Harry Potter
e a Pedra Filosofal
Joanne K. Rowlling
Sum�rio:
Cap�tulo Um � O Menino que Sobreviveu
Cap�tulo Dois � O Vidro que Sumiu
Cap�tulo Tr�s � As cartas de Ningu�m
Cap�tulo Quatro � O Guardi�o das Chaves
Cap�tulo Cinco � O Beco Diagonal
Cap�tulo Seis � O Embarque na plataforma 9 e �
Cap�tulo Sete � O Chap�u Seletor
Cap�tulo Oito � O Mestre das Po��es
Cap�tulo Nove � O Duelo � Meia-Noite
Cap�tulo Dez � O Dia das Bruxas
Cap�tulo Onze � Quadribol
Cap�tulo Doze � O Espelho de Ojesed
Cap�tulo Treze � Nicolau Flamel
Cap�tulo Catorze � Norberto, o Drag�o Noruegu�s
Cap�tulo Quinze � A Floresta Proibida
Cap�tulo Dezesseis � No Al�ap�o
Cap�tulo Dezessete � O Homem de Duas Caras
CAP�TULO UM
O Menino Que Sobreviveu
O Sr. e a Sra. Dursley, da Rua dos Alfeneiros, n�. 4, se orgulhavam de dizer que eram perfeitamente normais, muito bem, obrigado. Eram as �ltimas pessoas no mundo que se esperaria que se metessem em alguma coisa estranha ou misteriosa, porque simplesmente n�o compactuavam com esse tipo de bobagem.
O Sr. Dursley era Diretor de uma firma chamada Grunnings, fazia perfura��es. Era um homem alto e corpulento quase sem pesco�o, embora tivesse enormes bigodes. A Sra. Dursley era loura e tinha um pesco�o quase duas vezes mais comprido que o normal o que era muito �til porque ela passava grande parte do tempo espichando-o por cima da cerca do jardim para espiar os vizinhos. Os Dursley tinham um filhinho chamado Dudley, o Duda, e em sua opini�o n�o havia garoto melhor em nenhum lugar do mundo.
Os Dursley tinham tudo que queriam, mas tinham tamb�m um segredo, e seu maior receio era que algu�m o descobrisse. Achavam que n�o iriam ag�entar se algu�m descobrisse a exist�ncia dos Potter.
A Sra. Potter era irm� da Sra. Dursley, mas n�o se viam h� muitos anos, na realidade a Sra. Dursley fingia que n�o tinha irm�, porque esta e o marido imprest�vel eram o que havia de menos parecido poss�vel com os Dursley. Eles estremeciam s� de pensar o que os vizinhos iriam dizer se os Potter aparecessem na rua. Os Dursley sabiam que os Potter tinham um filhinho tamb�m, mas nunca o tinham visto. O garoto era mais uma raz�o para manter os Potter � dist�ncia, eles n�o queriam que Duda se misturasse com uma crian�a daquelas.
Quando o Sr. e a Sra. Dursley acordaram na ter�a-feira mon�tona e cinzenta em que a nossa hist�ria come�a n�o havia nada no c�u nublado l� fora sugerindo as coisas estranhas e misteriosas que n�o tardariam a acontecer por todo o pa�s. O Sr. Dursley cantarolava ao escolher a gravata mais sem gra�a do mundo para ir trabalhar e a Sra. Dursley fofocava alegremente enquanto lutava para encaixar um Duda aos berros na cadeirinha alta.
Nenhum deles reparou em uma coruja parda que passou, batendo as asas, pela janela.
�s oito e meia, o Sr. Dursley apanhou a pasta, deu um beijinho no rosto da Sra. Dursley e tentou dar um beijo de despedida em Duda, mas n�o conseguiu, porque na hora Duda estava tendo um acesso de raiva e atirava o cereal nas paredes.
� Pestinha � disse rindo contrafeito o Sr. Dursley ao sair de casa. Entrou no carro e deu marcha � r� para sair do estacionamento do n�mero quatro.
Foi na esquina da rua que ele notou o primeiro ind�cio de que algo estranho ocorria um gato lia um mapa. Por um instante o Sr. Dursley n�o percebeu o que vira � em seguida virou rapidamente a cabe�a para dar uma segunda olhada. Havia um gato de listras amarela, sentado na esquina da Rua dos Alfeneiros, mas n�o havia nenhum mapa � vista. Em que estaria pensando naquela hora? Devia ter sido um efeito da luz. Ele piscou e arregalou os olhos para o gato.
O gato o encarou. Enquanto virava a esquina e subia a rua, espiou o gato pelo espelho retrovisor. Ele agora estava lendo a placa que dizia Rua dos Alfeneiros � n�o, n�o estava olhando a placa: gatos n�o podiam ler mapas nem placas. O Dr. Dursley sacudiu a cabe�a e tirou o gato do pensamento. Durante o caminho para a cidade ele n�o pensou em mais nada exceto no grande pedido de brocas que tinha esperan�as de receber naquele dia, mas ao sair da cidade, as brocas foram varridas de sua cabe�a por outra coisa. Ao parar no costumeiro engarrafamento matinal, n�o pode deixar de notar que havia uma quantidade de gente estranhamente vestida andando pelas ruas. Gente com capas largas. O Sr. Dursley n�o tolerava gente que andava com roupas rid�culas � os trapos que se viam nos jovens! Imaginou que aquilo fosse uma nova moda idiota. Tamborilou os dedos no volante e seu olhar recaiu em um grupinho de exc�ntricos parados bem perto dele. Cochichavam excitados. O Sr. Dursley se irritou ao ver que alguns deles nem eram jovens, ora, aquele homem devia ser mais velho do que ele, e usava uma capa verde-esmeralda! Que petul�ncia! Mas ent�o ocorreu ao Sr. Dursley que se tratava prova de alguma promo��o boba � essas pessoas estavam obviamente arrecadando alguma coisa... �, devia ser isto! O tr�fego avan�ou e alguns minutos depois o Sr. Dursley chegou ao estacionamento da Grunnings, o pensamento de volta �s brocas.
O Sr. Dursley sempre sentava de costas para a parede em seu escrit�rio no nono andar. Se n�o o fizesse, talvez tivesse achado mais dif�cil se concentrar em brocas aquela manh�. Ele n�o viu as corujas que voavam velozes em plena luz do dia, embora as pessoas na rua as vissem, elas apontavam e se espantavam enquanto um bando de coruja passava no alto. A maioria jamais vira uma mesmo � noite. O Sr. Dursley, por�m, teve uma manh� normal sem corujas. Gritou com cinco pessoas diferentes. Deu v�rios telefonemas importantes e gritou mais um pouco. Estava de excelente humor at� a hora do almo�o, quando pensou em esticar as pernas e atravessar a rua para comprar um p�ozinho doce na padaria defronte.
Esquecera completamente as pessoas de capas at� passar por um grupo delas pr�ximo � padaria. Olhou-as com raiva ao passar. N�o sabia o porqu�, mas elas o deixavam nervoso. Essas cochichavam tamb�m, mas ele n�o viu nenhuma latinha de coleta. Foi ao passar por elas na volta, levando uma grande rosca a�ucarada que entreouviu algumas palavras do que diziam.
� ... Os Potter, � verdade, foi o que ouvi...
� ... �, o filho deles, Harry...
O Sr. Dursley parou de repente. O medo invadiu-o. Virou a cabe�a para olhar as pessoas que cochichavam como se quisesse dizer alguma coisa, mas pensou melhor.
Atravessou a rua depressa, correu para o escrit�rio, disse rispidamente � secret�ria que n�o o incomodasse, agarrou o telefone e quase terminara de discar o n�mero de casa quando mudou de id�ia. P�s o fone no gancho e alisou os bigodes pensando... N�o, estava agindo como um idiota. Potter n�o era um nome t�o fora do comum assim. Tinha certeza de que havia muita gente chamada Potter com um filho chamado Harry. Pensando bem nem sequer tinha certeza de que o sobrinho tivesse o nome de Harry. Jamais viu o menino. Talvez fosse Ernesto. Ou Eduardo.
N�o tinha sentido preocupar a Sra. Dursley, ela sempre ficava t�o perturbada � simples men��o da irm�. N�o a culpava � se ele tivesse uma irm� como aquela... Mas mesmo assim aquelas pessoas de capas.
Achou bem mais dif�cil se concentrar nas brocas aquela tarde e quando deixou o edif�cio �s cinco horas, continuava t�o preocupado que deu um encontr�o em algu�m parado ali � porta.
� Desculpe � murmurou, quando o velhinho cambaleou e quase caiu. Levou alguns segundos at� o Sr. Dursley perceber que o homem estava usando uma capa roxa. N�o parecia nada aborrecido por ter sido quase jogado ao ch�o. Ao contrario, seu rosto se abriu em um largo sorriso e ele disse numa voz esgani�ada que fez os passantes olharem:
� N�o precisa pedir desculpas, caro senhor, porque nada poderia me aborrecer hoje! Alegre-se! Porque o Voc�-Sabe-Quem finalmente foi-se embora! At� trouxas como o senhor deviam estar comemorando um dia t�o feliz!
E o velho abra�ou o Sr. Dursley pela cintura e se afastou.
O Sr. Dursley ficou pregado no ch�o. Fora abra�ado por um completo estranho. E tamb�m achava que fora chamado de trouxa, o que quer que isso quisesse dizer. Estava abalado. Correu para o carro e partiu para casa, esperando que estivesse imaginando coisas, o que nunca esperara que fizesse, porque n�o aprovava a imagina��o.
Quando entrou no estacionamento do numero quatro, a primeira coisa que viu � e isso n�o melhorou o seu estado de esp�rito,� foi o gato listrado que notara aquela manh�. Agora ele estava sentado no muro do jardim. Tinha certeza de que era o mesmo, as marcas em volta dos olhos eram as mesmas.
� Chispa! � disse o Sr. Dursley em voz alta.
O gato n�o se mexeu. Apenas lan�ou-lhe um olhar severo. Ser� que isto era um comportamento normal para um gato, pensou o Sr. Dursley. Continuava decidido a ent�o n�o comentar nada com a esposa.
A Sra. Dursley tivera um dia normal e agrad�vel. Contou-lhe durante o jantar os problemas da senhora do lado com a filha e ainda que Duda aprendera uma palavra nova (Nunca). O Sr. Dursley tentou agir normalmente. Depois que Duda foi se deitar, ele chegou � sala em tempo de ouvir o �ltimo notici�rio noturno.
"E, por �ltimo, os observadores de p�ssaros em toda parte registraram que as corujas do pa�s se comportaram de forma muito estranha hoje. Embora elas normalmente cacem a noite e raramente apare�am � luz do dia, centenas desses p�ssaros foram visto hoje voando em todas as dire��es desde o alvorecer. Os especialistas n�o sabem explicar por que as corujas de repente mudaram o seu padr�o de sono.�
O locutor se permitiu um sorriso.
�Muito misterioso. E agora, com Jorge Mendes, o nosso boletim meteorol�gico. �Vai haver mais tempestades de corujas hoje � noite, Jorge?�
"Bom, Eduardo", disse o meteorologista, n�o sei lhe dizer, mas n�o foram s� as corujas que se comportaram de modo estranho hoje, ouvintes de todo o pais t�m telefonado para reclamar que em vez do aguaceiro que prometi para ontem, eles tem tido chuvas de estrelas!
Talvez algu�m ande festejando a noite das fogueiras uma semana mais cedo este ano! Mas posso prometer para hoje uma noite chuvosa".
O Sr. Dursley ficou paralisado na poltrona. Estrelas cadentes em todo o pa�s? Corujas voando durante o dia? Gente misteriosa capas por todo lado? E um cochicho, um cochicho a respeito dos Potter...
A Sra. Dursley entrou na sala trazendo duas x�caras de ch�.
N�o adiantava. Teria que lhe dizer alguma coisa. Pigarreou nervoso.
� Hum, hum, Pet�nia, querida, voc� n�o tem tido not�cias de sua irm� ultimamente?
Conforme esperava, a Sra. Dursley pareceu chocada e aborrecida. Afinal, normalmente fingiam que ela n�o tinha irm�.
� N�o. � respondeu ela, seca. � Por qu�?
� Uma not�cia engra�ada � murmurou o Sr. Dursley � Corujas... Estrelas cadentes e vi uma por��o de gente de apar�ncia estranha na cidade hoje...
� E dai? � cortou a Sra. Dursley.
� Bem, pensei, talvez, tivesse alguma liga��o com... Sabe... O pessoal dela.
A Sra. Dursley bebericou o ch� com os l�bios contra�dos. O Sr. Dursley ficou em d�vida se teria coragem de lhe contar que ouvira o nome "Potter". Decidiu que n�o. Em vez disso, falou com a voz mais displicente que pode:
� O filho deles, teria mais ou menos a idade do Duda agora, n�o?
� Suponho que sim � respondeu a Sra. Dursley ainda seca.
� Como � mesmo o nome dele? Ernesto, n�o �?
� Harry. Um nome feio e vulgar se quer saber minha opini�o.
� Ah, � � disse o Sr. Dursley, sentindo um aperto horr�vel no cora��o. � E, concordo com voc�.
N�o disse mais nenhuma palavra sobre o assunto a caminho do quarto onde foram se deitar. Enquanto a Sra. Dursley estava no banheiro, o Sr. Dursley foi devagarinho at� a janela e espiou o jardim da casa. O gato continuava l�. Observava o come�o da Rua dos Alfeneiros como se esperasse alguma coisa.
Estaria imaginando coisas. Ser� que tudo isto teria liga��o com os Potter? Tinha-se... Se transpirasse que eram aparentados como um casal de... Bem ele achava que n�o ag�entaria.
Os Dursley se deitaram. A Sra. Dursley, adormeceu logo, mas o Sr. Dursley continuou acordado pensando no que acontecera. Seu �ltimo consolo antes de adormecer foi pensar que mesmo que os Potter estivessem envolvidos, n�o havia raz�o para se aproximarem dele e da Sra. Dursley. Os Potter sabiam muito bem o que pensavam deles e de gente de sua laia... N�o via como ele e Pet�nia poderiam se envolver com nada que estivesse acontecendo. O Sr. Dursley bocejou e se virou. Isso n�o poderia afet�-los...
Como estava enganado.
O Sr. Dursley talvez estivesse mergulhando em um sono inquieto, mas o gato no muro l� fora n�o mostrava sinais de sono.
Continuava sentado im�vel como uma est�tua, os olhos fixos na esquina mais distante da Rua dos Alfeneiros. E nem sequer estremeceu quando uma porta de carro bateu na rua seguinte, nem mesmo quando duas corujas mergulharam do alto. Na verdade, era quase meia-noite quando o gato se mexeu.
Um homem apareceu na esquina que o gato estivera vigiando.
Apareceu t�o s�bita e silenciosamente que se poderia pensar que tivesse sa�do do ch�o. O rabo do gato mexeu ligeiramente e seus olhos se estreitaram.
Ningu�m jamais vislumbrara nada parecido com este homem na Rua dos Alfeneiros. Era alto, magro e muito velho a julgar pelo prateado dos seus cabelos e de sua barba, suficientemente longos para prender no cinto. Usava vestes longas, uma capa p�rpura que arrastava pelo ch�o e botas com saltos altos e fivelas. Seus olhos azuis eram claros, luminosos e cintilantes por tr�s dos �culos em meia-lua e o nariz, muito comprido e torto, como se o tivesse quebrado pelo menos duas vezes. O nome dele era Alvo Dumbledore.
Alvo Dumbledore n�o parecia ter consci�ncia de que acabara numa rua onde tudo desde o seu nome �s suas botas era malvisto.
Estava ocupado apalpando a capa, procurando alguma coisa. Mas parecia ter consci�ncia de que estava sendo vigiado, porque ergueu a cabe�a de repente para o gato, que continuava a fit�-lo da outra ponta da rua. Por algum motivo, a vis�o do gato pareceu diverti-lo. Deu uma risadinha e murmurou:
� Eu devia ter imaginado.
Encontrou o que procurava no bolso interior da capa, parecia um isqueiro de prata. Abriu-o, ergueu-o no ar e ascendeu. O lampi�o de rua mais pr�ximo apagou-se com um estalido seco. Ele fez de novo � o lampi�o seguinte piscou e apagou, doze vezes ele acionou o "apagueiro", at� que as �nicas luzes acesas na rua eram dois pontinhos min�sculos ao longe, os olhos do gato que os vigiava. Se algu�m espiasse pela janela agora, at� a Sra. Dursley, de olhos de contas, n�o conseguira ver nada que estava acontecendo na cal�ada. Dumbledore tornou a guardar o "apagueiro" na capa e saiu caminhando pela rua em dire��o ao n�mero quatro, onde se sentou no muro ao lado do gato. N�o para olhar para o bicho, mas, passado algum tempo, dirigiu-se a ele.
� Imaginava encontrar a senhora aqui, Professora Minerva McGonagall.
E virou-se para sorrir para o gato, mas este desaparecera. Ao inv�s dele, viu-se sorrindo para uma mulher de aspecto severo que usava �culos de lentes quadradas exatamente do formato das marcas que o gato tinha em volta dos olhos. Ela, tamb�m, usava uma capa esmeralda. Trazia os cabelos negros presos num coque apertado. E parecia decididamente irritada.
� Como soube que era eu? � perguntou.
� Minha cara professora nunca vi um gato se sentar t�o duro.
� O senhor estaria duro se tivesse passado o dia todo sentado em um muro de pedra � respondeu a Professora Minerva.
� O dia todo? Quando podia estar comemorando? Devo ter passado por mais de dez festas e banquetes a caminho daqui.
A professora fungou aborrecida.
� Ah sim, vi que todos est�o comemorando � disse impaciente. � Era de esperar que fossem um pouco mais cautelosos, mas n�o, at� os trouxas notaram que alguma coisa estava acontecendo. Deu no telejornal. � Ela indicou com a cabe�a a sala �s escuras dos Dursley. � Eu ouvi... Bandos de corujas... Estrelas cadentes... Ora, eles n�o s�o completamente idiotas. N�o podiam deixar de notar alguma coisa.
� Estrelas cadentes em Kent, aposto que foi coisa de D�dalo Diggle. Ele nunca teve muito ju�zo. � Voc� n�o pode culp�-los � ponderou Dumbledore educadamente. � Temos tido muito pouco o que comemorar nos �ltimos onze anos.
� Sei disso � retrucou a professora mal-humorada. � Mas n�o � raz�o para perdermos a cabe�a. As pessoas est�o sendo completamente descuidadas, saem as ruas em plena luz do dia, sem nem ao menos vestir roupa de trouxa, e espalham boatos.
De esguelha, lan�ou um olhar atento a Dumbledore, como se esperasse que ele dissesse alguma coisa, mas ele continuou calado, por isso ela recome�ou:
� Ia ser uma gra�a se, no pr�prio dia em que Voc�-Sabe-Quem parece ter finalmente ido embora, os trouxas descobrissem a nossa exist�ncia. Suponho que ele realmente tenha ido embora, n�o �, Dumbledore?
� Parece que n�o h� d�vida. Temos muito o que agradecer. Aceita um sorvete de lim�o?
� Um o qu�?
� Um sorvete de lim�o. E uma esp�cie de doce dos trouxas de que sempre gostei muito.
� N�o, obrigada � disse a Professora Minerva com frieza, como se n�o achasse que o momento pedia sorveres de lim�o. � Mesmo que Voc�-Sabe-Quem tenha ido embora.
� Minha cara professora, com certeza uma pessoa sensata como a senhora pode cham�-lo pelo nome. Toda essa bobagem de Voc�-Sabe-Quem h� onze anos venho tentando convencer as pessoas a cham�-lo pelo nome que recebeu: Voldemort � A professora franziu a cara, mas Dumbledore, que estava separando dois sorvetes de lim�o, pareceu n�o reparar � Tudo fica t�o confuso quando todos n�o param de dizer "Voc�-Sabe-Quem". Nunca vi nenhuma raz�o para ter medo de dizer o nome de Voldemort.
� Sei que n�o v� � disse a professora parecendo meio exasperada, meio admirada. Mas voc� � diferente.. Todo o mundo sabe � o �nico de quem Voc�-Sabe... Ah est� bem, de quem Voldemort tem medo.
� Isto � um elogio � disse Dumbledore calmamente. � Voldemort tinha poderes que nunca tive.
� S� porque voc� � muito... Bem... Nobre para us�-los.
� � uma sorte estar escuro. Nunca mais corei assim desde que Madame Gonfrei me disse que gostava dos meus abafadores de orelhas novos.
A Professora Minerva lan�ou um olhar severo a Dumbledore e disse:
� As corujas n�o s�o nada comparadas aos boatos que correm que todos est�o dizendo? Por que ele foi embora? Que foi que finalmente o deteve?
Aparentemente a Professora Minerva chegara ao ponto que estava ansiosa para discutir, a verdadeira raz�o pela qual estivera esperando o dia todo em cima de um muro frio e duro, porque nem como gato nem como mulher ela fixara antes um olhar t�o penetrante em Dumbledore como agora. Era �bvio que seja o que fosse que "todos" estavam dizendo, ela n�o iria acreditar at� que Dumbledore confirmasse ser verdade. Dumbledore, por�m, estava escolhendo mais um sorvete de lim�o e n�o respondeu.
� O que est�o dizendo � continuou ela � � que a noite passada Voldemort apareceu em Godric's Hollow. Foi procurar os Potter. O boato � que L�lian e Tiago Potter est�o... Est�o mortos.
Dumbledore fez que sim com a cabe�a. A Professora Minerva perdeu o f�lego.
� L�lian e Tiago... N�o posso acreditar... N�o quero acreditar... Ah, Alvo.
Dumbledore estendeu a m�o e deu-lhe um tapinha no ombro.
� Eu sei... Eu sei... � disse deprimido.
A voz da Professora Minerva tremeu ao prosseguir:
� E n�o � s� isso est�o dizendo que ele tentou matar o filho dos Potter, Harry. Mas... N�o conseguiu. N�o conseguiu matar o garotinho. Ningu�m sabe o porqu� nem como, mas est�o dizendo que na hora que n�o p�de matar Harry Potter, por alguma raz�o, o poder de Voldemort desapareceu e � por isso que ele foi embora.
Dumbledore concordou com a cabe�a, s�rio.
� � verdade? � gaguejou a professora. � Depois de tudo o que ele fez... Todas as pessoas que matou... N�o conseguiu matar um garotinho? � simplesmente espantoso... De tudo que poderia det�-lo... Mas, por Deus, como foi que Harry sobreviveu?
� S� podemos imaginar � disse Dumbledore. � Talvez nunca cheguemos � saber.
A Professora Minerva pegou um len�o de renda e secou com delicadeza os olhos por baixo das lentes dos �culos. Dumbledore deu uma grande fungada ao mesmo tempo em que tirava o rel�gio de ouro do bolso e o examinava. Era um rel�gio muito estranho.
Tinha doze ponteiros, mas nenhum n�mero, em vez deles pequenos planetas giravam � volta. Mas, devia fazer sentido para Dumbledore, porque ele o rep�s no bolso e disse:
� Hagrid est� atrasado. A prop�sito, foi ele que lhe disse que eu estaria aqui, suponho.
� Foi. E suponho que voc� n�o v� me dizer por que est� aqui e n�o em outro lugar.
� Vim trazer Harry para tio e a tia. Eles s�o a �nica fam�lia que lhe resta.
� Voc� n�o quer dizer, voc� n�o pode estar se referindo �s pessoas que moram aqui? � exclamou a Professora Minerva, pulando de p� e apontando para o n�mero quatro � Dumbledore voc� n�o pode. Estive observando a fam�lia o dia todo. Voc� n�o poderia encontrar duas pessoas menos parecidas conosco. E t�m um filho, vi-o dando chutes na m�e at� a rua, berrando porque queria balas. Harry Potter n�o pode vir morar aqui!
� � o melhor lugar para ele � disse Dumbledore com firmeza. � os tios poder�o lhe explicar tudo quando ele for mais velho, escrevi-lhes uma carta.
� Uma carta? � repetiu a professora com a voz fraca, sentando-se novamente no muro. � Francamente Dumbledore, voc� acha que pode explicar tudo isso em uma carta? Essas pessoas jamais v�o entend�-lo! Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu n�o me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. V�o escrever livros sobre Harry. Todas as crian�as no nosso mundo v�o conhecer o nome dele!
� Exatamente � disse Dumbledore, olhando muito s�rio por cima dos �culos de meia-lua. � Isto seria o bastante para virar a cabe�a de qualquer menino. Famoso antes mesmo de saber andar. Famoso por alguma coisa que ele nem vai se lembrar! Veja que ele estar� muito melhor se crescer longe de tudo isso e tenha capacidade de compreender?
A professora abriu a boca, mudou de id�ia, engoliu em seco e ent�o disse:
� �, �, voc� est� certo � claro. Mas como � que o garoto vai chegar aqui, Dumbledore? � Ela olhou para a capa dele de repente como se lhe ocorresse que talvez escondesse Harry ali.
� Hagrid vai traz�-lo.
� Voc� acha que � sensato confiar a Hagrid uma tarefa importante como essa?
� Eu confiaria a Hagrid minha vida � respondeu Dumbledore.
� N�o estou dizendo que ele n�o tenha o cora��o no lugar � concedeu a professora de m� vontade � mas voc� n�o pode fingir que ele � cuidadoso. Que tem uma tend�ncia a... Que foi isso?
Um ronco discreto quebrara o sil�ncio da rua. Foi aumentando cada vez mais enquanto eles olhavam para cima e para baixo da rua � procura de um sinal de farol de carro, o ronco se transformou num trov�o quando os dois olharam para o c�u � e uma enorme motocicleta caiu do ar e parou na rua diante deles.
Se a motocicleta era enorme, n�o era nada comparada ao homem que a montava de lado. Ele era quase duas vezes mais alto do que um homem normal e pelo menos cinco vezes mais largo. Parecia simplesmente grande demais para existir e t�o selvagem � emaranhados de barba e cabelos negros longos e grossos escondiam a maior parte do seu rosto, as m�os tinham o tamanho de uma lata de lixo e os p�s cal�ados com botas de couro pareciam filhotes de golfinhos. Em seus bra�os imensos e musculosos ele segurava um embrulho de cobertores.
� Hagrid � exclamou Dumbledore, parecendo aliviado � Finalmente. E onde foi que arranjou a moto?
� Pedi emprestada, Professor Dumbledore � respondeu o gigante, desmontando cuidadosamente da moto ao falar � O jovem Sirius me emprestou. Trouxe ele, professor.
� N�o teve nenhum problema?
� N�o, senhor. A casa ficou quase destru�da, mas consegui tir�-lo inteiro antes que os trouxas invadissem o lugar. Ele dormiu quando estivemos sobrevoando Bristol.
Dumbledore e a Professora Minerva curvaram-se para o embrulho de cobertores. Dentro, apenas vis�vel, havia um menino, que dormia a sono solto. Sob uma mecha de cabelos muito negros ca�da sobre a testa eles viram um corte curioso, tinha a forma de um raio.
� Foi a� que? � sussurrou a professora.
� Foi � confirmou Dumbledore.� Ficar� com a cicatriz para sempre.
� Ser� que voc� n�o poderia dar um jeito, Dumbledore?
� Mesmo que pudesse, eu n�o o faria. As cicatrizes podem vir a ser �teis. Tenho uma acima do joelho esquerdo que � um mapa perfeito do metr� de Londres. Bem, me d� ele aqui, Hagrid, � melhor acabarmos logo com isso.
Dumbledore recebeu Harry nos bra�os e virou-se para a casa dos Dursley.
� Ser� que eu podia... Podia me despedir dele, professor? � perguntou Hagrid.
Ele curvou a enorme cabe�a descabelada para Harry e lhe deu o que deve ter sido um beijo muito �spero e peludo. Depois, sem aviso, Hagrid soltou um uivo como o de um cachorro ferido.
� Psiu! � sibilou a Professora Minerva � Voc� vai acordar os trouxas!
� Desculpe � solu�ou Hagrid, puxando um enorme len�o sujo e escondendo a cara nele. � Mas na... N�... N�o consigo suportar, L�lian e Tiago mortos, e o coitadinho do Harry ter de viver com os trouxas...
� �, � muito triste, mas controle-se, Hagrid, ou v�o nos descobrir � sussurrou a professora, dando uma palmadinha desajeita no bra�o de Hagrid enquanto Dumbledore saltava a mureta de pedra e se dirigia � porta da frente. Depositou Harry devagarinho no batente, tirou uma carta da capa, meteu-a entre os cobertores do menino e em seguida, voltou para a companhia dos dois. Durante um minuto inteiro os tr�s ficaram parados olhando para o embrulhinho, os ombros de Hagrid sacudiram, os olhos da Professora Minerva piscaram loucamente e a luz cintilante que sempre brilhava nos olhos de Dumbledore parecia ter-se extinguido.
� Bem � disse Dumbledore finalmente � acabou-se. N�o temos mais nada a fazer aqui j� podemos nos reunir aos outros para comemorar.
� � � disse Hagrid com a voz muito abafada. � Vou devolver a moto de Sirius. Boa noite, Professora Minerva, Professor Dumbledore...
Enxugando os olhos na manga da jaqueta, Hagrid montou na moto e acionou o motor com um pontap�, com um rugido ela levantou v�o e desapareceu na noite.
� Nos veremos em breve, espero, Professora Minerva � falou Dumbledore, com um aceno da cabe�a. A Professora Minerva assou o nariz em resposta.
Dumbledore se virou e desceu a rua. Na esquina parou e puxou o "apagueiro". Deu um clique e doze esferas de luz voltaram aos lampi�es de modo que a Rua dos Alfeneiros de repente iluminou-se com uma claridade laranja e ele divisou o gato listrado se esquivando pela outra ponta da rua. Mal dava para enxergar o embrulhinho de cobertores no batente do n�mero quatro.
� Boa sorte, Harry � murmurou ele. Girou nos calcanhares e, com um movimento da capa, desapareceu.
Uma brisa arrepiou as cercas bem cuidadas da Rua dos Alfeneiros, silenciosas e quietas sob o negror do c�u, o �ltimo lugar do mundo em que algu�m esperaria que acontecessem coisas espantosas. Harry Potter virou-se dentro dos cobertores sem acordar. Sua m�ozinha agarrou a carta ao lado, mas ele continuou a dormir, sem saber que era especial, sem saber que era famoso, sem saber que iria acordar dentro de poucas horas com o grito da Sra. Dursley ao abrir a porta da frente para p�r as garrafas de leite do lado de fora, nem que passaria as pr�ximas semanas levando cutucadas e belisc�es do primo Duda. Ele n�o podia saber que neste mesmo instante, havia pessoas se reunindo em segredo em todo o pa�s que erguiam os copos e diziam com vozes abafadas.
� � Harry Potter, o menino que sobreviveu.
CAP�TULO DOIS
O Vidro Que Sumiu
Quase dez anos haviam se passado desde o dia em que os Dursley acordaram e encontraram o sobrinho no batente da porta, mas a Rua dos Alfeneiros n�o mudara praticamente nada. O sol nascia para os mesmos jardins cuidados e iluminava o n�mero quatro de bronze � porta de entrada dos Dursley, e penetrava sorrateiro a sala de estar que continuava quase igual ao que fora na noite em o Sr. Dursley ouvira a funesta not�cia sobre as corujas.
Somente as fotografias sobre o console da lareira mostravam o tempo que j� passara. Dez anos antes havia uma por��o de fotografias de uma coisa que parecia uma grande bola de brincar na praia, usando diferentes chap�us coloridos, mas Duda Dursley n�o era mais beb�, e agora as fotografias mostravam um menino grande e louro na primeira bicicleta, no carrossel de uma feira, brincando com o computador do pai, recebendo um beijo e um abra�o da m�e. A sala n�o continha nenhuma indica��o de que havia, outro menino na casa.
No entanto Harry Potter continuava l�, no momento adormecido, mas n�o por muito tempo. Sua tia Pet�nia acordara e foi sua voz aguda que produziu o primeiro ru�do do dia.
� Acorde! Levante-se! Agora!
Harry acordou assustado. A tia bateu � porta outra vez.
� Acorde! � gritou.
Harry ouviu-a caminhar em dire��o � cozinha e em seguida uma frigideira bater no fog�o. Virou-se de costa e tentou se lembrar do sonho em que estava. Era um sonho gostoso. Havia uma motocicleta. Tinha a estranha sensa��o que j� vira esse sonho antes.
A tia voltara a porta.
� Voc� j� se levantou? � perguntou.
� Quase � respondeu Harry.
� Bem, ande depressa, quero que voc� tome conta do bacon. E n�o se atreva a deix�-lo queimar. Quero tudo perfeito no arm�rio no anivers�rio de Duda.
Harry gemeu.
� Que foi que voc� disse? � perguntou a tia com rispidez.
� Nada, nada...
O anivers�rio de Duda � como podia ter esquecido? Harry levantou-se devagar e come�ou a procurar as meias. Encontrou-as debaixo da cama e depois de retirar uma aranha de um p�, cal�ou-as.
Harry estava acostumado com aranhas, porque o arm�rio sob a escada vivia cheio delas e era ali que ele dormia.
J� vestido saiu para o corredor que levava � cozinha. A mesa quase desaparecera tantos eram os presentes de anivers�rio de Duda. Pelo que via, Duda ganhara o novo computador que queria, para n�o falar na segunda televis�o e na bicicleta de corrida. Para o qu� exatamente, Duda queria uma bicicleta de corrida era um mist�rio para Harry, porque Duda era muito gordo e detestava fazer exerc�cios � a n�o ser, � claro, que envolvessem bater em algu�m. O saco de pancadas preferido de Duda era Harry, mas nem sempre Duda conseguia peg�-lo. Harry n�o parecia, mas era muito r�pido.
Talvez fosse porque vivia num arm�rio escuro, mas Harry sempre fora pequeno e muito magro para a idade. Parecia ainda menor e mais magro do que realmente era porque s� lhe davam para vestir as roupas velhas de Duda e Duda era quatro vezes maior do que ele. Harry tinha um rosto magro, joelhos ossudos, cabelos negros e olhos muito verdes. Usava �culos redondos, remendados com fita adesiva, por causa das muitas vezes que Duda socara no nariz. A �nica coisa que Harry gostava em sua apar�ncia era uma cicatriz fininha na testa que tinha a forma de um raio. Existia desde que se entendia por gente e a primeira pergunta que se lembrava de ter feito � tia Pet�nia era como a arranjara.
� No desastre de carro em que seus pais morreram � respondera ela. � E n�o fa�a perguntas.
N�o fa�a perguntas � est� era a primeira regra para levar uma vida tranq�ila como os Dursley.
Tio V�lter entrou na cozinha quando Harry estava virando o bacon.
� Penteie o cabelo � mandou, a guisa de bom-dia.
Mais ou menos uma vez por semana, tio V�lter espiava por cima do jornal e gritava que Harry precisava cortar os cabelos.
Harry deve ter feito mais cortes que o resto dos meninos de sua classe somados, mas n�o fazia diferen�a, seus cabelos simplesmente cresciam daquele jeito � para todo lado.
Harry estava fritando os ovos na altura em que Duda chegou � cozinha com a m�e. Duda se parecia muito com o tio V�lter. Tinha um rosto grande e rosado, pesco�o curto, olhos azuis pequenos e aguados e cabelos louros muito espessos e assentados na cabe�a enorme e densa. Tia Pet�nia dizia com freq��ncia que Duda parecia um anjinho � Harry dizia com freq��ncia que Duda parecia um �porco de peruca�.
Harry p�s os pratos de ovos com bacon na mesa, o que foi porque n�o havia muito espa�o. Entrementes, Duda contava os presentes. Ficou desapontado.
� Trinta e seis � disse, erguendo os olhos para o pai e a m�e a � Dois a menos do que no ano passado.
� Querido, voc� n�o contou o presente de tia Guida, e aqui est� um grand�o do papai e da mam�e, est� vendo?
� Est� bem, ent�o s�o trinta e sete � respondeu Duda ficando vermelho. Harry, percebendo que Duda estava preparando acesso de raiva come�ou a engolir seu bacon o mais depressa poss�vel caso o primo virasse a mesa.
Tia Pet�nia obviamente tamb�m sentiu o perigo, porque na hora disse:
� E vamos comprar mais dois presentes para voc� hoje. Que tal fofinho? Mais dois presentes est� bem assim?
Duda pensou um instante. Pareceu um esfor�o enorme. Finalmente responde hesitante:
� Ent�o vou ficar com trinta... Trinta...
� Trinta e nove, anjinho � disse tia Pet�nia.
� Ah. � Duda largou-se na cadeira e agarrou o pacote mais pr�ximo. � Ent�o, est� bem.
Tio V�lter deu uma risadinha.
� O baixinho quer tudo a que tem direito, igualzinho ao pai. � isso ai, garoto! � e arrepiou os cabelos de Duda com os dedos.
Naquele instante o telefone tocou e tia Pet�nia foi atend�-lo, enquanto Harry e tio V�lter assistiam Duda desembrulhar a bicicleta de corrida, a c�mara de filmar, um aeromodelo com controle remoto, dezesseis jogos de computador e um gravador de v�deos. Estava rasgando a embalagem de um rel�gio de ouro quando tia Pet�nia voltou do telefone parecendo ao mesmo tempo zangada e preocupada.
� M�s noticias, V�lter a Sra. Figg fraturou a perna. N�o pode ficar com ele. � e indicou Harry com a cabe�a.
Duda boquiabriu-se de horror, mas o cora��o de Harry deu um salto. Todo ano, no anivers�rio de Duda, os pais dele o levavam para passar o dia com um amiguinho em parques de aventuras, lanchonetes ou no cinema. Todo ano deixavam Harry com a Sra. Figg, uma velha maluca que morava ali perto. Harry detestava o lugar. A casa inteira cheirava a repolho e a Sra. Figg lhe mostrava fotografias de todos os gatos que j� tivera.
� E agora? � perguntou tia Pet�nia, olhando furiosa para Harry como se ele tivesse planejado tudo. Harry sabia que devia sentir pena da Sra. Figg que quebrara a perna, mas n�o era f�cil quando lembrava que ia passar um ano sem ter que olhar para o Tobias, o N�ris, Seu Patinhas e o Pompom outra vez.
� Poder�amos ligar para a Guida � sugeriu tio V�lter.
� N�o diga bobagem, V�lter, ela detesta o menino.
Com freq��ncia, os Dursley falavam de Harry assim, como se ele n�o estivesse presente, ou melhor, como se ele fosse alguma coisa muito desprez�vel que n�o conseguisse entend�-los, como uma lesma.
� E aquela sua amiga, como � mesmo o nome dela, Ivone?
� Est� passando f�rias em Majorca � respondeu Pet�nia, com rispidez.
� Voc�s podiam me deixar aqui � arriscou Harry esperan�oso (ele poderia assistir ao que quisesse na televis�o para variar e, quem sabe, at� dar uma voltinha no computador de Duda).
Tia Pet�nia parecia que tinha engolido um lim�o.
� E quando voltarmos, encontrar a casa destru�da? � rosnou.
� N�o vou explodir a casa � prometeu Harry, mas os tios n�o estavam mais escutando.
� Talvez pud�ssemos lev�-lo ao zool�gico � disse tia Pet�nia lentamente � e deix�-lo no carro.
� O carro � novo. N�o vou deix�-lo sentado no carro sozinho.
Duda come�ou a chorar alto. Na realidade n�o estava chorando, fazia anos que n�o chorava de verdade, mas sabia que se fizesse cara de choro e gritasse a m�e lhe daria o que quisesse.
� Dudinha, querido, n�o chore, mam�e n�o vai deixar ele estragar o seu dia! � exclamou abra�ando-o.
� N�o... Quero... Que... Ele... V�! � Duda berrou entre grandes solu�os fingidos � Ele sempre estraga tudo! � E lan�ou um riso maldoso por entre os bra�os da m�e.
Naquele instante a campainha tocou.
� Ah, meu Deus, s�o eles chegando! � disse tia Pet�nia nervosa um minuto depois, o melhor amigo de Duda, Pedro entrou acompanhado da m�e. Pedro era um menino magricela, com cara de rato. Em geral era quem segurava por tr�s os garotos enquanto Duda batia neles. Na mesma hora Duda parou de fingir que estava chorando.
Meia hora depois, Harry, que n�o conseguia acreditar em sua sorte, estava sentado no banco traseiro do carro dos Dursley, com Pedro e Duda a caminho do jardim zool�gico, pela primeira vez na vida. O tio e a tia n�o tinham conseguido pensar no que fazer com ele, mas antes de sa�rem, tio V�lter puxara Harry para o lado.
� Estou lhe avisando � disse, aproximando a cara grande e vermelha de Harry � Estou-lhe avisando, moleque, a primeira gracinha que fizer, a primeira, vai ficar preso naquele arm�rio at� o Natal.
� N�o vou fazer nada � disse Harry � juro...
Mas tio V�lter n�o acreditou nele. Ningu�m nunca acreditava.
O problema era que sempre aconteciam coisas estranhas � volta de Harry e simplesmente n�o adiantava dizer aos Dursley que n�o era sua culpa.
Uma vez tia Pet�nia, cansada de ver Harry voltar do barbeiro como se n�o tivesse estado l�, apanhara uma tesoura de cozinha e cortara o cabelo dele t�o curto que o deixara quase careca, exceto por uma franja, que ela deixou, para esconder aquela cicatriz horrorosa. Duda morrera de rir de Harry, que passou � noite acordado imaginando como que seria a escola no dia seguinte, onde j� riam dele por causa das roupas folgadas e dos �culos emendados com fita adesiva. Na manha seguinte, por�m, quando se levantou os cabelos estavam exatamente como eram antes de tia Pet�nia cort�-los. Tinham-no deixado preso uma semana no arm�rio por causa disso, apesar de sua tentativa de explicar que n�o saberia explicar como � que os cabelos tinham crescido t�o depressa.
Outra vez, tia Pet�nia tentara obrig�-lo a vestir um macac�o velho de Duda (marrom com pompons cor de laranja). Quanto mais tentava enfi�-lo pela cabe�a dele, tanto menor o macac�o ficava, at� que finalmente parecia feito para um fantochinho de dedo, e com certeza n�o ia servir para o Harry. Tia Pet�nia concluiu que devia ter encolhido na lavagem e Harry, para seu grande alivio, n�o foi castigado.
Por outro lado, ele se metera numa grande encrenca quando o encontraram no telhado da cozinha da escola. A turma de Duda o estava perseguindo, como sempre, e tanto para surpresa de Harry quanto dos outros, ele apareceu sentado na chamin�. Os Dursley receberam uma carta muito zangada da diretora de Harry, contando que Harry andara escalando os pr�dios da escola. Mas s� o que tentara fazer (conforme gritou para tio V�lter atrav�s da porta trancada do arm�rio) fora saltar para tr�s das grandes latas de lixo da porta da cozinha. Harry supunha que o vento devia t�-lo apanhado na hora em que saltou.
Mas hoje nada ia dar errado. Valia at� a pena estar em companhia de Duda e Pedro para passar o dia em outro lugar que n�o fosse � escola, o arm�rio, ou a sala com cheiro de repolho da Sra. Figg.
Enquanto dirigia, tio V�lter se queixava � tia Pet�nia. Ele gostava de se queixar de tudo: das pessoas no trabalho, de Harry, do conselho, de Harry, do banco e Harry eram seus dois assuntos preferidos. Esta manh� eram as motocicletas.
� ... Roncando pelas ruas como loucos, os arruaceiros � disse, quando uma moto emparelhou com eles.
� Tive um sonho com uma motocicleta � falou Harry, lembrando-se de repente � Ela voava.
Tio V�lter quase bateu no carro da frente. Virou-se para tr�s e gritou com Harry, seu rosto parecendo uma beterraba gigante e bigoduda:
� MOTOCICLETAS N�O VOAM!
Duda e Pedro deram risadinhas.
� Sei que n�o voam � respondeu Harry � Foi s� um sonho.
Mas desejou que n�o tivesse dito nada. Se havia uma coisa que os Dursley detestavam mais do que as suas perguntas, era quando falava de coisas que faziam o que n�o deviam, n�o interessava se era sonho ou desenho animado, pareciam pensar que ele poderia arranjar id�ias perigosas.
Era um s�bado muito ensolarado e o z�o estava cheio de fam�lias. Os Dursley compraram grandes sorvetes de chocolate para Duda e Pedro � entrada e, ent�o, porque a mulher sorridente na carrocinha perguntara o que Harry ia querer antes que pudessem afast�-lo depressa dali, eles lhe compraram um picol� barato de lim�o. N�o era ruim, Harry pensou, lambendo-o enquanto observavam um gorila que co�ava a cabe�a e se parecia demais com Duda, exceto pelos cabelos que n�o eram louros.
Harry passou a melhor manh� que j� tivera em muito tempo.
Cuidou de andar um pouco afastado dos Dursley, de modo que Duda e Pedro, que ali pela hora do almo�o estavam come�ando a se chatear com os bichos, n�o reca�ssem no seu passatempo favorito de bater no primo. Almo�aram no restaurante do z�o e quando Duda teve um acesso de raiva porque seu sorvet�o n�o era bastante grande, tio V�lter comprou-lhe outro e deixou Harry terminar o primeiro.
Depois Harry achou que devia ter adivinhado que estava bom demais para durar muito tempo.
Terminado o almo�o foram visitar o alojamento dos r�pteis.
Era fresco e escuro ali, com quadrados iluminados ao longo das paredes. Por tr�s dos vidros, rastejavam e deslizavam em peda�os de pau e em pedras todos os tipos de cobras e lagartos. Duda e Pedro queriam ver as enormes cobras venenosas e as grossas pitons que esmagavam um homem. Duda logo encontrou a maior cobra que havia. Poderia dar duas voltas no carro de tio V�lter e amass�-lo at� reduzi-lo ao tamanho de uma lata de lixo, mas naquela hora ela n�o estava disposta a fazer nada. Na realidade, estava dormindo a sono solto.
Duda parou, o nariz comprimido contra o vidro, observando as espirais marrons e reluzentes.
� Faz ela se mexer � choramingou para o pai. Tio V�lter bateu no vidro, mas a cobra no se mexeu.
� Faz outra vez � mandou Duda. Tio V�lter bateu no vidro com os n�s dos dedos, mas a cobra continuou dormindo.
� Que chato � queixou-se Duda. E saiu arrastando os p�s, Harry veio se postar na frente do tanque e estudou a cobra com aten��o. N�o se admiraria se a pr�pria cobra morresse de t�dio. N�o tinha companhia a n�o ser aquela gente idiota que batucava no vidro, tentando incomod�-la o dia inteiro. Era pior do que ter um arm�rio por quarto, onde a �nica visita era a tia Pet�nia esmurrando a porta para acord�-lo, mas ao menos ele podia visitar o resto da casa.
A cobra inesperadamente abriu os olhos, que pareciam contas.
Devagarinho, muito devagarinho, levantou a cabe�a at� seus olhos chegarem ao n�vel dos de Harry.
E piscou.
Harry arregalou os olhos. E olhou depressa a toda volta para ver se havia algu�m olhando. N�o havia. E retribuiu o olhar da cobra, piscando tamb�m.
A cobra acenou com a cabe�a na dire��o de tio V�lter e de Duda, depois levantou os olhos para o teto. Lan�ou um olhar a Harry que dizia com todas as letras:
� �Isso � o que me acontece o tempo todo�.
� Eu sei � murmurou Harry pelo vidro, embora n�o tivesse muita certeza se a cobra poderia ouvi-lo � deve ser bem chato.
A cobra concordou com um aceno de cabe�a enf�tico.
� Mas de onde � que voc� veio? � perguntou Harry.
A cobra apontou com o rabo uma placa pr�xima ao vidro.
Harry espiou.
� Boa Constrictor, Brasil, era bom l�?
A jib�ia apontou novamente a placa com o rabo e Harry leu:
�Este esp�cime nasceu em cativeiro�.
� Ah, entendo, ent�o voc� nunca esteve no Brasil?
A cobra sacudiu a cabe�a, mas um grito ensurdecedor atr�s de Harry fez os dois pularem:
� DUDA! SR. DURSLEY! VENHAM VER ESSA COBRA! VOC�S N�O V�O ACREDITAR NO QUE EST� FAZENDO!
Duda veio bamboleando at� onde o amigo estava o mais depressa que p�de.
� Cai fora � falou dando um soco nas costelas de Harry.
Apanhado de surpresa, Harry caiu com for�a no ch�o de concreto.
O que se passou em seguida aconteceu t�o depressa que ningu�m viu como foi: num segundo, Pedro e Duda estavam encostados no vidro, no segundo seguinte, estavam saltando para tr�s soltando uivos de terror.
Harry sentou-se e parou de respirar: o vidro da frente do tanque da jib�ia tinha sumido. A grande cobra se desenrolou depressa e escorregou pelo ch�o, as pessoas no alojamento dos r�pteis gritaram e come�aram a correr para as sa�das.
Quando a cobra passou r�pido por ele, Harry poderia jurar que uma voz baixa e sibilante tinha dito: "Brasil, aqui vou eu... Obrigado, amigo�.
O zelador do alojamento dos r�pteis ficou em estado de choque.
� Mas o vidro � ele n�o parava de repetir, para onde foi o vidro?
O diretor do z�o em pessoa preparou uma x�cara de ch� forte para tia Pet�nia enquanto se desculpava mil vezes.
Pedro e Duda s� conseguiam balbuciar. Pelo que Harry vira, a cobra n�o fizera nada a n�o ser fingir abocanhar os calcanhares deles quando passou, mas quando chegaram finalmente ao carro do tio V�lter, Duda estava contando que a cobra quase lhe arrancara a perna a dentadas, enquanto Pedro jurava que a cobra tentara apert�-lo at� matar. Mas o pior de tudo, pelo menos para Harry, foi Pedro ter se acalmado o suficiente para perguntar:
� Harry estava conversando com ela, n�o estava, Harry?
Tio V�lter esperou at� Pedro estar longe da casa para brigar com Harry, Estava t�o zangado que mal podia falar. Conseguiu apenas dizer:
� V�... Arm�rio,... Harry... Sem comida � antes de desmontar em uma cadeira e tia Pet�nia ter que correr para lhe servir uma boa dose de conhaque.
Muito mais tarde, deitado no seu arm�rio, Harry desejou ter um rel�gio. N�o sabia que horas eram e n�o tinha certeza se os Dursley j� estariam dormindo. At� que estivessem, ele n�o poderia se arriscar a ir escondido at� a cozinha buscar alguma coisa para comer.
Vivia com os Dursley havia quase dez anos, dez infelizes anos, desde que se lembrava, desde que era beb� e seus pais tinham morrido naquele acidente de carro. N�o conseguia se lembrar de ter estado no carro quando os pais morreram. �s vezes, quando for�ava a mem�ria durante longas horas em seu arm�rio, lembrava-se de uma estranha vis�o: um lampejo ofuscante de luz verde e uma queimadura na testa. Isto supunha ele, era o acidente, embora n�o conseguisse lembrar de onde vinha toda aquela luz verde. N�o conseguia lembrar nada dos pais. A tia e o tio nunca falavam neles e naturalmente tinham-no proibido de fazer perguntas. E n�o havia fotografias deles na casa.
Quando era mais novo Harry sonhara muitas vezes com um parente desconhecido que vinha lev�-lo embora, mas isto nunca acontecera, os Dursley eram sua �nica fam�lia. Ainda assim, ele achava (ou talvez fosse s� uma esperan�a) que estranhos na rua o conheciam. E eram estranhos muito estranhos. Um homenzinho de cartola roxa se curvara para ele uma vez quando estava fazendo compras com tia Pet�nia e Duda. Depois de perguntar a Harry, furiosa, se ele conhecia o homem, tia Pet�nia tinha empurrado os meninos depressa para fora da loja sem comprar nada. Uma velha amalucada toda vestida de verde uma vez acenara alegremente para ele no �nibus. Um careca com um longo casaco p�rpura, chegara a apertar sua m�o na rua um dia desses e em seguida se afastara sem dizer nada. A coisa mais estranha nessas pessoas era a maneira com que pareciam desaparecer no instante em que Harry tentava v�-los melhor.
Na escola Harry n�o tinha ningu�m. Todos sabiam que a turma de Duda odiava aquele estranho Harry Potter com suas roupas velhas e folgadas e os �culos remendados, e ningu�m gostava de contrariar a turma do Duda.
CAP�TULO TR�S
As Cartas de Ningu�m
A fuga da jib�ia brasileira rendeu a Harry o seu castigo mais longo. Na altura em que lhe permitiram sair do arm�rio, as f�rias de ver�o j� haviam come�ado e Duda j� quebrara a nova filmadora, acidentara o aeromodelo e, na primeira vez que andara na bicicleta de corrida, derrubara a velha Sra. Figg quando ela atravessava a Rua dos Alfeneiros de muletas.
Harry ficou contente que as aulas tivessem acabado, mas n�o conseguia escapar da turma de Duda, que visitava a casa todo dia.
Pedro, D�nis, Malcolm e G�rdon eram todos grandes e burros, mas como Duda era o maior e o mais burro do bando, era o l�der.
Os demais ficavam bastante felizes de participar do esporte favorito de Duda: perseguir Harry.
Por esta raz�o Harry passava a maior parte do tempo poss�vel fora de casa, perambulando e pensando no fim das f�rias, no qual conseguia vislumbrar um raiozinho de esperan�a. Quando setembro chegasse, ele iria para a escola secund�ria e, pela primeira vez na vida, n�o estaria em companhia de Duda. Duda tinha uma vaga na antiga escola de tio V�lter, Smeltings. Pedro ia para l� tamb�m. Harry por outro lado, ia para a escola secund�ria local. Duda achava muita gra�a nisso.
� Eles metem a cabe�a dos garotos no vaso sanit�rio no primeiro dia de escola � contou ele a Harry � quer ir l� em cima praticar?
� N�o, obrigado � respondeu Harry � O coitado do vaso nunca recebeu nada t�o horr�vel quanto a sua cabe�a, � capaz de passar mal. � E correu antes que Duda conseguisse entender o que dissera.
Certo dia de julho, tia Pet�nia levou Duda a Londres para comprar o uniforme da Smeltings e deixou Harry com a Sra. Figg.
A Sra. Figg n�o estava t�o ruim quanto de costume. Afinal, fraturara a perna porque trope�ara em um dos gatos e n�o parecia gostar tanto deles quanto antes. Deixou Harry assistir a televis�o e lhe deu um peda�o de bolo de chocolate que pelo gosto parecia ter muitos anos.
Naquela noite, Duda desfilou para a fam�lia reunida na sala de estar vestindo o uniforme novo da Smeltings. Os alunos da Smeltings usavam casaca marrom-avermelhada, cal��es cor de laranja e chap�us de palha. Carregavam tamb�m bengalas nodosas, que usavam para bater uns nos outros quando os professores n�o estavam olhando isto era considerado um bom treinamento para o futuro.
Ao contemplar Duda nos cal��es laranja novos, tio V�lter disse com a voz embargada que aquele era o momento de maior orgulho em sua vida. Tia Pet�nia rompeu em l�grimas e disse que n�o podia acreditar que era o seu Dudinha, estava t�o bonito e adulto.
Harry n�o confiou no que poderia dizer. Achou que duas de suas costelas talvez j� tivessem partido s� com o esfor�o para n�o rir.
Havia um cheiro horr�vel na cozinha na manh� seguinte quando Harry entrou para o caf� da manh�. Parecia vir de uma panela de metal dentro da pia. Ele se aproximou para espiar.
A tina aparentemente estava cheia de trapos sujos que boiavam na �gua cinzenta.
� O que � isso? � perguntou � tia Pet�nia... Os l�bios dela se contra�ram como costumavam fazer quando ele se atrevia a fazer uma pergunta.
� O seu uniforme novo de escola � respondeu.
Harry espiou para dentro da tina outra vez.
� Ah � comentou � eu n�o sabia que tinha que ser t�o molhado.
� N�o seja idiota � retorquiu tia Pet�nia com rispidez. � Estou tingindo de cinza umas roupas velhas de Duda para voc�. V�o ficar iguaizinhas �s dos outros quando eu terminar.
Harry tinha s�rias d�vidas, mas achou melhor n�o discutir.
Sentou-se � mesa e tentou pensar na apar�ncia que teria no primeiro dia de aula como se estivesse usando retalhos de pele de elefante velho, provavelmente.
Duda e tio V�lter entraram ambos com os narizes franzidos por causa do cheiro do novo uniforme de Harry. Tio V�lter abriu o jornal como sempre fazia e Duda bateu na mesa com a bengala da Smeltings, que ele carregava para todo lado.
Ouviram o clique da portinhola para cartas e o som da correspond�ncia caindo no capacho da porta.
� Apanhe o correio, Duda � disse tio V�lter por tr�s do jornal.
� Mande o Harry apanhar.
� Apanhe o correio Harry.
� Mande o Duda apanhar.
� Cutuque ele com a bengala da Smeltings, Duda.
Harry se esquivou da bengala da Smeltings e foi apanhar o correio. Havia tr�s coisas no capacho: um postal da irm� do tio V�lter, Guida, que estava passando f�rias na ilha de Wihgt, um envelope pardo que parecia uma conta e uma �carta para Harry�.
Harry apanhou-a e ficou olhando, o cora��o vibrando como um el�stico gigante. Ningu�m, jamais, em toda a sua vida, lhe escrevera. Quem escreveria? Ele n�o tinha amigos, nem outros parentes, n�o era s�cio da biblioteca, de modo que jamais recebera sequer os bilhetes grosseiros pedindo a devolu��o de livros. Contudo, ali estava, uma carta, endere�ada t�o claramente que n�o podia haver engano.
Sr. H. Potter
O Arm�rio sob a Escada
Rua dos Alfeneiros 4
Little Whinging Surrey
O envelope era grosso e pesado, feito de pergaminho amarelado e endere�ado com tinta verde-esmeralda. N�o havia selo.
Quando virou o envelope, com a m�o tr�mula, Harry viu um lacre de cera p�rpura com um bras�o, um Le�o, uma �guia, um Texugo e uma Cobra circulando uma grande letra "H".
� Anda depressa, moleque! � gritou tio V�lter da cozinha. � fazendo o qu�, procurando cartas-bombas? � E riu da pr�pria piada.
Harry voltou � cozinha, ainda de olhos fixos na carta. Entregou a conta e o postal ao tio V�lter, sentou-se e come�ou a abrir lentamente o envelope amarelo.
Tio V�lter rasgou o envelope da conta, deu um bufo de desd�m e virou o postal.
� Guida est� doente � informou � tia Pet�nia. � Comeu um marisco suspeito...
� Pai! � exclamou Duda de repente. � Pai, Harry recebeu uma carta!
Harry ia desdobrar a carta, escrita no mesmo pergaminho que o envelope, quando tio V�lter arrancou-a de sua m�o.
� � minha! � disse Harry, tentando recuper�-la.
� Quem iria escrever para voc�? � zombou tio V�lter, sacudindo a carta com uma das m�os para desdobr�-la e percorrendo com o olhar. Seu rosto passou de vermelho para verde mais r�pido que um sinal de tr�fego. E n�o parou ai. Segundos depois ficou branco-acinzentado, cor de mingau de aveia velho.
� P-P-Pet�nia! � ofegou.
Duda tentou agarrar a carta para l�-la, mas tio V�lter segurou-a no alto fora do seu alcance. Tia Pet�nia apanhou-a cheia de curiosidade leu a primeira linha. Por um instante pareceu que ela talvez fosse desmaiar. Levou as duas m�os � garganta e produziu ru�do de engasgo.
� V�lter! Ah, meu Deus, V�lter!
Eles se encararam parecendo ter esquecido que Harry e Duda continuavam na cozinha. Duda n�o estava acostumado a ser desprezado. Deu uma bengalada forte na cabe�a do pai.
� Quero ler esta carta � falou alto.
� Quero l�-la � disse Harry furioso �, porque � minha...
� Saiam, os dois � ordenou com voz rouca tio V�lter, enfiando a carta no envelope.
Harry n�o se mexeu.
� QUERO MINHA CARTA! � Gritou.
� Me deixa ver! � exigiu Duda.
� Fora! � berrou Tio V�lter, e agarrando os dois, Harry e Duda, pelo cangote atirou-os no corredor e bateu a porta da cozinha. Harry e Duda na mesma hora tiveram uma briga furiosa, mas silenciosa, para saber quem ia escutar � fechadura, Duda ganhou, por isso Harry, os �culos pendurados em uma orelha, deitou-se de barriga no ch�o para escutar pela fresta entre a porta e o ch�o.
� V�lter � disse tia Pet�nia com voz tr�mula � olhe s� o endere�o. Como � que eles poderiam saber onde ele dorme? Voc� acha que est�o vigiando a casa?
� Vigiando, espionando, talvez nos seguindo � murmurou tio V�lter enlouquecido.
Harry via os sapatos pretos lustrosos do tio V�lter andando para c� e para l� na cozinha.
� N�o � disse ele decidido. � N�o, vamos ignor�-la. Se n�o receberem uma resposta... �, � o melhor... N�o vamos fazer nada...
� Mas...
� N�o vou ter um deles em casa, Pet�nia! N�s n�o juramos quando o recebemos que �amos acabar com aquela bobagem perigosa?
Aquela noite, quanto voltou do trabalho, tio V�lter fez uma coisa que nunca fizera antes, visitou Harry no arm�rio.
� Cad� minha carta? � perguntou Harry, no instante em que tio V�lter se espremeu pela porta. � Quem me escreveu?
� Ningu�m. Endere�aram a voc� por engano � disse tio V�lter secamente. � Queimei a carta.
� N�o foi um engano � retrucou Harry com raiva, � tinha o endere�o do meu arm�rio.
� CALADO! � gritou tio V�lter e algumas aranhas ca�ram do teto. Ele inspirou algumas vezes e ent�o fez for�a para produzir um sorriso que pareceu bem penoso.
� Hum, sim, Harry sobre este arm�rio. Sua tia e eu estivemos pensando... Voc� realmente est� ficando grande demais para ele... Achamos que seria bom se voc� se mudasse para o segundo quarto de Duda.
� Por qu�? � perguntou Harry.
� N�o fa�a perguntas � disse com rispidez o tio. Leve essas coisas para cima agora.
A casa dos Dursley tinha quatro quartos: um para tio V�lter e tia Pet�nia, um para h�spedes (em geral a irm� de tio V�lter, Guida), um onde Duda dormia e um onde Duda guardava todos os brinquedos e pertences que n�o cabiam no primeiro quarto. Harry precisou de apenas uma viagem para mudar tudo o que tinha do arm�rio para o quarto no andar de cima.
Sentou-se na cama e deu uma olhada � sua volta. Quase tudo ali estava quebrado. A filmadora com apenas um m�s de uso estava jogada em cima de um pequeno tanque com que certa vez Duda atropelara o cachorro do vizinho, no canto estava o primeiro televisor de Duda, no qual ele enfiara o p� quando seu programa favorito fora cancelado, havia uma grande gaiola de p�ssaros, antigamente habitada por um papagaio que Duda trocara na escola por uma espingarda de ar de verdade, e que estava guardada numa prateleira com a ponta dobrada porque Duda se sentara em cima dela. Outras prateleiras estavam cheias de livros. Eram as �nicas coisas no quarto que pareciam nunca ter sido tocadas.
L� de baixo veio o barulho de Duda gritando com a m�e:
� Eu n�o o quero l�... Eu preciso daquele quarto.... Mande-o sair:
Harry suspirou e se esticou na cama. Ontem ele teria dado qualquer coisa para estar ali. Hoje, preferia estar no seu arm�rio com aquela carta do que ali encima sem ela. Na manh� seguinte, no caf�, todos estavam muito quietos. Duda estava em estado de choque.
Berrara, batera no pai com a bengala, vomitara de prop�sito, dera pontap�s na m�e e atirara sua tartaruga pelo teto da estufa de plantas e nem assim conseguira o quarto de volta. Harry pensava no dia anterior �quela hora, desejando com amargura que tivesse aberto a carta no hall. Tio V�lter e tia Pet�nia se entreolhavam, amea�adores.
Quando o correio chegou tio V�lter, que parecia estar tentando ser agrad�vel com Harry, fez Duda ir busc�-lo. Eles o ouviram bater nas coisas do corredor com a bengala da Smeltings. Ent�o ele gritou:
� Chegou outra!
Sr. H. Potter,
O Menor Quarto da Casa
Rua dos Alfeneiros 4...
Com um grito sufocado tio V�lter saltou da cadeira e saiu correndo pelo corredor, Harry logo atr�s dele. Tio V�lter teve que lutar e derrubar Duda no ch�o para lhe tirar a carta, o que foi dificultado por Harry que agarrara o pesco�o do tio V�lter por tr�s.
Depois de um minuto confuso de luta, em que todos levaram varias bengaladas, tio V�lter se endireitou, ofegante com a carta de Harry apertada na m�o.
� V� para o seu arm�rio, quero dizer, para o seu quarto � chiou para Harry � Duda, saia, saia logo.
Harry deu voltas e mais voltas no novo quarto. Algu�m sabia que ele se mudara do arm�rio e parecia saber que ele n�o recebera a primeira carta. Isto significava com certeza que ia tentar outra. Outra vez? E desta vez ele tomaria provid�ncias para que desse certo.
Tinha um plano.
O despertador consertado tocou �s seis horas na manh� seguinte. Harry desligou-o depressa e se vestiu em sil�ncio.
N�o podia acordar os Dursley. Desceu as escadas sorrateiro sem acender nenhuma luz.
Ia esperar pelo carteiro na esquina da Alfeneiros e receber primeiro as cartas endere�adas ao numero quatro. Seu cora��o batia com for�a quando atravessou sem ru�do o corredor escuro at� a porta de entrada.
� AAAAAIIIIIEEE!!!
Harry deu um salto no ar, pisara em alguma coisa grande e mole no capacho, uma coisa viva!
As luzes se acenderam no primeiro andar e, para seu horror, Harry percebeu que a coisa grande e mole tinha a cara do tio V�lter estava dormindo junto � porta de entrada em um saco de dormir para impedir que Harry fizesse exatamente o que estava tentando fazer. Gritou com Harry quase meia hora e depois lhe disse para ir preparar uma x�cara de ch�. Harry foi para a cozinha, arrastando os p�s, infeliz, e quando conseguiu voltar o correio tinha sido entregue, bem no colo de tio V�lter. Harry viu tr�s cartas endere�adas em tinta verde.
Tio V�lter n�o foi trabalhar naquele dia. Ficou em casa e pregou a portinhola para cartas.
� Entende � explicou � tia Pet�nia por entre os l�bios cheios pregos � se eles n�o puderem entregar ent�o ter�o de desistir.
� N�o tenho muita certeza de que isto vai dar certo, V�lter.
� Ah, a cabe�a dessa gente funciona de maneira estranha, Pet�nia eles n�o s�o como voc� e eu � disse tio V�lter tentando bater um prego com um peda�o de bolo de frutas que tia Pet�nia acabara de lhe trazer.
Na sexta-feira chegaram nada menos que doze cartas para Harry. Como n�o passavam pela portinhola da correspond�ncia, tinham sido empurradas por baixo da porta, metidas pelos lados e algumas at� for�adas pela janelinha do banheiro no t�rreo. Tio V�lter ficou em casa de novo. Depois de queimar todas, apanhou martelo e pregos e fechou com t�buas as frestas das portas da frente e dos fundos, de modo que ningu�m podia sair.
Cantarolou "P� ante p� no campo de tulipas" enquanto trabalhava, e se assustava com qualquer ru�do.
No s�bado as coisas come�am a fugir ao seu controle. Vinte e quatro cartas acabaram entrando em casa enrolada e escondida em duas d�zias de ovos que o leiteiro, muito confuso, entregara � tia Pet�nia pela janela da sala de estar. Enquanto tio V�lter dava telefonemas furiosos para o correio e a leiteria tentando encontrar algu�m a quem se queixar, tia Pet�nia picava as cartas no processador de alimentos.
� Mas quem � que quer falar tanto assim com voc�? � Duda perguntou espantado a Harry.
Na manh� do domingo, tio V�lter sentou-se � mesa do caf� parecendo cansado e um tanto doente, mas feliz.
� N�o tem correio aos domingos � lembrou a todos, contente passando gel�ia nos jornais, nada de cartas idiotas hoje...
Alguma coisa desceu chiando pela chamin� do fog�o enquanto ele falava e bateu com for�a em sua nuca. No instante seguinte, trinta ou quarenta cartas sa�ram velozes da lareira como se fossem tiros. Os Dursley se abaixaram, mas Harry deu um salto no ar para apanhar uma...
� Fora! Fora!
Depois que tia Pet�nia e Duda tinham corrido para fora protegendo o rosto com os bra�os, tio V�lter bateu a porta. Eles podiam ouvir as cartas disparando para dentro da cozinha, ricocheteando nas paredes e no ch�o.
� J� chega � disse tio V�lter, tentando falar com calma, mas ao mesmo tempo, arrancando tufos de p�los dos bigodes. � Quero voc�s aqui de volta em cinco minutos prontos para sair. Vamos viajar. Ponham apenas algumas roupas nas malas. N�o quero discuss�o!
Ele parecia t�o perigoso com metade dos bigodes arrancados que ningu�m se atreveu a discutir. Dez minutos depois eles tinham retirado as t�buas para passar nas portas e estavam no carro, correndo em dire��o a estrada. Duda fungava no banco traseiro, o pai tinha lhe dado um tapa na cabe�a por atras�-los tentando empacotar a televis�o, o v�deo e o computador na mochila esportiva.
Eles viajaram no carro. E viajaram. Nem tia Pet�nia se atrevia a perguntar aonde iam. De vez em quando tio V�lter fazia uma curva fechada e seguia na dire��o oposta por algum tempo.
� Para despist�-los... Despist�-los � resmungava sempre que fazia isso.
N�o pararam para comer nem beber o dia inteiro. Quando a noite caiu Duda estava uivando. Nunca tivera um dia t�o ruim na vida. Estava com fome, sentia falta dos cinco programas de televis�o que queria assistir e nunca levara tanto tempo sem explodir um alien�gena no computador.
Tio V�lter parou finalmente � porta de um hotel de aspecto sombrio na periferia de uma grande cidade. Duda e Harry dividiram um quarto com duas camas iguais e len��is �midos que cheiravam a mofo. Duda roncou, mas Harry ficou acordado, sentado no peitoral da janela, espiando as luzes dos carros que passavam enquanto pensava...
Comeram cereal velho e torradas com tomates enlatados frios no caf� da manh� do dia seguinte. Tinham acabado de comer quando a propriet�ria do hotel aproximou-se da mesa.
� Com licen�a, mas um dos senhores � o Sr. Harry Potter? � que eu tenho umas cem dessas na recep��o. � E ergueu uma carta para eles poderem ler o endere�o em tinta verde:
Sr. H. Potter
Quarto 17
Railview Hotel Cokewrth
Harry tentou pegar a carta, mas tio V�lter afastou sua m�o. A mulher ficou olhando.
� Eu recebo as cartas � disse tio V�lter, levantando-se depressa e seguindo a mulher que se retirava do sal�o de refei��es.
� N�o seria melhor simplesmente irmos para casa, querido? � tia Pet�nia sugeriu timidamente horas depois, mas tio V�lter n�o parecia ouvi-la. Exatamente o que andava procurando ningu�m sabia. Ele os levou at� o meio de uma floresta, desceu do carro, espiou a volta, sacudiu a cabe�a, tornou a embarcar no carro e partiram outra vez. A mesma coisa aconteceu no meio de um campo arado, no meio de uma ponte p�nsil e no alto de um edif�cio garagem.
� Papai enlouqueceu, n�o foi? � Duda perguntou, cansado, � tia Pet�nia no fim daquela tarde. Tio V�lter estacionara no litoral, passara a chave no carro com todos dentro e desaparecera.
Come�ou a chover. Grandes gotas batiam no teto do carro.
Duda choramingou.
� � segunda-feira � falou � m�e. O Grande Humberto vai se apresentar hoje � noite. Quero estar em algum lugar que tenha televis�o.
Segunda-feira. Isto lembrou a Harry uma coisa. Se era segunda-feira e em geral podia-se confiar que Duda soubesse os dias da semana, por causa da televis�o, ent�o o dia seguinte, ter�a-feira, era o d�cimo primeiro anivers�rio de Harry.
Naturalmente seus anivers�rios n�o eram l� muito divertidos, no ano anterior, os Dursley tinham-lhe dado um cabide e um par de meias velha do tio V�lter. Ainda assim, n�o se fazia onze anos todos os dias.
Tio V�lter voltou sorrindo. Carregava um pacote comprido e fino e n�o respondeu � tia Pet�nia quando ela perguntou o que comprara.
� Encontrei o lugar perfeito! � falou. � Vamos! Saiam todos!
Fazia muito frio do lado de fora do carro. Tio V�lter apontou para o que parecia ser um grande rochedo no meio do mar.
Encarrapitado no alto do rochedo havia o casebre mais miser�vel que se pode imaginar. Uma coisa era certa, ali n�o havia televis�o.
� Est�o anunciando uma tempestade para hoje! � disse tio V�lter alegre, batendo palmas. � E este senhor teve a bondade de concordar em nos emprestar seu barco!
Um homem desdentado vinha descansadamente em dire��o a eles, e apontava com um sorriso muito maldoso para um barco a remos velho que subia e descia nas �guas cinza-grafite l� embaixo.
� J� comprei algumas ra��es para n�s � disse tio V�lter � portanto, todos a bordo!
Fazia muito frio no barco. Salpicos de �gua gelada do mar escorriam pelos pesco�os deles e um vento cortante fustigava seus rostos. Depois do que pareceram horas eles chegaram ao rochedo, onde tio V�lter, escorregando, levou-os ate a casa em ru�nas.
O interior era horr�vel, cheirava a algas marinhas, o vento assobiava pelas frestas nas paredes de t�buas e a lareira estava �mida e vazia. Havia apenas dois quartos.
Afinal as ra��es de Tio V�lter eram uma embalagem de cereal para cada um e quatro bananas. Ele tentou acender a lareira, mas a embalagem de cereal apenas fumegou e carbonizou.
� Aquelas cartas viriam a calhar agora, hein? � disse ele animado.
Estava de muito bom humor. Obviamente achava que ningu�m teria chance de alcan��-lo ali, durante uma tempestade, para entregar cartas. Harry concordava intimamente, embora este pensamento n�o o animasse nem um pouco.
Quando a noite caiu, a tempestade prometida desabou ao redor deles. A espuma das altas ondas chapinhava nas paredes do casebre e um vento amea�ador sacudia as janelas imundas. Tia Pet�nia encontrou uns cobertores mofados no segundo quarto e preparou uma cama para Duda ao sof� comido pelas tra�as. Ela e tio V�lter foram se deitar na cama cheia de calombos ao lado e deixaram Harry procurar a parte mais macia do assoalho e se enrolar no cobertor mais rasgado e ralo.
A tempestade rugia cada vez com maior ferocidade � medida que a noite avan�ava. Harry n�o conseguia dormir. Tremia e revirava, tentando encontrar uma posi��o confort�vel, seu est�mago roncando de fome. Os roncos de Duda eram abafados pela trovoada que come�ou por volta da meia-noite. O mostrador luminoso do rel�gio de Duda, que estava pendurado para fora do sof� em seu pulso gordo, informava a Harry que dentro de dez minutos ele completaria onze anos. Deitado, ele viu seu anivers�rio se aproximar, perguntando-se se os Dursley se lembrariam, perguntando-se onde estaria o remetente das cartas agora.
Faltavam cinco minutos. Harry ouviu alguma coisa estalar l� fora. Desejou que o teto n�o ca�sse, embora quem sabe conseguisse se esquentar se isto acontecesse. Quatro minutos.
Talvez a casa na Rua dos Alfeneiros estivesse t�o abarrotada de cartas que quando voltasse ele pudesse surrupiar uma.
Tr�s minutos. Seria o mar batendo t�o forte na rocha? E faltavam dois minutos, que barulho esquisito de tritura��o era aquela? Ser� que a rocha estava se desintegrando no mar?
Mais um minuto e ele completaria onze anos. Trinta segundos... Vinte... Dez... Nove... Talvez acordasse Duda, s� para aborrec�-lo... Tr�s... Dois... Um...
O casebre todo estremeceu e Harry sentou-se reto, arregalando os olhos para a porta. Havia algu�m l� fora, que batia querendo entrar.
CAP�TULO QUATRO
O Guardi�o das Chaves
BUM!
Bateram outra vez. Duda acordou assustado.
� Onde est� o canh�o? � perguntou abobado.
Ouviam coisa cair atr�s deles e tio V�lter entrou derrapando pela sala. Trazia um rifle nas m�os, agora sabiam o que era aquele pacote fino e comprido que ele carregava.
� Quem est� ai? � gritou. � Olha que estou armado! � Sil�ncio. E em seguida...
TRAM!
� porta levou uma pancada t�o violenta que se soltou das dobradi�as e, com um baque ensurdecedor, desabou no ch�o.
Um homem gigantesco estava parado ao portal. Tinha o rosto completamente oculto por uma juba muito peluda e uma barba selvagem e desgrenhada, mas dava para se ver seus olhos, luzindo como besouros negros debaixo de todo aquele cabelo.
O gigante espremeu-se para entrar no casebre, curvando-se de modo que a cabe�a apenas ro�ou o teto. Abaixou-se, apanhou a porta e tornou a encaix�-la sem esfor�o no portal O ru�do da tempestade l� fora diminuiu um pouco. Ele se virou para encarar todos.
� N�o poderia preparar uma x�cara de ch� para n�s, poderia? N�o foi uma viagem f�cil...
E dirigiu-se ao sof� onde Duda estava paralisado de medo.
� Chegue para l�, gord�o � disse o estranho.
Duda soltou um guincho e correu a se esconder atr�s da m�e, que parara encolhida, aterrorizada, atr�s de tio V�lter.
� Ah, e aqui est� o Harry! � disse o gigante.
Harry ergueu os olhos para a cara feroz e selvagem em sombras e viu que os olhos de besouro se enrugavam em um sorriso.
� A �ltima vez que o vi, voc� era um beb� � disse o gigante. � Voc� parece muito com o seu pai, mas tem os olhos da sua m�e.
Tio V�lter fez um som estranho e rascante.
� Exijo que saia imediatamente! � disse � O senhor invadiu minha casa!
� Ah, cala a boca, Dursley seu cara de passa � disse o gigante, e esticou o bra�o para tr�s do sof�, arrancando a arma das m�os de tio V�lter, vergou-a no meio como se fosse de borracha e atirou-a a um canto da sala.
Tio V�lter fez outro som esquisito, como um camundongo sendo pisado.
� Em todo caso, Harry � disse o gigante, dando as costas para os Dursley �, feliz anivers�rio para voc�. Tenho uma coisa para voc� aqui, talvez tenha sentado nela sem querer, mas o gosto continua bom.
De um bolso interno do casaco preto ele tirou uma caixa meio amassada. Harry abriu, com os dedos tr�mulos. Dentro havia um grande e pegajoso bolo de chocolate com a frase Feliz Anivers�rio escrita em glac� verde.
Harry olhou para o gigante. Quis dizer obrigado, mas as palavras se perderam a caminho da boca, e em lugar disso o que disse foi:
� Quem � voc�?
O gigante deu uma risada abafada.
� � verdade, n�o me apresentei. R�beo Hagrid, Guardi�o das Chaves e das Terras de Hogwarts.
Estendeu uma m�o enorme e sacudiu o bra�o inteiro de Harry.
� E que tal o ch�, hein? � perguntou esfregando as m�os. � Eu n�o diria n�o a uma pessoa mais forte, se � que voc� me entende.
Seus olhos bateram na lareira vazia em que ficara o pacote carbonizado de cereal e ele soltou uma risadinha desdenhosa. Curvou-se para a lareira, n�o vir�o o que ele estava fazendo, mas quando se afastou um segundo depois, havia dentro dela um clar�o ribombante. O fogo estrondoso encheu todo o casebre �mido com sua luz tremeluzente e Harry sentiu o calor envolv�-lo como se tivesse mergulhado em um banho quente.
O gigante se recostou no sof�, que afundou um pouco sob o seu peso, e come�ou a tirar coisas de todo g�nero dos bolsos do casaco: uma chaleira de cobre, uma embalagem amassada de salsichas, um espeto, um bule de ch�, v�rias x�caras lascadas e uma garrafa de um l�quido �mbar de que ele tomou um gole antes de come�ar a preparar o ch�. Logo o casebre se encheu com o ru�do e o cheiro de salsichas fritas. Ningu�m disse nada enquanto o gigante trabalhava, mas assim que ele empurrou as primeiras salsichas gordas e suculentas, ligeiramente queimadas, do espeto, Duda se mexeu. Tio V�lter disse com rispidez:
� N�o toque em nada que ele lhe der, Duda.
O gigante deu uma risadinha amea�adora.
� Esse pudim de banha do seu filho n�o precisa engordar mais Dursley, n�o se preocupe.
E passou as salsichas para Harry, que estava t�o faminto e nunca provara nada t�o maravilhoso, mas ainda assim n�o conseguia tirar os olhos do gigante. Finalmente, como ningu�m parecia disposto a explicar nada, ele disse:
� Me desculpe, mas continuo sem saber realmente quem voc� �.
O gigante tomou um grande gole de ch� e limpou a boca com as costas da m�o.
� Chame-me de R�beo, � como todos me chamam. E como lhe disse, sou o guardi�o das chaves de Hogwarts, voc� sabe tudo sobre Hogwarts, � claro.
� Ah, n�o � disse Harry. Hagrid pareceu chocado.
� Sinto muito � apressou-se Harry a dizer.
� Sente muito? � vociferou Hagrid, virando-se para encarar os Dursley, que tinham recuado para as sombras. � Eles � que deviam sentir muito! Eu sabia que voc� n�o estava recebendo as cartas, mas nunca pensei que nem ao menos sabia da exist�ncia de Hogwarts, para apelar! Voc� nunca se perguntou onde foi que seus pais aprenderam tudo?
� Tudo o qu�? � perguntou Harry
� TUDO O QU�? � berrou Hagrid � Ora espere a� um segundo!
Ele se levantara de um salto. Na raiva parecia encher o casebre todo. Os Dursley se encolhiam contra a parede.
� Voc�s v�o querer me dizer � rosnou para os Dursley � que este menino, este menino! N�o sabe nada, de NADA?
Harry achou que a coisa estava indo longe demais. Afinal tinha freq�entado a escola e suas notas n�o eram ruins.
� Eu sei alguma coisa � falou � Sei, sabe, matem�tica e outras coisas.
Mas Hagrid dispensou-o com um abano de m�o e disse:
� Do nosso mundo, quero dizer. Seu mundo. Meu mundo. O mundo dos seus pais.
� Que mundo?
Hagrid parecia preste a explodir
� DURSLEY! � urrou ele.
Tio V�lter, que ficara muito p�lido, murmurou alguma coisa inintelig�vel Hagrid olhou alucinado para Harry.
� Mas voc� deve saber quem foram sua m�e e seu pai � disse � Quero dizer, eles s�o famosos. Voc� � famoso.
� Qu�? Meu pai e minha m�e eram famosos?
� Voc� n�o sabe... Voc� n�o sabe... � Hagrid correu os dedos pelos cabelos, fixando em Harry um olhar perplexo. � Voc� n�o sabe quem �? � perguntou finalmente.
Tio V�lter de repente encontrou a voz.
� Pare! � ordenou � Pare agora mesmo! Eu o pro�bo de contar qualquer coisa ao menino!
Um homem mais corajoso do que Dursley teria se intimidado com o olhar furioso que Hagrid lhe deu, quando Hagrid falou, cada s�laba tremia de raiva.
� VOC� NUNCA CONTOU? NUNCA CONTOU O QUE DUMBLEDORE DEIXOU ESCRITO NAQUELA CARTA PARA ELE? EU ESTAVA L�! EU VI DUMBLEDORE DEIXAR A CARTA, DURSLEY! E VOC� ESCONDEU DELE TODOS ESSES ANOS?
� Escondeu o que de mim? � perguntou Harry ansioso.
� PARE! EU O PRO�BO! � gritou tio V�lter em p�nico.
Tia Pet�nia deixou escapar um grito sufocado de horror.
� Ah, v�o tomar banho, voc�s dois � disse Hagrid. � Harry, voc� e um bruxo.
O casebre mergulhou em sil�ncio. Ouviam-se apenas o mar e o assobio do vento.
� Eu sou o qu�? � ofegou Harry.
� Um bruxo, � claro � repetiu Hagrid, recostando-se no sof�, que gemeu e afundou ainda mais �, e um bruxo de primeira, eu diria, depois que receber um pequeno treino. Com uma m�e e um pai como os seus, o que mais voc� poderia ser? E acho que j� est� na hora de ler a sua carta.
Harry estendeu a m�o finalmente para receber o envelope meio amarelo, endere�ado em tinta verde para:
Sr. H. Potter,
O Assoalho,
Casebre sobre Rochedo,
O Mar.
Ele puxou a carta e leu,
ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA HOGWARTS
Diretor: Alvo Dumbledore
(Ordem de Merlin, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Bruxo Chefe, Cacique Supremo, Confedera��o Internacional de Bruxos).
Prezado Sr. Potter,
Temos o prazer de informar que V.Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necess�rios. O ano letivo come�a em 1� de setembro. Aguardamos sua coruja at� 31 de julho, no mais tardar.
Atenciosamente,
Minerva McConagall.
Diretora Substituta.
As perguntas explodiam na cabe�a de Harry como fogos de artif�cio, e ele n�o conseguia decidir o que perguntar primeiro. Passados alguns minutos, gaguejou.
� O que querem dizer com "est�o aguardando a minha coruja"?
� G�rgulas galopantes! Isto me lembra uma coisa � disse Hagrid, batendo a m�o na testa com for�a suficiente para derrubar um cavalo, e de outro bolso interno do casaco tirou uma coruja, uma coruja de verdade, viva, meio arrepiada, uma longa pena e um rolo de pergaminho. Com a l�ngua entre os dentes, ele rabiscou um bilhete que Harry p�de ler de cabe�a para baixo:
"Prezado Sr. Dumbledore
Entreguei a carta a Harry. Vou lev�-lo amanh� para comprar o material. O tempo est� horr�vel. Espero que o senhor esteja bem.
Hagrid.�
Hagrid enrolou o pergaminho, entregou-o � coruja, que o prendeu no bico, depois ele foi at� a porta e lan�ou a ave na tempestade. Quando voltou, sentou-se como se aquilo fosse t�o normal quanto pegar o telefone.
Harry percebeu que sua boca se abrira e fechou-a rapidamente.
� Onde � que eu estava? � disse Hagrid, mas naquele momento, tio V�lter, ainda cor de cera, mas parecendo muito furioso, adiantou-se at� a luz da lareira.
� Ele n�o vai � falou.
Hagrid resmungou.
� Eu gostaria de ver um grande trouxa como voc� impedi-lo. � respondeu.
� Um o qu�? � perguntou Harry interessado.
� Um trouxa � disse Hagrid � � como chamamos gente que n�o � m�gica como n�s. E voc� teve o azar de ser criado na fam�lia dos maiores trouxas que j� vi na vida.
� Juramos quando o aceitamos que por�amos um fim nessa bobagem � disse tio V�lter �, juramos que erradicar�amos isso nele. Bruxo, francamente!
� Voc� sabia? � perguntou Harry. � Voc� sabia que sou um... Bruxo?
� Sabia! � guinchou tia Pet�nia de repente. � Sabia! Claro que sab�amos! Como poderia n�o ser, a maldita da minha irm� sendo o que era? Ah, ela recebeu uma carta igual a essa e desapareceu, foi para aquela... Aquela escola, e voltava para casa nas f�rias com os bolsos cheios de ovas de sapo, transformando x�caras em ratos. Eu era a �nica que a via como ela era. Um aborto da natureza! Mas para minha m�e e meu pai, ah n�o era L�lian isso e L�lian aquilo, tinham orgulho de ter uma bruxa na fam�lia!
Ela parou para suspirar profundamente e a� continuou seu discurso. Parecia que estava querendo dizer aquilo havia anos.
� Ent�o ela conheceu Potter na escola e eles sa�ram de casa, casaram e tiveram voc�, e � claro que eu sabia que voc� ia ser igual, esquisito, anormal e ent�o ela vai e me faz o favor de se explodir e nos deixar entalados com voc�!
Harry ficara muito branco. Assim que encontrou a voz, disse:
� Se explodir? Voc� me disse que eles morreram num acidente de carro!
� ACIDENTE DE CARRO! � rugiu Hagrid erguendo-se com tanta raiva que os Dursley voltaram correndo para o canto da sala � Como � que um acidente de carro poderia matar L�lian e Tiago Potter! Isto � um absurdo! Um esc�ndalo! E Harry Potter n�o conhecer a pr�pria hist�ria, quando qualquer garoto no nosso mundo conhece o nome dele!
� Mas por qu�? O que aconteceu? � perguntou Harry ansioso.
A raiva desapareceu do rosto de Hagrid. Ele pareceu repentinamente aflito.
� Eu nunca esperei isso � disse numa voz contida e preocupada. � Eu n�o fazia id�ia do quanto voc� desconhecia, quando Dumbledore me disse que eu poderia ter problemas para encontr�-lo. Ah, Harry, n�o sei se sou a pessoa certa para lhe contar, mas algu�m tem de contar, voc� n�o pode viajar para Hogwarts sem saber.
Ele lan�ou um olhar feio aos Dursley.
� Bom, � melhor voc� saber o que eu puder lhe contar, mas n�o posso lhe contar tudo, � um grande mist�rio, algumas partes.
Ele se sentou, fitou o fogo durante alguns segundos e ent�o falou:
� Come�a, eu acho, com.. Com uma pessoa chamada, mas � incr�vel voc� n�o saber o nome dele, todo o mundo no nosso mundo sabe...
� Quem?
� Bom... N�o gosto de dizer o nome dele se puder evitar. Ningu�m gosta.
� Por que n�o?
� G�rgulas vorazes, Harry, as pessoas ainda est�o apavoradas. Droga, como � dif�cil. Olha, havia um bruxo que virou... Mau. T�o mau quanto algu�m pode virar. Pior. Pior do que o pior. O nome dele era...
Hagrid engoliu em seco, mas n�o conseguiu dizer nada.
� E se voc� escrevesse? � sugeriu Harry.
� N�o, n�o sei soletrar o nome dele. Est� bem, Voldemort. � Hagrid estremeceu. � N�o me fa�a repetir. Em todo o caso, esse... Esse bruxo faz uns vinte anos agora, come�ou a procurar seguidores. E conseguiu alguns por medo, outros porque queriam ter um pouco do poder dele, sim, porque ele estava ficando poderoso. Dias funestos Harry, ningu�m sabia em quem confiar, ningu�m se atrevia, a ficar amigo de bruxas ou bruxos desconhecido. Coisas horr�veis aconteciam. Ele estava tomando o poder. E claro que algumas pessoas se opuseram a ele, e ele as matou. Terr�vel. Um dos �nicos lugares seguros que restaram foi Hogwarts. Acho que Dumbledore era o �nico de quem Voc�-Sabe-Quem tinha medo. N�o ousou se apoderar da escola, n�o no come�o, pelo menos.
Ora sua m�e e seu pai eram os melhores bruxos que eu j� conheci. Primeiros alunos em Hogwarts no seu tempo! Suponho que o mist�rio era por que Voc�-Sabe-Quem nunca tentou convencer os dois a se aliar a ele antes... Provavelmente sabia que eram muito chegados a Dumbledore para querer alguma coisa com o lado das Trevas. Talvez ele achasse que podia convenc�-los... Talvez quisesse tirar os dois do caminho. S� o que sabemos � que ele apareceu na vila em que voc�s estavam morando, num dia das bruxas, faz dez anos. Na �poca voc� s� tinha um ano de idade. Ele foi � sua casa e... E...
Hagrid puxou depressa um len�o muito sujo e manchado e assoou o nariz, fazendo o barulho de uma buzina de nevoeiro.
� Desculpe � disse. � Mas � muito triste, conheci sua m�e e seu pai e n�o podia existir gente melhor, em todo o caso... Voc�-Sabe-Quem matou os dois. E ent�o, e esse � o verdadeiro mist�rio da coisa, ele tentou matar voc�. Queria fazer o servi�o completo, acho, ou ent�o tinha come�ado a gostar de matar. Mas n�o conseguiu. Voc� nunca se perguntou como arranjou essa marca na testa? Isso n�o foi um corte normal. Isso � o que se ganha quando um feiti�o poderoso e maligno atinge a gente, destruiu os seus pais e at� a sua casa, mas n�o fez efeito em voc�, e � por isso que voc� � famoso, Harry. Ningu�m nunca sobreviveu depois que ele decidia mat�-lo, ningu�m a n�o ser voc�, e ele j� havia matado alguns dos melhores bruxos da �poca, os McKinnon, os Bone, os Priuet, e voc� era apenas um beb�, e sobreviveu.
Algo muito doloroso passou pela cabe�a de Harry. Quando a hist�ria de Hagrid ia terminando ele viu de novo um lampejo ofuscante de luz verde, com mais clareza do que se lembrava antes e se lembrou de mais uma coisa, pela primeira vez na vida, uma risada alta, fria e cruel.
Hagrid o observava com tristeza.
� Eu mesmo o retirei da casa destru�da, por ordem de Dumbledore. Trouxe voc� para essa gente...
� Um monte de baboseiras antigas � disse tio V�lter.
Harry se assustou, quase esquecera que os Dursley estavam ali. Tio V�lter, sem d�vida, tinha recuperado a coragem. Olhava amea�ador para Hagrid e tinha os punhos fechados.
� Agora, ou�a aqui, moleque � vociferou �, aceito que voc� seja meio estranho, provavelmente nada que uma boa surra n�o pudesse ter curado, e quanto aos seus pais, bem, eles eram exc�ntricos, n�o h� como negar e o mundo est� melhor sem eles, receberam o que mereciam por se meter com essa gente dada a bruxarias, foi o que previ, sempre soube que iam acabar mal.
Mas naquele instante, Hagrid ergueu-se de um salto do sof� e puxou um guarda-chuva cor-de-rosa e arrebentado de dentro do casaco. Apontou-o como uma espada para tio V�lter, e disse:
� Estou lhe avisando, Dursley, estou lhe avisando, nem mais uma palavra...
Amea�ado de ser furado pela ponta de um guarda-chuva por um gigante barbudo, a coragem de tio V�lter fraquejou outra vez, ele se achatou contra a parede e ficou em sil�ncio.
� Assim est� melhor � disse Hagrid, arquejando e tornando a se sentar no sof�, que desta vez afundou de vez at� o ch�o.
Harry, nesse meio tempo, continuava a ter perguntas e a fazer centenas dela.
� Mas o que aconteceu ao Vol... Desculpe... Quero dizer, Voc�-Sabe-Quem?
� Boa pergunta, Harry. Desapareceu. Sumiu. Na mesma noite em que tentou matar voc�. O que faz voc� ainda mais famoso. � o maior mist�rio, entende... Ele estava ficando cada dia mais poderoso, porque foi embora? Tem quem diga que ele morreu. Besteira, na minha opini�o. N�o sei se ainda tinha humanidade suficiente para morrer. Tem quem diga que ainda est� l� fora esperando, ou coisa parecida, mas n�o acredito. Gente que estava do lado dele voltou para o nosso. Uns pareciam que estavam saindo de uma esp�cie de transe. Acho que n�o teriam feito isso se ele fosse voltar. A maioria de n�s acha que ele ainda anda por ai, mas perdeu os poderes. Est� fraco demais para continuar. Porque alguma coisa em voc� acabou com ele, Harry. Aconteceu alguma coisa, naquela noite, com que ele n�o estava contando, eu n�o seio que foi, ningu�m sabe, mas alguma coisa em voc� o aleijou, para valer.
Hagrid fitou Harry com calor e respeito iluminando seus olhos, mas Harry, ao inv�s de se sentir contente e orgulhoso, teve a certeza de que tinha havido um terr�vel engano. Bruxo? Ele?
Como era poss�vel? Passara a vida dominado por Duda e infernizado pela tia Pet�nia e pelo tio V�lter, se era realmente um bruxo, por que eles n�o tinham se transformado em sapos toda vez que tentaram prend�-lo no arm�rio? Se uma vez derrotara o maior feiticeiro do mundo, como � que Duda sempre pudera chut�-lo para c� e para l� como se fosse uma bola de futebol?
� R�beo � disse calmo � acho que voc� deve ter cometido um engano. Acho que n�o posso ser um bruxo.
Para sua surpresa, Hagrid deu uma risadinha abafada.
� N�o � bruxo, hein? Nunca fez nada acontecer quando estava apavorado ou zangado?
Harry olhou para o fogo. Pensando bem... Cada coisa estranha que deixara os seus tios furiosos tinha acontecido quando ele, Harry estava perturbado ou com raiva... Perseguido pela turma de Duda, pusera-se de repente fora do seu alcance, receoso de ir para a escola com aquele corte rid�culo, conseguira fazer os cabelos crescerem de novo, e da �ltima vez que Duda batera nele, n�o fora � forra sem perceber que estava fazendo isto? N�o mandara uma cobra atac�-lo?
Harry olhou para Hagrid, sorrindo, e viu que ele ria abertamente para ele.
� Viu? � disse Hagrid � Harry Potter n�o � bruxo? Espere, voc� vai ser famoso em Hogwarts.
Mas tio V�lter n�o ia ceder sem brigar.
� Eu n�o j� disse que ele n�o vai? � sibilou. � Ele vai para a escola secund�ria local e vai me agradecer por isso. Li aquelas cartas e dizem que ele precisa de um monte de lixo, livros de feiti�os, varinhas m�gicas e...
� Se ele quiser ir, um troux�o como voc� n�o vai poder impedir. � resmungou Hagrid raivoso. � Impedir o filho de L�lian e Tiago Potter de ir para Hogwarts! Voc� enlouqueceu. Ele est� inscrito desde que nasceu. Vai freq�entar a melhor escola de bruxos e bruxedos do mundo. Sete anos l� e ele nem vai se reconhecer. Vai estudar com garotos iguais a ele, para variar, e vai estudar com o maior mestre que Hogwarts j� teve, Alvo Dumbledore.....
� N�O VOU PAGAR A NENHUM VELHO BIRUTA E PATETA PARA ENSIN�-LO A FAZER M�GICAS! � gritou tio V�lter.
Mas ele finalmente fora longe demais. Hagrid agarrou o guarda-chuva e girou por cima da cabe�a.
� NUNCA � trovejou � INSULTE... ALVO DUMBLEDORE NA... MINHA FRENTE!
E girou o guarda-chuva no ar baixando-o at� apontar para Duda, houve um lampejo de luz violeta, o estalo de uma bombinha, um grito agudo e, no segundo seguinte, Duda estava dan�ando no mesmo lugar com as m�os apertando a barriga banhuda, guinchando de dor. Quando Duda virou de costas, Harry viu um rabo de porco enroscado saindo de um buraco nas cal�as dele.
Tio V�lter urrou. Puxando tia Pet�nia e Duda para o quarto, lan�ou um �ltimo olhar aterrorizado a Hagrid e bateu a porta ao entrar.
Hagrid olhou para o guarda-chuva e co�ou a barba.
� N�o devia ter perdido as estribeiras � disse arrependido �, mas em todo o caso saiu errado. Queria transform�-lo em porco, mas acho que ele j� parecia tanto com um que n�o pude fazer muita coisa.
E olhou de esguelha para Harry, por baixo das sobrancelhas peludas.
� Fico agradecido se n�o contar isso para ningu�m em Hogwarts � falou. � N�o... Hum... Tenho permiss�o para fazer m�gicas, rigorosamente falando. Permitiram que eu fizesse alguma coisa para seguir voc� e entregar as cartas e coisas assim, uma das raz�es por que eu queria tanto este trabalho.
� Porque voc� n�o pode fazer m�gica? � perguntou Harry.
� Ah, bom... Eu estive em Hogwarts, mas.. Hum... Fui expulso, para falar a verdade. No terceiro ano. Eles partiram a minha varinha ao meio e tudo o mais. Mas Dumbledore me deixou ficar como guarda-ca�a. Grande sujeito o Dumbledore.
� Por que voc� foi expulso?
� J� est� ficando tarde e temos muito que fazer amanh� � disse Hagrid em voz alta. � Temos que ir � cidade, comprar os seus livros e etc.
Ele tirou o grosso casaco preto e atirou-o a Harry.
� Pode ficar com ele. N�o se assuste se ele se mexer um pouco acho que ainda tenho uns ratos do campo em um dos bolsos.
CAP�TULO CINCO
O Beco Diagonal
Harry acordou cedo na manh� seguinte. Embora soubesse que j� era dia, continuou com os olhos bem fechados.
"Foi um sonho", disse a si mesmo com firmeza. �Sonhei que um gigante chamado R�beo Hagrid veio me dizer que eu ia para uma escola de magia. Quando abrir os olhos estarei em casa no meu arm�rio.�
De repente ouviu um ru�do alto de batidas.
"� a tia Pet�nia batendo na porta", pensou Harry, desanimando. Mas, ainda assim, n�o abriu os olhos. Tinha sido um sonho t�o bom.
Bum. Bum. Bum.
� Est� bem � resmungou Harry � j� estou levantando.
Sentou-se e o pesado casaco de Hagrid escorregou de seu corpo. O casebre estava inundado de sol, a tempestade passara, o pr�prio Hagrid estava dormindo no sof� desmontado e havia uma coruja batendo com a garra na janela, trazendo um jornal no bico.
Harry ergueu-se de um pulo, sentia-se feliz como se houvesse um grande bal�o crescendo dentro dele. Foi direto � janela e abriu-a com um pux�o. A coruja entrou voando e deixou cair o jornal em cima de Hagrid, que nem acordou. A coruja ent�o voou pelo ch�o e come�ou a atacar o casaco do gigante Hagrid.
� N�o fa�a isso.
Harry tentou espantar a coruja, mas ela o amea�ou com o bico e continuou a atacar ferozmente o casaco.
� R�beo! � chamou Harry alto. � Tem uma coruja...
� Pague a ela � resmungou Hagrid dentro do sof�.
� Qu�?
� Ela quer receber o pagamento pela entrega do jornal. Procure nos bolsos
O casaco de Hagrid parecia ser feito s� de bolsos, molhos de chaves, fichas de metal, rolinhos de barbante, balas de hortel�, saquinhos de ch�... E finalmente, Harry puxou um punhado de moedas estranhas.
� D� a ela cinco Nuques � disse Hagrid sonolento.
� Nuques?
� As moedinhas de bronze.
Harry contou cinco moedinhas de bronze e a coruja esticou a perna para ele enfiar o dinheiro numa carteirinha de couro que trazia presa. Em seguida saiu voando pela janela aberta.
Hagrid bocejou alto, sentou-se, espregui�ou-se.
� � melhor nos despacharmos, Harry, temos muito que fazer hoje, temos que ir a Londres comprar todo o seu material escolar.
Harry revirava as moedas m�gicas para examin�-las. Acabara de pensar em uma coisa que o fez se sentir como se o bal�o da felicidade que havia dentro dele tivesse furado.
� Hum... Hagrid?
� Hum? � respondeu R�beo, cal�ando as enormes botas.
� N�o tenho dinheiro nenhum, e voc� ouviu tio V�lter � noite passada, ele n�o vai pagar para eu aprender magia.
� N�o se preocupe com isso � disse Hagrid, co�ando a cabe�a enquanto se levantava. � Voc� acha que seus pais n�o lhe deixaram nada?
� Mas se a casa foi destru�da...
� Eles n�o guardavam o ouro que tinham em casa, garoto! N�o, nossa primeira parada vai ser em Gringotes. O banco dos bruxos. Coma uma salsicha, elas n�o s�o ruins frias, e eu n�o deixaria de comer uma fatia do seu bolo de anivers�rio.
� Bruxos t�m bancos?
� S� este. Gringotes. � administrado por duendes.
Harry deixou cair o peda�o de salsicha que tinha na m�o.
� Duendes?
� �, e por isso que s� um louco tentaria roubar o banco, � o que lhe digo. Nunca se meta com duendes, Harry, Gringotes � o lugar mais seguro do mundo para qualquer coisa que voc� queira guardar bem, com exce��o de Hogwarts, talvez. Ali�s, preciso mesmo ir a Gringotes. Para Dumbledore. Neg�cios de Hogwarts. � Hagrid se endireitou, orgulhoso. � Ele sempre me manda tratar de assuntos que acha importante. Buscar voc�, pegar coisas em Gringotes, sabe que pode confiar em mim, entende? Apanhou tudo? Vamos, ent�o.
Harry seguiu Hagrid em dire��o ao rochedo. O c�u estava bem claro agora e o mar cintilava ao sol. O barco que o V�lter alugara continuava l�, com muita �gua no fundo depois da tempestade.
� Como foi que voc� chegou aqui? � perguntou Harry, procurando um segundo barco.
� Voando � respondeu Hagrid.
� Voando?
� �... Mas vamos voltar nisso ai. N�o tenho permiss�o de usar m�gica depois de apanhar voc�.
Eles se acomodaram no barco, Harry ainda de olhos arregalados para Hagrid, tentando imagin�-lo voando.
� Mas parece um desperd�cio remar � disse Hagrid, lan�ando a Harry um dos seus olhares de esguelha. � Se eu quisesse... Hum... Apressar um pouco as coisas, voc� se importaria de n�o dizer nada em Hogwarts?
� Claro que n�o � falou Harry ansioso para ver mais m�gicas.
Hagrid puxou outra vez o guarda-chuva cor-de-rosa, deu duas pancadinhas no lado do barco e eles dispararam em dire��o ao continente.
� Por que s� um louco tentaria roubar Gringotes? � perguntou Harry.
� Feiti�os... Encantamentos � disse Hagrid desdobrando o seu jornal. � Dizem que h� drag�es guardando os cofres de seguran�a. E depois � preciso conhecer o caminho. Gringotes fica embaixo de Londres, centenas de quil�metros abaixo, entenda. Mais fundo que o metr�. Voc� morreria de fome tentando sair de l�, mesmo que conseguisse p�r as m�os em alguma coisa.
Harry ficou sentado pensando no que ouvira enquanto Hagrid lia o jornal, O Profeta Di�rio. Harry aprendera com o tio V�lter que as pessoas gostavam de ser deixadas em paz quando faziam isso, mas era muito dif�cil, nunca tivera tantas perguntas para fazer na vida.
� O Minist�rio da Magia anda aprontando as trapalhadas de sempre � resmungou Hagrid, virando a p�gina.
� Tem um ministro da Magia? � perguntou Harry antes que conseguisse se conter.
� Claro. Queriam nomear Dumbledore ministro, � claro, mas ele nunca ia largar Hogwarts, ent�o o velho Cornelius Fudge ficou com o cargo. Trapalh�o como ele s�. Por isso ele bombardeia Dumbledore com corujas, toda manh�, pedindo conselhos.
� Mas o que � que o Minist�rio da Magia faz?
� Bom, a principal tarefa � esconder dos trouxas que ainda existem bruxas e bruxos andando pelo pa�s.
� Por qu�?
� Por qu�? Ora, Harry, todo o mundo ia querer solucionar os problemas com m�gicas. N�o, � melhor que nos deixem em paz.
Nesse instante o barco bateu suavemente na parede do cais.
Hagrid dobrou o jornal e eles subiram os degraus de pedra que levavam a rua.
As pessoas que passavam olhavam muito para Hagrid enquanto os dois atravessaram a cidadezinha at� a esta��o. Harry n�o podia culp�-los. N�o s� Hagrid era duas vezes mais alto do que todo o mundo, como tamb�m n�o parava de apontar para coisas absolutamente comuns como parqu�metros e comentar em voz alta:
� Est� vendo isso, Harry? As coisas que esses trouxas inventam, hein?
� R�beo � isso Harry, meio ofegante de correr para acompanhar o passo dele. � Voc� disse que h� drag�es em Gringotes?
� Bem, � o que dizem � Calou Hagrid. � Maneiro, eu gostaria de ter um drag�o.
� Voc� gostaria de ter um?
� Sempre quis ter um desde pequeno, � aqui que vamos.
Tinham chegado � esta��o. Havia um trem para Londres dali a cinco minutos. Hagrid, que n�o entendia o dinheiro dos trouxas, como o chamava, entregou as notas a Harry para comprar as passagens.
No trem as pessoas ficaram olhando ainda mais Hagrid quando ocupou dois lugares e se p�s a tricotar uma coisa amarelo-can�rio que lembrava uma lona de circo.
� Voc� guardou sua carta, Harry? � perguntou enquanto contava as malhas do tric�.
Harry tirou o envelope de pergaminho do bolso.
� �timo. A� tem uma lista de tudo que voc� vai precisar.
Harry desdobrou um segundo peda�o de papel em que n�o reparara na noite anterior e leu:
ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS
Uniforme:
Os estudantes do primeiro ano precisam de:
1. Tr�s conjuntos de vestes comuns de trabalho (pretas)
2. Um chap�u pontudo simples (preto) para uso di�rio
3. Um par de luvas protetoras (couro de drag�o ou similar)
4. Uma capa de inverno (preta com fechos prateados)
As roupas do aluno devem ter etiquetas com seu nome.
Livros:
Os alunos devem comprar um exemplar de cada um dos seguintes:
� Livro padr�o de feiti�os (1� s�rie) de Miranda Goshawk
� Hist�ria da magia de Batilda Bagshot
� Teoria da magia de Adalberto Waffing
� Guia de transfigura��o para iniciantes de Emerico Ewitch
� Mil ervas e Fungos m�gicos de F�lida Spore
� Bebidas e po��es m�gicas de Ars�nio Jigger.
� Animais fant�sticos e seu habitat de Newton Scamander
� As Cor�as das trevas: Um guia de autoprote��o de Quintino Trimble.
Outros Equipamentos:
� 1 varinha m�gica
� 1 caldeir�o (estanho, tamanho padr�o 2)
� 1 conjunto de frascos
� 1 telesc�pio
� 1 balan�a de lat�o
Os alunos podem ainda trazer uma coruja ou um gato ou um sapo.
LEMBREMOS AOS PAIS QUE OS ALUNOS DO PRIMEIRO ANO N�O PODEM USAR VASSOURAS PESSOAIS.
� Podemos comprar tudo isso em Londres? � perguntou-se Harry em voz alta.
� Se voc� souber aonde ir � respondeu Hagrid.
Harry nunca estivera em Londres antes, Hagrid, embora parecesse saber aonde ia, obviamente n�o estava acostumado a chegar l� pelos meios comuns. Ficou entalado na roleta do metr� e queixou-se em voz alta que os assentos eram demasiado pequenos e os trens demasiado lentos.
� N�o sei como os trouxas conseguem se arranjar sem m�gica � disse, quando subiam uma escada rolante gasta que levava a uma rua movimentada com sa�das dos dois lados.
Hagrid era t�o grande que abria caminho pela multid�o sem esfor�o, Harry s� precisava segui-lo de perto. Passaram por livrarias e lojas de musica, lanchonetes e cinemas, mas nenhuma loja parecia vender varinhas m�gicas. Aquela era apenas uma rua comum cheia de gente comum. Seria realmente poss�vel que houvesse montes de ouro dos bruxos enterrados quil�metros abaixo dali? Haveria realmente lojas que vendessem livros de feiti�os e vassouras? N�o seria talvez uma grande pe�a que os Dursley tinham pregado? Se Harry n�o soubesse que os Dursley n�o tinham senso de humor, poderia ter tirado uma dessas conclus�es, mas, por alguma raz�o, embora tudo que Hagrid tivesse dito at� ali fosse inacredit�vel, Harry n�o podia deixar de confiar nele.
� � aqui � disse Hagrid parando. � O Caldeir�o Furado. � um lugar famoso.
Era um barzinho sujo. Se Hagrid n�o o tivesse apontado, Harry nem teria reparado que existia. As pessoas que passavam apressadas nem olhavam para aquele lado. Os olhos delas corriam da grande livraria a um lado a loja de discos no outro como se nem conseguissem ver O Caldeir�o Furado. Na verdade Harry teve a sensa��o muito estranha de que somente ele e Hagrid eram capazes de v�-lo. Antes que pudesse comentar isto, Hagrid o empurrou para dentro.
Para um lugar famoso, o Caldeir�o era muito escuro e miser�vel. Havia umas velhas sentadas a um canto, bebendo pequenos c�lices de xerez. Uma delas fumava um longo cachimbo.
Um homenzinho de cartola conversava com o velho gar�om do bar, que era bem careca e parecia uma noz viscosa. O zunzum das conversas parou quando eles entraram. Todos pareciam conhecer Hagrid, acenaram e sorriram para ele, e o gar�om apanhou um copo, perguntando:
� O de sempre, Hagrid?
� N�o posso, Tom, estou a servi�o de Hogwarts � disse Hagrid, dando uma palmada com a manzorra no ombro de Harry, o que fez joelhos do garoto dobrarem.
� Meu Deus � exclamou o gar�om, fitando Harry. � �... Ser� poss�vel?
O Caldeir�o Furado repentinamente parou e fez-se um sil�ncio total.
� Valha-me Deus � murmurou o velho gar�om. � Harry Potter... Que honra.
E saiu correndo de tr�s do balc�o, precipitou-se para Harry e agarrou suas m�os, as l�grimas nos olhos.
� Seja bem-vindo, Sr. Potter, seja bem-vindo.
Harry n�o sabia o que dizer. Todos tinham os olhos nele. A velha com o cachimbo puxava o fumo sem se dar conta de que o cachimbo apagara. Hagrid sorria radiante.
Logo houve um grande arrastar de cadeiras e no momento seguinte Harry se viu apertando as m�os de todos no Caldeir�o Furado.
� D�ris Crockford, Sr. Potter n�o acredito que finalmente posso conhec�-lo.
� Estou t�o orgulhosa, Sr. Potter, t�o orgulhosa.
� Sempre quis apertar sua m�o estou nas nuvens. Encantado, Sr. Potter, nem sei lhe dizer o quanto, Diggle � o meu nome, D�dalo Diggle.
� J� o vi senhor antes! � disse Harry, e a cartola de Diggle caiu de tanta excita��o. � O senhor se curvou para mim uma vez numa loja.
� Ele se lembra! � exclamou D�dalo Diggle, olhando todos � volta. � Voc�s ouviram isso? Ele se lembra de mim!
Harry apertou muitas m�os. D�ris Crockford n�o parava de voltar para um novo aperto.
Um rapaz p�lido adiantou-se, muito nervoso. Um olho tr�mulo.
� Professor Quirrell! � disse Hagrid. � Harry, o Professor Quirrell vai ser um dos seus professores em Hogwarts.
� P... P... Potter. � gaguejou o Professor Quirrell, apertando a m�o de Harry � N... N... Nem sei o que d... D... Dizer que p... P... P... Prazer enorme � c... C... Conhec�-lo.
� Que tipo de m�gica o senhor ensina, Professor Quirrell?
� D... Defesa c... C... Contra as a... Artes das t... Trevas � murmurou o Professor Quirrell, como se preferisse n�o pensar no assunto. � n�o que voc� p... P... Precise, hein, Potter? � Ele riu nervoso. � V... Voc� veio c... Comprar o material, suponho? Tenho que c... Comprar um livro n... Novo sobre vampiros � Parecia aterrorizado s� de pensar.
Mas os outros n�o queriam deixar o Professor Quirrell ficar com Harry s� para ele. Levou bem uns dez minutos para o menino se livrar de todos. Finalmente, Hagrid conseguiu se fazer ouvir naquela balb�rdia.
� Precisamos nos apressar. Temos muitas compras a fazer. Vamos, Harry.
D�ris Crockford apertou a m�o de Harry uma �ltima vez e eles passaram pelo bar e sa�ram num pequeno p�tio murado, onde n�o havia nada exceto uma lata de lixo e um pouco de mato.
Hagrid sorriu para Harry.
� Eu lhe falei, n�o foi? Falei que voc� era famoso. At� o professor Cessar Quirrell ficou tremendo de emo��o de o conhecer, mas, em geral, ele est� sempre tremendo.
� Ele � sempre t�o nervoso?
� Ah, �, coitado. Uma cabe�a brilhante. Foi bem enquanto estudou em livros, mas quando tirou um ano para aprender na pr�tica... Dizem que encontrou vampiros na Floresta Negra e teve um problema feio com uma feiticeira, nunca mais foi o mesmo. Tem pavor dos alunos, tem pavor da mat�ria que ensina, agora, cad� o meu guarda-chuva?
Vampiros? Feiticeiras? A cabe�a de Harry estava girando.
Entrementes, Hagrid contava tijolos na parede por cima da lata de lixo.
� Tr�s para cima... Dois para o lado... � murmurou. � Certo, chegue para tr�s, Harry.
Ele bateu na parede tr�s vezes com a ponta do guarda-chuva. E o tijolo que tocou estremeceu, torceu-se. No meio apareceu um buraquinho, que se foi alargando cada vez mais. Um segundo depois se viram diante de um arco bastante grande at� para Hagrid, um arco que abria para uma rua de pedras irregulares, serpeava e desaparecia de vista.
� Bem-vindo � disse Hagrid � ao Beco Diagonal.
Ele riu do espanto de Harry. Atravessaram o arco. Harry deu uma espiada r�pida por cima do ombro e viu o arco encolher instantaneamente e virar uma parede s�lida.
O sol refulgia numa pilha de caldeir�es � porta da loja mais, pr�xima. Caldeir�es � Todos os Tamanhos � Cobre, Lat�o, Estanho, Prata � todos os tamanhos, dizia um letreiro acima.
� � voc� vai precisar de um � disse Hagrid �, mas temos de apanhar o seu dinheiro primeiro.
Harry desejou ter oito olhos. Virava a cabe�a para todo o lado enquanto caminhavam pela rua, tentando ver tudo ao mesmo tempo: as lojas, as coisas as portas, as pessoas fazendo compras.
Uma mulher gorducha do lado de fora de uma farm�cia abanou a cabe�a quando passaram por ela e disse:
� F�gado de drag�o, dezessete sicles trinta gramas, eles endoidaram...
Um pio baixo e suave veio de uma loja escura com um letreiro onde se lia "Emp�rio de Corujas � douradas, das torres, do campo, marrons e brancas".
V�rios garotos mais ou menos da idade de Harry espremiam os narizes contra a vitrine que tinha vassouras.
� Olhe � Harry, ouviu um deles dizer � a nova Nimbus 2000, mais veloz que nunca.
Havia lojas que vendiam vestes, lojas que vendiam telesc�pios e estranhos instrumentos de prata que Harry nunca vira antes, janelas com pilhas de barris contendo ba�os de morcegos e olhos de enguias, pilhas mal equilibradas de livros de feiti�os, penas de aves para escrever e rolos de pergaminhos, vidros de po��es, globos de...
� Gringotes � anunciou Hagrid.
Tinham chegado a um edif�cio muito branco que se erguia acima das lojinhas. Parado diante das portas de bronze polido, usando um uniforme vermelho e dourado, havia...
� �, � um duende � disse Hagrid baixinho, enquanto subiam os degraus de pedra branca at� o duende. Ele era uma cabe�a mais baixa do que Harry. Tinha uma cara escura e inteligente, uma barba em ponta e, Harry reparou, m�os e p�s muito compridos. O duende os cumprimentou com uma rever�ncia quando entraram.
Em seguida depararam com um segundo par de portas, desta vez de prata, onde havia gravado o seguinte:
Entrem, estranhos, mas prestem aten��o,
Ao que espera o pecado da ambi��o,
Porque os que tiram o que n�o ganharam
Ter�o � que pagar muito caro,
Assim, se procuram sob o nosso ch�o,
Um tesouro que nunca enterraram,
Ladr�o, voc� foi avisado,
Cuidado, pois vai encontrar mais do que procurou.
� N�o te disse? S� um louco tentaria roubar o banco � lembrou Hagrid.
Dois duendes se curvaram quando eles passaram pelas portas de prata e desembocaram em um grande sagu�o de m�rmore.
Havia mais de cem duendes sentados em banquinhos altos atr�s de um longo balc�o, escrevendo em grandes livros-caixas, pesando moedas em balan�as de lat�o, examinando pedras preciosas com �culos de joalheira. Havia ao redor do sagu�o portas demais para contar, e outros tantos duendes acompanhavam as pessoas que entravam e saiam por elas. Hagrid e Harry se dirigiram ao balc�o.
� Bom dia � disse Hagrid a um duende desocupado. Viemos sacar algum dinheiro do cofre do Sr. Harry Potter.
� O senhor tem a chave?
� Tenho em algum lugar � disse Hagrid e come�ou a esvaziar os bolsos em cima do balc�o, espalhando um punhado de biscoitos de cachorro mofados em cima do livro-caixa do duende. O duende franziu o nariz. Harry observou o duende do lado direito pesar um monte de rubis do tamanho de carv�es em brasa.
� Achei � exclamou Hagrid finalmente, mostrando uma chavinha de ouro.
O duende examinou-a cuidadosamente.
� Parece estar em ordem.
� E tenho aqui tamb�m uma carta do professor Dumbledore � falou Hagrid com ar importante, tirando-a do bolso do casaco.
� � sobre Voc�-Sabe-O-Qu� que est� no cofre setecentos e treze.
O duende leu a carta com aten��o.
� Muito bem! � Calou, devolvendo a carta a Hagrid. � Vou mandar algu�m lev�-lo aos dois cofres. Grampo!
Grampo era outro duende. Depois que Hagrid enfiou todos os biscoitos de cachorro de volta nos bolsos, ele e Harry acompanharam Grampo a uma das portas que havia no sagu�o.
� O que � o Voc�-Sabe-O-Qu� no cofre setecentos e treze � perguntou Harry.
� N�o posso lhe contar � respondeu Hagrid misterioso � Muito secreto. Neg�cios de Hogwarts. Dumbledore me confiou. Meu emprego vale mais do que � vontade de lhe contar.
Grampo segurou a porta aberta para eles passarem. Harry, que esperara mais m�rmore, surpreendeu-se. Encontravam-se em uma passagem estreita de pedra, iluminada por archotes chamejantes.
Era uma descida �ngreme, em que havia pequenos trilhos. Grampo assobiou e um vagonete disparou pelos trilhos em sua dire��o.
Eles embarcaram Hagrid com alguma dificuldade e partiram.
A princ�pio eles apenas viajaram em alta velocidade por um labirinto de passagens cheias de curvas. Harry tentou memorizar, esquerda, direita, direita, esquerda, em frente no entroncamento, direita, esquerda, mas era imposs�vel. O vagonete barulhento parecia conhecer o caminho, porque Grampo n�o o estava dirigindo.
Os olhos de Harry ardiam no ar frio que passava r�pido por eles, mas mantinha-os bem abertos. Uma vez, ele pensou ter visto uma labareda no fim da passagem e se virou para conferir se era um drag�o, mas foi tarde demais, eles mergulharam ainda mais fundo, passaram por um lago subterr�neo onde se acumulavam no teto e no ch�o enormes estalactites e estalagmites.
� Eu nunca sei � gritou Harry para Hagrid poder ouvi-lo � qual � a diferen�a entre uma estalactite e uma estalagmite.
� Estalagmite tem um "m" � disse Hagrid � E n�o me fa�a perguntas agora acho que vou enjoar.
Ele realmente estava muito verde e quando o vagonete afinal parou ao lado de uma portinhola na passagem, Hagrid saltou e precisou se apoiar na parede para os joelhos pararem de tremer.
Grampo destrancou a porta. Saiu uma grande nuvem de fuma�a verde e enquanto ela se dissipava, Harry ficou sem respirar. Dentro havia montes de moedas de ouro. Colunas de prata. Pilhas de pequenos nuques de bronze.
� � tudo seu � sorriu Hagrid.
Tudo de Harry � era inacredit�vel. Os Dursley com certeza n�o sabiam da exist�ncia daquilo ou teriam tirado tudo mais r�pido do que uma piscadela. Quantas vezes tinham se queixado do quanto lhes custava criar Harry? E durante todo aquele tempo havia uma pequena fortuna que lhe pertencia, enterrada no subsolo de Londres.
Hagrid ajudou Harry a guardar um pouco do dinheiro em uma saca.
� As moedas de ouro s�o gale�es � explicou ele. � Dezessete sicles de prata fazem um gale�o e vinte e nove nuques fazem um sicle, � bem simples. Certo, isto dever� ser suficiente para uns dois per�odos letivos, guardaremos o resto bem guardado para voc�. � Hagrid virou-se para Grampo. � O cofre setecentos e treze agora, por favor, e ser� que podemos ir mais devagar.
� S� tem uma velocidade � calou Grampo.
Viajaram mais para o fundo agora e ganharam velocidade. O ar foi se tornando cada vez mais frio enquanto disparavam pelas curvas fechadas.
Sacolejavam por uma ravina subterr�nea e Harry debru�ou-se para um lado para tentar ver o que havia no fundo, mas Hagrid gemeu e o puxou para tr�s pelo cangote.
O cofre setecentos e treze n�o tinha fechadura.
� Para tr�s disse Grampo com ar de import�ncia. Alisou a porta devagarinho com o seu dedo comprido e ela simplesmente se dissolveu.
� Se algu�m que n�o fosse um duende de Gringotes tentasse o mesmo, seria engolido pela porta e ficaria preso l� dentro � explicou Grampo.
� Com que freq��ncia voc� vem ver se tem algu�m l� dentro? � perguntou Harry.
� Uma vez a cada dez anos � disse Grampo, com um sorriso maldoso.
Devia haver alguma coisa realmente extraordin�ria nesse cofre de seguran�a m�xima, Harry tinha certeza, e se curvou para frente pressuroso, esperando ver no m�nimo j�ias fabulosas, mas no primeiro momento achou que estava vazio. Depois notou um embrulhinho encardido no ch�o. Hagrid apanhou-o e o guardou muito bem no casaco.
Harry tinha muita vontade de saber o que era, mas sentia que era melhor n�o perguntar.
� Vamos voltar para esse vagonete infernal, e n�o fale no caminho de volta � melhor eu ficar de boca fechada comentou Hagrid.
Depois de mais uma viagem no vagonete descontrolado, eles chegaram � claridade do sol do lado de fora de Gringotes. Harry n�o sabia aonde correr primeiro agora que tinha uma saca cheia de dinheiro. N�o precisava saber quantos gale�es perfaziam uma libra para saber que estava carregando mais dinheiro do que jamais tivera na vida inteira mais dinheiro at� do que Duda jamais tivera.
� Vamos comprar logo o seu uniforme � falou Hagrid, indicando com a cabe�a a loja Madame Malkin � Roupas para Todas as Ocasi�es.
� Escute aqui, Harry, voc� se importa se eu der uma corrida no Caldeir�o Furado para tomar um t�nico? Detesto esses vagonetes de Gringotes. � Ele realmente parecia meio enjoado, por isso Harry entrou na loja Madame Malkin sozinho, um pouco nervoso.
Madame Malkin era uma bruxa baixa, gorda e sorridente, toda vestida de lil�s.
� Hogwarts, querido? � perguntou quando Harry come�ou a falar. � Tenho tudo aqui. Para falar a verdade, tem outro rapazinho agora ajustando uma roupa.
Nos fundos da loja, um garoto de rosto p�lido e pontudo estava em p� em cima de um banquinho enquanto uma segunda bruxa encurtava suas compridas vestes pretas. Madame Malkin colocou Harry num banquinho ao lado do outro, enfiou-lhe uma veste comprida pela cabe�a e come�ou a marcar a bainha na altura certa.
� Al� � cumprimentou o garoto. � Hogwarts tamb�m?
� � � confirmou Harry.
� Meu pai est� na loja ao lado comprando meus livros e minha m�e est� mais adiante procurando varinhas � disse o garoto. Tinha uma voz de t�dio arrastada. � Depois vou levar os dois para dar uma olhada nas vassouras de corridas. N�o vejo por que os alunos de primeira serie n�o podem ter vassouras individuais. Acho que vou obrigar papai a me comprar uma e vou contrabande�-la para a escola �s escondidas.
O garoto lhe lembrou muito o Duda.
� Voc� tem vassoura? � perguntou o garoto.
� N�o.
� Sabe jogar Quadribol?
� N�o � respondeu novamente Harry, perguntando-se que diabo seria esse tal de Quadribol.
� Eu sei, meu pai falou que vai ser um crime se n�o me escolherem para jogar pela minha casa, e sou obrigado a dizer que concordo. J� sabe em que casa voc� vai ficar?
� N�o � respondeu Harry, sentindo-se a cada minuto mais idiota.
� Bom ningu�m sabe mesmo at� chegar l�, n�o �, mas sei que vou ficar na Sonserina, toda a nossa fam�lia ficou l�, imagine ficar na Lufa-Lufa, acho que eu saia da escola, voc� n�o?
� Hum-hum � concordou Harry, desejando que pudesse responder algo um pouquinho mais interessante.
� Caramba, olha aquele homem! � falou o garoto de repente indicando com a cabe�a a vitrine. R�beo estava parado diante dela, rindo para Harry e apontando para dois grandes sorvetes para explicar que n�o podia entrar.
� � o R�beo � disse Harry, contente por saber alguma coisa que o garoto n�o sabia. � Ele trabalha em Hogwarts.
� Ah ouvi falar dele. E uma esp�cie de empregado, n�o �?
� � o guarda-ca�a � explicou Harry. A cada segundo gostava menos do garoto.
� �, isso mesmo. Ouvi falar que � uma esp�cie de selvagem. Mora num barraco no terreno da escola e de vez em quando toma um pileque, tenta fazer m�gicas e acaba tocando fogo na cama.
� Acho que ele � brilhante � retorquiu Harry com frieza.
� Ah, �? � disse o garoto com um leve desd�m. � Porque � que ele est� acompanhando voc�? Onde est�o os seus pais?
� Est�o mortos � respondeu Harry secamente. N�o tinha muita vontade de alongar o assunto com esse garoto.
� Ah, lamento � disse o outro, sem parecer lamentar nada.
� Mas eram do nosso povo, n�o eram?
� Eram bruxos, se � isso que voc� est� perguntando.
� Eu realmente acho que n�o deviam deixar outro tipo de gente entrar, e voc�? N�o s�o iguais a n�s, nunca foram educados para conhecer o nosso modo de viver. Alguns nunca sequer ouviram falar de Hogwarts at� receberem a carta, imagine. Acho que deviam manter a coisa entre as fam�lias de bruxos. Por falar nisso, como � o seu sobrenome?
Mas antes que Harry pudesse responder, Madame Malkin anunciou:
� Terminei com voc�, querido. E, Harry, nada frustrado com a desculpa para interromper a conversa com o garoto, pulou do banquinho para o ch�o.
� Bom, vejo voc� em Hogwarts, suponho � disse o garoto de voz arrastada.
Harry ficou muito quieto enquanto comia o sorvete que Hagrid trouxera (chocolate e amora com nozes picadas).
� Que foi? � perguntou Hagrid.
� Nada � mentiu Harry.
Eles pararam para comprar pergaminho e penas. Harry se animou um pouco quando descobriu um vidro de tinta que mudava de cor enquanto a pessoa escrevia. Quando sa�ram da loja, perguntou:
� R�beo, o que � Quadribol?
� Caramba, Harry, vivo me esquecendo que voc� n�o sabe quase nada, raios, n�o saber o que � Quadribol!
� N�o fa�a eu me sentir pior, � E contou a Hagrid sobre o garoto p�lido na loja de Madame Malkin.
�... E ele disse que nem deviam permitir a gente que pertence � fam�lia de trouxas...
� Voc� n�o pertence a uma fam�lia de trouxas. Se ele soubesse quem voc� �... Ele cresceu sabendo o seu nome se os pais dele forem bruxos. Voc� viu o pessoal do Caldeir�o Furado. Em todo o caso, o que � que ele sabe das coisas, alguns dos melhores bruxos que j� conheci vinham de uma longa linhagem de trouxas. Veja a sua m�e! Veja s� quem � irm� dela!
� Ent�o, o que � Quadribol.
� � o nosso esporte. Esporte de bruxos. � como o futebol no mundo dos trouxas. Todos praticam Quadribol. A gente joga no ar montado em vassouras com quatro bolas. � meio dif�cil explicar as regras.
� E o que s�o Sonserina e Lufa-Lufa?
� Casas na escola. S�o quatro. Todo mundo diz que Lufa-Lufa s� tem panacas, mas..
� Aposto que estou na Lufa-Lufa � disse Harry � deprimido.
� � melhor a Lufa-Lufa do que a Sonserina � sentenciou Hagrid, misterioso. � N�o tem um �nico bruxo nem uma �nica bruxa desencaminhados que n�o tenham passado por Sonserina. Voc�-Sabe-Quem foi um deles.
� Vol ... Desculpe... Voc�-Sabe-Quem esteve em Hogwarts?
� H� muitos e muitos anos.
Eles compraram os livros escolares de Harry em uma loja chamada Floreios e Borr�es, onde as prateleiras estavam abarrotadas at� o teto com livros do tamanho de paralelep�pedos encadernados em couro, livros do tamanho de selos postais com capas de seda, livros cobertos de s�mbolos curiosos e alguns livros sem nada. At� Duda, que nunca lia nada, teria ficado do�do para p�r as m�os em alguns desses livros. Hagrid quase teve de arrastar Harry para longe do Pragas e Contrapragas (Encante os seus amigos e confunda os seus inimigos com as �ltimas vingan�as: perda de cabelos, pernas bambas, l�ngua presa e muitas, muitas mais) do Professor Vindicto Viridiano.
� Eu estava tentando descobrir como rogar uma praga para o Duda.
� N�o vou dizer que n�o � uma boa id�ia, mas voc� n�o pode usar m�gica no mundo dos trouxas a n�o ser em situa��es muito especiais � disse Hagrid � De qualquer modo, voc� ainda n�o poderia lan�ar nenhuma dessas pragas, vai precisar de muito estudo antes de chegar a esse n�vel.
Hagrid n�o deixou Harry comprar um caldeir�o de ouro maci�o tampouco ("Diz estanho na sua lista�),mas compraram uma balan�a bonita para pesar os ingredientes das po��es e um telesc�pio desmont�vel de lat�o. Visitaram a farm�cia, que era bem fascinante para compensar seu cheiro horr�vel, uma mistura de ovo estragado e repolho podre. Havia no ch�o barricas de coisas viscosas, frascos com ervas, ra�zes secas e p�s coloridos cobriam as paredes, feixes de penas, fieiras de dentes e garras retorcidas pendiam do teto. Enquanto Hagrid pedia ao homem atr�s do balc�o um conjunto de ingredientes b�sicos para preparar po��es para Harry, o pr�prio Harry examinava chifres de prata de unic�rnios, a vinte e um gale�es cada, e min�sculos olhos faiscantes de besouros (cinco nuques uma concha).
Ao sa�rem da farm�cia, Hagrid verificou a lista de Harry mais uma vez.
� S� falta a varinha. Ah �, e ainda n�o comprei o seu presente de anivers�rio.
Harry sentiu o rosto corar.
� Voc� n�o precisa..
� Eu sei que n�o preciso. Vamos fazer o seguinte, vou comprar um bicho para voc�. N�o vai ser sapo, os sapos sa�ram de moda h� muitos anos, todo mundo ia rir de voc�, e n�o gosto de gatos, eles me fazem espirrar. Vou-lhe comprar uma coruja. Todos os garotos querem corujas, s�o muito �teis, levam cartas e tudo o mais.
Vinte minutos depois, eles sa�ram do Emp�rio de Corujas, que era escuro e cheio de ru�dos e brilhos e olhos que cintilavam como j�ias. Harry agora carregava uma grande gaiola com uma bela coruja branca como a neve, que dormia profundamente, a cabe�a debaixo da asa. Ele n�o parava de agradecer, parecia at� o Professor Quirrell.
� N�o tem do qu� � respondia Hagrid rouco. � Acho que voc� nunca ganhou muitos presentes dos Dursley. Agora s� falta Olivaras, a �nica loja de varinhas, Olivaras, e voc� precisa ter a melhor varinha do mundo.
Uma varinha m�gica... Era realmente o que Harry andara desejando.
A �ltima loja era estreita e feiosa. Letras de ouro descascadas sobre a porta diziam Olivaras Artes�os de Varinhas de Qualidade desde 382 A.C. Havia uma �nica varinha sobre uma almofada p�rpura desbotada, na vitrine empoeirada.
Um sininho tocou em algum lugar no fundo da loja quando eles entraram. Era uma lojinha m�nima, vazia, exceto por uma �nica cadeira alta e estreita em que Hagrid se sentou para esperar.
Harry teve uma sensa��o esquisita como se tivesse entrado em uma biblioteca muito exclusiva, engoliu um monte de perguntas novas que tinham acabado de lhe ocorrer e ficou espiando os milhares de caixas estreitas arrumadas com cuidado at� o teto. Por alguma raz�o, sentiu um arrepio na nuca. A pr�pria poeira e o sil�ncio ali pareciam retinir com uma magia secreta.
� Boa tarde � disse uma voz suave. Harry se assustou. Hagrid devia ter-se assustado tamb�m, porque se ouviu um rangido alto e ele se levantou rapidamente da cadeira alta e estreita.
Havia um velho parado diante deles, os olhos grandes e muito claros brilhando como duas luas na penumbra da loja.
� Al� � disse Harry sem jeito.
� Ah, sim � disse o homem. � Sim, sim. Achei que ia v�-lo em breve. Harry Potter. � N�o era uma pergunta. � Voc� tem os olhos de sua m�e. Parece que foi ontem que ela esteve aqui, comprando a primeira varinha. Vinte e seis cent�metros de comprimento, farfalhante, feita de salgueiro. Uma boa varinha para encantamentos.
O Sr. Olivaras chegou mais perto de Harry. Harry desejou que ele piscasse. Aqueles olhos prateados lhe davam um pouco de medo.
� J� o seu pai, deu prefer�ncia a uma varinha de mogno. Vinte e oito cent�metros. Flex�vel. Um pouco mais de poder e excelente para transforma��es. Bom, digo que seu pai deu prefer�ncia, na realidade � a varinha que escolhe o bruxo, � claro.
O Sr. Olivaras chegara t�o perto que ele e Harry estavam quase encostando os narizes. Harry viu-se refletido naqueles olhos.
� E foi a� que....
O Sr. Olivaras tocou a cicatriz feita pelo rel�mpago na testa de Harry com um dedo branco e longo.
� Lamento dizer que vendi a varinha que fez isso � disse ele suavemente. � Trinta e cinco cent�metros. Nossa. Uma varinha poderosa, muito poderosa nas m�os erradas... Bom, se eu tivesse sabido o que a varinha ia sair por a� fazendo..
Ele sacudiu a cabe�a e ent�o, para alivio de Harry, viu Hagrid.
� Hagrid! Hagrid, Hagrid! Que bom ver voc� de novo... Carvalho, quarenta cent�metros, meio mole, n�o era?
� Era, sim senhor.
� Boa varinha, aquela. Mas suponho que a tenham partido ao meio quando o expulsaram? � disse o Sr. Olivaras repentinamente s�rio.
� Hum... Partiram, � verdade � disse Hagrid, arrastando os p�s. � Mas ainda guardo os peda�os � acrescentou animado.
� Mas voc� n�o os usa? � perguntou o Sr. Olivaras severo.
� Ah, n�o senhor � respondeu depressa Hagrid. Harry reparou que ele apertou o guarda-chuva cor-de-rosa com for�a ao responder � Hum � resmungou o Sr. Olivaras, lan�ando um olhar penetrante a Hagrid. � Bom agora, Sr. Potter vamos ver. � E tirou uma longa fita m�trica com n�meros prateados do bolso. � Qual � o bra�o da varinha?
� Hum... Bom, sou destro � respondeu Harry.
� Estique o bra�o. Isso. � Ele mediu Harry do ombro ao dedo, depois do pulso ao cotovelo, do ombro ao ch�o, do joelho � axila e ao redor da cabe�a. Enquanto media, disse, � Toda varinha Olivaras tem o miolo feito de uma poderosa subst�ncia m�gica, Sr. Potter. Usamos p�los de unic�rnio, penas de cauda de f�nix e cordas de cora��o de drag�o. N�o h� duas varinhas Olivaras como n�o h� unic�rnios, drag�es nem f�nix iguais. E � claro, o senhor jamais conseguir� resultados t�o bons com a varinha de outro bruxo.
Harry de repente percebeu que a fita m�trica, que o media entre as narinas, estava medindo sozinha. O Sr. Olivaras andava rapidamente em volta das prateleiras, descendo caixas.
� J� chega � falou, e a fita m�trica afrouxou e caiu formando um montinho no ch�o. � Certo, ent�o, Sr. Potter. Experimente esta. Faia e corda de cora��o de drag�o. Vinte e tr�s cent�metros. Boa e flex�vel. Apanhe e experimente.
Harry apanhou a varinha e (sentindo-se bobo) fez alguns movimentos com ela, mas o Sr. Olivaras a tirou de sua m�o quase imediatamente.
� Bordo e pena de f�nix. Dezoito cent�metros. Bem el�stica. Experimente.
Harry experimentou, mas mal erguera a varinha quando, mais uma vez, o Sr. Olivaras a tirou de sua m�o.
� N�o, n�o. Tome, �bano e p�lo de unic�rnio, vinte e dois cent�metros, flex�veis. Vamos, vamos, experimente.
Harry experimentou. E experimentou. N�o fazia id�ia do que � que o Sr. Olivaras estava esperando. A pilha de varinhas experimentadas estava cada vez maior em cima da cadeira alta e estreita, mas, quanto mais varinhas o Sr. Olivaras tirava das prateleiras, mais feliz parecia ficar.
� Fregu�s dif�cil, hein? N�o se preocupe, vamos encontrar a varinha perfeita para o senhor em algum lugar, estou em duvida, agora... �, por que n�o? Uma combina��o incomum, azevinho e pena de f�nix, vinte e oito cent�metros, boa e male�vel.
Harry apanhou a varinha. Sentiu um repentino calor nos dedos. Ergueu a varinha acima da cabe�a, baixou-a cortando o ar empoeirado com um zunido, e uma torrente de fa�scas douradas e vermelhas sa�ram da ponta como um fogo de artif�cio, atirando fagulhas luminosas que dan�avam nas paredes. Hagrid gritou entusiasmado e bateu palmas e o Sr. Olivaras exclamou:
� Bravo! Mesmo, ah, muito bom. Ora, ora, ora... Que curioso... Curios�ssimo...
Rep�s a varinha de Harry na caixa e embrulhou-a em papel pardo, ainda resmungando:
� Curioso... Curioso...
� O senhor me desculpe � disse Harry �, mas o que � curioso?
O Sr. Olivaras encarou Harry com aqueles olhos claros.
� Lembro-me de cada varinha que vendi, Sr. Potter. De cada uma. Acontece que a f�nix cuja pena est� na sua varinha produziu mais uma pena, apenas mais uma. � muito curioso que o senhor tenha sido destinado para esta varinha porque a irm� dela, ora, a irm� dela produziu a sua cicatriz.
Harry engoliu em seco.
� E, tinha trinta e quatro cent�metros. Puxa. � realmente curioso como essas coisas acontecem. A varinha escolhe o bruxo, lembre-se... Acho que podemos esperar grandes feitos do senhor, Sr. Potter. Afinal, Aquele-Que-N�o-Se-Deve-Nomear realizou grandes feitos, terr�veis, sim, mas grandes.
Harry estremeceu. N�o tinha muita certeza se gostava do Sr. Olivaras. Pagou sete gale�es pela varinha e o Sr. Olivaras curvou-se � sa�da deles.
O sol de fim de tarde quase chegara ao horizonte quando Harry e Hagrid refizeram o caminho para sair do Beco Diagonal, atravessar a parede e passar novamente pelo Caldeir�o Furado, agora vazio. Harry n�o disse uma palavra enquanto caminhavam pela rua, nem ao menos reparou quantas pessoas se boquiabriam para eles no metr�, carregados que estavam com todos aqueles pacotes de formatos esquisitos, a coruja branca adormecida no colo de Harry. Subiram a escada rolante para a esta��o de Paddington, Harry s� percebeu onde estavam quando Hagrid bateu em seu ombro.
� Temos tempo para comer alguma coisa antes do trem sair � falou.
Comprou um hamb�rguer para Harry e se sentaram em bancos de pl�stico para com�-los. Harry n�o parava de olhar a toda volta. Por alguma raz�o tudo parecia t�o estranho.
� Voc� est� bem, Harry? Est� muito calado � comentou Hagrid.
Harry n�o tinha muita certeza de poder explicar. Tivera o melhor anivers�rio de sua vida, por�m... E mastigava o hamb�rguer, tentando encontrar as palavras.
� Todo o mundo acha que sou especial � disse finalmente. � Todas aquelas pessoas no Caldeir�o Furado, o Professor Quirrell, o Sr. Olivaras... Mas eu n�o conhe�o nadinha de m�gica. Como podem esperar grandes feitos de mim? Sou famoso e nem ao menos me lembro o porqu�. N�o sei o que aconteceu quando Vol... Desculpe... Quero dizer, na noite que meus pais morreram.
Hagrid se debru�ou sobre a mesa. Por tr�s da barba e das sobrancelhas desgrenhadas tinha um sorriso bondoso.
� N�o se preocupe, Harry. Voc� vai aprender bem depressa. Todos come�aram pelo come�o em Hogwarts, voc� vai se dar bem. Seja voc� mesmo. Sei que � dif�cil. Voc� vai ser discriminado e isso � muito duro. Mas vai se divertir a valer em Hogwarts. Eu me diverti: e ainda me divirto, para dizer a verdade.
Hagrid ajudou Harry a embarcar no trem que o levaria de volta aos Dursley, ent�o lhe entregou um envelope.
� A sua passagem para Hogwarts. Primeiro de setembro, na esta��o de Kong's Cross, est� tudo na passagem. Qualquer problema com os Dursley me mande uma carta pela coruja, ela saber� onde me encontrar... Vejo voc� em breve, Harry.
O trem parou na esta��o. Harry queria ficar espiando Hagrid at� ele desaparecer de vista, levantou-se, espremeu o nariz contra o vidro da janela, mas quando piscou os olhos Hagrid tinha desaparecido.
CAP�TULO SEIS
O Embarque na Plataforma Nove e Meia
O �ltimo m�s de Harry na casa dos Dursley n�o foi nada divertido. � verdade que Duda agora estava t�o apavorado com Harry que n�o queria nem ficar no mesmo aposento com ele, e tia Pet�nia e tio V�lter n�o trancaram Harry no arm�rio nem o obrigaram a fazer nada, tampouco gritaram com ele, na verdade, sequer falaram com ele. Meio aterrorizados, meio furiosos, agiam como se a cadeira em que Harry se sentasse estivesse vazia.
Embora isso fosse sob muitos aspectos um progresso, tornou-se um tanto deprimente depois de algum tempo.
Harry ficava em seu quarto, com a nova coruja por companhia.
Decidira cham�-la Edwiges, um nome que encontrara na Hist�ria da Magia. Seus livros de escola eram muito interessantes. Deitava-se na cama e lia at� tarde da noite. Edwiges voava para dentro e para fora da janela, quando queria. Era uma sorte que tia Pet�nia n�o aparecesse mais para passar o aspirador de p�, porque Edwiges n�o parava de trazer ratos mortos para o quarto. Toda noite, antes de se deitar para dormir, Harry riscava mais um dia no peda�o de papel que pregara na parede, para contar os dias que faltavam at� primeiro de setembro.
No �ltimo dia de agosto ele achou melhor falar com os tios sobre a ida � esta��o no dia seguinte, por isso desceu � sala de estar onde eles estavam assistindo a um programa de audit�rio na televis�o. Pigarreou para avisar que estava ali e Duda deu um berro e saiu correndo da sala.
� Hum... Tio V�lter?
Tio V�lter resmungou para indicar que estava escutando.
� Hum... Preciso estar amanh� na esta��o para... Embarcar para Hogwarts.
Tio V�lter resmungou outra vez.
� Ser� que o senhor podia me dar uma carona?
Resmungo. Harry sup�s que quisesse dizer sim.
� Muito obrigado.
E j� ia voltando para cima quando tio V�lter falou de verdade.
� Que modo engra�ado de ir para a escola de magia, de trem. Os tapetes m�gicos furaram todos?
Harry n�o respondeu.
� Onde fica essa escola afinal?
� N�o sei � disse Harry pensando nisso pela primeira vez. Tirou do bolso o bilhete de passagem que Hagrid lhe dera.
� Vou tomar o trem na plataforma 9 e � �s onze horas � leu.
A tia e o tio arregalam os olhos.
� Plataforma o qu�?
� Nove e meia.
� N�o diga bobagens � repreendeu tio V�lter � N�o existe plataforma nove e meia.
� Est� no meu bilhete.
� Loucos � disse tio V�lter � de pedra, todos eles. Voc� vai ver. � s� esperar. Est� bem, levaremos voc� at� a esta��o. De qualquer maneira t�nhamos de ir a Londres amanh� ou nem me daria ao trabalho.
� Por que o senhor vai a Londres? � perguntou Harry, tentando manter a conversa cordial.
� Vamos levar Duda ao hospital � rosnou tio V�lter � Precisamos mandar cortar aquele rabo vermelho antes de mand�-lo para Smeltings.
Harry acordou �s cinco horas na manh� seguinte e estava demasiado excitado e nervoso para voltar a dormir.
Levantou-se e vestiu o jeans porque n�o queria entrar na esta��o com as vestes de bruxo, mudaria de roupa no trem.
Verificou novamente a lista de Hogwarts para se certificar de que tinha tudo de que precisava, viu se Edwiges estava bem trancada na gaiola e ent�o ficou andando pelo quarto � espera que os Dursley se levantassem. Duas horas mais tarde, a mala enorme e pesada de Harry fora colocada no carro dos Dursley. Tia Pet�nia convencera Duda a se sentar ao lado do primo e eles partiram.
Chegaram � esta��o de King's Cross �s 10:30h. V�lter jogou a mala de Harry num carrinho e empurrou-o at� a esta��o, com um gesto curiosamente bondoso at� tio V�lter parar diante das plataformas com um sorriso maldoso.
� Bom, aqui estamos, moleque. Plataforma nove, plataforma dez. A sua plataforma devia estar a� no meio, mas parece que ainda n�o a constru�ram, n�o � mesmo.
Ele tinha raz�o, � claro. Havia um grande n�mero nove de pl�stico no alto de uma plataforma e um grande n�mero dez no alto da plataforma seguinte, mas no meio, n�o havia nada.
� Tenha um bom per�odo letivo � disse tio V�lter com um sorriso ainda mais maldoso. E foi-se embora sem dizer mais nada.
Harry se virou e viu o carro dos Dursley partir. Os tr�s estavam rindo, Harry sentiu a boca seca. Que diabo iria fazer? Estava come�ando a atrair uma por��o de olhares curiosos por causa da Edwiges. Teria que perguntar a algu�m.
Parou um guarda que ia passando, mas n�o mencionou a plataforma nove e meia. O guarda nunca ouvira falar em Hogwarts e quando Harry n�o soube lhe dizer em que parte do pa�s a escola ficava, ele come�ou a mostrar aborrecimento, como se Harry estivesse se fazendo de burro de prop�sito. Desesperado, Harry perguntou pelo trem que partia �s onze horas, mas o guarda disse que n�o havia nenhum. Ao fim, o guarda se afastou, resmungando contra pessoas que o faziam perder tempo. Harry tentou por tudo no mundo n�o entrar em p�nico. Pelo grande rel�gio em cima do quadro que anunciava os trens que chegavam, s� lhe restavam mais dez minutos para embarcar no trem de Hogwarts e ele n�o tinha id�ia de como ia fazer isso, estava perdido no meio da esta��o com uma mala que mal podia levantar, o bolso cheio de dinheiro de bruxo e uma corujona.
Hagrid devia ter esquecido de lhe dizer alguma coisa que tinha de fazer, como bater no terceiro tijolo � esquerda para entrar no Beco Diagonal. Perguntou-se se deveria tirar a varinha da mala e come�ar a bater no coletor de bilhetes entre as plataformas nove e dez.
Naquele instante um grupo de pessoas passou as suas costas e ele entreouviu algumas palavras que diziam..
� ... Cheio de trouxas, � claro...
Harry deu meia-volta. Era uma mulher gorda que falava com quatro meninos, todos de cabelos cor de fogo. Cada um deles estava empurrando � frente uma mala como a de Harry e levavam uma coruja. O cora��o aos saltos, Harry os seguiu empurrando o carrinho. Eles pararam e ele tamb�m, bem pr�ximo para ouvir o que diziam.
� Agora, qual � o n�mero da plataforma? � perguntou a m�e dos meninos.
� Nove e meia � ouviu-se a voz fina de uma menininha, tamb�m de cabelos ruivos que estava segurando a m�o da mulher.
� Mam�e, n�o posso ir...
� Voc� ainda n�o tem idade, Gina, agora fique quieta. Est� bem, Percy, voc� vai primeiro.
O que parecia o menino mais velho marchou em dire��o �s plataformas nove e dez. Harry observou-o, tomando o cuidado de n�o piscar para n�o perder nada, mas assim que o menino chegou � linha divis�ria entre as duas plataformas, um grande grupo de turistas invadiu a plataforma � frente dele e quando uma mochila acabou de passar, o menino havia desaparecido.
� Fred , voc� agora � mandou a mulher gorda.
� Eu n�o sou Fred, sou Jorge � retrucou o menino. � Francamente, mulher, voc� diz que � nossa m�e? N�o consegue ver que sou o Jorge?
� Desculpe, Jorge, querido.
� � brincadeira, eu sou o Fred � disse o menino, e foi. O irm�o g�meo gritou para ele se apressar, e ele deve ter atendido, porque um segundo depois, sumiu, mas como fizera aquilo?
Agora o terceiro irm�o estava se encaminhando rapidamente para a barreira, estava quase l� e, ent�o, de repente, n�o estava mais em parte alguma.
E foi s�.
� Com licen�a � dirigiu-se Harry � mulher gorda.
� Ol�, querido. � a primeira vez que vai a Hogwarts? O Rony � novo tamb�m.
Ela apontou o �ltimo filho, o mais mo�o. Era alto, magro e desengon�ado, com sardas, m�os e p�s grandes e um nariz comprido.
� � � respondeu Harry, � A coisa �, a coisa � que n�o sei como...
� Como chegar � plataforma? � disse ela com bondade, e Harry concordou com a cabe�a.
� N�o se preocupe. Basta caminhar diretamente para a barreira entre as plataformas nove e dez. N�o pare e n�o tenha medo de bater nela, isto � muito importante. Melhor fazer isso meio correndo se estiver nervoso. V�, v� antes de Rony.
� Hum... Ok.
E Harry virou o carrinho e encarou a barreira. Parecia muito s�lida.
Ele come�ou a andar em dire��o a ela. As pessoas a caminho das plataformas nove e dez o empurravam. Harry apressou o passo. Ia bater direto no coletor de bilhetes e ent�o ia se complicar, curvando-se para o caminho ele desatou a correr, a barreira estava cada vez mais pr�xima. N�o poderia parar, o carrinho estava descontrolado, ele estava a um passo de dist�ncia, fechou os olhos se preparando para a colis�o..
E ela n�o aconteceu... Ele continuou correndo. Abriu os olhos.
Uma locomotiva vermelha a vapor estava parada � plataforma apinhada de gente. Um letreiro no alto informava �Expresso de Hogwarts 11 horas�. Harry olhou para tr�s e viu um arco de ferro forjado no lugar onde estivera o coletor de bilhetes com os dizeres �Plataforma 9 e ��. Conseguira.
A fuma�a da locomotiva se dispersava sobre as cabe�as das pessoas que conversavam, enquanto gatos de todas as cores tran�avam por entre as pernas delas. Corujas piavam umas para as outras, descontentes, sobrepondo-se � balb�rdia e ao barulho das malas pesadas que eram arrastadas.
Os primeiros vag�es j� estavam cheios de estudantes, uns debru�ados �s janelas conversando com as fam�lias, outros brigando por causa dos lugares. Harry, empurrou o carrinho pela plataforma procurando um lugar vago. Passou por um garoto de rosto redondo que estava dizendo:
� V�, perdi meu sapo outra vez.
� Ah, Neville � ele ouviu a senhora suspirar.
Um garoto com cabelos rastafari estava cercado por um pequeno grupo de meninos.
� Deixe a gente espiar, Lino, vamos.
O menino levantou a tampa de uma caixa que carregava nos bra�os e as pessoas em volta deram gritos e berros quando uma coisa dentro da caixa esticou para fora uma perna comprida e peluda.
Harry continuou andando pela aglomera��o at� que encontrou um compartimento vago no final do trem. Primeiro p�s Edwiges para dentro e come�ou a empurrar e a for�ar com a mala em dire��o � porta do trem. Tentou ergu�-la pelos degraus acima, mas mal conseguiu suspender uma ponta e duas vezes deixou-a cair dolorosamente em cima do p�.
� Quer uma ajuda? � Era um dos g�meos ruivos que ele seguira para atravessar a barreira.
� Por favor � Harry ofegou.
� Fred! Vem dar uma ajuda aqui!
Com a ajuda dos g�meos a mala de Harry, finalmente foi colocada a um canto do compartimento.
� Obrigado � disse Harry, afastando os cabelos suados dos olhos.
� Que � isso � perguntou de repente um dos g�meos apontando para a cicatriz de Harry.
� Caramba � disse o outro g�meo. � Voc� �...?
� Ele � � disse o outro g�meo. � N�o �? � acrescentou para Harry.
� O qu�? � indagou Harry.
� Harry Potter � disseram os g�meos em coro.
� Ah, ele � disse Harry � Quero dizer, �, sou.
Os dois garotos olharam boquiabertos e Harry sentiu que estava corando. Ent�o, para seu alivio, ouviram uma voz pela porta aberta do trem.
� Fred? Jorge? Voc�s est�o ai?
� Estamos indo, mam�e.
Dando uma �ltima espiada em Harry, os g�meos saltaram para fora do trem.
Harry sentou-se � janela onde, meio escondido, podia observar a fam�lia de cabelos ruivos na plataforma e ouvir o que diziam. A m�e tinha acabado de puxar o len�o.
� Rony, voc� est� com uma crosta no nariz.
O menino mais novo tentou fugir, mas ela o agarrou e come�ou a limpar aponta do nariz dele.
� Mam�e, sai para l� � Desvencilhou-se.
� Aaaah, o Roniquinho est� com uma coisa no nariz? � ca�oou um dos g�meos.
� Cale a boca � disse Rony.
� Onde est� o Percy? � perguntou a m�e.
� Est� vindo a�.
O garoto mais velho vinha vindo. J� vestira as vestes largas e pretas de Hogwarts e Harry reparou que tinha um distintivo de prata reluzente com a letra �M�.
� N�o posso demorar, m�e � falou ele. � Estou l� na frente, os monitores t�m dois vag�es separados...
� Ah, voc� � monitor, Percy? � perguntou um dos g�meos, com ar de grande surpresa. � Devia ter avisado, n�o faz�amos id�ia.
� Espere ai, acho que me lembro de ter ouvido ele dizer alguma coisa � disse o outro g�meo. � Uma vez...
� Ou duas..
� Um minuto...
� O ver�o todo.
� Ah, calem a boca � disse Percy, o monitor.
� Afinal por que foi que o Percy ganhou vestes novas? � disse um dos g�meos.
� Porque � monitor � disse a m�e com carinho � Est� bem, querido, tenha um bom ano letivo � mande-me uma coruja quando chegar.
Ela beijou Percy no rosto e ele foi embora. Ent�o. Virou-se para os g�meos.
� Agora, voc�s dois, este ano, se comportem. Se receber mais uma coruja dizendo que voc�s... Voc�s explodiram um banheiro ou...
� Explodiram um banheiro? Nunca explodimos um banheiro.
� Mas � uma grande id�ia, obrigado, mam�e.
� N�o tem gra�a. E cuidem do Rony.
� N�o se preocupe, Roniquinho est� seguro com a gente.
� Cale a boca � mandou Rony outra vez. J� era quase t�o alto quanto os g�meos e seu nariz continuava vermelho onde a m�e o esfregara.
� Ei, m�e, advinha? Adivinha quem acabamos de encontrar no trem?
Harry recuou o corpo r�pido para que eles n�o o vissem olhando.
� Sabe aquele menino de cabelos pretos que estava perto da gente na esta��o? Sabe quem ele �?
� Quem?
� Harry Potter!
Harry ouviu a vozinha da garotinha.
� Ah, mam�e, posso subir no trem para ver ele, mam�e, ali, por favor...
� Voc� j� o viu, Gina, e o coitado n�o e um bicho de zool�gico para voc� ficar olhando. � ele mesmo, Fred? Como � que voc� sabe?
� Perguntei a ele. Vi a cicatriz. Est� l� mesmo, parece um raio.
� Coitadinho. N�o admira que estivesse sozinho. Foi t�o educado quando me perguntou como entrar na plataforma.
� Deixa para l�, voc� acha que ele se lembra como era o Voc�-Sabe-Quem?
De repente a m�e ficou muito s�ria.
� Pro�bo-lhe de perguntar a ele, Fred. N�o, n�o se atreva. Como se ele precisasse de algu�m para lhe lembrar uma coisa dessas no primeiro dia de escola.
� Est� bem, n�o precisa ficar nervosa.
Ouviu-se um apito.
� Depressa! � disse a m�e, e os tr�s garotos subiram no trem.
Debru�aram-se na janela para a m�e lhes dar um beijo de despedida e a irm�zinha come�ou a chorar.
� N�o chore, Gina, vamos lhe mandar um monte de corujas.
� Vamos lhe mandar uma tampa de vaso de Hogwarts.
� Jorge!
� Estou s� brincando, mam�e.
O trem come�ou a andar. Harry viu a m�e dos garotos acenando e a irm�, meio risonha, meio chorosa, correndo para acompanhar o trem at� ele ganhar velocidade e ela ficar para tr�s acenando.
Harry observou a menina e a m�e desaparecerem quando o trem fez a curva. As casas passaram num rel�mpago pela janela.
Harry sentiu uma grande excita��o. N�o sabia onde estava indo, mas tinha de ser melhor do que o lugar que estava deixando para tr�s.
A porta da cabine se abriu e o ruivinho mais mo�o entrou.
� Tem algu�m sentado aqui? � perguntou, apontando para o assento em frente ao de Harry � O resto do trem est� cheio.
Harry respondeu que n�o, com um aceno de cabe�a, e o garoto se sentou. Olhou para Harry e em seguida olhou depressa para fora, fingindo que n�o tinha olhado. Harry reparou que ele ainda tinha uma mancha preta no nariz.
� Oi, Rony, Os g�meos estavam de volta.
� Escuta aqui, vamos para o meio do trem. Lino Jordan trouxe uma tar�ntula gigante.
� Certo � resmungou Rony.
� Harry � disse o outro g�meo �, n�s j� nos apresentamos? Fred e Jorge Weasley. E este � o Rony, nosso irm�o. Vejo voc�s mais tarde, ent�o.
� Tchau � disseram Harry e Rony. Os g�meos fecharam a porta da cabine ao passar.
� Voc� � Harry Potter mesmo? � Rony deixou escapar.
Harry confirmou com a cabe�a.
� Ah, bom, pensei que fosse uma brincadeira do Fred e do Jorge e voc� tem mesmo... Sabe...
Apontou para a testa de Harry. Harry afastou a franja para mostrar a cicatriz em forma de raio. Rony olhou.
� Ent�o foi a� que Voc�-Sabe-Quem...?
� Foi, mas n�o me lembro.
� De nada? � perguntou Rony ansioso.
� Bom... Lembro de muita luz verde, mas nada mais.
� Uau! � Ele ficou parado uns minutos olhando para Harry, depois, como se de repente tivesse se dado conta do que estava fazendo, olhou depressa para fora da janela outra vez.
� Todos na sua fam�lia s�o bruxos? � perguntou Harry que achava Rony t�o interessante quanto Rony o achava.
� Hum... S�o, acho que sim. Acho que mam�e tem um primo em segundo grau que � contador, mas ningu�m nunca fala nele.
� Ent�o voc� j� deve saber muitas m�gicas.
Os Weasley aparentemente eram uma dessas antigas fam�lias de bruxos de que o menino p�lido no Beco Diagonal falara.
� Ouvi dizer que voc� foi viver com os trouxas. Como � que eles s�o?
� Horr�veis... Bom, nem todos. Mas minha tia e meu tio e meu primo s�o, eu gostaria de ter tido tr�s irm�os bruxos.
� Cinco. � Por alguma raz�o, ele pareceu triste. � Sou o sexto de minha fam�lia a ir para Hogwarts. Pode-se dizer que tenho de fazer justi�a ao nosso nome. Gui e Carlinhos j� terminaram a escola. Gui foi chefe dos monitores e Carlinhos foi capit�o do time de Quadribol. Agora Percy � monitor. Fred e Jorge fazem muita bagun�a, mas tiram notas muito boas e todo mundo acha que eles s�o realmente engra�ados. Todos esperam que eu me saia t�o bem quanto os outros, mas se eu me sair bem, n�o ser� nada de mais, porque eles fizeram isso primeiro. E tamb�m n�o se ganha nada novo quando se tem cinco irm�os. Uso as vestes velhas de Gui, a varinha velha de Carlinhos e o rato velho do Percy..
Rony meteu a m�o no bolso interno do palet� e tirou um rato cinzento e gordo que estava dormindo.
� O nome dele � Perebas e ele � in�til, quase nunca acorda. Percy ganhou uma coruja de meu pai por ter sido escolhido monitor, mas eles n�o podiam ter...quero dizer, em vez disso ganhei Perebas.
As orelhas de Rony ficaram vermelhas. Parecia estar achando que falara demais, porque voltou a olhar para fora pela janela.
Harry n�o achava nada de mais que algu�m n�o tivesse dinheiro para comprar uma coruja. Afinal, ele nunca tivera dinheiro algum na vida at� um m�s atr�s, e disse isso ao Rony, e disse tamb�m o que sentira quando usava as roupas velhas de Duda e jamais ganhara um presente de anivers�rio decente. Isto pareceu animar Rony um pouco.
� ... E at� R�beo me contar, eu n�o sabia o que era ser bruxo nem quem eram meus pais nem o Voldemort.
Rony ficou pasmo.
� Que foi?
� Voc� disse o nome do Voc�-Sabe-Quem! � exclamou Rony parecendo ao mesmo tempo chocado e impressionado � Eu achava que de todas as pessoas voc�...
� N�o estou tentando ser corajoso nem nada dizendo o nome dele. � que nunca soube que n�o se podia dizer. Est� vendo o que quero dizer? Tenho muito que aprender... Aposto � acrescentou, pondo pela primeira vez em palavras algo que o andava preocupando muito ultimamente � Aposto que vou ser o pior da classe.
� N�o vai ser n�o. Tem uma por��o de gente que vem de fam�lias de trouxas e aprende bem depressa.
Enquanto conversavam, o trem saiu de Londres. Agora corriam por campos cheios de vacas e carneiros. Ficaram calados por um tempo, contemplando os campos e as estradinhas passarem num lampejo.
Por volta do meio-dia e meia ouviram um grande barulho no corredor e uma mulher toda sorrisos e covinhas abriu a porta e perguntou:
� Querem alguma coisa do carrinho, queridos?
Harry, que n�o tomara caf� da manh� ergueu-se de um salto, mas as orelhas de Rony ficaram vermelhas outra vez e ele murmurou que trouxera sandu�ches. Harry foi at� o corredor.
Nunca tivera dinheiro para doces na casa dos Dursley e agora que seus bolsos retiniam com moedas de ouro e prata, estava disposto a comprar quantas barrinhas de chocolate pudesse carregar, mas a mulher n�o tinha barrinhas. Tinha feijoezinhos de todos os sabores, balas de goma, chicles de bola, sapos de chocolate, tortinhas de ab�bora, bolos de caldeir�o, varinhas de alca�uz e v�rias outras coisas estranhas que Harry nunca vira na sua vida.
N�o querendo perder nada, ele comprou uma de cada e pagou � mulher onze sicles de prata e sete nuques.
Rony arregalou os olhos quando Harry trouxe tudo para a cabine e despejou no assento vazio.
� Que fome, hein?
� Morrendo de fome � respondeu Harry, dando uma grande dentada na tortinha de ab�bora.
Rony tirara um embrulho encaro�ado e abriu-o. Havia quatro sandu�ches dentro. Abriu um e disse:
� Ela sempre se esquece que n�o gosto de carne enlatada.
� Troco com voc� por um desses � prop�s Harry, oferecendo um pastel�o de carne. � Tome...
� Voc� n�o vai querer isso, � muito seco. Ela n�o tem muito tempo � acrescentou depressa. � Voc� sabe, somos cinco.
� Come... Coma um pastel�o � disse Harry, que nunca tivera nada para dividir com algu�m antes, ali�s, nem ningu�m com quem dividir. Era uma sensa��o gostosa, sentar-se ali com Rony, acabar com todas as tortas e bolos de Harry (os sandu�ches ficaram esquecidos).
� Que � isso? � perguntou Harry a Rony, mostrando um pacote de sapos de chocolate. � Eles n�o s�o sapos de verdade, s�o? � Estava come�ando a achar que nada o surpreenderia.
� N�o. Mas v� qual � a figurinha, est� me faltando a Agripa.
� O qu�?
� Claro que voc� n�o sabe, os sapos de chocolate t�m figurinhas dentro, sabe, para colecionar, bruxas e bruxos famosos. Tenho umas quinhentas, mas n�o tenho a Agripa nem o Ptolomeu.
Harry abriu o sapo de chocolate e puxou a figurinha. Era a cara de um homem. Usava �culos de meia-lua, tinha um nariz comprido e torto, cabelos esvoa�antes cor de prata, barba e bigode. Sob o retrato havia o nome Alvo Dumbledore.
� Ent�o este � Dumbledore! � exclamou Harry.
� N�o me diga que nunca ouviu falar de Dumbledore! Quer me dar um sapo? Quem sabe eu tiro a Agripa. Obrigado.
Harry virou o verso da figurinha e leu:
Alvo Dumbledore, atualmente diretor Hogwarts.
Considerado por muitos o maior bruxo dos tempos modernos. Dumbledore � particularmente famoso por ter derrotado Grindelwald, o bruxo das Trevas, em 1945, por ter descoberto os doze usos do sangue de drag�o e por desenvolver um trabalho em alquimia em parceria com Nicolau Flamel. O Professor Dumbledore gosta de m�sica de c�mara e boliche.
Harry virou de novo o cart�o e viu, para seu espanto, que o rosto de Dumbledore havia desaparecido.
� Ele desapareceu!
� Ora, voc� n�o pode esperar que ele fique a� o dia todo. Depois ele volta. N�o, tirei a Morgana outra vez e j� tenho umas seis... Voc� quer? Pode come�ar a colecionar.
Os olhos de Rony se desviaram para a pilha de sapos de chocolate que continuavam fechados.
� Sirva-se � disse Harry. � Mas, sabe, no mundo dos trouxas, as pessoas ficam paradas nas fotos.
� Ficam? O que, eles n�o se mexem? � Rony parecia surpreso. � Que coisa esquisita!
Harry arregalou os olhos quando Dumbledore voltou para a figurinha e lhe deu um sorrisinho. Rony estava mais interessado em comer os sapos do que em olhar os bruxos e bruxas famosas, mas Harry n�o conseguia despregar os olhos deles. Logo n�o tinha s� Dumbledore e Morgana, como tamb�m Hengisto de Woodcroft, Alberico Grunnion, Circe, Paraceko e Merlim. Por fim ele despregou os olhos da druida Cliodna que estava co�ando o nariz, para abrir o saquinho de feij�ezinhos de todos os sabores.
� Voc� vai ter que tomar cuidado com essas a� � alertou Rony. � Quando dizem todos os sabores eles querem dizer TODOS OS SABORES. Sabe, todos os sabores comuns como chocolate, hortel� e laranja, mas tamb�m. Espinafre, f�gado e bucho. Jorge achou que sentiu gosto de bicho-pap�o uma vez.
Rony apanhou uma balinha verde, examinou-a atentamente e mordeu uma ponta.
� Eca! Est� vendo? Couve-de-bruxelas.
Eles se divertiram comendo as balas. Harry tirou torrada, coco, feij�o cozido, morango, caril, capim, caf�, sardinha e chegou a reunir coragem para morder a ponta de uma bala cinzenta meio gozada que Rony n�o queria pegar, e que era pimenta.
Os campos que passavam agora pela janela estavam ficando mais silvestres. As planta��es tinham desaparecido. Agora havia matas, rios serpeantes e morros verde-escuros.
Ouviram uma batida � porta da cabine e o menino de rosto redondo, por quem Harry passara na plataforma 9 e �, entrou. Parecia choroso.
� Desculpem, mas voc�s viram um sapo?
Quando os dois sacudiram a cabe�a, ele chorou.
� Perdi ele! Est� sempre fugindo de mim!
� Ele vai aparecer � consolou Harry.
� Vai � disse o menino infeliz. � Se voc� vir ele...
E saiu.
� N�o sei por que ele est� t�o chateado � disse Rony. � Se eu tivesse trazido um sapo ia querer perder ele o mais depressa que pudesse. Mas, trouxe Perebas, por isso nem posso falar nada.
O rato continuava a tirar sua soneca no colo de Rony.
� Ele podia estar morto e ningu�m ia saber a diferen�a � disse Rony desgostoso. � Tentei mudar a cor dele para amarelo para deixar ele mais interessante, mas o feiti�o n�o deu certo. Vou-lhe mostrar. Olhe...
Remexeu na mala e tirou uma varinha muito gasta. Estava lascada em alguns pontos e havia uma coisa branca brilhando na ponta.
� O p�lo do unic�rnio est� quase saindo. Em todo o caso...
Tinha acabado de erguer a varinha quando a porta da cabine abriu outra vez. O menino sem o sapo estava de volta, mas desta vez tinha uma garota em sua companhia. Ela j� estava usando as vestes novas de Hogwarts.
� Ningu�m viu um sapo? Neville perdeu o dele.
Tinha um tom de voz mand�o, os cabelos castanhos muito cheios e os dentes da frente meio grandes.
� J� dissemos a ele que n�o vimos o sapo � respondeu Rony, mas a menina n�o estava escutando, olhava para a varinha na m�o dele.
� Voc� est� fazendo m�gicas? Quero ver.
Sentou-se. Rony pareceu desconcertado.
� Hum... Est� bem.
Pigarreou.
� Sol margaridas, amarelo maduro, muda para amarelo esse rato velho e burro.
Ele agitou a varinha, mas nada aconteceu. Perebas continuou cinzento e completamente adormecido.
� Voc� tem certeza de que esse feiti�o est� certo? � perguntou a menina. � Bem, n�o � muito bom, n�? Experimentei uns feiti�os simples s� para praticar e deram certo. Ningu�m na fam�lia � bruxo, foi uma surpresa enorme quando recebi a carta, mas fiquei t�o contente, � claro, quero dizer, � a melhor escola de bruxaria que existe, me disseram. J� sei de cor todos os livros que nos mandaram comprar, � claro, s� espero que seja suficiente, ali�s, sou Hermione Granger, e voc�s quem s�o?
Ela disse tudo isso muito depressa.
Harry olhou para Rony e sentiu um grande alivio ao ver, por sua cara espantada, que ele n�o aprendera todos os livros de cor tampouco.
� Sou Rony Weasley.
� Harry Potter.
� Verdade? J� ouvi falar de voc�, � claro. Tenho outros livros recomendados, e voc� est� na Hist�ria da magia moderna e em Ascens�o e queda das artes das trevas e em Grandes acontecimentos do s�culo XX.
� Estou? � admirou-se Harry sentindo-se confuso.
� Nossa, voc� n�o sabia, eu teria procurado saber tudo que pudesse se fosse comigo � disse Hermione. � j� sabem em que casa v�o ficar? Andei perguntando e espero ficar na Grifin�ria, me parece a melhor, ouvi dizer que o pr�prio Dumbledore foi de l�, mas imagino que a Corvinal n�o seja muito ruim.. Em todo o caso, acho melhor irmos procurar o sapo de Neville. E � melhor voc�s se trocarem, sabe, vamos chegar daqui a pouco.
E foi-se embora, levando o menino sem sapo.
� Seja qual for a minha casa, espero que ela n�o esteja l� � comentou Rony e jogou a varinha de volta na mala. � Feiti�o besta. Foi o Jorge que me ensinou, aposto que sabia que n�o prestava.
� Em que casa est�o os seus irm�os? � perguntou Harry.
� Grifin�ria. � A tristeza parecia estar se apoderando dele outra vez. � Mam�e e papai estiveram l� tamb�m. N�o sei o que v�o dizer se eu n�o estiver. Acho que a Corvinal n�o seria muito ruim, mas imagine se me puserem na Sonserina.
� � a casa em que Vol... Quero dizer Voc�-Sabe-Quem esteve?
� �. � E afundou novamente no assento, parecendo deprimido.
� Sabe, acho que as pontas dos bigodes de Perebas ficaram um pouquinho mais claras � disse Harry, tentando distrair o pensamento de Rony das casas. � Ent�o, o que � que os seus irm�os mais velhos fazem agora que j� terminaram?
Harry estava imaginando o que fazia um bruxo depois que terminava a escola.
� Carlinhos est� na Rom�nia estudando drag�es e Gui est� na �frica fazendo um servi�o para o Gringotes. Voc� soube o que aconteceu com o Gringotes? O Profeta Di�rio s� fala nisso, mas acho que morando com os trouxas voc� n�o recebe o jornal. Uns caras tentaram roubar um cofre de seguran�a m�xima.
Harry arregalou os olhos.
� Verdade? E o que aconteceu com eles?
� Nada, � por isso que � uma noticia t�o importante. N�o foram pegos. Papai disse que deve ter sido um bruxo das trevas poderoso para enganar Gringotes, mas est�o achando que eles n�o levaram nada, isso � que � esquisito. � claro que todo o mundo fica apavorado quando uma coisa dessas acontece porque Voc�-Sabe-Quem pode estar por tr�s da coisa.
Harry repassou as noticias mentalmente. Estava come�ando a sentir um arrepio de medo toda vez que Voc�-Sabe-Quem era mencionado. Supunha que isso fazia parte do ingresso no mundo da magia, mas tinha sido muito mais confort�vel dizer Voldemort sem se preocupar.
� Qual � o seu time de Quadribol � perguntou Rony.
� Hum... N�o conhe�o nenhum � confessou Harry.
� O qu�? � Rony parecia pasmo. � Ah, espere ai, � o melhor jogo do mundo � E saiu explicando tudo sobre as quatro bolas e as posi��es dos sete jogadores, descreveu jogos famosos a que fora com os irm�os e a vassoura que gostaria de comprar se tivesse dinheiro. Estava mostrando a Harry as qualidades do jogo quando a porta da cabine se abriu mais uma vez, mas agora n�o era Neville, o menino sem sapo, nem Hermione Granger.
Tr�s garotos entraram e Harry reconheceu o do meio na hora: era o garoto p�lido da loja de vestes de Madame Malkin. Olhou para Harry com um interesse muito maior do que revelara no Beco Diagonal.
� � verdade? � perguntou � Est�o dizendo no trem que Harry Potter est� nesta cabine. Ent�o � voc�?
� Sou � respondeu Harry. Observava os outros garotos. Os dois eram fortes e pareciam muito maus. Postados dos lados do menino p�lido eles pareciam guarda-costas.
� Ah, este � Crabbe e este outro, Goyle � apresentou o garoto p�lido displicentemente, notando o interesse de Harry � E meu nome � Draco Malfoy.
Rony tossiu de leve, o que poderia estar escondendo uma risadinha. Malfoy olhou para ele.
� Acha o meu nome engra�ado, �? Nem preciso perguntar quem voc� �. Meu pai me contou que na fam�lia Weasley todos t�m cabelos ruivos e sardas e mais filhos do que podem sustentar. � Virou-se para Harry � Voc� n�o vai demorar a descobrir que algumas fam�lias de bruxos s�o bem melhores do que outras, Harry. Voc� n�o vai querer fazer amizade com as ruins. E eu posso ajud�-lo nisso.
Ele estendeu a m�o para apertar a de Harry, mas Harry n�o a apertou.
� Acho que sei dizer qual � o tipo ruim sozinho, obrigado. � disse com frieza.
Draco n�o ficou vermelho, mas um ligeiro rosado coloriu seu rosto p�lido.
� Eu teria mais cuidado se fosse voc�, Harry. � disse lentamente. � A n�o ser que seja mais educado, vai acabar como os seus pais. Eles tamb�m n�o tinham ju�zo. Voc� se mistura com gentinha como os Weasley e aquele R�beo e vai acabar se contaminando.
Harry e Rony se levantaram. O rosto de Rony estava vermelho como os cabelos.
� Repete isso.
� Ah, voc� vai brigar com a gente, vai? � Draco ca�oou.
� A n�o ser que voc� se retire agora � disse Harry com uma coragem maior do que sentia, porque Crabbe e Goyle eram bem maiores do que ele ou Rony.
� Mas n�o estamos com vontade de nos retirar, estamos, garotos? J� comemos toda a nossa comida e parece que voc�s ainda t�m alguma coisa.
Goyle fez men��o de apanhar os sapos de chocolate ao lado de Rony. Rony deu um pulo para frente, mas antes que encostasse em Goyle, este soltou um berro terr�vel.
Perebas, o rato, estava pendurado em seu dedo, os dentinhos afiados enterrados na junta de Goyle. Crabbe e Draco recuaram enquanto Goyle rodava e rodava o bra�o, urrando, e quando Perebas finalmente se soltou e bateu na janela, os tr�s desapareceram na mesma hora. Talvez achassem que havia mais ratos escondidos nos doces, ou talvez tivessem ouvido passos, porque um segundo depois, Hermione Granger entrou.
� Que foi que aconteceu? � perguntou, vendo os doces espalhados no ch�o e Rony apanhando Perebas pela cauda.
� Acho que apagaram ele � disse Rony a Harry. E examinou Perebas mais atentamente. � N�o... N�o acredito... Ele voltou a dormir.
E dormira mesmo.
� Voc� j� conhecia Draco Malfoy?
Harry contou o encontro deles no Beco Diagonal.
� J� ouvi falar na fam�lia dele � disse Rony sombrio. � Foram os primeiros a voltar para o nosso lado depois que Voc�-Sabe-Quem desapareceu. Disseram que tinha sido enfeiti�ado. Papai n�o acredita nisso. Diz que o pai de Draco n�o precisou de desculpa para se bandear para o lado das Trevas. � E virou-se para Hermione. � Podemos fazer alguma coisa por voc�.
� � melhor voc�s se apressarem e trocarem de roupa. Acabei de ir l� na frente perguntar ao maquinista e ele me disse que estamos quase chegando. Voc�s andaram brigando? V�o se meter em encrenca antes mesmo de chegarmos l�!
� Perebas andou brigando, n�s n�o � disse Rony, fazendo cara zangada. � Voc� se importa de sair para podermos nos trocar.
� Est� bem. S� vim para c� porque as pessoas nas outras cabines est�o se comportando feito crian�as, correndo pelos corredores � disse Hermione em tom choroso. � E voc� est� com o nariz sujo, sabia?
Rony amarrou a cara quando ela se retirou. Harry espiou pela janela. Estava escurecendo. Viu montanhas e matas sob um c�u arroxeado. O trem parecia estar diminuindo a velocidade. Ele e Rony tiraram os palet�s e puseram as vestes longas e pretas. A de Rony estava um pouco curta, dava para ver as cal�as. Uma voz ecoou pelo trem.
� Vamos chegar a Hogwarts dentro de cinco minutos. Por favor, deixem a bagagem no trem, ela ser� levada para a escola.
O est�mago de Harry revirou de nervoso e ele reparou que Rony parecia p�lido sob as sardas. Os dois encheram os bolsos com o resto dos doces e se reuniram � garotada que apinhava os corredores.
O trem foi diminuindo a velocidade e finalmente parou. As pessoas se empurraram para chegar � porta e descer na pequena plataforma escura. Harry estremeceu ao ar frio da noite. Ent�o apareceu uma l�mpada balan�ando sobre as cabe�as dos estudantes e Harry ouviu uma voz conhecida.
� Alunos do primeiro ano! Primeiro ano aqui! Tudo bem Harry?
O rosto grande e peludo de R�beo Hagrid sorria por cima de um mar de cabe�as.
� Vamos, venham comigo. Mais algu�m do primeiro ano?
Aos escorreg�es e trope�os, eles seguiram Hagrid por um caminho de apar�ncia �ngreme e estreita. Estava t�o escuro em volta que Harry achou que devia haver grandes �rvores ali.
Ningu�m falou muito. Neville, o menino que vivia perdendo o sapo, fungou umas duas vezes.
� Voc�s v�o ter a primeira vis�o de Hogwarts em um segundo. � Hagrid gritou por cima do ombro �, logo depois dessa curva.
Ouviu-se um ooooh muito alto.
O caminho estreito se abrira de repente ate a margem de um grande lago escuro. Encarrapitado no alto de um penhasco na margem oposta, as janelas cintilando no c�u estrelado, havia um imenso castelo com muitas torres e torrinhas.
� S� quatro em cada barco! � gritou Hagrid, apontando para uma flotilha de barquinhos parados na �gua junto � margem. Harry e Rony foram seguidos at� o barco por Neville e Hermione.
� Todos acomodados? � gritou Hagrid, que tinha um barco s� para si. � Ent�o... VAMOS!
E a flotilha de barquinhos largou toda ao mesmo tempo, deslizando pelo lago que era liso como um vidro. Todos estavam silenciosos, os olhos fixos no grande castelo no alto. A constru��o se agigantava � medida que se aproximavam do penhasco em que estava situado.
� Abaixem as cabe�as! � berrou Hagrid quando os primeiros barcos chegaram ao penhasco, todos abaixaram as cabe�as e os barquinhos atravessaram uma cortina de hera que ocultava uma larga abertura na face do penhasco. Foram impelidos por um t�nel escuro, que parecia lev�-los para debaixo do castelo, at� uma esp�cie de cais subterr�neo, onde desembarcaram subindo em pedras e seixos.
� Ei, voc� ai! � o seu sapo? � perguntou Hagrid, que verificava os barcos � medida que as pessoas desembarcavam.
� Trevo! � gritou Neville feliz, estendendo as m�os.
Ent�o eles subiram por uma passagem aberta na rocha, acompanhando a lanterna de Hagrid e desembocaram finalmente em um gramado fofinho e �mido � sombra do castelo.
Galgaram uma escada de pedra e se aglomeraram em torno da enorme porta de carvalho.
� Est�o todos aqui? Voc� a�, ainda est� com o seu sapo?
Hagrid ergueu um punho gigantesco e bateu tr�s vezes na porta do castelo.
CAP�TULO SETE
O Chap�u Seletor
A porta abriu-se de chofre. E apareceu uma bruxa alta de cabelos negros e veste verde-esmeralda. Tinha o rosto muito severo e o primeiro pensamento de Harry foi que era uma pessoa a quem n�o se devia aborrecer.
� Alunos do primeiro ano, Professora Minerva McConagall � informou Hagrid.
� Obrigada Hagrid. Eu cuido deles daqui em diante.
Ela escancarou a porta. O sagu�o era t�o grande que teria cabido � casa dos Dursley inteira dentro. As paredes de pedra estavam iluminadas com archotes flamejantes como os de Gringotes, o teto era alto demais para se ver, e um a um subiram a imponente escada de m�rmore em frente que levava aos andares superiores.
Eles acompanharam a Professora Minerva pelo piso de lajotas de pedra. Harry ouviu o murm�rio de centenas de vozes que vinham de uma porta � direita, o restante da escola j� devia estar reunido.
Mas a Professora Minerva levou os alunos da primeira s�rie a uma sala vazia ao lado do sagu�o. Eles se agruparam l� dentro, um pouco mais apertados do que o normal, olhando, nervosos, para os lados.
� Bem-vindos a Hogwarts � disse a Professora Minerva. � O banquete de abertura do ano letivo vai come�ar daqui a pouco, mas antes de se sentarem �s mesas, voc�s ser�o selecionados por casas. A sele��o � uma cerim�nia muito importante porque, enquanto estiverem aqui sua casa ser� uma esp�cie de fam�lia em Hogwarts. Voc�s assistir�o a aulas com o restante dos alunos de sua casa, dormir�o no dormit�rio da casa e passar�o o tempo livre na sala comunal. As quatro casas chamam-se Grifin�ria, Lufa-Lufa, Cornival e Sonserina. Cada casa tem sua hist�ria honrosa e cada uma produziu bruxas e bruxos extraordin�rios. Enquanto estiverem em Hogwarts os seus acertos render�o pontos para sua casa, enquanto os erros a far�o perder. No fim do ano, a casa com o maior numero de pontos receber� a Ta�a da Casa, uma grande honra. Espero que cada um de voc�s seja motivo de orgulho para a casa a qual vier a pertencer. A Cerim�nia de Sele��o vai se realizar dentro de alguns minutos na presen�a de toda a escola. Sugiro que voc�s se arrumem o melhor que puderem enquanto esperam.
O olhar dela se demorou por um instante na capa de Neville, que estava afivelada debaixo da orelha esquerda, e no nariz sujo de Rony, Harry nervoso, tentou achatar os cabelos.
� Voltarei quando estivermos prontos para receber voc�s � disse a Professora Minerva. � Por favor, aguardem em sil�ncio.
E se retirou da sala. Harry engoliu em seco.
� Mas como � que eles selecionam a gente para as casas? � Harry perguntou a Rony.
� Devem fazer uma esp�cie de teste, acho. Fred diz que d�i � cabe�a, mas acho que estava brincando.
O cora��o de Harry deu um pulo terr�vel. Um teste? Na frente da escola toda? Mas ele ainda nem conhecia m�gica nenhuma, que diabo teria que fazer? N�o previra nada do g�nero assim logo na chegada. Olhou � volta, ansioso, e viu que os outros tamb�m pareciam apavorados. Ningu�m falava muito a n�o ser Hermione, que cochichava muito depressa todos os feiti�os que aprendera, sem saber o que precisaria mostrar. Harry fez for�a para n�o escutar o que ela dizia. Nunca se sentira t�o nervoso, nunca, nem mesmo quando tivera que levar um boletim escolar para os Dursley dizendo que, n�o sabiam como, ele fizera a peruca do professor ficar azul. Ele manteve os olhos grudados na porta. A qualquer segundo agora a Professora Minerva voltaria e o conduziria ao seu triste fim.
Ent�o aconteceu uma coisa que o fez pular bem uns trinta cent�metros no ar, v�rias pessoas atr�s dele gritaram.
� Que di...
Ele ofegou. E as pessoas � sua volta tamb�m. Uns vinte fantasmas passaram pela parede dos fundos. Brancos-p�rola e ligeiramente transparentes, eles deslizaram pela sala conversando e entre si, mal vendo os alunos do primeiro ano. Pareciam estar discutindo. O que lembrava um fradinho gorducho ia dizendo:
� Perdoar e esquecer eu diria, vamos dar a ele uma segunda chance...
� Meu caro Frei, j� n�o demos a Pirra�a todas as chances que ele merecia? Ele mancha a nossa reputa��o e, voc� sabe, ele nem ao menos � um fantasma. Nossa, o que � que essa garotada est� fazendo aqui?
Um fantasma, que usava uma gola de rufos engomados e mei�es, de repente reparou nos alunos do primeiro ano.
Ningu�m respondeu.
� Alunos novos! � disse o frei Gorducho, sorrindo para eles.
� Est�o esperando para ser selecionados, imagino?
Alguns garotos confirmaram com a cabe�a, mudos.
� Espero ver voc�s na Lufa-Lufa! � falou o frei. � A minha casa antiga, sabe?
� Vamos andando agora � disse uma voz en�rgica. � A Cerim�nia de Sele��o vai come�ar.
A Professora Minerva voltara e um a um os fantasmas sa�ram voando pela parede oposta.
� Agora fa�am fila e me sigam.
Sentindo-se pouco � vontade como se suas pernas tivessem virado chumbo, Harry entrou na fila atr�s de um garoto de cabelos cor de palha e na frente de Rony, e todos sa�ram da sala, tornaram a atravessar o sagu�o e as portas duplas que levavam ao Grande Sal�o.
Harry jamais imaginara um lugar t�o diferente e espl�ndido era iluminado por milhares de velas que flutuavam no ar sobre quatro mesas compridas, onde os demais estudantes j� se encontravam sentados. As mesas estavam postas com pratos e ta�as douradas. No outro extremo do sal�o havia mais uma mesa comprida em que se sentavam os professores. A Professora Minerva levou os alunos de primeiro ano at� ali, de modo que eles pararam enfileirados diante dos outros, tendo os professores �s suas costas.
As centenas de rostos que os contemplavam pareciam lanternas fracas � luz tr�mula das velas. Misturados aqui e ali aos estudantes, os fantasmas brilhavam como prata envolta em n�voa.
Principalmente para evitar os olhares fixos neles, Harry olhou para cima e viu um teto aveludado e negro salpicado de estrelas. Ouviu Hermione cochichar:
� � enfeiti�ado para parecer o c�u l� fora li em Hogwarts, uma hist�ria.
Era dif�cil acreditar que havia um teto ali e que o Sal�o Principal simplesmente n�o se abria para o infinito.
Harry baixou depressa os olhos quando a Professora Minerva silenciosamente colocou um banquinho de quatro pernas diante dos alunos do primeiro ano. Em cima do banquinho ela p�s um chap�u pontudo de bruxo. O chap�u era remendado esfiapado e suj�ssimo. Tia Pet�nia n�o teria permitido que um objeto nessas condi��es entrasse em casa.
Talvez tivessem que tentar tirar um coelho de dentro dele, Harry pensou delirando, parecia apropriado, reparando que todos no sal�o agora olhavam para o chap�u, ele olhou tamb�m. Por alguns segundos fez-se um sil�ncio total. Ent�o o chap�u se mexeu. Um rasgo junto � aba se abriu como uma boca e o chap�u come�ou a cantar:
Ah, voc� podem me achar pouco atraente,
Mas n�o me julguem s� pela apar�ncia
Engulo a mim mesmo se puderem encontrar
Um chap�u mais inteligente do que o papai aqui.
Podem guardar seus chap�us-coco bem pretos,
Suas cartolas altas de cetim brilhoso
Porque sou o Chap�u Seletor de Hogwarts.
E dou de dez a zero em qualquer outro chap�u.
N�o h� nada escondido em sua cabe�a
Que o Chap�u Seletor n�o consiga ver,
Por isso � s� me porem na cabe�a que vou dizer
Em que casa de Hogwarts dever�o ficar
Quem sabe sua morada � a Grifin�ria,
Casa onde habitam os cora��es ind�mitos.
Ousadia e sangue-frio e nobreza
Destacam os alunos da Grifin�ria dos demais,
Quem sabe � na Lufa-Lufa que voc� vai morar,
Onde seus moradores s�o justos e leais
Pacientes, sinceros, sem medo da dor,
Ou ser� a velha e s�bia Corvinal
A casa dos que t�m a mente sempre alerta,
Onde os homens de grande esp�rito e saber
Sempre encontrar�o companheiros seus iguais,
Ou quem sabe a Sonserina ser� a sua casa
E ali estejam seus verdadeiros amigos,
Homens de ast�cia que usam quaisquer meios
Para atingir os fins que antes colimaram.
Vamos, me experimentem! N�o devem temer!
Nem se atrapalhar! Estar�o em boas m�os!
(Mesmo que os chap�us n�o tenham p�s nem m�os)
Porque sou �nico, sou um Chap�u Pensador!
O sal�o inteiro prorrompeu em aplausos quando o chap�u acabou de cantar. Ele fez uma rever�ncia para cada uma das quatro mesas e em seguida ficou muito quieto outra vez.
� Ent�o s� precisamos experimentar o chap�u! � cochichou Rony a Harry.� Vou matar o Fred, ele n�o parou de falar numa luta contra um trasgo.
Harry deu um sorriso sem gra�a. �, experimentar um chap�u era bem melhor do que precisar fazer um feiti�o, mas desejou que pudessem ter experimentado o chap�u sem toda aquela gente olhando. O chap�u parecia estar pedindo muito, Harry n�o se sentia corajoso nem inteligente nem qualquer outra coisa naquele momento. Se ao menos o chap�u tivesse mencionado uma casa para gente que se sentia meio nervosa, quem sabe teria sido a sua casa.
A Professora Minerva ent�o se adiantou segurando um longo rolo de pergaminho.
� Quando eu chamar seus nomes, voc�s por�o o chap�u e se sentar�o no banquinho para a sele��o. Ana Abbott!
Uma garota de rosto rosado e marias-chiquinhas louras saiu aos trope�os da fila, p�s o chap�u, que lhe afundou direto at� os olhos, e se sentou. Uma pausa moment�nea...
� LUFA-LUFA! � anunciou o chap�u.
A mesa � direita deu vivas e bateu palmas quando Ana foi se sentar � mesa da Lufa-Lufa. Harry viu o fantasma do fradinho Gorducho acenar alegremente para ela.
� Susana Bones!
� LUFA-LUFA! � anunciou o chap�u outra vez, e Susana saiu depressa e foi se sentar ao lado de Ana.
� Teo Boor!
� CORVINAL!
Desta vez foi a segunda mesa � esquerda que aplaudiu, v�rios alunos da Corvinal se levantaram para apertar a m�o de Teo quando o menino se reuniu a eles.
M�di Brocklehurst foi para a Corvinal tamb�m, mas Lil� Brown foi a primeira a ser escolhida para a Grifin�ria e a mesa na extrema esquerda explodiu em vivas, Harry viu os irm�os g�meos de Rony assobiarem.
Mila Bulstrode se tornou uma Sonserina. Talvez fosse a imagina��o de Harry, mas depois de tudo que ouvira sobre a Sonserina, achou que eles formavam um grupo de apar�ncia desagrad�vel.
Estava come�ando a se sentir decididamente mal agora.
Lembrou-se da sele��o para os times, nas aulas de esporte de sua velha escola. Sempre fora o �ltimo a ser escolhido, n�o porque n�o fosse bom, mas porque ningu�m queria que Duda pensasse que gostavam dele.
� Justino Finch-Fletchlev!
� LUFA-LUFA!
�s vezes, Harry reparou, o chap�u anunciava logo o nome da casa, mas outras levava um tempo para se decidir.
Simas Finnigan, o menino de cabelos cor de palha ao lado de Harry na fila, passou sentado no banquinho quase um minuto, antes de o chap�u anunciar que iria para a Grifin�ria.
� Hermione Granger!
Hermione saiu quase correndo at� o banquinho e enfiou o chap�u, ansiosa.
� GRIFIN�RIA! � anunciou o chap�u. Rony gemeu.
Um pensamento horr�vel ocorreu a Harry, como fazem os pensamentos horr�veis quando a pessoa est� nervosa. E se ele n�o fosse escolhido? E se ficasse ali sentado com o chap�u na cabe�a cobrindo seus olhos durante um temp�o, at� a Professora Minerva arranc�-lo de sua cabe�a e dizer que obviamente houvera um engano e era melhor ele pegar trem de volta?
Quando Neville Longbottom, o menino que n�o parava de perder o sapo, foi chamado, levou um tombo a caminho do banquinho. O chap�u demorou muito tempo para se decidir sobre Neville. Quando finalmente anunciou "GRIFIN�RIA", Neville saiu correndo com o chap�u na cabe�a, e teve de voltar em meio a uma avalanche de risadas para entreg�-lo a Morag MacDougal.
Malfoy se adiantou, gingando, quando chamaram seu nome e teve seu desejo realizado imediatamente, o chap�u mal tocara sua cabe�a quando anunciou:
� SONSERINA!
Faltava pouca gente agora.
Moon..., Nott..., Parkinson..., depois duas g�meas, Patil e Patil..., depois Perks, Sara... E ent�o, finalmente...
� Harry Potter!
Quando Harry se adiantou, correu um burburinho por todo o sal�o como um fogo de rastilho.
� Potter, foi o que ela disse?
� O Harry Potter?
A �ltima coisa que Harry viu antes de o chap�u lhe cair sobre os olhos foi um sal�o cheio de gente se espichando para lhe dar uma boa olhada. Em seguida s� viu a escurid�o dentro do chap�u.
� Dif�cil. Muito dif�cil. Bastante coragem vejo. Uma mente nada m�. H� talento, h�, minha nossa, uma sede razo�vel de se provar. Ora isso � interessante... Ent�o onde vou coloc�-lo?
Harry apertou as bordas do banquinho e pensou "Sonserina n�o, Sonserina, n�o".
� Sonserina n�o, hein? � disse a vozinha. � Tem certeza? Voc� poderia ser grande, sabe, est� tudo aqui na sua cabe�a, e a Sonserina lhe ajudaria a alcan�ar essa grandeza, sem d�vida nenhuma, n�o? Bem, se voc� tem certeza, ficar� melhor na GRIFIN�RIA!
Harry ouviu o chap�u anunciar a �ltima palavra para todo o sal�o. Tirou o chap�u e se encaminhou tr�mulo para a mesa de Grifin�ria. Sentia tanto al�vio por ter sido selecionado e ter escapado de Sonserina, que nem reparou que estava recebendo a maior ova��o da cerim�nia. Percy, o Monitor, se levantou e apertou sua m�o com energia, enquanto os g�meos Weasley gritavam "Ganhamos Potter! Ganhamos Potter!" Harry sentou-se defronte do fantasma com a gola de rufos que vira antes da cerim�nia. O fantasma lhe deu uma palmadinha no bra�o, produzindo em Harry a sensa��o horr�vel e repentina de que acabara de mergulhar num balde de �gua gelada.
Agora ele via bem a Mesa Principal. Na extremidade mais pr�xima sentava-se R�beo Hagrid, cujo olhar encontrou o seu e lhe fez um sinal de aprova��o. Harry retribuiu o seu sorriso. E ali, no centro da Mesa Principal, em um cadeir�o dourado, encontrava-se Alvo Dumbledore. Harry o reconheceu imediatamente pela figurinha que tirara no sapo de chocolate comprado no trem. Os cabelos prateados de Dumbledore eram a �nica coisa no sal�o inteiro que brilhava tanto quanto os fantasmas. Harry viu o Professor Quirrell tamb�m, o rapaz nervoso do Caldeir�o Furado. Parecia muito extravagante num grande turbante p�rpura.
E agora s� faltavam tr�s pessoas para serem selecionadas. Lisa Turpin virou uma Corvinal e depois foi a vez de Rony. A essa altura ele estava branco-esverdeado. Harry cruzou os dedos sob a mesa para dar sorte e um segundo depois o chap�u anunciou GRIFIN�RIA!
Harry bateu palmas bem alto como os demais quando Rony se largou numa cadeira a seu lado.
� Muito bem, Rony excelente � disse Percy Weasley pomposamente por cima de Harry na mesma hora em que Bl�s Zabini era mandado para a Sonserina. A Professora Minerva enrolou o pergaminho e recolheu o Chap�u Seletor.
Harry baixou os olhos para o prato dourado e vazio diante dele.
Acabara de perceber como estava faminto. As tortinhas de ab�bora pareciam ter sido comidas havia anos.
Alvo Dumbledore se levantara. Sorria radiante para os estudantes, os bra�os bem abertos, como se nada no mundo pudesse ter-lhe agradado mais do que v�-los todos reunidos ali.
� Sejam bem-vindos! � disse. � Sejam bem-vindos para um novo ano em Hogwarts! Antes de come�armos nosso banquete, eu gostaria de dizer umas palavrinhas: Pateta! Chor�o! Desbocado! Belisc�o! Obrigado.
E sentou-se. Todos bateram palmas e deram vivas. Harry n�o sabia se ria ou n�o.
� Ele �... Um pouquinho maluco? � perguntou incerto, a Percy.
� Maluco? � disse Percy despreocupado. � ele � um g�nio! O melhor bruxo do mundo! Mas � um pouquinho maluco, sim.
� Batatas, Harry?
O queixo de Harry caiu. Os pratos diante dele agora estavam cheios de comida. Ele nunca vira tantas coisas que gostava de comer em uma mesa s�: rosbife, galinha assada, costeletas de porco e de carneiro, pudim de carne, ervilhas, cenouras, molho, ketchup e, por alguma estranha raz�o, docinhos de hortel�.
N�o � que os Dursley tivessem deixado Harry com fome, mas nunca lhe permitiram comer tanto quanto quisesse. Duda sempre tirava tudo que Harry realmente queria, mesmo que acabasse doente. Harry encheu o prato com um pouco de cada coisa exceto os docinhos e come�ou a comer. Estava tudo uma del�cia.
� Isto est� com uma cara �tima � disse o fantasma de gola de rufos observando, tristemente, Harry cortar o rosbife.
� O senhor n�o pode...?
� N�o como h� quase quatrocentos anos � explicou o fantasma. � N�o preciso, � claro, mas a pessoa sente falta. Acho que ainda n�o me apresentei? Cavalheiro Nicholas de Mimsy-Porpington �s suas ordens. Fantasma residente da torre da Grinfin�ria.
� Eu sei quem o senhor �! � disse Rony inesperadamente. � Meus irm�os me falaram do senhor. O senhor �, o Nick Quase Sem Cabe�a.
� Eu prefiro que voc� me chame de cavalheiro Nicholas de Mimsy. O fantasma come�ou muito formal, mas o louro Simas Finnigan o interrompeu.
� Quase Sem Cabe�a? Como � que algu�m pode ser quase sem cabe�a?
Sir Nicholas parecia muit�ssimo aborrecido, como se aquela conversinha n�o estivesse tomando o rumo que ele queria.
� Assim � disse com irrita��o. E agarrou a orelha esquerda e puxou. A cabe�a toda girou para fora do pesco�o e caiu por cima do ombro como se estivesse presa por uma dobradi�a. Era �bvio que algu�m tentara decapit�-lo, mas n�o fizera o servi�o direito.
Satisfeito com a cara de espanto dos garotos, Nick Quase Sem Cabe�a empurrou a cabe�a de volta ao pesco�o, tossiu e disse:
� Ent�o, novos moradores da Grifin�ria! Espero que nos ajudem a ganhar o campeonato das casas este ano! Grifin�ria nunca passou tanto tempo sem ganhar a ta�a. Sonserina tem ganhado nos �ltimos seis anos! O bar�o Sangrento est� ficando quase insuport�vel. Ele � o fantasma da Sonserina.
Harry deu uma olhada na mesa de Sonserina e viu um fantasma horroroso sentado l�, os olhos vidrados, uma cara muito magra e vestes sujas de sangue prateado. Estava ao lado de Malfoy, que, Harry ficou contente de ver, n�o parecia muito satisfeito com a distribui��o dos lugares.
� Como foi que ele ficou coberto de sangue? � perguntou Simas muito interessado.
� Nunca perguntei � respondeu Nick Quase Sem Cabe�a, educadamente.
Depois que todos comeram tudo o que podiam, as sobras desapareceram dos pratos deixando-os limpinhos como no in�cio.
Logo depois surgiram as sobremesas. Tijolos de sorvete de todos os sabores que se possa imaginar, tortas de ma�as, tortinhas de caramelo, bombas de chocolate, roscas fritas com gel�ia, bolos de frutas com calda de vinho, morangos, gelatinas pudim de arroz...
Quando Harry se serviu das tortinhas de caramelo, a conversa se voltou para as fam�lias.
� Eu sou meio a meio � disse Simas. � Papai � trouxa. Mam�e n�o contou a ele que era bruxa at� depois de casarem. Teve um choque horr�vel. Os outros riram.
� E voc�, Neville? � perguntou Rony.
� Bom, minha av� me criou e ela � bruxa, mas a fam�lia achou durante anos que eu era completamente trouxa. Meu tio-av� Algi vivia tentando me pegar desprevenido e me for�ar a recorrer � magia. Ele me empurrou pela borda de um cais uma vez, eu quase me afoguei. Mas nada aconteceu at� eu completar oito anos. Meu tio Algi veio tomar ch� conosco e tinha me pendurado pelos calcanhares para fora de uma janela do primeiro andar, quando a minha tia-av� Enid lhe ofereceu um merengue e ele sem querer me deixou cair. Mas eu desci flutuando at� o jardim e a estrada. Todos ficaram realmente satisfeitos. Minha av� chorou de tanta felicidade. E voc�s deviam ter visto a cara deles quando entrei para Hogwarts. Achavam que eu n�o era bastante m�gico para entrar, entendem. Meu tio Algi ficou t�o contente que me comprou um sapo.
Do outro lado de Harry, Percy e Hermione conversavam sobre as aulas.
� Espero que elas comecem logo, tem tanta coisa para a gente aprender, estou muito interessada em Transfigura��o, sabe, transformar uma coisa em outra, claro, dizem que � muito dif�cil, a pessoa come�a aos poucos, f�sforos em agulhas e coisas pequenas assim.
Harry, que estava come�ando a se sentir aquecido e cheio de sono, olhou outra vez para a Mesa Principal. Hagrid tomava um grande gole de sua ta�a. A Professora Minerva conversava com o Professor Dumbledore. O Professor Quirrell, com aquele turbante rid�culo, conversava com um professor de cabelos negros e oleosos, nariz de gancho e pele macilenta.
Aconteceu muito de repente. O olhar do professor de nariz de gancho passou pelo turbante de Quirrell e se fixou nos olhos de Harry, e uma pontada aguda e quente correu pela testa de Harry.
� Ai! � Harry levou a m�o � testa.
� Que foi? � perguntou Percy.
� N-nada.
A dor se foi com a mesma rapidez com que viera. Mais dif�cil foi se livrar da sensa��o que Harry teve sob o olhar do professor. Uma sensa��o de que ele n�o gostava nada de Harry.
� Quem � aquele professor que est� conversando com o Professor Quirrell? � perguntou a Percy.
� Ah, voc� j� conhece Quirrell �? N�o admira que ele pare�a t�o nervoso, aquele � o Professor Snape. Ele ensina Po��es, mas n�o � o que ele queria. Todo o mundo sabe que est� cobi�ando o cargo de Quirrell. Conhece um bocado as Artes das Trevas, o Snape.
Harry observou o professor por algum tempo, mas Snape n�o voltou a olhar em sua dire��o.
Finalmente, as sobremesas tamb�m desapareceram, e o Profofessor Dumbledore ficou de p� mais uma vez. O sal�o silenciou.
� Hum... S� mais umas palavrinhas agora que j� comemos e bebemos. Tenho alguns avisos de in�cio de ano letivo para voc�s. Os alunos do primeiro ano devem observar que � proibido andar na floresta da propriedade. E alguns dos nossos estudantes mais antigos fariam bem em se lembrar dessa proibi��o.
Os olhos cintilantes de Dumbledore faiscaram na dire��o dos g�meos Weasley.
� O Sr. Filch o zelador, me pediu para lembrar a todos que n�o devem fazer m�gicas no corredor durante os intervalos das aulas. Os testes de Quadribol ser�o realizados na segunda semana de aulas. Quem estiver interessado em entrar para o time de sua casa dever� procurar Madame Hooch. E, por �ltimo, � preciso avisar que, este ano, o corredor do terceiro andar do lado direito est� proibido a todos que n�o quiserem ter uma morte muito dolorosa.
Harry riu, mas foi um dos poucos que fez isso.
� Ele n�o est� falando s�rio! � cochichou a Percy.
� Deve estar � respondeu Percy franzindo a testa para Dumbledore. � E estranho porque em geral ele sempre nos diz a raz�o porque somos proibidos de ir a algum lugar A floresta est� cheia de animais selvagens, todo o mundo sabe disso. Acho que poderia ter dito aos monitores, pelo menos.
� E agora, antes de irmos para a cama, vamos cantar o hino da escola! � exclamou Dumbledore. Harry reparou que os sorrisos dos outros professores tinham amarelado.
Dumbledore fez um pequeno aceno com a varinha como se estivesse tentando espantar uma mosca na ponta e surgiu no ar uma longa fita dourada, que esvoa�ou para o alto das mesas e se enroscou como uma serpente formando palavras.
� Cada um escolha sua m�sica preferida � convidou Dumbledore � e l� vamos n�s!
E a escola entoou em altos brados:
Hogwarts, Hogwarts, Hogwarts, Hogwarts,
Nos ensine algo por favor,
Quer sejamos velhos e calvos
Quer mo�os de pernas raladas,
Temos �s cabe�as precisadas
De id�ias interessantes.
Pois est�o ocas e cheias de ar,
Moscas mortas e fios de cot�o.
Nos ensine o que vale a pena.
Fa�a o melhor, faremos o resto,
Estudaremos at� o c�rebro se desmanchar.
Todos terminaram a m�sica em tempos diferentes. E por fim s� restaram os g�meos Weasley cantando sozinhos, ao som de uma lenta marcha f�nebre. Dumbledore regeu os �ltimos versos com sua varinha e, quando eles terminaram, foi um dos que aplaudiram mais alto.
� Ah, a m�sica � disse secando os olhos. � Uma m�gica que transcende todas que trazemos aqui! E agora hora de dormir.
� Andando!
Os novos alunos de Grifin�ria seguiram Percy por entre os grupos que conversavam, sa�ram do sal�o principal e subiram a escadaria de m�rmore. As pernas de Harry pareceram chumbo outra vez, mas s� porque estava muito cansado e saciado. Estava cansado demais at� para se surpreender que as pessoas nos retratos ao longo dos corredores murmurassem e apontassem quando eles passavam, ou que duas vezes Percy os tivesse conduzido por portais escondidos atr�s de pain�is corredi�os e tape�arias penduradas. Subiram outras tantas escadas bocejando e arrastando os p�s, e Harry come�ou a se perguntar quanto ainda faltava para chegar quando de repente pararam.
Um feixe de bengalas flutuava no ar � frente deles, e quando Percy avan�ou um passo em sua dire��o, come�aram a assalt�-lo.
� Pirra�a � cochichou Percy para os alunos do primeiro ano. � Um Poltergeist. � E falou em voz alta � Pirra�a, calma.
Um som alto e grosseiro, como o ar escapando de um bal�o respondeu.
� Quer que eu v� procurar o bar�o Sangrento?
Ouviram um estalo e um homenzinho com olhos escuros e maus e a boca escancarada apareceu, flutuando de pernas cruzadas no ar, segurando as bengalas.
� Oooooooooh! � disse com uma risada malvada. � Calourinhos! Que divertido!
E mergulhou repentinamente contra eles. Todos se abaixaram.
� V� embora, Pirra�a, ou vou contar ao bar�o, e estou falando s�rio! � amea�ou Percy.
Pirra�a estirou a l�ngua e desapareceu, largando as bengalas na cabe�a de Neville. Eles o ouviram partir zunindo, fazendo retinir os escudos de metal ao passar.
� Voc�s tenham cuidado como Pirra�a � recomendou Percy, quando retomaram a caminhada. � O bar�o Sangrento � o �nico que consegue control�-lo, ele n�o d� confian�a aos monitores. Chegamos.
No finzinho do corredor havia um retrato de uma mulher muito gorda vestida de rosa.
� Senha? � pediu ela.
� Cabe�a de Drag�o � disse Percy e o retrato se inclinou para frente revelando um buraco redondo na parede. Todos passaram pelo buraco. Neville precisou de um cal�o. E se viram na sala comunal da Grifin�ria, um aposento redondo cheio de poltronas fofas.
Percy indicou �s garotas a porta do seu dormit�rio e, aos meninos, a porta do deles. No alto de uma escada em caracol era �bvio que estavam em uma das torres encontraram finalmente suas camas, cinco camas com reposteiros de veludo vermelho-escuro.
As malas j� haviam sido trazidas. Cansados demais para falar muito, eles enfiaram os pijamas e ca�ram na cama.
� Comida de primeira, n�o foi? � comentou Rony para Harry pelos reposteiros. � Se manda, Perebas! Ele est� roendo os meus len��is.
Harry ia perguntar a Rony se ele provara as tortinhas de caramelo, mas adormeceu quase imediatamente.
Talvez Harry tivesse comido demais, porque teve um sonho muito estranho. Estava usando o turbante do Professor Quirrell, que n�o parava de conversar com ele, dizendo que devia se mudar para Sonserina imediatamente, porque era seu destino. Harry disse ao turbante que n�o queria ir para Sonserina, o turbante foi ficando cada vez mais pesado, Harry tentou tir�-lo, mas ele come�ou a apertar sua cabe�a at� doer e a� Malfoy apareceu, rindo do esfor�o dele. Depois Malfoy se transformou no professor de nariz de gancho, Snape, cuja gargalhada ecoou alta e fria, houve um clar�o verde e Harry acordou, suado e tr�mulo.
Mudou de posi��o e voltou a dormir, e quando acordou no dia seguinte, nem se lembrou que tinha sonhado.
CAP�TULO OITO
O Mestre das Po��es
� Ali, olha.
� Onde?
� Ao lado do garoto alto de cabelos vermelhos.
� De �culos?
� Voc� viu a cara dele?
� Voc� viu a cicatriz?
Os murm�rios acompanharam Harry desde a hora em que ele saiu do dormit�rio no dia seguinte. A garotada que fazia fila do lado de fora das salas de aula ficava nas pontas dos p�s para dar uma espiada, ou ia e vinha nos corredores para v�-lo duas vezes.
Harry desejou que n�o fizessem isso, porque estava tentando se concentrar para encontrar o caminho para suas aulas.
Havia cento e quarenta e duas escadas em Hogwarts largas e imponentes, estreitas e prec�rias, umas que levavam a um lugar diferente �s sextas-feiras, outras com um degrau no meio que desaparecia e a pessoa tinha que se lembrar de saltar por cima.
Al�m disso, havia portas que n�o abriam a n�o ser que a pessoa pedisse, por favor, ou fizesse c�cegas nelas no lugar certo e portas que n�o eram bem portas, mas paredes s�lidas que fingiam ser portas. Era tamb�m muito dif�cil lembrar onde ficavam as coisas, porque tudo parecia mudar freq�entemente de lugar. As pessoas nos retratos sa�am para se visitar e Harry tinha certeza de que os bras�es andavam.
Os fantasmas tamb�m n�o ajudavam nada. Era sempre um choque horr�vel quando um deles atravessava de repente uma porta que a pessoa estava querendo abrir. Nick Quase Sem Cabe�a ficava sempre feliz de apontar a dire��o certa para os alunos de Grifin�ria, mas Pirra�a, o Poltergeist, representava duas portas fechadas e uma escada falsa se a pessoa o encontrasse quando estava atrasada para uma aula. Ele despejava cestas de pap�is na cabe�a das pessoas, puxava os tapetes de baixo de seus p�s, acertava-as com pedacinhos de giz ou vinha sorrateiro por tr�s, invis�vel, e agarrava-as pelo nariz e guinchava: "PEGUEI-A PELA BICANA!� Pior que o Poliergest, se � que era poss�vel, era o zelador, Argos Filch. Harry e Rony conseguiram conquistar sua m� vontade logo na primeira manh�, Filch encontrou-os tentando for�ar caminho por uma porta que, por azar, era a entrada para o corredor proibido no terceiro andar. Ele n�o quis acreditar que estavam perdidos, pois tinha certeza de que estavam tentando arromb�-la de prop�sito e amea�ava tranc�-los nas masmorras, quando foram salvos pelo Professor Quirrell, que ia passando.
Filch tinha uma gata chamada Madame Nor-r-r-a, como quem ronrona, um bicho magro, cor de poeira, com olhos saltados como l�mpadas, iguais aos de Filch. Ela patrulhava os corredores sozinha, se algu�m desobedecesse a uma regra em sua presen�a, pusesse o ded�o do p� fora da linha, ela corria a buscar Filch, que aparecia, asm�tico, em dois segundos. Filch conhecia as passagens secretas da escola melhor do que ningu�m (exceto talvez os g�meos Weasley) e podia surgir de repente como um fantasma. Os estudantes a detestavam e a ambi��o mais desejada de muitos era dar um bom pontap� em Madame Nor-r-ra.
Al�m disso, quando a pessoa conseguia encontrar o caminho das salas, havia as aulas em si. M�gica era muito mais do que sacudir a varinha e dizer meia d�zia de palavras engra�adas, como Harry logo descobriu.
Tinham de estudar o c�u da noite pelo telesc�pio toda quarta-feira � meia-noite e aprender os nomes das diferentes estrelas e os movimentos dos planetas. Tr�s vezes por semana iam para as estufas de plantas atr�s do castelo para estudar herbologia, com uma bruxa baixa e gorda chamada Professora Sprout, com quem aprendiam como cuidar de todas as plantas e fungos estranhos e descobriam para que eram usados.
Sem falar, a aula mais chata era a de Hist�ria da M�gica, a �nica mat�ria ensinada por um fantasma. O Professor Bins era realmente muito velho quando adormeceu diante da lareira na sala dos professores e levantou na manh� seguinte para dar aulas, deixando o corpo para tr�s. Binns falava sem parar enquanto eles anotavam nomes e datas e acabavam confundindo Emerico, o Mau, com Urico, o Esquisit�o.
O Professor Flitwick, que ensinava Feiti�os, era um bruxo miudinho que tinha de subir numa pilha de livros para enxergar por cima da mesa. No come�o da primeira aula ele pegou a pauta e quando chegou ao nome de Harry soltou um gritinho excitado e caiu da pilha, desaparecendo de vista.
J� a Professora Minerva era diferente. Harry estava certo quando pensou que ela n�o era professora para aluno nenhum aborrecer, severa e inteligente, fez um serm�o no instante em que eles se sentaram para a primeira aula.
� A Transfigura��o � uma das m�gicas mais complexas e perigosas que v�o aprender em Hogwarts. Quem fizer bobagens na minha aula vai sair e n�o vai voltar mais. Est�o avisados. � Transformou, ent�o, a mesa em porco e de volta em mesa.
Todos ficaram muito impressionados e ansiosos para come�ar, mas logo perceberam que n�o iam transformar os m�veis em animais ainda por muito tempo. Depois de fazerem anota��es complicadas, receberam um f�sforo e come�aram a tentar transform�-lo em agulha. No fim da aula, somente Hermione Granger produzira algum efeito no f�sforo, a Professora Minerva mostrou a classe como o f�sforo ficara todo prateado e pontiagudo e deu um raro sorriso � aluna.
A mat�ria que todos estavam realmente aguardando com ansiedade era a de Defesa Contra as Artes das Trevas, mas as aulas de Quirrell foram uma piada. Sua sala cheirava fortemente a alho que todos diziam que era para espantar um vampiro que ele encontrara na Rom�nia e temia que viesse atac�-lo a qualquer dia.
Seu turbante contou ele, fora presente de um pr�ncipe africano como agradecimento por t�-lo livrado de um zumbi inc�modo, mas os alunos n�o tinham muita certeza se acreditavam na historia. Primeiro porque, quando Simas Finnigan pediu ansioso para Quirrell contar como liquidara o zumbi, Quirrell ficou vermelho e come�ou a falar do tempo, segundo porque eles repararam que havia um cheiro engra�ado em volta do turbante, e os g�meos Weasley insistiam que devia estar cheio de alho tamb�m, de modo que Quirrell estava protegido em qualquer lugar.
Harry se sentiu aliviado ao descobrir que n�o estava muito atrasado com rela��o ao resto da turma. Muitos alunos tinham vindo de fam�lias de trouxas e, como ele, n�o faziam id�ia de que eram bruxas e bruxos. Havia tanto para aprender que at� gente como Rony n�o estava t�o adiantada assim.
Sexta-feira foi um dia importante para Harry e Rony, Eles finalmente conseguiram encontrar o caminho para o sal�o principal e tomar o caf� da manh� sem se perder nem uma vez.
� O que temos hoje? � perguntou Harry a Rony enquanto punha a��car no mingau de aveia.
� Po��es duplas com o pessoal da Sonserina. Snape � diretor da Sonserina. Dizem que sempre os protege. Vamos ver se � verdade.
� Gostaria que Minerva nos protegesse. � A Professora Minerva era diretora da Grifin�ria, mas isso n�o a impedira de dar aos seus alunos uma montanha de dever de casa no dia anterior.
Naquele instante chegou o correio. Harry agora j� se acostumara com isso, mas levara um susto na primeira manh� quando centenas de corujas entraram de repente no sal�o principal durante o caf� da manh�, circulando as mesas at� verem seus donos e deixarem cair as cartas e pacotes no colo deles.
Edwiges n�o trouxera nada para Harry at� ent�o. �s vezes entrava para beliscar sua orelha e comer um pedacinho de torrada antes de ir dormir no corujal com as outras corujas da escola. Esta manh�, por�m, ela esvoa�ou entre a gel�ia e o a�ucareiro e deixou cair um bilhete no prato de Harry. Ele o abriu imediatamente.
�Prezado Harry � dizia, numa letra muito garranchosa. � Sei que tem as tardes de sexta-feira livre, ent�o ser� que n�o gostaria de vir tomar uma x�cara de ch� comigo por volta das tr�s horas? Quero saber como foi a sua primeira semana. Mande-me uma resposta pela Edwiges... Hagrid�.
Harry pediu emprestada a pena de Rony e escreveu:
�Sim, gostaria, vejo voc� mais tarde� no verso do bilhete e despachou Edwiges outra vez.
Foi uma sorte que Harry tivesse o convite de Hagrid com que se alegrar, porque a aula de Po��es foi a pior coisa que lhe acontecera at� ali.
No in�cio do banquete de abertura do ano letivo, Harry tivera a impress�o de que o Professor Snape n�o gostava dele. No final da primeira aula de Po��es, ele viu que se enganara. N�o era bem que Snape n�o gostava de Harry � ele o odiava.
A aula de Po��es foi em uma das masmorras. Era mais frio ali do que na parte social do castelo e teria dado arrepios mesmo sem os animais embalsamados flutuando em frascos de vidro nas paredes � volta.
Snape, como Flitwick, come�ou a aula fazendo a chamada e, como Flitwick, ele parou no nome de Harry..
� Ah, sim � disse baixinho. � Harry Potter. A nossa nova celebridade.
Draco Malfoy e seus amigos Crabbe e Goyle deram risadinhas escondendo a boca com as m�os. Snape terminou a chamada e encarou a classe. Seus olhos eram negros como os de Hagrid, mas n�o tinham o calor dos de Hagrid. Eram frios e vazios e lembravam t�neis escuros.
� Voc�s est�o aqui para aprender a ci�ncia sutil e a arte exata do preparo de po��es � come�ou. Falava pouco acima de um sussurro, mas eles n�o perderam nenhuma palavra. Como a Professora Minerva, Snape tinha o dom de manter uma classe silenciosa sem esfor�o. � Como aqui n�o fazemos gestos tolos, muitos de voc�s podem pensar que isto n�o � m�gica. N�o espero que voc�s realmente entendam a beleza de um caldeir�o cozinhando em fogo lento, com a fuma�a a tremeluzir, o delicado poder dos l�quidos que fluem pelas veias humanas e enfeiti�am a mente, confundem os sentidos... Posso ensinar-lhes a engarrafar fama, a cozinhar gl�rias, at� a zumbificar se n�o forem o bando de cabe�as-ocas que geralmente me mandam ensinar.
Mais sil�ncio seguiu-se a esse pequeno discurso. Harry e Rony se entreolharam com as sobrancelhas erguidas Hermione Granger estava sentada na beiradinha da carteira e parecia desesperada para come�ar a provar que n�o era uma cabe�a-oca.
� Potter! � disse Snape de repente. � O que eu obteria se adicionasse raiz de asf�delo em p� a uma infus�o de losna?
�Raiz de qu� em p� a um infus�o do qu�? Harry olhou para Rony, que parecia t�o embatucado quanto ele, a m�o de Hermione se ergueu no ar.
� N�o sei n�o senhor � disse Harry.
A boca de Snape se contorceu num riso de desd�m.
-Tsk, tsk, a fama pelo visto n�o � tudo.
E n�o deu aten��o a m�o de Hermione.
� Vamos tentar outra vez, Potter. Se eu lhe pedisse, onde voc� iria buscar bezoar?
Hermione esticava sua m�o no ar o mais alto que p�de sem se levantar da carteira, mas Harry n�o tinha a menor id�ia do que fosse bezoar. Tentou n�o olhar para Malfoy, Crabbe e Goyle, que se sacudiam de tanto rir.
� N�o sei n�o senhor.
� Achou que n�o precisava abrir os livros antes de vir, hein, Potter?
Harry fez for�a para continuar olhando diretamente para aqueles olhos frios. Folheara os livros na casa dos Dursley, mas ser� que Snape esperava que ele se lembrasse de tudo que vira em Mil ervas e fungos m�gicos?
Snape continuava a desprezar a m�o tr�mula de Hermione.
� Qual � a diferen�a Potter, entre ac�nito licoctono e ac�nito lapelo?
Ao ouvir isso Hermione se levantou, a m�o esquerda em dire��o ao teto da masmorra.
� N�o sei � disse Harry em voz baixa. � Mas acho que Hermione sabe, porque o senhor n�o pergunta a ela?
Alguns garotos riram, os olhos de Harry encontraram os de Simas e este deu uma piscadela. Snape, porem n�o gostou.
� Sente-se � disse com rispidez a Hermione. � Para sua informa��o Potter, asf�delo e losna produzem uma po��o para adormecer t�o forte que � conhecida como a Po��o dos Mortos Vivos. O bezoar � uma pedra tirada do est�mago da cabra e pode salv�-lo da maioria dos venenos. Quanto aos dois ac�nitos s�o plantas do mesmo g�nero bot�nico. Ent�o? Por que n�o est�o copiando o que estou dizendo?
Ouviu-se um ru�do repentino de gente apanhando penas e pergaminhos. E acima desse ru�do a voz de Snape:
� E vou descontar um ponto da Grifin�ria por sua impertin�ncia, Potter.
As coisas n�o melhoraram para os alunos da Grifin�ria na continua��o da aula de Po��es. Snape separou-os aos pares e mandou-os misturar uma po��o simples para curar fur�nculos.
Caminhava imponente com sua longa capa negra, observando-os pesar urtigas secas e pilar presas de cobras, criticando quase todos, exceto Draco, de quem parecia gostar. Tinha acabado de dizer a todos que olhassem a maneira perfeita com que Draco cozinhara as lesmas quando um silvo alto e nuvens de fuma�a ocre e verde invadiram a masmorra. Neville conseguira derreter o caldeir�o de Simas transformando-o numa bolha retorcida e a po��o dos dois estava vazando pelo ch�o de pedra, fazendo furos nos sapatos dos garotos. Em segundos, a classe toda estava trepada nos banquinhos enquanto Neville, que se encharcara de po��o quando o caldeir�o derreteu, tinha os bra�os e as pernas cobertos de fur�nculos vermelhos que o faziam gemer de dor.
� Menino idiota! � vociferou Snape, limpando a po��o derramada com um aceno de sua varinha. � Suponho que tenham adicionado as cerdas de porco-espinho antes de tirar o caldeir�o do fogo?
Neville choramingou quando os fur�nculos come�aram a pipocar em seu nariz.
� Levem-no para a ala do hospital � Snape ordenou a Simas.
Em seguida voltou-se zangado para Harry e Rony, que estavam trabalhando ao lado de Neville.
� Voc�, Potter, por que n�o disse a ele para n�o adicionar as cerdas? Achou que voc� pareceria melhor se ele errasse, n�o foi? Mais um ponto que voc� perdeu para Grifin�ria.
A injusti�a foi t�o grande que Harry abriu a boca para argumentar, mas Rony deu-lhe um pontap� por tr�s do caldeir�o.
� N�o force a barra � cochichou. � Ouvi dizer que Snape pode ser muito indigesto.
Quando subiam as escadas para sair da masmorra uma hora depois, os pensamentos se sucediam velozes na cabe�a de Harry, que se sentia deprimido. Perdera dois pontos para Grifin�ria na primeira semana, por que Snape o odiava tanto?
� �nimo � disse Rony � Snape est� sempre tirando pontos de Fred e Jorge. Posso ir com voc� a casa de R�beo?
As cinco para as tr�s eles sa�ram do castelo e atravessaram a propriedade. Hagrid morava numa casinha de madeira na orla da floresta proibida. Um par de galochas estava � porta da casa.
Quando Harry bateu � porta eles ouviram uma correria fren�tica e latidos ferozes. Depois, a voz de Hagrid dizendo:
� Para tr�s, Canino para tr�s.
A cara barbuda de Hagrid apareceu na fresta quando a porta se abriu.
� Espere a�. Para tr�s, Canino.
Ele os fez entrar, lutando para segurar com firmeza a coleira de um enorme c�o de ca�ar javalis.
Havia apenas um aposento na casa. Presuntos e fais�es pendiam do teto, uma chaleira de cobre fervia ao fog�o e a um canto havia uma cama maci�a coberta com uma colcha de retalhos.
� Estejam � vontade � falou Hagrid, soltando Canino, que pulou imediatamente para cima de Rony e come�ou a lamber-lhe a orelha. Como Hagrid, parecia �bvio que Canino n�o era t�o feroz quanto se esperava.
� Este � o Rony � Harry disse a Hagrid, que fora despejar �gua fervendo num grande bule de ch� e arrumar biscoitos num prato.
� Mais um Weasley, hein? � exclamou Hagrid vendo as sardas de Rony � Passei metade da vida expulsando seus irm�os da floresta.
Os biscoitos quase quebraram os dentes deles, mas Harry e Rony fingiram gostar e contaram a Hagrid como tinham sido as primeiras aulas. Canino descansou a cabe�a no colo de Harry e cobriu as vestes dele de baba.
Harry e Rony ficaram contentes de ouvir Hagrid chamar Filch de guitarra velha.
� Quanto �quela gata, Madame Nor-r-ra, �s vezes eu tenho vontade de apresentar o Canino a ela. Sabe que todas as vezes que vou at� a escola ela me segue por toda parte? N�o consigo me livrar da gata. � Filch que a manda fazer isso.
Harry contou a Hagrid a aula de Snape. Hagrid, como Rony, disse a Harry que n�o se preocupasse, que Snape n�o gostava praticamente de nenhum aluno.
� Mas ele parecia que realmente me odiava.
� Bobagem! Por que o odiaria?
Mas Harry n�o p�de deixar de pensar que Hagrid evitou encar�-lo quando disse isso.
� Como vai seu irm�o Carlinhos? � perguntou Hagrid a Rony. � Eu gostava muito dele. Tinha muito jeito com animais.
Harry se perguntou se Hagrid teria mudado de assunto de prop�sito. Enquanto Rony contava tudo sobre o trabalho de Carlinhos com drag�es, Harry apanhou um peda�o de papel que estava na mesa sob o abafador de ch�. Era uma noticia recortada do Profeta Di�rio
O CASO GRINGOTES
Prosseguem as investiga��es sobre o arrombamento de Gringotes, ocorrido em 31 de julho, que se acredita ter sido trabalho de bruxos e bruxas das Trevas desconhecido.
Os duendes de Gringotes insistiam hoje que nada foi roubado.
O cofre aberto na realidade fora esvaziado mais cedo naquele dia.
"Mas n�o vamos dizer o que havia dentro, para que ningu�m se meta, se tiver ju�zo", disse um porta-voz esta tarde.
Harry lembrou-se que Rony lhe contata no trem que algu�m tentara roubar Gringotes, mas n�o mencionara a data.
� R�beo! � exclamou Harry. � Aquele arrombamento de Gringotes aconteceu no dia do meu anivers�rio! Talvez estivesse acontecendo enquanto a gente estava l�!
N�o havia a menor d�vida, desta vez, Hagrid decididamente evitara encarar Harry. Resmungou alguma coisa e lhe ofereceu mais um biscoito. Harry releu a not�cia �O cofre aberto na realidade fora esvaziado mais cedo naquele dia�. Hagrid esvaziara o cofre setecentos e treze, se � que se podia chamar esvaziar algu�m levar aquele pacotinho encalombado. Seria aquilo que os ladr�es estavam procurando?
Quando Harry e Rony voltaram ao castelo para jantar, tinham os bolsos pesados com os biscoitos que a educa��o os impedira de recusar. Harry pensou que nenhuma das aulas a que assistira at� ali tinha lhe dado tanto o que pensar quanto o ch� com R�beo Hagrid. Ser� que Hagrid tinha apanhado o pacote bem na hora?
Onde estava o pacote agora? Ser� que ele sabia alguma coisa de Snape que n�o queria contar a Harry?
CAP�TULO NOVE
O Duelo � Meia-Noite
Harry jamais acreditara que fosse encontrar um garoto que ele detestasse mais do que Duda, mas isto foi antes de conhecer Draco. Os alunos do primeiro ano da Grifin�ria, por�m, s� tinham uma aula com os da Sonserina, a de Po��es, por isso n�o precisavam aturar Draco muito tempo. Ou pelo menos, n�o precisavam at� ver um aviso pregado no sal�o comunal de Grifin�ria que fez todos gemerem. As aulas de v�o come�ariam na quinta-feira e os alunos das duas casas aprenderiam juntos.
� T�pico � disse Harry desanimado. � � o que eu sempre quis, fazer papel de palha�o montado numa vassoura na frente do Draco.
Ele estivera ansioso para aprender a voar, mais do que qualquer outra coisa.
� Voc� n�o sabe se vai fazer papel de palha�o � disse Rony sensato � Em todo o caso, sei que Draco vive falando que � bom em Quadribol, mas aposto que � conversa fiada.
Draco sem d�vida falava muito de v�os. Queixava-se em voz alta que os alunos do primeiro ano nunca entravam para o time de Quadribol e se gabava em longas hist�rias, que sempre pareciam terminar com ele escapando por um triz dos trouxas de helic�ptero. Mas ele n�o era o �nico pelo que Simas Finnigan contava, ele passara a maior parte da inf�ncia voando pelo campo montado numa vassoura. At� Rony contava para quem quisesse ouvir sobre a vez em que ele quase batera numa asa delta montado na velha vassoura de Carlinhos. Todos os garotos de fam�lias de bruxos falavam o tempo todo de Quadribol. Rony j� tivera uma grande discuss�o sobre futebol com Dino Thomas, que tamb�m usava o dormit�rio deles. Rony n�o via nada excitante em um jogo em que ningu�m podia voar e s� tinha uma bola. Harry surpreendera Rony cutucando o p�ster em que Dino aparecia com o time de futebol de West Ham, tentando fazer os jogadores se mexerem.
Neville nunca andara de vassoura na vida, porque a av� nunca o deixara chegar perto de uma. No fundo, Harry achava que ela estava cert�ssima, porque Neville conseguira sofrer um n�mero impressionante de acidentes mesmo com os dois p�s no ch�o.
Hermione Granger estava quase t�o nervosa quanto Neville com a id�ia de voar. Isto n�o era coisa que se aprendesse de cor em um livro, n�o que ela n�o tivesse tentado. No caf� da manh� de quinta-feira, deu um cansa�o neles falando sobre macetes de v�o que lera em um livro da biblioteca chamado Quadribol atrav�s dos s�culos. Neville praticamente se pendurava em cada palavra que ela dizia, desesperado para aprender qualquer coisa que o ajudasse a se segurar na vassoura mais tarde, mas todos os outros ficaram muito felizes quando a confer�ncia de Hermione foi interrompida pela chegada do correio.
Harry n�o recebera nenhuma carta desde o bilhete de Hagrid, uma coisa que Draco n�o demorara nada a notar, � claro. A coruja de Draco estava sempre lhe trazendo de casa pacotes de doces, que ele abria fazendo farol na mesa da Sonserina.
Uma coruja de curral trouxe para Neville um pacotinho da av�.
Ele o abriu excitado e mostrou a todos uma bolinha de vidro do tamanho de uma bola de gude grande, que parecia cheia de fuma�a branca.
� � um Lembrol! � explicou ele. � Vov� sabe que sou esquecido. Isto serve para avisar que a gente esqueceu de fazer alguma coisa. Olhe, aperte assim e ele fica vermelho, ah... � E ficou sem gra�a, porque o Lembrol de repente emitiu uma luz escarlate.
� ... Voc� esqueceu alguma coisa...
Neville estava tentando se lembrar do que esquecera quando Draco, que ia passando pela mesa da Grifin�ria, arrancou o Lembrol de sua m�o.
Harry e Rony puseram-se imediatamente de p�. Andavam querendo um motivo para brigar com Draco, mas a Professora Minerva, que era capaz de identificar uma confus�o mais depressa do que qualquer outro professor da escola, num segundo estava l�.
� Que � que est� acontecendo?
� Draco tirou o meu Lembrol, professora.
Mal-humorado, Draco mais do que depressa largou o Lembrol na mesa.
� S� estava olhando � falou, e saiu de fininho com Crabbe e Goyle na esteira.
�s tr�s e meia, aquela tarde, Harry, Rony e os outros garotos da Grifin�ria desceram correndo as escadas que levavam para fora do castelo para a primeira aula de v�o. Era um dia claro, com uma brisa fresca e a grama ondeava pelas encostas sob seus p�s ao caminharem em dire��o a um gramado plano que havia do lado oposto � floresta proibida, cujas �rvores balan�avam sinistramente a dist�ncia.
Os garotos da Sonserina j� estavam l�, bem como as vinte vassouras arrumadas em fileiras no ch�o. Harry ouvira Fred e Jorge Weasley se queixarem das vassouras da escola, dizendo que havia umas que come�avam a vibrar quando voavam muito alto, ou sempre repuxavam ligeiramente para a esquerda.
A professora, Madame Hooch, chegou. Tinhas cabelos curtos e grisalhos e olhos amarelos como os de um falc�o.
� Vamos, o que � que est�o esperando? � perguntou com rispidez. � Cada um ao lado de uma vassoura. Vamos, andem logo.
Harry olhou para a vassoura. Era velha e tinha algumas palhas espetadas para fora em �ngulos estranhos.
� Estiquem a m�o direita sobre a vassoura � mandou Madame Hooch diante deles � e digam "Em p�!�.
� EM P�! �� gritaram todos.
A vassoura de Harry pulou imediatamente para sua m�o, mas foi uma das poucas que fez isso. A de Hermione Granger simplesmente se virou no ch�o e a de Neville nem se mexeu.
Talvez as vassouras como os cavalos, percebessem quando a pessoa estava com medo, pensou Harry, havia um tremor na voz de Neville, que dizia com demasiada clareza que ele queria manter os p�s no ch�o.
Madame Hooch, em seguida, mostrou-lhes como montar as vassouras sem escorregar pela outra extremidade, e passou pelas fileiras de alunos corrigindo a maneira de segur�-la. Harry e Rony ficaram contentes quando ela disse a Draco que ele segurava a vassoura errado havia anos.
� Agora, quando eu apitar, d�em um impulso forte com os p�s � disse a professora. � Mantenham as vassouras firmes, saiam alguns cent�metros do ch�o e voltem a descer curvando o corpo um pouco para frente. Quando eu apitar... Tr�s... Dois..
Mas Neville, nervoso, assustado, e com medo que a vassoura o largasse no ch�o, deu um impulso forte antes mesmo de o apito tocar os l�bios de Madame Hooch.
� Volte, menino! � gritou ela, mas Neville subiu como uma rolha que sai sob press�o da garrafa, quatro metros, seis metros.
Harry viu a cara de Neville branca de medo espiando para o ch�o enquanto ganhava altura, viu-o exclamar, escorregar de lado para fora da vassoura e...
� BUM! � um baque surdo, um ru�do de fratura e Neville caindo de borco na grama, estatelado. Sua vassoura continuou a subir cada vez mais alto e come�ou a flutuar sem pressa em dire��o � floresta proibida e desapareceu de vista.
Madame Hooch se debru�ou sobre Neville, o rosto t�o branco quanto o dele.
� Pulso quebrado � Harry ouviu-a murmurar � Vamos, menino, levante-se.
Virou-se para o restante da classe.
� Nenhum de voc�s vai se mexer enquanto levo este menino ao hospital! Deixem as vassouras onde est�o ou v�o ser expulsos de Hogwarts antes de poderem dizer "Quadribol". Vamos, querido.
Neville, o rosto manchado de lagrimas, segurando o pulso, saiu mancando em companhia de Madame Hooch, que o abra�ava pelos ombros.
Assim que se distanciaram e ficaram fora do campo de audi��o da classe, Draco caiu na gargalhada.
� Voc�s viram a cara dele, o panaca?
Os outros alunos da Sonserina fizeram coro.
� Cala a boca, Draco � retrucou Parvati Patil.
� Uuuu, defendendo o Neville? � disse Pansy Parkinson, uma aluna da Sonserina de fei��es dura � Nunca pensei que voc� gostasse de manteiguinhas derretidas, Parvati.
� Olhe! � disse Draco, atirando-se para frente e recolhendo alguma coisa na grama. � � aquela porcaria que a av� do Neville mandou.
O Lembrol cintilou ao sol quando o garoto o ergueu.
� Me d� isso aqui, Draco � falou Harry em voz baixa. Todos pararam de conversar para espiar, Draco soltou uma risadinha malvada.
� Acho que vou deix�-la em algum lugar para Neville apanhar, que tal em cima de uma �rvore?
� Me d� isso aqui � berrou Harry, mas Draco montara na vassoura e sa�ra voando. Ele n�o mentira, sabia voar bem, e planando ao n�vel dos ramos mais altos de um carvalho desafiou:
� Venha buscar, Potter!
Harry agarrou a vassoura.
� N�o! � gritou Hermione Granger � Madame Hooch disse para a gente n�o se mexer Voc�s v�o nos meter numa enrascada.
Harry n�o lhe deu aten��o. O sangue palpitava em suas orelhas. Ele montou a vassoura, deu um impulso com for�a e subiu, subiu alto, o ar passou veloz pelo seu cabelo e suas vestes se agitaram com for�a para tr�s e numa onda de feroz alegria ele percebeu que encontrara alguma coisa que era capaz de fazer sem ningu�m lhe ensinar. Isto era f�cil, era maravilhoso. Puxou a vassoura para o alto para subir ainda mais e ouviu gritos e exclama��es das garotas l� no ch�o e um viva de admira��o do Rony. Virou a vassoura com um gesto brusco ficando de frente para Draco, que planava no ar. O garoto estava abobalhado.
� Me d� isso aqui � mandou Harry � ou vou derrubar voc� dessa vassoura!
� Ah �? � retrucou Draco, tentando ca�oar, mas parecendo preocupado.
Harry de alguma maneira sabia o que fazer. Curvou-se para frente, segurou a vassoura com firmeza com as duas m�os e ela disparou na dire��o de Draco como uma lan�a. Draco s� conseguiu escapar por um triz. Harry fez uma curva fechada e manteve a vassoura firme. Algumas pessoas no ch�o aplaudiam.
� Aqui n�o tem Crabbe nem Goyle para salvarem sua pele, Draco � berrou Harry.
O mesmo pensamento parecia ter ocorrido a Draco.
� Apanhe se puder, ent�o! � gritou, e atirou a bolinha de cristal no ar e voltou para o ch�o.
Harry viu, como se fosse em c�mara lenta, a bolinha subir no ar e come�ar a cair. Ele se curvou para frente e apontou o cabo da vassoura para baixo, no instante seguinte estava ganhando velocidade num mergulho quase vertical, apostando corrida com a bolinha. O vento assobiava em suas orelhas, misturado aos gritos das pessoas que olhavam, ele esticou a m�o a uns trinta cent�metros do solo agarrou-a, bem em tempo de levar a vassoura � posi��o vertical, e caiu suavemente na grama com o Lembrol salvo e seguro na m�o.
� HARRY POTTER!
Ele perdeu a anima��o mais depressa do que quando mergulhara. A Professora Minerva vinha correndo em dire��o � turma.
Ele se levantou tremendo.
� Nunca... Em todo o tempo que estou em Hogwarts... � A Professora Minerva quase perdeu a fala de espanto e seus �culos cintilavam sem parar. �... Como � que voc� se atreve... Podia ter partido o pesco�o...
� N�o foi culpa dele, professora...
� Calada, Srta. Patil..
� Mas Draco...
� Chega, Sr. Weasley, Potter me acompanhe, agora.
Harry viu as caras vitoriosas de Draco, Crabbe e Goyle ao sair acompanhando, espantado, a Professora Minerva, que seguiu para o castelo. Ia ser expulso, sabia. Queria dizer alguma coisa para se defender, mas parecia ter acontecido alguma coisa com a sua voz.
A Professora Minerva caminhava decidida, sem nem olhar para tr�s ele tinha que correr para acompanhar seu passo. Agora se enrascara.
N�o tinha durado nem duas semanas. Estaria fazendo as malas dali a dez minutos. Que iriam dizer os Dursley quando ele aparecesse � porta da casa?
Subiram os degraus da entrada, subiram a escadaria de m�rmore, e a Professora Minerva continuava a n�o dizer nada.
Escancarava portas e marchava pelos corredores com Harry trotando infeliz atr�s dela. Talvez ela o levasse a Dumbledore.
Pensou em Hagrid, aluno expulso a quem tinham permitido continuar na escola como guarda-ca�a. Talvez virasse assistente de Hagrid. Seu est�mago revirava s� de pensar, observando Rony e os outros se tornarem bruxos enquanto ele andava pela propriedade carregando a bolsa de Hagrid.
A Professora Minerva parou � porta de uma sala de aula. Abriu a porta e meteu a cabe�a para dentro.
� Com licen�a, Professor Flitwick, posso pedir o Wood emprestado por um instante?
�Wood?� pensou Harry, intrigado, Wood seria alguma coisa que ela ia usar para castig�-lo?
Mas Wood afinal era uma pessoa, um menino forte do quinto ano, que saiu da sala de Flitwick parecendo confuso.
� Voc�s dois me sigam � disse a Professora Minerva, e continuaram todos pelo corredor, Wood examinando Harry com curiosidade.
� Entrem.
A Professora Minerva indicou uma sala de aula que estava vazia exceto por Pirra�a, que se ocupava em escrever palavr�es no quadro-negro.
� Fora, Pirra�a! � ordenou ela. Pirra�a atirou o giz em uma cesta, produzindo um eco met�lico e alto e saiu xingando. A Professora Minerva bateu a porta atr�s dele e virou-se para encarar os dois garotos.
� Harry Potter, este � Ol�vio Wood. Ol�vio... Encontrei um apanhador para voc�.
A express�o de Ol�vio mudou de confus�o para prazer.
� Est� falando s�rio, professora?
� Ser�ssimo � resumiu a Professora Minerva. � O menino tem um talento natural. Nunca vi nada parecido. Foi a primeira vez que montou numa vassoura, Harry?
Harry confirmou com a cabe�a. N�o tinha a menor id�ia do que estava acontecendo, mas parecia que n�o estava sendo expulso, e come�ou a recuperar um pouco da sensibilidade nas pernas.
� Ele apanhou aquela coisa com a m�o depois de um mergulho de mais de 15 metros � a Professora Minerva contou a Wood.
� N�o sofreu um �nico arranh�o. Nem Carlinhos Weasley seria capaz de fazer igual.
Ol�vio parecia agora algu�m cujos sonhos tinham virado realidade, todos ao mesmo tempo.
� Voc� j� assistiu a um jogo de Quadribol, Potter? � perguntou excitado.
� Wood � o capit�o do time da Grifin�ria � explicou a Professora Minerva.
� E tem o f�sico perfeito para um apanhador � acrescentou Ol�vio agora andando a volta de Harry, examinando-o. � Leve, veloz, vamos ter de arranjar uma vassoura decente para ele, professora, uma Nimbus 2000 ou uma Cleansweep-7, na minha opini�o.
� Vou conversar com o professor Dumbledore e ver se podemos contornar o regulamento para o primeiro ano. Deus sabe que precisamos de um time melhor do que o do ano passado. Esmagado naquele �ltimo jogo contra os sonserinos. Mal consegui encarar Severo Snape no rosto durante semanas...
A Professora Minerva espiou Harry com severidade por cima dos �culos.
� Quero ouvir falar que voc� est� treinando com vontade, Potter, ou posso mudar de id�ia quanto ao castigo que merece.
Ent�o, inesperadamente, ela sorriu.
� Seu pai teria ficado orgulhoso. Era um excelente jogador de Quadribol.
� Voc� est� brincando.
Era hora do jantar. Harry acabara de contar a Rony o que acontecera quando deixara os jardins da propriedade com a Professora Minerva. Rony tinha um peda�o de bife e pastel�o de rins a meio caminho da boca, mas esqueceu o que estava fazendo.
� Apanhador? � exclamou. � Mas os alunos do primeiro ano nunca, voc� vai ser o jogador da casa mais novo do �ltimo...
� S�culo � completou Harry, enfiando o pastel�o na boca.
Sentia-se particularmente faminto depois da agita��o da tarde.
� Ol�vio me disse.
Rony estava t�o admirado, t�o impressionado, que ficou ali sentado de boca aberta para Harry.
� Vou come�ar a treinar na pr�xima semana � anunciou Harry.
� S� n�o conte a ningu�m, Ol�vio quer fazer segredo.
Fred e Jorge Weasley entraram nesse momento no sal�o, viram Harry e foram depressa falar com ele.
� Grande lance � falou Jorge em voz baixa. � Ol�vio nos contou. � Estamos no time tamb�m... Batedores.
� Sabe de uma coisa, tenho certeza de que vamos ganhar a ta�a de Quadribol deste ano � disse Fred. � N�o ganhamos desde que Carlinhos terminou a escola, mas o time deste ano vai ser brilhante. Voc� deve ser bom, Harry, Ol�vio estava quase dando pulinhos quando nos contou.
� Em todo o caso, temos de ir, Lino Jordan acha que encontrou uma nova passagem secreta para sair da escola.
Fred e Jorge mal tinham desaparecido quando algu�m menos bem-vindo apareceu: Draco, ladeado por Crabbe e Goyle.
� Comendo a �ltima refei��o, Harry? Quando vai pegar o trem de volta para a terra dos trouxas?
� Voc� est� bem mais corajoso agora que voltou ao ch�o e est� acompanhado por seus amiguinhos � disse Harry tranq�ilo. N�o havia nada "inho" em Crabbe nem em Goyle, mas como a mesa principal estava repleta de professores, os garotos s� podiam estalar as juntas e fazer cara feia.
� Enfrento voc� a qualquer hora sozinho � disse Draco. � Hoje � noite, se voc� quiser. Duelo de bruxos. S� varinhas, sem contato. Que foi? Nunca ouviu falar de duelo de bruxos, suponho?
� Claro que j� � respondeu Rony virando-se. Vou ser o padrinho dele, quem vai ser o seu?
Draco mirou Crabbe e Goyle medindo-os.
� Crabbe, meia-noite est� bem? Nos encontramos na sala de trof�us, est� sempre destrancada.
Quando Draco foi embora, Rony e Harry se entreolharam.
� O que � um duelo de bruxos? � perguntou Harry. � E o que voc� quis dizer quando se ofereceu para ser meu padrinho?
� Bom, o padrinho fica l� para tomar o seu lugar se voc� morrer � disse Rony com displic�ncia, come�ando finalmente a comer o pastel�o frio. Surpreendido com a express�o no rosto de Harry, acrescentou bem depressa:
� Mas as pessoas s� morrem em duelos de verdade, sabe, com bruxos de verdade. O m�ximo que voc� e Draco conseguir�o fazer ser� atirar fagulhas um no outro. Nenhum dos dois conhece magia suficiente para fazer estragos. Mas aposto que ele esperava que voc� recusasse.
� E se eu agitar minha varinha e nada acontecer?
� Jogue a varinha fora e meta-lhe um soco na cara � sugeriu Rony.
� Com licen�a.
Os dois ergueram os olhos. Era Hermione Granger.
� Ser� que a pessoa n�o pode comer sossegada neste lugar? � exclamou Rony.
Hermione n�o ligou para ele e se dirigiu a Harry.
� N�o pude deixar de ouvir o que voc� e Draco estavam dizendo...
� Aposto que podia � resmungou Rony.
� E voc� n�o deve andar pela escola � noite, pense nos pontos que vai perder para a Grifin�ria se for pego, vai ser muito ego�smo da sua parte.
� �, para falar a verdade, n�o � da sua conta � respondeu Harry.
� Tchau � disse Rony.
Em todo o caso, n�o era o que se poderia chamar de um final perfeito para o dia, pensou Harry, muito mais tarde, deitado na cama sem dormir, percebendo Dino e Simas adormecerem.
(Neville n�o voltara do hospital). Rony passou a noite toda lhe dando conselhos do tipo "Se ele tentar lan�ar um feiti�o, � melhor voc� tirar o corpo fora, porque n�o consigo me lembrar como se fecha o corpo". Havia uma boa chance de serem pegos por Filch ou por Madame Nor-r-ra, e Harry sentiu que estava abusando da sorte, desrespeitando mais um regulamento da escola no mesmo dia. Por outro lado, a cara de deboche de Draco n�o parava de lhe aparecer no escuro. Essa era sua grande oportunidade de vencer Draco cara a cara. N�o podia perd�-la.
� Onze e trinta � Rony cochichou finalmente, � melhor irmos.
Eles vestiram os robes, apanharam as varinhas e atravessaram sorrateiros o quarto da torre, desceram a escada em espiral e entraram na sala comunal da Grifin�ria. Algumas brasas ainda rutilavam na lareira, transformando todas as poltronas em sombras corcundas. Tinham quase chegado � abertura no retrato quando uma voz falou da poltrona mais pr�xima.
� N�o posso acreditar que voc� vai fazer isso, Harry.
Uma l�mpada se acendeu. Era Hermione Granger, de robe cor-de-rosa e cara fechada.
� Voc�! � exclamou Rony furioso. � Volte para a cama!
� Quase contei ao seu irm�o � retorquiu Hermione. � Percy, ele � monitor, ia acabar com essa hist�ria.
Harry n�o conseguiu acreditar que algu�m pudesse ser t�o metido.
� Vamos � chamou Rony. Afastou o retrato da Mulher Gorda com um empurr�o e passou pela abertura.
Hermione n�o ia desistir com tanta facilidade. Seguiu Rony pela abertura do retrato, sibilando para os dois como um ganso raivoso.
� Voc�s n�o se importam com a Grifin�ria, voc�s s� se importam com voc�s mesmos, eu n�o quero que a Sonserina ganhe a Ta�a da Casa e voc�s v�o perder todos os pontos que ganhei com a Professora Minerva por saber a Troca de Feiti�os.
� Vai embora.
� Tudo bem, mas eu preveni voc�s, lembrem-se do que eu disse quando estiverem amanh� no trem voltando para casa, voc�s s�o t�o...
Mas o que eram, eles n�o chegaram saber. Hermione se virara para o retrato da Mulher Gorda para tornar a entrar e se viu diante de um quadro vazio. A Mulher Gorda tinha sa�do para fazer uma visita noturna e Hermione ficou trancada do lado de fora da torre da Grifin�ria.
� Agora o que � que eu vou fazer? � perguntou com a voz esgani�ada.
� O problema � seu � disse Rony. � N�s temos de ir, se n�o vamos nos atrasar.
Nem tinham chegado ao fim do corredor quando Hermione os alcan�ou.
� Vou com voc�s.
� N�o vai, n�o.
� Voc�s acham que vou ficar parada aqui, esperando o Filch me pegar? Se ele encontrar os tr�s, conto a verdade, que eu estava tentando impedir voc�s de sa�rem e voc�s podem confirmar.
� Mas que cara-de-pau � disse Rony bem alto.
� Calem a boca, voc�s dois � disse Harry bruscamente. � Ouvi uma coisa.
Era como se algu�m estivesse farejando.
� Madame Nor-r-ra? � murmurou Rony, apertando os olhos para enxergar no escuro.
N�o era Madame Nor-r-ra. Era Nevil1e. Estava enroscado no ch�o, dormindo a sono solto, mas acordou repentinamente assustado quando eles se aproximaram.
� Gra�as a Deus que voc�s me encontraram! Estou aqui h� horas, n�o consegui me lembrar da nova senha para entrar no quarto.
� Fale baixo, Neville. A senha � "focinho de porco", mas n�o vai lhe adiantar nada agora, a Mulher Gorda saiu.
� Como est� o bra�o? � perguntou Harry.
� �timo � disse Neville mostrando. � Madame Pomfrey consertou-o na hora.
� Que bom, olhe, Neville, temos que estar em um lugar, vemos voc� depois.
� N�o me deixem aqui! � pediu Neville pondo-se de p�. � N�o quero ficar sozinho, o bar�o Sangrento j� passou por aqui duas vezes.
Rony consultou o rel�gio e em seguida fez uma cara furiosa para Hermione e Neville.
� Se formos pegos por causa de voc�s, n�o vou sossegar at� aprender aquela Po��o do Morto-Vivo que Quirrell falou e vou us�-la contra voc�s.
Hermione abriu a boca, talvez para dizer a Rony exatamente como usar o Feiti�o do Morto-Vivo, mas Harry mandou-a ficar quieta e fez sinal para prosseguirem.
Passaram quase voando pelos corredores listrados pelo luar que entrava pelas grades das janelas altas. A cada curva Harry esperava topar com Filch ou com Madame Nor-r-ra, mas tiveram sorte.
Subiram correndo uma escada at� o terceiro andar e, nas pontas dos p�s, dirigiu-se � sala dos trof�us.
Draco e Crabbe ainda n�o tinham chegado. As vitrines de cristal onde estavam guardados os trof�us refulgiam quando tocadas pelo luar. Ta�as, escudos, pratos e est�tuas piscavam no escuro com lampejos prateados e dourados. Eles caminharam rente �s paredes, mantendo os olhos nas portas de cada lado da sala.
Harry tirou a varinha da caixa para o caso de Draco aparecer de repente e come�ar a duelar. Os minutos passaram vagarosos.
� Ele est� atrasado, quem sabe se acovardou � Rony sussurrou. Ent�o uma batida na sala ao lado os sobressaltou, acabara de erguer a varinha quando ouviram algu�m falar e n�o era Draco.
� V� farejando, minha querida, eles podem estar escondidos em algum canto.
Era Filch falando com Madame Nor-r-ra. Horrorizado, Harry fez sinais fren�ticos para os outros tr�s o seguirem o mais depressa poss�vel, e fugiram silenciosos em dire��o � porta mais distante da voz de Filch. As vestes de Neville mal tinham acabado de passar a curva quando ouviram Filch entrar na sala dos trof�us.
� Eles est�o por aqui � ouviram-no resmungar �, provavelmente escondidos.
� Por aqui! � disse Harry, apenas mexendo a boca, para os outros e, petrificados, eles come�aram a descer uma longa galeria cheia de armaduras. Podiam ouvir Filch se aproximando. Neville de repente, soltou um guincho assustado e saiu correndo.
Trope�ou, agarrou Rony pela cintura e os dois desabaram em cima de uma armadura.
A queda e o estr�pito foram suficientes para acordar o castelo inteiro.
� CORRAM! � gritou Harry e os quatro desembestaram pela galeria, sem virar a cabe�a para ver se Filch os seguia. Fizeram a curva firmando-se no alisar da porta e sa�ram galopando por um corredor atr�s do outro, Harry na lideran�a, sem a menor id�ia de onde estavam nem que dire��o tomava. Atravessaram uma tape�aria, rasgando-a e encontraram uma passagem secreta, precipitaram-se por ela e foram sair perto da sala de aula de Feiti�os, que sabiam estar a quil�metros da sala dos trof�us.
� Acho que o despistamos � ofegou Harry, apoiando-se na parede fria e enxugando a testa. Neville estava dobrado em dois, chiava e falava desconexamente.
� Eu... Disse... A voc�s � Hermione falou sem f�lego, agarrando o bordado no peito. � Eu... Disse... A voc�s.
� Temos de voltar � torre de Grifin�ria � lembrou Rony �, o mais r�pido poss�vel.
� Draco enganou voc� � disse Hermione a Harry. � J� percebeu isso, n�o? N�o ia enfrentar voc�. Filch sabia que algu�m ia estar na sala dos trof�us. Draco deve ter contado a ele.
Harry achou que ela provavelmente tinha raz�o, mas n�o ia dar o bra�o a torcer.
� Vamos.
N�o ia ser t�o simples N�o tinham caminhado nem dez passos quando ouviram o barulho de uma ma�aneta e alguma coisa disparou da sala de aula � frente deles.
Era Pirra�a. Avistou os garotos e soltou um guincho de prazer.
� Cale a boca, Pirra�a, por favor, voc� vai fazer a gente ser expulso.
Pirra�a soltou uma gargalhada.
� Passeando por a� � meia-noite, aluninhos? Tsk, tsk. Que feinhos, v�o ser apanhadinhos.
� N�o, se voc� n�o nos denunciar, Pirra�a, por favor.
� Devia contar ao Filch, devia � disse Pirra�a bem comportado, mas seus olhos cintilaram de maldade. � � para o seu pr�prio bem, sabem?
� Saia da frente � disse Rony com rispidez, baixando o bra�o em Pirra�a. Foi um grande erro.
� ALUNOS FORA D� CAMA! � berrou Pirra�a. � ALUNOS FORA DA CAMA NO CORREDOR DO FEITI�O!
Passando por baixo de Pirra�a eles sa�ram desembalados at� o final do corredor onde depararam com uma porta... Fechada.
� Acabou-se! � gemeu Rony, empurrando inutilmente a porta � Estamos ferrados! � o fim!
Ouviram passos, Filch correndo a toda em dire��o aos gritos de Pirra�a.
� Ah, sai da frente � Hermione resmungou aborrecida.
Agarrando a varinha de Harry, bateu na fechadura e murmurou:
� Alorromora!
A fechadura deu um estalo e a porta se abriu, eles se atropelaram por ela, fecharam-na e apuraram os ouvidos, � escuta.
� Para que lado eles foram, Pirra�a? � era Filch perguntando. � Depressa, me diga.
� Pe�a "por favor".
� N�o me enrole, Pirra�a, vamos, para que lado eles foram?
� N�o digo nada se voc� n�o pedir "por favor" � disse Pirra�a na cantilena irritante com que falava.
� Est� bem, �por favor�.
� NADA! Nada haaa! Eu disse a voc� que n�o dizia nada se voc� n�o pedisse por favor! Ha ha! Haaaaaa! � E ouviram Pirra�a voar r�pido para longe e Filch xingar com raiva.
� Ele acha que a porta est� trancada! � Harry falou. � Acho que escapamos. Sai para l�, Neville! � Neville puxava a manga do robe de Harry fazia um minuto. � Que foi?
Harry se virou e viu, muito claramente, o que foi. Por um instante teve a certeza de que entrara num pesadelo, era demais depois de tudo o que j� acontecera.
N�o estavam numa sala, conforme ele supusera. Achavam-se num corredor O corredor proibido do terceiro andar E agora sabiam por que era proibido.
Estavam encarando os olhos de um cachorro monstruoso, um cachorro que ocupava todo o espa�o entre o teto e o piso. Tinha tr�s cabe�as. Tr�s pares de olhos que giravam enlouquecidos. Tr�s narizes, que franziam e estremeciam farejando-os. Tr�s bocas babosas, a saliva escorrendo em cord�es viscosos das presas amarelas.
Estava muito firme, os olhos a observ�-los, e Harry sabia que a �nica raz�o por que ainda estavam vivos era que o seu repentino aparecimento apanhara o cachorro de surpresa, mas ele j� estava se recuperando e depressa, n�o havia d�vida quanto ao significado daqueles rosnados de ensurdecer.
Harry tateou a procura da ma�aneta. Entre Filch e a morte, ficava com o Filch.
Retrocederam. Harry bateu a porta e eles correram, quase voaram pelo corredor, Filch devia ter tido pressa para procur�-los em outro lugar porque n�o o viram em parte alguma, mas nem se importaram. A �nica coisa que queriam era abrir a maior dist�ncia poss�vel entre eles e o monstro. N�o pararam de correr at� chegarem ao retrato da Mulher Gorda no s�timo andar.
� Onde foi que voc�s andaram? � perguntou ela, olhando para os robes que caiam soltos dos ombros e os rostos vermelhos e suados.
� N�o interessa. Focinho de porco, focinho de porco � ofegou Harry, e o quadro girou para frente. Eles entraram de qualquer jeito na sala comunal e desmontaram, tr�mulos, nas poltronas.
Levou algum tempo at� um deles falar alguma coisa. Neville, ent�o, parecia que nunca mais voltaria a falar.
� Que � que voc�s acham que eles est�o querendo, com uma coisa daquelas trancada numa escola? � perguntou Rony finalmente. � Se existe um cachorro que precisa de exerc�cios � aquele.
Hermione tinha recuperado tanto o f�lego quanto o mau humor.
� Voc�s n�o usam os olhos, voc�s todos, usam? � perguntou com rispidez. � Voc�s n�o viram em cima do que ele estava?
� No ch�o? � arriscou Harry. � Eu n�o fiquei olhando para as patas, estava ocupado demais com as cabe�as.
� N�o, n�o estou falando do ch�o. Ele estava em cima de um al�ap�o. � claro que est� guardando alguma coisa.
Ela se levantou olhando feio para ele.
� Espero que estejam satisfeitos com o que fizeram. Pod�amos ter sido mortos, ou pior, expulsos. Agora, se voc�s n�o se importam, eu vou me deitar.
Rony ficou olhando para ela, de boca aberta.
� N�o, n�o nos importamos. Qualquer um pensaria que n�s a arrastamos conosco, n�o � mesmo.
Mas Hermione tinha dado a Harry algo em que pensar quando voltou para a cama. O cachorro estava guardando alguma coisa...
Que era que Hagrid tinha dito? Gringotes era o lugar mais seguro do mundo quando se queria esconder alguma coisa, com exce��o talvez de Hogwarts.
Parecia que Harry descobrira onde o pacotinho encalombado do cofre setecentos e treze tinha ido parar.
CAP�TULO DEZ
O Dia das Bruxas
Draco n�o consegui acreditar em seus olhos quando viu que Harry e Rony continuavam em Hogwarts no dia seguinte, parecendo cansados, mas absolutamente felizes. De fato, na manh� seguinte Harry e Rony come�aram a achar que o encontro com o cachorro de tr�s cabe�as fora uma excelente aventura e estavam prontos para outra. Entrementes Harry contou a Rony sobre o pacotinho que parecia ter sido levado de Gringotes para Hogwarts, e passaram muito tempo pensando no que poderia precisar de tanta prote��o.
� Ou � uma coisa realmente valiosa ou realmente perigosa � falou Rony.
� Ou as duas � acrescentou Harry.
Mas como s� o que sabiam com certeza sobre o misterioso objeto era que media uns cinco cent�metros de comprimento, n�o tinham muita possibilidade de adivinhar o seu conte�do sem outras pistas.
Nem Neville nem Hermione mostraram o menor interesse pelo que estava sob os p�s do cachorro e do al�ap�o. Neville s� estava interessado em quando iria chegar perto do cachorro outra vez.
Hermione agora se recusava a falar com Harry e Rony, mas era uma menina t�o mandona e metida a saber de tudo que eles encararam sua atitude como um pr�mio. Agora s� o que realmente queriam era descobrir um jeito de se vingar do Draco, e para sua grande satisfa��o, a oportunidade chegou pelo correio mais ou menos uma semana depois.
Quando as corujas invadiram o sal�o como de costume, a aten��o de todos foi atra�da por um longo pacote carregado por seis corujonas. Harry sentiu tanta curiosidade quanto os outros para ver o que havia no pacote e se surpreendeu quando as corujas desceram planando e o largaram bem diante dele, derrubando o seu bacon no ch�o. Mal tinham se afastado quando outra coruja deixou cair uma carta em cima do pacote.
Harry abriu a carta primeiro, o que foi uma sorte, porque ela dizia:
�N�O ABRA O PACOTE � MESA.
Ele contem a sua nova Nimbus 2000, mas n�o quero que todo o mundo saiba que voc� ganhou uma vassoura ou todos v�o querer uma.
Ol�vio Wood vai esper�-lo hoje � noite �s sete horas no campo de Quadribol para a sua primeira sess�o de treinamento.
Professora Minerva McGonagall�.
Harry teve dificuldade em esconder a alegria quando passou o bilhete para Rony ler.
� Uma Nimbus 2000! � Rony gemeu de inveja. � Eu nunca nem pus a m�o em uma.
Os dois sa�ram depressa do sal�o, querendo desembrulhar a vassoura sozinhos antes da primeira aula, mas no meio do sagu�o de entrada encontraram o caminho barrado por Crabbe e Goyle.
Draco tirou o pacote de Harry e apalpou-o.
� � uma vassoura � falou, atirando-o de volta a Harry com uma express�o de inveja e despeito no rosto. � Voc� vai se ferrar desta vez, Potter, alunos do primeiro ano n�o podem ter vassouras.
Rony n�o conseguiu resistir.
� N�o � uma vassoura velha qualquer, � uma Nimbus 2000. Que foi que voc� disse que tem em casa, Draco, uma Comet 260? � Rony riu para Harry � A Comet enche os olhos, mas n�o tem a mesma classe da Nimbus.
� Que � que voc� entende disso Weasley? Voc� n�o poderia comprar nem a metade do cabo. Vai ver voc� e seus irm�os t�m que economizar para comprar palha por palha.
Antes que Rony pudesse responder, o professor Flitwick apareceu ao lado de Draco.
� N�o est�o brigando, meninos, espero � falou com voz esgani�ada.
� Potter recebeu uma vassoura, professor � disse Draco, depressa.
� Eu sei � respondeu o professor Flitwick, abrindo um grande sorriso para Harry. � A Professora Minerva me falou das circunst�ncias especiais, Potter. E qual � o modelo?
� Uma Nimbus 2000, professor � informou Harry, lutando para n�o rir da express�o horrorizada no rosto de Draco. � E, para falar a verdade, foi gra�as ao Draco aqui que ganhei a vassoura � acrescentou.
Harry e Rony subiram as escadas sufocando o riso diante da raiva e confus�es vis�veis de Draco.
� � verdade � disse Harry, caindo na gargalhada, quando chegaram ao alto da escadaria de m�rmore. � Se ele n�o tivesse roubado o Lembrol do Neville eu n�o estaria no time.
� Ent�o suponho que voc� ache que ganhou um pr�mio por desobedecer ao regulamento? � Ouviu-se uma voz zangada logo atr�s deles. Hermione subia com passos decididos a escadaria, olhando com desaprova��o para o pacote nas m�os de Harry.
� Pensei que voc� n�o estava falando com a gente � comentou Harry.
� E, continue a n�o falar � falou Rony � est� fazendo tanto bem a gente.
Hermione se afastou com o nariz empinado.
Harry teve muita dificuldade em se concentrar nas aulas daquele dia. Seus pensamentos n�o paravam de vagar at� o dormit�rio onde guardara a vassoura debaixo da cama, ou de se desviarem para o campo de Quadribol onde iria aprender a jogar. Jantou depressa � noite, sem ao menos reparar no que estava comendo e, em seguida, correu at� o quarto com Rony para finalmente desembrulhar a Nimbus 2000.
� Uau! � suspirou Rony, quando a vassoura apareceu na cama de Harry.
At� Harry, que n�o entendia nada de vassouras e suas diferen�as, achou que a Nimhus tinha uma apar�ncia fant�stica.
Aerodin�mica e reluzente com um cabo de mogno, a vassoura tinha uma longa cauda de palhas limpas e retas e a marca Nimbus 2000 escrita a ouro pr�ximo ao punho.
Quando eram quase sete horas, Harry saiu do castelo e se dirigiu ao campo de Quadribol no lusco-fusco. Nunca estivera no est�dio antes. Havia centenas de lugares em uma arquibancada em volta do campo de modo que os espectadores viam o que acontecia do alto. Em cada ponta do campo havia tr�s balizas douradas com aros no topo lembraram a Harry os canudinhos de pl�stico que as crian�as trouxas usavam para soprar bolinhas de sab�o, s� que tinham mais de 15 metros de altura.
Ansioso demais para esperar Ol�vio sem voar, Harry montou a vassoura e deu um impulso. Que sensa��o, ele mergulhou pelas balizas, subiu e desceu pelo campo. A Nimbus 2000 ia aonde ele queria ao menor toque.
� Ei, Potter, des�a!
Ol�vio Wood chegara. Carregava uma grande caixa de madeira debaixo do bra�o. Harry pousou ao lado dele.
� Muito bom � comentou Olivio, os olhos brilhando. � Estou vendo o que foi que Minerva quis dizer... Voc� realmente tem um talento natural. Hoje � noite s� vou lhe ensinar as regras do jogo, depois voc� vem aos treinos do time tr�s vezes por semana.
Ele abriu a caixa. Dentro havia quatro bolas de tamanhos diferentes.
� Certo � disse Ol�vio. � O Quadribol � muito f�cil de entender, mesmo que n�o seja f�cil de jogar. Tem sete jogadores de cada lado. Tr�s deles s�o artilheiros.
� Tr�s artilheiros � Harry repetiu, enquanto Ol�vio apanhava uma bola muito vermelha do tamanho aproximado de uma bola de futebol.
� Esta bola se chama goles � explicou Ol�vio. � Os artilheiros atiram a goles um para o outro e tentam met�-la em um dos aros para marcar um gol. Dez pontos todas as vezes que a goles passa por um dos arcos. Est� me acompanhando?
� Os artilheiros atiram a goles pelos aros para marcar pontos � repetiu Harry � Ent�o � como um basquete com seis cestas e vassouras, n�o �?
� O que � basquete? � perguntou Ol�vio curioso.
� Deixa pra l� � disse Harry na mesma hora.
� Agora, tem outro jogador, um para cada lado, que � chamado goleiro. Eu sou o goleiro de Grifin�ria. Tenho que voar em volta dos aros para impedir que o outro time marque pontos.
� Tr�s artilheiros, um goleiro � disse Harry, que estava decidido a decorar tudo � E jogam uma goles, OK entendi. E essas para que servem? � Apontou para as tr�s bolas restantes na caixa.
� Vou lhe mostrar agora. Segure aqui.
Ele entregou um pequeno bast�o a Harry, meio parecido com um bast�o de beisebol.
� Vou lhe mostrar o que os bala�os fazem. Essas duas aqui s�o os bala�os.
E mostrou a Harry duas bolas iguais, pretas e ligeiramente menores do que a goles vermelha. Harry reparou que elas pareciam estar fazendo for�a para se livrar das correntes que as prendiam na caixa.
� Fique longe � Ol�vio preveniu Harry. Ele se curvou e soltou um dos bala�os.
Na mesma hora, a bola preta saiu voando e em seguida desceu direto contra o rosto de Harry. Harry golpeou-a como bast�o para impedi-la de quebrar o seu nariz e mandou-a ziguezagueando para longe, ela passou veloz pelas cabe�as deles e, em seguida, atirou-se contra Ol�vio, que mergulhou sobre ela e conseguiu imobiliz�-la no ch�o.
� Est� vendo? � Ol�vio ofegou, for�ando o bala�o ind�cil de volta � caixa e passando a correia para prend�-lo. � Os bala�os voam pelo ar tentando derrubar os jogadores das vassouras. E por isso que tem dois batedores em cada time. Os g�meos Weasley s�o os nossos. A fun��o deles � proteger o time dos bala�os e tentar rebat�-los para o outro time. Ent�o, acha que guardou tudo?
� Tr�s artilheiros tentam marcar pontos com a goles o goleiro guarda as balizas os batedores afastam os bala�os do seu time � Harry repetiu como um gravador.
� Muito bem.
� Hum... Os bala�os j� mataram algu�m? � perguntou Harry, esperando parecer displicente.
� Nunca em Hogwarts. J� tivemos uns queixos quebrados, mas nada mais serio. Agora, o �ltimo membro da equipe � o apanhador: voc�. E voc� n�o tem que se preocupar com a goles nem com os bala�os.
� A n�o ser que rachem a minha cabe�a.
� N�o se preocupe, os Weasley s�o uma parada para os bala�os, quero dizer, eles parecem uns bala�os humanos.
Ol�vio meteu a m�o no caixote e tirou a quarta e �ltima bola.
Comparada com a goles e os bala�os, era pequenininha, mais ou menos do tamanho de uma noz. Era de ouro polido e tinha asinhas de prata que se agitavam.
� Este � o pomo de ouro, e � a bola mais importante de todas. � muito dif�cil de se apanhar porque � veloz e pouco vis�vel. A fun��o dos apanhadores � agarr�-la. Eles t�m que se meter entre os artilheiros, batedores, bala�os e a goles para agarr�-lo antes do apanhador do time contr�rio, porque o apanhador que agarra o pomo ganha para o seu time mais cento e cinq�enta pontos, o que praticamente lhe d� a vit�ria. � por isso que os apanhadores levam tantas faltas. Um jogo de Quadribol s� termina quando o pomo � apanhado, o que pode demorar uma eternidade. Acho que o recorde � tr�s meses e precisaram arranjar substitutos para os jogadores poderem dormir um pouco � explicou Ol�vio � � isso a� alguma pergunta?
Harry sacudiu a cabe�a. Compreendeu muito bem o que tinha de fazer. Fazer � que ia ser o problema.
� N�o vamos praticar com o pomo � disse Ol�vio, guardando-o cuidadosamente de volta na caixa. � Est� escuro demais e poder�amos perd�-lo. Vamos experimentar com outras bolas.
E tirou do bolso um saco de bolas comuns de golfe e alguns minutos depois ele e Harry estavam no ar, Ol�vio atirando as bolas com toda a for�a para todos os lados e Harry apanhando-as.
Harry n�o perdeu nenhuma, e Ol�vio ficou encantado. Passou-se meia hora, a noite chegou e eles n�o puderam continuar.
� Aquela ta�a de Quadribol ter� o nosso nome este ano � disse Ol�vio feliz quando voltavam cansados ao castelo. � Eu n�o me espantaria se voc� se sa�sse melhor que Carlinhos, e ele poderia ter jogado na sele��o da Inglaterra se n�o tivesse ido embora ca�ar drag�es.
Talvez fosse porque agora andava muito ocupado com o treino de Quadribol tr�s noites por semana al�m dos deveres de casa, mas Harry nem acreditou quando se deu conta de que j� estava em Hogwarts havia dois meses. O castelo parecia mais sua casa do que a casa da tia na Rua dos Alfeneiros. As aulas, tamb�m, estavam se tornando cada dia mais interessantes, agora que dominara os conhecimentos b�sicos.
Na manh� do Dia das Bruxas eles acordaram com um delicioso cheiro de ab�bora assada que se espalhava pelos corredores. E, o que era ainda melhor, o Professor Flitwick anunciou na aula de Feiti�os que, em sua opini�o, os alunos estavam prontos para come�ar a fazer objetos voarem, uma coisa que andavam morrendo de vontade de experimentar desde que viram o professor fazer o sapo de Neville sair voando pela sala. O Professor Flitwick dividiu a turma em pares para praticar O parceiro de Harry foi Simas Finnigan (um al�vio, porque Neville tinha tentado atrair sua aten��o). Mas Rony teria que trabalhar com Hermione Granger. Era dif�cil dizer se era Rony ou Hermione que estava mais aborrecido com isso. Ela n�o falava com nenhum dos dois desde o dia em que a vassoura de Harry chegara.
� Agora, n�o se esque�am daquele movimento com o pulso que praticamos! � falou esgani�ado o Professor Flitwick, como sempre empoleirado no alto da pilha de livros. � Gira e sacode, lembrem-se, gira e sacode. E digam as palavras m�gicas corretamente, � muito importante, tamb�m, lembrem-se do bruxo Barrufo, que disse "s" em vez de "f" e quando viu estava no ch�o com um b�falo em cima do peito.
Era muito dif�cil. Harry e Simas giraram e sacudiram o pulso, mas a pena que deviam mandar para o alto continuava parada em cima da mesa. Simas ficou t�o impaciente que a empurrou com a varinha e tocou fogo nela. Harry teve que apagar o fogo com o chap�u.
Rony na mesa ao lado, n�o estava tendo muita sorte.
-Vingardium lenviosa � ordenou, sacudindo os bra�os compridos como p�s de moinho.
� Voc� est� dizendo o feiti�o errado � Harry ouviu Hermione corrigir aborrecida. � � ving-gar-dium levi-o-sa � bem pronunciado e longo.
� Diz voc� ent�o, que � t�o sabichona � retrucou Rony.
Hermione enrolou as mangas das vestes, bateu a varinha e disse:
� Vingardium leviosa.
A pena se ergueu da mesa e pairou a mais de um metro acima da cabe�a deles.
� Ah, muito bem! � exclamou o professor Flitwich, batendo palmas. � Pessoal, olhe aqui, a Hermione Granger conseguiu!
Rony estava de muito mau humor na altura em que a aula terminou.
� N�o admira que ningu�m suporte ela � disse a Harry quando procuravam chegar ao corredor. � Francamente, ela � um pesadelo.
Algu�m deu um esbarr�o em Harry ao passar. Era Hermione.
Harry viu seu rosto de relance e ficou assustado ao ver que ela estava chorando.
� Acho que ela ouviu o que voc� disse.
� E dai! � mas pareceu meio sem gra�a. � Ela j� deve ter reparado que n�o tem amigos.
Hermione n�o apareceu na aula seguinte e ningu�m a viu a tarde inteira.
Ao descerem ao sal�o principal para a festa das bruxas, Harry e Rony ouviram Parvati contar � amiga Lil� que Hermione estava chorando no banheiro das meninas e queria que a deixassem em paz. Rony ficou ainda mais sem gra�a ao ouvir isso, mas no momento seguinte entraram no sal�o principal, onde as decora��es do Dia das Bruxas tiraram Hermione de suas cabe�as.
Mil morcegos vivos esvoa�avam nas paredes e no teto e outros mil mergulhavam sobre as mesas em nuvens negras e baixas, fazendo dan�arem as velas dentro das ab�boras. A comida apareceu de repente nos pratos de ouro, como acontecera no banquete de abertura das aulas.
Harry estava se servindo de uma batata assada em casca quando o Professor Quirrell entrou correndo no sal�o, o turbante torto na cabe�a e o terror estampado no rosto. Todos olharam quando ele se aproximou da cadeira de Dumbledore, escorou-se na mesa e ofegou.
� Trasgo.. Nas masmorras... Achei que devia lhe dizer. � Em seguida desabou no ch�o desmaiado. Houve um alvoro�o. Foi preciso explodirem v�rias bombinhas da ponta da varinha do Professor Dumbledore para as pessoas fazerem sil�ncio.
� Monitores � disse ele com voz grave e retumbante �, levem os alunos de suas casas de volta aos dormit�rios, imediatamente!
Era com Percy mesmo.
� Me acompanhem! Fiquem juntos, alunos do primeiro ano! N�o precisam ter medo do trasgo se seguirem as minhas ordens! Agora fiquem bem atr�s de mim. Abram caminho para os alunos do primeiro ano passarem! Com licen�a, sou o monitor!
� Como � que um trasgo pode entrar? � perguntou Harry enquanto subiam a escadaria.
� N�o me pergunte, dizem que eles s�o bem burros � respondeu Rony � Vai ver o Pirra�a deixou ele entrar para pregar uma pe�a no Dia das Bruxas.
Eles passaram por diferentes grupos de pessoas que se apressavam em diferentes dire��es. Enquanto lutavam para passar por um bolinho de alunos de Lufa-Lufa, Harry de repente agarrou o bra�o de Rony.
� Acabei de me lembrar da Hermione.
� O que tem ela?
� Ela n�o sabe que tem um trasgo aqui.
Rony mordeu o l�bio.
� Ah, est� bem � falou r�spido. � Mas � melhor Percy n�o ver a gente.
Abaixando-se, eles se misturaram aos alunos da Lufa-Lufa que iam � dire��o contr�ria, escapuliram por um lado deserto do corredor e correram para os banheiros das meninas. Tinham acabado de virar um canto quando ouviram passos apressados atr�s deles.
� Percy! � sibilou Rony, puxando Harry para tr�s de um enorme grifo de pedra.
Espiando para os lados, no entanto, viram n�o Percy, mas Snape. Ele atravessou o corredor e desapareceu de vista.
� Que � que ele est� fazendo? � cochichou Harry, � Por que n�o est� l� embaixo com os outros professores?
� N�o me pergunte.
O mais silenciosamente poss�vel, eles se esgueiraram pelo pr�ximo corredor nas pegadas de Snape.
� Ele est� indo para o terceiro andar � disse Harry, mas Rony levantou a m�o.
� Voc� est� sentindo um cheiro?
Harry fungou e um fedor horr�vel invadiu suas narinas, uma mistura de meias velhas e banheiro p�blico que parece que nunca � limpo.
E em seguida ouviram um grunhido baixo e passadas de p�s gigantescos. Rony apontou no fim do corredor, � esquerda, alguma coisa enorme estava vindo em sentido contr�rio. Eles se encolheram no escuro e procuraram ver o que era quando a coisa passou por um trecho iluminado pelo luar.
Era uma vis�o medonha. Quase quatro metros de altura, a pele cinzenta e ba�a, o corpanzil cheio de calombos como um pedregulho e uma cabecinha no alto, que mais parecia um coco.
Tinha pernas curtas, grossas como um tronco de �rvore e p�s chatos e calosos. Segurava um enorme bast�o de madeira, que arrastava pelo ch�o, porque seus bra�os eram comprid�ssimos.
O trasgo parou pr�ximo a uma porta e espiou para dentro.
Abanou as longas orelhas, tentando fazer a cabe�a min�scula pensar, depois entrou devagar na sala.
� A chave est� na porta � murmurou Harry � Pod�amos tranc�-lo l� dentro.
� Boa id�ia � concordou Rony, nervoso.
Eles se esgueiraram at� a porta aberta, as bocas secas, rezando para o trasgo n�o resolver sair naquele instante. Com um grande salto, Harry conseguiu agarrar a chave, bater a porta e tranc�-la seguramente.
� Pronto!
Afogueados com a vit�ria, come�aram a correr de volta pelo corredor, mas ao chegarem num canto ouviram uma coisa que fez seus cora��es pararem, um grito alto e enregelante, e vinha da sala que tinham acabado de trancar.
� Ah, n�o � exclamou Rony, p�lido como o bar�o Sangrento.
� V�m do banheiro das meninas.
� Hermione!� disseram os dois juntos.
Era a �ltima coisa que queriam fazer, mas que escolha tinham?
Dando meia-volta, correram at� a porta e giraram a chave, atrapalhados de tanto p�nico. Harry escancarou aporta e entraram correndo.
Hermione estava encolhida contra a parede oposta, parecendo prestes a desmaiar. O trasgo avan�ava para ela, derrubando as pias que estavam na parede em seu caminho.
� Distraia ele!� Harry pediu desesperado a Rony, e, agarrando uma torneira, atirou-a com toda a for�a contra a parede.
O trasgo parou a um metro de Hermione. Virou-se com lentid�o, piscando sem entender, procurou ver que barulho era aquele. Seus olhinhos malvados viram Harry. Ele hesitou, em seguida partiu para cima de Harry, erguendo o bast�o.
� Oi cabe�a de ervilha! � berrou Rony do outro lado do banheiro, e atirou contra ele um cano de metal. O trasgo nem pareceu sentir o cano bater no seu ombro, mas ouviu o berro e parou outra vez, virando o focinho feio para Rony, e dando a Harry tempo para correr em volta dele.
� Vamos, corra, corra! � Harry gritou para Hermione, tentando pux�-la na dire��o da porta, mas ela n�o conseguia se mexer continuava achatada contra a parede, a boca aberta de terror.
Os gritos e os ecos pareciam estar deixando o trasgo enlouquecido. Ele rugiu de novo e avan�ou para Rony que estava mais perto e n�o tinha jeito de escapar.
Harry ent�o fez uma coisa que era ao mesmo tempo muito corajosa e muito idiota tomou impulso e deu um salto conseguindo abra�ar o pesco�o do trasgo pelas costas. O trasgo n�o sentiu Harry pendurar-se ali, mas at� um trasgo percebe quando se espeta um peda�o comprido de pau dentro da narina, e a varinha de Harry ainda estava na m�o quando ele saltou e entrou direto na narina do trasgo.
Urrando de dor, o trasgo se virou e brandiu o bast�o, enquanto Harry continuava agarrado nele tentando escapar da morte, a qualquer instante, o trasgo ia arranc�-lo do pesco�o ou dar-lhe uma tremenda porretada.
Hermione afundara no ch�o de tanto medo, Rony puxou a pr�pria varinha sem saber o que ia fazer, ouviu-se gritando o primeiro feiti�o que e veio a cabe�a: Vingardium leviosa!
Na mesma hora o bast�o voou da m�o do trasgo, ergueu-se no ar, foi subindo, subindo, virou-se lentamente e caiu, com um barulho feio, na cabe�a do seu dono. O trasgo cambaleou e, em seguida, caiu de cara no ch�o, com um baque que fez o banheiro todo sacudir.
Harry se levantou. Tremia sem f�lego. Rony continuava parado com a varinha no ar, espantado como que fizera.
Foi Hermione quem falou primeiro.
� Ele est�... Morto?
� Acho que n�o � respondeu Harry. � Acho que s� perdeu os sentidos.
Ele se abaixou e puxou a varinha da narina do trasgo. Estava suja de uma coisa que parecia uma cola grumosa.
� Eca... Meleca de trasgo.
E limpou a varinha nas cal�as do trasgo.
De repente o barulho de portas batendo e passos pesados fizeram os tr�s erguerem a cabe�a. N�o haviam percebido a confus�o que tinham aprontado, mas com certeza algu�m l� embaixo ouvira a pancadaria e os urros do trasgo. Um instante depois a Professora Minerva adentrou o banheiro, seguida de perto por Filch e Quirrell, que fechava a fila. Quirrell deu uma espiada no trasgo, soltou um gemidinho e sentou-se depressa em um vaso sanit�rio, apertando o peito.
Filch debru�ou-se sobre o trasgo. A Professora Minerva ficou olhando para Rony e Harry. Harry nunca a vira t�o zangada. Seus l�bios estavam brancos. A esperan�a de ganhar cinq�enta pontos para Grifin�ria desapareceu logo da cabe�a de Harry.
� O que � que voc�s estavam pensando? � perguntou a Professora Minerva, com uma f�ria reprimida na voz, Harry olhou para Rony, que continuava parado com a varinha no ar. � Voc�s tiveram sorte de n�o serem mortos. Por que � que n�o est�o no dormit�rio?
Filch lan�ou a Harry um olhar r�pido e penetrante. Harry olhou para o ch�o. Desejou que Rony baixasse a varinha. Ent�o se ouviu uma vozinha que veio das sombras.
� Por favor, Professora, Minerva, eles vieram me procurar.
� Senhorita Granger!
Hermione conseguira finalmente se levantar.
� Sai procurando o trasgo porque achei que podia enfrent�-lo sozinha. Sabe, j� li tudo sobre trasgos.
Rony deixou a varinha cair. Hermione Granger, contando uma mentira deslavada a um professor?
� Se eles n�o tivessem me encontrado eu estaria morta agora.
� Harry enfiou a varinha na narina do trasgo e Rony derrubou ele com o pr�prio bast�o. N�o tiveram tempo de chamar ningu�m. O trasgo ia acabar comigo quando eles chegaram.
Harry e Rony tentaram fingir que a hist�ria n�o era novidade para eles.
� Bem... Nesse caso... � disse a Professora Minerva encarando os tr�s �, senhorita Granger, que bobagem, como p�de pensar em enfrentar um trasgo montanh�s sozinha?
Hermione baixou a cabe�a. Harry perdera a fala. Hermione era a �ltima pessoa do mundo que desobedeceria ao regulamento e ali estava fingindo que desobedecera, para tir�-los de uma enrascada.
Era o mesmo que o Snape come�ar a distribuir balinhas.
� Hermione Granger, Grifin�ria vai perder cinco pontos por isso � disse a Professora Minerva. � Estou muito desapontada. Se n�o estiver machucada � melhor ir embora para a torre de Grifin�ria. Os alunos est�o acabando de festejar o Dia das Bruxas em suas casas.
Hermione se retirou.
A Professora Minerva virou-se para Harry e Rony.
� Bem, eu continuo achando que voc�s tiveram sorte, mas n�o h� muitos alunos do primeiro ano que pudessem enfrentar um trasgo montanh�s adulto. Cada um de voc�s ganha cinco pontos para Grifin�ria. O Professor Dumbledore ser� informado. Podem ir.
Eles sa�ram depressa do banheiro e n�o falaram nada at� subirem dois andares. Foi um alivio se afastarem do fedor do trasgo, para n�o falar do resto.
� Dev�amos ter ganho mais de dez pontos � resmungou Rony.
� Cinco, voc� quer dizer, depois de descontar os pontos que Hermione perdeu.
� Foi legal ela ter-nos tirado do aperto � admitiu Rony � Mas n�o se esque�a, salvamos a vida dela.
� Talvez ela n�o precisasse ser salva se n�o tiv�ssemos trancado a coisa com ela � lembrou Harry.
Tinham chegado ao retrato da Mulher Gorda.
� Focinho de porco � disseram e entraram..
A sala comunal estava cheia e barulhenta. Todo o mundo estava comendo o jantar que fora mandado para l�. Hermione, por�m, estava parada sozinha do lado da porta, esperando por eles.
Houve um sil�ncio constrangido. Depois, sem se olharem, todos disseram "Obrigado" e correram para apanhar os pratos.
Mas daquele momento em diante, Hermione Granger tornou-se amiga dos dois. H� coisas que n�o se pode fazer junto sem acabar gostando um do outro, e derrubar um trasgo montanh�s de quase quatro metros de altura � uma dessas coisas.
CAP�TULO ONZE
Quadribol
Quando entrou novembro o tempo esfriou muito. As serras em torno da escola viraram cinza-gelo e o lago parecia metal congelado. Toda a manh� o ch�o se cobria de geada. Hagrid era visto das janelas dos andares superiores do castelo degelando vassouras no campo de Quadribol enrolado num casac�o de pele de toupeira, com luvas de coelho e enormes botas de castor.
Come�ara a temporada de Quadribol. No s�bado, Harry estaria jogando sua primeira partida depois de semanas de tratamento:
Grifin�ria contra Sonserina. Se Grifin�ria ganhasse, subiria para o segundo lugar no campeonato das casas.
Quase ningu�m vira Harry jogar porque Ol�vio decidira que, sendo uma arma secreta, a participa��o de Harry deveria ser mantida em segredo. Mas de alguma forma a noticia de que jogaria como apanhador vazara e Harry n�o sabia o que era pior se as pessoas dizerem que ele seria brilhante ou dizerem que iriam ficar correndo embaixo dele com um colch�o.
Era realmente uma sorte que Harry agora tivesse Herminione como amiga. N�o sabia como poderia ter dado conta dos deveres de casa sem ela, diante dos treinos de Quadribol convocados por Ol�vio � �ltima hora. Ela tamb�m lhe emprestara o livro Quadribol atrav�s dos s�culos, que acabara rendendo uma leitura muito interessante.
Harry aprendera que havia setecentas maneiras de cometer faltas no Quadribol e que todas haviam ocorrido durante a copa mundial de 1473, que os apanhadores eram em geral os jogadores menores e mais velozes e que a maioria dos acidentes graves no Quadribol parecia acontecer com eles, que embora a pessoas raramente morressem jogando Quadribol, havia ju�zes que tinham desaparecido e reaparecido meses depois no deserto do Saara.
Hermione tornara-se menos tensa com rela��o �s infla��es ao regulamento desde que Harry e Rony a tinham salvado do trasgo montanh�s e se tornara uma pessoa mais simp�tica. Na v�spera da primeira partida de Quadribol de Harry, os tr�s foram at� a quadra congelada durante o intervalo das aulas, e ela fizera aparecer para eles um fogo azulado muito vivo que podia ser levado para toda parte em um frasco de gel�ia. Achavam-se parados de costas para o fogo, se esquentando, quando Snape atravessou o p�tio. Harry reparou logo que Snape estava mancando. Harry, Rony e Hermione se aproximaram mais para esconder o fogo com o corpo, tinham certeza de que era proibido. Infelizmente alguma coisa em suas caras culpadas atraiu a aten��o de Snape. Ele veio mancando at� onde eles estavam. N�o vira o fogo, mas parecia estar procurando uma raz�o para ralhar com eles.
� Que � que voc� tem a�, Potter?
Era O Quadribol atrav�s dos s�culos. Harry mostrou-o.
� Os livros da biblioteca n�o podem ser levados para fora da escola � falou Snape. � Me d� aqui. Menos cinco pontos para Grifin�ria.
� Ele acabou de inventar essa regra � murmurou Harry com raiva, enquanto Snape se afastava � Que ser� que houve com a perna dele?
� N�o sei, mas espero que esteja realmente doendo � falou Rony com azedume.
A sala comunal da Grifin�ria estava muito barulhenta aquela noite. Harry, Rony e Hermione sentaram-se junto a uma janela.
Hermione verificava os deveres de Harry e Rony para a aula de Feiti�os. Ela nunca os deixava copiar ("Como � que voc�s v�o aprender?'), mas ao lhe pedirem para ler os trabalhos, eles recebiam as respostas certas do mesmo jeito.
Harry sentia-se inquieto. Queria de volta Quadribol atrav�s dos s�culos, para se distrair do nervosismo que a partida do dia seguinte estava lhe provocando. Por que deveria ter medo de Snape?
Levantou-se e disse a Rony e Hermione que ia pedir a Snape para lhe devolver o livro.
� Antes voc� do que eu � responderam eles juntos, mas Harry tinha a impress�o que Snape n�o iria recusar se houvesse outros professores ouvindo.
Ele foi � sala dos professores e bateu � porta. N�o obteve resposta. Bateu outra vez. Nada.
Talvez Snape tivesse deixado o livro na sala? Valia a pena tentar. Entreabriu a porta e espiou para dentro e deparou com uma cena horr�vel.
Snape e Filch estavam l� dentro sozinhos. Snape segurava as vestes acima do joelho. Uma das pernas sangrava, lacerada. Filch entregava ataduras a Snape.
� Droga � dizia Snape. � Como � que se pode ficar de olho em tr�s cabe�as ao mesmo tempo?
Harry tentou fechar a porta sem fazer barulho, mas...
� Potter!
O rosto de Snape contorceu-se de f�ria ao mesmo tempo em que ele largava as vestes para esconder a perna. Harry engoliu em seco.
� Eu vim saber se o senhor poderia devolver o meu livro..
� SAIA! SAIA!
Harry saiu, antes que Snape pudesse descontar algum ponto de Grifin�ria. E voltou correndo para baixo.
� Conseguiu? � perguntou Rony quando Harry se reuniu a eles.
� Que aconteceu?
Num murm�rio, Harry lhes contou o que vira.
� Sabe o que isso significa? � terminou sem f�lego. � Ele tentou passar pelo cachorro de tr�s cabe�as no Dia das Bruxas! Era para l� que estava indo quando o vimos. Ele quer a coisa que o cachorro est� guardando! E aposto a minha vassoura como ele deixou aquele trasgo entrar, para distrair a aten��o de todos!
Os olhos de Hermione estavam arregalados.
� N�o. Ele n�o faria isso. Sei que ele n�o � muito simp�tico, mas n�o tentaria roubar uma coisa que Dumbledore estivesse guardando a sete chaves.
� Sinceramente, Hermione, voc� pensa que todos os professores s�o santos ou coisa parecida � disse-lhe Rony com rispidez. � Concordo com Harry, acho que Snape faria qualquer coisa. Mas o que � que ele est� procurando? O que � que o cachorro est� guardando?
Harry foi se deitar com a cabe�a zunindo com aquela pergunta.
Neville roncava alto e Harry n�o conseguia dormir. Tentou esvaziar a cabe�a, precisava dormir, tinha de dormir, ia jogar sua primeira partida de Quadribol dentro de algumas horas, mas a express�o no rosto de Snape quando Harry vira sua perna era dif�cil de esquecer.
O dia seguinte amanheceu muito claro e frio. O sal�o principal estava impregnado com o cheiro delicioso de salsichas e com a conversa animada de todos que aguardavam ansiosos uma boa partida de Quadribol.
� Voc� tem que comer alguma coisa.
� N�o quero nada.
� S� um pedacinho de torrada � tentou persuadi-lo Hermione.
� N�o estou com fome.
Harry se sentia p�ssimo. Dentro de uma hora estava entrando na quadra.
� Harry, voc� precisa de energia � disse Simas Finnigan � Os apanhadores s�o sempre os que acabam aleijados pelo outro time.
� Obrigado Simas � respondeu Harry, observando Simas amontoar ketchup sobre as salsichas.
A� pelas onze horas a escola inteira parecia estar nas arquibancadas que cercavam o campo de Quadribol. Muitos estudantes tinham levado bin�culos. Os lugares ficavam no alto, mas �s vezes, ainda assim era dif�cil ver o que acontecia.
Rony e Hermione se reuniram a Neville, Simas e Dino, o f� do time de segunda divis�o na fileira do alto. Como uma surpresa para Harry eles tinham pintado uma grande bandeira em um dos len��is que Perebas roera. Dizia: �Potter para Presidente� e Dino, que era bom em desenho, tinha pintado o grande le�o de Grifin�ria embaixo. Depois Hermione apelara para um feiticinho para fazer a tinta brilhar multicolorida.
Entrementes, nos vesti�rios, Harry e o restante do time estavam vestindo as roupas vermelhas de Quadribol (Sonserina iria jogar de verde).
Ol�vio pigarreou pedindo sil�ncio.
� Muito bem, rapazes.
� E mo�as � acrescentou a artilheira Angelina Johnson.
� E mo�as � concordou Ol�vio. � Est� na hora.
� O joga�o � disse Fred.
� O joga�o que est�vamos esperando � explicou Jorge.
� J� conhecemos o discurso de Ol�vio de cor � comentou Fred para Harry. � Fizemos parte do time no ano passado.
� Calem a boca, voc�s dois � mandou Ol�vio. � Este � o melhor time que Grifin�ria j� teve nos �ltimos anos. Vamos vencer. Sei que vamos � e encarou os jogadores como se dissesse "Ou v�o ver".
� Certo. Est� na hora. Boa sorte para todos.
Harry acompanhou Fred e Jorge na sa�da do vesti�rio e, esperando que seus joelhos n�o cedessem, entrou na quadra debaixo de vivas.
Madame Hooch era a ju�za. Estava parada no meio da quadra esperando os dois times, de vassoura na m�o.
� Quero ver um jogo limpo meninos � disse quando estavam todos reunidos � sua volta. Harry reparou que ela parecia estar falando particularmente para o capit�o de Sonserina, Marcos Flint um aluno do quinto ano. Harry achou que Flint tinha sangue de trasgo. Pelo canto do olho viu a bandeira, que piscava "Potter para Presidente" tremulando sobre as cabe�as dos espectadores. Seu cora��o perdeu um compasso. Ele se sentiu mais corajoso.
� Montem nas vassouras, por favor � Harry subiu na sua Nimbus 2000.
Madame Hooch puxou um silvo forte no seu apito de prata.
Quinze vassouras se ergueram no ar. Fora dada a partida.
� E a goles foi de pronto rebatida por Angelina Johnson de Grifin�ria que �tima artilheira � essa menina, e bonita, tamb�m.
� JORDAN!
� Desculpe professora.
O amigo dos g�meos Weasley, Lino Jordan, estava irradiando a partida, vigiado de perto pela Professora Minerva.
� Ela est� realmente jogando com for�a total, um passe lindo para Alicia Spinnet, um bom achado de Ol�vio Wood, no ano passado ficou no time de reserva, de volta a Johnson e.. N�o, Sonserina tomou a goles, o capit�o de Sonserina rouba a goles e sai correndo. Marcos est� voando como uma �guia l� no alto, ele vai mar.. N�o, foi impedido por uma excelente interven��o do goleiro de Grifin�ria, Ol�vio, e Grifin�ria fica com a goles, no lance a artilheira C�tia Bell de Grifin�ria, d� um belo mergulho em volta de Marcos e sobe pelo campo e... AI, essa deve ter do�do, ela levou um bala�o na nuca, perdeu a goles para Sonserina. Agora Adriano Pucey corre na dire��o do gol, mas � bloqueado por um segundo bala�o arremessado por Fred ou Jorge Weasley, � dif�cil dizer qual dos dois em todo o caso uma boa jogada do batedor de Grifin�ria, e Johnson tem outra vez aposse da goles, o caminho est� livre � sua frente e l� vai ela, realmente voando, desvia-se de um bala�o veloz, as balizas est�o � sua frente... Vamos agora, Angelina... O goleiro Bletchley mergulha, n�o chega a tempo... PONTO PARA GRIFIN�RIA!
A torcida de Grifin�ria enche de berros o ar frio, e a torcida de Sonserina, de lamentos.
� Cheguem para l�, vamos.
� R�beo!
Rony e Hermione se apertaram para abrir espa�o para Hagrid se sentar com eles.
� Estive assistindo da minha casa � disse Hagrid, indicando um grande bin�culo pendurado ao pesco�o. Mas n�o � a mesma coisa que assistir no meio da multid�o. Nem sinal do pomo ainda, n�o �?
� N�o � respondeu Rony. � Harry ainda n�o teve muito que fazer.
� Pelo menos n�o se machucou, j� � alguma coisa � disse Hagrid, levantando o bin�culo e espiando o pontinho que era Harry l� no c�u.
Muito acima deles, Harry sobrevoava o jogo, procurando um sinal do pomo. Isto fazia parte da estrat�gia montada por ele e Ol�vio.
�Fique fora do caminho at� avistar o pomo dissera Ol�vio. N�o queremos que voc� seja atacado sem necessidade�.
Quando Angelina marcou, Harry tinha feito um loops para extravasar a emo��o. Agora voltara a procurar o pomo. Uma vez avistou um lampejo dourado, mas era apenas outro reflexo do rel�gio de um dos g�meos e outra vez um bala�o resolveu disparar em sua dire��o e mais parecia uma bala de canh�o, mas Harry se esquivou e Fred veio atr�s dela.
� Tudo bem ai, Harry? � Ele tivera tempo de gritar ao rebater o bala�o com f�ria na dire��o de Marcos Flint.
� Sonserina de posse da goles � Lino Jordan continua narrando. � O artilheiro Pucey se desvia de dois bala�os, dos dois Weasley, da artilheira Bell e voa para, esperem a�, ser� o pomo?
Correu um murm�rio pelas torcidas quando viram Adriano Pucey deixar cair a goles, ocupado demais em espiar por cima do ombro o lampejo dourado que passara por sua orelha esquerda.
Harry a viu. Tomado de grande agita��o, mergulhou em dire��o ao rastro dourado. O apanhador de Sonserina, Ter�ncio Higgs, vira o pomo tamb�m. Cabe�a a cabe�a, eles se precipitaram em dire��o ao pomo, todos os artilheiros pareciam ter esquecido o que deveriam fazer, pararam no ar, para observar.
Harry foi mais r�pido que Ter�ncio, estava vendo a bolinha redonda, as asas batendo, disparando para o alto, imprimiu mais velocidade...
� Ohhh! � Um rugido de raiva saiu da torcida de Grifin�ria em baixo. Marcos Flint tinha bloqueado Harry de prop�sito e a vassoura de Harry perdeu o rumo, Harry segurou-se para n�o cair.
� Falta! � gritou a torcida de Grifin�ria.
Madame Hooch dirigiu-se aborrecida a Marcos e em seguida deu a Grifin�ria um lance livre diante das balizas. Mas na confus�o, � claro, o pomo de ouro desaparecera de vista outra vez.
Nas arquibancadas, Dino Thomas berrava.
� Fora com ele, ju�za! Cart�o vermelho!
� Isto n�o � futebol, Dino � lembrou Rony � Voc� n�o pode expulsar jogador de campo no Quadribol, e o que � um cart�o vermelho?
Mas Hagrid ficou do lado de Dino.
� Deviam mudar as regras, Marcos podia ter derrubado Harry no ar.
Lino Jordan estava achando dif�cil se manter neutro.
� Ent�o, depois dessa desonestidade �bvia e repugnante.
� Jordan! � ralhou a Professora Minerva.
� Quero dizer, depois dessa falta clara e revoltante.
� Jordan, estou lhe avisando...
� Muito bem, muito bem. Marcos quase matou o apanhador da Grifin�ria, o que pode acontecer com qualquer um, tenho certeza, portanto uma penalidade a favor de Grifin�ria, Spinnet bate, para fora, sem problema, e continuamos o jogo, Grifin�ria ainda com a posse da bola.
Foi quando Harry se desviou de mais um bala�o, que passou com perigoso efeito ao lado de sua cabe�a, que a coisa aconteceu.
Sua vassoura deu uma perigosa e repentina guinada. Por uma fra��o de segundo ele achou que ia cair. Segurou a vassoura com firmeza com as duas m�os e os joelhos. Nunca sentira nada parecido antes.
Aconteceu outra vez. Era como se a vassoura estivesse tentando derrub�-lo. Mas uma Nimbus 2000 n�o decidia de repente derrubar seu cavaleiro. Harry tentou voltar em dire��o �s balizas de Grifin�ria, tencionava avisar Ol�vio para pedir tempo, e ent�o percebeu que a vassoura se descontrolara. N�o conseguia vir�-la. Mas conseguia dirigi-la. Ela ziguezagueava pelo ar e de vez em quando fazia movimentos bruscos que quase o desequilibravam.
Lino ainda comentava.
� Sonserina ainda com a posse, Marcos com a goles, passa por Spinnet, por Bell... Atingido no rosto com for�a por um bala�o, espero que tenha quebrado o nariz, � brincadeira, professora, Sonserina marca. Ah, n�o!
A torcida da Sonserina vibrava. Ningu�m parecia ter notado que a vassoura de Harry estava se comportando de maneira estranha. Carregava-o lentamente cada vez mais alto, afastando-se do jogo, dando guinadas e corcoveando pelo caminho.
� N�o sei o que Harry acha que est� fazendo � resmungou Hagrid. E espiou pelo bin�culo. � Se eu n�o entendesse da coisa, eu diria que perdeu o controle da vassoura... Mas n�o pode ser...
De repente, as pessoas em todas as arquibancadas estavam apontando para Harry no alto. Sua vassoura come�ara a jogar para um lado e para o outro, e ele mal conseguia se segurar. Ent�o a multid�o gritou. A vassoura dera uma guinada violenta e Harry desmontara. Estava agora pendurado, ag�entando-se apenas com uma m�o.
� Ser� que aconteceu alguma coisa � vassoura quando Marcos o bloqueou? � cochichou Simas.
� N�o pode ser � respondeu Hagrid, a voz tr�mula. � Nada pode interferir com uma vassoura a n�o ser uma magia negra muito poderosa, nenhum garoto poderia fazer isso com uma Nimbus 2000.
Ao ouvir isso, Hermione agarrou o bin�culo de Hagrid, mas ao inv�s de olhar para Harry no alto, come�ou a espiar agitad�ssima para a multid�o.
� Que � que voc� est� fazendo? � gemeu Rony, o rosto branco.
� Eu sabia! � exclamou Hermione. � Snape. Olhe.
Rony agarrou o bin�culo, Snape estava no centro das arquibancadas do lado oposto. Tinha os olhos fixos em Harry e movia os l�bios sem parar.
� Ele est� fazendo alguma coisa, ele est� azarando a vassoura. � disse Hermione.
� Que vamos fazer?
� Deixem comigo.
Antes que Rony pudesse dizer mais nada, Hermione desapareceu. Rony tornou a apontar o bin�culo para Harry. A vassoura vibrava com tanta for�a, que era quase imposs�vel Harry se ag�entar por muito mais tempo. A multid�o se levantara, acompanhara com os olhos, aterrorizada, os g�meos Weasley voaram para tentar transferir Harry a salvo para uma de suas vassouras, mas n�o adiantou, toda vez que se aproximavam dele, a vassoura subia mais alto. Mantiveram-se em um n�vel mais baixo fazendo c�rculos sob Harry, obviamente na esperan�a de apar�-lo se ca�sse... Marcos Flint apoderou-se da goles e marcou cinco vezes sem ningu�m reparar.
� Anda logo, Hermione � murmurou Rony desesperado.
Hermione abrira caminho at� a arquibancada onde estava Snape e agora corria pela fileira atr�s dele, nem parou para pedir desculpas quando derrubou o Professor Quirrell de cabe�a na fileira da frente Ao chegar perto de Snape, ela se agachou puxou a varinha e disse algumas palavras bem escolhidas. Chamas vivas e azuladas sa�ram de sua varinha para a barra das vestes de Snape.
Levou talvez uns trinta segundos para Snape perceber que estava em chamas. Um grito s�bito confirmou que Hermione conseguira o seu intento. Recolhendo o fogo num frasquinho que trazia no bolso ela retrocedeu depressa pela mesma fileira. Snape nunca saberia o que acontecera.
Foi o suficiente. No alto, Harry conseguiu de repente voltar a montar a vassoura.
� Neville, pode olhar! � disse Rony. Neville passara os �ltimos cinco minutos solu�ando no casaco de Hagrid.
Harry estava voando r�pido de volta ao ch�o quando a multid�o o viu levar a m�o � boca como se fosse vomitar, ele pousou no campo de gatas, tossiu e uma coisa dourada caiu em sua m�o.
� Apanhei o pomo! � gritou, mostrando-o no alto, e o jogo terminou na mais completa confus�o.
� Ele n�o agarrou o pomo, ele quase o engoliu � continuava a esbravejar Flint vinte minutos depois, mas n�o fez diferen�a, Harry n�o infringira nenhuma regra e Lino Jordan continuava a gritar alegremente o resultado, Grifin�ria ganhara por cento e setenta pontos a sessenta. Harry, por�m n�o ouvia nada disso.
Hagrid lhe preparava no casebre uma x�cara de ch� forte, em companhia de Rony e Hermione.
� Foi Snape � explicou Rony � Hermione e eu vimos. Ele estava azarando a sua vassoura, murmurando, n�o despregava os olhos de voc�.
� Bobagens � disse Hagrid, que n�o ouvira uma �nica palavra do que se passara ao seu lado nas arquibancadas. � Por que Snape faria uma coisa dessas?
Harry, Rony e Hermione se entreolharam, imaginando o que lhe contar Harry decidiu contar a verdade.
� Descobri uma coisa � falou a Hagrid. � Ele tentou passar pelo cachorro de tr�s cabe�as no Dia das Bruxas. Levou uma mordida. Achamos que estava tentando roubar o que o cachorro est� guardando.
Hagrid deixou cair o bule de ch�.
� Como � que voc�s sabem da exist�ncia do Fofo?
� Fofo?
� �... � meu... Comprei-o de um grego que conheci num bar no ano passado. Emprestei-o a Dumbledore para guardar o...
� O qu�? � perguntou Harry ansioso.
� N�o me pergunte mais nada � retrucou Hagrid com impaci�ncia. � � segredo.
� Mas Snape est� tentando roub�-lo.
� Bobagens � repetiu Hagrid. � Snape � professor de Hogwarts, n�o faria uma coisa dessas.
� Ent�o por que ele tentou matar Harry? � perguntou Hermione.
Os acontecimentos daquela tarde sem d�vida tinham mudado a opini�o dela sobre Snape.
� Eu conhe�o uma azara��o quando vejo uma, R�beo, j� li tudo sobre o assunto! A pessoa precisa manter contato visual e Snape nem ao menos piscava, eu vi!
� Estou dizendo que voc�s est�o enganados! � falou Hagrid com veem�ncia. � N�o sei por que a vassoura de Harry estava agindo daquela forma, mas Snape n�o iria tentar matar um aluno! Agora, escutem bem os tr�s: voc�s est�o se metendo em coisas que n�o s�o de sua conta. Isto � perigoso. Esque�am aquele cachorro e esque�am o que ele est� guardando, isto � coisa do Professor Dumbledore com o Nicolau Flamel...
� Ah-ah! � exclamou Harry, � Ent�o tem algu�m chamado Nicolau Flamel metido na jogada, �?
Hagrid parecia furioso consigo mesmo.
CAP�TULO DOZE
O Espelho de Ojesed
O Natal se aproximava. Certa manh� em meados de dezembro, Hogwarts acordou coberta com mais de um metro de neve. O lago congelou e os g�meos Weasley receberam castigo por terem enfeiti�ado v�rias bolas de neve fazendo-as seguir Quirrell aonde ele ia e quicarem na parte de tr�s do seu turbante. As poucas corujas que conseguiam se orientar no c�u tempestuoso para entregar correspond�ncia tinham de ser tratadas por Hagrid para recuperar a sa�de antes de voltarem a voar.
Todos mal ag�entavam esperar as f�rias de Natal. E embora a sala comunal da Grifin�ria e o sal�o principal tivessem grandes fogos nas lareiras, os corredores varridos por correntes de ar tinham se tornado g�lidos e um vento cortante sacudia as janelas das salas de aulas. As piores eram as aulas do Professor Snape nas masmorras, onde a respira��o dos alunos virava uma n�voa diante deles e eles procuravam ficar o mais pr�ximo poss�vel dos seus caldeir�es.
� Tenho tanta pena � disse Draco Malfoy, na aula de Po��es. � dessas pessoas que t�m que passar o Natal em Hogwarts porque a fam�lia n�o as querem casa.
Olhou para Harry ao dizer isso. Crabbe e Goyle miraram Harry, que estava medindo p� de espinha de peixe-le�o, e n�o lhes deu aten��o. Malfoy andava muito mais desagrad�vel do que de costume desde a partida de Quadribol. Aborrecido porque Sonserina perdera, tentara fazer as pessoas rirem dizendo que um sapo iria substituir Harry como apanhador no pr�ximo jogo. Ent�o percebeu que ningu�m achara gra�a, porque estavam todos muito impressionados com a maneira com que Harry conseguira se segurar na vassoura corcoveante. Por isso Draco, invejoso e zangado, voltara a aperrear Harry dizendo que n�o tinha fam�lia como os outros...
Era verdade que Harry n�o ia voltar � Rua dos Alfeneiros para o Natal. A Professora Minerva passara a semana anterior fazendo uma lista dos alunos que iam ficar em Hogwarts no Natal e Harry assinara seu nome na mesma hora. N�o sentia nenhuma pena de si mesmo, provavelmente aquele seria o melhor Natal que j� tivera.
Rony e os irm�os tamb�m iam ficar, porque o Sr. e a Sra. Weasley iam � Rom�nia visitar Carlinhos.
Quando deixaram as masmorras ao final da aula de Po��es, encontraram um grande tronco de pinheiro bloqueando o corredor � frente. Dois p�s enormes que apareciam por baixo do tronco e algu�m bufando alto denunciou a todos que Hagrid estava por tr�s dele.
� Oi, R�beo quer ajuda? � perguntou Rony, metendo a cabe�a por entre os ramos.
� N�o, estou bem, obrigado, Rony.
� Voc� se importaria de sair do caminho? � ouviu-se a voz arrastada e seca de Draco atr�s deles. � Est� tentando ganhar uns trocadinhos, Weasley? Vai ver quer virar guarda-ca�a quando terminar Hogwarts. A cabana de R�beo deve parecer um pal�cio comparada ao que sua fam�lia est� acostumada.
Rony avan�ou para Draco justamente na hora em que Snape subia as escadas.
Rony agarrou a frente das vestes de Draco.
� Ele foi provocado, Professor Snape � explicou Hagrid, deixando aparecer por tr�s da �rvore a cara peluda. � Draco ofendeu a fam�lia dele.
� Seja por que for, brigar � contra o regulamento de Hogwarts, Hagrid � disse Snape insinuante. � Cinco pontos a menos para Grifin�ria, Weasley, e d� gra�as a Deus por n�o ser mais. Agora, vamos andando, todos voc�s.
Draco, Crabbe e Goyle passaram pela �rvore com brutalidade, espalhando folhas para todo lado com sorrisos nos rostos.
� Eu pego ele � prometeu Rony, rilhando os dentes as costas de Draco �, um dia desses, eu pego ele.
� Odeio os dois � disse Harry � Draco e Snape.
� Vamos, �nimo, o Natal est� a� � disse Hagrid � Vou lhes dizer o que vamos fazer, venham comigo ver o sal�o principal, est� lindo.
Ent�o os tr�s acompanharam Hagrid e sua �rvore at� o sal�o principal, onde a Professora Minerva e o Professor Flitwick estavam trabalhando na decora��o para o Natal.
� Ah, Hagrid, a �ltima �rvore, ponha naquele canto ali, por favor.
O sal�o estava espetacular. Fest�es de azevinho e visco pendurados a toda � volta das paredes e nada menos que doze enormes �rvores de Natal estavam dispostas pelo sal�o, umas cintilando com cristais de neve, outras iluminadas por centenas de velas.
� Quantos dias ainda faltam at� as f�rias? � perguntou Hagrid.
� Um � respondeu Hermione � Ah, isso me lembra: Harry, Rony, falta meia hora para o almo�o, dev�amos estar na biblioteca.
� Ih, � mesmo � disse Rony, despregando os olhos do Professor Flitwick, que fazia sair bolhas azuis da ponta da varinha e as levava para cima dos galhos da �rvore que acabara de chegar.
� Biblioteca? � espantou-se Hagrid, acompanhando-os para fora da sala � Na v�spera das f�rias? N�o est�o estudando demais?
� Ah, n�o estamos estudando � respondeu Harry, animado. � Desde que voc� mencionou o Nicolau Flamel estamos tentando descobrir quem ele �.
� Voc�s o qu�? � Hagrid parecia chocado. � Ou�am aqui: j� disse a voc�s, parem com isso. N�o � da sua conta o que o cachorro est� guardando.
� S� queremos saber quem � Nicolau Flamel, s� isso � falou Hermione.
� A n�o ser que voc� queira nos dizer e nos poupar o trabalho? � acrescentou Harry. � J� devemos ter consultado uns cem livros e n�o o encontramos em lugar nenhum. Que tal nos dar uma pista? Sei que j� li o nome dele em algum lugar.
� N�o digo uma palavra � respondeu Hagrid decidido.
� Ent�o vamos ter que descobrir sozinhos � disse Rony, e sa�ram depressa para a biblioteca, deixando Hagrid desapontado.
Andavam realmente procurando o nome de Flamel nos livros desde que Hagrid deixara escap�-lo, porque de que outra maneira iam descobrir o que Snape estava tentando roubar? O problema � que era muito dif�cil saber por onde come�ar, sem saber o que Flamel poderia ter feito para aparecer em um livro. N�o se encontrava em Grandes s�bios do s�culo, nem em Nomes not�veis da m�gica do nosso tempo, n�o era encontr�vel tampouco em Importantes descobertas modernas da mata nem em Um estudo aos avan�os recentes na magia. E, � claro, havia tamb�m o tamanho da biblioteca em si, dezenas de milhares de livros, milhares de prateleiras, centenas de corredores estreitos.
Hermione puxou uma lista de assuntos e t�tulos que decidira pesquisar enquanto Rony se dirigiu a uma carreira de livros e come�ou a tir�-los da prateleira aleatoriamente. Harry vagou at� a Se��o Reservada. Vinha pensando h� algum tempo se Flamel n�o estaria ali. Infelizmente, o estudante precisava de um bilhete assinado por um professor para consultar qualquer livro reservado e ele sabia que nenhum jamais lhe daria o bilhete.
Eram livros que continham poderosa magia negra jamais ensinada em Hogwarts e somente lida por alunos mais velhos que estudavam no curso avan�ado de Defesa Contra a Magia Negra.
� O que � que voc� est� procurando, menino?
� Nada � disse Harry.
Madame Pince, a bibliotec�ria, apontou-lhe um espanador de penas.
� Ent�o � melhor sair daqui. Vamos, fora!
Desejando ter sido um pouco mais r�pido em inventar alguma hist�ria, Harry saiu da biblioteca. Ele, Rony e Hermione j� tinham concordado que era melhor n�o perguntar a Madame Pince onde poderiam encontrar Flamel. Tinham certeza de que ela saberia informar, mas n�o podiam arriscar que Snape ouvisse o que andavam tramando.
Harry esperou do lado de fora no corredor para saber se os outros dois tinham encontrado alguma coisa, mas n�o alimentava muitas esperan�as. Afinal estavam procurando havia quinze dias, mas como s� tinham breves momentos entre as aulas n�o era surpresa que n�o tivessem achado nada. O que realmente precisavam era de uma longa busca sem Madame Pince bafejar o pesco�o deles.
Cinco minutos depois, Rony e Hermione se reuniram a ele balan�ando negativamente a cabe�a. E foram almo�ar.
� Voc�s v�o continuar procurando enquanto eu estiver fora, n�o v�o? � recomendou Hermione. � E me mandem uma coruja se encontrarem alguma coisa.
� E voc� poderia perguntar aos seus pais se sabem quem � Flamel � disse Rony. � N�o haveria perigo em perguntar a eles.
� Nenhum perigo, os dois s�o dentistas.
Uma vez come�adas as f�rias, Rony e Harry estavam se divertindo � be�a para se lembrar de Flamel. Tinham o dormit�rio s� para eles e a sala comunal estava muito mais vazia do que o normal, por isso podiam usar as poltronas confort�veis ao p� da lareira. Sentavam-se a toda hora para comer tudo que pudessem espetar em um garfo de assar: p�o, bolinhos, marshmallows e tramavam maneiras de fazer Draco ser expulso, o que se divertiam em discutir mesmo que n�o fosse produzir resultados.
Rony tamb�m come�ou a ensinar Harry a jogar xadrez de bruxo. Era exatamente igual a xadrez de trouxa exceto que as pe�as eram vivas, o que fazia parecer que a pessoa estava dirigindo tropas em uma batalha. O jogo de Rony era muito velho e gasto como tudo o mais que possu�a, pertencera em tempos a algu�m da fam�lia, no caso, ao seu av�. No entanto, a velhice das pe�as n�o era um empecilho. Rony as conhecia t�o bem que nunca tinha dificuldade de mand�-las fazer o que ele queria.
Harry jogava com pe�as que Simas Finnigan lhe emprestara e estas n�o confiavam nada nele. Ainda n�o era um bom jogador e elas n�o paravam de gritar conselhos variados, o que o confundia:
"N�o me mande para l�, n�o est� vendo o cavalo dele? Mande ele, podemos nos dar ao luxo de perder ele�.
Na noite de Natal, Harry foi para a cama pensando com ansiedade na comida e na divers�o do dia seguinte, mas sem esperar nenhum presente.
Quando acordou cedo na manh� seguinte, por�m, a primeira coisa que viu foi uma pequena pilha de embrulhos ao p� de sua cama.
� Feliz Natal � disse Rony sonolento quando Harry pulou da cama e vestiu o roup�o.
� Para voc� tamb�m � falou Harry. � Olhe s� isso! Ganhei presentes?
� E o que � que voc� esperava, nabos? � respondeu Rony, virando-se para a sua pilha que era bem maior do que a de Harry.
Harry apanhou o pacote de cima. Estava embrulhado em papel pardo grosso e trazia escrito em garranchos: Para o Harry, de Hagrid. Dentro havia uma flauta tosca de madeira. Era �bvio que Hagrid a entalhara pessoalmente. Harry soprou-a, parecia um pouco com um pio de coruja.
Um segundo embrulho, muito pequeno, continha um bilhete.
�Recebemos sua mensagem e estamos enviando o seu presente. Tio V�lter e Tia Pet�nia�.
Presa com fita adesiva na nota havia uma moeda de cinq�enta pence.
� Que simp�tico! � exclamou Harry.
Rony ficou fascinado pela moeda de cinq�enta pence.
� Que esquisito! � disse. � Que formato! Isso � dinheiro?
� Pode ficar com ela � disse Harry rindo-se ao ver a satisfa��o de Rony � R�beo, minha tia e meu tio. E quem mandou esses?
� Acho que sei quem mandou esse � disse Rony, ficando um pouco vermelho e apontando para um embrulho disforme. � Mam�e. Eu disse a ela que voc� n�o estava esperando receber presentes... Ah, n�o... � gemeu �, ela fez para voc� um su�ter Weasley.
Harry rasgou o papel e encontrou um su�ter tricotado com linha grossa verde-clara e uma grande caixa de barras de chocolate feito em casa.
� Todos os anos ela faz para n�s um su�ter � disse Rony, desembrulhando a dele �, e o meu � sempre cor de tijolo.
� Foi realmente muita gentileza dela � disse Harry, experimentando as barrinhas de chocolate, que estavam muito gostosas.
O presente seguinte tamb�m continha doces, uma grande caixa de sapos de chocolate dados por Hermione.
Restava apenas um embrulho. Harry apanhou-o e apalpou-o.
Era muito leve. Desembrulhou e uma coisa sedosa e prateada escorregou para o ch�o onde se acomodou em dobras refulgentes. Rony soltou uma exclama��o:
� J� ouvi falar nisso � disse em voz baixa, deixando cair a caixa de feij�ezinhos de todos os sabores que ganhara de Hermione. � Se isso � o que eu penso que �, � realmente raro e realmente valioso.
� E o que �?
Harry apanhou o pano brilhoso e prateado do ch�o. Tinha uma textura estranha, parecia tecida com fios de �gua.
� � uma capa da invisibilidade � disse Rony, com uma express�o de assombro no tosto. � Tenho certeza de que �. Experimente.
Harry jogou a capa em volta dos ombros e Rony deu um berro.
� �, Sim! Olhe para baixo!
Harry olhou para os p�s, mas eles tinham desaparecido. Correu ent�o para o espelho. N�o deu outra, o espelho refletiu sua imagem, s� a cabe�a suspensa no ar, o corpo completamente invis�vel. Ele cobriu a cabe�a e a imagem desapareceu completamente.
� Tem um cart�o! � disse Rony de repente. � Caiu um cart�o!
Harry tirou a capa e apanhou o cart�o. Escritas numa caligrafia fina e rebuscada que ele nunca vira antes estavam as seguintes palavras:
�Seu pai deixou isto comigo antes de morrer. Est� na hora de devolv�-la a voc�.
Use-a bem.
Um Natal muito Feliz para voc�.
N�o havia assinatura. Harry ficou olhando o cart�o. Rony admirava a capa.
� Eu daria qualquer coisa para ter uma dessas. Qualquer coisa... Que foi?
� Nada. � Harry estava se sentindo muito estranho. Quem mandara a capa? Ser� que pertencera mesmo ao seu pai?
Antes que pudesse dizer ou pensar qualquer outra coisa, a porta do dormit�rio se escancarou e Fred e Jorge Weasley entraram aos pulos. Harry rapidamente deu um sumi�o na capa.
Por ora n�o tinha vontade de compartilh�-la com mais ningu�m.
� Feliz Natal!
� Ei, olhe s�, o Harry ganhou um su�ter Weasley tamb�m!
Fred e Jorge estavam usando su�teres azuis, um com um grande F, o outro com um J.
� Mas o do Harry � melhor do que o nosso � comentou Fred, erguendo o su�ter de Harry � Ela com certeza capricha mais se a pessoa n�o � da fam�lia.
� Por que voc� n�o est� usando o seu? � perguntou Jorge � Vamos, vista logo, eles s�o �timos e quentes.
� Detesto cor de tijolo � lamentou-se Rony, desanimado enquanto vestia o su�ter.
� Pelo menos voc� n�o tem uma letra no seu � comentou Jorge. � Ela deve pensar que voc� n�o esquece o seu nome. Mas n�s n�o somos burros, sabemos que nos chamamos Jorge e Fred.
� Que barulheira � essa?
Percy Weasley meteu a cabe�a para dentro da porta, com um olhar de censura. Era vis�vel que j� desembrulhara metade dos seus presentes porque trazia tamb�m um su�ter grosso pendurado no bra�o, que Fred logo agarrou.
� M de monitor! Vista logo, Percy, todos estamos usando os nossos, at� Harry ganhou um.
� Eu... N�o... Quero � disse Percy com a voz embargada, enquanto os g�meos for�avam o su�ter por sua cabe�a, entortando seus �culos.
� E voc� hoje n�o vai se sentar com os monitores � disse Jorge.
� Natal � uma festa da fam�lia.
E os dois carregaram Percy para fora do quarto, com os bra�os presos dos lados pelo su�ter.
Harry nunca tivera em toda a vida um almo�o de Natal igual �quele. Cem perus gordos assados, montanhas de batatas assadas e cozidas, travessas de salsichas, terrinas de ervilhas passadas na manteiga, molheiras com uva-do-monte em molho espesso e bem temperado e, a pequenos intervalos sobre a mesa, pilhas de bombinhas de bruxo. Essas bombinhas fant�sticas n�o se pareciam nada com as bombinhas fracas dos trouxas que os Dursley em geral compravam, cheias de brinquedinhos de pl�stico e chap�us de papel fino. Harry puxou a ponta de uma bombinha de bruxo com Fred e ela n�o deu apenas um estalinho, ela explodiu com o ru�do de um canh�o e envolveu-os em uma nuvem de fuma�a azul, enquanto caiam de dentro um chap�u de almirante e v�rios camundongos brancos, vivos. Na mesa principal, Dumbledore tinha trocado o chap�u de bruxo por um toucado florido e ria alegremente da piada que o Professor Flitwick acabara de ler para ele.
Pudins de Natal flamejantes seguiram-se ao peru. Percy quase quebrou os dentes em uma foice de prata que estava escondida em sua fatia. Harry observava o rosto de Hagrid ficar cada vez mais vermelho � medida que pedia mais vinho e acabou beijando a bochecha da Professora Minerva, e quase para espanto de Harry, rira e corara, o chap�u de bruxa enviesado na cabe�a.
Quando Harry finalmente saiu da mesa estava levando uma montanha de brinquedos das bombinhas, inclusive uma embalagem de bal�es luminosos e n�o-explosivos, um kit para cultivar capixingui, a planta s�mbolo de Hogwarts, e um jogo de xadrez de bruxo. Os camundongos brancos tinham desaparecido e Harry teve a desagrad�vel sensa��o de que eles iam acabar virando jantar de Natal para Madame Nor-r-ra.
Harry e os Weasley passaram uma tarde muito alegre ocupados em uma furiosa guerra de bolas de neve. Depois, frios, molhados e ofegantes, voltaram para junto da lareira na sala comunal de Grifin�ria, onde Harry estreou o seu novo jogo de xadrez perdendo espetacularmente para Rony. Suspeitou que n�o teria levado uma surra t�o grande se Percy n�o tivesse tentado ajud�-lo tanto.
Depois de lancharem sandu�ches de peru, bolinhos, gelatina e bolo de frutas, todos se sentiram demasiado fartos e sonolentos para fazer outra coisa sen�o sentar e assistir a Percy correr atr�s de Fred e Jorge por toda a torre de Grifin�ria porque eles tinham furtado seu crach� de monitor.
Fora o melhor Natal da vida de Harry. No entanto, no fundinho da cabe�a alguma coisa o incomodara o dia inteiro. Somente quando finalmente se deitou � que teve tempo para pensar nela: a capa invis�vel e a pessoa que a mandara.
Rony, cheio de peru e bolo e sem nenhum mist�rio para perturb�-lo, caiu no sono assim que puxou as cortinas de sua cama de dossel. Harry debru�ou-se pela borda da cama e puxou a capa que escondera ali.
Do seu pai... Aquilo fora do seu pai. Ele deixou o tecido escorregar pelas m�os, mais macio do que seda, leve como o ar.
�Use-a bem�, dissera o cart�o.
Tinha de experiment�-la agora. E saiu da cama e se enrolou na capa. Olhando para as pernas, viu apenas o luar e as sombras Era uma sensa��o muito engra�ada.
�Use-a bem�.
De repente, Harry se sentiu completamente acordado. Toda a Hogwarts se abria para ele com esta capa. Sentiu-se tomado de excita��o em p� ali na escurid�o silenciosa. Podia ir a qualquer lugar com a capa, qualquer lugar, e Filch jamais saberia.
Rony resmungou adormecido. Ser� que Harry devia acord�-lo?
Alguma coisa o deteve, a capa era do seu pai, sentiu que desta vez, a primeira, queria us�-la sozinho.
E saiu sorrateiro do dormit�rio, desceu as escadas, atravessou a sala comunal e passou pelo buraco do retrato.
� Quem est� a�? � perguntou esgani�ada a Mulher Gorda. Harry n�o respondeu. Saiu depressa pelo corredor onde deveria ir? Parou, o cora��o acelerado, e pensou. E ent�o lhe ocorreu. A se��o reservada na biblioteca. Poderia ler o tempo que quisesse, o tempo que precisasse para descobrir quem era Flamel. Foi, ent�o, puxando a capa para bem junto do corpo ao andar.
A biblioteca estava escura como breu e muito estranha. Harry acendeu uma luz para enxergar o caminho entre as fileiras de livros.
A l�mpada parecia que estava flutuando no ar, e embora Harry sentisse que seu bra�o a sustentava, aquela vis�o lhe deu arrepios.
A se��o reservada era bem no fundo da biblioteca. Saltando com cautela a corda que separava esses livros do resto da biblioteca, ele ergueu a l�mpada para ler os t�tulos.
Eles n�o lhe informavam muita coisa. Suas letras descascadas e esmaecidas formavam dizeres em l�nguas que Harry n�o entendia. Alguns sequer tinham titulo. Um livro tinha uma mancha escura que fazia lembrar horrivelmente de sangre. Os p�los na nuca de Harry ficaram em p�. Talvez fosse imagina��o dele, talvez n�o, mas achou que ouvia um sussurro inaud�vel vindo dos livros, como se eles soubessem que havia algu�m ali que n�o deveria estar.
Precisava come�ar por alguma parte. Pousando com cuidado a l�mpada no ch�o, ele procurou na prateleira mais baixa um livro que parecesse interessante. Um grande volume preto e prata chamou sua aten��o. Puxou-o com esfor�o, porque era muito pesado, e equilibrando-o nos joelhos, deixou-o abrir ao acaso.
Um grito agudo de coalhar o sangue cortou o sil�ncio, o livro estava gritando! Harry fechou-o depressa, mas o grito n�o parou, uma nota alta, continua, de furar os t�mpanos. Ele trope�ou para tr�s e derrubou a l�mpada, que se apagou na mesma hora. Em p�nico, ouviu passos que vinham pelo corredor do lado de fora enfiando o livro gritador de qualquer jeito no lugar, ele correu para valer. Passou por Filch quase a porta. Os olhos claros e arregalados de Filch atravessaram-no, Harry escorregou por debaixo dos seus bra�os estendidos e saiu desabalado pelo corredor, os gritos do livro ainda ecoando em seus ouvidos.
Parou subitamente diante de uma alta armadura. Estivera t�o ocupado em fugir da biblioteca que n�o prestara aten��o onde estava indo. Talvez porque estivesse escuro, ele sequer reconheceu onde se encontrava. Havia uma armadura perto das cozinhas, ele sabia, mas ele devia estar uns cinco andares acima.
� O senhor me pediu para eu vir direto ao senhor, professor, se algu�m estivesse perambulando durante a noite e algu�m esteve na biblioteca, na se��o reservada.
Harry sentiu o sangue se esvair do seu rosto. Onde quer que estivesse, Filch devia conhecer um atalho, porque sua voz baixa e untuosa estava se aproximando, e para seu horror, foi Snape quem respondeu:
� A se��o reservada? Bom, eles n�o podem estar longe, vamos apanh�-los.
Harry ficou im�vel no lugar em que estava quando Filch e Snape viraram o canto do corredor � frente. Eles n�o podiam v�-lo, � claro, mas era um corredor estreito e se chegassem mais perto esbarrariam nele, a capa n�o o impedia de ser s�lido.
Recuou o mais silenciosamente que p�de. Havia uma porta entreaberta � sua esquerda. Era sua �nica esperan�a. Esgueirou-se por ela, prendendo a respira��o, tentando n�o empurr�-la e, para seu al�vio, conseguiu entrar no aposento sem que percebessem nada. Eles passaram direto e Harry apoiou-se na parede, respirando profundamente, ouvindo os passos dos dois morrerem a dist�ncia. Fora por pouco, por um triz. Passaram-se alguns segundos at� ele reparar em alguma coisa no aposento em que se escondera.
Parecia uma sala de aula fechada. Os vultos escuros das mesas e cadeiras se amontoavam contra as paredes e havia uma cesta de pap�is virada, mas escorada na parede � sua frente havia uma coisa que n�o parecia pertencer ao lugar, alguma coisa que parecia que algu�m acabara de p�r ali para tir�-la do caminho.
Era um magn�fico espelho, da altura do teto, com uma moldura de talha dourada, aprumado sobre dois p�s em garra. Havia uma inscri��o entalhada no alto: Ojesed stra ebru oy ube cafru oyr on wohsi.
J� livre do p�nico, agora que n�o ouvia sinal de Filch e Snape, Harry aproximou-se do espelho querendo mostrar-se sem ver nenhuma imagem como antes. Adiantou-se para o espelho.
Teve de levar as m�os � boca para n�o gritai, Virou-se. Seu cora��o batia com muito mais f�ria do que quando o livro gritara, porque n�o vira somente a pr�pria imagem no espelho, mas a de uma verdadeira multid�o por tr�s dele.
Mas o quarto estava vazio. Respirando muito depressa, ele se virou lentamente para o espelho.
L� estava ele, refletido, parecendo branco e assustado, e l� estavam, refletidos �s suas costas, pelo menos outras dez pessoas, Harry espiou por cima do ombro, mas continuava a n�o haver ningu�m mais. Ou ser� que eram todos invis�veis tamb�m? Ser� que estava de fato em um aposento cheio de gente invis�vel e o truque desse espelho � que ele refletia tudo, invis�vel ou n�o?
Olhou para o espelho outra vez. Uma mulher parada logo atr�s de sua imagem sorria e lhe acenava. Ele esticou a m�o e sentiu o ar atr�s dele. Se ela estivesse realmente ali, ele a tocaria, pois suas imagens estavam muito pr�ximas, mas ele pegou apenas ar, ela e os outros s� existiam no espelho.
Era uma mulher muito bonita. Tinha cabelos acaju e os olhos... �Os olhos s�o igualzinhos aos meus�, Harry pensou, acercando-se um pouco mais do espelho. �Verde-vivo... Exatamente do mesmo formato�... Mas ent�o reparou que ela estava chorando, sorrindo, mas chorando ao mesmo tempo. O homem alto, magro, de cabelos negros, parado ao lado dela abra�ou-a. Usava �culos e seu cabelo era muito rebelde. Espetava na parte de tr�s, como o de Harry.
Harry estava t�o perto do espelho agora que seu nariz quase encostava em sua imagem.
� Mam�e? � murmurou � Papai?
Eles apenas olharam para ele, sorrindo, e lentamente Harry olhou para os rostos das outras pessoas no espelho e viu outros pares de olhos verdes iguais aos seus, outros narizes como o seu, at� mesmo um velhote que parecia ter os mesmos joelhos ossudos que ele. Harry estava olhando para sua fam�lia, pela primeira vez na vida.
Os Potter sorriram e acenaram para Harry e ele retribuiu o olhar carente, as m�os comprimindo o espelho como se esperasse entrar por dentro dele e alcan��-los. Sentiu uma dor muito forte no peito, em que se misturavam a alegria e uma terr�vel tristeza.
Quanto tempo esteve parado ali, ele n�o sabia. As imagens n�o esmaeceram e ele continuou mirando-as at� que um ru�do distante o trouxe de volta ao presente. N�o podia ficar ali, tinha de encontrar o caminho de volta para a cama. Com esfor�o, desviou os olhos do rosto de sua m�e, sussurrando "Eu volto" e saiu depressa do aposento.
� Voc� podia ter me acordado � falou Rony, aborrecido.
� Voc� pode vir hoje � noite. Vou voltar, quero lhe mostrar o espelho.
� Eu gostaria de ver sua m�e e seu pai � disse Rony, animado.
� E eu quero ver toda a sua fam�lia, todos os Weasley, voc� vai poder me mostrar os seus outros irm�os e todo o mundo.
� Voc� pode v�-los a qualquer hora. E s� vir � minha casa neste ver�o. Em todo o caso, talvez o espelho s� mostre gente morta. Mas � uma pena voc� n�o ter achado o Flamel. Coma um pouco de bacon ou outra coisa qualquer, por que � que voc� n�o est� comendo nada?
Harry n�o conseguia comer. Vira os pais e iria v�-los de novo � noite. Quase se esquecera de Flamel, j� n�o lhe parecia t�o importante. Quem ligava para o que o cachorro de tr�s cabe�as estava guardando? Quem ligava realmente que Snape fosse roubar a coisa?
� Voc� est� bem? � perguntou Rony � Est� com uma cara t�o estranha.
O que Harry mais temia era n�o conseguir encontrar o aposento do espelho outra vez. Com Rony coberto pela capa tamb�m, eles tiveram de andar muito mais devagar na noite seguinte. Tentaram refazer o caminho de Harry ao sair da biblioteca, andando a esmo pelos corredores escuros durante quase uma hora.
� Estou falando � disse Rony, � Vamos esquecer tudo e voltar.
� N�o! � sibilou Harry � Sei que � em algum lugar por aqui.
Passaram pelo fantasma de uma bruxa alta que deslizava na dire��o oposta, mas n�o viram mais ningu�m. Na hora em que Rony come�ou a reclamar que seus p�s estavam dormentes de frio, Harry identificou a armadura.
� � aqui... Logo aqui... �.
Eles empurraram a porta. Harry deixou cair a capa dos ombros e correu para o espelho.
L� estavam eles. Sua m�e e seu pai sorriam ao v�-lo.
� Est� vendo? � Harry cochichou.
� N�o consigo ver nada.
� Olhe! Olhe eles todos... Ali, montes deles...
� S� consigo ver voc�.
� Olhe direito, vamos, fique aqui onde eu estou.
Harry deu um passo para o lado, mas com Rony diante do espelho, n�o conseguiu mais ver sua fam�lia, apenas Rony como seu pijama de l� escocesa.
Rony, por�m, estava mirando a pr�pria imagem, petrificado.
� Olhe s� para mim! � exclamou.
� Voc� est� vendo toda a sua fam�lia � sua volta?
� N�o, estou sozinho, mas estou diferente... Pare�o mais velho, e sou chefe dos monitores.
� O qu�?
� Estou... Estou usando um crach� igual ao do Gui... E estou segurando a ta�a das casas e a ta�a de Quadribol, sou capit�o do time de Quadribol tamb�m!
Rony despregou os olhos dessa vis�o magn�fica para olhar excitado para Harry.
� Voc� acha que esse espelho mostra o futuro?
� Como pode mostrar? A minha fam�lia est� toda morta. Deixe-me dar outra espiada.
� Voc� teve o espelho s� para voc� a noite passada, me deixa olhar mais um pouco.
� Voc� s� est� segurando a ta�a de Quadribol, que interesse tem isso? Eu quero ver os meus pais.
� N�o me empurre...
Um ru�do repentino do lado de fora no corredor p�s-fim � discuss�o dos dois. N�o tinham se dado conta do como estavam falando alto.
� Depressa!
Rony atirou a capa de volta para cobri-los na hora que os olhos luminosos de Madame Nor-r-ra apareceram � porta. Rony e Harry ficaram im�veis, ambos pensando a mesma coisa, ser� que a capa fazia efeito para os gatos? Passado um tempo que pareceu uma eternidade, ela se virou e foi embora.
� Isto � perigoso. Ela pode ter ido buscar o Filch, aposto que nos ouviu. Vamos.
E Rony puxou Harry pata fora do quarto.
A neve ainda n�o derretera na manh� seguinte.
� Quer jogar xadrez, Harry? � convidou Rony.
� N�o.
� Por que n�o descemos para visitar R�beo?
� N�o... Vai voc�...
� Sei o que � que voc� est� pensando, Harry, naquele espelho. N�o volte l� hoje � noite.
� Por que n�o?
� N�o sei, estou com uma intui��o ruim, e de qualquer forma voc� j� escapou por um triz muitas vezes, demais. Filch, Snape e Madame Nor-r-ra est�o andando por l�. E da� se eles n�o conseguem ver voc�? E se esbarrarem em voc�? E se voc� derrubar alguma coisa?
� Voc� est� falando igual a Hermione.
� Estou falando s�rio. Harry, n�o vai n�o.
Mas Harry s� tinha um pensamento na cabe�a, voltar para frente do espelho, e Rony n�o ia det�-lo.
Naquela terceira noite ele encontrou o caminho ainda mais rapidamente do que nas vezes anteriores. Andava t�o depressa que sabia que estava fazendo mais barulho do que seria sensato, mas n�o encontrou ningu�m.
E l� estavam sua m�e e seu pai sorrindo de novo para ele, e um dos seus av�s acenava feliz com a cabe�a. Harry se abaixou para sentar no ch�o diante do espelho. N�o havia nada que pudesse impedi-lo de ficar ali a noite inteira com a fam�lia. Nada.
A n�o ser..
� Ent�o, outra vez aqui, Harry?
Harry sentiu como se suas tripas tivessem congelado. Olhou para tr�s. Sentado em uma das mesas junto � parede estava ningu�m menos que Alvo Dumbledore. Harry devia ter passado direto por ele, t�o desesperado estava para chegar ao espelho, que nem reparara.
� Eu... Eu n�o vi o senhor.
� � estranho como voc� pode ficar m�ope quando est� invis�vel � disse Dumbledore, e Harry sentiu al�vio ao ver que ele sorria.
� Ent�o � continuou Dumbledore, escorregando da cadeira at� o ch�o para se sentar ao lado de Harry � voc�, como centenas antes de voc�, descobriu os prazeres do Espelho de Ojesed.
� Eu n�o sabia que se chamava assim, professor.
� Mas espero que a essa altura voc� j� tenha percebido o que ele faz?
� Bom... Me mostra a minha fam�lia...
� E mostrou o seu amigo Rony como chefe dos monitores.
� Como � que o senhor soube?
� Eu n�o preciso de uma capa para me tornar invis�vel � disse Dumbledore com brandura. � Agora, voc� � capaz de concluir o que � que o Espelho de Ojesed mostra a n�s todos?
Harry sacudiu negativamente a cabe�a.
� Deixe-me explicar. O homem mais feliz do mundo poderia usar o Espelho de Ojesed como um espelho normal, ou seja, ele olharia e se veria exatamente como �. Isso o ajuda a pensar?
Harry pensou. Ent�o respondeu lentamente:
� Ele nos mostra o que desejamos... Seja o que for que desejemos...
� Sim e n�o � disse Dumbledore � Mostra-nos nada mais nem menos do que o desejo mais �ntimo, mais desesperado de nossos cora��es. Voc�, que nunca conheceu sua fam�lia, a v� de p� a sua volta. Ronald Weasley, que sempre teve os irm�os a lhe fazerem sombra, v�-se sozinho, melhor que todos os irm�os. Por�m, o espelho n�o nos d� nem o conhecimento nem a verdade. J� houve homens que definharam diante dele, fascinados pelo que viam, ou enlouqueceram sem saber se o que o espelho mostrava era real ou sequer poss�vel. O espelho vai ser levado para uma nova casa amanh�, Harry, e pe�o que voc� n�o volte a procur�-lo. Se algum dia o encontrar, estar� preparado. N�o faz bem viver sonhando e se esquecer de viver, lembre-se. E agora, por que voc� n�o p�e essa capa admir�vel outra vez e vai dormir?
Harry se levantou.
� Senhor... Professor Dumbledore? Posso lhe perguntar uma coisa?
� Obviamente voc� acabou de me perguntar � sorriu Dumbledore. � Mas pode me perguntar mais uma coisa.
� O que � que o senhor v� quando se olha no espelho?
� Eu? Eu me vejo segurando um par de grossas meias de l�.
Harry arregalou os olhos.
� As meias nunca s�o suficientes. Mais um Natal chegou e passou e n�o ganhei nem um par. As pessoas insistem em me dar livros.
Foi somente quando estava de volta � cama que ocorreu a Harry que talvez Dumbledore n�o tivesse dito a verdade. Mas, pensou, enquanto empurrava Perebas para longe do seu travesseiro, fizera uma pergunta muito pessoal.
CAP�TULO TREZE
Nicolau Flamel
Dumbledore convencera Harry a n�o tornar a procurar o Espelho de Ojesed, e durante o resto das f�rias de Natal a capa da invisibilidade permaneceu guardada no fundo do ba�. Harry gostaria de poder esquecer o que vira no espelho com a mesma facilidade, mas n�o conseguiu. Come�ou a ter pesadelos. Sonhava repetidamente com os pais desaparecendo em um rel�mpago de luz verde enquanto uma voz esgani�ada gargalhava.
� Est� vendo? Dumbledore tinha raz�o, aquele espelho podia deixar voc� maluco � disse Rony, quando Harry lhe contou os sonhos.
Hermione, que voltou um dia antes do per�odo letivo come�ar, viu as coisas de outro modo. Estava dilacerada entre o horror de pensar em Harry fora da cama, perambulando pela escola tr�s noites seguidas ("E se Filch tivesse te apanhado!") e o desapontamento que ele n�o tivesse ao menos descoberto quem era Nicolau Flamel.
Quase perdera as esperan�as de encontrar Flamel em um livro da biblioteca, embora Harry tivesse certeza de que lera o nome em algum lugar. Quando o novo per�odo letivo come�ou, eles voltaram a folhear os livros durante os dez minutos de intervalo entre as aulas. Harry tinha ainda menos tempo do que os outros dois, porque o treino de Quadribol recome�ara.
Ol�vio estava puxando pelo time como nunca fizera antes. At� mesmo as chuvas intermin�veis que substitu�ram as nevadas n�o conseguiam esmorecer a sua anima��o. Os Weasley reclamavam que Ol�vio estava se tornando fan�tico, mas Harry o apoiava. Se ganhassem a pr�xima partida, contra Lufa-Lufa, passariam a frente da Sonserina no campeonato das casas pela primeira vez em sete anos. Al�m do desejo de ganhar, Harry descobriu que tinha menos pesadelos quando voltava exausto dos treinos.
Ent�o, durante um treino particularmente chuvoso e enlameado, Ol�vio deu uma not�cia ruim ao time. Acabara de se enfurecer com os Weasley, que davam mergulhos violentos um sobre o outro e fingiam cair das vassouras.
� Voc�s querem parar de se comportar feito bobos! � berrou. � Isso � o tipo de atitude que vai fazer a gente perder o jogo! Snape vai apitar dessa vez e vai procurar qualquer desculpa para tirar pontos da Grifin�ria!
Jorge Weasley realmente caiu da vassoura ao ouvir isso.
� Snape vai apitar o jogo? � perguntou embolando as palavras com a boca cheia de lama. � Quando foi na vida que ele apitou um jogo de Quadribol? Ele n�o vai ser imparcial se tivermos chance de passar � frente de Sonserina.
O resto do time pousou ao lado de Jorge para reclamar tamb�m.
� A culpa n�o � minha � disse Ol�vio. � N�s � que vamos ter de nos cuidar e jogar uma partida limpa, para n�o dar a Snape desculpa para implicar conosco.
Estava tudo muito bem, pensou Harry, mas ele tinha outra raz�o para n�o querer Snape por perto quando estivesse jogando Quadribol.
Os outros jogadores se demoraram conversando no final do treino como sempre faziam, mas Harry rumou direto para a sala comunal de Grifin�ria, onde encontrou Rony e Hermione jogando xadrez. Xadrez era a �nica coisa em que Hermione perdia, uma experi�ncia que Rony e Harry achavam que lhe fazia muito bem.
� N�o fale comigo agora � pediu Rony quando Harry se sentou ao seu lado. � Preciso me concentrar. � Ai, viu a cara do Harry.
� Que aconteceu com voc�? Est� com uma cara horr�vel.
Falando baixinho para ningu�m mais ouvir, Harry contou aos dois o desejo sinistro e s�bito de Snape de ser juiz de Quadribol.
� N�o jogue � disse Hermione na mesma hora.
� Diga que est� doente � aconselhou Rony.
� Finja que quebrou a perna � sugeriu Hermione.
� Quebre a perna de verdade � insistiu Rony.
� N�o posso � respondeu Harry � N�o temos apanhador de reserva. Se eu fujo, Grifin�ria n�o vai poder jogar.
Naquele momento, Neville entrou aos tombos na sala comunal.
Como conseguira passar pelo buraco do retrato ningu�m sabia, porque tinha as pernas grudadas pelo que eles imediatamente reconheceram ser o Feiti�o da Perna Presa. Devia ter precisado andar aos pulos como um coelho at� a torre de Grifin�ria.
Todo o mundo caiu na gargalhada menos Hermione, que ficou em p� de um salto e fez o contra-feiti�o. As pernas de Neville se separaram e ele se endireitou, tremendo.
� Que aconteceu? � perguntou Hermione, levando-o para se sentar com Harry e Rony.
� Malfoy � disse Neville com a voz tr�mula. � Encontrei-o na sa�da da biblioteca. Ele disse que estava procurando algu�m em quem praticar o feiti�o.
� V� procurar a Professora Minerva! � insistiu Hermione. � D� parte dele!
Neville sacudiu a cabe�a.
� N�o quero mais confus�o � murmurou.
� Voc� tem de enfrent�-lo, Neville! � disse Rony. � Ele est� acostumado a pisar nas pessoas, mas n�o h� raz�o pata voc� se deitar aos p�s dele para facilitar.
� N�o precisa me dizer que n�o sou bastante corajoso para pertencer a Grifin�ria. Draco j� fez isso � disse Neville engasgado.
Harry apalpou o bolso de suas vestes e tirou um sapo de chocolate, o �ltimo da caixa que Hermione lhe dera no Natal. Deu-o a Neville, que estava com cara de quem ia chorar.
� Voc� vale doze Dracos � disse Harry. � O Chap�u Seletor escolheu voc� para Grifin�ria, n�o foi? E onde est� Draco? Naquela Sonserina nojenta.
A boca de Neville se contraiu num sorrisinho enquanto desembrulhava o sapo.
� Obrigado, Harry. Acho que vou para a cama... Voc� quer o cart�o, voc� coleciona, n�o �?
Quando Neville se afastou, Harry olhou para o cart�o de Bruxo Famoso.
� Dumbledore outra vez. Ele foi o primeiro que...
E soltou uma exclama��o. Olhou para o verso do cart�o. Em seguida olhou para Rony e Hermione.
� Encontrei!� murmurou � Encontrei Flamel! Eu disse a voc�s que tinha lido o nome dele em algum lugar. Li-o no trem a caminho daqui. Escutem s� isso:
O Professor Dumbledore � particularmente famoso por ter derrotado Grindelwald, o bruxo das Trevas, em 1945, e ter descoberto os doze usos do sangue de drag�o, e por desenvolver um trabalho de alquimia em parceria com Nicolau Flamel.
Hermione ficou em p� de um salto. N�o parecia t�o animada desde que eles tinham recebido as notas do primeiro dever de casa.
� N�o saiam daqui! � disse e saiu escada acima em dire��o aos dormit�rios das meninas. Harry e Rony mal tiveram tempo de trocar um olhar intrigado e ela j� estava correndo de volta, com um enorme livro velho nos bra�os.
� Nunca pensei em olhar aqui � falou excitada. � Tirei-o da biblioteca h� semanas para me distrair um pouco.
� Distrair? � admirou-se Rony, mas Hermione mandou-o ficar quieto, enquanto procurava alguma coisa e come�ou a folhear as p�ginas do livro, ansiosa, resmungando para si mesma.
Finalmente encontrou o que procurava.
� Eu sabia! Eu sabia!
� J� podemos falar? � perguntou Rony de mau humor.
Hermione n�o lhe deu resposta.
� Nicolau Flamel � sussurrou ela teatralmente � �, ao que se sabe, a �nica pessoa que produziu a Pedra Filosofal.
A frase n�o teve bem o efeito que ela esperava.
� A o qu�? � exclamaram Harry e Rony.
� Ah, francamente, voc�s dois n�o l�em? Olhem, leiam isso aqui.
Ela empurrou o livro para os dois, que leram:
O antigo estudo da alquimia preocupava-se com a produ��o da Pedra Filosofal, uma substancia lend�ria com poderes fant�sticos. A pedra pode transformar qualquer metal em ouro puro. Produz tamb�m o Elixir da Vida, que torna quem o bebe imortal.
Falou-se muito da Pedra Filosofal durante s�culos, mas a �nica Pedra que existe presentemente pertence ao Sr. Nicolau Flamel o famoso alquimista e amante da opera. O Sr. Flamel que comemorou o seu sexcent�simo sexag�simo quinto anivers�rio no ano passado, leva uma vida tranq�ila em Devon, com sua mulher, Perenelle (seiscentos e cinq�enta e oito anos).
� Viram? � disse Hermione, quando Harry e Rony terminaram. � O cachorro deve estar guardando a Pedra Filosofal de Flamel! Aposto que ele pediu a Dumbledore que a guardasse em seguran�a, porque s�o amigos e ele sabia que algu�m andava atr�s dela, esse � o motivo por que Dumbledore quis transferir a pedra de Gringotes.
� Uma pedra que produz ouro e n�o deixa a gente morrer! � exclamou Harry. � N�o admira que Snape ande atr�s dela! Qualquer um andaria.
� E n�o admira que n�o consegu�ssemos encontrar Flamel em Estudos aos avan�os recentes em magia � disse Rony � Ele n�o � bem recente, se j� fez seiscentos e sessenta e cinco anos, n�o � mesmo?
Na manh� seguinte, na sala de Defesa Contra a Magia Negra, enquanto copiavam as diferentes maneiras de tratar mordidas de lobisomem, Harry e Rony continuavam a discutir o que fariam com uma Pedra Filosofal se tivessem uma. Somente quando Rony disse que compraria o pr�prio time de Quadribol foi que Harry se lembrou de Snape e da partida que se aproximava.
� Eu vou jogar � disse a Rony e Hermione. � Se n�o fizer isso, o pessoal de Sonserina vai pensar que tenho medo de encarar Snape. Vou mostrar a eles... Vamos tirar aquele sorriso da cara deles se vencermos.
� Desde que a gente n�o acabe tirando voc� da quadra � disse Hermione.
� medida que a partida se aproximava, por�m, Harry foi ficando cada vez mais nervoso, mesmo que negasse isso para Rony e Hermione. O resto do time tamb�m n�o estava t�o calmo assim. A id�ia de passar � frente de Sonserina no campeonato das casas era maravilhosa, ningu�m fazia isso havia quase sete anos, mas ser� que conseguiriam, com um juiz t�o parcial?
Harry n�o sabia se estava ou n�o imaginando, mas parecia estar sempre encontrando Snape por todo lugar em que ia. �s vezes, ele at� se perguntava se Snape n�o o estava seguindo, tentando apanh�-lo sozinho. As aulas de Po��es estavam se transformando numa esp�cie de tortura semanal. De t�o ruim que Snape era com Harry. Seria poss�vel que Snape tivesse descoberto que os meninos haviam lido sobre a Pedra Filosofal? Harry n�o imaginava como, no entanto, por vezes tinha uma horr�vel sensa��o de que Snape podia ler pensamentos.
Harry sabia que, quando lhe desejassem boa sorte � porta do vesti�rio na tarde seguinte, Rony e Hermione estariam se perguntando se o veriam vivo outra vez. Isto n�o era o que se poderia chamar de consolo. Harry mal ouviu uma palavra da conversa de Ol�vio para animar os jogadores enquanto vestia o uniforme de Quadribol e apanhava sua Nimbus 2000.
Entrementes, Rony e Hermione tinham encontrado um lugar nas arquibancadas junto a Neville, que n�o conseguia entender por que eles estavam t�o s�rios e tampouco por que haviam trazido as varinhas para o jogo. Mal sabia Harry que Rony e Hermione tinham andado praticando secretamente o Feiti�o das Pernas Presas. Tinham tido essa id�ia ao verem Draco us�-lo contra Neville e estavam preparados para us�-lo contra Snape se ele desse o menor sinal de querer machucar Harry.
� Agora n�o esque�a, � Locomotor Mortis � cochichou Hermione enquanto Rony escondia a varinha na manga.
� Eu sei � Rony respondeu com maus modos. � N�o chateia.
Mas no vesti�rio, Ol�vio puxara Harry para um lado.
� N�o quero pression�-lo, Potter, mas se h� um dia em que precisamos agarrar o pomo logo de sa�da � hoje. Termine o jogo antes que Snape possa favorecer Lufa-Lufa demais.
� A escola inteira est� l� fora! � disse Fred Weasley, espiando para fora da porta. � At� mesmo, putz, Dumbledore veio assistir!
O cora��o de Harry deu um salto.
� Dumbledore? � disse, correndo at� a porta para se certificar se Fred tinha raz�o. N�o havia como confundir aquela barba prateada.
Harry poderia ter dado uma grande gargalhada de al�vio. Estava seguro. Simplesmente n�o havia jeito de Snape ousar machuc�-lo se Dumbledore estivesse assistindo.
Talvez fosse por isso que Snape estava com a cara t�o zangada na hora em que os times entraram em campo, uma coisa em que Rony tamb�m reparou.
� Nunca vi Snape com uma cara t�o feia � disse a Hermione.
� Olhe, come�ou. Ai!
Algu�m cutucara Rony na cabe�a. Era Draco.
� Ah, desculpe, Weasley, n�o vi voc� a�. � Draco deu um largo sorriso para Crabbe e Goyle. � Quanto tempo ser� que Potter vai se ag�entar na vassoura desta vez? Algu�m quer apostar? E voc�, Weasley?
Rony n�o respondeu, Snape acabara de achar uma penalidade na Grifin�ria porque Jorge Weasley mandara um bala�o nele.
Hermione, que mantinha todos os dedos cruzados no colo, apertava os olhos fixos em Harry, que circulava sobre os jogadores como um falc�o, � procura do pomo.
� Sabe como eu acho que eles escolhem jogadores para o time da Grifin�ria? � disse Draco bem alto alguns minutos depois, quando Snape aplicou nova penalidade em Grifin�ria sem a menor raz�o. � Escolhem as pessoas que d�o pena. V� s�, o Potter, que n�o tem pais, depois os Weasley, que n�o tem dinheiro. Voc� tamb�m devia estar no time, Longbottom, voc� n�o tem miolos.
Neville ficou muito vermelho, mas se virou para encarar Draco.
� Eu valho doze Dracos, Malfoy � gaguejou ele.
Draco, Crabbe e Goyle rolaram de rir, mas Rony, que continuava sem coragem de despregar os olhos do jogo, disse:
� Isso mesmo, responda a ele, Neville.
� Longbottom, se miolos fossem ouro, voc� seria mais pobre do que Weasley e isso j� � muita coisa.
Os nervos de Rony j� estavam esticados ao m�ximo de tanta preocupa��o como Harry.
� Estou lhe avisando, Draco... Mais uma palavra...
� Rony! � disse Hermione de repente. � Harry!
� Qu�? Onde?
Harry inesperadamente dera um mergulho espetacular, que provocou exclama��es e vivas da torcida. Hermione se levantou, os dedos cruzados na boca, enquanto Harry voava para o ch�o como uma bala.
� Voc� est� com sorte, Weasley, Potter com certeza localizou dinheiro no ch�o! � disse Draco.
Rony reagiu. Antes que Draco soubesse o que estava acontecendo, Rony partiu para cima dele e o derrubou no ch�o.
Neville hesitou, depois pulou o encosto da cadeira para ajudar.
� Vamos, Harry! � Hermione gritou, pulando em cima da cadeira para observar Harry se precipitar na dire��o de Snape, ela nem sequer reparou que Draco e Rony estavam embolados em baixo de sua cadeira, nem nos p�s arrastados e gritos que saiam do redemoinho de socos que era Neville, Crabbe e Goyle.
No alto, Snape virou na vassoura bem em tempo de ver uma coisa vermelha passar veloz por ele, deixando de atingi-lo por cent�metros, e no segundo seguinte, Harry saia do mergulho, o bra�o erguido em triunfo, o pomo seguro na m�o.
As arquibancadas explodiram, tinha que ser um recorde, ningu�m era capaz de lembrar do pomo ter sido agarrado t�o depressa.
� Rony! Rony! Cad� voc�? A partida terminou! Harry ganhou! N�s ganhamos! Grifin�ria est� na frente! � gritava Hermione, dan�ando da cadeira para o ch�o e dali para a cadeira e se abra�ando com Parvati na fileira da frente.
Harry saltou da vassoura antes de chegar ao solo. N�o conseguia acreditar. Agarrara. O jogo terminou, nem chegara a durar cinco minutos. Quando Grifin�ria invadiu o campo, ele viu Snape pousar ali perto, a cara branca e os l�bios contra�dos, depois Harry sentiu uma m�o no seu ombro, ergueu a cabe�a e deparou como rosto sorridente de Dumbledore.
� Muito bem � disse Dumbledore baixinho, de modo que somente Harry pudesse ouvir. � Que bom ver que voc� n�o ficou pensando naquele espelho... Manteve-se ocupado... Excelente...
Snape cuspiu com amargura no ch�o.
Harry deixou o vesti�rio sozinho algum tempo depois, para levar sua Nimbus 2000 de volta � garagem. N�o se lembrava de ter se sentido mais feliz. Realmente fizera agora uma coisa de que poderia se orgulhar, ningu�m poderia mais dizer que ele era apenas um nome famoso. O ar da noite nunca lhe parecera mais gostoso. Caminhou pela grama �mida, revivendo mentalmente a �ltima hora, que era um borr�o de felicidade: Grifin�ria correndo para ergu�-lo nos ombros, Rony e Hermione a dist�ncia, pulando de alegria, Rony dando vivas como nariz escorrendo sangue.
Harry chegara � garagem. Recostou-se na porta de madeira e contemplou Hogwarts, com suas janelas avermelhadas pelo sol poente. Grifin�ria na lideran�a. Ele conseguira, mostrara a Snape...
E por falar em Snape...
Uma figura encapuzada descia rapidamente os degraus de entrada do castelo. Sem d�vida n�o queria ser vista, andava o mais depressa que podia em dire��o � floresta proibida. A vit�ria de Harry se apagou de sua mente enquanto o observava. Reconheceu o andar predador da figura. Snape, escapulindo at� a floresta enquanto todos jantavam, que estava acontecendo?
Harry tornou a montar a Nimbus 2000 e levantou v�o.
Planando silenciosamente sobre o castelo, viu Snape entrar na floresta correndo. Seguiu-o.
As �rvores eram t�o juntas que ele n�o conseguia ver aonde fora Snape. Voou em c�rculos cada vez mais baixos, ro�ando a copa das �rvores at� que ouviu vozes. Planou em dire��o a elas e pousou, sem ru�do, em uma alta b�tula.
Subiu com cuidado em um dos ramos, segurando-se firme na vassoura, tentando espiar por entre as folhas.
Embaixo, na clareira sombria, estava Snape, mas n�o estava sozinho. Quirrell estava com ele. Harry n�o conseguiu distinguir a express�o no seu rosto, mas a gagueira estava pior que nunca.
Harry apurou o ouvido para entender o que conversavam.
� ... N�o sei por que voc� quis se encontrar logo aqui, Severo...
� Ah, quis manter o encontro sigiloso � disse Snape, a voz g�lida. � Afinal os alunos n�o devem saber sobre a Pedra Filosofal.
Harry se curvou para frente. Quirrell balbuciou alguma coisa.
Snape interrompeu-o.
� Voc� j� descobriu como passar por aquela fera do Hagrid?
� M... M... Mas, Severo, eu...
� Voc� n�o quer que eu seja seu inimigo, Quirrell � amea�ou Snape, dando um passo em dire��o a ele.
� N... N... N�o seio que voc�...
� Voc� sabe perfeitamente o que quero dizer.
Uma coruja piou alto e Harry quase caiu da �rvore. Firmou-se em tempo de ouvir Snape dizer:
� ... As suas m�gicas de araque. Estou esperando.
� M... Mas eu n... N... N�o...
� Muito bem � interrompeu-o Snape. � Vamos ter outra conversinha em breve, quando voc� tiver tido tempo de pensar nas coisas e decidir com quem est� a sua lealdade.
E jogando a capa por cima da cabe�a saiu da clareira. Estava quase escuro agora, mas Harry p�de discernir Quirrell, parado muito quieto como se estivesse petrificado.
� Harry, onde � que voc� esteve? � perguntou Hermione com a voz esgani�ada.
� Vencemos! Voc� venceu! N�s vencemos! � gritou Rony, dando palmadas nas costas de Harry � E deixei o olho de Draco roxo e Neville tentou enfrentar Crabbe e Goyle sozinho! Ainda est� desacordado, mas Madame Pomfrey diz que ele vai ficar bom.
� Isso � que � mostrar a Sonserina! Todos est�o esperando voc� na sala comunal, estamos dando uma festa, Fred e Jorge roubaram uns bolos e outras coisinhas nas cozinhas.
� Deixem isso para l� agora � disse Harry, sem f�lego. � Vamos procurar uma sala vazia, esperem ate ouvirem isso...
Ele verificou se Pirra�a n�o estava na sala antes de fechar a porta, depois contou aos amigos o que vira e ouvira.
� Ent�o t�nhamos raz�o, � a Pedra Filosofal e Snape est� tentando obrigar Quirrell a ajud�-lo a roubar. Ele perguntou se o outro sabia como passar por Fofo, e falou alguma coisa sobre as magiquinhas de Quirrell. Imagino que haja outras coisas protegendo a pedra al�m de Fofo, uma por��o de feiti�os, provavelmente, e Quirrell deve ter feito algum contra-feiti�o de que Snape precisa para entrar...
� Voc� quer dizer que a Pedra s� est� segura enquanto Quirrell resistir a Snape? � perguntou Hermione alarmada.
� Ter�a-feira ela ter� desaparecido � disse Rony.
CAP�TULO CATORZE
Norberto, O Drag�o Noruegu�s
Quirrell, no entanto, deve ter sido muito mais corajoso do que eles pensaram. Nas semanas seguintes ele pareceu estar ficando mais p�lido e mais magro, mas n�o parecia ter cedido.
Todas as vezes que os meninos passavam pelo corredor do terceiro andar, Harry, Rony e Hermione encostavam as orelhas na porta para verificar se Fofo continuava a rosnar l� dentro. Snape levava a vida no seu habitual mau humor, o que com certeza significava que a Pedra continuava a salvo. Sempre que Harry passava por Quirrell nesses �ltimos dias dava-lhe um sorriso como a encoraj�-lo, e Rony come�ara a censurar as pessoas que riam da gagueira de Quirrell.
Hermione, no entanto, tinha mais no que pensar do que na Pedra Filosofal Come�ara a programar suas revis�es e a marcar em cores suas anota��es de aula para classific�-las. Harry e Rony n�o teriam se importado com isso, mas ela n�o parava de chate�-los para fazerem o mesmo.
� Hermione, os exames est�o a s�culos de dist�ncia.
� Dez semanas � retorquiu Hermione. � N�o s�o s�culos, � como um segundo para Nicolau Flamel.
� Mas n�s n�o temos seiscentos anos � lembrou-lhe Rony. Em todo o caso, o que � que voc� est� revisando se j� sabe tudo?
� Que � que estou revisando? Voc�s ficaram malucos? Voc�s j� perceberam que precisamos passar nesses exames para chegar ao segundo ano? Eles s�o muito importantes, eu deveria ter come�ado a estudar a um m�s, n�o sei o que deu em mim...
Infelizmente, os professores pareciam estar pensando da mesma maneira que Hermione. Passaram tantos deveres de casa que as f�rias da P�scoa n�o foram t�o divertidas quanto as de Natal. Ficou dif�cil se descontrair com Hermione ao lado, recitando os doze usos do sangue de drag�o ou praticando movimentos com a varinha. Aos gemidos e bocejos, Harry e Rony passaram a maior parte do tempo livre com ela, na biblioteca, tentando dar conta de todos os deveres extras.
� Eu nunca vou me lembrar disso � desabafou Rony uma tarde, largando a pena de escrever na mesa e olhando desejoso pela janela da biblioteca. Era na realidade o primeiro dia bonito que tinham em meses. O c�u estava claro, azul-mios�tis e havia uma expectativa de ver�o no ar.
Harry, que estava procurando o verbete "Ditamno" no livro de Cem ervas e fungos m�gicos, n�o levantou os olhos at� a hora em que ouviu Rony exclamar:
� R�beo! Que � que voc� est� fazendo na biblioteca?
Hagrid veio arrastando os p�s, escondendo alguma coisa �s costas. Parecia muito deslocado com o seu casaco de p�lo de toupeira.
� S� olhando � disse numa voz insegura que imediatamente despertou o interesse deles. � E o que � que voc�s est�o armando? � Ele pareceu repentinamente desconfiado. � N�o continuam procurando o Nicolau Flamel, continuam?
� Ah, j� descobrimos quem ele � h� s�culos � disse Rony para impressionar. � E voc� sabe o que � que aquele cachorro est� guardando, � a Pedra Filo...
� Chhhhi! � Hagrid olhou � sua volta depressa para ver se algu�m estava escutando. � N�o saiam gritando isso por ai, que foi que deu em voc�s?
� Mas, tem umas coisinhas que quer�amos perguntar a voc�. � disse Harry � sobre as outras coisas que est�o protegendo a Pedra al�m do Fofo...
� CHHHHHI! � fez Hagrid de novo. � Escutem, venham me ver mais tarde, n�o estou prometendo que vou lhes dizer nada, vejam bem, mas n�o saiam dando com a l�ngua nos dentes por ai, estudantes n�o devem saber disso. V�o achar que fui eu que contei a voc�s...
� Vemos voc� mais tarde, ent�o � concordou Harry.
Hagrid saiu arrastando os p�s.
� Que � que ele estava escondendo �s costas? � perguntou Hermione pensativa.
� Acham que tinha alguma coisa a ver com a Pedra?
� Vou ver em que se��o ele estava � prontificou-se Rony, que j� estava farto de trabalhar. Voltou um minuto depois com uma bra�ada de livros e largou-os em cima da mesa.
� Drag�es � cochichou � R�beo estava procurando coisas sobre drag�es! Olhem s� estes: Esp�cies de drag�es da Gr�-Bretanha e da Irlanda, Do ovo ao inferno, guia do guardador de drag�es.
� R�beo sempre quis um drag�o, ele me disse isso da primeira vez em que nos vimos � comentou Harry.
� Mas � contra as nossas leis � argumentou Rony. � Criar drag�es foi proibido pela Conven��o dos Bruxos de 1709, todo o mundo sabe disso. � dif�cil evitar que os trouxas reparem em n�s se criarmos drag�es no quintal. Em todo o caso, n�o se pode domesticar drag�es, � perigoso. Voc�s deviam ver as queimaduras que Carlinhos recebeu de drag�es selvagens na Rom�nia.
� Mas n�o tem drag�es selvagens na Gr�-Bretanha? � perguntou Harry.
� Claro que tem � respondeu Rony � Os drag�es verdes galeses e os negros das ilhas H�bridas. O Minist�rio da Magia tem um bocado de trabalho para mant�-los em segredo, posso lhe garantir. O nosso povo vive enfeiti�ando trouxas que os viram, para faz�-los esquecer.
� Ent�o o que ser� que R�beo anda armando? � perguntou Hermione.
Quando eles bateram � porta da cabana do guarda-ca�a uma hora mais tarde, ficaram surpresos de ver que todas as cortinas estavam fechadas. Hagrid perguntou "Quem �?" antes de deix�-los entrar e em seguida fechou depressa a porta assim que eles entraram.
Estava um calor sufocante no interior da cabana. E embora fosse um dia bem quente havia um fogar�u na lareira. Hagrid preparou ch� para os meninos e lhes ofereceu sandu�ches de carne de arminho, que eles recusaram.
� Ent�o, voc�s queriam me perguntar uma coisa?
� Quer�amos � disse Harry. N�o havia sentido em perder tempo com rodeios. � Estivemos pensando se voc� poderia nos dizer o que mais est� protegendo a Pedra Filosofal al�m de Fofo.
Hagrid amarrou a cara.
� Claro que n�o posso dizer. Primeiro, eu mesmo n�o sei. Segundo voc�s j� sabem demais, de modo que eu n�o diria a voc�s se soubesse. Aquela Pedra est� aqui por uma boa raz�o. Quase foi roubada de Gringotes. Suponho que voc�s j� chegaram a essa conclus�o. Fico at� espantado que saibam da exist�ncia de Fofo.
� Ah, vamos R�beo, talvez voc� n�o queira nos dizei, mas voc� sabe tudo o que acontece por aqui � disse Hermione num tom caloroso e lisonjeiro. A barba de Hagrid mexeu e eles perceberam que estava sorrindo. � S� est�vamos querendo saber realmente quem fez o feiti�o de prote��o � continuou Hermione. � Est�vamos querendo saber em quem Dumbledore teria confiado o suficiente para ajud�-lo, al�m de voc�.
O peito de R�beo se estufou ao ouvir essas palavras. Harry e Rony se abriram em sorrisos para Hermione.
� Bom, acho que n�o poderia fazer mal contar isso... Vamos ver.. Ele pediu Fofo emprestado a mim... Depois alguns professores fizeram os feiti�os... A Professora Sprout.. O Professor Flitwick... A Professora Minerva... � ele foi contando nos dedos � o Professor Quirrell... E o pr�prio Dumbledore tamb�m fez alguma coisa, � claro. Um momento esqueci algu�m. Ah, sim, o Professor Snape.
� Snape?
� �, voc�s n�o continuam insistindo naquela id�ia, ou continuam? Olhem, Snape ajudou a proteger a Pedra, n�o est� prestes a roub�-la.
Harry sabia que Rony e Hermione estavam pensando o mesmo que ele. Se Snape fora chamado para proteger a Pedra, devia ter sido f�cil descobrir como os outros professores a tinham protegido. Ele provavelmente sabia de tudo, exceto, ao que parecia, o feiti�o que Quirrell fizera e de que jeito passar por Fofo.
� Voc� � o �nico que sabe como passar pelo Fofo, n�o e, R�beo? � Harry perguntou, ansioso. � E voc� n�o diria a ningu�m, n�o �? Nem mesmo a um dos professores?
� Ningu�m sabe a n�o ser eu e Dumbledore � disse Hagrid orgulhoso.
� Bom, isso j� � alguma coisa � murmurou Harry para os outros. � R�beo, podemos abrir uma janela? Estou assando.
� N�o pode, desculpe Harry � disse Hagrid. Harry notou que ele olhava para o fogo. Harry olhou tamb�m.
� R�beo, o que � isso?
Mas ele j� sabia o que era. Bem no meio do fogo, debaixo da chaleira, havia um enorme ovo negro.
� Ah � respondeu Hagrid, mexendo, nervoso, na barba. � �... Ah...
� Onde foi que voc� arranjou isso, R�beo? � perguntou Rony, abaixando-se para o fogo para olhar o ovo mais de perto. � Isso deve ter-lhe custado uma fortuna.
� Ganhei. A noite passada. Eu estava na vila tomando uns tragos e entrei num joguinho de cartas com um estranho. Acho que ele ficou bem contente de se livrar do ovo, para ser sincero.
� Mas o que � que voc� vai fazer com ele, quando chocar? � perguntou Hermione.
� Bom, andei lendo um pouco � disse Hagrid, tirando um grande livro de baixo do travesseiro. � Apanhei este na biblioteca:
A cria��o de drag�es como prazer e fonte de renda. � meio desatualizado, � claro, mas est� tudo aqui. Mantenha o ovo no fogo porque as m�es sopram fogo em cima deles, sabe, e quando chocar d�-lhe um balde de conhaque misturado com sangue de galinha a cada meia hora. E vejam aqui: como reconhecer os diferentes ovos, e este aqui � um drag�o noruegu�s. S�o raros esses.
Ele parecia muito satisfeito consigo mesmo, mas Hermione n�o.
� R�beo, voc� mora numa cabana de madeira � lembrou-lhe.
Mas Hagrid nem escutou. Estava cantarolando alegremente enquanto ati�ava o fogo.
Ent�o agora tinham mais uma coisa com que se preocupar: o que poderia acontecer a Hagrid se algu�m descobrisse que estava escondendo um drag�o ilegal em sua cabana.
� Como ser� ter uma vida tranq�ila � suspirou Rony, pois noite ap�s noite eles lutavam para dar conta de todos aqueles deveres de casa suplementares que estavam recebendo. Hermione agora come�ava a programar as revis�es de Harry e Rony tamb�m.
Estava deixando os dois malucos.
Ent�o, certo dia ao caf� da manh�, Edwiges trouxe outro bilhete de Hagrid para Harry. Ele escrevera apenas duas palavras.
�Est� furando�.
Rony queria faltar � Herbologia e ir direto � cabana. Hermione nem quis ouvir falar nisso.
� Hermione, quantas vezes na vida vamos ver um drag�o saindo do ovo?
� Temos aulas, vamos nos meter em confus�o, e isso n�o vai ser nada comparado � situa��o de R�beo quando descobrirem o que ele anda fazendo.
� Cala a boca! � cochichou Harry.
Malfoy estava a apenas alguns passos e parou instantaneamente para ouvir. Quanto teria ouvido? Harry n�o gostou nem um pouco da express�o que viu na cara de Malfoy.
Rony e Hermione discutiram todo o tempo a caminho da aula de Herbologia e, no final, Hermione concordou em dar uma corrida � casa de Hagrid com os dois no intervalo da manh�.
Quando a sineta tocou no castelo anunciando o fim da aula, os tr�s largaram as colheres de jardineiro e atravessaram a propriedade correndo em dire��o � orla da floresta. Hagrid cumprimentou-os parecendo vermelho e excitado.
� Est� quase furando. � Conduziu-os para dentro.
O ovo estava em cima da mesa. Tinha fundas rachaduras.
Alguma coisa se mexia dentro dele, fazia um barulhinho engra�ado.
Todos puxaram as cadeiras para junto da mesa e observaram com a respira��o presa.
De repente ouviram um som arranhado e o ovo se abriu. O drag�o-beb� caiu molemente em cima da mesa. N�o era exatamente bonito, Harry achou que parecia um guarda-chuva preto amassado. As asas espinhosas eram enormes em contraste como corpo preto e magro, tinha um focinho longo com narinas largas, tocos de chifres e olhos esbugalhados cor de laranja.
Espirrou. Voaram fagulhas do seu focinho.
� Ele n�o � lindo? � murmurou Hagrid. Esticou a m�o para afagar a cabe�a do drag�o. O bicho tentou morder seus dedos, deixando � mostra presas pontiagudas.
� Deus o aben�oe, olhe, ele conhece a mam�e! � exclamou Hagrid.
� R�beo � perguntou Hermione �, exatamente com que rapidez um drag�o noruegu�s cresce?
Hagrid ia responder quando a cor subitamente desapareceu do seu rosto, ele deu um salto e correu � janela.
� Que foi?
� Algu�m estava espiando pela fresta nas cortinas, um garoto estava correndo de volta para a escola.
Harry se precipitou para a porta e espiou para fora. Mesmo a dist�ncia n�o havia como se enganar.
Malfoy vira o drag�o.
Alguma coisa no sorriso que rondou a cara de Malfoy durante a semana seguinte deixou Harry, Rony e Hermione muito nervosos. Passaram a maior parte do tempo livre na cabana sombria de Hagrid, tentando argumentar com ele.
� Deixe o drag�o ir embora � insistia Harry � Solte ele.
� N�o posso � disse Hagrid. � Ele � muito pequeno. Morreria.
Eles olharam para o drag�o. Aumentara tr�s vezes de comprimento em uma semana. A fuma�a n�o parava de sair de suas narinas. Hagrid n�o estava cumprindo suas tarefas de guarda-ca�a porque o drag�o o mantinha muito ocupado. Havia garrafas vazias de conhaque e penas de galinha por todo o ch�o.
� Decidi cham�-lo de Norberto � anunciou Hagrid, olhando para o drag�o com olhos sonhadores. � Ele realmente sabe quem eu sou, olhem. Norberto! Norberto! Onde est� a mam�e?
� Ele pirou � cochichou Rony na orelha de Harry.
� R�beo � disse Harry em voz alta �, d� mais quinze dias e Norberto vai ficar do tamanho de sua casa. Malfoy pode procurar Dumbledore a qualquer momento.
Hagrid mordeu o l�bio.
� Eu... Eu sei que n�o vou poder ficar com ele para sempre, mas tamb�m n�o posso larg�-lo assim, n�o posso.
Harry de repente virou-se para Rony.
� Carlinhos � falou.
� Voc� tamb�m � respondeu Rony. � Eu sou Rony, est� lembrado?
� N�o, Carlinhos... Seu irm�o, Carlinhos. Na Rom�nia. Estudando drag�es. Poder�amos mandar Norberto para ele. Carlinhos pode cuidar dele e depois devolv�-lo � floresta!
� Brilhante! � exclamou Rony. � Que � que voc� acha R�beo?
E no fim, Hagrid concordou que podiam mandar uma coruja a Carlinhos para consult�-lo.
A semana seguinte se arrastou. A noite de quarta-feira encontrou Hermione e Harry sentados sozinhos na sala comunal, muito depois de todos terem ido se deitar. O rel�gio na parede acabara de bater meia-noite quando o buraco do retrato se abriu de repente. Rony se materializou ao tirar a capa da invisibilidade de Harry. Estivera na cabana de Hagrid, ajudando a alimentar Norberto, agora comendo caixotes de ratos mortos.
� Ele me mordeu! � disse ele mostrando a m�o, que trazia enrolada em um len�o ensang�entado. � N�o vou conseguir segurar a pena de escrever durante uma semana. Vou lhe contar, aquele drag�o � o bicho mais horr�vel que conheci, mas quem ouve R�beo falar pensa que ele � um coelhinho fofo. Quando o drag�o me mordeu, ele ralhou comigo por t�-lo assustado. E quando sai, estava cantando uma can��o de ninar.
Ouviu-se uma batida na janela escura.
� � a Edwiges! � disse Harry, correndo para deix�-la entrar � Deve estar trazendo a resposta de Carlinhos!
Os tr�s juntaram as cabe�as para ler o bilhete.
Caro Rony,
Como vai? Obrigado pela carta, terei prazer em cuidar do drag�o noruegu�s, mas n�o ser� f�cil mand�-lo para mim. Acho que o melhor ser� mand�-lo por alguns amigos que est�o vindo me visitar na pr�xima semana. O problema � que eles n�o podem ser vistos carregando um drag�o ilegal.
Voc� poderia levar o drag�o para a torre mais alta � meia-noite de s�bado? Eles podem se encontrar com voc� l� e lev�-lo enquanto ainda est� escuro.
Mande-me uma resposta o mais breve poss�vel.
Afetuosamente,
Carlinhos.
Eles se entreolharam.
� Temos a capa da invisibilidade � disse Harry � N�o deve ser muito dif�cil. Acho que a capa � bastante grande para cobrir dois de n�s e o Norberto.
O fato de os outros dois concordarem indicava como a semana fora ruim, Qualquer coisa para se livrarem de Norberto e de Malfoy.
Mas houve um imprevisto. Na manh� seguinte, a mordida do drag�o fizera a m�o de Rony inchar, ficando duas vezes o seu tamanho normal. Ele n�o sabia se era seguro procurar Madame Pomfrey, ser� que ela reconheceria uma mordida de drag�o? � tarde, por�m, n�o houve mais jeito. O corte adquirira uma feia cor verde. Dava a impress�o de que as presas de Norberto eram venenosas.
Harry e Hermione correram para a ala do hospital no fim do dia e encontraram Rony acamado numa situa��o horr�vel.
� N�o � s� a minha m�o � cochichou ele � embora ela pare�a que vai cair. Malfoy disse � Madame Pomfrey que queria pedir emprestado um livro meu, para poder vir dar uma boa gargalhada. Ficou amea�ando contar a ela o que realmente me mordera. Eu disse que foi um cachorro, mas acho que ela n�o est� acreditando. Eu n�o devia ter batido nele no jogo de Quadribol, � por isso que ele est� agindo assim.
Harry e Hermione tentaram acalmar Rony.
� Tudo vai terminar � meia-noite de s�bado � disse Hermione, mas isso n�o acalmou Rony nem um pouquinho. Pelo contr�rio, ele se sentou muito empertigado e desatou a suar.
� Meia-noite de s�bado! � disse com a voz rouca � Ah, n�o... Ah, n�o... Acabei de me lembrar, a carta de Carlinhos estava no livro que Malfoy levou, ele vai saber que vamos nos livrar de Norberto.
Harry e Hermione n�o tiveram nem chance de responder. Madame Pomfrey apareceu naquele instante e fez os dois sa�rem, dizendo que Rony precisava dormir.
� Agora � tarde demais para mudarmos de plano. N�o temos mais tempo para mandar outra coruja a Carlinhos e essa pode ser a nossa �nica oportunidade de nos livrarmos de Norberto. Teremos de arriscar. E temos a capa da invisibilidade, Malfoy n�o sabe disso.
Eles encontraram Canino, o c�o de ca�ar javalis, sentado do lado de fora da cabana com a cauda enfaixada, quando foram contar a Hagrid, que abriu a janela para falar com eles.
� N�o vou deixar voc�s entrarem � ofegou. � Norberto est� passando uma fase dif�cil, nada que eu n�o possa cuidar sozinho.
Quando lhe contaram sobre a carta de Carlinhos, seus olhos se encheram de l�grimas, embora isso talvez fosse porque Norberto acabara de mord�-lo na perna.
� Aai! Tudo bem, ele s� mordeu minha bota. Est� brincando, afinal � um bebezinho.
O beb� bateu com o rabo na parede, fazendo as janelas estremecerem. Harry e Hermione voltaram para o castelo achando que o s�bado talvez n�o chegasse bastante r�pido.
Eles teriam sentido pena de Hagrid quando chegou a hora de dizer adeus a Norberto, se n�o estivessem t�o preocupados com o que tinham de fazer. Era uma noite muito escura e anuviada e se atrasaram um pouco para chegar � cabana de Hagrid porque precisaram esperar Pirra�a desimpedir o caminho para o sagu�o de Entrada, onde estivera jogando t�nis contra a parede.
Hagrid aprontara Norberto embalando-o num grande caixote.
� Pus muitos ratos e um pouco de conhaque para a viagem � disse Hagrid com a voz abafada. � E embalei junto o ursinho de pel�cia para o caso de ele se sentir solit�rio.
De dentro do caixote vinha um ru�do de pano rasgado que pareceu a Harry ser o drag�o arrancando a cabe�a do ursinho.
� At� a vista, Norberto! � solu�ou Hagrid, quando Harry e Hermione cobriram o caixote com a capa da invisibilidade e entraram debaixo dela. � Mam�e nunca vai esquecer voc�!
Como foi que conseguiu levar o caixote de volta ao castelo, eles nunca souberam. Aproximava-se a meia-noite e eles subiram com Norberto pela escadaria do sagu�o de entrada e pelos corredores escuros. Mais uma escada, mais outra, nem mesmo um dos atalhos de Harry facilitou muito o transporte.
� Estamos quase l�! � Harry ofegou quando chegaram ao corredor sob a torre mais alta.
Ent�o um movimento brusco � frente deles quase fez com que deixassem cair o caixote. Esquecendo que j� estavam invis�veis, encolheram-se nas sombras, espiando os contornos escuros de duas pessoas que se debatiam a uns tr�s metros. Uma l�mpada se acendeu.
A Professora Minerva, num robe de l� escocesa e rede no cabelo, segurava Malfoy pela orelha.
� Est� detido � gritou. � E s�o vinte pontos a menos para Sonserina. Perambulando no meio da noite, como voc� se atreve...
� A senhora n�o compreende, professora, Harry Potter est� vindo a�, vem trazendo um drag�o.
� Que absurdo! Como voc� se atreve a contar tais mentiras! Vamos, vou conversar com o Professor Snape sobre voc�, Malfoy!
A �ngreme escada em espiral at� o alto da torre pareceu a coisa mais f�cil do mundo depois disto. Somente quando sa�ram para o ar frio da noite foi que se livraram da capa da invisibilidade, felizes de poderem respirar direito outra vez. Hermione dan�ou uma esp�cie de jiga escocesa.
� Malfoy vai ficar detido! Eu seria capaz de cantar.
� N�o cante � aconselhou Harry.
Rindo de Malfoy, eles esperaram, enquanto Norberto se debatia dentro do caixote. Passados uns dez minutos, quatro vassouras surgiram da escurid�o mergulhando em dire��o � torre.
Os amigos de Carlinhos formavam um grupo animado.
Mostraram a Harry e a Hermione os arreios que tinham trazido de modo a poder suspender Norberto entre eles. Todos ajudaram a prender Norberto muito bem nos arreios e ent�o Harry e Hermione apertaram as m�os de todos e lhes agradeceram muito.
Finamente Norberto estava indo... Indo... E finalmente se foi.
Eles desceram a escada espiral sem fazer barulho, os cora��es leves como as m�os, agora que Norberto fora tirado delas. Nada de drag�o, Malfoy detido, o que poderia estragar essa felicidade?
A resposta � sua pergunta estava esperando ao p� da escada.
Quando chegaram ao corredor, a cara de Filch assombrou-os, emergindo da escurid�o.
� Ora, ora, ora � sussurrou �, estamos encrencados.
Tinham deixado a capa da invisibilidade no alto da torre.
CAP�TULO QUINZE
A Floresta Proibida
As coisas n�o poderiam estar piores.
Filch levou-os � sala da Professora Minerva no primeiro andar, onde eles ficaram sentados esperando, sem trocar uma palavra entre si. Hermione tremia. Desculpas, �libis e justificativas fant�sticas substitu�am-se umas as outras na cabe�a de Harry, cada qual mais capenga do que a anterior. Ele n�o conseguia ver como iam se livrar desta encrenca. Estavam encurralados. Como podiam ter sido burros a ponto de se esquecerem da capa? N�o havia nenhuma raz�o no mundo para a Professora Minerva aceitar que estivessem fora da cama, esgueirando-se pela escola a altas horas da noite, e muito menos que estivessem na alta torre de astronomia, que era proibida aos alunos a n�o ser durante as aulas.
Some-se a isso Norberto e a capa da invisibilidade e seria melhor come�arem a fazer as malas.
Harry achou que as coisas n�o poderiam ficar piores. Estava enganado. Quando a Professora Minerva apareceu, vinha trazendo Neville.
� Harry! � exclamou ele, no instante em que viu os outros dois. � Eu estava tentando encontrar voc�s para avisar que ouvi Malfoy dizer que ia pegar voc�s, disse que voc�s tinham um drag...
Harry sacudiu com for�a a cabe�a para fazer Neville calar a boca, mas a Professora Minerva viu. Parecia mais prov�vel que ela cuspisse fogo pelas narinas do que Norberto, ali a olhar os tr�s de cima para baixo.
� Eu jamais teria acreditado que voc�s fossem capazes disso. O Sr. Filch diz que voc�s estavam no alto da torre de astronomia. � uma hora da madrugada. Expliquem-se...
Era a primeira vez que Hermione deixava de responder � uma pergunta de uma professora. Olhava para os sapatos, im�vel como uma est�tua.
� Acho que tenho uma boa id�ia do que anda acontecendo � disse a Professora Minerva. � N�o � preciso ser g�nio para somar dois mais dois. Voc�s contaram a Draco Malfoy uma hist�ria da carochinha sobre um drag�o, tentando tir�-lo da cama e met�-lo em apuros. Eu j� o apanhei. Suponho que achem engra�ado que o Neville tenha ouvido a hist�ria e acreditado nela tamb�m.
Harry surpreendeu o olhar de Neville e tentou lhe dizer, sem falar, que aquilo n�o era verdade, porque Neville tinha uma express�o de espanto e m�goa. Pobre Neville trapalh�o. Harry sabia o que deveria ter-lhe custado tentar encontr�-los no escuro para avisar.
� Estou desapontada � disse a Professora Minerva. � Quatro alunos fora da cama em uma noite! Nunca ouvi falar numa coisa dessas antes! Voc�, Hermione Granger, achei que tinha mais ju�zo. Quanto a voc�, Harry Potter, achei que Grifin�ria significava mais para voc� do que parece. Os tr�s v�o pegar uma deten��o, sim e voc� tamb�m, Neville Longbottom, n�o h� nada que lhe d� o direito de andar pela escola � noite, principalmente nos dias que correm, � muito perigoso, e vou descontar cinq�enta pontos da Grifin�ria.
� Cinq�enta?� Harry ofegou. Perderiam a dianteira, a dianteira que ele conquistara na �ltima partida de Quadribol.
� Cinq�enta pontos de cada um � acrescentou a Professora Minerva, respirando com esfor�o pelo nariz longo e pontudo.
� Professora... Por favor... A senhora n�o pode...
� N�o venha me dizer o que eu posso e o que eu n�o posso, Harry Potter. Agora voltem para a cama, todos voc�s. Nunca senti tanta vergonha de alunos da Grifin�ria antes.
Cento e cinq�enta pontos perdidos. Isto deixava a Grifin�ria em �ltimo lugar. Em uma noite, tinham estragado as chances de Grifin�ria conquistar a ta�a das casas. Harry teve a sensa��o de que o fundo do seu est�mago se soltara. Como iriam poder compensar a perda?
Harry n�o dormiu a noite inteira. Ouviu Neville solu�ar com a cara no travesseiro durante o que lhe pareceram horas. Harry n�o conseguia pensar em nenhuma palavra para consol�-lo. Sabia que Neville, como ele mesmo, estava com medo do amanhecer.
O que aconteceria quando o resto de Grifin�ria descobrisse o que tinham feito?
A princ�pio, os alunos de Grifin�ria que passavam pelas gigantescas ampulhetas que marcavam o placar das casas, no dia seguinte, acharam que tinha havido um engano. Como podiam de repente ter cento e cinq�enta pontos menos do que no dia anterior?
E ent�o a hist�ria come�ou a se espalhar. Harry Potter, o famoso Harry Potter, seu her�i dos jogos de Quadribol, fora o respons�vel pela perda de todos aqueles pontos, ele e mais uns dois panacas do primeiro ano.
Da posi��o de aluno mais popular e admirado na escola, Harry passou a de mais odiado. At� os alunos da Corvinal e Lufa-Lufa se voltaram contra ele, porque todos desejavam h� muito tempo ver a Sonserina perder a Ta�a das Casas. Para todo lado que Harry ia, as pessoas o apontavam e n�o se davam ao trabalho de baixar as vozes para xing�-lo. Os de Sonserina, por outro lado, batiam palmas quando ele passava, assobiavam e davam vivas.
"Obrigado, Potter, ficamos lhe devendo essa!�
Somente Rony continuou do seu lado.
� Eles v�o esquecer dentro de umas semanas. Fred e Jorge j� perderam montes de pontos desde que chegaram aqui e as pessoas continuam a gostar deles.
� Eles nunca perderam cento e cinq�enta pontos de uma tacada, ou perderam? � retrucou Harry, infeliz.
� Bom... N�o � admitiu Rony.
Era um pouco tarde para consertar o estrago, mas Harry jurou nunca mais se meter em coisas que n�o eram de sua conta. Bastava de espiar e espionar. Sentia tanta vergonha que foi procurar Ol�vio para oferecer sua demiss�o do time de Quadribol.
� Se demitir? � trovejou Ol�vio. � Que bem faria isso? Como vamos poder recuperar os pontos se n�o conseguirmos vencer no Quadribol?
Mas at� mesmo o Quadribol perdera a gra�a. O resto do time n�o queria falar com Harry durante os treinos e quando precisavam se referir a ele chamavam-no de "o apanhador".
Hermione e Neville estavam sofrendo tamb�m. N�o estavam apanhando tanto quanto Harry, porque n�o eram t�o conhecidos, mas ningu�m falava com eles, tampouco. Hermione parara de chamar aten��o nas aulas, mantinha a cabe�a baixa e trabalhava em sil�ncio.
Harry quase se alegrava que os exames n�o estivessem muito distantes. Todas as revis�es que precisava fazer o distraiam de sua infelicidade. Ele, Rony e Hermione ficavam sozinhos, trabalhavam at� tarde da noite, tentando lembrar os ingredientes das complicadas po��es, aprender os feiti�os e encantamentos de cor, decorar as datas das descobertas m�gicas e das revoltas dos duendes...
Ent�o, uma semana antes de come�arem os exames, a nova resolu��o de Harry de n�o se meter em nada que n�o fosse de sua conta, foi submetida a um teste inesperado. Ao voltar da biblioteca, sozinho certa tarde, ouviu algu�m choramingando numa sala de aulas mais � frente. Ao se aproximar, ouviu a voz de Quirrell.
� N�o... N�o... Outra vez n�o, por favor..
Parecia que algu�m o estava amea�ando. Harry se aproximou um pouco mais.
� Est� bem... Est� bem � ouviu Quirrell solu�ar.
No segundo seguinte, Quirrell saiu correndo da sala de aulas ajeitando o turbante. Estava p�lido e parecia prestes a chorar E desapareceu de vista, Harry achou que Quirrell nem sequer reparara nele. Esperou at� que o ru�do dos passos de Quirrell desaparecesse e, ent�o, espiou para dentro da sala. Estava vazia, mas havia uma porta entreaberta na outra extremidade. Harry j� ia em dire��o � porta, quando se lembrou de que prometera a si mesmo n�o se meter em nada.
Assim mesmo, teria apostado doze pedras Filosofais que Snape acabara de deixar a sala, e pelo que Harry acabara de ouvir ganhara uma nova agilidade nos passos. Quirrell parecia ter finalmente cedido.
Harry voltou � biblioteca, onde Hermione estava tomando os pontos de astronomia de Rony. Contou-lhes o que ouvira.
� Snape ent�o conseguiu � exclamou Rony, � Se Quirrell contou a ele como quebrar o feiti�o antimagia negra...
� Mas ainda temos Fofo � lembrou Hermione.
� Talvez Snape tenha descoberto como passar pelo cachorro sem perguntar ao R�beo � disse Rony, correndo os olhos pelos milhares de livros que os rodeavam � Aposto como tem um livro por aqui que ensina como se passar por um cachorr�o de tr�s cabe�as. Ent�o, o que vamos fazer Harry?
O brilho de aventura voltava a iluminar os olhos de Rony, mas Hermione respondeu, antes que Harry pudesse faz�-lo.
� Vamos procurar Dumbledore. Isto � o que dever�amos ter feito h� s�culos. Se tentarmos alguma coisa por conta pr�pria, com certeza vamos ser expulsos.
� Mas n�o temos provas � disse Harry. � Quirrell est� apavorado demais para nos apoiar. Snape s� precisa dizer que n�o sabe como foi que o trasgo entrou no Dia das Bruxas e que nem chegou perto do terceiro andar. Em quem voc�s acham que eles v�o acreditar, nele ou em n�s? N�o � bem segredo que n�s o detestamos, Dumbledore vai pensar que inventamos isso para ele ser despedido. Filch n�o nos ajudaria nem que a vida dele dependesse disso, � muito amigo de Snape, e quanto mais alunos forem expulsos, tanto melhor, � o que ele pensa. E n�o se esque�am n�s nem dev�amos saber da Pedra nem de Fofo. O que vai exigir muita explica��o.
Hermione pareceu convencida, mas n�o Rony.
� Se d�ssemos s� uma espiadinha...
� N�o � respondeu Harry decidido �, j� demos muitas espiadinhas.
E, dizendo isso, puxou um mapa de j�piter para perto e come�ou a aprender os nomes das luas.
Na manh� seguinte, Harry Hermione e Neville receberam bilhetes � mesa do caf� da manh�. Diziam a mesma coisa:
�Sua deten��o come�ar� �s vinte e tr�s horas.
Aguardem o Sr. Filch no sagu�o de entrada.
Professora Minerva�.
No furor provocado pela perda de pontos, Harry esquecera que ainda tinham deten��es a cumprir. Esperou que Hermione reclamasse que aquilo representava perder uma noite inteira de revis�es, mas n�o disse uma palavra. Achava, como Harry, que teriam o que tinham merecido.
�s onze horas da noite eles se despediram de Rony na sala comunal e desceram com Neville para o sagu�o de entrada. Filch j� se encontrava l� e tamb�m Malfoy. Harry esquecera que Malfoy pegara uma deten��o tamb�m.
� Sigam-me � disse Filch, acendendo uma lanterna e levando-os para fora.
� Aposto que v�o pensar duas vezes antes de desobedecer novamente ao regulamento da escola, n�o � mesmo? � disse ca�oando � Ah, sim, trabalho pesado e dor s�o os melhores mestres, se querem saber. � uma pena que tenham suspendido os castigos antigos, pendurar o aluno no teto pelos pulsos durante alguns dias, ainda tenho as correntes na minha sala, conservo-as azeitadas para o caso de precisarem. Muito bem, l� vamos n�s, e nem pensem em fugir agora, ser� pior para voc�s se fizerem isso.
Eles caminharam pela propriedade �s escuras. Neville n�o parava de fungar. Harry ficou imaginando qual seria o castigo.
Devia ser alguma coisa realmente horr�vel, ou Filch n�o pareceria t�o contente.
A lua brilhava, mas as nuvens que passavam por ela lan�ava-os na escurid�o. � frente, Harry via as janelas iluminadas da cabana de Hagrid. Ent�o, ouviram um grito distante.
� � voc�, Filch? Ande logo, quero come�ar de uma vez.
O �nimo de Harry melhorou, se eles iam trabalhar com Hagrid ent�o n�o seria t�o ruim. Seu alivio deve ter transparecido no rosto, porque Filch falou:
� Acho que voc� est� pensando que vai se divertir com aquele panaca? Pois pode pensar outra vez, menino. � para a floresta que voc� vai e estarei muito enganado se voltar inteiro.
Ao ouvir isso, Neville deixou escapar um gemido e Malfoy ficou paralisado.
� A floresta? � repetiu e n�o pareceu t�o tranq�ilo como de costume. � N�o podemos entrar l� � noite... Tem todo tipo de coisa l�... Lobisomens, ouvi falar.
Neville agarrou a manga das vestes de Harry e pareceu se engasgar.
� Isto � o que pensa, n�o �? � disse Filch, a voz esgani�ando-se de satisfa��o. � Devia ter pensado nos lobisomens antes de se meterem encrencas, n�o acha?
Hagrid saiu do escuro caminhando em dire��o a eles, com Canino nos calcanhares. Carregava um grande arco e uma aljava com flechas pendurada ao ombro.
� At� que enfim. J� estou esperando h� meia hora. Tudo bem, Harry, Hermione?
� Eu n�o seria t�o simp�tico com eles, Hagrid � disse Filch com frieza � afinal eles est�o aqui para serem castigados.
� E por isso que voc� est� atrasado, n�o �? � disse Hagrid, amarrando a cara. � Andou passando car�o neles, n�o �? Isso n�o e sua fun��o. Voc� fez a sua parte, eu pego daqui para frente.
� Volto ao amanhecer para recolher o que sobrar deles � disse Filch maldoso, deu meia-volta e retornou ao castelo, balan�ando a lanterna na escurid�o.
Malfoy virou-se ent�o para Hagrid.
� N�o vou entrar nessa floresta � disse, e Harry ficou contente de ouvir a nota de p�nico em sua voz.
� Vai, sim, se quiser continuar em Hogwarts � disse Hagrid com ferocidade. � Voc� agiu mal e agora tem de pagar pelo que fez...
� Mas isso � coisa para empregados e n�o para estudantes. Achei que �amos fazer uma c�pia ou outra coisa do g�nero, se meu pai souber que eu estou fazendo isso, ele...
� ... Lhe dir� que em Hogwarts � assim � rosnou Hagrid. � Fazer c�pia! Para que serve? Voc� vai fazer uma coisa �til ou vai sair da escola. E se pensa que seu pai vai preferir que voc� seja expulso, ent�o volte para o castelo e fa�a suas malas. Vamos!
Malfoy n�o se mexeu. Encarou Hagrid furioso e em seguida baixou os olhos.
� Muito bem, ent�o � disse Hagrid � agora prestem aten��o, porque � perigoso o que vamos fazer hoje � noite e n�o quero ningu�m se arriscando. Venham at� aqui comigo.
Ele os conduziu � orla da floresta. Erguendo a lanterna bem alto, apontou para uma trilha serpeante de terra batida que desaparecia por entre �rvores escuras. Uma brisa leve levantou os cabelos dos meninos, quando eles se viraram para a floresta.
� Olhem ali, est�o vendo aquela coisa brilhando no ch�o? Prateada? Aquilo � sangue de unic�rnio. Tem um unic�rnio ali que foi ferido gravemente por alguma coisa. � a segunda vez esta semana. Encontrei um morto na quarta-feira passada. Vamos tentar encontrar o pobrezinho. Talvez a gente precise p�r fim ao sofrimento dele.
� E se a coisa que feriu o unic�rnio nos encontrar primeiro? � perguntou Malfoy, incapaz de conter o medo na voz.
� N�o h� nenhuma criatura viva na floresta que v� machuc�-lo se voc� estiver comigo e com o Canino. E siga a trilha. Muito bem, agora, vamos nos separar em dois grupos e seguir a trilha em dire��es opostas. Tem sangue por toda parte, ele deve estar cambaleando pelo menos desde a noite passada.
� Eu quero Canino � disse Malfoy depressa, olhando para as presas de Canino.
� Muito bem, mas vou-lhe avisando, ele � covarde. Ent�o eu, Harry e Hermione vamos por aqui e Draco, Neville e Canino por ali. Agora, se algum de n�s achar o unic�rnio, disparamos centelhas verdes para o alto, 0K? Peguem as varinhas e comecem a praticar agora, assim. E se algu�m se enrolar, dispare centelhas vermelhas, e vamos todos procur�-lo, ent�o, cuidado. Vamos.
A floresta estava escura e silenciosa. Entrando por ela, chegaram a uma bifurca��o, e Harry, Hermione e Hagrid tomaram o caminho da esquerda enquanto Malfoy, Neville e Canino tomaram o da direita.
Caminharam em sil�ncio, com os olhos no ch�o. Aqui e ali um raio de luar penetrava por entre os galhos e iluminava uma mancha de sangue prateado nas folhas ca�das.
Harry viu que Hagrid parecia muito preocupado.
� � poss�vel um lobisomem estar matando os unic�rnios? � Perguntou.
� N�o com essa rapidez, n�o � f�cil matar um unic�rnio, eles s�o criaturas m�gicas poderosas. Nunca soube de nenhum ter sido ferido antes.
Passaram por um toco de �rvore coberto de musgo. Harry ouviu �gua correndo, devia haver um riacho por perto. Ainda viam manchas de sangue de unic�rnio aqui e ali pela trilha serpeante.
� Voc� est� bem, Hermione? � sussurrou Hagrid � N�o se preocupe, ele n�o pode ter ido longe se est� t�o ferido e ent�o poderemos... PARA TR�S DAQUELA �RVORE!
Hagrid agarrou Harry e Hermione e guindou-os para fora da trilha e para tr�s de um enorme carvalho. Puxou uma flecha e encaixou-a no arco, e ergueu-o, pronto para atirar. Os tr�s apuraram os ouvidos. Alguma coisa deslizava pelas folhas mortas ali perto, parecia uma capa arrastando no ch�o. Hagrid apertava os olhos para enxergar a trilha escura � frente, mas, passados alguns segundos, o ru�do desapareceu.
� Eu sabia � murmurou ele. � Tem alguma coisa aqui que est� fora de lugar.
� Um lobisomem? � sugeriu Harry.
� Isso n�o era um lobisomem e n�o era um unic�rnio, t�o pouco � disse Hagrid s�rio. � Muito bem, me sigam, mas tenham cuidado, agora.
Continuaram a caminhar mais devagar, os ouvidos � escuta do menor ru�do. De repente, alguma coisa na clareira adiante, alguma coisa sem d�vida se mexia.
� Quem est� ai? � chamou Hagrid. � Apare�a. Estou armado! E na clareira apareceu um vulto � era um homem, ou um cavalo? At� a cintura, um homem, com cabelos e barba vermelhos, mas da cintura para baixo era um luzidio cavalo castanho com uma cauda longa e avermelhada. Os queixos de Harry e Hermione ca�ram.
� Ah! � voc�, Ronan � exclamou Hagrid aliviado. � Como vai?
Ele se adiantou e apertou a m�o do centauro.
� Boa noite para voc�, Hagrid � disse Ronan. Tinha uma voz grave e triste. � Voc� ia atirar em mim?
� Cautela nunca � demais, Ronan � disse Hagrid, dando uma palmadinha no arco. � Tem alguma coisa � solta nesta floresta. Ah, sim, estes s�o Harry Potter e Hermione Granger. Alunos l� da escola. E este � Ronan. � um centauro.
� J� percebi � disse Hermione coma voz fraca.
� Boa noite � cumprimentou Ronan � S�o alunos, �? E aprendem muita coisa na escola?
� Hum.
� Um pouquinho � respondeu Hermione t�mida.
� Um pouquinho. Bom, j� � alguma coisa � suspirou Ronan.
Depois, jogou a cabe�a para tr�s e contemplou o c�u.
� Marte est� brilhante hoje.
� � � disse Hagrid, mirando o c�u tamb�m. � Olhe, foi bom termos nos encontrado, Ronan, porque tem um unic�rnio ferido. Voc� viu alguma coisa?
Ronan n�o respondeu imediatamente. Continuou a olhar para o alto sem piscar e ent�o suspirou outra vez.
� Os inocentes s�o sempre as primeiras vitimas. Foi assim no passado, � assim agora.
� �, mas voc� viu alguma coisa, Ronan? Alguma coisa anormal?
� Marte est� brilhante hoje � repetiu Ronan enquanto Hagrid o observava impaciente. � Um brilho anormal.
� Sim, mas estou me referindo a alguma coisa mais perto da terra. Voc� n�o notou nada estranho?
Mais uma vez, Ronan levou algum tempo para responder. Por fim disse:
� A floresta esconde muitos segredos.
Um movimento nas �rvores atr�s de Ronan fez Hagrid erguer o arco outra vez, mas era apenas um segundo centauro, de cabelos e corpo negros e de aspecto mais selvagem do que Ronan.
� Ol�, Agouro � cumprimentou Hagrid. � Tudo bem?
� Boa noite, Hagrid, voc� vai bem, espero.
� Bastante bem. Olhe, eu estava mesmo perguntando a Ronan, voc� viu alguma coisa estranha por aqui ultimamente? � que um unic�rnio foi ferido. Voc� sabe alguma coisa?
Agouro foi se postar ao lado de Ronan. Olhou para o c�u.
� Marte est� brilhante hoje � disse simplesmente.
� J� sabemos � respondeu Hagrid agastado. � Bom, se um de voc�s vir alguma coisa, me avise, por favor. Vamos indo, ent�o.
Harry e Hermione sa�ram com ele da clareira, espiando Ronan e Agouro por cima dos ombros at� as �rvores tamparem sua vis�o.
� Nunca � disse Hagrid irritado � tentem obter uma resposta direta de um centauro. Vivem contemplando as estrelas. N�o est�o interessados em nada que esteja mais perto do que a lua.
� E t�m muitos deles aqui? � perguntou Hermione.
� Ah, um bom numero... Vivem isolados na maior parte do tempo, mas tem a bondade de aparecer quando preciso dar uma palavrinha. S�o inteligentes, veja bem, os centauros... Sabem das coisas... S� n�o falam muito.
� Voc� acha que foi um centauro que ouvimos antes? � disse Harry..
� Voc� achou que era barulho de cascos? N�o, se quer saber, aquilo � o que anda matando os unic�rnios. Nunca ouvi nada parecido antes.
E continuaram a caminhar pela floresta densa e escura. Harry n�o parava de espiar, nervoso, por cima do ombro. Tinha a sensa��o ruim de que algu�m os observava. Estava contente que tivessem Hagrid e seu arco com eles. Acabavam de passar uma curva na trilha quando Hermione agarrou o bra�o de Hagrid.
� R�beo! Olhe! centelhas vermelhas, os outros est�o em apuros!
� Voc�s dois esperem aqui! � gritou Hagrid � Fiquem na trilha, volto para apanh�-los!
Eles o ouviram romper o mato e ficaram parados se entreolhando, muito assustados, at� n�o conseguirem ouvir mais nada a volta exceto o farfalhar das �rvores.
� Voc� acha que eles est�o machucados? � sussurrou Hermione.
� N�o me importo com Malfoy, mas se alguma coisa pegou Neville... � culpa nossa que ele esteja aqui.
Os minutos se arrastaram. Seus ouvidos pareciam mais agu�ados do que o normal. Harry parecia estar registrando cada suspiro do vento, cada graveto que quebrava. O que estava acontecendo? Onde estavam os outros?
Finalmente, um grande barulho de mato pisado anunciou a volta de Hagrid. Malfoy, Neville e Canino o acompanhavam.
Hagrid vinha danado da vida. Malfoy, ao que parecia, se atrasara e agarrara Neville por tr�s para lhe dar um susto Neville se assustara e mandara o sinal.
� Teremos sorte se apanharmos alguma coisa agora, com a barulheira que voc�s aprontaram. Muito bem, vamos trocar os grupos: Neville, voc� e Hermione ficam comigo, Harry, voc� com o Canino e esse idiota. Sinto muito � acrescentou Hagrid para Harry num cochicho � mas vai ser mais dif�cil ele assustar voc� e precisamos acabar o nosso servi�o.
Ent�o Harry entrou pelo cora��o da floresta com Malfoy e Canino. Andaram quase meia hora, embrenhando-se cada vez mais, at� que a trilha se tornou impratic�vel porque as �rvores cresciam demasiado juntas. Havia salpicos nas ra�zes de uma �rvore, como se o pobre bicho tivesse se debatido de dor por ali.
Harry viu uma clareira adiante, atrav�s dos galhos emaranhados de um velho carvalho.
� Olhe... � murmurou, erguendo o bra�o para deter Malfoy.
Alguma coisa muito branca brilhava no ch�o. Eles se aproximaram aos poucos.
Era o unic�rnio, sim, e estava morto. Harry nunca vira nada t�o bonito nem t�o triste. As pernas longas e finas estavam esticadas em �ngulos estranhos onde ele ca�ra e sua crina espalhava-se nacarada sobre as folhas escuras.
Harry dera um passo � frente, mas um som de algo que deslizava o fez congelar onde estava. Uma moita na orla da clareira estremeceu... Ent�o, do meio das sombras saiu um vulto encapuzado que se arrastava de gatas pelo ch�o como uma fera � ca�a. Harry, Malfoy e Canino ficaram paralisados. O vulto encapuzado aproximou-se do unic�rnio, abaixou a cabe�a sobre ferimento no flanco do animal e come�ou a beber o seu sangue.
� AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!
Malfoy soltou um grito terr�vel e fugiu, seguido por Canino. A figura encapuzada ergueu a cabe�a e olhou diretamente para Harry. O sangue do unic�rnio escorrendo pelo peito. Ficou de p� e avan�ou r�pido para Harry, que n�o conseguiu se mexer de medo.
Ent�o uma dor, como ele nunca sentira antes, varou sua cabe�a, como se a sua cicatriz estivesse em fogo, meio cego, ele recuou cambaleando. Ouviu cascos as suas costas, galopando, e a� alguma coisa saltou por cima dele, e atacou o vulto.
A dor na cabe�a de Harry foi t�o forte que ele caiu de joelhos.
Levou uns dois minutos para passar. Quando ergueu os olhos, o vulto desaparecera. Um centauro avultava-se sobre ele, mas n�o era Ronan nem Agouro, este parecia mais novo, tinha cabelos louros prateados e o corpo baio.
� Voc� est� bem? � perguntou o centauro, ajudando Harry a se levantar.
� Estou, obrigado, o que foi aquilo?
O centauro n�o respondeu. Tinha espantosos olhos azuis, como safiras muito claras. Mirou Harry com aten��o, demorando o olhar na cicatriz que se sobressaia, l�vida, em sua testa.
� Voc� � o menino Potter. � melhor voltar para a companhia de Hagrid. A floresta n�o � segura � estas horas, principalmente para voc�. Sabe montar? Ser� mais r�pido. Meu nome � Firenze � acrescentou ao dobrar as patas dianteiras para Harry poder subir no seu lombo.
Ouviram repentinamente o ru�do de galopes vindo do outro lado da clareira. Ronan e Agouro irromperam do meio das �rvores, os flancos arfantes e suados.
� Firenze! � Agouro trovejou. � O que � que voc� est� fazendo? Est� carregando um humano! N�o tem vergonha? Voc� � uma mula?
� Voc� sabe quem ele �? � retrucou Firenze � � o menino Potter. Quanto mais r�pido ele sair da floresta, melhor.
� O que � que voc� andou contando a ele? � rosnou Agouro. � Lembre-se, Firenze, juramos nunca nos indispor com os c�us. Voc� n�o leu o que vai acontecer nos movimentos dos planetas?
Ronan pateou o ch�o, nervoso.
� Tenho certeza de que Firenze achou que estava fazendo o melhor � falou em tom sombrio.
Agouro escoiceou com raiva.
� Fazendo o melhor! O que tem isso a ver conosco? Os centauros se preocupam com o que foi previsto! N�o � nossa fun��o ficar correndo por a� como jumentos recolhendo humanos perdidos na nossa floresta!
Firenze de repente empinou-se nas patas traseiras com raiva, de modo que Harry teve de se agarrar nos seus ombros para n�o cair.
� Voc� n�o viu o unic�rnio! � Firenze berrou para Agouro. � Voc� n�o percebe por que foi morto? Ou ser� que os planetas n�o lhe contaram esse segredo? Tomei posi��o contra o que est� rondando a floresta, Agouro, tomei, sim, ao lado dos humanos se for preciso.
E Firenze virou-se depressa para partir, com Harry agarrando-se o melhor que podia, eles mergulharam entre as �rvores, deixando Ronan e Agouro para tr�s.
E Harry n�o fazia a menor id�ia do que estava acontecendo.
� Por que Agouro est� t�o zangado? � perguntou. � O que era aquela coisa de que voc� me livrou?
Firenze abrandou a marcha, alertou Harry para manter a cabe�a abaixada a fim de evitar os galhos baixos, mas n�o respondeu � pergunta. Continuaram por entre as �rvores em sil�ncio por tanto tempo que Harry achou que Firenze n�o queria mais falar com ele.
Estavam passando por um trecho particularmente denso da floresta, quando Firenze parou de repente.
� Harry Potter, voc� sabe para que se usa o sangue de unic�rnio?
� N�o � disse Harry surpreendido pela estranha pergunta. � S� usamos o chifre e a cauda na aula de Po��es.
� Porque � uma coisa monstruosa matar um unic�rnio. S� algu�m que n�o tem nada a perder e tudo a ganhar cometeria um crime desses. O sangue do unic�rnio mant�m a pessoa viva, mesmo quando ela est� � beira da morte, mas a um pre�o terr�vel. Ela matou algo puro e indefeso para se salvar e s� ter� uma semivida, uma vida amaldi�oada, do momento que o sangue lhe tocar os l�bios.
Harry ficou olhando para a nuca de Firenze, que estava prateada de luar.
� Mas quem estaria t�o desesperado? � pensou em voz alta � Se a pessoa vai ser amaldi�oada para sempre, � prefer�vel morrer, n�o �?
� � � concordou Firenze �, a n�o ser que ela precise se manter viva o tempo suficiente para beber outra coisa, algo que vai lhe devolver a for�a e o poder totais, algo que significa que jamais poder� morrer. Sr. Potter, o senhor sabe o que � que est� escondido na sua escola neste momento?
� A Pedra Filosofal! � claro, o elixir da vida! Mas n�o percebo quem...
� N�o consegue pensar em ningu�m que tenha esperado muitos anos para retomar o poder, que se apegou � vida, esperando uma chance?
Foi como se uma m�o de ferro de repente apertasse o cora��o de Harry. Acima do farfalhar das �rvores, ele parecia ouvir mais uma vez o que Hagrid lhe contara na noite que se conheceram:
"Uns dizem que ele morreu. Bobagem, na minha opini�o. N�o sei se ele ainda teria bastante humanidade para morrer".
� Voc� est� dizendo � Harry falou rouco � que aquele era o Vol..
� Harry! Harry, voc� est� bem?
Hermione vinha correndo ao encontro deles pela trilha, Hagrid a acompanhava arfando.
� Estou bem � disse Harry, sem nem saber o que estava dizendo. � O unic�rnio morreu, R�beo, est� naquela clareira l� atr�s.
� � aqui que eu o deixo � murmurou Firenze enquanto Hagrid corria para examinar o unic�rnio. � Est� seguro agora.
Harry escorregou de suas costas.
� Boa sorte, Harry Potter � disse Firenze. � Os planetas j� foram mal interpretados antes, at� mesmo pelos centauros. Espero que seja o que est� ocorrendo agora.
Virou-se e entrou a trote pela floresta, deixando para tr�s um Harry cheio de tremores.
Rony adormecera no sal�o comunal �s escuras, esperando os amigos voltarem. Gritou alguma coisa sobre faltas no Quadribol, quando Harry o sacudiu com for�a para acord�-lo. Em quest�o de segundos, por�m, seus olhos se arregalaram quando Harry come�ou a contar a ele e a Hermione o que acontecera na floresta.
Harry nem conseguia se sentar. Andava para cima e para baixo na frente da lareira. Continuava a tremer.
Snape quer a pedra para Voldemort... E Voldemort est� esperando na floresta... E todo esse tempo pensamos que Snape s� queria ficar rico.
� Pare de repetir esse nome! � disse Rony num sussurro de terror como se Voldemort pudesse ouvi-los.
Harry nem o escutou.
� Firenze me salvou, mas n�o devia ter feito isso. Agouro ficou furioso... Falou de interfer�ncia naquilo que os planetas anunciaram que ia acontecer. Eles devem estar indicando que Voldemort vai voltar. Agouro acha que Firenze devia ter deixado Voldemort me matar. Imagino que isso tamb�m esteja escrito nas estrelas.
� Quer parar de dizer esse nome!� sibilou Rony.
� Portanto s� preciso esperar que Snape roube a pedra � continuou Harry febril �, ent�o Voldemort vai poder voltar e acabar comigo. Bem, quem sabe Agouro vai ficar feliz.
Hermione parecia muito assustada, mas teve uma palavra de consolo.
� Harry, todo mundo diz que Dumbledore � a �nica pessoa de quem Voc�-Sabe-Quem j� teve medo. Com Dumbledore por perto Voc�-Sabe-Quem n�o vai tocar em voc�. Em todo o caso, quem disse que os centauros tem raz�o? Isso est� me parecendo adivinha��o, e a Professora Minerva diz que adivinhar o futuro � um ramo muito inexato da magia.
O c�u havia clareado antes de terminarem de conversar. Foram se deitar exaustos, com as gargantas ardendo. Mas as surpresas da noite n�o tinham terminado.
Quando Harry puxou os len��is da cama, encontrou a capa da invisibilidade cuidadosamente dobrada sobre o forro. Tinha um bilhete espetado nela: �Por via das d�vidas�.
CAP�TULO DEZESSEIS
No Al�ap�o
No futuro, Harry nunca conseguiria lembrar muito bem como conseguiu prestar seus exames enquanto esperava Voldemort irromper a qualquer instante pela porta. Contudo os dias foram se passando lentamente e n�o havia duvidas de que Fofo continuava vivo e bem seguro atr�s da porta trancada.
Fazia um calor de rachar, principalmente na sala das provas escritas. Os alunos tinham recebido penas novas e especiais para faz�-las, previamente encantadas com um feiti�o anticola.
Houve exames pr�ticos tamb�m. O Professor Flitwick os chamou � sala de aula, um a um, para verificar se conseguiam fazer um abacaxi sapatear na mesa. A Professora Minerva observou-os transformarem um camundongo em uma caixa de rap� e conferiu pontos pela beleza da caixa, e os descontou quando a caixa tinha bigodes. Snape deixou-os nervosos, bafejando em seu pesco�o enquanto tentavam se lembrar como fazer a po��o do esquecimento.
Harry fez o melhor que p�de, tentando ignorar as dores lacinantes que sentia na testa e que o incomodavam desde a ida a floresta. Neville achou que Harry estava com uma crise de nervos provocada pelos exames, porque Harry n�o conseguia dormir, mas a verdade � que seu antigo pesadelo o mantinha acordado, s� que agora estava pior que nunca, pois havia nele uma figura encapuzada que pingava sangue.
Talvez fosse porque eles n�o tinham visto o que Harry vira na floresta, ou porque n�o tinham cicatrizes que queimavam na testa, mas Rony e Hermione n�o pareciam t�o preocupados com a Pedra quanto Harry. A lembran�a de Voldemort sem d�vida os apavorava, mas n�o os visitava em sonhos, e estavam t�o ocupados com as revis�es que n�o tinham muito tempo para pensar no que Snape ou qualquer outro podia estar aprontando.
O �ltimo exame foi de Hist�ria da Magia. Uma hora respondendo a perguntas sobre velhos bruxos gag�s que inventaram caldeir�es automex�veis e estariam livres, livres por uma semana maravilhosa at� saberem os resultados dos exames.
Quando o fantasma do Professor Binns mandou-os descansar as penas e enrolar os pergaminhos, Harry n�o p�de deixar de dar vivas com os colegas.
� Foi muito mais f�cil do que pensei � comentou Hermione, quando eles se reuniram aos numerosos alunos que sa�am para os jardins ensolarados. � Eu nem precisava ter aprendido o C�digo de Conduta do lobisomem de 1637 nem a revolta de Elfric, o Ambicioso.
Hermione sempre gostava de repassar as provas depois, mas Rony disse que isso o fazia se sentir mal. Assim, caminharam ate o lago e se sentaram � sombra de uma �rvore. Os g�meos Weasley e Lino Jordan faziam c�cegas nos tent�culos de uma lula gigantes, que tomava sol na �gua mais rasa.
� Acabaram-se as revis�es � suspirou Rony, contente, esticando-se na grama. � Voc� podia fazer uma cara mais alegre, Harry, temos uma semana inteira at� descobrir se nos demos mal, n�o precisa se preocupar agora.
Harry esfregava a testa.
� Eu gostaria de saber o que significa isso! � explodiu aborrecido. � Minha cicatriz n�o para de doer, j� senti isso antes, mas nunca com tanta freq��ncia.
� Procure Madame Pomfrey � sugeriu Hermione.
� Eu n�o estou doente � respondeu Harry. � Acho que � um aviso... Significa que o perigo est� se aproximando...
Rony n�o conseguiu se preocupar estava quente demais.
� Harry, relaxe. Hermione tem raz�o, a Pedra est� segura enquanto Dumbledore estiver por aqui. Em todo o caso, nunca encontramos nenhuma prova de que Snape tenha descoberto como passar por Fofo. Ele quase teve a perna arrancada uma vez, n�o vai tentar outra t�o cedo. E Neville vai jogar Quadribol na equipe da Inglaterra antes que Hagrid traia Dumbledore.
Harry concordou, mas n�o conseguiu se livrar da sensa��o que o atormentava de que esquecera de fazer alguma coisa, algo importante. Quando tentou explicar o que sentia, Hermione disse:
� Isso s�o os exames. Acordei a noite passada e j� tinha lido metade dos meus apontamentos sobre Transfigura��o quando me lembrei que j� t�nhamos feito a prova.
Harry tinha certeza de que a sensa��o de inquietude n�o tinha nada a ver com os estudos. Acompanhou com os olhos uma coruja planar pelo c�u azul em dire��o � escola, uma carta no bico.
Hagrid era o �nico que lhe mandava cartas. Hagrid jamais trairia Dumbledore. Hagrid jamais contaria a ningu�m como passar por Fofo... Jamais... Mas...
Harry p�s-se de p� de um salto.
� Onde � que voc� est� indo? � perguntou Rony sonolento.
� Acabei de me lembrar de uma coisa. � Estava branco � Temos que ver R�beo agora.
� Por qu�? � ofegou Hermione, correndo para alcan��-lo.
� Voc�s n�o acham um pouco estranho � disse Harry, subindo, �s carreiras, a encosta gramada � que o que R�beo mais quer na vida � um drag�o, e aparece um estranho que por acaso tem ovos de drag�o no bolso, quando isso � contra as leis dos bruxos? Que sorte encontrar R�beo, n�o acham? Por que n�o percebi isto antes.
� Do que � que voc� est� falando? � perguntou Rony, mas Harry correndo pelos jardins em dire��o � floresta, n�o respondeu.
Hagrid estava sentado em um cadeir�o na frente da casa: tinha as pernas das cal�as e as mangas enroladas e descascava ervilhas em uma grande tigela.
� Ol� � disse, sorrindo � Terminaram os exames? T�m tempo para um refresco?
� Temos, obrigado � disse Rony, mas Harry o interrompeu.
� N�o, estamos com pressa, R�beo, preciso lhe perguntar uma coisa. Sabe aquela noite que voc� ganhou o Norberto? Que cara tinha o estranho com quem voc� jogou cartas?
� N�o lembro � respondeu Hagrid com displic�ncia �, ele n�o quis tirar a capa...
Viu os tr�s fazerem cara de espanto e ergueu as sobrancelhas.
� N�o � nada de mais, tem muita gente esquisita no Hog's Head, o pub do povoado. Podia ser um vendedor de drag�es, n�o podia? Nunca vi a cara dele, ele n�o tirou o capuz.
Harry se abaixou ao lado da tigela de ervilhas.
� O que foi que voc� conversou com ele, R�beo? Chegou a mencionar Hogwarts?
� Talvez � disse Hagrid, franzindo a testa, tentando se lembrar � E... Ele me perguntou o que eu fazia e eu respondi que era guarda-ca�a aqui... Depois perguntou de que tipo de bichos eu cuidava... Ent�o eu disse... E disse tamb�m que o que sempre quis ter foi um drag�o... Ent�o... N�o me lembro muito bem... Porque ele n�o parava de pagar bebidas para mim... Deixa eu ver.. Ah, sim, ent�o ele disse que tinha um ovo de drag�o, e que pod�amos disput�-lo num jogo de cartas se eu quisesse... Mas precisava ter certeza de que eu podia cuidar do bicho, n�o queria que ele fosse parar num asilo de velhos... Ent�o respondi que depois do Fofo, um drag�o seria moleza...
� E ele pareceu interessado no Fofo? � perguntou Harry, tentando manter a voz calma.
� Bom... Pareceu... Quantos cachorros de tr�s cabe�as a pessoa encontra por ai, mesmo em Hogwarts? Ent�o contei a ele que Fofo � uma do�ura se a pessoa sabe como acalm�-lo, � s� tocar um pouco de m�sica e ele cai no sono...
Hagrid, de repente, fez cara de horrorizado.
� Eu n�o devia ter-lhe dito isto! � exclamou. � Esque�am que eu disse isto! Ei, aonde � que voc�s v�o?
Harry, Rony e Hermione n�o se falaram at� parar no sagu�o de entrada, que parecia muito frio e sombrio depois da caminhada pelos jardins.
� Temos de procurar Dumbledore � falou Harry � R�beo contou �quele estranho como passar por Fofo e quem estava debaixo daquela capa era ou o Snape ou o Voldemort, deve ter sido f�cil, depois que embebedou R�beo. S� espero que Dumbledore acredite na gente. Firenze talvez confirme, se Agouro n�o o impedir. Onde � a sala de Dumbledore?
Eles olharam a toda volta, na esperan�a de ver uma placa apontando a dire��o certa. Nunca algu�m lhes havia dito onde trabalhava Dumbledore, tampouco conheciam algu�m que tivesse sido mandado � sala dele.
� Acho que teremos de... � come�ou Harry, mas inesperadamente ouviram uma voz do outro lado do sagu�o.
� Que � que voc�s est�o fazendo aqui dentro?
Era a Professora Minerva McConagall, carregando uma pilha de livros.
� Queremos ver o Professor Dumbledore � disse Hermione enchendo-se de coragem, pensaram Harry e Rony.
� Ver o Professor Dumbledore? � a Professora Minerva repetiu, como se isso fosse uma coisa muito suspeita para algu�m querer fazer � Por qu�?
Harry engoliu em seco. �E agora?�
� � uma esp�cie de segredo � disse, mas desejou na mesma hora que n�o tivesse dito, porque as narinas da Professora Minerva se alargaram.
� O Professor Dumbledore saiu faz dez minutos � informou ela secamente � Recebeu uma coruja urgente do Ministro da Magia e partiu em seguida para Londres.
� Ele saiu? � exclamou Harry fren�tico � Agora?
� O Professor Dumbledore � um grande mago, Potter, o tempo dele � muito solicitado.
� Mas � importante.
� Alguma coisa que voc� tenha a dizer � mais importante do que o Ministro da Magia, Potter?
� Olhe � disse Harry, mandando a cautela �s favas �, professora... � sobre a Pedra Filosofal...
Seja o que for que a Professora Minerva esperava, certamente n�o era isso. Os livros que levava despencaram dos seus bra�os, mas ela n�o os apanhou.
� Como � que voc�s sabem? � deixou escapar.
� Professora, acho... Que Sn... Que algu�m vai tentar roubar a pedra. Preciso falar com o Professor Dumbledore.
Ela o olhou com uma mescla de choque e desconfian�a.
� O Professor Dumbledore volta amanh� � disse finalmente. � N�o sei como descobriu sobre a Pedra, mas fique tranq�ilo, n�o � poss�vel ningu�m roub�-la, est� muit�ssimo bem protegida.
� Mas, professora...
� Potter sei do que estou falando. � Curvou-se e recolheu os livros ca�dos � Sugiro que voc�s voltem para fora e aproveitem o sol.
Mas eles n�o voltaram.
� � hoje � noite � disse Harry, quando teve certeza de que a Professora Minerva n�o podia mais ouvi-los. � Snape vai entrar no al�ap�o hoje � noite. Ele j� descobriu tudo o que precisa e agora tirou Dumbledore do caminho. Foi ele quem mandou aquela carta, aposto que o Ministro da Magia vai levar um choque quando Dumbledore aparecer.
� Mas o que � que podemos...
Hermione perdeu a fala. Harry e Rony se viraram, Snape estava parado ali.
� Boa tarde � disse com suavidade.
Eles o encararam.
� Voc�s n�o deviam estar dentro do castelo num dia como este � falou com um sorriso estranho e torto.
� Est�vamos.. � come�ou Harry, sem fazer id�ia do que ia dizer.
� Voc�s precisam ter mais cuidado. Andando por aqui assim, as pessoas v�o pensar que est�o armando alguma coisa. E Grifin�ria realmente n�o pode se dar ao luxo de perder mais nenhum ponto, n�o � mesmo?
Harry corou. Viraram-se para sair, mas Snape os chamou de volta.
� E fique avisado, Potter, se ficar perambulando outra vez � noite, vou providenciar pessoalmente para que seja expulso. Bom dia para voc�s.
E saiu em dire��o � sala de professores. L� fora, nos degraus de pedra, Harry virou-se para os outros.
� Certo isto � o que vamos fazer � cochichou com urg�ncia.
� Um de n�s tem que ficar de olho no Snape, esperar do lado de fora da sala de professores e segui-lo se ele sair. Hermione � melhor voc� fazer isso.
� Por que eu?
� � �bvio � disse Rony. � Voc� pode fingir que est� esperando pelo Professor Flitwick sabe, como �, � E fazendo voz de falsete � "Ah, Professor Flitwick. Estou t�o preocupada, acho que errei a quest�o catorze b...�
� Ah, cala a boca � disse Hermione, mas concordou em vigiar Snape.
� E � melhor ficarmos no corredor do terceiro andar � disse Harry a Rony � Vamos, mas aquela parte do plano n�o funcionou. Assim que chegaram a porta que separava Fofo do resto da escola, a Professora Minerva apareceu de novo, e desta vez perdeu as estribeiras.
� Suponho que voc� ache que � mais dif�cil algu�m passar por voc� do que por um pacote de feiti�os! � esbravejou. � Chega de bobagens! E se eu souber que voc� voltou aqui outra vez, vou descontar mais cinq�enta pontos de Grifin�ria! �, Weasley, da minha pr�pria casa!
Harry, e Rony voltaram � sala comunal. Harry acabara de dizer "pelo menos Hermione est� na cola de Snape", quando o retrato da Mulher Gorda se abriu e Hermione entrou.
� Sinto muito, Harry � lamentou-se. � Snape saiu e me perguntou o que eu estava fazendo, ent�o disse que estava esperando Flitwick, e Snape foi busc�-lo, e me mandei, n�o sei aonde ele foi.
� Bom, ent�o acabou-se, n�o �? � disse Harry. Os outros dois olharam para ele. Estava p�lido e seus olhos brilhavam.
� Vou sair daqui hoje � noite e vou tentar apanhar a Pedra primeiro.
� Voc� ficou maluco! � exclamou Rony � Voc� n�o pode! � disse Hermione � Depois do que a Professora Minerva e Snape disseram? Vai ser expulso!
� E DA�? � gritou Harry � Voc�s n�o percebem? Se Snape apanhar a pedra, Voldemort vai voltar! Voc�s n�o ouviram contar como era quando ele estava tentando conquistar o poder? N�o vai haver Hogwarts para nos expulsar! Ele vai arrasar Hogwarts, ou vai transform�-la numa escola de magia negra! Perder pontos n�o importa mais, voc�s n�o entendem? Acham que ele vai deixar voc�s e suas fam�lias em paz, e Grifin�ria ganhar o campeonato das casas? Se eu for pego antes de conseguir a pedra, bem, vou ter que voltar para os Dursley e esperar Voldemort me encontrar l�. E s� uma quest�o de morrer um pouquinho depois do que teria morrido, porque eu nunca vou me aliar aos partid�rios da magia negra! Vou entrar naquele al�ap�o hoje � noite e nada que voc�s dois disserem vai me impedir! Voldemort matou meus pais, est�o lembrados?
E olhou zangado para eles.
� Voc� tem raz�o, Harry � disse Hermione com uma vozinha fraca.
� Vou usar a capa da invisibilidade, foi uma sorte t�-la recuperado.
� Mas ela d� para esconder n�s tr�s? � perguntou Rony.
� N�s... N�s tr�s?
� Ah, corta essa, voc� n�o acha que vamos deixar voc� ir sozinho?
� Claro que n�o � disse Hermione com energia. � Como acha que vai chegar � Pedra sem n�s? E melhor eu dar uma olhada nos meus livros, talvez encontre alguma coisa �til.
� Mas se formos pegos, voc�s dois v�o ser expulsos tamb�m.
� N�o se eu puder evitar � disse Hermione s�ria. � Flitwick me disse em segredo que tirei cento e vinte por cento no exame. N�o v�o me expulsar depois disso.
Depois do jantar os tr�s se sentaram, nervosos, a um canto do sal�o comunal. Ningu�m os incomodou, afinal nenhum aluno de Grifin�ria tinha mais nada a dizer a Harry. Esta era a primeira noite que isto n�o o incomodava. Hermione folheava seus apontamentos, esperando encontrar um dos feiti�os que queriam anular. Harry e Rony n�o falavam muito. Pensavam no que estavam prestes a fazer.
A sala foi-se esvaziando, � medida que as pessoas iam se deitar.
� � melhor apanhar a capa � murmurou Rony, quando Lino Jordan finalmente saiu, se espregui�ando e bocejando. Harry correu at� o dormit�rio �s escuras. Puxou a capa e ent�o seus olhos bateram na flauta que Hagrid lhe dera no Natal. Meteu-a no bolso para us�-la em Fofo, n�o se sentia muito animado a cantar.
E correu de volta ao sal�o comunal.
� � melhor vestirmos a capa aqui para ter certeza de que cobre n�s tr�s se Filch vir os p�s da gente andando sozinhos.
� O que � que voc�s est�o fazendo? � perguntou uma voz a um canto da sala. Neville saiu de tr�s de uma poltrona, agarrando Trevo, o sapo, que parecia ter feito uma nova tentativa para ganhar a liberdade.
� Nada, Neville, nada � respondeu Harry, escondendo depressa a capa �s costas.
Neville olhou bem para aquelas caras cheias de culpa.
� Voc�s v�o sair outra vez.
� N�o, n�o, n�o � disse Hermione. � N�o vamos, n�o. Por que voc� n�o vai se deitar, Neville?
Harry olhou para o rel�gio de parede junto � porta. N�o podiam se dar ao luxo de perder mais tempo, Snape talvez estivesse naquele instante mesmo tocando para adormecer Fofo.
� Voc�s n�o podem sair � disse Neville �, voc�s v�o ser pegos outra vez. Grifin�ria vai ficar ainda mais enrolada.
� Voc� n�o compreende � disse Harry � isto � importante.
Mas Neville estava claramente tomando coragem para fazer alguma coisa desesperada.
� N�o vou deixar voc�s irem � disse, correndo a se postar diante do buraco do retrato. � Eu... Eu vou brigar com voc�s.
� Neville � explodiu Rony �, se afaste desse buraco e n�o banque o idiota...
� N�o me chame de idiota! Acho que voc� n�o devia estar desrespeitando mais regulamentos! E foi voc� quem me disse para enfrentar as pessoas!
� Foi, mas n�o n�s � respondeu Rony exasperado. � Neville, voc� n�o sabe o que est� fazendo.
Ele deu um passo � frente e Neville largou Trevo, o sapo, que desapareceu de vista.
� Vem, ent�o, tenta me bater! � disse Neville, erguendo os punhos. � Estou esperando!
Harry voltou-se para Hermione.
� Faz alguma coisa � pediu desesperado.
Hermione se adiantou,� Neville � disse ela �, eu realmente lamento muito.
Ela ergueu a varinha.
� Petrificus Totalus!� falou, apontando para Neville.
Os bra�os de Neville grudaram dos lados do corpo. As pernas se juntaram. Com o corpo inteiro r�gido, ele balan�ou no mesmo lugar e, em seguida, caiu de cara no ch�o, duro como uma pedra.
Hermione correu para desvir�-lo. Os maxilares de Neville estavam trancados de modo que ele n�o podia falar. Somente os olhos se moviam, mirando-os aterrorizados.
� O que foi que voc� fez com ele? � sussurrou Harry.
� O Feiti�o do Corpo Preso � respondeu Hermione infeliz. � Ah, Neville, me desculpe.
� Tivemos de fazer isso, Neville, n�o temos tempo para explicar � disse Harry.
� Voc� vai entender mais tarde � disse Rony, enquanto passavam por cima dele e se envolviam na capa da invisibilidade.
Mas deixar Neville deitado im�vel no ch�o n�o parecia um bom press�gio. No estado de nervosismo em que estavam, cada sombra de est�tua lembrava Filch, cada sopro distante do vento parecia o Pirra�a assombrando-os.
Ao p� do primeiro lance de escada, encontraram Madame Nor-r-ra, esquivando-se sorrateira quase no alto.
� Ah, vamos dar um pontap� nela, s� desta vez � cochichou Rony no ouvido de Harry, mas Harry balan�ou a cabe�a. Enquanto subiam cautelosamente contornando a gata, Madame Nor-r-ra virou os olhos de lanterna para eles, mas n�o fez nada.
N�o encontraram mais ningu�m at� chegarem � escada para o terceiro andar. O Pirra�a se balan�ava a meio caminho, soltando a passadeira para as pessoas trope�arem.
� Quem est� a� � perguntou de repente quando se aproximaram. E apertou os olhos negros e malvados. � Sei que est� ai, mesmo que n�o consiga v�-lo. Voc� � um vampiro, um fantasma ou um estudante nojento?
E ergueu-se no ar e flutuou, tentando ver algu�m.
� Eu devia chamar o Filch, eu devia, se alguma coisa est� andando por a� invis�vel.
Harry teve uma id�ia repentina.
� Pirra�a � disse num sussurro rouco �, o bar�o Sangrento tem suas raz�es para andar invis�vel.
Pirra�a quase caiu, em choque. Recuperou-se a tempo e saiu planando a trinta cent�metros dos degraus.
� Desculpe, Sua Sang�inidade, Sr. Bar�o, cavalheiro � disse untuoso. � Falha minha, falha minha, n�o o vi, claro que n�o, o senhor est� invis�vel. Perdoe o velho Pirra�a essa piadinha, cavalheiro.
� Tenho neg�cios a tratar aqui, Pirra�a � cochichou Harry � Fique longe deste lugar hoje � noite.
� Vou ficar, cavalheiro, pode ter certeza de que vou ficar � prometeu o Pirra�a, erguendo-se no ar outra vez. � Espero que os seus neg�cios corram bem, Bar�o, n�o vou perturb�-lo.
E, partiu ligeirinho.
� Genial Harry! � cochichou Rony.
Alguns segundos depois estavam l�, no corredor do terceiro andar e a porta j� fora aberta.
� Bom, aqui estamos � disse Harry baixinho. � Snape j� passou por Fofo.
A vis�o da porta aberta por alguma raz�o parecia causar neles a impress�o do que os aguardava. Debaixo da capa, Harry se virou para os outros dois.
� Se voc�s quiserem voltar, n�o vou culp�-los. Podem levar a capa, n�o vou precisar dela agora.
� N�o seja burro � respondeu Rony.
� Vamos com voc� � disse Hermione.
Harry empurrou a porta.
Quando a porta rangeu baixinho, chegaram aos seus ouvidos rosnados surdos. Os tr�s focinhos do cachorro farejaram furiosamente em sua dire��o ainda que o bicho n�o pudesse v�-los.
� O que � isso nos p�s dele? � sussurrou Hermione.
� Parece uma harpa � respondeu Rony. � Snape deve t�-la deixado ai.
� Ele acorda no momento que se deixa de tocar � disse Harry. �Bom, aqui vai...
Levou a flauta de Hagrid aos l�bios e soprou. N�o era realmente uma m�sica, mas as primeiras notas os olhos da fera come�aram a se fechar. Harry nem chegou a tomar f�lego.
Lentamente, os rosnados do cachorro cessaram, ele balan�ou nas patas e caiu de joelhos, depois se estirou no ch�o, completamente adormecido.
� Continue tocando � Rony preveniu a Harry enquanto saiam de baixo da capa e deslizavam para o al�ap�o. Sentiram o bafo quente e fedorento do cachorro ao se aproximarem de suas cabe�orras.
� Acho que vamos conseguir abrir a porta � disse Rony, espiando por cima do dorso do cachorro. � Quer entrar primeiro, Hermione?
� N�o, eu n�o!
� Tudo bem � Rony cerrou os dentes e passou com cautela pelas pernas do cachorro. E abaixando-se puxou o anel do al�ap�o, que se abriu.
� O que � que voc� est� vendo? � perguntou Hermione, ansiosa.
� Nada... S� escurid�o... N�o tem como descer, teremos que nos jogar.
Harry, que continuava a tocar a flauta, fez sinal para atrair a aten��o de Rony e apontou para si mesmo.
� Voc� quer ir primeiro? Tem certeza? � disse Rony, � N�o sei qual � a profundidade dessa coisa. D� a flauta para Hermione manter Fofo adormecido.
Harry passou a flauta a ela. Naqueles minutinhos de sil�ncio, o cachorro rosnou e se mexeu, mas no instante que Hermione come�ou a tocar, ele tornou a cair em sono profundo.
Harry passou por cima de Fofo e espiou pelo al�ap�o. N�o viu nem sinal de fundo..
Baixou o corpo pelo buraco at� ficar pendurado pelas pontas dos dedos, Ent�o olhou para Rony no alto e disse:
� Se alguma coisa acontecer comigo, n�o me siga. V� direto ao corujal e mande Edwiges ao Dumbledore, certo?
� Certo.
� Vejo voc� daqui a pouco, espero...
E Harry soltou os dedos. Um vento frio e �mido passou r�pido por ele, que foi caindo, caindo, caindo e..
Pam.
Com um baque engra�ado e surdo ele bateu em alguma coisa macia. Sentou-se e apalpou � volta, os olhos desacostumados � escurid�o. Parecia que estava sentado em uma esp�cie de planta.
� Tudo bem! � gritou para a claridade do tamanho de um selo l� no alto, que era o al�ap�o aberto. � A queda � macia pode pular!
Rony seguiu-o imediatamente. Caiu esparramado ao lado de Harry.
� O que � isso? � foram suas primeiras palavras.
� Sei l�, uma esp�cie de planta. Suponho que esteja aqui para amortecer a queda. Venha, Hermione!
A m�sica distante parou. Ouviu-se um latido alto do cachorro, mas Hermione j� pulara. Ela caiu do outro lado de Harry.
� Devemos estar a quil�metros abaixo da escola � comentou.
� � realmente uma sorte que esta planta esteja aqui � disse Rony.
� Sorte! � gritou Hermione. � Olhem s� para voc�s dois.
Ela se levantou de um salto e lutou para chegar � parede �mida. Teve de lutar porque, no momento em que chegou ao fundo, a planta come�ou a se enroscar como as gavinhas de uma trepadeira em volta dos seus tornozelos. Quanto a Harry e Rony, suas pernas j� tinham sido bem atadas por longos galhos sem que eles notassem.
Hermione conseguira se desvencilhar antes que a planta a agarrasse para valer. Agora observava horrorizada os dois meninos lutarem para se livrar da planta, mas quanto mais se esfor�avam, mais depressa e mais firme a planta se enrolava neles.
� Parem de se mexer! � mandou Hermione. � Sei o que � isso. � visgo do diabo!
� Ah fico t�o contente que voc� saiba como se chama, � uma grande ajuda � resmungou Rony, tentando impedir que a planta se enroscasse em seu pesco�o.
� Cala a boca, estou tentando me lembrar como mat�-la! � disse Hermione.
� Bom, anda logo, n�o consigo respirar! � ofegava Harry, lutando com a planta que se enroscava em torno de seu peito.
� Visgo do diabo, visgo do diabo... O que foi que a Professora Sprout disse? Gosta da umidade e da escurid�o...
� Ent�o acenda um fogo! � engasgou-se Harry.
� �... � claro... Mas n�o tem madeira... � lamentou-se Hermione, torcendo as m�os.
� VOC� ENLOUQUECEU? � berrou Rony, � VOC� � UMA BRUXA OU N�O �?
� Ah, certo! � disse Hermione e, puxando a varinha, sacudiu-a, murmurou alguma coisa e despachou um jato daquelas chamas azuis que usara em Snape contra as plantas. Em quest�o de segundos, os dois meninos sentiram a planta afrouxar e se encolher para longe da luz e do calor. Torcendo-se, ela se desenrolou dos corpos dos meninos, que puderam se levantar.
� Que sorte que voc� presta aten��o �s aulas de Herbologia, Hermione � disse Harry, quando se juntou a ela ao p� da parede, enxugando o suor do rosto.
� � � comentou Rony �, e que sorte que Harry n�o perde a cabe�a numa crise, "n�o tem madeira", francamente.
� Por ali � disse Harry, apontando um corredor de pedra que era o �nico caminho que havia.
S� o que podiam ouvir al�m de seus passos eram os pingos abafados da �gua que escorria pela parede. O corredor come�ou a descer e Harry se lembrou de Gringotes. Com um sobressalto, lembrou-se dos drag�es que, segundo diziam, guardavam os cofres-fortes no banco dos bruxos. Se topassem com um drag�o, um drag�o adulto... Norberto j� fora bastante ruim.
� Voc� est� ouvindo alguma coisa? Rony cochichou.
Harry apurou os ouvidos. Um farfalhar acompanhado de ru�do met�lico parecia vir de um ponto mais adiante.
� Voc� acha que � um fantasma?
� N�o sei.. Para mim parecem asas.
� H� luz � frente, estou vendo alguma coisa se mexendo.
Chegaram ao fim do corredor e depararam com uma c�mara muito iluminada, o teto abobadado no alto. Era cheia de passarinhos, brilhantes como j�ias, que esvoa�avam e colidiam pelo aposento. Do lado oposto da c�mara havia uma pesada porta de madeira.
� Voc� acha que nos atacar�o se atravessarmos a c�mara? � perguntou Rony.
� Provavelmente � respondeu Harry, � Eles n�o parecem muito bravos, mas suponho que se todos mergulhassem ao mesmo tempo... Bom, n�o tem rem�dio... Vou correr.
Tomou f�lego, cobriu o rosto com os bra�os e atravessou a c�mara correndo. Esperava sentir bicos afiados e garras atacando-o a qualquer minuto, mas nada aconteceu. Alcan�ou a porta inc�lume. Baixou a ma�aneta, mas a porta estava trancada.
Os outros dois o seguiram. Fizeram for�a para abrir a porta, mas ela nem sequer se moveu, nem mesmo quando Hermione experimentou o seu feiti�o Alorromora.
� E agora? � perguntou Rony.
� Esses p�ssaros... N�o podem estar aqui s� para enfeitar � disse Hermione.
Eles observaram os p�ssaros voando no alto, brilhando.
� Brilhando?
� Eles n�o s�o p�ssaros! � Harry exclamou de repente. � S�o chaves! Chaves aladas, olhe com aten��o. Ent�o isso deve querer dizer... � e olhou � volta da c�mara enquanto os outros dois apertavam os olhos para enxergar o bando de chaves no alto � olhe! Vassouras! Temos que apanhar a chave da porta.
Mas eram centenas!
Rony examinou a fechadura.
� Estamos procurando uma chave bem grande e antiga, provavelmente de prata, como a ma�aneta.
Cada um apanhou uma vassoura e deu impulso no ar, mirando o meio da nuvem de chaves. Tentaram agarr�-las, mas as chaves encantadas fugiam e mergulhavam t�o r�pido que era quase imposs�vel apanhar uma.
Mas n�o era � toa que Harry era o mais jovem apanhador do s�culo. Tinha um jeito para localizar coisas que os outros n�o tinham. Depois de um minuto tran�ando pelo redemoinho de pernas, ele notou uma chave grande de prata que tinha uma asa dobrada, como se j� tivesse sido apanhada e enfiada de qualquer jeito na fechadura.
� Aquela ali! � gritou para os outros � Aquela grandona... Ali... N�o... L�... Com as asas azul-forte. As penas est�o todas amassadas de um lado.
Rony precipitou-se na dire��o que Harry apontava, bateu no teto e quase caiu da vassoura.
� Temos que cerc�-la! � gritou Harry, sem tirar os olhos da chave com a asa danificada. � Rony, voc� cerca por cima. Hermione, fica embaixo e n�o deixa ela descer, e eu vou tentar pegar. Certo, AGORA!
Rony mergulhou, Hermione disparou para o alto, a chave desviou-se dos dois e Harry partiu atr�s dela, a chave correu para a parede, Harry se curvou para frente e, com uma pancada feia, prendeu-a contra a pedra com a m�o. Os vivas de Rony e Hermione ecoaram pela c�mara.
Eles pousaram em seguida e Harry correu para a porta, a chave a se debater em sua m�o. Enfiou-a na fechadura e virou-a, deu certo. No instante em que ouviram o barulho da ling�eta se abrindo, a chave tornou a al�ar v�o, parecendo agora muito maltratada depois de ter sido apanhada duas vezes.
� Est�o prontos? � Harry perguntou aos dois, a m�o na ma�aneta da porta. Eles fizeram um sinal afirmativo com a cabe�a.
Ele escancarou a porta.
A c�mara seguinte era t�o escura que n�o dava para ver absolutamente nada. Mas, ao entrarem nela, a luz inesperadamente inundou o aposento, revelando uma cena surpreendente.
Estavam parados na borda de um enorme tabuleiro de xadrez atr�s das pe�as pretas, que eram todas mais altas do que eles e talhadas em um material que parecia pedra. De frente para eles, do outro lado da c�mara, estavam dispostas as pe�as brancas. Harry, Rony e Hermione sentiram um leve arrepio, as pe�as brancas e altas n�o tinham fei��es.
� Agora o que vamos fazer? � sussurrou Harry.
� � �bvio, n�o �? � falou Rony. � Temos que jogar para chegar ao outro lado da c�mara.
Por tr�s das pe�as brancas eles podiam ver outra porta.
� Como? � perguntou Hermione, nervosa.
� Acho que vamos ter que virar pe�as.
Ele se dirigiu a um cavalo preto e esticou a m�o para tocar seu cavaleiro. No mesmo instante, a pedra ganhou vida. O cavalo pateou o tabuleiro e seu cavaleiro virou a cabe�a protegida por um elmo pata olhar Rony.
� Temos que nos unir a voc�s para chegar ao outro lado? � O cavaleiro preto confirmou com a cabe�a. Rony virou-se para os outros dois.
� Isto exige reflex�o disse. � Suponho que a gente tenha que tomar o lugar de tr�s pe�as pretas...
Harry e Hermione ficaram quietos, observando Rony refletir. Finalmente ele disse:
� Agora n�o v�o se ofender, mas nenhum dos dois � t�o bom assim em xadrez...
� N�o estamos ofendidos � interrompeu Harry depressa � Diga o que vamos fazer.
� Bom, Harry, voc� toma o lugar daquele Bispo e, Hermione, voc� fica ao lado dele substituindo a Torre.
� E voc�?
� Vou ser o cavaleiro.
As pe�as pareciam estar escutando, porque ao ouvir isso um cavaleiro, um bispo e uma torre deram as costas �s pe�as brancas e sa�ram do tabuleiro, deixando tr�s casas vazias, que Harry, Rony e Hermione ocuparam.
� No xadrez as brancas sempre jogam primeiro � explicou Rony, observando o tabuleiro. � �... Olhem...
Um Pe�o branco avan�ara duas casas.
Rony come�ou a comandar as pe�as pretas. Elas se mexiam em sil�ncio indo aonde eram mandadas. Os joelhos de Harry tremiam. E se perdessem?
� Harry, ande quatro casas para a direita em diagonal.
O primeiro choque de verdade que levaram foi quando o outro Cavalo foi comido. A Rainha branca esmagou-o no ch�o e arrastou-o para fora do tabuleiro, onde ele ficou deitado im�vel, de borco no ch�o.
� Eu tinha que deixar isso acontecer � disse Rony, parecendo abalado. � Assim voc� fica livre para comer aquele Bispo, Hermione, ande.
Todas as vezes que eles perdiam uma pe�a, as pe�as brancas n�o mostravam piedade. Dali a pouco havia uma cole��o de pe�as pretas inertes encostadas � parede. Duas vezes, Rony reparou, em cima do lance, que Harry e Hermione estavam em perigo. Ele pr�prio disparou pelo tabuleiro comendo quase tantas pe�as brancas quanto as pretas que haviam perdido.
� Estamos quase chegando � murmurou de repente. � Me deixem pensar... Deixe-me pensar...
A Rainha branca virou o rosto vazio para ele.
� E... � continuou ele baixinho �, � o jeito... Preciso me sacrificar.
� N�o! � Harry e Hermione gritaram.
� Isto � xadrez! � retorquiu Rony. � A pessoa tem que fazer alguns sacrif�cios! Dou um passo � frente e ela me come, isso deixa voc� livre para dar o xeque-mate no Rei, Harry!
� Mas...
� Voc� quer deter Snape ou n�o?
� Rony..
� Olhe, se voc� n�o se apressar, ele j� ter� apanhado a Pedra!
N�o havia op��o.
� Pronto? � perguntou Rony, o rosto p�lido, mas decidido. � Ent�o vamos, agora, n�o se demore depois de ganhar a partida.
Ele avan�ou e a rainha branca o atacou. Golpeou Rony com for�a na cabe�a com o bra�o de pedra e ele caiu com estrondo no ch�o. Hermione gritou, mas continuou parada em sua casa. A rainha branca arrastou Rony para um lado. Ele parecia ter sido nocauteado.
Tr�mulo, Harry se deslocou tr�s casas para a esquerda.
O Rei branco tirou a coroa e jogou-a aos p�s dele. Os meninos tinham ganhado o jogo. As pe�as se afastaram para os lados e se curvaram, deixando o caminho livre para a porta em frente. Com um �ltimo olhar desesperado para Rony, Harry e Hermione se precipitaram para a porta e para o corredor seguinte.
� E se ele...?
� Ele vai ficar bem � disse Harry, tentando convencer a si mesmo. � Que � que voc� acha que vai acontecer agora?
� Tivemos o feiti�o da Sprout, o Visgo do Diabo. Flitwick deve ter encantado as chaves. McGonagall transfigurou as pe�as de xadrez para lhes dar vida. Faltam o feiti�o de Quirrell e o de Snape.
Tinham chegado � outra porta.
� Tudo bem? � cochichou Harry.
� Vamos.
Harry empurrou a porta para abri-la.
Um fedor horr�vel entrou por suas narinas, fazendo os dois puxarem as vestes para cobrir o nariz. Com os olhos lacrimejando, eles viram, deitado no ch�o diante deles, um trasgo ainda maior do que o que tinham enfrentado, desacordado e com um calombo ensang�entado na cabe�a.
� Que bom que n�o precisamos lutar contra este a� � sussurrou Harry, enquanto, cautelosamente, saltavam por cima da perna maci�a do trasgo. � Vamos, n�o estou conseguindo respirar.
Harry abriu a porta seguinte, os dois mal se atreviam a olhar o que vinha a seguir, mas n�o havia nada muito assustador ali, apenas uma mesa e sobre ela sete garrafas de formatos diferentes.
� � o de Snape � disse Harry. � O que temos de fazer?
Ao cruzarem a soleira da porta, imediatamente irromperam chamas atr�s deles. E n�o eram chamas comuns tampouco, eram roxa. Ao mesmo tempo, surgiam chamas pretas na porta adiante.
Estavam encurralados.
� Olhe! � Hermione apanhou um rolo de papel que havia ao lado das garrafas. Harry espiou por cima do seu ombro para ler o papel:
O perigo o aguarda � frente, a seguran�a ficou atr�s,
Duas de n�s o ajudaremos no que quer encontrar,
Uma dos sete o deixar� prosseguir,
A outra levar� de volta quem a beber,
Duas de n�s conter�o vinho de urtigas,
Tr�s de n�s aguardam em fria para o matar,
Escolha, ou, ficar� aqui para sempre,
E para ajud�-lo, lhe damos quatro pistas:
Primeira, por mais dissimulado que esteja o veneno,
Voc� sempre encontrar� um � esquerda do vinho de urtigas,
Segunda, s�o diferentes as garrafas de cada lado,
Ali�s, se voc� quiser avan�ar nenhuma � sua amiga,
Terceira, � vis�vel que temos tamanhos diferentes,
Nem a an� nem a gigante leva a morte no bojo,
Quarta, a segunda � esquerda e a segunda a direita
S�o g�meas ao paladar, embora diferentes a vista.
Hermione deixou escapar um grande suspiro e Harry, perplexo, viu que ela sorria, a �ltima coisa que ele tinha vontade de fazer.
� Genial � disse � Isto n�o � m�gica, � l�gica, uma charada, a maioria dos grandes bruxos n�o tem um pingo de l�gica, ficariam presos aqui para sempre.
� E n�s tamb�m, n�o?
� Claro que n�o. Tudo o que precisamos est� aqui neste papel. Sete garrafas: tr�s cont�m veneno, duas, vinho, uma nos ajudar� a passar a salvo pelas chamas negras, e uma nos levar� de volta atrav�s das chamas roxas.
� Mas como vamos saber qual delas beber?
� Me d� um minuto.
Hermione leu o papel diversas vezes. Depois passou em revista a fila de garrafas, para cima e para baixo, resmungando de si para si e apontando para as garrafas. Finalmente, bateu palmas.
� J� sei. A garrafa menor nos far� atravessar as chamas negras, rumo � pedra.
Harry mirou a garrafinha.
� Ali s� tem o suficiente para um de n�s. N�o chega a ter um gole.
Eles se entreolharam..
� Qual � a que a far� voltar pelas chamas roxas?
Hermione apontou para uma garrafa arredondada na ponta direita da fila.
� Voc� bebe essa � disse Harry � Agora, escute, volte e recolha o Rony, apanhe vassouras na c�mara das chaves aladas, elas levar�o voc�s para fora do al�ap�o e por cima de Fofo. V�o direto ao corujal e mandem Edwiges a Dumbledore, precisamos dele. Talvez eu possa segurar Snape por algum tempo, mas n�o sou p�reo para ele.
� Mas Harry, e se Voc�-Sabe-Quem estiver com ele?
� Bom... Tive sorte uma vez, n�o tive? � falou Harry indicando a cicatriz. � Talvez tenha sorte outra vez.
A boca de Hermione estremeceu e ela correu de repente para Harry e o abra�ou.
� Hermione.
� Harry voc� � um grande bruxo, sabe?
� N�o sou t�o bom quanto voc� � disse Harry, muito sem gra�a, quando ela o largou.
� Eu! livros! E intelig�ncia! H� coisas mais importantes, amizade e bravura e, ah, Harry tenha cuidado!
� Voc� bebe primeiro � disse Harry, � Voc� tem certeza de qual � qual, n�o tem?
� Positivo.
Ela tomou um demorado gole da garrafa arredondada na ponta e estremeceu.
� N�o � veneno? � perguntou Harry ansioso.
� N�o... Mas parece gelo.
� Vai logo antes que o efeito passe.
� Boa sorte... Cuide-se...
� VAI!
Hermione virou-se e passou direto pelas chamas roxas.
Harry tomou f�lego e apanhou a garrafa menor de todas.
Virou-se para encarar as chamas negras.
� Aqui vou eu � disse e esvaziou a garrafinha de um gole s�.
Era na verdade como se o gelo estivesse invadindo seu corpo. Ele deixou a garrafa na mesa e avan�ou, enchendo-se de coragem, viu as chamas negras lamberem seu corpo, mas n�o as sentiu, por um instante n�o viu nada a n�o ser as chamas negras, ent�o viu que estava do outro lado, na �ltima c�mara.
Havia algu�m l�, mas n�o era Snape. Tampouco Voldemort.
CAP�TULO DEZESSETE
O Homem de Duas Caras
Era Quirrell.
� O senhor!� exclamou Harry, Quirrell sorriu. Seu rosto n�o tinha nenhum tique.
� Eu � disse calmamente � estive me perguntando se encontraria voc� aqui, Potter.
� Mas pensei.. Snape...
� Severo? � Quirrell deu uma gargalhada e n�o era aquela gargalhadinha tremida de sempre, era fria e cortante. � �, Severo faz o tipo, n�o faz? T�o �til t�-lo esvoa�ando por a� como um morceg�o. Perto dele, quem suspeitaria do c... C... Coitado do gagaguinho do P... Professor Quirrell?
Harry n�o conseguia assimilar. Isto n�o podia ser verdade, n�o podia.
� Mas Snape tentou me matar!
� N�o, n�o, n�o. Eu tentei mat�-lo. Sua amiga Hermione Granger, por acaso, me empurrou quando estava correndo para tocar fogo no Snape naquela partida de Quadribol. Ela interrompeu o meu contato visual com voc�. Mais uns segundos e eu o teria derrubado daquela vassoura. Teria conseguido isso antes se Snape n�o ficasse murmurando antifeiti�o, tentando salv�-lo.
� Snape estava tentando me salvar?
� � claro � disse Quirrell calmamente. � Por que voc� acha que ele queria apitar o pr�ximo jogo? Ele estava tentando garantir que eu n�o repetisse aquilo. O que na realidade � engra�ado... Ele nem precisava ter se dado ao trabalho. Eu n�o poderia fazer nada com Dumbledore assistindo. Todos os outros professores acharam que Snape estava tentando impedir a Grifin�ria de ganhar, ele conseguiu realmente se tornar impopular... E que perda de tempo, se depois disso vou mat�-lo esta noite.
Quirrell estalou os dedos. Surgiram no ar cordas que amarraram Harry bem apertado.
� Voc� � muito metido para continuar vivo, Potter. Sair correndo pela escola no dia das Bruxas daquele jeito e, pelo que imaginei me viu descobrir o que � que estava guardando a pedra.
� O senhor deixou o trasgo entrar?
� Claro que sim. Tenho um talento especial para lidar com tragos. Voc� deve ter visto o que fiz com aquele na c�mara l� atr�s? Infelizmente, enquanto o resto do pessoal estava procurando o trasgo, Snape, que j� desconfiava de mim, foi direto ao terceiro andar para me afastar, e n�o s� o meu trasgo n�o conseguiu matar voc� de pancada, como o cachorro de tr�s cabe�as nem sequer conseguiu morder a perna de Snape direito. Agora espere a� quieto. Preciso examinar este espelho curioso.
Foi somente ent�o que Harry percebeu o que estava parado atr�s de Quirrell. Era o Espelho de Ojesed.
� Este espelho � a chave para encontrar a pedra � murmurou Quirrell, batendo de leve na moldura. � Pode-se confiar em Dumbledore para inventar uma coisa dessas... Mas ele est� em Londres... E estarei bem longe quando voltar.
A �nica coisa que ocorreu a Harry foi manter Quirrell falando para impedi-lo de se concentrar no espelho.
� Vi o senhor e Snape na floresta. � falou de um f�lego s�.
� Sei � disse Quirrell indiferente, dando a volta ao espelho para examinar o avesso. � Naquela altura ele j� percebera minhas inten��es, e tentava descobrir at� onde eu tinha ido. Suspeitou de mim o tempo todo. Tentou me assustar, como se fosse poss�vel, quando tenho Lord Voldemort do meu lado...
Quirrell saiu de tr�s do espelho e mirou-o cheio de cobi�a.
� Estou vendo a Pedra... Eu a estou apresentando ao meu mestre... Mas onde � que ela est�?
Harry for�ou as cordas que o prendiam, mas elas n�o cederam.
Tinha que impedir Quirrell de dedicar toda a aten��o ao espelho.
� Mas Snape sempre pareceu me odiar tanto.
� Ah, e odeia mesmo � disse Quirrell, displicente �, e como odeia. Ele estudou em Hogwarts com o seu pai, voc� n�o sabia? Os dois se detestavam. Mas ele nunca quis ver voc� morto.
� Mas ouvi o senhor solu�ando, h� uns dias. Pensei que Snape estava amea�ando o senhor...
Pela primeira vez, espasmos de medo passou pelo rosto de Quirrell.
� �s vezes, eu tenho dificuldade em seguir as instru��es do meu mestre. Ele � um grande mago e eu sou fraco.
� O senhor quer dizer que ele estava na sala de aula com o senhor? � exclamou Harry admirado.
� Est� comigo aonde quer que eu v� � disse Quirrell em voz baixa � Conheci-o quando estava viajando pelo mundo. Eu era um rapaz tolo naquela �poca, cheio de id�ias rid�culas sobre o bem e o mal. Lord Voldemort me mostrou como eu estava errado. N�o existe bem nem mal, s� existe o poder, e aqueles que s�o demasiado fracos para o desejarem. Desde ent�o, eu o tenho servido com fidelidade, embora o desaponte muitas vezes. Por isso tem precisado ser muito severo comigo � Quirrell estremeceu de repente � N�o perdoa erros com muita facilidade. Quando n�o consegui roubar a pedra de Gringotes, ele ficou muito aborrecido. Castigou-me, resolveu me vigiar mais de perto.
A voz de Quirrell foi morrendo. Harry lembrou-se de sua viagem ao Beco Diagonal, como podia ter sido t�o burro? Ele vira Quirrell l� naquele dia, apertara a m�o dele no Caldeir�o Furado.
Quirrell praguejou baixinho.
� Eu n�o entendo... A Pedra est� dentro do espelho? Devo quebr�-lo?
A cabe�a de Harry pensava a mil.
�O que quero acima de tudo no mundo, neste momento, � encontrar a Pedra antes que Quirrell a encontre. Ent�o se me olhar no espelho, devo me ver encontrando a Pedra, o que quer dizer que verei onde est� escondida! Mas como posso me olhar sem Quirrell perceber o que estou tramando?� Harry tentou se deslocar para a esquerda, para se posicionar diante do espelho sem Quirrell notar, mas as cordas que prendiam seus tornozelos estavam muito apertadas. ele trope�ou e caiu.
Quirrell n�o lhe deu aten��o. Continuou falando sozinho.
� O que � que o espelho faz? Como � que ele funciona? Ajude-me, mestre.
E para horror de Harry, uma voz respondeu, e a voz parecia vir do pr�prio Quirrell.
� Use o menino... Use o menino...
Quirrell voltou-se para Harry.
� �... Potter vem c�.
E bateu palmas uma vez e as cordas que prendiam Harry ca�ram. Harry se levantou sem pressa.
� Vem c� � repetiu Quirrell. � Olhe no espelho e me diga o que v�.
Harry foi at� ele.
"Preciso mentir, pensou desesperado". �Preciso olhar e mentir sobre o que vejo, � isso.�
Quirrell aproximou-se de Harry pelas costas. Harry respirou o cheiro esquisito que parecia vir do turbante de Quirrell. Fechou os olhos, adiantou-se para se postar na frente do espelho, e tomou a abri-los.
A princ�pio viu a sua imagem p�lida e apavorada. Mas um segundo depois, a imagem sorriu para ele. Levou a m�o ao bolso e tirou uma pedra cor de sangue. A� piscou e devolveu a pedra ao bolso e ao fazer isto, Harry sentiu uma coisa pesada cair dentro do seu bolso de verdade. De alguma forma inacredit�vel estava de posse da Pedra .
� E ent�o? � perguntou Quirrell impaciente. � O que � que voc� est� vendo?
Harry armou-se de coragem.
� Estou me vendo apertando a m�o de Dumbledore � inventou. � Ganhei o campeonato das casas para Grifin�ria.
Quirrell xingou outra vez.
� Saia do meu caminho � disse. Quando Harry se afastou, sentiu a Pedra Filosofal comprimir sua coxa. Ser� que tinha coragem para tentar fugir?
Mas n�o dera cinco passos quando uma voz alta falou, embora os l�bios de Quirrell n�o estivessem se mexendo.
� Ele est� mentindo... Ele est� mentindo...
� Potter, volte aqui! � gritou Quirrell � Diga-me a verdade! O que foi que voc� acabou de ver?
A voz alta tomou a falar.
� Deixe-me falar com ele... Cara a cara...
� Mestre, o senhor n�o est� bastante forte!
� Estou bastante forte... Para isso...
Harry se sentiu como se o visgo do diabo o tivesse pregado no ch�o. N�o conseguia mover nem um m�sculo. Petrificado, viu Quirrell erguer os bra�os e come�ar a desenrolar o turbante. O que estava acontecendo? O turbante caiu. A cabe�a de Quirrell parecia estranhamente pequena sem ele. Ent�o ele virou de costas sem sair do lugar.
Harry poderia ter gritado, mas n�o conseguiu produzir nem um som. Onde deveria estar a parte de tr�s da cabe�a de Quirrell, havia um rosto, o rosto mais horr�vel que Harry j� vira. Era branco-giz com intensos olhos vermelhos e fendas no lugar das narinas, como uma cobra.
� Harry Potter... � falou o rosto.
Harry tentou dar um passo para tr�s, mas suas pernas n�o obedeceram.
� Est� vendo no que me transformei? � disse o rosto. � Apenas uma sombra vaporosa. S� tenho forma quando posso compartir o corpo de algu�m... Mas sempre houve gente disposta a me deixar entrar no seu cora��o e na sua mente... O sangue do unic�rnio me fortaleceu, nessas �ltimas semanas... Voc� viu o fiel Quirrell bebendo-o por mim na floresta... E uma vez que eu tenha o elixir da vida, poderei criar um corpo s� meu... Agora... Por que voc� n�o me d� essa pedra no seu bolso?
Ent�o ele sabia. A sensibilidade voltou repentinamente as pernas de Harry. Ele cambaleou para tr�s.
� N�o seja tolo � rosnou o rosto. � � melhor salvar sua vida e se unir a mim... Ou vai ter o mesmo fim dos seus pais... Eles morreram suplicando piedade...
� MENTIRA! � gritou Harry inesperadamente Quirrell. estava andando de costas para ele, de modo que Voldemort pudesse v�-lo. O rosto malvado sorria agora.
� Que comovente... � sibilou. � Sempre dei valor � coragem... E, menino, seus pais foram corajosos. Matei seu pai primeiro e ele me enfrentou com coragem... Mas sua m�e n�o precisava ter morrido... Estava tentando proteg�-lo.. Agora me d� a pedra, a n�o ser que queira que a morte dela tenha sido em v�o.
� Nunca!
Harry saltou para a porta em chamas, mas Voldemort gritou:
� AGARRE-O!
E, no instante seguinte, Harry sentiu a m�o de Quirrell fechar-se em torno de seu pulso. E, ao mesmo tempo, uma dor fria como uma agulhada queimou sua cicatriz, parecia que sua cabe�a ia se rachar em dois, ele berrou, lutando com todas as for�as e, para sua surpresa, Quirrell largou-o. A dor em sua cabe�a diminuiu, ele olhou alucinado � volta para ver onde fora Quirrell e o viu dobrar de dor, examinando os dedos, eles se enchiam de bolhas, diante dos seus olhos.
� Agarre-o! Agarre-o! � esgani�ou-se Voldemort outra vez e Quirrell investiu, derrubando Harry no ch�o, caindo por cima dele, as duas m�os apertando o pesco�o do menino, a cicatriz de Harry quase o cegava de dor, contudo ele via Quirrell urrar de agonia.
� Mestre, n�o posso segur�-lo. Minhas m�os. Minhas m�os!
E Quirrell, embora prendendo Harry no ch�o com os joelhos, largou seu pesco�o e arregalou os olhos, perplexo, para as palmas das m�os, elas pareciam queimadas, vermelhas, em carne viva.
� Ent�o o mate, seu tolo, e acabe com isso! � guinchou Voldemort.
Quirrell levantou a m�o para jogar uma praga letal, mas Harry, por instinto, esticou as m�os e agarrou a cara de Quirrell.
� AAAAI!
Quirrell saiu de cima dele, seu rosto se encheu de bolhas tamb�m, e ent�o Harry entendeu: Quirrell n�o podia tocar sua pele, sem sofrer dores terr�veis, sua �nica chance era dominar Quirrell, causar-lhe dor suficiente para impedi-lo de lan�ar feiti�os.
Harry ficou em p� de um salto, agarrou Quirrell pelo bra�o e segurou-o com toda a for�a que p�de. Quirrell berrou e tentou se desvencilhar, a dor na cabe�a de Harry estava aumentando, ele n�o conseguia enxergar, ouvia os gritos terr�veis de Quirrell e os berros de Voldemort "MATE-O! MATE-O!" e outras vozes, talvez dentro de sua pr�pria cabe�a, chamando "Harry! Harry�!
Sentiu o bra�o de Quirrell desprender-se com for�a de sua m�o, teve certeza de que tudo estava perdido e mergulhou na escurid�o, cada vez mais profunda.
Alguma coisa dourada estava brilhando logo acima dele. O pomo! Tentou agarr�-lo, mas seus bra�os estavam muito pesado. Piscou os olhos. N�o era o pomo. Eram �culos. Que estranho.
Piscou os olhos outra vez. O rosto sorridente de Alvo Dumbledore entrou em foco curvado sobre ele.
� Boa tarde, Harry � disse Dumbledore.
Harry fixou o olhar nele. Ent�o se lembrou.
� Professor! A Pedra! Foi Quirrell! Ele apanhou a Pedra! Professor, depressa..
� Acalme-se, menino, voc� est� um pouco atrasado. Quirrell n�o apanhou a Pedra.
� Ent�o quem apanhou? Professor? Eu...
� Harry, por favor, relaxe ou Madame Pomfrey vai mandar me expulsar.
Harry engoliu em seco e olhou a sua volta. Percebeu que devia estar na ala do hospital. Achava-se deitado numa cama com len��is de linho brancos e do seu lado havia uma mesa atulhada do que parecia ser a metade da loja de doces.
� Presentes dos seus amigos e admiradores � esclareceu Dumbledore, sorrindo. � Aquilo que aconteceu nas masmorras entre voc� e o professor Quirrell � segredo absoluto, por isso, � claro, a escola inteira j� sabe. Acredito que os nossos amigos, os Srs. Fred e Jorge Weasley foram os respons�veis pela tentativa de lhe mandar um assento de vaso sanit�rio. Com certeza acharam que voc� ia achar engra�ado. Madame Pomfrey, por�m, achou que poderia ser pouco higi�nico e o confiscou.
� H� quanto tempo estou aqui?
� Tr�s dias. O Sr. Ronald Weasley e a Srta. Granger v�o se sentir muito aliviados por voc� ter voltado a si, estavam muit�ssimo preocupados.
� Mas, professor, a Pedra...
� J� vi que voc� n�o se deixa distrair. Muito bem. A Pedra. O Professor Quirrell n�o conseguiu tir�-la de voc�. Cheguei a tempo de impedir que isto acontecesse, embora voc� estivesse se defendendo muito bem sozinho, devo dizer.
� O senhor chegou l�? Recebeu a coruja de Hermione?
� Devemos ter cruzado no ar. Assim que cheguei a Londres, tornou-se claro para mim que o lugar onde deveria estar era aquele de onde acabara de sair. Cheguei a tempo de tirar Quirrell de cima de voc�...
� Ent�o foi o senhor.
� Receei que tivesse chegado tarde demais.
� Quase chegou eu n�o poderia ter mantido Quirrell afastado da Pedra por muito mais tempo..
� N�o da Pedra, menino, de voc�. O esfor�o que voc� fez quase o matou. Por um instante terr�vel, receei que tivesse matado. Quanto � Pedra, ela foi destru�da.
� Destru�da! � exclamou Harry sem entender � Mas o seu amigo... Nicolau Flamel..
� Ah! Voc� j� ouviu falar no Nicolau? � perguntou Dumbledore, parecendo encantado. � Voc� fez mesmo a coisa certa, n�o foi? Bom, Nicolau e eu tivemos uma conversinha e concordamos que assim era melhor.
� Mas isto quer dizer que ele e a mulher v�o morrer, n�o �?
� Eles t�m elixir suficiente para deixar os neg�cios em ordem e ent�o, �, eles v�o morrer.
Dumbledore sorriu ao ver a express�o de surpresa no rosto de Harry.
� Para algu�m jovem como voc�, tenho certeza de que isto parece incr�vel, mas para Nicolau e Perenelle, na verdade, � como se fossem deitar depois de um dia muito, muito longo. Afinal para a mente bem estruturada, a morte � apenas uma grande aventura seguinte. Voc� sabe, a Pedra n�o foi uma coisa t�o boa assim. Todo o dinheiro e a vida que a pessoa poderia querer! As duas coisas que a maioria dos seres humanos escolheriam em primeiro lugar. O problema � que os humanos t�m o cond�o de escolher exatamente as coisas que s�o piores para eles.
Harry ficou ali deitado, sem encontrar o que responder. Dumbledore cantarolou um pouquinho e sorriu para o teto.
� Professor? � disse Harry, � Estive pensando... Professor, mesmo que a Pedra tenha sido destru�da, Vol... Quero dizer, o Senhor-Sabe-Quem...
� Chame-o de Voldemort. Sempre chame as coisas pelo nome que t�m. O medo de um nome aumenta o medo da coisa em si.
� Sim, senhor. Bem, Voldemort vai tentar outras maneiras de voltar, n�o vai? Quero dizer, ele n�o foi de vez, foi?
� N�o, Harry, n�o foi. Continua por a� em algum lugar, talvez procurando outro corpo para compartilhar... Sem estar propriamente vivo ele n�o pode ser morto. Abandonou Quirrell � morte, ele demonstra a mesma falta de piedade tanto com os amigos quanto com os inimigos. No entanto, Harry, embora voc� talvez tenha apenas retardado a volta dele ao poder, da pr�xima vez s� precisaremos de outro algu�m que esteja preparado para lutar o que parece ser uma batalha perdida. E se ele for retardado repetidamente, ora, talvez nunca retome o poder.
Harry concordou com um gesto, mas parou na mesma hora, porque o aceno fez-lhe doer a cabe�a. Ent�o disse:
� Professor, h� outras coisas que gostaria de saber, se o senhor puder me dizer.. Coisas que eu gostaria de saber, a verdade...
� A verdade � suspirou Dumbledore � � uma coisa bela e terr�vel, e, portanto deve ser tratada com grande cautela. Mas, vou responder �s suas perguntas, a n�o ser que haja uma boa raz�o para n�o faz�-lo, caso em que eu pe�o que me perdoe. N�o vou, � claro, mentir.
� Bom... Voldemort disse que s� matou minha m�e porque ela tentou impedi-lo de me matar. Mas por que, afinal, ele iria querer me matar?
Dumbledore suspirou muito profundamente desta vez.
� Que pena, a primeira coisa que voc� me pergunta, eu n�o vou poder responder. N�o hoje. N�o agora.. Voc� vai saber, um dia... Por ora tire isso da cabe�a, Harry. Quando voc� for mais velho... Sei que detesta ouvir isso... Mas quando estiver pronto, voc� vai saber.
E Harry entendeu que n�o ia adiantar insistir.
� Mas por que Quirrell n�o podia me tocar?
� Sua m�e morreu para salvar voc�. Se existe uma coisa que Voldemort n�o consegue compreender � o amor. Ele n�o entende que um amor forte como o de sua m�e por voc� deixa uma marca pr�pria. N�o � uma cicatriz, n�o � um sinal vis�vel.. Ter sido amado t�o profundamente, mesmo que a pessoa que nos amou j� tenha morrido, nos confere uma prote��o eterna. Est� entranhada em nossa pele. Por isso Quirrell, cheio de �dio, avareza e ambi��o, compartindo a alma com Voldemort, n�o podia toc�-lo. Era uma agonia tocar uma pessoa marcada por algo t�o bom.
Ent�o, Dumbledore se interessou muito por um passarinho no peitoril da janela, o que deu tempo a Harry para enxugar os olhos como len�ol. Quando recuperou a voz, disse.
� E a capa da invisibilidade? O senhor sabe quem a mandou para mim?
� Ah, por acaso seu pai deixou-a comigo e eu achei que voc� talvez gostasse. � Os olhos de Dumbledore faiscaram � Coisas �teis.. Seu pai usava-a principalmente para ir escondido a cozinha roubar comida, quando estava aqui.
� E tem mais uma coisa...
� Diga.
� Quirrell disse que Snape...
� O Professor Snape, Harry.
� Sim, senhor, ele... Quirrell disse que ele me odeia porque odiava meu pai. Isso � verdade?
� Bom, eles se detestavam bastante. Mas n�o � diferente de voc� com o Sr. Malfoy. E, al�m disso, seu pai fez uma coisa que Snape nunca p�de perdoar.
� O qu�?
� Salvou a vida dele.
� O qu�?
� �... � disse Dumbledore sonhador � � engra�ado como a cabe�a das pessoas funciona, n�o �? O Professor Snape n�o conseguiu suportar o fato de estar em d�vida com o seu pai. Acredito que tenha se esfor�ado para proteger voc� este ano, porque achou que isso o deixaria quite com o seu pai. Assim podia voltar a odiar a mem�ria do seu pai em paz...
Harry tentou compreender, mas sentiu a cabe�a latejar, por isso parou.
� E, professor, s� mais uma coisa...
� S� essa?
� Como foi que tirei a Pedra do espelho?
� Ah, fico satisfeito que voc� tenha me perguntado. Foi uma das minhas id�ias mais brilhantes, e c� entre n�s, isto � alguma coisa. Sabe, s� uma pessoa que quisesse encontrar a Pedra, encontrar sem us�-la, poderia obt�-la, de outra forma, a pessoa s� iria se ver produzindo ouro e bebendo elixir da vida. O meu c�rebro �s vezes surpreende at� a mim... Agora chega de perguntas. Sugiro que comece a comer esses doces. Ah, feij�ezinhos de todos os sabores! Quando eu era mo�o tive a infelicidade de encontrar um com gosto de v�mito, e desde ent�o receio que tenha perdido o gosto por eles. Mas acho que n�o corro perigo com um gostoso caramelo, n�o acha? � E sorrindo jogou um feij�ozinho caramelo escuro na boca. Ent�o se engasgou e disse:
� Que pena! Cera de ouvido!
Madame Pomfrey, a encarregada do hospital, era uma boa pessoa, mas muito rigorosa.
� S� cinco minutos � suplicou Harry.
� Absolutamente n�o.
� A senhora deixou o Professor Dumbledore entrar.
� Bom, � claro, ele � o diretor, � muito diferente. Voc� precisa descansar.
� Estou descansando, olhe, deitado e tudo. Ah, por favor, Madame Pomfrey.
� Ah, muito bem. Mas s� cinco minutos.
E ela deixou Rony e Hermione entrarem.
� Harry!
Hermione parecia prestes a abra��-lo outra vez, mas Harry gostou que tivesse se contido porque a cabe�a dele ainda estava muito do�da.
� Ah, Harry, nos est�vamos certos que voc� ia.... Dumbledore estava t�o preocupado...
� A escola inteira n�o fala em outra coisa � disse Rony � Mas, no duro, o que foi que aconteceu?
Era uma das raras ocasi�es em que a historia verdadeira � ainda mais estranha e excitante do que os boatos fant�sticos. Harry contou tudo: Quirrell, o espelho, a Pedra e Voldemort.
Rony e Hermione eram bons ouvintes, exclamavam nas horas certas e quando Harry lhes disse o que havia sob o turbante de Quirrell, Hermione soltou um grito.
� Ent�o a Pedra acabou? � perguntou Rony finalmente. � Flamel simplesmente vai morrer?
� Foi o que perguntei, mas Dumbledore acha que... Como foi mesmo?... Que para a mente bem estruturada a morte � a grande aventura seguinte.
� Eu sempre disse que ele era biruta � disse Rony, parecendo muito impressionado com a grande loucura do seu her�i.
� Ent�o o que aconteceu com voc�s dois? � perguntou Harry.
� Bom, eu voltei sem problemas � disse Hermione � Fiz Rony voltar a si, isso levou algum tempo, e est�vamos correndo para o corujal para nos comunicar com Dumbledore quando o encontramos no sagu�o de entrada, ele j� sabia, e s� disse �Harry foi atr�s dele, n�o foi?", e saiu desabalado para o terceiro andar.
� Voc� acha que ele queria que voc� fizesse aquilo? � perguntou Rony. � Mandou a capa do seu pai e tudo o mais?
� Bom! � explodiu Hermione � Se ele fez isso... Quero dizer... Isso � horr�vel... Voc� podia ter sido morto.
� N�o, n�o � horr�vel � disse Harry pensativo � Ele � um homem engra�ado, o Dumbledore. Acho que meio que queria me dar uma chance. Acho que sabe mais ou menos tudo o que acontece por aqui, sabe? Imagino que tivesse uma boa id�ia do que �amos tentar fazer e em lugar de nos impedir, ele simplesmente ensinou o suficiente para nos ajudar. N�o acho que tenha sido por acaso que me deixou descobrir como o espelho funcionava. Era quase como se pensasse que eu tinha o direito de enfrentar Voldemort se pudesse...
� �, a marca de Dumbledore, com certeza � disse Rony orgulhoso. � Olhe, voc� precisa estar bom para a festa de fim de ano, amanh�. Os pontos j� foram todos computados e Sonserina ganhou, � claro. Voc� faltou ao �ltimo jogo de Quadribol, fomos estra�alhados por Cornival sem voc�. Mas a comida vai ser legal.
Nesse instante, Madame Pomfrey irrompeu no quarto.
� Voc�s j� est�o a� h� quinze minutos, agora FORA � disse com firmeza.
Depois de uma boa noite de sono, Harry se sentiu quase normal.
� Quero ir � festa � disse a Madame Pomfrey, quando ela estava arrumando suas muitas caixas de doces � Posso, n�o posso?
� O Professor Dumbledore disse que devo deixar voc� ir � respondeu ela fungando, como se, na sua opini�o, o Professor Dumbledore n�o percebesse os riscos que uma festa pode oferecer � E voc� tem outra visita.
� Que bom. Quem �?
Hagrid foi-se esgueirando pela porta enquanto Harry indagava.
Em geral quando estava dentro de casa, Hagrid parecia demasiado grande para que o deixassem entrar. Sentou-se ao lado de Harry, deu uma olhada e caiu no choro.
� �... Tudo... Minha... Culpa! � solu�ou, o rosto nas m�os. � Eu informei ao mal como passar por Fofo! Eu informei! Era a �nica coisa que ele n�o sabia e eu informei! Voc� podia ter morrido! Tudo por causa de um ovo de drag�o! Nunca mais vou beber! Eu devia ser demitido e mandado viver como trouxa!
� R�beo! � chamou Harry chocado por v�-lo sacudir de tristeza e remorso, as grandes l�grimas se infiltrando pela barba � R�beo, ele teria descoberto de qualquer maneira, estamos falando de Voldemort, teria descoberto mesmo que voc� n�o tivesse informado.
� Mas voc� podia ter morrido! � solu�ou Hagrid � E n�o diga o nome dele!
� VOLDMORT! � berrou Harry, e Hagrid levou um choque t�o grande que parou de chorar.
� Estive com ele cara a cara e vou cham�-lo pelo nome que tem. Por favor, anime-se, R�beo, salvamos a Pedra, ela foi destru�da e ele n�o poder� us�-la. Coma um sapo de chocolate. Tenho um mont�o...
Hagrid secou o nariz como dorso da m�o e disse:
� Ah, isso me lembra. Trouxe um presente para voc�.
� N�o � um sandu�che de carne de arminho, �? � perguntou Harry. Abriu-o curioso e, finalmente, Hagrid deu uma risadinha.
� N�o, Dumbledore me deu folga ontem para eu providenciar. Claro, devia mais � ter me demitido. Em todo o caso, trouxe isto para voc�...
Parecia ser um belo livro encadernado em couro. Harry abriu-o, curioso. Estava cheio de retratos de bruxos, de cada p�gina, sorrindo e acenando para ele, estavam sua m�e e seu pai.
� Mandei corujas para todos os velhos amigos de escola de seu pai e sua m�e, pedindo fotos... E sabia que voc� n�o tinha nenhuma... Gostou?
Harry nem conseguiu falar, mas Hagrid compreendeu.
Harry desceu para a festa de fim de ano sozinho aquela noite.
Atrasara-se com os cuidados de Madame Pomfrey, que insistiu em lhe fazer um �ltimo check-up, de modo que o sal�o principal j� se enchera. Estava decorado com as cores de Sonserina, verde e prata, para comemorar sua conquista do campeonato das casas pelo s�timo ano consecutivo. Uma enorme bandeira com a serpente de Sonserina cobria a parede atr�s da mesa principal.
Quando Harry entrou houve um sil�ncio moment�neo e em seguida todos come�aram a falar alto e ao mesmo tempo. Ele se sentou discretamente numa cadeira entre Rony e Hermione � mesa da Grifin�ria e tentou fingir que n�o via as pessoas se levantarem para espi�-lo.
Felizmente, Dumbledore chegou instantes depois. A algazarra foi serenando.
� Mais um ano que passou! disse Dumbledore alegremente. � E preciso incomodar voc�s com a fala��o asm�tica de um velho antes de cairmos de boca nesse delicioso banquete. E que ano tivemos! Espero que as suas cabe�as estejam um pouquinho menos ocas do que antes... Voc�s t�m o ver�o inteiro para esvazi�-las muito bem, antes do pr�ximo ano letivo. Agora, pelo que entendi, a Ta�a das Casas deve ser entregue e a contagem de pontos � a seguinte: em quarto lugar Grifin�ria com trezentos e doze pontos, em terceiro, Lufa-Lufa, com trezentos e cinq�enta e dois pontos, Corvinal, com quatrocentos e vinte e seis, e Sonserina com quatrocentos e setenta e dois pontos.
E uma tempestade de p�s e m�os batendo irrompeu da mesa de Sonserina. Era uma cena nauseante.
� Sim, senhores, Sonserina est� de parab�ns. No entanto, temos de levarem conta os recentes acontecimentos.
A sala mergulhou em profundo sil�ncio.
� Tenho alguns pontos de �ltima hora para conferir. Vejamos. Sim... Primeiro: ao Sr. Ronald Weasley...
O rosto de Rony se coloriu de vermelho vivo, parecia um rabanete que apanhara sol demais na praia.
� ... Pelo melhor jogo de xadrez presenciado por Hogwarts em muitos anos, eu confiro � Grifin�ria cinq�enta pontos.
Os vivas da Grifin�ria quase levantaram o teto encantado, as estrelas l� no alto pareceram estremecer.. Ouviram Percy dizer aos outros monitores: "� o meu irm�o, sabem! O meu irm�o ca�ula! Venceu uma partida no jogo vivo de xadrez de MacGonagall!�
Finalmente voltaram a fazer sil�ncio.
� Segundo: a Senhorita Hermione Granger... Pelo uso de l�gica inabal�vel diante do fogo, concedo � Grifin�ria cinq�enta pontos.
Hermione escondeu o rosto nos bra�os, Harry teve a forte suspeita de que ca�ra no choro. Os alunos da Grifin�ria por volta da mesa n�o cabiam em si de contentes, tinham subido cem pontos.
� Terceiro: ao Sr. Harry Potter � A sala ficou mortalmente silenciosa. � Pela frieza e excepcional coragem, concedo � Grifin�ria sessenta pontos.
A balb�rdia foi ensurdecedora. Os que conseguiam somar enquanto berravam de ficar roucos sabiam que Grifin�ria agora chegara a quatrocentos e setenta e dois pontos � exatamente o mesmo que Sonserina. Precisariam sortear a Ta�a das Casas, se ao menos Dumbledore tivesse dado a Harry mais um pontinho.
Dumbledore ergueu a m�o. A sala gradualmente se aquietou.
� Existe todo tipo de coragem � disse Dumbledore sorrindo. � � preciso muita aud�cia para enfrentarmos os nossos inimigos, mas igual aud�cia para defendermos os nossos amigos. Portanto, concedo dez pontos ao Sr. Neville Longbottom.
Algu�m que estivesse do lado de fora do sal�o principal poderia ter pensado que ocorrera uma explos�o, t�o alta foi a barulheira que irrompeu na mesa da Grifin�ria. Harry, Rony e Hermione se levantaram para gritar e dar vivas enquanto Neville, branco de susto, desaparecia debaixo de uma montanha de gente que o abra�ava. Jamais ganhara um �nico ponto para Grifin�ria antes. Harry, ainda gritando, cutucou Rony nas costelas indicando Malfoy, que n�o poderia ter feito uma cara mais perplexa e horrorizada se tivesse acabado de ser encantado com o Feiti�o do Corpo Preso.
� O que significa � continuou Dumbledore procurando se sobrepor � tempestade de aplausos, porque at� Cornival e Lufa-Lufa estavam comemorando a derrota de Sonserina � que precisamos fazer uma pequena mudan�a na decora��o.
E, dizendo isto, bateu palmas. Num instante, os panos verdes se tornaram vermelhos e, os prateados, dourados, a grande serpente de Sonserina desapareceu e o imponente le�o da Grifin�ria tomou o seu lugar, Snape apertou a m�o da Professora Minerva, com um horr�vel sorriso amarelo. Seu olhar encontrou o de Harry e o menino percebeu, no mesmo instante, que os sentimentos de Snape com rela��o a ele n�o tinham mudado nem um pingo. Isto n�o o preocupou. Parecia-lhe que sua vida voltaria ao normal no pr�ximo ano, ou t�o normal quanto ela poderia ser em Hogwarts.
Foi a melhor noite da vida de Harry, melhor do que a vit�ria no Quadribol ou a ceia de Natal ou o encontro com o trasgo... Jamais esqueceria esta noite.
Harry quase esquecera que os resultados dos exames ainda estavam por vir, mas eles n�o deixaram de vir, Para sua grande surpresa, tanto ele quanto Rony passaram com boas notas, Hermione, � claro, foi a melhor do ano. At� Neville passou raspando, sua boa nota em Herbologia compensou a p�ssima nota em Po��es. Tinham tido esperan�as de que Goyle, que era quase t�o burro quanto era mau, fosse expulso, mas ele tamb�m passou.
Foi uma pena, mas como disse Rony, n�o se podia ter tudo na vida.
E, de repente, seus guarda-roupas ficaram vazios, os mal�es arrumados, o sapo de Neville foi encontrado escondido em um canto do banheiro, as notas foram entregues a todos os alunos, com o aviso de que n�o fizessem bruxarias durante as f�rias.
� Eu sempre tenho a esperan�a de que eles se esque�am de entregar as notas e o aviso � lamentou Fred Weasley.
Hagrid estava a postos para lev�-los � flotilha de barcos que fazia a travessia do lago, e, no momento seguinte, estavam embarcando no Expresso de Hogwarts, conversando e rindo � medida que os campos se tornavam mais verdes e mais cuidados, comendo feij�ezinhos de todos os sabores enquanto atravessavam as cidades dos trouxas, trocando as vestes de bruxos pelos blus�es e palet�s, parando na plataforma 9 e � na esta��o de King's Cross.
Levou um bom tempo para todos desembarcarem na plataforma. Um guarda muito velho estava postado na sa�da e os deixava passar em grupos de dois e tr�s para n�o chamarem aten��o ao irromper todos ao mesmo tempo por uma parede s�lida, assustando os trouxas.
� Voc�s precisam vir passar uns dias conosco � disse Rony � Os dois. Vou mandar uma coruja para voc�s.
� Obrigado � disse Harry � Preciso ter alguma coisa por que esperar.
As pessoas passavam empurrando-se ao se dirigirem para a sa�da para o mundo dos trouxas. Alguns gritavam.
� Tchau, Harry!
� Nos vemos por ai, Potter!
� Continua famoso � comentou Rony, sorrindo para o amigo.
� N�o aonde eu vou, posso lhe garantir.
Ele, Rony e Hermione passaram juntos pelo port�o.
� Olha l� ele, mam�e, olha l� ele, olha!
Era Gina Weasley, a irm�zinha de Rony, mas n�o apontava para Rony.
� Harry Potter! � gritou com a vozinha fina. � Olhe, mam�e! Estou vendo...
� Fique quieta, Gina, � falta de educa��o apontar.
A Sra. Weasley sorriu para eles.
� Muito trabalho este ano?
� Muito � respondeu Harry. � Obrigado pelas barrinhas de chocolate e pelo su�ter, Sra. Weasley.
� Ah, de nada, querido.
� Est� pronto?
Era tio V�lter, ainda com a cara vermelhona, ainda bigodudo, ainda parecendo furioso com a aud�cia de Harry de andar carregando a coruja numa gaiola por uma esta��o cheia de gente normal. Atr�s dele, achava-se tia Pet�nia e Duda, parecendo aterrorizados s� de olhar para Harry.
� Voc�s devem ser a fam�lia de Harry! � falou a Sra. Weasley.
� Por assim dizer � respondeu tio V�lter � Ande logo, menino, n�o temos o dia inteiro. � E se afastou.
Harry ainda demorou para trocar uma �ltima palavrinha com Rony e Hermione.
� Vejo voc�s durante as ferias, ent�o.
� Espero que voc� tenha... H�... Umas boas f�rias � disse Hermione, olhando hesitante para tio V�lter, espantada que algu�m pudesse ser t�o desagrad�vel.
� Ah, claro que sim � respondeu Harry, e eles ficaram surpresos com o sorriso que se espalhava pelo seu rosto. � Eles n�o sabem que n�o podemos fazer bruxarias em casa. Vou me divertir � be�a com o Duda este ver�o...
FIM