harry potter e a ordem da fenix

harry potter e a ordem da fenix

Harry Potter e a Ordem da F�nix


  
-- CAP�TULO 1 --
DUDA DEMENTE


O dia mais quente do ver�o at� ent�o estava chegando ao fim e um sil�ncio sonolento ca�a sobre as grandes casas quadradas da Rua dos Alfeneiros. Os carros que normalmente resplandeciam estavam empoeirados nos passeios e gramados que uma vez foram verde esmeralda e agora estavam secos e amarelados - pelo uso de mangueiras que haviam sido banidas devido � seca. Privados da lavagem dos carros e apara��o da grama, os habitantes da Rua dos Alfeneiros se retirara  para a sombra de suas casas frescas, as janelas arreganhadas na esperan�a de atrair uma brisa inexistente. A �nica pessoa no lado de fora era um adolescente deitado de costas num canteiro de flores no exterior do n�mero quatro.

Ele era um garoto esquel�tico, cabelos pretos e �culos, tinha uma apar�ncia ligeiramente n�o saud�vel de algu�m que crescera demais num pequeno espa�o de tempo. Suas cal�as jeans eram gastas e sujas, sua camiseta  larga e desbotada, as solas de seus t�nis estavam se soltando. A apar�ncia de Harry Potter n�o o tornava querido pelos vizinhos, que eram o tipo de pessoa que achava que o desmazelamento deveria ser punido pela lei, mas j� que ele se escondera atr�s de um grande arbusto de hort�nsias, esta noite ele estava bem invis�vel aos passantes. De fato, o �nico modo de ser notado era se seu tio V�lter ou tia Pet�nia meterem suas cabe�as para fora da janela da sala de estar e olharem direto para o canteiro abaixo.

Por tudo, Harry achava que devia ser parabenizado pela id�ia de se esconder ali. Ele n�o estava, talvez, muito confort�vel deitado na terra quente e dura mas, por outro lado, ningu�m estava olhando feio para ele, rangendo os dentes t�o alto que ele n�o conseguia ouvir as not�cias ou lan�ando perguntas nojentas para ele, como acontecera toda vez que tentara se sentar na sala para assistir a televis�o com os tios.

Quase como se este pensamento tivesse flutuado pela janela aberta, V�lter Dursley, o tio de Harry, de repente falou.

- Bom ver que o garoto parou de tentar se meter. Onde ele est�, ali�s?

- N�o sei - disse tia Pet�nia, indiferente. - N�o est� na casa.

Tio V�lter resmungou.

- Assistindo o jornal - ele disse ofensivamente -, gostaria de saber o que ele est� realmente aprontando. Como se um garoto normal se importasse com as not�cias. Dudley n�o tem a menor id�ia do que est� acontecendo; duvido que saiba quem � o Primeiro Ministro! De qualquer forma, n�o � como se houvesse algo sobre a turma dele no nosso jornal.

- V�lter, psiu! - disse tia Pet�nia. - A janela est� aberta!

- Ah, sim, desculpe, querida.

Os Dursley silenciaram-se. Harry escutou uma m�sica de comercial sobre o cereal Fruit'n' Bran enquanto observava a Sra. Figg, uma velha senhora louca que adorava gatos da pr�xima Wisteria Walk, passar trotando vagarosamente. Estava de testa franzida e murmurando para si. Harry ficou muito feliz por estar escondido atr�s do arbusto, j� que a Sra. Figg recentemente o chamava para tomar ch� toda vez que o encontrava na rua. Ela tinha virado a esquina e desaparecido de vista antes da voz de tio V�lter flutuar para fora da janela de novo.

 - Dudinha saiu para o ch�?

- Na casa dos Polkiss � disse tia Pet�nia carinhosamente. - Ele tem tantos amiguinhos, � t�o popular.

Harry suprimiu um ronco com dificuldade. Os Dursley realmente eram incrivelmente est�pidos quando se tratava de seu filho, Dudley. Eles tinham engolido todas suas fracas mentiras sobre tomar ch� com um membro diferente de sua turma toda noite das f�rias de ver�o. Harry sabia perfeitamente bem que Dudley n�o tomava ch� em lugar algum; ele e sua turma passavam toda noite destruindo o parque de divers�es, fumando nas esquinas das ruas e atirando pedras nos carros e crian�as que passavam. Harry os vira fazer isso durante suas caminhadas noturnas por Little Whinging; passara a maior parte de suas f�rias vagando pelas ruas, varrendo as ruas ca�ando jornais das latas de lixo pelo caminho.

As notas de abertura da m�sica que marcava o telejornal das sete horas chegou aos ouvidos de Harry e seu est�mago se embrulhou. Quem sabe esta noite - depois de um m�s de espera - seria a noite.

"N�meros recordes de turistas encalhados enchem os aeroportos enquanto a greve dos carregadores de bagagens espanh�is chega a sua segunda semana."

- Daria a eles uma cesta por toda vida, eu daria - reclamou o tio V�lter no fim da frase do locutor, mas n�o importava: do lado de fora, no canteiro, o est�mago de Harry parecera abrir-se. Se alguma coisa houvesse ocorrido com certeza seria o primeiro item do notici�rio; morte e destrui��o eram mais importantes do que turistas encalhados.

Ele soltou um longo e baixo suspiro e ergueu os olhos para o brilhante c�u azul. Todos os dias deste ver�o tinham sido iguais: a tens�o, a expectativa, o al�vio tempor�rio e ent�o a crescente tens�o de novo... E sempre, ficando mais insistente todo tempo, a pergunta de por que nada tinha acontecido ainda.

Continuou escutando, s� em caso de haver alguma pequena pista, n�o reconhecida pelo que realmente era pelos trouxas - um desaparecimento inexplicado, quem sabe, ou algum acidente estranho... Mas a greve dos carregadores de bagagem foi seguida pelas not�cias sobre a seca no Sudeste.

- Espero que esteja ouvindo a� no vizinho! - berrou tio V�lter. - E seu regador �s tr�s da manh�! - ent�o um helic�ptero que tinha quase ca�do num campo em Surrey, ent�o o div�rcio de uma famosa atriz do seu famoso marido.

- Como se estiv�ssemos interessados sobre seus casos s�rdidos -, fungou tia Pet�nia, que estivera seguindo o caso obsessivamente em cada revista que pudesse por suas m�os ossudas.

Harry fechou os olhos contra o c�u noturno agora flamejante enquanto o locutor dizia: e finalmente, Bungy, o periquito descobriu um novo modo de manter-se fresco neste ver�o. Bungy, que vive no Cinco Penas em Barnsley, aprendeu o ski aqu�tico! Mary Dorkins foi descobrir mais.

Harry abriu os olhos. Se tinham chegado aos periquitos que faziam ski aqu�tico n�o havia mais nada que valesse ouvir. Ele rolou cuidadosamente e se p�s de quatro, preparando-se para rastejar para longe da janela.

Ele se mexera cerca de dois cent�metros quando v�rias coisas aconteceram numa sucess�o bem r�pida.

Um som de chicote alto e ecoante quebrou o sil�ncio sonolento como um tiro; um gato correu debaixo de um carro estacionado e fugiu de vista; um berro, um xingamento gritado e o som de porcelana quebrando veio da sala de estar dos Dursley, e embora este fosse o sinal que Harry estivera esperando, ele se p�s de p� num salto, ao mesmo tempo tirando do c�s do jeans uma fina varinha de madeira como se estivesse desembainhando uma espada - mas antes que pudesse se p�r de p� completamente o topo de sua cabe�a colidiu com a janela aberta dos Dursley. O barulho resultante fez tia Pet�nia gritar ainda mais alto.

Harry sentiu como se sua cabe�a tivesse rachado em duas. Os olhos marejando, ele cambaleou, tentando concentra-se na rua para achar a fonte do barulho, mas mal tinha se endireitado quando duas grandes m�os p�rpuras passaram pela janela aberta e fecharam-se com for�a em volta de sua garganta.

- Esconda isso! � tio V�lter resmungou no ouvido de Harry. - Agora. Antes que algu�m veja!

- Tira as m�os de mim! - Harry arfou. Por alguns segundos eles lutaram, Harry afastando os dedos tipo salsicha com a m�o esquerda, sua direita segurando com for�a sua varinha erguida; ent�o, enquanto a dor no alto da cabe�a de Harry deu uma pulsa��o particularmente ruim, tio V�lter gritou e soltou Harry como se tivesse recebido um choque el�trico. Alguma for�a invis�vel parecia ter passado pelo seu sobrinho, tornando-o imposs�vel de se segurar.

Ofegando, Harry caiu sobre o arbusto de hort�nsias, endireitou-se e olhou em torno. N�o havia sinal do que causara o sonoro barulho de chicote, mas havia v�rios rostos espiando atrav�s de v�rias janelas pr�ximas. Guardou sua varinha rapidamente nos jeans e tentou parecer inocente.

- Noite ador�vel! - gritou Tio Vernon, acenando para a Sra. do n�mero sete, do lado oposto, que olhava furiosa detr�s de suas cortinas. - Ouviram o escape bem agora? Deu a mim e a Pet�nia um susto!

Ele continuou a sorrir de um modo horr�vel e man�aco at� que todos os vizinhos curiosos desaparecessem de suas v�rias janelas, ent�o o sorriso tornou-se uma careta de �dio enquanto acenava para Harry se aproximar.

Harry se aproximou mais alguns passos, tomando cuidado de parar um pouco antes do ponto em que as m�os esticadas de tio V�lter pudessem continuar seu estrangulamento.

- Que diabos voc� quer com isso, garoto? - perguntou tio V�lter numa voz coaxante que tremia com f�ria.

- O que eu quero com o qu�? - disse Harry friamente. Mantinha-se olhando para a esquerda e para direita da rua, ainda esperando ver a pessoa que tinha feito o barulho.

- Fazer uma algazarra como um rev�lver bem do lado de fora de nossa...

- N�o fiz aquele barulho - disse Harry com firmeza.

O fino rosto de cavalo de tia Pet�nia agora aparecia ao lado do grande e p�rpura do tio V�lter. Ela parecia l�vida.

- Por que estava se escondendo debaixo de nossa janela?

- Sim... Sim, boa pergunta, Pet�nia! O que estava fazendo debaixo da janela, garoto?

- Escutando o notici�rio - disse Harry numa voz resignada.

Seus tios trocaram olhares de horror.

- Escutando o notici�rio! De novo?

- Bom, ele muda todo dia, sabe - disse Harry.

- N�o banque o espertinho comigo, garoto! Quero saber o que voc� est� aprontando de verdade. E n�o me d� mais desta hist�ria idiota de escutar as not�cias! Voc� sabe perfeitamente bem que sua laia...

- Cuidado, V�lter! - sussurrou tia Pet�nia, e tio V�lter abaixou a voz de modo que Harry mal conseguia ouvi-lo. - Que sua laia n�o aparece nos nossos notici�rios!

- Isso � tudo que voc� sabe - disse Harry.

Os Dursley arregalaram os olhos para ele por alguns segundos, depois tia Pet�nia disse.

- Voc� � um mentirozinho nojento. O que est�o todas aquelas - ela tamb�m abaixou a voz de modo que Harry teve que ler seus l�bios a pr�xima palavra - corujas fazendo se n�o est�o te trazendo not�cias?

- Ah�! - disse tio V�lter num sussurro de triunfo. - Saia desta, garoto! Como se n�o soub�ssemos que voc� consegue todas suas not�cias com aqueles p�ssaros pestilentos!

Harry hesitou por um momento. Custava algo a ele contar a verdade desta vez, embora seus tios possivelmente n�o pudessem saber qu�o ruim ele se sentia em admitir isso.

- As corujas... N�o me trazem not�cias - ele disse sem emo��o.

- N�o acredito nisso - disse tia Pet�nia imediatamente.

- N�o mais do que eu - disse tio V�lter poderosamente. - N�o somos tolos, sabe.

- Bom, isso � novidade para mim - disse Harry, seu humor piorando, e antes que os Dursley pudessem cham�-lo de volta ele girou nos calcanhares, cruzou o gramado da frente, pulou o baixo muro do jardim e saiu caminhando pela rua.

Ele estava com problemas agora e sabia disso. Teria que enfrentar os tios depois e pagar o pre�o por sua rudeza, mas n�o se importava muito no momento; tinha assuntos muito mais s�rios na cabe�a.

Harry tinha certeza de que o barulho de chicote tinha sido feito por algu�m aparatando ou desaparatando. Era exatamente o som que Dobby, o elfo dom�stico, fazia quando desaparecia no em pleno ar. Era poss�vel que Dobby estivesse ali, na Rua dos Alfeneiros? Dobby poderia o estar seguindo bem agora? Enquanto este pensamento lhe ocorreu, ele girou em torno e fitou a Rua dos Alfeneiros, mas ela parecia estar completamente deserta e tinha certeza de que Dobby n�o sabia como se tornar invis�vel.

Ele continuou a caminhar, quase sem notar a rota que tomava, pois vagara por estas ruas com tanta freq��ncia ultimamente que seus p�s o carregavam pelos caminhos favoritos automaticamente. Dava alguns passos e olhava para tr�s. Algu�m m�gico estivera perto dele, enquanto deitava-se entre as beg�nias moribundas de tia Pet�nia, tinha certeza disso. Por que n�o falara com ele, por que n�o fizera contato, por que estavam escondendo-se agora?

E ent�o, enquanto seu sentimento de frustra��o chegava ao m�ximo, sua certeza esvaziou-se. Quem sabe n�o seria nenhum som m�gico, afinal de contas. Quem sabe ele estivera t�o desesperado pelo menor sinal de contato do mundo ao qual pertencia que estava simplesmente exagerando com barulhos perfeitamente normais. Teria ele certeza de que n�o fora o som de algo se quebrando dentro de uma casa vizinha?

Harry sentiu afundar tolamente seu est�mago e antes que percebesse o sentimento de desesperan�a que o atormentara por todo ver�o jorrou sobre ele mais uma vez.

Amanh� de manh� ele seria acordado pelo despertador �s cinco horas, de modo que pudesse pagar a coruja que entregava o Profeta Di�rio - mas havia algum sentido em continuar a receb�-lo? Harry meramente olhava para a primeira p�gina antes de atir�-lo fora ultimamente; quando os idiotas que dirigiam o jornal finalmente percebessem que Voldemort estava de volta, isso seria manchete, e este era o �nico tipo de not�cia em que se interessava.

Se tivesse sorte, tamb�m haveria corujas carregando cartas de seus melhores amigos Rony e Hermione, embora qualquer esperan�a que ele tivera de que as cartas deles trouxessem not�cias h� muito tinha sido frustrada.

N�s n�o podemos dizer muito sobre voc�-sabe-o-qu�, obviamente... Recebemos ordens de n�o dizer nada importante, no caso de nossas cartas serem desviadas... Estamos bem ocupados, mas n�o posso dar detalhes. H� muita coisa acontecendo, contaremos tudo quando o vermos.

Mas quando eles iriam v�-lo? Ningu�m parecia se incomodar muito com a data precisa. Hermione rabiscara "Espero v�-lo em breve" dentro do cart�o de anivers�rio mas qu�o em breve isso era? At� onde Harry podia dizer das vagas pistas das cartas deles, Hermione e Rony estava no mesmo lugar, provavelmente na casa dos pais de Rony. Ele mal conseguia ag�entar a id�ia deles se divertindo n'A Toca quando ele estava preso na Rua dos Alfeneiros. De fato, ele estava t�o zangado com eles que tinha jogado fora, sem abrir, as duas caixas de chocolates da Dedosdemel que tinham enviaram pelo anivers�rio. Arrependera-se mais tarde, depois da murcha salada que tia Pet�nia fizera para o jantar daquela noite.

E com o que Rony e Hermione estavam ocupados? Por que n�o estava ele, Harry, ocupado? N�o provara ser capaz de lidar com muito mais do que eles? Tinham todos esquecido o que ele fizera? N�o tinha sido ele quem entrara naquele cemit�rio e assistira Cedrico ser assassinado e fora amarrado naquela l�pide e quase morto?

"N�o pense nisso", Harry disse a si mesmo firmemente, pela cent�sima vez naquele ver�o. J� era muito ruim ele ficar revisitando o cemit�rio nos pesadelos, sem ter que lidar com eles nas horas em que estava acordado tamb�m.

Ele virou uma esquina na Rua Magn�lia; no meio do caminho passou pelo estreito beco do lado de uma garagem, onde ele dera de cara com seu padrinho pela primeira vez. Sirius, pelo menos, parecia entender como Harry se sentia. Na verdade, as cartas dele eram t�o vazias de not�cias quanto as de Rony e Hermione mas pelo menos continham palavras de cautela e consolo, em vez de pistas irritantes:

"Sei que isso deve ser frustrante para voc�... Fique com o nariz limpo e tudo ficar� bem... Seja cuidado e n�o fa�a nada precipitado."

Bom, pensou Harry enquanto cruzava a Rua Magn�lia, virava para a Magnolia Road e se dirigia para o parque de divers�es escurecido, ele tinha (no geral) feito o que Sirius aconselhara.

Tinha pelo menos resistido � tenta��o de amarrar seu mal�o na vassoura e partir para A Toca sozinho. De fato, Harry achava que seu comportamento fora muito bom, considerando qu�o frustrado e zangado se sentia, preso na Rua dos Alfeneiros por tanto tempo, reduzido a se esconder em canteiros de flores, na esperan�a de ouvir algo que pudesse apontar o que Lord Voldemort estava fazendo. No entanto, era bem torturante receber ordem de n�o ser imprudente por um homem que passara doze anos numa pris�o bruxa, Azkaban, fugira, tentara cometer o assassinato pelo qual fora condenado inicialmente, ent�o fugira com um hipogrifo roubado.

Harry saltou sobre o port�o trancado do parque e andou pelo gramado seco. O parque estava t�o vazio quanto �s ruas em torno. Quando alcan�ara os balan�os, ele afundara no �nico que Dudley e seus amigos n�o haviam conseguido quebrar ainda, enrolou um bra�o em volta da corrente e fitou o ch�o com mau humor. N�o seria capaz de se esconder no canteiro dos Dursley novamente. Amanh� teria que pensar num modo novo de ouvir as not�cias. Enquanto isso n�o tinha pelo que esperar a n�o ser outra noite perturbadora e sem descanso, porque mesmo quando ele escapava dos pesadelos com Cedrico, tinha preocupantes sonhos com longos corredores escuros, todos terminando em becos sem sa�da e portas trancadas, que supunha ter algo a ver com o sentimento preso que tinha quando estava acordado. Freq�entemente a velha cicatriz na testa beliscava desconfortavelmente, mas n�o se enganava que Rony e Hermione ou Sirius fossem achar que aquilo ainda era interessante. No passado, sua cicatriz doer tinha avisado que Voldemort estava se fortalecendo novamente, mas agora que Voldemort estava de volta ela provavelmente o lembraria que sua irrita��o regular era somente algo a ser esperado... Nada com que se preocupar... Not�cia antiga...

A injusti�a disso tudo corria dentro dele de modo que queria gritar de �dio. Se n�o fosse por ele, ningu�m nem mesmo saberia que Voldemort estava de volta! E sua recompensa fora ficar preso em Little Whinging por quatro semanas inteiras, completamente cortado do mundo bruxo, reduzido a se agachar entre beg�nias moribundas, de modo que pudesse ouvir sobre periquitos que faziam ski aqu�tico! Como Dumbledore poderia ter esquecido dele t�o facilmente? Por que Rony e Hermione tinham se encontrado sem convid�-lo tamb�m? Qu�o mais ele deveria ag�entar Sirius lhe dizendo para sentar direito e ser um bom rapaz; ou resistir � tenta��o de escrever para o est�pido Profeta Di�rio e avisar que Voldemort voltara? Estes pensamentos furiosos rodilhavam-se na cabe�a de Harry e seu interior torcia-se com raiva, enquanto uma noite de veludo sufocante ca�a em torno, o ar cheio do cheiro da grama quente e seca, o �nico som que havia era o rugido do tr�fego da estrada al�m das cercas do parque.

N�o sabia por quanto tempo ficara sentado no balan�o, antes que o som de vozes interrompesse suas reflex�es e ele ergueu os olhos. Os postes das ruas vizinhas lan�avam um brilho nebuloso forte o suficiente para delinear um grupo de pessoas caminhando pelo parque. Uma delas estava cantando uma can��o alta e rude. As outras estavam rindo. Um barulho suave veio de v�rias bicicletas caras que estavam pedalando.

Harry sabia quem eram aquelas pessoas. A figura da frente era inegavelmente seu primo, Dudley Dursley, indo para casa, acompanhado por sua fiel turma.

Dudley estava t�o largo quanto sempre, mas um ano de r�gida dieta e a descoberta de um novo talento tinha forjado uma boa mudan�a no seu f�sico. Como tio V�lter dizia prazerosamente a qualquer um que ouvisse, Dudley recentemente se tornara o Campe�o de Boxe Peso Pesado J�nior Interescolar do sudeste. "O nobre esporte", como tio V�lter o chamava, tinha tornado Dudley ainda mais formid�vel do que parecia a Harry nos dias do prim�rio quando ele servira de primeiro saco de pancadas de Dudley. Harry nem remotamente temia mais seu primo, mas ainda n�o achava que Dudley aprender a socar mais forte e com mais precis�o fosse motivo de comemora��o. As crian�as do bairro estavam aterrorizadas com ele - ainda mais do que eram "daquele garoto Potter" que, tinham sido avisados, era um v�ndalo insens�vel e freq�entava o Centro de Seguran�a St. Brutus para Rapazes Criminosos Incur�veis.

Harry observava as figuras escuras cruzando a grama e se perguntava em quem bateram naquela noite. Olhem em volta, Harry se descobriu pensando enquanto os observava. "Vamos... Olhem em volta... Estou sentado aqui completamente sozinho... Venham aproveitar..."

Se os amigos de Dudley o vissem sentado ali com certeza entrariam em fila para chegar nele, o que Dudley faria ent�o? Ele n�o queria perder a pose na frente da turma ele ficaria assustado em provocar Harry... Seria mesmo divertido assistir o dilema de Dudley, para zomb�-lo, observ�-lo, com ele impotente para responder... E se qualquer dos outros tentasse acertar Harry ele estava pronto - tinha sua varinha. Deixe-os tentar... Ele adoraria descarregar sua frustra��o nos rapazes que uma vez haviam tornado sua vida um inferno.

Mas eles n�o se voltaram, eles n�o o viram, estavam quase nas cercas. Harry dominou o impulso de cham�-los... Procurar briga n�o era uma boa id�ia... Ele n�o devia usar m�gica... Estaria se arriscando a ser expulso de novo. As vozes da turma de Dudley esmoreceram; sa�ram de vista, dirigindo-se pela  Magnolia Road.

"A� est�, Sirius", Harry pensou tolamente. "Nada imprudente. Fique com o nariz limpo. Exatamente o oposto do que voc� fez".

Ele se p�s de p� e espregui�ou. Tia Pet�nia e tio V�lter pareciam sentir que quando Dudley aparecesse era a hora certa de estar em casa e qualquer momento depois disso era tarde demais. Tio V�lter amea�ara trancar no arm�rio se ele voltasse para casa depois de Dudley de novo, ent�o, reprimindo um bocejo e ainda de cara feia, Harry saiu em dire��o ao port�o do parque.

A Magnolia Road, como a Rua dos Alfeneiros, era cheia de grandes casas quadradas com passeios perfeitamente tratados, todas possu�das por donos grandes e quadrados, que dirigiam carros limp�ssimos, parecidos com o do tio V�lter. Harry preferia Little Whinging � noite, quando as janelas cortinadas lan�avam quadrados de cor brilhantes como j�ias na escurid�o e ele n�o corria perigo de ouvir os murm�rios de desaprova��o sobre sua apar�ncia "delinq�ente" quando passava pelos moradores. Ele andava rapidamente, de modo que na metade do caminho da Magnolia Road a turma de Dudley apareceu novamente; estavam despedindo-se na entrada da Rua Magn�lia. Harry entrou nas sombras de uma imensa �rvore e esperou.

"... gritou como um porco, n�o foi?", Malcolm dizia, para rir dos outros.

"Belo gancho de direita, Grande D", disse Pedro.

"Mesma hora amanh�?", disse Dudley.

"Perto da minha casa, meus pais estar�o fora", disse Gordon.

"At� l�, ent�o", disse Dudley.

"At�, Dud!"

"At� logo, Grande D!"

Harry esperou que o resto da turma continuasse antes de andar novamente. Quando suas vozes tinham desaparecido mais uma vez dobrou a esquina para a Rua Magn�lia e andando bem r�pido logo chegou a uma pequena dist�ncia de Dudley, que estava passeando cantarolando sua m�sica desafinada.

- Hey, Grande D!

Dudley se voltou.

- Ah - ele resmungou. - � voc�.

- Desde quando voc� � "Grande D"? - disse Harry.

- Cale-se - reclamou Dudley, virando-se.

- Nome legal - disse, sorrindo e mantendo o passo ao lado do primo. - Mas voc� sempre ser� Dudinha para mim.

- Eu disse, CALE-SE! - disse Dudley, cujas m�os parecidas com presunto tinham fechado-se em punhos.

- Os rapazes n�o sabem que � assim que sua m�e o chama?

- Fecha a boca.

- Voc� n�o a manda fechar a boca. Que tal "Popkin" e "Dinky Diddydums", posso us�-los ent�o?

Dudley n�o disse nada. O esfor�o de evitar bater em Harry parecia exigir todo seu autocontrole.

- Ent�o, em quem esteve batendo esta noite? - Harry perguntou, seu sorriso desaparecendo. - Outro garoto de dez anos? Eu sei o que voc� fez com Mark Evans h� duas noites.

- Ele estava pedindo isso - reclamou Dudley.

- Ah, �?

- Ele foi insolente.

- �? Ele disse que voc� parecia com um porco que aprendeu a andar com as patas traseiras? Porque isso n�o � ser insolente, Duda, � a verdade.

Um m�sculo estava tremendo na mand�bula de Dudley. Dava a Harry uma enorme satisfa��o saber qu�o furioso ele estava tornando Dudley; sentia como se estivesse esvaziando sua pr�pria frustra��o no seu primo, o �nico escape que possu�a.

Viraram exatamente no estreito beco onde Harry vira Sirius pela primeira vez e que era um atalho entre a Rua Magn�lia e Wisteria Walk. Estava vazio e muito mais escuro do que as ruas que ele ligava, porque n�o havia postes. Seus passos eram abafados entre as paredes da garagem de um lado e uma alta cerca do outro.

- Voc� acha que alguma coisa carregando essa coisa, n�o �? - Dudley disse depois de alguns segundos.

- Que coisa?

- Essa... Essa coisa que est� escondendo.

Harry sorriu de novo.

- N�o � t�o idiota quanto parece, n�o �, Duda? Mas suponho que, se fosse, n�o seria capaz de falar e andar ao mesmo tempo.

Harry tirou a varinha. Viu Dudley olhar de esguelha para ela.

- Voc� n�o tem permiss�o - Dudley disse imediatamente. - Sei que n�o. Voc� seria expulso daquela escola de malucos que freq�enta.

- Como sabe que n�o mudaram as regras, Grande D?

- N�o mudaram - disse Dudley, embora ele n�o soasse completamente convencido.

Harry riu suavemente.

- Voc� n�o tem coragem de me enfrentar sem essa coisa, tem? - Dudley resmungou.

- Enquanto que voc� precisa de quatro amigos por atr�s antes de espancar um garoto de dez anos. Sabe aquele t�tulo de boxe que voc� fica exibindo? Quantos anos tinha o seu oponente? Sete? Oito?

- Ele tinha dezesseis, para sua informa��o - reclamou Dudley - e ele ficou desmaiado por vinte minutos depois que acabei com ele e ele era duas vezes maior que voc�. Espera s� eu contar a papai que voc� tirou essa coisa...

- Correndo pro papai agora, n�o �? O Dudinha campe�o de boxe com medo da nojenta varinha do Harry?

- N�o � t�o corajoso � noite, n�o �? - zombou Dudley.

- Est� de noite, Dudinha. � assim que chamamos quando tudo fica escuro como agora.

- Quis dizer quando est� dormindo! - reclamou.

Ele parou de andar. Harry parou tamb�m, fitando o primo. Do pouco que podia ver do rosto largo de Dudley ele estava com um estranho olhar de triunfo.

- O que quer dizer, n�o sou corajoso quando estou dormindo? - disse Harry, completamente embara�ado. - Do que eu teria medo, travesseiros ou o qu�?

- Ouvi voc� noite passada - disse Dudley sem respirar. - Falando dormindo. Gemendo.

- O que quer dizer? - Harry disse de novo, mas havia uma sensa��o de gelo mergulhando no seu est�mago. Tinha revisitado o cemit�rio nos sonhos da noite passada.

Dudley soltou uma risada grosseira, ent�o adotou uma voz chorosa aguda.

- N�o mate Cedrico! N�o mate Cedrico!" Quem � Cedrico, seu namorado?

- Eu... Voc� est� mentindo - disse Harry automaticamente. Mas sua boca ficara seca. Ele sabia que Dudley n�o mentira, do contr�rio como saberia sobre Cedrico?

- "Papai! Me ajude, papai! Ele vai me matar, papai! Buu uhh!"

- Cala a boca - disse Harry calmamente. - Cala a boca, Dudley, estou avisando!

- "Venha me ajudar, papai! Mam�e, venha me ajudar! Ele matou Cedrico! Papai, me ajude! Ele vai..." N�o aponte essa coisa para mim!

Dudley retrocedera contra a parede do beco. Harry estava apontando a varinha diretamente para o cora��o do primo. Podia sentir o �dio de catorze anos contra Dudley fervendo nas veias - o que n�o daria para atacar agora, azar�-lo com tanta for�a que ele teria que rastejar para casa como um inseto, cheio de antenas...

- Nunca mais fale sobre isso de novo - Harry resmungou. - Entendeu?

- Aponte essa coisa para outro lugar!

- Eu disse, entendeu?

- Aponte para outro lugar!

- ENTENDEU?

- AFASTE ESSA COISA DE...

Dudley arfou estranhamente, estremecendo, como se houvesse mergulhado em �gua gelada.

Algo tinha acontecido com a noite. O c�u azul polvilhado de estrelas de repente tornou-se totalmente preto e sem luz - as estrelas, a lua, os postes de ambos as pontas do beco desapareceram. O rugido distante dos carros e o sussurro das �rvores se foram. A noite agrad�vel estava repentinamente de um frio penetrante. Estavam rodeados por uma escurid�o total, silenciosa e impenetr�vel, como se alguma m�o gigante houvesse jogado um manto frio e grosso sobre todo beco, cegando-os.

Por um breve segundo Harry achou que tinha feito magia sem querer, a despeito do fato que estivera resistindo o m�ximo que podia - ent�o seu senso predominou - n�o teria poder para sumir com as estrelas. Voltou a cabe�a por todos os lados, tentando ver algo, mas a escurid�o pressionava seus olhos como um v�u leve.

A voz aterrorizada de Dudley surgiu no ouvido de Harry.

- O-o que est� fa-fazendo? Pa-pare!

- N�o estou fazendo nada! Cala a boca e n�o se mova!

- N�o co-consigo ver! Fi-fiquei cego! Eu...

- Disse cala a boca!

Harry ficou parado, voltando seus olhos cegos para a direita e esquerda. O frio estava t�o intenso que tremia todo; arrepios tinham erguido seus bra�os e os p�los da nuca estavam em p� - ele abriu os olhos ao m�ximo, fitando em volta, sem ver nada.

Era imposs�vel... Eles n�o podiam estar ali... N�o em Little Whinging... Ele apurou os ouvidos... Escut�-los-ia antes de v�-los.

- Vou co-contar ao papai! - Dudley choramingou. - O-onde voc� est�? O que est� fa-fazendo-?

- Voc� vai se calar? - Harry silvou. - Estou tentando esc...

Mas ele se silenciou. Tinha ouvido exatamente o que temera.

Havia algo no beco al�m deles, algo que estava respirando longa e roucamente. Harry sentiu um horr�vel choque de terror enquanto ficava tremendo no ar congelante.

- Pa-pare com isso! Pare de fazer isso! Vou ba-bater em voc�, juro que vou!

- Dudley, cala...

PAM.

Um punho fez contato com o lado da cabe�a de Harry, derrubando-o. Pequenas luzes brancas apareceram na frente de seus olhos. Pela segunda vez em uma hora, Harry sentiu como se sua cabe�a tivesse lascado em duas; no momento seguinte, tinha ca�do com for�a no ch�o e sua varinha voara da sua m�o.

- Seu idiota, Dudley! - Harry gritou, os olhos lacrimejando com a dor enquanto punha-se de quatro, sentindo os arredores freneticamente na escurid�o. Ouvira Dudley desatinar a correr, atingindo a cerca do beco, trope�ando. - DUDLEY, VOLTE! EST� CORRENDO DIRETO PARA ELE!

Houve um horr�vel grito e os passos de Dudley pararam. Ao mesmo tempo, Harry sentiu um frio fantasmag�rico atr�s dele que s� podia significar uma coisa. Havia mais de um.

- DUDLEY, FIQUE COM A BOCA FECHADA! O QUE QUER QUE FA�A, FIQUE DE BOCA FECHADA! Varinha! - Harry murmurou freneticamente, suas m�os voando pelo ch�o como aranhas. - Onde est�... A varinha... Vamos... Lumus!

Ele disse a magia automaticamente, desesperado por alguma luz que o ajudasse na busca - e para seu al�vio descrente uma luz brilhou a poucos cent�metros de sua m�o direita - a ponta da varinha se acendera.

Harry a agarrou, p�s-se de p� e voltou-se. Seu est�mago deu um pulo. Uma figura alta e encapuzada deslizava diretamente at� ele, flutuando no ch�o, sem p�s ou rosto vis�vel por baixo dos mantos, sugando a noite enquanto avan�ava.

Recuando trope�ando, Harry ergueu a varinha.

- Expecto patronum!

Um brilho prateado de vapor saiu da ponta da varinha e o dementador foi retardado, mas a magia n�o funcionara apropriadamente; trope�ando nos pr�prios p�s, Harry recuou mais, enquanto o dementador avan�ava para cima dele, o p�nico nublando seu c�rebro - concentre-se.

Um par de m�os cinzentas, asquerosas e descascadas sa�ram de dentro dos robes do dementador, procurando alcan��-lo. Um barulho de algo correndo encheu os ouvidos de Harry.

- Expecto patronum!

Sua voz soou fraca e distante. Um outro brilho de fuma�a prateada, mais fraca do que a �ltima, saiu da varinha - n�o conseguiria faz�-lo mais, n�o conseguia lan�ar a magia.

Havia uma risada dentro de sua pr�pria cabe�a, uma risada aguda e estridente... Podia cheirar o bafo p�trido e frio como a morte do dementador preenchendo seus pr�prios pulm�es, afogando-o. "Pense... Em algo feliz..."

Mas n�o havia felicidade nele... Os dedos gelados do dementador estavam se fechando sobre sua garganta - a risada aguda ficava cada vez mais alta e uma voz falava dentro de sua cabe�a: "Curve-se para a morte, Harry... Pode at� ser indolor... N�o saberia dizer... nunca morri...".

Nunca mais veria Rony e Hermione...

E seus rostos apareceram claramente na sua mente enquanto lutava por ar.

- EXPECTO PATRONUM!

Um enorme cervo prateado surgiu da ponta da varinha de Harry; seus chifres pegaram o dementador no lugar onde o cora��o deveria ficar; atirou-o para tr�s, e enquanto o cerco atacava, o dementador se lan�ou para longe, derrotado.

- POR AQUI! - Harry gritou para o cervo. Girando nos calcanhares, ele se lan�ou pelo beco, segurando a varinha acesa no alto. - DUDLEY? DUDLEY!

- Mal correra alguns passos quando os alcan�ou: Dudley estava encaracolado no ch�o, seus bra�os tampando o rosto. Um segundo dementador se curvava sobre ele, agarrando seus pulsos com suas m�os pegajosas, abrindo-os com for�a devagar, quase carinhosamente, baixando sua cabe�a encapuzada na dire��o do rosto de Dudley como se fosse beij�-lo. - PEGUE-O! - Harry berrou, e com um som de relincho ligeiro, o cervo prateado que ele conjurara passou galopando por ele. O rosto sem olhos do dementador n�o estava a mais de um cent�metro do de Dudley quando os chifres prateados o pegaram; a coisa foi atirada no ar e, como seu companheiro, levantou v�o e foi absorvido na escurid�o; o cervo chegou a meio galope no fim do beco e dissolveu-se numa bruma prateada.

A lua, as estrelas e os postes explodiram de volta a vida. Uma brisa quente varreu o beco. As �rvores murmuravam nos jardins da vizinhan�a e o rugido mundano dos carros na Rua Magn�lia encheu o ar novamente.

Harry ficou bem parado, todos seus sentidos vibrando, aceitando o abrupto retorno � normalidade. Depois de um momento, tornou-se consciente de que sua camiseta estava grudando nele; estava encharcado de suor.

N�o conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer. Os dementadores ali, em Little Whinging.

Dudley ficara enrodilhado no ch�o, choramingando e tremendo. Harry se inclinou para ver se estava em bom estado para levantar-se, mas ent�o ouviu passos alto correndo atr�s dele. Instintivamente ergueu a varinha de novo, virou-se para encarar o rec�m-chegado.

A Sra. Figg, a velha e maluca vizinha, vinha arfando. Seu cabelo cinzento escapava pela redinha de cabelo, uma sacola de compras tinindo balan�ava no seu pulso e seus p�s estavam metade fora dos chinelos de tart�. Harry guardou a varinha apressadamente para tir�-la de vista, mas...

- N�o a guarde, garoto idiota! - ela gritou. - E se houverem mais deles por a�? Ah, vou matar Mundungo Fletcher!
 
-- CAP�TULO 2 --
UMA BICADA DE CORUJAS


- O qu�? - disse Harry inexpressivamente.

- Ele saiu! - disse a Sra. Figg, fechando com for�a as m�os. - Saiu para ver algu�m sobre um bando de caldeir�es que caiu de uma vassoura! Disse a ele que o esfolaria vivo se sa�sse e agora veja! Dementadores! Foi sorte eu ter posto Seu Patinhas no caso! Mas n�o temos tempo para ficar por aqui! Apresse-se, agora, temos que levar voc�s de volta! Ah, o problema que isso vai causar! Vou mat�-lo!

- Mas...

A revela��o de que sua velha e maluca vizinha obcecada por gatos sabia o que os Dementadores eram era quase t�o chocante para Harry quanto encontrar dois deles no beco.

- Voc� �... Voc� � uma bruxa?

- Sou um aborto, como Mundungo sabe muito bem, ent�o como eu poderia ajud�-lo a lutar contra dementadores? Ele deixou voc� sem nenhuma cobertura quando eu avisei a ele...

- Esse Mundungo estava me seguindo? Espera a�... Foi ele! Ele desaparatou na frente da minha casa!

- Sim, sim, sim, mas foi sorte eu ter colocado Seu Patinhas debaixo do carro s� pra ter certeza e Seu Patinhas veio me avisar, mas na hora que cheguei na sua casa voc� tinha sa�do... E agora... Ah, o que Dumbledore vai dizer? Voc�! - ela gritou para Dudley, ainda deitado no ch�o do beco. - Tire a bunda gorda do ch�o, r�pido!

- Voc� conhece Dumbledore? - disse Harry, fitando-a.

- Claro que conhe�o Dumbledore, quem n�o conhece Dumbledore? Mas vamos... N�o serei de utilidade nenhuma se eles voltarem, nunca consegui nem transfigurar um saquinho de ch�.

Ela se abaixou, agarrou um dos bra�os gordos de Dudley nas suas m�os ressecadas e o puxou.

- Levante-se, seu est�pido in�til, levante-se!

Mas Dudley ou n�o conseguia ou n�o queria se mover. Ele permaneceu no ch�o, tremendo e de rosto p�lido, sua boca fechada com muita for�a.

- Eu fa�o isso - Harry pegou o bra�o de Dudley e o ergueu. Com um enorme esfor�o, ele o conseguiu p�r de p�. Dudley parecia estar a ponto de desmaiar. Seus olhos pequenos estavam rolando nas �rbitas e o suor empapando seu rosto; no momento que Harry o soltou ele balan�ou perigosamente.

- Apressem-se! - disse a Sra. Figg histericamente.

Harry p�s um dos bra�os gordos de Dudley em torno de seus ombros e o arrastou pela rua, afundando ligeiramente sob o peso. A Sra. Figg cambaleava na frente deles, espiando ansiosa na esquina.

- Mantenha a varinha em m�os - ela falou a Harry, enquanto entravam da Wisteria Walk. - Nem se importe com o Estatuto do Sigilo agora, vai ser o diabo se livrar disso de qualquer forma, podemos ir do drag�o para o ovo. Falando de Restri��o de Magia Para Menores... Era exatamente isso que Dumbledore tinha medo... O que � aquilo no fim da rua? Ah, � s� o Seu Patinhas... N�o guarde a varinha, garoto, n�o lhe disse que sou in�til?

N�o era f�cil segurar a varinha com firmeza e rebocar Dudley ao mesmo tempo. Harry deu uma impaciente cutucada nas costelas do primo, mas Dudley parecia ter perdido todo desejo de movimento independente. Estava tombado sobre o ombro de Harry, seus p�s grandes arrastando-se pelo ch�o.

- Por que n�o me contou que era um aborto, Sra. Figg? - perguntou Harry, arfando com o esfor�o de continuar andando. - Todas aquelas vezes que fui na sua casa... Por que n�o disse nada?

- Ordens de Dumbledore. Devia manter o olho em voc� mas n�o dizer nada, voc� era jovem demais. Desculpe se o fiz sofrer, Harry, mas os Dursley nunca o deixariam ficar comigo se soubessem que voc� gostaria. N�o era f�cil, sabe... Mas ah, palavra - ela disse tragicamente, fechando as m�os com for�a mais uma vez -, quando Dumbledore ouvir isso... Como o Mundungo p�de sair, ele devia ficar a servi�o at� meia-noite... Onde ele est�? Como vou dizer a Dumbledore o que aconteceu? N�o consigo aparatar.

- Tenho uma coruja, pode peg�-la emprestada - Harry gemeu, perguntando-se se sua espinha se partiria sob o peso de Dudley.

- Harry, voc� n�o entende! Dumbledore precisar� agir o mais r�pido poss�vel, o Minist�rio tem seus pr�prios meios de detectar magia de menores, eles j� sabem, guarde minhas palavras.

- Mas eu estava me livrando de dementadores, tinha que usar magia... Eles v�o ficar mais preocupados sobre o que os dementadores estavam fazendo flutuando na Wisteria Walk, n�o?

- Ah meu querido, gostaria que fosse assim, mas temo que... MUNDUNGO FLETCHER, EU VOU MATAR VOC�!

Houve um sonoro som de chicote e um forte cheiro de bebida misturado a tabaco velho preencheu o ar enquanto um homem n�o barbeado e agachado usando um sobretudo esfarrapado se materializava bem diante deles. Ele tinha pernas curtas e curvadas, longos de cabelos cor de gengibre, desalinhados, olhos inchados e injetados que lhe davam a triste apar�ncia de um basset. Tamb�m estava segurando um pacote prateado que Harry reconheceu imediatamente como uma Capa da Invisibilidade.

- Q'h�, Figginha? - ele disse, olhando da Sra. Figg para Harry e Dudley. - O que 'conteceu quanto a ficar na moita?

- Vou lhe dar a moita! - gritou a Sra. Figg. - Dementadores, seu ladr�o in�til e desprez�vel!

- Dementadores? - repetiu Mundungo, horrorizado. - Dementadores, 'qui?

- Sim, aqui, sua pilha de bosta de morcego in�til, aqui! - gritou a Sra. Figg. - Dementadores atacando o garoto na sua vigia!

- Nossa - disse Mundungo fracamente, olhando da Sra. Figg para Harry e de volta para ela. - Nossa, eu...

- E voc� saiu para comprar caldeir�es roubados! Eu n�o te disse para n�o ir? N�o DISSE?

- Eu... Bom, eu... - Mundungo parecia profundamente desconfort�vel. - Era... Era uma oportunidade de neg�cios muito boa, entende...

A Sra. Figg ergueu o bra�o em que segurava a sacola de compras e golpeou com for�a Mundungo no rosto e pesco�o com ela; julgando pelo tinido que fazia estava cheia de comida de gato.

- Ai... P�ra a�... P�ra a�, sua morcega velha! Algu�m tem que contar a Dumbledore!

- Sim... Tem! - gritou a Sra. Figg, batendo com a sacola de comida de gato em cada peda�o de Mundungo que conseguia alcan�ar. - E... �... Melhor... Ser... Voc�... E... Voc�... Pode... Contar... A... Ele... Por que... N�o... Estava... Aqui... Para... Ajudar!

- Fique com a redinha no lugar! - disse Mundungo, seus bra�os sobre a cabe�a, acovardando-se. - Estou indo, estou indo!

E com outro sonoro barulho de chicote, ele sumiu.

- Espero que Dumbledore o mate! - disse a Sra. Figg, furiosa. - Agora vamos, Harry, o que est� esperando?

Harry decidiu n�o gastar o restante de seu f�lego comentando que mal conseguia andar sob o volume de Dudley. Ele deu uma puxada no semi-inconsciente primo e cambaleou adiante.

- Levarei voc� at� a porta - disse a Sra. Figg, enquanto eles viravam na Rua dos Alfeneiros. - S� no caso de haver mais deles por a�... Ah, palavra, que cat�strofe... E voc� teve que enfrent�-los sozinho... E Dumbledore disse que dev�amos evitar que voc� fizesse m�gicas a todo custo... Bem, n�o adianta chorar sobre a po��o derramada, acho... Mas o gato est� entre as fadas agora.

- Ent�o - Harry arfou -, Dumbledore tem... Me mantido... Vigiado?

- Claro que tem - disse a Sra. Figg impaciente. - Esperava que ele deixasse voc� andar por a� sozinho depois do que aconteceu em junho? Bom Deus, garoto, me disseram que voc� era inteligente... Certo... Entre e fique l� - ela disse quando alcan�aram o n�mero quatro. - Acredito que algu�m ir� entrar em contato logo.

- O que vai fazer? - perguntou Harry rapidamente.

- Vou direto para casa - disse a Sra. Figg, fitando em torno da rua escura e estremecendo. - Precisarei esperar por mais instru��es. Simplesmente fique na casa. Boa noite.

- Espere, n�o v� ainda! Quero saber...

Mas a Sra. Figg j� tinha sa�do num trote, com os chinelos fazendo barulho, a sacola tinindo.

- Espere! - Harry gritou atr�s dela. Ele tinha milh�es de perguntas a fazer para algu�m que estava em contanto com Dumbledore mas dentro de segundos a Sra. Figg foi engolida pela escurid�o. Franzindo o cenho, Harry reajustou Dudley no ombro e fez seu lento e doloroso caminho pelo jardim do n�mero quatro.

A luz do corredor estava acesa. Harry meteu a varinha de volta ao c�s do jeans, tocou a campainha e observou o contorno de tia Pet�nia ficar cada vez maior, estranhamente distorcido pelo vidro ondulado da porta da frente.

- Duda! J� estava na hora, estava ficando bem... Bem... Duda, o que foi!

Harry olhou de esguelha para Dudley e saiu debaixo do bra�o dele bem em tempo. Dudley cambaleou por um instante, seu rosto verde p�lido... Ent�o abriu a boca e vomitou por todo capacho.

- DUDA! Duda, o que est� sentindo? V�lter? V�LTER!

O tio de Harry veio galopando para fora da sala de estar, o bigode em forma de cavalo marinho se mexendo para l� e para c� como sempre fazia quando estava agitado. Ele se apressou  para ajudar tia Pet�nia a passar um enfraquecido Dudley pelo solado da porta, evitando pisar na po�a de v�mito.

- Ele est� doente, V�lter!

- O que �, filho? O que aconteceu? A Sra. Polkiss lhe deu algo estranho como ch�?

- Por que est� todo coberto de sujeira, querido? Esteve no ch�o?

- Espere a�... Voc� n�o foi assaltado, foi, filho? - tia Pet�nia gritou. - Telefone para a pol�cia, V�lter! Telefone para a pol�cia! Duda, querido, fale com a mam�e! O que eles fizeram com voc�?

Com toda confus�o ningu�m pareceu notar Harry, o que lhe agradou perfeitamente. Ele conseguiu entrar pouco antes de tio V�lter bater a porta e, enquanto os Dursley faziam seu barulhento progresso pelo corredor em dire��o a cozinha, Harry se moveu cuidadosa e calmamente em dire��o � escada.

- Quem fez isso, filho? Nos d� nomes. Pegaremos eles, n�o se preocupe.

- Psiu! Ele est� tentando dizer algo, V�lter! O que �, Duda? Conte para mam�e!

O p� de Harry estava no primeiro degrau quando Dudley descobriu sua voz.

- Ele.

Harry congelou, o p� na escada, o rosto contorcido, cercado pela explos�o.

- GAROTO! VENHA AQUI!

Com um sentimento de terror e raiva misturados, Harry removeu seu p� vagarosamente da escada e se voltou para seguir os Dursley. A cozinha meticulosamente limpa tinha um brilho estranhamente irreal depois da escurid�o l� fora. Tia Pet�nia estava conduzindo Dudley para uma cadeira; ainda estava muito verde e de apar�ncia doente. Tio V�lter estava de p� em frente do escorredor, olhando furioso para Harry atrav�s dos min�sculos olhos estreitados.

- O que fez com meu filho? - disse num rosnado amea�ador.

- Nada - disse Harry, sabendo perfeitamente bem que tio V�lter n�o acreditaria.

- O que ele fez com voc�, Duda? - tia Pet�nia disse numa voz tr�mula, agora removendo o v�mito da frente da jaqueta de couro de Dudley. - Foi... Foi voc�-sabe-o-qu�, querido? Ele usou... A coisa dele?

Lenta e tremulamente, Dudley assentiu.

- N�o usei! - Harry disse com severidade, enquanto tia Pet�nia soltava um lamento e tio V�lter erguia os punhos. - N�o fiz nada com ele, n�o foi eu, foi...

Mas naquele momento preciso uma coruja chiando desceu atrav�s da janela da cozinha. Por pouco atingindo o topo da cabe�a de tio V�lter, ela pairou pela cozinha, largou um grande envelope de pergaminho que carregava no seu bico aos p�s de Harry, virou-se graciosamente, as pontas de suas asas tocando de leve o topo da geladeira, ent�o zuniu para fora de novo e partiu do jardim.

- CORUJAS! - berrou tio V�lter, a bem conhecida veia na sua t�mpora pulsando raivosamente enquanto ele fechava a janela com for�a. - CORUJAS DE NOVO! N�O ACEITAREI MAIS CORUJAS NA MINHA CASA!

Mas Harry j� estava abrindo o envelope e tirando a carta, seu cora��o localizado em algum lugar na regi�o de seu pomo de ad�o.

"Caro Sr. Potter,

Recebemos informa��o de que realizou o Feiti�o do Patrono �s nove e vinte e tr�s desta noite numa �rea habitada por trouxas e na presen�a de um trouxa. A severidade desta viola��o do Decreto de Restri��o a Magia Para Menores resultou na sua expuls�o da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Os representantes do Minist�rio ir�o � sua casa em breve para destruir sua varinha.

Como j� deve ter recebido um aviso oficial por ofensa anterior sob a Se��o 13 do Estatuto de Sigilo da Confedera��o Internacional dos Bruxos, n�s lamentamos informar que sua presen�a � requerida numa audi�ncia disciplinar no Minist�rio da Magia �s 9 horas da manh� no dia doze de agosto.

Esperando que esteja bem,

Sinceramente,

Mafalda Hopkirk

Departamento de Uso Impr�prio da Magia

Minist�rio da Magia"

Harry leu a carta duas vezes. Estava apenas vagamente consciente de tio V�lter e tia Pet�nia conversando. Dentro de sua cabe�a tudo era gelo e dorm�ncia. Um fato que penetrara na sua consci�ncia como um dardo paralisante. Estava expulso de Hogwarts. 

Estava tudo acabado. Nunca voltaria. Ergueu os olhos para os Dursley. Tio V�lter estava com o rosto p�rpura, gritando, seus punhos ainda erguidos; tia Pet�nia tinha os bra�os em torno de Dudley, que tentava vomitar de novo. O c�rebro temporariamente estupefato de Harry pareceu acordar. "Os representantes do Minist�rio chegar�o � sua casa em breve para destruir sua varinha". S� havia uma coisa a fazer. Ele teria que fugir - agora. Para onde iria Harry n�o sabia, mas tinha certeza de uma coisa: em Hogwarts ou fora dela precisava da varinha. Num estado quase de sonho, ele tirou a varinha e se voltou para abandonar a cozinha.

- Onde acha que est� indo? - gritou tio V�lter. Quando Harry n�o respondeu, ele cruzou a cozinha para bloquear a porta que dava para o corredor. - N�o terminei com voc�, garoto!

- Saia do caminho - disse Harry calmamente.

- Voc� vai ficar aqui e explicar como meu filho...

- Se voc� n�o sair do caminho vou azar�-lo - disse Harry, erguendo a varinha.

- N�o pode usar essa coisa em mim! - resmungou tio V�lter. - Eu sei que n�o tem permiss�o para us�-la fora daquele hosp�cio que chama de escola!

- O hosp�cio me chutou - disse Harry. - Ent�o posso fazer o que quiser. Voc� tem tr�s segundos. Um... Dois...

Um ressoante som de estalo encheu a cozinha. Tia Pet�nia gritou, tio V�lter gritou e se abaixou, mas pela terceira vez naquela noite Harry buscava pela fonte da perturba��o que ele n�o fizera. Ele a notou imediatamente: uma coruja desmantelada estava sentada do lado de fora do peitoril da cozinha, tendo acabado de colidir com a janela fechada. Ignorando o grito angustiado de tio V�lter de "CORUJAS!" Harry cruzou o aposento apressado e abriu com for�a a janela. A coruja apontou a perna, na qual um pequeno rolo de pergaminho estava amarrado, balan�ou as penas e partiu no momento em que Harry tirara a carta.

As m�os tremendo, desenrolou a segunda mensagem, que fora escrita afobada e negligentemente com tinta preta.

"Harry?

Dumbledore acabou de chegar no Minist�rio e est� tentando resolver tudo. N�O ABANDONE A CASA DE SEUS TIOS. N�O FA�A NENHUMA MAGIA. N�O ENTREGUE SUA VARINHA.

Arthur Weasley"


Dumbledore estava tentando resolver tudo... O que isso significava? Quanto poder Dumbledore teria para sobrepujar o Minist�rio da Magia? Havia uma chance de que ele recebesse permiss�o para voltar a Hogwarts, ent�o?

Um pequeno raio de esperan�a floresceu no peito de Harry, quase imediatamente estrangulado pelo p�nico - como ele deveria recusar a entregar a varinha sem usar m�gica? Teria que duelar com os representantes do Minist�rio e se fizesse isso teria sorte em escapar de Azkaban, sem falar a expuls�o. Sua mente estava funcionando r�pido... Poderia fugir e arriscar ser capturado pelo Minist�rio ou ficar e esperar por virem encontr�-lo ali. Estava muito mais tentado � primeira id�ia mas sabia que o Sr. Weasley tinha os melhores interesses... E, afinal de contas, Dumbledore j� resolvera coisas muito piores do que esta antes.

- Certo - Harry disse -, mudei de id�ia, vou ficar - lan�ou-se na mesa da cozinha e encarou Dudley e tia Pet�nia. Os Dursley pareciam sobressaltados por sua abrupta mudan�a de opini�o. Tia Pet�nia olhava com desespero para o tio V�lter. A veia na sua t�mpora p�rpura estava latejando pior do que nunca.

- De quem s�o todas essas corujas? - ele resmungou.

- A primeira veio do Minist�rio da Magia, me expulsando - disse Harry calmamente. Apurava os ouvidos para captar quaisquer barulhos do lado de fora, no caso dos representantes do Minist�rio estarem se aproximando e era mais f�cil e calmo responder as perguntas do tio V�lter do que t�-lo encolerizado e berrando. - A segunda veio do pai do meu amigo Rony, que trabalha no Minist�rio.

- Minist�rio da Magia? - berrou tio V�lter. - Pessoas como voc� no governo! Ah, isso explica tudo, tudo, n�o � de se espantar que o pa�s esteja indo pro buraco - quando Harry n�o respondeu tio V�lter olhou furioso para ele e ent�o soltou: - E por que foi expulso?

- Por que fiz m�gica.

- AH�! - rugiu tio V�lter, batendo com o punho no alto da geladeira, que se abriu; v�rios doces diet�ticos de Dudley desabaram no ch�o. - Ent�o admite! O que voc� fez com Dudley?

- Nada - disse Harry, ligeiramente com menos calma. - N�o fui eu...

- Foi - murmurou Dudley inesperadamente e tio V�lter e tia Pet�nia instantaneamente fizeram gestos para Harry a fim de silenci�-lo enquanto ambos se inclinavam sobre o garoto.

- Continue, filho - disse tio V�lter. - O que ele fez?

- Conte-nos querido - sussurrou a tia Pet�nia.

- Apontou a varinha para mim - Dudley murmurou.

- �, eu apontei, mas n�o usei... - Harry come�ou com raiva.

- CALE-SE! - rugiram tio V�lter e tia Pet�nia em un�ssono.

- Continua, filho - repetiu tio V�lter, o bigode se mexendo com f�ria.

 - Ficou tudo escuro - Dudley disse roucamente, estremecendo. - Tudo escuro. E ent�o eu o-ouvi... Coisas. Dentro da mi-minha cabe�a.

Tio V�lter e tia Pet�nia trocaram olhares de absoluto horror. Se a coisa pior no mundo para eles era a magia - seguida de perto por vizinhos que trapaceavam mais do que eles quanto ao banimento da mangueira - as pessoas que ouviam vozes definitivamente estavam entre as dez mais. Obviamente pensavam que Dudley estava enlouquecendo.

- Que tipo de coisas voc� ouviu, Dudinha? - sussurrou tia Pet�nia, muito p�lida e com l�grimas nos olhos.

Mas Dudley parecia incapaz de dizer. Ele estremeceu de novo e balan�ou a cabe�orra loira e, a despeito da sensa��o de terror bestificante que tinha se estabelecido em Harry desde a chegada da primeira coruja, ele sentiu uma certa curiosidade. Os dementadores faziam uma pessoa reviver os piores momentos de sua vida. O que o mimado e brig�o Dudley teria sido for�ado a ouvir?

- Como voc� caiu, filho? - disse tio V�lter, numa voz calma n�o natural, o tipo de voz que se usaria ao leito de uma pessoa muito doente.

- Tr-tropecei - disse Dudley tremulamente. - E ent�o...

Ele gesticulou para o peito compacto. Harry entendeu. Dudley se lembrava do frio clemente que enchera os pulm�es, enquanto a esperan�a e felicidade eram sugadas.

- Horr�vel - grasnou Dudley. - Frio. Frio mesmo.

- OK - disse tio V�lter, numa voz de calma for�ada, enquanto tia Pet�nia punha uma m�o ansiosa na testa de Dudley para sentir a temperatura. - O que aconteceu ent�o, Dudinha?

- Senti... Senti... Senti... Como se... Como se...

- Como se nunca fosse ser feliz de novo - Harry ajudou, entediado.

- Sim - Dudley sussurrou, ainda tremendo.

- Ent�o! - disse tio V�lter, a voz restaurada a um volume total e consider�vel enquanto ele se endireitava. - Voc� p�s algum feiti�o de loucura no meu filho ent�o ele ouve vozes e acredita que estava... Condenado ao sofrimento ou algo assim, n�o?

- Quantas vezes tenho que dizer? - disse Harry, o mau humor e a voz se erguendo. - N�o fui eu! Foi um bando de dementadores!

- Um bando de... O que � essa besteira?

- De-men-ta-do-res - disse Harry lenta e claramente. - Dois deles.

- E o que diabos s�o dementadores?

- Eles guardam a pris�o dos bruxos, Azkaban - disse tia Pet�nia.

Dois segundos de sil�ncio mortal seguiram as palavras antes que tia Pet�nia tampasse a boca com a m�o, como se tivesse dito um horr�vel palavr�o. Tio V�lter a olhava com olhos arregalados. O c�rebro de Harry vacilou. A Sra. Figg era uma coisa... Mas tia Pet�nia?

- Como sabe disso? - ele perguntou a ela, espantado.

Tia Pet�nia parecia bem aterrorizada consigo mesma. Olhava para tio V�lter numa desculpa temerosa, ent�o abaixou a m�o ligeiramente para revelar seus dentes cavalares.

- Ouvi... Aquele garoto horroroso... Contar a ela sobre eles... Anos atr�s - ela disse pateticamente.

- Se quer dizer meus pais por que n�o usa o nome deles? - disse Harry em voz alta mas tia Pet�nia o ignorou.

Ela parecia terrivelmente perturbada. Harry estava abalado. Exceto por uma explos�o anos atr�s, quando tia Pet�nia gritara que a m�e de Harry fora uma aberra��o, ele nunca a escutara mencionar a irm�. Estava espantado que ela se lembrasse deste tipo de informa��o sobre o mundo m�gico por tanto tempo, quando normalmente se esfor�ava ao m�ximo para fingir que ele n�o existia.

Tio V�lter abriu a boca, fechou-a de novo, abriu-a mais uma vez, fechou-a, ent�o, aparentemente lutando para lembrar-se como falar, abriu-a por uma terceira vez e grasnou:

- Ent�o... Ent�o... Eles... Er... Eles... Er... Eles realmente existem, �... Er... Dementesquisitos?

Tia Pet�nia assentiu. Tio V�lter olhava de tia Pet�nia para Dudley e para Harry como se esperasse que algu�m fosse gritar "primeiro de abril!". Quando ningu�m o fez, ele abriu a boca novamente mas foi salvo da luta em encontrar mais palavras pela chegada da terceira coruja da noite. Ela zuniu pela janela ainda aberta como uma bala de canh�o empenada e aterrissou barulhentamente na mesa da cozinha, fazendo com que os tr�s Dursley pulassem assustados.

Harry tirou um segundo envelope de apar�ncia oficial do bico da coruja e o abriu enquanto a coruja voava de volta para noite.

- Chega... De... Corujas - murmurou tio V�lter distraidamente, indo at� a janela e batendo-a novamente.


"Caro Sr. Potter,

Em acr�scimo a nossa carta de aproximadamente vinte e dois minutos atr�s, o Minist�rio da Magia revisou sua decis�o de destruir sua varinha imediatamente. Voc� pode conserv�-la at� sua audi�ncia disciplinar em doze de agosto, no momento em que uma decis�o oficial ser� tomada. Segundo discuss�es com o diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, o Minist�rio concordou que o assunto de sua expuls�o tamb�m ser� decidido neste momento. Deve, portanto, considerar-se suspenso da escola at� o inqu�rito pendente.

Com melhores desejos,

Sinceramente,

Mafalda Hopkirk

Departamento de Uso Impr�prio da Magia

Minist�rio da Magia"


Harry leu esta carta tr�s vezes em sucess�o r�pida. O n� angustiante no seu peito se afrouxou ligeiramente com o al�vio de saber que ainda n�o estava definitivamente expulso, embora seus medos de modo algum estivessem banidos. Tudo parecia depender desta audi�ncia em doze de agosto.

- Bom? - disse tio V�lter, chamando Harry � realidade. - E agora? Sentenciaram voc� a alguma coisa? Sua laia tem a pena de morte? - acrescentou como um pensamento tardio esperan�oso.

- Tenho que ir a uma audi�ncia - disse Harry.

- E eles v�o sentenci�-lo l�?

- Acredito que sim.

- N�o vou perder a esperan�a, ent�o - disse tio V�lter desagradavelmente.

- Bom, se � isso - disse Harry, pondo-se de p�. Estava desesperado para ficar sozinho, para pensar, quem sabe mandar uma carta a Rony, Hermione ou Sirius.

- N�O, ISSO N�O � TUDO! - berrou tio V�lter. - SENTE-SE DE VOLTA!

- O que � agora? - disse Harry impaciente.

- DUDLEY! - rugiu tio V�lter. - Quero saber exatamente o que aconteceu com meu filho!

- �TIMO! - gritou Harry e, no seu mau humor, fa�scas vermelhas e douradas sa�ram da ponta da varinha, ainda na sua m�o. Todos os tr�s Dursley se acovardaram, parecendo aterrorizados. - Dudley e eu est�vamos no beco entre a Rua Magn�lia e Wisteria Walk - disse Harry, falando r�pido, lutando para controlar seu humor. - Dudley pensou que daria uma de espertinho para cima de mim, eu puxei a varinha, mas n�o usei. Ent�o dois dementadores apareceram...

- Mas o que S�O os dement�ides? - perguntou tio V�lter furioso. - O que eles FAZEM?

- Eu contei... Eles sugam toda felicidade de voc� - disse Harry - e se eles t�m a chance, beijam...

- Beijam? - disse tio V�lter, seus olhos disparando ligeiramente. - Beijam?

- � o que eles chamam quando eles sugam a alma pela boca.

Tia Pet�nia soltou um grito suave.

- A alma dele? Eles n�o a pegaram... Ele ainda tem a...

Ela agarrou Dudley pelos ombros e o chocalhou, como se testasse para ver se ela conseguia ouvir sua alma se agitando l� dentro.

- Claro que eles n�o a tiraram, voc� saberia se tivessem - disse Harry exasperado.

- Lutou com eles, n�o foi, filho? - disse tio V�lter em voz alta, com a apar�ncia de um homem lutando para trazer a conversa de volta a um plano que entendia. - Deu-lhes o velho um-dois, n�o?

- Voc� n�o d� a um dementador o velho um-dois - disse Harry atrav�s dos dentes apertados.

- Por que ele est� bem, ent�o? - zuniu tio V�lter. - Por que n�o est� todo vazio, ent�o?

- Porque usei o Patrono...

WHOOSH. Com um barulho de asas e uma suave queda de poeira, uma quarta coruja saiu em disparada da lareira da cozinha.

- PELO AMOR DE DEUS! - rugiu tio V�lter, arrancando grandes tufos de p�los do bigode, algo que ele n�o fora levado a fazer em muito tempo. - EU N�O RECEBEREI MAIS CORUJAS AQUI, N�O VOU TOLERAR ISSO, ESTOU DIZENDO!

Mas Harry j� estava tirando um rolo de pergaminho da perna da coruja. Estava t�o convencido que esta carta era de Dumbledore, explicando tudo - os dementadores, a Sra. Figg, o que o Minist�rio est� aprontando, como ele, Dumbledore, pretendia resolver tudo - que pela primeira vez na vida ficou desapontado ao ver a caligrafia de Sirius. Ignorando o bombardeio de tio V�lter sobre corujas e estreitando seus olhos contra uma segunda nuvem de poeira quando a mais recente coruja subiu de novo pela chamin�, Harry leu a mensagem de Sirius.

"Arthur acabou de nos contar o que aconteceu. N�o deixe a casa de novo, o que quer fa�a."

Harry achou esta resposta t�o inadequada a tudo o que tinha acontecido esta noite que ele virou o peda�o de pergaminho, procurando pelo resto da carta, mas n�o havia nada mais. E agora seu mau humor se elevava de novo. Ningu�m ia dizer "bom trabalho" por combater dois dementadores sozinho? Tanto o Sr. Weasley quanto Sirius estavam agindo como se ele tivesse se portado mal e estavam economizando as explica��es at� que tivessem certeza de quanto dano fora feito.

- ... uma bicada, quero dizer, um bando de corujas disparando para dentro e fora de minha casa. N�o aceitarei isso, garoto, n�o...

- N�o posso fazer as corujas pararem de vir - Harry soltou, amassando a carta de Sirius na m�o.

- Quero a verdade sobre o que aconteceu esta noite! - latiu tio V�lter. - Se foram dementeiros que feriram Dudley, como voc� foi expulso? Voc� fez voc�-sabe-o-que, voc� admitiu!

Harry respirou profundamente. Sua cabe�a estava come�ando a doer de novo. Queria mais do que tudo sair da cozinha e se afastar dos Dursley.

- Fiz o Feiti�o do Patrono para me livrar dos dementadores - disse, for�ando-se a permanecer calmo. - � a �nica coisa que funciona com eles.

- Mas o que os dement�ides faziam em Little Whinging? - disse tio V�lter num tom ultrajado.

- N�o saberia dizer - disse Harry cansado. - N�o tenho id�ia.

Sua cabe�a do�a com a ilumina��o agora. Sua raiva estava se exaurindo. Sentia-se drenado, exausto. Os Dursley todos o estavam fitando.

- � voc� - disse tio V�lter poderosamente. - Tem algo a ver com voc�, garoto, eu seu disso. Por que mais eles apareceriam aqui? Por que mais eles estariam naquele beco? Voc� � o �nico.. O �nico... -  evidentemente, ele n�o conseguia for�ar-se a dizer a palavra "bruxo". - O �nico voc�-sabe-o-que por quil�metros.

- N�o sei por que eles estavam aqui.

Mas ante as palavras de tio V�lter o c�rebro exausto de Harry voltara � a��o. Por que os dementadores haviam vindo a Little Whinging? Como poderia ser coincid�ncia que eles tenham chegado no beco em que Harry estava? Tinham sido enviados? Teria o Minist�rio da Magia perdido o controle dos dementadores? Teriam eles desertado Azkaban e se juntado a Voldemort, como Dumbledore previra que fariam?

- Estes desmembrados guardam alguma pris�o de esquisitos? - perguntou tio V�lter, seguindo a trilha de pensamento de Harry.

- Sim - disse Harry.

Se pelo menos sua cabe�a parasse de doer, se ao menos pudesse sair da cozinha e chegar ao seu quarto escuro e pensar...

- Oho! Eles vieram prend�-lo! - disse tio V�lter, com o ar triunfante de um homem que chegou a uma conclus�o inexpugn�vel. - � isso, n�o �, rapaz? Voc� est� fugindo da lei!

- Claro que n�o - disse Harry, balan�ando a cabe�a como se espantasse uma mosca, sua mente agitada agora.

- Ent�o por qu�...?

- Ele deve t�-los enviado - disse Harry calmamente, mas para si do que para tio V�lter.

- Que o qu�? Quem deve t�-los enviado?

- Lord Voldemort - disse Harry.

Ele registrou fracamente qu�o estranho era que os Dursley - que se acovardavam, recuavam e se contorciam se ouvissem palavras como "bruxo", "magia" ou "varinha" - conseguissem escutar o nome do bruxo mais maligno de todos os tempos sem o menor tremor.

- Lord... Espere a� - disse tio V�lter, seu rosto contorcido, um olhar de compreens�o alcan�ando seus olhos su�nos. - J� ouvi esse nome... Foi ele quem...

- Matou meus pais, sim - Harry disse entediado.

- Mas ele se foi - disse tio V�lter impaciente, sem o menor sinal de que o assassinato dos pais de Harry pudesse ser um assunto doloroso. - Aquele gigante disse isso. Ele se foi.

- Ele voltou - disse Harry pesadamente. Parecia estranh�ssimo estar parado ali, na cozinha cirurgicamente limpa de tia Pet�nia, ao lado da geladeira topo de linha e da televis�o wide-screen, conversando tranq�ilamente sobre Lord Voldemort com tio V�lter. A chegada dos dementadores em Little Whinging parecia ter furado a grande e invis�vel muralha que dividia o mundo cruelmente n�o-m�gico da Rua dos Alfeneiros e o mundo al�m, as duas vidas de Harry tinham de alguma forma se fusionado e tudo estava de cabe�a para baixo; os Dursley perguntavam detalhes sobre o mundo m�gico e a Sra. Figg conhecia Alvo Dumbledore; os dementadores flutuavam em torno de Little Whinging e ele poderia nunca mais retornar a Hogwarts. A cabe�a de Harry latejou mais dolorosamente.

- De volta? - sussurrou tia Pet�nia.

Ela olhava para Harry como se nunca o tivesse visto antes. E, inesperadamente, pela primeira vez na vida, Harry ligou completamente que tia Pet�nia era irm� de sua m�e. N�o saberia dizer por que aquilo o atingiu com tanta for�a naquele momento. Tudo que sabia era que n�o era a �nica pessoa no aposento que tinha uma no��o do que a volta de Lord Voldemort poderia significar. Tia Pet�nia nunca na sua vida o olhara daquele jeito antes. Os grandes e p�lidos olhos dela (t�o diferentes dos da irm�) n�o estavam estreitados com desgosto ou raiva, estavam arregalados e temerosos. O furioso fingimento que tia Pet�nia mantivera por toda vida de Harry - que n�o havia magia nem outro mundo al�m do que ela habitava com tio V�lter - parecia ter desvanecido.

- Sim - Harry disse, conversando diretamente com tia Pet�nia agora. - Voltou h� um m�s. Eu o vi.

As m�os dela encontraram os grandes ombros cobertos de couro de Dudley e se agarraram neles.

- Espere a� - disse tio V�lter, olhando de sua esposa para Harry e ent�o de novo para ela, aparentemente ofuscado e confuso para compreens�o sem precedentes que parecia ter aparecido entre eles. - Espere a� Este Lord Voldemort est� de volta, voc� diz.

- Sim.

- Aquele que assassinou seus pais.

- Sim.

- E agora est� mandado desmembradores atr�s de voc�?

- Parece que sim - disse Harry.

- Entendo - disse tio V�lter, olhando de sua p�lida esposa para Harry e subindo as cal�as. Ele parecia estar inchando, seu grande rosto p�rpura esticando diante dos olhos de Harry. - Bom, � isso - ele disse, a frente de sua camisa estirando como se inflasse -, voc� pode abandonar esta casa, rapaz!

- O qu�? - disse Harry.

- Voc� me ouviu. FORA! - tio V�lter berrou e at� tia Pet�nia e Dudley pularam. - FORA! FORA! Deveria ter feito isso anos atr�s! Corujas tratando o lugar como casa de repouso, pudins explodindo, metade da sala destru�da, o rabo de Dudley, Guida inflando at� o teto e aquele Ford Anglia voador. FORA! FORA! J� chega! Voc� � hist�ria! Voc� n�o vai ficar aqui se tem um louco atr�s de voc�, voc� n�o vai p�r em perigo minha esposa e filho, voc� n�o vai trazer problemas para n�s. Se vai seguir o mesmo caminho que seus pais in�teis, j� chega! FORA!

Harry ficou congelado. As cartas do Minist�rio, Sr. Weasley e Sirius, todas foram esmagadas na sua m�o esquerda. "N�o abandone a casa de novo, o que quer que fa�a. N�O DEIXE A CASA DE SEUS TIOS."

- Voc� me escutou! - disse tio V�lter, inclinando-se para frente, seu rosto p�rpura e gordo chegando perto do de Harry, na verdade sentia salpicos de cuspe atingir seu rosto. - V� andando! Voc� estava doido para partir meia hora atr�s! Estou bem atr�s de voc�! Saia e nunca apare�a na nossa porta de novo! Por que cuidamos de voc� em primeiro lugar eu n�o sei, Guida estava certa, dever�amos t�-lo deixado no orfanato. Fomos gentis demais para seu pr�prio bem, pensamos que poder�amos arrancar isso de voc�, pensamos que poder�amos torn�-lo normal, mas estava podre desde o in�cio e j� ag�entei o bastante. Corujas!

A quinta coruja zuniu pela chamin� t�o r�pido que na verdade bateu no ch�o antes de voltar ao ar com um grito sonoro. Harry ergueu a m�o para agarrar a carta, que estava num envelope vermelho, mas ela pairou direto sobre sua cabe�a, voando diretamente para tia Pet�nia, que soltou um grito e mergulhou, seus bra�os sobre a cabe�a. A coruja soltou o envelope vermelho na sua cabe�a, voltou-se e voou direto para a chamin�.

Harry se lan�ou para pegar a carta mas tia Pet�nia chegou primeiro.

- Voc� pode abri-la se quiser - disse Harry -, mas escutarei de qualquer forma. Isso � um berrador.

- Solte isso, Pet�nia! - rugiu tio V�lter. - N�o toque nisso, pode ser perigoso!

- Est� endere�ado a mim - disse tia Pet�nia numa voz tr�mula. - Est� endere�ado a mim, V�lter, veja! Sra. Pet�nia Dursley, a cozinha, n�mero quatro, Rua dos Alfeneiros...

Ela prendeu a respira��o, horrorizada. O envelope vermelho come�ara a fumegar.

- Abra-o! - Harry a encorajou. - Acabe com isso! Vai acontecer de qualquer maneira.

- N�o.

A m�o de tia Pet�nia tremia. Ela olhava loucamente em torna da cozinha como se buscasse uma rota de fuga, mas tarde demais - o envelope caiu em chamas. Tia Pet�nia gritou e o soltou.

Uma voz terr�vel encheu a cozinha, ecoando no espa�o confinado, saindo da carta queimando na mesa.

"LEMBRE-SE DA MINHA �LTIMA, PET�NIA."

Tia Pet�nia parecia que ia desmaiar. Ela afundou na cadeira ao lado de Dudley, o rosto nas m�os. Os restos do envelope ardiam at� virar cinzas em sil�ncio.

- O que � isso? - tio V�lter disse rouco. - O que... Eu n�o... Pet�nia?

Tia Pet�nia n�o disse nada. Dudley fitava a m�e estupidamente, sua boca arreganhada. O sil�ncio se espalhava de modo horr�vel. Harry observava a tia, completamente assombrado, sua cabe�a pronta para explodir.

- Pet�nia, querida? - disse tio V�lter timidamente. - P-Pet�nia?

Ela ergueu a cabe�a. Ainda tremia. Engoliu em seco.

- O garoto. O garoto ter� que ficar, V�lter - ela disse fracamente.

- O-o qu�?

- Ele fica - ela disse. N�o olhava para Harry. Pusera-se de p� novamente.

- Ele... Mas Pet�nia...

- Se o chutarmos os vizinhos v�o falar - ela disse. Estava recuperando rapidamente suas maneiras bruscas e cortantes, embora ainda estivesse muito p�lida. - Far�o perguntas estranhas, v�o querer saber para onde ele foi. Temos que mant�-lo.

Tio V�lter se esvaziou como um pneu velho.

- Mas Pet�nia, querida...

Tia Pet�nia o ignorou. Ela se voltou para Harry.

- Voc� fica em seu quarto - ela disse. - N�o vai deixar a casa. Agora v� para cama - Harry n�o se moveu.

- De quem era o berrador?

- N�o fa�a perguntas - tia Pet�nia retorquiu.

- Est� em contanto com bruxos?

- Eu disse para ir para cama!

- O que isso significa? Lembre-se da minha �ltima o qu�?

- V� para cama!

- Como...?

- VOC� OUVIU SUA TIA, AGORA V� PARA CAMA!

 
-- CAP�TULO 3 --
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