Entorpecido. Sem d�vida estava sonhando. N�o ouvira direito. N�o houve aplausos. Um zunido, como o de abelhas enraivecidas, come�ou a encher o sal�o, alguns estudantes ficaram em p� para ter uma vis�o melhor de Harry, sentado ali, im�vel, em sua cadeira. Na mesa principal, a Professora Minerva se levantara e passara por Ludo Bagman e pelo Professor Karkaroff para cochichar urgentemente com o Professor Dumbledore, que inclinara a cabe�a para ela, franzindo ligeiramente a testa. Harry se virou para Rony e Hermione, mais al�m, viu toda a longa mesa da Grifin�ria observando-o, boquiaberta. � Eu n�o inscrevi meu nome � disse Harry sem saber o que dizer. � Voc�s sabem que n�o. Os dois apenas olharam para ele tamb�m, sem saber o que responder. Na mesa principal, o Professor Dumbledore se aprumou, acenando a cabe�a afirmativamente para a Professora Minerva. � Harry Potter! � tornou ele a chamar. � Harry! Aqui, se me faz o favor! � Anda � murmurou Hermione, dando um leve empurr�o em Harry. O garoto ficou de p�, pisou na barra das vestes e trope�ou brevemente. Saiu pelo espa�o entre as mesas da Grifin�ria e da Lufa-Lufa. Teve a impress�o de estar fazendo uma longu�ssima caminhada, a mesa principal parecia n�o chegar mais perto e ele sentia centenas de olhos fixos nele, como se cada um fosse um refletor. O zunzum n�o parava de crescer. Depois do que lhe pareceu uma hora, o garoto chegou diante de Dumbledore, sentindo fixos nele os olhares dos professores. � Bom... Pela porta � disse Dumbledore. O diretor n�o sorria. Harry passou pela mesa dos professores. Hagrid estava sentado bem no fim. Mas n�o piscou para Harry, nem acenou nem fez qualquer dos sinais habituais para cumpriment�-lo. Parecia inteiramente perplexo e olhou para Harry quando este passou, como os demais, O garoto passou pela porta e se viu em um aposento menor, com as paredes cobertas de retratos a �leo de bruxas e bruxos. Um belo fogo rugia na lareira em frente. Os rostos nos retratos se viraram para olh�-lo quando ele entrou. Surpreendeu uma bruxa encarquilhada passando rapidamente da moldura do pr�prio retrato para a moldura vizinha, que enquadrava um bruxo de bigodes de morsa. A bruxa encarquilhada come�ou a cochichar no ouvido do colega. V�tor Krum, Cedrico Diggory e Fleur Delacour estavam reunidos em torno da lareira. Pareciam estranhamente imponentes, recortados contra as chamas. Krum, curvado e pensativo, apoiava-se no console da lareira, ligeiramente afastado dos outros. Cedrico estava parado com as m�os �s costas, contemplando o fogo. Fleur Delacour virou a cabe�a quando Harry entrou e jogou para tr�s a cascata de cabelos longos e prateados. � Que foi? � perguntou ela. � Querrem que a jante volte ao salon? Pensava que ele viera trazer um recado. Harry n�o sabia como explicar o que acabara de acontecer. Ficou ali parado, olhando para os tr�s campe�es. Percebeu de repente como eram altos. Houve um ru�do de passos apressados atr�s de Harry, e Ludo Bagman entrou na sala. Segurou o garoto pelo bra�o e levou-o at� os outros. � Extraordin�rio! � murmurou, apertando o bra�o de Harry. � Absolutamente extraordin�rio! Senhores... Senhora � acrescentou, aproximando-se da lareira e falando aos outros tr�s. � Gostaria de lhes apresentar, por mais incr�vel que possa parecer, o quarto campe�o do Torneio Tribruxo. V�tor Krum se empertigou. Seu rosto carrancudo nublou-se ao examinar Harry. Cedrico fez cara de estupefa��o. Olhou de Bagman para Harry e de volta como se tivesse certeza de que ouvira mal o que o bruxo acabara de dizer. Fleur Delacour, por�m, sacudiu os cabelos, sorriu e disse: � Que grrande piada, Senhorr Bagman. � Piada? � repetiu Bagman, confuso. � N�o, n�o, n�o � n�o! O nome de Harry acaba de sair do C�lice de Fogo! As grossas sobrancelhas de Krum se contra�ram ligeiramente. Cedrico continuou a parecer educadamente surpreso. Fleur franziu a testa. � Mas evidaman houve um engano � disse a Bagman com desd�m. � Ele non pode competirr. � jovem demais. � Bom... � surpreendente � concordou Bagman, esfregando o queixo liso e sorrindo para Harry. � Mas, como sabem, o limite de idade s� foi imposto este ano como medida suplementar de precau��o. E como o nome dele saiu do C�lice de Fogo... Quero dizer, acho que a essa altura n�o podemos fugir � responsabilidade... Somos obrigados... Harry ter� que se esfor�ar o m�ximo que... A porta �s costas deles se abriu e um grande grupo de pessoas entrou: o Professor Dumbledore, seguido de perto pelo Sr. Crouch, o Professor Karkaroff, Madame Maxime, a Professora McGonagall e o Professor Snape. Harry ouviu o zunzum de centenas de estudantes do outro lado da parede, antes da Professora McGonagall fechar a porta. � Madame Maxime! � chamou Fleur na mesma hora, indo ao encontro de sua diretora. � Eston dizando que esse garrotinho vai competirr tamb�! Sob o seu atordoamento e incredulidade, Harry sentiu uma crispa��o de raiva. Garrotinho? Madame Maxime se empertigara at� o limite de sua consider�vel altura. O cocuruto da bela cabe�a ro�ou o lustre repleto de velas, e seu imenso peito coberto de cetim negro se estufou. � Que significa isso, Dumbly-dorr? � perguntou imperiosamente. � Eu tamb�m gostaria de saber, Dumbledore � disse o Professor Karkaroff. Em seu rosto havia um sorriso inflex�vel e seus olhos azuis eram duas lascas de gelo. � Dois campe�es de Hogwarts? N�o me lembro de ningu�m ter me dito que a escola que sediasse o torneio poderia ter dois campe�es, ou ser� que n�o li o regulamento com a devida aten��o? Ele deu um sorrisinho maldoso. � Imposs�vel � exclamou Madame Maxime, cujas enormes m�os com numerosas e soberbas opalas descansavam no ombro de Fleur. � Hogwarts n�o pode terr dois campeons. Serria muito injusto. � Tivemos a impress�o de que a sua linha et�ria deixaria de fora os competidores mais jovens, Dumbledore � disse Karkaroff, o sorriso inflex�vel ainda no rosto, embora seus olhos estivessem mais frios que nunca. � Do contr�rio, ter�amos, naturalmente, trazido uma sele��o de candidatos mais ampla de nossas escolas. � N�o � culpa de ningu�m, exceto de Potter, Karkaroff � falou Snape suavemente. Seus olhos negros brilharam de mal�cia. � N�o saia culpando Dumbledore pela determina��o de Potter de desobedecer �s regras. Ele n�o tem feito nada exceto transgredir limites desde que chegou aqui... � Muito obrigado, Severo � disse Dumbledore com firmeza, e Snape se calou, embora seus olhos continuassem a brilhar maldosamente por tr�s da cortina de cabelos negros e oleosos. O Professor Dumbledore olhou ent�o para Harry, que o encarou, tentando perceber a express�o dos olhos do diretor por tr�s dos oclinhos de meia-lua. � Voc� depositou seu nome no C�lice de Fogo, Harry? � perguntou Dumbledore calmamente. � N�o � respondeu Harry. Estava consciente de que todos o olhavam com aten��o. Nas sombras, Snape fez um barulhinho impaciente de descren�a. � Voc� pediu a um estudante mais velho para deposit�-lo no C�lice de Fogo para voc�? � tornou o diretor, sem dar aten��o a Snape. � N�o � disse Harry com veem�ncia. � Ah, mas � clarro que ele est� mentindo � exclamou Madame Maxime. Snape agora sacudia a cabe�a, a boca crispada. � Ele n�o poderia ter atravessado a linha et�ria � interp�s a Professora Minerva energicamente. � Tenho certeza de que todos concordamos nisso... � Dumbly-dorr deve terr se enganado ao tra�arr a linha � concluiu Madame Maxime, encolhendo os ombros. � � claro que isto � poss�vel � respondeu Dumbledore polidamente. � Dumbledore, voc� sabe muito bem que n�o se enganou! � exclamou a Professora Minerva, aborrecida. � Francamente, que tolice! Harry n�o poderia ter cruzado a linha pessoalmente, e como o Professor Dumbledore acredita que ele n�o convenceu um colega mais velho a fazer isso por ele, decerto isto deveria bastar para todos n�s! Ela lan�ou um olhar muito zangado ao Professor Snape. � Sr. Crouch... Sr. Bagman � come�ou Karkaroff, a voz mais uma vez untuosa �, os senhores s�o os nossos... Hum... Juizes objetivos. Certamente os senhores concordar�o que isto � extremamente irregular? Bagman enxugou o rosto redondo e infantil com o len�o e olhou para o Sr. Crouch, que estava parado fora do c�rculo das chamas da lareira, o rosto semi-oculto pelas sombras. Parecia um pouco sobrenatural, a obscuridade fazia-o parecer muito mais velho, emprestando-lhe quase uma apar�ncia de caveira. Quando falou, por�m, foi em seu tom habitualmente seco. � Devemos obedecer ao regulamento e o regulamento diz claramente que as pessoas cujos nomes sa�rem do C�lice de Fogo devem competir no torneio. � Bom, Bart� conhece os regulamentos de tr�s para diante � disse Bagman, sorrindo, e se voltou para Karkaroff e Madame Maxime como se o assunto estivesse definitivamente encerrado. � Eu insisto em tornar a submeter os nomes do restante dos meus alunos -disse Karkaroff. Ele agora deixara de lado seu tom untuoso e o sorriso. Seu rosto tinha uma express�o realmente feia. � Voc�s preparar�o novamente o C�lice de Fogo e continuaremos a depositar nomes at� cada escola ter dois campe�es. Seria o justo, Dumbledore. � Mas Karkaroff, a coisa n�o funciona assim � comentou Bagman. � O C�lice de Fogo se apagou, e n�o voltar� a arder at� o inicio do pr�ximo torneio... � ... No qual Durmstrang, com toda a certeza, n�o ir� competir! � explodiu Karkaroff � Depois de tantas reuni�es e negocia��es e tantos compromissos, eu n�o esperava que acontecesse uma coisa desta natureza! Tenho at� vontade de me retirar agora mesmo! � Uma amea�a in�til, Karkaroff � rosnou uma voz pr�xima � porta. � Voc� n�o pode abandonar o seu campe�o agora. Ele tem que competir. Todos t�m que competir. Um ato contratual m�gico, conforme disse Dumbledore. Conveniente, n�o � mesmo? Moody acabara de entrar na sala. Encaminhou-se, mancando, at� a lareira, e a cada passo que dava, ouvia-se uma batidinha. � Conveniente? � perguntou Karkaroff. � Receio n�o estar entendendo, Moody. Harry percebeu que o bruxo tentava parecer desdenhoso, como se n�o valesse a pena dar aten��o ao que Moody dissera, mas suas m�os o tra�am, tinham se fechado em punhos. � N�o mesmo? � perguntou Moody em voz alta. � � muito simples Karkaroff. Algu�m depositou o nome de Harry naquele c�lice sabendo que o garoto teria que competir se sa�sse o seu nome. � Evidaman alg�m que querria oferrecer a Hogwarts duas oporrtunidades de vancerr! � comentou Madame Maxime. � Eu concordo, Madame Maxime � disse Karkaroff, com uma rever�ncia. �Vou reclamar com o Minist�rio da Magia e a Confedera��o Internacional dos Bruxos... � Se algu�m tem raz�o para reclamar � o Potter � rosnou Moody �, mas... O que � engra�ado... N�o estou ouvindo ele dizer uma �nica palavra... � Por que ele irria reclamar? � disse Fleur Delacour de repente, batendo o p�. � Ele tam a chance de competirr, n�o �? Durrante semanas vivemos a esperran�a de serr escolhidos! A honrra de nossas escolas! Mil gale�es de prr�mio, � uma chance pela qual muita jante morrerria! � Talvez algu�m tenha esperan�a de que Harry morra � disse Moody, com um leve vest�gio de rosnado na voz. Seguiu-se um sil�ncio extremamente tenso �s suas palavras. Ludo Bagman, que parecia de fato muito ansioso, balan�ou-se nervoso e disse: � Moody, meu caro... Que coisa para voc� dizer! � Todos sabemos que o Professor Moody considera a manh� perdida se n�o descobrir seis conspira��es para assassin�-lo antes do almo�o � disse Karkaroff em voz alta. � Pelo visto, agora est� ensinando a seus alunos o medo de serem assassinados, tamb�m. Uma estranha qualidade para um professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Dumbledore, mas com toda a certeza voc� tem suas raz�es. � Ser� que estou imaginando coisas? Vendo coisas? � rosnou Moody. � Foi um bruxo ou uma bruxa habilitada que p�s o nome do garoto naquele c�lice... � Ah, que prrova h� disso? � exclamou Madame Maxime, erguendo as enormes m�os. � Porque enganou um objeto m�gico de grande poder! � disse Moody. � Seria preciso um Feiti�o para confundir excepcionalmente forte para mistificar aquele c�lice a ponto de faz�-lo esquecer que apenas tr�s escolas competem no torneio... Estou imaginando que algu�m tenha inscrito Potter em uma quarta escola, para garantir que ele fosse o �nico de sua categoria... � Voc� parece ter pensado muito no assunto � disse Karkaroff com frieza �, e n�o deixa de ser uma teoria criativa, embora, � claro, eu tenha ouvido dizer que recentemente voc� meteu na cabe�a que um dos seus presentes de anivers�rio continha um ovo de basilisco ardilosamente disfar�ado e o fez em peda�os antes de se dar conta de que era um rel�gio de viajem. Ent�o voc� compreender� se n�o o levarmos inteiramente a serio... � H� pessoas que usam ocasi�es inocentes em proveito pr�prio � retrucou Moody num tom amea�ador. � o meu trabalho � pensar como os bruxos das trevas pensariam, Karkaroff, como voc� deve se lembrar... � Alastor! � exclamou Dumbledore em tom de aviso. Harry se perguntou por um momento com quem ele estaria falando, mas logo percebeu que "Olho-Tonto� n�o poderia ser o verdadeiro nome de Moody. Este se calou, embora ainda observasse Karkaroff com satisfa��o, o rosto de Karkaroff estava em brasa. � Como foi que essa situa��o surgiu, n�o sabemos � disse Dumbledore dirigindo-se �s pessoas reunidas na sala. � Parece-me, no entanto, que n�o temos alternativa alguma sen�o aceit�-la. Os dois, Cedrico e Harry, foram escolhidos para competir no torneio. E, portanto, � o que far�o... � Ah, mas Dumbly-dorr... � Minha cara Madame Maxime, se a senhora tiver uma alternativa, ficarei encantado em ouvi-la. Dumbledore aguardou, mas Madame Maxime n�o disse nada, apenas o fitou de cara amarrada. E n�o foi a �nica, tampouco. Snape parecia furioso, Karkaroff, l�vido. Bagman, por�m, parecia bastante excitado. � Bom, vamos agilizar isso, ent�o? � disse, esfregando as m�os e sorrindo para os presentes. � Temos que dar nossas instru��es aos campe�es, n�o � mesmo? Bart�, quer fazer as honras da casa? � O Sr. Crouch pareceu despertar de um profundo devaneio. � Sim � disse ele �, instru��es. E... A primeira tarefa... Encaminhou-se, ent�o, para a claridade das chamas. De perto, Harry achou que ele parecia estar passando mal. Havia sombras escuras sob seus olhos e sua pele enrugada tinha uma apar�ncia fr�gil que lembrava papel, tra�os que n�o estavam ali durante a Copa Mundial de Quadribol. � A primeira tarefa destina-se a testar o arrojo dos campe�es � disse ele a Harry, Cedrico, Fleur e Krum �, por isso n�o vamos lhes dizer qual �. A coragem diante do desconhecido � uma qualidade importante em um bruxo... Muito importante... � A primeira tarefa ter� lugar, em vinte e quatro de novembro, perante os demais estudantes e a banca de juizes. � proibido aos campe�es pedirem aos seus professores, ou aceitarem deles, ajuda de qualquer tipo para realizar as tarefas do torneio. Os campe�es enfrentar�o o primeiro desafio armados apenas de varinhas. Receber�o informa��es sobre a segunda tarefa quando a primeira estiver conclu�da. Por for�a da natureza �rdua e demorada do torneio, os campe�es est�o dispensados dos exames do fim do ano letivo. O Sr. Crouch virou-se para encarar Dumbledore. � Acho que � s� isso, n�o �, Alvo? � Acho que sim � respondeu Dumbledore, que observava o Sr. Crouch com uma leve preocupa��o. � Voc� tem certeza de que n�o quer pernoitar em Hogwarts, Bart�? � N�o, Dumbledore, preciso voltar ao Minist�rio. Estamos passando um momento muito movimentado e muito dif�cil... Deixei o jovem Weatherby respons�vel pelo departamento... Muito entusiasmado... Um pouquinho demais, para dizer a verdade... � Voc� vai pelo menos tomar um drinque antes de partir? � convidou Dumbledore. � Vamos, Bart�, eu vou ficar! � disse Bagman animado. � As coisas est�o acontecendo em Hogwarts agora, sabe, est� muito mais excitante aqui do que no escrit�rio! � Acho que n�o, Ludo � respondeu Crouch, com um toque de sua antiga impaci�ncia. � Professor Karkaroff, Madame Maxime, um �ltimo drinque antes de nos recolhermos? � perguntou Dumbledore. Mas Madame Maxime j� passara um bra�o pelos ombros de Fleur e a conduzia rapidamente para fora da sala. Harry ouviu as duas conversarem muito depressa em franc�s, ao atravessarem o Sal�o Principal. Karkaroff fez sinal para Krum e eles, tamb�m, agitados, sa�ram em silencio. � Harry, Cedrico, sugiro que voc�s v�o se deitar � disse Dumbledore, sorrindo para os dois. � Tenho certeza de que Grifin�ria e Lufa-Lufa est�o aguardando voc�s para comemorar e seria uma pena privar seus colegas desta excelente desculpa para fazerem muito barulho e confus�o. Harry olhou para Cedrico, que concordou com a cabe�a, e juntos sa�ram da sala. O Sal�o Principal agora estava deserto; as velas j� estavam pequenas, dando aos sorrisos serrilhados das ab�boras um ar misterioso e bruxuleante. � Ent�o � disse Cedrico com um sorrisinho. � Vamos jogar um contra o outro novamente! � Acho que sim � respondeu Harry. Na realidade ele n�o conseguiu pensar no que dizer. Dentro de sua cabe�a parecia haver uma desordem total, como se o seu c�rebro tivesse sido saqueado. � Ent�o... Me conta... � disse Cedrico, quando chegaram ao sagu�o de entrada, que estava agora iluminado por archotes, na aus�ncia do C�lice de Fogo. � No duro, como foi que voc� conseguiu inscrever seu nome? � N�o inscrevi � disse Harry erguendo os olhos para o colega. � N�o pus o meu nome l�. Falei a verdade. � Ah... T� � respondeu Cedrico. Harry percebeu que Cedrico n�o acreditara nele. � Bom... A gente se v�, ent�o! Em vez de subir a escadaria de m�rmore, Cedrico rumou para a porta � direita. Harry ficou parado escutando-o descer os degraus de pedra, depois, lentamente, come�ou a subir os de m�rmore. Ser� que mais algu�m al�m de Rony e Hermione acreditaria nele ou iriam todos pensar que se inscrevera no torneio? Contudo, como � que algu�m podia pensar uma coisa dessas, quando ele ia enfrentar competidores que tinham mais tr�s anos de educa��o m�gica � quando ia enfrentar tarefas que n�o somente pareciam perigosas, mas que deveriam ser executadas diante de centenas de pessoas? E, ele pensara nisso... Devaneara sobre isso... Mas fora brincadeirinha, verdade, uma esp�cie de sonho descomprometido... Jamais considerara seriamente se inscrever, verdade... Mas algu�m considerara isso... Algu�m quisera v�-lo no torneio, e tomara provid�ncias para tanto. Por qu�? Para lhe fazer um gosto? Tinha a impress�o que n�o... Para v�-lo fazer papel de bobo? Bom, provavelmente ia ter o seu desejo satisfeito... Mas, para v�-lo morto? Moody estaria agindo com a sua paran�ia habitual? Algu�m n�o poderia ter posto o nome de Harry no C�lice de Fogo de brincadeira, para pregar uma pe�a? Ser� que algu�m queria realmente v�-lo morto? Essa pergunta Harry p�de responder na hora. Sim, algu�m queria v�-lo morto, algu�m queria v�-lo morto desde que tinha um ano de idade... Lord Voldemort. Mas como � que o bruxo conseguira providenciar para que o nome de Harry fosse posto no C�lice de Fogo? Estava supostamente muito longe, em algum pa�s distante, escondido, sozinho... Fraco e impotente... No entanto naquele sonho que tivera, pouco antes de acordar com a cicatriz doendo, Voldemort n�o estava sozinho... Estava falando com Rabicho... Conspirando para matar Harry... Harry levou um choque ao se descobrir diante da Mulher Gorda. Mal reparara aonde seus p�s o levavam. Foi tamb�m uma surpresa ver que ela n�o estava sozinha na moldura. A bruxa encarquilhada, que passara para o quadro vizinho quando ele fora se reunir aos campe�es na sala embaixo, agora estava sentada, toda cheia de si, ao lado da Mulher Gorda. Devia ter corrido pelos forros de todos os quadros de setes escadas para chegar ali antes dele. As duas, ela e a Mulher Gorda, o miravam com o maior interesse. � Ora muito bem � disse a Mulher Gorda �, Violeta acaba de me contar tudo. Ent�o quem foi afinal o escolhido para campe�o da escola? � Asnice � disse Harry sem emo��o. � Certamente que n�o �! � protestou a bruxa p�lida, indignada. � N�o, n�o, Vi, � a senha � explicou a Mulher Gorda para acalm�-la, e rodou nas dobradi�as para deixar Harry entrar na sala comunal. O estardalha�o que feriu os ouvidos de Harry quando o retrato girou quase o derrubou de costas. A pr�xima coisa de que teve consci�ncia foi que estava sendo arrastado para dentro da sala por uns doze pares de m�os, diante dos alunos da Grifin�ria em peso, que gritavam, aplaudiam e assobiavam. � Devia ter nos avisado de que tinha se inscrito! � berrou Fred parecia meio aborrecido e meio impressionado. � Como foi que voc� fez isso, sem ficar barbudo? Genial � rugiu Jorge. � N�o fiz � disse Harry. � N�o sei como foi que... Mas Angelina agora se atirava em cima dele. � Ah, se n�o p�de ser eu, pelo menos foi algu�m da Grifin�ria... � Voc� vai poder dar o troco ao Diggory por aquela �ltima partida de Quadribol, Harry! � gritou a voz fina de Katie BelI, outra artilheira da Grifin�ria. � Temos comida, Harry, venha comer alguma coisa... � N�o estou com fome, comi bastante no banquete... Mas ningu�m quis ouvir falar de sua falta de apetite, ningu�m quis saber que ele n�o pusera o nome no C�lice de Fogo, ningu�m parecia ter notado que ele n�o estava com a menor disposi��o de comemorar... Lino Jordan desencavara uma bandeira da Grifin�ria em algum lugar, e insistia em enrol�-la em Harry como uma capa. Harry n�o conseguiu fugir; sempre que tentava escapulir at� a escada dos dormit�rios, os colegas � sua volta cerravam fileiras e o for�avam a aceitar mais uma cerveja amanteigada, metendo salgadinhos e amendoins nas m�os dele... Todos queriam saber como � que ele fizera aquilo, como ludibriara a linha et�ria de Dumbledore e conseguira depositar o nome no C�lice de Fogo... � N�o fui eu � repetia ele sem parar �, n�o sei como foi que aconteceu. Mas pela pouca aten��o que os colegas lhe davam, os protestos do garoto n�o faziam a menor diferen�a. � Estou cansado! � berrou ele finalmente depois de quase meia hora. � N�o, � s�rio, Jorge, vou me deitar... A coisa que ele mais queria era encontrar Rony e Hermione para buscar um pouco de sanidade, mas nenhum dos dois parecia estar na sala comunal. Insistindo que precisava dormir, e quase achatando os irm�ozinhos Creevey quando tentaram desvi�-lo ao p� da escada, Harry conseguiu se livrar de todo mundo e subiu para o dormit�rio o mais depressa que p�de. Para seu grande al�vio, encontrou Rony, ainda vestido, deitado na cama de um dormit�rio em que n�o havia mais ningu�m. Ele ergueu os olhos quando Harry entrou batendo a porta. � Por onde voc� andou? � perguntou Harry. � Ah, ol� � respondeu Rony. Sorria, mas parecia um sorriso muito estranho e tenso. Harry, de repente, se deu conta de que ainda vestia a bandeira vermelha da Grifin�ria que Lino amarrara nele. Apressou-se em despi-la, mas o n� estava muito apertado. Rony continuou deitado na cama sem se mexer, apreciando os esfor�os de Harry para retirar a bandeira. � Ent�o � disse ele, quando Harry finalmente conseguiu remover e atirar a bandeira a um canto. � Meus parab�ns. � Que � que voc� quer dizer com parab�ns? � perguntou Harry encarando-o. Decididamente havia alguma coisa esquisita no jeito com que Rony sorria, parecia mais uma careta. � Bom... Ningu�m mais conseguiu atravessar a linha et�ria. Nem mesmo Fred e Jorge. Que foi que voc� usou, a Capa da Invisibilidade? � A Capa da Invisibilidade n�o teria me ajudado a atravessar aquela linha � disse Harry lentamente. � Ah, certo. Achei que voc� teria me contado se fosse a capa... Porque ela poderia cobrir n�s dois, n�o � mesmo? Mas voc� encontrou outro jeito, n�o foi? � Escuta aqui. Eu n�o depositei meu nome naquele c�lice. Deve ter sido outra pessoa. Rony ergueu as sobrancelhas. � Por que algu�m faria uma coisa dessas? � N�o sei. � Harry achou que seria muito melodram�tico dizer para me matar. Rony ergueu as sobrancelhas t�o alto que elas correram o risco de desaparecer sob seus cabelos. � Tudo bem, a mim voc� pode contar a verdade. Se voc� n�o quer que o resto do pessoal saiba, �timo, mas n�o sei por que est� se dando ao trabalho de mentir, voc� nem ficou mal por isso, n�o �? A amiga da Mulher Gorda, a tal da Violeta, j� contou a todo mundo que Dumbledore vai deixar voc� competir. Mil gale�es de pr�mio, hein? E nem vai precisar prestar os exames de fim de ano... � Eu n�o pus o meu nome naquele c�lice! � disse Harry come�ando a se aborrecer. � Ah, t� � retorquiu Rony com o mesm�ssimo tom c�tico de Cedrico. � S� que ainda hoje de manh� voc� disse que teria posto � noite passada sem que ningu�m o visse... Eu n�o sou burro, sabe? � Pois est� parecendo � disse Harry com rispidez. � Ah, �? � respondeu Rony, mas agora n�o havia nenhum vest�gio de sorriso em seu rosto amarelo ou de qualquer cor. � Voc� est� querendo se deitar, Harry, imagino que vai precisar se levantar cedo amanh� para a sess�o de fotografias, ou seja, l� o que for. E fechou com for�a as cortinas em torno de sua cama de colunas, deixando Harry parado ali � porta, encarando as cortinas de veludo vinho, que agora escondiam uma das poucas pessoas que ele contara que fosse acreditar nele. CAP�TULO DEZOITO A pesagem das varinhas Quando Harry acordou no domingo de manh�, levou algum tempo para se lembrar da raz�o pela qual se sentia t�o infeliz e preocupado. Ent�o, a lembran�a da noite anterior o engolfou. Ele se sentou e afastou as cortinas da cama, com a inten��o de falar com Rony, for�ar Rony a acreditar nele � mas encontrou a cama do amigo vazia; obviamente j� fora tomar o caf� da manh�. Harry se vestiu e desceu a escada circular para a sala comunal. No instante em que apareceu, os colegas que j� haviam terminado o caf�, mais uma vez, prorromperam em aplausos. A perspectiva de chegar no Sal�o Principal e encarar o restante dos colegas da Grifin�ria, todos tratando-o como uma esp�cie de her�i, n�o era nada convidativa, mas era isso ou ficar ali encurralado pelos irm�os Creevey, que lhe acenavam freneticamente para que fosse se juntar a eles. Assim, dirigiu-se resolutamente ao buraco do retrato, abriu-o, passou por ele e deu de cara com Hermione. � Ol� � exclamou ela, estendendo uma pilha de torradas que carregava em um guardanapo. � Trouxe para voc�... Quer dar uma volta? � Boa id�ia � respondeu Harry agradecido. Os dois desceram, atravessaram depressa o sagu�o, sem olhar para o Sal�o Principal, e pouco depois estavam caminhando pelos jardins em dire��o ao lago, onde o navio de Durmstrang, ancorado, se refletia na �gua. Fazia uma manh� fria e os dois amigos n�o pararam de andar, comendo as torradas, enquanto Harry contava a Hermione exatamente o que acontecera depois que deixara a mesa da Grifin�ria, na noite anterior. Para seu imenso al�vio, Hermione aceitou sua hist�ria sem duvidar. � Bem, � claro que eu sabia que voc� n�o tinha se inscrito � disse a garota quando ele terminou de contar a cena na c�mara vizinha ao Sal�o Principal. � A cara que voc� fez quando Dumbledore o chamou! Mas a pergunta �, quem inscreveu voc�? Porque, Moody tem raz�o, Harry... Acho que nenhum estudante teria sido capaz de fazer isso... Nunca teria sido capaz de enganar o C�lice de Fogo nem de anular o feiti�o de Dumbledore... � Voc� viu o Rony? � interrompeu-a Harry. Hermione hesitou. � Hum... Vi... Estava tomando caf�. � Ele ainda acha que eu me inscrevi? � Bem... N�o, acho que n�o... N�o para valer � disse ela sem jeito. � Que � que voc� est� querendo dizer com esse n�o para valer? � Ah, Harry, n�o est� na cara? � respondeu Hermione desesperada. � Ele est� com ci�mes! � Com ci�mes?� repetiu o garoto sem acreditar. � Com ci�mes de qu�? Ser� que ele quer fazer papel de babaca na frente da escola inteira? � Olha � disse Hermione pacientemente �, � sempre voc� que recebe todas as aten��es, voc� sabe que �. Sei que n�o � sua culpa � acrescentou ela depressa, vendo Harry abrir a boca, indignado. � Sei que voc� n�o quer isso... Mas, bem... Sabe, Rony tem todos aqueles irm�os competindo com ele em casa, e voc� � o melhor amigo dele e � realmente famoso, Rony � sempre deixado de lado quando as pessoas v�em voc�, e ele ag�enta isso sem reclamar, mas acho que mais essa vez foi demais... � �timo � disse Harry com amargura. � Realmente �timo. Diga a ele que troco de lugar quando ele quiser. Diga a ele que o meu lugar est� �s ordens... Gente olhando de boca aberta para a minha cicatriz para todo lado que vou... � N�o vou dizer nada a ele � falou Hermione com rispidez. � Diga voc� mesmo, � o �nico jeito de resolver isso. � N�o vou correr atr�s dele para fazer ele crescer! � disse Harry, t�o alto que v�rias corujas pousadas em uma �rvore pr�xima levantaram v�o assustadas. � Talvez ele acredite que n�o estou me divertindo quando me partirem o pesco�o ou... � Isso n�o tem gra�a � disse Hermione baixinho. � N�o tem a menor gra�a. �Ela parecia extremamente ansiosa. � Harry, estive pensando... Voc� sabe o que precisamos fazer, n�o sabe? Depressa, assim que voltarmos ao castelo? � Sei, tacar no Rony um bom chute na b... � Escrever a Sirius. Voc� tem que contar a ele o que aconteceu. Ele pediu para voc� o manter informado de tudo que estivesse acontecendo em Hogwarts... � quase como se ele esperasse que uma coisa dessas fosse acontecer. Trouxe pergaminho e uma pena comigo... � Corta essa! � exclamou Harry, olhando � volta para verificar se havia algu�m ouvindo, mas os jardins estavam muito desertos. � Ele voltou ao pa�s s� porque a minha cicatriz doeu. Provavelmente invadiria o castelo furioso se eu contasse que algu�m me inscreveu no Torneio Tribruxo... � Sirius iria gostar que voc� contasse a ele � disse Hermione com severidade. � Ele vai descobrir de qualquer jeito... � Como? � Harry isso n�o vai poder ser abafado � disse ela seriamente. � Esse torneio � famoso e voc� � famoso. Eu ficaria realmente surpresa se j� n�o tiver sa�do alguma coisa no Profeta Di�rio sobre a sua entrada no torneio... Voc� j� aparece em metade dos livros que tratam do Voc�-Sabe-Quem, sabia. E Sirius iria preferir saber por voc�, eu sei que sim. � OK, OK, vou escrever � disse Harry atirando o �ltimo peda�o de torrada no lago. Os dois ficaram parados observando o p�o flutuar por um instante, antes de um grande tent�culo emergir e engoli-lo por baixo. Depois disso retornaram ao castelo. � Vou usar a coruja de quem? � perguntou Harry, quando subiam as escadas. � Ele me disse para n�o usar Edwiges outra vez. � Pergunte ao Rony se voc� pode pedir emprestada... � N�o vou pedir nada ao Rony � disse o garoto decidido. � Bom, ent�o pe�a uma das corujas da escola, qualquer pessoa pode pedir � disse Hermione. Os dois subiram at� o corujal. Hermione deu a Harry um peda�o de pergaminho, uma pena e um tinteiro, depois saiu percorrendo as longas filas de poleiros, examinando as diferentes corujas, enquanto Harry se sentava encostado � parede e escrevia a carta. �Caro Sirius, Voc� me disse para mant�-lo informado do que est� acontecendo em Hogwarts, ent�o aqui vai: n�o sei se voc� j� sabe, mas v�o realizar um Torneio Tribruxo este ano e, na noite de s�bado, fui escolhido para ser o quarto campe�o. N�o sei quem p�s o meu nome no C�lice de Fogo, mas n�o fui eu. O outro campe�o de Hogwarts � Cedrico Diggory da Lufa-Lufa.� Ele parou nesse ponto, pensativo. Teve vontade de dizer alguma coisa sobre a imensa carga de ansiedade que parecia ter se instalado em seu peito desde a noite anterior, mas n�o conseguiu descobrir como traduzir isso em palavras. Ent�o, ele simplesmente molhou mais uma vez a pena no tinteiro e escreveu: �Espero que voc� esteja OK, e Bicu�o tamb�m. Harry�. � Terminei � disse ele a Hermione, levantando-se e sacudindo a palha das vestes. Ao fazer isso, Edwiges veio voando para o seu ombro e estendeu a perna. � N�o posso usar voc� � disse Harry a ela, correndo o olhar pelas corujas da escola ao redor. � Tenho que usar uma dessas... Edwiges soltou um pio muito alto e levantou v�o t�o inesperadamente que suas garras cortaram o ombro do garoto. E ficou de costas para Harry enquanto ele tentava prender a carta a uma grande coruja-de-igreja. Depois que a coruja partiu, Harry estendeu a m�o para acariciar Edwiges, mas ela estalou o bico, furiosa, e voou para os caibros do telhado fora do seu alcance. � Primeiro Rony, e agora voc� � disse Harry aborrecido. � N�o � minha culpa. Se Harry pensou que as coisas iam melhorar uma vez que se acostumasse � id�ia de ser campe�o, o dia seguinte lhe provou que estava enganado. Ele n�o poderia evitar o resto da escola quando voltasse �s aulas � e era vis�vel que o resto da escola, tal como seus colegas da Grifin�ria, achava que Harry se inscrevera para o torneio. Ao contr�rio dos garotos de sua Casa, por�m, os outros n�o pareciam estar bem impressionados. Os da Lufa-Lufa, que normalmente conviviam em excelentes termos com os alunos da Grifin�ria, tinham se tornado bastante frios. Uma aula de Herbologia foi suficiente para demonstrar isso. Ficou claro que os alunos da Lufa-Lufa achavam que Harry roubara a gl�ria do seu campe�o, um sentimento talvez exagerado pelo fato de que a Lufa-Lufa raramente conquistava alguma gl�ria, e Cedrico era um dos poucos que lhe dera alguma, tendo uma vez derrotado a Grifin�ria no Quadribol. Ernesto MacMilLan e Justino Finch-Fletchley, com quem Harry habitualmente se dava t�o bem, n�o falaram com ele, embora os tr�s estivessem re-envasando bulbos saltadores na mesma caixa � embora tivessem rido de modo bem desagrad�vel quando um dos bulbos saltadores escapuliu da m�o de Harry e bateu com for�a no rosto do garoto. Tampouco Rony estava falando com Harry. Hermione se sentou entre os dois, procurando a custo manter uma conversa, e embora os dois lhe respondessem normalmente, evitavam se olhar. Harry achou que at� a Professora Sprout parecia estar distante com ele � mas, afinal, ela era a diretora da Lufa-Lufa. Em circunst�ncias normais, o garoto teria ficado ansioso para ver Hagrid, mas a aula de Trato das Criaturas M�gicas significava tamb�m rever os alunos da Sonserina a primeira vez que estaria cara a cara com eles desde que se tornara campe�o. Previsivelmente, Malfoy chegou � cabana de Hagrid com o conhecido sorriso desdenhoso atarraxado no rosto. � Ah, olha s�, pessoal, � o campe�o � disse ele a Crabbe e a Goyle no instante em que se aproximou de Harry o bastante para ser ouvido. Trouxeram os cadernos de aut�grafos? � melhor pedir um agora porque duvido que a gente v� v�-lo por muito tempo... Metade dos campe�es do Torneio Tribruxo morreram... Quanto tempo voc� acha que vai durar, Potter? Aposto que s� os primeiros dez minutos da primeira tarefa. Crabbe e Goyle deram risadas para agrad�-lo, mas Malfoy teve que parar por a�, porque Hagrid surgiu dos fundos da cabana, segurando uma torre inst�vel de caixas, cada uma contendo um enorme explosivim. Para horror da turma, Hagrid come�ou a explicar que a raz�o pela qual os bichos tinham andado se matando era o excesso de energia acumulada, e que a solu��o era cada aluno p�r uma coleira em um bicho e lev�-lo para passear um pouco. A �nica vantagem desse plano foi distrair Malfoy completamente. � Levar essa coisa para passear um pouco? � repetiu ele enojado, olhando para dentro de uma das caixas. � E onde exatamente voc� quer que a gente amarre a coleira? No ferr�o, no rabo explosivo desse treco? � No meio � respondeu Hagrid, fazendo uma demonstra��o. � Hum... �, voc�s talvez queiram cal�ar as luvas de couro de drag�o, assim como uma precau��o a mais. Harry, vem at� aqui me ajudar com esse grandalh�o... A verdadeira inten��o de Hagrid, no entanto, era falar com Harry longe do restante da turma. Ele esperou at� todos terem se afastado com os explosivins, depois se virou para o garoto e disse, muito s�rio: � Ent�o... Voc� vai competir, Harry. No torneio. Campe�o da escola. � Um dos campe�es � corrigiu-o Harry. Os olhos de Hagrid, negros como besouros, pareciam muito ansiosos sob as sobrancelhas desgrenhadas. � N�o faz id�ia de quem o meteu nessa fria, Harry?. � Voc� acredita ent�o que n�o fui eu que me inscrevi? � perguntou Harry, escondendo com esfor�o o arroubo de gratid�o que sentiu ao ouvir as palavras de Hagrid. � Claro que acredito � resmungou Hagrid. � Voc� diz que n�o foi voc� e eu acredito em voc�, e Dumbledore acredita em voc�. � Eu bem gostaria de saber quem foi � disse o garoto com amargura. Os dois olharam para os jardins, a turma agora andava espalhada por l�, toda ela em grande apuro. Os explosivins tinham alcan�ado uns noventa cent�metros de comprimento e se tornado extremamente fortes. J� n�o eram sem casca e descolorados, tinham desenvolvido uma esp�cie de escudo acinzentado grosso e reluzente. Pareciam uma cruza de enormes escorpi�es com caranguejos alongados � mas ainda n�o possu�am cabe�as ou olhos reconhec�veis. Tinham-se tornado imensamente fortes e dif�ceis de controlar. � Parece que eles est�o se divertindo, n�o acha? � comentou Hagrid alegremente. Harry presumiu que ele estivesse se referindo aos explosivins, porque seus colegas certamente n�o estavam, de vez em quando, com um alarmante estampido, a cauda de um deles explodia, fazendo-o saltar v�rios metros � frente e mais de um aluno estava sendo arrastado de bru�os enquanto tentava desesperadamente se levantar. � Ah, eu n�o sei, Harry � suspirou Hagrid de repente, voltando a encar�-lo, com uma express�o preocupada no rosto. � Campe�o da escola... Parece que tudo acontece com voc�, n�o �? O garoto n�o respondeu. �, parecia que tudo acontecia com ele... Era mais ou menos o que Hermione dissera quando andavam pela margem do lago, e essa era a raz�o, segundo ela, pela qual Rony deixara de falar com ele. Os dias que se seguiram foram alguns dos piores que Harry passara em Hogwarts. O mais pr�ximo que ele chegara desse sentimento fora durante aqueles meses, no segundo ano, em que grande parte da escola suspeitara que era ele que atacava os colegas. Mas, ent�o, Rony ficara do seu lado. Harry achava que poderia suportar a atitude do resto da escola se ao menos pudesse ter Rony outra vez como amigo, mas n�o ia tentar persuadi-lo a voltarem a se falar se ele n�o queria. Contudo, estava solit�rio com tanta animosidade ao redor dele. Harry podia entender a atitude do pessoal da Lufa-Lufa, mesmo que n�o lhe agradasse, tinham um campe�o pr�prio para apoiar. N�o esperara menos do que agress�es verbais dos alunos da Sonserina � era muito impopular entre eles e sempre o fora, pois ajudara a Grifin�ria a derrot�-los muitas vezes, tanto no Quadribol quanto no Campeonato Intercasas. Mas alimentara a esperan�a de que os colegas da Corvinal tivessem a bondade de apoi�-lo tanto quanto a Cedrico. Mas se enganara. A maioria dos alunos daquela Casa parecia pensar que estivera desesperado para conquistar um pouco mais de fama fazendo o C�lice de Fogo aceitar seu nome. Depois, havia ainda o fato de Cedrico se enquadrar muito melhor no papel de campe�o do que ele. Excepcionalmente bonito, nariz reto, cabelos escuros e olhos cinzentos, era dif�cil dizer quem era o alvo de maior admira��o ultimamente, se Cedrico ou Vitor Krum. Harry chegou a presenciar as mesmas garotas do sexto ano que se empenharam tanto para obter um aut�grafo de Krum, suplicando a Cedrico para assinar suas mochilas na hora do almo�o. Entrementes n�o havia resposta de Sirius, Edwiges se recusava a se aproximar dele, a Professora Sibila Trelawney andava predizendo sua morte com uma certeza ainda maior do que de costume, e ele estava se saindo t�o mal nos Feiti�os Convocat�rios na aula do Professor Flitwick que recebera dever de casa suplementar � a �nica pessoa a receber, � exce��o de Neville. � Na realidade n�o � t�o dif�cil assim � Hermione tentou tranq�iliz�-lo quando sa�am da sala de Flitwick, a garota fizera os objetos dispararem pela sala em sua dire��o a aula inteira, como se ela fosse uma esp�cie de �m� ex�tico para espanadores, cestas de papel e lunasc�pios. � Voc� simplesmente n�o se concentrou como devia... � E por que teria sido isso? � perguntou Harry sombriamente, quando Cedrico Diggory passou por eles, cercado por um grande grupo de garotas que sorriam debilmente e olharam para Harry como se ele fosse um explosivim particularmente grande. � Mesmo assim, deixa para l�, n�o �? Dois tempos de Po��es � espera da gente hoje � tarde... A aula de Po��es sempre fora uma experi�ncia terr�vel, mas ultimamente chegava quase a ser uma tortura. Ficar trancado em uma masmorra durante uma hora e meia com Snape e os alunos da Sonserina, todos decididos a castigar Harry o m�ximo por se atrever a ser campe�o da escola, era a coisa mais desagrad�vel que ele poderia imaginar. J� aturara uma sexta-feira, com Hermione sentada ao seu lado, entoando entre dentes "N�o ligue, n�o ligue, n�o ligue", e ele n�o conseguia ver por que esta seria melhor. Quando ele e a amiga chegaram � porta da masmorra de Snape depois do almo�o, encontraram os alunos da Sonserina esperando � porta, cada um deles usando um distintivo no peito. Por um instante delirante, Harry pensou que fossem distintivos do F.A.L.E. � mas logo viu que todos continham a mesma mensagem em letras vermelhas luminosas, que brilhavam vivamente no corredor subterr�neo mal iluminado. �Ap�ie CEDRICO DIGGORY o VERDADEIRO campe�o de Hogwarts.� � Gostou, Potter? � perguntou Malfoy em voz alta, quando Harry se aproximou. � E isso n�o � s� o que eles fazem, olha s�! E apertou o distintivo contra o peito, a mensagem desapareceu e foi substituida por outra, que emitia uma luz verde: �POTTER FEDE� Os alunos da Sonserina rolaram de rir. Cada um deles apertou o distintivo tamb�m, at� que a mensagem POTTER FEDE estivesse brilhando vivamente a toda volta do garoto. Ele sentiu uma onda de calor subir pelo pesco�o e o rosto. � Ah, engra�ad�ssimo � disse Hermione com sarcasmo a Pansy Parkinson e sua turma de garotas da Sonserina, que riam mais gostosamente do que quaisquer outros �, � realmente engra�ado. Rony estava parado encostado � parede com Dino e Simas. Ele n�o estava rindo, mas tampouco defendia Harry. � Quer um, Granger? � perguntou Malfoy, oferecendo um distintivo a Hermione. � Tenho um monte. Mas n�o toque na minha m�o agora, acabei de lav�-la, sabe, e n�o quero que uma sangue ruim a suje. Uma parte da raiva que Harry vinha sentindo havia dias pareceu romper um dique em seu peito. Ele apanhou a varinha antes que conseguisse pensar no que estava fazendo. As pessoas em volta se afastaram correndo, recuaram pelo corredor. � Harry! � gritou Hermione em tom de aviso. � Anda, Potter, usa � disse Malfoy em voz baixa, puxando a pr�pria varinha. � Moody n�o est� aqui para proteger voc� agora, use, se tiver peito... Por uma fra��o de segundos, eles se encararam nos olhos, depois, exatamente ao mesmo tempo, os dois agiram. � Furnunculus!� berrou Harry. � Densaugeo! � berrou Malfoy. Feixes de luz sa�ram de cada varinha, colidiram em pleno ar e ricochetearam em �ngulo � o de Harry atingiu Goyle no rosto e, o de Malfoy, Hermione. Goyle berrou e levou as m�os ao nariz, de onde come�aram a brotar fur�nculos enormes e feios � a garota, chorando de dor, apertou a boca. � Mione! � Rony correu para ela para ver o que acontecera. Harry se virou e viu Rony tirando a m�o de Hermione do rosto. N�o era uma vis�o agrad�vel. Os dentes da frente da garota � que j� eram maiores do que o normal � cresciam agora a um ritmo assustador, a cada minuto a garota se parecia mais com um castor, pois seus dentes se alongavam, ultrapassavam o l�bio inferior em dire��o ao queixo � tomada de p�nico, ela os apalpou e soltou um grito aterrorizado. � E que barulheira � essa? � perguntou uma voz suave e letal. Snape chegara. Os alunos da Sonserina gritavam tentando dar explica��es. Snape apontou um dedo longo e amarelado para Malfoy e disse: � Explique. � Potter me atacou, professor... � Atacamos um ao outro ao mesmo tempo! � gritou Harry. � ... E ele atingiu Goyle, olhe... Snape contemplou Goyle, cujo rosto agora lembrava a ilustra��o de um livro dom�stico sobre cogumelos venenosos. � Ala hospitalar, Goyle disse o professor calmamente. � Malfoy atingiu Hermione! � disse Rony. � Olhe! O garoto obrigou Hermione a mostrar os dentes a Snape � ela se esfor�ava ao m�ximo para escond�-los com as m�os, embora isso fosse dif�cil, porque agora tinham ultrapassado o seu decote. Pansy Parkinson e as outras garotas da Sonserina se dobravam de rir em sil�ncio, apontando para Hermione pelas costas de Snape. Snape olhou friamente para Hermione e disse: � N�o vejo diferen�a alguma. Hermione deixou escapar um lamento, seus olhos se encheram de l�grimas, ela deu meia-volta e correu, correu pelo corredor afora e desapareceu. Foi uma sorte, talvez, que Harry e Rony tenham come�ado a gritar com Snape ao mesmo tempo, sorte que suas vozes tenham ecoado t�o forte no corredor de pedra, porque, na confus�o de sons, ficou imposs�vel o professor ouvir exatamente os nomes de que o xingaram. Mas ele captou o sentido. � Vejamos � disse, na voz mais suave do mundo. � Cinq�enta pontos a menos para a Grifin�ria e uma deten��o para cada um, Potter e Weasley. Agora, entrem ou ser� uma semana de deten��es. Os ouvidos de Harry zumbiram. A injusti�a daquilo o fez desejar amaldi�oar Snape, desintegr�-lo em mil pedacinhos nojentos. Ele passou pelo professor e se dirigiu com Rony para o fundo da masmorra, largando com for�a a mochila sobre a carteira. Rony tremia de raiva, tamb�m � por um instante, pareceu que tudo voltara ao normal entre os dois, mas, em vez disso, Rony se virou e se sentou entre Dino e Simas, deixando Harry sozinho na carteira. Do lado oposto da masmorra, Malfoy deu as costas para Snape e comprimiu o distintivo, rindo-se, O POTTER FEDE lampejou mais uma vez pela sala. Harry se sentou e ficou encarando Snape quando a aula come�ou, visualizando coisas horr�veis acontecendo ao professor... Se ao menos ele soubesse executar uma Maldi��o Cruciatus... Atiraria Snape no ch�o, de costas, como aquela aranha, contorcendo-se e estrebuchando. � Ant�dotos! � disse Snape, abrangendo a turma toda com o olhar, seus olhos negros e frios, brilhando de forma desagrad�vel. � Voc�s j� tiveram tempo de pesquisar suas f�rmulas. Quero que as preparem cuidadosamente e depois vamos escolher algu�m em quem experimentar... Os olhos de Snape encontraram os de Harry e o garoto percebeu o que vinha a caminho. O professor ia envenen�-lo. Harry se imaginou agarrando o caldeir�o, correndo at� a frente da turma e tacando o caldeir�o na cabe�a oleosa de Snape... Ent�o uma batida na porta da masmorra invadiu os pensamentos de Harry. Era Colin Creevey; o garoto entrou discretamente na sala, sorrindo para Harry, e dirigiu-se � escrivaninha de Snape diante da turma. � Que foi? � perguntou Snape com rispidez. � Por favor, professor, me mandaram levar Harry Potter l� em cima. Do alto do seu nariz de gancho, Snape baixou os olhos para Colin, cujo sorriso desapareceu do seu rosto pressuroso. � Potter tem mais uma hora de Po��es para completar � disse Snape friamente. � Subir� quando a aula terminar. Colin corou. � Professor, o Sr. Bagman � quem est� chamando � disse nervoso. � Todos os campe�es t�m que ir, acho que querem tirar fotos... Harry teria dado tudo que possu�a para impedir Colin de dizer aquelas �ltimas palavras. Arriscou um relanceio para Rony, mas o amigo contemplava o teto decidido. � Muito bem, muito bem � retorquiu Snape. � Potter deixe o seu material, quero que volte aqui depois para testar o seu ant�doto. � Por favor, professor, ele tem que levar o material � disse Colin com uma vozinha esgani�ada. � Todos os campe�es... � Muito bem! � disse Snape. � Potter, apanhe sua mochila e desapare�a da minha frente! Harry atirou a mochila por cima do ombro, se levantou e se encaminhou para a porta. Ao passar pelas carteiras dos alunos da Sonserina, o POTTER FEDE lampejou para ele de todas as dire��es. � � fant�stico, n�o �, Harry? � disse Colin, come�ando a falar no instante em que Harry fechou a porta da masmorra depois de passarem. � Mas n�o �? Voc� ser campe�o? � �, realmente fant�stico � disse Harry, desalentado, quando come�aram a subir a escada para o sagu�o de entrada. � Para que � que eles querem fotos, Colin? � O Profeta Di�rio, acho! � �timo � disse Harry, sem emo��o. � exatamente do que estou precisando. Mais publicidade. � Boa sorte! � disse Colin, quando chegaram � sala certa. Harry bateu na porta e entrou. Era uma sala de aula relativamente pequena; a maior parte das carteiras fora afastada para o fundo do aposento, deixando um amplo espa�o no meio; tr�s delas, no entanto, tinham sido enfileiradas lado a lado, diante do quadro-negro e cobertas com uma toalha de veludo. Cinco cadeiras tinham sido arrumadas atr�s das mesas cobertas de veludo e Ludo Bagman estava sentado em uma delas conversando com uma bruxa que Harry nunca vira antes e que usava vestes carmim. V�tor Krum estava em p�, pensativo, a um canto, como de costume, sem falar com ningu�m. Cedrico e Fleur estavam entretidos conversando, a garota parecia muito mais feliz do que Harry a vira at� ent�o, n�o parava de jogar a cabe�a para tr�s de modo que os cabelos longos e prateados refletiam a luz. Um homem barrigudo, segurando uma grande m�quina fotogr�fica que soltava uma leve fuma�a, observava Fleur pelo canto do olho. Bagman de repente viu Harry, levantou-se depressa e foi ao encontro do garoto. � Ah, aqui est� ele. O campe�o n�mero quatro! Entre Harry, entre... N�o tem com o que se preocupar, � apenas a cerim�nia de pesagem das varinhas, os outros juizes est�o chegando... � Pesagem das varinhas? � repetiu Harry, nervoso. � Temos que verificar se as varinhas est�o em perfeitas condi��es de funcionamento, sem problemas, entende, porque s�o os instrumentos mais importantes nas tarefas que voc�s t�m pela frente � disse Bagman. � O perito est� l� em cima com Dumbledore, agora. E depois vai haver uma pequena sess�o de fotos. Esta � Rita Skeeter � acrescentou, indicando com um gesto a bruxa de vestes carmim �, est� escrevendo um pequeno artigo sobre o torneio para o Profeta Di�rio... � Talvez n�o seja t�o pequeno assim, Ludo � disse ela, com os olhos em Harry. Os cabelos da rep�rter estavam arrumados em cachos caprichosos e curiosamente r�gidos que contrastavam estranhamente com seu rosto de queixo volumoso. Ela usava �culos com aros de pedrinhas. Os dedos grossos que seguravam uma bolsa de couro de crocodilo terminavam em unhas de cinco cent�metros de comprimento, pintadas de escarlate. � Gostaria de saber se poderia dar uma palavrinha com Harry antes de come�armos? � pediu ela a Bagman, mas ainda com os olhos fixos em Harry. � O campe�o mais novo, entende... Para dar um toque pitoresco? � Certamente! � exclamou Bagman. � Isto �, se Harry n�o fizer obje��o? � Hum... � disse Harry. � Beleza � respondeu Rita Skeeter e, num segundo, seus dedos com garras vermelhas tinham segurado com surpreendente firmeza o bra�o do garoto, conduziam-no para fora da sala e abriam uma porta pr�xima. � N�o queremos ficar l� dentro com todo aquele barulho, disse ela. � Vejamos... Ah, sim, aqui est� bom e aconchegante. Era um arm�rio de vassouras. Harry arregalou os olhos para a bruxa. � Vamos querido, certo, �timo � repetiu outra vez, encarapitou-se precariamente sobre um balde virado de boca para baixo, fez Harry sentar -se em uma caixa de papel�o e fechou a porta, mergulhando-os na escurid�o. � Vejamos agora... � Rita abriu a bolsa de crocodilo e tirou um punhado de velas, que acendeu com um aceno da varinha, e colocou-as suspensas no ar, de modo a iluminar o que faziam. � Voc� n�o se importa, Harry, se eu usar uma pena de repeti��o r�pida? Assim fico livre para conversar com voc� normalmente... � Uma o qu�? � perguntou Harry. O sorriso de Rita se abriu. Harry contou tr�s dentes de ouro. Mais uma vez ela meteu a m�o na bolsa e tirou uma pena comprida verde �cido e um rolo de pergaminho, que abriu entre os dois em cima de uma caixa de Removedor M�gico Multiuso da Sra. Skower. Ela levou a ponta da pena verde � boca, chupou-a por um instante com cara de quem estava gostando, depois colocou-a em p� sobre o pergaminho, onde a pena ficou equilibrada tremendo ligeiramente. � Teste... Meu nome � Rita Skeeter, rep�rter do Profeta Di�rio. Harry olhou depressa para a pena. No momento em que Rita falara, ela come�ou a escrever, deslizando sobre o pergaminho. � A atraente Rita Skeeter, 43 anos, cuja pena infrene j� esvaziou muitas reputa��es infladas... � Beleza � disse Rita Skeeter, mais uma vez, e rasgou a parte escrita do pergaminho, amassou-a e meteu-a na bolsa. Inclinou-se ent�o para Harry e disse: � Ent�o, Harry... O que fez voc� decidir entrar no Torneio Tribruxo? � Hum... � disse Harry outra vez, mas foi distra�do pela pena. Embora n�o estivesse falando, ela continuava a correr pelo pergaminho e seguindo-a o garoto p�de ler uma nova frase: Uma feia cicatriz, lembran�a de um passado tr�gico, desfigura o rosto, de outra forma encantador, de Harry Potter, cujos olhos... � N�o d� aten��o � pena, Harry � disse Rita Skeeter com firmeza. Relutante, Harry ergueu os olhos para ela. � Agora, por que decidiu entrar para o torneio, Harry? � Eu n�o entrei � disse Harry. � N�o sei como foi que o meu nome foi parar no C�lice de Fogo. Eu n�o o pus l�. A rep�rter ergueu a sobrancelha fortemente delineada. � Ora, Harry, n�o precisa ter medo de entrar numa fria. Todos sabemos que voc� n�o deveria ter se inscrito. Mas n�o se preocupe com isso. Os nossos leitores adoram rebeldias. � Mas eu n�o me inscrevi � repetiu Harry. � N�o sei quem... � Como � que voc� se sente com rela��o �s tarefas que o aguardam? � perguntou Rita Skeeter. � Excitado? Nervoso? � Ainda n�o pensei realmente... �, nervoso, suponho � disse Harry. Ao falar suas entranhas reviraram desconfortavelmente. � Houve campe�es que morreram no passado, n�o �? � disse Rita com efici�ncia. � Voc� chegou a pensar nisso? � Bom... Dizem que vai ser muito mais seguro este ano. A pena correu veloz pelo pergaminho entre os dois, para frente e para tr�s, como se estivesse patinando. � Naturalmente, voc� j� viu a morte cara a cara antes, n�o �? � perguntou ela, observando-o atentamente. � Como voc� diria que isso o afetou? � Hum � disse Harry uma terceira vez. � Voc� acha que o trauma do passado o deixou desejoso de se p�r � prova? De fazer jus ao seu nome? Voc� acha que talvez tenha se sentido tentado a se inscrever no Torneio Tribruxo por que... � Eu n�o me inscrevi � disse Harry, come�ando a se sentir irritado. � Voc� tem alguma lembran�a dos seus pais? � perguntou Rita Skeeter, abafando a resposta do garoto. � N�o. � Como voc� acha que eles se sentiriam se soubessem que voc� ia competir no Torneio Tribruxo? Orgulhosos? Preocupados? Zangados? Harry estava se sentindo realmente aborrecido agora. Como � que ele ia saber o que seus pais estariam sentindo se fossem vivos? Percebeu que a jornalista o observava muito atentamente. De cara amarrada, ele evitou seu olhar e baixou os olhos para as palavras que a pena acabara de escrever. As l�grimas marejaram aqueles olhos espantosamente verdes quando a nossa conversa se voltou para os pais de quem ele mal se lembra. � Eu N�O estou com l�grimas nos olhos! � disse Harry em voz alta. Antes que Rita Skeeter pudesse dizer uma palavra, a porta do arm�rio de vassouras se escancarou. Harry olhou � volta, piscando para a claridade. Alvo Dumbledore estava parado ali, contemplando os dois apertados no arm�rio. � Dumbledore!� exclamou Rita Skeeter, parecendo encantada, mas Harry reparou que a pena e o pergaminho tinham repentinamente desaparecido da caixa de Removedor M�gico e os dedos da jornalista com garras nas pontas fechavam apressadamente a bolsa de crocodilo. � Como vai? � disse ela, erguendo-se e estendendo uma das m�os grandes e masculinas a Dumbledore. � Espero que tenha visto o meu artigo durante o ver�o sobre a confer�ncia da Confedera��o Internacional dos Bruxos? � Encantadoramente maldoso � respondeu o diretor com os olhos cintilantes. � Gostei principalmente da descri��o que fez de mim como um debil�ide ultrapassado. A rep�rter n�o pareceu sequer remotamente desconcertada. � Eu s� estava tentando mostrar que algumas de suas id�ias s�o um tanto antiquadas, Dumbledore, e que muitos bruxos nas ruas... � Ficarei encantado de ouvir o racioc�nio que fundamentou a grosseria, Rita � disse Dumbledore, com uma rever�ncia cort�s e um sorriso �, mas receio que tenhamos de discutir esse assunto mais tarde. A pesagem das varinhas vai come�ar e n�o pode ser realizada se um dos campe�es estiver escondido em um arm�rio de vassouras. Satisfeit�ssimo de se afastar de Rita Skeeter, Harry correu de volta � sala. Os outros campe�es estavam agora nas cadeiras junto � porta, e ele se sentou depressa ao lado de Cedrico, com os olhos na mesa coberta de veludo, onde agora havia quatro dos cinco juizes � o Professor Karkaroff, Madame Maxime, o Sr. Crouch e Ludo Bagman. Rita Skeeter se acomodou a um canto; Harry a viu tirar discretamente o pergaminho da bolsa, abri-lo sobre um joelho, chupar a ponta da pena de repeti��o r�pida e equilibr�-la mais uma vez sobre o pergaminho. � Gostaria de lhes apresentar o Sr. Olivaras � disse Dumbledore, ocupando seu lugar � mesa dos juizes, e se dirigindo aos campe�es. � Ele vai verificar suas varinhas para garantir que estejam em boas condi��es antes do torneio. Harry olhou para os lados e, com um choque de surpresa, viu um velho bruxo com grandes olhos azul-claros parado discretamente � janela. Harry j� encontrara o Sr. Olivaras antes � era o fabricante de quem Harry comprara a pr�pria varinha, havia mais de tr�s anos no Beco Diagonal. � Mademoiselle Delacour, poderia vir at� aqui primeiro, por favor? � disse o Sr. Olivaras postando-se no espa�o vazio no centro da sala. Fleur Delacour fez o que o bruxo pedia e lhe entregou a varinha. � Humm... � disse ele. O Sr. Olivaras girou a varinha entre os dedos longos como se fosse um bast�o, e ela emitiu v�rias fa�scas rosas e douradas. Depois aproximou-a dos olhos e a examinou atentamente. � � � disse baixinho �, vinte e quatro cent�metros... Inflex�vel... Jacarand�... E cont�m... Meu Deus... � Um fio de cabelos de Veela � disse Fleur. � Uma das minhas av�s. Ent�o Fleur era em parte Veela, pensou Harry, anotando a informa��o mentalmente para contar a Rony... Depois se lembrou de que Rony n�o estava falando com ele. � Confere � disse o Sr. Olivaras �, confere, eu nunca usei cabelo de Veela, naturalmente. Acho que produz varinhas temperamentais... No entanto, o seu a seu dono, se ela lhe serve... O Sr. Olivaras correu os dedos pela varinha, aparentemente a procura de arranh�es ou sali�ncias; ent�o murmurou "Orchideous!" e saiu um ramo de flores da ponta da varinha. � Muito bem, muito bem, est� em �timas condi��es de funcionamento � disse o Sr. Olivaras, recolhendo as flores e oferecendo-as a Fleur juntamente com a varinha. � Sr. Diggory, agora o senhor. Fleur retornou delicadamente � sua cadeira e sorriu para Cedrico quando o garoto passou. � Ah, esta � uma das minhas, n�o? � disse o Sr. Olivaras, com muito mais entusiasmo, quando Cedrico lhe entregou a varinha. � �, lembro-me bem dela. Cont�m um �nico p�lo da cauda de um unic�rnio macho particularmente belo... Devia ter um metro e setenta, quase me deu uma chifrada quando lhe arranquei um fio da cauda. Trinta cent�metros... Freixo... Agradavelmente flex�vel. Est� em boas condi��es... O senhor cuida dela periodicamente? � Lustrei-a noite passada � disse Cedrico sorrindo. Harry olhou a pr�pria varinha. Dava para ver marcas de dedos em toda a extens�o. Ele agarrou um bocado de pano das vestes na altura dos joelhos e tentou limp�-la discretamente. V�rias fa�scas douradas voaram de sua ponta. Fleur Delacour lhe lan�ou um olhar condescendente e ele desistiu. O Sr. Olivaras disparou uma seq��ncia de an�is de fuma�a prateada pela sala da ponta da varinha de Cedrico, declarando-se satisfeito e, em seguida, disse: � Sr. Krum, por favor. V�tor Krum, com o corpo curvado, os ombros redondos e os p�s para fora, levantou-se e foi at� o Sr. Olivaras. Entregou a varinha e ficou parado, de cara fechada e m�os nos bolsos das vestes. � Humm � disse o Sr. Olivaras �, � uma cria��o de Gregorovitch, a n�o ser que eu esteja enganado. Um excelente fabricante de varinhas, embora o estilo nunca seja bem o que eu... Contudo... Ergueu a varinha e examinou-a minuciosamente, revirando-a varias vezes diante dos olhos. � �... B�tula e corda de cora��o de drag�o? � perguntou a Krum, que confirmou com a cabe�a. � Um pouco mais grossa do que se v� normalmente... Bastante r�gida... Vinte e seis cent�metros... Avis! A varinha de b�tula produziu um estampido como o de uma pistola e um bando de passarinhos chilreantes saiu voando de sua ponta, pela janela aberta, em dire��o ao sol desbotado. � �timo � exclamou o Sr. Olivaras, devolvendo a varinha a Krum. � Resta agora... O Sr. Potter. Harry se levantou e passou por Krum para chegar ao Sr. Olivaras. E entregou sua varinha. � Aaah, sim � disse o perito, seus olhos azul-claros repentinamente brilhando. � Sim, sim, sim. Lembro-me muito bem. Harry se lembrava tamb�m. Lembrava-se como se tivesse sido ainda ontem... H� quatro ver�es, no seu d�cimo primeiro anivers�rio, ele entrara na loja do Sr. Olivaras com Hagrid para comprar uma varinha. O homem tirara suas medidas e em seguida come�ara a lhe dar varinhas para experimentar. Harry teve a impress�o de que desprezara todas as varinhas da loja, at� finalmente encontrar a que lhe servia � aquela que era feita de azevinho, vinte e oito cent�metros e continha uma �nica pena da cauda de uma f�nix. O Sr. Olivaras se mostrara muito surpreso que Harry fosse t�o compat�vel com essa varinha. � Curioso � dissera ele � ... Curioso � somente quando o garoto perguntou o que era curioso o bruxo explicara que a pena de f�nix na varinha de Harry viera do mesmo p�ssaro que fornecera a alma da varinha de Lord Voldemort. Harry nunca compartira essa informa��o com ningu�m. Gostava muito de sua varinha e, por ele, a afinidade dela com a varinha de Voldemort era algo imut�vel � do mesmo jeito que n�o podia mudar o fato de ser parente da tia Pet�nia. Contudo, ele realmente desejou que o Sr. Olivaras n�o fosse contar isso aos presentes. Tinha a estranha sensa��o de que a pena de repeti��o r�pida de Rita Skeeter poderia explodir de excita��o se isso acontecesse. O Sr. Olivaras passou mais tempo examinando a varinha de Harry do que a dos demais. Por fim, por�m, fez jorrar uma fonte de vinho da varinha e devolveu-a a Harry, anunciando que o objeto continuava em perfeitas condi��es. � Muito obrigado a todos � disse Dumbledore, levantando-se da mesa dos juizes. � Voc�s podem voltar �s suas aulas agora, ou talvez seja mais r�pido descerem logo para jantar, j� que elas est�o prestes a terminar... Achando que finalmente alguma coisa dera certo naquele dia, Harry se levantou para sair, mas o homem com a m�quina fotogr�fica preta deu um pulo da cadeira e pigarreou. � Fotos, Dumbledore, fotos � exclamou Bagman, excitado. � Todos os juizes e campe�es. Que � que voc� acha, Rita? � Hum... Certo, vamos fazer essas primeiras � respondeu a rep�rter, cujos olhos estavam fixos em Harry outra vez. � E depois talvez umas fotos individuais. As fotos consumiram muito tempo. Madame Maxime deixava todos na sombra sempre que se levantava e o fot�grafo n�o conseguia recuar o suficiente para enquadr�-la; por fim, ela teve que se sentar e os demais se postarem ao seu redor. Karkaroff n�o parava de torcer o cavanhaque com o dedo para lhe acrescentar mais um cacho, Krum, que Harry imaginaria estar acostumado a esse tipo de coisa, procurava se esconder atr�s do grupo. O fot�grafo parecia interessad�ssimo em colocar Fleur na frente, mas Rita corria a toda hora e arrastava Harry para lhe dar maior destaque. Depois, ela insistiu que se fizessem fotos separadas dos campe�es. E, finalmente, todos foram liberados. Harry desceu para jantar. Hermione n�o estava l� � ele sup�s que a amiga continuasse na ala hospitalar consertando os dentes. Ele comeu sozinho na ponta da mesa, depois voltou � Torre da Grifin�ria, pensando em todos os deveres suplementares sobre Feiti�os Convocat�rios que precisava fazer. Em cima no dormit�rio, encontrou Rony. � Voc� recebeu uma coruja � disse ele bruscamente, no instante em que Harry entrou. Apontou para o travesseiro do amigo. A coruja-de-igreja da escola esperava-o ali. � Ah... Certo � disse Harry. � E temos que cumprir as deten��es amanh� � noite na masmorra do Snape. Saiu, ent�o, do quarto sem olhar para Harry. Por um instante o garoto refletiu se devia ir atr�s do amigo � n�o tinha bem certeza se queria falar com ele ou lhe dar um soco, as duas op��es pareciam igualmente atraentes � mas a tenta��o de ler a resposta de Sirius foi mais forte. Harry aproximou-se da coruja, soltou a carta da perna da ave e abriu-a. �Harry, N�o posso dizer tudo que gostaria em uma carta, � arriscado demais se a coruja for interceptada � precisamos conversar cara a cara. Voc� pode dar um jeito de estar junto � lareira na Torre da Glifin�ria � uma hora da manh�, no dia 22 de novembro? Sei melhor do que ningu�m que voc� � capaz de se cuidar e, enquanto estiver perto de Dumbledore e Moody, acho que ningu�m conseguir� lhe fazer mal. Por�m, parece que algu�m est� tendo algum sucesso. Inscrever voc� nesse torneio deve ter sido muito arriscado, principalmente debaixo do nariz de Dumbledore. Fique vigilante, Harry. Continuo querendo saber de tudo que acontecer de anormal. Mande uma resposta sobre o dia 22 de novembro o mais cedo que puder. Sirius�. CAP�TULO DEZENOVE O Rabo-C�rneo h�ngaro A perspectiva de conversar cara a cara com Sirius foi s� o que sustentou Harry nos quinze dias seguintes, o �nico ponto luminoso em um horizonte que nunca lhe parecera mais escuro. O choque de se ver no papel de campe�o da escola agora j� diminuira um pouquinho, e o medo do que o aguardava estava come�ando a penetrar fundo em sua mente. A primeira tarefa se aproximava, o garoto tinha a sensa��o de que ela estava de tocaia logo ali, como um monstro aterrorizante, barrando o seu avan�o. Nunca se sentira t�o nervoso, ultrapassava muito qualquer sentimento que tinha experimentado antes de uma partida de Quadribol, at� mesmo a �ltima contra a Sonserina, que decidira quem ganharia a Ta�a de Quadribol. Harry estava achando dif�cil pensar no futuro, sentia que a sua vida inteira o conduzira � primeira tarefa e nela terminaria... Assim sendo, n�o via como Sirius ia faz�-lo se sentir melhor com rela��o � realiza��o de uma tarefa m�gica dif�cil e perigosa, diante de centenas de pessoas, mas a simples vis�o de um rosto amigo j� seria alguma coisa neste momento. Harry respondeu a Sirius, dizendo que estaria ao p� da lareira da sala comunal � hora que o padrinho sugerira, e que ele e Hermione tinham passado muito tempo revendo planos para obrigar os retardat�rios a abandonar a sala na noite em quest�o. Na pior das hip�teses, iam detonar um pacote de bombas de bosta, mas esperavam n�o ter recorrer a isso � Filch os esfolaria vivos. Entrementes, a vida se tornou ainda pior para Harry dentro dos limites do castelo, pois Rita Skeeter publicara seu artigo sobre o Torneio Tribruxo, que afinal n�o fora tanto uma not�cia sobre o torneio, mas uma vers�o da vida de Harry extremamente pitoresca. Quase toda a primeira p�gina fora ocupada por uma foto de Harry; o artigo (que continuava nas p�ginas dois, seis e sete) s� falava no garoto, os nomes dos campe�es da Beauxbatons e Durmstrang (errados) tinham sido espremidos na �ltima linha do artigo, e Cedrico sequer fora mencionado. O artigo sa�ra havia dez dias e Harry ainda era assaltado por uma ard�ncia de n�usea e vergonha no est�mago todas as vezes que pensava nele. Rita Skeeter pusera em sua boca uma por��o de coisas que ele sequer lembrava ter dito na vida, muito menos no arm�rio de vassouras. "Acho que herdo a minha for�a dos meus pais, sei que eles teriam muito orgulho de mim se me vissem agora... � �s vezes � noite ainda choro a perda deles, n�o tenho vergonha de admitir... Que nada me acontecer� de mal durante o torneio, porque eles estar�o me protegendo...� Mas Rita fizera mais do que transformar os "hums" dele em frases longas e piegas, entrevistara outras pessoas para saber o que pensavam dele. "Harry finalmente encontrou carinho em Hogwarts. Seu amigo �ntimo, Colin Creevey diz que o garoto raramente � visto sem companhia de Hermione Granger, uma linda menina nascida trouxa que, como Harry, � uma das primeiras alunas da escola�. Do momento em que o artigo apareceu, Harry teve que aturar colegas � principalmente os da Sonserina � que o citavam, ca�oando, quando ele passava. � Quer um lencinho, Potter, caso comece a chorar na aula de Transforma��o? � Desde quando voc� � um dos primeiros alunos da escola, Potter? Ou ser� que a escola � uma escola que voc� e o Longbottom fundaram? � Ei... Harry! � �, verdade, sim � Harry viu-se gritando, ao se virar no corredor, j� cheio. -Morri de chorar pela morte da minha mam�ezinha, e estou indo chorar um pouco mais... � N�o... Foi s� que... Voc� deixou cair a pena. Era Cho. Harry sentiu o rosto corar. � Ah... Certo... Desculpe � murmurou recebendo a pena. � Hum... Boa sorte na ter�a-feira � disse a garota. � Espero sinceramente que voc� se d� bem. O que fez Harry se sentir extremamente idiota. Hermione tamb�m ganhara sua quota de aborrecimentos, mas ainda n�o come�ara a berrar com gente inocente, de fato, Harry enchia-se de admira��o pela maneira com que a amiga estava enfrentando a situa��o. � Linda? Ela?� gritara Pansy Parkinson com a voz esgani�ada, a primeira vez que encontrou Hermione, depois que o artigo da Rita Skeeter fora publicado. -Qual foi o padr�o de beleza, um esquilo? � N�o liga � disse Hermione com dignidade, erguendo a cabe�a no ar e passando pelas garotas da Sonserina que zombavam, como se n�o as ouvisse. �Simplesmente n�o liga, Harry. Mas Harry n�o conseguia se desligar. Rony n�o falara com ele desde o dia do recado sobre as deten��es de Snape. Harry alimentara uma certa esperan�a de que fizessem as pazes durante as duas horas em que foram for�ados a preparar conservas de miolos de ratos na masmorra, mas isto fora no dia em que o artigo de Rita Skeeter aparecera, o que parecia confirmar a cren�a de Rony de que Harry estava realmente gostando de toda aquela aten��o. Hermione estava furiosa com os dois, ia de um para outro, tentando for��-los a se falarem, mas Harry permanecia inflex�vel, s� voltaria a falar com Rony se o amigo admitisse que ele n�o pusera o nome no C�lice de Fogo, e pedisse desculpas por t�-lo chamado de mentiroso. � N�o fui eu que comecei � disse Harry teimosamente. � O problema � dele. � Voc� sente falta dele! � tornou Hermione impaciente. � E eu sei que ele sente falta de voc�... � Sinto falta dele? Eu n�o sinto falta dele... Mas isto era uma mentira deslavada. Harry gostava muito de Hermione, mas ela n�o era o mesmo que Rony. Havia muito menos risos e muito mais visitas � biblioteca quando Hermione era sua melhor amiga. Harry ainda n�o conseguira dominar os Feiti�os Convocat�rios, parecia ter desenvolvido uma esp�cie de bloqueio com rela��o a eles, e Hermione insistia que aprender a teoria ajudaria. Conseq�entemente, passavam mais tempo lendo livros durante a hora do almo�o. V�tor Krum passava um temp�o na biblioteca, tamb�m, e Harry ficava imaginando o que � que ele andava fazendo. Estaria estudando ou procurando coisas que o ajudassem na primeira tarefa? Hermione muitas vezes se queixava de Krum estar ali � n�o que ele jamais os incomodasse, mas porque aparecia sempre um grupo de garotas dando risadinhas bobas para espion�-lo atr�s das estantes, e Hermione achava que aquele barulho a distra�a. � Ele nem ao menos � bonito! � murmurava ela aborrecida, mirando de cara amarrada o perfil adunco de Krum. � Elas s� gostam dele porque � famoso! N�o olhariam duas vezes se ele n�o fosse capaz de fazer aquele tal de Fingimento Wonky... � Finta de Wronski � corrigiu Harry entre dentes. Sem contar que o garoto gostava que dissessem corretamente os termos do Quadribol, sentia uma pontada s� de imaginar a express�o de Rony se ele pudesse ouvir Hermione falando de Fingimentos Wonky. � uma coisa estranha, mas quando se est� com medo de alguma coisa, e se daria tudo para retardar o tempo, ele tem o mau h�bito de correr. Os dias que faltavam para a primeira tarefa pareciam passar como se algu�m tivesse ajustado os rel�gios para trabalharem em velocidade dobrada. A sensa��o de p�nico mal controlado que Harry tinha acompanhava-o para onde fosse, sempre presente como os coment�rios depreciativos sobre o artigo do Profeta Di�rio. No s�bado que antecedeu a primeira tarefa, todos os estudantes do terceiro ano, e acima, tiveram permiss�o para visitar o povoado de Hogsmeade. Hermione disse a Harry que lhe faria bem sair um pouco do castelo e o garoto n�o precisou de muita persuas�o. � Mas e o Rony? Voc� n�o quer ir com ele? � Ah... Bem... � Hermione ficou ligeiramente vermelha. � Pensei que a gente podia se encontrar com ele no Tr�s Vassouras... � N�o � disse Harry em tom definitivo. � Ah, Harry, isso � t�o bobo... � Eu vou, mas n�o quero me encontrar com o Rony, e vou usar a minha Capa da Invisibilidade. � Ah, tudo bem, ent�o... � retorquiu Hermione �, mas odeio falar com voc� naquela capa, nunca sei se estou olhando para voc� ou n�o. Ent�o Harry vestiu a Capa da Invisibilidade no dormit�rio e tornou a descer e, juntos, ele e a amiga seguiram para Hogsmeade. � Harry se sentiu maravilhosamente livre sob a capa, observou os estudantes que passavam por eles na entrada do povoado, a maioria usando distintivos �Ap�ie CEDRICO DIGGORY�, mas, para variar, ningu�m atirou piadas horr�veis para ele nem citou aquele artigo idiota. � As pessoas n�o param de olhar para mim agora � reclamou Hermione, ao sa�rem mais tarde da Dedosdemel, comendo uma grande quantidade de bombons recheados de creme. � Acham que estou falando sozinha. � Ent�o n�o mexa tanto os l�bios. � Ah vai, por favor, tira um pouco a sua capa. Ningu�m vai incomodar voc� aqui. � Ah, �? Ent�o olha para tr�s. Rita Skeeter e seu amigo fot�grafo acabavam de sair do bar Tr�s Vassouras. Conversavam em voz baixa e passaram por Hermione sem olhar para a garota. Harry se encostou � parede da Dedosdemel para evitar que Rita Skeeter batesse nele com a bolsa de crocodilo. Quando os dois se afastaram, Harry comentou: � Ela est� hospedada no povoado. Aposto como vai assistir � primeira tarefa. Ao dizer isso, seu est�mago foi inundado por uma onda de p�nico derretido. Mas n�o disse nada, ele e Hermione n�o tinham discutido muito o que o aguardava na primeira tarefa; tinha a sensa��o de que a amiga n�o queria pensar no assunto. � Ela j� foi embora � disse Hermione olhando atrav�s de Harry em dire��o � rua principal. � Por que n�o vamos tomar uma cerveja amanteigada no Tr�s Vassouras? Est� um pouco frio, n�o est�? Voc� n�o precisa falar com o Rony! � acrescentou com irrita��o, interpretando corretamente o sil�ncio dele. O Tr�s Vassouras estava lotado, principalmente com alunos de Hogwarts que aproveitavam a tarde livre, mas tamb�m com uma variedade de gente m�gica que Harry raramente via em outro lugar. Ele imaginava que sendo Hogsmeade o �nico povoado inteiramente m�gico da Gr�-Bretanha constitu�a uma esp�cie de ref�gio para gente como as bruxas, que n�o gostavam tanto de se disfar�ar quanto os bruxos. Era dif�cil caminhar entre muita gente com a Capa da Invisibilidade, pois se pisasse em algu�m sem querer, poderia provocar perguntas embara�osas. Harry dirigiu-se com cautela a uma mesa vazia a um canto e Hermione foi comprar as bebidas. Quando atravessava o bar, Harry viu Rony sentado com Fred, Jorge e Lino Jordan. Resistindo ao impulso de dar um bom tranco na cabe�a de Rony, ele finalmente chegou � mesa escolhida e se sentou. Hermione n�o demorou a se juntar a ele e lhe passou a cerveja por baixo da capa. � Pare�o uma idiota sentada aqui sozinha � resmungou ela. � Por sorte trouxe alguma coisa para fazer. E a garota puxou um caderno em que andava mantendo um registro dos participantes do F.A.L.E. Harry viu os nomes dele e de Rony no alto de uma pequena lista. Parecia que fora h� muito tempo que tinham se sentado para fazer aquelas predi��es, juntos, e Hermione aparecera e os nomeara secret�rio e tesoureiro. � Sabe, talvez eu deva tentar fazer alguns habitantes do povoado participarem do F.A.L.E. � disse Hermione pensativa, dando uma olhada no bar. � �, certo. � Harry tomou um gole da cerveja amanteigada embaixo da capa. � Hermione quando � que voc� vai desistir dessa hist�ria de F.A.L.E.? � Quando os elfos dom�sticos tiverem sal�rios decentes e condi��es de trabalho! � sibilou ela em resposta. � Sabe, eu estou come�ando a achar que chegou a hora de partir para uma mais direta. Como ser� que a gente chega � cozinha da escola? � N�o fa�o id�ia, pergunte ao Fred e ao Jorge � disse Harry. Hermione mergulhou num sil�ncio pensativo, enquanto Harry bebia a cerveja amanteigada, observando as pessoas no bar. Todas pareciam animadas e descontra�das. Ernesto MacMillan e Ana Abbott trocavam figurinhas dos Sapos de Chocolate em uma mesa pr�xima, os dois usando os distintivos �Ap�ie CEDRICO DIGGORY� nas capas. Perto da porta, Harry viu Cho e um grande grupo das colegas da Corvinal. Mas ela n�o usava o distintivo... isto o animou um pouquinho... O que ele n�o daria para ser uma daquelas pessoas que riam e conversavam, sem nenhuma preocupa��o no mundo exceto o dever de casa! Imaginou como estaria se sentindo ali se o seu nome n�o tivesse sido escolhido pelo C�lice de Fogo. Primeiro n�o estaria usando a Capa da Invisibilidade, segundo, Rony estaria sentado com ele. Os tr�s provavelmente estariam felizes imaginando que tarefa mortalmente perigosa os campe�es das escolas iriam enfrentar na ter�a-feira. Ele estaria realmente ansioso para chegar a hora de assistir ao que quer que fosse... Torcendo por Cedrico com todos os outros, sentado s�o e salvo no alto das arquibancadas... Harry ficou imaginando como estariam se sentindo os outros campe�es. Todas as vezes que via Cedrico ultimamente, o garoto estava cercado de admiradores e parecia nervoso, mas excitado. De vez em quando Harry via Fleur Delacour de relance nos corredores, tinha a mesma apar�ncia de sempre, arrogante e imperturb�vel. E Krum simplesmente ficava sentado na biblioteca, examinando livros. Harry pensou em Sirius, e o n� apertado e tenso em seu peito pareceu afrouxar um pouquinho. Estaria falando com o padrinho em pouco mais de doze horas, pois aquela era a noite em que iam se encontrar na sala comunal -presumindo que nada sa�sse errado, como tudo o mais ultimamente... � Olha, � Hagrid! � disse Hermione. As costas da enorme cabe�a peluda de Hagrid � gra�as a Deus ele abandonara o novo penteado � sobressa�a na aglomera��o. Harry se perguntou por que n�o o teria visto logo, j� que seu amigo era t�o grande, mas se levantando cautelosamente, viu que Hagrid estivera curvado, conversando com o Professor Moody. Tinha o costumeiro canec�o diante dele, mas Moody bebia da garrafa de bolso. Madame Rosmerta, a bonita dona do bar, n�o parecia estar gostando muito disso; olhava enviesado para Moody enquanto recolhia os copos das mesas ao redor dos dois homens. Talvez achasse que aquilo era um insulto ao seu quent�o, mas Harry sabia a explica��o. Moody contara � turma na �ltima aula de Defesa contra as Artes das Trevas que ele sempre preferia preparar sua comida e bebida, pois era muito f�cil para bruxos das trevas envenenarem um copo momentaneamente descuidado. Enquanto Harry observava, viu Hagrid e Moody se levantarem para sair. Ele acenou, depois se lembrou de que o amigo n�o podia v�-lo. Moody, por�m, parou, seu olho m�gico virado para o canto em que Harry estava. Ele deu um tapinha no meio das costas de Hagrid (n�o conseguindo alcan�ar seu ombro), murmurou alguma coisa e, em seguida, os dois tornaram a atravessar o bar em dire��o � mesa de Harry e Hermione. � Tudo bem, Hermione? � disse Hagrid em voz alta. � Ol� � respondeu a garota sorrindo. Moody contornou a mesa mancando e se abaixou, Harry pensou que ele estava lendo o caderno do F.A.L.E., at� ele murmurar: � Bela capa, Potter. Harry encarou-o espantado. O peda�o que faltava do nariz de Moody era particularmente vis�vel � curta dist�ncia. Moody sorriu. � O seu olho... Quero dizer, o senhor pode...? � Claro, ele v� atrav�s de Capas da Invisibilidade � disse Moody baixinho. � E, �s vezes, isso me tem sido �til, pode acreditar. Hagrid estava sorrindo para Harry, tamb�m. Este sabia que o amigo n�o podia v�-lo, mas Moody obviamente dissera a Hagrid que o garoto estava ali. Hagrid se abaixou sob o pretexto de ler o caderno do F.A. L.E. tamb�m, e disse num sussurro t�o baixo que somente Harry p�de ouvir. � Harry, me encontre hoje � meia-noite na minha cabana. Use a capa. Erguendo-se, falou em voz alta: � Que bom ver voc�, Hermione � piscou e saiu. Moody acompanhou-o. � Por que ser� que ele quer que eu v� encontr�-lo � meia-noite? � perguntou Harry muito surpreso. � Ele quer? � disse Hermione, parecendo espantada. � Que ser� que ele est� aprontando? N�o sei se voc� deve ir, Harry... � Ela espiou para os lados nervosamente e sibilou: � Talvez voc� se atrase para ver Sirius. Era verdade que descer pelos jardins � meia-noite at� a casa de Hagrid significava voltar em cima da hora para o encontro com Sirius, Hermione sugeriu que ele mandasse Edwiges a Hagrid para dizer que n�o podia ir � sempre supondo que a coruja consentisse em levar o bilhete, � claro �, Harry, por�m, achou melhor ir ver rapidamente o que o amigo queria. Estava muito curioso com o que poderia ser, Hagrid nunca pedira a Harry para visit�-lo t�o tarde da noite. �s onze e meia daquela noite, Harry, que fingira ir se deitar mais cedo, jogou a Capa da Invisibilidade por cima do corpo e saiu sorrateiramente pela sala comunal. Ainda havia muitos colegas l�. Os irm�os Creevey tinham conseguido p�r as m�os em uma pilha de distintivos �Ap�ie CEDRICO DIGGORY� e estavam tentando enfeiti��-los para faz�-los dizer, ao inv�s, �Ap�ie HARRY POTTER�. At� ali, por�m, s� tinham conseguido fazer os distintivos engui�arem em �POTTER FEDE�. Harry passou por eles em dire��o ao buraco do retrato e esperou um minuto mais ou menos, de olho no rel�gio. Depois, Hermione abriu a Mulher Gorda pelo lado de fora conforme tinham planejado. Ele passou pela amiga murmurando "Obrigado!", e saiu pelo castelo. Os jardins estavam muito escuros. Harry desceu os gramados em dire��o �s luzes que brilhavam na cabana de Hagrid. O interior da enorme carruagem da Beauxbatons tamb�m estava aceso, Harry podia ouvir Madame Maxime falando l� dentro, quando bateu na porta de Hagrid. � � voc� a�, Harry? � sussurrou Hagrid, abrindo a porta e espiando para os lados. � Sou � disse Harry, entrando na cabana e tirando a capa de cima da cabe�a. � Que � que est� havendo? � Tenho uma coisa para lhe mostrar. Havia um ar de enorme excita��o em Hagrid. Ele usava uma flor que lembrava uma alcachofra exagerada na botoeira. Parecia que tinha abandonado o uso da graxa de eixo, mas certamente tentara pentear os cabelos � dava para Harry ver os dentes partidos do pente presos neles. � Que � que voc� vai me mostrar? � disse Harry cauteloso, se perguntando se os explosivins teriam posto ovos ou se Hagrid teria conseguido comprar outro enorme c�o de tr�s cabe�as de algum estranho no bar. � Venha comigo, fique quieto e coberto com a capa � disse Hagrid. � N�o vamos levar Canino, ele n�o vai gostar... � Olhe, Hagrid, n�o posso demorar... Tenho que estar de volta no castelo porque � uma hora... Mas Hagrid n�o estava ouvindo, estava abrindo a porta da cabana e saindo. Harry correu para acompanh�-lo, mas descobriu, para sua grande surpresa, que Hagrid o levava para a carruagem da Beauxbatons. � Hagrid que...? � Psiu! � disse ele ao bater tr�s vezes na porta com varinhas de ouro cruzadas. Madame Maxime abriu-a. Usava um xale de seda envolvendo os ombros maci�os. Ela sorriu quando viu Hagrid. � Ah, Agrrid... J� est� na horta? � Bom suar � disse Hagrid, sorrindo para ela e estendendo a m�o para ajud�-la a descer os degraus dourados. Madame Maxime fechou a porta, Hagrid lhe ofereceu o bra�o, e os dois sa�ram contornando o picadeiro que guardava os gigantescos cavalos alados de Madame Maxime, e Harry totalmente perplexo, correu para acompanh�-los. Ser� que Hagrid queria lhe mostrar Madame Maxime? Poderia v�-la quando quisesse... Ela n�o era exatamente uma pessoa que passasse despercebida... Mas parecia que Madame Maxime ia ter a mesma surpresa que Harry porque, passado algum tempo, ela disse em tom de brincadeira: � Aonde � que voc� est� me levando, Agrid? � Voc� vai gostar � disse Hagrid rouco. � Vale a pena ver, confie em mim. S� que n�o pode sair por a� contando que eu lhe mostrei, certo? N�o era para ningu�m saber. � Claro que n�o � disse Madame Maxime, batendo as longas pestanas negras. E eles continuavam a caminhar, Harry cada vez mais irritado enquanto corria no encal�o dos dois, consultando o rel�gio de quando em quando. Hagrid tinha algum plano biruta em mente, que talvez o fizesse perder o encontro com Sirius. Se n�o chegassem depressa aonde iam, ele ia dar meia-volta e rumar direto para o castelo, deixando Hagrid aproveitar o passeio ao luar com Madame Maxime... Mas ent�o � quando tinham se distanciado tanto ao longo da per�metro da Floresta que o castelo e o lago desapareceram de vista � Harry ouviu alguma coisa. Havia homens gritando adiante... Depois ouviram um rugido ensurdecedor, de rachar os t�mpanos... Hagrid fez Madame Maxime dar a volta a um arvoredo e parou. Harry correu a se juntar aos dois � por uma fra��o de segundo achou que estava vendo fogueiras e homens que corriam em torno delas �, ent�o seu queixo caiu. Drag�es. Quatro drag�es adultos, enormes, de aspecto feroz empinavam-se nas patas traseiras, dentro de um cercado feito com grossa pranchas de madeira, rugindo e bufando � torrentes de fogo erguiam quinze metros para o c�u escuro de suas bocas abertas cheias de dentes, no alto de pesco�os esticados. Havia um azul prateado com chifres longos e pontiagudos, que rosnava para os bruxos no ch�o e tentava mord�-los, outro de escamas lisas e verdes, que se contorcia e batia as patas com toda a for�a, um vermelho, com uma estranha franja de belas pontas de ouro ao redor do focinho, que soprava para o ar nuvens de fogo em forma de cogumelo, e um �ltimo negro e gigantesco, mais parecido com um lagarto do que os demais, que era o mais pr�ximo. No m�nimo uns trinta bruxos, sete ou oito para cada drag�o, tentavam control�-los, puxando correntes presas a grossas tiras de couro em volta dos pesco�os e das pernas dos bichos. Hipnotizado, Harry olhou bem para o alto e viu os olhos do drag�o negro, com pupilas verticais como as de um gato, arregalados de medo ou de f�ria, n�o saberia dizer qual... Fazia um barulho terr�vel, um uivo penetrante... � Fique a�, Hagrid! � berrou um bruxo junto � cerca, puxando com for�a a corrente que segurava. � Eles podem cuspir fogo a uma dist�ncia de seis metros, sabe! J� vi este Rabo-C�rneo chegar a doze! � Ele n�o � lindo? � perguntou Hagrid baixinho. � N�o adianta! � berrou outro bruxo. � Feiti�o Estuporante quando eu contar tr�s! Harry viu cada um dos guardadores de drag�es puxar a varinha. � Estupore! � gritaram eles em un�ssono, e os feiti�os dispararam pela escurid�o como foguetes chamejantes, explodindo em chuvas de estrelas sobre os couros escamosos dos drag�es... Harry observou o mais pr�ximo deles balan�ar nas pernas traseiras, as mand�bulas se escancararam em um s�bito uivo silencioso, as narinas subitamente se apagaram, embora ainda fumegassem � depois, muito lentamente, o bicho caiu �, v�rias toneladas de drag�o negro, musculoso, coberto de escamas, desabaram no ch�o com um baque que, Harry poderia jurar, fizera as �rvores atr�s dele estremecerem. Os guardadores de drag�es baixaram as varinhas e avan�aram at� os bichos ca�dos, cada um destes do tamanho de um morro. Os bruxos se apressaram a esticar as correntes e a prend�-las firmemente em estacas de ferro, que eles enterraram bem fundo no ch�o, com suas varinhas. � Quer dar uma olhada de perto? � Hagrid perguntou excitado � Madame Maxime. Os dois se aproximaram da cerca e Harry os acompanhou. O bruxo que alertara Hagrid para n�o se aproximar se virou e Harry viu quem era, Carlinhos Weasley. � Tudo bem, Hagrid? � ofegou ele, aproximando-se para falar. � Devem estar OK agora, demos a eles uma po��o para dormir durante a viagem, achei que seria melhor acordarem quando estivesse escuro e tranq�ilo, mas, como voc� viu, eles n�o ficaram felizes, n�o ficaram nada felizes... � Que ra�as voc� tem aqui, Carlinhos? � perguntou Hagrid, examinando o drag�o mais pr�ximo, o negro, com uma atitude pr�xima � rever�ncia. Os olhos do bicho ainda estavam ligeiramente abertos. Harry p�de ver um risco amarelo e brilhante sob a p�lpebra enrugada e escura. � � um Rabo-C�rneo h�ngaro � informou Carlinhos. � Tem um Verde-Gal�s comum l� adiante, o menor deles, um Focinho Curto sueco, aquele cinzento azulado e o Meteoro-Chin�s, aquele outro vermelho. Carlinhos olhou para o lado, Madame Maxime estava caminhando ao longo do cercado, examinando os drag�es estuporados. � Eu n�o sabia que voc� ia trazer ela, Hagrid � disse Carlinhos franzindo a testa. � Os campe�es n�o podem saber o que os espera, ela com certeza vai contar � campe� de Beauxbatons, n�o vai? � S� achei que ela gostaria de ver os drag�es � respondeu Hagrid encolhendo os ombros, ainda contemplando embevecido os drag�es. � Um encontro realmente rom�ntico, Hagrid � comentou Carlinhos balan�ando a cabe�a. � Quatro... � contou Hagrid � ent�o � um para cada campe�o? Que � que eles v�o ter de fazer, lutar com eles? � S� passar por eles, acho. Estaremos por perto se a coisa ficar feia, prontos para lan�ar Feiti�os de Extin��o. Pediram drag�es em �poca de nidifica��o, n�o sei o porqu�... Mas vou lhe dizer uma coisa, eu n�o invejo o campe�o que pegar o Rabo-C�rneo. Bicho feroz. A extremidade de tr�s � t�o perigosa quanto a da frente � olha Carlinhos apontou para o rabo do drag�o e Harry viu que, em intervalos de uns poucos cent�metros, havia chifrinhos compridos cor de bronze. Cinco dos colegas guardadores de Carlinhos cambaleavam at� o Rabo- C�rneo naquele momento, transportando, juntos, uma ninhada de ovos em um cobertor. Depositaram sua carga, cuidadosamente, do lado do Rabo-C�rneo. Hagrid deixou escapar um gemido de saudade. � Eu contei todos, Hagrid � disse Carlinhos com severidade. Depois perguntou: � Como vai o Harry? � �timo � respondeu Hagrid. Continuava a admirar os ovos. � Fa�o votos de que continue �timo depois de enfrentar esses bichos � disse Carlinhos muito s�rio, contemplando o cercado dos drag�es. � N�o tive coragem de contar � mam�e qual vai ser a primeira tarefa dele, ela j� est� tendo gatinhos por antecipa��o... � Carlinhos imitou a voz ansiosa da m�e: � "Como eles puderam deix�-lo entrar nesse torneio, ele � crian�a demais! Pensei que estivessem todos seguros, pensei que ia haver um limite de idade!" Ela est� se acabando de chorar por causa daquele artigo do Profeta Di�rio. � "Ele ainda chora a perda dos pais! Ah, que Deus o aben�oe, eu n�o sabia!� Para Harry j� era o bastante. Confiando que Hagrid n�o sentiria falta dele, com os drag�es e Madame Maxime para ocupar sua aten��o, ele se virou silenciosamente e come�ou a caminhar de volta ao castelo. N�o sabia se estava ou n�o contente de ter visto o que o esperava. Talvez assim fosse melhor. O primeiro choque passara agora. Talvez se visse os drag�es pela primeira vez na ter�a-feira, tivesse ca�do duro diante de toda a escola... Mas quem sabe desmaiaria assim mesmo... Estaria armado com a varinha � que neste momento lhe parecia apenas uma ripinha de madeira � contra um drag�o de quinze metros de altura, coberto de escamas e chifres, que cuspia fogo. E precisava passar pelo bicho. Com todo mundo olhando. Como? Harry se apressou, contornando a orla da floresta, tinha menos de quinze minutos para chegar � lareira e falar com Sirius, e n�o se lembrava de ter jamais sentido maior vontade de falar com algu�m do que naquele momento � quando, sem aviso, bateu em alguma coisa muito s�lida. Harry caiu de costas, os �culos tortos, apertando a capa em torno do corpo. Uma voz pr�xima exclamou: � Ai! Quem est� a�? Harry verificou depressa se a capa o cobria inteiramente e ficou im�vel, olhando espantado para a silhueta do bruxo com quem colidira. Reconheceu a barbicha... Era Karkaroff. � Quem est� a�? � tornou a perguntar Karkaroff, olhando muito desconfiado para os lados, no escuro. Harry continuou im�vel e calado. Passado pouco mais de um minuto, Karkaroff pareceu ter conclu�do que batera em algum bicho, olhava para baixo da cintura, como se esperasse ver um cachorro. Depois tornou a procurar, sorrateiramente, a sombra das �rvores, e rumou para o local em que se encontravam os drag�es. Muito lenta e cautelosamente, Harry se levantou e continuou seu caminho, o mais r�pido que p�de, sem fazer muito barulho, correndo pela escurid�o de volta a Hogwarts. N�o tinha a menor d�vida do que Karkaroff ia fazer. Tinha sa�do escondido do navio para tentar descobrir qual seria a primeira tarefa, Talvez at� tivesse visto Hagrid e Madame Maxime rumando para a Floresta juntos � n�o era nada dif�cil identific�-los � dist�ncia... E agora s� o que Karkaroff precisava fazer era seguir o ru�do das vozes e ele, tal como Madame Maxime, saberia o que aguardava os campe�es. Pelo jeito, o �nico campe�o que ia enfrentar o desconhecido na ter�a-feira era Cedrico. Harry alcan�ou o castelo, passou despercebido pelas portas de entrada e come�ou a subir os degraus de m�rmore; estava muito ofegante, mas n�o se atrevia a diminuir o passo... Tinha menos de cinco minutos para chegar � lareira... � Asnice! � ofegou ele para a Mulher Gorda, que tirava um cochilo na moldura do quadro que encobria o buraco. � Se voc� assim diz � murmurou ela sonolenta, sem abrir os olhos, e o quadro girou para frente para admitir o garoto. Harry entrou. A sala comunal estava deserta e, a julgar pelo fato de que tinha o cheiro de sempre, Hermione n�o precisara soltar nenhuma bomba de bosta para garantir que ele e Sirius tivessem alguma privacidade. Harry tirou a Capa da Invisibilidade e se largou em uma poltrona diante da lareira. A sala estava na penumbra e as chamas eram a �nica fonte de luz. Pr�ximo, sobre uma mesa, os distintivos �Ap�ie CEDRICO DIGGORY� que os Creevey tinham tentado melhorar brilhavam � claridade da lareira. Agora diziam �POTTER REALMENTE FEDE�. Harry tornou a voltar sua aten��o para chamas e levou um susto. A cabe�a de Sirius flutuava sobre as chamas. Se Harry n�o tivesse visto o Sr. Diggory fazer exatamente o mesmo na cozinha do Weasley, teria se apavorado. Em vez disso, seu rosto se iluminou com o primeiro sorriso que dava em dias, ele deixou a poltrona, foi se agachar diante da lareira e disse: � Sirius, como � que voc� vai indo? Sirius tinha a apar�ncia diferente da que Harry se lembrava. Da outra vez, quando se despediram, o rosto do padrinho estava mag�rrimo e fundo, emoldurado por uma juba de cabelos compridos, negros e embara�ados � mas seus cabelos estavam curtos e limpos agora, o rosto mais cheio e ele parecia mais jovem, e mais semelhante � �nica fotografia que Harry tinha dele, e que fora tirada no casamento dos Potter. � Eu n�o sou importante, como vai voc�? � perguntou Sirius s�rio. � Estou... � Por um segundo, Harry tentou dizer "�timo", mas n�o conseguiu. Antes que pudesse se refrear, estava falando mais do que falara em dias, que ningu�m acreditava que n�o tinha se inscrito no torneio voluntariamente, que Rita Skeeter publicara mentiras sobre ele no Profeta Di�rio, que n�o podia andar pelos corredores sem ca�oarem dele, e que seu amigo Rony n�o acreditava nele, e tinha ci�mes... E agora Hagrid acabou de me mostrar qual vai ser a primeira tarefa, e s�o drag�es, Sirius, e estou perdido", terminou ele desesperado. Sirius observava o garoto com os olhos cheios de preocupa��o, que ainda conservavam a express�o que Azkaban lhes dera � aquela express�o fantasmag�rica e morti�a. Deixara Harry terminar de falar sem interrup��o, mas agora disse: � Drag�es a gente pode dar um jeito, Harry, mas falaremos disso em um minuto, n�o posso me demorar muito aqui... Arrombei uma casa de bruxos para usar a lareira, mas eles podem voltar a qualquer momento. Tem coisas de que preciso alert�-lo. � Quais? � perguntou Harry, sentindo seu �nimo afundar alguns pontos... Com certeza n�o poderia haver nada pior do que drag�es � espera? � Karkaroff � disse Sirius. � Harry, ele era um dos Comensais da Morte. Voc� sabe o que � isso, n�o sabe? � Sei, ele... Qu�? � Ele foi apanhado, esteve em Azkaban comigo, mas foi libertado. Aposto o que quiser que foi essa a raz�o de Dumbledore querer ter um auror em Hogwarts este ano, para ficar de olho nele. Moody foi quem pegou Karkaroff. Foi o primeiro que trancafiou em Azkaban. � Karkaroff foi libertado? � perguntou o garoto lentamente, seu c�rebro parecia estar lutando para absorver mais uma informa��o chocante. � Por que foi que libertaram ele? � Ele fez um acordo com o Minist�rio da Magia � disse Sirius amargurado. �Ele fez uma declara��o admitindo que errara e ent�o revelou nomes... E mandou uma por��o de outras pessoas para Azkaban em lugar dele... Ele n�o � muito popular por l�, isso eu posso afirmar. E desde que saiu, pelo que sei, tem ensinado Artes das Trevas a cada estudante que passa pela escola dele. Por isso tenha cuidado com o campe�o de Durmstrang tamb�m. � OK � disse Harry devagar. � Mas... Voc� est� dizendo que Karkaroff p�s meu nome no C�lice? Porque se fez isso, ele � realmente um bom ator. Parecia furioso com o acontecido. Queria me impedir de competir. � Sabemos que ele � um bom ator � respondeu Sirius � porque convenceu o Minist�rio da Magia a libert�-lo, n�o �? Agora, tenho acompanhado o Profeta Di�rio, Harry... � Voc� e o resto do mundo � disse o garoto com amargura. � ... E lendo nas entrelinhas do artigo que aquela tal de Skeeter publicou no m�s passado, Moody foi atacado na v�spera de se apresentar para trabalhar em Hogwarts. �, sei que ela diz que foi mais um alarme falso � acrescentou Sirius depressa, ao ver Harry fazer men��o de falar �, mas tenho a impress�o de que n�o foi. Acho que algu�m tentou impedi-lo de chegar a Hogwarts. Acho que algu�m sabia que seria muito mais dif�cil agir com ele por perto. E ningu�m vai investigar muito. Olho-Tonto andou ouvindo estranhos, vezes demais. Mas isto n�o significa que tenha se tornado incapaz de identificar a coisa verdadeira. Moody foi o melhor auror que o Minist�rio j� teve. � Ent�o... Que � que voc� est� me dizendo? � perguntou o garoto hesitante. � Karkaroff vai tentar me matar? Mas... Por qu�? Sirius hesitou. � Tenho ouvido coisas muito estranhas � disse pausadamente. � Os Comensais da Morte parecem andar um pouco mais ativos do que o normal ultimamente. Mostraram-se publicamente na Copa Mundial de Quadribol, n�o foi? Algu�m projetou a Marca Negra no c�u... E, al�m disso, voc� ouviu falar na bruxa do Minist�rio da Magia que est� desaparecida? � Berta Jorkins? � Exatamente... Ela desapareceu na Alb�nia, e sem d�vida foi l� que diziam ter visto Voldemort pela �ltima vez... E ela saberia que ia haver um Torneio Tribruxo, n�o �? � �, mas... N�o � muito prov�vel que ela tivesse dado de cara com Voldemort, ou �? � Ou�a, eu conheci Berta Jorkins � disse Sirius s�rio. � Esteve em Hogwarts no meu tempo, alguns anos mais adiantada do que seu pai e eu. E era uma idiota. Muito bisbilhoteira, mas completamente desmiolada. N�o � uma boa combina��o, Harry. Eu diria que ela poderia ser facilmente atra�da para uma arapuca. � Ent�o... Ent�o Voldemort poderia ter descoberto tudo sobre o torneio? � isso que voc� quer dizer? Voc� acha que Karkaroff poderia estar aqui por ordem dele? � N�o sei � disse Sirius lentamente. � N�o sei... Karkaroff n�o me parece o tipo que voltaria para Voldemort a n�o ser que soubesse que o lorde teria poder suficiente para proteg�-lo. Mas quem pos o seu nome no C�lice de Fogo fez isso de caso pensado, e n�o posso deixar de achar que o torneio seria uma boa ocasi�o para atacar voc� e fazer parecer que foi um acidente. � At� onde posso ver, parece um plano muito bom � disse Harry desolado. � S� precisam sentar�se e esperar que os drag�es fa�am o servi�o por eles. � Certo... Esses drag�es � disse Sirius, falando agora muito rapidamente. -Tem um jeito, Harry. N�o ceda � tenta��o de usar um Feiti�o Estuporante, os drag�es s�o fortes, e t�m demasiado poder m�gico para serem nocauteados por um �nico feiti�o. � preciso meia d�zia de bruxos para dominar um drag�o... � �, eu sei, acabei de ver � disse Harry. � Mas voc� pode dar conta sozinho � disse Sirius. � Tem um jeito e s� precisa de um feiti�o simples. Basta... Mas Harry ergueu a m�o para silenci�-lo, seu cora��o disparara subitamente como se quisesse explodir. Ouvira passos que desciam a escada circular �s costas dele. � V�! � sibilou Sirius. � V�! Tem algu�m chegando! Harry levantou-se depressa, escondendo as chamas com o corpo � se algu�m visse o rosto de Sirius entre as paredes de Hogwarts, faria um estardalha�o dos diabos � o Minist�rio seria chamado, ele, Harry, seria interrogado sobre o paradeiro de Sirius... O garoto ouviu um estalido nas chamas atr�s dele e soube que Sirius se fora � observou a escada circular �, quem teria resolvido dar um passeio a uma hora da manh� e impedira Sirius de lhe dizer como passar por um drag�o? Era Rony. Vestido com seu pijama marrom estampado de plumas, ele parou de chofre ao ver Harry do lado oposto da sala e olhou para os lados. � Com quem voc� estava falando? � perguntou. � E isso � da sua conta? � rosnou Harry. � Que � que voc� est� fazendo aqui embaixo a essa hora da noite? � Fiquei imaginando onde voc�... � E parou, encolhendo os ombros. � Nada, vou voltar para a cama. � Achou que poderia vir bisbilhotar, n�o foi? � gritou Harry. Ele sabia que Rony sequer fazia id�ia do que encontraria, sabia que n�o fizera de prop�sito, mas n�o estava ligando, naquele momento ele odiou tudo em Rony, at� o peda�o de tornozelo que aparecia por baixo das cal�as do pijama. � Sinto muito � disse Rony, ficando vermelho de raiva. � Eu devia ter percebido que voc� n�o queria ser perturbado. Vou deixar voc� continuar praticando em paz para a pr�xima entrevista. Harry apanhou um dos distintivos �POTTER REALMENTE FEDE� da mesa e atirou-o com toda a for�a para o outro lado da sala. O distintivo acertou Rony na testa e ele cambaleou. � Toma � disse Harry. � Uma coisa para voc� usar na ter�a-feira. Quem sabe voc� at� arranja uma cicatriz agora, se tiver sorte... � o que voc� quer, n�o �? E atravessou a sala, decidido, em dire��o � escada, de certa forma esperou que Rony o detivesse, teria at� gostado que ele lhe tivesse dado um soco, mas ele ficou parado ali naquele pijama demasiado pequeno e Harry, tendo subido a escada furioso, ficou deitado na cama sem dormir, por muito tempo, mas n�o ouviu Rony vir se deitar. CAP�TULO VINTE A Primeira Tarefa Harry levantou-se na manh� de domingo e se vestiu t�o distraidamente que levou algum tempo para perceber que estava tentando cal�ar o chap�u no p� em vez da meia. Quando finalmente conseguiu p�r cada pe�a de roupa na parte certa do corpo, saiu correndo � procura de Hermione, encontrando-a � mesa da Grifin�ria no Sal�o Principal, onde ela tomava caf� da manh� com Gina. Sentindo-se demasiado enjoado para comer, Harry esperou at� Hermione terminar a �ltima colherada de mingau de aveia, depois a arrastou para darem outro passeio. Nos jardins, contou-lhe tudo sobre os drag�es e tudo sobre o que Sirius dissera, durante o longo passeio � volta do lago. Mesmo alarmada com o que ouvia sobre os avisos de Sirius a respeito de Karkaroff, a garota continuou achando que os drag�es eram o problema mais premente. � Vamos s� tentar manter voc� vivo at� a noite de ter�a-feira � disse desesperada �, depois podemos nos preocupar com Karkaroff. Deram tr�s voltas no lago, tentando pensar em um feiti�o simples para dominar o drag�o. Nada, por�m, lhes ocorreu, de modo que se recolheram � biblioteca. Ali, Harry baixou cada livro que conseguiu encontrar sobre drag�es e os dois come�aram a pesquisar uma grande pilha de livros. � O corte m�gico de unhas... O tratamento da podrid�o de escamas... Isto n�o serve, isto � para gente biruta feito o Hagrid que quer criar drag�es saud�veis... � Os drag�es s�o extremamente dif�ceis de matar, gra�as � magia muito antiga que impregna seu grosso couro, que nenhum, exceto os feiti�os mais poderosos s�o capazes de penetrar... Mas Sirius disse que um feiti�o simples funcionaria... � Vamos tentar alguns livros de feiti�os simples, ent�o, disse Harry, deixando de lado Homens Aficionados Por Drag�es. Ele voltou � mesa com uma pilha de livros de feiti�os, descansou-os e come�ou a folhear um a um, com Hermione cochichando sem parar ao seu lado. � Bom, tem Feiti�os de Substitui��o... Mas qual � a vantagem de substituir um drag�o? A n�o ser que a pessoa substitua as presas dele por gengivas ou outra coisa qualquer para torn�-las inofensivas... O problema � que, como diz o livro, muito pouca coisa atravessa o couro de um drag�o... Eu diria: transfigure o bicho, mas com uma coisa daquele tamanho, a gente realmente n�o tem a menor esperan�a, duvido at� que a Professora Minerva... A n�o ser que a pessoa lance o feiti�o nela mesma? Talvez dar a si mesma poderes extraordin�rios? Mas isso n�o � um feiti�o simples, quero dizer, ainda n�o estudamos nenhum desses em aula, s� sei que existem porque ando fazendo provas simuladas para os N.O.M.�s... � Hermione � disse Harry entre dentes �, quer calar a boca um instante, por favor? Estou tentando me concentrar. Mas s� o que aconteceu quando a garota se calou foi que o c�rebro de Harry se encheu com uma esp�cie de zumbido indistinto, que parecia n�o deixar espa�o para concentra��o. Ele olhou desalentado para o �ndice de Azara��es B�sicas para os Ocupados e Aflitos: Escalpos Instant�neos... Mas drag�es n�o tinham cabelos... Bafo de Pimenta... Isso provavelmente aumentaria o poder de fogo do drag�o... L�ngua de Espinhos... Exatamente o que ele precisava, dar ao drag�o mais uma arma... � Ah, n�o, l� vem ele outra vez, por que � que ele n�o pode ler naquele navio idiota � exclamou Hermione irritada, quando V�tor Krum entrou daquele seu jeito curvado, lan�ou um olhar carrancudo para os dois e se sentou num canto distante com uma pilha de livros. � Vamos, Harry, vamos voltar para a sala comunal... O f� clube dele n�o vai demorar, chilreando sem parar... E n�o deu outra, quando iam saindo da biblioteca, um grupo de garotas passou por eles nas pontas dos p�s, uma delas usando um len�o da Bulg�ria amarrado � cintura. Harry mal chegou a dormir �quela noite. Quando acordou na manh� de segunda-feira, ele pensou seriamente, pela primeira vez na vida, em fugir de Hogwarts. Mas quando correu o olhar pelo Sal�o Principal, na hora do caf� da manh�, e pensou no que significava abandonar o castelo, compreendeu que n�o poderia fazer isso. Era o �nico lugar em que fora feliz... Bem, ele supunha que devia ter sido feliz em companhia dos pais, tamb�m, mas n�o seria capaz de lembrar. Por alguma raz�o, a consci�ncia de que preferia estar ali e ter de encarar um drag�o a voltar � Rua dos Alfeneiros com Duda foi uma coisa boa, e fez com que se sentisse ligeiramente mais calmo. Terminou de comer o bacon com esfor�o (a garganta n�o estava funcionando muito bem), e quando se levantou com Hermione, ele viu Cedrico Diggory deixando a mesa da Lufa-Lufa. Cedrico ainda n�o sabia dos drag�es... O �nico campe�o que n�o sabia, se Harry estivesse certo em pensar que Maxime e Karkaroff teriam informado a Fleur e Krum... � Mione, vejo voc� nas estufas � disse ele, tomando uma decis�o ao ver Cedrico saindo do sal�o. � Vai andando, eu alcan�o voc�. � Harry voc� vai se atrasar, a sineta j� vai tocar... � Eu alcan�o voc�, OK? Quando Harry chegou ao p� da escadaria de m�rmore, Cedrico j� estava no topo. Ia acompanhado de um monte de amigos do sexto ano. Harry n�o queria falar com o campe�o na frente deles, faziam parte do grupo que andara citando o artigo de Rita Skeeter, em voz alta, todas as vezes que ele se aproximava. Seguiu, ent�o, Cedrico � dist�ncia e viu que o garoto ia em dire��o ao corredor da classe de Feiti�os. Isto deu a Harry uma id�ia. Parando a uma certa dist�ncia deles, puxou a varinha e mirou com cuidado. � Diffindo! A mochila de Cedrico se rompeu. Pergaminhos, penas e livros se espalharam pelo ch�o. V�rios tinteiros se quebraram. � N�o se preocupem � disse Cedrico em tom irritado, quando os amigos se abaixaram para ajud�-lo �, digam a Flitwick que estou chegando, v�o indo... Isto era exatamente o que Harry esperava que acontecesse. Ele tornou a guardar a varinha nas vestes, esperou at� que os amigos de Cedrico desaparecessem na sala de aula e entrou depressa no corredor, agora vazio, exceto por ele e Cedrico. � Oi � disse Cedrico, apanhando um exemplar de Um Guia de Transforma��o Avan�ada, manchado de tinta. � Minha mochila simplesmente se rompeu... Nova em folha... � Cedrico � disse Harry �, a primeira tarefa v�o ser drag�es. � Qu�? � exclamou Cedrico, erguendo a cabe�a. � Drag�es � disse Harry depressa, caso o Professor Flitwick sa�sse para ver onde andava Cedrico. � S�o quatro, um para cada um de n�s, e vamos ter que passar por eles. Cedrico arregalou os olhos. Harry viu um pouco do p�nico que andara sentindo desde o s�bado � noite passar pelos olhos cinzentos do colega. � Tem certeza? � perguntou numa voz abafada. � Absoluta. Eu vi. � Mas como foi que voc� descobriu? N�o dev�amos saber... � N�o importa � disse Harry depressa, sabia que Hagrid estaria em apuros se ele dissesse a verdade. � Mas eu n�o sou o �nico que sabe. Fleur e Krum a essa hora tamb�m j� sabem, Maxime e Karkaroff viram os drag�es, tamb�m. Cedrico se levantou, os bra�os cheios de penas, pergaminhos e livros sujos de tinta, a bolsa rasgada pendurada em um ombro. Fitou Harry atentamente e havia uma express�o intrigada, quase desconfiada em seus olhos. � Por que � que voc� est� me dizendo isso? � perguntou. Harry olhou-o sem acreditar. Tinha certeza de que Cedrico n�o faria uma pergunta dessas se ele pr�prio tivesse visto os drag�es. Harry n�o teria deixado seu pior inimigo despreparado para enfrentar aqueles monstros � bom, talvez Malfoy ou Snape... � N�o seria... Justo, n�o acha? � disse ele a Cedrico. � Agora todos sabemos... Estamos em p� de igualdade, n�o �? Cedrico continuava a olhar o garoto com um ar ligeiramente desconfiado quando Harry ouviu um conhecido toque-toque as suas costas. Virou-se e viu Olho-Tonto Moody saindo de uma sala pr�xima. � Venha comigo, Potter � rosnou o professor. � Diggory, pode ir andando. Harry olhou preocupado para Moody. Ser� que o professor ouvira os dois? � Hum... Professor, eu devia estar na aula de Herbologia... � Esque�a, Potter. Na minha sala, por favor... Harry acompanhou-o, se perguntando o que iria lhe acontecer agora. E se Moody quisesse saber como ele descobrira a respeito dos drag�es? Ser� que iria procurar Dumbledore e denunciar Hagrid ou simplesmente transformar Harry numa doninha? Bom, seria mais f�cil passar por um drag�o se ele fosse uma doninha, pensou Harry sem emo��o, ficaria bem menor, muito mais dif�cil de enxergar de uma altura de quinze metros... Harry acompanhou Moody � sua sala. O professor fechou a porta ao passarem e se virou para encarar Harry, o olho m�gico fixo nele ao mesmo tempo que o olho normal. � Foi uma coisa muito decente o que voc� acabou de fazer, Potter � disse Moody baixinho. O garoto n�o soube o que responder; n�o era a rea��o que esperara. � Sente-se � disse o professor, e o garoto se sentou, espiando para os lados. Visitara essa sala na �poca dos seus dois ocupantes anteriores. Na do Professor Lockhart, as paredes eram cobertas de fotos em que o professor sorria e piscava um olho. Quando Lupin a ocupara, era mais prov�vel a pessoa deparar com um esp�cime fascinante de alguma criatura das trevas que ele arranjara para os alunos estudarem em aula. Agora, no entanto, a sala estava apinhada com um n�mero excepcional de objetos estranhos que, supunha Harry, Moody usara na �poca em que fora auror. Sobre a escrivaninha havia algo que parecia um grande pi�o de vidro rachado; Harry reconheceu imediatamente o bisbilhosc�pio, porque ele pr�prio era dono de um, embora muito menor do que o de Moody. A um canto, sobre uma mesinha, havia um objeto que lembrava uma antena dourada de televis�o e n�o parava de girar. Zumbia levemente. Havia algo que lembrava um espelho pendurado na parede oposta a Harry, mas n�o refletia a sala. Vultos escuros se moviam por ele, nenhum realmente em foco. � Gosta dos meus detectores de presen�a das trevas? � perguntou Moody, que observava Harry atentamente. � Que � aquilo? � perguntou o garoto, apontando para a antena dourada de televis�o. � Sensor de segredos. Vibra quando detecta alguma coisa oculta ou falsa... N�o funciona aqui, � claro, h� interfer�ncia demais, estudantes para todos os lados mentindo para justificar por que n�o fizeram os deveres. Anda zumbindo desde que cheguei. Tive que desligar o meu bisbilhosc�pio porque ele n�o parava de apitar. � extra-sens�vel, capta qualquer coisa num raio de um quil�metro e meio. Naturalmente, poderia estar captando mais do que mentiras infantis � acrescentou com um rosnado. � E para que serve o espelho? � Ah, � o meu Espelho-de-Inimigos. Est� vendo eles ali, rondando? N�o estou realmente em perigo at� enxergar o branco dos olhos deles. � a� que abro o meu ba�. Ele soltou uma gargalhada breve e rouca e apontou para um grande ba� sob uma janela. Tinha sete fechaduras alinhadas. Harry ficou imaginando o que haveria ali, at� que a pergunta seguinte do professor o trouxe bruscamente � terra. � Ent�o... Descobriu a respeito dos drag�es? Harry hesitou. Receara isso � mas n�o contara a Cedrico e certamente n�o iria contar a Moody que Hagrid infringira o regulamento. � Tudo bem � disse Moody, sentando-se e esticando a perna de pau com um gemido. � Tradicionalmente trapacear sempre fez parte do Torneio Tribruxo. � Eu n�o trapaceei � disse Harry com veem�ncia. � Foi... Descobri meio por acaso. Moody sorriu. � N�o estou acusando-o, menino. Venho dizendo a Dumbledore, desde o come�o, que ele pode ter os princ�pios elevados que quiser, mas pode apostar que o velho Karkaroff e Maxime n�o os ter�o. Devem ter dito aos seus campe�es tudo o que puderam. Querem ganhar. Querem vencer Dumbledore. Gostariam de provar que ele � apenas humano. Moody deu aquela sua risada rouca e seu olho m�gico girou t�o r�pido que fez Harry se sentir tonto s� de ver. � Ent�o... J� tem alguma id�ia de como vai conseguir passar pelo drag�o? � perguntou Moody. � N�o. � Bom, eu n�o vou lhe dizer � afirmou o professor com rispidez �, n�o demonstro favoritismos, eu. Mas vou-lhe dar uns bons conselhos de ordem geral. O primeiro �: explore os seus pontos fortes. � N�o tenho pontos fortes � disse Harry, antes que pudesse se conter. � Perd�o � rosnou Moody �, voc� tem pontos fortes se eu digo que os tem. Pense um pouco. Que � que voc� sabe fazer melhor? Harry tentou se concentrar. No que � que ele era melhor? Bom, isso era realmente f�cil... � Quadribol � disse sem emo��o � � uma grande ajuda... � Certo � disse Moody mirando-o com muita severidade, o olho m�gico mal se mexendo. � Voc� � um grande piloto, pelo que ouvi falar. � �, mas... � Harry encarou-o. � Mas n�o posso usar a vassoura, s� tenho a varinha... � Meu segundo conselho de ordem geral � disse Moody em voz alta, interrompendo-o � � usar um feiti�o bom e simples que lhe permita conseguir o que precisa. Harry olhou para ele sem entender. Do que � que precisava? � Vamos moleque... � sussurrou Moody. � Some dois mais dois... N�o � t�o dif�cil assim... E fez-se a luz. O que ele fazia melhor era voar. Precisava passar pelo drag�o pelo ar. Para isso, precisava da Firebolt. E para ter a Firebolt ele precisava... � Mione � murmurou Harry, depois de correr para a estufa tr�s minutos mais tarde, e balbuciar uma desculpa ao passar pela Professora Sprout �, Mione, preciso de sua ajuda. � Que � que voc� acha que estive tentando fazer, Harry? � murmurou ela em resposta, os olhos arregalados de ansiedade por cima de um agitado arbusto tremulante que estava podando. � Mione, preciso aprender a fazer um Feiti�o Convocat�rio corretamente at� amanh� de tarde. E assim os dois treinaram. N�o almo�aram, em vez disso foram para uma sala de aula vazia, onde Harry tentou com todo o empenho fazer v�rios objetos voarem pela sala at� ele. Ainda n�o estava bom. Os livros e penas continuavam a perder o embalo no meio da sala e cair como pedras no ch�o. � Concentre-se, Harry, concentre-se... � Que � que voc� acha que eu estou tentando fazer? � perguntou Harry zangado. � Uma porcaria de um drag�o n�o p�ra de aparecer na minha cabe�a, sei l� o porqu�... OK, Mione, tenta outra vez... Ele queria faltar � aula de Adivinha��o para continuar treinando, mas Hermione se recusou categoricamente a matar a aula de Aritmancia, e n�o adiantava ficar l� sem ela. Portanto, Harry teve que aturar mais de uma hora a Professora Sibila Trelawney, que passou metade desse tempo dizendo a todos que a posi��o de Marte com rela��o a Saturno, naquele momento, significava que as pessoas nascidas em julho corriam um grande perigo de sofrer uma morte s�bita e violenta. � Que bom � disse Harry em voz alta, a raiva levando a melhor �, desde que n�o seja demorada, porque n�o quero sofrer. Por um momento pareceu que Rony ia rir; sem d�vida seu olhar encontrou o de Harry pela primeira vez em dias, mas este continuava muito magoado com o amigo para se importar. Harry passou o resto da aula tentando atrair, com a varinha, pequenos objetos para si, por baixo da mesa. Conseguiu fazer uma mosca disparar direto para a sua m�o, embora n�o tivesse total certeza de que aquilo resultasse de sua per�cia com os Feiti�os Convocat�rios � talvez a mosca fosse apenas burra. Ele for�ou um pouco de jantar para dentro depois da aula de Adivinha��o, e em seguida voltou � sala vazia com Hermione, usando a Capa da Invisibilidade para evitar os professores. Os dois continuaram a treinar at� depois da meia-noite. Teriam demorado mais, mas Pirra�a apareceu e, fingindo achar que Harry queria que lhe atirassem coisas, come�ou a arremessar cadeiras pela sala. Os dois garotos tiveram que sair depressa antes que o barulho atra�sse Filch, e voltaram � sala comunal da Grifin�ria, que �quela hora felizmente estava vazia. �s duas da manh�, Harry estava ao p� da lareira, cercado por uma montanha de objetos � livros, penas, v�rias cadeiras viradas, um velho jogo de bexigas e o sapo de Neville, Trevo. Somente na �ltima hora ele, realmente, pegara o jeito dos Feiti�os Convocat�rios. � Est� melhor, Harry, est� muito melhor � disse Hermione, parecendo exausta, por�m muito satisfeita. � Bom, agora sabemos o que fazer na pr�xima vez que n�o conseguirmos lan�ar um feiti�o � disse Harry, atirando um dicion�rio de runas para Hermione, para que pudesse tentar mais uma vez �, me ameace com um drag�o. Certo... � Ele ergueu a varinha novamente. � Accio dicion�rio! O pesado livro voou da m�o de Hermione, atravessou a sala e Harry o aparou. � Harry, sinceramente acho que voc� pegou o jeito! � exclamou a garota, encantada. � Desde que funcione amanh� � disse Harry. � A Firebolt vai estar muito mais longe do que essas coisas aqui, vai estar no castelo e eu vou estar l� fora nos jardins... � N�o faz diferen�a � disse Hermione com firmeza. � Desde que voc� se concentre para valer, realmente para valer, ela chega l�. Harry, � melhor dormirmos um pouco... Voc� vai precisar estar descansado. Harry se concentrara com tanto empenho para aprender os Feiti�os Convocat�rios aquela noite que parte do seu p�nico irracional o deixara. Voltou, contudo, com for�a total, na manh� seguinte. A atmosfera na escola era de grande tens�o e excita��o. As aulas iam ser interrompidas ao meio-dia, dando a todos os estudantes tempo para descer at� o cercado dos drag�es � embora, � claro, eles ainda n�o soubessem o que encontrariam l�. Harry se sentiu estranhamente isolado de todos � sua volta, tanto dos que lhe desejavam boa sorte quanto dos que o vaiavam. � Vamos levar uma caixa de len�os de papel, Potter � diziam ao passar. Era um nervosismo t�o intenso que ele ficou imaginando se poderia perder a cabe�a quando tentassem conduzi-lo ao drag�o e ele come�asse a xingar todo mundo que estivesse � vista. O tempo estava mais esquisito que nunca, transcorria em grandes lapsos, de modo que num momento Harry estava sentado assistindo � primeira aula, Hist�ria da Magia, e, no momento seguinte, saindo para almo�ar... Depois (aonde fora a manh�? As �ltimas horas sem drag�o?) a Professora Minerva corria para ele no Sal�o Principal. Um mont�o de gente estava olhando. � Potter, os campe�es t�m que descer para os jardins agora... Voc� tem que se preparar para a primeira tarefa. � OK � disse Harry, se levantando e deixando cair o garfo no prato, com estr�pito. � Boa sorte � sussurrou Hermione. � Voc� vai se sair bem! � Ah, vou! � exclamou Harry, com uma voz que nem parecia a dele. O garoto deixou o Sal�o Principal com a Professora Minerva, que tamb�m n�o parecia a pessoa de sempre, de fato, parecia quase t�o ansiosa quanto Hermione. Ao conduzi-lo pelos degraus de pedra para a fria tarde de novembro, ela p�s a m�o no ombro do garoto. � Agora, n�o entre em p�nico � disse ela �, mantenha a cabe�a fria... Temos bruxos � m�o para resolver a situa��o se ela se descontrolar... O principal � voc� fazer o melhor que puder e ningu�m vai passar a pensar mal de voc� por isso... Voc� est� bem? � Estou � Harry ouviu-se dizendo. � Estou �timo. Ela o conduzia ao lugar onde estavam os drag�es, margeando a Floresta, mas quando se aproximaram do arvoredo por tr�s do qual o cercado estaria claramente vis�vel, Harry viu que haviam armado uma barraca, com a entrada voltada para quem chegava, que impedia a vis�o dos drag�es. � Voc� deve entrar a� com os outros campe�es � disse a Professora McGonagall, com a voz um tanto tr�mula � e esperar a sua vez, Potter. O Sr. Bagman est� a� dentro... Ele lhe dir� como... Proceder... Boa sorte. � Obrigado � disse Harry, numa voz distante e sem emo��o. A professora o deixou � entrada da barraca. Ele entrou. Fleur Delacour estava sentada a um canto, em um banquinho baixo de madeira. N�o parecia nem de longe a garota habitualmente composta, parecia um tanto p�lida e suada. V�tor Krum parecia ainda mais carrancudo do que de h�bito, o que fez Harry supor que aquela era a sua maneira de demonstrar nervosismo. Cedrico andava para l� e para c�. Quando Harry entrou, ele deu ao garoto um breve sorriso, que Harry retribuiu, sentindo os m�sculos do rosto fazerem muita for�a como se n�o soubessem mais sorrir. � Harry! Que bom! � exclamou Bagman alegremente, virando-se para olh�-lo. � Entre, entre, fique � vontade! Bagman por alguma raz�o parecia um personagem de quadrinhos grande demais, parado ali entre os campe�es p�lidos. Trajava as antigas vestes do Wasp. � Bom, agora estamos todos aqui, hora de dar a voc�s informa��es mais detalhadas! � disse ele animado. � Quando os espectadores acabarem de chegar, vou oferecer a cada um de voc�s este saco � ele mostrou um saquinho de seda p�rpura e sacudiu-o diante dos garotos �, do qual voc�s ir�o tirar uma miniatura da coisa que ter�o de enfrentar! S�o diferentes... Hum... As variedades, entendem. E preciso dizer mais uma coisa... Ah, sim... Sua tarefa ser� apanhar o ovo de ouro! Harry olhou � sua volta. Cedrico acenou a cabe�a para indicar que compreendera as palavras de Bagman, e ent�o recome�ara a andar pela barraca, parecia ligeiramente esverdeado. Fleur Delacour e Krum n�o tiveram a menor rea��o. Talvez achassem que iriam vomitar se abrissem a boca, sem d�vida essa era a sensa��o do pr�prio Harry. Mas pelo menos os outros tinham se voluntariado para ser campe�es... E pouco depois, ouviram-se centenas e mais centenas de p�s passando pela barraca, seus donos excitados, dando risadas e fazendo piadas... Harry se sentiu t�o isolado da multid�o como se pertencesse a uma esp�cie diferente. Ent�o � lhe pareceu que transcorrera apenas um segundo � Bagman estava abrindo a boca do saquinho p�rpura. � Primeiro as damas � disse ele, oferecendo-o a Fleur Delacour. Ela enfiou a m�o tr�mula no saquinho e retirou uma min�scula e perfeita figurinha de drag�o: um Verde-Gal�s. Tinha o n�mero "dois" pendurado ao pesco�o. E Harry percebeu, pelo fato de Fleur n�o ter demonstrado o menor sinal de surpresa, mas, ao contr�rio, uma decidida resigna��o, que ele conclu�ra certo: Madame Maxime contara � garota o que a aguardava. O mesmo se aplicava a Krum. Ele tirou o Meteoro-Chin�s vermelho. Tinha o n�mero "tr�s" pendurado ao pesco�o. Ele sequer piscou, apenas olhou para o ch�o. Cedrico enfiou a m�o no saquinho e retirou o Focinho-Curto sueco cinza-azulado, o n�mero um pendurado no pesco�o. Sabendo o que sobrara, Harry meteu a m�o no saquinho de seda e tirou o Rabo-C�rneo h�ngaro e o n�mero "quatro". O drag�o abriu as asas quando o garoto o olhou e arreganhou os dentes min�sculos. � Bom, ent�o est� decidido! � disse Bagman. � Cada um de voc�s sorteou o drag�o que ir� enfrentar e a ordem em que cada um far� isso, entendem? Agora, vou precisar deix�-los por um momento, porque vou fazer a irradia��o. Sr. Diggory o senhor � o primeiro, s� o que tem a fazer � entrar no cercado quando ouvir o apito, certo? Agora... Harry... Posso dar uma palavrinha com voc�? L� fora? � Hum... Sim senhor � disse Harry sem emo��o e se levantou e saiu da barraca com Bagman, que andou uma pequena dist�ncia at� o arvoredo e se virou, ent�o, para o garoto com uma express�o paternal no rosto. � Est� se sentindo bem, Harry? Posso buscar alguma coisa para voc�? � Qu�? N�o... N�o, nada. � Voc� tem um plano? � disse Bagman, baixando a voz como se conspirasse. � Porque n�o me importo de lhe dar algumas dicas. Se quiser, sabe. Quero dizer � continuou Bagman baixando ainda mais a voz � voc� � a v�tima aqui, Harry... Qualquer coisa que eu puder fazer para ajudar... � N�o � disse Harry, t�o depressa que percebeu imediatamente que parecera grosseiro � n�o... Eu... Eu j� decidi o que vou fazer, obrigado. � Ningu�m iria saber, Harry � disse Bagman com uma piscadela. � N�o, estou �timo � respondeu o garoto se perguntando por que n�o parava de dizer isso a todo mundo e se algum dia estivera t�o longe do �timo. � J� tenho um plano, eu... Um apito soou em algum lugar. � Meu bom Deus, tenho que correr! � disse Bagman assustado. E saiu com pressa. Harry voltou � barraca e viu Cedrico saindo, mais verde que nunca. Harry tentou desejar boa sorte quando ele passou, mas o que saiu de sua boca foi uma esp�cie de rosnado rouco. Harry voltou para a companhia de Fleur e Krum. Segundos mais tarde, ouviu os berros dos espectadores, o que significava que Cedrico entrara no cercado, e agora estava cara a cara com o modelo vivo de sua figurinha... Foi pior do que Harry poderia ter imaginado, ficar sentado ali escutando. A multid�o gritava... Urrava... Exclamava como uma entidade �nica de muitas cabe�as, enquanto Cedrico fazia o que quer que estivesse fazendo para tentar passar pelo Focinho-Curto sueco. Krum continuava a olhar para o ch�o. Fleur agora passara a refazer os passos de Cedrico, dando voltas na barraca. E os coment�rios de Bagman tornavam tudo muito pior... Imagens horrendas se formaram na mente de Harry, quando ele ouviu: "Aaah, por um triz, por muito pouco"... "Ele est� se arriscando, o campe�o!"... "Boa tentativa, pena que n�o deu resultado!� Ent�o, uns quinze minutos depois, Harry ouviu um urro ensurdecedor que s� poderia significar uma coisa: Cedrico conseguira passar pelo drag�o e se apoderara do ovo de ouro. � Realmente muito bom! � gritou Bagman. � E agora as notas dos juizes! Mas ele n�o irradiou as notas, Harry sup�s que os juizes estivessem erguendo as notas no alto para mostr�-las � multid�o. � Um a menos, faltam tr�s! � berrou Bagman, quando o apito tornou a tocar. � Senhorita Delacour, queira fazer o favor! Fleur tremia da cabe�a aos p�s, Harry sentiu mais simpatia por ela do que sentira at� ent�o, quando a viu deixando a barraca com a cabe�a erguida e a m�o apertando a varinha. Ele e Krum ficaram a s�s, em lados opostos da barraca, evitando se olhar. Recome�ou o mesmo processo... � Ah, n�o tenho muita certeza se isto foi sensato! � os dois ouviam Bagman dizer animadamente. � Ah... quase! Cuidado agora... meu bom Deus, pensei que j� tinha apanhado! Dez minutos depois, Harry ouviu a multid�o prorromper em aplausos mais uma vez... Fleur devia ter sido bem-sucedida tamb�m. Uma pausa, enquanto os juizes mostravam as notas de Fleur... Mais palmas... Ent�o, pela terceira vez, o apito. � E a� vem o Sr. Krum! � exclamou Bagman e o garoto saiu curvado, deixando Harry completamente s�. Sentia-se muito mais consciente do seu corpo do que normalmente; consciente de que seu cora��o batia acelerado e seus dedos formigavam de medo... Mas, ao mesmo tempo, ele parecia estar fora do pr�prio corpo, vendo as paredes da barraca e ouvindo a multid�o, como se estivesse muito longe... � Muito ousado! � berrava Bagman e Harry ouviu o Meteoro Chin�s soltar um poderoso e terr�vel urro, enquanto a multid�o prendia a respira��o em un�ssono. � Que sangue-frio ele est� demonstrando... E... Sim, senhores, ele apanhou o ovo! Os aplausos romperam o ar invernal como se espatifassem uma vidra�a, Krum terminara � seria a vez de Harry a qualquer momento. Harry se levantou, reparando vagamente que suas pernas pareciam feitas de marshmalow. Ele aguardou. Ent�o ouviu o apito tocar. Cruzou, ent�o, a entrada da barraca, o p�nico se avolumando dentro dele. E agora, estava passando pelas �rvores e atravessando uma abertura na cerca. O garoto via tudo diante de si como em um sonho berrantemente colorido. Havia centenas e mais centenas de rostos nas arquibancadas que o olhavam, que tinham se materializado desde a �ltima vez que ele estivera naquele lugar. E havia o Rabo-C�rneo do outro lado do cercado, deitado sobre sua ninhada de ovos, a asas meio fechadas, os olhos amarelos e malignos fixos nele, um lagarto negro, monstruoso e coberto de escamas, sacudindo com for�a o rabo de chifres, que deixava marcas de um metro de comprimento escavadas no ch�o duro. A multid�o fazia uma barulheira infernal, mas se era simp�tica ou n�o a ele, Harry n�o sabia nem importava. Era hora de fazer o que tinha de fazer... focalizar a mente, inteira e absolutamente, na coisa que era sua �nica chance... Ele ergueu a varinha. � Accio Firebolt!� gritou. Ent�o, esperou, cada fibra de seu corpo desejando, pedindo... Se n�o funcionasse... Se n�o estivesse a caminho... Ele parecia contemplar as coisas � sua volta atrav�s de uma barreira transparente luminosa, como uma n�voa de vapor quente, que fazia as centenas de rostos que o rodeavam flutuar estranhamente... Ent�o ele a ouviu, cortando o ar �s suas costas; ele se virou e a Firebolt disparando em sua dire��o, come�ando a sobrevoar a floresta, chegando ao cercado e estacando im�vel no ar, aguardando que ele a montasse. A multid�o fez ainda mais estardalha�o. Bagman gritou alguma coisa... Mas os ouvidos de Harry n�o estavam mais ouvindo bem... Ouvir n�o era importante... Ele passou a perna por cima da vassoura e deu impulso contra o ch�o. Um segundo depois, uma coisa milagrosa aconteceu... � medida que ele ganhava altura, � medida que o vento passava rumorejando entre seus cabelos, � medida que os rostos da multid�o se transformavam em meros pontinhos cor-de-carne l� em baixo e o Rabo-C�rneo se reduzia ao tamanho de um c�o, ele percebeu que deixara atr�s de si, n�o somente o ch�o, mas tamb�m medo... Ele estava de volta ao lugar a que pertencia... Era apenas mais uma partida de Quadribol, nada mais... Apenas mais uma partida de Quadribol, e aquele drag�o era apenas mais um time advers�rio indigesto... Ele olhou para a ninhada de ovos e localizou o ovo de ouro brilhando entre os demais cor de cimento, agrupados em seguran�a entre as pernas dianteiras do bicho. � OK � Harry disse a si mesmo �, uma t�tica diversiva... Vamos... E mergulhou. A cabe�a do Rabo-C�rneo o acompanhou, o garoto sabia o que ia fazer, e se recuperou do mergulho bem na hora, um jorro de fogo fora cuspido exatamente no ponto em que ele estaria se n�o tivesse se desviado... Mas Harry n�o se importou... Aquilo era o mesmo que se desviar de um bala�o... � Nossa, como ele sabe voar! � berrou Bagman, enquanto a multid�o gritava e exclamava. � O senhor est� assistindo a isso, Sr. Krum? Harry voou mais alto descrevendo um c�rculo, o Rabo-C�rneo continuava acompanhando o progresso do garoto, sua cabe�a girava sobre o longo pesco�o � se continuasse a fazer isso, ia ficar bem enjoadinho, mas era melhor n�o insistir muito ou o bicho iria recome�ar a cuspir fogo... Harry se deixou afundar rapidamente na hora em que o drag�o abriu a boca, mas desta vez teve menos sorte � ele escapou das chamas, mas o bicho chicoteou o rabo para o alto ao seu encontro, e quando ele virou para a esquerda, um dos longos chifres arranhou seu ombro, rasgando suas vestes... Harry sentiu o ombro arder, ouviu os gritos e gemidos da multid�o, mas o corte n�o parecia ser muito fundo... Agora, ao passar veloz pelas costas do Rabo- C�rneo ocorreu-lhe uma possibilidade... O drag�o n�o parecia estar querendo voar, estava demasiado preocupado em proteger os ovos. Embora se contorcesse e abrisse e fechasse as asas sem tirar aqueles medonhos olhos amarelos de Harry, tinha medo de se afastar demais de sua ninhada... Mas o garoto precisava persuadi-lo a fazer isso ou jamais chegaria perto deles... O truque era fazer isso cautelosamente, gradualmente... Harry come�ou a voar, primeiro para um lado, depois para o outro, suficientemente longe para o bafo do bicho n�o o perfurar, mas, ainda assim, oferecendo uma amea�a suficientemente forte para o drag�o n�o tirar os olhos dele. A cabe�a do bicho virava para um lado e para o outro, vigiando o garoto com aquelas pupilas verticais, as presas � mostra... Harry voou mais alto. A cabe�a do Rabo-C�rneo se ergueu com ele, o pesco�o agora esticava-se ao m�ximo, ainda se movendo, como uma serpente diante do seu encantador... O garoto subiu mais alguns palmos, e o bicho soltou um rugido de exaspera��o. Harry era uma mosca para ele, uma mosca que o bicho gostaria de amassar, seu rabo tornou a chicotear, mas Harry estava demasiado alto para que pudesse alcan��-lo... O drag�o cuspiu fogo para o ar, Harry se desviou... As mand�bulas do bicho se escancararam... � Anda � sibilou Harry, fazendo voltas irresist�veis no alto �, anda, vem me pegar... Levanta, agora... Ent�o o drag�o se empinou, abrindo finalmente as poderosas asas negras de couro, grandes como as de um pequeno avi�o � e Harry mergulhou. Antes que o drag�o percebesse o que ele fizera, ou onde desaparecera, o garoto estava voando a toda velocidade para o ch�o em dire��o aos ovos, agora sem a prote��o das patas com garras do drag�o � Harry soltou as m�os da Firebolt �, agarrou o ovo de ouro... E, com um grande arranco, tornou a subir e parou no ar, sobre as arquibancadas, o pesado ovo bem preso sob o bra�o bom, e era como se algu�m tivesse acabado de aumentar o volume do som � pela primeira vez ele tomou realmente consci�ncia do barulho da multid�o, que gritava e aplaudia com tanto estardalha�o quanto os torcedores dos irlandeses na Copa Mundial... � Olhem s� para isso! � berrava Ludo Bagman. � Por favor olhem para isso! Nosso campe�o mais jovem foi o mais r�pido a apanhar o ovo! Bom, isto vai diminuir a desvantagem do Sr. Potter! Harry viu os guardadores de drag�es se adiantarem correndo para dominar o bicho, e l� na entrada do cercado, a Professora McGonagall, o Professor Moody e Hagrid corriam ao seu encontro, todos acenando para que fosse ter com eles, seus sorrisos vis�veis mesmo �quela dist�ncia. Ele tornou a sobrevoar as arquibancadas, a algazarra da multid�o batucando seus t�mpanos, e desceu suavemente para pousar, o cora��o mais leve do que estivera em semanas... Conseguira cumprir a primeira tarefa, sobrevivera... � Foi excelente, Potter! � exclamou a Professora McGonagall quando ele desmontou a Firebolt, o que vindo dela era um elogio extravagante. Harry reparou que a m�o da professora tremia quando apontou para o seu ombro. � Vai precisar procurar Madame Pomfrey antes que os juizes anunciem sua nota... Ali, ela j� teve que fazer um curativo em Diggory... � Voc� conseguiu, Harry! � exclamou Hagrid rouco. � Voc� conseguiu! E ainda por cima contra o Rabo-C�rneo e, sabe, o Carlinhos disse que esse era o pior... � Obrigado, Hagrid � disse Harry em voz alta, para que o bruxo n�o se atrapalhasse e acabasse revelando que, na v�spera, mostrara ao garoto os drag�es. O Professor Moody parecia muito satisfeito, tamb�m. Seu olho m�gico dan�ava na �rbita. � Devagar se vai ao longe, Potter � rosnou ele. � Certo ent�o, Potter, para a barraca de primeiros-socorros, por favor... � disse a Professora Minerva McGonagall. Harry saiu do cercado ainda ofegante e viu Madame Pomfrey parada � entrada da segunda barraca com ar preocupado. � Drag�es! � exclamou ela com a voz desgostosa, puxando Harry para dentro. A barraca era dividida em cub�culos, ele viu a silhueta de Cedrico atrav�s da lona, mas o campe�o n�o parecia muito machucado, pelo menos estava sentado. Madame Pomfrey examinou o ombro de Harry, falando nervosamente, sem parar, o tempo todo. � No ano passado foram os dementadores, este ano s�o os drag�es, que � mais que v�o trazer para a escola? Voc� teve muita sorte... O corte � bem superficial... Mas ser� preciso limp�-lo antes de fechar... Ela limpou o corte com uma pelota de algod�o molhada em liquido p�rpura que fumegava e ardia, mas depois tocou o ombro dele com a varinha e o garoto sentiu o corte se fechar instantaneamente. � Agora se sente quieto um minuto, sente-se! Depois pode ir receber a sua nota. A enfermeira saiu apressada da barraca e ele a ouviu entrar na porta vizinha e dizer: � Como � que voc� est� se sentindo agora, Diggory? Harry n�o queria ficar sentado im�vel, continuava cheio de adrenalina. Levantou-se, querendo ver o que estava acontecendo l� fora, mas antes que chegasse � entrada da barraca, duas pessoas entraram em disparada � Hermione, seguida de perto por Rony. � Harry, voc� foi genial! � exclamou Hermione em voz alta e fina. Tinha marcas de unhas no rosto, que ela andara apertando de medo. � Voc� foi fant�stico! Realmente foi! Mas Harry tinha os olhos em Rony, que estava muito branco e olhava fixamente para o amigo como se visse um fantasma. � Harry � disse ele muito s�rio �, quem quer que tenha posto o seu nome naquele c�lice, eu... Eu reconhe�o que estava tentando acabar com voc�! Foi como se as �ltimas semanas jamais tivessem acontecido, como se Harry estivesse encontrando Rony pela primeira vez, logo depois de ter sido escolhido campe�o. � Entendeu, foi? � disse Harry com frieza. � Demorou. Hermione estava parada e nervosa entre os dois, olhando de um para outro. Rony abriu a boca, inseguro. Harry sabia que ele ia se desculpar e, de repente, descobriu que n�o precisava ouvir desculpas. � OK � disse, antes que Rony pudesse falar. � Esquece. � N�o � disse Rony �, eu n�o devia ter... � Esquece. Rony riu nervoso para Harry e este retribuiu o sorriso. Hermione caiu no choro. � N�o tem motivo para chorar � disse Harry espantado. � Voc�s dois s�o t�o burros! � exclamou ela, batendo o p� no ch�o, as l�grimas caindo nas vestes. Ent�o, antes que qualquer dos dois pudesse impedi-la, a garota os abra�ou e saiu correndo, agora decididamente aos berros. � Maluca � concluiu Rony, balan�ando a cabe�a. � Harry, anda, eles v�o anunciar as suas notas... Recolhendo o ovo de ouro e a Firebolt, sentindo-se mais euf�rico do que teria acreditado poss�vel uma hora atr�s, Harry se abaixou para sair da barraca, Rony a seu lado, falando depressa. � Voc� foi o melhor, sabe, ningu�m foi p�reo para voc�. Cedrico fez uma coisa estranha, transfigurou uma pedra no ch�o... Transformou-a em cachorro... Estava tentando fazer o drag�o avan�ar no cachorro e n�o nele. Bem, foi uma transfigura��o legal, e at� funcionou, porque ele apanhou o ovo, mas ele tamb�m se queimou, o drag�o mudou de id�ia no meio do caminho e decidiu que preferia pegar ele em vez do labrador, Cedrico escapou por um triz. E a tal Fleur tentou uma esp�cie de feiti�o, acho que estava querendo fazer o drag�o entrar em transe, bom, isso tamb�m funcionou, o bicho ficou sonolento, mas a� soltou um ronco e cuspiu um grande jorro de chamas e a saia dela pegou fogo, ela apagou com um pouco de �gua tirada da varinha. E Krum, voc� n�o vai acreditar, mas ele nem pensou em voar! Mas, provavelmente, foi o melhor depois de voc�. Atacou o drag�o com um feiti�o bem no olho. S� teve um problema, o bicho saiu andando agoniado e amassou metade dos ovos de verdade, ele perdeu pontos por causa disso, Krum n�o devia ter danificado a ninhada. Rony respirou fundo quando os dois chegaram ao cercado. Agora que o Rabo-C�rneo fora levado, Harry p�de ver onde os cinco juizes estavam sentados � bem na outra extremidade, em assentos altos cobertos de tecido dourado. � Cada um d� notas de um a dez � explicou Rony, e Harry apurando os olhos na dire��o do campo, viu o primeiro juiz, Madame Maxime, erguer a varinha no ar. Dela saiu uma comprida fita prateada que desenhou um grande oito no ar. � Nada mal! � disse Rony, enquanto a multid�o aplaudia. � Suponho que tenha descontado pontos pelo seu ferimento no ombro... O Sr. Crouch foi o seguinte. Lan�ou um n�mero nove no ar. � Est� indo bem! � berrou Rony, batendo nas costas de Harry. Depois, Dumbledore. Ele tamb�m projetou um nove. A multid�o aplaudia com mais entusiasmo que nunca. Ludo Bagman � dez. � Dez? � disse Harry incr�dulo. Mas... Eu me machuquei... Qual � a dele? � Harry, n�o reclama! � berrou Rony excitado. E agora Karkaroff erguia a varinha. Parou um momento e em seguida saiu um n�mero de sua varinha tamb�m � quatro. � Qu�?� bradou Rony furioso. � Quatro? Seu bosta desonesto, voc� deu dez ao Krum! Mas Harry n�o se importou, n�o teria se importado se Karkaroff lhe desse zero, a indigna��o de Rony por sua causa valia uns cem pontos para ele. N�o disse isso ao amigo, � claro, mas seu cora��o estava mais leve do que o ar quando ele deu meia volta para se retirar do cercado. E n�o foi apenas Rony... N�o foram apenas os alunos da Grifin�ria que aplaudiram no meio da multid�o. Quando chegara a hora, quando viram o que Harry precisava enfrentar, a maioria da escola tinha ficado do seu lado e do de Cedrico tamb�m... Ele n�o se importava com os alunos da Sonserina, podia suportar o que quer que lhe dissessem. � Voc�s est�o empatados no primeiro lugar, Harry! Voc� e Krum! � disse Carlinhos Weasley, correndo ao encontro deles quando os garotos voltavam � escola. � Escutem, tenho que correr, tenho que mandar uma coruja � mam�e, jurei que contaria a ela o que acontecesse, mas foi inacredit�vel! Ah, foi, e me mandaram lhe avisar que voc� precisa ficar por aqui mais uns minutinhos... Bagman quer falar com voc� na barraca dos campe�es. Rony disse que esperaria, de modo que Harry tornou a entrar na barraca, que, de algum modo parecia diferente agora, simp�tica e hospitaleira. Ele lembrou a sensa��o que tivera no momento que procurava fugir do Rabo-C�rneo e comparou-a � longa espera antes de sair para enfrent�-lo... N�o havia compara��o, a espera fora imensuravelmente pior. Fleur, Cedrico e Krum entraram juntos. Um lado da cabe�a de Cedrico estava coberto com uma grossa pasta laranja, que presumivelmente estava curando sua queimadura. Ele sorriu para Harry ao v�-lo: � Foi legal, Harry. � Voc� tamb�m � disse o garoto retribuindo o sorriso. � Muito bons, todos voc�s! � disse Ludo Bagman, entrando l�pido na barraca e parecendo satisfeito como se ele pr�prio tivesse iludido a guarda de um drag�o. � Agora, s� umas palavrinhas. Voc�s t�m um bom intervalo at� a segunda tarefa, que ter� lugar �s nove e meia da manh� de 24 de fevereiro, mas vamos lhes dar alguma coisa em que pensar durante esse tempo! Se examinarem os ovos de ouro que est�o segurando, ver�o que eles se abrem... Est�o vendo as dobradi�as? Voc�s precisam decifrar a pista que est� dentro do ovo, porque ela dir� qual vai ser a segunda tarefa e permitir� que se preparem! Ficou claro? T�m certeza? Podem ir, ent�o! Harry deixou a barraca, tornou a se juntar a Rony e os dois recome�aram a andar costeando a floresta, conversando animados, Harry queria saber com maiores detalhes o que os outros campe�es tinham feito. Depois, quando contornavam o arvoredo, atr�s do qual Harry ouvira os drag�es rugirem pela primeira vez, uma bruxa saltou do meio das �rvores. Era Rita Skeeter. Usava hoje vestes verde-�cido; a pena de repeti��o r�pida na m�o se mesclava perfeitamente com as vestes. � Parab�ns, Harry! � disse ela, rindo radiante para o garoto. Ser� que voc� pode me dar uma palavrinha? Como foi que voc� se sentiu enfrentando aquele drag�o? Como � que voc� se sente agora quanto � lisura das notas? � Posso dar uma palavrinha, sim � disse Harry com selvageria � Tchau. E saiu com Rony em dire��o ao castelo. CAP�TULO VINTE E UM A Frente de Libera��o dos Elfos Dom�sticos Harry, Rony e Hermione foram ao corujal naquela noite � procura de Pichitinho para Harry poder enviar uma carta a Sirius, contando-lhe que conseguira passar ileso pelo drag�o. No caminho, Harry p�s Rony a par de tudo que Sirius lhe informara sobre Karkaroff. Embora, de in�cio, Rony tivesse se chocado em saber que o bruxo fora um Comensal da Morte, na altura em que chegaram ao corujal ele j� estava dizendo que os tr�s deviam ter desconfiado disso o tempo todo. � Se encaixa direitinho, n�o �! � disse ele. � Voc� se lembra do que Malfoy disse no trem, que o pai dele era amigo de Karkaroff? Hora a gente j� sabe onde se conheceram. Provavelmente estavam correndo mascarados na Copa Mundial... Mas vou dizer uma coisa, Harry, se foi Karkaroff que p�s o seu nome no C�lice de Fogo, ele agora vai estar se sentindo muito idiota, n�o acha? N�o funcionou, n�o �? Voc� s� levou um arranh�o! Vem at� aqui, eu fa�o isso... Pichitinho estava demasiado excitado com a id�ia de fazer uma entrega, voava sem parar � volta da cabe�a de Harry, piando continuamente. Rony agarrou a coruja no ar e segurou-a quieta para que o amigo pudesse prender a carta � perna da ave. � Acho que n�o � poss�vel que as outras tarefas sejam t�o perigosas. Como poderiam ser? � prosseguiu Rony enquanto levava Pichitinho at� a janela. � Sabe de uma coisa? Acho que voc� poderia vencer esse torneio, Harry, estou falando s�rio. Harry sabia que Rony s� estava dizendo isso para compensar o seu comportamento nas �ltimas semanas, mas assim mesmo gostou. Hermione, no entanto, encostou-se � parede do corujal, cruzou os bra�os e amarrou a cara para Rony. � Harry tem um longo caminho a percorrer at� o fim do torneio � disse ela s�ria. � Se essa foi a primeira tarefa, nem quero pensar qual vai ser a pr�xima. � Voc� � um raio luminoso de sol, n�o � n�o? Voc� e Professora Sibila deviam se reunir um dia desses. E, dizendo isso, Rony lan�ou Pichitinho pela janela. A ave mergulhou quase quatro metros antes de conseguir se sustentar; a carta amarrada a sua perna era muito mais comprida e pesada que o normal � Harry n�o p�de resistir � tenta��o de contar a Sirius, lance a lance, exatamente como voara para c� e para l�, circulara e se desviara do Rabo-C�rneo. Os tr�s acompanharam Pichitinho desaparecer na noite, e ent�o Rony falou: � Bom, � melhor descermos para a sua festa surpresa, Harry, a esta altura, Fred e Jorge j� devem ter pilhado comida suficiente das cozinhas. N�o deu outra. Quando entraram, a sala comunal da Grifin�ria explodiu de vivas e gritos outra vez. Havia montanhas de bolos e garraf�es de suco de ab�bora e cerveja amanteigada em cima de cada m�vel, Lino Jordan soltara alguns dos seus Fogos Fabulosos do Dr. Filibusteiro Sem Fuma�a Nem Calor, por isso o ar estava denso de estrelas e fa�scas e Dino Thomas, que era muito bom em desenho, tinha pendurado magn�ficos galhardetes novos, a maioria dos quais mostrava Harry voando na Firebolt em volta da cabe�a do drag�o, embora houvesse uns dois que mostravam Cedrico com os cabelos em chamas. Harry se serviu da comida, quase esquecera como era se sentir realmente faminto, e se sentou com Rony e Hermione. N�o conseguia acreditar na felicidade que sentia, recuperara o apoio de Rony, dera conta da primeira tarefa e s� teria que enfrentar a segunda dali a tr�s meses. � Putz, isso � pesado � comentou Lino Jordan, levantando o ovo dourado, que Harry deixara em cima de uma mesa, e pesando-o nas m�os. � Abra, Harry, vamos! Vamos ver o que tem dentro! � Ele tem que decifrar a pista sozinho � disse Hermione depressa. � � a regra do torneio... � Eu devia arranjar um jeito de passar pelo drag�o sozinho, tamb�m � murmurou Harry, de modo que somente Hermione o ouvisse, e ela deu um sorriso culpado. � �, anda, Harry, abra! � fizeram coro v�rios colegas. Lino passou o ovo a Harry e o garoto enfiou as unhas no sulco que corria a toda volta do objeto, for�ando o ovo a abrir. Estava oco e completamente vazio, mas no momento em que Harry o abriu, um som terr�vel, alto e agudo como um agouro, encheu a sala. A coisa mais pr�xima �quilo que Harry j� ouvira fora a orquestra fantasma na festa do anivers�rio de morte de Nick Quase Sem Cabe�a, em que todos os componentes tocavam um serrote musical. � Fecha isso! � berrou Fred, as m�os tampando os ouvidos. � Que � isso? � perguntou Simas Finnigan, olhando o ovo enquanto Harry tornava a fech�-lo com um estalo. � Parecia um esp�rito agourento... quem sabe voc� vai ter que passar por um deles da pr�xima vez, Harry! � Era algu�m sendo torturado! � arriscou Neville, que ficara muito p�lido e largara os p�es de salsicha no ch�o. � Voc� vai ter que enfrentar a Maldi��o Cruciatus! � Deixa de ser babaca, Neville, isso � ilegal � disse Jorge. � N�o usariam a Maldi��o Cruciatus contra os campe�es. Achei que lembrava um pouco o Percy cantando... Quem sabe voc� vai ter que atacar ele quando estiver debaixo do chuveiro, Harry. � Quer uma tortinha de gel�ia, Mione? � ofereceu Fred. Hermione olhou com ar de d�vida para o prato que o garoto lhe estendia. Fred sorriu. � Pode se servir. N�o fiz nada com elas. � com os cremes de caramelo que voc� tem de se cuidar... Neville, que acabara de encher a boca de creme, se engasgou e o cuspiu fora. Fred deu uma risada. � � s� uma brincadeirinha, Neville... Hermione apanhou uma tortinha de gel�ia. Depois perguntou: � Voc� apanhou tudo isso na cozinha, Fred? � Foi � respondeu ele sorrindo para a garota. Ele fez uma voz de falsete e imitou um elfo dom�stico: � "O que pudermos lhe arranjar, meu senhor, qualquer coisa!" S�o superprestativos... Me arranjariam um boi assado se eu dissesse que estava faminto. � Como � que voc� entra l�? � perguntou Hermione com uma voz inocentemente desinteressada. � � f�cil, tem uma porta escondida atr�s da pintura de uma fruteira. � s� fazer "cosquinha" na p�ra, ela ri e... � Ele parou olhou desconfiado para a garota. � Por qu�? � Nada � apressou-se Hermione a dizer. � Vai tentar liderar uma greve de elfos dom�sticos, �? Vai desistir dos folhetos e incitar os caras a se revoltarem? Algumas pessoas riram. Hermione n�o respondeu. � N�o vai perturbar os elfos dizendo que t�m que pedir roupas e sal�rios! � avisou-a Fred. � Vai desviar os caras do preparo da comida! Nesse instante, Neville provocou uma ligeira distra��o transformando-se em um grande can�rio. � Ah... Me desculpe, Neville � gritou Fred, abafando as risadas. � Me esqueci... Foram os cremes de caramelo que enfeiti�amos... Um minuto depois, Neville entrava na muda e quando as penas acabaram de cair ele reapareceu tal qual era. E at� engrossou o coro de gargalhadas. � Cremes de Can�rios! � anunciou Fred para os alunos facilmente excit�veis. � Jorge e eu inventamos, sete sicles cada, pechincha! Era quase uma hora da manh� quando Harry finalmente foi para o dormit�rio em companhia de Rony, Neville, Simas e Dino. Antes de fechar as cortinas de sua cama, o garoto colocou a miniatura do Rabo-C�rneo h�ngaro em cima da mesa-de-cabeceira onde o drag�o bocejou, se enroscou e fechou os olhos. Para ser sincero, pensou Harry, ao correr as cortinas da cama, Hagrid tinha uma certa raz�o... Eles eram realmente legais, os drag�es... O come�o de dezembro trouxe chuva e neve granulada a Hogwarts. Mesmo cheio de correntes de ar como costumava ser o castelo no inverno, Harry se sentia grato por suas lareiras e paredes grossas todas as vezes que passava pelo navio de Durmstrang no lago, jogando com os ventos fortes, as velas negras enfunadas contra o c�u escuro. Ocorreu-lhe que a carruagem de Beauxbaton provavelmente era bem fria tamb�m. Hagrid, reparou ele, estava mantendo os cavalos de Madame Maxime bem abastecidos do u�sque que preferiam, os vapores que subiam do cocho a um picadeiro eram suficientes para deixar tonta a classe inteira de Trato das Criaturas M�gicas. Isto n�o ajudava nada, porque os garotos continuavam cuidando dos horrorosos explosivins e precisavam ficar s�brios. � N�o tenho bem certeza se eles hibernam ou n�o � disse Hagrid, na aula seguinte, � classe que tremia de frio na horta de ab�boras varrida pelo vento. � Achei que dev�amos tentar ver se os bichos querem tirar uma soneca... Vamos coloc�-los nessas caixas... Agora s� restavam dez, aparentemente ainda n�o haviam se fartado de se matar uns aos outros. Cada um agora chegava quase a um metro e oitenta cent�metros de comprimento. A carapa�a grossa e cinzenta, as perninhas curtas em movimento, as caudas que expeliam fogo, os ferr�es e os sugadores se somavam para tornar os explosivins as coisas mais repugnantes que Harry j� vira. A turma olhou desanimada para as enormes caixas que Hagrid trouxera, todas forradas com almofadas e cobertores macios. � Vamos lev�-los para as caixas � disse Hagrid �, tamp�-las, e ver o que acontece. Mas os explosivins, pelo que se viu, n�o hibernavam, e n�o gostavam de ser enfiados � for�a em caixas forradas com almofadas com uma tampa por cima. Hagrid logo come�ou a gritar: � N�o entrem em p�nico, n�o entrem em p�nico! � Enquanto os bichos desembestavam pela horta de ab�boras agora juncada com os restos de caixas fumegantes. A maioria da turma, Malfoy, Crabbe e Goyle � frente, tinha fugido para a cabana de Hagrid pela porta dos fundos e se barricara l� dentro, Harry, Rony e Hermione, no entanto, estavam entre os alunos que tinham ficado do lado de fora tentando ajudar o professor. Juntos, conseguiram dominar e prender nove dos explosivins, embora ao custo de v�rios cortes e queimaduras, finalmente, faltou apenas uma das criaturas. � N�o v�o assust�-lo! � gritou Hagrid, enquanto Rony e Harry usavam as varinhas para lan�ar fagulhas no bicho, que avan�ava amea�adoramente para os garotos, o ferr�o nas costas estremecendo em riste. � Tentem passar a corda pelo ferr�o para ele n�o poder atacar os outros. � Ah, �, n�s nem �amos querer uma coisa dessas! � gritou Rony zangado, enquanto ele e Harry recuavam contra a parede da cabana de Hagrid, ainda mantendo o explosivin afastado com fagulhas. � Ora, ora, ora... Isso parece realmente divertido! Rita Skeeter estava debru�ada na cerca do jardim de Hagrid, apreciando a confus�o. Usava uma grossa capa carmim com uma gola de peles e trazia a bolsa de crocodilo no bra�o. Hagrid se atirou em cima do bicho que acuava Harry e Rony e achatou-o, um jorro de fogo disparou de sua cauda, queimando os p�s de ab�bora mais pr�ximos. � Quem � a senhora? � perguntou Hagrid � jornalista, enquanto passava a corda no ferr�o do explosivin e apertava o la�o. � Rita Skeeter, rep�rter do Profeta Di�rio � respondeu a mo�a, sorrindo para ele. Seu dente de ouro brilhou. � Pensei ter ouvido Dumbledore dizer que a senhora n�o podia mais entrar na escola? � disse Hagrid erguendo ligeiramente as sobrancelhas enquanto sa�a de cima do bicho achatado e come�ava a arrast�-lo para junto dos companheiros. Rita fez de conta que n�o ouviu o que Hagrid acabara de dizer. � Como � o nome dessas criaturas fascinantes? � perguntou ela, com um sorriso ainda maior. � Explosivins � resmungou Hagrid. � S�rio? � disse ela, parecendo vivamente interessada. � Nunca ouvi falar deles antes... E de onde � que eles v�m? Harry notou uma vermelhid�o subir da barba negra e desgrenhada de Hagrid e sentiu um s�bito des�nimo. Onde � que Hagrid arranjara aqueles bichos? Hermione que parecia estar pensando mais ou menos a mesma coisa, disse depressa: � Eles s�o muito interessantes, n�o � mesmo? N�o s�o, Harry? � Qu�? Ah, s�o... Ai... Interessantes � disse o garoto quando a amiga pisou seu p�. � Ah, voc� est� aqui, Harry! � exclamou Rita olhando para o lado. � Ent�o voc� gosta da aula de Trato das Criaturas M�gicas? Uma de suas mat�rias preferidas? � � � disse Harry corajosamente. Hagrid lhe deu um grande sorriso. � Que beleza! � disse Rita. � Realmente uma beleza. Est� ensinando isso h� muito tempo? � perguntou ela a Hagrid. Harry reparou que os olhos da jornalista corriam de Dino (que recebera um corte feio no rosto) para Lil� (cujas vestes estavam bastante chamuscadas), para Simas (que estava cuidando de v�rios dedos queimados), e dele para as janelas da cabana, onde se encontrava a maior parte da turma, de nariz colado na vidra�a, esperando ver se era seguro sair. � Este � o meu segundo ano � respondeu o professor. � Que beleza... O senhor n�o gostaria de dar uma entrevista? Contar sua experi�ncia com criaturas m�gicas? O Profeta publica uma coluna zool�gica toda quarta-feira, como o senhor com certeza j� sabe. N�s poder�amos falar desses... Hum... Estouradins? � Explosivins � apressou-se a corrigir Hagrid. � Hum... Claro, por que n�o? Harry teve uma sensa��o ruim sobre o convite, mas n�o havia como se comunicar com Hagrid sem Rita ver, por isso ele foi obrigado a ficar em sil�ncio observando Hagrid e Rita combinarem se encontrar no Tr�s Vassouras para uma longa entrevista, mais para o fim da semana. Ent�o a sineta tocou no castelo, anunciando o fim da aula. � Bem, tchau, Harry! � gritou Rita alegremente para o garoto, enquanto ele se afastava com Rony e Hermione. � At� sexta-feira � noite, ent�o, Hagrid! � Rita vai distorcer tudo que ele disser � comentou Harry baixinho. � Desde que ele n�o tenha importado aqueles explosivins ilegalmente nem nada do g�nero � disse Hermione desesperada. Eles se entreolharam, era exatamente o tipo de coisa que Hagrid seria capaz de fazer. � Hagrid j� se meteu em montes de confus�o antes e Dumbledore nunca o despediu � disse Rony em tom de consolo. � O pior que pode acontecer � Hagrid ter que se livrar dos bichos. Desculpe... Eu disse o pior? Quis dizer o melhor. Harry e Hermione ca�ram na gargalhada e, sentindo-se mais animados, foram almo�ar. Harry gostou imensamente da aula de Adivinha��o naquela tarde, a turma ainda estava fazendo mapas e predi��es, mas agora que ele e Rony tinham voltado a ser amigos a coisa recuperara a antiga gra�a. A Professora Sibila, que andara t�o satisfeita com os garotos quando eles estiveram predizendo mortes horrendas para si mesmos, n�o tardou a se irritar quando os dois ficaram de risadinhas na hora em que ela explicava as v�rias maneiras com que Plut�o era capaz de desorganizar a vida di�ria. � Seria de pensar � disse ela, num sussurro m�stico que n�o ocultava seu �bvio aborrecimento � que alguns de n�s � e olhou significativamente para Harry � seriam um pouquinho menos fr�volos se tivessem visto o que vi quando consultei a minha bola de cristal ontem � noite. Eu estava sentada bordando, muito absorta, quando fui tomada por um impulso de consultar a bola. Levantei-me e me sentei diante dela e contemplei suas profundezas cristalinas... E o que acham que vi olhando para mim? � Uma morcega velha com os �culos maiores do que a cara? � cochichou Rony. Harry fez muita for�a para ficar com a cara s�ria. � A morte, meus queridos. Parvati e Lil� levaram as m�os � boca, fazendo cara de horror. � Sim, senhores � disse a professora, acenando a cabe�a de modo impressionante �, ela est� se aproximando, cada vez mais, descrevendo c�rculos no c�u como um urubu, cada vez mais baixa... Sempre mais baixa sobre o castelo... Ela olhou diretamente para Harry, que bocejou com a boca escancarada e de maneira �bvia. � Teria sido mais impressionante se ela n�o tivesse anunciado isso oito vezes antes � disse Harry, quando finalmente recuperaram o ar fresco na escada sob a sala de Sibila. � Mas se eu ca�sse duro toda vez que ela diz que vou cair, eu seria um milagre da medicina. � Seria uma esp�cie de fantasma super-concentrado � disse Rony rindo, ao passarem pelo Bar�o Sangrento que ia em sentido contr�rio, um olhar sinistramente fixo nos olhos enormes. � Pelo menos ela n�o passou dever de casa. Espero que a Professora Vector tenha passado um monte para Hermione, adoro ficar � toa quando ela est� ocupada... Mas a garota n�o apareceu para jantar, nem estava na biblioteca quando eles foram procur�-la. A �nica pessoa que estava l� era V�tor Krum. Rony ficou parado um tempo atr�s das estantes, observando Krum e discutindo aos cochichos com Harry se deveria pedir um aut�grafo, mas ent�o percebeu que havia umas seis ou sete garotas rondando entre as estantes ao lado, discutindo exatamente a mesma coisa, e perdeu o entusiasmo pela id�ia. � Onde ser� que ela se meteu? � indagou Rony quando os dois rumavam para a Torre da Grifin�ria. � Sei l�... Asnice. Mas a Mulher Gorda mal come�ara a girar para frente quando o ru�do de algu�m correndo �s costas dos garotos anunciou a chegada de Hermione. � Harry! � ofegou ela, derrapando at� parar ao lado dele (a Mulher Gorda olhou para a garota, com as sobrancelhas erguidas). � Harry, voc� tem de vir comigo... Tem de vir, aconteceu a coisa mais fant�stica... Por favor... Ela agarrou o bra�o de Harry e tentou arrastar o garoto de volta ao corredor. � Que � que aconteceu? � perguntou Harry. � Eu mostro a voc� quando a gente chegar l�, ah, anda logo, depressa... Harry olhou para Rony; este olhou para Harry intrigado. � OK � disse Harry, come�ando a retroceder pelo corredor com Hermione, Rony correndo para acompanh�-los. � Ah, n�o se incomodem comigo! � gritou a Mulher Gorda irritada para os garotos. N�o pe�am desculpas por terem me incomodado! Vou continuar pendurada aqui, aberta, at� voc�s voltarem, n�o � isso? � �, obrigado � gritou Rony por cima do ombro. � Hermione, onde � que estamos indo? � perguntou Harry, depois que a garota os fizera descer seis andares e j� estavam na escadaria de m�rmore do sagu�o de entrada. � Voc� vai ver, voc� vai ver j�, j�! � disse Hermione excitada. Ela virou � esquerda ao p� da escada e correu para a porta que Cedrico cruzara na noite seguinte ao C�lice de Fogo ter regurgitado o seu nome e o de Harry. O garoto jamais passara ali antes. Ele e Rony acompanharam Hermione, desceram um lance de escadas de pedra, mas em vez destas terminarem em uma sombria passagem subterr�nea, como a que levava � masmorra do Snape, os garotos se viram em um corredor de pedra, largo, muito bem iluminado com archotes, e decorado com alegres pinturas, na maioria, de comida. � Ah, espera a�... � disse Harry lentamente, a meio caminho do corredor. � Espera um instante, Hermione... � Qu�? � Ela se virou para olh�-lo, o rosto que era s� expectativa. � J� sei do que se trata � disse Harry. O garoto cutucou Rony e apontou para o quadro logo atr�s de Hermione. Era a pintura de uma enorme fruteira de prata. � Hermione! � exclamou Rony, entendendo. � Voc� n�o est� tentando nos pegar a la�o para aquela hist�ria do fale outra vez? � N�o, n�o, n�o estou! � apressou-se ela a dizer. � E n�o � fale, Rony... � Voc� mudou o nome? � perguntou Rony, franzindo a testa. � Que somos ent�o? A Frente de Libera��o dos Elfos Dom�sticos? N�o vou invadir a cozinha para fazer eles pararem de trabalhar, n�o vou fazer isso... � N�o estou lhe pedindo isso! � disse Hermione impacientemente. � Desci aqui agora h� pouco para conversar com eles e encontrei... Ah, anda, Harry, quero lhe mostrar! A garota tornou a agarr�-lo pelo bra�o, puxou-o para diante do quadro da fruteira, esticou o dedo indicador e fez c�cegas na enorme p�ra verde. A fruta come�ou a se contorcer e rir e, de repente, transformou-se em uma grande ma�aneta verde. Hermione segurou-a, abriu a porta e empurrou Harry pelas costas, com for�a, obrigando-o a entrar. O garoto teve apenas uma breve vis�o de um amplo aposento de teto alto, grande como o Sal�o Principal acima, repleto de tachos e panelas de lat�o empilhados ao redor das paredes de pedra, um grande fog�o de tijolos no extremo oposto, quando alguma coisa pequena se precipitou do meio do aposento ao encontro dele, guinchando: � Harry Potter, meu senhor! Harry Potter! No segundo seguinte todo o ar dos seus pulm�es foi expelido, o elfo, aos guinchos, colidiu com ele na altura do diafragma, abra�ando-o com tanta for�a que o garoto pensou que suas costelas iam partir. � D-Dobby? � ofegou Harry. � Dobby, meu senhor, � sim! � guinchou a voz na altura do seu umbigo. �Dobby teve muita esperan�a de ver Harry Potter, meu senhor, e Harry Potter veio ver ele, meu senhor! Dobby soltou o garoto e recuou alguns passos, sorrindo para Harry de orelha a orelha, seus enormes olhos verdes, redondos como bolas de t�nis, se enchendo de l�grimas de felicidade. Tinha quase exatamente a mesma apar�ncia com que Harry o conhecera: o nariz fino e reto, as orelhas de morcego, as m�os e os p�s compridos � exceto pelas roupas, que eram muito diferentes. Quando Dobby trabalhara para os Malfoy, sempre usara a mesma fronha velha e imunda. Agora, por�m, vestia a combina��o mais extravagante de roupas que Harry j� vira na vida; fizera uma escolha de pe�as pior do que a dos bruxos na Copa Mundial. Usava um abafador de ch� � guisa de chap�u, no qual estavam presos v�rios distintivos coloridos, uma gravata com estampa de ferraduras de cavalo sobre o peito nu, cal��es que pareciam os de uma crian�a jogar futebol e meias desaparelhadas. Uma delas, Harry reparou, era a preta que ele tirara do pr�prio p� e induzira o Sr. Malfoy a jogar para Dobby, e ao fazer isso, libertara-o. A outra era listrada de rosa e laranja. � Dobby, que � que voc� est� fazendo aqui? � perguntou Harry surpreso. � Dobby veio trabalhar em Hogwarts, meu senhor! � guinchou o elfo excitado. � O Professor Dumbledore deu emprego a Dobby e Winky meu senhor! � Winky? � exclamou Harry. � Ela tamb�m est� aqui? � Est�, sim, senhor, est�! � disse Dobby, e agarrando a m�o de Harry puxou-o para dentro da cozinha entre quatro longas mesas de madeira que estavam ali. Cada uma das mesas, o garoto notou ao passar, estava colocada exatamente embaixo das quatro mesas das Casas em cima, no Sal�o Principal. Naquele momento n�o havia comida nelas, o jantar j� terminara, mas ele sup�s que uma hora antes estivessem carregadas de travessas que ent�o eram mandadas pelo teto para as suas correspondentes no andar superior. No m�nimo uns cem elfos estavam parados pela cozinha, sorrindo, inclinando a cabe�a e fazendo rever�ncias quando Dobby passou com Harry por eles. Todos usavam o mesmo uniforme, uma toalha de ch� estampada com o timbre de Hogwarts e amarrada como uma toga, como a de Winky. Dobby parou diante do fog�o de tijolos e apontou. � Winky, meu senhor! � disse ele. Ela estava sentada em um banquinho junto ao fogo. Ao contr�rio de Dobby, obviamente n�o sa�ra catando roupas. Usava uma saia e uma blusa comportadas, e um chap�u azul combinando, com aberturas laterais para suas orelhonas. Mas, enquanto cada pe�a da estranha cole��o de roupas de Dobby estava impecavelmente limpa e bem cuidada, pois at� pareciam novas em folha, era vis�vel que Winky n�o estava cuidando das pr�prias roupas. Havia manchas de sopa na blusa e um chamuscado na saia. � Ol�, Winky � cumprimentou Harry. Os l�bios de Winky tremeram. Ent�o ela rompeu em l�grimas, que transbordaram dos seus grandes olhos castanhos e ca�ram pela roupa, exatamente como acontecera na Copa Mundial de Quadribol. � Ah meu Deus! � exclamou Hermione. Ela e Rony tinham seguido Harry e Dobby at� o fundo da cozinha. � Winky, n�o chore, por favor, n�o... Mas Winky chorava com mais vontade que nunca. Dobby, por outro lado, sorria radiante para Harry. � Harry Potter gostaria de tomar uma x�cara de ch�? � guinchou ele alto, abafando os solu�os de Winky. � Hum... Ah, OK � disse o garoto. Instantaneamente, uns seis elfos dom�sticos vieram correndo atr�s dele, trazendo uma grande bandeja de prata com um bule de ch�, x�caras para Harry, Rony e Hermione, uma jarrinha de leite e um grande prato de biscoitos. � Servi�o de primeira! � exclamou Rony, com admira��o na voz. Hermione franziu a testa para ele, mas os elfos pareciam encantados da vida, fizeram uma grande rever�ncia e se retiraram. � H� quanto tempo est� aqui, Dobby? � perguntou Harry, quando o elfo serviu o ch� para todos. � S� uma semana, Harry Potter, meu senhor! � respondeu Dobby alegremente. � Dobby veio ver o Professor Dumbledore, meu senhor. Sabe, meu senhor, � muito dif�cil um elfo dom�stico que foi dispensado arranjar outro emprego, meu senhor, muito dif�cil, mesmo... Ao ouvir isso, Winky chorou ainda mais alto, seu nariz de tomate amassado pingando pela frente da blusa, embora ela n�o fizesse o menor esfor�o para estancar essa pingadeira. � Dobby viajou pelo pa�s durante dois anos, meu senhor, tentando encontrar trabalho! Mas Dobby n�o encontrou nada, meu senhor, porque agora ele quer receber ordenado! Os elfos dom�sticos por toda a cozinha, que estavam escutando e observando com interesse, desviaram os olhos ao ouvirem isso, como se Dobby tivesse dito alguma coisa grosseira e constrangedora. Hermione, por�m, exclamou: � Assim � que se faz, Dobby! � Muito obrigado, senhorita! � disse o elfo, dando a ela um sorriso que era s� dentes. � Mas a maioria dos bruxos n�o quer um elfo dom�stico que exige ordenado, senhorita. "Isto n�o � pr�prio de um elfo dom�stico", dizem eles e batem a porta na cara de Dobby! Dobby gosta de trabalhar, mas quer se vestir e quer receber ordenado, Harry Potter... Dobby gosta de ser livre! Os elfos dom�sticos de Hogwarts agora come�aram a se afastar discretamente de Dobby, como se ele tivesse alguma doen�a contagiosa. Winky, no entanto, continuou onde estava, embora se notasse um decidido aumento no volume do seu choro. � E, ent�o, Harry Potter, Dobby vai visitar Winky e descobre que ela foi libertada, tamb�m! � conta Dobby com satisfa��o. Ao ouvir isso, Winky se atirou para frente e caiu do banquinho, de rosto no ch�o de lajotas, batendo os pequenos punhos e positivamente urrando de infelicidade. Hermione imediatamente se ajoelhou ao lado dela e tentou consol�-la, mas nada que dissesse produzia a menor diferen�a. Dobby continuou sua hist�ria, guinchando alto para abafar o choro estridente de Winky. � Ent�o Dobby teve a id�ia, Harry Potter, meu senhor! "Por que Dobby e Winky n�o procuram um trabalho juntos?" Onde � que existe trabalho suficiente para dois elfos dom�sticos?", pergunta Winky. E Dobby pensa e se lembra, meu senhor! Hogwarts! Ent�o Dobby e Winky vieram ver o Professor Dumbledore, meu senhor e o professor nos contratou! Dobby sorriu muito animado e l�grimas de felicidade brotaram, mais uma vez, dos seus olhos. � E o Professor Dumbledore diz que vai pagar a Dobby, meu senhor, se Dobby quer pagamento! E, assim, Dobby � um elfo livre, meu senhor, e Dobby recebe um gale�o por semana e um dia de folga por m�s! � Isso � muito pouco! � exclamou Hermione indignada, ainda curvada para os gritos incessantes e os murros no ch�o de Winky. � O Professor Dumbledore ofereceu a Dobby dez gale�es por semana e folgas nos fins de semana � disse Dobby, estremecendo de repente como se a perspectiva de tanto lazer e riqueza o assustasse �, mas Dobby fez ele baixar a oferta, senhorita... Dobby gosta da liberdade, senhorita, mas n�o quer tanto assim, senhorita, ele gosta mais do trabalho. � E quanto � que o Professor Dumbledore est� pagando a voc� Winky? � perguntou Hermione bondosamente. Se a garota achou que isso ia animar Winky, estava delirando. Winky realmente parou de chorar, mas, quando se sentou, ficou encarando Hermione com seus imensos olhos castanhos, seu rosto lavado de l�grimas e inesperadamente furioso. � Winky � um elfo em desgra�a, mas Winky ainda n�o est� aceitando pagamento � guinchou ela. � Winky n�o decaiu a esse ponto! Winky est� devidamente envergonhada de ter sido libertada! � Envergonhada? � perguntou Hermione perplexa. � Mas... Winky, espera a�! � o Sr. Crouch que devia estar envergonhado e n�o voc�! Voc� n�o fez nada errado, ele � que foi realmente horr�vel com voc�... Mas ao ouvir isso, Winky levou as m�os �s aberturas laterais do chap�u e achatou as orelhas para n�o poder ouvir nem mais uma palavra e guinchou: � A senhorita n�o vai insultar o meu amo! A senhorita n�o vai insultar o Sr. Crouch! O Sr. Crouch � um bruxo bom, senhorita! O Sr. Crouch fez bem em mandar a feia Winky embora! � Winky est� tendo dificuldades para se adaptar, Harry Potter � guinchou Dobby confidencialmente. � Winky se esquece que n�o est� mais presa ao Sr. Crouch, que pode dizer o que pensa agora, mas n�o quer fazer isso. � Os elfos dom�sticos n�o podem dizer o que pensam dos amos, ent�o? � perguntou Harry. � Ah, n�o, n�o meu senhor � disse Dobby repentinamente serio. � Faz parte da escravid�o do elfo dom�stico, meu senhor. Guardamos sil�ncio e os segredos dos amos, meu senhor, defendemos a honra da fam�lia e nunca falamos mal dela, embora o Professor Dumbledore tenha dito a Dobby que n�o faz quest�o disso. O Professor Dumbledore disse que a gente � livre para... Para... Dobby pareceu subitamente nervoso e chamou Harry mais para perto. Harry se inclinou para ele. Dobby cochichou: � Disse que a gente � livre para chamar ele de... De velho caduco se quiser, meu senhor! � Dobby deu uma risadinha assustada. � Mas Dobby n�o quer, Harry Potter � disse ele voltando a falar normalmente e balan�ando a cabe�a de modo que suas orelhas abanavam. � Dobby gosta muito do Professor Dumbledore, meu senhor, e tem orgulho de guardar os segredos dele. � Mas voc� pode dizer o que quiser sobre os Malfoy agora? � perguntou Harry sorrindo. Um olhar de temor surgiu nos olhos imensos de Dobby. � Dobby... Dobby poderia � disse cheio de d�vida. Aprumou ent�o seus ombrinhos. � Dobby poderia dizer a Harry Potter que seus antigos amos eram... Eram... Bruxos malvados das trevas! Dobby ficou parado um instante, o corpo todo tremendo, horrorizado com a sua pr�pria coragem, ent�o correu at� a mesa mais pr�xima e come�ou a bater a cabe�a nela, com for�a, guinchando: � Dobby mau! Dobby mau! Harry agarrou o elfo por tr�s da gravata e afastou-o da mesa. � Obrigado, Harry Potter, obrigado � disse Dobby sem f�lego, esfregando a cabe�a. � Voc� s� precisa de um pouco de pr�tica � disse Harry. � Pr�tica! � guinchou Winky furiosa. � Voc� devia era ter vergonha, Dobby, falando desse jeito dos seus amos! � Eles n�o s�o mais meus amos, Winky! � disse Dobby em tom de desafio. -Dobby n�o se importa mais com o que eles pensam! � Ah, voc� � um elfo mau, Dobby! � lamentou-se Winky, as l�grimas escorrendo mais uma vez pelo seu rosto. � O coitadinho do meu Sr. Crouch, que � que ele est� fazendo sem a Winky? Est� precisando de mim, est� precisando da minha ajuda! Eu cuidei dos Crouch a vida inteira e minha m�e fez isso antes de mim e minha av� antes dela... Ah, o que elas diriam se soubessem que Winky foi libertada? Ah, que vergonha, que vergonha! � Ela escondeu o rosto na saia e abriu um berreiro. � Winky � disse Hermione com firmeza �, tenho certeza de que o Sr. Crouch vai indo muit�ssimo bem sem voc�. A gente o viu, sabe... � A senhorita tem visto o meu amo? � perguntou Winky sem f�lego, erguendo o rosto manchado de l�grimas da saia, mais uma vez, e arregalando os olhos para Hermione. � A senhorita tem visto ele aqui em Hogwarts? � Tenho. Ele e o Sr. Bagman s�o juizes no Torneio Tribruxo. � O Sr. Bagman vem tamb�m? � guinchou Winky e, para grande surpresa de Harry (e de Rony e Hermione tamb�m, pela express�o no rosto deles), ela pareceu novamente zangada. � O Sr. Bagman � um bruxo malvado! Um bruxo muito malvado! Meu amo n�o gosta dele, ah, n�o, nem um pouquinho! � Bagman... Malvado? � exclamou Harry. � Ah � � disse Winky, acenando furiosamente com a cabe�a. � Meu dono contou a Winky umas coisas! Mas Winky n�o vai repetir... Winky... Winky guarda os segredos do amo... � E mais uma vez ela se debulhou em l�grimas; os garotos a ouviam solu�ar escondida na saia. � Coitado do meu amo, coitado do meu amo, n�o tem mais a Winky para ajudar! Os garotos n�o conseguiram extrair de Winky nem mais uma palavra que fizesse sentido. Deixaram-na chorar e terminaram o ch�, enquanto Dobby tagarelava alegremente sobre sua vida de elfo liberto e seus planos para o seu ordenado. � A pr�xima coisa que Dobby vai comprar � um su�ter sem mangas, Harry Potter! � disse ele alegremente, apontando para o peito nu. � Vou lhe dizer o que vou fazer � disse Rony, que parecia ter se afei�oado muito ao elfo. � Vou lhe dar o su�ter que minha m�e tricotar para mim este Natal, eu sempre ganho um. Voc� n�o tem nada contra a cor marrom, tem? Dobby ficou encantado. � Talvez a gente tenha que dar uma encolhida nele para caber em voc�, mas vai combinar bem com o seu abafador de ch�. Quando se preparavam para ir embora, muitos elfos que os cercavam se aproximaram, oferecendo lanchinhos para os garotos levarem. Hermione recusou, com uma express�o constrangida, ao ver a maneira com que os elfos continuavam a se curvar e fazer rever�ncias, mas Harry e Rony encheram os bolsos com bolos e tortas. � Muito obrigado! � disse Harry aos elfos, que tinham se agrupado em torno da porta para lhes desejar boa noite. � At� � vista, Dobby. � Harry Potter... Dobby pode ir ver o senhor de vez em quando, meu senhor? � perguntou Dobby hesitante. � Claro que pode � disse o garoto e o elfo abriu um sorriso. � Sabe de uma coisa? � disse Rony, depois que ele, Hermione e Harry haviam deixado a cozinha para tr�s e j� estavam subindo as escadas para o sagu�o de entrada. � Todos esses anos sempre fiquei realmente impressionado com a capacidade de Fred e Jorge pegarem comida na cozinha, ora n�o � nada dif�cil, n�o � mesmo? Os caras mal podem esperar para dar a comida! � Acho que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido a esses elfos, sabe � disse Hermione seguindo � frente para subir a escadaria de m�rmore. � Dobby ter vindo trabalhar aqui, quero dizer. Os outros elfos v�o ver como ele est� feliz, depois de libertado, e devagarinho v�o se lembrar de desejar a mesma coisa! � Vamos esperar que eles n�o prestem muita aten��o na Winky � disse Harry. � Ah, ela vai se animar � disse Hermione, embora parecesse meio em d�vida. � Depois que passar o choque e ela se acostumar a Hogwarts, vai ver que est� muito melhor sem o tal do Crouch. � Mas ela parece que ama o cara � disse Rony com a voz enrolada (acabara de morder o bolo). � Mas ela n�o tem uma boa opini�o do Bagman, n�o � � comentou Harry. � Que ser� que Crouch diz dele em casa? � Provavelmente diz que Bagman n�o � um bom chefe de departamento � disse Hermione �, e vamos ser sinceros... Ele tem raz�o, n�o acham? � Mesmo assim, eu preferia trabalhar para ele do que para o velho Crouch � disse Rony. � Pelo menos Bagman tem senso de humor. � N�o deixa o Percy escutar voc� dizendo isso � falou Hermione, dando um sorrisinho. � �, Percy n�o iria querer trabalhar para ningu�m que tivesse senso de humor, n�o � mesmo? � disse Rony, agora come�ando a comer a bomba de chocolate. � Percy n�o reconheceria uma piada nem que ela dan�asse pelada na frente dele, usando s� o abafador de ch� do Dobby na cabe�a. CAP�TULO VINTE E DOIS A tarefa Inesperada � Potter! Weasley! Querem prestar aten��o? A voz irritada da Professora McGonagall estalou como um chicote pela aula de Transforma��o de quinta-feira, os dois garotos levaram um susto e ergueram a cabe�a. A aula chegava ao fim, eles tinham terminado a tarefa dada: as galinhas-da-guin� que tentavam transformar em porquinhos-da-�ndia j� estavam trancadas em uma grande gaiola sobre a escrivaninha da professora (o porquinhos-da-�ndia de Neville ainda conservava as penas), tinham copiado do quadro-negro o dever de casa ("Descreva, com exemplos, como os Feiti�os de Transforma��o devem ser adaptados ao se fazerem trocas cruzadas entre esp�cies"). A sineta devia tocar a qualquer momento e Harry e Rony, que andavam travando uma luta de espadas com umas varinhas falsas de Fred e Jorge, no fundo da sala, ergueram a cabe�a, Rony agora segurando um papagaio de lata e Harry, um hadoque de borracha. � Agora que Potter e Weasley tiveram a bondade de parar com as criancices � disse a professora, lan�ando um olhar feio aos dois no momento em que a cabe�a do hadoque de Harry se pendurou para o lado e caiu silenciosamente no ch�o, o bico do papagaio de Rony se partira momentos antes �, tenho um aviso para dar a todos. O Baile de Inverno est� pr�ximo, � uma tradi��o do Torneio Tribruxo e uma oportunidade para convivermos socialmente com os nossos h�spedes estrangeiros. Agora, o baile s� ser� franqueado aos alunos do quarto ano em diante, embora voc�s possam convidar um aluno mais novo se quiserem... Lil� Brown deixou escapar uma risadinha aguda. Parvari Patil deu-lhe uma cutucada nas costelas com for�a, o rosto contraindo-se furiosamente enquanto ela, tamb�m, lutava para n�o rir feito boba. As duas viraram a cabe�a para olhar Harry. A professora fingiu n�o v�-las, o que Harry achou que era uma n�tida injusti�a, pois acabara de chamar a aten��o dele e de Rony. � O traje � a rigor � continuou a professora �, e o baile, no Sal�o Principal, come�ar� �s oito horas e terminara a meia-noite, no dia de Natal. Ent�o... A Professora McGonagall olhou deliberadamente para a turma. � O Baile de Inverno naturalmente � uma oportunidade para todos n�s... Hum... Para nos soltarmos � disse ela em tom de desaprova��o. Lil� deu mais risadinhas que nunca, tampando a m�o com a boca para abafar o som. Dessa vez Harry p�de entender qual era a gra�a: a Professora McGonagall, com os cabelos presos, n�o tinha jeito de que algum dia fosse se soltar em nenhum sentido. � Mas isto n�o significa � continuou ela � que vamos relaxar os padr�es de comportamento que se espera dos alunos de Hogwarts. Ficarei seriamente aborrecida se, de alguma maneira, um aluno da Grifin�ria envergonhar a escola. A sineta tocou e ouviram-se os costumeiros ru�dos de gente guardando o material nas mochilas e atirando-as por cima dos ombros. A professora chamou, sobrepondo-se ao barulho geral: � Potter, uma palavrinha, por favor. Supondo que fosse alguma coisa relacionada com o hadoque de borracha decapitado, Harry dirigiu-se, com ar de des�nimo � escrivaninha da professora. A Professora McGonagall esperou at� o resto da turma sair e ent�o disse: � Potter, os campe�es e seus pares... � Que pares? � perguntou Harry. A professora olhou desconfiada para o garoto, como se achasse que ele estava querendo ser engra�ado. � Os pares para o Baile de Inverno, Potter � explicou ela com frieza. � Os pares de dan�a. As entranhas de Harry pareceram se enroscar e murchar. � Pares de dan�a?� Ele sentiu que estava corando. � Eu n�o dan�o � disse depressa. � Ah, dan�a sim, senhor � disse a professora irritada. � � o que estou lhe dizendo. Tradicionalmente os campe�es abrem o baile com os seus pares. Harry teve uma s�bita vis�o de si mesmo, de casaca e cartola, acompanhado por uma garota com aquele tipo de vestido de babadinhos que a tia Pet�nia sempre usava nas festas de neg�cios do tio V�lter. � Eu n�o vou dan�ar. � � a tradi��o � disse a Professora Minerva com firmeza. � Voc� � um dos campe�es de Hogwarts e vai fazer o que se espera de voc� como representante de sua escola. Portanto providencie um par, Potter. � Mas eu... N�o... � Voc� me ouviu, Potter � disse ela, em tom de quem encerra a conversa. H� uma semana, Harry teria dito que arranjar um par para dan�ar era moleza se comparado a enfrentar um Rabo-C�rneo h�ngaro. Mas agora que cumprira aquela tarefa e se confrontava com a perspectiva de convidar uma garota para o baile, ele achou que preferia enfrentar mais uma rodada com o drag�o. Harry nunca vira tanta gente inscrever os nomes para passar o Natal em Hogwarts, ele sempre se inscrevia, naturalmente, porque sua alternativa, em geral, era regressar � Rua dos Alfeneiros, mas at� agora ele sempre fora minoria. Este ano, por�m, todo mundo do quarto ano para cima parecia querer ficar, e todos pareciam a Harry obcecados pelo tal baile � ou, pelo menos, todas as garotas estavam, e era espantoso quantas garotas Hogwarts de repente parecia abrigar; ele nunca reparara muito bem nisso. Garotas que davam risadinhas e cochichavam pelos corredores, garotas que riam alto quando os garotos passavam por elas, garotas que comparavam informa��es, excitadas, sobre o que iam usar na noite de Natal... � Por que � que elas t�m que andar em bandos? � perguntou Harry a Rony, quando uma d�zia de garotas passou por eles, rindo e olhando para Harry. � Como � que se vai encontrar uma sozinha para se convidar? � Que tal la�ar uma � sugeriu Rony. � J� tem id�ia de quem � que voc� vai tentar convidar? Harry n�o respondeu. Sabia perfeitamente quem � que ele gostaria de convidar, mas arranjar coragem para faz�-lo era outra conversa... Cho era um ano mais velha do que ele; era muito bonita, era uma boa jogadora de Quadribol e tamb�m muito popular. Rony parecia saber o que se passava na cabe�a de Harry. � Escuta, voc� n�o vai ter nenhuma dificuldade. Voc� � campe�o. Acabou de derrotar o Rabo-C�rneo h�ngaro. Aposto como elas v�o fazer fila para ir com voc�. Em homenagem � amizade rec�m-remendada entre os dois, Rony procurou deixar um m�nimo absoluto de amargura transparecer em sua voz. Al�m disso, para sua surpresa, Harry descobriu que o amigo tinha raz�o. Uma terceiranista da Lufa-Lufa, de cabelos crespos, com quem Harry jamais falara na vida, convidou-o para ir ao baile com ela, logo no dia seguinte. Ele ficou t�o surpreso que respondeu "n�o" antes mesmo de parar para refletir sobre o convite. A garota se afastou parecendo bem magoada, e Harry teve que aturar as piadas de Dino, Simas e Rony sobre ela durante toda a aula de Hist�ria da Magia. No dia seguinte, mais duas garotas o convidaram, uma do segundo ano e (para seu horror) uma do quinto ano, que parecia ser capaz de nocaute�-lo se ele recusasse. � Ela era bem jeitosa � disse Rony querendo ser justo, depois que parou de dar risadas. � Ela era bem uns trinta cent�metros mais alta que eu � disse Harry, ainda nervoso. � Imagina com que cara eu ia ficar tentando dan�ar com ela. As palavras de Hermione a respeito de Krum n�o paravam de lhe voltar � lembran�a: "Elas s� gostam dele porque ele � famoso!" Harry duvidava muito que as garotas que at� ent�o o haviam convidado para ser seu par iriam querer acompanh�-lo ao baile se ele n�o fosse campe�o da escola. Depois se perguntou se isto o incomodaria se fosse Cho que o convidasse. Mas, de modo geral, Harry teve que admitir que, mesmo com a perspectiva constrangedora de abrir o baile dali a uns dias, a vida decididamente melhorara desde que ele cumprira a primeira tarefa. N�o atra�a mais tantos coment�rios desagrad�veis no corredor, no que ele suspeitava que havia dedo de Cedrico � tinha a impress�o de que o campe�o talvez tivesse dito ao pessoal da Lufa-Lufa para deixar Harry em paz, em gratid�o pela dica que recebera sobre os drag�es. Parecia haver menos �Ap�ie CEDRICO DIGGORY� pela escola, tamb�m. Draco Malfoy, naturalmente, continuava a citar o artigo de Rita Skeeter para ele sempre que encontrava oportunidade, mas cada dia arrancava menos risadas � e s� para melhorar a sensa��o de bem-estar de Harry, n�o aparecera hist�ria alguma sobre Hagrid no Profeta Di�rio. � Ela n�o parecia muito interessada em criaturas m�gicas, para lhe dizer a verdade � contou Hagrid, quando Harry, Rony e Hermione lhe perguntaram como correra sua entrevista com a jornalista na �ltima aula de Trato das Criaturas M�gicas do trimestre. Para grande al�vio dos garotos, Hagrid desistira do contato direto com os explosivins, e os alunos tinham simplesmente se abrigado nos fundos da cabana, sentados a uma mesa de cavalete, para preparar uma sele��o fresca de alimentos com os quais tentar os bichos. � Ela s� queria que eu falasse sobre voc�, Harry �, continuou Hagrid em voz baixa. � Bem, eu contei que somos amigos desde que fui busc�-lo na casa dos Dursley. �Nunca teve que ralhar com ele em quatro anos?", ela perguntou. "Nunca fez bagun�a na sua aula?" Eu disse que n�o e parece que ela n�o gostou nem um pouco da resposta. Acho que queria que eu dissesse que voc� era uma dor de cabe�a, Harry. � Claro que queria � disse Harry, atirando peda�os de f�gado de drag�o numa grande tigela de metal e apanhando a faca para continuar a cortar. � Ela n�o pode continuar a escrever que sou um heroizinho tr�gico, vai acabar ficando chato. � Ela quer um novo �ngulo � comentou Rony sensatamente enquanto descascava ovos de salamandra. � Queria que voc� dissesse que Harry era um delinq�ente doid�o! � Mas ele n�o �! � exclamou Hagrid parecendo sinceramente chocado. � A Rita devia ter entrevistado Snape � disse Harry s�rio. � Ele teria dado o servi�o completo sobre mim sem pestanejar. �Potter tem transgredido limites desde que chegou a esta escola...� � Ele disse isso, foi? � perguntou Hagrid enquanto Rony e Hermione davam risadas. � Voc� pode ter atropelado algumas regras, Harry, mas sinceramente voc� � um bom menino, n�o �? � Obrigado, Hagrid � disse Harry rindo. � Voc� vai a esse tal baile no dia de Natal, Hagrid? � perguntou Rony. � Pensei em dar uma passada l� � respondeu ele com impaci�ncia. � Vai ser legal, acho. Voc� vai abrir o baile, n�o �, Harry? Quem � que voc� vai levar? � Por enquanto ningu�m � respondeu o garoto, sentindo que estava corando. Hagrid n�o insistiu no assunto. A �ltima semana do trimestre foi ficando cada vez mais animada � medida que os dias passavam. Corriam boatos sobre o Baile de Inverno por todo lado, embora Harry n�o acreditasse nem na metade. Por exemplo, que Dumbledore comprara oitocentos barris de quent�o de Madame Rosmerta. Mas parecia ser verdade que ele contratara as Esquisitonas. Exatamente quem ou o qu� eram as Esquisitonas o garoto n�o sabia, pois nunca tivera acesso � r�dio bruxa, mas deduzia, pela excita��o gerada nos garotos que haviam crescido ouvindo a RRB (Rede Radiof�nica dos Bruxos), que eram um famoso grupo musical. Alguns professores, como o nanico Professor Flitwick, desistiram de tentar ensinar aos garotos alguma coisa quando suas cabecinhas estavam t�o visivelmente longe dali, ele os deixou fazerem jogos durante a aula de quarta-feira, e passou a maior parte do tempo conversando com Harry sobre maneiras de aperfei�oar o Feiti�o Convocat�rio que ele usara durante a primeira tarefa do Torneio Tribruxo. Outros professores n�o foram t�o generosos. Nada poderia jamais desviar o Professor Binns, por exemplo: continuou a dar as revoltas dos duendes � como Binns n�o permitira sequer que a pr�pria morte o impedisse de continuar ensinando, os garotos supunham que uma bobagem feito o Natal n�o fosse perturb�-lo. Era espantoso como o professor conseguia fazer at� as revoltas mais sangrentas e encarni�adas parecerem t�o tediosas quanto o relat�rio de Percy sobre os fundos dos caldeir�es. Os professores McGonagall e Moody tamb�m fizeram os garotos trabalhar at� o �ltimo segundo de aula, e quanto a Snape, seria mais f�cil ele adotar Harry do que deixar seus alunos fazerem jogos durante a aula. Contemplando a turma com um ar malvado, informou-a de que aplicaria um teste sobre ant�dotos de venenos na �ltima aula do trimestre. � Perverso � o que ele � � disse Rony, com amargura, �quela noite na sala comunal da Grifin�ria. � Dar um teste no �ltimo dia. Estragar o finalzinho do trimestre com um monte de revis�es. � Hum... Mas n�o se pode dizer que voc� esteja se matando de estudar, n�o �? � comentou Hermione, olhando para o garoto por cima dos seus apontamentos sobre Po��es. Rony estava entretido construindo um castelo de cartas com o baralho de Snap Explosivo, um passatempo muito mais interessante do que o que se faz com o baralho dos trouxas, dada a possibilidade da coisa toda explodir a qualquer instante. � � Natal, Hermione � disse Harry cheio de pregui�a, o garoto estava relendo Voando com os Cannons, pela d�cima vez, numa poltrona ao lado da lareira. Hermione lhe lan�ou, tamb�m, um olhar severo. � Pensei que voc� estaria fazendo alguma coisa construtiva, Harry, mesmo que n�o queira aprender os ant�dotos! � Como o qu�? � perguntou Harry, enquanto acompanhava Joey Jenkins dos Cannons rebater violentamente um bala�o contra o artilheiro do Ballycastle Bats. � Aquele ovo! � sibilou Hermione. � Ah, vai, Hermione, tenho at� o dia vinte e quatro de fevereiro � respondeu o garoto. Harry guardara o ovo de ouro em seu mal�o no dormit�rio e n�o o abrira desde a festa de comemora��o da primeira tarefa. Afinal, ainda faltavam dois meses at� que lhe exigissem o significado daquele grito de agouro. � Mas pode levar semanas para voc� chegar a uma conclus�o! Voc� vai parecer um perfeito idiota se os outros campe�es souberem a resposta para a pr�xima tarefa e voc� n�o. � Deixa ele em paz, Mione, ele conquistou o direito de tirar uma folga � disse Rony enquanto colocava as duas �ltimas cartas no topo do castelo e a coisa toda explodia chamuscando suas sobrancelhas. � Ficou legal, Rony... Vai combinar bem com as suas vestes a rigor, ah, isso vai. Eram Fred e Jorge. Sentaram-se � mesa com os tr�s garotos enquanto Rony apalpava o rosto para avaliar o estrago. � Rony, podemos pedir Pichitinho emprestado? � perguntou Jorge. � N�o, ele est� fora entregando uma carta. Por qu�? � Porque Jorge quer convidar sua coruja para ir ao baile � disse Fred sarcasticamente. � Porque n�s gostar�amos de mandar uma carta, seu panac�o � disse Jorge. � Para quem � que voc� tanto escreve, hein? � perguntou Rony. � N�o mete o nariz, Rony, ou vou queimar ele para voc�, tamb�m � disse Fred, acenando a varinha num gesto de amea�a. � Ent�o... Voc�s j� arranjaram par para o baile? � N�o � respondeu Rony. � Ent�o � melhor andarem depressa, companheiros, ou todas as garotas legais v�o estar ocupadas � disse Fred. � Com quem � que voc�s v�o, ent�o? � Angelina � disse Fred prontamente, sem o menor constrangimento. � Qu�? � disse Rony espantado. � Voc� j� a convidou? � Bem lembrado � disse Fred. E virando a cabe�a gritou para o outro extremo da sala comunal: � Oi! Angelina! Angelina, que estava conversando com Alicia Spinnet perto da lareira, olhou para o garoto. � Que foi? � perguntou em resposta. � Quer ir ao baile comigo? Angelina lan�ou um olhar a Fred como se o avaliasse. � Tudo bem � disse ela e tornou a se virar para Alicia para retomar a conversa, com um sorrisinho no rosto. � Pronto � disse Fred a Harry e Rony �, moleza. Levantou-se, ent�o, se espregui�ou e disse: � � melhor usarmos uma coruja da escola, ent�o, Jorge, vamos... Os dois sa�ram. Rony parou de apalpar as sobrancelhas e olhou para Harry por cima dos restos fumegantes do seu castelo de cartas. � A gente devia come�ar a se mexer, sabe... Convidar algu�m. Ele tem raz�o. N�o queremos acabar com um par de trasgos. Hermione deixou escapar uma exclama��o de indigna��o. � Com licen�a... Um par do qu�? � Bom... Sabe � respondeu Rony, encolhendo os ombros �, eu prefiro ir sozinho do que com... Com Heloisa Midgeon, digamos. � A acne dela melhorou � be�a ultimamente, e ela � bem legal! � Tem o nariz fora de esquadro. � Ah, entendo � disse Hermione, encrespando. � Ent�o, basicamente, voc� vai levar a garota mais bonita que aceitar voc�, mesmo que ela seja completamente intrag�vel? � Hum... �, � por a� � disse Rony. � Eu vou dormir � retorquiu Hermione e saiu num repel�o em dire��o � escada para o dormit�rio das garotas, sem dizer mais nada. Os funcion�rios de Hogwarts, demonstrando um constante interesse em impressionar os visitantes de Beauxbatons e Durmstrang pareciam decididos a mostrar o castelo em sua melhor forma neste Natal. Quando armaram as decora��es, Harry reparou que eram as mais fant�sticas que ele j� vira no interior da escola. Pingentes de gelo perene tinham sido presos nos bala�stres da escadaria de m�rmore, as doze �rvores de Natal que sempre eram montadas no Sal�o Principal estavam enfeitadas com tudo, desde frutinhas vermelhas luminosas at� corujas douradas vivas que piavam, e as armaduras tinham sido enfeiti�adas para cantar can��es tradicionais de Natal quando algu�m passasse por elas. Era impressionante ouvir "O vinde adoremos� cantado por um elmo vazio que s� sabia metade da letra. V�rias vezes, Filch, o zelador, teve que retirar Pirra�a de dentro da armadura, onde ele pegara a mania de se esconder, preenchendo as lacunas das can��es com palavras de sua pr�pria inven��o, todas muito grosseiras. E Harry ainda n�o convidara Cho para o baile. Ele e Rony estavam ficando muito nervosos agora, embora Harry lembrasse que o amigo pareceria muito menos idiota sem par do que ele, Harry teria que abrir o baile com os outros campe�es. � Imagino que sempre tem a Murta Que Geme � disse Harry desanimado, referindo-se ao fantasma que assombrava o banheiro das garotas no segundo andar. � Harry, a gente s� tem que cerrar os dentes e mandar ver � disse Rony na sexta-feira pela manh�, num tom que sugeria que os dois estavam planejando tomar de assalto uma fortaleza inexpugn�vel. � Quando voltarmos ao sal�o comunal hoje � noite, teremos arranjado dois pares, topa? � Hum... OK � disse Harry. Mas todas as vezes que ele viu Cho naquele dia � no intervalo das aulas, depois do almo�o, e uma vez a caminho da aula de Hist�ria da Magia � ela estava cercada de amigas. Ser� que a garota nunca ia a lugar algum sozinha? Ser� que ele talvez pudesse surpreend�-la quando estivesse entrando no banheiro? Mas n�o, parecia at� que ela entrava ali tamb�m com um s�q�ito de quatro ou cinco colegas. Contudo, se ele n�o a convidasse logo, quando o fizesse ela j� teria sido convidada por outro. Harry achou dif�cil se concentrar no teste de Snape sobre ant�dotos e, em conseq��ncia, esqueceu de acrescentar um ingrediente b�sico � o benzoar �, o que significou que recebeu uma nota baixa. Mas ele n�o se incomodou, estava ocupado demais reunindo coragem para o que pretendia fazer. Quando a sineta tocou, ele agarrou a mochila e correu para a porta da masmorra. � Encontro voc�s na hora do jantar � disse a Rony e Hermione, e saiu correndo escada acima. Teria que pedir a Cho uma palavrinha em particular, s� isso... Assim, saiu apressado pelos corredores apinhados procurando a garota e encontrou-a (mais cedo do que esperava), saindo da aula de Defesa contra as Artes das Trevas. � Hum... Cho? Posso dar uma palavrinha com voc�? Risadinhas deviam ser proibidas por lei, pensou Harry furioso, quando as garotas � volta de Cho come�aram a rir. Mas ela n�o. Respondeu: � OK � e acompanhou-o at� ficarem fora do alcance dos ouvidos das colegas. Harry virou-se para olh�-la e seu est�mago afundou de um jeito esquisito, como se ele tivesse descido dois degraus de uma vez, sem querer. � Hum � come�ou ele. N�o podia convid�-la. N�o podia. Mas tinha que convid�-la. Cho ficou parada ali com uma express�o intrigada, olhando para ele. As palavras sa�ram antes que Harry conseguisse tirar a l�ngua do caminho. � Quer ir ao baile comigo? � Desculpe, n�o ouvi � disse Cho. � Voc� quer... Voc� quer ir ao baile comigo? � disse Harry. Por que tinha que ficar vermelho justamente agora? Por qu�? � Ah! � exclamou Cho, corando tamb�m. � Ah, Harry, sinceramente sinto muito � e seu rosto parecia confirmar isso. � Eu j� disse que iria com outro garoto. � Ah � disse Harry. Era estranho, um momento antes suas entranhas estavam revirando como cobras, mas de repente ele parecia n�o ter mais entranhas. � Ah, OK, n�o faz mal. � Sinto muito mesmo � repetiu a garota. � Tudo bem. Eles ficaram ali parados se olhando, ent�o Cho disse: � Bom... � � � disse ele. � Ent�o, tchau � disse a garota ainda muito vermelha. E se afastou. Harry chamou-a antes que pudesse se conter. � Com quem � que voc� vai? � Ah... Cedrico. Cedrico Diggory. � Ah, certo. As entranhas dele tinham voltado ao lugar. Pareciam ter-se enchido de chumbo durante a aus�ncia. Esquecendo-se completamente do jantar, ele subiu devagarinho a escada para a Torre da Grifin�ria. A voz de Cho ecoava em seus ouvidos a cada passo. "Cedrico... Cedrico Diggory". Harry tinha at� come�ado a gostar de Cedrico � se dispusera a esquecer o fato de que o garoto o derrotara no Quadribol, e era bonito e popular, e era praticamente o campe�o favorito da escola. Agora, de repente, ele se dava conta de que Cedrico era na realidade um garoto bonito e in�til que n�o tinha c�rebro suficiente para encher um oveiro. � Luzes encantadas � disse secamente � Mulher Gorda, a senha fora trocada na v�spera. � Com certeza, meu querido! � chilreou ela, acertando a faixa de lantejoulas nos cabelos ao girar para a frente para admitir o garoto. Ao entrar na sala comunal, Harry correu os olhos pelo aposento, e para sua surpresa, viu Rony sentado, de rosto branco, num canto distante. Gina estava ao seu lado conversando, aparentemente numa voz baixa de quem consola. � Que aconteceu, Rony? � perguntou Harry se juntando aos dois. Rony ergueu os olhos para Harry, uma express�o de horror no rosto. � Por que fiz aquilo? � perguntou ele enlouquecido. � N�o sei o que me obrigou a fazer aquilo! � O qu�? � Ele... Hum... Convidou Fleur Delacour para ir ao baile � disse Gina. Parecia que estava fazendo for�a para n�o rir, mas continuou a dar palmadinhas no bra�o de Rony, demonstrando sua solidariedade. � Voc� o qu�? � N�o sei o que me obrigou a fazer aquilo! � exclamou Rony outra vez. � Quem � que eu estava fingindo que era? Havia gente, a toda volta, fiquei maluco, todo mundo olhando! Eu estava passando por ela no sagu�o de entrada, Fleur estava parada conversando com Diggory, e uma coisa parece que se apoderou de mim, e convidei! Rony gemeu e enterrou o rosto nas m�os. Ele n�o parava de falar embora fosse dif�cil distinguir o que dizia. � A garota olhou para mim como se eu fosse um verme ou coisa parecida. Nem me respondeu. E ent�o... N�o sei... Parece que recuperei o ju�zo e me mandei dali. � Ela � parte Veela � disse Harry. � Voc� tinha raz�o, a av� dela era Veela. N�o foi sua culpa, aposto como voc� passou na hora em que ela estava jogando charme para Diggory e voc� foi atingido, mas ela est� perdendo tempo. Ele vai levar Cho. Rony levantou a cabe�a. � Eu acabei de convid�-la para ir comigo � disse Harry sem emo��o �, e ela me contou. Gina de repente parara de sorrir. � Isso � uma pira��o � disse Rony �, somos os �nicos que n�o t�m ningu�m, bem, tirando o Neville. Ei, adivinha quem ele convidou? Mione! � Qu�! � exclamou Harry, completamente distra�do pela surpreendente not�cia. � �, eu sei! � disse Rony, um pouco de cor voltando ao seu rosto quando ele come�ou a rir. � Neville me contou depois da aula de Po��es! Disse que ela sempre foi muito legal, que o ajudava nos estudos, mas Mione falou que j� estava indo com algu�m. Ah! Como se fosse! Ela s� n�o queria ir com o Neville... Quero dizer, quem iria querer? � N�o! � disse Gina aborrecida. � N�o ria... Naquele instante Hermione vinha passando pelo buraco do retrato. � Por que voc�s dois n�o foram jantar? � perguntou ela, vindo se reunir ao grupo. � Por que... Ah, parem de rir, voc�s dois... Porque as garotas que eles convidaram acabaram de recusar o convite! � disse Gina. Isso fez os dois calarem a boca. � Obrigado, Gina � disse Rony azedo. � Todas as garotas bonitas j� est�o ocupadas, Rony? � perguntou Hermione com um ar superior. � A Heloisa Midgen est� come�ando a parecer bem bonita, agora, n�o est� n�o? Bem, tenho certeza de que voc�s v�o encontrar em algum lugar algu�m que queira voc�s. Mas Rony estava encarando Hermione como se, de repente, a visse sob uma luz totalmente nova. � Hermione, Neville tem raz�o, voc� � uma garota... � Bem observado � respondeu ela com azedume. � Ent�o... Voc� poderia acompanhar um de n�s! � N�o, n�o poderia � retorquiu Hermione. � Ah, vai � disse ele impaciente �, precisamos de pares, vamos fazer um papel realmente idiota se n�o tivermos nenhum, todos os outros t�m... � N�o posso ir com voc�s � disse Hermione, agora corando �, porque j� estou indo com uma pessoa. � N�o, n�o est�! � disse Rony. � Voc� s� disse isso para se livrar de Neville! � Ah, foi? � Os olhos de Hermione faiscaram perigosamente. � S� porque voc� levou tr�s anos para reparar, Rony, n�o significa que mais ningu�m tenha percebido que eu sou uma garota! Rony arregalou os olhos para ela. Depois tornou a sorrir. � OK, OK, sabemos que voc� � uma garota. Satisfeita? Voc� vai com a gente agora? � Eu j� falei! � disse Hermione muito zangada. � Estou indo com outra pessoa! E saiu decidida em dire��o � escada para o dormit�rio das garotas. � Ela est� mentindo � sentenciou Rony, acompanhando-a com o olhar. � N�o est� n�o � disse Gina baixinho. � Quem � a pessoa, ent�o? � N�o vou dizer, n�o � da sua conta. � Certo � disse ele, que parecia ofendido �, essa hist�ria est� ficando idiota. Gina voc� pode ir com o Harry e eu vou... � N�o posso � respondeu Gina, e ela ficou vermelha tamb�m. � Estou indo com... Com Neville. Ele me convidou quando Hermione disse n�o e eu achei... Bem... De outro jeito eu n�o poderia ir, n�o estou no quarto ano. � Ela parecia infelic�ssima. � Acho que vou descer para jantar � e dizendo isso, se levantou e saiu pelo buraco do retrato, de cabe�a baixa. Rony ficou olhando abobado para Harry. � Que ser� que deu nelas? � perguntou. Mas Harry acabara de ver Parvati e Lil� entrando pelo buraco do retrato. Chegara a hora de tomar atitudes dr�sticas. � Espere aqui � disse ele a Rony, se levantou, saiu numa linha reta at� Parvati e disse: � Parvati? Quer ir ao baile comigo? Parvati teve um acesso de risinhos. Harry esperou que ela terminasse, os dedos cruzados dentro do bolso das vestes. � Tudo bem � disse por fim a garota, corando furiosamente. � Obrigado � disse Harry, aliviado. � Lil�, voc� quer ir com o Rony? � Ela vai com o Simas � respondeu Parvati e as duas tiveram outro acesso de risinhos ainda mais forte. Harry suspirou. � Sabem de algu�m que pudesse ir com o Rony? � disse ele, baixando a voz de modo que o amigo n�o o ouvisse. � Que tal a Hermione Granger? � sugeriu Parvati. � Ela est� indo com outra pessoa. A garota fez cara de espanto. � Aaaah... Quem? � perguntou interessada. Harry encolheu os ombros. � N�o fa�o id�ia. Ent�o, e o Rony? � Bem... � disse Parvati lentamente. � Imagino que minha irm� talvez... Padma, sabe... Da Corvinal. Eu pergunto a ela se voc� quiser. � Quero, seria �timo. Me avisa, est� bem? E ele voltou para onde Rony estava, com a sensa��o de que esse tal baile dava muito mais trabalho do que merecia, e desejou que o nariz de Padma Patil fosse bem centrado no rosto. CAP�TULO VINTE E TR�S O Baile de Inverno Apesar da pesada carga de deveres de casa que os alunos do quarto ano tinham recebido para as f�rias, Harry n�o estava com a menor vontade de estudar quando o trimestre terminou, e passou a semana que antecedeu o Natal divertindo-se o m�ximo poss�vel como todos os outros alunos. A Torre da Grifin�ria n�o parecia mais vazia agora do que estivera durante o tempo de aulas, parecia at� ter encolhido ligeiramente, porque seus moradores estavam muito mais barulhentos do que o normal. Fred e Jorge fizeram grande sucesso com os seus Cremes de Can�rio e, nos primeiros dois dias de f�rias, as pessoas n�o paravam de explodir em penas por todo o lado. N�o tardou muito, por�m, todos os alunos da Grifin�ria aprenderam a olhar a comida que outras pessoas ofereciam com extrema cautela, para a eventualidade de ter Creme de Can�rio escondido no meio e Jorge confidenciou a Harry que ele e Fred agora estavam trabalhando em outra inven��o. Harry fez uma anota��o mental para, no futuro, jamais aceitar sequer uma batata frita de Fred e Jorge. Ele ainda n�o esquecera Duda e o Caramelo Incha- L�ngua. Ca�a muita neve sobre o castelo e seus terrenos agora. A carruagem azul clara da Beauxbatons parecia uma enorme ab�bora coberta de gelo ao lado da casinha de bolo gla�ado que era a cabana de Hagrid, enquanto as escotilhas do navio de Durmstrang estavam foscas e o cordame branco de gelo. Os elfos dom�sticos na cozinha se desdobravam para preparar pratos nutritivos, ensopados que aqueciam e sobremesas deliciosas, e somente Fleur Delacor parecia ser capaz de encontrar de que reclamar. � � pesada demais, essa comida de Hogwarts � ouviram-na reclamar mal-humorada, quando, certa noite, deixavam a Sal�o Principal atr�s dela (Rony escondendo-se atr�s de Harry, cuidando para n�o ser visto por Fleur). � N�o vou caberr nas minhas vestes de baile! � Aaah, mas que trag�dia � comentou Hermione na hora em que Fleur ia chegando ao sagu�o de entrada. � Ela realmente se acha muito importante, essa a�, n�o �? � Hermione, com quem voc� vai ao baile? � perguntou Rony. O garoto n�o parava de assedi�-la com essa pergunta, na esperan�a de faz�-la responder sem querer ao ser perguntada quando menos esperasse. No entanto, Hermione meramente franzia a testa e dizia: � N�o vou lhe contar porque voc� iria ca�oar de mim. � Voc� est� brincando, Weasley? � disse Malfoy �s costas deles. � Voc� est� dizendo que algu�m convidou isso para ir ao baile? N�o foi o sangue-ruim de molares compridos, foi? Harry e Rony se viraram na mesma hora, mas Hermione disse em voz alta, acenando para algu�m por cima do ombro de Malfoy: � Ol�, Professor Moody! Malfoy ficou p�lido e pulou para tr�s, procurando Moody com um olhar alucinado, mas o professor ainda estava � mesa, terminando seu ensopado. � Que doninha nervosinha voc� �, hein? � comentou Hermione demonstrando desprezo, e ela, Rony e Harry subiram a escadaria de m�rmore dando boas risadas. � Hermione � disse Rony, olhando para ela de esguelha e, de repente, franzindo a testa �, os seus dentes... � Que t�m eles? � Bem, est�o diferentes... Acabei de notar... � Claro que est�o, voc� esperava que eu ficasse com aquelas presas que Malfoy me deu? � N�o, quero dizer, eles est�o diferentes do que eram antes de ele lan�ar o feiti�o em voc�... Est�o... Retos e... Do tamanho normal. Hermione de repente sorriu muito travessamente, e Harry tamb�m reparou: Era um sorriso diferente do que ele lembrava. � Bem... Quando fui procurar Madame Pomfrey para consertar os dentes, ela segurou um espelho e me disse para mandar ela parar quando os dentes voltassem ao tamanho normal. E eu deixei ela demorar um pouco mais. -Hermione deu um sorriso ainda maior. � Papai e mam�e n�o v�o ficar muito satisfeitos. Estou tentando convencer os dois a me deixar reduzir os dentes h� s�culos, mas eles queriam que eu continuasse com o aparelho. Sabe, eles s�o dentistas, da� acharem que dentes e magia n�o devem... Olhem l�! Pichitinho voltou! A corujinha de Rony piava feito louca no alto da balaustrada enfeitada de pingentes de gelo, um rolo de pergaminho amarrado � perna. As pessoas que passavam apontavam e riam, e um grupo de alunas do terceiro ano parou para comentar: "Ah, olha s� que corujinha m�nima! N�o � uma gracinha?� � Seu penoso babaca! � sibilou Rony correndo escada acima e agarrando Pichitinho. � Voc� entrega as cartas direto ao destinat�rio! N�o fica por a� se exibindo! � Pichitinho piou alegremente, a cabe�a espichando por cima da m�o fechada de Rony. As garotas do terceiro ano pareceram muito chocadas. � Caiam fora! � disse Rony rispidamente, sacudindo a m�o que segurava a coruja, que piou ainda mais alegremente ao sair voando pelos ares. � Aqui, toma, Harry � acrescentou Rony em voz baixa, enquanto as garotas sa�am correndo com o ar escandalizado. Ele puxou a resposta da perna de Pichitinho, Harry embolsou-a e os tr�s correram a l�-la na Torre da Grifin�ria. Todos na sala comunal estavam demasiado ocupados extravasando a agita��o das f�rias para observar o que algu�m mais estivesse fazendo. Harry, Rony e Hermione se sentaram afastados dos colegas, junto a uma janela escura que lentamente se cobria de neve e Harry leu em voz alta. �Caro Harry, Parab�ns por conseguir passar pelo Rabo-C�rneo, quem p�s o seu nome naquele c�lice n�o deve estar se sentindo muito feliz no momento! Eu ia sugerir um Feiti�o Conjunctivitus, porque os olhos do drag�o s�o o seu ponto mais fraco... � Foi o que Krum usou! � murmurou Hermione. Mas do seu jeito foi melhor, estou impressionado. Por�m, n�o fique se sentindo muito satisfeito consigo mesmo, Harry. Voc� s� deu conta de uma tarefa, quem o inscreveu no torneio vai ter muitas outras oportunidades se quer realmente lhe fazer mal. Mantenha os olhos abertos � particularmente quando a pessoa de quem j� falamos estiver por perto � e se concentre em n�o se meter em confus�es. Mande not�cias, cont�nuo querendo saber de qualquer coisa anormal. Sirius�. � Ele est� falando exatamente a mesma coisa que Moody � disse Harry em voz baixa, guardando a carta dentro das vestes. � "Vigil�ncia constante!" Parece at� que eu ando por a� com os olhos fechados, ricocheteando nas paredes... � Mas ele tem raz�o, Harry � disse Hermione �, voc� ainda tem duas tarefas a cumprir. Devia realmente dar uma olhada naquele ovo, sabe, e come�ar a estudar o que significa... � Hermione, ainda faltam s�culos! � disse Rony com rispidez. � Quer jogar uma partida de xadrez, Harry? � OK � disse Harry. Depois, vendo a express�o de Hermione. � Vamos, como � que vou me concentrar nessa barulheira? N�o vou conseguir nem ouvir o ovo com essa turma berrando. � Ah, imagino que n�o � suspirou ela, se sentando para assistir � partida, que terminou num excitante xeque-mate de Rony, envolvendo dois pe�es corajosos, mas imprudentes e um bispo muito violento. Harry acordou, de repente, na manh� de Natal. Imaginando o que teria causado o seu abrupto retorno � consci�ncia, ele abriu os olhos e viu uma coisa de olhos muito grandes, verdes e redondos que o encarava na escurid�o, t�o pr�ximo que a coisa e ele estavam quase nariz contra nariz. � Dobby!� berrou Harry, afastando-se do elfo t�o depressa que quase caiu da cama. � N�o faz isso! � Dobby sente muito, meu senhor! � esgani�ou-se o elfo com a voz cheia de ansiedade, saltando pra tr�s com os longos dedos cobrindo a boca. � Dobby s� est� querendo desejar a Harry Potter "Feliz Natal" e lhe trazer um presente, meu senhor! Harry Potter disse que Dobby podia vir v�-lo um dia desses, meu senhor! � Tudo bem � disse Harry, ainda respirando muito acelerado, enquanto seu cora��o voltava ao normal. � Da pr�xima vez � s� me cutucar ou outra coisa assim, n�o se debru�a sobre mim desse jeito... Harry afastou as cortinas da cama, apanhou os �culos na mesa de cabeceira e colocou-os. Seu berro acordara Rony, Simas, Dino e Neville. Os quatro estavam espiando entre as cortinas de suas camas, as p�lpebras pesadas e os cabelos desmanchados. � Algu�m est� atacando voc�, Harry? � perguntou Simas sonolento. � N�o, � s� o Dobby � resmungou Harry. � Pode voltar a dormir. � Ah... Presentes! � exclamou Simas, vendo a montanha aos p�s de sua cama. Rony, Dino e Neville resolveram que, uma vez que estavam acordados, era melhor come�arem a abrir os presentes, tamb�m. Harry se voltou para Dobby, que agora estava de p�, nervoso, ao lado de sua cama, ainda com o ar preocupado por ter perturbado o garoto. Havia um enfeite de Natal preso � argola do seu abafador. � Dobby pode dar o presente dele a Harry Potter? � perguntou ele hesitante. � Claro que pode. Hum... Tamb�m tenho uma coisinha para voc�. Era mentira; n�o comprara nada para Dobby, mas abriu depressa o seu mal�o e tirou um par de meias enrolado, e particularmente cheias de bolotinhas. Eram suas meias mais velhas e piores, amarelo-mostarda e, tempos atr�s, tinham pertencido ao tio V�lter. A raz�o por que estavam t�o emboloradas � que Harry as usava para embrulhar o bisbilhosc�pio. Ele desembrulhou o objeto e entregou as meias a Dobby, dizendo: � Desculpe, me esqueci de embrulhar... Mas Dobby ficou absolutamente encantado. � As meias s�o as pe�as favoritas, favoritas mesmo, de Dobby, meu senhor! � disse o elfo rasgando as meias velhas que cal�ava e pondo as do tio V�lter. � Agora tenho sete, meu senhor... Mas, meu senhor... � disse ele arregalando os olhos, depois de puxar as meias at� onde p�de, de modo que elas chegaram � bainha dos seus shorts � eles se enganaram na loja, Harry Potter, lhe venderam duas meias iguais! � Ah, n�o, Harry, como foi que voc� n�o viu isso! � exclamou Rony, rindo l� de sua cama, que agora estava juncada de papel de embrulho. � Vou dizer o que vou fazer, Dobby, aqui, tome mais duas e voc� pode combin�-las como deve ser. E aqui est� seu su�ter. O garoto atirou para Dobby um par de meias roxas que acabara de desembrulhar e o su�ter tricotado � m�o que a Sra. Weasley lhe mandara. Dobby n�o coube em si de contentamento. � Meu senhor, o senhor � muito bondoso! � guinchou ele com os olhos transbordantes de l�grimas, fazendo profundas rever�ncias para Rony. � Dobby sabia que o senhor devia ser um grande bruxo, porque � o maior amigo de Harry Potter, mas Dobby n�o sabia que tamb�m era t�o grande em generosidade de alma, t�o nobre, t�o sem ego�smo... � S�o apenas meias � disse Rony, cujas orelhas coraram ligeiramente, embora ele parecesse muito satisfeito. � Uau, Harry � ele acabara de abrir o presente de Harry, um bon� do Chudley Cannon. � Maneiro! � Enfiou o bon� na cabe�a, onde a cor se chocou violentamente com os seus cabelos. Dobby em seguida entregou um pacotinho a Harry, que continha nada menos que... Meias. � Dobby fez elas com as pr�prias m�os, meu senhor! � disse o elfo alegremente. � Comprou a l� com o ordenado dele, meu senhor! A meia esquerda era vermelho-berrante e tinha uns desenhos de vassouras, a direita era verde, com um desenho de n�s. � Elas s�o... Elas s�o realmente... Ah, muito obrigado, Dobby � disse Harry e cal�ou-as, fazendo os olhos de Dobby marejarem novamente de felicidade. � Dobby precisa ir agora, meu senhor, j� estamos preparando o almo�o de Natal na cozinha! � E saiu apressado do dormit�rio, acenando um adeus para Rony e os outros garotos ao passar. Os outros presentes de Harry foram muito mais satisfat�rios do que as meias desparelhadas de Dobby � com exce��o �bvia do presente dos Dursley, que consistia em uma �nica folha de papel absorvente, o mais pobre que j� recebera, Harry sup�s que eles, tamb�m, deviam estar se lembrando do Caramelo Incha-L�ngua. Hermione dera a Harry um livro intitulado Os Times de Quadribol da Gr�-Bretanha e da Irlanda, Rony, uma grande sacola de bombas de bosta, Sirius, um canivete maneiro com acess�rios para abrir qualquer porta e desfazer qualquer n� e Hagrid, uma enorme caixa de doces com todos os que Harry mais gostava � Feij�ezinhos de Todos os Sabores Bertie Botts, Sapos de Chocolate, Chicles de Baba-Bola e Del�cias Gasosas. Ganhara, tamb�m, � claro, o pacote habitual da Sra. Weasley, incluindo um novo su�ter (verde com a estampa de um drag�o � Harry imaginou que Carlinhos lhe contara tudo sobre o Rabo-C�rneo) e uma grande quantidade de tortas caseiras de frutas secas. Harry e Rony se encontraram com Hermione na sala comunal e desceram juntos para tomar o caf� da manh�. Os tr�s passaram a maior parte da manh� na Torre da Grifin�ria, onde todos se divertiam com os presentes recebidos, depois voltaram ao Sal�o Principal para um almo�o magn�fico, que inclu�a no m�nimo uns cem perus e pudins de Natal e montanhas de Bolachas M�gicas de Cribbage. Os garotos sa�ram para os jardins � tarde, a neve estava intocada, exceto pelas valas fundas feitas pelos estudantes de Durmstrang e Beauxbatons a caminho do castelo. Hermione preferiu assistir � batalha de bolas de neve de Harry com os Weasley, em vez de tomar parte nela e, �s cinco horas, disse que ia subir para se preparar para o baile. � Qu�, voc� precisa de tr�s horas? � perguntou Rony, olhando para ela incr�dulo e pagando por esse lapso de concentra��o: uma enorme bola, atirada por Jorge, atingiu-o com for�a do lado da cabe�a. � Com quem � que voc� vai? � gritou ele para Hermione, mas a garota apenas acenou e desapareceu pela escada de acesso ao castelo. N�o houve o ch� de Natal �quela tarde porque o baile inclu�a um banquete, de modo que �s sete horas, quando ficou dif�cil fazer pontaria direito, os garotos abandonaram a batalha de bolas de neve e marcharam de volta ao sal�o comunal. A Mulher Gorda estava sentada em sua moldura com a amiga Violeta do andar de baixo, as duas extremamente tontas, caixas vazias de bombons recheados de licor amontoadas sob o quadro. � Lutas de Covil � isso a�! � riu-se ela quando os garotos disseram a senha, e ela girou o quadro para frente para deix�-los passar. Harry, Rony, Simas, Dino e Neville trocaram a roupa por vestes a rigor no dormit�rio, todos se sentindo muito constrangidos, mas nenhum tanto quanto Rony, que se examinou no comprido espelho a um canto, com cara de desgosto. N�o havia como contornar o fato de que as vestes dele pareciam mais um vestido do que qualquer outra coisa. Numa tentativa desesperada de faz�-las parecer mais masculinas, ele usou um Feiti�o de Corte nos babados do decote e das mangas. Funcionou bastante bem, pelo menos se livrara das rendas, embora n�o tivesse feito um trabalho muito caprichado, e as barras ainda parecessem lastimavelmente esfiapadas quando eles desceram. � Eu ainda n�o consigo entender como foi que voc�s dois ficaram com as garotas mais bonitas do ano � murmurou Dino. � Magnetismo animal � disse Rony deprimido, puxando fiapos das bainhas dos punhos. O sal�o comunal estava com um ar estranho, cheio de gente usando diferentes cores em lugar da massa negra de sempre. Parvati esperava Harry ao p� da escada. Estava realmente muito bonita, com vestes rosa-choque, sua longa tran�a negra entrela�ada com ouro e pulseiras de ouro reluzindo nos bra�os. Harry se sentiu aliviado de ver que ela n�o estava dando risadinhas. � Voc�... Hum... Est� bonita � disse ele sem jeito. � Obrigada. Padma vai se encontrar com voc� no sagu�o de entrada � acrescentou para Rony. � Certo � disse Rony, olhando � volta. � Cad� Hermione? Parvati deu de ombros. � Vamos descer, ent�o, Harry? � OK � concordou o menino, desejando poder continuar no sal�o comunal. Fred piscou para ele ao passar pelo buraco do retrato. O sagu�o de entrada tamb�m estava apinhado de estudantes, todos andando por ali � espera de que dessem oito horas, quando as portas para o Sal�o Principal seriam abertas. As pessoas que iam encontrar pares de outras Casas procuravam atravessar a aglomera��o, tentando localizar uns aos outros. Parvati encontrou a irm� Padma e levou-a at� Harry e Rony. � Oi � cumprimentou Padma, que estava t�o bonita quanto Parvati, de vestes turquesa-forte. Mas n�o parecia muito entusiasmada com a id�ia de ter Rony como par, seus olhos escuros se demoraram nas mangas e no decote esfiapados das vestes do garoto quando o examinou de alto a baixo. � Oi � disse Rony sem olhar para ela, mas espiando os convidados. � Ah, n�o... Ele dobrou ligeiramente os joelhos para se esconder atr�s de Harry, porque Fleur Delacour ia passando, absolutamente fant�stica com suas vestes de cetim cinza-prateado, acompanhada pelo capit�o do time de Quadribol da Corvinal, Rog�rio Davies. Quando os dois desapareceram, Rony se endireitou e ficou examinando as cabe�as das pessoas que estavam de costas. � Cad� a Hermione? � indagou outra vez. Um grupo de alunos da Sonserina vinha subindo as escadas do seu sal�o comunal na masmorra. Malfoy � frente; usava vestes de veludo negro com a gola alta, que na opini�o de Harry o faziam parecer um padre. Pansy Parkinson estava agarrada ao bra�o de Malfoy, com vestes rosa-claro cheias de babadinhos. Crabbe e Goyle vinham de verde, pareciam pedregulhos cobertos de limo e nenhum dos dois, Harry ficou satisfeito de constatar, conseguira encontrar um par. As portas de carvalho da entrada se abriram e todos se viraram para olhar os alunos de Durmstrang entrarem com o Professor Karkaroff. Krum vinha � frente da delega��o, acompanhado por uma garota bonita, de vestes azuis, que Harry n�o conhecia. Por cima das cabe�as do grupo, ele viu que a �rea do gramado logo � entrada do castelo fora transformada em uma esp�cie de gruta cheia de luzes encantadas � ou seja, centenas de fadinhas vivas encontravam-se sentadas nas roseiras que tinham sido conjuradas ali e esvoa�avam sobre as est�tuas que pareciam representar Papai Noel e suas renas. Ent�o a voz da Professora Minerva McGonagall chamou: � Campe�es aqui, por favor! Parvati ajeitou as franjas, sorridente, ela e Harry disseram "Vemos voc�s daqui a pouco", para Rony e Padma, e se adiantaram, a aglomera��o de pessoas que conversavam se abriu para deix�-los passar. A professora, que trajava vestes a rigor de tartan vermelho, e enfeitara a aba do chap�u com uma guirlanda bem feiosa de cardos � a flor nacional da Esc�cia �, mandou-os esperar a um lado das portas, enquanto os demais entravam. Eles deviam entrar no Sal�o Principal em cortejo, quando os outros estudantes se sentassem. Fleur Delacour e Rog�rio Davies pararam mais pr�ximos �s portas. Davies parecia t�o aturdido com a sua sorte de ter Fleur como par que mal conseguia desgrudar os olhos dela. Cedrico e Cho ficaram ao lado de Harry, o garoto desviou o olhar para n�o precisar conversar com eles. Em lugar disso, seu olhar recaiu sobre a garota ao lado de Krum. Seu queixo caiu. Era Hermione. Mas ela n�o parecia nadinha com a Hermione. Fizera alguma coisa com os cabelos, n�o estavam mais lanzudos, mas lisos e brilhantes e enrolados num elegante n� na nuca. Estava usando vestes feitas de um tecido et�reo azul-pervinca, e tinha uma postura um tanto diferente � ou talvez fosse meramente a aus�ncia dos vinte e tantos livros que ela normalmente carregava �s costas. E sorria � um sorriso um pouco nervoso, era verdade � mas a redu��o no tamanho dos dentes da frente era mais vis�vel que nunca. Harry n�o conseguia compreender como n�o a vira antes. � Oi, Harry! � disse ela. � Oi, Parvati! Parvati mirava Hermione com depreciativa incredulidade. E n�o era a �nica, tampouco, quando as portas do Sal�o Principal se abriram, o f�-clube de Krum que fazia ponto na biblioteca passou, lan�ando a Hermione olhares de profundo desprezo. Pansy Parkinson boquiabriu-se ao passar com Malfoy, e mesmo ele n�o pareceu capaz de encontrar uma ofensa para atirar a Hermione. Rony, por�m, passou direto por ela sem sequer olhar. Depois que estavam todos sentados no sal�o, a Professora Minerva mandou os campe�es e seus pares formarem um cortejo, de dois em dois, e a seguiram. Os garotos obedeceram e todos no sal�o aplaudiram, quando eles entraram e se dirigiram a uma grande mesa redonda no fundo do sal�o, onde estavam sentados os juizes. As paredes do sal�o estavam cobertas de gelo prateado e cintilante, com centenas de guirlandas de visco e azevinho cruzando o teto escuro salpicado de estrelas. As mesas das Casas haviam desaparecido; em lugar delas havia umas cem mesinhas iluminadas com lanternas, que acomodavam, cada uma, doze pessoas. Harry se concentrou em n�o trope�ar nos pr�prios p�s. Parvati parecia estar se divertindo, sorria radiante para todos, conduzindo Harry com tanta firmeza que ele teve a sensa��o de que era um cachorrinho de concurso que ela estava ensinando a desfilar. Ele avistou Rony e Padma ao se aproximar da mesa principal. Rony observava Hermione passar com os olhos apertados. Padma parecia chateada. Dumbledore sorriu feliz quando os campe�es se aproximaram da mesa principal, mas Karkaroff tinha uma express�o parecid�ssima com a de Rony ao ver Krum e Hermione se aproximarem. Ludo Bagman, esta noite de vestes roxo-berrante, com grandes estrelas amarelas, batia palmas com tanto entusiasmo quanto qualquer estudante e Madame Maxime, que trocara o uniforme costumeiro de cetim negro por um vestido rodado de seda lil�s, os aplaudia educadamente. Mas o Sr. Crouch, Harry percebeu de s�bito, n�o estava presente. A quinta cadeira � mesa estava ocupada por Percy Weasley. Quando os campe�es e seus pares chegaram � mesa, Percy puxou uma cadeira vazia ao seu lado, olhando significativamente para Harry. Harry entendeu a deixa e se sentou ao lado do garoto, que trajava vestes a rigor azul-marinho, nov�ssimas, e exibia uma express�o de grande presun��o. � Fui promovido � disse Percy, antes mesmo que Harry lhe perguntasse e, pelo seu tom, parecia estar anunciando sua elei��o para Supremo Dirigente do Universo. � Agora sou assistente pessoal do Sr. Crouch, e estou aqui para represent�-lo. � Por que � que ele n�o veio? � perguntou Harry. N�o se sentia nada ansioso para passar o jantar ouvindo uma aula sobre o fundo dos caldeir�es. � Receio que o Sr. Crouch n�o esteja passando bem, nada bem. N�o tem estado bem desde a Copa Mundial. O que n�o chega a surpreender, excesso de trabalho. J� n�o � t�o jovem quanto era, embora continue genial, � claro, a cabe�a continua brilhante como sempre foi. Mas a Copa Mundial foi um fiasco para todo o Minist�rio, e depois, o Sr. Crouch sofreu um grande choque pessoal com o mau comportamento do seu elfo dom�stico, Blinky, ou sei l� que nome tinha. Naturalmente ele a dispensou em seguida, mas, bem, como disse, meu chefe est� ficando velho, precisa de algu�m para cuidar dele, e acho que seu conforto em casa sofreu um decidido baque desde que o elfo foi embora. Depois, ent�o, tivemos que organizar o torneio, e o rescaldo da Copa Mundial para resolver, aquela nojenta da Skeeter xeretando por toda parte, n�o, coitado, ele est� passando um tranq�ilo e merecido Natal. S� fico satisfeito por ele saber que tem algu�m de confian�a para substitu�-lo. Harry teve muita vontade de perguntar se o Sr. Crouch j� parara de chamar Percy de "Wearherby", mas resistiu � tenta��o. Ainda n�o havia comida nas travessas de ouro, apenas pequenos menus diante de cada conviva. Harry apanhou o dele hesitante e espiou para os lados � n�o havia gar�ons. Dumbledore, no entanto, examinou atentamente o pr�prio menu, depois ordenou muito claramente ao seu prato: � Costeletas de porco! E as costeletas de porco apareceram. Entendendo a id�ia, os demais ocupantes da mesa tamb�m fizeram os pedidos aos seus pratos. Harry olhou para Hermione a ver o que ela achava desse novo e complicado m�todo de jantar � certamente significava muito mais trabalho para os elfos dom�sticos! �, mas, ao menos uma vez na vida, Hermione n�o parecia estar pensando no F.A.L.E. Estava profundamente absorta conversando com V�tor Krum e parecia nem notar o que estava comendo. Agora ocorria a Harry que ele nunca chegara a ouvir Krum falar antes, mas sem d�vida o garoto estava falando agora e, pelo visto, com muito entusiasmo. � Pom, temos um castelo tamb�m, non � ton grrande quanto este, nem ton conforrt�vel, acho � ia ele dizendo a Hermione. � Temos s� quatro andarres, e as larreirras s� s�o acesas parra finalidades m�gicas. Mas a prroprriedade em que ecst� a escola � ainda maiorr do que esta, emborra no inverrno a gente tenha muito pouca luz solarr, porr isso n�o aprroveitamos muito os jarrdins. Mas no verr�o todo o dia sobrrevoamos os lagos e montanhas... � Ora, ora, V�tor! � disse Karkaroff, com uma risada que n�o se estendeu aos seus olhos frios. � N�o v� contar mais nada, agora, ou a nossa encantadora amiga vai saber exatamente onde nos encontrar! Dumbledore sorriu, seus olhos cintilando. � Igor, tanto segredo... A pessoa poderia at� pensar que voc� n�o quer visitas. � Bom, Dumbledore � disse Karkaroff, mostrando os dentes amarelos �, todos protegemos os nossos dom�nios, n�o? Todos n�o guardamos zelosamente os templos de saber que nos foram confiados? N�o estamos certos em nos orgulhar de que somente n�s conhecemos os segredos de nossas escolas, e, mais uma vez, certos em proteg�-las? � Ah, eu nunca sonharia em presumir que conhe�o todos os segredos de Hogwarts, Igor � disse Dumbledore amigavelmente. � Ainda hoje de manh�, por exemplo, a caminho do banheiro, virei para o lado errado e me vi em um aposento de belas propor��es que eu nunca vira antes, e que continha uma cole��o realmente magn�fica de penicos. Quando voltei para investig�-lo mais de perto, descobri que o aposento desaparecera. Mas preciso ficar atento para reencontr�-lo. � poss�vel que s� esteja acess�vel �s cinco e meia da manh�. Ou talvez s� apare�a com a lua em quartil ou quando quem procura est� com a bexiga excepcionalmente cheia. Harry riu para dentro do prato de gulache. Percy franziu a testa, mas Harry poderia jurar que Dumbledore lhe dera uma piscadela quase impercept�vel. Entrementes, Fleur Delacour criticava as decora��es de Hogwarts com Rog�rio Davies. � Isse non � nada � disse ela contemplando as paredes cintilantes do Sal�o Principal com ar de pouco caso. � No Palace de Beauxbatons, tems esculturres de gelo em volta da sala de jantarr no Natall. Eles n�o derretem, � clarro... parrecem enorrmes est�tues de diamante, faiscande pela sala. E a comida � simplesman superrbe. E temes corres de ninfes das mates, cantando serrenatas enquanto comemes. N�o temes essas armadurras feies nos corrredorres e se um dia um polterrgeisr entrrasse em Beauxbatons, serria expulso assim. � E ela bateu a m�o com impaci�ncia na mesa. Rog�rio Davies observava a garota falar com uma express�o aturdida no rosto e a toda hora errava ao levar o garfo � boca. Harry teve a impress�o de que o garoto estava ocupado demais admirando Fleur para escutar uma �nica palavra do que ela dizia. � Absolutamente certa � disse ele depressa, batendo com a pr�pria m�o na mesa como fizera Fleur. � Assim. � claro. Harry correu os olhos pelo sal�o. Hagrid estava sentado a uma das mesas reservadas aos professores, voltara a vestir o seu horr�vel terno peludo marrom, e tinha os olhos fixos na mesa principal. Harry o viu dar um discreto aceno e, ao olhar para os lados, viu Madame Maxime retribuir o aceno, suas opalas faiscando � luz das velas. Hermione agora ensinava Krum a pronunciar seu nome corretamente; ele n�o parava de cham�-la de Hermy-on. � Her-mi-o-ne � dizia ela lenta e claramente. � Herm-on-nini. � Est� bastante parecido � disse ela, encontrando os olhos de Harry e sorrindo. Quando toda a comida fora consumida, Dumbledore se levantou e pediu aos estudantes que fizessem o mesmo. Ent�o, a um aceno de sua varinha, as mesas se encostaram �s paredes, deixando o sal�o vazio, em seguida ele conjurou uma plataforma ao longo da parede direita. Sobre ela foram colocados uma bateria, alguns viol�es, um ala�de, um violoncelo e algumas gaitas de foles. As Esquisitonas subiram, ent�o, no palco sob aplausos delirantemente entusi�sticos, eram todas extremamente cabeludas, trajavam vestes negras que haviam sido artisticamente rasgadas. Apanharam seus instrumentos e Harry, que estivera t�o interessado em observ�-las que quase esqueceu o que viria a seguir, de repente percebeu que as lanternas de todas as outras mesas tinham se apagado e que os outros campe�es e seus pares estavam em p�. � Anda! � sibilou Parvati. � Temos que dan�ar! Harry trope�ou nas vestes ao se levantar. As Esquisitonas tocaram uma m�sica lenta e triste, Harry entrou na pista de dan�a bem iluminada, evitando cuidadosamente o olhar dos colegas (ele viu Simas e Dino acenarem para ele entre risinhos), e no momento seguinte, Parvati agarrara suas m�os, colocara uma em torno da pr�pria cintura e segurava a outra na dela. N�o foi t�o mal como poderia ter sido, pensou Harry, girando lentamente no mesmo lugar (Parvati o conduzia). Mantinha os olhos fixos sobre as cabe�as das pessoas que assistiam, mas dali a pouco muitas delas tamb�m vieram para a pista de dan�a, de modo que os campe�es deixaram de ser o centro das aten��es. Neville e Gina dan�avam pr�ximos a ele � Harry via Gina fazer freq�entes caretas sempre que Neville pisava seus p�s � e Dumbledore valsava com Madame Maxime. Ficava t�o pequeno junto a ela que a ponta do seu chap�u c�nico mal ro�ava o queixo da bruxa, no entanto, Madame M�xime se movia graciosamente para uma mulher daquele tamanho. Olho-Tonto Moody estava seguindo um compasso de dois tempos extremamente desajeitado com a Professora Sinistra, que nervosamente evitava a perna de madeira do seu par. � Belas meias, Potter � rosnou Moody ao passar, seu olho m�gico espiando atrav�s das vestes de Harry. � Ah... S�o, Dobby, o elfo dom�stico, tricotou-as para mim � disse Harry, sorrindo. � Ele d� arrepios! � sussurrou Parvati, quando Moody se afastou batendo a perna de pau. � Acho que n�o deviam permitir aquele olho dele! Harry ouviu a �ltima nota tr�mula da gaita de foles com al�vio. As Esquisitonas pararam de tocar, os aplausos encheram mais uma vez o Sal�o Principal e Harry soltou Parvati. � Vamos sentar um pouco? � Ah... Mas... Agora vem uma realmente boa! � disse Parvati, ao ouvir as Esquisitonas come�arem uma nova m�sica, que era muito mais movimentada. � N�o, n�o gosto dessa � mentiu Harry e conduziu a garota para fora da pista de dan�a, passando por Fred e Angelina, que dan�avam com tanta exuber�ncia que as pessoas � volta deles se afastavam com medo de se machucar, e se dirigiram � mesa em que Rony e Padma estavam sentados. � Como � que voc�s est�o indo? � perguntou Harry a Rony, se sentando e abrindo uma garrafa de cerveja amanteigada. Rony n�o respondeu. Olhava feio para Hermione e Krum, que dan�avam ali perto. Padma estava sentada com os bra�os e as pernas cruzadas, um p� balan�ando ao ritmo da m�sica. De vez em quando ela lan�ava um olhar aborrecido a Rony, que a ignorava completamente. Parvati se sentou do outro lado de Harry, cruzou os bra�os e as pernas tamb�m e, minutos depois, foi convidada a dan�ar por um garoto da Beauxbatons. � Voc� se importa, Harry? � perguntou Parvati. � Qu�? � disse Harry, que estava observando Cho e Cedrico. � Ah, nada � retrucou Parvati e saiu com o garoto da Beauxbatons. Quando a m�sica terminou, ela n�o voltou. Hermione apareceu e se sentou na cadeira vazia de Parvati. Estava com o rosto um pouco afogueado de dan�ar. � Oi � disse Harry. Rony n�o disse nada. � Est� quente, n�o acham? � disse ela se abanando com a m�o. � V�tor foi apanhar alguma coisa para a gente beber. � Rony lhe lan�ou um olhar irritado. � V�tor?� disse ele. � Ele ainda n�o lhe pediu para cham�-lo de Vitinho? Hermione olhou para o garoto surpresa. � Que � que h� com voc�? � Se voc� n�o sabe � disse ele sarcasticamente �, n�o sou eu que vou lhe dizer. Hermione encarou-o demoradamente, depois Harry, mas este sacudiu os ombros. � Rony, que �... � Ele � da Durmstrang � vociferou Rony. � Est� competindo contra o Harry! Contra Hogwarts! Voc�... Voc� est�... � Rony obviamente estava procurando palavras suficientemente fortes para descrever o crime de Hermione � confraternizando com o inimigo, � isso que voc� est� fazendo! Hermione ficou boquiaberta. � N�o seja t�o burro! � respondeu ela ap�s um momento. � O inimigo! Francamente, quem � que ficou todo excitado quando viu o Krum chegar? Quem � que queria pedir um aut�grafo a ele? Quem � que tem um modelinho dele no dormit�rio? Rony preferiu ignorar as perguntas. � Suponho que ele a tenha convidado para vir com ele quando os dois estavam na biblioteca? � Isso mesmo � disse Hermione, as manchas rosadas em seu rosto se intensificando. � E da�? � Que aconteceu, estava tentando convenc�-lo a participar do fale, �? � N�o, n�o estava, n�o! Se voc� quer realmente saber, ele... Ele disse que estava indo todos os dias � biblioteca para tentar falar comigo, mas n�o conseguia reunir coragem. Hermione disse isso muito depressa e corou tanto que ficou quase da mesma cor do vestido de Parvati. � E, �... Isto � o que ele conta � disse Rony em tom desagrad�vel. � E o que � que voc� quer dizer com isso? � � �bvio, n�o �? Ele � aluno do Karkaroff n�o �? E sabe que voc� anda em companhia do... Ele s� est� tentando se aproximar do Harry, tirar informa��es sobre ele ou at� chegar perto bastante para azarar ele... Hermione pareceu ter sido esbofeteada por Rony. Quando falou, tinha a voz tr�mula. � Para sua informa��o, ele n�o me fez uma �nica pergunta sobre o Harry, nem umazinha... Rony mudou o rumo da conversa com a velocidade da luz. � Ent�o est� na esperan�a de voc� o ajudar a decifrar a mensagem do ovo! Suponho que tenham andado juntando as cabe�as durante aquelas sess�ezinhas �ntimas na biblioteca... � Eu nunca o ajudaria com aquele ovo! � exclamou Hermione, com ar de indigna��o. � Nunca. Como � que voc� pode dizer uma coisa dessas... Eu quero que Harry ven�a o torneio. Harry sabe disso, n�o sabe, Harry? � Voc� tem um jeito engra�ado de demonstrar isso � desdenhou Rony. � O torneio � justamente para se conhecer bruxos estrangeiros e fazer amizade com eles! � disse Hermione com voz aguda. � N�o � n�o. � para se ganhar! As pessoas estavam come�ando a olhar para eles. � Rony � disse Harry em voz baixa �, eu n�o tenho nada contra Hermione vir com o Krum... Mas Rony n�o deu aten��o a Harry tampouco. � Por que voc� n�o vai procurar o Vitinho, ele deve estar se perguntando aonde � que voc� anda � disse Rony. � Pare de cham�-lo de Vitinho!� Hermione ficou de p� e saiu decidida pela pista de dan�a, desaparecendo na multid�o. Rony acompanhou-a com uma express�o no rosto que misturava raiva e satisfa��o. � Voc� n�o vai me convidar para dan�ar? � perguntou Padma a ele. � N�o � disse Rony, ainda olhando feio para as costas de Hermione. � �timo � retrucou Padma se levantando e indo se juntar a Parvati e ao garoto de Beauxbatons, que conjurou um amigo para se reunir a eles t�o depressa que Harry seria capaz de jurar que chamara o amigo com um Feiti�o Convocat�rio. � Onde est� Hermi-o-nini? � perguntou uma voz. Krum acabara de chegar � mesa segurando duas cervejas amanteigadas. � N�o fa�o id�ia � disse Rony emburrado, erguendo os olhos. � Perdeu ela, foi? Krum ficou mais uma vez carrancudo. � Pom, se foc� a virr, diga que apanhei as bebidas � disse ele se afastando curvado. � Fez amizade com V�tor Krum, Harry? Percy apareceu animado, esfregando as m�os e com um ar extremamente pomposo. � Excelente! Essa � a id�ia, sabe, da Coopera��o Internacional em Magia. Para contrariedade de Harry, Percy imediatamente ocupou a cadeira que Padma deixara livre. A mesa principal agora estava vazia; o Professor Dumbledore dan�ava com a Professora Sprout, Ludo Bagman com a Professora McGonagall, Maxime com Hagrid abriam uma estrada pela pista de dan�a ao valsar entre os estudantes, e Karkaroff n�o estava � vista. Quando a m�sica seguinte terminou, todos aplaudiram mais uma vez e Harry viu Ludo Bagman beijar a m�o da Professora McGonagall e refazer seu caminho entre os dan�arinos, momento em que Fred e Jorge o assediaram. � Que � que eles acham que est�o fazendo, importunando um funcion�rio do primeiro escal�o do Minist�rio? � sibilou Percy, observando os g�meos, desconfiado. � Que falta de respeito... Mas Ludo Bagman se desvencilhou dos garotos muito rapidamente e, ao ver Harry, acenou e se aproximou da mesa. � Espero que meus irm�os n�o o tenham incomodado, Sr. Bagman! � disse Percy na mesma hora. � Qu�? Ah, n�o, de modo algum, de modo algum! N�o, eles estavam me dizendo mais alguma coisa sobre aquelas varinhas falsas que inventaram. Queriam saber se eu podia sugerir como comercializ�-las. Prometi coloc�-los em contato com alguns conhecidos na Zonko"s... Percy n�o pareceu nada feliz com a resposta e Harry podia apostar que o irm�o iria correndo contar � Sra. Weasley no minuto em que chegasse em casa. Pelo visto, os planos dos g�meos haviam se tornado mais ambiciosos ultimamente, se estavam pensando em vender seus produtos no varejo. Bagman abriu a boca para perguntar alguma coisa a Harry, mas Percy o distraiu. � Como � que o senhor acha que o torneio est� correndo, Sr. Bagman? O nosso departamento est� bastante satisfeito, o probleminha com o C�lice de Fogo � ele lan�ou um olhar a Harry � foi lament�vel, naturalmente, mas as coisas parecem ter corrido muito bem at� agora, o senhor n�o acha? � Ah, sim � respondeu Bagman animado �, tem sido um grande divertimento. Como anda o velho Bart�? Que pena que ele n�o p�de vir. � Ah, tenho certeza de que o Sr. Crouch n�o vai tardar a melhorar e voltar ao trabalho � disse Percy cheio de import�ncia �, mas, nesse meio tempo, estou preparado para cobrir a lacuna. Claro que n�o � somente comparecer a bailes � ele deu uma breve risada �, ah, n�o, tenho precisado cuidar de problemas de todo o tipo que surgem na aus�ncia dele, o senhor ouviu falar que Ali Bashir foi apanhado contrabandeando um carregamento de tapetes voadores para dentro do pa�s? E que temos tentado persuadir a Transilv�nia a assinar uma san��o internacional aos duelos, tenho uma reuni�o com o chefe da coopera��o em magia transilvano no pr�ximo ano... � Vamos dar uma volta � murmurou Rony para Harry �, sair de perto de Percy... Fingindo que queriam se reabastecer de bebidas, Harry e Rony sa�ram da mesa, contornaram a pista de dan�a e seguiram para o sagu�o de entrada. As portas estavam abertas de par em par e as fadinhas luminosas no roseiral piscavam e cintilavam quando os garotos desceram os degraus da entrada e se viram cercados de plantas que formavam caminhos serpeantes e de grandes est�tuas de pedra. Harry ouviu um rumorejo de �gua caindo, que lhe pareceu uma fonte. Aqui e ali as pessoas estavam sentadas em bancos entalhados. Os dois garotos tomaram um dos caminhos que passava pelo roseiral, mas tinham dado apenas alguns passos quando ouviram uma voz desagrad�vel e conhecida. � ... N�o vejo com o que tem de se preocupar, Igor. � Severo, voc� n�o pode fingir que isto n�o est� acontecendo! � a voz de Karkaroff era baixa e ansiosa como se cuidasse para ningu�m os ouvir. � Tem se tornado cada vez mais n�tida nos �ltimos meses. Estou come�ando a me preocupar seriamente, n�o posso negar... � Ent�o, fuja � disse a voz de Snape secamente. � Fuja, eu apresentarei suas desculpas. Eu, no entanto, vou permanecer em Hogwarts. Os dois professores contornaram um canto. Snape levava a varinha na m�o e ia estourando roseiras, com a express�o mal-humorad�ssima. Ouviam-se gritinhos em muitos arbustos e vultos escuros saiam correndo para fora deles. � Dez pontos a menos para Lufa-Lufa, Fawcett! � rosnou Snape, quando uma garota passou correndo por ele. � E dez para Corvinal, tamb�m, Stebbins! -quando um garoto passou no encal�o dela. � E que � que voc�s dois est�o fazendo? � acrescentou ele, avistando Harry e Rony mais adiante no caminho. Karkaroff, percebeu Harry, pareceu ligeiramente desconfort�vel ao v�-los parados ali. Levou a m�o nervosamente � barbicha e come�ou a enrol�-la com o dedo. � Estamos passeando � respondeu Rony secamente. � N�o � contra a lei, �? � Ent�o continuem passeando! � rosnou Snape, e passou ro�ando por eles, sua longa capa negra se abrindo como uma vela enfunada �s suas costas. Karkaroff apressou-se em alcan�ar o colega. Os dois garotos continuaram a descer pelo caminho. � Que ser� que deixou o Karkaroff t�o preocupado? � murmurou Rony. � E desde quando ele e Snape est�o se chamando pelo nome de batismo? � indagou Harry lentamente. Os garotos tinham chegado a uma enorme rena de pedra agora, por cima da qual avistaram o jorro cintilante de um alto chafariz. Avistaram tamb�m, sentadas em um banco de pedra, as silhuetas escuras de duas pessoas, que contemplavam a �gua ao luar. Ent�o Harry ouviu a voz de Hagrid. � O momento em que vi voc�, eu soube � ia ele dizendo, numa voz estranhamente rouca. Harry e Rony se imobilizaram. Por alguma raz�o aquilo n�o parecia o tipo de cena que eles deviam interromper... Harry virou-se para olhar o caminho e viu Fleur Delacour e Rog�rio Davies parados, meio escondidos por uma roseira pr�xima. Bateu no ombro de Rony e acenou a cabe�a para o lado dos dois, querendo indicar que ele e Rony poderiam facilmente sair por ali sem serem notados (Fleur e Davies pareceram a Harry muito ocupados), mas Rony, os olhos se arregalando de terror ao ver Fleur, sacudiu a cabe�a com vigor e puxou Harry para mais junto das sombras atr�s da rena. � Que � que voc� soube, Agrrid? � perguntou Madame Maxime, com um aud�vel ronronar na voz baixa. Harry decididamente n�o queria escutar aquilo, sabia que Hagrid iria odiar ser entreouvido numa situa��o daquelas (ele teria sentido o mesmo) � se fosse poss�vel, o garoto teria enfiado os dedos nos ouvidos e cantarolado alto, mas isto n�o era realmente uma op��o. Em lugar disso, tentou se interessar por um besouro que rastejava pelo dorso da rena, mas o besouro simplesmente n�o era interessante o bastante para bloquear as palavras seguintes de Hagrid. � Eu simplesmente soube... Soube que voc� era como eu... Puxou ao seu pai ou � sua m�e? � Eu... Eu n�o sei o que voc� querr dizerr com isso, Agrrid... � Puxei � minha m�e � disse Hagrid em voz baixa. � Ela foi uma das �ltimas na Gr�-Bretanha. Claro, eu n�o consigo me lembrar muito bem dela... Ela foi embora, entende. Quando eu tinha uns tr�s anos. N�o era um tipo muito maternal. Bem... N�o � natureza delas, n�o � mesmo? N�o sei o que aconteceu com ela, pode at� ter morrido pelo que sei... Madame Maxime n�o respondeu. E Harry, contra sua vontade, tirou os olhos do besouro e espiou por cima dos chifres da rena, escutando... Ele nunca ouvira Hagrid falar da inf�ncia antes. � Meu pai ficou com o cora��o partido quando ela foi embora. Um cara miudinho, o meu pai era. Quando cheguei aos seis anos podia levantar e colocar ele em cima da c�moda quando me contrariava. Costumava fazer ele rir... � A voz grave de Hagrid quebrou. Madame Maxime o escutava, im�vel, aparentemente contemplando o chafariz de prata. � Papai me criou... Mas ele morreu � claro, logo depois que entrei para a escola. Meio que tive de abrir o meu caminho sozinho depois disso. Mas veja, Dumbledore foi uma grande ajuda. Muito bom para mim, ele foi... Hagrid puxou um grande len�o de seda encardido e assoou o nariz com for�a. � Ent�o... Em todo o caso... Chega de falar de mim. E voc�? De que lado voc� herdou? Mas Madame Maxime repentinamente se pusera de p�. � Est� frio � disse ela. Mas fosse qual fosse a temperatura que fazia, n�o chegava nem de longe � frieza na voz dela. � Acho que vou entrar agora. � Eh? � disse Hagrid sem entender. � N�o, n�o v�, nunca encontrei algu�m igual a mim antes! � Algu�m exatamente como? � perguntou Madame Maxime, num tom de voz cortante. Harry poderia ter dito a Hagrid que era melhor n�o responder; ficou parado ali nas sombras, cerrando os dentes, desejando por tudo no mundo que o amigo n�o respondesse, mas n�o adiantou nada. � Algu�m meio gigante, � claro � disse Hagrid. � Como � que voc� se atreve? � gritou Madame Maxime. Sua voz explodiu na noite tranq�ila como uma buzina de nevoeiro, �s costas deles, Harry ouviu Fleur e Roger despencarem da roseira em que estavam. � Nunca fui mais insultada na vida! Meio gigante? Moi? Eu tenho... Eu tenho os ossos grra�dos! Ela saiu intempestivamente, grandes enxames de fadinhas multicoloridas se ergueram no ar quando ela passou, empurrando arbustos para os lados. Hagrid continuou sentado no banco, acompanhando-a com o olhar parado. Estava escuro demais para distinguir a express�o do seu rosto. Depois, passado um minuto, ele se levantou e se afastou, mas n�o voltou ao castelo, saiu pelos jardins escuros em dire��o � sua cabana. � Anda � disse Harry muito baixinho a Rony. � Vamos embora... Mas Rony n�o se mexeu. � Que � que est� havendo? � perguntou Rony olhando para o amigo. Rony se virou para Harry, a express�o realmente muito s�ria. � Voc� sabia? � sussurrou. � Que Hagrid era meio gigante? � N�o � disse Harry, sacudindo os ombros. � E da�? Harry percebeu imediatamente pelo olhar de Rony que, mais uma vez, estava revelando sua ignor�ncia sobre o universo da magia. Criado pelos Dursley, havia muita coisa que os bruxos aceitavam naturalmente e que eram verdadeiras revela��es para Harry, mas essas surpresas tinham se tornado menos freq�entes � medida que ele progredia na escola. Agora, por�m, ele percebia que a maioria dos bruxos n�o teria dito "E da�?" ao descobrir que um amigo tivera uma giganta por m�e. � Eu lhe explico l� dentro � disse Rony baixinho. � Vamos... Fleur e Rog�rio Davies tinham desaparecido, provavelmente em uma moita de arbustos com mais privacidade. Harry e Rony voltaram ao Sal�o Principal. Parvati e Padma agora estavam sentadas a uma mesa distante com um grande grupo de garotos da Beauxbatons, e Hermione estava mais uma vez dan�ando com Krum. Harry e Rony se sentaram a uma mesa bem longe da pista de dan�a. � Ent�o? � perguntou Harry a Rony. � Qual � o problema de ser gigante? � Bom, eles... Eles... N�o s�o muito legais � terminou Rony sem gra�a. � Quem se importa? � exclamou Harry. � N�o h� nada errado com Hagrid! � Eu sei que n�o tem, mas... Caracas, n�o admira que ele fique na moita � disse Rony, balan�ando a cabe�a. � Eu sempre achei que ele talvez tivesse ficado no caminho de um Feiti�o de Ingurgitamento ruim quando era crian�a ou outra coisa do g�nero. E n�o gostasse de mencionar isso... � Mas qual � o problema da m�e dele ter sido uma giganta? � perguntou Harry. � Bem... Ningu�m que o conhece vai se importar, porque sabe que ele n�o � perigoso � disse Rony lentamente. � Mas... Harry eles s�o apenas gigantes cru�is. � como Hagrid disse, � da natureza deles, s�o como os trasgos... Gostam de matar, todo mundo sabe disso. Mas hoje n�o tem mais gigantes na Gr�-Bretanha. � Que foi que aconteceu com eles? � Bem, eles estavam acabando mesmo, ent�o um monte deles foi morto pelos aurores. Mas dizem que h� gigantes no exterior... A maioria escondida em montanhas... � N�o sei quem � que a Maxime pensa que est� enganando � disse Harry, observando a bruxa sentada sozinha � mesa dos juizes, com o ar muito s�rio. � Se Hagrid � meio gigante, decididamente ela tamb�m �. Ossos gra�dos... A �nica coisa que tem ossos maiores do que ela � um dinossauro. Harry e Rony passaram o resto do baile discutindo gigantes a um canto, nenhum dos dois com a menor inclina��o para dan�ar. Harry tentou n�o olhar para Cho e Cedrico, sentiu uma enorme vontade de chutar alguma coisa. Quando as Esquisitonas terminaram de tocar � meia-noite, receberam mais uma rodada de aplausos estrepitosos e come�aram a sair em dire��o ao sagu�o de entrada. Muitas pessoas expressaram o desejo de que o baile pudesse continuar por mais tempo, mas Harry estava absolutamente satisfeito de ir se deitar, e, se algu�m quisesse saber, a noite n�o fora l� essas coisas. J� no sagu�o de entrada, Harry e Rony viram Hermione se despedindo de Krum antes do garoto se retirar para o navio de Durmstrang. Ela lan�ou a Rony um olhar gelado, e passou por ele a caminho da escadaria de m�rmore sem falar. Os dois amigos a seguiram, mas, no meio da escada, Harry ouviu algu�m que o chamava. � Ei... Harry! Era Cedrico Diggory. Harry viu que Cho ficara � espera dele no sagu�o. � Que foi? � respondeu Harry com frieza, quando o garoto correu escada acima ao seu encontro. Cedrico fez cara de quem n�o queria dizer o que viera dizer na frente de Rony, que encolheu os ombros, parecendo aborrecido, e continuou a subir as escadas. � Escuta... � Cedrico baixou a voz quando Rony desapareceu. � Eu lhe devo um favor por ter me falado dos drag�es. Sabe o ovo de ouro? O seu solta um grito agourento quando voc� o abre? � Solta. � Ent�o... Toma um banho, OK? � Qu�? � Tome um banho e... Hum, leve o ovo junto e... Hum, reflita um pouco debaixo da �gua quente. Vai ajudar voc� a pensar... Acredite em mim. Harry ficou olhando para ele. � Vou lhe dizer uma coisa � disse Cedrico �, use o banheiro dos monitores. Quarta porta � esquerda daquela est�tua de Bons, o Pasmo, no quinto andar. A senha � Frescor de Pinho. Tenho que ir... Quero dizer boa-noite... Ele tornou a sorrir para Harry e desceu depressa as escadas para se juntar a Cho. Harry voltou para a Torre da Grifin�ria sozinho. Recebera um conselho estranh�ssimo. Por que um banho o ajudaria a descobrir o significado do ovo que gritava? Ser� que Cedrico estava gozando a cara dele? Ser� que estava tentando fazer Harry parecer bobo, para que, ao comparar os dois, Cho gostasse ainda mais dele? A Mulher Gorda e sua amiga Vi estavam tirando um cochilo no quadro que cobria a entrada da Casa. Harry teve que berrar Luzes Encantadas! Para que elas acordassem, e ao fazer isso, as duas ficaram muit�ssimo irritadas. Quando entrou na sala comunal, encontrou Rony e Hermione tendo uma briga daquelas. Mantendo uma dist�ncia de tr�s metros, os dois vociferavam um com o outro, as caras vermelhas como piment�es. � Ora, se voc� n�o gosta, ent�o sabe qual � a solu��o, n�o sabe? � berrava Hermione, agora seus cabelos iam se soltando do elegante coque, e seu rosto se contra�a de raiva. � Ah, �? � berrava Rony em resposta. � Qual �? � Da pr�xima vez que houver um baile, me convide antes que outro garoto fa�a isso, e n�o como �ltimo recurso! A boca de Rony ficou mexendo sem emitir som algum como a de um peixe de aqu�rio fora da �gua, enquanto Hermione virava as costas e subia batendo os p�s a escada do dormit�rio das garotas para se deitar. Rony se virou para Harry. � Bom � balbuciou, completamente abismado �, bom, isso prova que ela n�o entendeu nada... Harry n�o respondeu. Estava gostando demais de ter feito pazes com o amigo para dizer o que estava pensando naquele momento � mas, em todo o caso, ele achava que Hermione entendera melhor do que Rony. CAP�TULO VINTE E QUATRO O Furo Jornal�stico de Rita Skeeter Todos acordaram tarde no dia seguinte ao Natal, que � feriado na Gr�-Bretanha. A sala comunal da Grifin�ria estava muito mais sossegada do que ultimamente, muitos bocejos pontuavam as conversas ociosas. Os cabelos de Hermione tinham voltado a ficar crespos e cheios, ela confessou a Harry que usara quantidades generosas de Po��o Capilar Alisante para ir ao baile, "mas � muita m�o-de-obra fazer isso todo dia", disse ela sem emo��o, co�ando atr�s das orelhas do ronronante Bichento. Rony e Hermione aparentemente tinham chegado a um acordo subentendido de n�o mencionarem a discuss�o que tinham tido. Estavam at� sendo simp�ticos um com o outro, embora estranhamente formais. Rony e Harry n�o perderam tempo para contar � garota a conversa entre Madame Maxime e Hagrid que tinham ouvido, mas Hermione n�o pareceu achar a novidade de que Hagrid era meio gigante t�o chocante quanto Rony. � Bem, achei que devia ser � disse ela, encolhendo os ombros. � Eu sabia que ele n�o poderia ser todo gigante, porque os gigantes t�m uns seis metros de altura. Mas, francamente, por que toda essa histeria por causa dos gigantes? Nem todos devem ser horr�veis... � o mesmo tipo de preconceito que as pessoas t�m com rela��o aos lobisomens... � muita cegueira, n�o �, n�o? Rony fez cara de quem gostaria de dar uma resposta desdenhosa, mas talvez n�o quisesse outra briga, porque se contentou em sacudir a cabe�a incr�dulo quando Hermione n�o estava olhando. Agora era hora de pensar nos deveres de casa que eles tinham posto de lado na primeira semana de f�rias. Todos pareciam estar se sentindo pouco entusiasmados, agora que o Natal terminara � todos exceto Harry, isto �, que estava come�ando (mais uma vez) a ficar ligeiramente nervoso. O problema era que o dia vinte e quatro de fevereiro parecia bem mais perto, uma vez passado o Natal, e ele ainda n�o se mexera para decifrar a pista que havia no ovo de ouro. Portanto, ele passou a tirar o ovo do mal�o todas as vezes que subia ao dormit�rio, abria-o e escutava com aten��o, na esperan�a de que daquela vez o grito fizesse mais sentido. Harry se esfor�ou para descobrir o que o som lhe lembrava, al�m dos trinta serrotes musicais, mas nunca ouvira nada que se parecesse com aquilo. Fechou o ovo, sacudiu-o vigorosamente, reabriu-o para ver se o som mudara, mas nada. Tentou fazer perguntas ao ovo, berrando para abafar seu lamento, mas nada aconteceu. Chegou mesmo a atirar o ovo do outro lado do quarto � embora n�o esperasse realmente que isso resolvesse. Harry n�o esquecera da dica que Cedrico lhe dera, mas seus sentimentos pouco amig�veis com rela��o ao campe�o, naquele momento, significavam que ele n�o estava interessado em aceitar ajuda de Cedrico se pudesse. Em todo o caso, achava que se o garoto tivesse realmente querido dar uma m�ozinha a ele, teria sido muito mais claro. Harry dissera a Cedrico exatamente o que o esperava na primeira tarefa � mas a id�ia que o outro fazia de uma troca justa fora lhe dizer para tomar um banho. Bem, ele n�o precisava desse tipo de ajuda in�til � pelo menos, n�o de algu�m que ficava andando para cima e para baixo pelos corredores de m�os dadas com Cho. Assim, chegou o primeiro dia do novo trimestre e Harry foi para as aulas, sobrecarregado de livros, pergaminhos e penas, como de costume, mas tamb�m com essa preocupa��o a lhe pesar no est�mago, como se o ovo fosse mais um peso a carregar para todo o lado com ele. A neve continuava alta nos jardins e as janelas da estufa estavam cobertas por um vapor t�o denso que n�o era poss�vel enxergar atrav�s delas na aula de Herbologia. Ningu�m estava ansioso para ir � aula de Trato das Criaturas M�gicas com um tempo desses, embora, como disse Rony, era prov�vel que os explosivins deixassem os alunos bem aquecidos, quer fazendo-os correr atr�s deles, quer expelindo fogo pelo rabo com tanta for�a que a cabana de Hagrid pegaria fogo. Quando os garotos chegaram l�, por�m, encontraram uma bruxa mais velha, com os cabelos grisalhos muito curtos e um queixo muito saliente, parada diante da porta da frente do professor. � Vamos, andem, a sineta j� tocou h� cinco minutos � vociferou ela, quando os viu caminhando pela neve com dificuldade ao seu encontro. � Quem � a senhora? � perguntou Rony, mirando-a. � Aonde foi o Hagrid? � Meu nome � Professora Grubbly-Plank � disse ela com efici�ncia. Sou a professora tempor�ria de Trato das Criaturas M�gicas. � Aonde foi o Hagrid? � repetiu Harry em voz alta. � N�o est� se sentindo bem � respondeu ela secamente. Uma risada breve e desagrad�vel chegou aos ouvidos de Harry. Ele se virou, Draco Malfoy e o resto dos alunos da Sonserina estavam vindo se reunir � turma. Tinham um ar satisfeito, e nenhum pareceu surpreso de ver a Professora Grubbly-Plank. � Por aqui, por favor � disse a professora e saiu contornando o picadeiro onde os enormes cavalos da Beauxbatons tremiam de frio. Harry, Rony e Hermione a seguiram, olhando para tr�s, por cima do ombro, para a cabana de Hagrid. Todas as cortinas estavam corridas. Ser� que Hagrid estava ali, sozinho e doente? � Que � que o Hagrid tem? � perguntou Harry, apressando o passo para alcan�ar a professora. � N�o � da sua conta � disse ela, como se achasse que o garoto estava sendo intrometido. � Mas � da minha conta � disse Harry com veem�ncia. � Que aconteceu com ele? A Professora Grubbly-Plank continuou como se n�o o ouvisse. Conduziu-os al�m do picadeiro dos cavalos da Beauxbatons, todos agrupados tentando se proteger do frio, e em dire��o a uma �rvore na orla da Floresta, onde encontraram amarrado um grande e belo unic�rnio. Muitas garotas soltaram exclama��es de admira��o ao ver o unic�rnio. � Ah, � t�o bonito! � murmurou Lil� Brown. � Como ser� que ela conseguiu? Dizem que s�o realmente dif�ceis de apanhar! O unic�rnio era t�o branco que fazia a neve ao redor parecer cinzenta. Pateava o ch�o nervoso com seus cascos dourados e atirava para tr�s a cabe�a com um s� chifre. � Meninos fiquem afastados! � gritou secamente a professora, estendendo um bra�o e, com isso, batendo com for�a em Harry na altura do peito. � Eles preferem o toque das mulheres, os unic�rnios. Meninas a frente, e se aproximem com cuidado. Vamos, devagar... Ela e as meninas se adiantaram devagarinho at� o bicho, deixando os garotos parados junto � cerca do picadeiro, assistindo. No instante em que a professora ficou fora do alcance de suas vozes, Harry se virou para Rony. � Que � que voc� acha que aconteceu com ele? Acha que pode ter sido um explosivin...? � Ah, ele n�o foi atacado, Potter, se � o que voc� est� pensando � disse Malfoy suavemente. � N�o, ele s� est� envergonhado demais para mostrar a cara. � Que � que voc� quer dizer com isso? � perguntou Harry com rispidez. Malfoy meteu a m�o no bolso interno das vestes e puxou uma folha dobrada de jornal. � J� vem voc� � disse ele. � Detesto ser eu a lhe dar a not�cia, Potter... Malfoy deu um sorriso afetado quando Harry pegou o jornal, desdobrou-o e leu-o com Rony, Simas, Dino e Neville que espiava por cima do ombro deste. Era um artigo encimado pela foto de Hagrid com uma cara extremamente sonsa. �O MAIOR ERRO DE DUMBLEDORE� Alvo Dumbledore, o exc�ntrico diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, nunca teve medo de fazer nomea��es controvertidas para o corpo docente, escreve Rita Skeeter, nossa correspondente especial. � Em setembro deste ano, ele contratou Alastor "Olho-Tonto" Moody, o not�rio ex-auror que v� feiti�os por toda parte, para ensinar Defesa contra as Artes das Trevas, uma decis�o que fez muita gente erguer as sobrancelhas no Minist�rio da Magia, dado o conhecido h�bito que Moody tem de atacar qualquer um que fa�a um movimento repentino em sua presen�a. Olho-Tonto, por�m, parece respons�vel e bondoso, em contraste com o indiv�duo meio humano que Dumbledore emprega para ensinar Trato das Criaturas M�gicas. R�beo Hagrid, que admite ter sido expulso de Hogwarts no terceiro ano, e desde ent�o exerce na escola a fun��o de guarda-ca�a, um emprego que Dumbledore lhe arranjou. No ano passado, no entanto, usou sua misteriosa influ�ncia sobre o diretor da escola para obter o cargo suplementar de professor de Trato das Criaturas M�gicas, preterindo muitos candidatos com melhores qualifica��es. Um homem assustadoramente grande e de ar feroz, Hagrid tem usado sua rec�m adquirida autoridade para aterrorizar os alunos ao tratar de uma cole��o de seres horripilantes. Enquanto Dumbledore faz vista grossa, Hagrid j� feriu v�rios alunos durante uma s�rie de aulas que muitos admitem "dar muito medo". �Eu j� fui atacado por um hipogrifo e meu amigo, Vicente Crabbe, levou uma dentada fria de um verme". Declarou Draco Malfoy, um aluno do quarto ano. �Todos odiamos Hagrid, mas temos receio demais para dizer qualquer coisa�. Mas Hagrid n�o tem a menor inten��o de desistir de sua campanha de intimida��o. Em conversa com a rep�rter do Profeta Di�rio, no m�s passado, ele admitiu que cria uns bichos a que chama de "explosivins" uma cruza extremamente perigosa de manticore com caranguejo-de-fogo. A cria��o de novas ra�as �, naturalmente, uma atividade em geral acompanhada de perto pelo Departamento para Regulamenta��o e Controle das Criaturas M�gicas. Hagrid, ao que parece, considera-se acima dessas restri��es pouco importantes. "Eu s� estava me divertindo um pouco". Disse ele, antes de mudar rapidamente de assunto. E como se isso n�o bastasse, o Profeta Di�rio agora encontrou provas de que Hagrid n�o � � como sempre fingiu ser � um bruxo puro-sangue. De fato, n�o � sequer um ser humano puro. Sua m�e, podemos revelar com exclusividade, n�o � outra sen�o a giganta Fridwulfa, cujo paradeiro � atualmente desconhecido. Sedentos de sangue e brutais, os gigantes chegaram � extin��o com as guerras que promoveram entre si no s�culo passado. Os poucos sobreviventes se alistaram nas fileiras d�Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado, e foram respons�veis por alguns dos piores massacres de trouxas durante o seu reino de terror. Embora muitos gigantes que serviram �quele-Que-N�oDeve-Ser-Nomeado tenham sido mortos por aurores que combatiam o partido das trevas, Fridwulfa n�o foi um deles. � poss�vel que tenha fugido para uma das comunidades de gigantes que ainda existem em montanhas no exterior. Mas se as extravag�ncias de Hagrid durante as aulas de Trato das Criaturas M�gicas puderem servir de medida, o filho de Fridwulfa parece ter herdado sua natureza brutal. Mas, bizarramente, dizem que Hagrid criou uma grande amizade pelo garoto que provocou a queda de Voc�-Sabe-Quem, e com isso obrigou a pr�pria m�e, bem como os demais seguidores do bruxo das trevas, a procurar um refugio. Talvez Harry Potter n�o tenha conhecimento da desagrad�vel verdade sobre seu grande amigo, mas n�o resta d�vida de que Alvo Dumbledore tem obriga��o de providenciar para que Harry Potter, bem como seus colegas, sejam informados dos perigos de se associarem com meios gigantes. Harry terminou a leitura e ergueu os olhos para Rony, cujo queixo estava ca�do. � Como foi que ela descobriu isso? � sussurrou ele. Mas n�o era isso que estava incomodando Harry. � Que foi que voc� quis dizer com "todos detestamos Hagrid"? � perguntou Harry irritado a Malfoy. � Que bobagem � essa de que esse cara a� � e indicou Crabbe � levou uma mordida feia de um verme? Eles nem t�m dentes! Crabbe dava risadinhas, aparentemente muito satisfeito consigo mesmo. � Bom, acho que isso deve encerrar a carreira desse caipir�o � disse Malfoy, os olhos brilhando. � Meio gigante... E eu pensando que ele engolira um frasco de Esquelesce quando era crian�a... Nenhum pai nem m�e v�o gostar nem um pouco dessa not�cia... V�o ficar preocupados que o gigante devore os filhinhos deles, ha, ha... � Seu... � Voc�s est�o prestando aten��o aqui na frente? A voz da Professora Grubbly-Plank chegou at� eles, as garotas agora estavam agrupadas em torno do unic�rnio, acariciando-o. Harry sentia tanta f�ria que o artigo do Profeta Di�rio tremia em sua m�o quando ele se virou maquinalmente para o unic�rnio, cujas muitas propriedades m�gicas a professora come�ava a enumerar em voz alta, para que os garotos pudessem ouvir tamb�m. � Espero que ela continue, essa mulher! � disse Parvati Patil quando terminaram e todos seguiram para o castelo para almo�ar. � A aula ficou mais parecida com o que eu imaginei que seria o Trato das Criaturas M�gicas... Criaturas normais como unic�rnios, n�o monstros... � E Hagrid? � perguntou Harry zangado, quando subiam as escadas. � Que � que tem ele? � perguntou Parvati, com a voz inflex�vel. � Ele pode continuar como guarda-ca�a, n�o pode? Parvati andava tratando Harry com frieza desde o baile. Ele sup�s que devia ter dado mais aten��o � garota, mas ela parecia ter se divertido mesmo assim. Com certeza estava contando a todo mundo que quisesse ouvir que combinara encontrar-se com o garoto de Beauxbatons em Hogsmeade no pr�ximo fim de semana seguinte. � Foi uma aula realmente boa � disse Hermione, quando eles entraram no Sal�o Principal. � Eu n�o sabia metade das coisas que a Professora Grubbly-Plank falou sobre os uni... � Olhe isso aqui! � rosnou Harry sacudindo o artigo do Profeta Di�rio no nariz de Hermione. O queixo de Hermione foi caindo � medida que lia. Sua rea��o foi exatamente a mesma que a de Rony. � Como foi que aquela Skeeter horrorosa descobriu isso? Voc� acha que Hagrid contou a ela? � N�o � respondeu Harry, se adiantando para a mesa da Grifin�ria, e se atirando numa cadeira, furioso. � Hagrid nunca disse isso nem � gente, n�o �? Acho que ela ficou t�o aborrecida porque ele n�o quis contar os meus podres, que saiu fu�ando para se vingar dele. � Talvez ela tenha escutado a conversa dele com Madame Maxime no baile � arriscou Hermione baixinho. � N�s a ter�amos visto nos jardins! � disse Rony. � Em todo o caso, ela n�o tem permiss�o para tornar a entrar na escola, Hagrid disse que Dumbledore a proibiu... � Talvez ela use uma Capa da Invisibilidade � disse Harry, servindo uma concha de ca�arola de frango em seu prato e derramando-a por todo o lado, tal era a sua raiva. � � o tipo de coisa que ela faria, n�o �, se esconder atr�s de moitas para escutar as conversas dos outros. � Como voc� e Rony fizeram? � perguntou Hermione. � N�o est�vamos querendo ouvir! � disse Rony indignado. � N�o tivemos op��o! O panaca come�ou a falar da m�e giganta num lugar em que todo mundo podia ouvir! � Temos que ir visitar Hagrid � disse Harry. � Hoje � noitinha, depois da aula de Adivinha��o. Dizer que o queremos de volta... Voc� quer ele de volta, n�o quer? � O garoto disparou a pergunta � Hermione. � Bem... N�o vou fingir que a mudan�a n�o foi legal, ter uma aula decente de Trato das Criaturas M�gicas para variar, mas eu quero que Hagrid volte, � claro que quero! � acrescentou Hermione depressa, fraquejando diante do olhar furioso de Harry. Ent�o, naquela noite, depois do jantar, os tr�s sa�ram do castelo, mais uma vez, e atravessaram os jardins congelados at� a cabana de Hagrid. Bateram e os latidos retumbantes de Canino responderam. � Hagrid, somos n�s! � gritou Harry, socando a porta. � Abra! N�o houve resposta. Os garotos ouviram Canino arranhar a porta, mas ela n�o se abriu. Bateram mais uns dez minutos, Rony at� bateu em uma das janelas, mas n�o houve resposta. � Para que � que ele est� evitando a gente? � perguntou Hermione quando finalmente desistiram e j� iam voltando para a escola. � Com certeza ele n�o acha que nos importamos que ele seja meio gigante? Mas pelo jeito Hagrid se importava. Os garotos n�o viram nem sinal dele a semana inteira. N�o apareceu � mesa dos professores na hora das refei��es, nem foi visto pela propriedade cuidando de suas tarefas de guarda-ca�a, e a Professora Grubbly-Plank continuou a dar as aulas de Trato das Criaturas M�gicas. Malfoy se gabava a cada oportunidade poss�vel. � Com saudades do seu amiguinho mesti�o? � ele n�o parava de murmurar para Harry sempre que havia um professor por perto, de modo a ficar a salvo de uma rea��o. � Com saudades do seu homem elefante? Houve uma visita a Hogsmeade na metade de janeiro. Hermione ficou muito surpresa que Harry pretendesse ir. � Pensei que voc� ia aproveitar a tranq�ilidade do sal�o comunal. Olha que voc� realmente precisa trabalhar naquele ovo. � Ah, eu... Eu acho que agora j� tenho uma boa id�ia do que se trata � mentiu Harry. � J� tem, �? � exclamou Hermione, parecendo impressionada. � Muito bem! As entranhas de Harry deram uma revirada de culpa, mas ele fingiu n�o ter sentido. Afinal ainda lhe restavam cinco semanas para descobrir a pista do ovo e isso era uma eternidade... E se ele fosse a Hogsmeade, talvez desse de cara com Hagrid e tivesse uma chance de convenc�-lo a voltar. No s�bado ele, Rony e Hermione deixaram o castelo, juntos, e atravessaram os jardins frios e �midos em dire��o aos port�es. Ao passar em pelo navio de Durmstrang ancorado no lago, viram V�tor Krum saindo para o conv�s, trajando apenas cal��es de banho. Ele era muito magro, mas bem mais forte do que parecia, porque trepou na amurada do navio, esticou os bra�os � frente e mergulhou direto no lago. � Ele � doido! � comentou Harry, observando a cabe�a escura de Krum reaparecer no meio do lago. � Deve estar congelando, estamos no meio de janeiro! � � muito mais frio no lugar de onde ele vem � disse Hermione. � Imagino que ele sinta at� um calorzinho aqui. � �, mas ainda tem a lula gigante � lembrou Rony. Sua voz n�o revelava ansiedade, se revelava alguma coisa, era esperan�a. Hermione reparou no tom de voz dele e franziu a testa. � Ele � realmente legal, sabe. N�o � nada do que se poderia pensar de algu�m que vem de Durmstrang. Ele me disse que gosta muito mais daqui. Rony n�o fez coment�rios. N�o mencionara V�tor Krum desde o baile, mas Harry encontrara a miniatura de um bra�o embaixo da cama do amigo, no dia seguinte ao Natal, que dava a impress�o de ter sido arrancado do modelinho com as vestes de Quadribol da Bulg�ria. Harry ficou de olhos muito atentos � procura de um sinal de Hagrid por todo o caminho at� a enlameada rua Principal e sugeriu uma visita ao Tr�s Vassouras depois de se certificar de que Hagrid n�o estava nas outras lojas. O bar estava apinhado como sempre, mas uma olhada r�pida pelas mesas informou a Harry que Hagrid n�o se encontrava ali. Desanimado, dirigiu-se ao balc�o com Rony e Hermione, pediu � Madame Rosmerta tr�s cervejas amanteigadas e pensou, deprimido, que afinal teria feito melhor se tivesse ficado na escola escutando o lamento do ovo. � Ser� que ele nunca vai ao escrit�rio? � cochichou Hermione de repente. � Olha l�! Ela apontou para o espelho atr�s do bar e Harry viu, refletido ali, Ludo Bagman, sentado em um canto mais escuro com um grupo de duendes. O bruxo falava muito r�pido, e em voz baixa, com os duendes, que tinham os bra�os cruzados e uma express�o assustadora no rosto. Era realmente estranho, pensou Harry, que Bagman estivesse ali no Tr�s Vassouras, num fim de semana, quando n�o havia nenhum evento do torneio, e, portanto, nenhuma atividade do seu j�ri. Ele observou o bruxo pelo espelho. Bagman parecia tenso, t�o tenso quanto naquela noite na floresta antes da Marca Negra aparecer. Mas neste momento Bagman olhou para o bar, viu Harry e se levantou. � Um momento, um momento! � Harry o ouviu dizer bruscamente para os duendes e atravessar o bar em dire��o a ele, o sorriso juvenil de sempre no rosto. � Harry! � exclamou ele. � Como vai? Tinha esperan�a de encontr�-lo! Est� tudo correndo bem? � �timo, obrigado! � Ser� que eu podia dar uma palavrinha r�pida com voc�, em particular? � disse ele pressuroso. � Voc�s poderiam nos dar licen�a um momento, por favor? � Hum... OK � concordou Rony, e ele e Hermione sa�ram � procura de uma mesa. Bagman levou Harry para o canto mais afastado do bar de Madame Rosmerta. � Bom, achei que gostaria de cumpriment�-lo outra vez por seu espl�ndido desempenho contra o Rabo-C�rneo, Harry � disse Bagman. � Foi realmente soberbo! � Obrigado � disse o garoto, mas sabia que n�o devia ser s� isso que Bagman queria dizer, porque poderia ter dado os parab�ns diante de Rony e Hermione. Mas o bruxo parecia n�o ter pressa alguma de dizer o que era. Harry o viu olhar para o espelho do bar na dire��o dos duendes que os observavam em sil�ncio, com aqueles olhos escuros e puxados. � Absoluto pesadelo � disse Bagman a Harry entre dentes, reparando que Harry tamb�m observava os duendes. � O ingl�s deles n�o � muito bom... Parece at� que estou de volta � Copa Mundial de Quadribol com todos aqueles b�lgaros... Mas pelo menos eles usavam gestos que todo ser humano era capaz de reconhecer. Essa turma fica algaraviando em grugul�s... E s� conhe�o uma palavra de grugul�s. Bladvak. Significa "picareta". N�o gosto de us�-la para eles n�o pensarem que estou amea�ando-os. � E soltou uma gargalhada breve, mais retumbante. � Que � que eles querem? � perguntou Harry, notando que os duendes continuavam a observar Bagman com muita aten��o. � Hum... Bem... � disse Bagman, parecendo subitamente nervoso. � Eles... Hum... Est�o procurando Bart� Crouch. � Por que � que est�o procurando por ele aqui? � perguntou Harry. � Ele n�o est� no Minist�rio em Londres? � Hum... Para falar a verdade, n�o fa�o a menor id�ia de onde esteja. Vamos dizer que tenha parado de comparecer ao trabalho. J� est� ausente h� umas duas semanas. O jovem Percy, assistente dele, diz que ele est� doente. Aparentemente tem enviado instru��es via coruja. Mas se importa de n�o comentar isso com ningu�m, Harry? Porque a Rita Skeeter continua bisbilhotando por todo lado que pode e eu seria capaz de apostar que ela poderia transformar a doen�a de Bart� em algo sinistro. Provavelmente dizer que ele est� desaparecido como Berta Jorkins. � O senhor teve not�cias da Berta Jorkins? � perguntou Harry. � N�o � respondeu Bagman, parecendo outra vez tenso. � Tenho gente procurando, � claro... � (J� n�o era sem tempo, pensou Harry) � e � tudo muito estranho. Sem a menor d�vida chegou � Alb�nia, porque se encontrou l� com uma prima em segundo grau. Depois deixou a casa da prima dizendo que ia ao sul visitar uma tia... E parece ter desaparecido no caminho, sem deixar vest�gios. O diabo � quem sabe onde ela pode ter se metido... N�o parece ser do tipo que foge para casar, por exemplo... Contudo... Mas por que � que estamos falando de duendes e de Berta Jorkins? O que eu realmente queria perguntar a voc� e... � e aqui ele baixou a voz � como � que voc� vai indo com o ovo de ouro? � Hum... Nada mal � disse Harry ocultando a verdade. Bagman pareceu perceber que o garoto n�o estava sendo honesto. � Escute, Harry � disse ele (ainda em voz muito baixa). � Eu me sinto muito mal a respeito dessa coisa toda... Voc� foi empurrado para o torneio, voc� n�o se voluntariou... E se � (aqui sua voz ficou t�o baixa que Harry precisou chegar mais perto para escutar) � ... Se tiver alguma coisa que eu possa fazer... Um empurr�ozinho na dire��o certa... Acabei me afei�oando a voc�... O jeito com que voc� passou pelo drag�o!... Bem, � s� dizer. Harry olhou para o rosto rosado e redondo, e para os grandes olhos azul-celeste de Bagman. � Devemos decifrar as pistas sozinhos, n�o �? � disse ele, tomando cuidado para manter a voz displicente e n�o parecer que estava acusando o chefe do Departamento de Jogos e Esportes M�gicos de infringir o regulamento. � Bem... Bem, � verdade � disse Bagman impaciente �, mas... Vamos, Harry, todos queremos a vit�ria de Hogwarts, n�o � mesmo? � O senhor ofereceu ajuda a Cedrico? � perguntou Harry. A mais leve das rugas vincou o rosto liso de Bagman. � N�o, n�o ofereci. Eu... Bem, como disse, me afei�oei a voc�. Por isso pensei em oferecer... � Bem, obrigado � disse Harry �, mas acho que estou quase chegando l�... Mais uns dois dias e resolvo o problema do ovo. Ele n�o tinha muita certeza da raz�o pela qual estava recusando a ajuda de Bagman, exceto que o bruxo era quase um estranho para ele, e aceitar sua ajuda lhe parecia muito mais desonesto do que pedir conselhos a Rony, Hermione ou Sirius. Bagman pareceu quase afrontado, mas n�o p�de dizer muito mais, porque Fred e Jorge apareceram naquele momento. � Ol�, Sr. Bagman � disse Fred animado. � Podemos lhe oferecer uma bebida? � Hum... N�o � disse Bagman, com um �ltimo olhar desapontado para Harry �, n�o, muito obrigado, garotos... Fred e Jorge pareciam quase t�o desapontados quanto Bagman, que mirava Harry como se o garoto o tivesse deixado na m�o. � Bem, preciso correr � disse ele. � Foi bom ver voc�s. Boa sorte, Harry. E saiu apressado do bar. Os duendes deslizaram para fora das cadeiras e sa�ram atr�s de Bagman. Harry foi se reunir a Rony e Hermione. � Que � que ele queria? � perguntou Rony, no instante em que Harry se sentou. � Ele se ofereceu para me ajudar com o ovo de ouro. � Ele n�o devia estar fazendo isso! � exclamou Hermione, parecendo muito chocada. � Ele � um dos juizes! E em todo o caso, voc� j� decifrou sozinho, n�o foi? � Hum... Quase. � Bem, eu acho que Dumbledore n�o gostaria de saber que Bagman andou tentando convencer voc� a ser desonesto! � disse Hermione ainda com uma express�o de profunda reprova��o. � Espero que ele esteja tentando ajudar Cedrico tamb�m! � N�o, n�o est�. Eu perguntei a ele � informou Harry. � Quem � que se importa se Cedrico est� recebendo ajuda? � disse Rony. Harry, intimamente, concordou. � Aqueles duendes n�o pareciam muito simp�ticos � comentou Hermione, bebericando a cerveja amanteigada. � Que � que eles estavam fazendo aqui? � Procurando Crouch, segundo informou Bagman. Ele continua doente. N�o tem ido trabalhar. � Quem sabe Percy est� envenenando ele? � sugeriu Rony. � Provavelmente acha que se Crouch apagar ele vai ser nomeado chefe do Departamento de Coopera��o Internacional em Magia. Hermione lan�ou a Rony um olhar do tipo n�o-brinque-com-essas-coisas e comentou: � Engra�ado, duendes procurando o Sr. Crouch... Eles normalmente se dirigem ao Departamento para Regulamenta��o e Controle das Criaturas M�gicas. � Mas Crouch sabe falar um monte de l�nguas diferentes � lembrou Harry. � Talvez eles precisem de um int�rprete. � Agora est� se preocupando com os coitadinhos dos duendes, �? � perguntou Rony a Hermione. � Est� pensando em lan�ar um S.P.D.F. ou outra coisa do g�nero? Uma Sociedade Protetora dos Duendes Feios? � Ha, ha, ha � exclamou Hermione sarcasticamente. � Duendes n�o precisam de prote��o. Voc� n�o tem prestado aten��o ao que o Professor Binns vem nos contando sobre as revoltas dos duendes? � N�o � disseram Harry e Rony juntos. � Pois �, eles t�m plena capacidade de enfrentar os bruxos � disse Hermione, tomando mais um golinho de cerveja amanteigada. � Eles s�o muito inteligentes. N�o s�o como os elfos dom�sticos, que nunca se unem para se defender. � Ah � exclamou Rony, com os olhos fixos na porta. Rita Skeeter acabara de entrar. Estava usando vestes amarelo banana, tinha as unhas longas pintadas de rosa-choque e vinha acompanhada do seu fot�grafo barrigudo. Ela comprou bebidas, e os dois abriam caminho entre as pessoas e as mesas at� uma mesa pr�xima. Harry, Rony e Hermione amarraram a cara para ela ao verem que estava se aproximando. Ela falava depressa e parecia muito satisfeita com alguma coisa. � ... N�o parecia muito interessado em falar com a gente, voc� tamb�m n�o acha, Bozo? E por que voc� acha que n�o estava? E o que � que ele estava fazendo com uma matilha de duendes na cola? Mostrando os pontos pitorescos do povoado... Que absurdo... Ele sempre foi um mau mentiroso. Voc� acha que ele est� escondendo alguma coisa? Acha que dev�amos fu�ar um pouco? Ludo Bagman, o desacreditado ex-Chefe dos Esportes M�gicos... � uma boa abertura, Bozo, agora s� precisamos encontrar uma hist�ria para us�-la... � Tentando estragar a vida de mais algu�m? � perguntou Harry em voz alta. Algumas pessoas viraram a cabe�a. Os olhos de Rita mal se arregalaram por tr�s dos �culos de pedrinhas quando viu quem falara. � Harry! � exclamou ela sorridente. � Que �timo? Por que voc� n�o vem se sentar conosco...? � Eu n�o chegaria perto da senhora nem com uma vassoura de tr�s metros � disse Harry furioso. � Por que a senhora fez aquilo com o Hagrid, hein? Rita Skeeter ergueu as sobrancelhas acentuadas com l�pis grosso. � Os nossos leitores t�m o direito de saber a verdade, Harry estou meramente fazendo o meu... � Quem se importa que ele seja meio gigante? � gritou Harry. � N�o h� nada errado com ele! O bar inteiro ficou em sil�ncio. Madame Rosmerta acompanhava de olhar fixo por tr�s do balc�o, aparentemente esquecida de que a garrafa que estava enchendo de quent�o come�ara a transbordar. O sorriso de Rita Skeeter estremeceu levemente, mas ela o firmou quase no mesmo instante, abriu a bolsa de crocodilo com um estalido, tirou a pena-de-repeti��o-r�pida e disse: � Que tal me dar uma entrevista sobre o Hagrid que voc� conhece, Harry? O homem por tr�s dos m�sculos? A improv�vel amizade que tem por ele e as raz�es para t�-la? Voc� o chamaria de um pai substituto? Hermione se levantou abruptamente, a cerveja amanteigada apertada na m�o como se fosse uma granada. � Sua mulher horrorosa � disse ela, entre dentes �, a senhora n�o se importa, n�o �, qualquer coisa vira artigo, e qualquer pessoa serve, n�o �? At� Ludo Bagman... � Sente-se, menininha boba e n�o fale do que n�o entende � disse Rita Skeeter com frieza, seu olhar endurecendo ao pousar em Hermione. � Sei de coisas sobre Ludo Bagman que deixariam voc� de cabelos em p�... N�o que eles precisem de ajuda � acrescentou, mirando os cabelos lanzudos de Hermione. � Vamos embora � disse Hermione. � Anda, Harry, Rony... Os garotos sa�ram, muita gente ficou olhando para eles enquanto se retiravam. Harry virou a cabe�a ao alcan�ar a porta. A pena-de-repeti��o-r�pida estava em posi��o, corria para frente e para tr�s no peda�o de pergaminho sobre a mesa. � Voc� vai ser a pr�xima que ela vai perseguir, Mione � disse Rony, numa voz baixa e preocupada quando tornavam a subir a rua. � Ela que experimente! � disse a garota com voz aguda, tremia de raiva. � Vou mostrar a ela! Menininha boba �? Ah, vai ter troco, primeiro Harry, agora o Hagrid... � Voc� n�o vai querer se indispor com a Rita Skeeter � disse Rony nervoso. � Estou falando s�rio, Mione, ela vai desenterrar alguma coisa sobre voc�... � Meus pais n�o l�em o Profeta Di�rio, ela n�o pode me apavorar e me fazer esconder! � disse Hermione, agora caminhando t�o depressa que Harry e Rony mal conseguiam acompanh�-la. A �ltima vez que Harry vira Hermione com tanta raiva assim, ela metera a m�o na cara de Draco Malfoy. � E Hagrid n�o vai se esconder mais! Ele nunca deveria ter deixado aquela imita��o de ser humano o perturbar! Andem! Desatando a correr, ela levou os garotos de volta � estrada, cruzou os port�es ladeados por javalis alados e atravessou os jardins at� a cabana de Hagrid. As cortinas ainda estavam corridas, mas eles ouviram os latidos de Canino quando se aproximaram. � Hagrid! � chamou Hermione, batendo com for�a na porta da frente. � Hagrid, pode parar com isso! Sabemos que voc� est� a� dentro! Ningu�m liga a m�nima se sua m�e era uma giganta, Hagrid! Voc� n�o pode deixar aquela Skeeter nojenta fazer isso com voc�! Hagrid, vem aqui fora, voc� est� sendo... A porta se abriu. Hermione disse: � J� n�o era...! � e se calou, de repente porque se viu cara a cara, n�o com Hagrid, mas com Alvo Dumbledore. � Boa-tarde � disse ele agradavelmente, sorrindo para os garotos. � N�s... Hum... N�s gostar�amos de ver o Hagrid � disse Hermione baixinho. � Claro, imaginei isso � disse Dumbledore, os olhos cintilando. � Por que n�o entram? � Ah... Hum... OK.. Ela, Rony e Harry entraram na cabana. Canino se atirou sobre Harry no instante em que o garoto entrou, latindo feito louco e tentando lamber as orelhas dele. Harry afastou Canino e olhou � volta. Hagrid estava sentado � mesa, onde havia duas canecas de ch�. Estava pavoroso. O rosto manchado, os olhos inchados e tinha passado ao outro extremo em termos de cabelos, em lugar de tentar amans�-los, deixara-os agora parecidos com uma peruca de arame embara�ado. � Oi, Hagrid � disse Harry. Hagrid ergueu os olhos. � Al� � disse ele, com a voz rouca. � Mais ch�, acho � disse Dumbledore, que fechou a porta depois que Harry, Rony e Hermione entraram, puxou a varinha e girou-a, apareceu no ar uma bandeja girat�ria de ch� acompanhado por um prato de bolos. Ainda por magia, Dumbledore levou a bandeja at� a mesa e todos se sentaram. Houve uma ligeira pausa e ent�o o diretor disse: � Voc� por acaso ouviu o que a Srta. Granger estava gritando, Hagrid?� Hermione corou ligeiramente, mas Dumbledore sorriu para ela e continuou. � Hermione, Harry e Rony parecem que ainda querem continuar a conhecer voc�, a julgar pela maneira com que tentavam derrubar a porta. � Claro que ainda queremos conhecer voc�! � exclamou Harry fitando Hagrid. � Voc� n�o acha que alguma coisa que aquela vaca da Skeeter... Desculpe professor � acrescentou ele depressa, olhando para Dumbledore. � Fiquei temporariamente surdo e n�o fa�o id�ia do que foi que voc� disse, Harry � disse Dumbledore, girando os polegares e olhando para o teto. � Hum... Certo � disse Harry envergonhado. � Eu s� quis dizer, Hagrid, como � que voc� p�de pensar que ligar�amos para o que aquela "mulher" escreveu sobre voc�? Duas grossas l�grimas saltaram dos olhos de Hagrid, negros como besouros, e ca�ram lentamente sobre sua barba desgrenhada. � A prova viva do que estive lhe dizendo, Hagrid � disse Dumbledore, ainda contemplando atentamente o teto. � J� lhe mostrei as cartas dos in�meros pais que se lembram de voc� do tempo em que estiveram aqui, dizendo em termos bastante claros que se eu o despedisse eles n�o iriam ficar calados... � Nem todos � disse Hagrid rouco. � Nem todos querem que eu fique... � Francamente, Hagrid, se voc� est� esperando obter aprova��o universal, receio que v� ficar trancado na cabana muito tempo � disse o diretor, agora olhando severamente por cima dos oclinhos de meia-lua. � Ainda n�o houve uma semana, desde que me tornei diretor desta escola, em que eu n�o recebesse ao menos uma coruja reclamando da maneira com que eu a dirijo. Mas o que � que eu deveria fazer? Me entrincheirar no escrit�rio e me recusar a falar com as pessoas? � Mas... Mas o senhor n�o � meio gigante! � crocitou Hagrid. � Hagrid, olha s� quem s�o os meus parentes! � disse Harry furioso. � Olha s� os Dursley! � Muito bem lembrado! � disse o diretor. � Meu pr�prio irm�o, Aberforth, foi acusado de praticar feiti�os impr�prios em um bode. Apareceu em todos os jornais, mas ele se escondeu? N�o, n�o se escondeu! Manteve a cabe�a erguida e continuou a trabalhar como sempre! Naturalmente, n�o tenho muita certeza de que ele saiba ler, por isso talvez n�o tenha tido tanta coragem assim... � Volte a ensinar, Hagrid � disse Hermione em voz baixa �, por favor, volte, n�s realmente sentimos sua falta. Hagrid engoliu em seco. Mais l�grimas escorreram por suas bochechas e penetraram a barba embara�ada. Dumbledore se levantou. � Eu me recuso a aceitar o seu pedido de demiss�o, Hagrid, e espero que esteja de volta ao trabalho na segunda-feira � disse ele. � Voc� tomar� caf� em minha companhia �s oito e meia no Sal�o Principal. Nada de desculpas. Boa-tarde para todos voc�s. Dumbledore se retirou da cabana, parando apenas para dar uma co�ada atr�s da orelha de Canino. Quando a porta se fechou atr�s dele, Hagrid come�ou a solu�ar com o rosto nas m�os do tamanho de uma tampa de lata de lixo. Hermione deu palmadinhas em seu bra�o e finalmente Hagrid ergueu a cabe�a, os olhos de fato muito vermelhos e disse: � Um grande homem o Dumbledore... � Grande homem... � concordou Rony. � Posso comer um desses bolos, Hagrid? � Sirva-se � disse ele, enxugando os olhos nas costas da m�o. � Arre, ele tem raz�o, � claro, voc�s t�m raz�o... Tenho sido idiota... Meu velho pai teria se envergonhado do meu comportamento nesses �ltimos dias... � Mais l�grimas escorreram, mas ele as enxugou com mais firmeza e continuou: � Nunca mostrei a voc�s uma foto do meu velho pai, n�o �? Olhem... Hagrid se levantou, foi at� a c�moda, abriu a gaveta e tirou uma foto de um bruxo baixinho com os mesmos olhos negros rodeados de rugas do filho, sentado sorridente no ombro dele. Hagrid tinha bem uns dois metros mais do que o pai, a julgar pela macieira ao lado deles, mas seu rosto era imberbe, jovem, redondo e liso � parecia n�o ter mais que uns onze anos de idade. � Foi tirada logo depois que vim para Hogwarts � disse Hagrid rouco. � Papai morreu muito feliz... Achava que eu talvez n�o fosse bruxo, entende, porque mam�e.... Bem, em todo o caso... Claro que, sinceramente, nunca fui grande coisa em magia... Mas pelo menos ele n�o me viu ser expulso. Morreu, entende, eu estava no segundo ano... Dumbledore foi quem me apoiou depois que meu pai morreu. Me arranjou o lugar de guarda ca�a... Confia nas pessoas, ele. D� uma segunda oportunidade... � isso que diferencia ele de outros diretores, entendem. Aceita qualquer pessoa em Hogwarts, que tenha talento. Sabe que as pessoas podem ser legais mesmo que as fam�lias delas n�o tenham sido... Bem... T�o respeit�veis assim. Mas tem gente que n�o entende isso. Tem gente que sempre usa a fam�lia contra a pessoa... Tem at� gente que finge que tem ossos grandes em lugar de se levantar e dizer "eu sou o que sou e n�o me envergonho disso". "Nunca se envergonhe", meu velho pai costumava dizer, "tem gente que vai usar isso contra voc�, mas n�o vale a pena se preocupar com eles." E ele tinha raz�o. Fui um idiota. N�o vou me incomodar mais com ela, prometo a voc�s. Ossos gra�dos, eu vou mostrar a ela os ossos gra�dos. Harry, Rony e Hermione se entreolharam nervosos, Harry preferia levar cinq�enta explosivins para passear do que admitir para Hagrid que entreouvira a conversa dele com Madame Maxime, mas Hagrid continuava falando, aparentemente inconsciente de que tivesse dito alguma coisa estranha. � Sabe de uma coisa, Harry? � disse ele tirando os olhos da foto do pai, os olhos muito brilhantes. � Quando o conheci, voc� me lembrou um pouco de mim. M�e e pai desaparecidos e voc� sentindo que n�o ia se adaptar a Hogwarts, lembra? N�o tinha muita certeza de que estava � altura... E agora, olha s� voc�, Harry! Campe�o da escola! Ele fitou o garoto um instante e ent�o disse, muito s�rio: � Sabe o que eu adoraria, Harry? Eu adoraria ver voc� vencer, realmente adoraria. Voc� iria mostrar a eles todos... N�o � preciso ser puro-sangue para fazer isso. Voc� n�o tem que se envergonhar do que �. Mostraria a eles que Dumbledore � quem tem raz�o quando deixa qualquer um entrar desde que seja capaz de fazer m�gica. Como � que voc� est� indo com aquele ovo, Harry? � �timo � disse Harry. � Realmente �timo. O rosto infeliz de Hagrid se abriu num grande sorriso lacrimoso. � O meu garoto... Mostre a eles, Harry, mostre a eles. Derrote eles todos. Mentir para Hagrid n�o era bem o mesmo que mentir para outras pessoas. Harry voltou para o castelo mais no finzinho da tarde com Rony e Hermione, sem ter coragem de varrer a express�o de felicidade do rosto barbudo de Hagrid ao imagin�-lo vencendo o torneio. O ovo incompreens�vel pesou mais que nunca na consci�ncia de Harry naquela noite, e quando finalmente se deitou j� tomara uma decis�o � estava na hora de guardar o orgulho na prateleira e ver se a dica de Cedrico valia alguma coisa. CAP�TULO VINTE E CINCO O Ovo e o Olho Uma vez que Harry n�o fazia id�ia de quanto tempo deveria gastar no banho para decifrar o segredo do ovo de ouro, ele resolveu tom�-lo � noite, quando poderia demorar o quanto quisesse. Embora relutasse em aceitar mais favores de Cedrico, ele resolveu tamb�m usar o banheiro dos monitores-chefe, muito menos gente tinha permiss�o de entrar l�, por isso era muito menos prov�vel que ele fosse incomodado. Harry planejou sua excurs�o cuidadosamente, porque j� fora uma vez apanhado por Filch, o zelador, no meio da noite, fora da cama e dos limites estabelecidos, e n�o tinha vontade de repetir a experi�ncia. A Capa da Invisibilidade seria, naturalmente, essencial, e como precau��o extra, Harry pensou em levar o Mapa do Maroto, que, depois da capa era o recurso mais �til para infringir regulamentos que Harry possu�a. O mapa mostrava toda a propriedade de Hogwarts, inclusive seus muitos atalhos e passagens secretas e, o que era mais importante, mostrava as pessoas no interior do castelo como min�sculos pontinhos identificados por legendas que se deslocavam pelos corredores, de modo que Harry seria alertado se algu�m se aproximasse do banheiro. Na noite de quinta-feira, ele subiu discretamente ao dormit�rio, vestiu a capa, voltou � sala, e, exatamente como fizera na noite em que Hagrid lhe mostrara os drag�es, esperou que o buraco do retrato se abrisse. Desta vez foi Rony quem esperou do lado de fora para dar a senha � Mulher Gorda (Past�is de Banana). � Boa sorte � murmurou Rony, entrando pelo buraco comunal na mesma hora em que Harry sa�a. Estava inc�modo andar coberto pela capa hoje, porque Harry levava debaixo de um bra�o o ovo de ouro e, com o outro, segurava o mapa diante do nariz. No entanto, os corredores banhados de luar estavam desertos e silenciosos, e, consultando o mapa a intervalos estrat�gicos, Harry p�de ter certeza de n�o encontrar ningu�m que quisesse evitar. Quando chegou � est�tua de Bons, o Pasmo, um bruxo com cara de desorientado com as luvas nas m�os trocadas, ele localizou a porta certa, encostou-se nela e murmurou a senha Frescor de Pinho, conforme Cedrico o instru�ra. A porta se abriu com um rangido. Harry entrou, trancou-a ao passar e despiu a Capa da Invisibilidade, olhando ao redor. Sua rea��o imediata foi que valia a pena ser monitor-chefe s� para poder usar aquele banheiro. Tinha uma ilumina��o suave fornecida por um espl�ndido lustre de muitas velas e tudo era feito de m�rmore branco, inclusive o que parecia ser uma piscina retangular e vazia rebaixada no meio do piso. Tinha umas cem torneiras de ouro em volta da borda, cada uma com uma pedra preciosa de cor diferente engastada na parte superior. Havia tamb�m um trampolim. Longas cortinas de linho protegiam as janelas, havia uma montanha de toalhas brancas e macias a um canto e um �nico quadro com moldura de ouro na parede. Era uma sereia loura, profundamente adormecida sobre um rochedo, cujos longos cabelos esvoa�avam sobre o rosto toda vez que ela ressonava. Harry p�s a capa, o ovo e o mapa de lado e avan�ou, olhando para os lados, seus passos ecoando nas paredes. Por mais magn�fico que o banheiro fosse � e por mais desejoso que estivesse de experimentar algumas daquelas torneiras �, agora que estava ali, ele n�o p�de reprimir de todo a sensa��o de que Cedrico podia estar gozando a cara dele. Como � que aquilo poderia ajud�-lo a resolver o mist�rio do ovo? Mesmo assim, ele deixou uma das toalhas macias, a capa, o mapa e o ovo a um lado da banheira � que mais parecia uma piscina �, depois se ajoelhou e abriu algumas torneiras. Percebeu imediatamente que havia diferentes tipos de espuma de banho misturados � �gua, embora n�o fosse um banho de espuma que Harry j� tivesse experimentado. Uma torneira jorrava bolhas rosas e azuis do tamanho de bolas de futebol, outra, uma espuma branca gelada t�o densa que Harry achou que poderia sustentar seu peso se ele a quisesse experimentar, uma terceira despejava nuvens perfumad�ssimas na superf�cie da �gua. Harry divertiu-se durante algum tempo abrindo e fechando torneiras, curtindo particularmente o efeito de uma, cujo jorro ricocheteava na superf�cie da �gua e subia em grandes arcos. Ent�o, quando a piscina funda se encheu de �gua, espuma e bolhas (que considerando seu tamanho duravam pouqu�ssimo tempo), Harry fechou todas as torneiras, despiu o pijama, os chinelos e o roup�o e entrou na �gua. Era t�o funda que seus p�s mal tocavam o piso, e ele chegou a nadar duas vezes o comprimento da piscina antes de voltar � borda, pingando �gua, e examinar atentamente o ovo. Por mais prazeroso que fosse nadar na �gua quente e espumosa com nuvens de vapor de cores variadas fumegando a toda volta, nenhuma intui��o genial lhe ocorreu, nenhum s�bito clar�o de compreens�o. Harry esticou os bra�os, ergueu o ovo nas m�os molhadas e abriu-o. O som agudo do choro encheu o banheiro, ecoou, ressoou no m�rmore, mas continuou a lhe parecer t�o incompreens�vel quanto antes, se n�o at� mais incompreens�vel com todos os ecos que produzia. Ele tornou a fech�-lo com um estalido, preocupado que o som pudesse atrair Filch, se perguntando se aquilo n�o teria sido o que Cedrico planejara � e ent�o, algu�m falou, dando-lhe um susto t�o grande que ele deixou cair o ovo que saiu quicando pelo ch�o do banheiro. � Eu tentaria coloc�-lo dentro da �gua, se fosse voc�. Harry engoliu uma quantidade consider�vel de bolhas com o choque. Ficou em p�, cuspindo �gua, e viu o fantasma de uma garota de aspecto muito tristonho sentado de pernas cruzadas em cima de uma das torneiras. Era a Murta Que Geme, cujos solu�os em geral eram ouvidos na tubula��o de um vaso sanit�rio em um banheiro tr�s andares abaixo. � Murta! � exclamou Harry indignado. � Eu... Eu n�o estou usando nada! A espuma era t�o densa que isso n�o fazia a menor diferen�a, mas ele teve a sensa��o desagrad�vel de que a Murta o estivera espionando de uma das torneiras desde que ele chegara. � Fechei os olhos quando voc� entrou � disse ela, pestanejando para ele por tr�s dos grossos �culos. � Faz s�culos que voc� n�o vai me ver. � T�... Bem... � disse Harry, dobrando ligeiramente os joelhos, s� para ter certeza absoluta de que Murta n�o pudesse ver nada al�m da sua cabe�a. � N�o posso ficar entrando no seu banheiro, n�o �? � de garotas. � Voc� n�o costumava se importar � respondeu a Murta, infeliz. � Voc� costumava passar um temp�o l�. Era verdade, mas apenas porque ele, Rony e Hermione tinham descoberto que o banheiro interditado da Murta era um lugar conveniente para preparar em segredo a Po��o Polissuco � uma po��o proibida que transformara Harry e Rony em r�plicas vivas de Crabbe e Goyle durante uma hora, para que eles pudessem entrar escondidos na sala comunal da Sonserina. � Fui repreendido por entrar l� � disse Harry, o que era uma meia verdade, certa vez Percy o apanhara saindo do banheiro da Murta. � Depois disso, achei melhor n�o voltar. � Ah... Entendo... � disse a Murta, cutucando uma pinta no queixo de um jeito tristonho. � Bom... Em todo o caso... Eu experimentaria p�r o ovo na �gua. Foi o que Cedrico Diggory fez. � Voc� andou espionando ele tamb�m? � indignou-se Harry. � Que � que voc� faz, entra aqui � noite para ver os monitores tomarem banho? � �s vezes � disse a Murta com um ar sonso �, mas nunca apareci para falar com ningu�m antes. � Que grande honra � disse Harry aborrecido. � Fica de olhos fechados! Ele verificou se Murta tampara bem os �culos antes de se i�ar para fora do banho, enrolando bem a toalha no corpo e indo apanhar o ovo. Depois que ele entrou de novo na �gua, a Murta espiou entre os dedos e disse: � Anda, ent�o... Abre ele debaixo da �gua! Harry mergulhou o ovo sob a superf�cie espumosa e abriu-o... E desta vez, n�o ouviu nenhum grito. Sa�a dele um som gorgolejante, uma m�sica cujas palavras ele n�o conseguia distinguir atrav�s da �gua. � Voc� precisa mergulhar a cabe�a tamb�m � disse a Murta, que parecia estar adorando a id�ia de dar ordens ao garoto. � Anda! Harry tomou f�lego e escorregou para dentro da �gua � e agora, sentado no fundo da banheira de m�rmore cheia de espuma, ouviu um coro inquietante de vozes que cantavam para ele e que vinham do ovo em suas m�os: Procure onde nossas vozes parecem estar, N�o podemos cantar na superf�cie, E enquanto nos procura, pense bem: Levamos o que lhe far� muita falta, Uma hora inteira voc� dever� buscar, Para recuperar o que lhe tiramos, Mas passada a hora � adeus esperan�a de achar. Tarde demais, foi-se, ele jamais voltar�. Harry soltou o corpo e emergiu � superf�cie espumosa, sacudindo os cabelos para longe dos olhos. � Ouviu? � perguntou a Murta. � Ouvi... "Procure onde nossas vozes parecem estar..." � Ag�enta a�, preciso ouvir de novo... � Ele voltou a afundar na �gua. Foi preciso ouvir a m�sica do ovo mais tr�s vezes para decor�-la, depois Harry caminhou um pouco dentro da piscina, concentrando o pensamento, enquanto a Murta continuava sentada a observ�-lo. � Preciso procurar pessoas que n�o podem usar a voz na superf�cie... � disse o garoto lentamente. � Hum... Quem poderia ser? � Voc� � meio devagar, n�o � n�o? Harry nunca vira a Murta t�o animada, a n�o ser no dia em que a dose da Po��o Polissuco de Hermione deixara a garota com a cara coberta de p�los e um rabo de gato. Harry deixou seu olhar vagar pelo banheiro, refletindo... Se as vozes s� podiam ser ouvidas embaixo da �gua, ent�o fazia sentido que pertencessem a criaturas sub-aqu�ticas. Ele passou essa teoria para Murta que riu dele. � Bem, isso foi o que o Diggory pensou. Ficou deitado a� falando sozinho um temp�o. E p�e temp�o nisso... Quase at� a espuma toda desaparecer... � Sub-aqu�ticas... � disse Harry lentamente. � Murta... Quem mais mora no lago, al�m da lula gigante? � Ah, todo o tipo de coisa. �s vezes eu vou at� l�... �s vezes n�o tenho escolha, quando algu�m puxa a descarga do meu vaso sem eu estar esperando... Fazendo for�a para n�o pensar na Murta Que Geme descendo veloz por um cano at� o lago, misturada ao conte�do de um vaso, Harry falou: � Bem, alguma coisa l� tem voz humana? Calma a�... Os olhos de Harry tinham pousado sobre o quadro da sereia sonolenta na parede. � Murta, tem sereias l�? � Aaah, muito bem � disse ela, com os grossos �culos cintilando. � Diggory levou muito mais tempo para sacar! E olha que ela estava acordada � a Murta acenou com a cabe�a em dire��o � sereia, com uma express�o de grande desagrado no rosto tristonho � dando risadinhas, se exibindo e fazendo cintilar as barbatanas... � � isso ent�o, n�o �? � perguntou Harry excitado. � A segunda tarefa � ir procurar as sereias no lago e... E... Mas ele subitamente percebeu o que estava dizendo e sentiu a excita��o se esvair como se algu�m tivesse acabado de puxar uma tomada de sua barriga. Ele n�o era bom nadador; nunca pudera praticar muito. Duda recebera aulas quando os dois eram menores, mas tia Pet�nia e tio V�lter, sem d�vida na esperan�a de que Harry um dia se afogasse, n�o tinham se incomodado de lhe ensinar. Nadar duas vezes essa banheira n�o era problema, mas aquele lago era muito grande e muito fundo... E as sereias com certeza viviam l� em baixo... � Murta � perguntou Harry, lentamente �, como � que eu vou respirar? Ao ouvir isso, os olhos da Murta se encheram de l�grimas inesperadas. � Que falta de tato! � resmungou ela, procurando um len�o nas vestes. � Que � que � falta de tato? � perguntou Harry espantado. � Falar de respirar na minha frente! � disse ela com uma voz aguda que ecoou muito alta pelo banheiro. � Quando eu n�o posso... Quando eu n�o respiro... H� s�culos... � Ela escondeu o rosto no len�o e fungou alto. Harry se lembrou como a Murta sempre fora sens�vel com essa quest�o de estar morta, mas nenhum dos outros fantasmas que ele conhecia criava caso por isso. � Desculpe � disse com impaci�ncia. � Eu n�o quis... Me esqueci... � Ah, �, � muito f�cil esquecer que a Murta est� morta � disse ela, engolindo em seco e fitando o garoto com os olhos inchados. � Ningu�m nunca sentiu falta de mim, nem quando eu estava viva. Levou horas para encontrarem o meu corpo, eu sei, fiquei sentada l� dentro esperando algu�m aparecer. Ol�via Hornby entrou no banheiro e perguntou: "Voc� est� a� emburrada outra vez, Murta? Porque o ProfessorDippet me pediu para a procurar...� Ai ela viu o meu corpo... Aaaah, isso ela n�o esqueceu at� o dia da morte, eu fiz quest�o de garantir... Eu a seguia para todo o lado para lembrar, me lembro de que no dia do casamento do irm�o dela... Mas Harry n�o estava escutando, voltara a pensar na m�sica das sereias: "Levamos o que lhe far� muita falta ." Pelo jeito elas iam roubar alguma coisa dele, alguma coisa que ele ia precisar recuperar. Que � que elas iam levar? � ... Ent�o, � claro, ela foi ao Minist�rio da Magia para me obrigar a parar de persegui-la, ent�o tive que voltar para c�, viver no meu banheiro. � �timo � disse Harry vagamente. � Bem, j� cheguei bem mais longe do que estava... Quer fechar os olhos outra vez, eu vou sair da �gua. Ele apanhou o ovo no fundo da banheira, saiu, se enxugou e tornou a vestir o pijama e o roup�o. � Voc� vai vir um dia desses me visitar no meu banheiro? � perguntou a Murta Que Geme em tom lamurioso, quando Harry apanhou a Capa da Invisibilidade. � Hum... Vou tentar � prometeu Harry, embora intimamente pensasse que a �nica maneira de tornar a visitar o banheiro da Murta seria se os outros banheiros do castelo estivessem interditados. � At� outro dia, Murta... Obrigado pela ajuda. � Tchauzinho � disse ela tristonha, e quando Harry se cobriu com a capa ele a viu disparar de volta � torneira. J� do lado de fora no corredor escuro, Harry examinou o Mapa do Maroto para verificar se o caminho continuava livre. Sim, os pontinhos que pertenciam a Filch e � Madame Nor-r-ra estavam seguros na sala do zelador... Nada mais parecia estar se mexendo � exce��o do Pirra�a, que andava saltitando pela sala de trof�us no andar de cima... Harry acabara de dar o primeiro passo de volta � Torre da Grifin�ria, quando uma outra coisa no mapa chamou sua aten��o... Uma coisa decididamente estranha. Pirra�a n�o era a �nica coisa que estava se mexendo. Um pontinho isolado esvoa�ava por uma sala no canto inferior � esquerda � a sala de Snape. Mas o ponto n�o estava identificado como "Severo Snape"... Era Bartolomeu Crouch. Harry arregalou os olhos para o ponto. Todos supunham que o Sr. Crouch estava doente demais para trabalhar ou vir ao Baile de Inverno � ent�o, que � que ele estava fazendo secretamente em Hogwarts � uma hora da manh�? Harry observou com aten��o o ponto se mexer para um lado e outro da sala, detendo-se aqui e ali... O garoto hesitou, pensando... Ent�o, sua curiosidade levou a melhor. Ele deu meia-volta e saiu na dire��o oposta, para a escada mais pr�xima. Ia ver o que Crouch andava aprontando. Harry desceu as escadas o mais silenciosamente que p�de, embora os rostos em alguns quadros se virassem cheios de curiosidade ao ouvir o rangido do soalho, o atrito do pijama no seu roup�o. Ele seguiu, sorrateiro, pelo corredor, empurrou uma tape�aria mais ou menos a meio caminho, e desceu por uma escada estreita, um atalho que o levaria dois andares abaixo. Harry mantinha os olhos no mapa, pensando... N�o parecia coisa do Sr. Crouch, um homem correto e cumpridor das leis andar xeretando a sala de algu�m a essa hora da noite... Ent�o, no meio da escada, sem pensar no que estava fazendo, sem se concentrar em nada exceto no estranho comportamento do Sr. Crouch, sua perna de repente afundou pelo degrau defeituoso que Neville sempre se esquecia de pular. Ele se desequilibrou, e o ovo de ouro, ainda molhado do banho, escorregou de baixo do seu bra�o � ele se atirou � frente para tentar agarr�-lo, mas tarde demais: o ovo caiu pela longa escada batendo e ecoando como um tambor em cada degrau � a Capa da Invisibilidade escorregou � Harry agarrou-a, mas o Mapa do Maroto escapuliu de sua m�o e escorregou seis degraus, onde, com a perna enterrada at� o joelho, o garoto n�o p�de alcan��-lo. O ovo de ouro atravessou a tape�aria ao p� da escada, se abriu e soltou o seu lamento alto no corredor em baixo. Harry puxou a varinha e se esticou para bater com ela no Mapa do Maroto, para apag�-lo, mas o pergaminho estava fora do seu alcance... Cobrindo-se de novo com a capa, Harry se endireitou, escutando com aten��o, os olhos apertados de medo... E, quase imediatamente... � PIRRA�A! Era o inconfund�vel grito de Filch ca�ando o poltergeist. Harry ouviu os passos r�pidos e arrastados se aproximarem cada vez mais, a voz asm�tica berrando de f�ria. � Que estardalha�o � esse? Quer acordar o castelo inteiro? Vou pegar voc� Pirra�a, vou pegar, voc� vai... E o que � isso? Os passos de Filch pararam, ouviu-se um estalido met�lico e o lamento parou � Filch apanhara o ovo e o fechara. Harry ficou muito quieto, a perna ainda entalada no degrau m�gico, � escuta. A qualquer momento agora, Filch iria afastar a tape�aria, esperando ver Pirra�a... E n�o haveria Pirra�a algum... E se ele subisse as escadas, encontraria o Mapa do Maroto... E com ou sem Capa da Invisibilidade, o mapa mostraria "Harry Potter" parado exatamente onde estava. � Ovo? � exclamou Filch baixinho ao p� da escada. � Minha queridinha! �Madame Nor-r-ra obviamente o acompanhava. � Isto � uma pista do Tribruxo! Isto pertence a um campe�o de escola! Harry se sentiu enjoado, seu cora��o batia forte e depressa... � PIRRA�A! � rugiu Filch com satisfa��o. � Voc� andou furtando! O zelador empurrou a tape�aria embaixo e Harry viu seu rosto balofo e feio, seus olhos claros esbugalhados espiarem para o alto da escada escura (e para Filch) deserta. � Se escondendo, �? � perguntou baixinho. � Estou indo pegar voc�, Pirra�a... Voc� foi roubar uma pista do Tribruxo, Pirra�a... Dumbledore vai expulsar voc� daqui por isso, seu poltergeist gatuno e mau car�ter... Filch come�ou a subir a escada, a gata magricela, cor de serragem, em seus calcanhares. Os olhos de Madame Nor-r-ra iguais a lanternas, t�o semelhantes aos do dono, estavam fixos diretamente em Harry. O garoto j� tivera antes ocasi�o de se perguntar se a Capa da Invisibilidade funcionava para os gatos... Doente de apreens�o, ele observou Filch se aproximar cada vez mais, trajando seu velho roup�o de flanela � tentou desesperadamente soltar a perna entalada, mas s� conseguiu que ela afundasse mais alguns cent�metros �, a qualquer segundo agora, Filch iria ver o mapa ou pisar bem em cima dele... � Filch? Que � que est� havendo? O zelador parou a poucos degraus abaixo de Harry e se virou. Ao p� da escada estava a �nica pessoa que poderia piorar a situa��o de Harry � Snape. Estava usando um longo camis�o cinzento e parecia l�vido. � � o Pirra�a, professor � murmurou Filch maldosamente. � Ele atirou este ovo escada abaixo. � Snape galgou depressa os degraus e parou ao lado de Filch. Harry cerrou os dentes, convencido de que as marteladas do seu cora��o o denunciariam a qualquer minuto... � Pirra�a? � exclamou Snape baixinho, olhando para o ovo nas m�os de Filch. � Mas Pirra�a n�o poderia ter entrado na minha sala... � Esse ovo estava na sua sala, professor? � Claro que n�o � retorquiu Snape. � Ouvi batidas e lamentos... � Foi, professor, isso foi o ovo... � ... Vim investigar... � ... Pirra�a atirou o ovo, professor... � ... E quando passei pela minha sala, vi que os archotes estavam acesos e a porta de um arm�rio estava entreaberta! Algu�m a andou revistando! � Mas Pirra�a n�o poderia... � Eu sei que n�o poderia, Filch! � respondeu Snape com rispidez. � Lacro a minha sala com um feiti�o que somente um bruxo poderia desfazer! � Snape olhou para o alto da escada, diretamente atrav�s de Harry, depois para o corredor embaixo. � Quero que voc� venha me ajudar a procurar o intruso, Filch. � Eu... Claro, professor... Mas... Filch mirou as escadas, o olhar desejoso atravessando Harry, e o garoto percebeu claramente que o homem relutava em deixar passar uma oportunidade de encurralar Pirra�a. Vai, suplicou Harry a ele silenciosamente, vai com o Snape... Vai... Madame Nor-r-ra espiava em volta das pernas do dono... Harry teve a n�tida impress�o de que a gata o farejava... Por que ele enchera aquela banheira com tanta espuma perfumada? � A quest�o, professor, � que � disse Filch com voz queixosa � o diretor vai ter que me escutar desta vez, Pirra�a andou furtando de um estudante, talvez seja a minha chance de o ver expulso do castelo para sempre... � Filch, estou me lixando para esse desgra�ado desse poltergeist, � a minha sala que... Toque. Toque. Toque. Snape parou de falar muito abruptamente. Ele e Filch, os dois, olharam para o p� da escada. Harry viu Olho-Tonto Moody aparecer mancando pela estreita abertura entre as cabe�as deles. Moody estava usando sua velha capa de viagem por cima do camis�o e se apoiava na bengala como sempre. � � uma festa em que todos v�o de pijama? � rosnou ele para os dois na escada. � O Professor Snape e eu ouvimos ru�dos, professor � informou Filch imediatamente. � Pirra�a, o poltergeist, atirando coisas pelo castelo, como sempre, e Professor Snape descobriu que algu�m tinha invadido a sala... � Cale a boca! � sibilou Snape. Moody deu mais um passo em dire��o � escada. Harry viu seu olho m�gico passar por Snape e, depois, inconfundivelmente, por ele. O cora��o de Harry deu um solavanco horr�vel. Moody via atrav�s das Capas da Invisibilidade... Somente ele era capaz de compreender toda a estranheza da cena... Snape de camis�o, Filch agarrado ao ovo e ele, Harry, entalado na escada �s costas dos dois. A boca torta e rasgada de Moody se abriu com a surpresa. Por alguns segundos ele e Harry se encararam nos olhos. Ent�o, Moody fechou a boca e tornou a virar seu olho azul para Snape. � Eu ouvi isso direito, Snape? � perguntou ele lentamente. � Algu�m invadiu sua sala? � N�o tem import�ncia � disse Snape com frieza. � Muito ao contr�rio � rosnou Moody �, � muito importante. Quem iria querer invadir sua sala? � Um estudante, eu diria. � Harry podia ver uma veia latejar medonhamente na t�mpora gordurosa de Snape. � J� aconteceu antes. Desapareceram ingredientes para po��es do meu estoque particular... Sem d�vida estudantes tentando fazer misturas ilegais... � Acha que eles andavam atr�s de ingredientes para po��es, eh? � perguntou Moody. � N�o est� escondendo mais nada em sua sala, est�? Harry viu o contorno do rosto macilento de Snape ficar cor de tijolo, a veia em sua t�mpora pulsar mais r�pida. � Voc� sabe que n�o estou escondendo nada, Moody � respondeu ele em um tom de voz suave e perigoso �, porque voc� revistou pessoalmente a minha sala, e exaustivamente. O rosto de Moody se contorceu em um sorriso. � Privil�gio de Auror, Snape. Dumbledore me mandou ficar vigilante... � Acontece que Dumbledore confia em mim � disse Snape por entre os dentes cerrados. � Recuso-me a acreditar que tenha dado ordens para revistar minha sala! � Claro que Dumbledore confia em voc� � rosnou Moody. � Ele � um homem de boa f�, n�o �? Acredita em dar uma segunda oportunidade. Mas eu... Eu digo que certos tra�os de uma pessoa n�o mudam nunca, Snape. Tra�os que n�o mudam nunca, entende o que eu quero dizer? Snape subitamente fez uma coisa muito estranha. Segurou o bra�o esquerdo convulsivamente com a m�o direita, como se alguma coisa nele o incomodasse. Moody deu uma risada. � Volte para a cama, Snape. � Voc� n�o tem autoridade para me mandar a lugar algum! � sibilou Snape, soltando o bra�o como se estivesse zangado consigo mesmo. � Tenho tanto direito de andar por esta escola depois do anoitecer quanto voc�! � Ent�o ande o quanto quiser � disse Moody, mas sua voz estava carregada de amea�a. � Espero um dia desses encontr�-lo num corredor escuro... A prop�sito, voc� deixou cair uma coisa... Com uma pontada de horror, Harry viu Moody apontar para o Mapa do Maroto, que continuava ca�do na escada, uns seis degraus abaixo dele. Quando Snape e Filch se viraram para olhar, Harry mandou para o ar toda a cautela, ergueu os bra�os por baixo da capa e acenou furiosamente para atrair a aten��o de Moody, falando sem emitir nenhum som: "� meu! Meu!" Snape estendera a m�o para apanhar o mapa, uma medonha express�o de compreens�o se desenhando em seu rosto... � Accio pergaminho! O mapa voou para o alto, escapando dos dedos estendidos de Snape, e mergulhou em dire��o � m�o de Moody. � Me enganei � disse ele calmamente. � � meu, devo ter deixado cair hoje mais cedo... Mas os olhos negros de Snape correram do ovo nos bra�os de Filch para o mapa na m�o de Moody e Harry percebeu que o professor estava somando dois mais dois, como s� ele era capaz de fazer... � Potter � disse ele baixinho. � Que foi que voc� disse? � perguntou Moody calmamente, dobrando o mapa e embolsando-o. � Potter! � rosnou Snape e ele chegou mesmo a virar a cabe�a para o lugar em que Harry estava, como se de repente pudesse v�-lo. � Esse ovo � o ovo de Potter. Esse pergaminho pertence ao Potter. J� o vi antes e estou reconhecendo! Potter est� aqui! Potter est� coberto pela Capa da Invisibilidade! Snape estendeu as m�os para frente como um cego e come�ou a subir a escada; Harry poderia jurar que as narinas enormes do professor estavam se dilatando, tentando farej�-lo � com a perna presa, o garoto se deitou para tr�s, tentando evitar as pontas dos dedos de Snape, mas a qualquer momento... � N�o h� nada a�, Snape! � disse Moody com rispidez. � Mas terei prazer em contar ao diretor como os seus pensamentos rapidamente voaram para Harry Potter! � Est� querendo dizer o qu� com isso? � rosnou Snape, voltando-se mais uma vez para encarar Moody, as m�os ainda estendidas, a cent�metros do peito de Harry. � Quero dizer que Dumbledore est� muito interessado em saber quem � que est� querendo acabar com aquele garoto! � respondeu Moody, mancando mais para junto da escada. � E eu tamb�m estou Snape... Muito interessado... � A luz dos archotes iluminou brevemente seu rosto mutilado, de modo que as cicatrizes e o peda�o que faltava do seu nariz pareceram mais fundos e mais escuros que nunca. Snape estava olhando para baixo, para Moody, e Harry n�o p�de ver a express�o do seu rosto. Por um instante, ningu�m se mexeu nem disse nada. Ent�o Snape lentamente baixou as m�os. � Eu meramente pensei � disse Snape, com uma voz de for�ada calma � que se Potter anda outra vez passeando por a� a altas horas da noite... � um h�bito indesej�vel que ele tem... Deviam obrig�-lo a parar. Para... Para sua pr�pria seguran�a. � Ah, entendo � disse Moody brandamente. � Voc� sempre tem em mente o que � melhor para Potter, n�o � mesmo? Houve uma pausa. Snape e Moody continuaram a se encarar. Madame Nor-r-ra miou alto, ainda espiando por tr�s das pernas de Filch, procurando a fonte do banho de espuma de Harry. � Acho que vou voltar para a cama � disse Snape secamente. � A melhor id�ia que voc� j� teve esta noite � comentou Moody. � Agora Filch, se me fizer o favor de me entregar este ovo... � N�o � exclamou Filch agarrando o ovo como se fosse um filho primog�nito. � Professor Moody, ele � a prova do comportamento trai�oeiro do Pirra�a! � � a propriedade do campe�o de quem ele o roubou � disse Moody. � Entregue-o, agora. Snape desceu com arrog�ncia e passou por Moody sem dizer mais nada. Filch fez um som de chilreio para Madame Nor-r-ra, que continuou vidrada em Harry por mais alguns segundos antes de se virar para acompanhar o dono. Ainda ofegando, Harry ouviu Snape se afastar pelo corredor; Filch entregou o ovo a Moody e tamb�m desapareceu de vista, resmungando para a gata: � Tudo bem, do�ura... Veremos Dumbledore amanh� de manh�... Contaremos a ele o que o Pirra�a andou fazendo... Uma porta bateu. Harry ficou olhando para Moody, que apoiou a bengala no primeiro degrau da escada e come�ou a subida em dire��o ao garoto, penosamente, uma batida surda a cada segundo passo. � Essa foi por pouco, Potter. � Foi... Eu... Hum... Obrigado � disse Harry com a voz fraca. � Que � isso? � perguntou o professor, tirando o Mapa do Maroto do bolso e desdobrando-o. � Mapa de Hogwarts � respondeu o garoto, desejando que Moody n�o demorasse muito a solt�-lo da escada, sua perna estava realmente doendo. � Pelas barbas de Merlin! � sussurrou Moody, examinando o mapa, seu olho m�gico endoidando. � � um senhor mapa, Potter! � �, �... Muito �til. � Os olhos de Harry estavam come�ando a marejar de dor. � Hum... Professor Moody, o senhor acha que poderia me dar uma m�ozinha...? � Qu�? Ah! �... Claro... Moody segurou os bra�os de Harry e puxou-o, a perna do garoto se soltou do degrau defeituoso e ele subiu para o degrau acima. Moody continuou observando o mapa. � Potter... � perguntou ele lentamente � n�o lhe aconteceu, por acaso, ver quem invadiu a sala de Snape? Neste mapa, quero dizer? � Hum... Vi, vi sim... � admitiu Harry. � Foi o Sr. Crouch. O olho m�gico de Moody perpassou toda a superf�cie do mapa. De repente ele pareceu assustado. � Crouch? Voc�... Voc� tem certeza, Potter? � Absoluta. � Bem, ele n�o est� mais aqui � disse o professor, seu olho ainda percorrendo o mapa. � Crouch... Isso � muito... Muito interessante... O professor ficou calado quase um minuto, ainda fitando o mapa. Harry percebeu que aquela not�cia significava alguma coisa para Moody, e quis muito saber o qu�. Ficou em d�vida se teria coragem de perguntar. Moody lhe dava um pouco de medo... No entanto, acabara de ajud�-lo a evitar uma grande confus�o... � Hum... Professor Moody... Por que o senhor acha que o Sr. Crouch queria dar uma olhada na sala de Snape? O olho m�gico de Moody abandonou o mapa e se fixou, tr�mulo, em Harry. Era um olhar penetrante e o garoto teve a impress�o de que Moody o avaliava, pensando se deveria lhe responder ou o quanto lhe dizer. � Vamos p�r a coisa desta maneira, Potter � murmurou ele finalmente � dizem que o velho Olho-Tonto � obcecado em apanhar bruxos das trevas... Mas Olho-Tonto n�o � nada, nadinha comparado a Bart� Crouch. Ele continuou a examinar o mapa. Harry estava ardendo de vontade de ouvir mais. � Professor Moody? � perguntou ele outra vez. � O senhor acha... Isso poderia ter alguma liga��o com... Talvez o Sr. Crouch pense que tem alguma coisa acontecendo... � O qu�, por exemplo? � perguntou Moody energicamente. Harry se perguntou o quanto se atreveria a dizer. N�o queria que Moody adivinhasse que tinha uma fonte de informa��o fora de Hogwarts; isto poderia levar a perguntas perigosas sobre Sirius. � N�o sei � murmurou Harry �, tem coisas estranhas acontecendo ultimamente, n�o �? Tem sa�do no Profeta Di�rio... A Marca Negra na Copa Mundial, os Comensais da Morte e todo o resto... Os dois olhos desiguais de Moody se arregalaram. � Voc� � um menino perspicaz, Potter. � Seu olho m�gico voltou a percorrer o Mapa do Maroto. � Crouch poderia estar pensando mais ou menos nesse sentido � disse ele lentamente. � Muito poss�vel... Tem havido boatos esquisitos circulando por a� ultimamente, com a ajuda de Rita Skeeter, � claro. Eu reconhe�o que isso est� deixando muita gente nervosa. � Um sorriso amargo torceu sua boca enviesada. � Ah, se tem uma coisa que detesto � murmurou ele, mais para si mesmo do que para Harry, e seu olho m�gico se fixou no canto inferior esquerdo do mapa � � um Comensal da Morte que continuou em liberdade... Harry encarou o professor. Seria poss�vel que Moody estivesse dizendo o que Harry achava que estava dizendo? � E agora sou eu que quero fazer a voc� uma pergunta, Potter � disse Moody, num tom mais profissional. Harry sentiu o cora��o encolher; tinha achado que aquilo n�o iria demorar. Moody ia perguntar onde ele arranjara o mapa, que era um objeto m�gico muito duvidoso � e a hist�ria de como o mapa viera ter �s suas m�os incriminava n�o somente a ele, mas ao seu pr�prio pai, a Fred e Jorge Weasley e ao Professor Lupin, seu professor anterior de Defesa contra as Artes das Trevas. Moody agitou o mapa diante de Harry, que se preparou... � Posso pedir isso emprestado? � Ah! � exclamou Harry. Gostava muito do mapa, mas, por outro lado, sentia-se extremamente aliviado de que Moody n�o estivesse perguntando onde o obtivera e n�o havia d�vida de que ele ficara devendo um favor ao professor. � Claro, tudo bem. � Bom menino � rosnou Moody. � Posso fazer bom uso disso... Pode ser exatamente do que eu estava precisando... Certo, para a cama, Potter, vamos, agora... Os dois subiram juntos a escada, Moody ainda examinando o mapa como se fosse um tesouro como ele jamais vira igual. Seguiram em sil�ncio at� a porta da sala de Moody, onde o professor parou e encarou Harry. � Voc� j� pensou em seguir a carreira de auror, Potter? � N�o � respondeu Harry surpreso. � Devia pensar nisso � disse Moody, acenando a cabe�a e mirando Harry pensativo. � Sem d�vida devia... E incidentalmente... Estou achando que voc� n�o estava simplesmente levando esse ovo para passear hoje � noite? � Hum... N�o � respondeu Harry sorrindo. � Estive tentando decifrar a pista. Moody piscou para o garoto, seu olho m�gico endoidando outra vez. � Nada como um passeio noturno para se ter id�ias, Potter... Vejo voc� amanh� de manh�... � E entrando na sala, voltou sua aten��o para o Mapa do Maroto e fechou a porta ao passar. Harry caminhou lentamente at� a Torre da Grifin�ria, perdido em pensamentos sobre Snape, Crouch e o que significava tudo aquilo... Por que Crouch estava fingindo estar doente, se podia vir a Hogwarts quando quisesse? Que � que ele achava que Snape estava ocultando no escrit�rio? E Moody achando que ele, Harry, devia ser auror! Que id�ia interessante... Mas quando Harry se enfiou silenciosamente em sua cama de colunas, dez minutos mais tarde, o ovo e a capa j� guardados em seguran�a em seu mal�o, por alguma raz�o ele achou que gostaria de ver se os outros aurores tamb�m eram cheios de cicatrizes, antes de escolher essa carreira. CAP�TULO VINTE E SEIS A Segunda Tarefa � Voc� disse que j� tinha decifrado a pista daquele ovo! � exclamou Hermione indignada. � Fala baixo! � disse Harry aborrecido. � S� preciso... Dar uns retoques, t� bem? Ele, Rony e Hermione estavam no fundo da classe de Feiti�os dividindo uma mesa. Deviam estar praticando o oposto do Feiti�o Convocat�rio � o Feiti�o Expuls�rio. Em vista do elevado potencial de acidentes graves, pois os objetos n�o paravam de voar pela sala, o Professor Flitwick entregara a cada aluno uma pilha de almofadas com as quais praticarem, baseado na teoria de que n�o machucariam ningu�m se errassem o alvo. Era uma boa teoria, mas n�o estava funcionando muito bem. A mira de Neville era t�o ruim, que a toda hora ele atirava acidentalmente pela sala objetos bem mais pesados � o Professor Flitwick, por exemplo. � Esque�am o ovo um minuto, est� bem? � sibilou Harry, quando o professor passou voando resignadamente e foi aterrissar no alto de um grande arm�rio. � Estou tentando contar a voc�s sobre o Snape e o Moody... Essa aula era ideal para disfar�ar uma conversa particular, porque todos se divertiam demais para dar aten��o ao que eles faziam. Harry passou a �ltima meia hora narrando suas aventuras aos cochichos e em presta��es. � Snape disse que Moody tinha revistado a sala dele tamb�m? � sussurrou Rony, seus olhos brilhando de interesse enquanto usava a varinha para expulsar uma almofada (ela subiu no ar e derrubou o chap�u de Parvati). � Qu�?... Ent�o voc� acha que o Moody est� aqui para ficar de olho no Snape e no Karkaroff? � Bem, n�o sei se foi isso que Dumbledore pediu a ele para fazer, mas n�o tenho d�vida de que � isso que ele est� fazendo � disse Harry agitando a varinha sem prestar muita aten��o, ao que sua almofada executou uma estranha cambalhota antes de se erguer da mesa. � Moody falou que Dumbledore s� deixa o Snape continuar aqui porque est� dando a ele uma segunda chance ou uma coisa assim... � Qu�? � exclamou Rony, arregalando os olhos, e sua almofada seguinte rodopiou bem alto no ar, ricocheteou no lustre e caiu pesadamente sobre a escrivaninha de Flitwick. � Harry... Vai ver Moody acha que foi Snape quem p�s o seu nome no C�lice de Fogo! � Ah, Rony � disse Hermione, sacudindo a cabe�a ceticamente �, j� achamos que Snape estava tentando matar o Harry e acabou que estava tentando salvar a vida dele, lembra? Hermione expulsou uma almofada que saiu voando pela sala e aterrissou dentro da caixa para a qual todos deviam estar mirando. Harry olhou para a amiga, pensando... Era verdade que Snape uma vez salvara sua vida, mas o estranho era que Snape decididamente o detestava, da mesma forma que detestara o pai de Harry quando freq�entaram a escola juntos. Snape adorava descontar pontos de Harry e certamente jamais perdera uma oportunidade de castig�-lo ou at� de sugerir que ele fosse suspenso da escola. � N�o importa o que Moody diz � continuou Hermione �, Dumbledore n�o � burro. Teve raz�o em confiar no Hagrid e no Professor Lupin, mesmo que um monte de gente n�o quisesse dar emprego aos dois, ent�o por que n�o estaria certo a respeito de Snape, mesmo que Snape seja um pouco... � ... Maligno � completou Rony prontamente. � Ora vamos, Hermione, ent�o por que todos esses captores de bruxos das trevas est�o revistando a sala dele? � Por que o Sr. Crouch est� fingindo que ficou doente? � perguntou Hermione, n�o dando aten��o a Rony. � � meio estranho, n�o �, que ele n�o consiga comparecer ao Baile de Inverno, mas possa vir aqui no meio da noite quando d� na telha? � Voc� n�o gosta do Crouch por causa daquele elfo dom�stico, Winky � disse Rony, fazendo a almofada voar pela janela. � Voc� quer pensar que Snape est� armando alguma coisa � disse Hermione, mandando a almofada bem no fundo da caixa. � Eu s� queria saber o que foi que Snape fez com a primeira chance, se agora est� na segunda � disse Harry s�rio, e, para sua grande surpresa, a almofada saiu voando pela sala e aterrissou bem em cima da de Hermione. Harry, obedecendo ao desejo de Sirius de saber de qualquer coisa anormal que acontecesse em Hogwarts, lhe mandou, naquela noite, por uma coruja marrom, uma carta explicando toda a hist�ria da invas�o da sala de Snape pelo Sr. Crouch, e a conversa entre Moody e Snape. Depois, com seriedade, voltou sua aten��o para o problema mais urgente que tinha diante de si, como sobreviver uma hora debaixo d��gua no dia vinte e quatro de fevereiro. Rony gostou da id�ia de usar outra vez um Feiti�o Convocat�rio � Harry lhe falara dos aqualungs, e Rony n�o via raz�o para o amigo n�o convocar um equipamento desses da cidade trouxa mais pr�xima. Hermione arrasou o plano mostrando que, no caso improv�vel de Harry conseguir aprender como operar um aqualung dentro da hora concedida, ele certamente seria desqualificado por violar o C�digo Internacional de Segredo em Magia � era demais esperar que nenhum trouxa visse o aqualung sobrevoando os campos a caminho de Hogwarts. � Claro, a solu��o ideal seria voc� se transfigurar em submarino ou outra coisa assim � disse ela. � Se ao menos j� tiv�ssemos dado Transforma��o Humana! Mas acho que s� vamos ter essa mat�ria no sexto ano, e o resultado pode ser catastr�fico se a pessoa n�o souber o que est� fazendo... � �, acho que n�o vou gostar de andar por a� com um perisc�pio saindo da cabe�a � disse Harry. � Imagino que sempre � poss�vel atacar algu�m na frente de Moody, e, quem sabe, ele fizesse isso por mim... � Mas acho que Moody n�o iria deixar voc� escolher a coisa em que quer ser transformado � comentou Hermione s�ria. � N�o, acho que a sua melhor chance � usar algum feiti�o. Ent�o, Harry, achando que logo, logo iria tomar um cansa�o t�o grande de biblioteca que ia durar para o resto da vida, enterrou-se mais uma vez entre os livros empoeirados, � procura de um feiti�o que permitisse a um ser humano sobreviver sem oxig�nio. Mas, embora ele, Rony e Hermione procurassem nas horas de almo�o, noites e fins de semana inteiros � embora Harry pedisse a Professora McGonagall uma permiss�o escrita para usar a Se��o Reservada, e chegasse at� a pedir ajuda � irrit�vel Madame Pince, a bibliotec�ria que lembrava um urubu �, os garotos n�o encontraram nadinha que permitisse a Harry passar uma hora embaixo d��gua e sobreviver para contar a hist�ria. Epis�dios j� familiares de p�nico estavam come�ando a perturbar o garoto agora e, mais uma vez, ele sentia dificuldade de se concentrar nas aulas. O lago, que Harry sempre encarara como mais um elemento na paisagem dos jardins, atra�a seu olhar sempre que ele se aproximava da janela de uma sala de aula, uma grande massa cinza-grafite de �gua friissima, cujas profundezas sombrias e enregelantes come�avam a parecer distantes como a lua. Do mesmo jeito que acontecera antes, quando ele precisara enfrentar o Rabo-C�rneo, o tempo estava correndo como se algu�m tivesse enfeiti�ado os rel�gios para andarem em alta velocidade. Faltava somente uma semana para o dia vinte e quatro de fevereiro (ainda havia tempo)... Faltavam cinco dias (logo ele ia achar alguma coisa)... Faltavam tr�s dias (por favor, tomara que eu ache alguma coisa... Por favor...). Faltando apenas dois dias, Harry come�ou a perder o apetite. A �nica coisa boa do caf� da manh� de segunda-feira foi o regresso da coruja marrom que ele enviara a Sirius. Harry soltou o pergaminho, desenrolou-o e viu a menor carta que o padrinho j� lhe escrevera. �Mande dizer a data do pr�ximo fim de semana em Hogsmeade pela mesma coruja�. Harry virou e revirou o pergaminho, e olhou o verso na esperan�a de ver mais alguma coisa, mas estava em branco. � Sem ser este, o pr�ximo fim de semana � cochichou Hermione, que lera a carta por cima do ombro de Harry. � Toma aqui a minha pena e manda logo essa coruja de volta. O garoto rabiscou a data no verso da carta de Sirius, amarrou-a na perna da ave e observou-a levantar v�o. Que � que ele tinha esperado? Conselhos para sobreviver debaixo d��gua? Estivera t�o preocupado em contar a Sirius o que havia acontecido entre Snape e Moody, que se esquecera completamente de mencionar a pista do ovo. � Para que � que ele quer saber a data do pr�ximo fim de semana de Hogsmeade? � perguntou Rony. � N�o sei � respondeu Harry sem emo��o. A felicidade moment�nea que lampejara em seu peito ao ver a coruja se apagara. � Vamos... Trato das Criaturas M�gicas. Fosse porque Hagrid estava tentando compensar o fiasco dos explosivins ou porque agora s� restavam dois bichos, ou ainda porque ele estava tentando provar que era capaz de fazer tudo que a Professora Grubbly-Plank fazia, o fato � que ele deu continuidade �s aulas dela sobre unic�rnios, desde sua volta ao trabalho. Os alunos ficaram sabendo que Hagrid conhecia tanto a respeito de unic�rnios quanto de monstros, embora ficasse evidente que parecia desapontado que os bichos n�o tivessem presas envenenadas. Para hoje, ele conseguira capturar dois filhotes de unic�rnio. Ao contr�rio dos animais adultos, estes eram absolutamente dourados. Parvati e Lil� tiveram arroubos de prazer ao v�-los, e at� Pansy Parkinson teve que se esfor�ar para esconder o quanto gostava dos filhotes. � Mais f�ceis de localizar que os adultos � disse Hagrid � turma. � Eles ficam prateados a� pelos dois anos de idade e ganham chifres por volta dos quatro. S� ficam branco-puro quando atingem a idade adulta, a� pelos sete anos. S�o um pouco mais confiantes quando filhotes... N�o se incomodam tanto com os garotos... Vamos, cheguem mais perto para poderem fazer carinho neles se quiserem... D�em a eles alguns torr�es de a��car... � Voc� est� bem, Harry? � murmurou Hagrid, afastando-se um pouco para o lado, enquanto a maioria dos alunos se aglomerava em torno dos beb�s unic�rnios. � T�. � S� nervoso, n�o �? � Um pouco. � Harry � disse Hagrid, fechando a m�o maci�a no ombro do garoto, fazendo seus joelhos cederam sob aquele peso �, estive preocupado antes de ver voc� enfrentar aquele Rabo-C�rneo, mas agora sei que est� � altura. Voc� vai se dar bem. J� decifrou a nova pista, n�o? Harry confirmou com a cabe�a mas, ao fazer isso, se apoderou dele uma vontade louca de confessar que n�o tinha a menor id�ia como iria sobreviver no fundo do lago durante uma hora. Ele ergueu os olhos para Hagrid � quem sabe o amigo precisava entrar no lago algumas vezes para cuidar das criaturas que viviam l�? Afinal, ele cuidava de todo o resto na propriedade... � Voc� vai vencer � rosnou Hagrid, dando mais algumas palmadinhas no ombro de Harry que chegou a sentir que afundara alguns cent�metros no ch�o lamacento. � Sei disso. Posso at� sentir. Voc� vai vencer, Harry. Harry simplesmente n�o teve coragem de apagar o sorriso feliz e confiante do rosto de Hagrid. Fingindo que estava interessado nos filhotes de unic�rnio, for�ou um sorriso para o amigo e se adiantou para acariciar os animais com os colegas. Na noite que antecedeu a segunda tarefa, Harry j� se sentia como se estivesse paralisado por um pesadelo. Tinha plena consci�ncia que se conseguisse, mesmo por milagre, encontrar um feiti�o que servisse, seria um trabalho de H�rcules aprend�-lo da noite para o dia. Como podia ter deixado isto acontecer? Por que n�o come�ara a trabalhar na pista do ovo mais cedo? Por que deixara seus pensamentos vagarem durante as aulas � e se um professor tivesse mencionado como respirar debaixo d��gua? Ele, Rony e Hermione estavam sentados na biblioteca quando o sol se p�s l� fora, virando febrilmente p�ginas e mais p�ginas de feiti�os, escondidos um do outro por pilhas maci�as de livros em cima das mesas de cada um. O cora��o de Harry dava um enorme salto cada vez que ele via a palavra "�gua" em uma p�gina, mas um n�mero bem maior de vezes era apenas �Me�a um litro de �gua, duzentos e cinq�enta gramas de folhas de mandr�gora picadas e pegue um trit�o...� � Acho que n�o � poss�vel � disse a voz de Rony do lado oposto da mesa. � N�o tem nada. Nadinha. O mais pr�ximo que chegamos foi aquela coisa para secar po�as e po�os, aquele Feiti�o Secante, mas nem de longe teria pot�ncia para secar o lago. � Tem que haver alguma coisa � murmurou Hermione, trazendo uma vela para mais perto. Seus olhos estavam t�o cansados que ela estava lendo as letrinhas mi�das de Encantamentos e Fei�ti�os Antigos e Esquecidos com o nariz a dois cent�metros da p�gina. � Nunca teriam proposto uma tarefa que fosse invi�vel. � Pois propuseram � disse Rony. � Harry, amanh�, v� at� o lago, meta a cabe�a dentro dele e grite para os sereianos devolverem o que afanaram, e v� se eles mandam a coisa de volta. � o melhor que voc� tem a fazer, companheiro. � Existe uma maneira de fazer! � disse Hermione zangada. � Simplesmente tem que existir! Ela parecia estar tomando como ofensa pessoal o fato de a biblioteca n�o ter informa��es �teis sobre o assunto, a biblioteca jamais lhe falhara antes. � Eu sei o que deveria ter feito � disse Harry, descansando a cabe�a sobre o livro Truques Marotos Para Marotos de Astutos. � Eu devia ter aprendido a virar um animago como Sirius. � �, voc� poderia se transformar num peixinho dourado sempre que quisesse! � exclamou Rony. � Ou num sapo � bocejou Harry. Estava exausto. � Leva anos para algu�m virar um animago, depois ele tem que se registrar e tudo o mais � disse Hermione vagamente, agora espremendo os olhos para ler o �ndice de Estranhos Dilemas da Magia e Suas Solu��es. � A Professora McGonagall falou para a gente, lembram... A pessoa tem que se registrar na Se��o de Preven��o do Uso Indevido da Magia... Dizer em que animal se transforma, quais as marcas caracter�sticas, por isso n�o pode abusar... � Mione, eu estava brincando � disse Harry exausto. � Eu sei que n�o tenho a menor chance de me transformar em sapo at� amanh� de manh�... � Ah, isto aqui n�o adianta nada � exclamou Hermione, fechando o livro com viol�ncia. � Quem � que vai querer que os p�los do nariz cres�am em cachinhos? � Eu n�o me importaria � disse a voz de Fred Weasley. � Seria um grande t�pico para estimular conversas, n�o acham n�o? Harry, Rony e Hermione levantaram a cabe�a. Fred e Jorge tinham acabado de sair de tr�s de umas estantes. � Que � que voc�s dois est�o fazendo aqui? � perguntou Rony. � Procurando voc�s � disse Jorge. � McGonagall quer ver voc�, Rony. E voc� Mione. � Por qu�? � perguntou a garota, parecendo surpresa. � Sei l�... Mas estava com a cara meio fechada � informou Fred. � Disse que era para levarmos voc�s � sala dela � disse Jorge. Rony e Hermione olharam para Harry, que sentiu o est�mago despencar. Ser� que a Professora McGonagall ia brigar com Mione e Rony? Talvez ela tivesse notado que os dois o estavam ajudando � be�a, quando ele devia estar procurando sozinho uma solu��o para realizar a tarefa? � Encontramos voc� na sala comunal � disse Hermione a Harry, ao se levantar para acompanhar Rony, os dois pareciam muito ansiosos. � Leva o maior n�mero de livros que puder, OK? � OK. � disse Harry inquieto. L� pelas oito horas, Madame Pince apagara as luzes e apareceu para expulsar Harry da biblioteca. Cambaleando sob o peso do maior n�mero de livros que p�de carregar, Harry voltou � sala comunal da Grifin�ria, puxou uma mesa para um canto e continuou a busca. N�o havia nada em M�gicas Malucas Para Bruxos Doid�es... Nada em Um Guia Para a Feiti�aria Medieval, para n�o mencionar as Proezas Submarinas na Antologia de Feiti�os do S�culo XVIII, ou em Habitantes Medonhos das Profundezas ou Poderes que Voc� Desconhecia Possuir e o Que Fazer Com Eles Agora Que os Descobriu. Bichento subiu ao colo de Harry e se enroscou ronronando profundamente. A sala comunal foi se esvaziando aos poucos a volta de Harry. As pessoas n�o paravam de lhe desejar boa sorte para a manh� seguinte, com vozes animadas e confiantes como a de Hagrid, todos aparentemente convencidos de que ele estava prestes a fazer outra fant�stica demonstra��o como a da primeira tarefa. Harry n�o conseguia responder aos colegas, simplesmente acenava com a cabe�a, com a sensa��o de que havia uma bola de golfe entalada em sua garganta. Por volta da meia-noite, ele ficou sozinho na sala com Bichento. Procurara em todos os livros restantes e Rony e Hermione n�o tinham voltado. Terminou tudo, disse ele a si mesmo. Voc� n�o vai dar conta. Simplesmente ter� que ir at� o lago de manh� e dizer aos juizes... Imaginou-se explicando que n�o seria capaz de executar a tarefa. Visualizou os olhos de Bagman arregalados de surpresa, o sorriso cheio de dentes amarelos de Karkaroff expressando sua satisfa��o. Conseguiu at� ouvir Fleur Delacour comentar: � Eu sabia... ele � j�van demais, � apenes uma crrian�a. Ele viu Malfoy fazendo o distintivo �POTTER FEDE� lampejar sentado bem na frente dos espectadores, viu o rosto incr�dulo e cabisbaixo de Hagrid... Esquecido de que Bichento estava em seu colo, Harry se levantou muito de repente, o gato bufou zangado ao aterrissar no ch�o, lan�ou ao garoto um olhar de desagrado e se retirou com o rabo de escova de garrafa no ar, mas Harry j� ia correndo escada acima para o dormit�rio... Apanharia a Capa da Invisibilidade e voltaria � biblioteca, ficaria l� a noite inteira se fosse preciso... � Lumus � sussurrou ele quinze minutos depois, ao abrir a porta da biblioteca. A ponta da varinha acesa, ele andou ao longo das estantes, apanhando mais livros � livros de azara��es e feiti�os, livros sobre sereianos e monstros aqu�ticos, livros sobre bruxas e bruxos famosos, sobre inven��es m�gicas, sobre qualquer coisa que pudesse incluir uma refer�ncia passageira � sobreviv�ncia debaixo d��gua. Carregou-os para uma mesa, ent�o p�s m�os � obra, examinando-os com o feixe de luz fino de sua varinha, ocasionalmente consultando seu rel�gio... Uma hora da manh�... Duas horas... A �nica maneira de continuar era dizer a si mesmo, repetidamente: Pr�ximo livro... No pr�ximo... No pr�ximo... A sereia no quadro do banheiro dos monitores-chefe estava dando risadas. Harry flutuava como uma rolha na �gua borbulhante pr�ximo ao rochedo do quadro, enquanto ela agitava a Firebolt dele na m�o. � Venha busc�-la! � riu a sereia maliciosamente. � Anda, salta! � N�o posso � ofegou Harry, tentando arrebatar a Firebolt ao mesmo tempo em que lutava para n�o afundar. � Me d� a vassoura! Mas a sereia apenas o cutucava dolorosamente do lado do corpo com o cabo da vassoura, ca�oando dele. � Isso d�i, sai para l�, ai... � Harry Potter precisa acordar, meu senhor! � P�ra de me cutucar... � Dobby tem que cutucar Harry Potter, meu senhor, ele tem que acordar! Harry abriu um olho. Ainda estava na biblioteca, a Capa da Invisibilidade escorregara de sua cabe�a e ele adormecera, e um lado do seu rosto estava colado na p�gina de Onde H� Uma Varinha, H� Uma Sa�da. Ele se sentou, ajeitou os �culos, piscando para a intensa claridade do dia. � Harry Potter precisa se apressar! � guinchou Dobby. � A segunda tarefa vai come�ar dentro de dez minutos e Harry Potter... � Dez minutos? � grasnou Harry. � Dez... Dez minutos? Ele olhou para o rel�gio de pulso. Dobby tinha raz�o. Eram nove e vinte. Um enorme peso morto pareceu escorregar do peito de Harry para o seu est�mago. � Depressa, Harry Potter! � guinchou Dobby, puxando a manga do garoto. � O senhor devia estar l� embaixo no lago como os outros campe�es, meu senhor! � Tarde demais, Dobby � disse Harry sem esperan�as. � N�o vou fazer a tarefa, n�o sei como... � Harry Potter vai fazer a tarefa! Dobby soube que Harry n�o encontrou o livro certo, ent�o Dobby encontrou para ele! � Qu�? � exclamou Harry. � Mas voc� n�o sabe qual � a segunda tarefa... � Dobby sabe, meu senhor! Harry Potter tem que entrar no lago e procurar o Wheezy dele... � Procurar o meu o qu�? � ... E recuperar o Wheezy dele que est� com os sereianos! � O que � um Wheezy? � O seu Wheezy, meu senhor, o seu Wheezy, Wheezy que d� a Dobby o su�ter! Dobby deu uns pux�es no su�ter marrom, que fora encolhido, e que ele estava usando por cima dos cal��es. � Qu�!� ofegou Harry. � Eles est�o... Eles est�o com o Rony? � A coisa que mais far� falta a Harry Potter, meu senhor! � guinchou Dobby. � Mas passada a hora... Adeus esperan�a de achar � recitou Harry, arregalando os olhos para o elfo, horrorizado. � Tarde demais, foi-se, jamais voltara... Dobby, o que � que eu tenho que fazer? � O senhor tem que comer isto, meu senhor! � guinchou o elfo, e levando a m�o ao bolso dos cal��es retirou uma bola que parecia feita de rabos de rato, viscosos e verde-acinzentados. � Na hora em que for entrar no lago, meu senhor... Guelricho! � Que � que isso faz? � perguntou Harry olhando para a erva. � Vai fazer Harry Potter respirar embaixo d��gua, meu senhor! � Dobby � disse Harry hist�rico � escuta aqui, voc� tem certeza? O garoto n�o esquecera de todo que a �ltima vez que Dobby tentara "ajud�-lo", ele acabara sem ossos no bra�o direito. �... Absoluta certeza, meu senhor! � disse o elfo s�rio. Dobby escuta coisas, meu senhor, ele � um elfo dom�stico, anda por todo o castelo quando acende as lareiras e limpa os pisos. Dobby ouviu a Professora McGonagall e o Professor Moody na sala de professores, conversando sobre a pr�xima tarefa... Dobby n�o pode deixar Harry Potter perder o Wheezy dele! As d�vidas de Harry desapareceram. Pondo-se em p� de um salto, ele despiu a Capa da Invisibilidade, guardou-a na mochila, agarrou o guelricho, enfiou-o no bolso e saiu correndo da biblioteca com Dobby nos calcanhares. � Dobby devia estar na cozinha, meu senhor! � guinchou o elfo quando desembestavam pelo corredor. � V�o dar falta de Dobby, boa sorte, Harry Potter, meu senhor, boa sorte! � Vejo voc� depois, Dobby! � gritou Harry, e saiu desembalado pelo corredor, descendo as escadas tr�s degraus de cada vez. No sagu�o de entrada havia uns poucos retardat�rios, todos saindo do Sal�o Principal depois do caf� em dire��o �s portas duplas de carvalho da entrada, para ir assistir � segunda tarefa. Ficaram olhando Harry passar correndo e mandar Colin e Denis Creevey pelo ar ao saltar os degraus de acesso aos jardins ensolarados e frios. Enquanto corria pelos gramados, viu que as arquibancadas que tinham rodeado o picadeiro dos drag�es em novembro agora estavam dispostas ao longo da margem oposta do lago, quase explodindo de t�o lotadas, e que se refletiam nas �guas embaixo; a algazarra excitada dos espectadores ecoava estranhamente pela superf�cie das �guas enquanto Harry corria pela outra margem do lago em dire��o aos juizes, sentados a uma mesa coberta com tecido dourado. Cedrico, Fleur e Krum estavam parados ao lado da mesa, observando Harry se aproximar correndo. � Estou... Aqui... � ofegou Harry, derrapando na lama ao parar e, acidentalmente, sujando as vestes de Fleur. � Onde � que voc� esteve? � disse uma voz autorit�ria censurando-o. � A tarefa vai come�ar. � Harry olhou para os lados. Percy Weasley estava sentado � mesa dos juizes � o Sr. Crouch mais uma vez n�o comparecera. � Ora, vamos, Percy! � disse Ludo Bagman, que parecia extremamente aliviado de ver Harry. � Deixe-o recuperar o f�lego! Dumbledore sorriu para Harry, mas Karkaroff e Madame Maxime n�o pareceram nem um pouco satisfeitos de v�-lo... Era �bvio, pela express�o dos seus rostos, que tinham pensado que o campe�o n�o ia aparecer. Harry dobrou o corpo, as m�os nos joelhos, procurando respirar; sentia uma pontada do lado do corpo que lhe dava a sensa��o de ter uma faca enfiada nas costelas, mas n�o havia tempo para se livrar dela, Ludo Bagman agora andava entre os campe�es, espa�ando-os pela margem a intervalos de tr�s metros. Harry ficou bem no fim da fila, ao lado de Krum, que estava de cal��es de banho e segurava a varinha em posi��o. � Tudo bem, Harry? � sussurrou Bagman, afastando Harry um pouco mais de Krum. � Sabe o que � que tem de fazer? � Sei � ofegou o garoto, massageando as costelas. Bagman lhe deu um breve aperto no ombro e voltou � mesa dos juizes, depois apontou a varinha para a pr�pria garganta como fizera na Copa Mundial, disse "Sonorus!" e sua voz reboou sobre as �guas escuras at� as arquibancadas. � Bem, os nossos campe�es est�o prontos para a segunda tarefa, que come�ar� quando eu apitar. Eles t�m exatamente uma hora para recuperar o que foi tirado deles. Ent�o, quando eu contar tr�s. Um... Dois... Tr�s! O apito produziu um som agudo no ar frio e parado, as arquibancadas explodiram em vivas e palmas, sem se virar para ver o que os outros campe�es estavam fazendo, Harry descal�ou os sapatos e as meias, tirou um punhado de guelricho do bolso, meteu-o na boca e entrou no lago. O lago estava t�o frio que ele sentiu a pele das pernas arder como se estivesse no fogo e n�o na �gua, � medida que ele foi se aprofundando no lago, agora a �gua lhe batia pelos joelhos, e seus p�s, que rapidamente perdiam a sensibilidade, escorregavam pelo lodo e as pedras chatas e limosas. Harry mastigou o guelricho com mais for�a e pressa que p�de, era borrachudo e viscoso como tent�culos de polvo. Com a �gua g�lida pela cintura ele parou, engoliu a erva e esperou que alguma coisa acontecesse. Ouviu os espectadores rirem e concluiu que devia estar com cara de idiota, entrando no lago sem dar sinal algum de poder m�gico. A parte do seu corpo ainda seca se encheu de arrepios, semi-imerso na �gua gelada, uma brisa impiedosa levantando seus cabelos, Harry Potter come�ou a tremer violentamente. Evitou olhar para as arquibancadas; as risadas estavam mais altas e ele ouvia assovios e vaias de alunos da Sonserina... Ent�o, inesperadamente, Harry teve a sensa��o de que uma almofada invis�vel estava cobrindo sua boca e seu nariz. Ele tentou respirar, mas isto fez sua cabe�a girar; seus pulm�es se esvaziaram e ele sentiu uma dor s�bita e lancinante dos dois lados do pesco�o... Harry levou as m�os � garganta e sentiu duas grandes aberturas abaixo das orelhas abanando no ar frio... Ganhara guelras. Sem parar para pensar, ele fez a �nica coisa que lhe pareceu ajuizada � se atirou no lago. O primeiro gole de �gua gelada do lago lhe pareceu um sopro de vida. Sua cabe�a parou de girar, ele tomou mais um gole e sentiu-o passar suavemente pelas guelras e bombear oxig�nio para o seu c�rebro. Ele estendeu as m�os para frente e olhou-as. Pareciam verdes e fantasmag�ricas debaixo d��gua e haviam nascido membranas entre os dedos. Ele se contorceu para ver os p�s descal�os � tinham se alongado e igualmente ganho membranas, parecia tamb�m que sa�am nadadeiras do seu corpo. A �gua n�o parecia mais gelada, tampouco... Pelo contr�rio, se tornara agradavelmente fresca e muito leve... Harry recome�ou a bracejar, admirando-se como seus p�s com nadadeiras o impeliam pela �gua e registrando que estava enxergando com muita clareza e n�o sentia mais necessidade de piscar. Logo nadara uma dist�ncia t�o grande em dire��o ao meio do lago que deixara de ver seu leito. Deu uma cambalhota e mergulhou em suas profundezas. O sil�ncio pesou em seus ouvidos ao nadar por uma paisagem estranha, escura e enevoada. S� conseguia ver tr�s metros ao redor, por isso � medida que se deslocava novos cen�rios pareciam surgir repentinamente da escurid�o � sua frente, florestas ondulantes de plantas emaranhadas e escuras, extens�es de lodo coalhadas de pedras lisas e brilhantes. Ele nadava cada vez mais para o fundo e para o centro do lago, os olhos abertos, espiando, atrav�s da misteriosa claridade cinzenta que iluminava as �guas, rumando para as sombras al�m, em que as �guas se tornavam opacas. Pequenos peixes passavam velozes por ele como flechas prateadas. Uma ou duas vezes ele viu um vulto maior nadando mais � adiante, mas quando se aproximou, descobriu que era apenas um grande tronco enegrecido ou uma moita densa de plantas. N�o viu sinal algum dos outros campe�es, nem dos sereianos, nem de Rony � nem, gra�as a Deus, da lula gigante. Plantas verde-claras se estendiam � sua frente at� onde sua vista podia alcan�ar, como um prado coberto de relva muito crescida. Harry olhava para frente sem piscar, tentando discernir as formas na obscuridade... E ent�o, sem aviso, alguma coisa agarrou seu tornozelo. Harry se virou e viu um grindylow, um pequeno dem�nio aqu�tico de chifres, que sa�a do meio das plantas, seus dedos compridos apertando a perna de Harry, as presas pontiagudas � mostra � o garoto enfiou a m�o palmada depressa dentro das vestes e procurou a varinha, at� conseguir apanh�-la, mais dois grindylows tinham emergido das plantas, agarrado as vestes de Harry e tentavam arrast�-lo para o fundo. � Relaxo! � disse ele, s� que n�o produziu som algum... Uma grande bolha saiu de sua boca, e sua varinha, em vez de atirar fa�scas contra os grindylows, golpeou-os com algo que pareceu um jato de �gua fervendo, pois onde os atingiu surgiram manchas muito vermelhas em sua pele verde. Harry livrou o tornozelo do aperto dos dem�nios e nadou o mais r�pido que p�de, ocasionalmente disparando, a esmo, mais jatos de �gua quente por cima do ombro, de vez em quando ele sentia um grindylow prender novamente seu p� e o chutava com for�a, por fim, seu p� fez contato com um cr�nio chifrudo e, olhando para tr�s, ele viu um grindylow se afastar boiando, vesgo, enquanto seus companheiros sacudiam os punhos para Harry e tornavam a submergir entre as plantas. Harry diminuiu um pouco a velocidade, guardou a varinha nas vestes e olhou ao redor, apurando os ouvidos. Fez uma volta completa na �gua, o sil�ncio pesava mais que nunca em seus t�mpanos. Sabia que devia estar bem mais fundo, mas nada se mexia exceto as plantas ondulantes. � Como � que voc� est� indo? Harry achou que estava tendo um ataque card�aco. Virou-se depressa e viu a Murta Que Geme flutuando difusamente diante dele, fitando-o atrav�s dos grossos �culos perolados. � Murta! � Harry tentou gritar, por�m, mais uma vez, n�o saiu nenhum som de sua boca, apenas uma grande bolha. A Murta Que Geme chegou a dar risadinhas abafadas. � Voc� vai precisar experimentar para aquele lado l�! � disse ela apontando. � N�o vou acompanhar voc�... N�o gosto muito deles, sempre me perseguem quando me aproximo demais... Harry levantou o polegar � guisa de agradecimento, e recome�ou a nadar, tendo o cuidado de se colocar um pouco acima das plantas para evitar mais grindylows que por acaso estivessem escondidos ali. Ele continuou a nadar por uns vinte minutos ou assim lhe pareceu. Atravessava agora grandes extens�es de lodo escuro, que redemoinhavam sujando a �gua agitada por ele. Ent�o, finalmente, ouviu um trecho da m�sica misteriosa dos sereianos. �Uma hora inteira voc� dever� buscar, Para recuperar o que lhe tiramos...� Harry nadou mais r�pido e n�o tardou a ver um grande penhasco emergindo na �gua lodosa � frente. Nele havia pinturas de sereiano, carregavam lan�as e ca�avam algo que parecia ser a lula gigante. Harry deixou o penhasco para tr�s seguindo a m�sica dos sereianos, �J� se passou meia hora, Por isso n�o tarde Ou o que voc� busca apodrecer� aqui...� Um punhado de casas toscas de pedra, manchadas de algas, tomou forma de repente no lusco-fusco que rodeava o garoto. Aqui e ali, �s janelas escuras, Harry viu rostos... Rostos que n�o tinham qualquer semelhan�a com o quadro da sereia no banheiro dos monitores-chefe... Os sereianos tinham peles cinzentas e longos cabelos desgrenhados e verdes. Seus olhos eram amarelos, como seus dentes quebrados, e eles usavam grossas cordas de seixos no pesco�o. Lan�aram olhares desconfiados quando Harry passou. Um ou dois sa�ram das tocas para examin�-lo melhor, seus fortes rabos de peixe prateados golpeando a �gua, as lan�as nas m�os. Harry continuou a nadar veloz, olhando para os lados, e logo as casas se tornaram mais numerosas: havia jardins de folhagens ao redor de algumas, e ele chegou a ver um grindylow amarrado a uma estaca do lado de fora de uma porta. Os sereianos apareciam por todos os lados agora, observando-o ansiosos, apontando para suas m�os palmadas e guelras, falando entre si, com a m�o encobrindo a boca. Harry virou um canto e deparou com uma cena estranha. Um grande n�mero de sereianos flutuava diante de casas enfileiradas que pareciam uma vers�o local de uma pra�a de povoado. Um coro cantava no centro, chamando os campe�es e, por tr�s, erguia-se uma est�tua tosca, um gigantesco sereiano esculpido em um pedregulho. Quatro pessoas estavam firmemente amarradas � cauda da est�tua. Rony estava amarrado entre Hermione e Cho Chang. Havia ainda uma garota que n�o aparentava ter mais de oito anos e cujas nuvens de cabelos prateados deu a Harry a certeza de que era irm� de Fleur Delacour. Os quatro pareciam profundamente adormecidos. Suas cabe�as balan�avam molemente sobre os ombros e um fluxo cont�nuo de pequenas bolhas sa�a de suas bocas. Harry correu em dire��o aos ref�ns, meio que esperando os sereianos baixarem as lan�as para o atacarem, mas eles nada fizeram. As cordas que atavam os ref�ns � est�tua eram grossas, viscosas e muito fortes. Por um instante fugaz ele pensou no canivete que Sirius lhe presenteara no Natal � guardado em seu mal�o no castelo a uns quatrocentos metros de dist�ncia, n�o tinha a menor utilidade. Harry olhou ao redor. Muitos sereianos que cercavam os ref�ns seguravam lan�as. O garoto nadou r�pido para um deles, com uns dois metros de altura, uma longa barba verde e uma gargantilha de dentes de tubar�o, e tentou, por meio de m�mica, pedir a lan�a emprestada. O sereiano riu e sacudiu a cabe�a. � N�o ajudamos � disse ele numa voz �spera e rouca. � Ora vamos! � disse Harry com ferocidade (mas apenas bolhas sa�ram de sua boca), e ele tentou tirar a lan�a do sereiano, que a puxou para si, ainda sacudindo a cabe�a e rindo. Harry deu uma volta completa no corpo, olhando. Alguma coisa afiada, qualquer coisa... Havia muitas pedras no leito do lago. Ele mergulhou e apanhou uma de aspecto afiado e voltou � est�tua. Come�ou, ent�o, a golpear a corda que prendia Rony e, depois de alguns minutos de esfor�o, elas se romperam. Rony flutuou, inconsciente a alguns cent�metros do leito do lago, acompanhando o movimento da �gua. Harry correu o olhar � volta. N�o viu sinal dos outros campe�es. De que � que estavam brincando? Por que n�o se apressavam? Ele se virou para Hermione, ergueu a pedra afiada e come�ou a golpear as cordas dela tamb�m... Na mesma hora, v�rios pares de fortes m�os cinzentas o seguraram. Meia d�zia de sereianos come�aram a afast�-lo de Hermione, balan�ando as cabe�as de cabelos verdes e dando risadas. � Voc� leva o seu ref�m � disse um deles. � Deixe os outros... � Nem pensar! � respondeu Harry indignado, mas apenas duas bolhas sa�ram de sua boca. � Sua tarefa � resgatar o seu amigo... Deixe os outros... � Ela � minha amiga, tamb�m! � berrou Harry, gesticulando em dire��o a Hermione, uma enorme bolha prateada desprendendo-se silenciosamente dos seus l�bios. � E tampouco quero que os outros morram! A cabe�a de Cho descansava no ombro de Hermione, a garotinha de cabelos prateados parecia p�lida e fantasmagoricamente esverdeada. Harry lutou para afastar os sereianos, mas eles riam com mais vontade que nunca, empurrando-o para tr�s. O garoto olhou alucinado para os lados. Onde estavam os outros campe�es? Ser� que ele teria tempo de levar Rony at� a superf�cie e voltar para buscar Hermione e as outras? Ser� que ele conseguiria encontr�-las de novo? Consultou o rel�gio para ver quanto tempo lhe sobrava � o rel�gio parara de trabalhar. Mas, ent�o, os sereianos que o rodeavam come�aram a apontar excitados para alguma coisa acima da cabe�a dele. Harry ergueu os olhos e viu Cedrico nadando em dire��o ao grupo. Havia uma enorme bolha em torno de sua cabe�a, que fazia suas fei��es parecerem estranhamente largas e esticadas. � Me perdi! � disse ele silenciosamente, com uma express�o de p�nico. � Fleur e Krum est�o vindo agora! Sentindo-se imensamente aliviado, Harry viu Cedrico puxar uma faca do bolso e libertar Cho. Ele a puxou para cima e desapareceu de vista. Harry olhou para os lados, aguardando. Onde estavam Fleur e Krum? O tempo ia se esgotando e, segundo a m�sica, os ref�ns jamais voltariam... Os sereianos come�aram a guinchar excitados. Os que seguravam Harry afrouxaram o aperto, olhando para tr�s. Harry se virou e viu algo monstruoso cortando as �guas em dire��o a eles: um corpo humano de cal��es de banho com uma cabe�a de tubar�o... Era Krum. Parecia ter se transformado � mas de maneira incompleta. O homem-tubar�o nadou direto para Hermione e come�ou a puxar e a morder as cordas que a prendiam, o problema � que os novos dentes de Krum estavam posicionados de forma impr�pria para morder qualquer coisa menor do que um golfinho, e Harry tinha quase certeza de que se Krum n�o tivesse cuidado, ia cortar Hermione ao meio. Correndo para ele, Harry bateu com for�a em seu ombro e estendeu a pedra afiada. Krum agarrou-a e come�ou a libertar Hermione. Em segundos, ele terminou: agarrou Hermione pela cintura e, sem ao menos olhar para tr�s, come�ou a subir rapidamente com a garota para a superf�cie. � E agora?, pensou Harry desesperado. Se ele pudesse ter certeza de que Fleur estava a caminho... Mas n�o havia nem sinal. N�o havia jeito... Ele agarrou a pedra que Krum largara, mas os sereianos voltaram a se aproximar de Rony e da garotinha, balan�ando a cabe�a para Harry. O garoto puxou a varinha. � Saiam da frente! Somente bolhas voaram de sua boca, mas ele teve a n�tida impress�o de que os sereianos o haviam entendido, porque subitamente pararam de rir. Seus olhos amarelos se fixaram na varinha de Harry e eles revelaram medo. Eram muitos e Harry era apenas um, mas o garoto percebeu, pela express�o dos seus rostos, que os sereianos conheciam tanta magia quanto a lula gigante. � Voc�s t�m at� tr�s! � gritou Harry; um grande jorro de bolhas saiu de sua boca, e ele ergueu tr�s dedos para ter certeza de que os sereianos tinham entendido a mensagem. � Um... � ele ergueu um dedo � Dois... � ergueu o segundo... Eles se dispersaram. Harry se adiantou depressa e come�ou a golpear as cordas que prendiam a garotinha � est�tua e finalmente libertou-a. Ele a agarrou pela cintura, agarrou a gola das vestes de Rony e deu impulso para a superf�cie. Foi uma subida muito lenta. Ele j� n�o podia usar as m�os palmadas para se impulsionar, bateu as nadadeiras furiosamente, mas Rony e a irm� de Fleur eram verdadeiros sacos de batatas que o arrastavam para o fundo... Harry firmou a vista em dire��o ao c�u, embora soubesse que ainda devia estar muito fundo, as �guas acima estavam t�o escuras... Os sereianos o seguiram na subida. Harry os via rodando � sua volta sem esfor�o, vendo-o lutar para vencer a for�a das �guas... Ser� que o puxariam de volta �s profundezas quando seu tempo se esgotasse? Ser� que comiam seres humanos? As pernas de Harry se moviam lentamente com o esfor�o de nadar, seus ombros do�am horrivelmente com o esfor�o de arrastar Rony e a garota... Ele inspirava com extrema dificuldade. Voltou a sentir a dor dos lados do pesco�o... Aos poucos foi se tornando consciente da umidade da �gua em sua boca... Mas decididamente a obscuridade estava raleando agora... J� conseguia ver a luz do dia no alto... Bateu as nadadeiras com for�a e descobriu que j� n�o havia nada al�m de p�s... A �gua entrava aos borbot�es em sua boca e invadia seus pulm�es... Ele estava come�ando a sentir tonteira, mas sabia que a luz e o ar estavam a apenas tr�s metros acima... Tinha que chegar l�... Tinha que... Harry sacudiu as pernas com tanta for�a e rapidez que teve a sensa��o de que seus m�sculos gritavam em protesto, o pr�prio c�rebro parecia encharcado de �gua, ele n�o conseguia respirar, precisava de oxig�nio, tinha que continuar, n�o podia parar... Ent�o sentiu sua cabe�a varar a superf�cie do lago, um ar maravilhoso, frio, claro, fez seu rosto molhado arder, ele o engoliu, tendo a sensa��o de que jamais o respirara antes como devia e, ofegante, puxou Rony e a menininha com ele. A toda volta, cabe�as com cabelos verdes emergiram da �gua, mas sorriam para ele. Os espectadores nas arquibancadas faziam um estardalha�o, gritavam, berravam, todos pareciam estar de p�, Harry teve a impress�o de que pensavam que Rony e a menininha poderiam estar mortos, mas tinham se enganado... Os dois tinham aberto os olhos, a menina parecia apavorada e confusa, mas Rony meramente expeliu um grande jato de �gua, piscou para a claridade, virou-se para Harry e comentou: � Um bocado molhado, n�o? � Depois viu a irm� de Fleur. � Para que foi que voc� trouxe a garota? � Fleur n�o apareceu. Eu n�o podia largar ela l� � ofegou Harry. � Harry, seu d�bil � disse Rony. � Voc� n�o levou aquela m�sica a s�rio, levou? Dumbledore n�o teria deixado nenhum de n�s morrer afogado! � Mas a m�sica dizia... � S� para garantir que voc� voltasse dentro do prazo dado! Espero que voc� n�o tenha perdido tempo l� embaixo bancando o her�i! Harry se sentiu no mesmo instante idiota e chateado. Estava tudo muito bem para Rony, ele estivera adormecido, n�o sentira como era fantasmag�rico l� no lago, cercado por sereianos armados de lan�as com cara de que eram bem capazes de matar. � Vamos � disse Harry com rispidez �, me ajude com a garota, acho que ela n�o sabe nadar muito bem. Os dois puxaram a irm� de Fleur pela �gua, at� a margem, onde os juizes aguardavam de p� observando-os, vinte sereianos acompanhavam os garotos como uma guarda de honra, cantando aquelas horr�veis m�sicas agudas. Harry viu Madame Pomfrey cuidando de Hermione, Krum, Cedrico e Cho, todos enrolados em grossos cobertores. Dumbledore e Ludo Bagman estavam parados na margem, e sorriram para Harry e Rony quando eles se aproximaram, mas Percy, que parecia muito p�lido e, por alguma raz�o, mais jovem do que era, saiu espalhando �gua ao encontro deles. Entrementes, Madame Maxime tentava conter Fleur Delacour, que estava muito nervosa, lutando com unhas e dentes para voltar � �gua. � Gabrielle! Gabrielle! Ela est� viva? Ela est� machucada? � Ela est� �tima! � Harry tentou lhe dizer, mas se sentia t�o exausto que mal conseguia falar, quanto menos gritar. Percy agarrou Rony e saiu arrastando-o para a margem ("Sai pra l�, Percy, eu estou bem!"), Dumbledore e Bagman ergueram Harry, Fleur se desvencilhara de Madame Maxime e abra�ava a irm�. � Forram os g-rrindylows... Eles me atacarron... Ah, Gabrrielle, pensei... Pensei... � Venha aqui, voc� � ouviu-se a voz de Madame Pomfrey, ela agarrou Harry e levou-o at� Hermione e os outros, embrulhou-o num cobertor t�o apertado que ele se sentiu preso numa camisa de for�a, e empurrou uma dose de uma po��o muito quente pela garganta do garoto. Saiu vapor por suas orelhas. � Muito bem, Harry! � exclamou Hermione. � Voc� conseguiu, voc� descobriu como conseguir, sozinho! � Bem... � disse Harry. Ele teria contado a ela sobre Dobby, mas acabara de notar que Karkaroff o observava. Era o �nico juiz que n�o abandonara a mesa, o �nico juiz que n�o dava sinais de satisfa��o nem al�vio que Harry, Rony e a irm� de Fleur tivessem voltado s�os e salvos. � �, � verdade � disse Harry, levantando ligeiramente a voz para Karkaroff poder ouvi-lo. � Voc� tem um besourro-d��gua prreso nos cabelos, Hermi-�nini � disse Krum. Harry teve a impress�o de que Krum estava tentando fazer a garota voltar sua aten��o para ele, talvez para lembr�-la que ele acabara de resgat�-la do lago, mas Hermione sacudiu o besouro para longe com impaci�ncia. � Mas voc� ultrapassou muito o tempo dado, Harry... Voc� levou muito tempo para nos encontrar? � N�o... Encontrei voc�s logo... A sensa��o de burrice de Harry foi crescendo. Agora que estava fora da �gua, pareceu-lhe perfeitamente claro que as precau��es de seguran�a tomadas por Dumbledore n�o teriam permitido a morte de um ref�m porque o campe�o n�o aparecera. Por que ele simplesmente n�o apanhara Rony e viera embora? Teria sido o primeiro a voltar... Cedrico e Krum n�o tinham perdido tempo se preocupando com mais ningu�m, n�o tinham levado a m�sica dos sereianos a s�rio... Dumbledore se encontrava agachado � beira da �gua, absorto em conversa com algu�m que parecia ser o chefe dos sereianos, uma f�mea particularmente selvagem, de aspecto feroz. Emitia o mesmo tipo de guinchos que o de seus companheiros quando estavam embaixo da �gua, era �bvio que Dumbledore sabia falar ser�iaco. Finalmente ele se ergueu, virou-se para os demais juizes e disse: � Acho que precisamos conversar antes de dar as notas. Os juizes se agruparam. Madame Pomfrey tinha ido salvar Rony dos abra�os de Percy; ela o levou para onde estavam os outros garotos, deu-lhe um cobertor e um pouco de Po��o Estimulante, depois foi buscar Fleur e a irm�. Fleur tinha muitos cortes no rosto e nos bra�os, e suas vestes estavam rasgadas, mas ela n�o parecia se importar, nem queria deixar Madame Pomfrey trat�-la. � Cuide da Gabrrielle � disse a garota virando-se para Harry. � Voc� salvou minha irrm� � disse ofegante. � Mesmo ela n�o sendo sua rref�m. � Foi � disse Harry, que agora desejava de todo o cora��o ter deixado as garotas amarradas � est�tua. Fleur se abaixou, beijou Harry nas duas bochechas (ele sentiu o rosto queimando e n�o ficaria surpreso se estivesse pondo vapor pelas orelhas outra vez), em seguida disse a Rony: � E voc�, tamb�m... Voc� ajudou... � Foi � disse ele parecendo extremamente esperan�oso �, foi, um pouquinho... Fleur se curvou para ele, tamb�m, e o beijou. Hermione pareceu simplesmente furiosa, mas naquele instante, a voz magicamente ampliada de Ludo Bagman reboou ao lado deles, pregando-lhes um susto e fazendo os espectadores nas arquibancadas mergulharem num grande sil�ncio. � Senhoras e senhores, j� chegamos a uma decis�o. A chefe dos sereianos, Murcus, nos contou exatamente o que aconteceu no fundo do lago e, portanto, em um m�ximo de cinq�enta, decidimos atribuir a cada campe�o, as seguintes notas... A Srta. Fleur Delacour, embora tenha feito uma excelente demonstra��o do Feiti�o Cabe�a-de-bolha, foi atacada por grindylows ao se aproximar do alvo e n�o conseguiu resgatar sua ref�m. Recebeu vinte e cinco pontos. Aplausos das arquibancadas. � Eu merrecia zerro � disse Fleur com uma voz gutural, sacudindo a magn�fica cabe�a. � O Sr. Cedrico Diggory, que tamb�m usou o Feiti�o Cabe�a-de-bolha, foi o primeiro a voltar com a ref�m, embora tenha chegado um minuto depois da hora marcada. � Ouviram-se grandes aplausos dos alunos da Corvinal entre os espectadores, Harry viu Cho lan�ar um olhar feio a Cedrico. � Portanto, recebeu quarenta e sete pontos. O �nimo de Harry despencou. Se Cedrico ultrapassara o limite de tempo, com certeza ele fizera o mesmo. � O Sr. V�tor Krum usou uma forma de transforma��o incompleta, mas ainda assim eficiente, e foi o segundo a voltar com a ref�m. Recebeu quarenta pontos. Karkaroff bateu palmas com especial entusiasmo, fazendo ar de superioridade. � O Sr. Harry Potter usou guelricho com grande efic�cia � continuou Bagman. � Ele voltou por �ltimo e ultrapassou em muito o prazo de uma hora. Contudo, a chefe dos sereianos nos informou que o Sr. Potter foi o primeiro a chegar aos ref�ns, e o atraso na volta se deveu � sua determina��o de trazer todos os ref�ns � seguran�a e n�o apenas o seu. Rony e Hermione lan�aram a Harry olhares meio exasperados, meio penalizados. � A maioria dos juizes � e aqui Bagman olhou com muita indigna��o para Karkaroff � acha que tal atitude revela fibra moral e merece o n�mero m�ximo de pontos. Mas... O Sr. Potter recebeu quarenta e cinco pontos. O est�mago de Harry deu um solavanco � agora ia disputar o primeiro lugar com Cedrico. Rony e Hermione, apanhados de surpresa, olharam para Harry, come�aram a rir e a aplaudir com entusiasmo com o resto dos espectadores. � L� vai voc�, Harry! � gritou Rony sobrepondo-se ao tumulto. � Afinal voc� n�o agiu como d�bil, revelou fibra moral! Fleur tamb�m o aplaudia freneticamente, mas Krum n�o pareceu nada feliz. Tentou puxar conversa com Hermione outra vez, mas ela estava ocupada demais aplaudindo Harry para lhe dar ouvidos. � A terceira e �ltima tarefa ser� realizada ao anoitecer do dia vinte e quatro de junho � continuou Bagman. � Os campe�es ser�o informados do que os espera exatamente um m�s antes. Agradecemos a todos o apoio dado aos campe�es. Terminou, pensou Harry atordoado, quando Madame Pomfrey come�ou a arrebanhar os campe�es e ref�ns em dire��o ao castelo para trocarem roupas secas... Terminara, ele conseguira... N�o precisava se preocupar com coisa alguma agora at� o dia vinte e quatro de junho... Da pr�xima vez que estivesse em Hogsmeade, resolveu ele, ao subir os degraus de pedra do castelo, ia comprar para Dobby um par de meias para cada dia do ano. CAP�TULO VINTE E SETE A volta de Almofadinhas Uma das melhores conseq��ncias da segunda tarefa foi que todo mundo ficou muito interessado em saber os detalhes do que acontecera no fundo do lago, o que significou que, uma vez na vida, Rony estava conseguindo dividir as luzes da ribalta com Harry. Este reparou que a vers�o do seu amigo sobre os acontecimentos mudava sutilmente cada vez que ele os contava. A princ�pio, Rony narrava o que parecia ter sido a verdade, pelo menos batia com a hist�ria de Hermione � Dumbledore havia mergulhado os ref�ns em um sono encantado na sala da Professora McGonagall, depois de garantir a todos que estariam seguros e que despertariam quando voltassem � superf�cie da �gua. Uma semana mais tarde, no entanto, Rony j� estava contando uma hist�ria emocionante de seq�estro, em que ele lutara sozinho contra cinq�enta sereianos armados at� os dentes que precisaram domin�-lo a pancada antes de amarr�-lo. � Mas eu levei a minha varinha escondida na manga � Rony tranq�ilizou Padma Parvat, que parecia bem mais interessada agora que o garoto andava recebendo tanta aten��o, e fazia quest�o de falar com ele todas as vezes que se encontravam nos corredores. � Eu poderia ter enfrentado aqueles sereidiotas a qualquer hora que quisesse. � Que � que voc� ia fazer, atacar os caras a roncos? � perguntou Hermione alfinetando-o. Tinham ca�oado tanto dela por ser a coisa de que V�tor Krum mais sentiria falta que ela andava meio mal humorada. As orelhas de Rony ficaram vermelhas e dali em diante ele reverteu � vers�o do sono encantado. Quando mar�o come�ou, o tempo ficou mais seco, mas ventos cortantes esfolavam o rosto e as m�os todas as vezes que as pessoas sa�am aos jardins. Havia atrasos no correio porque o vento n�o parava de tirar as corujas da rota. A coruja marrom que Harry enviara a Sirius com a data do fim de semana em Hogsmeade apareceu na hora do caf� da manh� de sexta-feira com metade das penas viradas pelo avesso, Harry mal acabara de desprender a resposta de Sirius, a coruja levantou v�o, visivelmente receosa de que fosse ser despachada outra vez. A carta de Sirius era quase t�o curta quanto a anterior. �Esteja nos degraus no fim da estrada que sai de Hogsmeade (depois da Dervixes & Bangues) �s duas horas da tarde de s�bado. Traga o m�ximo de comida que puder.� � Ele n�o voltou a Hogsmeade? � perguntou Rony, incr�dulo. � � que parece, n�o �? � disse Hermione. � N�o d� para acreditar � disse Harry tenso. � Se ele for apanhado... � Mas at� agora n�o foi, n�o �? � disse Rony. � E agora o lugar nem est� mais infestado de dementadores. Harry dobrou a carta, pensativo. Se fosse honesto consigo mesmo admitiria que queria realmente rever Sirius. Seguiu, portanto, para a �ltima aula da tarde � os dois tempos de Po��es � sentindo-se muit�ssimo mais animado do que era o seu normal quando descia as escadas para as masmorras. Malfoy, Crabbe e Goyle estavam parados � porta da sala de aula com o grupinho de garotas da Sonserina que andava com Pansy Parkinson. Todas estavam olhando alguma coisa que Harry n�o p�de ver e davam risadinhas animadas. A cara de buldogue de Pansy espiava excitada por tr�s das largas costas de Goyle quando Harry, Rony e Hermione se aproximaram. � Eles v�m vindo a�, eles v�m vindo a�! � disse ela entre risadinhas e o ajuntamento de alunos da Sonserina se desfez. Harry viu que Pansy tinha nas m�os uma revista � o Seman�rio das Bruxas. A foto animada na capa mostrava uma bruxa de cabelos crespos, com um sorriso cheio de dentes, que apontava com a varinha para um grande bolo de claras. � Talvez voc� encontre a� uma coisa de seu interesse, Granger! � disse Pansy em voz alta e atirou a revista para Hermione, que a aparou, fazendo cara de espanto. Naquele momento, a porta da masmorra se abriu e Snape fez sinal para todos entrarem. Hermione, Harry e Rony se dirigiram a uma mesa no fundo da sala como de costume. Quando Snape deu as costas � turma para escrever no quadro-negro os ingredientes da po��o do dia, Hermione folheou rapidamente a revista, por baixo da mesa. Finalmente, nas p�ginas centrais, ela encontrou o que estava procurando. Harry e Rony se aproximaram. Uma foto colorida de Harry encimava uma pequena not�cia intitulada: "A MAGOA SECRETA DE HARRY POTTER" Um garoto excepcional, talvez, mas um garoto que sofre todas as dores comuns da adolesc�ncia, escreve Rita Skeeter. Privado do amor desde o tr�gico falecimento dos pais, Harry Potter, catorze anos, pensou que tinha achado consolo com sua namorada firme em Hogwarts, a garota nascida trouxa, Hermione Granger. Mal sabia que em breve estaria sofrendo mais um rev�s emocional numa vida afligida por perdas pessoais. A Srta. Granger, uma garota sem atrativos, mas ambiciosa, parece ter uma queda por bruxos famosos que somente Harry n�o basta para satisfazer. Desde que Vitor Krum, o apanhador b�lgaro e her�i da �ltima Copa Mundial de Quadribol, chegou em Hogwarts a Srta. Granger tem brincado com as afli��es dos dois rapazes. Krum, que est� visivelmente apaixonado pela dissimulada Srta. Granger, j� a convidou para visit�-lo na Bulg�ria nas f�rias de ver�o e insiste que "nunca se sentiu assim com nenhuma outra garota�. Contudo, talvez n�o tenham sido os duvidosos encantos naturais da Srta. Granger que conquistaram o interesse desses pobres rapazes. "Ela � realmente feia" diz Pansy Parkinson, uma estudante bonita e viva do quarto ano, "mas � bem capaz de preparar uma Po��o do Amor, tem bastante intelig�ncia para isso. Acho que foi isso que ela fez.� As po��es do amor s�o naturalmente proibidas em Hogwarts, e sem d�vida Alvo Dumbledore ir� querer apurar essas afirma��es. Entrementes, os simpatizantes de Harry Potter fazem votos que, da pr�xima vez, ele entregue seu cora��o a uma candidata que o mere�a. � Eu disse a voc�! � sibilou Rony para Hermione que continuava a olhar o artigo abobada. � Eu disse pra voc� n�o aborrecer Rita Skeeter! Ela fez voc� parecer uma esp�cie de... Jezabel! Hermione desfez o ar perplexo e soltou uma risada abafada. � Jezabel! � repetiu ela, sacudindo o corpo de tanto conter o riso e olhando para Rony. � O que mam�e diz que elas s�o � murmurou Rony, suas orelhas tornando a corar. � Se isso � o melhor que Rita � capaz de escrever, ent�o ela est� perdendo o jeito � disse Hermione, ainda dando risadinhas e atirando o Seman�rio das Bruxas em uma cadeira vazia do lado. � Que monte de lixo. Hermione olhou para os colegas da Sonserina, que observavam ela e Harry com aten��o, do outro lado da sala, para ver se tinham se chateado com o artigo. A garota deu um sorriso ir�nico e acenou para o grupinho. Em seguida ela, Harry e Rony come�aram a desempacotar os ingredientes que iriam precisar para a Po��o da Sagacidade. � Mas tem uma coisa engra�ada � disse Hermione dez minutos depois, segurando o pil�o suspenso sobre uma tigela de escaravelhos. � Como � que a Rita Skeeter poderia ter sabido...? � Sabido o qu�? � perguntou Rony depressa. � Voc� n�o andou preparando Po��es de Amor, andou? � Deixe de ser retardado � retorquiu Hermione, recome�ando a pilar os escaravelhos. � N�o, � s� que... Como foi que ela soube que V�tor me convidou para visit�-lo no ver�o? Hermione ficou escarlate ao dizer isso e deliberadamente evitou os olhos de Rony. � Qu�? � exclamou Rony, deixando cair o pil�o com estr�pito. � Ele me convidou logo depois de ter me tirado do lago � murmurou Hermione. � Assim que se livrou da cabe�a de tubar�o. Madame Pomfrey nos deu cobertores e ent�o ele meio que me puxou para longe dos juizes, para eles n�o ouvirem, e me perguntou, se eu n�o estivesse fazendo nada no ver�o, se eu gostaria de... � E o que foi que voc� respondeu? � perguntou Rony, que apanhara o pil�o e estava amassando a mesa, a bem quinze cent�metros do caldeir�o, porque n�o tirava os olhos de Hermione. � E ele realmente disse que nunca se sentira desse jeito com nenhuma garota � continuou ela, t�o vermelha agora que Harry at� podia sentir o calor que emanava do corpo dela �, mas como � que Rita Skeeter poderia ter ouvido? Ela n�o estava l�... Ou estava? Vai ver ela tem uma Capa da Invisibilidade, vai ver entrou escondida na propriedade para assistir � segunda tarefa... � E que foi que voc� respondeu? � repetiu Rony, batendo o pil�o com tanta for�a que fez uma mossa na mesa. � Bem, eu estava t�o ocupada vendo se voc� e Harry estavam OK. Que... � Por mais fascinante, sem d�vida, que seja sua vida social, Srta. Granger � disse uma voz g�lida bem atr�s deles �, devo lhe pedir para n�o discuti-la em minha aula. Dez pontos a menos para Grifin�ria. Snape havia deslizado silenciosamente at� a mesa dos garotos enquanto eles conversavam. A turma inteira agora foi se virando para olh�-los, Malfoy aproveitou a oportunidade para lampejar o �POTTER FEDE� l� do outro lado da masmorra. � Ah... E lendo revistas embaixo da mesa? � acrescentou Snape, agarrando o exemplar do Seman�rio das Bruxas. � Outros dez pontos a menos para Grifin�ria... Ah, mas naturalmente... � os olhos negros de Snape brilharam ao recair sobre o artigo de Rita Skeeter. � Potter tem que manter em dia os seus recortes de jornais e revistas sobre ele... A masmorra ecoou as risadas dos alunos da Sonserina, e um sorriso desagrad�vel crispou a boca fina de Snape. Para f�ria de Harry, o professor come�ou a ler o artigo em voz alta: � A m�goa secreta de Harry Potter... Ai, ai, ai, Potter, onde � que est� doendo agora? Um garoto excepcional, talvez... Harry sentia o rosto arder agora. Snape parava ao fim de cada frase para permitir aos alunos da Sonserina rirem � vontade. O artigo parecia dez vezes pior lido pelo professor. � Os simpatizantes de Harry Potter fazem votos que, da pr�xima vez, ele entregue seu cora��o a uma candidata que o mere�a. Que coisa comovente � debochou Snape, enrolando a revista ao som das gargalhadas dos garotos da Sonserina. � Bem, acho melhor separar voc�s tr�s, para que possam se concentrar nas po��es em lugar dos desencontros de suas vidas primorosas. Weasley, fique onde est�. Srta. Granger, l�, ao lado da Srta. Parkinson. Potter, naquela carteira em frente � minha escrivaninha. Mexam-se. Agora. Furioso, Harry jogou seus ingredientes e a mochila no caldeir�o e arrastou-o at� uma mesa vazia na frente da sala. Snape o acompanhou, sentou-se � pr�pria escrivaninha e observou Harry descarregar o caldeir�o. Decidido a n�o olhar para Snape, Harry retomou a tarefa de pilar os escaravelhos, imaginando que cada um deles tinha a cara do professor. � Toda essa aten��o da imprensa parece ter inchado a sua cabe�a que j� � demasiado grande, Potter � disse Snape em voz baixa, depois que o restante da turma se aquietou. Harry n�o respondeu. Sabia que o professor estava tentando provoc�-lo, j� fizera isso antes. Sem d�vida esperava ter uma desculpa para descontar cinq�enta pontos redondos da Grifin�ria antes do fim da aula. � Voc� talvez esteja vivendo a ilus�o de que o mundo da magia inteiro est� impressionado com voc� � continuou Snape, em voz t�o baixa que mais ningu�m podia ouvi-lo (Harry continuou a pilar os escaravelhos, embora j� os tivesse reduzido a um p� muito fino) �, mas eu n�o me impressiono com o n�mero de vezes que sua foto aparece nos jornais. Para mim, Potter, voc� n�o passa de um menininho mau car�ter que acha que est� acima dos regulamentos. Harry virou os escaravelhos pulverizados no caldeir�o e come�ou a cortar as ra�zes de gengibre. Suas m�os tremiam levemente de raiva, mas ele mantinha os olhos baixos, como se nem ouvisse o que Snape dizia. � Portanto, eu vou lhe dar um aviso, Potter � continuou o professor, num tom de voz mais suave e perigoso � seja voc� uma celebridade mirim ou n�o, se eu o apanhar invadindo a minha sala outra vez... � Eu n�o cheguei nem perto da sua sala! � disse Harry com raiva, esquecendo sua fingida surdez. � N�o minta para mim sibilou Snape, � seus abissais olhos negros perfurando os de Harry. � Araramb�ia, Guelricho. Ambos sa�ram do meu estoque particular e eu sei quem foi que os roubou. Harry sustentou o olhar de Snape, decidido a n�o piscar, nem fazer cara de culpado. Na verdade, ele n�o roubara nenhuma das duas coisas de Snape. Hermione tirara a araramb�ia no segundo ano � tinham precisado dela para a Po��o Polissuco �, e embora Snape suspeitasse de Harry na ocasi�o, nunca pudera comprovar sua suspeita. Dobby, naturalmente, roubara o guelricho. � N�o sei do que o senhor est� falando � mentiu Harry com frieza. � Voc� estava fora da cama na noite em que a minha sala foi invadida! � sibilou Snape. � Eu sei disso, Potter! Agora talvez Olho-Tonto Moody tenha entrado para o seu f�-clube, mas eu n�o vou tolerar o seu comportamento! Mais um passeio noturno � minha sala, Potter, e voc� vai me pagar! � Certo! � respondeu Harry calmamente, voltando sua aten��o para as ra�zes de gengibre. � Me lembrarei disso se algum dia sentir um impulso de entrar l�. Os olhos de Snape faiscaram. Ele mergulhou a m�o nas vestes negras. Por um segundo delirante Harry pensou que ele ia puxar a varinha e amaldi�o�-lo. Ent�o viu que o professor tirara um frasquinho de cristal com uma po��o totalmente cristalina. Harry ficou olhando fixamente para o frasco. � Sabe o que � isso, Potter? � perguntou Snape, com os olhos mais uma vez brilhando perigosamente. � N�o � respondeu Harry desta vez com absoluta honestidade. � � Veritaserum, uma Po��o da Verdade t�o potente que tr�s gotas fariam voc� confessar os seus segredos mais �ntimos para a turma inteira ouvir � disse Snape maldosamente. � Agora, o uso desta po��o � controlado por rigorosas diretrizes do Minist�rio. Mas a n�o ser que voc� tome cuidado com o que faz, vai acabar descobrindo que a minha m�o pode escorregar sem querer � ele sacudiu de leve o frasquinho de cristal � bem em cima do seu suco de ab�bora da noite. Ent�o, Potter... Ent�o descobriremos se voc� esteve ou n�o na minha sala. Harry n�o respondeu. Voltou mais uma vez sua aten��o para as ra�zes de gengibre, apanhou uma faca e come�ou a cort�-las. N�o gostou nem um pouco daquela hist�ria de Po��o da Verdade, nem duvidou que Snape fosse capaz de ministr�-la furtivamente. Conteve um tremor ao pensar no que poderia sair sem querer de sua boca se tomasse a po��o... Sem falar que deixaria um bocado de gente em apuros � Hermione e Dobby, para come�ar �, havia ainda todo o resto que ele estava escondendo... Como o fato de estar em contato com Sirius... E � suas entranhas reviraram s� de pensar � seus sentimentos por Cho... O garoto acrescentou as ra�zes de gengibre ao caldeir�o e se perguntou se deveria, se guiar pela cartilha de Moody e come�ar a beber apenas de um frasco de bolso s� seu. Houve uma batida na porta da masmorra. � Entre � disse Snape, com a sua voz habitual. A turma olhou quando a porta se abriu. O Professor Karkaroff entrou. Todos o observaram se dirigir � escrivaninha de Snape. Estava enrolando o dedo na barbicha outra vez e parecia agitado. � Precisamos conversar � disse Karkaroff abruptamente, ao chegar perto de Snape. Parecia t�o decidido a n�o deixar ningu�m ouvir o que estava dizendo que mal abria a boca, era como se fosse um ventr�loquo med�ocre. Harry manteve os olhos nas ra�zes de gengibre, mas apurou os ouvidos. � Falarei com voc� quando terminar a aula, Karkaroff. � murmurou Snape, mas o colega o interrompeu. � Quero falar agora, que voc� n�o pode fugir, Severo. Voc� tem me evitado. � Depois da aula � retrucou Snape com rispidez. Sob o pretexto de erguer uma x�cara graduada e ver se medira suficiente bile de tatu, Harry arriscou um olhar de esguelha para os dois. Karkaroff parecia extremamente preocupado e Snape, aborrecido. Karkaroff ficou rondando atr�s da escrivaninha de Snape durante o resto da aula. Parecia decidido a impedir que o colega escapulisse no fim da aula. Interessado em ouvir o que Karkaroff queria dizer, Harry derrubou intencionalmente um frasco de bile de tatu dois minutos antes de tocar a sineta, o que lhe deu uma desculpa para se agachar atr�s do caldeir�o e limpar o ch�o, enquanto o restante da turma se deslocava ruidosamente para a porta. � Que � que � t�o urgente assim? � o garoto ouviu Snape sibilar para Karkaroff. � Isto � disse Karkaroff, e Harry, espiando por cima do caldeir�o, viu o bruxo levantar a manga esquerda das vestes e mostrar a Snape alguma coisa do lado interno do antebra�o. � Ent�o? � disse Karkaroff, ainda fazendo esfor�o para n�o mexer a boca. � Est� vendo? Nunca esteve t�o n�tida assim, nunca desde... � Cubra isso! � rosnou Snape, seus olhos negros percorrendo a sala. � Mas voc� deve ter reparado � come�ou Karkaroff com a voz agitada. � Podemos conversar mais tarde, Karkaroff � vociferou Snape. � Potter! Que � que voc� est� fazendo? � Limpando a minha bile de tatu, professor � disse o garoto inocentemente, se erguendo e mostrando o trapo encharcado que tinha nas m�os. Karkaroff deu meia-volta e saiu da masmorra. Parecia ao mesmo tempo preocupado e aborrecido. N�o querendo ficar sozinho com um Snape excepcionalmente raivoso, Harry atirou os livros e os ingredientes para dentro da mochila e saiu bem depressinha para contar a Rony e Hermione o que acabara de presenciar. Os tr�s sa�ram do castelo ao meio-dia no dia seguinte e depararam com um jardim iluminado por um sol fraco. O tempo estava mais ameno do que estivera o ano inteiro e na altura em que chegaram a Hogsmeade os garotos j� haviam despido as capas e jogado-as sobre os ombros. A comida que Sirius pedira para eles trazerem ia na mochila de Harry; tinham surrupiado uma d�zia de coxas de galinha, uma f�rma de p�o e uma garrafa de suco de ab�bora da mesa do almo�o. Foram at� a Trapo Belo Moda M�gica comprar um presente para Dobby, onde se divertiram escolhendo as meias mais espalhafatosas que conseguiram encontrar, inclusive um par com estrelas douradas e prateadas que piscavam, e outro que berrava quando ficava fedorento demais. Ent�o, � uma e meia eles subiram a rua Principal, passaram a Dervixes & Bangues e sa�ram em dire��o aos arredores do povoado. Harry nunca fora para aqueles lados antes. A estradinha serpeante os levou para os campos sem cultivo em torno de Hogsmeade. As casas ficavam mais espa�adas ali e os jardins maiores, os garotos caminhavam em dire��o ao morro a cuja sombra se situava Hogsmeade. Ent�o fizeram uma curva e viram a escada no fim da estradinha. � espera deles, as patas dianteiras apoiadas no degrau mais alto, havia um enorme c�o preto, que segurava alguns jornais na boca e parecia bastante familiar... � Ol�, Sirius � disse Harry, quando chegaram mais perto. O cachorro farejou, ansioso, a mochila de Harry, abanou uma vez o rabo, depois deu as costas e come�ou a se afastar atravessando o mato ralo que subia ao encontro do sop� rochoso do morro. Os garotos subiram os degraus e seguiram o cachorro. Sirius levou-os exatamente para o sop� do morro, onde o terreno era coberto de pedras e pedregulhos. Era f�cil para ele com suas quatro patas, mas os garotos logo ficaram sem f�lego. Continuaram a acompanhar Sirius, que come�ou a subir o morro propriamente dito. Durante quase meia hora escalaram uma trilha �ngreme, serpeante e pedregosa, atr�s de Sirius que abanava o rabo, suando ao sol, as tiras da mochila de Harry cortando os ombros do garoto. Ent�o, finalmente, Sirius desapareceu de vista, e quando eles chegaram ao lugar em que ele desaparecera, viram uma fenda estreita na rocha. Espremeram-se por ela e se viram em uma caverna fresca e fracamente iluminada. Preso a um canto, uma ponta da corda passada em volta de um pedregulho, estava Bicu�o, o hipogrifo. Metade cavalo cinzento, metade enorme �guia, os olhos ferozes e alaranjados do animal brilharam ao ver os visitantes. Os tr�s fizeram uma profunda rever�ncia para Bicu�o que, depois de fit�-los, imperiosamente, por um momento, dobrou o joelho escamoso e permitiu que Hermione corresse para acariciar o seu pesco�o coberto de penas. Harry, por�m, observava o cachorro preto que acabara de se transformar em seu padrinho. Sirius estava usando vestes cinzentas rasgadas; as mesmas que usava quando deixara Azkaban. Os cabelos negros estavam mais compridos do que da �ltima vez que aparecera na lareira, e novamente malcuidados e embara�ados. Parecia muito magro. � Galinha! � exclamou, rouco, depois de tirar os exemplares do Profeta Di�rio da boca e atir�-los ao ch�o da caverna. Harry abriu depressa a mochila e lhe entregou o embrulho de coxas de galinha e p�o. � Obrigado � disse Sirius, abrindo-o, agarrando uma coxa, sentando-se no ch�o da caverna e cortando um bom peda�o com os dentes. � Quase que s� tenho comido ratos. N�o posso roubar muita comida de Hogsmeade; chamaria aten��o para mim. Ele sorriu para Harry, mas o garoto relutou a retribuir o sorriso. � Que � que voc� est� fazendo aqui, Sirius? � perguntou. � Cumprindo minhas obriga��es de padrinho � disse Sirius, mordendo o osso de galinha de um jeito muito canino. � N�o se preocupe comigo, estou fingindo ser um ador�vel c�o vadio. Ele ainda sorria, mas, ao ver a ansiedade no rosto de Harry, continuou com mais seriedade: � Quero estar em cima do lance. A sua �ltima carta... Bem, digamos que as coisas est�o come�ando a cheirar pior. E tenho roubado jornais todas as vezes que algu�m joga um fora e, pelo que parece, eu n�o sou o �nico que est� ficando preocupado. Ele indicou com a cabe�a os exemplares amarelados do Profeta Di�rio no ch�o da caverna, e Rony apanhou uns e abriu-os. Harry, no entanto, continuou a encarar o padrinho. � E se eles pegarem voc�? E se virem voc�? � Voc�s tr�s e Dumbledore s�o os �nicos por aqui que sabem que eu sou um animago � disse Sirius sacudindo os ombros e continuando a devorar a galinha. Rony cutucou Harry e lhe passou os exemplares do Profeta Di�rio. Havia dois, o primeiro tinha a manchete Doen�a misteriosa de Bartolomeu Crouch, e o segundo, Bruxa do Minist�rio continua desaparecida � o Minist�rio da Magia agora est� pessoalmente envolvido. Harry correu os olhos pelo artigo sobre Crouch. Frases soltas destacaram-se sob seus olhos: N�o � visto em p�blico desde novembro... casa parece deserta...O Hospital St. Mungus para Doen�as e Acidentes M�gicos n�o quer comentar... Minist�rio se recusa a confirmar os boatos sobre doen�a grave... � Est�o fazendo parecer que ele est� morrendo � disse Harry lentamente. � Mas n�o deve estar se conseguiu vir at� aqui... � Meu irm�o � assistente pessoal de Crouch � informou Rony a Sirius. � Ele diz que o cara est� sofrendo de estresse. � Veja bem, ele realmente parecia doente na �ltima vez que eu o vi de perto � disse Harry devagar, ainda lendo o artigo. � Na noite que o meu nome foi escolhido pelo C�lice... � Est� recebendo o que merecia por despedir Winky, n�o? � comentou Hermione friamente. Ela acariciava Bicu�o, que mastigava os ossos de galinha deixados por Sirius. � Aposto como gostaria de n�o ter feito isso, aposto como sente a diferen�a agora que ela n�o est� mais l� para cuidar dele. � Mione est� obcecada por elfos dom�sticos � murmurou Rony para Sirius, lan�ando � garota um olhar aborrecido. Sirius, no entanto, pareceu interessado. � Crouch despediu o elfo dom�stico dele? � Despediu na Copa Mundial de Quadribol � disse Harry e come�ou a contar a hist�ria do aparecimento da Marca Negra, de Winky ter sido encontrada com a varinha de Harry na m�o e da f�ria do Sr. Crouch. Quando Harry terminou, Sirius se levantou novamente e come�ou a andar para cima e para baixo na caverna. � Deixe-me entender isso direito � disse ele depois de algum tempo, brandindo mais uma coxa de galinha. � Primeiro voc� viu o elfo no camarote de honra. Estava guardando um lugar para Crouch, certo? � Certo � disseram Harry, Rony e Hermione juntos. � Mas Crouch n�o apareceu para assistir ao jogo? � N�o � confirmou Harry. � Acho que ele disse que esteve ocupado demais. Sirius deu outra volta na caverna em sil�ncio. Ent�o disse: � Harry, voc� procurou sua varinha nos bolsos depois que deixou o camarote de honra? � Hum... � Harry se concentrou. � N�o � respondeu finalmente. � N�o precisei us�-la at� chegarmos � floresta. Ent�o meti a m�o no bolso e s� encontrei o meu oni�culo. � Ele olhou para Sirius. � Voc� est� dizendo que quem conjurou a Marca furtou minha varinha no camarote de honra? � � poss�vel � disse Sirius. � Winky n�o furtou a varinha! � protestou Hermione com voz aguda. � O elfo n�o era o �nico ocupante do camarote � disse Sirius, enrugando a testa e continuando a andar. � Quem mais estava sentado atr�s de voc�? � Um monte de gente � respondeu Harry. � Uns ministros b�lgaros... Corn�lio Fudge... Os Malfoy... � Os Malfoy! � exclamou Rony subitamente, t�o alto que sua voz ecoou pelas paredes da caverna o que fez Bicu�o agitar a cabe�a nervosamente. � Aposto como foi o L�cio Malfoy! � Mais algu�m? � perguntou Sirius. � N�o. � Ah, sim, tinha o Ludo Bagman � lembrou Hermione a Harry. � Ah, foi... � N�o sei nada sobre o Bagman, exceto que costumava bater para os Wimbourne Wasps � disse Sirius, ainda andando. � Que tal � ele? � OK. � disse Harry. � Fica o tempo todo se oferecendo para me ajudar no Torneio Tribruxo. � Fica, �? � perguntou Sirius, aprofundando as rugas na testa. � Por que ser� que ele faria isso? � Disse que se afei�oou a mim. � Hum � murmurou Sirius pensativo. � N�s o vimos na floresta pouco antes da Marca Negra aparecer � contou Hermione a Sirius. � Voc�s lembram? � perguntou ela a Harry e Rony. � Lembramos, mas ele n�o ficou na floresta, n�o foi? � disse Rony. � Assim que falamos do tumulto, ele saiu para o acampamento. � Como � que voc� sabe? � disparou Hermione. � Como � que voc� sabe para onde foi que ele desaparatou? � Pode parar � disse Rony incr�dulo �, voc� est� dizendo que acha que Ludo Bagman conjurou a Marca Negra? � � mais prov�vel que ele tenha feito isso do que Winky � retrucou a menina teimosamente. � Eu lhe disse � falou Rony dando um olhar significativo para Sirius �, eu lhe disse que ela est� obcecada por elfos... Mas Sirius ergueu a m�o para calar Rony. � Depois que a Marca Negra foi conjurada e o elfo descoberto segurando a varinha de Harry, que foi que o Crouch fez? � Foi procurar no meio das moitas � disse Harry �, mas n�o havia mais ningu�m l�. � Claro � murmurou Sirius andando para cima e para baixo �, claro, ele teria querido p�r a culpa em qualquer um menos no pr�prio elfo... E ent�o o despediu? � Foi � disse Hermione num tom acalorado �, despediu, s� porque ela n�o tinha ficado na barraca esperando ser pisoteada... � Hermione, ser� que voc� pode dar um tempo com esse elfo? � pediu Rony. Mas Sirius balan�ou a cabe�a e disse; � Ela avaliou Crouch melhor do que voc�, Rony. Se voc� quer saber como um homem � veja como ele trata os inferiores, e n�o os seus iguais. O bruxo passou a m�o pelo rosto barbudo, evidentemente se concentrando. � Todas essas aus�ncias de Bart� Crouch... Ele se d� ao trabalho de garantir que seu elfo guarde um lugar para ele na Copa Mundial de Quadribol, mas n�o se importa de ir assistir. Ele trabalha com afinco para restabelecer o Torneio Tribruxo, e em seguida p�ra de comparecer tamb�m... Isto n�o se parece nada com o Crouch. Se ele alguma vez tiver faltado ao trabalho por causa de doen�a, eu como o Bicu�o. � Voc� conhece o Crouch, ent�o? � perguntou Harry. O rosto de Sirius ficou sombrio. Inesperadamente pareceu t�o amea�ador quanto na noite em que Harry o viu pela primeira vez, quando o garoto ainda acreditava que o padrinho fosse um assassino. � Ah, eu conhe�o Crouch, sim � disse ele em voz baixa. � Foi quem deu a ordem para me mandar para Azkaban, sem julgamento. � Qu�?� exclamaram Rony e Hermione juntos. � Voc� est� brincando! � disse Harry. � N�o, n�o estou � respondeu Sirius, enchendo a boca de galinha. � Crouch costumava ser chefe do Departamento de Execu��o das Leis da Magia, voc�s n�o sabiam? Harry, Rony e Hermione balan�aram as cabe�as. � Previa-se que ele fosse o pr�ximo Ministro da Magia. Ele � um grande bruxo, Bart� Crouch, de grande poder m�gico, e de grande fome de poder. Ah, nunca foi partid�rio de Voldemort � acrescentou, ao ver a express�o no rosto de Harry. � N�o, Bart� Crouch sempre foi abertamente contra o partido das trevas. Mas, por outro lado, muita gente que era contra o lado das trevas... Bem, voc�s n�o entenderiam... S�o muito jovens... � Foi isso que papai me disse na Copa Mundial � disse Rony, com um qu� de irrita��o na voz. � Experimente nos contar. Um sorriso perpassou o rosto magro de Sirius. � Est� bem, vou experimentar... Ele andou at� um lado da caverna, voltou e ent�o disse: � Imaginem que Voldemort detivesse o poder agora. Voc�s n�o sabem quem s�o os partid�rios dele, n�o sabem quem est� e quem n�o est� trabalhando para ele, voc�s sabem que ele � capaz de controlar as pessoas para que fa�am coisas terr�veis sem conseguir se conter. Voc�s pr�prios est�o apavorados, suas fam�lias e amigos, tamb�m. Toda semana voc�s t�m not�cias de mais mortes, mais desaparecimentos, mais torturas... O Minist�rio da Magia est� desestruturado, n�o sabe o que fazer, tenta ocultar dos trouxas o que est� acontecendo, mas nesse meio tempo os trouxas est�o morrendo tamb�m. Terror por toda parte... P�nico... Confus�o... Era assim que costumava ser. � Bem, tempos assim fazem vir � tona o que alguns t�m de melhor e o que outros t�m de pior. Os princ�pios de Crouch podem ter sido bons no in�cio, eu n�o saberia dizer. Ele subiu rapidamente no Minist�rio e come�ou a mandar executar medidas muito severas contra os partid�rios de Voldemort. Os aurores receberam novos poderes, para matar em vez de capturar, por exemplo. E eu n�o fui o �nico a ser entregue diretamente aos dementadores sem julgamento. Crouch combateu viol�ncia com viol�ncia e autorizou o uso das Maldi��es Imperdo�veis contra os suspeitos. Eu diria que ele se tornou t�o impiedoso e cruel quanto muitos do lado das trevas. Ele tinha os seus partid�rios, me entendam, muita gente achava que ele estava tratando o problema corretamente, e havia bruxas e bruxos exigindo que ele assumisse o Minist�rio da Magia. � Quando Voldemort sumiu, pareceu que era apenas uma quest�o de tempo para Crouch assumir o posto maior no Minist�rio. Mas ent�o aconteceu uma infelicidade... � Sirius sorriu amargurado. � O �nico filho de Crouch foi apanhado com um grupo de Comensais da Morte que tinham conseguido sair de Azkaban contando uma boa hist�ria. Aparentemente pretendiam encontrar Voldemort para reconduzi-lo ao poder. � O filho de Crouch foi apanhado? � exclamou Hermione. � Foi � disse Sirius, atirando o osso de galinha para Bicu�o, e voltando a se sentar ao lado da f�rma de p�o, que ele cortou ao meio. � Imagino que tenha sido um choque e tanto para o velho Bart�. Deveria ter passado mais tempo em casa com a fam�lia, n�o acham? Deveria ter sa�do do escrit�rio mais cedo um dia... Procurado conhecer o filho. Sirius come�ou a devorar grandes bocados de p�o. � O filho dele era mesmo um Comensal da Morte? � perguntou Harry. � N�o fa�o id�ia � respondeu o padrinho, enfiando mais p�o na boca. � Eu pr�prio estava em Azkaban quando o trouxeram. Descobri a maior parte do que estou contando depois que sa�. O rapaz foi sem a menor d�vida apanhado em companhia de gente que, posso apostar minha vida, era Comensal da Morte, mas ele talvez estivesse no lugar errado na hora errada, como esse elfo dom�stico. � Crouch tentou e conseguiu livrar o filho? � sussurrou Hermione. Sirius deu uma risada que pareceu muito mais um latido. � Crouch livrou o filho? Achei que voc� o tinha avaliado corretamente, Hermione. Qualquer coisa que amea�asse manchar a reputa��o dele precisava ser afastada, ele dedicou a vida inteira a chegar a Ministro da Magia. Voc�s viram ele dispensar um dedicado elfo dom�stico porque o associou com a Marca Negra, isso n�o diz a voc�s que tipo de pessoa ele �? O m�ximo a que sua afei��o paternal chegou foi dar ao filho um julgamento e, � voz geral, que isso n�o passou de uma desculpa para Crouch mostrar como detestava o rapaz... depois mandou-o direto para Azkaban. � Ele entregou o pr�prio filho aos dementadores? � perguntou Harry em voz baixa. � Isso mesmo � disse Sirius e ele n�o parecia estar achando gra�a alguma ent�o. � Eu vi os dementadores trazerem o rapaz preso, observei-os pelas grades da porta da minha cela. N�o devia ter mais de dezenove anos. Foi encarcerado em uma cela perto da minha. Ao cair da noite ele j� estava gritando pela m�e. Mas, depois de alguns dias, se calou... No fim todos se calam... Exceto quando gritam durante o sono... Por um momento, a express�o morti�a nos olhos de Sirius se tornou mais acentuada que nunca, como se as janelas tivessem se fechado por tr�s deles. � Ent�o ele ainda est� em Azkaban? � perguntou Harry. � N�o � disse Sirius sem emo��o. � N�o, ele n�o est� mais l�. Morreu um ano depois de o levarem para l�. � Morreu? � Ele n�o foi o �nico � disse Sirius com amargura. � A maioria enlouquece l�, e muitos param de comer quando se aproximam do fim. Perdem a vontade de viver. A gente sempre sabia quando a morte estava pr�xima, porque os dementadores pressentiam e ficavam excitados. O rapaz tinha um ar bem doentio quando chegou. � Por ser um importante funcion�rio do Minist�rio, Crouch e a mulher receberam permiss�o para visit�-lo no leito de morte. Foi a �ltima vez que vi Bart� Crouch, meio que carregando a mulher ao passar no corredor diante da minha cela. Parece que ela tamb�m morreu pouco depois. Tristeza. Definhou como o filho. Crouch nunca foi buscar o corpo do rapaz. Os dementadores o enterraram do lado de fora da fortaleza, eu fiquei assistindo. Sirius p�s de lado o p�o que acabara de levar � boca e, em lugar disso, apanhou a garrafa de suco de ab�bora e a esvaziou. � Ent�o o velho Crouch perdeu tudo, quando achou que chegara ao topo � continuou ele, limpando a boca com as costas da m�o. � Num momento, um her�i, pronto a se tornar Ministro da Magia... No momento seguinte, o filho morto, a mulher morta, o nome da fam�lia desonrado e, pelo que ouvi desde que fugi, uma grande queda na popularidade. Depois que o rapaz morreu, as pessoas come�aram a sentir um pouco mais de simpatia por ele, e come�aram a indagar como � que um rapaz de boa fam�lia tinha entortado daquele jeito. A conclus�o foi de que o pai nunca se preocupara muito com ele. Ent�o Corn�lio Fudge ganhou o lugar de ministro e Crouch foi deslocado para o Departamento de Coopera��o Internacional em Magia. Houve um longo sil�ncio. Harry ficou pensando no jeito com que os olhos de Crouch tinham saltado quando ele encarou o elfo desobediente l� na floresta, no final da Copa Mundial de Quadribol. Isto ent�o devia ter sido a raz�o da rea��o exagerada de Crouch ao saber que Winky fora encontrada embaixo da Marca Negra. A cena lhe trouxera lembran�as do filho, do antigo esc�ndalo e de sua queda no Minist�rio. � Moody diz que Crouch � obcecado por ca�ar bruxos das trevas � disse Harry a Sirius. � �, ouvi falar que se tornou uma esp�cie de mania nele � disse Sirius concordando com a cabe�a. � Se voc� quer saber a minha opini�o, ele ainda acha que pode recuperar a antiga popularidade capturando mais um Comensal da Morte. � E ele veio escondido a Hogwarts para revistar a sala de Snape! � exclamou Rony com ar de triunfo, olhando para Hermione. � �, e isso n�o faz o menor sentido � disse Sirius. � Claro que faz! � disse Rony excitado. Mas Sirius balan�ou a cabe�a. � Escute aqui, se Crouch quisesse investigar Snape, por que ent�o n�o tem ido julgar o torneio? Seria a desculpa ideal para fazer visitas regulares � escola e ficar de olho em Snape. � Ent�o voc� acha que Snape pode estar aprontando alguma? � perguntou Harry, mas Hermione os interrompeu. � Olhem, eu n�o acredito no que voc�s est�o dizendo, Dumbledore confia em Snape... � Ah, corta essa, Hermione � disse Rony impaciente. � Eu sei que Dumbledore � genial e tudo o mais, mas isto n�o significa que um bruxo das trevas realmente inteligente n�o possa enganar ele... � Por que foi, ent�o, que Snape salvou a vida de Harry no primeiro ano? Por que simplesmente n�o o deixou morrer? � N�o sei, vai ver pensou que Dumbledore lhe daria um chute... � Que � que voc� acha Sirius? � perguntou Harry em voz alta, e Rony e Hermione pararam de discutir para escutar. � Acho que os dois t�m uma certa raz�o � disse Sirius, olhando pensativo para Rony e Hermione. � Desde que descobri que Snape estava ensinando na escola, tenho pensado por que Dumbledore o contratou. Snape sempre foi fascinado pelas artes das trevas, era famoso por isso na escola. Um garoto esquivo, seboso, os cabelos gordurosos � acrescentou Sirius, e Harry e Rony se entreolharam rindo. � Snape conhecia mais feiti�os quando chegou na escola do que metade dos garotos do s�timo ano e fazia parte de uma turma da Sonserina, que, na maioria, acabou virando Comensal da Morte. Sirius ergueu a m�o e come�ou a contar nos dedos. � Rosier e Wilkes, os dois foram mortos por aurores um ano antes da queda de Voldemort. Os Lestranges se casaram, est�o em Azkaban. Avery pelo que ouvi dizer livrou a cara dizendo que tinha agido sob o efeito da Maldi��o Imperius, continua solto. Mas at� onde sei, Snape nunca foi acusado de ser Comensal da Morte, n�o que isto signifique grande coisa. Muitos deles jamais foram presos. E Snape certamente � muito inteligente e astuto para conseguir ficar de fora. � Snape conhece Karkaroff muito bem, mas n�o quer divulgar isso � disse Rony. � �, voc� devia ver a cara de Snape quando Karkaroff apareceu na aula de Po��es ontem! � disse Harry depressa. � Karkaroff queria falar com Snape, disse que o professor andava evitando ele. Karkaroff parecia realmente preocupado. Mostrou a Snape alguma coisa no bra�o, mas n�o pude ver o que era. � Ele mostrou a Snape alguma coisa no bra�o? � exclamou Sirius, parecendo sinceramente espantado. Passou os dedos, distra�do, pelos cabelos imundos, depois encolheu os ombros. � Bem, n�o fa�o id�ia do que possa ser... Mas se Karkaroff est� genuinamente preocupado, procurou Snape para obter respostas... Sirius ficou olhando para a parede da caverna, depois fez uma careta de frustra��o. � Mas ainda temos o fato de que Dumbledore confia em Snape, sei que Dumbledore confia no que muita gente n�o confiaria, mas n�o consigo v�-lo deixando Snape ensinar em Hogwarts se algum dia tivesse trabalhado para Voldemort. � Ent�o por que Moody e Crouch est�o t�o interessados em entrar na sala de Snape? � insistiu Rony. � Bem � respondeu Sirius lentamente �, eu n�o duvidaria que Olho-Tonto tivesse revistado as salas de todos os professores quando chegou em Hogwarts. Ele leva a s�rio a Defesa contra as Artes das Trevas. N�o tenho certeza de que ele confie em algu�m, e depois das coisas que tem visto, isto n�o � surpresa. Mas vou dizer uma coisa a favor do Moody, ele nunca matou ningu�m se pudesse evitar. Sempre capturou as pessoas vivas, quando era poss�vel. Ele � dur�o, mas nunca desceu ao n�vel dos Comensais da Morte. J� Crouch � outra conversa... Ele est� mesmo doente? Se est�, por que fez o esfor�o de se arrastar at� o escrit�rio de Snape? E se n�o est�... O que � que ele anda tramando? Que � que ele estava fazendo de t�o importante durante a Copa Mundial que n�o apareceu no camarote de honra? Que � que ele est� fazendo enquanto devia estar julgando o torneio? Sirius caiu em sil�ncio, ainda fitando a parede da caverna. Bicu�o fu�ava o ch�o empedrado � procura de ossos que pudesse ter deixado passar. Finalmente Sirius ergueu os olhos para Rony. � Voc� disse que seu irm�o � assistente pessoal do Crouch? Voc� tem jeito de perguntar se ele tem visto Crouch ultimamente? � Posso tentar � disse Rony em d�vida. � Mas � melhor n�o parecer que desconfio que Crouch esteja fazendo alguma coisa escondido. Percy adora Crouch. � E poderia, ao mesmo tempo, tentar descobrir se encontraram alguma pista da Berta Jorkins � disse Sirius, apontando para o segundo exemplar do Profeta Di�rio. � Bagman me disse que n�o tinham � informou Harry. � �, ele � citado no artigo do Profeta. Alardeando que a mem�ria de Berta � bem ruizinha. Bem, talvez ela tenha mudado desde que eu a conheci, mas a Berta que conheci n�o era nada desmemoriada, muito ao contr�rio. Era um pouco obtusa, mas tinha uma excelente mem�ria para fofocas. Isso costumava met�-la em muita confus�o, nunca sabia quando ficar de boca calada. Posso entender que representasse um certo risco para o Minist�rio da Magia... Talvez tenha sido por isso que Bagman n�o se importou de procurar por ela tanto tempo... Sirius deu um enorme suspiro e esfregou os olhos contornados de sombras escuras. � Que horas s�o? Harry consultou o rel�gio, ent�o se lembrou de que n�o estava funcionando desde que passara uma hora dentro do lago. � S�o tr�s e meia � informou Hermione. � � melhor voc�s voltarem para a escola � disse Sirius, se levantando. � Agora, escutem aqui... � E olhou mais insistentemente para Harry. � N�o quero voc�s saindo escondidos da escola para me ver, certo? Me mandem bilhetes para c�. Continuo querendo saber de qualquer coisa estranha. Mas voc�s n�o devem sair de Hogwarts sem permiss�o, seria uma oportunidade ideal para algu�m atac�-los. � At� agora ningu�m tentou me atacar, exceto o drag�o e uns dois grindylows � disse Harry. Mas Sirius amarrou a cara para ele. � N�o quero saber... Vou respirar outra vez em paz quando esse torneio terminar, o que n�o vai acontecer at� junho. E n�o se esque�am, se estiverem falando de mim entre voc�s, me chamem de Snuffles, OK? Ele devolveu a Harry a garrafa e o guardanapo vazios e foi dar uma palmadinha de despedida em Bicu�o. � Acompanho voc�s at� a entrada do povoado � disse Sirius �, vou ver se consigo catar mais um jornal. Ele se transformou no enorme c�o preto antes de deixarem a caverna, e juntos desceram a encosta do morro, atravessaram o terreno pedregoso e voltaram � escada. Ali ele deixou cada um dos garotos lhe acariciar a cabe�a e, em seguida, virou as costas e saiu correndo pela periferia do povoado. Harry, Rony e Hermione voltaram para Hogsmeade e dali para Hogwarts. � Ser� que o Percy conhece toda essa hist�ria sobre o Crouch? � comentou Rony quando subiam a estrada do castelo. � Mas vai ver ele n�o se importa... Provavelmente ia admirar o Crouch ainda mais. �, o Percy adora regulamentos. Ia dizer que o Crouch se recusou a infringir os regulamentos em favor do pr�prio filho. � Percy n�o atiraria nenhuma pessoa da fam�lia dele aos dementadores � disse Hermione com severidade. � N�o sei, n�o � respondeu Rony. � Se achasse que est�vamos atrapalhando a carreira dele... Percy � realmente ambicioso, sabem... Eles subiram os degraus de pedra e entraram no sagu�o do castelo, onde vieram ao seu encontro os cheiros gostosos do jantar no Sal�o Principal. � Coitado do velho Snuffles � disse Rony inspirando profundamente. � Ele deve realmente gostar de voc�, Harry... Imagine ter que comer ratos para sobreviver. CAP�TULO VINTE E OITO A Loucura do Sr. Crouch No domingo, Harry, Rony e Hermione subiram ao corujal depois do caf� da manh�, para enviar uma carta a Percy, perguntando, conforme Sirius sugerira, se ele tinha visto o Sr. Crouch ultimamente. Usaram Edwiges, porque fazia muito tempo que ela n�o recebia uma tarefa. Depois que a viram desaparecer no horizonte pela janela do corujal, desceram � cozinha para dar a Dobby as meias novas. Os elfos dom�sticos receberam os garotos com grande alegria, fazendo mesuras e rever�ncias e se apressando em preparar um ch�. Dobby ficou extasiado com o presente. � Harry Potter � bom demais para Dobby! � guinchou ele, secando as grossas l�grimas que marejavam seus olhos enormes. � Voc� salvou minha vida com aquele guelricho, Dobby, verdade � disse Harry. � Alguma chance de terem sobrado bombas de creme? � perguntou Rony, olhando para os elfos sorridentes e cheios de mesuras. � Voc� acabou de tomar caf�! � exclamou Hermione irritada, mas uma grande travessa de prata contendo bombas de creme j� vinha voando na dire��o do garoto, trazida por quatro elfos. � Dev�amos arranjar alguma coisa para mandar a Snuffles � murmurou Harry. � Boa id�ia � aprovou Rony. � Dar a P�chi o que fazer. Voc�s poderiam nos dar um pouco mais de comida? � perguntou Rony aos elfos que os rodeavam, e eles se inclinaram prazerosamente e correram a apanhar alguma coisa. � Dobby, onde est� Winky? � perguntou Hermione, olhando para os lados. � Winky est� ali adiante junto ao fogo, senhorita � respondeu Dobby em voz baixa, suas orelhas caindo ligeiramente. � Essa, n�o! � exclamou Hermione ao localizar Winky. Harry tamb�m olhou para o fogo. Winky estava sentada no mesmo banquinho que da �ltima vez, mas ficara t�o imunda que n�o se conseguia distingui-la imediatamente dos tijolos enegrecidos de fuma�a atr�s dela. Suas roupas estavam rasgadas e sujas. Segurava uma garrafa de cerveja amanteigada e cambaleava um pouco no banquinho, olhando fixamente para as chamas do fog�o. Enquanto eles a observavam, ela soltou um imenso solu�o. � Winky est� entornando seis garrafas por dia agora � Dobby cochichou a Harry. � Bem, n�o � uma bebida muito forte � ponderou Harry. Mas Dobby sacudiu a cabe�a. � � forte para um elfo dom�stico, meu senhor. Winky soltou outro solu�o. Os elfos que tinham trazido as bombas de creme lan�aram a ela um olhar de censura antes de voltarem aos seus afazeres. � Winky est� definhando, Harry Potter � disse Dobby tristemente. � Winky quer ir para casa. Winky ainda acha que o Sr. Crouch � o amo dela, meu senhor, e nada que Dobby diga consegue convencer ela de que o Professor Dumbledore � o novo amo da gente. � Oi, Winky � disse Harry, tomado de s�bita inspira��o, indo at� o fog�o e se abaixando para falar com ela �, voc� por acaso saberia me dizer o que � que o Sr. Crouch pode estar fazendo? Porque ele parou de aparecer para julgar o Torneio Tribruxo. Os olhos de Winky pestanejaram. Suas enormes pupilas focalizaram Harry. Ela cambaleou ligeiramente e perguntou: � M-meu amo parou, hic, de vir? � Foi � confirmou Harry �, n�o o vemos desde a primeira tarefa. O Profeta Di�rio diz que ele est� doente. Winky balan�ou mais um pouco, encarando Harry com os olhos ba�os. � M-meu amo, hic, doente? O l�bio inferior do elfo come�ou a tremer. � Mas n�o temos certeza de que seja verdade � acrescentou Hermione depressa. � Meu amo est� precisando da, hic, Winky dele! � choramingou o elfo. � Meu amo n�o, hic, sabe, hic, se cuidar sozinho... � Outras pessoas conseguem fazer o trabalho de casa sozinhas, sabe, Winky � lembrou Hermione com severidade. � Winky, hic, n�o faz s�, hic, trabalho de casa para o Sr. Crouch! � guinchou Winky indignada, cambaleando mais que nunca e derramando cerveja amanteigada na blusa j� bastante suja. � Meu amo, hic, confiou a Winky, hic, o segredo dele, hic, mais importante, o mais secreto... � Qu�? � exclamou Harry. Mas Winky sacudiu a cabe�a com for�a, derramando mais cerveja amanteigada pela roupa. � Winky guarda, hic, os segredos do amo dela � disse com rebeldia, oscilando fortemente para os lados agora, franzindo a testa para Harry com os olhos vesgos. � Voc� est�, hic, bisbilhotando, est� sim. � Winky n�o deve falar assim com Harry Potter! � disse Dobby aborrecido. � Harry Potter � corajoso e nobre e Harry Potter n�o � bisbilhoteiro! � Ele est� metendo o nariz, hic, nos segredos e particulares, hic, do meu amo, hic, Winky � um bom elfo dom�stico, hic, Winky fica calada, hic, gente querendo, hic, tirar informa��es, hic... � As p�lpebras de Winky se fecharam e, de repente, sem aviso, ela escorregou do banquinho e caiu no fog�o, roncando alto. A garrafa vazia de cerveja amanteigada rolou pelo ch�o lajeado. Meia d�zia de elfos dom�sticos se adiantaram correndo, com ar de repugn�ncia. Um deles apanhou a garrafa, os outros cobriram Winky com uma grande toalha xadrez de mesa e prenderam os lados e pontas por baixo do corpo para escond�-la de vista. � A gente lamenta que os senhores e a senhorita tenham que assistir a isso! � guinchou um elfo pr�ximo, balan�ando a cabe�a e parecendo muito envergonhado. � A gente espera que os senhores n�o julguem a gente pela Winky! � Ela est� infeliz! � exclamou Hermione exasperada. � Por que voc�s n�o tentam animar Winky em vez de a esconder? � Me perdoa, senhorita � disse um elfo fazendo uma grande rever�ncia �, mas elfos dom�sticos n�o t�m o direito de ficar infelizes quando t�m trabalho a fazer e amos para servir. � Ora, francamente! � exclamou Hermione enraivecida. � Escutem aqui, voc�s todos! Voc�s t�m tanto direito de se sentir infelizes quanto os bruxos! Voc�s t�m direito a sal�rio, f�rias e roupas decentes, n�o t�m que fazer tudo o que mandam, olhem s� o Dobby! � Senhorita, por favor, deixa o Dobby fora disso � murmurou o elfo, com uma express�o amedrontada. Os sorrisos alegres desapareceram dos rostos dos elfos na cozinha. De repente fitaram Hermione como se ela fosse louca e perigosa. � A gente separou a comida extra! � guinchou um elfo ao cotovelo de Harry empurrando um grande presunto, uma d�zia de bolos e umas frutas nos bra�os do garoto. � Tchau. Os elfos dom�sticos se aglomeraram ao redor de Harry, Rony e Hermione e come�aram a levar os garotos lentamente para fora da cozinha, muitas m�ozinhas os empurraram pela cintura. � Obrigado pelas meias, Harry Potter! � gritou Dobby desalentado l� do fog�o, onde se achava parado ao lado da toalha que cobria as formas de Winky. � Voc� n�o podia ter ficado calada, n�o �, Mione? � exclamou Rony enraivecido quando a porta da cozinha se fechou �s costas deles. � Agora eles n�o v�o querer receber visitas nossas! Poder�amos ter tentado extrair de Winky mais alguma coisa sobre o Crouch! � Ah, como se voc� se importasse com isso! � desdenhou Hermione. � Voc� s� gosta de vir aqui embaixo para comer! Foi um dia meio irritante depois disso. Harry ficou t�o cansado de Rony e Hermione se agredirem durante o dever de casa, na sala comunal, que, naquela noite, levou sozinho a comida de Sirius para o corujal. Pichitinho era demasiado pequeno para transportar sozinho um presunto inteiro at� a montanha, por isso Harry recrutou a ajuda de mais duas corujas-das-torres. Quando o grupo de aves saiu pelo crep�sculo, parecendo esquisit�ssimo com aquele enorme pacote entre elas, Harry se apoiou no parapeito da janela para contemplar os jardins ao anoitecer, as copas farfalhantes das �rvores da Floresta Proibida, as velas enfunadas no navio de Durmstrang. Um mocho atravessou a serpentina de fuma�a que sa�a da chamin� de Hagrid, voou em dire��o ao castelo, contornou o corujal e desapareceu de vista. Olhando para baixo, Harry viu Hagrid cavando energicamente a terra diante de sua cabana. E se perguntou o que o amigo estaria fazendo, parecia estar preparando mais um canteiro de hortali�as. Enquanto ele observava, Madame M�xime saiu da carruagem da Beauxbatons e se dirigiu a Hagrid. Pelo jeito estava tentando puxar conversa. Hagrid se apoiou na p�, mas n�o pareceu estar muito interessado em prolongar o di�logo, porque a bruxa voltou � carruagem pouco depois. Sem vontade de voltar � Torre da Grifin�ria e ouvir Rony e Hermione rosnarem um para o outro, o garoto ficou observando Hagrid cavar at� a escurid�o engoli-lo e as corujas ao seu redor come�arem a acordar, passarem por ele e desaparecerem na noite. No dia seguinte, � hora do caf� da manh�, o mau humor de Rony e Hermione j� se desgastara e, para al�vio de Harry, as previs�es sombrias de Rony de que os elfos dom�sticos mandariam comida de qualidade abaixo do normal para a mesa da Grifin�ria, porque Hermione os ofendera, se provaram falsas, o bacon com ovos e o peixe defumado estavam bons como sempre. Quando o correio-coruja chegou, Hermione ergueu os olhos, ansiosa; parecia estar � espera de alguma coisa. � Ainda n�o deu tempo para Percy responder � disse Rony. � S� despachamos a Edwiges ontem. � N�o, n�o � isso � falou Hermione. � Fiz outra nova assinatura do Profeta Di�rio, estou cheia de descobrir o que acontece pela boca da turma da Sonserina. � Bem pensado! � exclamou Harry, tamb�m erguendo os olhos para as corujas. � Ei, Mione acho que voc� est� com sorte... � Uma coruja cinzenta vinha descendo em dire��o � garota. � Mas ela n�o est� trazendo nenhum jornal � comentou Hermione, com ar de desapontamento. � Mas para seu espanto, a coruja cinzenta pousou diante do seu prato acompanhada de perto por mais quatro corujas de igreja, uma coruja parda e uma avermelhada. � Quantas assinaturas voc� fez? � perguntou Harry agarrando a ta�a de Hermione antes que ela fosse derrubada pelo ajuntamento de corujas, todas se empurrando para chegar mais perto e entregar as cartas que traziam primeiro. � Que diabo...? � exclamou Hermione, tirando a carta da coruja cinzenta e abrindo a para ler. � Ora francamente! � disse ela com veem�ncia, corando. � Que �? � perguntou Rony. � �, ora que rid�culo... � A garota empurrou a carta para Harry, que observou que n�o era manuscrita, mas composta por letras aparentemente recortadas do Profeta Di�rio. �Voc� n�o PresTA. HaRRy PottEr meREce umA gaRotA melhoR Volte paRa o seu lugAR trOUxa�. � S�o todas iguais! � exclamou Hermione desesperada, abrindo uma carta atr�s da outra. "Harry Potter pode arranjar uma namorada melhor do que algu�m da sua laia...� "Voc� merece ser cozida com ovas de r�..." � Ai! Hermione abrira o �ltimo envelope e um l�quido verde-amarelado, que cheirava fortemente a gasolina, derramou-se em suas m�os, fazendo irromper nelas grandes tumores amarelos. � Pus de bubot�bera puro! � disse Rony, apanhando, desajeitado, o envelope e cheirando-o. � Ai! � exclamou Hermione, as l�grimas enchendo seus olhos quando tentou limpar as m�os em um guardanapo, mas seus dedos agora estavam t�o cobertos de feridas dolorosas que ela parecia at� estar usando um par de grossas luvas com bolotas. � � melhor voc� ir depressa � ala hospitalar � disse Harry, quando as corujas ao redor da amiga levantaram v�o � diremos � Professora Sprout aonde � que voc� foi... � Eu avisei a ela! � disse Rony quando Hermione saiu correndo do Sal�o Principal aninhando as m�os no colo. � Avisei a ela para n�o aborrecer Rita Skeeter! Olhe s� esta aqui... � Ele leu uma das cartas que Hermione tinha deixado para tr�s. "Li no Seman�rio das Bruxas como voc� est� enganando o Harry Potter, um garoto que j� teve uma vida bastante atribulada, por isso no pr�ximo correio vou lhe mandar um feiti�o, � s� eu encontrar um envelope suficientemente grande.� � Caracas, � melhor ela se cuidar! Hermione n�o apareceu na aula de Herbologia. Quando Harry e Rony deixaram a estufa para a aula de Trato das Criaturas M�gicas, viram Malfoy, Crabbe e Goyle descendo os degraus da entrada do castelo. Pansy Parkinson cochichava e ria atr�s deles com a turminha de garotas da Sonserina. Ao avistar Harry, ela gritou: � Potter, voc� j� brigou com a sua namorada? Por que ela estava t�o perturbada no caf� da manh�? Harry ignorou-a, n�o queria dar a Pansy a satisfa��o de saber quanto mal o artigo do Seman�rio das Bruxas causara. Hagrid, que avisara na aula anterior que haviam terminado com os unic�rnios, estava aguardando os alunos � frente da cabana, com um estoque rec�m-chegado de caixotes, abertos aos seus p�s. O �nimo de Harry afundou ao avistar os caixotes � com certeza n�o era outra ninhada de explosivins? �, mas quando se aproximou o suficiente para ver dentro, deparou com uma quantidade de bichos peludos e negros com longos focinhos. As patas dianteiras eram curiosamente chatas como p�s, e eles erguiam os olhos piscando para a classe, parecendo educadamente intrigados com toda aquela aten��o. � S�o pel�cios � anunciou Hagrid, quando a turma se agrupou ao seu redor. � S�o encontrados principalmente em minas. Gostam de coisas brilhantes... a� v�m eles, olhem. Um dos bichos tinha saltado repentinamente e tentado arrancar o rel�gio de ouro de Pansy Parkinson do pulso. Ela gritou e deu um pulo para tr�s. � S�o bastante �teis para procurar pequenos tesouros � disse Hagrid satisfeito. � Achei que pod�amos nos divertir com eles hoje. Est�o vendo ali adiante? � Ele apontou para um terreno em que a terra fora recentemente revolvida e que Harry o vira preparar da janela do corujal. � Enterrei ali algumas moedas de ouro. Tenho um pr�mio para quem apanhar o pel�cio que encontrar mais moedas. Guardem as coisas valiosas que estiverem usando, escolham um bicho e se preparem para solt�-lo. Harry tirou o rel�gio que ele continuava usando s� por h�bito, porque n�o funcionava mais, e enfiou-o no bolso. Depois apanhou um pel�cio. O bicho enfiou o longo focinho na orelha de Harry e cheirou-a entusiasmado. Era realmente muito fofo. � Esperem um instante � disse Hagrid olhando para dentro do caixote �, tem um pel�cio sobrando aqui... Quem est� faltando? Onde est� Hermione? � Ela precisou ir � ala hospitalar � informou Rony. � A gente explica mais tarde � murmurou Harry; Pansy Parkinson estava escutando. Foi sem d�vida a maior divers�o que j� tinham tido em Trato das Criaturas M�gicas. Os pel�cios entravam e saiam da terra como se fossem �gua, cada qual correndo de volta ao aluno que o soltara e cuspindo ouro em suas m�os. O de Rony foi particularmente eficiente, n�o tardou a encher seu colo de moedas. � Pode se comprar um desses como bicho de estima��o, Hagrid? � perguntou o garoto excitado, quando o pel�cio dele tornou a mergulhar no solo sujando suas vestes de lama. � Sua m�e n�o iria ficar feliz, Rony � disse Hagrid sorrindo �, eles destroem uma casa, esses pel�cios. Calculo que agora eles j� encontraram tudo que enterrei � acrescentou, andando pelo terreno, enquanto os bichos continuavam a mergulhar. � S� enterrei cem moedas. Ah, a� est� voc�, Hermione! A garota vinha atravessando o gramado em dire��o � turma. Tinha as m�os enfaixadas e parecia bem infeliz. Pansy Parkinson a observou com desconfian�a. � Bem, vamos verificar como foi que voc�s se sa�ram! � disse Hagrid. � Contem suas moedas! E n�o adianta tentar roubar nenhuma, Goyle � acrescentou ele, estreitando os olhos negros de besouro. � � ouro de duende irland�s, de leprechaun. Desaparece depois de algumas horas. Goyle esvaziou os bolsos, emburradissimo. O resultado final foi que o pel�cio de Rony tinha sido o mais bem-sucedido, ent�o Hagrid entregou ao garoto o pr�mio: uma enorme barra de chocolate da Dedosdemel. A sineta ecoou pelos jardins anunciando o almo�o, o restante da turma saiu em dire��o ao castelo, mas Harry, Rony e Hermione ficaram para ajudar Hagrid a guardar os pel�cios nos caixotes. Harry notou que Madame Maxime os observava da janela da carruagem. � Que foi que voc� fez com as suas m�os, Mione? � perguntou Hagrid, com o ar preocupado. A garota lhe contou sobre as cartas an�nimas que recebera �quela manh� e sobre o envelope cheio de pus de bubot�beras. � Aaah, n�o se preocupe � disse Hagrid brandamente, fitando-a. � Recebo cartas assim desde que a Rita escreveu sobre minha m�e. "Voc� � um monstro e devia ser morto." "Sua m�e matou gente inocente e se voc� tivesse alguma dec�ncia se atiraria no lago.� � N�o! � exclamou Hermione chocada. � Sim! � respondeu Hagrid, erguendo os caixotes de pel�cios para guard�-los junto � parede da cabana. � � gente que n�o bate bem, Mione. N�o abra mais cartas quando as receber. Jogue todas direto na lareira. � Voc� perdeu uma aula realmente boa � comentou Harry com Hermione quando regressavam ao castelo. � S�o legais, os pel�cios, n�o s�o Rony? Rony, por�m, estava franzindo a testa para o chocolate dado por Hagrid. Parecia absolutamente desapontado com alguma coisa. � Que foi? � perguntou Harry. � Sabor errado? � N�o � disse Rony com rispidez. � Por que voc� n�o me falou do ouro? � Que ouro? � perguntou Harry. � O ouro que lhe dei na Copa Mundial de Quadribol � disse Rony. � O ouro de leprechaun que lhe paguei pelos meus oni�culos. No camarote de honra. Por que voc� n�o me contou que ele desapareceu? Harry teve que pensar um instante para entender do que � que Rony estava falando. � Ah... � disse, quando finalmente se lembrou. � N�o sei... Nunca reparei que tinha desaparecido. Eu estava mais preocupado com a minha varinha, n�o era? Os tr�s subiram os degraus para o sagu�o de entrada e foram para o Sal�o Principal almo�ar. � Deve ser legal � falou Rony abruptamente, depois que se sentaram e come�aram a se servir de rosbife e pudim de Yorkshire, massa assada embaixo de carne sangrenta. � Ter tanto dinheiro que nem se repara que os gale�es guardados no bolso desapareceram. � Escuta aqui, eu tinha outras preocupa��es na cabe�a aquela noite! � retrucou Harry com impaci�ncia. � Todos t�nhamos, lembra? � Eu n�o sabia que ouro de leprechaun desaparecia � murmurou Rony. � Achei que estava lhe pagando. Voc� n�o devia ter me dado aquele bon� do Chudley Cannon no Natal. � Esquece isso, t�? � disse Harry. Rony espetou uma batata assada com o garfo e ficou olhando para ela. Depois disse: � Detesto ser pobre. Harry e Hermione se entreolharam. Nenhum dos dois sabia realmente o que dizer. � � uma droga � disse Rony, ainda encarando a batata. � N�o posso culpar o Fred e o Jorge por tentarem ganhar um dinheirinho extra. Gostaria de saber fazer o mesmo. Gostaria de ter um pel�cio. � Bem, ent�o j� sabemos o que comprar para voc� no pr�ximo Natal � disse Hermione animada. Mas vendo que o amigo continuava chateado, acrescentou: � Vamos Rony, podia ser pior. Pelo menos os seus dedos n�o est�o cheios de pus. � Hermione estava encontrando muita dificuldade para usar os talheres, de t�o inchados e duros que seus dedos estavam. � Odeio aquela Skeeter! � explodiu a garota com raiva. � Vou me vingar dela nem que seja a �ltima coisa que eu fa�a! As cartas an�nimas continuaram a chegar para Hermione nas semanas seguintes e, embora ela tivesse seguido o conselho de Hagrid e parado de abri-las, v�rios remetentes odiosos mandaram berradores, que explodiam � mesa da Grifin�ria gritando-lhe ofensas que o sal�o inteiro podia ouvir. At� as pessoas que n�o liam o Seman�rio das Bruxas agora sabiam tudo sobre o suposto tri�ngulo Harry-Krum-Hermione. Harry estava ficando farto de explicar a todo mundo que Hermione n�o era sua namorada. � Mas isso vai passar � disse ele � amiga �, � s� a gente ignorar... As pessoas j� acharam um t�dio o �ltimo artigo que ela escreveu sobre mim... � Quero saber como � que ela est� conseguindo escutar conversas particulares se supostamente foi banida dos terrenos da escola! � disse Hermione zangada. Ela continuou na sala quando terminou a aula seguinte de Defesa contra as Artes das Trevas para fazer uma pergunta ao Professor Moody. O restante da turma estava ansioso para sair, o professor lhes dera uma prova t�o dif�cil sobre deflex�o de feiti�os que alguns alunos estavam cuidando de pequenos ferimentos. Harry teve um caso grave de Comich�o nas Orelhas e precisou tamp�-las com as m�os ao sair da sala. � Bem, decididamente Rita n�o est� usando uma Capa da Invisibilidade! � ofegou Hermione ao alcan�ar Harry e Rony cinco minutos mais tarde, no sagu�o de entrada, e puxar a m�o de Harry para afast�-la de uma orelha que se contorcia sozinha, para que o garoto pudesse ouvi-la. � Moody disse que n�o viu Skeeter nas proximidades da mesa dos juizes no dia da segunda tarefa, nem em lugar algum perto do lago! � Hermione, ser� que adianta lhe dizer para deixar isso para l�? � perguntou Rony. � N�o! � exclamou a garota teimosamente. � Quero saber como foi que ela me ouviu falando com o V�tor! E como foi que ela descobriu a hist�ria da m�e de Hagrid! � Talvez ela tenha posto um grampo em voc� � disse Harry. � Um grampo? � perguntou Rony sem entender. � O qu�... p�s um prendedor no cabelo dela ou outra coisa assim? Harry come�ou a explicar os microfones escondidos e os equipamentos de grava��o. Rony ficou fascinado, mas Hermione os interrompeu. � Ser� que voc�s nunca v�o ler �Hogwarts: Uma Hist�ria�? � Para qu�? � respondeu Rony. � Voc� conhece o livro de cor, � s� a gente lhe perguntar. � Todas as alternativas para a magia que os trouxas usam, eletricidade, computadores, radar, etc., entram em pane perto de Hogwarts, tem magia demais no ar. N�o, Rita est� usando magia para escutar conversas, se eu ao menos conseguisse descobrir o que �... Aah, se for ilegal, eu pego ela... � Ser� que a gente j� n�o tem bastante preocupa��o? � perguntou Rony � amiga. � Temos que come�ar tamb�m uma vendeta contra a Rita? � N�o estou pedindo a voc� para ajudar! � retrucou Hermione. � Vou fazer isso sozinha! E subiu a escadaria de m�rmore sem sequer olhar para tr�s. Harry tinha certeza absoluta de que ela estava indo � biblioteca. � Quer apostar que ela volta com uma caixa cheia de distintivos �Odeio Rita Skeeter!�? Hermione, por�m, n�o pediu a Harry e Rony para ajud�-la a se vingar de Rita Skeeter, pelo que os dois ficaram muito gratos, porque a carga de deveres dos garotos aumentou muito nos dias que antecederam as f�rias da P�scoa. Harry ficou maravilhado que Hermione pudesse pesquisar m�todos m�gicos para a pessoa escutar sem ser vista e ainda dar conta de todas as tarefas que tinha que fazer. Ele mesmo estava trabalhando sem descanso s� para conseguir terminar todos os deveres, embora fizesse quest�o de mandar, regularmente, pacotes de comida para a caverna de Sirius, no morro, depois das f�rias de ver�o Harry ainda n�o esquecera o que era ficar continuamente esfomeado. Inclu�a neles bilhetes a Sirius informando que n�o acontecera nada de extraordin�rio e que continuavam aguardando uma resposta de Percy. Edwiges s� voltou no fim das f�rias da P�scoa. A carta de Percy veio acompanhando um pacote de ovos de P�scoa enviado pela Sra. Weasley. Os de Harry e Rony eram do tamanho de ovos de drag�o e cheios de caramelos caseiros. O de Hermione, por�m, era menor do que um ovo de galinha. A garota ficou desapontada ao receb�-lo. � Por acaso sua m�e l� o Seman�rio das Bruxas, Rony? � perguntou ela baixinho. � L� � disse Rony, que tinha a boca cheia de caramelos. � Tem assinatura por causa das receitas de comida. Hermione ficou olhando tristemente o ovinho recebido. � N�o quer ver o que Percy escreveu? � perguntou Harry a ela, depressa. A carta de Percy era curta e irritada. �Conforme canso de dizer ao Profeta Di�rio, o Sr. Crouch est� tirando um merecido descanso. Ele me manda, regularmente, corujas trazendo instru��es. N�o, na realidade n�o o tenho visto, mas acho que podem acreditar que conhe�o a caligrafia do meu superior. Tenho muito que fazer no momento, sem precisar estar desmentindo esses boatos rid�culos. Por favor, n�o me incomodem mais a n�o ser que seja para alguma coisa importante. Feliz P�scoa�. O in�cio do trimestre de ver�o normalmente significava que Harry estaria treinando com vontade para a �ltima partida de Quadribol da temporada. Este ano, por�m, era para a terceira e �ltima tarefa do Torneio Tribruxo que ele precisava se preparar, mas o garoto ainda n�o sabia qual ia ser. Finalmente, na �ltima semana de maio, a Professora McGonagall o reteve depois da aula de Transforma��o. � Voc� deve ir ao campo de Quadribol hoje � noite, �s nove horas, Potter �disse ela. � O Sr. Bagman vai estar l� para falar aos campe�es sobre a terceira tarefa. Ent�o, �s oito e meia da noite, Harry deixou Rony e Hermione na Torre da Grifin�ria e desceu a escada. Quando atravessou o sagu�o de entrada, Cedrico vinha subindo da sala comunal da Corvinal. � Que � que voc� acha que vai ser? � perguntou ele a Harry, quando desciam juntos os degraus para o jardim e para a noite nebulosa. � Fleur n�o p�ra de falar em t�neis subterr�neos, acha que vamos ter que encontrar um tesouro. � Isso n�o seria nada mau � comentou Harry, pensando que bastaria pedir a Hagrid um pel�cio para realizar sua tarefa. Eles caminharam pelos gramados escuros at� o est�dio de Quadribol, atravessaram uma abertura sob as arquibancadas e sa�ram no campo. � Que foi que fizeram com o campo? � exclamou Cedrico indignado, parando de chofre. O campo de Quadribol deixara de ser plano e liso. Parecia que algu�m andara construindo por todo ele muretas longas, que seguiam em meandros e o cruzavam em todas as dire��es. � S�o sebes! � exclamou Harry, se curvando para examinar a mais pr�xima. � Al�, voc�s a�! � gritou uma voz animada. Ludo Bagman estava parado no meio do campo em companhia de Krum e Fleur. Harry e Cedrico procuraram chegar at� o grupo, saltando por cima das sebes. Fleur abriu um grande sorriso para Harry quando ele se aproximou. Sua atitude para com o garoto mudara completamente desde que ele tirara sua irm� do lago. � Bem, que � que voc�s acham? � perguntou Bagman alegre, quando Harry e Cedrico transpuseram a �ltima sebe. � Est�o crescendo bem, n�o? D�em mais um m�s e Hagrid vai faz�-las alcan�ar cinco metros de altura. N�o se preocupem � acrescentou ele ao ver as express�es pouco satisfeitas no rosto de Harry e Cedrico �, voc�s v�o ter o seu campo de Quadribol normal depois que terminarem a tarefa! Agora, imagino que podem adivinhar o que estamos fazendo aqui? Ningu�m falou por um momento. Depois... � Labirinto � resmungou Krum. � Acertou! � disse Bagman. � Um labirinto. A terceira tarefa na realidade � muito simples. A ta�a do Torneio Tribruxo ser� colocada no centro do labirinto. O primeiro campe�o que puser a m�o nela recebe a nota m�xima. � Temes samplement que atravessar o labirinto? � perguntou Fleur. � Haver� obst�culos � disse Bagman alegremente, balan�ando-se sobre a sola dos p�s. � Hagrid est� providenciando algumas criaturas... E haver� tamb�m feiti�os que voc�s precisar�o desfazer... Essas coisas que voc�s j� conhecem. Agora, os campe�es que est�o liderando a contagem de pontos entrar�o primeiro no labirinto. � Bagman sorriu para Harry e Cedrico. � Depois entrar� o Sr. Krum... Depois a Srta. Delacour. Mas todos ter�o a mesma possibilidade de vencer, dependendo da per�cia com que superarem os obst�culos. Ser� divertido, n�o acham? Harry, que sabia muito bem que tipo de criaturas Hagrid iria arranjar para um evento de tal porte, achou muito improv�vel que fosse divertido. Contudo, concordou educadamente com a cabe�a, como os demais campe�es. � Muito bem... Se n�o tiverem nenhuma pergunta a fazer, vamos voltar para o castelo, est� meio frio... Bagman apressou-se a caminhar ao lado de Harry quando come�aram a deixar o labirinto em crescimento. O garoto teve a impress�o de que o bruxo ia come�ar a oferecer ajuda novamente, mas nesse instante, Krum bateu em seu ombro. � Posso falarr com foc�? � Claro que sim � disse Harry ligeiramente surpreso. � Foc� pode andarr um pouco comigo? � OK. � disse o garoto curioso. Bagman pareceu ligeiramente perturbado. � Esperarei por voc�, Harry, est� bem? � N�o, est� tudo OK, Sr. Bagman � disse Harry contendo um sorriso. � Acho que posso encontrar o caminho para o castelo sozinho, obrigado. Harry e Krum sa�ram juntos do est�dio, mas Krum n�o tomou o rumo do navio de Durmstrang. Em vez disso, dirigiu-se � Floresta. � Para que estamos indo nesta dire��o? � perguntou Harry, ao passarem pela cabana de Hagrid e a carruagem iluminada da Beauxbatons. � Non querro que me ou�am � disse o rapaz secamente. Quando finalmente chegaram a um trecho sossegado, a poucos passos do picadeiro dos cavalos da Beauxbatons, Krum parou � sombra de um grupo de �rvores e se virou para encarar Harry. � Querro saberr � disse ele amarrando a cara � que � que h� entre foc� e Hermi-�-nini. Harry, que pela maneira sigilosa de Krum esperara algo muito mais s�rio que aquilo, ergueu os olhos para Krum, admirado. � Nada � disse ele. Mas Krum amarrou a cara, e Harry, mais uma vez admirado com o tamanho de Krum, explicou melhor. � Somos amigos. Ela n�o � minha namorada nem nunca foi. Aquela tal da Skeeter est� inventando coisas. � Hermi-�-nini fala muito de foc� � disse Krum, olhando desconfiado para Harry. � Claro, porque somos amigos. Ele n�o estava conseguindo acreditar muito bem que estivesse tendo aquela conversa com V�tor Krum, o famoso jogador internacional de Quadribol. Era como se o Krum, com seus dezoito anos, achasse que ele, Harry, fosse seu igual, um rival de verdade... � Foc� nunca... foc� non... � N�o � disse Harry com firmeza. Krum pareceu um pouco mais feliz. Fitou Harry durante alguns segundos, depois disse: � Foc� foa muito bem. Fiquei assistindo a voc� durante a primeira tarefa. � Obrigado � disse Harry com um grande sorriso, se sentindo subitamente muito maior. � Vi voc� na Copa Mundial de Quadribol. Naquela Finta de Wronski, voc� realmente... Mas alguma coisa se mexeu �s costas de Krum, entre as �rvores, e Harry, que tinha alguma experi�ncia com coisas que rondam a Floresta, instintivamente agarrou Krum pelo bra�o e o puxou para um lado. � Que foi? Harry balan�ou a cabe�a, examinando com aten��o o lugar em que percebera o movimento. Meteu a m�o dentro das vestes � procura da varinha. No momento seguinte um homem saiu cambaleando de tr�s de um alto carvalho. Por um instante Harry n�o o reconheceu... Depois percebeu que era o Sr. Crouch. Tinha a apar�ncia de quem estava viajando h� dias. Os joelhos de suas vestes estavam rasgados e ensang�entados, seu rosto estava arranhado e ele, barbudo e cinzento de exaust�o. Os cabelos e bigodes sempre impec�veis estavam precisando de um xampu e de um corte. Sua estranha apar�ncia, por�m, n�o era nada comparada � maneira com que estava agindo. Resmungava e gesticulava, parecia estar falando com algu�m que somente ele conseguia ver. Lembrava a Harry vividamente um velho vagabundo que o garoto vira quando fora �s compras com os Dursley. O tal homem tamb�m conversava, alterado, com o vento, tia Pet�nia agarrara Duda pela m�o e o arrastara para o outro lado da rua para evitar o homem, tio V�lter ent�o brindara a fam�lia com um longo discurso sobre o que gostaria de fazer com mendigos e vagabundos. � Ele non erra um dos juizes? � perguntou Krum de olhos arregalados para o Sr. Crouch. � Non � do seu minist�rrio? Harry confirmou com um aceno de cabe�a, hesitou por um instante, depois se dirigiu lentamente ao Sr. Crouch, que n�o olhou para ele, mas continuou a falar com uma �rvore pr�xima: � ... E depois que fizer isso, Weatherby, mande uma coruja a Dumbledore confirmando o n�mero de estudantes de Durmstrang que vir�o ao torneio, Karkaroff acabou de mandar uma mensagem dizendo que ser�o doze... � Sr. Crouch? � chamou Harry cautelosamente. � ... E depois mande outra coruja � Madame Maxime, porque ela talvez queira aumentar o n�mero de estudantes que vai trazer, agora que Karkaroff arredondou para uma d�zia... Fa�a isso, Weatherby, por favor? Por favor? Por... � Os olhos do Sr. Crouch estavam saltados. Ele continuou encarando a �rvore, resmungando silenciosamente para ela. Ent�o, cambaleou para os lados e caiu de joelhos. � Sr. Crouch? � chamou Harry em voz alta. � O senhor est� bem? Os olhos de Crouch reviravam nas �rbitas. Harry olhou para os lados procurando Krum, que o seguira at� as �rvores e olhava para Crouch assustado. � Que � que ele tem? � N�o fa�o id�ia � murmurou Harry. � Escuta aqui, � melhor voc� ir buscar algu�m... � Dumbledore! � arquejou o Sr. Crouch. Ele esticou a m�o e agarrou com firmeza as vestes de Harry e arrastou-o para perto, embora seus olhos estivessem olhando por cima da cabe�a de Harry. � Preciso... Ver... Dumbledore. � OK � disse Harry �, se o senhor se levantar, Sr. Crouch, podemos ir at�... � Fiz... Uma... Idiotice... � murmurou o Sr. Crouch. Parecia completamente demente. Revirava os olhos esbugalhados e um fio de saliva escorria pelo seu queixo. Cada palavra que ele dizia parecia custar um esfor�o terr�vel. � Preciso... Falar... Dumbledore... � Levante, Sr. Crouch � disse Harry em alto e bom som. � Levante e eu levo o senhor a Dumbledore! Os olhos de Crouch giraram focalizando Harry. � Quem � voc�? � sussurrou o bruxo. � Sou aluno da escola � disse Harry, olhando para Krum � procura de ajuda, mas o outro mantinha-se um pouco afastado, parecendo extremamente nervoso. � Voc� n�o �... Dele? � sussurrou Crouch, deixando o queixo cair. � N�o � respondeu Harry, sem ter a menor id�ia do que Crouch estava falando. � De Dumbledore? � Isso mesmo � disse Harry. Crouch puxou o garoto mais para perto, Harry tentou soltar a m�o do bruxo que agarrava suas vestes, mas ele era demasiado forte. � Avise... Dumbledore... � Vou buscar Dumbledore se o senhor me largar � disse Harry. � Me largue Sr. Crouch, e eu vou buscar o diretor... � Obrigado, Weatherby, e quando voc� terminar isso, eu gostaria de tomar uma x�cara de ch�. Minha mulher e meu filho v�o chegar daqui a pouco, vamos assistir a um concerto hoje � noite com o Sr. e a Sra. Fudge. � Crouch voltara a falar fluentemente com a �rvore e parecia completamente despercebido da presen�a de Harry, o que surpreendeu o garoto de tal modo que ele nem reparou que Crouch o soltara. � Meu filho recentemente obteve doze N.O.M.�s com boas notas, obrigado, claro, realmente muito orgulhosos. Agora se voc� puder me trazer aquele memorando do Minist�rio da Magia de Andorra, acho que terei tempo de preparar uma resposta... � Voc� fica aqui com ele! � disse Harry a Krum. � Eu vou buscar Dumbledore, fa�o isso mais r�pido, sei onde � o escrit�rio dele... � Ele est� doido � disse Krum hesitante, olhando para Crouch, que ainda tagarelava com a �rvore, aparentemente convencido de que falava com Percy. � S� precisa ficar aqui com ele � falou Harry come�ando a se levantar, mas seu movimento pareceu disparar outra mudan�a s�bita no Sr. Crouch, que o agarrou com for�a pelos joelhos e o puxou de volta ao ch�o. � N�o... Me... Deixe! � sussurrou ele, os olhos se esbugalhando outra vez. � Eu... Fugi... Preciso avisar... Preciso contar... Ver Dumbledore... Minha culpa... Tudo minha culpa... Berta... Morta... Tudo minha culpa... Meu filho... Minha culpa... Diga a Dumbledore... Harry Potter... O Lord das Trevas... Mais forte... Harry Potter... � Vou buscar Dumbledore se o senhor me deixar ir, Sr. Crouch! � disse Harry. Ele olhou indignado para Krum. � Quer me ajudar, por favor? Com um ar extremamente apreensivo, Krum se adiantou e se acocorou ao lado do Sr. Crouch. � N�o deixa ele sair daqui � disse Harry se desvencilhando do Sr. Crouch. � Eu volto com Dumbledore. � Non demorre, por favorr � Krum gritou quando Harry se afastou correndo da Floresta e j� ia subindo os gramados na escurid�o. Estavam desertos, Bagman, Cedrico e Fleur haviam desaparecido. Harry galgou aos saltos os degraus da entrada, passou pelas portas de carvalho e continuou pela escadaria de m�rmore acima em dire��o ao segundo andar. Cinco minutos depois precipitava-se em dire��o a uma g�rgula de pedra que ficava no meio de um corredor vazio. � Sorvete de lim�o!� ofegou ele. Essa era a senha para a escada oculta que levava ao escrit�rio de Dumbledore, ou pelo menos tinha sido dois anos atr�s. Por�m, a senha evidentemente mudara, porque a g�rgula de pedra n�o criou vida nem saltou para o lado, mas continuou im�vel encarando Harry com malevol�ncia. � Mexa-se! � Harry gritou para o ornamento. � Anda! Mas nada em Hogwarts jamais se mexia s� porque algu�m mandava, ele sabia que n�o adiantava. Olhou para um lado e outro do corredor. Quem sabe Dumbledore estaria na sala dos professores? Ele come�ou a correr o mais r�pido que p�de em dire��o � escada... � POTTER! Harry parou derrapando e olhou para tr�s. Snape acabara de emergir da escada oculta atr�s da g�rgula de pedra. A parede ia outra vez se fechando atr�s dele, na hora exata em que mandou Harry voltar. � Que � que voc� est� fazendo aqui, Potter? � Preciso ver o Professor Dumbledore! � disse Harry, correndo de volta, e novamente derrapando at� parar diante de Snape. � � o Sr. Crouch... Ele acabou de aparecer... Est� na Floresta... Est� pedindo... � Que tolice � essa? � exclamou Snape, seus olhos negros faiscando. � Do que � que voc� est� falando? � O Sr. Crouch � gritou Harry. � Do Minist�rio! Ele est� doente ou outra coisa qualquer, est� na Floresta, quer ver Dumbledore! Me diga qual � a senha para entrar... � O diretor est� ocupado, Potter � informou Snape, sua boca fina se crispando num sorriso desagrad�vel. � Tenho que informar a Dumbledore! � berrou Harry. � Voc� n�o escutou o que eu disse, Potter? Harry podia perceber que Snape estava se divertindo intensamente em recusar o que ele queria ao v�-lo em p�nico. � Olhe � disse Harry com raiva �, Crouch n�o est� bem... Ele est�... Ele est� delirando... Diz que precisa prevenir... A parede de pedra �s costas de Snape se abriu. Dumbledore surgiu � entrada, trajando longas vestes verdes e tinha uma express�o de curiosidade no rosto. � Algum problema? � perguntou ele, olhando de Harry para Snape. � Professor! � disse Harry, dando um passo para o lado antes que Snape pudesse responder. � O Sr. Crouch est� aqui, est� l� na floresta, diz que quer falar com o senhor! Harry esperava que Dumbledore fizesse perguntas, mas, para seu al�vio, ele n�o fez nada disso. � Leve-me at� l� � disse o diretor prontamente, e saiu para o corredor acompanhando Harry e deixando Snape parado ao lado da g�rgula com uma cara duas vezes mais feia. � Que foi que o Sr. Crouch disse, Harry? � perguntou Dumbledore enquanto desciam apressados a escadaria de m�rmore. � Disse que quer prevenir o senhor... Disse que fez uma coisa horr�vel... Mencionou o filho... E Berta Jorkins... E... E Voldemort... Alguma coisa sobre Voldemort estar ficando mais forte... � De fato � disse Dumbledore e apertou o passo quando sa�ram para a escurid�o de breu. � Ele n�o est� agindo normalmente � disse Harry correndo ao lado de Dumbledore. � Parece que n�o sabe onde est�. Fala o tempo todo como se achasse que Percy Weasley est� l� e depois muda e diz que precisa ver o senhor. Deixei-o com V�tor Krum. � Deixou? � exclamou Dumbledore com severidade e come�ou a dar passadas ainda maiores, de modo que Harry precisou correr para acompanh�-lo. � Voc� sabe se mais algu�m viu o Sr. Crouch? � N�o � respondeu Harry. � Krum e eu est�vamos conversando, o Sr. Bagman tinha acabado de nos falar sobre a terceira tarefa, ficamos para tr�s e ent�o vimos o Sr. Crouch saindo da Floresta... � Onde � que eles est�o? � perguntou Dumbledore ao ver a carruagem da Beauxbatons emergir da escurid�o. � Ali na frente � disse Harry adiantando-se ao diretor Dumbledore e mostrando o caminho entre as �rvores. Ele n�o ouvia mais a voz de Crouch, mas sabia onde estava indo, n�o era muito al�m da carruagem... Em algum lugar por aqui... � V�tor? � chamou Harry. Ningu�m respondeu. � Deixei os dois aqui � disse Harry a Dumbledore. � Decididamente estavam em algum lugar por aqui... � Lumus � ordenou Dumbledore, acendendo sua varinha e erguendo-a. O feixe fino de luz se deslocou de um tronco a outro, iluminando o ch�o. Ent�o recaiu sobre dois p�s. Harry e Dumbledore acorreram. Krum estava estatelado no ch�o da Floresta. Parecia ter perdido os sentidos. N�o havia nem sinal do Sr. Crouch. Dumbledore se curvou para Krum e gentilmente ergueu uma de suas p�lpebras. � Estuporado � comentou baixinho. Seus oclinhos de meia-lua cintilaram � luz da varinha quando ele examinou as �rvores que os rodeavam. � O senhor quer que eu v� buscar algu�m? � perguntou Harry. � Madame Pomfrey? � N�o � disse Dumbledore na mesma hora. � Fique aqui. O diretor ergueu a varinha e apontou-a para a cabana de Hagrid. Harry viu-a disparar uma coisa prateada que voou entre as �rvores como um p�ssaro fantasmag�rico. Ent�o Dumbledore tornou a se curvar para Krum, apontou a varinha para o rapaz e murmurou: � Enervate. Krum abriu os olhos. Parecia atordoado. Quando viu Dumbledore, tentou se sentar, mas o diretor pousou a m�o no ombro dele e o fez continuar deitado. � Ele me atacou! � murmurou Krum, levando a m�o � cabe�a. � O velho doido me atacou! Eu estava olhando parra os lados parra verr onde Potterr tinha ido e ele me atacou pelas costas! � Fique deitado um pouco � mandou Dumbledore. Um reboar de fortes passadas chegou aos ouvidos do grupo e Hagrid apareceu ofegante com Canino nos calcanhares. Trazia o arco. � Professor Dumbledore! � disse ele arregalando os olhos. � Harry que dia...? � Hagrid, preciso que voc� v� buscar o Professor Karkaroff � disse Dumbledore. � O aluno dele foi atacado. Quando terminar, por favor, alerte o Professor Moody... � N�o � necess�rio, Dumbledore � ouviu-se um rosnado asm�tico �, j� estou aqui. � Moody vinha mancando em dire��o a eles, apoiado na bengala, a varinha acesa. � Porcaria de perna � reclamou furioso. � Teria chegado mais r�pido... Que foi que houve? Snape me disse alguma coisa sobre Crouch... � Crouch? � repetiu Hagrid sem entender. � Karkaroff, por favor, Hagrid! � disse Dumbledore energicamente. � Ah, sim... Certo, professor... � disse Hagrid e, dando as costas, desapareceu entre as �rvores escuras, Canino trotando ao seu lado. � N�o sei aonde foi parar Bart� Crouch � disse Dumbledore a Moody �, mas � essencial que o encontremos. � J� estou indo � rosnou Moody e, puxando a varinha, saiu coxeando pela Floresta. Nem Dumbledore nem Harry tornaram a falar at� ouvirem os sons inconfund�veis de Hagrid e Canino voltando. Karkaroff seguia apressado atr�s deles. Usava suas elegantes peles prateadas e parecia p�lido e agitado. � Que � isso? � exclamou, quando viu Krum no ch�o, e Dumbledore e Harry ao lado do rapaz. � Que � que est� acontecendo? � Fui atacado! � informou Krum, agora se sentando e esfregando a cabe�a. � O Sr. Crrouch ou que nome tenha... � Crouch o atacou? Crouch atacou voc�? O juiz do Tribruxo? � Igor � come�ou a falar Dumbledore, mas Karkaroff se erguera puxando as peles para perto do corpo, o rosto l�vido. � Trai��o! � urrou ele apontando para Dumbledore. � � uma conspira��o! Voc� e o seu Ministro da Magia me atra�ram at� aqui sob falsos pretextos, Dumbledore! Isto n�o � uma competi��o honesta! Primeiro voc� sorrateiramente inscreve Potter no torneio, embora ele seja menor de idade! Agora um dos seus amigos do Minist�rio tenta p�r o meu campe�o fora de a��o! Estou farejando falsidade e corrup��o nesse torneio todo e voc�, Dumbledore, voc�, com a sua conversa de estreitar os v�nculos entre os bruxos estrangeiros, de refazer velhos la�os, de esquecer as velhas diferen�as, isto � o que penso de voc�! Karkaroff cuspiu no ch�o aos p�s de Dumbledore. Com um movimento r�pido, Hagrid agarrou o bruxo pela gola das peles, ergueu-o no ar e empurrou-o contra uma �rvore pr�xima. � Pe�a desculpas! � rosnou Hagrid, enquanto Karkaroff tentava respirar com aquele punho maci�o em sua garganta, seus p�s balan�ando no ar. � Hagrid, n�o! � gritou Dumbledore com os olhos faiscando. Hagrid soltou a m�o que prendia Karkaroff contra a �rvore, o bruxo escorregou pelo tronco e desmontou numa massa informe aos seus p�s, alguns gravetos ca�ram em sua cabe�a. � Tenha a bondade de acompanhar Harry at� o castelo, Hagrid � disse Dumbledore energicamente. Respirando ruidosamente, Hagrid lan�ou a Karkaroff um olhar carrancudo. � Talvez seja melhor eu ficar aqui, diretor... � Voc� vai levar Harry de volta ao castelo, Hagrid � repetiu Dumbledore com firmeza. � Leve-o diretamente � Torre da Grifin�ria. E Harry, quero que fique l�. Qualquer coisa que queira fazer, corujas que queira despachar, pode esperar at� de manh�, est� me entendendo bem? � Hum, sim, senhor � aquiesceu Harry, com os olhos no diretor. Como Dumbledore soubera que naquele exato momento ele estava pensando em mandar Pichitinho direto a Sirius para lhe contar o que acontecera? � Vou deixar Canino com o senhor, diretor � disse Hagrid, ainda olhando amea�adoramente para Karkaroff, que continuava ca�do ao p� da �rvore enredado em peles e ra�zes. � Parado, Canino. Vamos, Harry. Eles passaram em sil�ncio pela carruagem da Beauxbatons e subiram em dire��o ao castelo. � Como � que ele se atreve � rosnou Hagrid, quando margeavam o lago. � Como � que ele se atreve a acusar Dumbledore. Como se Dumbledore fosse capaz de uma coisa dessas. Como se Dumbledore quisesse que voc� participasse do torneio, para come�ar. Preocupado! N�o me lembro de ter visto Dumbledore mais preocupado do que tem estado ultimamente. E voc�! � disse Hagrid voltando-se zangado para Harry, que ergueu os olhos para ele, espantado. � Que � que voc� estava fazendo andando por a� com esse desgra�ado do Krum? Ele � aluno de Durmstrang, Harry! Podia ter azarado voc� ali mesmo, n�o podia? Ser� que Moody n�o lhe ensinou nada? Imagina deixar ele afastar voc� dos outros... � Krum � legal! � interrompeu-o Harry, quando subiam os degraus para o sagu�o de entrada. � Ele n�o estava tentando me azarar, s� queria conversar comigo sobre a Mione... � Eu � que vou ter uma conversinha com ela � falou Hagrid mal-humorado, subindo os degraus com estrondo. � Quanto menos voc�s tiverem contato com esses estrangeiros, melhor v�o ficar. N�o se pode confiar em nenhum deles. � Voc� parece que est� se dando muito bem com a Madame Maxime � respondeu Harry, aborrecido. � N�o fale dela comigo! � disse Hagrid, e naquele instante parecia assustador. � Agora j� sei quem ela �! Tentando voltar �s minhas boas gra�as para eu contar a ela qual vai ser a terceira tarefa. Ah! N�o se pode confiar em nenhum deles! Hagrid estava t�o mal-humorado que Harry ficou feliz de se despedir dele diante do quadro da Mulher Gorda. Passou pelo buraco do retrato, desembocando na sala comunal e correu direto para o canto em que Rony e Hermione estavam sentados, para narrar aos dois o que acontecera. CAP�TULO VINTE E NOVE O Sonho � A coisa se resume no seguinte � disse Hermione esfregando a testa �, ou o Sr. Crouch atacou V�tor ou outra pessoa atacou os dois, quando V�tor n�o estava olhando. � Deve ter sido o Crouch � disse Rony na mesma hora. � por isso que ele j� tinha desaparecido quando Harry e Dumbledore chegaram l�. Deu no p�. � Acho que n�o � disse Harry balan�ando a cabe�a. � Ele parecia realmente fraco, acho que n�o tinha for�as para desaparatar nem nada. � Ningu�m pode desaparatar nas terras de Hogwarts, j� n�o disse isso a voc�s um mont�o de vezes? � reclamou Hermione. � OK.... Ent�o que tal esta outra teoria � prop�s Rony excitado: � Krum atacou Crouch, n�o, pera�, ent�o se estuporou! � E o Sr. Crouch se evaporou, n�o � mesmo? � disse Hermione com frieza. � Ah, �... O dia estava amanhecendo. Harry, Rony e Hermione tinham sa�do muito cedo dos seus dormit�rios e corrido at� o corujal, juntos, a despachar um bilhete para Sirius. Agora estavam parados contemplando os jardins cobertos de n�voa. Os tr�s estavam p�lidos, os olhos inchados, porque ficaram conversando at� tarde sobre o Sr. Crouch. � Vamos recapitular, Harry � disse Hermione. � Que foi que o Sr. Crouch realmente disse? � J� falei que ele n�o estava fazendo muito sentido � repetiu Harry. � Disse que queria prevenir Dumbledore sobre alguma coisa. Tenho certeza de que ele mencionou Berta Jorkins e parecia achar que ela estava morta. N�o parava de repetir que muita coisa era culpa dele... Mencionou o filho. � Bem, isso foi culpa dele � disse Hermione irritada. � Ele estava delirando � continuou Harry. � Metade do tempo dava a impress�o de acreditar que a mulher e o filho ainda estavam vivos, e ele n�o parava de falar com Percy sobre servi�o e de lhe dar instru��es. � E... O que foi mesmo que ele disse sobre Voc�-Sabe-Quem? � perguntou Rony inseguro. � Eu j� contei � respondeu Harry chateado. � Disse que ele est� ficando mais forte. Houve uma pausa. Ent�o Rony num tom de falsa seguran�a disse: � Mas ele estava delirando, conforme voc� falou, portanto metade disso provavelmente era s� del�rio... � Ele ficava mais sensato quando tentava falar de Voldemort � disse Harry, n�o dando aten��o � careta de Rony. � Estava realmente com dificuldade para formar frases, mas isso era quando parecia que sabia onde estava e o que queria fazer. Ele n�o parava de dizer que queria ver Dumbledore. Harry se afastou da janela e olhou para os caibros do telhado. Metade dos numerosos poleiros estava vazia, de vez em quando, mais uma coruja entrava voando por uma das janelas, voltando de uma ca�ada noturna com um rato no bico. � Se Snape n�o tivesse me atrasado � comentou Harry-, talvez a gente tivesse chegado l� a tempo. "O diretor est� ocupado Potter... que tolice � essa, Potter?" Por que ele simplesmente n�o saiu do caminho? � Talvez n�o quisesse que voc�s chegassem l�! � disse Rony depressa. � Talvez, calma a�, com que rapidez voc� acha que ele poderia ter ido at� a Floresta? Voc� acha que ele podia ter chegado l� antes de voc� e Dumbledore? � N�o, a n�o ser que ele seja capaz de se transformar num morcego ou outra coisa do g�nero. � Eu n�o duvido nada � murmurou Rony. � Precisamos ver o Professor Moody � disse Hermione. � Precisamos descobrir se ele encontrou o Sr. Crouch. � Se tivesse levado o Mapa do Maroto com ele, teria sido f�cil � disse Harry. � A n�o ser que Crouch j� tivesse sa�do de Hogwarts � lembrou Rony � porque o mapa s� mostra o que est� dentro dos limites, n�o... � Psiu! � exclamou Hermione de repente. Algu�m estava subindo a escada para o corujal. Harry ouviu duas vozes discutindo, cada vez mais pr�ximas. � ... Isso � chantagem, � o que �, e poder�amos nos meter em uma baita enrascada por causa disso... Tentamos ser gentis, est� na hora de jogar sujo com o cara. Ele n�o ia gostar que o Minist�rio da Magia soubesse o que ele fez... � Estou falando, se voc� puser isto por escrito, ser� chantagem! � �, mas voc� n�o ia reclamar se consegu�ssemos um bom pagamento por isso, ia? A porta do corujal se abriu com estrondo. Fred e Jorge apareceram no portal e em seguida congelaram ao verem Harry, Rony e Hermione. � Que � que voc�s est�o fazendo aqui? � perguntaram Rony e Fred ao mesmo tempo. � Despachando uma carta � responderam Harry e Jorge em un�ssono. � Qu�, a esta hora? � se admiraram Hermione e Fred. Fred sorriu. � �timo, n�s n�o perguntamos o que voc�s est�o fazendo, se voc�s n�o nos perguntarem � disse ele. Ele segurava um envelope fechado na m�o. Harry deu uma olhada, mas Fred, fosse por acaso ou de prop�sito, escorregou a m�o, tampando o nome do destinat�rio. � Bem, n�o se prendam por n�s � disse ele, fazendo uma rever�ncia c�mica e indicando a porta. Rony n�o se mexeu. � Quem � que voc�s est�o chantageando? � perguntou. O sorriso desapareceu do rosto de Fred. Harry viu Jorge olhar Fred de relance antes de sorrir para Rony. � N�o seja idiota, eu s� estava brincando � disse ele � vontade. � N�o parecia � insistiu Rony. Fred e Jorge se entreolharam. Ent�o Fred disse abruptamente: � J� lhe avisamos antes, Rony, n�o meta o nariz se gosta do feitio que ele tem. N�o vejo por que voc� iria meter, mas... � Mas � da minha conta se voc�s estiverem chantageando algu�m. Jorge tem raz�o, voc�s poderiam acabar numa baita enrascada. � J� lhe disse, eu estava brincando � disse Jorge. Ele foi at� Fred, tirou a carta das m�os do irm�o e come�ou a prend�-la � perna da coruja-de-igreja mais pr�xima. � Voc� est� come�ando a falar como o nosso querido irm�o mais velho, sabe, Rony. Continue assim e vai acabar monitor-chefe. � N�o, n�o vou, n�o! � protestou Rony indignado. Jorge levou a coruja at� a janela e deixou-a levantar v�o. Ele se virou e sorriu para Rony. � Bem, ent�o pare de dizer �s pessoas o que fazer. At� mais tarde. Ele e Fred sa�ram do corujal. Harry, Rony e Hermione ficaram se entreolhando. � Voc�s n�o acham que eles sabem alguma coisa dessa hist�ria toda, acham? � sussurrou Hermione. � Do Crouch e todo o resto? � N�o � disse Harry. � Se fosse uma coisa s�ria assim eles contariam a algu�m. Contariam a Dumbledore. Rony, no entanto, estava com um ar constrangido. � Que foi? � perguntou Hermione. � Bem... � respondeu Rony lentamente � n�o sei se contariam. Eles... Ultimamente est�o obcecados com a id�ia de fazer dinheiro, notei isso quando estava andando com eles, quando... Voc�s sabem... � N�s dois n�o est�vamos nos falando � Harry terminou a frase para ele. � �, mas chantagem... � � essa id�ia deles de abrirem uma loja de logros. Pensei que estivessem falando nisso s� para aborrecer mam�e, mas est�o realmente falando s�rio, querem abrir uma loja. S� falta um ano para eles terminarem Hogwarts, eles n�o param de falar que est� na hora de pensar no futuro e papai n�o pode ajud�-los, precisam de ouro para come�ar um negocio. Agora era Hermione que estava com um ar constrangido. � Sei, mas... Eles n�o fariam nada contra a lei para conseguir ouro. Fariam? � Se fariam? � disse Rony com uma express�o de ceticismo. � N�o sei... Eles n�o se importam muito de desrespeitar o regulamento, n�o � mesmo? � �, mas estamos falando da Lei � disse Hermione, parecendo amedrontada. � N�o � de um simples regulamento de escola... V�o receber mais que deten��o por uma chantagem! Rony... Talvez seja melhor contar ao Percy... � Voc� ficou maluca? � exclamou Rony. � Contar ao Percy? Ele provavelmente ia fazer como o Crouch, e entregaria os dois. � Ele ficou olhando a janela por onde partira a coruja de Fred e Jorge, depois disse: � Vamos gente, vamos tomar caf�. � Voc�s acham que � muito cedo para procurar o Professor Moody? � perguntou Hermione quando desciam a escada circular. � Acho � respondeu Harry. � Ele provavelmente nos detonaria pela porta se n�s o acord�ssemos com o dia nascendo. Ia pensar que estamos querendo atac�-lo dormindo. Vamos esperar at� a hora do intervalo. A aula de Hist�ria da Magia jamais transcorrera t�o lentamente. Harry n�o parava de consultar o rel�gio de Rony, tendo finalmente jogado fora o seu, mas o do amigo estava andando t�o devagar que ele poderia jurar que parara de funcionar tamb�m. Os tr�s garotos estavam t�o cansados que teriam gostado de descansar as cabe�as nas carteiras e dormir; nem Hermione estava fazendo as anota��es de costume, sentava-se com a cabe�a apoiada na m�o, mirando o Professor Binns com os olhos fora de foco. Quando a sineta finalmente tocou, eles sa�ram correndo pelo corredor em dire��o � sala de Defesa das Artes das Trevas e encontraram o Professor Moody de sa�da. Ele parecia t�o cansado quanto os tr�s se sentiam. A p�lpebra do seu olho normal estava ca�da, dando ao seu rosto uma apar�ncia ainda mais torta do que a habitual. � Professor Moody? � chamou Harry, enquanto atravessavam o ajuntamento de alunos at� o professor. � Ol�, Potter � rosnou Moody. Seu olho m�gico acompanhou uns alunos de primeiro ano que iam passando e que aceleraram o passo demonstrando nervosismo, depois o olho girou para a nuca do professor e observou-os virar o canto, s� ent�o ele voltou a falar: � Entrem. Afastou-se, ent�o, para deix�-los entrar em sua sala de aula vazia, entrou em seguida mancando, e fechou a porta. � O senhor o encontrou? � perguntou Harry sem pre�mbulos.� O Sr. Crouch? � N�o � respondeu Moody. Ele foi at� a escrivaninha, sentou-se, esticou a perna de pau com um breve gemido e puxou um frasco de bolso. � O senhor usou o mapa? � perguntou Harry. � Naturalmente � disse o professor tomando um gole do frasco. � Fiz igualzinho a voc�, Potter. Convoquei o mapa do meu escrit�rio para a Floresta. O homem n�o estava em lugar algum. � Ent�o ele desaparatou? � perguntou Rony. � N�o se pode desaparatar nos terrenos da escola, Rony! � disse Hermione. � N�o existem outras maneiras que ele poderia ter usado para desaparecer, existem, professor? O olho m�gico de Moody estremeceu ao pousar em Hermione. � Voc� � outra que poderia pensar numa carreira de auror � disse ele � garota. � Sua cabe�a funciona na dire��o certa, Granger. Hermione corou de prazer. � Bem, ele n�o estava invis�vel � falou Harry �, o mapa mostra pessoas invis�veis. Ent�o ele deve ter deixado Hogwarts. � Mas com as pr�prias pernas? � perguntou Hermione ansiosa. � Ou algu�m o fez deixar? � �, algu�m poderia ter feito isso, montar o Grouch numa vassoura e levar ele embora, n�o poderia? � perguntou Rony depressa, olhando esperan�oso para Moody, como se tamb�m quisesse ouvir que tinha talento para auror. � N�o podemos excluir um seq�estro � rosnou Moody. � Ent�o � disse Rony � o senhor acha que ele est� em algum lugar de Hogsmeade? � Poderia estar em qualquer lugar � respondeu Moody balan�ando a cabe�a. � A �nica coisa de que temos certeza � que ele n�o est� aqui. O professor deu um grande bocejo, suas cicatrizes se esticaram e sua boca torta deixou entrever que lhe faltavam v�rios dentes. Ent�o disse: � Agora, Dumbledore me contou que voc�s tr�s se imaginam investigadores, mas n�o h� nada que possam fazer por Crouch. O Minist�rio vai procur�-lo agora, Dumbledore j� mandou uma notifica��o. Potter, e voc� se concentre na terceira tarefa. � Qu�? � disse Harry. � Ah, sim... Ele ainda n�o parara um instante sequer para pensar no labirinto desde que deixara Krum na noite anterior. � Deve ser bem a sua praia, essa � disse o professor, erguendo os olhos para Harry e co�ando o queixo barbado e cheio de cicatrizes. � Pelo que Dumbledore me contou, voc� j� conseguiu fazer coisas parecidas muitas vezes. Venceu uma s�rie de obst�culos que guardavam a Pedra Filosofal no primeiro ano, n�o foi? � N�s ajudamos � disse Rony depressa. � Eu e Mione ajudamos. Moody riu. � Bem, ent�o ajude-o a treinar para esse e ficarei muito surpreso se ele n�o vencer. Nesse meio tempo... Vigil�ncia constante, Potter. Vigil�ncia constante. � Ele tomou mais um longo gole do frasco de bolso e seu olho m�gico girou para a janela. Por ali via-se a vela principal do navio de Durmstrang. � Voc�s dois � seu olho normal estava posto em Rony e Hermione � fiquem colados no Potter, sim? Eu estou de olho nas coisas, mas assim mesmo... Nunca h� olhos demais para se vigiar. Sirius devolveu a coruja dos garotos na manh� seguinte. Ela esvoa�ou ao lado de Harry no mesmo instante em que uma coruja castanho-amarelada pousou diante de Hermione, trazendo um exemplar do Profeta Di�rio no bico. Ela apanhou o jornal, deu uma olhada nas primeiras p�ginas e disse: � Ela n�o ouviu falar do Crouch! � comentou antes de se juntar a Rony e Harry para ler o que Sirius mandara dizer sobre os misteriosos acontecimentos da antev�spera. �Harry, Que brincadeira � essa de sair para a Floresta Proibida com V�tor Krum? Quero que voc� jure, na volta deste correio, que n�o vai sair andando com mais ningu�m � noite. H� algu�m perigos�ssimo em Hogwarts. Para mim est� muito claro que esse algu�m queria impedir Crouch de ver Dumbledore e voc� provavelmente esteve a poucos passos dele no escuro. Poderia ter sido morto. O seu nome n�o foi parar no C�lice de Fogo por acaso. Se algu�m est� tentando atac�-lo, essa � a �ltima chance. Fique perto de Rony e Hermione, n�o saia da Grifin�ria tarde da noite e se prepare para a terceira tarefa. Pratique estuporamento e desarmamento. Algumas azara��es viriam a calhar. N�o h� nada que voc� possa fazer por Crouch. N�o se exponha e se cuide. Estarei esperando a carta em que me dar� sua palavra de que n�o vai mais ultrapassar os limites da escola. Sirius�. � Quem � ele para me fazer serm�o por ultrapassar os limites da escola? � disse Harry ligeiramente indignado enquanto dobrava a carta de Sirius e a guardava no bolso interno das vestes. � Depois de tudo que ele aprontou na escola! � Ele est� preocupado com voc�! � lembrou Hermione com rispidez. � E o mesmo se aplica a Moody e Hagrid! Por isso escute o que eles est�o lhe dizendo! � Ningu�m nem tentou me atacar este ano � disse Harry. � Ningu�m nem me fez absolutamente nada... � Exceto colocarem o seu nome no C�lice de Fogo � disse Hermione. � E devem ter tido um bom motivo para isso, Harry. Snuffles tem raz�o. Talvez estejam esperando a hora certa. Talvez a terceira tarefa seja a que v�o pegar voc�. � Olhem � disse Harry impaciente �, digamos que Snuffles tenha raz�o e algu�m estuporou Krum para seq�estrar Crouch. Bem, ele estaria escondido entre as �rvores perto de n�s, certo? Mas esperou eu estar fora do caminho para agir, n�o foi? Portanto n�o est� parecendo que eu seja o alvo deles, n�o �? � Eles n�o poderiam fazer parecer um acidente se tivessem matado voc� na Floresta. Mas se voc� morresse durante a tarefa... � Eles n�o se importaram de atacar Krum, n�o foi? Por que n�o aproveitaram para acabar comigo tamb�m? Poderiam ter feito parecer que Krum e eu t�nhamos duelado ou outra coisa qualquer. � Harry, eu tamb�m n�o entendo � disse Hermione desesperada. � S� sei que h� um monte de coisas estranhas acontecendo e que n�o estou gostando nada... Moody est� certo, Snuffles est� certo, voc� tem que come�ar a treinar logo para a terceira tarefa. E n�o se esque�a de responder a Sirius e prometer que n�o vai sair por a� sozinho outra vez. Os jardins de Hogwarts nunca pareceram mais convidativos do que quando Harry foi obrigado a permanecer no castelo. Nos dias que se seguiram ele passou quase todo o tempo livre na biblioteca com Hermione e Rony, consultando livros sobre azara��es ou ent�o em salas de aula desocupadas, em que eles entravam �s escondidas para praticar. Harry se concentrou no Feiti�o Estuporante, que ele nunca usara antes. O problema era que sua pr�tica exigia certos sacrif�cios de Rony e Hermione. � N�o pod�amos seq�estrar Madame Nor-r-ra? � sugeriu Rony durante a hora de almo�o na segunda-feira, ainda deitado de barriga para cima no meio da sala de Feiti�os, onde acabara de ser estuporado e reanimado por Harry pela quinta vez seguida. � Vamos estuporar a gata para variar. Ou quem sabe voc� podia usar o Dobby, Harry, aposto que ele faria qualquer coisa para ajudar voc�. N�o estou reclamando nem nada � o garoto se levantou esfregando as costas �, mas estou todo do�do... � Bem, voc� sempre sai de cima das almofadas, n�o �? � disse Hermione com impaci�ncia, rearrumando a pilha de almofadas usadas para o Feiti�o Expuls�rio que Flitwick deixara guardadas em um arm�rio. � Experimente cair de costas! � Quando a gente est� sendo estuporado, n�o consegue mirar muito bem, Hermione! � defendeu-se Rony aborrecido. � Por que voc� n�o experimenta uma vez? � Bem, acho que Harry j� pegou o jeito � disse a garota apressada. � E n�o precisamos nos preocupar com o desarmamento, porque ele j� sabe fazer isso h� s�culos... Acho que hoje � noite dev�amos come�ar algumas azara��es. A garota percorreu com os olhos a lista que tinham feito na biblioteca. � Gosto da cara desta aqui � disse ela �, da Azara��o de Impedimento. Deve retardar qualquer coisa que esteja tentando atacar voc�, Harry. Vamos come�ar por ela. A sineta tocou. Apressadamente eles enfiaram as almofadas no arm�rio de Flitwick e sa�ram com cautela da sala de aula. � Vejo voc�s no jantar! � disse Hermione e foi para a aula de Aritmancia, enquanto Harry e Rony seguiam para a aula de Adivinha��o na Torre Norte. Grandes feixes de sol, radiosamente dourados, vindos das altas janelas, cortavam o corredor. O c�u l� fora estava t�o intensamente azul que parecia esmaltado. � Vai estar uma sauna na sala da Trelawney, ela nunca apaga aquela lareira � comentou Rony, quando come�aram a subir a escada circular que levava � escada prateada e ao al�ap�o. E ele estava certo. A sala mal iluminada estava incomodamente quente. A fuma�a da lareira perfumada estava mais densa que nunca. Harry sentiu a cabe�a tontear ao se dirigir a uma das janelas de cortinas corridas. Enquanto a Professora Sibila estava olhando para o outro lado, tentando soltar o xale de um abajur, ele abriu a janela uns dois dedinhos e tornou a se sentar em sua cadeira forrada de chintz, de modo que uma brisa suave correu pelo seu rosto. Ele se sentiu muit�ssimo confort�vel. � Meus queridos � disse a professora, sentando-se em sua bergere diante da turma e percorrendo-a com seus olhos estranhamente aumentados �, estamos quase no fim dos nossos estudos sobre adivinha��o planet�ria. Hoje, no entanto, teremos uma excelente oportunidade de examinar os efeitos de Marte, porque ele est� em uma posi��o muit�ssimo interessante neste momento. Se voc�s todos olharem para c�, eu vou diminuir a luz... Ela acenou com a varinha e as luzes se apagaram. A lareira ficou sendo a �nica fonte de claridade. A Professora Sibila se curvou e tirou de baixo da poltrona um modelo do sistema solar, protegido por uma redoma de vidro. Era uma bela pe�a, cada uma das luas cintilantes estavam dispostas em torno dos nove planetas e do sol esbraseado, todos suspensos no ar sob o vidro. Harry acompanhou indolentemente a professora come�ar a apontar o �ngulo fascinante que Marte formava com Netuno. A fuma�a muito perfumada o envolveu e a brisa vinda da janela brincou pelo seu rosto. Ele ouviu um inseto zumbir suavemente em algum lugar atr�s da cortina. Suas p�lpebras come�aram a pesar... Ele estava cavalgando �s costas de um coruj�o, voando por um claro c�u azul em dire��o a uma casa velha e coberta de hera, situada no alto de uma encosta. Eles foram voando cada vez mais baixo, o vento passando agradavelmente pelo rosto de Harry, at� chegarem a uma janela escura e desmantelada no primeiro andar da casa, pela qual entraram. Agora estavam voando por um corredor sombrio e chegaram a um quarto bem no final... cruzaram a porta entraram nesse quarto escuro cujas janelas estavam pregadas... Harry desmontara das costas do coruj�o... E observou-o esvoa�ar pelo quarto e pousar em uma poltrona virada de costas para ele... Havia duas formas escuras no ch�o ao lado da cadeira... As duas se mexiam... Uma era uma enorme cobra... A outra, um homem... Um homem baixo, meio careca, um homem com olhos aquosos e um nariz pontudo... Ele arfava e solu�ava no tapete diante da lareira... � Voc� est� com sorte, Rabicho � disse uma voz fria e aguda do fundo da poltrona em que o coruj�o pousara. � Voc� tem de fato muita sorte. O seu erro n�o chegou a arruinar tudo. Ele est� morto. � Milorde! � ofegou o homem no ch�o. � Milorde, estou... Estou t�o satisfeito... E t�o arrependido... � Nagini � disse a voz fria �, voc� est� sem sorte. Afinal, n�o � hoje que vou lhe dar Rabicho para comer... Mas n�o se incomode, n�o se incomode... Ainda tem o Harry Potter... A cobra sibilou. Harry viu a l�ngua dela se agitar. � Agora, Rabicho � disse a voz fria �, talvez mais um lembrete de por que n�o vou tolerar mais nenhum erro seu... � Milorde... N�o... Eu suplico... A ponta de uma varinha ergueu-se do fundo da poltrona. Mirou Rabicho. � Crucio � disse a voz fria. Rabicho berrou, berrou como se cada nervo do seu corpo estivesse em fogo, os berros encheram os ouvidos de Harry, ao mesmo tempo que a cicatriz em sua testa queimou de dor; ele estava berrando, tamb�m... Voldemort iria ouvi-lo, saberia que ele estava ali... � Harry! Harry. Harry abriu os olhos. Estava ca�do no ch�o da sala da Professora Sibila, cobrindo o rosto com as m�os. Sua cicatriz ardia com tanta intensidade que seus olhos chegavam a lacrimejar. A dor fora real. A turma inteira estava parada � volta dele, e Rony se ajoelhara de um lado, com uma express�o de terror no rosto. � Voc� est� bem? � perguntou. � � claro que n�o est�! � disse a professora, parecendo alvoro�ad�ssima. Seus grandes olhos miraram Harry, amea�adores. � Que foi, Potter? Uma premoni��o? Uma apari��o? Que foi que voc� viu? � Nada � mentiu Harry. Ele se sentou. Sentia os pr�prios tremores. N�o conseguia parar de olhar para todo lado, para as sombras �s suas costas. A voz de Voldemort soara t�o pr�xima... � Voc� estava apertando sua cicatriz! � disse a professora. � Voc� estava rolando no ch�o, apertando sua cicatriz! Ora vamos, Potter, eu tenho experi�ncia nesses assuntos! Harry levantou a cabe�a para olh�-la. � Preciso ir � ala hospitalar, acho. Dor de cabe�a muito forte. � Meu querido, sem d�vida voc� foi estimulado pelas extraordin�rias vibra��es premonit�rias da minha sala! Se voc� sair agora, poder� perder a oportunidade de ver mais longe do que jamais... � Eu n�o quero ver nada, a n�o ser um rem�dio para minha dor de cabe�a. Harry se levantou. A turma recuou. Todos pareciam nervosos. � Vejo voc� mais tarde � murmurou ele para Rony e, apanhando a mochila, rumou para o al�ap�o, sem dar aten��o � Professora Sibila, que revelava no rosto uma grande frustra��o, como se algu�m a tivesse privado de um prazer real. Quando Harry chegou ao fim da escada, por�m, n�o rumou para a ala hospitalar. N�o tinha a menor inten��o de ir at� l�. Sirius lhe dissera o que fazer se a cicatriz tornasse a doer e ele ia seguir o conselho do padrinho: ir direto ao escrit�rio de Dumbledore. Ele atravessou os corredores, decidido, pensando no que vira no sonho... Fora t�o vivido como o outro que o despertara na Rua dos Alfeneiros... Ele repassou mentalmente os detalhes, procurando se certificar de que n�o os esqueceria... Ouvira Voldemort acusar Rabicho de cometer um erro... Mas a coruja trouxera boas not�cias, o erro fora consertado, algu�m estava morto... Por isso Rabicho n�o ia servir de alimento para a cobra... Em seu lugar, Harry � quem iria... O garoto passou direto pela g�rgula que guardava a entrada do escrit�rio de Dumbledore sem reparar. Ele piscou, olhou em volta, percebeu a distra��o, refez seus passos e parou diante do ornato. Ent�o se lembrou que n�o conhecia a senha. � Sorvete de lim�o? � experimentou. A g�rgula n�o se moveu. � OK. � disse Harry encarando-a. � Drops de p�ra. Varinha. alca�uz. Del�cia gasosa. Chicle de baba-bola. Feij�ezinhos de todos os sabores... Ah, n�o, ele n�o gosta desses, ou gosta?... Ah, abra logo, ser� que n�o pode? � exclamou o garoto aborrecido. � Eu realmente preciso ver o diretor, � urgente! A g�rgula continuou im�vel. Harry chutou-a, mas n�o conseguiu nada, exceto sentir uma dor excruciante no ded�o do p�. � Sapo de chocolate! � berrou com raiva, parado num p� s�. � Pena de a��car! Torr�o de barata! A g�rgula ganhou vida e saltou para o lado. Harry piscou os olhos. � Torr�o de barata! � exclamou admirado. � Eu estava s� brincando... Ele passou depressa pela abertura nas paredes e pisou no patamar de uma escada em espiral, que se deslocou lentamente para o alto, ao mesmo tempo em que as portas se fechavam �s suas costas, levando-o at� uma porta de carvalho polido com uma ma�aneta de lat�o. Ele ouviu vozes no escrit�rio. Saltou da escada em movimento e hesitou, escutando. � Dumbledore, receio n�o ver a rela��o, n�o a vejo mesmo! � Era a voz do Ministro da Magia, Corn�lio Fudge. � Ludo diz que Berta � perfeitamente capaz de se perder. Concordo que era de esperar que, a esta altura, ela j� tivesse sido encontrada, mas mesmo assim, n�o temos evid�ncia alguma de crime, Dumbledore, nenhuma. Quanto ao desaparecimento dela estar ligado ao de Bart� Crouch! � E o que � que o senhor acha que aconteceu com Bart� Crouch, ministro? � perguntou Moody num rosnado. � Vejo duas possibilidades, Alastor � disse Fudge. � Ou Crouch finalmente enlouqueceu, o que � muito prov�vel e tenho certeza de que voc� concorda, dada a sua hist�ria pessoal, perdeu o ju�zo e saiu vagando por a�... � Ele vagou muit�ssimo depressa, se esse for o caso, Corn�lio � comentou Dumbledore calmamente. � Ou ent�o, bem... � Fudge pareceu constrangido. � Bem, n�o vou julgar at� depois de ver o local onde ele foi encontrado, mas voc� diz que foi um pouco al�m da carruagem da Beauxbatons? Dumbledore, voc� sabe quem � aquela mulher? � Considero-a uma diretora competente e uma excelente dan�arina � acrescentou Dumbledore rapidamente. � Ora, vamos Dumbledore! � disse Fudge irritado. � Voc� n�o acha que pode estar predisposto a favorec�-la por causa de Hagrid? Nem todos eles s�o inofensivos, se � que se pode chamar Hagrid de inofensivo, com aquela fixa��o monstruosa que ele tem... � Tenho tantas suspeitas de Madame Maxime quanto tenho de Hagrid � disse Dumbledore com a mesma calma. � Acho que � poss�vel que voc� esteja predisposto a conden�-la, Corn�lio. � Ser� que podemos fechar esta discuss�o? � rosnou Moody. � Sim, sim, vamos descer aos jardins, ent�o � disse Corn�lio impaciente. � N�o, n�o � isso � falou Moody �, � que Potter quer dar uma palavra com voc�, Dumbledore. Ele est� a� do outro lado da porta. CAP�TULO TRINTA A Penseira A porta do escrit�rio se abriu. � Ol�, Potter � disse Moody. � Ent�o, entre. Harry entrou. J� estivera uma vez no escrit�rio de Dumbledore, era uma bela sala circular, coberta de retratos de diretores e diretoras que o antecederam em Hogwarts, os quais dormiam a sono solto, o peito arfando suavemente. Corn�lio Fudge estava em p� do lado da escrivaninha de Dumbledore, usando sua habitual capa listrada e segurando seu chap�u-coco verde-lim�o. � Harry! � cumprimentou o ministro jovialmente, adiantando-se. � Como vai? � �timo � mentiu Harry. � Est�vamos justamente falando da noite em que o Sr. Crouch apareceu nos terrenos da escola � disse Fudge. � Foi voc� quem o encontrou, n�o foi? � Foi � confirmou Harry. Depois sentindo que n�o adiantava fingir que n�o escutara o que eles estavam dizendo, acrescentou: � Mas n�o vi Madame M�xime em lugar nenhum, e ela teria uma trabalheira para se esconder, n�o? Dumbledore sorriu para Harry pelas costas de Fudge, com os olhos cintilantes. � Bem, teria � respondeu Fudge constrangido �, �amos sair para dar uma volta pelos terrenos da escola, Harry, se voc� nos der licen�a... Quem sabe voc� volta �s suas aulas... � Eu queria falar com o senhor, professor � disse Harry depressa, olhando para Dumbledore, que lhe lan�ou um olhar breve e penetrante. � Espere por mim aqui, Harry � disse. � Nosso exame da propriedade n�o vai demorar. Os tr�s passaram por ele em sil�ncio e fecharam a porta. Mais ou menos um minuto depois, Harry ouviu o toque-toque da perna de pau de Moody desaparecendo no corredor embaixo. Olhou para os lados. � Al�, Fawkes � cumprimentou ele. Fawkes, a f�nix de Dumbledore estava parada em seu poleiro de ouro ao lado da porta. Do tamanho de um cisne, uma magn�fica plumagem vermelha e dourada, a ave balan�ou sua longa cauda e piscou bondosamente para Harry. Harry se sentou em uma cadeira diante da escrivaninha de Dumbledore. Durante v�rios minutos, ficou sentado contemplando os velhos diretores e diretoras cochilando em seus quadros, pensando no que acabara de ouvir e acariciando a cicatriz. Parara de doer agora. O garoto se sentia muito mais calmo agora que se achava no escrit�rio de Dumbledore, pois em breve estaria lhe contando seu sonho. Harry ergueu os olhos para as paredes atr�s da escrivaninha. O Chap�u Seletor, remendado e esfiapado, estava pousado em uma prateleira. Ao seu lado, uma redoma protegia uma magn�fica espada de prata, com o punho cravejado de grandes rubis, em que Harry reconheceu a que ele pr�prio tirara do Chap�u Seletor no segundo ano. A espada pertencera outrora a Godrico Gryffindor, fundador da Casa de Harry. Ele a examinava, lembrando como a espada viera em seu aux�lio em um momento em que pensara que n�o havia mais esperan�as, quando notou uma malha de luz prateada que dan�ava e refulgia sobre a redoma. Ele procurou a fonte da luz e viu uma nesga de luz branco-prateada que sa�a de um arm�rio escuro �s suas costas, cuja porta n�o fora bem fechada. Harry hesitou, olhou para Fawkes, depois se levantou, atravessou a sala e escancarou a porta do arm�rio. Havia ali uma bacia de pedra rasa, com entalhes estranhos na borda, runas e s�mbolos que Harry n�o reconheceu. A luz prateada vinha do conte�do da bacia, que n�o lembrava nada que Harry tivesse visto antes. Ele n�o sabia dizer se a subst�ncia era l�quida ou gasosa. Era brilhante, branco-prateada e se movia sem cessar; sua superf�cie se encapelava como �gua sob a a��o do vento e, ent�o, como uma nuvem, se dividia e girava lentamente. Parecia luz liquefeita � ou vento solidificado �, Harry n�o conseguia decidir. Teve vontade de toc�-la, de descobrir como era ao tato, mas quase quatro anos de experi�ncia no mundo da magia lhe diziam que meter a m�o em uma bacia cheia de uma subst�ncia desconhecida era uma grande burrice. Ele, portanto, puxou a varinha de dentro das vestes, lan�ou um olhar nervoso pelo escrit�rio, tornou a olhar para o conte�do da bacia e tocou-a. A superf�cie da subst�ncia prateada dentro da bacia come�ou a girar muito depressa. Harry se curvou mais para perto, enfiando a cabe�a no arm�rio. A subst�ncia prateada se tornara transparente, parecia vidro. Ele espiou dentro dela, esperando ver o fundo de pedra da bacia � mas, em vez disso, viu uma sala enorme sob a superf�cie da misteriosa subst�ncia, uma sala para a qual ele aparentemente espiava por uma janela circular no teto. A sala era mal iluminada; o garoto achou que talvez fosse subterr�nea, pois n�o havia janelas, apenas archotes presos �s paredes como os que iluminavam Hogwarts. Baixando o rosto de modo a ficar com o nariz a apenas dois cent�metros da subst�ncia v�trea, Harry viu que havia filas e mais filas de bruxos e bruxas sentados ao redor das paredes no que lhe pareceram bancos escalonados. Uma cadeira vazia fora colocada bem no centro da sala. Alguma coisa nela produziu em Harry um mau pressentimento. Havia correntes envolvendo seus bra�os, como se quem a ocupasse sempre estivesse preso a ela. Onde seria esse lugar? Certamente n�o era em Hogwarts, ele nunca vira uma sala igual �quela no castelo. Al�m do mais, as pessoas reunidas na misteriosa sala no fundo da bacia eram, em sua maioria, adultos e Harry sabia que n�o havia tantos professores assim em Hogwarts. E pareciam estar aguardando alguma coisa e, embora o garoto s� pudesse ver a ponta dos seus chap�us c�nicos, todos davam a impress�o de estar olhando para o mesmo lado e ningu�m falava com ningu�m. Uma vez que a bacia era redonda e a sala que ele observava, circular, Harry n�o conseguia divisar o que estaria acontecendo nos cantos. Ele se curvou para mais perto ainda, inclinou a cabe�a, procurou enxergar... A ponta do seu nariz tocou a estranha subst�ncia que ele estava mirando. O escrit�rio de Dumbledore deu um tremendo solavanco � Harry foi projetado para frente e mergulhou de cabe�a na subst�ncia da bacia... Mas a cabe�a do garoto n�o bateu no fundo de pedra. Ele foi caindo por alguma coisa gelada e escura, era como se estivesse sendo sugado por um redemoinho negro... E inesperadamente ele se viu sentado em um banco no fundo da sala dentro da bacia, um banco mais acima dos outros. Ergueu os olhos para o alto teto de pedra, esperando ver a janela circular pela qual estivera espiando, mas n�o havia nada l� exceto a pedra s�lida e escura. Respirando com for�a e depressa, Harry olhou ao seu redor. Nenhum dos bruxos nem bruxas na sala (e havia pelo menos uns duzentos) estava olhando para ele. Nenhum deles parecia ter reparado que um garoto de catorze anos acabara de cair do teto no meio da reuni�o. Harry se virou para o bruxo mais pr�ximo no banco e soltou um grito de surpresa que ecoou pela sala silenciosa. Sentara-se bem ao lado de Alvo Dumbledore. � Professor! � exclamou Harry, numa esp�cie de sussurro estrangulado. � Sinto muito, n�o tive inten��o, estava apenas olhando dentro da bacia no seu arm�rio, eu... Onde estamos? Mas Dumbledore n�o se mexeu nem falou. Ignorou Harry completamente. Como os demais bruxos sentados nos bancos, o diretor tinha os olhos fixos no canto mais afastado da sala, onde havia uma porta. Harry olhou, confuso, para Dumbledore, depois para os bruxos atentos e silenciosos, e tornou a olhar para Dumbledore. Ent�o compreendeu... J� tinha havido uma vez em que Harry se vira em um lugar em que ningu�m podia velo ou ouvi-lo. Naquela ocasi�o, ele entrara nas p�ginas de um di�rio enfeiti�ado, diretamente na mem�ria de algu�m... E, a n�o ser que estivesse muito enganado, alguma coisa assim estava acontecendo de novo... Harry ergueu a m�o direita, hesitou, depois agitou-a energicamente diante do rosto de Dumbledore. O diretor n�o piscou nem olhou para ele e tampouco se mexeu de modo algum. E isso, na opini�o de Harry, resolvia a quest�o. Dumbledore n�o o ignoraria daquela maneira. Ele estava dentro de uma lembran�a e aquele n�o era o Dumbledore atual. Contudo, n�o poderia ter sido h� muito tempo... O Dumbledore sentado ao seu lado tinha cabelos prateados, igualzinho ao Dumbledore dos dias de hoje. Mas que lugar era este? Que � que todos aqueles bruxos estavam aguardando? Harry olhou para os lados mais detidamente. A sala, como ele suspeitara quando a observara do alto, era quase certamente subterr�nea � mais uma masmorra do que uma sala, pensou o garoto. A atmosfera era desolada e hostil naquele lugar; n�o havia quadros nas paredes, nem decora��es, apenas as filas de bancos, que subiam em n�veis escalonados ao redor da sala, dispostos de maneira a proporcionar uma vis�o clara da cadeira com correntes nos bra�os. Antes que Harry pudesse chegar a alguma conclus�o sobre o lugar em que se encontravam, ele ouviu passos. A porta no canto da masmorra se abriu e tr�s pessoas entraram � ou pelo menos um homem, ladeado por dois dementadores. As entranhas de Harry gelaram. Os dementadores, altos, encapuzados, os rostos ocultos, deslizaram lentamente em dire��o � cadeira no centro da sala, cada um segurando um bra�o do homem com suas m�os de cad�ver, de aspecto podre. O homem entre os dois parecia prestes a desmaiar e Harry n�o poderia culp�-lo... Sabia que os dementadores n�o poderiam toc�-lo dentro de uma lembran�a, mas se lembrava muito bem do poder que tinham. Os bruxos se encolheram ligeiramente quando os dementadores sentaram o homem na cadeira com correntes e deslizaram para fora da sala. A porta se fechou ao passarem. Harry olhou para o homem que agora estava sentado na cadeira e viu que era Karkaroff. Ao contr�rio de Dumbledore, Karkaroff parecia muito mais novo, seus cabelos e barba eram negros. N�o estava vestido com peles elegantes, mas com vestes ralas e esfarrapadas. Tremia. Bem na hora em que Harry o observava, as correntes nos bra�os da cadeira produziram um reflexo dourado e se enroscaram pelos seus bra�os, prendendo-os ali. � Igor Karkaroff � disse uma voz r�spida � esquerda de Harry. O garoto olhou e viu o Sr. Crouch se levantar no meio do banco ao lado. Seus cabelos eram escuros, seu rosto muito menos enrugado, ele parecia em boa forma e l�cido. � Voc� foi trazido de Azkaban para prestar depoimento ao Minist�rio da Magia. Voc� nos deu a entender que tem importantes informa��es para nos dar. Karkaroff se endireitou o melhor que p�de, firmemente preso � cadeira. � Tenho, sim senhor � respondeu ele e embora sua voz soasse muito temerosa, Harry p�de perceber o qu� de untuosidade que t�o bem conhecia. � Quero ser �til ao Minist�rio. Quero ajudar. Sei que o Minist�rio est� tentando prender os �ltimos seguidores do Lord das Trevas. Estou ansioso para cooperar de todas as maneiras que puder... Um murm�rio percorreu os bancos. Alguns bruxos e bruxas examinaram Karkaroff com interesse, outros com acentuada desconfian�a. Ent�o Harry ouviu, muito claramente, do outro lado de Dumbledore, uma voz rosnada e familiar exclamar "Gentalha". Harry se curvou � frente para poder ver al�m de Dumbledore. Olho-Tonto Moody estava sentado ali � embora houvesse uma n�tida diferen�a em sua apar�ncia. Ele n�o tinha um olho m�gico, mas dois normais. Ambos fixavam Karkaroff e ambos estavam apertados revelando intenso desagrado. � Crouch vai solt�-lo � murmurou Moody baixinho a Dumbledore. � Fez um trato com ele. Levei seis meses para ca��-lo e Crouch vai solt�-lo se ele tiver um n�mero suficiente de nomes novos. Vamos ouvir suas informa��es, digo eu, e atir�-lo de volta aos bra�os dos dementadores. Dumbledore fez um barulhinho de discord�ncia pelo nariz longo e torto. � Ah, eu ia me esquecendo... voc� n�o gosta de dementadores, n�o � mesmo, Alvo? � disse Moody com um sorriso sard�nico. � N�o � respondeu Dumbledore calmamente. � Receio que n�o. H� muito tempo venho achando que o Minist�rio faz mal em se aliar a essas criaturas. � Mas para uma gentalha dessas... � disse Moody baixinho. � Voc� diz que tem nomes para nos informar, Karkaroff � recome�ou o Sr. Grouch. � Por favor, queremos ouvi-los. � O senhor deve compreender � disse Karkaroff na mesma hora � que Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado sempre operou no maior sigilo... Ele preferia que n�s, quero dizer, seus seguidores, e me arrependo agora, profundamente, de ter-me inclu�do entre eles... � Ande logo com isso � disse Moody com desd�m. � ... Nunca soubemos os nomes de todos os seus seguidores, somente ele sabia exatamente quem �ramos... � O que era uma atitude sensata, n�o �, pois impedia que algu�m como voc�, Karkaroff, entregasse todos � murmurou Moody. � Contudo, voc� diz que tem alguns nomes para nos informar? � disse o Sr. Crouch. � Tenho... Tenho � respondeu Karkaroff sem f�lego. � E note que eram seguidores importantes. Gente que eu vi com os meus pr�prios olhos cumprindo as ordens dele. Presto estas informa��es como prova de minha total ren�ncia a ele, e de que estou t�o ro�do de remorsos que mal... � Os nomes s�o? � tornou o Sr. Crouch com rispidez. Karkaroff inspirou profundamente. � Ant�nio Dolohov. Vi-o torturar in�meros trouxas e... N�o seguidores do Lord das Trevas. � E ajudou-o a fazer isso � murmurou Moody. � J� prendemos Dolohov � disse Crouch. � Foi capturado pouco depois de voc�. � Verdade? � admirou-se Karkaroff arregalando os olhos. � Fico... Fico satisfeito em saber! Mas n�o parecia nada satisfeito. Harry percebeu que a not�cia fora um verdadeiro golpe para ele. Esse nome era, portanto, in�til. � Mais algum? � perguntou Crouch friamente. � � claro que sim... Havia Rosier � acrescentou Karkaroff depressa. � Evan Rosier. � Rosier est� morto. Foi capturado pouco depois de voc�, tamb�m. Preferiu lutar do que aceitar a pris�o, e foi morto ao resistir. � Mas levou um peda�o de mim com ele � sussurrou Moody, � direita de Harry O garoto virou mais uma vez a cabe�a para olh�-lo e viu que ele apontava o peda�o que lhe faltava no nariz para Dumbledore. � Era... Era o que Rosier merecia! � disse Karkaroff, agora com uma percept�vel nota de p�nico na voz. Harry percebeu que ele estava come�ando a se preocupar que nenhuma de suas informa��es tivesse utilidade para o Minist�rio. Os olhos de Karkaroff correram para a porta no canto, atr�s da qual sem d�vida os dementadores continuavam parados � espera. � Mais algum? � perguntou Crouch. � Sim! Havia o Travers, ele ajudou a assassinar os McKinnons! Mulciber, era especialista na Maldi��o Imperius, for�ou in�meras pessoas a fazerem coisas horrendas! Rookwood, que era espi�o e passava �quele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado informa��es �teis de dentro do Minist�rio! Harry percebeu que, desta vez, Karkaroff encontrara ouro. Todos os bruxos presentes come�aram a murmurar ao mesmo tempo. � Rookwood? � disse o Sr. Crouch � bruxa que estava sentada � sua frente e que come�ou a tomar notas em um pergaminho. � Augusto Rookwood do Departamento de Mist�rios? � Esse mesmo � confirmou Karkaroff pressuroso. � Creio que ele usava uma rede de bruxos bem colocados, tanto dentro quanto fora do Minist�rio, para colher informa��es... � Mas Travers e Mulciber n�s j� prendemos. Muito bem Karkaroff, se s�o s� esses, voc� ser� reconduzido a Azkaban enquanto decidimos... � Ainda n�o! � gritou Karkaroff, parecendo bastante desesperado. � Espere, tenho mais! Harry observou que ele suava � luz dos archotes, sua pele branca contrastava fortemente com o negro dos cabelos e da barba. � Snape! � exclamou ele. � Severo Snape! � Snape j� foi inocentado por este conselho � disse Crouch friamente. � Dumbledore testemunhou em favor dele. � N�o! � gritou Karkaroff, for�ando as correntes que o prendiam � cadeira. � Garanto ao senhor! Severo Snape � um Comensal da Morte! Dumbledore se erguera. � Eu j� prestei depoimento sobre esse caso � disse calmamente. � Severo Snape foi de fato um Comensal da Morte. Por�m, voltou para o nosso lado antes da queda de Lord Voldemort e virou nosso espi�o, se expondo a grande perigo. Hoje ele � t�o Comensal da Morte quanto eu. Harry se virou para olhar Olho-Tonto Moody. Revelava no rosto uma express�o de profundo ceticismo, por tr�s de Dumbledore. � Muito bem, Karkaroff � disse Crouch friamente �, voc� ajudou. Vou rever o seu caso. Entrementes voltar� para Azkaban... A voz do Sr. Crouch foi morrendo. Harry olhou para os lados, a masmorra estava desaparecendo gradualmente como se fosse feita de fuma�a, tudo estava desaparecendo, ele s� conseguia ver o pr�prio corpo, todo o resto era um redemoinho de escurid�o... Ent�o, a masmorra reapareceu. Harry estava sentado em outro lugar; ainda no banco mais alto, mas agora � esquerda do Sr. Crouch. A atmosfera parecia bem diferente, descontra�da, quase animada. As bruxas e bruxos ao redor conversavam entre si, quase como se estivessem assistindo a um evento esportivo. Uma bruxa no meio dos bancos defronte a Harry chamou a aten��o do garoto. Tinha cabelos louros e curtos, usava vestes magenta, e chupava a ponta de uma pena verde-�cido. Era, inconfundivelmente, uma Rita Skeeter mais mo�a. Harry olhou para os lados, Dumbledore estava outra vez sentado ao seu lado, usando outras vestes. O Sr. Crouch parecia mais cansado, mais feroz, mais descarnado... O garoto compreendeu. Era uma lembran�a diferente, um dia diferente... Um julgamento diferente. A porta ao canto se abriu e Ludo Bagman entrou na sala. N�o era, por�m, um Ludo Bagman envelhecido, mas um Ludo Bagman que visivelmente se achava no auge de sua forma de jogador de Quadribol. Seu nariz n�o estava quebrado, ele era alto, magro e musculoso. Bagman parecia nervoso quando se sentou na cadeira com as correntes, mas elas n�o o prenderam, como haviam feito com Karkaroff, e Bagman, talvez animado por isso, correu os olhos pelos bruxos reunidos, acenou para alguns e at� deu um sorrisinho. � Ludo Bagman, voc� foi trazido perante o Conselho das Leis da Magia para responder �s acusa��es relacionadas com as atividades dos Comensais da Morte � disse o Sr. Crouch. � J� ouvimos as provas contra voc� e estamos prestes a alcan�ar um veredicto. Voc� tem algo mais a acrescentar ao seu depoimento antes de lavrarmos a senten�a? Harry n�o conseguiu acreditar no que estava ouvindo. Ludo Bagman, um Comensal da Morte? � Apenas que � respondeu o bruxo, sorrindo sem gra�a �, bem, sei que estive agindo como um idiota... Uns espectadores nos bancos sorriram com indulg�ncia. O Sr. Crouch n�o parecia compartir esse sentimento. Encarou Ludo Bagman com uma express�o de grande severidade e desagrado. � Voc� nunca disse nada mais verdadeiro, moleque � murmurou algu�m secamente a Dumbledore, atr�s de Harry. Ele virou a cabe�a e viu Moody sentado ali de novo. � Se eu n�o soubesse que ele sempre foi d�bil, eu diria que alguns bala�os devem ter afetado permanentemente o c�rebro dele... � Ludovico Bagman, voc� foi apanhado passando informa��es aos seguidores de Lord Voldemort � disse o Sr. Crouch. � Por isso, proponho que cumpra senten�a de pris�o em Azkaban com uma dura��o m�nima de... Ouviram-se protestos zangados para todos os lados. V�rios bruxos e bruxas se levantaram, balan�ando a cabe�a e at� mesmo erguendo os punhos contra o Sr. Crouch. � Mas eu j� declarei que n�o fazia id�ia! � disse Bagman com veem�ncia, sobrepondo-se � balb�rdia vinda dos bancos, arregalando seus redondos olhos azuis. � Nenhuma! O velho Rookwood era amigo do meu pai... Jamais me passou pela cabe�a que ele estivesse com Voc�-Sabe-Quem! Pensei que estava colhendo informa��es para o nosso lado! E Rookwood falava o tempo todo em me arranjar um emprego no Minist�rio mais tarde... Quando terminassem meus dias de Quadribol, sabem... Quero dizer, n�o podia ficar levando bala�os o resto da vida, podia? Ouviram-se risinhos nervosos entre os presentes. � Vou levar isso � vota��o � disse o Sr. Crouch friamente. E, virando-se para o lado direito da masmorra. � Jurados, por favor, ergam a m�o... Os que forem a favor da pris�o... Harry olhou para a direita da masmorra. Ningu�m levantou a m�o. Muitos bruxos e bruxas nos bancos come�aram a bater palmas. Uma das bruxas no j�ri se levantou. � Pois n�o? � ladrou Crouch. � Gostar�amos de cumprimentar o Sr. Bagman por seu espl�ndido desempenho no jogo de Quadribol da Inglaterra contra a Turquia no s�bado passado � disse a bruxa ofegante. O Sr. Crouch fez uma cara furiosa. A masmorra agora ressoava de aplausos. Bagman se levantou e fez uma rever�ncia, sorrindo. � Desprez�vel � vociferou o Sr. Crouch para Dumbledore, sentando-se na hora em que Bagman sa�a da masmorra. � Rookwood ia lhe arranjar um emprego, francamente... O dia que Ludo Bagman se juntar a n�s ser� um dia muito triste para o Minist�rio... E a masmorra tornou a se dissolver. Quando reapareceu, Harry olhou para os lados. Ele e Dumbledore continuavam sentados ao lado do Sr. Crouch, mas a atmosfera n�o poderia ser mais diferente. Havia um sil�ncio absoluto, interrompido apenas pelos solu�os de uma bruxa miudinha ao lado do Sr. Crouch. Apertava um len�o contra a boca com as m�os tr�mulas. Harry ergueu os olhos para Crouch e viu que ele parecia mais descarnado e grisalho que nunca. Um nervo tremia em sua t�mpora. � Pode traz�-los � disse, e sua voz ecoou pela masmorra silenciosa. A porta no canto abriu-se mais uma vez. E desta vez, entraram seis dementadores, ladeando um grupo de quatro pessoas. Harry viu os bruxos presentes erguerem os olhos para o Sr. Crouch. Alguns cochicharam entre si. Os dementadores sentaram cada uma das quatro pessoas nas quatro cadeiras de bra�os com correntes agora no centro da masmorra. Havia um homem corpulento que fixava Crouch com o olhar parado, outro mais magro e mais nervoso, cujos olhos percorriam ligeiros a assembl�ia, uma mulher, com cabelos espessos e brilhantes e olhos grandes e semicerrados, sentada � cadeira como se esta fosse um trono e um rapaz adolescente, que parecia no m�nimo petrificado. Ele tremia, tinha os cabelos cor de palha espalhados pelo rosto, a pele sardenta e branca como o leite. A bruxa miudinha ao lado de Crouch come�ou a se balan�ar para frente e para tr�s no banco, abafando o choro com um len�o. Crouch se levantou. Olhou para os quatro prisioneiros e havia �dio absoluto em seu rosto. � Voc�s foram trazidos aqui perante o Conselho das Leis da Magia � disse ele com clareza � para serem julgados por um crime t�o hediondo... � Pai � disse o rapaz de cabelos cor de palha. � Pai... Por favor... �... De que raramente se ouviu falar neste tribunal � disse Crouch, alteando a voz, abafando as palavras do filho. � Ouvimos as provas contra voc�s. E voc�s foram acusados de capturar o auror, Frank Longbottom, e de submet�-lo � Maldi��o Cruciatus, acreditando que ele tivesse conhecimento do paradeiro atual do seu amo exilado, Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado... � Pai, eu n�o fiz isso! � gritou o rapaz acorrentado � cadeira. � Eu n�o fiz isso, pai, n�o me mande de volta aos dementadores... � Voc�s s�o ainda acusados � berrou o Sr. Crouch � de usar a Maldi��o Cruciatus contra a mulher de Frank Longbottom, quando ele se recusou a dar informa��es. Voc�s planejaram reconduzir Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado ao poder e de retomar a vida de viol�ncia que presumivelmente levavam quando ele detinha o poder. Agora pe�o aos jurados... � M�e! � gritou o rapaz, e a bruxa miudinha ao lado de Crouch come�ou a solu�ar, se balan�ando para frente e para tr�s. � M�e, fa�a ele parar, m�e, eu n�o fiz isso, n�o fui eu! � Eu agora pe�o aos jurados � gritou o Sr. Crouch � que levantem as m�os se acreditarem, como eu, que estes crimes merecem uma senten�a de pris�o perp�tua em Azkaban. Un�nimes, as bruxas e bruxos do lado direito da masmorra ergueram as m�os. A assembl�ia ao redor come�ou a aplaudir como fizera no julgamento de Bagman, seus rostos expressavam selvagem triunfo. O rapaz come�ou a gritar. � N�o! M�e, n�o! Eu n�o fiz isso, eu n�o fiz isso, eu n�o sabia! N�o me mande para l�, n�o deixe o pai me mandar! Os dementadores voltaram a deslizar pela sala. Os tr�s companheiros do rapaz se levantaram silenciosamente das cadeiras, a mulher de olhos grandes e semicerrados olhou para Crouch e gritou: � O Lord das Trevas voltar� a se erguer, Crouch! Joguem-nos em Azkaban, n�s esperaremos! Ele se reerguer� e vir� nos buscar e nos recompensar� mais que aos seus outros seguidores! Somente n�s permanecemos fi�is! Somente n�s tentamos encontr�-lo. Mas o rapaz procurava se desvencilhar dos dementadores, embora Harry percebesse que o desumano poder de sugar energia daquelas criaturas come�ava a afet�-lo. Os bruxos presentes riam e ca�oavam, alguns de p�, enquanto a mulher sa�a majestosamente da masmorra e o rapaz continuava a se debater. � Sou seu filho! � berrava ele para Crouch. � Sou seu filho! � Voc� n�o � meu filho! � berrou o Sr. Crouch, os olhos saltando subitamente das �rbitas. � N�o tenho filho! A bruxa miudinha ao lado de Crouch ficou sem ar e desabou na cadeira. Desmaiara, o marido pareceu n�o ter notado. � Levem-nos embora! � berrou para os dementadores, o cuspe saltando de sua boca. � Levem-nos embora, que eles apodre�am l�! � Pai, eu n�o estava envolvido! N�o! N�o! Pai, por favor! � Acho, Harry, que j� � hora de voltar ao meu escrit�rio � disse baixinho uma voz ao ouvido do garoto. Ele se assustou. Olhou para um lado. Depois para o outro. Havia um Alvo Dumbledore sentado � sua direita, observando o filho de Crouch sair arrastado pelos dementadores � e havia um Alvo Dumbledore � sua esquerda, olhando bem para ele. � Venha � disse o Dumbledore � sua esquerda, segurando o cotovelo de Harry. O garoto sentiu que o erguiam no ar, a masmorra desapareceu � sua volta; por um momento tudo ficou escuro, ent�o teve a impress�o de que estava dando uma cambalhota em c�mara lenta e, repentinamente caiu de p�, no que concluiu ser a claridade ofuscante do escrit�rio do diretor. A bacia de pedra tremeluzia no arm�rio � sua frente e Alvo Dumbledore estava parado ao seu lado. � Professor � exclamou Harry �, eu sei que eu n�o devia ter... N�o tive inten��o, a porta do arm�rio estava entreaberta e... � Eu compreendo � disse Dumbledore. E erguendo a bacia, levou-a at� a escrivaninha, pousou-a sobre sua superf�cie reluzente e se sentou na cadeira � escrivaninha. Fez sinal ao garoto para que se sentasse defronte dele. Harry obedeceu, com os olhos postos na bacia de pedra. O conte�do voltara ao seu estado original branco-prateado girando e ondulando ao seu olhar. � Que � isso? � perguntou Harry tr�mulo. � Isso? Chama-se Penseira, �s vezes eu acho, e tenho certeza de que voc� conhece a sensa��o, que simplesmente h� pensamentos e lembran�as demais enchendo minha cabe�a. � Hum � fez Harry, que n�o podia realmente dizer que j� tivesse sentido nada igual. � Nessas ocasi�es � continuou Dumbledore indicando a bacia de pedra � uso a Penseira. Esc�o o excesso de pensamentos da mente, despejo-os na bacia e examino-os com calma. Assim fica mais f�cil identificar padr�es e liga��es, compreende, quando est�o sob esta forma. � O senhor quer dizer... Que isso a� s�o os seus pensamentos? � disse Harry, olhando a subst�ncia branca que redemoinhava na bacia. � Sem d�vida. Deixe-me mostrar. Dumbledore puxou a varinha de dentro das vestes e pousou sua ponta sobre seus cabelos prateados, pr�ximos � t�mpora. Quando afastou a varinha, os cabelos pareciam estar grudados nela, mas Harry viu que eram, na realidade, fios brilhantes da mesma subst�ncia estranha e branco-prateada que enchia a Penseira. Dumbledore acrescentou novos pensamentos � bacia, e Harry, espantado, viu seu pr�prio rosto boiando na superf�cie da subst�ncia. Dumbledore colocou suas longas m�os dos lados da Penseira e sacudiu-a, como faria um garimpeiro � procura de pepitas de ouro... E o garoto viu o pr�prio rosto se transformar suavemente no de Snape, que abriu a boca, e falou para o teto, fazendo sua voz ecoar levemente: Est� voltando... A de Karkaroff tamb�m... Mais clara e forte que nunca... � Uma liga��o que eu teria feito sem ajuda de ningu�m � suspirou Dumbledore �, mas n�o faz mal. � Por cima dos seus oclinhos de meia-lua, ele mirou Harry, que acompanhou boquiaberto o rosto de Snape girar continuamente na bacia. � Eu estava usando a Penseira quando o Sr. Fudge chegou para a reuni�o e guardei-a apressado. Com certeza n�o fechei o arm�rio direito. � natural que ela tenha atra�do sua aten��o. � Me desculpe � murmurou Harry. Dumbledore balan�ou a cabe�a. � A curiosidade n�o � um pecado � disse ele. � Mas devemos ser cautelosos com a nossa curiosidade... Sem d�vida... Enrugando ligeiramente a testa, o diretor tornou a empurrar seus pensamentos para dentro da bacia com a ponta da varinha. Instantaneamente, emergiu dela um vulto, uma menina gordinha de cara mal-humorada de uns dezesseis anos, que come�ou a girar lentamente, com os p�s ainda na bacia. Ela n�o prestou a menor aten��o a Harry nem ao Professor Dumbledore. Quando falou, sua voz ecoou como fizera a de Snape, como se viesse das profundezas da bacia de pedra: "Ele me azarou, Professor Dumbledore, e eu s� estava brincando, s� disse que o tinha visto beijando Flor�ncia atr�s das estufas na quinta-feira passada...� � Mas por que, Berta � disse Dumbledore tristemente, fitando a menina que agora girava silenciosamente �, por que voc� teve que segui-lo, para come�ar? � Berta? � sussurrou Harry, olhando para a garota. � Ela �... Era a Berta Jorkins? � Era � disse Dumbledore mais uma vez revolvendo os pensamentos na bacia, Berta voltou a afundar neles, e tudo se tornou mais uma vez prateado e opaco. � � a Berta como me lembro dela na escola. A claridade prateada da Penseira iluminou o rosto de Dumbledore e ocorreu a Harry, repentinamente, que o diretor parecia velh�ssimo. Ele sabia, era claro, que Dumbledore estava envelhecendo, mas por alguma raz�o nunca pensara no diretor como um velho. � Ent�o, Harry � disse Dumbledore baixinho. � Antes de se perder nos meus pensamentos, voc� queria me contar alguma coisa. � Verdade. Professor, eu estava na aula de Adivinha��o agorinha e... Hum... Cochilei. Ele hesitou neste ponto, imaginando se iria levar uma bronca, mas Dumbledore apenas disse: � Muito compreens�vel. Continue. � Bem, eu tive um sonho. Um sonho com Lord Voldemort. Ele estava torturando Rabicho... O senhor sabe quem � Rabicho... � Sei � disse Dumbledore, prontamente. � Por favor, continue. � Voldemort recebeu uma carta levada por uma coruja. E falou uma coisa mais ou menos assim: que o erro de Rabicho tinha sido reparado. Falou que algu�m estava morto. Depois falou que ia atirar Rabicho para servir de comida � cobra, tinha uma cobra ao lado da poltrona dele. Falou tamb�m que em vez do Rabicho, ele ia jogar a mim. Depois lan�ou a Maldi��o Cruciatus em Rabicho, e a minha cicatriz doeu. Doeu tanto que me acordou. Dumbledore apenas fitou Harry. � Hum, foi s� isso � disse Harry. � Entendo � disse Dumbledore em voz baixa. � Agora, a sua cicatriz j� doeu alguma outra vez este ano, al�m daquela em que o acordou durante as f�rias de ver�o? � N�o, eu... Como foi que o senhor soube que ela me acordou no ver�o? � perguntou Harry espantado. � Voc� n�o � o �nico que se corresponde com Sirius � disse Dumbledore. � Tamb�m tenho estado em contato com ele desde que fugiu de Hogwarts no ano passado. Fui eu quem sugeriu a caverna na encosta da montanha como o lugar mais seguro para ele se esconder. Dumbledore se levantou e come�ou a andar para cima e para baixo atr�s da escrivaninha. De vez em quando, levava a varinha � t�mpora, retirava mais um pensamento prateado e o acrescentava � Penseira. Os pensamentos dentro dela come�aram a girar t�o r�pido que Harry n�o conseguia distinguir nada muito claramente, apenas um borr�o de cor. � Professor? � disse Harry baixinho, depois de uns minutos. Dumbledore parou de andar e encarou Harry. � Perd�o � disse ele em voz baixa. E tornou a se sentar em sua cadeira. � Professor, o senhor sabe por que minha cicatriz d�i? O diretor fitou Harry com muita aten��o por um momento, depois disse: � Eu tenho uma teoria, n�o � nada mais que isso... Acredito que a sua cicatriz d�i quando Lord Voldemort anda por perto ou quando tem um assomo particularmente intenso de �dio. � Mas... Por qu�? � Porque voc� e ele est�o ligados pelo feiti�o que falhou. Isto n�o � uma cicatriz comum. � Ent�o o senhor acha... Esse sonho... Ele realmente aconteceu? � � poss�vel. Eu diria, provavelmente, Harry, voc� viu Voldemort? � N�o � respondeu Harry. � Somente as costas da poltrona dele. Mas... N�o haveria muita coisa que ver, haveria? Quero dizer, ele n�o tem corpo, tem? Mas... Mas por outro lado como � que ele poderia ter segurado a varinha? � disse Harry lentamente. � Como, n�o � mesmo? � murmurou o diretor. � Como mesmo... Nem Dumbledore nem Harry falaram por algum tempo. O diretor tinha o olhar perdido no outro lado da sala, de vez em quando apoiava a ponta da varinha na t�mpora e acrescentava mais um pensamento de prata refulgente � massa que fervilhava na Penseira. � Professor � disse Harry finalmente �, o senhor acha que ele est� ficando mais forte? � Voldemort? � indagou ele, olhando para o garoto por cima da Penseira. Era o olhar penetrante e caracter�stico que Dumbledore j� lhe dera em outras ocasi�es, e sempre fizera o garoto ter a sensa��o de que o diretor estava enxergando atrav�s dele, de uma maneira que nem o olho m�gico de Moody seria capaz. � Mais uma vez, Harry, s� posso expressar suspeitas. � Dumbledore suspirou outra vez e seu rosto pareceu mais velho e mais cansado que nunca. � A ascens�o de Voldemort ao poder � disse ele � foi marcada por desapari��es. Berta Jorkins desapareceu sem deixar vest�gio no lugar em que se sabe que Voldemort esteve por �ltimo. O Sr. Crouch, tamb�m, desapareceu... Aqui nos terrenos da escola. E houve uma terceira desapari��o, uma que o Minist�rio, lamento dizer, n�o considera ser importante, porque diz respeito a um trouxa. O nome dele era Franco Bryce, vivia na aldeia em que o pai de Voldemort se criou, e os habitantes do lugar n�o o v�em desde agosto. Como v�, leio os jornais dos trouxas, ao contr�rio da maioria dos meus amigos do Minist�rio. Dumbledore encarou Harry muito s�rio. � Essas desapari��es me parecem estar interligadas. O Minist�rio discorda, como voc� deve ter ouvido, enquanto esperava do lado de fora do meu escrit�rio. Harry confirmou com a cabe�a. Fez-se novo sil�ncio entre os dois, Dumbledore extraindo pensamentos de quando em quando. Harry achou que estava na hora de ir, mas sua curiosidade o segurava sentado. � Professor? � falou ele outra vez. � Sim, Harry? � Hum... Ser� que eu posso perguntar ao senhor sobre... Aquela cena do tribunal em que eu estive na... Penseira? � Pode � disse Dumbledore com um peso no cora��o. � Estive presente muitas vezes, mas alguns julgamentos voltam � lembran�a mais claramente que outros... Particularmente agora... � O senhor sabe, o senhor sabe o julgamento em que me encontrou? O do filho de Crouch? Bem... Era dos pais de Neville que eles estavam falando? Dumbledore lan�ou um olhar muito sagaz a Harry. � Neville nunca lhe contou por que foi criado pela av�? Harry balan�ou a cabe�a, imaginando ao mesmo tempo, porque jamais perguntara isso a Neville em quase quatro anos de conhecimento. � Era, estavam falando dos pais de Neville. O pai, Frank, era auror como o Professor Moody. Ele e a mulher foram torturados para darem informa��es sobre o paradeiro de Voldemort depois que ele perdeu os poderes, conforme voc� ouviu. � Ent�o est�o mortos? � perguntou Harry baixinho. � N�o � disse Dumbledore, a voz cheia de uma amargura que Harry nunca ouvira nele antes �, enlouqueceram. Os dois est�o no Hospital St. Mungus para Doen�as e Acidentes M�gicos. Creio que Neville os visita, com a av�, durante as f�rias. Os pais n�o o reconhecem. Harry ficou sentado ali, horrorizado. Nunca soubera... Nunca, em quatro anos, se preocupara em descobrir... � Os Longbottom eram um casal muito querido � disse Dumbledore. � Os ataques a eles come�aram depois da queda de Voldemort, quando todos pensavam que estavam a salvo. Os ataques causaram uma onda de f�ria nunca vista. O Minist�rio ficou sob grande press�o para capturar quem tinha feito aquilo. Infelizmente, o depoimento dos Longbottom n�o foi, dada a condi��o em que estavam, nada confi�vel. � Ent�o, talvez o filho do Sr. Crouch n�o estivesse envolvido? � perguntou Harry lentamente. Dumbledore balan�ou a cabe�a. � Quanto a isso n�o fa�o id�ia. Harry ficou em sil�ncio mais uma vez, observando o conte�do da Penseira redemoinhar. Havia mais duas perguntas que estava em c�cegas para fazer... Mas diziam respeito � culpa de gente viva... � Hum � come�ou ele �, o Sr. Bagman... � ... Nunca mais foi acusado de nenhuma atividade maligna deste ent�o � disse Dumbledore calmamente. � Certo � apressou-se Harry a dizer, fitando novamente o conte�do da Penseira, que girava mais lentamente agora que Dumbledore parara de lhe acrescentar pensamentos. � E... Hum... Mas a Penseira parecia estar fazendo a pergunta por ele. O rosto de Snape apareceu novamente flutuando � superf�cie. Dumbledore olhou para dentro da bacia e depois ergueu os olhos para Harry. � Tampouco o Professor Snape � disse. Harry fitou os olhos azul-claros de Dumbledore e a coisa que realmente queria saber escapou de sua boca antes que ele pudesse se refrear. � Que foi que levou o senhor a pensar que ele realmente parou de apoiar Voldemort, professor? Dumbledore sustentou o olhar de Harry por alguns segundos e ent�o disse: � Isto, Harry, � um assunto entre mim e o Professor Snape. Harry percebeu que a entrevista terminara; Dumbledore n�o parecia zangado, contudo havia um tom conclusivo em sua voz que informou ao garoto que era hora de se retirar. Ele se levantou e o diretor tamb�m. � Harry � disse ele, quando o garoto chegou � porta. � Por favor, n�o comente sobre os pais de Neville com mais ningu�m. Ele tem o direito de informar �s pessoas quando estiver preparado para isso. � Sim senhor, professor � disse Harry virando-se para ir embora. -E... Harry virou a cabe�a para tr�s. Dumbledore estava parado diante da Penseira, seu rosto iluminado pelos pontos de luz prateada, parecendo mais velho que nunca. O diretor fitou Harry por um momento e em seguida disse: � Boa sorte na terceira tarefa. CAP�TULO TRINTA E UM A Terceira Tarefa � Dumbledore tamb�m acha que Voc�-Sabe-Quem est� se fortalecendo outra vez? � sussurrou Rony. Tudo que Harry vira na Penseira, e quase tudo que Dumbledore lhe contara e mostrara depois, ele agora estava dividindo com Rony e Hermione � e, � claro, com Sirius, a quem Harry enviara uma coruja assim que sa�ra do escrit�rio do diretor. Mais uma vez os tr�s garotos ficaram acordados at� tarde na sala comunal, discutindo os acontecimentos at� que a cabe�a de Harry come�ou a rodar, at� que ele compreendeu o que Dumbledore quisera dizer quando falara em uma cabe�a ficar t�o cheia de pensamentos que era um al�vio esvazi�-la. Rony ficou olhando fixamente para as chamas na lareira. Harry achou que o viu estremecer levemente, embora a noite n�o estivesse fria. � E ele confia em Snape? � tornou a perguntar Rony. � Confia realmente em Snape, mesmo que o cara tenha sido um Comensal da Morte? � Sim � disse Harry. Hermione n�o falava havia dez minutos. Estava sentada com a testa apoiada nas m�os, fitando os joelhos. Harry pensou que ela tamb�m faria bom uso de uma Penseira. � Rita Skeeter � murmurou ela finalmente. � Como � que voc� pode estar preocupada com ela agora? � indagou Rony, incr�dulo. � N�o estou preocupada com ela � respondeu Hermione para os pr�prios joelhos. � S� estou pensando... Lembra o que ela me disse no Tr�s Vassouras? "Sei coisas sobre Ludo Bagman que a deixariam de cabelo em p�. Era a isso que ela estava se referindo, n�o �? Ela fez a cobertura do julgamento, sabia que ele tinha passado informa��es para os Comensais da Morte. E Winky, tamb�m, lembra: �O Sr. Bagman � um bruxo malvado�. O Sr. Crouch provavelmente ficou furioso quando Bagman se livrou da pris�o, e comentou isso em casa. � �, mas Bagman n�o passou informa��es de prop�sito, passou? Hermione deu de ombro. � E Fudge acha que Madame Maxime atacou Crouch? � perguntou Rony se virando para Harry outra vez. � � � respondeu Harry � mas s� est� dizendo isso porque o Sr. Crouch desapareceu perto da carruagem da Beauxbatons. � Nunca pensamos nela, n�o � mesmo? � disse Rony, lentamente. � E olhem que ela positivamente tem sangue de gigante, e n�o quer nem admitir... � Claro que n�o � disse Hermione secamente, erguendo os olhos. � Olha s� o que aconteceu com o Hagrid quando a Rita descobriu quem era a m�e dele. Olha s� o Fudge tirando conclus�es apressadas sobre ela, s� porque a m�e � meio giganta. Quem precisa desse tipo de preconceito? Eu provavelmente diria que tinha ossos grandes se soubesse o que me esperava por dizer a verdade. Hermione consultou seu rel�gio de pulso. � N�o praticamos nada! � exclamou, chocada. � Vamos fazer a Azara��o de Impedimento! Amanh� temos que meter as caras nela pra valer! Vamos Harry voc� precisa descansar. Os dois garotos subiram lentamente para o dormit�rio. Enquanto vestia o pijama, Harry olhou para a cama de Neville. Fiel � palavra dada a Dumbledore, n�o falara a Rony e Hermione sobre os pais do garoto. Depois que tirou os �culos e se meteu na cama, ficou imaginando como devia ser a pessoa ter pais vivos, mas incapazes de reconhec�-la. Ele sempre despertava simpatia nos estranhos por ser �rf�o, mas ao escutar os roncos de Neville, concluiu que o colega a merecia mais do que ele. Deitado no escuro, Harry sentiu um assomo de raiva e �dio contra as pessoas que haviam torturado o Sr. e a Sra. Longbottom... Lembrou-se dos risos e ca�oadas dos espectadores quando o filho de Crouch e os companheiros foram arrastados para fora do tribunal pelos dementadores... Compreendeu o que sentiram... Ent�o lembrou-se do rosto extremamente branco do garoto que gritava e percebeu, com um sobressalto, que ele morrera no ano seguinte... Fora Voldemort, pensou Harry fitando, no escuro, o dossel da cama, tudo acabava apontando para Voldemort... Ele � quem tinha separado aquelas fam�lias, quem tinha arruinado todas aquelas vidas... Rony e Hermione precisavam estar revisando as mat�rias para os exames, que terminariam no dia da terceira tarefa, em lugar disso, estavam devotando todas as energias a ajudar Harry a se preparar. � N�o se preocupe � disse Hermione brevemente, quando Harry comentou isso com eles, e disse que n�o se importava de continuar a praticar sozinho. � Pelo menos vamos tirar notas m�ximas em Defesa contra as Artes das Trevas, nunca ter�amos descoberto tantas azara��es em aula. � Bom treinamento para quando formos aurores � comentou Rony excitado, experimentando uma Azara��o de Impedimento em uma vespa que entrara zumbindo na sala, e fazendo-a estacar no ar. Quando entrou o m�s de junho, a atmosfera do castelo se tornou mais uma vez el�trica e tensa. Todos aguardavam com ansiedade a terceira tarefa, que se realizaria uma semana antes do fim do trimestre. Harry praticava azara��es em todos os momentos de folga. Sentia-se mais confiante com rela��o a esta tarefa do que a qualquer das anteriores. Mas, apesar de dif�cil e perigosa, como certamente seria, Moody tinha raz�o. Harry conseguira passar por criaturas monstruosas e atravessar barreiras m�gicas antes, e desta vez, recebera aviso, tivera a chance de se preparar para aquilo que o aguardava. Cansada de surpreend�-los por toda a escola, a Professora Minerva dera a Harry permiss�o para usar a sala de Transforma��o vazia na hora do almo�o. Ele n�o tardou a dominar a Azara��o de Impedimento, um feiti�o para retardar e obstruir atacantes, o Feiti�o Redutor lhe permitiria explodir objetos s�lidos em seu caminho, o Feiti�o dos Quatro Pontos, uma descoberta �til de Hermione que faria sua varinha apontar para o norte, permitindo-lhe, assim, verificar se estava se deslocando na dire��o certa dentro do labirinto. Mas ele ainda estava tendo problemas com o Feiti�o Escudo. Este lan�ava uma parede tempor�ria e invis�vel em torno dele e o protegia de pequenos feiti�os, Hermione conseguiu desfaz�-la com uma bem colocada Azara��o das Pernas Bambas. Harry bambeou pela sala uns bons dez minutos, at� a garota ter tido tempo para achar a contra-azara��o. � Mas voc� continua se saindo realmente bem � disse Hermione encorajando Harry e consultando a lista que fizera para riscar o que ele j� aprendera. � Alguns desses devem ser uma m�o na roda. � Venham s� dar uma espiada nisso � disse Rony que estava parado junto � janela. Contemplava os jardins. � Que ser� que o Malfoy est� aprontando? Harry e Hermione foram ver. Malfoy, Crabbe e Goyle estavam parados � sombra de uma �rvore l� embaixo. Crabbe e Goyle pareciam estar vigiando alguma coisa, os dois abafavam risinhos. Malfoy tampava a boca com a m�o e falava para dentro dela. � Parece at� que ele est� usando um walkie-talkie � disse Harry curioso. � N�o pode estar � lembrou Hermione. � J� disse a voc�s dois que esse tipo de coisa n�o funciona em Hogwarts. Vamos, Harry � acrescentou ela energicamente, dando as costas � janela e voltando ao meio da sala � vamos experimentar outra vez o Feiti�o Escudo. Sirius agora mandava corujas diariamente. Do mesmo modo que Hermione, ele parecia querer se concentrar em fazer Harry concluir a �ltima tarefa, antes de se preocupar com outra coisa. Em cada carta ele lembrava ao afilhado que fosse o que fosse que acontecesse fora dos muros de Hogwarts n�o era responsabilidade do garoto, nem estava em seu poder influenciar nada. �Se Voldemort est� realmente voltando a se fortalecer � escreveu ele �, minha prioridade � garantir a sua seguran�a. Ele n�o pode sequer alimentar esperan�as de peg�-lo enquanto voc� estiver sob a prote��o de Dumbledore, mas mesmo assim, n�o corra riscos: concentre-se em atravessar esse tal labirinto em seguran�a, depois poderemos voltar nossa aten��o para outros assuntos�. O nervosismo de Harry foi crescendo � medida que o dia vinte e quatro de junho se aproximava, mas nem tanto quanto nas tarefas anteriores. Por um lado, ele se sentia confiante de que, desta vez, fizera tudo que pudera para se preparar para a tarefa. Por outro, esse era o �ltimo esfor�o e, independentemente de se dar bem ou mal, o torneio enfim terminaria, o que seria um enorme al�vio. O caf� foi uma reuni�o barulhenta � mesa da Grifin�ria, na manh� da terceira tarefa. O correio coruja apareceu, trazendo para Harry um cart�o de boa sorte de Sirius. Era apenas um peda�o de pergaminho, dobrado com a impress�o de uma pata enlameada, Harry gostou assim mesmo. Uma coruja-das-torres chegou trazendo para Hermione seu exemplar do Profeta Di�rio, como habitualmente. Ela abriu o jornal, deu uma olhada na primeira p�gina, cuspiu a boca cheia de suco de ab�bora, sujando todo o jornal. � Que foi? � exclamaram Harry e Rony juntos, olhando para garota. � Nada � disse Hermione depressa, tentando esconder o jornal, mas Rony agarrou-o. Ele arregalou os olhos para a manchete e disse: � Nem pensar. Hoje n�o. Essa vaca velha. � Que foi? � perguntou Harry. � Rita Skeeter de novo? � N�o � respondeu Rony, e do mesmo modo que Hermione, tentou esconder o jornal. � Fala de mim, n�o �? � perguntou Harry. � N�o � disse Rony, num tom que n�o convencia ningu�m. Mas antes que Harry pudesse pedir para ver o jornal, Draco Malfoy gritou l� da mesa da Sonserina, do outro lado do sal�o. � Ei, Potter! Potter! Como � que est� a sua cabe�a? Voc� est� se sentindo legal? Tem certeza de que n�o vai endoidar para cima da gente? Malfoy segurava um exemplar do Profeta Di�rio, tamb�m. Os alunos ao redor da mesa da Sonserina deram risadinhas e se viraram nas cadeiras para ver a rea��o de Harry. � Me deixa ver isso � pediu Harry a Rony. � Me d� isso aqui. Com muita relut�ncia Rony entregou o jornal. Harry virou-o e deparou com a pr�pria foto, sob uma gigantesca manchete. �HARRY POTTER PERTURBADO E PERIGOSO� O garoto que derrotou Aquele-Que-N�o-Deve-Ser-Nomeado encontra-se inst�vel e possivelmente perigoso, escreve nossa rep�rter especial Rita Skeeter. H� poucos dias vieram � luz provas assustadoras do estranho comportamento de Harry Potter, que lan�am d�vidas sobre suas qualifica��es para competir em um torneio rigoroso como o Tribruxo, ou at� mesmo para freq�entar a Escola de Hogwarts. O Profeta Di�rio est� em condi��es de afirmar, com exclusividade, que Potter regularmente desmaia na escola, e com freq��ncia se queixa de dor na cicatriz que tem na testa (rel�quia de um feiti�o com que Voc�-Sabe-Quem tentou mat�-lo). Na �ltima segunda-feira, no meio de uma aula de Adivinha��o, a rep�rter do Profeta Di�rio presenciou a sa�da intempestiva de Potter da sala de aula, dizendo que sua cicatriz o incomodava em demasia para que pudesse continuar em classe. � poss�vel dizem os maiores especialistas do Hospital St. Mungus para Doen�as e Acidentes M�gicos, que o c�rebro de Potter tenha sido afetado pelo ataque que sofreu de Voc�-Sabe-Quem, e que sua insist�ncia em dizer que a cicatriz continua a doer seja uma express�o de sua arraigada confus�o. "Talvez at� esteja fingindo": opinou um especialista, "o que poderia ser um mecanismo para receber aten��o�. O Profeta Di�rio, no entanto, descobriu fatos preocupantes sobre Harry Potter, que Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts, tem cuidadosamente ocultado do p�blico bruxo. "Potter � ofidioglota" revela Draco Malfoy, um quartanista de Hogwarts. "H� uns dois anos, houve uma s�rie de ataques a estudantes, e quase todos pensaram que Potter era o respons�vel depois que o viram perder a cabe�a em um Clube de Duelos e a�ular uma cobra contra um colega. O epis�dio foi abafado. Mas ele tamb�m faz amizade com lobisomens e gigantes. Achamos que ele � capaz de qualquer coisa para ter algum poder.� Ofidioglossia, ou a capacidade de conversar com as cobras, � tradicionalmente considerada uma Arte das Trevas. Com efeito, o ofidioglota mais famoso dos nossos tempos n�o � outro sen�o Voc�-Sabe-Quem. Um membro da Liga de Defesa contra as Artes das Trevas, que prefere se manter an�nimo, declarou que consideraria qualquer bruxo ofidioglota "merecedor de investiga��o�. �Pessoalmente, eu encararia com muita suspeita qualquer pessoa que conversasse com cobras, pois esses animais em geral s�o usados nos piores tipos de magia negra e historicamente, s�o associados com bruxos malignos!� Da mesma forma "qualquer um que procure a companhia de criaturas selvagens como lobisomens e gigantes me parece ter inclina��o para a viol�ncia": Alvo Dumbledore deveria, sem d�vida, refletir se um garoto desses pode realmente competir no Torneio Tribruxo. H� quem receie que Potter possa apelar para as Artes das Trevas em seu desespero de vencer o torneio, cuja terceira tarefa ser� realizada hoje � noite. � Acho que ela est� deixando de gostar de mim, n�o? � comentou Harry despreocupado, dobrando o jornal. Na mesa da Sonserina, Malfoy, Crabbe e Goyle riam-se dele, davam pancadinhas na cabe�a, faziam caretas grotescas imitando loucos e agitavam as l�nguas como cobras. � Como foi que ela soube que a sua cicatriz doeu na aula de Adivinha��o? � perguntou Rony. � N�o havia como ela ter estado presente, n�o havia como poder ter ouvido... � A janela estava aberta � disse Harry. � Eu a abri para respirar. � Voc� estava no alto da Torre Norte � lembrou Hermione. � Sua voz n�o podia ter sido ouvida l� embaixo nos jardins! � Bem, voc� � quem anda pesquisando m�todos m�gicos de grampear! � disse Harry. � Me diga voc� como foi que ela conseguiu! � Estou tentando � defendeu-se Hermione. � Mas eu... Mas... Uma express�o estranha e sonhadora subitamente apareceu no rosto de Hermione. Ela ergueu uma das m�os e correu os dedos pelos cabelos. � Voc� est� legal? � perguntou Rony, erguendo as sobrancelhas para a amiga. � Estou � respondeu Hermione sem f�lego. Ela tornou a correr os dedos pelos cabelos e levou a m�o � boca, como se estivesse falando para um walkie-talkie invis�vel. Harry e Rony se entreolharam. � Tive uma id�ia � disse Hermione, olhando para o espa�o. � Acho que sei... Porque desse jeito ningu�m poderia ver... Nem Moody... E ela poderia ter chegado at� o peitoril da janela... Mas isso � proibido... Decididamente � proibido... Acho que a pegamos! Me d�em dois segundinhos na biblioteca, s� para ter certeza! Dizendo isso, Hermione agarrou a mochila e saiu correndo do Sal�o Principal. � Oi! � gritou Rony para ela. � Temos exame de Hist�ria da Magia dentro de dez minutos! Caracas � disse o garoto tornando a se virar para Harry �, ela deve realmente odiar aquela Skeeter para se arriscar a perder o in�cio do exame. Que � que voc� vai fazer na sala do Binns, reler livros? Dispensado dos testes de fim de trimestre por ser campe�o no torneio, at� ali Harry se sentara no fundo das salas de exame, pesquisando novas azara��es para a terceira tarefa. � Acho que sim � respondeu Harry para Rony; mas nesse instante a Professora Minerva vinha contornando a mesa da Grifin�ria em dire��o a ele. � Potter, os campe�es v�o se reunir na c�mara vizinha ao sal�o depois do caf� � anunciou ela. � Mas a tarefa s� vai ser � noite! � exclamou Harry, derramando, sem querer, ovos mexidos na roupa, receoso de que tivesse se enganado na hora. � Eu sei disso, Potter. As fam�lias dos campe�es foram convidadas para assistir � �ltima tarefa, entende. � apenas uma oportunidade para voc� cumpriment�-los. Ela se afastou. Harry acompanhou-a com o olhar, boquiaberto. � Ela n�o est� esperando que os Dursley apare�am, est�? � perguntou a Rony sem entender. � Sei l�. Harry � melhor eu me apressar ou vou chegar tarde na sala de Binns. A gente se v� depois. Harry terminou o caf� da manh� num sal�o que ia lentamente se esvaziando. Viu Fleur Delacour se levantar da mesa da Corvinal e se juntar a Cedrico, na hora em que o rapaz atravessava o sal�o para entrar na c�mara. Krum saiu daquele seu jeito curvado para se reunir a eles logo depois. Harry continuou onde estava. Na realidade n�o queria entrar na c�mara. N�o tinha fam�lia � ou pelo menos nenhuma fam�lia que fosse aparecer para v�-lo arriscar a vida. Mas no instante em que come�ou a se levantar, pensando que seria melhor ir � biblioteca reler mais algumas azara��es, a porta da c�mara se abriu e Cedrico p�s a cabe�a para fora. � Harry, anda, eles est�o esperando por voc�! Absolutamente perplexo, Harry se levantou. N�o era poss�vel que os Dursley estivessem ali, era? O garoto atravessou o sal�o e abriu a porta que levava � c�mara. Cedrico e os pais estavam logo � entrada. Vitor Krum, a um canto, falava muito depressa em b�lgaro com o pai e a m�e de cabelos escuros. Herdara o nariz adunco do pai. Do outro lado da sala, Fleur algaraviava em franc�s com a m�e. Sua irm�zinha, Gabrielle, segurava a m�o da m�e. Ela acenou para Harry, que retribuiu o aceno. Ent�o ele viu a Sra. Weasley e Gui parados diante da lareira, sorrindo para ele. � Surpresa! � disse animada a Sra. Weasley, quando Harry, todo sorriso, se encaminhou para eles. � Pensamos em vir ver voc�, Harry! � Ela se curvou e lhe deu um beijo na bochecha. � Voc� est� bem? � cumprimentou Gui, sorrindo para o garoto e apertando sua m�o. � Carlinhos queria vir, mas n�o p�de tirar licen�a. Ele me contou que voc� esteve incr�vel na tarefa com o Rabo-C�rneo h�ngaro. Fleur Delacour, Harry notou, espiava Gui, com grande interesse, por cima do ombro da m�e. O garoto percebeu que ela n�o fazia obje��o alguma a cabelos compridos e brincos com dentes pendurados. � Foi muita gentileza da senhora � murmurou Harry a Sra. Weasley. � Pensei por um momento... Os Dursley... � Hum � resmungou a Sra. Weasley contraindo os l�bios. Ela sempre se abstinha de criticar os Dursley diante de Harry, mas seus olhos faiscavam sempre que eles eram mencionados. � Estou achando o m�ximo voltar aqui � comentou Gui, correndo os olhos pela c�mara (Violeta, a amiga da Mulher Gorda, piscou para ele l� do seu quadro). � N�o revejo a escola h� cinco anos. Aquele quadro do cavaleiro doid�o ainda est� por a�? Sir Cadogan? � Ah, est� � respondeu Harry, que conhecera Sir Cadogan no ano anterior. � E a Mulher Gorda? � indagou Gui. � Ela j� estava aqui no meu tempo � comentou a Sra. Weasley. � Ela me passou um car�o daqueles uma noite em que eu vinha voltando para o dormit�rio �s quatro horas da manh�... � E o que � que a senhora estava fazendo fora do dormit�rio �s quatro horas da manh�? � perguntou Gui olhando a Sra. Weasley, admirado. Ela sorriu, os olhos cintilando. � Seu pai e eu sa�mos para dar um passeio � noite. Ele foi pego por Apol�neo Pringle, era o zelador naquela �poca, seu pai ainda tem as marcas. � Quer fazer o tour da escola com a gente, Harry? � perguntou Gui. � Ah, OK. � disse Harry e os tr�s se dirigiram � porta que levava ao Sal�o Principal. Ao passarem por Amos Diggory, o bruxo se virou. � A� est� voc�, n�o �? � disse ele, olhando Harry de alto a baixo. � Aposto como n�o est� se sentindo t�o cheio de si agora que Cedrico superou a sua pontua��o, n�o? � Qu�? � exclamou Harry. � N�o d� aten��o a ele � pediu Cedrico a Harry, em voz baixa, erguendo as sobrancelhas para o pai. � Ele anda aborrecido desde o artigo da Rita Skeeter sobre o Torneio Tribruxo, sabe, porque ela fez de conta que voc� era o �nico campe�o de Hogwarts. � Mas ele n�o se deu ao trabalho de corrigi-la, n�o �? � disse Amos Diggory, em voz suficientemente alta para Harry ouvir quando ia se encaminhando para a porta com a Sra. Weasley e Gui. � Mas... Voc� vai mostrar a ele, Cedrico. J� o venceu uma vez, n�o foi? � Rita Skeeter sai do caminho dela para provocar confus�es, Amos! � disse a Sra. Weasley zangada. � Era de se esperar que voc� soubesse disso, j� que trabalha no Minist�rio! O Sr. Diggory pareceu que ia dizer alguma coisa, irritado, mas sua mulher p�s a m�o em seu bra�o e ele simplesmente encolheu os ombros e virou as costas. Harry teve uma manh� muito agrad�vel passeando pela propriedade ensolarada com Gui e a Sra. Weasley, mostrando-lhes a carruagem de Beauxbatons e o navio de Durmstrang. A Sra. Weasley se mostrou intrigada com o Salgueiro Lutador, que fora plantado depois que ela terminara a escola, e lembrou-se longamente do guarda-ca�a antes de Hagrid, um homem chamado Ogg. � Como vai o Percy? � perguntou Harry, quando davam a volta �s estufas. � Nada bem � respondeu Gui. � Ele est� muito aborrecido � disse a Sra. Weasley, baixando a voz e olhando para os lados. � O Minist�rio quer abafar o desaparecimento do Sr. Crouch, e Percy foi convocado para um interrogat�rio sobre as instru��es que o Sr. Crouch tem-lhe mandado. Aparentemente o Minist�rio pensa que elas talvez n�o tenham sido escritas por Crouch. Percy est� sob uma enorme tens�o. N�o v�o deix�-lo substituir o chefe, como quinto juiz, hoje � noite. Corn�lio Fudge vir� fazer isso. Os tr�s voltaram ao castelo para almo�ar. � Mam�e... Gui! � exclamou Rony, fazendo cara de espanto, ao se reunir � mesa da Grifin�ria. � Que � que voc�s est�o fazendo aqui? � Viemos assistir � �ltima tarefa do Harry! � disse a Sra. Weasley animada. � Devo confessar, � uma bela mudan�a n�o ter que cozinhar. Como foi o seu exame? � Ah... OK.. N�o consegui me lembrar dos nomes de todos os duendes rebeldes, por isso inventei alguns. Tudo bem � acrescentou servindo-se de um pastel gal�s, sob o olhar severo da m�e �, todos eles t�m nomes tipo Bodrode o Barbudo, Urgue o Impuro, n�o foi dif�cil. Fred, Jorge e Gina vieram fazer companhia a eles tamb�m e Harry se divertiu tanto que quase se sentiu de volta � Toca, esquecera-se de se preocupar com a tarefa da noite e somente quando Hermione apareceu, j� na metade do almo�o, foi que ele se lembrou de que a garota tivera uma id�ia sobre Rita Skeeter. � Vai nos contar...? Hermione balan�ou a cabe�a num aviso e olhou para a Sra. Weasley. � Ol�, Hermione � disse a Sra. Weasley muito mais formalmente do que de costume. � Ol� � respondeu a garota, seu sorriso hesitante diante da express�o fria no rosto da senhora. Harry olhou para as duas, em seguida disse: � Sra. Weasley, a senhora n�o acreditou naquele besteirol que a Rita Skeeter escreveu no Seman�rio das Bruxas, acreditou? Porque Mione n�o � minha namorada. � Ah! � exclamou a Sra. Weasley. � N�o... � claro que n�o! Mas ela se tornou bem mais calorosa para com Hermione depois disso. Harry, Gui e a Sra. Weasley passaram a tarde em um longo passeio ao redor do castelo, depois voltaram ao Sal�o Principal para o banquete da noite. Ludo Bagman e Corn�lio Fudge haviam se sentado � mesa dos professores. Bagman parecia bem animado, mas Corn�lio Fudge, ao lado de Madame Maxime, estava s�rio e calado. Madame Maxime se concentrava no prato a sua frente, e Harry achou que seus olhos pareciam vermelhos. Hagrid n�o parava de olhar para os lados dela na mesa. Havia mais pratos do que de costume, mas o garoto, que estava come�ando a se sentir realmente nervoso, n�o comeu muito. Quando o teto encantado no alto come�ou a desbotar de azul para um viol�ceo crepuscular, Dumbledore se ergueu � mesa dos professores e fez-se sil�ncio. � Senhoras e senhores, dentro de cinco minutos, vou pedir a todos que se encaminhem para o est�dio de Quadribol para assistir � terceira e �ltima tarefa do Torneio Tribruxo. Os campe�es, por favor, queiram acompanhar o Sr. Bagman ao est�dio agora. Harry se levantou. Todos os colegas da Grifin�ria o aplaudiram, os Weasley e Hermione lhe desejaram boa sorte e ele se dirigiu � porta do Sal�o Principal com Cedrico, Fleur e Krum. � Est� se sentindo bem, Harry? � perguntou Bagman, quando desciam os degraus da entrada para os jardins. � Confiante? � Estou OK.. � Era um pouco verdade; estava nervoso, mas n�o parava de repassar mentalmente todas as azara��es e feiti�os que praticara enquanto andavam, e a id�ia de que era capaz de lembrar de todos eles o fazia se sentir melhor. Os campe�es entraram no est�dio de Quadribol, que estava totalmente irreconhec�vel. Uma sebe de seis metros corria a toda volta. Havia uma abertura bem diante deles: a entrada para o imenso labirinto. A passagem al�m parecia escura e sinistra. Cinco minutos mais tarde, as arquibancadas come�aram a se encher, o ar vibrou com as vozes excitadas e o ru�do dos p�s de centenas de estudantes que ocupavam seus lugares. O c�u se tornara azul profundo e l�mpido, e as primeiras estrelas come�avam a surgir. Hagrid, o Professor Moody, a Professora Minerva e o Professor Flitwick entraram no est�dio e se aproximaram de Bagman e dos campe�es. Usavam grandes estrelas vermelhas e luminosas nos chap�us, todos, exceto Hagrid, que carregava a dele nas costas do colete de pele de toupeira. � Vamos patrulhar o lado externo do labirinto � disse a professora aos campe�es. � Se estiverem em apuros, e quiserem ser socorridos, disparem fa�scas vermelhas para o ar e um de n�s ir� busc�-los, entenderam? Os campe�es confirmaram com um aceno de cabe�a. � Podem come�ar, ent�o! � disse Bagman, animado, para os quatro patrulheiros. � Boa sorte, Harry � sussurrou Hagrid, e os quatro sa�ram em diferentes dire��es para se postar em torno do labirinto. Bagman, ent�o, apontou a varinha para a garganta e murmurou "Sonorus", e sua voz magicamente amplificada ressoou pelas arquibancadas. � Senhoras e senhores, a terceira e �ltima tarefa do Torneio Tribruxo est� prestes a come�ar! Deixe-me lembrar a todos o placar atual! Empatados em primeiro lugar, com oitenta e cinco pontos cada, o Sr. Cedrico Diggory e o Sr. Harry Potter, os dois da Escola de Hogwarts! Os vivas e as palmas fizeram os p�ssaros sa�rem voando da Floresta Proibida para o c�u crepuscular. � Em segundo lugar, com oitenta pontos, o Sr. V�tor Krum, do Instituto Durmstrang! � Mais aplausos. � E, em terceiro lugar, a Srta. Fleur Delacour, da Academia de Beauxbatons! Harry conseguiu apenas reconhecer a Sra. Weasley, Guy, Rony e Hermione aplaudindo Fleur educadamente, mais ou menos no meio das arquibancadas. Ele acenou para os amigos que retribu�ram o aceno, sorrindo. � Ent�o... Quando eu apitar, Harry e Cedrico! �, anunciou Bagman. � Tr�s... Dois... Um... O bruxo soprou com for�a o apito e Harry e Cedrico correram para a entrada do labirinto. As sebes altaneiras lan�avam sombras escuras sobre a trilha e, talvez porque fossem t�o altas e densas ou porque fossem encantadas, o barulho dos espectadores que as cercavam silenciou no instante em que os rapazes entraram no labirinto. Harry quase se sentiu novamente embaixo da �gua. Puxou a varinha, murmurou: �Lumus" e ouviu Cedrico fazer o mesmo atr�s dele. Depois de andarem uns cinq�enta metros, os garotos chegaram a uma bifurca��o. Entreolharam-se. � At� mais � disse Harry e tomou a trilha da esquerda, enquanto Cedrico tomou a da direita. Harry ouviu o apito de Bagman uma segunda vez. Krum acabara de entrar no labirinto. Harry se apressou. A trilha que escolhera parecia completamente deserta. Ele se virou � direita e continuou depressa, mantendo a varinha acima da cabe�a, tentando ver o mais longe poss�vel. Mesmo assim, n�o havia nada � vista. O apito de Bagman soou ao longe uma terceira vez. Todos os campe�es agora estavam no interior do labirinto. Harry n�o parava de olhar para tr�s. Tinha a sensa��o familiar de que algu�m o vigiava. O labirinto foi ficando mais escuro a cada minuto que se passava, porque o c�u no alto ia ganhando um matiz azul-marinho. Ele chegou a uma segunda bifurca��o. � Me oriente � sussurrou ele � varinha, segurando-a deitada na palma da m�o. A varinha fez um giro completo e apontou para a direita, para a sebe maci�a. Para ali ficava o norte, e ele sabia que precisava seguir para noroeste para chegar ao centro do labirinto. Faria melhor se tomasse a trilha da esquerda e tornasse a seguir para a direita assim que pudesse. A trilha � frente tamb�m estava vazia e quando Harry chegou a uma curva � direita e entrou por ela, encontrou mais uma vez o caminho livre. Harry n�o sabia o porqu�, mas a falta de obst�culos come�ava a deix�-lo nervoso. Com certeza j� deveria ter encontrado algum a essa altura? Tinha a impress�o de que o labirinto o estava induzindo a uma falsa sensa��o de seguran�a. Ent�o ouviu um movimento bem atr�s dele. Ergueu a varinha, pronto a atacar, mas seu facho de luz recaiu sobre Cedrico, que acabara de sair correndo da trilha do lado direito. Cedrico parecia gravemente abalado. A manga de suas vestes fumegava. � Os explosivins de Hagrid! � sibilou ele. � Est�o enormes, escapei por um triz! Cedrico sacudiu a cabe�a e desapareceu de vista por outra trilha. Interessado em guardar uma boa dist�ncia entre ele pr�prio e os explosivins, Harry retomou depressa o seu caminho. Ent�o, ao fazer uma curva ele viu... Um dementador deslizava em sua dire��o. Tr�s metros e meio de altura, o rosto oculto pelo capuz, as m�os podres e cobertas de feridas estendidas � frente, ele avan�ava �s cegas, tateando em dire��o ao garoto. Harry ouviu sua respira��o vibrante, sentiu um frio pegajoso se apoderar dele, mas sabia o que precisava fazer... Chamou � mente o pensamento mais feliz que p�de, se concentrou com todas as for�as no pensamento de sair do labirinto e comemorar com Rony e Hermione, ergueu a varinha e exclamou: � Expecto Patronum! Um veado prateado irrompeu da ponta da varinha de Harry e avan�ou � galope para o dementador, que recuou e trope�ou na barra das vestes... Harry nunca vira um dementador trope�ar. � Espere ai! � gritou ele, avan�ando na cola do seu patrono prateado. � Voc� � um bicho-pap�o! Ridikulus! Ouviu-se um grande estalo e o transformista explodiu, deixando atr�s apenas uma fumacinha. O veado prateado desapareceu de vista. Harry desejou que ele tivesse podido ficar, seria agrad�vel ter uma companhia... Mas continuou o seu caminho o mais depressa e silenciosamente que p�de, apurando os ouvidos, a varinha, mais uma vez, erguida no alto. Esquerda... Direita... Novamente � esquerda... Em duas ocasi�es ele foi dar em trilhas sem sa�da. Harry executou o Feiti�o dos Quatro Pontos mais uma vez e descobriu que se afastara demais para leste. Retrocedeu, tomou a trilha � direita e viu uma estranha n�voa dourada flutuando mais adiante. Aproximou-se cautelosamente, apontando para a n�voa o facho de luz da varinha. Parecia algum tipo de encantamento. Ele se perguntou se seria capaz de explodi-la para desimpedir o caminho. � Reducto!� ordenou. O feiti�o atravessou a n�voa, deixando-a intacta. O garoto concluiu que devia ter sabido: o Feiti�o Redutor s� servia para objetos s�lidos. Que aconteceria se ele atravessasse a n�voa? Valeria a pena arriscar ou deveria retroceder? Ele ainda hesitava, quando um grito rompeu o sil�ncio. � Fleur? � berrou Harry. Sil�ncio. Ele olhou para todos os lados. Que acontecera com a garota? Seu grito parecia ter vindo de algum lugar � frente. O garoto inspirou profundamente e atravessou a n�voa encantada. O mundo virou de cabe�a para baixo. Harry ficou pendurado no ch�o, os cabelos em p�, os �culos balan�ando fora do nariz, amea�ando cair no c�u infinito. Ele os segurou na ponta do nariz e continuou pendurado, aterrorizado. Tinha a sensa��o de que seus p�s estavam grudados na grama, que agora se transformara em teto. Abaixo, o c�u pontilhado de estrelas se estendia infinitamente. Harry sentiu que se tentasse mexer um p�, despencaria da terra de vez. Pense, disse a si mesmo, enquanto todo o seu sangue aflu�a � cabe�a, pense... Mas nenhum dos feiti�os que praticara se destinava a combater uma repentina invers�o de terra e c�u. Ousaria mexer um p�? Ele ouviu o sangue latejar com for�a em seus ouvidos. Tinha duas op��es � tentar se mexer ou disparar fa�scas vermelhas e ser socorrido e desqualificado da tarefa. Harry fechou os olhos para evitar contemplar o espa�o infinito abaixo dele e puxou o p� direito com toda a for�a que p�de do teto gramado. Imediatamente o mundo se endireitou. Harry caiu para frente de joelhos num ch�o maravilhosamente s�lido. Sentiu-se por algum tempo mole de susto. Inspirou profundamente para se firmar, ent�o tornou a se levantar e avan�ou correndo, lan�ando olhares para tr�s por cima do ombro, enquanto fugia da n�voa dourada, que piscou para ele inocentemente ao luar. O garoto parou na jun��o de duas trilhas e olhou para os lados � procura de algum sinal de Fleur. Tinha certeza de que fora a garota que ouvira gritar. Com que ser� que ela deparara? Estaria bem? N�o havia fa�scas vermelhas no alto � ser� que isto significava que conseguira se livrar do problema ou estaria em tal apuro que nem conseguira apanhar a varinha? Harry tomou a trilha � direita com uma sensa��o de crescente inquieta��o... Mas, ao mesmo tempo, n�o conseguiu deixar de pensar, menos um campe�o... A Ta�a estava em algum lugar ali perto e, pelo jeito, Fleur n�o estava mais competindo. Ele chegara at� ali, n�o chegara? E se, de fato, conseguisse vencer? Por um instante fugaz, e pela primeira vez desde que se fora feito campe�o, ele reviu aquela imagem de si mesmo, erguendo a Ta�a do Tribruxo diante do resto da escola... Por uns dez minutos n�o encontrou nada, exceto trilhas sem sa�da. Duas vezes tomou a mesma trilha errada. Finalmente encontrou um novo caminho e come�ou a andar depressa por ele, a luz da varinha oscilando, fazendo sua sombra bruxulear e se distorcer pelos lados da sebe. Ent�o ele virou mais uma vez e deu de cara com um explos�v�n. Cedrico tinha raz�o � era enorme. Tr�s metros de comprimento, lembrava mais um escorpi�o gigante do que qualquer outra coisa. Seu longo ferr�o estava revirado para tr�s. A grossa armadura refulgia � luz da varinha, que Harry apontava para ele. � Estupefa�a! O feiti�o bateu no escudo do explos�v�n e ricocheteou; Harry se abaixou bem a tempo, mas sentiu cheiro de cabelos queimados, chamuscara o alto da cabe�a. O explos�v�n soltou um jorro de chamas da cauda e voou para cima do garoto. � Impedimenta!� berrou Harry. O feiti�o bateu mais uma vez no escudo do explosivin e voltou; Harry cambaleou alguns passos para tr�s e caiu. � IMPEDIMENTA! O explos�v�n estava a cent�metros dele quando se imobilizou � o garoto conseguira atingi-lo na barriga carnuda e sem escudo. Ofegando, Harry se impeliu para longe e correu, com todas as for�as, na dire��o oposta � a Azara��o de Impedimento n�o era permanente, o explos�v�n recobraria o uso das pernas a qualquer momento. Harry seguiu pela trilha da esquerda e n�o encontrou sa�da, seguiu pela da direita e tampouco encontrou sa�da, obrigando-se a parar, com o cora��o acelerado, ele executou mais uma vez o Feiti�o dos Quatro Pontos, retrocedeu e escolheu uma trilha que o levasse para noroeste. J� ia caminhando apressado pela nova trilha havia alguns minutos, quando ouviu alguma coisa na trilha paralela � sua, que o fez estacar. � Que � que voc� est� fazendo? � berrou a voz de Cedrico. � Que diabo voc� pensa que est� fazendo? E ent�o Harry ouviu a voz de Krum. � Crucio! O ar se encheu repentinamente com os gritos de Cedrico. Horrorizado, Harry avan�ou correndo por sua trilha, tentando encontrar uma passagem para a de Cedrico. Quando n�o apareceu nenhuma, ele tentou novamente o Feiti�o Redutor. N�o foi eficiente, mas queimou um buraquinho na sebe, pelo qual Harry enfiou a perna, chutando os galhos emaranhados at� eles cederem deixando uma abertura, com esfor�o Harry a atravessou, rasgando as vestes e, ao olhar para a direita, viu Cedrico se debatendo e se contorcendo no ch�o, sob o olhar de Krum. Harry se endireitou e apontou a varinha para Krum na hora em que o rapaz ergueu a cabe�a. Krum deu as costas e come�ou a correr. � Estupefa�a!� berrou Harry. O feiti�o atingiu Krum pelas costas; ele parou instantaneamente, caiu de borco e ficou im�vel, com a cara na grama. Harry correu para Cedrico, que parara de se contorcer, mas continuava deitado no ch�o arfando, as m�os cobrindo o rosto. � Voc� est� bem? � perguntou Harry rouco, agarrando Cedrico pelo bra�o. � Estou � ofegou ele. � �... Eu n�o acredito... Ele se aproximou de mim pelas costas... Eu o ouvi e, quando me virei, ele estava empunhando a varinha apontada para mim... Cedrico se levantou. Ainda tremia. Ele e Harry olharam para Krum. � Eu n�o acredito... Achei que ele era legal � comentou Harry, contemplando Krum. � Eu tamb�m. � Voc� ouviu Fleur gritar h� algum tempo? � Ouvi. Voc� acha que Krum a pegou tamb�m? � N�o sei � disse Harry lentamente. � Vamos deix�-lo aqui? � perguntou Cedrico. � N�o � disse Harry. � Acho que dev�amos disparar fa�scas vermelhas. Algu�m vir� apanh�-lo... Do contr�rio ele provavelmente ser� comido por um explos�v�n. � E seria bem merecido � murmurou Cedrico, mas ainda assim, ergueu a varinha e disparou uma chuva de fa�scas vermelhas para o ar, que pairaram sobre Krum, marcando o local em que ele se encontrava. Harry e Cedrico ficaram ali no escuro por um momento, olhando a toda volta. Ent�o Cedrico falou: � Bem... Suponho que seja melhor a gente ir... � Qu�? Ah... Sim... Certo... Foi um momento estranho. Ele e Cedrico unidos por breves instantes contra Krum � agora o fato de serem advers�rios ocorria a ambos. Eles continuaram pela trilha escura sem falar, ent�o Harry virou-se para a esquerda e Cedrico para a direita. O ru�do dos passos do rapaz n�o tardou a desaparecer. Harry seguiu caminho, continuando a usar o Feiti�o dos Quatro Pontos, para se certificar de que caminhava na dire��o correta. Agora a competi��o estava entre ele e Cedrico. O desejo de chegar � Ta�a primeiro ardia em seu peito como nunca antes, mas ele n�o conseguia acreditar no que acabara de ver Krum fazer. O uso de uma Maldi��o Imperdo�vel em um ser humano significava uma senten�a de pris�o perp�tua em Azkaban, fora o que Moody dissera. Krum com certeza n�o poderia ter desejado a Ta�a Tribruxo tanto assim... Harry se apressou. De vez em quando ele chegava a trilhas sem sa�da, mas a escurid�o crescente lhe dava a certeza de que estava se aproximando do centro do labirinto. Ent�o, quando seguia por uma trilha longa e reta, ele mais uma vez percebeu um movimento, e a luz de sua varinha incidiu sobre uma criatura extraordin�ria, uma que ele s� vira sob a forma de ilustra��o no seu Livro Monstruoso dos Monstros. Era uma esfinge. Tinha o corpo de um enorme le�o, grandes patas com garras e um longo rabo amarelado que terminava em um tufo de p�los castanhos. A cabe�a, por�m, era de mulher. Ela virou os olhos amendoados para Harry quando ele se aproximou. O garoto ergueu a varinha hesitante. A esfinge n�o estava agachada como se fosse saltar, mas andava de um lado para outro da trilha, bloqueando seu avan�o. Ent�o falou, com uma voz profunda e rouca: � Voc� est� muito pr�ximo do seu objetivo. O caminho mais r�pido � passando por mim. � Ent�o... Ent�o ser� que a senhora podia se afastar, por favor? � disse Harry, sabendo qual seria a resposta. � N�o � disse ela, continuando a sua patrulha. � N�o, a n�o ser que voc� decifre o meu enigma. Se acertar de primeira, deixo-o passar. Se errar, eu o ataco. Permane�a em sil�ncio, e eu o deixarei partir ileso. O est�mago de Harry escorregou alguns cent�metros. Hermione � que era boa nesse tipo de coisa e n�o ele. O garoto avaliou suas chances. Se o enigma fosse muito dif�cil, ele podia se calar, ir embora sem se machucar e tentar encontrar um caminho alternativo para o centro. � OK. � respondeu ele. � Pode me dizer o enigma? A esfinge se sentou nos quartos traseiros, bem no meio da trilha e recitou: Primeiro pense no lugar reservado aos sacrif�cios, Seja em que templo for. Depois, me diga que � que se desfolha no inverno e torna a brotar na primavera? E finalmente, me diga qual � o objeto que tem som, luz e ar e flutua na superf�cie do mar? Agora junte tudo e me responda o seguinte, Que tipo de criatura voc� n�o gostaria de beijar? Harry encarou-a boquiaberto. � Podia, por favor, repetir... Mais devagar? � pediu hesitante. A esfinge pestanejou, sorriu e repetiu o enigma. � Todas as pistas levam ao nome da criatura que eu n�o gostaria de beijar? � perguntou Harry. A esfinge meramente sorriu, aquele sorriso misterioso. Harry interpretou-o como um "sim". Come�ou a pensar. Havia muitos animais que ele n�o gostaria de beijar, seu pensamento imediato foi um explos�v�n, mas alguma coisa lhe disse que n�o era a resposta correta. Ele teria que tentar decifrar as pistas... � O lugar reservado aos sacrif�cios � murmurou Harry, encarando a esfinge �, seja em que templo for... Hum... Seria... Um altar. N�o, esta n�o seria a minha resposta! Uma... Ara? Vou voltar a isso depois... poderia me dar a pista seguinte, por favor? O animal fabuloso repetiu as linhas seguintes do enigma. � A �ltima coisa a desaparecer no inverno e a reaparecer na primavera nas �rvores da floresta � repetiu Harry. � Hum... N�o fa�o id�ia... �rvores... Galhos... Rama... Pode me dizer o �ltimo trecho outra vez? Ela repetiu as �ltimas quatro linhas. � O objeto que tem som, luz e ar e flutua na superf�cie do mar... � disse Harry. � Hum.... Isso seria... Hum... Espere a�, uma b�ia? A esfinge sorriu. � Ara... Hum... Ara... Rama... � disse Harry, agora era ele quem estava andando para l� e para c�. � Uma criatura que eu n�o gostaria de beijar... Uma araramb�la! A esfinge abriu um sorriso maior. Levantou-se, esticou as pernas dianteiras e ent�o se afastou para um lado e o deixou passar. � Obrigado! � disse Harry e, admirado com a pr�pria genialidade, prosseguiu correndo. Tinha que estar perto agora, tinha que estar... A varinha lhe dizia que estava na dire��o exata, desde que n�o deparasse com nada horripilante, ele poderia ter uma chance... � frente precisou escolher entre duas trilhas. � Me oriente! � sussurrou mais uma vez � varinha, e ela deu um giro e apontou para a da direita. Harry saiu correndo por ela e viu uma luz adiante. A Ta�a Tribruxo brilhava num pedestal a menos de cem metros a sua frente. Harry mal sa�ra correndo quando um vulto escuro se precipitou sobre a trilha � sua frente. Cedrico ia chegar primeiro. O rapaz estava correndo o mais r�pido que podia em dire��o � Ta�a, e Harry percebeu que nunca o alcan�aria, Cedrico era muito mais alto, tinha pernas muito mais compridas... Ent�o, Harry viu um vulto imenso por cima da sebe � sua esquerda, deslocando-se ligeiro pela trilha que cortava a sua, ia t�o depressa que Cedrico estava prestes a colidir com ele, e com os olhos na Ta�a, o rapaz n�o vira o vulto... � Cedrico! � berrou Harry. � � sua esquerda! O garoto virou a cabe�a em tempo de se atirar para al�m vulto e evitar colidir com ele, mas, em sua pressa, trope�ou. Harry viu a varinha voar da m�o dele, ao mesmo tempo em que uma enorme aranha entrava na trilha e come�ava a avan�ar para o rapaz. � Estupefa�a! � berrou Harry, o feiti�o atingiu o gigantesco corpo da aranha, negro e peludo, mas produziu tanto efeito quanto se o garoto tivesse atirado uma simples pedra nela, a aranha estremeceu, virou-se e correu para Harry. � Estupefa�a! Impedimenta! Estupefa�a! Mas n�o adiantou � a aranha ou era demasiado grande ou t�o m�gica que os feiti�os s� conseguiam irrit�-la, Harry viu de relance, horrorizado, oito olhos negros e brilhantes e pin�as afiadas como navalhas, antes que a aranha estivesse sobre ele. O inseto ergueu-o no ar com as patas dianteiras, debatendo-se como louco, Harry tentou chut�-lo, sua perna fez contato com as pin�as e no momento seguinte ele sentiu uma dor excruciante, ouviu Cedrico gritar "Estupefa�a!� tamb�m, mas o feiti�o do rapaz produziu tanto efeito quanto o de Harry, o garoto ergueu a varinha quando a aranha tornou a abrir as pin�as e gritou " Expelliarmus!� Funcionou, o Feiti�o para Desarmar fez a aranha larg�-lo, o que significou que Harry caiu tr�s metros e tanto sobre uma perna j� machucada, que se dobrou sob seu corpo. Sem parar para pensar, ele mirou bem alto sob a barriga da aranha, como fizera com explos�v�n, e gritou "Estupefa�a!" na mesma hora em que Cedrico gritava o mesmo. Os dois feiti�os combinados fizeram o que um sozinho n�o conseguira � a aranha tombou de lado, achatando uma sebe pr�xima, e espalhando na trilha um emaranhado de pernas peludas. � Harry! � ele ouviu Cedrico gritar. � Voc� est� bem? Ela caiu em cima de voc�? � N�o! � gritou Harry em resposta. Ele examinou a perna. Sangrava muito. Ele viu uma secre��o grossa e pegajosa que sa�ra das pin�as da aranha em suas vestes rasgadas. Ent�o, tentou se levantar, mas a perna tremia demais e se recusava a sustentar seu peso. Ele se apoiou na sebe, tentando recuperar o f�lego e olhou para os lados. Cedrico estava a pouqu�ssima dist�ncia da Ta�a Tribruxo que refulgia �s suas costas. � Pegue a Ta�a, ent�o � disse Harry arfante para Cedrico. � Pegue logo. Voc� chegou ao centro. Mas Cedrico n�o se mexeu. Continuou parado olhando para Harry. Em seguida virou-se para olhar a Ta�a. Harry percebeu a express�o desejosa no rosto do rapaz � luz dourada do objeto. Cedrico se virou mais uma vez para Harry que agora se amparava na sebe para se manter de p�. Cedrico inspirou profundamente. � Voc� pega. Voc� � que deveria vencer. Voc� salvou minha vida duas vezes neste labirinto. � N�o � assim que a coisa deve funcionar � disse Harry. Sentiu raiva, sua perna do�a muito, seu corpo do�a inteiro do esfor�o para se desvencilhar da aranha e, apesar de tudo isso, Cedrico o vencera, da mesma forma que o vencera na hora de convidar Cho para o baile. � Quem chegar � Ta�a primeiro ganha os pontos. E foi voc�. Estou lhe dizendo, n�o vou vencer nenhuma corrida com essa perna assim. Cedrico deu alguns passos em dire��o � aranha estuporada, afastando-se da Ta�a e balan�ou a cabe�a. � N�o � disse. � Pare de ser nobre � retrucou Harry irritado. � Pegue logo a Ta�a para a gente poder ir embora daqui. Cedrico observou Harry se aprumar, segurando-se com for�a na sebe. � Voc� me falou dos drag�es � disse Cedrico. � Eu teria perdido a primeira tarefa se voc� n�o tivesse me prevenido sobre o que me esperava. � Tive ajuda nisso � retorquiu Harry, tentando enxugar a perna ensang�entada com as vestes. � Voc� me ajudou com o ovo, estamos quites. � Eu tive ajuda com o ovo para come�ar � disse Cedrico. � Continuamos quites � repetiu Harry, experimentando a perna, desajeitado, ela tremeu violentamente quando o garoto se apoiou nela, tinha torcido o tornozelo quando a aranha o largara. � Voc� devia ter ganho mais pontos na segunda tarefa � teimou Cedrico. � Voc� ficou para tr�s para salvar todos os ref�ns. Eu � que deveria ter feito isso. � Eu fui o �nico campe�o suficientemente burro para levar aquela m�sica a s�rio! � disse Harry com amargura. � Pegue a Ta�a! � N�o. Cedrico pulou por cima do emaranhado de pernas da aranha para se juntar a Harry, que o encarou. Cedrico falava s�rio. Estava dando as costas a uma gl�ria que a Casa da Lufa-Lufa n�o experimentava havia s�culos. � Anda � disse o rapaz. Dava a perceber que aquela atitude estava lhe custando cada cent�metro de determina��o que possu�a, mas havia firmeza em seu rosto, cruzara os bra�os, parecia decidido. Harry olhou de Cedrico para a Ta�a. Por um momento fulgurante ele se viu saindo do labirinto, segurando-a. Viu-se erguendo a Ta�a Tribruxo no alto, ouviu os berros dos espectadores, viu o rosto de Cho iluminado de admira��o, mais claramente do que jamais o vira... E ent�o a imagem se dissolveu e ele se viu encarando o rosto teimoso e sombrio de Cedrico. � Os dois � disse Harry. � Qu�? � Levamos a Ta�a ao mesmo tempo. Ainda � uma vit�ria Hogwarts. Empatamos. Cedrico encarou Harry. Descruzou os bra�os. � Voc�... Voc� tem certeza? � Tenho. Tenho... N�s nos ajudamos, n�o foi? N�s dois chegamos aqui. Vamos lev�-la, juntos. Por um instante, Cedrico pareceu que n�o conseguia acreditar no que estava ouvindo, ent�o seu rosto se abriu num sorriso. � Neg�cio fechado. Venha at� aqui. Ele agarrou o bra�o de Harry pela axila e ajudou-o a mancar at� o pedestal onde estava a Ta�a. Quando a alcan�aram, os dois estenderam a m�o para cada uma das asas. � Quando eu disser tr�s, certo? � disse Harry � Um... Dois... Tr�s... Ele e Cedrico apertaram as asas. Instantaneamente, Harry sentiu um solavanco dentro do umbigo. Seus p�s deixaram o ch�o. Ele n�o conseguiu soltar a m�o da Ta�a Tribruxo, ela o puxava para diante, num vendaval colorido, Cedrico ao seu lado. CAP�TULO TRINTA E DOIS Osso, Carne e Sangue Harry sentiu seus p�s baterem no ch�o, a perna machucada cedeu e ele caiu para frente, por fim, sua m�o soltou a Ta�a Tribruxo. Ele ergueu a cabe�a. � Onde estamos? � perguntou. Cedrico sacudiu a cabe�a. Levantou-se, ajudou Harry a ficar de p� e os dois olharam a toda volta. Estavam inteiramente fora dos terrenos de Hogwarts, era �bvio que tinham viajado quil�metros � talvez centenas de quil�metros � porque at� as montanhas que rodeavam o castelo haviam desaparecido. Em lugar de Hogwarts, os garotos se viam parados em um cemit�rio escuro e cheio de mato; para al�m de um grande teixo � direita podiam ver os contornos escuros de uma igrejinha. Um morro se erguia � esquerda. Muito mal, Harry conseguia discernir a silhueta escura de uma bela casa antiga na encosta do morro. Cedrico olhou para a Ta�a Tribruxo e depois para Harry. � Algu�m lhe disse que a Ta�a era uma Chave de Portal? � perguntou. � N�o. � Harry examinou o cemit�rio. Estava profundamente silencioso e meio fantasmag�rico. � Ser� que isto faz parte da tarefa? � N�o sei � respondeu Cedrico. Sua voz revelava um certo nervosismo. � Varinhas em punho, n�o acha melhor? � � � disse Harry, satisfeito de que Cedrico tivesse sugerido isso por ele. Os dois puxaram as varinhas. Harry n�o parava de olhar para todo lado. Tinha, mais uma vez, a estranha sensa��o de que estavam sendo observados. � Vem algu�m a� � disse de repente. Apertando os olhos para enxergar na escurid�o, eles divisaram um vulto que se aproximava, andando entre os t�mulos sempre em sua dire��o. Harry n�o conseguia distinguir um rosto, mas pelo jeito que o vulto caminhava e mantinha os bra�os, dava para ver que estava carregando alguma coisa. Fosse quem fosse, era baixo e usava um capuz que lhe cobria a cabe�a e sombreava o rosto. E... V�rios passos depois, a dist�ncia entre eles sempre mais curta � Harry viu que a coisa nos bra�os do vulto parecia um beb�... Ou seria meramente um fardo de vestes? Harry baixou ligeiramente a varinha e olhou para Cedrico ao seu lado. O rapaz lhe respondeu com um olhar intrigado. Os dois tornaram a se virar para observar o vulto que se aproximava. Ele parou ao lado de uma l�pide alta, a uns dois metros. Por um segundo, Harry, Cedrico e o vulto baixo apenas se entreolharam. Ent�o, inesperadamente, a cicatriz de Harry explodiu de dor. Foi uma agonia t�o extrema como jamais sentira na vida; ao levar a m�o ao rosto, a varinha lhe escapou dos dedos, seus joelhos cederam,ele caiu ao ch�o e n�o viu mais nada, sua cabe�a pareceu prestes a rachar. De muito longe, acima de sua cabe�a, ele ouviu uma voz fria e aguda dizer: � Mate o outro. Um zunido, e uma segunda voz que arranhou o ar da noite: � Avada Kedavra! Um rel�mpago verde perpassou as p�lpebras de Harry e ele ouviu alguma coisa pesada cair no ch�o ao seu lado, a dor de sua cicatriz atingiu tal intensidade que ele teve �nsias de vomitar, em seguida diminuiu, aterrorizado com o que iria ver, ele abriu os olhos ardidos. Cedrico estava estatelado no ch�o ao seu lado, os bra�os e pernas abertos. Morto. Por um segundo que continha toda a eternidade, Harry fitou o rosto do colega, seus olhos cinzentos abertos, vidrados e inexpressivos como as janelas de uma casa deserta, a boca entreaberta num esgar de surpresa. Ent�o, antes que a mente de Harry pudesse aceitar o que seus olhos viam, antes que pudesse sentir alguma coisa al�m de at�nita incredulidade, ele sentiu que algu�m o levantava. O homem baixo de capa pousara o fardo que carregava no ch�o, acendeu a varinha e saiu arrastando Harry em dire��o � l�pide de m�rmore. O garoto viu o nome ali gravado faiscar � luz da varinha, antes de ser virado e atirado contra a pedra. �TOM RIDDLE�. O homem da capa agora estava conjurando cordas para prender Harry com firmeza, amarrando-o � l�pide, do pesco�o aos tornozelos. O garoto ouviu uma respira��o r�pida e rasa saindo do fundo do capuz, ele se debateu e o homem lhe deu uma bofetada, uma bofetada com uma m�o � que faltava um dedo. E Harry percebeu quem estava sob o capuz. Era Rabicho. � Voc�! � exclamou ele. Mas Rabicho, que acabara de conjurar as cordas, n�o respondeu; estava ocupado verificando se estavam bem apertadas, seus dedos tremendo descontrolados, apalpando os n�s. Uma vez convencido de que Harry estava amarrado � l�pide sem a menor folga e que n�o conseguiria se mexer, Rabicho tirou um pano preto de dentro das vestes e enfiou-o com viol�ncia na boca de Harry; depois, sem dizer palavra, virou as costas e se afastou depressa, o garoto n�o podia emitir som algum nem ver aonde fora Rabicho, n�o podia virar a cabe�a para ver al�m da l�pide, s� podia ver o que estava diretamente em frente. O corpo de Cedrico se encontrava a uns seis metros de dist�ncia. Mais adiante, refulgindo � luz das estrelas, jazia a Ta�a Tribruxo. A varinha de Harry ficara ca�da no ch�o aos p�s do rapaz. O fardo de roupas que Harry imaginara que fosse um beb� continuava ali perto, junto � l�pide. Parecia estar se mexendo incomodado. O garoto observou-o e sua cicatriz queimou de dor... E, de repente, ele concluiu que n�o queria ver o que estava naquelas roupas... N�o queria que o fardo se abrisse... Harry ouviu, ent�o, um ru�do aos seus p�s. Baixou os olhos e viu uma cobra gigantesca deslizando pelo capim, circulando em torno da l�pide a que ele fora amarrado. A respira��o asm�tica e r�pida de Rabicho estava se tornando mais ruidosa agora. Parecia que arrastava alguma coisa pesada pelo ch�o. Ent�o ele tornou a entrar no campo de vis�o de Harry e o garoto p�de ver que o bruxo empurrava um caldeir�o de pedra para perto do t�mulo. Continha alguma coisa que parecia �gua � Harry a ouviu sacudir � e era maior do que qualquer outro caldeir�o que Harry j� tivesse usado; sua circunfer�ncia era suficientemente grande para caber um adulto sentado. A coisa embrulhada no fardo de vestes no ch�o se mexeu com mais insist�ncia, como se estivesse tentando se desvencilhar. Agora Rabicho estava mexendo com uma varinha no fundo externo do caldeir�o. De repente surgiram chamas sob a vasilha. A enorme cobra deslizou para longe mergulhando nas sombras. O l�quido no caldeir�o parecia estar esquentando bem r�pido. Sua superf�cie come�ou n�o somente a borbulhar, mas tamb�m a atirar para o alto fa�scas incandescentes, como se estivesse em chamas. O vapor se adensou e borrou a silhueta de Rabicho que cuidava do fogo. Seus movimentos sob a capa se tornaram mais agitados. E Harry ouviu mais uma vez a voz aguda e fria. � Ande depressa! Toda a superf�cie da �gua estava iluminada pelas fa�scas. Parecia cravejada de diamantes. � Est� pronta, meu amo. � Agora... � disse a voz fria. Rabicho abriu o fardo de vestes no ch�o, revelando o que havia nele, e Harry deixou escapar um grito que foi estrangulado pelo chuma�o de pano que arrolhava sua boca. Era como se Rabicho tivesse virado uma pedra e deixado � mostra algo feio, pegajoso e cego � mas pior, cem vezes pior. A coisa que Rabicho andara carregando tinha a forma de uma crian�a humana encolhida, s� que Harry nunca vira nada que se parecesse menos com uma crian�a. Era pelada, de apar�ncia escamosa, de uma cor preta avermelhada e crua. Os bra�os e pernas eram finos e fracos e o rosto � nenhuma crian�a viva jamais tivera um rosto daqueles � era plano e lembrava o de uma cobra, com olhos vermelhos e brilhantes. A coisa tinha uma apar�ncia quase desamparada, ela ergueu os bra�os magros e passou-os pelo pesco�o de Rabicho e este a ergueu, Ao fazer isso, seu capuz caiu para tr�s e Harry viu, � claridade do fogo, a express�o de repugn�ncia em seu rosto fraco e p�lido, enquanto transportava a criatura para a borda do caldeir�o. Por um instante o garoto viu o rosto plano e maligno iluminar-se com as fa�scas que dan�avam na superf�cie da po��o. Ent�o Rabicho a depositou dentro do caldeir�o, ouviu-se um silvo, e ela submergiu. Harry escutou aquele corpinho fr�gil bater no fundo do caldeir�o com um baque suave. �Tomara que se afogue�, pensou o garoto, a cicatriz doendo mais do que era poss�vel suportar, �por favor... Tomara que se afogue...� Rabicho estava falando. Sua voz tremia, ele parecia assustad�ssimo. Ergueu a varinha, fechou os olhos e falou para a noite. � Osso do pai, dado sem saber, renove filho! A superf�cie do t�mulo aos p�s do garoto rachou. Horrorizado, Harry observou um fiapo de poeira se erguer no ar � ordem de Rabicho, e cair suavemente no caldeir�o. A superf�cie diamant�fera da �gua se dividiu e chiou; disparou fa�scas para todo o lado e ficou um azul vivido e pe�onhento. Rabicho choramingou. Tirou um punhal longo, fino e brilhante de dentro das vestes. Sua voz quebrou em solu�os petrificados. � Carne... Do servo... Dada de bom grado... Reanime... O seu amo. Ele esticou a m�o direita � frente, a m�o em que faltava um dedo. Segurou o punhal com firmeza na m�o esquerda e ergueu-o. Harry percebeu o que Rabicho ia fazer um segundo antes acontecer, fechou os olhos com toda for�a que p�de, mas n�o conseguiu bloquear o grito que cortou a noite, e que o atravessou como se ele tivesse sido apunhalado tamb�m. Ouviu alguma coisa cair ao ch�o, ouviu a respira��o ofegante e aflita de Rabicho, depois o ru�do nauseante de alguma coisa tombar dentro do caldeir�o. Harry n�o suportou olhar... Mas a po��o ficou vermelho-vivo e sua claridade atravessou suas p�lpebras fechadas... Rabicho ofegava e gemia de agonia. Somente quando Harry sentiu sua respira��o aflita no pr�prio rosto � que percebeu que o bruxo estava bem diante dele. � S-sangue do inimigo... Tirado � for�a... Ressuscite... Seu advers�rio. Harry nada p�de fazer para impedir isso, estava muito bem amarrado... Procurando ver mais embaixo, lutando inutilmente contra as cordas que o prendiam, ele viu o punhal de prata reluzente tremer na m�o de Rabicho que restava. Sentiu a ponta da arma furar a dobra do seu bra�o direito e o sangue fluir pela manga de suas vestes rasgadas. Rabicho, ainda ofegando de dor, apalpou o bolso � procura de um frasquinho que ele aproximou do corte de Harry para recolher o sangue. O bruxo cambaleou de volta ao caldeir�o com o sangue do garoto. Despejou-o ali. O l�quido no caldeir�o ficou instantaneamente branco ofuscante. Conclu�da a tarefa, Rabicho se ajoelhou ao lado do caldeir�o, depois deixou-se cair de lado e ficou deitado no ch�o, aninhando o toco sangrento de bra�o, arquejando e solu�ando. O caldeir�o foi cozinhando, disparando fa�scas em todas as dire��es, um branco t�o branco que transformava todo o resto num negrume aveludado. Nada aconteceu... �Tomara que tenha se afogado� pensou Harry, �tomara que tenha dado errado...� E ent�o, de repente, as fa�scas que subiam do caldeir�o se extinguiram. Uma nuvem de vapor branco se ergueu, repolhuda e densa, tampando tudo que havia na frente de Harry, impedindo-o de continuar a ver Rabicho, Cedrico ou qualquer outra coisa exceto o vapor pairando no ar... Pensou... �Se afogou...� �Tomara...� �Tomara que tenha morrido...� Mas, atrav�s da n�voa � sua frente, ele viu, com um assomo gelado de terror, a silhueta escura de um homem, alto e esquel�tico, emergindo do caldeir�o. � Vista-me � disse a voz aguda e fria por tr�s do vapor, e Rabicho, solu�ando e gemendo, ainda aninhando o bra�o mutilado, correu a apanhar as vestes negras no ch�o, levantou-se, ergueu o bra�o e colocou-as apenas com a m�o existente por cima da cabe�a do seu amo. O homem magro saiu do caldeir�o, com o olhar fixo em Harry... E o garoto mirou aquele rosto que assombrava seus pesadelos havia tr�s anos. Mais branco do que um cr�nio, com olhos grandes e vermelhos, um nariz chato como o das cobras e fendas no lugar das narinas... Lord Voldemort acabara de ressurgir. CAP�TULO TRINTA E TR�S Os Comensais da Morte Voldemort desviou o olhar de Harry e come�ou a examinar o pr�prio corpo. Suas m�os eram como aranhas grandes e p�lidas, seus longos dedos brancos acariciaram o pr�prio peito, os bra�os, o rosto, os olhos vermelhos, cujas pupilas eram fendas, como as de um gato, brilhavam ainda mais no escuro. Ele ergueu as m�os e flexionou os dedos com uma express�o arrebatada e exultante. N�o deu a menor aten��o a Rabicho, que continuou tremendo e sangrando no ch�o, nem � enorme cobra, que reapareceu em cena e recome�ou a descrever c�rculos em torno de Harry, sibilando. Voldemort enfiou um dos dedos anormalmente longos em um bolso fundo e tirou uma varinha. Acariciou-a gentilmente tamb�m, depois ergueu-a e apontou-a para Rabicho, e ela o guindou do ch�o e atirou contra a l�pide a que Harry estava amarrado, o bruxo caiu aos p�s da l�pide e ficou ali, encolhido, chorando. Voldemort voltou seus olhos vermelhos para Harry e soltou uma risada, aquela sua risada aguda, fria e sem alegria. As vestes de Rabicho agora estavam manchadas de sangue brilhante, o bruxo enrolara nelas o toco de bra�o. � Milorde... � disse ele com a voz embargada � milorde... O senhor prometeu... O senhor prometeu... � Estique o bra�o � disse Voldemort indolentemente. � Ah, meu amo... Obrigado, meu amo... Rabicho esticou o toco sangrento, mas Voldemort deu uma gargalhada. � O outro bra�o, Rabicho. � Meu amo, por favor... Por favor... Voldemort se curvou e puxou o bra�o esquerdo de Rabicho; empurrou a manga das vestes do servo acima do cotovelo e Harry viu que havia uma coisa na pele, uma coisa que lembrava uma tatuagem vermelho-vivo � um cr�nio, com uma cobra saindo da boca �, a mesma imagem que aparecera no c�u na Copa Mundial de Quadribol: a Marca Negra. Voldemort examinou-a demoradamente, sem dar aten��o ao choro descontrolado de Rabicho. � Reapareceu � comentou ele baixinho �, todos dever�o ter notado... E agora, veremos... Agora saberemos... Ele comprimiu a marca no bra�o do servo com seu longo indicador branco. A cicatriz na testa de Harry ardeu com uma dor aguda e Rabicho deixou escapar um uivo. Voldemort afastou o dedo da marca em Rabicho e Harry viu que ela se tornara muito preta. Com uma express�o de cruel satisfa��o no rosto, Voldemort se endireitou, atirou a cabe�a para tr�s e come�ou a examinar o escuro cemit�rio. � Quantos ter�o suficiente coragem para voltar quando sentirem isso? � sussurrou ele, fixando seus olhos vermelhos e brilhantes nas estrelas. � E quantos ser�o bastante tolos para ficar longe de mim? Ele come�ou a andar de um lado para outro diante de Harry e Rabicho, seus olhos percorrendo o cemit�rio todo o tempo. Decorrido pouco mais de um minuto, ele tornou a olhar para Harry, um sorriso cruel deformando seu rosto viperino. � Voc� est� em p�, Harry Potter, sobre os restos mortais do meu pai � sibilou ele baixinho. � Um trouxa e um idiota... Muito parecido com a sua querida m�e. Mas os dois tiveram sua utilidade, n�o? Sua m�e morreu tentando defend�-lo quando crian�a... E eu matei meu pai e veja como ele se provou �til, depois de morto... Voldemort soltou outra gargalhada. Para cima e para baixo ele andava, olhando para os lados, e a serpente continuava a circular no meio do capim. � Voc� est� vendo aquela casa l� na encosta do morro, Potter? Meu pai morava ali. Minha m�e, uma bruxa que vivia no povoado, se apaixonou por ele. Mas foi abandonada quando lhe contou o que era... Ele n�o gostava de magia, meu pai... � Ele a abandonou e voltou para os pais trouxas antes de eu nascer, Potter, e ela morreu me dando � luz, me deixando para ser criado em um orfanato de trouxas... Mas eu jurei encontr�-lo... Vinguei-me dele, desse idiota que me deu seu nome... Tom Riddle... E andava sem parar, seus olhos correndo de um t�mulo para outro. � Me vejam s� recordando minha hist�ria de fam�lia... � comentou ele baixinho. � Ora, ora, estou ficando muito sentimental... Mas veja Harry! A minha fam�lia verdadeira est� chegando... O ar se encheu repentinamente com o rumor de capas esvoa�antes. Entre os t�mulos, atr�s do teixo, em cada espa�o escuro, havia bruxos aparatando... Todos usavam capuzes e m�scaras. E um por um, eles se adiantaram... Lentamente, cautelosamente, como se mal conseguissem acreditar no que viam. Voldemort ficou parado em sil�ncio, esperando-os. Ent�o um Comensal da Morte se prostrou de joelhos, arrastou-se at� Voldemort, e beijou a barra de suas vestes negras. � Meu amo... Meu amo... Os Comensais da Morte que vinham atr�s o imitaram, um por um, eles se aproximaram de joelhos para beijar as vestes de Voldemort para depois recuar e se levantar, formando um c�rculo silencioso em torno do t�mulo de Tom Riddle, Harry, Voldemort e o monte de vestes que solu�ava e sacudia, que era Rabicho. Mas eles deixaram espa�os vazios no c�rculo, como se esperassem mais gente. Voldemort, por�m, n�o parecia esperar mais ningu�m. Olhou os rostos encapuzados ao seu redor e, embora n�o houvesse vento, um rumorejo pareceu percorrer o c�rculo como se perpassasse por ele um arrepio. � Bem-vindos, Comensais da Morte � disse Voldemort em voz baixa. � Treze anos... Treze anos desde que nos encontramos pela �ltima vez. Contudo, voc�s atendem ao meu chamado como se fosse ontem... Ent�o continuamos unidos sob a Marca Negra! Ou ser� que n�o? Ele retomou sua express�o amea�adora e farejou, dilatando as narinas em forma de fenda. � Sinto cheiro de culpa � disse ele. � H� um fedor de culpa no ar. � Um segundo surto de arrepios percorreu o circulo, como se cada membro tivesse o desejo, mas n�o a coragem, de se afastar dali. � Vejo todos voc�s, inteiros e saud�veis, com os seus poderes intactos, t�o desenvoltos! E me pergunto... Por que esse bando de bruxos nunca foi socorrer seu amo, a quem jurou lealdade eterna? Ningu�m falou. Ningu�m se mexeu exceto Rabicho, que continuava no ch�o, chorando, o bra�o ensang�entado. � E eu pr�prio respondo � sussurrou Voldemort �, porque devem ter acreditado que eu estava derrotado, pensaram que eu acabara. Voltaram a se misturar com os meus inimigos e alegaram inoc�ncia, ignor�ncia e bruxaria... E ent�o eu me pergunto, mas como � que voc�s podem ter acreditado que eu n�o me reergueria? Voc�s, que conheciam as provid�ncias que eu tomara, h� muito tempo, para me proteger da morte humana? Voc�s que tiveram provas da imensid�o do meu poder, na �poca em que fui mais poderoso do que qualquer bruxo vivente? E eu mesmo respondo, talvez acreditassem que poderia haver um poder ainda maior, um poder capaz de derrotar at� Lord Voldemort... Talvez voc�s agora prestem lealdade a outro... Talvez �quele campe�o da plebe, dos trouxas e sangue-ruins, Alvo Dumbledore?� � men��o do nome de Dumbledore, os membros do circulo se inquietaram, alguns murmuraram e negaram sacudindo a cabe�a. Voldemort ignorou-os. � Um desapontamento para mim... Confesso que estou desapontado... Um dos bruxos se atirou subitamente � frente, rompendo o c�rculo. Tremendo da cabe�a aos p�s, prostrou-se aos p�s de Voldemort. � Meu amo! � exclamou. � Meu amo, me perdoe! Nos perdoe todos! Voldemort come�ou a rir. Ergueu a varinha. � Crucio! O Comensal da Morte no ch�o contorceu-se e gritou, Harry teve certeza de que o som se propagava at� as casas vizinhas... Tomara que a pol�cia chegue, desejou ele desesperado... Algu�m... .Alguma coisa... Voldemort ergueu a varinha. O Comensal da Morte torturado se estatelou no ch�o, arfando. � Levante-se, Avery � disse Voldemort baixinho. � Ponha-se de p�. Voc� est� me pedindo perd�o? Eu n�o perd�o. Eu n�o esque�o. Treze longos anos... Quero um pagamento por esses treze anos antes de perdoar-lhes. Rabicho aqui j� pagou parte da d�vida, n�o foi, Rabicho? Ele baixou os olhos para o bruxo mutilado, que continuava a solu�ar. � Voc� voltou para mim, n�o por lealdade, mas por medo dos seus antigos amigos. Voc� merece sentir dor, Rabicho. Voc� sabe disso, n�o sabe? � Sei, meu amo � gemeu Rabicho �, por favor, meu amo... Por favor... � Contudo voc� me ajudou a recuperar meu corpo � disse Voldemort friamente, observando o servo solu�ar no ch�o. � Mesmo in�til e trai�oeiro como �, voc� me ajudou... E Lord Voldemort recompensa quem o ajuda... Voldemort tornou a erguer a varinha e girou-a no ar. Um fio que parecia feito de prata liquefeita prolongou-se da varinha e pairou no ar. Momentaneamente informe, o fio se agitou e em seguida se transformou na r�plica brilhante de uma m�o humana, clara como o luar, que saiu voando e foi se prender ao pulso sangrento de Rabicho. Os solu�os do bruxo pararam abruptamente. Com a respira��o rascante e falha, ele levantou a cabe�a e fitou, incr�dulo, a m�o prateada, agora ligada sem costura ao seu bra�o, como se ele estivesse usando uma luva luminosa. O bruxo flexionou os dedos reluzentes, depois, tr�mulo, apanhou um graveto no ch�o e pulverizou-o. � Milorde � sussurrou ele. � Meu amo... � linda... Muito obrigado... Muito obrigado... Ele avan�ou de joelhos e beijou a barra das vestes de Voldemort. � Que a sua lealdade jamais volte a vacilar, Rabicho � disse Voldemort. � N�o, milorde... Nunca, milorde... Rabicho se levantou e tomou posi��o no c�rculo, sem tirar os olhos da m�o nova e poderosa, seu rosto lavado de l�grimas. Voldemort se aproximou ent�o do homem � direita de Rabicho. � L�cio, meu ardiloso amigo � murmurou ele se detendo diante do bruxo. � Ou�o dizer que voc� n�o renunciou aos seus h�bitos antigos, embora para o mundo voc� apresente uma imagem respeit�vel. Acredito que continue pronto para assumir a lideran�a de uma torturazinha de trouxas? No entanto voc� nunca tentou me encontrar, L�cio... As suas aventuras na Copa Mundial de Quadribol foram engra�adas, devo dizer... Mas ser� que suas energias n�o teriam sido melhor empregadas em procurar ajudar seu amo. � Milorde, sempre estive constantemente alerta � ouviu-se na mesma hora a voz de L�cio Malfoy saindo por baixo do capuz. � Se tivesse havido algum sinal do senhor, algum rumor sobre seu paradeiro, eu teria ido imediatamente para o seu lado, nada teria me detido... � Contudo, voc� correu da minha marca, quando um leal Comensal da Morte a projetou no c�u no ver�o passado � comentou displicentemente Voldemort, e o Sr. Malfoy parou abruptamente de falar. � �, sei de tudo que aconteceu, L�cio... Voc� me desapontou... Espero servi�os mais leais no futuro. � Naturalmente, milorde, naturalmente... O senhor � misericordioso, obrigado... Voldemort continuou a andar e parou, reparando no espa�o � suficientemente grande para duas pessoas � que separava Malfoy do comensal seguinte. � Os Lestrange deveriam estar aqui � disse Voldemort baixinho. � Mas est�o enterrados vivos em Azkaban. Foram fi�is. Preferiram ir para Azkaban a renunciar a mim... Quando Azkaban for aberta, os Lestrange receber�o honras que ultrapassar�o todos os seus sonhos. Os dementadores se unir�o a n�s... S�o nossos aliados naturais... Chamaremos de volta os gigantes banidos... Todos os meus servos devotados me ser�o devolvidos e um ex�rcito de criaturas que todos temem... Ele continuou sua caminhada. Passou por alguns comensais em sil�ncio, mas parou diante de outros para lhes falar. � Macnair... Eliminando animais perigosos para o Minist�rio da Magia agora, segundo me conta Rabicho. Breve voc� ter� melhores v�timas, Macnair. Lord Voldemort ir� providenci�-las... � Obrigado, meu amo... Obrigado � murmurou Macnair. � E aqui � Voldemort prosseguiu dirigindo-se aos dois maiores vultos encapuzados � temos Crabbe... Voc� vai trabalhar melhor desta vez, n�o vai, Crabbe? E voc�, Goyle? Os dois fizeram uma rever�ncia desajeitada, murmurando com uma certa lentid�o: � Sim, meu amo... � Trabalharemos, meu amo... � O mesmo se aplica a voc�, Nott � disse Voldemort baixinho, ao passar pelo vulto curvado � sombra do Sr. Goyle. � Milorde, eu me prostrei diante do senhor, sou o seu mais fiel... � Basta � disse Voldemort. Ele chegou, ent�o, � maior lacuna no c�rculo, e parou contemplando-a com seus olhos parados e vermelhos, como se pudesse ver pessoas em p� ali. � E aqui temos seis Comensais da Morte ausentes... Tr�s mortos a meu servi�o. Um demasiado covarde para voltar... Ele me pagar�. Um que eu acredito ter me deixado para sempre... Este ser� morto, � claro... E um que continua sendo meu mais fiel servo, e que j� reingressou no meu servi�o. Os Comensais da Morte se agitaram, Harry viu que eles se entreolhavam por tr�s das m�scaras. � Ele est� em Hogwarts, esse servo fiel, e foi gra�as aos seus esfor�os que o nosso jovem amigo chegou aqui esta noite... Sim, � disse Voldemort, um sorriso crispando sua boca sem l�bios, quando os olhares do c�rculo convergiram para Harry. � Harry Potter teve a gentileza de se reunir a n�s para comemorar a minha ressurrei��o. Poder�amos at� cham�-lo de meu convidado de honra. Fez-se sil�ncio. Em seguida o Comensal da Morte � direita de Rabicho deu um passo � frente, e a voz de L�cio Malfoy falou por baixo da m�scara. � Meu amo, � grande o nosso desejo de saber... Suplicamos que nos conte... Como foi que o senhor conseguiu este... Milagre... Como conseguiu voltar para n�s... � Ah, que hist�ria extraordin�ria, L�cio! � disse Voldemort. � E ela come�a... E termina... Com o meu jovem amigo aqui. Ele caminhou descansadamente e parou ao lado de Harry, fazendo com que os olhos de todo o c�rculo se voltassem para os dois. A cobra continuava a rastejar em c�rculos. � Voc�s sabem, naturalmente, que muitos chamam este garoto de minha perdi��o! � disse Voldemort baixinho, os olhos fixos em Harry, cuja cicatriz come�ou a arder t�o ferozmente que ele quase gritou de agonia. � Voc�s todos sabem que na noite em que perdi meus poderes e o meu corpo, tentei mat�-lo. A m�e dele morreu, tentando salv�-lo, e, sem saber, o resguardou com uma prote��o que, devo admitir, eu n�o havia previsto... Eu n�o pude tocar no rapaz. Voldemort ergueu um longo dedo branco e levou-o at� pr�ximo do rosto de Harry. � A m�e deixou nele os vest�gios do seu sacrif�cio... Isto � magia antiga, de que eu devia ter me lembrado, foi uma tolice t�-la esquecido... Mas isso n�o importa. Eu agora posso toc�-lo. Harry sentiu a ponta fria do longo dedo branco toc�-lo, e pensou que sua cabe�a ia explodir de dor. Voldemort riu de mansinho na orelha do garoto, depois afastou o dedo e continuou a se dirigir aos Comensais da Morte. � Eu calculei mal, meus amigos, admito. Minha maldi��o foi refratada pelo tolo sacrif�cio da mulher e ricocheteou contra mim. Ah... A dor que ultrapassa a dor, meus amigos, nada poderia ter me preparado para aquilo. Fui arrancado do meu corpo, me tornei menos que um esp�rito, menos que o fantasma mais insignificante... Mas, ainda assim, continuei vivo. Em que me transformei, nem eu mesmo sei... Eu que cheguei mais longe do que qualquer outro no caminho que leva � imortalidade. Voc�s conhecem o meu objetivo, vencer a morte. E agora fui testado, e aparentemente uma, ou mais de uma, das minhas experi�ncias foi bem sucedida... Pois eu n�o morri, embora a maldi��o devesse ter me matado. Contudo, fiquei t�o impotente quanto a mais fraca criatura viva e sem meios de ajudar a mim mesmo... Pois n�o possu�a mais corpo, e qualquer feiti�o que pudesse ter me ajudado exigia o uso da varinha... S� me lembro de me obrigar, sem dormir, sem cessar, segundo a segundo, a existir... Fui morar em um lugar distante, numa floresta e esperei... Certamente um dos meus fi�is Comensais da Morte tentaria me encontrar... Um deles viria e realizaria por mim a m�gica necess�ria para eu recuperar meu corpo... Mas esperei em v�o... O arrepio tornou a perpassar o c�rculo de atentos Comensais da Morte. Voldemort deixou o sil�ncio espiralar de modo terr�vel antes de prosseguir: � S� me restara um poder. Eu podia me apossar do corpo de outros. Mas eu n�o me atrevia a ir aonde viviam muitos humanos, pois eu sabia que os aurores continuavam a viajar pelo exterior � minha procura. Por vezes eu habitava animais, as cobras, � claro, eram minhas preferidas, mas eu n�o ficava muito melhor dentro delas do que como puro esp�rito, porque seus corpos eram mal equipados para realizar m�gicas... E apossar-me delas encurtava suas vidas, nenhuma delas sobreviveu muito tempo... Ent�o... H� quatro anos... Os meios para o meu retorno me pareceram garantidos. Um bruxo, jovem, tolo e cr�dulo, cruzou o meu caminho na floresta em que eu vivia. Ah, ele parecia exatamente a chance com que eu sonhara... Porque era professor na escola de Dumbledore... Era d�cil � minha vontade... E me trouxe de volta a este pa�s e, pouco depois, me apoderei do seu corpo para vigi�-lo de perto enquanto cumpria minhas ordens. Mas meu plano fracassou. N�o consegui roubar a Pedra Filosofal. N�o pude obter a vida eterna. Fui impedido... Fui impedido, mais uma vez, por Harry Potter... Novamente o sil�ncio, nada se movia, nem mesmo as folhas do teixo. Os Comensais da Morte permaneceram muito quietos, os olhos cintilantes em suas m�scaras fixos em Voldemort e Harry. � Meu servo morreu quando abandonei seu corpo, e fiquei mais fraco do que jamais estive. Voltei ao meu esconderijo distante, e n�o vou fingir que n�o receei ent�o que talvez jamais recuperasse meus poderes... Sim, aquela talvez tenha sido a hora mais negra da minha vida... Eu n�o poderia esperar que ca�sse do c�u outro bruxo para eu me apoderar... E j� perdera as esperan�as de que algum Comensal da Morte se importasse com o que me acontecera... Uns dois bruxos mascarados no c�rculo se mexeram constrangidos, mas Voldemort n�o lhes deu a menor aten��o. � Ent�o, h� menos de um ano, quando eu praticamente abandonara toda esperan�a, aconteceu... Um servo voltou para mim, o Rabicho aqui, que simulara a pr�pria morte para fugir � justi�a, foi for�ado a se expor por aqueles que no passado tinham sido seus amigos, e resolveu voltar para o seu amo. Ele me procurou no campo onde houvera boatos de que eu estaria escondido... Ajudado, naturalmente, pelos ratos que encontrou em seu caminho. Rabicho tem uma curiosa afinidade por ratos, n�o � mesmo, Rabicho? Seus imundos amiguinhos lhe contaram que havia um lugar, no meio de uma floresta albanesa que eles evitavam, onde pequenos animais como eles encontravam a morte pelas m�os de um vulto escuro que os possu�a... Mas a viagem de regresso n�o correu tranq�ilamente para mim, n�o �, Rabicho? Certa noite, esfomeado, na orla da floresta em que esperava me encontrar, ele parou, tolamente, em uma estalagem para comer alguma coisa... E quem ele haveria de encontrar l�, se n�o Berta Jorkins, uma bruxa do Minist�rio da Magia? � Agora vejam como o destino favorece Lord Voldemort. Isto poderia ter sido o fim de Rabicho e da minha �ltima chance de regenera��o. Mas Rabicho � revelando uma presen�a de esp�rito que eu jamais esperaria dele � convenceu Berta Jorkins a acompanh�-lo em um passeio noturno. Ele a dominou... E a trouxe at� mim. E Berta Jorkins, que poderia ter posto tudo a perder, em vez disso provou ser uma d�diva que superou as minhas expectativas mais extravagantes... Pois, com um nadinha de persuas�o, tornou-se uma verdadeira mina de informa��es. Ela me contou que este ano seria realizado um Torneio Tribruxo em Hogwarts. E que conhecia um Comensal da Morte fiel que teria muito prazer em me ajudar, se eu o procurasse. Ela me contou muitas coisas... Mas os meios que usei para romper o Feiti�o da Mem�ria que a dominava foram fortes, e depois que extrai dela toda informa��o �til, sua mente e seu corpo ficaram irrecuperavelmente danificados. Servira a sua finalidade. Mas eu n�o poderia me apossar do seu corpo. Descartei-a. Voldemort sorriu, aquele sorriso medonho, seus olhos vermelhos vidrados e cru�is. � O corpo de Rabicho, naturalmente, era pouco pr�prio para uma possess�o, j� que todos o presumiam morto e ele atrairia demasiada aten��o se fosse visto. Contudo, era o servo fisicamente v�lido de que eu precisava. E, embora fosse um bruxo med�ocre, foi capaz de seguir as instru��es que lhe dei e que me devolveriam um corpo rudimentar e fraco por�m meu, um corpo que eu poderia habitar enquanto esperava os ingredientes essenciais para uma verdadeira ressurrei��o... Uns feiti�os de minha pr�pria inven��o... Uma ajudazinha de Nagini � os olhos de Voldemort se voltaram para a cobra que circulava a l�pide sem parar �, uma po��o feita com sangue de unic�rnio, veneno de cobra fornecido por Nagini... E logo eu recuperei uma forma quase humana e suficientemente forte para viajar. N�o havia mais esperan�as de roubar a Pedra Filosofal, pois eu sabia que Dumbledore teria tomado provid�ncias para destru�-la. Mas eu estava disposto a abra�ar mais uma vez a vida mortal antes de perseguir a imortal. Estabeleci objetivos mais modestos... Aceitei ter o meu antigo corpo e a minha antiga for�a de volta. � Eu sabia que para obter isso, que � uma velha pe�a de Magia Negra a po��o que me reanimou hoje � noite, eu precisaria de tr�s poderosos ingredientes. Bem, um deles j� estava � m�o, n�o � mesmo, Rabicho? A carne doada por um servo... O osso do meu pai, naturalmente, significava que eu teria que vir at� aqui, onde ele estava enterrado. Mas o sangue de um inimigo... Rabicho queria que eu usasse um bruxo qualquer, n�o foi, Rabicho? Um bruxo qualquer que tivesse me odiado... Como tantos ainda odeiam. Mas eu sabia do que precisava, se era para me reerguer mais poderoso do que tinha sido antes da queda. Eu queria o sangue de Harry Potter. Eu queria o sangue daquele que tinha me despojado do poder h� treze anos, porque a prote��o duradoura que a m�e dele tinha lhe dado circularia em minhas veias tamb�m... Mas como apanhar Harry Potter? Porque ele foi protegido muito mais do que acho que ele sabe, protegido de v�rias maneiras criadas por Dumbledore h� muito tempo, quando recebeu o encargo de cuidar do futuro do garoto. � Dumbledore invocou uma m�gica antiga para garantir a prote��o ao garoto enquanto estivesse aos cuidados dos parentes. Nem mesmo eu posso toc�-lo em casa deles... Depois, naturalmente houve a Copa Mundial de Quadribol... Achei que a prote��o dele enfraqueceria ali, longe dos parentes e de Dumbledore, mas eu ainda n�o estava suficientemente forte para tentar seq�estr�-lo em meio a uma horda de bruxos do Minist�rio. Depois, o garoto retornaria a Hogwarts, onde vive debaixo do nariz torto daquele tolo, amante de trouxas, de manh� � noite. Ent�o, como poderia captur�-lo? � Ora... Aproveitando as informa��es de Berta Jorkins, � claro. Usando o meu fiel Comensal da Morte, baseado em Hogwarts, para garantir que o nome do garoto fosse inscrito no C�lice de Fogo. Usando o meu Comensal da Morte para garantir que o garoto ganhasse o torneio � que tocasse a Ta�a Tribruxo primeiro, Ta�a que o meu Comensal da Morte havia transformado em uma Chave de Portal para traz�-lo aqui, longe do socorro e prote��o de Dumbledore, at� o aconchego dos meus bra�os abertos para receb�-lo. E aqui est� ele... O garoto que voc�s todos acreditaram que tinha sido minha ru�na... Voldemort avan�ou lentamente e se virou para encarar Harry. Ergueu a varinha. � Crucio! Foi uma dor que superou qualquer coisa que Harry j� sofrera, seus pr�prios ossos pareciam estar em fogo, sua cabe�a, sem d�vida alguma, estava rachando ao longo da cicatriz, seus olhos giravam descontrolados em sua cabe�a, ele queria que tudo terminasse... Que perdesse os sentidos... Morresse... Ent�o passou. Ele ficou pendurado nas cordas que o prendiam � l�pide do pai de Voldemort, olhando aqueles brilhantes olhos vermelhos atrav�s de uma esp�cie de n�voa. A noite ressoava com o estr�pito das risadas dos Comensais da Morte. � Est�o vendo a tolice que foi voc�s suporem que este garoto algum dia pudesse ser mais forte que eu? � ponderou Voldemort. � Mas eu n�o quero que reste nenhum engano na mente de ningu�m. Harry Potter me escapou por pura sorte. E vou provar o meu poder matando-o, aqui e agora, diante de todos voc�s, onde n�o h� Dumbledore para ajud�-lo nem m�e para morrer por ele. Vou dar a Harry uma oportunidade. Ele poder� lutar, e voc�s n�o ter�o mais d�vida alguma sobre qual de n�s � mais forte. Espere mais um pouquinho Nagini � sussurrou ele, e a cobra se afastou, deslizando pelo capim, at� o local em que os Comensais da Morte estavam parados observando. � Agora, desamarre-o Rabicho, e devolva sua varinha. CAP�TULO TRINTA E QUATRO Priori Incantatem Rabicho aproximou-se de Harry, que tentou se aprumar para sustentar o corpo antes que as cordas fossem desamarradas. Rabicho ergueu a nova m�o prateada, puxou o chuma�o de pano que amorda�ava Harry e ent�o, com um �nico movimento, cortou as cordas que prendiam o garoto � l�pide. Houve talvez uma fra��o de segundo em que Harry poderia ter pensado em fugir, mas sua perna machucada estremeceu sob o peso do corpo quando ele firmou os p�s no t�mulo malcuidado, ao mesmo tempo que os Comensais da Morte cerraram fileiras, apertando o c�rculo em torno dele e de Voldemort, e os espa�os que seriam dos Comensais da Morte ausentes se fecharam. Rabicho saiu do c�rculo e foi at� onde jazia o corpo de Cedrico, e voltou trazendo a varinha de Harry, que ele enfiou com brutalidade na m�o do garoto sem sequer olh�-lo. Depois, Rabicho retomou seu lugar no c�rculo de comensais que observavam. � Voc� aprendeu a duelar, Harry Potter? � perguntou Voldemort suavemente, seus olhos vermelhos brilhando no escuro. Ao ouvir a pergunta Harry se lembrou, como se pertencesse a uma vida anterior, do Clube dos Duelos em Hogwarts que ele freq�entara brevemente h� dois anos... A �nica coisa que aprendera tinha sido o Feiti�o para Desarmar, "Expelliarmus?... e de que adiantaria isso, mesmo que ele pudesse privar Voldemort de sua varinha, quando ele estava rodeado de Comensais da Morte e em desvantagem de, no m�nimo, trinta a um? Ele jamais aprendera nada que o tivesse preparado minimamente para uma situa��o dessas. Sabia que estava enfrentando aquilo contra o qual Moody sempre o alertara... a Maldi��o Avada Kedavra, imposs�vel de bloquear � e Voldemort tinha raz�o �, desta vez a m�e de Harry n�o estava ali para morrer por ele... N�o contava com prote��o alguma... � Nos cumprimentamos com uma curvatura, Harry � disse Voldemort, se inclinando ligeiramente, mas mantendo o rosto de cobra erguido para Harry. � Vamos, as boas maneiras devem ser observadas... Dumbledore gostaria que voc� demonstrasse educa��o... Curve-se para a morte, Harry... Os Comensais da Morte deram novas gargalhadas. A boca sem l�bios de Voldemort riu. Harry n�o se curvou. N�o ia deixar o bruxo brincar com ele antes de mat�-lo... N�o ia lhe dar essa satisfa��o... � Eu disse, curve-se � repetiu Voldemort, erguendo a varinha, e Harry sentiu sua coluna se curvar como se uma m�o enorme e invis�vel o empurrasse impiedosamente para frente, e os Comensais da Morte riram com mais gosto que nunca. � Muito bem, disse Voldemort suavemente, e quando ele baixou a varinha a press�o que empurrava Harry se aliviou tamb�m. � Agora voc� me enfrenta, como homem... De costas retas e orgulhoso, do mesmo modo que seu pai morreu... Agora... Vamos ao duelo. O bruxo ergueu a varinha antes que Harry pudesse fazer alguma coisa para se defender, antes que pudesse sequer se mexer, e ele foi atingido pela Maldi��o Cruciatus. A dor foi t�o intensa, e t�o devoradora, que Harry j� nem sabia onde estava... Facas em brasa perfuravam cada cent�metro de sua pele, sua cabe�a, sem d�vida alguma, ia explodir de dor, ele gritava mais alto do que jamais gritara na vida... Ent�o tudo parou. Harry se virou e tentou ficar em p�; tremeu descontrolado, como fizera Rabicho quando decepara a pr�pria m�o, cambaleou para os lados na dire��o dos Comensais da Morte ao redor, e eles o empurraram de volta a Voldemort. � Uma pequena pausa � disse o bruxo, as narinas de cobra se dilatando de excita��o � uma pequena pausa... Isso doeu, n�o foi Harry? Voc� n�o quer que eu fa�a isso outra vez, quer? Harry n�o respondeu. Ia morrer como Cedrico, era o que aqueles olhos vermelhos e cru�is estavam lhe dizendo... Ia morrer, e n�o havia nada que pudesse fazer para evit�-lo... Mas n�o ia facilitar. N�o ia obedecer a Voldemort... N�o ia suplicar... � Perguntei se quer que eu fa�a isso outra vez � disse Voldemort gentilmente. � Responda! Imp�rio! E Harry teve, pela terceira vez em sua vida, a sensa��o de que todos os pensamentos tinham se apagado de sua mente... Ah, foi uma felicidade, n�o pensar, foi como se estivesse flutuando, sonhando... Apenas responda "n�o"!... Diga "n�o"!... Apenas responda "n�o"! �N�o direi�, falou uma voz mais forte no fundo de sua cabe�a, �n�o responderei...� Apenas responda "n�o"!.. �N�o vou responder, n�o vou dizer isso...� Apenas responda "n�o "!. � N�O VOU RESPONDER! E essas palavras explodiram da boca de Harry, ecoaram pelo cemit�rio, e o estado on�rico em que mergulhara se dissolveu repentinamente como se tivessem lhe atirado um balde de �gua fria � renovaram-se as dores que a Maldi��o Cruciatus deixara por todo o seu corpo � renovou-se a consci�ncia de onde estava, do que estava enfrentando... � N�o vai? � disse Voldemort suavemente, e agora os Comensais da Morte n�o estavam rindo. � N�o vai dizer "n�o"? Harry, a obedi�ncia � uma virtude que preciso lhe ensinar antes de voc� morrer... Talvez mais uma dosezinha de dor? Voldemort ergueu a varinha, mas desta vez Harry estava preparado, com os reflexos nascidos da pr�tica de Quadribol, ele se atirou para um lado no ch�o, rolou para tr�s da l�pide de m�rmore do pai de Voldemort e a ouviu rachar quando o feiti�o errou o alvo. � N�o estamos brincando de esconde-esconde, Harry � disse a voz suave e fria de Voldemort, aproximando-se, enquanto os Comensais da Morte riam. � Voc� n�o pode se esconder de mim. Ser� que isso significa que j� se cansou do nosso duelo? Ser� que significa que voc� prefere que eu o encerre agora, Harry? Saia da�, Harry... Saia e venha brincar, ent�o... Ser� r�pido... Talvez at� indolor... Eu n�o saberia dizer... Eu nunca morri... Harry continuou agachado atr�s da l�pide e percebeu que chegara o seu fim. N�o havia esperan�a... Nenhuma ajuda de ningu�m. Quando ouviu Voldemort chegar ainda mais perto, ele soube apenas uma coisa que transcendeu o medo e a raz�o � ele n�o ia morrer agachado ali como uma crian�a brincando de esconde-esconde; n�o ia morrer ajoelhado aos p�s de Voldemort... Ia morrer de p� como seu pai, e ia morrer tentando se defender, mesmo que n�o houvesse defesa alguma poss�vel... Antes que Voldemort pudesse meter a cara viperina atr�s da l�pide, Harry se levantou... Agarrou a varinha com for�a, empunhou-a � frente e saiu r�pido detr�s da l�pide para encarar Voldemort. O bruxo estava pronto. Quando Harry gritou "Expeliarmus!", Voldemort gritou "Avada Kedavra!� Um jorro de luz verde saiu da varinha de Voldemort na mesma hora em que um jorro de luz vermelha disparou da de Harry � e os dois se encontraram no ar � e de repente, a varinha de Harry come�ou a vibrar como se uma descarga el�trica estivesse entrando por ela, sua m�o estava presa � varinha, ele n�o teria podido solt�-la se quisesse � e um fino feixe de luz agora ligava as duas varinhas, nem vermelha nem verde, mas um dourado intenso e rico �, e Harry, acompanhando o feixe com o olhar espantado, viu que os dedos longos e brancos de Voldemort tamb�m agarravam uma varinha que sacudia e vibrava. E ent�o � nada poderia ter preparado Harry para isso � ele sentiu seus p�s se elevarem do ch�o. Ele e Voldemort estavam sendo erguidos no ar, as varinhas ainda ligadas por aquele fio de luz dourada e tremeluzente. Os dois estavam se afastando do t�mulo do pai de Voldemort e por fim pousaram num trecho de terreno limpo e sem t�mulos... Os Comensais da Morte gritavam, pedindo instru��es a Voldemort; se aproximavam e se reagrupavam em um c�rculo em volta dos dois, a cobra em seus calcanhares, alguns bruxos sacando as varinhas... O fio dourado que ligava Harry e Voldemort se fragmentou: embora as varinhas continuassem ligadas, mil outros fios brotaram e formaram um arco sobre os dois, e foram se entrecruzando a toda volta, at� encerr�-los em uma teia dourada como uma redoma, uma gaiola de luz, para al�m da qual os Comensais da Morte rondavam como chacais, seus gritos estranhamente abafados... � N�o fa�am nada! � gritou Voldemort para os Comensais da Morte, e Harry viu os olhos vermelhos do bruxo se arregalarem para o que estava acontecendo, viu-o lutar para romper o fio de luz que continuava ligando sua varinha � de Harry; o garoto apertou a varinha com mais for�a, com as duas m�os, e o fio dourado continuou inteiro. � N�o fa�am nada a n�o ser que eu mande! � gritou Voldemort para os Comensais da Morte. Ent�o um som belo e sobrenatural encheu o ar... Vinha de cada fio de luz da teia que vibrava em torno de Harry e Voldemort. Era um som que o garoto reconhecia, embora s� o tivesse ouvido uma vez na vida... A can��o da f�nix... Era o som da esperan�a para Harry... O mais belo e mais bem-vindo que ele j� ouvira na vida... O garoto teve a sensa��o de que o som estava dentro dele e n�o apenas � sua volta... Era o som que ele associava a Dumbledore, e era quase como se um amigo estivesse falando em seu ouvido... N�o rompa a liga��o. Eu sei, Harry disse � m�sica, eu sei que n�o devo... Mas mal acabara de dizer isso, e a coisa se tornou muito mais dif�cil de fazer. Sua varinha come�ou a vibrar mais violentamente do que antes... E agora o fio de luz entre ele e Voldemort mudou tamb�m... Era como se grandes contas de luz estivessem deslizando para frente e para tr�s no fio que ligava as varinhas � Harry sentiu a sua estremecer com for�a, quando as contas de luz come�aram a deslizar lenta e continuamente em sua dire��o... Agora o movimento do feixe de luz vinha de Voldemort para ele, e ele sentiu a varinha vibrar de indigna��o... Quando a conta de luz mais � frente se aproximou da ponta da varinha de Harry, a madeira em seus dedos esquentou de tal forma que o garoto receou que ela fosse romper em chamas. Quanto mais perto chegava a conta, mais violentamente a varinha de Harry vibrava, ele tinha certeza de que sua varinha n�o sobreviveria a um contato direto com a conta, ela parecia prestes a se esfacelar sob seus dedos... Harry concentrou cada part�cula de sua mente em obrigar a conta a voltar para Voldemort, seus ouvidos tomados pela can��o da f�nix, seus olhos furiosos, fixos... E lentamente, muito lentamente, as contas estremeceram e pararam, e em seguida, de forma igualmente lenta, come�aram a se deslocar para o lado oposto... E foi a varinha de Voldemort que come�ou a vibrar com muita viol�ncia... Voldemort que parecia perplexo e quase temeroso... Uma das contas de luz estremecia a cent�metros da ponta da varinha de Voldemort. Harry n�o entendia por que estava fazendo aquilo, n�o sabia o que obteria... Mas come�ou a se concentrar, como nunca fizera na vida, em for�ar aquela conta de luz a voltar � varinha de Voldemort... E lentamente... Muito lentamente... Ela foi se deslocando pelo fio dourado... Estremeceu por um momento... E ent�o fez contato... Na mesma hora, a varinha de Voldemort come�ou a emitir gritos ressonantes de dor... Depois... Os olhos vermelhos do bruxo se arregalaram de choque, uma m�o, densa e fumegante voou da ponta da varinha e desapareceu... O fantasma da m�o que ele fizera para Rabicho... Mais gritos de dor... E ent�o algo muito maior come�ou a brotar da ponta da varinha de Voldemort, algo imenso e acinzentado, algo que parecia ser feito da mais s�lida e densa fuma�a... Era uma cabe�a, depois um peito e os bra�os... O tronco de Cedrico Diggory. Se em algum momento Harry pudesse ter soltado a varinha de susto, teria sido ent�o, mas o instinto o fez continuar segurando-a com for�a, de modo que o fio de luz dourada permaneceu intacto, embora o fantasma cinzento e denso de Cedrico Diggory (seria um fantasma? Parecia t�o s�lido) emergisse em sua inteireza da ponta da varinha de Voldemort, como se estivesse se espremendo para fora de um t�nel muito estreito... E esta sombra de Cedrico ficou em p� e examinou o fio de luz dourada de uma ponta a outra e falou. � Ag�enta firme, Harry. Era uma voz distante como um eco, Harry olhou para Voldemort... Os olhos vermelhos e arregalados do bruxo ainda expressavam choque... Tal qual Harry, ele n�o esperara uma coisa daquelas... E, muito indistintamente, Harry ouviu os gritos amedrontados dos Comensais da Morte, rodeando a redoma dourada... Novos gritos de dor da varinha... Ent�o mais uma coisa surgiu em sua ponta... A sombra densa de uma segunda cabe�a, rapidamente seguida de bra�os e tronco... Um velho que Harry vira uma vez em sonho tentava agora sair da ponta da varinha do mesmo modo que Cedrico o fizera... E seu fantasma, ou sua sombra, ou o que fosse, caiu ao lado do de Cedrico, examinou Harry e Voldemort, a teia dourada e as varinhas que se tocavam, levemente surpreso, apoiando-se em uma bengala... � Ent�o ele era um bruxo de verdade? � perguntou o velho, com os olhos em Voldemort. � Me matou, esse a�... Enfrenta ele, moleque... Mas j�, outra cabe�a vinha surgindo... E esta, grisalha como uma est�tua de fuma�a, era de uma mulher... Harry os dois bra�os tr�mulos com o esfor�o para manter a varinha parada, viu a mulher cair ao ch�o e se aprumar como tinham feito os outros, examinando tudo com aten��o... A sombra de Berta Jorkins contemplou a luta diante dela de olhos arregalados. � N�o solte! � exclamou, e sua voz ecoou como a de Cedrico, como se viesse de muito longe. � N�o deixe ele pegar voc�, Harry, n�o solte a varinha! Ela e as outras duas sombras come�aram a rodear as paredes da teia dourada ao mesmo tempo que os Comensais da Morte se moviam rapidamente pelo lado de fora... E, enquanto rodeavam os duelistas, as v�timas de Voldemort sussurravam palavras de est�mulo a Harry e sibilavam outras, que Harry n�o podia ouvir, para Voldemort. Agora, outra cabe�a vinha emergindo da ponta da varinha do bruxo... e Harry soube, ao v�-la, quem seria... Ele sabia, como se esperasse isso desde o momento em que Cedrico sa�ra da varinha... Soube por que a mulher que apareceu era aquela em quem ele pensara mais do que em qualquer outra pessoa esta noite... A sombra esfuma�ada de uma mulher jovem de cabelos longos caiu no ch�o como fizera Berta, se endireitou e olhou para ele... E Harry, com os bra�os tremendo loucamente agora, retribuiu o olhar do rosto fantasmag�rico de sua m�e. � Seu pai est� vindo... � disse ela baixinho. � Ele quer ver voc�... Vai dar tudo certo... Ag�ente firme... E ele veio... Primeiro a cabe�a, depois o corpo... Alto, os cabelos rebeldes como os de Harry, a sombra esfuma�ada de Tiago Potter brotou da ponta da varinha de Voldemort, caiu ao ch�o e se levantou como havia feito sua mulher. Ele se aproximou de Harry fitando o filho, e falou na mesma voz distante e ressonante como os demais, mas em tom baixo, de modo que Voldemort, agora com o rosto l�vido de medo ao ver suas v�timas a rode�-lo, n�o pudesse ouvir... � Quando a liga��o for interrompida, permaneceremos apenas uns momentos... Mas vamos lhe dar tempo... voc� precisa chegar � Chave do Portal, ela o levar� de volta a Hogwarts... Entendeu Harry? � Entendi � ofegou Harry, lutando para manter firme a varinha, que agora come�ava a escapar e a escorregar sob seus dedos. � Harry... � sussurrou a figura de Cedrico � por favor, leva o meu corpo com voc�? Leva o meu corpo para os meus pais... � Levo � prometeu Harry, seu rosto contra�do com o esfor�o de ag�entar a varinha. � Fa�a isso agora � sussurrou seu pai. � Prepare-se para correr... Fa�a isso agora... � AGORA! � berrou Harry; de qualquer modo, ele n�o achava que pudesse continuar segurando a varinha nem mais um instante, ergueu-a no ar, com um pux�o violento, e o fio dourado se rompeu, a gaiola de luz desapareceu, a m�sica da f�nix silenciou, mas as sombras das v�timas de Voldemort n�o desapareceram, avan�aram para o bruxo, escondendo Harry do seu olhar... E Harry correu como nunca correra na vida, derrubando dois Comensais da Morte abobados ao passar, depois ziguezagueou por tr�s de l�pides, sentindo maldi��es acompanharem-no, ouvindo-as bater nas l�pides � evitou maldi��es e t�mulos, correndo em dire��o ao corpo de Cedrico, sem sequer sentir a perna doer, todo o seu ser se concentrando no que precisava fazer... � Estupore-o!� ele ouviu Voldemort gritar. A dez passos de Cedrico, Harry mergulhou atr�s de um anjo de m�rmore para evitar os jorros de luz vermelha e viu a ponta da asa do anjo desmoronar ao ser atingida pelos feiti�os. Apertando com mais for�a a varinha, ele saiu ligeiro de tr�s do anjo... � Impedimenta!� berrou ele, apontando a varinha de qualquer jeito por cima do ombro na dire��o geral dos Comensais da Morte que corriam em seu encal�o. Por um grito abafado que ouviu, ele achou que conseguira fazer parar pelo menos um, mas n�o havia tempo para se deter e olhar, ele saltou por cima da Ta�a e mergulhou ao ouvir mais explos�es sa�rem das varinhas �s suas costas, mais jorros de luz voaram por cima de sua cabe�a quando ele caiu, esticando a m�o para agarrar o bra�o de Cedrico... � Afastem-se! Eu o matarei! Ele � meu! � gritou a voz aguda de Voldemort. A m�o de Harry se fechou no pulso de Cedrico, havia uma l�pide entre ele e Voldemort, mas Cedrico era demasiado pesado para carregar, e a Ta�a estava fora do seu alcance... Os olhos vermelhos de Voldemort chispavam no escuro. Harry viu a boca do bruxo se crispar num sorriso e viu-o erguer a varinha. � Accio! � berrou Harry, apontando a pr�pria varinha para a Ta�a Tribruxo. A Ta�a voou pelo ar em sua dire��o, Harry agarrou-a pela asa... Ele ouviu o grito de f�ria de Voldemort no mesmo instante em que sentiu o solavanco no umbigo que significava que a Chave do Portal fora acionada... Ele se afastou em alta velocidade num turbilh�o de vento e cor, levando Cedrico junto... Os dois estavam voltando... CAP�TULO TRINTA E CINCO Veritaserum Harry sentiu que ca�a chapado no ch�o, seu rosto comprimiu a grama, cujo cheiro invadiu suas narinas. Ele fechara os olhos enquanto a Chave do Portal o transportava, e os mantinha fechados at� aquele momento. N�o se mexeu. Todo o ar parecia ter sido expulso dos seus pulm�es, sua cabe�a rodava tanto que ele sentia o ch�o balan�ar sob seu corpo como se fosse o conv�s de um navio. Para se firmar, apertou com mais for�a as duas coisas que continuava a segurar, a asa lisa e fria da Ta�a Tribruxo e o corpo de Cedrico. Tinha a sensa��o de que ia deslizar para a escurid�o que se formava na periferia do seu c�rebro se largasse qualquer das duas. O choque e a exaust�o o mantiveram no ch�o, inspirando o cheiro de grama, esperando... Esperando que algu�m fizesse alguma coisa... Que alguma coisa acontecesse... E, todo o tempo, sua cicatriz ardia surdamente em sua testa... Uma enxurrada de sons o ensurdeceu e confundiu, havia vozes por toda parte, passos, gritos... Ele continuou onde estava, o rosto contra�do contra o barulho, como se aquilo fosse um pesadelo que ia passar... Ent�o duas m�os o agarraram com uma certa viol�ncia e o viraram de barriga para cima. � Harry! Harry! O garoto abriu os olhos. Estava olhando para o c�u estrelado e Alvo Dumbledore se debru�ava sobre ele. As sombras escuras das pessoas que se aglomeravam ao seu redor se aproximavam, Harry sentiu o ch�o sob sua cabe�a vibrar com a aproxima��o dos seus passos. Ele voltara ao exterior do labirinto. Via as arquibancadas no alto, os vultos das pessoas que se movimentavam nelas, as estrelas no c�u. Harry largou a Ta�a, mas segurou Cedrico mais junto dele e com mais for�a. Ergueu a m�o livre e agarrou o pulso de Dumbledore, enquanto o rosto do bruxo sa�a de foco e tornava a entrar. � Ele voltou � sussurrou Harry � Ele voltou. Voldemort. � Que est� acontecendo? Que est� acontecendo? O rosto de Corn�lio Fudge apareceu invertido sobre Harry; parecia p�lido e perplexo. � Meu Deus, Diggory! � murmurou. � Dumbledore, ele est� morto! Essas palavras foram repetidas, as sombras que se comprimiam ao redor deles as exclamaram para as mais pr�ximas... Depois outras as gritaram, guincharam � para a noite "Ele est� morto!" "Ele est� morto!" "Cedrico Diggory! Morto!� � Harry, solte-o � ele ouviu Fudge dizer, e sentiu dedos que tentavam for�ar os seus a se abrirem para soltar o corpo inerte de Cedrico, mas Harry resistiu. Ent�o o rosto de Dumbledore, que continuava borrado e difuso, se aproximou. � Harry, voc� n�o pode mais ajud�-lo. Terminou. Solte-o. � Ele queria que eu o trouxesse de volta � murmurou Harry, pareceu-lhe importante explicar isso. � Ele queria que eu o trouxesse de volta para os pais... � Certo, Harry... Agora solte-o... Dumbledore se curvou e, com uma for�a extraordin�ria para um homem t�o velho e magro, ergueu Harry do ch�o e o p�s de p�. Harry oscilou. Sua cabe�a latejava com for�a. Sua perna machucada n�o queria mais sustentar o seu peso. As pessoas aglomeradas ao redor se acotovelavam, tentando chegar mais pr�ximo, empurrando sombriamente. � Que foi que houve? � Que aconteceu com ele? � Diggory est� morto! � Ele precisa ir para a ala hospitalar! � dizia Fudge em voz alta. � Ele est� mal, est� ferido, Dumbledore, os pais de Diggory est�o aqui, est�o nas arquibancadas... � Eu levo Harry, Dumbledore, eu o levo... � N�o, eu prefiro... Que deve lhe contar... Antes que ele veja...? � Dumbledore, Amos Diggory est� correndo... Est� vindo para c�. � Harry, fique aqui... Garotas gritavam, solu�avam, hist�ricas... A cena lampejava estranhamente diante dos olhos de Harry... � Est� tudo bem, filho, estou com voc�... Vamos... Ala hospitalar... � Dumbledore disse para eu ficar � disse Harry com a fala pastosa, a palpita��o na cicatriz fazendo-o sentir vontade de vomitar, sua vis�o mais borrada que nunca. � Voc� precisa se deitar... Vamos, agora... Algu�m maior e mais forte do que ele, meio que o puxou, meio que o carregou entre os espectadores assustados, Harry ouvia as pessoas exclamarem, gritarem e berrarem � medida que o homem que o segurava abria caminho por elas, levando o garoto para o castelo. Atravessaram o gramado, passaram o lago e o navio de Durmstrang, Harry n�o ouvia nada, exceto a respira��o ruidosa do homem que o ajudava a caminhar. � Que aconteceu, Harry? � perguntou o homem finalmente, erguendo-o para galgar os degraus de pedra da entrada. Toque. Toque. Toque. Era Olho-Tonto Moody. � A Ta�a era uma Chave de Portal � disse Harry ao atravessarem o sagu�o de entrada. � Nos levou para um cemit�rio... E Voldemort estava l�... Lord Voldemort... Toque. Toque. Toque. Escadaria de m�rmore acima... � O Lord das Trevas estava l�? Que aconteceu depois? � Matou Cedrico... Mataram Cedrico... � E ent�o? Toque. Toque. Toque. Pelo corredor... � Preparou uma po��o... Recuperou o corpo dele... � O Lord das Trevas recuperou o corpo? Ele voltou? � E os Comensais da Morte vieram... Depois n�s duelamos... � Voc� duelou com o Lord das Trevas? � Escapei... Minha varinha... Fez uma coisa engra�ada... Vi meu pai e minha m�e... Eles sa�ram da varinha dele... � Aqui dentro, Harry... Aqui dentro, e sente-se... Voc� vai ficar bom agora... Beba isso... Harry ouviu uma chave girar na fechadura e sentiu que empurravam um copo em suas m�os. � Beba isso... Voc� vai se sentir melhor... Vamos Harry, preciso saber exatamente o que aconteceu... Moody ajudou a virar a po��o na boca de Harry; o garoto tossiu, um gosto apimentado queimou sua garganta. A sala de Moody entrou em foco, bem como o pr�prio Moody... Ele parecia t�o p�lido quanto Fudge, e seus dois olhos estavam fixos, sem piscar, no rosto de Harry. � Voldemort voltou Harry? Voc� tem certeza de que voltou? Como foi que ele fez isso? � Ele apanhou uma coisa no t�mulo do pai dele, depois do Rabicho e de mim. � Sua cabe�a estava clareando, sua cicatriz j� n�o do�a tanto, agora conseguia ver o rosto de Moody nitidamente, embora a sala estivesse escura. Ainda se ouviam berros e gritos vindos do distante campo de Quadribol. � Que foi que o Lord das Trevas tirou de voc�? � perguntou Moody. � Sangue � respondeu Harry erguendo o bra�o. A manga estava rasgada no lugar em que o punhal de Rabicho a cortara. Moody deixou escapar um assobio longo e baixo. � E os Comensais da Morte? Voltaram? � Voltaram. Montes deles... � Como foi que ele os tratou? � perguntou Moody baixinho. � Ele lhes perdoou? Mas Harry de repente se lembrou. Devia ter contado a Dumbledore, devia ter dito logo de sa�da... � Tem um Comensal da Morte em Hogwarts! Tem um Comensal da Morte aqui, ele p�s o meu nome no C�lice de Fogo, certificou-se de que eu chegasse at� o fim... Harry tentou se levantar, mas Moody o obrigou a sentar-se outra vez. � Eu sei quem � o Comensal da Morte � disse ele em voz baixa. � Karkaroff? � disse Harry agitado. � Onde � que ele est�? O senhor o pegou? Ele est� preso? � Karkaroff? � disse Moody com uma risada estranha. � Karkaroff fugiu esta noite, quando sentiu a Marca Negra arder no bra�o. Ele traiu um n�mero grande demais de seguidores fi�is do Lord das Trevas para querer reencontr�-los... Mas duvido que chegue muito longe. O Lord das Trevas tem maneiras de seguir seus Inimigos. � Karkaroff foi embora? Fugiu? Mas ent�o... Ele n�o p�s o meu nome no C�lice de Fogo? � N�o � disse Moody lentamente. � N�o, n�o p�s. Fui eu quem p�s. Harry ouviu, mas n�o acreditou. � N�o, o senhor n�o p�s. O senhor n�o fez isso... N�o pode ter feito... � Garanto a voc� que fiz � disse Moody e seu olho m�gico deu uma volta completa e se fixou na porta, e Harry percebeu que ele estava se certificando de que n�o havia ningu�m do lado de fora. Ao mesmo tempo, Moody puxou a varinha e apontou-a para o garoto. � E ele lhes perdoou, ent�o? Os Comensais da Morte continuaram livres? Os que escaparam de Azkaban? � Qu�? � exclamou Harry. Ele olhou a varinha que Moody apontava para ele. Aquilo era uma piada de mau gosto, tinha que ser. � Eu lhe perguntei � disse Moody calmamente � se ele perdoou a ral� que jamais foi procur�-lo. Aqueles traidores covardes que sequer arriscaram ser mandados para Azkaban por ele. Os porcos desleais e imprest�veis que tiveram coragem suficiente para desfilar de m�scaras na Copa Mundial de Quadribol, mas fugiram ao ver a Marca Negra quando eu a projetei no c�u. � O senhor projetou... Do que � que o senhor est� falando...? � Eu j� lhe disse, Harry.. Eu j� lhe disse. Se tem uma coisa que eu detesto mais no mundo � um Comensal da Morte que foi absolvido. Viraram as costas ao meu amo quando ele mais precisava deles. Eu esperei que ele os castigasse. Esperei que ele os torturasse. Me diga que ele os machucou, Harry... � O rosto de Moody se iluminou de repente com um sorriso demente. � Me diga que ele disse a todos que eu, somente eu, permaneci fiel... Preparado para arriscar tudo para entregar em suas m�os o que ele mais queria... Voc�. � O senhor n�o fez... Isso, n�o pode ser o senhor... � Quem p�s o seu nome no C�lice de Fogo com o nome de uma escola diferente? Fui eu, sim. Quem afugentou cada pessoa que julguei que poderia machuc�-lo ou impedir que voc� ganhasse o torneio? Fui eu, sim. Quem encorajou Hagrid a lhe mostrar os drag�es? Fui eu, sim. Quem fez voc� ver a �nica maneira de vencer o drag�o? Fui eu, sim. O olho m�gico de Moody se desviou ent�o da porta. Fixou-se em Harry. Sua boca torta ria mais desdenhosa e abertamente que nunca. � N�o foi f�cil, Harry, orient�-lo durante aquelas tarefas sem despertar suspeitas. Tive de usar cada grama de ast�cia que possuo para n�o deixar transparecer o meu dedo no seu sucesso. Dumbledore teria ficado desconfiad�ssimo se voc� conseguisse tudo com muita facilidade. Desde que voc� entrasse no labirinto, de prefer�ncia com uma boa dianteira, ent�o, eu sabia que teria uma chance de me livrar dos outros campe�es e deixar o seu caminho desimpedido. Mas tive tamb�m de lutar contra a sua burrice. A segunda tarefa... Foi a que tive mais medo que voc� fracassasse. Eu fiquei vigiando-o, Potter. Eu sabia que voc� n�o tinha decifrado a pista do ovo, por isso tive que lhe dar mais uma sugest�o... � O senhor n�o deu � disse Harry rouco. � Cedrico me deu a pista... � Quem disse a Cedrico para abrir o ovo dentro da �gua? Fui eu. Confiei que ele passaria a informa��o a voc�. Gente decente � t�o f�cil de manipular, Potter. Eu tinha certeza de que Cedrico iria querer retribuir o favor de t�-lo informado sobre os drag�es, e foi o que ele fez. Mas, mesmo assim, Potter, parecia que voc� ia fracassar. Fiquei vigiando-o o tempo todo... Todas �quelas horas na biblioteca. � Voc� n�o percebeu que o livro de que precisava estava no seu dormit�rio o tempo todo? Eu o coloquei l� mais cedo, dei-o ao garoto Longbottom, n�o se lembra? Plantas Mediterr�neas e Suas Propriedades M�gicas. Ele teria lhe informado tudo que voc� precisava saber sobre o guelricho. Eu esperava que voc� pedisse ajuda a qualquer um e a todos. Longbottom teria lhe dito na mesma hora. Mas voc� n�o pediu... Voc� n�o pediu... Voc� tem um tra�o de orgulho e independ�ncia que poderia ter estragado tudo. � Ent�o o que � que eu podia fazer? Mandar-lhe a informa��o por interm�dio de outra fonte inocente. Voc� me contou no Baile de Inverno que um elfo dom�stico, chamado Dobby, lhe dera um presente de Natal. Eu chamei o elfo � sala dos professores para apanhar umas vestes para lavar. Encenei uma conversa em voz alta com a Professora McGonagall sobre os ref�ns que seriam usados na tarefa e se Potter pensaria em comer guelricho. E o seu amiguinho elfo correu direto para o arm�rio de Snape e foi depressa procurar voc�... A varinha de Moody continuava apontada diretamente para o cora��o de Harry. Por cima do ombro do professor, sombras indistintas se moviam no Espelho-de-Inimigos pendurado na parede. � Voc� ficou tanto tempo no lago, Potter, que eu pensei que tinha se afogado. Mas, por sorte, Dumbledore tomou a sua burrice por nobreza e lhe deu uma nota alta. Eu respirei mais uma vez aliviado. Esta noite, voc� teve uma tarefa mais f�cil no labirinto do que deveria, � claro, � disse Moody. � Isto foi porque eu estava patrulhando do lado de fora, e podia ver as sebes mais externas, e pude destruir muitos obst�culos no seu caminho. Eu estuporei Fleur Delacour quando ela passou. Lancei a Maldi��o Imperius em Krum para ele acabar com Diggory e deixar o seu caminho livre at� a Ta�a. Harry encarava Moody. N�o conseguia entender como podia ser aquilo... O amigo de Dumbledore, o famoso auror... Aquele que capturara tantos Comensais da Morte... N�o fazia sentido... Nem um pingo... As sombras no Espelho-de-Inimigos se acentuavam, se tornando mais n�tidas. Harry via, por cima do ombro de Moody, o contorno de tr�s pessoas, que se aproximavam cada vez mais. Mas o professor n�o as vigiava. Seu olho m�gico estava fixo em Harry. � O Lord das Trevas n�o conseguiu mat�-lo, Potter, e ele queria tanto! � sussurrou Moody. � Imagine a recompensa que me dar�, quando descobrir que fiz isso por ele. Entreguei-o a ele, a coisa de que ele mais precisava para se regenerar, e depois matei-o para ele. Vou receber mais honrarias do que todos os outros Comensais da Morte. Serei seu seguidor mais querido, mais chegado... Mais pr�ximo do que um filho... O olho normal de Moody estava esbugalhado, o olho m�gico fixo em Harry. A porta continuava trancada e Harry sabia que jamais pegaria a pr�pria varinha a tempo... � O Lord das Trevas e eu � disse Moody, e agora parecia completamente enlouquecido, agigantando-se sobre Harry, olhando-o com desd�m � temos muito em comum. N�s dois, por exemplo, tivemos pais que nos desapontaram muito... Muito mesmo. N�s dois sofremos a indignidade, Harry, de receber o nome desses pais. E n�s dois tivemos o prazer... O imenso prazer... De matar nossos pais para garantir a ascens�o cont�nua da Ordem das Trevas! � O senhor enlouqueceu � disse Harry, o garoto n�o conseguiu se conter � o senhor enlouqueceu! � Enlouqueci, eu? � a voz de Moody se alteou descontrolada. � Veremos! Veremos quem enlouqueceu, agora que o Lord das Trevas voltou, comigo ao seu lado! Ele voltou Harry Potter, voc� n�o o derrotou, e agora, eu derroto voc�! Moody ergueu a varinha, abriu a boca, Harry mergulhou a m�o nas vestes... � Estupefa�a! � Houve um lampejo ofuscante de luz vermelha, e, com grande fragor de madeira estilha�ada, a porta da sala de Moody rachou ao meio... Moody foi atirado de costas ao ch�o. Harry, ainda fitando o lugar em que estivera o rosto de Moody, viu Alvo Dumbledore, o Professor Snape e a Professora McGonagall mirando-o do Espelho-de-Inimigos. O garoto virou-se para os lados e viu os tr�s parados � porta, o diretor � frente, a varinha em punho. Naquele momento, Harry compreendeu totalmente, pela primeira vez, por que as pessoas diziam que Dumbledore era o �nico bruxo que Voldemort temia. A express�o no rosto dele quando olhou para a forma inconsciente de Olho-Tonto Moody era mais terr�vel do que Harry poderia jamais imaginar. N�o havia sorriso bondoso no rosto do diretor, n�o havia cintila��o nos olhos atr�s dos �culos. Havia uma f�ria gelada em cada ruga daquele rosto velho, ele irradiava uma aura de poder como se Dumbledore desprendesse um calor de brasas vivas. O diretor entrou na sala, enfiou um p� sob o corpo inconsciente de Moody e virou-o de barriga para cima, de modo que seu rosto ficasse vis�vel. Snape entrou em seguida, olhando o Espelho-de-Inimigos, no qual seu pr�prio rosto ainda era vis�vel, examinando a sala. A Professora McGonagall dirigiu-se imediatamente a Harry. � Vamos, Potter � sussurrou ela. A linha fina de seus l�bios tremia como se ela estivesse � beira das l�grimas. � Vamos... Ala hospitalar... � N�o � disse Dumbledore energicamente. � Dumbledore, ele precisa, olhe s� para ele, j� sofreu bastante esta noite... � Ele fica Minerva, porque precisa compreender � respondeu o diretor secamente. � Compreender � o primeiro passo para aceitar, e somente aceitando ele pode se recuperar. Precisa saber o que o fez passar pela prova��o desta noite e o porqu�. � Moody � disse Harry. Ele continuava num estado da mais completa descren�a. � Como pode ter sido Moody? � Este n�o � Alastor Moody � disse Dumbledore em voz baixa. � Voc� jamais conheceu Alastor Moody. O verdadeiro Moody n�o teria retirado voc� das minhas vistas depois do que aconteceu hoje � noite. No instante em que ele o levou, eu compreendi, e o segui. Dumbledore se curvou para a forma inerte de Moody e meteu a m�o nas vestes do bruxo. Tirou o frasco de bolso de Moody e uma penca de chaves numa argola. Depois se voltou para a Professora McGonagall e Snape. � Severo, por favor, v� buscar a Po��o da Verdade mais forte que voc� tiver, depois v� � cozinha e me traga aqui o elfo dom�stico chamado Winky. Minerva, por favor, des�a � casa de Hagrid, onde voc� encontrar� um enorme c�o preto sentado no canteiro de ab�boras. Leve o c�o ao meu escrit�rio, diga-lhe que irei v�-lo daqui a pouco, depois volte aqui. Se Snape ou Minerva acharam essas instru��es estranhas, eles ocultaram sua confus�o. Os dois se viraram na mesma hora e sa�ram da sala. Dumbledore aproximou-se do mal�o com as sete fechaduras, enfiou a primeira chave na fechadura e abriu-o. O mal�o continha uma profus�o de livros de feiti�os. Em seguida o diretor fechou-o, enfiou a segunda chave na segunda fechadura e tornou a abrir o mal�o. Os livros de feiti�os haviam desaparecido, desta vez o mal�o continha uma variedade de bisbilhosc�pios, algumas folhas de pergaminho e penas, e algo que lembrava uma Capa da Invisibilidade. Harry observou, espantado, Dumbledore enfiar a terceira, quarta, quinta e sexta chaves nas fechaduras e reabrir o mal�o que, a cada vez, revelava conte�dos diferentes. Por fim, enfiou a s�tima chave na fechadura, escancarou a tampa e Harry deixou escapar um grito de assombro. O garoto deparou com uma esp�cie de po�o, uma sala subterr�nea e, deitado no ch�o, bem um metro abaixo, aparentemente em sono profundo, magro e de apar�ncia faminta, encontrava-se o verdadeiro Olho-Tonto Moody. Faltava-lhe a perna de pau, e a �rbita em que deveria estar o olho m�gico parecia vazia sob a p�lpebra e lhe faltavam chuma�os de cabelos grisalhos. Harry correu os olhos arregalados e perplexos do Moody que dormia no mal�o para o Moody inconsciente ca�do no ch�o da sala. Dumbledore entrou no mal�o, desceu o corpo e caiu de leve no ch�o ao lado do Moody adormecido. Curvou-se para ele. � Estuporado, controlado pela Maldi��o Imperius, muito fraco. � disse. � Naturalmente, precisariam mant�-lo vivo. Harry me atire a capa do impostor, Alastor est� congelando. Madame Pomfrey precisara examin�-lo, mas ele n�o parece correr perigo imediato. Harry fez o que o diretor lhe pediu, Dumbledore cobriu Moody com a capa, prendeu-a em volta do corpo do bruxo e tornou a sair do mal�o. Em seguida apanhou o frasco de bolso que estava sobre a escrivaninha, tirou a tampa e virou-o. Um l�quido espesso e viscoso se espalhou pelo ch�o da sala. � Po��o Polissuco, Harry. V� a simplicidade e a genialidade da coisa. Porque Moody jamais bebe nada a n�o ser do frasco de bolso, todo mundo sabe disso. O impostor precisou, � claro, manter o verdadeiro Moody por perto para poder continuar a preparar a po��o. Est� vendo os cabelos dele... � Dumbledore olhou para o Moody no mal�o. � O impostor andou cortando-os o ano inteiro, est� vendo as falhas? Mas acho que, na excita��o de hoje � noite, o falso Moody talvez tenha esquecido de tomar a po��o com a necess�ria freq��ncia... Na hora certa... A cada hora... Veremos. Dumbledore puxou a cadeira atr�s da escrivaninha e se sentou, os olhos fixos no Moody inconsciente no ch�o. Harry tamb�m ficou olhando. Os minutos se passaram em sil�ncio... Ent�o, diante dos olhos de Harry, o rosto do homem no ch�o come�ou a mudar. As cicatrizes foram desaparecendo, a pele foi se tornando lisa, o nariz mutilado ficou inteiro e come�ou a diminuir de tamanho. A longa juba de cabelos grisalhos foi se retraindo para o couro cabeludo e se alourando. De repente, com um forte baque, a perna de pau caiu e uma perna normal apareceu em seu lugar; no momento seguinte, o olho m�gico saltou do rosto do homem e um olho verdadeiro o substituiu, o olho m�gico saiu rolando pelo ch�o e continuou a girar em todas as dire��es. Harry viu ca�do � sua frente um homem de pele muito clara, ligeiramente sardento, com cabelos bastos e louros. O garoto sabia quem era. Vira-o na Penseira de Dumbledore, assistira a ele ser retirado do tribunal pelos dementadores, tentando convencer o Sr. Crouch de que era inocente... Mas agora tinha rugas em torno dos olhos, e parecia bem mais velho... Ouviram-se passos apressados no corredor. Snape retornava com Winky em seus calcanhares. A Professora McGonagall vinha logo atr�s. � Crouch! � exclamou Snape, parando de chofre � porta. � Bart� Crouch! � Nossa! � exclamou a Professora McGonagall, parando de chofre ao ver o homem no ch�o. Imunda, descabelada, Winky espiou por entre as pernas de Snape. Ela abriu uma boca enorme e deixou escapar um grito esgani�ado. � Menino Bart�, menino Bart�, que � que o senhor est� fazendo aqui? Ela se atirou ao peito do rapaz. � Voc�s mataram ele! Voc�s mataram ele! Voc�s mataram o filho do meu amo! � Ele est� apenas estuporado, Winky � disse Dumbledore. � Afaste-se, por favor. Severo, trouxe a po��o? Snape entregou a Dumbledore um pequeno frasco com um l�quido muito transparente, o Veritaserum que o professor amea�ara fazer Harry beber na sala dele. Dumbledore se levantou, se debru�ou sobre o homem e o aprumou contra a parede sob o Espelho-de-Inimigos, no qual as imagens de Dumbledore, Snape e McGonagall continuavam a observar tudo. Winky permaneceu de joelhos, tremendo, as m�os cobrindo o rosto. Dumbledore abriu a boca do homem � for�a e despejou nela tr�s gotas da po��o. Depois, apontou a varinha para o peito do homem e disse: � Enervate! O filho de Crouch abriu os olhos. Seu rosto estava fl�cido, seu olhar desfocado. Dumbledore se ajoelhou diante dele, de modo que seus rostos ficassem no mesmo plano. � Voc� est� me ouvindo? � perguntou o diretor em voz baixa. Os olhos do homem piscaram. � Estou � murmurou. � Gostaria que nos dissesse � pediu Dumbledore � como veio parar aqui. Como fugiu de Azkaban? Crouch inspirou profundamente, estremecendo, e em seguida come�ou a falar numa voz sem inflex�es nem emo��o. � Minha m�e me salvou. Ela sabia que estava morrendo. Convenceu meu pai a me tirar de l� como um �ltimo favor. Ele a amava como nunca me amara. E concordou. Os dois foram me visitar. Me deram uma dose da Po��o Polissuco, contendo um fio de cabelo de minha m�e. Ela tomou uma dose da po��o, contendo um fio de cabelo meu. Assumimos a forma um do outro. Winky balan�ava a cabe�a, tremendo. � N�o diga mais nada Menino Bart�, n�o diga mais nada, voc� est� metendo seu pai em confus�o! Mas Crouch inspirou mais uma vez profundamente e continuou com a mesma voz sem emo��o. � Os dementadores s�o cegos. Eles perceberam uma pessoa saud�vel e uma pessoa doente entrando em Azkaban. Depois, perceberam uma pessoa saud�vel e uma pessoa doente deixando a pris�o. Meu pai me contrabandeou para fora, disfar�ado de minha m�e, para o caso de algum prisioneiro estar observando da cela. � Minha m�e morreu pouco depois em Azkaban. Teve o cuidado de beber a Po��o Polissuco at� o fim. Foi enterrada com o meu nome e a minha apar�ncia. Todos acreditaram que ela era eu. As p�lpebras do homem piscaram. � E o que foi que seu pai fez com voc�, quando chegaram em casa? � perguntou Dumbledore. � Encenou a morte de minha m�e. Um enterro discreto e �ntimo. Aquele t�mulo est� vazio. O elfo dom�stico cuidou de mim at� eu ficar bom. Depois tive que ser escondido. Tive que ser controlado. Meu pai teve que usar v�rios feiti�os para me dominar. Quando recuperei a sa�de, s� pensei em encontrar o meu amo... Em voltar para o seu servi�o. � Como foi que seu pai o dominou? � perguntou Dumbledore. � A Maldi��o Imperius. Fiquei sob o dom�nio do meu pai. Fui for�ado a usar uma Capa da Invisibilidade dia e noite. Sempre em companhia do elfo dom�stico. Era ela quem me cuidava e guardava. Tinha pena de mim. Convenceu meu pai a me dar regalias ocasionais. Pr�mios pelo meu bom comportamento. � Menino Bart�, Menino Bart� � solu�ou Winky entre os dedos. � Voc� n�o devia contar a eles, est� nos metendo em apuros... � Algu�m descobriu que voc� continuava vivo? � perguntou Dumbledore brandamente. � Algu�m sabia disso, al�m do seu pai e do elfo dom�stico? � Sabia. � Suas p�lpebras tornaram a piscar. � Uma bruxa do escrit�rio do meu pai, Berta Jorkins. Ela veio um dia em casa trazer pap�is para o meu pai assinar. Ele n�o estava. Winky mandou-a entrar e voltou para a cozinha, para mim. Mas Berta Jorkins ouviu o elfo conversando comigo. Foi investigar. Ouviu o suficiente para adivinhar que eu estava escondido sob uma Capa da Invisibilidade. Meu pai chegou em casa. Ela o confrontou. Ele lan�ou nela um Feiti�o da Mem�ria fort�ssimo para faz�-la esquecer o que descobrira. Forte demais. Ele disse que danificou permanentemente a mem�ria dela. � Por que ela foi bisbilhotar os neg�cios particulares do meu amo? � solu�ou Winky. � Por que n�o deixou a gente em paz? � Fale-me sobre a Copa Mundial de Quadribol � ordenou Dumbledore. � Winky convenceu meu pai � disse Crouch, ainda com a mesma voz mon�tona. � Passou meses persuadindo-o. Eu n�o sa�a de casa havia anos. Eu adorava Quadribol. "Deixe o rapaz ir", dizia ela. "Ele vai usar a Capa da Invisibilidade." "Ele pode assistir. Deixe ele tomar um pouco de ar fresco uma vez.� Ela disse que minha m�e teria gostado disso. Disse ao meu pai que minha m�e morrera para me devolver a liberdade. N�o me salvara para viver preso. No fim ele concordou. � Foi tudo cuidadosamente planejado. Meu pai subiu comigo e Winky ao camarote de honra mais cedo no dia do jogo. Winky devia dizer que estava guardando o lugar para o meu pai. Eu devia ficar sentado ali, invis�vel. Quando todos tivessem deixado o camarote, n�s sair�amos. Winky iria parecer que estava sozinha. Ningu�m jamais saberia. � Mas Winky n�o sabia que eu estava bem mais forte. Estava come�ando a resistir � Maldi��o Imperius lan�ada por meu pai. Havia horas em que eu quase voltava a ser eu mesmo. Havia breves lapsos em que eu parecia me libertar do controle dele. Isto aconteceu l�, no camarote de honra. Foi como se eu estivesse saindo de um longo sono. Eu me vi em p�blico, no meio de um jogo, e vi uma varinha saindo do bolso de um garoto na minha frente. Eu n�o tinha licen�a de usar uma varinha desde antes de Azkaban. Eu a roubei. Winky n�o viu. Ela tem medo de alturas. Ficou com o rosto tampado. � Menino Bart�, que menino danado! � sussurrou Winky, as l�grimas escorrendo entre seus dedos. � Ent�o voc� se apoderou da varinha � disse Dumbledore � e o que foi que fez com ela? � Voltamos � barraca. Ent�o ouvimos os gritos. Ouvimos os Comensais da Morte. Os que nunca tinham ido para Azkaban. Os que nunca tinham sofrido pelo meu amo. Os que tinham lhe virado as costas. N�o estavam presos como eu. Estavam livres para ir procur�-lo, mas n�o fizeram isso. Estavam simplesmente se divertindo com os trouxas. As vozes deles me acordaram. Minha mente estava mais clara do que estivera em anos. Senti raiva. Tinha a varinha. Queria atac�-los pela deslealdade que fizeram ao meu amo. Meu pai sa�ra da barraca, tinha ido libertar os trouxas. Winky teve medo quando me viu t�o furioso. Usou seu pr�prio tipo de m�gica para me prender a ela. Me tirou da barraca, me levou para a floresta, para longe dos Comensais da Morte. Eu tentei impedi-la. Queria voltar para o acampamento. Queria mostrar �queles Comensais da Morte o que significava lealdade ao Lord das Trevas, e puni-los por n�o a terem. Usei a varinha roubada para projetar a Marca Negra no c�u. Os bruxos do Minist�rio chegaram. Lan�aram Feiti�os Estuporantes para todo lado. Um dos feiti�os atravessou as �rvores at� onde eu e Winky est�vamos. O v�nculo que nos unia se partiu. N�s dois ca�mos estuporados. � Quando descobriram Winky, meu pai entendeu que eu devia estar por perto. Me procurou no mato em que ela fora encontrada e me descobriu ca�do no ch�o. Ele esperou at� os outros funcion�rios do Minist�rio deixarem a floresta. Tornou a me sujeitar com a Maldi��o Imperius, e me levou para casa. Despediu Winky. Tra�ra a confian�a dele. Me deixara arranjar uma varinha. Quase me deixara fugir. Winky deixou escapar um grito de desespero. � Agora havia apenas meu pai e eu, sozinhos em casa. E, ent�o... � a cabe�a de Crouch girou molemente e um sorriso demente se espalhou por seu rosto. � Meu amo veio me buscar. Apareceu l� em casa tarde da noite, nos bra�os do servo dele, Rabicho. Meu amo descobrira que eu continuava vivo. Tinha capturado Berta Jorkins na Alb�nia. Torturou-a. Ela lhe contou muita coisa. Contou sobre o Torneio Tribruxo. Contou que o antigo auror Moody ia ensinar em Hogwarts. Ele a torturou at� conseguir romper o Feiti�o da Mem�ria que meu pai lan�ara nela. Berta contou que eu fugira de Azkaban. Contou que meu pai me mantinha prisioneiro para me impedir de procurar meu amo. Ent�o meu amo soube que eu continuava a ser um servo fiel, talvez o mais fiel de todos. Meu amo concebeu um plano baseado nas informa��es que Berta lhe dera. Precisava de mim. Chegou em nossa casa por volta da meia-noite. Meu pai atendeu a porta. O sorriso no rosto de Crouch se alargou, como se ele recordasse o momento mais doce de sua vida. Os olhos castanhos e vidrados de Winky eram vis�veis entre seus dedos. Ela parecia assombrada demais para falar. � Foi muito r�pido. Meu amo colocou meu pai sob a Maldi��o Imperius. Agora meu pai era o prisioneiro, o controlado. Meu amo o for�ou a continuar a vida como sempre, a agir como se n�o houvesse nada errado. E eu fui libertado. Acordei. Voltei a ser eu mesmo, vivo, como n�o me sentia havia anos. � E o que foi que Lord Voldemort lhe pediu para fazer? � perguntou Dumbledore. � Ele me perguntou se eu estava disposto a arriscar tudo por ele. Eu estava. Era o meu sonho, minha maior ambi��o, servi-lo, me p�r � prova. Ele me disse que precisava colocar um servo fiel em Hogwarts. Um servo que orientasse Harry Potter durante o Torneio Tribruxo sem parecer que estava fazendo isso. Um servo que vigiasse Harry Potter. Que garantisse que o garoto chegasse � Ta�a Tribruxo. Que transformasse a Ta�a em uma Chave de Portal, que levasse a primeira pessoa a toc�-la ao meu amo. Mas primeiro... � Voc� precisava de Alastor Moody � disse Dumbledore. Seus olhos azuis faiscando, embora sua voz permanecesse calma. � Rabicho e eu fizemos isso. Preparamos antes uma Po��o Polissuco. Viajamos at� a casa do auror. Moody resistiu. Houve uma grande confus�o. Conseguimos domin�-lo a tempo. N�s o enfiamos � for�a no mal�o m�gico. Tiramos alguns fios de cabelo e acrescentamos � po��o. Eu a bebi e me transformei no duplo de Moody. Apanhei sua perna e seu olho. Estava pronto para enfrentar Arthur Weasley quando ele viesse resolver o caso com os trouxas que ouviram o estardalha�o. Espalhei as latas de lixo pelo quintal. Contei a Arthur Weasley que tinha ouvido intrusos em volta da casa, e que pusera as latas de lixo em movimento. Ent�o reuni as roupas e os detectores das trevas de Moody, guardei tudo no mal�o e parti para Hogwarts. � Conservei-o vivo, dominado pela Maldi��o Imperius. Queria poder interrog�-lo. Descobrir o passado dele, aprender seus h�bitos, de modo a enganar Dumbledore. Precisava tamb�m do cabelo dele para a Po��o Polissuco. Os outros ingredientes foram f�ceis de encontrar. Roubei pele de araramb�ia das masmorras. Quando o Professor de Po��es me encontrou na sala dele, eu disse que tinha ordens para revist�-la. � E o que aconteceu com Rabicho depois que voc�s atacaram Moody? � Rabicho voltou para cuidar do meu amo, l� em casa, e para vigiar meu pai. � Mas o seu pai fugiu � disse Dumbledore. � Fugiu. Depois de algum tempo ele come�ou a resistir � Maldi��o Imperius, exatamente como eu tinha feito. Havia per�odos em que ele sabia o que estava acontecendo. Meu amo achou que n�o era mais seguro o meu pai sair de casa. For�ou-o, ent�o, a mandar cartas para o Minist�rio. Fez meu pai escrever dizendo que estava doente. Mas Rabicho n�o cumpriu seus deveres direito. N�o o vigiou o bastante. Meu pai fugiu. Meu amo adivinhou que ele estaria vindo para Hogwarts. Ia admitir que me contrabandeara para fora de Azkaban. � Meu amo mandou me avisar da fuga do meu pai. Mandou que eu o detivesse a qualquer custo. Ent�o esperei e fiquei vigiando. Usei o mapa que pedira emprestado a Harry Potter. O mapa que quase pusera tudo a perder. � Mapa? � perguntou Dumbledore imediatamente. � Que mapa � esse? � O mapa que Potter tem de Hogwarts. Potter me viu nele. Potter me viu roubando ingredientes para a Po��o Polissuco da sala de Snape certa noite. Achou que eu era meu pai porque temos o mesmo nome. Apanhei o mapa de Potter naquela mesma noite. Disse a ele que meu pai odiava bruxos das trevas. Potter acreditou que eu estava atr�s de Snape. � Durante uma semana esperei meu pai aparecer em Hogwarts. Finalmente, uma noite, o mapa me indicou que ele estava entrando na propriedade. Vesti a minha Capa da Invisibilidade e desci ao encontro dele. Ele estava andando pela orla da Floresta. Ent�o chegaram Potter e Krum. Esperei. N�o podia machucar Potter, meu amo precisava dele. Potter foi correndo buscar Dumbledore. Eu estuporei Krum. Matei meu pai. � N���o!� gritou Winky. � Menino Bart�, menino Bart�, o que � que voc� est� dizendo? � Voc� matou seu pai � repetiu Dumbledore, no mesmo tom brando. � Que foi que voc� fez com o corpo? � Levei-o para a Floresta. Cobri-o com a Capa da Invisibilidade. Tinha o mapa comigo. Acompanhei Potter entrar correndo no castelo. Ele encontrou Snape. Dumbledore se juntou aos dois. Acompanhei Potter deixar o castelo com Dumbledore. Sa� da Floresta, dei a volta por tr�s deles e fui reencontr�-los. Disse a Dumbledore que Snape me informara aonde vir. � Dumbledore me mandou ir procurar meu pai. Voltei para onde deixara o corpo dele. Fiquei observando o mapa. Quando todos tinham ido embora, transformei o corpo do meu pai. Transformei-o em osso... E, sempre vestindo a Capa da Invisibilidade, eu o enterrei na terra fofa diante da cabana de Hagrid.� Fez-se um sil�ncio profundo, exceto pelos solu�os cont�nuos de Winky. Ent�o Dumbledore falou: � E hoje � noite... � Eu me ofereci para levar a Ta�a Tribruxo para o labirinto antes do jantar � sussurrou Bart� Crouch. � Transformei-a em uma Chave de Portal. O plano do meu amo deu resultado. Ele voltou ao poder e eu vou receber honrarias que ultrapassam os sonhos de qualquer bruxo. O sorriso demente iluminou mais uma vez suas fei��es e sua cabe�a pendeu para o ombro, enquanto Winky continuava a se lamentar e a solu�ar ao seu lado. CAP�TULO TRINTA E SEIS Os Caminhos se Separam Dumbledore ficou em p�. Contemplou Bart� Crouch por um momento com uma express�o de desgosto. Ent�o ergueu sua varinha mais uma vez e dela voaram cordas, cordas que se prenderam em torno do bruxo, amarrando-o apertado. Ele se dirigiu, ent�o, � Professora McGonagall. � Minerva, posso pedir a voc� que fique de guarda aqui enquanto levo Harry para cima? � Naturalmente. � Ela parecia ligeiramente nauseada, como se tivesse acabado de ver algu�m vomitar. Contudo, quando puxou a varinha e a apontou para Bart� Crouch, sua m�o estava bem firme. � Severo � virou-se Dumbledore para Snape � por favor, pe�a a madame Pomfrey para vir at� aqui. Precisamos levar Alastor Moody para a ala hospitalar. Depois des�a aos jardins, procure Corn�lio Fudge e traga-o para esta sala. Com certeza ele vai querer interrogar Crouch pessoalmente. Diga-lhe que estarei na ala hospitalar dentro de meia hora, caso precise de mim. Snape concordou silenciosamente com um aceno de cabe�a e saiu da sala. � Harry? � chamou Dumbledore gentilmente. Harry se levantou e cambaleou; a dor na perna, que ele mal sentira todo o tempo em que estivera ouvindo Crouch, agora voltava com for�a total. O garoto tamb�m percebeu que estava tremendo. Dumbledore segurou-o pelo bra�o e ajudou-o a sair para o corredor escuro. � Quero que venha primeiro ao meu escrit�rio, Harry � disse ele baixinho, enquanto seguiam pelo corredor. � Sirius est� nos esperando l�. Harry concordou com a cabe�a. Uma sensa��o de dorm�ncia e de total irrealidade se apoderara dele, mas o garoto n�o ligou, ficou at� feliz com isso. N�o queria ter que pensar em nada que acontecera desde que pusera a m�o, pela primeira vez, na Ta�a Tribruxo. N�o queria ter que examinar as lembran�as, frescas e n�tidas como fotografias, que n�o paravam de lampejar em sua mente. Olho-Tonto Moody dentro do mal�o, Rabicho ca�do no ch�o, aninhando o toco do bra�o. Voldemort ressurgindo do caldeir�o fumegante. Cedrico... Morto... Cedrico pedindo para ele levar seu corpo para os pais... � Professor � murmurou Harry � onde est�o o Sr. e a Sra. Diggory? � Est�o com a Professora Sprout. � A voz de Dumbledore que estivera t�o calma durante o interrogat�rio de Bart� Crouch tremeu levemente pela primeira vez. � Ela � a diretora da Casa de Cedrico e o conhecia melhor. Tinham chegado � g�rgula de pedra. Dumbledore disse a senha, ela saltou para o lado, e o diretor e Harry subiram a escada rolante circular at� a porta de carvalho. Dumbledore abriu-a. Sirius estava parado ali. Seu rosto branco e ossudo como estivera quando fugira de Azkaban. Num �timo, ele atravessou a sala. � Harry, voc� est� bem? Eu sabia... Eu sabia que uma coisa assim... Que aconteceu? As m�os dele tremiam ao ajudar Harry a se sentar em uma cadeira diante da escrivaninha. � Que aconteceu? � perguntou mais pressuroso. Dumbledore come�ou a contar a Sirius tudo que Bart� Crouch dissera. Harry ouvia apenas com metade de sua aten��o. T�o cansado que cada osso do seu corpo do�a, ele s� tinha vontade de ficar sentado ali, sossegado, durante horas e horas, at� adormecer e n�o precisar mais pensar nem sentir nada. Ouviu-se um leve rumorejo de asas. Fawkes, a f�nix, deixara o poleiro, voara pela sala e pousara no joelho de Harry. � Al�, Fawkes � disse o garoto de mansinho. E alisou a bela plumagem vermelha e dourada da ave. Fawkes piscou sem medo para ele. Havia um certo consolo em seu peso morno. Dumbledore parara de falar. Sentou-se diante de Harry, � escrivaninha. Encarou o menino, que procurou evitar os seus olhos. Dumbledore ia interrog�-lo. Ia fazer Harry desabafar tudo. � Preciso saber o que foi que aconteceu depois que voc� tocou a Chave de Portal no labirinto, Harry � disse o diretor. � Podemos esperar at� de manh� para isso, n�o Dumbledore? � disse Sirius com aspereza. Ele pousou a m�o no ombro de Harry. � Deixe o garoto dormir. Deixe-o descansar. Harry sentiu um assomo de gratid�o com rela��o ao padrinho, mas Dumbledore n�o deu aten��o �s palavras de Sirius. Curvou-se para Harry. De m� vontade, o garoto ergueu a cabe�a e encarou aqueles olhos azuis. � Se eu achasse que poderia ajud�-lo � disse Dumbledore brandamente � mergulhar voc� em um sono encantado e permitir que adiasse o momento em que ter� de pensar no que aconteceu esta noite, eu faria isso. Mas sei que n�o posso. Amortecer a dor por algum tempo apenas a tornar� pior quando voc� finalmente a sentir. Voc� demonstrou uma coragem acima da que eu poderia ter esperado. Estou pedindo que a demonstre mais uma vez. Estou pedindo que nos conte o que aconteceu. A f�nix deixou escapar uma nota branda e tr�mula. A nota estremeceu no ar, e Harry sentiu como se uma gota de l�quido morno tivesse descido por sua garganta at� o est�mago, aquecendo-o e lhe dando for�as. Ele inspirou profundamente e come�ou a contar. Enquanto falava, vis�es de tudo que se passara �quela noite pareciam desfilar diante de seus olhos, ele viu a superf�cie borbulhante da po��o que revivera Voldemort, viu os Comensais da Morte aparatando entre os t�mulos em volta deles, viu o corpo de Cedrico, ca�do no ch�o ao lado da Ta�a. Uma ou duas vezes, Sirius emitiu um som como se fosse falar alguma coisa, sua m�o ainda apertando o ombro do afilhado, mas Dumbledore ergueu a m�o para faz�-lo calar, e Harry se sentiu grato por isso, porque era mais f�cil continuar agora que j� come�ara. Era at� um al�vio, o garoto teve a sensa��o de que alguma coisa venenosa estava sendo extra�da dele, custava-lhe toda a determina��o que possu�a continuar falando, contudo, ele percebia que uma vez que tivesse terminado, iria se sentir melhor. Quando Harry contou que Rabicho espetara seu bra�o com o punhal, por�m, Sirius deixou escapar uma exclama��o veemente e Dumbledore se levantou t�o depressa que Harry se assustou. O diretor deu a volta � escrivaninha e pediu a Harry que esticasse o bra�o. O garoto mostrou aos dois o lugar em que suas vestes estavam rasgadas e o corte sob as mesmas. � Ele falou que o meu sangue o tornaria mais forte do que se usasse o de outro � disse Harry a Dumbledore. � Falou que a prote��o que minha... Minha m�e tinha deixado em mim, seria dele, tamb�m. E estava certo, ele p�de me tocar sem se machucar, ele tocou o meu rosto. Por um instante fugaz, Harry viu um brilho que lembrava triunfo nos olhos do diretor. Mas no segundo seguinte teve certeza de que imaginara, porque quando Dumbledore voltou � cadeira atr�s da escrivaninha, pareceu velho e cansado como Harry jamais o vira. � Muito bem � disse ao se sentar. � Voldemort superou esta barreira. Continue, Harry, por favor. Harry prosseguiu, explicou como Voldemort emergira do caldeir�o, e repetiu para eles tudo que conseguiu se lembrar do discurso do lorde aos Comensais da Morte. Ent�o contou como Voldemort o desamarrara, devolvera sua varinha e se preparara para duelar. Mas quando chegou � parte do raio de luz dourada que ligara sua varinha � de Voldemort, ele descobriu que estava com a garganta embargada. Harry tentou continuar falando, mas as lembran�as do que sa�ra da varinha do bruxo inundavam sua mente. Reviu Cedrico saindo, o velho, Berta Jorkins... Sua m�e... Seu pai... Ele ficou feliz quando Sirius rompeu o sil�ncio. � As varinhas se ligaram? � perguntou ele, olhando de Harry para Dumbledore. � Por qu�? Harry tornou a erguer os olhos para Dumbledore, em cujo rosto havia uma express�o tensa. � Prioni Incantatem � murmurou. Seus olhos fitaram os de Harry e foi quase como se um raio invis�vel de compreens�o passasse entre os dois. � A revers�o do feiti�o? � perguntou Sirius alerta. � Exatamente � disse Dumbledore. � A varinha de Harry e a de Voldemort t�m o mesmo cerne. Cada uma cont�m uma pena da cauda da mesma f�nix. Com efeito, desta f�nix � acrescentou ele, apontando para a ave vermelha e dourada, empoleirada tranq�ilamente no joelho de Harry. � A pena da minha varinha veio de Fawkes? � perguntou Harry, admirado. � Veio � disse Dumbledore. � O Sr. Olivaras me escreveu dizendo que voc� comprara a segunda varinha, no instante em que voc� saiu da loja dele, h� quatro anos. � Ent�o o que acontece quando uma varinha encontra sua irm�? � perguntou Sirius. � Elas n�o funcionam bem uma contra a outra. Se, no entanto, o dono de uma das varinhas for�ar uma luta entre as varinhas... Produzir� um efeito muito raro. Uma das varinhas for�ar� a outra a regurgitar os feiti�os que realizou, na ordem inversa. O mais recente primeiro... Depois os que o antecederam... O diretor olhou interrogativamente para Harry e o garoto confirmou com a cabe�a. � O que significa � disse Dumbledore lentamente, seus olhos no rosto de Harry � que alguma forma de Cedrico deve ter reaparecido. Harry tornou a confirmar. � Diggory voltou � vida? � perguntou Sirius abruptamente. � Nenhum feiti�o pode ressuscitar os mortos � disse Dumbledore em tom sentencioso. � S� o que pode ocorrer � uma esp�cie de eco inverso. Uma sombra do Cedrico vivente teria emergido da varinha... Estou certo, Harry? � Ele falou comigo � disse Harry. De repente o garoto voltou a tremer. � O... O fantasma de Cedrico, ou o que seja, falou. � Um eco � disse Dumbledore � que reteve a apar�ncia e o car�ter de Cedrico. Imagino que outras formas semelhantes tenham aparecido... V�timas menos recentes da varinha de Voldemort... � Um velho � respondeu Harry, com um aperto na garganta. � Berta Jorkins. E... � Seus pais? � perguntou Dumbledore calmamente. -Foi. A m�o de Sirius no ombro de Harry agora o apertava com tanta for�a que chegava a doer. � As �ltimas mortes executadas pela varinha � confirmou Dumbledore com um aceno de cabe�a. � Na ordem inversa. Mais teriam aparecido, � claro, se voc�s continuassem a manter a liga��o. Muito bem, Harry, esses ecos, essas sombras... Que foi que elas fizeram? O garoto descreveu como as figuras que haviam sa�do da varinha tinham ficado rondando o interior da teia dourada, como Voldemort pareceu tem�-las, como a sombra do pai de Harry lhe disse o que fazer, como a de Cedrico fizera um �ltimo pedido. Neste ponto, Harry descobriu que n�o conseguiria continuar. Olhou para Sirius e viu que o padrinho segurava o rosto nas m�os. Harry de repente tomou consci�ncia de que Fawkes deixara seu joelho. A ave voara para o ch�o. E descansou a bela cabe�a na perna machucada do menino, grossas l�grimas peroladas ca�ram dos seus olhos sobre a ferida feita pela aranha. A dor desapareceu. A pele se recomp�s. A perna ficou boa. � Vou repetir mais uma vez � disse Dumbledore, quando a f�nix levantou v�o e tornou a se acomodar em seu poleiro junto � porta. � Esta noite voc� revelou uma bravura que ultrapassou o que eu teria esperado de voc�, Harry. Revelou uma bravura igual � daqueles que morreram combatendo Voldemort no auge do seu poder. Voc� carregou o fardo de um bruxo adulto e esteve � altura dele, e voc� agora nos deu tudo o que temos direito a esperar. Voc� vai me acompanhar � ala hospitalar. N�o quero que volte para o dormit�rio esta noite. Uma Po��o do Sono e algum sossego... � Sirius, voc� gostaria de ficar com ele? Sirius confirmou com a cabe�a e se levantou. Tornou a se transformar no enorme cachorro preto e saiu com Harry e Dumbledore do escrit�rio, acompanhando-os por um lance de escadas at� a ala hospitalar. Quando o diretor empurrou a porta, Harry viu a Sra. Weasley, Gui, Rony e Hermione reunidos em torno de uma atarantada Madame Pomfrey. Pareciam estar exigindo saber onde estava Harry e o que lhe acontecera. Todos se viraram rapidamente quando Harry, Dumbledore e o cachorro preto entraram, e a Sra. Weasley deixou escapar um grito abafado: � Harry! Ah, Harry! Ela fez men��o de correr para o garoto, mas Dumbledore se colocou entre os dois. � Molly � disse ele, erguendo a m�o �, por favor, ou�a-me um momento. Harry passou uma prova��o terr�vel esta noite. Acabou de desabaf�-la comigo. Do que ele precisa agora � de sono, paz e sil�ncio. Se ele quiser que voc�s todos fiquem com ele � acrescentou o diretor, abrangendo com o olhar Rony, Hermione e Gui �, voc�s podem ficar. Mas n�o quero que lhe fa�am perguntas at� que ele esteja pronto para respond�-las e, certamente, n�o ser� hoje � noite. A Sra. Weasley concordou com a cabe�a. Estava muito p�lida. Ela se virou para Rony, Hermione e Gui, como se eles estivessem fazendo barulho, e sibilou: � Voc�s ouviram? Ele precisa de sil�ncio! � Diretor � disse Madame Pomfrey, encarando o cachorro preto que era Sirius �, posso perguntar o que... � Este cachorro vai ficar com Harry por algum tempo � disse Dumbledore com simplicidade. � Posso lhe assegurar que ele � muit�ssimo bem treinado. Harry vou esperar at� voc� se deitar. Harry sentiu uma inexprim�vel gratid�o a Dumbledore por pedir aos outros que n�o lhe fizessem perguntas. N�o � que n�o os quisesse ali, mas a id�ia de explicar tudo mais uma vez, de reviver tudo mais uma vez, era mais do que ele poderia suportar. � Voltarei para v�-lo assim que estiver com Fudge, Harry � disse Dumbledore. � Gostaria que voc� ficasse aqui amanh� tamb�m, at� eu me dirigir � escola. � E saiu. Quando Madame Pomfrey levou Harry a uma cama pr�xima, ele avistou o verdadeiro Moody deitado im�vel em uma cama no fundo da enfermaria. Sua perna de pau e o olho m�gico estavam pousados na mesa-de-cabeceira. � Ele est� bem? � perguntou Harry. � Ele vai ficar bom � respondeu Madame Pomfrey, entregando ao garoto um pijama e colocando os biombos � sua volta. Ele despiu as vestes, p�s o pijama e entrou na cama. Rony, Hermione, Gui, a Sra. Weasley e o cachorro preto contornaram o biombo e se sentaram em cadeiras dos lados da cama. Rony e Hermione espiaram o amigo quase cautelosamente, como se sentissem medo dele. � Eu estou bem � disse Harry a eles. � S� cansado. Os olhos da Sra. Weasley se encheram de l�grimas quando alisou as cobertas da cama sem a menor necessidade. Madame Pomfrey, que acabara de sair apressada de sua sala, voltou segurando uma ta�a e um frasquinho contendo uma po��o p�rpura. � Voc� vai precisar beber tudo isso, Harry. � uma po��o para dormir sem sonhar. O garoto tomou o c�lice e bebeu alguns goles. Sentiu-se sonolento na mesma hora. Tudo ao seu redor ficou enevoado, as luzes na enfermaria pareceram piscar para ele de um jeito simp�tico atrav�s do biombo que circundava sua cama; ele teve a sensa��o de que seu corpo afundava cada vez mais no calor do edredom de penas. Antes que pudesse terminar a po��o, antes que pudesse dizer mais alguma coisa, sua exaust�o o adormeceu. Harry acordou, t�o quentinho, t�o sonolento, que nem abriu os olhos, sentindo vontade de adormecer outra vez. A enfermaria continuava fracamente iluminada, acreditava que ainda era noite e tinha a impress�o de que n�o poderia ter dormido muito tempo. Ent�o ouviu cochichos � sua volta. � V�o acord�-lo se n�o calarem a boca! � Por que � que est�o gritando? N�o pode ter acontecido mais nada ou pode? Harry abriu os olhos borrados. Algu�m tirara seus �culos. Viu os contornos difusos da Sra. Weasley e de Gui ali perto. A bruxa estava em p�. � � a voz de Fudge � sussurrou ela. � E a outra � da Minerva McGonagall, n�o �? Mas por que est�o discutindo? Agora Harry os ouvia tamb�m, gente gritando e correndo em dire��o � ala hospitalar. � Lament�vel, mas mesmo assim, Minerva... � dizia o ministro em voz alta. � O senhor nunca deveria t�-lo trazido para o interior do castelo! � berrou a professora. � Quando Dumbledore descobrir... Harry ouviu as portas da enfermaria se escancararem. Sem as pessoas ao redor de sua cama notarem, pois fixaram o olhar na porta quando Gui afastou os biombos, Harry se sentou e tornou a colocar os �culos. Fudge entrou em grandes passadas pela enfermaria. Os Professores McGonagall e Snape vinham em seus calcanhares. � Onde est� Dumbledore? � Fudge interpelou a Sra. Weasley. � N�o est� aqui � disse a senhora zangada. � Isto � uma enfermaria, ministro, o senhor n�o acha que faria melhor... Mas a porta se abriu e Dumbledore entrou decidido. � Que aconteceu? � perguntou energicamente, olhando de Fudge para McGonagall. � Por que est�o incomodando estas pessoas? Minerva, voc� me surpreende, eu lhe pedi para ficar vigiando Bart� Crouch... � N�o h� necessidade de vigi�-lo mais, Dumbledore! � gritou ela. � O ministro j� providenciou isso! Harry nunca vira a professora se descontrolar daquele jeito. Havia manchas vermelhas de raiva em seu rosto, as m�os estavam fechadas em punhos, ela tremia de f�ria. � Quando informei ao Sr. Fudge que t�nhamos apanhado o Comensal da Morte respons�vel pelos acontecimentos desta noite � disse Snape, em voz baixa � parece que ele achou que sua seguran�a pessoal estava amea�ada. Insistiu em chamar um dementador para acompanh�-lo at� o castelo. Levou-o para a sala em que Bart� Crouch... � Avisei a ele que voc� n�o concordaria, Dumbledore! � vociferou a Professora Minerva. � Avisei a ele que voc� n�o permitiria que dementadores entrassem no castelo, mas... � Minha cara senhora! � rugiu Fudge, que parecia igualmente mais zangado do que Harry jamais o vira. � Como Ministro da Magia, sou eu quem decide se quero trazer uma prote��o pessoal quando vou entrevistar algu�m possivelmente perigoso... Mas a voz da Professora McGonagall abafou a de Fudge. � No momento em que aquela... Aquela coisa entrou na sala � berrou ela, apontando para Fudge, o corpo todo tremendo � o dementador avan�ou para Crouch e... E... Harry sentiu um frio no est�mago, enquanto a professora procurava encontrar palavras para descrever o que acontecera. Harry n�o precisou que ela terminasse a frase. Sabia o que o dementador devia ter feito. Aplicara o beijo fatal em Bart� Crouch. Sugara a alma do rapaz pela boca. Ele estava pior do que morto. � Pelo que todos dizem, n�o se perdeu nada! � vociferou Fudge. � Ele parece ter sido respons�vel por v�rias mortes! � Mas ele agora n�o pode prestar depoimento, Corn�lio � disse Dumbledore, encarando Fudge com insist�ncia, como se o visse direito pela primeira vez. � Ele n�o pode testemunhar por que matou essas pessoas. � Por que ele as matou? Ora, isso n�o � mist�rio, �? � esbravejou o ministro. � Ele � doido de pedra! Pelo que Severo e Minerva me disseram, ele parecia pensar que tinha feito tudo isso seguindo instru��es de Voc�-Sabe-Quem! � � ele estava seguindo instru��es de Lord Voldemort, Corn�lio � respondeu Dumbledore. � A morte dessas pessoas foi apenas um produto secund�rio do plano para restaurar as for�as de Voldemort. O plano foi bem sucedido. Voldemort recuperou seu corpo. Fudge parecia ter levado uma pancada violenta no rosto. Atordoado e piscando, ele olhou para Dumbledore como se n�o conseguisse acreditar no que acabara de ouvir. Come�ou a balbuciar, ainda de olhos arregalados para o diretor. � Voc�-Sabe-Quem... Retornou? Absurdo. Ora, vamos, Dumbledore... � Conforme Minerva e Severo sem d�vida lhe contaram, ouvimos Bart� Crouch confessar. Sob a influ�ncia do Veritaserum, ele nos disse como foi contrabandeado para fora de Azkaban e como Voldemort, tendo sabido por Berta Jorkins que ele continuava vivo, foi libert�-lo da guarda do pai, e usou-o para capturar Harry. O plano funcionou, posso lhe garantir. Crouch ajudou Voldemort a retornar. � Olhe aqui, Dumbledore � disse Fudge, e Harry ficou espantado de ver o sorrisinho que apareceu no rosto do ministro �, voc�... Voc� n�o acredita seriamente nisso. Voc�-Sabe-Quem voltou? Ora, vamos, ora vamos... Com certeza Crouch deve ter acreditado que estava agindo sob as ordens de Voc�-Sabe-Quem, mas aceitar a palavra de um doido daqueles, Dumbledore... � Quando Harry tocou na Ta�a Tribruxo esta noite, ele foi transportado diretamente at� Voldemort � disse Dumbledore com firmeza. � Ele presenciou o renascimento de Lord Voldemort. Explicarei tudo a voc� se quiser vir ao meu escrit�rio. Dumbledore olhou para Harry e viu que o garoto estava acordado, mas sacudiu a cabe�a e disse: � Receio que n�o possa permitir que voc� interrogue Harry hoje. O curioso sorriso de Fudge perdurou. Ele tamb�m olhou para Harry, depois se voltou para Dumbledore: � Voc� est�... Hum... Disposto a aceitar a palavra de Harry neste caso, Dumbledore? Houve um momento de sil�ncio, interrompido por um rosnado de Sirius. Tinha os p�los do pesco�o em p� e seus dentes se arreganharam para Fudge. � Certamente que acredito em Harry � disse Dumbledore. Seus olhos brilharam de f�ria. � Ouvi a confiss�o de Crouch e ouvi o relato de Harry sobre o que aconteceu quando ele tocou a Ta�a Tribruxo, as duas hist�rias fazem sentido, explicam tudo que tem acontecido desde que Berta Jorkins desapareceu no ver�o passado. Fudge ainda conservava aquele sorriso estranho no rosto. Olhou mais uma vez para Harry antes de responder. � Voc� est� disposto a acreditar que Lord Voldemort voltou, porque assim dizem um assassino louco e um garoto que... Bem... Fudge lan�ou a Harry mais um olhar, e o garoto subitamente compreendeu. � O senhor tem andado lendo Rita Skeeter, Sr. Fudge � disse ele calmamente. Rony, Hermione, a Sra. Weasley e Gui, todos se assustaram. Nenhum deles percebera que Harry estava acordado. Fudge corou ligeiramente, mas surgiu em seu rosto uma express�o de desafio e obstina��o. � E se tiver? � perguntou, fitando Dumbledore. � E se descobri que voc� me tem ocultado certos fatos sobre o garoto? Ofidioglota, �? E tem desmaios esquisitos a toda hora?... � Presumo que voc� esteja se referindo �s dores que Harry tem sentido na cicatriz? � perguntou Dumbledore friamente. � Voc� admite que ele tem tido dores, ent�o? � perguntou Fudge depressa. � Dores de cabe�a? Pesadelos? Possivelmente... Alucina��es? � Escute aqui, Corn�lio � disse Dumbledore dando um passo para perto de Fudge, e mais uma vez parecendo irradiar aquela indefin�vel aura de poder que Harry sentira quando estuporou o jovem Crouch. � Harry � t�o mentalmente s�o quanto eu ou voc�. Aquela cicatriz na testa n�o afetou o c�rebro dele. Acredito que doa quando Lord Voldemort est� por perto ou experimente sentimentos assassinos. Fudge se afastara meio passo de Dumbledore, mas n�o parecia menos obstinado. � Voc� vai me perdoar, Dumbledore, mas ouvi falar em uma cicatriz deixada por um feiti�o funcionar como uma campainha de alarme antes... � Olhe, eu vi Voldemort ressurgir! � gritou Harry. Ele tentou novamente se levantar da cama, mas a Sra. Weasley for�ou-o a deitar. � Eu vi os Comensais da Morte! Posso dar os nomes! L�cio Malfoy... Snape fez um movimento repentino, mas quando Harry se virou, o olhar do professor retornara a Fudge. � Malfoy foi inocentado! � disse Fudge visivelmente afrontado. � Uma fam�lia muito antiga, doa��es para causas excelentes... � Mcnair! � continuou Harry. � Tamb�m inocentado! Agora trabalha para o Minist�rio! � Avery, Nott, Crabbe, Goyle. � Voc� est� apenas repetindo os nomes dos que foram absolvidos da acusa��o de serem Comensais da Morte h� treze anos! � disse Fudge zangado. � Poderia ter achado esses nomes em relat�rios antigos sobre os julgamentos! Pelo amor de Deus, Dumbledore, o garoto esteve com a cabe�a cheia de hist�rias malucas no fim do ano passado, tamb�m, as invencionices dele est�o cada vez mais mirabolantes, e voc� continua a engoli-las, o garoto � capaz de falar com cobras, Dumbledore, e voc� ainda acha que ele merece confian�a? � Seu tolo! � exclamou a Professora McGonagall. � Cedrico Diggory! O Sr. Crouch! Estas mortes n�o foram o trabalho aleat�rio de um doido! � N�o vejo nenhuma evid�ncia em contr�rio! � gritou Fudge, agora equiparando sua raiva � da professora, o rosto roxo. � Parece-me que voc�s est�o decididos a come�ar uma onda de p�nico que ir� desestabilizar tudo pelo que trabalhamos nesses �ltimos treze anos! Harry n�o conseguiu acreditar no que estava ouvindo. Sempre pensara em Fudge como uma pessoa bondosa, um pouco espalhafatosa, um pouco pomposa, mas de �ndole essencialmente boa. Mas agora via � sua frente um bruxo baixo e furioso, que se recusava terminantemente a aceitar a perspectiva de um esfacelamento do seu mundo confort�vel e ordeiro, a acreditar que Voldemort pudesse ter ressurgido. � Voldemort retornou � repetiu Dumbledore. � Se voc� aceitar imediatamente este fato, Fudge, e tomar as medidas necess�rias, talvez ainda possamos salvar a situa��o. O primeiro passo, e o mais essencial, � retirar Azkaban do controle dos dementadores... � Que desprop�sito! � gritou outra vez Fudge. � Retirar os dementadores! Eu seria chutado do Minist�rio se sugerisse uma coisa dessas! Metade da popula��o s� se sente segura quando se deita � noite porque sabe que os dementadores est�o guardando Azkaban! � A outra metade n�o dorme t�o bem, Corn�lio, porque sabe que voc� deixou os seguidores mais perigosos de Lord Voldemort aos cuidados de criaturas que ir�o se juntar a ele no momento em que ele pedir! � retorquiu Dumbledore. � Eles n�o ir�o permanecer leais a voc�, Fudge! Voldemort pode oferecer um espa�o muito maior para os poderes e prazeres deles do que voc�! Com os dementadores a apoi�-lo, e a volta dos seus antigos seguidores, voc� vai ter muita dificuldade para impedi-lo de reconquistar o poder que tinha h� treze anos! Fudge abria e fechava a boca como se n�o tivesse palavras para expressar sua indigna��o. � A segunda medida que voc� precisa tomar, e imediatamente � continuou Dumbledore �, � mandar enviados aos gigantes. � Enviados aos gigantes! � gritou o ministro em tom agudo, afinal recuperando a fala. � Que loucura � essa? � Estenda-lhes a m�o da amizade, agora, antes que seja tarde demais ou Voldemort ir� persuadi-los, como j� fez antes, que somente ele entre os bruxos conceder� aos gigantes direitos e liberdade! � Voc�... Voc� n�o pode estar falando s�rio! � exclamou Fudge, sacudindo a cabe�a e se afastando um pouco mais de Dumbledore. � Se a comunidade m�gica ouvir falar que eu procurei os gigantes, as pessoas os odeiam, Dumbledore... A minha carreira termina... � Voc� est� cego de amor � disse Dumbledore, sua voz elevando-se agora, a aura de poder palp�vel ao seu redor, seus olhos mais uma vez em brasas � pelo cargo que ocupa Corn�lio! Voc� atribui demasiada import�ncia, como sempre fez, � chamada pureza do sangue! Voc� n�o consegue reconhecer que n�o faz diferen�a quem a pessoa � ao nascer, mas o que ela vai ser ao crescer! O seu dementador acabou de destruir o �ltimo membro de uma fam�lia de sangue puro t�o antiga quanto a de outros, e veja em que foi que ele transformou a pr�pria vida! Digo-lhe agora, tome as medidas que sugeri e voc� ser� lembrado, no cargo ou fora dele, como um dos Ministros da Magia mais corajosos e s�bios que j� conhecemos. N�o fa�a nada, e a hist�ria ir� lembr�-lo como o homem que se omitiu e permitiu que Voldemort tivesse uma segunda oportunidade de destruir o mundo que tentamos reconstruir! � Est� demente � sussurrou Fudge, ainda se afastando. � Enlouqueceu... E ent�o, todos se calaram. Madame Pomfrey estava postada, im�vel aos p�s da cama de Harry, as m�os cobrindo a boca. A Sra. Weasley continuava curvada para Harry, a m�o no ombro do garoto para impedi-lo de se levantar. Gui, Rony e Hermione tinham os olhos arregalados para Fudge. � Se a sua determina��o de fechar os olhos levou voc� a esse ponto, Corn�lio � disse Dumbledore �, chegou o momento em que os nossos caminhos se separam. Voc� far� o que acha que deve. E eu agirei como acho que devo. A voz de Dumbledore n�o continha sequer uma sugest�o de amea�a, parecia fazer uma simples constata��o, mas Fudge se encrespou como se Dumbledore estivesse avan�ando para ele com a varinha em punho. � Agora, escute aqui Dumbledore � disse sacudindo o dedo na cara do diretor. � Eu sempre o deixei agir livremente. Tenho muito respeito por voc�. Posso n�o ter concordado com algumas de suas decis�es, mas fiquei calado. N�o existe muita gente que deixaria voc� contratar lobisomens ou manter Hagrid ou decidir o que ensinar aos seus alunos, sem consultar o Minist�rio. Mas se voc� vai trabalhar contra mim... � A �nica pessoa contra quem pretendo trabalhar � Lord Voldemort. Se voc� � contra ele, ent�o continuamos, Corn�lio, do mesmo lado. Aparentemente Fudge n�o conseguiu pensar que resposta dar a Dumbledore. Balan�ou-se para frente e para tr�s sobre os p�s diminutos por um momento, girando o chap�u-coco nas m�os. Finalmente, disse, com um qu� de s�plica na voz: � Ele n�o pode estar de volta, Dumbledore, simplesmente n�o pode... Snape se adiantou, passou por Dumbledore, ao mesmo tempo em que levantava a manga esquerda de suas vestes. Esticou o bra�o e mostrou-o a Fudge, que se retraiu. � Olhe � disse Snape asperamente. � Olhe. A Marca Negra. N�o est� t�o n�tida quanto estava h� pouco mais de uma hora, quando ficou realmente negra, mas o senhor ainda pode v�-la. O Lord das Trevas marcou com este sinal todos os Comensais da Morte. Era uma maneira de nos reconhecermos e um meio de nos convocar � presen�a dele. Quando ele tocava a Marca de qualquer comensal, dev�amos desapararar e apararar instantaneamente ao seu lado. A Marca se tornou mais n�tida durante esse ano. A de Karkaroff tamb�m. Por que o senhor acha que o professor fugiu esta noite? N�s dois sentimos a Marca queimar. N�s dois sab�amos que ele havia voltado. Karkaroff teme a vingan�a do Lord das Trevas. Ele traiu muitos companheiros comensais para ter ilus�es de ser bem recebido no seio do rebanho. Fudge recuou para longe de Snape, tamb�m. Sacudiu a cabe�a. N�o parecia ter absorvido uma �nica palavra do que Snape dissera. Olhava, aparentemente repugnado, para a feia Marca no bra�o de Snape, depois ergueu os olhos para Dumbledore e murmurou: � N�o sei do que voc� e seus professores est�o brincando, Dumbledore, mas j� ouvi o bastante. N�o tenho nada a acrescentar. Entro em contato com voc� amanh� para discutirmos a administra��o da escola. Preciso voltar ao Minist�rio. J� chegara quase � porta quando parou. Virou-se, voltou para a enfermaria e se deteve junto � cama de Harry. � Seu pr�mio � disse brevemente, tirando uma grande bolsa de ouro do bolso e largando-a na mesa-de-cabeceira do garoto. � Mil gale�es. Deveria ter havido uma cerim�nia de premia��o, mas nas circunst�ncias... E enfiando seu chap�u-coco na cabe�a, ele saiu da enfermaria, batendo a porta ao passar. No instante em que desapareceu, Dumbledore se voltou para o grupo ao redor da cama de Harry. � Temos trabalho a fazer � disse. � Molly... Estou certo em pensar que posso contar com voc� e Arthur? � Claro que pode � disse a Sra. Weasley. Estava p�lida at� nos l�bios, mas parecia decidida. � Ele sabe quem Fudge �. � a afei��o de Arthur por trouxas que o tem mantido no Minist�rio todos esses anos. O ministro acha que falta a ele o orgulho que espera de um bruxo. � Ent�o preciso mandar uma mensagem a ele � disse Dumbledore. � Todos os que pudermos persuadir da verdade devem ser avisados imediatamente, e Arthur est� bem colocado para entrar em contato com as pessoas no Minist�rio que n�o sejam t�o m�opes quanto o Corn�lio. � Vou procurar papai � disse Gui, levantando-se. � Vou agora. � Excelente � exclamou Dumbledore. � Diga-lhe o que aconteceu. Diga-lhe que entrarei em contato com ele em breve. Mas que ele precisa ser discreto. Se Fudge achar que estou interferindo no Minist�rio... � Pode deixar comigo � disse Gui. O rapaz deu uma palmadinha no ombro de Harry, beijou a m�e no rosto, vestiu a capa e saiu rapidamente da enfermaria. � Minerva � disse Dumbledore virando-se para a Professora McGonagall �, quero ver Hagrid no meu escrit�rio o mais depressa poss�vel. E tamb�m, se ela concordar em vir, Madame Maxime. A professora aquiesceu com um aceno de cabe�a e saiu sem dizer nada. � Papoula � disse Dumbledore a Madame Pomfrey �, ser� que voc� me faria a gentileza de ir � sala do Professor Moody, onde acho que encontrar� l� um elfo dom�stico chamado Winky em grande sofrimento? Fa�a o que puder por ela e leve-a de volta � cozinha. Acho que Dobby cuidar� dela para n�s. � Claro... Claro que sim � respondeu a enfermeira parecendo espantada, e ela tamb�m saiu. Dumbledore certificou-se de que a porta estava trancada e que o ru�do dos passos de Madame Pomfrey tinha morrido na dist�ncia, antes de tornar a falar. � E agora � disse ele � est� na hora de duas pessoas deste grupo se reconhecerem pelo que s�o. Sirius... Se puder retomar sua forma habitual. O cachorr�o preto ergueu a cabe�a para o diretor, depois, num segundo, voltou a ser homem. A Sra. Weasley gritou e se afastou da cama. � Sirius Black! � tornou a gritar ela com voz aguda, apontando para o bruxo. � Mam�e, cala a boca! � berrou Rony. � Est� tudo bem! Snape n�o gritara nem saltara para tr�s, mas a express�o do seu rosto era uma mescla de f�ria e horror. � Ele! � rosnou o professor, arregalando os olhos para Sirius, cujo rosto exprimia igual desagrado. � Que � que ele est� fazendo aqui? � Est� aqui a meu convite � disse Dumbledore, olhando para ambos � como voc�, Severo. Confio nos dois. Est� na hora de porem de lado as velhas diferen�as e confiarem um no outro. Harry achou que Dumbledore estava pedindo quase um milagre. Sirius e Snape se entreolhavam com a maior repugn�ncia. � Aceitarei, a curto prazo � disse Dumbledore, com uma certa impaci�ncia na voz �, que suspendam as hostilidades ostensivas. Os dois apertem as m�os. Est�o do mesmo lado agora. O tempo � curto e, a n�o ser que os poucos de n�s que conhecem a verdade se mantenham unidos, n�o haver� esperan�a para ningu�m. Muito devagar, mas ainda se olhando feio como se n�o desejassem um ao outro se n�o o mal, Sirius e Snape se aproximaram e apertaram as m�os. Mas as soltaram bem r�pido. � J� � o bastante para come�ar � disse o diretor se interpondo aos dois homens mais uma vez. � Agora tenho trabalho para cada um de voc�s. A atitude de Fudge, embora n�o seja inesperada, muda tudo, Sirius. Preciso que voc� comece imediatamente. Alerte Remo Lupin, Arabella Figg, Mundungo Fletcher, a turma antiga. Fique escondido com Lupin por enquanto, entrarei em contato com voc� l�. � Mas... � come�ou Harry. O garoto queria que Sirius ficasse. N�o queria dizer adeus novamente t�o depressa. � Voc� voltar� a me ver em breve, Harry � disse Sirius, virando-se para o afilhado. � Prometo. Mas preciso fazer o que posso, voc� compreende, n�o? � Claro. Claro... Que sim. Sirius apertou a m�o de Harry brevemente, se despediu de Dumbledore com um aceno da cabe�a, voltou a se transformar em cachorro preto e correu para a porta, cuja ma�aneta abriu com a pata. Ent�o desapareceu. � Severo � disse Dumbledore, voltando-se para Snape �, voc� sabe o que preciso lhe pedir para fazer. Se estiver disposto... Se estiver preparado... � Estou � disse Snape. O professor parecia um pouco mais p�lido do que o habitual, e seus olhos frios e negros brilharam estranhamente. � Ent�o, boa sorte � e o diretor acompanhou, com uma certa apreens�o no rosto, Snape partir em seguida a Sirius sem dizer palavra. Passaram-se v�rios minutos at� Dumbledore tornar a falar. � Preciso ir l� embaixo � disse finalmente. � Preciso ver os Diggory. Harry, tome o resto da sua po��o. Verei todos voc�s mais tarde. Harry se deixou cair nos travesseiros enquanto Dumbledore desaparecia. Hermione, Rony e a Sra. Weasley ficaram olhando para o garoto. Nenhum deles falou durante muito tempo. � Voc� tem que tomar o resto da sua po��o, Harry � disse finalmente a Sra. Weasley. Ao apanhar o frasco e a ta�a, ela bateu com a m�o no saco de ouro � mesa-de-cabeceira. � Durma bastante. Tente pensar em outra coisa por um tempo... Pense no que vai comprar com o seu pr�mio! � N�o quero esse ouro � falou Harry com a voz sem emo��o. � Pode ficar com ele. Qualquer um pode ficar com ele. Eu n�o deveria ter ganho. Deveria ter sido de Cedrico. A coisa contra a qual ele estivera lutando intermitentemente, desde que sa�ra do labirinto, amea�ava engolf�-lo. Sentiu uma ard�ncia, um formigamento nos cantos internos dos olhos. Ele piscou e ficou encarando o teto. � N�o foi sua culpa, Harry � sussurrou a Sra. Weasley. � Eu disse a ele que apanhasse a Ta�a comigo. Agora a sensa��o de ard�ncia passara � garganta, tamb�m. Ele desejou que Rony olhasse para outro lado. A Sra. Weasley deixou a po��o em cima da mesinha, abaixou-se e passou os bra�os em volta de Harry. O garoto n�o tinha lembran�a de jamais ter sido abra�ado assim, como faria uma m�e. Todo o peso do que vira aquela noite pareceu desabar sobre ele quando a Sra. Weasley o apertou contra o peito. O rosto de sua m�e, a voz de seu pai, a vis�o de Cedrico morto no ch�o, tudo come�ou a girar em sua cabe�a at� ele n�o conseguir mais ag�entar, at� seu rosto se contrair todo para conter o uivo de infelicidade que lutava para escapar de dentro dele. Ouviu-se uma pancada e a Sra. Weasley e Harry se separaram. Hermione estava parada junto � janela. Apertava alguma coisa com for�a na m�o. � Desculpem � sussurrou. � Sua po��o, Harry � disse a Sra. Weasley depressa, enxugando os olhos com as costas da m�o. Harry bebeu a po��o de um s� gole. O efeito foi instant�neo. Ondas pesadas e irresist�veis de sono sem sonhos o envolveram, ele tombou sobre os travesseiros e n�o pensou mais. CAP�TULO TRINTA E SETE O Come�o Quando relembrou os acontecimentos, mesmo um m�s depois, Harry descobriu que havia pouco a se lembrar dos dias que se sucederam. Era como se ele tivesse passado por coisas em excesso para poder absorver mais alguma. As lembran�as que guardara eram muito dolorosas. A pior talvez tivesse sido o encontro com os Diggory, que ocorreu na manh� seguinte. Eles n�o o culparam pelo que acontecera; pelo contr�rio, ambos lhe agradeceram por ter trazido o corpo do filho de volta. O Sr. Diggory solu�ou a maior parte da entrevista. A dor da Sra. Diggory parecia ter ultrapassado o consolo das l�grimas. � Ele sofreu pouco, ent�o � disse ela, depois que Harry lhe contou como Cedrico havia morrido. � Afinal, Amos... Ele morreu no momento em que venceu o torneio. Devia estar muito feliz. Ao se levantarem, ela olhou para Harry e disse: � Cuide-se bem. Harry apanhou o saco de ouro na mesa-de-cabeceira. � Podem levar � murmurou para a senhora. � Deveria ter sido de Cedrico, ele chegou � Ta�a primeiro, levem... Mas ela se afastou dele. � Ah, n�o, � seu, querido, n�o poder�amos... Fique para voc�. Harry voltou � Torre da Grifin�ria na noite seguinte. Pelo que Hermione e Rony lhe contaram, Dumbledore se dirigira � escola naquela manh�, ao caf�. Pedira apenas que deixassem Harry em paz, que ningu�m lhe fizesse perguntas nem o aborrecesse pedindo que contasse o que acontecera no labirinto. A maioria dos colegas, reparou Harry, estava lhe dando dist�ncia nos corredores, evitando olh�-lo. Alguns cochichavam tampando a boca com as m�os quando o garoto passava. Ele imaginou que muitos teriam acreditado no artigo de Rita Skeeter sobre sua perturba��o mental e a possibilidade de ser perigoso. Talvez estivessem formulando as pr�prias teorias sobre a morte de Cedrico. Ele descobriu que n�o fazia muita diferen�a. Gostava mais quando estava com Rony e Hermione e conversavam de outras coisas ou ent�o eles o deixavam ficar calado enquanto jogavam xadrez. Sentia que os tr�s haviam chegado a um entendimento que n�o precisava ser expresso com palavras, que cada um estava � espera de um sinal, uma palavra, sobre o que estava acontecendo fora dos muros de Hogwarts � e que era in�til especular at� que soubessem de alguma coisa ao certo. A �nica vez em que tocaram no assunto foi quando Rony contou a Harry sobre o encontro que a Sra. Weasley tivera com Dumbledore antes de voltar para casa. � Ela foi perguntar ao diretor se voc� poderia ir direto para nossa casa no ver�o. Mas o diretor quer que voc� v� para a casa dos Dursley, pelo menos no come�o. � Por que � perguntou Harry. � Ela disse que Dumbledore tem l� as raz�es dele � explicou Rony, balan�ando a cabe�a sombriamente. � Suponho que temos de confiar nele, n�o �? A �nica pessoa al�m de Rony e Hermione com quem Harry se sentia capaz de falar era Hagrid. E como n�o havia mais professor de Defesa contra as Artes das Trevas, tinham o tempo dessa aula livre. Usaram o da tarde de quinta-feira para visitar Hagrid em casa. Fazia um dia claro e ensolarado, Canino saltou pela porta aberta quando eles se aproximaram, latindo e abanando o rabo feito louco. � Quem est� a�? � perguntou Hagrid chegando at� a porta. � Harry! E saiu ao encontro dos garotos, puxando Harry para um abra�o com uma das m�os e despenteando os cabelos dele com a outra disse: � Que bom ver voc� companheiro. Que bom ver voc�. Os tr�s viram duas x�caras do tamanho de baldes sobre a mesa de madeira diante da lareira quando entraram na cabana. � Tomando uma x�cara de ch� com Ol�mpia � disse Hagrid �, ela acabou de sair. � Quem? � perguntou Rony curioso. � Madame Maxime, � claro! � explicou Hagrid. � Voc�s dois fizeram as pazes, ent�o? � perguntou Rony; � N�o sei do que voc� est� falando � disse Hagrid com displic�ncia, indo buscar mais x�caras na c�moda. Depois de preparar o ch� e oferecer um prato de biscoitos massudos, ele se sentou e examinou Harry mais de perto com aqueles seus olhos de besouros negros. � Voc� est� bem? � perguntou rouco. � Claro. � N�o, n�o est�. Claro que n�o est�. Mas vai ficar. Harry n�o respondeu nada. � Eu sabia que ele ia voltar � disse Hagrid, e Harry, Rony e Hermione olharam para ele chocados. � Sei h� anos, Harry. Sabia que estava l� fora, esperando a hora. Tinha que acontecer. Bom, agora aconteceu, e vamos ter de conviver com isso. Vamos lutar. Talvez a gente consiga deter o homem antes que ele se firme. Pelo menos esse � o plano de Dumbledore. Grande homem. Dumbledore. Enquanto contarmos com ele, n�o estou muito preocupado. Hagrid ergueu as sobrancelhas espessas ao ver a express�o de incredulidade nos rostos dos garotos. � N�o adianta a gente ficar sentado se preocupando. O que tiver que ser ser�, e n�s o enfrentaremos quando vier. Dumbledore me contou o que voc� fez, Harry. O peito de Hagrid inchou ao fitar Harry. � Voc� fez tanto quanto o seu pai teria feito e n�o posso lhe fazer elogio maior. Harry retribuiu o sorriso do amigo. Era a primeira vez que sorria em dias. � Que foi que Dumbledore lhe pediu para fazer, Hagrid? � perguntou o garoto. � Ele mandou a Professora Minerva convidar voc� e Madame Maxime para irem � sala dele... Naquela noite. � Tem um trabalhinho para mim durante o ver�o � disse Hagrid. � Mas � segredo. N�o tenho licen�a para falar, nem para voc�s. Ol�mpia, Madame M�xime para voc�s, talvez v� comigo. Acho que ir�. Acho que a convenci. � Tem liga��o com Voldemort? Hagrid fez uma careta ao ouvir aquele nome. � Talvez � respondeu evasivamente. � Agora... Quem gostaria de visitar o �ltimo explos�v�n comigo? Brincadeirinha, brincadeirinha! � acrescentou ele depressa, ao ver a cara dos garotos. Foi com uma opress�o no peito que Harry arrumou seu mal�o no dormit�rio, na v�spera do seu regresso � Rua dos Alfeneiros. Estava com medo da Festa de Despedida, que normalmente era motivo de comemora��o, pois nela anunciavam o vencedor do campeonato entre as Casas. Ele andava evitando o Sal�o Principal quando estava cheio, desde que deixara a ala hospitalar, dando prefer�ncia a comer quando ficava quase vazio, para evitar os olhares dos colegas. Quando ele, Rony e Hermione entraram no sal�o, notaram imediatamente que n�o havia as decora��es de costume. O Sal�o Principal em geral era enfeitado com as cores da Casa vencedora na Festa de Despedida. Esta noite, no entanto, havia panos pretos na parede ao fundo onde ficava a mesa dos professores. Harry percebeu instantaneamente que eram um sinal de respeito por Cedrico. O verdadeiro Olho-Tonto Moody estava � mesa, a perna de pau e o olho m�gico nos lugares. Mostrava-se extremamente inquieto e assustadi�o todas as vezes que algu�m lhe falava. Harry n�o p�de culp�-lo, o medo que Moody tinha de ser atacado com certeza havia crescido depois de ficar preso no seu pr�prio mal�o durante dez meses. O lugar do Professor Karkaroff estava vazio. Harry se perguntou, ao sentar-se com os colegas da Grifin�ria, onde andaria o bruxo, se Voldemort j� o teria alcan�ado. Madame Maxime continuava em Hogwarts. Estava sentada ao lado de Hagrid. Falavam entre si baixinho. Mais adiante na mesa, ao lado da Professora McGonagall, estava Snape. Seus olhos se demoraram em Harry por um momento quando o garoto olhou em sua dire��o. Sua express�o era dif�cil de traduzir. Parecia t�o amargurado e desagrad�vel como sempre. Harry continuou a observ�-lo muito depois de o professor ter desviado o olhar. Que ser� que Snape fizera por ordem de Dumbledore, na noite em que Voldemort ressurgira? E por que... Por que... Dumbledore tinha tanta convic��o de que Snape estava realmente do lado deles? Espionara para eles, dissera Dumbledore na Penseira. "Snape espionara Voldemort correndo grandes riscos pessoais." Seria essa a tarefa que retomara? Teria feito contato com os Comensais da Morte, talvez? Fingira que jamais se passara realmente para o lado de Dumbledore, que estivera, a exemplo do pr�prio Voldemort, aguardando sua hora? As indaga��es de Harry foram interrompidas pelo Professor Dumbledore, que se levantou � mesa dos professores. O Sal�o Principal, que por sinal tinha estado menos barulhento do que costumava ser em uma Festa de Despedida, ficou muito silencioso. � O fim � disse Dumbledore olhando para todos � de mais um ano. Ele fez uma pausa e seu olhar pousou na mesa da Lufa-Lufa. A mais silenciosa de todas antes do diretor se levantar, e continuava a ser a mais triste e de rostos mais p�lidos do sal�o. � H� muita coisa que eu gostaria de dizer a todos voc�s esta noite, mas primeiro, quero lembrar a perda de uma excelente pessoa, que deveria estar sentado aqui � ele fez um gesto em dire��o � mesa da Lufa-Lufa �, festejando conosco. Eu gostaria que todos os presentes, por favor, se levantassem e fizessem um brinde a Cedrico Diggory. Todos obedeceram; os bancos se arrastaram e os alunos no sal�o se levantaram e ergueram seus c�lices e ouviu-se um eco un�ssono, alto, grave e ressonante: �Cedrico Diggory�. De relance, Harry viu Cho entre os colegas. Havia l�grimas silenciosas correndo pelo seu rosto. Ele baixou os olhos para a pr�pria mesa quando todos tornaram a se sentar. � Cedrico era o aluno que exemplificava muitas das qualidades que distinguem a Casa da Lufa-Lufa � continuou Dumbledore. � Era um amigo bom e leal, uma pessoa aplicada, valorizava o jogo limpo. Sua morte nos afetou a todos, quer voc�s o conhecessem bem ou n�o. Portanto, creio que voc�s t�m o direito de saber exatamente como aconteceu. Harry ergueu a cabe�a e encarou Dumbledore. � Cedrico Diggory foi morto por Lord Voldemort. Um murm�rio de p�nico varreu o Sal�o Principal. As pessoas olharam para Dumbledore incr�dulas, horrorizadas. Ele parecia perfeitamente calmo ao observar os presentes at� pararem de murmurar. � O Ministro da Magia � continuou Dumbledore � n�o quer que eu lhes diga isto. � poss�vel que alguns pais se horrorizem com o que acabo de fazer, ou porque n�o acreditam que Lord Voldemort tenha ressurgido ou porque acham que eu n�o deva lhes informar isto por serem demasiado jovens. Creio, no entanto, que a verdade �, em geral, prefer�vel �s mentiras, e qualquer tentativa de fingir que Cedrico Diggory morreu em conseq��ncia de um acidente ou de algum erro que cometeu � um insulto � sua mem�ria. Atordoados e temerosos, cada rosto no sal�o voltava-se para Dumbledore agora... Ou quase todos. Na mesa da Sonserina, Harry viu Draco Malfoy cochichar alguma coisa para Crabbe e Goyle. O garoto sentiu no est�mago um espasmo nauseante e quente de raiva. For�ou-se a olhar para Dumbledore. � H� mais algu�m que deve ser mencionado com rela��o � morte de Cedrico � continuou Dumbledore. � Estou me referindo, naturalmente, a Harry Potter. Um murm�rio atravessou o sal�o e algumas cabe�as se viraram em dire��o ao garoto antes de tornarem a fitar Dumbledore. � Harry Potter conseguiu escapar de Lord Voldemort. E arriscou a pr�pria vida para trazer o corpo de Cedrico de volta a Hogwarts. Ele demonstrou, sob todos os aspectos, uma bravura que poucos bruxos jamais demonstraram diante de Lord Voldemort e, por isso, eu o homenageio. Dumbledore virou-se solenemente para Harry e ergueu sua ta�a mais uma vez. Quase todos os presentes no Sal�o Principal seguiram seu exemplo. E murmuraram seu nome, conforme tinham murmurado o de Cedrico, e beberam em sua homenagem. Mas, por uma brecha entre os que estavam de p�, Harry viu que Malfoy, Grabbe, Goyle e muitos alunos da Sonserina, num gesto de desafio, tinham permanecido sentados, os c�lices intocados. Dumbledore, que afinal de contas n�o possu�a olhos m�gicos, n�o os viu. Quando todos se sentaram mais uma vez, o diretor continuou: � O objetivo do Torneio Tribruxo era aprofundar e promover o entendimento no mundo m�gico. � luz do que aconteceu, o ressurgimento de Lord Voldemort, esses la�os se tornam mais importantes do que nunca. O olhar do diretor foi de Madame Maxime e Hagrid a Fleur Delacour e seus colegas de Beauxbatons, da� para Krum e os alunos de Durmstrang � mesa da Sonserina. Krum, Harry observou, parecia preocupado, quase temeroso, como se esperasse Dumbledore dizer alguma coisa desagrad�vel. � Cada convidado neste sal�o � disse o diretor e seu olhar se demorou nos alunos de Durmstrang � ser� bem-vindo se algum dia quiser voltar para c�. Repito a todos, � luz do ressurgimento de Lord Voldemort, seremos t�o fortes quanto formos unidos e t�o fracos quanto formos desunidos. O talento de Lord Voldemort para disseminar a desarmonia e a inimizade � muito grande. S� podemos combat�-lo mostrando uma liga��o igualmente forte de amizade e confian�a. As diferen�as de costumes e l�ngua n�o significam nada se os nossos objetivos forem os mesmos e os nossos cora��es forem receptivos. � Creio � e nunca tive tanta esperan�a de estar enganado � que estamos diante de tempos negros e dif�ceis. Alguns de voc�s, neste sal�o, j� sofreram diretamente nas m�os de Lord Voldemort. As fam�lias de muitos j� foram despeda�adas. H� apenas uma semana, um aluno foi levado do nosso meio. Lembrem-se de Cedrico Diggory. Lembrem-se, se chegar a hora de terem de escolher entre o que � certo e o que � f�cil, lembrem-se do que aconteceu com um rapaz que era bom, generoso e corajoso, porque ele cruzou o caminho de Lord Voldemort. Lembrem-se de Cedrico Diggory. O mal�o de Harry estava pronto, Edwiges, presa na gaiola em cima do mal�o. Harry, Rony e Hermione aguardavam no sagu�o de entrada lotado, com os demais alunos do quarto ano, as carruagens que deviam lev�-los � esta��o de Hogsmeade. Fazia mais um belo dia de ver�o. Harry sup�s que a Rua dos Alfeneiros estaria quente e cheia de folhas, os canteiros de flores em uma profus�o de cores, quando ele chegasse l� � noite. O pensamento n�o lhe trouxe prazer algum. � Arry! Ele olhou. Fleur Delacour vinha entrando no castelo correndo. Para al�m da garota, l� longe no jardim, Harry viu Hagrid ajudando Madame Maxime a atrelar os cavalos � carruagem. A carruagem de Beauxbatons estava prestes a partir. � Nos verremes utrra vez, esperro � disse Fleur, que estendeu a m�o quando o alcan�ou. � Estou querrendo arranjar um emprrego aqui para melhorrar o meu ingl�s. � J� � bastante bom � disse Rony com a voz meio estrangulada. Fleur sorriu para ele, Hermione amarrou a cara para o amigo. � Adeus, Arry � disse Fleur, virando-se para ir embora. � Foi um prrazer conhecerr voc�! O estado de �nimo de Harry n�o p�de deixar de melhorar um pouquinho ao observar Fleur correr pelos gramados de volta a Madame Maxime, seus cabelos prateados ondeando ao sol. � Como ser� que os alunos de Durmstrang v�o voltar para casa? � indagou Rony. � Voc�s acham que eles s�o capazes de comandar aquele navio sem o Karkaroff? � Karkaroff non comandou � disse uma voz r�spida. � Ficou na cabine e deixou o trrabalho conosco. � Krum viera se despedir de Hermione. � Posso lhe darr uma palavrrinha? � pediu ele. � Ah... Claro... Tudo bem � respondeu a garota, e parecendo ligeiramente afobada acompanhou. Krum pela aglomera��o de alunos at� desaparecer de vista. � � melhor voc� se apressar! � gritou Rony para ela. � As carruagens v�o chegar a qualquer momento! Mas ele deixou com Harry a tarefa de vigiar a chegada das carruagens e passou os minutos seguintes esticando o pesco�o por cima dos colegas para tentar ver o que Krum e Hermione poderiam estar fazendo. Os dois voltaram bem depressa, mas o rosto da garota estava impass�vel. � Eu gostava de Diggory � disse Krum abruptamente a Harry. � Erra semprre educado comigo. Semprre. Mesmo eu sendo de Durrmstrrang, com Karkaroff � acrescentou ele, fechando a cara. � Voc�s j� t�m um novo diretor? � perguntou Harry. Krum sacudiu os ombros. Depois estendeu a m�o, como fizera Fleur, apertou a de Harry e em seguida a de Rony. Rony parecia estar sofrendo um doloroso conflito interior. Krum j� come�ara a se afastar quando ele falou de supet�o. � Pode me dar seu aut�grafo? Hermione se virou rindo para as carruagens sem cavalos, que agora vinham sacolejando pelo caminho, quando Krum, com ar de surpresa, mas muito satisfeito, assinou um peda�o de pergaminho para Rony. O tempo n�o poderia estar mais diferente na viagem de volta a King�s Cross do que estivera na vinda para Hogwarts, em setembro. N�o havia uma �nica nuvem no c�u. Harry, Rony e Hermione tinham conseguido uma cabine s� para eles. Pichitinho mais uma vez viajava escondida sob as vestes a rigor de Rony para n�o ficar piando continuamente. Edwiges cochilava, a cabe�a debaixo de uma asa, e Bichento se enroscara em um lugar vazio como uma grande almofada peluda cor de gengibre. Harry, Rony e Hermione conversaram mais longa e livremente do que haviam feito durante toda a semana, enquanto o trem os levava para o sul. Harry teve a impress�o de que o discurso de Dumbledore na Festa de Despedida de alguma forma o desbloqueara. Tornara-se menos doloroso para ele falar sobre o que acontecera. Os amigos somente interromperam a conversa sobre as medidas que Dumbledore poderia estar tomando naquele instante para deter Voldemort, quando o carrinho de comida chegou. Ao voltar do carrinho, Hermione guardou o troco na mochila e apanhou um exemplar do Profeta Di�rio que levava ali. Harry olhou para o jornal, pouco seguro se realmente gostaria de saber o que dizia, mas Hermione, vendo-o olhar, disse calmamente: � N�o tem nada aqui. Pode ver por voc� mesmo, n�o tem nada aqui. Estive verificando todos os dias. S� uma pequena noticia no dia seguinte � terceira tarefa, dizendo que voc� ganhou o torneio. O jornal sequer mencionou Cedrico. Nenhum coment�rio sobre nada. Se voc�s me perguntarem, acho que Fudge est� obrigando o jornal a se calar. � Ele jamais faria Rita se calar � disse Harry. � N�o sobre uma hist�ria dessas. � Ah, Rita n�o tem escrito nada desde a terceira tarefa � disse Hermione, com uma voz estranhamente contida. � Ali�s � acrescentou, agora com a voz ligeiramente tr�mula �, Rita Skeeter n�o vai escrever nadinha por algum tempo. A n�o ser que queira que eu ponha a boca no trombone sobre ela. � Do que � que voc� est� falando? � perguntou Rony. � Descobri como � que ela fazia para escutar conversas particulares j� que estava proibida de entrar nos terrenos da escola � explicou a garota depressa. Harry teve a impress�o de que Hermione andava h� dias doidinha para contar a eles, mas se contivera por conta de tudo o mais que havia acontecido. � Como � que ela fazia? � perguntou Harry na mesma hora. � Como foi que voc� descobriu? � perguntou Rony, olhando admirado para a amiga. � Bom, na realidade foi voc�, Harry, quem me deu a id�ia. � Eu? � exclamou Harry perplexo. � Como? � Grampo � disse a garota satisfeita. � Mas voc� disse que n�o funcionava... � Ah, n�o um grampo eletr�nico. N�o, sabe... Rita Skeeter � a voz de Hermione tremeu de silencioso triunfo � � um animago clandestino. Ela pode se transformar... � Hermione tirou um frasco lacrado de dentro da mochila. � ... Em besouro. � Voc� est� brincando � exclamou Rony. � Voc� n�o... Ela n�o est�... � Ah, est� � respondeu Hermione com ar de felicidade, mostrando o frasco para os amigos. Dentro havia uns gravetos e folhas e um grande e gordo besouro. � Nunca... Voc� est� brincando... � sussurrou Rony, erguendo o frasco � altura dos olhos. � N�o, n�o estou � disse Hermione, com um largo sorriso. � Apanhei-a no peitoril da janela da enfermaria. Olhe com aten��o e voc� vai notar as marcas em volta das antenas exatamente iguais as daqueles �culos horrorosos que ela usa. Harry olhou e viu que a garota tinha raz�o. E ele tamb�m se lembrou de uma coisa. � Havia um besouro em cima da est�tua na noite em que ouvimos Hagrid falando com Madame Maxime sobre a m�e dele! � Exatamente � confirmou Hermione. � E V�tor tirou um besouro dos meus cabelos quando est�vamos conversando na beira do lago. E, a n�o ser que eu esteja muito enganada, Rita estava no peitoril da janela da classe de Adivinha��o no dia em que sua cicatriz doeu. Ela andou besourando pela escola o ano inteiro. � Quando vimos Malfoy debaixo daquela �rvore... � lembrou Rony lentamente. � Ele estava falando com a Rita segura na m�o � disse Hermione. � Ele sabia, � claro. Foi assim que ela fez aquelas entrevistas simp�ticas com os alunos da Sonserina. Aqueles garotos n�o ligariam se ela estivesse fazendo uma coisa ilegal, desde que pudessem contar barbaridades sobre Hagrid e n�s. Hermione apanhou o frasco da m�o de Rony e sorriu para o besouro, que zuniu irritado contra o vidro. � J� avisei a ela que s� vou solt�-la quando chegarmos a Londres. Lancei um Feiti�o Antiquebra no frasco, entendem, para ela n�o poder se transformar. E avisei, tamb�m, que vai ter que guardar a pena s� para ela durante um ano. Vamos ver se ela n�o perde o h�bito de escrever mentiras horr�veis sobre as pessoas. Sorrindo serenamente, Hermione tornou a guardar o besouro na mochila. A porta da cabine se abriu. � Muito esperta, Granger � exclamou Draco Malfoy. Crabbe e Goyle vinham atr�s dele. Os tr�s pareciam mais satisfeitos com eles mesmos, mais arrogantes e mais amea�adores, do que Harry jamais os vira. � Ent�o � disse Malfoy, entrando lentamente na cabine e olhando para os tr�s, um sorrisinho brincando em seus l�bios. � Voc�s apanharam uma rep�rter pat�tica, e Potter voltou a ser o aluno favorito de Dumbledore. Grande coisa. Seu sorriso se alargou. Crabbe e Goyle fizeram cara de desd�m. � Estamos tentando n�o pensar naquilo, �? � disse ele calmamente, continuando a se dirigir aos tr�s. � Tentando fingir que n�o aconteceu? � D� o fora � disse Harry. Ele n�o chegava perto de Malfoy desde que o vira cochichando com Crabbe e Goyle durante o discurso de Dumbledore sobre Cedrico. Sentiu uma esp�cie de zumbido nos ouvidos. Sua m�o agarrou a varinha sob as vestes. � Voc� escolheu o lado perdedor, Potter! Eu lhe avisei! Eu lhe disse que devia escolher com quem anda com mais cuidado, lembra? Quando nos encontramos no trem, no primeiro dia de Hogwarts? Eu lhe disse para n�o andar com ral� desse tipo! � Ele indicou Rony e Hermione com a cabe�a. � Tarde demais agora, Potter! Eles ser�o os primeiros a ir, agora que o Lord das Trevas voltou! Sangue-ruins e amantes de trouxas primeiro! Bom, em segundo lugar, Diggory foi o pr... Foi como se algu�m tivesse explodido uma caixa de fogos na cabine pelo clar�o dos feiti�os que voaram em todas as dire��es, surdo pela s�rie de estampidos, Harry piscou olhando para o ch�o. Malfoy, Crabbe e Goyle estavam ca�dos inconscientes � porta. Ele, Rony e Hermione estavam de p�, depois de cada um ter usado um feiti�o diferente. E n�o tinham sido os �nicos a fazer isso. � Achamos que dev�amos dar uma olhada no que os tr�s iam aprontar � disse Fred factualmente, pisando em cima de Goyle, no que foi imitado por Jorge, que teve o cuidado de pisar em Malfoy ao entrar com o irm�o na cabine. � Que efeito interessante! � exclamou Jorge, olhando para Crabbe. � Quem usou o Feiti�o Furunculus? � Eu � respondeu Harry. � Que estranho! � disse Jorge descontra�do. � Eu usei o das Pernas- Bambas. Parece que n�o se deve misturar os dois. Brotaram pequenos tent�culos pela cara dele toda. Bom, n�o vamos deixar os tr�s aqui, eles n�o contribuem nada para a decora��o. Rony, Harry e Jorge chutaram, rolaram e empurraram os inconscientes Malfoy, Crabbe e Goyle � cada um com a apar�ncia pior, dada a mistura de feiti�os com que tinham sido atingidos � at� o corredor, depois voltaram para a cabine e fecharam a porta. � Algu�m topa um Snap Explosivo? � convidou Jorge puxando um baralho. J� estavam no meio da quinta partida quando Harry resolveu fazer a eles a pergunta. � Ent�o v�o nos contar? � dirigiu-se ele a Jorge. � Quem � que voc�s estavam chantageando? � Ah � disse Jorge misteriosamente. � Aquilo. � Vamos deixar pra l� � disse Fred, balan�ando a cabe�a impaciente. � N�o foi nada importante. Pelo menos a essa altura. � Desistimos � disse Jorge encolhendo os ombros. Mas Harry, Rony e Hermione continuaram insistindo e finalmente Fred falou: � Est� bem, est� bem, se voc�s querem mesmo saber... Era Ludo Bagman. � Bagman? � disse Harry na mesma hora. � Voc�s est�o dizendo que ele estava envolvido... � N�o � disse Jorge desanimado. � Nada a ver. Um debil�ide. N�o teria c�rebro para tanto. � Ent�o, quem? Fred hesitou,depois disse: � Voc�s se lembram da aposta que fizemos com ele na Copa Mundial de Quadribol? Que a Irlanda ia ganhar, mas Krum capturaria o pomo? � Lembro � disseram Harry e Rony lentamente. � Bom, o babaca nos pagou com aquele ouro de leprechaun que os mascotes da Irlanda tinham jogado. � E da�? � E da� � disse Fred impaciente � desapareceu, n�o �? Na manh� seguinte, tinha desaparecido! � Mas... Deve ter sido sem querer, n�o? � perguntou Hermione. Jorge riu muito amargurado. � �, foi o que n�s pensamos a princ�pio. Achamos que se escrev�ssemos a ele e diss�ssemos que tinha havido um engano, ele nos pagaria direito. Mas nada feito. Nem deu bola para a nossa carta. Continuamos tentando falar com ele sobre isso em Hogwarts, mas estava sempre arranjando uma desculpa para se afastar. � No fim ele come�ou a engrossar � comentou Fred. � Disse que �ramos muito jovens para apostar em jogos de azar e que ele n�o ia nos dar nada. � Ent�o pedimos a ele que devolvesse o nosso dinheiro � disse Jorge amarrando a cara. � Ele n�o teve a coragem de recusar! � exclamou Hermione. � Acertou na primeira � disse Fred. � Mas eram todas as economias de voc�s! � disse Rony. � Me conta uma novidade � disse Jorge. � Claro que acabamos descobrindo o que estava rolando. O pai de Lino Jordan tamb�m tinha tido um trabalho danado para receber algum dinheiro de Bagman. O caso � que ele estava encalacrado at� o pesco�o com os duendes. Tinha pedido emprestado a eles uma montanha de dinheiro. Uma turma encurralou Bagman na floresta depois da Copa Mundial e tirou todo o ouro que ele levava nos bolsos, mas ainda n�o era suficiente para cobrir as dividas. Os duendes o seguiram at� Hogwarts para ficar de olho nele. O cara tinha perdido tudo no jogo. N�o tinha mais nem dois gale�es para esfregar um no outro. E sabe como foi que o idiota tentou pagar aos duendes? � Como? � perguntou Harry. � Apostou em voc� companheiro � disse Fred. � Fez uma aposta enorme que voc� ganharia o torneio. Apostou com os duendes. � Ent�o foi por isso que ele ficou tentando me ajudar a ganhar! � disse Harry. � Bom, e eu ganhei, n�o � mesmo? Ent�o ele j� pode pagar o ouro de voc�s! � N�o � respondeu Jorge, balan�ando a cabe�a. � Os duendes jogaram sujo com ele. Disseram que voc� ganhou com Diggory, e Bagman tinha apostado que voc� ganharia sozinho. Ent�o Bagman teve que se mandar para salvar a pele. E foi o que fez logo depois da terceira tarefa. Jorge deu um profundo suspiro e come�ou a dar as cartas outra vez. O resto da viagem foi bem agrad�vel, Harry na verdade desejou que ela pudesse ter continuado pelo ver�o afora, e que nunca chegassem a King"s Cross... Mas como aprendera a duras penas aquele ano, o tempo n�o desacelerava quando alguma coisa desagrad�vel estava � espera da gente, e logo, logo o Expresso de Hogwarts estaria entrando na plataforma 9 e �. O barulho e a confus�o de sempre encheram os corredores do trem quando os alunos come�aram a desembarcar. Rony e Hermione lutaram para passar com as malas ao largo de Malfoy, Crabbe e Goyle. Harry, no entanto, ficou parado. � Fred, Jorge, esperem a�. Os g�meos se viraram. Harry abriu o mal�o e tirou a bolsa com o pr�mio do Torneio Tribruxo. � Para voc�s � disse ele, e enfiou a bolsa nas m�os de Jorge. � Qu�? � exclamou Fred, aparvalhado. � Para voc�s � repetiu Harry com firmeza. � Eu n�o quero. � Voc� pirou � disse Jorge, tentando empurrar a bolsa de volta para o garoto. � N�o, n�o pirei. Fiquem com ele e continuem inventando. � para a loja de logros. � Ele pirou � disse Jorge, com assombro na voz. � Escutem � disse Harry decidido. � Se voc�s n�o aceitarem eu vou jogar fora. N�o quero o ouro e n�o preciso dele. Mas dar umas boas gargalhadas bem que ajudaria. Tenho a impress�o de que vamos precisar delas mais do que de costume e n�o vai demorar muito. � Harry � disse Jorge sem muita convic��o, pesando a bolsa de dinheiro nas m�os �, deve ter uns mil gale�es aqui. � Tem � disse Harry sorrindo. � Pensem quantos Cremes de Can�rio v�o poder fabricar.